Certo homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino e voltar depois. E, chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até que eu venha. Mas os seus concidadãos aborreciam-no e mandaram após ele embaixadores, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós. E aconteceu que, voltando ele, depois de ter tomado o reino, disse que lhe chamassem aqueles servos a quem tinha dado o dinheiro, para saber o que cada um tinha ganhado, negociando. E veio o primeiro dizendo: Senhor, a tua mina rendeu dez minas. E ele lhe disse: Bem está, servo bom, porque no mínimo foste fiel, sobre dez cidades terás a autoridade. E veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco minas. E a este disse também: Sê tu também sobre cinco cidades. E veio outro, dizendo: Senhor, aqui está a tua mina, que guardei num lenço, porque tive medo de ti, que és homem rigoroso, que tomas o que não puseste e segas o que não semeaste. Porém ele lhe disse: Mau servo, pela tua boca te julgarei; sabias que eu sou homem rigoroso, que tomo o que não pus e sego o que não semeei. Por que não puseste, pois, o meu dinheiro no banco, para que eu, vindo, o exigisse com os juros? E disse aos que estavam com ele: Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem dez minas. E disseram-lhe eles: Senhor, ele tem dez minas. Pois eu vos digo que a qualquer que tiver ser-lhe-á dado, mas ao que não tiver até o que tem lhe será tirado. E, quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os diante de mim (Lucas 19:12-27)
Essa parábola, embora parecida em alguns aspectos com a dos dez talentos (Mateus 25:14-30), tem uma declaração distinta. O Senhor estava se aproximando de Jerusalém pela última vez, e as esperanças de Seus discípulos aumentaram. Eles pensavam que agora seria estabelecido o reino glorioso de que profetas e salmistas falavam há séculos. A necessidade moral da cruz ainda não se tornara clara para eles. Eles ainda não entendiam que o pecado do homem exigia que o Salvador aceitasse a cruz em Sua primeira vinda e esperasse pelo Reino até Sua segunda vinda. Assim, a parábola dos dez servos e as dez minas foi dada, na qual o Senhor se compara a um certo homem que parte para uma terra distante para tomar para si um reino e voltar e, nesse tempo, confiando a seus servos responsabilidades (Lucas 19:11-27).
Nesta parábola, os servos são aqueles que “professam e se denominam cristãos”; os concidadãos, que enviaram a ofensiva mensagem “Não queremos que este reine sobre nós”, são o povo judeu. No retorno do Senhor Jesus, duas coisas acontecerão; o juízo de seus adversários e a recompensa de seus servos. Na parábola dos dez talentos, as relações de confiança variavam de acordo com a habilidade; na parábola de hoje, cada homem recebeu da mesma forma. A soberania divina de um lado e a responsabilidade humana no outro.
O primeiro homem chamado conseguiu dizer: “Senhor, a tua mina rendeu dez minas”. O cuidado havia marcado sua conduta em relação à confiar em seu Mestre. Calorosamente, seu Mestre o elogiou como um bom servo, dizendo: “Sobre dez cidades terás a autoridade”. Que Senhor é o nosso! Tal recompensa por fidelidade em uma questão tão pequena. Pelo cuidado com essa pequena quantia, ele recebeu o domínio de dez cidades no reino milenial. Nenhum Senhor se agrada tão facilmente como o Cristo de Deus, e ninguém recompensa tão amplamente o serviço dedicado ao Seu Nome. A conta do segundo homem mostrava cinco libras. A ele foi concedido o domínio sobre cinco cidades. Aquele a quem servimos nota tanto a quantidade quanto a qualidade do que é feito por Ele (Lucas 19:15; 1 Coríntios 3:13). Romanos 16:12 nos fala de Trifena e Trifosa, que trabalhavam no Senhor, e da amada Pérside, que “muito” trabalharam no Senhor. Da mesma maneira, Neemias 3 nos fala de muitos que ajudaram na reconstrução dos muros de Jerusalém, mas distingue alguns por trabalharem “fervorosamente”. O “muito” e o “fervoroso” devem ser ponderados por todos os que desejam agradar ao Cristo ausente.
Há, infelizmente, um lado triste nessa parábola. Um homem devolveu sua mina ao Senhor embrulhada em um lenço. Como desculpa para sua total indiferença às reivindicações durante o tempo de ausência de seu Mestre, ele difama Seu caráter dizendo: “Tive medo de ti, que és homem rigoroso, que tomas o que não puseste e segas o que não semeaste”. Este servo perverso representa aqueles que meramente professam o nome do Senhor no meio da cristandade, que nunca sonharam em usar suas forças e posses para Ele, cujo nome carregam. Todos estes se encontrarão totalmente rejeitados no grande dia; seu julgamento é ricamente merecido, mesmo que apenas por sua miserável perversão do caráter dAquele que é infinitamente gracioso e bom, Ele não derramou Seu sangue para que a salvação fosse alcançada por obras ou que houvesse um preço, mas pelos que pereciam, tornando a salvação disponível para todos. E o que Ele pede além do simples serviço fervoroso que naturalmente flui da apreciação de Seu maravilhoso amor e graça?
W. W. Fereday