Quando Davi se comprometeu combater Golias, o campeão do exército filisteu, Saul o armou com sua própria armadura. Mas o jovem pastor sentiu-se desconfortável com a couraça e o elmo de bronze que pertenciam ao mais elevado homem de Israel. Com sabedoria, ele escolheu seguir o caminho simples e despretensioso em que Deus o havia abençoado quando enfrentou o leão e o urso. Aqueles que lutam nas batalhas de Deus devem fazê-lo obedientemente aos Seus pensamentos e ignorar as sugestões bem-intencionadas de pessoas de mentalidade mundana.
No Novo Testamento, não lemos sobre couraças e capacetes de metal, nem mesmo de fundas e pedras para uso dos filhos de Deus. Mas o apóstolo escreveu aos crentes romanos: “Rejeitemos as obras das trevas e vistamo-nos da armadura de luz” (Romanos 13:12). A armadura de luz não é material, mas moral e espiritual, e apropriada para aqueles que são filhos da luz e que andam na luz.
Por favor, em primeiro lugar, observe que há algo para fazermos em relação a essa cobertura protetora: devemos “nos vestir” desta armadura. Se outro a veste, ela não lhe servirá, e você será prejudicado na luta. Cada um deve usar a armadura aprovada: abandonar as obras das trevas e vestir a armadura de luz.
Agora o Senhor Jesus é a Luz do mundo, e a armadura de luz está associada ao caráter que Ele carregou neste mundo. O quarto evangelho fala muito Dele como a Luz da vida. Suas palavras eram luz e Suas obras eram luz. É, portanto, através do registro de nosso Senhor Jesus que nos foi dado nas escrituras que aprendemos o que é luz, e assim descobrimos o que é a armadura de luz que somos exortados a vestir.
O Senhor nunca teve que colocar esta armadura, porque Ele era em Si mesmo luz. Mas nós em outro tempo éramos trevas, embora agora somos luz no Senhor (Efésios 5:8). Portanto, podemos deixar de lado as obras das trevas e vestir a armadura de luz. Cada crente é responsável por se prover dessa cobertura protetora.
Talvez você pergunte: o que devemos entender pela expressão “armadura de luz?” Muito pode ser escrito sobre isso, mas tentarei em poucas palavras e de modo resumido responder. E farei isso referindo-me primeiro ao Senhor Jesus como exemplo, e depois a um dos apóstolos para um contraste com Ele. Espero, então, que você seja capaz de meditar sobre o significado prático do termo.
No Antigo Testamento lemos de Deus como Aquele que se cobre “de luz como com uma roupa” (Salmo 104:2). Isso pode ser dito de nosso Senhor quando Ele atravessou esse mundo de trevas. Houve um contraste perfeito entre Ele e todos os que estavam ao seu redor. Isto foi verdade para Ele através dos anos de Seu ministério, mas é particularmente perceptível nas horas que antecederam a Sua crucificação.
Deixe-me lembrá-lo da terrível cena que começou no jardim do Getsêmani. O Senhor então disse àqueles que vieram prendê-Lo: “Esta é a vossa hora e o poder das trevas” ( Lucas 22:53 ). Eles tinham saído com suas espadas e porretes para fazerem as obras das trevas. Mas o Senhor era sereno e não se alterou diante de suas ameaças e armas. Nem Ele nem Seus servos lutariam carnalmente, pois Seu reino não era deste mundo de trevas.
E, no entanto, seus inimigos viram a luz de Sua presença, a luz que não era deste mundo; porque quando Ele disse a eles, EU SOU, eles recuaram e caíram no chão (João 18:6). Apesar do ódio deles por Ele, eles reconheceram que Ele era infinitamente maior e mais elevado e mais santo do que eles. Não havia armas físicas, nem espada, nem lança, nem funda, nem pedra, mas houve uma hora de separação e oração no jardim. A luz da presença do Pai permaneceu no rosto de Jesus de Nazaré e os homens mal-intencionados foram confundidos e vencidos pela glória daquela luz.
Sugiro que você medite sobre a mansidão e a calma do Senhor diante de Caifás e Anás, Pilatos e Herodes, entre os soldados e a turba, levando a cruz e pregado nela para que aprenda como a Luz brilhou na escuridão e as trevas não o compreenderam. Essa submissão mansa é a armadura que somos chamados a usar; como Pedro escreveu: ” Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este pensamento” (1 Pedro 4:1).
Mas agora peço que pensem em alguém que ofereça um notável contraste com o Senhor Jesus naquela noite em que Ele foi traído. Me refiro, claro, ao apóstolo Pedro. Primeiramente, ele desembainhou a espada e cortou a orelha do soldado em defesa de seu Mestre. Mas o Senhor o repreendeu porque ele estava usando as armas erradas. Ele estava resistindo ao mal de uma forma carnal, esquecendo-se de que o reino do Senhor não era deste mundo e Seus servos não lutariam como este mundo faz.
Além disso, esse erro de Pedro foi seguido por outro, mais sério. Quando ele entrou no pátio do Sumo Sacerdote, ele se misturou com as pessoas como um deles. E quando foi reconhecido como discípulo de Jesus de Nazaré, e levado pelo medo e O negou. Assim, temos o espetáculo humilhante do grande apóstolo fazendo as obras das trevas, em vez usar a armadura de luz. Uma mulher pensou ter visto o brilho da armadura brilhante e disse-lhe: “Não és tu também dos discípulos deste homem?” Mas Pedro tirou a armadura de luz, colocou as obras das trevas e declarou: “Eu não sou”.
Houve, portanto, um contraste impressionante entre Simão Pedro e o Senhor Jesus, “aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo” e foi perfeito em Seu comportamento de mansidão, gentileza e submissão.
Talvez o principal motivo para o fracasso do discípulo tenha sido sua falha em vigiar e orar no jardim do Getsêmani, como o Senhor pediu (Marcos 14:37-38). Simão dormiu, em vez de vigiar. Aqueles que estão prestes a dormir não colocam armaduras. Armar envolve atenção e vigilância, a atitude vigilante.
Mas também havia oração. O Senhor orou em três ocasiões distintas no Getsêmani e então saiu, forte para enfrentar seus inimigos. Aqui está o segredo. Devemos seguir o Senhor no lugar da oração, a fim de nos posicionarmos com Ele no lugar do testemunho. Quando o Senhor estava sozinho orando na montanha, a luz da glória brilhou em Sua face. Aqueles que saem do momento de orações estarão vestidos com a armadura de luz.
Colocar a armadura de luz é sinônimo de colocar o Senhor Jesus Cristo. Aqueles que andam com Ele, oram com Ele, trabalham com Ele, falam com Ele, amam com Ele, são aqueles que usam essa cobertura maravilhosa e não são vencidos pelo poder das trevas. Que possamos nos fortalecer na graça que há em Cristo Jesus e estarmos equipados para enfrentar todos os ataques do mundo e Satanás, seu príncipe.
Baseado no Texto “Letters to Young Believers : New Series 19. The Armour of Light” de William J Hocking