Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E, achando-a, a põe sobre seus ombros, cheio de júbilo; e, chegando à sua casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento (Lucas 15:4-7)
Os comentários cínicos das classes religiosas em Israel tornaram necessário que o Salvador justificasse Sua atitude em relação aos culpados e perdidos. As três parábolas de Lucas 15 foram dadas de uma maneira calculada para mover todo coração verdadeiro, o desejo da Trindade divina para tratar com os que erram e as diversas funções desempenhadas pelo Pai, Filho e Espírito Santo na Igreja. Na parábola da ovelha perdida, retratamos a obra do Filho; na dracma perdida, temos a obra do Espírito; enquanto na parábola do filho pródigo é descrita de forma clara a ternura da afeição com que o Pai acolhe o errante em casa.
O Senhor falou primeiro de Seu próprio trabalho por duas razões. Primeiro, porque era com Ele que os homens estavam encontrando falhas naquele momento, e segundo, porque o Seu sacrifício em favor dos pecadores precede necessariamente (e é, de fato, a base) da obra do Espírito e do Pai nas almas dos homens. Ele fez a pergunta aos críticos: “Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha a achá-la?” (Lucas 15:4). Se eles eram tão cuidados em relação a um animal desgarrado, por que se maravilhavam que o Senhor de todos anseie por homens perdidos, criados à imagem e glória de Deus? Para buscar e salvar a tais, Ele estava naquele momento nesta maravilhosa jornada que começava das alturas da bem-aventurança celestial e que só terminaria quando a cruz do Calvário tivesse sido suportada. Graça como essa não tem charme para os religiosos, seu convencimento próprio escondia deles sua necessidade. Em suas mentes, isso poderia servir para os devassos; mas o orgulho sustenta que para eles isso não lhes convém. Aos seus próprios olhos, eles são as noventa e nove pessoas justas, que não precisam de arrependimento. Tão completamente alienados estão dos interesses e afetos divinos que são incapazes de entender a alegria do Pai e do Filho quando um pecador é trazido para casa. Isso é um fato, os religiosos sempre foram os inimigos mais amargos do Salvador, uma dolorosa verdade. Mas o Pastor se alegra com o fruto de Sua obra e sofrimentos. Ele carrega Sua ovelha, e a leva para casa regozijando-se: Por Seu poderoso poder, todos os que são salvos são mantidos até o fim. Nenhuma força, humana ou infernal, pode arrancar até a mais fraca de Suas ovelhas de Seus cuidados (As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai. Eu e o Pai somos um – João 10:27-30). Ele as traz, não para o rebanho, mas para Ele mesmo. Não existe aprisco no cristianismo, isso é uma distorção de João 10:16; “um rebanho” é o que o Salvador disse. Homens que ignoram a graça de Deus dizem que é um aprisco; o “rebanho” sugere a liberdade do amor divino, que atrai e conecta os homens a um Salvador pessoal.
A alegria do pastor é compartilhada por Seus amigos e vizinhos, a quem Ele diz: “Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida”. Aqueles que estão acostumados à intimidade da comunhão com o Filho de Deus sabem, para sua bênção, o que isso significa. Os interesses Dele são deles; Suas realizações no caminho da graça salvadora fornecem a eles o material para o triunfo e a alegria divinas. Mas em que relação esses religiosos estavam com Ele, que, em vez de se regozijarem em Sua alegria, apenas criticavam friamente o exercício de Sua bondade para com os necessitados e perdidos?
W. W. Fereday