PROSSEGUINDO PARA O ALVO

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Introdução

Este livro é dirigido a Cristãos; é endereçado àqueles que podem confiantemente dizer que Jesus Cristo é tanto seu Salvador como seu Senhor. Para alguns, a salvação veio cedo na vida e para outros, muito mais tarde. Independentemente de quando fomos salvos, em algum momento provavelmente fizemos a pergunta: O que significa ser Cristão? Qual é o plano de Deus para mim? Ou talvez até mesmo: Deus está realmente tão interessado em mim?

Quando olhamos à nossa volta na Cristandade, é fácil ficar confuso. Há aqueles que pregam um evangelho social, onde a mais alta vocação do Cristão é ajudar os desfavorecidos. Outros seguem o assim-chamado evangelho da prosperidade, acreditando que as riquezas terrenais são a evidência de serviço fiel. Talvez menos hoje em dia, mas certamente no passado, homens e mulheres se trancaram em busca da santidade por meio da autonegação e austeridade. É isso que Deus quer de mim? Claramente, há uma gama muito ampla de trajetórias que se enquadram na esfera da profissão Cristã. Não tenho o desejo de condenar os outros, mas sim de exercitar ambos, o escritor e o leitor quanto à conduta Cristã prática de acordo com os princípios bíblicos.

Quando o apóstolo João escreveu suas três cartas (Primeira, Segunda e Terceira João), já havia muita confusão na Cristandade. As pessoas estavam procurando por uma nova luz e tinham algumas ideias sofisticadas e inovadoras – infelizmente, elas eram completamente falsas. Ao enfrentar esse desafio, João apontou seus leitores de volta ao que era desde o princípio, apontou ao Senhor Jesus Cristo, o Único do qual ele poderia dizer: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (1 Jo 1:1). Da mesma forma, devemos também voltar ao que foi dado no princípio.

Ao responder as questões em consideração, devemos deixar que a Escritura fale à nossa consciência – mesmo quando não gostamos do que ela tem a dizer. Não podemos e não devemos deixar que nossas ideias sejam formadas pelo que vemos na Cristandade ao nosso redor. “Todo mundo estava fazendo isso”, será simplesmente uma resposta insuficiente quando estivermos diante do tribunal de Cristo (2 Co 5:10).

De certa forma, a resposta para a pergunta: O que significa ser um Cristão? É muito simples: “Porque para mim o viver é Cristo” (Fp 1:21). Por outro lado, as consequências são de longo alcance, direcionando-se a todos os aspectos da nossa vida. De maneira nenhuma eu desejo tornar trivial uma pergunta honesta. Também precisamos ter cuidado para não criar uma fórmula. Não há nada mais humano do que desejar uma lista de critérios pelos quais lutar; isso nos dá algo para nos medir, e ao alcançar um certo grau de sucesso, podemos nos orgulhar de nossa superioridade. Ao examinarmos esse assunto, haverá tópicos que podemos achar desinteressantes; outros assuntos serão mais cativantes. Naturalmente falando, gostamos de coisas que nos fazem ficar ocupados com o “eu”, “comigo” mesmo. Diga-me para “Pensar nas coisas que são de cima” (Cl 3:2) e minha inclinação será dizer: Isso é muito espiritual; dê-me algo prático para fazer. Se realmente queremos saber o que significa ser um Cristão, se realmente queremos crescer espiritualmente, então devemos olhar para Cristo, não importa o quão pequeno isso me faça.

Como Cristãos da era moderna, gostamos de ser alimentados de colherzinha na boca. Este não é um problema novo. O apóstolo Paulo escreveu: “Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos [princípios – ARA] das Palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino [bebê – JND]” (Hb 5:12-13).

No entanto, nesta era de computação móvel, mídia visual e gratificação instantânea, nos tornamos especialmente preguiçosos. Queremos realmente passar o resto da nossa vida chorando pela nossa próxima refeição? Em algum momento devemos crescer; precisamos reconhecer que pedir continuamente que nossas vontades sejam feitas, sejam em coisas naturais ou espirituais, é imaturidade.

Para um tema que se refere a todos os aspectos da vida, não se pode esperar que tudo seja abrangido por um livro como este. Em última análise, devemos espanar a poeira das nossas Bíblias e nós mesmos ler e meditar sobre ela. De fato, não importa o que eu escreva, a Palavra de Deus é nossa primeira fonte e autoridade final. Compare tudo diligentemente com a Palavra de Deus. Olhe para todos os versículos e leia o contexto. “Porque de bom grado receberam a Palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17:11).

O que é um Cristão?

Vida Nova

Cristianismo é transformar, não reformar. Toda religião do homem tenta reformar a pessoa. Somente no Cristianismo temos a verdade de que a humanidade está perdida; tão perdida que nem sabe que está! Não há nada que possamos fazer em nós mesmos para agradar a Deus ou para obter Seu favor. As coisas são tão ruins que o Senhor Jesus teve de dizer a Nicodemos: “Na verdade, na verdade, te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo 3:5-6). Aquilo que somos por natureza, o que a Bíblia chama de a carne, não pode ser reformado. A mensagem do Senhor veio como uma surpresa para esse homem religioso. Ele tinha certeza de que esse grande mestre enviado por Deus poderia apontá-lo para a direção certa. O Senhor, no entanto, não veio para apontar ao homem perdido a direção certa. Isso não lhe teria feito bem algum. Teria sido tão cruel quanto dizer a um homem que está se afogando: “A praia é por ali!” sem estender a mão para tirá-lo de sua sepultura submersa.

Nunca devemos nos esquecer, no entanto, que é um Deus de amor que nos fala a nossa verdadeira condição. Como um Deus de amor, Ele também é um Deus que sai em busca: “Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha a achá-la?” (Lc 15:4) O Senhor Jesus não veio apenas para buscar, Ele também veio para salvar. “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19:10). E a que custo nossa salvação foi obtida? O Pastor deu Sua vida pelas Suas ovelhas: “Eu sou o bom Pastor: o bom Pastor dá a Sua vida pelas ovelhas” (Jo 10:11). Meditar sobre a magnitude disso deveria nos deixar completamente surpresos. Não podemos ser indiferentes ao amor de Deus quando consideramos o quão longe Ele foi para trazer-nos ao Seu rebanho.

Se foi necessário ao Senhor Jesus morrer por mim, então é como se eu estivesse morto n’Ele – Deus certamente me vê dessa maneira. “Já estou crucificado com Cristo” (Gl 2:20). Além disso, “se um morreu por todos, logo todos morreram (2 Co 5:14). Naturalmente falando, o homem está moralmente morto – não apenas doente, mas morto “em ofensas e pecados” (Ef 2:1). Tendo morrido com Cristo, a vida que agora vivemos é aquela vida nova e eterna que possuímos em Cristo. “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 6:23). “Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2:20).

Isso não é algo simplesmente para teólogos ponderarem. Há consequências mais abrangentes e mais importantes. Em primeiro lugar, que libertação! Quando descobrimos que a velha natureza não pode ser reformada, mas antes, devemos dar um fim nela por completo, que alívio que é. Mas como isso pode ser feito? Por meio da morte! Sim, para um Cristão, a vida é obtida por meio da morte – a morte do Senhor Jesus Cristo e nosso lugar com Ele nela. Exteriormente, somos identificados com a morte de Cristo pelo batismo. “Nós fomos enterrados, portanto, com Ele pelo batismo até a morte” (Rm 6:4 – JND). E então a questão não é mais: “Como serei liberto deste corpo de morte?”, mas sim “quem pode me libertar?” A resposta é muito preciosa: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará deste corpo de morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor (Rm 7:24-25 – JND). Nossa velha natureza é escrava do tirano pecado. Um homem morto não é subserviente a ninguém. “Porque aquele que está morto está justificado do pecado” (Rm 6:7). Isso não significa que um Cristão esteja livre de pecar, mas ele está certamente livre do pecado como um princípio governante em sua vida.

Em segundo lugar, uma vez que agora possuímos uma nova vida em Cristo, para quem estamos vivendo? “E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5:15).

A transformação trazida pela salvação é muito real. Ela tira uma pessoa de um caminho de destruição e não apenas a livra, mas a coloca em um caminho inteiramente novo, com gostos, desejos e objetivos totalmente diferentes. “Se alguém está em Cristo, é uma nova criação; passou o que era velho, eis que se fez novo” (2 Co 5:17 – TB).

O Espírito Santo

Nós não nos tornamos Cristãos seguindo certos ensinamentos ou recitando uma fórmula. Esses são os meios usuais pelos quais alguém se torna adepto de uma religião em particular. Como o Senhor disse a Nicodemos, tivemos de nascer de novo. Assim como não demos à luz a nós mesmos, também não produzimos um novonascimento em nós mesmos. Isso foi a obra do Espírito de Deus por meio da Palavra de Deus (Jo 1:13, 3:5; 1 Pe 1:23; Tg 1:18). O Espírito Santo faz a Palavra de Deus boa para nós; Ele também nos leva ao fim de nós mesmos e a um lugar de arrependimento. O resultado é: “arrependimento para com Deus e fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20:21 – JND).

O Espírito de Deus, no entanto, não é simplesmente o Agente do novo nascimento. Exclusivamente para o Cristianismo, também nos foi prometida a habitação do Espírito Santo em nós (Jo 14:16-17). Como Cristãos, precisamos reconhecer que o Espírito Santo de Deus estabeleceu residência em nosso corpo. “Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós…?” (1 Co 6:19 – ARF) Isto não ocorre por meio da intervenção de outra pessoa, ou por meio de qualquer outra tradição estabelecida pelo homem. Não, todo verdadeiro crente é habitado pelo Espírito de Deus. De fato, se alguém não tem o Espírito, então não pertence a Deus: “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é d’Ele” (Rm 8:9).

A Escritura também diz que somos selados com o Espírito Santo (Ef 1:13). Pense num selo antigo colado em um documento importante do governo. O selo é usado para estabelecer a origem e autenticidade desses documentos. Da mesma forma, o Espírito Santo nos faz conhecer que pertencemos a Cristo e que somos verdadeiramente salvos: “O próprio Espírito dá testemunho com o nosso espírito, de que somos filhos de Deus” (Rm 8:16 – JND).

O Espírito é também “o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para louvor da Sua glória” (Ef 1:14). Assim como penhor em dinheiro é dado antes da compra de uma casa, Deus nos deu o penhor de Seu Espírito. Este Espírito Santo nos dá a garantia de nossa herança em Cristo – que Deus completará aquela grande transação que Ele começou. Consequentemente, o Espírito Santo também nos lembra de que nossa herança não é nem agora, nem está na Terra – está conectada a Cristo em glória. O Espírito nos permite experimentar como será o céu antes de estarmos lá.

Muitos Cristãos apenas associam o Espírito Santo com a demonstração exterior de dons de línguas, cura e assim por diante. Esta é uma visão distorcida dos dons. O Espírito Santo é o poder da nova vida no crente. A assembleia em Corinto estava muito ocupada com os dons do Espírito e em mostrá-los. Eles haviam esquecido a simples admoestação: “Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne” (Gl 5:16); e que o fruto do Espírito é: “Caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” (Gl 5:22-23). As coisas das quais estivemos falando não são reservadas para um grupo espiritualmente superior de Cristãos, mas, ao contrário, se relacionam diretamente com a caminhada Cristã normal. Muito simples, não podemos andar como deveríamos a menos que o façamos no poder do Espírito de Deus.

A pessoa descrita no sétimo capítulo de Romanos ainda não conhece o poder que o Espírito Santo traz à sua vida. O capítulo certamente não descreve as lutas pessoais de Paulo, como muitos sugeriram; e nem tampouco, traz a luta diária de um crente. O capítulo descreve alguém que possui uma nova vida, mas que está tentando agradar a Deus com sua própria força – ou como a Escritura diz, na carne. A lei, embora santa, justa e boa (Rm 7:12), não pode nos controlar e, em desespero, clamamos: “Porque o que faço não o aprovo, pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço” (Rm 7:15). A chave para entender o sétimo capítulo de Romanos é reconhecer que o Espírito Santo nunca é mencionado. Nem uma vez sequer! Em nítido contraste, encontramos nada menos que 20 referências ao Espírito Santo no oitavo capítulo, onde temos nossa bendita libertação dos ditames do pecado por meio do poder do Espírito Santo. “A lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8:2). O Espírito Santo nos dá poder para viver para a glória de Cristo.

Finalmente, o apóstolo João, em sua primeira epístola, diz: “E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo” (1 Jo 2:20). Isso não fala de conhecimento natural como: saber os nomes de todos os reis e rainhas da Inglaterra, ou cálculos, ou os segredos do DNA, e assim por diante – em vez disso, o Espírito Santo nos dá a habilidade de discernir entre a verdade e o erro. “Quando vier Aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade” (Jo 16:13).

Muitas outras coisas poderiam ser escritas sobre o Espírito Santo. É, no entanto, simplesmente meu desejo sincero de que cada um de nós possa entender plenamente que o Espírito Santo de Deus é real e habita dentro de cada verdadeiro crente. Este não é um objetivo espiritual ou uma experiência passageira. Isto tendo sido dito, também precisamos reconhecer que o grau em que sentimos o Espírito Santo agindo em nossa vida depende muito de como vivemos. “Não entristeçais o Espírito Santo de Deus” (Ef 4:30). “Enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18). Uma garrafa cheia de entulho não pode conter muita água – e quem beberia dela? Se vivermos para nós mesmos, então o Espírito será excluído. Se, por outro lado, ao Espírito Santo for dado o controle de nossa vida, e permitirmos que Ele seja a fonte de todo pensamento e ação, então que diferença isso fará. Independentemente da circunstância ou a corrupção da verdade na Cristandade, em princípio, não há razão para que, como Cristãos, não sintamos o poder do Espírito Santo diariamente.

Um Novo Relacionamento

O Cristianismo não é uma filosofia ou religião; é um relacionamento. Quando Deus realizou Sua obra de novo nascimento em nós, nascemos em uma nova família. “Mas, a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos [crianças1 (“teknon”) – JND] de Deus; aos que creem no Seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus” (Jo 1:12-13). Mas como Cristãos não somos simplesmente parte de uma nova família, também fomos trazidos a um novo lugar de privilégio com Deus. Abraão conhecia El Shadai, isto é, Deus Todo-Poderoso. Os filhos de Israel foram trazidos para ainda mais perto; eles conheciam a Deus pelo Seu nome, Jeová (Êx 6:3). Como Cristãos, no entanto, fomos trazidos ao relacionamento mais próximo e íntimo de todos. Deus nos chama de Seus filhos e temos o privilégio de chamá-lo de Pai2. Essas não são meras declarações de um fato; temos a percepção consciente desse relacionamento por meio do Espírito Santo (Rm 8:15; Gl 4:6). Para uma criança, a expressão “Papai” vem naturalmente; da mesma forma, “Abba Pai”, para o filho de Deus. Se nunca tivemos a liberdade de nos ajoelhar e nos dirigir a Deus Pai – não como Pai celestial, como se Ele fosse uma figura distante, mas como Abba Pai – então perdemos muito de nossos privilégios e bênçãos como filhos de Deus.

O Pai quer filhos mais do que servos. Sim, como veremos em breve, Ele também deseja e aprecia o serviço, mas quer que primeiro saibamos que somos filhos. “Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti; Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros … Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa o melhor vestido, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés; E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos; Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado (Lc 15:18-19, 22-24). Imagine se o filho fosse e dormisse no alojamento dos criados naquela noite! Isto é o que os gálatas estavam fazendo. Eles foram desviados pelos doutores da lei. Embora a alegação fosse a espiritualidade, na realidade eles foram levados à escravidão como crianças sob o comando de um professor. Deus quer que agora vivamos como filhos e herdeiros e não como criancinhas ou servos: “Já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo” (Gl 4:7).

Nossas Bênçãos Cristãs

As coisas de que estamos falando são verdadeiras para todo crente. É importante saber nossa posição, como Cristãos, em Cristo. A verdade do relacionamento deve ser conhecida antes que possamos agir de maneira adequada ao relacionamento. Quando criança, um príncipe não entende seu lugar de privilégio e bênção e se comporta como criança. No entanto, conforme cresce e começa a entender a importância de sua posição, seu comportamento deve mudar. Se ele nunca souber que é um príncipe, nunca agirá como um.

Deus deu a Jacó3 um novo nome, Israel, significando um Príncipe com Deus. Infelizmente, Israel nem sempre agiu como um príncipe – por essa razão ele é frequentemente chamado pelo nome de nascimento, Jacó. Simão também recebeu um novo nome, Pedro4 (Jo 1:42). Assim como com Jacó, Pedro nem sempre agiu no caráter de seu novo nome; nessas ocasiões, ouvimos o Senhor dizer “Simão, Simão” (Lc 22:31). Nós também temos um novo nome e, como vimos, um novo lugar em uma nova família (Ap 2:17). Reconhecemos que somos um príncipe com Deus ou estamos agindo como criancinhas nos escondendo sob nosso antigo nome de nascimento?

Romanos 12 e os capítulos seguintes baseiam-se nos capítulos 1-8. “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional (Rm 12:1 – JND). Nosso culto racional é baseado no entendimento desse relacionamento ao qual fomos trazidos. A falta de entendimento, quanto à bem-aventurança de nossa posição em Cristo, levou à confusão de muitas Escrituras.

Então, quais são as bênçãos individuais que possuímos em Cristo? Aqui está uma lista, embora não completa:

  • Perdoado: “Como também Deus vos perdoou em Cristo (Ef 4:32).
  • Justificado: “Justificados em Cristo (Gl 2:16-17).
  • Redimido: “Sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus (Rm 3:24).
  • Reconciliado: “Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto” (Ef 2:13).
  • Santificado: “Aos santificados em Cristo Jesus (1 Co 1:2).
  • Uma nova criação: “Se alguém está em Cristo, é uma nova criação” (2 Co 5:17 – TB).
  • Vida eterna: “Vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 6:23 – ARA).
  • Livrado: “Portanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8:1).
  • Filhos: “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus (Gl 3:26).
  • Herdeiros: N’Ele, digo, em Quem também obtivemos uma herança” (Ef 1:10-11 – JND).
  • Esperança: “Esperamos em Cristo (1 Co 15:19).
  • Assentado nos lugares celestiais: “E nos fez assentar juntamente nos lugares celestiais, em Cristo Jesus (Ef 2:6 – JND).

Em cada exemplo eu destaquei “em Cristo”. Essas bênçãos são nossas em Cristo. Uma mulher pode tornar-se rica por si só, ou casar-se com um homem rico. No último caso, sua riqueza está intimamente ligada ao seu marido; não foi obtida em independência dele. Da mesma forma, essas bênçãos são nossas em Cristo. Muitas vezes, como Cristãos, somos encorajados a olhar para dentro, a examinar-nos a nós mesmos. Em vez disso, precisamos estar olhando para Cristo. É somente lá que descobrimos quem realmente somos. Precisamos dar uma boa olhada na lista acima e reconhecer que estas são as nossas bênçãos para desfrutarmos – sim, agora mesmo – em Cristo! Quanto mais desfrutamos de Cristo, mais desfrutamos das bênçãos associadas à nossa posição em Cristo.

Paz

Claramente há ocasiões em que não nos sentimos desfrutando dessas bênçãos; em vez de gozo e paz, há inquietação. A Escritura fala de dois tipos de paz e frequentemente elas são confundidas: paz com Deus e a paz de Deus.

A primeira, a paz com Deus, repousa na obra consumada de Cristo: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1 – ARF). Esta é uma declaração do fato – ela está na classe de bênçãos de que estamos falando. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Colossenses, a apresenta muito claramente: “A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da Sua carne, pela morte, para perante Ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis” (Cl 1:21-22). Em 2 de setembro de 1945, o ministro das Relações Exteriores do Japão assinou a Ata de Rendição, marcando assim o fim da Segunda Guerra Mundial. Independentemente dos sentimentos dos indivíduos de ambos os lados, a guerra havia acabado; a paz agora existia entre Japão e as potências aliadas. Apesar disso, alguns soldados japoneses permaneceram escondidos por muitos anos, com medo de aparecer por causa de sua vergonha. Não importa como se sentiam, isso não mudou o único fato que permanecia, de que a guerra havia terminado. Da mesma forma, independentemente de como nos sentimos, devemos reconhecer que essa paz, e não simplesmente o perdão, foi feita por meio do sangue da cruz. “Havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz” (Cl 1:20). Se falharmos em ver isso, uma maior conscientização sobre o pecado servirá apenas para nos deixar sobrecarregados e abatidos.

O segundo tipo de paz, a paz de Deus, pode ser contrastada com a ansiedade. É a paz que o Senhor Jesus possuía enquanto andava por esta Terra, diante da rejeição. O Senhor falou desta paz aos Seus discípulos, pouco antes do Calvário: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize (Jo 14:27). O apóstolo Paulo também abordou essa paz em sua carta aos Filipenses. Na época ele estava na prisão, enfrentando um futuro muito incerto – sua vida estava em risco. Ouça o que ele tem a dizer: “Não estejais inquietos por coisa alguma: antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus (Fp 4:6-7). Claramente, podemos perder este tipo de paz – se não fosse assim, Paulo não teria necessidade de encorajar os crentes Filipenses. Somos encorajados a deixar as coisas que nos sobrecarregam e a entregar tudo a Deus em oração. Mas há algo a mais, esta paz só pode ser conhecida por meio de Cristo Jesus. Só Ele é a âncora da nossa alma:

“O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio” (Sl 18:2). Na mesma medida em que nossa fé repousa em Cristo em glória, sentiremos paz em nossa vida.

Discipulado

Para muitos, ser um discípulo de Jesus define o que é ser um Cristão. A palavra Cristão provém do grego “christianos” e significa um seguidor de Cristo. Vemos isso usado a primeira vez com os discípulos em Antioquia. “E em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados Cristãos (At 11:26). Exibir Cristo em nossa vida é algo que até mesmo o mundo pode reconhecer. A atenção que isso atrai, no entanto, nem sempre é positiva como Pedro aponta: “Mas, se padece como Cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte” (1 Pe 4:16).

Precisamos nos lembrar, no entanto, de que se tornar um discípulo não leva à salvação. O discipulado flui da salvação. Muitos seguiram a Jesus, mas poucos foram verdadeiros discípulos. “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam n’Ele: Se vós permanecerdes na Minha palavra, verdadeiramente sereis Meus discípulos”(Jo 8:31). Por outro lado, o discipulado não é uma opção para o crente. Não é uma vida devotada que alguns escolhem e outros não. Quando recebemos Jesus Cristo como nosso Senhor e Salvador, nos inscrevemos para o discipulado. É a única maneira, como Cristão, de se ter uma vida plena e significativa. Muitas coisas, no entanto, nos impedem de sermos os discípulos que deveríamos ser.

Quatro características do discipulado são dadas pelo Senhor no evangelho de Lucas. Elas são bastante incisivas:

  • O Mestre deve ser supremo nas afeições do discípulo – Lucas 14:26: Nenhum outro relacionamento, por mais próximo ou mais querido que seja, deve ter precedência sobre nosso relacionamento com o Senhor.
  • O discípulo deve carregar sua cruz – Lucas 14:27: Não carregamos a cruz do Senhor, mas temos nossa própria cruz para carregar. Na época em que o Senhor Jesus estava falando, ver um homem carregando uma cruz era a marca de uma sentença de morte. Carregar nossa cruz é carregar a sentença de morte deste mundo sobre nós. “O mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6:14).
  • O custo deve ser entendido – Lucas 14:28: A menos que saibamos tudo o que é nosso em Cristo, tanto nossa posição quanto nosso recurso diário, nunca seremos capazes de suportar o custo do discipulado.
  • O inimigo deve ser avaliado corretamente – Lucas 14:31-33: Se imaginarmos que podemos nos opor às artimanhas do diabo com nossa própria força e confiança, o resultado final será nos comprometer.

Muito poderia ser escrito sobre discipulado5. Meu ponto, no entanto, não é ampliar este assunto agora. As qualidades de um bom discípulo continuarão sendo tópicos nos capítulos restantes.

Coisas a Considerar

  • Como verdadeiro Cristão, temos nova vida; a velha vida não é reformada, mas fomos completamente transformados. Deus vê nossa antiga vida natural como crucificada com Cristo.
  • O Espírito Santo de Deus habita no corpo de cada verdadeiro crente. Vivemos no poder do Espírito de Deus?
  • Somos selados pelo Espírito; o Espírito é o penhor de nossa herança; temos livramento do poder do pecado sobre nossa vida por meio do Espírito Santo; o Espírito nos dá a capacidade de discernir entre a verdade e o erro.
  • Podemos entristecer o Espírito Santo pela maneira como vivemos. Nossa vida é como um vaso vazio. Permitimos que ele seja cheio do Espírito ou do espírito do mundo?
  • Fomos trazidos para um relacionamento muito mais próximo com Deus do que os grandes do Velho Testamento: Noé, Abraão, Moisés, Daniel, etc. Conhecemos e nos dirigimos a Ele como Pai.
  • A menos que entendamos a verdade do nosso relacionamento com Deus, não poderemos agir de maneira adequada a esse relacionamento.
  • Se quisermos saber quem somos, precisamos estar olhando para Cristo. As bênçãos que são nossas como Cristãos, estão em Cristo.
  • Temos paz com Deus; perderemos a paz de Deus em nossa vida se não estivermos vivendo por meio de Jesus Cristo.
  • O discipulado flui da salvação; quando recebemos Jesus Cristo como Senhor e Salvador, nos inscrevemos para o discipulado.
  • O verdadeiro discipulado não deve ser praticado levianamente.