Números 4:34-49

(para maior proveito, ore, leia na Bíblia os versículos indicados e medite nos comentários)

  

A primeira contagem dos levitas no capítulo 3 levou em conta todos os homens a partir de um mês de idade. Este segundo censo leva em conta somente os homens de trinta a cinquenta anos de idade. O Senhor espera que reservemos os melhores anos de nossas vidas para Ele. Não é mais uma questão de nossa idade física, mas de maturidade espiritual, o fruto da experiência adquirida pouco a pouco. Para um jovem que foi fiel “no mínimo”, o Senhor, quando chegar a hora, poderá confiar “muito” (Lucas 16: 10).

8.580 Levitas são assim reconhecidos como tendo idade para servir. Tendo em vista o tamanho e ao peso do tabernáculo, ninguém estaria sobrecarregado; eles poderiam aliviar um ao outro. Por que então o Senhor é obrigado, com tristeza, a afirmar que, para a sua grande seara, “os trabalhadores são poucos”? (Mateus 9: 37). Porque infelizmente muitos “não colocam os seus pescoços na obra do Senhor” (Neemias 3: 5). Essa situação humilhante deveria tocar a cada um de nós!

O censo dos levitas é realizado ” segundo o seu serviço e a sua carga” (versículo 49). As palavras serviço e carga (versículos 28 e 49) nos lembram que aquele que serve o Senhor e Seu povo não pode fazê-lo sem sentir o peso da responsabilidade espiritual ou sem ter um coração sobrecarregado (2 Coríntios 11: 28). Vimos neste capítulo 4 que nada era deixado para eles escolherem – tudo era ordenado por Deus. E cada um de nós pode pedir ao Senhor que também nos mostre o serviço e a carga que tem para que nós aceitemos em nossa jornada para nosso lar celestial.

Texto baseado em diversos autores que se reuniam apenas ao Nome do Senhor nos séculos XIX e XX.

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Uma meditação na presença de Deus sobre tudo o que nos é apresentado

figuradamente

Queremos portanto convidar o leitor cristão a ler os primeiros quinze versículos de Números 4 na presença de Deus, e a pedir-lhe que lhe explique o significado de cada um deles – o significado da arca e a razão por que só ela era coberta com um “pano todo azul”; e assim todo o resto. Temo-nos aventurado, com espírito humilde, sugerir o significado, mas desejamos ardentemente que o leitor o receba diretamente de Deus, por si mesmo, e não apenas do homem. Confessamos que tememos muito a imaginação, e cremos poder dizer que jamais nos havemos sentado para escrever sobre as Sagradas Escrituras sem

estarmos profundamente convencidos de que ninguém senão o Espírito Santo pode realmente explicá-las.

Dirás, portanto, por que escreves, então? Bem, é com a viva esperança de me ser permitido, ainda que de um modo fraco, ajudar o que estuda seriamente a

Escritura a alcançar com a vista as raras e excelentes pedras preciosas que estão espalhadas ao longo das páginas inspiradas, de forma que ele próprio possa apanhá-las. Milhares de leitores poderiam ler repetidas vezes o capítulo quatro de Números e não perceberem sequer o fato que a arca era a única peça mística do mobiliário do tabernáculo que não ostentava a pele de texugo. E se o simples fato não for compreendido em si, como poderá ver-se a sua importância? Assim também quanto ao altar de cobre, quantos têm deixado de observar que só ele era coberto com a “púrpura”?

Ora, nós podemos estar certos que estes dois fatos são plenos de significado espiritual. A arca era a mais elevada manifestação de Deus, e portanto podemos compreender o motivo por que ela mostrava, à primeira vista, o que era puramente divino. O altar de cobre era o lugar onde o pecado era julgado – simbolizava Cristo em Sua obra como Aquele que leva o pecado-mostrava esse lugar afastadíssimo a que Ele teve de ir por nós; e ainda assim esse altar de cobre era a única coisa que era embrulhada numa coberta real. Pode existir alguma coisa mais excelente que temos aqui? Que sabedoria infinita há em todas estas distinções! A arca nos leva ao mais alto ponto no céu. O altar de cobre nos leva ao ponto mais baixo da terra. Estavam em pontos extremos do tabernáculo. Naquela arca vemos Aquele que engrandeceu a lei; neste altar vemos Aquele que foi feito pecado. Na arca via-se ao primeiro golpe de vista o que era celestial; e era só quando se procurava mais abaixo que se via a pele de texugo; e profundando mais via-se esse misterioso véu, figura da carne de

Cristo. Mas no altar de cobre a primeira coisa que se via era a pele de texugo e por baixo dela a coberta real.

Vemos Cristo em cada um destes objetos, embora em dois aspectos diferentes.

Na arca temos Cristo mantendo a glória de Deus. No altar de cobre temos Cristo respondendo às necessidades do pecador. Bendita combinação para nós! Porém, o leitor já notou, além do mais, que em toda esta maravilhosa passagem para a qual temos chamado a sua atenção, não se faz menção de uma certa

peça de mobiliário que, segundo Êxodo 30 e outras passagens das Escrituras, ocupava um lugar muito importante no tabernáculo?- Estamos falando da pia de cobre. Porque ela é omitida em Números 4? É mais que provável que alguns dos nossos clarividentes racionalistas encontrem aqui o que eles chamam um erro, um defeito, uma discordância. Mas será assim? Não, graças a Deus! O cristão estudioso sabe muito bem que tais coisas são inteiramente incompatíveis com o Livro de Deus. Sabe e confessa isto, até mesmo se não puder ser capaz de justificar a falta ou a inclusão deste ou daquele pormenor em uma dada passagem. Mas precisamente na medida em que podemos, pela misericórdia de Deus, ver a razão espiritual das coisas, descobrimos sempre que onde o racionalista vê, ou aparenta ver, falhas, o crente estudioso e piedoso vê pedras preciosas.

Acontece assim, não duvidamos, a respeito da omissão da bacia de cobre da relação do nosso capítulo. E apenas uma de dez mil ilustrações da beleza e perfeição do volume inspirado.

Mas o leitor pode perguntar, por que é omitida a pia? A razão pode ser encontrada no duplo fato do que era feita a pia e para o fim que era feita. Este duplo fato já foi apresentado em Êxodo. A pia foi feita dos espelhos das mulheres que se ajuntavam, ajuntando-se à porta da tenda da congregação (Êxodo 38:8). Este era o seu material. E quanto ao seu fim, foi dada como um meio de purificação para o homem. Ora, em todas estas coisas que formavam a tarefa especial e obrigatória dos filhos de Coate, nós vemos as diversas manifestações de Deus em Cristo, desde a arca no lugar santíssimo até o altar de cobre no pátio do tabernáculo; e, visto que a pia não era uma manifestação de Deus, mas do homem, não é portanto confiada à guarda e responsabilidade dos coatitas.

Mas devemos agora deixar que o leitor medite sobre esta Profunda parte do nosso livro (Números 3 e 4). Podíamos continuar a desenvolver o assunto longamente até termos enchido volumes em vez de páginas, e, afinal de contas, sentimo-nos como quem tem apenas penetrado a superfície de uma mina cuja profundidade nunca poderá ser sondada – cujos tesouros jamais podem ser esgotados. Qual a pena que pode descrever a instrução maravilhosa que contém a relação inspirada da tribo de Levi? Quem pode tentar desenvolver a

graça soberana que brilha no fato que o obstinado Levi fosse o primeiro a responder à pergunta comovente “Quem é do Senhor”? Quem pode falar acertadamente dessa rica, abundante e distinta graça exemplificada no fato que aqueles cujas mãos tinham sido usadas para derramar sangue fossem as primeiras a ser permitidas a tocar nos vasos do santuário, e que aqueles em cuja assembleia o Espírito de Deus não podia deixar entrar, fossem trazidos ao próprio seio da congregação de Deus, para ali estarem ocupados com o que era tão precioso para Ele?

E depois essas três divisões de obreiros, meraritas, gersonitas e coatitas! Quanta instrução temos aqui! Que símbolo dos diversos membros da Igreja de Deus, nos seus vários serviços! Que profundidade de misteriosa sabedoria em tudo isto! Será falar forte demais dizermos, neste momento, que nada nos impressiona mais profundamente que o sentimento de completa fraqueza e pobreza de tudo que temos exposto sobre uma das mais ricas partes do volume inspirado?- Ainda assim, temos conduzido o leitor a uma mina de infinita profundidade e inesgotáveis riquezas, e devemos deixá-lo para penetrar nela com o auxílio dAquele a quem pertence a mina e que é o único capaz de descobrir a sua riqueza. Tudo quanto o homem pode escrever ou dizer sobre qualquer porção da Palavra de Deus, pode, quando muito, ser sugestivo; falar dela como de um assunto exaustivo seria lançar desprezo sobre o cânone sagrado. Possamos nós trilhar o lugar santo com os pés descalços, e ser como aqueles que indagam no templo, e cujos estudos são perfumados pelo espírito de adoração.

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Trecho do livro “Notas sobre o Pentateuco” de C. H. Mackintosh