(para melhor entendimento, leia Números capítulo 11)
E. L. Bevir.
Christian Friend vol. 15, 1888, p. 36.
Foi observado muitas vezes que a mistura de gente (Êxodo 12:38) era a causa direta do murmúrio (das reclamações) de Israel; mas ao mesmo tempo deve ser observado que é sempre mais comum seguir um exemplo ruim do que um bom. Em um caso semelhante, Paulo exorta os santos a seguir aqueles que estavam caminhando à frente e a não olhar para trás, para aqueles que poderiam muito bem ser comparados com a caótica mistura de gente de Números 11 (veja Filipenses 3:17 em diante).
Moisés neste capítulo sente que o fardo é demais para ele e termina seu primeiro discurso no versículo 15 com uma petição: “mata-me, eu te peço”. Ele aparece, durante toda a passagem, com grande vantagem como uma alma nobre e desinteressada, mas ocupado com ele mesmo e seus próprios recursos, ele sentiu-se incapaz de realizar a tarefa de liderar o povo pelo deserto. É muito notável que as duas grandes figuras do Antigo Testamento, Moisés e Elias, implorassem para que pudessem morrer em paz. A morte é um remédio soberano para uma pessoa enérgica, cuja tarefa é muito difícil para ele; e certamente nem Moisés nem Elias estavam querendo energia; mas eles tiveram que aprender que não era com sua própria força ou energia que poderiam realizar suas tarefas, embora nunca pudessem saber o que o apóstolo dos gentios fala em 2 Coríntios; isto é, o poder da ressurreição e a desconfiança plena e total de tudo o que é do homem natural.
A palavra “eu” aparece com muita frequência nos discursos de Moisés neste capítulo, e quando isto (eu, meu) se torna o objeto de nossos pensamentos, geralmente encontramos palavras para expressá-lo. Moisés havia dito (Êxodo 4:10): “Eu não sou homem eloquente… (eu) sou pesado de boca”; mas ele se torna eloquente quando “Moisés” é o tema do seu discurso (ver versículos 21 e 22 do nosso capítulo 11 de Números), ele encontra o uso de sua língua ao descrever sua própria dificuldade; e isso é natural em todos os homens.
Mas a grande e abençoada lição a ser aprendida nesta passagem é a fidelidade de Deus, ao mesmo tempo em que castiga as pessoas rebeldes e cobiçosas, e os recursos ilimitados de Jeová no deserto quando, em todos os aspectos, tudo havia parado e a simples energia do homem provou ser de nenhum valor. Nada poderia ser mais interessante para nós no momento presente, quando os iluminados líderes do século XIX, deixando Deus fora de seus cálculos, nos asseguraram que era fisicamente impossível que Israel atravessasse o deserto e, quando poucos pudessem ser encontrados seguindo a multidão mista em todo tipo de mundanismo e egoísmo.
Moisés perdeu um grande privilégio, mas o mesmo poder foi exercitado por Jeová, apesar de ter empregado setenta outros homens; o poder do Espírito foi distribuído, mas não aumentado. A resposta à pergunta: “Concebi eu todo esse povo?” É totalmente dada pelo Senhor em Sua incansável paciência nesta maravilhosa passagem.
Mas a aplicação deve ser feita para nós mesmos. Muitas vezes foi demonstrado nos primeiros capítulos deste livro que o Senhor fez uma disposição completa e perfeita para a marcha de todo o arraial ao longo do deserto e que o mais terrível fracasso ocorre no momento em que o arraial começa a se mover. A história frequentemente repetida do fracasso depois de ter sido estabelecida em bênção por Deus é vista aqui e pode servir como uma ilustração do que ocorreu na igreja de Deus na Terra desde o dia de Pentecostes até o dia de hoje.
Podemos considerar por um momento, sem voltar mais na história, o estado atual das coisas – o estado de ruína e fraqueza, e a graça e poder imutáveis de nosso Deus e Pai em Cristo Jesus, de quem a bondade nunca nos falha até o final da jornada. “Seria, pois, encurtada a mão do Senhor?”. Ele se voltou para Ele, para quem e por quem são todas as coisas, trazendo muitos filhos para a glória, para tornar perfeito o Líder da sua salvação através dos sofrimentos; e este Líder abençoado nunca se queixa, como fez Moisés, do peso da carga que Ele carrega. A jornada no deserto, para nós, está chegando ao seu final; mas ainda estamos no deserto, e precisamos olhar para Ele a cada momento, e Ele não nos deixará.
O contraste entre Moisés e Paulo sempre foi apresentado. Moisés no versículo 12 deste capítulo pergunta se “ele” trouxe o povo para que “ele” fosse responsável do fardo até chegar a terra prometida. Paulo, ao contrário, na epístola aos Gálatas, estava disposto a sofrer novamente as dores, para que os santos recebessem bênção e Cristo se formasse neles (Gálatas 4:19). Podemos notar a confiança perfeita do apóstolo no Senhor e a total desconfiança de tudo o que é do homem; e não é preciso ir muito longe para afirmar que Moisés não tinha entendido o fim do homem, dos seus esforços, da sua excelência e da sua energia em Números 11. Ele não poderia, como já observamos, dizer como Paulo: “Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos” (2 Coríntios 1:9). Uma passagem mais impressionante do que essa, onde devemos ter cuidado para não confundir com uma natureza enérgica e nobre (ver o versículo 29) com o poder de Deus, talvez não seja encontrada nas Escrituras.
Se alguma vez houve um dia em que precisamos olhar totalmente para o Senhor, e somente para Ele, é no dia em que vivemos, hoje, e pela fé olharmos para Ele, o Líder da nossa salvação, para Ele, cujos braços foram estendidos uma vez na cruz enquanto Ele tirava nossos pecados e que sempre nos leva através de toda dificuldade para a glória eterna. Podemos dizer que o povo de Deus está muito disperso, que o século em que vivemos é muito perverso, que o poder do inimigo está muito forte e muitas outras coisas, mas sabemos que o braço Dele não está encurtado. Pode ser uma profunda lição para aprender, a não confiar no homem e muito menos em nós mesmos, mas uma lição abençoada afinal de contas, e olharmos para Ele com a excelente glória e com o Deus de glória que o colocou à Sua direita, orando para que possamos glorificá-Lo no restante da jornada pelo deserto. Que possamos ser encontrados caminhando em verdadeira dependência, oração e verdadeira confiança Nele.
E. L. B.