Falando em línguas, Um delírio dos dias atuais – W. J. Hocking – Parte 4

(2) Línguas em Jerusalém, Cesaréia e Éfeso.

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem” (Atos 2:4).

Marcos registra a promessa do Senhor sobre o dom de novas línguas, e o evangelista associa esse dom com Seu mandamento aos apóstolos: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” (Marcos 16:15-18). Em Atos, Lucas registra o cumprimento da promessa de línguas e associa esse cumprimento à descida do Espírito Santo. Encontramos, portanto, a partir do último relato de que, de acordo com a promessa do Pai, o Senhor Jesus derramou o Espírito Santo sobre os Seus no Pentecostes e, como consequência, “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem” (Atos 2:4).

Os outros sinais, além das línguas mencionadas em Marcos 16:17-18, foram, sem dúvida, concedidos ao mesmo tempo, uma vez que lemos: “Muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos” (Atos 2:43).

Além disso, o sinal de línguas foi concedido a outros além dos apóstolos. As palavras do Senhor aos onze foram: “Estes sinais seguirão aos que crerem… falarão novas línguas” (Marcos 16:17) – e claro, os demais sinais também: “pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão” (Marcos 16:18). Lucas em Atos mostra o cumprimento desta promessa em Cesaréia, no caso dos que creram na pregação de Pedro, e em Éfeso, no caso dos que creram na pregação de Paulo (“não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus antes ordenara; a nós que comemos e bebemos juntamente com ele, depois que ressuscitou dos mortos. E nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos. A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome. E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar em línguas e magnificar a Deus” – Atos 10:41-46; “E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas e profetizavam” – Atos 19:6, “Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: Conheço a Jesus e bem sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?” – Atos 19:15).

(A). Em Jerusalém (Atos 2).

Os discípulos do Senhor estavam em Jerusalém, como Ele os havia orientado, a fim de receberem este dom. O Senhor lhes havia dito: “Recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas” (Atos 1:8). Então, quando o Espírito Santo desceu sobre eles, tornaram-se testemunhas capacitadas; e uma forma de sua capacidade recém-recebida foi exibida quando eles começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito dava a eles expressão vocal. Eles próprios descobriram que havia um poder diferente do seu próprio com suas bocas, permitindo e eles testemunhar a verdade.

O Senhor já os havia instruído que não precisariam ficar ansiosos a esse respeito. Em um estágio inicial de seu treinamento, Ele disse: “Quando vos entregarem, não vos dê cuidado como ou o que haveis de falar, porque, naquela mesma hora, vos será ministrado o que haveis de dizer”. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós” (Mateus 10:19-20). No Pentecostes, os apóstolos experimentaram pela primeira vez o poder do Espírito agindo de uma maneira que estava de acordo com esta promessa inicial de Cristo, e que logo seria demonstrada perante governadores e reis, bem como perante a população de Jerusalém em geral.

Sinais externos da presença do Espírito

No dia de Pentecostes, provas de natureza externa foram concedidas por Deus para mostrar que o derramamento do Espírito Santo era então um fato consumado. Havia fenômenos de visuais e sonoros que constituíam evidências externas aos próprios discípulos. Apareceram para eles línguas repartidas como de fogo. Também ouviram do céu um som como de um vento impetuoso, enchendo a casa onde estavam assentados. Além desses sinais audíveis e visíveis, eles começaram a falar em outras línguas, provando um ao outro em sua própria assembleia que eles estavam “cheios do Espírito Santo”.

Mas estas provas externas da presença do Espírito Santo não foram dadas apenas aos próprios discípulos no local onde eles estavam reunidos, mas sinais sobrenaturais também foram exibidos nas ruas e locais públicos em Jerusalém, para seus habitantes e para a multidão de visitantes de várias partes do mundo. O poder dos apóstolos de falar em outras línguas foi demonstrado ao ouvir as multidões reunidas, provavelmente no pátio do templo ou em seus arredores. Tal exibição de poder era surpreendente e inexplicável para o público. Não que as palavras dos discípulos fossem ininteligíveis para os seus ouvintes, nem que elas falassem coisas sem sentido, pois a Palavra registra a importância do seu discurso que foi entendido por todos aqueles que ouviram.

A maravilha para a multidão de pessoas era, enquanto ouviam os discípulos da Galileia, “porque cada um os ouvia falar na sua própria língua” [dialeto ou idioma]. “Como pois os ouvimos”, exclamaram eles, “cada um, na nossa própria língua [idioma ou dialeto] em que somos nascidos?” (Atos 2:6-8).

Estas observações da multidão indicam que o povo não ouviu, como alguns supunham, no cenáculo, onde os discípulos estavam reunidos na descida do Espírito Santo. Descobrimos que pelo menos quinze distritos são nomeados (Partos, medos, etc.) dos quais haviam representantes na multidão. Alguns dos distritos mencionados cobriram amplas áreas do país (“partes da Líbia, junto a Cirene”) é mais provável que mais de quinze dialetos tenham sido falados pelos discípulos e tenham sido reconhecidos pelos ouvintes.

Ora, não há uma palavra no registro que insinue que a multidão tenha sido atraída pelo rumor do ocorrido e entrado no cenáculo onde os discípulos se reuniam para orar. Pela limitação de tal acomodação encontrada naqueles tempos, é improvável que o local abrigasse muitos mais que cento e vinte pessoas. Os discípulos provavelmente desocupariam o local onde estavam reunidos em particular e iriam ao templo com o propósito de prestar testemunho público, como era costume.

A clara e simples afirmação do historiador de que todo homem ouviu em seu próprio idioma as maravilhosas obras de Deus é a prova de que não houve confusão surgindo dos diversos oradores que se dirigiam ao mesmo público ao mesmo tempo. Nas ruas a caminho o templo, e no próprio pátio, haveria tempo e oportunidade suficientes antes da terceira hora do dia (9 da manhã) para os discípulos testemunharem as maravilhosas obras de Deus, como de fato lemos que eles fizeram.

É importante que devamos, mesmo correndo o risco de uma acusação de repetição, pedir aos nossos leitores que observem com muito cuidado a natureza das evidências nesta parte. A narrativa em Atos 2 indica claramente que o público em geral em Jerusalém ouviu as testemunhas de Cristo proclamando sua mensagem sobre as “obras de Deus” em uma variedade de línguas, idiomas e dialetos estrangeiros, que os ouvintes reconheceram como aqueles com os quais eles tinham familiaridade por seu nascimento. Além disso, eles eram capazes de julgar que o que ouviam não era o discurso de tolos e de trapaceiros, mas declarações sãs de homens sensatos. O Espírito por cuja ajuda eles falaram foi, e é, o Espírito de uma mente sã (“Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação” – 2 Timóteo 1:7), e as pessoas que ouviram disseram: “todos os temos ouvido em nossas próprias línguas falar das maravilhas de Deus”. Podemos ignorar a tola observação de alguns inimigos de Cristo e partidários dos fariseus e dos saduceus que disseram “zombando: Estão cheios de mosto”. Esse absurdo não pede uma resposta séria hoje, já que Pedro respondeu à insinuação no ato.

Claramente, o fato notável estabelecido por Lucas é que várias pessoas, “de todas as nações que estão debaixo do céu” reunidas em Jerusalém por ocasião de uma grande festa judaica, ouviram nativos da Galiléia falar de modo audível e inteligível em diversas línguas, idiomas e dialetos. Aqueles que ouviram ficaram perplexos com o impressionante fenômeno e, embora incapazes de negar o fato das línguas, eles eram igualmente incapazes de explicá-lo por motivos naturais. “O que isso significa?” disseram uns para os outros.