Falando em línguas – Um delírio dos dias atuais
“A caridade nunca falha; mas, havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá” (1 Coríntios 13:8).
Grandes alegações são apresentadas por pessoas em algumas direções para a posse do Espírito Santo de uma maneira especial, e elas procuram apoiar suas pretensões alegando a habilidade de falar em línguas como era feito na igreja primitiva. Somos exortados a provar todas as coisas, e o Senhor expressou sua aprovação para a assembleia em Éfeso, na medida em que haviam julgado aqueles que se chamavam apóstolos e os haviam considerado falsos (“Examinai tudo. Retende o bem” – 1 Tessalonicenses 5:21; “puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são e tu os achaste mentirosos” – Apocalipse 2:2). É pedido, portanto, sujeitar estas alegações modernas a um breve exame à luz das Sagradas Escrituras.
Em primeiro lugar, é necessário indicar claramente o que é um fato indiscutível e o que deve ser aceito como uma verdade dolorosa e humilhante. Um pecado notável nos tempos atuais é desprezar a presença pessoal do Espírito de Deus na igreja como quando Ele se tornou presente em Pentecostes e que Ele não estava presente no mundo antes de Pentecostes (“disse ele do Espírito, que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado” – João 7:39; “Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo” – Atos 19:2). Assim como o Filho de Deus foi ignorado e desprezado quando visitou o Seu povo, o Espírito Santo de Deus também é ignorado e desprezado na cristandade hoje.
Além disso, deve-se admitir com mais vergonha que muitos daqueles que professam a crença na atual presença do Espírito no crente e também na igreja dificilmente se submetem à Sua liderança e às Suas múltiplas operações na verdadeira medida que seria mais glorificante para Deus e mais útil para si e para os outros através deles.
Embora, no entanto, essa falha generalizada em reconhecer o dom do Espírito seja verdadeira em uma extensão deplorável e exija confissão e correção, é necessário aprender com as próprias escrituras quais são as verdadeiras marcas da presença e ação do Espírito Santo. Há tanto o Espírito da verdade quanto o espírito do erro, e a cautela e a diferenciação são necessárias. O apóstolo João escreveu para toda a família de Deus: “Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 João 4:1). Temos, portanto, permissão para fazer nosso teste desta possibilidade em nosso tempo. E, consequentemente, perguntamos se existe algum motivo justo para crer que a plena operação do Espírito Santo é invariavelmente acompanhada pelo dom de línguas, ou para acreditar que falar em línguas constitui a única, ou mesmo a principal, prova de Sua presença e livre ação em um indivíduo?
Acreditamos que ao examinar à luz das Escrituras se descobrirá que não há base bíblica para tal conclusão. Pelo contrário, as epístolas do Novo Testamento se unem para nos ensinar que as operações do Espírito de Deus no meio da igreja são dirigidas para produzir nos santos uma conformidade moral e espiritual com Cristo. É pela atividade do Espírito do Senhor que somos transformados na imagem de Cristo de glória em glória (“Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” – 2 Coríntios 3:18). Seu fruto em nós é “caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, autocontrole”; repare que nessa lista não estão incluídos sinais exteriores (visíveis a olhos ou, no caso de línguas, perceptíveis aos nossos ouvidos) de poder (Gálatas 5:22-23). As Escrituras não mostram que o Espírito de Deus capacita santos para proferir diversos tipos de línguas, mas aprendemos que Ele intercede por eles com gemidos inexprimíveis (“o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” – Romanos 8:26).
Mas voltaremos imediatamente para a Palavra de Deus, pois esperamos nesta breve meditação examinar as diversas referências que ela nos fornece desta prática de falar em línguas no começo da existência da igreja com a intenção de verificar se há alguma garantia para esperar manifestações de tal poder no tempo presente.
Ao examinarmos as Escrituras, descobrimos que o milagre de línguas é mencionado por apenas três dos escritores do Novo Testamento, a saber:
(1) Marcos em seu Evangelho (Marcos 16:17);
(2) Lucas em Atos (Atos 2: 4, 6, 11; Atos 10:46; Atos 19:6);
(3) Paulo em uma de suas epístolas (1 Coríntios – capítulos 12 a 14).
Ao lermos estas passagens, entendemos que cada escritor escreveu sobre línguas de um ponto de vista distinto, e que o assunto principal de cada uma das três passagens é:
(1) Marcos registra a promessa do Senhor de que esse dom de línguas seria concedido após Sua ascensão;
(2) Lucas narra o cumprimento histórico da promessa do Senhor em três exemplos notáveis que ocorreram em Jerusalém, Cesaréia e Éfeso, respectivamente;
(3) Paulo fornece os importantes princípios da verdade que lançam luz divina sobre o uso e abuso do dom de línguas.