O QUE RESPONDI AOS QUE ME PERGUNTARAM SOBRE A BÍBLIA – VOLUME 06

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Apresentação

Primeiramente agradeço a Deus por permitir que este material fosse produzido e disponibilizado para milhares de leitores no Brasil e no mundo. As ideias que você encontra aqui não são originalmente minhas, e sim fruto do que tenho aprendido da Palavra de Deus fora dos sistemas denominacionais com irmãos congregados ao nome do Senhor e também com autores de outras épocas que congregavam assim. Foram eles J. G. Bellett, C. H. Brown, J. N. Darby, E. Dennett, W. W. Fereday, J. L. Harris, W. Kelly, C. H. Mackintosh, A. Miller, F. G. Patterson, A. J. Pollock, H. L. Rossier, H. Smith, C. Stanley, W. Trotter, G. V. Wigram e muitos outros.

Para que você compreenda como este livro veio a existir, creio ser necessário voltar um pouco no tempo. Depois de um período trabalhando em São Paulo, em 1988 mudei-me com minha família de volta para Limeira, minha cidade natal, a fim de colaborar com a Editora Verdades Vivas, uma organização sem fins lucrativos que produz e distribui literatura cristã. A grande quantidade de folhetos evangelísticos, livros e calendários distribuídos no Brasil e em outros países de língua portuguesa gerava um volume considerável de correspondência, não só com pedidos de publicações, mas também com perguntas sobre a Bíblia. Todas as cartas eram devidamente respondidas.

Nessa época adquiri o hábito de manter uma cópia das respostas em formato digital. Assim ficava fácil responder perguntas semelhantes ou até mesmo mesclar trechos de diferentes respostas, além de preservar aquele conhecimento. A partir de 1996 passei a usar a Internet e aí as respostas já não precisavam ser impressas, envelopadas e enviadas por carta como era feito até então. O uso do e-mail agilizou o processo e permitiu atender mais correspondentes com maior agilidade.

Em 1998 deixei a editora para atuar como executivo de uma empresa de tecnologia da informação, porém mantendo nas horas vagas minha ocupação com o evangelismo e ministério da Palavra via Internet por meio de diferentes sites e blogs. Em 2001 passei a trabalhar por conta própria como consultor e palestrante empresarial, tendo mais tempo livre e uma agenda mais flexível para dedicar-me ao evangelho.

Em 2005 decidi lançar o blog “O que respondi” no endereço respondi.com.br para disponibilizar as respostas que tinha armazenado em formato digital desde 1988 e acrescentar as que fossem sendo criadas. Algo que muitos perguntam é a razão de o blog não permitir comentários, mas o volume de spam, debates e opiniões deixadas na área de comentários me obrigou a eliminar esta opção de contato para me concentrar no atendimento apenas por e-mail. É sempre bom lembrar que não existe uma “equipe” para responder a correspondência que chega, pois este é um exercício pessoal.

Em 2008 iniciei um trabalho chamado “O Evangelho em 3 minutos — Uma mensagem urgente para quem tem pressa”, com vídeos no Youtube e também em versões de texto e áudio no endereço 3minutos.net. Com a popularização do smartphone e da Internet móvel este formato mostrou-se excelente para alcançar pessoas a qualquer hora e em qualquer lugar com a mensagem da salvação e a sã doutrina. O site “O que respondi” passou a servir de complemento aos vídeos. Enquanto no “Evangelho em 3 minutos” a Palavra de Deus é pregada de forma rápida, no “O que respondi” ela é explicada em detalhes e com referências.

Estas e outras frentes de trabalho via Internet continuam gerando um número cada vez maior de contatos e perguntas. Em 2013 foram mais de três mil perguntas atendidas, porém graças ao blog “O que respondi” nem todas precisaram ser respondidas. Na maioria das vezes é suficiente enviar links para as mais de mil respostas existentes no blog, que já conta com cerca de quatro milhões de acessos desde sua criação.

Assim chegamos à razão deste livro que está sendo lançado nos formatos digital (e-book) e impresso (on demand). Ele atende aqueles que desejam ter acesso ao material do blog sem depender de uma conexão com a Internet. Este é um dos mais de dez volumes projetados para compor esta coleção, se considerarmos todo o conteúdo do blog “O que respondi”.

Ao ler este livro não se esqueça de que está lendo as opiniões do autor, e não a Palavra de Deus. Considere também que os textos são cartas e e-mails de minha correspondência pessoal, e não uma obra literária. A linguagem é informal e despretensiosa como acontece com uma correspondência entre duas pessoas, e é provável também que você às vezes venha a achar a linguagem meio irreverente, mas isso é apenas fruto de meu estilo literário, e não de tratar levianamente as coisas de Deus ou a pessoa a quem respondi. Lembre-se também de que, para a resposta fazer sentido, às vezes incluo o que escreveram meus interlocutores e alguns são incrédulos ou ateus com opiniões depreciativas a respeito de Deus e de sua Palavra.

Não espere encontrar aqui todas as respostas e nem sequer as trate como definitivas. Elas são fruto do meu exercício com o Senhor e do que continuo aprendendo todos os dias. Por isso leia, medite, busque referências na Bíblia e ore para que o Espírito Santo lhe dê o entendimento. Sem isto até a pessoa mais inteligente e versada nas Escrituras será incapaz de entender as coisas de Deus, pois elas se discernem espiritualmente.

É provável que você encontre erros em minhas opiniões. Pode ter certeza de que eu mesmo eventualmente sou obrigado a acessar o blog “O que respondi” para fazer correções após ter sido instruído ou alertado de alguma falha por algum irmão ou por algo que li na Palavra de Deus. Se, ao comparar uma resposta mais antiga com uma mais nova, você encontrar alguma discrepância, saiba que optei por não revisar todas as respostas, mas decidi mantê-las do modo como entendia as coisas quando as escrevi, e lembre-se de que você está lendo textos escritos ao longo de um período de cerca de trinta anos. Se encontrar algum erro de digitação ou de gramática, entre em contato para eu fazer as devidas correções, pois o desejo de disponibilizar este livro o mais rápido possível nas mãos dos leitores foi maior que o tempo que tive para revisá-lo.

Este livro está sendo distribuído gratuitamente, porém alguns sites de terceiros ou editoras irão cobrar algum valor para a versão e-book ou impressa sem que isto signifique algum ganho da parte do autor que optou por abrir mão dos ganhos com direitos autorais. Você poderá distribuir o conteúdo deste livro, desde que o faça gratuitamente, não altere o texto e mantenha a referência ao autor.

Peço que se lembre de incluir este trabalho em suas orações e de endereçar ao Senhor, e não a mim, qualquer sentimento de gratidão que porventura possa ter por esta leitura.

Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa” (Os 6:3).

Mario Persona

www.respondi.com.br

www.3minutos.net

Abril, 2014

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Como você conduz as reuniões?

Ao perguntar como é que eu conduzo as reuniões onde congrego, dá a impressão que você está vendo a coisa toda com óculos eclesiásticos, ou seja, ainda traz a ideia de um homem conduzindo as reuniões. Na verdade eu não conduzo nada (mal consigo conduzir meu carro). Se quiser entender como devem ser as reuniões em nome do Senhor Jesus somente, é melhor passar uma borracha no que aprendeu nos sistemas denominacionais (e não-denominacionais) que adotam uma estrutura clerical.

Quando nos reunimos, a direção é deixada para o Espírito Santo, e ele irá usar quem ele desejar. Um irmão poderá sugerir um hino, outro trazer uma ação de graças em nome de toda a assembleia, outro ler uma passagem da Bíblia, outro trazer uma palavra de edificação, consolação ou exortação, etc. Tudo isso é feito com decência e ordem, e enquanto um irmão fala, os outros julgam para ver se aquilo está de acordo com a sã doutrina. O “roteiro” da reunião, você encontra em 1 Coríntios 14, principalmente do versículo 26 em diante.

Eu também não lido com membros ou comportamentos, como você colocou em sua dúvida. A assembleia como um todo é que tem essa responsabilidade, e os irmãos mais experientes obviamente colocam em prática esse cuidado. Então se um irmão que está ministrando traz algo que não está de acordo com a Palavra de Deus é provável que ele seja interrompido e convidado a calar-se, no caso de algo muito grave, ou simplesmente será corrigido após a reunião, no caso de um deslize de menor gravidade ou de uma afirmação dúbia.

Quando um irmão ou irmã em Cristo tem o desejo de estar em comunhão à mesa do Senhor para participar da ceia do Senhor, essa pessoa apresenta o seu desejo a um irmão que o comunica aos irmãos responsáveis, que irão visitar essa pessoa, conversar com ela, conhecer mais de sua fé e principalmente saber se ela não está em pecado moral, doutrinal ou eclesiástico (associada a alguma seita). Então, quando existir paz entre os irmãos a respeito disso, é feito o anúncio a toda a assembleia e, se não existir nenhum impedimento, essa pessoa passa a participar da ceia do Senhor na semana seguinte.

Quando alguém que está em comunhão à mesa do Senhor cai em pecado, dependendo da gravidade do pecado essa pessoa pode ser colocada em disciplina cabível para cada caso. Por exemplo, alguém que ministra a Palavra nas reuniões pode ser convidado a ficar em silêncio, caso esteja causando problemas com o que ministra, ou até mesmo ser excluído da comunhão à mesa dependendo da gravidade da situação. O mesmo acontece com pecado moral. Alguém que é colocado fora da comunhão poderá receber um acompanhamento de irmãos visando sua restauração, o que se dá quando a pessoa dá provas de um arrependimento sincero.

Quando um novo convertido começa a se reunir, ele naturalmente irá ganhar conhecimento nas reuniões ou pelo convívio com irmãos fora delas. Geralmente há irmãos que têm um dom mais de pastoreio, que visitam essa pessoa ajudando-a a compreender melhor as coisas do Senhor. As irmãs também fazem um ótimo trabalho neste sentido, como a própria Palavra de Deus mostra em Atos 18:24-26:

E chegou a Éfeso um certo judeu chamado Apolo… Este era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João… Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus”.

Também em Tito 2:3-5

As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem; para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada”.

Você perguntou o que ocorre quando alguém tem problemas no casamento e precisa de ajuda. Geralmente o casal reconhecerá um irmão mais experiente e pedirá ajuda a ele. Se os problemas envolverem pecado, como adultério, obviamente esse irmão terá de levar o caso aos outros irmãos e isso será tratado numa das reuniões de irmãos que ocorrem periodicamente. Essas reuniões não têm um caráter público, mas são reservadas para tratar de questões e problemas como é o caso de um pecado que contamine a assembleia. Apenas a decisão final é levada à assembleia, e não os detalhes de cada caso.

Mas quando o assunto é apenas uma orientação na Palavra sobre dificuldades no relacionamento, isso acaba ficando entre o casal e o irmão que eles procuraram, a menos que esse irmão se sinta incapaz de ajudar e sugira ao casal alguém mais habilitado e experiente.

Com respeito a namoro (a outra dúvida de vocês), os jovens são ensinados a somente terem um relacionamento sério se tiverem em mente o casamento. Na Bíblia não encontramos namoro, mas encontramos noivado, ou seja, uma decisão já final a respeito de um relacionamento. Porém isso não é uma doutrina, mas um costume que encontramos principalmente no Antigo Testamento e pode nos ajudar na direção a tomar. O que temos bem claro na doutrina dada à igreja nas epístolas, é que o ato sexual só deve ocorrer entre pessoas casadas, portanto se algum jovem estiver em pecado moral ele será colocado em disciplina fora da mesa do Senhor.

A outra dúvida de vocês é o que fazer caso um irmão descubra que outro está agindo errado, se deve trazer isso à luz ou manter-se calado. Tudo depende do que seja a coisa errada. Se o irmão é diabético e está comendo doce, então é uma questão entre ele e quem soube disso. Se for algo entre eles, também deve ser resolvido entre eles, como ensina Mateus 18:

(Mt 18:15) “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão;”.

Porém pode ser que o assunto esteja mais complicado e seja preciso o auxílio de outros irmãos:

(Mt 18:16) “Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada”.

Esgotados todos os recursos de resolver isso, então a disputa é levada à assembleia, que deverá tomar as providências cabíveis:

(Mt 18:17-20) “E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.

Esse “ligar” e “desligar” tem um caráter governamental apenas, e é feito com a autoridade que o Senhor delegou à assembleia. A decisão que é tomada pela assembleia é respeitada no céu (“ligado no céu”) e nas outras assembleias, e tem a ver com decisões administrativas, nunca com a salvação. Ninguém tem o poder de dar ou tirar a salvação de alguém. Deus tem o poder de dar a salvação, porém como os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis, isso é algo eterno.

Já quando a questão é de pecado grave, que envolve a contaminação da assembleia, então é obrigação de quem soube do pecado contar aos irmãos responsáveis e estes tomarão as providências cabíveis, conforme nos ensina 1 Coríntios 5. O que não pode existir é pecado grave varrido para debaixo do tapete. Há, porém, faltas menores (tipo “o Zezinho colou na prova”) que às vezes trazem mais constrangimento e dano se forem expostas, do que se forem tratadas apenas entre alguns poucos irmãos, mas não estou falando aqui de pecados claramente denunciados pela Palavra de Deus como graves.

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Você não estará no Juízo Final?

Não, eu não estarei entre os que passarão pelo chamado Juízo Final porque assim Jesus prometeu. Mas para entender isto você precisa ter em mente que o perdão de nossos pecados não é dado àqueles que se comportam direitinho, mas àqueles que pedem para serem perdoados e aceitam para si mesmos a solução que Deus oferece.

A ideia de que todos os seres humanos passarão pelo juízo final, quando Deus, por assim dizer, colocaria numa balança o bem e o mal que cada um fez, não tem respaldo bíblico. Em geral as religiões consideram que o homem é pecador e será julgado no fim para ver se pode ou não entrar no céu (paraíso, ou seja lá o nome que deem para isso). O cristianismo é diferente.

A questão é: como Deus poderia julgar quem já foi julgado, culpar quem já foi inocentado, condenar quem já foi condenado ou executar quem já foi executado… Por procuração? Quando a Bíblia diz que Jesus veio ao mundo morrer por pecadores, isto significa substituição, assim como acontecia também com os animais sacrificados pelos israelitas no Antigo Testamento. Quem pecasse tinha um animal inocente morto em seu lugar. Até a chegada do Cordeiro de Deus.

Ao morrer na cruz Jesus sofreu o juízo merecido pelos pecadores, e agora Deus convida cada um a tomar para si a eficácia dessa substituição para a anulação de sua pena. Aquele que realmente crê em Jesus, crê que ele morreu lá em seu lugar, levando seus pecados. Para este, Jesus é Salvador ou Salva-Vidas de fato, e não um mero exemplo a ser seguido. Ou você já viu algum afogado salvar-se apenas seguindo o exemplo do salva-vidas? “Bate a mão… agora os pés… fecha a boca, cara!!!”, “Glub-glub…”.

A religião é como um mensageiro que chega à cidade sitiada trazendo uma lista de coisas que o inimigo exige que sejam todas cumpridas para que o povo não seja destruído. O problema é que a lista está além das possibilidades humanas. Assim são todas as religiões, e assim era no Antigo Testamento (quando Deus provou a incapacidade do homem).

Cristianismo é como um mensageiro que chega à cidade sitiada trazendo uma boa notícia (evangelho = boa nova): O resgate pela libertação do povo já foi pago e quem aceitar isso gratuitamente (por “graça”) não será destruído. Agora pare um pouco para pensar: Como é que uma lista de coisas para fazer poderia ser chamada de “boa notícia”? O que as religiões propõem ao homem é uma péssima notícia, pois todos nós sabemos como somos pecadores e maus, incapazes até de parar de pensar em coisas erradas!

Portanto, eu e todo aquele que crê em Jesus não passaremos pelo juízo final. Basta uma olhada em Apocalipse 20:11-15, que descreve o Grande Trono Branco (o Juízo Final), para perceber que ninguém sai dali salvo. Não é um julgamento para decidir se o cara é bom ou ruim; é apenas a lavratura da sentença para os que, em vida, não aceitaram a provisão de Deus e não ganharam de graça o perdão de seus pecados e a anulação de suas penas.

Portanto, ao contrário do que você disse, eu não comparecerei “diante do Supremo Juiz no dia do Juízo Final”. Sou pecador, porém já perdoado e livre do juízo, pois há mais de 30 anos fui perdoado (por graça) da dívida que estava em meu nome, em virtude do pagamento feito por meu Substituto há dois mil anos.

Para os que também aceitaram para si mesmos essa quitação da dívida, vale o que Jesus prometeu (atente para o tempo dos verbos):

(Jo 5:24) “Na verdade, na verdade vos digo que quem OUVE a minha palavra, e CRÊ naquele que me enviou, TEM a vida eterna, e NÃO ENTRARÁ em juízo mas PASSOU DA MORTE PARA A VIDA”.

Quem não entende a obra substitutiva de Jesus e a graça de Deus (graça = favor imerecido) não entende o que é realmente o evangelho (boa notícia). Ora, que boa notícia há em dizer a alguém como eu e você que precisa ser perfeito como Jesus para entrar no céu?!!! Deus não aceita menos que a isenção total dos pecados.

(Is 53:5) “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.

(Ef 2:8-9) “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom (dádiva, presente) de Deus. não vem das obras, para que ninguém se glorie”.

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A ideia do arrebatamento é demoníaca em sua origem?

O argumento de que o arrebatamento da igreja antes da tribulação seria uma ideia emprestada por John Nelson Darby de uma adolescente possessa não tem qualquer fundamento. Não é preciso ser muito inteligente para deduzir que Darby e outros autores do século 19 não escapariam ilesos das críticas do clero, por terem voltado as costas ao sistema clerical e passado a congregar somente em nome do Senhor Jesus. Além disso, outros autores antes de Darby já tinham falado do arrebatamento.

Os críticos alegam que a adolescente Margaret McDonald (ou MacDonald) foi a fonte dos ensinamentos sobre o arrebatamento. A questão é que Darby já tinha publicado algo sobre o arrebatamento três anos antes dessa jovem começar a ter suas manifestações demoníacas (ou “carismáticas” como alguns, como Edward Irving e Henry Drummond, preferiram chamar). Veja este trecho que traduzi da biografia de Margaret McDonald da Wikipedia em inglês:

Tem havido algumas tentativas de se encontrar uma ‘fonte’ para o conceito do arrebatamento descrito por Darby. Essas tentativas insistem que os conceitos de Darby originaram de uma fonte ‘falsa’, isto é, demoníaca. Samuel Tregelles alegava que o conceito de John Nelson Darby acerca do arrebatamento foi obtido a partir de algumas das manifestações carismáticas na igreja de Edward Irving. Considerando que Tregelles afirmava que aquelas manifestações ‘fingiam ser de Deus’, ele deduzia que a ideia do arrebatamento defendida por Darby tinha origem demoníaca.

Dave MacPherson baseou-se na acusação de Tregelles e afirmou que a fonte do arrebatamento defendido por Darby eram as manifestações de Margaret MacDonald. Todavia os estudiosos encontram sérios obstáculos a isso, provando serem essas acusações improcedentes. É sabido que Darby considerou as manifestações carismáticas de 1830 como demoníacas, e não como vindas de Deus. Darby não teria emprestado uma ideia de uma fonte que ele claramente considerava demoníaca. Além disso, Darby já tinha escrito suas opiniões sobre o arrebatamento pré-tribulacionista em janeiro de 1827, três anos antes dos eventos de 1830 e das manifestações de Margaret MacDonald.

Quando as manifestações publicadas de Margaret MacDonald são lidas atentamente, é possível ver que suas declarações são pós-tribulacionistas (‘a terrível tribulação que irá nos provar’ e ‘para limpar e purificar os verdadeiros membros do corpo de Jesus’). Por estas e outras razões os estudiosos consideram improcedentes as alegações de MacPherson sobre o dispensacionalismo”.

O que ocorre é que Darby sofreu ataques violentos do clero, porque no século 19 o movimento dos irmãos reunidos em nome do Senhor foi muito grande e havia assembleias espalhadas pela Inglaterra e em toda a Europa. Houve até implicações políticas decorrentes disso, pois muitos da classe nobre e até mesmo membros do clero abandonaram suas denominações para congregar na simplicidade ensinada pela Palavra. Quando membros do clero abandonam o clero, isso coloca uma nuvem de desconfiança sobre os que ficam. E quando membros da nobreza deixam de dar seus dízimos, então o clero se vê na obrigação de convocar a cavalaria para contra-atacar. Simples assim.

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O que significa o castiçal em Apocalipse 2:5?

Entendo ser o castiçal também um símbolo de testemunho. Vemos a luz ser usada no mesmo sentido (“Vos sois a luz do mundo”). O castiçal do Antigo Testamento era feito de uma só peça de ouro batido. Isto nos fala de unidade. Pode haver testemunho sem unidade? “Por boca de duas testemunhas ou três testemunhas…” (Dt 17:6) “Andarão dois juntos se não estiverem de acordo?” (Am 3:3) “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles” (Mt 18:20).

Não somente Éfeso (que é citada no versículo) falhou, mas o testemunho da Igreja neste mundo falhou (e continua falhando) terrivelmente. Creio sinceramente que o afastamento da simplicidade da Palavra de Deus ajudou em muito para que chegássemos a este ponto. Se eu incluir o conhecimento do mundo, ou as “armas carnais”, para interpretar a Bíblia, alguém aplicará outro tipo do mesmo conhecimento em sua interpretação e não haverá jamais um acordo. Se me limito ao que diz a Palavra de Deus, o Espirito Santo terá liberdade em me guiar nesta fonte de água pura que ele mesmo nos deixou.

Hoje é comum encontrarmos frases do tipo “essa era a opinião de Paulo”, “isso era por causa dos costumes da época”, “a arqueologia provou o contrário”, “segundo a evolução…”, “o dilúvio só foi em uma pequena região…”, etc. Os homens acreditam mais na ciência do homem e na antropologia do homem do que na Palavra de Deus. Só podia dar no que deu.

Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez: o Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos” (1 Co 3:19-20).

Porque andando segundo a carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” (2 Co 10:3-5).

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Devo estar revoltado?

Essa coisa de revoltado tem a ver com uma campanha de uma denominação, que incita seus membros a se revoltarem contra sua condição de pobreza, fracasso e ruína para tomarem uma atitude visando a prosperidade. Nada poderia ser mais falso, doentio e vil, do que pregar algo assim. Uma fogueira nada santa está reservada para esses pregadores, conforme o Senhor prometeu:

(Mt 7:22-23; 25:41) “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade… para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”.

Recentemente minha empregada contou que estava arrasada com o que lhe aconteceu. Como de costume, acordou cedo no domingo, se arrumou, pegou ônibus e foi para sua “igreja”, que é dessa denominação. Ela contou que acordou muito feliz com Jesus, cheia de alegria pelo que ele fez por ela e foi meditando nisso pelo caminho.

Quando chegou no “culto”, o “pastor” (uso aspas aos montes porque neste caso nenhuma destas palavras tem a ver com a Verdade da Bíblia) disse que estava revoltado e que todos deviam estar revoltados, caso contrário não sairiam da pobreza, não teriam prosperidade e coisa e tal. De microfone em punho, ele gritou: “Quem não estiver revoltado levante a mão”.

Numa audiência de umas 500 pessoas, minha empregada foi a única que levantou a mão e ouviu do “pastor”: “Se não está revoltada, fora daqui porque hoje eu só quero gente revoltada!”. Até ela se surpreendeu com sua própria reação: colocou-se em pé e declarou em alto e bom som:

“‘Pastor’, o senhor perguntou quem não está revoltado e eu estou dizendo que não estou. Saí de casa feliz com Jesus e vim aqui alegre esperando ouvir a Palavra de Deus. Apesar de o senhor querer que eu fique revoltada, não estou revoltada e nem vou ficar, porque conheço Jesus e tudo o que fez por mim. Como poderia estar revoltada?”.

Diante disso o “pastor” berrou do palco que ela devia sair imediatamente da “igreja”, o que ela fez para não mais voltar. Ali não era o lugar para a única entre 500 pessoas que era sincera o suficiente para dar um testemunho público de sua fé em Jesus e da satisfação que é crer nele. Se as outras pessoas lessem a Bíblia (o que provavelmente não fazem sem as lentes fornecidas por seu “bispo”), veriam passagens como estas:

(Hb 13:5) “Seja a vossa vida isenta de ganância, contentando-vos com o que tendes; porque ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te desampararei”.

(1 Tm 6:8) “Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.

(Fp 4:4) “Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos”.

(Fp 4:11-13) “Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”.

(Fp 4:6) “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças”.

(Mt 6:25) “Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?”.

Antigamente essas “igrejas” usavam a cura física para atrair membros, mas depois descobriram que usar riqueza dá mais IBOPE porque apela para a ganância das pessoas. Além disso, seus pastores enriqueceram demais e precisavam de uma desculpa para sua fortuna, daí surgiu a “teologia da prosperidade”.

Quem quer dinheiro fácil (sem trabalhar duro) vai procurar uma “igreja” assim. É o culto a Mamom, com promessas de prosperidade e sucesso neste mundo. Inverteram o mandamento, que diz “Não cobiçarás” e pregam “Cobiçarás”.

(Mt 6:24) “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom [riqueza]”.

Nessas igrejas Mamom é obedecido, venerado e adorado. Tudo gira em torno desse “deus”, tudo é na base de “campanhas” para encher os bolsos dos “pastores”. Obviamente alguns “fiéis” acabam prosperando, mesmo porque prosperariam de qualquer maneira em qualquer lugar, e atribuem isso ao poder daquela “igreja” e de seus “bispos” e “pastores”. Mas esses são farinha do mesmo saco. Em todo golpe é preciso dois gananciosos: o golpista, que oferece o bilhete “premiado” de 100 mil por apenas mil, e a vítima, que é gananciosa ao ponto de entregar mil ao golpista porque quer ganhar dinheiro fácil.

(Pv 30:15) “A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá”.

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Quem diz “Senhor, Senhor” não é irmão?

Você leu meu texto com o título “Devo estar revoltado?” e se surpreendeu com a passagem onde cito Mateus 7:22-23 e 25:41 com um comentário “Uma fogueira nada santa está reservada para esses pregadores, conforme o Senhor prometeu”. Sua dúvida foi: “Se estes profetas falam “Senhor, Senhor”, conclui-se que são irmãos, então como podem ir para o fogo eterno?”.

É importante ler a passagem inteira de Mateus 7 para ver que o Senhor está falando de pessoas que não dão frutos genuínos de uma vida nova. Então ele menciona esses que pregam e fazem milagres em seu nome e diz deles: “nunca vos conheci”. Se o Senhor não os conheceu, obviamente eles também nunca conheceram o Senhor, nunca foram salvos, e seus interesses no rebanho é só para vantagem própria.

Quando o Senhor estava no mundo, ele não desrespeitava a autoridade que tinham os sacerdotes judeus e outros líderes do judaísmo, pois eles tinham sido revestidos de autoridade pelo próprio Deus que estabeleceu a religião judaica. Quando o Senhor curava alguém, mandava a pessoa ir falar com o sacerdote para oferecer sacrifícios. Hoje já não temos sacerdotes, ou templo, ou sacrifícios ou o sistema judaico. Portanto qualquer pessoa que se posicione como um líder no cristianismo precisará mostrar de quem recebeu tal autoridade.

Hoje na cristandade temos cristãos falsos e verdadeiros, joio e trigo, assim como no judaísmo você encontra essas duas classes de pessoas. Em Atos o apóstolo Paulo alerta os anciãos de Éfeso sobre o que aconteceria após sua partida. Aqueles anciãos tinham sido escolhidos por apóstolos ou por pessoas especialmente designadas por um apóstolo. Hoje já não temos apóstolos para eleger oficialmente anciãos como eles tinham.

Mas vamos ao alerta que Paulo faz:

(At 20:29-30) “Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas [pervertidas], para atraírem os discípulos após si”.

Veja aí duas classes de homens: os lobos, que vêm de fora (não são convertidos reais) e seu intento é destruir o rebanho, simplesmente porque lobos se alimentam das ovelhas, destruindo-as assim. Dá para perceber uma semelhança com esses falsos pregadores que se alimentam dos cristãos, extraindo deles tudo o que podem?

Então existe a outra classe, os homens que falam coisas pervertidas ou distorcidas e têm o intento de atrair seguidores ou discípulos. Não diz que eles querem destruir o rebanho, mas simplesmente serem seguidos pelas ovelhas. Estes podem ser cristãos genuínos e salvos, porque diz que eles são “de entre vós mesmos” (ao contrário dos lobos que “entrarão no meio de vós”), mas sua intenção é ser dono do rebanho, e para isso distorcem (pervertem) as Escrituras.

Meu conselho: fique longe dos que querem se alimentar de você (os que pedem, pedem, pedem sem parar…) e dos que querem que você os siga ou sejam seus discípulos (os que querem ter domínio sobre o rebanho por sede de poder).

A Palavra de Deus previa que nos últimos dias não faltariam os falsos cristãos (e estamos nos últimos dias), e suas características podem ser encontradas em 2 Timóteo 3:

(2 Tm 3:1-9) “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos (gananciosos), presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites (boa vida) do que amigos de Deus, Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências (desejos extremos); Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. E, como Janes e Jambres (que imitavam os milagres de Deus) resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles”.

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Você faz parte da “igreja nas casas”?

Não tenho nenhuma ligação com esse movimento de “igreja nas casas” ou outros movimentos atuais como “igreja em células”, “comunidades”, etc. Eu e os irmãos com os quais estou em comunhão simplesmente nos congregamos, sem nos importarmos muito com o lugar físico onde isso é feito — casa, apartamento, garagem, escritório, etc. A questão não é o lugar, mas o terreno ou fundamento de reunião.

Em cada lugar e país os irmãos simplesmente procuram o local que seja mais adequado a isso. No Nepal os irmãos são obrigados a cruzar a fronteira com a Índia para se reunirem, já que no Nepal qualquer reunião cristã é proibida.

No Egito é proibido aos cristãos congregarem, a não ser em algum local que já existia antes da proibição. Por isso as reuniões regulares no Cairo costumavam ser feitas numa sala alugada no porão de uma antiga igreja Católica Copta, mas o sacerdote andou criando empecilhos. Aí os irmãos decidiram alugar uma sala em uma antiga igreja Batista, que existia antes da proibição para poderem fazer as reuniões. Eles também fazem reuniões anuais em um complexo hoteleiro para turistas estrangeiros na outra margem do Mar Vermelho, onde é uma espécie de “zona franca” para os estrangeiros também poderem professar sua religião.

Portanto o que importa não é lugar físico, mas o princípio sobre o qual nos reunimos, que é o de que há um só corpo e que nesse corpo não pode haver independência. Reconhecemos que todos os salvos por Jesus são a igreja, que o Senhor tem um testemunho no mundo, e que ele está onde dois ou três estão congregados ao seu nome (e não em nome de uma organização ou líder religioso).

A diferença das “reuniões nas casas” ou “igreja nas casas”, que é um conceito que se popularizou até entre cristãos denominacionais católicos e protestantes, é que essas reuniões são independentes entre si, enquanto uma assembleia nunca deve ser independente das outras reunidas em nome do Senhor. Se eu sair daqui e visitar a África, vou encontrar lá irmãos congregados em nome do Senhor dentro dos mesmos princípios praticados pelos irmãos daqui. Uma decisão que é tomada lá por aqueles irmãos em nome do Senhor será reconhecida e honrada em todas as assembleias reunidas em nome do Senhor em todo o mundo.

Você perguntou sobre Frank Viola, mas penso que ele simplesmente usou algumas ideias tiradas de princípios que já eram praticados há pelo menos duzentos anos e podem ser encontrados na literatura dos irmãos daquela época, produzida por irmãos como Darby, Mackintosh, Kelly, Dennett, Bellett, Trotter, Rossier, Stanley e outros. Você encontra literatura em inglês desses irmãos e de outros de sua época no endereço da Web http://bibletruthpublishers.com/bibletruth-library/lh.

Há uns 30 anos Deus começou a me mostrar o erro que é congregar em uma denominação e então me separei dos sistemas religiosos para estar congregado somente ao nome do Senhor em comunhão com irmãos em todo o mundo que também estão congregados assim.

Nas reuniões aprendemos da Palavra de Deus, apresentamos nossas necessidades em oração e lembramos a morte do Senhor em sua ceia a cada dia do Senhor. Considerando que hoje existem muitos grupos reunindo assim, é importante verificar a origem de cada um, pois muitos surgiram de divisões causadas por homens.

Existem assembleias congregadas em nome do Senhor em vários países. No Brasil há reuniões assim há quase quarenta anos, mas em outras partes do mundo isso é muito mais antigo. Conheço irmãos e irmãs já idosos cujos avós já se congregavam somente ao nome do Senhor. Existe sim um intercâmbio entre as assembleias, irmãos que se visitam, etc., mas não existe nenhum “organismo” central ou organização por detrás disso. Afinal, se o Espírito Santo é suficiente, por que acharmos que ele não pode, não é mesmo?

No passado havia muita gente congregada assim, mas como sempre aconteceu na história da igreja, ocorreram muitas divisões e hoje há poucas assembleias de irmãos reunidos assim no mundo todo, e não são muitas no Brasil. A maioria quase que literalmente “dois ou três”, às vezes até apenas uma ou duas famílias reunindo-se em casas ou pequenos salões.

Não são muitos os que se dispõem a sair do sistema religioso para se reunirem somente ao nome de Jesus, pois não há muitos atrativos para a carne. Sem grandes oradores, corais, bandas, festas e tantas outras coisas que o mundo religioso oferece, ficamos só com Jesus, o que obviamente é tudo, mas não para os desejos humanos. Além disso, o importante é entender que devemos nos separar dos sistemas por causa do que eles são, e não especificamente por causa deste ou daquele irmão que existe ali. Pessoas com falhas nós iremos encontrar em todos os lugares. Eu sou uma delas.

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O que você acha deste livro de Frank Viola?

Ao menos no trecho do livro que você me enviou, Frank Viola comete alguns equívocos clássicos da teologia com viés de liderança eclesiástica, como é o caso de acreditar na existência de apóstolos ainda em nossos dias. E não podia ser diferente, pois no trecho do livro “Quem é tua cobertura?” ele insiste em colocar os crentes sob o comando de um tipo de clero, que ele chama de “obreiros apostólicos”. Com uma aparência mais moderninha certamente, mas clero assim mesmo. Vou comentar alguns destes equívocos no texto que você me enviou.

No entanto, a Escritura menciona outros apóstolos aparte dos doze. Paulo e Barnabé (At 14:4,14; 1 Co 9:1-6), Tiago, o irmão do Senhor (Gl 1:19), Timóteo e Silas (1 Ts 1:1; 2:6) são somente alguns dos apóstolos que aparecem nas páginas do NT. O ministério apostólico, portanto, continuou depois da morte dos doze apóstolos originais.” (Frank Viola).

Primeiro, é importante entender que dos cinco dons mencionados em Efésios 4:11 (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores), os dois primeiros eram os únicos com autoridade para trazer uma mensagem de primeira mão, isto é, uma revelação de Deus. Foram eles que nos legaram as Escrituras do Novo Testamento.

Segundo, principalmente no caso dos apóstolos, eles tinham uma autoridade que nenhum cristão tem hoje, como era o caso de entregar a Satanás um cristão desobediente para a destruição da carne, conforme Paulo ordena em 1 Co 5:3-5. O que felizmente pode não ter sido preciso pelo que lemos em 2 Co 7, que parece indicar que houve arrependimento da parte do malfeitor. Porém este não foi o caso em Atos 5, quando Ananias e Safira são mortos por sua mentira.

Eu pergunto: quem hoje teria a pretensão de afirmar ter recebido uma revelação inédita e direta do Senhor, como Paulo fez? Tirando os pregadores de TV que pedem dinheiro por “revelação divina”, ninguém mais ousaria fazer isso. E quem hoje teria autoridade para ordenar que alguém fosse entregue a Satanás para a destruição da carne (morte física)? Estas eram apenas duas das prerrogativas de um apóstolo.

O autor está equivocado ao tentar provar a continuidade dos apóstolos usando o caso de Barnabé (At 14:4-14 e 1 Co 9:1-6), que tem uma missão especial designada pelo Espírito Santo em alto e bom som.

O versículo que ele cita em Gl 1:19, que supostamente colocaria Tiago na condição de apóstolo, pode ser melhor entendido se não nos esquecermos de que Paulo era, ele próprio, um apóstolo. A frase “e não vi a nenhum outro dos apóstolos [referindo-se a si mesmo], senão a Tiago, irmão do Senhor” pode ter o sentido de não ter visto ninguém além de Tiago. Faz todo sentido pensar que Paulo estivesse dizendo “Além de mim, não vi a nenhum outro dos apóstolos, mas só vi Tiago, irmão do Senhor”. (mais adiante explico porque não creio que Tiago, irmão do Senhor, fosse apóstolo). Ou também pode ser o caso de ele estar se referindo a Pedro, que é um dos visitados conforme diz o vers. 18. Veja o contexto:

(Gl 1:18-19) “Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro, e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor”.

Quanto a 1 Ts 2:6 que Frank Viola tenta associar a 1 Ts 1:1 para parecer que Paulo está se referindo a Silvano e Timóteo ao dizer “nós apóstolos”, me parece uma interpretação forçada. Ou Paulo está falando de apóstolos no sentido genérico daqueles que viram o Senhor e receberam deles este dom, ou está se referindo a uma missão especial, que estendia temporariamente o valor das credenciais, como ocorreu com Barnabé.

A condição para ser um apóstolo é muito clara nas páginas das Escrituras, portanto, a menos que a Palavra de Deus contenha contradições, o que é impossível, precisamos entender estas passagens dentro de seus respectivos contextos de missões especiais. O apostolado exigia pelo menos três condições essenciais:

· Ter visto o Senhor pessoalmente (1 Co 9:1; 2 Co 12:2).

· Ter sido escolhido e enviado diretamente pelo Senhor (Lc 6:13; Jo 6:70; At 9:15; 22:21).

· Ter sido testemunha de sua ressurreição (At 1:22; 1 Co 15:8, 15).

Barnabé não aparece nos evangelhos acompanhando o Senhor, mas apenas depois da igreja já formada: “José, cognominado pelos apóstolos, Barnabé (que, traduzido, é Filho da consolação), levita, natural de Chipre, possuindo uma herdade, vendeu-a, e trouxe o preço, e o depositou aos pés dos apóstolos. (At 4:36-37). Que ele não era um dos apóstolos fica claro pela indicação de ter depositado o dinheiro aos pés dos apóstolos.

Tiago era irmão do Senhor, e obviamente conhecia o Senhor, e aparece nos evangelhos, porém na condição de incrédulo: (Jo 7:5) “Porque nem mesmo seus irmãos criam nele”. E Timóteo, que Paulo chama de “meu verdadeiro filho na fé” deve ter ouvido o evangelho do próprio Paulo para ser considerado filho na fé, ou seja, bem depois de o Senhor escolher seus apóstolos e o próprio Paulo.

Embora os apóstolos contemporâneos não estejam produzindo Escritura, eles estão comissionados divinamente para edificar o Corpo de Cristo (1 Co 12:28-29; Ef 4:11). A obra principal de um apóstolo é levantar igrejas. Isto não significa que uma igreja não pode nascer sem a mão de um apóstolo. As igrejas de Antioquia da Síria, Cesárea, Tiro e Tolemaida não parecem ter sido fundadas por algum. Mas todas estas igrejas receberam ajuda de um obreiro apostólico depois de seu nascimento. De fato, cada igreja que se menciona no NT foi plantada ou grandemente ajudada por um obreiro apostólico… Os obreiros apostólicos são irmãos que possuem dons e que estão comissionados especialmente por Deus para realizar este trabalho (Rm 1:1; 1 Tm 2:7; 2 Tm 1:11). Estes são aprovados e enviados à obra pelos crentes, quem lhes conhecem intimamente. Considere Atos 13:1-4”. (Frank Viola).

Primeiro, ele erra ao confundir a igreja com “igrejas” ou assembleias locais. Segundo, ele erra ao determinar que a edificação do Corpo de Cristo seja função dos apóstolos. Bastam poucos versículos para perceber que TODOS os dons estão envolvidos na edificação da qual os próprios cristãos são as pedras individuais.

(1 Co 14:12) “Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja”.

(Ef 4:11-12) “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;”.

Embora os apóstolos contemporâneos não estejam produzindo Escritura, eles estão comissionados divinamente para edificar o Corpo de Cristo (1 Co 12:28-29; Ef 4:11)”. (Frank Viola).

Mais um equívoco aqui: A passagem de 1 Co 12:28-29 não tem nada a ver com o que ele afirma e tampouco Ef 4:11. As duas passagens simplesmente falam do dom do apostolado, que como já vimos aplica-se às condições que mencionei. Os versículos parecem ter sido introduzidos aqui para dar peso de autoridade da Palavra de Deus, mas não basta citar versículos para tentar embasar uma afirmação se eles não tiverem nada a ver com a afirmação que está sendo feita.

Neste ponto da leitura eu já começo a pensar que Frank Viola perde o fio da meada ou não está sendo sincero, ao aplicar o mesmo artifício (de citar versículos que nada têm a ver com suas afirmações) também em outras passagens de seu livro, como esta:

Os obreiros apostólicos são irmãos que possuem dons e que estão comissionados especialmente por Deus para realizar este trabalho (Rm 1:1; 1 Tm 2:7; 2 Tm 1:11). Estes são aprovados e enviados à obra pelos crentes, quem lhes conhecem intimamente.” (Frank Viola).

Depois de inventar um tipo de apóstolo que teria permanecido até os nossos dias (ou seja, fora daquelas condições bíblicas para ser apóstolo), ele passa a aplicar a estes que chama de “obreiros apostólicos” todas as passagens bíblicas que se referem especificamente a algum dos doze, além de Paulo. Vou deixar que você mesmo confira as três passagens que ele citou (Rm 1:1; 1 Tm 2:7; 2 Tm 1:11) para constatar o “truque” do mágico autor. Todas as três referem-se exclusivamente ao apóstolo Paulo e qualquer pessoa não hipnotizada por frases de impacto pode enxergar isso.

Estes são aprovados e enviados à obra pelos crentes, quem lhes conhecem intimamente. Considere Atos 13:1-4”. (Frank Viola).

Outro equívoco aqui. Onde ele viu que Paulo e Barnabé tenham sido enviados pelos crentes? O texto bíblico é claro em mostrar que os “profetas e doutores, a saber… Simeão chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca” nada mais fazem do que estender a destra em comunhão com aqueles que eram enviados pelo Espírito Santo.

O versículo 4 deixa isso claro, além do fato de que seria estranho pessoas em posições abaixo de apóstolos enviarem apóstolos (profetas e doutores são dons que vêm depois de apóstolos em Ef 4:11). Que foi o Espírito, e não os crentes, quem os enviou fica claro na passagem: (At 13:4) “E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre”.

Aparentemente o autor confunde o enviar, que só pode vir do Senhor, que dá dons aos homens para tanto, com o poder que os apóstolos tinham (porque reuniam um dom com um ofício de autoridade) de solicitar que um irmão fosse aqui ou ali resolver algumas coisas específicas, como Paulo faz com Tíquico em Efésios 6:21. Quem lê os evangelhos irá se lembrar de que, no sentido de capacitação, os trabalhadores da seara do Senhor não são enviados por homens, mas pelo próprio Senhor:

(Lc 10:2) “E dizia-lhes: Grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara”.

Creio que meus comentários até aqui já bastam para perceber que o próprio fundamento dos argumentos que o autor apresenta no livro cai por terra quando é puxado o tapete da premissa de que hoje ainda existiriam apóstolos. Em Atos 20, ao se despedir dos anciãos em Éfeso o apóstolo Paulo não os encomenda a supostos futuros apóstolos para cuidarem da obra depois de sua partida, mas a Deus e à Palavra. E Pedro em sua despedida em 2 Pe 1 apenas diz que providenciaria para que os discípulos se lembrassem das coisas que disse, e não que haveria outro para substituí-lo.

Acredito que Frank Viola faria um grande favor à verdade se apenas indicasse que o primeiro passo para um crente andar de acordo com a Palavra de Deus em termos de igreja seria ele apartar-se do mal religioso (2 Tm 2:18-22), saindo do “arraial” religioso (Hb 13:13). Se ele realmente entendesse isso não colocaria em seu site uma propaganda do tipo: “Se você gostaria de convidar [contratar] Frank para falar em sua conferência ou igreja… clique aqui”. O link leva para uma página que mostra que o autor possui dois “produtos”. Um mais genérico, com temas sobre a comunhão individual com Cristo, e outro que trata de suas ideias de como congregar.

Minha pergunta é: se você fosse pastor de uma denominação, iria contratar alguém que fosse à sua igreja dizer que você deveria procurar outro emprego? Talvez sim, se existisse um acordo de cavalheiros e o palestrante se comprometesse a oferecer a seus fiéis apenas o “Tema 1”. E se você fosse o palestrante, realmente comprometido com sua crença de que a cristandade como um todo se tornou semelhante ao arraial judaico, iria aceitar um convite para entregar uma mensagem mais água com açúcar em uma denominação religiosa? Não, você realmente procuraria ser coerente e manter-se apartado de tudo isso, seguindo “a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro [purificado ou livre dessas coisas], invocam o Senhor” (2 Tm 2:22).

Quando Paulo encontrou irmãos que procuravam diluir sua fé associando-se aos judaizantes que existiam entre os cristãos, advertiu-os severamente. Eles deviam permanecer apartados de tudo aquilo, e não tentar melhorar o judaísmo ou adaptá-lo ao cristianismo. Só posso deduzir, pela posição do autor, que ele não entendeu a profundidade do mal que é o sistema eclesiástico e a necessidade de apartar-se dele, inclusive fisicamente não participando de suas conferências e igrejas. Se ele mesmo fizesse isso, daria um ótimo exemplo de coerência. Mas aí seria exclusivismo demais não é? E quem disse que o Senhor não quer exclusividade?

(Gl 2:11-18) “E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão. E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus? … Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor”.

Eu sei que você admira o Frank Viola e existe sim um grande mérito por ele denunciar muitas práticas erradas do cristianismo institucional. Porém não sou o primeiro a detectar no ensino dele que, se com um lado da boca ele fala contra o posto que o tradicional “pastor” (que não existe na Bíblia) ocupa nas denominações, com o outro ele prega a instituição de uma nova forma de controle, que é o “obreiro apostólico”, igualmente inexistente na Palavra de Deus. Um controle muito mais centralizado, já que não se trata de uma administração local, como ensina a Palavra e é feita por meio de anciãos, mas um controle externo itinerante.

Segundo Frank Viola em seu livro “Reconsiderando o odre”, uma igreja nos moldes corretos teria esta característica: “Gasta a maior parte de seus recursos com ‘os pobres entre vocês’ e com obreiros e missões apostólicas” (pág. 108 da versão em PDF).

A tradução em português não faz jus ao original, que diz: “Spends most of its resources on ‘the poor among you’ and apostolic workers”.

Ou seja: a igreja que ele propõe “gasta a maior parte de seus recursos com ‘os pobres entre vocês’ e com os obreiros apostólicos” (e não “missões apostólicas” como traduziram no português).

Deu para perceber que sua proposta não é diferente da de outros grupos que existem por aí e seguem uma linha “apostólica” e ainda, praticam uma espécie de supervisão geral.

Desculpe desapontá-lo com meus comentários, mas você perguntou o que eu achava do trecho do livro que enviou e eu disse o que acho. Posso ver claramente o embrião de um sistema clerical velado na pessoa desses “obreiros apostólicos itinerantes”. No meu ver, tirar o convencional “pastor” protestante para colocar um “obreiro apostólico” é trocar seis por meia dúzia. Tira-se um clero institucionalizado para substitui-lo por outro igualmente sem fundamentação bíblica, já que não temos mais apóstolos nos dias de hoje.

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O objetivo da obra de Cristo foi salvar o homem?

O sacrifício de Cristo teve como primeiro objetivo a glória de Deus, ou seja, tirar o pecado do mundo. O pecado tinha arruinado a Criação e isso precisava ser resolvido primeiramente para a glória de Deus. Porém, ao mesmo tempo em que Cristo resolveu a questão do pecado e da glória de Deus, ele também fez provisão para a salvação dos homens ao morrer por TODOS ao levar sobre si os pecados de MUITOS, aqueles que nele creem.

(Jo 21:19) “E disse isto, significando com que morte havia ele de glorificar a Deus”.

(Jo 1:29) “No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.

É importante lembrar que mesmo que ninguém viesse a crer e ser salvo, mesmo assim a obra de Cristo teria sido bem sucedida no sentido de tirar o pecado do mundo e glorificar a Deus. Foi para isso que o Cordeiro veio em primeiro lugar. A provisão foi de salvação para todos, mas “apenas” muitos serão salvos. Cristo morreu por todos, mas levou sobre si os pecados de muitos.

TODOS” — este é o tamanho da provisão de Deus e do poder de salvar que teve a obra de Cristo na cruz:

(2 Co 5:14-15) “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”.

MUITOS” — indica que, apesar do sacrifício ser suficiente para todos, nem todos irão querer ser salvos:

(Is 53:12) “Por isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores”.

(Hb 9:28) “Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação”.

No final Deus será glorificado em todos os aspectos e haverá diferentes classes de salvos: os santos do Antigo Testamento (que creram no Cordeiro que Deus iria prover), os santos da Igreja (gentios e judeus convertidos que creram no Cordeiro que Deus proveu), os judeus que se converterão durante a grande tribulação, que morrerem ou permanecerem vivos, e também multidões de crianças e fetos que morreram antes da idade da responsabilidade para crer.

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O salvo volta ao estado de Adão antes do pecado?

Não, Adão era um homem terreno, originário da terra e destinado a viver na terra. Era perfeito no sentido de homem natural, além de inocente e sem pecado, mas passível de pecar e de morrer. Ao desobedecer a Deus, ele adquiriu consciência do bem e do mal, porém não o poder de fazer o bem e evitar o mal. O livre arbítrio ele tinha no Éden, mas perdeu ali. Cada um de nós sabe o que é o bem e o mal, mas é incapaz de evitar o mal e fazer só o bem, ainda que tenha muita força de vontade para isso. Pecamos só de pensar no mal que queremos evitar.

Além disso, Adão era um homem corruptível, o que foi comprovado por sua queda. Para salvar o homem Cristo precisou se fazer Homem, porém sem ter em si o pecado de Adão. Ele não foi gerado pelo homem, mas pelo Espírito Santo de Deus, que usou uma mulher, Maria, para servir de receptáculo para o Ente Santo que havia de vir ao mundo. Jesus morreu, mas não viu corrupção: foi ressuscitado ao terceiro dia em um corpo espiritual de carne e ossos, feito de uma matéria diferente da que conhecemos e apto para viver no céu e imortal.

Quando nascemos de novo e cremos em Cristo como Salvador, passamos a ter em nós duas coisas que Adão não tinha: a vida nova ou nova natureza que vem de Deus e o Espírito Santo de Deus. Continuamos com a velha natureza que recebemos de Adão e que é impossível de ser reparada ou melhorada, pois Deus a condenou à morte em Cristo; e recebemos uma nova natureza, que igualmente é impossível de ser melhorada, mas isso por ser perfeita, vinda de Deus.

Ao ressuscitarmos ou sermos transformados no arrebatamento, tudo o que teremos será o corpo incorruptível à semelhança de Jesus, exceto pelas cicatrizes nas mãos, pés e lado (Ele será o único ressuscitado com cicatrizes). Já não teremos o velho homem em nós, o qual foi crucificado com Cristo e ora ainda está em nós aqui nesta vida, porém deve ser por nós considerado constantemente no estado que lhe pertence, que é a morte.

Quando nos esquecemos disso e deixamos a velha natureza sair de seu estado de morte e agir, pecamos. É o que a Bíblia chama de andar na carne em Gálatas 5. Quando andamos no Espírito, não satisfazemos as concupiscências da carne ou velha natureza e damos fruto para Deus. É por isso que da nova natureza é dito:

(1 Jo 5:18) “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca”. (Bíblia Almeida Corrigida e Corrigida Fiel).

A passagem está falando de nossa nova natureza que vem de Deus, a qual é impossível pecar. Infelizmente, por não entenderem esta verdade, os revisores de algumas edições modernas da Bíblia alteram esta passagem para algo assim:

Sabemos que os filhos de Deus não continuam pecando, porque o Filho de Deus os guarda, e o Maligno não pode tocar neles”. Bíblia na Linguagem de Hoje.

Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não está no pecado; aquele que nasceu de Deus o protege, e o Maligno não o atinge.” Nova Versão Internacional.

Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando; antes o guarda aquele que nasceu de Deus, e o Maligno não lhe toca.” Almeida Revista e Atualizada.

Ninguém que passou a fazer parte da família de Deus faz do pecado um hábito, pois Cristo, o Filho de Deus, resguarda-o com segurança, e o diabo não pode pôr as mãos nele.” Bíblia Viva.

Essas versões do versículo são horríveis, pois a impressão que dá é que um convertido não peca, lançando dúvidas quanto à legitimidade de sua salvação. Mas se o convertido fosse incapaz de pecar João não falaria no primeiro capítulo desta mesma epístola que diz:

Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós”. (1 Jo 1:8-10).

É a velha natureza em nós que peca, mas obviamente não somos duas pessoas apesar de termos duas naturezas. Nossa identidade continua sendo uma, portanto a responsabilidade de pecar é sim do crente, e ele deve confessar isso e contar com o Advogado que tem diante do Pai.

Finalizando, o homem salvo por Jesus está numa posição infinitamente superior à do primeiro Adão, pois está em Cristo. Ele é visto por Deus em Cristo e seu lugar não é mais na terra, mas no céu. O salvo tem a mente de Cristo e o Espírito de Deus em si para entender os pensamentos de Deus. Ao sair daqui será transportado para a glória e compartilhará de tudo o que pertence a Cristo, sendo coerdeiro com Ele. Lembre-se de que Adão foi criado no estado adulto, ou seja, ele não precisou passar por uma fase de aprendizado para aprender a caminhar, raciocinar, falar, etc. Ele já veio com tudo isso. Do mesmo modo, no novo nascimento recebemos de Deus uma nova natureza que é completa em si mesmo. O que precisamos apenas, enquanto estamos neste corpo de carne, é nos apropriarmos daquilo que já temos em Cristo.

Se pensar que a Adão foi dado apenas cuidar do jardim do Éden, e isso era apenas uma pequena porção da Terra, pois a Bíblia não nos diz como era ou o que havia no resto do planeta, pense no que será Deus dar ao homem salvo tudo o que é de Cristo, para quem todas as coisas foram criadas, tanto nos céus quanto na terra.

(1 Co 15:44-50) “Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual. Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial. E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção”.

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A “grande comissão” de Mateus 28:18-20 vale para hoje?

Inicialmente a “grande comissão” foi dada aos apóstolos, pois a eles foi dado a ordem de pregar o evangelho em todo o mundo, e no evangelho de Marcos há mais detalhes sobre isso. Enquanto Marcos fala de pregar o evangelho, Mateus fala também de fazer discípulos e ensinar, o que mostra que a grande comissão tem um escopo mais amplo do que apenas pregar o evangelho.

(Mt 28:19) “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém”.

(Mc 16:15-16) “E disselhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”.

Um detalhe que mostra a particularidade da grande comissão como sendo inicialmente uma prerrogativa dos apóstolos, como judeus que eram, está no fato de ela ser acompanhada no evangelho de Marcos de sinais que mais tarde os apóstolos acabariam cumprindo como forma de atender a incredulidade dos judeus, que “pedem sinal” 1 Coríntios 1:22. Os sinais em Marcos eram: “Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão”. Apenas a parte de beber veneno nós não encontramos em Atos, mas pode ter acontecido em alguma ocasião.

Então, tecnicamente falando, os apóstolos receberam essa comissão que teria sido interrompida (não alcançou ainda todo o mundo) com o advento da Igreja, para voltar a ser retomada depois do arrebatamento pelo remanescente de judeus que se converterá, quando “este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.” Mt 24 Mas os cristãos a adotaram também como o moto de sua responsabilidade neste mundo para alcançar os perdidos.

Se prestar atenção verá que o evangelho do reino que será pregado depois do arrebatamento da igreja tem um caráter de ser pregado a nações, porque se trata do anúncio de que o reino de Deus é chegado à terra para ser estabelecido aqui. Era o evangelho do reino que João Batista pregava, o mesmo que os apóstolos pregavam antes do advento da Igreja em Atos 2, e será o evangelho pregado pelo remanescente de judeus fiéis que se converterão após o arrebatamento da igreja e passarão pela tribulação. Hoje pregamos o evangelho da graça de Deus.

Mas basta observarmos os discípulos em Atos, após a criação da Igreja em Pentecostes, para entendermos que o mesmo princípio da grande comissão também vale para os cristãos. Eles, no início, relutavam em sair de Jerusalém, conforme o Senhor lhes havia pedido, e por isso Deus permitiu uma perseguição severa para espalhá-los pelo mundo levando o evangelho.

A desobediência dos primeiros homens em cumprir a ordem dada por Deus a Adão, de multiplicar-se e povoar a terra, levou seus descendentes a decidiram ficar todos num mesmo lugar e construir a torre de Babel. Deus precisou confundir suas línguas e espalhá-los pelo mundo. Agora observe que existe um paralelo disso em duas ocasiões em Atos.

Primeiro, Deus mostrou que pelo evangelho era como se todos os salvos se tornassem um só povo, pois Deus fazia ali a reversão do que fizera em Babel, dando condições para que todos se entendessem mutuamente, apesar de suas diferentes línguas (Atos 2).

Depois Deus precisou espalhá-los no sentido físico da palavra para que efetivamente saíssem levando o evangelho para os povos de todo o mundo. Para isso permitiu a perseguição em Jerusalém.

(At 8:1) “E fez-se naquele dia uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judéia e de Samaria, exceto os apóstolos”.

(At 11:19-20) “E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus. E havia entre eles alguns homens cíprios e cirenenses, os quais entrando em Antioquia falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus”.

Porém é bom lembrar que o evangelho não alcançará todo o mundo antes que venha o arrebatamento, e Paulo era inteligente o suficiente para saber que o mundo era bem grande e tinha muitas nações e povos. Por isso ele já se incluía entre os que participariam do arrebatamento, ao dizer “Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados” (1 Ts 4:17).

A pregação do evangelho a todas as nações até os confins da terra não é algo que precede a volta de Jesus para buscar sua igreja no arrebatamento, mas é algo que precede a vinda de Cristo para reinar após a grande tribulação. É para então que são ditas as palavras de Mateus 24, especialmente (Mt 24:14) “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim”.

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Devo continuar colaborando com a denominação?

Fico contente que o Senhor esteja abrindo seus olhos para enxergar o mal. Se eu pudesse definir em poucas palavras, você foi vítima de pessoas sem escrúpulos e só o que descreveu em seu e-mail já era suficiente para cair fora disso.

Você contou que o “pastor” pegava pesado na hora de pedir dinheiro, chegando a chamar à frente apenas os dizimistas para orar por eles e deixando claro que não orava por quem não contribuía. Como se não bastasse, ele mandava os que estavam à frente olharem para os que ficaram sentados e orarem por eles para que ficassem envergonhados e passassem a dar o dízimo. Só isso já é motivo para o tal “pastor” levar um processo de assédio moral por constrangimento público.

O pior foi você pedir seu desligamento da denominação e o “obreiro” dizer que não iria permitir que você saísse e nem iria dar “a bênção”, por sua alma estar nas mãos deles. O cara precisa ser muito sem vergonha para dizer algo assim. Fique grato por essa pessoa não querer lhe dar a bênção, e se der é melhor você devolvê-la. Como é que um ímpio pode abençoar alguém? Isso que essa gente faz é pura impiedade.

Eu não estaria dizendo estas coisas se você estivesse se desligando de alguma denominação com irmãos sinceramente empenhados na obra de Deus. Sim, pois há irmãos nas denominações que são sinceros e só estão ali porque ainda não entenderam o erro que é estar ligado a uma instituição religiosa com o nome de “igreja”. Mas no caso que você descreveu, eu nem chamaria de irmãos esses que constrangem as pessoas a darem dinheiro, pedem doações na cara dura e ainda se acham no controle das almas dos fiéis. Essa última característica é exatamente a mesma da Babilônia em Apocalipse:

(Ap 18:10) “Ai! ai daquela grande Babilônia, aquela forte cidade! pois numa hora veio o seu juízo. E sobre ela choram e lamentam os mercadores da terra; porque ninguém mais compra as suas mercadorias: Mercadorias de ouro, e de prata, e de pedras preciosas, e de pérolas, e de linho fino, e de púrpura, e de seda, e de escarlata; e toda a madeira odorífera, e todo o vaso de marfim, e todo o vaso de madeira preciosíssima, de bronze e de ferro, e de mármore; E canela, e perfume, e mirra, e incenso, e vinho, e azeite, e flor de farinha, e trigo, e gado, e ovelhas; e cavalos, e carros, e corpos e almas de homens”.

A ordem de Deus é você afastar-se disso que não passa de iniquidade.

(2 Tm 2:19) “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade”.

O que você contou a respeito do compromisso que assumiu de pagar o aluguel do “templo” é uma questão sua e de sua consciência, mas eu pararia imediatamente de financiar o erro. Não acredito que os 11 apóstolos tenham pago pensão à viúva de Judas.

Quando você se aparta da iniquidade deve apartar-se completamente, e não ficar com um pé dentro e muito menos ajudando a financiar a iniquidade. A menos que tenha algum documento legal que o comprometa a isso, seu compromisso é com a verdade e com o Senhor, não com um bando de exploradores da fé das pessoas.

Desculpe a veemência de minhas palavras, mas se você tivesse saído da prostituição e do crime, eu teria o maior carinho e consideração ao falar das prostitutas e ladrões, rogando pela conversão deles. Mas como você está falando de líderes religiosos corruptos, os próprios evangelhos me autorizam a levantar o tom. Se prestar atenção verá que o Senhor Jesus nunca foi severo com ladrões e prostitutas. Porém, quando se tratava dos fariseus que exploravam a fé do povo sob o pretexto de serem representantes de Deus, aí ele não poupava palavras como “sepulcros caiados”, “raça de víboras” e por duas vezes chegou a usar o chicote e a virar as mesas daqueles que faziam da casa de Deus lugar de comércio. Você não vê o Senhor Jesus agindo assim em nenhuma outra ocasião, que não fosse por zelo das coisas de Deus.

Meu conselho, além dos que dei acima, é que fique em oração buscando saber o próximo passo. Quando o cego de nascença foi curado, ele não conheceu completamente quem o havia curado, senão depois de ter sido expulso da sinagoga pelos fariseus. É fora da sinagoga que ele encontra-se com o Senhor e recebe uma porção maior de revelação de quem era aquele que mudara sua vida.

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Demônios não são mais anjos?

Você leu o que escrevi em “Como expulsar demônios” e “Qual a maneira correta de tratar Satanás” e, apesar de gostar do texto, não concordou com tudo, dizendo que “esses anjos, não são mais anjos”, mas demônios caídos. Todavia não é o que encontramos na Palavra de Deus. O fato de serem caídos não muda sua natureza angelical (acho que você confunde “anjo” como sendo sinônimo de bondade).

Adão também caiu, mas isso não tirou dele sua natureza humana. Hoje cada pessoa que nasce é um ser humano caído, mas ainda assim ser humano. Ao contrário do que você escreveu, não somos maiores do que os anjos, pois somos humanos e até o Senhor, quando veio ao mundo, assumiu essa posição de “menor que os anjos” (Hb 2:7).

Não temos qualquer autoridade vinda de nós mesmos sobre os anjos caídos, mas toda autoridade nos é dada pelo Senhor. Todavia, mesmo assim não cabe ao homem, menor em relação aos anjos na ordem das coisas criadas, deixar de reconhecer que Satanás é uma autoridade na esfera dos demônios. Isto é claramente ensinado nestas duas passagens:

(Hb 2:7) “Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos, De glória e de honra o coroaste, E o constituíste sobre as obras de tuas mãos;”.

(Jd 1:8-10) “E, contudo, também estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne, e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades. Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda. Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem”.

Como expliquei no texto que leu, não cabe ao cristão repreender Satanás ou falar mal dele, mas sim resistir a ele. A função de repreender Satanás é de Deus, não do homem, como mostra Zacarias 3:2: “Mas o Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreenda, ó Satanás, sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreenda”. Foi o que Miguel fez, sem ousar repreender Satanás, muito embora seja Miguel quem irá expulsar Satanás do céu em Apocalipse 12:7.

Não é necessário ao cristão repreender ou ofender Satanás, pois temos à disposição toda a armadura de Deus para resistir ao diabo, como ensina Efésios 6. O próprio Senhor Jesus não repreendeu o diabo ao ser tentado por ele, mas simplesmente respondeu com a Palavra de Deus, embora tenha repreendido demônios quando os expulsava. O problema é que nossa mente natural quer logo partir para o ataque verbal, seja numa disputa com homens ou com anjos, mas a mente espiritual usa as armas de Deus.

(2 Co 10:3-5) “Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo”.

Temos autoridade do Senhor para expulsarmos demônios em seu nome? Sim. Temos autoridade para repreendê-los ou lançar maldição contra eles? Não. Se fizer uma busca atenta na Palavra verá que o único que repreendeu demônios foi o Senhor Jesus nos evangelhos. Seus discípulos expulsaram demônios, mas não encontrei um lugar que diga que eles os repreenderam. Os pregadores que pedem dinheiro no rádio e na TV não devem ser nosso modelo de como agir em relação aos demônios, e muito menos devemos acreditar em tudo o que fazem. Já ouvi muitos casos de atores que são usados nessas manifestações, tanto para serem “curados” como “libertos”. Além disso, você não encontrará nenhuma reunião de cristãos na Bíblia, reunidos como igreja, dedicando-se ao demônio, como fazem essas “igrejas” do rádio e TV.

Embora você encontre nos evangelhos o Senhor e seus discípulos (estes também em Atos) expulsando demônios, não há nada na doutrina dos apóstolos que nos ensine como fazê-lo. Certamente o Senhor deixou claro o seu poder sobre os demônios e da necessidade de oração (dependência) e jejum (fraqueza da carne) para fazê-lo, como no caso de Mateus 17:14-21, mas nada há na doutrina dos apóstolos dada à igreja.

Da epístola de Romanos até a epístola de Judas nada é falado sobre expulsar demônios. Se fosse uma atividade importante para o cristão estar engajado nela, certamente estaria detalhado ali, mas não há uma palavra sequer. A exortação para o cristão é no sentido de vestir a armadura de Deus (Ef 6:10-18), resistir ao diabo (Tg 4:7), nos precavermos dele (1 Pe 5:8) e não deixar espaço para ele agir em nossa vida (Ef 4:27).

Isso pode muito bem indicar que o papel do cristão neste mundo não é sair por aí expulsando demônios, mas combater contra eles nos lugares celestiais em oração e pregando o evangelho para libertar aqueles que estão cativos. Não preciso encontrar uma pessoa espumando pela boca, se debatendo no chão e falando com voz gutural para estar diante de alguém nas garras do diabo. Basta entender que qualquer incrédulo está agora mesmo vivendo “segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência” (Ef 2:2), como cada um de nós que cremos também estávamos antes de Deus nos tirar da “potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1:13).

Eu me lembro do que me contou um irmão em Cristo que conheci. Ele disse que volta e meia seu irmão biológico ficava possesso, se debatendo, espumando pela boca e dizendo maldições, e dava um trabalhão expulsar o espírito maligno que o assolava. Isso acontecia com frequência. Um dia a mãe desse rapaz cristão veio chamá-lo dizendo: “Seu irmão está lá no quarto possesso, e o demônio está chamando você para ir lá expulsá-lo”. Na mesma hora ele percebeu que tudo o que aquele espírito maligno queria era atenção e fazer com que ele perdesse tempo ocupado com o mal. Ao invés de ir lá, o rapaz simplesmente se ajoelhou e orou onde estava, pedindo pela salvação de seu irmão. Aquele espetáculo que o demônio promovia com frequência nunca mais se repetiu.

Esclarecimento: A rigor, demônios podem não ser exatamente anjos. Na Bíblia encontramos três tipos de seres ligados às trevas: Satanás, anjos caídos e demônios. Satanás é o único que é chamado de diabo (a palavra nunca aparece no plural). Anjos caídos são ministros de Satanás, como também são os demônios, também chamados de espírito imundos ou malignos. Estes últimos são os que se apoderam de pessoas, como aconteceu com o gadareno possesso. A Bíblia não nos diz qual é sua origem, podendo ser anjos ou seres distintos, criados antes de Adão e que caíram com os anjos.

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Com que o crente deve se ocupar?

Você perguntou: “Será que Deus se agrada de servos que passam o tempo vendo TV, jogando videogame, batendo papo na Internet, vendo futebol, etc.? … Será que Deus irá salvar pessoas que não fizeram nada para Deus? … Os que gastaram tempo investindo no evangelho e se abstendo das coisas mundanas serão crentes melhores e mais honrados no céu?”.

Sua dúvida poderia soar muito nobre e pertinente, se você não tivesse comentado que se sente um E.T. vivendo no meio de crentes que praticam essas coisas. Por isso eu acrescentaria à sua pergunta: “Será que Deus se agrada de servos que passam o tempo ocupados com crentes que veem TV, jogam videogame, batem papo na Internet, veem futebol, etc.?”.

Aparentemente você ainda não entendeu que o evangelho não é uma lista de coisas do tipo “faça isso e não faça aquilo”. A pessoa não vai para o inferno por ver TV, jogar videogame ou papear na Internet, e nem vai para o céu por deixar de fazer essas coisas. Nascemos destinados ao inferno por sermos pecadores, e a única alternativa para nós está em crer em Jesus para ter nossos pecados perdoados e irmos para o céu. O perdão completo de seus pecados você só recebe por graça, e não por merecimento, crendo em Jesus e na obra que ele consumou na cruz para pagar por seus pecados ali.

Ao pecar, Eva sucumbiu basicamente a três impulsos, que em 1 João são chamados de coisas do mundo: (1 Jo 2:16) “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo”. A palavra “concupiscência” significa um desejo extremo por algo, e lá no Éden ela viu que a árvore era agradável aos olhos (desejo dos olhos), boa para se comer (desejo da carne) e agradável para dar entendimento (soberba da vida) (Gn 3:6).

Ao dizer que você se sente um extraterrestre perto de cristãos que veem TV ou jogam videogame, além de estar igualmente perdendo seu tempo ocupado com essas pessoas e suas ocupações, você pode incorrer no pecado da soberba. Ou seja, você está me dizendo que não é como essas pessoas, que se sente melhor do que elas.

Acaso já viu a passagem em Lucas 18:10, quando o Senhor fala do fariseu e do publicano no templo? O fariseu, todo orgulhoso de seus feitos, não agradou a Deus por querer justificar-se a si mesmo com base no seu comportamento, enquanto o publicano, alvo das críticas do fariseu, saiu dali justificado por ser um pecador convicto que não tinha nada de si para apresentar a Deus, a não ser seus pecados. A passagem diz que Jesus contou essa história “a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros”.

Uma das coisas de que o fariseu se gabava era de jejuar duas vezes por semana. Sabe onde na Bíblia está ordenado que devemos jejuar duas vezes por semana? Em lugar nenhum. O fariseu inventou uma ordenança e achou que fazendo assim agradava a Deus. Sabe onde na Bíblia diz para não vermos TV, jogar videogame, conversar na Internet e não ver futebol? Em nenhum lugar. Sabe onde na Bíblia diz para não ficarmos reparando nas pessoas? Em muitos lugares, e este versículo é apenas um deles:

(Mt 7:3-5) “E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”.

Não pense que eu esteja querendo insinuar que não tenha importância alguma gastarmos nosso tempo vendo TV, jogando videogames ou jogando conversa fora. É claro que nosso tempo será muito melhor aproveitado com as coisas de Deus do que com as coisas desta vida. Mas se você ocupar o seu tempo observando aqueles que fazem as coisas que você não faz, também não está se ocupando com Deus, mas com os homens, além de fazer inchar o seu próprio ego.

Por isso, vou responder ao seu e-mail em duas partes: Esta, apenas para alertá-lo da armadilha do orgulho em que caiu (a mesma do fariseu no templo), e incentivá-lo a analisar sua fé para ver se realmente entendeu o que é o evangelho e o caminho da salvação.

Procure certificar-se de que a sua salvação não vem de seu comportamento ou mérito, mas unicamente da fé em Jesus, aquele que morreu na cruz para pagar pelos pecados que você cometeu e continua cometendo, inclusive o da soberba.

Resumindo, mostrei a você do perigo de se ocupar com os outros, pois isto cria em você um sentimento de superioridade e passa a olhar os outros de cima para baixo. Mas qual deve ser a ocupação do crente nesta vida? Vamos ver o que diz a Palavra de Deus.

Primeiro, a ocupação do crente nunca deve ser com homens, por mais usados que eles sejam ou tenho sido pelo Senhor. Em nossos dias vemos cristãos olhando para pregadores como se fossem seus ídolos, e isso é um erro grave. São meros servos, iguais a todos os outros. Seguir a homens causa divisões e também faz mal para aqueles que são seguidos: faz o coração deles se exaltar.

(1 Co 3:21) “Portanto, ninguém se glorie nos homens”. Ficar louvando homens e paparicando líderes religiosos também é errado, porque não sabemos o que passa no coração deles, só Deus. 1 Co 4:5 “Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor”.

Continuando neste sentido de não se ocupar com homens, inclua-se na lista. Ou seja, você não deve ocupar-se consigo mesmo, “para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo” (1 Tm 3:6), (Ez 28:17) “Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor”. Isto tem a ver com sua última correspondência, na qual parecia estar sentindo-se superior aos seus irmãos que praticam coisas que você não pratica.

Sua ocupação deve ser com Cristo, e mesmo quando pensar em algo relacionado a você mesmo, pense em si como estando em Cristo. Veja que bela a expressão de Paulo ao falar de si mesmo: “Conheço um homem em Cristo…” (2 Co 12:2). Quando no monte da transfiguração, Pedro, Tiago e João começaram a se ocupar com Moisés e Elias, Deus fez com que desaparecessem e a Palavra diz: (Mc 9:8) “E, tendo olhado em redor, ninguém mais viram, senão só Jesus com eles”.

Enquanto Marta estava ocupada com muitas coisas, inclusive com as tarefas de servir a Jesus, era Maria quem tinha escolhido a melhor parte, aos pés de Jesus e ocupada com ele. Fica muito fácil avaliar o que é a ocupação com Jesus se você imaginar-se apaixonado por alguém. Você dorme pensando nessa pessoa, acorda pensando nela, passa o dia com ela em seus pensamentos, veste-se do jeito que a agrada, vai a lugares que ela gostaria que fosse…

Uma pessoa apaixonada muda de vida, de atitude, de valores. Os amigos não entendem porque não estão apaixonados pela mesma pessoa. Para eles você mudou porque a paixão de sua vida o obriga a fazer isso e aquilo, mas você sabe que é voluntário, é tudo feito por amor. (2 Co 5:15) “E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.

A diferença é que, ao contrário da paixão humana, que é natural e carnal, a comunhão com o Senhor só é possível graças à nova vida que você recebeu vinda de Deus. Esta nova vida tem prazer nas coisas de Deus, e se você não se sente assim talvez seja hora de verificar a realidade da sua fé.

É claro que mesmo depois de nascido de novo e perdoado de seus pecados pela fé em Cristo, graças à sua obra na cruz, pode acontecer de você pecar. Mas isso acontece quando você não julga a si mesmo e deixa sua velha natureza (a carne, o velho homem) colocar as asas de fora e controlar a situação. (1 Co 11:31-32) “Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo”.

O cair em pecado é algo progressivo, ele não nos pega de surpresa, por assim dizer. Somos nós que damos ocasião à carne. Veja neste Salmo os três verbos que mostram o passo-a-passo em direção ao pecado: Andar, Parar, Sentar: (Sl 1:1) “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores, antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”.

Aí está. Talvez você estivesse achando que eu iria colocar aqui uma lista do tipo faça isso, não faça aquilo, mas aí eu passaria o resto da vida escrevendo e acabaria eu mesmo transgredindo em pensamento, imaginando-me fazendo as próprias coisas que diria para você não praticar. Então fique mesmo com “a melhor parte”, a qual nunca lhe será tirada: JESUS.

(Co 3:1-3) “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”.

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Você acredita em “atos proféticos”?

Desculpe-me não ter entendido da primeira vez que você escreveu perguntando sobre os tais “atos proféticos”. É que recebo muitas perguntas que são tão específicas dos sistemas religiosos que, por não fazer parte deles, fico completamente por fora. Talvez a ficha tivesse caído se você perguntasse simplesmente se existem “atos proféticos” na Bíblia. Aí a resposta seria “não”, porque busquei a frase e não encontrei.

Mas eu sei que você não se contentaria com uma resposta curta, do tipo que costumo dar quando alguém pergunta como fazer o “culto do bebê” e eu digo que não faço ideia, porque na Bíblia o único culto que devemos prestar é a Deus. Na minha ignorância religiosa acabo sendo mal educado, como da vez que alguém perguntou como a igreja devia fazer o “chá do bebê” e eu respondi de brincadeira: “Você pode ferver o bebê ou apenas fazer uma infusão, deixando-o no bule por alguns minutos”.

Os sistemas religiosos inventaram tantas coisas que não estão na Bíblia que se fôssemos nos ocupar com elas (que não passam de mentiras) teríamos pouco tempo para nos ocupar com a verdade, isto é, com as coisas que efetivamente encontramos na Palavra de Deus.

Sua insistência me obrigou a dar uma olhadinha para descobrir o que é isso que alguns chamam de “atos proféticos”. Acho que o site cujo link você enviou da primeira vez só me fez sentir vontade de vomitar, porque a picaretagem anunciada ali era tão… Picareta! Um irmão costumava dizer que tendo o pentecostalismo como amigo, o cristianismo não precisa de inimigos.

Enquanto as religiões protestantes tradicionais inventam quadras esportivas e shows de música e teatro para entreter seus membros e atrair novos adeptos, as igrejas pentecostais saem imitando Aparecida do Norte e criam toda uma sorte de recursos audiovisuais para entreter os crédulos seguidores dos pregadores de rádio e TV que prometem às suas vítimas a prosperidade que eles mesmos desfrutam à custa delas. Nada disso é ocupar-se com Cristo, mas com as coisas que são da terra.

(Co 3:1-2) “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra”.

Mas vamos lá: segundo você me explicou, e li em algum outro site, “atos proféticos” seria usar objetos ou gestos que aparecem na Bíblia como forma de representar uma verdade espiritual. Como uma peneira, o argumento tem furos de todos os lados. Primeiro, Deus deixou bem claro que não devemos fazer isso quando fez com que fosse destruída a imagem de bronze da serpente, que Moisés usou no deserto para curar os picados por serpentes. Veja Números 21:8 e 2 Reis 18:4.

(Nm 21:8) “E disse o Senhor a Moisés: Faze-te uma serpente ardente, e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela”.

(2 Rs 18:3-4) “[Ezequias] fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo o que fizera Davi, seu pai…. e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera; porquanto até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso, e lhe chamaram Neustã”.

Isto já estabelece um princípio que devemos adotar: o uso de objetos ou gestos, ainda que aplicados por Deus em alguma ocasião e por alguma razão, fatalmente se transformará em idolatria se aplicado fora daquele contexto e sem ser ordenado por Deus. Ele teve o cuidado de não deixar que permanecessem os objetos que aparecem no AT, como a vara de Aarão, as tábuas da Lei ou a própria arca, porque certamente seriam usados para idolatria.

Como se não bastassem absurdos e apelações para objetos visíveis no movimento pentecostal, tem até gente que, não contente em vender miniaturas de objetos de Israel, azeite de oliva e água do Rio Jordão, quer construir o Templo de Jerusalém em São Paulo! Veja você, um Templo que o próprio Senhor declarou que não ficaria pedra sobre pedra! Ao querer ir na contramão do que Deus determinou, será que esse pessoal nunca ouviu falar de Jericó e do acontecido a quem reconstruiu o que Deus determinou que fosse destruído?

(Js 6:26) “E naquele tempo Josué os esconjurou, dizendo: Maldito diante do Senhor seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó; sobre seu primogênito a fundará, e sobre o seu filho mais novo lhe porá as portas”.

(1 Rs 16:34) “Em seus dias Hiel, o betelita, edificou Jericó. Quando lançou os seus alicerces, morreu-lhe Abirão, seu primogênito; e quando colocou as suas portas, morreu-lhe Segube, seu filho mais moço; conforme a palavra do Senhor, que ele falara por intermédio de Josué, filho de Num”.

(Mt 24:1-2) “E, quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo. Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada”.

A Bíblia mostra que o Templo de Jerusalém voltará a ser construído em seu lugar original, porém não será para Deus, e sim para o Diabo. O anticristo usará o templo para se declarar Deus.

(2 Ts 2:4) “O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus”.

(Mt 24:15) “Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda;”.

Basta você ver a quantidade de “relíquias” do catolicismo para perceber que o protestantismo caminha na mesma direção, ao menos sua ala pentecostal. É claro que isso é interessante para os pregadores da TV que vendem badulaques sem os quais “a bênção” não acontece. Algumas livrarias evangélicas já começam a ficar parecidas com aquelas lojas de Aparecida do Norte.

Nem a ceia do Senhor, que é uma ordenança divina e que devemos praticar, escapou dessa tendência idólatra do homem natural. Ela se transformou em uma celebração idólatra em algumas religiões e tem até uma variante praticada na maçonaria.

É importante entender que nada mais temos a ver com o Antigo Testamento no sentido do modo de Deus tratar o seu povo Israel. Isso fica muito claro na carta aos Hebreus, onde as palavras “melhor” ou “melhores” aparecem repetidas vezes.

(Hb 7:19) “(Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus”.

(Hb 7:22) “De tanto melhor aliança Jesus foi feito fiador”.

(Hb 8:6) “Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas”.

(Hb 10:34) “…sabendo que em vós mesmos tendes nos céus uma possessão melhor e permanente”.

(Hb 11:40) “Provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados”.

Ou seja, se fosse possível (o que obviamente não é), o certo seria que os do Antigo Testamento imitassem o cristianismo, e não o cristianismo imitar o judaísmo. Por isso vem a exortação àqueles cristãos judeus que queriam voltar às antigas práticas: (Hb 13:13)Saiamos, pois, a ele fora do arraial”.

Outra coisa importante de entender é que as coisas do Antigo Testamento nos servem de figuras ou sombras, e podemos sim aproveitar muito quando as temos em seu devido lugar. Por exemplo, o Tabernáculo no deserto é uma figura de Cristo, a arca também, etc. Sugiro a leitura da excelente coleção do Pentateuco comentada por C. H. Mackintosh.

(Rm 15:4) “Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança”.

(1 Co 10:11) “Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos”.

(Cl 2:17) “Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.

Todas aquelas coisas serviam para mostrar o que Deus iria fazer e agora já fez. Um judeu que visse a “sombra” das coisas futuras naqueles objetos e gestos da antiga adoração judaica podia ser consolado. Mas hoje que temos a realidade que aquela sombra representava, não precisamos nos ocupar com a sombra, mas com a Pessoa que já chegou.

Um exemplo: quando você vê a sombra de uma pessoa querida aparecendo no portal de sua casa, você se levanta da poltrona e se alegra. Mas assim que aquela pessoa passa pela porta você corre para o abraço. Mas o que você abraça, a sombra?! Só se estiver louco! Você deixa a sombra pra lá e abraça a pessoa.

O cristão não precisa de “recursos audiovisuais” para adorar em espírito e em verdade. Os judeus precisavam desses adereços e aditivos, como um templo visível, vestes, instrumentos musicais, etc. O Senhor deixa isso bem claro em sua conversa com a mulher samaritana:

(Jo 4:20-24) “Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.

O cristão anda por fé e não por vista, e esta é mais uma razão para fechar seus olhos a todos esses objetos e gestos que os pregadores da TV tentam vender mediante uma “singela” contribuição. (2 Co 5:7) “Porque andamos por fé, e não por vista. Heb_11:1 Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem”.

Você menciona que o gesto do Senhor de fazer lama para curar o cego seria um “ato profético”, mas se tomarmos essas coisas literalmente e tentarmos repeti-las hoje teríamos de incluir também algo assim:

(Lc 5:14) “E ordenou-lhe que a ninguém o dissesse. Mas vai, disse, mostra-te ao sacerdote, e oferece, pela tua purificação, o que Moisés determinou, para que lhes sirva de testemunho”.

Ora, qual é o cristão que hoje se daria ao trabalho de procurar um sacerdote de Israel (que não existe) no templo de Jerusalém (que foi destruído) para oferecer “duas aves vivas e limpas, e pau de cedro, e carmesim e hissopo”, que era a oferta pela purificação? (Lv 14:4).

Obviamente tudo isso que estou dizendo entraria por um ouvido e sairia pelo outro de pessoas que não estão nem um pouco interessadas na verdade, mas simplesmente adotaram uma religião cristã em busca de algumas vantagens nesta vida, como cura do corpo, sorte no amor e prosperidade material. Os pregadores da prosperidade continuarão vendendo seus penduricalhos e criando mais e mais “recursos audiovisuais” para seus supersticiosos seguidores.

É claro que esses pregadores estão constantemente inovando para manter sua fonte de receita, porque outros amuletos e gestos precisam ser inventados todos os dias para manter o interesse dos crédulos. Alguns gestos que eles mandavam você fazer poucos anos atrás já não podem ser repetidos. Por exemplo, se hoje você conseguir fazer um copo de água parar em cima de uma dessas TVs fininhas, aí sim pode considerar que ocorreu um milagre.

(2 Tm 3:6-8) “Porque deste número [os avarentos amantes de dinheiro do vers. 2] são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias [sem entendimento] carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências [desejo de possuir]; Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. E, como Janes e Jambres [magos que imitavam milagres de Deus] resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé”.

Para entender que o cristianismo de nossos dias quase nada tem a ver com a Bíblia, sugiro que leia “A ordem de Deus” em www.aordemdedeus.blogspot.com.

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As Bíblias deveriam ser grátis?

A ideia de que Bíblias deveriam ser distribuídas gratuitamente é bastante romântica, mas não é viável na prática, e isto não apenas pelo aspecto financeiro, mas também por causa do comportamento humano.

Um irmão norte-americano que trabalhou vários anos na obra do Senhor (e hoje descansa no céu) contou-me de seu desapontamento ao visitar os lares de pessoas pobres em países do terceiro mundo. Eram pessoas para as quais uma editora enviava gratuitamente pacotes de folhetos evangelísticos acreditando estarem sendo usados na evangelização, e esse irmão descobriu que em algumas das casas que visitou os folhetos estavam no banheiro — eram usados como papel higiênico.

Por esta e outras razões eu acredito que a distribuição de literatura evangelística e Bíblias deve estar cercada de critérios. É claro que sempre que possível deve ser facilitado o acesso das pessoas a esse material tão vital para a alma. Mas isso precisa ser feito com sabedoria.

No século 19 e início do século 20 a perseguição contra a Bíblia feita por padres católicos no Brasil era intensa, e as sociedades bíblicas estrangeiras tinham o dissabor de ver que muitas das Bíblias enviadas gratuitamente para as pessoas acabavam nas mãos dos padres que as queimavam como literatura herege. (Nessa época eles estavam mais bonzinhos, pois alguns séculos antes eles queimavam também os donos das Bíblias).

Por isso a Sociedade Bíblia Britânica passou a enviar seus colportores ao Brasil com a missão de trocar Bíblias — o interessado precisava dar algo em troca, fosse isso uma rapadura, um cacho de bananas ou qualquer objeto com algum valor. Assim a Bíblia passava a custar algo para a pessoa, que depois não a entregaria de mão beijada para o padre. Era comum essas pessoas esconderem a Bíblia para ler à noite e evitar que os vizinhos as denunciassem.

A maior parte das Bíblias que você encontra para comprar em todo o mundo é subsidiada por doações, por isso é possível você comprar uma Bíblia capa flexível de cartão, com 1.056 páginas, no site da Sociedade Bíblica do Brasil por R$ 2,00. A mais barata lá, de capa dura, custa R$ 3,00. Certamente você não consegue comprar o papel por este preço, quanto mais um livro impresso. E pasme: hoje o maior produtor mundial de Bíblias é a comunista China, com seus governantes ateus.

Então a pergunta não é por que as Bíblias não são de graça, mas sim por que você e eu não enfiamos a mão no bolso com maior frequência para comprarmos essas Bíblias e distribuí-las de graça? Mesmo assim, não se espante se encontrar alguns usando suas folhas de papel fininho para enrolar cigarros de maconha, como muita gente faz… Aliás, uma curiosidade: a primeira Bíblia de uma sociedade bíblica estrangeira impressa no Brasil foi feita com papel de cigarros, emprestado de uma fábrica daqui, nos tempos da Segunda Guerra, quando não se encontrava papel fino no mercado.

Portanto, o trabalho de literatura, por envolver custos, deve ser encarado também com uma visão de negócio, e não haverá nada de errado com isso. O Senhor Jesus foi carpinteiro enquanto viveu aqui, e certamente ele vendia suas cadeiras e mesas para manter sua profissão, assim como fazia o apóstolo Paulo com as tendas que fabricava, e Lídia, com os produtos que comercializava. Não há nada de errado em um negócio, se ele for administrado dentro dos conselhos de Deus. O que está errado é explorar as pessoas, e isso não fica por conta apenas do comércio de Bíblias, mas de qualquer outro negócio.

Veja a seguir um interessante texto de C. H. Mackintosh escrito no século 19 e tratando da obra de material impresso, que ele chamava de “depósitos de literatura”.

A Obra de Literatura (C. H. Mackintosh)

PARECEU-ME necessário escrever a você uma vez mais para tratar de alguns assuntos ligados à obra de evangelização, os quais ultimamente vêm chamando minha atenção. Há três ramos distintos da obra que gostaria de ver ocupando um lugar claro e de maior proeminência entre nós. Estou me referindo à obra de literatura, à pregação do evangelho e à escola dominical.

Surpreende-me ver que o Senhor está despertando as atenções para a importância da obra de literatura como um valioso meio na obra de evangelização; mas me pergunto se estamos envolvidos nisso com toda a seriedade. Por que digo isto? Será que os livros e folhetos não nos interessam mais e perderam seu valor aos nossos olhos? Ou será que a falta está na maneira como é conduzida a obra de literatura? Em minha opinião parece estar faltando algo no que se refere a este último ponto.

Gostaria muito de ver um depósito de literatura bem administrado em cada cidade; por “bem administrado” eu entendo algo que é assumido e levado adiante como um serviço direto ao Senhor, em sincero amor para com as almas; em profundo interesse pela disseminação da verdade e, ao mesmo tempo, como uma boa empresa. Já vi vários depósitos de literatura desmoronarem por faltar habilidade para negócios em seus responsáveis. Pareciam pessoas bem fervorosas e sinceras, mas incapazes de conduzir um negócio. Em suma, eram pessoas que em cujas mãos qualquer empresa teria ido à falência. Por esta razão, em muitos lugares há um fracasso dos mais deploráveis nesta tão valiosa e interessante obra que é cuidar de um depósito de literatura.

E qual a melhor maneira de alcançar as pessoas para as quais os folhetos e livros são preparados? Creio que é tendo os livros e folhetos expostos para a venda em vitrines, onde quer que isto seja possível, a fim de que as pessoas possam vê-los quando passarem e, parando, possam entrar e comprar o que quiserem. Muitos foram alcançados desta maneira. Não tenho dúvidas de que muitos foram salvos e abençoados por meio de folhetos que foram vistos pela primeira vez em uma vitrine ou expostos sobre um balcão. Mas onde não existe essa possibilidade, é natural que o salão de reuniões da assembleia seja o depósito de literatura.

Existe claramente uma real necessidade de um depósito de literatura em cada grande cidade, dirigido por alguém que tenha jeito para negócios e que seja capaz de conversar com as pessoas acerca dos folhetos, podendo recomendar aquilo que possa ser de auxílio àqueles que ansiosamente procuram pela verdade. Sinto que há muita coisa boa que pode ser feita nesta área. Os cristãos da cidade poderiam saber onde ir buscar folhetos, não só para sua leitura pessoal, mas também para distribuição. Certamente, se há alguma coisa digna de ser feita, é digna de ser bem feita; e se isto não se aplicar à obra de literatura, não sei a que se aplicará.

A obra de literatura deve ser levada adiante como um serviço feito diretamente para Cristo. E tenho certeza de que onde quer que ela seja assim conduzida, em energia, zelo e integridade, o Senhor a honrará e fará dela uma bênção. Será que não há ninguém que queira assumir esta obra tão abençoada, não por causa da remuneração, mas por causa de Cristo? Será que não há ninguém que queira se dedicar a ela numa fé singela, esperando no Deus vivo?

Aqui está a raiz da questão, querido irmão. Pois neste ramo da obra, assim como em cada outro ramo, necessitamos daqueles que confiem em Deus e que se neguem a si mesmos. Parece-me que seria um grande ponto a favor da obra de literatura se esta fosse colocada no seu devido lugar e vista como uma parte integral do trabalho evangelístico; assumida com responsabilidade para com o Senhor, e levada adiante na energia da fé no Deus vivo. Cada ramo da obra do evangelho — a obra de literatura, a pregação, a escola dominical — deve ser levado adiante desta maneira. É bom e saudável contarmos com comunhão — completa e cordial comunhão, em todo o nosso serviço; mas se ficarmos esperando por comunhão e cooperação para podermos começar uma obra que tanto está dentro da esfera da responsabilidade pessoal quanto coletiva, vamos acabar ficando para trás — ou é provável que a obra nem mesmo seja feita.

Devo ter oportunidade de voltar a tratar mais detalhadamente sobre este ponto, quando passar a escrever sobre a pregação e a escola dominical. Tudo o que desejo até aqui é deixar claro o fato de que a obra de literatura é um ramo, e um ramo de grande importância e eficiência, da obra evangelística. Se isto for plenamente entendido por todos, teremos dado um grande passo. Devo confessar, querido irmão, meu senso moral tem sido, com frequência, profundamente escandalizado pelo estilo frio e comercial com que a publicação e venda de livros e folhetos são tratadas — um estilo que talvez seja adequado a um mero negócio comercial, mas que é dos mais ofensivos quando adotado naquilo que diz respeito à obra de Deus. Admito plenamente — e até luto por isto — que o bom gerenciamento de um depósito de literatura exija uma boa parcela de habilidade para negócios, além de princípios comerciais honestos. Mas, ao mesmo tempo, estou convicto de que a obra de literatura nunca estará no seu devido lugar — nunca terá entendido o seu espírito e nunca alcançará o fim desejado — enquanto não estiver firmemente fixada em seus fundamentos santos, e enquanto não for vista como uma parte integral da mais gloriosa obra para a qual somos chamados — a evangelização ativa, fervorosa e perseverante.

E este trabalho deve ser assumido com o senso da responsabilidade para com Cristo, e na energia da fé no Deus vivo. Não haverá nenhum proveito se uma assembleia, ou alguém abastado, escolher algum apadrinhado, entregando-lhe a direção do empreendimento a fim de prover-lhe um meio de ganhar o seu sustento. É algo bendito que todos tenham comunhão na obra; mas estou completamente convencido que o trabalho deve ser assumido como um serviço direto a Cristo, e levado adiante em amor pelas almas e com um verdadeiro interesse na propagação da verdade. Espero voltar a escrever para tratar dos outros dois ramos de meu tema. — Charles Henry Mackintosh — 1820-1896 — Extraído do livro “Cartas aos Evangelistas” (Ed. Verdades Vivas).

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Paulo tinha dúvidas de sua ressurreição?

Acho que o versículo ao qual você se referiu é este: (Fp 3:11) “Para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dentre os mortos”. À primeira vista pode parecer que Paulo estivesse em dúvida se chegaria ou não à ressurreição, mas não creio que seja esta a interpretação correta.

Considerando que em muitas outras passagens o mesmo Paulo ensina que não alcançamos a salvação por nossos esforços, e também ele próprio tinha certeza dela, então esta passagem não pode querer dizer que ele tivesse dúvidas de que iria ressuscitar para estar com Cristo. Uma boa maneira de enfrentar dúvidas de interpretação das Escrituras é nos basearmos em outras passagens nas quais uma determinada verdade já foi claramente estabelecida, como é o caso da salvação eterna não por obras nossas, mas pela obra de Cristo. Deste modo você já descarta o que a passagem não quer dizer, ainda que o texto pareça dúbio.

Aqui o assunto todo se refere às dificuldades desta vida e da senda do cristão. Leia o contexto, principalmente o versículo anterior:

(Fp 3:10) “Para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte;”.

Outra tradução: (NVI) “Quero conhecer a Cristo, ao poder da sua ressurreição e à participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte”.

Como no contexto desde o início do capítulo ele está falando de tudo o que perdeu por amor de Cristo, daquilo de que precisou abrir mão, de todas as dificuldades que passou, e também de estar disposto a sofrer na própria pele (humanamente falando) o que Cristo sofreu enquanto andou aqui, eu faria uma paráfrase do versículo da seguinte forma, alterando o “de alguma maneira” por “seja lá como for”:

(Fp 3:11) “Para ver se, seja lá como for, eu possa chegar à ressurreição dentre os mortos”.

Então entendo que o que Paulo quer dizer é que ele estava disposto a chegar à ressurreição ainda que fosse aos trancos e barrancos, ainda que tivesse de sofrer como Cristo sofreu (humanamente falando, rejeição, dor, angústia, etc.), ainda que isso lhe custasse muito da vida que levava aqui. Todo o seu foco está no trajeto até o dia da sua ressurreição, trajeto esse que para ele já não fazia diferença como seria. Portanto, não é uma expressão de dúvida, mas de “não estou nem aí o quanto vai me custar para chegar lá”.

Outro ponto importante é o fato de ele usar aqui a expressão: “ressurreição dentre os mortos” ou de entre os mortos”. Este detalhe é importante, considerando que haverá a “ressurreição dentre os mortos”, que é a mesma do Senhor Jesus e dos salvos das diferentes dispensações, e a “ressurreição dos mortos”, que acontece no juízo final, quando todos os mortos que restarem sem terem sido salvos serão ressuscitados para serem lançados, com seus corpos, no lago de fogo.

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O que significa tomar sobre si a própria cruz?

A passagem à qual se referiu é: Mateus 16:24 “Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me”.

Renuncie-se”: Agora estou sob nova direção, não sou mais eu e minha vontade que manda aqui.

Tome sobre si a sua cruz”: Estou disposto a sofrer rejeição, vergonha, cansaço, etc… Tudo o que sofreria literalmente carregando uma enorme cruz de madeira às costas, ou seja, estou disposto a me identificar com Cristo em seus sofrimentos.

Siga-me”: Quero ir aonde ele for e me enviar, quero fazer como ele faria, viver como ele viveria, estar nos lugares onde ele estaria.

Vou colocar em forma de lista algumas características de quem se nega a si mesmo, toma sobre si a cruz e segue a Jesus:

— Sofre a oposição da família e/ou amigos.

— É reprovado pelo mundo e rechaçado pela sociedade.

— Está disposto a abrir mão dos confortos desta vida.

— Vive em completa dependência de Deus Pai.

— Caminha em obediência à direção do Espírito Santo.

— Proclama uma mensagem que não é nem um pouco bem aceita.

— Está disposto a encarar uma senda solitária e ser abandonado.

— Recebe constantes ataques dos líderes religiosos como Jesus sofreu.

— Sofre por amor da justiça.

— Passa por privações, provações e vergonha.

— Dedica a sua própria vida para o bem estar de seu próximo.

— Considera-se morto para si mesmo e para o mundo

— Apropria-se da nova vida que tem em Cristo.

— Tem certeza da razão de sua existência e de seu destino eterno.

É preciso não confundir isto com alguns que simplesmente jogam tudo para o alto a pretexto de estarem seguindo a Cristo, abandonam a família à míngua e aí passam a viver de favor de irmãos, parentes e amigos. Também não tem nada a ver com aqueles que simplesmente ofendem as pessoas batendo com a Bíblia em suas cabeças para depois dizerem com cara de mártir: “Vejam como sou perseguido!”.

Estas coisas devem ser enxergadas no contexto de toda a Palavra de Deus e não sob a influência do monasticismo católico (herdado das religiões orientais), e nem de um espírito de cavaleiro das Cruzadas, agindo violentamente para impor sua fé. Quem tem compromissos assumidos (família, trabalho, etc.) deve honrar seus compromissos, porque isto é agradável a Deus, e se quiser seguir a Cristo, tomar sua própria cruz e renunciar-se a si mesmo, deve fazer isso em AMOR.

(2 Ts 3:10) “Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também”.

(1 Tm 5:8) “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel”.

Também nem preciso dizer que a passagem nada tem a ver com aqueles que saem em romaria carregando uma cruz para pagar promessas ou tentar por seus esforços obter algum benefício ou bênção de Deus ou de algum ídolo ao qual adore. Esses ainda não entenderam que com Deus não se faz barganha.

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Devemos humilhar quem pecou?

Aquilo que você ouviu os irmãos explicarem em uma das gravações das conferências é a forma bíblica de se exortar alguém. Sempre é bom lembrar-se de uma passagem do Antigo Testamento que é repetida três vezes: “Não cozerás o cabrito no leite de sua mãe”. (Êx 23:19; Êx 34:26; Dt 14:21).

O leite é aquilo que Deus criou para alimentar e dar vida ao filhote, portanto jamais deve ser usado para matá-lo. Do mesmo modo, a Palavra de Deus não deve ser usada para humilhar pessoas ou como arma contra elas. Muita gente usa a Palavra como sua própria espada, sem perceber que em Efésios 6:17 ela é chamada de “espada do Espírito, e não nossa.

Algumas pessoas gostam de sair por aí brandindo a espada da Palavra como se fosse a sua própria espada, e não do Espírito, com a intenção de ferir os outros. Isso dá a essas pessoas um estranho prazer, pois quando os feridos se voltam contra elas por usarem mal a Palavra de Deus, elas alegam que estão sendo perseguidas por causa da sua fé, quando na verdade é por causa da sua falta de amor que estão sofrendo rejeição.

Além disso, somente o Espírito é capaz de usar essa Palavra “viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”. (Hb 4:12) Não cabe ao homem achar que tem poder para fazer isso.

Portanto, nunca devemos aplicar a Palavra de Deus “contra” os homens (a pessoa), mas sim contra os seus sofismas, ideias, conselhos ou altivez, e também contra os anjos caídos e os demônios ou espíritos malignos (principados e potestades).

(2 Co 10:3-5) “Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo”.

(Ef 6:12) “Não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.

Quanto aos incrédulos, não vejo muito proveito em exortá-los por andarem errado, porque antes de qualquer coisa eles precisam crer em Jesus para serem salvos. O incrédulo mais correto deste mundo ainda assim irá para o lago de fogo se não crer em Jesus. Portanto, se encontrar alguém praticando o mal, procure ter a certeza de encaminhá-lo à salvação que há em Cristo. Jesus convida o pecador a ir a ele como está. É a nova vida que o pecador recebe de Deus que lhe dará o querer e o poder para deixar suas práticas erradas.

Você encontra hoje muita pregação contra as drogas, contra o crime, contra o fumo, contra a bebida, contra isso e aquilo, mas nem sempre tem algo a ver com o evangelho. Pode ser muito bom querer que as pessoas abandonem seus vícios, mas uma vida limpa e correta não irá salvá-las do fogo eterno. O evangelho que Paulo pregava e que nós devemos pregar continua sendo: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15:1-4).

Sobre os seus familiares, creio ser suficiente eles saberem sua posição, portanto o melhor daqui para frente é orar por eles, a menos que eles perguntem algo. Quando insistimos em querer convencer alguém, podemos causar o efeito contrário, endurecendo cada vez mais seu coração.

(Pv_29:1) “O Homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, de repente será destruído sem que haja remédio”.

Falando daqueles que creem e estão em comunhão, quando algum irmão cai em pecado grave, dois ou mais irmãos devem conversar com ele para admoestá-lo sobre o seu erro. Dependendo da gravidade do pecado ele pode sofrer restrições, como ficar sem ministrar (caso esteja pregando coisas duvidosas), sem visitar irmãos (caso esteja influenciando pessoas ao erro), etc., até a assembleia chegar à forma mais extrema da disciplina, que é colocá-lo fora da comunhão à mesa do Senhor.

Os detalhes de seu pecado e da ação que deve ser tomada são discutidos numa reunião privada entre os irmãos responsáveis (geralmente os mais velhos e mais atuantes no cuidado da assembleia) e depois apenas a decisão final é levada publicamente à assembleia. Onde congrego fazemos uma reunião assim uma vez por mês para tratar de assuntos gerais, como as necessidades dos santos, a obra do evangelho e também eventualmente de algum caso de pecado. Mas o assunto é tratado a portas fechadas para não contaminar desnecessariamente a mente dos mais fracos na fé e também para evitar constrangimentos desnecessários para a pessoa que pecou. Nunca devemos nos esquecer de que a disciplina de Deus é a disciplina exercida em amor.

(Hb 12:6) “Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho”.

Por exemplo, se o irmão caiu em adultério ou fornicação, depois de discutida a questão na reunião de irmãos, será anunciado à assembleia apenas que ele foi colocado fora de comunhão por pecado moral. Os detalhes terão sido discutidos antes na reunião de irmãos para chegar a uma decisão. O objetivo é aplicar a disciplina sem constranger. Pais que disciplinam seus filhos devem fazê-lo em amor, e isso inclui evitar discipliná-los em público, mas levá-los a um lugar reservado. O amor visa a restauração do culpado, não a sua destruição completa, mas o orgulho religioso faz questão de exibir o pecado de alguém porque isso faz com que os que não pecaram se sintam mais justos. Foi o caso dos homens que levaram a mulher adúltera a Jesus e depois saíram de fininho quando o Senhor revelou o que havia em seus corações.

Quando você lê 1 Coríntios 5, encontra um caso de pecado grave que o apóstolo Paulo diz que precisa ser tratado com urgência para não contaminar toda a assembleia. Mas em 2 Coríntios 2 tudo indica que tal pessoa tenha se arrependido e agora deveria ser restaurada à comunhão à mesa do Senhor. Veja que aqui aparece a palavra “amor”, pois a disciplina não é um fim em si mesmo, mas apenas um meio visando o arrependimento do que pecou e sua restauração à comunhão.

(2 Co 2:7-8) “De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor”.

É claro que você nem sempre encontra esse tipo de disciplina bíblica nas denominações e sistemas criados pelos homens. O que se vê é líderes serem transferidos para uma cidade onde ninguém sabe de suas faltas ou ter seu pecado encoberto e abafado, enquanto pessoas sem uma posição de destaque acabam sendo massacradas publicamente com a desculpa de que “devem servir de exemplo” para os outros. Enquanto isso, o amor passa longe e o orgulho impera.

Mas como saber quando um irmão está realmente arrependido do que praticou para poder ser restaurado à comunhão? Obviamente é preciso tempo e um exame continuado por parte de dois ou três irmãos que o visitem em caráter sacerdotal, examinando o transgressor para ver se a “lepra” cobriu todo o corpo. Este é um princípio encontrado no Antigo Testamento para aqueles que tinham lepra, a qual é uma figura do pecado por tornar o doente insensível (a lepra tira a sensibilidade da pele), e fazer com que sinta os efeitos da “doença” em sua própria carne, ferindo-se e até perdendo parte dos membros.

Nos tempos do Antigo Testamento o leproso devia ser separado da congregação de Israel quando surgisse uma mancha de lepra em sua pele. Os sacerdotes passariam a visitá-lo com frequência para acompanhar o desenvolvimento da doença e ele era considerado curado quando a lepra cobrisse todo o corpo. Parece estranho pensar que quando não existisse um centímetro de pele são é que os sacerdotes o consideravam limpo para ser readmitido ao convívio da congregação.

Não devemos nos esquecer de que Deus deixou essas coisas escritas para o nosso ensino, portanto o que aprendemos disso ao fazermos o paralelo da lepra com o pecado, do qual a doença era uma figura, é que uma pessoa só pode ser considerada “limpa” quando admitir que está 100% errada e der provas disso em sua vida prática.

(Lv 13:12-13) “E, se a lepra se espalhar de todo na pele, e a lepra cobrir toda a pele do que tem praga, desde a sua cabeça até aos seus pés, quanto podem ver os olhos do sacerdote, então o sacerdote examinará, e eis que, se a lepra tem coberto toda a sua carne, então declarará o que tem a praga por limpo; todo se tornou branco; limpo está”.

Com respeito ao mundo religioso e aos irmãos em Cristo que permanecem nos sistemas e denominações que os homens criaram, quando entendemos que devemos sair disso tudo para congregar somente ao nome do Senhor, não é nossa função ir por aí visitando “igrejas” para falar de seus erros. Ainda que seja importante tratar do assunto, em conversas, livros, artigos e e-mails, não é algo que deva ser feito dentro dos sistemas ou que tenha o objetivo de tentar consertar as denominações, que não têm conserto por estarem sobre um fundamento errado. Também não cabe a nós frequentarmos suas reuniões para criticar os que estão ali ou seu modo de agir. O modo bíblico é apartar-se e não voltar mais lá, deixando que Deus toque no coração daqueles que ainda não se apartaram.

(Jr 5:19) “Portanto assim diz o Senhor: Se tu voltares, então te trarei, e estarás diante de mim; e se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca; tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles”.

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Qual versão da Bíblia você usa?

Eu gosto da Almeida Revista e Corrigida e também da Corrigida Fiel, mas às vezes é bom conferir passagens e compará-las com outras, pois há detalhes sutis entre as diferentes versões. Veja o caso de Isaías 7:14:

(Almeida Corrigida e Fiel) “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que A virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel”.

(Almeida Revista e Corrigida) “Portanto, o mesmo Senhor vos dará um sinal: eis que UMA virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel”.

A tradução Almeida Corrigida Fiel usa o artigo definido “a” (correto), enquanto a Almeida Revista e Corrigida usa o artigo indefinido “uma” (incorreto). A questão é que não existe dúvida quanto a que virgem Isaías está se referindo, pois o Emanuel só poderia vir de uma virgem, aquela mencionada na profecia de Gênesis 3:15:

E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua [da mulher] semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.

Quando Deus falou isso ele indicou que a semente da mulher seria responsável por ferir a cabeça da serpente (Satanás). Só existe uma semente (descendente) da mulher, Jesus, pois todas as outras pessoas são descendentes da união homem-mulher. Na sua humanidade, Jesus descende apenas de mulher, não de homem, já que foi gerado pelo Espírito Santo de uma virgem (Maria) e não teve um pai humano.

Aproveitando, na passagem em Gênesis há também informações interessantes, como o fato de Deus se referir a uma descendência da serpente (“a tua semente”), o que obviamente não são filhotes de cobra, mas seres humanos ligados a Satanás. Algumas pistas no Novo Testamento nos mostram que são pessoas que deliberadamente rejeitam a Cristo contra todas as evidências, como foi o caso daqueles que são chamados segundo essa identidade, tanto por João Batista, como pelo Senhor:

(Mt 3:7) “E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?”.

(Mt 12:34) “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus?”.

(Mt 23:33) “Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?”.

(Jo 6:70) “Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? e um de vós é um diabo”.

(Jo 8:44) “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai”.

(At 13:10) “Disse: O filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perturbar os retos caminhos do Senhor?”.

(1 Jo 3:10) “Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus”.

Outro fato interessante do capítulo 3 de Gênesis é que Deus pergunta ao homem e à mulher a razão de sua desobediência, dando a eles assim a chance de se justificarem, embora não consigam fazê-lo. Mas o simples fato de perguntar já indica que Deus tinha o desejo de dar a eles uma segunda chance, o que não ocorre com a serpente, à qual Deus nada pergunta, lavrando direto o seu juízo sem discutir.

Mais um ponto a ser notado em Gênesis 3 é a declaração de Deus à serpente:

(Gn 3:15) “E porei inimizade entre ti e a mulher…”.

O raciocínio é simples: a serpente havia iniciado uma amizade com a mulher e esta tinha correspondido a isso, confiando na serpente. A partir daquele momento Satanás tinha uma amiga e aliada no Éden, Eva, a qual ele induziu a pecar. Adão, porém, não foi enganado, como nos fala 1 Timóteo 2:14, mas seguiu sua mulher. Adão não caiu diretamente na conversa da serpente, não se podia dizer que houvesse um vínculo de amizade entre Adão e a serpente, como ocorreu com a mulher.

Naquele momento Deus destruiu esse vínculo de amizade entre Satanás e a mulher, para o bem desta, e transformou aquilo em inimizade. A partir daquele dia Satanás passaria a ter um ódio especial contra a mulher, não apenas porque Deus determinou que assim fosse, mas também porque da mulher viria o descendente que condenaria o diabo e salvaria o homem.

Muitos hoje não entendem a razão de Deus ordenar, na doutrina dada à igreja, que a mulher ocupe uma posição mais resguardada e não de atuação pública no ministério e ensino da Palavra, chegando a pedir que ela permaneça calada nas reuniões da igreja. Não se trata de costume da época ou machismo de Paulo, como alguns querem acreditar. É a providência de Deus.

Longe de ser falta de consideração pela mulher, esta é uma iniciativa de Deus para protegê-la de seu arqui-inimigo, Satanás, que irá sempre procurar atacá-la com o engano, como já fez no Éden, mas agora de um modo ainda mais feroz.

Se um pai de família vê sua casa invadida por um bandido, o que ele faz? Coloca-se entre o bandido e sua mulher, que permanece atrás dele contando com sua proteção. A cena é típica até dos filmes que passam na TV — o homem colocando-se como um escudo à frente de sua mulher. É este o lugar que hoje Deus deu à mulher, não para humilhá-la, mas para protegê-la.

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Paulo não tinha certeza da salvação?

Eu não me daria ao trabalho de responder o e-mail de alguém que chamou João 5:24 de “versiculusinho descontextualizado”, pois isso demonstra seu desprezo pela Palavra de Deus. Mas, considerando que você não apenas despreza a Palavra de Deus, mas sequer acredita na certeza da Salvação que o Senhor promete aos que nele creem, decidi responder, não a você, mas aos muitos que são enganados pelo sistema católico que você defende com tanta veemência, e que podem estar buscando a Cristo como único e suficiente Salvador. Mais de duas mil pessoas consultam todos os dias meu blog www.respondi.com.br e certamente este comentário poderá fazer bem a muitos.

Após minha conversão a Cristo, e não a alguma religião, voltei a frequentar o catolicismo de meus pais (os quais mais tarde também se converteriam e abandonariam os romanistas). Durante um ano eu não só ajudei o padre nas missas e promovi estudos dos evangelhos entre jovens católicos, como passei a ler a Bíblia e a compará-la com o catecismo e outros livros de doutrina católica.

Logo vi que as coisas não batiam, e considerando que quando existe qualquer discrepância entre a Bíblia e a tradição católica dos “santos” padres, o catolicismo ordena que prevaleça esta última, decidi abandonar esse sistema manchado pelo sangue de tantos mártires. Não me apetece ser cúmplice de um sistema que qualquer livro de história universal demonstra ter sido vil ao extremo. Quem fica indignado com os atos terroristas de alguns radicais islâmicos de nossos dias deveria estudar a história das Cruzadas ou da Inquisição. Comparado ao que aqueles “santos” padres faziam, os terroristas atuais não passam de aprendizes.

Mas vamos aos versículos que você colocou na tentativa de provar que o crente em Cristo não pode ter certeza da salvação, mas apenas uma leve esperança. O curioso é que, em diálogos com católicos como você, eu fico apontando que o Senhor Jesus é suficiente Salvador e vocês dizem que não, é preciso ser submisso a Roma e seus homens falhos como quaisquer outros. O que dirá o Senhor desse desprezo pelo sangue que ele derramou na cruz? O que dirá aquele que prometeu que das mãos do Pai nenhum salvo por ele seria arrancado?

Logo dá para perceber que você não sabe distinguir algumas coisas básicas para qualquer leitor da Bíblia, como é a diferença entre Israel e Igreja e entre salvação e comunhão. Comunhão se perde, salvação não.

Para “provar” que Paulo não tinha certeza da salvação você citou estes versículos:

(1 Co 9:27) Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado”. Aqui Paulo não está falando de salvação, mas de serviço. A palavra “reprovado” tem o sentido de “desqualificado” para servir, e não para ser salvo, já que desqualificados para a salvação todos nós somos, se ela dependesse de algum serviço nosso. Não fora a graça de Deus e o sangue derramado na cruz ninguém seria salvo. Ou você acredita que um dia irá se qualificar a si mesmo para ser salvo?

(1 Co 10:12) Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. Aqui Paulo está falando de vida e testemunho, de cair aqui mesmo nesta vida sob a disciplina de um Pai que é zeloso e quer que seus filhos andem em conformidade com a fé que professam ter.

(Hb 4:1) Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás”. Aqui o autor de Hebreus mostra o quão solene é a profissão vazia, como a dos israelitas do capítulo anterior. Trata-se de um alerta ao temor, e não uma possibilidade de perder a salvação eterna (como alguém pode perder algo eterno?). A diferença é apontada no versículo seguinte:Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram”.

(Rm 11:22) “Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado”. O capítulo todo não fala de indivíduos, mas de testemunho coletivo. Assim como os israelitas foram deixados de lado (coletivamente como testemunho de Deus no mundo) por sua infidelidade, os gentios também corriam o mesmo risco de serem “cortados”. Aqui o assunto não é salvação individual, mas israelitas X gentios.

Creio que estes versículos já são suficientes para ver a dificuldade que você tem de crer na Palavra de Deus. Sempre que você encontra um versículo que “parece” contradizer uma verdade declarada (como é a de João 5:24, por exemplo), tenha em mente que deve ficar com a declaração que é clara e procurar entender aquela que é obscura. Algumas declarações claras da Palavra de Deus, de que a salvação está assegurada a todo aquele que crê em Jesus:

Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (Jo 5:24) — Ouve + Crê = TEM a vida eterna.

As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e NUNCA hão de perecer, e NINGUÉM as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e NINGUÉM pode arrebatá-las da mão de meu Pai” (Jo 10:27-29) — Será que existe algum outro significado para palavras como “nunca” e “ninguém”?

Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu” (Jo 17:12) — Se nenhum se perdeu antes, por que se perderia agora? Afinal, só são salvos os que o Pai dá a Jesus, portanto algo que foge à alçada do homem).

Dos que me deste nenhum deles perdi” (Jo 18:9).

Ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo 10:28).

Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em Seu Filho” (1 Jo 5:11) — A vida eterna não nos pertence por conquista; nós a recebemos de Deus e ela está no Filho de Deus, daí nossa segurança.

Porque eu vivo, vós também vivereis” (Jo 14:19).

Vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3:4).

Pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7:25) — Existe alguma possibilidade desse “salvar perfeitamente” ser uma salvação transitória e imperfeita?

Toda a palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Pv 30:5-6) — Este “nada acrescentes” inclui a tradição dos homens.

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Se estiver sofrendo é por estar desobedecendo?

Nem sempre. Evidentemente Deus disciplina a seus filhos que ama, mas ele pode muito bem usar das tribulações para nosso aprendizado ou das pessoas que nos cercam, independente do modo como estamos andando. Muitos servos fiéis sofrem doenças, pobreza, rejeição e perseguição porque Deus assim permite (como aconteceu com Jó) para ensinar algo a eles ou a outros (até hoje aprendemos com o sofrimento de Jó).

Talvez você esteja frequentado uma dessas igrejas cujos “pastores” dizem que coisas ruins só acontecem com quem anda em desobediência a Deus, e por isso não está entendendo como coisas ruins, como a enfermidade de sua esposa e a falta de dinheiro, acontecem com você que procura fazer tudo direito.

O problema está no ensino desses pregadores que estão mais para lobos do que para pastores do rebanho; um ensino que não tem respaldo das Escrituras e às vezes é ministrado deliberadamente para manter seus membros presos pelo medo. Alguns ameaçam seus membros com maldições e até com a perda da salvação (o que é impossível de ocorrer), caso eles decidam andar levianamente ou até venham a abandonar aquela instituição.

Embora pessoas desobedientes possam às vezes sentir a mão do Senhor como forma de disciplina, isso não é regra. Se fosse assim, os ímpios não prosperariam neste mundo, mas o fato é que muitos deles prosperam e vivem até melhor do que muitos cristãos que padecem doenças e necessidades.

(Jr 12:1-2) “Justo serias, ó Senhor, ainda que eu entrasse contigo num pleito; contudo falarei contigo dos teus juízos. Por que prospera o caminho dos ímpios, e vivem em paz todos os que procedem aleivosamente? Plantaste-os, e eles se arraigaram; crescem, dão também fruto; chegado estás à sua boca, porém longe dos seus rins”.

Por outro lado, o apóstolo Paulo, que era um servo fiel ao Senhor, sofreu coisas terríveis. Se fôssemos acreditar na conversa desses pregadores que aterrorizam seus membros, então Paulo estaria andando errado.

(2 Co 1:7-8) “E a nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação. Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos”.

(2 Co 11:23-27) “São ministros de Cristo? (falo como fora de mim) eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes. Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez”.

(Ap 2:9-10) “Conheço as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o são, mas são a sinagoga de Satanás. Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”.

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Os mortos podem ajudar os vivos?

Não, os mortos estão mortos, ou seja, não têm mais atuação nesta vida. Os que foram salvos estão com o Senhor e os que não foram salvos estão no Hades, o lugar dos mortos, aguardando o juízo. Os primeiros estão tão ocupados com Cristo que não irão interferir nos problemas dos vivos e os outros estão em densas trevas, incapazes de qualquer relação com os vivos.

Quando a Bíblia abre uma fresta e mostra o além, podemos ver o que estão fazendo lá. Em Lucas 16 vemos o rico e Lázaro, o primeiro no Hades clamando por ajuda para mitigar sua sede, mas é impossível receber qualquer ajuda onde está, pois há um grande abismo que impede a passagem.

Ele também roga que Abraão, em cujo seio o mendigo Lázaro está após ter morrido (aqui uma representação do lugar dos salvos no Antigo Testamento) que o envie, para que vá avisar seus irmãos que ainda estão vivos. Abraão se limita a responder que os vivos já têm Moisés e os profetas (o Antigo Testamento) e que tudo de que precisavam estava lá, porque mesmo que alguém ressuscitasse dentre os mortos para falar com eles, eles não se arrependeriam.

Se formos ao livro de Apocalipse encontraremos também uma cena celestial na qual todos estão ocupados com o louvor a Deus e a Jesus, portanto não estão interferindo nas coisas deste mundo. Uma boa forma de enxergar a relação dos mortos com esta vida é lendo algumas passagens que falam que os mortos nada sabem, como é o caso desta:

(Ec 9:5) “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento”.

(Ec 9:10) “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma”.

É preciso entender que o livro de Eclesiastes mostra o ponto de vista humano e neste mundo. Ali são as palavras do pregador que diz:

(Ec 1:3) “Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?”.

Percebe onde se passa a cena de Eclesiastes? “Debaixo do sol”, portanto, neste mundo. E neste mundo os mortos realmente nada sabem e nada podem, porque já não estão aqui, estão mortos para as coisas daqui. No livro de Eclesiastes a expressão “debaixo do sol” é repetida 27 vezes, para não ficarmos em dúvida de que o assunto ali é a terra, não o céu ou o hades (lugar dos mortos).

Há também outras passagens que mostram como os mortos passam para um estado em que estão alheios às sensações e ocorrências desta vida, no sentido de interferir nelas. Em alguns lugares eles são descritos como dormindo (porque é assim que os vivos os veem no corpo), embora por outras passagens sabemos que suas almas estão conscientes com o Senhor ou já sofrendo no Hades, como é o caso do rico que padece sede enquanto o pobre Lázaro desfruta do seio de Abraão.

(Sl 146:4) “Sai-lhe o espírito, volta para a terra; naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos”.

(1 Ts 4:13) “Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança”.

(Lc 16:23) “E no inferno [hades], ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio”.

Além disso, a Bíblia proíbe terminantemente qualquer tipo de comunicação de vivos com mortos, algo que é chamado de necromancia. A razão é que quem responderá a ligação não serão os seres humanos mortos, mas os demônios ou espíritos imundos. Estes sim estão por aí se fazendo passar de espíritos de mortos para enganar os homens.

Tudo isso vale também para o caso dos chamados “santos” do catolicismo, que são pessoas que morreram. Pedir algo a eles ou esperar que respondam nada mais é que um espiritismo disfarçado. As próprias supostas aparições de Maria ou outras pessoas mortas chamadas de “santas” são manifestações demoníacas, já que não encontramos esse tipo de coisa na doutrina dos apóstolos.

O curioso é que as pessoas continuam recorrendo à ajuda de mortos quando o próprio Autor da vida, Jesus, se colocou à disposição para irmos a ele. Para quê ir a outro além daquele que vive para sempre e é Senhor de todas as coisas? Obviamente as pessoas preferem ir aos mortos em busca de auxílio por não crerem em Jesus, o Senhor, e não desejarem confessar seus pecados.

Toda crença reencarnacionista prevê uma segunda chance para a pessoa se endireitar numa suposta próxima reencarnação, o que deixa margem para ela pecar à vontade nesta vida. A doutrina católica do purgatório não é muito diferente disso e o diabo acaba enganando as pessoas com a ilusão de que poderão purgar seus pecados depois ou voltar para pagá-los numa próxima vez. Um filme espírita costuma ser anunciado com um slogan que diz mais ou menos assim: “Sempre existirá outra chance”.

Como todo ser humano gosta de deixar as coisas para depois nem é preciso dizer que preferem essas doutrinas. A grande preferência das celebridades pelo espiritismo é explicada pela vida dissoluta que muitas delas levam.

(Mt 11:28) “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”.

(Jo 6:68) “Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna”.

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Como era o rosto de Jesus?

Embora não exista qualquer pintura da época, é possível sabermos como deve ter sido o rosto de Jesus. Uma coisa é certa: a grande maioria das representações artísticas de Jesus não tem qualquer fundamento e se originou de pinturas bizantinas do sexto século.

Nessa época as imagens já traziam um halo ou auréola em torno da cabeça, algo emprestado dos deuses pagãos. É possível encontrar auréolas representando o sol sobre a cabeça dos deuses egípcios. Esta não foi a única coisa que a cristandade emprestou dos pagãos, ou até mesmo roubou, como é o caso de muitos dos tesouros considerados artísticos, hoje de posse do Vaticano.

Uma imagem de São Pedro ali nada mais é do que uma antiga estátua pagã do deus Júpiter devidamente adaptada. Os fiéis que fazem fila ali para beijar os pés da imagem ignoram que estão beijando os pés de um ídolo pagão. “As coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios e não a Deus” (1 Co 10:20).

Vale lembrar que, a partir do ano 300, depois que o cristianismo foi habitar “onde está o trono de Satanás” (Ap 2:13) em Roma e se transformou na religião oficial do Império Romano, a conversão tornou-se obrigatória e os cristãos, que até então eram perseguidos, se transformaram em perseguidores dos pagãos e os batizavam de forma compulsória.

Para tornar o cristianismo mais palatável aos pagãos, os deuses romanos foram adaptados, reciclados e reinventados como “santos católicos”, em um processo muito parecido com o feito pelas religiões africanas ao desembarcarem no Brasil. Já na África os missionários católicos iniciaram a associação dos deuses africanos com santos católicos para atrair os africanos, e quando estes desembarcaram no Brasil trouxeram o costume, que era conveniente para evitar serem perseguidos aqui por sua religião.

Considerando isso tudo, não é de estranhar que a cristandade tenha adotado diferentes e convenientes representações do rosto de Jesus para torná-lo aceitável conforme a época e lugar onde era anunciado. As mais comuns são as que mostram um Jesus de cabelos longos, loiro ou castanho claro, de pele bem branca e olhos azuis. Para um mundo ocidental que adotou o padrão ariano de beleza, isso serviu como uma luva para aqueles que consideram o homem branco europeu superior às outras etnias. As representações de Maria seguem o mesmo modelo.

Mas como era a aparência de Jesus? A Bíblia responde: “Não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos”. (Is 53:2). Tão comum era o seu rosto que se confundia na multidão. Quando Judas acompanhou os soldados para prendê-lo, precisou combinar um sinal para que não prendessem a pessoa errada. Aquele que Judas beijasse, esse era Jesus. (Mt 26:48) “E o que o traía tinha-lhes dado um sinal, dizendo: O que eu beijar é esse; prendei-o”.

Em um lugar iluminado apenas por tochas Jesus era parecido com qualquer outro de seus discípulos. Cabelos e olhos pretos, pele morena e talvez nariz adunco. Basta olhar para qualquer habitante da Palestina que não tenha uma mistura genética da Europa para entender a aparência de um judeu do primeiro século. Quanto aos cabelos, o costume na época era de cabelos curtos, já que o apóstolo Paulo escreve ser desonroso para o homem usar cabelos longos. (1 Co 11:14) “Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido?”.

A exceção era para quem fizesse voto de Nazireu, como foi o caso de Sansão, mas neste caso, além de não cortar o cabelo, o Nazireu (não confundir com nazareno, que é da cidade de Nazaré) não podia beber vinho e nem tocar um corpo morto. Não há qualquer indício de que Jesus fosse um Nazireu, muito embora ele tenha sido interiormente Nazireu por ser separado do pecado. O salvo por Cristo é, em certo sentido, Nazireu interiormente graças à posição que tem em Cristo.

Portanto, quando você encontrar alguma imagem de Jesus de olhos claros, cabelos longos e pele branca, estará diante de uma imitação desavergonhada, cujo objetivo é apelar para seu senso estético e acreditar que Jesus é bom porque é bonito, magro e caucasiano. Não se deixe enganar por manipuladores da fé.

É bem provável que em uma situação assim você esteja diante de uma imagem de um homem europeu, talvez do próprio artista que o pintou. Em todas as épocas sempre foi uma prática comum entre os artistas usarem-se a si mesmos como modelo para alguns dos personagens de seus quadros. Da Vinci deve ter feito isso e certamente foi o caso de Haddon Sundblom, o artista que ficou conhecido por pintar o Papai Noel nas propagandas da Coca-Cola. Por sinal, ele próprio era seu modelo, e o nariz e bochechas vermelhas deixavam claro que refrigerante não era exatamente a bebida preferida do artista.

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Estas passagens afirmam que podemos perder a salvação?

Você enviou uma extensa lista de versículos alegando que são usados por aqueles que não acreditam na salvação eterna e exclusivamente por fé na obra de Cristo. São pessoas que acham que o sacrifício de Cristo não foi totalmente “consumado” (teria ele se enganado na cruz?!) e que foram deixadas coisas para nós mesmos fazermos.

As pessoas que alegam isso podem até ter boas intenções, mas não percebem o quanto estão denegrindo o sacrifício perfeito do Cordeiro de Deus. Se ficou algo para fazermos, então Cristo não fez tudo o que veio fazer. Se formos salvos pela fé nele e em sua obra, mas só continuarmos salvos pela nossa própria perseverança, então Deus não é poderoso para evitar que suas ovelhas sejam arrancadas de suas mãos. Vou transcrever os versículos com as devidas explicações.

(Êx 32:32-33) “Agora, pois, perdoa o seu pecado, se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito. Então disse o Senhor a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro”.

Esta passagem não fala de perda de salvação, mas perda de privilégio. Moisés pede a morte (física), mas não é o que Deus lhe dá. No versículo 35 Deus pune o povo que havia feito o bezerro de ouro, pelo qual Moisés não era o responsável.

(Ez 18:24-26) “Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniquidade, fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura viverá? De todas as justiças que tiver feito não se fará memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá. Dizeis, porém: O caminho do Senhor não é direito. Ouvi agora, ó casa de Israel: Porventura não é o meu caminho direito? Não são os vossos caminhos tortuosos? Desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo iniquidade, morrerá por ela; na iniquidade, que cometeu, morrerá”.

Mais uma vez o assunto aqui não é a salvação eterna, mas a vida física. A Lei prometia a vida perene a quem guardasse a Lei, mas como ninguém seria capaz de guardar a Lei esta logo mostrou que não poderia ser o remédio contra o pecado, pelo qual a morte entrou no mundo. A paga pela desobediência e impiedade sempre foi, segundo a Lei, a morte. Mas o assunto aqui não é a condenação eterna, mas a morte física.

(Mt 12:31-32) “Portanto, eu vos digo: Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro”.

Aqui sim está falando de perdição eterna pela ausência de perdão, e isso por blasfêmia como a que os fariseus estavam praticando, que era dizer que Jesus fazia os seus milagres e expulsava demônios por Belzebu, o príncipe dos demônios. Certamente não poderia haver salvação para pessoas assim que consideravam o próprio Salvador um emissário de Satanás. Este tipo de blasfêmia só poderia existir enquanto o Senhor estava neste mundo.

(Gl 5:1-4) “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão. Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei. Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído”.

Aqui está dizendo o óbvio: todo aquele que confiar ser salvo com base na guarda da lei ou por uma vida correta certamente nega a graça de Deus, portanto não pode haver salvação para tal pessoa. Na passagem ele começa falando dos salvos em Gálatas para depois falar dos não salvos: “Vós que vos justificais pela lei”. Considerar que esta passagem poderia significar que um salvo pode perder a salvação seria contradizer as passagens que dizem claramente que isto é impossível, como João 3:16, 36; 5:24; 6:47; 10:28.

(Cl 1:23) “Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro”.

A condição não é para os salvos, mas tão somente confirma a salvação daqueles que permanecem, por graça, fundados e firmes na fé sem se moverem da esperança do evangelho. Em 1 Coríntios fica claro que manter o salvo irrepreensível até o fim é tarefa do próprio Senhor e é graças à fidelidade de Deus, e não a nossa, que podemos ficar seguros e confiantes: (1 Co 1:7-9) “De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, O qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor”.

(2 Pe 1:10-11) “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”.

Aqui nos fala do andar e vida prática do cristão que foi salvo por Cristo, a qual deve ser condizente com a posição que agora ocupa em Cristo. É fácil ver que está falando do andar porque fala de tropeçar. Não é colocada em dúvida a entrada no reino eterno, mas sim como será essa entrada, amplamente ou não. Algumas traduções trazem “ricamente”, “abundantemente”, ou seja, são adjetivos de uma entrada que já foi obtida pelo sacrifício de Cristo. A tradução na Linguagem de Hoje está errada por dizer que “receberão todo o direito de entrar no reino eterno”. Ela supõe que a salvação é obra de nossos próprios esforços, o que não é verdade e ainda por cima invalida o sacrifício de Cristo.

(Rm 8:12-14) “De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”.

O contexto do capítulo está falando claramente da vida que tínhamos na carne, a qual não poderia levar a outra coisa senão à morte. Somente aqueles que têm o Espírito de Cristo, ou seja, são realmente convertidos, são filhos de Deus. João 1:13 explica que estes “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Portanto, continua sendo verdade que os que ainda estão na carne (não nasceram de novo) não estão salvos e, portanto, não podem perder uma salvação que nunca tiveram.

(Rm 11:20-23) “Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé. Então não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que não te poupe a ti também. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado. E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar”.

O assunto do capítulo não é a salvação individual, mas o testemunho coletivo, comparando Israel com gentios. Israel, os “ramos naturais”, foram cortados para dar lugar aos gentios. No seu devido tempo esses “ramos naturais” serão enxertados, após o arrebatamento da Igreja, quando Deus colocar neles um coração de carne para que se convertam.

(1 Tm 1:18-20) “Este mandamento te dou, meu filho Timóteo, que, segundo as profecias que houve acerca de ti, milites por elas boa milícia; Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé. E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar”.

O apóstolo não está falando de perda de salvação, mas da perda da vida por naufrágio na fé. Os apóstolos tinham um poder e autoridade que não existe hoje, ou seja, entregar a Satanás aqueles que estivessem andando deliberadamente no erro após terem conhecido a verdade, para a destruição da carne (morte). Sabemos pela história de Jó como Deus entregou Jó a Satanás para que fosse tocado em todos os aspectos de sua vida (menos que fosse morto) porque Deus tinha algo a ensinar a Jó (Jó caps. 1 e 2). Sabemos também que Ananias e Safira caíram mortos quando mentiram aos irmãos e ao Espírito Santo (Atos 5). E também vemos Paulo dizendo aos Coríntios que aquele que andava pecando deveria ser entregue a Satanás para a destruição da carne, para que o espírito fosse salvo na vinda do Senhor (1 Coríntios 5). Tudo isso é o “pecado para morte” de que fala 1 João 5:16, porém não morte eterna, mas do corpo. São pessoas que estão neste mundo atrapalhando o testemunho de Deus e precisam ser tiradas daqui.

(2 Tm 4:7-8) “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda”.

Aqui não fala de salvação, mas de galardão por bons serviços prestados.

(Hb 3:6) “Mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim”.

(Hb 3:14) “Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim”.

Aqui ele fala o óbvio, considerando que é o Senhor quem “vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Co 1:7-9).

(Hb 10:26-27) “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, Mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários”.

Aqui fala de pessoas que receberam o conhecimento apenas (sem fé), e a conclusão do discurso diz tudo: (Hb 10:39) “Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma”.

(1 Jo 5:16) “Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore”.

Esta “morte” é a do corpo, conforme expliquei com os casos de Ananias e Safira, do homem imoral de 1 Coríntios 5 e ainda de 1 Tm 1:18-20.

(Ap 3:3) “Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei”.

Isto não está sendo dirigido a pessoas individualmente, mas a um testemunho coletivo, representado aqui pela igreja em Sardes que profeticamente e cronologicamente nos fala das igrejas originadas com a Reforma Protestante. Mesmo assim o Senhor avisa que em meio a esse testemunho ele tem (agora sim, indivíduos) “algumas pessoas que não contaminaram suas vestes, e comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso”.

(Ap 3:11) “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”.

Coroa não significa salvação, mas galardão (recompensa) pela fidelidade.

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Devemos escolher o “caminho do meio”?

Sua dúvida surgiu depois de ler um trecho de Eclesiastes onde parece indicar que não devemos ser muito justos e nem muito sábios, como se devêssemos nos contentar com uma “meia-sola” em nosso andar cristão. Certamente a ideia tem tudo a ver com a sabedoria humana, que diz “nem tanto ao céu, nem tanto a terra”, ou com a doutrina budista do “caminho do meio” que nos ensina a evitarmos os extremos. Vejamos o que diz a passagem:

(Ec 7:15-17) “Tudo isto vi nos dias da minha vaidade: há justo que perece na sua justiça, e há ímpio que prolonga os seus dias na sua maldade. Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo? Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas louco; por que morrerias fora de teu tempo?”.

É preciso entender que o livro de Eclesiastes é o ponto de vista do pregador (Salomão), das coisas que ele viu debaixo do sol (experiência humana) e não necessariamente a vontade de Deus. O próprio Salomão irá concluir que tudo o que há debaixo do sol (inclusive a sabedoria humana) é vaidade. Então, dentro do que ele viu nos dias de sua vaidade, o melhor mesmo seria você ser morno, isto é, nem quente nem frio. Mas sabemos o que o Senhor acha da mornidão em Apocalipse, aí sim a revelação de Deus:

(Ap 3:16) “Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca”.

O próprio Salomão, ao escrever Provérbios, revela que o desejo dos céus, e não da terra, é que busquemos a sabedoria, e o Senhor confirma isso algumas vezes nos evangelhos.

(Pv 18:15) “O coração do entendido adquire o conhecimento, e o ouvido dos sábios busca a sabedoria”.

(Mt 5:20) “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”.

(Mt 6:33) “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.

Portanto o que você encontra no trecho em Eclesiastes é uma conclusão humana, não divina, de como o homem deve viver para evitar problemas neste mundo, não no vindouro. Este é um exemplo da filosofia humana, adotada por tantas religiões (como o “caminho do meio”), mas que não é o pensamento de Deus.

Não é por algo estar na Bíblia que é totalmente correto. Obviamente toda ela é a Palavra de Deus, mas devemos discernir quando Deus está apenas mostrando o que pensam os homens. Devemos julgar tudo à luz da Palavra de Deus na sua íntegra. Por exemplo, os três amigos de Jó dizem uma porção de coisas que fazem sentido, algumas delas até corretas do ponto de vista humano, mas no final Deus revela que eles estavam errados.

Outro exemplo disso é o livro de Atos dos Apóstolos. Ali você encontra os apóstolos e outros cristãos agindo (por isso se chama “Atos dos apóstolos”) de maneira nem sempre correta. Por exemplo, Paulo vai na conversa de irmãos judaizantes que o aconselham a adotar práticas judaicas para evitar que outros dissessem que ele estivesse pregando o afastamento da lei de Moisés.

(At 21:20-26) “…e disseram-lhe: Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus há que creem, e todos são zeladores da lei. E já acerca de ti foram informados de que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar seus filhos, nem andar segundo o costume da lei. Que faremos pois? Em todo o caso é necessário que a multidão se ajunte; porque terão ouvido que já és vindo. Faze, pois, isto que te dizemos: Temos quatro homens que fizeram voto. Toma estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles os gastos para que rapem a cabeça, e todos ficarão sabendo que nada há daquilo de que foram informados acerca de ti, mas que também tu mesmo andas guardando a lei… Então Paulo, tomando consigo aqueles homens, entrou no dia seguinte no templo, já santificado com eles, anunciando serem já cumpridos os dias da purificação; e ficou ali até se oferecer por cada um deles a oferta”.

Pelo relato na continuação do texto dá para perceber que o conselho daqueles irmãos saiu pela culatra e acabou colocando Paulo em dificuldades ainda maiores. Mais tarde, em Gálatas, o próprio Paulo viria a repreender a Pedro por querer ser uma coisa com os judeus e outra coisa com os gentios. Isto, porém, não está em contraste com 1 Coríntios 9:20, quando Paulo diz que se fez como judeu para ganhar os judeus, ou como gentio para ganhar os gentios.

Neste caso ele não está se referindo a voltar à guarda da Lei, por um lado, ou mergulhar no paganismo, por outro. Acredito que esteja falando mais no sentido da forma como agiu em Atos 17:23, quando tomou como ponto de partida o fato dos gregos venerarem um “Deus desconhecido”, dentre seus muitos ídolos. Ou seja, Paulo faz uso de algo que podia ser um interesse comum entre ele e os pagãos para começar daí sua apresentação do evangelho, assim como o Senhor usou algo de interesse comum — no caso “água” — para falar à mulher samaritana à beira do poço.

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Existe uma cronologia profética nas cartas às sete igrejas?

Sim, tudo indica que não sejam apenas cartas descrevendo igrejas que existiam na época do apóstolo João, mas também apontam para as sucessivas eras na história da igreja.

1. ÉFESO mergulhou em um estado de apatia por ter deixado seu primeiro amor (Jesus). Cronologicamente falando representa a igreja do primeiro século, na qual já nas Escrituras é possível encontrar desvios.

2. ESMIRNA não recebeu reprovação, mas consolo por ser perseguida pelo que era. Representa o período do primeiro ao quarto século, quando a igreja sofreu perseguição dos imperadores romanos.

3. PÉRGAMO fez uma aliança com o mundo e suas instituições, colocando-se à sombra do poder secular. Passou a habitar no mundo, onde está o trono de seu príncipe, Satanás. Também tem em seu meio pessoas com o espírito de Balaão, que visava lucrar com as coisas de Deus fazendo tropeçar o povo de Deus. Também tem um embrião de clericalismo (doutrina dos nicolaítas). Representa o quarto e quinto séculos, quando o cristianismo foi transformado em religião oficial pelo império romano por iniciativa do imperador Constantino.

4. TIATIRA tem muito amor, serviço, fé, paciência e muitas obras, porém permite o ensino errado (uma mulher ensinando), além de estimular a idolatria. Também se prostitui, ou seja, se corrompe e contamina em troca de favores. Representa o período do século 6 ao 15, o domínio do catolicismo romano (a “mulher” — igreja — que ensina e estimula idolatria). Vai até o advento do protestantismo.

5. SARDES tem nome de que vive, mas está morta. Parece ter feito coisas boas, mas também se deteriorou por ter se afastado do que tinha recebido e ouvido. Não anseia pela volta do Senhor, tanto é que será surpreendida por ele como se fosse um ladrão inesperado. Representa o período do século 16 ao período pós reforma, quando a própria luz do protestantismo perdeu seu brilho.

6. FILADÉLFIA também não recebe reprovação, mas consolo e a certeza de que tem diante de si uma porta aberta, apesar da pouca força, do apego à Palavra e ao nome de Jesus (o inverso dessas três características — muita força e sem compromisso com a Palavra e com o nome de Jesus — pode denotar também erro eclesiástico). Durante os séculos 18 e 19 ocorreu um reavivamento e um resgate das verdades há muito esquecidas, como o arrebatamento da igreja e a importância do nome do Senhor como centro de reunião.

7. LAODICEIA é tudo de ruim: mornidão, justiça própria, interesse em lucro, contaminação (por isso é exortada a comprar vestes brancas). O Senhor está do lado de fora buscando a comunhão individual, já que coletivamente Laodiceia é um desastre (o versículo “estou à porta e bato” é muito usado em evangelismo, mas ali nos fala de comunhão com alguém que já crê). Laodiceia representa os últimos dias e o início da apostasia. O arrebatamento vem tipificado em seguida, no capítulo 4:

(Ap 4:1-2) “Depois destas coisas, olhei, e eis que estava uma porta aberta no céu; e a primeira voz que, como de trombeta, ouvira falar comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer. E logo fui arrebatado no Espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono”.

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Os dons tem uma ordem de importância?

Sua dúvida é sobre a ordem em que os dons são apresentados em 1 Coríntios 12:28 e se essa ordem significaria que uns dons são mais importantes que outros. Você também perguntou se com isto o apóstolo não estaria estabelecendo alguma forma de clero como o existente nas denominações.

Antes de tudo devemos nos lembrar de que os dons são funcionais e quando falamos de sua importância não podemos confundir com a importância dos membros (pessoas) do corpo de Cristo. Como é ensinado na mesma epístola, todos os membros (que exercem esses dons) são igualmente importantes no corpo. Mas existe sim uma distinção entre os diferentes dons, assim como existe uma distinção entre as ferramentas de uma caixa de ferramentas. Embora o martelo pareça mais importante, ele nada pode fazer sem o pequenino prego.

Vamos começar por Efésios:

(Ef 4:11) “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,”.

Veja que aqui parece existir uma ordem. Há também um detalhe: o versículo não diz que deu dom de apóstolo a uns, a outros dom de profeta, etc., mas que deu uns para apóstolos e outros para profetas, etc. Portanto isto indica que Cristo, mais do que capacitar as pessoas, deu as próprias pessoas visando tal capacitação.

Na ordem os apóstolos vêm primeiro porque tiveram contato com o Senhor pessoalmente e foram escolhidos por ele. Os profetas vêm em seguida porque foram eles que falaram aos crentes da parte de Deus quando ainda não existia a Palavra de Deus do Novo Testamento disponível, e eles também nos legaram o Novo Testamento (alguns apóstolos foram também profetas neste sentido). Estes dois já não existem, tendo sido responsáveis por estabelecer os fundamentos (alicerce) da casa de Deus. Uma vez feito o alicerce, o que vem em seguida são apenas as pedras das paredes.

Então foi necessário que antes existissem apóstolos, para receber o ensino diretamente do Senhor e nomear ofícios na igreja, e também que existissem os profetas (da Igreja) para que Deus falasse através deles, tanto no tempo quando ainda não existia o Novo Testamento completo, como para escrevê-lo e deixá-lo para nós.

A ordem continua: em seguida vêm os evangelistas, que são importantes porque sem eles não faria sentido ter pastores e doutores (mestres) para apascentar e ensinar as ovelhas. Em Atos 11:19-30 você encontra todos esses dons em pleno funcionamento e ordem, e é bom entender que estes dons tem um aspecto universal, foram dados à Igreja como um todo, e não de forma limitada a uma assembleia local.

Sua pergunta seguinte é sobre o significado do dom de “governos”. Para isso vamos a 1 Coríntios 12:28: “E a uns pós Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas”.

Aí sim a palavra “primeiramente” tem sentido cronológico, pois os apóstolos foram os primeiros comissionados diretamente pelo Senhor para o exercício de seu dom. Faça uma busca por “apóstolos” em www.respondi.com.br para ver mais sobre o papel deles. Repare que “evangelistas” não aparece nesta lista, porque aqui está falando da igreja em funcionamento, ou seja, pressupõe-se que os que estão ali já teriam ouvido o evangelho de algum evangelista. Estas listas de dons não são completas, mas os dons aparecem de diferentes maneiras em diferentes partes do Novo Testamento conforme o contexto de cada epístola.

O dom de “governos” pode ser atribuído àqueles que exercem o cuidado prático da assembleia local, algo que pode coincidir com o ofício (que não é um dom) de bispos ou presbíteros (tem o sentido de superintendentes), que sempre aparecem no plural. Então acredito que Deus capacite aqueles que tenham tal ofício com o dom de “governos” para que saibam como administrar a casa de Deus.

Mas nada disso tem o sentido de um clero como havia no Antigo Testamento e ainda prevalece na maioria das denominações cristãs. Lembre-se de que nas epístolas de Pedro encontramos TODOS os crentes como sacerdotes, com iguais privilégios e acesso a Deus. Além disso, por não termos apóstolos hoje, não existe uma nomeação “oficial” desses superintendentes (bispos ou presbíteros), mas apenas um reconhecimento informal dos irmãos de uma localidade. Reconhecidos, porém não nomeados. Sugiro que leia sobre isso em detalhes no livro “A ordem de Deus”.

Vamos à sua próxima dúvida, que é sobre o versículo que diz “procurai com zelo os melhores dons”. Você pergunta como poderíamos procurar aquilo que nos é dado por Deus independente de nossa própria vontade?

(1 Co 12:31) “Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais excelente”.

Por acaso você já atacou um pote de sorvete de morango procurando pelos moranguinhos? Ou o molho de camarão de algum prato procurando pelos camarõezinhos? Então é disso que está falando. Trata-se de procurar pelos dons onde eles já existem, ou seja, “procurar” no sentido de “preferir”.

Repare que ele não está se dirigindo a indivíduos, mas a uma assembleia como um todo (Corinto). Então não está dizendo “Procura (tu) com zelo os melhores dons”, mas “Procurai (vós) com zelo os melhores dons”, ou seja, a assembleia deve preferir os melhores dons que existem em seu meio, isto é, aqueles que contribuem para a edificação do corpo. Um exemplo disso é o que Paulo vai falar no capítulo 14 sobre a pouca utilidade do dom de línguas neste sentido:

(1 Co 14:1-4) “Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar. Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação. O que fala em língua desconhecida edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja”.

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Somos tentados pelo diabo como Jesus foi tentado?

Existe uma diferença entre a “tentação” de Jesus, que seria melhor traduzida como “teste” ou “prova”, e a tentação pela qual passamos. Repare que o episódio todo começa não por iniciativa de Satanás, mas do Espírito Santo, que leva Jesus ao deserto para ser “testado” pelo diabo.

(Lc 4:1-2) “E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto; E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome”.

Embora o caráter daquela “prova” ou “teste” não seja o mesmo das tentações que sofremos, o exemplo de Jesus ao se firmar na Palavra de Deus serve para nós também. Jesus passou no teste. O Espírito não o levou lá para ver se caía em tentação, mas simplesmente para provar que era impossível isso acontecer, pois Jesus, Deus e Homem perfeito, seria incapaz de pecar.

Nós somos tentados por nossas concupiscências, nossos desejos da carne, da velha natureza que continua em nós. Obviamente Satanás e seus anjos e demônios muitas vezes preparam o caminho para isso, colocando diante de nós coisas e situações que apelem para nossos desejos carnais.

(Tg 1:12-15) “Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam. Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte”.

Mas veja que as tentações nem sempre são de caráter sexual como muitas vezes pensamos ao falar da “carne” e “pecado”. Quando você vê alguns programas de pregadores da prosperidade na TV percebe que eles estão fazendo o papel do diabo ao estimular seus seguidores a caírem na tentação das riquezas. Essas pregações de prosperidade nada mais são do que shows de tentação para despertar nas pessoas a cobiça por maiores riquezas e poder.

(1 Tm 6:9) “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína”.

Quando lemos o que aconteceu aos israelitas no deserto, vemos que uma tentação pode ser por coisas absolutamente lícitas e comuns em nossa vida. Repare que o que a Palavra de Deus chama de “idolatria” nesta passagem nada mais era do que comer, beber e se divertir. E realmente essas coisas são idolatria quando se tornam a razão principal de nosso viver.

(1 Co 10:7) “Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar”.

Um crente cai em tentação quando quer cair, pois ele está perfeitamente capacitado pelo Espírito Santo que habita em si a fugir da tentação. Porém a vontade da carne é poderosa quando damos ouvidos a ela e deixamos de nos dedicar à comunhão com Deus. Portanto, antes de tentarmos culpar Satanás pelas tentações, como desculpa para o fato de termos sucumbido a elas, é bom ter em mente o versículo abaixo:

(1 Co 10:13) “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar”.

Depois de publicada esta resposta alguém escreveu como ficaria então a passagem em Hebreus que afirma que Jesus foi tentado como nós somos tentados.

(Hb 4:15) “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”.

Tanto em Lucas como em Hebreus a palavra grega é “peirazo” que significa testar (como fazer exame na escola), portanto não dá aí para comparar só pensando no significado do grego, mas sim no contexto. A diferença grande está justamente pelo final do versículo de Hebreus que impõe a imensa diferença que existiu entre a tentação de Cristo e a que sofremos. A palavra “mas”, “porém” ou “exceto” faz toda a diferença. Veja as diferentes traduções:

(ACF) “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”.

(AveMaria) “Porque não temos nele um pontífice incapaz de compadecer-se das nossas fraquezas. Ao contrário, passou pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado”.

(Darby) “For we have not a high priest not able to sympathise with our infirmities, but tempted in all things in like manner, sin apart.

(FDB) “car nous n’avons pas un souverain sacrificateur qui ne puisse sympathiser à nos infirmités, mais nous en avons un qui a été tenté en toutes choses comme nous, à part le péché.

(LITV) “For we do not have a high priest not being able to sympathize with our weaknesses but One having been tried in all respects according to our likeness, apart from sin”.

(PAST) “De fato, não temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado como nós, em todas as coisas, menos no pecado”.

(YLT) “for we have not a chief priest unable to sympathise with our infirmities, but one tempted in all things in like manner — apart from sin;”.

Isso esclarece a tentação que ele sofreu no deserto, isto é, uma tentação “com exceção do pecado”. Não é “sem pecar” como diz a Bíblia na Linguagem de Hoje ou “sem ter cometido pecado”, porque ali o sentido é “sem ter em si o pecado”, “pecado à parte” ou “o pecado não estando envolvido na questão”. Jesus sabia o que era passar por provações e privações, além de tentações, mas nenhuma resposta havia em seu ser santo para o pecado. Ele era tentado de fora para dentro, nós somos tentados de fora para dentro e de dentro para fora.

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Apocalipse 22:18-19 serve para toda a Bíblia?

Sua dúvida sobre Apocalipse 22:18-19 é se a aplicação da passagem está restrita ao livro de Apocalipse ou por “livro” ali devemos entender a Bíblia toda. Vamos ver o que diz: “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro”.

Está muito claro que a passagem se limita ao próprio livro de Apocalipse, e não está se referindo à Bíblia quando menciona “livro”. Devemos entender que a Bíblia não é originalmente um livro só, mas um conjunto de livros, cartas e relatos escritos por diversas pessoas que foram inspiradas por Deus em um período de mais de mil anos.

Ao ser informado de que a restrição em Apocalipse refere-se apenas ao livro de Apocalipse, você enviou sua segunda dúvida: “Então quer dizer que nos outros livros da Bíblia podemos acrescentar ou tirar algo?”.

É evidente que não. Tem uma placa aqui na rua dizendo que é proibido estacionar. O fato de não ter uma placa dizendo que é proibido matar, roubar, etc., não quer dizer que essas coisas sejam permitidas. Por alguma razão o Espírito Santo inspirou João a colocar aquela cláusula no livro de Apocalipse, mas isso não quer dizer que todos os outros livros possam ser adulterados ao nosso bel prazer.

Em outras partes da Bíblia somos exortados a não acrescentar ou tirar coisa alguma de seu texto, e Deus obviamente fez isso sabendo que muitos copistas e tradutores se sentiriam tentados a inserir sua opinião pessoal no texto sagrado, ou até mesmo tirar dele aquilo que fosse contrário às suas próprias crenças. Os Mórmons fizeram isso acrescentando mais um capítulo ao livro de Gênesis para incluir nele uma suposta profecia sobre Joseph Smith, o fundador da seita, e os Testemunhas de Jeová habilmente alteraram ou excluíram passagens que falavam da divindade de Jesus.

Veja alguns exemplos:

(Dt 4:2) “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.”

(Dt 12:32) “Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás”.

(Pv 30:5-6) “Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele”. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso.

(Gl 1:6-12) “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo”. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema. Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo. Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.

É importante ter em mente que mesmo entre cristãos que creem ser errado acrescentar ou tirar qualquer coisa da Palavra de Deus tem ocorrido uma forma sutil de se fazer isso. Refiro-me às igrejas chamadas pentecostais, onde as supostas revelações e profecias contemporâneas costumam ser aceitas como Palavra de Deus, levando muitas pessoas ao erro e ao desapontamento. O abuso é tão grande que já virou piada tratar dessas supostas revelações como “profetadas”, tamanho o dano que causam.

Além disso, sempre que alguém vem com alguma novidade e coloca nela o selo de “revelação de Deus”, não deixa qualquer margem para que outros julguem se aquilo efetivamente vem de Deus. O argumento mais usado é que, se as pessoas duvidarem daquilo, estarão blasfemando contra o Espírito Santo, quando na verdade blasfemo é aquele que usa o nome de Deus em vão na tentativa de transformar suas próprias ideias em “profecias” e “revelações”.

A Palavra de Deus, a única e original, nos alerta contra isso:

(1 Tm 4:1-2) “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência;”.

(Mt 24:11) “E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos”.

(Mt 24:24-25) “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis que eu vo-lo tenho predito”.

(2 Co 11:13-15) “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras”.

(2 Pe 2:1-3) “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade. E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita”.

(Mt 7:22-23) “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.

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As manifestações espirituais nas igrejas são reais?

Sua dúvida não é no sentido de manifestações ou profecias que falam de eventos futuros que virão sobre o mundo, ou de revelações doutrinárias que muitos alegam ter como se falassem da parte de Deus. Sua pergunta é mais específica para os casos de manifestações, revelações ou profecias testemunhadas em algumas denominações conhecidas como pentecostais.

Você deu o exemplo de casos que testemunhou, de pessoas capazes de falar detalhes secretos da vida de alguém (os quais obviamente deixam de ser secretos ao serem revelados publicamente), de previsões de perda de emprego, doença ou morte de determinadas pessoas, presentes ou não nas reuniões onde isso acontece.

Primeiro é preciso entender que esse tipo de coisa não é exclusividade da esfera da profissão cristã. Manifestações assim sempre existiram em todas as crenças. Você as encontra entre monges tibetanos, índios americanos, nativos africanos, povos das ilhas do Pacífico, etc. Não é preciso investigar muito para ver que todos esses estão sendo enganados por demônios, pois não são pessoas que professam a fé cristã e seus cultos são cheios de figuras horrendas representando tais seres espirituais.

Mas o que dizer de manifestações assim que ocorrem com pessoas que professam ser cristãs e em ambientes cristãos? Primeiro é preciso observar se não estamos diante de casos clássicos de manipulação, como o do pastor denunciado em vídeos no Youtube, que “revelava” informações que ele colhia no Orkut dos membros de sua igreja, ou os truques psicológicos e de indução, que às vezes são demonstrados em programas de TV, ou ainda de pura coincidência pela repetição, deliberada ou não, de uma mesma informação.

Para este último caso dou o exemplo de um dos milhares de golpes que os estelionatários aplicam. Um sujeito dizia ser capaz de adivinhar o resultado das corridas de cavalos em um páreo, com, digamos, 10 cavalos. Ele pegava uma lista de mil apostadores, dividia em grupos de cem e enviava mil cartas, dizendo para cem delas que ia dar o cavalo A, para outras cem o cavalo B, para outras cem o cavalo C, etc. Obviamente um grupo de cem pessoas concluía que o sujeito sabia mesmo do resultado.

Então ele pegava os endereços das cem que que receberam o palpite correto e dividia em grupos de dez, fazendo o mesmo: cavalo A para um grupo, cavalo B para outro, etc. Agora ele tinha dez pessoas acreditando que ele acertou duas vezes. Ele fazia o mesmo enviando agora dez cartas individuais e uma pessoa acabava plenamente convicta da capacidade de adivinhação do sujeito, pois testemunhou três vezes que ele acertou. Nesse momento o estelionatário entrava em contato com a vítima propondo uma aposta milionária conjunta: ele entrava com o palpite para o Grande Prêmio e a vítima com o dinheiro, que acabava entregando na confiança.

Todos os dias em milhares de “igrejas” em todo o país alguém avisa que uma pessoa ali irá morrer. Considerando que somos mortais, a probabilidade de isso ocorrer em algumas dessas “igrejas” é grande. Basta um acerto por pura coincidência e o resto do trabalho de divulgação fica por conta do boca-a-boca do povo crédulo e dependente de “ver para crer”. Troque o “morrer” por “encontrar emprego”, “ser demitido”, “fechar um ótimo negócio”, “ser curado de uma doença mortal”, “sofrer um acidente”… e você tem uma gama enorme de possibilidades para depois serem exploradas pelos pregadores desses locais para atrair mais público com base nos famosos “testemunhos”.

Mas e os muitos casos de revelações que não se concretizam? Bem, para isso tenho outra história de estelionatário que demonstra que não somos tão exigentes em investigar a fundo aquilo que sai barato para nós, como é o caso de alguma “profetada” não cumprida. O sujeito tinha um cavalo que morreu. Todo mundo sabia que ele tinha um cavalo, mas ninguém sabia que tinha morrido. Então ele rifou o cavalo, cobrando, digamos, um real por bilhete. Logo seus duzentos amigos compraram todos os números e um foi premiado. Você quer saber se o ganhador não reclamou por não receber o cavalo? Reclamou e o rapaz simplesmente devolveu o dinheiro para o único que reclamou.

Mas e os casos que realmente mostram ter uma origem espiritual? Obviamente Deus tem o poder de revelar certas coisas a certas pessoas quando ele tem um propósito para isso, do mesmo modo como ele também permite que pessoas sejam enganadas (e na Bíblia vemos que até enviou espíritos maus com esta missão), quando também quer ensinar algo. Por isso é preciso sempre perguntar não só se aquilo vem de Deus, mas se não é um engano enviado por meu coração ter se afastado dele.

Apesar de em algumas “igrejas” uma pergunta assim ser rechaçada como “pecado contra o Espírito” ou “incredulidade” por aqueles que se consideram “mais espirituais”, julgar os espíritos para ver se procedem de Deus é uma ordem dada pelo próprio Espírito Santo de Deus:

(1 Jo 4:1) “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”.

É incrível o número de cristãos que parece ler a Bíblia às carreiras e não percebe que estamos mergulhados em um mundo espiritual que inclui anjos caídos e demônios, também chamados de espíritos malignos. Trata-se de um inumerável exército de estelionatários tentando enganar os seres humanos com mentiras. O próprio Senhor advertiu contra a existência dos ministros e falsos profetas a serviço de Satanás no meio do povo de Deus, fazendo-se passar por ministros de Deus:

(Mt 7:15-23) “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores… Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.

Ele não está falando ali de monges tibetanos, índios americanos, nativos africanos ou povos idólatras de ilhas remotas. Ele está falando de pessoas que chamam a Jesus de Senhor. Basta ligar a TV a qualquer hora do dia ou da noite para encontrar pessoas assim. Enquanto alguns são meros cobiçosos de riquezas, há aqueles que efetivamente estão a serviço direto das trevas, incorporados por demônios e com poderes de adivinhar, não necessariamente o futuro, mas fatos sobre as pessoas. Mas como eles podem estar fazendo isso e ao mesmo tempo promovendo o evangelho? Podem, e a jovem que perseguia Paulo é um exemplo disso, pois ela também parecia estar promovendo o evangelho:

(At 16:16-18) “E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo. E isto fez ela por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu”.

O cuidado de um cristão sincero deve ser redobrado quando entendemos que a Palavra de Deus avisa que essas manifestações demoníacas dentro da esfera da cristandade aumentariam muito nos últimos tempos. É o que o apóstolo Paulo adverte em suas epístolas:

(1 Tm 4:1) “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios;”.

(2 Tm 4:3-4) “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas”.

Diferentes versões trazem, além de “fábulas”, as palavras “mitos” ou “lendas”. Se você entrar numa livraria e pedir livros de fábulas, mitos e lendas, sairá de lá com uma sacola cheia de histórias de fadas, duendes, lobisomens, vampiros, zumbis, fantasmas, etc. Ou seja, personagens de uma outra esfera, de um submundo povoado por criaturas que, nas histórias, podem tanto ser benignas como malignas. O diabo está fazendo um trabalho bem feito neste sentido, pois hoje qualquer adolescente adoraria namorar um vampiro.

O problema é que, no mundo real da espiritualidade… “o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz… [e] os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça” (2 Co 11:14-15). No versículo anterior a este Paulo se referia àqueles que dizem ser apóstolos, porém não passam de uma fraude.

Se você der uma festa e não colocar seguranças na porta, deixando o acesso livre para quem quiser chegar, logo terá em sua casa não só seus convidados, mas toda espécie de pessoas, principalmente aqueles que irão querer tirar proveito da “boca livre”. Ou seja, o submundo é rápido em farejar oportunidades assim.

Se um grupo de pessoas começa a flertar com o mundo espiritual e passa a se encantar e a maravilhar-se com manifestações espirituais sem qualquer discernimento ou juízo, está escancarando as portas para que miríades de demônios venham satisfazê-las com revelações surpreendentes e profecias mirabolantes. O desvio da verdade sempre deixa a casa limpa e arrumada para as hostes demoníacas participarem da festa. Embora os demônios não sejam capazes de prever o futuro, eles podem adivinhar o futuro com base na experiência.

Todos os dias vemos na TV o homem ou a mulher do tempo adivinhando o clima de amanhã com base na experiência dos meteorologistas. Também lemos os comentaristas financeiros fazendo previsões das ações que sobem ou descem. Se meros seres humanos, com uma bagagem de dez ou vinte anos na observação do clima ou do mercado financeiro, são capazes de acertar muitas de suas previsões, o que dizer de seres que estão por aí há milhares de anos adquirindo experiência na observação do comportamento humano, da política, das finanças, do clima, e até da saúde das pessoas? Você acha que poderia ser enganado por eles? Certamente.

Além dos anjos que se rebelaram contra Deus seguindo Lúcifer, e que têm a capacidade de assumir a forma humana, existem também os demônios ou espíritos malignos. Provavelmente são os espíritos desencarnados daqueles que nasceram do cruzamento de anjos com humanos descrito em Gênesis 6 e 2 Pedro 2:4, ou talvez de alguma criação anterior àquela descrita a partir do versículo 2 do capítulo 1 de Gênesis, quiçá contemporâneos dos dinossauros. Seja qual for sua origem, sua existência é real e, apesar de sua incapacidade de assumir a forma humana, eles são capazes de influenciar e possuir os corpos de homens e animais para cumprirem seus propósitos de engano. Veja uma lista deles:

Espíritos surdos-mudos (Mc 9:17), espíritos maus (Lc 7:21), espíritos de adivinhação (1 Sm 28:7, At 16:16), espíritos mentirosos (2 Cr 18:21), espíritos perversos (Is 19:14), espíritos enganadores (1 Tm 4:1), espíritos imundos (Lc 4:33), espírito do anticristo (1 Jo 4:3), espíritos escravizadores (Rm 8:15), espíritos destruidores (1 Co 10:10), espíritos de erro (1 Jo 4:6), espíritos de enfermidade (Lc 13:11), espíritos de luxúria (Os 4:12).

É importante notar que mesmo os espíritos imundos estão sujeitos a Deus e, assim como ocorre com Satanás, só podem agir dentro de certos limites, como foi o caso de Satanás com Jó. Esses espíritos reconhecem a autoridade de Jesus e se submetem a ele (Mc 1:27, Lc 4:36), tremendo diante dele (Tg 2:19). Deus pode usá-los para cumprir seus propósitos, como vemos em Sl 78:49 e Jz 9:23.

Mas agora vem a parte que concerne os cristãos, que devem vigiar para que as portas de sua festa não estejam escancaradas, como no exemplo que dei. Quando um grupo de pessoas fica extasiada em busca de milagres e maravilhas, e não na busca do Senhor e sua Palavra, elas se tornam vulneráveis a toda espécie de erro e manipulação da parte desses espíritos, mesmo que muitas delas sejam realmente convertidas. Isso quando já não estão sendo manipuladas por “pastores” ávidos por dinheiro e prontos a promover todo tipo de entretenimento espiritual na forma de manifestações milagrosas.

Embora o trigo, que são os verdadeiros crentes, não possam ser possuídos por demônios, o joio que convive em seu meio e às vezes até dirige congregações pode ser um instrumento do diabo. Apartar-se da verdade abre as portas para o erro, como aconteceu com Saul em 1 Samuel:

(1 Sm 16:13-15) “…desde aquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi… E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do Senhor. Então os criados de Saul lhe disseram: Eis que agora o espírito mau da parte de Deus te atormenta;”.

Observe que no Antigo Testamento os crentes não tinham ainda o Espírito Santo habitando em si, mas apenas sobre si, influenciando-os e guiando-os. É neste sentido que o Espírito do Senhor se retirou de Saul, já que aqueles na atual dispensação que são habitados pelo Espírito Santo não podem perdê-lo.

Mesmo assim, quando somos advertidos em Efésios 4:27 “Não deis lugar ao diabo” isso é porque Deus sabe que se começarmos a flertar com o mundo espiritual, interessados em manifestações, adivinhações, profecias e sinais mirabolantes, logo o diabo vai perceber nossa porta aberta e enviará um bando de demônios penetras para nossa festa. E eles certamente serão capazes de promover uma festa de arromba, com muito entretenimento espiritual para nos manter presos ao engano.

Concluindo, deixarei para você discernir se os casos que mencionou são realmente vindos de Deus ou do diabo. O que vem de Deus exalta a Cristo e leva nosso olhar para ele. O que vem do diabo exalta o homem e, como um vício, deixa sempre o desejo de consumir mais dessas manifestações. Nem preciso dizer que hoje há muitos cristãos que são viciados em manifestações espirituais, como se a sua fé não se contentasse em ter a Cristo diante de si, mas precisasse constantemente estar cercado de testemunhos emocionantes. São como viciados em algum tipo de droga espiritual que causam visões e êxtases, sem o que acham que não podem viver. Para esses, só Jesus já não satisfaz.

Sempre que estiver diante de manifestações espirituais, procure julgar se aquilo está sendo feito com algum proveito. Alguém que adivinhe particularidades da vida de uma pessoa não está trazendo proveito algum a ela, a não ser torná-la dependente de sua capacidade de adivinhação e colocando-se como alguém com superpoderes aos olhos delas. Isso não passa de exaltação da carne.

O Senhor não fazia seus sinais e milagres como um mágico faz seus truques para arrancar aplausos e “Oh!” da plateia. Cada milagre, sinal ou palavra que ele falava tinha um objetivo claro e definido de bênção (ou às vezes de condenação) de seu interlocutor. Não eram tampouco coisas que tinham o objetivo de alisar o ego do outro, como algumas “profetadas” que costumo ouvir ou até ler em e-mails e mensagens deixadas nas redes sociais. Coisas do tipo, “Deus tem uma grande obra para você!”, “Estou vendo que Deus fará de você um pregador famoso!”, etc.

No espiritismo isso é muito usado para atrair e segurar noviços. Existem espíritas que são loucos para dizer aos recém-chegados: “Você tem mediunidade, precisa desenvolver!”. Pronto, prato cheio para o ego de quem vai atrás dessa conversa e ótima isca para fisgar incautos com problemas de baixa autoestima.

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Posso aprender apenas lendo a Bíblia?

A ideia de que precisamos apenas da Bíblia e de nada e ninguém para sermos edificados na fé pode soar espiritual, mas não é correta. Evidentemente a Palavra de Deus é “proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”. Mas será que foi assim que Deus determinou, que precisássemos apenas da Palavra de Deus e nada mais?

Se prestarmos atenção em todo o texto de onde tirei o trecho acima, veremos que há algo mais:

(2 Tm 3:14-17) “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”.

Observe que Timóteo havia aprendido as Sagradas Escrituras desde criança de sua mãe Eunice e avó Lóide, duas mulheres que cumpriram seu papel ao ensinarem o Antigo Testamento ao pequeno Timóteo. Portanto, Deus usou pessoas para ensinarem as Escrituras a Timóteo.

Se formos a Atos 8 iremos encontrar um homem lendo Isaías em sua carruagem e Filipe, guiado pelo Espírito Santo a encontrar aquele viajante, indagando se ele entendia o que lia:

(At 8:30) “Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar?”.

Aquele homem tinha as Escrituras, mas dependia de alguém para lhe ensinar. Filipe é o evangelista que faz isso e o homem se converte a Cristo.

Em Atos 11 encontramos outros pregando o evangelho em Antioquia e vendo o resultado disso na conversão de muitos. Os que se convertem passam a ser ajudados por Barnabé, que os encoraja a permanecerem no Senhor, e depois manda vir Paulo para ajudar no ensino da Palavra.

Tudo isso está em harmonia com o que é ensinado em Efésios 4:

(Ef 4:8-14) “Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, E deu dons aos homens… E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”.

O desejo de Deus não foi que as pessoas tivessem apenas acesso à sua Palavra, mas ele providenciou para que pessoas fossem capacitadas com dons — apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres ou doutores — para pregarem e ensinarem a mesma Palavra a outros para a edificação do corpo de Cristo. Você não pode simplesmente dispensar aqueles que Cristo não considerou supérfluos.

Portanto, você precisa sim da Palavra de Deus, mas no modo como Deus estabeleceu todas as coisas, irá precisar também dos dons para ouvi-la e entendê-la. Evidentemente se você estiver numa ilha deserta apenas com uma Bíblia nas mãos o Espírito Santo fará o necessário para você conhecer o que ele desejar que conheça. Mas em condições normais é assim que funciona: a Palavra é pregada e ensinada por homens dotados pelo próprio Senhor Jesus para fazê-lo.

Hoje não temos mais apóstolos e profetas que existiam no início da Igreja para nos legarem os fundamentos e doutrina, mas já temos o volume completo da revelação de Deus e os dons de evangelista, pastor e mestre ou doutor, por meio dos quais o Espírito Santo faz a sua Palavra chegar à nossa mente e coração. Desfrute deles para seu aprendizado, seja ouvindo-os ao vivo, seja em gravações ou por meio de seus escritos.

Obviamente o padrão pelo qual você deverá comparar e julgar todas as coisas continuará sendo a Palavra de Deus, e você deverá sim julgar tudo aquilo que as pessoas lhe ensinarem para não ser enganado por apóstolos fraudulentos ou hereges em busca de discípulos. Mas não caia no erro de pensar que não precisa de pessoas que lhe preguem o evangelho, caso não seja ainda convertido, ou que lhe ensinem a doutrina dos apóstolos, caso já faça parte do corpo de Cristo.

Pensar que pode dispensar os dons que Cristo deu, a fim de ficar apenas com a Bíblia, pode soar uma atitude muito espiritual, mas é biblicamente errada e egocêntrica. Nenhum de nós é autossuficiente nas coisas de Deus. Precisamos uns dos outros para aprender.

(1 Co 12:20-31) “Assim, pois, há muitos membros, mas um corpo. E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós…. Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular. E a uns pós Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura são todos apóstolos? são todos profetas? são todos doutores? são todos operadores de milagres? Têm todos o dom de curar? falam todos diversas línguas? interpretam todos? Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais excelente”.

Veja que além dos dons mostrados em Efésios, há outros de um caráter mais prático para questões do dia-a-dia. E antes que me pergunte como “procurar com zelo os melhores dons”, entenda que Paulo não está escrevendo a indivíduos, mas a uma assembleia ou igreja. Não se trata do cristão que deve procurar os melhores dons para recebê-los, mas da assembleia identificar em seu meio os melhores dons para procurar desfrutar deles.

E os melhores dons são aqueles que edificam toda a assembleia e são exercidos em amor, não em vaidade e exaltação própria. Veja que ele continua o assunto no capítulo 14:

(1 Co 14:1) “Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar [aqui o sentido é de “proferir” a Palavra, transmiti-la]. Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação. O que fala em língua desconhecida edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja”.

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A família do carcereiro foi salva sem crer?

Sua dúvida, se a família do carcereiro foi salva automaticamente, está nesta passagem: (At 16:29-32) “E, pedindo luz, saltou dentro e, todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas. E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregavam a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa”.

Deixe-me mudar a cena e imagine que Paulo esteja em um barco jogando uma corda para o carcereiro e sua família que estão na água após um naufrágio. Paulo diria: “Agarre a corda e você e toda a sua família será salva”. Obviamente a corda seria o único meio de salvação para quem agarrasse a corda. De nada adiantaria o carcereiro agarrar e seus filhos não. A salvação estaria disponível a todos na corda, e o ato de agarrá-la garantiria o mesmo destino para todos. Se prestar atenção verá que Paulo e Silas não pregam a Palavra apenas ao carcereiro, mas “a todos os que estavam em sua casa”.

Mas a salvação no versículo que citou pode ter também mais de um aspecto: a salvação eterna e a salvação do mundo, que é a preservação do mal enquanto se vive aqui.

Ao crer no Salvador o carcereiro foi salvo de todos os seus pecados eternamente. Aqueles de sua família que creram também foram salvos, mas os que não creram foram colocados sob um privilégio que é o mesmo daqueles que são batizados sem crer em Jesus, ou seja, estão “a salvo” das contaminações deste mundo pela responsabilidade que agora têm por levarem o nome de Cristo sobre si (ainda que não tenham tido uma conversão real).

(1 Pe 3:20-21) “Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água; Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo;”.

Noé salvou seus familiares ao levá-los para a arca, e Moisés salvou a todos os israelitas que foram conduzidos através do Mar Vermelho, inclusive as crianças. Neste sentido também uma esposa ou marido crente “salva” seu cônjuge e filhos incrédulos, colocando-os em uma posição de separação. Embora eles tenham de crer por si mesmos, o fato de viverem agora dentro de uma esfera cristã dá a eles um privilégio que outros não têm, como por exemplo ouvir mais a Palavra e observar mais a vida daquele que crê em Jesus.

(1 Co 7:14) “Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos”.

(1 Pe 3:1-2) “Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns não obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos sem palavra; Considerando a vossa vida casta, em temor”.

Um caso semelhante ao do carcereiro você encontra em Cornélio, o centurião, ao qual um anjo avisou que deveria ouvir as palavras de Pedro, que serviriam para salvar a ele e sua família:

(At 11:14) “O qual te dirá palavras com que te salves, tu e toda a tua casa”.

Ainda que em todos os casos a salvação irá depender da fé individual, é de grande consolo para qualquer pai ou mãe crente saber que Deus promete esse privilégio aos seus familiares. Não são poucas as famílias que têm a alegria de ver todos os seus membros serem salvos depois da conversão do pai ou mãe.

Pode ser que a promessa tenha também o sentido da salvação ou preservação dos filhos pequenos, que ainda não têm idade para entender e crer no evangelho. Veja a seguir um trecho do livro “Acontecimentos Proféticos” de Bruce Anstey que explica isso:

As crianças com idade insuficiente para serem consideradas responsáveis por seus pecados, cujos pais (ou mesmo um deles) são redimidos, subirão também para encontrar o Senhor nos ares. (1 Co 7:14 ‘santos’.) Os filhos de pais incrédulos serão deixados com seus pais não salvos para entrarem na tribulação.

À medida que forem crescendo, durante a tribulação, terão oportunidade de ouvir e crer no Evangelho do Reino. Se algum deles for morto durante os sete anos de tribulação, sua alma estará a salvo com Cristo no céu (Mt 18:10-11). De qualquer modo isto seria um ato de misericórdia, pois se fossem deixados para crescer e atingir a idade adulta separados da operação da graça de Deus, iriam se tornar como seus pais incrédulos, rejeitando o evangelho e sendo levados a juízo.

Por ocasião do arrebatamento o mundo não ficará esvaziado de suas crianças. ‘Deus não assaltará o berço do incrédulo no arrebatamento’ (C.H. Brown). Os tipos de juízo lançados sobre o mundo no livro de Gênesis nos dão indícios disto. Por ocasião do dilúvio os incrédulos e suas famílias não foram tirados antes que caísse o juízo, como aconteceu no caso de Noé e sua família. Do mesmo modo, no julgamento de Sodoma e Gomorra as famílias incrédulas daquelas cidades não foram tiradas antes que caísse o fogo e a saraiva, como aconteceu com a família de Ló”.

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Não devemos pregar o evangelho a todos?

Você pergunta se devemos discriminar pessoas ao pregarmos o evangelho, pois encontrou cristãos que se baseiam em Mateus 7:6 para pregar apenas a determinadas pessoas e não a todas elas. A passagem diz: “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem”.

O versículo 6 é um complemento aos versículos 1 a 5, que dizem que não devemos julgar.

(Mt 7:1-5) “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”.

O versículo 6 mostra que esse “não julgueis” não se aplica em todos os casos, pois o versículo 7 nos manda ter o discernimento de julgar aqueles que são propensos a pisar nas coisas santas. Trata-se de pessoas que tratam com desprezo as coisas de Deus. Se por um lado devemos pregar o evangelho a todos, sem distinção, devemos também ser sábios para evitar aqueles que reagem à nossa pregação de forma a denegrir as coisas de Deus.

Se você está, por exemplo, em uma conversa com um grupo de pessoas, ao vivo ou virtualmente, e fala de Cristo a elas, e uma delas começa a usar isso como motivo de deboche, o melhor é se afastar dessa pessoa e deixar de falar a ela, pois cada palavra sua só servirá de munição para ela gerar dúvidas nos outros ouvintes.

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Estarei pecando se fizer plástica?

Você pergunta se cirurgia plástica é vaidade. Cada caso é um caso. Um queimado precisa de cirurgia plástica, e às vezes uma criança com um defeito estético como orelhas de abano também, para não passar por constrangimentos na escola.

Ou pode ser o caso de uma mulher que tenta salvar seu casamento tornando-se mais atraente para seu marido. Ou ainda de alguém cuja profissão depende da aparência física, ou que tenha feito uma dieta rigorosa ou uma cirurgia de estômago para resolver o problema da obesidade e agora deve tirar a pele que sobrou, ou… há muitos casos. Percebe que a resposta não é simples?

A pergunta deveria ser se vaidade é pecado, e aí a resposta é que vaidade é pecado. E entenda por vaidade tudo o que posso fazer para me destacar. Uma mulher que se diz cristã, não corta o cabelo, usa só saia até o tornozelo, não usa maquiagem, não usa perfume, não usa joias, etc., porém se envaidece de estar seguindo à risca o que o pastor ordenou, é extremamente vaidosa.

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Qual o sentido de tudo isso?

Você afirma crer em Jesus, porém ainda não entendeu o sentido de tudo isso. Segundo você, se Deus é tão poderoso como diz ser, por que não colocou todo mundo logo no céu?

Você jamais irá entender o sentido do amor se não tiver um relacionamento estreito com a pessoa amada. Assim é com Jesus. Certas coisas só são entendidas pelos “membros da família”. Por mais que os de fora queiram entendê-las, não conseguem.

Você afirmou que crê veementemente em Jesus. Agora é importante entender que fé é essa que você tem: em um Jesus histórico (no sentido de acreditar que ele existiu), em um Jesus talismã (que pode ajudá-lo em suas necessidades) ou em um Jesus substituto (que tomou o lugar que você merecia no julgamento de Deus)?

Se você crê apenas em um Jesus histórico, você o coloca no mesmo nível de outras personalidades da história e fica nisso. Se crer em um Jesus talismã, muito cedo irá ficar desapontado, pois tudo o que ele prometeu aos que os seguissem neste mundo seriam tribulações, e não facilidades. Mas se você crê no Jesus substituto, naquele que foi sacrificado em seu lugar para que você não seja julgado e condenado, então deve agora passar para o segundo nível que é saber o quanto confia que ele levou seus pecados na cruz.

Se você acredita que precisará um dia passar por um juízo final, quando Deus irá decidir se você é ou não digno de merecer a salvação eterna, então não creu totalmente em Jesus como seu substituto. Eu pergunto: se alguém pagasse completamente uma dívida por você, quanto dessa dívida restaria para você pagar? ZERO!

Se você realmente crê que Jesus morreu em seu lugar e pagou por TODOS os seus pecados, não há mais um juízo final para você. Tudo já foi resolvido e agora cabe a você desfrutar da salvação eterna e da comunhão com aquele que lhe salvou. Uma boa leitura em um momento assim é o livro que traduzi e publiquei com o título de “Cartas aos Cristãos” no endereço da Web www.stories.org.br/doze.html.

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Os perdidos ficarão decepcionados com Deus?

Sua primeira dúvida é se não seria uma injustiça da parte de Deus ter eleito alguns para a salvação e deixado que os outros se perdessem, os quais ficariam depois decepcionados com Deus. Primeiro é preciso entender que Deus não quer que alguém se perca, mas a questão é que todos estão igualmente perdidos por natureza. A obra de Cristo fez provisão para que todos sejam salvos, mas apenas alguns serão.

Os eleitos foram eleitos porque Deus quis elegê-los. Quando você coloca desinfetante na privada quer acabar com todas as bactérias, porque elas são nocivas. Ninguém iria dizer que você estaria sendo mau com as bactérias exterminadas se decidisse salvar algumas, já que todas elas são nocivas. Talvez alguém até dissesse que a sua decisão não faz sentido, pois o correto seria exterminar todas igualmente: nem salvar todas, nem poupar algumas.

Geralmente quem vê injustiça da parte de Deus por eleger uns em detrimento de outros ainda não percebeu o tamanho de seu pecado e condição: todos somos dignos de morte como bactérias nocivas. Tudo o que merecemos é o desinfetante do fogo eterno. Se Deus quis salvar alguns a pergunta não é “Por que Deus quis salvar estes e não aqueles?” mas “Por que Deus mesmo assim quis salvar alguns?”.

(Rm 9:20-24) “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados [por si mesmos e pelo pecado] para a perdição; Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes [Deus] preparou, Os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?”.

Sua outra dúvida é se os perdidos não irão para o juízo com um sentimento de injustiça da parte de Deus por ele ter escolhido alguns e eles terem ficado de fora. Entenda que a disposição do coração do homem é sempre contrária à Deus. Um incrédulo que hoje diga ser injustiça da parte de Deus eleger alguns é o mesmo que dirá “NÃO!” se você lhe oferecer a oportunidade de ir morar no céu bastando crer em Jesus.

As pessoas irão para o juízo com a mesma disposição que tinham aqui: de ódio e aversão a Deus. Se ler a história do rico e Lázaro verá que o rico pede para Lázaro ir até ele, mas em nenhum momento ele quer ir para junto de Lázaro ou sair de onde está. Ele só quer se livrar do sofrimento, mas estar com Deus nem pensar. Para o ímpio, o céu seria um inferno.

(Lc 16:23-31) “No hades, [o rico] ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe a Abraão, e a Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e envia-me Lázaro, para que molhe na água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que em tua vida recebeste os teus bens, e Lázaro de igual modo os males; agora, porém, ele aqui é consolado, e tu atormentado. E além disso, entre nós e vós está posto um grande abismo, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem os de lá passar para nós. Disse ele então: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham eles também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Respondeu ele: Não! pai Abraão; mas, se alguém dentre os mortos for ter com eles, hão de se arrepender. Abraão, porém, lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos”.

Você já pregou o evangelho para alguém e ouviu da pessoa: “Seria ótimo fulano ouvir isso, ele sim está precisando!”. Pois é exatamente o que o rico está fazendo aqui com relação aos seus irmãos. Ele está tão arrependido de seu estado quanto um criminoso está arrependido, não do crime que cometeu, mas de ter vacilado e sido preso. Ele não quer sair daquela vida, mas sempre acredita que uma alternativa seja boa, não para si, mas para outro.

O que o incrédulo deseja é o mesmo que o rico desejava no Hades: viver sem sofrimentos aqui ou no além, mas desde que isso possa ser feito sem sujeição total a Deus, sem tornar-se parte da família de Deus, sem chamar a Jesus de Senhor (dono absoluto) e crer que o sangue derramado na cruz lhe purifica de todo pecado.

Obviamente o incrédulo não quer coisa alguma que lhe dê não só a responsabilidade de agora estar sob o senhorio de Cristo e de viver em obediência a Deus, mas também não quer ter o Espírito Santo habitando em si, o qual lhe dará uma aversão ao pecado e fará com que se sinta um trapo todas as vezes que pecar. Se você perguntar a algum, talvez ele até dirá que quer… mas irá querer adiar qualquer decisão para depois do Carnaval.

Quando o Senhor descreve os condenados, o sentimento deles é de dor e ira: dor pelo sofrimento eterno e solitário (nas trevas eles não podem interagir com outros condenados) e ira porque ali poderão expressar todo o ódio que sempre tiveram contra Deus sem as amarras morais que a sociedade impõe. Muita gente que hoje gostaria de sair na rua gritando palavrões contra Deus só não o faz por causa dos códigos morais que ainda leva. Mas um dia estará livre para odiar a Deus como sempre odiou, muito embora seja então obrigado a reconhecer que Jesus Cristo é Senhor, o mesmo Senhor ao qual ele nunca quis prestar obediência e submissão.

(Mt 8:12) “E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes”.

(Fp 2:9-11) “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”.

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O cristão hoje não precisa ser batizado?

O autor do texto que você enviou está totalmente equivocado quando fala do batismo como algo que já não seria necessário para o cristão. O batismo continua a fazer parte das ordenanças que o cristão deve guardar. Ao afirmar que “O batismo… não faz parte do programa de Deus para o seu povo hoje, o Corpo de Cristo” fica claro que o autor do texto não entende a diferença entre o corpo de Cristo e a casa de Deus; entre as coisas que são para o céu, e as que são para a terra.

A “casa de Deus” é a esfera da profissão cristã e inclui todos os que foram batizados em nome de Jesus. Entenda que não existe um “batismo em nome de Jesus” no sentido de fórmula a ser dita no momento do batismo, mas ter sido batizado em nome de Jesus significa ter sido batizado com a autoridade delegada pelo Senhor Jesus para isso e na forma como ele a delegou, ou seja, “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

O “corpo de Cristo” é a igreja e inclui apenas os salvos por Cristo, mesmo aqueles que não foram batizados nas águas. Fica mais fácil entender se considerarmos que as coisas referentes à casa de Deus se aplicam a este mundo, ou seja, são coisas com data de vencimento, enquanto as coisas referentes ao corpo de Cristo têm um caráter eterno.

Ao crer em Jesus e ser selado com o Espírito Santo de Deus a pessoa passa a fazer parte do corpo de Cristo. Ao ser batizada nas águas ela passa a fazer parte da casa de Deus e a levar neste mundo a responsabilidade do nome ao qual foi associada, ou seja, Jesus, mesmo que não seja genuinamente convertida.

Tendo em mente a diferença entre “casa de Deus” e “corpo de Cristo” vou aproveitar um texto sobre o batismo que traduzi do Morrish’s New and Concise Bible Dictionary, uma excelente fonte de referência contendo a sã doutrina em inglês que pode ser acessado no endereço da Web http://bibletruthpublishers.com/concise-bible-dictionary/lrcl16000.

BATISMO: A palavra Batismo vem do grego βάπτισμα, de βαπτίζω, que significa mergulhar, lavar, etc. A ordenança do batismo:

1. BATISMO NO JUDAÍSMO. Em Hb 6: 2 (βαπτισμός) os cristãos hebreus foram exortados a deixar a “doutrina de batismos”, e em Hb 9:10 lemos de “várias abluções” ou purificações, seguido de “impostas até ao tempo da correção”, época identificada com a frase “vindo Cristo” que se segue. Isto demonstra que os batismos mencionados ali faziam parte do ritual judaico, no qual existiam vários banhos e lavagens, mas nenhuma dessas coisas tinha a ver com o batismo do Novo Testamento, o qual é uma ordenança de iniciação que coloca o batizado em uma nova posição: o Mar Vermelho (1 Co 10:2) era uma figura disto. Os cristãos judeus estavam sendo exortados a abandonarem os ritos judaicos de purificação, os quais não deviam ser novamente colocados como um fundamento.

Além disso, costuma-se mencionar que os judeus recebiam seus prosélitos pelo batismo. Não temos qualquer registro disto no Antigo Testamento, e Josefo, que detalha os rituais necessários para a recepção de um prosélito, não faz menção do batismo. Ocorre que Maimônides afirma que os prosélitos eram recebidos assim, mas ele nasceu em 1135 DC, portanto muito tempo mais tarde para saber o que seria o costume na época de autores contemporâneos ao Antigo e Novo Testamento que nada dizem a respeito.

2. BATISMO DE JOÃO. Este era feito especialmente no rio Jordão, ao qual as multidões compareciam e do qual é repetidas vezes dito tratar-se de um batismo “de arrependimento”. Mc 1:4; Lc 3:3; At 13:24, 19:4. João desafiava as multidões que iam a ele para que fossem batizadas para poderem dar “frutos dignos de arrependimento” Mt 3:8; Lc 3:8. Ele batizava aqueles que chegavam “confessando seus pecados” Mt 3:6, e exortava o povo a crer naquele que viria após si, “isto é, em Jesus Cristo” At 19:4; ver Jo 1:29, 36. O remanescente fiel que era batizado por João Batista assumia um terreno separado da nação, aguardando a vinda do Messias. Eles exercitavam um juízo próprio, e se apartavam da condição pecaminosa da nação. O Senhor foi batizado por João, assumindo assim seu lugar entre os arrependidos em Israel, não como alguém que confessasse pecados, mas para cumprir toda a justiça, como ele mesmo diz: “assim nos convém cumprir toda a justiça” Mt 3:15.

3. BATISMO CRISTÃO. Vimos que João Batista pregava o batismo de arrependimento. Durante o ministério do Senhor, antes da cruz, alguns foram batizados a ele como Messias. Jo 4:1. Após sua morte e ressurreição Pedro pregou, não o arrependimento, mas o Jesus rejeitado como estando exaltado, e feito Senhor e Cristo. Quando as pessoas eram tocadas em seus corações, ele dizia a elas: “Arrependei-vos…”, etc., mas o batismo era para remissão dos pecados porque a obra agora tinha sido completada em sua totalidade: elas eram batizadas para a remissão dos pecados — administrativa e governamentalmente falando. At 2:38.

Romanos 6:3, 4 dá o significado do batismo cristão para os santos que muito tempo antes tinham sido batizados. Ele fala da morte de Cristo (aquele que é sem pecado) como sendo morte para o pecado e para a condição em que o homem estava, e tira conclusões disso para nós considerando que ele ressuscitou. Eles foram batizados em sua morte, isto é, são participantes dela — eles estão vivos para Deus em Cristo ressuscitado (e consequente também vivos para ele ressuscitado — não para a lei), e por isso o pecado não devia mais reinar; mas nestes versículos não aparece a ressurreição com ele. O batismo é prefigurado pela passagem de Israel através do Mar Vermelho, não pelo cruzar do rio Jordão, embora a ressurreição seja acrescentada em Cl 2:12 como tendo os pecados sido deixados para trás: “perdoando-vos todas as ofensas”. Trata-se de algo individual e da recepção à profissão cristã: “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo”. Em Colossenses o significado do batismo é mais aprofundado do que em Romanos, mas ele está sempre conectado a um status aqui na terra, e não com os privilégios celestiais. Neste sentido o batismo salva 1 Pe 3:21; somos por ele purificados de nossos pecados At 22:16; passamos pela morte através dele, e em Cl 2:12 é acrescentado que ressuscitamos nele, portanto algo também individual. A igreja como tal nunca passou pela morte, estando sua própria origem na ressurreição de Cristo. Cl 1:18, trata-se do primogênito na nova criação.

Fica claro que o batismo, apesar de num certo sentido colocar o batizado em um status de ressurreição, tendo em Cristo nossa vida, nunca nos tira da terra, mas nos coloca sob a responsabilidade cristã enquanto aqui no mundo, em conformidade com a novidade de vida, ou “em novidade de vida”. Em 1 Co 10:1-6 há uma advertência. Eles foram batizados, etc., “mas Deus não se agradou da maior parte deles”. Uma mera posição sacramental não é suficiente: devemos ficar “fundados e firmes na fé” Cl 1:23. Como batizados, nós somos chamados a andar neste mundo como mortos e ressuscitados, como se andássemos em um deserto. Trata-se da expressão da parte externa e visível da igreja na sua profissão de fé: “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo”. No batismo recebemos uma boa consciência pela ressurreição 1 Pe 3:21. Lavamos nele os nossos pecados, confessando o nome do Senhor At 22:16, somos recebidos por meio dele no lugar de responsabilidade do povo de Deus neste mundo.

Com Pedro vemos o batismo cristão mais conectado com o reino dos céus, conforme Mt 16:19; At 2:38; At 10:48; porém com Paulo ele estava conectado com a casa de Deus quando ele a mencionava. Paulo tinha uma nova comissão. Ao contrário de Pedro, Paulo não é encontrado ministrando no meio de um povo conhecido que possuía promessas, chamando almas para fora desse povo ao arrependimento, para que pudessem receber a remissão e serem separados daquela geração. Paulo assume o homem como homem (sem desconsiderar os judeus) e o leva à presença de Deus na luz. Para os gentios tratava-se de uma condição completamente nova de ressurreição, mesmo no que diz respeito ao testemunho, e não meramente de uma boa consciência através da ressurreição; e o batismo, que concede um status fundamentado na ressurreição enquanto ainda neste mundo, não faz parte do testemunho de Paulo, exceto no que diz respeito à comissão em João 20:21-23; e o próprio Paulo nos diz que ele não foi enviado a batizar.

A fé enxerga que, quando Deus introduz alguém nos privilégios nesta terra, ele não separa a família dessa pessoa, por exemplo, Gn 7:1, etc. No cristianismo isto tem o seu lugar e vemos que famílias foram batizadas por Paulo. 1 Co 1:6 — ver também 1 Co 7:14.

No final do evangelho de Mateus temos um mandamento conectado com o batismo e com a missão apostólica dada exclusivamente aos gentios, mas ali nada há de arrependimento ou remissão. Trata-se simplesmente de fazer discípulos dentre as nações, batizando-os e ensinando-os. Mt 28:19, 20. Em seu sentido amplo esta passagem contempla uma obra que ainda será feita no final pelo remanescente judeu para com os gentios. O batismo cristão agora é tanto para judeus como para gentios, para que por meio dele eles deixam a posição que ora ocupam, e estando ligados à morte de Cristo, sejam introduzidos na profissão cristã, deixando para trás aquelas distinções. A direção em Lucas 24:47 é no sentido do arrependimento e remissão de pecados. Em Marcos 16:15, 16 a salvação pertencia àquele que cria e era batizado, pois se não o fizesse ele estaria se recusando a ser cristão.

As escrituras não nos dão um ensino definitivo quanto ao modo de batismo, já que o foco é a que os que recebiam batismo estariam sendo ligados pelo mesmo. At 19:3. A ideia está mais para a palavra “lavar”, como ocorria com os sacerdotes da antiguidade (Êx 29:4), do que para a palavra “aspergir”, como acontecia com os levitas. Nm 8:7.

Quanto à fórmula utilizada, alguns supõem que por lermos em Atos que as pessoas eram batizadas “em nome do Senhor Jesus” a instrução dada em Mateus 28:19 para batizar “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” tivesse sido mudada. Mas isso não tem fundamento, pois o batismo é sempre a alguém ou a alguma coisa. Os discípulos encontrados em Éfeso haviam sido batizados ao batismo de João (At 19:3); os israelitas tinham sido batizados a Moisés, e aqueles batizados em Atos foram batizados ao nome do Senhor Jesus como Salvador e Senhor, portanto não existe motivo para isto não combinar com as palavras encontradas em Mateus, e uma pessoa batizada em nome do Senhor Jesus para o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Em At 2:38 a preposição é ἐπί (ἐν in MSS B,C,D); em Atos 10: 48 é ἐν; e em todas as outras passagens é εἰς.” [traduzido de Morrish’s New and Concise Bible Dictionary].

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Como me sustentar se deixar o cargo de pastor?

O fato de você ocupar uma posição de pastor, e agora enxergar que tanto a sua posição como o próprio fato de pertencer a uma denominação não têm sustentação bíblica, certamente o deixa em um impasse.

Se abandonar a denominação você estará agindo em obediência ao Senhor, que não criou as denominações e nem dividiu os seus por diferentes nomes. Mas aí fica sem o seu salário e sustento. Se continuar na denominação, como se fosse um “emprego”, acabará violentando sua consciência. O que fazer?

Entendo que a primeira coisa é conhecer a vontade do Senhor e em seguida fazê-la. Foi assim quando demos o passo de fé na direção dele em obediência ao chamado do evangelho. É assim em tudo em nossa vida, das pequenas às grandes coisas. Tudo na vida do cristão é um passo de fé, e vivemos “de fé em fé”.

Veja que o mesmo problema não têm apenas os que são clérigos, mas também pessoas que têm profissões que não combinam com sua fé. E há também aqueles que acabam demitidos de seus empregos por sua nova fé não ser bem vista pelo patrão.

Tem ainda aqueles que perdem muito mais do que uma posição ou salário. No mês passado tive notícia de dois casos de morte na Índia, uma irmã em Cristo assassinada pelo marido por sua fé, e um jovem assassinado e queimado, juntamente com sua casa, pelo seu próprio irmão biológico, por ter se recusado a fazer oferendas aos deuses do hinduísmo. Eles congregavam em assembleias com as quais tenho comunhão e perderam muito mais do que um emprego por permanecerem firmes no Senhor.

Uma vez li um livro “O Refúgio Secreto” no qual Corrie Ten Boon conta como foi presa pelos nazistas em um campo de concentração por esconder judeus durante a Segunda Guerra. Adolescente ainda, uma coisa a preocupava em relação ao que ela e sua família poderiam sofrer por protegerem os judeus. Seu pai a confortou, dizendo:

— Quando você vai visitar sua tia, quando é que eu coloco a passagem de trem em sua mão?

— Apenas na hora de embarcar — respondeu ela.

— Sim, eu faço isso porque você não precisa da passagem antes de embarcar e poderia perdê-la. Assim Deus proverá uma saída se um dia isso acontecer.

Ao contrário do ditado de que “Deus dá o frio conforme o cobertor”, a verdade é que “Deus dá o cobertor conforme o frio”, portanto não devemos nos preocupar com algo antes que isso ocorra. Seria duvidarmos de Deus.

Se você sair do sistema no qual ocupa a função de pastor assalariado para congregar somente ao nome do Senhor aprenderá que não existe algo como obreiros remunerados, e nem sequer “enviados” para a obra por homens, sejam eles irmãos ou organizações. Cada um tem o seu exercício diante do Senhor. Se um irmão sente-se chamado para sair a pregar o evangelho, o Senhor irá prover de uma forma ou de outra. O que ele não pode nunca é contar com essa provisão vinda dos irmãos (como um salário, por exemplo).

Seu dilema não é diferente de milhares de pessoas que agora mesmo estão recebendo um aviso de demissão e não sabem que rumo tomar. Se muitas delas, sendo incrédulas e não tendo o Pai que temos, acabam se encaixando em alguma atividade, por que não nós, que temos um Pai amoroso que conhece de nossas dificuldades e necessidades? Continua valendo o que diz a Palavra de Deus, que “o trabalhador é digno de seu salário”; o que muda é o Patrão.

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Qual roupa usar nas reuniões?

Existe um princípio no Antigo Testamento que mostra que homem deve se vestir como homem e mulher como mulher. Embora seja um mandamento, chamei aqui de “princípio” porque a passagem não especifica o que seja roupa de homem e o que seja roupa de mulher. (Dt 22:5) “Não haverá traje de homem na mulher, e nem vestirá o homem roupa de mulher; porque, qualquer que faz isto, abominação é ao Senhor teu Deus”.

Considerando que se eu hoje saísse às ruas de uma cidade brasileira vestido como um homem do Antigo Testamento (vestido longo) seria considerado trajando roupa feminina, entendo que a passagem está falando de se travestir, ou seja, do homem ou da mulher que quer parecer do sexo oposto. Creio que a questão ali estaria mais na intenção do que na roupa.

Nas diferentes culturas existem diferentes maneiras de se vestir como homem ou como mulher. Por exemplo, você poderia encontrar homens na Índia, Escócia ou em países da África vestidos de saias, túnicas ou camisolões que aqui poderiam ser confundidos como roupa feminina.

Se você vir pessoas do sexo masculino caminhando de mãos dadas ou se beijando em alguns países da África e Oriente Médio, não vá se escandalizar. Ali isto é perfeitamente normal, e se você visse o ex-presidente Bush beijando o príncipe saudita Abdullah e indo passear com ele de mãos dadas poderia ter uma impressão errada, mas o costume é perfeito normal em alguns países. Nos países árabes é algo comum e não causa qualquer constrangimento, porém um homem beijar uma mulher em público nesses países é crime com pena de prisão.

Algumas gentilezas que oferecemos no Ocidente, como fazer um convidado entrar primeiro em uma sala, são consideradas ofensivas no Oriente Médio, onde a pessoa mais importante de um grupo é o último a entrar. Esta foi a razão da quase “luta livre” entre Arafat e o primeiro ministro de Israel, Ehud Barak, ao entrarem na casa para uma reunião com o presidente Clinton. Arafat queria ser o último a entrar, para mostrar ao mundo árabe que ele era o mais importante da reunião, mas Barak insistia que ele entrasse em sua frente, obviamente querendo passar a impressão contrária .

Os costumes mudam muito de país para país. Cruzar as pernas apontando a sola do sapato para um anfitrião nos países árabes é ofensivo, e se você for visitar alguém no Japão não se esqueça de tirar os sapatos antes de entrar. Na Bolívia em algumas assembleias nas montanhas as irmãs cobrem a cabeça, mas não com véus ou lenços como fazem aqui, e sim com chapéus. Lá o chapéu coco é uma tradição típica dos povos indígenas. E evite cruzar as pernas em uma reunião na Romênia porque isso é considerado uma desonra a Deus.

No mundo ocidental a questão da roupa masculina-feminina ficou um pouco confusa nos últimos tempos, já que se tornou comum mulheres usarem calças compridas na vida diária, embora os homens não usem saias como é comum em alguns países. Se a passagem do Antigo Testamento fosse seguida à risca, as mulheres não deveriam usar calças compridas em situação nenhuma, e não apenas nas reuniões da assembleia.

Não existe na doutrina dos apóstolos um impedimento para uma mulher ir às reuniões de calça comprida, mesmo porque muitas irmãs usam calças compridas em outras ocasiões. Mas ainda existe em nossa cultura resquícios de que roupa feminina é saia ou vestido, e não calças compridas. Os banheiros públicos estão aí para indicar isso e sabemos imediatamente qual é qual só pelo desenho da placa: os ícones do homem e da mulher são diferenciados pelo tipo de roupa que vestem, calças ou saia. Para uma criança que ainda não entendeu a diferença entre os gêneros os símbolos podem apenas indicar que uma porta é para pessoas comuns e a outra é para super-heróis vestindo capa.

Em 2000 a Suprema Corte brasileira passou a permitir visitantes do sexo feminino assistirem as audiências usando calças compridas, mas hoje até mesmo as juízas são vistas trajando-se assim. Mas para homens há ainda restrições, como usar bermudas ou camisetas. Recentemente vi uma notícia de um flanelinha no Recife que aluga calças compridas para homens em frente ao fórum, onde é proibido entrar de bermudas.

Creio que a roupa que usamos ou deixamos de usar pode ser também uma questão de respeito para com os que poderiam se escandalizar se fizerem diferente. Outro dia um irmão que congrega numa denominação perguntou o que eu achava, pois o pastor fez uma advertência a ele por estar frequentando os cultos de bermudas. Dei razão ao pastor e disse a ele que estava errando em insistir nas bermudas, com base em Romanos 14:13-32:

Portanto não nos julguemos mais uns aos outros; antes o seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao vosso irmão… Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa em que teu irmão tropece… Não vos torneis causa de tropeço nem a judeus, nem a gregos, nem a igreja de Deus”.

Biblicamente não existe uma roupa certa ou errada para ir às reuniões, contanto que você se vista com decência dentro dos padrões culturais de onde habita. Por exemplo, em algumas assembleias mais tradicionais do Canadá, onde há muitos irmãos idosos, eu causaria desconforto se fosse de tênis, camiseta e jeans, então se vou a um lugar assim procuro me adaptar para não escandalizar. Na Inglaterra (e também na América do Norte) há irmãos que não vão à ceia do Senhor sem terno e gravata.

No Brasil eu passo perfeitamente despercebido da maioria, mesmo que vá com uma camiseta com uma estampa de fotos, frases ou marcas. Mas uma vez uma irmã norte-americana que nos visitava reparou na camiseta de um jovem na reunião, que trazia uma frase em inglês que significava uma baixaria. O jovem havia comprado a camiseta porque achou bonita, sem saber o significado da frase que levava no peito.

Portanto, como pode ver, a questão não é tanto de saia ou de calça, mas de respeito ao Senhor e de uns para com os outros. Em 1992 eu estava na Escócia, e antes de chegarmos à casa de uma irmã em Edinburgh, o irmão norte-americano com quem eu viajava pediu que eu guardasse a câmera, pois aquela irmã se escandalizaria caso eu quisesse tirar uma foto, como já tinha feito em outras casas que visitamos. Muitos irmãos no início do século consideravam fotografias coisas contrárias ao mandamento de não se fazer imagens e pode ser que você ainda encontre algum mais idoso que ainda pense assim.

Quando você esteve numa reunião aqui percebeu que as irmãs estavam todas de saia ou vestido. Você poderia chamar de “tradição” a questão das mulheres estarem vestidas assim na reunião, e realmente pode ser colocado dessa maneira. Uma tradição não é exatamente uma coisa ruim se ela não negar a Palavra de Deus. As tradições denunciadas na Palavra são aquelas que invalidam a própria Palavra, como a dos fariseus ou a “vã maneira de viver de vossos pais”.

(Mt 15:6) “E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus”.

Veja que interessante que, por um lado, Paulo fala das tradições judaicas que guardava na sua incredulidade, que pelo contexto deviam incluir a rejeição dos cristãos, e que ele cumpria direitinho ao persegui-los. Por outro lado menciona tradições que os Tessalonicenses faziam bem em guardar:

(Gl 1:14) “E na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais”.

(2 Ts 2:15) “Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa”.

Em outra ocasião o apóstolo alerta para o perigo de alguns que queriam enredar os discípulos em tradições dos homens, mas depois nós o vemos alertando os Tessalonicenses que aqueles que não andavam segundo a tradição recebida dos apóstolos estariam andando desordenadamente:

(Cl 2:8) “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo;”.

(2 Ts 3:6-7) “Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu. Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós”.

No caso dos Tessalonicenses o contexto indica que o correto seria que cada irmão trabalhasse de forma honesta para garantir o seu próprio sustento, enquanto na passagem de Colossenses o ponto é a filosofia dos homens.

Eu entendo que essas “tradições” que o apóstolo manda guardar, provavelmente fazem parte da doutrina dos apóstolos, e não sejam necessariamente meros costumes. Existe um problema quando transformamos costumes em doutrina dos apóstolos, pois teríamos dificuldade em discernir qual “costume” pode e qual não pode.

Quando vamos a um lugar e detectamos tradições ou costumes que em nada contrariam a Palavra de Deus, devemos simplesmente acatar isso em amor e respeito pelos irmãos que agem assim. Eu, por exemplo, sou péssimo nisso, porque sempre gosto de testar os limites. Mas o melhor mesmo é sempre aguardar uma resposta do Senhor para entendermos melhor as coisas.

Dou um exemplo: eu nunca tive muito claro para mim por que não poderíamos colocar uma câmera nas reuniões de assembleia e conectá-la à Internet para que irmãos de localidades onde não exista uma assembleia reunida pudessem participar, ao menos para ouvir o ministério.

No meu pensamento eu achava que, se gravamos as reuniões em áudio, por que não também em vídeo? Isso foi até eu receber a cópia do e-mail de um irmão de Fortaleza respondendo a uma irmã interessada em congregar e que perguntou a mesma coisa. Ele escreveu:

Ao fazer uso de vídeos e teleconferências correríamos o risco de, ao nos reunirmos para adorar ao Senhor, passarmos a ter em mente que estaríamos apresentando algo a alguém. Então, deixaríamos de ter Cristo como centro e passaríamos a ter a apresentação do vídeo aos outros como o foco central da reunião de adoração”.

Ficou mais claro para mim, pois as reuniões da assembleia têm um caráter solene que não pode ser repetido em fotos ou vídeos. O Senhor prometeu estar no meio físico, e não virtual, de dois ou três reunidos em seu nome, e fazer a imagem daquilo extrapolar o espaço do ”cenáculo mobilado” (Lc 22:12) não deve ter sido a intenção do Senhor, quando quis ter um encontro de intimidade com os seus.

No entanto eu já não vejo problema quando se trata de pregar o evangelho ou mesmo apresentar um estudo da Palavra, porque aí é uma atividade individual de um para muitos, e o ministrante não está ocupado com a presença do Senhor no meio, como é o caso na reunião da assembleia, mas sim com a mensagem que pretende transmitir. Quando estamos congregados em nome do Senhor é o Espírito quem nos congrega para Cristo. Não há um homem à frente dirigindo as reuniões. Estamos ali para adorar a Deus (ceia do Senhor), para orar a Deus (reunião de oração) ou para aprender de Deus (reunião de ministério da Palavra).

Quando algum irmão prega o evangelho, é ele quem decide qual hino cantar, faz a oração, escolhe a passagem, etc., e seu foco é atingir as mentes e corações dos incrédulos que foram convidados para o evento. O caráter é totalmente diferente, daí eu não ter problemas em fazer, por exemplo, o “Evangelho em 3 minutos”.

É preciso aprender a conviver com a tradição de irmãs usarem saias e vestidos nas reuniões em certos lugares, como também com outras tradições ou costumes, sempre que percebermos que isso é relevante ou que pode escandalizar procedermos de modo diferente. Veja que há tradições ou costumes que seguimos e nem sequer nos damos conta. Quer um exemplo? Nos idiomas originais da Bíblia não havia maiúsculas e minúsculas, só maiúsculas. Hoje adotamos a convenção de escrever “Deus” ou “DEUS” mas nunca “deus”, a não ser para falar de divindades pagãs. Alguns usam pronomes pessoais começando com maiúsculas quando se referem ao Senhor (olha a maiúscula aí), quando escrevem frases como “Senhor, a Tua vontade… o Teu amor, etc.”. No entanto, no texto bíblico impresso em nossas Bíblias isso não é feito, como você vê em “que deu o seu Filho… todo aquele que nele crê…”, onde não se usa “Seu” ou “nEle” como às vezes se faz ao redigir um texto breve ou apenas um versículo em um calendário, por exemplo. Os editores de Bíblias obviamente não usam os pronomes começando por maiúsculas por uma questão estética. O texto ficaria muito carregado e confuso.

Mais costumes? No português a maioria dos cristãos adota a forma antiga ou portuguesa na hora de orar, como “eu Vos peço… o Teu amor”, talvez até por influência portuguesa (santistas, catarinenses e gaúchos fazem assim até na conversa coloquial, nem sempre acertando na concordância). No caso dos evangélicos, creio ter sido uma herança recebida do protestantismo inglês. O problema é que, se em inglês é mais solene se dirigir a Deus na forma arcaica, como “Thou art Lord” (“Tu és Senhor”), em português não seria a mesma coisa. Por incrível que possa parecer, em nossa língua o pronome “Você” é mais solene em sua origem do que “Tu”, já que em português o pronome pessoal ”tu” era há mais de cem anos a forma popular, enquanto “você” vinha de “vossa mercê”, a forma de tratamento usada para pessoas nobres, portanto, mais solene, nobre e educada.

Concluindo, quando pensar em que roupa usar nas reuniões, é bom levar em conta se estará ou não escandalizando os irmãos segundo os costumes locais, mas o mais importante será entender que você estará ali reunida ao Senhor, na presença dele e em um caráter mais solene do que aquele em que compareceria na presença de um rei. Qual roupa usar se formos a uma reunião com o presidente de um país? Certamente não iremos vestidos de forma vulgar, ou de bermudas, shorts ou chinelos, e nem de camiseta regata. Alguém poderia dizer que o mais apropriado seria o homem ir de paletó e gravata e a mulher de saia, mas até nisso devemos ser sábios, pois existem paletós que caem bem em um artista num palco de Las Vegas, mas jamais seriam usados fora dali, e saias que não seriam consideradas vulgares em uma balada, mas poderiam escandalizar aqueles que não frequentam lugares assim.

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Por que os discípulos não reconheceram Jesus?

Não nos é dito na Palavra a razão de alguns discípulos não terem reconhecido Jesus ressuscitado. Isso aconteceu com Maria Madalena (João 20:15), com os discípulos pescando (João 21:4) e com os dois discípulos no caminho de Emaús (Lucas 24:13-35). Portanto, para aquilo que não está explicitamente declarado só podemos trabalhar com conjecturas.

Uma das razões de os discípulos não reconhecerem Jesus ressuscitado pode estar no fato de não esperarem que ele estivesse vivo. Se você vir alguém que morreu passar caminhando pela rua, antes de achar que está vendo a pessoa que morreu, irá pensar que é alguém parecido com ele. Sua mente racional lhe dirá ser impossível ver um morto caminhando pela rua.

Os discípulos haviam sido avisados de sua morte, mas não entenderam os avisos (Mc 9:31-32), por isso foram pegos de surpresa por ela. Pode ser que depois tenha ocorrido com eles isso mesmo, a descrença de que fosse a mesma pessoa. Daí não o reconhecerem.

No caso de Maria Madalena em João 20 o texto diz que ainda estava escuro quando ela foi ao sepulcro, portanto uma explicação natural para ela não reconhecer o Senhor poderia ser a ausência de luz suficiente para ver suas feições, principalmente por ter os olhos ainda lacrimejantes de uma noite de tristeza e choro.

Semelhantemente, os discípulos que pescavam em João 21 podem não tê-lo reconhecido por causa da distância que o barco estava da praia e também porque eram os primeiros minutos do raiar do sol e eles tinham passado a noite acordados pescando sem sucesso. Seus olhos cansados podiam ainda não estar habituados à luz.

Mas estas são apenas suposições do que pode ter acontecido do ponto de vista natural, pois em algumas passagens, como a dos discípulos no caminho de Emaús, o mais provável é que o Senhor tenha deliberadamente fechado os olhos deles para que não o reconhecessem, abrindo-os mais tarde enquanto comia com eles, antes de desaparecer inteiramente de diante dos olhos deles.

(Lc 24:16) “Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem”.

(Lc 24:31) “Abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes”.

Outras traduções mais literais, como as de J. N. Darby e J. N. Young, dizem “mas seus olhos estavam vendados e depois “seus olhos foram abertos, indicando uma ação que não partiu deles próprios.

Do ponto de vista de uma explicação espiritual, entendo que Maria Madalena teve seus olhos abertos para reconhecer o Senhor quando foi chamada pelo nome. O Senhor realmente abriu seus olhos para ela perceber que era o mesmo Jesus que tinha ressuscitado, aquele que é tão íntimo dos seus que chama cada um pelo seu nome.

No caso dos discípulos no barco, João é o primeiro a reconhecer que era o Senhor, tão logo as redes se encheram milagrosamente de peixes. João foi o primeiro a crer na ressurreição do Senhor quando visitou o túmulo vazio (Jo 20:8) “Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu [o lugar vazio], e creu.

Podemos entender esse poder que o Senhor tem de se revelar às pessoas quando e onde quer, como ocorreu até mesmo antes de sua ressurreição ao se ocultar dos fariseus, ou seja, desaparecer bem diante de seus olhos:

(Jo 8:59) “Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou”.

Outro ponto interessante que encontramos na Palavra de Deus é que apenas os discípulos do Senhor o viram ressuscitado. Para o mundo, a última visão que tiveram do Senhor foi a de seu corpo morto sendo tirado da cruz e sepultado. A próxima visão será quando ele vier em glória para estabelecer o seu Reino.

Eu creio que a capacidade de ver o Senhor ressuscitado não seja algo natural. Isto é, estamos falando de um corpo em um estado da matéria que é completamente desconhecido da criação natural, portanto é preciso uma intervenção divina para que alguém possa enxergá-lo. Assim acredito que a menos que o Senhor abrisse os olhos de seus discípulos para enxergarem o que havia além dos bastidores do mundo material, nem mesmo eles o teriam visto em seu corpo ressuscitado. Mais uma vez isto é apenas uma conjectura minha a respeito do assunto.

Um exemplo interessante disso você encontra numa passagem do Antigo Testamento:

(2 Rs 6:14-17) “Então [o rei da Síria] enviou para lá cavalos, e carros, e um grande exército, os quais chegaram de noite, e cercaram a cidade. E o servo do homem de Deus [Eliseu] se levantou muito cedo e saiu, e eis que um exército tinha cercado a cidade com cavalos e carros; então o seu servo lhe disse: Ai, meu senhor! Que faremos? E ele disse: Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles. E orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu”.

Ali foi preciso uma intervenção divina para que o servo de Eliseu enxergasse o que havia nos bastidores, no mundo espiritual. Eliseu já tinha visto isso para poder afirmar que eram mais os soldados dos exércitos celestiais do que os dos exércitos das trevas, pois aqui ele não está simplesmente falando dos soldados humanos, mas daqueles que estariam ali para ajudar os soldados da Síria: “mais são os [anjos] que estão conosco [israelitas] do que os [anjos] que estão com eles [sírios]”.

2 Co 4:18 Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.

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Qual a religião verdadeira?

Acredito que você tenha agido corretamente ao não interromper o treinamento de ética na empresa para contestar as palavras da consultora. Pelo que você disse, antes de afirmar que todas as religiões estão certas, ela perguntou se existia alguma religião errada. Mas a pergunta dela foi retórica, ou seja, apenas para fazer uma ponte para a conclusão à qual queria chegar.

Ela não estava perguntando particularmente a você ou ao grupo. Se a palestrante se dirigisse a você para saber a sua opinião, aí ela estaria lhe dando espaço para responder o que pensa. Só que então, se ela fosse agir de modo ético, teria de aceitar sua opinião de que sua fé em Cristo é correta ao menos para você.

Em Tiago 1:27 diz que “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”. Considerando que o contexto todo da epístola de Tiago nos fala do aspecto exterior da religião, isto é, de suas consequências práticas na vida das pessoas, muitas religiões se enquadrariam nesta definição.

Mas o que dizer da fonte da religião, daquilo que leva a pessoa agir dessa maneira? As boas ações são consequência da fé de uma pessoa, e quando entramos na questão espiritual ou na origem da fé, aí é que vemos o abismo existente entre as religiões. O ponto não é o que as religiões produzem, mas qual o seu cerne, a base de sua crença. Veja, por exemplo, esta afirmação de Jesus:

(Jo 14:6) “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”.

No mundo atual essa declaração seria considerada presunçosa, arrogante e preconceituosa. Porém não existe outra forma de entender isso além daquilo que ele está mesmo dizendo: para ir ao Pai é preciso, não uma religião, mas uma Pessoa: Jesus. E NINGUÉM chegará lá se não for por meio de Jesus. Apenas esta declaração seria suficiente para eliminar qualquer crença ou religião que não inclua a Pessoa de Jesus como único caminho para o Pai. Mas há outras afirmações na Bíblia, como:

(1 Tm 2:5) “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem”.

(At 4:12) “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.

Uma coisa é dizer que todas as pessoas, independente da religião que professam, devem ser respeitadas e amadas, ou que todas elas têm o direito de crer naquilo que quiserem. Isto sim é uma atitude ética e respeitosa, uma maneira pacífica de se relacionar com pessoas de diferentes crenças, e é assim que os cristãos deveriam procurar agir. Mas é uma ideia completamente absurda dizer que todas as religiões são iguais ou estão certas, e vou explicar a razão.

Primeiro, se todas estão certas, então o cristianismo está errado ao afirmar que a salvação é obtida apenas e tão somente pela fé em Jesus. Além disso, ao afirmar que todas as religiões estão certas a pessoa deverá incluir aquelas que promovem sacrifícios humanos, como a religião dos Maias e Astecas, ou que promovem conversões à força e prendem, torturam ou até matam os que as abandonam por outra crença.

Talvez alguém argumente que o cristianismo fez muito disso ao longo de sua história, mas não estamos falando aqui do que as pessoas fazem com a crença que abraçaram, mas sim dos fundamentos dessa crença. Leia os evangelhos ou o livro de Atos, que descreve o início do cristianismo, e verá que não existe nada parecido à cristandade das Cruzadas, da Inquisição ou outras práticas criminosas feitas em nome de Jesus. Alguém descreveu o cristianismo como a neve pura que desce do céu, e a cristandade como a lama que se forma quando a neve se mistura com a poeira da terra e é pisada pelos homens.

É uma ingenuidade afirmar que todas as religiões são iguais ou que são apenas diferentes caminhos para se chegar a Deus. Basta tomar, por exemplo, o budismo, que nem mesmo acredita na existência de um Deus. O cristianismo diz que depois da morte vem o juízo, mas o hinduísmo diz que vem a reencarnação. Se um estiver certo o outro está errado.

Talvez alguém queira argumentar que ao menos cristianismo e islamismo são semelhantes por acreditarem em um único Deus, mas basta conhecer um pouco de islamismo para ver que não existe nessa religião qualquer ideia de um relacionamento pessoal com Deus. Entre em uma mesquita em Bagdá e faça uma oração em voz alta chamando a Deus de Pai para ver o que acontece. No entanto…

(Jo 20:17) “Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”.

Alguém poderia até afirmar que todas as religiões são falsas, como argumentam os ateus, e tentar apresentar razões para isso. Mas é impossível afirmar que todas sejam verdadeiras, pois basta compará-las. Se 2+2=4, então 2+2=5 está errado.

Afirmar que todas as religiões são igualmente válidas e verdadeiras pode parecer uma posição ética e educada, mas não passa de pura soberba. Quem pode dizer que conhece todas as religiões o suficiente para afirmar que todas passaram no teste e podem receber o carimbo de “Verdadeira”? Quem afirma isso ou é arrogante ou é ignorante (ignora todas as religiões).

Repito: Podemos até dizer que todos têm o direito de professar a religião que quiserem e crer no que bem entenderem, e devemos respeitar as pessoas de diferentes crenças sem precisarmos dar nosso aval àquilo que elas creem. Eu posso amar um fumante e ter aversão ao cigarro. Mas dizer que qualquer escolha da pessoa — fumar ou não fumar — seria igualmente benéfica não passa de uma grande tolice.

Geralmente as pessoas afirmam que todas as religiões são igualmente benéficas e verdadeiras para tentar apaziguar os ânimos dos defensores de suas respectivas crenças, ou até mesmo para impedir que a crença individual de cada um seja proclamada e as pessoas tentem conseguir convertidos cada um para a sua fé.

Mas quem faz isso não percebe que está fazendo exatamente a mesma coisa daquele que professa uma religião em particular. Quem afirma que todas as religiões são válidas está procurando fazer com que as pessoas abandonem suas crenças individuais e “se convertam” à crença genérica de que “todas as religiões são válidas”. Não importa qual afirmação você faça ou posição que adote: ela será sempre exclusivista, excludente e preconceituosa contra aqueles que pensam diferente de você.

A pergunta “Qual é a religião correta?” não tem uma resposta que não seja preconceituosa, porque é como perguntar qual é a música mais bonita ou o artista que pinta melhor.

A pergunta que deve ser feita é: Qual é a religião diferente de todas as outras? Aí sim, o cristianismo é a única religião que se distingue de todas as outras, porque TODAS as religiões enfocam uma salvação (ou purificação ou evolução ou reencarnação ou o que quer que tenha como alvo) com base no esforço próprio. O cristianismo, porém, coloca o homem na condição de totalmente inapto de fazer qualquer coisa para “religar-se” (daí vem a palavra “religião”) a Deus. Ele é um pecador tão perdido quanto alguém que caiu num poço profundo e não tem uma escada para sair.

No cristianismo é Deus que, por meio de Jesus e sua morte e ressurreição, apaga as transgressões do homem, dá a ele uma nova vida e o ressuscita, capacitando-o a morar na esfera celestial. E tudo isso vem pela fé em Jesus, uma fé que nem sequer brota na pessoa convertida, mas que é um dom de Deus.

(Ef 2:8) “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”.

Todas as religiões são como alguém gritando lá em cima na boca do poço: “Saia daí, se esforce, você consegue!”. No cristianismo Jesus vai ao fundo do poço buscar você e o leva para cima. Mas ele não faz isso enquanto você estiver tentando subir por seus próprios meios, mas apenas quando desiste de salvar-se a si mesmo.

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A eleição ou predestinação é para a igreja ou indivíduos?

É difícil falar em eleição sem falar de indivíduos, mesmo porque a igreja é formada por indivíduos. Ao se dirigir aos cristãos de Éfeso (à igreja que está em Éfeso), Paulo está falando a pessoas, portanto ao dizer “nos elegeu” ele pode tanto se referir ao coletivo como ao individual.

Veja outras passagens sobre o assunto:

(2 Ts 2:13) “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade;”.

(1 Pe 1:2) “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas”.

(1 Ts 1:4) “Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus;”.

(1 Co 1:27-28) “Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são;”.

(Tg 2:5) “Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?”.

(Jo 15:16) “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda”.

Isso é corroborado pela passagem em Romanos quando Paulo fala especificamente de vasos (indivíduos) que foram preparados de antemão para a glória: (Rm 9:23-24) “Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?”.

Já a palavra “predestinação”, apesar de associada à “eleição”, tem algumas diferenças. A eleição nos fala de Deus escolhendo pessoas para serem salvas. Predestinação significa que Deus determinou de antemão que todos os que seriam salvos seriam seus filhos por adoção.

Talvez dê para pensar que os “eleitos” poderiam ter sido salvos sem serem “predestinados”, ou seja, feitos filhos, mas como na Bíblia as duas coisas andam juntas é assim que os salvos são: eleitos e predestinados. Mas este raciocínio nos ajuda a entender que a questão é individual, de pessoas, e não apenas coletiva, como se Deus tivesse eleito e predestinado a igreja corporativamente, e não os seus membros individualmente.

O texto em Efésios 1 é muito rico ao mostrar tudo o que fomos feitos ou temos em Cristo:

Ef 1:3 — ABENÇOADOS “com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”.

Ef 1:4 — ELEITOS “nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”.

Ef 1:5 — PREDESTINADOS “para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade”.

Ef 1:6 — AGRADÁVEIS “a si no Amado”.

Ef 1:7 — REDIMIDOS “pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça”.

Ef 1:9 — CONHECEDORES do “mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra”.

Ef 1:13 — SELADOS “com o Espírito Santo da promessa”.

Aqueles que se opõem à ideia da eleição e predestinação podem não estar entendendo a enormidade de nosso pecado e achando que ainda exista algo de bom no homem que seja capaz de fazer uma opção por Deus. A verdade é que não existe em nós, em nosso estado natural, uma partícula sequer de inclinação para Deus, muito pelo contrário. Nosso sentimento natural seria sempre de inimizade contra Deus, não fosse o fato de Deus ter escolhido alguns para a salvação.

(1 Co 2:14) “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

(Rm 8:7-8) “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus”.

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Deus ama apenas os eleitos e predestinados?

Você conta que ao falar de eleição e predestinação com algumas pessoas, essas argumentaram mais ou menos assim: “Então quer dizer que se eu não aceitar que preciso de um Salvador e que o sangue de Jesus, na cruz, me lavará de meus pecados… Quer dizer que Deus amou mais você do que a mim, visto que ele escolheu lhe salvar, lhe deu poder pra isso, e não deu pra mim?”.

Você descreveu essas pessoas “como colocadas no corredor da morte, esperando para ir para o inferno, já que não conseguem crer em Deus”. Perdoe-me discordar disso, pois em minha opinião essas pessoas que argumentam que Deus não ama os que não foram eleitos e predestinados simplesmente não querem crer em Cristo. Se quisessem realmente a salvação saberiam que foram eleitas e predestinadas. Deus amou o mundo (todos os seres humanos) de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito.

Veja que interessante esta passagem:

(Lc 14:16-24) “Porém, ele lhe disse: Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos. E à hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado. E todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo, e importa ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei, e portanto não posso ir. E, voltando aquele servo, anunciou estas coisas ao seu senhor. Então o pai de família, indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade, e traze aqui os pobres, e aleijados, e mancos e cegos. E disse o servo: Senhor, feito está como mandaste; e ainda há lugar. E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha. Porque eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia”.

Cristo morreu por todos, isto é, ele fez provisão para que todos fossem salvos, como no banquete da parábola em que o homem rico manda convidar as pessoas porque tudo está preparado. Como ninguém quer aceitar o convite, ele acaba apelando para os coxos, cegos e aleijados, ou seja, procura levar para a festa ao menos aqueles que se reconhecem necessitados e causarão menor resistência. Finalmente ele ordena aos seus servos que saiam às ruas trazendo convidados à força!

Se Deus não escolhesse alguns, ninguém seria salvo. A explicação é simples: o homem em seu estado natural não quer estar com Deus, ele quer ficar o mais longe possível de Deus e o lago de fogo é o lugar mais apropriado para isso. Obviamente o incrédulo não acredita que irá para lá, ele só não quer é ir para o céu, ao menos não em sujeição a Deus.

É o caso do rico no hades, que pede a Abraão que envie Lázaro para minimizar sua sede e sofrimento, mas em nenhum momento pede para ser tirado dali. O problema para ele não é a distância do céu, é apenas o incômodo que está sofrendo. Para ele o lugar está bom, pois está distante do seio de Abraão. O que não está bom é o desconforto.

Quando alguém argumenta que é uma injustiça Deus salvar apenas alguns, procure enxergar a coisa por outro ângulo. Se você fosse corintiano roxo e eu desse de presente a um amigo nosso uma camisa do Palmeiras, não faria sentido você reclamar:

Porque você escolheu a ele para ganhar a camisa e não a mim?”

Mas digamos que eu lhe dissesse:

Ok, pois saiba que eu comprei TODO o estoque de camisas do Palmeiras e elas estão disponíveis para quem quiser. Você quer?”.

Nunca! Nem amarrado!!!”.

Obviamente você não iria querer. Então digamos que eu decidisse fazer uma intervenção cirúrgica em seu cérebro e transformasse você em um torcedor fanático do Palmeiras. Seria isso justo? Você responderia que não, pois se o seu desejo era ser corintiano até morrer eu não tinha nada que me intrometer para transformá-lo em palmeirense.

Isso tudo é para mostrar que o argumento de seu amigo — que acha injusto ele não ser salvo porque Deus não o escolheu — também serve para o outro lado: um salvo poderia dizer que Deus foi injusto por escolhê-lo e levá-lo a crer em Cristo, algo que ele naturalmente não queria.

Pense naqueles que foram “forçados” a entrar na festa e você entenderá o que estou dizendo. No final obviamente eles se arrependeriam por terem resistido aos servos do homem rico que os arrastaram até lá. Mas uma vez no banquete, eles seriam só gratidão. Enquanto isso, imagine se aqueles que arranjaram mil desculpas para recusar o convite resolvessem reclamar de não terem sido arrastados para o banquete. O que diria o dono da festa? “Vocês estão de brincadeira, né?!!”.

Agora uma dica prática: o ensino da eleição e predestinação foi dado à igreja, isto é, aos salvos, nunca aos perdidos. Pense numa família. Há assuntos que são tratados apenas dentro de casa, pois os de fora nunca entenderiam. Então quando for pregar o evangelho, evite falar de assuntos que só podem ser entendidos pelos que fazem parte da família de Deus, concentrando-se naquilo que é a mensagem do evangelho para o pecador.

A doutrina da eleição e predestinação é conversa de família, os de fora jamais entenderão, pois são questões ligadas à soberania de Deus. O evangelho está associado à responsabilidade do homem, e é esta a mensagem que fomos instruídos a pregar. Veja como estes versículos evangelísticos apelam para a responsabilidade do homem:

(Lc 13:3) “Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis”.

(At 3:19) “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados,”.

(Mt 18:3) “E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus”.

(At 16:31) “E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa”.

(Jo 3:18) “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus”.

(Jo 1:12) “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome;”.

(Rm 10:9) “Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.

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Recebemos o Espírito quando somos batizados nas águas?

Você leu Atos 2:38 e ficou em dúvida se recebemos o Espírito Santo quando somos batizados nas águas. A resposta será longa por envolver muitos aspectos que são hoje pouco entendidos pela cristandade, portanto procure uma poltrona confortável para ler, comparando tudo com sua Bíblia.

Quando Jesus deu a Pedro as chaves do Reino dos céus, ele estava dando a ele não a chave da igreja, mas as chaves da esfera neste mundo que reconhece o senhorio e autoridade do Rei que agora está nos céus, enquanto seu reino permanece aqui. Para você entender a questão do batismo irá precisar entender a diferença entre Igreja, Casa de Deus, Reino dos Céus e Reino de Deus.

Igreja: o corpo de Cristo, do qual ele é a cabeça no céu, foi formada no dia de Pentecostes e inclui apenas os verdadeiramente salvos, que serão levados para o céu no arrebatamento. A Igreja é chamada também de “casa do Deus vivo” em 1 Timóteo 3:15 no sentido da habitação de Deus entre os seus, como em Hebreus 3:6 “Mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós”. Ao contrário da “grande casa” (veja a seguir) que é construída por homens, a Igreja é edificada pelo próprio Senhor, que disse, “edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Ela não existia no Antigo Testamento e nem nos evangelhos, daí o Senhor ter usado o verbo “edificar” no futuro.

Casa de Deus: Esta é a esfera do governo de Deus entre os seus neste mundo, e pode incluir tanto verdadeiros como falsos. Naquilo que depende de Deus, ela é chamada de “Casa do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3:15), mas naquilo que os homens fizeram dela, ela é vista como “uma grande casa [onde] não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro, uns para honra, outros, porém, para desonra” (2 Tm 2:20).

Reino dos céus: A forma atual do Reino e esfera neste mundo que reconhece o senhorio e autoridade do Rei que agora está nos céus, enquanto seu reino permanece aqui. O termo aparece predominantemente em Mateus, o evangelho para os judeus, e tem um caráter dispensacional (a maneira como Deus lida com seu povo ou o mundo). Hoje se costuma também se referir a essa esfera como “cristandade”, um termo não bíblico que significa o conjunto daqueles que professam ser cristãos (falsos e verdadeiros).

Reino de Deus: Semelhante ao Reino dos céus, aparece em outros evangelhos e tem um aspecto mais moral do que dispensacional. O Reino de Deus também está conectado a Jesus quando andava neste mundo, pois quando esteve aqui ele disse “O Reino de Deus está entre vós (Lc 17:21) e que é chegado a vós o Reino de Deus” (Mt 12:28).

No Reino dos céus há de tudo, do bom e do ruim:

joio e trigo (Mt 13:24-30 — o joio é parecido com o trigo, porém não é trigo).

aves dos céus em seus ramos (Mt 13:31-32 — aves = agentes malignos, conforme o Senhor explicou na parábola do que é semeado à beira do caminho).

fermento (Mt 13:33 — fermento = figura de má doutrina introduzida por quem não deveria ensinar cf. Mt 16:6).

peixes bons e ruins (Mt 13:47-48).

Além disso o Reino dos céus está no mundo, e não nos céus (Mt 13:44; cf. 13:38 “o campo é o mundo”). Você não conseguirá entender essas distinções que são claras na Palavra de Deus, se não entender as dispensações, ou diferentes maneiras como Deus trata os homens ao longo da história deste planeta.

Juntando tudo, temos aquilo que Cristo edifica, que é a Igreja no sentido de Casa do Deus vivo, contendo apenas os salvos, e aquilo que o homem edifica, como instrumento de Deus neste mundo, por meio da pregação e do batismo. Portanto existe um círculo maior que inclui todos os que professam o nome de Jesus e um menor, o corpo de Cristo, formado apenas pelos salvos. É no círculo maior que você entra pelo batismo. Agora veja isto:

(Mt 16:19) “E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.

O Senhor não deu a Pedro as chaves da Igreja e nem dos céus. Pedro recebeu “as chaves do reino dos céus, portanto dessa esfera ampla da profissão daqueles, falsos e verdadeiros, que se declaram seguidores de Jesus ou dizem acreditar nele. São chaves de uma esfera administrativa, daí o “ligar” e “desligar”, ações tomadas aqui que são reconhecidas no céu mas apenas para as coisas desta vida, nunca para questões eternas como a salvação da alma.

Em Mateus 18:18 essas práticas administrativas seriam também dadas à Igreja para que, por meio de dois ou três que tomassem essas decisões práticas e administrativas em nome de Jesus, razão pela qual elas seriam reconhecidas nos céus. Mas é preciso entender que isso acontece na esfera da “casa de Deus” e da comunhão. A igreja ou assembleia pode incluir ou excluir alguém à comunhão, mas nunca à vida eterna.

(Mt 18:18) “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.

O Senhor também estava dando a Pedro as chaves de uma nova dispensação e Pedro as usaria para abrir as portas primeiro aos judeus (e também aos samaritanos) e depois aos gentios.

Chegamos agora a Atos 2, origem de sua dúvida que é se recebemos o Espírito Santo quando somos batizados nas águas. Ali existem duas coisas diferentes: primeiro, a formação da Igreja, que aconteceu naquele cenáculo com aquelas 120 pessoas. A Igreja foi formada com a descida do Espírito Santo à terra para habitar na Igreja coletivamente e no crente individualmente. Paulo, o apóstolo a quem foi revelado o segredo ou mistério da Igreja, explicaria esse batismo do Espírito que ocorreu no dia de Pentecostes, portanto apenas uma vez, com estas palavras:

(1 Co 12:12-13) “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”.

Para não confundir com o selo do Espírito descrito em Efésios 1:13, quando, depois de ouvirmos o evangelho e crido, fomos “selados com o Espírito Santo da promessa”, procure pensar no que aconteceu em Pentecostes como a inauguração da Igreja. Inaugurações acontecem uma única vez. O que vem depois são os elementos que são adicionados àquilo que já foi inaugurado uma vez.

Portanto, voltando ao que eu já disse sobre Atos 2, ali acontece primeiro a “inauguração” da Igreja, uma obra de Deus e não do homem, e em seguida vem Pedro trabalhando para, por meio da pregação e do batismo nas águas (tipicamente obras humanas), introduzir na esfera do Reino dos céus aqueles que professassem crer. Como eram todos judeus, no versículo que você citou Pedro estava usando uma das chaves que o Senhor lhe deu. As outras ele usaria mais tarde, e é importante notar as diferenças na ordem em que essas pessoas são introduzidas:

JUDEUS — Atos 2:38: os judeus são introduzidos seguindo este processo:

1. Arrependimento (os judeus eram primariamente culpados da rejeição e morte de seu Messias, portanto tinham muito de que se arrepender);

2. Batismo nas águas;

3. Recebimento ou selo do Espírito Santo.

SAMARITANOS — Atos 8:14-17: os samaritanos são introduzidos; eles eram gentios convertidos ao judaísmo levados para a terra prometida para substituir os judeus durante o exílio:

1. Fé (crer);

2. Batismo nas águas;

3. Recebimento do Espírito pela oração e imposição de mãos dos apóstolos.

GENTIOS — At 10:44-48: todos aqueles que não eram judeus ou samaritanos:

1. Fé (crer);

2. Recebimento do Espírito Santo;

3. Batismo nas águas.

Finalmente podemos mencionar também uma classe especial ali que são os discípulos de João Batista — At 19:1-7, um subgrupo de judeus que eram os discípulos de João, que já haviam se apartado dos judeus e suas culpas:

1. Fé (crer);

2. Rebatismo nas águas (tinham sido antes batizados “em” João Batista como os israelitas tinham sido batizados “em” Moisés, pois quando você é batizado, você é batizado “a” alguém — compare as passagens 1 Co 1:15; 10:2; Gl 3:27);

3. Recebimento do Espírito Santo pela imposição das mãos do apóstolo.

Veja que estes não são processos para a salvação, que vêm apenas pela fé em Jesus, mas apenas a ordem em que as coisas aconteceram quando foram usadas as chaves para se abrir o Reino dos céus a judeus (e samaritanos) e gentios. Entenda também o livro de Atos como um período de transição entre o que era testemunho de Deus no mundo (judeus) e o que passou a ser (Igreja).

Considerando que hoje Israel foi deixado de lado por ter rejeitado o Messias, o testemunho de Deus na terra é formado por judeus e gentios que se converteram e foram feitos Igreja ou corpo de Cristo (Deus ainda continua considerando Israel, mas como uma das três classes: judeus, gentios e Igreja de Deus — 1 Co 10:32).

O evangelho é hoje pregado às nações (gentios) e a ordem para hoje está mais no sentido de Atos 10, ou seja, (1) crer, (2) receber o Espírito Santo e (3) ser batizado nas águas. (Talvez aqui você pergunte por que alguns batizam crianças, e respondo que não existe na Bíblia batismo de crianças, mas batismo de “casa” ou família).

Veja que no caso dos gentios o recebimento do Espírito Santo aparece vindo antes da introdução formal, pelo batismo nas águas, da pessoa no Reino dos céus e, por consequência, na casa de Deus. O batismo acaba colocando-a também (infelizmente) na esfera da grande casa, o aspecto exterior que a casa de Deus assume hoje. O que ocorre antes do batismo nas águas é a ordem dada em Efésios 1:13, que é “ouvir”, “crer” e “ser selado com o Espírito Santo”: ”Em quem também vós estais, depois que OUVISTES a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também CRIDO, fostes SELADOS com o Espírito Santo da promessa”.

Como o assunto aqui nesta passagem de Efésios não é a esfera da profissão, mas da introdução no corpo de Cristo, o batismo nas águas não é mencionado. Ouvir, crer e ser selado com o Espírito Santo é a ordem hoje para a salvação.

Sua outra dúvida foi: “Uma pessoa não genuinamente convertida não seria uma pessoa que de fato não se arrependeu e consequentemente não nasceu de novo? como ela receberia o Espírito Santo e passaria a ser morada de Deus (Ef 2:22)?”.

Exatamente: uma pessoa que não se converteu genuinamente não é nascida de novo (na verdade o novo nascimento vem antes até da conversão, embora não possa ser dissociado dela), portanto não pode ter o Espírito Santo e nem pode ser morada de Deus em Espírito.

Em momento algum eu disse que tal pessoa teria o Espírito Santo, mas apenas que o batismo nas águas introduz a pessoa na esfera da profissão cristã, ou seja, ela reconhece da boca para fora que é cristã e se coloca sob a responsabilidade de agir como tal. Mas não está salva, mesmo que tenha sido batizada nas águas. Muitos entendem errado isso e acabam misturando tudo, achando que o batismo introduz a pessoa no corpo de Cristo, dá a ela a salvação eterna e coisas do tipo. Por isso somos exortados a manejar ou dividir bem a Palavra: (2 Tm 2:15) “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”.

Veja o caso de Simão, o mago, que “se converteu” e foi batizado, porém não tinha nada a ver com uma salvação genuína:

(At 8:13-24) “E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito. Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo (Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus). Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo. E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, Dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo. Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, dessa tua iniquidade, e ora a Deus, para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração; Pois vejo que estás em fel de amargura, e em laço de iniquidade. Respondendo, porém, Simão, disse: Orai vós por mim ao Senhor, para que nada do que dissestes venha sobre mim”.

Simão podia até ser chamado cristão, já que “creu” (no sentido de acreditar apenas) no que foi pregado, e foi batizado, sem todavia receber o Espírito Santo. Até mesmo quando Pedro o adverte para que se arrependa ele parece não se arrepender, pois apenas pede aos apóstolos que orem por ele para que o mal não o atinja.

Ele é o tipo perfeito da pessoa religiosa e supersticiosa, que está apenas interessada nas coisas de Deus para receber poder nesta vida ou ser preservada do mal também aqui.

*

É errado estudar a Bíblia em casa?

Você diz que abandonou a “Congregação Cristã no Brasil” por não concordar com algumas das coisas que viu e aprendeu lá. Dentre as coisas que descreveu, você teria aprendido que estudar a Bíblia em casa seria errado, que o Espírito Santo seria suficiente para ensinar na hora do culto e o estudo de antemão seria um obstáculo à ação do Espírito.

Você também disse não concordar com a ideia de que a salvação só existiria ali, e não aguentava mais as revelações sempre repetidas com frases feitas, do tipo “Deus está dizendo eu vou levantar a tua cabeça”, ou “Vou te fazer por cabeça e não por cauda”, enquanto os presentes gritam “Glória!”, “Fala mais Senhor!”, “Usa o Teu servo!”, “Aleluia!”, etc.

Ouso dizer que uma doutrina assim, de impedir que as pessoas estudem a Palavra, só pode vir do diabo, o maior interessado em que as pessoas ignorem a Palavra para enganá-las com mais facilidade. Manter as pessoas na ignorância foi a estratégia usada durante séculos pelo catolicismo, que até mesmo proibia e condenava com a morte a leitura da Bíblia.

É mais fácil manipular as pessoas quando elas não conhecem, principalmente se alguém abre a boca e diz que está recebendo uma revelação diretamente de Deus (o que ninguém ousará contestar), como é comum acontecer em religiões desse tipo.

É uma grande bobagem dizerem que ninguém precisa trazer nada de casa. Apesar de o Senhor ter poder para criar pães e peixes a partir do nada, ele quis usar um menino que os trouxe de casa para multiplicá-los.

As passagens abaixo não fariam sentido se o que a Congregação Cristã no Brasil diz estar correto:

(2 Tm 2:2) “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros”.

(2 Tm 3:14-17) “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”.

(Jo 5:39) “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim”.

(1 Tm 4:13) “até que eu vá, aplica-te à leitura, à exortação, e ao ensino”.

(2 Tm 4:13) “Quando vieres traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, especialmente os pergaminhos”.

(2 Tm 2:15) “Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”.

(Sl 1:2) “antes tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e noite”.

(Is 34:16) “Buscai no livro do Senhor, e lede”.

(Js 1:8) “Não se aparte da tua boca o livro desta lei, antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido”.

Um dos argumentos utilizados naquela religião vem na forma do versículo em 2 Co 3:6: a letra mata e o espírito vivifica.

Finalmente, Deus nos exorta a buscarmos diligentemente em sua Palavra para ver se as coisas que nos são ensinadas estão de acordo com as escrituras:

(At 17:11) “Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim”.

No Antigo Testamento o profeta que trouxesse revelações falsas devia ser apedrejado. Se isso ainda fosse feito hoje faltariam pedras em algumas das igrejas chamadas “pentecostais”.

(Dt 18:20-22) “Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá. E, se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o Senhor não falou? Quando o profeta falar em nome do Senhor, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele”.

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Por que Jesus é chamado de “Filho do Homem”?

A expressão “Filho do homem” mostra a humanidade de Jesus, sua identificação com suas criaturas de maneira universal. Talvez seja por isso que esse título não seja achado nas epístolas, pois estas são endereçadas à Igreja e não à humanidade em geral.

Para facilitar, vou mostrar aqui o que traduzi do Concise Bible Dictionary:

O Senhor constantemente falou de si mesmo como o “Filho do Homem”, um título que o conectava como sendo a cabeça universal, e não meramente com Israel, especialmente no que diz respeito aos seus sofrimentos, ressurreição e reinado. Enquanto caminhava neste mundo ele podia dizer, “O Filho do Homem que está no céu” (Jo 3:13). Embora sendo Deus, ele foi um perfeito homem: podia sentir cansaço e fome e precisava de sono. Ele orava como alguém dependente de Deus; foi abandonado por Deus e morreu. Todavia, ele era o Justo — de um tipo moralmente diferente de todos os outros homens: ele era o segundo homem, do céu (1 Co 15:47).

De acordo com a epístola aos Hebreus, Cristo se tornou o Filho do Homem a fim de:

1. Para que “provasse a morte por todos” Hb 2:9;

2. Para aniquilar “o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” Hb 2:14;

3. “para expiar os pecados do povo” Hb 2:17;

4. Para “socorrer aos que são tentados” Hb 2:18.

Ele é colocado como Filho do Homem sobre todas as obras das mãos de Deus, é o herdeiro de todas as coisas de acordo com os conselhos de Deus; ele irá reinar até que todos os inimigos sejam colocados sob os seus pés, e ele ser aclamado como “Rei de reis e Senhor de senhores”. O Senhor disse que “o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos”. Enquanto isso, não encontramos o título usado nas Epístolas e em Apocalipse, exceto em Hebreus 2:6, que é uma citação do Salmo 8, que fala de seu domínio universal, e em Apocalipse 1:13 e 14:14, onde ele está pronto para julgar.

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Qual o significado espiritual das coisas e circunstâncias?

Esta é praticamente uma continuação ao meu e-mail anterior, quando demonstrei minha alegria por você estar em comunhão à mesa do Senhor. Foi, por assim dizer, um “intervalo” nesse meu compartilhar com você das coisas que tenho aprendido da Palavra de Deus. O versículo de Atos 18 me vem à mente:

(At 18:24-26) “E chegou a Éfeso um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloquente e poderoso nas Escrituras. Este era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João. Ele começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus”.

Apolo era um cristão sincero, porém com um conhecimento ainda parcial das Escrituras, daí a necessidade desse trabalho do casal Priscila e Áquila que o levam consigo e passam a lhe declarar “mais precisamente [ou com mais exatidão] o caminho de Deus”.

Evidentemente todos nós teremos sempre um conhecimento parcial das Escrituras, até aquele dia quando estaremos na presença do Senhor. (1 Co 13:12) “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido”.

Mas veja que Paulo exortou Timóteo a ensinar a outros o que aprendera do apóstolo, para que esses outros ensinassem a outros. É assim que funciona. (2 Tm 2:1-2) “Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus. E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros.

Antes que me pergunte, no caso de Priscila e Áquila, não foi o caso de Priscila ensinar, pois se o fizesse, ela estaria indo contra o que o Espírito, por intermédio de Paulo, admoesta em 1 Tm_2:12, que diz: Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio”.

Mas repare que na passagem sobre Apolo o nome dela aparece até em primeiro lugar para mostrar a importância que o Espírito Santo dá à comunhão que uma esposa deve ter com seu marido na obra do Senhor. Em certo sentido, portanto, Priscila “ensinou em silêncio”, não com palavras, mas com o exemplo de uma esposa submissa, dedicada e atuante na obra de Deus.

(1 Pe 3:1-6) “Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns não obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos SEM PALAVRA; Considerando a vossa vida casta, em temor”.

Não apenas Priscila teve essa honra, mas muitas mulheres nas Escrituras, desde as que acompanhavam o Senhor e supriam suas necessidades materiais, até as irmãs que davam suporte aos que ministravam e aos santos em geral já no período da igreja:

(1 Co 9:5) “Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?”.

(Rm 16:6-12) “Saudai a Maria, que trabalhou muito por nós… Saudai a Trifena e a Trifosa, as quais trabalham no Senhor. Saudai à amada Pérside, a qual muito trabalhou no Senhor”.

Mas voltando ao assunto, receba o que vou dizer como mais uma partícula de ensino, assim como fui ensinado por outros, e assim como você também ensinará aqueles com quem terá contato.

Em seu e-mail você faz algumas analogias usando lugares, endereços e objetos para fazer referência a coisas como a trindade, a morte de Cristo e à cruz. Embora eu tenha entendido sua alegria em observar esses detalhes, é importante entender onde se encaixa o simbolismo e figuras da Bíblia, ou ficamos sujeitos a espiritualizar o mundo material e as circunstâncias, o que pode levar ao erro.

Até mesmo quando procuramos figuras, tipos e sombras nos textos das Escrituras é preciso cuidado ao tentarmos associar essas coisas com fatos e circunstâncias do mundo material e da história. É preciso encontrar nas próprias Escrituras fundamento para fazermos isso.

Veja que muitos dos erros associados à interpretação das profecias bíblicas ocorrem por causa de pessoas que tentam encontrar um paralelo para elas nas páginas dos jornais. Assim, volta e meia a besta de Apocalipse acaba sendo interpretada como o Papa ou algum presidente ou líder mundial de plantão. Do fim do mundo, então, todos os anos temos um ou mais anúncios.

Nos meus tempos de recém-convertido a bola da vez em alguns livros sobre profecia era o Mikhail Gorbachev, e alguns juravam conseguir enxergar na mancha de nascença que trazia na cabeça um “666” ou uma marca da besta. Hoje se sabe que esses interpretadores da profecia estavam errados. Até mesmo no livro “O Futuro do Grande Planeta Terra”, de Hal Lindsey, que Deus usou em minha conversão, hoje eu sei que havia erros graves. É do mesmo autor a série “Deixados para trás”, mais recente, que peca de forma grave por supor que haverá possibilidade de conversão após o arrebatamento para aqueles que ouviram o evangelho antes e não creram. De tanto olhar para os eventos atuais ele se esquece de conferir tudo com a Palavra de Deus.

Portanto, o cuidado que devemos ter com a tentativa de espiritualizar coisas e circunstâncias, como se representassem verdades bíblicas, é por virmos de uma cultura cristianizada que nem sempre nos foi passada da forma correta. Às vezes somos como Apolo, sinceros e ativos na obra de Deus, mas necessitando de mais exatidão no conhecimento das Escrituras.

O catolicismo romano nos incutiu uma série de superstições, algumas fáceis de detectar, outras mais sutis. Muitas delas vêm do paganismo, e quem conhece a história da igreja sabe que, quando o imperador Constantino decretou o cristianismo a religião oficial do Império Romano, ele trouxe para dentro da cristandade os costumes e ídolos pagãos a fim de tornar a nova religião mais aceita pelos habitantes do império.

Ele obrigou também a população a ser batizada compulsoriamente, o que introduziu multidões de incrédulos não apenas entre o povo professo, mas entre o próprio clero que ele incentivou e ao qual delegou poderes. A massa foi fermentada com todo tipo de má doutrina, e a pequena semente se transformou em grande árvore, com todo tipo de ave imunda se aninhando em seus ramos.

Foi aí que começaram a surgir os “santos” com suas imagens, algumas das quais nada mais são do que cópias de esculturas gregas e romanas dos deuses daqueles povos. Mas Constantino não foi o primeiro a emprestar de outros cultos elementos estranhos ao cristianismo. Antes dele muitos cristãos judeus já traziam as práticas e costumes do judaísmo que acabaram introduzindo no culto cristão. A epístola aos Hebreus já denunciava isso ainda no tempo de vida dos apóstolos.

Como cristãos nominais, portanto, herdamos pelo contato com a cultura ocidental coisas estranhas à doutrina dos apóstolos, como se tivessem sido instituídas por Deus. Santos, rituais, dias sagrados, templos, altares, clero, incenso, velas, anéis, cajados, vestes clericais, músicos, instrumentos, rezas e ladainhas, etc.

Com o protestantismo algumas dessas coisas foram extirpadas da cultura cristã, mas outras permaneceram, como é o caso do templo, altar, clero, corais e várias doutrinas estranhas à doutrina dos apóstolos. Apesar de o protestantismo eliminar algumas superstições e adotar outras, pode-se dizer que houve algum progresso desde o catolicismo. Mas aí veio o movimento pentecostal para ressuscitar muitas superstições católicas e inventar outras, principalmente com a prática de espiritualizar objetos e circunstâncias.

Não raro você encontra nas igrejas pentecostais objetos com poderes especiais que são distribuídos ou vendidos aos fiéis, ou réplicas de objetos do culto do Antigo Testamento como se tivessem algum poder especial, água do Rio Jordão, azeite do Monte das Oliveiras, lenços abençoados, etc.

Os pastores pentecostais, percebendo que os fiéis são mais facilmente dominados se tiverem coisas visíveis em que depositar sua fé, evitam as imagens milagrosas de santos, porém criam imagens milagrosas de objetos e práticas, como quando pedem para seus fiéis colocarem um copo de água sobre o aparelho para esta receber algum tipo de poder miraculoso. Ultimamente eles próprios têm deixado de sugerir isso pois seria preciso uma dose extra de milagre para fazer o copo parar em cima dessas TVs fininhas de plasma.

Portanto, devemos sempre vigiar para não cairmos no erro de tentar espiritualizar tudo o que vemos por aí ou as circunstâncias que nos cercam. A idolatria é sempre o passo seguinte a um desejo sincero de honrar o Senhor por algo de material ou circunstancial. E a tentativa de associar objetos e coisas materiais a verdades espirituais, por mais sincera que seja, pode também levar a erros como os de vários católicos que hoje veneram manchas de umidade em paredes, só porque acham a imagem formada parecida com Jesus ou Maria. Ou católicos e protestantes que deixam uma Bíblia aberta sobre um móvel na sala como se aquilo trouxesse bons fluídos para o lar.

Quando me converti eu me lembro de ter ganhado uma Bíblia de edição católica, a qual logo ficou toda cheia de passagens grifadas. Eu vinha de uma criação católica, me converti a Cristo e retornei às minhas raízes do catolicismo romano, no qual permaneci durante quase um ano até passar a congregar com os batistas, onde fiquei também menos de um ano. De ambas as correntes cristãs eu trouxe uma bagagem de erros que provavelmente carregue até hoje em maior ou menor medida.

Lembro-me de ter feito uma viagem de trem (sim, ainda se viajava de trem naquela época) e coincidiu de os bilhetes da ida e da volta terem o mesmo número, além de outras coincidências numéricas que não me lembro se eram de horários ou outras coisas. O fato é que eu fiquei emocionado achando que Deus estava querendo me dizer alguma coisa com aqueles números, e tentei colocá-los em ordem de diferentes maneiras para ver se representavam algum capítulo e versículo da Bíblia. Obviamente meu esforço foi em vão, pois não é com numerologia ou adivinhações que Deus nos fala. Até hoje muitos cristãos sinceros tentam interpretar sonhos estranhos e horripilantes que tiveram depois de jantarem uma suculenta feijoada. Nem lhes passa pela cabeça que aquilo foi consequência de uma má digestão.

Anos depois, um jovem que tinha se convertido, ao qual presenteei com uma Bíblia já usada, também mostrou o quanto de bagagem supersticiosa trazia das religiões. Era uma Bíblia para a qual eu tinha feito uma capa de couro, artesanalmente trabalhada em pirógrafo com desenhos de linhas onduladas e pequenas figuras geométricas meramente decorativas. Observando atentamente os desenhos e ávido por aprender mais, ele me perguntou o significado bíblico de cada um deles. Recentemente um leitor de meu blog “O que respondi” escreveu querendo saber o significado bíblico das figuras dos selos e do cartão postal que usei como pano de fundo para a decoração do blog. Expliquei que simplesmente achei a foto bonita e que tinha a ver com o blog, que era a publicação de minha correspondência, inicialmente por cartas, e depois por e-mail.

Portanto, sugiro que seja cuidadoso quando olhar para coisas, fatos e circunstâncias tentando espiritualizá-las, como se tivessem em si mesmas algum significado. O mais seguro é manter-se no que diz a Palavra de Deus, a qual não precisa de elementos materiais e exteriores para nos dizer algo. Sempre que algum pensamento do tipo passar por sua mente, faça a pergunta: “Será que isso é de Deus ou não passa das superstições que herdei de uma cultura católica, protestante ou pentecostal?”.

Até mesmo no Antigo Testamento existia esse risco, quando havia sim objetos materiais que Deus mesmo tinha ordenado para representarem verdades espirituais. Um caso interessante é o da serpente de metal que acabou se transformando em objeto de culto e precisou ser destruída.

(Nm 21:9) “E Moisés fez uma serpente de metal, e pô-la sobre uma haste; e sucedia que, picando alguma serpente a alguém, quando esse olhava para a serpente de metal, vivia”.

(2 Rs 18:4) “Ele [Ezequias] tirou os altos, quebrou as estátuas, deitou abaixo os bosques, e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera; porquanto até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso, e lhe chamaram Neustã”.

Às vezes, em documentários na TV, você encontra pessoas afirmando que quando estiveram em Jerusalém ou em algum lugar bíblico, sentiram algum tipo de energia diferente, como se fosse um poder mágico se apoderando delas. Sem perceberem que aquilo é simplesmente um efeito emocional, acabam dando àqueles lugares um poder espiritual que não existe. Muitos idolatraram de tal maneira os lugares bíblicos que muito sangue foi derramado nas várias Cruzadas que tentavam libertar a cidade das mãos dos infiéis. A história do cristianismo está repleta de tentativas de espiritualizar o mundo material que terminaram em tragédias.

Fica aí a sugestão de mais estas coisas das quais devemos nos precaver.

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Jesus mentiu para o ladrão na cruz?

Você disse que viu um programa de TV onde um pregador adventista explicava que (1) o ladrão arrependido não morreu no mesmo dia que Jesus, (2) eles não poderiam ter se encontrado no Paraíso no mesmo dia, principalmente porque três dias depois Jesus diria a Maria Madalena que ainda não tinha subido ao Pai.

Eu prefiro acreditar no que Jesus disse e não no que o pregador da TV falou. Jesus disse ao ladrão:

(Lc 23:42-43) “E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”.

O ladrão e Jesus se encontraram no Paraíso naquele mesmo dia. Não acreditar nisso é dizer que Jesus mentiu, já que ele disse claramente ao ladrão que naquele dia estariam juntos no Paraíso. Se Jesus marcasse um encontro com você, acha que ele iria falhar? É muita ousadia desse pregador da TV contradizer as palavras do próprio Senhor.

Não sei se essa é a opinião pessoal dele ou é o que o Adventismo ensina. Se for isso o que é ensinado, é mais um dos muitos erros daquela religião. Não poderia ser diferente, já que é uma religião baseada no ensino de uma mulher (Ellen G. White), e a Bíblia diz claramente que não é permitido à mulher ensinar:

(1 Tm 2:12-14) “Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”.

Jesus morreu primeiro, pois não precisaram quebrar suas pernas, como mostra o texto bíblico. Os soldados quebravam as pernas dos condenados para eles se asfixiarem, por falta de apoio nos pés. Uma pessoa pendurada pelos braços e sem apoio por muito tempo conseguirá absorver o ar, mas não expirá-lo, pois os músculos do peito e das costas irão perder a força. Então ela morre por asfixia em poucos minutos, e isso é mais rápido para alguém em um estado de exaustão e desidratação como é o caso de um crucificado.

(Jo 19:31-34) “Os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a preparação (pois era grande o dia de sábado), rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados. Foram, pois, os soldados, e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro, e ao outro que como ele fora crucificado; Mas, vindo a Jesus, e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas. Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água”.

A morte de Jesus aconteceu às 3 horas da tarde (Lc 23:44). Até seu corpo ser tirado da cruz seria preciso José de Arimateia e Nicodemos conseguirem uma audiência com Pilatos (Jo 19:38-39), o que ainda deve ter levado algum tempo.

Enquanto isso os ladrões estavam pendurados com as pernas quebradas e morrendo de asfixia. Eles não seriam tirados da cruz até serem dados como mortos. Em caso de dúvida, o que fizeram com Jesus mostra a forma que eles usavam para emitir uma certidão de óbito: a lança do soldado era enfiada ao lado do peito para atingir o coração.

A passagem que o tal pregador utilizou em João 20:17 é outra coisa e nada tem a ver com a subida de Jesus ao céu em espírito. Sua subida em espírito aconteceu imediatamente após sua morte, vindo a ter o encontro prometido com o ladrão alguns minutos depois, o qual viria a morrer após ter suas pernas quebradas. Veja como na passagem que o pregador usou a situação é totalmente outra:

(Jo 20:17) “Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”.

Aqui Jesus já tinha ressuscitado e estava dizendo a Maria que ainda não tinha subido ao Pai em um corpo ressuscitado. Em espírito ele já tinha subido logo que morreu na cruz, portanto encontrando-se com o ladrão também em espírito. Mas em um corpo ressuscitado, que era sua condição no encontro que teve com Maria, ele ainda não tinha subido. Isso só ocorreria 40 dias depois e é descrito no primeiro capítulo de Atos.

(At 1:9) “E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos”.

Meu conselho: não perca seu tempo ouvindo pregadores como esse na TV. Se ele ainda tiver usado o argumento de que Jesus teria morrido e descido ao Hades para pregar, e por isso não poderia ter subido para se encontrar com o ladrão, então será mais um erro a ser acrescentado aos muitos que o pregador cometeu.

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O que fazer com o ciúme doentio?

A Palavra de Deus deixa muito claro que o ciúme é pecado. Não falo aqui do santo ciúme que Deus tem pelos que são seus, mas do ciúme da carne, que é uma mescla de zelo e inveja pelo risco de se perder (ou deixar de se obter) algo ou alguém.

O ciúme é tão sério que Números 5:11-31 descreve em detalhes uma espécie de “detector de mentiras”, que era uma oferenda que servia para detectar se o marido ciumento teria ou não razão em suspeitar da fidelidade da esposa.

(Nm 5:14-16) “E [se] o espírito de ciúmes vier sobre ele, e de sua mulher tiver ciúmes, por ela se haver contaminado, ou sobre ele vier o espírito de ciúmes, e de sua mulher tiver ciúmes, não se havendo ela contaminado, Então aquele homem trará a sua mulher perante o sacerdote, e juntamente trará a sua oferta por ela; uma décima de efa de farinha de cevada, sobre a qual não deitará azeite, nem sobre ela porá incenso, porquanto é oferta de alimentos por ciúmes, oferta memorativa, que traz a iniquidade em memória. E o sacerdote a fará chegar, e a porá perante a face do Senhor”. (Leia do versículo 11 ao 31 para entender melhor).

A gravidade e perversidade do ciúme é demonstrada também em Provérbios, onde o ciúme é considerado pior que o furor e a ira:

(Pv 27:4) “Cruel é o furor e impetuosa a ira, mas quem poderá resistir ao ciúme?” (versão CNBB). (As diversas versões Almeida, inclusive a NVI, trazem “inveja” em lugar de “ciúme”, e parece que os tradutores preferiram colocar “ciúme” nas passagens em que consideravam o sentimento positivo, e “inveja” para a conotação negativa do sentimento).

Foi por ciúme (ou inveja) que Caim matou seu irmão Abel. Por ciúme os irmãos de José, o predileto de seu pai Jacó, o venderam como escravo, e o mesmo sentimento levou os judeus a condenarem Jesus à morte.

(At 7:9) “Os patriarcas, movidos por ciúme, venderam José aos egípcios. Mas Deus estava com ele”. (CNBB)

Às vezes Deus mesmo gera ciúme como forma de juízo ou castigo, como ele fez com seu povo Israel por terem rejeitado o Messias. Muita gente fala do ódio que os gentios nutrem pelos judeus e das perseguições que ao longo da história foram promovidas contra aquele povo, mas pouca gente se dá conta de que Deus colocou no coração dos judeus um sentimento de ciúme em relação aos cristãos. Você percebe esse sentimento quando fala do evangelho a algum Judeu.

(Rm 10:19) “Mas digo: Porventura Israel não o soube? Primeiramente diz Moisés: Eu vos porei em ciúmes com aqueles que não são povo, Com gente insensata vos provocarei à ira”.

O ciúme tem seu lado interno, que é o sentimento de desapontamento por não conseguir ter ou ser o que outro é, portanto é um sentimento de autoglorificação. Esperamos que as pessoas vejam em nós o que gostaríamos de ser, e quando elas veem isso em outro e nos deixam, sentimos ciúme. Neste sentido o ciúme não é excesso de amor por outra pessoa, mas por si mesmo. Não passa de puro egoísmo. A falta de humildade gera isso. Como era o sentimento do Senhor, o Homem perfeito?

(Fp 2:5-8) “Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz”.

Aquele que era tudo se transformou em nada e não teve qualquer sentimento de inferioridade associado a isso, ou de ciúme por ter sido preterido pelo seu povo. Ele teve sim foi pena e compaixão das pessoas por ver que elas o abandonaram, mas não por sentir-se diminuído por elas, mas por saber das consequências trágicas que isso traria a elas.

O Senhor nunca pensou em si mesmo e nem mesmo fez milagres em seu próprio benefício. Ele não transformou as pedras em pães quando estava com fome e nem fez água fluir do poço de Samaria quando teve sede. Tampouco desistiu de fazer a vontade do Pai em sua hora de angústia no Getsêmani e nem invocou as mais de doze legiões de anjos que poderiam tirá-lo da cruz.

Quando ponderamos nisso vemos quão mesquinho e interesseiro é o ciúme. Certamente é um sentimento da carne, do velho homem, mas jamais da nova vida que possui aquele que creu em Jesus como seu Salvador. É um pecado e deve ser tratado como tal.

O ciúme também me faz achar que sou eu quem decide o que é melhor para mim e, tal qual uma criança mimada, me revolto quando não sou atendido em meus caprichos de ter total domínio sobre algo ou alguém. O ciúme é um endeusamento do ego.

(Rm1:22-23) “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível” [o que inclui endeusar o próprio eu].

Pessoas ciumentas estão sempre preocupadas consigo mesmas, com seu próprio bem estar e a satisfação de seus próprios desejos, e não exatamente com o bem estar da pessoa amada. Basta ver quantos acessos de ciúme terminam em ferimento e morte da pessoa objeto do ciúme. Será que é isso que Deus deseja para o cristão?

(1 Pe 4:2) “Para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus”.

(Jo 6:38) “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade [a qual, diga-se de passagem, era perfeita], mas a vontade daquele que me enviou”.

O ciúme traz dano sempre: à terceira pessoa que o provoca, àquela que sente ciúme e à pessoa que é objeto do ciúme. Suas consequências são tão desastrosas que existe até um termo jurídico para elas: “crime passional”.

(Pv 6:27-35) “Porventura tomará alguém fogo no seu seio, sem que suas vestes se queimem? Ou andará alguém sobre brasas, sem que se queimem os seus pés? Assim ficará o que entrar à mulher do seu próximo; não será inocente todo aquele que a tocar…. Porque os ciúmes enfurecerão o marido; de maneira nenhuma perdoará no dia da vingança. Não aceitará nenhum resgate, nem se conformará por mais que aumentes os presentes”.

Acredito que já ficou muito claro que ter ciúme é como viver com uma granada amarrada ao peito: cedo ou tarde ela irá explodir e destruir o ciumento e os que estiverem à sua volta, incluindo a pessoa objeto do ciúme.

Então como evitá-lo? Querer ensinar técnicas para evitar um sentimento tão forte seria o mesmo que tentar ensinar alguém a evitar se apaixonar. Uma vez que o ciúme se instale no coração, dificilmente sairá dali, pois é um sentimento acalentado por quem o possui como se fosse um tesouro bem guardado.

E aí está outro problema: acalentar o sentimento ou vangloriar-se de ser ciumento como se isso fosse alguma vantagem. Geralmente costumamos considerar a inveja perniciosa, mas damos um desconto ao ciúme por ele estar associado ao romantismo. Porém, quando a Palavra de Deus fala do amor genuíno do cristão, ela exclui o ciúme (que em muitas versões foi aqui traduzido como “inveja”):

(1 Co 13:4) “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso [ciumento]; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece”.

Portanto o ciúme é um sentimento carnal, da paixão, que deve ser repudiado por aquele que é nascido de novo, que é nova criação.

(1 Co 3:3) “Ainda agora não podeis, porque ainda sois carnais. Porquanto havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?” (Versão Brasileira).

Não existe cura para o ciúme, a não ser que ela venha de Deus, mas para isso é preciso que se deseje ser curado e principalmente estar disposto a abrir mão, fazer concessões. O Senhor Jesus mostrou que não podia curar os judeus porque deliberadamente endureceram seus corações, taparam olhos e ouvidos, por desejarem fazer a própria vontade.

(Mt 13:15) “Porque o coração deste povo está endurecido, E ouviram de mau grado com seus ouvidos, E fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, E ouçam com os ouvidos, E compreendam com o coração, E se convertam, E eu os cure”.

Mesmo um cristão que dê licença à carne, em um sentimento de indulgência para consigo mesmo, não será curado disso para produzir o fruto do Espírito que é “amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” (Gl 5:22). O remédio para qualquer desvio de comportamento é andar no Espírito, não na carne; é ocupar-se com Cristo, não consigo mesmo; é procurar fazer a vontade do Pai, não seus próprios desejos e caprichos.

O ciúme é também incredulidade. Se eu confio que Deus cuida de mim e me dá ou conserva aquilo de que eu preciso, então não existe razão para eu me preocupar com o risco de não ter ou de perder algo ou alguém. A vontade de Deus, e não a minha própria, será soberana e sempre a melhor para mim.

Todas as coisas que escrevi estão mais relacionadas ao ciumento ou à pessoa que é objeto de seu ciúme, porém acredito que existe um aspecto que é o mais sério relacionado ao ciúme: a idolatria. Aí estamos falando do efeito que o ciúme tem sobre Deus, e então a coisa fica ainda mais séria.

A pessoa ciumenta tem a outra, objeto de seu ciúme, em tão alta estima que acredita ser impossível viver sem ela. Então apenas o pensamento de que alguém possa tomá-la ou de ser traído a leva a ações desesperadas. A história está repleta de casos de pessoas que matam por causa do “deus” que adoram e tanto as infames Cruzadas como o “11 de Setembro” estão aí para comprovar.

Quando o assunto é idolatria — substituir o Deus verdadeiro por qualquer ídolo ou até por nossa concepção de Deus — aí sim Deus é um Deus ciumento, pois não deseja ser substituído por qualquer coisa ou pessoa. Ele é o único que pode fazer isso, pois nos criou para adorá-lo e não irá admitir que sejamos desviados para outro propósito, até mesmo por nos amar e saber que qualquer outro propósito para nossa vida seria vazio, inútil e desastroso. A resposta dos discípulos ilustra bem isso:

(Jo 6:66-69) “Desde então, muitos dos seus discípulos tornaram para trás e já não andavam com ele. Então, disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna, e nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho de Deus”.

Se algo ou alguém além de Deus for a razão de você viver, então você é idólatra.

(Êx 20:3-6) “Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos”.

Todos estamos cientes do significado do versículo 3, mas nem sempre dos versículos seguintes. Que não devemos ter outros deuses além do Deus verdadeiro está muito claro, mas não é tão clara a questão das imagens. Ficamos tão acostumados a associar os versículos 4 ao 6 às imagens de esculturas de ídolos ou pessoas usadas por algumas religiões, que nos esquecemos de que a palavra “imagem” inclui qualquer representação de valor.

Uma cédula de cem reais não passa de um pedaço de papel impresso e você jamais daria cem reais por algum outro pedaço de papel impresso com as mesmas cores e medidas. A questão é que o valor atribuído à cédula está no que ela representa, ou seja, a garantia em ouro no Tesouro Nacional ou em valor de compra. A cédula de cem reais é uma imagem por causa do valor intrínseco que lhe é atribuído. Para a maioria das pessoas ela não é um ídolo pois seu valor não é infinito, mas está claramente limitado pelo número ali impresso. Trata-se de valor relativo.

Uma namorada, namorado, esposo, esposa, filho ou filha também podem se transformar em imagens ou ídolos, quando atribuímos a essas pessoas um valor absoluto que jamais deveria competir com o valor que deve ser atribuído unicamente ao Senhor. Podemos viver sem dinheiro, sem um cônjuge ou sem os filhos, mas não podemos viver sem Deus. Quando alguém perde a cabeça por ciúme (confundido como amor), agindo de forma violenta ou contrária ao amor cristão, é porque a pessoa amada já conquistou uma parcela de seu coração que só deveria pertencer ao Senhor.

(Mt 10:37) “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim”.

Como você pode ver, a coisa é muito mais séria do que se pode imaginar. Ciúme é pecado, e pecado grave, tão grave quanto idolatria. E, a considerar os vários exemplos que temos na Bíblia e na sociedade, o ciúme pode acabar em tragédia.

Assim que li seu e-mail, no qual você descreve o ciúme doentio que sente por sua bela namorada, algumas coisas me vieram à mente. A primeira tem a ver com estas passagens:

(Mt 5:28-30) “Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno”.

Aqui o Senhor vinha falando do perigo do adultério, que começa com um simples olhar que irá despertar desejos pecaminosos e fatalmente levará ao pecado. A mera contemplação de algo pode despertar o desejo que pode levar a atos pecaminosos. Então o mal que há em nós precisa ser cortado pela raiz. O simples gesto de olhar ou tocar podem desencadear o processo, daí o Senhor falar figuradamente em arrancar olhos e membros.

(Pv 23:29-35) “Para quem são os ais? Para quem os pesares? Para quem as pelejas? Para quem as queixas? Para quem as feridas sem causa? E para quem os olhos vermelhos? Para os que se demoram perto do vinho, para os que andam buscando vinho misturado. Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. No fim, picará como a cobra, e como o basilisco morderá. Os teus olhos olharão para as mulheres estranhas, e o teu coração falará perversidades. E serás como o que se deita no meio do mar, e como o que jaz no topo do mastro. E dirás: Espancaram-me e não me doeu; bateram-me e nem senti; quando despertarei? aí então beberei outra vez”.

Aqui a Bíblia fala do vinho, quando este passa a ser um atrativo maior do que deveria. No primeiro caso o Senhor falava da resposta interna a um estímulo externo, e agora ele fala da própria coisa que gera esse estímulo e uma resposta ou concupiscência interna. O cristão que detecta esse risco e possibilidade, deve evitar aquilo que possa ser uma ponte para pecar, e não são apenas coisas ilícitas, mas também as lícitas que devem ser levadas em conta.

(1 Co 6:12; 10:23) “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma… todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.

Alguém que tem propensão a beber jamais deverá trabalhar em uma loja de bebidas; alguém com propensão a comer deve evitar ter guloseimas em casa; quem deixou de fumar deve evitar ambientes com fumantes; quem tem problemas com pornografia deve guardar seu olhar de fotos, sites e programas que o induzam a pecar.

Enfim, pessoas com problemas com os efeitos nocivos de qualquer coisa ou atividade deve evitar a causa. Como respondeu aquele médico da anedota ao paciente que reclamou que doía quando ele apertava um determinado lugar do corpo. “Então não aperte”, respondeu o doutor.

Um enfermo ou viciado deve sempre vigiar contra o que pode levá-lo a cair em seu hábito, ou às vezes precisa até ser vigiado. Em casos extremos a pessoa não pode nem sequer ficar só, precisando da companhia de alguém o tempo todo para evitar ser vencida por seu hábito. Já ouvi o caso de uma mãe que trancou seu filho alcoólatra em casa e ele bebeu todos os perfumes e desodorantes que encontrou.

Mas o que fazer quando o ciúme é pela namorada, como é o seu caso? Eu diria que seu caso é mais simples de resolver agora do que depois que se casar. Primeiro, porque ainda não existe um vínculo matrimonial que não deverá ser rompido depois. Cristãos também trazem temperamentos diferentes, e algumas dessas diferenças foram pelo pecado transformadas em verdadeiras aberrações.

Veja Pedro, por exemplo. Seu temperamento era de uma pessoa pronta para toda obra, o que é bom, mas esse temperamento distorcido pelo pecado na carne fazia de suas atitudes um problema, como quando arrancou a orelha de um dos que foram prender Jesus. Mas sua prontidão dirigida pelo Espírito pode ser vista também em seu ministério. O temperamento dócil do apóstolo João, normalmente visto como antagônico e positivo quando comparado ao impulsivo Pedro, não era menos maléfico quando controlado pela carne. Pessoas assim costumam ser depressivas.

Quando um cristão se vê incapaz de controlar um temperamento ele pode até ser levado a tomar medicamentos, receber tratamento ou nos casos mais graves precisa ser mantido isolado, como ocorre em alguns casos mais graves de doenças mentais. A doença mental é um dos efeitos que o pecado teve no corpo humano. O cristão que sofre de uma doença mental pode ser obrigado a se abster de certas coisas, assim como o cristão que sofre do coração irá se abster de certos alimentos e esforços. Cada um deve ter bem claro em sua mente se deve ou não afastar-se das pessoas que ama quando percebe que seu temperamento virou doença e está além de sua capacidade de controle.

Você repetiu duas vezes a palavra “neurose” em seu e-mail, o que pode significar que seu caso realmente está tomando um rumo doentio com consequências imprevisíveis. Pessoas que sofrem de alguma neurose às vezes são obrigadas a se afastar por um tempo daquilo que as leva a perder a cabeça, para o bem de si mesmas e dos outros ao redor.

Outro aspecto que me veio à mente relacionado ao que você contou, é que esse ciúme doentio que agora sente por sua namorada enquanto ela é jovem e bonita, pode dar lugar ao tédio e desinteresse quando ela estiver velha e feia, e você descobrir que o que amava mesmo era o que sua namorada tinha enquanto era bela, e não o que ela era como pessoa.

Conheço casos assim, de homens que foram extremamente ciumentos quando namoravam, e poucos anos depois de casados perderam completamente o interesse pela esposa e foram atrás de amantes mais jovens. Nunca existiu amor, apenas um sentimento de propriedade, como o que temos pelo carro. Quando é novo cuidamos bem, quando está velho e quebrado, descartamos e compramos outro. Caberá a você detectar se é isto o que está ocorrendo com você agora quando o carro é novo.

Finalmente, como você descreveu que sua namorada já conhece seu ciúme e procura fazer tudo para deixar você contente, evitando as coisas que você diz a ela para evitar, poderá chegar um momento (e parece que você está detectando isso) quando ela não mais evitará, mas apenas irá mascarar as coisas para evitar que você veja e fique magoado.

Isso naturalmente acontecerá sem que ela mesma perceba, pois acabará se tornando um hábito. Então ela involuntariamente passará a omitir de você informações, ou até mesmo a mentir e usar de outros subterfúgios que evitem despertar o ciúme. Do ponto de vista da pessoa que ama, ela acreditará estar fazendo isso por amor e até para o seu bem, mas isso é pecado de qualquer maneira.

*

Estou sob maldição por não ter pregado o evangelho?

Você anda angustiado porque sente que devia ter pregado o evangelho a um amigo que enveredou para o crime, porém não o fez. Para piorar as coisas alguém citou a você a passagem de Ezequiel em que Deus requer o sangue do profeta caso ele não avise o ímpio de sua impiedade:

(Ez 3:18) “Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; e tu não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca do seu mau caminho, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniquidade, mas o seu sangue, da tua mão o requererei”.

O rapaz acabou assassinado numa cobrança de dívida entre marginais e você diz que está sendo “martirizado, por ter tido a oportunidade e não ter sido capaz de aproveitá-la”, e completa: “Estou bem deprimido por isso. O que devo fazer? Existe possibilidade do perdão de Deus?”.

Primeiro, saiba que o perdão de Deus lhe foi garantido no dia em que você creu em Jesus, pois TODOS os seus pecados foram pagos por ele lá na cruz. Você jamais encontrará no Novo Testamento um salvo pedindo perdão a Deus. Pedimos perdão quando nos convertemos e depois disso confessamos nossos pecados para desfrutarmos do perdão que já nos foi garantido pela obra de Cristo. O perdão nós já temos; os pecados precisamos confessar.

(At 10:43) “A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome”.

(1 Jo 1:7-9) “Se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado…. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça”.

Voltando ao caso do rapaz que morreu, pode ter certeza de que ele teve sua chance de ser salvo, pois ninguém parte daqui sem isso. Deus mesmo terá providenciado que ele escutasse o evangelho de alguém, portanto não se martirize por isso.

O versículo de Ezequiel que seu amigo citou, como se agora você estivesse sob maldição por ter deixado de falar do evangelho ao rapaz que foi assassinado, é muito usado pelas denominações. O objetivo é pressionar seus membros a “ganharem almas” pelo medo, o que tem uma segunda intenção embutida: aumentar a arrecadação da “igreja”. Não seja ingênuo ao ponto de acreditar que existe boa fé na maioria das religiões que há por aí.

Quando em Mateus 10 Jesus enviou os discípulos exclusivamente “às ovelhas perdidas da casa de Israel”, avisando para que não fossem aos samaritanos, mas se limitassem aos judeus, ele os estava enviando ao povo mais religioso do planeta. E era justamente a religião que iria se opor a Cristo e a tudo o que viesse de Deus, como aconteceu durante séculos de história da Igreja, com as piores perseguições aos cristãos sinceros tendo sido promovidas pelo clero cristão contra aqueles que queriam obedecer a Deus, e não a homens.

Isso não mudou, e a advertência de Jesus aos discípulos serve para nós hoje: quando no meio religioso, devemos nos colocar na posição de ovelhas ao meio de lobos e sermos prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas. Inofensivos porque não é o papel do cristão agir violentamente mesmo contra outros cristãos que o perseguem. Mas prudentes como as serpentes, para não nos deixarmos enganar pelos lobos.

(Mt 10:16-17) “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas. Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas [as congregações dos judeus];”.

Lembre-se de que já em Atos 20 o apóstolo Paulo advertiu aos anciãos da igreja em Éfeso que os lobos entrariam no rebanho para destruir as ovelhas, assim como homens que dentre eles mesmos só teriam interesse em atrair discípulos após si. Esse tempo que o apóstolo previu é hoje.

Mas voltando à passagem de Ezequiel que você citou, vou transcrevê-la aqui ampliada para você perceber o contexto.

(Ez 3:14-22) “Então o espírito me levantou, e me levou; e eu me fui amargurado, na indignação do meu Espírito; porém a mão do Senhor era forte sobre mim. E fui a Tel-Abibe, aos do cativeiro, que moravam junto ao rio Quebar, e eu morava onde eles moravam; e fiquei ali sete dias, pasmado no meio deles. E sucedeu que, ao fim de sete dias, veio a palavra do Senhor a mim, dizendo: Filho do homem: Eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; e tu da minha boca ouvirás a palavra e avisa-los-ás da minha parte. Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; e tu não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca do seu mau caminho, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniquidade, mas o seu sangue, da tua mão o requererei. Mas, se avisares ao ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu mau caminho, ele morrerá na sua iniquidade, mas tu livraste a tua alma. Semelhantemente, quando o justo se desviar da sua justiça, e cometer a iniquidade, e eu puser diante dele um tropeço, ele morrerá: porque tu não o avisaste, no seu pecado morrerá; e suas justiças, que tiver praticado, não serão lembradas, mas o seu sangue, da tua mão o requererei. Mas, avisando tu o justo, para que não peque, e ele não pecar, certamente viverá; porque foi avisado; e tu livraste a tua alma. E a mão do Senhor estava sobre mim ali, e ele me disse: Levanta-te, e sai ao vale, e ali falarei contigo”.

Se observar o contexto da passagem verá que tudo ali tem a ver com o profeta Ezequiel. É com ele que Deus está falando e é a ele que está enviando para uma missão específica. Porém, sob a direção do Espírito de Deus, Ezequiel não sai simplesmente por aí falando para todo mundo, porém fica sete dias mudo (vers. 15). A palavra “pasmado” tem, no original, o sentido de “mudo de espanto”. Ele não falou durante sete dias! Por que não? Porque ele estava sob a influência do Espírito de Deus e tinha visto coisas tremendas e era hora de permanecer calado.

Então ele recebe uma missão específica, tão específica quanto foi a missão que o Senhor deu aos discípulos quando os enviou apenas às “ovelhas perdidas de Israel”, advertindo para que não pregassem aos samaritanos. Algum discípulo que decidisse de vontade própria ir pregar aos samaritanos, achando que seria um desperdício eles não ouvirem a mensagem ou sentindo-se sob o risco da maldição que aqui é lançada sobre Ezequiel se não pregasse, estaria claramente desobedecendo o Senhor.

Então o Senhor diz especificamente a Ezequiel que ele foi designado para ser atalaia (nome dado ao vigia da torre que gritava quando vinha o inimigo) sobre a casa de Israel. Portanto a ordem é dada especificamente a uma pessoa (Ezequiel) para uma função específica (Atalaia) e para um povo específico (Israel). Se você não se chama Ezequiel e não recebeu de Deus a missão específica de pregar a Israel, então fica claro que a ordem não foi dada a você.

Era tão séria a missão que Ezequiel recebeu que sobre ele pesava a responsabilidade de não falhar, ou teria de dar conta do sangue dos que morressem em sua iniquidade. E que iniquidade era essa? Ter Israel se afastado do Deus verdadeiro para ir após seus próprios ídolos; ter Israel endurecido seu coração e não querer nem escutar a voz de Deus. Se ler o início do capítulo verá que, à semelhança da missão específica que receberam os discípulos de Jesus, Ezequiel não deveria ir pregar aos gentios, mas exclusivamente a Israel:

(Ez 3:4-7) “E disseme ainda: Filho do homem, vai, entra na casa de Israel, e dize-lhe as minhas palavras. Porque tu não és enviado a um povo de estranha fala [gentios], nem de língua difícil, mas à casa de Israel; nem a muitos povos de estranha fala, e de língua difícil, cujas palavras não possas entender; se eu aos tais te enviara, certamente te dariam ouvidos. Mas a casa de Israel não te quererá dar ouvidos, porque não me querem dar ouvidos a mim; pois toda a casa de Israel é de fronte obstinada e dura de coração”.

Quer uma ordem mais clara do que essa? Apenas esta passagem já seria suficiente para você ver que a ordem não foi dirigida a você, pois se fosse não era nem para você pregar para o rapaz que morreu. Acaso era ele da casa de Israel? Provavelmente não, e aqui Deus deixa bem claro: Tu não és enviado a um povo de estranha fala, nem de língua difícil, mas à casa de Israel; nem a muitos povos de estranha fala e de língua difícil, cujas palavras não possas entender; se eu aos tais te enviara, certamente te dariam ouvidos” (vers. 5-6).

Embora tenhamos a responsabilidade e o privilégio de anunciar as boas novas às pessoas, isso não é para ser feito em um espírito de que você perderá a salvação se não o fizer, como se sobre você recaísse uma maldição. Falar do evangelho é uma consequência do gozo que temos em nosso coração, da certeza da salvação que recebemos unicamente por graça, e do amor que nos constrange a querer que outros também sejam salvos. Grande parte dos cristãos hoje nem sequer tem a certeza dessa salvação e acabam pregando mais para garanti-la do que por amor dos perdidos.

Sim, você pode ficar espantado com o que estou dizendo, mas perceba que quando os religiosos de plantão jogam o fardo dessa passagem de Ezequiel sobre seus seguidores, o fazem como se eles estivessem sobre a obrigação de fazerem esse tipo de obra para garantirem a salvação (ou ficarem livres de maldição). A mensagem implícita é algo do tipo: se você não ganhar almas para Cristo, não será salvo ou perderá sua salvação.

Aí o infeliz cristão sai carregando esse fardo e vai para uma praça pregar como quem quer agredir os transeuntes. Grita, dá socos no ar, praticamente xinga o pecador e nem se lembra de falar do amor de Deus que está pronto para salvá-lo. O pregador improvisado aprendeu que é seguindo uma lista de obrigações que sua denominação lhe deu que será (talvez) salvo.

Como geralmente nem ele sabe se está seguindo todas elas (a menos que seja muito pretensioso e soberbo), nem ele tem certeza da salvação. Se assim for, como alguém pode falar do que não tem certeza? O que ele irá responder se um interlocutor mais esclarecido lhe perguntar: “Você tem certeza dessa salvação que está me anunciando? Tem certeza de que ela é eterna, ou acredita que poderá perdê-la a qualquer momento? Essa salvação é pela fé em Jesus e em sua obra na cruz, ou é tornando-me membro de sua denominação e seguindo uma lista de preceitos e doutrinas?”.

Pergunte a dez pessoas que professam ser crentes em Jesus se elas poderiam perder a salvação e verá que muitas dirão que sim. Ouviram o “outro evangelho” (Gl 1:6) do qual Paulo fala aos Gálatas, que ensina que só poderão ser salvas se perseverarem, fazendo direitinho as obrigações (obras) que sua denominação lhe dá para cumprir. Começaram pelo Espírito (quando creram) e terminaram pela carne, na tentativa de se garantirem por meio de suas próprias obras (Gl 3:3).

É evidente que recai sobre cada cristão a responsabilidade de pregar o evangelho aos perdidos e ensinar os salvos conforme o dom que recebeu de Deus, porém não com má vontade, mas de boa mente. Paulo usa a figura do sangue, numa alusão à ordem dada a Ezequiel, não como uma lei, mas como um princípio no sentido de não ser culpado por ter negligenciado a missão que Deus lhe confiou.

(At 20:25-27) “E agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de Deus, não vereis mais o meu rosto. Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos. Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus”.

Mas será que Paulo teria perdido a salvação se tivesse falhado nessa missão de avisar os Efésios dos perigos que viriam após sua partida? É claro que não! Ele perderia o galardão, mas jamais a salvação, que lhe estava assegurada, não pelas coisas que ele fazia, mas pela obra que Jesus fez.

(1 Co 9:16-17) “Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho! E por isso, se o faço de boa mente, terei prêmio [galardão]; mas, se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada”.

Portanto, fique tranquilo. Nenhuma maldição recai sobre você e nem seria possível você ter cumprido a missão que foi confiada a Ezequiel de ser um atalaia sobre Israel. Você pode sim usar a passagem de Ezequiel como um princípio ou encorajamento para evangelizar, mas não como uma lei ou ordem direta para você.

Normalmente é assim que devemos ver o Antigo Testamento: como princípios que podem nos ajudar em nosso andar cristão, mas sabendo que já não estamos sob a Lei, que traz consigo maldição, e que devemos “manejar bem a Palavra da verdade” (2 Tm 2:15), isto é, colocando cada coisa no seu devido lugar, para não incorrermos no erro muito comum da cristandade que é tirar versículos do contexto. Por cometerem esse erro é que você ainda encontra por aí tantas coisas que só faziam sentido na antiga dispensação da Lei, como templos, altares, sacerdotes, músicos, levitas, dízimos, vestimentas cerimoniais, doutrinas de prosperidade material, etc.

Se começar a tomar ao pé da letra as missões que Deus deu aos seus profetas no Antigo Testamento, então é melhor arrumar a mala para partir para Nínive (nem imagino onde fica), como Deus ordenou a Jonas, e comece a procurar uma meretriz para se casar com ela, como Deus ordenou ao profeta Oséias.

(Jn 1:1-2) “E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença”.

(Os 1:2-3) “O princípio da palavra do Senhor por meio de Oséias. Disse, pois, o Senhor a Oséias: Vai, toma uma mulher de prostituições, e filhos de prostituição; porque a terra certamente se prostitui, desviando-se do Senhor. Foi, pois, e tomou a Gômer, filha de Diblaim, e ela concebeu, e lhe deu um filho”.

*

Para onde o crente vai quando morre?

Quando eu usar a expressão “crente” aqui, entenda que não estou falando de alguém que seja membro de uma religião protestante ou evangélica, mas simplesmente daquele que crê em Jesus como seu Salvador e Senhor. Estarei me referindo à pessoa que nasceu de novo; que tem sua salvação eterna assegurada pela obra que Cristo consumou no Calvário; de alguém que foi objeto da misericórdia de Deus, não recebendo o que merecia, e da graça de Deus, recebendo o que não merecia. Estarei falando daquele que já está em Cristo, “depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1:13).

Apesar de usarmos repetidas vezes a expressão “ir para o céu” quando nos referimos à situação do crente após a morte, só existe uma passagem nas Escrituras em que essa promessa é feita: ao ladrão na cruz, ao qual foi prometido o encontro com Cristo naquele mesmo dia no Paraíso.

(Lc 23:43) “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”.

Algumas religiões tentam distorcer esta passagem colocando uma vírgula depois da palavra “hoje”: “Em verdade te digo hoje, estarás comigo no Paraíso”, como se “hoje” estivesse relacionado ao momento em que o Senhor disse aquilo, e não ao momento em que estariam juntos no Paraíso. Essa ideia foi popularizada pelas Testemunhas de Jeová em sua tradução espúria da Bíblia, feita para adaptar o texto às suas doutrinas. Dentre outras coisas, aquela seita nega a esperança imediata de o crente estar com Cristo após a morte e nega também — o que é mais grave — a própria divindade de Cristo.

Paulo identifica o “Paraíso” em sua epístola aos Coríntios como sendo o “terceiro céu”.

(2 Co 12:2-4) “Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu… Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar”.

“Terceiro céu” é a esfera que está acima da atmosfera onde voam as aves (primeiro céu ou atmosfera) e do firmamento onde estão planetas e estrelas (segundo céu, identificado na Bíblia como o “firmamento”). O terceiro céu é a esfera onde habitam os anjos e os salvos por Cristo. Acima de todos os céus, ou a “luz inacessível” é onde Deus habita, uma esfera vedada ao homem.

(Ap 6:14) “E o céu (primeiro céu ou atmosfera) retirou-se como um livro que se enrola; e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares”.

(Dn 12:3) “Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento (segundo céu); e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente”.

(Ef 4:10) “Aquele que desceu [Jesus] é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas”.

(1 Tm 6:16) “Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível [acima de todos os céus]; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno”.

Apesar de não termos explicitamente na Bíblia a expressão “ir para o céu”, temos muito claro que, para o salvo, sair desta vida significa “estar com Cristo, o que é ainda melhor” (Fp 1:23). Portanto, não é o “lugar” futuro que o crente almeja, mas a companhia de Jesus, algo que ele já desfruta aqui apesar das barreiras criadas por este corpo ainda imperfeito. Será bom estar no céu, mas não são as sensações de felicidade ininterrupta que o crente busca, e sim a Pessoa que o salvou: Jesus.

Alguns erros surgiram ao longo dos séculos de cristandade, um deles a ideia de que o crente que morre ficaria em uma espécie de sono da alma. Isso é logo descartado pelo caso contado pelo Senhor do rico e de Lázaro — isto mesmo, “caso”, pois a história do rico e de Lázaro não começa identificada como parábola, como o Senhor faz com as parábolas. Ambos estão muito vivos e conscientes.

A ideia que alguns também têm de que haverá uma destruição definitiva dos ímpios no final também é descartada pelo que o Senhor diz acerca do “bicho que nunca morre”. A partir do dia em que fomos gerados, passamos a ter uma alma imortal, seja o seu destino o céu ou o lago de fogo.

Mas então o que acontece com a pessoa após a morte, e antes que venha o dia de sua ressurreição? Onde ela estará? Como estará? É certo que o crente estará aguardando a ressurreição do corpo, o qual voltou ao pó após a morte, e já vimos que essa pessoa estará consciente e apta a desfrutar de alegrias, enquanto o perdido já estará padecendo o sofrimento no hades (palavra grega que significa lugar dos mortos, às vezes traduzido por “inferno”) antes mesmo de seu destino final que será o lago de fogo.

Obviamente o estado do crente no pós-morte e antes da ressurreição trata-se de um estado intermediário e passageiro. Jesus ressuscitado é “as primícias dos que dormem” (1 Co 15:20). Na Bíblia a expressão “dormir” é usada para os que morreram na fé e está relacionada ao corpo, não à alma e espírito. Isto fica muito claro quando é feita menção da morte de Davi, como tendo dormido e visto a corrupção. Obviamente Davi era um homem salvo e sua alma e espírito não viram a corrupção, mas apenas o seu corpo material.

(At 13:36) “Porque, na verdade, tendo Davi no seu tempo servido conforme a vontade de Deus, dormiu, foi posto junto de seus pais e [seu corpo] viu a corrupção”.

(1 Co 15:42) “Assim também a ressurreição dentre os mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção”.

(At 2:31) “Nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno [hades], nem a sua carne viu a corrupção”. (Esta passagem deixa claro que nem uma coisa nem outra aconteceram com Jesus: ele nem foi para o hades e nem seu corpo se corrompeu).

Outras passagens que utilizam o verbo dormir para a morte dos santos, sempre relacionado ao corpo, como foi com Davi no versículo acima:

(1 Co 11:30) “Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem”.

(1 Co 15:20) “Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem”.

(1 Ts 4:15) “Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem”.

(1 Co 15:17-18) “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos”.

(2 Pe 3:4) “E dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais [patriarcas] dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação”.

Mas vamos voltar ao nosso assunto, que é a preciosa esperança que o crente pode ter de estar com Cristo imediatamente após sair desta vida pela morte, se o arrebatamento não vier primeiro. O crente não está aqui esperando pelo cumprimento de profecias do Antigo Testamento, pela vinda do Anticristo, pela concretização da apostasia, pela deterioração das condições do mundo, e nem pelo reino milenial de Jesus. A esperança do crente é estar com Cristo, assim como a noiva (que é um tipo da Igreja) espera pelo noivo, e não pela festa de casamento, cartório, presentes, etc. Se não for assim, tem alguma coisa muito errada com a noiva…

(1 Jo 3:2) “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos”.

(Rm 8:29) “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”.

Uma prévia do que seremos pode ser vista no monte da transfiguração, quando Moisés e Elias apareceram em glória juntamente com Jesus em Lucas 9:28-36. Os dois profetas de Deus estavam vivos, conscientes e foram imediatamente identificados, ou seja, não perderemos nossa identidade na glória. Eu serei eu, você será você e iremos nos reconhecer.

(1 Co 15:49) “E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial.

Porém isso é a condição na qual estaremos eternamente, o que ocorrerá após a ressurreição, quando o Senhor “transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp 3:21). De qualquer modo, isto deve ser o que almejamos, estarmos com Cristo, sermos transformados à semelhança dele e desfrutarmos de todas as bênçãos espirituais reservadas para nós nos lugares celestiais, as quais já são nossas graças à obra que ele consumou (Ef 1:3).

Não faria sentido o crente ser mandado para um lugar intermediário e não diretamente para a presença de Cristo depois de termos revelado o desejo de Deus a nosso respeito. Acaso faria sentido Estêvão ter a visão de Jesus esperando por ele à destra da majestade nas alturas e não ir diretamente para lá após seu apedrejamento?

(At 7:55-60) “Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus; e disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus. Mas eles gritaram com grande voz, taparam os seus ouvidos, e arremeteram unânimes contra ele. E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas capas aos pés de um jovem chamado Saulo. E apedrejaram a Estêvão que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu.

Fica muito claro nesta passagem que Estêvão não tem qualquer intenção de ver seu espírito ser lançado no hades, como pensam alguns ser este o estado intermediário entre a morte e o céu. “Senhor Jesus, recebe o meu espírito”, diz ele, após ver “os céus abertos, e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus”. Ele não diz para o Senhor receber o seu espírito depois de ele acordar ou sair do hades.

Seria um absurdo imaginar que Estêvão tivesse, ainda no corpo, um privilégio — ver o Senhor claramente no céu — que lhe seria negado imediatamente após sua morte, ou por ser lançado no hades para aguardar a ressurreição, ou por ficar em um estado de sono, como pensam alguns. Se a porção do crente já é Cristo, aqui e agora, de quem ele pode desfrutar a companhia, que estado intermediário seria esse inventado por hereges em que perderíamos esse privilégio até o dia ressurreição?

Todas as indicações do Senhor são de um desejo ardente de ter os seus consigo o tempo todo, e não adormecidos ou fazendo estágio no hades.

(Jo 12:26) “Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará”.

(Jo 14:3) “E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também”.

(Jo 17:24) “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo”.

Até mesmo enquanto estamos aqui neste corpo a exortação é para pensarmos no céu.

(Fp 3:20) “Mas a nossa cidade [‘cidadania’ ou ‘vocação’] está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,”.

(Co 1:4-5) “Porquanto ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus, e do amor que tendes para com todos os santos; Por causa da esperança que vos está reservada nos céus, da qual já antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho”,

(1 Pe 1:4) “Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós”,

Portanto, tudo aponta para o céu, seja nossa esperança, seja o desejo do Senhor para nós estarmos com ele, e isso imediatamente após nossa morte, se esta ocorrer antes do arrebatamento. Não há nada na Palavra de Deus que mostre o hades como destino da alma do crente, mas sim do incrédulo. Para o crente, nada poderá separá-lo daquele que o salvou: Jesus. Nem sequer a morte será capaz de fazer isso, supostamente lançando a alma do crente em um estado intermediário no hades ou em alguma espécie de sono.

(Rm 8:38-39) “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”.

Jesus não está no hades e eu também não pretendo fazer um estágio lá ausente da presença do Senhor.

*

Os santos podem interceder por nós?

Sim, mas apenas enquanto os “santos” estiverem vivos. Geralmente quando alguém pergunta isso está se referindo ao que o catolicismo chama de “santos”, ou seja, cristãos proeminentes que morreram e, através de uma decisão do clero, foram “canonizados” e passaram à categoria de “santos”, ou seja, espíritos capazes de operar milagres em favor dos vivos. A própria definição é falha, já que a Bíblia chama de “santos” a todos os que são da fé. Por exemplo, leia o início das epístolas e verá que elas eram dirigidas “aos santos que estão na igreja tal…”, ou seja, cristãos vivos, não mortos.

Falando especificamente de sua dúvida, não encontro na Bíblia algum tipo de “intercessão dos santos”, isto é, intercessão dos mortos pelos vivos a pedido destes. Aqueles que chamam a isso de “intercessão dos santos” não percebem que é praticamente a mesma doutrina professada pelo espiritismo, de buscar nos mortos ajuda para os vivos. Uma passagem usada pelo catolicismo romano para justificar orações feitas aos “santos” mortos é Jeremias 15:1:

Disseme, porém, o Senhor: Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, não estaria a minha alma com este povo; lança-os de diante da minha face, e saiam”.

A justificativa é que Deus estaria colocando a possibilidade de Moisés e Samuel, já mortos nessa ocasião, intercederem por Jerusalém. Penso que Deus está fazendo justamente o contrário. Os que usam este versículo nunca ouviram a expressão muito usada aqui no interior de São Paulo: “Ainda que a mula tussa…”. Não sei se mulas tossem, mas quando alguém diz isso não está colocando a possibilidade de fazer algo se a mula tossir, mas está dizendo simplesmente que algo não vai acontecer de maneira alguma. Sem chance!

Uma passagem semelhante é usada pelos pentecostais para justificar a ideia de que Paulo seria capaz de falar a língua dos anjos, sem perceberem que nem mesmo os anjos falavam língua de anjos quando se comunicaram com seres humanos na Bíblia.

(1 Co 13:1) “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”.

Outra passagem usada pelos católicos está em 2 Macabeus 15:12-15, mas como se trata de um livro apócrifo, que não faz parte sequer das Escrituras usadas pelos judeus, não há o que comentar. Macabeus são livros interessantes do ponto de vista histórico ou cultural, mas enquadram-se na mesma categoria das inserções apócrifas no livro de Daniel encontradas nas versões católicas da Bíblia. Veja se você consegue acreditar nesta passagem apócrifa de Daniel, a qual daria um bom tema para o próximo filme do Indiana Jones, algo do tipo, “Em busca do esqueleto do dragão”:

(Dn 14:23-27) “Havia um grande dragão adorado pelos babilônios. O rei disse a Daniel: — Não vás me dizer agora que este não seja um deus vivo! Pois, então, adore-o também! Daniel respondeu: — Só adoro ao Senhor meu Deus, porque é ele o Deus vivo! Se Tu, ó Rei, me deres licença, mato este dragão sem espada e sem porrete. — Pois dou a licença! Respondeu o rei. Daniel pegou piche, sebo e crinas, cozinhou tudo junto, fez com aquilo uns bolos que jogou na boca do dragão. Ele engoliu tudo aquilo e se arrebentou. Daniel disse, então: — Assim podeis ver o que estáveis cultuando!”.

Outra passagem usada para tentar comprovar a intercessão dos “santos” é a do Rico e Lázaro em Lucas 16:19-31. Ali o rico, sofrendo no hades, intercede junto a Abraão para que envie Lázaro para avisar seus irmãos que ainda estão vivos, antes que morram e sejam mandado para o sofrimento do hades. Existe um problema com essa tentativa de justificar a intercessão dos “santos”, e esse problema é que de santo o rico não tinha nada, e obviamente sua intercessão não é atendida, muito pelo contrário:

(Lc 16:31) “Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”.

Outra passagem utilizada é Apocalipse 5:8: “E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos”.

Tudo indica que essas “orações dos santos” sejam os clamores dos próprios mártires que serão mortos na Grande Tribulação, como parece ser também o caso em Apocalipse 6:

(Ap 6:9-10) “E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”.

Isso só mostra que mesmo nas esferas celestiais existe comunicação, e essa comunicação muitas vezes envolve os acontecimentos na terra, como também vemos nos primeiros capítulos do livro de Jó quando os anjos se apresentam diante de Deus. Mas são comunicações “internas”, por assim dizer, restritas à esfera celestial e não fazendo a ponte entre a terra e o céu. Neste caso de Apocalipse não se trata das orações dos santos que ainda estarão no mundo e estariam sendo intermediadas pelos santos que já terão morrido, mas simplesmente dos clamores dos que estarão na presença de Deus, isto é, suas próprias orações.

Resumindo, se a pergunta for: “Os que estão na presença de Deus podem se dirigir a Deus para pedir algo?”. Sim, evidentemente, e estes exemplos mostram isso. Mas se a pergunta for: “Posso orar aos que estão na presença de Deus para que intercedam por mim diante de Deus?”, aí a resposta é não, porque não existe qualquer indicação disso na Palavra de Deus.

Além do mais, quem precisa ir a um intermediário quando o próprio Senhor, o Filho Eterno de Deus, nos franqueou acesso total e irrestrito ao Pai por intermédio dele? Se o presidente do país disser a você que pode ligar para ele a qualquer hora do dia ou da noite, por que você iria ligar para um office-boy do Palácio do Planalto? Você só faria isso se não acreditasse na palavra do presidente…

(Mt 11:28) “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”.

(Jo 14:13) “E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho”.

(Jo 15:16) “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda”.

(1 Tm 2:5) “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem”.

Já a intercessão de santos vivos por outros santos vivos ou mesmo por incrédulos vivos é algo que devemos praticar sempre. A Bíblia está cheia de exemplos assim. Também vemos exemplos de cristãos pedindo que outros intercedam por eles diante do Pai:

(2 Ts 3:1) “No demais, irmãos, rogai por nós, para que a palavra do Senhor tenha livre curso e seja glorificada, como também o é entre vós;”.

(Tg 5:16) “Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos”.

(At 12:5) “Pedro, pois, era guardado na prisão; mas a igreja fazia contínua oração por ele a Deus”.

Devemos, portanto, interceder a Deus pelos vivos, mas jamais pelos mortos. Os que morreram na fé estão 100% salvos e não necessitam de orações. Os que morreram sem crer tiveram sua oportunidade de serem salvos e ao rejeitarem a Cristo selaram seu destino. Não há oração que os faça mudar de lugar, e nem eles iriam querer isso. Já reparou que o rico, no hades, pede para Abraão enviar Lázaro lá, mas em nenhum momento pede para sair dali? A presença de Deus seria um inferno para quem escolheu ficar eternamente longe dele.

Para reforçar o fato de jamais orarmos aos mortos para intercederem por nós junto a Deus, deixo este versículo:

(Is 8:19) “Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos?”.

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A árvore de natal me deixa vulnerável aos demônios?

Você contou que recebeu um e-mail “falando sobre arvores e enfeites de natal que são portas de entrada para demônios numa casa por ser o natal uma festa de origem pagã, e segundo esse e-mail não devemos ter essa “porta” aberta pois através dela daremos “legalidade” ou permissão para agirem na nossa vida”.

Não vá muito atrás dessas mensagens e dos pregadores que costumam coar o mosquito e engolir o camelo. Geralmente eles acabam substituindo uma superstição por outra, alguns com boas intenções, mas outros apenas para criar uma superstição e colocar medo em seus seguidores a fim de mantê-los na rédea curta.

Vivemos cercados por símbolos pagãos, mas isso não significa que ficamos vulneráveis ao diabo. Quer um exemplo? Olhe para sua carteira de identidade. O “Brasão de Armas do Brasil” traz uma grande estrela de cinco pontas, com um círculo interno contendo 27 estrelas de cinco pontas, mais as cinco estrelas que representam o Cruzeiro do Sul e mais uma estrelinha sobre fundo vermelho na base. No total são 34 estrelas de cinco pontas.

Qualquer bruxo sabe que a estrela de cinco pontas é um antigo símbolo pagão que representava a deusa romana Vênus, e também os cinco elementos: terra, fogo, água, ar e um espírito que cuidaria de tudo isso. Em rituais de magia ela também é usada para representar o diabo, pois é possível enxergá-la como a face de um bode. Se levar ao pé da letra o que o autor do e-mail disse a você, de que um símbolo pagão em sua casa dá “legalidade” ao diabo para agir em sua vida, você jamais deveria usar uma carteira de identidade ou qualquer documento brasileiro, ou andará com o diabo no bolso.

Até mesmo o dinheiro traz a estrela de cinco pontas e se quisesse seguir à risca a separação dos símbolos pagãos você deveria livrar-se dele (Sugestão: se for jogar fora seu dinheiro, mande para mim…). Cédulas de dólar, então, são campeãs nisso, com diversos símbolos pagãos e maçons (aceito dólares também…). Se você for médica deve ter algum documento com aquela serpente entrelaçada, símbolo do deus grego Esculápio. Se for contabilista, terá algum documento com duas serpentes entrelaçadas e encabeçadas por um elmo alado, símbolo do deus romano Mercúrio.

Isso sem falar das marcas. Usa tênis Nike? A marca representa a deusa grega alada da vitória, equivalente à deusa Vitória dos romanos (estou precisando de um Nike…). Gosta de chocolate? A palavra “cacau” vem de uma deusa maia (por favor, só mande para mim se não for ao leite…). Sua câmera é Olympus? Então você leva todo o monte dos deuses gregos com você quando sai de férias (bem que estou precisando de uma câmera nova…). Usa camisa Polo? É o nome de um deus indígena (eu uso, pode enviar se for GG). Se morar em Tupã, idem, portanto é melhor se mudar de cidade. Espero que não goste de comer Pirarucu, o deus do mal que mora no fundo das águas (vem com pirão? Humm….!). E nem Açaí, outro nome de deusa (lá se vai o regime…).

Aquele calendário que tem na parede, então… é melhor queimá-lo! (Não vá fazer isso, estou sendo sarcástico). Janeiro (Jano, deus romano), Fevereiro (Februs, deus etrusco), Março (Marte, romano), Abril (Aprus, etrusco), Maio (Maya), Junho (Juno, mulher de Júpiter), Julho (do imperador-deus romano Júlio César). Como pode ver, se quiséssemos viver sem contato com símbolos pagãos, “teríamos que sair do mundo”, usando a expressão do apóstolo ao falar de como lidar com nosso convívio com pessoas incrédulas.

Quer dizer então que está tudo liberado e que posso até comer galinha e farofa de encruzilhada que não me fará mal algum? Não é bem assim. Quero apenas mostrar que alguns pregadores exageram ao encher de terror seus seguidores para manter controle sobre eles criando novas superstições. Mas faremos bem em evitar os símbolos pagãos sempre que possível, pois apesar de eles, por si só, não poderem nos fazer mal, nossa associação com eles pode escandalizar alguns irmãos mais sensíveis.

O capítulo 8 de 1 Coríntios explica bem isso. O cenário é o seguinte: os coríntios eram em sua maioria pagãos convertidos a Cristo, que continuavam vivendo em uma sociedade pagã (Corinto ficava na Grécia), cercados de parentes e amigos pagãos, templos pagãos, rituais pagãos, etc.

Não é bem o que vivemos no Ocidente cristianizado, pois aqui raramente você encontra um paganismo puro como era então. Aqui os deuses e símbolos pagãos foram “cristianizados” para serem mais bem aceitos, e isso vai desde as imagens católicas até os deuses do candomblé, rebatizados com nomes de “santos” católicos. Mas se você viajar para países como Índia, Burma, Nepal, Butão, etc. sentirá na pele o que é viver em um ambiente pagão.

Portanto em Corinto havia um problema: como um ex-pagão convertido a Cristo deveria agir em relação à carne que tinha sido sacrificada aos ídolos pagãos? Pense na galinha de encruzilhada ou no bode sacrificado nos rituais de macumba. Caso a carne estivesse em bom estado e fosse depois vendida no açougue ou servida em um churrasco para o qual você fosse convidado, faria mal você consumi-la sabendo sua origem? Vamos ver o que a Palavra de Deus diz:

(1 Co 8:4) “Assim que, quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só. Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores), Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele”.

Para o cristão, o ídolo (a imagem para a qual os animais foram oferecidos) não representa deus algum, pois há um só Deus. Porém atrás do ídolo existe um demônio, para o qual a carne foi apresentada em oferenda, mas esse demônio tem poder apenas sobre aqueles que consideram o ídolo alguma coisa, ou seja, os idólatras. Afinal de contas, alguém que faz suas orações a um ídolo, louva um ídolo ou adora um ídolo está acreditando que existe alguém ali para responder suas orações e corresponder à sua adoração. Esse alguém por detrás do ídolo, não importa qual o nome que a pessoa dê a ele, é um demônio.

(1 Co 10:19) “Mas que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus”.

O verdadeiro crente em Cristo está, portanto, livre da influência do demônio que pode estar representado pelo ídolo ou pela carne sacrificada. Isto quer dizer que ele pode ter em casa símbolos ou ídolos pagãos ou comer de carnes sacrificadas a eles? Vamos continuar vendo o que nos ensina a Palavra de Deus:

(1 Co 8:10) “Porque, se alguém te vir a ti, que tens ciência [conhecimento, que é esclarecido], sentado à mesa no templo dos ídolos, não será a consciência do que é fraco induzida a comer das coisas sacrificadas aos ídolos? E pela tua ciência [conhecimento] perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu. Ora, pecando assim contra os irmãos, e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo. Por isso, se a comida escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize”.

Alguém que já tenha um bom conhecimento de que o ídolo nada é ou a carne sacrificada ao ídolo não tem influência alguma sobre si está, obviamente, imune a qualquer problema que tal ídolo ou demônio possa lhe causar. Mas se um recém convertido do paganismo, que ainda não está bem firme nas verdades do cristianismo, encontrar esse cristão comendo carne que foi sacrificada a ídolos, ele pode ficar confuso. Em sua mente ainda está muito fresca a ideia de que o ídolo é alguma coisa, que tem poder, etc., e quando vê um irmão fazer isso, talvez se escandalize.

Por isso devemos evitar tudo o que venha a escandalizar um irmão. Se um cristão possui em sua casa alguma estatueta antiga representando um ídolo, mas que está ali apenas como objeto de decoração, algum irmão recém convertido que entre em sua casa pode ficar com dúvidas achando que o irmão colocou aquilo para trazer sorte ou proteção. Aí ele poderá até fazer o mesmo em sua própria casa, porém da maneira errada, ou então ficar de alguma outra maneira escandalizado com isso. Veja que isso depende muito do contexto cultural. Nenhum brasileiro ficaria chocado de encontrar na casa de um cristão um troféu, apesar de muitos deles serem estatuetas de deuses gregos ou romanos. A pessoa imediatamente identificará aquilo como um troféu, não como um ídolo.

Na carta aos Romanos Paulo tratou do mesmo assunto relacionado à comida, pois ocorriam problemas com judeus convertidos ao cristianismo. Comer presunto perto de um judeu recém convertido (os judeus não comem carne de porco) poderia escandalizá-lo e levá-lo a tropeçar. O que fazer então? Não comer de modo algum ou evitar fazê-lo na frente dele. O mesmo com o vinho na frente de um irmão que se converteu e deixou o vício da embriaguez, ou jogar cartas perto de um irmão que teve problemas com vício de jogo (já sei o que vai dizer, que o baralho também tem símbolos pagãos). Você pode imaginar aqui qualquer situação que seja. É por amor pelos irmãos que deixamos de fazer algumas coisas. O amor, e não uma lista de regras, superstições ou pavores colocados pelos líderes religiosos, é o que deve mover o cristão.

(1 Co 6:12; 10:23) “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma. Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam”.

(Rm 14:14-15) “Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda. Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu”.

(Rm 14:19-23) “Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros. Não destruas por causa da comida a obra de Deus. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo. Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça. Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado”.

Mas vamos tratar agora especificamente da árvore de natal, que foi a origem de sua dúvida. O natal, como festa religiosa, foi emprestado do paganismo, portanto não se trata de uma comemoração que os cristãos devem celebrar, mesmo sob o pretexto de fazerem isso para Deus. Eu nunca tive árvore ou enfeites de natal em minha casa porque sei de suas origens pagãs e de como isso foi “cristianizado” para satisfazer os pagãos convertidos ao cristianismo.

Mas não tenho problemas com cristãos que fazem árvore de natal ou até mesmo celebram o natal de alguma maneira. Minha mãe, por exemplo, mesmo depois de convertida continuou montando a árvore de natal e promovendo um jantar para toda a família na noite de 24 de dezembro. Ela já não fazia isso como uma festa religiosa, mas apenas como uma tradição de família para reunir os filhos e netos. Muitos fazem assim e deixo a questão para a consciência de cada um. Eu mesmo já errei muito no início de minha conversão por fazer do natal um motivo de batalha que nunca levava as pessoas a buscarem a Cristo, mas só a afastá-las ainda mais dele.

Portanto, se não precisar armar uma árvore de natal por questões de família, tradição ou até de trabalho, então economize seu tempo e dinheiro nisso. Se precisar fazê-lo por um dos motivos acima e até como forma de preservar a paz na família, então peça a direção do Senhor de como deve proceder. Seja como for, como celebração religiosa, e muito menos como celebração da igreja, o natal não tem seu lugar. O problema do natal ou da árvore e enfeites utilizados não está nas coisas em si, mas no fato de serem usados como celebração cristã, o que não tem fundamento bíblico.

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Um crente pode perder o Espírito Santo?

Jamais! Se a salvação e o Espírito Santo tivessem sido conquistados pelo crente, por sua fidelidade, boas obras ou esforço próprio, então obviamente ele poderia perder tanto a salvação quanto o Espírito Santo.

Mas quando entendemos que nossa salvação começou muito antes de nossa existência, ou melhor, antes até da existência do mundo, e que o selo do Espírito nos foi dado por Deus como garantia dessa obra que ele executa em nós, então não há o menor risco de um crente em Jesus perder o Espírito Santo ou a salvação.

Obviamente estou falando aqui de pessoas salvas pela fé em Jesus, e não aquelas que adotaram uma religião ou apenas chegaram ao conhecimento da verdade ou experimentaram os benefícios da ação do Espírito Santo, como aconteceu com os judeus que conviveram com Jesus e são descritos no versículo abaixo:

(Hb 6:4-6) “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo. E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério”.

Um bom exemplo das pessoas descritas no versículo acima é Judas, que teve tudo isso, mas nunca creu verdadeiramente e nem foi habitado pelo Espírito Santo (o que só veio acontecer na formação da Igreja em Atos 2 com os verdadeiros salvos).

Portanto, para entender por que a salvação é algo definitivo e impossível de se perder, é preciso entender que ela não começou no momento em que cremos, mas muitas eras antes. Veja este verso:

(Jo 17:2-3) “Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.

(Ef 1:4) “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;”.

(Jo 15:16) “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça”.

Portanto, não houve um dia quando tivemos a grande ideia de crer em Jesus. A história da salvação de cada um começou antes dos tempos, na glória, quando o Pai deu ao Filho aqueles que haveriam de crer nele. Então, depois de consumada a obra com a morte e ressurreição de Jesus, o Espírito Santo encheu aquele que haveria de crer em Cristo com a água da Palavra e o Senhor a transformou em vida, como é figurado nas bodas de Caná (João 2).

Uma vez que recebeu vida do alto (novo nascimento), aquele que outrora fora inimigo de Deus e incapaz de buscar a Deus (como nos ensina Romanos 2), reconheceu o seu pecado (convencido pelo Espírito) e assim creu em Jesus, sendo então selado com o Espírito Santo da promessa. O selo do Espírito é a garantia de Deus de que tal pessoa jamais se perderá, assim como uma carta é selada para garantir sua chegada ao destino.

(Ef 1:13-14) “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor (garantia) da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória”.

Não somos nós que nos selamos, mas Deus é quem faz isso.

(2 Co 1:21-22) “Mas o que nos confirma convosco em Cristo, e o que nos ungiu, é Deus, O qual também nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações”.

(2 Co 5:5) “Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito”.

Em todo o processo da salvação, da eleição, passando pelo novo nascimento e até a chegada no céu, não há um átomo sequer de obra humana, pois se houvesse, teríamos de que nos gloriar.

(Ef 2:8-9) “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie;”.

(Ef 4:30) “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção” (ou dia do resgate).

Portanto o selo do Espírito é a garantia dada por Deus de que os que são selados serão resgatados e levados para o céu. É Deus quem sela e quem garante, não é aquele que recebe o selo que garante isso com sua perseverança. Você já viu alguém ir ao correio, ter sua carta selada, e depois ir embora com a carta na mão para viajar até seu destino para entregá-la? Não, é o Correio que garante a chegada dela ao destino e a garantia é o selo.

Se o crente pudesse perder a salvação ou o Espírito Santo isso seria uma quebra no contrato, não do crente, mas de Deus, pois foi ele quem prometeu nos salvar.

(Rm 11:29) “Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento”.

O selo pode também ser visto sob outro aspecto, pois nos tempos em que foi escrito o Novo Testamento ainda não existiam os selos postais de hoje. Mas existia o selo da autoridade. Quando uma autoridade lavrava um documento, ela costumava “carimbar” com seu anel ou selo o documento.

Em algumas épocas isso era feito sobre um lacre que era derretido e pingado sobre o documento e marcado com o anel da autoridade antes de esfriar e endurecer, ou era como um carimbo mesmo aplicado sobre o documento com algum tipo de tinta. O selo tinha o objetivo de autenticidade, de provar que aquele documento ou o que quer que fosse pertencia àquela autoridade.

Era o equivalente ao “registro em cartório” que fazemos hoje. Quando alguém registra uma propriedade física ou intelectual, fica determinado que aquilo pertence a essa pessoa. Assim é o selo do Espírito no crente: ele não pertence mais a si mesmo, mas a Deus, que o selou.

(1 Co 6:19-20) “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”.

(Jo 10:28-30) “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um”.

Mas como ter certeza de que serei mantido íntegro até a vinda de Jesus para me buscar? É o Senhor quem faz essa obra também.

(1 Ts 3:12-13) “E o Senhor vos aumente, e faça crescer em amor uns para com os outros, e para com todos, como também o fazemos para convosco; Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos”.

Acreditar que se pode perder a salvação e o Espírito Santo é falta de confiança em Deus. É acreditar que Deus não é totalmente responsável por nossa salvação, mas que deixou algo para nós fazermos, o que nos tornaria co-salvadores com Cristo de nós mesmos. Se assim fosse não estaríamos totalmente perdidos, mas só 90% perdidos, ficando essa parte para Cristo nos salvar e 10% dependente de nós mesmos.

E o que dizer então daqueles que por tanto tempo caminham como cristãos e depois voltam ao que eram ou se transformam até em algo pior? A Bíblia responde:

(1 Jo 2:19) “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós”.

Da impossibilidade de um eleito de Deus ser totalmente desviado e perdido, o Senhor demonstrou com suas palavras nesta passagem:

(Mt 24:24) “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos”.

É preciso entender que o crente em Jesus passou para outro terreno, que é o da vida eterna, para o qual já não há juízo ou condenação. Veja que o verbo “passar” aqui aparece no passado, como algo já realizado para aquele que creu na Palavra de Deus:

(Jo 5:24) “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”.

Se a vontade própria do crente fosse forte o suficiente para desviar-se a ponto de perder sua salvação, então sua vontade seria mais forte que a vontade de Deus, o que é totalmente impossível.

(Jo 6:39-40) “E a vontade do Pai que me enviou é esta: que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”.

De todas estas passagens, nenhuma talvez seja tão veemente quanto Romanos 8 para mostrar a imutabilidade de nossa salvação. Longe de ser uma atitude humilde, o crente que acha que pode perder sua salvação ainda não descansou totalmente na obra de Cristo.

(Rm 8:28-39) E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito [de Deus]. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? [Nem eu posso ser contra mim mesmo!!].

Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou [não por nós mesmos]. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”.

Abaixo alguns versículos que nos dão a certeza da salvação eterna e inabalável que temos depois que cremos em Jesus:

(1 Jo 2:19) “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós”.

(Mt 24:23-25) “Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui ou ali, não lhe deis crédito, porque surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão tão grandes sinais e prodígios, que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis que eu vo-lo tenho predito”.

(Jo 5:24) “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”.

(Jo 6:37-39) “Tudo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai, que me enviou, é esta: que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último Dia”.

(Jo 10:3-5) “A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas, de modo nenhum, seguirão o estranho; antes, fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”.

(Jo 10:27-29) “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai”.

(Rm 8:1-2) “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.

(Rm 8:33) “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica”.

(Rm 11:29) “Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento”.

(1 Co 1:8) “o qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo”.

(1 Co 3:15) “Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo”.

(2 Co 1:21-22) “Mas o que nos confirma convosco em Cristo e o que nos ungiu é Deus, o qual também nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações”.

(2 Co 5:5) “Ora, quem para isso mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito”.

(Ef 1:14) “o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para louvor da sua glória”.

(Fp 1:6) “Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo”.

(Cl 3:4) “Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com ele em glória”.

(1 Ts 5:23) “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”.

(1 Ts 5:24) “Fiel é o que vos chama, o qual também o fará”.

(Hb 10:14) “Porque, com uma só oblação, aperfeiçoou para sempre os que são santificados”.

(Hb 10:39) “Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma”.

(1 Jo 3:9) “Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus”.

(1 Jo 5:4) “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”.

(1 Jo 5:13) “Estas coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna e para que creiais no nome do Filho de Deus”.

(1 Jo 5:18) “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca”.

(1 Pe 1:5) “que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no último tempo”.

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A mulher de Apocalipse 12 é Maria?

Não existe qualquer respaldo bíblico para se considerar a mulher de Apocalipse 12 como representando Maria, mãe de Jesus. E também não há, na Palavra de Deus, qualquer menção a Maria como sendo a mãe da igreja, conforme você afirmou. A igreja é formada pelos salvos por Jesus, portanto Maria era, ela própria, um membro do corpo de Cristo.

A mulher de Ap 12 representa a nação de Israel, que é mostrada no Antigo Testamento como esposa de Deus (o livro de Cantares ou Cântico dos Cânticos é um exemplo disso).

(Is 54:1-8) “Cante, ó estéril, você que nunca teve um filho; irrompa em canto, grite de alegria, você que nunca esteve em trabalho de parto; porque mais são os filhos da mulher abandonada do que os daquela que tem marido”, diz o Senhor. Alargue o lugar de sua tenda, estenda bem as cortinas de sua tenda, não o impeça; estique suas cordas, firme suas estacas. Pois você se estenderá para a direita e para a esquerda; seus descendentes desapossarão nações e se instalarão em suas cidades abandonadas. Não tenha medo; você não sofrerá vergonha. Não tema o constrangimento; você não será humilhada. Você esquecerá a vergonha de sua juventude e não se lembrará mais da humilhação de sua viuvez. Pois o seu Criador é o seu marido, o Senhor dos Exércitos é o seu nome, o Santo de Israel é seu Redentor; ele é chamado o Deus de toda a terra. O Senhor chamará você de volta como se você fosse uma mulher abandonada e aflita de espírito, uma mulher que se casou nova, apenas para ser rejeitada, diz o seu Deus. Por um breve instante eu a abandonei, mas com profunda compaixão eu a trarei de volta. Num impulso de indignação escondi de você por um instante o meu rosto, mas com bondade eterna terei compaixão de você”, diz o Senhor, o seu Redentor”.

A passagem de Apocalipse 12 mostra Israel, com as doze tribos representadas pelas doze estrelas, como gerando o filho que viria a reger as nações com vara de ferro, isto é, Jesus. Esse filho, porém, foi levado para Deus (a ressurreição de Jesus), portanto o seu reinado com vara de ferro é ainda futuro, já que enquanto esteve aqui Jesus foi manso e humilde, nem um pouco a imagem de um rei severo.

Na ausência do filho, a mulher (Israel) foge para o deserto para ser mantida por Deus por três anos e meio. Enquanto isso vemos irromper uma batalha nos céus e o diabo é lançado na terra junto com seus anjos, passando a perseguir o remanescente fiel de Israel. Em nenhum momento a passagem fala da morte de Jesus e tampouco menciona a Igreja. Devemos nos lembrar que o objeto da profecia é Israel, nunca a Igreja. Cronologicamente falando, a Igreja deixa de ser mencionada no capítulo 3 de Apocalipse, sendo os primeiros versículos do capítulo 4 uma alusão ao arrebatamento. A partir daí João, representando os salvos desta dispensação, passa a assistir do céu o que vai acontecer na terra. A Igreja só voltará a ser vista no final do livro de Apocalipse, por ocasião das bodas do Cordeiro.

Outra evidência de Israel como sendo a mulher de Apocalipse 12 está no sonho de José, quando sua mãe (juntamente com seu pai) surgem como a origem de Israel (o nome de Jacó foi mudado para Israel). As doze estrelas (onze mais José) são as doze tribos de Israel.

(Gn 37:9-10) “Depois teve outro sonho e o contou aos seus irmãos: ‘Tive outro sonho, e desta vez o sol, a lua e onze estrelas se curvavam diante de mim. Quando o contou ao pai e aos irmãos, o pai o repreendeu e lhe disse: ‘Que sonho foi esse que você teve? Será que eu, sua mãe, e seus irmãos viremos a nos curvar até o chão diante de você?’”.

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Como pode haver joio no reino dos céus se existem condições para se entrar nele?

Sua dúvida é por encontrar passagens que mostram que o mal entrou no reino dos céus, enquanto em outras o Senhor ensina condições rigorosas para se fazer parte dele. É importante que você tenha entendido que o “reino dos céus” não é o céu. Agora é preciso entender que ele existe sob diferentes aspectos e em diferentes momentos. Para melhor explicar isso vou traduzir um texto do “Concise Bible Dictionary” que mostra bem a diferença entre o Reino dos Céus em seu caráter atual e em seu derradeiro caráter, para o qual o Senhor estabelece algumas condições para se fazer parte dele:

Em Daniel 2:44 está previsto que “nos dias desses reis [as dez divisões do quarto reino, o Império Romano revivido], o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre” (veja também Daniel 7). O “reino dos céus” foi anunciado por João Batista e pelo Senhor como estando “próximo” (Mt 3:2; 4:17), mas o Senhor declarou que “chegou a vocês o reino de Deus” (Mt 12:28). Em muitos aspectos as duas expressões são idênticas, mas o “reino dos céus” ocorre no evangelho de Mateus somente, e está em contraste com a presença do Messias na terra. Ele se refere às regras daquilo que Deus estabeleceu nos céus, e começou quando Cristo foi para os céus. Ele pode ser ilustrado pelas luzes que Deus colocou nos céus para proporcionarem luz e governarem a terra. O “reino de Deus” está mais conectado com o estado moral estabelecido no homem.

Quando os judeus rejeitaram seu rei, o reino não foi estabelecido de forma manifesta naquele tempo e continua assim mantido em oculto. Enquanto isso se trata do reino e da paciência de Jesus Cristo (Ap 1:9). Cristo é representado como tendo partido para receber o reino, e então retornar (Lc 19:12). Enquanto isso o reino tem existido em uma forma misteriosa (Mt 13:11). Existem multidões que professam obediência a Deus e ao Senhor Jesus, e que buscam nos céus pelo trono de onde vêm todas as bênçãos, enquanto vivem em um mundo no qual Satanás é deus e príncipe. Mas para os santos, o reino de Deus é bem real. Pela fé eles o veem em seu poder. Justiça, paz e alegria são características do reino e já pertencem aos santos que desfrutam do Espírito Santo (Rm 14:17). É neste sentido que o reino de Deus costuma ser mencionado nas epístolas. Uma pessoa precisa nascer de novo para entrar no reino (Jo 3:3-5), mas esta ideia é distinta da forma que o reino assumiu no presente, e das dimensões que ele toma nas mãos dos homens.

As parábolas nos evangelhos descrevem a forma e objetivo do reino enquanto o Senhor está ausente. Em Mateus 13 o Senhor fala quatro parábolas às multidões; então ele dispensa o povo e explica a parábola do joio e do trigo aos seus discípulos, acrescentando três parábolas relacionadas ao caráter secreto do reino. Ali é demonstrado que o mal seria encontrado no reino, mas que Cristo eventualmente enviaria os seus anjos para recolher de seu reino tudo o que fosse ofensivo; então o reino seria estabelecido em poder pelo Senhor Jesus assentando-se em seu próprio trono, e reinando supremo como Filho do homem sobre a terra, terminando com ele entregando o reino ao Pai, para que Deus seja tudo em todos (1 Co 15:24, 28). As características morais adequadas ao reino são dadas no Sermão da Montanha, e seus princípios e sua ordem em Mateus 18.

O reino não deve ser confundido com a igreja. No reino o trigo e o joio crescem juntos até a colheita, mas na igreja uma pessoa ímpia deve ser colocada fora da comunhão (1 Co 5:13). Pode parecer que existe uma semelhança entre a igreja professa e o reino, mas as ideias não são as mesmas. O reino é a esfera do governo de Cristo, enquanto a igreja é o lugar da habitação de Deus pelo Espírito. Tampouco o tempo da igreja e do reino na terra são os mesmos: o reino será estabelecido em poder após o arrebatamento da igreja, e continuará durante o milênio. O cristão, além de compartilhar dos privilégios da igreja, também tem privilégios e responsabilidades relacionados ao reino. A cada indivíduo é dado uma “mina” ou dinheiro (Lc 19:12-24), ou, sob outro aspecto, um ou mais talentos (Mt 25:14-28), sendo ele responsável em utilizá-lo para seu Senhor e Mestre, e do qual ele terá de prestar contas no futuro. O lugar do cristão no céu é por graça, independente de suas obras, mas sua recompensa ou galardão no reino será de acordo com sua fidelidade ao seu Senhor.

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Um cristão pode ser ator ou atriz?

Esta não é uma pergunta simples de ser respondida com um “sim” ou “não”, e o mesmo acontece com qualquer profissão. Porém, considerando o rumo que as artes cênicas tomaram nos últimos anos com o advento do cinema e da TV, é preciso um cuidado maior antes de enveredar por uma carreira que pode trazer problemas à vida e ao testemunho cristão.

Houve um tempo em que a profissão de ator se restringia ao teatro e era muito mais uma atuação vocal do que corporal. Basta ver um clássico no teatro ou um filme antigo para perceber que tudo girava em torno de diálogos, com pouca ou nenhuma interação ou ação entre os atores. Já o teatro e o cinema modernos exigem muita ação e sensualidade de seus atores para competir no mercado. Como um cristão iria lidar com uma cena de sexo ou de violência e qual a sua responsabilidade no impacto que isso teria na audiência? Qual o impacto que isso teria em sua própria vida cristã? Quem está ou pretende entrar nessa carreira deve buscar a resposta a essas perguntas.

Em toda profissão é possível ser fiel ao Senhor ou infiel. Um comerciante pode ser desonesto nos preços que pratica ou no recolhimento dos impostos; um médico pode fazer cirurgias desnecessárias apenas para aumentar seus ganhos; um policial pode aceitar propinas para fechar os olhos para atividades criminosas; um advogado pode mentir para garantir o sucesso de seus processos; um professor pode seduzir suas alunas… a lista é infinita. Obviamente em todas essas profissões é possível ser fiel ao Senhor e ao mesmo tempo bem sucedido profissionalmente, porque nelas geralmente existe um consenso de que o errado é errado. O próprio mercado acaba rejeitando profissionais desonestos.

Mas na profissão de ator, o crime, a mentira, o adultério, a perversão e toda sorte de erros podem ser apenas o enredo do papel que ele está representando e essa atuação ser uma exigência para ele exercer sua profissão. Na atuação existe uma espécie de contrato entre o ator e o público de que aquilo tudo é apenas encenação, de que nada daquilo é real. É mais ou menos como quando meninos brincam de bang-bang ou meninas brincam de casinha com suas bonecas. É comum em entrevistas os atores falarem de seu personagem como alguém que não tem nada a ver com ele, como se o próprio ator fosse também um mero espectador. Mas será que, no caso do teatro ou do cinema, os atores e audiência realmente sentem que é “de brincadeira” na prática? Será que eles não incorporam realmente os personagens, passando a sentir e pensar como eles?

Uma cena de sexo, por mais fictícia que seja, irá despertar desejos e pensamentos lascivos na audiência, ou até mesmo do ator. Por mais que um ator declare que se trata de um trabalho profissional e que ele não sente nada, se ele for feito do mesmo material que eu sou feito, não posso acreditar no que diz. Não raro vemos atores e atrizes que se divorciam de seus cônjuges para ficarem com o parceiro do último filme no qual fizeram cenas de amor juntos. O sexo cenográfico acabou se transformando em sexo na vida real. Mesmo que o ator ou atriz procure escolher seus papéis, às vezes o mero contato físico de um beijo enamorado pode gerar problemas, tanto em seu testemunho cristão como em sua vida pessoal. Considere este versículo: (1 Co 7:1) “Ora, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher”.

Uma cena de violência pode impressionar crianças, jovens e adultos mais influenciáveis a agir de modo semelhante. O grande problema da atuação, como ocorre também em outras atividades artísticas, é trabalhar os sentidos, e geralmente os sentidos mais primitivos do ser humano, aqueles que estão mais associados à carne e ao homem natural. A maioria das peças e filmes exige um enredo que tenha drama, sexo e violência, e aí a responsabilidade do cristão que atua nesse mercado é estendida ao roteirista, produtor, diretor e até ao cinegrafista. Todos têm sua parcela de responsabilidade naquilo que será apresentado ao público.

1 Coríntios 10:31 diz: “Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus. Não se tornem motivo de tropeço, nem para judeus, nem para gregos, nem para a igreja de Deus”.

Será que eu posso participar de tudo isso para a glória de Deus? Será que meu roteiro, direção, atuação ou ângulo escolhido para a câmera pode fazer alguém tropeçar? Esta pergunta deve estar bem clara na mente daqueles cristãos que trabalham ou pretendem trabalhar com artes cênicas.

Talvez alguém tente se justificar dizendo que pretende ser ator para trabalhar em peças, séries e filmes cristãos, mas eu diria que aí a armadilha é mais sutil, principalmente se tratar de temas bíblicos. A maior parte das peças e filmes cristãos é obrigada a apelar para situações e personagens fictícios para costurar o enredo, o que na maioria das vezes acaba adulterando completamente o sentido do texto bíblico. Em um desenho animado “cristão” vi o cachorro, e não o pai, sair ao encontro do filho pródigo que voltou para casa. A beleza e simbolismo da cena bíblica na qual o pai sai correndo e abraça o filho foi perdida e trocada por um cão lambendo o rosto do rapaz.

O meio comercial e empresarial pode conter muita coisa errada, mas o meio artístico parece promover um estilo de vida libertino que é em muitos aspectos contrário à Palavra de Deus. Como lidar com isso conhecendo a Palavra de Deus? 1 Coríntios 15:33 admoesta o cristão: “Não se deixem enganar: as más companhias corrompem os bons costumes”. É preciso levar em conta também que artistas costumam ser tomados como exemplo pelas novas gerações, e até onde o estilo de vida do ator poderá corromper os jovens? Como o ator cristão irá lidar com isso tendo em vista Filipenses 4:8, que diz: “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”. Veja o que o Senhor pensa daqueles que influenciam negativamente as crianças: (Mt 18:6) “Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar”.

Minha profissão como palestrante exige em alguns momentos que eu também seja ator ou represente os casos e histórias que conto no palco. Procuro manter uma vigilância constante sobre o que falo e o impacto que causo na audiência, para evitar ser levado pelo calor do momento e pelo desejo de agradar a audiência, ultrapassando os limites daquilo que é considerado apropriado ao testemunho cristão. É fácil se deixar levar pelo momento e partir para a malícia ou para a pura baixaria. Veja que estou falando de apresentações empresariais com temas como marketing, vendas, administração, etc. É fácil nesta profissão encontrar palestrantes que falam palavrões, contam anedotas de cunho sexual ou humilham pessoas da audiência. Felizmente, em prol do politicamente correto as empresas hoje estão mais atentas a isso e buscam por profissionais que não tenham esse tipo de conteúdo em suas palestras.

Não posso dizer que seja impossível para um cristão ser ator, pois os mesmos princípios que se aplicam a outras profissões podem ser aplicados ao cristão que atua no teatro, cinema ou TV. Por exemplo, muita gente ganha a vida trabalhando em peças e filmes educativos ou infantis, desprovidos de malícia ou violência. Existem atores que se especializam em atender o mercado empresarial com vídeos de treinamento, ou comerciais para a TV e fotos publicitárias para revistas. Há ainda atores e narradores de documentários, um gênero que cresceu bastante nos últimos anos graças à TV paga. É mais ou menos como ser músico: existe o músico que toca em boate e existe o músico que cria jingles.

Cabe ao artista cristão orar e pedir sabedoria ao Senhor se deve ou não atuar na profissão, como um todo, ou em determinados trabalhos em particular. Mas ele deve desde o início estar ciente de que dificilmente será uma celebridade se quiser dar um bom testemunho cristão, pois o mercado irá pressioná-lo a transpor seus limites. Eu coloquei limites em minha profissão — por exemplo, não fazer palestras para fabricantes de cigarros e armas, organizações religiosas e em eventos de cunho político. Tenho minhas razões para isso e obviamente já perdi várias oportunidades de ganhar dinheiro por conta desse meu posicionamento. Mas tenho certeza de que foi o Senhor quem abriu outras portas para compensar isso, portas que provavelmente não se abririam se eu não tivesse essa preocupação com o testemunho.

O sustento do cristão vem do Senhor e isso deve ficar muito claro em sua mente. Se o meu sustento vier de atividades ilícitas ou que comprometam meu testemunho cristão neste mundo, isso terá um preço e no frigir dos ovos eu, um dia, acabarei descobrindo que não valeu a pena. Então terei consciência de que alguns poucos anos de sucesso aos olhos do mundo nada são comparados com a eternidade.

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Os beijos entre Davi e Jonatas provam que eles eram homossexuais?

Depois de ler o texto “Davi e Jônatas eram homossexuais?” você escreveu: “E os beijos de Davi em Jonatas relatados na Bíblia. Você não disse nada a respeito. Ou será que esses beijos também eram fictícios?”.

Não, os beijos não eram fictícios mas bem reais, porém a interpretação desses beijos é que pode ser equivocada, tanto por homossexuais como por homofóbicos. Isso porque toda mente discriminatória irá sempre discriminar baseada em sua própria interpretação equivocada da realidade.

Isto é conhecido como “a lei do instrumento” ou “martelo de Maslow”. Em um artigo de 1966 na “The Psychology of Science” Abraham Maslow escreveu: “Se a única ferramenta que você tem é um martelo, você será tentado a tratar tudo como se fosse prego”.

Por isso um homofóbico, quando vê na rua dois rapazes de mãos dadas, logo se ira e grunhe a sentença: “São gays!”. Do mesmo modo, um homossexual que veja a mesma cena poderá se alegrar e comentar com um sorriso: “São gays!”. O problema é que se a cena ocorrer nas ruas de uma cidade do Oriente Médio a probabilidade de ambos estarem errados é de 100%, porque lá amigos, sejam homens ou mulheres, andam de mãos dadas.

Outro dia vi uma notícia de um pai que foi espancado por um homofóbico depois de abraçar seu filho adulto em uma festa agropecuária. O sujeito, cuja mente doentia nem sequer pensou na possibilidade de ser um abraço entre pai e filho, foi logo interpretando aquilo pelas lentes burras de sua discriminação, e deu o veredito: “Só podem ser gays!”. O pai foi espancado e perdeu um pedaço da orelha.

Sabe qual a diferença entre aquele homofóbico e você? Ao querer interpretar o relacionamento entre Davi e Jônatas com base nos beijos que trocaram, você usou as mesmas lentes discriminatórias daquele homofóbico e declarou: “Davi e Jônatas eram gays!”.

Discriminação é discriminação, não importa de que lado ela venha. É por isso que temo que as leis que estão sendo criadas para proteger homossexuais de discriminação e especialmente de violência criarão uma nova onda de caça às bruxas, na qual os partidários desse estilo de vida passarão a enxergar qualquer opinião contrária como homofóbica e passível de castigo.

Então, antes que me processe, quero deixar claro que adoto a mesma visão que o Senhor Jesus adotava quando andou aqui: sempre cercado pelos discriminados pela sociedade, ele sempre deixou claro que amava o pecador e odiava o pecado. Por isso eu amo o homossexual, porém rejeito o homossexualismo, do mesmo modo como amo o fumante e detesto o fumo, ou amo o funkeiro e tapo os ouvidos para o funk.

Opinião eu posso ter (ou será que você também é dos que acham que não?), mas jamais devo usar de violência ou discriminar pessoas que não pensam como ou têm um estilo de vida que a Bíblia condene. Fui claro?

Vamos ao versículo que você mencionou:

(1 Sm 20:41) “Depois que o menino se foi, Davi saiu do lado sul da pedra e inclinou-se três vezes perante Jônatas, com o rosto no chão. Então despediram-se beijando um ao outro e chorando; Davi chorou ainda mais do que Jônatas”.

Se você conhecesse a Bíblia e os usos e costumes do Oriente Médio (e de outros países), saberia que o beijo sempre foi uma prova de amor e afeto, independente do sexo das pessoas envolvidas. É preciso ter uma mente distorcida para enxergar qualquer coisa no beijo entre Davi e Jônatas além de amizade e afeição.

Alguém com tal distorção da realidade, seja qual for sua orientação sexual, corre o risco de achar que os beijos entre pais e filhos na Bíblia representem incesto, os praticados entre homens sejam homossexualismo, e entre mulheres lesbianismo. E que a ordem dada várias vezes no Novo Testamento para que os cristãos se beijassem sempre que fizessem uma saudação significa que o homossexualismo está sendo aconselhado pelos apóstolos.

Será que você não percebeu que essa sua propensão a enxergar além do que está no texto é a mesma propensão daqueles homofóbicos que agrediram um pai que abraçou seu filho adulto em público por achar que eles eram homossexuais? Homofóbicos também veem homossexualidade em tudo, o que não é muito diferente de sua maneira de enxergar o texto bíblico. Veja como é abundante a prática do beijo nas Escrituras:

(Gn 33:4) “Então Esaú correu-lhe ao encontro, abraçou-o, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou; e eles choraram”.

(Gn 45:15) ”E José beijou a todos os seus irmãos, chorando sobre eles; depois seus irmãos falaram com ele”.

(Gn 50:1) “Então José se lançou sobre o rosto de seu pai, chorou sobre ele e o beijou”.

(Êx 4:27) “Disse o Senhor a Arão: Vai ao deserto, ao encontro de Moisés. E ele foi e, encontrando-o no monte de Deus, o beijou”.

(Êx 18:7) “Então saiu Moisés ao encontro de seu sogro, inclinou-se diante dele e o beijou”.

(Rt 1:14) “Então levantaram a voz, e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua sogra”.

(1 Sm 10:1) “Então Samuel tomou um vaso de azeite, e o derramou sobre a cabeça de Saul, e o beijou”.

(2 Sm 19:39) “Havendo, pois, todo o povo passado o Jordão, e tendo passado também o rei, beijou o rei a Barzilai,”.

(Lc 7:45) ”Não me deste ósculo [beijo]; ela, porém, desde que entrei, não tem cessado de beijar-me os pés”.

(Rm 16:16)Saudai-vos uns aos outros com ósculo [beijo] santo”. (Também em 1 Co 16:20; 2 Co 13:12; 1 Ts 5:26 e 1 Pe 5:14).

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Quando foi que Balaão ensinou Balaque a fazer Israel pecar?

Você procurou no Antigo Testamento e não encontrou onde foi que Balaão ensinou Balaque a fazer o povo de Deus tropeçar, apesar de isto ter sido dito em Apocalipse. A Bíblia toda é a revelação dada por Deus, portanto ainda que você não encontre algo em uma parte, mas encontre em outra, deve acatar aquilo como sendo verdade.

É um erro achar que por algo ser mencionado apenas em uma passagem da Bíblia, aquilo não tem valor. Já vi muitos fazerem isso com as cartas de Paulo, dizendo mais ou menos assim: “Isso foi só Paulo quem disse, e nenhum outro apóstolo, portanto é a opinião de Paulo. Não precisa ser seguido”.

Por exemplo, em Atos 20:35: “Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”.

O problema é que em nenhum lugar nos evangelhos vemos Jesus dizer isso, mas se está em Atos (e Atos também é a Palavra de Deus), é porque ele disse, mesmo que não tenha sido escrito nos evangelhos. A propósito, ser ler a introdução do evangelho de Lucas e a introdução de Atos verá que este último é uma continuação do primeiro.

Também Judas escreve:

(Jd 1:14) “E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos”.

Se você procurar em Gênesis não encontrará Enoque dizendo isso, mas se Judas diz que ele falou, então Deus revelou a Judas que assim foi.

Sua dúvida vem do versículo em Apocalipse que diz que Balaão ensinava Balaque a fazer o povo de Israel pecar, pois você foi conferir em Números 22 a 26 e não encontrou Balaão ensinando tal coisa:

(Ap 2:14) “Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem”.

A resposta você encontra em Números 31. A atividade de Balaão não ficou restrita ao episódio em que ele aceitou suborno para profetizar contra Israel. Depois disso ele deu a Balaque uma ideia mais sutil de como corromper o povo de Deus: tentar seus varões para que se casassem com mulheres pagãs, levando assim o povo à idolatria de suas mulheres. É disso que fala Números 31.

(Nm 31:7-16) “E pelejaram contra os midianitas, como o Senhor ordenara a Moisés; e mataram a todos os homens… também a Balaão, filho de Beor, mataram à espada. Porém, os filhos de Israel levaram presas as mulheres dos midianitas… E indignou-se Moisés grandemente contra os oficiais do exército… E Moisés disselhes: Deixastes viver todas as mulheres? Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão, deram ocasião aos filhos de Israel de transgredir contra o Senhor no caso de Peor; por isso houve aquela praga entre a congregação do Senhor”.

Quanto ao que você disse, que Balaque não conseguiu corromper Balaão, pois este acabou abençoando Israel ao invés de amaldiçoar, isso só aconteceu porque Deus colocou a sua palavra na boca de Balaão e este foi obrigado a dizer o que Deus lhe ordenou. Foi a contragosto que Balaão profetizou bênção para Israel e maldição para si mesmo.

(Nm 24:15-17) “Então proferiu a sua parábola, e disse: Fala Balaão, filho de Beor, e fala o homem de olhos abertos; Fala aquele que ouviu as palavras de Deus, e o que sabe a ciência do Altíssimo; o que viu a visão do Todo-Poderoso, que cai, e se lhe abrem os olhos. Vê-lo-ei, mas não agora, contempla-lo-ei, mas não de perto”.

O versículo 17 é a sentença de condenação que Balaão foi obrigado a proferir contra si próprio. Ele ficou ciente de que veria a Deus, porém não de perto. Compare com esta passagem, na qual Abraão é uma representação da presença de Deus:

(Lc 16:23) “E no inferno [hades], ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio”.

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O arrebatamento da igreja será na tribulação?

Uma das mais benditas verdades resgatadas nos últimos dois ou três séculos é a do arrebatamento da igreja antes que venha a grande tribulação. Essa verdade coloca a esperança do cristão em seu devido lugar.  “O meu senhor vem!”  E nada mais entre o momento presente e o “fechar e abrir de olhos”, quando veremos a face do Senhor a nos buscar.

Portanto, a reposta é “Não”, o arrebatamento não será no meio da tribulação e nem após ela. O arrebatamento pode ocorrer antes que eu termine de digitar esta resposta, a qualquer momento ANTES que os juízos de Deus caiam sobre este mundo.

Quando não são as religiões tradicionais católicas e protestantes querendo misturar Israel e Igreja e acreditando em uma promessa terrena para a Igreja*, surgem novas teorias que tentam harmonizar o arrebatamento com a vinda de Cristo para reinar, tirando os olhos do cristão a possibilidade imediata de ver a face do Senhor e fazendo-o olhar para os acontecimentos do mundo e a esperar pela vinda primeira, não do Senhor, mas do anticristo.

*A teologia do domínio, que acredita que Israel perdeu o direito às promessas e que estas valem agora para a Igreja, que tem o direito de cristianizar o mundo e deixá-lo pronto para que Jesus venha reinar. Essa teologia levou a igreja de Roma às Cruzadas e os protestantes fundamentalistas norte-americanos à invasão do Iraque e a manter uma política externa de guerras e conquistas.

A nova teoria surgida após a Segunda Guerra Mundial e chamada de “mid-tribulação” tenta harmonizar o arrebatamento pré-tribulação com a visão tradicional de conquista do mundo pelos cristãos, colocando o arrebatamento na metade da sétima semana de anos profetizada por Daniel. Um desdobramento dessa teoria surgiu na década de 70 com o nome de “pré-ira” ou “pré-juízo”, colocando o arrebatamento em algum ponto da segunda metade da última semana profética de Daniel.

Mas essa ideia de um arrebatamento no meio da tribulação ou nos últimos três anos e meio nega alguns princípios básicos da interpretação dispensacionalista das escrituras. Por dispensações entendo as diferentes maneiras de Deus tratar com o homem ao longo da história, o que coloca Israel e a Igreja em posições particulares e distintas. Perder isto de vista é misturar as profecias (feitas a Israel) com as revelações (feitas à Igreja).

Alguns problemas da teoria de um arrebatamento no meio da tribulação:

1. Nega em várias partes a distinção clara que existe entre o que é para Israel e o que é para a Igreja.

2. Nega a vinda iminente de Cristo para a Igreja e a bendita esperança do crente passa para um segundo plano, atrás de acontecimentos políticos, guerras e catástrofes, e da vinda do anticristo.

3. Nega que a Igreja era um mistério desconhecido no Antigo Testamento, já que nessa teoria ela passa a coexistir com Israel como testemunho de Deus no mundo, e não como um parêntese na profecia para Israel, incluindo-a na sétima semana de Daniel 9:27.

4. Nega a distinção existente entre as trombetas dos anjos em Apocalipse e a trombeta de Deus no arrebatamento em 1 Tessalonicenses.

Essa teoria interpreta erroneamente que o arrebatamento viria a ocorrer ao soar de uma das trombetas de Apocalipse. O problema é que as trombetas de Apocalipse são as trombetas dos sete anjos, não a trombeta de Deus:

(Ap 10:7-11) “Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos. E o sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre”.

A trombeta do arrebatamento é a “trombeta de Deus”, não do anjo, e é a mesma de 1 Coríntios 15:52:

(1 Ts 4:16) “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro”.

(1 Co 15:52) “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados”.

A trombeta de Mateus 24:31 não é a mesma do arrebatamento de 1 Tessalonicenses 4:16. Em Mateus são os anjos que reúnem os escolhidos, no arrebatamento é o próprio Senhor.

(Mt 24:31) “E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus”.

(1 Ts 4:16) “Porque o mesmo Senhor descerá do céu… seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor”.

Um versículo às vezes utilizado para indicar que a igreja passaria pela tribulação é 1 Pedro 4:17, mas ali não está falando de um tempo futuro (Apocalipse), mas do tempo presente vivido pelos destinatários da carta e todos os cristãos no tempo da igreja na terra:

(1 Pe 4:17) “Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?”.

Eu poderia continuar detalhando todas as falhas da teoria de um arrebatamento no meio da tribulação, mas creio que estas já são suficientes. Talvez a mais importante delas seja o problema que essa interpretação encontra em Mateus 24, ao dizer que os acontecimentos da passagem que é tipicamente judaica (são vários os elementos que apontam para Israel ali, como “sábado”, “Judéia” e perseverança para a salvação da carne) seria compartilhada pela Igreja. Se Jesus estivesse falando para a Igreja, por que a preocupação com o sábado?

Um dos argumentos usados para dizer que Mateus 24 está falando da igreja em meio à tribulação é o uso da palavra “eleitos” ou “escolhidos” no versículo 22. Um dos partidários dessa teoria argumenta:

Sempre que a palavra grega eklectos (eleito, escolhido) é usada no Novo Testamento para falar de indivíduos ela se refere aos crentes em Cristo, judeus ou gentios (Mt 20:16; 22:14; Lc 18:7; Rm 8:33; Cl 3:12; 2 Tm 2:10; Tt 1:1; 1 Pe 1:1; 2:9; Ap 17:14). Esta palavra nunca se refere a judeus ou à nação de Israel. Por que seria diferente em Mateus 24?”. [Extraído de “The Olivet Discourse — For the Church or Israel?” e Parousia #9, October, 2003].

Será que essa afirmação tem fundamento? Muitas doutrinas erradas são construídas sobre afirmações falsas e este é um exemplo. A palavra grega eklektos (eleitos ou escolhidos) aparece em várias passagens do Novo Testamento e pode se referir tanto a cristãos (Igreja) como a judeus. É o contexto que vai determinar, e é este o caso de Mateus 24. É claro que ela “sempre” se refere aos “crentes em Cristo”, mas é preciso lembrar que hoje os crentes em Cristo são Igreja, e durante a tribulação eles farão parte do remanescente judeu que irá se converter.

Posso usar qualquer palavra, como “casa”, “comida”, “cidade”, o que for, e afirmar o que eu quiser tornando aquela palavra exclusivamente aplicável para aquilo que quero demonstrar. Daí minha pergunta: Quem disse que a palavra “eleitos” sempre fala de cristãos e nunca está relacionada a Israel? O simples contexto de Mateus 24 mostra que neste caso é de judeus convertidos a Cristo durante a tribulação que a palavra fala.

A teoria de um arrebatamento no meio da última semana profética vem satisfazer principalmente aqueles que gostam de teorias conspiratórias e sentem certa emoção e comoção de acompanharem os acontecimentos do mundo e de sociedades secretas, como os Illuminati e outros pretensos donos do poder mundial.

Por mais sinceros que sejam os adeptos da teoria de um arrebatamento no meio da tribulação (ou após a tribulação, como alguns protestantes, ou nenhum arrebatamento, como creem os católicos), é uma pena que estejam perdendo de vista a bendita esperança do crente, que é a vinda iminente de Cristo para buscar sua Igreja.

Ficar ocupado com os acontecimentos mundiais ou esperar pela manifestação do anticristo ANTES de ver a face de Jesus não é exatamente uma boa notícia como a de João 14:3: “E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também”. Paulo esperava pelo arrebatamento já nos seus dias:

(1 Ts 4:17-18) “Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras”.

Que consolo pode haver em palavras que dizem para o crente esperar pela manifestação do anticristo e por todas as catástrofes previstas para a última semana da profecia de Daniel?

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Os anjos usaram mulheres para procriar?

Você ficou surpreso com o vídeo com meus comentários sobre Gênesis 6, dos motivos da degradação da linhagem humana e sua consequente destruição pelo dilúvio. Você até mesmo me chamou de “herege” por isso. Obviamente em um vídeo de 3 minutos eu posso apenas dar uma pincelada sobre o assunto, principalmente por meus vídeos serem evangelísticos. Vamos analisar o significado de “filhos de Deus” em Gênesis 6. Não sei hebraico, portanto vou emprestar o que li de outros autores sobre o assunto:

(Gn 6:2) “viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram”

(Gn 6:2) “VYUr’aV BNY-H’aLHYM ‘aTh-BNVTh H’aDM KY TBTh HNH VYQChV LHM NShYM MKL ‘aShUr BChUrV”. (Transliteração do hebraico).

A ideia de que os “filhos de Deus” ou “filhos de Elohim” (mais de acordo com os originais) seriam descendentes de Sete só surgiu no século quinto. Até então os cristãos e os judeus interpretavam como sendo anjos. No original hebraico “filhos de Elohim” é “BNY H’aLHYM”, o mesmo termo usado nas passagens abaixo:

(Jó 1:6) “E vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles”.

(Jó 1:6) “VYHY HYVM VYB’aV BNY H’aLHYM LHThYTShB ‘yL-YHVH VYBV’a GM-HShTN BThVKM”.

(Jó 2:1) “E, vindo outro dia, em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles apresentar-se perante o Senhor”.

(Jó 2:1) “VYHY HYVM VYB’aV BNY H’aLHYM LHThYTShB ‘yL-YHVH VYBV’a GM-HShTN BThKM LHThYTShB ‘yL-YHVH”.

(Jó 38:7) “quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam?”.

(Jó 38:7) “BUrN-YChD KVKBY BQUr VYUrY’yV KL-BNY ‘aLHYM”.

Esta última passagem é suficiente para derrubar a ideia de “filhos de Elohim” como sendo os descendentes de Sete, pois aqui fala de um tempo antes da Criação.

Se observar com atenção a versão em hebraico verá que a expressão que aparece como “filhas dos homens” nas versões modernas é, na verdade, “filhas de Adão”:

(Gn 6:2) “VYUr’aV BNY-H’aLHYM [filhos de Elohim] ‘aTh-BNVTh H’aDM [filhas de Adão]”.

Fica evidente que não faria sentido ler o texto “viram os filhos de Sete que as filhas de Adão eram formosas” em Gênesis 6:2, já que o termo Adão é representativo da espécie humana (por isso ambos são chamados de “Adão” em Gênesis 5:2 “Macho e fêmea os criou, e os abençoou, e chamou o seu nome Adão, no dia em que foram criados”).

Na Bíblia, os únicos que são chamados “filhos de Deus” no sentido de criação direta de Deus (não procriados de outros seres) são os anjos e Adão, como aparece na genealogia de Jesus em Lucas. Obviamente, agora aqueles que são nascidos de novo pela fé em Jesus são chamados de “filhos de Deus”, mas aí o sentido é outro.

Outro problema de se interpretar “filhos de Deus” como descendentes de Sete está no resultado da união com as “filhas de Adão”: por que razão uma união assim, entre seres humanos, daria origem a uma raça distinta de “gigantes” ou homens poderosos? O texto indica claramente que está falando de seres anormais segundo os padrões humanos, uma anormalidade que só pode ter vindo da semente de seres não-humanos, e não meramente da união de fiéis com infiéis.

A confirmação do episódio em que anjos deixaram seu estado natural e assumiram a forma humana para procriarem está em 2 Pedro:

(2 Pe 2:4-5) “Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno [tártaro], os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o Juízo; e não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, pregoeiro da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios;”.

Veja que a menção dos anjos que pecaram é feita imediatamente antes da citação do dilúvio. Quando você compara estes dois versículos com os dois versículos seguintes fica claro que Pedro está falando de causa e efeito: Deus destruiu o mundo porque os anjos não guardaram seu estado natural, e Deus destruiu Sodoma e Gomorra porque seus habitantes procederam impiamente, também não guardando seu estado natural.

(2 Pe 2:6-8) “e condenou à subversão as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinza e pondo-as para exemplo aos que vivessem impiamente; e livrou o justo Ló, enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis (porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa, pelo que via e ouvia sobre as suas obras injustas)”.

Quando você lê Romanos 1 percebe que o abandono da condição natural, seja de anjos, seja de humanos, é repudiado por Deus:

(Rm 1:26-27) “Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro”.

Quando Judas menciona o episódio dos anjos, ele igualmente fala de Sodoma e Gomorra e mostra o motivo do juízo de Deus: terem “ido após outra carne”. No grego a palavra “habitação” no versículo 6 é a mesma palavra grega que aparece no sentido de “corpo celestial” em 2 Coríntios 5:2 “E, por isso, também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu”.

(Jd 1:6-7) “e aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande Dia; assim como Sodoma, e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se corrompido como aqueles e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno”.

Aparentemente o problema ocorreu novamente após o dilúvio, talvez não nas mesmas proporções de antes, pois encontramos os Nefilins em Números 13, o que já não justificaria interpretar também ali descendentes dos filhos de Sete:

Nm 13:33 “Também vimos ali os nefilins, isto é, os filhos de Anaque, que são descendentes dos nefilins; éramos aos nossos olhos como gafanhotos; e assim também éramos aos seus olhos”.

Anaquins” (descendentes de Anaque) é uma palavra de origem suméria que significava “Aqueles que do céu desceram à Terra”.

Seu argumento de que os “filhos de Deus” não poderiam ser anjos, com base na passagem de 22:30 não procede, pois ali o Senhor está falando dos anjos no céu, e obviamente em seu estado natural e no céu eles não se casam e não se dão em casamento.

O outro argumento, de que apenas Jesus se fez homem, pode ser válido no sentido de ter vindo em carne nascendo da virgem, mas certamente você encontrará o próprio Senhor e os anjos assumindo a forma humana em um corpo material em algumas passagens das Escrituras. Dois deles, acompanhando o Senhor, até mesmo comeram do assado servido por Abraão em Gênesis:

(Gn 18:2-8) “Levantando Abraão os olhos, olhou e eis três homens de pé em frente dele. Quando os viu, correu da porta da tenda ao seu encontro, e prostrou-se em terra… Abraão, pois, apressou-se em ir ter com Sara na tenda, e disse-lhe: Amassa depressa três medidas de flor de farinha e faze bolos. Em seguida correu ao gado, apanhou um bezerro tenro e bom e deu-o ao criado, que se apressou em prepará-lo. Então tomou queijo fresco, e leite, e o bezerro que mandara preparar, e pôs tudo diante deles, ficando em pé ao lado deles debaixo da árvore, enquanto comiam”.

Os dois anjos são os mesmos que visitaram depois Sodoma, e lá mais uma vez eles comeram do que Ló lhes preparou e você bem sabe que foram assediados pelos homens de Sodoma (de onde vem a palavra “sodomia”), que queriam ter relações sexuais com eles. Portanto fica muito claro que não se tratavam de seres transparentes flutuando sobre o chão e batendo asas (aliás, anjos não têm asas, só querubins).

(Gn 19:1-3) “À tarde chegaram os dois anjos a Sodoma. Ló estava sentado à porta de Sodoma e, vendo-os, levantou-se para os receber; prostrou-se com o rosto em terra… Entretanto, Ló insistiu muito com eles, pelo que foram com ele e entraram em sua casa; e ele lhes deu um banquete, assando-lhes pães ázimos, e eles comeram”.

Você terminou seu e-mail exortando-me com palavras fortes: “Se puder, arrependa-se dessa heresia”. Talvez você não saiba, mas muitos autores cristãos bem mais versados do que eu interpretaram “filhos de Deus” em Gênesis 6 como sendo anjos. Alguns deles foram C. H. Mackintosh, W. Kelly, J. N. Darby e outros. Há de se considerar também que a tradição judaica traz a mesma interpretação no Livro de Enoque e em outros apócrifos (obviamente não são inspirados, mas têm muito do que acreditavam os judeus do passado).

De qualquer modo é bom ressaltar que apenas dei uma pincelada sobre o assunto em meu vídeo a título de informação, mas não era este o foco ali, e sim traçar as diferentes dispensações. Assuntos como este são tratados na Palavra de Deus apenas quando têm alguma relação com o assunto que Deus deseja tratar, e é por isso que há tão pouca informação a respeito deste e de outros assuntos na Bíblia. A razão é que o tema central da Bíblia é Cristo, e não anjos, dilúvio ou história da humanidade. Algumas gotas de informações só são inseridas pelo Espírito quando necessário para esclarecer melhor o foco, que é Cristo.

Seria errado criarmos doutrinas ou até mesmo filosofias e religiões, como fazem os esotéricos, com base nessas passagens, pois isso desviaria a atenção do foco. Portanto, acredito que não podemos especular muito mais do que estas partículas de informação que nos foram deixadas por Deus. Uma vez tratadas de relance, devemos voltar ao tema principal em quem convergem todas as coisas: Jesus, o Senhor.

Heresias são criadas quando algo (até mesmo correto) é extraído da Bíblia e colocado sob os holofotes. Muitas heresias (a palavra significa divisões, cismas) ocorreram com base em doutrinas corretas, mas abordadas com ênfase desproporcional.

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Existem cavalos no céu?

O autor do texto que você enviou faz uma viagem tortuosa para justificar que o céu está cheio de cães e gatos. Pelo raciocínio dele, até mesmo os cavalos têm seu lugar na glória, e ele tenta provar isso usando uma passagem de Apocalipse:

(Ap 19:11-15) “E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro… E estava vestido de uma veste salpicada de sangue… E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro… E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso”.

Se valer o mesmo raciocínio aplicado ao cavalo, no céu existiriam tecelagens para fabricar esses vestidos, metalúrgicas para as varas de ferro, e indústria bélica para a produção de espadas. O céu teria ainda fábricas de instrumentos musicais para fazer trombetas, gráficas para imprimir livros e fabricantes de cálices. A questão é que a linguagem do Apocalipse é simbólica e cada um desses itens simboliza algo que conhecemos na Terra, caso contrário não teríamos ideia do significado das passagens.

A grande diferença entre o homem e os animais é que o primeiro foi criado à imagem e semelhança de Deus, os animais não. À semelhança de Deus, Adão possuía espírito. Animais têm alma (anima), a vida natural, mas Adão recebeu, além da alma, uma parte espiritual, que permitiu seu contato e comunhão com Deus. Foi por criar o homem à semelhança de Deus que Deus pode vir ao mundo em semelhança de homem.

(Gn 1:27) “E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”.

A visão do autor do texto é muito romântica quando pensamos no cãozinho, mas ele precisará incluir em sua doutrina as baratas, pernilongos, vermes, vírus e bactérias, pois todos são seres vivos. As bactérias têm vida, porém nenhuma delas tem um espírito capaz de se relacionar com o Criador, e é isto o que torna a vida humana distinta de todos os seres criados. Animais têm sentimentos como medo, alegria e prazer por possuírem uma alma.

Além de possuir um espírito, o homem também ressuscitará, quando corpo, alma e espírito voltarem a estar juntos.

É certo que no reino milenial de Cristo na terra (diferente do lugar ocupado pela Igreja no céu) existirão animais, pois há várias passagens do Antigo Testamento que confirmam isso. Serão animais diferentes em sua natureza, já que não serão carnívoros, porém vegetarianos. O cenário descrito por Isaías é do reino de Cristo na terra, não no céu:

(Is 11:6-9) “E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar”.

Esse período durará mil anos, e no final a terra toda será destruída pelo fogo e os céus se enrolarão como um rolo. É o fim da matéria como a conhecemos e também do tempo. Na Bíblia não diz nada sobre como serão os novos céus e a nova terra que Deus criará nessa ocasião, portanto não há como afirmar se haverá ou não animais na nova terra.

As religiões pagãs é que dão aos animais no pós vida uma condição privilegiada. Em nenhum lugar na Bíblia você encontra isso. Não raro essas e outras religiões fazem os homens adorarem animais e se sujeitarem a eles, numa inversão do que Deus fez na criação, quando fez os animais para que estivessem sujeitos ao homem em sua vida na terra. Ideias assim levam a desdobramentos perigosos, uma vez que podem considerar tão errado matar um animal quanto assassinar um ser humano.

Porém, quando Noé saiu da arca, Deus lhe deu todos os animais como alimento. Obviamente para isso ele precisaria matá-los, portanto não há nada de errado em matar animais para alimentarem o homem ou servirem para sua sobrevivência, como é o caso das válvulas de coração e outras partes que são extraídas de porcos para serem implantadas em seres humanos. Nosso intestino está repleto de bactérias que vivem e morrem para nossa sobrevivência, e quando escovamos os dentes o antisséptico da pasta também mata alguns milhares de seres vivos — tão vivos quanto o poodle que temos em casa.

(Gn 9:3) “Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado como a erva verde”.

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Jesus não sabia o dia e a hora de sua volta?

Há quem coloque em dúvida a onisciência de Jesus, e consequentemente sua divindade, por causa desta passagem na qual ele parece indicar desconhecer tudo: (Mc 13:32) “Mas, daquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos que [estão] no céu, nem o filho, senão o pai”.

As melhores traduções omitem “o filho” na passagem semelhante de Mateus 24 e isso pode ser uma boa indicação para entendermos o que ele quer dizer em Marcos.

(Mt 24:36) “Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai”.

Em Mateus Jesus é visto como Rei de Israel, enquanto em Marcos ele é visto como servo (em Lucas é homem, em João é Deus). Na condição de servo, não cabe a ele saber o dia e a hora, apesar de ser Deus onisciente.

(Jo 15:15) “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor”.

Isso pode causar certa estranheza, mas entenderemos melhor se perguntarmos: Enquanto esteve aqui, Jesus podia voar até a lua e voltar? A resposta é depende. Se estivermos falando dele como homem, então não podia, porque homem não voa. Mas se estivermos falando dele como Deus todo poderoso, daquele que “todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”, então ele podia se deslocar no tempo e no espaço conforme quisesse. Mas não iria querer enquanto estivesse cumprindo sua missão de servo em obediência ao Pai.

(At 1:7) “E disselhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o pai estabeleceu pelo seu próprio poder”.

Quando lemos Filipenses 2:7 “Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” vemos que ele realmente “vestiu a camisa”, por assim dizer, de humanidade, mas bastam algumas passagens em que ele deixa “escapar” lampejos de seu poder para exclamarmos: “Oops! Mas não disse que ele “esvaziou-se a si mesmo”? Então aí nos damos conta de que todos os atributos da divindade continuavam ao seu dispor como Deus, porém ele não iria valer-se de qualquer um deles a não ser quando fosse absolutamente necessário e dentro da vontade do Pai.

Foi o caso quando ele disse “EU SOU” e os soldados que pretendiam prendê-lo caíram de costas. “EU SOU” era o nome pelo qual Jeová se revelou a Moisés. Foi o caso também quando tentaram prendê-lo antes do tempo determinado e ele simplesmente passou entre eles ou desapareceu de sua vista.

O apóstolo Pedro reconhece a onisciência de Jesus nesta passagem:

(Jo 21:17) “Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo”.

(Jo 16:30-31) “Agora conhecemos que sabes tudo, e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus. Respondeu-lhes Jesus: Credes agora?”.

Outra passagem interessante sobre essa questão humanidade-divindade está em Lucas:

(Lc 2:40) “E o menino crescia, e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele. Ora, todos os anos iam seus pais a Jerusalém à festa da páscoa; E, tendo ele já doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume do dia da festa. E, regressando eles, terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e não o soube José, nem sua mãe…. E, como o não encontrassem, voltaram a Jerusalém em busca dele. E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os. E todos os que o ouviam admiravam a sua inteligência e respostas”.

Ainda menino, Jesus já era cheio de sabedoria e capaz de ensinar os doutores no templo, mas ele não faz isso. Antes, coloca-se no seu devido lugar de submissão e ouve e faz perguntas aos doutores da lei. Eventualmente devem ter feito perguntas a ele, as quais respondeu bem, mas veja que ele não sai de seu lugar de submissão às autoridades e às pessoas mais velhas, mesmo sendo o Criador delas.

(Cl 2:9) “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade;”.

Estamos tão acostumados com filmes de super-heróis que vivem exibindo sua força e poder que nos esquecemos de que aqui estamos falando daquele que é Deus perfeito e Homem perfeito. Jesus jamais “adivinhou” coisas como fazem os super-heróis, ou exerceu poderes divinos para se exibir ou para angariar vantagem para si. Essa perfeita submissão podia ser vista na passagem da mulher samaritana, quando pediu água a ela, ou por ocasião da tentação no deserto, quando sofreu fome sem fazer as pedras se transformarem em pães. Ele bem que podia isso, como demonstrou mais tarde ao alimentar uma multidão, mas tudo tinha sua hora e lugar. Portanto, na condição humana, de servo, não cabia a ele conhecer o dia e a hora.

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Adão e Eva tiveram filhos enquanto estavam no Éden?

Não há qualquer indicação de que Adão e Eva tiveram filhos no Éden, pois se tivessem, como afirma o autor do texto que você leu, eles não seriam pecadores. Aí temos um problemão para explicar como uma linhagem de inocentes e sem conhecimento do bem e do mal podia viver em um mundo arruinado pelo pecado, com o qual eles nada tinham a ver.

Essa é uma das teorias que surgiram para tentar explicar que existiriam duas linhagens de humanos, uma de pessoas pecadoras e outra de pessoas sem pecado. Mas neste caso Deus não precisaria ter enviado o seu Filho ao mundo para morrer pelos pecadores. Bastaria ter usado um desses da linhagem dos “sem pecado” para servir de “cordeiro sem mácula”.

A genealogia humana de Jesus (ele foi gerado pelo Espírito Santo no ventre de uma virgem, portanto não descendeu diretamente de Adão) mostra que veio da linhagem de Sete, o filho que Adão e Eva tiveram após perderem Abel. Mas mesmo quando você analisa essa linhagem de Sete, todos eles eram igualmente pecadores. Basta ver Davi, Salomão e tantos outros que cometeram pecados horríveis.

Imediatamente após pecarem Adão e Eva se esconderam de Deus e o resto da história já sabemos. Fora do Éden tiveram Caim, Abel e outros filhos, todos pecadores, pois não há um homem que não seja pecador de nascença (exceto Jesus).

Gênesis 4:1 indica que eles tiveram sua primeira relação sexual fora do Éden, pois aparentemente ficaram pouquíssimo tempo no jardim de Deus.

(Gn 4:1) “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei do Senhor um homem”.

A afirmação do autor, de que existiria uma linhagem de filhos concebida no Éden antes do pecado, é completamente equivocada e isso fica claro por todo o contexto da Palavra de Deus. Seria preciso alterar algumas passagens do Novo Testamento para a ideia dele valer. Por exemplo:

(Rm 3:23) “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus [exceto os filhos que Adão e Eva tiveram no Éden];”.

(Rm 5:12) “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram [exceto os que nasceram no Éden antes do pecado]”.

Além disso, a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden foi para que não comessem da árvore da vida e vivessem eternamente naquela condição de degradação que o pecado introduziu.

(Gn 3:22-23) “Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado”.

Por que Deus tiraria do jardim do Éden os supostos filhos de Adão e Eva que não pecaram? Se os tirasse, eles seriam totalmente estranhos no mundo, pois não teriam consciência, algo que o homem recebeu depois de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Se permanecessem no Jardim, estariam lá até hoje, pois certamente teriam comido da árvore da vida.

Como pode ver, nem mesmo um autor de ficção escreveria uma história como essa do texto que você leu, pois ela teria tantos furos que seria um fracasso de vendas.

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O que significa que Jesus levou cativo o cativeiro?

Sua dúvida é sobre o que seria “cativo” e “cativeiro” da passagem de Efésios 4:8 “Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro”.

É preciso entender que a obra de Cristo é completa, porém ela pode se manifestar em etapas. É o caso do crente, que posicionalmente é visto como ressuscitado e assentado com Cristo nos lugares celestiais, porém condicionalmente ainda está aqui neste corpo.

(Ef 2:6) “E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus”.

Sobre o fato de o Senhor ter levado “cativo o cativeiro”, Ele fez isso em Mateus 12:29 “Ou, como pode alguém entrar em casa do homem valente, e furtar os seus bens, se primeiro não maniatar o valente, saqueando então a sua casa?”

Ao vir ao mundo ele amarrou Satanás, isto é, limitou seu poder sobre o homem. Sempre que ele encontrava um possesso ele o libertava, mostrando seu poder e superioridade sobre Satanás e seus agentes.

Então na cruz, quando Satanás pensou que tinha levado a melhor ferindo o calcanhar da semente da mulher, Jesus esmagou de uma vez para sempre a cabeça da serpente, conforme havia sido prometido no Jardim do Éden.

(Gn 3:14-15) “Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.

Venceu assim completamente o inimigo, libertando também os que ele tinha feito prisioneiros.

(Cl 1:12-14) “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz; O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados;”.

Ao ressuscitar e subir ao alto ele levou “cativo o cativeiro”, isto é, os poderes que prendiam o homem foram presos por Cristo, isto é, ficaram inócuos, perderam sua eficácia.

(Hb 2:14-15) “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão”.

Finalmente, apesar de tudo isso já estar lavrado, assegurado e sacramentado, Satanás em pessoa ainda não está acorrentado, mas isso irá acontecer no milênio.

(Ap 20:1-3) “E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pós selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo”.

O último episódio será a condenação eterna do diabo:

(Ap 20:10) “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre”.

Fica mais fácil visualizar essa sequência quando vemos aqueles documentários na África em que o cientista dispara um dardo contra o rinoceronte. Este continua correndo, depois passa a caminhar, então cambaleia e aí desaba no chão. A partir do momento em que o dardo com o anestésico penetrou no couro do animal, o cientista já sabia que tudo estava determinado. Era apenas uma questão de tempo para que cada etapa do efeito da droga se tornasse visível. Mas o tombo já estava resolvido lá atrás, quando a agulha espetou o rinoceronte.

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Um cristão não deve fazer dívidas?

Como cristãos nós devemos nos contentar com aquilo que o Senhor coloca em nossas mãos, e às vezes ele até coloca demais para vermos se somos fiéis. Temos alguns versículos que nos ensinam isso na Palavra de Deus:

(1 Tm 6:7-11) “Porque nada trouxe para este mundo, e nada podemos daqui levar; tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos com isso contentes. Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição. Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão”.

Existe uma passagem que fala especificamente de dívidas:

(Rm 13:7-8) “Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra. A ninguém devais coisa alguma, senão o amor recíproco; pois quem ama ao próximo tem cumprido a lei”.

Mas, como pode ver do contexto, aí está falando de dívida no sentido de deixar de pagar o que deve, e não de ter contraído a dívida. Quando fazemos um financiamento, não estamos fazendo uma dívida, mas um contrato com um compromisso para pagamento em uma data previamente estipulada. Isso só se tornará uma dívida no momento em que deixar de ser pago na data especificada.

Esta aqui também fala de não vivermos apegados ao dinheiro e à vontade de possuir sempre mais:

(Hb 13:5-6) “Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei. E assim com confiança ousemos dizer: O Senhor é o meu ajudador, e não temerei O que me possa fazer o homem”.

Quanto às dificuldades que você está passando, principalmente como consequência de um mau planejamento financeiro, na vida passamos por altos e baixos, e geralmente os baixos são mais comuns em início de carreira. Eu me lembro de quando meus filhos eram pequenos que o mês sempre durava mais que o dinheiro. Quando decidimos construir uma casa, não fizemos como o Senhor ensina:

(Lc 14:28-30) “Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, Dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar”.

Então ficamos em um impasse: ou continuávamos morando em uma casa inacabada, ou abríamos mão de algumas coisas. Juntamos tudo o que podíamos vender e saímos vendendo. Enquanto isso eu fazia bicos traduzindo textos para empresas e dando aulas particulares de inglês, enquanto minha esposa fazia bordados para vender.

Isso ajudou até a formar meus filhos, pois foram criados sem vergonha (Epa! no bom sentido!) de trabalhar e muito cuidadosos no gastar. Minha filha, quando estava na faculdade, fazia doces em casa para vender na escola e ganhar algum dinheiro, mesmo numa época quando nossas finanças iam bem. Ela apenas estava sendo empreendedora. Meu filho desde adolescente já fazia trabalhos de digitação e até software para escolas e empresas.

O melhor mesmo é aprender a administrar as finanças para não dar o passo maior que a perna. Em casos excepcionais (doença ou desemprego que implica em realmente faltar o básico) os irmãos devem amparar o próximo e às vezes até mesmo a assembleia da qual o irmão com dificuldade faz parte acaba ajudando. Mas ainda assim é preciso a assembleia ter muito critério ao fazer isso, pois tudo o que envolve dinheiro envolve também um cuidado maior. Não são poucas as famílias e amizades destruídas por causa de dinheiro.

Minha sugestão é que você junte o que puder se desfazer para pagar as dívidas e passe a se planejar melhor. O crediário e o cartão de crédito pegam muita gente no contrapé por dar a sensação de que você tem aquele dinheiro que não tem. A crise nos EUA foi fruto de uma cultura em que as pessoas se acostumaram a viver com mais do que podiam. Uma hora a casa cai, e lá caiu feio. Tem muita gente desempregada e cada vez que vou visitar meus filhos percebo as condições da população em geral mais deterioradas. Tem muito morador de rua nos EUA, coisa que não se via há poucos anos.

(Pv 22:7) “O rico domina sobre os pobres e o que toma emprestado é servo do que empresta”.

O jeito é apegar-se aos versículos acima que devem servir de bússola para nosso andar. Não que a gente deva comprar tudo à vista, o que é um problema no Brasil, onde o preço à vista geralmente é o mesmo preço à prazo. Mas mesmo quando financiar, devo já lançar na previsão mensal aquele compromisso para não dever nada a ninguém. Um financiamento de um carro, ou de uma casa, por exemplo, pode ser a única maneira de termos esses bens de maior valor, mas nunca devemos assumir isso de forma leviana, e sim tendo a certeza de que as parcelas representem apenas uma pequena fração de nossa receita.

O jeito agora é você apertar o cinto e pedir a direção do Senhor de como se desfazer de algumas coisas ou procurar formas de aumentar a renda. Geralmente na emergência a curto prazo é mais fácil resolver as coisas reduzindo as despesas e vendendo alguma coisa, do que tentando aumentar a receita.

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Por que Jesus não voltou como prometeu em Mateus 10?

A Bíblia se divide entre o que é para Israel (todo o Antigo Testamento e partes dos evangelhos) e para a Igreja (partes dos evangelhos, Atos e todas as epístolas). Apocalipse é para a Igreja mas a partir do capítulo 4 fala de Israel e do mundo.

(Mt 10:22-23) “E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem”.

Para entender a passagem é preciso entender o contexto:

(Mt 10:5-7) “Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou, dizendo: Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos; mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; e, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus”.

Fica claro que Jesus está comissionando os discípulos para uma missão muito especial, que não tem nada a ver com a Igreja e tudo a ver com Israel. Primeiro, porque a Igreja ainda não existia nos evangelhos (ela só seria fundada em Atos 2), segundo, porque a mensagem que eles devem pregar é a da chegada do reino dos céus. Não se trata do evangelho da graça que prega “crê no Senhor Jesus e serás salvo”, que é a mensagem atual do cristão para o mundo.

O reino dos céus é a esfera, na terra, que compreende todos os que reconhecem o senhorio do Rei que desceu dos céus, Jesus, sejam eles falsos ou verdadeiros (observe que no reino dos céus há joio e trigo misturados).

Em João 1:11 diz que Jesus “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”. Nesta parte do evangelho está se cumprindo o “veio para o que era seu”, ou seja, seu povo terreno, Israel.

A partir do momento em que seu povo não o recebeu, Deus passou a tratar da promessa de um novo povo, Igreja, revelada parcialmente em Mateus 16 e 18 (a revelação completa do que é a Igreja só seria dada a Paulo alguns anos depois da fundação da própria Igreja em Atos 2):

(Mt 16:18) “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;”.

(Mt 18:20) “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.

Portanto, considere a passagem de Mateus 10 como as coisas teriam se desenrolado “se” Jesus não tivesse sido rejeitado. Você pode até saltar para o capítulo 24 de Mateus, onde a frase “quem perseverar até o fim será salvo”, para ver em detalhes o que acontecerá no tempo que antecede a vinda de Cristo para reinar (naquela ocasião a Igreja não estará mais na terra).

Fica mais fácil entender isso quando pensamos na Igreja como um parêntese, que foi aberto com a rejeição de Jesus por Israel, e será fechado com o arrebatamento da Igreja. Esta não aparece no Antigo Testamento, nem mesmo nas profecias, porque era um “mistério” ou “segredo” bem guardado para ser revelado só a Paulo.

(Cl 1:26) “O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos”.

É muito simples entendermos tudo isso quando vemos que os apóstolos não estão mais por aí levando a mensagem do reino em Israel. A missão só faz sentido se for cumprida por outros, e é o que acontecerá após o arrebatamento, quando Deus voltará a tratar com Israel e um remanescente de judeus fiéis irá se levantar para levar adiante essa missão interrompida.

Mateus 10 não tem nada a ver com o evangelho da graça que é destinado a todas as nações, pois é uma missão especialmente dirigida a Israel. Durante o período entre o arrebatamento e a vinda de Cristo para reinar esse evangelho do reino voltará a ser pregado, não só pelos judeus, mas até mesmo pelos anjos, algo que não ocorre hoje.

(Ap 14:6-7) “E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo. Dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”.

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Jesus desobedeceu o Salmo 1?

Sua dúvida é se existiria uma incoerência entre o Salmo 1 e o modo como o Senhor andou neste mundo. Pelo seu raciocínio Jesus estaria contradizendo o Salmo ao se misturar com os pecadores.

Vamos ver o que diz o Salmo 1:1: “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores”.

Agora vamos a Mateus 9:10: “E aconteceu que, estando ele em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores, e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discípulos”.

O sentido é totalmente diferente. No Salmo está dizendo de alguém que QUER SER como os ímpios. Por isso ele passa por um processo: caminha, para e senta. Porém o Senhor não andava com pecadores porque queria ser como eles, mas porque queria salvá-los.

Ao que parece o que levantou a dúvida em sua mente foi o costume de alguns que se dizem cristãos e participam do Carnaval, com a desculpa de que estão na avenida com o objetivo de evangelizar. Tal desculpa não convence. O ano tem 365 dias e apenas 3 ou 4 deles são de carnaval. Por que não encontrar essas pessoas em outros dias? As pessoas não se tornam pecadoras por participarem do carnaval; elas já são pecadoras o ano todo.

Também é bom lembrar que o Senhor é o único Homem que andou aqui que, mesmo em contato com o pecador e a contaminação, não se contaminava porque não tinha pecado. Quando ele tocava um cadáver ou um leproso, ele não ficava contaminado e nem precisava oferecer sacrifícios para se purificar, conforme a lei exigia.

(Lc 5:13) “E ele, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, sê limpo. E logo a lepra desapareceu dele”.

(Lc 7:14) “E, chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam pararam), e disse: Jovem, a ti te digo: Levanta-te. E o defunto assentou-se, e começou a falar”.

(Nm 5:2) “Ordena aos filhos de Israel que lancem fora do arraial a todo o leproso, e a todo o que padece fluxo, e a todos os imundos por causa de contato com algum morto”.

A razão de ele não se contaminar era por ser o único Homem totalmente sem pecado, sem uma resposta interior ao pecado vindo de fora, e sem qualquer possibilidade de pecar. Já dá para perceber que, embora participando da humanidade em todos os aspectos, naquilo que dizia respeito ao pecado o Senhor era completamente diferente de nós. Totalmente isento de pecado.

Ao contrário dele, todos nós nascemos pecadores, temos em nós a carne que é capaz de responder aos apelos do pecado mesmo depois de convertidos, quando não é ela própria que gera esses apelos e concupiscências, e estamos sempre aptos a pecar quando baixamos a guarda e não andamos no Espírito.

Então, devo participar do Carnaval com o objetivo de pregar para as pessoas ali? Eu não faria isso porque não demoraria muito e estaria de olho nas mulheres nuas, ao invés de ter minha mente ocupada com Cristo. É uma ilusão pensarmos que somos fortes ou ficamos imunes ao pecado depois de convertidos. Salvação não é vacina. Temos de Deus uma nova natureza, mas a velha continua ali, agachadinha, pronta para colocar suas asinhas de fora.

Aquilo que Deus disse a Caim continua valendo até para o cristão: “E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta(Gn 4:7). Para entender esta passagem, pense em uma cascavel morando na soleira da porta de sua casa. Você passaria pela porta descuidado sabendo que ali tem uma cascavel pronta para dar o bote ao menor descuido? Não.

O cristão que, alegando querer imitar o Senhor, contraria o Salmo e acaba andando segundo o conselho dos ímpios, se detendo no caminho dos pecadores e se assentando na roda dos escarnecedores, corre um sério risco de ser picado pela cascavel. Ele não é Jesus, imune ao pecado, portanto, como ensina Judas 1:23, deve odiar “até a roupa contaminada pela carne”.

Na Lei qualquer roupa contaminada pelo contato com o leproso ou um cadáver devia ser queimada. Quando temos contato com as coisas e os costumes associados ao pecado também ficamos vulneráveis a cairmos nos mesmos pecados. Até quando pregamos para pessoas envolvidas em determinadas práticas devemos ser cuidadosos para não sucumbirmos à tentação e sermos levados pelo mesmo caminho.

Dou um exemplo prático: um cristão que tenha dificuldades com assuntos relacionados ao sexo, prostituição ou pornografia não deveria pregar o evangelho para uma prostituta. Se fosse o caso de visitar alguém assim para falar, o melhor seria ele ir acompanhado de um irmão sério ou até mesmo enviar outras pessoas em seu lugar, reconhecendo seu próprio “calcanhar de Aquiles”.

Não devemos ser tolos pensando que podemos resistir ao pecado. Devemos resistir ao diabo, mas do pecado nós devemos fugir o mais rápido possível.

(1 Co 6:18) “Fugi da prostituição”.

(Tg 4:7) “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”.

(Rm 6:19) “Falo como homem, pela fraqueza da vossa carne; pois que, assim como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia, e à maldade para maldade, assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para santificação”.

Ou você acha que se José tivesse ficado sentado ao lado da mulher de Potifar ele a teria convencido a deixar seus pensamentos promíscuos e concentrar-se nas coisas de Deus? Não! José fugiu o mais rápido que podia, porque ele conhecia bem a sua própria carne.

Envolver-se com coisas como o Carnaval ou outras atividades claramente carnais e pecaminosas com o argumento de fazer isso para evangelizar é dar ocasião à carne. Ela vai aproveitar a ocasião e quando você menos espera a cascavel dará o bote.

(Gl 5:13) “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor”.

(Pv 6:27-28) “Porventura tomará alguém fogo no seu seio, sem que suas vestes se queimem? Ou andará alguém sobre brasas, sem que se queimem os seus pés?”.

Este cuidado o próprio Espírito Santo demonstrou ter nas instruções que Paulo dá a Tito, quando este estivesse exortando os cristãos em Creta. Para evitar que Tito caísse em tentação ao tratar diretamente com as jovens, Paulo sabiamente abre uma exceção neste caso. Ele devia falar diretamente aos velhos, às idosas, aos jovens e aos servos, mas não às jovens. A mensagem dirigida a elas deveria ser dada às idosas, para que estas falassem às jovens:

(Tt 2:1-6) “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Os velhos, que sejam sóbrios, graves, prudentes, sãos na fé, no amor, e na paciência; as mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem; para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, A serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada. Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados”.

(Tt 2:9) “Exorta os servos a que se sujeitem a seus senhores, e em tudo agradem, não contradizendo,”.

Veja que interessante esta passagem que extraí do livro “A Ordem de Deus”, de Bruce Anstey:

Com muita frequência vemos uma inversão na ordem do ministério de irmãos e irmãs. Por exemplo, ouvimos falar de irmãos (no papel do “Pastor”) que têm encontros em particular com mulheres — geralmente mulheres jovens — com o objetivo de aconselhá-las em sua vida pessoal. É frequente pessoas assim acabarem caindo em algum tipo de imoralidade, para desonra do Senhor. Temos um artigo que mostra que mais de 80% dos homens no “ministério” que caíram em imoralidade chegaram a tal ponto como resultado de sessões de aconselhamento! Muito disso teria sido evitado se esse ministério na igreja fosse desempenhado por mulheres”.

Agarre esta passagem de Ageu como um princípio para toda a sua vida:

(Ag 2:11-12) “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Pergunta agora aos sacerdotes, acerca da lei, dizendo: Se alguém leva carne santa na orla das suas vestes, e com ela tocar no pão, ou no guisado, ou no vinho, ou no azeite, ou em outro qualquer mantimento, porventura ficará isto santificado? E os sacerdotes responderam: Não. E disse Ageu: Se alguém que for contaminado pelo contato com o corpo morto, tocar nalguma destas coisas, ficará ela imunda? E os sacerdotes responderam, dizendo: Ficará imunda”.

Trocando em miúdos, não adianta colocar água limpa em um copo com água suja que esta não ficará limpa. Mas basta uma gota de água suja em um copo de água limpa para esta ficar suja.

*

Os irmãos precisam saber que pequei?

Sua inquietação, por ter adulterado e confessado apenas ao seu cônjuge mas a nenhum dos irmãos com os quais você mantém comunhão, deixa claro que o assunto não está resolvido nem mesmo em sua consciência, e muito menos para Deus. ”Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia… Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri… e tu perdoaste a maldade do meu pecado”. (Sl 32).

Aquele que está em pecado não deve achar que pode decidir sozinho como agir. Ele está em comunhão com outros irmãos que ignoram que estão tendo um relacionamento com alguém em pecado. Além de pecar por sua queda moral, ele passa a pecar por envolver outros com sua contaminação, permitindo que eles inocentemente continuem a tratá-lo como alguém que está andando em obediência ao Senhor. Isso é trair a confiança dos irmãos.

No Antigo Testamento quando alguém tinha lepra (figura do pecado) essa pessoa era excluída da congregação e era obrigada a morar fora do acampamento. Os sacerdotes iam periodicamente examiná-la para ver o estado da lepra. Quando o corpo todo estivesse tomado pela lepra, da cabeça aos pés, então os sacerdotes a consideravam limpa e ela podia voltar a conviver com os israelitas.

Isso parece estranho, mas existe uma aplicação para nós. É só quando fica evidente a todos que pecamos, que estamos convictos da cabeça aos pés de nosso erro, que Deus pode nos considerar limpos.

Se você está preocupado com o que os outros vão pensar, preocupe-se primeiro com o que Deus está pensando. Se você não sabe como lidar com isso em relação aos seus filhos, então estará criando hipócritas religiosos, com uma grande probabilidade de se tornarem sepulcros caiados, limpos por fora, mas sujos por dentro, como eram os fariseus.

Filhos criados assim acabam aprendendo com os pais que precisam apenas parecer perfeitos diante dos irmãos. Eles aprenderão a também varrer seus próprios pecados para debaixo do tapete para evitar o vexame público e a rejeição. Hoje em grande parte das denominações, principalmente nas mais rigorosas, isso é o que acontece. É preciso explicar a seus filhos que você errou, que está arrependido e que agora deve sofrer as consequências de seu pecado, inclusive a reprovação dos irmãos, enquanto espera na misericórdia e graça de Deus.

Se outros irmãos ficam sabendo do pecado e não se manifestam, também pecam pela omissão, ficando na mesma situação do que pecou por serem coniventes. As coisas de Deus devem ser tratadas com seriedade. Veja que até na lei brasileira, um médico que não comunica às autoridades de saúde que um paciente seu está com uma doença infectocontagiosa pode pegar de 6 meses a 2 anos de prisão. Se você trabalha numa empresa e sabe que um funcionário está roubando ou colocando em risco a empresa e seus funcionários, sua omissão certamente custará seu emprego. Serão mandados embora você e ele.

Onde congrego, quando alguém cai em pecado essa pessoa é colocada fora da comunhão à mesa do Senhor tão logo o pecado vem à tona (por ela mesma ou por meio de outros). O assunto não é tratado em público, mas em uma reunião reservada apenas com os irmãos mais responsáveis e a decisão da ação a ser tomada é depois comunicada publicamente aos irmãos, mas sem detalhes. Por exemplo, “O irmão fulano está sendo colocado fora da comunhão à mesa do senhor por pecado moral”. Isto é tudo o que os outros precisam saber para evitar terem comunhão com ele até que seja restaurado, o que é devidamente anunciado quando acontece.

Aquele que pecou não participa da ceia, não ora e nem ministra a Palavra, mas pode assistir as reuniões e sentado no fundo. Quando termina vai para casa e não se relaciona com os irmãos. Enquanto isso alguns irmãos responsáveis continuarão visitando essa pessoa para saber de seu estado, até que fique muito evidente que ela está totalmente convicta de seu mal (é o que significa a lepra da cabeça aos pés). Só então ela é restaurada à comunhão.

Algumas denominações (a sua, por exemplo) não entendem que “pecado para a morte” não se trata de perda de salvação, mas é pecado para a morte física, como aconteceu com Ananias e Safira. E também não entendem que existe um processo de restauração para aquele que pecou. Com isso denominações assim se tornam verdadeiras fábricas de hipócritas, porque todo mundo acaba querendo parecer o que não é.

Os fariseus eram assim, tão rigorosos na Lei que até quando pegaram a mulher “em flagrante adultério” não apresentaram o homem (flagrante de adultério só ocorre se duas pessoas estiverem envolvidas), talvez por ser alguém “honrado” entre eles. Conheci um homem que se dizia cristão e ocupava o cargo de “presbítero” em sua denominação, mesmo tendo duas mulheres, uma oficial e uma amante, e filhos com as duas, passando um tempo em cada casa. Sua vida dupla era notória na cidade, mas o “pastor” nunca ousou mover uma palha contra ele por ser rico e dar polpudas ofertas e dízimos para sua “igreja”. Em algumas denominações, católicas ou protestantes, quando isso acontece com um líder (padre ou pastor) o costume é transferir o padre ou pastor para outra cidade onde ninguém a conheça e ocultar seu pecado.

Podemos aprender como uma assembleia deve agir lendo o que aconteceu com o homem de 1 Coríntios 5 que estava vivendo em pecado moral. Quando o pecado vem à tona fica muito claro que a assembleia em Corinto devia tomar providências e excluir tal pessoa da comunhão (ninguém pode ser excluído da Igreja, que é o corpo de Cristo, mas apenas da comunhão):

(1 Co 5:1) “Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse da mulher de seu pai”.

A providência necessária era tirar tal pessoa do meio deles, excluí-la da comunhão com os santos (daí vem a palavra “excomunhão” ou “excomungado”):

(1 Co 5:2) “Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação”.

Aqui vemos um poder e autoridade que apenas os apóstolos tinham, de entregar uma pessoa a Satanás para a destruição da carne, isto é, a morte física. Pedro fez algo assim com Ananias e Safira em Atos 5. Hoje não existem apóstolos, e ninguém tem tal poder, mas Deus pode ainda agir e tirar a vida de um crente que insiste em pecar. Deixou de ser um auxílio para Deus e passou a ser um estorvo para o testemunho, portanto Deus o leva.

(1 Jo 5:16-17) “Há pecado para morte, e por esse não digo que ore. Toda a iniquidade é pecado, e há pecado que não é para morte”.

(1 Rs 13:26) “E, ouvindo-o o profeta que o fizera voltar do caminho, disse: É o homem de Deus, que foi rebelde à ordem do Senhor; por isso o Senhor o entregou ao leão, que o despedaçou e matou, segundo a palavra que o Senhor lhe dissera”.

Embora morra aqui, a pessoa está salva, mas “como que pelo fogo”, conforme ensina 1 Coríntios 3:15: “Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo. Na passagem abaixo o apóstolo faz menção da destruição da carne “para que o espírito seja salvo”:

(1 Co 5:3-5) “Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, Seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus”.

A permanência de alguém contaminado pelo pecado na congregação acaba contaminando os outros (Na Bíblia o fermento é sempre figura do pecado):

(1 Co 5:6-8) Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade.

A separação daquele que pecou não se restringe às reuniões da assembleia, mas também no dia a dia. Sua situação é diferente da dos incrédulos, com os quais temos necessariamente de manter contato diário na família, na escola ou no trabalho. Trata-se de alguém que, “dizendo-se irmão”, está pecando. Se eu andar com ele serei visto como cúmplice de seus pecados e acabarei me contaminando. O apóstolo exorta os santos a nem mesmo comerem com tal pessoa:

(1 Co 5:9-11) “Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais”.

A assembleia que quer estar congregada nos moldes bíblicos tem o dever de julgar o pecado, pois quando deixa de fazê-lo não pode mais querer contar com a presença do Senhor em seu meio. O Senhor não é condescendente com o pecado, portanto não irá se colocar no meio de dois ou três que fazem vista grossa para o pecado, ainda que achem que estão reunidos em nome de Jesus:

(1 Co 5:12-13) “Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo”.

Mas veja que na segunda carta de Paulo aos Coríntios a essa pessoa foi restaurada à comunhão, depois que todos os passos de disciplina foram cumpridos:

(2 Co 2:4-11) “Porque em muita tribulação e angústia do coração vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho. Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos. Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor. E para isso vos escrevi também, para por esta prova saber se sois obedientes em tudo. E a quem perdoardes alguma coisa, também eu; porque, o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás; Porque não ignoramos os seus ardis”.

Veja a ordem das coisas: o pecado trouxe angústia, sofrimento e lágrimas, o que pecou foi repreendido por muitos (como você será repreendido por muitos se não confessar seu pecado aos irmãos?), depois de arrependido foi perdoado pelos irmãos para não ser consumido pela tristeza, e pode contar com o amor de todos para com eles. A assembleia tem o poder administrativo de perdoar (é isto o que significa o “ligar” e “desligar” que o Senhor ensinou em Mateus 18:17-20). O “ligar” e “desligar” aí é da comunhão, nunca do corpo de Cristo ou da salvação eterna. Se homens pudessem “desligar” alguém do corpo de Cristo e da salvação, então teriam poder de salvar pessoas, bastando com isso “ligá-las” a uma religião.

(Mt 18:17-20) “E, se não as escutar [as testemunhas do pecado que repreenderam o pecador], dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.

O problema então passou a ser a denominação onde estava (talvez parecida com a sua) que considera que não existe restauração para alguém que pecou. Essa gente nunca deve ter lido os Salmos de Davi em que ele fala de seu adultério, e não percebe que o pecado deve ser tratado com rigor, mas isso visando a restauração da pessoa que pecou, e não com o objetivo de massacrá-la.

Depois de publicada a resposta um leitor enviou uma dúvida complementar, perguntando a razão de aquele que pecou não poder confessar publicamente para toda a assembleia o que cometeu. Minha resposta segue abaixo:

Aprendemos das epístolas que Deus estabeleceu presbíteros (anciãos ou bispos) para cuidar dos assuntos locais da assembleia. Nos tempos dos apóstolos eles eram NOMEADOS por autoridade apostólica, direta ou delegada (como no caso de Tito 1:5), hoje eles não são nomeados ou eleitos, pois não temos apóstolos. Mas eles são reconhecidos na pessoa de irmãos que notamos ter um interesse e cuidado maior com a vida prática da assembleia.

Quando alguém cai em pecado, não é adequado que se levante e faça uma confissão pública, pois isso só iria contaminar ainda mais a assembleia. Há irmãs e irmãos (e crianças) mais sensíveis que nem sempre têm estrutura para lidar com certas situações, e podem ficar escandalizados caso alguém fale em detalhes os atos que cometeu.

Mas é perfeitamente normal que alguém em pecado confesse aos irmãos que percebe serem os que têm o cuidado da assembleia, e estes poderão discutir o assunto detalhadamente em privado, pedindo a direção do senhor quanto ao tipo de disciplina a ser aplicada. Uma vez encontrada a melhor maneira, esta é então anunciada à assembleia, porém em linhas gerais, algo como “O irmão fulano está sendo colocado fora de comunhão por pecado moral [ou pecado doutrinário]”.

Se alguém que não participe das reuniões de irmãos que costumam ser promovidas para resolver estas questões quiser mais detalhes, poderá procurar os irmãos que tomaram a decisão. É importante entender que não existe uma “junta de homens” que tomam a decisão, mas apenas um cuidado de não envolver a assembleia como um todo na questão se isso não trouxer qualquer proveito.

O mesmo é feito quando alguém pede seu lugar à comunhão. Esse pedido é anunciado à assembleia e então os irmãos responsáveis (e se alguém mais quiser fazê-lo) conversarão com a pessoa para saber como está a vida dela, se não está em pecado, se não tem ideias contrárias à doutrina, etc. Uma vez que exista paz, é anunciado que os irmãos não encontraram nada em contrário ao recebimento daquela pessoa à comunhão e na ceia do Senhor da semana seguinte ela pode ter seu lugar. Nesse ínterim se alguém souber de algo que desabone a pessoa poderá trazer em particular para os irmãos.

*

Se Jesus é Deus imutável, como mudou para ser Homem?

Sim, Jesus é Deus, portanto imutável, tanto no seu ser como em seus atributos, o mesmo ocorrendo com o Pai e o Espírito Santo, as duas outras Pessoas da Trindade. Mas como o Jesus imutável mudou ao ponto de se transformar em Homem? A resposta é: ele não mudou e nem se transformou. Jesus veio em carne, isto é, adotou a natureza humana além da divina.

(Jo 8:58) “Disselhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou”.

(Jo 1:14) “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”.

(Hb 1:8-12) “Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de equidade é o cetro do teu reino. Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros. E: Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, E os céus são obra de tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; E todos eles, como roupa, envelhecerão, E como um manto os enrolarás, e serão mudados. Mas tu és o mesmo, E os teus anos não acabarão”.

(Hb 13:8-9) “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente. Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e estranhas…”.

Estas passagens mostram que Jesus é Deus, eterno e imutável em sua essência. Mas mesmo assim ele se fez carne, o que pode parecer para alguns que ele mudou, deixando de ser imutável. Será?

Se pesquisar verá casos de pessoas que recebem um transplante de coração em condições especiais que não permitem a retirada do coração original. Elas passam a viver com dois corações, e entendo que este exemplo nos ajuda a enxergar um pouco do que aconteceu. Sem deixar de ser Deus imutável, Jesus recebeu uma nova natureza, a humana.

Por isso todos os seus atributos permaneceram intactos. Ele andou aqui sem fazer uso de todos os atributos divinos, embora eles continuassem lá, inalterados. Mas em alguns momentos era possível vê-los trabalhando, quando ele domava os elementos, repreendia os espíritos malignos e multiplicava os pães. Mais que tudo, seu poder divino sobre a vida e a morte permitia que ele trouxesse mortos de volta à vida.

Era como se, no caso do transplantado, alguém duvidasse que ele ainda permanecia com seu coração original e quisesse verificar. Bastaria inclinar-se sobre o seu peito para ouvir os dois corações batendo: o original e o novo batendo lado a lado. O apóstolo João fez algo assim:

(1 Jo 1:1) “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida”.

Antes da encarnação Jesus era “apenas” Deus (digo-o reverentemente), e Deus na integralidade de sua Pessoa. Depois de vir ao mundo ele passou a ser Deus “e” Homem. Tão Deus quanto sempre foi, e tão Homem quanto sempre será eternamente. Não significa que sua divindade tenha se tornado humana, ou que sua humanidade se tornou divina, porque aí teríamos um ser híbrido, o que não é o caso. Ele é 100% Deus e ao mesmo tempo 100% Homem, e não 50% Deus e 50% Homem. Os semideuses da mitologia é que são assim.

Obviamente isto é o máximo que podemos tocar do mistério da encarnação, pois estamos falando da própria natureza de Deus, um terreno onde devemos tirar as sandálias dos pés para caminhar. Jamais entenderemos completamente Deus e em especial a encarnação. Só podemos aceitar, pois assim vemos na Palavra de Deus. Ela é clara em mostrar que Jesus é Deus, portanto imutável. E ela é clara em mostrar que o Filho de Deus se fez carne, vivendo aqui como um Homem que tinha cansaço, sede e dor. Se nossa mente não consegue entender isso, então devemos deixar como está e simplesmente crer.

Se Paulo, depois de visitar o terceiro céu, disse que “ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar (2 Co 12:4), como podemos achar que seremos capazes de entender ou falar da própria natureza de Deus? É por isso que a fé cristã não é baseada em dados ou provas científicas, mas no “firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11:1).

John Gill (1690-1771) em “Exposition of the Entire Bible” explica assim:

A palavra “carne” aqui (João 1:14) significa, não uma parte do corpo, nem apenas o corpo todo, mas a completa natureza humana, consistindo de um verdadeiro corpo e uma respectiva alma. E assim é dito a fim de revelar a fragilidade disso, sendo esse corpo assolado por fraquezas, embora sem pecado; e também para demonstrar que a natureza que ele assumiu era uma verdadeira natureza humana, e não um fantasma ou uma aparição. Quando é dito que ele se fez carne, isso não foi feito pela transformação de uma natureza em outra, a divina tornando-se humana, ou o Verbo se transformando em um homem, mas pela adoção da natureza humana, tendo o Verbo tomando essa natureza e unindo-a a si mesmo, de modo que nenhuma das naturezas foi alterada: Cristo permaneceu o que ele era, e veio a ser o que ele não era. Tampouco as naturezas se confundem ou se misturam, tornando-se assim uma terceira natureza, e nem elas são separadas e divididas, de modo a formarem duas pessoas, uma divina e uma humana. Mas elas são de tal forma unidas que formam uma única Pessoa, e tamanha é essa união que jamais poderá ser dissolvida, e ela é o fundamento e a virtude e a eficácia de todas as obras e ações de Cristo com Mediador”.

John Nelson Darby (1800-1882), em uma carta a um editor francês, resume os fundamentos da fé cristã com estas palavras:

Talvez seja oportuno, tendo em vista a infidelidade que se espalha por toda parte, começar dizendo que professo, e posso adicionar que professo isto com firmeza, todos os fundamentos da fé cristã: A divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, um Deus, bendito eternamente; a divindade e humanidade do Senhor Jesus, duas naturezas em uma pessoa; sua ressurreição e glorificação à destra de Deus; a presença do Espírito Santo aqui no mundo, tendo descido no dia de Pentecostes; a volta do Senhor Jesus conforme sua promessa. Cremos também que o Pai, em seu amor, enviou o Filho para cumprir a obra da redenção e graça para com os homens; que o Filho veio, nesse mesmo amor, para cumpri-la, e que ele consumou a obra que o Pai lhe deu para fazer na terra. Cremos que ele fez a propiciação por nossos pecados, e que depois de terminado, subiu ao céu; o Sumo Sacerdote assentado à destra da Majestade nas alturas”.

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A revelação de Deus está completa?

Sim, a revelação de Deus ficou completa com Paulo, depois que o Espírito Santo revelou a ele o mistério oculto desde os tempos eternos, que é a Igreja, o corpo de Cristo. O próprio Paulo diz:

(Cl 1:24-26) “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja; Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir [completar] a palavra de Deus; O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos;”.

Evidentemente Deus continua alimentando o seu povo e falando a nós mediante a sua Palavra e por intermédio dos dons de ministério que Cristo deu à Igreja (evangelistas, pastores e doutores ou mestres) para a edificação do corpo de Cristo. Mas estes jamais trarão novidades ou revelações inéditas; simplesmente trarão aquilo que é segundo a Palavra revelada e escrita, a Bíblia. O ministério (ministrar) da Palavra é uma coisa; revelação é outra. O ministério da Palavra continua; as revelações não porque não há nada mais que precise ser revelado. Já pensou que confusão se todos os meses precisássemos fazer download de um upgrade da Palavra de Deus, acrescentando livros e capítulos?

Em 1 Coríntios também fica claro que a inspiração da Palavra de Deus nesta dispensação foi dada aos apóstolos e a mais ninguém. Leia o capítulo 2 desde o início para entender que Paulo está falando de si próprio como apóstolo (portanto incluam-se também aí os outros apóstolos). Para facilitar o entendimento vou revelar entre chaves o sujeito oculto:

(1 Co 2:6) “Todavia [nós apóstolos] falamos sabedoria…”.

(1 Co 2:7) “Mas [nós apóstolos] falamos a sabedoria de Deus…”.

(1 Co 2:10) “Mas Deus no-las revelou [a nós apóstolos] pelo seu Espírito…”.

(1 Co 2:12) “Mas nós [apóstolos] não recebemos o espírito do mundo…”.

(1 Co 2:13) “As quais [coisas de Deus] também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as [palavras] que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais”.

Mais alguns versículos sobre a inspiração verbal (palavra a palavra) das Escrituras, dadas aos apóstolos e profetas, você encontra abaixo:

(Pv 30:5-6) “Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso”.

(2 Tm 3:16-17) “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”.

(2 Pe 1:21) “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”.

Outra evidência que a revelação de Deus foi encerrada com os apóstolos (tendo sido Paulo a completá-la com o último assunto que faltava) está no alicerce que Deus determinou para a Igreja, ou seja, os apóstolos e profetas (do Novo Testamento).

(Ef 2:20-22) “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito”.

Os apóstolos e profetas colocaram o fundamento, a partir de Cristo, a pedra de esquina, e agora nós somos meramente pedras construídas sobre esse fundamento ou alicerce. Se alguém construir fora desse fundamento colocado pelos apóstolos verá tudo que construiu ruir no final.

(1 Co 3:9-15) “Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo”.

Obviamente os pentecostais e carismáticos não gostam da ideia de tudo já estar revelado na Bíblia, porque isso não lhes dá a oportunidade de trazerem suas próprias “revelações”. Com isso muita gente é enganada. Não estou falando aqui daqueles que ministram segundo a Palavra de Deus, mas daqueles que inventam novidades que não estão na Palavra, trazendo mensagens inéditas do tipo “O Espírito Santo me revelou…”, “Deus me disse que…”, etc. Se estivéssemos nos tempos do Antigo Testamento iria faltar pedras para apedrejar tantos falsos profetas.

(Dt 18:20) “Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar… esse profeta morrerá”.

No fundo, no fundo, isso não passa de uma insatisfação: Cristo já não é suficiente para essas pessoas, por isso precisam de novas visões e revelações. Mas se Cristo não for suficiente, nada será. Se aquele por meio de quem e para quem todas as coisas foram criadas é pouco para essas pessoas, então ainda que a Bíblia tivesse um milhão de páginas elas ainda iriam querer inventar mais alguma revelação extraordinária.

(2 Tm 4:3-4) “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas”.

Buscar por novas revelações acaba levando a pessoa a uma espécie de “espiritismo evangélico”. Basta ver algumas chamadas “igrejas” com seus cultos que em nada diferem de sessões espíritas, com pessoas em transe recebendo “revelações”. Todos os anos algum grupo assim acaba marcando a data da volta de Cristo.

Você discordou de algo que eu disse a respeito, alegando que isso seria “limitar a DEUS uma vez que vivemos na direção e sob o Ministério do Espírito Santo que habita em vós e fala convosco e o arrebata para onde ELE quer, para fazer o que ELE manda o que agrada a DEUS. Paulo registra que a sua consciência é controlada pelo Espírito Santo, que ele vive não mais ele, mas Cristo vive nele”.

Há alguns problemas com sua afirmação. Primeiro, o Espírito Santo nos usa como pessoas no pleno domínio de nossas faculdades mentais. Cair no chão, andar de quatro ou ficar latindo, urrando ou gargalhando pode ser ataque de histeria ou possessão demoníaca, mas jamais é obra do Espírito Santo, que diz em sua Palavra que os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz” (1 Co 14:32-33).

Ninguém perde o domínio próprio quando usado pelo Espírito para ministrar a Palavra. Além disso, o que Paulo quis dizer com “é Cristo quem vive em mim” não se trata de uma incorporação de uma entidade espiritual que invade o corpo de alguém, como acontece nos centros espíritas e terreiros. O versículo inteiro diz:

(Gl 2:20) “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”.

Ele está falando de uma nova posição que agora tem como salvo por Cristo: seu velho “eu” já foi crucificado com Cristo; ele já não deve nada à lei ou à carne (é o assunto dos versículos anteriores), já que agora sua identificação é com Cristo. Sua vida nova é vivida na fé do Filho de Deus, e não mais na concupiscência da carne. É este o sentido: o velho dono perdeu o direito sobre mim; agora sou de outro, Cristo.

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Deus ainda fala conosco hoje?

Certamente que Deus fala conosco hoje, mas nem sempre ele faz isso da mesma maneira. Quando o assunto é a revelação de Deus dada ao homem, então não há nada mais para ser dito. O apóstolo Paulo, por assim dizer, “fechou” o cânon sagrado ao trazer o último assunto que faltava: o corpo de Cristo. Embora cronologicamente ele não tenha sido o último apóstolo a escrever, os outros (João em Apocalipse, por exemplo), não acrescentaram novos assuntos, mas trouxeram detalhes daquilo que Deus já havia revelado, como a volta de Cristo, por exemplo.

(Cl 1:24-26) “…pelo seu corpo, que é a igreja; Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir [completar] a palavra de Deus; O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos”.

Desde o início a revelação de Deus tinha um objetivo: revelar o seu Filho, Jesus, e a obra que ele veio consumar. (Hb 1:1-2) “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo”. Ap 19:10 “…porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”.

Até mesmo os profetas do Antigo Testamento foram usados para anunciar coisas que nem eles mesmos entendiam, ou que nem eram para o tempo em que viveram, mas tudo tinha por objetivo Cristo.

(1 Pe 1:10-12) “Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar”.

(Dn 12:9) “E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim”.

Algumas vezes a Bíblia declara que Deus falou em som audível, embora o entendimento fosse dado apenas para aqueles que eram de Deus, como aconteceu aqui:

(Jo 12:28-29) “Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei. Ora, a multidão que ali estava, e que a ouvira, dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Um anjo lhe falou”.

(At 9:4; 22:29) “E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?… E os homens, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém… E os que estavam comigo viram, em verdade, a luz, e se atemorizaram muito, mas não ouviram [discerniram] a voz daquele que falava comigo”.

Em outras ocasiões não dá para afirmar que tenha sido uma voz audível, uma impressão, um pensamento ou uma sensação. Mas Deus falou muitas vezes e continua falando de diversas maneiras ao seu povo hoje, principalmente pela sua Palavra, a Bíblia.

Deus pode nos trazer à mente uma passagem ou usar outra pessoa para isso, seja diretamente, seja pela leitura ou pelo ouvir de algum irmão ministrando a Palavra. Sempre que a Palavra de Deus chega até nós ela não voltará vazia, mas irá cumprir os propósitos de Deus. Infelizmente às vezes esse propósito é o de mostrar que não estamos atentos à sua voz, e acabamos perdendo muito com isso.

Se alguém achar que a Bíblia é uma comunicação limitada e que precisa receber algo de novo, alguma trovoada vinda do céu ou uma voz clara e audível, é porque ainda não conhece o poder da Palavra de Deus que tem em mãos. Veja esta passagem:

(2 Pe 1:3-4) “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude; Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo”.

O que isso quer dizer é que não nos falta coisa alguma. “Nos deu TUDO o que diz respeito à vida e piedade”. O dia que você achar que já conhece tudo o que concerne à vida e piedade, e está ciente dessas “grandíssimas e preciosas promessas” por meio das quais possamos ser participantes da natureza divina, então talvez irá precisar de alguma revelação fresquinha vinda dos céus. Mas não acredito que seja este o seu caso e nem o meu. Vamos terminar nossa vida aqui sem termos absorvido 1% do que Deus já revelou em sua Palavra. Quem fica correndo atrás de novas profecias, sonhos e revelações é porque ainda não aprendeu a se contentar com a plenitude que há em Cristo.

O objetivo do que Deus nos fala em sua Palavra é nos fazer pensar como ele pensa e agir neste mundo como Jesus agiria se ainda estivesse andando aqui. Deus usa os dons de ministério para nos trazer da sua Palavra e com três objetivos principais: edificação, para crescermos à estatura de Cristo, exortação, para quando andamos errados e precisamos de correção, e consolação, para nos alegrar enquanto andamos neste deserto.

(1 Co 14:3) “Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação”.

(2 Tm 3:16-17) “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”.

Portanto Deus ainda fala, mas em tempos de ruína como estes em que vivemos devemos entender que ele não faz isso com a frequência que fazia em outras épocas, como no início da Igreja, por exemplo. Vivemos em um tempo parecido com o de Juízes, quando cada um fazia o que bem entendia, por não terem uma direção. (Jz 17:6) “Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos”.

O livro de 1 Samuel também mostra um estado de coisas parecido com o da cristandade hoje: aqueles que deveriam estar ministrando por Deus em favor do povo estavam engordando e roubando para si próprios aquilo que o povo ofertava a Deus. Eram sacerdotes que nem sequer conheciam o Senhor. Basta ler o capítulo 2 de 1 Samuel para ver algo muito semelhante ao que fazem os pregadores que só sabem pedir dinheiro.

(1 Sm 2:12) “Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial; não conheciam ao Senhor. Porquanto o costume daqueles sacerdotes com o povo era que, oferecendo alguém algum sacrifício, estando-se cozendo a carne, vinha o moço do sacerdote, com um garfo de três dentes em sua mão; e enfiava-o na caldeira, ou na panela, ou no caldeirão, ou na marmita; e tudo quanto o garfo tirava, o sacerdote tomava para si; assim faziam a todo o Israel que ia ali a Siló. Também antes de queimarem a gordura vinha o moço do sacerdote, e dizia ao homem que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote; porque não receberá de ti carne cozida, mas crua. E, dizendo-lhe o homem: Queime-se primeiro a gordura de hoje, e depois toma para ti quanto desejar a tua alma, então ele lhe dizia: Não, agora a hás de dar, e, se não, por força a tomarei. Era, pois, muito grande o pecado destes moços perante o Senhor, porquanto os homens desprezavam a oferta do Senhor”.

Além disso era um tempo em que a Palavra de Deus era rara (“de muita valia”), pois não havia “visão manifesta”. (1 Sm 3:1) “O jovem Samuel servia ao Senhor, perante Eli. Naqueles dias, a palavra do Senhor era mui rara; as visões não eram frequentes”.

Talvez você discorde dizendo que tem um montão de “igrejas” por aí onde todos os dias as pessoas têm visões e recebem revelações. Será? Uma vez um irmão contou que alguém na “igreja” onde estava chegou atrasado ao culto porque o pneu do carro furou e não conseguiu trocá-lo, pois seu macaco quebrou. Ao chegar, disse rapidamente à “pastora” que “se atrasou porque seu macaco estava com um problema”. Mais tarde, a mulher no púlpito disse que estava recebendo uma revelação de Deus para aquele irmão, e disparou: “Irmão, não te desesperes porque o Espírito diz que o teu macaco já foi curado!”.

Meu conselho para não ser enganado pelos falsos profetas é que você confira tudo o que diz a Palavra de Deus. Alguns dirão: “Oras, mas isso seria desconfiar do ‘ungido de Deus’!”. Talvez seja isso que o “pastor” tenha lhe ensinado, ameaçando-o com fogo e enxofre se desconfiar dele. Não se preocupe. Eu não conheço ninguém em nossos dias mais ungido do que o apóstolo Paulo, no entanto o Espírito Santo chama de “mais nobres” aqueles que foram conferir se existia fundamento no que Paulo e Silas estavam dizendo.

(At 17:10-11) “E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Bereia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim”.

Hoje há muitos enganadores, lobos, falsos mestres e falsos profetas querendo se passar por arautos de Deus, quando na verdade não passam de ministros do diabo. Paulo fala deles:

(2 Co 11:13-15) “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras”.

Os tribunais estão cheios de processos com acusações de estelionato contra pastores e líderes religiosos, mas infelizmente suas ovelhas são tão cegas que acreditam ser isso perseguição religiosa, e enxergam seus líderes como vítimas e mártires. Não são, e basta ver que os processos são por crimes de estelionato, lavagem de dinheiro, sonegação, formação de quadrilha, conspiração, etc. Não precisa ser muito inteligente para ver que isso nada tem a ver com o único crime de que eram acusados os cristãos e mártires do passado: pregar o nome de Jesus.

(At 4:17) “Mas, para que não se divulgue mais entre o povo, ameacemo-los para que não falem mais nesse nome a homem algum. E, chamando-os, disseram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem, no nome de Jesus”.

(1 Pe 4:14-16) “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; Mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte”.

Quem não sabe distinguir entre ser perseguido por pregar o nome de Jesus e ser processado por arrancar o dinheiro dos incautos nem deveria sair de casa desacompanhado. Não são poucos os que hoje vivem na miséria porque doaram absolutamente tudo — dinheiro, eletrodomésticos, casa e carro — para algum líder religioso.

Voltando à questão de Deus falar conosco, o melhor mesmo é conhecer bem a Palavra de Deus para evitar ser enganado. Eu particularmente não gosto quando alguém vem a mim dizendo que “Deus lhe disse para me dizer tal e tal coisa…”. Isso é manipulação. Qualquer pessoa que vem a mim dizendo que o que vai falar é uma mensagem recebida diretamente de Deus está me obrigando a não julgar o que ele vai dizer, a engolir do jeito que está. Porém a Palavra de Deus é muito clara: eu devo julgar sim, não importa quem fale.

(1 Co 14:29) “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”.

(Jo 7:24) “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça”.

(Mt 7:15) “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores”.

(Mt 10:16) “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas”.

(At 20:29) “Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho;”.

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O que era a serpente de bronze?

Você gostaria de saber qual o sentido dessa passagem: “E disse o Senhor a Moisés: Faze-te uma serpente ardente, e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela.” (Nm 21:8).

Muita coisa que Deus fez no Antigo Testamento eram tipos ou figuras de coisas que iriam se realizar no Novo Testamento. Veja estes versículos que atestam isso:

(Jo 3:14-15) “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

(Rm 15:4) “Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança”.

(Cl 2:16-17) “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.

(Rm 5:14) “No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir”.

(1 Co 10:1-6) “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar. E todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar, E todos comeram de uma mesma comida espiritual, E beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo. Mas Deus não se agradou da maior parte deles, por isso foram prostrados no deserto. E estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram”.

(Hb 9:24) “Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus”.

(Hb 11:17-19) “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar; E daí também em figura ele o recobrou”.

(1 Pe 3:20-21) “Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água; Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo”.

Tenho um texto que guardo há anos que explica a passagem da serpente de bronze usando um quadro antigo. Trata-se de um quadro do período medieval que se encontra na Biblioteca Bodleiana de Oxford, na Inglaterra. O quadro representa a passagem bíblica em Números 21:9 que diz: “Fez, pois, Moisés uma serpente de bronze, e pô-la sobre uma haste; e sucedia que, tendo uma serpente mordido a alguém, quando esse olhava para a serpente de bronze, vivia”.

É interessante pararmos um pouco para analisar o que o artista quis expressar. Ao observar o quadro você pode reparar que a haste, ou espécie de cruz sobre a qual a serpente está erguida fica no centro da cena e divide o quadro em duas partes ou posições. Enquanto de um lado se vê muitas serpentes, no outro não há nenhuma.

Por detrás de Moisés, vê-se um homem de pé, cobrindo o peito com os braços em cruz e olhando para a serpente de bronze. Representa um israelita que, depois de ter sido mordido, recebeu a salvação e a vida ao olhar para a serpente de bronze. No outro lado, nota-se representadas quatro classes de pessoas que não fazem o mesmo que aquele homem que fora sarado havia feito para se ver livre do efeito da mordedura.

Em primeiro plano, vê-se um homem ajoelhado diante da cruz ou haste, mas olhando para Moisés e não para a serpente de bronze, como se reconhecesse em Moisés o líder de alguma religião. Por detrás desse está outro, deitado, como se descansasse seguro, embora em perigo evidente pois se pode ver uma serpente muito próxima de seu ouvido, como se lhe sussurrasse ao ouvido: “Paz, paz! Quando não há paz” (Jr 6:14).

Um pouco mais atrás da cruz ou haste, aparece um indivíduo com o rosto compungido e a praticar uma obra de misericórdia, atando as feridas de um pobre doente, sem se aperceber que corre o mesmo perigo que o companheiro. Por detrás deste, já ao fundo, pode-se ver um homem lutando corajosamente contra as serpentes que o atacam. Todavia nenhuma dessas pessoas olha para a serpente de bronze conforme lhes tinha sido ordenado. O mesmo acontece na vida da maioria das pessoas.

Existe um caminho de salvação claramente assinalado mas, em vez de aceitá-lo, as pessoas seguem por outros quatro caminhos que de nada lhes valem. Olham para líderes religiosos esperando deles a salvação; ou descansam neste mundo achando que estão seguros do juízo; ou praticam obras de caridade confiando em seus méritos, ou ainda tentam lutar contra o pecado confiando em suas próprias forças. Porém nenhum desses métodos é eficaz.

Aquele quadro é o testemunho silencioso de um artista anônimo do princípio do século XV, que viveu retirado em algum monastério em uma época de ignorância e superstição mas que demonstra haver recebido a luz do Evangelho. Seu quadro é prova disso.

Quando não estamos deitados, com uma sensação de falsa segurança, estamos lutando contra as serpentes, combatendo o pecado, o que é o mesmo que apoiar-se nas próprias forças. Tentamos vencê-las confiando em nossos méritos. Tentamos praticar boas obras, esperando com isso receber a anulação de nossos pecados. Isso também não passa de confiança própria. Ou nos apoiamos na religião e seus líderes, pensando estar nisso a salvação.

Apesar de todos os esforços, homem algum pode salvar-se a si próprio. É preciso aceitar o caminho que Deus determinou. É preciso achegar-se a Cristo reconhecendo-se um pecador perdido e olhar para ele, o crucificado, para se receber a salvação. Assim como Moisés apontava para a serpente de bronze pendurada no madeiro, Deus aponta hoje para aquele que morreu no lugar do pecador.

Foi o próprio Senhor quem revelou a analogia existente entre o episódio da serpente de bronze e a sua Pessoa: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:14-15).

Se você está sentindo os efeitos da picada da serpente, do pecado, se você sente os efeitos de seu veneno, volte-se para Cristo. Olhe para ele, por fé, morrendo por você na cruz, e ele lhe dará o perdão e a vida eterna.

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Quem são os bodes e ovelhas de Mateus 25?

A passagem que leu em Mateus 25:31-46 nos fala da vinda de Cristo para julgar as nações e reinar. Isso ocorre depois do arrebatamento da Igreja (descrito em 1 Tessalonicenses 4) e da grande tribulação (descrita em Mateus 24).

(Mt 25:31:-32) “Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, assentar-se-á em seu trono na glória celestial. Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes.

Se você considerar também outra passagem que fala do mesmo evento, verá que é correto pensar que Jesus descerá acompanhado também dos santos que foram arrebatados antes:

(1 Ts 3:13) “Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos”.

Repare em alguns detalhes importantes aqui: Jesus vem com todos os seus anjos e santos para um julgamento das nações (ou gentios), identificadas aqui como “bodes” e “ovelhas”. Se você observar o Antigo Testamento verá que o julgamento de nações era algo comum, e Deus fazia isso levando em conta como elas tratavam o seu povo terreno, Israel. O Julgamento das Nações é um julgamento coletivo de grupos de pessoas vivas, dentre as quais algumas continuarão vivas para desfrutarem do reino milenial de Cristo e outras serão mortas para aguardarem o julgamento individual do Grande Trono Branco no final de Apocalipse.

Portanto é preciso não confundir este julgamento de Mateus 25 com o Tribunal de Cristo, que é um julgamento, não das pessoas, mas das obras dos crentes, onde todos saem salvos (é como um júri de obras de arte, por exemplo). As passagens que falam do Tribunal de Cristo, do qual só participam os salvos, estão aqui: Rm 14:10; 1 Co 3:11-15; 2 Co 5:9-10.

O Julgamento das Nações de Mateus 25 também não pode ser confundido com o Grande Trono Branco, ou juízo final, de Apocalipse 20:11-15. Estes “bodes” de Mateus 25 serão mortos e ficarão aguardando o juízo final para serem lançados no lago de fogo.

Talvez a passagem em Joel possa ser identificada com este momento aqui: (Jl 3:2) “Congregarei todas as nações, e as farei descer ao vale de Jeosafá; e ali com elas entrarei em juízo, por causa do meu povo, e da minha herança, Israel, a quem elas espalharam entre as nações e repartiram a minha terra”.

É importante notar que as nações (gentios) serão julgadas de acordo com a maneira como trataram o remanescente fiel de Israel, aqueles judeus convertidos durante a tribulação, muitos dos quais terão sido martirizados. Se prestar atenção verá que existem aqui três classes, e não apenas duas: “bodes”, “ovelhas” e “pequeninos irmãos”.

Os “bodes” serão as nações que não deram guarida aos “pequeninos irmãos”, os judeus convertidos nesse período que estarão sendo perseguidos pelo anticristo. As “ovelhas” serão as nações que protegeram e alimentaram esses judeus errantes. Estas recebem do Rei a promessa: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”.

É importante entender que não se trata aqui da salvação eterna, já que esta não é obtida por meio de boas obras. A promessa é de participarem vivos do reino de Cristo na terra, o qual durará mil anos. Durante esses mil anos aqueles que pecarem serão julgados todas as manhãs e serão mortos, para depois serem julgados no Grande Trono Branco. Entenda-se que o reino de Cristo na terra será formado por pessoas que não necessariamente nasceram de novo, mas que apenas professam submissão ao Rei, algo muito parecido com o que acontece hoje na cristandade. É preciso lembrar que no final dos mil anos Satanás será solto (ele ficará preso nesse período) e irá arrebanhar milhões de seguidores para lutarem contra Cristo, o que mostra que nem todos terão entrado no milênio realmente convertidos, e nem todos os que nascerem nesse período serão de Deus.

O Senhor se identifica com estes judeus de tal modo que os chama de “meus pequeninos irmãos”. Serão esses “pequeninos irmãos” os que se recusarão a negar o nome do Senhor e a ter a marca sobre suas mãos e testas. A identificação do Senhor com seus “pequeninos irmãos” faz lembrar a identificação dele com a igreja no livro de Atos, quando ele pergunta a Paulo “Por que me persegues?”, quando Paulo perseguia os cristãos, e não o Cristo, que Paulo considerava já morto.

Outro detalhe que aprendemos da passagem é que Deus não preparou o fogo eterno para os homens, mas “para o diabo e seus anjos” Mateus 25:41. Os homens que forem parar no lago de fogo estarão em um lugar que não era destinado a eles, mas para onde eles insistiram em ir.

Mais um detalhe importante é o da introdução dos gentios no reino milenar de Cristo: (Mt 25:34) “Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita [as ovelhas]: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado DESDE a fundação do mundo”. O reino prometido a Israel e aos gentios que protegerem os “pequeninos irmãos” é um reino preparado “desde a fundação do mundo”.

Trata-se de algo diferente daquilo que foi prometido à igreja em Efésios 1:4-23: “nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor… a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos”. Durante o reino milenial de Cristo aqui neste mundo existirá uma distinção clara entre judeus e gentios, algo que não existe na atual época da igreja. Esta, apesar de ser formada por judeus e gentios convertidos a Cristo, é identificada como algo à parte de judeus e gentios.

(1 Co 10:32) “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos [gentios], nem à igreja de Deus”.

A grande dificuldade que as pessoas têm para entenderem a profecia está em não conseguirem distinguir com clareza que Deus tem dois povos, Israel e Igreja, e saber que a Igreja não aparece nenhuma vez na profecia no Antigo Testamento, mas é um parêntese no desenrolar dos planos de Deus. A Igreja, que foi formada apenas em Atos 2 e deixará este mundo no arrebatamento de 1 Tessalonicenses 4, permaneceu um mistério durante milênios, tendo sido revelada inicialmente apenas ao apóstolo Paulo, conforme ele explica:

(Ef 3:4-10) “Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, O qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas; A saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho; Do qual fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder. A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus,”.

(Cl 1:24-26) “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja; Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus; O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos;”.

A falta de compreensão e distinção entre Igreja e Israel causou aberrações como as Cruzadas, quando os cristãos acreditaram que deveriam tomar posse na Jerusalém terrena e expandir o evangelho no mundo usando a força. Esta mesma visão continua entre os adeptos da Teologia do Domínio e seus desdobramentos, como a Teologia da Prosperidade, que não enxerga a diferença entre as promessas terrenas feitas a Israel e as promessas celestiais feitas à Igreja.

No mesmo engano incorrem aqueles que aguardam pela vinda do anticristo e pela realização de eventos que só ocorrerão após o arrebatamento da Igreja, como a pregação do evangelho do reino em todo o mundo e os juízos descritos em Apocalipse para caírem sobre o planeta. Assim como acontece com o abotoar de uma camisa, se você errar o primeiro botão, todos os outros serão abotoados errados, quando não se tem entendimento das diferentes dispensações ou maneiras de Deus tratar com o homem, tudo mais ficará fora de seu lugar.

Mas às vezes o entendimento imperfeito de que Deus irá abençoar Israel no final também leva a atitudes erradas por parte dos cristãos, que passam a acreditar que a volta prometida de Israel à sua terra já tenha acontecido e passam então a estimular judeus a voltarem para Jerusalém, ao invés de pregar o evangelho a eles. Esses se esquecem de que os judeus voltaram a Israel ainda em seu estado de incredulidade e rebelião contra Deus, o qual permitiu isso porque é ali mesmo que dois terços deles serão mortos pelos exércitos do anticristo. A terra de Israel que ora existe será dizimada antes de Deus realmente plantar ali o seu povo, porém será salvo o remanescente fiel que irá se converter ao seu Rei após o arrebatamento da Igreja.

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Quem são os “cães” de Filipenses 3?

Sua dúvida está em identificar quem são os “cães”, os quais o apóstolo Paulo fala para evitarmos em Filipenses 3:2 “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão. Eles aparecem aqui associados aos “maus obreiros”, que são aqueles que não usam bem os recursos que Deus lhes dá e apenas fingem trabalhar na obra (pense na parábola dos talentos) e os da “circuncisão”, que eram aqueles que obrigavam os cristãos a se circuncidarem e a guardarem a Lei de Moisés (a epístola aos Hebreus foi escrita para suas vítimas).

Os judeus chamavam de “cães” os gentios, pois os cães são animais impuros segundo a Lei:

(Mc 7:27) “Mas Jesus disse-lhe: Deixa primeiro saciar os filhos; porque não convém tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”.

O Senhor usa também a expressão para aqueles que não têm cuidado com as coisas de Deus:

(Mt 7:6) “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem”.

Em 2 Pedro 2 mais uma vez “cão” aparece ao lado da “porca”, agora se referindo aos “falsos profetas” e “falsos doutores”, ou seja, homens que conhecem a Palavra de Deus, porém não são verdadeiramente convertidos e acabam usando seu conhecimento para proveito próprio e para prejudicar a fé dos incautos.

No versículo 1 de 2 Pedro 2 eles são os que introduzem encobertamente heresias e negam o Senhor, fazendo com que o caminho da verdade seja blasfemado. Isso tem tudo a ver com muitos dos pregadores de nossos dias que escandalizam até os incrédulos com sua ganância. Quando você vai falar da verdade a algum incrédulo este retrucará falando do pastor fulano que vive pedindo dinheiro e enganando seus seguidores. Hoje a pregação do verdadeiro evangelho está muito prejudicada por esses escândalos causados por falsos evangelistas.

O versículo 3 de 2 Pedro 2 fala que por “avareza”, ou amor ao dinheiro, farão negócios dos crentes com “palavras fingidas”. Além do amor ao dinheiro e das mentiras que usam para consegui-lo, outra característica desses homens é que “desprezam as autoridades, atrevidos obstinados, não receando blasfemar das dignidades”. O apóstolo está falando claramente de falta de respeito a anjos, sejam eles fiéis a Deus ou caídos.

Isto fará mais sentido quando lido em conexão com Judas 1 que também fala dos mesmos “cães”, em especial a passagem onde mostra a ousadia deles em repreender Satanás, algo que só o Senhor tem autoridade para fazer e nem mesmo o arcanjo Miguel (“arcanjo” significa “arqui-anjo” ou anjo principal) ousou fazer:

(Jd 1:8-10) “E, contudo, também estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne, e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades. Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda. Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem”.

Em ambas as epístolas eles são chamados de “animais irracionais”, numa referência ao seu papel de “cães”:

(2 Pe 2:12) “Mas estes, como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem presos e mortos, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção,”.

(Jd 1:10) “Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem”.

Resumindo, se quiser ver um “cão”, ligue o rádio ou a TV agora mesmo e com certeza você encontrará um pedindo dinheiro, mentindo e falando daquilo que não entende.

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Deus mudou de opinião sobre o casamento?

Sua dúvida é a respeito do que Deus diz sobre Adão, antes de lhe dar uma esposa — “Não é bom que o homem esteja só” — e o que Paulo diz em sua epístola sobre a conveniência de ser solteiro. A aparente contradição surge quando não entendemos as diferentes maneiras de Deus lidar com o homem ao longo dos séculos. Quando Deus criou Adão, ele criou um homem da terra para viver na terra. A terra era o lugar de Adão, portanto ele foi preparado para viver sempre aqui. Por isso Deus lhe deu uma companheira, dizendo que não seria bom que Adão (que significa “homem”) vivesse só.

Adão caiu e com a queda veio a primeira crise conjugal: ao ser questionado por Deus, Adão culpou a esposa que Deus lhe deu, ou seja, de uma só tacada culpou a mulher e Deus, de quem Adão a recebeu. O resto da história você conhece, de como eles foram expulsos do Paraíso e etc. Aquilo que era para ter sido uma vida feliz a dois, também acabou deteriorado pelo pecado, como tudo o mais na Criação.

Mesmo assim Deus não mudou sua opinião em relação ao matrimônio, que permanece até nossos dias. Durante o tempo em que Deus tratou com seu povo terreno, Israel, o matrimônio também foi grandemente exaltado e o homem que possuía uma mulher e muitos filhos era tido como abençoado. Uma esposa estéril era sinal de desgraça para o casal.

Quando chegamos nos evangelhos vemos que nosso Senhor era solteiro, porém ele estava nessa condição porque aguardava pela Noiva que lhe seria preparada.

(2 Co 11:2) “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo”.

(Ef 5:25) “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja”.

(Ef 5:31-32) “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja”.

(Ap 19:7) “Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou”.

(Ap 21:2) “E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido”.

Mas em determinado momento o Senhor louva o eunuco (ele está falando do celibato) que decide ser assim por causa do Reino dos Céus:

(Mt 19:12) “Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o”.

Então Paulo lança mais luz sobre isso ao mostrar que é melhor que o homem permaneça só do que casado:

(1 Co 7:27-33) “Estás ligado à mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não busques mulher. Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca. Todavia os tais terão tribulações na carne, e eu quereria poupar-vos…. E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; Mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher”.

O que parece uma contradição, quando comparado ao sentimento de Deus em relação a Adão no Paraíso, não é, se entendemos as diferentes dispensações. Hoje é melhor que o homem fique só, diz o apóstolo, para se dedicar mais ao Senhor, como o eunuco que o Senhor mencionou, que prefere ficar assim por causa do reino dos céus. O próprio Paulo dá a resposta da razão disso: Porque “o tempo se abrevia”, para estar “sem cuidado”, para dedicar menos tempo às coisas do mundo, que são necessárias quando se é casado.

Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta é que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem; e os que choram, como se não chorassem; e os que folgam, como se não folgassem; e os que compram, como se não possuíssem; e os que usam deste mundo, como se dele não abusassem, porque a aparência deste mundo passa.”

Nesta atual dispensação o cristão vive com o cajado na mão e sandálias nos pés, pronto para a partida, como estavam os israelitas no Egito. A partir do momento em que a Igreja foi criada, os crentes passaram a viver na iminência da vinda do Senhor para arrebatá-los, como fazia o próprio apóstolo Paulo ao se incluir nisso: Nós, os vivos, os que ficarmos…” 1 Ts 4. Ao contrário da condição de Adão no jardim do Éden, e dos israelitas na terra de Canaã, o cristão não tem aqui morada permanente, portanto se puder evitar tudo que atrapalha sua carreira nas coisas de Deus, melhor será.

Obviamente Deus continua honrando o matrimônio e até mesmo para determinadas funções na Igreja a ordem é que sejam desempenhadas por pessoas casadas. Mas você irá observar que são funções práticas e administrativas, e não necessariamente de ministério da Palavra. O apóstolo mais usado por Deus, e aquele a quem foi revelado o mistério (ou segredo) da Igreja, foi um homem solteiro ou viúvo. Isto deve querer dizer algo para nós também.

(Tt 1:5-6) “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei: Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes”.

Mas, como já disse, Deus continua honrando o matrimônio e usando também aqueles que são casados em muitos aspectos de sua obra. Aí entra a continuação da admoestação de Paulo, que torna também os casados a se dedicarem ao Senhor:

o que resta é que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem; e os que choram, como se não chorassem; e os que folgam, como se não folgassem; e os que compram, como se não possuíssem; e os que usam deste mundo, como se dele não abusassem, porque a aparência deste mundo passa; os que choram, como se não chorassem; e os que folgam, como se não folgassem; e os que compram, como se não possuíssem; e os que usam deste mundo, como se dele não abusassem”.

Se alguém pretende não se casar para aproveitar a vida de solteiro, então não é disso que Paulo está falando. Ele está dizendo de abrir mão de um privilégio (casar e ter uma família) para se dedicar a outro (ter mais tempo para a obra de Deus).

Portanto, não há contradição entre o que Deus disse em Gênesis e o que Paulo diz na epístola. O que Deus pensa do matrimônio continua valendo (apesar de hoje o pecado ter também causado um grande dano nessa parte), mas em virtude da urgência e do pouco tempo que falta para o Senhor voltar, é preferível que aquele que tem por objetivo dedicar-se com mais energia ao Senhor possa fazê-lo sem os empecilhos normais de uma família. Todavia isso não tem nada a ver com a proibição do casamento ou o celibato obrigatório do catolicismo, o que é claramente condenado pelo próprio Paulo em sua epístola a Timóteo:

(1 Tm 4:1-3) “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças;”.

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O arrebatamento da Igreja aparece no Antigo Testamento?

O arrebatamento não aparece nas profecias do Antigo Testamento. É possível utilizar figuras do arrebatamento, como Enoque e Elias, mas apenas como exemplos e não como sendo a coisa em si. Enoque e Elias foram tirados do mundo por uma espécie de arrebatamento, mas não é o mesmo que ocorrerá com a Igreja, quando os mortos ressuscitarão e os vivos serão transformados. Destes Jesus é as “primícias” ou os primeiros frutos, portanto ele não poderia ter sido precedido por Enoque e Elias nessa condição.

(1 Ts 4:13-18) “Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras”.

Para entender o arrebatamento é preciso entender antes que a Igreja não é Israel, mas era um mistério (segredo) que não foi revelado a nenhum dos profetas do Antigo Testamento. Portanto é preciso entender que as profecias do Antigo Testamento NUNCA falam da Igreja. Quando Israel rejeitou seu Messias e Rei Jesus, a profecia entrou em um estado de suspense para Deus introduzir a época da Igreja. Assim que esta for arrebatada o relógio profético recomeça a bater para cumprir a última semana de anos profetizada por Daniel.

(Dn 9:24) “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo”. — Ou seja, Deus está revelando a Daniel que até tudo ser resolvido com respeito a Israel, até Cristo voltar para reinar, se passarão “setenta semanas” ou 490 anos. Este tempo é dividido em 3 partes.

(Dn 9:25) “Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém…” — A ordem foi dada por Artaxerxes em 445 A.C. ”…até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos”.  As setenta semanas aparecem divididas em dois períodos, um de 7 semanas (49 anos) e outro de 62 semanas (434 anos). Nas primeiras 7 semanas (49 anos) Jerusalém foi reconstruída.

(Dn 9:26) “E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo…” — Aqui fala da morte do Messias, Jesus, ocorrida 434 anos após a reconstrução de Jerusalém. “…e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações”.  Esta é a destruição da cidade e do Templo, o que ocorreu no ano 70 da era cristã. A cidade e o templo foram destruídos pelos romanos, “o povo do príncipe que há de vir”, uma alusão ao anticristo.

(Dn 9:27) “E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador”.  Repare que as 70 semanas de anos foram divididas em 7 semanas para reconstrução da cidade, 62 semanas até o Messias ser “tirado”, e finalmente a última semana (7 anos) quando esse príncipe fará cessar o sacrifício e ocorrerá “a consumação” ou o fim.

Se você fizer as contas, verá que são perfeitamente identificáveis na história as primeiras 7 semanas e a outra porção de 62 semanas, mas não a última, pois ainda não ocorreu. Entre a retirada do Messias e o dia de hoje já se passaram mais de dois mil anos que não aparecem no cálculo porque era justamente o período em que Deus iria encaixar a sua Igreja, o “segredo” ou “mistério” que estava escondido da profecia dirigida a Israel. A retomada das tratativas com Israel só pode ocorrer se a Igreja for tirada de cena, já que ela não tem nada a ver com Israel. Isto ocorrerá no arrebatamento.

Portanto o arrebatamento já poderia acontecer a qualquer momento a partir do dia de Pentecostes, em Atos 2, já que não existia nada que precisasse se cumprir profeticamente entre a retirada do Messias e o início da última semana. No final da última semana Cristo vem para reinar e traz consigo justamente aqueles que foram arrebatados:

(1 Ts 3:13) “Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo COM TODOS OS SEUS SANTOS”.

Para que “todos os seus santos” participem dessa vinda de Jesus para reinar, obviamente eles precisam estar no céu antes disso.

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A sombra de Pedro curava?

A passagem em Atos 5:15 parece indicar que a sombra dos apóstolos era capaz de milagres, embora ali não diga isso claramente, mas apenas que as pessoas levavam os doentes para serem cobertos pela sombra dos apóstolos.

(At 5:15) “De sorte que transportavam os enfermos para as ruas, e os punham em leitos e em camilhas para que ao menos a sombra de Pedro, quando este passasse, cobrisse alguns deles”.

Mas devemos entender que aqueles eram apóstolos, não os salafrários da TV que vivem pedindo dinheiro e prometendo milagres. Hoje não existem apóstolos. Além disso, no livro de Atos a Igreja tinha acabado de ser criada e Deus confirmava isso com muito poder e maravilhas feitas através dos apóstolos.

A grande diferença entre o que acontecia em Atos e a conversa dos pregadores do rádio e da TV, que se dizem capazes do mesmo poder, está no final do versículo seguinte:

(At 5:16) “E até das cidades circunvizinhas concorria muita gente a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos; OS QUAIS ERAM TODOS CURADOS”.

Quando você encontrar um pregador desses da TV entrando em um hospital e saindo pela outra porta seguido por TODOS os pacientes curados, então pode acreditar que ele tem o mesmo poder dos apóstolos. Se ele disser que tem o mesmo poder e não puder fazer isso, então o mais provável é que você esteja diante de um impostor.

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Se um livro me faz bem, isso faz dele um livro bom?

Depois de ler meu comentário sobre os erros e heresias do livro “A Cabana” você decidiu me escrever para contar que tinha sido muito abençoada pela leitura do mesmo livro. Você diz que, depois de ler o livro, ficou “realmente com o coração em paz, pois pude perceber que por mais gentil que fosse com as pessoas, ainda as julgava, o que não cabe a mim fazer. No meu ponto de vista, talvez Deus tenha usado este livro pra falar comigo e me mostrar que posso confiar no seu amor”.

Fico contente que o livro tenha sido de auxílio para você, como certamente foi para muita gente, mas isso não transforma os erros graves que traz em acertos. Na Bíblia Deus usa pessoas, coisas e animais para ensinar algo ao seu povo, mas isso não é um aval de Deus para imitarmos o tipo de vida daquelas pessoas ou para adotarmos um objeto ou animal como nosso mentor. Deus usou um rei extremamente ímpio chamado Herodes para reconstruir o templo que Jesus chamou de “casa de meu Pai” nos evangelhos. Usou também um pé de abóbora para tocar o coração de Jonas (Jn 4), uma jumenta para falar com Balaão (Nm 22:28; 2 Pe 2:16) e uma estatueta de metal para curar os israelitas das picadas de serpente no deserto (Nm 21:8).

Será que isso quer dizer que devemos admirar Herodes, plantar abóboras, adotarmos uma jumenta de profetiza e fazer estatuetas de serpente para vender para o Instituto Butantã? Certamente não. Deus, na sua soberania, usa o que ele quer para cumprir seus propósitos, porém nós devemos ser criteriosos antes de darmos um voto de aprovação até às coisas que foram usadas por Deus em nossa conversão, edificação, exortação e consolação.

A serpente de metal, que prefigurava Cristo, precisou ser destruída mais tarde quando se tornou um ídolo para o povo (2 Rs 18:4). Embora Deus tenha usado também um jumento para conduzir Jesus em sua entrada triunfal em Jerusalém, em nenhum lugar a Bíblia nos diz que devemos tê-los em casa (muito menos eu, que moro em apartamento). Abóboras eu como sem me preocupar em achar que Deus vai querer usá-las para me dizer algo, como fez com Jonas. E jamais ousaria reconstruir o templo de Jerusalém — como tem uma religião fazendo em São Paulo — sabendo que Deus permitiu sua destruição e que hoje ele não é mais o lugar onde devemos adorar (Jo 4:21).

O comentário que fiz do livro “A Cabana” tem por objetivo apontar os erros grosseiros e profanos que ele traz quando comparado com a Bíblia. O fato de ser um livro que traz algum proveito a alguém (ao escritor ele certamente trouxe um bom ganho financeiro) não minimiza seus erros. Se eu soubesse do que ele tratava, nem teria começado a ler (fui até a metade e não aguentei mais tantos erros). Minha sugestão é que você confira tudo o que ler com a Bíblia, inclusive o livro “A Cabana” e até mesmo os comentários que fiz sobre ele. Aquilo que estiver em desacordo com a Palavra de Deus você deve rejeitar.

Costumo receber e-mails de pessoas que dizem terem sido convertidas e abençoadas por intermédio de pregadores dos quais eu não compraria um carro usado ou deixaria para tomar conta do meu, de tão salafrários. No entanto não posso negar que Deus os tenha usado, mas posso e devo julgar seus atos e suas doutrinas para não cair em erro. Deus nos dá essa responsabilidade de examinar e julgar tudo o que vem até nós, como ele ensinava os seus discípulos a fazerem em relação aos fariseus e suas doutrinas. Devemos ser sábios como os varões de Bereia, que examinavam tudo o que Paulo e Silas lhes ensinavam para verem se estava de acordo com as Escrituras.

(At 17:10-11) “E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Bereia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim”.

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Um anjo apareceu na igreja?

Você enviou a notícia de um suposto anjo que teria aparecido em uma foto tirada com um celular em uma igreja de Maringá. Não dá para ver muita coisa na foto de baixa resolução, mas esse tipo de fenômeno acontece com câmeras de baixa qualidade e erros de interpretação de luz e sombra pela câmera.

Tudo indica que o tal anjo seja outro guitarrista, ou o mesmo que está ao lado, cuja imagem criou a sombra luminosa (isto se não foi manipulação da foto). Peguei o perfil do suposto “anjo” e coloquei sobre a figura o guitarrista para ver como os dois fazem a mesma pose. Se for um anjo ele estava tocando guitarra na hora da foto… e quase dá para ver um sapato aparecendo sobre a “túnica” luminosa. Eu não me lembro de ouvir falar de anjos de sapato.

Câmeras de vídeo digitais de baixa qualidade também são capazes de transformar simples mosquitos que passam voando rapidamente diante da lente em discos voadores. Se eu tivesse a foto na resolução original ficaria bem simples mostrar que é um defeito de exposição, uma sobreposição ou até manipulação.

São coisas assim que atraem multidões ávidas por enxergar algo, quando a fé verdadeira é justamente crer na Palavra de Deus, e não em alguma manifestação visível. Nos evangelhos Jesus repreende Tomé, que disse que só seria capaz de crer se visse o Senhor.

(Jo 20:29) “Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram”.

Ele também não confiava naqueles que o seguiam só por causa dos sinais e milagres:

(Jo 2:23-25) “E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia; E não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem”.

São coisas assim que lotam igrejas com pessoas que acreditam em qualquer coisa, e ao mesmo tempo fazem do evangelho motivo de zombaria por quem tem um mínimo de bom senso. Os evangélicos agora decidiram fazer o que os católicos vêm fazendo há séculos: enxergar anjos em qualquer borrão. Daqui a pouco alguém vai dizer que foi curado pelo “anjo aparecido” e acabarão construindo uma basílica no lugar.

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Devo sempre usar “Senhor” antes do nome “Jesus”?

Você perguntou por que no “Evangelho em 3 minutos” na maioria das vezes eu digo “Jesus” e não “Senhor Jesus”. A forma de tratá-lo em uma narrativa não diminui o fato de ele ser Senhor e de eu reconhecê-lo como tal. É importante entender que, para o cristão, Jesus não é o Rei, como é para Israel, portanto não estaria correto eu dizer “Rei Jesus” ao falar dele. Ele também não é o Pai, portanto não devo dizer “Pai Jesus”. Nem preciso falar que é fora de propósito chamá-lo de “Amigão”, “Grande Irmão” ou coisas do tipo. Para o cristão Jesus é o Senhor, e por isso está correto acrescentar “Senhor” antes do nome “Jesus”. Mas isto não quer dizer que se você não o fizer estará cometendo um erro ou agindo com falta de respeito.

Portanto podemos dividir sua dúvida em duas. Primeira: “Devo sempre colocar ‘Senhor’ antes de ‘Jesus’ quando me dirigir a ele?” Sim, porque na Bíblia os únicos que vemos chamando a Jesus diretamente de “Jesus”, sem se dirigirem a ele como Senhor, são os demônios.

(Mt 8:29) “E eis que [os endemoninhados] clamaram, dizendo: Que temos nós contigo, Jesus, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?”.

O contraste você encontra quando Pedro dirige a palavra a Jesus:

(Mt 17:4) “E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e um para Elias”.

A segunda dúvida seria: “Devo sempre colocar ‘Senhor’ antes de ‘Jesus’ quando me referir a ele em palavra ou texto?” Não, porque nem sempre vemos assim na Bíblia, especialmente quando alguém fala de Jesus, e não com Jesus.

Um texto que li no primeiro ano de minha conversão causou um impacto tão grande em mim que acabei aceitando tudo o que o autor dizia sem questionar. De um modo geral o texto é excelente, mas a impressão que deixou em mim o último parágrafo é que foi equivocada (não consegui encontrar o original inglês para saber se o último parágrafo existe ou foi uma glosa do tradutor). Ali o autor desconhecido dizia:

O crente deve honrar o Senhorio de Cristo, reconhecendo-o como Senhor. O mundo religioso lhe nega esta honra e quase universalmente se refere a ele como “Jesus”, o nome de sua humanidade. Vemos como Paulo, em suas epístolas, cuidadosamente o trata honradamente como ‘O Senhor Jesus Cristo’.”.

Nem nós percebemos o quanto de costumes religiosos recebemos e incorporamos sem questionar, e isso acaba se transformando em dogmas. Foi o que aconteceu comigo com esta última frase do texto. É inegável que Jesus seja o Senhor, mas o autor está enganado ao dizer que era assim que Paulo sempre se referia a ele em suas cartas. Estaria correto se ele dissesse que Paulo se dirigia a ele como Senhor, mas não afirmar que Paulo colocava “Senhor” antes do nome “Jesus” sempre que falava dele.

Fiz uma busca e descobri que das 987 vezes que os autores do Novo Testamento usaram o nome “Jesus”, em apenas 119 vezes eles acrescentam “Senhor” antes do nome. Paulo usa o nome “Jesus” 235 vezes em suas epístolas, e apenas em 87 delas diz “Senhor Jesus”, fazendo-o quando o contexto assim o exige. No geral Paulo usa a forma que é também a mais usada pelos evangelistas em suas narrativas, que é apenas o nome “Jesus”, exceto quando se dirige a ele, usando neste caso sempre “Senhor” ou “Senhor Jesus”.

Portanto, se você ensinar alguém que no Novo Testamento os apóstolos sempre chamam Jesus de “Senhor Jesus” (eu costumava ensinar assim), agora já sabe que tal coisa não tem fundamento na Palavra, mas é uma mera formalidade religiosa.

Como “O evangelho em 3 minutos” é uma narrativa dirigida principalmente a incrédulos (trata-se do evangelho), optei por utilizar a forma mais usada nos evangelhos pelos evangelistas. Nos evangelhos temos 697 ocorrências do nome “Jesus” e apenas 21 delas aparece como “Senhor Jesus”. Os apóstolos, inspirados pelo Espírito Santo, certamente não estavam sendo desrespeitosos ao dizerem frases do tipo “Então veio Jesus da Galileia ter com João…” ou “E percorria Jesus toda a Galileia…”.

Na versão escrita optei por usar minúsculas nos pronomes pessoais. Quando o assunto é a forma de tratamento das Pessoas da Trindade, isso pode variar muito com o tempo e as normas do idioma utilizado. Por exemplo, no hebraico e grego antigos não havia caracteres minúsculos como usamos hoje, portanto naqueles idiomas você jamais escreveria “Jesus”, mas sempre “JESUS”.

Embora quando escrevemos um texto possamos iniciar pronomes possessivos referentes a Deus ou a Jesus com letras maiúsculas, como “Teu”, “Tua”, “Vosso”, “Vossa”, em muitas versões tradicionais da Bíblia encontraremos a grafia normal “teu”, “tua”, “vosso”, “vossa”, começando com minúsculas. Isto é feito por questões estéticas para evitar poluir o texto e dificultar a leitura, mas nem por isso é menos respeitoso, sendo apenas a convenção adotada pelo editor. Mas mesmo nessas edições Deus, Jesus e Espírito Santo começam com maiúsculas, como é normal fazermos com nomes próprios.

Como fui “ensinado” por aquela lição errada do texto que li, na qual o autor dizia que os discípulos SEMPRE se referiam a Jesus colocando “Senhor” antes do nome, costumava ficar escandalizado quando escutava alguém falar “Jesus” sem o devido “Senhor” antes do nome. O que eu nem imaginava era que os apóstolos também usavam apenas o nome em suas narrativas. Eu nem iria me deter tanto sobre este assunto se não tivesse, eu próprio, experimentado o efeito que isso pode causar em um crente.

Sempre que adotamos alguma coisa que não está na Bíblia como mandamento, acabamos nos sentindo superiores a outros que não adotam o mesmo modo de proceder. Eu me sentia assim quando ouvia alguém falar “Jesus” sem “Senhor” antes. A verdade é que eu não era muito diferente do fariseu, que se gabava de ser mais religioso que o pobre publicano no Templo:

(Lc 18:11) “O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: O Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana…”.

Podia parecer uma grande coisa ele jejuar duas vezes por semana, mas você já foi conferir se em algum lugar da Lei Deus exigia que os judeus jejuassem duas vezes por semana?

Para terminar, se você considerar mais respeitoso dizer “Senhor Jesus” que apenas “Jesus”, então faça assim. Mas se achar que isso lhe dá um sentimento de superioridade, algo do tipo “sou o único com o passo certo no desfile do 7 de setembro”, então alguma coisa está errada. Sem saber você criou um mandamento que não existe na Palavra de Deus, uma forma de se diferenciar de outros cristãos, o que, parafraseando o apóstolo, pode ter “alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.”.

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Se Jesus não podia ser apedrejado, por que apedrejaram Estevão?

Sua dúvida também já foi a minha: Por que os judeus não podiam aplicar uma sentença de morte por apedrejamento em Jesus, por estarem sob o domínio romano, sendo que apedrejaram Estevão? É fato que os judeus não tinham autonomia para aplicar a pena de morte, por estarem sujeitos à autoridade romana, mas também é fato que mesmo em nossos dias o linchamento ilegal é praticado em todo o mundo. Acredito que podemos chamar o caso de Estevão, não de pena de morte, mas de linchamento.

Jesus também escapou de ser linchado, se é que podemos chamar assim a pena de morte por apedrejamento aplicada (ilegalmente na época) pelos judeus. Houve pelo menos uma ocasião quando tentaram apedrejar Jesus, porém ele desapareceu de diante deles. A sua hora de morrer ainda não havia chegado, e quando chegasse, tudo se cumpriria exatamente conforme as profecias do Antigo Testamento.

(Jo 8:59) “Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou”.

(Jo 8:20) “Estas palavras disse Jesus no lugar do tesouro, ensinando no templo, e ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora”.

Considerando a notoriedade do Senhor, obviamente os religiosos tinham medo de lhe fazer qualquer mal.

(Mc 12:12) “E buscavam prendê-lo, mas temiam a multidão; porque entendiam que contra eles dizia esta parábola; e, deixando-o, foram-se”.

Estevão, ao contrário, não tinha a notoriedade de Jesus. Além disso, na ocasião da sua morte o povo já tinha mudado de opinião a respeito de Cristo e do cristianismo. Lembre-se de que não só os religiosos, mas todo o povo pediu a Pilatos a crucificação de Jesus apenas 5 dias depois de ele ter sido recebido triunfalmente em sua entrada em Jerusalém. Tudo isso obviamente era Deus permitindo que a rejeição do Messias se concretizasse.

Vemos também que Paulo foi apedrejado e só não morreu porque pensaram que já estivesse morto. Apesar de estar em uma cidade da Grécia, ali também era território do Império Romano, portanto sujeito às leis de Roma. Podemos considerar o caso de Paulo como um linchamento popular incitado pelos judeus dali, e não uma condenação formal e legal:

(At 14:19) “Sobrevieram, porém, uns judeus de Antioquia e de Icônio que, tendo convencido a multidão, apedrejaram a Paulo e o arrastaram para fora da cidade, cuidando que estava morto”.

Portanto, resumindo a resposta à sua pergunta, uma condenação formal só poderia ser executada pela autoridade romana, e no caso a morte seria ao modo romano, por crucificação. Quando alguém morria por apedrejamento, isso não tinha sido uma condenação legal e formal, mas um ato de linchamento, portanto ilegal.

Tiago, irmão de João, deve ter sido morto também de forma ilegal, à espada (Atos 12:2), apesar de a ordem ter partido do rei Herodes (os reis da época eram marionetes de Roma). Se isso foi feito às claras ou não, obviamente Herodes, sendo uma autoridade, podia argumentar que Tiago resistiu à prisão. Lembre-se de que angariar falsas testemunhas sempre foi uma prática comum em todas as épocas.

O próprio Paulo, que de caçador virou caça, provavelmente mandava prender os cristãos e mandá-los à morte usando de subterfúgios legais, como discípulos daquele que se dizia rei dos judeus, portanto um disseminador de uma oposição a César.

(At 26:9-11) “Bem tinha eu imaginado que contra o nome de Jesus Nazareno devia eu praticar muitos atos; O que também fiz em Jerusalém. E, havendo recebido autorização dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e quando os matavam eu dava o meu voto contra eles. E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui”.

Que os cristãos presos pelos guardas judeus por razões religiosas eram depois “legalmente” mortos pelos romanos nós vemos pelo fato de eles terem sido transformados em entretenimento nas arenas romanas, seja como escravos gladiadores, seja como meras vítimas para serem despedaçadas pelos animais selvagens.

A popularidade dos “reality shows” e o incremento da brutalidade em esportes como as lutas marciais mistas (UFC), podem muito bem ser o embrião do que será a perseguição do remanescente judeu durante a tribulação. Um cenário assim pode ser visto em várias obras de ficção, como no filme “A Noite dos Desesperados” (“They shoot horses, don’t they?”) e no livro “Jogos vorazes” (“The hunger games”). O homem tem sede de sangue pois é homicida desde o princípio, como o príncipe deste mundo.

(Jo 8:44) “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele”.

Mas voltando à sua pergunta, eu diria que é significativo vermos que, apesar de todas as tentativas dos judeus de matarem o Senhor Jesus à maneira deles, nada lhe aconteceu até que a sua hora tivesse chegado e ele fosse morto exatamente do modo como havia sido previsto pelos profetas (Sl 22, Is 53 e outros).

(At 4:24-28) “E, ouvindo eles isto, unânimes levantaram a voz a Deus, e disseram: Senhor, tu és o Deus que fizeste o céu, e a terra, e o mar e tudo o que neles há; que disseste pela boca de Davi, teu servo: por que bramaram os gentios, e os povos pensaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, e os príncipes se ajuntaram à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido. Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer”.

A incapacidade dos judeus de atentarem contra a vida de Jesus, a não ser sob a permissão de Deus, mostra que nem eles, e nem Pilatos, podiam fazer qualquer coisa se isso não estivesse determinado por Deus. Quando Pilatos soube disso, ele até tentou driblar o poder e autoridade de Deus querendo soltar Jesus, mas não conseguiu.

(Jo 19:10-12) “Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar? Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem. Desde então Pilatos procurava soltá-lo.

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Por que o Cordeiro foi morto desde a fundação do mundo?

Sua dúvida é a respeito da passagem em Apocalipse 13:8, que diz: “E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”.

A passagem não significa que o Cordeiro foi morto antes, durante a fundação do mundo, ou que vinha sendo morto desde então, mas que os que adorarão a besta não tiveram seus nomes escritos no livro da vida desde a fundação do mundo. Outro versículo de Apocalipse esclarece isso:

(Ap 17:8) “A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à perdição; e os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo) se admirarão, vendo a besta que era e já não é, mas que virá”.

Como o versículo está se referindo aos que ficarem no mundo durante a tribulação e após o arrebatamento, existe esta distinção de “desde a fundação do mundo”, para o povo terreno de Israel, que é desde quando o reino terreno de Cristo está preparado para esse povo:

(Mt 25:34) “Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;”.

Quando a Palavra de Deus se refere à Igreja, a sua eleição é anterior até mesmo à eleição de Israel:

(Ef 1:4) “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;”.

A dificuldade com Apocalipse 13:8 decorre de um problema na tradução. Veja algumas traduções alternativas:

E hão de adorá-la todos os habitantes da terra, cujos nomes não estão escritos desde a origem do mundo no livro da vida do Cordeiro imolado”. Edição Ave Maria.

Todos os habitantes da terra a adorarão, aqueles cujos nomes desde o princípio do mundo não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto”. Sociedade Bíblica Britânica.

Então adoraram a Fera todos os habitantes da terra cujo nome não está escrito, desde a fundação do mundo, no livro da vida do Cordeiro imolado”. CNBB.

E todos os que habitam sobre a terra lhe prestarão culto, todo aquele cujo nome não foi escrito desde a fundação do mundo no livro da vida do Cordeiro imolado”. Darby.

Antes da fundação do mundo Cristo foi preordenado como o Cordeiro que haveria de morrer, mas isso não aconteceu até que chegasse a sua hora.

(1 Pe 1:19-20) “Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós”.

Portanto, o Cordeiro não foi morto desde a fundação do mundo, mas foi conhecido antes da fundação do mundo, e só manifestado há dois mil anos, quando João Batista declarou que ele era o Cordeiro de Deus. Sua morte ocorreu exatamente quando os evangelhos a descrevem, não antes e nem depois.

A eficácia do sangue do sacrifício de Cristo, porém, é eterna, salvando a todos os que Deus havia eleito “desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade” (2 Ts 2:13). Os que morreram na fé antes de Cristo são salvos pelo mesmo sacrifício que aqueles que morreram depois, porque o propósito de Deus acerca desse sacrifício era eterno, e sua eficácia também.

No Antigo Testamento podemos ver tipos e figuras de Cristo sendo morto, como no animal que Deus mata para fazer as vestes de peles para Adão e sua mulher, e também nos milhões de animais sacrificados ao longo da história de Israel. Mas aqueles eram apenas figuras ou sombras do Cordeiro que viria.

Tampouco o sacrifício de Cristo se repetiu depois daquele dia fatídico na cruz do Calvário. Acreditar que o sacrifício se repita a cada culto religioso ou transubstanciação, como ensinam algumas religiões, é uma afronta à eficácia do sangue de Cristo derramado “uma vez” para a remissão dos pecados.

É um erro também construir uma mesa chamada de “altar”, como algumas religiões fazem em seus templos, como se ali fossem repetir o sacrifício de Jesus. Na Bíblia, “altar” era o lugar onde eram queimados os animais sacrificados. Alguns eram feitos com um monte de pedras, mas o altar do Tabernáculo no deserto era uma grande caixa de madeira revestida de metal com uma grelha dentro para as cinzas caírem em baixo.

Quem realmente crê na Palavra de Deus não terá dúvidas da singularidade do único e suficiente sacrifício de Cristo, principalmente se reparar quantas vezes a epístola aos Hebreus assinala que o sacrifício só ocorreu “uma vez”.

(Hb 7:27) “Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo”.

(Hb 9:12) “Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção”.

(Hb 9:26) “De outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo”.

(Hb 9:28) “Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação.”

(Hb 10:10) “Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez”.

(1 Pe 3:18) “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito;”.

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Por que Deus abençoa alguém se isso o fará tropeçar?

Acho que você está confundindo duas dispensações diferentes: Israel e Igreja. Para Israel, ser abençoado significava também ser rico neste mundo. Para a Igreja, ser abençoado é ter “todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1) e “Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.” (1 Tm 6:8).

Se você encontrasse um rico nos dias de Israel poderia dizer que era um judeu abençoado, mas quando você encontra um incrédulo rico hoje não existe fundamento para associar sua riqueza a bênçãos de Deus, apesar de nem ele saber que se não fosse da vontade de Deus seu coração já teria parado antes de ganhar o primeiro centavo. Obviamente continua valendo que Deus faz chover tanto sobre os justos como sobre os ímpios.

No que diz respeito ao crente, não existe para a atual dispensação a noção de bênção como sendo algo material, mas só espiritual. Quando se trata do cristão, o que ele recebe de Deus são “misericórdias” e se isso incluir bens materiais, o mais certo é que Deus quer fazer dele um despenseiro (responsável pela despensa) de Deus.

A riqueza e o dinheiro não são o problema ou o que leva a pessoa a tropeçar, mas o amor ao dinheiro é o que leva à ruína. Os que querem ficar ricos também estão brincando com fogo, porque esta não deveria ser jamais a meta do crente na vida. Relembrando, ”Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.” (1 Tm 6:8).

(1 Tm 6:10) “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”.

(1 Tm 6:9) “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína.”

(1 Tm 6:17) “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos;”.

(Tg 2:5) “Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?”.

É claro que isto nada tem a ver com o que ensinam os pregadores da prosperidade, que incitam seus seguidores à avareza (amor ao dinheiro), a ficarem descontentes com o que têm (“estejamos com isso contentes”) e a desejarem sempre mais. O Senhor foi categórico em condenar o amor às riquezas (avareza):

(Lc 12:15) “E disselhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui”.

O apóstolo Paulo chegou a colocar a avareza entre pecados como prostituição, idolatria e homicídio:

(Rm 1:29) “Estando cheios de toda a iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade;”.

(Ef 5:3) “Mas a prostituição, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos;”.

(Cl 3:5) “Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria”.;

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A mulher pode trabalhar fora?

A pessoa no vídeo que você mandou usa o versículo de 1 Timóteo 5:8 para afirmar que apenas o marido deve trabalhar para o sustento do lar, enquanto a esposa se ocupa apenas com as tarefas de casa. A passagem diz: “Se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel”.

O versículo aplicado assim fica fora de contexto. A passagem de 1 Timóteo fala de viúvas, e de familiares dessas viúvas que não cuidavam em suprir suas necessidades. O assunto ali não é se quem deve trabalhar para ganhar o sustento é o homem ou a mulher.

Entendo que a Bíblia ensina que o principal mantenedor de um lar deve ser o homem, e a prioridade da mulher são os filhos e o lar. Mas isto não significa que ela não possa trabalhar para ajudar no sustento da família, conforme explicarei mais adiante. Vamos ver outra passagem que detalha bem o papel da mulher no matrimônio, ao descrever o que devem fazer as viúvas jovens:

(1 Tm 5:14) “Quero, pois, que as que são moças se casem, gerem filhos, governem a casa, e não deem ocasião ao adversário de maldizer;”.

Casar-se, gerar filhos e governar a casa são as atividades colocadas neste versículo, portanto podemos assumir que sejam as atividades prioritárias na vida de uma mulher casada. É inegável que as circunstâncias em muitos lares têm causado uma inversão de papéis, passando o homem a exercer o papel de criar filhos e governar a casa, enquanto a esposa sai para trabalhar fora. Essa inversão não é o padrão bíblico.

Obviamente não quero com isso colocar um fardo sobre as mulheres que precisam trabalhar para manter o lar por pura omissão de seus maridos, e nem sobre os maridos desempregados ou incapacitados de trabalhar que precisem depender da esposa para trazer o sustento. Como costumava dizer meu professor de química, estou falando em “condições normais de temperatura e pressão”.

Neste ponto você pode estar entre aqueles que acreditam que a Bíblia não serve para nossos dias, que Paulo era machista ou coisa semelhante, mas continue lendo antes de tirar conclusões precipitadas. Diz o ditado que quem é apressado come cru e quem é lerdo come frio. Então vamos ser ponderados.

Existem duas fases distintas na vida de uma esposa: quando os filhos estão em casa e depois que crescem e tomam cada um o seu rumo. Os filhos são a prioridade da esposa, sua principal carreira. Escrevi sobre isso em um artigo com o título “A carreira mais importante do mundo”, e dou graças a Deus porque um dia minha mãe abriu mão de uma carreira no comércio para cuidar de mim e de minhas irmãs. Eu falo sobre isso em minha crônica “Quem é o seu personal coach?”.

E depois que os filhos crescem e deixam de ser prioridade? Acho que uma boa ideia é vermos como vive a mulher que Deus elogia:

Busca lã e linho, e trabalha de boa vontade com suas mãos. Como o navio mercante, ela traz de longe o seu pão. Levanta-se, mesmo à noite, para dar de comer aos da casa, e distribuir a tarefa das servas. Examina uma propriedade e adquire-a; planta uma vinha com o fruto de suas mãos. Cinge os seus lombos de força, e fortalece os seus braços. Vê que é boa a sua mercadoria; e a sua lâmpada não se apaga de noite. Estende as suas mãos ao fuso, e suas mãos pegam na roca…. Faz para si cobertas de tapeçaria; seu vestido é de seda e de púrpura… Faz panos de linho fino e vende-os, e entrega cintos aos mercadores… Está atenta ao andamento da casa, e não come o pão da preguiça” (Pv 31).

Tudo indica que a mulher virtuosa é uma mulher trabalhadora e com discernimento para negócios. Talvez na época ela trabalhasse no que hoje chamamos de “home-office”, mas não há dúvida de que ela era uma empreendedora.

Não devemos nos esquecer de Priscila, que era sócia de seu marido em sua fábrica de tendas, “pois tinham por ofício fazer tendas (At 18:3); ou “Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira”, porém com uma casa em Filipos (At 16:14); ou Dorcas, que tinha o que hoje chamaríamos de uma micro empresa de confecções, com uma clientela de “túnicas e roupas” que se entristeceu muito com sua morte (At 9:39).

Portanto, ainda que a prioridade da mulher seja criar seus filhos desde pequenos, como fizeram a mãe e avó de Timóteo, uma vez que seus filhos sejam independentes e as circunstâncias exigirem, nada impede que ela também trabalhe em casa ou fora, não para inverter os papéis, mas para continuar sendo laboriosa como a mulher virtuosa de Provérbios. Ela não só vendia o que produzia, como ajudava no orçamento do lar economizando por não precisar comprar outros produtos.

O que costuma desequilibrar a harmonia vida-trabalho é que muitos cristãos buscam um padrão de vida que acaba exigindo que abandonem os filhos aos cuidados de terceiros. Aí a solução é baixar o padrão de vida para ter mais tempo para investir na carreira mais importante do mundo: ser mãe.

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Quanto tempo vive o homem?

Sua dúvida é sobre o que eu disse na mensagem #282 “Uma nova chance” do “Evangelho em 3 Minutos” a respeito do tempo de vida das pessoas. Talvez seja melhor eu traduzir o que encontrei no “Concise Bible Dictionary” a respeito do assunto:

Idade do Homem — De Adão a Noé os homens viviam muito mais do que no período que se seguiu. Adão viveu 930 anos, Noé 950 e Matusalém 969, a maior idade registrada na Bíblia. Após o Dilúvio, Sem viveu 600 anos, mas ninguém depois dele chegou aos 500. Em Pelegue vemos outro declínio: ele viveu 239 anos. Abraão viveu apenas 175 anos.

Podemos facilmente entender a razão de Deus permitir que as pessoas vivessem mais na antiguidade da terra do que mais tarde. Deus disse a Adão: “Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 1:28). Ele também disse o mesmo a Noé após o dilúvio em Gênesis 9:1-7. Quando a terra se tornou cada vez mais povoada, o tempo de vida do homem foi reduzido.

O único indício do que hoje talvez possa ser considerada uma longevidade normal para o homem está em Salmo 90:10, e mesmo assim trata-se de um lamento por sua vida breve e atribulada: “Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando”.

Trata-se de algo notável por ser, conforme o início do Salmo, a “Oração de Moisés, homem de Deus”, já que lemos que ele viveu 120 anos e que “os seus olhos nunca se escureceram, nem perdeu o seu vigor” (Dt 34:7). Porém os Salmos eram proféticos tanto para o nossa época como para as épocas futuras.

Durante os mil anos do Milênio aparentemente ninguém morrerá, exceto os ímpios, e cem anos de idade será considerada idade de criança: os dias do povo de Deus serão como os dias de uma árvore, e seu povo irá, após a maldição ter sido removida, desfrutar uma idade avançada desfrutando do trabalho de suas mãos.

(Is 65:20-21) “Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não cumpra os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; porém o pecador de cem anos será amaldiçoado. E edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu fruto”.

Traduzido de “Concise Bible Dictionary”

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Por que os tímidos não serão salvos?

Você está preocupado por achar que sua timidez poderá levá-lo à perdição eterna. Isto porque leu o versículo: (Ap 21:8) “Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte”.

Quando o Senhor acalmou a tempestade diante dos olhos dos discípulos, ele os repreendeu por sua falta de fé, chamando-os de “tímidos”:

(Mc 4:40) “E disselhes: Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?”

Outras traduções trazem “medrosos” em lugar de “tímidos” dando uma ideia de que o medo é justamente isso: falta de fé no Senhor. João explica que, quando estamos cientes do amor de Deus então não há temor, portanto existe fé e confiança de que Deus não falha:

(1 Jo 4:14-18) “E vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo [porque Deus amou de tal maneira…]. Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus [simples assim, quem crê tem a vida eterna…]. E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor [nesse amor de Deus] está em Deus, e Deus nele. Nisto é perfeito o amor [de Deus] para conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos nós também neste mundo. No amor [de Deus] não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor”.

Portanto, entenda o “tímido” como aquele que simplesmente não crê, pois vive em temor e desconfiança de Deus. Não conheceu e nem entendeu o amor de Deus, que entregou o que tinha de mais precioso — o seu Filho — para nos salvar. “Timidez”, no sentido de Ap 21:8, é incredulidade e covardia por não abraçar o que Deus oferece de graça: a salvação.

Veja outras traduções para a passagem:

(NVI) “Mas os covardes, os incrédulos, os depravados, os assassinos, os que cometem imoralidade sexual, os que praticam feitiçaria, os idólatras e todos os mentirosos — o lugar deles será no lago de fogo que arde com enxofre. Esta é a segunda morte”.

(ARCA) “Mas aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, que é a segunda morte”.

(Biblia) “Os tíbios, os infiéis, os depravados, os homicidas, os impuros, os maléficos, os idólatras e todos os mentirosos terão como quinhão o tanque ardente de fogo e enxofre, a segunda morte”.

(CNBB) “Quanto aos covardes, infiéis, corruptos, assassinos, devassos, feiticeiros, idólatras e todos os mentirosos, o lugar deles é o lago ardente de fogo e enxofre, ou seja, a segunda morte”.

É neste sentido que algumas traduções trazem a palavra “tímido”. Está falando de covardia em aceitar a Cristo, tipo alguém que fica em cima do muro. Não se trata da timidez no sentido de pessoas recatadas, que preferem não se abrir muito com os amigos, que têm dificuldade de se expressar em público, etc., mas de pessoas que estão se afogando, você joga a corda, e ela fica em dúvida, vacilando: “Será que devo agarrar?”.

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A profecia se cumpriu com a volta dos judeus em 1948?

O retorno de Israel à sua terra em 1948 pode ser o cumprimento de Mateus 24:32-34, Marcos 13:28-30 e Lucas 21:29-32, mas não creio que seja o cumprimento da profecia do Antigo Testamento que prevê sua volta. Estas passagens dos evangelhos acima falam da figueira brotando, não frutificando.

(Mt 24:32) “Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão”.

Na Bíblia, “folhas” são uma representação do que é apenas exterior, porém sem grande utilidade. Foi com um cinto de folhas que Adão e Eva tentaram esconder sua nudez, mas Deus precisou fazer roupas de peles para eles.

(Mt 21:19) “E, avistando uma figueira perto do caminho, dirigiu-se a ela, e não achou nela senão folhas. E disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente”.

O Israel que vemos hoje de volta à Palestina em 1948 não passa de folhas, pois não traz qualquer fruto para Deus. O povo voltou em estado de incredulidade e insubordinação, e obviamente não é isto o que a profecia diz.

(Dt 30:1-3) “E será que, sobrevindo-te todas estas coisas, a bênção ou a maldição, que tenho posto diante de ti, e te recordares delas entre todas as nações, para onde te lançar o Senhor teu Deus, E te converteres ao Senhor teu Deus, e deres ouvidos à sua voz, conforme a tudo o que eu te ordeno hoje, tu e teus filhos, com todo o teu coração, e com toda a tua alma, Então o Senhor teu Deus te fará voltar do teu cativeiro, e se compadecerá de ti, e tornará a ajuntar-te dentre todas as nações entre as quais te espalhou o Senhor teu Deus”. [leia todo o capítulo 30].

A promessa de restauração é para um tempo quando Israel se converter ao Senhor e for fiel a ele, não no estado em que se encontra o povo. A rigor, o pior lugar para um judeu estar será na terra de Israel, pois dois terços da população daquele país será morta por ocasião da grande tribulação.

(Zc 13:8-9) “E acontecerá em toda a terra, diz o Senhor, que as duas partes dela serão extirpadas, e expirarão; mas a terceira parte restará nela. E farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro. Ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo; e ela dirá: O Senhor é o meu Deus”.

Mas a volta de Israel à terra, mesmo em desobediência, tem seu significado, ainda que não seja o cumprimento da profecia do Antigo Testamento. O Senhor disse para observarmos a figueira, que representa Israel como nação. Disse também para observarmos as outras árvores, ou seja, as outras nações.

(Lc 21:29) “E disselhes uma parábola: Olhai para a figueira, e para todas as árvores;”.

Hoje vemos as “árvores” (nações) tomando cada uma o seu lugar no palco. A peça ainda não começou, mas os personagens começam a se posicionar. Isto vale para Israel, vale para a Europa, que já esboça uma volta à unidade do antigo Império Romano, vale para os países árabes, Rússia, etc.

Mas, volto a repetir, não devemos achar que todas as artimanhas de Israel para não arredar o pé da terra prometida sejam aprovadas por Deus, e nem devemos mandar os judeus voltarem para sua terra, como fazem alguns cristãos. Devemos pregar o evangelho a eles para que se convertam a Cristo e sejam salvos. Era isso que Paulo e os outros apóstolos faziam quando encontravam um judeu. Embora cientes de sua eleição como povo terreno de Deus, os apóstolos não os paparicavam como crianças mimadas, mas diziam veementemente: “Arrependam-se!”.

(At 3:19-21) “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor, E envie ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado. O qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio”.

Cada judeu que se converte passa a ser um membro da Igreja, e não é mais visto por Deus como judeu ou israelita, pois a Palavra indica claramente a distinção que Deus faz das três classes de pessoas: judeus, gentios e Igreja de Deus.

(1 Co 10:32) “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus”.

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Por que Deus proibiu comer da árvore da vida?

No início Deus não proibiu o acesso à árvore da vida, mas isso ocorreu só depois que Adão e Eva pecaram. Entendo que a árvore da vida permitiria ao homem viver indefinidamente.

(Gn 2:9) “E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal”.

Acredito que a primeira opção de Adão e Eva devia ser irem correndo comer da árvore da vida, pois Deus não proibiu o acesso a ela, mas apenas à arvore do conhecimento do bem e do mal. Infelizmente foi a esta que eles foram, desobedecendo uma das ordens que Deus lhes havia dado. A outra foi para que tivessem relações e procriassem, o que só acabaram fazendo depois de expulsos. Tudo indica que Adão e Eva não tiveram nem tempo para isso, pois tão logo foram criados, caíram em desobediência.

Só então Deus barrou a entrada deles no Éden, pois se comessem da árvore da vida naquela condição de pecadores, viveriam para sempre nessa condição de separados de Deus e espiritualmente mortos. Pense nesses filmes de zumbis e você tem uma ideia aproximada do que seria viver para sempre neste corpo corruptível e não conseguir morrer.

(Gn 3:22-24) “Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, E havendo lançado fora o homem, pós querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida”.

A árvore da vida reaparece em Apocalipse como um meio de se obter saúde perpetuamente enquanto se vive na terra.

(Ap 22:2) “No meio da sua praça, e de um e de outro lado do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a saúde das nações”.

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O homem foi criado com vida eterna?

Vida eterna não é uma vida que não tem fim, mas uma vida que não tem começo. É a vida que não apenas não está sujeita ao tempo, como é única, vem de Deus e está em Cristo. Vida perpétua ou viver para sempre é algo que não tem fim, mas teve um começo. Não fomos criados eternos, mas fomos criados imortais. Se passarmos à imortalidade sem termos vida eterna, viveremos para sempre na condenação do lago de fogo, longe de Deus e de outros seres humanos, em “trevas exteriores”, e apenas na companhia de nossa consciência.

Talvez a dificuldade esteja em você usar indistintamente os termos “eterno” e “imortal”, os quais na Bíblia têm significados diferentes. Por exemplo, você escreveu que “o homem passou a ser… uma alma eterna”, “ele seria eterno (imortal) em si”, “logo, possui a raça humana a eternidade intrínseca”, “como, se todos… salvos ou perdidos, já somos eternos”, etc. Eu entendi o que você quis dizer, mas acredito que o termo “eterno” não possa ser usado indistintamente assim.

Fomos criados no tempo, esse parêntese da eternidade, mas com uma alma imortal (que não acaba mais). Vida eterna é a vida de Deus que é implantada no crente em Cristo. Não é a vida do condenado ao lago de fogo, que viverá para sempre, porém nunca teve vida eterna. A vida que o crente tem é a VIDA, que é Cristo.

(Jo 11:25-26) “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?”.

(Jo 14:6) “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida”.

(1 Jo 1:2) “(Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada);”.

O condenado ao lago de fogo irá sofrer eternamente (ou indefinidamente), porém não terá vida eterna. A diferença fica clara aqui:

(Mt 25:46) “E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna”.

A condição para receber vida eterna é crer em Cristo, portanto os anjos não terão a vida eterna, pois ela foi reservada aos redimidos. Pense em vida eterna não apenas como extensão de vida, mas como a qualidade ou característica da vida.

(Jo 3:15) “Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

(Jo 3:36) “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece”.

Quando a Bíblia fala em “perecer”, isto deve ser entendido também dentro do contexto do que é vida eterna e do que é viver para sempre. Perecer tem a ver com condenação, não com extinção da vida:

(Jo 3:16) “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

É no contexto do término da vida terrena que fala o versículo que você citou em Ezequiel, e basta vermos o contexto em que a expressão foi usada para entendermos que ali se trata de morte física, embora este seja um versículo muito usado em pregações do evangelho. O “morrerá”, por ter pecado, é mostrado em contraste ao “viverá”, por ter obedecido:

(Ez 18:18-20) “Seu pai, porque praticou a extorsão, roubou os bens do irmão, e fez o que não era bom no meio de seu povo, eis que ele morrerá pela sua iniquidade. Mas dizeis: Por que não levará o filho a iniquidade do pai? Porque o filho procedeu com retidão e justiça, e guardou todos os meus estatutos, e os praticou, por isso certamente viverá. A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele”.

Outro detalhe importante a ser observado é que o crente não recebe a vida eterna por ser algo que Cristo tenha e a dê ao que crê, mas por este receber a Cristo, o qual “é a vida” (e não “tem a vida”). Quem tem a Cristo, tem vida, quem não tem, continua morto em seus delitos e pecados. E é assim que passará pela segunda morte, a condenação eterna, depois de ter passado pela primeira morte nesta vida. Enquanto isso, o crente passou pelo novo nascimento e, portanto, não verá essa segunda morte. Quem nascer uma vez morrerá duas; quem nascer duas morrerá uma, ou nem morrerá se for arrebatado antes disso.

Talvez a melhor definição do que seja eterno esteja aqui:

(2 Co 4:18) “Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.

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O crente poderia estar no hades?

Depois de ler em algum lugar eu dizer que o crente que morre vai direto para a presença de Deus, sem passar pelo hades, você leu o texto “Iremos nos conhecer no céu?” de J. R. Gill em meu blog “Manjar Celestial” e ficou em dúvida. Ali o autor, ao comentar sobre a vida após a morte, diz que “é correto dizer que nossos amados encontram-se no hades”.

Fui verificar o texto, que devo ter traduzido do inglês há mais de vinte anos, e também fiquei intrigado. A princípio o que ele dizia ali estava errado, mas sempre pode acontecer de um autor escrever algo achando que o leitor irá compreender o sentido do que escreve. Mesmo assim parecia estar faltando algo. Tentei encontrar o original, e só consegui através de um irmão nos Estados Unidos que o enviou para mim. No texto original inglês eu vi que omiti uma palavra no texto, o que aumentou a dificuldade para entender. No texto o autor escreveu:

O ‘hades’ é uma expressão neotestamentária e trata-se de uma palavra grega; ‘sheol’ é a expressão do Velho Testamento e é uma palavra hebraica. Ambas significam a mesma coisa: o mundo invisível, ou lugar ou condição dos espíritos que partiram. É correto dizer que nossos amados encontram-se no ‘hades’“. “Iremos nos conhecer no céu?” — J. R. Gill.

A palavra que faltava era “condição”, pois o autor está dizendo que “hades”, assim como “sheol”, significa tanto o lugar como a condição dos espíritos que partiram. Para deixar o texto mais claro acrescentei uma nota explicando que o que ele disse a respeito do crente seria no sentido da condição, não do lugar. Vou aproveitar para traduzir outro texto aqui, de autoria de A. J. Pollock, que poderá ajudar a esclarecer o assunto:

“Para se ter uma ideia correta do que seja o Hades, é preciso enxergar o termo com sua relação com a morte. O Hades não é um lugar, mas uma condição, enquanto a morte não é um lugar, mas uma condição. Hades é a condição da alma sem o corpo; morte é a condição do corpo sem a alma. A condição da alma do incrédulo é de sofrimento e miséria; a condição da alma do crente é de conforto e felicidade. A expressão “está posto um grande abismo entre nós e vós” (Lc 16:26) é simbólica e revela a verdade da separação eterna que existe entre o crente e o incrédulo, este último sem a esperança de uma segunda chance.

Se você aplicar ao termo hades o teste de ser uma condição e não um lugar, verá que é este o pensamento bíblico. Um exemplo claro disso é encontrado em Apocalipse 20:14: “E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo”. Isto significa que todos os corpos mortos, depois de ressuscitados, e as almas tendo sido reunidas de volta a esses corpos ressuscitados, essas pessoas, que em seu estado anterior representavam as condições da morte e do hades, serão lançadas no lago de fogo. Se o hades fosse um lugar, então teríamos a ideia errada de uma condição (morte) e de um lugar (hades) sendo lançados em um lugar (o lago de fogo). Mas se conservarmos em mente que o hades é uma condição e uma contrapartida da morte, tudo fica claro e simples…

Condição é uma coisa, lugar é outra. A condição (do crente que morreu) é de uma alma desencarnada; seu lugar é com Cristo. Não confunda condição com lugar. Se tiver estes pensamentos claros em sua mente suas dificuldades em entender estas coisas ficarão resolvidas”. A. H. Pollock — 1864-1957.

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O livro de Jó ensina o sono da alma?

Sua dúvida está em uma passagem no livro de Jó, a qual dá a impressão de ser uma prova de que os que morreram não estariam conscientes, mas dormindo. Ali diz: “Porém, morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito, então onde está ele? Como as águas se retiram do mar, e o rio se esgota, e fica seco, assim o homem se deita, e não se levanta; até que não haja mais céus, não acordará nem despertará de seu sono” (Jó 14:10-12).

O livro de Jó é formado, em sua maior parte, pelas opiniões de Jó e de seus amigos, e elas nem sempre expressam o pensamento de Deus. Há muitas coisas erradas no que eles dizem, principalmente os três amigos, e no final do livro todos eles serão repreendidos por Eliú (o quarto amigo) e especialmente por Deus. Entenda que a Bíblia toda é a Palavra de Deus, porém há nela também o relato que Deus inspirou os profetas a escreverem no qual às vezes é mostrado até o pensamento do ímpio, como por exemplo, o Salmo 14:1: “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus”. Alguém mais distraído poderia deduzir que, se a frase está na Palavra de Deus, então Deus não existe.

Voltando ao Livro de Jó, veja o que Eliú diz no final, depois de Jó e seus três amigos terem falado praticamente o tempo todo:

(Jó 35:16) “Logo Jó em vão abre a sua boca, e sem ciência multiplica palavras”.

Depois vem a repreensão de Deus pelas palavras dos três amigos de Jó:

(Jó 42:7) “Sucedeu que, acabando o Senhor de falar a Jó aquelas palavras, o Senhor disse a Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos, porque não falastes de mim o que era reto, como o meu servo Jó”.

É neste contexto e com os devidos filtros que você deve ler o livro de Jó. Além disso, é preciso lembrar que Jó não era um hebreu, pois viveu antes de Abraão, apesar de ser temente a Deus. O volume de revelação que ele tinha de Deus era muito pequeno se comparado ao que outros depois dele receberam, ou ao que temos hoje.

Devemos ler o Antigo Testamento depois de compreendermos o Novo Testamento. Se no Novo não há qualquer ideia de que a alma fique adormecida após a morte (o rico e Lázaro estavam bem despertos), então qualquer insinuação de que isto possa existir no Velho Testamento deve ser analisada à luz da época e de quem falou aquilo.

Miles Coverdale, em sua introdução à primeira tradução da Bíblia para o inglês no século 16, escreveu: “Será de grande auxílio em seu entendimento das escrituras se você observar, não apenas o que é dito e escrito, mas de quem e para quem, com que palavras, em que época, onde, com que intenção, em quais circunstâncias, considerando o que vem antes e o que vem depois”.

O mesmo cuidado devemos ter até quando lemos os Evangelhos, que não fazem parte da doutrina dada à Igreja (como é o caso das epístolas), mas foram escritos para apresentarem o Messias a Israel. O pano de fundo dos evangelhos ocorre no tempo da Lei de Moisés, do Templo de Jerusalém, dos sacrifícios de animais, etc.

Só pelo fato de estarem nos Evangelhos, não podemos tomar dessas coisas como se valessem para a Igreja, que é uma nova ordem de coisas inaugurada no dia de Pentecostes em Atos 2. É por não compreenderem essas diferenças que muitas religiões cristãs adotam elementos do judaísmo, como templos, vestes sacerdotais, clero, cantores, instrumentos musicais, dízimo, etc.

Esta exortação do Senhor vem a calhar para aprendermos a discernir a Palavra:

(Mt 13:52) “E ele disselhes: Por isso, todo o escriba instruído acerca do reino dos céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”.

O que Paulo diz a Timóteo, quando comparado com o significado da palavra nos originais, faz muito sentido. Onde se lê o verbo “manejar” (que em algumas traduções traz “dividir” ou “repartir”), leia-se “dissecar”, como se faz com um corpo, pois é este o sentido da palavra no grego:

(2 Tm 2:15) “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que [maneja] disseca bem a palavra da verdade”.

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Colar na prova é pecado?

Sim, não há dúvida de que colar numa prova ou exame é pecado, pois é uma forma de fraude. O dicionário diz que fraude é “todo artifício empregado com o fim de enganar uma pessoa e causar-lhe prejuízo”. Talvez você alegue que a cola não prejudica ninguém, mas é um engano pensar assim. Se o teste ou exame for para se candidatar a uma vaga, como vestibular, concurso público ou emprego, você estará usando de um artifício que poderá prejudicar alguém mais preparado que você e que não usou desse artifício.

Mas o cristão não julga as coisas apenas pensando se suas ações irão ou não prejudicar seu próximo. Pecado é fazer a própria vontade, seja para prejudicar o próximo ou não. Ainda que nosso pecado não traga prejuízo a outro, ele ainda é uma desobediência e afronta a Deus.

Uma fraude, por mais inocente que seja, é uma espécie de roubo: você se apropria de algo que não é seu (ao menos na hora da prova) para obter alguma vantagem. Êxodo 20:15 diz: “Não furtarás” e Efésios 4:28 diz: “Aquele que furtava, não furte mais”.

Além disso, ao colar você estará desobedecendo as regras impostas pelas autoridades superiores, no caso seu professor, o empregador ou a instituição que organizou o teste. Infelizmente um dos sinais dos últimos dias é o desprezo pela autoridade, algo que os cristãos deveriam ter sempre em mente. Nos meus tempos de estudante, se a professora enviasse um bilhete para minha mãe com uma repreensão contra mim, ou se eu fosse suspenso por qualquer motivo, também era castigado em casa. Hoje quando isso acontece os pais processam a professora e a escola:

(Rm 13:1) “Toda a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a potestade? Faze o bem, e terás louvor dela. Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador para castigar o que faz o mal. Portanto é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência”.

Colar envolve também mentir, pois ao assinar sua prova, teste ou exame você está declarando ser o autor, e a Bíblia diz que “é melhor ser pobre do que mentiroso” (Pv 19:22). Também é um falso testemunho.

Outro erro pode estar, não na prova em si, mas no que veio antes. Por que você não estudou? Na maioria das vezes foi por preguiça, outra coisa que Deus não aprova. (Pv 19:15) “A preguiça faz cair em profundo sono, e a alma indolente padecerá fome”.

Finalmente, talvez você alegue: “Eu sei disso tudo, mas todo mundo faz!”. Então a pergunta que você deve fazer a si mesmo é: “Será que Jesus faria?” (Ef 5:1) “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados”.

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Será que não estou congregado ao nome do Senhor?

Você escreveu em dúvida se deve ou não deixar o lugar onde costuma se congregar. Segundo você, à medida que os anos foram passando você foi notando cada vez mais incoerências na prática dos irmãos quando comparadas com a Palavra de Deus.

Segundo você, existe uma liderança de homens que claramente divide os irmãos entre clero e leigos, estes últimos sujeitos a não questionarem as decisões dos líderes. Apesar de não existir uma denominação, você decidiu sair e visitar outra congregação também sem denominação e acabou reparando que existiam os mesmos problemas.

O fato de um grupo dizer que está congregado em nome do Senhor somente não é garantia que isto ocorra de fato. Não basta “se congregar”, é preciso que “estejam congregados” pelo Espírito, e isto demanda que o Senhorio de Cristo seja reconhecido e a Palavra de Deus seja obedecida naquilo que se refere ao modo como congregar.

Existem muitos grupos que se dizem reunir somente ao nome do Senhor, mas nem sempre é o que acontece. Quando não são apenas “denominações sem nome”, com um pastor à frente, podem ser grupos que se originaram de pecados e divisões ocorridos no passado entre os irmãos reunidos somente ao nome do Senhor. Quando o pecado entra e permanece não julgado em um testemunho, a presença do Senhor sai.

Devo alertá-lo, porém, que se você pensa em sair de onde está por causa dos irmãos daí, então acabará indo reunir em algum outro lugar por causa dos irmãos de lá, o que acabará dando na mesma. Seu interesse estará na comunhão com os irmãos, amizade, amor e respeito mútuos, etc. Tudo isso é muito bom, mas ainda não é o motivo pelo qual devemos congregar.

O único motivo deve ser o Senhor, porque quando é o Senhor que está no meio de onde estamos congregados, ainda que existam falhas nos irmãos, nós continuaremos em comunhão com o Senhor e o motivo de estarmos congregados será o Senhor no meio.

Alguns sinais, porém, podem indicar que o Senhor não está no meio conforme prometeu, pois ele não iria compactuar com o erro. Alguns desses erros são ter um clero, ter pecado não julgado pela assembleia, ter uma denominação que divide os crentes, ter um espírito de independência (não existe independência em um corpo), etc.

Quando o Senhor prometeu estar no meio de dois ou três congregados ao seu nome, ele não quis dizer que qualquer grupo de amigos que desejasse se reunir segundo suas próprias ideias garantiria a presença do Senhor no seu meio. Em uma empresa, para que uma reunião seja considerada uma “assembleia” da empresa, é necessário que alguns pré-requisitos sejam obedecidos, como ter um presidente dirigindo a reunião, uma secretária escrevendo uma ata, a publicação dos resultados da reunião, os participantes submissos à ordem do presidente, etc. Se é assim numa empresa humana, por que iríamos achar que qualquer bate papo informal entre dois ou três cristãos poderia ser uma reunião ao nome do Senhor e contar com sua presença?

Vou listar abaixo alguns tópicos que o ajudarão a julgar quando uma reunião NÃO é ao nome do Senhor e, portanto, não poderá contar com a garantia da presença dele no meio. Sugiro que confira na Palavra o fundamento destas afirmações. Estes pontos foram extraídos e adaptados de “A Ordem de Deus” — www.aordemdedeus.blogspot.com — e você fará bem se ler o livro inteiro, no site ou baixado para seu computador, e-reader, tablet ou smartphone.

Existe um nome ou denominação além do nome de Jesus a identificar aqueles cristãos de um modo que os torna distintos de outros irmãos. (1 Co 1:10; 3:3; 11:18-19; Mt 18:20; 1 Co 5:4).

Existe um templo (geralmente chamado de “igreja”) e outros elementos que são claramente do judaísmo e não são encontrados na doutrina dos apóstolos, como altar, “Santíssimo Lugar”, vestes eclesiásticas, objetos santificados e muitas outras coisas que o apóstolo exortou os cristãos a abandonarem e saírem “fora do arraial” do judaísmo. (Hb 10:19-20; 13:13; Jo 4:23-24).

Existem símbolos e objetos de adorno que substituem os elementos judaicos por elementos de tradição cristã, mas sem qualquer fundamento na doutrina dos apóstolos, como torres, sinos, cruzes, etc.

Existe um homem ou uma mulher dirigindo as reuniões, suprimindo o papel do Senhor, por meio do Espírito Santo, que é o único que devia fazer isso (Fp 3:3; Jo 4:24; 16:13-15). Tente encontrar algum dirigente humano nas instruções dadas em 1 Coríntios 14:26 em diante, que começa dizendo: “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos congregais, cada um de vós tem…” Veja também 1 Co 12:11 e Fp 3:3.

Existe uma programação pré-definida estipulando quem vai falar, o que vai falar, quem vai cantar, o que vai cantar, etc., portanto sem a dependência do Senhor que, por meio do Espírito, deveria escolher quem ele quisesse para trazer o que estivesse na programação de Deus, não dos homens, pois somente ele sabe do que aquela congregação precisa naquele momento. Alguns grupos que se dizem congregados ao nome de Jesus chegam a ter um estudo previamente impresso e enviado por sua sede a todas as congregações do mundo para estudarem a mesma mensagem no mesmo dia. O catolicismo também faz assim com folhetos entregues na entrada dos cultos.

Existe uma “adoração” ou “louvor” que não é de toda a congregação, mas apenas de um coral, banda, grupo de cantores ou músicos, enquanto os outros apenas assistem como se fosse um show musical. Em alguns lugares celebridades são contratadas mediante cachê para darem testemunhos.

Existem instrumentos musicais usados na adoração, como se o Espírito de Deus em cada crente não fosse suficiente para elevar um louvor a Deus, fazendo com que o louvor se torne mecânico e dependente de tecnologia e energia elétrica, ao invés de necessitar apenas corações gratos elevando suas vozes em adoração. (At 17:24-25).

Existem orações decoradas ou lidas em livros de oração, as quais caracterizam as “vãs repetições” que o Senhor claramente condenou. (Mt 6:6-8; Tg 5:16; Sl 62:8).

Existe uma ceia que é celebrada mensalmente, anualmente ou em qualquer outro intervalo diferente do costume dos primeiros cristãos, ou seja, “no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão…” (At 20:7).

Existem mulheres falando, pregando ou ensinando publicamente, em desobediência à ordem do Espírito de que as mulheres permaneçam caladas nas igrejas (1 Co 14:34-38; 1 Tm 2:11-12).

Existem mulheres orando e profetizando (ministrando a Palavra) com a cabeça descoberta, ao contrário do que ensina 1 Co 11:1-16.

O ministério da Palavra fica restrito àqueles que ocupam determinados cargos, como “pastor” ou “ministro”, sem liberdade para que o Espírito use os dons conforme lhe apraz (1 Co 12:6, 11; 14:24, 26, 31).

Os “ministros” são ordenados por uma comissão de homens ou formados em uma escola de teologia para poderem ministrar, em clara desobediência à instrução do Espírito em 1 Co14:31 que diz “Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados”.

Existem títulos honoríficos para identificar as pessoas à maneira como o mundo usa “Dr.”, “Professor”, etc., como “Pastor”, “Reverendo”, “Padre”, etc., sendo o “Pastor” identificado como o dirigente da congregação, e não como um dentre muitos dons, e o “Reverendo” levando este título que só cabe a Deus. (Ef 4:11; Jó 32:21-22; Mt 23:7-12).

É praticado o dízimo, um costume claramente relacionado à Lei dada a Israel, quando o ensino para a igreja foi de coletas, as quais não eram para assalariar algum “Pastor”, mas para as necessidades dos santos. (Lv 27:32, 34; Nm 18:21-24; 3 Jo 7).

O ensino vem da “igreja” ou organização, e não dos dons como é claramente demonstrado na Bíblia (At 11:26; Rm 12:7; Ap 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22; 1 Ts 5:27).

O pecado não é julgado ou isto é feito apenas com pessoas menos proeminentes, enquanto líderes, “pastores” ou aqueles que trazem um dízimo mais polpudo são poupados de qualquer julgamento por parte da assembleia. Em alguns lugares, quando é o “pastor” quem está envolvido em pecado, a organização simplesmente o transfere para um lugar onde ninguém o conheça. 1 Co 5 deixa muito clara a responsabilidade da assembleia em julgar o mal e excomungar (excluir da comunhão) aqueles que caíram em pecado (1 Co 5).

Como pode ver, não basta apenas a boa intenção de um grupo de cristãos para se declararem congregados ao nome do Senhor. O Senhor não irá compactuar com práticas que são claramente contrárias ao ensino do Espírito Santo em sua Palavra, portanto não se pode contar com essa presença a menos que exista um exercício sincero de se buscar na Palavra como fazer as coisas, e não simplesmente acatar a tradição de décadas ou séculos de religião humana.

Quando o Senhor Jesus convidou os discípulos a celebrarem a páscoa juntos, ele deu instruções bem específicas: entrar na cidade, seguir um homem com um cântaro, chegar a uma casa, perguntar pelo cenáculo mobilado e aguardar ali que ele se colocaria no meio deles. Naquele dia praticamente em cada casa de Jerusalém haveria pessoas celebrando a páscoa judaica e os discípulos poderiam ter ido parar em qualquer uma se não tivessem seguido as instruções. Hoje há muitos lugares que os homens criaram ao seu bel prazer, mas o cristão sincero deve fazer ao Senhor (e à sua Palavra) a mesma pergunta que os discípulos fizeram: “Onde queres que a preparemos?” (Lc 22).

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Estas passagens dizem que podemos perder a salvação?

As 15 passagens que lhe mostraram para tentar convencê-la de que você poderia perder a salvação é a maior lista que já recebi. Mas é possível mostrar como estão equivocados quando examinamos o contexto de cada uma delas. Como acredito na sinceridade das pessoas que se deram ao trabalho de enviar tantos versículos a você, preocupadas com seu bem estar espiritual, vou dedicar algum tempo esclarecendo um a um.

Ainda que um verdadeiro salvo se esforce em procurar passagens tentando contradizer o que Deus diz, eu ainda concordo com Paulo e “estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8:38-39).

Sempre que aparecem alguns citando versículos que parecem dizer que é possível um crente perder a salvação, devemos perguntar: Existe algum versículo na Bíblia que diga que é impossível o crente perder a salvação? Sim, existem muitos, e como a Bíblia não pode se contradizer obviamente deve existir uma explicação para aqueles que parecem dizer o contrário.

Esta é apenas uma (e suficiente) passagem que garante a salvação eterna:

(Jo 10:28-29) “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”.

Vamos aos versículos que citou:

1) “Mt 24:11-13 — Aquele que perseverar até o fim, esse será salvo”.

Isto se dará durante a grande tribulação, e aqui fala de salvação do corpo de carne, de sair vivo da tribulação para poder habitar no reino de mil anos. Compare com o versículo 22: “E, se aqueles dias não fossem abreviados, NENHUMA CARNE se salvaria”.

2) “Jo 15:2 — O ramo, ligado à videira, poderá ser cortado”.

(Jo 15:1-6) “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem”.

O assunto aqui é dar ou não dar fruto e ser ou não um testemunho para Deus. Se o assunto fosse a salvação por frutos, então entraria em contradição com Efésios que diz: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9).

A ideia de varas no sentido de testemunho é também usada por Paulo em Romanos 11, quando também fala de Israel ter sido cortado como testemunho e do risco da cristandade ser cortada como testemunho de Deus neste mundo. E ela efetivamente será cortada, na sua condição de Laodiceia, pois o mesmo Senhor disse que a vomitaria de sua boca em Apocalipse 3.

(Rm 11:22) “Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado”.

(Ap 3:16) “Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca”.

3) “At 14:22 — Permanecer firmes na fé…”.

(At 14:22) “Confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus”.

O versículo inteiro fala o óbvio: que a fé pode vir acompanhada de tribulações, dores e provas, pois se dissesse que a salvação é por meio de sofrimento, então não precisaríamos da obra de Cristo e creríamos nele como creem os espíritas, que acham que é sofrendo que sobem os degraus rumo à perfeição. O que Pedro diz em Atos pode ser melhor entendido se lermos a passagem em 1 Pedro onde ele desenvolve melhor o pensamento que menciona de relance em Atos 14:

(1 Pe 1:3) “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós, Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo, Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas”.

Desta passagem deduzimos que (1) fomos gerados de novo, não por nós mesmos, mas pelo Pai de nosso Senhor Jesus Cristo; (2) para uma “viva esperança”, “uma herança incorruptível, incontaminável e que não se pode murchar, guardada nos céus”. (3) que pela fé estamos guardados no poder (virtude) de Deus para a salvação” (não é pouca coisa o que nos guarda e garante a salvação, mas o poder de Deus); (4) que por enquanto, aqui, importa passarmos por provações para que a nossa fé se fortaleça. Como pode ver, a segurança de nossa salvação não está em nós ou em nossa frágil obediência (ou ninguém seria salvo), mas no poder de Deus e na imutabilidade de sua promessa.

4) “1 Co 15:1 — Sereis salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei”.

(1 Co 15:2-4) “Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”.

Esta passagem na verdade acusa aqueles que dizem que mantemos a salvação pela obediência, pois o que diz aqui que é preciso reter para ser salvo? Exatamente isto: que Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou ao terceiro dia. Esta é a essência do evangelho, é tudo o que é preciso crer para ser salvo. Quem não retém esta palavra (de que a salvação é pela fé em Cristo em sua morte e ressurreição) e acrescenta suas próprias obras de obediência e fidelidade ao processo obviamente não crê no evangelho de Deus, o qual Paulo pregou. E quem não crê que Jesus morreu e ressuscitou como suficiente para ser salvo, não pode mesmo ter a certeza da salvação, pois não crê nas Escrituras.

5) “Cl 1:22-23 — Inculpáveis e irrepreensíveis… Se é que permaneceis na fé”.

(Cl 1:21-23) “A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo [Cristo] vos reconciliou No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro”.

É o mesmo caso da questão anterior: se alguém não permanecer firme na fé de que a salvação só é possível porque, antes inimigos por causa de nossas obras, Deus nos reconciliou pela morte e ressurreição de Cristo para ELE (Deus, e não nós mesmos) nos apresentar “santos, e irrepreensíveis e inculpáveis”. Se alguém achar que com seus próprios esforços será capaz de se apresentar diante de Deus santo, irrepreensível e inculpável é por não ter entendido o valor da obra de Cristo e do seu sangue que nos limpa de TODO pecado. E obviamente, não mover-se do evangelho que Paulo pregou é crer que a salvação está em tão somente crer que Jesus morreu e ressuscitou (conforme a questão anterior).

6) “1 Tm 4:1 — Nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé; isto é, abandonarão a fé”.

Apostasia é o abandono da verdade, e é importante ver o que o contexto todo diz para saber o que significa apostatar da fé:

(1 Tm 4:1-3) “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças;”.

Portanto, apostatar da fé aqui significa ouvir espíritos enganadores, doutrinas de demônios e seguir homens que colocam uma lista de regras a serem obedecidas (como proibir casamento e determinados alimentos). Mais uma vez, qualquer pessoa que siga regras para se salvar, e não o puro evangelho (Cristo morreu e ressuscitou) não é alguém que tenha a salvação. É um mero professante, mas nunca nasceu de novo. É o joio, que é parecido com o trigo mas não é trigo. Esses, ao apostatarem, não perdem a salvação simplesmente porque nunca a tiveram.

7) “1 Tm 4:16 — A salvação depende de guardar a doutrina”.

(1 Tm 4:16) “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem”.

O “te salvarás” não tem nada a ver com a salvação eterna, pois se tivesse nós seríamos nossos próprios salvadores. Aí Paulo não teria dito ao carcereiro “crê no Senhor Jesus e serás salvo” (At 16:31), mas “salve-se a si mesmo”. Seria muita ingenuidade alguém pensar que o texto está dizendo que Timóteo poderia salvar-se a si mesmo e ainda salvar as pessoas que o escutassem! Isto faria de Timóteo um salvador, de si e de outros.

Qual é então o significado do verbo salvar aqui? Preservar-se de ser enganado e contaminado pelos mesmos falsos mestres dos quais ele fala no início do capítulo, que imporiam uma série de restrições aos seus seguidores. Ser “salvo” das “fábulas profanas e de velhas”. A exortação para ele “ler, exortar e ensinar”, meditar “estas coisas”, ocupar-se nelas, ter cuidado da doutrina, tudo tem por objetivo mantê-lo longe do engano e do erro, ficar a salvo, ou “salvar-se” e “salvar” (manter “a salvo”) também os que o escutarem.

8) “1 Tm 6:10 — alguns se desviaram da fé…”.

(1 Tm 6:10) “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”.

A passagem não diz que perderam a salvação, mas que acabaram sofrendo muito por causa do seu amor ao dinheiro. Acredito que aqui o “desviaram da fé” tenha o sentido de abandonar a comunhão por amor ao dinheiro. Mas também pode significar que nunca realmente tiveram a fé que salva, mas apenas a crença religiosa, pois acabaram confiando mais no dinheiro do que em Jesus.

É possível alguém perder uma salvação que nunca teve? Sim . É possível um salvo perder a comunhão com Deus por amar as coisas deste mundo? Sim. É possível um verdadeiro salvo perder a salvação? Não.

9) “Hb 2:3 — A salvação não pode ser negligenciada”.

(Hb 2:3) “Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram;”.

Isto é óbvio. Como alguém escapará se negligenciar a salvação? Não escapará. Como alguém pode negligenciar a salvação? Não ouvindo o evangelho, pois é exatamente o que está dizendo ali: “a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram.

10) “Hb 3:6 — se guardarmos firmes, até o fim”.

(Hb 3:6) “Mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim”.

A pergunta a ser feita aqui é: “E quem me fará conservar firme a confiança e a glória da esperança até ao fim?”. A resposta está em outra passagem:

(1 Co 1:8) “O qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo”.

(1 Ts 3:12-13) “E o Senhor vos aumente, e faça crescer em amor uns para com os outros, e para com todos, como também o fazemos para convosco; Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos”.

11) “Hb 3:12-13 — a exortação faz-se necessária diante da possibilidade de algum irmão endurecer o coração e cair no pecado”.

(Hb 3:12-14) “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado; Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim”.

Vale aqui a mesma observação que fiz na anterior. E eu acrescentaria uma pergunta: Alguém que confie em sua própria fidelidade e perseverança para manter-se salvo está realmente com seu coração confiando no Deus vivo ou em seus próprios esforços? Está ciente de que Cristo pagou por todos os seus pecados lá na cruz, ou acha que ele só pagou os que cometeu até sua conversão, ficando os próximos por sua própria conta? Ou se ilude achando que não irá mais pecar depois de convertido? E se não vai mais pecar, para que precisaria do advogado de 1 João?

(1 Jo 2:1) “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo”.

Eu enxergo pessoas que duvidam da fidelidade e poder de Deus para conservá-las salvas como se fossem aqueles que se sentam ao lado de um motorista extremamente habilitado e transformam a viagem num pesadelo, agarrados no painel do carro e pisando no assoalho a todo o momento como se quisessem frear. Isso é falta de confiança em quem realmente está na direção.

12) “Hb 6:4 — é impossível renovar os que, uma vez iluminados e alcançados pelo dom celestial, de forma deliberada caírem”.

Este versículo é um clássico usado pelos que duvidam da salvação eterna. O que não percebem é que a carta aos hebreus foi escrita para ex-judeus que haviam passado a confessar o cristianismo, muitos deles nem mesmo realmente convertidos. É por isso que a carta traz diversas vezes a expressão “melhores” ao tentar mostrar que não deviam voltar atrás para o judaísmo, fazendo justamente o que os cristãos legalistas de hoje tentam fazer colocando uma lista de regras como condição necessária à salvação. Vamos à passagem:

(Hb 6:4-6) “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo. E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério”.

Percebe que isto poderia ser dito de qualquer judeu que tenha vivido nos tempos de Jesus? Para uma pessoa que foi iluminada (Jesus, a luz do mundo estava andando aqui), provou o dom celestial (Jesus era a dádiva de Deus entregue aos homens), se tornou participante do Espírito Santo (não diz que recebeu, mas desfrutou dele), provou a palavra de Deus e as virtudes (poderes) do século futuro (isto é, os milagres que Jesus fazia) e recaíram…

Em nenhum momento diz que creram, mas apenas que foram privilegiados por todas essas coisas (foram curados de enfermidades, comeram pães e peixes multiplicados milagrosamente, viram poderes que só serão vistos no futuro quando Cristo vier para reinar, etc. Realmente é impossível que alguém tão privilegiado assim seja salvo se simplesmente renegar tudo isso e não crer no Salvador (exercer fé).

13) “Hb 10:26-27 — Após receber a verdade, o homem, deliberadamente, pode retornar às trevas”.

(Hb 10:26-27) “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, Mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários”.

O mesmo caso da questão anterior, de pessoas que recebem, não a verdade, mas o “conhecimento da verdade”, ou seja, não passa da mente intelectual e nunca se transforma em fé real.

(Hb 10:38-39) “Mas o justo viverá da fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, NÃO SOMOS DAQUELES QUE SE RETIRAM para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma”.

Este será o caso dos que ouvirem o evangelho e não crerem e forem deixados para trás quando vier o arrebatamento. Aqueles que receberem o conhecimento da verdade, mas não creram na verdade, não poderão ser salvos.

(2 Ts 2:11-12) “E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade”.

14) “Tg 5:19 — Se algum irmão se desviar da verdade, e alguém o fizer retornar, SALVARÁ DA MORTE A ALMA dele…”.

(Tg 5:19-20) “Irmãos, se algum dentre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma”.

Aqui está falando da morte física mesmo, como aconteceu com Ananias e Safira e como teria acontecido com o homem de 1 Coríntios (que estava em fornicação), caso não tivesse se arrependido. Paulo, em sua autoridade de apóstolo, o tinha entregue a Satanás para a destruição da carne (morte física) para que ele fosse salvo no final.

(1 Co 5:3-5) “Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, Seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus”.

O apóstolo João fala do pecado para a morte (física), que é o caso aqui:

(1 Jo 5:16-17) “Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore. Toda a iniquidade é pecado, e há pecado que não é para morte”.

Um crente que deliberadamente decide andar fora dos caminhos do Senhor corre o risco de ser morto por Deus. Seu espírito é salvo, mas ao menos ele deixa de atrapalhar o testemunho de Deus no mundo. Em Êxodo 4:24 Deus quis matar Moisés porque estava em desobediência.

Há vários casos de Deus matando alguém já salvo, como foi a mulher de Ló, que olhou para trás, ou Ananias e Safira, que mentiram ao Espírito Santo. Embora mentir ao Espírito Santo seja grave e os incrédulos façam isso o tempo todo, a coisa fica séria quando é um crente que faz isso. Deus pode considerá-lo indigno de continuar como testemunho no mundo.

O profeta de Deus de 1 Reis 13 também foi morto por desobedecer, o mesmo acontecendo com o homem que colocou a mão na arca para evitar que caísse da carroça em que estava sendo transportada. Ambos tinham boas intenções, mas sabiam qual era o mandamento de Deus.

Deus também matou o filho de Davi por causa de seu adultério (evidentemente a criança estava salva) que gerou um péssimo testemunho aos olhos dos inimigos de Deus:

(2 Sm 12:14) “Todavia, porquanto com este feito deste lugar sobremaneira a que os inimigos do Senhor blasfemem, também o filho que te nasceu certamente morrerá”.

A mulher do profeta Ezequiel também foi morta por Deus para ensinar algo à nação de Israel:

(Ez 24:16-18) “Filho do homem, eis que, de um golpe tirarei de ti o desejo dos teus olhos, mas não lamentarás, nem chorarás, nem te correrão as lágrimas. Geme em silêncio, não faças luto por mortos; ata o teu turbante, e põe nos pés os teus sapatos, e não cubras os teus lábios, e não comas o pão dos homens. E falei ao povo pela manhã, e à tarde morreu minha mulher; e fiz pela manhã como me foi mandado”.

Deus, que entregou o seu próprio Filho em sacrifício por nós, também permitiu a morte de Estevão, Tiago e tantos outros para testemunho de fé. Portanto, há várias situações em que Deus intervém com a morte do salvo, tanto para preservar o testemunho de Deus no mundo, como para incrementá-lo por meio do martírio dos santos.

Portanto, nem todas as passagens na Bíblia que falam de morte são a respeito da condenação eterna, mas apenas da morte física, do corpo. A passagem que você citou não poderia falar de salvação eterna, pois aí Tiago seria também um salvador (como no caso de Timóteo), ao dizer que ele “salvará da morte uma alma”. Até mesmo um versículo que é muito usado fora do contexto para evangelizar está falando de morte física, e não da condenação eterna:

(Ez 18:20) “A alma que pecar, essa morrerá”.

15) “Ap 2:10 — A fidelidade deve ser contínua até a morte”.

(Ap 2:10) “Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”.

A “coroa da vida” não é a salvação, mas um galardão. Há sete “coroas” na Bíblia que nos falam de galardão ou recompensa dos salvos.

Portanto, como você pode ver, nenhuma das passagens que enviou fala da perda de salvação por um verdadeiro salvo, ou falam de perda de comunhão, ou de preservação da vida ou mesmo de se guardar do erro. Fico surpreso de tanta gente insistir na perda da Salvação, quando o desejo de Deus é salvar e não querer que nenhum se perca.

Se perdêssemos a salvação então nem mesmo poderíamos dizer que a temos, pois aí estaríamos pecando pela presunção de nos considerarmos bons o suficiente para mantê-la. Felizmente é por graça que somos salvos e é por graça que somos mantidos salvos. Colocar qualquer esforço humano no processo é se colocar debaixo da maldição proferida por Paulo aos gálatas, pois é crer em outro evangelho:

(Gl 1:6-8) “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema”.

(Jo 5:24) “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”.

Será que as pessoas que dizem que o crente pode perder a salvação creem realmente no que Jesus disse ou acham que ele estava brincando?

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Por que Deus escolheu Israel?

Perguntar por que Deus escolheu Israel para ser o seu povo na terra e dar a esse povo os seus oráculos é como perguntar ao João por que ele escolheu a Marisa e não a Sílvia. Ele irá responder que escolheu a Marisa porque a ama.

(Dt 7:7-9) “O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; Mas, porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito. Saberás, pois, que o Senhor teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos”.

Mas a escolha de Deus tinha outra finalidade também. Ele precisaria escolher um povo para que dele viesse a mulher que seria mãe daquele que iria esmagar a cabeça da serpente, Satanás, depois de ter seu calcanhar picado por ela. Assim Deus escolheu um povo e depois escolheu a virgem da qual viria o Cristo, o Salvador.

(Gn 3:15) “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.

(Is 7:14) “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel”.

(Lc 2:9-11) “E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor”.

Então, juntando tudo, Deus escolheu Israel por causa de Jesus. O povo terreno de Deus, porém, rejeitou o seu Messias, e Deus introduziu em cena outra escolha sua: a Igreja. O interessante é que Israel foi escolhido “desde a fundação do mundo”, e a igreja “antes da fundação do mundo”. A razão de Deus ter escolhido a Igreja, e cada um de seus membros, é a mesma: Deus escolheu a igreja por causa de Jesus, para que ela fosse a noiva de seu Filho.

Para Israel (Jesus é Rei):

(Mt 25:34) “Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;”.

Para Igreja (Jesus é Senhor):

(Ef 1:4) “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;”.

No final, tanto Israel quanto a Igreja serão salvos , obviamente os que creram em cada um desses grupos. Mas no momento atual que já dura dois mil anos Israel está colocado de lado por Deus e se algum israelita quiser ser salvo precisará crer em Jesus, o que fará com que ele deixe de ser um israelita (no sentido de pertencer ao povo terreno de Deus) e passará a ser membro do corpo de Cristo, que é igreja, cujas promessas e expectativas são completamente diferentes das que foram dadas a Israel.

(1 Co 10:32) “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus”.

Israel recebeu promessas terrenas de saúde, prosperidade e longevidade. A Igreja recebeu promessas celestiais de bênçãos espirituais.

Israel — as bênçãos de Israel são materiais, tipo saúde, dinheiro, rebanhos, etc.:

(Sl 122:6-7) “Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão aqueles que te amam. Haja paz dentro de teus muros, e prosperidade dentro dos teus palácios”.

(Ml 3:10) “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes”.

Igreja — não existem promessas de prosperidade material para a Igreja:

(Ef 1:3) “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo;”.

(1 Tm 6:8) “Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes”.

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O Senhor vem buscar a igreja antes da chegada do anticristo?

Há vários indícios na Palavra que mostram que o anticristo não será manifestado enquanto a igreja estiver na terra. Talvez a passagem mais clara seja 2 Tessalonicenses 2. É preciso entender o caráter das duas epístolas aos tessalonicenses: a primeira fala da vinda do Senhor para a igreja, a segunda fala da vinda de Cristo para o mundo.

Antes, eis a chave para entender por que a igreja sairá deste mundo quando o Espírito voltar ao céu:

(Jo 14:16-17) “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós”.

O Senhor iria se ausentar, mas não deixaria os discípulos sozinhos: ele enviaria o Consolador, o Espírito Santo, para ficar com eles para sempre. Portanto temos aqui a promessa de uma união indissolúvel.

Em Atos o Espírito Santo desceu e batizou em um só corpo aquele grupo de cerca de cento e vinte discípulos reunidos em um cenáculo (andar elevado da casa).

(At 2:1-4) “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”.

A partir daquele dia, todo aquele que crê em Jesus como Salvador é selado com o Espírito Santo e acrescentado ao corpo de Cristo, que é a igreja. Não é “batizado” com o Espírito Santo porque esse batismo só ocorreu uma vez em Pentecostes, em etapas: judeus (At 1:5, 2:2), gentios (At 10:47, 11:16) e discípulos de João (At 19:6). A partir de então, todo aquele que crê está incluído nesse “batismo” de inauguração da igreja (caso contrário, haveria uma nova igreja inaugurada cada vez que alguém se convertesse).

(Ef 1:13-14) “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória”.

(1 Co 12:13) “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”.

Jesus compara o povo de Deus a um rebanho de ovelhas, mas apenas para deixar a figura mais clara para nossa realidade, pense em um rebanho de gado. Cada vez que o fazendeiro compra um novo animal ele grava sua marca no couro com um ferro quente, evitando assim que outro tome posse dele. Esta marca, em nosso caso, é o Espírito Santo, o sinal de que pertencemos a Deus (“possessão adquirida”).

Juntando tudo, se Jesus disse que os salvos por ele teriam o Espírito Santo para sempre, então, assim como acontece com o boi e sua marca, para onde formos o Espírito também irá, e para onde o Espírito for, nós também iremos. Existe uma ligação indissolúvel, e é interessante que o mesmo anseio da igreja pela vinda do Senhor é também o anseio do Espírito em Apocalipse:

(Ap 22:17) “E o Espírito e a esposa dizem: Vem”.

Portanto o que Paulo está dizendo em 2 Tessalonicenses é que eles não deviam se inquietar como se a “vinda do Senhor” (arrebatamento) já tivesse acontecido e eles tivessem sido deixados para trás para enfrentarem o “dia de Cristo” (quando Cristo descerá para julgar as nações e inaugurar o seu Reino).

As tribulações que estavam sofrendo (2 Ts 1:4-7) não deviam ser confundidas com aquelas que precederiam o “dia de Cristo”, quando o Senhor Jesus iria vingá-los (2 Ts 1:7), como se esse dia já tivesse chegado.

A prova apresentada aos tessalonicenses de que esse “dia de Cristo” ainda não tinha chegado era o fato de o anticristo ainda não ter sido manifestado, pois primeiro devia ocorrer a apostasia ou abandono da verdade, e então seria revelado o “filho da perdição”.

Resumindo a argumentação do apóstolo: O “dia do Senhor” (arrebatamento) ainda não tinha ocorrido porque ainda não ocorreu nossa “reunião com ele”. O “dia de Cristo” ainda não chegou, pois antes deste último é preciso que venha a apostasia e o anticristo seja revelado.

Outro detalhe importante é que na metade do cumprimento da septuagésima semana profética de Daniel 9:27, ou seja, no início desse período de sete anos o anticristo fará uma aliança com os judeus, e aos três anos e meio dessa semana de anos, ele irá se assentar no Templo de Deus querendo parecer Deus.

(Dn 9:27) “E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador”.

(2 Ts 2:4) “O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus”.

Para que tudo isso aconteça é preciso que o Templo de Jerusalém seja reconstruído no terreno onde hoje existe uma mesquita muçulmana. Já percebeu que isso vai dar muito pano pra manga, não é mesmo? Se estamos esperando a vinda do Senhor para buscar sua Igreja, não estamos esperando a construção do Templo e a manifestação do anticristo, pois serão necessários alguns anos para sua construção.

Mais uma evidência de que não estaremos aqui quando o anticristo se manifestar é que, para ele se manifestar, é preciso que seja tirado o que se opõe a ele, o Espírito Santo de Deus que hoje está habitando na terra na igreja.

(2 Ts 2:7-8) “Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda;”.

Por causa daquela união indissolúvel que vimos em João 14 entre o Espírito Santo e a Igreja; por ambos estarem esperando (“O Espírito e a esposa dizem vem) pela vinda do Senhor, e por um dia o Espírito ter vindo habitar neste mundo na igreja, o dia em que ele sair deste mundo a igreja não tem como continuar aqui. Existe uma “costura”, um “link”, não há mais como separar um do outro, segundo a promessa do Senhor.

E ENTÃO será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda”.

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O lugar de reuniões deve ser chamado de Casa de Oração?

Depois de ler Mateus 21:13, Marcos 11:17 e Lucas 19:46 você perguntou se a “Casa de Oração” à qual Jesus se refere citando Isaías 56:7 seria hoje a assembleia congregada ao nome do Senhor. A partir disso você ficou em dúvida se seria correto identificar o local onde a assembleia está reunida com uma placa de “Casa de Oração”.

(Mt 21:13) “E disselhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”.

(Mc 11:17) “E os ensinava, dizendo: Não está escrito: A minha casa será chamada, por todas as nações, casa de oração? Mas vós a tendes feito covil de ladrões”.

(Lc 19:46) “Dizendo-lhes: Está escrito: A minha casa é casa de oração; mas vós fizestes dela covil de salteadores”.

(Is 56:7) “Também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos”.

É preciso entender que os evangelhos ocorrem ainda dentro do período da Lei mosaica, portanto o templo era a casa de Deus neste mundo e o local de oração para todos os povos. Em nenhum lugar do Antigo Testamento você encontra os profetas fazendo referência à igreja, pois era um mistério que só seria revelado depois a Paulo. Tudo o que eles profetizaram dizia respeito a Israel, portanto a “Casa de Oração” da qual Isaías fala é a mesma “Casa de Oração” mencionada por Jesus, ou seja, o Templo de Jerusalém. Na época à qual Isaías se refere os povos viajarão de todo o mundo (durante o reino milenial de Cristo) para adorar no templo em Jerusalém.

(Zc 8:3-23) “Assim diz o Senhor: Voltarei para Sião, e habitarei no meio de Jerusalém; e Jerusalém chamar-se-á a cidade da verdade, e o monte do Senhor dos Exércitos, o monte santo…. Assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda sucederá que virão os povos e os habitantes de muitas cidades. E os habitantes de uma cidade irão à outra, dizendo: Vamos depressa suplicar o favor do Senhor, e buscar o Senhor dos Exércitos; eu também irei. Assim virão muitos povos e poderosas nações, a buscar em Jerusalém ao Senhor dos Exércitos, e a suplicar o favor do Senhor. Assim diz o Senhor dos Exércitos: Naquele dia sucederá que pegarão dez homens, de todas as línguas das nações, pegarão, sim, na orla das vestes de um judeu, dizendo: Iremos convosco, porque temos ouvido que Deus está convosco”.

Deus providenciou para que não restasse pedra sobre pedra do Templo para que não houvesse dúvida de que na atual dispensação Jerusalém não é o lugar de adoração e nem o Templo a “Casa de Oração”. Mas certamente o templo será reconstruído e voltará a ser o lugar designado por Deus para a adoração na terra, e é dessa época que Isaías está falando. Mas quando isso acontecer a igreja já não estará aqui, e sim um remanescente judeu fiel que sofrerá toda a perseguição perpetrada pelo anticristo e seus seguidores no período conhecido como “grande tribulação”.

Até a época dos evangelhos o lugar de adoração era físico, possuía uma estrutura física, um clero, instrumentos musicais, rituais ensaiados, utensílios santificados e uma série de coisas previstas pela Lei. Mas isso mudaria quando a Igreja fosse formada e os cristãos passassem a se reunir ao nome de Jesus. A pessoa de Jesus seria o que identificaria os salvos por ele, e não um lugar físico.

(Jo 4:20-24) “Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.

Os judeus adoravam em verdade (no lugar certo, com os rituais certos), porém não em espírito. Hoje os cristãos podem adorar em espírito, mas nem todos adoram em verdade (por não adorarem segundo as Escrituras, mas segundo suas próprias invenções).

Não creio ser correto colocar hoje uma placa identificando um lugar físico como “Casa de Oração” porque isso só caberia ao templo de Jerusalém, e não a uma construção qualquer ocupada por cristãos. Qualquer tentativa de se imitar o judaísmo, quer construindo “templo”, quer identificando lugares físicos como dotados de algum tipo de deferência, só causa confusão e distorção da verdade. É preciso entender que não existe hoje um lugar físico, mas sim um lugar que é apontado pelo Espírito, onde dois ou três são congregados pelo Espírito ao nome de Jesus.

Passe uma borracha na ideia de um lugar físico de adoração (tipo templo, catedral, etc.) porque isso não existe no cristianismo bíblico. O que está ao redor (paredes, tábuas ou ar) ou sobre a cabeça dos crentes reunidos (telhas, sapé ou nuvens) não tem importância alguma. É QUEM está no meio que importa.