É uma noção comum que a pérola de grande valor é o próprio Salvador, que parece quase desrespeitoso contestar isso. No entanto, a interpretação popular está aberta a sérias dúvidas por dois motivos:
(1) colocaria essa parábola totalmente fora de harmonia com o ensino de seu contexto;
(2) representa o pecador como sacrificando algo – de fato – para adquirir a Cristo.
Mas Cristo não pode ser comprado. Ele é o dom inefável de Deus ao homem, e todas as bênçãos que são fruto de Sua expiação – vida eterna, etc – também são presentes. Pedro censurou severamente o homem que pensava que o dom de Deus poderia ser comprado com dinheiro (Atos 8:18-23). Além disso, o pecador é representado nas Escrituras como “não tendo com o que pagar” (Lucas 7:42). Quem não pode cumprir suas justas obrigações certamente não está em posição de comprar pérolas caras. E deve-se lembrar que é o Salvador que busca o pecador, e não o contrário.
A parábola é assim: “O Reino dos céus é semelhante ao homem negociante que busca boas pérolas; e, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha e comprou-a” (Mateus 13:45-46). Como no caso do tesouro escondido, o comprador é Cristo. A pérola é a Igreja, que, nas Escrituras, é o conjunto de todas as pessoas crentes desde a descida do Espírito Santo, até a vinda do Salvador nos ares (Atos 2; 1 Tessalonicenses 4:15-18). O tesouro escondido consiste de centenas de peças de ouro e de prata e, portanto, representa adequadamente os crentes em todas as épocas, que foram e ainda serão salvos das ruínas do mundo de Adão pela infinita graça de Deus. Mas a pérola representa especificamente os salvos de todo o período cristão.
A Igreja ocupa um lugar muito especial nos caminhos de Deus. Os propósitos divinos a respeito dela foram mantidos em segredo no seio divino até que Paulo foi levantado como um vaso escolhido para comunicá-los aos homens (Efésios 3:3-4). Ele era, em um sentido singular, o ministro da Igreja; e com ele aprendemos que a Igreja é o corpo de Cristo agora e será Sua noiva por toda a eternidade. Nesse relacionamento especial, os salvos das eras anteriores e posteriores não terão parte, embora o lar eterno de todos os santos de Deus seja um – “a cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial” (Hebreus 12:22).
A pérola única mostra a unidade e a beleza da Igreja como Cristo a vê e estima. O alegre Homem que achou da parábola anterior é o mesmo Homem que busca boas pérolas na parábola diante de nós. Para ter a pérola para si, Ele sacrificou tudo. Ele deixou a glória do céu e aceitou em seu lugar as humildes circunstâncias da terra. Também renunciou a Seu trono terrestre como filho e herdeiro de Davi e aceitou a cruz e a sepultura. Tudo isso para que Ele pudesse possuir a pérola sobre a qual havia colocado o Seu coração. Como o Espírito coloca em outro lugar: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Efésios 5:25). Certamente as afeições de todos os objetos de Seu favor devem ser colocadas sobre esse Salvador para sempre.
W. W. Fereday