Timóteo – Parte 1 – W. J. Prost

Paulo era mais velho; Timóteo era jovem. Suas vidas estavam intimamente ligadas, assim como a vida de Timóteo e seus pais. Quer sejamos mais velhos ou mais jovens, pais, filhos ou filhas, temos muito a aprender e nos beneficiar ao considerar o registro de Deus sobre a vida de Timóteo e suas interações com seu pai espiritual e pais naturais. Cada um de nós tem coisas para receber daqueles que são da geração anterior a nossa e coisas para transmitir à geração depois da nossa, pois é parte da maneira escolhida por Deus para transmitir Sua verdade de geração em geração.

J. G. Bellett disse bem: “É lindo ver a “fé não fingida” habitando uma geração após a outra da mesma família, como a avó Loide, a mãe Eunice e a criança Timóteo, mas também é lindo ler na terceira dessas gerações familiares, as lágrimas e as afeições que dão a plena convicção de que sua religião não é meramente imitada ou por educação – uma mera influência familiar -, mas o precioso poder inabalável de um reino que Deus mesmo estabeleceu na alma”.

Timóteo – sua vida e ministério

Timóteo ocupa um lugar importante e único nos primeiros dias da igreja. Ele ouviu a pregação de Paulo quando jovem e, tendo sido educado ouvindo as Escrituras, estava pronto para receber a mensagem de salvação. Algum tempo depois, ele se associou a Paulo em seu ministério e continuou nele até que Paulo foi martirizado. Ele continuou fiel quando muitos outros desistiram da preciosa verdade que Paulo ensinou, e foi ele esse jovem – que recebeu a epístola final escrita por Paulo. Sua vida e experiências trazem muitas lições para todos nós hoje e especialmente para aqueles que são mais jovens.

Primeiros anos

Primeiro lemos sobre Timóteo quando Paulo visitou Derbe e Listra pela segunda vez, junto com Silas. Naquela época, “dele davam bom testemunho os irmãos” e atraiu a atenção de Paulo. Aparentemente ele havia crido quando Paulo visitou Listra pela primeira vez alguns anos antes, pois Paulo o chama de “meu verdadeiro filho na fé” (1 Timóteo 1:2) e “meu filho amado” (1 Coríntios 4:17). Várias coisas são dignas de nota em sua juventude.

Em primeiro lugar, as Escrituras deixaram registrado que seu pai era grego (Atos 16:1), e sabemos que isso teria sido uma desgraça e uma vergonha para sua mãe, pois era proibido na lei que um judeu se casasse com um gentio. Ela era evidentemente uma mulher piedosa e como se casou com um grego não nos é dito. Não nos é dito mais nada sobre seu pai, e é bem provável que ele não tenha interesse nas coisas do Senhor.

Segundo, Paulo presta testemunho da fé de sua mãe e de sua avó (2 Timóteo 1:5), e isso deu frutos quando Timóteo ouviu a pregação de Paulo. Mas ele não foi meramente salvo; a sua vida e caminhada eram tais que lhe davam um bom testemunho dos seus irmãos locais, e Paulo sentiu-se levado a pedir-lhe que o acompanhasse no seu ministério.  Marcos, que viajara com Paulo e Barnabé em sua primeira viagem, havia se afastado da obra, mas agora o Senhor havia providenciado um substituto.

Dom

Assim como acontece com outros servos do Senhor, Timóteo tinha um dom, e isso é dito de uma forma clara, que envolvia outras pessoas que estavam familiarizadas com ele. Para começar, somos informados em 1 Timóteo 4:14 que o dom “te foi dado por profecia”. Sem dúvida, isso se refere aos profetas do Novo Testamento daqueles dias, que, estando familiarizados com a conduta e coração exemplar de Timóteo para com as coisas do Senhor, foram guiados pelo Senhor para profetizar acerca de um dom que o Senhor Lhe daria. Em segundo lugar, Paulo exorta Timóteo para que “despertes o dom de Deus, que existe em ti pela imposição das minhas mãos” (2 Timóteo 1:6). Paulo, como apóstolo, foi o instrumento usado pelo Senhor na administração deste dom, e ele o comunicou em um ato definido, pela imposição de suas mãos. Assim, Timóteo foi sinalizado para o trabalho que deveria fazer. Finalmente, lemos que esse dom estava associado à “imposição das mãos do presbitério” (1 Timóteo 4:14). Aqueles que eram anciãos na assembleia expressaram sua comunhão com o dom e com a profecia a respeito dele.

Tudo isso foi feito, não apenas para assegurar Timóteo sobre seu dom, mas para encorajar alguém que era evidentemente tímido e não estava disposto a avançar por sua própria força. Isto é, sem dúvida, um traço admirável em um crente, mas, por outro lado, Timóteo não permitiria que essa reticência natural o impedisse de usar o dom ou de agir com autoridade quando necessário.

Ministério

Ao longo do Novo Testamento, o nome de Timóteo continua a emergir em conexão com Paulo e com a obra do Senhor. Ele evidentemente fazia parte da companhia de Paulo em suas viagens missionárias e era um constante “participante das aflições do evangelho” (2 Timóteo 1:8). É falado várias vezes sobre ele em companhia de Silas, e é claro que os dois costumavam ir juntos, quando Paulo estava temporariamente separado deles. Paulo enviou Timóteo e Erasto juntos para a Macedônia (Atos 19:22), como sendo homens competentes que poderiam trabalhar para o Senhor por conta própria, sem Paulo estar com eles. Paulo declara sua intenção de enviar Timóteo para outros lugares, como Filipos e Corinto, a fim de saber como os crentes estavam. Em Romanos 16:21, Paulo se refere a ele como “meu companheiro de trabalho” (JND), e em 1 Coríntios 4:17, ele o chama “meu filho amado e fiel no Senhor, o qual vos fará recordar os meus caminhos que são em Cristo Jesus”. Aos Coríntios ele poderia dizer que Timóteo “trabalha na obra do Senhor, como eu também” (1 Coríntios 16:10). Que conforto e alegria deveria ser para Paulo em ter um jovem em quem ele pudesse ter tanta confiança e em quem ele pudesse confiar para ministrar fielmente a verdade de Deus!
Seu nome também está ligado a diversas epístolas que Paulo escreve, como alguém que era bem conhecido nas várias assembleias e que apoiou e ensinou a mesma verdade que o apóstolo. Nas saudações aos Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 2 Coríntios e Filemon, seu nome é usado junto com Paulo e outros como Silas (Silvano).

Finalmente, é claro que ele foi prisioneiro por amor ao Senhor, pelo menos uma vez, pois nos é dito em Hebreus 13:23 que “já está solto o irmão Timóteo”. Ele poderia ter sido prisioneiro em outras ocasiões, pois aparentemente ele estava com Paulo em Roma quando Paulo escreveu de lá algumas de suas epístolas da prisão.

Em tudo isso, Timóteo mostrava um caráter e perspectiva que o aprovavam, e quando Paulo escreveu para os filipenses, ele pôde dizer: “Nenhum outro tenho de igual sentimento, o qual sinceramente cuide dos vossos interesses” (Filipenses 2:20).

Primeira e segunda Timóteo

As epístolas de Paulo a Timóteo têm um caráter especial, pois embora tenham sido escritas para ele como um indivíduo, e assim nos dão a fidelidade e conduta individuais sob diferentes circunstâncias, ainda possui muitos pontos que se aplicam ao testemunho coletivo também. Como alguém que estava em uma posição de responsabilidade, a instrução é individual, mas o conteúdo das epístolas também era destinado a Timóteo para ministrar coletivamente aos crentes. Em 1 Timóteo, recebemos instrução para o indivíduo piedoso quando as coisas estavam relativamente em ordem na igreja, de modo que Paulo pudesse equiparar “a casa de Deus” com “a igreja do Deus vivo” (1 Timóteo 3:15). Muita instrução prática é transmitida para nós nesta epístola que trata de muitas esferas diferentes da vida do crente.

Em 2 Timóteo, temos instruções para o indivíduo fiel quando a igreja está em desordem. Deus permitiu que este estado de coisas se desenvolvesse antes de Paulo ser chamado para casa, de modo que nós, nestes últimos dias, teríamos instrução e orientação em tal situação. A igreja não é mencionada nessa epístola, enquanto a casa de Deus é chamada de “uma grande casa”. Mas há um caminho para a fé, e Timóteo é incentivado a andar nele, tendo o cuidado de evitar armadilhas especiais que não estavam presentes quando a igreja estava em ordem. Havia agora uma necessidade de “apartar-se da iniquidade” e purificar-se dos “vasos para desonra”. Mas também haveria aqueles que “seguiriam a retidão, fé, caridade e a paz” e “que invocam o Senhor com um coração puro” (2 Timóteo 2:22).

A vida de Timóteo é um tremendo encorajamento para nós e especialmente para os jovens. Sua vida é detalhada para mostrar como um jovem pode ser um vencedor e viver para o Senhor mesmo sob circunstâncias difíceis. Pesquisar e meditar nas muitas escrituras que se referem a ele vale o esforço!