Essas palavras saíram da boca do próprio Senhor e consolaram multidões, mas precisamos saber a quem elas foram ditas e se temos o direito de nos apoderarmos delas. O Senhor não estava falando com homens autossuficientes e arrogantes, Ele falou com pessoas assim, mas não lhes disse: “Não se turbe o vosso coração”, para estes Ele falou palavras de denúncia e solenes avisos, palavras contundentes, o que os colocaria em uma grande perturbação de coração se tivessem alguma consciência do que estava sendo dito. Ele também não estava falando com pecadores que reconheciam esta situação e se cansaram das vidas que estavam vivendo.
Suas palavras para eles eram palavras cheias de misericórdia e de terna compaixão, pois Ele veio para chamá-los ao arrependimento, mas não disse a eles: “Não se turbe o vosso coração”. Ele estava falando com homens que no capítulo anterior foram chamados de “Seus”, aqueles a quem Ele amava e nunca deixaria de amar. Eles eram homens que representavam todos os Seus através dos séculos até o dia de hoje. Podemos ser fracos, instáveis e, alguns de nós, muito jovens na fé, mas se podemos dizer: “O Filho de Deus me amou e Se entregou por mim”, somos “Seus”, Ele nos ama e nunca deixará de nos amar.
“Tendo amado os seus que estavam no mundo, Ele os ama até o fim”. Então podemos nos apoderar destas palavras; elas foram ditas para nós; para nós Ele disse: “Não se turbe o vosso coração”.
Esses discípulos do Senhor estavam aflitos porque Ele estava indo embora. Eles não tiveram problemas enquanto Ele estava com eles. Quando Jesus perguntou: “Faltou-vos, porventura, alguma coisa? Eles responderam: “Nada”. Mas Ele estava indo embora e o que fariam sem Ele? Sua resposta ao medo deles não foi: “Não se turbe o vosso coração”. Não haveria dificuldades para os Seus, se Ele estivesse aqui. Doenças, morte e demônios fugiram de Sua presença, e grande paz tinham aqueles que estavam Sua companhia, mas Ele não estaria aqui e tendo em vista Sua partida disse: “No mundo tereis aflições”, e não seria isso um motivo para deixar um coração perturbado? Sua resposta foi “não se turbe o vosso coração”. Essa é a Sua palavra para cada um de nós. Será que Ele teria dito isso para nós, se Ele não fosse capaz de nos manter sem aflição? Alguma vez Ele zombou de uma alma necessitada com palavras vãs? Podemos estar certos de que Ele nunca teria proferido essas palavras se Ele não fosse capaz de em todos os momentos e em todas as circunstâncias nos impedir de ficarmos aflitos. “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em Ti; porque ele confia em Ti”. “No mundo tereis aflições”, “em Mim tenhais paz”.
Então Ele começou a dar a base para essa confiança sem aflição. “Credes em Deus, crede também em mim” e, naquelas palavras, Ele declarou Sua deidade e colocou-se diante de nós como o objeto de nossa fé e confiança, assim como Deus é. Deus é invisível, mas real, Ele estaria invisível, mas tão real para a fé quanto Deus é. Aqueles discípulos estavam bastante familiarizados com o Antigo Testamento. Eles leram sobre Abraão, Moisés, Davi e Daniel e seus três amigos. Eles sabiam que esses homens tinham confiado em Deus e não estavam perturbados, Ele não havia falhado com nenhum deles quando clamaram a Ele, em todas as ocasiões em que Ele foi o escudo deles e excedia em grande recompensa. Bem, disse o Senhor, tudo o que Deus era para o Seu povo no passado, Eu serei para vocês. Será que os séculos que se passaram enfraqueceram Sua força e diminuíram Seu interesse pelos Seus? Ele se cansou de nós e de nossos problemas? Será possível? Não ouviste que o Deus eterno, o Senhor, o Criador dos confins da terra, não se cansa nem se fatiga? “Credes em Deus, crede também em mim”. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”. “Não se turbe o vosso coração”.
“Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar”. Estes homens confiaram que Ele redimiria Israel; eles tinham grandes esperanças por sua nação e por si mesmos como Seus principais amigos, quando Ele se sentasse no trono de Davi como Rei de Israel. A casa do Pai nunca entrou em suas limitadas mentes terrenas, mas Ele fala disso com eles e não sobre tronos e coroas. E era Sua vontade que eles entendessem que a casa de Seu Pai era o lugar deles, pois, para Ele, eram mais do que servos ou discípulos, eles eram os filhos de Seu Pai e a casa do Pai é o lar dos filhos. E para remover todas as perguntas de suas mentes, Ele diz: “Se não fosse assim, Eu teria dito a vocês”. Em outras palavras: Se Eu não tivesse algo melhor para vocês do que a Terra pode oferecer, algo melhor do que suas mais altas expectativas, Eu teria dito. Eu não teria pedido que me seguisse e depois enganasse e desapontasse você.
E essa é a Sua palavra para nós aqui neste momento, e especialmente para os jovens cristãos. Seu Senhor não vai te enganar; se o mundo puder fazer melhor para você do que Ele disse que pode, vá para o mundo! Ele não teria chamado você para segui-Lo se Ele não pudesse fazer infinitamente melhor para você do que o mundo ou a carne ou Satanás. Se os recursos Dele fossem limitados e o fim de segui-Lo fosse incerto, se houvesse alguma dúvida como resultado da sua confiança Nele, Ele lhe teria dito, Ele não enganaria você, Ele não o teria chamado para o desapontamento e perda final. Ele teria dito a você! Cada palavra que Ele proferiu quanto à Sua graça e glória final é a verdade e você pode confiar nEle plenamente e segui-Lo completamente, tendo a certeza que nada na terra tem valor para ser comparado com o que Ele tem para dar.
“Vou preparar um lugar para você”. Esse era o propósito de Sua partida, mas antes que Ele pudesse preparar o lugar para “Seus”, Ele teve que preparar os “Seus” para o lugar. E por causa dessa necessidade Ele disse no final deste capítulo: “Levanta-te, vamos embora daqui”. Getsêmani, Gabatá, Gólgota foi o caminho que Ele seguiu para a casa do Pai, pois somente naquela estrada de tristeza é que Ele poderia nos preparar para isso. Nada que contamine pode entrar na casa do Pai; e os pés sujos de pecado não podem entrar, portanto Sua morte e ressurreição eram necessidades, e Seu amor foi igual à demanda. Ele deu a sua vida por nós e tomou-a novamente.
“E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também”. A Palavra de Deus nos diz em 1 Tessalonicenses 4 como Ele virá e seguramente estimamos e valorizamos palavras. “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Tessalonicenses 4:16-17).
Mas por que Ele mesmo virá? Porque Ele nos ama muito para nos confiar a outros. Tenho certeza de que isso é verdade, mas há outro motivo. Se o chefe de Estado, um rei ou presidente de outro país, fizesse uma visita ao nosso, nosso presidente iria encontrá-lo, se alguém de importância menor aparecesse, ele mandaria um representante de menor escalão. É uma questão de posição, de classificação, de importância. Não podemos perder de vista o fato de que nosso Senhor é o Deus eterno e, como tal, existe uma distância entre Ele e nós que deve existir entre o Criador e a criatura, mas Ele se tornou homem para poder morrer e ressuscitar, Ele pôde nos redimir da morte e do reino das trevas e fazer de nós Seus irmãos. Ele disse ao Pai: “Eu dei a eles a glória que a mim me deste”, e agora Ele não se envergonha de chamar-nos irmãos, e por causa da dignidade que é nossa como Seus irmãos, os filhos de Deus e Seu Pai, Ele mesmo virá por nós. “Para que, onde eu estiver, estejais vós também”. Aí está o Seu amor, esse amor transmite o conhecimento, e não pode e não ficará satisfeito, sem nossa companhia na casa do Pai para sempre.
Ao meditarmos nestas palavras do Senhor, percebemos que Seu grande objetivo era que aqueles a quem Ele ama conhecessem o Pai. Na verdade, podemos dizer que é precioso nos familiarizarmos com o Pai antes de podermos entrar na casa do Pai. Felipe deve ter sentido isso quando disse: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”. A resposta do Senhor permite uma inundação de luz em nossas almas “Quem me vê a mim vê o Pai. Isso é para nós, para O considerarmos que Nele aprendemos quem o Pai é.
Eis que o leproso vem a Ele. A lei exige que se declare: “Imundo, imundo”. Talvez, se esse leproso tivesse chegado perto de Simão, ele teria saído de perto com horror. Se tivesse chegado perto de João, ele talvez tivesse dito: “Afaste-se de mim”. Mas ele foi a Jesus; e Ele moveu-se de grande compaixão estendendo a mão O tocou. Talvez aquele pobre coitado não tenha sido tocado por uma mão humana durante anos, e esse toque certamente curou a doença de sua alma enquanto a palavra do Senhor curou seu corpo corrompido. Ele não precisava tocá-lo, Sua palavra seria suficiente limpar. Mas oh, a graça, a compaixão nesse toque!
Você queria conhecer o Pai? “Quem me vê a mim vê o Pai”.
As crianças queriam vê-Lo, mas “que utilidade as crianças teriam para Ele?” talvez tivessem pensado os discípulos, então as expulsaram.
“Mas Jesus as viu e indignou-Se,
Docemente sorriu e gentilmente disse:
Deixai vir a Mim os pequeninos”.
É possível que aquelas crianças nunca correram para os braços da mãe como correram para os Seus, e Ele as pressionou junto ao Seu coração e as abençoou. “Quem me vê a mim vê o Pai”. Contemple-o chorando com as irmãs no túmulo de seu irmão em Betânia, ao mesmo tempo em que vê a culpada Jerusalém e, antecipando sua desgraça, chora sobre ela. Lágrimas por amigos e lágrimas por inimigos! Lágrimas imparciais!
Você queria conhecer o Pai? “Quem me vê a mim vê o Pai”.
Quando alimentou uma multidão faminta e deu vista ao cego, curou os enfermos e ressuscitou os mortos, Ele estava mostrando o Pai, pois estas eram as obras do Pai. E Suas palavras foram as palavras do Pai. Quando Ele disse à viúva que estava triste por seu único filho: “Não choreis”, quando Ele olhou para a mulher pecadora que se jogou aos seus pés e disse a ela: “Teus pecados te são perdoados”, a Zaqueu, o publicano “Me convém pousar em tua casa”, e quando na agonia do Calvário Ele disse ao ladrão: “Hoje estarás comigo no Paraíso”, a compaixão do coração do Pai em Suas palavras, Ele estava mostrando o Pai.
Diga-me, o Pai não é atraente como nos foi revelado por Ele? O que são as afeições do mundo e suas recompensas quando comparados ao conhecimento Dele e Seu amor? Não está contente que a casa do Pai seja o seu lar eterno e que estará para sempre com Aquele que Jesus tão abençoadamente revelou? “Meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus!”.
Quão indispensável para nossa felicidade eterna é nosso Senhor Jesus e quão dependentes Dele somos. Nós vemos o Pai Nele, pois “ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”, e nós chegamos ao Pai por Ele. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”. Uma história foi muito popular há algum tempo. A rainha Vitória estava em Edimburgo, no Palácio Holyrood, e um rapaz de uma casa pobre estava muito ansioso para vê-la, mas quando chegou aos portões do palácio, o caminho foi barrado pelos sentinelas. Eles não o deixaram passar e ele ficou o mais perto que pôde, soluçando de decepção. Um jovem que passava notou sua angústia e perguntou o que estava acontecendo: “Quero ver a rainha, mas os soldados não vão me deixar”, disse ele. Aquele jovem era o príncipe Arthur, o duque de Connaught. Ele pegou o jovem pela mão e levou-o além dos sentinelas que saudaram o príncipe real e sua companhia. Ninguém questionou o seu direito de entrar direto no palácio, os servos e os soldados curvaram-se para eles até chegarem a presença da Rainha. O príncipe era o “caminho” do jovem para a Rainha, e Jesus é o seu caminho para o Pai, você confiou Nele e Ele levou você pela mão para guiá-lo ao Pai. O Filho tem acesso ao Pai e com Ele e através Dele nós também temos acesso. “Se o Filho vos libertar, sereis realmente livres”. Ele nos dá a liberdade da casa do Pai. O jovem da nossa história teve que voltar para a sua casa humilde, mas nós, pela infinita graça de Deus, nos tornamos crianças do palácio, a casa do Pai é a nossa casa, o Pai é nosso Pai. Nosso Senhor é o caminho para o Pai, Ele é a verdade quanto a este grande e eterno relacionamento com o qual estamos agora com Ele e Ele nos comunicou Sua própria vida para que possamos desfrutar de forma inteligente deste relacionamento. Estamos esperando por Sua vinda para e por nós, logo seremos introduzidos em nosso eterno lar; conheceremos o Pai e, então, Ele não será nenhum desconhecido para nós, O conhecemos agora, pois cremos e entendemos as palavras de nosso Senhor:
“Quem me vê a mim vê o Pai”.
JTM