Um certo credor tinha dois devedores; um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro, cinquenta. E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois: qual deles o amará mais? (Lucas 7:41-42)
O Salvador estava na entrada da casa de um fariseu. Seu espírito estava muito triste na época. Ele acabara de repreender os homens de Sua geração por sua indiferença a João Batista e a Ele mesmo. A abstinência dos prazeres mundanos por parte de João Batista os irritou tanto que eles disseram que ele tinha um demônio; e a genialidade e graça do Salvador os ofenderam tanto que o chamaram de comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e dos pecadores (Lucas 7:31-35).
Algo para refrescar Seu coração talvez tivesse sido profundamente apreciado naquele momento. Mas não foi isso que ele recebeu das mãos de Seu anfitrião. Aquele fariseu, em sua deplorável cegueira, estava totalmente inconsciente de quem estava a sua frente naquele dia. Seu Deus estava lá, mas ele não sabia. No entanto, ele era um homem religioso – um dos ultra religiosos na verdade. O Convidado era, aos seus olhos, um simples pregador viajante, a quem seria bom conceder uma refeição. Ocorreu-lhe que ele poderia ser um profeta, mas esse pensamento ele descartou ao observar a conduta desse convidado em sua casa. Ele considerava tão pouco seu hóspede que nem sequer lhe oferecia as cortesias habituais do Oriente – água para os pés etc. Na verdade, não há nada tão ofuscante ou ofensivo quanto a religião formal e vazia.
Nesta mesma hora, uma mulher da cidade, alguém conhecida por sua moral duvidosa, entrou na casa do fariseu ao ouvir que Jesus estava lá. Sua alma estava sobrecarregada. O pecado pesava sobre ela. Mas ela discerniu em Jesus o Salvador dos pecadores. Se Ele se adequava aos outros ou não, pouco importava para ela; para alguém carregada de culpa como ela, Ele era exatamente o que ela precisava. Nenhum outro no universo poderia tratar o caso dela. Talvez ela tenha ouvido falar de Sua graça para com os pecadores e seu coração foi atraído. Nenhuma restrição ou título farisaico ficou em seu caminho. Ela O procurou, e declarou, não em palavras, mas em ações, um interesse pessoal em Sua graça salvadora. Para profundo desgosto do anfitrião, lágrimas escorreram aos pés do Salvador, e eram enxugadas com os cabelos da sua cabeça, beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o unguento.
O Senhor, ciente do que estava passando na mente do fariseu, voltou-se para ele assim: “Simão… Um certo credor tinha dois devedores; um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro, cinquenta. E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois: qual deles o amará mais?” (Lucas 7:40-42). Para essa parábola, apenas uma resposta era possível e a aplicação era clara. Se cada homem ao olhar para seus pecados os visse como Deus os vê, algo verdadeiramente odioso e desprezível, não haveria do que se vangloriar, já que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Cada um seria bem aconselhado a buscar a graça do perdão para si mesmo.
Voltando a mulher, o Salvador disse: “Teus pecados te são perdoados”. Ele desceu do céu para a salvação de alguém como ela, e estava a caminho do Calvário para expiar a culpa daquela “pecadora”. Nunca mais ela poderia se classificar entre “pecadores miseráveis”; sempre com gratidão, seus lábios poderiam dizer: “Creio no perdão dos pecados e na vida eterna. Amém”.
W. W. Fereday