Tendo falado quatro parábolas para a multidão à beira-mar, o Salvador retirou-se para a casa com Seus discípulos. Ele tinha outros assuntos para falar que somente os homens nascidos do Espírito poderiam entender. Em suas declarações públicas, Ele havia mostrado o Reino dos céus, ou seja, a profissão cristã em seu aspecto externo – o que qualquer olho podia ver e qualquer mente compreender. Ele havia descrito de maneira clara a ascensão, transformação e destruição do cristianismo, visto como um sistema externo. Mas se Ele não dissesse mais nada, poderia ter sido deduzido que Satanás estava destinado a ser completamente triunfante sobre toda a obra de Deus. Pois é indiscutível que as parábolas do joio e do trigo, do grão de mostarda e do fermento mostraram um desastre do ponto de vista espiritual.
Na privacidade da casa, o Senhor apresentou outro aspecto das coisas a Seus discípulos, outros além dos doze estavam com Ele (Marcos 4:10). Outras três parábolas foram dadas, a primeira delas fala do tesouro escondido.
“O Reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem e compra aquele campo” (Mateus 13:44).
O campo é o mundo, de acordo com a própria explicação do Senhor; o tesouro representa os santos que nele estão. Pelos santos, entendemos todos os que realmente creem no nome do Salvador e que foram lavados de seus pecados em Seu precioso sangue. Ele comprou o mundo pelo causa do tesouro escondido, como um homem hoje pode comprar uma quantidade de livros antigos por causa de um volume no qual seu coração deseja. O mundo é, portanto, de Cristo, não apenas pelo direito de criação, mas também pelo direito de compra. Nada pode impedir de tomar Sua possessão, com todas as pessoas ali, por mais rebeldes que sejam. O Pai deu a Ele “poder sobre toda carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste” (João 17:2). Quando a era terminar, Cristo será visto cercado por todos os seus (não faltará nenhum), mesmo que a estrutura externa da cristandade esteja totalmente destruída. Seus inimigos serão então constrangidos a se curvarem a Ele, em reconhecimento de Seu título e direitos, e para sempre comprovarão a justa sentença que Ele lhes dará por sua teimosia e descrença.
Todo coração que crê está sobrecarregado de admiração e adoração ao pensar no preço de compra. Ele “vendeu tudo o que tinha”. Nossa bênção exigiu a rendição de Sua glória celestial, a redução à manjedoura de Belém e a vergonha na cruz do Calvário. O pecado só podia ser expiado por morte e derramamento de sangue. Mas mesmo com isso o Salvador não recuou tendo em vista a alegria de poder cercar-se eternamente com miríades felizes alcançadas pela graça soberana. Se os Seus experimentarem alegria ao se encontrarem em Sua presença celestial, Seu coração encontrará profunda alegria ao tê-los lá.
W. W. Fereday