(recomendamos que leia esse trecho em sua Bíblia antes de prosseguir)
Quando terminamos o capítulo 27, dois itens do tabernáculo ficaram sem ser mencionados: o altar de ouro do incenso e a pia de bronze (ou cobre).
Os itens anteriores ilustravam como Deus pode hoje vir e Se encontrar conosco…
os itens que faltam nos dizem de como nós, crentes, podemos nos aproximar de Deus. Os capítulos 28 e 29 ligam as duas seções; o sacerdote (Cristo) está entre elas (1 Timóteo 2:5).
Para que a adoração pudesse ser prestada, era necessário a pia de bronze. Ela devia ser colocada no pátio entre o altar e o tabernáculo, no caminho do sacerdote que, a caminho de exercer seu ofício, lavava suas mãos e pés. Uma figura de autojulgamento sob o poder da Palavra (a água), limpando o adorador das impurezas contraídas em sua caminhada pelo mundo (João 13:10).
Repare o aviso, dado duas vezes, sobre a negligência. Evidentemente entendemos que o crente não pode perder sua salvação, mas ele pode perder o privilégio de sua obra sacerdotal se for descuidado nesta vida.
Precisamos de mãos limpas (aquilo que fazemos) e pés limpos (aonde vamos). Nossa vida hoje é tão ocupada em “fazer as coisas”, que estes versículos provavelmente são um choque para nós, pois estão dizendo o quão importante é a adoração a Deus. Em nossos dias, o serviço (é triste admitir) está substituindo a adoração em importância. Portanto leiamos Hebreus 8:3 e 4 para sermos ajudados a entender que Deus está nos dizendo algo.
Depois da água que o limpa da “imundícia da carne” (negativamente) encontramos o azeite da unção (o Espírito) que confere um caráter santo. As especiarias que entram em sua composição expressam as diferentes graças e glórias de Cristo. Repare com que cuidado elas são descritas quanto à medida – algumas diferentes… algumas iguais em quantidade. Todas eram só para Deus. Ninguém poderia jamais usar qualquer desses perfumes em si mesmo. Repare o que aconteceria se o fizessem. Deus zela para que toda a glória seja dada a Cristo somente. Essas especiarias e doces perfumes são uma figura do que Cristo é para Deus. Por isso nenhum ser humano podia usá-las. Era proibido derramar o azeite santo sobre a carne do homem (que estaria usando os dons do Espírito para glorificar o homem) e fazer qualquer coisa semelhante (para imitar o funcionamento do Espírito Santo). O Salmo 133:2 nos mostra este precioso azeite derramado na cabeça, descendo sobre a barba de Arão e depois até a orla das suas vestes: uma imagem maravilhosa dos redimidos que gozam, pelo Espírito, das perfeições de sua Cabeça glorificada e participando da mesma unção. Por outro lado, o odor doce do incenso subia continuamente em direção a Deus para apresentar à Ele em detalhes todas as excelências de Seu Bem-Amado.
Texto baseado em diversos autores que se reuniam apenas ao Nome do Senhor no século XIX e XX.
O CULTO, A COMUNHÃO E A ADORAÇÃO
O Altar de Cobre e o Altar de Ouro
Instituído o sacerdócio, como vimos nos dois capítulos precedentes, somos introduzidos aqui na posição do verdadeiro culto e comunhão sacerdotal. A ordem é notável e instrutiva; e, além disso, corresponde exatamente com a ordem da experiência do crente. No altar de bronze, o crente vê as cinzas dos seus pecados; e vê-se imediatamente unido com Aquele que, embora pessoalmente puro e incontaminado, de forma que podia ser ungido sem sangue, tem-nos, contudo, associado Consigo na vida, em justiça e favor; e, por fim, o crente vê no altar de ouro a preciosidade de Cristo, como sendo a substância com a qual é alimentado o amor divino.
É sempre assim: é necessário que haja um altar de cobre e um sacerdote antes que possa haver um altar de ouro e incenso. Muitíssimos filhos de Deus nunca passaram do altar de cobre; nunca entraram, em espírito, no poder e realidade do verdadeiro culto sacerdotal. Não se regozijam no pleno e perfeito sentimento divino de perdão e justiça; nunca conseguiram chegar ao altar de ouro. Esperam alcançá-lo quando morrerem; ao passo que já têm o privilégio de estar ali agora. A obra da cruz tirou do caminho tudo que podia representar um obstáculo a um culto livre e inteligente. A posição atual de todos os crentes verdadeiros é junto do altar de ouro do incenso.
Este altar é figura de uma posição de maravilhosa bem-aventurança. Ê ali que desfrutamos a realidade e eficácia da intercessão de Cristo. Havendo acabado com o ego e tudo quanto lhe diz respeito, ainda que esperássemos algum bem dele, temos de estar ocupados com aquilo que Cristo é perante Deus. Nada encontraremos no ego senão corrupção; todas as suas manifestações são corrompidas; já foi condenado e posto de parte pelo juízo de Deus, e nem só um fio ou partícula dele se pode encontrar no incenso ou no fogo do altar de ouro puro. Isso seria impossível. Fomos introduzidos no santuário “pelo sangue de Jesus”, santuário de serviço e culto sacerdotal, no qual não existe nem sequer um vestígio de pecado. Vemos a mesa pura, o castiçal puro e o altar puro; mas não existe nada que nos recorde o ego e a sua miséria. Se fosse possível que alguma coisa do ego se apresentasse à nossa vista, isso só serviria para destruir o nosso culto, contaminar o nosso alimento sacerdotal e ofuscara nossa luz. A natureza não pode ter lugar no santuário de Deus: foi consumida e reduzida a cinzas com tudo quanto lhe pertence; e agora as nossas almas são chamadas para gozar o bom cheiro de Cristo, subindo como perfume agradável a Deus: é nisto que Deus Se deleita. Tudo o que apresenta Cristo na Sua própria excelência é agradável a Deus. Até a mais débil expressão ou manifestação de Cristo, na vida ou adoração de um dos Seus santos, é cheiro agradável, no qual Deus acha o Seu prazer.
Enfim, temos muitíssimas vezes de estar ocupados com as nossas faltas e fraquezas. Se os efeitos do pecado, que habita em nós, se manifestam, temos de tratar com Deus acerca deles, pois o Senhor não pode concordar com o pecado. Pode perdoar o pecado e purificar-nos; pode restaurar as nossas almas pelo ministério precioso do nosso grande Sumo Sacerdote; porém não pode associar-se a um simples pensamento pecaminoso. Um pensamento ligeiro ou louco bem como uma ideia impura ou cobiçosa, são o bastante para perturbar a comunhão do crente e interromper o seu culto. Se um tal pensamento se levanta, deve ser confessado e julgado antes de podermos desfrutar outra vez os gozos sublimes do santuário. Um coração em que opera a concupiscência não tem parte nas ocupações do santuário. Quando nos encontramos na nossa própria condição sacerdotal, a natureza é como se não tivesse existência; é então que nos podemos alimentar de Cristo. Podemos provar o prazer divino de estarmos inteiramente livres de nós próprios e completamente absorvidos por Cristo.
Mas tudo isto só pode ser produzido pelo poder do Espírito. É inútil procurar excitar os sentimentos naturais de devoção pelos diferentes instrumentos da religião sistemática. É necessário que haja fogo puro e incenso puro (compare Levítico 10:1 com 16:12). Todos os esforços para adorar a Deus por meio das faculdades profanas da natureza estão incluídos na categoria de “fogo estranho”. Deus é o verdadeiro objeto de adoração; Cristo é o fundamento e a substância de adoração; e o Espírito Santo é o seu poder. Propriamente falando, portanto, assim o altar de cobre nos apresenta Cristo no valor do Seu sacrifício, o altar de ouro mostra-nos Cristo no valor da Sua intercessão. Este fato dará ao leitor uma melhor compreensão do motivo por que a ocupação sacerdotal é introduzida entre os dois altares. Existe, como podia esperar-se, uma relação íntima entre os dois altares, pois que a intercessão de Cristo está fundada sobre o Seu sacrifício. “E uma vez no ano Arão fará expiação sobre as pontas do altar, com o sangue do sacrifício das expiações; uma vez no ano fará expiação sobre ele, pelas vossas gerações; santíssimo é ao SENHOR” (versículo 10). Tudo repousa sobre o fundamento inabalável do SANGUE ESPARGIDO. “Quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão. De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem; mas, as próprias coisas celestiais, com sacrifícios melhores do que estes. Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém, no mesmo céu, para agora comparecer, por nós, perante a face de Deus” (Hebreus 9:22-24).
O Meio Siclo de Resgate
Os versículos 11 a 16, inclusive, tratam do dinheiro das expiações para a congregação. Todos tinham de pagar da mesma maneira. “O rico não aumentará, e o pobre não diminuirá da metade do siclo, quando derem a oferta ao SENHOR, para fazer expiação por vossas almas”. Na questão do resgate todos são postos ao mesmo nível. Pode haver uma grande diferença em conhecimento, de experiência, de aptidão, de progresso, de zelo e de dedicação, porém o fundamento de expiação é igual para todos. O grande apóstolo dos gentios e o mais débil cordeiro do rebanho de Cristo estão no mesmo nível no que se refere à expiação. É uma verdade muito simples e feliz ao mesmo tempo. Nem todos podem ser igualmente fervorosos e abundar em frutos; porém o fundamento sólido e eterno do repouso do crente é “o precioso sangue de Cristo” (1 Pedro 1:19), e não a dedicação ou abundância de frutos. Quanto mais compenetrados estivermos da verdade e poder destas coisas tanto mais frutos daremos.
Bendito seja Deus, sabemos que todos os Seus direitos foram cumpridos e os nossos votos satisfeitos por Aquele que era ao mesmo tempo o representante dos Seus direitos e o Expoente da Sua graça, o mesmo que consumou a obra de expiação sobre a cruz e está agora à destra de Deus. Nisto existe doce descanso para o coração e a consciência. A expiação é a primeira coisa que alcançamos, e nunca mais a perdemos de vista. Por muito extenso que seja o curso da nossa inteligência, por muito rica que seja a nossa experiência, por muito elevado que seja o dom da nossa piedade, teremos sempre de nos retirar para a doutrina simples, divina, inalterável e fortalecedora doutrina do O SANGUE. Assim tem sido sempre na história do povo de Deus o assim é e assim será em todos os tempos. Os mais dotados e instruídos servos de Cristo têm regressado sempre com regozijo a “esta única fonte de delícias”, na qual os seus espíritos sequiosos beberam quando conheceram o Senhor; e o cântico eterno da Igreja, na glória, será: “Aquele que nos ama e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados” (Apocalipse 1:5). As cortes do céu ressoarão para sempre com a doutrina gloriosa do sangue.
A Pia de Cobre
Nos versículos 17 a 21 temos a “pia de cobre com a sua base” – o vaso da purificação e a sua base. Estas duas coisas são sempre mencionadas conjuntamente (veja-se capítulos 30:28; 38:8; 40:11). Era nesta pia que os sacerdotes lavavam as mãos e os pés, e desta forma mantinham aquela pureza que era essencial ao cumprimento das suas funções sacerdotais. Não significava, de modo nenhum, uma nova questão do sangue; mas simplesmente um ato mediante o qual se mantinham em aptidão para o serviço sacerdotal e o culto.
“E Arão e seus filhos nela lavarão as suas mãos e os seus pés. Quando entrarem na tenda da congregação, lavar-se-ão com água, para que não morram, ou quando se chegarem ao altar para ministrar, para acender a oferta queimada ao SENHOR” (versículo 20). Não pode haver verdadeira comunhão com Deus se a santidade pessoal não for diligentemente mantida. “Se dissermos que temos comunhão com ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade” (1 João 1:6). Esta santidade pessoal só pode proceder da ação da Palavra de Deus nas nossas obras e nos nossos caminhos:”… pela palavra dos teus lábios me guardei das veredas do destruidor” (Salmo 17:4). O nosso enfraquecimento constante no ministério sacerdotal pode ser causa de negligenciarmos o uso conveniente da pia de cobre. Se os nossos caminhos não são submetidos à noção purificadora da Palavra de Deus – se continuarmos em busca ou na prática de alguma coisa que, segundo o testemunho da nossa própria consciência, é claramente condenada pela Palavra de Deus, o nosso caráter sacerdotal carecerá certamente de poder. A perseverança deliberada no mal e o verdadeiro culto sacerdotal são de todo incompatíveis. “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17:17). Se houver em nós impureza, não podemos gozar a presença de Deus. O efeito da Sua presença será então convencer-nos do mal pela luz santa da Sua Palavra. Porém, quando, mediante a graça, sabemos purificar os nossos caminhos, acautelando-nos segundo a Palavra de Deus, então estamos moralmente em estado de gozar a Sua presença.
O leitor perceberá imediatamente que se abre aqui um vasto campo de verdade prática e como a doutrina da pia de cobre é largamente apresentada no Novo Testamento. Oh! que todos aqueles que têm o privilégio de pôr os pés nos átrios do santuário com vestidos sacerdotais e de se aproximarem do altar de Deus, par exercer o sacerdócio, mantenham as mãos e os pés limpos pelo uso da verdadeira pia de cobre! Talvez seja interessante notar que a pia de cobre com a Sua base era feita “dos espelhos das mulheres que se ajuntaram, ajuntando-se à porta da tenda da congregação” (capítulo 38:8). Este fato é cheio de significado. Estamos sempre prontos a ser como o homem que “contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu de como era” (Tiago 1:24). O espelho da natureza nunca poderá dar-nos uma vista clara e permanente da nossa verdadeira condição. “Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito” (Tiago 1:25). Aquele que recorre continuamente à Palavra de Deus e a deixa falar ao seu coração e à sua consciência será mantido na atividade santa da vida divina.
Um Grande Sumo Sacerdote
A eficácia do ministério sacerdotal de Cristo está intimamente ligada com a ação penetrante e purificadora da Palavra de Deus. “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.” E o apóstolo inspirado acrescenta imediatamente; “Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecerse das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança, ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hebreus 4:12-16).
Quanto mais vivamente sentirmos o fio da palavra de Deus, tanto mais apreciaremos o ministério misericordioso e gracioso do nosso Sumo Sacerdote. Estas duas coisas andam juntas. São os companheiros inseparáveis da senda do cristão. O Sumo Sacerdote simpatiza com as fraquezas que a Palavra de Deus descobre e expõe: Ele é um Sumo Sacerdote “fiel” e “misericordioso”. Por isso, nos só podemos aproximar do altar na medida em que fazemos uso da pia de cobre. O culto deve ser sempre oferecido no poder da santidade. E necessário perdermos de vista a natureza, tal qual é refletida num espelho, e estarmos ocupados inteiramente com Cristo, conforme no-Lo apresenta a Palavra de Deus. É só desta forma que “as mãos e os pés”, as obras e os nossos caminhos são purificados, segundo a purificação do santuário.
A Santa Unção
Os versículos 22 e 23 tratam “do azeite da santa unção”, com a qual eram ungidos os sacerdotes com todos os utensílios do santuário.
Nesta unção discernimos uma figura das várias graças do Espírito Santo, as quais se acharam em Cristo em toda a sua plenitude divina. “Todos os teus vestidos cheiram a mira, a aloés e a cássia, desde os palácios de marfim de onde te alegram” (Salmo 45:8). “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude” (Atos 10:38). Todas as graças do Espírito Santo, em sua perfeita fragrância, se concentraram em Cristo; e é somente d’Ele que podem emanar. Quanto à Sua humanidade, foi concebido do Espírito Santo; e, antes de entrar no Seu ministério público, foi ungido com o Espírito Santo; e, finalmente, havendo tomado o Seu lugar nas alturas, derramou sobre o Seu corpo, a Igreja, os dons preciosos do Espírito, em testemunho da redenção efetuada (veja-se Mateus 1:20; Mateus 3:16-17; Lucas 4:18-19; Atos 2:33; Atos 10:45-46; Efésios 4:8-13).
É como aqueles que estão associados com este bendito e eternamente glorificado Senhor que os crentes são feitos participantes dos dons e graças do Espírito Santo; e, além disso, é na medida em que andam em intimidade com Ele que gozam ou emitem a Sua fragrância.
O homem não regenerado não conhece estas coisas. “Não se ungirá com ele a carne do homem” (versículo 32). As graças do Espírito nunca poderão ser ligadas com a carne, porque o Espírito Santo não pode reconhecer a natureza. Nem um só dos frutos do Espírito foi jamais produzido no solo estéril da natureza. E necessário nascer de novo (João 3:7). E só como unidos com o novo homem, como sendo parte da nova criação, que podemos conhecer alguma coisa dos frutos do Espírito Santo.
É inútil procurar imitar esses frutos e virtudes. Os mais belos frutos que jamais cresceram no campo da natureza, no seu mais alto grau de cultivo – os traços mais amáveis que a natureza pode apresentar- devem ser inteiramente rejeitados no santuário de Deus. “Não se ungirá com ele a carne do homem, nem fareis outro semelhante conforme a sua composição: santo é, e será santo para vós. O homem que compuser tal perfume como este, ou que dele puser sobre um estranho, será extirpado dos seus povos”. Não deve haver imitação da obra do Espírito: tudo tem que ser do Espírito: inteiramente e realmente do Espírito. Demais, aquilo que é do Espírito não deve ser atribuído ao homem:”… o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2:14).
Num dos cânticos dos degraus há uma alusão magnífica a este azeite da unção. “Oh! quão bom e quão suave é”, diz o salmista, “que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes” (Salmo 133:1-2). Os próprios vestidos do chefe da casa sacerdotal, depois de ele haver sido ungido com o azeite da santa unção, devem mostrar os seus preciosos efeitos. Que o leitor possa experimentar o poder desta unção, e conhecer o que é ter “a unção do Santo” e ser selado com o Espírito Santo da promessa! (1 João 2:20; Efésios 1:13). Nada tem valor, segundo a apreciação de Deus, salvo aquilo que está ligado com Cristo, e tudo aquilo que estiver assim ligado com Ele pode receber a santa unção.
O Perfume bem Temperado, Puro e Santo
No último parágrafo deste capítulo, tão rico em ensinos, temos o “perfume temperado, santo e puro”. Este perfume precioso apresenta-nos as perfeições incomensuráveis e ilimitadas de Cristo. Não é prescrita a quantidade de cada ingrediente, porque as virtudes de Cristo, as belezas e perfeições que se acham concentradas na Sua adorável Pessoa, são ilimitadas. Só a mente infinita de Deus pode medir as perfeições infindas d’Aquele em quem habita a plenitude da Divindade; e durante o curso de toda a eternidade essas gloriosas perfeições continuarão a desenrolar-se à vista dos santos e anjos prostrados em adoração. De vez em quando, à medida que novos raios de luz emanam desse Sol de glória divina, os átrios do céu, nas alturas, e os vastos campos da criação abaixo dos céus, ressoarão com vibrantes Aleluias Aquele que era, e que é e que sempre será o objeto de louvor de todas as classes de entes criados com inteligência.
Porém não só não era prescrita a quantidade dos ingredientes que entravam na composição do incenso, como é dito que de cada um será igual o peso. Cada aspecto de beleza moral achou em Jesus o seu lugar e a sua justa proporção. Nenhuma quantidade se interpunha ou se chocava com a outra; tudo era “temperado, puro e santo” e exalava um odor tão fragrante que ninguém senão Deus podia apreciá-lo.
“E dele, moendo, o pisarás, e dele porás diante do Testemunho, na tenda da congregação, onde eu virei a ti; coisa santíssima vos será”. Existe um significado profundo e extraordinário na expressão “o pisarás”. Ensina-nos que cada simples movimento na vida de Cristo, cada uma das mais pequenas circunstâncias, cada ação, cada palavra, cada olhar, cada gesto, cada rasgo, cada feição do Seu rosto, esparge um odor produzido por proporção igual-o peso de todas as virtudes que compunham o Seu caráter era igual. Quanto mais pisado era o perfume, tanto mais se manifestava a sua rara e esquisita composição.
“…O incenso que farás conforme a composição deste, não o fareis para vós mesmos; santo será para o SENHOR. O homem que fizer tal como este para cheirar será extirpado do seu povo”. Este perfume fragrante estava destinado exclusivamente para o Senhor. O seu lugar estava “diante do testemunho”. Existe em Jesus alguma coisa que só Deus pode apreciar. De certo, todo o coração crente pode aproximar-se da Sua incomparável Pessoa e achar inteira satisfação para os seus mais ardentes e profundos desejos; contudo, depois de todos os remidos terem esgotado a medida da sua compreensão, depois de os anjos terem contemplado em êxtase as glórias imaculadas do homem Cristo Jesus, tão ardentemente quanto a sua visão lhes permite, existe n’Ele qualquer coisa que só Deus pode profundar e apreciar. Nenhuma visão humana ou angélica poderia jamais discernir devidamente cada partícula desse perfume primorosamente ” pisados”. A terra tampouco podia oferecer uma esfera própria à manifestação do seu divino e celestial poder.
Resumo
Assim, pois, chegamos, no nosso rápido estudo, ao fim de uma parte distinta do livro do Êxodo. Começamos pela “arca do concerto” até que chegamos ao “altar do cobre”; retrocedemos do altar de cobre e chegamos à “santa unção”; e oh! que divagação esta, se tão somente for feita à luz infalível do Espírito Santo, em vez da companhia vacilante da luz da imaginação humana!
Que divagação, contanto que seja feita não por entre as sombras de uma dispensação que acabou, mas no meio das glórias e das poderosas atrações do Filho de Deus, representadas por estas coisas! Se o leitor ainda não fez esta divagação, verá mais do que nunca o seu afeto atraído para Cristo se a fizer; terá uma maior concepção da Sua glória, da Sua beleza, da Sua excelência e do Seu poder para sanar a consciência e satisfazer o coração sedento; os seus olhos estarão fechados para as atrações do mundo e os ouvidos não prestarão atenção às pretensões e promessas da terra. Em suma, estará pronto a pronunciar o amém fervoroso às palavras do apóstolo (1 Coríntios 16:22), quando disse: “SE ALGUÉM NÃO AMA AO SENHOR JESUS CRISTO SEJA ANÁTEMA; MARANATA” (¹).
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(¹) É interessante notar o lugar que ocupa este anátema aterrador. Acha-se no final de uma longa epístola, no decorrer da qual o apóstolo teve de reprimir alguns pecados dos mais grosseiros e vários erros de doutrina. Quão solene e significativo é, portanto, o fato de que quando anuncia o seu anátema não o lança contra aqueles que haviam introduzido esses erros e pecados, mas sim contra todo aquele que não ama ao Senhor Jesus Cristo. Por que é isto assim’ É acaso porque o Espírito de Deus faz pouco caso dos erros ou pecados’ Seguramente que não; toda a epístola nos revela os Seus pensamentos quanto a estes males. A verdade é que quando o coração está cheio de amor para com o Senhor Jesus Cristo, existe uma salvaguarda positiva contra toda a espécie de falsa doutrina e má conduta. Se alguém não ama a Cristo não se pode calcular quais as ideias que possa adotar ou o caminho que possa seguir. Logo, a forma do anátema e o lugar que ocupa na epístola.
Notas sobre o Pentateuco – C. H. Mackintosh