SETE DESCULPAS PARA NÃO SE SEPARAR DOS SISTEMAS DENOMINACIONAIS


Antes de comentarmos as desculpas que costumam ser dadas para não se separar dos sistemas denominacionais, gostaríamos de deixar claro que não temos a intenção de tentar convencer alguém a fazer algo contra a sua vontade. As Escrituras dizem que, entre outras coisas,”…subverter o homem no seu pleito, não são do agrado do Senhor” (Lm 3:36). Se alguém está contente em sua igreja, não é com ele que estamos falando. Estamos nos dirigindo a cristãos genuinamente preocupados com a questão de onde e como Deus gostaria que eles estivessem congregados para a adoração e o ministério.
Além disso, não queremos apresentar estas coisas com um espírito contencioso; certamente não é nossa intenção criticar outros cristãos. Ao comentarmos estas desculpas, cremos que o leitor irá entender que não nos consideramos melhores do que outros cristãos que frequentem alguma organização humana na casa de Deus. Nosso objetivo é revelar a falsidade dos argumentos que as pessoas utilizam quando desejam permanecer numa posição da qual a Palavra de Deus diz claramente para se separarem. “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (Mt 11:15).

1) “NÃO DEVEMOS JULGAR OUTROS CRISTÃOS!

“Às vezes as pessoas dirão: “Eu não me separaria de minha igreja mesmo que visse algumas coisas que não estão corretas, pois se me separasse estaria julgando os que praticam essas coisas, e a Bíblia diz que não devemos julgar uns aos outros”
Percebemos que, para alguns, nossos comentários parecem estar carregados com um espírito de farisaísmo, como se estivéssemos julgando outros cristãos. De boa consciência diante de Deus, cremos que não estamos julgando os motivos dos outros, pois somente Deus é o Juiz dos motivos (Mt 7:1; 1 Sm 2:3;1 Co 4:4-5), mas somos instruídos pelas Escrituras a julgar as doutrinas de uma pessoa (1 Co 10:15; 14:29), suas ações (1 Co 5:12-13), e seus frutos (Mt 7:15-20).
Com a ajuda do Senhor, iremos demonstrar a partir das Escrituras que a atual ordem de coisas praticadas em todos os lugares da cristandade, para a adoração e o ministério da Palavra, não está de acordo com a Palavra de Deus, e que ela (a Palavra de Deus) julga essa ordem de coisas e a considera errada. Como cristãos, somos exortados a exercer juízo sobre aquilo que a Palavra de Deus exerce juízo. O princípio é claramente apresentado em Apocalipse 18:20: “Alegra-te sobre ela, ó céu, e vós, santos e apóstolos e profetas; porque já Deus julgou o vosso juízo quanto a ela” (Versão J. N. Darby). Depois que os verdadeiros crentes são tirados dessa cristandade no Arrebatamento, toda a ordem humana de coisas nela culminará na falsa igreja do livro de Apocalipse (apresentada como “Mistério, a grande Babilônia”). Deus executará o Seu julgamento sobre ela – Ele utilizará a Besta para fazê-lo, e ela terminará para sempre (Ap 17:16).
Quando isso acontecer, o céu todo se regozijará em uma celebração, e aos santos de Deus será dito: “Deus julgou o vosso juízo quanto a ela” (Ap 18:20 Versão J. N. Darby). Isto demonstra que antes daquele tempo, os crentes sensatos já fizeram o seu juízo dela. Naquele dia vindouro Deus fará com que o julgamento que eles fizeram seja publicamente reconhecido, ao executar o Seu julgamento sobre ela. Isto mostra claramente que os cristãos devem julgar aquilo que não é bíblico na cristandade e separar -se disso.
O Antigo Testamento traz uma figura que ilustra este ponto. Jeroboão introduziu em Israel um novo sistema de adoração que não passava de uma invenção sua. Ele não tinha qualquer autorização de Deus para fazê-lo. Todavia, ele criou dois novos centros de adoração em Israel, um em Betel e outro em Dã. Ele também estabeleceu uma nova ordem sacerdotal nesses lugares, a qual era “como” a ordem instituída por Deus em Jerusalém. Ele fez tudo isso para dar ao povo a sensação de que essa nova ordem de coisas vinha de Deus, pois era parecida com a ordem instituída por Deus em Jerusalém. Mas com isso ele levou Israel a pecar, ao encorajar o povo a adorar ali (1 Reis 12:28-33). Nem precisaria ser mencionado que isso desagradou ao Senhor.
Não muito tempo depois, o Senhor enviou um profeta a Betel para clamar contra o altar que Jeroboão havia construído ali. O profeta “clamou contra o altar por ordem do Senhor, e disse: Altar, altar! Assim diz o Senhor… E deu, naquele mesmo dia, um sinal, dizendo: Este é o sinal de que o Senhor falou: Eis que o altar se fenderá, e a cinza, que nele está, se derramará” (1 Reis 13:1-3). Repare com atenção: o profeta clamou contra o altar, não contra as pessoas que adoravam ali! O altar, com seu bezerro, era o ponto focal da adoração em Betel, representada por todo um sistema de coisas que Jeroboão havia estabelecido. Isso ilustra nosso ponto. Não julgamos ou clamamos contra nossos irmãos que estão misturados com a confusão existente na casa de Deus, mas contra o sistema, pois ele não é de Deus.
A mensagem do profeta deixou Jeroboão muito aborrecido, e ele estendeu sua mão contra o profeta, mas ao fazê-lo, sua mão secou-se. Mesmo assim, o profeta rogou pela recuperação da mão de Jeroboão. Isto prova que o profeta não tinha intenção de atacar Jeroboão ou o povo, mas desejava apenas o bem e a bênção deles. Do mesmo modo, quando o assunto da separação da confusão na casa de Deus é mencionado, muitos cristãos que desejam seguir adiante com esse sistema de coisas sentem-se pessoalmente ofendidos, como ocorreu com Jeroboão. Todavia, não é nossa intenção atacar quem quer que seja, mas sim revelar a verdade de Deus em amor (Ef 4:15). Jamais deveríamos fazer ofensas pessoais, mas quando a verdade atinge alguém que não a deseja, essa pessoa poderá sentir-se ofendida pela verdade (Mt 15:12; Gl 4:16). Se for este o caso, devemos deixar que o Senhor trate com ela.

2) “DEPARAR-SE NÃO É DEMONSTRAR AMOR!

“Alguns cristãos acham que separar-se de outros crentes que têm “diferentes opiniões” é uma medida extrema demais e que isso não seria uma demonstração de amor.
Todavia a Bíblia diz que a maior prova de amor que podemos demonstrar pelos filhos de Deus é por meio de nossa obediência pessoal a Deus. “Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os Seus mandamentos” (1 João 5:2-3). A pergunta que fazemos é: “O que é mais importante, a obediência a Deus, que é uma demonstração de nosso amor por Ele, ou continuar numa posição contrária à Bíblia por querermos mostrar que amamos as pessoas que estão ali?” Desobedecer as Escrituras não é amor.
Uma coisa é fazer parte de uma organização chamada “igreja” por ignorar a ordem de Deus dada nas Escrituras, e outra bem diferente é permanecer ali quando sabemos o que é correto (Tiago 4:17). Jamais deveríamos colocar o povo de Deus antes de Deus – é Deus quem deve vir primeiro. O Senhor Jesus disse: “Se me amais, guardai os meus mandamentos… aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama” (João 14:15, 21).

3) “NOSSA IGREJA ESTA CRESCENDO!

“Outros reagem dizendo: “Mas nossa igreja está crescendo. Isto prova que Deus está abençoando. E se Deus está abençoando nossa igreja, ela não pode estar errada! Por que eu deveria me separar de algo que Deus está claramente abençoando?”.
O problema é de definição. Quando as pessoas falam de crescimento elas geralmente se referem ao número de pessoas. A Bíblia, porém, quando fala de crescimento, se refere ao desenvolvimento e maturidade espiritual no crente (1 Pedro 2:2; 3:18; Ef 4:15-16: Cl 1:10; 2:19; 1 Ts 3:12; 4:10; 2 Ts 1:3; At 9:22).
Crescimento numérico não é sinal da aprovação ou bênção do Senhor. É presunção achar que o aumento no número de pessoas seja uma bênção vinda de Deus. Se fosse assim, então a Igreja Católica Romana seria a denominação que Deus aprova, pois ela se gloria de possuir o maior número de pessoas dentre todas as igrejas! As Testemunhas de Jeová se gloriam de um crescimento fenomenal em seus números. Será que isto significa que Deus os esteja abençoando?
A Palavra de Deus diz que a única classe de pessoas que irá crescer em números na igreja nos últimos dias é a dos “homens maus e enganadores” e dos “muitos” que irão segui-los (2 Tm 3:13; 2 Pd 2:2). Ao nos vangloriarmos de possuir um grande número de pessoas, podemos estar inadvertidamente nos identificando com o erro que as Escrituras nos alertam que viria a aumentar nos últimos dias. Embora não seja sempre o caso, entender isso pode nos impedir de sucumbirmos ao desejo de nos gloriar nos números. Está claro nas Escrituras que, à medida que os dias forem se tornando mais sombrios, o número de crentes fiéis e piedosos será cada vez menor (2 Tm 1:15; Sl 12:1).
Em um sistema de coisas mantido principalmente por doações e ofertas da congregação, o número de pessoas é importante para as organizações eclesiásticas. Mas Deus não está preocupado com números como estão os homens. Isto é visto nas poucas ocasiões em que são mencionados números no livro de Atos. Lá diz simplesmente que “chegou o número desses homens a quase cinco mil” (At 4:4; 2:41). E “estes eram, ao todo, uns doze homens” (At 19:7). O tipo de crescimento que Deus procura para o Seu povo redimido é o crescimento em maturidade espiritual. Se visitássemos uma assembleia que tivesse um determinado número de pessoas, e voltássemos ali um ano mais tarde para ver se eles tinham verdadeiramente crescido no conhecimento do Senhor e em amor uns para com os outros, então poderíamos afirmar com certeza que aquela assembleia estaria crescendo, mesmo que continuasse com o mesmo número de pessoas (2 Ts 1:3).
Neste contexto nós perguntamos: “Quanto crescimento existe entre os que estão nas várias denominações?”. Considerando que o teste de maturidade espiritual de uma pessoa é o quanto ela reconhece a verdade de Deus (1 Co 10:15; Fp 1:9-10; Hb 5:14), será que os cristãos que estão nas igrejas denominacionais receberiam a verdade da igreja, quanto à sua ordem e função, do modo como ela é mostrada nas Escrituras, se esta fosse apresentada a eles?

4) “DEUS ESTA USANDO AS DENOMINAÇÕES!

“Alguns cristãos dizem: “Mas eu continuo não achando que esteja errado adorar com um grupo de crentes em sua denominação só porque a ordem de coisas ali não está na Bíblia. Afinal, Deus está usando essas igrejas denominacionais! Pessoas são salvas e cristãos são abençoados ali. Se Deus Se apraz em usá-las, elas não podem ser assim tão ruins ao ponto de eu precisar me separar delas!”.
Embora possa parecer que Deus esteja usando as igrejas denominacionais e não denominacionais ousamos dizer que não são as denominações criadas pelos homens que Ele está usando. O que Deus está usando é a Sua Palavra. A Bíblia diz: “A palavra de Deus não está presa” (2 Tm 2:9). Deus pode usar e efetivamente usa a Sua Palavra para bênção, onde quer que ela seja ministrada. Quando um assim chamado “Pastor” ou “Ministro” prega a Palavra e ministra a verdade da Palavra à sua audiência, o Espírito de Deus irá tomar essa Palavra e aplicá-la aos corações e consciências dos que estiverem ali. Pessoas são salvas nesses lugares, não há dúvida de que isto acontece. Todavia, o fato de Deus estar salvando pessoas nessas igrejas não significa que Ele esteja aprovando essa ordem de coisas criada pelo homem, a qual é contrária à Sua Palavra. Ele nunca aprova algo que contradiz Sua Palavra.
Uma pessoa poderia levar a Palavra de Deus a um lugar de impiedade, como um bar ou um botequim, e o Espírito ainda assim usá-la para a salvação de alguém.
Mas será que isto significa que Deus está usando os botequins? Não se pode usar de tal argumento para justificar a existência dos botequins. É claro que se trata de um exemplo extremo, mas ele ilustra o que queremos mostrar, ou seja, que Deus pode usar a Sua Palavra em qualquer lugar, até mesmo em um lugar onde prevaleça a impiedade.
Enquanto Deus usa a Sua Palavra onde quer que Ele queira (Is 55:11), os cristãos não devem ir a qualquer lugar que desejem estar. Devemos andar em conformidade com a senda que Deus estabeleceu para nós em Sua Palavra. Devemos amar a todo o povo de Deus, mas nossos pés devem permanecer no caminho da obediência à Palavra de Deus, a qual nos convoca a nos separarmos da desordem que o homem introduziu na casa de Deus (2 Tm 2:20-21). O fato de existir bênção notória em algum sistema ou denominação não significa que ficamos livres de nossa responsabilidade de andar na verdade da Palavra de Deus. Não podemos de sã consciência desprezar o caminho da obediência e continuar em comunhão com algo que sabemos que está em desacordo com as Escrituras.

5) “POSSO SER MUITO ÚTIL PERMANECENDO ONDE ESTOU EM MINHA DENOMINAÇÕE!

“Há quem diga: “Eu sei que existem algumas coisas que não estão exatamente corretas em minha igreja, mas por que eu deveria abandonar uma porção de coisas que considero boas, só porque algumas outras não são consistentes com as Escrituras? Além disso, sinto que posso fazer muita coisa boa ajudando as pessoas ali. Se eu sair, não poderei ajudá-las”.
Este é um argumento comum, e geralmente é a desculpa dada por Pastores e Ministros que lideram a congregação para continuarem com a ordem sem base bíblica que existe em suas igrejas. Muitos acham que permanecendo em comunhão com aqueles que estão nessas igrejas sem fundamento bíblico, terão uma esfera maior de atuação para servirem ao Senhor. Como diz o velho ditado, “você deve estar onde os peixes estão”.
Se pudermos voltar ao exemplo usado pelo apóstolo Paulo, dos vasos na “grande casa”, veremos que não se trata de questionar se os vasos de honra misturados com vasos de desonra poderiam ser usados pelo Senhor. O ponto é que eles não podem ser usados em todas as circunstâncias que o Senhor possa precisar usá-los. Uma vasilha suja em sua casa é útil para algumas tarefas. Por exemplo, se você precisar trocar o óleo do motor de seu carro, uma vasilha suja serviria muito bem. Mas uma vasilha limpa poderia ser usada para qualquer finalidade. O princípio é o mesmo no que diz respeito ao serviço na casa de Deus.
Há quem pense que estamos desprezando os cristãos associados a essas igrejas, ao insinuarmos que eles não estejam limpos. Não desprezamos cristãos; apenas declaramos aquilo que as Escrituras dizem. São as Escrituras que dizem que uma pessoa não é um vaso “santificado”, até que tenha se purificado da mistura existente na casa de Deus separando-se dessas coisas (2 Tm 2:21).
Alguns podem perguntar: “Que tipo de serviço o Senhor poderia querer que não pudesse convocar alguém que está em uma denominação para fazê-lo?” Para ilustrar o que queremos dizer, suponha que existam alguns cristãos passando por um exercício em suas almas quanto à verdade de como Deus gostaria que nos reuníssemos para a adoração e o ministério da Palavra. Poderia o Senhor chamar alguém que está nos sistemas denominacionais para delinear o padrão bíblico para a adoração e o ministério? E mesmo que alguém associado com essas igrejas conhecesse a verdade sobre este assunto, ele provavelmente não iria querer falar sobre isso, pois se condenaria a si mesmo. E ainda que tentasse explicar o assunto, estaria se condenando por não cumprir ele próprio aquilo que manda os outros fazerem. Suas palavras pareceriam zombar da verdade, e assim ele não teria qualquer poder de livrar alguém que estivesse numa mesma posição.
Não há dúvida de que alguém possa fazer muita coisa estando nas igrejas. No Antigo Testamento, Eldade e Medade são figuras disso (Nm 11:26). Eles permaneceram no arraial de Israel quando o Senhor chamou o povo para sair para estar junto de Si (Nm 11:16; 24-26). Eles eram úteis onde estavam, mas por ventura poderiam eles estar entre os que foram selecionados, quando o Senhor ordenou distintamente que “setenta homens dos anciãos de Israel” fossem trazidos “perante a tenda da congregação” para estarem ali com Moisés?
Outro exemplo é o de Naomi na terra de Moabe. Ela foi de auxílio para Rute, já que por intermédio dela Rute abandonou os ídolos e se voltou para Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro (Rute 1:16-17). Mas isso não justificava Noemi estar onde estava. Para começar, ela nem deveria ter ido para lá. O Senhor poderia ter trazido Rute ao conhecimento do único Deus verdadeiro sem Naomi precisar ficar em uma posição comprometedora.
As Escrituras dizem: “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar” (1 Sm 15:22). Isto significa que obedecer é nosso principal dever, e devemos deixar as outras coisas para o Senhor. O Senhor considera a obediência mais importante do que qualquer serviço para Ele. A maior ajuda que podemos dar àqueles que estão misturados na confusão da grande casa é nos desvencilharmos dessas coisas, e então tentarmos ajudar outros (2 Tm 2:24-26).
O irmão W. Potter disse que nossa primeira responsabilidade é cuidar dos princípios, e Deus cuidará das pessoas. J. G. Bellet disse que se virmos alguém preso em uma fossa, não devemos entrar na fossa para ajudá-lo a sair dela. Poderíamos acabar igualmente presos lá. Ao invés disso, devemos procurar um terreno firme de onde poderemos ajudar o outro a sair. O mesmo ocorre com as coisas divinas.

6) “NÃO DEVEMOS DEIXAR A NOSSA CONGREGAÇÃO!

“Outros argumentam que “a Palavra de Deus nos exorta a não deixarmos nossa congregação. Se eu me separasse de minha igreja não estaria obedecendo esta passagem das Escrituras”. Sim, a Bíblia nos diz para não deixarmos de congregar, é verdade (Hb 10:25), mas não precisamos pertencer a uma denominação sem base bíblica (ou a algum grupo sem denominação na mesma situação) para obedecermos as Escrituras. O Senhor Jesus disse: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20).

7) “SEPARAR-SE DE OUTROS CRISTÃOS DESTRÓI A UNIDADE DO ESPÍRITO!

“Para muitos crentes honestos e sinceros parece inconcebível que um cristão venha a se separar de outros cristãos. Principalmente por ser um dos principais conceitos da comunidade cristã que todos fazemos parte de uma grande família onde deve haver unidade e uma feliz comunhão. Na opinião deles, a separação romperia essa unidade (Ef 4:3).
É importante compreender que nenhum cristão sincero e com boas intenções quer se separar de outros cristãos, pois o normal e correto é amarmos a todos os da família da fé (Jo 13:34-35; Rm 12:9-10; Ef 1:15; Hb 13:13). Todavia, o amor ao Senhor Jesus e o desejo de agradáLo leva os cristãos sinceros a se separarem daquilo que é uma desonra para o Senhor (2 Tm 2:19-20; Jo 14:15). Mesmo que seja doloroso para nós nos separarmos de irmãos queridos, devemos nos separar daquilo que desonra a Cristo. Tudo o que diz respeito a Ele deve ter a primazia.
O problema dessa ideia de se manter a unidade a qualquer custo está em enxergar apenas um lado da verdade sobre esta questão. Se enxergarmos apenas uma faceta das coisas que falam da unidade cristã, sem vermos o lado que trata da separação do mal, os que são fiéis seriam obrigados a continuar seguindo em frente sem qualquer alternativa. Eles seriam abandonados à difícil situação de enxergarem a ordem de Deus em Sua Palavra, sem poderem colocá-la em prática, já que a unidade exigiria deles que permanecessem com outros cristãos numa posição sem fundamento bíblico. Eles seriam obrigados a continuar em comunhão com aquilo que sabem ser contrário à Palavra de Deus. E para eles este seria um caminho de desobediência, pois “aquele que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tg 4:17). Consequentemente, para todo cristão que tivesse tal exercício, viver assim seria uma constante aflição para sua alma. Felizmente podemos dizer que se trata de um falso princípio de unidade sacrificar a santidade e a obediência – e que este nunca é o caminho de Deus.
A verdade é que o princípio divino da unidade só pode ser corretamente praticado em separação do mal. J. N. Darby disse: “O próprio Deus deve ser a fonte e o centro da unidade, e somente Ele pode estar no comando e preeminência. Qualquer centro de unidade fora de Deus será uma completa negação da Sua divindade e glória. Considerando que existe o mal – sim, é esta a nossa condição natural – não pode existir uma união da qual o santo Deus seja o centro e o poder, senão por meio da separação do mal. A separação é o primeiro elemento de unidade e união”.
Portanto, em nossos dias, quando a ruína e a confusão prevalecem no testemunho público da igreja, as coisas que dizem respeito à unidade só podem ser praticadas em um testemunho remanescente. Este é um princípio bíblico, e é também uma provisão que Deus fez para podermos praticar toda a verdade. Isto pode ser visto ao longo do curso decrescente que encontramos na história do testemunho cristão, do modo como nos é apresentado nas palavras que o Senhor dirige às sete igrejas em Apocalipse capítulos 2 e 3. Há um ponto em que o Senhor já não reconhece a massa da profissão cristã, e a partir daí passa a tratar com um testemunho remanescente. Ele distingue um remanescente ao dizer: “Mas eu vos digo a vós, e aos restantes [ou remanescentes]…” E é neles que o Senhor passa a tratar a partir de então (Ap 2:24-29). A razão disso é que o estado da igreja chegou a um ponto em que já não existe conserto.
A partir daí ocorre uma mudança notória na maneira como o Senhor trata com a igreja. Isto é indicado pela expressão “ouça o que o Espírito diz às igrejas”, que passa a vir depois da promessa ao que vencer, ao invés de precedê-la, como tinha sido o padrão até aquele ponto. Nas palavras do Senhor às três primeiras igrejas, a recompensa ao que vencer era colocada diante de toda a igreja, pois o Senhor ainda tratava com ela como um todo. Mas desse ponto em diante já não é mais assim. A expressão “ouça o que o Espírito diz às igrejas” só é dada a um remanescente, pois somente os que fazem parte dele irão ouvir e vencer. Walter Scott disse que a razão dessa mudança é que a grande massa da profissão cristã passa a ser tratada como incapacitada de ouvir, arrepender-se e praticar a verdade. W. Kelly disse: “Desse ponto em diante o Senhor coloca a promessa [ao que vencer] primeiro, e o faz porque é inútil esperar que a igreja como um todo vá recebê-la… apenas um remanescente irá vencer, e a promessa é para os que fazem parte dele; no que diz respeito aos outros, é caso encerrado”. Portanto, já que é assim, não podemos esperar que em nossos dias o princípio divino da unidade seja praticado em meio à massa da profissão pública, mas apenas dentro de um testemunho remanescente.
Na prática, alguém que se une a uma determinada denominação em detrimento das outras, já não tem autoridade para criticar aqueles que querem se separar das denominações, pois foi exatamente o que fez! Ao limitar – se a uma denominação, acabou deixando de lado todas as outras, pois ninguém pode ser Batista e Presbiteriano ao mesmo tempo. Portanto, ao unir -se à denominação de sua escolha, sua atitude o excluiu de todas as outras, deixando assim de guardar a unidade do Espírito. Quem quiser argumentar sobre este ponto precisará primeiro praticar por si mesmo a unidade que espera que os outros pratiquem.

B.A