Levítico 23:23-44

(para maior proveito, ore, leia na Bíblia os versículos indicados e medite nos comentários) 

 

A festa das trombetas. O Senhor Jesus deve voltar e, como na festa, tocar a trombeta e reunir Israel de todas as partes da terra. Isso acontecerá após os crentes serem levados para o céu. 

 

Historicamente nos encontramos no período que se segue ao Pentecostes. Israel é colocado de lado; é o tempo da Igreja durante o qual o Senhor Jesus está reunindo em um só corpo os filhos de Deus que andavam dispersos (João 11:52). No entanto, está chegando o dia quando todo o Israel será reunido. Após o arrebatamento, “um memorial, de sonidos de trombetas” ou festa das trombetas (ver também Números 29:1) convocará o povo e voltará a uni-lo em seu próprio país em preparação para a grande auto aflição da sexta festa: o dia da expiação, que corresponde as cerimônias do capítulo 16. Quando este dia se cumprir, Israel confessará o horrível pecado de haver crucificado seu amável Messias (Zacarias 12:9-14). Israel em grande angústia esperará que apareça sua salvação por Aquele que está agora no santuário, com os seus, para a salvação (Hebreus 9:28). E assim chegamos a festa dos tabernáculos descrita em detalhes em nossa leitura. Ela prefigura o reino de justiça e paz na terra que é chamado de milênio. Israel será lembrado de todas as peregrinações de seus pais no deserto. Muitas das nações ao redor de Israel irão participar do regozijo e da adoração (Zacarias 14:16). 

 

Vamos contar o número de vezes que as palavras são repetidas neste capítulo, “não fareis obra alguma servil”. Em todo o maravilhoso plano da graça que se estende desde a cruz até a glória, Deus reservou para si o privilégio de realizar o trabalho. O homem e seus esforços são inúteis. É uma obra divina. “Majestade e esplendor” (Salmo 111:3 – versão Darby). 

 

 

Texto baseado em diversos autores que se reuniam apenas ao Nome do Senhor nos séculos XIX e XX.

A Festa das Trombetas (Números 29:1)

“E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis descanso, memória de jubilação, santa convocação. Nenhuma obra servil fareis, mas ofereceis oferta queimada ao Senhor” (versículos 23-25).

As palavras “E falou o Senhor a Moisés” servem de introdução a outro assunto, que, diga-se de passagem, é de grande utilidade na classificação dos assuntos de todo o capítulo. Assim, o sábado, a páscoa, e a festa dos asmos são dados na primeira comunicação. O molho das primícias da sega, os dois pães de movimento, os cantos do campo por segar são mencionados na segunda parte; depois segue-se um longo intervalo durante o qual nada se diz, e então vem a comovedora festa das trombetas, no primeiro dia do sétimo mês. Esta ordenação conduz-nos ao tempo que rapidamente se acerca de nós, em que o remanescente de Israel “tocará a trombeta” para memorial, recordando a sua glória desde há longo tempo perdida, e despertando em busca do Senhor.

O Dia da Expiação

A festa das trombetas está intimamente ligada com outra solenidade, isto é, “o dia da expiação”. “Mas, aos dez deste mês sétimo será o Dia da Expiação; tereis santa convocação, e afligireis as vossa almas; e oferecereis oferta queimada ao Senhor. E, naquele mesmo dia, nenhuma obra fareis, porque é o Dia da Expiação, para fazer expiação por vós, perante o Senhor, vosso Deus… sábado de descanso vos será; então, afligireis a vossa alma; aos nove do mês, à tarde, de uma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado” (versículos 27-32). Assim, depois do toque das trombetas segue-se um intervalo de oito dias, e então temos o dia da expiação, com o qual estas coisas estão relacionadas, isto é, aflição da alma, expiação do pecado, e descanso do labor. Todas estas coisas encontrarão em breve o seu próprio lugar na experiência do remanescente judeu. “Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos” (Jeremias 8:20). Tal será a comovedora lamentação do remanescente quando o Espírito de Deus tiver tocado os seus corações e consciências:”… e olharão para mim, a quem traspassaram; e o prantearão como quem pranteia por um unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito. Naquele dia, será grande o pranto em Jerusalém, como o pranto de Hadade-Rimmon no vale de Megido. E a terra pranteará, cada linhagem à parte” (Zacarias 12:10-14).

Que profundo pranto, que intensa aflição, que verdadeira penitência haverá quando, sob a poderosa ação do Espírito Santo, a consciência do remanescente relembrar os pecados do passado, a indiferença pelo sábado, a transgressão da lei, o apedrejamento dos profetas, a crucificação do Filho e a resistência ao Espírito! Todas estas coisas se apresentarão ante a consciência iluminada e exercitada e produzirão uma profunda aflição da alma.

Mas o sangue de expiação responderá por tudo.” Naquele dia haverá uma fonte aberta para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém contra o pecado e contra a impureza” (Zacarias 13:1). Ser-lhes-á concedido sentir a sua culpa e serem afligidos e serão também levados a ver a eficácia do sangue e a achar paz perfeita – um sábado de descanso para as suas almas.

Ora, quando tais resultados tiverem sido verificados na história de Israel, dos últimos dias, o que devemos nós esperar? Certamente, A GLÓRIA. Quando tiver sido removida “a cegueira” e “o véu” for tirado, quando o coração do remanescente se voltar para o Senhor, então os brilhantes raios do “Sol da Justiça” incidirão, trazendo saúde, restauração e poder libertador, sobre um pobre povo, verdadeiramente arrependido e aflito.

Seria necessário todo um volume para tratar este assunto com todos os pormenores. As experiências, lutas, provações e dificuldades e por fim as bênçãos do remanescente estão amplamente descritas nos Salmos e nos Profetas. A existência de um tal corpo deve ser claramente reconhecida antes de se poder estudar os Salmos e os Profetas inteligentemente e com proveito. Não quer dizer que não possamos aprender muito com essas porções de inspiração, porque “toda a Escritura é proveitosa”. Mas a maneira mais segura de fazer um bom uso de qualquer porção da Palavra de Deus é compreender bem a sua aplicação primária. Se, portanto, aplicarmos à Igreja ou corpo celestial as passagens que se referem, rigorosamente falando, ao remanescente judeu ou corpo terrestre, seremos envolvidos em graves erros tanto a respeito de um como do outro. De fato, acontece em muitos casos, que a existência de um tal corpo como o remanescente é completamente ignorada, e a verdadeira posição e esperança da Igreja são inteiramente perdidas de vista. Estes erros são graves e o leitor deve evitá-los. Não suponha, nem por um momento, que são meras especulações próprias para ocupar a atenção dos curiosos, sem qualquer poder prático. Não pode haver suposição mais falsa. O quê? Não tem importância sabermos se pertencemos ao céu ou à terra ? Não importa saber se estaremos em descanso nas mansões celestiais ou passando pelos juízos do Apocalipse na terra? Quem pode admitir uma ideia tão extravagante? A verdade é que não é fácil encontrar verdades mais práticas do que a que descreve os destinos do remanescente terrestre e da Igreja celestial. Não prosseguirei com o assunto; mas o leitor o encontrará merecedor de estudo atento e profundo. Terminaremos esta parte com uma vista de olhos à festa dos tabernáculos – a última das solenidades do ano judeu.

A Festa dos Tabernáculos

“E falou o Senhor a Moisés, dizendo-. Fala aos filhos de Israel, dizendo: Aos quinze dias deste mês sétimo, será a festa dos tabernáculos ao Senhor, por sete dias… Porém, aos quinze dias do mês sétimo, quando tiverdes recolhido a novidade da terra, celebrareis a festa do Senhor, por sete dias; ao dia primeiro haverá descanso, e ao dia oitavo haverá descanso. E, ao dia primeiro, tomareis para vós ramos de formosas árvores, ramos de palmas, ramos de árvores espessas e salgueiros de ribeiras; e vos alegrareis perante o Senhor vosso Deus, por sete dias. E celebrareis esta festa ao Senhor, por sete dias cada ano; estatuto perpétuo é pelas vossas gerações; no mês sétimo, a celebrareis. Sete dias habitareis debaixo de tendas; todos os naturais em Israel habitarão em tendas; para que saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em tendas, quando os tirei da terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus” (versículos 33-43).

Esta festa nos mostra a glória de Israel nos últimos dias, e portanto, forma o mais belo e apropriado remate na série de festas. A ceifa estava feita, tudo estava feito, os celeiros estavam amplamente fornecidos, e o Senhor queria que o Seu povo desse expressão à sua alegria. Mas, infelizmente, parecem ter tido pouca vontade de compreender os pensamentos divinos a respeito desta deliciosa ordenação. Esqueceram o fato que haviam sido estrangeiros e peregrinos em terra estranha, e daí o longo olvido desta festa. Desde os dias de Josué ao tempo de Neemias, a festa dos tabernáculos não havia sido celebrada uma só vez. Estava reservado ao remanescente que veio do cativeiro de Babilônia fazer o que nem sequer nos dias brilhantes de Salomão havia sido feito. “E toda a congregação dos que voltaram do cativeiro fizeram cabanas e habitaram nas cabanas; porque nunca fizeram os filhos de Israel, desde os dias de Josué, filho de Num, até àquele dia; e houve muita alegria” (Neemias 8:17). Quão consoladora deveria ter sido para aqueles que tinham pendurado as suas harpas nos salgueiros da Babilônia encontrarem-se à sombra dos salgueiros de Canaã! Era uma agradável antecipação daquele tempo de que a festa dos tabernáculos era uma figura, quando as tribos restauradas de Israel repousarão nas cabanas mileniais que a mão fiel do Senhor levantará para eles na terra que jurou havia de dar a Abraão e aos seus descendentes para sempre! Feliz momento quando os celestiais e os terrestres se encontrarem, como dá a entender “o primeiro dia” e “o oitavo dia” da festa dos tabernáculos! “E acontecerá naquele dia que eu responderei, diz o Senhor, eu responderei aos céus, e estes responderão à terra. E a terra responderá ao trigo e ao mosto e ao óleo; e estes responderão a Jezreel” (Oséias 2:21-22).

Existe no último capítulo de Zacarias uma formosa passagem que prova claramente que a verdadeira celebração da festa dos tabernáculos pertence à glória dos últimos dias. “E acontecerá que, todos os que restarem de todas as nações que vieram contra Jerusalém, subirão de ano em ano para adorarem o Rei, o Senhor dos Exércitos, e celebrarem a festa dos tabernáculos” (Zacarias 14:16). Que cena! Quem ousará tirar-lhe a sua beleza característica por um vago sistema de interpretação chamado espiritual? Seguramente, Jerusalém quer dizer Jerusalém, nações quer dizer nações; e a festa dos tabernáculos significa festa dos tabernáculos. Há nisto alguma coisa incrível! Nada, seguramente, salvo para a razão humana que rejeita tudo que está fora do seu limitado alcance. A festa dos tabernáculos será ainda celebrada na terra de Canaã e as nações dos salvos subirão ali para tomar parte nas suas santas e gloriosas solenidades. As guerras de Jerusalém terão então terminado, e será posto fim ao estrondo das batalhas. A espada e a lança serão transformadas em instrumentos de agricultura; Israel repousará à sombra refrescante dos seus vinhedos e figueirais; e toda a terra regozijar-se-á no governo do “Príncipe da Paz”. Tal é a perspectiva que nos oferecem as inerrantes páginas de inspiração. É prefigurada nos símbolos; os profetas profetizaram-na; a fé crê nela; e a esperança antecipa-a.

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NOTA – No final do capítulo lemos. “Assim, pronunciou Moisés as solenidades do Senhor aos filhos de Israel”. Este era o seu verdadeiro caráter, o seu título original; mas no Evangelho de João são chamadas “festas dos judeus”. Durante longo tempo tinham deixado de ser as festas do Senhor. Ele estava excluído delas. Eles não O queriam; e, por isso, em João 7:1-53, quando Jesus foi convidado a subir a Jerusalém à “festa dos judeus”, “a dos tabernáculos”, Ele respondeu, dizendo: “Ainda não é chegado o meu tempo”; e quando subiu foi “como em oculto” para tomar o Seu lugar fora de todas as cerimônias oficiais, e convidar toda a alma sedenta a vir a Si e beber. Há nisto uma lição solene. As instituições divinas degeneram rapidamente nas mãos dos homens; mas, quão bem-aventurada coisa é saber que a alma sequiosa que sente a secura e aridez relacionadas com um sistema de vazia religiosidade e formalidade só tem que refugiar-se em Jesus e beber de graça da Sua fonte inesgotável e desta forma tornar-se um meio de bênção para outros.

Notas sobre o Pentateuco

C. H. Mackintosh