Outro espírito
“Porém o meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito e perseverou em seguir-me, eu o levarei à terra em que entrou, e a sua semente a possuirá em herança” (Números 14:24).
Como já dissemos, Josué e Calebe foram os únicos dois de sua geração que as Escrituras mostram que entraram na terra e tomaram posse de sua herança. Dos outros lemos: “Dize-lhes: Assim como eu vivo, diz o SENHOR, que, como falastes aos meus ouvidos, assim farei a vós outros. Neste deserto cairá o vosso cadáver, como também todos os que de vós foram contados segundo toda a vossa conta, de vinte anos para cima, os que dentre vós contra mim murmurastes; não entrareis na terra, pela qual levantei a minha mão que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num. Mas os vossos filhos, de que dizeis: Por presa serão, meterei nela; e eles saberão da terra que vós desprezastes. Porém, quanto a vós, o vosso cadáver cairá neste deserto” (Números 14:28-32).
O que é surpreendente é que Calebe recebe a promessa, por causa de seu “espírito”. Ele não apenas foi fiel em expor a verdade e permanecer firme no que cria, mas também estava no espírito apropriado.
Tem sido frequentemente observado que o espírito de algo é tão importante quanto a ação, situação ou objeto em si. Quantas vezes, sob o pretexto de fidelidade e firmeza, podemos agir em um espírito ou atitude errados. Houve muito dano, muito desânimo causado que resultaram até mesmo em cismas e divisões entre o povo do Senhor, por aquilo que é certo em princípio, mas errado em espírito. O Salmo 32:2 declara: “Bem-aventurado o homem… cujo espírito não há engano”. Lemos também em Provérbios 16:32: “Melhor é o longânimo do que o valente, e o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade”. Nosso espírito e atitude são muito importantes. De fato, são tão importantes que as últimas palavras que o apóstolo Paulo escreveu a Timóteo e as últimas palavras que ele escreveu por inspiração divina foram: “O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito” (2 Timóteo 4:22). Timóteo era um homem que estava procurando viver para o Senhor e seguir em frente na verdade, mesmo naquilo que é chamado de “os últimos dias” (2 Timóteo 3:1).
Paulo exorta-o a permanecer “naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido” (2 Timóteo 3:14). Além disso, a exortação de Paulo era que ele não apenas “permanecesse”, mas que ele fizesse isso no espírito apropriado. Não apenas que ele ensinasse a verdade, mas com uma atitude correta. Não é apenas o que dizemos, mas como dizemos. “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um” (Colossenses 4:6). Do Senhor Jesus, lemos: “E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca” (Lucas 4:22). O tom da Sua voz era perfeito. Profeticamente lemos sobre Ele: “A graça é derramada nos Teus lábios” (Salmos 45:2). Alguém disse, precisamos sempre ter certeza de que nossas palavras são doces, pois nunca sabemos quando teremos que comê-las.
A apreciação da graça e o senso de nossa própria fraqueza e ruína nos ajudarão a agir na atitude apropriada e com o espírito correto para com o mundo, nossos irmãos e nossas famílias. “Perto está o SENHOR dos… contritos de espírito.” (Salmos 34:18). “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos” (Isaías 57:15).
Por outro lado, um espírito soberbo e esnobe nos tornará arrogantes e nos dará um ar de justiça própria, o que será um grave prejuízo em nossos relacionamentos com as outras pessoas. “Da soberba só provém a contenda, mas com os que se aconselham se acha a sabedoria” (Provérbios 13:10). “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Provérbios 15:1). Podemos ser transparentes como gelo, mas igualmente frios; sólidos como uma rocha, mas igualmente duros; incisivos como uma lança, mas apenas para ferir; direitos como uma navalha, mas igualmente afiados; exatos como um bisturi, mas apenas para cortar. Não que desejamos ser sempre insosso quando se trata de verdade. Como foi citado anteriormente, “Um homem de mente dupla é instável em todos os seus caminhos” (Tiago 1:8). Judas nos exorta a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Judas 3). Quando se trata de princípios, nunca ajudamos alguém sentados em cima do muro, andando no meio da rua, ou pior ainda, entrando no buraco com eles. É verdade que quando as Escrituras são apresentadas, a consciência deve sempre ser alcançada, mas, deixe-me enfatizar, o espírito em que é realizado pode fazer ou desfazer o assunto; pode encorajar ou desencorajar; pode edificar ou derrubar; pode restaurar ou empurrar a cunha mais profundamente; pode retificar ou destruir e, no final, ajudar ou atrapalhar.
De Moisés lemos: “Indignaram-no também junto às águas da contenda, de sorte que sucedeu mal a Moisés, por causa deles; porque irritaram o seu espírito, de modo que falou imprudentemente com seus lábios” (Salmo 106:32-33). Como já dissemos anteriormente, esta era uma ofensa tão grave que o impediria de entrar na terra prometida. Se nossos espíritos são provocados por algo que nossos irmãos dizem ou fazem, precisamos julgar isto imediatamente para que isso não afete nossas palavras e ações. (Deus não olha levemente sobre falar mal do Seu povo. Eles são o Seu povo, e Ele os ama e deseja sua bênção apesar de sua ruína)
Do fiel Daniel lemos: “…nele havia um espírito excelente” (Daniel 6:3). Que possamos desejar do Pai tais palavras a respeito de nossas interações com as outras pessoas. Lembre-se: “Porque nenhum de nós vive para si e nenhum morre para si” (Romanos 14:7). O espírito em que agimos e dizemos as coisas afeta os outros mais do que imaginamos. “Seguir (guardar) a verdade em amor” (Efésios 4:15) deve sempre ser o que nos caracteriza. Que possamos exibir, em todos os momentos, o “espírito de mansidão” (Gálatas 6:1). Como o Senhor Jesus, que era “manso e humilde de coração” (Mateus 11:29).
Talvez nem sempre tenhamos exibido um espírito adequado em nossas interações. Que tenhamos o desejo de orar como Davi, “renova um espírito reto dentro de mim” (Salmos 51:10).
“Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo” (Romanos 14:10). Se você observar o contexto desse aspecto do tribunal de Cristo, descobrirá que está relacionado ao nosso espírito ou atitude. O Senhor valoriza tanto o espírito e a atitude com que agimos que Ele recompensará por isso naquele dia. Calebe não sabia que seria anotado no registro eterno de Deus para o nosso encorajamento e instrução, que ele tinha “outro espírito”.