E o seu filho mais velho estava no campo; e, quando veio e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou e não queria entrar. E, saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos. Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas. Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado (Lucas 15:25-32).
Os críticos religiosos de Nosso Senhor são facilmente reconhecidos no filho mais velho, cuja atitude em relação ao esbanjador arrependido e também em relação ao pai, por causa de sua bondade para com esse filho arrependido, Nosso Senhor mostrou de forma impressionante. O filho mais velho tem uma reivindicação natural; e religiosos de todas as épocas se consideraram nessa posição em relação a Deus – em maior ou menor grau. Mas, por essa mesma razão, eles são rejeitados. “Para que nenhuma carne se glorie na sua presença” (1 Coríntios 1:29). Certamente, é algo para meditarmos, que o filho mais velho seja invariavelmente representado nas Escrituras como fora da bênção divina. Caim, Ismael, Esaú e Rúben são alguns exemplos. É o pecador confessadamente culpado, que não tem nada para implorar, mas que encontra no próprio Deus, Aquele que abençoa.
“Seu filho mais velho estava no campo”. Havia alegria, mas ele não participava dela. “O campo” nos fala do local de trabalho. O religioso sincero é sempre um trabalhador esforçado. Ele tem zelo por Deus, mas não com entendimento. Procurando estabelecer sua própria justiça, ele não se submete à justiça de Deus (Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus – Romanos 10:2-3). Assim como o filho mais velho, ele está “próximo” da casa do Pai, mas ele nunca entra e, assim, nunca experimenta do calor do coração do Pai. Ocupando-se de obras e ordenanças religiosas, sua vida é fria; de modo que, como o filho mais velho, que estava intrigado com o som da música e da dança, seu coração não conhece à plenitude de alegria que encontra-se somente na presença divina (Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há abundância de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente – Salmos 16:11)
“Ele se indignou, e não queria entrar; e saindo seu pai, procurava conciliá-lo”. Ele não precisa ficar de fora; a porta estava aberta para ele; ele era tão bem-vindo quanto o pródigo a toda a alegria da casa do pai. Mas toda a dificuldade residia nisso. Ao ostentar “sua fidelidade” para seu pai – “Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento” – ele manifesta que esperava um tratamento preferencial. Aos seus próprios olhos, ele era uma das noventa e nove pessoas justas que não precisavam de arrependimento. Em sua indignação, ele se queixa de seu pai: “nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos”. Aqui ele mostra seu próprio coração. Sua proximidade com o pai era apenas externa; o motivo de seu “trabalho e fidelidade” não era o amor pelo pai; sua noção de verdadeira alegria também era ficar longe do pai e na companhia de seus amigos. Terrível exposição do verdadeiro estado do coração do religioso em relação a Deus.
Ouça o pai implorando com ternura a esse filho que se considera justo: “Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas. Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado”. Aos olhos do mundo, o homem que viveu religiosamente e decentemente tem uma grande vantagem sobre os que vivem dissolutamente. Saúde e fortuna permanecem com ele; daí as palavras “todas as minhas coisas são tuas”. Mas qual é o valor disso se o orgulho e a justiça própria excluem seu espírito da presença de Deus para sempre. Nossa parábola termina com o filho mais velho ainda do lado de fora, indignado e irritado com a graça que fora mostrada ao seu irmão rebelde. Esse filho mais velho é o pai de todos aqueles que hoje em dia desprezam a ideia de que há pessoas sendo “convertidas” e “salvas”, que nunca irão consentir que os esbanjadores sejam “santificados em Cristo Jesus, chamados santos” (1 Coríntios 1:2). O simples pensamento disso os “tira do sério”.
W. W. Fereday