Números 6:1-12

(para maior proveito, ore, leia na Bíblia os versículos indicados e medite nos comentários)

  

Além dos levitas, era o privilégio de qualquer homem ou mulher de Israel separar-se a si próprio de uma maneira especial para o Senhor. Quando assim procedia, a pessoa era chamada de “nazireu”. (Não nazareno, que era uma pessoa que vivia em Nazaré). Mas, em contraste com os filhos de Levi, tal consagração era individual e voluntária. O nazireu era livre para fazer ou não este voto, mas uma vez feito, a sua liberdade acabava; sua vida privada e pública era submetida a obrigações rígidas. Assim como em um exército, o recruta voluntário está sujeito a mesma disciplina que as tropas convocadas obrigatoriamente. Os requisitos de um nazireu eram três:

1. Abster-se de todos os produtos da vinha.

2. Permitir que seus cabelos crescessem.

3. Evitar o contato com a morte, salário e prova do pecado.

O vinho no Antigo Testamento é uma figura das alegrias do mundo. Durante o tempo que uma pessoa era um Nazireu, ele não deveria beber vinho. O crente é uma pessoa que está sempre separada, para Cristo, da excitação deste mundo. Algo pode não ser considerado “pecaminoso”, mas poderia nos impedir de verdadeiramente desfrutarmos do Senhor. Isso mostra que não só o que é mal, mas o melhor pode ser uma armadilha de corrupção.

Deixar seu cabelo crescer significaria desistir de qualquer direito à sua própria dignidade ou reputação, figura do “eu” posto de lado, o que deve caracterizar o discípulo de Cristo. Pois a Bíblia nos diz que é uma vergonha para o homem ter cabelo comprido – 1 Coríntios 1:14. Era uma vergonha para um homem ser um Nazireu. 

Tocar um corpo morto o tornaria impuro. Acaso não estamos cercados por aqueles que estão mortos em transgressões e pecados? O próprio Senhor Jesus foi o verdadeiro e perfeito nazireu. Ele Se fez de nenhuma reputação e Se conservou incontaminado deste mundo. 

Não era, portanto, uma separação só do que estava contaminado, mas do melhor na natureza. Não que a natureza seja condenável, a criação como Deus fez foi digna de Sua mão; nós somos “ligados” a honra de Deus na criatura até o final. 

Em princípio, cada filho de Deus tem esse caráter triplo. Ele está morto para o mundo, para si mesmo e para o pecado (Gálatas 6:14; 5:24; 2:17-20). Mas ele só pode ter a força necessária para manter esse difícil padrão, tão contrário à nossa natureza, se a sua “separação” para Cristo for total, resultado de uma decisão alegre em seu coração (ler os comentários de J. N. Darby abaixo). Os versículos 9 a 12 lembra-nos quão fácil é perder o nosso caráter de nazireu por falta de vigilância e quão difícil é recuperá-lo.

Texto baseado em diversos autores que se reuniam apenas ao Nome do Senhor nos séculos XIX e XX.

_____________—–

No livro de Números é trazido o grande princípio da energia do Espírito de Deus em nós enquanto atravessamos o deserto. Êxodo nos mostra a redenção e o relacionamento; Levítico, o caminho da aproximação de um pecador à Deus; Números, o sacerdócio no tabernáculo no deserto. 

Em Números 6 temos a separação correta para Deus na energia do Espírito Santo (versículo 2) – “para o Senhor”. Assim, o Senhor Jesus, particularmente após Sua ascensão, “por eles me santifico”, para que nós, pela energia do Espírito em nós, estejamos separados agora no deserto.  Ele ainda mantém o caráter nazireu, porque todos os Seus discípulos ainda não estão reunidos nEle; E agora, em certo sentido, para nós é a separação da alegria – “o fruto da vinha”. Na glória é o grande espírito de descanso. Agora, o efeito da energia do Espírito é cingir os lombos da nossa mente para que não se contaminem, não há impureza lá.

Versículo 3: “de vinho e de bebida forte se apartará”; isto é, da alegria das coisas deste mundo. O Senhor veio ao mundo esperando encontrar alegria entre os homens, esperando uma resposta ao Seu amor nos corações dos homens, mas não encontrou nenhuma. Um nazireu deve ser separado de todo afeto natural que pode ser tocado pela morte – para ser separado para o Senhor. Agora o Espírito é um novo poder que vem nos separar das coisas naturais. O Senhor se encheu do Espírito ao dizer: ” Mulher, que tenho eu contigo? ” Toda a natureza pelo pecado está sob o poder da morte, então o nazireu “por seu pai ou por sua mãe não se contaminará”, ” porquanto o nazireado (separação) do seu Deus está sobre a sua cabeça “. (versículo  7; veja também Lucas 14:26). É importante ressaltar que as afeições naturais vêm de Deus e, portanto, são boas em si mesmas; mas eles não tendem a Deus, sendo dedicadas ao objeto. Então somos nazireus. Nossa alegria está além da morte; sendo assim, de tudo o que desisto aqui, tudo o que possui os sabores da morte, estamos apenas desistindo do que dificulta uma maior apreensão da alegria e bênção daquela vida que está além do poder da morte. O Senhor quebrou esse vínculo na cruz. ” com estas coisas se vive, e em todas elas está a vida do meu espírito” (Isaías 38:16).

“Todos os dias do seu nazireado (separação), santo será ao Senhor” (versículo 8). Este é o grande princípio no nazireu – santo para Deus, que em pequeno grau possamos alcançar esse caráter, ainda que seja perfeito em Cristo. Tudo isso é uma coisa muito diferente da inocência. Adão era inocente, mas não separado para Deus. Separado para Deus, supõe um conhecimento do bem e do mal, com esse conhecimento, separado do mal. Adão obteve o conhecimento do bem e do mal depois da queda; o Espírito Santo veio para nos tirar do mal. O Espírito é um novo poder, nos separando para Cristo em glória, agora que o mal e o ego entraram. É algo tentador para nós conhecer o bem e o mal; pois, por natureza, estamos no maligno – amando o mal e odiando o bem. O Espírito Santo agora nos tira do mal, e aqui está a dor – Sua energia em nós nos mantém longe do mal enquanto passamos por um mundo de pecado e morte. Não podemos ser inocentes agora que o pecado entrou, mas somos santos em Cristo.

Versículo 9: ” E se alguém vier a morrer junto a ele por acaso, subitamente”. A morte entrou em tudo na natureza como o sinal do ódio de Deus ao pecado. O espírito de devoção real a Deus sempre foi perfeito em Cristo; mas falho em nós. Onde o velho homem trabalha, há o princípio da morte; portanto, entramos na morte no momento em que o velho homem está trabalhando. Dito isto, a palavra para nós é: “os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências”; e novamente: “já vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos vestistes do novo”. Tudo isso é solene. Não só temos paz, mas enquanto estamos passando por esta cena de pecado, precisamos ser mantidos separados e devotados a Deus pela energia do Espírito Santo em nós.

Versículos 9, 12. Se eu deixar a devoção a Deus, é verdade que o cabelo pode crescer novamente; mas a cabeça tem que ser raspada e o tempo foi perdido. Não se trata de pecado aqui, mas da perda em relação a energia da vida. Uma árvore cortada e quebrada cresce novamente; não morreu, apenas foi ferida, mas sua estatura não será a mesma que uma árvore não ferida. Isso é deixar Satanás estragar e impedir a obra do Espírito. Sansão deixou seu coração entrar na fraqueza da natureza, e quando entramos na velha natureza nossa força desaparece. Sansão, como nazireu, era uma figura da energia do Espírito de Deus; ele contou o segredo de sua força e a deixou, ele ficou fraco como os outros homens. É verdade que no devido tempo sua força voltou, e com poderosa energia ele levantou as fundações do templo. Se não somos cuidadosos e vigilantes para manter o segredo de nossa força em comunhão com Deus, e o mundo e o pecado entram, ainda que não estejamos conscientes disso, a verdade aparecerá quando nos levantarmos para nos movimentar – pode ser no serviço – e nos achamos fracos como outros homens, e quando em nossa fraqueza, como Sansão, o diabo ferirá nossos olhos. O Senhor era o verdadeiro nazireu, e Ele nunca saiu do curso de Sua caminhada de Seu nazireado. Não era uma coisa leve para Ele pisar o caminho do sofrimento; Mas Ele orou. “Posto em agonia, orava mais intensamente” antes da tentação, e então vemos que Ele não parou, não podia. Então devemos primeiro passar pelo julgamento com Deus, então Deus estará conosco no julgamento. Pedro (uma figura da igreja – nós – nestes últimos tempos [nota do tradutor]) dormiu e não orou, e quando o julgamento veio, ele o encontrou na carne e puxou a espada. Jesus orou para que o cálice pudesse passar dele; mas quando o sacerdote e os soldados vieram, apesar de Satanás estar em tudo isso, contudo, viu a mão de Deus e poderia dizer: “o cálice que o Pai me deu”. Então não era nenhuma tentação, mas um ato de obediência.

Trechos do comentário de J. N. Darby sobre “O nazireu”