O futuro
“Força-os a entrar, para que a minha casa se encha”
“A música dos resgatados,
Imagino quão doce soará,
Em todos os salões da glória
Com alegria em volta ecoará.
Mas ah! mais doce e encantador
Do que cantos ou músicas que se ouvirá
É esta frase emocionante:
Aquele que eu amo está lá”.
Não é meu desejo que alguém suponha, pelo que eu disse, que o presente é mais importante que o futuro – não é. O tempo é curto, ele corre a passos rápidos. Quarenta, cinquenta, sessenta, talvez oitenta anos, e um homem se despede desta vida e entra na eternidade, e a eternidade é longa: ela nunca acaba; e nenhuma pergunta é mais importante do que essa: onde você vai passar a eternidade?
Eu me lembro de anos atrás vendo as ruínas de uma vila na Irlanda. Todas as casas estavam sem telhado e desabitadas. Era uma visão melancólica. Me disseram que as pessoas que moravam nessas casas haviam se recusado a pagar o aluguel e foram despejadas. A aldeia foi uma parábola para mim. Habitamos nesta “casa terrena do nosso tabernáculo” – você e eu – e recebemos um “aviso de desocupação”. Por quê? Porque não pagamos o aluguel. Deus é o senhorio, Ele é o projetista e construtor de nossos corpos. É Ele que “nos dá vida, respiração e todas as coisas”, como a Bíblia nos diz; sendo assim, Ele tem reivindicações sobre nós, e nós não atendemos e nem desejamos atender estas solicitações. Todos nós éramos parecidos a esse respeito, até que alguns de nós – mas esse é outro assunto que abordaremos em breve – não pagamos o aluguel, estávamos determinados a não pagar; “cada um se desviava pelo seu próprio caminho”; e é por isso que recebemos o aviso de despejo. Estamos aguardando o despejo – alguns têm “uma esperança melhor”, mas novamente isso é outro assunto. A verdade é que “como aos homens está ordenado morrerem uma só vez”. A impertinente MORTE tem seu trabalho a fazer e, quando chegar a hora, fará isso de maneira eficaz, independentemente de nossos desejos ou sentimentos. Para alguns, ela vem de repente e, sem aviso, os expulsa desta morada terrena; mas, contudo, e sempre que ela vier, o tabernáculo há muito estimado e ternamente cuidado cairá em ruínas; nada pode salvá-lo; e certamente a maior questão para o homem é: o que aconteceu com aquele que ali habitou?
Quem pode nos dizer? Um cientista famoso disse que a alma de um homem é como a chama de uma vela; quando é apagada, é apagada para sempre. Eu me pergunto se ele realmente acredita nisso. Você não, e nem eu. Ele nos reduziria ao nível dos animais, das quais ele diz que surgiram; mas sabemos mais que isso. Deus soprou fôlego da vida nas narinas do homem e ele se tornou uma alma vivente; o homem é maior que o sol, a lua e as estrelas, pois viverá para sempre e será consciente de sua existência quando esta aqui cessar. Você e eu vamos viver para sempre. Mas quem pode nos dizer sobre isso? O agnóstico não pode – o homem que desfila sua ignorância e se orgulha dela. Um homem inteligente riu da Bíblia e deu palestras em salões lotados sobre “Os Erros de Moisés”; teria ele algum conforto ou garantia para nos dar sobre a eternidade? Ouça o que ele disse sobre isso:
“Existe além da noite silenciosa
Um dia sem fim?
A morte é uma porta que leva à luz?
Não podemos dizer.
O segredo sem língua trancado no destino
Não sabemos. Esperamos e esperamos”.
Imagine que o senhorio daquela vila irlandesa enviasse uma mensagem desse tipo aos devedores: “Você falhou em suas obrigações e, por justiça, devo despejá-lo da casa em que viveu; mas quando chegar a hora de você sair, vou abrir as portas da minha mansão e recebê-lo em minha casa. Será um prazer ter sua companhia!”. Dá para imaginar isso! Nunca existiu entre os homens um senhorio assim; se tivesse havido um, sua fama teria se espalhado até os confins da terra, e seu feito teria sido assunto de muitos livros de histórias. É da minha conta e alegria dizer que tal senhorio é Deus. Ele abriu as portas da Sua casa e há muitas mansões ali – há espaço para todos. E no evangelho – assim como nesta mesma parábola, Deus está dizendo aos homens que, embora tenham recebido um aviso de despejo, a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram, mas Ele dará as boas-vindas em Seu lar a quem aceitar Seu convite quando o momento do despejo chegar. É uma oferta surpreendente, e coloca Deus em uma luz diferente daquela em que os homens geralmente O veem, e é o mais surpreendente porque essa oferta é feita para aqueles que são inimigos e alienados Dele por suas obras más.
Agora, em contraste com o lamento desesperado do agnóstico, o cristão fala com confiança enquanto olha para o futuro. Ele pode dizer: “Sabemos que se a nossa casa terrestre deste tabernáculo for desfeita, temos de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus”, 2 Coríntios 5:1. E embora muitos, se não todos, haja um medo natural da morte, o cristão pode enfrentá-la sem medo, pois a morte de Cristo lhe tirou a ferroada, ao morrer Ele tomou do diabo o seu poder, para libertar a todos os que por medo da morte estavam toda a vida debaixo da escravidão. Ao lermos as Escrituras, percebemos que os homens ou mulheres salvos, aqueles que confiaram totalmente no Salvador, não precisaram ter um único tremor na presença da morte. Estamos muito familiarizados com as palavras de Paulo: “Partir e estar com Cristo é muitíssimo melhor” e “morrer é lucro”. Outros irmãos em Cristo também falaram próximos da morte: “Sou como um pássaro escapando de sua gaiola”, outro “Agora nada além do céu”. Um amado irmão gritou de alegria ao pensar em estar com o “homem do poço de Sicar” e com o “Homem do Calvário”. Ouvi falar de uma jovem no final da adolescência, que quando pensaram que ela já tivesse morrido disse sussurrando: “Estou apenas passando para a glória”. Houve um irmão em Cristo que falou com mais pessoas do que qualquer homem de sua época. Dizem que ele se dirigiu a milhões, seu assunto era sempre Cristo, o Salvador. Ele estava morrendo aos 62 anos, sua forte estrutura física desgastada pelo excesso de trabalho. Seu próprio filho relatou seu “fim”… “De repente, ele foi falando palavras lentas e medidas. Ele dizia: “A Terra se afasta; o céu se abre diante de mim. O primeiro impulso é tentar despertar do que parece ser um sonho. ‘Não, isso não é sonho, filho”, ele disse: “É lindo. É como um êxtase. Se isto é a morte, é doce. Não há vale aqui. Deus está me chamando e tenho que ir”.
Um poeta talentoso cantou um som triste e melancólico:
“Nada começa e nada acaba
Isso não é pago com gemido,
Porque nascemos na dor de outros
E perecemos em nosso própria”.
Mas podemos agradecer a Deus por essa perspectiva desesperada não ter lugar no hinário cristão.
Estou ansioso para que você não seja enganado pela mentira de que Deus não tem nada para você agora, que você deve esperar por Sua bênção “no túmulo”, mas fico igualmente ansioso que você deva perguntar sobre o futuro.
O evangelho que nos fala da alegria e da paz presentes, da festa que está agora pronta, também nos fala da glória futura e de um lar no céu para sempre. Deus disse: “Para que a Minha casa se encha”, e seu convite aos homens abrange o presente e o futuro; existe uma festa e um lar para todos os que respondem – uma festa satisfatória e um lar eterno.
Tradução em andamento do livro “A ceia, a fome e a chama” (The Feast, the Famine and the Flame) de J. T. Mawson.