QUEM DEVE PARTICIPAR DA CEIA DO SENHOR?

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QUEM DEVE PARTICIPAR DA CEIA DO SENHOR?

Talvez você tenha tido a experiência quando, ao visitar uma assembleia de Cristãos, no momento da Ceia do Senhor, tenha lhe sido dito que, por você não ser conhecido deles, não poderia participar do partimento do pão com eles. Isso talvez o tenha surpreendido e provavelmente você tenha pensado por qual motivo, sendo um Cristão de boa reputação na sua comunidade, tenham lhe negado isso. Todavia, a Palavra de Deus mostra que essa prática é algo que está na Escritura e que isso é particularmente necessário em dias quando o testemunho Cristão está em ruínas.

A RESPONSABILIDADE DA ASSEMBLEIA LOCAL

Antes de olharmos os princípios na Palavra de Deus que envolvem essa prática, é necessário entender que a assembleia local tem certas responsabilidades com respeito aos que partem o pão à mesa do Senhor.

A Bíblia indica que a assembleia local deve manter a si mesma purificada de três tipos de pecados, pois, a associação com tais coisas afetará e contaminará toda a assembleia. Mais importante, o Senhor está no meio de Seu povo reunido ao Seu Nome (Mat.18:20), e, além disso, a assembleia deve manter o mal fora de seu meio para que ela permaneça um local apropriado para Sua presença. “… a santidade convém à tua casa, SENHOR, para sempre” (Sal. 93:5). Os tipos de pecado que a assembleia deve manter fora de seu meio são:

1) Mal Moral

Um exemplo deste tipo de mal é encontrado no problema existente em Corinto, onde havia uma pessoa imoral entre eles. O apóstolo disse a eles: “Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa” (1 Cor. 5:6-7). Como um grupo de Cristãos associados com uma pessoa em pecado em seu meio, corriam o risco de ser contaminados pelo pecado dessa pessoa, mesmo que eles não tivessem pessoalmente cometido o pecado! O apóstolo disse a eles que teriam que se desassociar a si mesmos daquilo pela excomunhão da pessoa em pecado (1 Cor. 5:11-13). Compare também com o caso do pecado de Acã. Quando ele pecou, o Senhor disse: “Israel pecou” (Jos. 7:1,11). Mesmo que apenas um homem e sua família fossem os culpados pelo erro, o Senhor acusou toda a Israel dessa culpa, pois estavam todos associados com Acã.

2) Mal Doutrinal

Os gálatas eram um exemplo disso. Entre eles haviam se infiltrado mestres que tentavam judaizá-los, ensinando que eles precisavam guardar a lei. Paulo disse a eles: “Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade? Esta persuasão não vem daquele que vos chamou. Um pouco de fermento leveda toda a massa” (Gal 5:7-9). Vemos aqui que o ensino errôneo que havia entre eles possuía o mesmo efeito de fermento entre os gálatas como tinha a pessoa imoral no meio dos coríntios (1 Cor. 5:6-7). Eles estavam sendo levedados por aquelas doutrinas judaizantes com as quais estavam associados.

Vemos também que alguns dentre os coríntios haviam adotado ensinos errôneos quanto à doutrina da ressurreição. O apóstolo Paulo identificou esses ensinos como originários da associação deles com alguns mestres existentes em seu meio que eram tendenciosos quanto à doutrina. Ele os alertou dizendo: “Não vos enganeis. as más conversações corrompem os bons costumes.” (1 Cor. 15:33).

Outro exemplo disso é o caso da “senhora eleita” na segunda Epístola de João. Ela foi advertida de que se viesse a ela alguém que não trouxesse a doutrina de Cristo, ela não deveria receber tal pessoa em sua casa, e nem tampouco saudá-la, pois se o fizesse estaria sendo participante do seu erro. As palavras do apóstolo João foram estas: “Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras” (2 Jo 9-11). Repare: se ela saudasse ou recebesse tal pessoa, seria participante da má doutrina daquela pessoa, mesmo que ela própria não professasse tal ensino maligno! Sua responsabilidade, portanto, era de se manter limpa desses ensinos errôneos e isso precisava ser feito por meio da separação.

Paulo também disse a Timóteo que se ele encontrasse alguém ensinando coisas que não estivessem de acordo com a sã doutrina, deveria “apartar-se” desse, pois se não o fizesse acabaria se tornando participante do pecado daquela pessoa (1 Tm 6:3-5).

3) Mal Eclesiástico

O mesmo princípio vale também para a desordem e o mal eclesiástico. Ao nos associarmos a alguma comunhão em particular de cristãos que tenham um sistema de coisas que não está em conformidade com a Palavra de Deus, quer nós concordemos ou não com suas práticas estaremos mesmo assim identificados com elas. Se eles ensinarem alguma má doutrina, estaremos em comunhão com isso. Se estiverem envolvidos com alguma prática de adoração não em conformidade com as Escrituras, estaremos também em comunhão com isso. Está claro nas Escrituras que Deus não gostaria que Seu povo estivesse em comunhão com doutrinas e práticas más (2 Cor. 6:14-18). Este princípio é claramente estabelecido por Paulo em 1 Coríntios 10:14-22. Ele mostra que, independente de ser no cristianismo, judaísmo ou paganismo, o princípio da identificação sempre existe. Participar de práticas religiosas, quaisquer que sejam elas, é expressar comunhão com tudo o que existe ali.

No que diz respeito ao Cristianismo, Paulo diz: “Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?” (1 Cor. 10:16). Dessa passagem fica evidente que nossa ação de partir o pão (participar da ceia do Senhor) é a expressão de nossa comunhão com aqueles com quem partimos o pão.

Em relação a Israel, Paulo mostrou que o mesmo princípio existia, ao dizer: “Vede a Israel segundo a carne: aqueles que comem os sacrifícios não estão porventura em comunhão com o altar?” (1 Co 10:18 – versão J. N. Darby). Alguém que participasse dos sacrifícios sobre o altar no qual eram oferecidos estava identificado com tudo o que o altar representava.

E o apóstolo mostrou também que o mesmo princípio valia para a idolatria no paganismo, ao dizer: “Mas o que os gentios sacrificam, eles sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que estejais em comunhão com os demônios” (1 Cor. 10:20 – versão J. N. Darby). Neste caso aqueles que participavam do “cálice dos demônios” estavam em comunhão com demônios.

Se uma pessoa em comunhão cai em qualquer um desses tipos de pecado, a Bíblia ensina que a assembleia é responsável por julgar tal mal quando ele aparece no seu meio. O apóstolo Paulo disse: “Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo” (1 Cor. 5:12-13). Esse tipo de cuidado para a glória do Senhor é algo quase inexistente na Cristandade hoje, mas mesmo assim, deve ser feito por toda assembleia Cristã.

OS PRINCÍPIOS DA RECEPÇÃO

Considerando o que a Bíblia ensina a respeito da pureza na assembleia, quando alguém tem o desejo de partir o pão “à mesa do Senhor” (1 Cor. 10:21), a assembleia deve ter o cuidado de não receber à comunhão alguém envolvido em pecado; seja ele moral, doutrinal ou eclesiástico. O princípio é simples. Se uma assembleia local tem a responsabilidade de julgar o pecado em seu meio, como já demonstramos (1 Cor. 5:12), a consequência natural disso é que ela deve ter o cuidado com aquilo ou aquele que recebe em seu meio.

Alguém afirmou corretamente que a assembleia local não deve ter uma comunhão aberta, e nem ter uma comunhão fechada, mas sim uma comunhão protegida. A assembleia deve receber à mesa do Senhor todo membro do corpo de Cristo que não esteja impedido pela disciplina bíblica. Se não fizer assim, ela estará agindo de forma inconsistente com o terreno do “um só corpo” sobre o qual ela professa estar congregada (Ef. 4:4).

Se, por um lado, todos os cristãos devem estar à mesa do Senhor, nem todos têm o direito de estar ali, já que seu privilégio pode ser anulado por seu envolvimento com algum pecado.

QUEM DECIDE QUEM DEVE ESTAR À MESA DO SENHOR?

É importante entender que os irmãos na assembleia local não decidem o que é adequado à mesa do Senhor e o que não é. Isto é algo que compete à Palavra de Deus. A razão é que a mesa não é dos irmãos, isto é: “a mesa é do Senhor”. As preferências e gostos pessoais dos que fazem parte da assembleia não têm nada a ver com a recepção. A decisão vem totalmente da Palavra de Deus. Quando não existir um motivo bíblico para se recusar a alguém a comunhão à mesa do Senhor, tal pessoa deve ser recebida. Se um crente já batizado professar com clareza sua fé e demonstrar devoção em seu andar, não existe motivo para que seja recusado. O nível de conhecimento das Escrituras não é um critério neste sentido. Ainda que seja um crente limitado em seu conhecimento, as Escrituras dizem: “Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas” (Rm 14:1).

Todavia, nem sempre se pode determinar de imediato se alguém professa claramente sua fé e é devoto em seu andar. Quanto maior a confusão no mundo ou no testemunho cristão do qual a pessoa tiver saído, maior a dificuldade de se tomar uma decisão. Se for este o caso, então o bom senso mostra que a assembleia deve pedir que a pessoa que tem o desejo de estar em comunhão aguarde algum tempo. Isso não significa que a assembleia está afirmando que tal pessoa tenha alguma associação com o mal. Poderia ser o caso, porém os irmãos podem estar incertos quanto a isso e por esta razão devem esperar até que estejam convencidos de não ser este o caso, uma vez que são eles os responsáveis diante de Deus pelas pessoas que recebem em comunhão. As Escrituras ensinam: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios” (1 Tm 5:22). Embora a aplicação deste versículo seja mais ampla do que a recepção à mesa do Senhor, ele apresenta um princípio pelo qual a assembleia pode ser guiada no processo de recepção. Alguém maduro e piedoso não se sentirá ofendido com isso, pois certamente nenhum cristão piedoso iria querer que a assembleia violasse um princípio bíblico. Na verdade, todo esse cuidado deveria dar a ele a confiança de estar entrando em uma comunhão onde existe a preocupação com a glória do Senhor e a pureza da assembleia.

SERIA SUFICIENTE O TESTEMUNHO PESSOAL?

Um importante princípio relacionado a este assunto e que precisa ser compreendido é que a assembleia, biblicamente falando, não se baseia no que diz uma testemunha. Tudo o que diz respeito à assembleia deve ser feito de acordo com este princípio: “Por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra” (2 Cor. 13:1). Confira também o que diz em João 8:17 e Deuteronômio 19:15. Por esta razão a assembleia não deve receber pessoas com base em seu próprio testemunho, principalmente considerando que todas as pessoas costumam dar um bom testemunho de si mesmas, como as próprias Escrituras afirmam: “Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos” (Pv 16:2). E também: “Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória” (Jo 7:18).

Por isso é preciso pedir a uma pessoa que deseja entrar em comunhão que aguarde, principalmente quando a assembleia nada souber a respeito dela. Assim que a assembleia local venha a conhecer a pessoa que deseja estar em comunhão, ela poderá ser recebida com base no testemunho de outros.

Este é um princípio que encontramos em todas as Escrituras. Até mesmo o Senhor Jesus Cristo, o Senhor da Glória, sujeitou-Se a este princípio quando Se apresentou a Israel como seu Messias. Ele disse; “Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro [válido]” (Jo 5:31). Em seguida ele continuou apresentando quatro outros testemunhos que comprovavam quem Ele era: João Batista, Suas obras, Seu Pai e as Escrituras (Jo 5:32-39). Apesar dos vários testemunhos de que Ele era o Messias, o Senhor ainda advertiu os judeus de que chegaria um tempo quando eles, como nação, receberiam um falso messias (o Anticristo) sem testemunhas. Ele disse: “Se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis” (Jo 5:43). Assim o Senhor reprovou a prática de se receber alguém com base em seu próprio testemunho.

Os filhos de Israel falharam justamente neste ponto, quando receberam os gibeonitas com base no testemunho deles próprios (Jos. 9). Isso está registrado nas Escrituras para nos alertar quanto ao perigo de agirmos assim.

Atos 9:26-29 nos dá um exemplo do cuidado que a igreja no princípio tinha ao receber alguém à comunhão. Quando Saulo de Tarso foi salvo, ele quis entrar em comunhão com os santos em Jerusalém, porém foi rejeitado. Mesmo que tudo o que ele dissera aos irmãos em Jerusalém sobre sua vida pessoal fosse verdade, ele não foi recebido com base em seu próprio testemunho. Foi só quando Barnabé levou Saulo consigo e o apresentou aos irmãos, testificando de sua fé e caráter, de modo que então já era o testemunho de duas pessoas, que os irmãos o receberam. Daquele momento em diante Saulo “andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo” (At. 9:28). Se a igreja no princípio não recebeu Saulo de Tarso imediatamente, com certeza os cristãos hoje não podem esperar ser recebidos imediatamente quando desejarem estar em comunhão em uma assembleia local.

Se uma pessoa já está em comunhão com uma assembleia e deseja visitar e partir o pão em outra, a Palavra de Deus indica que ela deve levar uma “carta de recomendação” (Rom. 16:1, 2 Cor 3:1-3). Trata-se de uma carta escrita por uma assembleia e assinada por dois ou três irmãos, a qual é enviada a outra assembleia recomendando uma ou mais pessoas à comunhão dos santos naquela localidade para onde essas pessoas estiverem se dirigindo. Mais uma vez, isso é algo que geralmente não é praticado nas igrejas da Cristandade, mas mostra o cuidado que deve haver entre as assembleias Cristãs. Um exemplo desta prática entre os Cristãos no princípio é visto no caso de Apolo, em Atos 18:24-28. Ali diz: “Querendo ele passar à Acaia, o animaram os irmãos, e escreveram aos discípulos que o recebessem; o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam”. Apolo era reconhecidamente um homem que tinha um dom, mas mesmo assim ele precisou de uma carta de recomendação dos irmãos para poder ser recebido pelas assembleias na Acaia, as quais até então nada sabiam a respeito dele.

Portanto, um Cristão que não esteja em comunhão com alguma assembleia não deve insistir para partir o pão onde não houver qualquer conhecimento a seu próprio respeito.

COLOCANDO A PROFISSÃO DE FÉ DA PESSOA À PROVA

Outro importante princípio para se receber alguém é que existe a necessidade de se colocar à prova a profissão de fé da pessoa. Se alguém diz que é cristão, é preciso que prove isso deixando de lado todo pecado conhecido. Além disso, em 2 Timóteo 2:19 diz que “qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade“. Veja também Apocalipse 2:2 e 1 João 4:1. Se essa pessoa não apartar-se da iniquidade, sua confissão de fé não é genuína. Isso é ainda mais importante em uma época de ruína e abandono do testemunho cristão, quando o que não faltam são doutrinas e práticas perniciosas de todos os tipos. Um exemplo disso pode ser visto em figura em 1 Crônicas 12:16-18. Naquele momento Davi era o rei rejeitado de Israel. À medida que pessoas de várias tribos de Israel entenderam o erro que tinha sido rejeitá-lo, elas foram a ele e o consideraram como o verdadeiro rei de Israel. Quando os da tribo de Benjamim (a tribo do rei Saul) foram a Davi, ele colocou à prova a profissão de fé deles. Ao ficar comprovado que sua confissão era genuína, e eles demonstraram verdadeiramente estar ao lado de Davi, a Palavra de Deus nos diz que “Davi os recebeu“.

Se uma pessoa professa má doutrina, está claro que a assembleia não deve recebê-la, pois se o fizer ficará em comunhão com o mal que traz em seu ensino. (Compare 2 Jo 9-11 e Rm 16:17-18). Não falamos aqui das diferenças de opinião que as pessoas possam ter a respeito de assuntos como o batismo, por exemplo, mas de coisas que digam respeito aos fundamentos da verdade cristã. As Escrituras dizem: “Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus” (Rm 15:5-7). Isto demonstra que a assembleia deve receber à comunhão pessoas que possam glorificar a Deus “concordes, a uma boca”. Como a assembleia poderia glorificar a Deus assim se alguém fosse recebido trazendo consigo má doutrina? Enquanto os irmãos na assembleia estivessem falando uma coisa, aquela pessoa estaria falando outra. O resultado seria confusão. Paulo disse aos coríntios: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer” (1 Cor. 1:10).

Outra figura do Antigo Testamento ilustra o cuidado no recebimento à comunhão. Quando a cidade de Jerusalém, o centro divino neste mundo onde o Senhor havia colocado o Seu Nome, foi reconstruída nos dias de Neemias, havia um grande perigo representado pelos inimigos em redor. Consequentemente, eles não abriam os portões para permitir que as pessoas entrassem na cidade “até que o sol aqueça” [literalmente ao meio-dia] (Ne. 7:1-3). Eles se certificavam de não existir qualquer vestígio de sombras em redor antes de permitir que as pessoas entrassem na cidade. Até que chegasse aquele momento, eles faziam com que as pessoas que desejassem entrar na cidade “aguardassem”. À medida que a escuridão na cristandade aumenta nestes últimos dias, é preciso tomar este tipo de cuidado na recepção de pessoas à comunhão. Você encontra o mesmo princípio em 1 Crônicas 9:17-27 (“os porteiros”).

Tudo isso soa muito estranho para a maioria dos cristãos que não conhecem outros métodos além da comunhão aberta praticada pelos denominacionais. A ênfase nas igrejas é conseguir o máximo possível de pessoas para o grupo. São feitos grandes esforços neste sentido. Tomar cuidado com quem é acrescentado à comunhão provavelmente parece algo meio incomum, todavia, é isso que a Palavra de Deus ensina.

EXCLUSIVO DEMAIS!”

Alguns discordam dessas coisas, declarando que isso é ser exclusivista. Gostaríamos de enfatizar mais uma vez que estes princípios não foram inventados por nós, mas são simplesmente princípios ensinados pela Palavra de Deus. As assembleias locais de cristãos devem ser exclusivistas quanto ao pecado, e devem ser cuidadosas quando não conhecerem com quê uma pessoa pode estar associada.

EXAMINE-SE O HOMEM A SI MESMO”

Outros discordam dessas coisas com base na passagem em 1 Coríntios 11:28, que diz: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice“. Alegam que a assembleia não deve “examinar” a pessoa, mas que ela deve “examinar” a si mesma e então participar da ceia do Senhor.

Oras, se fosse esse o significado do versículo, então ele entraria em conflito com os princípios que já mencionamos – de que a assembleia é responsável em julgar o mal em seu meio, e por conseguinte, deve ser cuidadosa quanto a quem está em comunhão (1 Cor. 5:12). Considerando que a Palavra de Deus não se contradiz, o versículo em 1 Coríntios 11:28 deve estar se referindo a algo que não seja a recepção à mesa do Senhor. Um exame mais atento do contexto do capítulo no qual o versículo aparece nos revela que a passagem não está se referindo àqueles que desejam entrar em comunhão à mesa do Senhor, mas sim àqueles que já estão em comunhão ali. A passagem diz simplesmente que cada um daqueles que estão em comunhão tem a responsabilidade de julgar-se a si mesmo antes de participar da ceia. Se não o fizer, ele “come e bebe para sua própria condenação [juízo governamental]” (1 Cor. 11:29). Isto é parecido à ordem que os pais dão aos seus filhos antes de se sentarem à mesa para o jantar. Eles dizem: “Vejam se as suas mãos estão limpas antes de se sentarem à mesa”. A ordem aplica-se às crianças que fazem parte da família e participam regularmente das refeições naquela casa, e não aos vizinhos que moram na mesma rua. Aqueles que fazem parte da família e pretendem participar do jantar devem estar limpos quando chegarem à mesa. O mesmo acontece na assembleia. A exortação para se examinarem a si mesmos antes de participar da ceia é para aqueles que já estão em comunhão à mesa do Senhor.

A RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL

Se por um lado existe a responsabilidade da assembleia local nesta questão, por outro o indivíduo que deseja entrar em comunhão com uma assembleia local também tem sua parcela de responsabilidade. Se ele deseja andar corretamente diante do Senhor, deve ter o cuidado para que “a ninguém imponhas precipitadamente as mãos” (uma expressão de comunhão prática), e “nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro” (1 Tim. 5:22).

Em vista disso, perguntamos: “Por que alguém iria a uma assembleia de cristãos sobre a qual não tem qualquer conhecimento quanto ao que creem ou praticam ali, para insistir em partir o pão com eles, considerando que, pelo princípio da associação com o qual já tratamos, tal pessoa acabaria associada com tudo o que acontecesse ali? Como ela poderia ter certeza de não estar entrando em um grupo de pessoas com doutrinas blasfemas ou práticas condenáveis?” Nossa única conclusão é que uma pessoa assim nunca teria levado em consideração estas coisas, ou simplesmente não acreditaria que elas pudessem ocorrer.

Todavia, muitos cristãos acham que podem se associar com qualquer coisa que desejarem sem que sejam afetados por isso, mas a Bíblia ensina que somos afetados por aqueles com quem nos associamos, pois “as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Cor. 15:33, 1 Tim. 5:22, Ag. 2:10-14, Deut. 7:1-4, Jos. 23:11-13, 1 Reis 11: 1-8, etc). Por essa razão, alguém que esteja buscando comunhão com uma assembleia de cristãos sobre a qual tenha poucas informações deve agir com cuidado. Ele deve manter-se a si mesmo puro. Isto é uma responsabilidade de todo Cristão.

O cuidado que cada crente individualmente deve ter é visto em figura no Antigo Testamento, quando o assunto é a adoração praticada por Israel, e isto dá direções para os cristãos buscarem o lugar onde o Senhor colocou Seu nome hoje. O Senhor disse a eles: “Guarda-te, que não ofereças os teus holocaustos em todo o lugar que vires; mas no lugar que o SENHOR escolher numa das tuas tribos ali oferecerás os teus holocaustos, e ali farás tudo o que te ordeno” (Deut. 12:13-14). Traduzindo isso em termos Cristãos, significa que um cristão simplesmente não deve ir a qualquer lugar para oferecer sua adoração ao Senhor. Ele deve fazer isso apenas no lugar onde Deus quer que ele esteja. Tendo em vista o mal e o abandono da Palavra de Deus que existem hoje no testemunho cristão, e o perigo de ser levado ao erro, não se deve ter pressa em oferecer sacrifícios de louvor em comunhão com uma assembleia de cristãos da qual não se conhece coisa alguma. A obrigação de cada um é descobrir de antemão algo sobre aquele grupo de cristãos, antes de desejar estar em comunhão com eles. Se uma pessoa descobre um lugar que ela crê ser o lugar para o qual o Senhor a está conduzindo, ela não deve se apressar em partir o pão em comunhão com eles até que saiba o que essa assembleia mantém como verdade e prática. É preciso orar a respeito e esperar no Senhor até ter a tranquilidade de saber que não está se associando com algo que seja uma desonra para o Senhor. Que o Senhor possa guiar o leitor nesse importante passo.

B. Anstey

1992/1994