O FALSO MESSIAS

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Uma determinada pessoa, um homem judeu e apóstata, é o Anticristo que encontramos nas profecias das Escrituras. Há aqueles que costumam apresentar o Anticristo como o líder civil do Império Romano, mas não é verdade. O Anticristo é o falso messias,o ministro de Satanás para com os judeus em Jerusalém, operando sinais e fazendo maravilhas por meio de um poder vindo diretamente de Satanás. Ele se assenta no templo de Deus, que estará construído em Jerusalém, e exige ser adorado como Deus. A Besta (Roma),o falso profeta ou Anticristo, e também o dragão (Satanás) são deificados e adorados, numa imitação da adoração que é devida ao Pai, Filho e Espírito Santo. A nação apóstata de Israel aceita o Anticristo como seu rei.

Ele definitivamente não se trata de um grande poder político. É verdade que exerce influência sobre a Cristandade, mas no seu aspecto religioso, e não politicamente. O governo do mundo Ocidental, civil e político, está nas mãos do grande chefe gentio. É ele, cujo trono se encontra em Roma, quem rege politicamente sob o comando de Satanás. O Anticristo tem seu trono em Jerusalém enquanto que o líder do domínio gentio o tem em Roma. Os dois homens são ministros de Satanás, aliados em iniqüidade. Um é judeu, o outro gentio. Ambos estão presentes por ocasião da vinda do Senhor em juízo, e ambos são lançados vivos no lago de fogo — uma sentença eterna.

O termo Anticristo é usado apenas pelo escritor do Apocalipse, o que faz por quatro vezes, em 1 João 2.18,22; 4.3 e 2 João 7, uma delas no plural (1 Jo 2.18). Destas passagens tiramos muitas coisas importantes: 1- O surgimento de anticristos é uma marca clara do “fim dos tempos” e eles são apóstatas; 2- O Anticristo se coloca em direta oposição àquilo que é vital ao Cristianismo, a saber, a revelação do Pai e do Filho, e também à verdade distinta do Judaísmo — Jesus, o Cristo (1 Jo 2.22). 3- A Santa Pessoa do Senhor é também objeto do ataque satânico. Tudo isso atinge o seu clímax no Anticristo que vem; nele toda sorte de mal religioso chega ao seu mais alto grau.

Paulo, em uma de suas mais antigas e breves epístolas (2 Tessalonicenses), apresenta o esboço de uma personalidade caracterizada pela impiedade, insubordinação e arrogância, a qual supera em muito tudo aquilo que o mundo já viu. Um caráter claramente idêntico ao do Anticristo citado por João. Em ambos os casos trata-se da mesma pessoa.

É evidente que Paulo instruiu pessoalmente os cristãos tessalonicenses acerca do assunto solene que é a chegada da apostasia, ou o público abandono do cristianismo, e conseguinte à apostasia, a revelação do homem de pecado (2 Ts 2.3). Sua carta é um complemento à sua admoestação verbal.

São usados três adjetivos para o Anticristo: 1- o iníquo; 2- o homem do pecado; 3- O filho da perdição. O primeiro sugere que ele se coloca em direta oposição a toda autoridade divina e humana. O segundo estabelece que ele é a personificação de toda forma e classe de mal — o pecado personificado. O terceiro demonstra ser ele o apogeu da manifestação do poder de Satanás, e, como tal, tem a perdição e o juízo como sua porção. Esse medonho caráter usurpa o lugar de Deus sobre a terra, assentando-se no templo então edificado em Jerusalém, exigindo a honra e adoração que é devida a Deus (2 Ts 2.4).

Sua influência religiosa — pois ele não é, de modo algum, um político — domina as massas de cristãos professos e judeus. Eles caem na armadilha de Satanás. Eles, que já haviam abandonado a Deus e renunciado publicamente à fé cristã e à verdade essencial do judaísmo, agora recebem do Senhor, em justa retribuição, a horrível operação do erro de receberem o homem do pecado enquanto crêem ser ele o verdadeiro Messias (2 Ts 2.11). Que engano! O Anticristo recebido e crido no lugar do Cristo de Deus!

Quando se compara 2 Tessalonicenses 2.9 com Atos 2.22, fica evidente um notável paralelo. Os mesmos termos — poder, sinais e maravilhas — são encontrados em ambos os textos. Por estes sinais Deus iria credenciar a missão e o serviço de Jesus de Nazaré (Atos 2.22). Pelas mesmas credenciais Satanás apresenta o Anticristo ao mundo apóstata (2 Ts 2.9,10).

O próprio Senhor faz referência ao Anticristo e à sua aceitação por parte dos judeus como seu messias e profeta (Jo 5.43). No livro dos Salmos ele é descrito proféticamente em seu caráter de “homem que é da terra” (Sl 10.18), e também como o “homem sanguinário e fraudulento” (Sl 5.6). Estes adjetivos descritivos são, em si mesmos, uma característica do ímpio em geral na grande crise que se aproxima, embora exista uma pessoa, e somente uma, à qual se aplicam no seu mais completo significado. É o caráter do Anticristo que se encontra diante de nós nestes e em outros salmos.

Daniel, no capítulo 11 de sua profecia, faz referência a três reis: o rei do Norte (Síria), o rei do Sul (Egito), e o rei na Palestina (o Anticristo). As guerras, alianças familiares e intrigas, detalhadas tão minuciosamente nos primeiros trinta e cinco versículos deste interessante capítulo, tiveram um cumprimento histórico exato na história dos reinos da Síria e do Egito, formados após a ruína do poder do império Grego.

No versículo 36 um rei é repentinamente introduzido na história. Esse rei é o Anticristo cujo reinado na Palestina precede o reino do verdadeiro Messias, do mesmo modo como o Rei Saul precedeu o Rei Davi; o primeiro prefigurando o rei anti-cristão e o segundo prefigurando Cristo, o verdadeiro Rei de Israel. Esta parte do capítulo (v. 36-45) fala de um tempo futuro, levando-nos até o tempo do fim (v. 40). O rei se exalta e se eleva acima de todo homem e de todo deus. O orgulho do diabo está personificado nesse terrível personagem judeu. Somente o lugar que é devido a Deus pode satisfazer sua ambição. Que contraste com o verdadeiro Messias, Jesus, que Se humilhou até à morte, e morte de cruz (Fp 2.5-8).

Por meio de Daniel 11.37 fica evidente que o Anticristo é descendente de judeus, o que também pode ser deduzido do fato de que se assim não fosse ele não poderia nem reivindicar, mesmo entre os judeus apóstatas, o direito ao trono de Israel. O rei,ou Anticristo, é atacado do Norte e do Sul, ficando a sua terra, a Palestina, entre dois fogos. Ele é incapaz, mesmo com o auxílio de seu aliado, o poderoso líder Ocidental, de se livrar dos repetidos ataques de seus inimigos do Norte e do Sul. O primeiro é o mais amargo e determinado deles. A Palestina é invadida pelos exércitos conquistadores vindos do Norte, mas seu rei, o Anticristo, escapa da vingança do grande opressor do Norte, prefigurado pela infame memória de Antíoco Epifânio (rei da Síria a partir do ano 175 A.C.). O Anticristo é alvo do juízo do Senhor na Sua vinda dos céus (Ap 19.20).

Em Apocalipse 13, duas Bestas são contempladas em uma visão. A primeira é o poder romano com sua cabeça blasfema sob o controle direto de Satanás (v. 1-10). A segunda Besta é a pessoa do Anticristo (v. 11-17). A primeira é caracterizada por força bruta e trata-se do poder político daqueles dias, e daquele a quem Satanás “deu o seu poder, e o seu trono, e grande poderio” (Ap 13.2). A segunda Besta está claramente subordinada ao poder da primeira (v. 12) e seu caráter é religioso; não tem pretensões políticas. Sua pretensão religiosa é amparada pelo poder e força da Roma apóstata, e assim as duas Bestas agem juntas sob seu grande líder, Satanás. Os três são igualmente adorados.

A segunda Besta, ou Anticristo, é idêntica ao falso profeta, citado nos capítulos 16.13; 19.20 e 20.10 de Apocalipse. As respectivas cabeças da rebelião contra Cristo, em Seus direitos reais e proféticos, são dois homens diretamente controlados e revestidos de poder pelo próprio Satanás. Trata-se de uma espécie de trindade do mal. O Dragão deu seu poder exterior à primeira Besta (Ap 13.2). Ò segunda ele dá seu espírito, para que possa falar como um dragão (v. 11). Finalmente, Zacarias se refere ao Anticristo como pastor inútil que acaba por abandonar o rebanho (Israel) sobre o qual exerce poder de rei, sacerdote e profeta. Mas sua alardeada autoridade (seu braço) e sua altiva inteligência (seu olho direito), por meio das quais sustenta suas pretensões na terra, são totalmente arruinadas. E ele próprio é lançado vivo na morada da miséria eterna, o lago de fogo (Zc 11.15-17; Ap 19.20).

Ao nosso ver, a estrela caída por ocasião do primeiro “ai” é, sem dúvida alguma, o Anticristo (Ap 8.10,11; 9.12). A que outro personagem do Apocalipse poderia se aplicar tal descrição? As reivindicações espirituais e pretensões religiosas de Satanás são sustentadas e cumpridas pelo Anticristo, enquanto que sua soberania temporal sobre o mundo é estabelecida no reinado e na pessoa do príncipe Romano. A agonia que se segue é agonia da alma e da consciência, e não agonia física. O Anticristo parece ser o instrumento escolhido pelo diabo para aflição da alma e da consciência, enquanto que, para o sofrimento do corpo, a força bruta da Besta recebe total liberdade de ação, satisfazendo-se com cenas de crueldade e derramamento de sangue, atormentando os corpos dos seres humanos.

W. Scott