O CENÁRIO – Um Dia de Ruína e Fracasso
Na primeira epístola a Timóteo, Paulo instruiu os crentes quanto à conduta correta e adequada à ordem na casa de Deus. Nessa segunda epístola, ele nos instrui sobre como devemos nos portar quando as coisas na casa de Deus tiverem caído em desordem. O que se destaca na segunda epístola é que haveria um declínio espiritual generalizado no testemunho Cristão nos últimos dias, e haveria necessidade de sabedoria para como se conduzir em tais tempos.
Essa epístola foi escrita para encorajar Timóteo a servir em um tempo difícil quando as massas na profissão Cristã estavam abandonando Paulo e sua doutrina (2 Tm 1:15). Alerta os crentes quanto ao caráter progressivo da corrupção na Cristandade, que culminaria nos últimos dias quando haveria um abandono generalizado da verdade de Deus. Ela antevê um tempo de ruína e fracasso completos no testemunho Cristão (2 Tm 3:1-8, 4:3-4). Ao mesmo tempo, traça cuidadosamente o caminho em que os fieis devem andar em tempos assim.
Na primeira epístola, a massa de Cristãos é vista como desejando corresponder à suas responsabilidades em manter a ordem na casa de Deus, embora alguns indivíduos tenham provado ser falhos (1 Tm 1:20, 4:1 – “alguns”). Na segunda epístola, é o oposto. Ela vê a massa de Cristãos como tendo falhado (2 Tm 1:15), e apenas alguns indivíduos permanecem fiéis à sua profissão (2 Tm 1:16-18, 4:11).
O que aconteceu na história da Igreja é previsto nessa epístola. Paulo compara a ruína do testemunho Cristão a uma “grande casa” que está cheia de desordem e contaminação (2 Tm 2:20). Na verdade, o início desse abandono já era perceptível quando Paulo escreveu a Timóteo. O Próprio Senhor predisse esse tempo de fracasso e decadência públicos nas parábolas de Mateus 13. Ele disse que quando as coisas fossem entregues nas mãos dos homens no tempo de Sua ausência, o “inimigo” (Satanás) introduziria “joio” (pessoas más), “aves” (espíritos malignos), e “fermento” (más doutrinas). Ao olharmos para a história da profissão Cristã, vemos que isso de fato aconteceu. Os emissários de Satanás agiram por meio de agentes humanos para subverter a verdade de Deus nos corações dos homens. Muita corrupção e desordem foram introduzidas naquilo que leva o nome de Cristo.
É significativo que não há qualquer promessa nesta epístola (ou em qualquer outra parte da Escritura) de uma recuperação do testemunho Cristão após ele ter caído nesse estado corrompido. Pelo contrário, o apóstolo disse a Timóteo que as coisas iriam de mal a pior (2 Tm 3:13). Ele não podia esperar para ver uma restauração à glória anterior da Igreja como encontrada nos primeiros capítulos de Atos, quando todos estavam cheios do Espírito, e todos viviam juntos em feliz unidade, e havia sinais do poder do Espírito. Apocalipse 2-3 revela que a história da Igreja na Terra terminará com uma triste nota de brutal indiferença às reivindicações de Cristo. Não apenas o apóstolo seria rejeitado, como mencionado nesta epístola (2 Tm 1:15), mas o Próprio Senhor seria deixado de fora! (Ap 3:20) Em geral é isso o que acontece atualmente.
Essa condição de brutal abandono da verdade continuará até o Senhor voltar e levar cada um dos crentes verdadeiros do meio da massa de crentes professos (1 Ts 4:15-18). Com esse panorama sombrio diante do apóstolo, ele procura encorajar Timóteo a continuar no serviço ao Senhor. O tema da epístola, portanto, é a responsabilidade individual no serviço em um tempo de fracasso coletivo.
“O Homem de Deus”
A expressão, “o homem de Deus” (1 Sm 2:27, 9:10 etc.), ocorre na Escritura quando a massa do povo professo de Deus falha em sua responsabilidade coletiva. Significa um homem que se posiciona para com Deus e age por Ele quando aqueles que professam conhecer a Deus se provam ser infiéis. Esse termo sempre é usado na forma singular; a Escritura nunca fala de “homens de Deus”. Isso mostra que fidelidade é algo individual quando há uma decadência pública no testemunho do Senhor. A expressão “o homem de Deus”, não é usada nas Escrituras quando as condições são boas entre o povo de Deus, mas quando são ruins. As segundas epístolas no Novo Testamento são particularmente aplicáveis a tais épocas; elas antecipam o fracasso público do povo de Deus e enfatizam a necessidade de fidelidade individual. Portanto, é impressionante ver que Timóteo é chamado de um “homem de Deus” (1 Tm 6:22, 2 Tm 3:17).
Visto que Timóteo era um jovem (1 Tm 4:12), alguns chegaram a conclusão de que essa epístola foi escrita para pessoas jovens que estão lutando com questões da juventude – ou seja, as tentações do mundo, a carne, o diabo, etc. No entanto, ela claramente não foi escrita com essa finalidade. Sugerir que Timóteo estava lutando com o mundo etc. é diminuir o seu caráter exemplar e sua admirável devoção ao Senhor. Ele era um Cristão maduro e piedoso, embora relativamente jovem, que estava totalmente empenhado em fazer a vontade de Deus e servir Seu povo. Portanto, Timóteo não era um Cristão jovem descuidado e indiferente.
Paulo podia dizer a respeito dele, “Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso estado; porque todos buscam o que é seu e não o que é de Cristo Jesus. Mas bem sabeis qual a sua experiência, e que serviu comigo no evangelho, como filho ao pai” (Fp 2:20-22). Ler essa epístola com a ideia equivocada de que ela está se dirigindo a jovens mundanos é tirá-la de seu contexto.
Não estamos dizendo que não podemos aplicar o que diz a epístola aos jovens e descuidados, mas o contexto e a interpretação primária é a de um obreiro mais velho (que está prestes a sair de cena) aconselhando e encorajando um obreiro mais jovem. O objetivo da epístola, portanto, é encorajar Timóteo a carregar fielmente a tocha que estava sendo passada para ele. Por ser uma epístola pastoral – uma epístola que não foi escrita para uma assembleia ou um grupo de assembleias, mas a um indivíduo – ela está cheia de piedoso aconselhamento do apóstolo a Timóteo no tocante a sua vida e serviço ao Senhor. Paulo transmite a ele muitas instruções úteis que têm sido preservadas graciosamente para nós na Palavra de Deus, para que qualquer um que queira servir ao Senhor tenha esses princípios orientadores para o seu serviço. Essa é uma palavra muito necessária atualmente.
- O primeiro capítulo delineia as qualidades morais e espirituais necessárias ao “homem de Deus” em um dia de ruína.
- O segundo capítulo apresenta alguns princípios muito importantes necessários para o serviço em um período assim.
- O terceiro capítulo relata os recursos disponíveis para o servo de Deus a fim de que ele fosse preservado e pudesse ser útil em um tempo assim.
- O quarto capítulo encerra a epístola com alguns incentivos divinos para o serviço que são preparados para estimular o servo do Senhor em Sua obra.