A PROCURA POR UMA ASSEMBLEIA REUNIDA BIBLICAMENTE

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APRESENTAÇÃO

O assunto do que envolve uma assembleia bíblica foi originalmente trazido pelo autor numa série de pregações em Tacoma, Washington (Janeiro de 2010). Não foi possível naquele momento ser tão completo como alguns gostariam, devido ao formato de uma pregação pública. Assim, esta publicação proporcionou ao autor a oportunidade de expandir um pouco as suas observações e, assim, tratar do assunto mais detalhadamente.

É nosso desejo sincero que os pontos abordados neste livro sejam “luz nas trevas” para todos os que estão em busca da verdade (Sl 112:4). Nossa oração é que o leitor obtenha um melhor entendimento da verdade da Igreja, e das disposições práticas de uma assembleia reunida biblicamente e que isso resulte no desejo de colocar essas coisas em prática.

Entretanto deve ser também entendido por todos, que há um custo envolvido em praticar essas verdades. Cada Cristão deve estar preparado para suportar a “reprovação” que vem junto (Hb13:13 – JND). O Senhor valoriza todo e qualquer Cristão que pagou um preço pela verdade, e Ele irá recompensá-lo adequadamente no dia que se aproxima. “Eis que venho sem demora: guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap 3:11).

É com profundo amor e afeição pela Igreja de Deus em geral, e um desejo de ser de ajuda para todos os verdadeiros Cristãos que o presente livro é publicado.

Março/2010

A PROCURA por uma Assembleia Reunida Biblicamente

INTRODUÇÃO

Se um companheiro Cristão viesse a mim e dissesse que estava procurando por uma Igreja com boa base bíblica para frequentar – e estivesse genuinamente buscando a vontade de Deus na questão – o que eu diria a ele? Esta é uma pergunta investigativa. Primeiramente, penso que o elogiaria por ter tido tal exercício, porque a maioria dos Cristãos hoje, ao que parece, não está preocupada sobre onde e como Deus quer que eles estejam reunidos para adoração e ministério. Deparar-se com uma pessoa preocupada com isso é bastante raro realmente, mas é um exercício bom e saudável que todos os Cristãos deveriam ter.

Na tentativa de ajudar a pessoa que está realmente procurando a vontade de Deus sobre o assunto, eu evitaria, tanto quanto possível, menosprezar as várias denominações Cristãs e grupos na Cristandade. Isto tende a colocar as pessoas na defensiva, e pode levá-las a um estado de espírito argumentativo – e todos sabem que pouco proveito obtém-se numa discussão.

Muitos líderes Cristãos diriam a ele: “Vá à igreja da sua escolha”. Isto, eu creio, é um erro, porque faz a pessoa pensar numa linha totalmente errada. Ouvindo tal comentário ele poderia perguntar a si mesmo: “Que tipo de comunhão de igreja eu gostaria?” Ou: “Em que tipo de grupo de igreja eu estaria melhor?” Não acho correto dizer para meu amigo escolher a igreja que ele goste, porque isso faz com que a questão seja de uma escolha pessoal, e não vejo na Palavra de Deus que isso seja uma questão de nossa escolha. Deus tem um modelo simples em Sua Palavra de como ELE queria que os Cristãos se reunissem para adoração e ministério, e a escolha realmente não é deixada a nós. É a maneira de Deus para a adoração e ministério Cristãos que nosso amigo deveria estar procurando; assim, eu não poderia, em sã consciência, dizer a ele para escolher uma comunhão Cristã que simplesmente o agradasse.

Nem diria ao meu amigo, “Oh, venha conosco porque nós fazemos isso da maneira correta.” Não faria isso porque quero que ele obtenha a verdade diretamente de Deus a fim de que ele não estivesse apenas me seguindo. Se eu, ou outro qualquer, o coagisse – independentemente de quão sinceros nossos motivos possam ser – quando viesse um período de provas quanto a manter e andar na verdade de como os Cristãos deveriam se reunir para adoração e ministério, ele provavelmente desistiria, porque no fundo, era apenas eu quem o havia convencido disso. Eu não gostaria que ninguém saísse por aí dizendo, “o Bruce diz isso…” e “o Bruce acredita que…” – como se isso fosse o padrão. Mesmo se o que dissesse fosse a verdade, não creio que seria uma palavra duradoura na alma dele se ele não a obtivesse de Deus.

Os Dois Grandes Recursos do Cristão

Assim sendo, eu diria, como o apóstolo Paulo disse aos anciãos de Éfeso, “Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à Palavra da Sua graça; a Ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados” (At.20:32). Há duas coisas neste verso sobre as quais eu gostaria de chamar a atenção:

  • Encomendando a pessoa “a Deus”, o que implica em ir diretamente a Ele em oração e buscando Sua vontade no assunto.
  • Encomendando a pessoa “à Palavra da Sua graça” o que obviamente, seria consultando as Sagradas Escrituras para luz e direção.

Oração e a Palavra de Deus, portanto, são os dois grandes recursos que temos para nos guiar e nos instruir no caminho de fé. É certo que o Senhor pode usar um instrumento humano para nos ajudar na verdade (At. 8:31), mas em última análise, precisamos obter isso d’Ele. Deus quer que tenhamos a “verdade” em nosso “íntimo” – então realmente a teremos e não iremos abandoná-la mais tarde (Sl 51:6). O Senhor nos advertiu que se não aprendermos a verdade corretamente, ela pode ser tomada de nós. Ele disse, “Vede, pois, como ouvis; porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver até o que parece ter lhe será tirado. (Lc 8:18). Isto mostra que aqueles que meramente conhecem a verdade de uma maneira intelectual, mas que não se apropriaram dela realmente, poderão ver a verdade sendo-lhes tirada. Portanto, encorajaria o meu amigo a obtê-la do Senhor – assim ele a teria de fato. Quando testes e provações vierem, ele vai guardar essas coisas e não se moverá delas, porque ele comprou a verdade e não a venderá. (Pv 23:23).

Disposição Para Fazer a Vontade de Deus

Outra coisa que enfatizaria ao meu amigo que está em busca da verdade é que procurar por ela é um exercício gratificante. Deus não nos desapontará se estivermos genuinamente comprometidos a fazer a Sua vontade. O Senhor disse: “Se alguém quiser fazer a vontade d’Ele, conhecerá a respeito doutrina” (Jo 7:17). A condição colocada nessa promessa é que devemos estar dispostos a “fazer” a vontade d’Ele. Não é suficiente que quiséssemos saber a vontade de Deus; precisamos estar dispostos a fazer a Sua vontade. Em certo sentido, suponho que todos querem saber a vontade de Deus, mas fazê-la é outra coisa.

Isto significa que precisamos ter uma pré-disposição de coração para fazermos a vontade de Deus – seja ela qual for – mesmo que ela venha a colidir com nossos desejos e ideias pessoais. Este é um grande ponto a ser alcançado em nossa alma – estarmos dispostos a fazer Sua vontade, mesmo que isso machuque. O Senhor guiará uma pessoa assim à verdade. “Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o Seu caminho” (Sl 25:9).

Ter um Entendimento dos Tempos

Outra coisa que diria ao meu amigo é que precisamos ter um entendimento dos tempos. Em 1 Timóteo 4:1-2, Paulo disse, “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência”. Ele queria que Timóteo soubesse que haveria um tempo quando aqueles na profissão Cristã desviariam seus ouvidos de ouvir a verdade (2 Tm 4:3-4). Não precisamos ser gênios para saber que vivemos nesses tempos; uma olhada ao redor para as coisas na Cristandade hoje deveria nos convencer.

Meu ponto em mencionar isso ao meu amigo é que ele precisa saber que tem havido muito abandono da verdade de Deus na profissão Cristã nos dias de hoje. Como resultado, muito pouco do que ocorre na Cristandade hoje se parece com o Cristianismo que lemos na Bíblia. Portanto, seria de pouca utilidade para ele olhar para o estado presente de desordem na Cristandade para encontrar a verdade.

Isto significa que precisamos entender onde estamos na história da Igreja. Suponho que seja algo como ir a um grande shopping center. A primeira coisa que você se depara ao entrar num shopping é um balcão que contém um mapa de todas as lojas do shopping e os trajetos para mostrar a direção para encontrá-las. Na parte inferior do mapa haverá uma seta com as seguintes palavras: “VOCÊ ESTÁ AQUI”. Nestes grandes shoppings é preciso ter a orientação de onde você está antes de determinar aonde você quer ir. E é o mesmo quando se trata da confusão na casa de Deus hoje – precisamos saber onde estamos antes de poder saber aonde precisamos ir.

Com essa finalidade, Paulo disse a Timóteo: “Bem sabes isto, que os que estão na Ásia todos se apartaram de mim; entre os quais foram Figelo e Hermógenes” (2 Tm 1:15). Ele queria que Timóteo soubesse o caráter dos dias nos quais foi chamado para servir ao Senhor. Alguns Cristãos, mesmo naqueles tempos iniciais, não queriam o que Paulo ensinava – e mais especialmente quando se tratava da verdade da Igreja e suas disposições práticas para adoração e ministério. É igualmente importante conhecer os dias em que vivemos. Não estamos nos tempos do Pentecostes, ou mesmo em tempos de grande avivamento, como nos anos de 1800, quando havia um grande interesse pela verdade. Estamos vivendo nos “últimos dias” (2 Tm 3:1-8) quando tudo está de cabeça para baixo na profissão Cristã, e há muito abandono da verdade por toda a parte – tanto em princípios como em prática. Se havia Cristãos que não queriam o que Paulo ensinava naqueles dias, podemos estar certos de que há muitos mais nesses últimos dias que não querem seu ensino. Ele e o apóstolo Pedro falaram que as multidões da profissão Cristã nos últimos dias desviariam seus ouvidos da verdade (2 Tm 4:2-4; 2 Pe 2:1-1).

Separação na Casa de Deus

Eu me apressaria em dizer ao meu amigo indagador, que ele não precisaria se desesperar, por conta do grande abandono e confusão na Cristandade, porque Deus antecipou a ruína e graciosamente fez provisão para tais dias naquilo que poderia ser chamado de “epístolas de ajuda”. Essas são as “segundas” epístolas nas nossas bíblias – 2 Coríntios, 2 Tessalonicenses, 2 Timóteo, 2 João. Estas epístolas lidam com a ruína que entrou na profissão Cristã e ordenam o caminho do crente em relação a isso. Há duas coisas em particular que são proeminentes em cada uma dessas “segundas” epístolas:

  • Fracasso no testemunho Cristão de uma maneira ou de outra;
  • A necessidade de separar-se do erro que entrou na profissão Cristã

Isto quer dizer que temos que reconhecer o distanciamento na casa de Deus do que ela é, e nos separarmos disso. Agindo assim, Deus nos dará luz para o próximo passo no caminho. Uma passagem de uma das “segundas” epístolas que eu mencionaria ao meu amigo seria 2 Timóteo 2:19-22: “todo aquele que nomeia o nome do Senhor se retire da iniquidade (injustiça). Ora, em uma grande casa não há apenas vasos de ouro e prata, mas também de madeira e barro; e alguns para honra e outros para desonra. Se, portanto, alguém tiver se purificado a si mesmo destes (vasos), em se separando a si mesmo deles, será um vaso para honra, santificado, útil ao Mestre, preparado para toda boa obra. Foge das paixões da mocidade; e persegue justiça, fé, amor, e paz com aqueles que invocam o Senhor com um coração puro” (JND). Observe a ordem aqui; primeiro vem o exercício de se separar de tudo na grande casa (a profissão Cristã) que é inconsistente com o Senhor, e então nos será dada luz no caminho para encontrar “aqueles” com os quais podemos andar e ter comunhão; aqueles que “com um coração puro, invocam o Senhor”. Esta ordem é encontrada por toda a Escritura – primeiro separar-se daquilo que sabemos que é errado, e então, encontrar o caminho correto que está de acordo com a verdade (Is 1:16-17; Sl 34:14; Rm 12:9, 13:12; 1 Pe 3:11; 3 Jo 11).

Assim, encorajaria meu amigo a agir na luz que ele tem, e separar-se daquilo que vê nas igrejas e que é inconsistente com a Palavra de Deus, e o Senhor dará a ele mais luz no caminho. Abraão passou por um exercício similar quando “saiu, sem saber para onde ia” (Hb 11:8). Quando respondeu ao chamado de Deus e deu aquele passo, Deus o guiou ao lugar onde queria que ele estivesse. No entanto, ele não teria sido guiado àquele lugar se não tivesse dado o primeiro passo.

Um Retorno aos Primeiros Princípios na Palavra

Outra passagem de uma das “segundas” epístolas que eu mencionaria ao meu amigo é 2 João 6-7. Ela nos dá outro importante princípio-guia para estes dias. Diz: “E o amor é este: que andemos segundo os Seus mandamentos. Este é o mandamento, como já desde o princípio ouvistes, que andeis nele. Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne”. O ponto aqui é que nestes dias de abandono, quando há “muitos enganadores” por toda parte, a coisa a ser feita é voltar àquilo que é “desde o princípio”. Precisamos voltar aos primeiros princípios na Palavra e tê-los como nosso guia. Seria sem esperança olhar para qualquer outro lugar.

E porque houve um grande abandono da Palavra de Deus no mundo Cristão, encorajaria meu amigo a deixar toda ideia pré-concebida que ele pudesse ter sobre o assunto e “começar do zero” na procura por uma assembleia reunida biblicamente. Não acredito que “pular de igreja em igreja” seja o caminho para uma pessoa ser conduzida neste exercício; provavelmente ela ficaria ainda mais confusa. A maneira de buscar a verdade neste assunto é indo à própria Palavra de Deus e aprendendo o que Deus diz a esse respeito. Assim, encorajaria meu amigo a procurar as Escrituras. Esta é uma procura que deve ser realizada sobre nossos joelhos e na dependência do Senhor.

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Duas Partes do Assunto de Congregar Juntos para Adoração e Ministério

Acredito que procurar por uma assembleia reunida biblicamente é um exercício duplo. Primeiro, precisamos ver o modelo de assembleia local na Palavra de Deus e em segundo lugar, precisamos entender algo sobre a obra do Espírito em reunir Cristãos onde a verdade da assembleia é praticada. O modelo para uma assembleia Cristã é encontrado predominantemente em 1 Coríntios, no que diz respeito a sua ordem, mas muitas epístolas no Novo Testamento, como 1 Timóteo e Hebreus também são de ajuda. Há também muitas ilustrações instrutivas no livro de Atos.

Como um meio de ajudar essa pessoa que busca a verdade neste assunto, na Parte Um deste livro, vamos procurar ver nas Escrituras o modelo de Deus para Cristãos se reunirem para adoração e ministério. Na Parte Dois, vamos considerar a obra do Espírito em levar Cristãos exercitados ao lugar onde a verdade da assembleia é praticada.