A EPÍSTOLA DE PAULO AOS FILIPENSES – A Epístola da Devoção e Gozo Cristãos

 

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INTRODUÇÃO

A Ocasião da Epístola

Esta epístola é uma carta de agradecimento do apóstolo Paulo aos filipenses por sua comunhão prática (suprimentos e talvez uma oferta monetária – cap. 4:18) que haviam lhe enviado quando estava cativo em Roma. Ao escrever aos santos em Filipos, Paulo aproveitou a oportunidade para contar a eles sobre suas circunstâncias pessoais e relatar como a obra do Senhor estava progredindo em Roma. Além disso, estando ciente da perseguição que os filipenses estavam sofrendo diariamente, incluiu uma palavra encorajadora para permanecerem firmes em seu testemunho e continuarem no caminho da fé, apesar da adversidade. Também lhes deu alguns conselhos práticos sobre como a assembleia poderia ser salva da tentativa do inimigo de destruí-la por meio de conflitos internos.

Os filipenses foram os primeiros convertidos de Paulo na Europa. Sabemos pelo livro dos Atos que ele fez pelo menos três visitas àquela localidade (At 16:12-40, 20:1, 3-6) – e, a partir de então, toda vez que pensava neles sentia gozo em seu coração (Fp 1:4). É claro, a partir de suas observações na epístola, que existia grande afeição entre ele e os filipenses (cap. 1:7 – JND). É sem dúvida a epístola mais pessoal e afetiva que Paulo escreveu a uma assembleia.

É interessante que, ao escrever aos filipenses, Paulo não cita as Escrituras do Velho Testamento. Isso pode ter acontecido porque eram em sua maioria gentios convertidos que não estavam familiarizados com as Escrituras. É também de se observar que há pouca doutrina na epístola, se é que há alguma. Ele não toca no assunto de pecado nem de expiação. Em vez disso, estando profundamente comovido por seu amor e cuidado, a quase 1.300 quilômetros deles e preso a uma corrente, ele escreve da plenitude de seu coração para agradecer-lhes por sua oferta e encorajá-los em questões práticas relativas a andar com o Senhor. Vemos disto que, embora Paulo estivesse em cativeiro e não mais livre para continuar seu ministério apostólico entre as assembleias, aproveitava todas as oportunidades para ministrar a seus irmãos por carta. A vinda de Epafrodito com a oferta dos filipenses proporcionou-lhe tal oportunidade. Ele deu a Epafrodito esta carta para levar a eles em sua viagem de volta a Filipos.

Esta, assim chamada, epístola da “prisão” é um complemento de duas outras epístolas da “prisão” (Efésios e Colossenses) que Paulo escreveu sob inspiração divina enquanto estava encarcerado em Roma. Esta epístola em nossas Bíblias, fica entre Efésios e Colossenses que revelam a verdade do Mistério, em seus aspectos presente e futuro. Ao passo que, em Filipenses, vemos um homem andando no bem da verdade do Mistério e falando de seu regozijo pessoal nisso. Assim, a epístola aos Filipenses nos dá uma imagem do estado de alma que deve marcar alguém que conhece a verdade do Mistério e vive no bem dela.

A Vida Interior de Paulo Revelada 
Exibindo uma Experiência Cristã Normal

Esta epístola é única na medida em que nos dá uma visão extraordinária da vida interior de Paulo, de uma forma que nenhuma outra epístola faz. Em quatro capítulos curtos, ele faz referência a si mesmo cerca de 90 vezes! A partir disso, vemos que ele se sentia à vontade para falar de si mesmo aos filipenses de uma maneira que faria somente com aqueles que eram seus amigos mais íntimos. Paulo sabia que eles o tinham em seus corações (Fp 1:7), em suas orações (Fp 1:19) e que haviam provado seu amor para com ele, dando-lhe da sua profunda pobreza – e isso mais do que uma vez (2 Co 8:1-2; Fp 4:15-16). Tendo esse vínculo com os filipenses, Paulo teve a liberdade de revelar seus sentimentos e desejos interiores de uma maneira extremamente aberta e de uma forma que não fez com qualquer outra companhia de crentes. Ele escreve espontânea e informalmente, como um amigo derramando seu coração para aqueles que o amam. Ao fazer isso, vemos a experiência de um homem em Cristo vivendo em comunhão com Deus e no gozo de suas bênçãos celestiais.

Assim, a epístola nos dá a oportunidade de examinar os pensamentos e sentimentos interiores de Paulo e ver em primeira mão o que deve caracterizar a vida Cristã normal. Sendo permitido sondar sua alma, como esta epístola nos proporciona, descobrimos que há apenas uma coisa nela – Cristo! Cristo e Seus interesses eram o resumo e a essência de sua vida, como ele diz tão bem no capítulo 1:21 – Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. J. N. Darby disse que nesta epístola “o Cristão é visto como em uma corrida, e nela está inteiramente sob o poder do Espírito de Deus; a carne não é vista agindo” (Practical Thoughts on Philippians, pág. 21). Ele também disse: “A epístola aos Filipenses é um padrão da experiência Cristã, como ela deveria ser” (Miscellaneous Writings of J. N. Darby , vol. 4, pág. 209). Assim, a epístola é a expressão de um coração que percebeu Cristo ser “tudo” (Cl 3:11).

Cristo – “Pedra de Toque” de Deus

Cristo em glória é a Pedra de Toque de Deus; Ele olha para tudo a partir desse único ponto de vista. Ele mede, avalia e prova tudo o que fazemos na Terra em relação ao Seu Filho. Diariamente Deus, por assim dizer, vem examinar nossas vidas. Ele procura uma coisa – a medida na qual as coisas são feitas em relação a Cristo. Se as coisas que fazemos são feitas por Ele e para Sua glória (1 Co 10:31; Cl 3:17, 23), elas serão aprovadas por Deus e serão recompensadas em um dia vindouro (2 Co 5:9-10). Mas se as coisas que fazemos não alcançam a Sua aprovação, serão rejeitadas e queimadas e o crente sofrerá perda (1 Co 3:12-15). A grande lição que o tribunal de Cristo nos ensina é que tudo o que é feito para Ele é precioso para Deus, tanto é que levaremos esses feitos para a eternidade – e tudo mais é sem valor. Saber disso deve fazer com que todo Cristão sóbrio seja seriamente exercitado sobre o uso correto de seu tempo e energia e a orar nesse sentido: Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios” (Sl 90:12). Nesta epístola, vemos um homem que fez exatamente isso. Ele pesou as coisas em relação à Pedra de Toque de Deus e, consequentemente, está vivendo com as prioridades corretas.

Uma Epístola de Gozo

Com uma ocupação tão singular e gloriosa envolvendo o coração e a mente de Paulo, o vemos regozijando-se em espírito – embora estivesse vivendo em condições muito desfavoráveis! Estando em tal estado de alma, não o encontramos reclamando de sua porção na vida, nem o vemos pedindo uma mudança em suas circunstâncias. Pelo contrário, ele é visto vivendo com Deus acima de tudo. E, sendo absorvido por seu Objeto, está cheio de gozo. Uma rápida pesquisa na epístola indicará que o gozo é o tema implícito do início ao fim. De fato, as palavras “gozo”“alegria” “regozijo” são mencionadas 14 vezes! Por isso, foi justamente chamada de “A Epístola da Devoção e Gozo Cristãos”.

Aprendemos com isso que o segredo para se ter uma vida Cristã feliz e frutífera é fazer de Cristo o nosso único objetivo e nos dedicar a promovermos Seus interesses na Terra. É triste, mas parece que relativamente poucos Cristãos descobriram esse segredo. (Não queremos dizer que a pessoa que faz de Cristo o seu tudo nunca terá um problema ou uma tristeza, mas que O terá como seu mais querido Amigo para caminhar entre os altos e baixos da vida – e assim tornar possível ter gozo mesmo no meio da provação). A epístola, portanto, apresenta uma exposição prática da caminhada Cristã, movida pelo Espírito Santo. Quando percebemos que esses escritos eram a experiência de um prisioneiro vivendo em condições desvantajosas, isso torna a epístola muito mais convincente.

Uma Epístola do Deserto

Esta epístola é uma das assim chamadas epístolas do “deserto” – 1 Coríntios, Filipenses, Hebreus e 1 Pedro. Isto é, o crente é visto na Terra sendo testado, caminhando na senda da fé, com Cristo no céu, diante de si como seu objetivo. Um traço característico das epístolas do “deserto” é a presença de vários “se” no texto. Na verdade, existem dois tipos de “se” na Escritura que são bem diferentes – o “se” da condição e o “se” do argumento. Um “se” de condição supõe que há uma possibilidade de falha ocorrer no caminho, resultante de uma pessoa não ser um verdadeiro crente, ou da fé nos justos que falham de alguma forma. Um “se” de argumento, por outro lado, tem a ver com o fato de o escritor estabelecer certos fatos em sua apresentação e, em seguida, basear-se nesses fatos para defender certo ponto. Quando este é o caso, a palavra “desde” pode ser substituída por “se”.

Tem sido dito frequentemente que em Efésios não há “se” de condição. Naquela epístola, os santos não são vistos como sendo testados na Terra, mas sim sentados juntos nos lugares celestiais em Cristo (Ef 2:6). Em Colossenses, por outro lado, há os dois “se”: um “se” de condição no capítulo 1:23 e vários “se” de argumentação nos capítulos 2:20 e 3:1. Hebreus também tem os dois tipos de “se”. Sendo Filipenses uma epístola do deserto, Paulo não considera que tenha alcançado alguma coisa (Fp 3:12). Ele se vê na estrada, mas não está lá ainda. Cristo tomou conta dele e ele está trilhando a senda com esse objetivo, que é estar com e ser como Cristo.

De certas expressões na epístola, em geral é percebido que Paulo estava chegando ao fim de seus dois anos em cativeiro em Roma (At 28:30). (Ele tinha sido mantido em cativeiro em Cesaréia por dois anos antes disso, totalizando quatro anos – At 24:27). Seu futuro neste momento estava em uma de duas coisas – ele poderia ser absolvido diante do imperador Nero e libertado, ou ele seria martirizado. Estudiosos dizem que esta foi a última epístola inspirada de Paulo que ele escreveu a uma assembleia.

O Tema dos Capítulos

Capítulo 1 – Cristo, o propósito da vida Cristã (v. 21).

Capítulo 2 – Cristo, o padrão para a vida Cristã (vs. 5-8).

Capítulo 3 – Cristo, o prêmio da vida Cristã (v. 14).

Capítulo 4 – Cristo, o poder da vida Cristã (v. 13).

Capítulo 1 – Cristo, o motivo para viver (v. 21).

Capítulo 2 – Cristo, o modelo para viver (vs. 5-8).

Capítulo 3 – Cristo, a marca para viver (v. 14).

Capítulo 4 – Cristo, o manancial para viver (v. 13).