A EPÍSTOLA DE PAULO AO TITO E FILEMOM – A Verdade conforme a Piedade e a Cortesia Cristã

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INTRODUÇÃO

Essa é uma das quatro epístolas “pastorais” (1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom) que o apóstolo Paulo escreveu sob inspiração divina. Elas são chamadas assim porque não são escritas para assembleias ou grupos de pessoas, mas para indivíduos, dando-lhes conselhos e instruções pessoais. (O apóstolo João também escreveu duas epístolas pastorais – 2 e 3 João).

Esta é a única epístola escrita para um gentio; também existem apenas dois livros na Bíblia escritos por um gentio (Lucas) – o Evangelho de Lucas e o livro de Atos. W. Kelly disse que, a julgar pelas evidências internas da epístola, parece ter sido escrita depois que Paulo escreveu sua primeira epístola a Timóteo, mas antes de escrever sua segunda epístola para ele (The Epistles of Paul, pág. 131). Assemelha-se a 1 Timóteo, pois ambas as epístolas lidam com a ordem na casa de Deus e se concentram muito na conduta que é adequada a essa ordem. A epístola a Tito não é, no entanto, uma repetição da primeira epístola a Timóteo. Juntamente com a necessidade de sã doutrina, a epístola a Tito insiste em “boas obras” que manifestam a realidade da fé de alguém. Boas obras são mencionadas em todos os capítulos (caps. 1:16, 2:7, 14, 3:1, 8, 14) e, portanto, essa epístola foi chamada de “A Epístola das Boas Obras”.

Não se sabe como o evangelho chegou a Creta. Pode ter sido pelos judeus de Creta que ouviram Pedro pregar em Jerusalém no dia de Pentecostes (At 2:11). Na época em que esta epístola foi redigida, havia várias assembleias Cristãs na ilha.

Sua História Pessoal

Tito aparece pela primeira vez no registro divino de Antioquia como um convertido gentio do apóstolo Paulo (Gl 2:1-3). Ele foi trazido a Jerusalém como um “caso precedente”, sobre uma questão que havia surgido sobre se os gentios crentes precisavam ser circuncidados. No conselho apostólico, Tiago apontou na Escritura que na conversão dos gentios no reino vindouro do Messias de Israel, Deus não imporá sobre eles essa condição (At 15). Tiago concluiu que, uma vez que isso não será necessário para os crentes gentios no mundo vindouro (o Milênio), então não seria necessário para os crentes gentios hoje quando Deus está chamando aqueles que compõem a Igreja. Tito, portanto, não foi obrigado a ser circuncidado.

A próxima vez que Tito aparece na Escritura, o vemos trabalhando com Paulo em conexão com a recepção pelos coríntios da primeira epístola de Paulo escrita a eles (2 Co 2:13, 7:5-7, 13-14). Ele também levou a segunda epístola de Paulo aos coríntios e cuidou de assuntos entre eles relacionados à coleta dos santos aos pobres na Judeia (2 Co 8:6, 16-17, 23, 12:18).

Uma outra vez que lemos sobre Tito, ele é visto com Paulo em Creta, e é deixado lá para nomear anciãos (Tt 1:5). Depois de fazer isso, ele se encontraria com Paulo em Nicópolis, no oeste da Grécia (Tito 3:12).

Tito é visto pela última vez com Paulo em Roma, onde Paulo ficou em cativeiro pela segunda vez e prestes a ser executado pelas autoridades romanas. De lá, Tito foi para a Dalmácia (2 Tm 4:10).

Sendo um servo fiel do Senhor, Paulo chamou Tito de “irmão” (2 Co 2:13), de “companheiro”, de “cooperador” (2 Co 8:23) e de “meu verdadeiro filho”(Tito 1:4). Embora Paulo tenha valorizado muito Tito, ele não fala com ele com a mesma intimidade que falava com Timóteo. No entanto, ele era um homem muito confiável, e é por isso que Paulo delegou a ele a responsabilidade de levar a coleta das assembleias gentias aos santos pobres da Judeia. O cuidado de Paulo para que a integridade de Tito fosse mantida diante de todos, o levou a enviar “um irmão” (2 Co 8:18) com ele, para que a entrega dos fundos estivesse acima de qualquer suspeita e que Tito não pudesse ser acusado de negligência ou furto nessas questões de dinheiro (2 Co 13:1).

A Ocasião da Epístola

Naqueles dias, as assembleias em Creta estavam em um estado de desordem devido aos mestres judaizantes trazendo doutrinas e práticas errôneas. Esses homens haviam conseguido um papel de liderança nessas assembleias, mas, infelizmente, não estavam genuinamente preocupados com o bem-estar espiritual dos santos, como deveriam estar os verdadeiros pastores. Em vez de liderar os santos a seguirem Cristo, eles os estavam explorando para obter ganhos monetários! Além da confusão, estava o problema do caráter dos cretenses – serem “mentirosos” e “ventres [glutões – AIBB] preguiçosos” (cap. 1:12). Desnescessário dizer que isso estava tendo um impacto negativo no testemunho deles como Cristãos.

Tito deveria corrigir essas coisas nomeando anciãos que fossem firmes na sã doutrina e cuja vida fosse de caráter excepcional. Esses homens deveriam manter a Palavra fielmente e insistir na verdade sendo ensinada nas assembleias, e, assim, refutar os contraditores. Além de estabelecer anciãos, Tito deveria instruir os santos em uma linha de conduta que estivesse de acordo com a ordem moral de Deus na assembleia (cap. 1), no lar (cap. 2) e diante do mundo (cap. 3).

A Relevância Prática da Epístola em Nossos Dias

A aplicação prática dessa epístola é de grande importância hoje, pois há um número crescente de assembleias Cristãs que têm homens na posição de liderança que não têm, no coração, os melhores interesses pelo rebanho. Essas pessoas precisam ser removidas e substituídas por homens qualificados moral e espiritualmente para liderar as assembleias locais. A pergunta é: “Como isso deve ser feito, já que hoje não há na Terra apóstolos ou pessoas delegadas pelos apóstolos para designá-los?” A Escritura não indica que isso deva ser feito da maneira que as assembleias formadas nas linhas congregacionalistas o fazem – as pessoas votam em quem elas gostariam que liderasse a assembleia. Por mais bem-intencionado que isso possa ser, a democracia não é o caminho de Deus para o governo da Igreja. Tampouco a Escritura indica que isso deva ser feito como as denominações episcopais – com o chamado “bispo”, com autoridade sobre um grupo de assembleias em uma região, que dita as regras e sanciona tudo nessas assembleias. A hierarquia criada pelo homem também não é o caminho de Deus para o governo da Igreja.

A resposta está nas observações de Paulo a duas assembleias que não tinham anciãos ordenados – Corinto e Tessalônica. Em Corinto, a assembleia estava em um estado tão carnal que o apóstolo se absteve de ordenar quando esteve lá. Em Tessalônica, todos eles eram novos convertidos, tendo sido salvos apenas em questão de semanas (At 17:1-9) e, como tais, nenhum deles era maduro o suficiente para esse papel (1 Tm 3:6). Mas escrevendo para estas assembleias algum tempo depois, ele lhes deu um princípio pelo qual os santos podiam conhecer aqueles que eram os líderes genuínos e, assim, reconhecê-los como tais, mesmo que não tivessem sido oficialmente ordenados para esse cargo.

É importante entender que, independentemente de haver apóstolos (ou pessoas delegadas pelos apóstolos) disponíveis para designar anciãos oficialmente, Deus ainda está levantando homens pelo Espírito Santo para fazer esse trabalho em várias localidades (At 20:28). E, em dias de fraqueza e falhas, mesmo que esses homens possam não ter todas as qualificações morais para serem oficialmente designados para esse cargo, se pelo menos eles realmente cuidassem do rebanho (1 Co 16:15-16; 1 Ts 5:12-13), os santos deveriam seguir sua liderança. Tudo o que é necessário para os santos é que eles sejam encontrados em um estado de alma correto para reconhecer esses homens por quem eles são e, assim, os ter “em grande estima e amor, por causa da sua obra” (1 Ts 5:13) e ser “submissos” a eles (Hb 13:17 – ARA) e seguir os que nos “presidem” (1 Ts 5:12; 1 Tm 5:17). Quando isso é feito, a assembleia terá os homens adequados e o problema da liderança da assembleia será resolvido.