O FILHO DE DEUS

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Introdução

Desde o advento do Filho do Deus no mundo que as Suas mãos tinham feito, a Sua Pessoa foi objeto de incessante ataque pelo Seu inimigo mortal o diabo. Além disso, na carne com sua imutável inimizade contra Deus, o diabo sempre encontrou um instrumento pronto para empreende a sua guerra contra Aquele que foi manifestado para destruir as obras do diabo.

Por outro lado, durante o longo período de ausência de Cristo, o Espírito Santo tem sido a testemunha permanente da glória do Filho. Guiando os crentes em toda a verdade, e mostrando a eles as coisas de Cristo, Ele os modelou em vasos preparados para expressar a graça e a perfeição de Cristo.

E assim como “o dia declina” e “vão se estendendo as sombras da tarde”, como os ataques se tornam mais persistentes, e a batalha se torna mais feroz, assim também se torna mais imperativo que todo santo autêntico dê um testemunho claro e inequívoco da glória do Filho de Deus. O amor não estará contente com nenhum som incerto quanto Àquele a quem devemos toda a bênção hoje e eternamente. O amor estará muito zeloso de qualquer menosprezo lançado sobre a fama Daquele de quem todo crente pode dizer “o Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”.

A discussão sobre um tema tão santo todos desaprovariam. Os nossos instintos espirituais nos advertem que discutir sobre a Sua Pessoa é perder o contato com Ele. Quem poderia discutir a Pessoa de Cristo na presença de Cristo?

Por isso que possamos também todos nós sentir o perigo de sermos atraídos para a controvérsia sobre um tema tão santo, muito embora seja em honesta diligência para encontrar e expor o erro. A história, passada e presente, não nos advertem que muitas vezes aqueles que se levantam para combater uma heresia caem em uma heresia oposta? A palavra é “diligentemente batalhar pela fé”, embora de vez em quando possa parecer como se tivéssemos interpretado essa Escritura como uma exortação para combater diligentemente o erro. Estamos longe de dizer que nunca devemos combater o errado; mas vamos nos lembrar que em assim fazendo estamos ocupados com o que a mente do homem propôs, e por isso estamos em perigo de pensar que podemos descobrir a mente do homem pelo poder da nossa própria mente. No combate pela fé estamos ocupados com o que o Deus revelou, e a própria grandeza da verdade nos lança sobre Deus; e, lançados sobre Ele, podemos contar com o Seu suporte.

Por isso, enquanto sentimos o perigo da discussão ou controvérsia devemos também sentir a constante necessidade de combater pela fé.

Ao contendermos pela verdade devemos nos voltar inevitavelmente à Escritura da verdade, nos lembrando que está escrito: “Não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus” (1 Co 2: 12). Através da frouxidão da afeição podemos não conseguir aproveitar do que é revelado; ou através da atividade da nossa mente podemos ir além do que está escrito. Podemos então tomar conhecimento, buscando com apressada afeição, e com a mente controlada pelo Espírito entrar mais plenamente em tudo o que foi revelado acerca da Pessoa do Filho sem ir além daquilo que está escrito. Contemplar a glória do Filho, a maravilha da encarnação, ou perfeição da Sua humanidade, é entrar em uma região onde a especulação humana, e as nossas próprias conjeturas, não devem ter lugar. Na presença da Sua glória o próprio Serafim dobra as suas asas sobre a sua face, os profetas enrolam seu manto sobre a sua face, e Moisés, o homem de Deus, tira os seus sapatos dos pés. E embora neste dia da graça vejamos a glória do Senhor “com o rosto descoberto”, faça com que isso seja com “os pés descalços” para que nos aproximemos dos mistérios santos que envolvem a Sua Pessoa.

Entre os muitos privilégios dados ao povo do Senhor nenhum pode ser maior do que o de manter a glória do Filho em meio às sombras que se estendem pela aproximação da apostasia. Possamos nós ser achados como administradores fiéis dos mistérios de Deus, e fortalecidos nessa graça que sozinha nos capacitará a eliminar a nós mesmos, tornando tudo de Cristo, e “O COROANDO COMO O SENHOR DE TUDO”.

A Deidade de Cristo

Tudo no cristianismo é baseado na existência não criada Daquele que criou todas as coisas. Colocar em questão a Deidade do Filho é minar o fundamento sobre a qual toda a bênção para o homem está baseada. Não importa o que os elaborados sistemas religiosos dos homens possam construir, ou quanto possam professar honrar o nome de Cristo, se não estiverem edificando sobre este fundamento tudo se arruinará.

A Deidade absoluta do Filho não é trazida para diante de nós em muitas passagens da Escritura, mas em nenhuma mais impressionantemente do que nos versos iniciais do Evangelho de João. Este Evangelho abre com a sublime afirmação “no princípio era o Verbo [Palavra]”. Todas as coisas criadas, e todos os seres criados no universo tiveram um princípio, mas a Palavra estava no princípio. No princípio de todas as coisas a Palavra estava lá, sem nenhum começo. “No princípio era a Palavra”, é a afirmação formal da existência eterna da Palavra.

Então nos é dito “o Verbo [Palavra] estava com Deus.” Ele era uma Pessoa distinta na Divindade, pois Ele estava “com Deus.” Além disso, lemos “o Verbo [Palavra] era Deus”. Ainda que distinto em Pessoa, não era diferente na natureza, pois era Deus – uma Pessoa divina.

Então temos a afirmação adicional: “Ele estava no princípio com Deus”. A mente do homem poderia argumentar, e de fato fez isso, que embora seja verdade que a Palavra agora é uma Pessoa distinta, contudo Ele não foi sempre assim. Mas esse verso reprova tal pensamento e nos diz claramente que a Sua Personalidade distinta é tão eterna quanto a Sua deidade.

Aqui então temos o fundamento sólido da nossa fé cristã – a glória da Pessoa do Filho – uma Pessoa eterna, uma Pessoa distinta, uma Pessoa Divina, e uma Pessoa eternamente distinta.

Muitas outras passagens são igualmente claras no testemunho da Deidade do Filho, mas mais uma Escritura direta pode ser citada. Em Hebreus 1 o Filho é intitulado como Deus. “Mas, do Filho, diz: O Deus, o Teu trono subsiste pelos séculos dos séculos”. Ele é adorado pelos Anjos; no princípio pôs os fundamentos da terra. Ele é tratado como o Deus eterno e imutável – “Tu permanecerás” e “Tu és o mesmo”.

A Escritura deste modo dá um testemunho direto e definido da Deidade absoluta do Filho. Uma dificuldade pode surgir, contudo, na mente de alguns, em razão de certas expressões usadas com relação ao Filho, as quais podem ser resumidamente examinadas:

Primeiro lemos do Filho como o Filho unigênito. Poderia se pensar que a palavra “unigênito” necessariamente implica em um nascimento e um princípio. Se a fé é incapaz de satisfazer essa dificuldade ela sabe muito bem que a Escritura não pode contradizer-se, e as afirmações claras dos versos iniciais do Evangelho de João impedem tal interpretação. Mas a Escritura dá alguma luz quanto ao significado da palavra “unigênito” aplicada ao Filho? Ela seguramente dá. A palavra ocorre nove vezes no Novo Testamento, e em cinco dessas ocasiões são aplicadas ao Filho (Jo 1:14, 18; Jo 3:16, 18; 1 Jo 4:9). Uma passagem – Hebreus 11:17 – é especialmente instrutiva quanto a exposição do significado com o qual a palavra é usada. Ali lemos: “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito”. É evidente que o termo “unigênito” não pode significar que Isaque foi o único filho nascido de Abraão, pois sabemos que ele teve outros filhos. É igualmente claro que houve um relacionamento especial entre Isaque e Abraão que fosse único, e não pertencesse a nenhum outro filho. Seguramente é essa relação única que o termo “unigênito” é usado para exprimir. Enquanto a Escritura torna muito claro que há Pessoas distintas na Divindade, ela também mostra que as Pessoas da Divindade não são independentes, mas relacionadas. E, assim como com Abraão e Isaque, também com as Pessoas Divinas, a palavra “unigênito” é usada para anunciar o relacionamento que existe eternamente entre o Filho e o Pai. “Vimos”, diz o apóstolo, “a Sua glória, como a glória de um unigênito com um Pai” (Jo 1:14 N.V.); lemos novamente “do Filho unigênito no seio do Pai” – passagens que trazem para diante de nós a mutualidade do afeto divino e eterno entre o Pai e o Filho. O Pai que se deleita no Filho como um unigênito; o Filho no seio do Pai se alegra no amor do Pai. Bem sabemos que os crentes são amados com o mesmo amor com que o Pai amou o Filho como Homem (Jo 17:23), mas para sempre haverá afeição especial entre as Pessoas Divinas – Pai e Filho – a qual nenhuma outra pessoa compartilhará, e que é anunciada pela palavra “unigênito”.

Além disso, temos a palavra “gerar” usada com relação ao Filho no Salmo 2 onde lemos: “Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei”. Esta passagem é citada em Atos 13:33, Hebreus 1:5 e Hebreus 5:5. Isso, contudo, não apresenta nenhuma dificuldade já que claramente se refere a Cristo como um homem, o Ungido e Rei de Jeová, em relação a este mundo. As expressões usadas: “o monte Sião”, “os fins da terra” e “hoje”, estão claramente relacionadas com a terra e o tempo, por essa razão confirmam esta compreensão.

Finalmente temos a palavra “primogênito”, usada com relação a Cristo, anunciando a Sua preeminência em relação às pessoas, e coisas, no tempo, assim como “unigênito” anuncia o Seu relacionamento eterno com o Pai antes que existisse o tempo.

Em adição às declarações positivas da Deidade do Filho nas Escrituras diretas às quais foi feita alusão, há outras passagens, e outras formas, ás quais podemos nos referir resumidamente, e que, se em uma forma menos positiva, contudo, talvez, mais movimentada, apresentam a Deidade do Filho para a afeição do Seu povo.

A reivindicação de ser um com o Pai envolve a Sua Deidade. O Senhor pode dizer que: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10:30). Ao mesmo tempo os Seus inimigos respondem: “Tu sendo Homem Te fazes Deus”. A verdade de fato é que, sendo Deus se tornou Homem, mas pelo menos eles corretamente reconhecem que Aquele que utiliza tais palavras está reivindicando a Deidade.

A reivindicação de honras iguais com o Pai envolve a Deidade. Ele pode dizer: “E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo; para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou”. (Jo 5:22, 23).

A reivindicação da preexistência envolve a Sua Deidade. Ele pode dizer: “Antes de que Abraão fosse, Eu sou”. Isso é verdadeiramente uma reivindicação de preexistência, mas é mais, pois o Senhor não diz: “Eu fui”, mas “EU SOU”. Isso é a consciência da existência eterna, bem como a reivindicação da preexistência. Essa é a linguagem Daquele que não conhece passado, e não conhecerá futuro – Aquele para quem o tempo é como se não existisse, que não tem nem começo nem fim – o Eterno EU SOU.

A Sua reivindicação da autoridade absoluta envolve a Sua Deidade. Os profetas abrem as suas declarações inspiradas com: “Assim disse o Senhor”. Eles apelam aos seus ouvintes na autoridade do Senhor. Diferentemente com os dizeres de Cristo os quais são introduzidos com: “Em verdade em verdade vos digo”. Ele não pode fazer nenhuma apelação a uma autoridade mais alta já que Ele é o Senhor.

As reivindicações pessoais do Senhor envolvem a Sua Deidade. Os outros testemunham das dignidades do Senhor. Ele as reivindica para Ele mesmo. Davi pode dizer: “O Senhor é o meu pastor”, mas Cristo pode dizer: “Eu sou o Bom Pastor”. João o Batista pode testemunhar da luz; o Senhor pode dizer: “Eu sou a Luz”. Marta pode dar o seu testemunho da ressurreição, dizendo do irmão morto: “Sei que ele ressuscitará”; o Senhor pode responder: “Eu sou a ressurreição e a vida”.

O fato de que era um objetivo para o céu, proclama a Sua Deidade. Os outros a serem abençoados devem ter um objetivo fora deles; Jesus era o objetivo do céu ao em vez de ter um objetivo lá. Tiago, levantando os olhos, encontra em Jesus um Objetivo glorioso no céu que o apóia naquela última passagem difícil em seu caminho para a glória. Mas o céu olha para baixo para Jesus, e a voz do Pai declara: “Este é o Meu Filho amado, em quem Me agradado”.

O fato de que congrega a Si mesmo é uma prova de Sua Deidade. Ele pode dizer: “Vinde a Mim”. Isso realmente foi dito, não fosse Ele Deus isso teria sido assustador. Para alguém que fosse apenas um homem usar tais palavras teria sido uma tentativa de transformar os homens em Deus.

As Suas palavras proclamam a Sua Deidade. Quão verdadeiro é o veredicto do mundo: “Nunca um homem falou como este Homem”. Quando ouvimos Jesus ao lado do sepulcro dizendo palavras sensível de conforto ás mulheres com o coração partido, e então, em pouco tempo, passamos ao cenáculo, e ouvimos as palavras elevadas do último discurso, que transportam o nosso coração para além das tristezas da terra para a casa do Pai, percebemos de fato que estamos na presença do Deus de quem está escrito: “Ele sara os quebrantados de coração… conta o número das estrelas” (Sl 147:3, 4).

Esses são alguns aspectos claros que nos testemunham da glória Divina de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Meditando na Escritura a qual, direta ou indiretamente, fala da Sua Deidade e entra em alguma pequena medida no seu significado profundo, seguramente nos voltamos Àquele de quem ela fala, encantados confessamos:

Tu és a Palavra eterna,

O único Filho do Pai;

Deus manifesto, Deus visto e ouvido,

Aquele amado do Céu;

Digno, Oh Cordeiro de Deus, Tu és

De que todo joelho se dobre a Ti.

A Encarnação

Para que tenhamos claramente diante de nós a grande verdade da encarnação será melhor citar as seguintes Escrituras que se referem de um modo direto a essa verdade monumental:

“O Verbo se fez carne” – João 1:14.

“Aquele que se manifestou em carne” – 1 Timóteo 3:16.

“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz” – Filipenses 2:5-8.

“E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” – Hebreus 2:14.

“Por isso, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste” – Hebreus 10:5.

“Jesus Cristo veio em carne” – 1 João 4:3.

Essas passagens claramente mostram que a verdade da encarnação consiste no grande fato de que uma Pessoa Divina – o Filho – se tornou carne. Tomou a forma de um escravo, tomou um lugar na semelhança dos homens, foi encontrado na figura como de um homem, participou do sangue e da carne, e viveu no corpo preparado para Ele.

O que pode exceder a maravilha da encarnação? “Deus manifestado em carne”. Manifestação supõe uma existência prévia, mas uma existência escondida; e que Aquele até aqui escondido vem a se manifestar. Aquele que em Seu próprio Ser essencial vive “na luz à qual nenhum homem pode se aproximar, Aquele que nenhum homem viu ou pode ver”, se torna manifesto em carne – foi visto pelos anjos, enquanto os corações adoradores dos seus discípulos puderam dizer “o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida”.

Ainda mais do que isso a forma da encarnação é tão maravilhosa quanto o é o fato, pois lemos: “Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura (Lc 2:12)” – a resposta divina ao clamor que subiu de um coração humano: “Oh! se fendesses os céus, e descesses” (Is 64:1). Deus de fato desceu, embora não da maneira como o profeta desejou – como fogo que derrete e água fervente, para fazer as nações tremerem em Sua presença – Ele respondeu ao clamor, mas do Seu próprio modo e segundo o Seu próprio coração, de uma forma, de fato, que acalma os nossos temores e cativa o coração que é tocado pela graça e amor Divinos. Realmente foi dito: “nada na vida humana nos faz tão em casa… como uma criança em seu berço”. Deus se aproximou de nós ao ponto mais baixo da nossa fraqueza, e na maior profundidade da nossa pobreza. Ele ignorou a cidade imperial de Roma, passou pela cidade real de Jerusalém, e escolheu a Belém, embora “a menor dentre as milhares de Judá”, e até mesmo passou pela pobre estadia que a taberna rústica poderia suprir e escolheu o abrigo do estábulo dos bois. Ali no estábulo em Belém Aquele “cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”, foi trazido e colocado em uma manjedoura. O ventre da virgem, a manjedoura de Belém, os braços de Simeão, e a casa de Nazaré marcam estágios dessa história maravilhosa do Filho Encarnado – Deus manifestado em carne.

Qual, podemos perguntar, foi o grande propósito da encarnação? A Escritura que tão vivamente apresenta a encarnação, fala com igual clareza do propósito da encarnação. Tendo declarado o grande fato de que “a Palavra se tornou carne”, o apóstolo passa a nos dizer que Aquele que veio em carne “habitou entre nós”, e ainda mais, que Aquele que habitou entre nós é o Filho Unigênito, que proclama o Pai. Aqui seguramente temos uma esplendorosa notificação do duplo propósito da encarnação. Deus habitando no meio dos homens, e Deus sendo conhecido pelos homens.

Se o primeiro passo para o cumprimento desse abençoado objetivo foi dado naquele grande dia quando a Palavra se fez carne e viveu entre nós, o último passo da jornada será alcançado naquele ainda maior quando, no novo céu e a nova terra o tabernáculo do Deus estará com os homens, e Ele viverá com eles, e eles serão Seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Sabemos de fato que entre o começo e o fim desta grande viagem há a inevitavelmente vinda da Cruz, e a grande obra de expiação. Já que o homem é caído e culpado, e que Deus deve habitar nos homens, isso deve ser com homens tornados ajustados a Deus pela obra de Seu próprio Filho – uma obra que glorifica a Deus e tira o pecado do homem. A encarnação envolve a Cruz e leva à glória. E quando finalmente essa glória é alcançada, Deus habitará com infinita satisfação no meio de um povo tornado infinitamente feliz no conhecimento Dele.

Além disso, se as Escrituras nos revelam a maravilha e o propósito da encarnação, elas igualmente têm cuidado em guardar a glória Daquele que se tornou encarnado. A encarnação deu ao homem caído a oportunidade de expressar em palavra e feito a inimizade do seu coração contra seu Deus. O Próprio Senhor pode dizer: “Pois o zelo da tua casa me devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim” (Sl 69:9). Tal é o ódio do homem para com Deus que ataca cada Pessoa da Divindade, mas por causa da encarnação a Pessoa do Filho foi sempre o objetivo especial da hostilidade do homem. Os homens valeram-se da humilde graça da Sua humanidade para negar as glórias de Sua Deidade, e colocar em questão a Sua perfeição moral. As Escrituras anteciparam a maldade dos homens pela clara revelação de que a encarnação do Filho não implica em nenhuma mudança em Sua Pessoa gloriosa, e não comunica nenhuma mancha da humanidade caída.

Quanto à glória da Sua Pessoa, a Escritura é cuidadosa em mostrar que a Encarnação não implica em nenhuma mudança na Pessoa, e nenhuma adição à Pessoa, Daquele que se tornou encarnado. Ele foi sempre o Filho e permanece o Filho. Houve de fato uma grande modificação na “forma” que Ele tomou, a “semelhança” na qual Ele foi encontrado e a natureza da qual Ele compartilhou, mas não houve nenhuma mudança quanto à Sua Pessoa; nada daquilo que na graça Ele se tornou, pode acrescentar, ou tirar daquilo que Ele era. Não houve dupla personalidade pelo Filho se tornar encarnado. Ele pode dizer: “Eu e o Pai somos um”, Ele nunca disse que “Eu e o Filho somos um”, já que era o Filho, e a humanidade que tomou não confere a Ele uma personalidade nova distinta, ou em conjunto com a Pessoa do Filho. A Pessoa era uma e a essa nada poderia ser acrescentado pelo que se tornou. Ele veio do Pai, enviado pelo Pai, tendo a mesma natureza do Pai, mas nascido de uma mulher, e por isso participante da natureza humana, embora sempre permanecendo uma Pessoa Divina. Não vemos duas pessoas unidas em Cristo, como alguns falsamente ensinaram, mas duas naturezas em Uma Pessoa, que são seguramente distintas embora nunca mais seram vistas como separadas.

Ele, pelo nascimento, participou da natureza humana embora permanecendo sempre uma Pessoa Divina; pela graça, participamos da natureza divina embora permanecendo sempre pessoas humanas.

A personalidade, seja humana ou divina, sempre permanecem a mesma por mais que as condições nas quais pode ser encontrada possam variar.

Um servo bem conhecido do Senhor disse, falando de Cristo: “Ele pode dizer ‘Eu’ como Deus – ‘Antes que Abraão fosse Eu sou’. E Ele pode dizer ‘Eu’ como homem – ‘Colocarei a minha confiança nele’. Mas esses não eram dois ‘Eus’, a pessoa era uma – ‘O Filho’”. Mais uma vez se referindo à Escritura disse: “Li ali de uma Pessoa – a Palavra, existindo na eternidade, Ele mesmo o Criador. Li que aquela mesma Pessoa se tornou carne, um homem na terra entre os homens, um homem real, verdadeiro e individual, mas a mesma abençoada Pessoa – Deus manifestado em carne, o Filho que Deus enviou em semelhança de carne do pecado, o Filho de Deus, vindo de uma mulher. Não há nenhum pensamento de uma modificação na Pessoa, no verdadeiro ‘Eu’. Ele é sempre o mesmo, embora a Sua ‘forma’ seja mudada e a condição na qual tem a vida. Quando ‘Ele’ tomou parte na carne e no sangue, quem era ‘Ele’? A identidade pessoal não muda, embora a forma e a condição possam mudar”.

Essas são palavras sadias e sóbrias, e a elas podemos ainda acrescentar o testemunho de outro, que, comentando sobre as palavras de nosso Senhor: “Antes que Abraão fosse EU SOU” muito verdadeiramente observa: “EU SOU é a própria expressão da Sua existência. Enquanto o tempo passa o ‘EU SOU’ permanece inalterado, e quando o tempo tiver passado ‘EU SOU’ subsiste o mesmo”. Esse também é um testemunho verdadeiro de acordo com a Escritura que declara “TU PERMANECES” e “TU ÉS O MESMO”. A mesma Pessoa gloriosa seja no seio do Pai, no ventre da virgem, ou nos braços de Simeão; seja na manjedoura em Belém, no jardim do Getsêmane, ou na Cruz de Calvário; seja antes da fundação do mundo, através das eras do tempo, ou quando o mundo não existirá mais. “DE ETERNIDADE A ETERNIDADE TU ÉS DEUS”.

Além disso, vamos observar que embora o Criador entre em Sua própria criação, e atraia a Sua criação, ainda em assim fazendo Ele nunca deixa de ser o Criador e o Sustentador de todas as coisas. A forma de concepção no ventre da virgem corta o vínculo com Adão – o homem criado. Pela geração Divina o bebê foi formado e cresceu no ventre da virgem. Não é dito que o corpo que Ele tomou foi “criado”, mas que foi “preparado”. Adão foi criado, as mulheres foram formadas de Adão, e Cristo era a “semente da mulher”, e isso por geração Divina. Por essa razão julgamos, com cuidado zeloso o pensamento profano é excluído, que poderia se falar de Cristo como uma “criatura” porque se tornou Homem em Sua própria criação.

Quanto à Sua perfeição moral. Se a glória da Pessoa que se tronou encarnada for cuidadosamente mantida, assim também a Sua Pessoa é zelosamente guardada de toda a mancha da maldade por causa da encarnação. Isto nos é assegurado pela forma da encarnação como registrado no Evangelho de Lucas. Ali aprendemos que de Maria é dito que: “Descerá sobre ti o Espírito Santo e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; pelo que também o Santo que de ti há de nascer, será chamada o Filho do Deus” (Lc 1:35). Alguém disse: “O Espírito Santo deveria vir sobre ela, deveria atuar no “poder sobre este vaso terreno, sem a sua própria vontade, ou a vontade de qualquer homem. Por isso, ‘aquela coisa santa’ que nasceu de Maria foi chamada de o Filho de Deus. Deus atuando sobre Maria… era a fonte divina da Sua existência na terra como Homem”. Ele não era um homem inocente, muito menos um homem caído, Ele era um Homem santo. “O vínculo do pecado transmitido é Nele cortado pelo Seu nascimento sobrenatural de uma mãe virgem”.

A Humanidade de Cristo

O mistério inescrutável da encarnação de Filho do Deus nos leva a contemplar a perfeição da Humanidade que Ele assumiu. Com relação a este grande tema, podemos perguntar primeiro: “Em que consiste a humanidade?”

O apóstolo Paulo ao expressar o seu desejo final aos santos Tessalonicenses escreve como se segue: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5: 23). Aqui o apóstolo deseja a santificação de todo o homem, e não nos deixa em dúvida quanto ao que ele quer dizer com um homem completo: pois ele não está contente em desejar que os santos possam ser santificados “em tudo”, mas definitivamente define as partes componentes de um homem – espírito, alma, e corpo.

À luz dessa passagem a conclusão pareceria ser irresistível de que, segundo a Escritura, espírito, alma e corpo, compõem um homem e, como J.N. Darby disse: “Um homem não é homem sem corpo, alma, e espírito”. 1

A passagem acima mencionada concorda com o relato que temos em Gênese sobre a criação do homem. Lá lemos que “Jeová Elohim formou o homem, do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida, e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2:7). Isso não nos ensina que quanto à parte material do homem – o corpo – foi formado do pó da terra? E então, o corpo tendo sido formado, Deus comunicou vida soprando em suas narinas o fôlego da vida. Isso seguramente é o espiritual, ou o imaterial, a parte do homem que ele recebeu diretamente de Deus.

“O pregador” falando da morte também se refere às duas partes do homem – a material e a espiritual – quando diz: “E o pó volte à terra, como era, e o espírito volte a Deus que o deu” (Ec 12:7). Mais uma vez Eliú se refere ao material e ao espiritual falando de Deus, diz: “Se ele pusesse o seu coração contra o homem, e recolhesse para si o seu espírito e o seu fôlego, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó” (Jó 34:14, 15). Esta Escritura nos dá mais luz já que o espírito está ligado com o pensamento do fôlego, sugerindo que a fôlego da vida, em Gêneses 2:7, é o espírito de um homem.

Assim pela comunicação do seu espírito diretamente de Deus, o homem foi feito uma alma vivente, o corpo formando a parte material, e o espírito e alma a parte espiritual de um homem.2

Além disso está claro que o espírito é a parte mais elevada de um homem pela qual ele é colocado na responsabilidade para com Deus, e sendo assim, não podemos dizer que o espírito de

1 É tão verdadeiro que um homem é composto de espírito, alma e corpo, que não podemos nos lembrar de um exemplo na Escritura onde o termo “homem” – significando um ser humano – é aplicado àqueles que passaram pela morte no estado intermediário. Lemos de fato sobre “o espírito de homens justos aperfeiçoados”, e muitas vezes, de corpos de homens mortos, mas de nenhum corpo sem o espírito e a alma, ou do espírito e da alma sem o corpo sendo designado pelo termo “homem”. 2 Reis 13:21, e Lucas 7:12 podem parecer serem exceções mas realmente não são. Na passagem em Reis a palavra original para “homem” não é a palavra “Adão” que significa “ser humano,” mas a palavra “ish” que significa um homem em contraste com uma mulher, e é evidentemente usada para indicar o sexo do corpo. Na passagem em Lucas é a única ocasião na qual a palavra grega é traduzida como “homem”. Nos outros doze exemplos do uso da palavra ela é traduzida pela palavra “morte”, isso significa simplesmente alguém que está morto.

2 Nós não precisamos nos confundir tentando desenhar uma linha definida e segura entre o “espírito” e a “alma”. Juntas elas são a parte imaterial de um homem e, embora durante algum tempo, elas possam estar separadas do corpo na morte, contudo não estão separadas uma da outra, não mais do que as junções e medulas do corpo, ou os pensamentos e intenções do coração. Contudo tal é o caráter pesquisador da Palavra de Deus, que se pode distinguir entre as coisas tão intimamente conectadas que não podem ser separadas, (Hb 4:12).

um homem é a parte distintiva e mais importante de um homem, aquela que é a mais necessária para constituí-lo um homem em oposição à criação dos animais? (Ver Ec 3:21).

Se então o Filho se tornou Homem seguramente se tornou um Homem verdadeiro, espírito, alma e corpo, pois, como a Escritura diz: “Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos” (Hb 2:17). Mas em um tema tão santo não nos deixam tirar as nossas próprias conclusões, pois na Escritura encontramos cada componente do homem atribuído ao Filho como Homem. Vamos citar algumas dessa Escritura:

Quanto ao corpo, do Senhor pode-se dizer:

“Derramando ela este ungüento sobre o meu corpo” – Mt 26:12. “Mas Ele falava do templo do Seu corpo” – Jo 2:21.

“Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste” – Hb 10:5. “Tendo sido santificado pela oblação do corpo de Jesus Cristo” – Hb 10:10. “Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados” – 1 Pe 2:24. Quanto ao espírito (pneuma) lemos:

“E o menino crescia e se fortalecia no espírito” – Lc 2:40. “E Jesus, conhecendo logo em Seu espírito” – Mc 2:8. “E suspirando profundamente em Seu espírito” – Mc 8:12.

“Naquela mesma hora se alegrou Jesus no espírito” – Lc 10:21. “Moveu-se muito em espírito” – Jo 11:33.

“Tendo Jesus dito isso, turbou-se em espírito” – Jo 13:21. “E inclinando a cabeça, entregou o espírito” – Jo 19: 30. “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito” – Luc 23:46. Quanto à alma (psuche):

“A minha alma está cheia da tristeza” – Mt 26:38. “Agora a minha alma está perturbada” – Jo 12:27. “Pois não deixaste a minha alma no Hades” – At 2:27. “A Sua alma não foi deixada no Hades” – At 2:31.

Essas então são umas poucas Escrituras que falam diretamente do espírito, da alma e do corpo, com relação à Humanidade de nosso Senhor. Há, contudo, outras Escrituras que envolvem o corpo, o espírito e a alma, sem usar essas palavras, às quais podemos nos referir resumidamente:

Quanto ao Seu espírito – a parte mais elevada do homem, pela qual ele é constituído um ser inteligente na responsabilidade para com Deus – lemos que na infância, Ele foi “cheio de sabedoria,” e novamente que “crescia em sabedoria” (Lc 2:40, 52). A sabedoria certamente se refere ao espírito inteligente de um homem. Sabemos também, que “Nele habitou corporalmente toda a plenitude da Divindade”; mas aqui estava algo muito diferente, pois quem poderia conectar o “aumento” com “a plenitude da Divindade”? Isso seguramente é espírito com as características que são próprias ao espírito de um homem. Mais uma vez, em Seu caminho por este mundo, quão constantemente o Senhor é encontrado em oração; além disso, na última ceia Ele pode dizer: “desejei muito comer esta páscoa”; no jardim Ele é visto na agonia do conflito, mas se submete à vontade do Pai. Mais uma vez perguntamos: Não estão a oração, o desejo, o conflito e a submissão conectados ao espírito, e são características do espírito de um homem com relação ao seu Deus?

Quanto à Sua alma – com a qual conectamos as emoções e os afetos – lemos do Senhor sendo movido pela compaixão, chorando por causa de Jerusalém, chorando na sepultura, muitas vezes movido pela indignação e considerando os Seus opositores hipócritas com a raiva. Mais uma vez perguntamos, não são a compaixão, o choro, a indignação e a irritação expressa sensações profundas de uma alma humana?

Quanto ao Seu corpo santo – concebido no ventre da virgem. Quando nasceu o bebê foi colocado na manjedoura, circuncidado ao oitavo dia; alimentado nos seios de uma mãe humana (Lc 11:27); carregado nos braços de Simeão. Ele cresceu fisicamente da infância a juventude, e da juventude à maturidade. Lemos sobre o Senhor comendo e bebendo, tanto antes como depois da ressurreição. Ele tem fome no deserto, e sede na cruz. Ele está cansado no poço, e dorme no barco.

Nascer e crescer, comer e beber, ter fome e sede, estar cansado e com sono, estão essencialmente conectados com o corpo humano e, estando presentes com relação ao corpo do Senhor, comprova quão verdadeiro foi o corpo que Ele tomou, e quão realmente marcado por tudo o que é característico do corpo humano, à parte do pecado.

Qual, podemos perguntar, é a força clara dessas Escrituras que, diretamente ou indiretamente, se referem ao espírito, alma, e corpo, com relação à humanidade de nosso Senhor? Qual é a impressão que elas pretendem transmitir à nossa mente? Qual é a verdade que elas ensinam? Não é que a humanidade perfeita de Cristo compreendeu todos os três – espírito, alma e corpo – cada uma possuindo todas as características que são próprias a um Homem perfeito em um mundo caído. “Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos” (Hb 2:17).

Ademais julgamos que a Escritura distingue entre “personalidade” – o “Eu” consciente – e o espírito, a alma e o corpo já que nem definitivamente, e muito menos exclusivamente, identifica a personalidade em algum dos três. Lemos que “o espírito do profeta está sujeito ao profeta” (1 Co 14:32). Temos o verso no Velho Testamento que diz: “Aquele que governa o seu espírito” (Pv 16:32). Em conexão com a alma, David disse: “humilhava a minha alma” (Sl 35:13); “ Levanto a minha alma” (Sl 86:4). Salomão fala de um homem que destrói a sua alma e violenta a sua alma (Pv 6:32 e Pv 8:36). Em relação ao corpo Paulo pode dizer: “subjugo o meu corpo” (l Co 9:27). Essas e muitas outras Escrituras de um caráter parecido, poderiam mostrar que no homem há a união do material e do espiritual sob uma única personalidade, como alguém disse: “Dia após dia, hora após hora, minuto após minuto observamos que todos dentro de si, têm uma autoridade central, dirigindo e controlando, por um lado, os movimentos e as operações, de uma estrutura animal, e por outro as faculdades e esforços de um espírito inteligente, ambos os quais encontram nessa autoridade ou pessoa central o seu ponto de unidade. Quanto isso pode ser desconhecido”. A isso podemos acrescentar que se a morte sobrevier o “Eu” está identificado com aquilo que é imaterial – o espírito e a alma – quando ainda no corpo, seja agora ou no estado de ressurreição, o “Eu” está certamente identificado com o espírito, a alma e o corpo.

Não é essa distinção entre a personalidade e o espírito, a alma e o corpo igualmente vista nas declarações de nosso Senhor como Homem, (como citado anteriormente), embora na Humanidade de Cristo, vamos sempre nos lembrar que a Pessoa era Divina – o Filho invariável e inalterável quanto à Sua Pessoa. Embora aqui novamente, precisamos estar em nossa guarda, para que pela fragilidade da língua humana possa ser argumentado que uma humanidade impessoal seja sugerida. Embora em Pessoa sempre o Filho, ainda asssim Ele pessoalmente entrou na Humanidade – espírito, alma, e corpo, e tão realmente que, como alguém disse: “não houve Nele nenhuma falta de tudo o que pertenceu à humanidade perfeita – que foi tudo e sentiu tudo o que o homem podia ser e sentir – feito em todas as coisas como os seus irmãos”. “Ele foi feito de uma mulher, participou da carne e do sangue – foi verdadeiramente a semente da mulher, e dela recebeu a natureza de um homem que O colocou em relação a Deus e as coisas aqui como um Homem responsável na terra”…

“Em se tornando Homem Ele entrou na realidade do lugar que tomou como Homem”… “O Senhor entrou em todas as condições da vida humana, seus sensíveis sentimentos e afeições, todas as coisas dependentes da condição e organização do homem à parte do pecado”.

Tão perto, de fato, Ele se chegou ao Seu povo que Simeão pode tomar em seus braços Aquele que “tinha medido as águas na palma da Sua mão”, e o apóstolo querido pode inclinar-se no seio Daquele que vive no seio do Pai. Aqui nos encontramos na presença Daquele que supera a compreensão da nossa mente, e ainda inspira o louvor e a adoração do nosso coração.

CONCLUSÃO

Ao escrever sobre esse grande tema procuramos seguir para onde a Escritura conduz, com o desejo de aprender o que é revelado, bem como o significado da revelação, acerca do Filho amado de Deus, o nosso Senhor Jesus Cristo. Mas procurando ganhar com isso que está escrito, devemos nunca nos esquecer que há na Pessoa do Filho, a Encarnação e a Humanidade de Cristo. Aquilo que para sempre será inescrutável à mente finita do homem. “Nenhum homem conhece o Filho” é uma palavra que fazemos bem em prestar atenção. É-nos permitido apenas conhecer as Pessoas divinas COMO e QUANDO revelado.

Como uma Pessoa divina pode vir em carne não o sabemos. Temos que ter cuidado de qualquer afirmação que procura esclarecer à mente humana o mistério inescrutável da encarnação. Qualquer afirmação com este fim declarado deveria despertar ao mesmo tempo a nossa suspeita. Podemos estar seguros de que qualquer tentativa nesse sentido, não apenas falhará em seu objetivo, mas terminará em propor teorias que corrompem a verdade e desonram o Filho.

A nossa grande preocupação deve ser a de aprender o que está escrito, e aceitar a verdade como escrita, sem dúvida e sem raciocínio. Deus dá prazo curto para o homem que questiona a Sua revelação, pois quando em relação àquilo que é inescrutável o homem pergunta: “Como?” Deus responde: “Insensato” (1 Co 15:36). Mas quando a razão orgulhosa é deixada para trás, a fé simples e a afeição viajarão longe nas profundidades da glória, “Como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam” (1Co 2:9). Possam ser nossos o amar, o escutar e o adorar.