Em seguida, o Salvador comparou o Reino dos céus “a um grão de mostarda que um homem, pegando dele, semeou no seu campo; o qual é realmente a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se aninham nos seus ramos” (Mateus 13:31-32). Isso é algo sinistro, quando lembramos que os pássaros, de acordo com o ensino da parábola do Semeador, representam os agentes do diabo (versículos 4 e 19). A mostarda representa o testemunho cristão, que começou da maneira mais humilde possível, mas que com o tempo mudou completamente seu caráter, tornando-se uma grande força política na terra. Aqui, como em outras partes das Escrituras, a árvore é o símbolo de poder terreno (Ezequiel 17:3; Daniel 4:20-22).
O cristianismo é essencialmente um sistema celestial. A Igreja de Deus não pertence ao presente mundo mau, mas à cena da glória onde Cristo habita. Quando os cristãos caminharam em separação do curso das coisas deste mundo, e com dedicado coração ao Senhor, seu testemunho era luz, e assim Deus poderia abençoar a salvação das almas. Quando a profissão cristã se tornou influente na terra, sua utilidade espiritual diminuiu e se tornou um poderoso instrumento nas mãos de Satanás. Uma coisa grande e imponente na terra, com todas as obras de arte – música, arquitetura, pintura, entre muitas outras mais – colocadas a seu serviço, é exatamente o oposto de tudo o que Cristo era. O culto sensorial destes templos chamados de “igrejas” e um clero ordenado por homens é tão ofensivo a Deus assim como a simples adoração no “cenáculo” era do Seu deleite.
Que nenhum leitor entenda mal. Não significa que as bênçãos do cristianismo devam ser confinadas dentro de limites estreitos. Longe disso. O evangelho foi planejado para ser espalhado até aos confins da terra; pois Deus amou o mundo, e Cristo Se entregou a Si mesmo em resgate por todos – todos aqueles que creem no Seu nome. Mas a profissão cristã deveria ter continuado em humilhação e não mundana, distante de qualquer forma de poder e honra, onde o Salvador só encontrou uma cruz e um sepulcro. Em vez disso, o que é chamado hoje de “Igreja”, seja em seus aspectos romano, anglicano, não-conformista, protestante, denominacional, tem sido insaciável em sua luxúria pelo poder neste mundo. Muitas vezes, tem sido um terror para os governos e é a essa hora um poder na terra que as autoridades civis não ousam ignorar. Isso, em vez de ser motivo de felicitações por parte dos verdadeiros cristãos, é motivo de profunda humilhação diante de Deus,
Nos ramos da mostarda, os pássaros encontraram um lar agradável. As Escrituras falam da cristandade, em sua última fase, “se tornou morada de demônios, e abrigo de todo espírito imundo, e refúgio de toda ave imunda e detestável” (Apocalipse 18:2). Isso é verdade em grande medida neste momento. Se o cristianismo continuasse humilde e sem afeição pelas coisas deste mundo, seu serviço nunca seria desejado como uma “profissão” e certamente nunca teria preenchido seus cômodos com aventureiros, bêbados e afins. Infelizmente, séculos de desonra ao nome do Santo e do Verdadeiro foram causados pelos pássaros imundos que encontraram um alojamento em seus ramos, mesmo nos ramos mais altos da grande mostarda!
W. W. Fereday