UMA VOZ MANSA E DELICADA

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Deus geralmente usa homens para falar Sua palavra para outros homens. Elias foi um desses mensageiros. Em 1 Reis 19, nós vemos o arrependimento de Elias, o qual é uma das sete figuras de arrependimento em seu ministério. Além da missão de Elias para com Israel, seu ministério e carreira descrevem também eventos futuros para os gentios.

Por causa da queda no jardim do Éden, o homem adquiriu uma consciência a qual o introduz numa batalha interior que ele não pode evitar. A saída desse problema depende de sua resposta quanto à moral a ele revelada. A luz de Deus é dada, por Sua palavra, em forma de princípios, e o arrependimento é um dos primeiros.

“ E Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elias havia feito, e como totalmente matara todos os profetas à espada. Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, a dizer-lhe: assim me façam os deuses e outro tanto, se de certo amanhã a estas horas não puser a tua vida como a de um deles. O que vendo ele se levantou, e, para escapar com vida, se foi, e veio a Berseba, que é de Judá, e deixou ali seu moço” ( 19: 1-3)

Elias tinha demonstrado para Israel quem era o verdadeiro Deus em contraste com Baal. E como resultado desse drástico julgamento sobre Baal, a vida de Elias estava ameaçada por Jezabel, a esposa de Acabe. Foi ela quem introduziu Baal em Israel, Elias havia se preocupado com outros e com outras coisas, boas e más, mas agora a flecha está apontada diretamente para ele.

Talvez fosse uma nova situação para ele, “Se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será estreita” (Prov.24:10) Aqui estava um homem que disse: “… vive o Senhor, Deus de Israel, perante cuja face estou que nesses anos nem orvalho nem chuva haverá…” ( 1 Reis 17:1). Ele passou os profetas de Baal ao fio da espada, ele clamou e fogos dos céus caíram, ele levantou o filho da viúva dos mortos, ele proveu com contentamento dozes vasos de água na seca. A farinha e o azeite não faltaram durante três anos mesmo tendo apenas o suficiente para uma única porção. O próprio Elias havia comparecido diante da face de Acabe quando este o perseguia em todo lugar procurando matá-lo? Mas agora o grande profeta Elias, cuja fama já se espalhava foge, para salvar a sua vida, de uma mulher idolatra enfurecida. “O que, vendo, e para escapar com vida veio a Berseba…” A lição de Elias tinha que ser aprendida sozinha com Deus em quietude. Não importa, quer seja Jó, Isaías, Pedro, Paulo ou nós mesmos; certas lições profundas sobre nós mesmos têm de ser aprendidas para que possamos conhecer nosso Deus. E mesmo tendo Deus valorizado Seu servo, o poder exposto publicamente não era o mais importante, mesmo que às vezes seja necessário. Após os discípulos, de Jesus, terem retornado a Ele e dizendos-Lhe da demonstração pública, do poder, das coisas que haviam feito Jesus lhes respondeu que isso não deveria ser o motivo para o gozo deles, mas que o motivo verdadeiro era terem seus nomes inscritos nos céus (Lucas 10:20).

A exibição do poder, mesmo que seja para Deus, tende a elevar os corações ao orgulho e ao egoísmo. E o orgulho espiritual é a pior forma que existe. Nós não conseguimos estimar nosso próprio estado de alma e de habilidades. “O que confia no seu coração é insensato, mas o que anda em sabedoria escapará” ( Prov. 28:26). A natureza má herdada de Adão provou ser um mau inquilino, mas a alma que habita com Cristo será preservada para que a velha natureza não possa se manifestar. Andar no Espírito é a nossa única salvaguarda.

“ E ele se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro: e pediu em seu ânimo a morte, e disse: já basta, ó Senhor: toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais” ( 19: 4).

Nós nos deparamos aqui com um estranho paradoxo, Elias fugindo de medo da morte agora pede a Deus para que morra. Desencorajamento não é fé, mesmo se vier de um poderoso servo de Deus. Enoque e Elias foram dois homens que foram para o céu sem passarem pela morte. “ Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porquanto Deus o trasladara porque antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus” ( Heb. 11:5). Isso não foi dito de Elias. Enoque partiu quietamente tendo andado com Deus aqui e agora anda lá no céu. Que figura maravilhosa da Igreja! Aquele dia do nosso arrebatamento logo chegará e será que estamos com nossos olhos fixos em Cristo e no nosso lar? Elias encerrou sua carreira e um carro de fogo acompanhado de um redemoinho que o levou ao céu.

“Não sou melhor do que meus pais” nos dá o segredo do que havia no mais profundo desse poderoso homem de Deus. Qualquer que for nossa reputação entre os homens, somente Deus pode formar nosso caráter em nossas vidas. Caráter é o que somos diante de Deus. Foi somente enquanto ele estava diante de Deus que ele teve poder. Em si mesmo ele teve de confessar, “… toda a carne é como a erva” (Isaías 40:6). Como os pais de Elias falharam assim também ele falhou e por isso ele teve de aprender que o triunfo é reservado apenas para Deus. Cristo irá ainda levar toda a glória da casa de Seu Pai e Seus servos desfrutarão com Ele. Elias certamente irá! A restauração ocorre através do arrependimento de Israel. E não é o mesmo para Elias?

A árvore da figueira representa Israel como nação, mas às folhas ( glória) seguem os frutos ( arrependimento). Dormindo sobre uma árvore de Zimbro, não era estar junto com o povo de Deus. Ou nós vamos junto com o povo de Deus em toda a sua fraqueza, a qual é nossa também, ou viveremos num deserto espiritual sozinhos. O profeta está longe do lugar de refrigério, Carite, onde os corvos o alimentaram, o lugar que Deus escolheu para ele. Aqui o profeta escolheu o seu próprio caminho, e Deus o encontra no deserto. Aqui não há recurso algum a não ser em Deus. Não é um conforto para nós e para nossos corações saber que não importa onde nossa inquietação nos leve, Deus estará, ainda assim, lá? Mesmos que nossos olhos se fechem na morte, “… quando acordo ainda estou contigo” ( Salmo 139:18).

“… já basta…” ( 19:4)

Elias estava pronto para desistir e morrer. João Batista manifestou semelhante desencorajamento sobre sua provação. Mas não somente Elias não morreria como também Deus não desistiria dele. Suas promessas são sempre cumpridas, amém! Quanto mais vasto o deserto mais próximo somos atraídos a Deus. Elias aprendeu a abundância da provisão de Deus enquanto servia-O. Ele, no entanto, ainda tinha que aprender a provisão que Deus lhe daria enquanto ele estivesse seguindo o seu próprio caminho.

“ E deitou-se, e dormiu debaixo dum Zimbro: e eis que então um anjo o tocou, e lhe disse: levanta-te, come. E olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre brasas, e uma botija de água: e comeu e bebeu, e tornou a deitar-se” ( 19:5-6)

Talvez o vento estivesse soprando apenas o suficiente para levantar o pó e a areia. Os galhos do Zimbro estavam fazendo um som monótono para se somar a solidão do deserto que rodeava o profeta desamparado.

“ Vi, e eis que homem nenhum havia; e já todas as aves do céu eram fugidas” (Jer. 4:25)

As circunstâncias podem parecer insuportáveis, o espírito deprimido, e os recursos naturais esgotados. Por que até agora, para Elias, as batalhas tinham sido para outros, mas em sua nova experiência ele tinha de lutar contra si mesmo, sozinho no deserto. A questão era: Deus se importa? Deus nunca envia um servo seu sem prover tudo o que ele necessita para a jornada.

“… então um anjo o tocou…” (19:5)

Isso foi um toque do céu. Nenhum artista ou poeta poderia descrever a experiência que passava na alma de Elias nesse momento. As Escrituras também se silenciaram. Poderia nosso profeta ter sentido enquanto chamava fogo do céu, o melodioso fervor que se agarrava à sua alma nesse momento? Profundas e duradouras impressões, até então desconhecidas, mas que agora agitavam os sentimentos desse homem de Deus, pois até aqui ele conheceu algo do poder de Deus, mas ainda não conhecia realmente o próprio Deus. Se existe algo em nós que agrade a Deus é quando Ele vê que necessitamos d’Ele. Pouco a pouco Elias é levado para esse rico fluxo de refrigério. “ Águas,… tornozelos…, joelhos…, lombos…, a nado…, ribeiro que se não podia passar.” (Eze. 47:3-5).

“ A quem temos Senhor a não ser a Ti, almas sedentas para serem satisfeitas. Fontes que não param de jorrar, águas gratuitas! Todas as outras fontes secaram.

Nossos corações, por Ti são firmados nas coisas radiantes do céu. Estranho que sempre nos esquecemos, Teu mais fiel e próprio amor. (Hino 153 – Hinário Little Flock)

Ninguém pode ensinar como Deus. Bem que poderíamos estar mais tempo a sós com Ele. Se você pudesse ver a Jesus quando Ele estava aqui, você o acharia onde houvesse necessidades. Será que estamos aprendendo as lições que nós só poderíamos aprender enquanto estivermos nesse mundo, mundo que se tornou um deserto para a fé? E foi assim no momento maior de fraqueza que o anjo o tocou. O bálsamo do céu pode curar os sofrimentos desse mundo ( Mat. 11:25-26; 1 Cor. 10:13; 2 Cor. 4:8). “ “Levanta e come “, essa foi a palavra do anjo; “…, pois não sou melhor do que meus pais”, essa foi a palavra do homem. Se pudéssemos olhar por traz do fino véu que esconde o invisível, nós seríamos como os anjos. Ainda assim, se a fé é ativa, o resultado de andar perto do Senhor, seria o de viver na atmosfera celestial e conhecer melhor a vontade de Deus. Nós nos conheceríamos melhor também, e o resultado seria uma maior intimidade com nosso Deus e Seu amor. Isso traz confiança! A lei foi escrita em pedras, pedras frias, pedras frias nos fala das demandas de Deus para com os homens. A missão de Elias era de trazer Israel de volta para essa Lei. Por um momento parece que Elias conseguiu, mas logo a fúria de Satanás caiu sobre o profeta. Quando o anjo o tocou ele viu um pão cozido sobre as brasas. Não existem pedras frias para aqueles que conhecem a Deus como um Deus de misericórdia. Quem mais a não ser o Senhor seguiria Seu povo infeliz até o deserto? Mesmo que grandes coisas estivessem à frente de Elias, o ego era um senhor duro. Paz e gozo são nossa porção, não o desencorajamento, que é o resultado de estar concentrado em si mesmo. Ele comeu e bebeu e tornou a deitar-se.

“ E o anjo do Senhor tornou segunda vez e o tocou e disse: Levanta-te e come porque mui comprido te será o caminho. Levantou-se, pois, e comeu e bebeu: e com a força daquela comida caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus” ( 1Reis 19:7-8)

Não existe paciência como a de Deus. “ Antes Deus fala uma e duas vezes, porém ninguém atenta para isso” ( Jó 33:14).

“…, porque mui comprido te será o caminho” (1Reis 19:7).

Se Cristo não tivesse dito, “ Eu nunca os deixarei nem vos abandonarei” nós não conseguiríamos seguir no caminho. Foi nos permitido levantar e comer a provisão dada pelo anjo para que não esmorecêssemos pelo caminho. Nenhum homem, naturalmente falando, poderia ficar sem comida e sem bebida por 40 dias. Nosso caminho é como um milagre, assim como aconteceu com Elias, seguimos nosso caminho em direção ao nosso lar através dos testes e provações dessa vida. Quando a Lei foi dada, Moisés nem comeu nem bebeu por 40 dias e 40 noites (Deut. 9:9-18). Elias figura de Cristo, vai até o monte Horebe ( Sinai) para responder diante de Deus pelo povo que tinha desobedecido a Lei. Cristo de igual modo ficou sem comida e bebida por 40 dias e 40 noites, sendo tentado por Satanás no deserto. Para Elias foi dado comida e bebida suficiente por 40 dias, período completo de provação. O monte Sinai era o monte que Israel não podia tocar Elias ao contrario estava tranqüilo lá. Na cruz, Jesus estava no monte Horebe, Ele suou gotas de sangue que caíram no chão e lá Ele intercedeu por nossas almas. Na cruz também Ele foi feito pecado. Foi exatamente ali que Jesus iniciou o transporte para as bênçãos eternas. Elias, ao contrário, encerra sua missão falando contra o povo de Deus. “ E ali entrou numa caverna e passou ali à noite e eis que a palavra do Senhor veio a ele, e lhe disse: que fazes aqui Elias? E ele disse: tenho sido muito zeloso pelo Senhor dos Exércitos porque os filhos de Israel deixaram o Teu concerto, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada, e eu só fiquei, e buscam a minha vida” ( 1Reis 19:9-10). Após ter achado refúgio na caverna, Elias ouve a palavra do Senhor dizendo: “ que fazes aqui Elias? E sua resposta foi triste. Na presença do Senhor ele se lembra das falhas do povo de Deus. E ainda ele diz que ele foi o único fiel em Israel e acrescenta também que querem lhe tirar a vida. Quando Jesus foi para Horebe, Ele falou alguma coisa contra nós? Nunca! Precioso Salvador. Ele tomou nosso lugar diante do Deus Santo. Ninguém, a não se Deus saberá o que Ele sofreu por nós. “… porque o peso do cobre se não esquadrinhava” (2Crônicas 4:18) onde o cobre é uma figura do julgamento do Deus Santo. Aqui o amor de Deus pelo pecador é visto em toda a sua beleza e brilho. E por que Jesus foi a Horebe? Para interceder por nossas almas e derramar Seu sangue para nossa redenção – louvado seja Seu nome! Elias foi o único profeta cuja falha foi lembrada no Novo Testamento.

“ E Ele disse, sai para fora, e põe-te neste monte perante a face do Senhor e eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante da face do Senhor; porém o Senhor não estava no vento, e depois do vento um terremoto e o Senhor não estava no terremoto, e depois do terremoto um fogo, porém o Senhor também não estava no fogo, e depois do fogo uma voz mansa e delicada” ( 1Reis 19:11-12).

Aqui temos a sua consciência sendo alcançada. Em João 4 o Senhor disse para a mulher: “… vai chama a teu marido e vem cá” ( João 4:16). Às vezes a única maneira de aprendermos é sermos privados de nossos privilégios. E estando diante de Deus no monte, ele testemunhou poder, um grande e forte vento, um terremoto e fogo. Isso foi suficiente para animar o profeta? Deus é todo poderoso. “… não há quem possa estorvar a Sua mão, e lhe diga que fazes? “ (Daniel 4:35). Deus não estava em nenhuma dessas demonstrações de poder, muito embora o poder era dele. O coração tem de ter um objeto no qual possa descansar. O poder pode ser muito bom quando tem lugar, mas nunca para conforto, gozo, descanso e amor.

“ E sucedeu que, ouvindo-a Elias, envolveu o seu rosto na sua capa, e saiu para fora, e poz-se à entrada da caverna e eis que veio a ele uma voz, que dizia: que fazes aqui Elias? E ele disse, eu tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram o Teu concerto, derribaram os Teus altares, e mataram os Teus profetas à espada, e só eu fiquei, e buscam tirar a minha vida” ( 1Reis 19:13-14).

Ao ouvir a voz mansa e delicada, Elias envolveu o seu rosto na sua capa, e saiu para fora e pôs-se à entrada da caverna. E outra vez a pergunta foi feita: “ que fazes aqui Elias? A resposta, no entanto não mudou sua vontade ainda não fora quebrada. Duas vezes foi feita a mesma questão e duas vezes a mesma resposta foi dita. Duas vezes a mesma voz mansa e delicada. “ E o Senhor lhe disse, vai torna-te pelo caminho para o deserto de Damasco, e vem, e unge a Hazael rei sobre a Síria. Também a Jeú, filho de Ninri, ungirá rei de Israel, e também a Eliseu, filho de Safate de Abel-Meola, ungirás profeta em teu lugar. E há de ser que o que escapar da espada de Hazael mata-lo-á Jeú e o que escapar de Jeú matá-lo-á Eliseu. Também eu fiz ficar em Israel sete mil, todos os joelhos que se não dobraram a Baal, e toda boca que o não beijou “. (1Reis 19:15-18) Quatro coisas foram ditas a Elias pela voz mansa e delicada, para que ele fizesse: 1- Torna-te pelo teu caminho para o deserto de Damasco 2- Unge a Hazael rei sobre a Síria 3- Unge a Jeú rei sobre Israel 4- Unge a Eliseu profeta em seu lugar

É-nos dito que o primeiro pedido foi cumprido, mas sabemos que Elias nunca ungiu nem Hazael nem Jeú, isso foi realizado por Eliseu. Ter que fazer essas duas unções desses dois reis, que seriam a vara de Deus em juízo sobre Seu povo era demais para Elias suportar. Elias, no entanto, ungiu a Eliseu como seu sucessor, tendo encerrado sua missão. (2Reis 8:111-13, 10:32 , 13:3 e 2Reis9) Os mandamentos da voz mansa e delicada devem ter quebrado o coração do profeta, como também a sua própria vontade. Sua vida mudou a partir desse momento. “… porque bom é que o coração se fortifique com graça…” (Heb. 13:9) Houve ainda muito mais que Elias não soube. Somente o Senhor sabe e conhece os Seus. Sete mil, um número perfeito, que não dobraram os joelhos diante de Baal, e que não o beijaram, mas que foram preservados para benção. Seria bom ser capaz de colocar “ os sete mil” em nossas orações ao invés de falar a Deus contra o Seu povo. Também hoje há ainda um número perfeito escondido que será abençoado. Que dia de vitória será para o Senhor Jesus quando terá a preeminência entre todos ( Col. 1:18).

Escrito por Clarence Lunden

Pulblicado por Bible Truth Publishers – USA 1980