UM PINTOR EM MINHA JANELA

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Apresentação

Acho que todos nós temos um momento da vida em que nos sentimos massacrados por acontecimentos que não esperávamos e jamais iríamos desejar. Passei por algo assim há alguns anos. Felizmente tive Alguém para me amparar como jamais pensara ser possível: o próprio Senhor, meu Salvador. Um dia Jó precisou dizer que só conhecia a Deus de ouvir falar, mas foi na dor que conheceu de fato Aquele que esteve o tempo todo trabalhando nos bastidores de sua vida. “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem.” (Jó 42:5).

Eu já tive o meu ‘momento Jó’ e acredito que você já teve o seu. Nossa reação natural é lutar contra as circunstâncias que o Senhor permitiu, sem perceber que isso é o mesmo que lutar contra Deus, como fez Jacó e saiu manco da experiência. Então aprendemos que é difícil não sair coxeando de uma experiência assim, mas também que é possível conhecer mais da graça e misericórdia do Senhor nessas horas mais escuras de nossa existência. C. S. Lewis escreveu: “Deus nos sussurra em nossos prazeres, nos fala em nossa consciência, mas grita em nossa dor; esta é seu megafone para despertar um mundo surdo.”.

Naquela época, tomado por angústias e incertezas do que poderia vir a seguir, criei o estranho o hábito de me perder em pensamentos olhando pela janela de meu apartamento, como se estivesse esperando por algo ou alguém. Foi assim que descobri que quando mais precisamos do Senhor, ele está tão disponível quanto o sol para aquecer nossos corações. O problema é que, quando as coisas não saem conforme esperamos, viramos as costas para a Luz e perdemos muito do espetáculo que ele quer nos mostrar enquanto pinta quadros na janela de nossa vida diária.

Neste livro quero mostrar a você algumas obras de arte que esse Pintor celestial colocou em minha janela naquele período de minha vida. Sei que vai gostar. As pinturas não são minhas, são dele. Originalmente publiquei estes pensamentos em um blog que trazia também fotos do que via naquele momento em minha janela. As fotos foram feitas com uma antiga câmera digital com uma resolução baixa demais para serem aproveitadas em formato impresso. Por isso na leitura deste livro vou contar com sua imaginação para enxergar cada quadro que descrevo em minha janela.

Lembro-me de um livro que li, chamado “Bird by bird”

Um pássaro por vez”. Para o título a autora se inspirou em algo que seu pai dissera a seu irmão menor, quando eram crianças. O garoto precisava entregar uma redação sobre pássaros e, apesar dos muitos livros que tinha sobre a mesa para pesquisar, sua redação não saía de uma página em branco. O garoto estava angustiado, pois o trabalho era para o dia seguinte.

O pai, que era escritor, percebeu o problema do filho e, aproximando-se dele, sugeriu:

Um pássaro de cada vez, filho; escreva sobre um pássaro de cada vez.

Foi assim que percebi o Pintor colocando um novo quadro em minha janela e renovando sua pintura a cada manhã, tarde ou noite. Um dia de cada vez ele ia mostrando a sua arte e talento para enfeitar o céu, e eu fotografava e depois escrevia alguns pensamentos sobre o quadro que via em minha janela. Um dia de cada vez, um quadro de cada vez.

  • no mesmo compasso que ele cuida de mim, de dia em dia, e é assim também que ele quer cuidar de você.

Mario Persona

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.” 2 Coríntios 4:16

Uma janela para o passado

Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma; atá-las-eis por sinal na vossa mão, e elas vos serão por frontais entre os vossos olhos; e ensiná-las-eis a

vossos filhos, falando delas sentados em vossas casas e andando pelo caminho, ao deitar-vos e ao levantar-vos”. Deuteronômio 11:18-19

Ontem foi “Dia dos Pais” e aparentemente Deus queria que eu olhasse através da janela do tempo para ele pintar um quadro de meu passado, exclusivamente para mim.

Enquanto arrumava a estante, minha atenção foi atraída para a velha Bíblia que pertencia à minha mãe. Não que a edição fosse tão antiga assim. Era uma Bíblia edição “Ave Maria” de 1981, mas aparentava ser muito mais velha de tanto ter sido folheada, lida e relida por minha mãe e meu pai.

Eles tinham outras Bíblias, mas as péssimas condições desta em particular revelam ter sido a preferida de suas leituras. Com o tempo a capa verde-musgo se soltou, a costura afrouxou e as folhas começaram a se despregar. Um vento mais forte teria misturado as folhas soltas, não fosse meu pai sair em seu socorro. Ele gostava de consertar as coisas e decidiu reparar a Bíblia com a única coisa que tinha à mão: fita isolante! E você vai me dizer que uma Bíblia remendada com fita isolante não é bonita? Esta é.

Foi entre as páginas da velha e desgastada Bíblia que encontrei um cartãozinho. Como foi que nunca reparei nele? Provavelmente porque nunca tinha folheado a Bíblia que estava entre as coisas que minha mãe deixou quando se mudou para o céu em 2005. Era um daqueles cartões vendidos em livrarias católicas, e trazia a figura colorida de um menino Jesus segurando um cajado e pastoreando ovelhinhas. No verso, escrito a lápis e com letras gordas e tremidas, a mensagem:

Querido papai: Deus te faça bastante feliz e te dê boa saúde.

Mario José

9 de agosto de 1959

O cartãozinho fora dado por mim a meu pai quando eu tinha quatro anos e ainda não sabia ler e nem escrever. Naquele tempo a alfabetização começava aos sete anos e a letra era de minha irmã mais velha, que tinha oito anos. A mensagem do cartão era para o “Dia dos Pais” e, como já disse, ontem foi “Dia dos Pais”. Chorão como sou, quase acrescentei algumas manchinhas às já manchadas páginas da Bíblia e ao amarelado cartão.

Eu não poderia pedir um presente melhor do que este por ocasião deste meu “Dia dos Pais” quando já sou “Pai 2.0”

pai e avô. O meu Deus é um Deus que se importa com as pequenas coisas, por isso me levou a abrir uma janela no tempo e encheu meu coração de boas recordações. Não, não foi coincidência, foi apenas mais um quadro que o Pintor pintou na janela de minha existência, dentre os muitos que ainda iria pintar.

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Uma galeria de arte para chamar de minha

Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento as obras de suas mãos… por toda a Terra se faz ouvir a sua

voz, e as suas palavras até aos confins do mundo.” Salmos 19:1 e 4

Um dia descobri que havia um Pintor que todos os dias expunha em minha janela uma obra de seu infinito acervo; um quadro novo e pronto só para me surpreender. O curioso é que eu já tinha olhado tantas vezes pela mesma janela e nunca tinha reparado na galeria que existia ali. Já fazia tempo que conhecia esse Pintor, e conhecia algumas de suas obras de arte aqui, ali e acolá, mas nunca tinha prestado atenção na galeria particular que havia em minha janela.

Hoje, por exemplo, no quadro que ele pendurou em minha janela vejo a silhueta negra dos prédios de minha cidade recortando um céu de amanhecer num dégradé que vai do azul profundo ao amarelo alaranjado. Daqui a pouco o sol se levantará com todo o seu fulgor e a pintura será outra, desaparecendo os pontilhados brancos de luz nas janelas dos apartamentos onde habitam pessoas que começam a acordar. Será que elas irão reparar no Pintor em suas janelas ou este privilégio neste momento é só meu?

O Pintor em minha janela é extremamente criativo e nunca

  1. dois quadros iguais. Suas pinturas são dinâmicas — você olha e enxerga uma coisa; olha de novo e vê outra coisa. É incrível a capacidade que ele tem de combinar as cores, de criar novos matizes, de surpreender com a graça e leveza de seus pincéis.

Às vezes ele usa o pincel de bondade, outra vez prefere o de misericórdia com toques de graça, mas sempre tem à mão seu pincel de disciplina para as cores mais fortes e pinceladas mais vigorosas. Como acontece quando vemos um artista pintando, a princípio o quadro não parece fazer

muito sentido, mas é só quando a obra é completada que percebemos que cada pincelada tinha sua função. Artistas medíocres usam um mesmo pincel e uma mesma pincelada para tudo. O Pintor em minha janela não é assim.

  • realmente um privilégio ter um Pintor assim em minha janela, com quem também converso todas as manhãs. Ele também fala comigo, como sempre falou com todas as pessoas, mas nem todas estão atentas ao que ele quer dizer. No início ele falava apenas por meio de sua Criação, pois…

os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento as obras de suas mãos… por toda a Terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras até aos confins do mundo.” (Salmos 19:1, 4). Mas depois de conhecê-lo melhor aprendi a ouvir sua voz vinda diretamente de sua Palavra, a Bíblia.

Alguma vez você viu um quadro do Pintor em sua janela? Dê uma olhada. Se ele tiver colocado um quadro lá converse com ele também. O que dizer? Ora, diga que gostou da pintura e quer conhecê-lo pessoalmente. Eu o conheci quando minha vida era uma tela nem um pouco branca, mas preta e suja. Foi ele quem a limpou e preparou para pintar as muitas cenas de minha vida, daqui à eternidade. Hoje consigo enxergar além da tela desta vida para o cenário que ele reservou para mim no céu. É lá que mora o Pintor em minha janela. É lá que eu também vou morar.

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Qual a cor das nuvens?

Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem,

são as que Deus preparou para os que o amam.” 1 Coríntios 2:9

Outro dia apresentei a você o Pintor em minha janela. Isso mesmo, aquele que todos os dias produz uma nova obra de arte a partir de um único motivo: a paisagem e o céu emoldurados por minha janela. Você já deve ter percebido que não me canso de falar desse Pintor e de sua habilidade, não é mesmo?

Pois hoje resolvi dar mais uma olhadinha em seu trabalho. Ele estava lá, pintando outra vez. Nunca consigo ver seu trabalho acabado, mas tampouco o vejo inacabado. É incrível que alguém consiga pintar assim — a cada nova pincelada ele é capaz de deixar a perfeição ainda mais perfeita, os traços mais bem definidos, e as cores mais coloridas.

Ao contrário do ouro e anil que usou no quadro de alguns dias atrás, hoje sua paleta é azul suave. Até me sinto um pouco azul assim — calmo, sereno, tranquilo. Azul claro. Mas há nuvens brancas pairando no alto da tela. Brancas? Você já viu uma nuvem branca? Não existem nuvens brancas. Descobri que o Pintor nunca as pinta assim.

Lembrei-me de um diálogo que acontece no filme “Moça com brinco de pérola”, uma pintura cinematográfica baseada em uma novela de Tracy Chevalier. O tema do filme é o quadro de mesmo nome, pintado por Johannes Vermeer, por volta de 1660, e considerado a “Mona Lisa holandesa”. Recentemente um inventor texano recriou as técnicas fotográficas utilizadas por aquele Pintor, sugerindo que ele transformava seu estúdio em uma câmara escura para pintar, como se estivesse dentro de uma câmera fotográfica gigante. A imagem refletida sobre

a tela recebia então a tinta nas cores e proporções do modelo real.

Mas o que chamou minha atenção no filme foi a percepção da personagem que servia de modelo com brinco de pérola, cujo retrato estava sendo pintado. No enredo ela percebe que existe muito mais que uma mera cor branca em uma nuvem. É verdade. Para você ter uma ideia, apenas na nuvem “branca” de uma foto digital que tirei da paisagem em minha janela, meu programa de edição de imagem detectou quase vinte mil cores. Mais da metade das quase quarenta mil cores registradas na foto inteira está numa nuvem que qualquer um diria que é branca!

Em cada nuvem de minha vida, e da sua também, existem muitas cores. É preciso um olhar atento para percebê-las e se deleitar com elas. Devido à baixa resolução de nosso pensamento, aos limites de nossa percepção, e ao embotamento de nossa visão, nem sempre percebemos aquilo que está fora da faixa mais popular do espectro. Por isso é preciso colocar óculos especiais para enxergar; é preciso olhar através das lentes do Pintor celestial, para descobrir que até mesmo na monótona nuvem branca de nossa vida existe uma profusão de cores maior do que somos capazes de perceber ou contar. Cores que o olho não viu” (1 Coríntios 2:9).

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Você é cidadão do céu?

Mas a nossa cidadania está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” Filipenses 3:20

Da janela vejo a grade na frente de meu prédio decorada com pequenas bandeiras do Brasil. Estamos em plena Copa do Mundo quando somos tomados de um surto de patriotismo. Faz lembrar a música que tocava na TV nos intervalos da Copa de 1970 no México: “Noventa milhões em ação… Brasil do meu coração… todos juntos… parece que todo o Brasil deu a mão… todos ligados na mesma emoção… vamos todos, juntos, pra frente Brasil…”.

A Copa do Mundo ajuda a criar a ideia de que milhões de cidadãos brasileiros seguem juntos, ligados na mesma emoção. Torcer juntos por um mesmo gol nos faz sentir unidos, fortes e vibrantes. Mas, e quando chegar o dia de cada um ficar a sós com Deus? Quando não estivermos todos juntos… todos ligados na mesma emoção? Quando já não formos brasileiros, pobres ou ricos, de direita, ou esquerda, negros ou brancos, católicos ou protestantes; quando perdermos tudo o que nos dá um senso de pertencermos a um denominador comum, mas que só vale para a vida aqui?

Quando vi as bandeiras do Brasil pensei em minha outra nacionalidade. Sim, pois tenho dupla cidadania. Uma é provisória e não deve durar muito. Se conseguir me manter na idade média estatística do brasileiro, não me restam muitos anos, pois já passei da metade. A expectativa de vida do brasileiro é de setenta e poucos anos e estou muito mais perto da linha de chegada do que do ponto de partida. Sabe aquele momento em que a comissária de bordo avisa para colocarmos o encosto da poltrona para frente, fecharmos as mesinhas e apertarmos os cintos, porque estamos prestes a pousar no destino? Estou assim.

A qualquer momento minha cidadania brasileira pode ser revogada pela morte e meu passaporte deixará de valer para entrar em qualquer país, até no Brasil. Deixarei de ser

cidadão, de ter direitos e deveres para com meu país, de torcer pela Seleção Brasileira, de votar, pagar impostos ou receber aposentadoria, se for o caso. A bandeira verde e amarela já não fará qualquer sentido no lugar onde estarei no além.

Tem muita gente que corre atrás de documentos de ancestrais para obter uma segunda cidadania — italiana, portuguesa, espanhola, qualquer uma. A ideia é que se as coisas não derem certo por aqui sempre existe a possibilidade de se mudar para lá. Eu me considero um privilegiado por ter uma segunda cidadania, que na verdade considero a primeira. Não estou falando da cidadania italiana, que poderia obter se corresse atrás, mas da cidadania celestial da qual fala o apóstolo Paulo em Filipenses 3:20. No original o significado é “cidadania” e não “cidade”, como aparece em algumas edições da Bíblia.

Como foi que obtive esta segunda cidadania, que considero a primeira e mais importante? Por graça. O passaporte é vermelho-sangue e é válido para todo aquele que crê em Jesus como Salvador. Nele diz que ele morreu numa cruz para pagar por meus pecados e garantir minha redenção. Muitas pátrias existem ou permanecem porque pessoas deram suas vidas para garantir a liberdade, e não é diferente com a pátria celestial. Jesus morreu para garantir minha libertação do pecado e da morte, e uma entrada franca nessa Pátria de onde jamais sairei. E você, tem cidadania celestial ou não passa de um terráqueo brasileiro esperando pela próxima Copa do Mundo?

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O céu e a graça

E disse-me: A minha graça te basta.” 2 Coríntios 12:9

Hoje recebi um e-mail contando de alguém que está passando por um difícil processo de reabilitação. Essa pessoa precisa reaprender a se mover, a segurar objetos, vestir a roupa e fazer outras tarefas que, embora simples, exigem um esforço tremendo para alguém em sua condição. Qualquer pessoa com saúde perfeita não percebe suas deficiências e sua incapacidade de fazer as coisas mais simples enquanto não fica impossibilitada de fazer essas mesmas coisas. Ela irá sempre se comparar à condição que tinha quando era normal. Mas quem é realmente normal?

Isso vai depender do padrão adotado, do ângulo observado, do ponto de vista, e até da pessoa que observa. Se eu perguntar a você qual é a cor do céu, você dirá que é azul. Ou será laranja? Talvez cinza? Adotamos o padrão em nossa mente de que céu é azul, mas é um padrão simplista demais, pois a paleta do Pintor em minha janela é muito mais complexa que isso.

O quadro que o Pintor expõe em minha janela esta manhã tem uma profusão de cores impossível de descrever. Vai do negro da silhueta dos prédios contra o nascer do sol, até o prateado dos espaços entre as nuvens que são… brancas? Não, elas são de qualquer cor, menos brancas! Elas estão mais para um cinza escuro com pinceladas de negro-de-marfim, do que para o cinza esbranquiçado.

Já falei da resga de céu onde o sol deve aparecer em minutos? Não? Então pense numa faixa que varia do vermelho ao dourado… Espere! Está mudando… Mas azul mesmo que é bom este céu não tem, ao menos agora. Terá mais tarde se as nuvens não esconderem o infinito do firmamento, que na realidade é negro quando observado

fora da atmosfera da Terra.

Se uma simples imagem do céu já é complexa demais para ser definida por apenas uma cor, imagine Deus e seus planos para você e para mim. “Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim. De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança.” (Salmos 131:1-2).

Por mais que queiramos entender, explicar ou descrever, estaremos sempre falando de um assunto elevado demais para a compreensão humana, daí a necessidade de se aceitar a graça de Deus com singeleza de coração. Mas o que é graça? Graça é um favor imerecido. O que eu merecia — o lago de fogo de uma eternidade de privações e provações

Deus não me deu. O que eu não merecia — o perdão dos pecados, a companhia eterna de Cristo no céu, sendo coerdeiro com ele juntamente com as miríades dos salvos

Deus me deu graciosamente quando sua voz me atraiu a Cristo, que pagou o preço da minha redenção. Recebi tão somente pela fé, sem entender, apenas por crer.

Se você acha que a graça de Deus não é suficiente, e que você não pode crer em algo que não consegue entender, então me responda: Qual é mesmo a cor do céu?

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O sol brilha ou não?

O povo, que estava assentado em trevas, viu uma grande luz; e, aos que estavam assentados na região e sombra da morte, a luz raiou.” Mateus 4:16

A luz que entra em meu escritório pelo quadro que o Pintor coloca em minha janela vem do sol. À noite não vejo o sol ou sua luz, mas sei que está lá. É um fato. O que faz do cristianismo uma religião singular é que ela é baseada em um fato: Jesus morreu para pagar por meus pecados e ressuscitou para me justificar. As religiões são baseadas em preceitos, leis, regras, ideias, exercícios, mentalizações ou aprendizados.

A ideia de qualquer religião humana é que, se você estudar bastante e aprender, se fizer isso ou aquilo, exercitar-se assim ou assado, ou até mesmo reencarnar, talvez tenha alguma esperança. Eu disse talvez, pois como todas elas se baseiam em sua capacidade de fazer algo, não me venha dizer que consegue fazer tudo que elas exigem. Você é tão imperfeito quanto eu, portanto nada de perfeito pode sair de suas mãos ou de seu andar. E se quiser parecer que está seguindo direitinho o que receitam, você não passará de um hipócrita.

O cristianismo não é assim. As últimas palavras de Sidarta Gautama, mais conhecido como Buda, foram: “Continuem se esforçando”. Todavia, as últimas palavras de Jesus foram: “Está consumado”. Nada mais precisava ser feito porque tudo ele já fez. A salvação vem apenas pela fé em Jesus e em um duplo fato: ele morreu; ele ressuscitou. Preciso crer se quiser ser salvo, e a Bíblia, mesmo sendo recheada de outras histórias, aponta do princípio ao fim sempre para Jesus e sua obra.

Os exemplos são inúmeros. Tudo nela fala de Jesus, explicitamente ou em figura, pois é a fé em sua Pessoa e em seu sacrifício que salva, e não o aprendizado, a sabedoria ou a prática de preceitos. Se você está em trevas e quer ver a luz, olhe para Jesus. Você não precisa saber mais do que isto: Ele morreu para seus pecados e ressuscitou para sua

justificação.

O mesmo Pintor de minha janela colocou um quadro na natureza que é um belíssimo exemplo de como uma pessoa chega à Luz pelo sacrifício de outra. Já ouviu falar da vespa-do-figo? É um inseto minúsculo que depende da figueira para se multiplicar, e do qual a figueira depende para ser polinizada. Isto porque o figo não é um fruto, mas uma flor enrustida, virada para dentro, e precisa de um inseto dentro de si para tirar dali o pólen e levar a outras figueiras.

A pequena vespa-do-figo faz um furo no figo e penetra em seu interior onde põe seus ovos que irão gerar insetos macho e fêmea. A vespa-macho não têm asas e só existe para fecundar as fêmeas, o que faz às cegas, na total escuridão do interior de um figo. Cumprida essa tarefa, o macho escava um túnel para fora do figo e a fêmea o segue em direção à luz no fim do túnel. O macho sai e morre; a fêmea fecundada voa em busca de outro figo para reiniciar o processo.

Jesus experimentou as densas trevas do juízo de Deus, literalmente por três horas, antes de, por sua morte, abrir o caminho para que eu e você pudéssemos ser libertos. Como poderia uma vespa recusar o trabalho daquele que abriu o caminho até a luz à custa da própria vida? Como poderia um ser humano fazer o mesmo com Jesus?

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Uma galeria dinâmica

E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer

tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.” Lucas 24:25-27

Se eu passar o dia olhando para a galeria do Pintor em minha janela verei um quadro a cada minuto. A moldura da janela será sempre a mesma, mas as telas irão se alternando em modo dinâmico, uma distinta da outra. Assim é também a Bíblia, uma galeria que mostra Jesus em diferentes ângulos, cores e composições, do princípio ao fim dos tempos. Assim como a tela de um pintor é apenas a representação de uma realidade, cada evento e personagem da Bíblia nos levam a olhar para Jesus.

Uma das primeiras telas você encontra em Gênesis, quando do lado aberto de Adão Deus extraiu a costela da qual formou sua esposa. Aquilo era um tipo de Jesus, de cujo lado aberto verteu o sangue e a água para, respectivamente, expiar o pecado e purificar uma esposa para si, a Igreja.

Após a queda, Deus sacrificou um animal no Éden para, com sua pele, cobrir a nudez de Adão e Eva. Jesus foi sacrificado na cruz para cobrir o pecado do homem.

Enquanto Caim tentava agradar a Deus com o fruto de seu trabalho, Abel sacrificou um animal inocente e conquistou o agrado de Deus. Jesus, o Cordeiro de Deus, foi o único sacrifício que poderia agradar a Deus.

Ao destruir o mundo com um dilúvio, Deus providenciou uma arca para salvar Noé e sua família, os únicos que creram no que Deus dissera. A arca é uma figura de Cristo, que nos livra da ira futura e em cuja segurança embarcam apenas os que creem na Palavra de Deus.

Abraão subiu o monte acompanhado de seu filho Isaque levando nas costas a lenha para o seu próprio holocausto. Jesus foi ao monte calvário carregando um madeiro sobre o qual seria oferecido em sacrifício a Deus.

José, o filho preferido de seu pai Jacó, foi vendido por seus irmãos, dado como morto, e ressurgiu no Egito para salvar a seu povo da fome e destruição. O Filho de Deus, Jesus, foi traído por seus irmãos judeus, morreu e ressuscitou para estabelecer seu Reino futuro para seu povo habitar em paz.

Para salvar os marinheiros da morte, Jonas assumiu sua culpa e deixou- se lançar ao mar, ficando três dias e três noites preso no ventre do grande peixe. Jesus, ao assumir a culpa por nossos pecados, foi lançado na morte e seu corpo ficou três dias e três noites no seio da terra antes de ressuscitar.

Moisés, lançado nas águas da morte quando bebê, ressurgiu mais tarde como libertador de seu povo. Jesus morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação.

O cordeiro que foi morto, cujo sangue foi passado nas ombreiras das portas dos israelitas no Egito para livrá-los do castigo divino, é figura do Cordeiro de Deus, cujo sangue garante a libertação de nossos pecados. Agora vou deixar você passear pela galeria das páginas de sua Bíblia para encontrar outras telas cujo tema é Jesus. São mais do que eu jamais poderei contar, pois “há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem.” (João 21:25).

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Hoje só nasceu um sol

Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. 1 Timóteo 2:5

Hoje na tela do Pintor em minha janela só nasceu um sol, redondo, imponente e magnífico, derramando luz e calor por sobre o ombro do horizonte. Se não existisse um sol a vida neste planeta não seria possível. Se tivéssemos dois sóis a Terra seria um inferno abrasador. Um é bom, dois é demais.

Mas não é apenas o sol que é importante e na Bíblia também aparece como figura de Cristo, o “sol da justiça” (Malaquias 4:2). É preciso que ele seja apenas um para a vida ser possível neste planeta. O mesmo você aprende na Bíblia quando o assunto é a mediação entre Deus e os homens. Ninguém além de Jesus pode ocupar essa posição.

Já fui professor de adolescentes no interior do estado de Goiás, e um dia minha aula foi interrompida pela pergunta de uma aluna:

Professor, o que o senhor acha de Nossa Senhora.

Numa classe de predominância católica, os pais não estavam à vontade por um professor não católico eventualmente falar de Jesus a seus filhos. Sendo cristão, e considerando que “do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mateus 12:34), era natural que eu deixasse escapar aqui e ali algum comentário sobre a graça de Deus. Logo percebi que a pergunta tinha sido mandada pelo pai ou pela mãe para ver minha reação.

Decidido a nunca bater de frente em questões de fé, ao invés de dar uma opinião desfavorável às crenças dos

alunos a respeito de Maria, pedi à menina que escrevesse seu próprio nome numa folha de papel. Ela escreveu.

Depois saí pela sala recolhendo lápis e canetas dos alunos e, indo até a garota, fui colocando os lápis e canetas entre seus dedos, enchendo sua mão. Os outros alunos olhavam com evidente interesse para saber qual a finalidade daquilo. Aí pedi que ela escrevesse novamente seu nome. Ela bem que tentou, mas só conseguiu produzir alguns rabiscos na folha de seu caderno. Então perguntei:

De quantas canetas você precisa para escrever? — perguntei.

Uma — respondeu.

As outras ajudam ou atrapalham?

Atrapalham.

O mesmo acontece com Jesus. Ele é suficiente e qualquer coisa ou pessoa que você acrescentar não irá ajudar, mas só irá atrapalhar. A Bíblia fala de “um só Mediador entre Deus e os homens; Jesus Cristo, Homem” (1 Timóteo 2:5). Não precisamos de mais do que um.

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Uma onça na janela

Que aproveita a imagem de escultura, depois que a esculpiu o seu artífice? Ela é máscara e ensina mentira, para que quem a formou confie na sua obra, fazendo ídolos mudos? Ai daquele que diz ao pau: Acorda! e à pedra muda: Desperta! Pode isso ensinar? Eis que está coberta de ouro e de prata, mas dentro dela não há espírito algum.

Habacuque 2:18,19

Coloquei uma onça em uma das janelas onde o Pintor celestial costuma expor suas magníficas telas. Não uma onça de verdade, mas uma de pelúcia com a qual meu filho costuma brincar. Por que fiz isso? Para proteger meu lar, oras! Você deve estar me achando louco, não? Deixe-me explicar antes de achar que eu seja adorador de bichos de pelúcia.

Uma pomba entrou em meu banheiro e quase me matou de susto. Quando entrei ali ainda no escuro e sonolento no meio da noite, a louca ave começou a voar e trombar com as paredes. Ela tinha entrado pela janela para dormir empoleirada na porta do box, e quando acendi a luz a pobre pomba não conseguia sair. Ela via sua imagem refletida no espelho e voava para trombar consigo mesma.

Fazer a pomba passar pela fresta do vitrô não foi tarefa fácil para quem acabara de acordar, com a bexiga estourando e sem óculos. Sem falar na sujeira que a penada deixou no banheiro, quando adotou o vidro do box como poleiro. Por isso coloquei uma onça na janela, para espantar outras pombas.

Minha explicação foi racional, mas um missionário na Índia não conseguia explicar a inutilidade dos ídolos de pau e barro para as pessoas que ele evangelizava. O panteão de deuses do hinduísmo é imenso, e lá as pessoas acreditam que aquelas imagens tenham algum poder. Não é muito diferente do que acontece no Ocidente em algumas religiões cristãs.

Um dia o missionário teve uma ideia. Comprou uma escultura de um grande cachorro e colocou na entrada de sua casa. Aí passou a dizer a todos que aquele cachorro

estava ali para guardar a casa contra os ladrões. Obviamente os indianos riram dele, até ele fazer uma analogia com seus ídolos. Se aquele cão de pedra não podia proteger sua casa, o que poderiam fazer as imagens e esculturas nas quais aquelas pessoas depositavam sua confiança?

Nem ídolos, nem imagens, nem esculturas e nem mesmo pessoas ou anjos devem ocupar uma posição especial para o cristão. Quando alguém reconheceu no apóstolo Pedro um dos discípulos de Jesus, prostrou-se diante de Pedro, só para levar uma reprimenda: “Pedro o levantou, dizendo: Levanta-te, que eu também sou homem”. (Atos 10:26). E quando o apóstolo João, em meio à visão que teve em Apocalipse, se prostrou diante de um anjo, o que aconteceu? O anjo também o repreendeu: “Olha, não faças tal; porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora

  • Deus”. (Apocalipse 22:9).

Nem imagens, nem santos, nem anjos. Para quê buscar outra coisa ou pessoa quando o próprio Jesus disse “Vinde a mim”?

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De costas para o mundo

Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” Filipenses 3:20

O Pintor celestial não expõe suas telas apenas em minha

janela. Uma das telas que ele pendurou mais alto em sua galeria foi a que vi numa foto da janela da Estação Espacial, mostrando nosso planeta de um lado ao outro da moldura. A foto e a notícia que li davam conta da experiência do primeiro astronauta muçulmano a viajar para o espaço. Por ser um muçulmano praticante de sua religião, o malasiano Muszaphar Shukor enfrentou alguma dificuldade para adaptar sua fé ao espaço.

Uma delas foi a obrigação de orar cinco vezes ao dia voltado para Meca. Mas, afinal, onde está Meca quando você está no espaço olhando para uma Terra em torno da qual a estação espacial gira dezesseis vezes por dia terrestre? Fazer oitenta orações no período de um dia na Estação Espacial não lhe deixaria muito tempo para cumprir suas tarefas como astronauta. O profeta Daniel teria tido o mesmo problema, já que também costumava orar voltado para Jerusalém:

Quando Daniel soube que o edital estava assinado, entrou em sua casa, no seu quarto em cima, onde estavam abertas as janelas que davam para o lado de Jerusalém; e três vezes no dia se punha de joelhos e orava, e dava graças diante do seu Deus, como também antes costumava fazer”. (Daniel 6:10).

O que Daniel fazia estava bem de acordo com a vontade de Deus. Era em Jerusalém que estava o Templo, o lugar que Deus havia escolhido para que fossem dirigidas todas as orações e levados todos os sacrifícios de seu povo, Israel.

E na terra, para onde forem levados em cativeiro… a ti suplicarem… e orarem para o lado da sua terra, que deste a seus pais, e para esta cidade que escolheste, e para esta casa que edifiquei ao teu nome…” (2 Crônicas 6:37,38).

Para o cristão, porém, não existe um lugar na Terra para

onde deva se dirigir em oração, “porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura”. (Hebreus 13:14). O Senhor Jesus orava “levantando seus olhos ao céu” (João 17:1) e é para lá que o cristão também dirige suas orações, pois “temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 João 2:1). É também vestido com “toda a armadura de Deus” e com suas armas espirituais apontadas para os lugares celestiais que o cristão trava batalha “contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6:12).

Ao contrário de qualquer um que dirija suas orações voltado para um templo ou cidade deste mundo, o cristão tem o privilégio de poder orar de costas para o mundo e de frente para o céu, onde Cristo está. E não apenas orar, mas ter “ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus” (Hebreus 10:19). Um astronauta cristão não iria perder seu tempo orando com os olhos voltados para o mundo, quando pode muito bem orar olhando para o céu e de costas para a Terra. E tampouco iria envidar esforços em “lutar contra a carne e o sangue” de outros seres humanos sabendo que sua luta é espiritual, “contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6:12).

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Pica-Pau

Disse-lhes, pois, Jesus: ‘Filhos, tendes alguma coisa de

comer?’ Responderam-lhe: ‘Não’.” João 21:5

Num relance o Pintor mostrou um Pica-Pau passando célere por minha janela. Com seu topete empinado o pássaro pousou na lateral do poste de concreto do outro lado da rua. Foi tudo muito rápido, e logo estava ele desafiando a gravidade naquela sua pose típica, com as garras firmemente presas à rugosidade do poste. Não demorei a perceber que se tratava de um Pica-Pau caipira, talvez em sua primeira viagem à cidade, intrigado com essas árvores esquisitas que têm fios no topo ao invés de folhas, e tronco duro como pedra.

Percebi que o Pica-Pau estava confuso. Olhava aqui, olhava ali, como se estivesse procurando por algum lugar mais mole onde bicar o poste. Seu ambiente natural não é o concreto, e sim a árvore e os insetos que se escondem sob sua casca. É deles que o pica-pau se alimenta depois de martelar a madeira com seu bico de britadeira e cérebro imune às pancadas constantes. Mas aquilo que parecia ser um tronco de árvore, não era. Não havia alimento para ele ali.

A cena fez lembrar o reencontro do Senhor com seus discípulos, após a ressurreição. Quando viram que seu Mestre havia morrido, eles voltaram a fazer o que sempre fizeram: pescar. Mas o retorno à vida de antes não podia satisfazer sua fome, e até o ato de pescar era infrutífero sem Jesus. Tudo indicava que iriam dormir sem janta.

Da margem, o Senhor fala com eles no barco: “Filhos,

tendes alguma coisa de comer? Responderam-lhe: Não.” (João 21:5). Eles ainda não sabiam que era o Senhor, mas de uma coisa tinham certeza: estavam com fome.

Assim como fazia o confuso pica-pau agarrado a um poste de concreto — ou os discípulos jogando a rede no lugar errado — costumamos nos iludir achando que podemos

encontrar satisfação plena neste mundo ou nas coisas que pareciam nos satisfazer antes de nossa conversão. Engano. O mundo pode até parecer nossa árvore, mas não é. O mar aqui pode até parecer que está para peixe, mas não está.

Para o crente, não existe satisfação alguma fora de Cristo, e muito menos no cenário de onde ele foi expulso.

Felizmente para os discípulos a história não terminou tão áspera e insossa quanto um poste de concreto para aquele Pica-Pau sem noção. Ainda antes de se darem conta de quem era aquela estranha silhueta na praia, Jesus sugeriu: “Lançai a rede para o lado direito do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes” (João 21:6). Mal sabiam eles que aquele que havia feito a sugestão era o próprio Criador dos peixes, do mar e de tudo mais.

Quanto ao Pica-Pau, decidiu voar para longe daquela árvore esquisita e insossa antes de gastar o bico que lhe restava.

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O rastro do cometa

Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.” Jeremias 31:34

O jornal anunciou que haveria uma chuva de meteoros na madrugada passada, mas não vi. De acordo com o jornal o fenômeno era devido à passagem da Terra pelo rastro deixado pela cauda do Cometa Halley, que esteve por aqui

em 1986. Apesar de o cometa ter passado há mais de vinte anos, de vez em quando a Terra cruza com seu rastro de poeira e detritos e somos lembrados de que ele esteve aqui. Infelizmente isso acontece também em nossa vida.

Outro dia alguém me disse que queria sofrer uma pane na memória para esquecer certas passagens de sua vida, e queria que a mesma coisa acontecesse com as pessoas que estiveram envolvidas nessas lembranças. Algo como passar uma borracha em tudo o que aflige a consciência como mancha que não sai nem esfregando. Não é possível, porque ainda que seja acometido de amnésia, isso não irá contagiar também todas as pessoas com quem se relacionou.

Embora Deus não tenha nada de que se arrepender, ele decidiu passar uma borracha em sua memória em relação aos pecados daqueles que creem em Cristo como Salvador. Esses são agora considerados, por Deus, como mortos com Cristo e também ressuscitados com ele. Se Cristo morreu, os pecados que ele levou morreram com ele. “Porque serei misericordioso para com suas iniquidades, e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais.” (Hebreus 8:12).

Deus coloca todo aquele que crê em Jesus numa nova trajetória, na qual não haverá um reencontro com o rastro de detritos do passado. Essa é a nossa posição, salvos, limpos, perdoados. Mas infelizmente ainda não é a nossa condição, pois continuamos vivendo em um corpo sujeito às consequências do pecado que nos arruinou. Um dia, porém, a memória daqueles que creram em Cristo ficará como a de Deus: limpa, completamente limpa.

Infelizmente nem todos os cristãos desfrutam de tranquilidade de consciência já nesta vida, por terem sido

vítimas de ensinos errados que dão a entender que a obra de Cristo não teria sido completa. Segundo os falsos mestres aos quais foram expostos, a menos que a pessoa se esforce em guardar certos mandamentos, que persevere em andar de uma determinada maneira, ou demonstre fidelidade a uma igreja ou religião, continuará aterrorizada com a sempre presente memória de pecados aos olhos de Deus e a possibilidade de ser lançada na perdição eterna.

Curiosamente a Palavra de Deus descreve os que ensinam esses erros que comprometem a tranquilidade e certeza de vida eterna como se fossem cometas ou estrelas cadentes. São chamados de “estrelas errantes, para os quais está eternamente reservada a negrura das trevas.” (Judas 1:13). Se você já viu uma foto de chuva de meteoros irá entender que o cenário da cristandade hoje é muito parecido com o futuro que Deus reserva aos falsos mestres e profetas que estão em cada esquina, nos programas de rádio e TV, e mais recentemente na Internet.

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Um manto no céu

E porás as duas pedras nas ombreiras do éfode, por pedras de memória para os filhos de Israel; e Arão levará os seus nomes sobre ambos os seus ombros, para memória diante do Senhor… Assim Arão levará os nomes dos filhos de Israel no peitoral do juízo sobre o seu coração, quando entrar no santuário, para memória diante do Senhor continuamente”. Êxodo 28

Hoje o quadro do Pintor em minha janela mostrava um

grande manto de nuvens retorcidas pairando sobre o azul do céu e o ouro do sol. Mantos ou capas nos fazem pensar em dignidade e proteção, e não creio que a imagem que Deus quis pintar no passado tenha sido diferente, quando ordenou que seus sacerdotes israelitas trouxessem sobre si um manto. Essas instruções foram dadas no capítulo 28 do livro de Êxodo.

Além do manto, Aarão, sacerdote de Israel, levava sobre os ombros duas pedras com seis nomes das tribos de Israel gravados em cada uma delas. No peito havia um peitoral de ouro, de azul, de púrpura, de carmesim e linho fino torcido. Nele estavam doze pedras: sárdio, topázio, carbúnculo, esmeralda, safira, diamante, jacinto, ágata, ametista, berilo, ônix e jaspe.

Aquelas pedras coloridas, nas quais estava gravado o nome de cada tribo de Israel, eram engastadas em ouro e colocadas sobre o fundo azul do peitoral para ficarem “sobre o seu coração” (Êxodo 28:29). O sacerdote carregava os nomes de Israel nos ombros e sobre o coração.

Hoje Cristo está no céu exercendo a função de Sacerdote, intercedendo pelos seus que ainda permanecem aqui neste mundo. À semelhança do sacerdote do Antigo Testamento, ele também traz sobre os ombros os nomes do seu povo e, sobre o coração o nome de cada um, individualmente. Você já pensou nisso? Já pensou no fato de Jesus conhecer você pessoalmente, saber o que está passando e sentir por você um amor tão especial ao ponto de levar seu nome bem sobre o coração?

Ao que vencer” — promete ele — “darei do maná escondido, e lhe darei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.” (Apocalipse 2:17).

Que amor sublime tiveste, Jesus, Esse admirável amor sem igual, Quando provaste a morte na cruz, Para salvar-nos do juízo eternal!

Oh! Duvidar não podemos jamais, Desse insondável amor, ó Jesus. Em Ti achamos perdão e a paz, Temos acesso ao reino de luz.

Cristo, Senhor, Soberano e Deus,

Nos redimiste por graça e favor;

Nos garantiste entrada nos céus,

Ao Pai nos levas com laços de amor.

Oh! Que amor! Oh! Graça sem par!

Que a Ti moveu pra nos salvar.

Oh! Que amor! Oh! Graça sem par!

Amor tão singular!

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A hora da virada

E como os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o entregaram à condenação de morte, e o crucificaram. E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram.” Lucas 24:20, 21

Às vezes bastam apenas alguns minutos para o quadro em minha janela mudar completamente. O dia começa com um cenário maravilhoso saído da paleta do Pintor, com raios de sol iluminando as nuvens mais altas e trazendo um

prenúncio de bom tempo. De repente, em questão de minutos, tudo muda e o que resta é um céu plano como uma mesa, sem nuvens nem variações.

Que perspectiva de glória tiveram os discípulos do Senhor diante de seus olhos, quando conheceram o Senhor, quando viram seu poder e autoridade sobre os elementos. O vento e o mar lhe obedeciam, as enfermidades fugiam dele, o alimento se multiplicava em suas mãos como num passe de mágica para alimentar multidões. Ele era capaz de mudar o clima e a matéria. Quando seus discípulos o viram acalmar o temporal, indagaram entre si: “Mas quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Marcos 4:41).

No breve período do ministério de Jesus os discípulos também tinham visto sua rejeição, mas o que era aquilo diante de tamanho poder? O que os homens poderiam fazer com aquele que tinha vindo para remir e libertar Israel do jugo de sua escravidão imposta pelo invasor romano? Eles não imaginavam que alguém seria capaz de fazer frente a tamanho poder por não entenderem que o Filho do Homem estava no mundo na condição de um humilde servo.

Como acontece com a tela do Pintor em minha janela, de repente tudo mudou. Aquele que os discípulos esperavam ver num trono, reinando sobre Israel, estava nu diante de seus olhos, massacrado pelos açoites dos soldados, coroado de espinhos e pregado numa cruz. De seu lado ferido saía sangue e água. Como podia aquele que era capaz de fazer o cego enxergar não conseguir curar sua própria ferida? Estava morto o Senhor. Os elementos, antes sujeitos a ele, pareciam sucumbir diante de seu abandono e dor. O sol recusou-se a mostrar sua luz e a terra entrou em convulsão. “E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até à hora nona, escurecendo-se o sol… Tremeu a terra, e fenderam-se as pedras” (Lucas 23:44; Mateus

27:51).

A aparente derrota de Jesus era, na verdade, a maior de todas as vitórias. O jugo e a opressão das quais seus discípulos seriam libertados naquela hora eram muito maiores e mais sérios do que o mero domínio do invasor. Não era de César, o soberano romano, que seriam libertos. Ali, naquela cruz, estava o vitorioso Vencedor do “príncipe deste mundo”, da antiga serpente, Satanás, o verdadeiro opressor. Por isso o autor da carta aos Hebreus aconselha: “Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos”. (Hebreus 12:3).

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Pronto para a partida

Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo.” Tito 2:13

Acho que adquiri a mania de olhar pela janela para ver qual o quadro que o Pintor irá colocar ali. Se eu mantiver meus olhos para baixo, verei postes e fios, os telhados das casas, a rua, as pessoas, os carros. Essas coisas são praticamente as mesmas todos os dias, algumas em movimento, outras não. Mas se olho para o céu, vejo sempre uma pintura diferente saída de movimentos, ora vigorosos, ora suaves, da mão do Pintor celestial.

Outra de minhas manias eu coloco em prática em minhas

viagens. Como viajo muito a trabalho e fico em muitos hotéis diferentes, acabei criando o hábito de manter sempre minhas coisas juntas no quarto do hotel. A razão é simples: se termino meu trabalho em cima da hora de correr para o aeroporto fica mais fácil jogar tudo na mala para não perder o voo. Com tudo reunido num só lugar posso sair do hotel literalmente voando.

Penso que a vida neste mundo deveria ser assim também, estarmos sempre prontos para partir, sempre aguardando a vinda do Senhor para vir nos buscar a qualquer momento. Se eu viver espalhando minha atenção por muitas coisas e lugares, a distração pode me fazer perder de vista o maior acontecimento de minha vida: meu encontro com Cristo, meu Salvador e Senhor.

A pintura do céu me surpreende a cada manhã, mas a perspectiva de olhar para a face de Cristo em um fechar e abrir de olhos tem um valor que não dá para comparar. Deixe-me fazer uma comparação imaginária. Digamos que você decida visitar o Museu do Louvre para conhecer as obras dos maiores pintores da humanidade. Porém, ao chegar lá, descobre que o museu usou uma máquina do tempo para trazer os próprios artistas. Ali, ao lado de suas obras, estão Da Vinci, Michelangelo, Monet, Manet, Caravaggio, Degas, Delacroix, Cézanne, Rembrandt, Modigliani, Toulouse-Lautrec, Matisse, Vermeer, Botticelli…

Você entendeu. É maravilhoso contemplarmos as obras do Criador, mas muito mais maravilhoso será estarmos na presença do próprio Artista, o Pintor celestial. Ao longo das eras Deus se manifestou de diferentes maneiras para diferentes pessoas, e a carta aos Hebreus nos fala disso. A maneira mais primitiva da manifestação de Deus foi por meio das obras criadas. Depois vieram seus profetas, até

chegar Aquele de quem a Bíblia diz que “todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (João 1:3).

Portanto espero que compreenda que, quando falo das obras do Pintor em minha janela, meu olhar vai muito além delas e procura focar no Artista, não apenas na arte. “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” (Hebreus 1:1).

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Reencontro

E, sendo já manhã, Jesus se apresentou na praia, mas os discípulos não conheceram que era Jesus. Disse-lhes, pois, Jesus: Filhos, tendes alguma coisa de comer? Responderam-lhe: Não.” João 21:4-5

Assim como acontece agora no quadro do Pintor em minha janela, amanhecia quando os discípulos de Jesus perceberam que havia alguém na praia. Depois daquele fatídico dia em que viram seu Mestre ser preso, condenado e morto numa cruz, eles tinham voltado às suas antigas atividades de pesca, como se nada significasse terem conhecido o Senhor. A experiência de terem andado com ele; de terem sido por ele comissionados para pescadores de homens, ou presenciado sua morte e ressurreição, parecia algo distante e irreal.

Como geralmente acontece quando tentamos levar uma vida longe do Senhor, os discípulos sentiam fome e nada

tinham para comer. Da praia, apesar da distância que os separava, o vulto de um homem sugere que joguem a rede do lado direito do barco. Do lado certo. Diante da pesca milagrosa, Pedro reconhece o Senhor e logo todos chegam

  • praia, onde encontram “brasas, e um peixe posto em cima, e pão” (João 21:9).

Quem alguma vez já fez uma fogueira com troncos de árvores sabe que leva algum tempo até conseguir um braseiro. A fogueira que o Senhor fizera não tinha fogo, apenas brasas. Fazia tempo que ele estava ali esperando por eles. No reencontro o Senhor nada cobra deles, não faz qualquer reprimenda e nem lhes dá um sermão. Apenas sacia sua fome com o pão e o peixe que já havia preparado, aparentemente adicionando depois ao braseiro os peixes que eles pescaram com sua ajuda. Toda provisão vinha dele somente.

Somos relutantes em buscar um reencontro com o Senhor porque achamos que ele irá cobrar o tempo que ficamos longe, os erros que cometemos, as coisas que deixamos de fazer. Então passamos a querer ‘mostrar serviço’, como se o Criador do Universo precisasse de alguma coisa vinda de nós. Desconfiamos e temos receio de nos aproximarmos dele por não entendermos que ele nos espera, paciente, com tudo de que precisamos.

Cristo está conosco, que consolação! Tal presença tira toda a aflição; Temos a promessa do bom Salvador: “Não vos deixarei nunca, Sempre convosco estou”.

O que nos protege nunca dormirá;

Se estamos fracos nos sustentará.

E de nossa vida é mantenedor,

Quão fiel a palavra:

Sempre convosco estou”.

Aguardando a Cristo nos infunde fé;

Diz: “Em Minha vinda Eu vos levarei,

E vos dou certeza: não vou demorar,

Mas até que Eu venha,

Firmes ireis trabalhar”.

Não temos temor, não estamos sós;

Jesus tem prometido: “Sempre convosco estou”.

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Aprisco ou rebanho?

Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.” João 10:16

De minha janela o quadro que enxergo é o encontro de três muros que dividem o terreno de meu prédio e dos prédios vizinhos. Uma cerca elétrica sobre o muro deixa claro que ninguém poderá passar de um lado para o outro, ou sofrerá as consequências.

Tudo o que o homem faz tem muros, cercas e fronteiras. Respeitamos esses limites, ou não; identificamos as coisas por estarem dentro ou fora; avaliamos as pessoas por pertencerem ou não aos limites impostos por esses muros. O poder que limita as pessoas e não permite sua livre circulação é formado por cercas, regras e muros.

Quando Deus deu ao homem o judaísmo, uma religião de formas, leis e rituais, criou todo um sistema que mantivesse

os israelitas dentro de seus muros e reunidos por suas cercas. O Senhor se referia àquele povo como suas ovelhas reunidas pelas cercas de um aprisco, a Lei.

Aprisco é o lugar onde mantemos cabras e ovelhas, e é também chamado de curral quando usado para o gado em geral. Lembro-me de um aprisco que construí em meu sítio e a coisa mais difícil era levar as cabras para dentro dele e mantê-las ali. Era preciso vigiar, ou elas acabavam pulando o portão ou se esgueirando por entre os arames da cerca.

As ovelhas eram mais dóceis e descobri que não precisava enxotá-las para dentro do aprisco quando queria coloca-las lá. Bastava caminhar na frente e elas me seguiam mansamente, sem nada duvidar.

O Senhor disse aos seus discípulos judeus que tinha outras ovelhas que não pertenciam ao aprisco ou sistema religioso judaico. Um dia ele as chamaria, elas ouviriam sua voz e lhe seguiriam. Não haveria mais um aprisco, mas um rebanho, que é a simples reunião das ovelhas em torno de seu Pastor.

Enquanto o aprisco precisa de cercas para reunir as ovelhas, o rebanho precisa apenas de um pastor que as atraia e a quem elas sigam. No aprisco elas permanecem onde estão pelos limites que lhes são impostos. No segundo, são atraídas como a um imã, sem necessitar de cercas ou muros. No primeiro, é a cerca ao redor que as reúne. No segundo, é o Pastor no centro que as atrai. Alguém definiu aprisco como um círculo sem um centro e rebanho como um centro sem um círculo.

O que mantém você onde está? A religião ou Cristo, o Pastor? E onde você está, no aprisco ou no rebanho?

Disse Jesus: “…aí estou eu no meio deles.” (Mateus 18:20).

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Elefantes que voam

Lança o teu fardo sobre o Senhor, e ele te susterá; nunca permitirá que o justo seja abalado.” Salmos 55:22

Não é apenas na janela de meu apartamento que o Pintor expõe seus quadros. Outro dia o Pintor fez passar uma manada de elefantes no quadro da janela do avião no qual eu viajava. Sim, elefantes, dezenas deles! Não, eu não estou falando da brincadeira de olhar para as nuvens e encontrar nelas formas parecidas com animais ou pessoas. Estou falando de peso, de toneladas.

Cada elefante pesa cerca de seis toneladas e seria impossível um deles voar, por mais que batesse suas enormes orelhas como se fossem as asas do fictício Dumbo.

  • claro que o homem conseguiria colocar alguns elefantes no ar dentro de um grande avião, mas não a quantidade que vejo no quadro da janela do avião que voava sobre flocos de nuvens. Ali havia dezenas, talvez centenas deles. Quer ver?

Pelo que andei pesquisando, uma nuvem não muito grande chega a pesar quinhentas e cinquenta toneladas. É o peso da água que flutua em forma de vapor, mas quando todo esse vapor volta ao estado líquido estamos falando de um peso de água equivalente a noventa elefantes. Tudo isso voando em uma nuvem pequena. E nas grandes, quantos elefantes há?

Numa nuvem de tempestade você encontraria o equivalente a duzentos mil elefantes, bem ali, pairando sobre sua

cabeça enquanto você caminha pela calçada e tenta abrir seu frágil guarda-chuva para se proteger. Quer saber quantos elefantes voam em um furacão? Quarenta milhões. Sabe o que isso significa? Que a nuvem que forma um furacão pesa muito mais que todos os elefantes que restam hoje no planeta.

Então quantos elefantes você está sentindo sobre os seus ombros hoje? Das nuvens, provavelmente nenhum, mas há outros fardos que carregamos e nenhum cristão escapa deles. Alguns são leves, mas outros equivalem ao peso de muitos elefantes.

Você não pode evitar que uma nuvem enorme fique pairando sobre sua cabeça, mas o Senhor pode fazer com que ela não destrua seu guarda-chuva e esmague seu corpo como que pisado por uma imensa pata de um gigantesco paquiderme. O mesmo Senhor, que tem o poder para fazer toneladas de água flutuarem no ar, também é capaz de carregar nossos fardos.

Se não fossem as nuvens com toneladas de água pairando sobre nosso planeta não haveria vida na Terra. Cedo ou tarde todo aquele peso, que flutua como uma grande manada de elefantes, despenca na forma de chuva para gerar vida e alimento em abundância para a sobrevivência do planeta. Então você descobre que até um peso, por maior que seja, pode se transformar em bênção.

Ele é que cobre o céu de nuvens, que prepara a chuva para a terra, e que faz produzir erva sobre os montes” (Salmos 147:8).

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Relâmpago

Como o relâmpago ilumina desde uma extremidade inferior do céu até à outra extremidade, assim será também o Filho do homem no seu dia.” Lucas 17:24

Uma das mais fantásticas forças da natureza estava no quadro que o Pintor deixou em minha janela ontem à noite. Naquele momento e lugar, cem milhões de volts aqueceram o ar a quarenta mil graus centígrados por um raio que rasgou o céu e acertou o para-raios de um prédio no horizonte. Por um instante a cidade se iluminou como que fotografada com flash. Eu não gostaria de estar ali, e nem você.

Não é à toa que a Bíblia usa a figura do relâmpago para anunciar a próxima vinda de Cristo. Será algo inconfundível e que ninguém deixará de ver e nem poderá barrar. Ele não virá como aquele Homem humilde que esteve aqui há dois mil anos para morrer numa cruz em nosso lugar. Ele voltará para julgar e reinar.

Mas antes de sua vinda como um relâmpago que ilumina todo o céu, ele virá secretamente, do mesmo modo como foi secreta a sua partida deste mundo, a qual apenas os seus discípulos puderam presenciar.

Nenhum incrédulo viu quando Jesus subiu ao céu, depois de ter ressuscitado. Nenhum incrédulo verá quando ele vier para se encontrar nos ares com sua Igreja, seu próprio corpo formado por todos os que foram salvos por ele. Virá como o Noivo amoroso para buscar sua noiva. Mais tarde ele voltará como o Filho do Homem, aí sim como o raio que risca o céu e não pode ser barrado. Como você espera encontrá-lo?

Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.” (1 Tessalonicenses 4:14-18).

Em meio a tempestade, de Ti, já vemos luz, Seguros nos achamos ao Te seguir, Jesus;

  • luz de paz e glória que desce do bom Lar, Renova a certeza: Prepara-nos lugar!

Cansados nos achamos do mundo vil aqui, Mas logo entraremos na Tua morada aí; Imersos em Tua glória veremos o Teu Ser, E as marcas que revelam Teu rude padecer.

Não há riqueza alguma que chegue a comparar

As bênçãos reservadas aos Teus, por Teu penar.

Maior que todo prêmio será vermos, então,

Teu Ser, visão sublime, a encher-nos de emoção!

Que encontro tão excelso espera-nos, Senhor, Desfecho glorioso da história de amor, Que é sempre inigualável, enredo singular, Do Filho vindo ao mundo o pecador salvar!

Tão certo, sim! Seguros, sim!

Oh! Graça singular!

Tu nos virás buscar e enfim,

Nos levarás ao Lar!

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O fim da viagem

Não me chameis Noemi; chamai-me Mara, porque o Todo-Poderoso me encheu de amargura.” Rute 1:20

No céu de um dia nascente o Pintor em minha janela colocou um quadro com um risco brilhante em movimento. O fio de prata que riscava o céu na luz do sol nascente era a condensação que marcava o trajeto de um avião. De onde estaria vindo? Para onde iria? Não faço ideia. Tampouco seria capaz de adivinhar se as pessoas que viajavam ali teriam um final feliz em sua viagem. Não dava para saber.

Elimeleque decidiu fazer uma viagem arriscada. Depois de sair de Belém sua terra natal — nome que significa “casa do pão” — viajou com sua família à terra de Moabe, longe do lugar onde Deus havia prometido pão e sustento. As circunstâncias da época fizeram com que ele pensasse que poderia encontrar sustento fora do lugar que Deus havia preparado para eles. Não encontrou nada além da própria morte.

Sua esposa, Noemi, agora viúva, é vista voltando sem o marido e os filhos que morreram em terras estrangeiras. Voltam com ela suas duas noras gentias, uma das quais decide permanecer junto à sogra e adorar ao Deus verdadeiro. Seu nome é Rute, a moabita, descendente de um povo que havia sido amaldiçoado por Deus.

Na volta Noemi pede que a chamem Mara, que significa “amarga” ou “amargurada”, porque achou que tinha sido Deus quem a tinha tornado assim. Foi precipitada em suas

conclusões. A viagem ainda não havia terminado.

Você já assistiu um daqueles filmes em que o mocinho apanha o filme inteiro, para sair vitorioso só no final? Qualquer conclusão precipitada antes do final teria sido errada. Assim é sua viagem e também a minha aqui nesta vida. Não tire conclusões antes de conhecer o final da história. A propósito, na Bíblia ninguém jamais chamou Noemi de “Mara”. Era ela que se achava assim.

Sua nora Rute conheceu seu novo marido, um homem rico e poderoso, e com ele teve um filho que viria a ser ancestral de Jesus, o Senhor. Mas essa história também não terminou. Ela ainda está em andamento e seu Autor já revelou qual será o seu final.

Esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3:13, 14).

Nunca desmaies na aflição, Deus cuidará de ti; Com Suas asas de proteção, Deus cuidará de ti.

Em teus afãs e na tua dor, Deus cuidará de ti; E nos ataques do tentador, Deus cuidará de ti.

Nada na vida te faltará, Deus cuidará de ti; Sempre a graça te bastará, Deus cuidará de ti.

Em horas negras de provação, Deus cuidará de ti; Pela confiança em Sua mão, Deus cuidará de ti.

Deus cuidará de ti, com terno amor consolador, Sim, cuidará de ti, Deus cuidará de ti.

—— o ——

Tudo muito mais abundantemente além

Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda boa obra.” 2 Coríntios 9:8

O prédio no meio do quadro que o Pintor deixou hoje em minha janela se sobressai de um fundo de pinceladas enérgicas e cinzentas que compõem o céu ao fundo. Será um raio de sol que vazou de entre as nuvens colocando aquele facho de luz sobre o prédio, como se este fosse o ator principal do grande palco que é o mundo? Talvez.

  • impressionante como Deus sempre encontra uma brecha para derramar Sua luz sobre nós e nos abençoar como se fôssemos únicos, mesmo quando as circunstâncias são cinzentas e carregadas como nuvens que antecedem o temporal. Aí ele abre seus depósitos de amor e faz com que “toda graça” esteja à nossa disposição. E mais, “em tudo” e com “toda suficiência”, para que isso resulte em “toda boa obra”, especialmente aquelas que desencadeiem uma torrente de adoração e louvor.

Às vezes fico sem saber como orar ou o que pedir e passo alguns minutos apenas louvando e adorando a Deus pelo que ele é. Esgotadas as ideias e sem qualquer imaginação sobre o quê ou como pedir, me rendo e deixo que ele decida. Acho que aprendi que independente do que eu peça ou imagine, ele fará “tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera”. (Efésios 3:20).

A eternidade não será capaz de esgotar todo o louvor, gratidão e adoração daqueles que um dia receberam a maior de todas as dádivas — a vida eterna — e depois passaram o

pouco tempo de vida que lhes restava aqui sendo cuidados pelo “Deus de toda consolação” (2 Coríntios 2:3). Nem todos perceberam que estavam debaixo de um foco de luz, como os moradores daquele prédio que é o único iluminado pelo sol no horizonte. De minha janela eu podia ver que estavam sob um banho de luz, mas eles mesmos não sabiam o quanto estavam sendo iluminados.

Tu, Senhor, nos guias sempre, nada temos a temer;

  • amado, em Tuas mãos, nada pode acontecer; Temos paz perfeita, infinda, sob a Tua proteção; Confiantes descansamos em tão carinhosas mãos.

Tu, Senhor, nos guias sempre, neste mundo, vil lugar, Com amor concedes forças para nosso fraco andar; Perecer, jamais podemos, pois eterna e sem cessar, É a vida que em Ti temos em razão do Teu penar.

Tu, Senhor, nos guias sempre — Oh! Quão terno é Teu amor!

Salvação e glória eterna já nos deste, Salvador; Logo vem raiando o dia – almejamos tal porvir! – Quando, juntos, poderemos Tua voz sublime ouvir.

Num fechar e abrir de olhos – não há tempo pra esperar – Nos veremos face a face com Teu Ser e no Teu Lar; Cantaremos ao Cordeiro que Seu sangue derramou, E da morte, do pecado e do inferno nos salvou!

Quem dirige de madrugada sabe que a hora mais escura não

  • a noite, mas aquela que antecede a manhã. —— o ——

A vida no exílio

Ora, estes são os que vieram a Davi a Ziclague, estando ele ainda tolhido nos seus movimentos por causa de Saul…

Estes são os que passaram o Jordão no mês primeiro, quando ele transbordava por todas as suas ribanceiras.” 1 Crônicas 12:15

O quadro em minha janela é triste neste sombrio amanhecer. As luzes da rua são refletidas pelo asfalto molhado enquanto a chuva se recompõe para voltar com força total. Choveu a noite toda e as cenas do noticiário na TV mostram cidades alagadas, casas destruídas e vidas perdidas. Muitos lugares se transformaram em um verdadeiro caos. Uma cidade que costumava receber milhares de turistas nesta época do ano está vazia por causa das chuvas. Ninguém quer ir lá.

Tampouco ninguém queria ir a Davi quando ele estava no sombrio exílio que precedeu seu reinado. Em 1 Crônicas 11 juntaram-se a ele apenas indivíduos igualmente rechaçados pela sociedade. Então no capítulo 12 já vemos grupos que decidem servi-lo. No capítulo 13 os que restavam vão a ele com o propósito de fazê-lo rei. Davi é uma figura de Jesus.

Quando Jesus esteve aqui apenas pobres, aleijados e enfermos o buscavam, além de seus discípulos, homens rudes e simples. Depois de ser expulso deste mundo deixou aqui um único grupo chamado Igreja, que é o seu corpo. Depois que a Igreja partir deste mundo no arrebatamento, o seu povo terreno, Israel, o reconhecerá como Rei cerca de sete anos mais tarde, quando ele voltar para colocar seus pés na terra e reinar.

Mas isto não é agora e nem são os que fazem parte da

Igreja — os crentes deste período atual — os seus súditos.

Da Igreja o Senhor não é Rei, e sim Cabeça. Aos seus nesta

dispensação ele não chama de súditos, mas irmãos. Porém muitos cristãos hoje se deixaram levar por lobos que transformaram a cristandade numa horrível caricatura do cristianismo original, com seus templos luxuosos, organizações poderosas e influência na política e nos negócios deste mundo e de seu príncipe, que continua sendo Satanás. (João 14:30).

Jamais o Senhor quis que os seus tomassem este mundo de assalto para transformá-lo em um mundo cristão. Se quisesse, ele teria enviado suas hostes angelicais para livrar seu povo, ou teria permitido que Pedro usasse sua espada à vontade para cortar mais orelhas no momento de sua prisão.

O Senhor em nenhum momento planejou marchas para Jesus ou quis fazer deste ou de qualquer país a maior nação evangélica do mundo, como querem alguns que tentam fincar bandeira em uma terra de peregrinação. Quem vai atrás dessas coisas não é um entendido “na ciência dos tempos” (1 Crônicas 12:32), como eram alguns dos que se juntaram a Davi.

Para o cristão, o momento atual é como o de um mundo alagado por um temporal, transbordando impiedade e maldade “por todas as suas ribanceiras”. Para Davi, aquela era a pior hora para cruzar o rio Jordão, a mais perigosa. Para o crente hoje, seguir a Jesus não é buscar uma vida fácil e livre de perigos, mas se sujeitar a uma vida no exílio. Hoje Cristo está por nós no céu, e nós estamos por ele na terra.

Este não é um mundo favorável a Cristo e aos cristãos e nem espere que seja. A apostasia — abandono da verdade

seguirá a passos largos. Mas todos os homens e mulheres descritos no episódio de 1 Crônicas 12 sabiam que era melhor ser exilado com um Davi rejeitado do que

morar no conforto da corte de um Rei Saul.

—— o ——

Fiquem quietos

Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos, e vede o livramento do Senhor, que ele hoje vos fará.” Êxodo 14:13

Fiz duas fotos do quadro em minha janela esta noite. Da mesma janela, da mesma paisagem. Na primeira mantive a mão firme e a câmera registrou a imagem perfeita: a rua, as luzes da iluminação pública e das janelas, o reflexo delas no asfalto molhado. A câmera estava em repouso, assim como o quadro em minha janela. Na segunda foto tremi de propósito e quase não se pode identificar o quadro, pois as luzes se transformaram em pinceladas enérgicas descaracterizando totalmente a imagem.

Quando o povo de Deus se viu diante de um problema maior do que podiam resolver, ficaram agitados como a mão que segurava a câmera. Eles tinham sido tirados do Egito pela mão firme e segura de Deus, mas agora se encontravam entre duas altas montanhas e diante do Mar Vermelho. Um verdadeiro beco geográfico.

Ao olharem para trás, viram a poeira levantada pelo exército de faraó que vinha ao encalço deles para exterminá-los. Os israelitas tinham todos os motivos para estarem agitados, nervosos e descrentes de tudo. A visão deles perdeu o foco, a preocupação cresceu, as mãos tremeram. O que eles não percebiam era que a mesma mão

firme que havia tirado aquela multidão do Egito iria guardá-los até na travessia pelo fundo mortal do Mar Vermelho.

Não é assim que você fica às vezes? Quando não são os problemas declaradamente insolúveis, são os compromissos da vida e do trabalho que exigem mais do que as 24 horas que temos por dia. Tudo indica que não vamos conseguir, que a conta não vai fechar no final do mês, que Deus se esqueceu de nós. Mas será que aquelas mãos pregadas na cruz teriam sido fixadas ali em vão? O apóstolo Paulo faz uma pergunta semelhante em sua carta aos Romanos:

Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 8:31-39).

Quando a visão perde o foco, o Senhor nos diz, como disse aos israelitas encurralados: “Aquietai-vos”. Quando o

trabalho é demais, ele convida, “Descansai”. Aos que que estavam afadigados até mesmo por estarem trabalhando para o Senhor, ele lhes disse: “Vinde vós, à parte, para um lugar deserto, e descansai um pouco. Porque eram muitos os que vinham e iam, e não tinham tempo nem para comer.” (Marcos 6:31). Não, Deus não é indiferente aos problemas dos que são seus. Por isso diz: “tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados” (Hebreus 12:12).

—— o ——

Se minha casa fosse em Marte

Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” Filipenses 3:20

Esta manhã o Pintor criou uma cena marciana em minha janela. A luz do sol que atravessava a névoa deixou a paisagem avermelhada como se minha cidade fosse em Marte. Então pensei: “E se meu lar fosse em Marte e eu estivesse na Terra a trabalho?”. Vivendo como um expatriado neste planeta eu teria saudades de lá, como se sentiam os judeus no exílio: “Junto dos rios de Babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião”. (Salmo 137:1).

Se minha casa fosse em Marte eu viveria preparado para partir a qualquer momento, na expectativa da chegada daquele que me levaria de volta para lá. “Porque ainda um pouquinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará.” (Hebreus 10:37). Previdente, garantiria minha passagem o quanto antes, de preferência “Hoje” (Hebreus

3:15). Não teria receio da viagem, pois confiaria no Piloto, “porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.” (1 Tessalonicenses 4:16).

Ao me preparar para a viagem, não juntaria bagagem desnecessária, como “tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam.” (Mateus 6:19). Procuraria levar apenas o que pudesse despachar para o “céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.” (Mateus 6:20).

Vivendo na Terra, eu estaria sempre em contato com meu lar, orando “sem cessar.” (1 Tessalonicenses 5:17). Buscaria saber como andar aqui com a luz que me chegasse de lá, pois “lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho.” (Salmo 119:105). Procuraria praticar sempre meu idioma natal, falando com meus irmãos marcianos “em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração.” (Efésios 5:19). Procuraria me encontrar regularmente com eles, por ter aprendido que “todos os que criam estavam juntos” (Atos 2:44).

Viveria aqui como um extraditado, de passagem por este planeta, sabendo que eu e meus irmãos seríamos “estrangeiros e peregrinos na terra” (Hebreus 11:13). Usaria aqui só o melhor perfume vindo de lá, “porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem.” (2 Coríntios 2:15). Não me cansaria de falar de Marte a parentes e amigos, pois a ordem que recebi de minha terra natal é “que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.” (2 Timóteo 4:2).

Enfim, eu insistiria o tempo todo para que os terráqueos que encontrasse fossem morar lá. “Assim que, sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens à fé.” (2 Coríntios 5:11). E você, como viveria aqui se a sua casa fosse no Céu?

—— o ——

Variedade

Todas as coisas foram feitas por intermédio dele [Jesus], e sem ele nada do que foi feito se fez.” João 1:3

A cada manhã olho pela mesma janela, vejo a mesma cidade, o mesmo horizonte e o mesmo céu. Meu costume de sempre fotografar o quadro do Pintor em minha janela me mostrou ser impossível obter duas fotos exatamente iguais. O Pintor é extremamente criativo e não gosta de se repetir, mesmo que seu modelo seja uma mesma janela, uma mesma cidade, um mesmo céu.

Agora pense no número de janelas existentes no planeta, na variedade de cores, cenários e horizontes, sem falar a mutação constante do céu. Já deu para perceber que a galeria do Pintor é infinita e multidimensional, assim como sua sabedoria, que é expressada por meio da Igreja, o conjunto de todos os que um dia creram em Cristo e foram salvos por ele. Dessa infinitude escreveu o apóstolo Paulo, quando falou de sua missão:

A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a

todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Efésios 3:8-11).

Mas existem também as telas do Pintor que ficam sem moldura, armazenadas em um Universo sem janelas. Nosso sistema solar é apenas uma poeira se comparado ao número estimado entre 200 e 400 bilhões de estrelas — ou sistemas solares — existentes só na Via Láctea. Quantas telas, quantos cenários, quantos motivos para serem pintados!

A Via Láctea é imensa. Se você conseguisse uma espaçonave dez vezes mais rápida do que a mais rápida existente, iria viajar um bocado até chegar à estrela mais próxima de nós. A 500 mil quilômetros por hora levaria

8.200 anos para chegar lá, e ainda assim essa estrela seria apenas um dos 200 ou 400 bilhões de sóis só desta galáxia. Se pretender fazer esta viagem sugiro que deixe para visitar as outras estrelas mais tarde.

Volto a lembrar que ainda não saímos da Via Láctea, nossa galáxia. Com o telescópio Hubble é possível enxergar 3 mil galáxias, mas o número exato das existentes ninguém sabe. O último cálculo estava em 500 bilhões, cada uma com seus 200 a 400 bilhões de estrelas, cada estrela com uma dúzia ou mais de planetas e é de um deles, que tem bilhões de janelas, que vejo estes quadros do céu.

E pensar que o Filho de Deus, o Criador disso tudo, decidiu se fazer Homem para vir a este mundinho pequenininho salvar pessoas como eu, que estava fadado a viver uma vida de rebelião contra ele. Imagine só, o Filho de Deus me encontrou nessa imensidão do Universo e quis me salvar!

De minha janela não posso ver mais que um átomo da imensidão do Universo. Da janela de Deus ele pode ver cada uma de suas criaturas e é capaz de se compadecer delas, como se compadeceu de mim.

—— o ——

Os dois lados da moeda

…para que também possamos consolar.” 2 Coríntios 1:3, 4

O quadro em minha janela aparece hoje de duas maneiras: direito e avesso. Bem, ao menos foi assim que o deixei depois de tirar uma foto e inverter suas cores usando um programa de edição de imagem. Minha intenção foi exatamente a de inverter a imagem real criando seu negativo, pois, afinal, é o que fazemos o tempo todo.

Refiro-me a olhar as coisas apenas na sua versão negativa e esquecer que por detrás dela existe a imagem real. Tribulações, por exemplo, têm sempre dois lados. Sei que fica difícil acreditar nisso na hora da dor de dente, mas pelo menos é assim que o apóstolo Paulo apresenta a coisa toda em 2 Coríntios:

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.” (2 Coríntios 1:3-4).

Alguém escreveu que “não somos confortados para nos

sentirmos confortáveis, mas para confortarmos alguém”. Foi o que Paulo quis dizer. É inevitável passarmos por tribulações, mas o que fazemos com elas? Emolduramos o negativo daquilo que Deus permite em nossa vida, penduramos seu resultado sinistro na parede da sala e passamos o resto da vida remoendo a dor? Ou saímos a procurar por alguém que esteja passando por tribulação semelhante para servirmos de consoladores? É tudo uma questão de atitude.

Deus nos consola em toda tribulação na mesma medida com que somos atribulados. Nuvens carregadas podem produzir raios e chuva. Ambos têm grande poder de destruição, causando incêndios e inundações. Todavia, juntos eles mais ajudam do que atrapalham: Os raios quebram as moléculas de nitrogênio e oxigênio na atmosfera produzindo o óxido de nitrogênio que é trazido pela chuva fertilizando o solo. Sem qualquer um deles a vida no planeta não seria a mesma.

Se elementos da natureza, que eventualmente produzem catástrofes e tristezas, podem trazer bênçãos para a vida na Terra, o que dizer das coisas que Deus permite que passemos aqui? Afinal, sem a morte de Cristo, que a princípio decepcionou seus discípulos, não haveria ressurreição. Sem o seu sacrifício naquela cruz maldita não haveria expiação ou retirada de pecados. Se não fosse pelas dificuldades aqui na Terra, será que alguém iria querer aspirar por uma vida no céu?

—— o ——

De onde vem sua energia?

Sem mim nada podeis fazer.” João 15:5

Os grandes transformadores presos aos postes, que vejo no quadro emoldurado por minha janela, revelam que toda a energia elétrica que facilita minha vida chega até mim por meio deles. A energia vem de longe, talvez de alguma usina geradora a centenas ou milhares de quilômetros de minha casa. Eu não gero minha própria energia, apenas desfruto daquela que chega até mim pela rede pública.

Da mesma forma, não tenho vida por mim mesmo, se hoje estou vivo é pelo poder de Deus que me dá vida. E se tenho hoje meu destino eterno traçado, também é pelo poder de Deus, que ressuscitou a Cristo. Sim, aquele mesmo Jesus que me substituiu na cruz, levando sobre o seu corpo os meus pecados e recebendo a paga devida pelos meus atos. Mas não para aí.

Tudo o que sou e tenho só é possível pelo poder, misericórdia e graça de Deus. Nada é meu e nada consegui sozinho. Seria tão insano achar que poderia existir e funcionar sem Deus, quanto considerar que meu chuveiro elétrico seria capaz de funcionar sem a eletricidade que chega pelos fios. Ah, sua casa tem aquecedor solar ou a gás? Então agradeça a quem criou o sol ou o gás. Sabendo disso, da próxima vez que fizer planos, você irá querer incluir Aquele de quem emana todo poder, misericórdia e graça.

Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos; digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos,

faremos isto ou aquilo”. (Tiago 4:13).

Precisa dizer mais? Não precisa, mas você não pensou que eu fosse parar aqui, pensou? Então vou acrescentar algo para o caso de não ter deixado claro o que aconteceu há dois mil anos.

Para que a energia que chega em meu apartamento seja útil, ela precisa ser transformada. Seria um desastre ligar meu liquidificador numa tomada de 11 mil volts, que é o que passa pelos fios mais altos da rede pública. O transformador faz esse meio-de-campo.

Há dois mil anos Alguém precisou ficar entre mim e Deus quando toda a carga do juízo divino desceu dos céus, a mesma que no futuro voltará a cair, então sobre quem não creu. Há dois mil anos Cristo recebeu essa carga sobre si; foi ele que transformou o juízo que caiu sobre ele em bênção derramada sobre mim. Se não fosse por ele, eu seria consumido como serão todos os que rejeitam essa mediação feita por Jesus.

  • a fé em Cristo e nessa obra “o fio” que agora me liga a Deus. Hoje apenas os benefícios daquela obra chegam até mim e, porque Cristo vive, posso ter a certeza de um futuro feliz, pois sempre haverá um céu esperando por mim. Não é uma perspectiva agradável a você?

—— o ——

Ano Novo

Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: ‘Rompamos as Suas ataduras, e sacudamos de

nós as Suas cordas.’ Aquele que habita nos céus Se rirá; o Senhor zombará deles.” Salmos 2:2-4

O quadro que eu observava hoje em minha janela incluía uma antena parabólica apontada para o céu. Não posso ver, mas deduzo que a antena esteja apontando diretamente para um satélite a centenas de quilômetros no espaço. Não tenho como comprovar a existência do satélite que envia os sinais para a antena, pois não tenho o equipamento necessário e nem saberia utilizá-lo, e mesmo que soubesse, não conseguiria ver o satélite. Teria de crer no equipamento.

Muitas coisas na vida são assim, acreditamos sem uma comprovação efetiva. Deus, por exemplo. Mas o ser humano nasce em estado de rebelião contra Deus e o enxerga como um estraga prazeres. Então muitos adotam uma destas posturas diante de Deus: vivem sem ligar para ele como quem está disposto a pagar para ver, ou negam sua existência.

De uma forma ou de outra o que o ser humano quer mesmo

  • se livrar de Deus, romper as ataduras de responsabilidade e sacudir as cordas que ele, em sua Palavra, chama de “laços de amor”. “Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas. Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles… Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor, e fui para eles como os que tiram o jugo de sobre as suas queixadas, e lhes dei mantimento.” (Salmo 2:1-4; Oséias 11:4).

Recebi de alguém uma mensagem mais ou menos assim:

Por ser ateu convicto, obviamente não enviei uma

mensagem de Feliz Natal. Mas agora não posso deixar de enviar meus votos de um Feliz Ano Novo”. Na mesma hora me lembrei de um episódio ocorrido em um restaurante da Rússia na época do comunismo. Um jornalista cristão do Ocidente almoçava com uma autoridade russa e o assunto era Jesus. O russo, obviamente, negava veementemente que Jesus tivesse existido.

Então por que todos os dias o Pravda publica que Jesus existiu? — rebateu o jornalista, apontando para a data do jornal sobre a mesa.

Assim é com o ateu desejando um Feliz Ano Novo. Ano?

Que ano mesmo?

—— o ——

O ferrão da morte

Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? 1 Coríntios 15:55

O quadro em minha janela é uma cena fúnebre. Caída no parapeito uma abelha com suas listras de cores preta e amarela jaz sem vida. Aparentemente ela foi morta pela chuva que caiu durante a noite e encontrou no parapeito seu destino final. Ela está ali; tem asas, mas nunca mais irá voar.

A morte é um elemento estranho à criação de Deus. Todos sabemos disso, todos sentimos isso. Não nos conformamos com ela, parece algo que não deveria ter lugar neste mundo. Mas ela está aí, por todo lado, em nós e em nosso redor. Por mais que eu cuide de minha saúde, faça exercícios e

tome vitaminas, a degradação do meu corpo é evidente. A morte é o epílogo desse processo e a grande diferença fica para o que vem depois.

O apóstolo Paulo escreveu que “se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”. (1 Coríntios 15:19). Infelizmente é o que a grande maioria dos cristãos busca: Cristo para esta vida. Você os encontra em multidões, lotando templos e canais de TV onde pregadores oferecem prosperidade material, saúde sem fim e a solução de qualquer problema sentimental. Desde que, obviamente, o bolso seja aberto de forma liberal. Tudo para o aqui e agora.

Mas será que Cristo é apenas para os míseros poucos anos que passamos aqui? Se for, “somos os mais miseráveis de todos os homens” e “que me aproveita isso, se os mortos não ressuscitam?” . Se a melhor parte for aqui, é melhor viver como vivem os pagãos: “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos”. (1 Coríntios 15:32).

Minha mãe, cujo endereço hoje é no céu, costumava dizer que se a vida aqui fosse boa ninguém iria querer se mudar para lá. Apenas um pessoa muito cega e iludida espiritualmente pode fechar os olhos para não perceber todo o sofrimento e miséria desta vida. Portanto, o que vem depois é o que importa.

Felizmente a ressurreição é um fato e os corpos daqueles que creem em Cristo serão transformados e ressuscitarão, assim como ele ressuscitou. E a morte, essa sombra nefasta que nos acompanha enquanto andamos aqui?

Ainda que possamos recear a dor e o sofrimento que antecede o colapso do corpo, a morte — o fim da vida física como a conhecemos — já não aterroriza aquele que crê. Por quê? Porque seu ferrão — ou aguilhão — foi de

uma vez por todas cravado em Cristo lá na cruz.

Se eu for picado por uma abelha ela deixará de causar dano a quem quer que seja, pois seu ferrão ficará cravado em mim. A abelha também morre em seguida. Do mesmo modo, para a pergunta, “Onde está, ó morte, o teu aguilhão (ou ferrão)?” (1 Coríntios 15:55), a resposta é em Cristo. Ao ser feito pecado por nós na cruz ele recebeu sobre o seu corpo os pecados de todos os que creem nele. Tendo os nossos pecados ficado cravados nele ali no madeiro, ele nos livrou desse aguilhão, e consequentemente da morte e condenação que trazia.

—— o ——

Escuridão de tempestade

Estendeu, pois, Moisés a mão para o céu, e houve trevas espessas em toda a terra do Egito por três dias.” Êxodo 10:22

O Pintor hoje mostra um quadro tenebroso em minha janela. Nuvens espessas começam a descer sobre a cidade como um manto aterrador, trazendo trevas que são prenúncio de tempestade. A nuvem negra divide o céu em dois, com uma faixa de céu claro que estava ali antes que ela chegasse. Bem na divisa da faixa clara e escura está um prédio alto que parece sustentar a negra camada prestes a desabar sobre a cidade.

Quando o povo de Israel sofria como escravos no Egito, Deus trouxe trevas sobre aquela terra. Trevas tão densas que as pessoas nem sequer podiam sair de suas casas.

Apenas nas casas dos israelitas havia luz. E depois de Faraó ter ignorado os avisos de Deus e endurecido seu próprio coração tantas vezes para não se sujeitar a Deus e deixar partir o povo, é Deus quem endurece o coração de Faraó. Agora não haveria outra chance. “O Senhor, porém, endureceu o coração de Faraó, e este não os quis deixar ir.” (Êxodo 10:27).

Hoje um manto de trevas cobre pouco a pouco o mundo. Duvida? Abra os jornais. Onde estão as previsões otimistas de vinte, trinta ou cinquenta anos atrás, quando diziam que o mundo seria um lugar melhor? A ciência fez maravilhas, o homem conquistou o espaço, a tecnologia nos surpreende todos os dias. Mas o ser humano continua em sua senda de horrores. Como o homem foi desde sua queda, assim será sempre, a menos que seja transformado pelo poder da Palavra de Deus e receba uma nova vida e salvação pela fé em Jesus, o Substituto morto na cruz do Calvário.

  • medida que o tempo passa as trevas irão ficando (ficarão) cada vez mais densas, até o ponto de ser difícil distinguir a luz. Pois mesmo aqueles que deviam ser luzeiros neste mundo brilharão cada vez menos. Eles refletirão cada vez menos a verdadeira Luz do mundo — Cristo —, do mesmo modo como a Lua reflete a luz do Sol. Então chegará o momento em que serão tirados do mundo em um arrebatamento secreto.

Naquele momento o Espírito Santo também partirá daqui com a Igreja, ficando para trás duas classes de pessoas: aquelas que ouviram o Evangelho da graça de Deus e o desprezaram, para os quais não haverá nova chance, e as que nunca ouviram ou não ouviram o suficiente para entender e aceitar ou desprezar. Estas ainda poderão se converter.

Se você já ouviu o Evangelho, entendeu sua mensagem e não se decidiu por Cristo, é provável que esteja entre os que terão seus corações endurecidos pelo próprio Deus para darem crédito à mentira. Deus fez assim uma vez, com Faraó, quando endureceu seu coração após Faraó ter endurecido a si mesmo. E Deus fará assim mais uma vez, com todos os que desprezaram a salvação que ainda está sendo graciosamente oferecida.

Esse iníquo [Anticristo] cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás com todo o poder e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para serem salvos. E por isso Deus lhes envia a operação do erro, para que creiam na mentira; para que sejam julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na injustiça.” (2 Tessalonicenses 2:9-12).

—— o ——

Fica comigo, Senhor

Fica conosco; porque é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles… Lucas 24:29

O sol se põe na pintura em minha janela. Mais um dia termina e a luz vai se apagando. Aqui e ali começo a ver que as pessoas acendem as luzes nas janelas das casas e apartamentos, mas nenhuma delas se compara ao sol que sumiu no horizonte. Foi inevitável recordar a passagem em Eclesiastes 12, que fala da proximidade da morte:

Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua

mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento; antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva; no dia em que tremerem os guardas da casa, e se encurvarem os homens fortes, e cessarem os moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas; e as portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, e se levantar à voz das aves, e todas as filhas da música se abaterem. Como também quando temerem o que é alto, e houver espantos no caminho, e florescer a amendoeira, e o gafanhoto for um peso, e perecer o apetite; porque o homem se vai à sua casa eterna, e os pranteadores andarão rodeando pela praça; antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” (Eclesiastes 12:1-7).

Ouvi no rádio uma interessante entrevista com um médico. Ele contava da mudança que ocorre com a idade, quando deixamos de achar que a vida dura para sempre, como fazem os jovens, e nos deparamos com a realidade da morte. Era disso que Salomão falava em seu Livro de Eclesiastes, uma quase confissão de sua tolice em viver na vaidade e na busca por prazeres transitórios boa parte de sua vida.

  • claro que a morte é um terror que sempre assombrou os seres humanos, mas para aquele que crê em Cristo ela é uma serva que apenas o transporta à presença de seu Salvador. Paulo, o apóstolo, dizia estar num dilema, pois se por um lado queria ficar, por outro queria partir, já que estar com Cristo seria muito melhor.

Você se lembra de quando era criança, de quando o terror o assaltava na hora de dormir? O medo do escuro e da repetição de algum pesadelo inesquecível fazia disparar seu pequeno coração e você pedia, quase suplicava: — Fica comigo, mamãe!

Quando a idade chega e o dia da vida declina, quando já é tarde para voltar atrás e reviver tempo perdido, a melancolia, o temor e o terror podem assaltar seu coração, caso você seja apenas mais um que irá partir daqui desacompanhado. A menos que Jesus entre em seu coração para ficar. “E entrou para ficar com eles…” (Lucas 24:29). Você mesmo sabe que existem lugares onde só é possível entrar se você estiver muito bem acompanhado. O céu é um deles.

—— o ——

Eu quis…

Quantas vezes quis eu… e não quiseste?” Luc 13:34

Hoje o Pintor reservou mais uma surpresa em minha janela: um arco-íris emoldurando o céu. Esta é uma de suas obras mais antigas e serve para demonstrar sua misericórdia para com o homem, quando colocou um sinal no céu prometendo não destruir mais a terra com um dilúvio. Mas se você acha que os seres humanos endireitariam depois daquela chance pós-diluviana de um recomeço, está enganado.

Depois de Noé a história segue até chegarmos a Jacó, que deu origem a Israel, o povo que a Bíblia chamou de “a

menina do seu olho” (Deuteronômio 32:10). Os voluntariosos judeus de hoje são a porção que restou daquele povo, vivendo como uma ilha, cercada de inimigos de todos os lados, todos querendo sua destruição. Conseguirão prevalecer? Sozinhos não. Mas foi este o caminho que aquele povo escolheu e depois confirmou ao rechaçar seu Rei.

Jesus quis cuidar de Jerusalém, todavia Jerusalém não quis ser cuidada por Jesus. “Jerusalém, Jerusalém… Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?” (Lucas 13:34). Os judeus dispensaram os cuidados de seu Rei, preferindo confiar em si mesmos. “Não queremos que este reine sobre nós” (Lucas 19:14), foi o sentimento de seus corações revelado nas palavras de Jesus. E depois do brado “Crucifica-o! Crucifica-o!” (João 19:6), selaram seu destino dizendo: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.” (Mateus 27:25).

Alguns anos mais tarde as ruas e calçadas de pedra de Jerusalém seriam banhadas com o sangue daqueles que se amaldiçoaram a si mesmos de forma tão inconsequente, e de seus filhos. O Senhor quis, mas eles não quiseram. O Senhor hoje quer cuidar à sua maneira dos que são o seu povo celestial, mas será que todos querem se sujeitar à sua vontade? Colocar-se sob os cuidados do Senhor implica renunciar à vontade própria e considerar a vontade de Deus como soberana.

Mas a vontade dele não está às nossas ordens, como uma vez ouvi alguém dizer “Se Deus quiser … e ele quer…”, referindo- se a questões corriqueiras de negócios. Quanta pretensão e insolência! Como podemos afirmar que Deus quer só porque queremos? Não é esta a ordem das coisas. Ele quer primeiro. A nós cabe acatar sua vontade, seja ela

qual for.

Em alguns segmentos da cristandade pessoas fazem afirmações do tipo “Eu determino que você seja curado!” ou “Eu exijo que Deus me dê aquilo que já me pertence por promessa!” ou “Toma posse da bênção que já é tua!”. Deus não é servo do homem e nem está sujeito às suas ordens e determinações. Pessoas que falam assim não fazem ideia de quem seja Deus. Se falassem da mesma maneira com um juiz ou policial receberiam voz de prisão por desacato.

A atitude adequada a um verdadeiro cristão é a mesma do salmista, que diz: “Senhor, o meu coração não se elevou nem os meus olhos se levantaram… Certamente que me tenho portado e sossegado como uma criança desmamada de sua mãe.” (Salmo 131:1-2). Todavia, o que mais se vê hoje é gente insolente e mimada, e não alguém que espera em paz pela vontade do Senhor. Gente que se acha no direito de dar ordens a Deus. Mas, ao verdadeiro crente, o apóstolo escreve: “Sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:2). Isso mesmo, “vontade de Deus”, não minha, nem sua.

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Uma andorinha sozinha…

Olha para mim, e tem piedade de mim, porque estou solitário e aflito.” Salmo 25:16

Quando alguém diz “uma andorinha sozinha…” você imediatamente completa o ditado, e diz: “…não faz verão”. E foi este o quadro que encontrei em minha janela esta manhã: uma andorinha sozinha, presa no quarto e incapaz de escapar por não entender que o vidro, embora transparente, a faz prisioneira.

Todos os anos andorinhas como esta descem do Canadá como imensas nuvens e vêm passar férias em minha cidade, viajando milhares de quilômetros para fugir do inverno do hemisfério norte. Antigamente não era assim, e não se sabe a razão de elas terem decidido adotar minha cidade como seu destino turístico. À noite árvores, fios e antenas ficam repletos destes pequenos pássaros, e pela manhã sua revoada partindo em busca de comida é um espetáculo à parte. Elas voam juntas como se fossem uma coisa só.

Esta, porém, está solitária. Perdeu- se, entrou pela janela do quarto e ficou presa. Sozinha. Fico imaginando a confusão na cabeça desse pássaro que não deve entender o que a impede de alcançar o céu que está bem ali. Um vidro não faz parte das coisas que um passarinho encontra na natureza, e por isso a andorinha precisará aprender que o vidro, apesar de transparente, é intransponível. Ela morreria presa no quarto se ninguém a ajudasse a escapar de sua solidão para voltar a voar e “fazer verão” com suas irmãs.

Creio que uma das coisas que mais afligem o ser humano hoje é a solidão. Apesar de estarem cercadas de tanta gente e terem acesso a tantos meios de comunicação, nunca as pessoas se sentiram tão solitárias. As redes sociais, que supostamente teriam de resolver o problema da falta de companhia, parecem apenas recrudescer o problema, porque nelas as pessoas parecem tão alegres e cercadas de amigos! Mas continuam sós, muito solitárias. Por que nos sentimos sós?

Existe uma solidão de Deus em nosso coração. Uma lacuna, um abismo intransponível, um vidro invisível que não nos deixa alcançar o céu azul. A separação não é entre pessoas e pessoas, mas entre o ser humano e seu Criador. Nada pode substituir tal companhia, nada pode satisfazer tanto quanto a intimidade de uma comunhão com Deus.

Para o ser humano que ainda vaga distante de Deus, o primeiro passo é a salvação recebida pela fé naquele que um dia ficou só numa cruz, sofrendo ali pelos pecados dos injustos. Profeticamente e em figura ele foi comparado no Antigo Testamento a três pássaros solitários: pelicano, coruja e pardal. “Sou semelhante ao pelicano no deserto; sou como um mocho nas solidões. Vigio, sou como o pardal solitário no telhado.” (Salmo 102:6-7).

Mas um dia ele assumiria na morte uma solidão que homem algum jamais experimentou, pois até o mais vil pecador tem Deus ao seu lado aguardando por seu arrependimento. Jesus, porém, em sua derradeira hora, clamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46). Ele precisava morrer só, porque ao ser feito pecado por nós Deus precisou voltar sua face e deixá-lo em trevas. “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.” (João 12:24).

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Rosa e azul

Não queremos que este reine sobre nós.” Lucas 19.14

O quadro em minha janela é um prenúncio de que tudo será cor-de-rosa e azul. Será? O quadro revela bem como o Pintor gostaria que as coisas fossem neste mundo. O céu revela tons suaves de cor- de-rosa e azul. Mas não é assim que tem sido a vida neste mundo.

Será que então deveríamos nos esforçar para tornar este mundo um lugar melhor? Não. Este mundo nunca será um lugar melhor pelo esforço do homem. É certo que cada um deve fazer o melhor de si, porque “aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tiago 4:17). Mas ninguém se engane quanto ao que está reservado para este mundo. Nem toda tinta cor-de-rosa e azul que possamos utilizar para pintar o horizonte irá mudar isso.

Todavia as cores usadas pelo Pintor podem muito bem mostrar a paciência com a qual o ser humano tem sido tratado neste mundo. O mesmo ser humano que um dia pregou o Filho de Deus numa cruz, depois de o perseguir e humilhar. O que Deus fará com um mundo que rejeitou a seu Filho? Dará um mundo melhor para pessoas assim como prêmio por mau comportamento?

Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno” (1 João 5:19), escreveu o apóstolo João em sua primeira carta. Veja bem, João foi o apóstolo que mais falou de amor, porém mesmo assim não se deixava levar pelo sentimento de fechar os olhos para a realidade de que Satanás é o príncipe deste mundo. Tendo o diabo na direção, não espere que os resultados serão os melhores.

Ao rogar ao Pai por seus discípulos, o Senhor deixou muito claro que os seus compartilhavam da mesma nacionalidade que ele, isto é, eram cidadãos do céu, não do mundo:

Porque não são do mundo, como eu não sou do mundo” (João 17:16). Por isso deviam se comportar como

estrangeiros aqui. Se você já viu um estrangeiro em sua cidade deve ter percebido que ele é diferente dos habitantes locais em muitos aspectos. Não apenas no modo de falar, mas às vezes também no modo de vestir e nas coisas que atraem seu interesse.

Não rogo pelo mundo” (João 17:9) foi outra frase de Jesus que certamente deixa intrigado qualquer ativista em sua luta pela paz. Como poderia Jesus não rogar pelo mundo? Não interceder por uma sociedade que precisa de tanta ajuda dele para obter paz e prosperidade? Porque ele sabe muito bem o sentimento dos habitantes deste mundo, que é de inimizade contra Deus. Um pouco depois de ele dizer estas palavras acabaria pregado numa cruz como um criminoso qualquer. Você ainda acha que um mundo assim tem conserto? Não seja ingênuo.

No passado Deus “não perdoou o mundo antigo, mas guardou a Noé…” (2 Pedro 2:5), e “os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios.” (2 Pedro 3:7). O mesmo céu cor-de-rosa e azul do quadro em minha janela está reservado para o fogo, assim como a terra habitada pela ingratidão humana. Você ainda acredita que este mundo pode ser melhorado? Como, se o próprio Filho de Deus foi expulso dele por suas criaturas que não queriam que ele reinasse?

Mas nós, segundo a Sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça” (2 Pedro 2:5).

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Lar, Doce Lar

Ah, se eu soubesse onde encontrá-lo, e pudesse chegar ao seu tribunal! Exporia ante ele a minha causa, e encheria a minha boca de argumentos. Saberia as palavras com que ele me responderia, e entenderia o que me dissesse… ele antes me atenderia.” Jó 23:3-6

O quadro em minha janela é a fachada do edifício onde moro, mas vista de um ângulo incomum. Enfiei a cabeça pela janela, olhei para cima e achei que daria uma boa foto. Então mirei a câmera para o alto e tirei uma foto da fachada em perspectiva terminando no céu. O lugar onde moro chamo de meu lar, o lugar para onde retorno após as viagens. É um lugar onde sei que vou encontrar refúgio, e por isso na porta de entrada tenho pendurado um quadrinho com dizeres bordados em ponto-cruz que dizem: “Lar, Doce Lar”.

Durante o período de sua provação Jó não teve um lugar de descanso e refúgio. Onde quer que ficasse, independente da posição de seu corpo, só sentia dor e tristeza. Em seu desespero ele não roga a Deus que restaure sua saúde, que faça seus filhos voltarem do túmulo e suas riquezas serem devolvidas pelos ladrões. Não, ele roga que Deus revele onde está, para Jó correr se refugiar nele. Jó tem certeza de que Deus lhe daria ouvidos. Esta é a característica do que crê. “Ele me atenderia”.

O que faz, na hora da angústia, o homem que não conhece a Deus? Foge dele, como fugiram Adão e Eva; rebela- se contra ele, nega sua existência. O último lugar onde o ser humano gostaria de estar é na presença de Deus. Mas é sob as asas do Altíssimo que Jó gostaria de se esconder naquela hora de aflição.

Seus melhores amigos estão ali e o acusam de viver em

pecado. Não era verdade. Não era por causa de pecados que Jó caíra em desgraça. Deus afirma isto no primeiro capítulo. Seus três amigos estavam indo muito bem até decidirem abrir a boca. Jó conhecia a Deus, mas seus amigos não.

Um amigo argumenta se baseando em sua experiência pessoal, como Elifaz, que diz: “Segundo eu tenho visto…” (Jó 4:8). Outro amigo, Bildade, sugere que Jó recorra à tradição dos homens, ao dizer: “Indaga, pois, eu te peço, da geração passada, e considera o que seus pais descobriram.” (Jó 8:8). Finalmente, Sofar baseia seus argumentos na religião convencional, que é a tentativa de auto aperfeiçoamento para ser aceito por Deus, e diz: “Se tu preparares o teu coração, e estenderes as mãos para ele [Deus]…” (Jó 11:13).

E você, qual é o seu abrigo? A que ou a quem você recorre no dia da angústia? Para a experiência humana, para a tradição, para a religião ou para os braços do Salvador? Jó, apesar de suas muitas falhas, sabia que podia encontrar refúgio na presença do Senhor.

O que encontramos quando nos refugiamos na presença de Deus? O mesmo que encontrou a mulher adúltera nos evangelhos, a única que ficou na presença do Senhor depois que todos os seus acusadores fugiram. Foi a única que ouviu da boca do único ali sem pecado, portanto que poderia tê-la apedrejado, as palavras de perdão e graça: “Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” (João 8:11).

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De gota em gota

Não os expulsarei num só ano, para que a terra não se torne em deserto, e as feras do campo não se multipliquem contra ti. Pouco a pouco os lançarei de diante de ti…” Êxodo 23:29, 30

O Pintor deixou um quadro curioso em minha janela. São gotas de uma chuva rápida enfeitando o vidro. São gotas pequeninas, frágeis, aparentemente sem grande importância. Só aparentemente, porque se não fosse por essas pequenas gotas não poderíamos viver neste planeta.

Depois de ter escolhido Israel para ser o seu povo na Terra, Deus preparou um lugar para seu povo habitar. Porém a Terra não estava totalmente vazia e nem pronta para eles habitarem nela, pois havia inimigos morando ali. Deus pretendia expulsá-los da terra pouco a pouco, de gota em gota, e a razão ele próprio explica: “Não os expulsarei num só ano, para que a terra não se torne em deserto, e as feras do campo não se multipliquem contra ti.” (Deuteronômio 23:29).

Se ele expulsasse a todos de uma só vez, como provavelmente o povo de Israel queria em sua ânsia de dominar a Terra, logo a Terra se tornaria selvagem, cheia de animais ferozes e coberta de mato. Se o problema resolvido rapidamente, em curto prazo, traria problemas mais sérios no longo prazo. Mas se fosse pouco a pouco, de gota em gota, lentamente, no compasso determinado por Deus, eles poderiam ter aquilo que desejavam com menor dificuldade, maior qualidade e no tempo certo, o tempo de Deus. Desde que tivessem paciência para esperar.

Muitas vezes gostaríamos que Deus eliminasse de vez todos os nossos problemas, mas não vemos isso acontecer. Ficamos com os problemas nos rodeando e afligindo, não

importa o quanto oremos por libertação. Mas, se Deus os expulsasse todos de uma vez, quais seriam as consequências disso? Eu não sei, você não sabe, mas ele sim. Deus é aquele que vê o fim a partir do começo.

Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade.” (Isaías 46:9-10).

Como Deus faz com a chuva, que rega a terra e traz abundância de frutos, ele costuma agir de gota em gota também no tratamento para conosco. A chuva não é menos eficaz pelo fato de vir de gota em gota, mas pode ser destrutiva se vier de roldão. Portanto é melhor sermos atendidos com as pequeninas gotas de bênção e misericórdia que vemos — ou nem vemos — cair em nosso dia-a-dia vindas da mão de Deus. Ele sabe o que aconteceria se derramasse uma tromba d’água de soluções do modo como gostaríamos que fosse.

Ainda bem que esta chuva veio em gotas, pequeninas, frágeis e aparentemente sem grande importância. Se fosse diferente, o vidro de minha janela não teria suportado o impacto.

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Presos!

Porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade, e tornarem a despertar,

desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos.” 2 Timóteo 2:26

Hoje é o bichinho de pelúcia de meu filho que está na janela. Acabou de tomar um banho e está ali, pendurado pelas orelhas para secar. A imagem e a situação podem parecer ridículas — um elefantinho de pelúcia pendurado no varal pelas orelhas —, mas existe um paralelo com o ser humano.

Fala-se muito em liberdade hoje em dia. A ideia corrente de liberdade é a de que livre é aquele que faz sua própria vontade, e não de alguém que seja preso ou guiado pelas orelhas, como fazia a Dona Dinorah comigo em meu primeiro ano no Grupo Escolar. Mas o que será que Deus diz em Sua Palavra sobre essa forma de liberdade que deixa o ser humano à mercê de seus pensamentos, desejos e modismos?

Andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.” (Efésios 2:2-3).

O versículo fala da condição de pessoas antes de sua conversão: fazendo a própria vontade e sendo, por natureza, filhos da ira. Não preciso explicar a você a quem se refere a expressão “príncipe das potestades do ar…”, esse espírito que age nos filhos da desobediência, não é mesmo?

Pois é. Quando achamos que somos livres estamos, na verdade, presos pelas orelhas nas mãos do inimigo de Deus e nosso inimigo também. Você sabe muito bem que a

estratégia do traficante vender mais drogas é fazer seu cliente pensar que está no controle, que pode parar quando quiser. Não pode. A mesma droga que lhe dá a sensação momentânea de liberdade e prazer é o que o escraviza. Assim é no mundo espiritual.

Quando Deus permitiu que seu Filho fosse feito prisioneiro e depois ficasse pregado numa cruz, sofrendo o juízo que nós merecíamos, ele quis nos libertar nas garras de Satanás e até mesmo de nossa própria vontade. A verdadeira liberdade é aquela que não está presa à vontade- própria, mas que é livre o suficiente para se deixar guiar por Deus. “O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor.” (Colossenses 1:13).

Responda rápido: O que é melhor: um trem que viaja preso aos trilhos ou um descarrilhado? Um peixe preso à água do mar, ou deixado escapar para a terra? Um paraquedista preso às cordas de seu paraquedas ou em queda livre depois de desvencilhar-se delas?

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Uma ave esteve aqui

Meditarei também em todas as tuas obras, e falarei dos teus feitos.” Salmos 77:12

Quando vi uma pena de pássaro no peitoril da janela de meu apartamento concluí que um pássaro havia passado por ali. Ou talvez ela tivesse se desprendido de sua asa durante o voo, vindo pousar suavemente em minha janela. Sem

ruído, sem estardalhaço. Simplesmente pousou ali. Não vi como foi que aconteceu, mas pelo que agora sei posso crer que tenha sido assim.

A fé do cristão não é baseada naquilo que vê, embora ele possa ter às vezes evidências que ajudem a crer naquilo que não vê. A fé do cristão é baseada no testemunho que Deus deu, primeiro de sua Criação, e depois de seu Filho vindo ao mundo salvar pecadores.

As grandes obras de Deus no passado hoje repousam silenciosamente em minha Bíblia. Sem ruído, sem estardalhaço. São pequenas letrinhas que me ajudam a conhecer o que Deus fez, como se fossem pequeninas penas negras de tinta pousadas nas páginas brancas de minha Bíblia. Então hoje, distante no tempo da época quando aquelas coisas ocorreram, eu posso olhar para as letras gravadas pela pena de Deus, crer e descansar.

O salmista Asafe clamou a Deus em um momento de aflição, e profeticamente indicando os sofrimentos e inquietações de Jesus diante da obra que precisaria consumar. “No dia da minha angústia busquei ao Senhor; a minha mão se estendeu de noite, e não cessava; a minha alma recusava ser consolada.” (Salmo 77:2). Ele se sentia abandonado por Deus. Parecia que a sombra de sua amorosa mão já não podia protegê-lo do causticante sol deste mundo deserto.

Então o salmista recorre à lembrança do que Deus havia feito no passado, de seus grandes feitos para com o seu povo Israel, de como o seu poder lhes tinha tirado do Egito, redimindo-os da escravidão e guiando-os pelo deserto até sua morada prometida. Tudo isso Deus tinha feito, e ainda que de tudo aquilo nem uma pena pequenina restasse, mesmo assim o salmista sabia que podia crer.

Se Asafe tinha apenas a redenção do povo de Israel do Egito, quanto mais temos nós, os que cremos em Jesus? Redimidos da escravidão do pecado e da morte e destinados ao céu, quantas razões mais temos nós — quantas penas de evidência! — para crer que Deus não nos abandona. Deus fez uma grande obra para me salvar, e agora faz uma grande obra para me manter assim. Ainda que às vezes eu só enxergue uma pequena pena caída em minha janela.

Seu amor no passado não me permite pensar,

Que ele irá no presente me deixar afundar,

Pois cada feito seu, qual um marco eu vejo,

Confirmando seu amor e o Seu bom desejo.

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Sobre-excelente grandeza

E qual a sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro”. Efésios 1:19-21

O Pintor em minha janela deixou uma obra de arte imponente e majestosa. Trata-se de uma nuvem branca e brilhante que aponta para o alto, contrastando com um céu azul-anil. A nuvem é imensa e se um avião passasse agora perto dela não seria mais que um cisco caído no que mais parece ser uma gigantesca taça de chantili.

Mesmo maravilhado com uma cena tão imponente, não posso me esquecer de que o maior poder já manifestado por Deus foi a ressurreição de Cristo. Por isso ao escrever aos Efésios, inspirado pelo Espírito Santo, o apóstolo Paulo não fala apenas do poder de Deus, mas usa de outros adjetivos como “a sobre-excelente grandeza do seu poder… a operação da força do seu poder… ressuscitando- o dentre os mortos” (Efésios 1:19-20). Mas para chegar à ressurreição ele precisava antes morrer.

João, em seu Evangelho, disse que Jesus “havia saído de Deus e ia para Deus” (João 13:3), e o apóstolo Paulo descreveu esse itinerário na carta aos Filipenses, onde o Filho de Deus desce sete passos rumo ao mais baixo antes de ser elevado sete passos de volta à glória, porém como Homem ressuscitado e glorificado nos céus. Sim, existe hoje um Homem de carne e ossos num lugar muito acima desta ou de qualquer outra nuvem que o Pintor possa colocar em minha janela.

Cristo Jesus, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus”, ou “não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se” (Filipenses 2:6). Isto significa que Jesus foi, é e sempre será Deus em todos os aspectos da sua Pessoa. É isto o que significa “ser igual”. Mas para entender é preciso distinguir entre a pessoa e a posição que ocupa. Para nos salvar, Jesus não considerou que sua posição na glória fosse algo de que não poderia abrir mão. Assim ele deixou a posição que ocupava, sem deixar de ser quem sempre foi: o “verdadeiro Deus” (1 João 5:20).

Ao chegar em casa o policial tira a farda, despindo-se de sua posição oficial sem perder sua natureza humana. Ao vir ao mundo na condição de homem, Jesus despiu-se de sua posição excelsa para assumir a posição de um servo, porém

sem perder sua natureza divina. Se você leu o clássico “O príncipe e o mendigo” irá entender que o príncipe em momento algum deixou de ser quem ele era. Ele apenas desceu momentaneamente de sua posição real ao trocar de roupa com um mendigo.

Por isso vemos Jesus dizer, no capítulo 14 do Evangelho de João, “o Pai é maior do que eu” (João 14:28), ao falar de posição, mas “eu e o Pai somos um” (João 10:30) ao falar de sua natureza divina. Como Homem Jesus se colocou numa posição de submissão ao Pai, mas sem deixar de ser Deus. Era só assumindo a condição humana que ele podia descer mais e chegar à morte no lugar do pecador. Por isso em Filipenses continua dizendo que Jesus “…esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2:7-8).

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Foi na cruz

E ele clamou ao Senhor, e o Senhor mostrou-lhe uma árvore, que lançou nas águas, e as águas se tornaram doces.” Êxodo 15:25

Da janela de meu escritório vejo um quadro de postes, transformadores, fios e isolantes marcados pelo tempo e pela poeira. São muito úteis, pois transportam a eletricidade que faz minha vida confortável. Porém visualmente eles só servem para deixar a paisagem mais feia e triste. São verdadeiros intrusos na tela, não fazem parte da obra do

Pintor em minha janela, mas de homens. Não deveriam estar ali, mas estão.

Os postes que vejo da janela são de concreto, mas sou de uma época quando postes eram de ferro ou madeira. Em frente à minha casa havia um de ferro, feito com trilho de trem, com o qual costumávamos brincar. Uma criança segurava nele, dava a mão para outra criança, e mais outra, até a última tocar a grade de ferro do portão. O choque era nossa diversão e mostrava quem era valente e quem não.

Nos anos oitenta conheci um poste em Alto Paraíso, Goiás, que era único. Ficava na rua principal, bem em frente ao pequeno hotel da cidade e, como todos os outros postes da rua, segurava os fios no topo, porém tinha galhos, folhas e flores. Era um poste, cuja madeira tinha sido devidamente descascada e aparelhada para formar uma viga com cantos vivos, mas quem derrubou a árvore não conseguiu matar o Ipê que havia nela. Uma vez fincado no chão, criou raízes e a árvore voltou à vida.

A princípio pensei que fosse uma árvore que já existia ali e tinha sido aproveitada para segurar os fios da rua, mas não. O poste tinha vindo de um lugar distante já em seu formato talhado, só que verde o suficiente para voltar a brotar. Ele continuou dando flores no seu tempo, enfeitando a rua e surpreendendo os moradores e visitantes da cidade.

Um poste assim foi fincado há dois mil anos fora da cidade de Jerusalém. Não serviu para segurar fios ou pendurar lâmpadas. Era um poste para matar. Um Homem, com as mãos pregadas numa outra viga, foi içado até o seu alto e as duas madeiras unidas lá em cima, em forma de cruz. Ao contrário do poste metálico de minha infância, aquele Homem não receberia um choque divertido, mas toda a descarga da ira e do juízo divino contra o pecado da

humanidade. Ali Jesus se colocou entre Deus e os homens, para que todo aquele que nele viesse a crer ficasse livre da descarga do juízo de Deus.

  • semelhança do poste na rua principal de Alto Paraíso, a obra consumada naquele feio madeiro fincado no Monte da Caveira há dois mil anos floresceu e até hoje traz salvação eterna para aquele que crê em Jesus. Daquele lugar de dor e morte literalmente saiu vida, e vida abundante.

Oh ! que grande prazer inundou o meu ser,

Conhecendo este tão grande amor.

Que levou meu Jesus a sofrer lá na cruz

Prá salvar um tão pobre pecador.

Foi na cruz, foi na cruz, onde um dia eu vi,

Meu pecado castigado em Jesus.

Foi ali pela fé, que meus olhos abri,

E eu agora me alegro em sua luz.

Extraído do hino “Foi na Cruz”, por Isaac Watts (1674-1748), Ralph E. Hudson (1843-1901), Henry M. Wright (1849-1931)

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Não, Deus!

Disse o néscio no seu coração: Não [há] Deus.” Salmo

14:1

Você já mergulhou no fundo de uma piscina e olhou para cima? O sol passando pela água agitada cria uma superfície que parece coisa de outro planeta, com ondulações brancas, azuis e douradas pela luz do sol. Assim estava o céu quando olhei pela janela esta manhã pouco antes do nascer

do sol. Ao olhar para o quadro que o Pintor deixou em minha janela não posso deixar de exclamar: — Só mesmo um néscio, tolo ou louco, ou tudo isso junto, poderia dizer que não há Deus!

  • verdade. São tantas as manifestações de Sua glória e poder na natureza que muitos cientistas hoje admitem que a coisa toda é complexa e perfeita demais para simplesmente ter aparecido assim, sem um projeto inicial e sem um Criador. A simples ideia de tudo ter tido um início, que alguns chamam de Big-Bang, já implica a necessidade de um elemento gerador desse início e também da matéria ou energia envolvidas nisso.

Obviamente se tudo surgiu do nada nem é preciso ser muito inteligente para saber que do nada é impossível surgir tudo. A menos que estejamos falando de Deus e da ação de sua Palavra criadora. “Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente.” (Hebreus 11:3).

O versículo “Disse o néscio no seu coração: Não [há] Deus.” (Salmo 14:1) não fala especificamente de ateus, como eu mesmo pensei durante muito tempo. Em minha Bíblia o verbo ‘haver’ está em itálico, o que significa que a palavra não consta do texto original e o tradutor a introduziu ali para fazer sentido ou criar um texto mais fluido. Por isso a frase pode ser lida do modo como creio ter sido sua intenção original: “Disse o néscio no seu coração: Não, Deus!. Percebe as implicações disto?

Muitos acreditam na existência de um Deus Criador, mas ainda assim vivem dizendo não a ele “Não, Deus!”, quando deveriam fazer a sua vontade; “Não, Deus!” para fugir do seu amor; “Não Deus!” na hora de escolher suas prioridades.

O versículo fica muito mais amplo quando visto desta forma, mesmo porque todas as pessoas já nascem com a consciência da existência de um Criador. Isto faz parte da urdidura do tecido de que todos os seres humanos são feitos. O ser humano nasce com conhecimento de Deus, mas só depois usa da razão para se tornar ateu.

Eclesiastes 3:11 diz que Deus “tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim”. O que você vai fazer com a noção de eternidade que Deus colocou em seu coração? Saiba que isso não é um conceito apenas, mas a percepção de uma realidade costurada bem ali em seu coração para você saber que sua existência não é mero acidente de moléculas, mas algo cuidadosamente planejado.

Achei interessante o que disse um palestrante há poucos dias, quando se referiu a um cliente que lhe pediu para não mencionar “Deus” em sua palestra, alegando que na plateia haveria muitos ateus.

Ateus?! — exclamou o palestrante para o cliente — Não existem ateus. Sabe o que aconteceria se caísse um avião cheio de ateus? As últimas palavras que as autoridades escutariam na gravação da caixa preta do avião seriam: “Meu Deus! Meu Deus!”.

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Pombas

Eis que és formosa, ó meu amor, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas.” Cantares 1:15

Desta vez o Pintor me surpreendeu com uma nova obra, não do lado de fora de minha janela, mas do lado de dentro. Ouvi um ruído no banheiro e fui ver o que era. Uma pomba descansada despreocupadamente pousada sobre minha toalha de banho que eu tinha deixado pendurada sobre o vidro do box.

Encharcado de más notícias de jornal, logo pensei no pior e imediatamente rabisquei num quadro mental as probabilidades de contágio: Gripe aviária, dermatite, criptococose, histoplasmose, ornitose, salmonelose…

Estava a ponto de enxotar a pobre pombinha na marra, mas, como não sou o Dr. House, apaguei o quadro mental e decidi ser brando para com ela.

O que chamou minha atenção foi sua fragilidade e também sua mansidão. Ao contrário de outros pássaros, que às vezes entram em casa e ficam apavorados, voando e batendo nas paredes, a pomba estava quieta e mansa. Eu diria até ‘mansa como uma pomba’, e você imediatamente entenderia. Não é à toa que, na Bíblia, a pomba é usada como símbolo de paz, pureza e mansidão.

Uma pomba protagonizou uma das cenas mais sublimes de toda a Bíblia, quando Jesus foi batizado por João Batista no Rio Jordão. Ao sair da água os céus se abriram sobre ele e o Espírito Santo de Deus desceu na forma de uma pomba.

Em seguida a voz do Pai ecoou nos céus: “Este é meu Filho amado, em quem me agrado” (Mateus 3:17).

Os céticos se debruçam sobre esta passagem e entabulam longas discussões para tentar negar um único Deus em três Pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Eles argumentam que essa Trindade não faz sentido. É claro que não faz. Se a essência — sua natureza infinita — fizesse sentido para a mente humana, tão finita, Deus não seria

Deus.

A voz vinda do céu é de Deus Pai, a pomba é a forma adotada ali pelo Espírito Santo de Deus, e Jesus, o Filho de Deus é quem sai da água do batismo para iniciar seu ministério numa terra ressequida de incredulidade e rejeição. Entende agora porque no livro de Gênesis você encontra Deus dizendo, no plural, “façamos o homem à nossa imagem e semelhança”? É por isso.

Por seis vezes a figura da pomba é utilizada no livro de Cantares. Cinco vezes o Noivo a utiliza para descrever a noiva. Da única vez em que a noiva se vale da figura de uma pomba, ela repete o que o Noivo disse dela ao falar de seus olhos. Ambos comparam os olhos do objeto amado aos de uma pomba.

O Senhor disse que os olhos são a janela da alma. Disse também que se os olhos forem simples, todo o corpo será bom. Acredito que é com olhos assim que devemos enxergar o Senhor e os mistérios relacionados a ele, como é o caso da Trindade. Afinal, é com olhos assim que ele enxerga os que comprou para si com sangue precioso. Olhos de uma pomba. Pacíficos, puros e mansos.

O que aconteceu com a pomba no banheiro? Ela não se assustou comigo, nem mesmo quando me aproximei e abri um pouco mais o vidro basculante da janela para que pudesse sair voando. Pacífica, pura e mansamente.

—— o ——

Deu branco no céu

Ele é o que cobre o céu de nuvens, o que prepara a chuva

para a terra, e o que faz produzir erva sobre os montes.” Salmo 147:8

O calor dos últimos dias estava me deixando irritado. Então o Pintor em minha janela misturou em sua paleta celeste tons de branco, alumínio, cinza e azul, a chuva caiu e a temperatura ficou amena. Ficou mais fácil ganhar o pão com o suor do rosto sem suar tanto, embora o homem do tempo insista em dizer que o tempo piorou.

Isso mesmo. Quando vai fazer aquele sol de rachar, que faz sola de tênis grudar em asfalto derretido, a previsão do tempo diz que vai fazer bom tempo. Bom pra quê? Bom pra quem? Então as nuvens aparecem, o vento sopra, a chuva refresca, e isso é chamado de tempo ruim. Estranho o nosso modo de descrever as coisas, não?

Os tons do céu hoje forma um dégradé que vai do branco metálico ao alumínio escuro da nuvem plana ainda carregada de chuva. Essa planura só é quebrada pelo prédio branco bem no meio, mas são tantos os tons de branco do quadro que fica difícil chamar tudo de branco. Será mesmo branco? Talvez esteja mais para o branco do manto branco do urso polar. Branco?

Bem, assim como chamamos de mau tempo a chuva que garante nossa comida de amanhã, dizemos que o pelo do urso polar é branco, mas não é. Sua pele é negra como seu focinho e seu pelo não é branco, mas transparente como o vidro.

Muito embora seja transparente, seu casaco de pele é tão eficiente para reter o calor que as câmeras infravermelhas, usadas para detectar seres vivos pelo calor, só mostram a cara e o focinho do urso. O resto desaparece em meio ao gelo do ambiente. Quente por dentro, frio por fora.

Quem pintou seu pelo com tinta incolor foi o mesmo Pintor que pinta quadros em minha janela e faz com que o ar dentro de cada pelo — sim, eles são ocos — disperse a luz de todas as cores, parecendo branco para nós. Aliás, alguns ursos polares ficam verdes em cativeiro, quando dentro de seus pelos começam a se desenvolver algas do tanque do zoológico. Quem pintou as algas? Você já sabe.

Eterno Deus, aqui maravilhados,

Nós contemplamos Teu grandioso Ser;

Vendo a tormenta, o céu estrelado,

A declarar ao mundo o Teu poder!

Deus Criador! De sem igual poder!

Quão grande és Tu! Quão grande és Tu!

Atravessando bosques e florestas

Mil aves cantam, suave é seu trinar.

Olhando além, montanhas altaneiras,

Podemos ver o Teu poder sem par!

Tudo parece ao mundo proclamar:

Quão grande és Tu! Quão grande és Tu!

—— o ——

Através do vidro

Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” 1 Timóteo 6:10

Qualquer que seja o quadro do Pintor em minha janela, posso vê-lo com ou sem vidro. Geralmente nem dá para

reparar na diferença quando o vidro está bem limpo, mas quando existe algo mais no vidro a realidade irá parecer desfocada ou distorcida. Por isso sempre prefiro olhar para o quadro com o vidro aberto, para ter certeza do que estou vendo.

Me faz lembrar a história de um velho rabino que recebeu a visita de um homem que não era feliz. O rabino, que sabia que o homem era muito rico, percebeu logo qual era o seu problema. Convidou-o a olhar através do vidro da janela e dizer o que via.

Vejo pessoas — disse ele, olhando para a rua movimentada atrás do vidro.

Agora venha até aqui. — pediu o rabino, apontando para um espelho na parede, perguntou: — E agora, o que vê?

Vejo a mim mesmo. — respondeu o homem sem entender direito o que fazia.

Sabe a diferença entre o vidro do espelho e o da janela? Um pouco de prata. — explicou o rabino; — O vidro limpo da janela permite que você enxergue as pessoas na rua.

Coloque um pouco de prata no mesmo vidro e você só irá enxergar a si mesmo.

O problema da infelicidade daquele homem era o dinheiro, que não o deixava enxergar as pessoas. O problema nosso pode ser o mesmo ou qualquer outra coisa que nos faça enxergar apenas a nós mesmos, nossos desejos e interesses.

Nos evangelhos existem pobres e ricos seguindo a Jesus, mas ele se entristeceu quando encontrou um jovem que fazia da riqueza sua razão de seu viver. Ao contrário do que muitos pensam, não é o dinheiro a raiz de muitos males, mas o amor ao dinheiro. Se o seu objetivo na vida for

ganhar dinheiro saiba que esse é o objetivo mais pobre que alguém pode ter. Já viu alguém no leito de morte arrependido por não ter ganhado mais dinheiro?

Busque um objetivo que não seja movido pelo amor ao dinheiro que faz você enxergar só a si mesmo. Um objetivo assim é como a fina tinta de prata aplicada ao vidro para transformá- lo em espelho e impedir que você veja o que existe além de você. Já pensou o que seria de nós se Jesus tivesse vindo ao mundo para cuidar de seus próprios interesses?

Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis.” (2 Coríntios 8:9).

Tu que deixaste no excelso Lar Palácios de marfim, Para na cruz a vida dar,

Sofrendo até o fim.

Em vão não foi Tua morte ali, Pois Deus Te levantou, Perfeita obra consumou em Ti, E à glória Te exaltou!

Em breve vens em roupagem real Pra nos arrebatar,

E lá na glória, no lar celestial, Iremos contigo estar.

—— o ——

Despedaçado

Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites?” Salmo 8:3, 4

Alguém estacionou uma caminhonete em frente ao meu prédio e da janela vejo um quadro grotesco. Na caçamba um manequim, desses de loja, todo despedaçado. Cabeça para um lado, tórax para outro, pernas e braços se sobrepondo de maneira assustadora. A perfeita imagem de um quadro que o Pintor em minha janela não teria jamais pintado. Mas mesmo assim está ali.

Cada quadro do céu, das nuvens e das estrelas que o Pintor deixa em minha janela só faz pensar o quão diminuto é o ser humano diante de tanta glória e majestade de sua criação. Se o homem fosse apenas pequenino — uma poeira cósmica — comparado à imensidão do universo, ainda podíamos pensar que haveria uma esperança de Deus olhar para ele.

Mas não, além de sua pequenez, o ser humano foi despedaçado pelo pecado, transformado numa caricatura nua como o manequim em pedaços que vejo da janela de meu apartamento. Deve ser mais ou menos assim que Deus nos vê. O que poderia fazer algo tão quebrado e insignificante despertar a atenção do Criador? O que poderia mover o coração de Deus a voltar o seu olhar para essa sucata disforme largada na caçamba do mundo, que é a humanidade caída em pecado?

Foi o amor. Não o meu ou o seu amor, mas o amor dele. Deus olhou para mim e se compadeceu. Viu minha condição caída, minha vida em pedaços, meus membros inutilizados para serem capazes de fazer qualquer bem, e

ainda assim quis me salvar. Ele percebeu minha nudez, como a do manequim desmembrado na caçamba da caminhonete, largado à própria sorte e castigado pelas intempéries da vida, e decidiu me dar vida, e vida eterna.

Encontrei na Web uma coleção de fotos tiradas em um lugar conhecido como “cemitério de manequins”. Na verdade o tal cemitério é muito mais abrangente que isso, pois inclui todo um parque temático há muitos anos abandonado. Os bonecos, com expressões reais e mecanismos internos que lhes davam vida e alegravam as pessoas, estão jogados por toda parte, alguns inteiros, outros em pedaços. Ninguém mais se diverte indo ali. Aquilo não é muito diferente deste mundo: um grande parque temático que um dia será sucateado.

Olho outra vez para aquele manequim. Se existisse qualquer esperança de ele se recompor, sair da chuva onde a caminhonete está estacionada e de si próprio cobrir sua nudez, então também existiria esperança para criaturas como eu e você sairmos de nossa condição de ruína. Você pode ler para aquele manequim todos os livros de autoajuda que encontrar nas livrarias do mundo e nada vai acontecer. Ele não pode ajudar a si mesmo. Eu não posso ajudar a mim mesmo. Por isso Deus enviou um Salvador.

Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.” (Jeremias 13:23).

—— o ——

Entre nuvens

Vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos.” Atos 1:9

O quadro em minha janela é majestoso e me faz pensar na última vez em que os discípulos viram a Jesus — entre nuvens. Ele tinha ressuscitado algum tempo antes e estava se despedindo deles quando, de repente, foi elevado às alturas entre nuvens. Foi a última visão que os homens tiveram de Jesus, mas nem todos tiveram esse privilégio.

Hollywood pode ter feito alguns filmes considerados “bíblicos” nos quais incrédulos se encontram com o Cristo ressuscitado, pois um detalhe que passa despercebido a muitos é que apenas discípulos puderam vê-lo nessa condição. O mundo o viu pela última vez quando foi colocado morto numa tumba e até hoje o considera um cadáver sem vida, incapaz de fazer qualquer coisa pelos vivos.

Os incrédulos também não viram a despedida do Filho de Deus quando subiu entre nuvens em direção à glória. Apenas discípulos tiveram o privilégio. Mas aquela cena da despedida continuou para os discípulos perplexos, pois “estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois homens vestidos de branco. Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.” (Atos 1:10-11).

Esses “dois homens vestidos de branco” eram certamente anjos, avisando a respeito de duas coisas. Primeiro, que Jesus voltaria da mesma forma como havia partido, entre nuvens. Inicialmente isto seria apenas para pessoas da mesma classe daquelas que o viram subir — isto é, os que

creram.

Segundo, que seria “esse Jesus”, ou “o mesmo Jesus”, como diz em outra versão. O mesmo Jesus. Nenhum crente em Cristo deveria esperar por um anjo ou qualquer outra criatura para vir buscá-lo. O mesmo Jesus virá, entre nuvens. Mais tarde os discípulos conheceriam, por meio da revelação dada ao apóstolo Paulo, mais detalhes de como isso aconteceria. Cristo vindo buscar os que são seus é uma verdade relacionada à Igreja, o conjunto dos salvos por Cristo na presente dispensação. Daí ter sido Paulo, que recebeu também a revelação do que era a Igreja, o responsável por ensinar a seus irmãos os detalhes de como isso aconteceria.

Em suas cartas Paulo explica que aqueles que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. “Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.” (1 Tessalonicenses 4:16-18).

Se você tivesse vivido na época de Jesus, estaria entre os que o viram depois de ressuscitado? Teria visto ele partir daqui entre nuvens? E hoje, será que é esse mesmo Jesus que você espera? Será que é a esperança de ir encontrá-lo “entre nuvens” o que traz consolo ao seu coração?

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Deitar-me faz

O Senhor é o meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz

em verdes pastos, guia-me mansamente a águas

tranquilas.” Salmo 23:1, 2

Todo mundo gosta do Salmo 23, assim como todos nós gostamos de um lindo nascer ou por do sol, como alguns quadros do Pintor que já vi em minha janela. Mas que beleza pode ter o quadro que vi na janela dos fundos de meu apartamento? A janela dá para dois outros prédios altos da rua de trás e sobra quase nada de céu para se observar. O que mais tem são paredes, lajes, e concreto manchado pelo tempo.

Às vezes, quando olhamos pela janela de trás da vida, aquela que não queremos que as pessoas vejam, aquela que não publicamos nas redes sociais, vemos um quadro assim. Parece não haver nada para nós ali. Um beco sem saída. O que nem sempre percebemos é que o Salmo 23 também fala de um lugar escuro e tenebroso, um “vale da sombra da morte”, que ainda que eu andasse por esse vale, “não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.” (Salmo 23:4).

Todavia, se no Salmo 23 temos promessa de proteção no lugar mais escuro, ele também fala de descanso, diz que tem Alguém que nos faz deitar. Não somos nós que deitamos de vontade própria, pois somos incapazes até de enxergar os verdes pastos. Passaríamos direto por eles sem perceber. É o Pastor quem identifica o que é e o que não é um bom pasto para suas ovelhas. E então ele as faz deitar.

Mas nem todos os pastos são aprazíveis. Tenho aprendido

será que tenho aprendido? — a enxergar sua mão também nas dificuldades, nos paredões de concreto e becos sem saída. A razão de alguns desses quadros tão inóspitos aparecerem de vez em quando em nossa janela nós

provavelmente só iremos entender quando chegarmos no céu.

Outra passagem que me vem à memória é quando o povo israelita é libertado da escravidão, sai do Egito e, num certo ponto do caminho, Deus manda que voltem e acampem. Onde? Em um lugar onde ficarão presos em um beco, com uma montanha de cada lado, o mar na frente e o exército egípcio atrás. “Fala aos filhos de Israel que voltem, e que se acampem diante de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar, diante de Baal- Zefom; em frente dele assentareis o campo junto ao mar.” (Êxodo 14:1-2).

O curioso é que eles já tinham passado por aquele lugar um pouco antes, mas Deus mandou que voltassem e acampassem ali. Na agenda de Deus havia um mar para ser aberto, o que não poderia acontecer se eles estivessem em um lugar diferente daquele. Se o quadro em sua janela é o de um beco sem saída, é hora de ouvir a voz de Deus e deixá-lo agir. Mas antes de agir, ele quer que você fique quieto.

E aproximando Faraó, os filhos de Israel levantaram seus olhos, e eis que os egípcios vinham atrás deles, e temeram muito; então os filhos de Israel clamaram ao Senhor. E disseram a Moisés: Não havia sepulcros no Egito, para nos tirar de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos fizeste isto, fazendo-nos sair do Egito? Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos, e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará.” (Êxodo 14:10-14).

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Todas as coisas… e você!

O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas.” Hebreus 1:3

Sabe o que chamou minha atenção no quadro que encontrei hoje em minha janela? As nuvens. Parece até que o Pintor em minha janela fosse um vendedor de algodão doce que espalhou seu produto pelo céu. Grandes flocos de igual formato e tamanho. Mas, ao contrário do levíssimo algodão doce estas nuvens são blocos compactos carregando toneladas de água em forma de vapor, flutuando e desafiando a lei da gravidade. Em algum momento elas darão as mãos, depois se abraçarão e, ao se apertarem umas às outras, acabarão se transformando em chuva, em minha cidade ou mais adiante para onde o vento as levar.

Já pensou nisso? Toda aquela água que cai, toda aquela enxurrada que corre, está bem ali, pendurada por fios invisíveis e sustentada por Aquele que sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder! Talvez você dê uma explicação lógica, talvez fale do vapor, de sua menor densidade etc. e tal, mas é Jesus quem sustenta a água enquanto está em forma líquida, ou o vapor em seu estado etéreo. Se não existisse essa sustentação, as coisas simplesmente não existiriam.

Eu explico. O que faz com que os átomos de meus dedos não penetrem no teclado enquanto digito? Esse mesmo poder de sustentação que a ciência tenta descobrir, que mantém coesa todas as coisas, não está disponível em algum tubo de ensaio, apesar de tirar o sono dos cientistas. O Universo inteiro funciona como um grande relógio cujas engrenagens se relacionam harmoniosamente e por isso não

termina num caos. Jesus, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder”, é quem está por trás disso.

Portanto, da próxima vez que teclar, der a mão para alguém, e os átomos de sua mão não se misturarem aos átomos da mão do outro, pense em Jesus. Ou quando simplesmente olhar para as nuvens pairando no céu sobre sua cabeça, lembre-se de que Aquele que sustenta todas as coisas com a Palavra do seu poder é o único que sustenta todo o macro e o microcosmo e você também. Jó precisou aprender isso diretamente do próprio Deus, que o inquiriu:

Quem abriu para a inundação um leito, e um caminho para os relâmpagos dos trovões, para chover sobre a terra, onde não há ninguém, e no deserto, em que não há homem; para fartar a terra deserta e assolada, e para fazer crescer os renovos da erva? A chuva porventura tem pai? Ou quem gerou as gotas do orvalho? De que ventre procedeu o gelo? E quem gerou a geada do céu? Como debaixo de pedra as águas se endurecem, e a superfície do abismo se congela. Ou poderás tu ajuntar as delícias do Sete-estrelo ou soltar os cordéis do Órion? Ou produzir as constelações a seu tempo, e guiar a Ursa com seus filhos? Sabes tu as ordenanças dos céus, ou podes estabelecer o domínio deles sobre a terra? Ou podes levantar a tua voz até às nuvens, para que a abundância das águas te cubra? Ou mandarás aos raios para que saiam, e te digam: Eis-nos aqui? Quem pôs a sabedoria no íntimo, ou quem deu à mente o entendimento? Quem numerará as nuvens com sabedoria? Ou os odres dos céus, quem os esvaziará, quando se funde o pó numa massa, e se apegam os torrões uns aos outros?” (Jó 38:25-38).

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PhotoPomba

E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária.” Lucas 10:41

Hoje, ao abrir a janela, minha intenção era pintar meu próprio quadro, fotografando um avião que fazia voos rasantes sobre a cidade. Mas o Pintor em minha janela se adiantou e colocou algo mais na tela sem que eu percebesse. Você já deve ter ouvido falar de “photobomb” , que é quando alguém se intromete na foto de outra pessoa. Foi só quando vi a foto que reparei na pomba que se intrometeu voando bem no centro da tela. Tirei uma “photopomba.

Pensando bem, não foi a pomba a intrometida no espaço aéreo, e sim o avião e seu piloto. Desde a Criação os ares pertencem aos pássaros, mas o homem só se intrometeu nele há cerca de um século. Com sua engenhosidade ele aprendeu a voar cada vez mais alto, com asas maiores, porém menos geniais e perfeitas do que as asas das aves e dos insetos. Até hoje os cientistas estudam suas estruturas e movimentos para aprender e aperfeiçoar as aeronaves.

O edifício que invade minha tela também não foi algo que o homem tenha nascido sabendo fazer. Ele precisou aprender a construir, como fez com suas asas. Com quem ele aprendeu? Bem, existe algo chamado de biomimética, que é construir coisas imitando a natureza. Com a ajuda da tecnologia copiada dos cupins hoje existem em países quentes edifícios refrigerados que não dependem de ar condicionado.

Onde quero chegar? O homem precisou aprender a voar,

os pássaros e insetos nasceram sabendo. O homem precisou aprender a construir, os cupins e o João-de-Barro já nasceram pedreiros. Já reparou como Deus equipou suas criaturas com habilidades singulares, enquanto deixou o homem sem qualquer dispositivo para voar ou instinto para construir? Embora nos faltem tais habilidades naturais, Deus fez do homem o único ser vivo com um espírito capaz de ter comunhão com ele.

Todavia, nós nos ocupamos com muitas coisas que não estavam no projeto original de Deus: Voamos para o espaço, construímos metrópoles, inventamos coisas. Logo no início Deus percebeu que os homens seriam capazes de prodígios, quando tentaram construir uma torre — Babel — que alcançasse o céu. Obviamente eles não eram tolos de achar que poderiam alcançar o céu literalmente, ou teriam construído no topo de uma montanha, e não no fundo de um vale, como foi o caso.

O que eles queriam mesmo era cravar sua bandeira neste mundo, fazer um nome à revelia de Deus. Quando Deus viu aquilo, disse: “Agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer” (Gênesis 11:6), e embaralhou suas línguas para frustrar seus planos de grandeza. Mas ainda com as línguas embaralhadas o homem é capaz de muitas coisas, menos se aproximar de Deus, a menos que seja atraído a isso. “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (João 6:44), disse Jesus.

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Sinistro

O seu cadáver não permanecerá no madeiro, mas

certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto o pendurado é maldito de Deus.” Deuteronômio 21:23

O quadro em minha janela é assustador. Mas sinto-me seguro, porque conheço o Pintor e sei que foi ele quem pintou. Nuvens revoltas, escuras, assustadoras. A luz brilhante de um amanhecer em tons de prata e chumbo desenham as silhuetas sombrias dos prédios enquanto de sobre um deles uma gigantesca nuvem em forma de asa parece emergir. Apenas uma nuvem, apenas uma asa, como se quisesse mostrar um pássaro aleijado e incapaz de voar. Enquanto olho penso em como o Pintor poderia ter colocado um quadro sinistro assim em minha janela nesta manhã.

Um quadro sinistro, porém infinitamente menos tenebroso do que a cena do Filho de Deus enfrentando as trevas do abandono na cruz. Há dois mil anos aquele que criou todas as coisas, e para quem todas as coisas foram criadas, foi pregado numa cruz de ignomínia e qual um pássaro de asa quebrada ficou ali, incapaz de voar. Como se não bastasse ter sido aleijado pelos grandes pregos que atravessavam seus pés e suas mãos, trevas se abateram sobre a terra cegando aquele que veio para ser a Luz do mundo. “O pendurado é maldito de Deus”, diz a passagem de Deuteronômio. Dá para imaginar Jesus sendo chamado ali de maldito?

Deus um dia precisou abandonar a Jesus para que morresse só. O mais vil pecador tem a atenção de Deus até o seu último suspiro, na expectativa de arrependimento e contrição, e maior ainda é a assistência que Deus promete ao justo: “Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo” diz o Salmo 27:25. Todavia, o mais Justo dentre os justos foi abandonado ali para morrer só e

agonizar sob o fardo dos pecados humanos. Dá para imaginar? Não me pergunte como Jesus, sendo Deus, podia ser abandonado por Deus! Mas foi.

O brado de desalento profetizado no Salmo 22 foi repetido no Monte da Caveira: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”. Tudo estava muito claro e evidente: Deus não podia ter comunhão com o pecado em que Jesus havia sido feito sobre o madeiro, e também não poderia compactuar com os pecados de cada redimido de todos os tempos que ele carregava sobre si. Pecados meus e de todos os que creram, criam e creriam nele como Salvador.

Aquele foi um momento singular. O mundo ficou imerso em trevas para que pudéssemos enxergar a luz. O sangue do Filho de Deus se esvaiu na morte para que pudéssemos ter vida eterna. Suas mãos e pés ficaram ali pregados para que pudéssemos ser libertos. Ele recebeu sobre o seu corpo santo o castigo devido aos nossos pecados imundos para que não recebêssemos juízo algum. Ele não foi poupado para que pudéssemos ser perdoados. Um morreu por todos para que muitos tivessem a salvação eterna.

Você tem? Se ouviu e creu, “não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”, promete João 5:24 Agora não há o que temer, por mais sinistro que o céu possa parecer. E antes que me pergunte, a nuvem em forma de asa quebrada logo se dissipou. E há dois mil anos Jesus ressuscitou.

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Liberdade

E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado.” João 8:32, 34

Fala-se tanto em liberdade, mas hoje o quadro que chamou atenção em minha janela mostra a vista de uma janela lateral que dá para os prédios vizinhos. Muros, cercas eletrificadas, grades na janela, câmeras de vigilância, seguranças armados, alarmes. Tudo isso eu posso ver no quadro e já nem percebia essas coisas de tão acostumado que fiquei com elas. Eu não moro em um castelo medieval e nem em uma penitenciária, mas será que vivemos presos?

Fala-se muito da segurança que as pessoas têm nos Estados Unidos, onde não há grades nas janelas das casas, mas você já tentou entrar naquele país? Não há grades nas janelas porque as grades e até cercas físicas foram instaladas nas fronteiras. Não é neste cenário que vivemos e não é assim que habitamos? Liberdade? Onde?

  • engraçado como nos acostumamos rapidamente à falta de liberdade e a todos esses dispositivos de segurança. Aprendemos a viver trancados e nem nos lembramos de como era a vida sem grades nas janelas ou quando ninguém trancava o carro e alarme era um som desconhecido. Hoje até os alarmes ficaram tão comuns que quando algum toca ninguém se preocupa em chamar a polícia. Ficamos insensíveis como é insensível o mergulhador a toneladas de água sobre si. Ele está imerso nela, por isso não sente um peso tal que, se jogado sobre ele, seria mortal.

Ansiamos por liberdade de expressão, liberdade de ir e vir, liberdade de caminhar nas ruas com segurança e sem medo de assaltos ou balas perdidas. Esperamos que essa liberdade venha com as próximas eleições, o próximo governante, a

próxima política de segurança. E nada. Mas existe uma liberdade que está disponível aqui e agora, para mim e para você.

A Bíblia fala dessa liberdade, mas não é uma liberdade como a que costumamos buscar, de expressão, de ir e vir ou de nos vermos livres de ladrões. A Bíblia fala da libertação do pecado, que escraviza, mas cuja escravidão não é percebida justamente por vivermos imersos nele, como o mergulhador debaixo de toneladas de água. “Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo.” (2 Pedro 2:19).

Felizmente há um escape que é pelo conhecimento da Verdade. Mas o que é a Verdade? Pilatos fez a mesma pergunta e depois se virou de costas para Jesus. Deu as costas àquele que disse: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14:6).

Você crê que Jesus é a Verdade e que ninguém vai ao Pai senão por ele? Se você realmente crê em Jesus, então deve crer também em tudo o que ele é e diz a você em sua Palavra. “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” (João 5:24). Você ouviu a palavra dele? Crê no Pai que enviou o Filho para morrer e ressuscitar para salvar pecadores? Reconhece que assim crendo você já é possuidor da vida eterna, que não entrará em condenação mas já passou da morte para a vida? Então você conhece a verdadeira liberdade dos filhos de Deus.

—— o ——

Mais um ano, menos um ano.

Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.” Salmo 90:12

A pintura hoje em minha janela é das plantas e flores do jardim de meu prédio, que posso ver e fotografar do segundo andar. Decidi que hoje queria olhar para elas, pois flores nos falam de novidade de vida, o primeiro estágio antes dos frutos e das sementes multiplicadoras.

A razão é que hoje é meu aniversário. Há mais de meio século eu nascia pela primeira vez, mas foi só em 1978 que nasci de novo. Portanto, se já entrei no segundo século de vida natural, na vida espiritual sou vinte e três anos mais novo que eu mesmo. Mas a vida que realmente importa e vai durar eternamente é essa vida nova que recebi de Deus em Cristo.

A matemática é simples: quem nascer só uma vez pode esperar por duas mortes: a natural e a espiritual. Quem nascer duas vezes só enfrentará uma morte — a natural — ou até mesmo nenhuma se Jesus voltar antes. Portanto, a contagem dos anos e dias de quem foi salvo por Jesus é crescente para sua vida natural, cada vez mais longe do passado. Mas é uma contagem regressiva no que diz respeito à sua vida espiritual, cada vez mais perto de sua esperança futura. Por isso o apóstolo escreveu: “Porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé.” (Romanos 13:11).

Se cheguei até aqui — quero dizer, vivo, natural ou espiritualmente — foi só pela graça e misericórdia de Deus. Nos últimos anos vividos meu coração bateu mais de dois bilhões de vezes e respirei mais de quatrocentos milhões de vezes. Devo a Deus isso e tremo quando ouço alguém falar como ouvi um comentarista de rádio. Ao comentar os

diferentes objetos de culto de diferentes religiões ele disse:

Eu, nem a Deus adoro”.

Pobre comentarista de rádio que não tem ninguém importante com quem se alegrar em seu aniversário. Comigo não é assim, pois o Pintor em minha janela, que é também o Criador dos céus e da terra, não se esqueceu de meu aniversário e enviou flores. Sim, o quadro de flores que chamou minha atenção hoje ao olhar para o jardim do prédio. Na verdade ele estava lá, bem debaixo de meu nariz há muito tempo, mas eu ainda não tinha percebido seus detalhes como percebi hoje.

Isso acontece. Nós nos acostumamos a olhar para o horizonte, na esperança de que o futuro traga algo novo para nos satisfazer, e nem nos damos conta de que o presente colocou aos nossos pés presentes que nem desembrulhamos ainda. Olhe ao seu redor e procure o presente que está debaixo de seu nariz. Você terá mais um motivo para agradecer a Deus. Olhou? Encontrou? Eu sabia que estava aí.

Os presentes, com os quais você já se acostumou de tanto conviver com eles, talvez sejam coisas pequenas como seu batimento cardíaco ou sua respiração. Ou um jardim de flores coloridas bem debaixo de seu nariz.

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A nuvem

Se tu mesmo não fores conosco, não nos faças subir daqui.” Êxodo 33:15

Ontem uma nuvem pairava majestosa sobre o prédio onde moro. O Pintor em minha janela a tinha colocado em um lugar onde eu não podia ver, mas podia fotografar com o braço esticado para fora da janela do apartamento segurando a câmera apontada para cima. Na pintura a fachada de meu prédio aparece desaparecendo à medida que sobre, até se encontrar com a nuvem que o Pintor colocou lá no alto. Logo me veio uma lembrança de outra nuvem que vi na Bíblia.

Quando os israelitas peregrinavam pelo deserto a caminho da terra prometida, uma nuvem os acompanhava. Ou melhor, eles acompanhavam uma nuvem. Depois de terem sido libertados da escravidão do Egito, Deus havia providenciado para que sobrevivessem à jornada de onze dias pelo deserto até a terra prometida. Porém a jornada levou quarenta anos em razão da incredulidade daquela geração.

Uma das providências de Deus foi colocar uma nuvem sobre o tabernáculo — a tenda onde Deus era adorado — como sinal de sua presença ali. Vivendo num deserto abrasador, o povo encontrava literalmente um refrigério na sombra proporcionada por Deus. Além disso, a nuvem ajudava a lembrar quando deviam partir e chegar. Eles só levantavam acampamento quando a nuvem se levantava e começava a se mover, e só paravam de caminhar quando ela parava. À noite a nuvem era substituída por uma coluna de fogo.

Mas sempre que a nuvem se alçava de sobre a tenda, os filhos de Israel partiam; e no lugar onde a nuvem parava, ali os filhos de Israel se acampavam.” (Números 9:17).

Pensei em minha vida. Eu também fui tirado da escravidão do pecado e da perspectiva da morte e do juízo com a

promessa de uma Canaã celestial. Porém, entre uma coisa e outra existe um deserto pelo qual estou peregrinando: este mundo. É assim que me sinto; é assim que cada cristão se sente, vivendo em um imenso deserto onde tudo conspira contra sua fé e seu Salvador. Porém em todo o caminho ele pode contar com a presença da nuvem — de Deus — trazendo direção e refrigério.

Meus problemas começam quando deixo de olhar para a nuvem e decido de mim mesmo levantar acampamento, traçar meu próprio rumo ou agir de acordo com minha própria vontade. Então, depois de dar muitas voltas perdido e desorientado, meus problemas terminam quando me rendo à direção dada por Deus. Aí não saio do lugar, se ele não indicar; e não paro, se ele não decidir parar.

Você segue a nuvem da presença de Deus ou está perdido, tateando na neblina das ilusões passageiras?

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Ele descera como chuva

O coração do sábio discernirá o tempo e o juízo.” Eclesiastes 8:5

A paisagem do quadro do Pintor em minha janela foi escondida por uma densa cortina de chuva. Quase não dava para enxergar o horizonte, e os prédios vizinhos ficaram imersos na cascata que despencava das nuvens. Na calçada lá embaixo algumas pessoas correm em busca do abrigo que não existe para uma chuva surpresa que não previram.

Às vezes é fácil prever a chuva e se preparar para fugir

dela, mas nem sempre acontece assim. As notícias da semana falavam de mais de mil e oitocentas pessoas soterradas nas Filipinas por uma enxurrada de lama que cobriu uma cidade sem qualquer aviso. No Brasil mais de trinta mil pessoas ficaram desabrigadas por causa das enchentes. Algumas sabiam que elas viriam, outras não.

A natureza é imprevisível e pode ser extremamente destrutiva. Mas existe outra enxurrada, de origem maligna, com um poder ainda maior de destruição. É só ler as outras páginas do jornal, aquelas dos homens-bomba, dos bebês mortos, dos crimes de colarinhos de todas as cores. A humanidade vai de mal a pior.

Isso já aconteceu antes e o mundo foi varrido pelas águas do dilúvio para um recomeço. Mas agora não haverá recomeço que possa ser deixado para depois. A hora é agora de entrar na Arca que Deus oferece: JESUS. Para aqueles que creem e esperam por ele, a chuva toma um aspecto diferente, nada ameaçador. “Ele descerá como chuva sobre a erva ceifada, como os chuveiros que umedecem a terra.” (Salmo 72:6).

Porém, para aqueles que não creram nos avisos claros que Deus tem dado em sua Palavra, resta apenas “uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários.” (Hebreus 10:27). No início da mesma carta aos Hebreus você encontra uma admoestação solene:

Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas. Porque, se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda a transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição, como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande

salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram” (Hebreus 2:1-3).

A pergunta é retórica e o escritor da carta não espera uma resposta, pois resposta não há, tanto quanto não há uma forma de escape a partir do momento em que começarem a cair as primeiras gotas do juízo divino. Então muitos correrão de um lado para outro, como as pessoas que agora observo pela janela, correndo na calçada lá embaixo em busca do abrigo que não existe para uma chuva surpresa que não previram. Ou previram, mas não quiseram acreditar que as alcançaria.

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São meus!

Agora, pois, os teus dois filhos, que te nasceram na terra

do Egito, antes que eu viesse a ti no Egito, são meus: Efraim e Manassés serão meus, como Rúben e Simeão.” Gênesis 48:5

As nuvens no quadro que o Pintor em minha janela deixou são assustadoras. Carregadas, sisudas, têm um ar ameaçador. O que trarão? Ventos? Tempestades? Essa é a incógnita de quem olha para o céu e só vê um Deus carregado, sisudo e ameaçador. Você o enxerga assim?

Apesar de o ditado popular dizer que todos são filhos de Deus, o evangelho de João começa dizendo que filhos são apenas aqueles que recebem a Cristo. Os demais são criaturas de Deus. Essa mudança de posição — de criaturas

para filhos — acontece quando alguém é adotado por Deus por intermédio de Cristo.

Ao ler a história de José, filho de Jacó, me impressionei com a semelhança de sua vida com a vida de Jesus. José era o filho preferido de seu pai, e se distinguia dos demais por uma túnica de muitas cores. Ele foi rejeitado por seus irmãos, vendido por algumas moedas e lançado numa cova para morrer. Porém, acabou sendo elevado a vice-rei o Egito e salvou da fome e da morte não apenas seus irmãos, mas também toda a sua família.

Enquanto estava no Egito, José casou-se com Azenate, uma noiva gentia que não pertencia ao seu povo. Com ela teve dois filhos, Manassés e Efraim, que acabaram sendo adotados por Jacó para terem os mesmos privilégios dos outros filhos do patriarca. Tudo isso representa a história de cada cristão salvo por Cristo, que foi adotado por Deus como filho e feito membro do corpo de Cristo, a Igreja, também representada por uma noiva tomada dentre os gentios. Dos filhos de José, Jacó diz: “São meus!”. Deus diz o mesmo daqueles que agora são seus filhos por adoção, mas que usufruem da mesma herança de seu Filho Unigênito, Jesus. “E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo” (Romanos 8:17).

Uma vez que você tenha sido feito filho de Deus, a Palavra do mesmo Deus garante que o Espírito Santo vem habitar em você que agora está em Jesus, lhe concedendo o privilégio de chamar a Deus de “Aba”. A tradução não é apenas “Pai”, mas “Papai”. Você acha que esse Deus, que hoje diz aos que creem em Cristo, “São meus!”, e que podem chamá-lo de “Papai”, é um Deus carrancudo como muitos o enxergam? De maneira alguma! Somente os que não o conhecem pensam assim.

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Luz nas casas

Mas todos os filhos de Israel tinham luz em suas habitações.” Êxodo 10:23

Hoje quando olhei pela janela, pensei que o Pintor não havia deixado um quadro para mim. Era madrugada e, além da lâmpada no poste de minha rua, as únicas luzes que podia ver eram as das janelas dos madrugadores. Estava a ponto de voltar minhas costas para a janela, quando percebi.

O quadro que o Pintor em minha janela queria me mostrar era exatamente aquele: a noite, a ausência de luz. Uma das grandes pragas derramadas sobre o Egito nos tempos retratados no livro de Êxodo foi justamente a da escuridão.

Então disse o Senhor a Moisés: Estende a tua mão para o céu, e virão trevas sobre a terra do Egito, trevas que se apalpem. E Moisés estendeu a sua mão para o céu, e houve trevas espessas em toda a terra do Egito por três dias. Não viu um ao outro, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias; mas todos os filhos de Israel tinham luz em suas habitações.” (Êxodo 20:21-23).

Trevas cobriram a terra e as pessoas não conseguiam enxergar umas às outras. Trevas densas, que suprimiam todo tipo de luz, já que a Bíblia diz que os egípcios não saíam de seu lugar porque um não conseguia enxergar o outro. Poucos percebem que essas trevas, que eram palpáveis para os daquele tempo, continuam até hoje, ainda que pouco percebidas. Nem todos conseguem ver as trevas

espirituais que têm prevalecido sobre este mundo.

Mas houve outra ocasião quando as trevas foram igualmente palpáveis. As trevas que engolfaram o mundo e o homem a partir da rebelião ocorrida no Jardim do Éden se manifestaram também quando, em pleno dia, a escuridão se fez presente no mundo enquanto o Filho de Deus era crucificado. Não foi um eclipse de alguns minutos, mas três horas de trevas. Naquele momento Deus tratava com Jesus a questão de nossos pecados. Foi quando o Filho bradou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46).

Ninguém viu o que Cristo passou na cruz naquelas três horas de trevas enquanto recebia o juízo de Deus pelos pecados de suas criaturas. A luz não podia brilhar. O Filho de Deus, embora inocente, era feito pecado ali por nós e recebia sobre ele as afrontas dos que afrontam a Deus. Naquele momento Deus precisou abandoná-lo na cruz, por mim e por você.

Para aqueles que creem, aquela foi a hora de sua libertação; a hora quando foram abertas as portas das masmorras onde o inimigo nos mantinha cativos. Para aqueles que não creem nada muda. As trevas permanecem, ainda que não possam vê-las ou senti-las, como não pode sentir o mergulhador debaixo de toneladas de água por estar imerso nela.

A Bíblia nos diz que naquele dia singular no Egito “todos os filhos de Israel tinham luz em suas habitações”. Assim é também com todo aquele que crê em Jesus e pode já neste mundo viver na luz, apesar de viver num mundo imerso em densas trevas.

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Todas elas

O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus.” Filipenses 4:19

Enquanto o Pintor pintava um Sol de um novo dia na janela da frente de meu apartamento, descobri que ele pintava um quadro também na janela dos fundos. Nele a Lua se despedia da noite se preparando para ir embora. Era muito sugestivo vê-la assim, saindo pela janela dos fundos, enquanto o Sol entrava pela janela da frente.

O cristão é como a Lua, não tem luz própria. Para brilhar, a Lua depende do Sol. Sem este, ela não passa de uma esfera sem brilho, fria, estéril e silenciosa, que expõe as cicatrizes de agressões sofridas ao longo das eras. Cada cratera, cada vale, cada destroço marca um acontecimento em sua vida.

Você se sente assim? À semelhança da Lua, talvez não tenham sido poucos os impactos que você recebeu ao longo de sua vida, os quais deixaram marcas difíceis de disfarçar.

Mas quando vemos a face redonda da Lua refletindo a luz do sol, ela é bela, inigualável em seu vestido cor de prata a inspirar os corações. Mas ela só é assim quando reflete o Sol.

Por que será que nos esquecemos tão facilmente disto? Por uma razão bem simples. Achamos que podemos ter luz própria ou encontrar luz, calor e cura fora de Jesus, o “sol da Justiça”. “Mas para vós, os que temeis o meu Nome, nascerá o sol da justiça, e cura trará nas suas asas.” (Ml 4:2).

Às vezes eu me sinto como uma criança desnutrida. Sei que

preciso de vitaminas, mas quero encontrá-las no saco de salgadinhos e no refrigerante, não na salada, nos legumes e frutas frescas. Quero que seja do meu jeito, onde eu quiser e na minha hora, de preferência agora.

Mas Deus fala que é em Cristo Jesus que ele suprirá todas as minhas necessidades. Todo o resto pode parecer alimento por um breve tempo, mas não dura. Assim como o recém-nascido encontra seu alimento no seio da própria mãe, alimentar-se de Cristo é buscar nele o que pode satisfazer as necessidades dessa nova vida que possui todo aquele que o conheceu. E ele faz isso em um grau inimaginável, tantos são os advérbios de intensidade que aparecem em uma única passagem:

Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera. A esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém.” (Efésios 3:17-21).

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O riso de Deus

O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a

purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas; feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles” Hebreus 1:3-4.

Depois do temporal o Pintor deixou na janela do banheiro um quadro estranho, um quadro de trevas. Nada pode ser visto de sua obra no exterior, e o pouco que poderia ser percebido está distorcido pelo vidro canelado, molhado e respingado. Esse vidro é como um conjunto de lentes paralelas que desfocam a imagem exterior, de dia ou de noite, quer chova ou faça sol. E choveu à noite, o que fez o canelado do vidro deixar a imagem do exterior ainda mais difusa, no que foi ajudado pelas gotas de água em sua superfície.

Este é o tempo em que vivemos: de trevas, temporais e imagens distorcidas. Todos os dias as manchetes trazem notícias de protestos, atentados e mortes, causadas principalmente por radicais islâmicos. Cartunistas já foram mortos por publicarem cartoons e charges de Maomé, tido como profeta por uma religião que proíbe sua representação na forma de desenho e pune seu autor com a morte por crime de desonra.

Qual a resposta do Ocidente, que recebeu uma herança judaico-cristã, a esses atentados? Alguns jornais e revistas decidiram publicar novamente os cartoons e, para mostrar que o Ocidente desfruta da liberdade de expressão, publicaram também cartoons, charges e piadas de Jesus. Mas isso foi como se dissessem: “Vejam seguidores de Alá, nós não respeitamos nada nem ninguém! Estamos desrespeitando também o líder máximo da religião cristã!”.

A ofensa causada pelos cartunistas aos muçulmanos incitou

  • ira mais de um bilhão de seguidores daquela religião em todo o planeta. As consequências foram atos de violência e atentados praticados por radicais, que não temem se explodir em pedacinhos para lavar com sangue a honra daquele que consideram seu profeta. Mas que consequências terão as zombarias feitas contra Jesus, o Filho de Deus?

Não creio que a cristandade reaja da mesma maneira quando vê Jesus sendo ridicularizado. A razão disso é que tornou-se hábito zombar de Jesus, e isso até mesmo por cristãos. Ninguém sai em defesa da fé cristã de arma em punho, degolando os infiéis ou se explodindo em meio a uma multidão. Talvez alguns poucos promovam um protesto tímido em postagens nas redes sociais, e só.

Mas será que os que zombam de Jesus sabem de quem estão zombando? Caso não estejam sabendo, estão zombando daquele que é “o resplendor da sua (de Deus) glória, e a expressa imagem da sua (de Deus) pessoa” (Hebreus 1:3). Acaso Deus ri das piadas que os homens fazem?

Em certo sentido, “aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles. Então lhes falará na sua ira, e no seu furor os turbará.”. Ele então admoesta: “Sede prudentes.. Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se acender a sua ira; bem-aventurados todos aqueles que nele confiam.” (Salmo 2:1-12).

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Será que eles sabem?

Então disseram uns para os outros: Não fazemos bem; este dia é dia de boas novas, e nos calamos.” 2 Reis 7:9

Tinha acabado de chover quando o Pintor em minha janela me surpreendeu com um quadro magnífico, de tão imensa e bela que era sua tela. Não era a primeira vez que ele espremia seus tubos de tinta e riscava o céu com suas cores formando um arco de uma à oura moldura de minha janela.

A lenda diz que no fim do arco-íris há um pote de ouro. Pois bem, nesse quadro eu via as duas pontas, então podia me considerar contemplado com dois potes de ouro! É verdade que a cena toda não durou mais que cinco minutos, porém enquanto eu estava ali, olhando por minha janela, me lembrei de uma história da Bíblia.

A cidade de Samaria estava sitiada pelo exército de Ben-Hadade, rei da Síria. As provisões da cidade se acabaram e a fome era tanta que crianças tinham sido mortas por suas próprias mães para serem comidas. Porém Deus avisara o profeta Eliseu de que iria livrar a cidade, e fez isso colocando tamanho pavor no exército inimigo que os soldados fugiram do acampamento largando armas, roupas e mantimentos para trás.

Do lado de fora da cidade de Samaria havia quatro leprosos, expulsos por seus moradores e intocados pelo inimigo, por causa de sua doença. Eles foram os únicos que perceberam que Deus havia posto para correr o exército inimigo durante a noite. Decidiram ir até o acampamento inimigo e viram que estava vazio, porém com toneladas de alimento para quem quisesse pegar. Era a salvação da cidade, mas será que seus habitantes sabiam disso?

A história continua com os leprosos avisando a população, a qual acabou sendo salva pela provisão inesperada. Provisão para todos, exceto para um assessor do rei, que não creu e morreu antes de conseguir provar do alimento gratuito. Ele tinha sido avisado, por intermédio do profeta Eliseu, de que Deus proveria alimento em abundância, mas duvidou. Disse ele: “Eis que ainda que o Senhor fizesse janelas no céu poderia isso suceder?” — ao que o profeta respondeu — “Eis que o verás com os teus olhos, porém disso não comerás.” (2 Rs 7:2).

Atônito com a notícia, e parado no portão da cidade enquanto todos corriam buscar o alimento, o homem acabou atropelado e pisoteado pela multidão faminta.

Enquanto medito nessas coisas observo a cidade diante de mim. Provavelmente nenhum dos moradores dos dois prédios, onde repousavam as pontas daquele arco-íris que o Pintor colocou em minha janela, sabiam que estavam sendo protagonistas de um dos mais belos espetáculos da natureza. Provavelmente muitas pessoas ainda não sabem que Deus abriu uma janela no céu, pintou um sinal de graça e misericórdia, e colocou um verdadeiro pote de ouro bem diante dos homens, a salvação que há em Cristo Jesus.

Felizmente alguns leprosos — que na Bíblia são uma figura de pecadores assumidos — já descobriram esse pote de ouro e correram agarrá-lo. Outros também ficaram sabendo, mas será que creram nessa boa notícia?

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Pedra preciosa

E assim para vós, os que credes, é preciosa.” 1 Pedro 2:7

Não são todos que se importam com o Pintor em minha janela ou valorizam sua obra. Muita gente sequer o conhece, outros já ouviram falar dele, mas fazem questão de ignorá- lo. E ainda há os que trazem no coração e nos lábios um desprezo declarado. Também, o que pensar de um mundo que um dia participou de uma votação democrática e elegeu Barrabás?

Para realmente dar valor àquilo que o Pintor faz a cada dia e a cada minuto, é preciso conhecê-lo. Mas não apenas como uma figura histórica, e sim como o Amado que a noiva do Livro de Cantares descreve, quando indagada acerca dele:

Que é o teu amado mais do que outro amado, ó tu, a mais formosa entre as mulheres? Que é o teu amado mais do que outro amado, que tanto nos conjuras? — O meu amado é branco e rosado; ele é o primeiro entre dez mil. A sua cabeça é como o ouro mais apurado, os seus cabelos são crespos, pretos como o corvo. Os seus olhos são como os das pombas junto às correntes das águas, lavados em leite, postos em engaste. As suas faces são como um canteiro de bálsamo, como flores perfumadas; os seus lábios são como lírios gotejando mirra com doce aroma. As suas mãos são como anéis de ouro engastados de berilo; o seu ventre como alvo marfim, coberto de safiras. As suas pernas como colunas de mármore colocadas sobre bases de ouro puro; o seu aspecto como o Líbano, excelente como os cedros. A sua boca é muitíssimo suave, sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, e tal o meu amigo, ó filhas de Jerusalém.” (Ct 5:9-16).

A descrição de Cantares, ou Cântico dos Cânticos, apresenta o Amado por meio de analogias às coisas mais belas, suaves e preciosas existentes na Criação. Somente a percepção que tiver sido realmente transformada pelo Pintor poderá entender suas obras e apreciá- las. E, mais do que isso, apreciar o próprio Artista. Quando isso acontece, os olhos são transportados da obra para seu Autor, e o valor maior é encontrado, não nas tintas e pincéis, mas naquele que trouxe todas as coisas à existência.

Ao falar de Cristo como a pedra de esquina ou fundamental colocada por Deus, o apóstolo Pedro revelou que Jesus seria uma pedra de tropeço para alguns. Todavia, “a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi a principal da esquina, e para os rebeldes uma pedra de tropeço e rocha de escândalo”. Então ele segue mostrando o valor percebido por aqueles que amam a Deus e foram chamados por seu propósito: “Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; E quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa” (1 Pe 2:6-8).

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Não temas

Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça… Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.” Isaías 41:10; 2 Timóteo 1:7

Passava das quatro horas da manhã quando vi que o Pintor em minha janela havia deixado um quadro ali. No quadro apenas uma árvore solitária aparecia na calçada do outro lado da rua, delineada pelo contraste causado pela luz de uma vitrine por detrás dela. Não é assim que você às vezes se sente, como aquela pequena árvore solitária e apagada pelo brilho de outros?

Há dois mil anos um viajante que olhasse de longe poderia ver o que pareciam três árvores no topo de um monte. Mais de perto ele teria distinguido três cruzes, cada uma com um condenado pendurado esperando a morte. Em uma delas estava o Salvador do mundo, o mesmo que havia criado a árvore que forneceu aquela madeira, o minério de ferro que produziu os cravos que traspassavam suas mãos e pés, e os espinhos da coroa que tinham fincado em sua cabeça.

Em algumas horas ele experimentaria a maior de todas as solidões, aquela que homem algum jamais experimentou: ser abandonado por Deus na hora da morte. Mas ele precisava morrer assim, só e imerso em trevas, para poder satisfazer as justas demandas de justiça de um Deus santo. Ali estava o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, recebendo sobre si os pecados de todos os salvos e enfrentando um terrível juízo. Primeiro, para glorificar a Deus, e segundo, para evitar que os que cressem nele sofressem um juízo eterno.

Acho que solidão é um dos problemas que qualquer pessoa experimenta, principalmente por causa das preocupações que a solidão traz quando não se tem a quem recorrer. “E se eu adoecer? E se o dinheiro acabar? E se eu precisar de ajuda…”. Jesus sabe muito bem o que é chamar e ninguém atender: “E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46).

A Bíblia contém quase sessenta vezes a expressão “não temas”. Numa busca na versão em inglês da Bíblia para o verbo “to fear” (“temer” ) encontrei mais de trezentos resultados. Não sei quem contou, mas li em algum lugar que juntando “não temas”, “não tenhas temor”, “lança fora o temor” e expressões semelhantes você chegaria a um curioso total de 365 passagens na Bíblia. Daria uma para cada dia do ano.

  • claro que isso pode variar de versão para versão, mas o certo é que Deus quer que saibamos que ele está no controle da vida daqueles que o temem, daqueles que sabem que nada — absolutamente nada — os separará do amor de Deus que está em Cristo Jesus. Pois foi para isso que Jesus morreu solitário e separado de Deus.

Com Tua mão, segura bem a minha, Pois eu tão fraco sou,

  • Salvador! Que não me atrevo a dar nem um só passo Sem Teu amparo, meu Jesus Senhor! Com Tua mão, segura bem a minha, E, pelo mundo, alegre seguirei: Mesmo onde as sombras caem mais escuras Teu rosto vendo, nada temerei.

(“Com Tua mão segura” – Harpa Cristã)

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Pequenino detalhe

Quando meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me recolherá.” Salmo 27:10

Abri a janela da lavanderia de meu apartamento e olhei para o céu, tentando ver outra grande obra do Pintor,

quando algo chamou minha atenção. Bem no peitoril havia uma pequena aranha, muito pequena, do tamanho do zero do teclado de seu celular. Seus muitos olhos estavam atentos aos meus movimentos e ela, vaidosa, esperou eu ir buscar minha câmera.

O que chamou minha atenção foi seu tamanho, quase imperceptível. Lembrei-me de que já fui pequeno assim, do tamanho do zero do teclado de seu celular. Apesar de ser uma vida pequenina, eu era uma vida, assim como você. Eu tinha sido pintado no útero de minha mãe pelo mesmo Pintor que pintou aquela aranhinha em minha janela e cuida dela.

Os jornais têm trazido uma sucessão de casos de mães que abandonam ou matam seus pequeninos, esses minúsculos e preciosos camafeus produzidos pelas infinitas mãos do Pintor. As notícias dos jornais geralmente não mencionam o pai, só a mãe. Vem-me à memória o que aconteceu com a mulher adúltera mostrada no evangelho, aquela que os judeus levaram a Jesus para ser apedrejada. Eles disseram que ela tinha sido pega em “flagrante adultério”, mas se era flagrante, como poderia ela estar sozinha?

O que os jornais mostram não é um surto de rejeição, mas apenas a revelação do que acontece todos os dias, após o interesse da imprensa ter sido despertado por uma mãe que colocou sua filha em um saco de lixo e a jogou num lago.

Todos os dias outras mães têm rejeitado seus bebês, mas não de forma tão dramática quanto a dessa mãe que atirou seu bebê num lago. Alguns bebês não são muito maiores do que a aranhinha que o Pintor em minha janela pintou. Outros teriam até condições de viver e sobreviver, mas foram descartados. Ouço falar de mulheres que defendem o direito de decidir o que fazer com o próprio corpo, mas elas

não dizem nada do direito do bebê. Acaso não tem ele um corpo também?

Será que precisava ser assim? Por que não esperar em Deus? Aquele que pinta todos os dias um novo amanhecer já mostrou de que é capaz, mesmo para as menores de suas criaturas e nos momentos mais difíceis. Bill e Glória Gaither, compositores do hino “Porque Ele Vive”, se expressaram assim a respeito do nascimento do filho do casal em 1971, que os inspirou a compor:

Embora a história tenha mostrado que o mundo nunca foi muito estável, (…) parece que o nosso século tem sido especialmente um tempo de crise (…). Nosso mundo é um planeta cheio de injustiças, de perda de confiança nas pessoas e instituições. Assassinatos, tráfico de drogas e guerras monopolizam as manchetes. Foi em meio a essas incertezas que a certeza do senhorio do Cristo vivo inundou nossas mentes perturbadas. Ao nascer nosso bebê, com toda a confiança que tínhamos em um Cristo vivo e soberano, pudemos pegar nosso filhinho nos braços, e escrever:

Porque Ele vive, posso crer no amanhã; Porque Ele vive, temor não há. Mas, eu bem sei, sim, eu sei, Que minha vida está nas mãos de meu Senhor, Que vivo está!” (Hino “Porque

Ele Vive” Glória S. Gaither e William J. Gaither)

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Uma pincelada singela

Mas, se em sua mão não houver recursos para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos.” Levítico 12:8

Onde está a obra do Pintor em sua janela”, você deve estar perguntando hoje. Está bem ali, mas hoje o quadro do Pintor é quase totalmente tomado pela obra humana — meu foco de atenção ficou concentrado em um prédio, um poste e fios de alta tensão. O poder da raça humana depende dessas engenhosidades. Mas, bem no topo do poste, por onde passam uns nove mil volts de carga mortal, vejo uma singela pincelada do Pintor: uma pombinha, como aquelas que foram oferecidas no Templo de Jerusalém por José e Maria, pais de Jesus.

Naquele tempo, quando um menino nascia os pais o apresentavam no Templo ao oitavo dia. Se tivessem condições, ofereciam um cordeiro, mas se fossem pobres a Lei de Moisés dizia que podiam oferecer dois pombinhos. José e Maria ofereceram dois pombinhos. Jesus nasceu em um lar pobre. “Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis.” (2 Coríntios 8:9).

O Senhor do Universo, o Criador e mantenedor de todas as coisas veio ao mundo na forma mais humilde, para que fôssemos ricos. Mas não ricos naquilo que irá passar junto com este mundo — os prédios, os postes e o poder da eletricidade nos fios. Deus queria que fôssemos ricos na posição de coerdeiros com Cristo das bênçãos reservadas nos céus.

Quando criança eu ficava intrigado com os passarinhos pousados nos fios. Como eles não viravam carvão era um enigma, até meu pai explicar que o segredo estava em não terem contato com a terra. Um passarinho que tivesse um pé no fio e outro na terra seria pulverizado pela alta tensão. Quando o Senhor Jesus disse de seus discípulos que eles não eram do mundo, apesar de estarem no mundo, você já faz ideia do que ele estava querendo livrá-los. “Não são do

mundo, como eu do mundo não sou.” (João 17:16), disse ele em sua oração ao Pai.

Mas se um dia ele pôde separar do mundo aqueles que salvou para si foi porque desceu a esta terra e se deixou pregar numa cruz para tirar o pecado do mundo e pagar pelos pecados dos que nele creem. Ele ficou pregado ali como um para-raios de carne e ossos, colocando-se entre os homens e a tempestade de juízo vinda de Deus. Ali ele recebeu toda a alta voltagem do juízo divino para não sermos consumidos.

Se você se sente como aquela pequena pombinha ali, frágil e tão próxima da alta tensão desta vida, saiba que Jesus sabe o que é sentir-se assim e muito mais. Ele recebeu o choque do juízo divino em meu e seu lugar. Aliás, só existe um lugar seguro naquele poste ali na janela: bem onde a pombinha está, delicadamente pincelada pelo Pintor, que sabe onde colocar cada obra de sua Criação.

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Ele vive!

Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando.” Mateus 23:13

Não, você não verá outra pombinha no quadro que vou descrever agora. Exceto por uma pequena área de céu sem nuvens, não há mais nada na obra do Pintor na tela em minha janela. Mas havia, até os homens levantarem uma construção. O edifício que agora aparece em primeiro plano

  • um templo religioso que não existia. Por causa dele deixei de ver o que antes me era muito caro ao coração.

Antes, ao acordar de manhã e olhar naquela direção, eu podia ver a linha do horizonte, um cipreste bem alto apontando para o céu e o prédio da Santa Casa, o hospital onde meu pai ficou internado nos últimos dias de sua vida. O templo entrou na frente e obstruiu minha visão e minhas lembranças.

Aquele cipreste, com a Santa Casa ao fundo, me fazia recordar que foi daquele hospital que meu pai partiu para o céu em janeiro de 1998. Em minha memória o cipreste funcionava como uma seta indicando o lugar onde agora ele está e eu um dia estarei: na companhia de Cristo, no céu. Infelizmente o templo religioso já não permite que eu veja o cipreste apontando para o céu.

Você já reparou que boa parte da história deste mundo traz a marca da religião? Em diferentes momentos ela obstruiu o caminho das pessoas para o céu, cegando seus olhos. Assim foi no tempo do Senhor Jesus com os fariseus, que eram os líderes religiosos de então, e assim ainda é hoje.

Não são poucas as religiões que têm impedido seus seguidores de enxergar o céu. Falo daquelas que priorizam as coisas da terra, como saúde, dinheiro e poder, como se a medida de prosperidade espiritual fosse uma vida sem enfermidades e muito dinheiro na conta. Além dos carros importados na garagem de uma mansão, evidentemente.

Aquele cipreste que eu via todos os dias tinha raízes profundas em minhas lembranças. Em 1978, ano de minha conversão a Cristo, ganhei um grande calendário de parede que trazia a reprodução de uma belíssima pintura de uma tumba vazia. A grande pedra que servia de porta tinha sido rolada para o lado, e sobre o barranco ciprestes apontavam

para um céu azul com grandes nuvens iluminadas. No céu o editor do calendário acrescentou em letras grandes:

ELE VIVE!”.

Gostei tanto da gravura que a emoldurei e pendurei na parede de meu quarto. Todas as manhãs eu acordava vendo aqueles ciprestes apontando para o céu de cima de uma tumba vazia, o que me ajudava a lembrar de que Cristo ressuscitou. Porque Cristo vive, meu pai, que se converteu na década de oitenta, também vive e irá ressuscitar. Com o tempo e o sol que batia na parede do quarto a gravura do quadro desbotou e os ciprestes se foram. Agora se foram também os que ficaram escondidos pelo templo religioso. Mas a certeza de que meu pai está no céu com Cristo permanece.

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Por um fio

Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua

mocidade… antes que se rompa o cordão de prata… e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” Eclesiastes 12:1-8

Hoje a tela que o Pintor em minha janela trazia tons de prata. Como ele consegue transformar um sol de ouro em novelos de prata eu nem imagino. Mas ele tem lá a sua técnica e decidiu esconder o sol atrás de uma camada de densas nuvens para deixar que apenas alguns raios filtrassem a cor prata de sua paleta. São como linhas prateadas esticadas a partir de um ponto escondido no céu.

Existe um cordão da mesma cor que nos une a este corpo de matéria, é o que o Pintor diz em um de seus poemas. Ele diz que esse cordão irá se romper em algum momento — pode ser agora, pode ser amanhã, pode ser depois. Ninguém sabe o dia, nem a hora. Quem mantém esse fio é o mesmo que estica os fios de prata que vejo no céu. Quando falamos que a vida de alguém está por um fio, é bom levar a sério.

Mas será que é bom ou ruim estar por um fio? Depende de onde está presa a outra ponta. Se você tiver a certeza de que seu espírito voltará para Deus são e salvo por Cristo, não tem de que se preocupar.

Alguém me enviou uma mensagem assim: “Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro” . Acho que todos deveriam fazer essa conta. O problema é que nunca sabemos se a segunda metade da vida será do mesmo tamanho que a primeira. E nem sequer podemos chamar de metade se não sabemos onde fica o meio, não é mesmo? Onde fica a metade de um cordão de prata que desaparece nas nuvens? Nem eu sei.

Essa história de passar da metade da viagem faz-me lembrar de minhas viagens ao exterior para visitar meus filhos. Como não gosto de calor, prefiro viajar quando é verão aqui e frio de rachar por lá. No avião sempre vejo aqueles viajantes de primeira viagem, que consultaram a previsão do tempo na linha do Equador e viajam vestidos de camiseta regata, bermuda e chinelão. No desembarque só acrescentam o Ray-Ban.

Quando o avião está prestes a pousar o comandante avisa: “Dentro de alguns minutos pousaremos em Nova Iorque. A temperatura no destino é de dez graus negativos…”. Aí o que mais tem é gente tirando pulôver da mochila e correndo

vestir. Isso os que têm, porque os menos precavidos terão de esperar a bagagem e abrir a mala ainda no aeroporto. Ou comprar uma blusa “I Love NY” ali mesmo e pelo triplo do preço, quando descobrirem que companhia aérea mandou sua mala para Beijing.

Atualmente ninguém vive mais que 120 anos. Na melhor das hipóteses chega-se à média brasileira de 73 anos ou, fazendo hora extra, aos 80. Poucos raspam nos 90, e os que batem nos 100 é porque estavam distraídos. O jeito é já sair agasalhado do aeroporto de origem para não ser pego de surpresa no destino. Para os que não se prepararam, porém, as temperaturas se invertem. Saem daqui com temperaturas amenas e chegam lá com um calor dos infernos. Literalmente.

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Fracas pinceladas

Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.” 1 Coríntios 1:25

Hoje o Pintor em minha janela parece decorar de propósito o topo de um prédio da vizinhança. Sobre um fundo azul pincelado de pontos brancos, vai subindo no horizonte por detrás do prédio uma nuvem de um branco rosado, como se a construção fosse uma imensa chaminé. A tela tem lá o seu encanto, mas fico imaginando o que mais o prédio escondeu daquilo que o Pintor pintou. Geralmente é o que acontece.

As grandes realizações humanas tentam competir com as grandes realizações de Deus, mas nada mais são do que o resultado de uma inteligência que Deus colocou no homem. Só isso? Não. Há também o orgulho, o desejo de deixar uma marca humana na Criação, e a pretensão de alcançar o céu.

Uma vez os homens construíram uma torre com o objetivo de alcançar o céu. Eles “acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali. E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.” (Gênesis 11:2-4).

Obviamente eles não falavam de atingir o céu no sentido literal, pois se assim fosse teriam construído no topo de uma montanha, e não em um vale como foi o caso. A história de como suas pretensões foram por água abaixo é contada no mesmo capítulo 11 de Gênesis, resultando na intervenção divina embaralhando suas línguas para que não se entendessem. Logo aquele imenso empreendimento foi abandonado e cada um foi para um lado, formando grupos ou nações conforme o idioma que passaram a falar. Poder, altivez e glória. É isso que o homem busca o tempo todo.

Ah, mas como são diferentes as coisas de Deus! O obscuro edifício de concreto sólido e resistente que se intromete na tela do Pintor em minha janela não é páreo para a beleza das delicadas nuvens pinceladas apenas com vapor de água.

  • o singelo competindo com o bruto, a fraqueza vencendo a força, a mobilidade escapando do imóvel.

O que você prefere ter, a fraqueza de Deus ou a força dos homens? Foi por conhecer a força que existe na fraqueza

que Paulo escreveu: “Porque quando estou fraco então sou forte”. (2 Coríntios 12:10).

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Vem! Vem! Vem!

Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã.” Apocalipse 22:16

Gosto de madrugar, mas nunca consigo acordar antes do Pintor em minha janela. Ainda está escuro, e lá vou eu olhar se ele já deixou um quadro seu para quem quiser ver.

  • a única galeria que conheço que funciona o ano inteiro, vinte e quatro horas por dia! O apóstolo João captou bem os dizeres de Jesus, que afirmou: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” (João 5:17).

Hoje o Pintor em minha janela madrugou para pintar a estrela da manhã sobre o pano azul petróleo do céu noturno, enquanto este era invadido lentamente pelo dourado do sol da manhã. Quem dormiu, não viu. Quem acordou, mas não olhou, também não viu. E um dia, muito em breve, quem não acreditar não verá a “Estrela da Manhã”, mesmo depois de Jesus afirmar: “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.” (Apocalipse 3:11).

Sabia que a expressão “Estrela da Manhã” aparece no último livro da Bíblia, o Apocalipse, e é usada pelo próprio Jesus? “Eu sou… a resplandecente Estrela da Manhã” (Apocalipse 22:16). Ele é chamado assim porque a estrela matutina é a mais brilhante na hora mais escura que

antecede o amanhecer. Se você acha que este mundo está envolto em trevas, com muita violência, guerras e corrupção, ainda não viu nada.

Mas para os que conhecem a Cristo, ele é esperado justamente nessa hora mais escura da noite, o momento que precede o amanhecer. No mesmo capítulo de Apocalipse Jesus fala três vezes de sua vinda: “Eis que presto venho

eis que cedo venho… certamente cedo venho.(Apocalipse 22:7, 12, 20). Venho, venho,venho!

Quando criança, se meus pais dissessem que alguém viria de outra cidade nos visitar eu esperava ansioso, não para conhecer a pessoa, mas para saber em que carro ela viria. E se fosse algum parente, talvez até trouxesse presente! Minha mente infantil não estava nem um pouco interessada na pessoa, mas apenas nos meios e circunstâncias que a trariam ali, e também nos benefícios, evidentemente. Assim

  • com muitos neste mundo que estão olhando mais para catástrofes e teorias conspiratórias acerca da vinda de Cristo, do que para a sua Pessoa.

Se alguém enviasse uma carta a você dizendo três vezes que virá, o que você responderia? Que está curioso de saber seu meio de transporte e se irá trazer presentes? No mesmo capítulo, a resposta é repetida três vezes, de forma efusiva: “E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem… Ora vem, Senhor Jesus” (Apocalipse 22:17, 20). E você, o que diz?

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Fotogramas de um filme

E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para

o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” Romanos 8:28

Quando dizemos “a obra do Pintor Fulano” não estamos nos referindo a um único quadro, mas ao conjunto do que ele já fez, está fazendo e fará. Sua obra é tudo aquilo que faz dele um artista singular. O Pintor em minha janela é assim.

Hoje fotografei nove quadros que ele pintou em minha mesma janela e pude ver sua criatividade. A janela é a mesma, o ângulo de minha câmera mudou apenas alguns graus, mas existe um quadro para cada gosto e ocasião. Se eu visse um, não veria todos. Quando vejo todos, não posso deixar de me maravilhar com cada um.

Assim é o Pintor em minha janela. Às vezes fico impaciente porque o quadro de hoje não é exatamente como eu esperava. Talvez seja escuro demais, tremido ou sem definição. Quiçá o de amanhã será brilhante demais, quase impossível de se olhar. Deveria eu julgar o Pintor apenas pelas partículas de sua infinita obra? Por apenas uma das infinitas fases de seu modo de pintar? Deveria eu me impacientar com suas pinceladas momentâneas?

Quando garoto eu costumava ir às matinês do velho “Cine Vitória” na praça principal de minha cidade. Quando terminava o filme eu e outros garotos corríamos para o balcão, a parte superior do cinema, para revirar o cesto de lixo ao lado da cabine de projeção. Sabíamos que ali eram jogados os pedaços de acetato de vários filmes que arrebentavam durante a projeção. Em casa eu olhava para aqueles fotogramas contra a luz, tentando imaginar como teria sido o filme inteiro que nunca assisti e nem sabia

como iria terminar.

Mas não pense que um fotograma não pode fazer diferença na vida de alguém. Teve um que fez, e na vida de toda a minha família. Depois que o coloquei numa moldura de slide, ele acabou misturado com outros slides de aniversários e viagens da família. Numa noite quando a família estava reunida para assistir aos slides, lá estava ele, a cena do interior da casa de um filme. Minha mãe pediu para parar a projeção ali. As paredes do cenário eram da cor exata que ela buscava para pintar a sala. Durante alguns anos a sala de nossa casa foi testemunha do poder de um único fotograma.

Portanto não subestime uma cena sequer da obra do Pintor. Cada quadro do Pintor em minha janela é como se fosse um fotograma de um filme com a extensão da eternidade. Ainda que um possa fazer diferença, olhar um é não ver o todo, é não conhecer a obra do Pintor. Uma vez li uma frase engraçada: “No fim tudo dá certo. Se ainda não deu certo é porque não chegou ao fim.”. Bem ao estilo do modo como trabalha o Pintor.

Hoje posso me maravilhar ou ficar decepcionado com o quadro atual. Mas quem disse que o Pintor em minha janela já guardou suas tintas? Acaso ele já lavou os pincéis? Já dobrou seu avental? Acho que só entenderei sua obra quando vir a composição de “todas as coisas [que] contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Romanos 8:28). Então entenderei o conjunto; então darei razão ao Pintor, quando contemplar toda a sua obra.

Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.” (1 Coríntios

13:12).

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Pintando nas brechas

O homem respondeu, e disse-lhes: ‘Nisto, pois, está a maravilha, que vós não saibais de onde ele é, e contudo me abrisse os olhos’.” João 9:30

Um amigo fez um comentário dizendo que as linhas que escrevo lembravam o poema de Cecília Meireles, “A arte de ser feliz”. Fui procurar e encontrei isso:

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.” — Cecília Meireles

Só tenho que concordar, principalmente quando olho pela janela do quarto do fundo. Não dá para ver muita coisa lá, por causa dos prédios que circundam o meu. Mas o Pintor mesmo assim continua pintando, infiltrando sua arte até entre os feios paredões que os homens construíram. O Pintor em minha janela também está lá, só preciso olhar.

Por mais paredões que as circunstâncias construam ao meu redor, ele continua pintando brechas e rotas de escape. Ele tem o controle de tudo, até dos elementos que servem de tela para suas obras. O salmista sabia bem disso quando escreveu: “Invoquei o Senhor na angústia; o Senhor me ouviu, e me tirou para um lugar largo. O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem.”

(Salmo 118:5-6).

Da próxima vez que olhar pela janela de sua vida e enxergar um paredão, procure pela fresta onde o Pintor trabalha. Às vezes ela não é tão evidente, mas ele está lá, pintando uma senda para seu olhar ser elevado ao céu como na pergunta retórica que o salmista faz em outro momento, respondendo a si mesmo:

Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro. O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra. Não deixará vacilar o teu pé; aquele que te guarda não tosquenejará. Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel. O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. O sol não te molestará de dia nem a lua de noite. O Senhor te guardará de todo o mal; guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre.” (Salmo 121:8).

Uma característica do ser humano que o distingue dos quadrúpedes é poder olhar facilmente para o céu. Quadrúpedes só olham para a terra.

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A paleta do Pintor

E Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores… Então tomaram a túnica de José, e mataram um cabrito, e tingiram a túnica no sangue.” Gênesis 37:3-31

Eu estava torcendo para ver a paleta onde o Pintor mistura

suas cores, e ontem ele me mostrou. Todas as tintas estavam lá, no quadro que ele expôs em minha janela O título de sua obra? “Arco-Íris”. Qualquer pessoa se encanta quando o Pintor derrama as cores de sua paleta na forma de um arco no céu. Ele fez isso da primeira vez há muitos séculos.

Depois de um dilúvio universal o Pintor colocou seu arco de cores no céu como sinal de aliança e prometeu não mais destruir a terra com água, como fez daquela vez. Mas parece que não adiantou. Não mudamos nada desde os tempos em que aquela raça híbrida de homens e anjos ameaçou corromper a humanidade para impedir que um nascido de mulher viesse nos salvar. “Estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama”, diz Gênesis 6:4. Fama e poder, duas coisas que o ser humano busca até hoje, como se sentisse saudade dos semideuses de então que hoje só povoam o lendário Olimpo.

Mas vamos voltar ao Pintor em minha janela. Muito do que você vê ao seu redor não foi pintado assim. Eu e você, por exemplo. Apesar das cores e detalhes pincelados com grande destreza, somos uma caricatura daquilo que o Pintor pintou no princípio, e nem de longe parecemos o que ele pretende fazer com um novo retrato de cada um de nós. Seu plano inclui passar tudo a limpo, apagar o velho homem e criar um novo. Você está disposto a ser passado a limpo?

As gotículas de chuva na atmosfera revelam as cores da paleta do Pintor. Nada veríamos sem essas diminutas lentes que decompõem a luz derramando suas cores no Arco-Íris. Mas é engraçado como corremos admirar a luz decomposta do sol e fugimos da luz do Pintor, como insetos pegos de surpresa quando a pedra é levantada. Não deveria ser assim,

mas é.

Tão logo vi as cores derramadas da paleta do Pintor, lembrei-me do que tinha lido dia desses sobre a túnica de José. Diz a Bíblia que ela era de muitas cores. Seriam tantas? Não sei, mas José é uma figura interessante. Filho de Jacó, codinome Israel, era invejado por seus irmãos, embora quisesse o melhor para eles. Um dia José passou poucas e boas nas mãos de seus irmãos, aos quais foi procurar obedecendo a uma ordem de seu pai. Eles o venderam por algumas moedas, foi dado como morto e lançado numa cova… não necessariamente nesta ordem.

Depois de ser levado por mercadores e comercializado no Egito, José foi parar numa masmorra por um crime que não cometeu. Mas graças a essas desventuras José acabou salvando o país da fome, casou- se com uma mulher gentia e se transformou no homem forte do Egito para, finalmente, salvar da morte seus atônitos irmãos.

A história lembra alguém? Lembra. Alguém que também foi vendido por seus próprios irmãos por trinta moedas de prata, o preço de um escravo. Alguém cujo corpo foi lançado numa cova, mas ressuscitou. Sua túnica de muitas cores tem sido causa de contradição nos últimos dois mil anos e ele ainda irá voltar. Mas sua túnica então chamará a atenção pela cor estranha que trará. Será sangue naquelas manchas?

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Cores quentes

Poderás tu ajuntar as delícias do Sete-estrelo ou soltar os

cordéis do Órion? Ou produzir as constelações a seu tempo, e guiar a Ursa com seus filhos? Sabes tu as ordenanças dos céus, ou podes estabelecer o domínio deles sobre a terra?” Jó 38:31-33

Hoje o Pintor em minha janela me surpreendeu com uma nova obra. Um quadro de cores quentes, pinceladas vigorosas e uma linha em tons sombrios separando o céu azul da terra ardente. Muito diferente dos dois últimos quadros que pintou em minha janela, um em tons suaves e outro no qual depositou fios de ouro sobre um manto de veludo azul.

Os únicos elementos iguais na tela são as silhuetas dos mesmos edifícios feitos pelo homem, estáticos e previsíveis. É fácil saber como estarão amanhã, mas o mesmo não pode ser dito da obra do Pintor em minha janela. Amanhã ele trará uma nova surpresa usando sua técnica peculiar de pintura em camadas, ou layers, como a utilizada no desenho animado.

Quando o Pato Donald caminha na tela, as casas logo atrás vão passando em uma velocidade, as montanhas ao fundo mais devagar, as nuvens no horizonte bem devagarinho e o sol nascente parece fixo. Os artistas antes da computação gráfica desenhavam sobre diferentes folhas de material transparente, que depois de sobrepostas e movimentadas em velocidades diferentes, criavam a ilusão de profundidade e movimento. Da próxima vez que viajar de carro, olhe pela janela lateral e verá o mesmo efeito, porém com um número infinito de camadas.

Mas enquanto os desenhistas pintavam lâminas transparentes sobrepostas, o Pintor em minha janela pinta lâminas cronológicas. Sabe aquele prédio que você vê? Ele

estava ali uma fração de tempo antes de sua imagem ser captada por sua retina. As nuvens sobre ele já não eram as mesmas quando seu cérebro processou a imagem. E aquela explosão de fogo no horizonte, o sol? Aconteceu oito minutos atrás. Incrível, não é mesmo? Uma pintura em camadas de tempo! Só o Pintor na janela é capaz de conseguir tal feito e efeito.

Nosso sol está a uns cento e cinquenta milhões de quilômetros, portanto o sol que você vê é o sol do passado. Sua luz levou oito minutos para chegar aos seus olhos. Por isso, quando você olha para o céu não vê a coisa como é, mas como foi, e isso em camadas cronológicas e não simultâneas. Sabe aquela estrelinha que parece estar bem aao (ao) lado da outra na tela noturna do Pintor? O que você vê é como ela era há milhares ou milhões de anos, e a outra, que você vê simultaneamente ao lado da primeira, existiu ali milhares ou milhões de anos antes ou depois. Muito louco, não acha? Dá para acreditar nas coisas que você vê? Não.

Aquilo que os astrônomos chamam de “Nebulosa Olho-de-Gato” é uma estrela moribunda. Bem, ela estava morrendo há mais de 3 mil anos, que foi o tempo que sua imagem levou para chegar às lentes do telescópio Hubble orbitando a Terra. Ela pode nem existir mais. O que as fotos do Hubble mostram é o que a estrela foi e nosso sol será quando morrer. Mas você só vai descobrir que o sol morreu oito minutos depois, que é o tempo que sua luz leva para viajar até aqui.

Será que você continua acreditando no que vê? Nem eu. É melhor acreditar no Pintor em minha janela, o único capaz de pintar com as tintas das eras aquilo que pensamos que é, mas já foi. Quem conhece o Pintor anda por fé, não por vista.

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Um buraco nas nuvens

Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.” 1 Tessalonicenses 4:17

Na tela que vejo hoje em minha janela parece até que o Pintor pincelou um buraco nas nuvens. Mas na verdade é o sol que está tentando rasgar ali uma fresta para chegar com seus raios à terra. Engraçado o sol tentar entrar neste mundo onde existe tanta gente que não vê a hora de sair! Mas quem estaria assim tão ansioso de partir deste mundo?

Aqueles que um dia aceitaram a Cristo como Salvador e aguardam ansiosos por um evento que se dará entre nuvens. Pode ser hoje, pode ser amanhã, pode ser daqui a alguns anos, ninguém sabe ao certo. Mas que será, será. O próprio apóstolo Paulo já se incluía entre os que esperavam participar desse evento quando escreveu: “Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados…”.

Um dia eu tive o gostinho de sair por um buraco na nuvem. Espere, não foi nada transcendental ou místico. Eu estava acumulando horas de voo para concluir meu curso de piloto e obter meu brevê. O avião era um Paulistinha monomotor, isso mesmo, aqueles conhecidos como Teco-Teco, feitos de tubos de metal, madeira compensada e lona. Foi voando nele, e sozinho, que passei por essa experiência inesquecível.

Há muitos dias o sol não mostrava o ar de sua graça, tinham

sido dias nublados, cinzentos, com nuvens carrancudas velando o azul do céu. No máximo um chuvisco alterava a paisagem, nada mais. Um cenário assim nos deprime e logo acabamos nos esquecendo do brilho do sol, do azul do céu, das estrelas piscando. Parecia que o céu estava fechado para reforma, com aquele imenso tapume cinza vedando tudo.

Decolei com meu Paulistinha e subi até logo abaixo da camada de nuvens, que estava muito alta e plana como o teto de uma casa. De repente vi um rasgo, nada muito grande, e por ele uma nesga convidativa de azul tentando me seduzir. Quase que por impulso empurrei a manete à frente, para aumentar a potência do motor, e puxei o manche para trás, fazendo o motor roncar em direção àquela fresta de azul. Passei pela fenda pouco maior que meu avião!

Se naquela época já existissem os videogames eu teria dito que tinha acabado de passar de fase. Agora eu estava em um outro mundo; tinha saído de uma caixa de lápis pretos e cinzas e entrado numa caixa multicor. Acima de mim um céu anil sem fim parecia rebitado com um sol de me fazer voltar a face para o lado. Sob as minhas asas, um imenso colchão de flocos brancos se estendia até perder de vista. Tão próximo que a vontade que dava era de pousar nele, descer do avião e rolar em seus flocos.

Logo o bom senso me avisou que eu precisava voltar à realidade nebulosa do dia- a-dia, e desci do céu. Mas nunca me esqueci daquela fresta por onde passei, nem do que vi lá, acima das nuvens cinzentas de um mundo que suspira por luz. Um dia vou passar por ali outra vez, mas não sozinho. Tenho um encontro marcado nas nuvens para estar “sempre com o Senhor”. Você irá?

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De que tamanho é sua janela?

Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.” João 6:68-69

Nas páginas iniciais deste livro escrevi que “tomado por angústias e incertezas do que poderia vir a seguir, criei o estranho o hábito de me perder em pensamentos olhando pela janela de meu apartamento, como se estivesse esperando por algo ou alguém”. Todos os dias eu olhava pela janela como forma de dissipar minha ansiedade e uma expectativa constante de que algo devia acontecer, embora eu mesmo não soubesse explicar o que. Mas aquilo nada era, se comparado à expectativa que Jesus experimentou.

O Senhor Jesus sofreu com a expectativa do que lhe esperava na cruz, mas ele enxergava além da morte. Portanto, a “cura para a ansiedade” não está apenas numa mudança de atitude em relação às dificuldades da vida, mas na ampliação dos horizontes, algo que você não consegue fazer sem crer em Cristo. O incrédulo vive para o aqui e o agora, não para a eternidade. de que tamanho é a janela pela qual você olha? Até onde vai o seu horizonte?

Se você for jovem, é provável que pretenda estudar ou terminar o curso que está fazendo. E depois? Ter uma profissão e ser bem-sucedido nela, penso eu. E depois? Talvez encontrar seu par perfeito. E depois? Constituir família e ver seus filhos crescerem e também se realizarem. E depois? Se aposentar, talvez, viajar, ver seus netos. E

depois? Depois a morte.

Se você achar que o ser humano não passa de uma feliz combinação de moléculas, deve ser frustrante viver assim. Afinal, todas as coisas que planejou, como estudar, trabalhar e constituir família, até pareciam ter um propósito, mas sua vida, como um todo, não! Ela não será mais que um tique no relógio do tempo universal. Você e todos os seus esforços, planos e aspirações irão virar pó. Literalmente.

Moisés passou por poucas e boas, mas enxergava além das circunstâncias. O próprio Senhor suportou tudo porque tinha em vista a glória. E você, onde está seu foco? Nesta vida ou na eternidade?

[Moisés] escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; Tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa. Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível.(Hebreus 11:25-27).

Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos.” (Hebreus 12:2-3).

Sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações.” (1 Pedro 1:5-6).