O suicídio é reconhecido como um grave problema em quase todo o mundo. Isso tem acontecido ao longo de toda a história, mas o triste fato é que as taxas de suicídio em todo o mundo têm aumentado cerca de 60% durante os últimos 40 ou 50 anos. Existem provavelmente mais suicídios do que as estatísticas revelam, porque é muito difícil determinar se a morte foi acidental, autoinfligida, ou um assassinato. Além disso, para cada suicídio real, existem provavelmente pelo menos vinte tentativas que falharam. A maioria dos suicídios nos países ocidentais (pelo menos 90%) está relacionada à depressão e/ou ao abuso de substâncias tóxicas, porém, o recente aumento entre os jovens, muitas vezes parece estar ligado à vergonha pública e à intimidação, especialmente através das mídias sociais como o Facebook e a Internet. Suicídio é agora a segunda causa mais comum de morte entre as pessoas mais jovens nos países ocidentais. Outros fatores, especialmente em homens de meia idade, incluem o desemprego e problemas financeiros.
PODE UM CRENTE COMETER SUICÍDIO?
Tudo isso somente ressalta um dos efeitos terríveis do pecado neste mundo, onde homens e mulheres se encontram em um momento de suas vidas tão desesperadores que consideram pôr um fim a suas vidas. Dentro de uma perspectiva cristã, surgem algumas perguntas difíceis: Pode um crente cometer suicídio? “O que acontece se um verdadeiro crente tira sua própria vida?” “Um crente que comete suicídio vai para a presença de Cristo?” Essas perguntas têm atormentado os cristãos por muitos anos, e, como seria de se esperar, as respostas que têm sido apontadas variam em alguns aspectos. Alguns têm usado o versículo, “ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si” (1 Jo 3:15), para argumentar que desde que o suicídio é um assassinato de si mesmo, a pessoa que comete o ato não poderia ser salvo. Outros admitiriam que um verdadeiro cristão poderia cometer suicídio, mas creem que tal coisa seria extremamente rara. Eles iriam trazer uma série de dúvidas sobre a salvação de alguém que cometeu suicídio. No entanto, alguns vão para o outro extremo, dizendo que desde que não há nenhuma proibição específica de suicídio na Bíblia, isso é, portanto, uma decisão pessoal. Não é necessariamente um pecado, já que depende de varias circunstâncias. Como sempre, é importante que sejamos encontrados “como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm. 2:15).
SETE CASOS NA BÍBLIA
Sete suicídios são registrados na Bíblia. Destes, alguns eram claramente homens que trilhavam um caminho errado e suicidaram-se em más circunstâncias. Incluídos nesse grupo estão aqueles como Abimeleque (Jz 9:54), o rei Saul (1 Sm. 31:4), Aitofel (2 Sm. 17:23), Zimri, rei de Israel (1 Rs 16:18) e Judas Iscariotes (Mt. 27:5). Não sabemos mais nada sobre o escudeiro de Saul (1 Sm. 31:5), exceto que quando ele viu que Saul estava morto, ele também se matou. O último homem, Sansão (Jz. 16:30), é bastante singular, pois enquanto ele de fato causou sua própria morte, seu verdadeiro objetivo era matar os filisteus, não a si mesmo. Ele morreu como resultado de sua atitude de quebrar os pilares do Templo de Dagon, assim causando um colapso na construção, matando milhares de filisteus, além dele mesmo. Embora ele sem dúvida fosse uma alma verdadeiramente nascida de novo, a situação em que se encontrava também foi o resultado de ter trilhado um caminho errado.
O QUE AS ESCRITURAS DIZEM A RESPEITO
Tendo em vista estes exemplos, bem como as fortes exortações relacionadas a assassinatos no Velho e Novo Testamentos, é difícil entender como pode haver dúvidas a respeito da condenação que a Bíblia traz em relação ao suicídio. Em nenhuma parte ele é mencionado como sendo algo correto; e em nenhuma parte ele é conectado a uma pessoa que andou com Deus de uma forma consistente. O homem foi criado “à Sua imagem” (Gn. 01:27) e tirar uma vida, até mesmo de si próprio, é uma grave afronta ao nosso Criador. O salmista poderia dizer, “Os meus tempos estão nas tuas mãos” (Sl. 31:15), e somente o Senhor tem direito de decidir quando deve acabar nossa vida (sejamos claros, no entanto, que não estamos de nenhuma forma, nos referindo à responsabilidade dos governos de executar a um assassino. Essa função foi dada por Deus depois do dilúvio – Gn. 9:6 – e nunca foi anulada.). E o que acontece, então, a um crente que comete suicídio? E é triste dizer que isso já aconteceu muitas vezes. Às vezes é devido a um caminho errado, um estilo de vida longe do Senhor que levou, talvez, ao abuso de substâncias tóxicas, a ruína financeira e, quem sabe até mesmo o afastamento da família. Em outros casos, é o resultado de grave depressão, conectada a uma doença mental, onde uma pessoa pode ser mergulhada na escuridão do desespero. E ainda em outros casos, matar a si mesmo pode ser uma decisão tomada a fim de evitar uma potencial vergonha e desonra. Por exemplo, na época da reforma, uma mulher e suas duas filhas deliberadamente afogaram-se ao invés de caírem nas mãos dos seus perseguidores, que desejavam não apenas torturá-las, mas também desonrá-las de forma moral.
EM TODO CASO, É ERRADO
Temos que dizer novamente que não importam as circunstâncias, cometer suicídio é certamente errado. No caso da mulher e suas filhas que se afogaram ao invés de serem moralmente profanadas, nós hesitamos em condená-las tão duramente, nós que vivemos em regiões onde há liberdade religiosa e nunca precisamos passar por situações assim. Da mesma forma é difícil ser muito crítico àqueles que sucumbem à grave depressão, porque alguns de nós nunca tivemos que suportar tal agonia. O bem conhecido escritor de hinos W M. Cowper tinha esse problema, e ele fez pelo menos três tentativas de suicídio durante a sua vida. Mas o Senhor não permitiu que ele tivesse sucesso. Todas as suas tentativas falharam, e ele morreu de morte natural. No entanto, sabemos que Deus dá graça para qualquer circunstância que Ele permita que aconteça em nossas vidas, e nos capacitará para glorificá-Lo nessas circunstâncias. Ele pôde dizer a Paulo: “A minha graça te basta” (2 Cr. 12:9), e certamente isso é tão verdade para nós hoje quanto era para Paulo.
A VIDA ETERNAL NUNCA É PERDIDA
O que acontece a um cristão que, de fato, tira sua própria vida? Podemos sugerir que um ou dois versos resolveriam isso. As Escrituras nos dizem a respeito das ovelhas de Cristo: “e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos” (Jo. 10:28). Apesar da seriedade de alguém tirar sua própria vida, não há pecado algum que possa tirar a vida eterna que Deus dá a um cristão. Ele é também “selado com o Espírito Santo da promessa” (Ef. 01:13), e nada pode quebrar o selo. Lembro-me bem de ter ido ao enterro de um crente relativamente jovem, que tinha se suicidado. Ele sofria de terríveis crises de depressão, e infelizmente tirou a própria vida, sentindo que não poderia mais viver. Quem falou no funeral dele usou a passagem de Hebreus 11:35, sobre aqueles que foram “torturados, não aceitando o seu livramento”. Ele ressaltou que o jovem tinha sido torturado por pensamentos horríveis que o fizeram mergulhar nas profundezas do desespero. Apesar de o orador não ter compactuado, de forma alguma, com o que o jovem tinha feito, ele apontou, em Hebreus 11:39, que “todos estes … obtiveram bom testemunho por sua fé”. Foi uma boa aplicação das Escrituras e trouxe conforto à família, os quais eram crentes. Em conclusão, então, afirmamos pela Palavra de Deus que nunca será certo perante Deus o ato do suicídio, especialmente para um cristão. No entanto, os cristãos estão propensos a cometerem suicídio e às vezes o fazem, e também é verdade que nenhum verdadeiro crente pode perder a sua salvação. Aquele que se suicida, na verdade, vai para a presença de Cristo.
CIRCUNSTÂNCIAS
Podemos também acrescentar, no entanto, que em muitos casos, se entre os incrédulos ou entre crentes, o suicídio resulta de fatores exteriores à própria pessoa, como por exemplo, a ruína financeira, abuso de substâncias tóxicas, a vergonha pública e a desgraça, bem como por outras influências sobre as quais normalmente teríamos algum controle. Se nos encontrarmos, como crentes, em um percurso descendente, que o Senhor nos dê graça para que possamos nos arrepender e voltar para Ele, antes que as circunstâncias nos façam cair em desespero e pensamentos suicidas. Se nos encontramos diante de problemas financeiros, olhemos para o Senhor, que Se comprometeu a suprir todas as nossas necessidades. Para aqueles que podem vir a ser arrastados para dentro de um doloroso caminho dentro das redes sociais, peçamos ao Senhor que através de Sua graça atue para que possamos sair desse cenário, antes de adquirirmos sérios problemas. Melhor ainda, não nos permita começar algo com pessoas mundanas que só podem acabar em problemas. No que se refere a circunstâncias exteriores, sobre as quais não temos controle, ou crises de depressão que são o resultado de uma verdadeira doença mental, está além do escopo deste artigo tentar entrar em todas suas ramificações. Mas vamos lembrar que o Senhor é por nós, no que quer que seja que Ele permita que aconteça conosco. Além disso, Ele nos deu nossos irmãos, que também podem ser um verdadeiro apoio para nós, bem como a ajuda médica, de que podemos e devemos dispor. Paulo pôde dizer, “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm. 08:38-39). Cuidado pastoral Talvez exista mais uma palavra que possa ser dirigida para nós que não somos torturados pela depressão ou envolvidos com outros fatores que nos poria em predisposição ao suicídio. O cuidado pastoral é de grande importância, e precisamos estar cientes a respeito daqueles que podem estar se torturando gravemente e talvez tendo pensamentos sérios a respeito de tirar sua própria vida. Alcançá-los de uma forma amorosa, estar dispostos a escutá-los, fazer com que saibam que alguém se preocupa com eles, pode ser uma boa maneira de impedir esse ato tão prejudicial a si mesmos. Nós somos os “guardiões do nosso irmão” e sempre devemos ser sensíveis à dor emocional na vida dos outros. “Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo” (Gl. 6:2).
W. J. Prost