SETE EXORTAÇÕES

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Sete Exortações.

Filipenses 4:1-9.

Os primeiros nove versículos do quarto capítulo da Epístola aos Filipenses trazem diante de nós as sete exortações finais da Epístola. Essas exortações nunca foram mais importantes e consoladoras do que nestes últimos dias difíceis.

O dia da graça está chegando ao fim. Os males, de dentro e de fora, se opõem a nós. Para enfrentar essas diferentes provações, temos o encorajamento dessas sete exortações, que, se levadas a sério e praticadas, nos elevarão acima das tristezas do caminho e nos guiarão em todas as provações.

1 “Estai assim firmes no Senhor” (v. 1)

Esta grande exortação traz diante de nós um recurso na presença de todo tipo de oposição. Quando o apóstolo nos deu esta palavra, ele próprio estava preso – o prisioneiro do Senhor. Dentro do círculo cristão, houve oposição a ele por parte de homens invejosos que estavam até mesmo pregando a Cristo por inveja, porfia e contenda, procurando “acrescentar aflição” a ele (Fp 1:15-17). Fora da prisão, seus adversários tramavam contra sua vida (Fp 1:28).

No entanto, ele não é derrubado nem vencido, nem por um nem por outro. Aqueles que apenas professam a Cristo procuram aumentar suas aflições pregando por inveja; então, pelo menos, ele podia se alegrar por Cristo ser pregado. Os adversários procuram sua vida? Ele não sente medo.

O que então o sustentou e o capacitou a permanecer inabalável na presença de toda oposição? Era isso, sua confiança estava inteiramente no Senhor – em uma palavra, ele permaneceu firme no Senhor. E, tendo experimentado a graça sustentadora e o apoio do Senhor, ele passa a exortação aos santos de todas as épocas. Na presença de toda oposição que possamos ter que enfrentar, ele diz: “Estai assim firmes no Senhor.”

Os adversários de fora, e a “inveja”, “porfia” e “contenda” dentro do círculo cristão, que existiam até mesmo nos dias do apóstolo, aumentaram de todas as formas em nossos dias. Ainda assim, temos esta exortação consoladora: “Estai assim firmes no Senhor.”

Não somos exortados, nem espera-se de nós, que permaneçamos firmes em nossa própria força, conhecimento ou sabedoria. Devemos permanecer firmes contra todo esforço do inimigo de quebrar e dividir ainda mais o povo de Deus, seja de dentro ou de fora, permanecendo firmes na força do Senhor, o Senhor vivo, que é exaltado acima de todo nome, e que tem o “poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp 2:9; Fp 3:21).

2 “Sintam o mesmo no Senhor” (v. 2)

Nada é mais angustiante para o coração e enfraquecedor para o testemunho do que as diferenças de julgamento que existem entre o verdadeiro povo de Deus. No segundo capítulo da Epístola, o apóstolo atribui toda a inveja e contenda a esta única raiz – “Vanglória” (Fp 2:3). Mesmo na presença do Senhor, houve uma contenda entre os apóstolos porque cada um queria ser considerado o maior (Lucas 22:24). Assim, nos dias do apóstolo, havia contendas, por causa da vanglória de alguns que queriam ser grandes. E em nossos dias, todas as divisões e contendas que surgiram entre o povo de Deus podem ser atribuídas a esta única raiz – alguém queria ser grande.

O homem vanglorioso sempre será um homem invejoso – ciumento de todo aquele que é mais espiritual ou mais talentoso do que ele. E a inveja se expressa em malícia, e a malícia termina em contenda (Tiago 3:14-16).

Como, então, podemos “sentir o mesmo no Senhor”? O apóstolo mostra claramente que isso só pode ser quando somos marcados pela “humildade”, e, para ter a mente humilde, ele diz: “Haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus.” Seu sentimento era tão humilde que O levou a não ter nenhuma reputação a fim de servir aos outros em amor. O “eu” gosta de ser servido e pensa que é exaltado quando é servido pelos outros; mas o amor se delicia em servir.

Se, então, cada um de nós se esquecer de si mesmo, se nos recusarmos a buscar uma reputação para nós mesmos e buscarmos apenas servir aos outros em amor, de acordo com a mente humilde de Cristo, teremos a mente do Senhor, e “sentiremos o mesmo no Senhor”.

3 “Regozijai-vos sempre no Senhor” (v. 4)

O apóstolo tem-nos dito:

(1) que dentro do círculo cristão existem alguns marcados por inveja, porfia e contenda;

(2) que todos buscam o que é seu, não o que é de Jesus Cristo;

(3) que muitos andam de tal maneira que são inimigos da cruz de Cristo.

Infelizmente, essas coisas ainda são encontradas entre o povo de Deus e podem muito bem gerar tristeza e lágrimas, assim como fizeram com o apóstolo.

Mas o apóstolo nos diz ainda mais; ele não apenas olha para fora e vê o fracasso dos santos, mas também olha para cima e vê a glória de Jesus. Ele vê Cristo na glória, o prêmio da vocação nas alturas (Fp 3:14). Ele vê que Deus nos chamou para estar com Cristo e como Cristo na glória, e ele vê o final abençoado da jornada no deserto com todas as suas tristezas e falhas. Com esse objetivo glorioso em vista, ele se esquece das coisas que ficaram para trás e segue em direção à meta.

Além disso, ele não apenas olha para Cristo na glória, mas espera a vinda do Senhor Jesus Cristo para transformar nossos corpos de humilhação em corpos de glória. Olhando ao redor, ele pode chorar, mas olhando para cima, e olhando adiante, ele se alegra e nos exorta a nos “regozijarmos sempre no Senhor”.

Não podemos nos alegrar em nós mesmos, em nosso serviço ou em nossa caminhada: nem sempre podemos nos alegrar em nossas circunstâncias ou nos santos. Mas com o Cristo vivo nas alturas e a vinda de Cristo diante de nós, podemos nos “regozijar sempre no Senhor”.

4 “Seja a vossa gentileza conhecida de todos os homens. O Senhor está perto” (v. 5, J.N.D.)

É somente quando andamos com o Senhor diante de nós, de acordo com as três primeiras exortações, que seremos capazes de cumprir esta exortação que apresenta diante de nós o caráter de brandura pelo qual devemos ser conhecidos por todos os homens. Muitas vezes somos conhecidos por nossa autoafirmação, por nossas opiniões fortes e talvez pela violência de expressão em relação aos assuntos deste mundo. Se nossa mente estiver voltada para as coisas do alto, não estaremos ansiosos para nos impor em relação às coisas da Terra. Quanto a esses assuntos, faremos bem em ceder aos outros e ser reticentes em expressar nossas opiniões. Assim, vestiremos o belo caráter de Cristo, que foi marcado pela “mansidão e benignidade” (2 Coríntios 10:1). Devemos acautelar-nos para não sermos arrastados para a contenda com aqueles que porventura se oponham, pois “ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos” (2 Timóteo 2:24). Lembremos que é mais importante exibir o caráter de Cristo do que fazer valer nossas opiniões, mesmo que corretas, ou nos defender. Os homens podem se opor às nossas opiniões, afirmações e violência; mas quem pode resistir à gentileza? Como alguém disse: “A gentileza é irresistível.”

Além disso, para nos encorajar à gentileza, o apóstolo nos lembra que “o Senhor está perto”. Não há necessidade de nos afirmarmos e buscarmos consertar o mundo, pois a vinda do Senhor está próxima, e na Sua vinda Ele corrigirá todos os erros.

Não podemos dizer também que, em outro sentido, o Senhor está perto de nós, por menos que possamos perceber Sua presença? Ele ouve e vê tudo o que dizemos e fazemos. Quantas palavras duras e violentas podemos ter pronunciado em momentos de descuido que nunca teriam sido ditas se tivéssemos percebido Sua presença.

Os discípulos, em sua dureza, repreenderam as mães que trouxeram seus filhos a Jesus. O Senhor, em Sua gentileza disse: “Deixai os pequeninos e não os estorveis de vir a mim”. Novamente, os discípulos, em seu ressentimento contra os aldeões que se recusaram a receber o Senhor, poderiam, com violência, derrubar fogo do céu para destruí-los. O Senhor, em Sua gentileza, não pronuncia uma palavra contra Seus rejeitadores, mas silenciosamente passa para outra aldeia.

Que possamos então falar e agir enquanto seguimos um caminho separado como os quietos da Terra, de modo que, se o mundo tomar qualquer consideração acerca de nós, será apenas para marcar nossa “gentileza”.

5 “Não estejais inquietos por coisa alguma” (v. 6)

Aqui, a exortação do apóstolo tem em vista as circunstâncias da vida. Ele não se esquece de que, em um mundo de tristeza e enfermidade, de carência e cuidados, haverá provações a enfrentar e fardos a suportar; mas ele não queria que torturássemos nossos pobres corações com essas coisas. Ele mesmo escreveu de uma prisão e sofreu carências, e um companheiro e colaborador adoeceu quase à morte; mas, nessas circunstâncias dolorosas, ele foi elevado acima de todos os cuidados ansiosos e, portanto, pôde dizer aos outros: “Não estejais inquietos por coisa alguma.”

Podemos ter que enfrentar provações em nossa família, provações em nossos negócios, provações entre o povo do Senhor; tristezas da doença, tristezas da necessidade, tristezas dos santos, que nos pressionam como um grande fardo e, como alguém disse: “Quantas vezes um fardo se apodera da mente de uma pessoa, e quando ela tenta em vão se livrar dele, volta a preocupá-la.”

Como então podemos encontrar alívio? Como é possível “não estar inquieto com coisa alguma”? Felizmente, o apóstolo revela o caminho para se libertar, não necessariamente da provação, mas do peso da provação, de modo que já não sobrecarregue o espírito com ansiedade e inquietação. Ele diz: “Antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças.” Assim, apenas encontraremos alívio. “Em tudo”, seja qual for a prova, pequena ou grande, dê a conhecer a Deus em oração; e diga a Deus exatamente o que você deseja, que “as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus”. Os pedidos podem não ser para o nosso bem, podem não estar de acordo com a mente de Deus; eles podem até ser tolos, mas devemos torná-los conhecidos a Deus.

Qual será o resultado? Ele responderá aos pedidos? Ele removerá a provação? Pode ser que Ele considere que responder ao pedido ou remover a provação não seria para o nosso bem. No que diz respeito à provação imediata, Ele agirá com perfeita sabedoria para o nosso bem, de acordo com Seu perfeito amor. Mas isso Deus fará: Ele aliviará nosso coração do peso da provação. Se derramarmos nossos corações diante d’Ele, Ele derramará Sua paz em nossos corações – aquela paz de Deus que ultrapassa todo entendimento.

Foi o que Ana descobriu, nos dias antigos, quando, em sua dolorosa provação, ela podia dizer: “Tenho derramado a minha alma perante o Senhor”. Como resultado, lemos: “E o seu semblante já não era triste”. E, no entanto, na época, suas circunstâncias continuaram as mesmas. Posteriormente, de fato, o Senhor mudou suas circunstâncias, mas primeiro Ele mostrou que tinha o poder de mudar Ana. De tristeza de coração e amargura de alma, ela foi trazida a grande paz – a paz de Deus que excede todo o entendimento – por fazer conhecidos seus pedidos a Deus (1 Samuel 1:6-18).

6 “Nisso pensai” (v. 8).

Regozijando-nos no Senhor e livres de preocupações, seremos capazes de deleitar pacificamente nossa alma nas coisas que são puras e dignas de louvor. Em um mundo longe de Deus, enfrentamos continuamente o mal. Está em nós e ao nosso redor; ele nos pressiona de todos os lados. Às vezes, temos que enfrentá-lo e lidar com ele em nós mesmos ou nos outros; mas, mesmo assim, lidar com o mal, em qualquer forma, contamina e polui nossa mente. Ai de mim! Frequentemente existe entre nós a tendência de nos intrometermos no mal e de nos ocuparmos demais em lutar contra ele!

Deus deseja que encontremos nosso prazer em tudo o que é verdadeiro, nobre, justo e puro. A carne em nós está sempre pronta para ouvir calúnias e relatos ruins, e coisas que são perversas e censuráveis. Mas diz o apóstolo: ouça o bom relato, e se houver algo virtuoso e louvável em seu irmão, “nisso pensai.”

7 “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco” (v. 9)

O fato de a mente estar voltada para as coisas puras preparará o caminho para uma vida que está de acordo com Deus. O “pensar” correto levará ao “fazer” correto. Tendo falado das coisas que são puras, “nisso pensai”, o apóstolo agora diz: “O que também… vistes em mim, isso fazei.”

Não é suficiente ter “aprendido” e “recebido” a verdade, por meio dos escritos do apóstolo, ou tê-la “ouvido” de seus lábios e “visto” em sua vida. O que aprendemos, recebemos, ouvimos e vimos deve ser traduzido em nossas vidas. Como outro apóstolo disse, devemos ser “cumpridores da palavra, e não somente ouvintes” (Tiago 1:22).

Então, diz o apóstolo, se nossas mentes estão fixadas em coisas que são puras, e nossa vida de acordo com a verdade – se “pensarmos” e “fizermos” corretamente – descobriremos que não apenas a paz de Deus guarda nossos corações, mas que o Deus de paz estará conosco.

Apesar de todo o fracasso da Igreja e das provações pelo caminho, quão abençoada é a porção daqueles crentes que –

Estão firmes no Senhor;

Possuem o mesmo sentimento no Senhor;

Alegram-se no Senhor;

Que são conhecidos de todos os homens por sua gentileza;

Que não se inquietam por coisa alguma;

Que têm seus pensamentos fixados em coisas que são puras, e

Que, na prática, “fazem” as coisas que aprenderam e receberam.

Esses terão seus corações governados pela paz de Deus e desfrutarão do apoio do Deus da paz. Em todas essas exortações, não há nada que não possa ser realizado pelo crente mais simples e mais jovem, no poder do Espírito Santo. Elas não exigem nenhum dom especial; elas não requerem grande capacidade intelectual. Elas formam a própria essência da vida cristã prática e são aplicáveis ​​tanto nestes últimos dias difíceis quanto nos primeiros dias de vigor e poder.

Assim, ao longo da vida, descobrimos,

Que confiar, ó Senhor, é o melhor,

Que quem Te serve com uma mente quieta

Encontra em Teu serviço descanso.

Seus problemas externos podem não cessar,

Mas isto sua alegria será –

Tu o manterás em perfeita paz

Cuja mente está fixada em Ti.

Hamilton Smith.