SEGURANÇA, CERTEZA E GOZO DA SALVAÇÃO ETERNA

 

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Quando estamos numa estação ferroviária ouvimos, com certa freqüência, a seguinte pergunta: “Em que classe você está viajando?” Você, leitor, com toda a certeza está de viagem – de viagem para a eternidade – e pode ser que neste momento esteja muito próximo da estação final: a Morte. Permita-me, então, que lhe pergunte: “Nesta jornada pela vida, em que classe você está viajando?”

Neste caso podemos pensar em três diferentes classes, e vou explicar quais são a fim de que você possa responder à minha pergunta como que diante de Deus; sim, diante dAquele a Quem certamente todos nós temos que prestar contas.

Na primeira classe viajam, por assim dizer, os que estão salvos e sabem disso.

Na segunda classe viajam aqueles que não têm certeza da sua salvação, mas que, no entanto, desejam tê-la.

Na terceira classe viajam aqueles que não estão salvos e nem tampouco se interessam pelo assunto.

Volto a perguntar: “Em qual destas classes você está viajando?” Oh, como é importante que você possa responder claramente a esta pergunta!

Há pouco tempo atrás, numa viagem que fiz de trem, no momento em que o trem se preparava para partir da estação, vi chegar um homem que se precipitou ofegante para dentro do vagão onde eu me encontrava.

– Isto é que é correr! – exclamou um dos passageiros.

– É verdade – respondeu o homem respirando com dificuldade – mas ganhei quatro horas e por isso valeu a pena.

“Ganhei quatro horas”! Ao ouvir estas palavras não pude deixar de pensar comigo mesmo: “Se para ganhar quatro horas valeu a pena fazer tão grande esforço, quanto mais para ganhar a eternidade!” E, contudo, existem milhares de pessoas, que embora sejam bastante prudentes em tudo o que se refere aos seus interesses mundanos, parecem não ter um mínimo de bom senso quando alguém lhes fala de seus interesses eternos!

Apesar do infinito amor de Deus para com os pecadores, manifestado na morte de Jesus Cristo na cruz; apesar do Seu declarado ódio ao pecado; da evidente brevidade da vida humana; dos terrores do julgamento depois da morte; da terrível perspectiva de sofrer insuportáveis remorsos ao achar-se no inferno, separado para sempre de Deus; apesar de tudo isso, muitos correm para o seu triste fim tão descuidados como se não existisse nem Deus, nem morte, nem julgamento, nem céu, nem inferno! Que Deus tenha misericórdia de você, leitor, se você for uma dessas pessoas, e que neste momento Ele abra os seus olhos para que você reconheça o perigo que é continuar despreocupadamente no caminho que conduz à perdição eterna.

Caro leitor, quer você acredite ou não, a sua situação é muito crítica. Não deixe, portanto, de enfrentar o quanto antes a questão da Eternidade e do destino que você terá nela, pois qualquer demora poderá ser fatal. Lembre-se de que o costume de deixar para amanhã o que se pode fazer hoje é sempre prejudicial e neste caso poderá ter conseqüências desastrosas. Quão verdadeiro é o ditado: “A estrada do mais tarde conduz à cidade do nunca”! Rogo, pois, encarecidamente, querido leitor, que não continue a viajar em um caminho tão enganoso e perigoso, pois está escrito na Bíblia Sagrada: “Eis aqui agora o dia da salvação” (2 Co 6:2).

Talvez você diga: – Não sou indiferente aos interesses da minha alma; longe de mim tal pensamento, mas a minha maior inquietação exprime-se por outra palavra: incerteza. Por esta razão encontro-me entre os passageiros da segunda classe de que falou.

Pois bem, amigo leitor, tanto a indiferença como a incerteza são filhas da mesma mãe: a incredulidade. A indiferença provém da incredulidade no que diz respeito ao pecado e às suas conseqüências presentes e eternas. A incerteza, com sua conseqüente inquietação, provém da incredulidade acerca do infalível remédio que Deus oferece a você. Ora, estas páginas são dirigidas especialmente àqueles que, como você, desejam ter a completa e incontestável certeza da salvação.

Até certo ponto posso compreender bem a inquietação de sua alma e estou convencido de que quanto mais sinceramente interessado você estiver neste assunto, maior será a sua avidez para ter a certeza de que está real e verdadeiramente salvo da ira divina dirigida contra o pecado. “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mt 16:26), disse o Senhor Jesus.

Suponhamos que o filho de um pai amoroso encontra-se viajando de navio. Chega, entretanto, a notícia de haver naufragado, numa costa estrangeira, o navio em que ele se encontrava. Quem poderá descrever a angústia que a incerteza produz no ânimo daquele pai enquanto não se certificar, por um testemunho fidedigno, de que o seu filho está salvo? Suponhamos ainda uma outra hipótese. Numa noite escura e tempestuosa você está seguindo por um caminho desconhecido. Ao chegar a uma encruzilhada você encontra alguém e lhe pergunta qual é o caminho que conduz ao povoado aonde deseja chegar, e ele, indicando um dos caminhos, responde: “Parece-me que é aquele, mas não tenho certeza; espero não estar enganado”. Você ficaria satisfeito com uma resposta tão vaga e indecisa? Decerto que não. Você precisaria ter certeza, do contrário cada passo que desse naquela direção só aumentaria a sua inquietação. Por isso, não admira que

tenha existido homens que, sentindo-se pecadores expostos à ira divina, não conseguiram mais dormir, e nem mesmo comer, enquanto a questão da salvação de suas almas não estivesse resolvida. Podemos sentir muito pela perda de nossos bens, ou talvez até mesmo pela perda de nossa saúde, mas o mais penoso de tudo seria a perda de nossa alma.

Pois bem, amigo leitor, há três coisas que, com o auxílio do Espírito Santo, desejo mostrar a você, as quais, na própria linguagem das Sagradas Escrituras são as seguintes:

1. O caminho da salvação (Atos 16:17).

2. O conhecimento da salvação (Lucas 1:77)

3. A alegria da salvação (Salmo 51:12).

Estas três coisas, embora intimamente ligadas, baseiam-se, todavia, cada uma delas, em verdades diferentes, de modo que é muito possível uma pessoa saber qual é o caminho da salvação, sem contudo ter o conhecimento de estar pessoalmente salva; ou mesmo conhecer que está salva, sem possuir contudo a alegria que deve acompanhar esse conhecimento. Falaremos, pois, em primeiro lugar do

CAMINHO DA SALVAÇÃO

 

A primeira parte da Bíblia Sagrada, o Antigo Testamento, está repleto de figuras ou símbolos de coisas espirituais, como diz o apóstolo Paulo: “Tudo o que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito” (Rm 15:4). Vejamos, pois, qual o sentido espiritual de uma dessas figuras contidas no Antigo Testamento, no livro de Êxodo, onde se lêem estas palavras em relação à lei dada por Deus, por intermédio de Moisés, ao seu povo na antiguidade: “Porém tudo o que abrir a madre da jumenta, resgatarás com cordeiro; e se o não resgatares, cortar-lhe-ás a cabeça: mas todo o primogênito do homem entre teus filhos resgatarás” (Êx 13:13). Com estas palavras na memória, voltemos, em pensamento, a uns três mil anos atrás e vamos supor que nos encontramos perto de dois homens que estão conversando seriamente, um deles sacerdote de Deus e o outro um simples e pobre camponês israelita. Nossa atenção é atraída pelos gestos e pela maneira de ambos, que demonstra estarem tratando de um assunto importante. Ao observá-los, descobrimos que o assunto diz respeito a um jumentinho que está ao lado deles.

– Vim perguntar – diz o pobre israelita – se não pode ser feita uma exceção a meu favor, só desta vez. Este animal é o primogênito de uma jumenta que tenho e, embora eu saiba o que diz a lei de Deus a seu respeito, espero que haja misericórdia e seja poupada a vida do jumentinho. Sou apenas um pobre em Israel e não posso pensar em perder este animal. O sacerdote, porém, responde com firmeza:

A lei de Deus é clara e não admite dúvidas: “Tudo o que abrir a madre da jumenta, resgatarás com cordeiro; e se o não resgatares, cortar-lhe-ás a cabeça”. Por que, então, você não traz um cordeiro?

– Ah, senhor, não tenho nenhum cordeiro! – replica o homem.

– Então vá comprar um e traga-o aqui; caso contrário o jumento terá que ser morto.

– Ai de mim! – exclama o pobre homem – neste caso todas as minhas esperanças estão perdidas, pois sou muito pobre e não posso de maneira alguma comprar um cordeiro.

Mas, durante a conversa, aproxima-se uma terceira pessoa que, ouvindo a triste história do homem, volta-se para ele e lhe diz bondosamente:

– Não fique desanimado, pois posso resolver o seu problema. Temos em casa um cordeiro que é muito querido de todos os de minha família, pois não tem nem uma única mancha nem defeito algum, e nunca se extraviou; vou já buscá-lo.

Pouco depois o homem está de volta, trazendo o cordeiro que em seguida é morto e o seu sangue derramado. O sacerdote volta-se então para o pobre israelita e lhe diz:

– Agora você pode levar o seu jumentinho para casa e ficar certo de que não precisará matá-lo. Graças ao seu amigo, o cordeiro morreu no lugar dele e, portanto, o jumentinho fica, com toda a justiça, totalmente livre.

Ora, querido leitor, acaso você não vê nisto um quadro divino da salvação do pecador? Em conseqüência dos seus pecados a justiça de Deus exige a sua morte, isto é, o seu justo castigo. A única alternativa que resta a você é a morte de um substituto aprovado por Deus. Você jamais poderia, de si mesmo, providenciar o necessário para sair da desesperada situação em que se encontra. Deus, porém, na Pessoa de Seu amado Filho, supriu, Ele próprio, um Substituto: “Eis o Cordeiro de Deus”, disse João aos seus discípulos ao contemplarem o bendito e imaculado Salvador. “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29).

E, com efeito, Jesus subiu ao Calvário, “levado como a ovelha para o matadouro” (At 8:32), e ali “padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus” (1 Pd 3:18). “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4:25). De modo que Deus, ao justificar o ímpio que crê em Jesus; ao absolvê-lo de toda a culpa, em nada sacrifica as justas exigências do Seu trono dirigidas contra o pecado. Ele é absolutamente justo em assim justificar aquele que tem fé em Jesus (Rm 3:26). Bendito seja Deus, por nos dar um tal Salvador e uma tal salvação!

Caro leitor, você crê no Filho de Deus? Se você responder “Sim! Como um pecador condenado tenho encontrado nEle Aquele em Quem posso confiar com toda a segurança. Creio verdadeiramente nEle!”, neste caso posso lhe assegurar que, perante Deus, o grande valor do sacrifício e morte de Cristo, conforme Deus o aprecia, aproveita tanto à sua alma como se você mesmo tivesse sofrido, em si mesmo, a condenação merecida.

Oh, que admirável salvação é esta! É grande, é digna de Deus! Por ela Deus satisfaz os desejos do Seu bondoso coração, dá glória ao Seu amado Filho, e assegura a salvação do pobre pecador que nEle crê. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que determinou que o Seu próprio Filho levasse a cabo essa grande obra e recebesse por ela todo o louvor; e que nós, pobres criaturas culpadas, não somente alcançássemos toda a bênção por meio da fé nEle, mas também gozássemos eternamente a bem-aventurada companhia dAquele que assim nos abençoou! “Engrandecei ao Senhor comigo, e juntos exaltemos o Seu nome” (Sl 34:3).

Mas, talvez você pergunte ansiosamente: “Como é que ainda não tenho completa certeza da minha salvação, embora já não confie mais em mim mesmo, nem nas minhas obras, mas só, única e inteiramente em Cristo e na Sua obra? Como é que, se um dia os sentimentos do meu coração me dizem que estou salvo, no dia seguinte me vejo assaltado de dúvidas? Sou como um navio surpreendido pela tempestade, sem poder achar ancoradouro seguro em nenhuma parte”. Ah! eis aí o seu engano, e vou explicar o por que. Porventura você já ouviu falar de algum capitão que procurasse ancorar seu navio lançando a âncora para dentro do próprio navio? Nunca! Ele sempre a lança para fora!

Vejamos, então, o seu caso. Pode ser que você já esteja completamente convencido de que a segurança de sua alma, quanto ao julgamento divino, depende somente da morte de Cristo; porém você imagina, ao mesmo tempo, que são os seus sentimentos que hão de lhe dar a certeza da sua participação nos benefícios dessa morte. Vamos olhar novamente para a Bíblia, pois quero que você veja nela o modo como, pela Sua Palavra, Deus nos dá:

O CONHECIMENTO DA SALVAÇÃO

 

Antes, porém, de procurarmos o versículo que você deve ler com cuidadosamente, o qual nos ensina como um crente pode saber que tem a vida eterna, permita-me citá-lo de maneira errada, ou seja, da maneira que muitos parecem entendê-lo: “Estes alegres sentimentos vos dou a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus”. Compare agora isto com a bendita e inalterável Palavra divina, e permita Deus que você possa se firmar nela, rejeitando todos os pensamentos vãos. Ora, o versículo de que falei é o versículo 13 do capítulo 5 da primeira epístola de João, que na Bíblia (Versão Almeida Atualizada) está escrito assim: “Estas coisas vos escrevi a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus”.

A história sagrada do Antigo Testamento nos relata um acontecimento que explica exatamente o modo pelo qual nós podemos ter a inabalável certeza da salvação de que o versículo acima nos fala. Esse acontecimento é a saída do povo de Israel da terra do Egito, o que lemos no capítulo 12 do livro de Êxodo. Como podiam os primogênitos do povo de Israel saber, com toda a certeza, que estavam seguros durante aquela terrível noite da Páscoa, quando Deus derramava sobre o Egito o Seu tremendo castigo? Vamos supor que nos encontramos no Egito nessa solene ocasião, e que visitamos duas das casas dos israelitas. Na primeira casa encontramos toda a família aterrorizada e cheia de receios, dúvidas e incertezas:

– Qual é o motivo de tanta palidez e medo?- perguntamos.

– Ah! – responde o primogênito, – o anjo da morte vai atravessar a terra do Egito esta noite, e não sei o que será de mim quando chegar a meia-noite. Só depois que o anjo exterminador tiver passado por nossa casa, e a hora do juízo tiver terminado, que saberei que estou salvo, mas antes disso não sei como posso ter a certeza de que nada me há de acontecer. Os nossos vizinhos do lado dizem que têm certeza da sua segurança, mas acho que isso é ter muita presunção. O melhor que eu posso fazer é passar esta longa e terrível noite esperando que tudo me saia bem.

– Porém – perguntamos – o Deus de Israel não providenciou um meio de segurança para o Seu povo?

– Certamente que sim – responde ele – e nós já usamos esse meio. O sangue de um cordeiro de um ano, cordeiro sem defeito algum, já foi devidamente espargido com um molho de hissopo sobre a verga e ombreiras da porta; mas apesar disso, não temos ainda plena certeza de que eu esteja seguro.

Deixemos agora esta pobre gente, atribulada e cheia de dúvidas, e entremos na casa ao lado. Que notável contraste se apresenta logo à nossa vista! A paz e o sossego brilham em todos os rostos. Ali estão todos, de cajado na mão, a comer o cordeiro assado e já prontos para caminhar.

– Qual é o motivo de tão grande tranqüilidade em noite tão solene? -perguntamos.

– Ah! – respondem todos – estamos aguardando as ordens de Jeová, nosso Deus, para sairmos de viagem, quando então daremos as últimas despedidas ao chicote do tirano e à cruel escravidão do Egito.

– Mas esperem! Vocês estão se esquecendo de que à meia-noite o anjo de Deus vai percorrer a terra do Egito, ferindo de morte os primogênitos?

– Sabemos disso muito bem, mas o nosso filho já está perfeitamente seguro porque já espargimos o sangue na porta, segundo a vontade e ordem do nosso Deus.

Mas também os vizinhos fizeram o mesmo, – respondemos, – e contudo estão todos tristes, porque não têm nenhuma certeza de segurança.

– Ah – diz o primogênito com firmeza – mas nós não temos somente o sangue espargido: temos também uma confiança absoluta na Palavra inabalável do nosso Deus. Deus disse: “Quando Eu vir o sangue, passarei por vós”. Portanto Deus fica satisfeito vendo o sangue lá fora, e nós aqui dentro ficamos descansando na Sua palavra. O sangue espargido é a base da nossa segurança. A palavra proferida por Deus é a base da nossa certeza de salvação. Porventura há alguma coisa que possa tornar-nos mais seguros do que o sangue espargido, ou que possa dar-nos mais certeza do que a palavra proferida por Deus? Nada, absolutamente nada. Eis a razão da nossa paz!

Ora, leitor, qual destas duas famílias você acha que estava mais ao abrigo da espada do anjo da morte? Talvez você diga que era a segunda, onde todos gozavam daquela tranqüila confiança. Você está enganado: ambas estavam igualmente seguras, pois a segurança de ambas dependia, não dos sentimentos dos que estavam dentro da casa, mas sim da maneira como Deus apreciava o sangue espargido fora da casa, sobre a porta. Se você quiser ter a certeza da sua própria salvação, leitor, não dê atenção aos seus sentimentos, mas sim ao testemunho infalível da Palavra de Deus. “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em Mim tem a vida eterna” (Jo 6:47).

A fim de esclarecer mais este ponto, vou me valer de um simples exemplo tirado da vida cotidiana. Certo lavrador, não tendo pastagens suficientes para o seu gado, e ouvindo dizer que uma bela pastagem próxima à sua casa está para alugar, comunica ao proprietário seu interesse em arrendá-la. Passa-se algum tempo sem que receba resposta do proprietário. Enquanto isso, um vizinho visita o lavrador e lhe diz:

– Estou certo de que ele alugará a pastagem a você. Você não se lembra de que no último ano o proprietário enviou-lhe um presente, e não recorda também da maneira como o cumprimentou quando passou por sua casa há alguns dias?” Eis agora o lavrador todo cheio de esperanças!

No dia seguinte encontra-se com outro vizinho, que durante a conversa lhe diz:

– Receio que você não poderá usar aquela pastagem. Ouvi dizer que o sr. Fulano também a quer, e você sabe como ele é amigo do proprietário. Esta notícia faz desvanecer as esperanças do pobre lavrador; e assim continua ele; um dia muito esperançoso, outro dia cheio de dúvidas. Por fim recebe uma carta pelo correio e, ao reconhecer a letra do proprietário da pastagem, abre-a com viva ansiedade; mas à medida que vai lendo, o sobressalto vai se transformando em satisfação que se lhe retrata no rosto.

– Está tudo resolvido,- exclama, dirigindo-se à sua esposa; – acabaram-se as dúvidas e os receios! O proprietário diz que me arrenda a pastagem por todo o tempo que eu quiser, e em condições muito favoráveis. Isto me basta; agora já não me importo mais com a opinião de ninguém, seja lá quem for; a palavra do proprietário assegura-me a posse.

Quantas pobres almas há por aí, às quais acontece o mesmo que aconteceu ao lavrador; andam agitadas e perturbadas porque escutam as opiniões dos homens, ou se ocupam com os pensamentos e sentimentos dos seus próprios corações, ao passo que, se com sinceridade recebessem a Palavra de Deus, como sendo a Palavra de Deus, as dúvidas que os atribulam cederiam imediatamente seu lugar à certeza.

As Escrituras dizem que aquele que crê está salvo, e que aquele que não crê está condenado. Não pode haver dúvida, nem em um caso nem em outro, pois é Deus Quem

o diz, e para o crente de coração sincero a Palavra de Deus resolve tudo. “Porventura diria Ele, e não o faria? ou falaria, e não o confirmaria?” (Nm 23:19). Deus tem falado, e o crente, satisfeito, pode dizer:

Mais provas não exijo eu

Nem mais demonstração;

Já sei que Cristo padeceu

Para minha salvação.

Mas, talvez haverá alguém que ainda pergunte: “Como hei de saber com certeza se tenho a verdadeira fé?” A esta pergunta temos que responder com outra pergunta: “Você tem fé no verdadeiro Salvador: isto é, no bendito Filho de Deus?” A questão não é saber se a sua fé é muita ou pouca, forte ou fraca, mas se a Pessoa em quem você confia é digna de confiança. Há alguns que se agarram a Cristo com uma energia semelhante à do homem que se afoga. Há outros, porém, que apenas tocam, por assim dizer, na orla do Seu vestido; mas os primeiros não estão mais seguros do que os últimos. Todos fizeram a mesma descoberta, isto é, que em si mesmos não há nada em que possam confiar, mas que podem todavia fiar-se seguramente em Cristo, podem fiar-se tranqüilamente na Sua Palavra, e podem, portanto, descansar com toda a confiança na eterna eficácia da Sua obra perfeita. É isto que se entende por crer nEle, e é Sua a promessa: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em Mim, tem a vida eterna” (Jo 6:47).

Portanto, cuidado leitor; não ponha a sua confiança nas suas boas intenções ou no seu arrependimento e penitências, ou em quaisquer outros atos religiosos, nem mesmo nos seus piedosos sentimentos, nem na educação moral que possa ter recebido, nem em quaisquer outras coisas semelhantes. É até possível que você confie firmemente em algumas destas coisas, ou em todas elas juntas, e contudo venha a perder-se eternamente; porém a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, por mais fraca que seja, salva eternamente, ao passo que a fé em outra coisa ou pessoa qualquer, mesmo que seja forte, é apenas o fruto de um coração enganado.

Deus, no Evangelho, apresenta a você o Senhor Jesus Cristo, e diz: “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo” (Mt 3:17). É como se Deus dissesse: “Ainda que você não possa confiar em si mesmo, pode contudo confiar sem receio em Jesus”. Bendito, mil vezes bendito Senhor Jesus! Quem não há de confiar em Ti e exaltar o Teu nome?

– Creio deveras nEle, – disse-me um dia uma jovem, com certa tristeza, – todavia não me atrevo a dizer que estou salva, com receio de dizer talvez uma mentira.

Esta jovem era filha de um negociante de gado em uma pequena vila, e seu pai havia ido, naquele mesmo dia, à feira e ainda não tinha voltado.

– Suponhamos agora – disse-lhe eu – que quando seu pai voltar você lhe pergunte quantas ovelhas comprou hoje, e ele responda: “Dez”. Suponhamos ainda que logo em seguida entre um freguês e lhe pergunte: “Quantas ovelhas seu pai comprou hoje?” Porventura você responderia: “Não me atrevo a dizer, com receio de mentir”?

Nisto, a mãe da menina, que escutava nossa conversa, disse com certa indignação: – Isso seria o mesmo que dizer que seu pai é mentiroso.

Ora, querido leitor, você não percebe que essa menina, embora bem intencionada, estava realmente a fazer do Senhor Jesus um mentiroso, quando dizia: “Eu creio no Filho de Deus, porém não me atrevo a dizer que tenho a vida eterna, porque receio dizer talvez uma mentira”? Que incredulidade!

– Mas, – alguém poderá dizer, – como posso ter a certeza de que realmente creio? Tenho me esforçado muitas vezes para crer, e procurado ler no meu íntimo se o tenho conseguido; mas quanto mais penso na minha fé, a mim menos parece que eu creia.

Meu amigo, a maneira como você olha para estas coisas não poderia ter outro resultado, e o fato de você dizer que se esforça para crer demonstra claramente que não compreende a questão. Deixe-me, portanto, apresentar-lhe outro exemplo para explicar melhor este ponto.

Suponhamos que você se encontre certa noite em sua casa e entre alguém dizendo que o chefe da estação da estrada de ferro acaba de morrer esmagado por um trem. Acontece, porém, que esse indivíduo que lhe traz a notícia há muito tempo é tido em toda a vizinhança como um grande mentiroso. Você acreditaria nele, ou se esforçaria para acreditar nele?

– Decerto que não! – você me responderá prontamente.

– E por que não?

– Porque eu o conheço bem demais para saber que é um mentiroso.

– Mas, – pergunto – como é que você sabe que não crê no que ele disse? Será que para isso você precisou examinar sua fé?

– Não; é porque sei que o homem que me dá a notícia não é digno de confiança.

Pouco depois entra um outro indivíduo e diz:

– O chefe da estação foi hoje atropelado por um trem e ficou esmagado. Após ele sair, escuto você dizer prudentemente:

– Agora estou quase crendo que seja verdade, pois conheço este homem desde pequeno e pelo que me lembre, só me enganou uma vez.

– Ora, – pergunto eu de novo, – será que desta vez você sabe que quase crê por ter examinado sua própria fé?

– Não; é porque tenho em conta o caráter de quem me dá a notícia.

Este homem acaba de sair de sua casa e entra um terceiro. Este, que é um amigo que lhe inspira a mais absoluta confiança, não faz mais do que confirmar a notícia. Desta vez então você diz:

– Agora é que creio, João; por ser você quem está me afirmando isto, eu posso crer.

Insisto ainda na minha pergunta, que como você há de recordar, é apenas um eco da sua:

– Como é que você pode saber agora que crê tão positivamente no que disse o seu amigo?

– É porque conheço bem a pessoa e o caráter dela – você me responde. – Nunca, em toda a sua vida, me enganou, e não a julgo capaz de fazê-lo.

Pois bem, é justamente por esta razão que eu também sei que creio no Evangelho: é por ele me ser mandado pelo próprio Deus. O apóstolo João diz: “Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; porque o testemunho de Deus é este, que de Seu Filho testificou… quem a Deus não crê mentiroso O fez: porquanto não creu no testemunho que Deus de Seu Filho deu” (1 Jo 5:9-10). E Paulo diz: “Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Rm 4:3).

Em certa ocasião uma pessoa ansiosa pela salvação disse a um servo de Deus:

– Ah! senhor, eu não posso crer!, ao que respondeu-lhe o pregador com muito acerto:

É verdade?… E em quem você não pode crer? Esta simples pergunta foi suficiente para lhe abrir os olhos. Até ali tinha pensado que a fé era alguma coisa misteriosa que deveria sentir dentro de si, e que sem senti-la não poderia ter certeza da sua salvação. Mas afinal a fé do crente faz com que ele olhe, não para si mesmo, mas, ao contrário, para Cristo e para a Sua obra consumada no Calvário, e o leve a aceitar confiadamente o testemunho que um Deus fiel dá acerca de ambos e assim alcança a paz. Quando uma pessoa se volta para o Sol, a sua sombra fica para trás; assim também quando nos voltamos para Cristo glorificado no céu, não mais nos preocupamos conosco.

Fica pois demonstrado que a bendita Pessoa do Filho de Deus ganha a nossa confiança; a Sua obra consumada nos dá segurança eterna; e a Palavra de Deus, acerca de todo o que nEle crê, nos dá a certeza inalterável de tal segurança. Encontramos em Cristo e na Sua obra o caminho da Salvação; e na Palavra de Deus o conhecimento da Salvação.

– Mas – dirá talvez o leitor, – se tenho a vida eterna, como é que tenho sentimentos tão inconstantes, perdendo com freqüência toda a minha alegria e consolação, achando-me sem paz e quase tão triste como antes de ter sido convertido?

Esta pergunta nos leva a tratar de nosso terceiro ponto que é

O GOZO DA SALVAÇÃO

 

A Palavra de Deus nos ensina que, enquanto que o crente é salvo da ira futura pela obra de Cristo, e que tem a certeza da salvação pela Palavra de Deus, conserva a consolação e alegria pelo poder do Espírito Santo que habita nele (1 Co 6:19).

Convém lembrar que toda pessoa salva ainda tem em si o que as Sagradas Escrituras chamam de “carne”, isto é, a natureza pecaminosa com que nascemos, e que começa a se manifestar desde a nossa mais tenra infância. O Espírito Santo no crente resiste à “carne”, e fica entristecido sempre que ela se manifesta por pensamentos, palavras ou obras. Quando o crente procede de um modo digno do Senhor, o Espírito Santo produz em sua alma o seu bendito fruto: amor, gozo, paz, etc. (Gl 5:22). Porém quando ele procede de um modo carnal e mundano, o Espírito Santo é entristecido e, como conseqüência, falta, na vida do crente, este fruto espiritual.

Permita-me, leitor, expor sua situação, como crente, da seguinte forma:

A obra de Cristo e a sua salvação: Ficam em pé ou caem juntamente;

O seu comportamento e o seu gozo: Ficam em pé ou caem juntamente.

Se fosse possível a obra de Cristo cair por terra, o que graças a Deus nunca poderá acontecer, a sua salvação cairia juntamente com ela. Porém, quando por qualquer descuido você não tiver um comportamento próprio de um cristão, (o que pode muito bem acontecer), você ficará também sem desfrutar o gozo.

Em Atos dos Apóstolos, está escrito a respeito dos primeiros cristãos que andavam “no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo” (At 9:31); e também “os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo” (At 13:52). Depois de sermos convertidos, o nosso gozo espiritual será sempre proporcional ao caráter espiritual do nosso comportamento.

Você percebe agora, leitor, em que consiste o seu engano? Você tem confundido duas coisas diversas, que são: a segurança da salvação, e o gozo que resulta dela. Se porventura você entregar-se à sua vontade-própria, ao seu mau gênio, ou aos prazeres mundanos, etc., o Espírito Santo Se entristecerá e logo você perderá sua alegria espiritual e talvez pense ter perdido também a sua segurança. Repito, porém, mais uma vez:

A sua segurança depende da obra que Cristo fez por você.

A sua certeza depende da Palavra que Deus dirige a você.

O seu gozo depende de você não entristecer o Espírito Santo que habita em você.

Se você, sendo filho de Deus, entristecer o Espírito Santo, a sua comunhão com Deus Pai e com o Seu bendito Filho ficará, como conseqüência, logo interrompida; e enquanto você, arrependido, não reconhecer e confessar o seu pecado a Deus, aquela comunhão e aquele gozo não lhe serão restaurados.

Suponhamos que uma criança qualquer faz uma maldade. Sentindo que praticou o mal e desconfiando que seus pais já saibam do ocorrido, ela mostra logo em seu rosto os evidentes sinais de perturbação. Meia hora antes ela estava alegre gozando, juntamente com os pais, um passeio no jardim, agradando-se naquilo que agradava a eles também, e gozando aquilo que eles também desfrutavam. Em outras palavras, ela estava em comunhão com eles; tinham todos os mesmos sentimentos. Mas isso cessou num momento e, como criança travessa e desobediente, nós a encontramos agora em um canto, toda triste. Os pais, notando sua tristeza, perguntam-lhe pelo motivo, dizendo-lhe que, se tiver feito qualquer maldade, deve confessar tudo e eles lhe perdoarão; mas o orgulho e a teimosia a mantém ali calada.

Onde está agora a alegria que essa criança tinha há meia hora? Desapareceu completamente. Por que? Porque se interrompeu a comunhão entre ela e seus pais, devido à sua maldade. Mas o que é feito do parentesco que, há meia hora, existia entre ela e seus pais? Porventura desapareceu isto também? Acaso cessou ou se interrompeu? Certamente que não.

O seu parentesco depende do seu nascimento.

A sua comunhão depende do seu comportamento.

Passado, porém, algum tempo, ela sai do canto, onde tinha permanecido, e já arrependida e com o coração quebrantado, humilha-se e confessa toda a sua falta, do princípio ao fim, de modo que os pais percebem que ela odeia agora, tanto quanto eles, a sua desobediência e travessura. Então, tomando-a nos braços, cobrem-na de beijos. A sua alegria restabelece-se, porque também a sua comunhão com os pais está agora restabelecida.

Lemos que o rei Davi, tendo em certa ocasião pecado gravemente, se arrependeu e voltou-se para Deus orando: “Torna a dar-me a alegria da Tua salvação” (Sl 51:12). Notemos que não pediu que lhe fosse restituída a salvação, mas a alegria da salvação.

Imaginemos agora o caso de outra maneira. Suponhamos que enquanto a criança se encontrava no canto, soluçando e sem dar provas de querer reatar comunhão com seus pais, se ouvisse um grito de “fogo!” O que iria ser da criança? Porventura seus pais a deixariam naquele canto para ser consumida pelo fogo que devora a casa? Impossível! Seria até mais provável que ela fosse a primeira pessoa que os pais tirassem para fora

de casa e que pusessem a salvo. Todos devem saber perfeitamente que o amor de parentesco é uma coisa, e que o gozo da comunhão é outra inteiramente diferente.

Ora, quando um crente cai em pecado, a sua comunhão com Deus Pai fica por algum tempo interrompida, e falta-lhe o gozo até que, com o coração contrito, se volte para o Pai e Lhe confesse os seus pecados. Então, confiando na Palavra de Deus, sabe que está de novo perdoado; porque a Sua Palavra claramente diz que: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça” (1 Jo 1:9).

Assim, pois, ó filho querido de Deus, lembre-se sempre destas duas importantes verdades: que não há nada tão forte como o laço de parentesco; e nada há tão frágil como o laço de comunhão. Todas as forças e todas as maquinações da Terra e do inferno reunidas não podem quebrar o primeiro, ao passo que basta apenas um pensamento impuro, ou uma palavra leviana, para quebrar imediatamente o segundo.

Se porventura você tiver alguma vez a sua alma atribulada, humilhe-se perante Deus, e examine a sua consciência. E quando você tiver descoberto o ladrão, o pecado que lhe roubou a alegria, traga-o para a luz da presença de Deus; isto é, confesse o seu pecado a Deus, seu Pai, e julgue-se a si mesmo, pelo seu descuido e pela falta de vigilância da sua alma que, assim, deixou entrar às escondidas o inimigo. Mas não confunda nunca, nunca, a sua segurança com o seu gozo.

Não imagine, todavia, que o julgamento de Deus é menos severo contra o pecado do crente, do que contra o do incrédulo. Ele não tem dois modos diferentes de tratar com o pecado. Seria impossível a Deus passar por alto, sem julgar, tanto os pecados do crente como os do incrédulo que rejeita o Seu precioso Filho. Há, porém, entre os dois casos a seguinte diferença:

O pecado do crente foi previsto por Deus, havendo-o lançado sobre Cristo, o Cordeiro divino, quando Este foi crucificado no Calvário. Ali, de uma vez para sempre, foi levantada a grande questão criminal da sua culpa, recaindo o castigo, que o crente merecia, sobre o seu bendito Substituto. “Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1 Pd 2:24). O incrédulo, porém, que rejeita o Senhor Jesus Cristo, há de sofrer, ele próprio, as conseqüências eternas dos seus pecados no lago de fogo.

Ora, quando um crente comete uma falta, a questão criminal do pecado não pode ser suscitada novamente contra ele, porque o próprio Jesus, constituído agora o Juiz de todos, é Quem a resolveu de uma vez para sempre sobre a cruz; porém a questão da comunhão é levantada dentro da sua alma pelo Espírito Santo, todas as vezes que o crente O entristece.

Permita-me que, em conclusão, me sirva de outro exemplo. Imaginemos uma noite serena e magnífica, com a Lua brilhando com o seu maior esplendor. Um homem está olhando atentamente para um lago profundo, em cuja superfície a Lua se reflete admiravelmente e, dirigindo-se a um amigo que está ao seu lado, lhe diz: – Como a Lua está linda esta noite, tão cheia e brilhante!

Porém, apenas acaba de falar, seu companheiro deixa cair uma pedra dentro do lago e logo o primeiro exclama: – Que é isto? a Lua fez-se em pedaços, e os seus fragmentos estão batendo uns contra os outros na maior confusão!

– Que absurdo! – responde seu companheiro. – Olhe para cima e você verá que a Lua não mudou em coisa alguma. A superfície da água do lago, que a reflete, é que sofreu mudança, ficando agitada.

Amigo crente, aplique a você mesmo este simples exemplo. O seu coração é como o lago. Quando você não concede nele lugar para o mal, o bendito Espírito de Deus revela a você as perfeições e glórias de Cristo, para sua consolação e gozo. Mas no exato momento em que você acolhe em seu coração um mau pensamento, ou que de seus lábios escapa uma palavra ociosa, sem ser logo julgada, o Espírito Santo começa, por assim dizer, a alterar a superfície do lago, e a sua felicidade e gozo se desvanecem fazendo com que você fique inquieto e perturbado até que, com espírito quebrantado diante de Deus, Lhe confesse o pecado que tem sido a causa da sua perturbação. Aí então ficará restaurado o sossego de seu espírito, e você desfrutará de novo o gozo da comunhão com Deus.

Enquanto o seu coração se sente assim intranqüilo, porventura você acha que a obra de Cristo sofreu alguma mudança? Isto jamais poderá acontecer; e por conseqüência também a realidade da sua salvação não sofreu mudança. Mudou a Palavra de Deus? É claro que não. Então permanece inabalável a certeza da sua salvação. O que foi que mudou então? A ação do Espírito Santo em você. Ele, ao invés de lhe mostrar as glórias do Senhor Jesus, e de assim encher o seu coração com o sentimento do valor da Pessoa e da obra de Cristo, Se vê na necessidade de deixar essa preciosa ocupação para encher a sua consciência com o sentimento do seu próprio pecado, sua fraqueza e sua falha. Ele o privará de Sua consolação e de Seu gozo enquanto você mesmo não se julgar, reprovando o mal que Ele julga e reprova. Quando isto, porém, acontece, restabelece-se novamente a sua comunhão com Deus. Que, pela graça do Senhor, tenhamos sempre uma santa vigilância sobre nós mesmos, a fim de não entristecermos “o Espírito Santo de Deus, no Qual estais selados para o dia da redenção” (Ef 4:30).

Querido leitor, por mais fraca que seja a sua fé, fique certo de que o bendito Senhor em Quem você tem depositado sua confiança jamais mudará. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13:8). A obra de Cristo consumada jamais mudará: “tudo quanto Deus faz durará eternamente: nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar” (Ec 3:14). A Palavra por Deus pronunciada jamais mudará. “Secou-se a erva, e caiu a sua flor: mas a palavra do Senhor permanece para sempre” (1 Pd 1:24-25).

Assim pois o alvo da nossa fé, o fundamento da nossa esperança, e a base da nossa certeza, são igualmente perduráveis. Com confiança então podemos já cantar:

Ó Deus e Pai, Te agradecemos

A paz, perdão e Teu amor,

Com gratidão reconhecendo

Que temos parte em Teu favor.

Permita-me, pois, leitor, que pergunte a você uma vez mais: “Em que classe você está viajando?” Eleve a Deus o seu coração e dê-Lhe já, sem demora, a sua resposta.

“Quem a Deus não crê mentiroso o fez: porquanto não creu no testemunho que Deus de Seu Filho deu” (1 Jo 5:10).

“Aquele que aceitou o Seu testemunho, esse confirmou que Deus é verdadeiro” (Jo 3:33).

Querido leitor, meu desejo é que a alegre certeza de possuir esta salvação tão grande encha o seu coração e domine toda a sua vida, agora e até que Jesus venha.

G. Cutting