Zacarias 4:10
Para o mundo, hoje é o dia das grandes coisas. Em matéria de guerra, antigamente os homens estavam satisfeitos em contar seus exércitos em milhares, mas agora os milhares são desprezados – as nações devem ter seus milhões de soldados. Em matéria de finanças, onde antes as fortunas eram avaliadas em alguns poucos algarismos, agora fortunas com valores expressos em vários dígitos passaram a ser consideradas apenas como pequenas heranças. Um milionário do passado seria considerado, na avaliação de hoje, apenas um pequeno capitalista. Na vida rural, onde antes um paciente agricultor cultivava alguns poucos hectares, agora grandes máquinas revolvem quilômetros de terra que produzem milhões de fardos de grãos em uma única fazenda. Em matéria de educação, as universidades, faculdades, seminários e escolas técnicas multiplicam-se sem parar, e multidões seguem carreiras em busca de conhecimento e diplomas. Metrópoles florescem onde antes havia cidades; grandes cidades substituíram os povoados. Extensas redes de ferrovias e auto-pistas se emaranham pelos continentes, e o pulsar das máquinas palpita em todo centro industrial. Em resumo – o mundo parou de se importar com o que é pequeno ou insignificante.
Se isso fosse tudo, não haveria com quê o cristão se preocupar, pois por que razão deveríamos nos preocupar com os feitos e vanglórias deste pobre mundo? O cristão sabe onde isso terminará – sabe que está reservado para o juízo. O cristão entende, também, que ele não é deste mundo – que pertence a um outro mundo.
Mas não é tudo. O mundo não está sozinho nessa sua vanglória. Cristãos professos têm sido infectados com o mesmo espírito de ostentação, com o triste resultado de estarem se gloriando em sua própria vergonha (Fl 3:19). A condição resultante é que nenhuma atividade cristã é hoje reconhecida como tendo qualquer mérito, se não puder ser exibida diante do mundo como digna de ser comparada com as grandes realizações do mundo. Dessa forma introduziu-se a cobiça por grande número de membros, e movimentos do tipo “Programa dos Cinco Anos”, “Homens e Milhões”, ou “Década da Colheita” são frases proferidas com orgulho por cristãos professos em todo lugar. Evangelistas que não puderem contar os seus convertidos às centenas e milhares não são desejados. O evangelismo tornou-se um negócio, e a obra de Deus passou a ser medida por seus números.
O cristão não deveria se valer do modo de agir deste mundo para aplicá-lo à obra de Deus. Mas será que, agindo assim, o cristão não ficaria desanimado por poder fazer tão pouco? Deus nos livre de tal pensamento! Aplique a afiada espada da Palavra de Deus a essas bolhas infladas do orgulho humano e veja quanto disso tudo irá passar pelo teste. O que é que encontro na Palavra de Deus acerca de todos esses métodos modernos associados à a obra de Deus? A Palavra nos fala de um caminho estreito e que são poucos os que o encontram, e nos fala de um pequeno rebanho ao qual o Pai dá o reino. São aqueles com pouca força que encontram a aprovação do Senhor (Ap 3:8). “Bem está, servo bom, porque no mínimo foste fiel, sobre dez cidades terás autoridade.” (Lc 19:17). Madeira, feno e palha parecem grandes coisas antes do fogo (1 Co 3.12), enquanto que ouro, prata e pedras preciosas parecem pequenas. A recompensa de Deus está depois, e não antes do fogo. Não existe recompensa reservada para cinzas.
Se tomarmos o Senhor, os profetas e os apóstolos como exemplo, o que aprenderemos de suas atividades para Deus? Vejo Jônatas e seu escudeiro, com Deus, fazendo mais em uma noite do que Israel com seus exércitos em quarenta dias de atividade humana (1 Sm 14:1-16); e Davi com a ajuda de Deus usando apenas sua funda para derrotar Golias. O próprio Senhor estava satisfeito em Se deter junto ao poço de Sicar para poder saciar a uma pobre, rejeitada e sedenta mulher, ou ainda a sacrificar Suas horas de sono para trazer esclarecimentos a um fariseu sincero. Ele Se contentava em gastar um dia com um desprezado coletor de impostos, e estava satisfeito por ter, no final de Sua vida de ministério, meras cento e vinte pessoas esperando por Sua promessa em Jerusalém (At 1:15).
Filipe podia deixar seu trabalho em Samaria para ministrar Cristo a um homem solitário no deserto. Pedro podia caminhar cerca de 40 quilômetros para pregar o evangelho a uma família (At 10). O grande apóstolo Paulo podia ministrar a um punhado de mulheres à beira-mar, ou declarar o caminho da salvação a um pecador solitário à meia-noite. No final da vida de Paulo, muitas das pequenas assembléias que foram o resultado do trabalho de sua vida podiam se reunir confortavelmente em casas particulares, e ainda assim nunca o vimos tentando se justificar por não ter números maiores para apresentar. (Rm 16:5; 1 Co 16:19; Cl 4:15; Fm 2).
Agora, como cristãos à luz das Escrituras, será que devemos desprezar o dia das coisas pequenas? Não! Obedeçamos a palavra de Jeremias, quando ele disse, “Procuras tu grandezas? Não as busques” (Jr 45:5). Deus não considera algo de pouca importância o sermos fiéis à Sua Palavra e fazermos Sua vontade em um dia quando Sua Palavra é deliberadamente ignorada e abertamente desobedecida para se conseguir grandes números e espetáculos religiosos.
Considere ser algo de grande importância quando falar de Jesus àquele seu colega de escola, ou ao seu companheiro no trabalho. Dê um folheto evangelístico ao balconista do armazém, ao vendedor que bate à sua porta, ou à pessoa que está sentada ao seu lado no ônibus. Dê grande valor à sua pequena classe de escola dominical. É melhor encaminhar uma alma, como pecador perdido, para os pés de Jesus a fim de receber salvação, do que enganar mil pessoas levando-as a uma profissão vazia de fé. É muito melhor ouvir de nosso Senhor o “Bem está” por alguma pequena coisa feita corretamente, do que o aplauso do mundo e a repreensão do Senhor por grandes coisas que Sua Palavra claramente condena (Ap 3:15-18).
J.T.Armet