QUAL O TEU DESTINO?
AVANÇANDO, tão depressa!
Sim, mas que destino tens?
Será para a glória eterna De felicidade e bens?
Avançando, tão depressa, Sim, mas que destino tens?
Avançando, tão ligeiros, — Nada o tempo pode sustar!
— Alguns há que estão seguindo Para o glorioso Lar, Avançando! Bem alegres, Cristo é Guia pra os levar. Avançando, pra desgraça — Muitos seguem rumo tal, Descurando o perigo Da sua alma imortal, Avançando, indiferentes, Para a perdição total.
Eis veloz, com passo certo, Breve o tempo vai findar.
Pecador! Ouve o convite, Cristo pode a vida dar Vem a Cristo, sem demora; Só Jesus pode salvar!
O QUE SUCEDEU NUMA TRINCHEIRA
CERTA MANHÃ, estávamos defendendo uma trincheira, na histórica região de Somme, bombardeados, como de costume, pelo fogo inimigo. De repente, vimos uma nuvem negra de fumaça ao explodir um projétil cujos estilhaços zuniam ao passar por nossos pés. Então o pobre companheiro Bertrand caiu por terra. James “Pequeno” (que tinha quase dois metros de altura!) e outro soldado saltaram para a cova produzida pela explosão e levantaram-no, verificando logo que seu estado era desesperador. Não havia posto de socorro perto, e alguns soldados juntaram uns sacos vazios, dos que tinham estado cheios de areia, e um velho capote, e encostaram neles o Bertrand, no fundo da trincheira, para morrer.
Passado pouco tempo, James ficou surpreendido ao ouvir uma voz perguntando: — Pode me dizer qual o caminho para o Céu?
James saltou para perto de Bertrand e respondeu: — O caminho para o Céu? Sinto muito, meu amigo, mas não sei! Vou perguntar aos outros.
Voltou ao banco de tiro e perguntou ao companheiro mais próximo, mas este também ignorava o caminho. A pergunta foi passando de um para outro: “O Bertrand está morrendo e quer saber qual o caminho para o Céu; você pode informar?” A pergunta passou por dezesseis soldados naquela trincheira, sem que qualquer deles pudesse explicar ao amigo moribundo como ele poderia ser salvo! Imagine! Dezesseis jovens criados num país que se diz cristão, e nenhum deles podia prestar auxílio a um amigo na hora da morte! É muito triste ver um amigo morrer sem poder ajudá-lo! De nada serve consolá-lo com aquilo se supõe ou se imagina! Ah, não, o que ele necessita é a verdade!
Quantos há como aqueles dezesseis! E você, o que diria? Será que você poderia abrir o velho livro da Palavra de Deus, a Bíblia, e mostrar-me o lugar onde claramente se explica o Caminho que Deus indica para o Céu?
O décimo sexto soldado saltou do banco de tiro e foi correndo para o próximo posto, onde outro se mantinha alerta. Este sentiu uma mão batendo em suas costas e ouviu o companheiro, que gritava: — Há um dos nossos que foi atingido; está prestes a morrer e deseja saber o caminho para o Céu. Você pode dizer-lhe?
Virando-se, o interrogado respondeu, com um sorriso iluminando seu rosto: — Sim, eu posso! Enfiando a mão no bolso da camisa, tirou um Novo Testamento e, abrindo-o rapidamente, observou: — Vê este versículo sublinhado à lápis?. Coloque seu dedo neste versículo. Diga a ele que é este o caminho.
O décimo sexto soldado voltou correndo, passou a mensagem e o Novo Testamento de um para outro e, logo depois, James “Pequeno” o tinha em sua mão. Novamente aproximou-se de Bertrand, que jazia imóvel. Tocou-lhe no ombro e vagarosamente Bertrand abriu os olhos.
— Está aqui, Bertrand, querido amigo; aqui está o caminho para o Céu: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).
Logo, uma imensa paz expressou-se no rosto de Bertrand que, com a voz sufocada, procurava dizer: — Todo aquele…
Depois, mostrou-se calmo e sereno. De repente, dando um último suspiro, exclamou: — TODO AQUELE! — e morreu.
Que grande mudança, passar de um campo de batalha para a presença de Cristo!
Querido amigo, eu, que também fui soldado, e que também já encontrei o Caminho, desejo assegurar a você que isto é a verdade: JESUS é, verdadeiramente, o Salvador real; JESUS, que disse, “Eu sou a Porta; se alguém entrar por Mim, salvar-se-á” (João 10.9); JESUS que morreu para nos levar a Deus; Ele próprio, que está agora assentado à destra de Deus, coroado de honra e de glória; Ele é o único Salvador e o único Caminho para o Céu. Ele mesmo disse: “EU SOU o Caminho, e a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai, senão por Mim” (João 14.6).
“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4.12).
OS LENHADORES
AO AMANHECER de um dia de outono, dois homens seguiam através de um pinheiral. A cada lado se erguiam os troncos, direitos como colunas, e, muito acima das cabeças daqueles homens, os ramos formavam densa cobertura verde. O tapete de relva que pisavam amortecia o som de seus passos.
Timothy era baixo e corcunda, com os braços compridos e fortes. Apesar de sua deformidade física, e da barba e cabelos escuros emaranhados, era amável. Com o rosto voltado para cima contemplava Raymond. Este, recém-chegado ao acampamento, era mais novo, alto e forte, e andava orgulhosamente ereto. Era louro, de feições bem marcadas e olhos azuis.
— Raymond, você tem muito que agradecer.
— Eu?
— Sim — e Timothy recusou-se alegremente a prestar atenção no tom de escárnio na voz do companheiro. — Nada sei de sua vida, dos anos que ficaram para trás, nem sei o que fez você vir para este lugar; mas é alto e forte, conhece livros e deve ter tido muitas oportunidades. Os rapazes aqui são diferentes, mas tudo demonstra que você já teve sorte na vida, Raymond.
Logo chegaram a uma clareira no bosque. Timothy atirou o casaco ao chão, pegou no machado e começou, com golpes fortes, a cortar um pinheiro alto. Raymond ficou parado, em profunda meditação. Oportunidades? Sim, de fato não lhe tinham faltado, mas não as havia aproveitado. “Ninguém tem o direito de se intrometer na minha vida”, pensou consigo, procurando esquecer-se dos conselhos de seu idoso pai. “Bem, já me encontro livre das velhas superstições; contudo às vezes me pergunto se esta liberdade vale o preço que paguei para a obter…”
O acampamento Haskin estava situado no norte de Minnesota. Havia apenas três semanas que Raymond chegara. Os homens eram rudes e incultos. Muitos deles tinham o vício da embriaguez, enquanto que o praguejar e o desprezo pelo dia do Senhor eram constantes e não se constituía uma exceção à regra.
Timothy havia sido membro do grupo por muitos anos. Apesar de sua falta de inteligência e de sua deformidade física, era popular entre seus companheiros. Surpreendia a todos sua amizade pelo alto Raymond, manifestando a sua admiração por este de muitas, embora modestas formas, assim merecendo do jovem amável complacência.
Certo dia, quando caía forte nevasca por já ter chegado o inverno, Raymond e Timothy trabalhavam com um numeroso grupo de lenhadores. De repente, uma árvore enorme tombou, caindo com grande estrondo. Acima do barulho destacou-se um grito de horror e sofrimento. Era Timothy, o pobre aleijadinho. Por desgraça fora colhido por um grande ramo da árvore, que agora o prendia ao solo. Raymond foi o primeiro a chegar perto dele. Com todo o cuidado, os homens libertaram-no, encontrando o pobre corpo encurvado horrivelmente mutilado.
— Parece que estou no fim, rapazes — disse ele, esforçando-se por dominar a voz. — Ah, Raymond, fique perto de mim. Ai! tenham cuidado!
Levaram-no ao acampamento. Um homem montou logo a cavalo, para ir à aldeia mais próxima, a quase cinquenta quilômetros de distância, a fim de chamar um médico. Todos recearam que Timothy não estaria vivo quando o médico chegasse, tão intenso era o seu sofrimento. Quando o deitaram numa cama tosca, perto do braseiro, olhou ansiosamente para os rostos dos seus companheiros.
— É a morte, rapazes. Falem-me de Deus. Nunca me falaram dele.
Um silêncio estranho desceu sobre o grupo de homens, silêncio interrompido apenas pelo barulho do vento lá fora. Timothy tornou a falar: — Raymond, fale-me dele. Com certeza você deve saber, pois é diferente de todos nós.
Todos fitaram o jovem. Este inclinou-se mais para Timothy, perguntando-lhe: — O que é que você quer ouvir?
— Tudo a respeito de Deus. Como pode ver, pouco sei. Será que não pode falar dele? Faça uma oração por mim.
O rosto de Raymond tornou-se pálido e austero. Seu pai pregava o Evangelho, e ele mesmo já havia estudado a Bíblia.
Mas, pela influência de um colega de escola ateu, e pela leitura de livros que este lhe emprestava, a dúvida havia se introduzido na mente de Raymond. Dominado pela ideia de superioridade do seu intelecto, o jovem havia se firmado nessa atitude até chegar o dia em que zombara da fé de sua falecida mãe e negara a existência de Deus. Resolvera desprender-se de tudo aquilo que o ligava ao lar paterno. Escreveu ao pai uma carta arrogante anunciando-lhe sua mudança de pensamento, e saiu para o mundo, sem deixar vestígio de seu paradeiro.
Seguiram-se dias tenebrosos. Teve que aprender quão vazia é a vida sem esperança em Deus. Teve saudades da voz do seu querido pai; porém o orgulho não permitia que regressasse ao lar e pedisse perdão. No seu desespero, fez-se contratar pelo capataz do acampamento de lenhadores de Haskin.
Tudo isso voltou-lhe à memória num momento. Este pobre companheiro moribundo estava pedindo-lhe que rogasse a Deus por ele. Soltou dos lábios um gemido.
— Timothy; não posso! Eu… — e calou-se, incapaz de dizer que não acreditava no Deus a Quem, na hora da morte, até Timothy queria voltar-se.
— Não pode? Ora, eu julgava que você O conhecesse!
Raymond não podia mais suportar. Saiu correndo pela porta, em plena nevasca. Andou de um lado para o outro na floresta, sem fazer caso do vento ou da neve. Enfrentou e lutou com o problema do relacionamento do homem com o seu Deus. Estava a sós com Deus. Naquela hora desapareceu o seu ateísmo. As teorias da ciência, nas quais havia depositado a sua confiança, desmoronaram-se debaixo de seus pés. Só ficava um alicerce inabalável.
Começava a escurecer no quarto onde Timothy estava deitado, quando a porta se abriu e Raymond entrou. Com passo firme, aproximou-se do moribundo.
— Timothy; estive em contato com Deus. Ele perdoou-me, apesar de todo o meu pecado. Agora venho falar a você do Seu amor.
Com simplicidade e ternura, contou a história do amor de Deus, que O levou a enviar Seu Filho amado ao mundo para morrer pelos pecadores, levando sobre Si os pecados de todos os que depositem a sua confiança nele como Salvador de suas almas.
“Deus prova o Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8).
“O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 João 1.7).
Outros se aproximaram, reunindo-se em volta da cama. Poderiam eles duvidar da verdade das palavras faladas, quando contemplavam o brilho no rosto de Timothy?
— Posso ver — disse ele.
Raymond ajoelhou-se. Um após outro, aqueles homens rudes caíram de joelhos. Nunca Raymond orara como nessa hora. Deus estava com ele. Em torno de si estavam homens que, no dizer de Timothy, nunca tiveram uma chance na vida. Raymond orava com uma fé nascida da certeza absoluta da prontidão da boa vontade de Deus para salvar.
— Está tudo bem — murmurou Timothy.
— Vou para Ele, Raymond! Conta a todo mundo…
— Sim, Timothy, vou passar a minha vida contando a todos.
— Graças Te dou, meu Deus. — disse o moribundo com a voz já enfraquecida. Mais alguns momentos, e tudo estava terminado.
Raymond voltou-se, então, para os companheiros: — Timothy já partiu, rapazes! Vocês ouviram a minha promessa a Timothy. Peço que me perdoem pelo espírito que tenho manifestado para com todos, e permitam que eu inicie o meu serviço pregando a vocês.
— Muito bem; queremos ouvir — respondeu o que era capataz. — Quando chegarmos aonde está o Timothy, desejaremos ter ouvido.
Então Raymond contou a história, tão antiga, mas sempre atual, de Jesus e do Seu amor.
Naquela noite, antes de se deitar, Raymond escreveu uma longa carta ao pai. Ficaria onde estava até receber resposta a essa carta. Na noite seguinte começou a reunir seus companheiros para contar-lhes a história de Cristo, da Sua morte e ressurreição.
Chegou a terceira noite. No fim da palestra, simples mas tocante, que Raymond dirigira, a porta abriu-se e entrou um estranho, homem alto e magro, com cabelos brancos como a neve.
— Meu pai! — exclamou Raymond.
— Meu querido filho! Vim aqui para ajudá-lo! — E Raymond foi envolto nos braços de seu pai.
O trabalho assim iniciado no acampamento de Haskin continuou, até que setenta almas foram levadas ao conhecimento do Senhor Jesus como Salvador.
DORMINDO NA CANOA
HÁ ALGUNS ANOS, perto das Cataratas do Niágara, havia um jovem que trabalhava como guia de turistas. Um dia, não tendo o que fazer, amarrou sua canoa num lugar bem acima das cataratas e deitou-se dentro dela para descansar. Embalado no seio das águas sempre agitadas, adormeceu. Julgava ter amarrado o barco com segurança, mas, com o constante balançar, a corda desprendeu-se e, finalmente, a canoa começou a ser levada pela correnteza, com seu tripulante inconsciente do que se passava. As pessoas que se encontravam na margem, percebendo o grave perigo em que o jovem se encontrava, gritavam em alta voz, na esperança de o acordar para que se salvasse, enquanto a correnteza não fosse forte demais. Porém, foi em vão que se esforçaram.
Em dado momento o barco encalhou num rochedo que sobressaía no meio do rio. Ao notarem isso, os observadores redobraram seus esforços para despertar o adormecido, gritando freneticamente: — Agarre no rochedo! Salte para a rocha!
Porém, o pobre rapaz continuou dormindo, inconsciente do perigo iminente que o ameaçava. Não demorou para que a força da correnteza afastasse o barco do rochedo e o levasse a grande velocidade para as cataratas. O infeliz só foi acordado pelo estrondo ensurdecedor das grandes massas de água, pelas quais foi arrastado para a morte.
Que horror! Dormindo na canoa! Tranquila e inconscientemente deslizando para as garras da morte! Só de pensar nisto já nos faz estremecer. Contudo, isto serve para descrever muito nitidamente a indiferença das almas em nossos dias, muitas das quais completamente despreocupadas quanto ao seu rumo fatal; profundamente adormecidas nos seus pecados e, talvez, embaladas na maré dos prazeres terrestres ou encantadas por infundada confiança numa vida sem defeito, ou numa religião professa. TODOS DORMINDO NA CANOA!
“O deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Coríntios 4.4).
Desperta, tu que dormes” (Efésios 5.14).
Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e a tua casa” (Atos 16.31).
A FAVOR OU CONTRA
Uma Cena no Tribunal de Pequenos Delitos em Manchester — JÁ DISSE que não o roubei. Comprei-o! — repetia, até que por fim os magistrados se viram obrigados a mandar que se calasse.
Deduzia-se que Kelly fora preso, acusado de ter roubado um relógio de bolso. Não havia dúvida alguma de que o relógio tinha sido roubado e que fora encontrado em poder de Kelly, o que constituía, na opinião tanto dos policiais como dos magistrados, prova suficiente para o condenar. Justamente no momento em que os magistrados pareciam ter chegado a uma decisão quanto à pena a aplicar a Kelly, pedi licença para depor como testemunha.
— O que deseja? — perguntou o magistrado.
— Quero falar algo a respeito deste caso, senhor.
Ao ouvir as minhas palavras, Kelly virou-se para mim, encolerizado: — Não queiram ouvi-lo. Ele nada sabe disto. Só vai mentir com o propósito de me incriminar. Quer agravar a minha pena!
Foi quase inútil eu dizer ao Kelly que sossegasse e que me escutasse. Parecia julgar que, vestindo eu a farda de sargento da Polícia, não podia deixar de ser contra ele. Finalmente os magistrados conseguiram fazê-lo calar, e me mandaram depor.
— Há algumas semanas, eu levava, de trem, dois presos para a cadeia de Strangeways. Eu estava sentado de um lado do vagão e os dois presos estavam sentados do lado oposto. Ouvi um deles dizer ao seu companheiro: — Enganei o Kelly há alguns dias!
— Ah! Sim? E como fez isso? — perguntou o outro.
— Vendi a ele um relógio por trinta shillings, e nem sequer cinco shillings valia!
Como se transformaram os rostos de todos no tribunal! Quanto ao Kelly, olhou para mim como se quisesse me beijar! Logo se vê que foi absolvido, apesar das provas circunstanciais que lhe eram contrárias. O meu depoimento pesou mais do que tudo quanto havia contra ele. Porém, entenda que se ele tivesse conseguido o seu desejo de me impedir de falar, nunca teria chegado a descobrir que eu, afinal, só nutria a maior boa vontade para com ele.
É assim mesmo que muitos tratam a Deus. Não O querem ouvir, pois julgam que é contra eles, quando na verdade Deus é a favor deles. “Porque Deus enviou Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele” (João 3.17).
Kelly era inocente; mas o coração de Deus pode, com toda a justiça, sentir boa vontade para com o culpado, absolvendo-o e deixando-o sair em liberdade. Não há nenhum tribunal que possa assim proceder sem sacrificar seu nome e caráter. Porém Deus pode ser, ao mesmo tempo, um “Deus Justo e Salvador” (Isaías 45.21). Pode ser “Justo e Justificador daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3.26). E pode ainda ser Aquele “que justifica o ímpio” (Romanos 4.5).
Na verdade, Deus, que parece ser contra o homem, como testemunha de acusação, tem por nós muito amor, o que nos leva à seguinte questão: Como pode esse Deus justo, com base na justiça perfeita, perdoar e libertar o homem, quando o próprio Deus já demonstrou ser o homem culpado?
A resposta é: Por meio de substituição. Esta é a única resposta possível. Na Cruz de Cristo vemos evidenciado o amor de Deus para com o pecador, pela dádiva do Seu Filho, o ÚNICO capaz de tomar o lugar do pecador, por ser Ele próprio isento de pecado. Cristo levou Ele mesmo os pecados do pecador (1 Pedro 2.24), padeceu por amor do pecador (1 Pedro 3.18), morreu pelo pecador (Romanos 5,6), e, portanto, o ímpio pecador pode ser perdoado e sair livre.
A VOLTA DO SOLDADO FERIDO
NUMA CERTA MANHÃ, no ano de 1863, chegou ao cais de Norfolk, Virgínia, Estados Unidos, um navio a vapor carregado de passageiros pouco comuns. Tinha sido efetuada uma troca de prisioneiros feridos e doentes entre os exércitos da União e da Confederação, e esse vapor transportava centenas de soldados da União que haviam sido feitos prisioneiros e tinham estado internados nos hospitais da Confederação.
Muitos deles estavam num deplorável estado de miséria e sofrimento. Entre eles encontrava-se um jovem de menos de vinte anos de idade, cujos padecimentos de feridas e doenças o haviam enfraquecido sobremaneira. Fora criado delicadamente em um lar de fino trato na Filadélfia, mas a vida no cárcere do exército inimigo, e a prolongada falta de cuidados, tinham sido para ele intoleráveis, deixando seu corpo em estado lastimável, coberto de chagas e cheio de parasitas.
Um irmão mais velho, abastado negociante em Filadélfia, mandara dizer-lhe que iria ao seu encontro em Norfolk. Ao receber esta notícia, disse logo aos companheiros: “Certamente ele não vai me reconhecer”. Contou-lhes como o lar de seu irmão era tão elegante e limpo, e acrescentou que, com a mudança que se operara nele, certamente não o desejaria receber em sua casa. “Encontro-me tão mudado”, disse ele, “que William não irá me reconhecer, e se me reconhecesse, certamente não estaria disposto a receber-me em sua casa. Terei de ir para o hospital e lá morrer”. Em seguida, o pobre rapaz desatou a chorar, contemplando sua roupa tão suja e esfarrapada, e o corpo emagrecido.
Logo que o navio atracou ao cais, um homem forte e bem vestido saltou para o convés. Era William, seu irmão. Havia horas que estava ali, aguardando a chegada do navio. Tinha uma carruagem munida de boas almofadas e cobertores, para levar o irmão para o trem. Tinha obtido licença de Washington para levar seu irmão para casa e, com o semblante a manifestar ansiedade, andou pelo convés em busca dele.
Não demorou para chegar perto de seu irmão, porém não o reconheceu. Sentiu-se mal ao contemplar aquele ser tão desgraçado. Tinha feridas na boca e no nariz, o rosto desfigurado, o cabelo despenteado e grudado às manchas pustulentas que trazia na testa; pés descalços e cheios de fendas causadas pelo escorbuto. Sua roupa estava reduzida a trapos imundos. Ao ver aquilo, William voltou-lhe as costas, impulsionado por profundo sentimento de nojo.
O coração do pobre jovem doente esmoreceu. “Era isto que eu receava”, pensou consigo, “William não me reconheceu e teve nojo de mim. Ele estava tão limpo e bem vestido! No estado em que me encontro agora, nunca poderá desejar ter-me ao seu lado”. E assim não teve coragem de chamar por ele.
Seu irmão passou pela segunda vez sem que o reconhecesse; pelo que continuou sem ânimo de lhe dirigir palavra. Mais uma vez o irmão deu a volta por todo o convés do navio, indo de soldado a soldado. Quase chegou à conclusão de que seu irmão não estava ali, e teve receio de que tivesse morrido na viagem. No entanto, fazendo ainda mais um esforço, encontrou-se, pela terceira vez, junto daquele a quem buscava. Contemplou-o com atenção, mas ainda sem dar sinal de o haver reconhecido. “Coitado”, pensou, com profunda compaixão. Mais uma vez virou-se para se afastar, quando uma débil voz o fez parar.
— William! não me reconhece? — foram as palavras proferidas pelos trêmulos lábios do pobre enfermo.
— Meu querido irmão! Por que não me chamou antes? — foi a resposta aliviada daquele homem.
Tomou em seus braços aquele corpo magro, levando-o logo — trapos, imundície, feridas e tudo mais — para a carruagem que os esperava. As suas forças, o seu dinheiro, o seu lar, tudo quanto possuía estava à disposição de seu pobre irmão, e o fato de ser rico nunca tivera tanto valor, aos seus olhos, como agora, quando de tudo isto se podia valer em benefício de seu irmão.
Leitor: pode ser que a compreensão de seu estado pecaminoso, desgraçado e das chagas morais de muitas espécies, faça você sentir vergonha e receio do Senhor Jesus, assim como aquele pobre soldado sentia de seu irmão. O contraste entre você e Cristo é bem maior, sem dúvida. Se você fosse levado, tal como está, em seus pecados, para a presença do Senhor no lugar onde Ele Se encontra, na luz, santidade e glória do Céu, sentiria quão grande é o contraste que existe entre o seu estado e o dele, e isto encheria seu coração de desespero.
“Desde a planta do pé até à cabeça não há nele cousa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres, não espremidas, nem ligadas com óleo” (Isaías 1.6).
Contudo, o negociante de Filadélfia, por mais contente que estivesse ao tomar o irmão nos braços, e cuidar dele com tanta ternura, quando o achou, não sentia nada que se compare ao gozo imenso que o Salvador sente quando encontra um pobre pecador que confesse a sua necessidade de salvação.
Cristo aceita o pecador, Coberto com as chagas do pecar; Livra-o, e logo o transforma Em alguém apto ao Céu entrar.
“O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6.37).
O FILHO PRÓDIGO
Evangelho de Lucas 15.10-24
“HÁ ALEGRIA diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende. E disse: Um certo homem tinha dois filhos; E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente.
E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti; Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros.
E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa o melhor vestido, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés; E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos; Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se.”
Tal como o pai recebeu com alegria o filho há tanto tempo perdido, como conta o capítulo quinze do Evangelho de Lucas, assim também Deus acolhe com o mais profundo regozijo, e com hospitalidade celestial, o regresso do mais vil pecador. O próprio Deus concede uma purificação perfeita, um vestuário novo e completo, um magnífico banquete e o gozo celestial que nunca terá fim.
O Salvador suportou todo o sofrimento — a morte para tirar o pecado — tomando sobre Si todo o castigo que deveria cair sobre nós; e agora, que tudo está pronto, convida você a lançar-se em Seus braços, sendo bem vindo ao Seu coração; bem vindo para todo o sempre no Seu Lar.
Oh! que será com Cristo estar, longe de todo o mal, Na santa companhia do Pai, na glória divinal Seu lar ser nosso, o santo amor em que esse filho está; O bom quinhão que Cristo tem — ser nosso gozo lá!
A GRAÇA DE DEUS
CONTA-SE a seguinte história de uma pobre mulher que estava enfrentando grandes dificuldades financeiras.
Um cavalheiro bondoso, sabendo da sua situação, quis visitá-la, com a intenção de a socorrer. Bateu à porta de sua casa durante bastante tempo, e, como ninguém a abrisse nem desse qualquer sinal, chegou à conclusão de que ela não estava, e retirou-se.
Pouco tempo depois, encontrou-a e contou-lhe que tinha ido à sua casa para lhe prestar auxílio.
— Oh! — exclamou a mulher — Então foi o senhor que esteve batendo à porta?
Peço desculpas. Julgava ser o dono da casa que tinha vindo cobrar o aluguel e tive receio de atender por não ter como pagar.
Da mesma forma como esta pobre mulher tratou o cavalheiro que desejava ajudá-la, há hoje milhares de pessoas que tratam Deus assim. Quando Ele bate à porta de seus corações, acham que Ele vem com o propósito de lhes cobrar alguma coisa; mas como se enganam! Deus não vem pedir a você o pagamento da grande dívida que você tem para com Ele, mas vem, isto sim, oferecer tudo aquilo que você necessita para sair da miséria em que se encontra. Ele quer dar a você uma herança eterna. “Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos” (Marcos 10.45).
‘Eis que estou à porta, e bato” (Apocalipse 3.20).
À porta chamo, alma triste, Ansioso por te consolar: Se minha voz, enfim, ouviste, Posso Eu entrar?
Posso Eu entrar?
À porta, por amor levado, Procuro já teu mal sanar; Ó pecador desalentado, Posso Eu entrar?
Posso Eu entrar?
A minha graça poderosa, O teu pecado vem lavar; Ó alma impura, pesarosa, Posso Eu entrar?
Posso Eu entrar?
Do Céu te trago vida e gozo, Que podes hoje desfrutar; E tudo te darei, gozoso; Posso Eu entrar? Posso Eu entrar?
NÃO É PARA MIM!
“SEM DINHEIRO e sem preço” (Isaías 55.1). Tais são as condições da oferta, que Deus faz a todos, do dom da vida eterna. Mas, quão poucos são aqueles que a aceitam nestas condições.
Um amigo dos pobres tinha por costume encomendar, com frequência, 250 quilos de carvão, usado nos fogões e no aquecimento das casas, mandando entregá-lo em casas de pessoas que sabia estarem em precárias circunstâncias. Como o inverno era rigoroso, o frio intenso, e tudo cobria-se de neve, o gentil benfeitor ficava radiante de alegria pelo conforto e agasalho que suas dádivas iriam causar em muitos corações e lares.
A carroça do carvão parou em frente de uma casa de aspecto pobre e desolado, e o carroceiro bateu à porta e disse ao velhinho, que ali morava, que trazia carvão para ele.
— Quem foi que mandou?
— Não sei — disse o carroceiro, — mas mandaram-me entregá-lo aqui; aqui está.
— Deve ser engano; não é para mim — respondeu o velho. — Eu não tenho tal sorte; não tenho nenhum amigo que me mande carvão de graça. Leve-o; não é para mim, e não quero mais saber disso!
— e fechou a porta. Foi-se embora a carroça levando a dádiva que tinha sido destinada ao velhinho.
No dia seguinte, foi vista a mesma carroça, parada à entrada de uma outra casa pobre da cidade, e o mesmo carroceiro, com 250 quilos de carvão, batia à porta.
— Trago-lhe carvão — disse ele em tom alegre; — Onde quer que o ponha?
— Não é para mim — respondeu o homem que abriu a porta, — Deve ser um engano.
— Não, não há engano — disse o carroceiro. — Olhe; aqui está a nota da encomenda: “Casa nº 24; 250 quilos de carvão”. Está bem claro. Não há nenhuma dúvida, não é mesmo?
— É verdade que este é o número de minha casa — respondeu o outro, — mas este carvão não é meu, e por isso não o posso receber. Deve ser para outra pessoa!
— Ora essa! — replicou o carroceiro, coçando a cabeça com ar atrapalhado.
— Este carvão já está me intrigando! Já chega de desencontros. Até parece que estou trazendo veneno! Chega uma bela dádiva de carvão e vocês recusam-se a aceitá-la. Mas, seja como for, o carvão vai ter que ficar aqui, pois ontem já tive que levá-lo de volta de outra casa onde foi rejeitado. Para mim isto está sendo uma humilhação; portanto, se não abrir a porta da carvoeira, vou despejar tudo aqui, bem em frente de sua casa.
Devido a tal insistência, o homem acabou abrindo a porta do depósito, dizendo: — Com certeza você terá que voltar aqui outra vez para buscar o carvão; portanto, não vou insistir nisso. Mas se for mesmo para mim, ficarei muito agradecido.
Mais uma casa foi visitada pelo carroceiro, com a carroça carregada de carvão. Bateu à porta e disse à mulher que atendeu, que trazia carvão para ela.
— Para mim? — disse ela; — Não pode ser; deve ser para outra pessoa.
— Não, minha senhora; aqui está o número da sua casa bem legível: “Nº 8, 250 quilos de carvão”.
— É verdade! Então deve ser Deus que me manda, pois mais ninguém sabe que, há pouco, coloquei no fogão o resto do carvão que tinha. Faça o favor de trazê-lo aqui para dentro. Tenho que agradecer a Deus.
— Sim, talvez assim convenha — disse o homem, porém acrescentando em voz baixa, como se falasse para si, — Esta mulher é que tem juízo, só ela. Os outros são uns tolos.
E quantos insensatos como eles existem aqui no mundo! Apesar de Deus haver dado o Seu Filho para que TODO AQUELE que o aceitar, pela fé, não se perca, mas tenha a vida eterna (João 3.16).
O carvão tinha sido pago por um homem bondoso; e a nossa salvação foi comprada a preço, ou seja, o precioso sangue do Filho de Deus, “O qual Se deu a Si mesmo em preço de redenção por todos” (1 Timóteo 2.6).
Contudo, há muitos que são como aqueles pobres que não aceitaram o presente. Alguns há que, como o velhinho, o recusam em absoluto, dizendo: “Não é para mim”.
Caro leitor: “Se tu conheceras o dom de Deus” (João 4.10), e se você aceitasse a Jesus Cristo como seu Salvador, poderia dizer: “Graças a Deus pois pelo Seu dom inefável” (2 Coríntios 9.15).
GANHO PELO AMOR
CERTO SOLDADO estava para comparecer perante o seu comandante. Era rebelde e muitas vezes havia sido castigado.
— Aqui está outra vez o nome dele sendo mencionado — disse o oficial, ao ler o relatório; — Já foi castigado com prisão, açoites e tudo mais.
Nisto o sargento, pedindo licença, disse: — Há ainda uma coisa que nunca lhe foi feita, comandante.
— E o que é então? — perguntou o oficial.
— Meu senhor — disse o sargento em voz hesitante, — ele ainda nunca foi perdoado.
— Perdoado?! — exclamou o coronel, atônito. Depois, havendo meditado por alguns minutos, ordenou que trouxessem o réu e perguntou-lhe se tinha algo a declarar.
— Nada, meu comandante, a não ser que lamento o que fiz.
Voltando-se com ar bondoso e de compaixão para o soldado, que esperava um castigo ainda mais severo que os anteriores, o coronel dirigiu-lhe estas palavras: — Muito bem; já experimentamos dar-lhe toda espécie de castigos, e agora estamos resolvidos a… perdoá-lo!
Pasmado, as lágrimas saltaram-lhe dos olhos, e o homem chorava como uma criancinha. Humilhado ao máximo, e agradecendo ao comandante, retirou-se. Para voltar a ser o rebelde incorrigível? Não! Tinha sido ganho pelo amor. Aquele que narrou o caso pôde observá-lo durante anos, e nunca houve militar que melhor se comportasse.
Temos aqui algo que nos dá uma pequena ideia de como Deus trata os pecadores. O homem, tantas vezes e de tantas maneiras experimentado, tem sempre falhado. Então, o que Deus deve fazer? A Misericórdia deseja responder: “Seja perdoado”. Mas a Justiça diz: “Não”, pois “o salário do pecado é a morte”, e “sem derramamento de sangue não há remissão”, ou retirada, de pecado (Hebreus 9.22). Não se pode comprometer a santidade de Deus. A morte tem que ser aplicada como castigo do pecado; embora o amor e a graça de Deus O levem a desejar a salvação do pecador, a Sua justiça — que é tão infinita como é a Sua misericórdia — não pode deixar de ser satisfeita. “Seja-vos pois notório, varões irmãos, que por ESTE se vos anuncia a remissão dos pecados. E… por Ele é justificado todo aquele que crê” (Atos 13.38-39). Quem será ESTE? É o Senhor Jesus, o bendito, santo Filho de Deus. O salário do pecado foi pago ao nosso Salvador na cruz. É esta a base do perdão que Deus nos concede. “Deus prova o Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8). “A benignidade de Deus te leva ao arrependimento” (Romanos 2.4).
“Onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Romanos 5.20). “Nós O amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro” (1 João 4.19).
Tal como sou, Tua compaixão Venceu toda a oposição; Para eu pertencer somente a Ti Cordeiro de Deus, eis-me aqui.
O AVARENTO DE MARSELHA
A CIDADE DE MARSELHA e seus arredores, situada no sul da França, tornou-se notável pelos seus encantadores jardins; porém não fora sempre assim. Antes era uma região árida. Não existem fontes de água na localidade, vindo o abastecimento para a cidade do rio Durante, que dista uns cento e sessenta quilômetros, por meio de um canal construído no período de 1837 a 1848.
Muito antes disso, vivia na cidade um homem de sobrenome Guizon. Andava sempre muito ocupado, trabalhava intensamente e, tanto por suas atividades, como pelo fato de não gastar, parecia ter somente o objetivo de juntar dinheiro. O seu vestuário apresentava sinais de longo uso. A sua alimentação era da mais simples e barata. Vivia só, privando-se de todos os luxos e até mesmo dos confortos mais vulgares da vida. Em Marselha era conhecido como avarento, sendo por todos desprezado, embora fosse sério em todos os negócios e cumpridor de seus deveres. Ao avistar na rua a sua figura tão pobremente vestida, os rapazes gritavam: “Lá vai o velho sovina!” Mas Guizon seguia sempre o seu caminho, sem fazer caso dos insultos que lhe eram dirigidos, e quando alguém lhe falava, respondia sempre com delicadeza e bom humor.
Dia após dia, ano após ano, quando este pobre homem, que não tinha amigos, passava a caminho do trabalho, ou de regresso, era-lhe dirigida semelhante zombaria. Com o passar dos anos, passou a andar trôpego e amparado por uma bengala; as costas ficaram bastante encurvadas, devido ao incessante esforço, e os cabelos, brancos como a neve. Foi assim que, com mais de oitenta anos de idade, faleceu Guizon.
Depois de sua morte descobriram que ele havia juntado, em ouro e prata, uma imensa fortuna. Entre outros documentos, foi encontrado o seu testamento, no qual havia o seguinte parágrafo: “Eu, quando ainda era pobre, reparei que o povo de Marselha sofre muito pela falta de boa água; pelo que, como não tenho família, dediquei a minha vida a acumular o dinheiro necessário à construção de um canal destinado a abastecer os pobres da cidade de Marselha com água potável, de maneira que os mais necessitados possam tê-la com abundância”. Sem amigos, desprezado e solitário, vivera e morrera, com o fim de dar cumprimento a este tão nobre propósito em benefício dos que tão mal o souberam compreender, e o maltratavam.
Houve outro Homem, num país do Oriente Médio, que foi mal compreendido, desprezado e rejeitado pelos homens. A Sua vida também foi de pobreza voluntária, a ponto de nem sequer ter onde reclinar a cabeça.
“Sendo rico, por amor de vós Se fez pobre; para que pela Sua pobreza enriquecêsseis” (2 Coríntios 8.9). Porém, de tal maneira odiavam aquele Homem, tão manso e humilde, que até clamavam com insistência para que fosse morto. “Crucifica-O, crucifica-O!” Sustando voluntariamente o Seu poder, submeteu-Se à vontade deles, e mãos ímpias O entregaram à morte, crucificando-O. Vendo-O cravado sobre a cruz, escarneceram e riram-se dele, arreganhando os beiços e meneando as cabeças ao contemplá-Lo (Salmo 22.7,13,14). “Por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Romanos 4.25).
O testamento de Guizon proveu o que era necessário ao abastecimento de água potável para todos os pobres de Marselha; mas, o Senhor Jesus Cristo, pela Sua morte e ressurreição, proveu para todo homem, mulher e criança da raça de Adão, que se achegar a Ele e beber, um manancial de água da vida, a qual satisfaz, e que nunca se esgotará no decorrer do tempo, nem na eternidade.
Da Sua graça o rio, que em justiça Deus proveu, Corre pelo árido lugar onde Jesus morreu.
Não se pode comparar abnegação de um Guizon com o custo infinito do sacrifício do Senhor Jesus para pagar o preço. A água da vida está hoje fluindo, e podemos beber livremente dela, “sem dinheiro e sem preço”. “Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas” (Isaías 55.1). “Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba” (João 7.27).
“Quem crê em Mim nunca terá sede” (João 6.35). “E quem tem sede, venha; e quem quiser tome de graça da água da vida” (Apocalipse 22.17).
A PÉROLA INIGUALÁVEL
UM RESPINGO PESADO foi seguido por bastante ondulação, e depois a água sob do píer ficou em repouso. O missionário estrangeiro agachou-se e permaneceu com os olhos fitos no lugar onde uma corrente de bolhas de ar subia até à superfície, vinda de uma grande profundidade debaixo d’água. De repente surgiu uma cabeça preta e um par de olhos brilhantes que olhavam para cima; e logo o velho indiano, pescador de pérolas, subia para o cais sorrindo e sacudindo a água do seu corpo, que brilhava, besuntado com óleo.
— Nunca vi mergulho mais bonito, Rambhau! — gritou David Morse, o missionário americano.
— Veja esta, sahib! — exclamou Rambhau, tirando uma grande ostra de entre os dentes.
— Deve ser boa! Morse pegou a ostra e, enquanto tentava abri-la com um canivete, Rambhau tirava outras ostras menores do pano que lhe cingia os lombos.
— Rambhau! Olhe! — exclamou Morse, — Que tesouro!
— Sim, é boa. — e o mergulhador encolheu os ombros.
— Boa?! Acaso você já viu pérola melhor? É perfeita, não é? — Morse examinava a pérola virando e tornando a virá-la, entregando-a depois ao indiano.
— Ah, sim, há pérolas melhores, muito melhores. Ora, tenho uma…— e interrompeu de forma brusca. — Veja aqui estas imperfeições, pintas negras aqui, esta pequena cavidade. Até no feitio é quase oblonga; mas em comparação com as outras pérolas até que é boa. É como aquilo que você diz do seu Deus. As pessoas aos seus próprios olhos parecem muito boas, mas Deus as vê como de fato são.
Os dois puseram-se a caminho, pela estrada poeirenta que conduzia à vila.
— Tens razão, Rambhau. E Deus oferece a justiça perfeita a todos quantos tão somente creem e aceitam a Sua oferta gratuita de salvação por meio do Seu Filho amado.
— Porém, sahib, já lhe disse muitas vezes que, para mim, isso é fácil demais. Não posso aceitar tal coisa. Talvez eu seja muito orgulhoso, mas quero trabalhar para merecer o meu lugar no Céu.
— Oh, Rambhau! Você não vê que nunca poderá chegar ao Céu por esse caminho? Existe um só caminho para o Céu. Veja, Rambhau, você já não é jovem. Pode ser esta a última temporada de pesca de pérolas para você. Se quiser ver, algum dia, as portas de pérola do Céu, deve aceitar a vida nova que Deus oferece em Seu Filho.
— Minha última temporada! Você disse bem; hoje foi meu último dia de mergulhar. Este é o último mês do ano, e tenho que fazer preparativos.
— Você deve se preparar para a vida futura.
— É justamente o que pretendo fazer. Você vê aquele homem ali? É um peregrino, indo provavelmente a Bombaim ou Calcutá. Anda descalço e escolhe sempre as pedras mais pontiagudas para pisar e, veja: com frequência, após dar alguns poucos passos, ele ajoelha-se e beija o chão. Isso é bom. No primeiro dia do ano novo começarei minha peregrinação. Tenho planejado assim durante toda a minha vida. Desta vez quero ter a certeza de conseguir o Céu. Vou até Delhi de joelhos!
— Homem! Você está louco! São uns 1500 quilômetros daqui a Delhi! Você rasgará seus joelhos e morrerá de infecção antes que chegue a Bombaim.
— Não; tenho que chegar a Delhi. Então os imortais me darão a recompensa. O sofrimento será doce pois me comprará o Céu.
— Rambhau! Meu querido amigo! Não é possível! Como poderei deixar que faça tal coisa quando Jesus Cristo morreu para comprar o Céu para você! Porém o velho Rambhau não se deixava convencer.
— Sahib Morse; você é meu melhor amigo neste mundo. Por todos estes anos esteve sempre ao meu lado. Na doença e na necessidade você foi, muitas vezes, meu único amigo. Mas, mesmo assim, não poderá me fazer desistir de meu grande desejo de comprar a felicidade eterna. Devo ir a Delhi.
Era inútil. O velho pescador de pérolas não podia compreender — não podia aceitar a salvação gratuita por meio de Cristo. Certa tarde Morse ouviu bater, e foi abrir a porta a Rambhau.
— Meu bom amigo! — exclamou, — Entre, Rambhau.
— Não — respondeu o mergulhador, — Peço que venha comigo à minha casa por alguns momentos, sahib. Tenho algo que desejo lhe mostrar. Não se recuse a vir.
— É claro que vou! — respondeu o missionário. Seu coração pulava de satisfação. Talvez Deus estivesse agindo em resposta às suas orações.
— Devo partir para Delhi daqui a oito dias — disse Rambhau dez minutos depois, quando já se aproximavam de sua casa. O coração do missionário desfaleceu. Ao chegarem, Morse sentou-se na cadeira que seu amigo mandara fazer especialmente para ele; a mesma cadeira na qual sentara-se muitas vezes para explicar ao mergulhador o Divino Caminho para o Céu. Rambhau saiu da sala e voltou logo em seguida trazendo um pequeno, porém pesado, cofre inglês.
— Tenho este cofre há muitos anos, mas há só uma coisa que guardo aqui. Vou contar-lhe tudo. Sahib Morse, já tive um filho.
— Um filho?! Oh, Rambhau, você nunca me falou dele!
— Não, sahib; eu não podia — e enquanto falava seus olhos enchiam-se de lágrimas. — Mas agora tenho que lhe falar, pois em breve estarei partindo e quem sabe se tornarei a voltar?… Meu filho também era mergulhador; o melhor que havia em todas as praias da Índia. Tinha o mergulho mais rápido, a vista mais penetrante, o braço mais forte, o fôlego mais prolongado que qualquer outro pescador de pérolas. Que alegria ele me dava! Meu filho sonhava sempre encontrar uma pérola superior a todas as que já haviam sido pescadas. Um dia ele a encontrou. Porém, quando a encontrou, já tinha ficado demasiado tempo debaixo d’água, e veio a morrer pouco tempo depois.
O velho pescador de pérolas baixou a cabeça e, por um momento, todo o seu corpo estremeceu.
— Todos estes anos guardei a pérola — continuou, — mas agora vou-me embora para não mais voltar… e quero oferecer minha pérola ao meu melhor amigo.
O velho pescador fez funcionar a combinação do cofre e tirou dele um objeto cuidadosamente embrulhado em algodão. Abrindo com cautela o embrulho, tirou uma pérola gigante e colocou-a na mão do missionário. Era uma das maiores pérolas jamais descobertas nos mares da Índia, e resplandecia com um brilho nunca visto em pérolas cultivadas. Poderia ser vendida por uma fortuna fabulosa em qualquer lugar.
Por um momento o missionário ficou mudo, a contemplar, com certa reverência, aquela jóia. Depois disse: — Rambhau, esta pérola é maravilhosa; é surpreendente. Deixe-me comprá-la; dou a você dez mil rúpias por ela.
— Sahib — disse Rambhau, endireitando o corpo, — Esta pérola não tem preço. Ninguém, em todo o mundo, tem dinheiro suficiente para pagar o valor que ela representa para mim. Não quero vendê-la. Você só poderá possuí-la na condição de ser uma dádiva.
— Não, Rambhau, não posso aceitar essa condição. Embora eu esteja ansioso por possuir a pérola, não posso aceitá-la desta maneira. Talvez seja orgulho de minha parte, mas isso é fácil demais para mim. Tenho que pagar, ou trabalhar para a merecê-la.
O velho pescador estava abismado.
— Sahib, não está compreendendo.
Não vê? Meu único filho deu a sua vida para conseguir esta pérola, e não a venderei por dinheiro nenhum. O seu valor está no sangue da vida do meu filho. Não posso vendê-la, mas quero oferecê-la a você como um presente. Aceite-a, pois, como prova do grande amor que tenho por você.
O missionário não podia falar, tal era a emoção que o sufocava. Pegou na mão do velho pescador e depois, com voz baixa, disse: — Rambhau, será que você não vê? É exatamente o que você tem estado a dizer a Deus.
— O mergulhador olhou fixamente por muito tempo para o missionário e então começou, pouco a pouco, a compreender. — Deus está oferecendo a vida eterna como uma dádiva gratuita. É tão grande, e custou tanto, que não tem preço; ninguém na terra a poderia comprar. Ninguém a poderia conquistar. Ninguém a poderia merecer. Custou a Deus o sangue da vida do Seu Único Filho, para assim abrir para você a entrada no Céu. Em mil peregrinações você não poderia conseguir aquela entrada. Tudo o que pode fazer é aceitá-la, como prova do amor que Deus tem por um pecador. Rambhau, tenho imenso prazer em aceitar a pérola com a mais profunda humildade, pedindo a Deus que eu possa ser digno do amor que você demonstra para comigo. Rambhau, você não quer aceitar também, com humildade, a grande dádiva da vida eterna que Deus oferece a você; dádiva esta que custou a Deus a morte do Seu Filho a fim de podê-la oferecer de graça? “O dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 6.23).
Grandes lágrimas rolaram pela face do velho pescador. O véu começava a se levantar. Finalmente compreendia.
— Sahib, agora vejo. Creio que Jesus entregou-Se à morte por mim. Eu O aceito! “Graças a Deus pois pelo Seu Dom inefável” (2 Coríntios 9.15).
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).
DOIS MORRERAM POR MIM
NOSSOS CORAÇÕES tinham sido atingidos pela dor, quando, acima do ruído do temporal, soaram aos nossos ouvidos os apitos aflitivos, através das águas turbulentas, que nos deram a compreender, sem sombra de dúvida, que algum barco, ou barcos, estavam lutando com as ondas e que muitos estavam em risco de perder a vida naquele mar bravio.
Ao amanhecer dirigi-me para a praia; já cessara a tempestade e o sol brilhava reluzente; o mar cintilava e os pássaros cantavam alegremente; pelo que o furioso temporal da noite e o horror que o acompanhava, poderiam parecer ter sido apenas um pesadelo medonho, se não fosse a cena que se contemplava na praia. Ali não faltavam sinais de naufrágio e de ruína.
Com o espírito pesaroso, contemplei a cena desejosa de saber quantos homens teriam conseguido salvar-se da morte que os ameaçara. Enquanto assim meditava, percebi que havia se aproximado de mim um marinheiro. Voltei-me para ele e pedi-lhe informações sobre os acontecimentos da noite. Contou-me de tentativas heroicas para salvar os náufragos, que em parte haviam sido bem sucedidas; e depois, ao lastimar eu a sorte dos que haviam perdido a vida, disseme em tom de sincera solicitude: — Senhora, peço licença para lhe fazer uma pergunta. A senhora está salva, ou ainda perdida? Quero dizer — acrescentou — conhece o Senhor Jesus?
Muito me agradou aquela pergunta, pois podia responder-lhe que o seu Salvador era também o meu Salvador. E, conversando nós um pouco acerca daquele tão querido aos nossos corações, dei-lhe um fraternal aperto de mão, e perguntei há quanto tempo conhecia o bendito Salvador, e como se convertera a Ele.
— Há quase cinco anos que salvou o meu corpo de morrer afogado e a minha alma do lago de fogo — disse ele. — Nunca poderei esquecer o que sucedeu, pois dois morreram por mim.
— Dois? — perguntei muito surpreendida.
— Sim, minha senhora, dois — respondeu. — O meu Salvador morreu por mim há mais de 1.800 anos, na cruz do Calvário, e o meu companheiro morreu por mim há cinco anos, e foi isso que me atraiu para o meu Salvador.
Vendo que eu manifestava interesse, continuou: — Foi uma noite tal como a noite passada que o nosso barco encalhou numa rocha. Pedimos socorro por meio de sinais e disparando tiros. Não tardou para que homens corajosos tripulassem o barco salva-vidas e se fizessem ao mar. Duvidávamos que pudessem resistir ao furor das grandes ondas, mas arriscaram-se, e Deus os auxiliou. Com dificuldade transferimos para o salva-vidas as mulheres e crianças, e este chegou à praia. Mais uma vez, com nova tripulação, o barco salva-vidas voltou e foram salvos os passageiros de nosso navio. Então compreendemos que seria impossível salvar-nos a todos, pois na terceira viagem do barco salva-vidas não caberiam todos os restantes, e o nosso navio afundaria antes que o barco pudesse vir pela quarta vez. Assim, lançamos sortes, para decidir quem iria ficar. Coube a mim ficar no navio prestes a afundar. Que horrorosas as trevas que se apoderaram de mim!
“Condenado a morrer e ir para o inferno!”, murmurei, e me vi passando em revista todos os pecados de minha vida. Não dei sinal que pudesse ser notado pelos companheiros, mas o que se passava entre a minha alma e Deus era terrível!
— Eu tinha um companheiro que amava o Senhor Jesus. Ele muitas vezes havia me falado do que importava para a felicidade de minha alma, mas eu respondia-lhe, zombando, que estava resolvido a gozar a vida. Agora, porém, embora ele estivesse ao meu lado, não tive a coragem de sequer lhe pedir que orasse por mim, mas, por um momento, admirei-me de que me não falasse do Salvador. Fui compreender depois. O seu semblante, quando por um momento o contemplei, manifestava calma e serenidade, como se estivesse iluminado por uma estranha luz. Com amargor, pensei, “Ele bem pode estar satisfeito; tem a sorte de ir no salva-vidas e ser salvo”. Querido James, como podia eu estar tão enganado a seu respeito? Bem, minha senhora, o salva-vidas aproximou-se de novo, e, um após outro, embarcaram nele os homens a quem tocara a sorte. Chegou a vez de James, mas ao invés de ir, empurrou-me para frente e disse: “Vai você no salva-vidas em meu lugar, Thomas, e tenha a certeza de me encontrar no Céu! Não morra agora para ir parar no inferno; quanto a mim, não se preocupe”. Eu não quis que ele se sacrificasse assim, mas os outros me levaram adiante deles. O que estava atrás de mim, ansioso por entrar no salva-vidas, empurrou-me. James sabia muito bem que isto iria acontecer, e foi por esta razão que nada me havia dito do que tencionava fazer. Dentro de poucos segundos, encontrava-me no salva-vidas. Dali a momentos, mal nos havendo afastado, o navio afundou-se, e nele James, meu querido amigo James, se foi! Sei que foi para Jesus; mas, minha senhora, ele morreu em meu lugar! Morreu por mim! Não disse com verdade à senhora, que dois morreram por mim?
Thomas ficou calado por um momento, os olhos molhados de lágrimas que não tentou disfarçar. Eram um tributo ao amor de quem sofrera a morte em seu lugar. Quando consegui vencer a emoção, limitei-me a dizer: — E então?
— Então, minha senhora — disseme ele em seguida, — quando vi aquele navio afundar, disse a Deus de todo o meu coração: “Se eu chegar à terra a salvo, James não terá morrido em vão. Se Deus quiser, vou encontrá-lo no Céu. Decerto que o Deus de James é digno de que eu O conheça, pois James morreu para me dar mais uma chance de conhecê-Lo”.
— Demorou para você se encontrar com o Salvador? — perguntei.
— Não houve grande demora, embora a mim parecesse haver então. Não sabia qual o primeiro passo a dar. Quer estivesse dormindo ou acordado, tive sempre na memória a cena do navio afundando, e de James, com o calmo sorriso que havia visto em seu rosto; a recordação não me abandonava nunca. A princípio pensava mais em James do que no Senhor. Depois, lembrei-me de que deveria adquirir uma Bíblia, pois tinha visto James muitas vezes lendo este livro que ele tanto amava; e, antes de começar a ler, fiz uma pequena oração. Eu era muito ignorante, o que contei ao Senhor, e contei também que não conhecia o caminho para o Céu, e lá desejava encontrar-me com James, pelo que Lhe pedi que me indicasse.
— E Ele assim fez?
— Fez, sim, minha senhora. Não sabia onde havia de começar a leitura da Bíblia, mas pensei que seria bom iniciar no Novo Testamento, e ler sempre seguido, até descobrir como poderia me salvar. Mas, ai! As primeiras leituras foram para mim terríveis. Quando cheguei aos capítulos cinco, seis e sete de Mateus, cada linha parecia condenar-me, e disse a mim mesmo: “Não vale a pena, Thomas, você não tem chance. Você tem sido muito mau”. E fechei o livro. Mas então me voltaram à memória aquelas últimas palavras de James: “Tenha a certeza de me encontrar no Céu!”. E achei que evidente que James julgara ser possível que eu fosse salvo, pois ele conhecia bem a Deus e a Bíblia, bem como conhecia a minha vida e sabia muito bem como ela tinha sido. Por isso tornei a abrir o livro, e continuei a ler mais e mais, e cada vez mais, sempre que podia dispor de alguns minutos.
— Finalmente cheguei onde se conta de dois malfeitores, um dos quais foi salvo pelo Senhor, e pensei: “Aqui está um homem quase tão mau como eu”. Coloquei de lado a Bíblia, prostrei-me de joelhos e disse: “Senhor, eu sou tão mau quanto aquele malfeitor; rogo-Te que me salves, tal como salvaste a ele”. A minha Bíblia tinha ficado aberta, e, quando abri os olhos, após ter proferido esta oração, deparei-me logo com estas palavras: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23.43). Aceitei-as como a resposta de Deus à minha oração. Não julgava estar prestes a morrer; tinha quase esse desejo; mas pensei que Jesus tinha dirigido essas palavras para comunicar-me que havia me perdoado. Assim, ajoelhei-me novamente, agradecendo-Lhe. Claro está que ainda ignorava muitas coisas, mas pouco a pouco vim a conhecer o caminho de salvação: como Jesus morrera em meu lugar lavando-me de todos os meus pecados no Seu precioso sangue, pois “o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 João 1.7). Agora estou ansioso para encontrar o Senhor, mas também para ver James brilhando lá no Céu.
Agora, querido leitor, permita-me fazer-lhe a mesma pergunta que aquele marinheiro fez no princípio de sua história: VOCÊ JÁ ESTÁ SALVO, OU AINDA ESTÁ PERDIDO? CONHECE O SENHOR JESUS?
A MÃO CICATRIZADA
WILLIAM DIXON era ateu. Ainda que Deus existisse, o que duvidava, Dixon nunca iria perdoá-Lo por ter-lhe levado a jovem esposa e seu filhinho, apenas dois anos após o casamento. Ele sentia-se muito desolado e cheio de rancor.
Dez anos após a morte de Mary Dixon, houve um incêndio na pequena aldeia de Brackenthwaite, destruindo totalmente a casa de Peggy Winslow. Enquanto as chamas consumiam a casa, os vizinhos conseguiram tirar a velhinha ainda com vida, mas quase sufocada pela fumaça. Então todos ouviram, horrorizados, os gritos aflitos de uma criança. Era a voz do pequeno Richard, neto da velhinha e órfão. Ele havia sido acordado pelas chamas e, gritando desesperadamente, correu para a janela do segundo andar.
Aflitos, todos presenciavam a perigosa situação em que a criança se encontrava, julgando ser impossível salvá-la por ter já desmoronado a escada que levava ao andar superior. De repente, William Dixon precipitou-se em direção à casa incendiada e, subindo por um cano de ferro, tomou o rapazinho todo trêmulo em seus braços. Segurando-o com seu braço direito, e com sua mão esquerda agarrada ao cano de metal quente, ambos chegaram ao chão salvos e foram recebidos com alegria por todos. Logo depois desmoronavam as paredes da casa.
O pequeno Richard nada sofrera, mas a mão com que Dixon havia segurado o cano de metal ficou em péssimas condições. A queimadura foi curada deixando, porém, uma profunda cicatriz que o acompanharia até o dia de sua morte.
Peggy, a velhinha, não conseguindo refazer-se do choque, faleceu poucos dias depois. Ficou para ser decidida a sorte do pequeno Richard. James Lovatt, uma pessoa muito respeitável, pediu que fosse permitido adotá-lo, já que ele e sua esposa muito desejavam um menino, após a morte de seu filho. Para surpresa de todos, William Dixon fez igual pedido. Por ser uma escolha difícil entre os dois, convocou-se uma reunião com o pastor da igreja, o juiz e outros mais.
O juiz, Sr. Haywood, disse: — É muito generoso, tanto da parte do Lovatt, como da do Dixon, se oferecerem para adotar o órfão, mas estou perplexo quanto a qual dos dois deve ser entregue a criança. Dixon, que salvou a vida do menino, tem direito à preferência; mas, por outro lado, Lovatt tem esposa, e à criança fazem falta os cuidados de uma mulher.
O Sr. Lipton, que era o pastor, disse: — Um homem com ideias ateístas como Dixon não convém para tutor de uma criança. Por outro lado, Lovatt e sua esposa são crentes, e educariam o menino de forma conveniente. Dixon salvou o corpo do menino, porém seria muito triste, para o bem-estar futuro do pequeno, se aquele que o salvou da casa incendiada viesse a ser o causador da sua ruína eterna.
— Ouçamos o que os próprios interessados têm a dizer — disse o Sr. Haywood, — e, em seguida, submeteremos o assunto à votação.
Sendo convidado a falar, o Sr. Lovatt respondeu: — Bem, meus senhores, ainda há pouco tempo eu e minha mulher perdemos um filhinho, e sentimos que este menino poderia preencher seu lugar. Faremos o possível para criá-lo no temor do Senhor. Além do mais, uma criança de tão tenra idade carece dos cuidados de uma mulher.
— Muito bem, Sr. Lovatt; agora ouçamos o Sr. Dixon.
— Tenho apenas um argumento a apresentar, senhor, e é este — respondeu Dixon com calma, enquanto tirava a atadura da sua mão esquerda. Depois, estendeu-a, tão horrivelmente ferida e cheia de cicatrizes.
Durante momentos houve silêncio profundo, e os olhos de alguns ficaram marejados de lágrimas. Naquela mão cicatrizada havia algo que apelava para o sentimento de justiça de cada um. Dixon tinha o direito de preferência, para a posse do pequeno, em virtude do que tinha sofrido. Assim, tendo sido o caso submetido à votação, a maioria decidiu a seu favor.
Começou assim, para Dixon, uma vida nova. O pequeno Richard nunca sentiu a falta dos carinhos de uma mãe, pois William foi como pai e mãe para o órfão, dedicando ao pequeno que salvara, toda a ternura armazenada em sua forte natureza. Richard era uma criança habilidosa, e correspondia com prontidão aos ensinamentos de seu pai adotivo, a quem amava com todo o fervor de seu terno coraçãozinho. Lembrava-se de como o “papai” o tinha salvado do incêndio, e de como conseguira que lhe entregassem, devido à mão tão horrivelmente queimada por amor a ele.
Num certo verão, houve na cidade uma grande exposição de quadros, e Dixon levou Richard para vê-los. O garoto ficou muito interessado nos quadros e também nas histórias que seu pai lhe contou a respeito de alguns deles. Porém, o que mais impressionou o menino, representava o Senhor Jesus repreendendo a Tomé, e tinha em baixo as palavras: “Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos” (João 20.27).
O pequeno Richard leu as palavras e pediu: — Papai quero que me conte a história deste quadro.
— Não, deste não!
— Por que não quer contar a história deste, papai?
— Porque não acredito nessa história.
— Oh, mas isso não faz mal — insistiu Richard, — pois também não acredita na história de “Jack, o Matador de Gigantes”, que é uma de minhas preferidas. Conte-me a história deste quadro, papai; conte-me, por favor! E Dixon contou-lhe, e Richard ficou muitíssimo interessado.
— Faz lembrar a nossa história, papai — disse ele. — Quando o casal Lovatt queria me adotar, você mostrou a sua mão. Talvez Tomé, quando viu as cicatrizes nas mãos do Bom Homem, sentiu que pertencia a Ele.
— Suponho que sim. — respondeu Dixon.
— O Bom Homem parecia estar tão triste — disse Richard, — acho que deve ter ficado triste por Tomé não ter acreditado desde o início. Foi muito ruim, não foi? Pois o Bom Homem tinha morrido por ele.
Dixon nada respondeu, e Richard continuou: — Quando me contaram de você e do fogo, eu também teria sido ingrato e mau se tivesse respondido assim; se tivesse dito que não acreditava naquilo que você fez, não é verdade papai?
— Não quero pensar nisso, filho.
— Mas talvez depois amasse muito o Bom Homem, assim como eu amo você. Quando vejo sua pobre mão, papai, eu o amo mais do que milhões de milhões.
Richard estava cansado, e adormeceu antes de poder medir o montante da sua grata afeição. Porém o sono de Dixon foi muito perturbado naquela noite. Não conseguia afastar de seus pensamentos o quadro daquele rosto tão terno e triste, que parecia estar olhando para ele lá da parede da sala da exposição. Sonhou que Lovatt e ele contendiam pela posse de Richard; mas que quando mostrou a mão cicatrizada, o menino afastara-se dele. Surgiu-lhe no coração um sentimento amargo contra tamanha injustiça.
Não cedeu logo a essa influência, mas o amor que sentia por Richard tinha-lhe enternecido o coração, e a semente lançada naquele dia não caiu em terreno pedregoso. Assim, passado algum tempo, o coração de Dixon tornou-se como o de uma criancinha. Descobriu, pela leitura do Livro dos Livros, que assim como a ele lhe pertencia o Richard, também ele próprio pertencia ao Salvador que foi ferido também pelas transgressões de Dixon. Este, então, entregou-se — corpo, alma e espírito — à guarda daquelas benditas mãos que por amor foram traspassadas.
Mãos carinhosas, tão maltratadas, Por mim cravadas em uma cruz! Sobre Teu corpo, os meus pecados, Levaste, todos, Senhor Jesus.
“Era desprezado, e não fizemos dele caso algum… mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades” (Isaías 53.3,5).
“Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1 Pedro 2.24).
SEU SALVADOR OU SEU JUIZ?
O EVANGELHO proclama o que Deus fez, antes que venha o Dia do Juízo, a fim de que o homem não tenha que responder pelos seus pecados.
Se o meu credor vier exigir o pagamento de uma dívida, e eu não tiver com que pagar, estou perdido; mas se ele vier para quitá-la, fico livre.
Deus não pode aprovar a iniquidade; isso é impossível; mas uma coisa é insistir pelo pagamento de uma dívida, e outra é vir liquidá-la. O Evangelho nos conta o que Cristo fez como Salvador, antes de Sua próxima vinda, então como Juiz.
Na Cruz de Cristo vemos demonstrada ao máximo a inimizade do coração humano; o que nem sempre nos é tão evidente. Logo que encontram uma oportunidade, todos menosprezam o Senhor. Felizmente, pela misericórdia de Deus, Cristo veio para demonstrar a graça divina. A cruz, porém, demonstra também a podridão e o ódio que existem no fundo do coração humano. O mundo crucificou o Filho de Deus!
Agora Deus pode dizer ao mundo: “O que vocês fizeram com meu Filho? O que Ele fez a vocês? Nada senão o bem. Então, por que cuspiram em Seu rosto e O crucificaram?” Se alguém tivesse feito o mesmo ontem à minha mãe, seria possível que hoje eu estivesse disposto a ter amizade com tal pessoa? O homem tem procedido assim, e quando se faz luz em seu espírito, confessa ter agido deste modo e reconhece ser incapaz de justificar a si próprio, mesmo que seja de uma acusação das muitas que pairam sobre si.
O mundo deve sofrer o juízo. Todos nós sabemos que assim será e, no entanto, continuamos de mãos dadas com ele! O que nos diz a lei de Deus? Declara ao homem o que ele deve ser: “Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração”; “Não cobiçarás.” Mas bem sei que não tenho amado a Deus, e tenho cobiçado. Portanto, sendo réu em um ponto que seja já não estou isento de culpa, mesmo que não tenha cometido todos os pecados de que o homem é capaz.
Muitos falam de misericórdia, mas o que querem dizer com isto é que têm o desejo de que Deus dê, aos pecados que cometeram, tão pouca importância quanto eles próprios dão. Por exemplo, um homem cometeu dez pecados e espera ir para o Céu. Se tiver cometido onze, julgará que não é muito mau; quando tiver cem pecados em sua conta, ainda há de julgar que Deus o desculpará, pois não conhece a santidade de Deus. Ora, um único pecado basta para nos separar de Deus; porém a porta não se fecha para qualquer um que agora confessar tudo com franqueza. O que é o pecado? Acaso o leitor gosta de fazer a sua própria vontade? Isto é que é pecado.
A lei exigia pagamento da dívida. Cristo veio pagá-la, e é isso a graça! “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não tomando em conta os seus pecados” (2 Coríntios 5.19). Volto-me para a Cruz de Cristo: o que Ele está fazendo ali? Julgando o ladrão arrependido? Não, mas “levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro”, liquidando-os, para que jamais voltem a ser lembrados (1 Pedro 2.24; Hebreus 10.17).
Lá está Aquele Salvador bendito, a Quem tenho desprezado durante toda a minha vida, e vejo que Ele tomou sobre Si os meus pecados, carregou o meu fardo. “Tudo está consumado” — consumado com absoluta perfeição, nada podendo se acrescentar à Sua obra, pelo que Cristo assentou-Se à destra do trono de Deus. Voltou à glória por haver completado a obra. O Espírito Santo torna isto claro aos nossos corações, e, desse modo, eu posso afirmar que Cristo fez tudo por mim. “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Romanos 4.25). A ressurreição é a prova de que Deus aceitou a obra, e que nós, também, fomos aceitos ou “feitos agradáveis a Si no Amado” (Efésios 1.6).
Assim, ao invés de afastar a mim, Deus afastou de mim o meu pecado. Veio ao meu encontro no dia da graça, para eu não ter que comparecer perante Ele no dia do Juízo.
CULPADO, PORÉM PERDOADO
EM TODAS AS PESSOAS existe certo conhecimento do bem e do mal; mas a tendência geral da maioria é a de tomar por padrão as normas que julgam estar ao seu alcance. Por exemplo, o bêbado acha não fazer mal beber demais, mas considera como um grande pecado roubar. O avarento, que habitualmente se serve da mentira “para conseguir bons negócios”, tranquiliza-se pensando, “todos têm que mentir, sem o que é impossível negociar; mas não me embriago como alguns”. Outro, que se tem por muito sério e moral, julga ser cumpridor de todos os seus deveres e, olhando ao seu redor, despreza os que são abertamente pecadores; porém nunca se lembra de quantos maus pensamentos e desejos pecaminosos tem abrigado no seu íntimo, sem que outros o saibam; e que Deus julga o que se passa no coração, embora o homem veja apenas a vida exterior. Assim, cada qual se felicita comparando-se com quem tenha feito coisas piores.
Porém existe um padrão de justiça, que é o da justiça de Deus. Quando a consciência de alguém começa a despertar e a encarar o pecado da forma como ele é visto por Deus, então compreende que é culpado e que está arruinado; não tentará justificar-se procurando descobrir alguém que seja pior; antes, com toda a franqueza, confessará o seu pecado, condenando-se a si mesmo, e manifestará ansiedade por saber se é possível que Deus lhe perdoe.
Sim, o coração depravado do homem encontra alívio e consolação ao descobrir alguém que seja pior do que ele próprio! E, ainda mais, não pode suportar que Deus exerça a Sua graça. A GRAÇA — que significa o perdão NÃO MERECIDO de todo e qualquer pecado, sem que Deus exija coisa alguma à pessoa assim perdoada. É um princípio tão contrário a todo o pensamento humano, tão elevado acima do homem, que este o detesta, e no seu íntimo por vezes o classifica de injustiça. É muito humilhante termos de confessar que dependemos inteiramente da graça — que nada que tenhamos feito, ou possamos fazer, nos tornará aptos para Deus — antes, que tudo aquilo quanto temos que nos recomende à graça de Deus é tão somente a nossa miséria, pecado e ruína.
Quando Adão se reconheceu culpado, lá no jardim do Éden, foi se esconder; voltou as costas ao seu único Amigo, precisamente quando mais necessitava dele. E assim é ainda hoje. O homem tem medo daquele que é o Único realmente pronto a perdoá-lo. “Torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar” (Isaías 55.7).
Se você, querido leitor, deseja possuir o perdão pleno e gratuito que provém de Deus, importa que, antes de mais nada, como pecador culpado, se encontre a sós com Jesus, consciente da sua culpabilidade. Isto sem que primeiro você faça quaisquer promessas ou tentativas de melhorar a si mesmo. São os seus próprios pecados que o levam à presença daquele que morreu pelos ímpios. “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Romanos 5.6).
Quando o príncipe de Gales procurava em certa ocasião descobrir um preso digno de ser perdoado, pôs de parte todos os que alegavam não serem culpados, mas escolheu um velhote que, chorando, confessou com franqueza e vergonha ser culpado, e que bem merecia ficar encarcerado. O Salvador que nos perdoa disse: “Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento” (Lucas 5.32).
O PERDÃO RECUSADO
NO ANO DE 1829, George Wilson, um homem de Filadélfia, foi julgado pelos crimes de homicídio e roubo de malas postais dos Estados Unidos da América. Constatada a sua culpa, foi condenado à forca. Os amigos obtiveram do presidente Jackson o seu perdão, porém Wilson recusou-se a aceitá-lo! O governador hesitou quanto a dar cumprimento à sentença. Como poderia mandar enforcar um perdoado?
Assim foi enviado um apelo ao presidente, o qual ordenou ao Supremo Tribunal que resolvesse a questão. O juiz respondeu: “Um perdão é um documento cuja validade depende de ser aceito pela entidade à qual diz respeito. Mas pode-se compreender que quem tenha sido sentenciado à morte se recuse a aceitar o perdão; porém, se recusar, já não é perdão. Importa, pois, que George Wilson seja enforcado”. Assim, ele foi executado, apesar de seu perdão estar sobre a escrivaninha do governador.
Todos os que recusarem o bondoso perdão de Deus terão que sofrer eternamente o castigo imposto pela justiça divina. “E irão estes para o tormento eterno” (Mateus 25.43).
“Te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição: escolhe pois a vida” (Deuteronômio 30.19). “Deus perdoador” (Neemias 9.17); “Nosso Deus, porque grandioso é em perdoar” (Isaías 55.7). “Cristo morreu por nossos pecados” (1 Coríntios 15.3). “Por este (Jesus) se vos anuncia a remissão dos pecados” (Atos 13.38). “Porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a minha mão, e não houve quem desse atenção” (Provérbios 1.24), “E vos não julgais dignos da vida eterna” (Atos 13.46). “Não quiseram escutar, e me deram o ombro rebelde, e ensurdeceram os seus ouvidos… e fizeram os seus corações duros como diamante” (Zacarias 7.11,12).
COMO FOI NOS DIAS DE NOÉ
Gênesis 6 e 7
AS CONDIÇÕES DO MUNDO, hoje em dia, assemelham-se àquelas que prevaleciam nos dias de Noé, quando os homens tinham se corrompido a ponto de se frisar que “encheu-se a terra de violência” (Gênesis 6.11), e Deus teve que lavrar sentença de condenação contra ela.
Deus avisou aos de então: “Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem… farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites; e desfarei de sobre a face da terra toda a substância que fiz” (Gênesis 6.3; 7.4). Porém aqueles homens não quiseram dar ouvidos, tal como sucede também hoje em dia.
Referindo-se àquele caso, o Senhor Jesus disse: “Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem” (Mateus 24.38,39).
“E olhai por vós, não aconteça que… venha sobre vós de improviso aquele dia” (Lucas 21.34).
É provável que as pessoas de então julgassem estar vivendo numa época de esplêndido progresso. Muitos dos sábios daquela época diriam: “Você está completamente enganado, Noé; só você tem essa opinião, portanto é melhor deixar de trabalhar na construção desse navio gigante e parar de proclamar ideias tão estranhas. Venha aproveitar a vida; não seja um fanático, de mentalidade tão retraída. Será que você acha que todo o mundo está enganado e que só você conhece a verdade?” “E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra” (Gênesis 6.5). Igualmente, hoje em dia Deus toma conhecimento de todas as coisas vis e ferozes que se cometem.
Veio o dilúvio, e arrebatou-os a todos, com exceção daqueles que se haviam refugiado na arca com Noé. Todos quantos não estavam, com Noé, fechados dentro da arca, estavam do lado de fora daquela porta fechada. Para esses tais já não havia qualquer esperança de salvação; era já demasiado tarde!
De igual modo, as condições que logo hão de prevalecer serão exatamente semelhantes às dos dias de Noé; sim, para grande surpresa dos homens. O mundo será apanhado desprevenido, com tão grande espanto como o foi então. Apenas hão de escapar aqueles que se tenham refugiado no bendito Salvador. Deus está proclamando aos homens em alta voz: “E já está próximo o fim de todas as coisas” (1 Pedro 4.7). “Já a vinda do Senhor está próxima” (Tiago 5.8).
Embora terríveis, essas guerras mundiais são apenas as aflições preliminares da grande tribulação que se aproxima, “grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tão pouco há de haver” (Mateus 24.21). Não será um dilúvio, como nos dias de Noé, mas algo incomparavelmente pior.
Ah! terra orgulhosa! Que angústias por ti esperam!
Tais como nunca antes no passado viste!
Mais que as agonias que sempre te dilaceram, Desde as mais breves até aquela que ainda persiste.
Aquele que morreu na cruz do Calvário, o bondoso Salvador que hoje está na gloria, virá outra vez em todo o poder e majestade da Sua eterna divindade, para julgar aqueles que O tem rejeitado! (2 Tessalonicenses 1 e 2). Aqueles que se preocupam com o estado deste mundo estão percebendo que os dias da atualidade são deveras ameaçadores. Os governantes estão consternados.
“Homens desmaiando de terror na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo” (Lucas 21.26).
As nações mais privilegiadas têm se tornado, nestes últimos anos, materialistas, amantes dos prazeres, agindo, em todos os sentidos, como se a existência de Deus nada venha a influir em sua maneira de proceder. Deus dotou o homem com uma mente, de inteligência, da qual este se serve para argumentar contra Ele (e hoje mais do que nunca), para inventar armas de destruição diabólicas, com as quais possa matar os seus semelhantes!
No decorrer de todos estes séculos, os homens têm tentado em vão remendar o pobre mundo, por meio de educação e instrução, da reforma, da legislação e toda a espécie de governos políticos. Porém, como o PECADO jaz no coração de todo homem, e “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso” (Jeremias 17.9), todos os esforços da parte dos homens serão inúteis — nunca proverão remédio permanente para os males do mundo. Deus não Se esquece de que o mundo é culpado pela morte de Seu Filho, e disso brevemente pedirá contas. “E visitarei sobre o mundo a maldade” (Isaías 13.11). “O Seu sangue é requerido” (Gênesis 42.22). Contudo, na Sua graça, ainda apresenta Jesus, o crucificado, como o único meio de salvação.
ESTE MUNDO É COMO UM NAVIO PRESTES A AFUNDAR
IMAGINEMOS um barco que está afundando lá em alto mar, com o casco apodrecido e enchendo de água rapidamente. Da terra enviam um barco salva-vidas que vai atracar-se à embarcação condenada. O comandante do salva-vidas convida, em voz alta, a todos os tripulantes do velho barco a abandoná-lo o quanto antes. Porém todos se recusam obstinadamente. Um diz: “Este barco não é mau; apenas precisa de conserto e pintura”. Outro diz: “Caiam fora com esse salva-vidas! Temos aqui um bom carpinteiro especializado em consertar navios”.
Os tripulantes continuam a jogar e a beber, enquanto alguns preparam ferramentas e tintas para consertar os buracos. Alguns, poucos porém, compreendem o perigo em que estão, e valem-se do único meio de salvação. O barco avariado acaba afundando logo depois.
Prezado leitor: se todos aqueles que desprezaram a salvação que lhes fora oferecida morreram afogados, a quem cabe a culpa? Foi enviado um barco salva-vidas em seu socorro, mas recusaram-se a fazer uso dele! Ora, Cristo é o barco salva-vidas. Veio para salvar a todos quantos queiram se valer dele. “Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação?” (Hebreus 2.3).
Em 1912, o melhor e mais seguro navio jamais construído, o vapor Titanic, considerado incapaz de ser afundado, bateu em um bloco de gelo e foi para o fundo. “O fato mais surpreendente”, comentou o editor de um jornal da época, “não foi o barco ter afundado, mas sim, ter ido para o fundo após horas de avisos, transmitidos pelo rádio por outros navios, de que havia gelo em sua rota. Ele continuou seguindo a toda a velocidade, com a música a tocar, os passageiros a dançar e, aparentemente, sem que ninguém ligasse a mínima importância ao fato!”
Uma sombra negra paira sobre o mundo; Corações estão desmaiando de terror: Por detrás de aparente confiança, Aumenta sempre a ansiedade e horror. Esta sombra sobre o mundo nos avisa, Que de Deus a longanimidade vai findar; A grande expiação de Cristo, o Salvador,
Ao homem nunca mais vai se apresentar.
CÉU OU INFERNO?
‘LARGA É A PORTA, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela… Estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem” (Lucas 7.13,14).
Todas as pessoas gostam de acreditar que existe o CÉU, mas não gostam que lhes digam que há também o INFERNO. Sem qualquer fundamento, muitos tentam provar que o INFERNO não existe, ou, quando muito, negam que possa durar eternamente. Porém, o único que podia falar com autoridade, o Filho de Deus, que conhece a fundo o assunto, disse assim: “E irão estes para o tormento eterno” (Mateus 25.46). “Não temais os que matam o corpo, e depois não têm mais o que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei Aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no INFERNO, sim, vos digo, a Esse temei” (Lucas 12.4,5).
“Para o INFERNO, para o fogo que nunca se apaga; onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (Marcos 9.43,44). “Ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mateus 24.51). “Se não crerdes que Eu sou, morrereis em vossos pecados… Para onde eu vou não podeis vós vir” (João 8.24,21).
“Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hebreus 9.27).
Ao universalista, que não conhece outra autoridade senão uma consciência universal, o apóstolo João avisa: “Aquele que não crê no Filho não verá a vida . E àquele que acredita no aniquilamento da alma, o mesmo apóstolo avisa que “a ira de Deus sobre ele permanece” (João 3.36). Destes o apóstolo Paulo escreveu que “por castigo padecerão eterna perdição” (2 Tessalonicenses 1.8,9).
Na cruz de Cristo vemos que “Deus é amor” (1 João 4.8), mas também vemos que, quanto ao pecado, Deus é santo. Que Ele é misericordioso e longânimo, agora, manifesta-se no fato de ser “agora o dia da salvação” (2 Coríntios .2). “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida; mas a ira de Deus sobre ele permanece” (João 3.36).
Disse Jesus: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida” (João 14.6). “Te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição: escolhe pois a vida” (Deuteronômio 30.1,19).
“PERIGO! ENTRADA PROIBIDA!”
NUMA TARDE DE VERÃO, em 1892, dois jovens, Charles e Gualter, desciam com todo o cuidado a encosta da serra perto do monte Pike, nos Estados Unidos. Tinham se conhecido casualmente havia pouco tempo, em Manitou, Colorado. Ao contornar um flanco da montanha, encontraram a entrada de uma caverna, que estava vedada, e por cima da qual havia um grande letreiro que dizia: “PERIGO! ENTRADA PROIBIDA!”. Charles espreitou pelas frestas do tapume tentando ver na escuridão do interior da caverna, e disse: — Quero explorar esta caverna. Você vem comigo?
— Não; de jeito nenhum — respondeu Gualter, rogando-lhe ainda que desistisse de tal intento. Mas Charles estava resoluto.
Quão típica das pessoas deste mundo foi a atitude daquele jovem! “Os homens amaram mais as trevas do que a luz” (João 3.19). Contudo, Deus colocou avisos bem claros: “O salário do pecado é a morte” (Romanos 6.23); “vindo depois disso o juízo” (Hebreus 9.27). “Tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição: escolhe pois a vida” (Deuteronômio 30.19); “Oxalá fossem sábios! que isto entendessem, e atentassem para o seu fim!” (Deuteronômio 32.29).
Ao chegar ao fim da descida do monte, Charles conseguiu uma lanterna, despediu-se do amigo e regressou à caverna. Acendeu a lanterna e, arrancando algumas tábuas do tapume, penetrou com decisão na funda e escura caverna. A princípio a fraca luz da lanterna mal penetrava a intensa escuridão, mas à medida que a vista ia se acostumando ao ambiente, ia descobrindo os paredões, os rochedos escabrosos e um caminho, pelo qual seguia cautelosamente. “Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos de morte” (Provérbios 14.12). Tudo parecia ir bem por algum tempo; mas, quando menos esperava, faltou-lhe o chão debaixo dos pés e caiu no fundo de um precipício, onde ficou sem sentidos. Quantos há que se guiam pela fraca luz da inteligência e, quando chega a morte, dão um salto no escuro! “Quem anda nas trevas não sabe para onde vai” (João 12.35).
Quando recuperou os sentidos, descobriu que estava ferido, com contusões por todo o corpo. A lanterna, caída ao seu lado, estava feita em pedaços, pelo que estava cercado das mais densas trevas. Encontrou num bolso alguns fósforos, que acendeu, um a um, mas depressa se acabaram. Com a luz que deram, viu o precipício onde havia caído, e verificou que seria impossível subir pelo paredão. Tremendo, com frio e medo, mal se atreveu a mexer-se, receoso de nova queda. Assim, foi se arrastando lentamente, gatinhando, até que suas calças se rasgaram e os joelhos começaram a sangrar. Sentindo-se sepultado vivo, estava convencido de que morreria!
Tomado de desespero e angústia, viu passar diante de seus olhos todos os pecados de sua vida, e pediu a Deus que tivesse misericórdia e que, se não fosse salvo o seu corpo, o que lhe parecia impossível, que ao menos lhe fosse salva a alma. Lembrou-se de passagens das Sagradas Escrituras, as quais por vezes tinha ouvido, sem que lhes tivesse dado importância, mas que agora lhe inundavam a alma com poder vivificador. “O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 João 1.7). “Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e a tua casa” (Atos 16.31). “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna” (João 3.36). Estas preciosas verdades lhe iluminaram o coração tenebroso e frio, qual ardente luz do sol, e aceitou o Salvador como Aquele que por ele morrera.
No entanto, o seu estado físico lastimável não mudara, e resolveu continuar a mexer-se enquanto as forças se lhe não esgotassem. Perdeu a noção do tempo enquanto se arrastava sobre os rochedos e pedregulhos, sem qualquer esperança. Lembrou-se de sua mãe e, achando papel e lápis no bolso, escreveu, o melhor que pôde, algumas linhas dirigidas a ela, exortando-a a não lamentar a sua morte, antes, que se alegrasse, uma vez que esta terrível experiência havia sido o meio de o conduzir ao bendito Salvador, que o amava e havia Se entregado por ele, pelo que se sentia feliz, na certeza de estar dentro em breve com Ele. Colocou o endereço de sua mãe, pedindo que o seu cadáver lhe fosse enviado.
Arrastando-se debilmente, deu com uma corda, e seguiu, segurando-se nela, com a esperança renovada. Dentro em pouco, maravilhado, sentiu na face o que lhe pareceu ser ar fresco. Seria verdade? Seguiu até aparecer uma tênue luz, que foi aumentando até que pôde distinguir ao longe uma abertura, à qual chegou por fim, encontrando-se então já na plena luz do dia. O sol brilhava intensamente. Havia entrado na caverna às 16 horas, e era meio-dia do dia seguinte!
Quando um grupo que o buscava o encontrou, estava em péssimo estado. Esfarrapado, ensanguentado, sujo e enfraquecido. Não tardou para se restabelecer, graças ao repouso e aos cuidados que lhe foram dispensados; porém a transformação espiritual que experimentara, essa nunca deixaria de permanecer em sua alma, pois ele havia se convertido das trevas à luz, “e do poder de Satanás a Deus” (Atos 26.18).
Escute, leitor! “Ai deles… para os quais está eternamente reservada a negrura das trevas” (Judas 11,13). “Vivo eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva: convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morrereis?” (Ezequiel 33.11).
LIVRE DA COVA
O MARINHEIRO ENFERMO era um jovem forte e de físico avantajado, de 22 anos de idade, mas a quem um acidente havia deixado estendido numa cama, inutilizado.
— Entre; seja bem vindo. — disse tão logo me viu. — Meu amigo Henry disseme que você viria e me contaria algo que me traria conforto. Os médicos dizem que nunca mais poderei me mover; e ai! Pensar em ter que passar o resto da vida preso a um só lugar é de enlouquecer! Quando minha mãe chega em casa, ao fim de um dia de trabalho, não devo mostrar sinais de desânimo; já chega o que ela tem que passar todos os dias trabalhando para poder me sustentar. E pensar que eu contava poder ajudá-la a passar o resto de seus dias em conforto, sem ter que trabalhar…
Parou, sufocado por um soluço que era quase um gemido; porém, dominando dentro em pouco a emoção, contou-me que tinha sido carpinteiro a bordo de um navio. O mar era o seu encanto, e tinha feito muitas viagens proveitosas, apesar de haver passado por diversas tempestades. Quando, na última viagem, estava voltando, e já perto do porto de destino, fazia alguns consertos num mastro. Fazia bom tempo, mas, de repente, um pé de vento, vindo do lado da costa, atingiu o navio, fazendo-o estremecer e virar-se para o alto mar, afocinhando. O marinheiro foi colhido de surpresa, quando começava a descer. Não pôde segurar-se, e foi atirado com violência para o convés, caindo de costas, de uma grande altura.
— Quando já não podiam fazer mais nada no hospital, trouxeram-me para casa, e estou mais inútil do que um bebê, servindo só para dar trabalho e exigir cuidados. Quase me faz enlouquecer ver minha pobre mãe chegar tão pálida e cansada, e eu aqui deitado; no entanto, ela nunca se queixa; mas diz sempre que Deus o permitiu, e que o que Ele faz, ou permite, é sempre o melhor. Ainda bem que ela pode encarar as coisas assim, já que isto a anima; mas a mim parece-me que em vez de ser Ele o Deus da viúva e do órfão, como ela diz que é, esqueceu-Se dela e me impediu de ajudá-la. Meu pai morreu afogado no mar, quando eu não tinha mais do que três ou quatro anos. O Deus Todo-Poderoso nos tem tratado duramente. Duramente!
Sentime impotente para tentar dar-lhe uma palavra de conforto, e apenas pedi a Deus que Se revelasse no Seu verdadeiro caráter de Salvador a este pobre desgraçado, que pensava tão mal dele.
— Decerto que a sua provação é muito grande, Andrew, e palavras humanas pouco valor poderão ter no caso, bem o sei, ainda que inspiradas por um sincero desejo de ajudar: mas há Um que pode auxiliá-lo e consolá-lo, e eu O conheço; mas vejo que você deixou que se apoderassem de si pensamentos amargos a Seu respeito. Acaso não tem nada a contar de positivo? Não se lembra de qualquer misericórdia que tenha recebido? De que altura caiu?
— Quase 20 metros.
— Não seria o bastante para estar morto?
— Sim, de fato todos acham ter sido um milagre eu ter ainda ficado com vida. Dois amigos meus, quando estávamos na América do Sul, caíram de uma altura de talvez menos de 10 metros, e nunca mais falaram.
— E se você nunca mais tivesse falado aqui neste mundo, onde se teria tornado a ouvir sua voz? Onde você se encontraria neste momento: no Céu ou no Inferno?
— Certamente estaria no Inferno, pois o diabo naquele tempo me tinha bem seguro.
— Sim, e procurava precipitá-lo na cova. Mas os olhos do Senhor não o perdiam de vista; sim, os olhos daquele que você acusa haver Se esquecido da viúva e de ter tratado com aspereza o órfão. A Sua poderosa palavra de misericórdia se aplica a você: “Livra-o, que não desça à cova; já achei resgate” (Jó 33.24). Você diz que foi um milagre: foi o amor e a misericórdia do Senhor, buscando a sua alma, e, embora inválido, ainda está fora do Inferno; a porta do Céu está aberta e o Senhor Jesus ainda aguarda para ser misericordioso, oferecendo-lhe a salvação mediante o Seu precioso sangue, e dizendo: “Vinde a mim… e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28). Ele lhe oferece a vida eterna. Ora, diga-me, Deus esqueceu-Se da viúva e do órfão, quando o salvou da morte?
Não me esquecerei da mudança de expressão manifesta no seu rosto, ou antes, de como o seu semblante manifestou várias mudanças de expressão. Irromperam por fim estas palavras: — Sou o maior dos tolos aqui fora do Inferno. Nada tenho feito senão caluniar a Deus!
— Exatamente, Andrew, mas — repeti, — “o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de TODO o pecado” (1 João 1.7).
— Mas decerto isto não significa os MEUS pecados…
— Quando Deus disse TODO o pecado, não saberia Ele o que estava dizendo? Não o diria Ele com sinceridade? Decerto que sim, e, oh! Ele também sabe, só Ele sabe, TODO o valor do sangue do Seu Filho.
Após longa pausa, olhou de repente para cima e disse: — Parece demais, que Ele me perdoe por completo.
Contei-lhe, então, de cor, a bem conhecida parábola do pai e do filho pródigo, que ele escutou com muita atenção, e, quando cheguei ao fim, ele chorava abundantemente.
— Isso foi amor, sem dúvida, mas, oh; mesmo aquele rapaz nunca foi tão mau como eu.
— Mas Andrew, não se trata de ser mais ou menos mau; mas sim de saber se basta o sangue do Filho de Deus para o purificar. Você acha que pode dizer que há alguns pródigos que regressam, mas que o amor do Pai não é suficiente para acolhê-los? Tenho que me retirar, mas quero deixar-lhe dois pequenos versículos, para que neles medite: “Deus é amor” e “O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de TODO o pecado” (1 João 4.8; 1.7). Ele repetiu estas palavras pausadamente, duas ou três vezes. Então, prometendo voltar no dia seguinte, se me fosse possível, parti.
No dia seguinte não me foi possível voltar lá, embora muito o desejasse. Mas quando depois consegui voltar a visitá-lo, ele quase que gritava: — Já o tenho! Já o tenho!
— O que é que tem, Andrew?
— Tenho quase tudo, a não ser a glória, mas é esse o meu porto de destino, e já tenho o Piloto a bordo; entreguei-Lhe o leme e Ele sabe muito bem passar pelo cabo e entrar a salvo no porto.
— Conte-me tudo, Andrew.
— Depois que você saiu, fiquei outra vez triste e desanimado como antes. Só via diante de mim os meus pecados e a negra ingratidão, e ontem todo o dia, quando você não veio, pensei que Deus já tinha me desamparado completamente, mas, à noite, quando estava desesperadíssimo, comecei a lembrar-me de como, naquela história, o pai foi ao encontro do pobre homem que voltava na sua miséria, e tudo tão prontamente lhe perdoou; e então, quando os meus pecados voltaram a atormentar-me, qualquer coisa parecia dizer-me no íntimo: “Andrew! Se você é maior pecador do que aquele homem, isso apenas serve para tornar Deus um maior Salvador, para poder salvá-lo”. E então eu disse em voz alta: “É assim mesmo, Senhor; já tenho o perdão, apesar de ser um tão grande e vil pecador!”
— E sua mãe já sabe da alegria que agora possui?
— Sabe sim. Não a podia ocultar. Como vê, Seu grande amor é o que me arrebata com emoção e alegria.
Depois ele me disse: — Fale-me outra vez a respeito de se ter livrado da cova.
Li para ele o capítulo 33 de Jó, e depois, a seu pedido, tornei a lê-lo. Perguntei-lhe se os dias lhe pareciam muito compridos.
— Isto sim; agora nunca estou só, pois Jesus está sempre junto a mim. E quanto a minha mãe, digo ao Senhor que sei que Ele tem por ela ainda maior amor do que eu, pelo que sei que posso viver confiante de que Ele cuidará dela. Em vista de todo o Seu amor, como poderia jamais duvidar dele?
A PORTA ASSINALADA COM SANGUE
NO DECORRER de uma guerra sangrenta, um comandante jurou, na presença de suas tropas, que aniquilaria toda a população de certo povoado, e, no devido tempo, enviou seus soldados contra aquele povo indefeso. Aconteceu, porém, que um dos habitantes observou vários soldados invadirem uma casa e assassinarem todos os seus moradores à espada. Ao sair da casa, um dos soldados ensopou um pano em sangue e com ele manchou a porta, para avisar outros seus companheiros do que já havia sido feito lá dentro.
Correndo a toda pressa, o fugitivo dirigiu-se a uma grande casa situada no centro da vila, onde se encontravam escondidos vários amigos seus e, ofegante, contou-lhes o que deviam fazer. No quintal da casa havia um cabrito, que foi morto em seguida e seu sangue passado sobre a porta. Mal tinham fechado a porta quando um bando de soldados entrou apressadamente naquela rua onde estava a casa. Mas, quando chegaram à porta assinalada com sangue, nenhuma tentativa fizeram para lá entrar. Pensaram que lá já havia entrado a espada mortífera e cumprido o seu terrível serviço. Assim, enquanto muitas pessoas eram mortas ao redor, todos os que se encontravam ao abrigo da porta assinalada com sangue foram salvos.
Isto faz-nos lembrar daquelas palavras de Deus que trazem salvação a muitas almas: “Vendo Eu sangue, passarei por cima de vós” (Êxodo 12.13). Sim, “Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós” (1 Coríntios 5.7). O sangue que Ele verteu suspendeu o golpe da espada do juízo divino para todo aquele que, pela fé, se abriga no Senhor Jesus.
FIQUE ONDE O FOGO JÁ QUEIMOU
O QUE HÁ de mais horrendo nas planícies do oeste da América do Norte é o medonho fogo de campina. Até que comecem as chuvas de outono, o povo daquelas regiões vive em receio e ansiedade durante os meses secos de verão. Toda e qualquer aparência de névoa ou fumaça é observada atentamente. Mas, uma vez incendiado o mato, o fogo, levado pelo vento, avança com tal velocidade que infunde terror tanto nos homens como nos animais, pois por onde passa a tudo consome e arrasa. Muitas pessoas, não podendo fugir, têm morrido carbonizadas, ficando suas propriedades reduzidas a cinzas. Outros, porém, com mais presença de espírito, vendo o perigo, têm usado de um método de salvação pelo qual têm conseguido escapar. Abaixando-se, ateiam fogo à erva comprida e seca e logo que há um espaço queimado, vêm refugiar-se no lugar onde o fogo já queimou. Assim são salvos a tempo da chama devoradora que se aproxima. Como se vê, não há tempo para hesitação, pois é caso de vida ou morte certa.
Ainda mais solene e medonha será a ira de Deus que se aproxima, e o Seu julgamento deste mundo que crucificou o Seu amado Filho, desprezando Sua graça. “Os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo” (2 Pedro 3.7). “E visitarei sobre o mundo a maldade, e sobre os ímpios a sua iniquidade” (Isaías 13.11). “Vedes que se vai aproximando aquele dia” (Hebreus 10.25).
“Assim que, sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens… a fugir da ira futura… porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (2 Coríntios 5.11; Mateus 3.7; Hebreus 12.29).
Mas, graças sejam dadas ao nosso Deus, tão bondoso, que nos preparou um lugar de refúgio e segurança, onde já passou o fogo. “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o Justo pelos injustos, para levar-nos a Deus” (1 Pedro 3.18). Quando pendurado na cruz do Calvário, Ele esteve, por assim dizer, envolto no fogo do justo juízo de Deus, a fim de salvar o pecador que, tremendo, tenha se refugiado nele (Hebreus 6.18).
Porque Deus amou o mundo (os seres humanos) de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” “Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação.” “Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação?” (João 3.16; 2 Coríntios 6.2; Hebreus 2.3).
SALVO!
NAQUELA MANHÃ tão fresca, ainda pouca gente se encontrava na praia. Se tivesse havido espectadores, teriam visto um forte nadador lançar-se ao mar e afastar-se da praia com movimentos desembaraçados. Não tardou a chegar a grande distância.
Como estava no maior vigor de sua saúde, nem pensou no perigo, e avançou sempre até que, já um pouco cansado, parou por uns momentos e pensou em regressar. Verificou então que tinha sido levado para muito mais longe do que havia tencionado nadar. Ao tentar voltar para a praia, descobriu que a forte correnteza lhe era contrária, e pouco adiantava nadar, apesar de empregar o máximo esforço. Ainda assim, continuou a lutar, até esgotar por completo as forças e, então, virou-se de costas, e deixou-se boiar, considerando-se perdido.
Os pais tinham-no criado religiosamente; sim, e além do mais, ele próprio tinha sido pregador e ministro de uma importante congregação. A sua vida tinha sido regrada e até aquele momento tinha se considerado uma pessoa muito boa. Agora, porém, enfrentando a morte, sua alma despertou para o fato de que não tinha nenhuma esperança no tocante à eternidade; não estava pronto para morrer! Faltava-lhe uma coisa. Entre ele e Cristo não existia ligação alguma.
O terror invadiu sua alma. As ondas pareciam rugir aos seus ouvidos com a insistente repetição: “Para que pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (1 Coríntios 9.27).
Sentiu que tinha anunciado um Cristo que nunca conhecera, que tinha falado aos outros de uma salvação que ele próprio não possuía! Sua vida causava-lhe agora repugnância, com todos os ritos e cerimônias exteriores, mostrando ter sido tudo vaidade. Nesse momento tudo aquilo tinha para ele apenas o seu verdadeiro valor: “obras mortas” (Hebreus 9.14), e reconheceu que a obra de salvação para a sua alma teria de ser feita a seu favor, e feita por outro.
Não foi com referência ao seu corpo, mas sim à sua alma, que gritou à tona do profundo oceano — ali, a sós com Deus, boiando nas ondas — um grito angustioso: “Salva-me, Senhor, senão estou perdido!” Um vil pecador. Clamando ele assim, veio logo a resposta: “O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 João 1.7). “Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).
Então sussurrou: “Creio, Senhor, que foi vertido aquele precioso sangue, por amor de mim”. Vida e paz se apoderaram de sua alma, mas logo em seguida perdeu os sentidos.
— Pai! Oh pai! Veja o que está ali adiante na superfície da água. O que será? Parece que é um homem — disse o filho do piloto de um barco de pesca. O pai olhou, pegou num remo e gritou aos tripulantes que remassem com toda a força. Remaram, pois, com o máximo de energia. O piloto viu afundar o corpo, voltando depois à superfície, já mais perto do barco. Novamente desapareceu, e desta vez poderia vir à tona bem perto do barco se remassem com mais força.
— Força! Mais força! — e todos remaram desesperadamente. Quando o corpo tornou a aparecer, estava bem ao seu alcance. Braços fortes se estenderam e o agarraram, tirando-o da água sem sinais de vida. Logo aplicaram todos os meios possíveis para restabelecer a respiração. Mãos carinhosas levaram-no para terra, vivo, respirando, e não um cadáver. Vivo em dois sentidos; possuindo, agora, não apenas a vida natural, mas também a vida eterna. (João 6.47; 1 João 5.13.) Passados oito dias, embarcado no mesmo barco de pesca, ele recordou o que o Senhor tinha feito a favor da sua alma, quando a morte e o juízo eterno o ameaçavam. Falou de Jesus, o Salvador, aos que o tinham salvado da morte — da impossibilidade de fazermos o que quer que seja que contribua para a nossa própria salvação; que tal obra teve que ser feita tão somente por Ele — caso contrário ficaríamos perdidos para todo o sempre — e leu para eles a Palavra de Deus no seguinte trecho: “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo Seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)… não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2.4-9).
— Quando vocês me viram na água, naquela manhã, poderia eu ter feito o que quer que fosse em meu próprio auxílio? Em nada eu ajudei; vocês fizeram tudo e eu recebi o benefício.
ELE FEZ TUDO, E NÓS RECEBEMOS TODO O BEM. Ora, meus amigos, não veem como isto esclarece o que sucede com o Senhor? Ele, que nunca pecou, tomou o nosso lugar; sofreu pelos nossos pecados, e oferece-nos o lugar que é Seu. Vocês acham que com o passar do tempo deixarei de sentir sempre profunda gratidão e amor para com os que tanto fizeram por mim? E com o meu Senhor dá-se precisamente o mesmo. Sabendo que me salvou a tanto custo, não posso já viver como antes vivia, como se tudo isso não tivesse importância. Desejo que minha vida manifeste bem a minha gratidão, amor e louvor!
Mais de um daqueles pescadores converteram-se ao Senhor Jesus. Amigo leitor, não há nada que você possa fazer para ser salvo, senão só crer no Senhor Jesus Cristo.
Nada, nem pouco nem muito; Que fazer, pecador, nada há: Pois Cristo fez tudo completo, Há muitos séculos já. “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Romanos 5.6).
O CHÃO DA CASA
DURANTE uma visita que fiz ao Transvaal, África do Sul, em 1904, fiquei alojado num pequeno casebre em um lugar remoto do interior. À noite, ao me deitar, não pude deixar de notar que o chão do quarto estava extremamente sujo. Parecia que há meses não era esfregado. Resolvi que no dia seguinte chamaria a atenção da dona da casa para isso e lhe sugeriria que o esfregasse.
Na manhã seguinte, porém, notei o que na véspera não me havia chamado a atenção. É que o chão era de tal natureza que, por mais que se esfregasse, era impossível ficar mais limpo. Tinha sido feito de tijolos de barro secos ao sol, e socados até formarem uma superfície uniforme, tão nivelada e lisa como um piso normal. Logo se vê que desisti da minha intenção de pedir à dona da casa que mandasse esfregar aquele chão. Quanto mais se esfregasse, pior se tornaria. Por maior que fosse a quantidade de sabão e água que se lhe aplicasse, nenhum bem resultaria.
Ficará o leitor admirado, se lhe disser que aquele chão representa bem a sua própria condição aos olhos de Deus?
Será que você estará disposto a reconhecer que, perante Deus, você é tão mau, tão imundo, tão corrupto, que lhe é tão impossível melhorar a sua condição, por qualquer forma, como o era limpar o chão daquele quarto, esfregando-o?
Esta é uma verdade que muitas pessoas não são capazes de reconhecer. Investem todos os seus esforços no erro, julgando que, se tão somente se esforçarem bastante, e perseverarem por bastante tempo, poderão tornar-se aptas para a presença de Deus. Tal ideia equivale a pensar que, se tão somente houvesse uma boa escova e bastante sabão e água, seria possível, por fim, melhorar a condição daquele chão. “Pelo que, ainda que te laves com salitre, e amontoes sabão, a tua iniquidade estará gravada diante de mim, diz o Senhor Jeová” (Jeremias 2.22).
Há multidões de homens e mulheres empenhados numa tarefa inútil desta espécie, e são muitos os vários tipos de escova empregados. Há, por exemplo, a escova do Domínio Próprio. Será que o leitor nunca usou esta escova? Você deve ter se esforçado em dominar o mau gênio, refrear a língua indisciplinada, agir de forma ponderada e reprimir as paixões. Isso é como se estivesse esfregando o chão de terra. Porém tem falhado por completo em conseguir um melhoramento positivo. Continua tão afastado de Deus como antes. O seu coração continua tão perverso quanto antes.
Ou talvez seja com a escova de uma Vida Moral que está procurando fazer a limpeza. Você não xinga e nem procura enganar o próximo, e nem se embriaga. Não fala coisas obscenas. Nunca cometeu qualquer ato que pudesse ser considerado uma malvadeza. No entanto, meu amigo, nada disto altera a sua condição perante Deus. Sua vida, por moral que tenha sido, não terá conseguido transformar a má índole do seu coração. “Quem poderá dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou de meu pecado?” (Provérbios 20.9).
Muitos imaginam que, quando têm falhado todas as demais escovas, então a escova da Religião conseguirá limpar a alma. Leem a Bíblia e fazem orações. Frequentam regularmente os cultos e tomam os sacramentos. Talvez sejam cantores no coro. Podem até ser professores da Escola Dominical, ou catequistas. Mas tudo isso deixa sem alteração sua vida carnal. A capa da religião serve apenas para tapar a imundície interior.
Se a Escova da Religião pudesse limpar alguém, decerto que Saulo de Tarso teria ficado bem purificado por esse processo. Zeloso e inflexível na observância de cerimônias e rituais, muito além de todos os seus contemporâneos, fanático na sua obediência aos sacerdotes, poderia, com razão, intitular-se o homem mais religioso do seu tempo.
No entanto, simultaneamente, reinava no seu coração ódio e amarga raiva contra o Senhor Jesus Cristo. Quando, afinal, se lhe abriram os olhos, e reconheceu quão terrivelmente tinha estado enganado, confessou ser o principal dos pecadores. Apesar de ter sido tão religioso, teve de confessar que, “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Romanos 7.18).
Não queira você, portanto, fazer da religião uma escova, pois nunca tal coisa poderá limpar o pecador. Nunca poderá lavar as nódoas do pecado. Mas se, de fato, nem o domínio próprio, nem a vida moral, nem a religião, nem qualquer outra escova semelhante, for capaz de purificar você do pecado, há Alguém que pode fazer isso.
Não pelo meu trabalho, meu mal vou expiar; Tão fraco sou e néscio, nem sei onde começar.
Mas sei que quando Cristo à morte Se entregou, Pra mim, por Ele feita, a redenção ficou!
O Senhor Jesus Cristo é o único Salvador. Há poder no Seu precioso sangue para purificar o coração de toda a nódoa imunda. “Necessário vos é nascer de novo” (João 3.7), são as palavras que confrontam cada alma sem Cristo. Foram dirigidas a um homem extremamente religioso. E continuam sendo tão verdadeiras hoje como sempre. O que o leitor precisa é nascer de novo. Nada menos do que isto terá valor.
Confesse o seu estado tão excessivamente pecaminoso. Condene-se a si mesmo, sem reserva, sem procurar atenuar a culpabilidade. Depois, fite seus olhos tão somente em Cristo. “Àquele que nos ama, e em Seu sangue nos lavou dos nossos pecados” (Apocalipse 1.5). “O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 João 1.7). Feliz o coração que possa dizer: Tal como estou, sem esperar, Da alma as manchas poder tirar A Ti, cujo sangue tudo pode limpar, Cordeiro de Deus, venho eu!
EXEMPLO OU SUBSTITUTO?
HÁ ALGUM TEMPO, no final de uma pregação do evangelho em Germantown, nos Estados Unidos, um dos ouvintes dirigiu-se ao Dr. D. M. Stearns, dizendo: — Não gosto de sua mensagem. Não dou importância nenhuma à Cruz. Acho que, em vez de anunciar a morte de Cristo na cruz, seria bem melhor proclamar Jesus, como Mestre e Exemplo.
— Se lhe falasse de Cristo como o Exemplo, você estaria pronto a segui-Lo? — perguntou o Dr. Stearns.
— Sim, estaria pronto — respondeu o outro — seguiria Seus passos.
— Vamos tomar, então, o primeiro passo — disse o Dr. Stearns. — “O qual não cometeu pecado” (1 Pedro 2.22). O amigo pode dar este passo?
— Isso não — respondeu o outro com evidente confusão — pois eu peco, e confesso a minha falta.
— Neste caso — disse o Dr. Sterns, — sua primeira necessidade quanto a Cristo, não é como Exemplo, mas sim como Salvador.
E todos têm idêntica necessidade.
“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no Seu sangue, para demonstrar a Sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da Sua justiça neste tempo presente, para que Ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3.23-26).
AVENTAIS DE FOLHAS OU TÚNICAS DE PELES?
A PRIMEIRA COISA que nos consta ter sido feita pelo homem foi um avental. Depois de Adão e Eva terem pecado, e a consciência lhes ter feito sentir a sua culpa, e a vergonha da sua nudez, “coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais” (Gênesis 3.7), procurando assim tornarem-se apresentáveis perante Deus, e esperando que os seus sinceros esforços merecessem a Sua aprovação.
Ora é precisamente isto que tanta gente se esforça por fazer. Dizem: “Faço o melhor que posso”; “procuro respeitar os mandamentos da lei de Deus”; “procuro seguir os exemplo de Jesus”, etc. Esforços humanos! Esforços religiosos! O homem está sempre disposto a fazer o que quer que seja para evitar confessar a Deus a sua culpa. Tais aventais são muito apreciados entre os homens; porém, aos olhos de Deus são uma abominação. “Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações, porque, o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação” (Lucas 16.15). “Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo de imundícia” (Isaías 64.6).
Deus não Se agradou dos aventais de folhas de figueira; mas, vejamos o que Ele fez: “E fez o Senhor Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu” (Gênesis 3.21). Foi isso, graça divina. Essas túnicas de peles são belas aos olhos da fé, pois nos falam da provisão gratuita e misericordiosa de Deus a favor dos pecadores, na morte de Cristo, “o Cordeiro de Deus” (João 1.29).
Adão e Eva não tinham se lembrado da única coisa de suma importância, a saber: confessar humildemente a sua condição de culpados perante Deus, e reconhecer que lhes era devido o juízo e a morte.
“Cristo morreu por nossos pecados” (1 Coríntios 15.3). Medite nele pregado lá na cruz, prezado leitor; desista dos seus esforços religiosos. “Estai quietos e vede o livramento do Senhor” (Êxodo 14.13). “Está consumado” (João 19.30). A obra foi perfeita e gloriosamente completa. “Nada se lhe deve acrescentar” (Eclesiastes 3.14). Aceite, pois, esta dádiva divina, prezado leitor, a obra de Cristo já consumada “para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez” (Apocalipse 3.18). “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto” (Salmo 32.1) Quão melhor é a salvação de Deus do que os aventais dos homens? “Vão é o socorro do homem” (Salmo 60.11).
“Nem se poderão cobrir com as suas obras” (Isaías 59.6). “Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia” (Isaías 64.6). Deus não pode aceitar as obras de quem quer que seja, mas quer que todos aceitem a obra de Seu Filho.
Se Deus tivesse visto com complacência a tentativa de Adão e Eva de fazerem para si aventais, ou apenas mandasse que fizessem outros com maior perfeição, isso estaria de acordo com o pensamento da maioria. Pois nada há que tenha mais popularidade no mundo religioso do que a ideia errônea de que ao homem compete cumprir determinadas obras religiosas para merecer a salvação. Isto está profundamente arraigado na natureza humana. Por mais que tal ideia se refute, ela sempre aparece de novo, impondo-se de uma maneira ou de outra.
Essa tendência irrequieta, de querer fazer qualquer coisa, em vez de aceitar o dom gratuito de Deus, baseia-se no fato de que o homem não gosta de se reconhecer culpado — ou seja, de confessar-se desesperadamente arruinado, irremediavelmente perdido, e completamente incapaz de fazer seja o que for que possa contribuir para a sua própria salvação. No entanto, o homem sempre prefere fazer tal tentativa!
“Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça” (Romanos 10.3), os homens negam a declaração feita por Deus, que “não há um justo, nem um sequer… não há quem faça o bem, não há nem um só” (Romanos 3.10,12). Em outras palavras, não reconhecendo a sua necessidade das “túnicas de peles” que o próprio Deus oferece, tentam coser folhas de figueira e fazer para si aventais.
O povo de Israel estava decidido a fazer alguma coisa: “Todo o povo respondeu a uma voz, e disseram: Tudo o que o Senhor tem falado, faremos” (Êxodo 19.8). Desconheciam a sua própria natureza. Por isso Deus lhes deu os dez mandamentos, a fim de lhes demonstrar quão pecaminosa era a sua índole. Tal como o espelho mostra a sujeira do rosto, assim, “pela lei veio o conhecimento do pecado” (Romanos 3.20). A lei tão somente pôde condenar; foi o “ministério da condenação” (2 Coríntios 3.9), pois que todos são pecadores culpados, pelo que o persistir em esforçar-se por se apresentar com merecimento, apenas resulta em aumentar a culpabilidade. Por isso está escrito: “Ora àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida” (Romanos 4.4). “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou” (Tito 3.5). “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé… não vem das obras” (Efésios 2.8,9). “Não segundo as nossas obras, mas segundo o Seu próprio propósito e graça” (2 Timóteo 1.9). De maneira que é evidente que não servem os aventais dos homens.
Alguns acreditam com sinceridade que precisam invocar o auxílio de Deus para aperfeiçoar as obras que fazem em benefício da sua própria salvação. Citam as palavras de Filipenses 2.12,13: “Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós”. Ora, se o apóstolo Paulo tivesse dito “operai a favor da vossa salvação”, ou “operai pela vossa salvação”, teria de fato tal significação.
Porém “operai a vossa salvação” são palavras dirigidas àqueles que já possuem a salvação, e também o Espírito Santo de Deus, para que apliquem a salvação à vida prática, nos conflitos que todos os dias terão que enfrentar. Outro versículo muitas vezes citado, “a fé sem as obras é morta” (Tiago 2.20), serve de repreensão para aqueles que dizem ter fé, mas não dão qualquer sinal disso.
O certo é que o esforço humano e a graça celestial nunca podem se ligar, de comum acordo; nisto são semelhantes à água e ao óleo. “Mas se é por graça, já não é pelas obras: de outra maneira, a graça já não é graça” (Romanos 11.6). Importa que Cristo tudo tenha feito, para que a Ele seja dado todo o louvor. “Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2.9).
Se a salvação fosse ganha pelas obras, então no Céu cantar-se-ia: “A nós que temos feito o melhor que podemos, seja a glória para todo o sempre!” Mas, em Apocalipse 1.5,6 e 5.9, todo o louvor é atribuído “Àquele que nos ama, e em Seu sangue nos lavou dos nossos pecados… a Ele glória e poder para todo o sempre. Amém”.
Certamente há muitos que nunca se sentiram pecadores perdidos; são pessoas tão boas e amáveis, mas que se torcem como se alguém estivesse a torturá-las quando proclamamos a graça, e tão somente a graça, como único e indispensável meio de salvação. Amigo, rogo-lhe que esquadrinhe o seu coração para ver se tal reação não se encontra escondida ali!
O contraste entre s Lei e a Graça A LEI foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (João 1.17).
Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Romanos 10.4).
E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados por Ele é justificado todo aquele que crê” (Atos 13.39).
Os dois princípios são distintos, e estão em nítido contraste um com o outro, não podendo ser harmonizados, nem acrescentados um ao outro. A lei torna a minha situação dependente daquilo que sou em relação a Deus. A graça faz tudo depender daquilo que Deus é para mim.
A lei exige; a graça oferece.
A lei condena; a graça justifica.
A lei amaldiçoa; a graça abençoa A lei conserva em escravidão; a graça liberta o crente.
“Porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Romanos 6.15) A lei diz: “Farás”. A graça diz: “Está feito”.
A lei exige do homem justiça. A graça veste o homem com a justiça de Deus.
Tal como Deus fez túnicas de peles para vestir a Adão e Eva, assim a morte expiatória do Cordeiro de Deus cobre o crente. É “o melhor vestido” (Lucas 15.22); a “justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem” (Romanos 3.22).
O nosso Substituto, que nunca pecou, foi feito “pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5.21); “agradáveis a Si no Amado” (Efésios 1.6). “Portanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8.1). “Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Coríntios 5.17).
Acrescentando a Lei à Graça!
Se, depois de Deus haver feito para Adão e sua mulher aquelas túnicas de peles tão belas e duradouras, continuassem a fazer aventais de folhas de figueira; ou se tentassem adicionar às túnicas algum melhoramento, da sua própria imaginação, o que se pensaria deles? Contudo, é justamente isto que muitos, que se intitulam cristãos, estão fazendo. Já nos primeiros dias da Igreja o faziam; mas escute, leitor: Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou?… Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?… Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-Se maldição por nós… Estai pois firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão…
Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei: da graça tendes caído” (Gálatas 3.1,3,13; 5.1,4).
Falsos irmãos, que ensinavam ser indispensável observar a lei, tinham perturbado os crentes, pervertendo o evangelho da graça de Cristo. Ensinavam ser obrigatório observar a lei. (veja Atos 15.1-11,24; Gálatas 1.6,7; 2.4,16; 5.10,12).
Adão e Eva foram mais sensatos. Não mereciam, nem tiveram de trabalhar para obter as túnicas de peles, nem acrescentar qualquer coisa à dádiva de Deus. Tinham trabalhado em vão para encobrir sua culpa. Agora só lhes restava agradecer a Deus a Sua graça para com eles. Então, depois de terem sido vestidos por Deus, podiam manifestar o que Deus tinha feito para beneficiá-los.
As nossas obras nunca podem ser o meio da nossa salvação. Mas, depois de sermos salvos por fé na obra de Cristo, a nova vida há de se manifestar em boas obras, como evidência do fato de sermos novas criaturas. “Eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tiago 2.18). Certamente que aqueles que creem em Deus devem procurar “aplicar-se às boas obras” (Tito 3.8), “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2.10).
Não vou trabalhar, minh’alma pra salvar, Pois Cristo essa obra completou; Mas prontamente irei, com alegria trabalhar, Pra Quem a minha alma resgatou.
O QUE SIGNIFICA “CRER”?
MEU AMIGO, há multidões que creem no que ouvem acerca de Cristo e do Evangelho, mas que nunca creram confiadamente no Senhor Jesus.
Talvez você diga: “O que quer dizer? Não me parece haver muita diferença”. Pelo contrário, existe uma diferença da máxima importância. Suponhamos que eu esteja a passear com um amigo numa das ruas principais de alguma grande cidade. O meu amigo me diz: “Você vê aquele grande edifício na esquina, com uma tabuleta de metal?” Respondo afirmativamente. “Bem; é ali que fica o maior especialista em doenças do coração. Vêm doentes de todos os pontos do país para consultarem com ele. Os seus êxitos têm sido grandes e numerosos.” Nesta altura, o famoso médico sai do edifício e entra em seu carro, pelo que tenho oportunidade de vê-lo.
Felizmente, o meu coração funciona muito bem. Acredito em tudo o que meu amigo me informou acerca do médico, mas a informação não tem para mim importância pois não necessito dos seus serviços clínicos.
Suponhamos, porém, que poucas semanas depois desta conversa, eu adoeça de repente, com forte crise cardíaca. Lembro-me logo daquele médico; mando chamá-lo e coloco-me sem reserva em suas mãos, recuperando assim a saúde. Agora já conheço o médico; conheço a sua perícia, e quando falo dele, é com ânimo, pois estou grato por aquilo que me fez. Em resumo: entreguei o meu caso ao médico e descansei confiando em sua sabedoria e capacidade; enquanto que antes apenas acreditava no que ouvira acerca dele.
Vamos ainda supor que o leitor e eu estamos passeando à beira mar, num lindo dia de verão. Vemos na praia um barco salva-vidas. Admiramos a sua construção forte, as suas linhas elegantes e o equipamento e condições que possui para salvar vidas. Em resumo, acreditamos em tudo quanto ao barco. Mas não necessitamos ser por ele socorridos, pois não nos encontramos em perigo de morrer afogados. Mas suponhamos que, seis meses depois, nos encontramos no convés de um navio prestes a afundar, e nossa única esperança de sermos salvos de morrer afogados é aquele barco salva-vidas. Que diferença em nossa atitude para com esse barco, quando o vemos se aproximar, tripulado por homens dedicados e corajosos. Com que grande alívio entramos nele e somos salvos! Não só acreditamos o que ACERCA dele nos consta, mas agora depositamos NELE a nossa confiança.
Em 1859 o célebre francês Blondon atravessou as Cataratas do Niágara andando sobre um cabo esticado e, depois, ofereceu-se para tornar a fazer a travessia com qualquer pessoa às costas. Muitos acreditaram que ele era bem capaz de o fazer sem perigo algum, mas houve apenas um homem que aceitou o convite.
CINCO COISAS QUE ANDAM JUNTAS
“NA VERDADE, na verdade vos digo que quem OUVE a minha palavra, e CRÊ naquele que me enviou, TEM a vida eterna, e NÃO ENTRARÁ em condenação, mas, PASSOU da morte para a vida” (João 5.24).
Temos, neste versículo, cinco coisas preciosas. Preste bem atenção a elas: 1 – OUVE
2 – CRÊ
3 – TEM
4 – NÃO ENTRARÁ
5 – PASSOU
E note que AS CINCO ANDAM JUNTAS; ou seja, você não pode tomar TRÊS delas e deixar as outras duas, ou receber duas e deixar as outras três.
ELAS SEMPRE ANDAM JUNTAS.
É como se Deus dissesse: “Eis aqui, pobres almas ansiosas, aqui há um feixe de bênçãos para vocês”. Agora leia o versículo uma vez mais, e se certifique de que não perdeu nada deste feixe.
Mas parece que posso escutar você, alma ansiosa, dizendo: — Oh! Sim, eu sei disso; já li este versículo várias vezes; mas ainda não melhorei. De nada me adiantará lê-lo outra vez, pois não me sinto salvo.
— Eu estou muito contente por isso.
— Contente? Por eu não poder afirmar que estou salvo?
— Não! Contente por você não SENTIR-SE salvo. Veja, você está tentando incluir no feixe algo que Deus deixa fora, e quer deixar fora algo que Deus inclui. O “SENTIR-SE SALVO” não aparece em nenhum lugar do versículo. “A fé é pelo ouvir” (Romanos 10.17), e neste versículo o Senhor coloca primeiro o “OUVE”, depois o “CRÊ”, então o “TEM”, depois o “NÃO ENTRARÁ”, e depois o “PASSOU”. Você está tentando tirar o “CRER” e colocar o “SENTIR” em seu lugar. Por esta razão fico contente que tenha dito que você não SE SENTE SALVO, pois se estivesse experimentando alguns sentimentos agradáveis, e eu lhe perguntasse, “Você está salvo?”, você responderia, “Sim”. Então eu perguntaria “Como você sabe disso?”, e sua resposta seria, “Bem, eu sinto uma mudança, estou muito feliz”. Então, na primeira vez que nuvens escuras viessem turvar seu horizonte, seus sentimentos se desvaneceriam e você teria perdido seu Salvador. Dessa maneira você estaria considerando, não a CRISTO, mas aos seus SENTIMENTOS como sendo seu Salvador. Portanto, não inclua o que Deus deixou fora, e não diga que você já conhece tudo acerca deste versículo, pois tenho certeza de que não conhece estas cinco coisas que estão ligadas. Vamos examinar o versículo mais atentamente. Você já OUVIU a Palavra?
— Sim, já ouvi.
— E CREU naquele que enviou a Cristo?
— Sim, eu creio.
— Bem, então me diga em que você crê?
— Eu creio que Deus enviou Jesus para tomar o meu lugar, e Ele morreu por mim, e eu O aceito como meu Salvador pessoal.
— Realmente?
— Sim.
— Você tem certeza disso?
— Sim, certeza absoluta.
— Então você já OUVIU?
— Sim, já.
— E você CRÊ?
— Sim, eu creio.
— Então o que vem a seguir?
— “TEM a vida eterna.”
— Então VOCÊ tem a vida eterna?
— Ah! Bem, você entende; eu não posso afirmar tal coisa. Se eu tão somente pudesse sentir-me seguro acerca deste ponto, então tudo estaria resolvido.
— E o que você pensa que poderia fazê-lo sentir-se seguro?
— Nem imagino.
— Preste atenção; suponha que você tivesse alugado uma casa e não pudesse pagar o aluguel por vários meses. Então eu iria, pagaria tudo, entregando a você o recibo quitado. O que lhe daria a certeza do aluguel ter sido pago?
— Oh, o recibo, é claro.
— Exatamente. Então você iria SENTIR-SE feliz por SABER que seu aluguel foi pago, e se acaso o proprietário viesse cobrar novamente o aluguel, você não falaria a ele acerca de seus sentimentos, mas apenas apresentaria o recibo. E Deus está oferecendo Seu recibo a você, e você está fechando os olhos e querendo SENTIR isto ao invés de ler e crer. Pergunto: Você OUVIU?
— Sim.
— Você CRÊ?
— Sim.
— Então Deus diz que você TEM, e não que você ESPERA TER. “TEM a vida eterna” é a Palavra de Deus, e isto não é tudo: “NÃO ENTRARÁ em condenação” ou juízo. Todo o juízo caiu sobre Jesus, e o crente está nele; “portanto AGORA NENHUMA CONDENAÇÃO HÁ para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8.1).
Você nunca permanecerá diante do Grande Trono Branco para ser julgado por seus pecados; todo o juízo que você merecia foi carregado por Jesus na cruz, e Ele resolveu o problema de forma tão completa que Deus O ressuscitou dentre os mortos. O Senhor Jesus na glória é a prova de que a dívida está paga, e assim você nunca deverá entrar em julgamento, pois seus pecados já se foram de uma vez por todas.
Porém não é tudo, pois há ainda mais uma coisa: “PASSOU da morte para a vida”. Você estava em um estado de morte, “mortos em ofensas e pecados” (Efésios 2.1). Mas agora você PASSOU da morte para a vida; não PASSARÁ algum dia, mas PASSOU. Que glorioso é isto! Vivificados, ressuscitados, assentados nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Efésios 2.5,6). Que feixe de bênçãos, e qualquer pobre pecador que OUVIU e CRÊ, recebe também as outras três coisas, pois todas elas vão juntas. Agora, alma ansiosa, você gostaria de receber as cinco?
— Sim, certamente eu gostaria.
— Você as receberia como suas? Então, ei-las aqui para você: “Quem OUVE a minha Palavra”. Você ouviu?
— Sim, ouvi.
— “E CRÊ naquele que me enviou.” Você crê?
— Sim, eu creio.
— “TEM a vida eterna.” Você a tem?
— Sim, vejo que sim.
— “NÃO ENTRARÁ em condenação.” Você será condenado?
— Não, tenho certeza de que não serei condenado; agora posso enxergar isto.
— “PASSOU da morte para a vida.”
Você passou da morte para a vida?
— Sim, vejo que sim.
— Então você recebe as cinco coisas juntas?
— Sim, eu as recebo.
— Portanto você está salvo?
— Sim.
— Quando?
— Agora
— Como você sabe disso?
— Deus o diz neste versículo.
— E para você a Palavra de Deus é suficiente?
— Sim, certamente.
— Então, “TODO AQUELE QUE NELE CRER NÃO SERÁ CONFUNDIDO” (Romanos 10.11).
UM PREGADOR DA ANTIGA ESCOLA
MUITOS PREGADORES estão abandonando as doutrinas solenes e fundamentais da queda espiritual e subsequente ruína e depravação total da raça humana. Raras vezes os pregadores declaram, com nitidez, que somos pecadores perdidos aos olhos de um Deus santo. Os sermões dos nossos antepassados — que procuravam frisar esta verdade constantemente nos corações dos seus ouvintes — são considerados como antiquados e fora de moda. Seja como for, fica conosco um pregador da antiga escola, que nos fala tão claramente hoje como nos tempos passados. Não é um pregador popular, apesar de o mundo inteiro ser a sua paróquia e viajar por toda a parte, falando todas as línguas do globo terrestre. Visita os pobres e os ricos, pregando tanto aos adeptos de todas as religiões como àqueles que não professam nenhuma religião e, seja qual for o auditório, o assunto do seu sermão é sempre o mesmo.
É um pregador eloquente e, muitas vezes, é capaz de comover o coração que jamais pôde ser comovido por qualquer outro, e faz derramar lágrimas a pessoas pouco habituadas a chorar. Dirige-se à inteligência, à consciência e ao coração dos ouvintes, com argumentos que ainda ninguém pôde contradizer; e não há coração que tenha ficado de todo indiferente aos seus poderosos argumentos. Muita gente o odeia, pois muitos têm tremido na sua presença; mas, duma ou doutra maneira, obriga a todos a ouvirem a sua voz.
Não é nada condescendente nem delicado. De fato, muitas vezes desmancha combinações feitas e intromete-se bruscamente nos prazeres particulares de cada um! Frequenta as lojas, os escritórios e as fábricas; aparece entre os legisladores; também se introduz, em ocasiões inoportunas, nos ajuntamentos religiosos. O nome deste pregador é A MORTE.
Sempre que você pega um jornal, encontra uma parte que lhe está reservada. Cada túmulo do cemitério lhe serve de púlpito. Muitas vezes se vê o seu auditório encaminhando-se para o cemitério ou dele regressando. O falecimento repentino daquele vizinho
— a despedida solene daquele parente — a perda daquele amigo tão estimado — o terrível vácuo que deixou no seu coração a morte da esposa tão querida, ou do filho amado — têm sido apelos solenes e poderosos que o velho pregador dirigiu a você. Pode ser que em breve >você mesmo sirva de texto para o sermão deste pregador, e do meio de sua própria família, ou ao pé do seu túmulo, ele pregue a outros… Que o seu coração agradeça a Deus, neste momento, a sua permanência ainda na terra dos viventes, e por você não ter, até agora, morrido em seus pecados!
Você pode livrar-se da Bíblia; zombar de seus ensinamentos; desprezar os seus avisos; rejeitar o Salvador de Quem ela fala. Você pode se afastar dos pregadores do Evangelho, pois ninguém poderá obrigá-lo a frequentar qualquer lugar de culto; você pode queimar este ou qualquer outro folheto semelhante que venha a cair em suas mãos. Mas como você se livrará do velho pregador de quem estou falando?
Homens e mulheres prestes a morrer: pensem na perspectiva que vocês têm diante de si! O tempo de vocês logo terminará — os prazeres em breve chegarão ao fim. VOCÊS TERÃO QUE MORRER. “Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hebreus 9.27). Peço a você, leitor, que pense bem neste fato. Por que é que a morte tem que existir? Será por simples acaso que uma criatura com tanto poder e competência, como o homem, tenha um fim tão trágico e desonroso? Há uma única resposta para estas perguntas; e, enquanto o pregador da antiga escola estiver fazendo sua ronda, ele se encarregará de dá-la. Escuta: “Por um homem (Adão) entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte” (Romanos 5.12).
A Queda do Homem não se trata de um simples dogma teológico; é a medonha realidade da qual são testemunhas a história do mundo e a nossa experiência. O pecado é a negra e universal realidade, cuja presença traz a maldição sobre o mundo, e não apenas uma simples palavra da Bíblia, usada pelos pregadores para amedrontar os ouvintes.
“Assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Romanos 5.12). Leitor: estas palavras também dizem respeito a você. Você é um pecador; você pecou; sobre você pesa a sentença de morte.
Um momento após a sua morte e já lhe será sem importância ter morrido em um palácio ou numa prisão. Mas a sua condição por toda a eternidade, se é de infinita tristeza ou de suprema felicidade, isso dependerá do estado espiritual em que você morreu. Se tiver morrido em seus pecados, havendo desprezado o sangue purificador do Filho de Deus, sua condenação eterna é certa. Todos os incrédulos terão a sua parte “no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte” (Apocalipse 21.8).
Qual destas frases poderia ser escrita em seu túmulo: “MORREU SEM MISERICÓRDIA” (Hebreus 10.28), ou “MORREU NA FÉ“ (Hebreus 11.13)?
“Oxalá eles fossem sábios! que isto entendessem, e atentassem para o seu fim!” (Deuteronômio 32.29).
“O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 6.23).
“Mas Deus prova o Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8). O pregador da antiga escola nunca falou com voz mais forte, ou em tom mais solene, como falou pela morte de Jesus no Calvário. A santidade divina não podia ter em pouca conta o pecado. O tremendo castigo da nossa culpa — o salário do pecado em toda a sua realidade negra e terrível — caiu sobre o Substituto inocente. Ele tomou o nosso lugar na morte e condenação, para que nós tivéssemos o Seu lugar de aceitação e favor perante Deus. Você poderá morrer sem ter sido salvo, mas não morrerá sem ter sido amado.
UM ULTIMO AVISO ou “POR UM TRIZ”
CERTO DOMINGO à tarde, estava eu empenhado em distribuir folhetos evangelísticos a vários trabalhadores das minas de carvão. Gozava o ar fresco e puro, bem como a luz do sol, após uma semana inteira passada na escuridão e insalubridade da mina.
Atravessava a praça em direção ao portão de meu jardim, quando encontrei dois jovens mineiros que, com passo lento, vinham ao meu encontro. Parei e, escolhendo dois folhetos dos poucos que ainda me restavam, ofereci uma mensagem a cada um deles. Ambos aceitaram, agradecendo, e um deles, rapaz dos seus vinte e cinco anos, forte e de aspecto sadio, parou e leu em voz alta o título do folheto que recebera: “Por Um Triz”.
Senti em meu íntimo um solene anelo e, dirigindo o meu olhar para o seu semblante, que patenteava franqueza e honestidade, disse-lhe: — Sim, meu amigo, Deus conceda que você atinja o Céu, ainda que seja apenas por um triz.
Em casa orei: “Senhor, salva aquele jovem”.
Na noite da terça-feira seguinte, tinha-me retirado para o quarto a fim de me deitar, quando ouvi bater à porta, pelo que abri a janela e perguntei: — Quem está aí?
— Foi o senhor que, no domingo passado, ofereceu a um jovem um folheto intitulado “Por Um Triz”? — perguntou o homem que havia batido à porta.
— Sim, fui eu.
— Então, venha já, por favor — disse ele.
Vesti-me depressa e acompanhei-o, naquela noite de verão. No caminho ele contou-me que o seu amigo descia à mina, como de costume, mas que saltara do elevador antes de ter chegado ao fundo, tendo sido apanhado e esmagado pela plataforma. Tinha as costelas fraturadas e, disseme o rapaz, sofria dores horríveis, sem poder falar e respirando com a maior dificuldade. Parecia estar mesmo às portas da morte.
Quando o jovem que me acompanhava terminou de contar tudo isto, chegamos à casa do acidentado. Lá estava aquele belo e forte rapaz que eu havia encontrado há apenas dois dias, então cheio de saúde e vigor, mas agora totalmente inválido.
Quando entrei, fitou em mim o olhar e tentou falar; mas não lhe foi possível.
— Quer que eu leia a Bíblia e faça uma oração por você? — perguntei.
A resposta foi apenas um fraco som, que parecia significar que sim. Li então em João 3.16: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Então lhe falei do amor de Deus, anelando a sua salvação; bem como do valor do sangue de Cristo para salvá-lo. Disse-lhe que, por natureza estava perdido, arruinado; mas que Jesus viera buscar e salvar os perdidos; que Jesus tinha buscado a ele e que muito o desejava; que, havendo feito a obra pela qual o pecado podia ser limpo diante de Deus, podia agora dar-lhe a certeza do perdão de todos os seus pecados, em virtude do Seu sangue precioso.
Li a bela história do pai e seu filho pródigo (Lucas 15), bem como as breves orações do fariseu e do publicano, no capítulo 18 do mesmo Evangelho, e repeti o versículo: “O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6.37), palavras ditas por Jesus.
O semblante do enfermo começou a brilhar de esperança, desaparecendo os sinais de desespero que havia manifestado. Fez sinal de querer beber, e sua esposa deu-lhe um copo de água que lhe apoiou aos lábios. Bebeu um pouco e, depois, com profunda surpresa de todos, ele, que até então mal tinha podido proferir um pequeno sussurro, disse em voz clara e de olhos fitos no alto, como se estivesse contemplando Aquele a Quem se dirigia: — Por um triz! Deus tenha misericórdia de mim, pecador, por Jesus Cristo. Amém!
Mal tinha pronunciado a última palavra, a cabeça caiu para trás, no travesseiro, escapou-lhe dos lábios um suspiro trêmulo, e eis-nos na presença do cadáver.
Nunca me esquecerei daquela cena. Para muitos dos que a presenciaram, foi como uma palavra de aviso à beira da eternidade, e Deus serviu-Se dela para bênção de preciosas almas.
“Apenas há um passou entre mim e a morte” (1 Samuel 20.3).
“O Senhor… é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam” (2 Pedro 3.9).
“Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação” (2 Coríntios 6.2).
BOA NOITE OU… ADEUS!
O Dr. LANGDALE, de Nova York, conta de um consagrado crente no Senhor Jesus, homem de negócios, que foi atropelado por um automóvel e levado às pressas para um hospital. Informaram-no que apenas teria mais umas duas horas de vida. Sua fé na bondade de Deus e no porvir era bem manifesta. Mandou chamar a família e dirigiu-lhes as seguintes palavras de despedida: — Boa noite, querida esposa. Nos dias de sol e pelas sombras, temos andado juntos. Você tem sido a minha inspiração em todos os meus empreendimentos. Tantas vezes tenho visto como que o Espírito de Deus brilhando em seu rosto. Amo você muito mais do que no dia em que se tornou minha noiva. Boa noite, querida, hei de tornar a encontrá-la amanhã; boa noite!
— Boa noite, Mary. Você é nossa primogênita e tem sido de grande alegria ao seu pai. Que boa crente você é, Mary; nunca você poderá esquecer o quanto eu a amo. Boa noite, Mary, boa noite!
— Boa noite, William. — Voltou-se para o filho mais velho. — A sua vinda ao nosso lar foi uma bênção sem igual. Você ama o Deus de seu pai. Continuará a crescer em toda a graça e virtude cristã. Tem de seu pai o amor e a bênção. Boa noite, William, boa noite!
Era Charles o que se seguia ao William, mas tinha andado em más companhias, entristecendo sobremaneira os pais. O homem moribundo passou-o por alto, e dirigiu-se à filhinha mais nova, uma linda menina, deixando Charles para o fim.
— Boa noite, Grace. Há muito tempo você tem sido como um cântico de alegria e um lindo raio de luz. Quando, ainda há pouco, se entregou de todo o coração a Cristo, o cálice de felicidade de seu pai transbordava. Boa noite, filhinha querida, boa noite!
— Adeus, Charles. — Chamou então Charles para junto dele. — Oh, Charles, que rapazinho belo e promissor que você era. Seus pais confiavam que você viria a ser um homem nobre. Demos a você todas as oportunidades que concedemos aos seus irmãos. Se alguma diferença tiver havido, você há de admitir que foi sempre a seu favor. Você nos trouxe desilusão. Você enveredou pelo caminho largo, que conduz à perdição. Desprezou os avisos da santa Palavra de Deus. Não quis escutar o convite do Salvador. Mesmo assim, sempre o amei e continuo a amá-lo, Charles. Só Deus sabe o quanto eu amo você! Adeus, Charles, adeus!
Charles, agarrando-se à mão do pai, e entre soluços, exclamou: — Meu pai, porque você disse “boa noite” aos outros, e a mim “adeus”?
— Pelo simples motivo de que encontrarei os outros membros da família “pela manhã”; mas todas as promessas de Deus, que nos asseguram esse encontro glorioso; essas afirmações da Palavra de Deus quanto a tal encontro, nenhuma esperança me dão de que eu venha a encontrar você ali. Adeus, Charles, adeus!
Charles prostrou-se de joelhos, junto à cama do seu pai moribundo, e clamou em grande angústia de alma, rogando a Deus perdão dos seus pecados.
— Charles, você está pedindo com sinceridade?
— Deus sabe que sim — disse o jovem, de coração contrito e quebrantado.
— Então Deus ouvirá e lhe salvará, Charles, pelo que já lhe digo: “Boa noite”, e não “Adeus”. Boa noite, Charles, boa noite, meu filho. — E com estas palavras nos lábios, faleceu.
Hoje Charles é um pregador do Evangelho.
Esta narrativa do falecimento feliz daquele querido irmão na fé foi-me enviada por um amigo (escreve o Dr. Langdale) e, ao transmiti-la, faço-o com fervorosa oração, que possa ela vir a ser lida por muitos “Charles” que estão agora seguindo pelo caminho largo, que conduz à destruição.
Eis aqui agora o dia da salvação” (2 Coríntios 6.2).
Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa” (Apocalipse 3.20).
Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação?” (Hebreus 2.3).
Oh! Não feches os ouvidos à Palavra, Nem os olhos à bendita luz!
O coração não endureças; Vem desde já a Jesus.
VOCÊ PODE SER SALVO
POR QUÊ? PORQUE JESUS MORREU E RESSUSCITOU.
Somente sobre esta base, e nenhuma outra, é que você pode ser salvo. Se você deve ser salvo, então o pesado fardo de seus pecados precisa ser removido. Se o seu pesado fardo precisa ser removido, a pena pelo pecado precisa ser aplicada em alguém. Se a pena pelo pecado precisa ser aplicada em alguém, então Jesus precisava morrer, pois a pena para o pecado é a morte. Você não poderia suportá-la sem perecer miseravelmente. Assim disse o apóstolo: “Pelo Seu Nome vos são perdoados os pecados” (1 João 2.12). Não pelas obras que você possa praticar, nem pela sua moralidade, mas pelo Nome de Jesus.
ONDE? EM QUALQUER LUGAR.
A resposta não poderia ser mais simples. A misericórdia flui hoje mesmo — não por meio de alguma relíquia em alguma cidade santa, nem por meio do toque de alguma mão santificada, mas de um vitorioso e ressuscitado Cristo no Céu. Pode-se ter acesso a Ele estando em qualquer lugar. Toque nele, ou, em outras palavras, creia nele e você será salvo.
COMO? PELA FÉ.
E somente pela fé. As Escrituras são conclusivas quanto a este ponto. A salvação não é por meio das obras, e nem por fé e obras combinadas, mas somente pela fé. “Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2.9).
QUANDO? AGORA!
Esta é a única resposta sensata. Cuidado para não perder sua alma eternamente só por causa desta pequena questão: quando! “Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação” (2 Coríntios 6.2). Vá a Jesus AGORA MESMO!
E AGORA, QUERIDO LEITOR, ao terminar, se como pecador perdido, aos olhos de Deus, tiver crido de todo o coração, tiver aceitado o Senhor Jesus como tendo sofrido na cruz por todos os pecados cometidos por você, e tendo ressuscitado para sua justificação, então o Cristo na glória é Aquele