O proprietário da casa em que morei como inquilino por muitos anos avisou-me que não irá mais providenciar reparos nela. Ele me disse que devo preparar-me para mudar.
A princípio essa não foi uma notícia das melhores. A vizinhança aqui é boa em muitos aspectos e, se não fosse pelo evidente apodrecimento da estrutura da casa, eu até que a consideraria satisfatória. Porém até mesmo um vento fraco a faz tremer, e todos os reforços não têm sido suficientes para fazê-la verdadeiramente segura. Por isso estou me preparando para mudar.
É estranho a rapidez com que passamos a nos interessar pelo nosso futuro lar. Tenho consultado mapas do lugar para onde vou e tenho lido a respeito de seus habitantes. Um deles foi até lá e voltou, e por meio dele aprendi que o lugar é de uma beleza sem igual – a própria linguagem é incapaz de exprimir as coisas que escutou enquanto estava lá. Ele contou que, a fim de fazer um investimento ali, sofreu a perda de tudo o que possuía aqui, e o que para ele é motivo de regozijo, é visto pelos outros como “sacrifício”.
Outro, cujo amor por mim foi demonstrado pela maior prova imaginável, encontra-se lá agora. Ele tem me enviado pencas das mais deliciosas frutas. Depois de experimentá-las, todo alimento daqui, em comparação, não tem sabor nenhum.
Por duas ou três vezes eu já fui até à beira do rio que fica na fronteira, e cheguei até mesmo a desejar estar junto daqueles que se encontram do outro lado. Não seria maravilhoso viver em um lugar onde “conhecerei como também sou conhecido”, não tendo nada para esconder, nenhuma dúvida, nenhum engano, somente Amor, Comunhão e Serviço, “delícias perpetuamente”?
Muitos dos meus amigos já se mudaram para lá. Pude ver o sorriso em seus semblantes enquanto os perdia de vista. Aqui, as verdadeiras alegrias da vida – o amor e a comunhão – nunca são plenamente desfrutadas em razão das limitações de tempo, dias, estações do ano, compromissos e celebrações, mas “ali não haverá noite” e terei a eternidade à disposição.
Há muitos que sugerem que eu deveria fazer mais investimentos materiais aqui, mas na verdade muitos dos que já fiz têm trazido mais preocupações do que satisfação. Por outro lado, aqueles que já fiz lá têm me dado grande gozo e paz. Como nosso coração está onde estiver o nosso tesouro, estou decidido a não fazer mais daquilo que se costuma chamar aqui de “bom investimento”, pois digo com toda a sinceridade: Creio que devo me aprontar para a mudança.
Christian Treasury – Dez.87