PENSAMENTOS SOBRE O SER UM TESTEMUNHO

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“O que seria suficiente para uma assembléia deixar de ser o testemunho de Deus?”

Em minha opinião a pergunta, por si só, já é um grande equívoco — ou seja, a idéia de que o principal objetivo dos santos seja o testemunho que levam. A ideia não é novidade para mim, mas aquilo em que tenho insistido, nem me lembro há quanto tempo (talvez trinta ou quarenta anos), de que quando o objetivo da assembleia ou de uma assembleia é levar um testemunho, seus membros acabarão sendo um testemunho de sua própria fraqueza e ineficiência; isto porque o objetivo de seu andar não será aquele que definitivamente forma um cristão.

Quando as pessoas têm o objetivo correto, elas acabam sendo um testemunho; mas ser um testemunho nunca é o objetivo principal. Ter a Cristo na prática, andar com o Filho e segui-Lo, ter comunhão com o Pai e com o Filho, caminhar em humildade e obediência não fingidas, viver em real dependência de Cristo, desfrutar de Sua intimidade, praticar o amor do Pai, manter nossas afeições nas coisas que são de cima, andar em paciência e confiança neste mundo — é isto o que devemos buscar. Se agirmos assim seremos um testemunho, individual ou coletivamente. Porém, procurar estabelecer um testemunho ou ser um testemunho não funciona. Moisés não procurou fazer sua face brilhar, e nem mesmo sabia que isso estava acontecendo quando ocorreu. Foi algo que aconteceu quando ele esteve com Deus.

Até onde tenho observado, sempre que cristãos decidem ser um testemunho, eles acabam ficando cheios de si e não percebem, se gabando de possuir muito de Cristo. Uma face brilhante nunca enxerga a si mesma. O verdadeiro coração está ocupado com Cristo, e em certo sentido e medida o ego é deixado de lado. O pensamento correto não é pensar seja lá o que for de si mesmo, exceto quando precisamos nos julgar. Você não pode querer ser um testemunho, a menos que esteja ocupado com o pensamento de ser um, e isso é pensar em si mesmo. E, como já disse, é o que tenho visto acontecer.

Um dos primeiros sinais do mal neste sentido foi a reunião de Manchester. Os irmãos estavam pensando em si mesmos e falando de si mesmos, não de Cristo. Querer ser Filadélfia era o espírito de Laodiceia. Como costumo dizer com frequência: Acreditei que Deus estivesse fazendo essa obra, mas fazer as coisas no sentido de querer ser algo foi exatamente o oposto. Filadélfia continua aqui até que Cristo venha — ela tem a promessa, por guardar a palavra da paciência de Cristo, de ser guardada da hora da provação que está para vir em todo o mundo, e a promessa de que Cristo voltará logo. Creio que haverá um testemunho de Filadélfia muito mais efetivo. Mas não é a isso que me oponho agora, mas à pretensão de, coletivamente, ser tal testemunho.

Filadélfia é louvada por não ter negado o nome de Cristo. Ela tem pouca força, o que não soa como algo muito elevado. Todavia, ser fiel e guardar a palavra de Cristo quando outros abandonam a fé pode ser o seu teste. Desejo sinceramente ver os amados santos entregues à total devoção, força e constância da comunhão, mas isso não significa a pretensão de ser algo que caracterize essas coisas. (Letters of JND – Vol 3, pg.121, 122).