O SERVO VIGILANTE E A VINDA DO SENHOR

 

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Proponho tratar de um assunto que sinto ser de profunda importância – a vinda do Senhor Jesus; e abordá-lo, não para prová-lo como doutrina, mas para demonstrar que, no princípio, esta era uma parte substancial do próprio Cristianismo. A base está na primeira vinda de Cristo e em Sua morte expiatória; mas quando olhamos além do fundamento, então vemos que a vinda do Senhor Jesus não se trata meramente uma partícula de conhecimento, mas de uma parte substancial da fé da Igreja de Deus, da qual depende o estado moral dos santos, e até mesmo o da própria igreja. Ao ler as passagens que vou citar, você verá que elas se conectam e se mesclam com cada parte do Cristianismo, caracterizando-o e conectando-o com cada pensamento e sentimento do Cristão. Uma pessoa não poderia ler as Escrituras com uma mente sem preconceitos e ainda não enxergar isto.

Tome, por exemplo, a conversão. As pessoas perguntam: O que tem isto a ver com a vinda do Senhor? Faz parte daquilo para que eles foram convertidos, ou seja, “para… esperar dos céus a Seu Filho”. Essa espera pelo Filho de Deus vindo do céu caracterizava a conversão dos tessalonicenses; eles foram convertidos para servir a Deus, certamente, mas também “para esperar dos céus a Seu Filho” (1 Ts 1:10).

A posição do Cristão quanto à vinda do Senhor é que ele está esperando por Cristo vindo conforme a Sua promessa. As pessoas dizem que Ele vem por ocasião da morte. Eu pergunto: Acaso você considera a morte igual a Cristo? Se fosse este o caso, Ele já teria vindo centenas de vezes. No entanto lemos acerca de apenas duas vindas (Hb 9:28).

Posso dizer a você o que acontecerá quando Cristo vier? A ressurreição! Isto é algo bem diferente da morte. A vinda de Cristo deverá ser, para o santo, o fim da morte – exatamente o oposto da morte. Creio que ninguém poderá encontrar, nas Escrituras, um mínimo sinal da ideia de que Cristo venha na morte. Ao invés da vinda de Cristo ser morte, é ressurreição; na morte somos nós que vamos para Cristo, não é Cristo Quem vem a nós. É algo bendito “partir, e estar com Cristo” (Fp 1:23); “deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (2 Co 5:8). Todavia devo demonstrar que esta ideia da vinda de Cristo se mescla com a vida Cristã e caracteriza cada parte dela.

Primeiro a vemos na conversão, como já foi dito. Eles haviam sido convertidos para esperar pelo Filho de Deus vindo do céu. Vou abrir em outras passagens que dá respaldo a isto, mas devo primeiro seguir pelo livro de Tessalonicenses. No segundo capítulo da primeira epístola, no final, o apóstolo fala do que se tratava o seu conforto e gozo no serviço. Ele havia sido privado do convívio com os tessalonicenses por causa da perseguição, e ao escrever-lhes fala de seu conforto em pensar neles. Mas como o faz? “Porque, qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda?” (1 Ts 2:19). Ele não pode falar-lhes de seu gozo e interesse neles sem mencionar a vinda do Senhor Jesus. E mais uma vez, no tocante à santidade, “E o Senhor vos aumente, e faça abundar em amor uns para com os outros, e para com todos, como também abundamos para convosco; para confortar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os Seus santos” (1 Ts 3:12-13).

Os que em Jesus dormem

No que diz respeito à morte de um santo, eles estavam tão ocupados com a vinda do Senhor que pensavam que, se uma pessoa morresse, ela não ficaria pronta para ir encontrar o Senhor. Eles estavam errados nisto, e o apóstolo corrige o seu erro. Porém agora as pessoas dizem que quando um santo morre, nós devemos segui-lo mais tarde, devemos ir pelo mesmo caminho que foi. Não há aqui nenhuma palavra a este respeito. Suponha que eu fosse e dissesse agora a um Cristão, que tivesse perdido alguém que lhe era muito querido: “Não se preocupe, Cristo irá trazê-lo de volta com Ele”. Me considerariam louco, ou acabariam não entendendo; e, no entanto, é desse jeito que o apóstolo os conforta: “Aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com Ele” (1 Ts 4:14).

Ele segue mostrando como Deus fará isso. “Nós, os que ficarmos vivos… não precederemos os que dormem.” (1 Ts 4:15). “Precederemos” é uma palavra que significa anteceder ou ir antes. A primeira coisa que o Senhor fará quando descer é ressuscitar os santos que dormem. Ele vai trazê-los junto com Ele. Se eles dormiram nEle, seus espírito terão estado com Ele nesse intervalo; mas então eles receberão glória, serão ressuscitados em glória, serão como Ele, assim como foram semelhantes ao primeiro Adão, e, indo encontrá-Lo nos ares, estarão para sempre com Ele; e quando Ele vier irá trazê-los Consigo, e virão com Ele em Glória. Compreendemos isto de uma maneira geral no quinto capítulo, onde o apóstolo deseja que o espírito, alma e corpo possam ser conservados irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Esta esperança, portanto, faz parte da condição Cristã em todos os seus aspectos. A conversão, o gozo no serviço, a santidade, a morte de um crente, o alvo de ser irrepreensível, tudo está conectado com a vinda do Senhor.

“Aí vem o Esposo!”

Abra agora em Mateus 25. As virgens sábias levam óleo em seus vasos, mas todas elas adormecem e se esquecem que o Noivo estava chegando. Mas o que gostaria de perguntar aqui é: Qual era o objetivo primeiro delas? A afirmação, clara e positiva, é que elas saíram ao encontro do Esposo, mas enquanto Ele tardava, todas elas tosquenejaram e adormeceram – todas elas se esqueceram de Sua vinda, tanto as sábias como as loucas. Mas à meia-noite ouviu-se um clamor, “Aí vem o Esposo!” (Mt 25:6). O que as levantou de seu sono foi o clamor, “Aí vem o Esposo!” Portanto, o alvo original da Igreja era sair ao encontro dAquele que viria; mas até mesmo os verdadeiros crentes se esqueceram disso. E então, o que os acorda de seu sono é o serem chamados para encontrá-Lo em Sua vinda. E na parábola dos “talentos”, a mesma coisa é apresentada em conexão com o serviço e a responsabilidade. Ele viaja e lhes diz: “Negociai até que eu venha” (Lc 19:13).

Outro notável fato acerca desta verdade é que ela é sempre apresentada como uma expectativa atual e operante. Você nunca encontrará o Senhor e nem os apóstolos falando da vinda do Senhor, com a suposição de que ela seria retardada para um tempo além do período de vida daqueles a quem era falado. Poderia ser no cantar do galo, ou pela manhã; mas eles deveriam estar esperando pelo Filho de Deus vindo do céu. Nas parábolas a que nos referimos, as virgens que adormeceram foram as mesmas que acordaram. Os servos aos quais foram confiados os talentos foram os servos que tiveram que prestar contas deles na Sua volta. Sabemos que séculos já se passaram; mas Ele não permitirá que exista qualquer pensamento de atraso. “Porque o Filho do Homem há de vir à hora em que não penseis” (Mt 24:44). “Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando.” (Lc 12:37).

Então, qual foi a causa da ruína da Igreja? Foi esta: “O meu Senhor tarde virá” (Mt 24:48). Não foi por dizer: “Ele não vem”; mas, “Ele tarde virá”. E então o servo começou a espancar seus conservos e a comer e beber com os embriagados, e isto acarreta o seu juízo. Se a esposa ama o Esposo, ela não pode senão desejar vê-Lo. O coração dela está onde Ele está. Quando a Igreja perdeu isto, acomodou-se e passou a desfrutar do lugar onde estava; tornou-se mundana e não se importou mais com a volta do Senhor.

Abra agora em Lucas 12, e você encontrará como é que esse esperar por Cristo caracteriza o Cristão, e, por conseguinte, o serviço devotado a Ele enquanto está ausente. “Onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.” (Lc 12:34). Era para eles estarem com seus lombos cingidos e suas candeias acesas (Lc 12:35). Tal era a característica de um Cristão. Eles deviam ser como homens que esperam pelo seu Senhor, para poderem abrir a porta para Ele imediatamente; com suas afeições em ordem e uma profissão integral de Cristo, enquanto aguardassem pela volta de Seu Senhor. Não se trata de meramente ter a doutrina da vinda do Senhor. A bênção está sobre aqueles que estão vigiando, “semelhantes aos homens que esperam o seu Senhor”. “Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando.” (Lc 12:36-37). Eles devem estar cingidos; devem ter suas candeias acesas enquanto Ele está ausente, e devem vigiar por Sua volta; e então Ele os fará sentar para cear, e cingindo-Se, virá e os servirá. Agora os servos devem estar cingidos e vigiar; nosso descanso não está aqui. ‘Mas’, diz o Senhor, ‘quando Eu tiver tudo resolvido, vós vos sentareis para cear, e Eu Me cingirei, virei e vos servirei. Farei com que desfruteis do melhor que tenho no céu, e vo-lo ministrarei; tão somente ficai vigiando’. Cristo é, para sempre, um servo em graça, bem de acordo com a forma que Ele assumiu. Ele está agora cingido conforme João 13. Os discípulos naturalmente iriam pensar que, se Ele partisse para o céu em glória, estaria terminado o Seu serviço para com eles; mas o Senhor lhes diz: Vou partir; não posso ficar aqui convosco, mas não vos abandonarei; mas por não poder ficar na terra convosco, vou tornar-vos aptos para estarem comigo no céu. “Se Eu te não lavar, não tens parte Comigo.” (Jo 13:8). Aqui trata-se de água, e não de sangue, pois “Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo” (Jo 13:10). A conversão que traz vida, bem como a salvação, são fatos consumados; mas se nos apega a sujeira do caminho, tanto no que se refere à comunhão, como ao nosso andar, a graça e a intercessão de Cristo como nosso Advogado estão ali para lavar nossos pés e nos tornar aptos, na prática, para estarmos com Deus no mesmo lugar para onde Cristo foi. Há, ou deveria haver, progresso no andar, mas no que concerne à imutável limpeza do novo homem, isto é inquestionável. Todavia, se eu não estiver vigilante, acabarei recolhendo a sujeira do caminho. Não posso ter tal coisa no céu, e nem na comunhão com tudo aquilo que lá está, e, na verdade, o que o Senhor diz é: ‘Não vos abandonarei por estar subindo para Deus e para a glória, e por isso devo manter-vos em condições adequadas à mesma glória, e, embora já estejam lavados (mas nem todos, pois Judas estava ali), devo manter-vos em ordem, restaurando-vos se porventura cairdes. Mas deveis estar vigilantes enquanto estou ausente.