Prefácio
Primeiramente agradeço a Deus por permitir que este material fosse produzido e disponibilizado para milhares de leitores no Brasil e no mundo. As ideias que você encontra aqui não são originalmente minhas, e sim fruto do que tenho aprendido da Palavra de Deus fora dos sistemas denominacionais com irmãos congregados ao nome do Senhor e também com autores de outras épocas que congregavam assim. Foram eles J. G. Bellett, C. H. Brown, J. N. Darby, E. Dennett, W. W. Fereday, J. L. Harris, W. Kelly, C. H. Mackintosh, A. Miller, F. G. Patterson, A. J. Pollock, H. L. Rossier, H. Smith, C. Stanley, W. Trotter, G. V. Wigram e muitos outros.
Para que você compreenda como este livro veio a existir, creio ser necessário voltar um pouco no tempo. Depois de um período trabalhando em São Paulo, em 1988 mudei-me com minha família de volta para Limeira, minha cidade natal, a fim de colaborar com a Editora Verdades Vivas, uma organização sem fins lucrativos que produz e distribui literatura cristã. A grande quantidade de folhetos evangelísticos, livros e calendários distribuídos no Brasil e em outros países de língua portuguesa gerava um volume considerável de correspondência, não só com pedidos de publicações, mas também com perguntas sobre a Bíblia. Todas as cartas eram devidamente respondidas.
Nessa época adquiri o hábito de manter uma cópia das respostas em formato digital. Assim ficava fácil responder perguntas semelhantes ou até mesmo mesclar trechos de diferentes respostas, além de preservar aquele conhecimento. A partir de 1996 passei a usar a Internet e aí as respostas já não precisavam ser impressas, envelopadas e enviadas por carta como era feito até então. O uso do e-mail agilizou o processo e permitiu atender mais correspondentes com maior agilidade.
Em 1998 deixei a editora para atuar como executivo de uma empresa de tecnologia da informação, porém mantendo nas horas vagas minha ocupação com o evangelismo e ministério da Palavra via Internet por meio de diferentes sites e blogs. Em 2001 passei a trabalhar por conta própria como consultor e palestrante empresarial, tendo mais tempo livre e uma agenda mais flexível para dedicar-me ao evangelho.
Em 2005 decidi lançar o blog “O que respondi” no endereço respondi.com.br para disponibilizar as respostas que tinha armazenado em formato digital desde 1988 e acrescentar as que fossem sendo criadas. Algo que muitos perguntam é a razão de o blog não permitir comentários, mas o volume de spam, debates e opiniões deixadas na área de comentários me obrigou a eliminar esta opção de contato para me concentrar no atendimento apenas por e-mail. É sempre bom lembrar que não existe uma “equipe” para responder a correspondência que chega, pois este é um exercício pessoal.
Em 2008 iniciei um trabalho chamado “O Evangelho em 3 minutos — Uma mensagem urgente para quem tem pressa”, com vídeos no Youtube e também em versões de texto e áudio no endereço 3minutos.net. Com a popularização do smartphone e da Internet móvel este formato mostrou-se excelente para alcançar pessoas a qualquer hora e em qualquer lugar com a mensagem da salvação e a sã doutrina. O site “O que respondi” passou a servir de complemento aos vídeos. Enquanto no “Evangelho em 3 minutos” a Palavra de Deus é pregada de forma rápida, no “O que respondi” ela é explicada em detalhes e com referências.
Estas e outras frentes de trabalho via Internet continuam gerando um número cada vez maior de contatos e perguntas. Em 2013 foram mais de três mil perguntas atendidas, porém graças ao blog “O que respondi” nem todas precisaram ser respondidas. Na maioria das vezes é suficiente enviar links para as mais de mil respostas existentes no blog, que já conta com cerca de quatro milhões de acessos desde sua criação.
Assim chegamos à razão deste livro que está sendo lançado nos formatos digital (e-book) e impresso (on demand). Ele atende aqueles que desejam ter acesso ao material do blog sem depender de uma conexão com a Internet. Este é um dos mais de dez volumes projetados para compor esta coleção, se considerarmos todo o conteúdo do blog “O que respondi”.
Ao ler este livro não se esqueça de que está lendo as opiniões do autor, e não a Palavra de Deus. Considere também que os textos são cartas e e-mails de minha correspondência pessoal, e não uma obra literária. A linguagem é informal e despretensiosa como acontece com uma correspondência entre duas pessoas, e é provável também que você às vezes venha a achar a linguagem meio irreverente, mas isso é apenas fruto de meu estilo literário, e não de tratar levianamente as coisas de Deus ou a pessoa a quem respondi. Lembre-se também de que, para a resposta fazer sentido, às vezes incluo o que escreveram meus interlocutores e alguns são incrédulos ou ateus com opiniões depreciativas a respeito de Deus e de sua Palavra.
Não espere encontrar aqui todas as respostas e nem sequer as trate como definitivas. Elas são fruto do meu exercício com o Senhor e do que continuo aprendendo todos os dias. Por isso leia, medite, busque referências na Bíblia e ore para que o Espírito Santo lhe dê o entendimento. Sem isto até a pessoa mais inteligente e versada nas Escrituras será incapaz de entender as coisas de Deus, pois elas se discernem espiritualmente.
É provável que você encontre erros em minhas opiniões. Pode ter certeza de que eu mesmo eventualmente sou obrigado a acessar o blog “O que respondi” para fazer correções após ter sido instruído ou alertado de alguma falha por algum irmão ou por algo que li na Palavra de Deus. Se, ao comparar uma resposta mais antiga com uma mais nova, você encontrar alguma discrepância, saiba que optei por não revisar todas as respostas, mas decidi mantê-las do modo como entendia as coisas quando as escrevi, e lembre-se de que você está lendo textos escritos ao longo de um período de cerca de trinta anos. Se encontrar algum erro de digitação ou de gramática, entre em contato para eu fazer as devidas correções, pois o desejo de disponibilizar este livro o mais rápido possível nas mãos dos leitores foi maior que o tempo que tive para revisá-lo.
Este livro é vendido em formato impresso e distribuído gratuitamente em formato e-book, porém alguns sites de terceiros ou editoras irão cobrar algum valor também para a versão e-book. Em nenhum dos casos isso implica algum ganho para o autor que optou por abrir mão dos ganhos com direitos autorais. Você poderá distribuir o conteúdo deste livro, desde que o faça gratuitamente, não altere o texto e mantenha a referência ao autor.
Peço que se lembre de incluir este trabalho em suas orações e de endereçar ao Senhor, e não a mim, qualquer sentimento de gratidão que porventura possa ter por esta leitura.
“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa” (Os 6:3).
Mario Persona
www.respondi.com.br
www.3minutos.net
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Quem disse que Pastor
não é um título honorífico?
Você me ouviu dizer em algum lugar que nenhum cristão no Novo Testamento trazia títulos como os que hoje trazem os ‘Pastores’ antes do nome, tipo ‘Pastor Fulano’, ‘Pastor Sicrano’. E aí argumentou que Paulo era chamado de apóstolo, o que na sua ótica era razão suficiente para chamarmos alguns de “pastor” antes do nome. Realmente, você não encontra nenhum ‘Pastor Fulano’ nas páginas do Novo Testamento porque pastor era um dom dado por Cristo conforme Efésios 4:11. A cristandade adotou essa maneira de qualificar pessoas como fazem com ‘Doutor Fulano’, ‘Engenheiro Sicrano’, ‘Deputado Beltrano’, ‘Comendador Tal’, em sua volúpia por dividir os cristãos entre clérigos e leigos.
Com a adoção de escolas de teologia — algo também estranho à doutrina dos apóstolos — essas pessoas passaram a sair da faculdade com títulos assim, do mesmo modo como um advogado que sai de seu curso de direito com direito ao título por ter estudado e se esforçado para obtê-lo. Estes títulos honoríficos fazem sentido numa escala humana, como no caso de médicos, professores, advogados, políticos, etc., mas nada têm a ver com os dons dados por Cristo.
Até onde eu pude observar, no Novo Testamento só encontramos pessoas identificadas pelo dom no caso de apóstolos, profetas e evangelistas. Mas repare que em nenhum caso o dom vem antes do nome como se fosse um título honorífico. Me corrija se eu estiver enganado, mas em buscas na Bíblia encontrei diversas vezes a forma “Paulo, apóstolo…”, mas nenhuma vez ‘Apóstolo Paulo’. Aliás, quando Pedro o menciona, usa a forma “irmão” antes do nome, “como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu” (2 Pe 3:15). Isso está bem ao modo como o Senhor Jesus pediu que nos considerássemos mutuamente: “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos” (Mt 23:8). E qual a razão de ele ter dito isso? Nada melhor que apresentar todo o contexto para detectar a loucura daqueles que buscam posições eclesiásticas:
“Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; e fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes, e amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi. Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai [ou padre], porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mt 23:1-12).
Para o dom de profeta também não encontrei qualquer citação do tipo “Profeta Fulano”, mas apenas a identificação de quem era a pessoa, como quando “chegou da Judeia um profeta, por nome Agabo” (At 21:10). Apenas os profetas do Antigo Testamento trazem “Profeta” antes do nome, como “Profeta Isaías”. Mas estamos falando aqui dos dons dados por Cristo à igreja em Efésios 4, e faremos bem em observar o modo como os cristãos do primeiro século tratavam uns aos outros, nunca elevando alguém a uma posição honorífica por ter obtido seu dom por esforço próprio ou comenda dos homens, como fazem as pessoas do mundo.
Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores não eram tratados como títulos honoríficos ou eclesiásticos, mas eventualmente era citado o dom apenas para indicar a capacidade que Cristo havia dado àquela pessoa. Era apenas para diferenciar o dom, e isso obviamente era mais expressivo no caso de apóstolos e profetas, que não existem mais, por terem sido eles as pedras do alicerce da casa de Deus. A alegação de alguns hoje de que podem ou devem ser chamados de pastor antes do nome, só porque Paulo era identificado como apóstolo, Agabo como profeta e Filipe como evangelista, é no mínimo pedante. O que esses que querem ser chamados assim procuram? Crédito por possuírem um dom? Ninguém pode se orgulhar de um dom porque é algo que recebeu sem merecer.
“…para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro. Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” (1 Co 4:6-7).
Além disso nunca devemos nos esquecer de que os dons de Cristo de Efésios 4 (não confundir com as manifestações do Espírito de 1 Coríntios 12) são dados como dons para o corpo como um todo. São dons universais e não locais ou provisórios, como são as manifestações de 1 Coríntios 12, que literalmente são chamadas, não de “dons espirituais”, mas de “manifestações espirituais”. Alguém que tenha o dom de pastor será reconhecido por seu dom utilitário de pastor em qualquer lugar onde esteja. Eu disse reconhecido pela facilidade e disponibilidade como age no cuidar das ovelhas, não apontado ou ordenado. O mesmo vale para o evangelista, que qualquer um pode identificar por sua prontidão em buscar pecadores e encaminhá-los a Cristo, e o mestre ou doutor, pela facilidade como expõe as Escrituras e tem prazer em explicá-las.
“E ele mesmo [Cristo] deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4:11-12).
Mas isso obviamente alguém no sistema denominacional não irá entender, porque ali “pastor” virou título honorífico e sua atuação é na assembleia local e também como uma espécie de dirigente das reuniões. Esse modelo foi copiado do catolicismo romano, e por isso o pastor protestante tem a mesma função do padre católico, apenas usando uma roupa diferente. Mas sua atuação obviamente inibe a ação do Espírito Santo numa reunião da igreja, onde a ordem não foi dada para que um falasse, mas para que dois ou três falassem e os outros julgassem (Leia 1 Coríntios 14:26 ao final).
Uma experiência me marcou logo nos meus primeiros anos de convertido. Eu já compreendia em algum grau estas coisas quando conversei com um jovem ‘pastor’ presbiteriano. Ele tinha feito faculdade de teologia, sido ordenado ‘pastor’ e designado para ‘pastorear’ uma pequena congregação numa cidade vizinha. Naquele dia ele veio abrir seu coração para me dizer que estava deprimido, que nunca teve jeito para cuidar de pessoas, para dirigir ‘cultos’, para visitar enfermos e tudo o que era exigido dele. O que ele gostava mesmo era de sair pelas ruas evangelizando, pregando nas praças, distribuindo folhetos evangelísticos. Ele tinha um jeito especial de sorrir para as pessoas e seus olhos brilhavam quando falava do Salvador.
Mas ficar confinado aos ditames da organização à qual servia estava sendo demais para ele. Senti pena daquele irmão em Cristo que eu já tinha observado ser um evangelista de mão cheia, um soldado de linha de frente, não de retaguarda. Ele estava mais para Filipe, que era levado pelo Espírito aonde quer que existisse um eunuco pronto para ouvir as boas novas, do que para um Barnabé, “o qual, quando chegou, e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortou a todos a que permanecessem no Senhor, com propósito de coração; porque era homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé” (At 11:23-24 – a propósito leia desde os versículos 19 ao 26 para ver os diferentes dons em ação nesta ordem: evangelista, pastor e mestre). Da conversa que tive com aquele jovem pastor presbiteriano percebi o quanto eu era privilegiado de não ser guiado por alguma organização religiosa que rotula o que cada um deve ser e determina o que cada um deve fazer dentro de suas fileiras eclesiásticas.
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A profecia aconteceu,
está acontecendo ou acontecerá?
Você escreveu dizendo que seu amigo judeu tenta refutar a interpretação cristã de que a profecia de Isaías 9:6 estaria falando do Messias, da vinda de Jesus em carne quando iria nascer 700 anos mais tarde em Belém da Judeia. Dentre outros argumentos, um é o de que os verbos estão no passado em relação ao profeta, o que poderia indicar eventos já acontecidos. Bem, se assim fosse teríamos de deixar de chamar Isaías de “Profeta” e passar a chamá-lo de “Historiador”, o mesmo para todos os profetas que em algum momento falaram de coisas futuras usando verbos no presente ou passado.
Certamente todo judeu precisa se esforçar em refutar todas as profecias do Antigo Testamento que falam do Messias, e não são poucas, porque a outra opção seria crer nelas e aceitar que o Messias é Jesus, que veio há dois mil anos, morreu numa cruz para nos salvar, ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus onde está glorificado à destra do Pai. Ao invés de tentar torcer as profecias, sugira ao seu amigo que ele deveria torcer o braço. Quero dizer, o próprio, “dando o braço a torcer” e reconhecendo que o seu povo esteve errado estes dois mil anos em sua rebelião, incredulidade e rejeição do Messias que é Jesus, o Cristo.
Esta profecia de Isaías alguns judeus atribuem ao Rei Ezequias, porém uma interpretação assim desce atravessada na garganta de qualquer pessoa sincera.
Considere o contexto:
“Mas a terra, que foi angustiada, não será entenebrecida; envileceu nos primeiros tempos, a terra de Zebulom, e a terra de Naftali; mas nos últimos tempos a enobreceu junto ao caminho do mar, além do Jordão, na Galiléia das nações. O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz. Tu multiplicaste a nação, a alegria lhe aumentaste; todos se alegrarão perante ti, como se alegram na ceifa, e como exultam quando se repartem os despojos. Porque tu quebraste o jugo da sua carga, e o bordão do seu ombro, e a vara do seu opressor, como no dia dos midianitas. Porque todo calçado que levava o guerreiro no tumulto da batalha, e todo o manto revolvido em sangue, serão queimados, servindo de combustível ao fogo. Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto.” (Is 9:1-7).
Um dos argumentos dos judeus é de que o significado do nome “Ezequias” seria “Força de Deus” ou “Energizado por Deus” e que por isso ele seria o “Deus Forte” ou “Deus Poderoso” mencionado no versículo 6. Sério?! Ezequias significa Deus?! Apenas aventar tal possibilidade já seria uma blasfêmia para qualquer judeu sincero. Se não bastasse esse “dente” na interpretação, a profecia fala de um menino da Galileia ao qual está destinado ao trono perpetuamente, e Ezequias deve ter nascido em Jerusalém, onde seu pai era rei, e evidentemente não reinou “desde agora e para sempre” (Is 9:7). Ezequias, que também não poderia ser chamado de “Príncipe da Paz”, já que algumas guerras pesam em seu currículo. Por outro lado, temos Jesus, nascido em Belém da Judeia, identificado na doutrina dos apóstolos como Filho de Deus, o equivalente a ser Deus e Homem, e com um currículo que o identifica totalmente como tendo vindo em paz, inclusive sem resistir aos seus algozes. Não seria bem mais fácil o judeu simplesmente dizer, “Oops! Me enganei!”?
Mas não é apenas nesta passagem que os judeus tentam se esquivar de Jesus inventando alguma desculpa para substitui-lo por outro personagem qualquer. O conhecido capítulo 53 de Isaías é também atacado pela incredulidade dos judeus. Ali eles dizem que o “homem de dores” seria Israel, que tanto sofreu nas mãos dos gentios. Existem alguns problemas com essa interpretação, porque ali é dito que o Servo “nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca” (Is 53:9), uma característica que passa longe do modo como Israel se comportou durante toda a sua existência. E para confundir mais as coisas para a interpretação judaica, no capítulo seguinte, o 54, os judeus concordam que a “mulher” é Israel. Afinal, quem é Israel? O homem de dores do capítulo 53 ou a mulher do 54?
Enquanto alguns judeus são rápidos em afirmar que os sofrimentos descritos pelo “homem de dores” de Isaías 53 tenham sido os infligidos aos judeus no holocausto nazista e em outros períodos, ninguém em sã consciência iria acreditar que os judeus quando sofriam estavam sendo feridos “por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades” (Is 53:5), ou seja, por causa de suas próprias (dos judeus) iniquidades que no versículo 9 o profeta Isaías disse não existirem, pois “nunca cometeu injustiça”. Também ninguém acreditaria que aquele povo tenha sido colocado “por expiação do pecado” (Is 53:10), o que faria do povo judeu o salvador do mundo.
Será tão difícil para um judeu perceber que ali está falando de um sacrifício como eram os sacrifícios dos cordeiros? “Como um cordeiro foi levado ao matadouro” (Is 53:7). E como é que o povo judeu poderia, por seu sofrimento, ser considerado como aquele que “justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si… porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores, mas ele levou sobre si o pecado de muitos e intercedeu pelos transgressores”? (Is 53:11-12).
Outro problema em se tentar identificar o “homem de dores” como sendo o povo judeu está no fato de ele ter se voluntariado a sofrer o que sofreu: “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores [ele] levou sobre si” e não ter passado por esse sofrimento com algum sentimento de revolta, mas sim de submissão, quando “foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca… como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca” (Is 54:4, 7). O sofrimento do povo judeu não foi voluntário, eles foram obrigados a sofrer. E também não foi recebido passivamente, mas até hoje os judeus ressentem de como seu povo foi perseguido, humilhado e maltratado ao longo dos séculos, e a caça aos criminosos de guerra nazistas é página conhecida da história de Israel. Mas talvez os judeus desistam da ideia de se considerarem o “servo sofredor” de Isaías 53 porque este termina morto e sepultado: “E puseram a sua sepultura com os ímpios” (Is 53:9). Estariam os judeus dispostos a considerar sua nação como terminada? Acho que não.
Seu amigo judeu se referiu também ao tempo verbal de algumas profecias que parecem indicar o evento como já tendo acontecido, por usar o tempo no passado. Existem duas maneiras de se abordar essa dificuldade, uma do ponto de vista do tempo e outra do ponto de vista linguístico, embora as duas formas acabem se sobrepondo de alguma maneira. Quando um profeta recebia uma mensagem da parte de Deus ele estava falando de uma esfera que transcendia o mundo, o tempo e a matéria, portanto o modo como ele iria apresentar aquilo poderia variar.
Vou dar um exemplo: em junho de 2016 os astrônomos flagraram uma explosão estelar, e até fotografaram o momento da explosão que irradiou uma luz 570 bilhões de vezes maior que a luz do Sol. Portanto, nos anais da história científica a estrela explodiu em junho de 2016, mas considerando que ela estava a 3,8 bilhões de anos-luz da terra isto significa que aquela explosão aconteceu bilhões de anos atrás e a luz viajou todo esse tempo até chegar à Terra em 2016. Então, quando foi mesmo que a explosão aconteceu? Quando os astrônomos fotografaram o evento ou quando eles nem sequer existiam para fotografar coisa alguma? Mas se eles disseram que viram a estrela explodir, estariam eles mentindo?
Se neste caso os cientistas optaram por anunciar a explosão colocando o verbo no passado, algo do tipo “Detectamos hoje que uma estrela explodiu”, o que dizer da Eta Carinae, uma estrela cem vezes maior que o sol que os astrônomos perceberam que está dando sinais de ir pelo mesmo caminho? Eles anunciaram algo assim: “A Eta Carinae está dando sinais de que irá explodir em um prazo de até dez mil anos”. Apesar de usarem o verbo no futuro, a luz dessa estrela leva nove mil anos para chegar à Terra e pode ser que ela já tenha explodido há muito tempo, mas continua sendo vista como se existisse. Deveriam eles dizer que a estrela explodiu, está explodindo ou explodirá?
Percebe como é complicado explicar as coisas quando expandimos um pouco nossa esfera de percepção? Agora imagine alguém recebendo uma comunicação divina de coisas que iriam acontecer no futuro e nem sequer seria uma questão de percepção visual do evento, como no caso da estrela, mas de coisas que ainda nem existiam no tempo e no espaço. Como o profeta as descreveria? Como um historiador, dizendo que elas já aconteceram, como um repórter ao vivo, dizendo que elas estariam acontecendo, ou como um verdadeiro profeta dizendo que ainda iriam acontecer?
Depende de como sua linguagem deveria ser usada para impactar seus ouvintes. É o caso de eu contar a você que sonhei que fui almoçar na sua casa e você serviu arroz e feijão. Como devo contar isso, considerando que foi um sonho, que eu nunca fui à sua casa e nem sei onde você mora? Mesmo assim eu uso o verbo no passado, “fui à sua casa e comi arroz e feijão”, porque é a única maneira de eu contar meu sonho. Talvez eu poderia usar algo do tipo “sonhei que teria ido à sua casa e você teria servido arroz e feijão”, mas de uma ou de outra forma eu precisaria escolher como comunicar meu sonho. Em qualquer caso os verbos seriam irreais, pois o fato sequer existiu.
Algumas passagens da profecia intercalam o tempo passado e presente porque o profeta quer transmitir a ação da melhor maneira para os que virão depois dele. Veja o caso de Isaías 53. Baseado em verbos isolados alguém do tempo de Isaías poderia crer que aquilo estava acontecendo naquele exato momento, enquanto outro achar que iria acontecer num dia futuro a partir do momento em que o profeta escreveu, outro, como eu e você, que tudo já aconteceu, tanto a escrita quanto o evento.
“Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor? Porque foi subindo... não tinha beleza… não havia boa aparência… era desprezado… não fizemos dele caso algum… ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si… ele foi ferido por causa das nossas transgressões…” (Is 53:1-5). Até aqui o tempo utilizado é o passado, mas aí você chega ao ponto em que “o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53:5). E agora? A paz é presente fundamentada em um castigo passado?
Se continuar a leitura verá que o verbo vai para o futuro, “…quem contará o tempo da sua vida?” (Is 53:8) e “…quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias, e o bom prazer do Senhor prosperará na sua mão. Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito, com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos, porque a as iniquidades deles levará sobre si” (Is 53:10-11). Mas como poderá ele levar no futuro a iniquidade (no futuro) se foi ferido (no passado) “por causa das nossas transgressões” (Is 53:5) e já “ levou sobre si o pecado de muitos” (Is 53:12)? E para deixar tudo mais confuso ainda, compare diferentes traduções da passagem que colocam o verbo em diferentes tempos, o que deixa o texto à mercê dos tradutores. Vamos pegar apenas três traduções diferentes do versículo 3, duas que colocam o verbo “ser” e uma que não estabelece o tempo do verbo, que parece ser como está no original:
“Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens” (Almeida Revista e Atualizada)
“He is despised and left alone of men” (“Ele é desprezado e abandonado dos homens” – J. N. Darby e também King James).
“Despreciado y desechado entre los hombres” (Reina Valera).
Para concluir, sugiro que diga a seu amigo judeu para deixar de procurar pelo em ovo e chifre em cabeça de cavalo e correr logo para os braços de Cristo, reconhecendo-o como seu Messias e Salvador. Porque se ele não enroscar nos tempos dos verbos aqui, vai enroscar em outra passagem até chegar a Daniel 9:26 e descobrir que o Messias já foi cortado (morto), e isso antes de Jerusalém e o Templo (o “santuário”) ter sido destruído no ano 70 da era cristã:
“E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário” (Dn 9:26).
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Não existe dízimo
na doutrina dos apóstolos?
Não, você não encontrará o dízimo na doutrina dos apóstolos que está nas epístolas, exceto por alguma citação fazendo referência ao Antigo Testamento e à Lei. Também não encontrará muitas outras coisas, como igrejas denominadas (exceto pela identificação da cidade onde estavam), templos, pastores dirigindo congregações, mulheres falando nas reuniões da igreja, altares, música instrumental na adoração, corais, homilias, danças, ensaios, dias santos, escolas de teologia, um clero distinto dos leigos, roupas ou cadeiras diferentes para certas pessoas do clero, títulos honoríficos, presidente disso, diretor daquilo, etc.
Na doutrina dos apóstolos os cristãos não constroem templos e nem trazem outro nome que diferencie uns dos outros além do nome de Cristo, não se fazem membros de alguma instituição religiosa, não assinam algum contrato para obter carteirinha e nem prestam juramento a algum sistema. Eles são exortados a reconhecer que há um só corpo de Cristo que inclui TODOS os salvos, e a darem testemunho prático disso quando congregarem ao nome do Senhor Jesus para a comunhão e aprendizado da doutrina dos apóstolos, para celebrar a ceia do Senhor à mesa do Senhor, e para a oração.
Individualmente, e não como igreja, eles saem para pregar o evangelho, mas não são capacitados por alguma escola de teologia e nem enviados por alguma junta de missões ou liderança, mas apenas pelo Espírito Santo. Estes que saem na obra do Senhor NUNCA pedem dinheiro aos irmãos para fazer a obra (porque é do Senhor e ele irá prover se for dele), e muito menos de incrédulos. Também não promovem partidos políticos ou apoiam candidatos. São simplesmente cidadãos celestiais que estão momentaneamente vivendo na Terra, um planeta que não lhes pertence e que eles não se iludem em transformar em um “mundo melhor” porque sabem seu destino.
Mas antes que você fique animado com a ideia de não existir a exigência do dízimo na doutrina dos apóstolos, saiba que a beneficência é sim estimulada no sentido de socorrer os mais pobres e enfermos e prover para aqueles que se dedicam ao trabalho do evangelho. No princípio da Igreja os primeiros cristãos até chegaram a ter tudo em comum, mas isso com o tempo e a ruína que se instalou no testemunho cristão mostrou-se impraticável.
Mesmo assim os cristãos são exortados a não se esquecerem “da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada” (Hb 13:16). Também são aconselhados, não a praticar caridade para receber a salvação, pois esta já receberam de graça pela fé em Cristo, mas simplesmente porque o que Deus lhes dá não devem considerar como sendo de si mesmos, mas devem entender que são apenas despenseiros (responsáveis pela despensa) de Deus para distribuir o que Deus lhes dá com sabedoria e para suprir as necessidades da obra e do povo de Deus.
Assim como o Senhor Jesus foi liberal dando sua própria vida por nós, o Espírito através dos apóstolos exorta: “Portanto, tive por coisa necessária exortar estes irmãos, para que primeiro fossem ter convosco, e preparassem de antemão a vossa bênção, já antes anunciada, para que esteja pronta como bênção, e não como avareza. E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará” (2 Co 9:5-6).
Ao contrário da Lei, quando o israelita era obrigado a dar uma porcentagem fixa, ao cristão é dito que “cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece para sempre” (2 Co 9:7-9).
Deus promete a manutenção das necessidades do crente, como abrigo e sustento, não como no Antigo Testamento quando era prometida prosperidade e mesmo riquezas. Ao contrário do que pregam os teólogos da prosperidade, Deus pode prover mais que o necessário, porém apenas para o crente poder ser mais liberal em sua obra para o Senhor, e não para enriquecer. A Palavra de Deus em muitas passagens mostra a loucura que é querer ficar rico:
“Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm 6:8-10). “Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus” (Lc 12:20-21).
Deu para perceber que esses pregadores da prosperidade transformam seus seguidores em loucos para que caiam em laço, perdição e ruína, se desviem da fé e se traspassem com muitas dores?
Toda provisão do crente vem de Deus: “Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça”, mas vem com um propósito muito definido: “Para que em tudo enriqueçais PARA TODA A BENEFICÊNCIA, a qual faz que por nós se deem graças a Deus. Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também é abundante em muitas graças, que se dão a Deus. Visto como, na prova desta administração, glorificam a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos” (2 Co 9:10-13).
Portanto, Deus provê para sermos provedores daqueles que têm necessidades e daqueles que trabalham na obra do evangelho sem pedir nada a ninguém. O fato de não pedirem não significa que não necessitem. Muitas vezes necessitam, mas são exercitados a depender só do Senhor que irá mover corações de indivíduos e assembleias para proverem o necessário para levarem o evangelho e o ministério da Palavra. Sempre que um cristão ajuda alguém em suas necessidades, tanto para supri-lo em sua pobreza, como para que o evangelho continua sendo pregado, está produzindo “graças a Deus… muitas graças que se dão a Deus”. Este é o final da história: não o enriquecimento, mas a glória de Deus.
Portanto se você pensou que congregar somente ao nome do Senhor fora das denominações e dos sistemas religiosos e isento do dízimo iria sair mais barato, é melhor pensar de novo. A motivação do crente nas coisas de Deus nunca deve ser material, nem no sentido de dar, nem no sentido de receber. Nem preciso dizer que aquela história de campanhas, votos, promessas e tantas outras coisas praticadas na cristandade hoje não passam de mesquinharias, de pessoas querendo fazer barganha com Deus para de algum modo enriquecerem.
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Abrão mentiu?
Você se refere ao capítulo 12 de Gênesis. Sim, Abrão mentiu. Quando foi tentar morar no Egito, para evitar que o matassem para ficar com sua bela esposa, combinou com Sarai para ela dizer que era sua irmã. Mas seu estratagema acabou sendo descoberto, e humilhado publicamente por seu pecado, Abrão foi deportado por Faraó. Vamos ao texto, observando que aqui Deus ainda não tinha mudado o nome de Abrão e Sarai para Abraão e Sara:
“E havia fome naquela terra; e desceu Abrão ao Egito, para peregrinar ali, porquanto a fome era grande na terra. E aconteceu que, chegando ele para entrar no Egito, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és mulher formosa à vista; e será que, quando os egípcios te virem, dirão: Esta é sua mulher. E matar-me-ão a mim, e a ti te guardarão em vida. Dize, peço-te, que és minha irmã, para que me vá bem por tua causa, e que viva a minha alma por amor de ti. E aconteceu que, entrando Abrão no Egito, viram os egípcios a mulher, que era mui formosa. E viram-na os príncipes de Faraó, e gabaram-na diante de Faraó; e foi a mulher tomada para a casa de Faraó. E fez bem a Abrão por amor dela; e ele teve ovelhas, vacas, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos. Feriu, porém, o Senhor a Faraó e a sua casa, com grandes pragas, por causa de Sarai, mulher de Abrão. Então chamou Faraó a Abrão, e disse: Que é isto que me fizeste? Por que não me disseste que ela era tua mulher? Por que disseste: É minha irmã? Por isso a tomei por minha mulher; agora, pois, eis aqui tua mulher; toma-a e vai-te. E Faraó deu ordens aos seus homens a respeito dele; e acompanharam-no, a ele, e a sua mulher, e a tudo o que tinha” (Gn 12:10-20).
Mas a mentira não surgiu assim, do nada. É preciso entender como foi que Abrão foi parar no Egito, que é a história nos versículos que antecedem. Deus tinha chamado Abrão para que saísse de Ur e fosse para uma terra que Deus lhe mostraria só depois que desse o passo de fé para sair de onde estava, uma terra que lhe seria dada e à sua descendência. Abrão saiu por fé, caminhou por fé, e chegou à terra prometida por fé. No versículo 7 Deus revela que aquela mesma terra para onde tinha ido, sem que soubesse, é a mesma que lhe fora prometida. Abrão então constrói um altar e adora a Deus ali.
Até aí tudo bem. Mas então a jornada de fé termina e começa a jornada pela vista.
Como os cananeus ainda habitavam a terra, Abrão achou melhor continuar viagem e acabou seguindo em direção ao Neguebe, e era um período de fome (agora chamamos a isso “crise”). Ele não quis esperar Deus acertar as coisas, mas tomou uma decisão, segundo sua própria vontade, de ir morar no Egito. Mas para isso precisaria mentir para preservar sua mulher e sua própria vida. O resto da história é o que lemos há pouco, de como sua mulher foi tomada para fazer parte do harém do palácio de Faraó.
Esta é a ordem das coisas para nosso aprendizado. Deus nos chama para caminhar por fé e a dependermos dele por fé. Fazemos direitinho no começo de nossa conversão e aí se as coisas não saem exatamente como esperávamos; ou se achamos que Deus está demorando para nos valer, decidimos tomar as rédeas de nossa vida e é aí que entra areia na engrenagem. Isto porque quando decidimos dar um passo fora da vontade de Deus aquele passo exige outro passo, que exige outro passo… e quando percebemos estamos mais enrolados que novelo de tricô daqueles que você custa a encontrar a ponta.
O que aconteceu com Abrão depois de ter seu estratagema descoberto? Voltou do Egito para Betel, o lugar onde havia adorado a Deus, e ali volta a adorar a Deus. Não nos é dito que ele tenha feito isso no Egito, apesar de ter saído muito rico de lá graças aos favores alcançados de Faraó. Leia o capítulo 12 inteiro e depois o 13 de Gênesis para ter uma visão panorâmica de toda a história.
Em que ponto de sua jornada você está hoje? Você está onde Deus colocou você para poder adorar de consciência tranquila e livre de subterfúgios e enganação? Ou você está tentando a sorte no Egito, tendo para isso comprometido sua consciência e a Verdade a fim de conseguir alguns privilégios, riquezas e honra? Lembre-se da história de Abrão e lembre-se também da história de Isaque. Ora, o que Isaque tem a ver com isso? É que Abrão voltará a usar do mesmo estratagema no capítulo 20 de Gênesis quando vai morar em Gerar e o rei de lá, Abimeleque, sem saber, toma Sara para seu harém.
Um hábito pode acabar sendo transmitido de pai para filho, e foi isso que aconteceu com Abraão, que acaba sendo imitado por seu filho Isaque em circunstâncias semelhantes.
“E perguntando-lhe [a Isaque] os homens daquele lugar acerca de sua mulher, disse: É minha irmã; porque temia dizer: É minha mulher; para que porventura (dizia ele) não me matem os homens daquele lugar por amor de Rebeca; porque era formosa à vista. E aconteceu que, como ele esteve ali muito tempo, Abimeleque, rei dos filisteus, olhou por uma janela, e viu, e eis que Isaque estava brincando com Rebeca sua mulher. Então chamou Abimeleque a Isaque, e disse: Eis que na verdade é tua mulher; como, pois, disseste: É minha irmã? E disselhe Isaque: Porque eu dizia: Para que eu porventura não morra por causa dela. E disse Abimeleque: Que é isto que nos fizeste? Facilmente se teria deitado alguém deste povo com a tua mulher, e tu terias trazido sobre nós um delito. E mandou Abimeleque a todo o povo, dizendo: Qualquer que tocar neste homem ou em sua mulher, certamente morrerá” (Gn 26:7-11).
Na Bíblia encontramos ao menos duas outras vezes quando alguém usa de mentira para um determinado objetivo, mas são ocasiões onde o objetivo foi mais um ato de misericórdia do que a preservação da própria vida, como Abraão e Isaque pensaram estar fazendo, quando no final ficou demonstrado que Deus os protegia de qualquer jeito. Uma foi no caso das parteiras dos hebreus no Egito, que mentiram para Faraó visando salvar os meninos que Faraó ordenou que fossem mortos. Outra foi Raab, a prostituta, que mentiu para não revelar os espias israelenses que estavam escondidos em sua casa. Em ambos os casos o objetivo foi salvar vidas.
Em nenhum lugar Deus nos manda mentir ou permite a mentira, mas nestes dois casos o desejo de obedecer a Deus e salvar outras vidas foi maior que o de autopreservação, que foi a intenção no caso de Abraão e Isaque. Pense nos cristãos que esconderam judeus em suas casas durante a segunda guerra. O soldado entra na casa e pergunta: “Tem algum judeu escondido aqui?” O que seria um ato de compaixão, dizer ao soldado que sim sabendo que isso significaria a morte dos judeus, ou dizer que não na tentativa de salvá-los?
Existem situações em que é difícil determinar como agir. Por exemplo, conheci um homem que foi prisioneiro em um campo de concentração nazista na Segunda Guerra. Sua função era enterrar os judeus que eram fuzilados, mas às vezes ele precisava dar o golpe de misericórdia porque nem todos morriam dos tiros. Alguns ainda estavam vivos e, para não os enterrar vivos, ele batia com a pá na cabeça do moribundo até ter certeza de sua morte antes de enterrá-lo. Como você agiria?
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Como o cristão deve
se posicionar politicamente?
Provavelmente você não irá concordar com meu posicionamento, principalmente se pertencer a alguma religião cristã que adote a “Teologia do Pacto”, aquela que considera a Igreja uma mera continuação de Israel. Nesta classe estão o catolicismo e a maior parcela do protestantismo e pentecostalismo. É compreensível que discorde, se não tiver percebido as diferentes dispensações ou modos de Deus tratar com a humanidade na Palavra de Deus, e a diferença entre o povo terreno de Deus (Israel) e o povo celestial (Igreja).
Enquanto as condições do país continuam a se deteriorar, existindo sempre a possibilidade de uma intervenção militar para desempatar, e enquanto naturalmente somos afetados em nossas emoções, com posições que desfazem amizades e dividem famílias, é bom lembrar que, para quem crê na Bíblia, a Palavra de Deus, não importa se irá prevalecer o partido “A” ou “B”, o governante “X” ou “Y”. Qualquer um, consciente ou não, fará parte do processo de pavimentação do caminho para o Império Romano revivido e o governo da besta, além do falso profeta (o anticristo).
A esquerda deixou um rastro de sangue na história do mundo (94 milhões de vítimas, segundo “The Black Book of Communism”) e provou não funcionar porque o homem é egoísta por natureza (“Distribuir riqueza? Só se for a do outro!” — diz o coração humano). A direita também teve sua chance de mostrar os dentes ao longo da história (25 milhões só do Nazismo), mas o meu palpite é que será mais para esse lado que os ventos soprarão até a chegada do tirano que será recebido pela população como o salvador do mundo.
Ao cristão cabe ser sábio o suficiente para não se deixar fazer massa de manobra e bucha de canhão, nem de um, nem de outro lado ou partido. Considerando que é Deus quem “muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis” (Dn 2:21), como você se sentiria ao saber que votou ou apoiou contrariamente ao que Deus determinou, caso não tenha sido o seu partido ou candidato o vencedor?
Então alguém dirá: “Mas omissão é pecado!”. Se assim for, Jesus, os apóstolos e os primeiros cristãos poderiam ser chamados de omissos, já que não moveram uma palha para alterar as condições políticas de sua época. Tiveram influência sim, com suas vidas e pregação, mas nunca tentaram mover as peças do xadrez político para as alinharem aos seus próprios caprichos ou interesses. E motivo não faltava, já que eram cruelmente perseguidos, escravizados e mortos por tiranos perto dos quais os líderes de hoje não passam de aprendizes.
Nem Jesus e nem os primeiros cristãos tentaram mudar as coisas porque bem sabiam que o reino de Jesus não era deste mundo. É claro que seus discípulos só foram entender isso mais tarde, e não nos evangelhos, pois ficaram desapontados quando a carreira daquele que seguiam terminou na cruz. “E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram” (Lc 24:21), disseram dois deles pouco antes de Jesus ressuscitado
se revelar a eles. Mas com a vinda do Espírito Santo e a formação da Igreja em Atos 2 tudo ficou muito claro, pelo menos até poucos séculos mais tarde a igreja ser vista “onde está o trono de Satanás” (Ap 2:13), isto é, o mundo.
Um dia Cristo voltará para governar este mundo tendo a Igreja, sua esposa, ao seu lado. Mas ainda não chegou a hora. Neste momento o príncipe daqui é o diabo, Satanás, e um crente sábio irá entender que tentar mudar isso é dar murro em ponta de faca. Os homens entregaram ao diabo todos os reinos do mundo, primeiro ao serem culpados de irem na sua conversa no Éden, depois quando disseram de Jesus: “Não queremos é que este reine sobre nós” (Lc 19:14). Portanto, não se espante quando os governos do mundo são injustos e tomam decisões equivocadas. Isso só confirma que os reinos estão sob o poder de Satanás, não de Cristo.
A condição do mundo atual é a mesma de quando Jesus foi tentado: “E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disselhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu” (Lc 4:5-7). Essa condição só irá mudar no futuro, quando o diabo perder os reinos que agora domina: “E o sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre” (Ap 11:15).
Ao se despedir de seus discípulos Jesus foi muito claro: “Agora, é o juízo deste mundo; agora, será expulso o príncipe deste mundo. Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo e nada tem em mim” (Jo 12:31-32).
Um irmão costumava dizer que ao lado de cada governante deste mundo existe um demônio pronto para assessorá-lo. Mas será que isso tem fundamento bíblico. Tem, e um exemplo está em Daniel 10: “Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia” (Dn 10:13). Se você considerar que Miguel é aquele que tinha a missão de proteger Israel, fica evidente que os reis da Pérsia tinham também seu “Príncipe”, que obviamente era um anjo ou espírito maligno. Se você entende profecia sabe que chegará um dia quando o mundo será governado pela besta e pelo anticristo, criaturas energizadas pelo próprio Satanás e que serão recebidas com aplauso e adoração.
Cabe aqui a célebre frase de Paul Henri Spaak, primeiro presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, disse uma vez: “O que queremos é alguém de calibre para fazer uma aliança de todos os povos e nos tirar do lamaçal econômico no qual estamos afundando. Que venha tal homem, seja ele Deus ou o Diabo, e nós o receberemos”. Se esse dia chegar quando você ainda estiver aqui, será que irá querer fazer parte da política que irá aclamar esse líder? Mas não precisa se assustar com o que eu digo porque se você realmente creu em Jesus como seu Salvador e recebeu dele a salvação eterna por graça somente, você será tirado do mundo antes da manifestação da besta e do anticristo.
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Deus fixou em 120 anos
a idade máxima do homem?
Você perguntou se os 120 anos mencionados em Gênesis 6 seriam o limite de idade para os seres humanos viverem após o Dilúvio, e se esse limite continuaria valendo para hoje.
Não, cento e vinte anos seria o tempo que Deus iria esperar para dar uma chance aos seres humanos de se converterem com a pregação de Noé antes de enviar o dilúvio que mataria a todos.
“Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos” (Gn 6:3).
Como não houve arrependimento — ao contrário de Nínive, mais tarde, que se arrependeria mediante a pregação de Jonas — Deus enviou o dilúvio 120 anos depois de ter avisado Noé. Esse também foi o tempo dado para Noé ser o pregoeiro da justiça, avisando as pessoas do juízo que estava por vir, e ele fez isso pelo Espírito de Cristo, como aprendemos em 1 Pedro 3:19 e 4:6. Vou acrescentar comentários [entre chaves] para você entender melhor o significado do texto:
“Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; no qual [Espírito] também foi, e pregou [por intermédio de Noé] aos espíritos [agora] em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água… Porque por isto foi pregado o evangelho também aos [que hoje estão] mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito”.
Ao comentar a passagem em que Deus dá 120 anos de prazo para os homens se converterem antes de lançar o dilúvio, William MacDonald comenta: “O Senhor avisou que Seu Espírito não contenderia com o homem para sempre, mas que haveria um atraso de cento e vinte anos antes de ocorrer o juízo do dilúvio”. L. M. Grant tem a mesma opinião, dizendo: “Deus, por meio de Seu Espírito, tinha estado contendendo com os homens contra a pecaminosa vontade deles, a Sua paciência chegaria ao fim, embora Ele ainda iria permitir mais 120 anos antes de destruir a civilização”. Outro que comenta algo semelhante é F. B. Meyer: “Mas o Espírito de Deus insistiu com o homem, e apesar de ter sido colocado um limite para Suas súplicas, Deus buscou homens com arrependimento sincero, até que o Seu Espírito Santo recebeu a negativa final e se afastou triste e desapontado. A postergação do juízo foi considerável. O Espírito de Deus aguardou por 120 anos”.
Mais um comentário, de Geisler/Howe, diz: “A passagem entra em conflito com as idades das pessoas que viveram mais que 120 anos em Gênesis 11:12-16. Portanto, a ideia (da longevidade de 120 anos) eu acredito ser baseada numa má leitura ou má interpretação do texto. Os cento e vinte anos mencionados por Deus em Gênesis 6:3 não podem significar um limite para o tempo de vida de seres humanos, já que você encontra pessoas mais velhas que isso que são mencionadas alguns capítulos depois no livro de Gênesis, incluindo o próprio Noé. O significado mais provável é que o Dilúvio do qual Deus havia alertado Noé, não aconteceria até 120 anos após o aviso inicial dado a Noé. Isso é melhor explicado em 1 Pedro 3:20, onde lemos: “Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca”. Portanto, considerando o contexto da passagem de Gênesis 6:3 ele estaria bem conforme ao que encontramos no capítulo 11 do mesmo livro (que fala do tempo de vida de pessoas após o dilúvio)”.
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Se os demônios creem
por que não são salvos?
Você escreveu dizendo: “A Bíblia diz que crer, até os demônios creem e tremem. Então como você diz que basta crer em Cristo sem fazer nenhuma obra e com isso já se tem a Salvação?” A questão é: será que é isso mesmo que a Bíblia diz? Se ler Tiago 2:19 verá que existe um equívoco na forma como a passagem costuma ser citada por aqueles que defendem a tese de que não basta crer em Cristo para ser salvo. Na Bíblia está assim: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios creem e tremem”.
O que diz aí é que os demônios creem que Deus é um só, e não que creem em Cristo como Salvador. Quando os discípulos perguntaram que obras — no plural — precisariam fazer, o Senhor respondeu no singular e falou da única obra. “Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado” (Jo 6:28-29).
Os demônios nem precisavam crer pela fé em Cristo para saber que ele existe e quem ele é, pois fica muito claro que conhecimento eles tinham quando se encontraram com Jesus na província de Gadara: “Tendo ele chegado ao outro lado, à terra dos gadarenos, saíram-lhe ao encontro dois endemoninhados, vindos dos sepulcros; tão ferozes eram que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que gritaram, dizendo: Que temos nós contigo, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mt 8:28-29).
Obviamente saber que Deus é um só e que Cristo é o Filho de Deus não é suficiente para alguém ser salvo, porque os demônios sabem muito bem disso. E eles não só não podem crer em Cristo, como também não iriam querer crer naquele que irá herdar todas as coisas, considerando que são militantes de Satanás, o arqui-inimigo do Filho de Deus. Eles seguem aquele que sempre quis usurpar o lugar de Cristo como Senhor; eles seguem aquele que é hoje o Príncipe deste mundo, o diabo.
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Jesus mandou dar o dízimo?
Você perguntou por que não estaríamos hoje, como cristãos, obrigados a dar o dízimo se o próprio Jesus disse nos evangelhos que o dízimo devia ser pago. Sim, ele disse em Mateus 23:23: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas” A mesma ordem ele repete em Lucas 11:42.
Mas em Mateus 8:4 ele também disse ao leproso curado para ir ao templo oferecer os sacrifícios ordenados pelos sacerdotes de Israel: “vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo”. Esses sacrifícios para quem fosse curado de lepra haviam sido determinados em Levítico 14:4-7 que consistia de “duas aves vivas e limpas, e pau de cedro, e estofo carmesim, e hissopo”, uma das quais era morta “num vaso de barro, sobre águas correntes”, enquanto “a ave viva, e o pau de cedro, e o estofo carmesim, e o hissopo” deviam ser molhados “no sangue da ave que foi imolada sobre as águas correntes. E, sobre aquele que há de purificar-se da lepra” o sangue deveria ser aspergido “sete vezes; então, o declarará limpo e soltará a ave viva para o campo aberto”.
Como você faria hoje caso fosse curado de lepra? Teria um grande problema, primeiro por não existir mais o Templo de Jerusalém. Se fosse até lá tentar oferecer um sacrifício na mesquita islâmica que ocupa hoje o lugar do Templo é provável que algum radical islâmico transformasse você em sacrifício. Você também teria dificuldade de encontrar um sacerdote da linhagem de Levi, como devia ser no mandamento dado pela Lei de Moisés.
Em Mateus 5:23-24, no caso de alguma desavença, Jesus instruiu: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta”. Como você fará se brigar com um irmão? Isso terá sido um pecado e no Antigo Testamento, o mesmo que estipulava o dízimo, os pecados exigiam sacrifícios de animais.
Para complicar um pouco mais, veja o que Jesus diz no mesmo capítulo: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus” (Mt 5:18).
O dízimo, a oferta pela cura e os sacrifícios pelos pecados, incluindo ofensas contra seu irmão, eram ditados pela Lei dada a Moisés. Portanto, se quiser guardar um mandamento — como o dízimo, por exemplo — terá também de guardar os outros. Mas você talvez alegue que dos sacrifícios de animais nós estamos isentos agora que o Cordeiro de Deus morreu por nós. Bem, mas não eram apenas sacrifícios de animais que eram exigidos pela Lei. Veja alguns exemplos:
“Aquele que blasfemar o nome do Senhor, certamente morrerá; toda a congregação certamente o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, blasfemando o nome do Senhor, será morto” (Lv 24:16).
“Quando um homem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá; amaldiçoou a seu pai ou a sua mãe; o seu sangue será sobre ele” (Lv 20:9).
“Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera” (Lv 20:10).
“Seis dias se trabalhará, mas o sétimo dia vos será santo, o sábado do repouso ao Senhor; todo aquele que nele fizer qualquer trabalho morrerá” (Êx 35:2).
“Porém se isto for verdadeiro, isto é, que a virgindade não se achou na moça, então levarão a moça à porta da casa de seu pai, e os homens da sua cidade a apedrejarão, até que morra; pois fez loucura em Israel, prostituindo-se na casa de seu pai; assim tirarás o mal do meio de ti” (Dt 22:2021).
“Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles” (Lv 20:13).
Agora, para encerrar por aqui (porque são muitos os mandamentos da Lei semelhantes a estes e punidos com a morte), vou acrescentar o mandamento que você mencionou:
“Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor…” (Lv 267:30 etc.).
Então, para sua pergunta se Jesus mandou dar o dízimo, a resposta mais uma vez é: Sim, ele mandou, porque o contexto ali dos evangelhos é o judaísmo e ele está tratando com judeus, o povo escolhido por Deus para habitar na terra. Havia o Templo, havia sacerdotes, sacrifícios, pena de morte por apedrejamento para adúlteros, virgens que fornicaram, homossexuais e até filhos que ofendessem os pais. E eram exigidos sacrifícios para quem brigasse com um irmão.
Se você não entender o que na Bíblia é dito a Israel sob a Lei, e o que é dito à Igreja, que só foi formada depois do período dos evangelhos, no capítulo 2 de Atos, irá sempre precisar escolher o que da Lei irá ou não cumprir. É isso que a maioria das religiões cristãs que seguem a Teologia do Pacto fazem, por não entender as diferentes dispensações.
Porém, ao fazer isso — ou seja, escolher qual mandamento da Lei irá ou não cumprir — estará trombando naquilo que Jesus disse: “Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus” (Mt 5:18), e também no que Tiago escreveu: “Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tg 2:10).
Agora preste muita atenção principalmente neste versículo de Tiago e você verá que todo o dinheiro que deu a vida inteira de nada terá valido se você tiver falhado em cumprir qualquer outro ponto da Lei. Será culpado de todos. E, para dificultar ainda mais as coisas, até na hora de dar o dízimo você certamente não cumpriu tudo do jeito que estava escrito: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro” (Ml 3:10). A “casa do tesouro” não é a tesouraria de alguma “igreja” abrigada em um templo de tijolos feito por homens. A “casa do tesouro” era um aposento do Templo de Jerusalém que foi destruído há quase dois mil anos. Não existe mais. Onde então você iria levar o seu dízimo?
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Você conhece minha igreja
para poder criticar?
Sua pergunta veio num tom de desafio, depois de você ter lido ou assistido um vídeo no qual respondo a respeito da congregação da qual você é membro. Quase pude escutar você gritando: “VOCÊ CONHECE A CONGREGAÇÃO X”, e no lugar do “X” o nome de sua religião. Como você perguntou nesse tom, talvez nem queira uma resposta, mas estava apenas me desafiando no sentido de tentar mostrar que não posso falar de uma denominação que não conheço.
Como já não é a primeira vez que recebo essa pergunta, no mesmo tom e vinda de alguém da mesma congregação que você frequenta, acredito que a melhor resposta é deixar claro que sua pergunta foi dirigida à pessoa errada. Não era a mim que devia perguntar, mas a outras pessoas com até mais autoridade que eu para responder. Você deveria perguntar assim, anote aí:
“Paulo, André, Bartolomeu, Tiago, João, Mateus, Filipe, Simão Pedro, Simão Zelote, Tomé, Matias, Lucas, Marcos, Lídia, Priscila, Áquila, Apolo, Ágabo, Cléofas, Barnabé, Justo, Ananias, Estevão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Parmenas, Tito, Filemon, Onésimo, Epafras, Arquipo, Silas, Silvano, Andrônico, Urbano, Narciso, Aristóbulo, Ágabo, Rufus, Hermes, Caio, Lúcio, Tércio, Erasto, Quarto, Onesíforo, Clemente, Sóstenes, Tíquico, Epafrodito, Carpo, Aristarco, Trófimo, Artemas, Dorcas, etc., etc., etc…. Vocês conhecem a Congregação X? Já ouviram falar dela?”
Se eles, que foram sem dúvida cristãos e muitos deles companheiros pessoais de Jesus, nunca ouviram falar dessa tal congregação, então você já sabe o que deve fazer. Nem preciso dizer. E aproveito para transcrever aqui um texto de autor desconhecido que explica bem a loucura que é alguém criar alguma denominação religiosa ou se fazer membro de uma. O título do texto é:
“Que denominação é esta?”
Esta é uma pergunta que de um modo geral se faz quando se dá um folheto, ou quando convidamos a alguma reunião para o estudo da Palavra de Deus. Sem dúvida é uma pergunta sábia, especialmente nestes dias de tanta confusão. Mas, o que teria acontecido se a mesma pergunta houvesse sido feita nos dias dos apóstolos? Suponhamos que você tivesse vivido naquela época, e um dia se encontrasse com o apóstolo Pedro e lhe perguntasse:
— Pedro, que denominação é esta?
Você pode imaginar a resposta? Pedro, sem dúvida, teria coçado a cabeça completamente perplexo, porque não haviam denominações na sua época. O crente procurava seguir a ordem divina.
Deus tem uma Igreja neste mundo, mas não é uma organização da qual você pode por si próprio tornar-se membro. É possível fazer-se membro de uma “igreja” feita por homens, e depois “deixá-la” se você não ficar satisfeito. Mas você nunca poderia fazer a si mesmo membro da Igreja de Deus, a qual é chamada “a Igreja do Deus vivo” (1 Timóteo 3.15).
Temos que voltar ao fundamento, o qual é Cristo. “Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Coríntios 3.11). A Palavra de Deus nos diz que somos pecadores culpados diante dele, perdidos em nossos pecados e “por natureza filhos da ira” (Efésios 2.1-3). Mas Deus, em seu amor e misericórdia, enviou seu próprio Filho a este mundo para pagar por nossos pecados na cruz.
Primeiro o Senhor Jesus veio a Seu próprio povo terreno, Israel. “Veio para o que era Seu e os Seus não O receberam” (João 1.11). Então, foi entregue para morrer na cruz pelos pecados de todo o mundo. Triunfante, se levantou de entre os mortos, ascendeu à destra do Pai, e enviou o Espírito Santo ao mundo no dia de Pentecostes.
Com sua ascensão e a vinda do Espírito Santo, havia chegado o tempo, no programa eterno de Deus, de colocar de lado a nação de Israel, e trazer uma coisa completamente nova – sua Igreja. É chamada “Igreja, que é o Seu Corpo” (Efésios 1.22,23).
Sua Igreja não é “denominada”. Isto é, não tem nome dado pelos homens, nem é uma organização humana, porém é composta de pessoas salvas, tanto judeus como gentios. Não tem lista de membros na terra, e ninguém pode fazer-se membro dela. Mas quando alguém vem a Deus como um pecador culpável, e recebe ao Senhor Jesus Cristo em seu coração como seu Senhor e Salvador, seu nome está escrito no Céu e imediatamente é “acrescentado” à Igreja pelo próprio Senhor (Atos 2.47). Passa a levar, então, o nome de seu Salvador, e é feito uma “nova criação” em Cristo (2 Coríntios 5.17). Não necessita outro nome e nem precisa fazer-se membro de algo inventado pelo homem.
Durante o tempo primitivo da Igreja, os crentes se reuniam simplesmente para estudar a Palavra. Não tinham nomes ou organizações denominacionais, e nem o mecanismo da atualidade. Mas as ideias mundanas penetraram mais e mais, e a simplicidade devida a Cristo desapareceu (2 Coríntios 11.3). O homem religioso sempre está acrescentando algo à ordem simples de Deus.
Deus não é o autor de nenhuma denominação. Algumas delas abraçam algumas verdades bíblicas muito sadias, e têm muitos crentes, nascidos de novo, em suas organizações. Mas os crentes são assim divididos uns dos outros por seus nomes. Isto é um pecado contra Deus.
Os crentes primitivos não se “denominavam” ou tinham nomes postos por eles. Eram conhecidos por termos como “discípulos”, “crentes”, “santos”, “cristãos”, ou qualquer nome que pudesse ser levado por TODOS os crentes. Não temos nenhuma base bíblica para levar um nome que não possa ser levado por todos os filhos de Deus neste mundo. Fazer isto é querer dividir o “um só Corpo” de Cristo (1 Coríntios 12.12).
O filho de Deus deve ter um sadio e inteligente conhecimento da Palavra de Deus. Não deve estar em jugo desigual tendo comunhão com os inconversos, mas deve “sair do meio deles” como nos diz 2 Coríntios 6.14-18. Os crentes devem tratar de, a qualquer custo, se reunir para estudar a Palavra a fim de se edificarem uns aos outros na fé. Muitas vezes isto tem que ser feito em pequenas reuniões caseiras, porque a verdade não é aceita em lugares humanamente elevados. “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério” (Hebreus 13.13).
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Qual a diferença entre circuncisão,
incircuncisão e concisão?
Circuncisão é aquilo que os judeus praticam com a remoção da pele do prepúcio do órgão genital masculino, conforme encontramos em Gênesis 17:11: “E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós”. Por outro lado, a incircuncisão é a condição natural de quem não foi circuncidado. Por isso os gentios ou não judeus são chamados de “incircuncisos”, às vezes também com sentido pejorativo.
Mas podem surgir dúvidas pelo uso inadequado do termo em diferentes traduções da Bíblia, como em Filipenses 3:2-3. Veja estas versões:
Almeida Corrigida Fiel (ACF): “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão” (Na versão 2011 a ACF traz “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da cortadura”).
New Version de John Nelson Darby (DBY): “See to dogs, see to evil workmen, see to the concision.” (“Cuidado com os cães, cuidado com os maus obreiros, cuidado com a concisão”).
Almeida Revista e Atualizada (ARA): “Acautelai-vos dos cães; acautelai-vos dos maus obreiros; acautelai-vos da falsa circuncisão”.
Algumas traduções traduziram a palavra grega “katatome” (“concisão”) como se fosse “peritome” ( “circuncisão”). “Circuncisão” era o que os judeus faziam e ainda fazem com os filhos, cortando e extraindo a carne do prepúcio. “Concisão” era meramente cortar, uma mutilação, sem tirar a carne. Isto faz toda a diferença e sentido no texto, se lembrarmos que “a carne para nada aproveita” (Jo 6:63) e que a passagem de Filipenses 3 segue dizendo: “porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito*, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne” (Fp 3:3).
Ou seja, no sentido que o apóstolo está tratando no texto, existe a “concisão”, ou mera mutilação da carne sem extraí-la, existe a “circuncisão” prescrita na Lei mosaica e praticada pelo judaísmo, que nenhum poder real tem sobre a carne que, na prática, não é abandonada, e existe a verdadeira e atual “circuncisão” do cristão, que é o considerar a carne morta, em oposição à “circuncisão” do judaísmo. O apóstolo está se referindo à “circuncisão” dos verdadeiramente nascidos de Deus, que gloriam em Jesus Cristo, não confiam na carne e adoram a Deus “ pelo Espírito” (como aparece na versão Darby, e não “em espírito” como na Almeida Corrigida Fiel, embora possa ser traduzido das duas formas).
Algumas outras versões protestantes e católicas traduzem Filipenses 3:2 assim:
(AVE MARIA) “Cuidado com esses cães! Cuidado com esses charlatães! Cuidado com esses mutilados!”.
(BRITÂNICA) “Acautelai-vos dos cães, acautelai-vos dos maus obreiros, acautelai-vos dos falsos circuncidados”.
(CNBB) “Cuidado com esses cães! Cuidado com esses charlatães! Cuidado com esses mutilados!”.
(NVI) “Cuidado com os cães, cuidado com esses que praticam o mal, cuidado com a falsa circuncisão!”.
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Como agir quando não existe
um mandamento explícito na Bíblia?
O cristão não vive sob a Lei e nem é movido em todas as situações por mandamentos explícitos, mas pelo Espírito de Deus que nos ensina pela sua Palavra. Por isso não faz sentido perguntar se “pode” ou não “pode” para saber como andar de maneira a agradar o Senhor. Por exemplo, “Posso jogar futebol?”, “Posso fumar?”, “Posso usar celular?”, “Posso ir à praia?”, “Posso ver TV?”, etc., são apenas algumas das perguntas que costumo receber, para as quais não existe um mandamento explícito na Bíblia.
Em algumas coisas e situações, o que Deus deseja de nós está muito claro nas páginas das Escrituras, mas em outras precisaremos ter o discernimento que vem do Espírito de Deus e muitas vezes agir com base, não em mandamentos explícitos, mas em princípios encontrados na Palavra, para o que é preciso ser observador para detectar suas sutilezas.
Quando começamos a desprezar essas sutilezas — como são, por exemplo, os princípios — logo acabamos fazendo pouco caso de coisas mais explícitas até que tudo acabe ficando à mercê da vontade de cada um.
Hoje é comum você apontar a alguém um princípio ou padrão sutil na Palavra e o outro dizer: “Ah, mas isso não é um mandamento, então fica a meu critério”, ou “Ah, isso aí só aparece uma vez na Bíblia!”, ou “Ah, foi só Paulo quem escreveu isso!”. Quer um exemplo? Quantas vezes você mostrou algo na Palavra para alguém e a pessoa argumentou, “Ah, mas o importante não é ficar apegado à letra, mas amar as pessoas. O amor vem primeiro”. E aí você vai na Palavra e descobre passagens como estas:
“Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4:15).
“Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro” (1 Pe 1:22).
“Graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai, seja convosco na verdade e amor” (2 Jo 1:3).
Por que será que o Espírito Santo escolheu colocar verdade antes de amor nestas passagens? Porque não pode existir amor genuíno a menos que esteja sendo praticado na verdade. Amor sem verdade nada mais é que afeição natural, algo que até animais possuem. Repare que esta ordem nas palavras é um detalhe sutil, mas o olho atento perceberá, desde que esteja acostumado a andar em proximidade do Pai e em comunhão com ele.
Quando eu era menino, meu pai não precisava dizer tudo que ele queria que eu fizesse. Às vezes bastava ele olhar para mim e eu sabia exatamente se ele estava contente, se estava me repreendendo, se queria que eu fosse para um lado ou para o outro. Nenhum outro menino entendia o que ele queria dizer, mas eu sim, porque conhecia a maneira de meu pai olhar. Esta é a maneira como Deus nos guia com o olhar, e não com rédeas.
Mas para que eu entendesse a vontade de meu pai apenas pela expressão de seu olhar precisei antes ouvir muitos “SIM!” e “NÃO!” verbais, e às vezes até acompanhados de disciplina, palmadas, chineladas e cintadas. Se você for da turma do “politicamente correto” não se preocupe; eu sobrevivi como Deus mesmo previa: “Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá.” (Pv 23:13). Da mesma forma, se você não ficar encharcado da leitura da Palavra de Deus terá dificuldade de ter seus pensamentos formados por ela quando Deus precisar apenas olhar para você. E se não aprender das reprimendas e disciplinas que ele traz em sua vida, irá continuar como jumento teimoso sofrendo a falta de comunhão com o Pai.
Deus “argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos. Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” (Hb 12:5-11).
“Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos. Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti” (Sl 32:8-9).
“Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8:14-16).
“Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gl 5:16).
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O costume era de não ser contencioso
ou de cobrir a cabeça?
Você leu os textos sobre a mulher cobrir a cabeça (e o homem descobrir) quando ora ou fala da Palavra de Deus, e não concordou. Para você a conclusão da passagem deixa claro que nem Paulo, nem as igrejas de Deus, tinham esse costume de as mulheres cobrirem a cabeça (e os homens descobrirem).
Você citou 1 Coríntios 11:16 e para você a palavra “costume” se referia a cobrir (ou descobrir) a cabeça. Ali diz: “Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus.”. É fácil perceber a que “costume” Paulo se referia se você trocar a expressão “ser contencioso” por “cuspir no prato”. Então ficaria assim:
“Se alguém quiser cuspir no prato, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus”. De que “costume” então o apóstolo estaria falando? De homens não cobrirem a cabeça e mulheres cobrirem, ou de “ser contencioso”?
O mesmo apóstolo Paulo, chamado de machista por alguns, escreveu: “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo, preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente” (Fp 2:12-16).
Nesta passagem é possível ver seu uso da palavra “contendas” associado à não obediência da doutrina que lhe foi dada pelo Espírito Santo. Portanto, não faria sentido ele falar tudo aquilo sobre o homem orar com a cabeça descoberta para chegar no final e dizer que não havia esse costume nas igrejas de Deus. Ah, me desculpe! O assunto era a mulher cobrir a cabeça. Mas aí, se era desse “costume” que Paulo estaria falando não ter, como ficaria o ensino sobre o homem descobrir a cabeça quando ora ou profetiza? Seria isso também um costume que nem ele e nem as igrejas de Deus teriam? Ou será que o “não temos tal costume” estaria associado ao “contender”?
Basta consultar uma professora de português para ela dizer a você que a frase “nós não temos tal costume” está diretamente relacionada ao que o apóstolo disse imediatamente antes, “se alguém quiser ser contencioso” (1 Co 11:16). Ou seja, como cristãos não temos o costume de sermos contenciosos, e vários textos deixam isso tão claro que nem preciso citar onde estão em sua Bíblia.
“Andemos honestamente, como de dia, não… em contendas… Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas… me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós…. pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?… desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas… É soberbo, e nada
sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras… Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade… ordenando-lhes diante do Senhor que não tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam”.
Não faria qualquer sentido o apóstolo escrever tudo o que está do versículo 1 ao 15 de 1 Coríntios 11 só para dizer que não temos esse costume de as mulheres cobrirem a cabeça. Mesmo porque se o “não temos tal costume” fosse sobre o assunto que ele discorreu com tantos detalhes, teríamos de incluir nisso a ordem estabelecida no versículo 3, ou seja, “Cristo é a cabeça do homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de Cristo”. Acaso deveríamos deixar de lado o costume de achar que Cristo é a cabeça do homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de Cristo?
Teríamos também de concluir que seria indiferente o homem cobrir ou não a cabeça ao orar, o que deixaria sem sentido os séculos de “costume” de cristãos do gênero masculino que tiravam o chapéu na hora de orar expressando respeito à ordem estabelecida por Deus. Se para a mulher fosse indiferente orar com a cabeça coberta ou descoberta, então o mesmo deveria valer para o homem.
Mas o texto mostra que Deus dá tanta importância ao assunto que não resumiu assim, como poderia ter feito: “Todo homem ou mulher que ora ou profetiza, faça do jeito que achar melhor, porque é indiferente cobrir ou não a cabeça”. Paulo, inspirado pelo Espírito, poderia ter escrito simplesmente isto e as árvores teriam agradecido a economia de papel de bilhões de Bíblias com quase trezentas palavras a menos.
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Com que idade aparente
estaremos no céu?
Independentemente da idade, a Bíblia diz que todos ressuscitaremos à semelhança de Jesus, ou seja, em um corpo humano. Provavelmente esse corpo aparentará o corpo de Jesus, que morreu na idade de seu completo desenvolvimento biológico, o que se dá por volta dos 30 anos. Deus criou Adão adulto, portanto as crianças também ressuscitarão com o corpo de um adulto, e não serão transformadas em “anjinhos barrocos”. É um grande erro dizer que crianças que morreram foram transformadas em “anjinhos” ou “estrelinhas”. Isso é relegar o ser humano a uma condição inferior àquela que Cristo tem reservada para ele.
Os que morreram em Cristo (isto é, não morreram em seus pecados) ressuscitarão no arrebatamento. Entendo que isso incluirá os santos do Antigo Testamento, crianças, abortivos e santos do Novo Testamento, embora façam parte das diferentes “famílias” ou classes de salvos mencionadas na Palavra de Deus. Estarão todos com Cristo, “de quem toma o nome toda família [ou cada família], tanto no céu como sobre a terra” (Ef 3:15 ARA), embora apenas os salvos pela fé dos últimos dois mil anos são os que compõem a Igreja, que é a noiva do Cordeiro.
Todos os espíritos dos que morreram que neste momento estão na presença do Senhor, voltarão aos seus corpos glorificados e subirão para estar com Cristo no céu em corpos de carne e ossos. Não morarão na terra durante o milênio, a qual será habitada pelos judeus e gentios convertidos no período de sete anos que se sucederá ao arrebatamento da igreja e é dividido em “princípio das dores” e “grande tribulação”.
A Bíblia deixa claro que os salvos de todas as eras, inclusive crianças e abortivos, serão muitos, pois os perdidos não serão em maior número que os salvos. A própria Palavra diz que Cristo terá, em tudo, a primazia. Ele não daria ao inimigo a primazia de ter arrastado mais pessoas à perdição do que Cristo à salvação.
“E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.” (Cl 1:18).
Tendo isso em conta, que tremendo evento será a ressurreição de todos os salvos e a transformação dos vivos no dia do arrebatamento da Igreja. Embora a “primeira ressurreição”, inaugurada por Cristo, tenha mais de uma etapa e inclua também a ressurreição dos que vierem a crer e a morrer após o arrebatamento, o número dos que subirão será infinitamente maior nesse evento.
Ao contrário dos filmes de Hollywood que incluem incrédulos testemunhando da ressurreição de Jesus, a visão disso será reservada apenas aos salvos como foi a ressurreição do Senhor. Ele nunca foi visto por nenhum incrédulo em seu corpo ressuscitado, e a visão que o mundo guarda dele é de um morto, não de um vivo. A subida dos santos também será como foi a do Senhor, que foi vista apenas pelos discípulos.
“Os santos celestiais serão como o Senhor no aspecto moral (1 Jo 3:2), e fisicamente (Fp 3:21). Assim como o Senhor estará no “orvalho de Tua mocidade”, eles também serão restaurados à primavera da vida (Sl 110:3). Os santos idosos, cujas faculdades físicas e mentais estiverem arruinadas, serão todos restaurados à força e ao vigor em seus corpos ressuscitados. Nunca mais verão corrupção (1 Co 15:42-57; 2 Co 5:1-4). Do mesmo modo como foram feitos à semelhança do Senhor moral e fisicamente, os santos celestiais terão as capacidades de seus corpos glorificados imensamente incrementadas. Estarão aptos a visitar a terra, subindo e descendo por toda ela em um instante (Lc 24:30-35), e passarão através de objetos sólidos como paredes, etc. (Lc 24:36-43; Jo 20:19-29). Porém não terão qualidades de onisciência ou onipotência, as quais pertencem somente à deidade.” (Trecho do livro Acontecimentos Proféticos, de Brune Anstey).
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Por que o cristão sofre?
Um dia passei em frente a uma dessas “igrejas” neopentecostais e sob o nome da organização havia uma frase: “Não sofra mais!”. A intenção clara era de atrair incautos a se fazerem membros daquela religião para encontrarem nela o alívio para o sofrimento.
Uma das grandes mentiras dos pregadores neopentecostais é negar o sofrimento do crente em Cristo. Muitos deles ensinam que se um crente está sofrendo é por não ter fé ou por estar andando em desobediência a Deus, esquecendo que Cristo sofreu e nunca houve ninguém mais santo do que ele. E é em sua Palavra que encontramos algo que contraria todo o ensino de que o crente esteja imune ao sofrimento: “Foi-me bom ter sido afligido” (Sl 119:71).
Costumamos pensar que apenas o que é bom é bom, nos esquecendo que o bom é inimigo das “coisas mais excelentes” (Fp 1:10). O apóstolo Paulo sabia discernir isso quando escreveu que suas prisões eram excelentes, mesmo que teria sido melhor do ponto de vista humano que ele não estivesse na cadeia.
“Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho; de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais; e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus” (Fp 1:12-14).
O apóstolo reconhecia também que não era prisioneiro dos romanos, mas do Senhor, que é como se identifica na carta aos Efésios: “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor” (Ef 4:1).
Deus age assim muitas vezes para frustrar os planos do inimigo. Quando você dá linha, o peixe até pensa que venceu a parada, até sentir o tranco do anzol. Os irmãos de José tentaram se livrar dele, mas no final ele diz “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida” (Gn 50:20). Satanás podia se regozijar vendo Jesus morto na cruz, mas podemos imaginar sua expressão quando viu o túmulo vazio e os discípulos, outrora tristes, exultando de alegria?
Se vivemos para a glória de Deus, que importa os meios que Deus poderá querer usar para atingir seus objetivos? No passado os judeus passaram um cortado por causa de sua desobediência, e Deus usou até mesmo reis pagãos como o chicote que afligia o lombo de seu povo rebelde. Em Jeremias vemos uma das terríveis maldições que Deus traria ao povo:
“Eis que eu enviarei, e tomarei a todas as famílias do Norte, diz o Senhor, como também a Nabucodonosor, rei de Babilônia, meu servo, e os trarei sobre esta terra, e sobre os seus moradores, e sobre todas estas nações em redor, e os destruirei totalmente, e farei que sejam objeto de espanto, e de assobio, e de perpétuas desolações” (Jr 25:9).
Reparou que Deus chama Nabucodonosor de “meu servo”? Pense em dois judeus caminhando rumo ao exílio na Babilônia, um praguejando contra o rei de Babilônia sem entender como Deus teria permitido aquilo, e o outro, caminhando por fé, e comentando: “Não se preocupe, meu irmão. Sabe esse rei aí? Ele está na folha de pagamento de nosso Deus. Por isso Deus o chama de ‘meu servo’”.
Quanto a nós, sofrimentos fazem parte do contrato de nossa vida neste planeta hostil que expulsou o Senhor da glória. Se ele sofreu, por que achar que sairíamos sem nenhum arranhão? Considerando que todos os apóstolos, exceto João que morreu em idade avançada, sofreram mortes horríveis, o que vier para nós é lucro. Bom seria podermos dizer como Paulo que “em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte.” (Fp 1:20).
Da próxima vez que você pisar em um prego com o pé descalço, ou morder uma pedrinha esquecida no meio do arroz, e segurar a forma de pizza saída do forno, entenderá que o sofrimento tem seu lugar. Se não fosse a dor você teria continuado pisando no prego até ele atravessar seu pé, perderia um dente por morder até o fim, e teria trabalho para desgrudar a carne de seus dedos que iria ficar presa à forma quente da pizza.
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Como pode o diabo fazer o bem?
Você diz que foi curado por um médium espírita e pergunta: “Como poderia ser pelo poder do diabo algo que só faz o bem sem pedir dinheiro?”. Sua pergunta deveria ter sido outra. Tipo assim: “Como Satanás demonstrou ter tanto poder ao transportar Jesus do deserto para um alto monte e depois para o pináculo do templo?” (Lc 4:1-13). “Como os magos de Faraó teriam conseguido imitar os sinais de Deus através de Moisés?” (Êx caps. 7-12). “Como o anticristo será capaz de fazer descer fogo do céu?” (Ap 13:13).
No primeiro caso a intenção aparente do diabo era de trazer benefícios para Jesus, oferecendo a ele o poder dos reinos da terra. No segundo Faraó e os egípcios ficaram tão impressionados com a capacidade dos magos de imitarem os sinais de Deus que nem perceberam que aquilo só lhes trouxe problemas maiores, pois eram só pragas. No terceiro o diabo irá energizar um homem com poderes pirotécnicos, pois o povo gosta mesmo é de gente exibida.
Mais uma pergunta que você deveria ter feito é esta: “Como Satanás é capaz de se transformar em anjo de luz e seus ministros em ministros de justiça?” (2 Co 11:14-15). Se realmente sua cura ocorreu só posso dizer que você foi vítima de um desses que se transfiguram em “ministros de justiça” por meio de quem o inimigo de nossas almas conseguiu mais um adepto para uma religião que nega a obra expiatória de Cristo por meio de seu sangue derramado na cruz.
“Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras” (2 Co 11:13-15).
Se Jesus diz que se cremos nele temos TODOS os nossos pecados perdoados, que o crente tem já, aqui e agora vida eterna, que não passará pelo juízo final, mas já passou da morte para a vida (Jo 5:24), e Alan Kardek diz que você precisa reencarnar trocentas vezes para eliminar seus próprios pecados, um dos dois está mentindo. Quem você diria ser o mentiroso? O filho de Deus ou aquele inspirado pelo “pai da mentira”? (Jo 8:44).
Não estou afirmando, estou colocando seus neurônios para funcionarem. Não se iluda. Se qualquer mágico de rua é capaz de deixar você espantado com truques baratos, o que dirá de um “querubim da guarda” com milhares de anos de experiência em iludir e poder suficiente para transportar o Filho de Deus de um lugar para o outro na terra. Estes versículos poderão ajudar você a entender que no mundo espiritual nem tudo o que reluz é ouro.
Mas não pense que isto que estou dizendo se aplica apenas ao espiritismo. Também vale para o circo que acontece em igrejas e programas de rádio e TV desses pregadores pentecostais de curas e prosperidade. Se eles não existissem Jesus teria mentido quando disse:
“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7:22-23).
Perceba que não são apenas pessoas que dizem fazer coisas em nome de algum espírito desencarnado ou de alguma divindade africana que o diabo usa. São pessoas que invocam o nome do Senhor Jesus em seus cultos repletos de desesperados em busca de alguma cura, sinal ou prosperidade.
A pergunta que deve sempre fazer é: “Quanto Satanás está disposto a fazer de bem para ganhar um adepto?”, “Quanto o traficante está disposto a abrir mão de sua cara cocaína para ganhar um viciado?” Será que você poderia ser um pouco menos crédulo e olhar para a outra mão do mágico? É com a outra que ele trabalha em oculto, não com aquela que faz as coisas visíveis. E para você depois não dizer que Deus não avisou, aqui vai uma série de passagens que falam do poder do diabo para enganar os incautos.
“A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira” (2 Ts 2:9).
“Porque são espíritos de demônios, que fazem prodígios” (Ap 16:14).
“Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti, e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los; não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos; porquanto o Senhor vosso Deus vos prova, para saber se amais o Senhor vosso Deus com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma” (Dt 13:1-3).
“Nos quais o deus deste século [Satanás] cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Co 4:4).
“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mt 24:24).
“E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre” (Ap 19:20).
“E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens. E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta” (Ap 13:13-14).
“Esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2 Ts 2:9-12).
“E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disselhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu” (Lc 4:5-17).
*
O que esse rabino diz no vídeo
está correto?
O que o rabino diz não vem ao caso, porque recebo sempre vídeos de rabinos e perguntas de pessoas que viram o religioso judeu dizer algo e acharam que, por ser um rabino judeu, ele deveria entender alguma coisa das Escrituras. Que parte da palavra “cegueira” e “endurecimento” você não entendeu? Por que você acha que por ser rabino ele terá algum discernimento da Palavra de Deus? Ele pode conhecer história, arqueologia, hebraico, costumes, etc., mas seu discernimento das Escrituras é zero. ZERO!
É mais provável a jumenta de Balaão entender o que Deus quis dizer nas Escrituras do que um judeu que se recusa a crer em Jesus como Salvador. E não sou eu quem diz que o judeu está cego e endurecido em seu entendimento de Deus. É a mesma Escritura que os judeus tanto prezam e nem percebem que Deus avisou que seria assim. Seus próprios profetas escreveram que os judeus não fariam caso do Cristo que surgiria entre eles:
“Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor? Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum” (Is 53:1-3).
O mesmo profeta Isaías recebeu de Deus a ordem de profetizar contra seu próprio povo avisando-os de que ficariam cegos e surdos para compreenderem as Escrituras:
“Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e faze-lhe pesados os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os seus olhos, e não ouça com os seus ouvidos, nem entenda com o seu coração, nem se converta e seja sarado” (Is 6:9-10).
Então não perca seu tempo com esses vídeos e com o que os rabinos dizem, a menos que seja algum convertido a Cristo. Porque a Palavra de Deus diz que Deus mesmo lhes cegou o entendimento. Depois seria a vez do próprio Messias, Jesus, o Cristo, repetir as palavras dos profetas do passado:
“Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi relevado o braço do Senhor? Por isso não podiam crer, pelo que Isaías disse outra vez: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure” (Jo 12:37-40).
Isaías também falou dessa cegueira espiritual que viria sobre esse povo, quando escreveu:
“Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes. Por isso toda a visão vos é como as palavras de um livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não posso, porque está selado. Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não sei ler. Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído; Portanto eis que continuarei a fazer uma obra maravilhosa no meio deste povo, uma obra maravilhosa e um assombro; porque a sabedoria dos seus sábios perecerá, e o entendimento dos seus prudentes se esconderá” (Is 29:10-14).
O apóstolo Paulo recorre aos mesmos profetas quando escreve: “Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos. Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje. E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, E em tropeço, por sua retribuição; escureçam-se-lhes os olhos para não verem, E encurvem-se-lhes continuamente as costas” (Rm 11:7-10).
Ele estava citando o Salmo 69 e você ganha um doce se descobrir por causa de terem rejeitado a QUEM que os judeus ficaram nessa condição de cegueira espiritual:
“Afrontas me quebrantaram o coração, e estou fraquíssimo; esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei. Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre. Torne-se- lhes a sua mesa diante deles em laço, e a prosperidade em armadilha. Escureçam-se- lhes os seus olhos, para que não vejam, e faze com que os seus lombos tremam constantemente. Derrama sobre eles a tua indignação, e prenda-os o ardor da tua ira. Fique desolado o seu palácio; e não haja quem habite nas suas tendas. Pois perseguem àquele a quem feriste, e conversam sobre a dor daqueles a quem chagaste. Acrescenta iniquidade à iniquidade deles, e não entrem na tua justiça. Sejam riscados do livro dos vivos, e não sejam inscritos com os justos” (Sl 69:20-28).
“Se não descobriu, aqui vai a dica: “Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede. Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num hissope, lha chegaram à boca. E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. Os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a preparação (pois era grande o dia de sábado), rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados” (Jo 19:28-31).
Esta passagem também revela a incoerência do judeu religioso: por um lado, não apenas negam água a seu Messias moribundo, dando vinagre para aumentar sua sede, e por outro se preocupam em tirar logo os corpos de Jesus e dos dois malfeitores de suas cruzes em sinal de respeito para com o sábado, quando não seria permitido pela Lei mosaica fazerem aquele trabalho.
Felizmente para Israel essa cegueira e endurecimento tem prazo de validade. A Igreja, o corpo de Cristo formado na terra desde sua rejeição pelos judeus, poderá ser tirada daqui a qualquer momento, e então um pequeno remanescente de judeus que nunca tinha ouvido o evangelho irá descobrir que o Messias já tinha estado entre eles, tendo sido rejeitado, morto e ressuscitado. A verdade brilhará para eles ao ponto de enfrentarem todos os obstáculos possíveis para levarem essa mensagem, alguns pagando com a própria vida para isso. Sete anos mais tarde Cristo voltará em glória com os santos arrebatados antes para reinar, e aí os judeus todos o verão: “Verão aquele que traspassaram” (Jo 9:37). Paulo fala desse “endurecimento em parte” ou por algum tempo:
“Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado” (Rm 11:25).
Portanto, esqueça-se de recorrer a judeus, rabinos ou não, para entender as Escrituras porque você vai ficar na mesma cegueira na qual eles têm estado mergulhados nos últimos dois mil anos por determinação do próprio Deus. Concentre-se em Cristo, que é a consumação de todas as profecias do Antigo Testamento, e nos apóstolos e profetas que ele mesmo escolheu para nos legar o Novo Testamento.
“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas” (Hb 1:1-3).
O mais simples, humilde e analfabeto crente em Jesus conhece melhor as Escrituras do que o mais dotado, ilustre e letrado rabino judeu. Foi assim quando Jesus esteve aqui, e continua sendo assim hoje.
“Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve” (Mt 11:25-26).
“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele. Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor” (1 Co 1:18-31).
“Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória” (1 Co 2:6-8).
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Você não respeita todas as religiões?
Não, eu não respeito todas as religiões, e nem seria sensato agir assim, apesar da frase “Respeito todas as religiões” parecer politicamente correta. Posso e devo respeitar pessoas, mas não sou obrigado a respeitar suas religiões, palavras e atos. Os antigos astecas, por exemplo, sacrificavam pessoas e algumas tinham o coração arrancado do peito ainda vivas pelas mãos do sacerdote. Era tanta gente trucidada em cada sessão que seus arquitetos aprimoraram o projeto das pirâmides. Acrescentaram em algumas uma canaleta por onde o sangue podia formar uma enxurrada sem comprometer a segurança da escadaria, evitando que alguém escorregasse nela.
Não seria nem um pouco politicamente correto respeitar tamanha crueldade, não é mesmo? Mas talvez você diga que respeita todas as religiões que não sejam cruéis como a dos astecas. Qual, por exemplo? Experimente trocar “religiões” por “medicamentos” para ver o que acontece. Você estaria disposto a aceitar qualquer medicamento, mesmo os falsos que poderiam causar danos à sua saúde? Ou que fossem apenas placebos sem efeito algum? Neste caso você poderia estar respeitando todos os medicamentos, mas não seria uma atitude de respeito para com seu dinheiro.
Já que estamos falando da crueldade do sacerdote asteca de arrancar o coração da vítima do sacrifício, o que você diria se ele arrancasse também dela a possibilidade de sua salvação eterna? É isso que faz uma religião falsa, que engana seu seguidor até ele se encontrar perdido no pós vida. Se estamos falando em graus de crueldade eu diria que nada pode ser mais cruel do que uma pessoa, doutrina ou religião que engane seus seguidores fazendo com que se percam eternamente.
Outro problema de achar que todas as religiões que não arranquem o coração da vítima devem ser respeitadas é perder de vista o que uma pessoa busca encontrar numa religião. Embora a grande maioria esteja interessada em algum paliativo momentâneo para sua saúde, finanças e relacionamentos afetivos, existem aquelas que estão realmente interessadas em seu destino eterno. Como você se sentiria se pedisse informações de que ônibus tomar para um determinado destino e depois descobrisse que gastou seu único dinheiro numa passagem para um destino contrário ao que pretendia?
Jesus declarou: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (Jo 14:6). Responda rápido: (A) Jesus estava enganado, (B) Jesus estava mentindo ou (C) Jesus estava falando a verdade. Se responder “A” ou “B” é melhor passar longe da Bíblia, porque o tema dela é Jesus, o Salvador, e seria insensato crer em um livro sobre alguém que estava enganado ou era propenso a enganar. Mas se respondeu “C” você acaba de descartar todas as religiões, caminhos e verdades que não sejam a própria Pessoa de Cristo.
Eu até compreendo que, depois de escutar que só Jesus é o caminho, a pessoa que diz que “respeita todas as religiões” esteja querendo parecer politicamente correta. Mas se ela tiver um mínimo de inteligência irá perceber que sua afirmação é a mais soberba, prepotente e ofensiva possível. Por que? Primeiro, ela está declarando conhecer todas as religiões para saber que nenhuma delas arranca corações. Você acha que existe alguém assim na face de um planeta com milhares de crenças? Segundo, ela terá acabado de dar um tapa na cara de quem disse que só Jesus é o caminho, porque pelo menos esta crença terá desrespeitado, pois se a respeitasse teria que considerar todas as outras erradas, o que invalidaria sua tese de que todas são corretas.
Portanto, pela mesma razão que alguém em sã consciência não tomaria qualquer ônibus sem ter a certeza de seu destino, não tomaria um medicamento sem verificar sua eficácia, e nem aceitaria dinheiro visivelmente falso, é uma grande bobagem dizer que você respeita todas as crenças. Isto porque já não está respeitando a declaração de Jesus, de que somente ele é o caminho, a verdade e a vida e ninguém vai ao Pai a não ser por meio dele. Talvez você pudesse ter dito que respeita todas as pessoas, independentemente de sua religião, e aí estaríamos de comum acordo. Eu também respeito todas as pessoas, até o sacerdote asteca. Mas neste caso, se ele estender sua mão para me cumprimentar eu vou proteger meu peito.
Sinto muito por você e por todas as outras pessoas que “respeitam todas as religiões”, porque isso demonstra que não creem em Cristo como ÚNICO Salvador. Se Jesus não estava enganado, não mentiu, e disse a verdade, então outras afirmações dele também irão selar o seu destino eterno. Quais? Estas:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3:16-18).
Tem certeza de que é sensato embarcar em qualquer ônibus que passar ou tomar qualquer medicamento que encontrar? Não seria melhor conferir antes se o destino daquele ônibus é o mesmo que você pretende e se o medicamento é eficaz, e não se trata de um placebo ou até de um veneno? Você só tem uma chance de acertar, porque a morte irá selar seu destino eternamente, e sua escolha aqui terá feito toda a diferença. No final Deus não irá cobrar de você se foi politicamente correto, mas se creu no Filho dele, por meio de quem deu todas as evidências necessárias para você saber que era genuinamente o único capaz de salvar eternamente o pecador que vai a ele pela fé.
Mas o que difere o cristianismo bíblico de todas as religiões? O cristianismo é a única crença que se distingue de todas as outras, porque ainda que todas tenham em vista uma salvação eterna, seja por purificação, evolução, reencarnação ou o que quer que tenha como alvo, apenas o cristianismo bíblico não tem o esforço próprio como meio para se alcançar esse fim. O verdadeiro evangelho, ou “boa nova”, coloca o homem na condição de totalmente inapto de fazer qualquer coisa para “religar-se” (daí vem a palavra “religião”) a Deus.
O verdadeiro evangelho da graça de Deus mostra que você é um pecador tão perdido quanto alguém que caiu num poço profundo e não tem uma escada para sair. No verdadeiro evangelho é Deus que, por meio de Jesus e sua morte e ressurreição, apaga suas transgressões, dá a você uma nova vida e lhe capacita a morar na esfera celestial. E tudo isso vem pela fé em Jesus, uma fé que nem sequer brota na pessoa convertida, mas que é um dom de Deus.
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2:8).
Todas as religiões são como alguém gritando lá em cima na boca do poço: “Saia daí, se esforce, você consegue!”. O verdadeiro evangelho mostra como Jesus foi ao fundo do poço para lhe buscar. Agora vem a melhor parte: Jesus não faz isso enquanto você estiver tentando sair dali por seus próprios meios, mas apenas quando desistir de salvar-se a si mesmo. Afinal, como poderia o evangelho ser chamado de boa notícia se colocasse em você o encargo de se salvar? A salvação por graça é isso mesmo, um presente que você recebe de Deus ao reconhecer que não tem meios para pagar por ele. O evangelho não poderia ser chamado de “evangelho da graça de Deus” se fosse uma lista do tipo: “Vá até a loja, escolha o presente, pague com seu cartão”. Aí já não seria graça e nem boa notícia.
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Seria falta de amor bloquear
alguém nas redes sociais?
Depende da pessoa e do que ela está fazendo ali. A verdade sempre deve vir antes do amor. As redes sociais estão aí e muitos cristãos não perceberam o quando o diabo as utiliza com a conivência de cristãos que lhe servem de inocentes úteis para seus planos de enganar incautos. Por isso é importante ficar atento. A Palavra de Deus está cheia de advertências contra hereges, opositores da Verdade e caluniadores.
Pense em seu perfil numa rede social como sua sala de estar ou jantar, onde você recebe pessoas com as quais tem alguma afinidade e para onde não convida, ou até mesmo expulsa, os que causam transtorno. Costumo usar com frequência a opção de bloqueio nas redes sociais quando encontro pessoas que começam a lançar calúnias, publicar material questionável ou, o que é pior, difamar o bom nome de Cristo. Não seja ingênuo. Satanás irá instigar seus instrumentos a usarem seu espaço, perfil e mural nas redes sociais como plataforma para disseminar heresias.
Às vezes uma ou duas admoestações podem não surtir efeito (e geralmente é o caso com pessoas com más intenções), então o melhor é nem ficar debatendo com elas. O Senhor Jesus voltou as costas aos fariseus quando esses deixaram muito claro sua rejeição. E no ponto alto de sua expulsão do mundo ficou silente diante de Pilatos. “E Pilatos o interrogou outra vez, dizendo: Nada respondes? Vê quantas coisas testificam contra ti. Mas Jesus nada mais respondeu, de maneira que Pilatos se maravilhava” (Mc 15:4).
Jesus também ensinou seus discípulos a não perderem tempo com os opositores — e a serem prudentes como serpentes — quando enviou alguns em missão, dizendo para sacudirem a poeira das sandálias dos lugares onde não fossem recebidos. “E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés… Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas” (Mt 10:14-16).
Estamos em um mundo hostil, caminhando em terreno inimigo e minado, portanto não devemos dar trela aos que se opõem à Verdade. É melhor deixá-los falando sozinho do que entabular longas discussões que nos farão perder tempo com eles enquanto outros sinceros precisam de ajuda. E sempre existe o risco de o veneno dos infiéis contaminar ouvintes ou leitores menos preparados. Por isso é preciso usar de sabedoria para saber até onde uma conversa pode ser útil a alguém que está se opondo por estar sinceramente enganado, ou se estamos tratando com um herege de carteirinha, inimigo da cruz de Cristo.
“Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas… E rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas. E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade, e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos” (Tt 3:9; 2 Tm 2:23-26).
“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas” (Fp 3:18-19).
“Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem” (Mt 7:6).
Não estou falando aqui de pessoas que meramente discordam por diferenças de opiniões ou falta de entendimento da Palavra, mas de opositores agressivos, que xingam, profanam o nome de Cristo, e podem estar querendo usar seu perfil nas redes sociais para contaminar outros. Jesus os chama de “cães e porcos”, nada politicamente correto, não é mesmo? Bloqueá-los é uma medida sensata, necessária e profilática. Você não coloca telas nas janelas quando há muitos mosquitos querendo entrar para transmitir doenças? O amor nunca deve vir antes da verdade, portanto é primeiro com a verdade que devemos nos preocupar evitando que hereges semeiem suas mentiras ou venham a difamar o bom nome de Cristo usando seu perfil nas redes sociais.
Você receberia em sua casa alguém que pudesse trazer más influências para seus filhos? Não, você fecharia a porta para essa pessoa. Portanto, não se sinta constrangido quando precisar bloquear o acesso de alguém ao seu perfil e mural nas redes sociais. Existem muitas passagens que autorizam proceder assim, e boa parte delas nem sequer está falando de apartar-se de incrédulos, mas sim de pessoas que professam crer em Cristo.
“Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o” (Tt 3:10).
“Traze estas coisas à memória, ordenando-lhes diante do Senhor que não tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes. Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns. Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa [a esfera da profissão cristã hoje no mundo] não somente há vasos [pessoas] de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas [a impiedade, a má doutrina e os vasos], será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (2 Tm 2:14-21).
“E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles” (Rm 16:17).
“Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu… Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe. Todavia não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão” (2 Ts 3:6, 14-15).
Esta passagem, por exemplo, está falando da esfera do testemunho cristão no mundo onde joio e trigo estão misturados. Os homens descritos aqui, que têm aparência de piedade, são cristãos da boca para fora:
“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te” (2 Tm 3:1-5).
A passagem abaixo está falando especificamente daqueles que negam a divindade de Cristo e estão em uma atitude de ativamente disseminarem sua má doutrina. Não se trata de alguém com quem você se encontra casualmente no trabalho, mas de alguém que vai até você com a intenção clara de ensinar o erro. Talvez você ache um exagero agir assim, mas aí eu pergunto: Que parte do “não o recebais em casa” você não entendeu?
“Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo. Olhai por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganho, antes recebamos o inteiro galardão. Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa [ou em sua rede social], nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras” (2 Jo 1:7-11).
Agora, se você acha tudo isso falta de amor cristão e considera muito radical tomar essas atitudes, o que pensar da atitude que os apóstolos tomavam — e só eles tinham esse poder — de não somente evitar tais pessoas, mas de até entregá-las a Satanás para que fossem mortas pelo diabo? Esse poder era exclusividade dos apóstolos e os cristãos não poderiam fazer igual, mas mesmo assim Deus continua agindo com juízo contra aqueles que se opõem à verdade. Sua parte é menos complicada do que entregar alguém à morte como os apóstolos faziam, portanto faça sua parte.
“Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e também te levarão a ti. E logo caiu aos seus pés, e expirou. E, entrando os moços, acharam-na morta, e a sepultaram junto de seu marido” (At 5:9-10).
“Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5:3-5).
“E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (1 Tm 1:20).
“Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore” (1 Tm 5:16).
Talvez você argumente que o cristão deva andar com qualquer um, tolerar e continuar interagindo com pessoas contenciosas ou que negam a Verdade, com o argumento de que Jesus andou com pecadores aqui neste mundo. Sim, ele andou com pecadores, mas eram aqueles que se reconheciam como pecadores, humilhados e sedentos da Verdade, e que largaram mão de coisas, inclusive do próprio ego, para seguir a Cristo. Ele não andava com pessoas contenciosas e inimigas da Verdade, como os fariseus.
Em um certo sentido Deus também “bloqueia” pessoas de sua “rede social”, só que a Bíblia usa o verbo “endurecer coração” ao invés de “bloquear perfil”. Ele fez isso com Faraó depois que este recusou-se a crer nas demandas que Deus fazia através de Moisés. “Porém o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu…” (Êx 7:13, 22; 8:15, 19, 32). Então, depois de Faraó endurecer o próprio coração, foi a vez de Deus endurecer o coração de Faraó com um bloqueio que não tinha mais retorno. “Porém o Senhor endureceu o coração de Faraó” (Êx 9:12).
Ele fará isso também depois do arrebatamento da Igreja, quando os que ouviram o evangelho e não quiseram crer ficarão no mundo e serão forçados por Deus a acreditar na mentira do anticristo.
“E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2 Ts 2:8-12).
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O que significa Eclesiastes 7:10?
Você perguntou o que significa Eclesiastes 7:10: “Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta.”. O versículo fala do erro de se viver no passado e criar ilusões com isso. Os que saíram do Egito acompanhando os israelitas no deserto reclamavam do maná e diziam ter saudades da boa comida no Egito, mas era tudo ilusão: “Lembramo-nos dos peixes que no Egito comíamos de graça; e dos pepinos, e dos melões, e dos porros, e das cebolas, e dos alhos” (Nm 11:5).
Quem quer viver no passado acaba fantasiando as coisas para que pareçam melhores que o presente, abraçando-as na tentativa de fugir da realidade e das responsabilidades. Talvez você diga que no seu caso o presente está uma droga e não tem como comparar com o passado quando era próspero, saudável e feliz. Mas entenda que o presente é o que você tem e o futuro é o que sua fé em Cristo reserva. O passado são águas que já não estão debaixo de sua ponte e não são elas que movem seu moinho agora.
Então o melhor é ter paciência até você chegar no futuro ou o futuro chegar até você, porque amanhã o presente também será passado e talvez você até sinta uma pontinha de saudade dele se as coisas piorarem um pouco mais. Outro dia vi uma frase de para-choque: “Sorria! Amanhã pode ser pior”. Mas no caso do cristão sabemos que sempre haverá um depois de amanhã glorioso e eterno, portanto o jeito é aguentar o que falta para chegar lá.
“Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão. Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um pouquinho de tempo, E o que há de vir virá, e não tardará. Mas o justo viverá da fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma” (Hb 10:35-39).
Lembre-se de que o Livro de Eclesiastes reúne as impressões de Salomão de tudo o que ele viu e experimentou “debaixo do sol”, o que quer dizer que nem tudo no livro é verdadeiro ou espiritual. É sabedoria do homem terreno para sua vida na terra. São as impressões de quem se desviou dos caminhos de Deus em busca de satisfação passageira e depois descobriu que não valeu a pena.
Espero que você possa dizer como Paulo, que teve um passado brilhante do ponto de vista humano e estava vivendo um presente que era uma desgraça para quem o visse perseguido, humilhado e preso. No entanto, ele dizia de boca cheia:
“O que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte… Uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:7-14).
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Quem você pensa que é para me julgar?
Você escreveu indignada depois de ler algo que escrevi, e disparou: “Como você pode dizer que em mim não há nada de bom? Por que você se julga melhor que eu? Você não é Deus e o juízo final ainda não chegou!”. Bem, não sou eu quem diz que não há nada de bom em você (e em mim também). É a Palavra de Deus que afirma. Eis aqui o seu currículo (e o meu) aos olhos de Deus:
“Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus” (Rm 3:10-19).
Você está iludida quando pensa que a salvação seja uma recompensa que Deus irá dar no final aos que merecerem por bom comportamento nesta vida. Por isso diz que eu devo aguardar o juízo final para saber o que Deus pensa de você. Nem preciso, porque ele já disse em sua Palavra o que pensa de você, de mim e de cada descendente de Adão: pecador perdido. A menos que alguém tivesse pago o preço de sua redenção, não haveria escapatória para a condenação eterna.
A boa notícia é que Cristo pagou na cruz, com seu próprio sangue, esse preço para resgatá-la da escravidão do pecado e da morte. Mas ele só irá valer para você quando deixar de lado sua justiça própria e se reconhecer uma pecadora arruinada e incapaz de merecer a salvação. Nem pense em se apresentar diante de Deus alegando ter sido uma pessoa boa e justa. Não vai funcionar.
Aos olhos dele as suas justiças (e as minhas) não passam de absorventes higiênicos depois de usados. Exatamente, “trapos de menstruação” é a tradução literal de Isaías 64:6: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam”. Assim como acontece com o absorvente higiênico usado, nossas “justiças” não servem nem para o lixo dos recicláveis, quanto mais para nos justificar diante de Deus!
Não é possível alguém ser salvo pela fé em Cristo enquanto não chegar no ‘fim da picada’ de si mesmo, enquanto não se enxergar com a cara enfiada na lama do fundo do poço, enquanto não se considerar podre ao ponto de ser sem recuperação. É quando o ser humano chega ao fim que Deus começa seu trabalho. Assim é o pecado: você só se submete à salvação que Deus oferece pela fé em Cristo quando reconhece que seu pecado cobre você dos pés à cabeça e não há nada que você mereça vindo de Deus a não ser juízo. Aprenda a declarar, de si mesma, aquilo que o apóstolo Paulo escreve sobre a condição de um pecador incapaz:
“Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem” (Rm 7:18).
Depois, dê uma passadinha no balcão da salvação por graça e escreva seu nome na linha pontilhada:
“Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer, [nem a ….. inclua nome aqui …..]. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3:10-20).
Uma vez feito isso com total convicção, vá àquele que convida e quer salvar, que é Jesus. Para que ele seria chamado de Salvador se não fosse para salvar perdidos? Os que se acham bons, sãos e justos ele não salva porque são pessoas que não se consideram necessitadas ao ponto de precisarem de um Salvador. O convite que ele faz é para pecadores, não para merecedores:
“Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento…Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve… Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (Mc 2:17; Mt 11:28-30; Jo 5:24).
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Atos 14:23 autoriza
a eleição de presbíteros?
Você viu um vídeo de um clérigo presbiteriano usando a passagem de Atos 14:23 para justificar a eleição de anciãos ou presbíteros pela igreja e queria saber se tem fundamento. Obviamente um vídeo de um “Reverendo” não iria ensinar outra coisa que não fosse a eleição de presbíteros pelas igrejas locais, pois disso depende seu título e posição. Vamos à passagem:
“E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio e Antioquia, confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus. E, havendo-lhes, por comum consentimento, eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido” (At 14:21-23).
Se observar a frase “voltaram para Listra, e Icônio e Antioquia” verá que Paulo e os outros estavam retornando a cidades onde já existiam irmãos congregados, muitos deles convertidos de outra passagem do apóstolo por ali. No entanto aquelas congregações ou assembleias locais não possuíam bispos ou presbíteros eleitos e agora, por direção do apóstolo, eles iriam eleger seus anciãos. Mas até ali essas assembleias haviam funcionado sem pessoas eleitas para essa posição.
Em outra ocasião Paulo envia Tito na missão de eleger presbíteros: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei” (Tt 1:5). A ordem é seguida de recomendações quanto às características e idoneidade das pessoas que seriam eleitas. As duas passagens nos ajudam a entender que os bispos, presbíteros ou anciãos (a mesma coisa com diferentes nomes) eram eleitos por indicação direta dos apóstolos ou por pessoas designadas diretamente por eles para esse fim. As igrejas por si mesmas não elegiam anciãos ou presbíteros independentemente dos apóstolos.
Hoje não temos apóstolos e não temos fundamento para eleger anciãos, mas podemos reconhecer aqueles que se dedicam à guarda e administração do rebanho. São reconhecidos por sua disposição, mas não eleitos ou nomeados, e muito menos intitulados como se tivessem um “Doutor” antes do nome, e menos ainda “Reverendo”, um título que na Bíblia (versão inglesa) aparece apenas para Deus: “He sent redemption unto his people: he hath commanded his covenant for ever: holy and Reverend is his name” (Sl 111:9 – King James).
Quando Paulo se despediu dos anciãos de Éfeso ele não disse que os anciãos, bispos ou presbíteros deixariam de existir, mas indicou uma mudança em como eles seriam quando os apóstolos já não estivessem ali para elegê-los. O Espírito Santo seria responsável por colocar no coração de alguns a responsabilidade pelo rebanho. Aqueles anciãos de Éfeso certamente tinham sido eleitos por ordem dos apóstolos, mas Paulo revela o que havia por detrás daquela ordem: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (At 20:28).
Na ausência dos apóstolos ainda podemos contar com o Espírito Santo para constituir bispos nas assembleias locais, mas não temos qualquer base bíblica para nomeá-los. Certamente podemos reconhecê-los pelo trabalho e características que trazem, e devemos respeitá-los como ensina Hebreus 13:17: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” (ARA). Aqui são chamados de guias e em algumas versões pastores, mas não no sentido do dom de pastor, mas sim de referências ou zeladores do rebanho.
A tradução Almeida Revista e Atualizada (ARA) está melhor que a Almeida Revista e Corrigida (ARC) ou a Almeida Corrigida Fiel, que traz “porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas”, o que induz ao erro de pensar que eles dariam contas das almas dos homens, quando é cada um que dará conta de si mesmo a Deus. “De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm 14:12).
Mas nada disso tem a ver com nomeação de clérigos por juntas de homens ou votação da igreja, como vemos ser a prática na cristandade hoje, e muito menos com a colocação de um título antes do nome, como “Presbítero Fulano”, “Bispo Sicrano” ou “Reverendo Beltrano”. O mundo gosta de títulos e comendas, mas não devemos seguir o modelo do mundo.
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Por que não me deixaram
participar do pão e do vinho?
Você sentiu-se indignada quando visitou uma reunião de irmãos congregados somente ao nome do Senhor e não foi convidada a participar do pão e do vinho, como teria acontecido em alguma denominação que costuma frequentar. Sua reação até um pouco tempestiva foi: “Porque não me passaram o pão e o vinho na hora da ceia? Será que não me consideram digna de participar?”.
Sempre que alguém vai pela primeira vez a uma reunião da ceia do Senhor procuro explicar que ali participam do pão e do vinho irmãos que são conhecidos e que já foram antes examinados quanto à não existência de pecados graves que desonrem a Cristo no sentido moral e doutrinário. Depois de algum tempo de conversas e trocas de impressões a pessoa é alegremente recebida à comunhão à mesa do Senhor para participar da ceia do Senhor.
Mas é difícil uma pessoa religiosa entender que devemos seguir o que diz a Bíblia, e não os costumes introduzidos pelas religiões. Veja que é preciso enxergar os dois lados da moeda e certamente você deveria também ser criteriosa ao comer a ceia ao lado de pessoas desconhecidas. Em 1 Coríntios 5, depois de repreender os cristãos de Corinto por estarem comendo lado a lado com um homem que dormia com a madrasta, Paulo advertiu:
“Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais” (1 Co 5:9-11).
Se naquela época já era temeroso comer com alguém que se dizia irmão sem se certificar de sua condição moral, o que dizer de nossos dias, quando o mal impera na cristandade e pode-se aplicar a ela o que Paulo falou dos judeus em seu descuido para com as coisas de Deus: “Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” (Rm 2:24). Ligue o rádio ou a TV e se você for uma pessoa sensata saberá do que estou falando. O que mais se vê hoje na mídia são estelionatários travestidos de pastores evangélicos se aproveitando da fragilidade psicológica das pessoas para manipulá-las e aplicar seus golpes.
Será que você iria querer participar de uma ceia ao lado de pessoas assim, fossem elas os lobos que enganam ou os pobres incautos que são enganados? Certamente você iria querer primeiro sentir a temperatura da água antes de mergulhar nela ou a consistência do solo antes de pisar ali. Você não iria querer descobrir tarde demais que estava comendo com quem é “devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador” (1 Co 5:11), não é mesmo?
Alegar que Jesus comia com pecadores não vale, porque ele fazia isso para salvar pecadores, não para ter comunhão com eles em seus pecados. E os que se sujeitavam a se aproximar dele eram pecadores contritos, arrependidos, cansados de pecar, e não religiosos altivos e cheios de justiça própria que se consideravam donos de ilibada reputação.
Então entenda que o cuidado com a mesa do Senhor é uma avenida de duas vias. Porque a mesa é do Senhor, e não nossa, a assembleia precisa primeiro conhecer a pessoa recém-chegada para certificar-se de que não seja alguém vivendo em pecado moral, professando doutrinas que denigram a Pessoa e divindade de Jesus, ou que estejam em alguma lista de procurados pela polícia por pedofilia, tráfico de drogas e pessoas, corrupção, etc. Por outro lado, a pessoa recém-chegada que está apenas visitando, neste caso você, precisa conhecer quem são aquelas pessoas para ter certeza de não estar participando de algo que desonre seu Senhor e comprometa seu próprio testemunho.
Vale lembrar que o mesmo cuidado se aplica à coleta que costuma ser feita após a ceia. Os visitantes não participam, porque não temos como verificar se aquele desconhecido que acaba de entrar no recinto não está ali querendo apenas lavar o dinheiro que ganhou com a corrupção ou livrar-se do fruto de um assalto ou de dinheiro ganho com tráfico. Alguns pastores e igrejas se enrolaram com a Polícia Federal por não saberem explicar como cheques de quantias milionárias foram recebidas de pessoas envolvidas com crimes.
Da mesma forma, aquele que visita deve ter cuidado de querer logo ofertar em qualquer lugar sem antes certificar-se de não estar ajudando a sustentar o luxo de algum pregador milionário e estelionatário.
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O que significam o cadáver
e a águia de Mateus 24?
Ao contrário de muitos que tentam aplicar o capítulo 24 de Mateus à Igreja, o texto fala de um tempo ainda futuro, quando um remanescente de judeus fieis — representados naquele momento pelos discípulos judeus de Jesus — estará na Judeia por ocasião da Grande Tribulação. A passagem diz: “Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem. Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias” (Mt 24:27-28).
Repare que o trecho de sua pergunta está associado à vinda do Senhor como relâmpago e no caráter do Filho do Homem, um título que ele usa para se identificar como o Juiz capacitado a julgar os homens por ter, ele próprio, humanidade. É assim que o apóstolo João o vê na revelação do Apocalipse: “E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; e no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem” (Ap 1:12-13).
João não vê a Jesus como o adorável Senhor de cada crente individualmente, nem como o amável Noivo da Igreja, mas como um Juiz terrível e assustador, e isso faz com que caia “a seus pés como morto” (Ap 1:17) e precise ser consolado pelo Senhor. Portanto tenha em mente que a passagem de Mateus 24 ocorrerá após o arrebatamento da Igreja, quando Cristo virá buscá-la e encontrar-se com ela, não na terra, mas quando os crentes forem transformados e levados até as “nuvens, a encontrar o Senhor nos ares” (1 Ts 4:17), naquilo que costumamos chamar de arrebatamento. Em sua vinda para julgar as nações ele descerá até a terra.
Águias (algumas versões trazem “abutres”) nos falam de juízo, de rapina, pois são aves que de muito longe podem perceber suas vítimas, vivas ou mortas, e descer em grande rapidez sobre elas. Onde houver corrupção e podridão, ali estará o juízo rápido que virá do céu nesse dia de grande tribulação. Nessa ocasião, a falsa noiva, a Grande Meretriz ou Babilônia de Apocalipse, formada por falsos professos, terá sua recompensa por todo o mal que praticou. Alguém que apenas professe ser cristão, mas nunca nasceu de novo e nem creu em Jesus como Salvador, sempre será visto por Deus como um cadáver, “morto em seus delitos e pecados” (Ef 2:1).
Como já disse, quando isso acontecer a Igreja, formada por todos os verdadeiros crentes, já terá sido arrebatada da terra pelo menos sete anos antes. Tudo o que restará no mundo será a casca oca de uma profissão cristã vazia, com seus templos e rituais, mas sem cristãos verdadeiros.
Enquanto isso um remanescente de judeus que não foi alcançado pelo evangelho da graça nos dias da igreja na terra irá se converter e pregar o evangelho do reino (o mesmo que João Batista pregava). Esses, e também os gentios que se converterem nesse tempo, irão habitar na terra durante o reino milenial de Cristo.
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O que você acha do que diz
este professor?
Você me enviou um vídeo de um tal “professor” de hebraico que ganha dinheiro vendendo livros, vídeos e cursos para “provar” que a Bíblia estaria errada, que Jesus não seria Deus, que a Trindade seria uma farsa e outras coisas mais. Sério? Você que se diz crente em Jesus e sabe que a Bíblia é a Palavra de Deus ainda perde tempo (e faz outros perderem) com um sujeito assim?! Então vou inventar uma historinha para você nunca mais se esquecer de como deve lidar com esses que são ativistas de Satanás e cujo único objetivo é minar sua fé.
Suponhamos que você acabou de sair da firma onde trabalha e, a caminho de casa, passa por uma rua escura com seu salário em dinheiro no bolso. Seu salário é contadinho, com ele você pretende pagar suas contas e colocar comida na mesa pelos próximos trinta e um dias. Aí um desconhecido aborda você na rua escura apresentando-se como “professor” e especialista em dinheiro. Muito bem articulado, o sujeito faz de tudo para convencer que sua intenção é apenas ajudar você a descobrir se o dinheiro que tem no bolso de sua calça é genuíno ou falso. Ele logo explica que está numa missão de ajudar as pessoas a se livrarem de dinheiro falso.
Neste momento você:
A) Tira todo dinheiro do bolso para conferir nota por nota na frente do desconhecido naquela rua escura.
B) Você entrega todo o seu dinheiro a ele sem pestanejar porque ele disse que é “professor” e entende tudo de dinheiro, e se sente aliviado, nos dois sentidos.
C) Você “pica a mula” (se não souber o que é picar a mula use o Google).
Se você assinalou as opções A ou B acho que nem vai adiantar explicar que você está prestes a ser aliviado de seu salário. Se assinalou a opção C ainda há esperança para você. Então pare de ser ingênuo dando ouvidos a pessoas que querem tirar aquilo que você tem de mais precioso, sua fé em Cristo, na Palavra de Deus e na vida eterna.
Gente como esse “professor” é movida a veneno de serpente e sempre irá querer lançar dúvidas em sua mente para roubar sua esperança. Será que você nem desconfiou que alguém que ganha dinheiro “provando” que a Bíblia está errada deveria ter jogado a Bíblia no lixo há muito tempo, e não ficar por aí tentando estudá-la?
Se a Bíblia e seu conteúdo fossem tão maléficos para as pessoas ao ponto de elas precisarem ser alertadas, ele não cobraria para isso, se fosse alguém honesto e bem-intencionado, mas gritaria dos telhados para elas se livrarem de um livro com tantos erros. E se ele for daqueles que apontam discrepâncias na Bíblia alegando que elas foram acrescentadas e não estão nos originais, você deveria pedir a ele que mostrasse os originais, o que obviamente não irá conseguir porque ninguém os tem.
Portanto, pare de ficar impressionado com pessoas que aparecem balançando títulos de doutor, mestre ou professor, e diplomas de grego, hebraico e aramaico, como se sabedoria humana tivesse algum peso nas coisas de Deus. Se ler 1 Coríntios 1 e 2 verá que Deus não se manifesta através da erudição humana, mas escolhe os menores em termos de sabedoria humana para passar sua mensagem.
“Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele… E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria… para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (1 Co 1:25-29; 2:1, 5).
Quando o diabo quis conversar com Eva usando um animal, buscou o mais inteligente de todos antes da queda da Criação, a serpente. Foi por intermédio dela que plantou dúvidas na mente de Eva: “Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?” (Gn 3:1).
Quando Deus quis conversar com Balaão usando um animal, para avisá-lo de seu mau caminho, escolheu aquele que é sinônimo de estupidez e burrice, uma jumenta. “Então o Senhor abriu a boca da jumenta…” (Nm 22:28).
Você ganha um doce se descobrir de quem Paulo está falando, que ele chama de apóstatas, enganadores e inspirados por demônios: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência” (1 Tm 4:1-2). Certamente não está falando daqueles que utilizam da Palavra de Deus de forma genuína para mostrar nela a Verdade, que é Cristo, Deus e Homem.
O alerta dado pelo próprio Senhor aos que se diziam mestres das Escrituras vale para este e outros “professores” que você encontrar ao longo de sua jornada cristã: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.” (Jo 8:44).
O apóstolo Pedro também foi usado pelo Espírito para nos deixar um alerta: “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade. E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita” (2 Pe 2:1-3).
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Mario, qual é o seu dom?
Você escreveu perguntando qual seria o meu dom, e logo me lembrei de uma frase de J. N. Darby: “Humildade não é pensar pouco de si; humildade é não pensar em si”. Por isso acho que o melhor é não ficar preocupado se tenho este ou aquele dom e simplesmente fazer aquilo que cair em minhas mãos e precisar ser feito. O cristão que está ocupado com o trabalho que lhe cai nas mãos não terá tempo de pensar se tem ou não tem um dom.
Uma vez vi uma cena hilária na recepção de uma escola de inglês onde tinha ido buscar meus filhos. O marido de uma aluna entrou e pediu se o rapaz da recepção poderia pegar a sombrinha que sua esposa tinha esquecido na sala de aula. “Desculpe, senhor, mas não sou responsável por esse departamento” — respondeu o empertigado recepcionista. Vi o sangue do homem subir à cabeça e ele esbravejou: “Então enquanto não chega o responsável pelo departamento de sombrinhas esquecidas, vou eu mesmo procurar” — e entrou de forma tempestiva nas salas de aula em busca da sombrinha da mulher.
Quando um cristão passa a se achar alguma coisa — tipo responsável por um departamento ou carimbar um crachá com um dom que tem como seu — isso pode atrapalhar quando ele for exortado a “fazer o trabalho” de um dom que não possa chamar de seu. Como no caso de Timóteo, que provavelmente não tinha o dom de evangelista mas era encorajado por Paulo a fazer esse trabalho. “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério” (2 Tm 4:5).
Uma vez eu estava construindo uma casa em Alto Paraíso de Goiás, um lugar onde na época era difícil conseguir alugar um caminhão para transportar material e mão de obra para carregar e descarregar. O costume ali era ficar no posto de gasolina e quando um caminhão em viagem parasse para abastecer, tentar contratar algumas horas para transportar pedras para alicerce, areia tirada da alguma praia na beira do rio, ou terra para aterro extraída de algum barranco.
Consegui combinar algumas horas com o motorista de um caminhão e espalhei a notícia de que precisava de mão de obra para carregá-lo de terra. Além de mim, que também pegava na pá, só tinha conseguido mais um. Então apareceu um jovem todo arrumadinho dizendo que estava desempregado, precisava de dinheiro e coisa e tal, e tinha ouvido dizer que eu iria transportar um caminhão de terra para minha construção.
Quando eu disse que tinha uma pá sobrando ele sentiu-se ofendido: “Pá? Não, senhor, eu não faço trabalho braçal. Sou motorista e tenho até curso. Pensei que fosse para dirigir o caminhão”. Então respondi: “Já entendi… Olha, se você precisar de um arquiteto que tem até curso, procure no barranco que ele estará jogando pá de terra”.
Às vezes a preocupação com o ter ou não ter um dom pode ser pela má interpretação da passagem “procurai com zelo os melhores dons” (1 Co 12:31), como se o cristão pudesse sair às compras em um “Supermercado de Dons” e escolher nas prateleiras aquele que mais lhe agrade, que ache mais útil, ou que traga maior prestígio entre seus irmãos. Mas o apóstolo não está dizendo aí para nos esforçarmos para receber este ou aquele dom, e sim para termos discernimento de buscarmos nos ocupar com os dons de outros irmãos que trouxerem maior benefício para nós, os melhores dons. Ele está comparando na passagem os dons de ministério com dons de línguas, para mostrar o valor dos que trazem maior benefício.
Dom não é algo que tenhamos condições de conquistar, mas algo que nos é dado com uma determinada finalidade. Existem os dons de Cristo do capítulo 4 de Efésios, e existem os dons ou manifestações do Espírito do capítulo 12 de 1 Coríntios. Se ler o capítulo 14 de 1 Coríntios, que é uma continuação do assunto do capítulo 12, verá que o apóstolo está comparando o dom de falar em línguas estrangeiras com o dom de profecia (falar da parte de Deus ou falar a Palavra de Deus). A conclusão do apóstolo é que o dom de profecia é muito superior ao dom de línguas, porque o primeiro edifica a todos, e o segundo só à pessoa que fala.
“Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar. Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação” (1 Co 14:1-3).
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Estes que estão no céu
são os cristãos salvos?
Você enviou a passagem de Apocalipse 6:9-10 perguntando se as pessoas ali seriam os cristãos salvos no céu. “E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”
A resposta é não, essa cena é ainda futura e mostra as almas de pessoas que serão martirizadas e por isso clamam por vingança. Eles estão “debaixo do altar”, o que é uma figura de sacrifício, foram mortos de forma violenta por amor à Palavra de Deus e por seu testemunho, e seu pedido é de vingança. Não são cristãos, ou seja, não pertencem à igreja (os da Igreja já estarão no céu ressuscitados ou transformados nessa ocasião), mas fazem parte do mesmo contexto dos israelitas do Antigo Testamento, que guerreavam ordenados por Deus para se vingarem dos inimigos de Israel. Portanto entenda que quando a Igreja for arrebatada da terra as coisas voltarão ao modo como Deus lidava com os povos no Antigo Testamento.
O cristão jamais iria pedir vingança por ser perseguido e martirizado, como aprendemos bem do Senhor nos evangelhos e de um caso real, que foi Estêvão em seu apedrejamento: “E apedrejaram a Estêvão que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu” (At 7:59-60). Ele seguia o exemplo de graça, misericórdia e perdão do Senhor, que na cruz intercedeu por seus algozes. Embora as duas situações pareçam semelhantes, algumas distinções são dignas de nota.
Estêvão clamou “Senhor Jesus, recebe o meu espírito”, pois estava sendo morto por mãos de outros, enquanto Jesus disse “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23:46), pois ele não foi morto, mas entregou por si mesmo sua própria vida. Estêvão disse “Senhor, não lhes imputes este pecado”, enquanto o Senhor na cruz disse “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23:34).
Alguém poderia não concordar com o fato de o cristão perdoar seus algozes, enquanto aqueles mártires do princípio das dores estarão clamando por vingança. Alegar que devemos agir de uma determinada maneira só porque está na Bíblia é não entender que existem pessoas, situações e propósitos que diferem neste mesmo volume da Palavra de Deus. Se você não entender as dispensações vai misturar tudo.
A mesma Bíblia nos fala do discernimento, de dividir bem a Palavra da Verdade, portanto é melhor se acostumar com a ideia de que Deus tem dois povos, um terreno, formado por Israel, e um celestial, formado por judeus e gentios convertidos a Cristo na atual dispensação. Quando a Igreja for arrebatada da terra Deus voltará a tratar com seu povo terreno, Israel, que por fim irá habitar a terra com os gentios que se converterem ao Messias na abertura do reino milenial de Cristo.
Quer um exemplo das diferenças entre Israel e Igreja? O louvor. Muitos cristãos cantam os Salmos como se fossem hinos adequados ao cristão. É certo que alguns até se enquadrem em algumas palavras, mas eles são essencialmente hinos judaicos. Anotou o que eu disse? Os Salmos não são hinos cristãos. Se você discorda, tente compor um hino cristão com estes versos tirados dos Salmos:
“Certamente Deus esmagará a cabeça dos [meus] inimigos, o crânio cabeludo dos que persistem em seus pecados… para que [eu] encharque os pés no sangue dos inimigos, sangue do qual a língua dos cães terá a sua porção… Puseste os meus inimigos em fuga e exterminei os que me odiavam… Fiquem órfãos os seus filhos e a sua esposa, viúva. Vivam os seus filhos vagando como mendigos… Feliz aquele que pegar os seus filhos e os despedaçar contra a rocha!” (Sl 68:21-23; 18:40; 109:9-10; 137:9).
Você cantaria isso em seu louvor a Deus? Acredito que não. Porém saído da boca de um israelita do Antigo Testamento estaria perfeito, pois afinal estas palavras são letras de seus Salmos e Cânticos de libertação e louvor. Todavia, na doutrina dos apóstolos aprendemos a interceder pelos que nos fazem mal: “Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem, e não os amaldiçoem… Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber… Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Rm 12:14, 20-21).
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Por que o céu é chamado
Paraíso se este ficava na terra?
A palavra “Paraíso” aparece em algumas traduções modernas (principalmente em inglês) referindo-se ao Jardim do Éden ou a um lugar de bênção. Por isso costumamos dizer que Adão e Eva foram expulsos do Paraíso, que representava um lugar e condição na terra, e ao ladrão foi prometido que estaria naquele mesmo dia no Paraíso, indicando um lugar e condição no céu.
Paulo, em 2 Coríntios 12:4, também fala do Paraíso como o terceiro céu aonde foi levado. Em Apocalipse 2:7 também é mencionado o “Paraíso de Deus”. Creio que a palavra não seja específica de um lugar, mas pode significar também um estado de bênção. Veja este texto de J. A. Trench:
A palavra “Paraíso” foi popularizada com seu uso na tradução grega do Antigo Testamento para descrever o jardim que Deus plantou para Adão. Ela nunca é usada para descrever algo mais do que um jardim, pomar ou algo parecido, seja daquele ponto mais brilhante de toda a cena da criação de Deus onde ele colocou o homem que ele havia formado, seja daquilo que o homem poderia fazer por si mesmo em sua pequena medida dentro do mesmo caráter.
Séculos mais tarde a memória do Éden sobreviveu para expressar aquilo que era próspero e belo. (Ver Gênesis 13:10 e a alusão de Ezequiel a isso em Ezequiel 28 e Ezequiel 31.) A palavra nunca é encontrada em conexão com o submundo, as partes baixas da terra, ou o hades.
O uso da palavra no Novo Testamento é consistente com o que vimos, se transportado da terra para o céu como poderíamos esperar. O Paraíso é identificado com o terceiro céu por Paulo em 2 Coríntios 12. Em Apocalipse 2: 7 a Árvore da Vida está lá, uma reminiscência do paraíso terrestre, mas preenchendo toda a cena.
O Paraíso, então, aonde o ladrão convertido foi para estar com Cristo naquele dia, foi o ponto mais brilhante em toda a glória celestial; ausente do corpo a ser posto na sepultura, para estar para sempre presente com o Senhor. Você não pode localizar o hades, um termo propositadamente vago para expressar o invisível. É essa condição das coisas a que a dissolução do corpo leva todos igualmente, correspondendo ao hebraico Sheol, ao qual o bendito Senhor abençoado passou, mas onde não seria deixado. (Salmo 16:10) – J. A. Trenchem.
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No céu não haverá mais nascimentos?
Você viu o vídeo com o título “Com que idade aparente estaremos no céu?” e ficou com dúvida se todos os ressuscitados, independentemente de serem crianças ou adultos, estarão em corpos adultos como o de Jesus. Se assim for, sua pergunta é: “No céu não haverá mais nascimentos?”.
Muitos confundem terra e céu quando falam da esperança e destino do crente. Por exemplo, católicos e protestantes fundamentalistas acreditam que os cristãos devem evangelizar todo o mundo para prepará-lo para receber o reino de Cristo, e que viverão aqui eternamente numa terra transformada. Se você não compreender a diferença entre a teologia do pacto (aceita pela maioria dos cristãos) e o dispensacionalismo (que separa o que é para Israel e o que é para a Igreja) dificilmente você entenderá estas coisas.
Depois do arrebatamento da Igreja e ressurreição dos que morreram em Cristo, o céu estará cheio de pessoas com seus corpos ressuscitados. Enquanto isso a terra passará por 7 anos de dificuldades culminando na grande tribulação (segunda metade dos 7 anos) e a vinda de Cristo para julgar as nações e introduzir seu reino. Um remanescente de judeus e gentios terá se convertido nesse período e habitará no reino de Cristo na terra.
Nesse reino de mil anos na terra as pessoas continuarão nascendo como hoje, porque não serão pessoas ressuscitadas, mas terão o mesmo corpo que temos hoje. Como a terra (não o planeta inteiro) estará restaurada, o diabo preso e todos vivendo em paz, só morrerá quem pecar. Quando Jesus curava e alimentava multidões ele estava dando uma amostra grátis do que será o reino na terra.
No final dos mil anos Satanás será solto para levantar uma rebelião contra Cristo. Essas pessoas provavelmente terão nascido nesse período de mil anos. Aí a terra e os céus serão destruídos com fogo e Deus criará novos céus e nova terra, dos quais quase nada a Bíblia diz por ser a eternidade, quando não haverá nem tempo e nem matéria como a conhecemos.
Nossa mente atual foi feita para viver e entender coisas no tempo e espaço, por isso nem adiantaria a Bíblia falar da eternidade que estaria além de nossa compreensão. Por acharem que tudo deve caber em nossa caixa craniana, muitos cristãos se limitam a acreditar que seu futuro será numa terra melhorada, e não numa eternidade no céu (enquanto os povos terrenos estarão na nova terra).
A eternidade, os novos céus e a nova terra, são coisas tão fora de nossa capacidade de imaginar que nenhum autor de ficção científica conseguiria descrever. Se algum dia você ouviu a expressão “pensar fora da caixa”, é hora de aplicá-la também no entendimento das escrituras e deixar de lado a teologia do pacto com suas limitações.
Se quiser entender melhor a profecia sugiro a leitura do livro “Acontecimentos Proféticos”, de Bruce Anstey, publicado pela Editora Verdades Vivas que existe para baixar em formato e-book ou adquirir em formato impresso.
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Satanás está no céu ou na terra?
Satanás circula nessas duas esferas. Não é onipresente, nem onisciente, mas capaz de ir de um lado para outro e tem a seu serviço um número incontável de assessores — anjos caídos e espíritos imundos — para fazerem o seu trabalho, enquanto ele se ocupa com as questões mais importantes.
Na tentação de Jesus ele estava na terra tentando o Senhor. “Então, foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4:1). No livro de Jó ele estava no céu. “E vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles” (Jó 1:6). Em Efésios somos exortados a lutar contra as potestades do mal nos lugares celestiais, ou seja, nos céus. “Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6:12).
Ao contrário do que alguns pensam, Satanás ainda não foi expulso do céu. Talvez o equívoco ocorra por Satanás ser um anjo caído, e alguns acharem que isso significaria que ele caiu do céu. Mas esse “caído” é no sentido de sua posição. Quando um governador cai isso não significa que ele tenha levado um tombo ou sido expulso do lugar onde morava. Ele simplesmente perdeu sua posição e cargo de governador.
A queda de Satanás, no sentido posicional e não geográfico, pode ser vista em Isaías 14:12-14 e Ezequiel 28:12-18 e a maior evidência de que ele e suas hostes continuam no céu é a passagem de Efésios 6:12, na qual somos exortados a lutar em oração “contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”. Se Satanás e seus anjos já tivessem sido expulsos dos “lugares celestiais” e vivessem hoje exclusivamente na terra, Paulo teria nos enganado em relação ao alvo para onde apontar nossas armas.
Este é apenas mais um dos equívocos da Teologia do Pacto que considera o Apocalipse um livro meramente simbólico que descreve coisas que já teriam acontecido ao longo da história. Os que dizem isso fazem do apóstolo João, não um profeta, mas um historiador.
O diabo será expulso do céu juntamente com seus anjos em Apocalipse 12, que ainda não aconteceu. Então ele estará em tempo integral na terra perseguindo “a mulher que dera à luz o varão” (Ap 12:13). Essa mulher de quem veio o Varão que derrotou o diabo é Israel, pois “sabemos porque a salvação vem dos judeus” (Jo 4:22). Isso nos fala do tempo de grande tribulação pela qual passará o remanescente judeu fiel que irá se converter após o arrebatamento da Igreja. A passagem completa você vê a seguir:
“E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o diabo e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele. E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora chegada está a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derribado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram a sua vida até à morte. Pelo que alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar! Porque o diabo desceu a vós e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo. E, quando o dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o varão” (Ap 12:9-13).
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Existe uma contradição
no fato de Deus se arrepender?
Você enviou um meme que estaria circulando e apontando para uma aparente contradição em 1 Samuel 15. No versículo 11 diz que Deus se arrependeu e no versículo 29 diz que Deus não se arrepende. Seria isso uma contradição?
Obviamente não existe contradição alguma, exceto na cabeça de pessoas que não conhecem linguagem ou fazem de conta que não conhecem só para atacar a Bíblia. Arrepender-se de um pecado é algo impossível a Deus que nunca pecou, não peca e jamais pecará. Se a pessoa que apontou a suposta “contradição” fosse honesta teria visto que a palavra que antecede a afirmação de Deus é “não mente”, portanto deixando muito claro que está falando de um pecado. A pergunta de quem sabe analisar um texto é: “Deus não se arrepende de que?” A resposta é “de mentir”, que é o verbo que antecede o “arrepender”.
“E também aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é um homem para que se arrependa” (1 Sm 15:29).
É impossível a Deus mentir ou pecar, portanto nunca se arrependeu e nem se arrependerá. Porém Deus pode muito bem voltar atrás, que é outro significado da palavra arrependimento, se decidir seguir por um caminho diferente do que tinha seguido antes. Foi o caso nos versículos 10-11: “Então veio a palavra do Senhor a Samuel, dizendo: Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não cumpriu as minhas palavras”. Ou seja, ele provou que não devia ter colocado Saul como rei segundo o pedido e expectativa do povo de Israel. Por isso Deus iria agora deixar de lado o “Plano A” — ou arrepender-se — e partir para o “Plano B”.
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Devo destruir trabalhos de macumba?
Você escreveu dizendo que quando encontra um trabalho de macumba numa encruzilhada, ora com autoridade, destrói tudo e repreende o diabo. Sua dúvida é se estaria agindo corretamente. Não, você está erradíssimo ao fazer isso. Os versículos que usou não têm nada a ver com a questão, pois em Isaías 54:17 o texto diz: “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará”. O versículo está falando da proteção que Deus prometeu a Israel (o povo terreno de Deus) e não tem nada a ver com o cristão. Se ler o capítulo inteiro de Isaías irá perceber melhor do que lendo apenas um versículo isolado.
Satanás deve rir à beça de seu show de destruição de trabalhos de feitiçaria. Não é chutando imagens e espalhando farofa que você estará desfazendo as obras do diabo, mas agindo como Jesus agiu quando espoliou o Valente, que é o diabo. Como ele agiu? Libertando pessoas, não chutando ídolos.
“Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem; mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos” (Lc 11:21).
O crente empenhado na obra de Cristo para libertar pessoas irá pregar o evangelho, porque libertação não significa libertar de vícios, feitiços ou macumbas, mas do pecado que irá levar aquela pessoa para a condenação eterna se não crer em Jesus.
Lutar contra Satanás e seus anjos e demônios também não tem nada a ver com cenas de histeria e gritarias nas encruzilhadas, numa tentativa de repreender o diabo, algo que só Jesus podia fazer, e nem o Arcanjo Miguel ousou em Judas 1:9. Essa luta contra o reino das trevas não é feita aos berros e pontapés nas encruzilhadas, mas de joelhos no chão e muito acima das ruas deste mundo:
“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6:11-12).
Se você sair por aí chutando imagens, derramando a cachaça e estragando os “trabalhos” logo acabará preso por intolerância religiosa e destruição de propriedade privada, porque aqueles objetos pertencem a alguém. Talvez você irá mencionar os reis e profetas de Israel que destruíam os ídolos pagãos, mas ali era uma teocracia, e aquele era o povo terreno de Deus limpando seu país da influência da idolatria pagã. O cristão não tem lugar neste mundo e sua cidadania é no céu. Veja o apóstolo Paulo, se destruiu algum dos ídolos que encontrou em Atenas:
“E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio” (At 17:22-23).
Devia haver mais de uma dúzia de ídolos ali naquele local, alguns habitando hoje as exposições de grandes museus, e Paulo não encostou um dedo neles. Ele pega o gancho no fato de eles terem um pedestal vazio dedicado ao “Deus Desconhecido” e parte daí para pregar. Como você irá querer ganhar uma pessoa com o evangelho da graça de Deus depois de ter quebrado suas tigelas de farofa, sapateado sobre a galinha e chutado a imagem de São Jorge? Não é tentando arrancar o osso de um cão que você fica amigo dele, mas oferecendo algo melhor: um suculento filé.
Provavelmente você aprendeu a agir assim de livros e pregações de pastores pentecostais, portanto sugiro que passe uma borracha no que ouviu deles e jogue seus livros no lixo. E não perca seu tempo com esses pregadores de TV e Youtube entrevistando e repreendendo demônios. Comece a se ocupar mais com Cristo, não com o diabo. Você vai viver menos estressado e vai ter mais gente interessada na mensagem que você tem para passar.
Lembre-se também de que a mensagem do evangelho não é convidar alguém para filiar-se a alguma igreja, oferecer curas e revelações, ou libertar a pessoa de vícios. A mensagem do evangelho é oferecer a ela salvação eterna pela fé em Jesus, não resolução de problemas terrenos. Os que vão atrás de Jesus por causa de interesse estão na lista dos que ele mesmo não confia e são tão materialistas quanto os que fazem oferendas a demônios para estes não perturbarem suas vidinhas aqui.
“E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia; e não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem” (Jo 2:23-25).
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Como fazer uma campanha
ou propósito para com Deus?
Expressões como “campanha”, “propósito”, “promessa”, “empenho”, etc., são jargões populares no mundo evangélico pentecostal. Pelo que entendi é algo como empenhar-se em fazer algo para Deus, mesmo sem parecer uma barganha para ganhar algo em troca, o que geralmente acaba sendo a mesma coisa no final. No mundo dos pregadores neopentecostais onde esses termos são muito utilizados é tudo na base do toma-lá-dá-cá e Deus não passa de um talismã para dar sorte.
Talvez você alegue que na Bíblia temos exemplos de pessoas fazendo um propósito para com Deus. Sim, você encontra, por exemplo, Davi fazendo um propósito: “E disse Davi a Salomão: Filho meu, quanto a mim, tive em meu coração o propósito de edificar uma casa ao nome do Senhor meu Deus. Porém, veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Tu derramaste sangue em abundância, e fizeste grandes guerras; não edificarás casa ao meu nome; porquanto muito sangue tens derramado na terra, perante mim” (1 Cr 22:7-8).
Logo você irá perceber que fazer um propósito não é o mesmo que estar em sintonia com a vontade de Deus, e Davi pelo jeito não estava, pois Deus não tinha o mesmo propósito para com Davi, e sim para com Salomão, seu filho.
Eclesiastes 3 nos fala de “propósito” como objetivo, e aí não necessariamente do crente, mas de todas as coisas desta vida. Lembre-se de que o livro de Eclesiastes é uma espécie de “confissão” de Salomão e mais voltado para o homem natural que vive observando as coisas “debaixo do sol”, expressão repetida várias vezes ao longo do livro para mostrar que está falando das coisas da terra e desta vida. Não é um livro que fale das coisas acima do sol, ou seja, celestiais.
Jeremias fala seis vezes de propósito, porém como o desejo de seguir o próprio coração em oposição à vontade de Deus, que era a condição do povo judeu de sua época (e não mudou desde então): “Não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos, antes andaram cada um conforme o propósito do seu coração malvado” (Jr 11:8).
Nos evangelhos, em Atos e nas epístolas voltei a encontrar “propósito”, mas sempre com o significado de objetivo, tanto de Deus quanto do crente em sua vida prática. Então entendo que propósito, para um crente, é ter uma meta de agradar seu Senhor. Nada a ver com promessa, voto ou barganha que tente colocar a Deus na parede com promessas do tipo: “Se o Senhor fizer isso, eu prometo fazer aquilo”, ou “Vou fazer isso para deixar o Senhor constrangido a atender meus caprichos”, ou, como os pregadores estelionatários prometem, quanto mais dinheiro você der, mais Deus irá abençoar. Como se Deus, que criou o Universo e é dono da prata e do ouro precisasse de nosso dinheiro! “Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos” (Ag 2:8).
Talvez você retruque citando diferentes votos ou “propósitos” feitos na Bíblia com um objetivo definido de se receber algo em troca. É preciso entender que o voto ou promessa era uma prática do Antigo Testamento. Em Atos dos Apóstolos Paulo faz votos, inclusive querendo parecer estar no judaísmo, algo que não estava correto para alguém que já conhecia a graça de Deus. Devemos nos lembrar que quando lemos “Atos dos Apóstolos” estamos lendo sobre o que os apóstolos fizeram, seus atos, os quais nem sempre encontravam respaldo na vontade de Deus.
Quanto ao voto de Jacó, se prestar atenção verá que Deus não lhe pediu que fizesse voto algum. Deus queria agir em graça (favor imerecido) e Jacó foi inventar o voto porque ele mesmo só fazia as coisas na forma de barganha. Era um homem cheio de truques e estratagemas. Veja o que Deus prometia de forma incondicional:
“Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência; e a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado” (Gn 28:14-15).
O que Jacó precisava fazer para receber isso? O que Deus disse que queria dele para, em troca, multiplicar sua descendência como o pó da terra, estar sempre com Jacó, guardá-lo por onde quer que fosse, fazê-lo voltar à terra, etc.? Nada. Absolutamente nada! Tudo aquilo Deus daria porque queria dar. No entanto, Jacó responde à graça de Deus incluindo uma condição, um “SE” na história…
“E Jacó fez um voto, dizendo: SE Deus for comigo, e [SE] me guardar nesta viagem que faço, e [SE] me der pão para comer, e vestes para vestir; e [SE] eu em paz tornar à casa de meu pai o Senhor me será por Deus. E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente [eu] te darei o dízimo” (Gn 28:20-22).
Portanto, esqueça essa ideia de fazer votos ou propósitos na tentativa de merecer de Deus algo em troca, e confie na graça de Deus. Não há nada que possamos dar a ele que ele já não tenha. Ore, suplique, peça quando precisar de algo, mas não queira fazer barganha. Deus é um Deus de graça, um Deus que ouve orações, que sabe muito bem o que é melhor para nós e saberá fazer as coisas à maneira dele no momento certo.
Se você um dia creu em Jesus como seu Salvador e confessou a ele como seu Senhor, não consigo imaginar um propósito maior que esse. Se quer mesmo um propósito para o resto de sua vida aqui, experimente este:
“Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome. E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada… Dá-me, filho meu, o teu coração” (Hb 13:15-16; Pv 23:26).
Veja que “fruto” nos fala de consequência, portanto nem pensar em fazer algo para obrigar Deus a agir em seu favor. Orar é correto, barganhar não é. Deixe sua esposa descobrir que aquelas flores que você deu a ela tinham segundas intenções e você irá entender a que estou me referindo.
Talvez você reclame porque não falei nada sobre as conhecidas “campanhas” promovidas pelos estelionatários da fé, mas acho que basta um pouco de inteligência e bom senso para perceber aonde eles querem chegar quando fazem campanha de sabonete, sal grosso, azeite e oliva. Existem na Web até sites que vendem “sabonetes de campanha” por 35 reais a unidade. Considerando que o mesmo sabonete custa no supermercado menos de dois reais já dá para perceber que fazer “campanha” é um excelente negócio e não fica nada a dever ao comércio de itens de superstição de Aparecida do Norte.
Mas veja que o sabonete para campanha é um item dos mais baratos. Existem também a “Lâmpada para Virgem Prudente”, “Perfume de Israel”, “Óleo para Unção do Jejum de Daniel”, “Chave da Casa Própria”, “Panela de Eliseu”, etc. Sério que você obedece ao pregador que induz você a comprar essas bugigangas? Se quer mesmo ajudá-lo é melhor pagar um tratamento contra anemia para alguém assim, pois ele deve estar com problema de saúde. Se não fica vermelho de vergonha quando diz para você fazer essas campanhas deve estar com uma grave deficiência de glóbulos vermelhos.
O Deus que encontro na Bíblia não é o mesmo que esses pregadores de curas e prosperidade adoram. Está mais para Mamon, cujos adoradores já surgiam no início da Igreja e contra os quais Paulo escreveu alertando os cristãos de seu tempo de que esses homens eram “inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas” (Fp 3:18-19).
A descrição mais exata para pessoas que enganam incautos com essas “campanhas” é mostrada na passagem a seguir na epístola de Judas:
“Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré. Estes são manchas em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco, e apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas; ondas impetuosas do mar, que escumam as suas mesmas abominações; estrelas errantes, para os quais está eternamente reservada a negrura das trevas. E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos; para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele. Estes são murmuradores, queixosos da sua sorte, andando segundo as suas concupiscências, e cuja boca diz coisas mui arrogantes, admirando as pessoas por causa do interesse. Mas vós, amados, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais vos diziam que nos últimos tempos haveria escarnecedores que andariam segundo as suas ímpias concupiscências. Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito. Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna” (Jd 1:11-21).
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O que você acha de
comediantes nas igrejas?
Acho perfeitamente bíblico, porque a degradação da cristandade é assunto da Bíblia e a Palavra de Deus já previa que ela seguiria esse rumo. Quando eu digo cristianismo, entenda que é a doutrina cristã, mas quando falo em cristandade estou me referindo a tudo e todo que leva o nome de Cristo, seja falso ou verdadeiro, joio ou trigo. Na cristandade hoje não se convida alguém para pregar por ser dedicado ao evangelho, mas para ser animador de plateia. Se acha que tem muito lixo sendo introduzido nas igrejas, você ainda não viu nada. Em Apocalipse a cristandade, oca de Cristo e sem os cristãos que terão sido levados no arrebatamento, é mostrada como “a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra” (Ap 17:5).
A princípio essa Grande Meretriz aparece montada sobre a besta do poder civil, como esteve muitas vezes no passado coroando reis e exercendo seu domínio sobre eles, e como está hoje de uma maneira mais velada, mas com grande influência política, social e comercial. Mas lá em Apocalipse ela finalmente é derrubada de sobre o poder civil e destruída. “Caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável. Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição, e os reis da terra se prostituíram com ela; e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias” (Ap 18:2-3).
Ali diz que “ela se glorificou, e em delícias esteve” e que “os reis da terra, que se prostituíram com ela, e viveram em delícias”, ou “luxúrias” como em outra versão. Depois de sua queda, que causará um impacto profundo na economia mundial, “e sobre ela choram e lamentam os mercadores da terra; porque ninguém mais compra as suas mercadorias”. Segue-se uma lista de mercadorias de todo tipo que termina com “corpos e almas de homens” (Ap 18:7-13).
O objetivo maior da cristandade no mundo não é pregar o evangelho, mas ganhar os corpos e almas de homens para sua causa. E qual é sua causa? Crescer como o pé de mostarda da parábola de Mateus 13 que “faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos”, ou como no caso do “fermento — sempre na Bíblia mostrado como pecado ou má doutrina — que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado” (Mt 13:32-33).
Se você souber fazer “dois mais dois” saberá calcular mulher + prostituta + má doutrina = crescimento. E as “aves do céu”? “A grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável” (Ap 18:2). A meta da cristandade — a Grande Babilônia, a Grande Meretriz — de crescer no mundo está alinhada com o pensamento comercial e empresarial que adotou.
Para crescer você precisa de membros que precisam de infraestrutura que precisa de mais membros para um crescimento autossustentável.
Então o jeito é diversificar, principalmente quando ninguém está mais interessado na verdade e quando existe tanto entretenimento interessante na mídia. “Se Maomé não vai à montanha, traga a montanha a Maomé”, diz o velho ditado. Numa versão moderna seria “Se o cristão não vai ao circo, traga o circo ao cristão”. Neste caso a ideia tenta passar uma preocupação religiosa ao justificar que traz o entretenimento para dentro da comunidade cristã para seus membros não irem buscá-lo no mundo. O que não percebem é que o perigo não é o cristão estar no mundo, mas o mundo estar no cristão, do mesmo modo como o perigo não é o barco estar no mar, mas o mar estar no barco.
Que a cristandade sempre foi a grande mecenas das artes seculares, isso a história está aí para provar com suas grandes catedrais, imagens e objetos. Não teríamos artistas como Leonardo Da Vinci, Sandro Boticelli, Michelangelo Buonarrotti, Rafael Sanzio, se não fosse pelo incentivo e financiamento dos papas e outros clérigos de sua época. Mas não atire todas as suas pedras nos católicos, reserve algumas para os protestantes poderem construir também suas catedrais onde acontecem os eventos culturais e religiosos de artes cênicas e musicais.
Quando digo isso não pense que me escuso por não ser católico ou protestante. Eu faço parte da mesma massa da cristandade que em seu derradeiro estágio é chamada de Laodiceia em Apocalipse 3, e cuja característica é achar-se rica e abastada, quando tudo o que faz é dar náuseas no Senhor que quer vomitá-la de sua boca. O detalhe é que a cristandade hoje reúne cristãos falsos e verdadeiros lado a lado, e estes existem em todas os ajuntamentos e reuniões cristãs, independentemente de ter ou não denominação, ou da corrente teológica que seguem.
A cristandade futura pós-arrebatamento da Igreja (os genuínos cristãos) é que aparece pintada nos capítulos de Apocalipse que falam de sua derrocada. Mas ali ela já terá conseguido arrebanhar alguns simpatizantes genuínos pós era da Igreja, pois estes são alertados: “Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas” (Ap 18:4). Quando a grande Babilônia, que inclui toda a manifestação cristã no mundo, cair, o lamento de sua plateia será: “E em ti não se ouvirá mais a voz de harpistas, e de músicos, e de flautistas, e de trombeteiros, e nenhum artífice de arte alguma se achará mais em ti” (Ap 18:22).
Percebe agora onde entra o comediante stand-up, o músico, o ator em tudo isso? Portanto não é de admirar que as igrejas tenham se transformado já em nossos dias em centros de entretenimento cristão, pois esta deve ser a configuração final da Grande Meretriz de Apocalipse, e nada mais normal do que ela já estar se produzindo neste sentido. Por isso eu disse no início que essas manifestações nas igrejas têm respaldo bíblico, não no sentido de serem autorizadas por Deus, mas como elementos do palco da grande apostasia que é o abandono da verdade. Hoje nas igrejas você encontra de tudo: shows de música e dança, palestras sobre os mais diferentes assuntos, estrado para políticos conquistarem eleitores, ginásios de esportes, clubes de campo, festas juninas, Halloween e palcos de comediantes stand-up.
O argumento é que fazendo assim as igrejas atraem mais gente para o evangelho, mas no fundo o objetivo é faturar mais para manter a infraestrutura e poder atrair mais público pagante para… Lembra a propaganda do biscoito que vende mais porque é mais fresquinho e é mais fresquinho porque vende mais? Assim funciona a cristandade ávida por conquistar público, onde o que importa são os números e a satisfação da plateia. Não precisa ser muito inteligente para perceber que qualquer pessoa estará mais motivada a pagar ingresso para se divertir do que não pagar para ouvir a Palavra de Deus.
Se você tivesse vivido há alguns séculos teria ficado surpreso quando foram introduzidos os primeiros instrumentos musicais no culto cristão (isso mesmo, eles não existiam no princípio). Depois veio teatro, dança, filmes, cantores, bandas, pirotecnia de palco, fã clube de celebridades… Não vai demorar para você ter pole dance e strip-tease, porque já existe sexy-shop evangélica. O argumento será sempre que é melhor você se distrair com essas coisas em um ambiente cristão ou comprar estimulantes sexuais para usar com seu cônjuge do que fazer isso no mundo. Oh, o mundo é tão mundano, não acha?
Talvez você pergunte que mal há em cristãos se divertirem com algum entretenimento limpo e sadio. Nenhum mal, pois somos seres humanos e temos apetites comuns a todos, independentemente de serem cristãos ou não, como por um bom prato, uma boa música, um jogo eletrizante, uma história divertida, etc. Mas estas coisas não são atividades da igreja, e sim da vida particular de cada um. É salutar que irmãos procurem estar juntos para comer, tocar, cantar, praticar esportes e se divertir. Afinal, não fazemos essas atividades com nossos filhos? Se você não faz por achar que cristão deve viver à base de pão e água e nunca rir, é provável que acabará perdendo seus filhos para o mundo.
Mas quando cristãos se reúnem em assembleia ou igreja devem fazê-lo dentro dos parâmetros estabelecidos pela Palavra de Deus, porque aí não estarão reunidos como forma de distração, mas para adorar a Deus, aprender dele e apresentar suas necessidades em oração. Em Atos 2:42 vemos que eles “perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”. E nas danças? Não tem. Nas bandas, corais, campeonatos de basquete, stand-up? Nada.
Quando o apóstolo Paulo usa como exemplo o que aconteceu com Israel, o povo terreno de Deus, para alertar a Igreja, o povo celestial, ele deixa claro que aquele povo havia perdido o foco e já não vivia em função do Senhor, mas de seus próprios prazeres e diversão. Ele diz que essas coisas aconteceram como figuras para nós, “para aviso nosso”. Será que estamos levando esse aviso a sério?
“Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar. E todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar, e todos comeram de uma mesma comida espiritual, e beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo. Mas Deus não se agradou da maior parte deles, por isso foram prostrados no deserto. E estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar [ou divertir-se] … Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (1 Co 10:1-11).
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O que acha da Baleia Azul?
Não tenho dúvidas de que por detrás de tudo o que leve ao incentivo de destruição da vida humana esteja Satanás. Judas teve um desafio parecido instigado pelo diabo: trair o Filho de Deus e ficar rico, provavelmente sabendo que Jesus seria poderoso para se livrar de seus captores. No final Judas falhou no desafio e cumpriu o último passo de sua lista de tarefas: suicidou-se.
Aos que participam ou promovem esse tipo de jogo cabe como uma luva a advertência que Jesus fez no seu tempo: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os
desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira” (Jo 8:44).
Mas se por um lado existem adolescentes brincando com a morte e irresponsáveis o suficiente para incentivar amigos a fazerem o mesmo, como se a vida fosse um “game”, surpreende descobrir que por outro há cristãos tratando o assunto levianamente, fazendo piada de algo que incentiva o suicídio de adolescentes. Suicídio é coisa séria, não é piada. Se você for um pai ou mãe ainda no início de carreira saiba que você ainda não tem todas as respostas de como educar filhos. Seu tiro pode sair pela culatra quando descobrir que seus métodos não funcionaram.
Depois de velhos percebemos que erramos em muitos aspectos na educação dos filhos. Não se iluda achando que por checar todos os itens de sua lista de princípios bíblicos tudo irá sair direito. Mentimos para nós mesmos na tentativa de nos convencermos de estar no rumo certo, quando cada um de nós também traz muitas arestas a serem aparadas em muitos aspectos da vida. O que dirá das arestas na vida de nossos filhos, que só conseguimos enxergar por fora!
Nunca percebemos o quão falhos somos até na maneira como aplicamos a Palavra de Deus em nós mesmos, quanto mais em nossos filhos. Fingimos que obedecemos, achando que iremos tirar dez na prova de educar os filhos, só para depois descobrir que não foi bem assim. Filhos são entidades autônomas. Você tem controle sobre eles até certo ponto e é por isso que precisamos sempre de dependência de Deus. Mas eu não chamaria de uma atitude de dependência de Deus zombar daqueles que falharam, estão falhando ou podem falhar na educação de seus filhos. E jamais alguém poderia chamar de atitude cristã zombar de uma situação tão trágica quanto essa da “Baleia Azul” que traz em seu bojo a possibilidade de suicídio de uma criança ou adolescente.
Até mesmo irmãos conhecedores da Palavra, que nos serviram de exemplo por seu ministério na família e educação de filhos, descobriram no final que falharam. Isso obviamente não tira deles o mérito daquilo que escreveram ou pregaram no Senhor e segundo a Palavra, pois eles podem também ter sido alvos preferidos do inimigo justamente nos assuntos aos quais mais se dedicavam a ensinar outros. Um irmão que foi muito severo na educação de seus filhos sobre princípios bíblicos me confidenciou pouco antes de partir para o Senhor que tinha falhado. Outro ministrou bastante sobre educação de filhos por meio de textos, e teve resultados inversos com os seus. Outro que escreveu um excelente livro sobre o matrimônio acabou vendo o seu terminado em divórcio.
Procuro trazer Tiago 3:1-2 na lembrança para me humilhar quando sou tentado a posar de mestre de ignorantes: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas”. E Paulo dá um puxão de orelha nos judeus porque nesse orgulho eles acabaram caindo: “Tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; que conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei; que estás persuadido de que és guia dos cegos, luz dos que se encontram em trevas, instrutor de ignorantes, mestre de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade; tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo?” (Rm 2:17-21).
Portanto não ria da horta do vizinho antes de saber se vai colher morangos ou pepinos na sua. “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vó.” (Mt 7:1-2).
Hoje muitos pais cristãos vivem a angústia da incerteza de estarem fazendo o que é certo, de estarem conectados o suficiente aos filhos, de estarem amando e dando a atenção que deveriam. O mundo oferece a crianças e jovens conexões sombrias que eles acham mais legais que aquela que têm com os pais, e com as novas tecnologias de comunicação você nunca sabe exatamente onde seus filhos circulam no ciberespaço, longe de sua vigilância e com amigos que você talvez jamais receberia em sua sala de estar.
Olhe agora para seus filhos pequenos e pense com temor no risco que eles correm vivendo neste mundo. Conheço pais cristãos que criaram o filho no temor do Senhor, só para um dia chegarem em casa e o encontrarem na ponta de uma corda. Conheci o filho também, e até o vi na escola dominical falando versículos e cantando hinos com outras crianças e adolescentes. Para qualquer um ali — pais e irmãos na fé — tudo parecia normal, até que não. “Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor” (1 Co 4:5).
Por isso pense bem antes de fazer piada com “Baleia Azul”, um nome que mostra sua verdadeira cara quando você o define como “Suicídio de Adolescentes”. Nem pense em rir, principalmente se você for um pai ou mãe e tiver filhos pequenos. Melhor do que rir de pais que passaram ou estão passando pela perspectiva de um trauma de suicídio infantil é chorar com eles e orar por eles. Porque nenhum pai ou mãe pode dizer com certeza que não passará pela mesma angústia.
Quem me conhece sabe que gosto de humor e até uso de muito humor em minhas palestras e textos. Mas tudo tem um limite e existe uma tentação à qual devo resistir que é a de fazer da desgraça alheia minha comédia. É preciso discernir o tempo e o motivo para riso, tanto quanto o tempo e o motivo para o pranto. E mais que ninguém, o cristão deveria ser alguém capaz de discernir isso.
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz” (Ec 3:1-8).
“Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram” (Rm 12:15).
A frase que minha mãe costumava repetir ecoa até hoje em meu pensamento: “Meu filho, não fale mal dos filhos dos outros porque você não sabe como serão os seus” – Ruth Persona.
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Devo preparar minha família
para a perseguição?
Você viu um vídeo com a pregação de um pastor dizendo que os cristãos devem preparar a família para a perseguição que virá e para a grande tribulação. Mas será que o que ele diz é verdade ou só quer causar espécie? O cristão que está esperando pelo anticristo e pela grande tribulação não está esperando pelo Senhor. Perseguição sempre existiu desde os tempos de Paulo e ele era um perseguidor que passou a perseguido. Quando o Senhor lhe apareceu, disse: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9:4). Paulo perseguia a Igreja, mas era o mesmo que perseguir o próprio Senhor. Então pode ficar sossegado que o Senhor sabe exatamente o que é ser perseguido e nunca perde de vista sua Igreja.
Quanto a treinar os filhos para serem perseguidos, o que exatamente você vai fazer? Colocá-los em aulas de artes marciais? Comprar uma arma para cada um? Mandá-los para a escola com colete à prova de balas? Construir um abrigo nuclear no quintal? Armazenar combustível e comida? Sério?! Isso não é preparar os filhos para a perseguição, isso é transformá-los numa milícia “cristã” (isso mesmo, entre aspas), como as que matavam e morriam na Irlanda, no Líbano e agora na Síria.
Não encontrei algum versículo do tipo “Preparai vossos filhos para serem perseguidos”, mas encontrei “Criai-os na doutrina e admoestação do Senhor” (Ef 6:4) e “Não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt 5:39). Um filho criado na admoestação do Senhor e conforme a Palavra de Deus saberá perguntar: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro…” (Rm 8:35-36).
O Senhor Jesus deixou uma exortação que devemos sempre ter em mente: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16:33). Ele não disse que devíamos nos espantar com as aflições, mas estarmos de bom ânimo desfrutando da paz que existe nele.
Não tenho nada contra um bom pregador que infunde terror nos incrédulos ao pregar o evangelho, pois é terrível mesmo alguém viver com a perspectiva da condenação eterna e não ligar para isso. “Assim que, sabendo o temor [terror] que se deve ao Senhor, persuadimos os homens à fé” (2 Co 5:11). A palavra “temor” aí não é no sentido de respeito, mas de terror mesmo (“phobos”), um pavor daquele que dá um nó no estômago, faz suar frio e molhar as calças, como quem está prestes a passar por uma sessão de tortura. E para o incrédulo será mesmo uma tortura eterna se não se converter a Cristo.
Mas quando um pregador usa de terrorismo psicológico para apavorar salvos por Cristo, a coisa muda de figura. Paulo admoestou os Gálatas contra “alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo” (Gl 1:7) por estarem dando ouvidos a um evangelho de regras e legalismo (e esse pastor que você citou me parece bem legalista, talvez até adepto da doutrina da salvação pelo senhorio). Os Tessalonicenses pareciam estar sendo inquietados por pregadores assim, que queriam fazê-los acreditar que passariam pela grande tribulação que virá sobre o mundo quando o anticristo já tiver sido manifestado. Ele lhes escreveu:
“Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto” (2 Ts 2:1-2).
A parte que fala da “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e pela nossa reunião com ele” é o arrebatamento descrito em 1 Tessalonicenses 4:13:18. A parte que fala “como se o dia de Cristo estivesse já perto” se refere a Cristo voltando à terra com sua Igreja (arrebatada sete anos antes) para julgar as nações, como ensina Mateus 25:31-46.
Ali não é o juízo final de pessoas, mas o juízo das nações quando Jesus voltará para seus “pequeninos irmãos”, os judeus que irão se converter após o arrebatamento e serão perseguidos, e ao mesmo tempo julgará com a morte os “bodes” que perseguiram esses seus irmãozinhos, e recompensará as “ovelhas” — os gentios que trataram bem os judeus — dando a elas a oportunidade de entrarem no reino de mil anos na terra juntamente com o Israel reunido, as doze tribos outra vez juntas.
A passagem de 2 Tessalonicenses 2, na qual Paulo alerta os irmãos contra pregadores que queriam tirar deles a tranquilidade, continua insinuando que homens assim são enganadores: “Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco?” (2 Ts 2:3-5).
A palavra “apostasia” significa o abandono da verdade, e é este o rumo que o testemunho cristão na terra tomou há algum tempo e que irá ter o seu ápice quando se manifestar como a “Grande Meretriz”, “Babilônia, a grande”, na revelação do Apocalipse. Se tem algo com que você deve se preocupar não é tanto o anticristo — que eu e você nem iremos conhecer aqui na terra — e sim a falsa igreja, que devia ser noiva e se tornou prostituta por seus conluios com o mundo, sua política, seu poder e seu comércio. Isso já é manifestado nos dias em que vivemos por meio do espírito do anticristo que já atua.
Quando Paulo fala do que detém a manifestação da pessoa do anticristo ele não está falando diretamente da Igreja, que não tem em si poder algum para fazer frente ao mal, mas sim do Espírito Santo que hoje habita na Igreja e no crente individualmente. Enquanto continuam aqui, os cristãos certamente exercem uma influência moral, não por meio de ativismo político ou por armas, mas por cheiro. Isso mesmo, “somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida” (2 Co 2:16).
De igual modo os cristãos servem para preservar o comportamento do mundo, como o sal preserva a carne (“Vós sois o sal da terra” – Mt 5:13) e para que vejam seus pecados sob o holofote (“Vós sois a luz do mundo” – Mt 5:14). Mas entenda que aroma, sal e luz são coisas que não causam impacto por confronto direto, mas por influência nos sentidos. Porém são influências que exercemos por refletirem aquilo que é de Cristo, pois nenhum cristão tem em si mesmo poder algum que não venha do Espírito Santo atuando na nova vida. “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 Co 4:7).
Então quando Paulo fala do que detém a manifestação do anticristo, está certamente falando do Espírito Santo que habita no crente e na Igreja. Como essa simbiose Espírito-Igreja nunca mais deixará de existir, assim que o Espírito Santo for tirado da terra a Igreja também será, e vice-versa, deixando o caminho livre para o anticristo se manifestar. Só isso já deveria tranquilizar os cristãos e animá-los a olhar para o alto, e não para a terra com todo o terror que está reservado para os que ficarem aqui. Para os que ficarem, não para os que subirem.
Observe como o apóstolo Paulo dirige os olhares, mentes e corações para os céus em contraste com esses terroristas psicológicos que transforam o futuro do cristão em um verdadeiro “trem fantasma” de sustos e sobressaltos. Será que essa técnica tem a mesma intenção dos assaltantes, quando aterrorizam para suas vítimas assustadas estarem mais dispostas em entregar suas carteiras?
“Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus. Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fp 4:6-8).
“Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória” (Cl 3:1-4).
A continuação da passagem de 2 Tessalonicenses fala do que virá para a terra DEPOIS do arrebatamento da Igreja; depois que o Espírito Santo que hoje resiste ao anticristo for tirado daqui.
“… e então será revelado o iníquo [anticristo], a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira [como os dos pregadores da TV], e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro [ou poder sedutor ou operação de engano], para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2 Ts 1:8-12).
Quando a Palavra diz que Deus enviará essa operação do erro para que creiam na mentira os que não deram ouvidos à verdade, está falando dos que se recusaram a crer em Cristo e no evangelho que escutaram no atual tempo da graça. Grande parte do mundo islâmico, budista, hinduísta, etc., não terão tido essa chance de ouvir, portanto para esses haverá ainda a possibilidade de se converterem ao evangelho do Reino que será anunciado pelos “pequeninos irmãos” do Senhor, o pequeno remanescente de judeus convertidos. Mas a mesma sorte estará vedada aos cristãos nominais que só diziam crer da boca para fora. Estes irão obrigatoriamente crer na mentira porque Deus fará que creiam assim.
Agora veja como o apóstolo Paulo conclui seu pensamento e tente achar alguma gota de terrorismo psicológico nestas palavras e não conseguirá:
“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade; para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa. E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Deus e Pai, que nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança, console os vossos corações, e vos confirme em toda a boa palavra e obra” (2 Ts 2:13-17).
Portanto, a ordem dos eventos é: Cristo vem buscar sua Igreja no arrebatamento, que nada tem a ver com o “dia de Cristo” quando ele virá para julgar as nações. Com a saída da Igreja e do Espírito Santo da terra, o mal fica livre para agir e o anticristo é manifestado, vindo depois a grande tribulação, da qual os verdadeiros salvos não sentirão sequer o cheiro. O Senhor mesmo prometeu: “Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra” (Ap 3:10).
Quer mesmo treinar seus filhos do modo como a Bíblia ensina? Então dirija seus olhares para Cristo e eles saberão como se comportar quando passarem por qualquer dificuldade e provas aqui. A impressão que dá nessas pregações aterradoras é que o pregador está querendo ensinar o cristão a salvar a própria vida e de sua família. Mas será isso que devemos temer? “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma” (Mt 10:28), disse Jesus.
Atos 11 nos fala da perseguição que se abateu sobre os primeiros cristãos e eles efetivamente fugiram dos perseguidores, mas em sua fuga eles levaram o evangelho por onde quer que passaram. “A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor” (At 11:21). Barnabé corre lá para ajudar tanto os novos convertidos como os que lhes pregaram o evangelho, e o que lhes diz em face da perseguição que crescia? Aprendam artes marciais, comprem armas, estoquem alimentos?
Não, “tendo ele chegado e, vendo a graça de Deus, alegrou-se e exortava a todos a que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor” (At 11:23). A segurança do crente não está em técnicas de preparo ou enfrentamento da perseguição; sua segurança está em permanecer firme no Senhor. Em 2 Crônicas 12:14 a crítica feita a Roboão não foi apenas por ele fazer “o que era mau”, pois isto era consequência de outra coisa: “Não preparou o seu coração para buscar ao Senhor”. Quanto àqueles que pregavam o evangelho em meio à perseguição, viram seu fruto porque estavam mais preocupados com a glória do Senhor e seu testemunho, do que em salvarem a própria pele: “E muita gente se uniu ao Senhor” (At 11:24).
Podemos nos preparar e à nossa família para muitas coisas, mas de nada valerá se não estivermos preparados para buscar o Senhor em qualquer situação. E as perseguições?
Bem, elas estavam previstas, não estavam? O Senhor não disse que seríamos odiados como ele foi e perseguidos como ele foi? “Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14:26-27). Levar a cruz não tem nada a ver com peregrinação com uma cruz nas costas, mas tomar sobre si o sinal de morte.
Fique agora com as palavras de Pedro que demonstram que não há nenhuma novidade nisso, e sim motivo de alegria. Pedro faz também distinção entre o sofrimento que passamos segundo a vontade de Deus e aquele que vem por desobediência. Prepare seus filhos para viverem segundo a vontade de Deus e acatarem qualquer prova que vier de Deus e eles serão cristãos tranquilos vivendo neste mundo sem sobressaltos, não esperando pela vinda do anticristo, mas pelo encontro com Cristo nos ares.
“Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte. Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus? E, se o justo apenas se salva, onde aparecerá o ímpio e o pecador? Portanto também os que padecem segundo a vontade de Deus encomendem-lhe as suas almas, como ao fiel Criador, fazendo o bem.” (1 Pe 4:12-19).
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É pecado pedir prosperidade a Deus?
Não existe nada na Bíblia que indique que um cristão deva pedir prosperidade a Deus. A maioria das pessoas não entende isso por falharem em seguir o conselho de Paulo a Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2:15). No original a expressão traduzida como “maneja bem” é “orthotomeo”, palavra grega que significa cortar com precisão, como quando alguém disseca um cadáver e separa cada órgão segundo a função.
As promessas de prosperidade no Antigo Testamento foram feitas a Israel, um povo terreno de Deus ao qual nunca foi prometido o céu. Para o cristão, todas as promessas são celestiais, assim como sua cidadania que é celestial. “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3:20 ARA). Pedir prosperidade a Deus quando você tem o necessário para viver é mostrar um coração ingrato pelo que já recebeu de Deus.
Não é errado um cristão ser próspero, pois Deus pode lhe dar mais do que necessita para poder repartir com os menos favorecidos e ajudar na obra do evangelho. Mas é Deus quem decide isso, pois sabe quais são os que irão agir de maneira liberal, e os que querem ficar ricos pelo simples amor ao dinheiro e propriedades.
As passagens a seguir nunca são pregadas nas igrejas da teologia da prosperidade pois condenam pregadores de prosperidade e seus seguidores, que estão ali só para buscar bens materiais. A oração ensinada pelo Senhor em Lucas 11:3 — “Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano” — é pelo pão de cada dia, não por uma padaria ou um caminhão de pães. Tiago 4:3 mostra que o desapontamento por orações não respondidas pode ser da falta de comunhão e consonância com a vontade de Deus: “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites”.
A teologia da prosperidade, e os estelionatários que a pregam para obter fortunas, pode muito bem ser definida pelas palavras do apóstolo Paulo em 1 Timóteo 6:3-11: Trata-se de uma “outra doutrina” que não se conforma com “a doutrina que é segundo a piedade”. Quem a prega (e quem dá ouvidos) “é soberbo… cuidando que a piedade seja causa de ganho (ou lucro)” e a admoestação é para que se fique longe desses que agem assim.
A passagem continua falando daquilo que é lucro aos olhos de Deus: “Piedade com contentamento”, pois se tivermos “sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isto contentes”, vindo em seguida um alerta para os que querem ficar ricos: irão cair “em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína”. Você deseja todas essas maldições para você? Certamente que não. Então fique longe da teologia da prosperidade e seus pregadores mercenários.
“Porque muitos há” — escreve o apóstolo Paulo aos Filipenses — “dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas” (Fp 3:18-19).
A Palavra de Deus não diz que o dinheiro seja a raiz de todos os males, mas que “o amor ao dinheiro” é. O desejo de enriquecer fez com que “nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”. Como eu disse, Deus pode fazer um cristão próspero para honrar a Deus com seus bens, e não para si mesmo. Mas quando alguém tem por meta ficar rico certamente isso não terá nada a ver com honrar a Deus, mas a Mamom. Jesus ensinou: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom” (Mt 6:24).
Vou ler a passagem toda de Filipenses, da qual citei apenas alguns trechos:
“Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais. Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão” (1 Tm 6:3-11).
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As reuniões devem ser
públicas ou reservadas?
Você perguntou se quando os irmãos estão reunidos em assembleia ou igreja (que é sinônimo), essas reuniões podem ser em salões abertos para a rua ou devem ser reservadas. Encontramos alguns princípios na Bíblia que podem nos dar uma direção, começando com os evangelhos, que são anteriores a formação da Igreja na terra.
O Senhor Jesus, quando ainda estava aqui, pediu aos seus discípulos que preparassem a Páscoa, que era uma festa do judaísmo que comemorava a libertação dos israelitas da escravidão do Egito. Mas a intenção do Senhor não estava em apenas celebrar a Páscoa, mas também instituir a ceia que seria depois revelada ao apóstolo Paulo como o ponto alto da celebração cristã. Em 1 Coríntios 11 o apóstolo conta como havia recebido do próprio Senhor, e não de algum outro apóstolo, essa instituição.
Mas voltando aos evangelhos, quando o Senhor pediu aos discípulos para prepararem a Páscoa, eles fizeram a pergunta que todo cristão deveria fazer quando pensa em congregar, e vale a pena transcrever a passagem toda aqui:
“E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos. E eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos? E ele lhes disse: Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar. E direis ao pai de família da casa: O Mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos? Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado; aí fazei preparativos. E, indo eles, acharam como lhes havia sido dito; e prepararam a páscoa. E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e com ele os doze apóstolos” (Lc 22:8-14).
O Senhor deu instruções para que eles preparassem tudo em um cenáculo, que era o andar superior de uma casa. Não era para fazer aquilo ao nível da rua, mas em um lugar mais reservado porque não seria um evento aberto a todos, mas apenas a alguns poucos convidados. Vemos a mesma coisa acontecer em Atos 1:13, quando os discípulos se reuniram, não ainda como igreja, mas como discípulos judeus do Messias:
“E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, irmão de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos” (At 1:13-14). Na versão Almeida Revista e Atualizada está assim: “Quando ali entraram, subiram para o cenáculo onde se reuniam Pedro, João, Tiago, etc.”.
Todos estavam reunidos nesse mesmo cenáculo quando foi formada a Igreja com a descida do Espírito Santo que passaria a habitar em cada crente: “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados” (At 2:1-2).
Algum tempo depois já como igreja, nós os vemos também congregados no primeiro dia da semana, o domingo, para celebrar a ceia do Senhor em um cenáculo, ou seja, num andar superior de uma casa. “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite. E havia muitas luzes no cenáculo onde estavam juntos” (At 20:7-8).
Não existe nenhuma ordenança no sentido de termos de congregar em um andar superior, mas estes exemplos bastam para a mente espiritual perceber que Deus pede algum grau de separação com o rés do chão. As reuniões da igreja são para a igreja, não para estranhos, portanto não devemos escolher um local que possa parecer uma vitrine para o mundo. Evidentemente incrédulos podem ter acesso ao local de reuniões dos irmãos, mas não um acesso escancarado de forma convidativa para todos participarem.
As reuniões da igreja são para os salvos, não para os perdidos, mesmo porque as atividades principais dessas reuniões são o ministério da Palavra para crentes, a ceia do Senhor e as orações. Ao menos era assim que os primeiros cristãos se reuniam. “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (At 2:42). Nem preciso dizer que não se trata de uma reunião evangelística destinada a convidar pecadores para crerem em Cristo, embora algum incrédulo que entre ali poderá eventualmente ouvir o evangelho em meio ao ministério da Palavra para crentes.
Volto a insistir que, como irmãos salvos por Cristo, não estamos reunidos para o mundo, mas para o nome de Jesus. Não há nada de errado se os irmãos se reunirem a portas fechadas em locais onde exista o risco de entrar estranhos que causem distúrbios ou tirem a atenção daqueles que estão ali para o Senhor, não para o mundo e nem para os incrédulos.
Hoje existe tecnologia que permite manter portas fechadas e ter câmeras que permitam abri-las apenas a conhecidos, e quem congrega em locais com risco de assaltos ou em zonas de guerra sabe como algo assim pode ser útil. Os irmãos que congregam em casas no Egito costumam combinar a chegada separados e um de cada vez para não levantar suspeitas de radicais islâmicos. Lá até os templos de denominações cristãs (apenas as antigas, porque as novas são proibidas de se estabelecer) costumam ter guardas armados na porta.
Nada disso que estou dizendo aqui tem a ver com evangelismo, pois suponho que você saiba a diferença entre congregar e pregar o evangelho. A pregação do evangelho é uma atividade de responsabilidade de quem evangeliza, não da igreja. A pregação do evangelho deve ser pública, mas as atividades da igreja são destinadas a crentes somente. Onde congrego usamos um salão e visitantes podem entrar e assistir as reuniões. Mas depois da ceia do Senhor, quando temos assuntos sensíveis a tratar, como algum caso de disciplina ou excomunhão, pedimos que os visitantes saiam e fiquem somente os irmãos em comunhão.
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Não posso me agarrar
à promessa deste versículo?
Você me ouviu dizer que o versículo de Isaías 54:17 — “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará” — teria sido dito a Israel e não aos cristãos, e ficou surpreso com isso. Sua ideia era que poderia se agarrar a isso como uma promessa vinda diretamente de Deus para sua vida aqui, e perguntou se apenas as promessas do Novo Testamento seriam válidas para nós cristãos.
Bem, a Bíblia toda é sempre válida para nós, porém precisamos saber separar as coisas e entender quando algo é dito, para quem, com que finalidade, etc. Vou dar um exemplo. Digamos que eu não goste de meu vizinho e decida aplicar nele uma passagem da Palavra de Deus que encontro em Êxodo 32:27. Ali diz assim: “E disselhes: Assim diz o Senhor Deus de Israel: Cada um ponha a sua espada sobre a sua coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho”.
Obviamente não posso usar esta passagem e nem conseguirei explicar para a polícia que estava agindo estritamente dentro do que a Bíblia ordena. O contexto em que tal ordem foi dada é outro. Então é sempre bom ler o contexto para saber qual a aplicação direta de uma passagem. Podemos orar a Deus para que “toda ferramenta preparada” contra nós não surta efeito, mas se acharmos que Deus sempre vai agir assim conosco acabaremos nos decepcionando na primeira vez em que não funcionar.
Veja o caso de Paulo, por exemplo, que orou por algo e Deus não lhe atendeu. O apóstolo não teve alternativa a não ser se resignar sabendo que a vontade de Deus para si era a melhor: “E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disseme: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:7-9).
Em outra ocasião ele pretendia pregar o evangelho em uma determinada região e o Espírito Santo não permitiu. Veja a passagem:
“E, passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia. E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito não lho permitiu. E, tendo passado por Mísia, desceram a Trôade. E Paulo teve de noite uma visão, em que se apresentou um homem da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia, e ajuda-nos. E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho” (At 16:6-10).
Se Paulo estivesse agindo de forma carnal e seguindo a lógica dos pensamentos, iria indagar: “Mas como pode ser do Espírito não querer que eu anuncie a Palavra na Ásia e na Bitínia?!” Portanto entenda que temos a Palavra de Deus e devemos sempre estar sujeitos a ela, porém permitindo que ela seja aplicada pelo Espírito e segundo o discernimento que ele dá. Só existe uma interpretação para a Bíblia, embora existam muitas aplicações. Um coração sujeito a Deus conhecerá quando obedecê-la em sua expressão exata, e quando buscar em ensinos feitos em outras circunstâncias os princípios que possam eventualmente ser aplicados em sua situação.
Paulo não teria conhecido a obra que Deus estava preparando para ele se não estivesse em sintonia com o pensamento do Espírito Santo de Deus. Em Filipos, Lídia seria salva, e provavelmente outros membros de sua família e servos, uma jovem possessa seria liberta de um demônio e da exploração de seus senhores, e um carcereiro e sua família creriam e seriam batizados. Atente também para o fato de que isso tudo aconteceu em Filipos, e você ficará grato por Paulo ter seguido a direção do Espírito. Graças a isso hoje podemos desfrutar da carta à igreja dos Filipenses, a primeira assembleia em terras europeias.
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Qual versão da Bíblia
você usa em suas mensagens?
Nas respostas para dúvidas sobre a Bíblia, que dou no “O que respondi”, uso a Versão Almeida Corrigida Fiel (ACF), que é muito parecida com a Almeida Revista e Corrigida (ARC), e eventualmente uso a Almeida Revista e Atualizada (ARA). Mas no “Evangelho em 3 Minutos” utilizo principalmente a Nova Versão Internacional (NVI), mas às vezes preciso criar uma versão híbrida com a Almeida Revista e Corrigida (ARC) e a Almeida Atualizada (ARA).
Faço isso porque “O que respondi” é mais voltado para quem já conhece a Bíblia e a fé em Jesus, enquanto “O Evangelho em 3 Minutos” é mais evangelístico, narrado para pessoas que ainda não têm familiaridade com o texto bíblico. A linguagem mais rebuscada e os pronomes e conjugações menos usuais — como “vós sois” — das versões ACF, ARC e ARA podem dificultar o entendimento de um neófito. Mas sempre comparo a passagem da NVI com a ACF, ARC ou ARA e altero se precisar, porque a NVI não é confiável em alguns aspectos.
Por exemplo, há passagens em que os tradutores não se contentaram em traduzir e decidiram “explicar” o texto. Considerando que na equipe de tradução nem sempre todos são verdadeiramente convertidos a Cristo, é grande o risco de se cometer erros graves. Digo que nem sempre são convertidos porque trabalham nelas tradutores contratados. Ao contrário do que acontecia no passado, quando ser um cristão fiel a Deus fazia parte do critério na escolha de tradutores (procure saber a história da Bíblia King James), hoje o enfoque de algumas sociedades bíblicas está mais na capacidade técnica do profissional.
Isso só tende a piorar, porque com a onda do politicamente correto algum ateu que fosse exímio conhecedor de línguas antigas poderia se achar discriminado caso a sociedade bíblica rejeitasse seus serviços por critério de confissão religiosa.
No site de uma organização mundial que traduz a Bíblia para diversos idiomas você encontra oportunidades para tradutores, porém a única qualificação exigida é que sejam formados e de preferência com alguma experiência em diferentes culturas. Nada é dito sobre ser um crente em Jesus para evitar protestos de discriminação. Afinal, segundo o ponto de vista humano, por que um bom tradutor ateu, budista ou muçulmano não poderia traduzir a Bíblia? Quem trabalha com tradução de textos cristãos saberá responder.
Apenas para você ter uma ideia da falta de critérios à qual estou me referindo, veja duas afirmações feitas por membros da equipe de tradutores da Nova Versão Internacional inglesa, a NIV: “Não existe nada no Antigo Testamento que corresponda ao homossexualismo como nós hoje o entendemos” – Dr. Marten Woudstra, Chairman do Comitê de Antigo Testamento da NIV. “Minha homossexualidade sempre fez parte integrante de mim” – Dr. Virginia Mollenkott, Crítica Literária da equipe de tradutores da NIV.
Veja um exemplo de distorção de um texto (existem muitos outros) na tradução comparando o que diz a ACF com a NVI. A versão Almeida Corrigida Fiel (ACF) diz:
“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo. E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo” (1 Co 2:14-16; 3:1).
O texto fala claramente de três classes de pessoas: o homem natural, chamado às vezes de “carne”, “velha natureza” ou “velho homem”, descendente de Adão, o homem espiritual, que nasceu de novo, creu em Jesus e foi selado com o Espírito Santo, e o homem carnal, que é o salvo que age na energia do velho homem ou carne.
Muitos tradutores e até mesmo teólogos católicos e protestantes não entendem isso porque não entendem as duas naturezas existentes no crente em Cristo. Para eles, após a conversão precisamos melhorar aquilo que sempre fomos, ou seja, o homem descendente de Adão. Isso seria maquiar um morto, porque Efésios 2 ensina claramente que essa era a condição do crente quando ainda era incrédulo. E as cartas aos Romanos e Gálatas explicam como nosso velho homem foi morto na cruz em Cristo, colocando Deus ali um fim à raça adâmica.
Na versão NVI a passagem de 1 Coríntios 2:14-16 e 3:1 é praticamente a mesma, exceto por uma importante corrupção do versículo 14, que aparece assim: “ Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente”. O tradutor substituiu “homem natural” por “quem não tem o Espírito”, provavelmente por não entender que o homem natural já é, por natureza, desprovido do Espírito de Deus, enquanto o salvo por Cristo tem o Espírito da promessa com o qual foi selado quando creu.
Dizer que “quem não tem o Espírito de Deus não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus” acaba implicando que os CARNAIS de 1 Co 3:1 não teriam o Espírito Santo, o que não é correto. Uma pessoa salva por Cristo, que possui o Espírito de Deus, ainda assim pode não aceitar “as coisas que vêm do Espírito de Deus” e achar que são loucura. Sempre que você encontrar um irmão em Cristo e mostrar a ele uma passagem clara da doutrina dos apóstolos e ele argumentar contra, provavelmente é alguém que tem o Espírito Santo, porém está se valendo de um entendimento carnal fundamentado em religião, filosofia, arqueologia, sociologia, costumes, etc., coisas estas criadas pelo homem natural e para o homem natural.
Portanto, uso no “Evangelho em 3 Minutos” a NVI apenas por sua linguagem ser mais moderna e casual, porém sempre altero o texto quando percebo que foge ao padrão de versões tradicionais e mais confiáveis como a Almeida, King James, Darby, etc.
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Não devo pregar mudança de vida
ao incrédulo?
O evangelho é muito simples e não se trata de mensagem de mudança de vida. Paulo deixa muito claro o que é o evangelho nos primeiros versículos de 1 Coríntios 15:1-4: “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”.
Talvez sua preocupação esteja no fato de não estar descansando no poder de Deus, que é o que irá fazer a pessoa realmente se converter. Você não tem poder para fazer com que ela mude de vida, e esqueça achar que porque uma pessoa parou de fumar, beber, dançar, tomar drogas e outras coisas ela é convertida. Me vem à mente uma frase de um comediante: “Não tente ensinar um porco a cantar. Você vai perder seu tempo e aborrecer o porco”. Portanto não queira fazer um incrédulo viver como crente.
A mudança de vida será consequência de uma conversão real, mas ela deve ir a Cristo do jeito que está, e não caiada com a maquiagem da religião farisaica. O Espírito Santo é que a convencerá de pecado, ainda em sua condição natural, incutirá nela vida para sentir esse fardo (é quando acontece o novo nascimento), e a levará a crer em Jesus para ser então selada com o Espírito Santo.
Pense na pregação do evangelho como um trabalho feito a dois, você e o Espírito Santo. Primeiro você vai até o pecador e lhe apresenta a Cristo, dizendo que ele morreu para pagar os pecados de seu ouvinte e ressuscitou para sua justificação. Pronto! Você já fez um ótimo trabalho que Deus não deu a anjos executar, mas a seres humanos. Aí é hora de você sair da frente e deixar o Espírito Santo fazer a obra. A pessoa que prega o evangelho é como o mestre de cerimônia de um evento. Não é ele a atração principal, ele apenas apresenta aquele que é a estrela do evento.
Sua missão não é pregar abstinência de pecado, como na indagação de Romanos 6:1-2: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?”. Repare que Paulo estava escrevendo a crentes, não a incrédulos. A carta aos Romanos é o evangelho explicado, não é o evangelho pregado. Depois de salvos recorremos a essa carta para entender o que aconteceu conosco. É como se tivéssemos dado uma pirueta em nossa conversão e, depois de termos caído em pé, olhamos em redor para tentar entender o que aconteceu. Para isso serve a carta aos Romanos.
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O evangelho pode ser pregado
de qualquer maneira?
Sua dúvida é, se Paulo se regozijava de ver o evangelho ser pregado de qualquer maneira, por que nos preocuparmos com os pregadores da prosperidade da TV e seu evangelho distorcido? O assunto que Paulo estava tratando não era pregar o evangelho de qualquer jeito, no sentido de que podiam pregar mentiras como sendo o evangelho, mas de alguns que pregavam por motivos ruins, como inveja e porfia, e fazia isso para trazer problemas para Paulo. Vamos à passagem:
“De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares; e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor. Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa vontade; uns, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda” (Fp 1:13-18).
O que ele diz é que não se importava, desde que o evangelho fosse pregado. O evangelho deles estava certo, pois pregavam “a Cristo”, seus motivos porém é que estavam errados. Mas quando um falso evangelho era pregado, Paulo pegava pesado, como no caso dos Gálatas que estavam sendo influenciados por pregadores judaizantes, que seriam o equivalente aos legalistas de hoje, como sabatistas e outros. Aliás a carta aos Gálatas serve como uma luva para aqueles cristãos que pregam a Lei ao invés da Graça e obrigam as pessoas a andarem segundo uma lista de regras. Se este fosse o caso em Filipo, Paulo não se regozijaria, mas amaldiçoaria. Veja a diferença da linguagem em Gálatas:
“Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema. Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo. Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:6-12).
Na carta aos Gálatas Paulo chama os que obrigavam os cristãos a viverem na Lei mosaica de “…falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós… Oh insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gl 2:4-5; 3:1-3).
A Timóteo, Paulo aconselhou repreender aqueles que estavam pregando fábulas: “Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2 Tm 4:2-4).
Resumindo, a passagem de sua dúvida mostra que se Paulo se regozijava com os que pregavam a Cristo por inveja, é porque sabia que eles não pregavam algo diferente do evangelho da graça de Deus. Mas tanto os que inquietavam os Gálatas, quanto os que são citados em Filipenses, podem ser enquadrados na categoria de hipócritas: os legalistas por pregarem uma Lei que nem eles são capazes de cumprir, e os outros por pregarem a Cristo não sinceramente, mas por inveja e porfia.
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Se Satanás sabia quem era Jesus
para que tentá-lo no deserto?
Nos capítulos 1 e 2 do livro de Jó vemos Satanás comparecendo no céu na presença de Deus. Com tal acesso ele certamente sabia quem era o Filho de Deus, e daí surge sua dúvida: por que razão o diabo iria querer tentar Jesus no deserto, se não apenas ele, mas até os demônios sabiam quem ele era?
Que Satanás sabia, não há dúvida, e que os demônios também sabiam nós podemos ver de passagens como esta: “E os espíritos imundos vendo-o, prostravam-se diante dele, e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus” (Mc 3:11). É importante sempre lembrar que não foi o diabo quem conduziu Jesus ao deserto para ser tentado. A iniciativa partiu do Espírito Santo, como vemos aqui: “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4:1). O diabo ali foi apenas um instrumento que ajudou a comprovar a impecabilidade do Filho de Deus.
Aquela não foi uma tentação no sentido que conhecemos, pois em nós existe a resposta à tentação externa. Tiago explica bem esse processo que ocorre em nós como resposta a uma tentação externa ou tendo sua origem totalmente dentro de nós mesmos: “Ninguém, sendo tentado, diga: de Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1:13-15).
A tentação à qual Jesus foi submetido foi mais um teste ou prova, como fazemos quando colocamos o ouro ou a prata no fogo ou sob a ação de um ácido para comprovar sua pureza. Apesar de isso dar uma ideia do que ocorreu no deserto, sabemos que todo exemplo falha, pois ao contrário do ouro e da prata nos quais o teste pode revelar alguma mistura ou sujidade, Jesus entrou e saiu da tentação do mesmo jeito, sem nenhum subproduto de pecado em si.
O diabo obviamente sabia quem ele era, mas, como se diz, não custava tentar. Afinal, ele tinha diante de si, não o Filho de Deus tal como o conhecia nas regiões celestiais, mas Jesus na forma humana e de servo, com todas as fragilidades que seu corpo humano lhe dava. De qualquer modo, a prova que o Espírito Santo queria mostrar ao levá-lo ao deserto para ser tentado não era só para o diabo, mas principalmente para os milhões de seres humanos que desde então podem ter a certeza da natureza santa e impecável de Jesus.
Quando um novo embaixador é designado para um país ele precisa apresentar suas credenciais para comprovar que ele é quem diz ser. Portanto pode ter plena certeza de que Jesus, o Filho de Deus, é Deus e Homem; um que não tem pecado, nunca pecou e é incapaz de pecar.
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Você é de direita?
Você perguntou se sou de “direita”, pois apesar de eu insistir que sou apolítico, você achou que minhas opiniões mostram que eu seria de direita. Também tentou me definir como “neoliberal” e vou dizer a verdade: nunca nem procurei saber o que é um neoliberal ou o que pensa. Alguns já disseram que sou parecido com o presidente Fernando Henrique Cardoso, mas acaso não era ele um simpatizante do socialismo que se refugiou na França durante a ditadura militar no Brasil?
Só porque alguns se intitulam de direita, outros de esquerda, outros neoliberais e outros ‘corinthianos’, por que eu precisaria ter algum crachá no peito? Não tenho. Sou cristão, esta é a única etiqueta que aceito para me definir. Obviamente você perguntou isso por ser simpatizante do comunismo, e uma das táticas das ideologias de esquerda, também largamente usada por outros regimes ditatoriais, é tachar de inimigo quem não for amigo. Então se alguém não concorda com uma doutrina marxista-leninista-trotskista-gramscista-maoista ele só pode ser um fascista capitalista imperialista — se não apoia a esquerda só pode apoiar a direita.
É simples entender esse raciocínio porque nenhum regime ou sistema ditatorial opressor poderia respeitar ou levar em consideração quem se opõe a ele. Uma característica de uma ideologia opressora é não deixar espaço para o livre pensar, porque não admite a liberdade de expressão, a livre iniciativa, a livre propriedade e a liberdade de ir e vir. Basta ver que as manifestações no Brasil, quando patrocinadas por sindicatos e partidos de esquerda, bloqueiam a liberdade constitucional de ir e vir. O pensamento comunista é o de que você só pode viajar se for autorizado pelo partido, e nem pense em pensar fora da caixa porque isso irá fazer de você inimigo do partido.
Se quiser saber o que é viver em um país comunista, pergunte a quem viveu em um e não fazia parte da elite do estado, e na Europa é possível encontrar muita gente como aquele cidadão que, com a queda do muro de Berlim, foi levado a passear na Berlim ocidental por um jornalista. Ao final do passeio o jornalista perguntou: “Então, que diferença viu entre as duas Berlins nestes quase quarenta anos de regime comunista?” A resposta do outro foi: “Quarenta anos”.
Para um cristão é simplesmente absurda a ideia de apoiar o comunismo, pois o ateísmo é parte integrante de seu alicerce, ainda que possa estar camuflado nas adaptações terceiro-mundistas da doutrina. Você se surpreende quando conhece alguém que, quando criança, foi doutrinado nas escolas dos países da Cortina de Ferro. A pessoa não tem qualquer noção de Deus e nem quer ter. Sua mente foi cauterizada por anos de doutrinação ateísta.
Evidentemente, a doutrinação materialista, muito mais sutil, também deixa marcas. Cristianismo na Europa é hoje artigo raro, geralmente consumido por velhas e imigrantes de países do terceiro mundo. Ali você encontra até mesmo capelas medievais, cuja manutenção custava caro para suas denominações, transformadas em casas de shows por quem as comprou ou arrendou. As denominações cristãs europeias foram esvaziadas pelo ceticismo e incredulidade reinante na sociedade mais “evoluída” do planeta. Em uma entrevista na TV sueca um bispo da igreja oficial daquele pais se declarou ateu.
Na Europa sobraram também pouquíssimos irmãos congregados somente ao nome do Senhor. Numa conferência que participei promovida pelos irmãos europeus na Bélgica, com menos de uma centena de pessoas presentes, eu conversava com um irmão da Romênia. Ciente das notícias do Brasil que chegavam na Romênia e do debate sobre o impeachment da presidente Dilma Roussef na época, esse irmão disse uma frase que nunca esqueci: “Os brasileiros não sabem o que é viver em um regime socialista”. Ele sabia o que era ser cristão vivendo num regime fundamentado no ateísmo. No Brasil, essa ideologia chegou maquiada e tropicalizada, mas qualquer pessoa inteligente sabe que ela está lá, na base dos partidos que a propõem.
Alguém poderá argumentar que os sistemas de direita também oprimem os pobres e coisa e tal, mas enquanto países democráticos podem ser historicamente acusados e culpados de espoliar e massacrar povos estrangeiros com seu colonialismo perverso, os países comunistas fizeram isso com seus próprios cidadãos. Espoliaram, massacraram e criaram campos de prisioneiros, como os da Sibéria, para onde eram enviados “criminosos” considerados como tais apenas por discordarem do regime.
Será que você nunca ouviu falar das pessoas que na antiga União Soviética copiavam a Bíblia à mão por não terem acesso a uma impressa? Assim como era feito na China até recentemente (hoje o país que mais imprime Bíblias em todo o mundo, porque dá dinheiro), Bíblias eram proibidas ou apenas uma parcela era distribuída em igrejas de fachada para constarem das estatísticas oficiais. Certamente você nunca teve acesso a informações do que acontecia em Cuba com cristãos por causa de sua fé.
Não se trata de uma questão de ser de direita ou de esquerda, mas de bom senso. O que o partido de esquerda fez no Brasil em um passado recente foi espoliar estatais e o país com a desculpa de distribuir riqueza. O que não contaram foi que a riqueza seria distribuída principalmente entre os membros do partido e com os que os apoiassem, que hoje são milionários e presidiários.
Um socialista mais exaltado dirá: “Ahá! Eu não disse que ele é de direita?!”. É claro que irá dizer, pois foi treinado a pensar em preto e branco e não saberá considerar todo o espectro do pensamento humano. Não se preocupe, não sou de direita nem de esquerda, mas conheço um pouquinho da natureza humana para saber que somos extremamente egoístas por natureza e que nenhuma ideologia de distribuição compulsória de riquezas ou de propriedade comum acaba sendo contaminada pela mesquinhez humana. O comunismo seria o melhor regime… se o homem não fosse pecador.
É uma ilusão achar que algum sistema de governo irá resolver o problema da pobreza, porque não vai. O próprio Senhor Jesus disse aos seus discípulos “os pobres sempre os tendes convosco” (Jo 12:8), não porque isso é bom, mas porque é assim que funciona o mundo que foi entregue pelos homens de mão beijada para seu príncipe usurpador, Satanás.
Sempre que existir alguma iniciativa de distribuição compulsória de riquezas, alguém terá de trabalhar para sustentar os que não trabalham. Mas não pense que eu não acredite que isso vá acabar acontecendo. Acredito que é a tendência, porque muitos governos, independente de ideologia, estudam formas de solucionar os problemas da pobreza distribuindo riqueza. O nome disso em inglês é “Basic Income” ou “Renda Mínima” (pesquise para saber mais), algo como um salário mínimo, mas que nada tem a ver com doutrina comunista.
O raciocínio é este: o crescimento da substituição do trabalho humano por tecnologia atingirá um momento em que o mundo não poderá mais oferecer emprego para todos, e os que têm alguma coisa não querem que tudo acabe em anarquia destrutiva (leia-se recalcados sociais que quebram aquilo que não conseguiram ter, mas gostariam de possuir). Com a população aumentando e a tecnologia de informática e robótica se alastrando pelos meios produtivos, hoje já não funcionaria ter um carro de som no portão da fábrica e um sindicalista gritando para fazer os operários pararem de trabalhar. Seria preciso hackear o sistema para interferir na programação dos robôs que substituíram em grande parte os operários nas linhas de produção. Olhe por cima dos ombros do presente e você verá tudo automatizado num futuro próximo.
A previsão é que muito em breve a maior parcela da população mundial não terá o que fazer, e para que os cidadãos não façam bobagem a solução seria pagar para ficarem em casa vendo HDTV. O Brasil tem algo parecido com o nome de bolsa isso e bolsa aquilo, mas a ideia do “Basic Income” não é essa. Seria, se no Brasil todos tivessem direito a uma bolsa, não apenas os desempregados ou menos favorecidos. Porém, volto a repetir que o cristão que conhece o egoísmo humano sabe que o pecado fez do homem um eterno insatisfeito. Ele sempre irá querer mais.
Quando alguém tenta embasar na Bíblia ideologias socialistas, demonstra não conhecer o que ela ensina. Os cristãos realmente são exortados, mas não obrigados, a dividir o que têm com quem não tem. Mas isso é feito espontaneamente, não por decreto, coerção ou de qualquer outra forma compulsória. Na Bíblia a propriedade privada é reconhecida e honrada, ninguém é obrigado a dar nada a ninguém.
Quando Ananias e Safira quiseram se passar por caridosos por terem vendido uma propriedade e dado parte do dinheiro para ser distribuído entre os irmãos, mentiram ao Espírito Santo ao dizerem que tinham dado tudo. Pedro deixou bem claro que eles não tinham obrigação de entregar o que quer que fosse, e se estavam sendo castigados não era por não terem dado tudo, mas por terem mentido ao Espírito. “Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus” (At 5:4).
Aquele início do cristianismo teve um poder tal que estimulava nos corações dos cristãos o desapego, mas mesmo ali o egoísmo veio à tona. Mais tarde ficou muito evidente que mesmo os cristãos não poderiam viver tendo tudo em comum, como tentaram no começo. No capítulo 6 de Atos você já encontra queixas de desigualdade, pois alguns estavam sendo privilegiados na distribuição de alimentos em detrimento de outros. Logo terminaria aquela breve sociedade comunal, que não tinha sido ordenada por Deus, mas surgiu naturalmente como consequência da alegria do primeiro amor.
Mais tarde, ao escrever aos coríntios, o apóstolo Paulo mostraria que a caridade era uma virtude cristã, mas devia resultar de uma decisão própria e sem constrangimento: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2 Co 9:7). Não era para ser por coerção ou compulsoriamente determinada por lei ou governo, mas como fruto de um amor espontâneo brotado no coração daqueles que entendiam o quanto haviam recebido de Deus. Mesmo porque, nas coisas de Deus o que é feito sem amor não tem qualquer validade. “E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria” (1 Co 13:3).
Mas não se engane pensando que o que eu disse aqui seja uma ode à democracia ou ideologias de direita. E se eu lhe disser que não acredito na democracia? Democracia é o regime em que o povo governa por representantes, e você não vê isso na Bíblia. Deus nunca teve a intenção que o povo governasse. Israel era no princípio uma teocracia, em que as determinações de Deus eram comunicadas por seus profetas. Isso foi até decidirem que queriam ser como as outras nações que tinham um rei. Deus lhes deu um rei, Saul, que era segundo o coração do povo, mas não sem antes avisar o que aconteceria com eles:
“Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações… E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles” (1 Sm 8:4-7). Continue lendo o capítulo 8 de 1 Samuel para ver as consequências daquela decisão do povo.
Depois de serem decepcionados pelo rei que lhes foi dado segundo o coração e vista dos homens — um Saul alto e forte — Deus lhes deu outro rei, menos agradável à vista, mas que seria figura do Rei que irá reinar sobre Israel no final. Disso podemos deduzir que a monarquia seria o único regime que teria o aval de Deus, não só para Israel, mas para as nações gentias. Deus demonstrou isso ao eleger Nabucodonosor “rei de reis” (Dn 2:37), uma figura do que Cristo será no Milênio. Se quiser saber mais sobre como Deus enxerga a democracia, repare nos pés da estátua de Daniel 7, onde o ferro do poder se mistura ao barro da humanidade e não dá liga. Esta seria a última forma de governo popularizada no mundo antes de Cristo vir reinar.
Quanto ao cristão envolver-se em política, seja de direita, de centro ou de esquerda, gosto de recordar o convite feito por Sambalate e Gesem a Neemias. À primeira vista eles queriam que Neemias se encontrasse com eles no lugar e nos termos de Sambalate e Gesem, como se isso fosse servir de ajuda à obra de Deus. Mas o que queriam mesmo era atrapalhar aquela obra que incluía a reconstrução dos muros e do Templo de Jerusalém.
“Sambalate e Gesem mandaram dizer-me: Vem, e congreguemo-nos juntamente nas aldeias, no vale de Ono. Porém intentavam fazer-me mal. E enviei-lhes mensageiros a dizer: Faço uma grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse, e fosse ter convosco?” (Ne 6:2).
Quando o cristão desce de seu lugar elevado para associar-se aos incrédulos “no vale de Ono”, que significa “forte”, para se juntar e fazer alianças com os deste mundo, ele corre o risco de ser engodado e destruído. Por quatro vezes Neemias recebe o convite, e recusa. Ele fazia “uma grande obra” e não podia descer.
Será que, como cristão, você está consciente da “grande obra” que tem para fazer, ou será que está dando suporte aos inimigos de Deus, encontrando-se com eles no nível mais baixo deste mundo (o “vale de Ono”) por parecer que unido ali em algum partido de homens será mais forte? As intenções podem até parecer boas, mas se isso é para acontecer “no vale de Ono” e você está no monte de Jerusalém, faça como Neemias: não vá. Se for você logo estará comprometido em sua fé e andar, porque qualquer jugo desigual com incrédulos — e afiliação partidária é jugo desigual — faz de você responsável solidário por tudo o que o partido pensa e faz.
Para terminar, fique com esta anedota que meu pai costumava contar e que ilustra bem a razão de o comunismo não funcionar. Dois caipiras conversavam:
— Zé, vamu ali ver aquele cumício cumunista.
— Quequié isso, Benedito?!
— Cumunismo é assim: Se ocê tivesse duas casa, mas só precisasse de uma pra morar, ocê daria a outra prum camarada, não daria?
— É craro, Benedito, daria sim. Quem qui tem precisão de duas casa? Só priciso duma uai!
— Tamém se ocê tivesse dois tomóvi, só ia conseguir guiar um, então daria o outro prum camarada, num daria?
— Daria sim, tarveis até os dois porque nem sei guiar! Aquele negocio de câmbio e disimbréia é cumplicado, sô!
— Pois é, se você tivesse duas bicicreta…
— Epa, péraí Benedito, essa não! Essa eu tenho!
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Existe um arrebatamento parcial?
Você perguntou se até um cristão em pecado seria arrebatado, e disse isso considerando sua inclinação pelas doutrinas de Watchman Nee e Winess Lee de um arrebatamento reservado apenas a vencedores. Você acabou de identificar onde está o grande furo dessa doutrina: o de achar que exista algum cristão que não peque. Essa ideia cria fariseus de um lado — os que acham que estão andando 100% de acordo com a vontade de Deus — e depressivos de outro, os que são sinceros o suficiente para reconhecerem que são falhos. Qualquer doutrina que dê ao homem alguma parcela de mérito não vem de Deus.
No arrebatamento Cristo virá buscar sua igreja para encontrar-se com ela nos ares, e a Igreja é aquela formada por todos os que creem em Jesus. Esses têm o Espírito Santo e nessa ocasião o Espírito será tirado da terra tanto quanto os que o possuem. Quem ficar na terra não terá o Espírito, será como aqueles que viviam no Antigo Testamento. Vamos reformular sua pergunta assim: “Então até um cristão que nos últimos dois mil anos morreu em pecado seria ressuscitado?”.
Percebe como de repente sua pergunta deixa de fazer sentido? Qualquer pessoa que tenha morrido na fé em Cristo nos últimos dois mil anos certamente tinha alguma aresta no seu andar, mesmo assim, o sacrifício de Cristo foi suficiente para garantir sua salvação. No arrebatamento ele será ressuscitado e subirá junto com os que forem transformados para estar com Jesus. Qualquer ideia de um arrebatamento seletivo implicaria também numa ressurreição seletiva de crentes “vencedores”, o que é um engano diabólico que só lança dúvidas no coração dos crentes em Jesus. Tente encontrar alguma passagem que fale de um arrebatamento ou ressurreição condicional e não achará.
“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 Jo 1:8-10).
Quando Paulo descreveu o que irá acontecer num momento, ele não dividiu os crentes em vencedores e perdedores. Ele incluiu TODOS.
“Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados. (Quando? Um grupo antes e um grupo depois?) Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e NÓS seremos transformados” (1 Co 15:51-52).
Mas você alega que alguns dos irmãos que congregavam somente ao nome do Senhor no século 19 também tinham essa doutrina. Realmente, mas isso não a torna correta e nem eles continuaram em comunhão com os irmãos. J. Sladen, R. Govett, G. H. Pember pensavam assim, e por isso você talvez não encontre seus nomes na literatura normalmente aceita entre irmãos congregados ao nome do Senhor. Você pode até encontrar alguma coisa de um desses autores, mas de antes da época em que começou a introduzir ideias estranhas à doutrina dos apóstolos e ser colocado fora de comunhão por isso.
Watchman Nee e Witness Lee emprestaram deles essas ideias e as transformaram em um sistema de doutrinas que deu origem a uma “denominação sem nome” que possui todas as características de um sistema. Possui um líder mundial (que não se diz líder mundial), uma sede mundial (que não chamam de sede mundial), um clero em pirâmide e uma imprensa e literatura oficial. Nada disso tem a ver com aquilo que costumo escrever e dizer sobre estar congregado somente ao nome do Senhor e sem essas características de um sistema religioso como outro qualquer.
Se consultar o que pensavam os irmãos congregados ao nome do Senhor no século 19 verá algo como este texto de William Kelly falando do Salmo 143:2:
“‘E não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente’ (Sl 143:2). Se Deus fosse entrar em juízo com algum servo seu, não poderia haver justificação para ele, pois o juízo deve tratar de forma inflexível com pecados. E qual é o servo de Deus que nunca pecou desde o dia em que confessou o Salvador? Salvação é por graça, por meio da fé, mas isso é impossível de ocorrer no terreno do julgamento por obras, algo que está reservado para aqueles que recusaram o Senhor e rejeitaram sua “tão grande salvação”. É somente dos ímpios que Apocalipse 20:11-15 está falando. “E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras”. O livro da vida concorda com a condenação de cada um deles, pois nele está o registro dos beneficiados com a graça salvadora. “E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo”. Em Apocalipse 20:11-15 não há qualquer menção daquele que teve seu nome escrito no livro da vida. Os livros os condenaram, pois o livro da vida não trazia seus nomes escritos visando a graça” – W. Kelly.
A ideia de um arrebatamento parcial é também de certa maneira o que creem alguns populares defensores do arrebatamento, como o autor dos livros e filmes da série “Deixados para trás”. Neles pessoas que antes ouviam o evangelho, mas não se converteram, são mostradas como tendo uma segunda chance de crer durante os tempos de tribulação. Mas isso é também outro engano diabólico, pois o texto bíblico aponta claramente que Deus mesmo fará com que creiam na mentira. Para uma pessoa que hoje escuta o evangelho e deixa para decidir depois, não haverá possibilidade de decisão, pois seu destino terá sido selado no arrebatamento. Ela irá crer na mentira porque Deus fará com que creia assim. Ela será como uma pessoa que ouviu, morreu e não creu. Perdeu sua chance.
A passagem que fala da ressurreição dos que dormiram em Cristo e do arrebatamento de todos os salvos é principalmente esta:
“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1 Ts 4:13-18).
A passagem que mostra o que acontecerá com os que ficarem na terra depois de terem tido a chance de ouvir e crer está na segunda epístola. Após o arrebatamento da Igreja os únicos que terão chance de se converter ao evangelho do Reino (distinto do evangelho da graça) serão os que não tiverem sido alcançados na atual época da Igreja:
“Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele [que é o arrebatamento da Igreja], que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo [que é sua vinda para julgar as nações sete anos após o arrebatamento] estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco? E agora vós sabeis o que o detém [ou seja, o Espírito Santo], para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado; e então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro [ou poder irresistível], para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2 Ts 2:1-12).
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Você faz aconselhamento matrimonial?
Você escreveu perguntando se faço aconselhamento matrimonial. Não, primeiro porque eu não seria a pessoa mais indicada para isso, visto que sou divorciado. Meu matrimônio fracassou, portanto não me sinto à vontade para aconselhar outros numa área em que falhei. Antes que pergunte, não houve adultério envolvido em minha separação, portanto considero que o vínculo matrimonial não foi rompido.
A outra razão de não fazer aconselhamento matrimonial ou de relacionamentos afetivos é que as coisas que envolvem um casal são multifacetadas. Alguém de fora dificilmente perceberia todas as facetas que levam ao conflito entre um casal e acabaria tomando as dores do que busca conselhos. Sempre que alguém busca por aconselhamento traz sua própria versão dos fatos e seria temeroso basear-me apenas nisso para aconselhar. Dou alguns exemplos de como as coisas parecem ser o que não são quando vistas por alguém de fora:
Um rapaz foi preso acusado de homicídio por dirigir alcoolizado quando seu carro capotou e sua irmã morreu. As pessoas que o tiraram do carro acidentado foram arroladas como testemunhas no processo. Um advogado decidiu reabrir o caso e descobriu que tudo se baseou na afirmação das testemunhas que socorreram o rapaz de que o rapaz tinha sido tirado do lado do motorista, portanto devia ser ele o condutor. O rapaz realmente estava alcoolizado, mas não estava dirigindo. Os que o socorreram, na pressa e calor do momento, tiraram o rapaz do que pensaram ser o lado do motorista, o lado esquerdo do carro. Mas como o carro estava de rodas para cima, aquele era na verdade, o banco do passageiro. Era a irmã do rapaz quem dirigia o carro, provavelmente por ele estar muito bêbado na volta da festa. Só então o rapaz foi solto.
Outro exemplo: Um policial foi chamado para atender um caso de tentativa de homicídio. Ao chegar lá viu um homem agarrando uma mulher e com uma faca em seu pescoço prestes a cortá-lo. Quando viu o policial, o agressor partiu para cima dele com a faca, e o policial, em legítima defesa, atirou. O homem rodopiou e caiu. Felizmente o policial descobriu que tinha errado o tiro e o homem caiu desmaiado de susto. Levados para a delegacia, a mulher não quis prestar queixa pois amava de montão aquele homem. Se o policial tivesse acertado o tiro teria a vítima contra si. Nunca se esqueça daquele ditado “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”.
Estes exemplos mostram o quanto podemos nos enganar e tirar conclusões equivocadas se não conhecermos todos os detalhes de uma situação, como é a dificuldade de relacionamento entre marido e mulher.
Outra dificuldade de quem faz aconselhamento matrimonial é o perigo de se envolver emocionalmente com a pessoa que está sendo aconselhada. Uma porcentagem alta de adultério entre pastores protestantes vem das sessões de aconselhamento, quando lidam com mulheres fragilizadas em busca de um ombro amigo para chorar. Em seu livro “A ordem de Deus”, Bruce Anstey escreve:
“As Escrituras que citamos costumam ser distorcidas ou consideradas antiquadas e discriminatórias. Com muita frequência vemos uma inversão na ordem do ministério de irmãos e irmãs. Por exemplo, ouvimos falar de irmãos (no papel do “Pastor”) que têm encontros em particular com mulheres – geralmente mulheres jovens – com o objetivo de aconselhá-las em sua vida pessoal. É frequente pessoas assim acabarem caindo em algum tipo de imoralidade, para desonra do Senhor. Temos um artigo que mostra que mais de 80% dos homens no “ministério” que caíram em imoralidade chegaram a tal ponto como resultado de sessões de aconselhamento! Muito disso teria sido evitado se esse ministério na igreja fosse desempenhado por mulheres”.
Por isso o aconselhamento deve ser preferencialmente feito por um casal, e no meu caso isso não é possível. Na epístola a Tito o apóstolo Paulo dá instruções de como Tito deveria proceder ao aconselhar homens idosos, mulheres idosas, mulheres jovens e homens jovens. Se reparar bem, verá que não era para Tito aconselhar diretamente as mulheres jovens. Ele deveria aconselhar as idosas para que estas aconselhassem as jovens. Assim funciona a sabedoria de Deus e evitaríamos muitos riscos se a seguíssemos à risca.
“Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Os velhos que sejam sóbrios, graves, prudentes, sãos na fé, na caridade e na paciência. As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem, para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seu marido, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada. Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados” (Tt 2:1-6).
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Por que estas Bíblias
não concordam entre si?
Você leu numa versão católica da Bíblia Isaías 42:1, que diz: “Eis meu Servo que eu amparo, meu eleito ao qual dou toda a minha afeição, faço repousar sobre ele meu espírito, para que leve às nações a verdadeira religião”. Ao compará-la com a versão de João Ferreira de Almeida surpreendeu-se com a diferença. Ali está: “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito, em quem se apraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele; ele trará justiça aos gentios”. Qual seria a correta?
Tudo indica que a mais precisa será a versão Almeida, mesmo porque se você comparar com outras versões católicas irá encontrar, como nesta da CNBB, “Eis o meu servo, dou-lhe o meu apoio. É o meu escolhido, alegria do meu coração. Pus nele o meu espírito, ele vai levar o direito às nações”.
Talvez o tradutor da versão católica que você utilizou quisesse “puxar a sardinha” para o seu lado ao dizer que o Servo do Senhor levaria “às nações a verdadeira religião”. Considerando que muitos católicos acham que a salvação se obtém estando naquela que consideram a verdadeira religião ou verdadeira igreja, talvez o tradutor estivesse entusiasmado demais com o papismo ao escrever.
Provavelmente a Bíblia de edição católica que você utilizou foi a “Ave Maria”, traduzida do grego, aramaico e hebraico, por monges beneditinos de Maredsous (Bélgica). Ela foi depois traduzida do francês para o português o que faz dela uma tradução de tradução, afastando seu texto consideravelmente dos originais.
Mesmo assim, quando surgiu nos anos 50, ela foi um marco por colocar uma Bíblia acessível nas mãos dos católicos brasileiros, os quais até então só tinham oportunidade de ouvir a Palavra de Deus da boca dos padres na hora da missa ou recorrer a edições importadas, mais caras. Foi nessa época que o Vaticano começou a dar abertura para a Bíblia ser lida por leigos, algo até então desestimulado pelo clero.
Mas quando vi sua mensagem da primeira vez achei que você estivesse se referindo às diferenças de subtítulo no início de cada capítulo quando compara diferentes versões e edições. Nem toda Bíblia os tem, pois é algo acrescentado pela editora da Bíblia, seja ela católica ou protestante. Algumas edições protestantes também têm erros graves nesses subtítulos, mas em nenhum caso trata-se de texto bíblico, mas de acréscimo a critério da editora.
Quer um exemplo? Tenho uma Bíblia Almeida Revista e Corrigida que traz no capítulo 54 de Isaías o subtítulo: “O progresso e a glória da Igreja”. Isso é um equívoco, pois a Igreja era um mistério oculto em Deus que só seria fundada e revelada ao apóstolo Paulo mais de setecentos anos mais tarde. Algumas versões já corrigiram o subtítulo colocando “A glória de Sião” ou algo assim, pois tudo aí tem a ver com Israel, não com a Igreja.
Quando ler alguma edição impressa, não dê atenção a esses subtítulos (geralmente em negrito no início de cada capítulo) porque mais atrapalham do que ajudam. Entenda também que no original não existiam capítulos e nem versículos, coisas bastante recentes. A divisão do texto em capítulos surgiu no século 13 e em versículos na metade do século 16.
Alguns assuntos seriam melhor entendidos se lêssemos o texto corrido sem parar no fim do capítulo, como é o caso desta passagem cuja continuação e sentido estão no capítulo seguinte. Quando Jesus disse que alguns discípulos não passariam pela morte sem que vissem o Filho do Homem no seu reino, estava se referindo à transfiguração, que é uma visão de como o Senhor estará no reino futuro, uma espécie de fresta no tempo:
“Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino. Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte, e transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele. E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e um para Elias. E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o. E os discípulos, ouvindo isto, caíram sobre os seus rostos, e tiveram grande medo. E, aproximando-se Jesus, tocou-lhes, e disse: Levantai-vos, e não tenhais medo. E, erguendo eles os olhos, ninguém viram senão unicamente a Jesus” (Mt 16:28-17:1-8).
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Mateus 12:40 diz que Jesus
teria ido ao inferno?
Você perguntou se Mateus 12:40 estaria afirmando que Jesus foi ao inferno depois de morrer. Não, ele não foi ao inferno depois de morrer, mas entre sua morte e ressurreição esteve na condição de hades ou sheol — o estado de alguém desencarnado —, embora não tenha permanecido assim como permanecem todos os que morreram até hoje.
O Salmo 16:10, “Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.”, citado em Atos 2:27 referindo-se ao Senhor, mostra que Jesus não permaneceria nessa condição de morte e mostra também que há uma diferença nos termos utilizados e traduzidos indistintamente como “inferno” em algumas traduções.
Onde você lê “inferno” em algumas versões da Bíblia no Salmo original está “sheol” e em Atos “hades”. Em nenhum dos casos tem a conotação do destino final dos perdidos, que é o “lago de fogo e enxofre”.
De qualquer modo, Jesus não desceu ao lago de fogo, que é o lugar dos perdidos que ainda está desabitado. Infelizmente os tradutores das Bíblias que usamos fizeram confusão de termos quando traduziram hades, sheol e lago de fogo pelo genérico inferno, um termo que não existe nos originais.
Sempre que a Bíblia falar de alguém que morreu, pergunte assim: “Está falando do corpo ou do espírito/alma?”. Assim você já evitará uma porção de interpretações falsas que circulam pela cristandade. Por exemplo, existe uma religião que afirma que o morto está inconsciente com base em Eclesiastes 9:5 “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento”. Mas um leitor atento saberá identificar que aí está falando do corpo dos que morrem, pois o livro de Eclesiastes fala das coisas que acontecem “debaixo do sol”, isto é, na terra.
Basta ler o diálogo entre o rico e Abraão na história de Lucas 16:19-31 para perceber que o rico que estava no hades não estava nem um pouco inconsciente. Lembre-se de que o Senhor Jesus não disse que aquilo era uma parábola como costumava dizer ao contar outras histórias, portanto o rico realmente existiu e o mendigo Lázaro também.
Ali diz “que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão”, o que era a forma de entender adequada a um judeu, como os que ouviram a história de primeira mão dos lábios do Senhor. “E morreu também o rico, e foi sepultado”, o que está falando obviamente de seu corpo, porque ninguém sepulta um espírito. Aí começa o problema de tradução: “E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio”. A palavra no original não é inferno, mas hades como aparece corretamente na versão NVI.
Portanto entenda que hades é um estado intermediário de separação entre o corpo, de um lado, e espírito-alma de outro. Um dia eles voltarão a se unir na ressurreição e os santos viverão eternamente com espírito, alma e corpo. Depois os perdidos também terão seus corpos de volta para serem lançados espírito, alma e corpo no lago de fogo, que é o destino final criado por Deus para o diabo e seus anjos, porém que receberá também os incrédulos.
A passagem de sua dúvida em Mateus 12:40 diz assim: “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra”. Seio da terra está falando da sepultura e do corpo de Jesus. Mas alguém poderia alegar que Jesus estava falando de si mesmo, e não de seu corpo, mas basta ler uma passagem de Atos 8:2 para ver que os irmãos ali sepultaram Estêvão como a pessoa inteira, porque é assim que Deus também identifica alguém. Ali diz que “uns homens piedosos foram enterrar Estêvão, e fizeram sobre ele grande pranto”. O corpo traz igualmente a identidade da pessoa, mesmo que seu espírito e alma não estejam mais nele. Nem em cemitérios fazem distinção dizendo nas lápides “Aqui jaz o corpo de Fulano”, mas simplesmente “Aqui jaz Fulano”.
No caso de Jesus, “seio da terra” significa isso mesmo, a sepultura que normalmente fica abaixo do chão. Mas seu espírito não estava mais no corpo, estava no Paraíso enquanto aguardava a ressurreição, conforme prometeu ao ladrão na cruz que iria se encontrar com ele naquele mesmo dia no Paraíso (e certamente esse encontro não se daria no lago de fogo e nem debaixo da terra).
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Como um crente no Antigo Testamento
podia viver sem o Espírito Santo?
Você pergunta como um crente no Antigo Testamento podia viver sem o Espírito Santo, e a mesma dúvida vale para os que serão salvos após o arrebatamento da Igreja, quando o Espírito Santo também será tirado da terra. Recebi outra dúvida que não se refere ao estado do crente, mas como o incrédulo poderia se converter, tanto no período anterior quanto posterior ao atual tempo da graça de Deus.
Começando por esta última dúvida, o Espírito Santo sempre agiu convencendo o pecador de seu pecado, mas não habitando nele porque o Espírito não iria habitar num incrédulo, seja no Antigo, seja no Novo Testamento. Habitação do Espírito não precede a conversão, mas é o selo final do processo neste atual tempo da graça. Digo “processo” porque existem algumas etapas que acontecem.
Primeiro a pessoa colocada em contato com a “água” da Palavra de Deus (Efésios 5:26) é tocada pelo Espírito Santo e recebe vida para o que está espiritualmente morto poder sentir o peso de seus pecados e crer. Este é o “nascer de novo” que Jesus explicou a Nicodemos em João 3. Em Romanos 3:10-11 diz que “Não há um justo, nem um sequer. não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus”, porém em Atos 10:1-2 encontramos um homem que parece contradizer essa afirmação: “Cornélio, centurião da coorte chamada italiana, piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a Deus”.
Cornélio era um nascido de novo que ainda precisava escutar o evangelho da graça de Deus (At 10:34-43), crer e ser selado com o Espírito Santo (At 10:44). Agora ele era um homem salvo. Considere Efésios 1:13-14 como a versão condensada dessas etapas: “Cristo em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória”.
Voltando à sua dúvida, que é de como um crente no Antigo Testamento podia viver sem o Espírito Santo, a resposta é que o Espírito agia e eventualmente habitava nele, mas não de modo definitivo como o temos agora graças à promessa de Jesus de que ele ficaria conosco “para sempre” (Jo 14:16). Repare em como isso é diferente do que Davi experimentava em seus dias: “Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo” (Sl 51:11).
Depois do arrebatamento tudo vai voltar a funcionar como no Antigo Testamento, e os convertidos não terão o Espírito habitando permanentemente em si, mas eventualmente no caso de Davi. Hoje a pessoa recebe vida para poder sentir o peso de seus pecados (novo nascimento), crer em Jesus (conversão) e receber o selo do Espírito Santo (habitação do Espírito). Mas e no Antigo Testamento? Ficavam eles sem qualquer assistência, influência ou poder para viver uma vida nova, já que o Espírito só viria habitar na terra em Atos 2 no dia de Pentecostes, quando foi formada a Igreja?
Pelas palavras de Jesus aos discípulos no Evangelho, antes o Espírito estava com eles e depois passou a habitar neles. Nossa posição é de um privilégio mais elevado, mas não quer dizer que antes os convertidos ficavam desassistidos. “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós” (Jo 14:17).
Se você prestou atenção na expressão “para sempre” percebeu como é perversa a doutrina pentecostal de que um crente possa ser crente sem ter sido selado pelo Espírito, ou que possa perdê-lo depois por algum motivo. Perversa é também a doutrina que diz que apenas crentes “vencedores” subiriam no arrebatamento, enquanto o restante (os crentes carnais) permaneceriam na terra para sofrer na Grande Tribulação. O inimigo sempre irá incutir na mente das pessoas, inclusive de crentes em Jesus, ideias que possam anular em alguma medida a obra completa e perfeita operada por Cristo na cruz do calvário.
Talvez aqui surja em sua mente a dúvida: “Mas o que aconteceria se alguém nascesse de novo e morresse antes de ouvir o evangelho claro, como Cornélio ouviu de Pedro, e crer e ser selado com o Espírito Santo?”. Bem, se você conhece realmente o caráter do Deus que lhe dá a salvação não teria dúvidas a respeito do destino dessa pessoa, mas teria, como diz no versículo de Filipenses 1:6, “por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo”. Quando Deus começa uma obra, ele termina com certeza.
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Que vantagem existe
em congregar ao nome do Senhor?
Você diz que independentemente de onde congrega, a pessoa é salva pela fé em Jesus. Então pergunta qual seria a vantagem de estar congregado somente ao nome de Jesus fora das denominações. E acrescenta: “Que bênçãos e vantagens você e os irmãos que congregam assim têm que não têm os que congregam em outros apriscos?”
Depois de ter sido salva por Cristo por graça e pela fé, será que você só faz as coisas se tiver alguma “vantagem”, ou faz por ser esta a vontade do Senhor expressada em sua Palavra? Um dia você foi como o cego que se aproximou de Jesus e ouviu de seus lábios: “Que queres que eu faça?”, e você respondeu, “Senhor, que eu veja!” (Lc 18:40-41). Então você passou a enxergar, e o que um coração grato faria em troca? A mesma pergunta que o Senhor fez, você faria a ele: “Senhor, que queres que eu faça?”. Ou, como perguntou Pedro, quando o Senhor disse para ele e os outros irem preparar a Páscoa: “Senhor, onde queres que a preparemos?” (Lc 22:9).
O verdadeiro crente em Jesus, que conhece o valor do que recebeu ao ter sido perdoado de todos os seus pecados, terá um coração tão cheio de gratidão que irá perguntar ao Senhor qual deve ser o seu próximo passo, e não decidir por sua própria vontade. E a resposta encontrará na Palavra.
A segunda frase sua também responde por si só. Não se trata de escolher este ou aquele aprisco, mas de não estar em aprisco nenhum. Não se trata de congregar dentro das paredes de um dogma denominacional, mas em redor da Pessoa que nos tirou, não só do pecado e da morte, mas da maldição da Lei que cercava o aprisco judeu.
“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10:1-4).
Quando o Senhor falou de aprisco no evangelho de João ele estava se referindo a Israel, que era um sistema cercado pelo muro da lei como é um aprisco. Até ali, aquela cerca tinha servido de proteção ou “aio” para eles não descambarem na idolatria das outras nações. A passagem que explica é esta:
“A Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes. Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gl 3:22-26).
Mas o Pastor tinha vindo para tirá-los do aprisco, não para construir outro aprisco. Os libertos por ele não seriam mais reunidos por limites como as cercas do aprisco, mas se reuniriam em torno do Pastor como a limalha de ferro se reúne em torno do ímã. Então é isso que acontece quando Cristo é o centro para o cristão. Ele irá querer estar congregado a ele, ao seu Nome e a nenhum outro nome. Isso não é de hoje, mas até para Israel, Deus havia ensinado que não deviam adorar em qualquer lugar que escolhessem, mas ao Nome.
“Mas o lugar que o Senhor vosso Deus escolher de todas as vossas tribos, para ali por o seu nome, buscareis, para sua habitação, e ali vireis. E ali trareis os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e os vossos votos, e as vossas ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas… Não fareis conforme a tudo o que hoje fazemos aqui, cada qual tudo o que bem parece aos seus olhos… Então haverá um lugar que escolherá o Senhor vosso Deus para ali fazer habitar o seu nome…” (Dt 12:5-11).
“Porque, onde estiverem dois ou três reunidos ao meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20).
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Por que meu filho adolescente virou ateu?
Você escreveu dizendo que seu filho fez quinze anos e assim do nada decidiu que não quer saber de Deus e nem sequer acredita nele. Como isso pode acontecer? A salvação é pessoal e uma responsabilidade de cada um diante de Deus. O que aconteceu foi que seu filho passou a pensar com a própria cabeça, e agora é também responsável por suas próprias escolhas, ao invés de simplesmente repetir o que você dizia. Você o criou como cristão, mas ele nunca foi por escolha própria.
Filhos não nascem convertidos a Cristo. Mesmo que seus pais sejam filhos de Deus, os filhos não vêm ao mundo como “netos de Deus”. Enquanto são crianças, caso eles venham a morrer, certamente serão recebidos nos braços de Cristo, os mesmos braços que tomaram para si aquele menino que os discípulos queriam impedir de ir a Jesus. “Deixai os meninos, e não os estorveis de vir a mim; porque dos tais é o reino dos céus” (Mt 19:14), afirmou Jesus.
Os exemplos que temos na Palavra de pais que têm seus filhos batizados como consequência de sua conversão demonstra que Deus tem uma atenção especial para os que nascem em famílias onde existe ao menos um pai ou mãe que seja filho de Deus. Até mesmo maridos incrédulos são vistos por Deus como santificados por estarem debaixo da mesma esfera da esposa. Não que estejam automaticamente salvos, mas estão a salvo de problemas. De qualquer modo, tanto o cônjuge incrédulo, como os filhos, precisarão um dia crer em Cristo de si mesmos para serem salvos.
“E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe. Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos” (1 Co 7:13-14). A palavra “santo” significa “separado” e nem sempre é sinônimo de salvo.
Quando se converteu Lídia, a vendedora de púrpura, se converteu “foi batizada, ela e a sua casa” (At 16:15), embora nada seja dito da conversão de seus familiares e servos, já que “casa” na linguagem neotestamentária incluía os servos. Do mesmo modo, o carcereiro da mesma cidade creu no evangelho e “logo foi batizado, ele e todos os seus”, depois que Paulo e Silas “lhe pregavam a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa” (At 16:31-33). Ele não queria deixar de fora da esfera cristã aqueles que lhe eram queridos, e o batismo é o que introduz a pessoa na casa de Deus, mesmo que ainda não tenha se convertido realmente. Foi neste sentido que o apóstolo Paulo batizou também “a família de Estéfanas” (1 Co 1;16).
Mas que não se engane alguém em pensar que, por ter sido batizado, esteja com a salvação garantida. O mago Simão pareceu ter se convertido e até mesmo foi batizado, mas não demorou para se revelar um mercenário que estava interessado em obter o poder de Deus como forma de lucro. Atos 8:9-24 conta a história: “Como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus, e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres. E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito… E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro”.
Seu filho pode ter sido batizado, frequentado alguma igreja cristã, e até feito algum tipo de profissão de fé ali diante de testemunhas, mas nada disso é garantia de salvação se ele não tiver nascido de novo pelo poder do Espírito aplicando a Palavra em seu coração para lhe dar vida, e depois crido no Senhor e sido selado com o Espírito Santo que é a garantia de nossa herança. Algumas vezes um filho leva a vida toda para assumir sua incredulidade antes de realmente se converter, mesmo tendo pais cristãos e sido criado em um ambiente cristão.
Acredito que a maioria dos pais não verá em vida a resposta às suas orações pela conversão dos filhos, pois muitos deles acabam se convertendo depois que seus pais já partiram. Enquanto isso, tudo o que você pode fazer é orar para que o Espírito Santo o converta, mas não queira transformar seu filho incrédulo em cristão. É um erro pensar que fantasiando um perdido de salvo ele vá apreciar mais o evangelho. Geralmente o efeito é inverso, principalmente no adolescente que é avesso por natureza a imposições. Entregue nas mãos do Senhor porque ele é até mais interessado que você em que seu filho se converta. “Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2:3-4).
Fale do Senhor, fale do Evangelho, pregue a graça de Deus a ele, mas não espere que orando ou agindo ou falando como cristão ele será salvo. Deus não salva papagaios. Eu só me converti aos 23 anos de idade e se você viesse me falar da Bíblia antes eu teria rido ou no máximo respeitado. Eu era metido em religiões orientais e achava que o Bhagavad Gita e outros livros orientais eram muito mais elevados que a Bíblia. Apesar de pais católicos, quem insistiu para eu comprar um Novo Testamento foi um colega espírita da república onde eu morava quando fazia cursinho em São Paulo.
Agarre-se à promessa de Atos 16 de que um dia Deus ainda irá tocar o coração de seu filho. “E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregavam a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa” (At 16:30-32). Lembre-se também de viver na alegria da fé em Cristo, porque um adolescente não irá querer viver uma vida que seja menos interessante que aquela que vive com seus amigos. “Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos” (Fp 4:4).
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Por que irmãos mais velhos
desprezam minha juventude?
Você escreveu dizendo que se sente como Eliú, em Jó 32, pois às vezes é repreendido pelos irmãos mais velhos que acham que alguém na sua idade não pode ter conhecimento das Escrituras. Não se preocupe, nem sempre o problema está em você, mas nos outros. A Bíblia ensina duas coisas: Que Deus dá valor aos cabelos brancos e à experiência dos mais velhos, que devem ser sempre respeitados pelos mais novos. Mas também mostra que Deus usa quem ele quer, inclusive jovens e independente do gênero.
Foi uma jovem serva que Deus usou para levar um dos grandes generais de sua época — Naamã — ao conhecimento da Verdade. Enquanto o velho Eli vivia acomodado sentado numa cadeira no templo, Deus quis usar o jovem Samuel. O Senhor usou os pães e peixes de um jovem para alimentar uma multidão, e ele mesmo veio ao mundo por intermédio de uma jovem Maria, que devia ser ainda adolescente quando foi coberta pelo Espírito Santo.
O Senhor também usou os apóstolos, a maioria na faixa de vinte a trinta anos quando foram chamados. Os irmãos que no princípio do século 19 apartaram-se de suas denominações para congregar somente ao nome do Senhor estavam na faixa dos vinte anos, e mesmo assim o Senhor lhes deu um entendimento das Escrituras que faltava a muitos clérigos anciãos contaminados com séculos de má doutrina.
Lembro-me quando, aos vinte e quatro anos e com pouco tempo de convertido, descobri o valor de estar congregado somente ao nome do Senhor fora dos sistemas denominacionais. Ao apresentar o que entendia das Escrituras a um obreiro da Igreja Batista que frequentava, fui repreendido com estas palavras: “Você não tem nem dois anos de convertido e quer ensinar a mim, que tenho mais de vinte?”.
Na Bíblia vemos como Deus usou um jovem, Timóteo, ao ponto de Paulo lhe dedicar duas epístolas extremamente instrutivas. Isso demonstra que Deus não despreza um jovem, mas também demonstra que o jovem, como era o caso de Timóteo, necessita de instrução na Palavra. Mas o apóstolo encorajou seu pupilo com estas palavras: “Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza” (1 Tm 4:12).
O perigo é quando o jovem é soberbo, não sabe se comportar e despreza a experiência dos mais velhos. Um dos grandes erros cometidos pelo rei Roboão foi ter desprezado os anciãos e buscado conselho entre os jovens de sua idade. “Porém ele deixou o conselho que os anciãos lhe tinham dado, e teve conselho com os jovens que haviam crescido com ele, que estavam diante dele” (1 Rs 12:8).
Ainda que um jovem possa ter conhecimento e razão em determinadas situações, ele deve respeitar os mais velhos porque esta é a maneira que Deus ordena. “Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados. Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” (Tt 2:6-8). “Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais” (1 Tm 5:1).
Quando Paulo disse a Timóteo “ninguém despreza a tua mocidade” (1 Tm 4:12) isso não queria dizer que Timóteo ficaria imune às críticas, mas que deveria viver de modo a não as gerar. A crítica geralmente é uma resposta ou reação a um determinado comportamento, daí a necessidade de Paulo admoestar Timóteo a servir de exemplo para os irmãos. Cada um de nós deve sempre perguntar: “Estou servindo de exemplo também nestes aspectos de minha vida?”.
Na admoestação de Paulo em 1 Timóteo 4:12 há seis pontos que precisavam ser observados: a Palavra, o Trato, o Amor, o Espírito, a Fé e a Pureza. Todavia, os melhores manuscritos trazem apenas cinco pontos, omitindo o “espírito”, e creio ser mesmo o mais correto, pois o número cinco na Bíblia sempre aparece relacionado à responsabilidade do homem.
NA PALAVRA – Nossa conversa deve sempre caracterizar que somos filhos de Deus. Não devemos apenas evitar aquilo que é impróprio, mas falar sempre no sentido de edificar nossos ouvintes. Em tempos de redes sociais aqui vai uma dica: sabe aquilo que você quer jogar na cara do outro? Escreva com todas as letras e no final, ao invés de clicar em “Enviar” clique em “Deletar”. Pronto, você descarregou suas emoções e não machucou ninguém. Além disso, nunca se esqueça de que tudo o que publicar na Internet nunca mais poderá ser apagado. Continuará viajando pelos compartilhamentos como as plumas de um travesseiro que você rasgou ao vento, impossíveis de serem recolhidas quando se arrepender do que disse.
NO TRATO – Isto fala de nossa conduta e comportamento. Nada em nosso modo de ser deve ser motivo de reprovação ou comprometimento para o testemunho do Senhor. Era este o cerne da orientação dada a Timóteo. Não gostamos de ser repreendidos, mas também nem sempre cuidamos de não agir de modo a produzir essas repreensões vindas de outros. Para um cristão a frase “a vida é minha e eu vivo do jeito que quiser” deveria ter morrido na cruz com Cristo.
NO AMOR – Este deve ser sempre o combustível de nossa conduta e do espírito com o qual nos comportamos em relação aos outros. Quando tudo deixar de existir permanecerá o amor, porque Deus é amor e este existia desde a eternidade. Que valor tem uma moeda que nunca desvaloriza? Assim é o amor.
NO ESPÍRITO – Este item falta nos melhores manuscritos, mas não custa falar de sua importância. Não se trata do Espírito Santo e nem do espírito do homem, mas de espírito no sentido de disposição ou humor. O entusiasmo com que vivemos e contagiamos os outros irá revelar o quanto estamos satisfeitos com Cristo. Muitos cristãos demonstram entusiasmo com futebol, música e relacionamentos, enquanto são apáticos para com as coisas de Deus. Você iria querer torcer para o time de seu colega se ele não estivesse nem aí com o resultado do jogo? Certamente não. Então como espera que seu colega irá se interessar pelo Evangelho quando nem você demonstra estar interessado?
NA FÉ – Fé e fidelidade andam juntas, pois nos falam de dependência e perseverança no Senhor. Fé também nos fala de sabermos esperar, uma qualidade que costuma não ser muito encontrada nos jovens, que são mais prontos a agir na energia da carne do que com base na paciência adquirida com a idade e a experiência.
NA PUREZA – A palavra aparece como “castidade” em algumas versões, e este é um ponto a ser observado por todo jovem cristão. Mas não são apenas nossas atitudes e modo de vida que devem ser puros, e sim os motivos que nos levam a agir da maneira como agimos. Esses motivos devem ser apenas um: a glória de Deus.
E para encerrar, não há nada como a Palavra de Deus para nos motivar a vivermos de modo a agradar a Deus:
“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus. Como também eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam salvar” (1 Co 10:31-33).
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Cl 3:12-17).
“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis. Mas quem fizer agravo receberá o agravo que fizer; pois não há acepção de pessoas” (Cl 3:24-26).
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O que fazer quando descubro
que agi errado?
Volte ao ponto em que se desviou e procure se humilhar reconhecendo seu engano. Muitas vezes na vida somos obrigados a fazer isso se quisermos recuperar nossa comunhão com Deus e voltar a dar um testemunho coerente com a fé que professamos. Às vezes teremos de engolir ofensas, baixar a cabeça e deixar o Senhor nos restaurar do jeito dele, e eventualmente tratar com aqueles que podem ter até contribuído para nossa queda.
Esta passagem de 2 Reis sempre me foi de ajuda em momentos assim: “E disseram os filhos dos profetas a Eliseu: Eis que o lugar em que habitamos diante da tua face, nos é estreito. Vamos, pois, até ao Jordão e tomemos de lá, cada um de nós, uma viga, e façamo-nos ali um lugar para habitar. E disse ele: Ide. E disse um: Serve-te de ires com os teus servos. E disse: Eu irei. E foi com eles; e, chegando eles ao Jordão, cortaram madeira. E sucedeu que, derrubando um deles uma viga, o ferro caiu na água; e clamou, e disse: Ai, meu senhor! ele era emprestado. E disse o homem de Deus: Onde caiu? E mostrando-lhe ele o lugar, cortou um pau, e o lançou ali, e fez flutuar o ferro. E disse: Levanta-o. Então ele estendeu a sua mão e o tomou” (2 Reis 6:1-7).
Os “filhos dos profetas” aparentemente não estavam satisfeitos com o que tinham recebido de Deus. Esses deviam ser discípulos que seguiam e auxiliavam um profeta em suas necessidades, aprendendo a extrair do profeta o máximo de ensino que pudessem, como era o caso aqui com Eliseu. Mas havia nestes um sentimento de insatisfação que os levou a desejar um lugar mais amplo.
Podemos às vezes ficar insatisfeitos com as limitações que o Senhor permitiu e querer buscar mais espaço, maior liberdade do que aquela que o Senhor nos concedeu. Você nunca desejou se livrar de pessoas e problemas que o cercam onde você está, seja em casa, no trabalho, na escola ou entre os irmãos? Eu também. É o desejo de um espaço mais amplo, como o de querer esticar os braços para os lados viajando horas em um carro pequeno.
Mas o que os “filhos dos profetas” não sabiam era que seriam incapazes de conseguir tal façanha, pois de si mesmos nada possuíam. Se tinham alguma coisa ou reputação era graças ao profeta que eles acompanhavam. Eliseu deixa que eles façam sua própria vontade e até vai junto com eles, como um pai que deseja ver até onde seu filho consegue chegar em sua busca por independência.
Você já deve ter feito isso quando seu filho pequeno teimou que iria conseguir pedalar sem as rodinhas de apoio. Você correu ao lado pronto para ampará-lo em seu tombo. E o tombo dos filhos dos profetas foi quando eles deixaram cair o machado emprestado num rio e ficaram desesperados. Correram pedir a ajuda do profeta.
O profeta pergunta: “Onde foi que caiu?”. Eles são obrigados a admitir que o que tinham nem deles era, mas emprestado, e precisam voltar até onde perderam o ferro do machado, do mesmo modo como José e Maria foram obrigados um dia a voltarem até o lugar onde tinham perdido o menino Jesus. Levaram um dia para perder e três dias para reencontrar.
“E, tendo ele já doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume do dia da festa. E, regressando eles, terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e não o soube José, nem sua mãe. Pensando, porém, eles que viria de companhia pelo caminho, andaram caminho de um dia, e procuravam-no entre os parentes e conhecidos; e, como o não encontrassem, voltaram a Jerusalém em busca dele. E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os” (Lc 2:42-46).
Um dia para perder e três para reencontrar. O reencontro é sempre mais demorado e custoso que a perda. Os filhos dos profetas levam Eliseu até o lugar onde tinham perdido o ferro do machado, ou seja, voltam ao ponto onde havia ocorrido o problema. Ali o profeta joga um pedaço de pau — um madeiro — na água, e o ferro do machado flutua. Aquilo era uma figura de Cristo, da aplicação da cruz de Cristo a uma situação de erro para sermos restaurados.
Devemos voltar ao problema, ao ponto onde nos desviamos por nos sentirmos confiantes de carregar nas mãos uma verdade que nem era nossa, mas emprestada. E depois de voltar a esse ponto em que perdemos a verdade emprestada, a solução é aplicar o madeiro, a cruz de Cristo, à situação. A cruz nos fala de humilhação e morte, e só conseguimos enxergar uma situação quando deixamos morrer nosso ego. Só então estamos prontos a ser restaurados.
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O “homem” com o qual Jacó lutou
era Deus ou um anjo?
A passagem de sua dúvida está em Gênesis 32 e nela há indícios claros de que Jacó tenha lutado com o próprio Senhor Jeová (que é como Jesus se apresentava no Antigo Testamento).
“Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um homem, até que a alva subiu. E vendo este que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando com ele. E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se não me abençoares. E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó. Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste. E Jacó lhe perguntou, e disse: Dá-me, peço-te, a saber o teu nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva” (Gn 32:24-30).
Obviamente ninguém jamais viu a Deus e jamais verá, pois ele “habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver” (1 Tm 6:16). Podemos vê-lo na face de Cristo, o qual é “o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa…. Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Hb 1:3; Cl 2:9). Portanto Jacó lutou com Deus, isto é, lutou com o Senhor Jesus na forma humana, que é o que significa “homem” na passagem.
O Senhor Jesus apareceu muitas vezes nas Escrituras, ora identificado como “homem”, ora como “o anjo”. Anjo significa mensageiro, e pode tanto se referir ao Senhor Jesus como a um anjo mesmo. Quando você encontrar “O anjo do Senhor” é o próprio Senhor em caráter de mensageiro aos homens. Quando encontrar “um anjo do Senhor”, aí é uma de suas criaturas angelicais. Veja algumas passagens em que o próprio Senhor apareceu como anjo:
“…na sua força lutou com Deus. Lutou com o anjo, e prevaleceu; chorou, e lhe suplicou; em Betel o achou, e ali falou conosco, sim, o Senhor, o Deus dos exércitos; o Senhor é o seu memorial” (Os 12:3-5).
“E o anjo do Senhor a achou [Agar] junto a uma fonte de água no deserto, junto à fonte no caminho de Sur” (Gn 16:7).
“Depois apareceu-lhe o Senhor nos carvalhais de Manre, estando ele assentado à porta da tenda, no calor do dia” (Gn 18:1).
“Mas o anjo do Senhor lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui” (Gn 22:11).
“E disseme o anjo de Deus em sonhos: Jacó! E eu disse: Eis-me aqui” (Gn 31:11).
“[Disse Jacó] O anjo que me livrou de todo o mal, abençoe estes rapazes, e seja chamado neles o meu nome, e o nome de meus pais Abraão e Isaque, e multipliquem-se como peixes, em multidão, no meio da terra” (Gn 48:16).
“E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia… Disse mais: eu sou o Deus de teu pai” (Êx 3:2-6).
“E a ira de Deus acendeu-se, porque ele se ia; e o anjo do Senhor pôs-se-lhe no caminho por adversário; e ele ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus servos com ele” (Nm 22:22).
Repare que você encontra ocasiões quando o Senhor envia um anjo para libertar seus discípulos, como nesta passagem em que é anjo mesmo, e não o Senhor em Pessoa:
“Mas de noite um anjo do Senhor abriu as portas da prisão e, tirando-os para fora, disse: Ide e apresentai-vos no templo, e dizei ao povo todas as palavras desta vida” (At 5:19-20).
Em outras ocasiões é o próprio Jesus apresentado como o anjo:
“E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta” (At 8:26). Considerando que esta passagem não traz o artigo “o” no original poderia ser interpretada de uma ou outra maneira, mas eu particularmente creio que tenha sido o Senhor quem enviou Filipe.
Já em Atos 12:7 a versão Almeida Corrigida traz “o anjo do Senhor” e a Almeida Atualizada “um anjo do Senhor”, o que parece ser o mais correto. Mas o importante é entender que o Senhor Jesus aparecia aos seus desde o Antigo Testamento assumindo a forma humana, mas não vindo em carne como ele veio somente nos evangelhos.
Desde então, ele não apenas está em “carne e ossos” — “Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lc 24:39) — ressuscitado e glorificado nos céus intercedendo pelos que são seus, mas também voltará em sua forma humana, como Homem de carne e ossos, condição essa que ele nunca mais deixará. E será como “Filho do Homem”, isto é, na forma humana, que irá julgar os perdidos que não poderão argumentar estar sendo julgados por algum ser espiritual etéreo que não saiba o que é ser homem. Ele sabe.
Antes que você me escreva perguntando como Jesus pode ser um Homem de “carne e ossos” hoje nos céus, já que o apóstolo Paulo disse que “carne e sangue” não entrariam nos céus, lembre-se de que Jesus não disse a Tomé que ressuscitou em “carne e sangue”, mas em “carne e ossos”. Paulo disse que “carne e sangue” não herdariam o reino, o que é completamente diferente. O sangue humano é o que garante sua vida aqui na terra, mas a vida que o salvo tem não é aquela que herdou de Adão. “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1:13). Por “carne e ossos” Jesus estava falando de seu corpo tangível e ressurreto em incorrupção. Por “carne e sangue” Paulo estava falando do corpo corruptível do ser humano descendente de Adão e caído no pecado, e explicava que este precisaria ser transformado em um corpo incorruptível à semelhança daquele que Jesus tem agora nos céus.
“O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial. E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção. Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados… Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade” (1 Co 15:47-51).
Hoje já somos parte do Corpo de Cristo que é a Igreja, e ele nos enxerga como “membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos” (Ef 5:30). Por isso ele disse a Saulo “Por que ME persegues?”, pois ao perseguir os cristãos Saulo perseguia o próprio Cristo. “Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1 Jo 3:2). Por isso “esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp 3:20-21).
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Um esquizofrênico está
possesso por demônios?
Um dos grandes males que o pentecostalismo ressuscitou das práticas de exorcismo da Idade Média é considerar qualquer comportamento fora do usual como possessão demoníaca. Inclua-se aí doenças e distúrbios mentais, que em algumas igrejas pentecostais são tratados como se fossem problemas espirituais. Não raro a pessoa que sofre de um distúrbio é submetida a vexames, espancamentos e, como aconteceu numa igreja pentecostal na Nicarágua, queimada na fogueira.
Esquizofrenia, assim como outras doenças mentais, não tem nada a ver com possessão demoníaca. Evidentemente demônios podem se apoderar de alguém nessa condição como pode fazê-lo com qualquer pessoa, exceto um verdadeiro salvo por Cristo. Este é habitação do Espírito Santo, que não permitirá que outro “inquilino” invada aquele corpo que passou a ser “templo do Espírito” quando foi selado pelo Espírito Santo da promessa.
“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1 Co 6:19-20). “Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?” (Tg 4:5).
Mas um esquizofrênico pode ser salvo? Sim, se ele tem entendimento suficiente para crer no Salvador, ainda que continue a apresentar sintomas da doença. É como qualquer outra pessoa, pois todos somos doentes em algum sentido neste nosso corpo combalido pelos efeitos do pecado. Por isso não desista de falar do Senhor e do evangelho da graça de Deus mesmo a alguém que aparente ter algum bloqueio para a realidade. Fale e deixe que o Espírito Santo faça o resto com a mensagem que entrar pelos ouvidos do outro.
Uma vez alguém me escreveu dizendo que o salvo não fica doente e eu perguntei a ele se tinha cáries, se usava óculos, se tinha alguma pinta na pele, se sofria de caspa, mau hálito, dores, queda de cabelos, problemas de audição… Tudo isso são doenças em diferentes formas, mesmo que algumas não nos matem ou façam sofrer. Em nossa boca há milhões de gérmens patogênicos que podem entrar em nossa corrente sanguínea e nos matar.
Pregar que o crente não fica mais doente é o mesmo que dizer que a ressurreição já aconteceu, um erro grave igual à gangrena que era pregado por Himeneu e Fileto. “E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns” (2 Tm 2:17-18). Portanto é um erro pensar que a saúde do corpo tenha algo a ver com salvação ou que uma doença ou distúrbio mental tenha algo a ver com possessão demoníaca.
Se você lê inglês poderá conhecer algo sobre doenças mentais sob uma perspectiva bíblica neste livro de um irmão do Canadá que é médico e hoje atua na obra do Senhor: “Mental Illness: A Scriptural Perspective of Mental Illness and Behavioral Disorders”, por William J. Prost. O livro é vendido em formato impresso na bibletruthpublishers.com e pode ser encontrado em português em formato e-book com o título “Doenças Mentais” no site acervodigitalcristao.com.br.
Paulo excluía mulheres das reuniões?
Seria absurdo pensar que o apóstolo Paulo excluísse a presença feminina das reuniões ao dizer que “as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja” (1 Co 14:34-35).
Juntar a isso a ordem dada em 1 Timóteo 2:12 — “não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio” — para afirmar que as irmãs não precisam estar nas reuniões é perverter o texto bíblico e ir além do que está escrito. A passagem de 1 Coríntios é para as reuniões da igreja ou assembleia, e a de 1 Timóteo é para todas as circunstâncias. Mas nenhuma delas está afirmando que mulheres não precisam participar das reuniões. Afinal, se Paulo escreveu que as mulheres devem permanecer caladas nas igrejas, como isso poderia acontecer se elas não estivessem nas igrejas?
Paulo não está desencorajando as irmãs de participarem das reuniões. A ordem é simplesmente que elas permaneçam caladas nas reuniões da assembleia, que não participem de forma audível com seu falar. Antes que me pergunte, falar é falar, cantar é cantar, e a ordem foi dada a respeito do falar, não do cantar. Portanto as irmãs cantam sim com toda a congregação, mas não ministram porque isso implicaria falar e eventualmente ensinar doutrina. A ordem é para que permaneçam caladas, mas não mortas e nem ausentes.
Uma irmã calada pode ser mais útil do que uma falando fora da ordem divina para a reunião dos santos. Ou até mais útil que um varão que tome a palavra movido pela carne ou para se promover. A mulher pode adorar em espírito mesmo calada, pode orar calada e, ao fazer isso, interceder pelos irmãos que ministram e interferir no rumo e resultados do ministério dos varões. Ela é como um soldado da retaguarda operando o carro de telecomunicações e garantindo que o batalhão da linha de frente permaneça conectado ao quartel general. Ela também pode fazer o papel do operador de radar.
Uma mulher sábia, ainda que calada na reunião, pode ser útil para perceber o clima da reunião e até detectar comportamentos reprováveis de varões. Mulheres têm um sentido apurado para perceber nuances de comportamento. Um irmão que viajava pelo mundo visitando assembleias, há alguns anos foi colocado fora de comunhão por introduzir, de forma sutil, doutrinas místicas e estranhas em seu ministério. Recentemente, quando eu relembrava o caso em conversa com uma irmã anciã, ela me disse: “A irmã Fulana foi a primeira pessoa que me alertou sobre o que ele estava fazendo, antes mesmo que os irmãos da assembleia detectassem o mal”.
Ainda que uma irmã não possa intervir diretamente e de forma audível nas reuniões da assembleia, ela pode levar suas impressões ao marido ou a um irmão responsável, caso seja solteira. Uma mulher calada nas reuniões, porém com um bom conhecimento das Escrituras, pode detectar erros no que está sendo ministrado. Priscila devia conhecer as Escrituras melhor que Áquila, seu marido, e talvez seja esta a razão de seu nome vir antes no auxílio dado a Apolo em Atos 18:25.
A passagem dá a entender que o discernimento de que Apolo não estava correto em seu ensino veio de Priscila e Áquila conjuntamente. Ali nós a vemos em seu lugar de submissão ao marido, não só detectando o equívoco do recém convertido Apolo, mas em sujeição a seu marido, auxiliando na exposição das Escrituras. “Ele [Apolo], começou a falar ousadamente na sinagoga. Ouvindo-o, porém, Priscila e Áquila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão, [Priscila e Áquila] lhe expuseram o caminho de Deus”.
É um erro terrível desestimular e desencorajar as irmãs só porque a ordem das reuniões da assembleia exige que guardem silêncio naquele momento em particular. Qualquer um sabe o quanto mulheres têm uma percepção aguçada das coisas e o tanto que muitas delas se empenham em oração, principalmente por serem mais sensíveis às necessidades e dificuldades da família e dos irmãos. Reparou que quem supria com seus bens as necessidades do Senhor eram mulheres? “Maria, chamada Madalena, … e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens” (Lc 8:2-3).
Pouco antes da formação da igreja encontramos os apóstolos e discípulos do Senhor reunidos e o Espírito fez questão de frisar a presença das mulheres. “ E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam, Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelador, e Judas, de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos” (At 1:13-14).
Em Atos 2, quando o Espírito Santo desceu, estavam TODOS reunidos e certamente as irmãs estavam ali também. Uma assembleia tem muito a perder quando perde de vista a importância das irmãs na manutenção do equilíbrio. Talvez devêssemos nos lembrar com maior frequência deste conselho de Deus a Abraão, que mostrava que naquele momento e circunstância Sara estava em melhor sintonia com os planos de Deus:
“Porém Deus disse a Abraão: Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua semente” (Gn 21:12).
Sempre que encontramos na Palavra de Deus uma ordem simples como a de 1 Coríntios 14 para que as irmãs permaneçam em silêncio durante as reuniões da igreja, surgem duas vertentes extremas: a dos que acham que aquilo era machismo e a dos que extrapolam o ensino e desprezam as mulheres proibindo que façam até aquilo que a Bíblia ensina claramente fazer parte do ministério delas. Além do episódio de Naamã, quando uma jovem serva é quem encaminha o grande general gentio a um profeta de Israel para ser curado, existe outro muito encorajador, e neste até o nome da menina é mencionado:
“Então, Pedro [que tinha acabado de ser milagrosamente liberto da prisão], caindo em si, disse: Agora, sei, verdadeiramente, que o Senhor enviou o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de toda a expectativa do povo judaico. Considerando ele a sua situação, resolveu ir à casa de Maria, mãe de João, cognominado Marcos, onde muitas pessoas estavam congregadas e oravam. Quando ele bateu ao postigo do portão, veio uma criada, chamada Rode, ver quem era; reconhecendo a voz de Pedro, tão alegre ficou, que nem o fez entrar, mas voltou correndo para anunciar que Pedro estava junto do portão. Eles lhe disseram: Estás louca. Ela, porém, persistia em afirmar que assim era. Então, disseram: É o seu anjo. Entretanto, Pedro continuava batendo; então, eles abriram, viram-no e ficaram atônitos” (At 12:11-16).
Faz lembrar a história da população de uma pequena aldeia de agricultores que enfrentava uma terrível seca. Num certo dia todos foram convocados a ir ao campo para orar a Deus por chuva. Entre eles foi uma garotinha levando sua sombrinha e suportando a zombaria dos outros. Será que ela não viu que não tinha uma nuvem no céu? Foi a única que voltou para casa com a roupa seca.
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Meu filho que tem paralisia cerebral
pode ser batizado?
Não vejo nenhuma restrição na Bíblia a você batizar seu filho, mesmo que ele não entenda por ter sofrido paralisia cerebral durante o parto. Eu batizei meu filho que tem paralisia cerebral, quando nós o adotamos aos quatro anos de idade. O batismo não salva, mas coloca a criança a salvo, no sentido de introduzi-la na esfera cristã. Quem não é batizado é pagão. O importante não é quem batiza ou onde a pessoa é batizada, mas a quem ela é batizada, isto é, a Cristo.
Leia Efésios 4:4-6 de trás para frente e, para entender, imagine que o texto esteja falando de três círculos da humanidade, A-B-C, um dentro do outro, como você se estivesse estudando a teoria dos conjuntos que aprendeu no ginásio:
A) “Um só Deus e Pai [no sentido de Criador] de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.” (Ef 4:6) — Este é o círculo ou conjunto maior da Criação que inclui pagãos, cristãos professos e cristãos salvos.
B) “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4:5) — Este círculo médio, dentro do maior, inclui todos os cristãos nominais e os salvos, mas não os pagãos. Pessoas que reconhecem que Cristo é Senhor, professam uma mesma fé cristã e foram batizados no batismo cristão.
C) “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação” (Ef 4:4) — Este círculo menor, dentro dos outros dois, inclui apenas os salvos por Cristo, pois são membros de seu Corpo e habitados pelo Espírito Santo.
O batismo tira a pessoa do círculo A da Criação e a coloca no B dos que levam sobre si o nome de Jesus, o que se recebe pelo batismo. Mas isto apenas não salva, a menos que a pessoa creia em Jesus como Salvador, o que a leva para o círculo C onde estão apenas os membros do corpo de Cristo, do qual ele é a Cabeça. O convertido passa a fazer parte do círculo C quando é salvo por Jesus.
Eu não quis deixar meus filhos entre os pagãos do círculo A e tratei logo de introduzi-los na esfera cristã, pois este é um princípio que encontro em figura ao longo das Escrituras e associado ao batismo. Será que Noé teria deixado para trás algum neto por ser criança ou sofrer de paralisia cerebral? No entanto aquela água toda que inundou o mundo era uma figura do batismo : “…quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água; que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo” (1 Pe 3:20).
Quando Moisés atravessou o mar será que deixou para trás crianças e deficientes? E a travessia do mar é figura do batismo. “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar. E todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar” (1 Co 10:1-2).
Antes que você retruque, NÃO, a Bíblia não ensina batismo de crianças, mas SIM, a Bíblia fala de batismo de famílias inteiras, e isso incluía até os servos ou escravos. “E, depois que [Lídia] foi batizada, ela e a sua casa … e logo [o carcereiro] foi batizado, ele e todos os seus… E batizei também a família de Estéfanas” (At 16:15, 33; 1 Co 1:16).
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Os judeus hoje adoram em verdade?
Não. Os judeus adoravam em verdade no passado, mas hoje não pois rejeitaram a Cristo. Quando a mulher samaritana disse a Jesus “vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar”, ele respondeu: “Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós [samaritanos] adorais o que não sabeis; nós [judeus] adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. A hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (Jo 4:20-23).
Os judeus adoravam em verdade, mas não em espírito. Se Jesus não reconhecesse como verdade o sistema de adoração do judaísmo até aquele ponto ele nunca teria dito aos leprosos curados: “Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes” (Lc 17:14). Nem teria ele incentivado o dízimo (Lc 11:42), que fazia parte das ordenanças da Lei. Também não teria expulsado os vendedores do Templo, que ele reconhecia como a casa de Deus. Tampouco teria dito a eles: “Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés. Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem” (Mt 23:2-3). Jesus não incentivaria seus discípulos a coadunarem com uma mentira. Ele teria descartado totalmente aquele sistema de adoração, como acabou fazendo mais tarde culminando com a destruição do Templo.
Mas ali tudo estava para mudar, portanto é um erro sim dizer que hoje os judeus adoram em verdade, por mais que sigam as ordenanças da Lei (o que nem sequer conseguem fazer corretamente, pois já não têm um Templo e nem sacerdotes e nem sacrifícios). Hoje para adorar “em espírito e em verdade” é preciso, primeiro, ser um “verdadeiro adorador”, como Jesus chamou. E como alguém se torna um verdadeiro adorador?
W. T. P. Wolston define assim:
“Não existe uma adoração verdadeira a menos que conheçamos a Deus Pai como Ele foi revelado no Filho; somos dependentes exclusivamente do Filho, o Senhor Jesus, para o conhecimento do Pai. “A hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai.” Mas quem são os verdadeiros adoradores?’ — você pergunta. Ninguém é um verdadeiro adorador a menos que seja capaz de assumir o seu lugar de forma consciente em um relacionamento com o Pai, conforme revelado no Filho, pelo Espírito do Filho habitando nele.
‘Essa é uma afirmação mais abrangente’ — você dirá. Não nego isso. Você negaria? Apenas lhe pergunto: Você sabe o que é adoração? Talvez você responda, ‘Pensei que fosse uma ação de graças.’ De modo nenhum. A ação de graças é algo correto e muito abençoado de se fazer. É ótimo dar graças, mas graças são dadas por benefícios recebidos. Será isso adoração?
Quando você chega em casa após uma ausência de alguns dias, e ao entrar em sua casa o seu cão vem saltando ao seu encontro, correndo em volta de você, e mostrando a sua profunda alegria por seu retorno, seria isso ação de graças? Não. Você não deu nada a ele, para que em troca lhe dê graças. Então o que é? É o deleite daquela criatura em você. Isto é adoração. A adoração é o transbordar do coração para com aquele que o encanta e o preenche. Se assim posso colocá-lo, é o transbordamento do copo cheio. O coração, quando preenchido pelo sentimento do que Deus é, revelado pela mais pura graça como o Pai na Pessoa do seu Filho, transborda em adoração.
Portanto, para ser um verdadeiro adorador você não só deve ser nascido do Espírito de Deus, e assim ter uma natureza que se deleita em Deus, mas precisa possuir também o Espírito Santo habitando em você no poder de relacionamento e alegria, por meio do que esta adoração flui para Deus, o Pai.
Observe com atenção que o Senhor fala aqui de “verdadeiros adoradores”. Isto não é uma questão de forma. Você pode ter tudo o que a mente mais estética poderia desejar: um edifício adequado, parafernália sacerdotal pomposa, atmosfera permeada de incenso, vitrais coloridos criando uma atmosfera religiosa, música em perfeição e todo um ritual, e ainda assim — ah! que pensamento solene este para milhões de professos da cristandade! — ser totalmente desprovido de tudo o que é necessário você ser para que o Senhor o chame de ‘verdadeiro adorador’. Que ninguém se engane. A menos que você seja nascido de Deus, e tenha a consciência desse relacionamento pela habitação do Espírito de Deus, você não possui a capacidade para a verdadeira adoração. — “Verdadeiros Adoradores” – W. T. P. Wolston.
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Quem foi Diótrefes?
Não temos muita informação sobre Diótrefes, citado por João em sua terceira e breve epístola. O que temos são estas palavras: “Diótrefes, que gosta de exercer a primazia entre eles, não nos dá acolhida. Por isso, se eu for aí, far-lhe-ei lembradas as obras que ele pratica, proferindo contra nós palavras maliciosas. E, não satisfeito com estas coisas, nem ele mesmo acolhe os irmãos, como impede os que querem recebê-los e os expulsa da igreja” (3 Jo 1:9-10).
O nome “Diótrefes” significa “alimentado por Júpiter”, o que não deixa de ser interessante, considerando que Júpiter é o maior planeta do sistema solar e na mitologia era considerado o deus dos céus e dos trovões, além de rei dos deuses. Do pouco que João fala dele é possível perceber que era alguém que queria para si o pedestal, um homem ambicioso, orgulhoso, rebelde, nada hospitaleiro e que não respeitava a autoridade apostólica, o que equivalia a não aceitar a autoridade do Senhor na assembleia.
Os apóstolos (que já não existem) eram delegados diretos do Senhor. Diótrefes não apenas deixava de acolher os irmãos — ou acolhia só quem se submetesse a ele —, mas expulsava os que demonstrassem hospitalidade. Tudo isso pode ser resumido em poucas palavras: Diótrefes era um clérigo ditador.
Nas epístolas dos apóstolos encontramos diferentes situações que naquele momento eram apenas embriões de problemas maiores que acabariam por fincar o pé na cristandade ao longo dos séculos. Paulo repreendeu os irmãos de Corinto por estarem nutrindo preferências por irmãos, como se desejassem criar partidos seguindo a diferentes líderes. O nome que o apóstolo deu a isso foi “carnalidade”. Portanto, alguns “Diótrefes” da cristandade surgiram porque os próprios cristãos queriam ter uma canga sobre o pescoço e alguém que lhes ordenasse o que fazer, ao invés de se deixarem guiar pelo Espírito. A situação é parecida com a de Israel quando pediu um rei, desprezando a direção de Deus por meio dos profetas. Aos Coríntios Paulo escreveu:
“Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer. Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?… Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um?” (1 Co 1:10-13; 3:3-5).
Em outra epístola o apóstolo alerta os Gálatas contra alguns judaizantes que pregavam um evangelho de boas obras para colocá-los debaixo do jugo da lei. Os coríntios queriam andar “segundo os homens”, os gálatas “segundo a Lei”. Paulo chamou a isso de “outro evangelho” e o chamou de “anátema” ou “maldito”. Sempre que tiramos o Senhor como o centro de nossas atenções e o Espírito Santo como nosso dirigente precisamos colocar algo no lugar, ou homens ou regras.
“Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema… E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós” (Gl 1:6-8; 2:4-5).
Antes de sua partida, Paulo alertou os anciãos de Éfeso a respeito dos lobos que tentariam entrar no rebanho para destruí-lo, uma ameaça externa como sempre houve no cristianismo. Mas alertou também de homens dentre eles próprios que iriam querer atrair discípulos torcendo o significado das Escrituras: “Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; e que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si” (At 20:29-30).
Partidarismo, legalismo e clericalismo seriam alguns dos perigos que viriam sobre o testemunho de Deus na terra, e em nossos dias basta olhar em redor para ver que tudo isso permeia a cristandade. “Diótrefes, que procura ter entre eles o primado” é a personificação de tudo isso. Ele arrebanha os que concordam com ele e exclui os que discordam; acrescenta uma certa dose de legalismo julgando as coisas segundo um padrão que é seu, pois rejeita aqueles que os irmãos consideravam aptos à comunhão, “não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja”. Diótrefes ali representava o embrião do clericalismo que tomou conta da cristandade e a tornou mais parecida com o judaísmo, guardado pelos muros da Lei como em um redil, do que com o cristianismo, onde Cristo no centro de todos é o que distingue sua unidade.
Para Diótrefes poder agir livremente ele precisa suprimir a autoridade do Senhor dada à Igreja. Ele precisa também desprezar a autoridade apostólica, naquele tempo em pessoa, em nossos tempos legada pela sã doutrina nas epístolas. Fazendo assim ele assume um lugar de preeminência sobre a assembleia, extinguindo a ação do Espírito que deseja usar, não apenas um homem, mas quem o Espírito Santo quiser. Sim, Diótrefes é aquele que impede a liberdade do ministério cristão, um bombeiro pronto a “extinguir o Espírito” (1 Ts 5:19). Tudo precisa estar centrado nele e ser feito conforme a sua vontade e determinação. O clericalismo de Diótrefes resiste à ação do Espírito e coloca completamente de lado a ordem estabelecida por Deus para o funcionamento da assembleia local.
O apóstolo João critica duramente Diótrefes e seu comportamento com estas palavras: “Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja” (3 Jo 1:10). João diz isso particularmente a Gaio porque aparentemente já tinha enviado uma carta à assembleia, mas ela teria sido interceptada por Diótrefes. “Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe” (3 Jo 1:9). Não há como se comunicar com uma assembleia onde há um Diótrefes, por isso a ação do apóstolo terá de ser em pessoa, algo temeroso se nos lembrarmos do poder dos apóstolos em julgar casos como o de Ananias e Safira.
Eu não diria que todo clérigo ou ministro ordenado na cristandade institucional tenha esse espírito de Diótrefes. Existem muitos que estão sinceramente interessados na glória do Senhor e empenhados em apascentar as ovelhas de Cristo. Por desconhecerem algumas verdades vivem dentro de seus sistemas religiosos, sujeitando-se às normas e dogmas ditados por um governo central, e sem desfrutarem plenamente da liberdade do Espírito em suas reuniões ou permitir que outros desfrutem. Também perdem de vista a importância que Deus dá ao Nome de Cristo como único centro de reunião, e ao Espírito como único Dirigente do ministério múltiplo praticado entre os santos.
O que aprendemos da menção feita a Diótrefes na carta de João é que todo aquele que ocupa esta posição ministerial de preeminência está em direta oposição ao propósito da Palavra de Deus. Diótrefes não pode manter tal posição e ao mesmo tempo ser receptivo para com os irmãos. Tampouco pode um clérigo ou ministro manter sua posição e ao mesmo tempo receber os irmãos como dons de Cristo para serem usados pelo Espírito Santo na igreja com a liberdade que este quer. “Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados” (1 Co 14:31).
Um Diótrefes eventualmente irá aprovar e autorizar algo ou o ministério de algum irmão, mas fará isso no mesmo espírito do Vaticano com seu “Imprimatur” ou autorização de impressão. Quem estudou a história do Brasil a fundo descobriu que até uma certa época os livros só podiam ser publicados se autorizados pelo Vaticano. Desde a Inquisição os países católicos eram submetidos ao “Índex”, uma lista de livros proibidos de circular. Isso foi extinto só em 1966. Antes do “Imprimatur”, que era dado por um bispo, o livro passava por diferentes censores que davam o “Nihil obstat” (‘nada contra’), o “Imprimi potest” (‘pode ser impresso’) e, finalmente, o “Imprimatur”. Isso nada mais era que a famosa “carteirada” que alguns clérigos até hoje usam para impor sua autoridade ou candidamente manterem seus seguidores sob controle “aprovando” o que estão lendo.
Uma visão ampla desta terceira epístola de João nos mostra mais do que os poucos versículos que falam diretamente de Diótrefes. Ao falar de Gaio, e de como ele andava na verdade, e do testemunho que os irmãos davam acerca dele, e também de Demétrio, de quem todos davam testemunho, “até a mesma Verdade” (3 Jo 1:12), o apóstolo lança a luz de um potente farol sobre a assembleia que, por contraste, acaba revelando ainda mais a região de trevas que cercava Diótrefes e eventualmente seus simpatizantes.
De Gaio o apóstolo diz: “Procedes fielmente em tudo o que fazes para com os irmãos, e para com os estranhos, que em presença da igreja testificaram do teu amor” (3 Jo 1:15). Isto demonstra não apenas os atos de amor de Gaio para com os irmãos e os visitantes ou novatos — chamados aqui de “estranhos” — mas apresenta um contraste com o modo de proceder de Diótrefes e sua falta de hospitalidade, não só para com os irmãos, mas para com os que se aproximam da assembleia interessados na verdade. Diótrefes não gosta de concorrência.
Outra característica da impiedade de Diótrefes você encontra embutida no que João fala no versículo 10: “Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas”. A expressão “palavras maliciosas” é o que hoje costumamos chamar de “fofoca”, qualquer tipo de comentário depreciativo para rebaixar ou denegrir um irmão. Quem não consegue ser alguém, precisa desqualificar quem é. Um Diótrefes que não quer competição nem sequer dos apóstolos do Senhor precisa inventar ou distorcer fatos para permanecer na preeminência de seu pedestal. Diótrefes se agarra ao cajado e sente ciúme daquilo que considera seu; não deixa ninguém se aproximar. Se você conhece o meio religioso hoje, sabe o quanto um clérigo se comporta assim quando se sente ameaçado.
Paulo descreve bem o tipo em sua Segunda Epístola a Timóteo, e é bom lembrar que o capítulo 3 da segunda carta continua o assunto do capítulo 2, que fala da “grande casa” da cristandade professa. O apóstolo descreve assim os homens que tomariam de assalto a cristandade e fincariam bandeira de líderes para dominar sobre os demais irmãos, aos quais chamariam de “leigos”:
“Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te” (2 Tm 2:2-5).
Quão contrária é a atitude de Diótrefes quando comparada ao ensino do Senhor aos seus discípulos! “Sabeis que os que julgam ser príncipes dos gentios, deles se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas; mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal; e qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10:42-45).
Se pudesse resumir o assunto das duas últimas epístolas de João, eu diria que em ambas o assunto é a verdade. Em 2 João ele fala do cuidado de não receber aqueles que não trazem a verdade, que negam as doutrinas cardeais acerca da Pessoa de Cristo e sua divindade. Em 3 João ele fala de receber os que trazem a verdade. Comparando com o último discurso de Paulo aos anciãos de Éfeso em Atos 20:29-30, poderíamos pensar na segunda epístola como um alerta contra os lobos que querem destruir o rebanho, e a terceira contra os que buscam exercer a primazia e roubar para si o rebanho.
Em ambas João se apresenta como “presbítero” (2 Jo 1:1; 3 Jo 1:1), palavra que significa “supervisor” ou “zelador”, provavelmente por estar escrevendo no caráter de alguém que zela pelo rebanho. Afinal, lembre-se de que sua tentativa de escrever à assembleia na qualidade de apóstolo foi frustrada pelo próprio Diótrefes. Mas sabemos que os bispos ou presbíteros não eram ofícios universais, como são os dons, mas apenas locais. Por isso, quando ele diz que iria tratar pessoalmente com Diótrefes, isso certamente não seria no caráter de presbítero, mas de apóstolo, um dom universal e reservado àqueles que haviam andado com o Senhor antes e depois da ressurreição.
Um apóstolo tinha uma autoridade e poder que nenhum cristão hoje tem. Ele podia entregar a Satanás, para a destruição da carne, o irmão que estivesse em pecado grave. Pedro fez isso com Ananias e Safira; Paulo indicou essa solução para o homem de 1 Coríntios 5:5. Também entregou a Satanás para que fossem mortos Himeneu e Alexandre (1 Tm 1:20), provavelmente em razão da má doutrina que estavam disseminando, talvez esta também com Fileto: “os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns” (2 Tm 2:18). E isto nos leva à seguinte questão: o que fazer com um Diótrefes quando se levanta numa assembleia de irmãos em uma época quando não existe um apóstolo para cuidar do caso?
Uma das coisas importantes que aprendemos quando passamos a congregar ao nome do Senhor é que uma assembleia não interfere nas questões de outra, pois a presença do Senhor no meio e do Espírito dirigindo são suficientes. Eventualmente irmãos podem ser individualmente convidados a ajudar quando solicitados. Temos convicção de que o Senhor é capaz de resolver as questões que surgem numa assembleia porque ele é Cabeça da assembleia e está acima de tudo, até dos que insistem em tomar a liderança, como Diótrefes. Quando isso acontece, a assembleia deve apelar diretamente ao Senhor. Se nos tempos apostólicos existia esse dom universal de apóstolo, que não estava limitado a agir dentro da esfera de apenas uma assembleia, hoje não existe uma instância superior à qual apelar, além do Senhor.
Quando você lê a terceira epístola percebe que João não manda os irmãos tomarem alguma iniciativa. Ali ele exorta os irmãos a aguardarem até que ele fosse lá ver o que devia fazer. Não temos um apóstolo hoje, mas temos o mesmo Senhor que usava os apóstolos e ele certamente está ciente de tudo o que acontece numa assembleia onde um Diótrefes intercepta a Palavra inspirada através dos apóstolos e finca seu estandarte de posse.
A assembleia não deve agir fora do que está nas Escrituras. Sabemos como a assembleia deve agir no caso de um pecado moral, como o de 1 Coríntios 5 para o qual devia agir colocando fora de comunhão o culpado. O mesmo capítulo nos dá pistas de outros pecados que podem estar sujeitos a uma ação disciplinar da assembleia, apesar de não ser uma lista conclusiva: “Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais” (1 Co 5:11). Destes pecados talvez o único que poderia caber em Diótrefes seria o de “maldizente”.
Mas aí vem um problema: como agir de forma disciplinar contra uma pessoa que sequestrou para si a assembleia? Diótrefes devia ter simpatizantes e qualquer tipo de enfrentamento acabaria por causar uma divisão na assembleia. Quando temos uma situação bem detalhada, como esta de Diótrefes, mas nenhuma solução apresentada pela Palavra, o melhor é fazer como Gaio e Demétrios estavam fazendo: simplesmente andando na verdade e aguardando uma intervenção apostólica. A Verdade, na qual eles andavam prevaleceria. O antídoto era agir exatamente de maneira oposta a Diótrefes, e nisso Gaio é parabenizado:
“Porque muito me alegrei quando os irmãos vieram, e testificaram da tua verdade, como tu andas na verdade. Não tenho maior gozo do que este, o de ouvir que os meus filhos andam na verdade. Amado, procedes fielmente em tudo o que fazes para com os irmãos, e para com os estranhos, que em presença da igreja testificaram do teu amor; aos quais, se conduzires como é digno para com Deus, bem farás; porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios. Portanto, aos tais devemos receber, para que sejamos cooperadores da verdade” (3 Jo 1:3-8).
Como hoje não temos apóstolos para uma intervenção direta, devemos aguardar uma intervenção direta do Senhor. Se alguém tenta tomar as rédeas da situação sempre corre o risco de atropelar as coisas e atrapalhar a ação do Espírito Santo de Deus, principalmente por não poder fundamentar sua ação em uma, digamos assim, “jurisprudência bíblica”. Tudo o que se pode fazer é orar e sentir pena daquele que assumiu o controle dos irmãos, pois lá na frente terá de tratar com o Senhor da assembleia.
Quando oramos entregamos nas mãos do Senhor e descansamos nele. Se de um lado existe alguém agarrando a assembleia como se fosse sua, de outro não pode haver quem se sinta pessoalmente ofendido com isso, ou também estará tentando lidar com o assunto como se fosse dono da assembleia. Agir como mera reação ao mal pode nos colocar fazendo a mesma força do oponente, só que em sentido contrário. “Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz o bem é de Deus; mas quem faz o mal não tem visto a Deus” (3 Jo 1:11).
Judas, em sua epístola, nos fala da “contradição” ou “revolta de Coré” (Jd 1:11). Ao ler o capítulo 16 de Números você encontra Coré, com Datã e Abirão, questionando a liderança de Moisés e o sacerdócio de Aarão. Ele queria usurpar o lugar de autoridade e intercessão sacerdotal instituídos por Deus, representado ali por Aarão e Moisés, tornando-se um intermediário não autorizado entre Deus e os homens. Em certo sentido é o que Diótrefes tenta fazer ao desafiar a autoridade apostólica.
Hoje não temos Moisés, Aarão ou um dos apóstolos para lidar com quem sequestra a autoridade do Senhor na assembleia, mas temos a Cristo. Qualquer homem que se coloque como intermediário entre Deus e os homens está agindo como Coré e seus seguidores, que tiveram um fim terrível.
“A terra que estava debaixo deles se fendeu. E a terra abriu a sua boca, e os tragou com as suas casas, como também a todos os homens que pertenciam a Coré, e a todos os seus bens. E eles e tudo o que era seu desceram vivos ao abismo, e a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação. E todo o Israel, que estava ao redor deles, fugiu ao clamor deles; porque diziam: Para que não nos trague a terra também a nós” (Nm 16:31-34).
Hoje estamos no dia da graça e não devemos esperar uma solução tão dramática como aquela, com a terra literalmente se abrindo sob os pés de um Diótrefes que queira usurpar o domínio. Mesmo naquele tempo em que Deus agia com notório rigor ele também agia em graça, pois mais tarde encontramos os descendentes de Coré entre os salmistas que Deus levantou para o louvor no culto a Deus. Mas certamente Deus fará aquele que se coloca como um Diótrefes “perder o chão”, como costumamos dizer, recebendo diretamente de Deus a disciplina por sua pretensão. Enquanto isso Gaio e Demétrios apenas aguardam em temor e oração pelo tempo de Deus.
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Bruxaria, macumba e feitiçaria funcionam?
Trabalhei numa empresa onde a secretária que dava suporte ao meu setor era “Mãe de Santo” e dona de uma loja de artigos de religiões afro-brasileiras. Conversávamos bastante, eu falando do evangelho, ela explicando como funcionavam seus “trabalhos”. Um dia ela até me pediu conselho do que dizer a um amigo que queria se suicidar.
Talvez tenha funcionado em parte o que falei para ela passar ao amigo, pois não tive notícia de sua morte, mas também não tive notícia de sua conversão.
Não sou nenhum especialista em religiões espíritas, sejam as consideradas “do bem” ou as “do mal”. No fundo todas elas têm uma mesma origem, os “principados e potestades… os dominadores deste mundo tenebroso… as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6:12). Aquela secretária me explicou que essas feitiçarias realmente aconteciam e tinham poder, e acredito nisso.
Segundo ela, os trabalhos geralmente eram feitos para agradar os demônios ou aplacar sua ira, a fim de deixar o fiel dessas religiões sossegado ou ganhar benefícios como saúde, sorte no amor e prosperidade. Hoje alguns chamados cristãos fazem “trabalhos” e oferendas — azeite, sal, velas, lenços, incenso, etc. — visando as mesmas coisas. Mas a secretária explicou que também eram feitos trabalhos para prejudicar alguém, seja no sentido de conseguir tirar da outra pessoa essas coisas, ou simplesmente eliminar alguma competição.
Quando você estuda história da humanidade, aprende que boa parte da informação que temos dos povos do passado é por causa de seus cultos a demônios. Templos, ídolos, objetos estão espalhados pelos sítios arqueológicos, museus e universidades denunciando o quanto o ser humano é idólatra e adorador de demônios. Quando Deus separou Israel para ser seu povo particular, deu a eles a Lei e deixou claro que deveriam ser distintos dos outros povos, que ofereciam “os seus sacrifícios aos demônios, com os quais eles se prostituem” (Lv 17:7).
A idolatria é vista como prostituição, pois aquele que a pratica, ao invés de buscar a Deus, está se vendendo ao diabo em troca de algum benefício. A doutrina dos apóstolos é bem clara em condenar a idolatria, e Paulo explica “que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios” (1 Co 10:20).
No livro de Êxodo temos uma gama de trabalhos realizados com poder satânico pela magia dos magos de Faraó. Do capítulo 7 ao 12 os magos repetem todos os sinais de Deus, exceto aquele que exigia poder para criar vida, transformar o pó em piolhos. Criar vida a partir do pó da morte é um poder que só Deus possui. “E fizeram assim; e Arão estendeu a sua mão com a sua vara, e feriu o pó da terra, e havia muitos piolhos nos homens e no gado; todo o pó da terra se tornou em piolhos em toda a terra do Egito. E os magos fizeram também assim com os seus encantamentos para produzir piolhos, mas não puderam” (Êx 8:17-18).
Não sei como a popularidade de Faraó e seus magos podia ter continuado depois de tudo aquilo, porque eles em nada beneficiaram o povo do Egito. Ao repetir as pragas enviadas por Deus através de Moisés. os magos só multiplicavam o sofrimento dos egípcios. Imagine um país que tem sua principal cidade bombardeada pelo inimigo e metade dela é destruída. Aí o governo do país atacado, para não ficar por baixo, decide mostrar que possui o mesmo poder e simplesmente destrói o que sobrou da cidade. Faz sentido? É claro que não, mas apesar de seus ‘modus operandi’ Satanás continua tendo uma grande torcida espalhada pelo mundo. O que a maioria não sabe é que ele e seus asseclas jogam com camisas de diferentes times, mas por baixo é sempre o mesmo.
Alguns cristãos acreditam que o diabo tenha poder de fazer coisas incríveis, mas sempre no sentido de fazer o mal, nunca o bem. Agarrando-se a esta frágil interpretação e dizendo que não existe nenhuma cura na Bíblia operada por Satanás, acabam se colocando ingenuamente nas mãos de demônios, caso estes manifestem algum poder de curar, como se aquilo viesse de Deus. Esses cristãos, geralmente pentecostais, se esquecem de um detalhe: uma cura não precisa ser necessariamente um bem. Se Hitler tivesse sido milagrosamente curado de um tiro na testa antes de começar sua escalada genocida, acaso a cura teria sido para o bem ou para o mal? Mas existe sim cura feita pelo poder do diabo. Veja em Apocalipse:
“E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio. E vi uma das suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou após a besta… E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão. E exerce todo o poder da primeira besta na sua presença, e faz que a terra e os que nela habitam adorem a primeira besta, cuja chaga mortal fora curada. E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens. E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia” (Ap 13:2-3, 11-14).
Seria ingenuidade achar que Satanás, que foi capaz de transportar Jesus fisicamente do deserto a um alto monte e ao pináculo do templo de Jerusalém, fosse incapaz de curar quando isto pudesse servir a seus intentos de desviar o olhar das pessoas de Cristo para mantê-las ocupadas com sinais. Muitos dos que seguiam a Cristo estavam meramente interessados em seus milagres, e seriam os mesmos que mais tarde gritariam “Crucifica! Crucifica!”. “Muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. “Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia” (Jo 2:23-24).
Hoje multidões lotam as chamadas “igrejas” de pregadores de milagres e prosperidade, ávidas por assistir ou obter alguma cura ou sinal. Não é a Cristo que buscam, e sim sinais e poderes miraculosos. Boa parte dessa gente está sendo treinada e preparada para aplaudir aquele que fará descer fogo “do céu à terra, à vista dos homens” para enganar “os que habitam na terra com sinais”. Muito do que existe por aí chamado de “culto cristão” nada mais é do que um ensaio do que será o fã clube do anticristo.
Os “trabalhos” de feitiçaria, que foram a razão de sua dúvida, não podem atingir um salvo por Cristo, a não ser que Deus permita como forma de ensinar-lhe alguma lição. Às vezes nos esquecemos de que Satanás e suas hostes, mesmo sendo seres caídos, continuam obrigados a obedecer a Deus. Não existe coisa alguma no Universo que possa resistir ao poder e autoridade do Senhor. Por isso diz na passagem de Apocalipse que o anticristo irá enganar “com sinais que lhe foi permitido que fizesse”. Sem a permissão de Deus ele não poderia mover uma palha.
Antes que me pergunte qual a razão de Deus permitir que o diabo faça o mal, a resposta é simples: Deus é Deus e tem propósitos e desígnios que desconhecemos. Seu filho de dois anos entende tudo o que você faz? Não. Adianta explicar para ele? Não, porque existem coisas que estão além de sua compreensão. Então entenda que Deus é soberano e não adianta alguma de suas criaturas — homens ou anjos — resmungar, protestar ou espernear, que Deus continuará sendo Deus.
O diabo teve permissão de Deus para tocar em Jó e em tudo o que tinha, exceto matá-lo, como você pode aprender dos primeiros dois capítulos daquele livro. Ao longo de todos os outros capítulos, vemos um Jó confuso e desapontado com tudo que veio sobre si porque não sabia a quem atribuir todo aquele mal. Afinal, ele nunca leu os dois primeiros capítulos de seu próprio livro para saber que Deus tinha permitido que o diabo fosse um instrumento para o bem de Jó. No final ele aprendeu a lição que precisava aprender e Deus subiu em seu conceito: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado… Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia… Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42:2-5).
Se alguém perguntasse a Jó se estaria disposto a passar por tudo aquilo outra vez, ele certamente diria que sim. Pedro explica como funciona: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo, em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas” (1 Pe 1:3-9).
Outro que vemos afligido por um espírito maligno enviado por Deus para este propósito foi o Rei Saul. “E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do Senhor. Então os criados de Saul lhe disseram: Eis que agora o espírito mau da parte de Deus te atormenta” (1 Sm 16:14-15). Lembre-se de que nessa época ainda não existia a Igreja, fundada em Atos 2, e as pessoas não eram seladas e habitadas permanentemente pelo Espírito Santo, como são hoje os salvos por Cristo. Deus colocou temporariamente o seu Espírito em Saul para capacitá-lo a reinar, mas em função de sua desobediência e rebelião, “o Espírito do Senhor se retirou de Saul” e foi substituído por um espírito maligno por ordem de Deus.
Esta possibilidade existe para um crente hoje? Não de perder o Espírito Santo ou ser possuído por um espírito maligno, pois o Senhor prometeu: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (Jo 14:16). Mas um crente pode perder a vida por ação de Satanás, o chamado “pecado para morte” (1 Jo 5:16), “para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5:5).
Um crente também pode ser influenciado pelo diabo ou por espíritos malignos quando isso for necessário para ser disciplinado. Vemos isso claramente quando Pedro falou algo que não vinha de si mesmo, mas de Satanás, e foi repreendido por Jesus: “[Jesus] voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (Mt 16:23).
Deus usou Satanás para colocar um espinho na carne de Paulo, provavelmente uma doença crônica, para afligi-lo e não deixar que se orgulhasse das revelações que havia recebido. Se não fosse por essa permissão de Deus para que sofresse nas mãos do diabo, o apóstolo jamais teria aprendido lições tão importantes, como humildade e o valor da fraqueza própria, além da importância de orações não respondidas. Ele próprio escreve:
“E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disseme: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte” (2 Co 12:7-10).
Com base no que poderia ter acontecido ao homem de 1 Coríntios 5, podemos deduzir que Deus permitiu ao diabo matar Ananias e Safira por mentirem ao Espírito Santo. Pedro lhe diz: “Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade?… Não mentiste aos homens, mas a Deus. E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou… E, passando um espaço quase de três horas, entrou também sua mulher, não sabendo o que havia acontecido… Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor?… E logo caiu aos seus pés, e expirou. E, entrando os moços, acharam-na morta, e a sepultaram junto de seu marido” (A 5:7-10).
O mesmo pode ter acontecido com Himeneu e Fileto por pregarem má doutrina. Paulo escreve: “E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (1 Tm 1:20). O homem de 1 Coríntios 5, que estava vivendo em pecado não julgado por si e pela assembleia de Corinto, teria tido o mesmo destino se não tivesse se arrependido em 2 Coríntios.
Na primeira carta Paulo escreve que ele “seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5:5). Porém na segunda carta temos uma pista de que ele possa ter se convertido e o apóstolo intercede por ele para que os irmãos não cometam excesso no rigor da disciplina: “Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos. Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor” (2 Co 5-8).
Em Corinto muitos tinham morrido ou estavam doentes por causa de pecado não julgado. “O que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1 Co 11:29-32). Aí não diz diretamente que o instrumento dessas mortes e enfermidades tivesse sido Satanás, mas já vimos que Deus pode utilizá-lo para cumprir seus propósitos de disciplina.
O poder que Pilatos tinha para julgar e condenar a Jesus vinha de Deus: “Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar? Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado”. Todavia, ainda que Deus possa usar o diabo para cumprir seus propósitos, a responsabilidade daqueles que se colocam a serviço do mal permanece, por isso Jesus completa: “Mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem”. Até mesmo Pilatos foi colocado diante do dilema entre exercer o poder de governar que tinha recebido de Deus, ou fazer a vontade do povo para ficar bem aos olhos dos homens: “Desde então Pilatos procurava soltá-lo; mas os judeus clamavam, dizendo: Se soltas este, não és amigo de César; qualquer que se faz rei é contra César” (Jo 19:10-12). Para sua desgraça Pilatos preferiu agradar ao povo.
O uso mais emblemático de Satanás que encontramos na Bíblia foi quando Judas saiu para trair Jesus antes que os outros onze desfrutassem da ceia do Senhor que seria instituída nessa ocasião. O pão, provavelmente molhado no molho de carne de cordeiro conforme o costume judaico na refeição da Páscoa, seria o sinal de Jesus: “E, molhando o bocado, o deu a Judas Iscariotes, filho de Simão. E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa… E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite” (Jo 13:26-30).
Resumindo tudo isso, bruxaria, feitiçaria, macumba e outras coisas do tipo podem sim ter efeito porque Satanás tem poder e seus anjos e demônios também. Todavia nenhum poder pode ser aplicado contra o salvo por Cristo, que é habitado pelo Espírito Santo, a não ser quando Deus quiser ensinar algo àquele filho seu, ou aos que o cercam para servir de testemunho. Qualquer que seja a situação, o objetivo final de Deus é de bênção. Infelizmente para Saul, que perdeu a influência do Espírito de Deus para ganhar uma influência demoníaca, não parece ter sido de bênção, a menos que tenha se arrependido no final, antes de ser morto pelo soldado após sua frustrada tentativa de suicídio (2 Samuel 1).
Por tudo isso o salvo por Cristo jamais deveria temer feitiços e “trabalhos” feitos com o poder do diabo, porque antes de serem efetivos eles precisam passar pela aprovação de Deus. E se Deus permitir, isso será para bênção, nunca maldição. Para Jó todo o sofrimento foi de bênção, e até os filhos que perdeu ele reencontrou no céu. Para todo o gado e os bens que perdeu pela ação do diabo, Jó recebeu o dobro no final, mas para os filhos não. Ele teve o mesmo número de filhos que tinham morrido, um sinal de que seus primeiros filhos teriam sido salvos e no cômputo final de filhos ele iria reencontrá-los em dobro no céu. Pedro, Paulo e muitos outros, que passaram um cortado nas mãos do diabo por permissão de Deus, estão hoje desfrutando da presença de Cristo e nem um pouco ressentidos do que passaram aqui, pois…
“…sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8:28-39).
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O que você acha do
transplante de cabeça?
Você viu a notícia de um médico que pretende transplantar a cabeça de um paciente vivo para o corpo de um morto e perguntou como eu veria isso em relação ao ensino da Bíblia. Talvez fosse mais correto ele falar em transplante de corpo, pois neste caso será um corpo de uma pessoa morta que será transplantado à cabeça de uma pessoa viva, e não o contrário. Não é muito diferente de uma pessoa que é mantida viva, ligada a equipamentos que façam o papel dos órgãos de um corpo que já tenha perdido suas funções.
Já existe transplante de órgãos, pele, ossos e membros, unitários ou múltiplos. Quase todos nós temos alguma coisa implantada ou transplantada. Nossos primeiros implantes de material estranho ao nosso corpo começam com as obturações dos dentes, passando aos próprios implantes dentários, implante de pigmentos no caso de tatuagens, implante de cabelo, porções de silicone, lentes intraoculares, juntas dos membros e até membros inteiros.
Tudo isso são pedaços de diferentes materiais que são implantados em nosso corpo, mas há também os transplantes de sangue (transfusões), tecidos e órgãos de pessoas ou animais. Tenho um amigo vegetariano radical que hoje vive graças a uma válvula cardíaca extraída de um porco. Ele nunca comeria carne de porco, mas foi obrigado a viver com um pedaço suíno no peito.
Mesmo que você seja contrário a transplantes talvez não saiba que o enxerto ósseo que o cirurgião dentista fez em sua boca veio de material tirado de outra pessoa, talvez um cadáver. Isso não é de modo algum corromper ou desprezar o corpo humano, mas simplesmente permitir que permaneça vivo com a ajuda do corpo de alguém que já não vai precisar dele nesta forma.
Neste caso que viu no noticiário irão pegar todos os órgãos de um morto, inclusive sua pele, ossos e membros, para transplantá-los a uma cabeça viva. Sabemos que um corpo morto com uma cabeça viva é de alguém vivo, mas um corpo vivo ligado a uma cabeça morta não mais significa que a pessoa esteja viva.
Não vejo problema se o tal médico conseguir essa façanha, porque Deus mesmo disse que não haveria coisa alguma de que o ser humano não fosse capaz. É preciso entender que os 40 trilhões de micróbios que vivem no seu corpo fazem de você apenas 50% humano, se considerarmos o número de células existentes em seu corpo. O resto de seu corpo nem mesmo é seu, mas é formado de criaturinhas transplantadas ao seu organismo e que ajudam ou atrapalham seu corpo a permanecer vivo. É melhor nem tentar se livrar de algumas delas pois pode acabar adoecendo. Ou seja, boa parte dessa população alienígena faz parte ativa de você. Segundo um artigo que li, caso conseguisse se livrar delas estaria se livrando de um quilo e trezentos gramas. Até que não seria má ideia, não é mesmo?
Nosso corpo é feito de material terreno, o mesmo de que são feitas todas as coisas na terra. Então pegar um órgão daqui e colar ali não é muito diferente de um escultor tirar uma pelota de barro de uma escultura e colar na outra.
O dono da cabeça que receber o corpo de um morto terá feito, na verdade, o que hoje é chamado de transplante múltiplo. Bem múltiplo, no caso dele. Tem gente que recebe transplante de um “combo” de órgãos, como coração, pulmão, rins, fígado, pele, córnea, cabelo, etc. Muitos ajudam a prolongar sua vida, e se for esta a intenção do dono da cabeça que ganhará um corpo que, de outro modo seria comido por vermes, não vejo como isso poderia ser contrário à vontade de Deus.
Os transplantes também levantam questões éticas, como saber se o rim que está recebendo não foi roubado, ou se o coração não tem origem em um homicídio encomendado. Lado a lado com a indústria do transplante corre uma indústria criminosa, e as guerras que vemos nos jornais também têm seus departamentos de roubo de cadáveres ou de pessoas apenas feridas para o tráfico de órgãos.
Mas acredito que o cristão não deva se apegar a esta vida a qualquer custo, às vezes até ao custo de passar o resto de seus dias em extremo sofrimento. Existem pessoas que recebem transplantes múltiplos de órgãos, mas podem acabar vivendo meses e até anos entre a vida e a morte lutando contra rejeições e infecções. Se for cristão, ele poderá acabar se perguntando se valeu a pena levar uma vida de sofrimento apenas para adiar um pouco seu encontro com o Salvador.
Morrer ou permanecer vivo são opções que podem ou não ter origem no egoísmo. Alguém que não quer se tratar porque deseja morrer por não aguentar mais viver, por não gostar da vida que Deus lhe deu, ou alguém que quer viver a qualquer custo para “aproveitar a vida” em prazeres, são igualmente egoístas, cada um à sua maneira. Então o cristão deve ponderar, como fazia Paulo, o que seria melhor: permanecer no corpo ou partir para estar com Cristo. Paulo escreveu:
“A minha intensa expectação e esperança [é] que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.
Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne. E, tendo esta confiança, sei que ficarei, e permanecerei com todos vós para proveito vosso e gozo da fé” (Fp 1:20-25).
Se você estiver perdendo o sono preocupado como vai ficar essa distribuição de órgãos por aí quando vier a ressurreição, nem se preocupe. O corpo que temos será completamente transformado antes de ser o corpo novo e ressurreto ou transformado no arrebatamento. Com transplante ou sem transplante, seus órgãos iriam apodrecer num sepulcro para serem comidos, processados e defecados por vermes e bactérias. Muitos nem mesmo chegam a ter seus corpos sepultados, como aqueles que foram pulverizados por uma explosão atômica, dos quais só restou uma sombra gravada numa parede de Hiroshima. Deus saberá como ressuscitar cada um sem qualquer dificuldade.
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Padre pode cantar em igreja de pastor?
Você viu a notícia de um padre que foi cantar no culto da igreja de um pastor e perguntou se isso seria correto. Na verdade, eu sou meio alheio às notícias dos meios católicos e evangélicos e acho que apenas o nome do padre que citou me é familiar, mas nem sei quem é o tal pastor. O que padres e pastores fazem ou dizem não faz muita diferença para mim. Ingênuo é o cristão que pensa que o que acontece nas igrejas não esteja sendo manipulado por um nível superior de comando.
No Brasil vimos um impeachment de uma presidente em meio a investigações de corrupção e desvio de dinheiro público. Quando todos pensavam que era coisa apenas do partido governante, eis que surgem outros e mais outros até o Brasil aprender da maneira mais difícil que, em política, seus atores se xingam nos palanques, enquanto se abraçam nos bastidores. O mesmo acontece na cristandade. O palco que surge dividido entre gregos e troianos para a plateia, está todo conectado nas coxias, onde atores gregos e troianos circulam e se abraçam.
Em política e religião, falar com os dois cantos da boca é comum, embora o povo leigo do “chão de fábrica” nem sempre perceba isso. Recentemente a imprensa noticiou o caso de um pregador da prosperidade que estaria percorrendo os bancos de chapéu na mão para obter um empréstimo milionário. Para isso terá de penhorar sua igreja, o que faz perguntar se ele nunca assistiu a seus próprios programas nos quais prometia prosperidade ilimitada para quem lhe enviasse dinheiro.
Quem conhece profecia bíblica sabe que a cristandade estará toda emaranhada em uma monstruosidade só que será motivo de espanto para o apóstolo João: “Quando a vi, admirei-me com grande espanto” (Ap 17:6). Trata-se de Babilônia, a Grande Meretriz que controlará o poder civil e religioso, a cristandade em sua última e degradada forma, vazia de cristãos genuínos, mas ainda mais rica e abastada do que se gabava de ser quando ainda tinha os salvos em seu bojo. Depois do arrebatamento dos salvos, as cascas vazias chamadas hoje de “igrejas” estarão unidas nessa deformidade que deveria ter sido a noiva de Cristo, mas não passava de uma grande meretriz.
Mas voltando à dúvida se é correto um padre cantar na igreja de um pastor, ela traz à tona alguns questionamentos de erros graves praticados na cristandade. Geralmente eles são invisíveis à maioria dos cristãos, de tão acostumados que estão em praticá-los e alheios aos ensinamentos das Escrituras. Alguns podem até achar falta de respeito criticar essas práticas que já são tão usuais nas religiões cristãs, mas se não tivermos a Palavra de Deus como nosso guia, acabaremos na condição de ruína em que estava o povo de Israel no livro de Juízes: “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto” (Jz 21:25).
Primeiro, em sua pergunta você falou de um padre Fulano e de um pastor Sicrano. Na Bíblia não encontro nenhum “Padre”, pois até o Senhor Jesus disse para não chamarmos a ninguém de “Pai” no sentido religioso, e “Padre” é “Pai” em latim. “E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus” (Mt 23:9). Localmente as igrejas tinham bispos, também chamados presbíteros ou anciãos, e pelo menos em uma passagem chamados de “pastores” por ali estar revelada sua função de supervisores do rebanho. Mas sempre eram múltiplos numa localidade, e não apenas um como é o clérigo, padre ou pastor nas religiões cristãs de hoje.
Segundo, pelo que entendi de sua pergunta aparentemente o padre Fulano foi convidado pelo pastor Sicrano, pois nessas igrejas o padre ou o pastor é a autoridade máxima no local de reuniões. Por isso você perguntou se estaria certo o pastor Sicrano permitir isso. Mas na Bíblia você não encontra a figura do “Pastor” como dirigente de uma congregação. Pastor na Bíblia é um dom, não um dirigente das reuniões da igreja. Nas reuniões da igreja segundo a Bíblia é o Espírito Santo quem dirige e usa quem ele quer, e não um único homem à frente da congregação.
“Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação… Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem. Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados” (1 Co 14:26, 29-31). Leia a partir do versículo 26 que são as instruções de como deve ser uma reunião da Igreja e tente encontrar um homem à frente, como um clérigo, padre ou pastor, dirigindo tudo, fazendo-se passar pelo Espírito Santo.
Terceiro, você referiu-se à igreja na qual o padre foi cantar como sendo a “igreja do pastor Sicrano”, mas na Bíblia não encontro uma igreja com dono humano ou identificada pelo nome de algum padre ou pastor, tipo “igreja do Padre Fulano” ou “igreja do Pastor Sicrano”. A igreja é sempre citada como sendo de Deus e sua identificação além desta é apenas geográfica, pelo nome da cidade ou localização: Igreja que está em Corinto, Igreja que está em Éfeso, etc. Paulo escrever “à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1 Co 1:2).
Quarto, ao perguntar se estava certo o padre cantar na igreja do pastor você usou uma expressão muito comum no mundo religioso, mas completamente estranha à Bíblia. Isto porque na Bíblia não encontramos artistas cantores indo a alguma igreja apresentar um número musical para uma audiência. Todos estão ali com olhos voltados a Cristo como o centro das atenções, nunca a algum apresentador de algum número musical.
Conhece alguma passagem onde diga que Timóteo foi cantar na igreja que estava em Filipo? Ou que Paulo tocava na igreja que estava em Tessalônica? Ou que Pedro era regente do coro da igreja que congregava em Jerusalém? A reunião da igreja é para o ministério da Palavra, a ceia do Senhor e a oração, e isto é muito claro em Atos 2:42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”.
Mas será que não havia cânticos nas reuniões da igreja? Certamente havia, apesar de não encontrarmos qualquer evidência do uso de instrumentos musicais. Todos deviam participar conjuntamente, a uma voz. “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração… Para que concordemente e a uma voz glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Cl 3:16; Rm 15:6). No louvor cristão todos se sentam na plateia e no palco só fica Jesus.
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Como pregar o modo como congregamos?
É um privilégio ser despertado para a Verdade de estar congregado ao nome do Senhor Jesus somente, fora dos sistemas religiosos criados por homens, com seus templos, clérigos, rituais, dízimos, etc. Mas Deus não nos disse para pregarmos lugar ou modo de congregar; somos exortados a pregar o evangelho, que é: Cristo morreu por nossos pecados e Cristo ressuscitou para nossa justificação.
A grande maioria das pessoas que enchem as igrejas católicas, protestantes, evangélicas, pentecostais, neopentecostais, etc., ignora o que seja o evangelho da graça de Deus. Em muitos desses lugares tudo o que recebem são mensagens motivacionais, de prosperidade, de filosofia, mudança de vida, etc., mas não o evangelho genuíno. E quando se fala de salvação, esta é condicionada a um determinado modo de viver, a seguir a Lei de Moisés ou um conjunto de regras, estar em dia com o dízimo, etc. Mas evangelho sem sangue não é evangelho, portanto fica fácil você identificar se ouvir algo diferente com a etiqueta “evangelho”.
Para estes, uma boa abordagem numa conversa jamais deve ser se gabar de ter ou conhecer alguma verdade, mas sentir a temperatura da água, isto é, tentar descobrir se está conversando com um salvo ou perdido. O fato de alguém se declarar membro de alguma religião cristã não faz dele um salvo, mas apenas um religioso. “Você crê em Jesus como seu Salvador?” seria uma boa pergunta para começo de conversa.
Você ficará surpresa com as respostas, embora a primeira geralmente será afirmativa: “Creio”. Então tente esta: “Você sabe para onde vai se morrer agora?” e aí começam as dúvidas: “Sim, para o Senhor”, ou “para o céu”, dirão alguns com um brilho nos olhos. “Não sei”, “Não tenho certeza…”, “Preciso fazer o melhor que puder..”, “Só Deus sabe…”, “Não tenho ido à igreja…”, “Vou esperar o juízo final…”, “Preciso perseverar até o fim…”, “Ainda não fui batizada com o Espírito Santo…”, “Não estou entre os vencedores…”. Tudo isso denota falta de entendimento do que é o evangelho e da certeza que Jesus quer que tenhamos, que ele deixou muito claro nestas palavras:
“Em verdade, em verdade vos digo: quem OUVE a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus” (Jo 5:24-25).
“Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade; com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo; em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor [garantia] da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória” (Ef 1:11-14).
Pronto, só com isso você já terá muita conversa para ajudar a pessoa a encontrar a libertação pela certeza de sua salvação eterna. Se for alguém nascido de novo talvez ainda não seja alguém convertido, portanto é hora de passar da incerteza de Romanos 7 para a certeza de Romanos 8 (leia os dois capítulos e repare no contraste).
Mas se alguém perguntar onde e como você congrega lembre-se de dizer que congrega ao nome, ao único nome, ao nome de Jesus, porque é assim que ele pediu que estivéssemos congregados pelo Espírito. A importância não está onde, nem como congregamos, mas a que nome. Em Deuteronômio 12 Deus ordenou que os israelitas não adorassem em qualquer lugar, mas somente onde o Senhor colocasse o seu nome.
Até dois mil anos atrás, o lugar onde estava o nome do Senhor era Jerusalém, e o que mantinha os judeus unidos e protegidos como em um aprisco ou redil era a Lei, que lhes servia de aio. Mas quando o Senhor prometeu que tiraria as ovelhas do aprisco (figura de Israel guardada por cercas da Lei) e as traria para fora, a única coisa que as manteria unidas não seriam dogmas, maneiras, regras ou algum líder carismático. A Pessoa do Pastor que é Cristo seria o centro delas, e estariam em redor dele como a limalha de ferro que é atraída pelo imã. É a pessoa do pastor que agrega as ovelhas, como ocorre com um rebanho natural. Coloque qualquer outro nome nisso e você pode até ser cristão, mas não está reunido ao nome.
Lembre-se de que a passagem de Mateus 18:20 não diz “onde dois ou três se reunirem ao meu nome”, como aparece erroneamente em algumas versões, mas “onde dois ou três estiverem reunidos ao meu nome”. Existe aí a figura oculta de um Reunidor, que é o Espírito Santo. As frutas não ficam juntas a não ser que exista a cesta que as mantêm reunidas, assim é o trabalho do Espírito reunindo os crentes ao nome de Jesus.
Só por aí você já percebe que seria inútil pregar lugar ou modo de reunir, porque esse trabalho é do Espírito, não nosso. Nossa tarefa é evangelizar, e não buscar membros para uma reunião ou assembleia. Tudo o que podemos fazer é esclarecer quando alguém pergunta, mas pode ter a certeza de que tudo o mais deve ser deixado para a ação do Espírito.
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Meus filhos nasceram deficientes
porque me desviei da igreja?
Você escreveu dizendo que tem dois filhos que nasceram deficientes e uma pessoa teria dito a você que eles nasceram assim porque você “se desviou da igreja”. Eu diria que quem disse essas coisas é cruel e provavelmente nunca conheceu a Cristo. No dicionário dela não existe a palavra compaixão. Se essa pessoa está na tal “igreja” que você mencionou é melhor que você fique mesmo longe desse lugar e das pessoas que estão ali, caso seja isso que ensinam por lá.
O que ela diria do cego de nascença? Que nasceu assim porque seus pais se desviaram da sinagoga? Mas aconteceu justamente o contrário, seus pais não queriam de jeito nenhum serem expulsos da sinagoga pelos hipócritas fariseus, mas seu filho cego acabou expulso depois de curado por Jesus e por seu testemunho corajoso. Com isso teve a oportunidade de conhecer quem Jesus realmente era, e adorá-lo, fora daquele sistema religioso que havia sido pervertido por homens corruptos.
“E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus… “ – Sugiro que leia o capítulo inteiro de João 6. Por meio daquele cego Deus seria glorificado naquilo que Jesus iria fazer com ele.
Deus permitiu que seus filhos nascessem assim por alguma razão que só iremos descobrir no céu. Por enquanto, que tal esta: provavelmente ele sabia que você seria a pessoa mais capacitada a cuidar deles. Enquanto você pergunta por que teve dois filhos deficientes, outra mãe pergunta por que seu filho, que nasceu com tudo perfeito, virou um bandido; outra, por que seu filho inteligente e saudável morreu num acidente ainda jovem, e por aí vai. Não entendemos os desígnios de Deus e nem teremos todas as respostas nesta vida, mas quando o conhecemos como Pai aceitamos sua vontade para nós.
Tenho um filho adotivo, Pedro, que nasceu com paralisia cerebral e é também cego, mudo e não anda. Felizmente ele escuta, o que já consideramos uma vantagem. Se perguntar por que adotamos uma criança assim, se já tínhamos dois filhos saudáveis, a verdade é que sentimos no coração que devíamos adotar alguma criança que precisasse de pais, e uma criança deficiente teria mais dificuldade neste sentido. Alguns adotam por querer ter filhos, nós adotamos por ele precisar de pais.
Não contamos a ninguém de nossa decisão, só oramos. Dois meses mais tarde uma amiga, que não sabia de nada, nos contou de um menino deficiente de quatro anos que era cuidado pela avó, a qual morreu e ele ficou sem ninguém para cuidar, pois a mãe vivia nas ruas. Quem você acha que colocou nosso filho em nossas mãos? Quem poderia saber que tínhamos orado (e não procurado) para trazer à nossa casa uma amiga que morava há mais de mil quilômetros para nos dizer aquilo?
Às vezes as pessoas perguntam (e eu também, quando as costas travam na hora de colocar a cadeira de rodas no porta-malas) quem irá cuidar dele quando formos velhos e fracos, e a resposta é a mesma: não fomos nós que “tivemos” este filho, foi Deus quem o trouxe à nossa porta. Então é dele também a tarefa de resolver isso, não nossa.
Nunca se esqueça que, para o cristão, esta vida é uma viagem de ônibus. Não consideramos o ônibus nosso lar e nem cogitamos ficar ali para sempre com a família. Sabemos que existe um destino ao qual iremos chegar a qualquer momento. Talvez cheguemos antes ao destino, talvez sejam os filhos que chegarão, mas ninguém vai ficar morando para sempre no ônibus com todo o desconforto, as roupas suadas e outras limitações.
Então procure ganhar a perspectiva de Deus e olhar além desse vale de dores pelo qual andamos aqui. Costumamos ter visão curta e olhamos só para a escuridão do vale, mas se escalássemos uma montanha veríamos que há muitos vales e montanhas até o horizonte ao longe. Nosso destino é além do horizonte, ou mais além do sol, como diz a letra do hino:
Mesmo que esta vida seja sem riqueza,
sei que lá, em glória, tenho uma mansão.
Qual perdida alma entre a pobreza,
de mim Jesus Cristo teve compaixão.
Ainda pelo mundo eu vou caminhando,
de dor rodeado e de tentação;
mas eu sei que ao lado me vem consolando
Meu bendito Cristo na tribulação.
Com precioso sangue, o Senhor resgata
Das nações a homens, para o santo Deus.
Também uma casa, celestial morada,
muito além do sol foi preparar aos Seus.
Mais além do Sol, muito além do Sol,
eu tenho um lar, o meu lar está
Muito além do Sol.
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Você considera sua comunicação
e linguajar apropriados?
Você não é a primeira pessoa que faz alguma observação quanto ao meu estilo de comunicação ao responder perguntas de leitores. Segundo você e outras pessoas, eu não deveria me valer de recursos como o sarcasmo para falar das coisas de Deus, e sempre que recebo algum puxão de orelha como este eu corro voltar a fita para examinar o que escrevi ou falei. Na maioria das vezes deixo como está e vou explicar a razão.
A Palavra de Deus nos ensina a não usarmos “palavras vãs” ou “palavras fúteis” (Ef 5:6), ou o nome de Deus em vão (Êx 20:7). Colossenses 3:8-9 nos exorta a nos despojarmos “da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes” e da mentira. Efésios 4:29 não apenas repete para que não saia de nossa boca palavras torpes, mas segue dando uma instrução positiva para que de nossa boca saia “só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem”. O mais provável é que você me ouça falar um palavrão só quando topar o dedinho do pé numa quina, ou fazer como aquela irmã que, ao ser fechada no trânsito, abriu o vidro do carro e gritou: “FARISEU!!!”.
Até mesmo em minha comunicação nas palestras profissionais que faço nas empresas eu não uso palavrões ou imoralidades, como muitos costumam fazer e hoje encontram reprovação das empresas mais sérias. Sempre faço a mim mesmo a pergunta: “Esta minha palestra poderia ser vista por pessoas de qualquer idade, gênero, etnia, formação e classe social?”. Um palestrante voltado para o público empresarial não pode ter uma apresentação que seja de algum modo imprópria.
Nossas palavras tanto nos justificam quanto nos condenam, um princípio que está em Mateus 12:36-37. Isto porque “o que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem” (Mt 15:11). Palavras contaminam porque vêm do coração, que é o centro de nossas emoções, e “do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem” (Mc 7:21-23). “De uma mesma boca procede bênção e maldição” (Tg 3:10).
Para um cristão pode ser inconveniente até mesmo nomear ou repetir o que outros dizem: “A prostituição, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos; nem torpezas, nem parvoíces, nem chocarrices, que não convêm; mas antes, ações de graças” (Ef 5:3). Não conheço ninguém que use palavras como “parvoíces” ou “chocarrices”, portanto uma boa ideia é consultar outras versões da Bíblia em que estas palavras foram traduzidas como “palavrões”, piadas de mau gosto ou “obscenas”.
Às vezes, nosso modo de nos comunicarmos é uma expressão de nosso temperamento natural, e pessoas de pavio curto são as que mais se metem em encrenca por abrirem a boca quando não devem. “O que guarda a sua boca e a sua língua guarda a sua alma das angústias” (Pv 2:23), e “se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã” (Tg 1:26).
Mas não pense que o poder de controlar nossa boca venha de nós. Preciso contar sempre com o Senhor, e estar em comunhão com ele, para que “sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração” (Sl 19:14). “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios”, diz o salmista no capítulo 141:3 reconhecendo sua fraqueza neste sentido. Nossas palavras são o resultado de nossa vida de comunhão com Deus, e como estamos sempre prontos a julgar o comportamento de nosso próximo, nada melhor que a exortação do Senhor Jesus neste sentido:
“Por que atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho? Ou como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, não atentando tu mesmo na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão. Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto. Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca” (Lc 6:41-45).
Saímos agora das palavras reprováveis que porventura venhamos a utilizar em nossa comunicação, para entrarmos em outro campo, que é o do assunto ou teor daquilo que queremos transmitir e que deve sempre agregar algo aos nossos ouvintes. “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um” (Cl 4:6). O apóstolo aconselhou Timóteo a ser “o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza” (1 Tm 4:12). Você logo identifica como está a comunhão de alguém com o Senhor só pelo seu falar, pois “do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12:34). Você também irá identificar o grau de santidade que essa pessoa atribui a Deus quando ela vier com alguma piada envolvendo alguma das Pessoas da Trindade.
A energia e voluntariedade excessivas da juventude podem também se refletir no falar, daí o conselho de Paulo a Tito, não apenas para os jovens que deveria aconselhar, mas para o próprio Tito: “Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados. Em tudo [Tito] te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” (Tt 2:6-8).
Às vezes eu mesmo, ao responder a alguém, preciso parar e perguntar: O que é que estou defendendo aqui, minha reputação ou a reputação do Senhor? Para isso recorro ao que Paulo escreve e serve para quando o sangue sobe à cabeça, o coração dispara e a boca fica seca de raiva porque alguém nos ofendeu. Se antigamente éramos mais cuidadosos em escolher as palavras, dependendo do tamanho e musculatura de quem nos ofendia, em tempos de redes sociais a musculatura dos dedos de quem nos escreve não nos intimida e aí partimos para o ataque. Porém a Palavra de Deus nos exorta:
“A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas, perante todos os homens. Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens. Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:17-21). John Nelson Darby definiu este último versículo assim: “Se o meu mau temperamento produzir em você um mau temperamento, então você foi vencido pelo meu mal”.
É um engano pensar que o versículo 20 — “amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça” — seja uma vingança destrutiva, tipo atear fogo nos cabelos de seu oponente. Nada poderia estar mais longe dessa interpretação quando você percebe que tudo na passagem é no sentido positivo, de retornar o mal com o bem. Paulo provavelmente estava citando Provérbios 25:21-22: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe pão para comer; e se tiver sede, dá-lhe água para beber; porque assim lhe amontoarás brasas sobre a cabeça; e o Senhor to retribuirá”. A interpretação mais correta é a de você ajudar a estimular a consciência do outro para perceber seu mau proceder.
Mas existem palavras muito mais perigosas, agressivas e destruidoras do que palavrões ou piadas sujas. Falo da má doutrina, que pode chegar a nossos ouvidos com palavras suaves, educadas e motivadoras, enquanto escondem seu real intento. Paulo chama a isso de “falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade”, que é a má doutrina que “roerá como gangrena” (2 Tm 2:16). Aí já saímos da esfera do vocabulário, que são as palavras boas ou ruins utilizadas em nossa comunicação, para a forma conteúdo e atitude de nossa comunicação. O que vou dizer pode chocar alguns acostumados com aquele sussurrar suave e fala mansa que às vezes encontramos em certos líderes religiosos. Sabe aquele que muda seu tom de voz ao falar das coisas de Deus para mostrar “aparência de piedade, mas negando a eficácia dela”? Pois é, “destes afasta-te” (2 Tm 3:5).
Às vezes um novo convertido acaba adotando essa forma de comunicação por imitação, e aí chega até mim dizendo, “Vos saúdo, varão ungido!”. Nessa hora eu olho ao redor para ter certeza de não ter sido transportado aos tempos medievais. Eu me sentiria mais à vontade se ele chegasse dizendo “E aí, cara, tudo em cima?”. Faz lembrar um irmão, que hoje é fluente em inglês, mas decidiu aprender o idioma logo após sua conversão usando apenas uma Bíblia King James. Quando ele foi conversar com um irmão norte-americano causou nele a mesma impressão de voltar no tempo, e aí foi instruído a buscar um curso de inglês contemporâneo. Na época ele era solteiro, mas hoje é casado. Sempre tive a curiosidade de saber se ele teria pedido a mão de sua esposa com palavras do tipo: “Em verdade, em verdade te digo que desposar-te-ei”.
Não nos comunicamos hoje, em nossa linguagem coloquial, como as pessoas se comunicavam nos tempos do Rei Tiago — King James — ou do português João Ferreira Annes d’Almeida, nome completo do tradutor de nossa versão mais popular da Bíblia. E até mesmo a ideia de que, para ser mais respeitoso, eu deva usar a forma “tu” ao invés de “você”, é equivocada (nenhuma crítica aqui aos nascidos em Santos ou Florianópolis). A forma “você” é uma redução de “vossa mercê”, que significa “vossa graça” e antigamente era usada para se dirigir a alguém que fosse importante demais para ser chamado apenas de “tu”, a forma coloquial da época.
O rigor que porventura usamos nas palavras tem base bíblica, pois a má doutrina deve ser tratada segundo o mal que ela pode causar. Por isso Jesus falava com mansidão quando se dirigia a uma adúltera arrependida, mas soltava o verbo ao falar aos líderes religiosos de seu tempo: “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus?” (Mt 12:34). Aos mesmos fariseus que tentaram amedrontá-lo dizendo-lhe: “Sai, e retira-te daqui, porque Herodes quer matar-te”, Jesus respondeu: “Ide, e dizei àquela raposa: Eis que eu expulso demônios, e efetuo curas, hoje e amanhã, e no terceiro dia sou consumado” (Lc 13:31-32). No original a palavra usada por Jesus foi “raposa fêmea”, que podia significar muitas coisas relacionadas à reputação, caráter e comportamento daquele rei fantoche de Roma, ímpio e covarde ao ponto de se deixar influenciar por uma dançarina e mandar decapitar João Batista.
Paulo não passou a mão na cabeça de Pedro quando este começou a falar com os dois cantos da boca, comendo com gentios num momento, e rejeitando sua companhia em outro para ficar bem na fita com os judaizantes. Seu comportamento reprovável levou outros a dissimularem com ele “de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação”, para o que Paulo diz: “Chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível” (Gl 2:11-14).
Isso mostra a importância de detectar e repreender a má doutrina e comportamentos reprováveis que possam comprometer a fé de alguns, o que não se faz sem ferir o brio dos que assim procedem. Se na ruína da cristandade em que nos encontramos formos cheios de dedos para ninguém ficar ofendido com nossa fala, só conseguiremos colocar panos quentes na questão e torná-la morna. Acaso não é a mornidão aquilo que caracteriza o último estado da cristandade, Laodiceia, e causa náuseas no Senhor ao ponto de querer vomitá-la de sua boca? “Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca” (Ap 316). A característica do discurso ecumênico hoje é a mornidão, não ser nem frio, nem quente, não ser nem tanto ao céu, nem tanto à terra, mas tentar conciliar as coisas de Deus ao engano budista do caminho do meio. Como diria o comediante Grouxo Marx, “Estes são meus princípios, e se você não gostar deles… bem, eu tenho outros”.
Volto agora ao assunto inicial e principal de nossa conversa, que é o uso de linguagem que sirva para demolir a má doutrina “que roerá como gangrena… e perverteram a fé de alguns” (2 Tm 217-18). É preciso entender que existem recursos linguísticos que podem ser apropriados em nossa comunicação na hora de grifar algo ou mostrar a loucura daquilo que alguém professa como se fosse bíblico. Às vezes estamos usando de sátira, que é uma forma poética de ironizar e ridicularizar o erro, ou de ironia, que acaba confundida por sarcasmo, que é praticamente a mesma coisa, porém com uma intenção cáustica de zombar da pessoa, e não de suas afirmações. Pelo Wikipédia aprendo que a palavra sarcasmo vem do grego “sarx”, que significa “carne”, e “asmo”, que é “queimar”. Portanto, “queimar a carne”, algo destrutivo. Mas a sátira visa puxar a afirmação de alguém para o lado cômico, para que seja desacreditada como uma lenda ou ilusão. A ironia também faz isso.
Paulo usou de ironia em suas palavras aos irmãos de Corinto a fim de mostrar o absurdo de sua vanglória no uso abusivo e exibicionista do ministério que tinham recebido por intermédio do apóstolo, assim como os dons. Eles não percebiam que nada possuíam de si mesmos, mas que aquilo que pensavam possuir era tão emprestado quanto o machado dos “filhos dos profetas” discípulos de Eliseu (2 Reis 6). Eles estavam se achando o máximo, sem perceber que o que tinham lhes havia sido concedido por graça e nem lhes pertencia. Veja o que Paulo diz no capítulo 7 de sua primeira epístola:
“Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido? Já estais fartos! já estais ricos! sem nós reinais! e quisera reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco!”. O apóstolo magnifica agora o contraste entre aqueles que queriam ser alguma coisa aos olhos da carne, e aqueles que realmente eram aos olhos de Deus, “porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação” (Lc 16:15).
Paulo continua ironizando o contraste com aquilo que os fazia pensar que eram importantes segundo o conceito humano: “Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pós por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens. Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós vis. Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos; somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos.”. Então, para mostrar que essa linguagem nada tinha de agressiva e destrutiva, mas eram palmadas dadas para doer, mas dadas com amor, ele completa: “Não escrevo estas coisas para vos envergonhar; mas admoesto-vos como meus filhos amados” (1 Co 4:7-14).
Quer mais exemplos de linguagem irônica visando ridicularizar o que alguém afirma ou crê? Ao repreender os judeus por sua idolatria, Isaías ironiza: “A quem, pois, fareis semelhante a Deus, ou com que o comparareis? O artífice funde a imagem, e o ourives a cobre de ouro, e forja para ela cadeias de prata. O empobrecido, que não pode oferecer tanto, escolhe madeira que não se apodrece; artífice sábio busca, para gravar uma imagem que não se pode mover” (Is 40:18-20).
Jeremias não deixou por menos ao criticar a falsa confiança dos egípcios em sua ciência, que nada poderia fazer para protegê-los do que Deus havia determinado sobre aquela nação: “Sobe a Gileade, e toma bálsamo, ó virgem filha do Egito; debalde multiplicas remédios, pois já não há cura para ti” (Jr 46:1). Em 1 Reis 18:27 é Elias quem ironiza a confiança dos profetas de Baal: “E sucedeu que ao meio dia Elias zombava deles e dizia: Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo, e despertará”.
Mas nada do que escrevi aqui pode justificar minha atitude, se eu eventualmente fizer uso dessas técnicas de comunicação com um sentimento de superioridade em relação à pessoa a quem me dirijo. Um bom remédio tanto pode ser dado com boa ou má intenção, do mesmo modo como “alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa vontade; uns, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente…, mas outros” (Fp 1:15-17). Aí o que está em jogo não é o que é ministrado, mas o estado de alma de quem ministra. Críticas à minha comunicação são sempre bem-vindas, quer eu concorde ou não, porque elas me fazem examinar melhor o que digo e me ajudam a aprender a caminhar sobre ovos. Digo isto porque nem sempre quem comunica está com a razão. David Ogilvy, considerado o pai da publicidade, escreveu: “Comunicação não é o que você diz, mas o que o outro entende”.
Às vezes acontece de eu precisar reescrever um texto porque alguém chamou minha atenção para uma palavra que não caiu bem, pois a mesma coisa poderia ter sido dita de outra maneira menos agressiva. Mas, como já demonstrei, quando a doença é grave — e má doutrina é doença tão grave quanto a gangrena — o remédio precisa ser necessariamente amargo. Paulo não economizou palavras para amaldiçoar quem
pregasse um evangelho pirata, chamando tal pessoa de “anátema” ou “maldito” no primeiro capítulo da carta aos Gálatas. E pessoas malditas pregando um falso evangelho é o que você mais encontra na cristandade hoje, após dois mil anos de poluentes teológicos corroendo qual gangrena a Verdade de Deus. Menos preocupado com os melindres que sua linguagem poderia causar nos irmãos da Galácia, e mais em extirpar aquele câncer e protegê-los da mentira, Paulo escreveu:
“Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema. Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo” (Gl 1:9-10).
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O que significa orar no Espírito Santo?
Você perguntou o que significaria orar no Espírito Santo, e a passagem está em Judas 1:20-21 e diz: “Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo, guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna”. Orar no Espírito Santo é orar com a direção do Espírito, e não de nossa própria vontade. O contrário disso seriam as orações decoradas e aquelas sem qualquer fundamentação bíblica.
O Espírito Santo não irá nos dirigir em oração se aquilo que pedirmos for contrário à sua vontade e aos princípios expressos em sua Palavra. Você se lembra daquele famoso vídeo de políticos evangélicos que, depois de feita a transação de recebimento da propina, se deram as mãos e oraram juntos agradecendo a Deus pelo dinheiro? Se eles conhecessem a Palavra de Deus saberiam que Deus não iria ser solidário com o crime que estavam praticando.
Porém mesmo conhecendo a Palavra de Deus podemos cair no engano ou desconhecer alguns de seus aspectos, por isso orar “no Espírito” é também contar com sua ajuda quando não sabemos como pedir. “Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos” (Rm 8:26-27).
Se reparar na ordem da passagem de Judas, verá que antes de falar em oração ele fala em edificação, portanto primeiro é preciso nos edificarmos em nossa santíssima fé, que é a fé cristã, para depois estarmos aptos a orar no Espírito. A maneira de sermos edificados é conhecendo, estudando, meditando e obedecendo a Palavra de Deus, a Bíblia. Ela é a revelação completa de Deus para o homem.
Isto responde à sua outra pergunta sobre alguns que em sua denominação religiosa dizem que você não precisa ler a Bíblia, pois tudo o que você precisa é o “pão quente” das revelações instantâneas trazidas no púlpito. Aquilo está mais para “carne quente” do que para “pão quente”, pois não passa de pretensão humana de alguns que acham que têm conexão banda-larga com Deus para receber revelações inéditas que nem mesmo os apóstolos tinham. É carne porque é uma prática que ajuda a encher de orgulho os que procedem assim ao conquistar a admiração de seus seguidores.
Se você não lê a Bíblia e vive se alimentando da “carne quente” de supostas revelações, como poderá julgar se aquilo vem ou não de Deus? A Palavra de Deus é clara: “Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem” (1 Co 14:29). Como julgar ou conferir o peso ou medida de algo sem usar uma régua? Quando Deus ordenou a Moisés que os israelitas construíssem o tabernáculo deu ordens muito específicas para isso. Não era para fazerem do jeito que quisessem, mas “conforme ao seu modelo, que te foi mostrado no monte” (Êx 25:40; Hb 8:5). Havia um projeto dado por Deus para ser seguido.
Quando o Senhor disse que “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7:21) ele estava mostrando que tinha um projeto para os seus no qual revelava a sua vontade, caso contrário seria impossível saber a vontade do Pai. Esse “projeto” é a Palavra de Deus que nos foi legada pelos apóstolos e profetas. Paulo escreveu a Timóteo: “ESCREVO-TE estas coisas, esperando ir ver-te em breve; para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (1 Tm 3:14-15).
Todas as vezes que deixamos de lado a Bíblia, a Palavra de Deus revelada e escrita, para acreditarmos em tudo que os homens dizem, ficamos à mercê de demônios. Afinal não é assim que funciona o espiritismo? Seu padrão não está numa Escritura, como é a Bíblia, mas nas “revelações” de supostos espíritos de mortos, que nada mais são que espíritos malignos travestidos de pessoas falecidas.
“Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência, pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (1 Tm 4:1).
Acreditar nesse “pão quente” de supostas revelações espirituais é tão seguro quanto comprar um imóvel só pela descrição do corretor, sem ver ou conferir as especificações numa planta e na escritura. Muitos já foram enganados assim. Conheci um que comprou um terreno e depois descobriu que ficava dentro de uma lagoa. Outro comprou um terreno na praia em Ilha Comprida e descobriu depois que ele só existia na maré vazante. Na maré cheia seu “terreno” virava mar.
Devemos ler a Bíblia ao ponto de nossos pensamentos serem formados pela Palavra de Deus, e só assim estaremos sempre alertas contra o ensino errôneo dos “espíritos enganadores” que hoje são abundantes na cristandade. São as aves que se aninham nos ramos do pé de mostarda.
“E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na… O reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda… o qual é, realmente, a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos… Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável” (Mt 13:4, 31-32; Ap 18:2).
Se alguém vier a você dizendo que não precisa ler a Bíblia para conhecer a Verdade, esse alguém certamente não veio da parte de Deus. Talvez ele até use o argumento de que “a letra mata”, isolando uma frase da passagem que no seu contexto está falando outra coisa.
Se ler o contexto irá descobrir que Paulo está falando do “ministério da morte, gravado com letras em pedras” em contraste com a graça, pois a letra da Lei efetivamente matava por mostrar ao homem sua incapacidade de cumpri-la. “Ora, a lei não é da fé; mas o homem, que fizer estas coisas, por elas viverá” (Gl 3:12). “A alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18:20). “E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri” (Rm 7:9).
Estas passagens mostram a importância de nos aferrarmos às Escrituras, nossa única fonte segura de revelação. O Senhor sempre se firmava nas Escrituras para indicar aos judeus que tudo já tinha sido revelado ali:
“Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; Pelo Senhor foi feito isto, E é maravilhoso aos nossos olhos?… Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus… Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça?… Mas tudo isto aconteceu para que se cumpram as escrituras dos profetas” (Mt 21:42; 22:29; 26:54, 56).
Quando Jesus se encontra com dois discípulos no caminho de Emaús é pelas Escrituras que consegue abrir seus olhos para a verdade e para tudo o que estava acontecendo: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras... E disseram um para o outro: Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras?… Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras” (Lc 24:7, 32, 45).
Quando Paulo pregava, fazia isso tomando como base as Escrituras, pois era o alicerce seguro para seu ministério: “E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles; e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras… Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17:2, 11).
“Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança… Mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé… Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (Rm 15:4; 16:26; 1 Co 15:3-4).
A Timóteo, Paulo escreve para dizer da importância que teve aprender as escrituras desde criança: “E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus” (2 Tm 3:15).
Pedro, ao criticar os que se opunham aos ensinos do apóstolo Paulo, dá às suas cartas o mesmo status de “Escrituras” que até ali eram chamadas as revelações escritas do Antigo Testamento: “Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e IGUALMENTE as outras Escrituras, para sua própria perdição”.
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Darby era maçom?
Não, John Nelson Darby não era maçom e nem poderia ser, entendendo como entendia que a única irmandade que o cristão deve ter, exceto aquela que vem de seu nascimento natural, é aquela que obtém pelo novo nascimento e por fazer parte da família de Deus. Um cristão que entenda isso não chamaria um incrédulo de “irmão” como fazem os maçons. Geralmente as acusações e suspeitas levantadas contra J. N. Darby tem uma agenda oculta da pessoa que escreve ou fala. Por isso é sempre bom perguntar se essa pessoa leu algum dos mais de quarenta livros de J. N. Darby, de onde obteve as informações que usa para acusá-lo e quais são as crenças dessa pessoa que entram em conflito com aquilo que Darby escreveu.
Costumo dizer que é preciso olhar para a outra mão do mágico para descobrir o truque, e não para aquela que ele está acenando. Este é o caso aqui também. Existem várias formas de explicar o ódio que muitos nutrem contra John Nelson Darby, e pode ter certeza de que não é porque ele cria e ensinava o arrebatamento da Igreja. Crer no arrebatamento é algo que só tem influência na pessoa que crê, portanto não seria uma ameaça a pessoas que creem de modo diferente. Em um site em inglês cujo autor chama Darby de “satanista”, encontrei uma lista das coisas “malignas” que Darby ensinava:
— Deus desejaria que os judeus voltem à sua terra.
— Deus teria dois planos de salvação: ele iria salvar os que creem em Jesus, mas também Israel por ser seu povo escolhido.
— Os cristãos não deveriam se envolver em política.
— Deus estaria tratando com o homem de diferentes maneiras em diferentes épocas e dispensações.
— A Igreja estaria destinada ao fracasso e isso encerraria a dispensação da graça.
— Cristo iria tirar da terra no arrebatamento os cristãos para não passarem pela Grande Tribulação.
— No futuro haveria uma época judaica e os sacrifícios ritualísticos seriam restaurados e Jesus iria reinar por mil anos sobre a terra.
Realmente, essa lista de “malignidades” poderá ameaçar a sobrevivência da raça humana. Sério?! Se você conhece o que os irmãos têm mostrado na Palavra de Deus, verá que era exatamente isso que Darby e outros professavam e muitos hoje professam. Então qual a razão de tanta animosidade? O autor do site é antissionista, ou seja, nutre verdadeiro ódio contra Israel e tudo o que lhe diz respeito. Por isso, para ele, Darby era tão ameaçador. Quer mais? Segundo esse autor, Darby era um agente da família Rothschild de banqueiros, que foi infiltrado no cristianismo fundamentalista para favorecer os judeus e facilitar a criação do Estado de Israel. O autor do site escreve:
“Darby era um satanista, maçom e agente dos Rothschild, proprietários da British East India Company, a mais poderosa multinacional da época e a fornecedora que transformou milhões de chineses em viciados em ópio”.
Mas de onde esse autor tirou a ideia de que Darby era um satanista? Ele explica que “Darby usava muitos termos encontrados na Teosofia ocultista, como ao referir-se a Jesus como ‘Aquele que virá’, se referia a Deus como ‘Arquiteto’ (o mesmo termo usado pelos maçons, que os não iniciados pensam ser ‘Deus’, mas os iniciados sabem que é ‘Lúcifer’. Darby também escreveu sua própria versão satânica da Bíblia… inserindo palavras satânicas no texto bíblico”. Segundo esse autor, Darby teria trocado o versículo de João 6:69, que na versão King James diz “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, por “Tu és o Santo de Deus”. Obviamente o autor da crítica ignora que a versão King James foi baseada no manuscrito conhecido como “Textus Receptus” e a versão de Darby no “Texto Crítico”, o mesmo usado na versão Almeida Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil.
Bem, tudo isso poderia muito bem ser apenas os devaneios de um adolescente revoltado contra tudo e contra todos, desses que passam o dia e a noite trancados no quarto criando vídeos de teorias conspiratórias. Mas a verdade é que estas palavras vêm de um mentor desses adolescentes, da pena de James Perloff, autor que vive de escrever livros de teorias conspiratórias e com uma forte agenda antissemita, mesmo sendo descendente de judeus russos. É evidente que alguém que tem ódio dos judeus não irá gostar nem um pouco de cristãos que sabem que as promessas feitas a Israel no Antigo Testamento serão textualmente cumpridas para aquele povo, e não para a Igreja, que ocupa um parêntese na profecia enquanto Israel é deixado por um momento de lado (leia Romanos 11).
Mas de onde mais vem a ideia de que Darby seria maçom? Encontrei no site da “Grande Loja de British Columbia e Yukon” uma informação que deve ser resultado de muitos que escrevem para lá querendo descobrir se Darby era maçom. Ali diz: “Não existe qualquer registro de que John Nelson Darby tivesse qualquer associação com a Maçonaria, e nem existem razões para sugerir que ele tenha sido maçom. Considerando que muitos dos ataques contra a Maçonaria vêm de cristãos fundamentalistas dispensacionalistas, é intrigante que um de seus líderes tenha usado a Maçonaria como exemplo para ilustrar seus ensinos”.
Esta declaração explica também a outra causa de confusão, que foi o fato de Darby ter por duas ou três vezes usado a Maçonaria como ilustração em um texto. Em uma de suas cartas, ao explicar que uma assembleia de cristãos não pode ser independente de outras porque isso negaria a unidade do Corpo, Darby usa da seguinte ilustração para explicar o erro da independência eclesiástica:
“Suponha que em um grupo de maçons uma pessoa fosse excluída de uma de suas lojas por causa das regras ali praticadas, e ao invés de pedir que a loja revisse seu caso, considerasse a decisão injusta e cada loja da Maçonaria passasse a receber aquela pessoa com uma autoridade independente. Ficaria claro que a unidade da Maçonaria teria acabado, se cada loja fosse um corpo independente agindo segundo seus próprios princípios” (J. N. Darby: Letters : Volume 1, number 259).
“Cristo é a sabedoria divina para nós: Deus tornou louca a sabedoria deste mundo, mas ‘falamos sabedoria entre os perfeitos’. Deus “fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência; descobrindo-nos o mistério da sua vontade” (Ef 1:8-10). A divina revelação de todos os pensamentos e intenções de Deus está em Cristo; a ‘sabedoria de Deus em mistério’, palavra que implica que apenas os iniciados podem entender. Por exemplo, eu nada entendo da Maçonaria por não ser um iniciado” (J. N. Darby: Four things we have in Christ).
Você entenderá melhor o que Darby estava querendo dizer se ler uma explicação de G. Willis do significado de uma palavra usada em Filipenses 4:12: “…em todas as coisas estou instruído [do grego ‘mueo’ no original ‘fui iniciado’ ou ‘me foi ensinado o segredo’], tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade”.
Willis escreve: “A expressão ‘fui iniciado’ não é encontrada em nenhuma outra parte das Escrituras. Ela vem da mesma raiz da palavra ‘mistério’. Era usada nos rituais secretos das religiões pagãs e na iniciação a elas. Aquele era um conhecimento zelosamente guardado das pessoas comuns, como acontece hoje na Maçonaria, e o acesso a esses segredos era buscado por todo tipo de pessoa, de imperadores romanos a cidadãos comuns, na esperança de se libertarem do mal nesta vida e na próxima. O uso desta palavra por Paulo associada à experiência cristã é bastante sugestivo. O conhecimento da paz de Deus, do total contentamento, é na verdade um segredo aberto, mas aberto àquele que desejar aprender de Deus. Mas mesmo assim trata-se de um mistério” (Meditations on the Epistle to the Philippians – 4 – G C Willis).
Se você encontrar por aí alguma crítica feroz contra John Nelson Darby, não se preocupe. Como eu disse no início, o que as pessoas dizem nem sempre tem a ver com aquilo com que estão preocupadas, como é o caso da doutrina do arrebatamento, que não é imposta sobre ninguém e nem enviada ao Congresso para ser transformada em lei. Então qual a razão de Darby incomodar tanto? Primeiro porque ele serve de para-raios da raiva histórica que todo homem nutre contra Israel. Sempre foi assim, e muitos são os exemplos no Antigo Testamento de tentativas de exterminar o povo que Deus chama de “menina de seus olhos” (Zc 2:8). Não pense que o antissemitismo de Hitler acabou. Ele só está adormecido.
Portanto uma das principais razões dessa raiva de muitos que se dizem cristãos contra Darby é por ele amar Israel e ensinar os cristãos a também amarem Israel. Durante a Segunda Guerra Mundial mais de três mil judeus foram escondidos em fazendas do sul da França por irmãos que aprenderam esse mesmo amor por Israel, escapando da morte nos campos de concentração. Em razão disso o nome de John Nelson Darby consta de uma lista de homenagem póstuma no Museu do Holocausto em Israel, de homens cuja influência serviu para salvar judeus durante a Segunda Guerra. Se você odeia os judeus vai também odiar Darby.
O entendimento das dispensações que ele trouxe em seus mais de quarenta livros (que seus críticos provavelmente nunca leram) também demonstra que as promessas feitas a Israel no Antigo Testamento continuam apenas suspensas e não foram transferidas à Igreja. Se você é um cristão fundamentalista seguidor da Teologia do Pacto e da Teologia do Domínio terá também motivo para odiar Darby. Você vai achar um absurdo não poder usurpar para a Igreja o que Deus prometeu para Israel e se sentirá frustrado por saber que a Igreja não deverá conquistar o mundo inteiro. Boa parte da ira antissemita recai sobre Darby por acharem que suas ideias teriam tido influência na criação do Estado de Israel. Elas efetivamente tiveram, mas isso tem mais a ver com seu amor por Israel do que por ensinar que os judeus deveriam voltar à sua terra na incredulidade de rebelião contra seu Cristo, como é o caso. Israel voltará sim à terra, mas quando tiver se arrependido.
A esperança da volta iminente de Cristo para buscar a sua Igreja no arrebatamento é outro ensino bastante frisado nos escritos de Darby e, se você estiver esperando primeiro pelo anticristo também vai odiar essa ideia. Existe um certo sentimento de orgulho que frustra alguns quando descobrem que não irão ter de passar pela Grande Tribulação. Se não for assim, como farão para provar quão firmes e corajosos são na fé? Mas existe ainda uma outra razão, que é talvez a mais forte de todas, para essa animosidade contra Darby e seus ensinos. Como você se sentiria, depois de ter estudado anos em faculdades teológicas, obtido a duras penas títulos como “Doutor em Divindade”, “Pastor”, “Reverendo”, etc., e aí alguém viesse ensinando que na Igreja não existe a divisão clero-leigos, que todos são igualmente sacerdotes com igual acesso a Deus, e nas reuniões da Igreja todos podem ministrar dirigidos pelo Espírito, e não apenas um homem que se coloca à frente por ter sido ordenado por uma organização religiosa. Você ficaria feliz ao descobrir que irá ter de sentar-se no banco com todos os outros irmãos e não ter a mão beijada?
De modo algum! Você iria chamar de “satanista”, “maçom”, “herege” e vários outros adjetivos aquele que você acha que teve essa ideia, quando a verdade é que Darby aprendeu boa parte do que ele pregava de outros irmãos com os quais estava congregado somente ao nome do Senhor e fora dos sistemas denominacionais. Ah, e quase ia me esquecendo de que a opinião que ele tinha sobre faculdades de teologia e igrejas denominacionais também é um prato cheio para os que vivem nesses sistemas e desses sistemas.
Considerando tudo isso, e também o fato de Darby ter usado a Maçonaria como ilustração em alguns de seus textos, se você tiver dificuldade de leitura e interpretação também vai achar que sou um espião se alguma vez eu tiver usado a CIA como exemplo de algo, ou que C. S. Lewis era um pagão adorador de animais quando escreveu “Crônicas de Narnia”, onde Jesus é representado por um leão. Eu mesmo, que tenho formação em arquitetura, comparei Deus a um arquiteto e o ser humano a um cliente quando preguei o evangelho com o tema “Quem é Jesus? O que ele veio fazer?”, disponível em texto e vídeo na Web. Será que isso faz de mim um maçom só porque maçons chamam a Deus de Grande Arquiteto?
Se você quiser conhecer as obras de John Nelson Darby irá encontrar pouca coisa em português, mas se puder ler em inglês vai encontrar um manancial imenso de conhecimento bíblico de um homem que escreveu mais de quarenta livros, e conhecia idiomas o suficiente para traduzir a Bíblia dos textos gregos e hebraicos para o alemão, francês, holandês (Novo Testamento) e inglês (esta terminada postumamente por terceiros). Você conhecerá um servo de Deus muito diferente daquele que é mostrado em artigos e vídeos de teorias conspiratórias de adolescentes revoltados ou de clérigos da Teologia do Pacto e de inimigos de Israel.
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O que era a igreja de Filadélfia?
Você pergunta se os irmãos que estavam congregados ao nome do Senhor no século 19 representariam a “Filadélfia” de Apocalipse 3. Este é um assunto não fácil de ser tratado, pois hoje existem até denominações que emprestaram para si o nome “Filadélfia” considerando-se aquele exemplo de fidelidade descrito em Apocalipse 3:7-13.
Para entender quem é quem nas sete cartas de Apocalipse, é preciso perceber que existe uma progressão cronológica histórica nas cartas às sete igrejas, algo que obviamente os que viveram nesses períodos não teriam condições de perceber. Mas também foram cartas a igrejas que estavam passando por esses problemas localmente, mas hoje podemos perceber que o contexto era muito mais amplo. Você fará melhor proveito do que vou dizer se acompanhar em sua Bíblia nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse.
Éfeso revela um estado de apatia da igreja por ter deixado seu primeiro amor, Jesus. Cronologicamente ela representa a igreja do primeiro século, e seus desvios já apareciam nas epístolas da época.
Esmirna mostra que ela não recebeu reprovação, mas consolo por ter sido perseguida. Ela representa o período do primeiro ao quarto séculos, quando os cristãos foram duramente perseguidos e martirizados pelos imperadores romanos.
Pérgamo representa a cristandade comprometendo-se com as instituições seculares e colocando-se à sombra do poder civil. Os cristãos se acomodaram ao mundo e passaram a habitar onde está o trono de seu príncipe, Satanás. Ali vemos pessoas com o espírito de Balaão, buscando lucrar com as coisas de Deus e levando o povo a tropeçar na idolatria. A doutrina dos nicolaítas podia ser um embrião do clericalismo. Pérgamo representa o quarto e quinto séculos, quando o imperador Constantino fez do cristianismo a religião do império, oficializou o clero e tornando Roma a cidade referência dos cristãos.
Tiatira é a primeira carta na qual Jesus faz menção de sua vinda, ao dizer “até que eu venha” (Ap 2:25). Nas três cartas seguintes ele diz “Virei como um ladrão”, “Venho em breve” e “Estou à porta” (Ap 3:3, 11, 20), dando a entender que estas quatro fases do testemunho cristão permaneceriam até sua vinda.
Tiatira é elogiada por ter muito amor, boas obras, fé e paciência. Porém é repreendida por promover a idolatria e se prostituir, isto é, comprometer-se com o mundo na busca de vantagens seculares. Você não precisa ser grande conhecedor de história para perceber que a descrição serve como uma luva ao sistema católico romano. Tiatira também admite que uma mulher ensine, a qual é chamada de Jezabel. Foi com o catolicismo romano que se introduziu a ideia de que a igreja ensina, o que contraria a Palavra de Deus que proíbe a mulher de ensinar. A igreja é feminina, é a noiva de Cristo; ela não ensina (veja 1 Tm 2:12), ela aprende dos dons em seu meio. Jezabel continua viva e ativa como um sistema agindo nos bastidores do catolicismo e até os papas estão sujeitos a ela.
Tiatira teve seu apogeu do sexto ao décimo quinto século, quando veio a reforma protestante. Mas nesta carta Jesus fala de sua vinda, dando a entender que este sistema permanecerá até o fim. É dele que sai o protestantismo do período seguinte, representado pela carta à igreja de Sardes, talvez mencionado na carta a Tiatira na expressão: “E ferirei de morte a seus filhos” (Ap 2:23), indicando que Tiatira se ramificaria em igrejas que nasceriam dela.
Sardes representa o período do protestantismo e é caracterizada como tendo nome de que vive, porém está morta. Apesar de ter boas coisas, como o resgate da doutrina da justificação pela fé, acabou se afastando daquilo que recebeu e ouviu. Por não ansiar pela volta do Senhor a qualquer momento, mas acreditar que o mundo precisaria antes ser cristianizado e dominado, ela será surpreendida pela vinda do Senhor como se fosse um ladrão inesperado. Este período vai do século 16 ao 19, quando empresta alguns elementos do período seguinte, representado aqui por Filadélfia.
Filadélfia não recebe palavras de reprovação, mas de consolo e é assegurada de ter diante de si uma porta aberta. Suas características, nem sempre admiradas pelos homens, são elogiadas pelo Senhor. Ela surge como um remanescente fraco, porém não de iniciativa de homens que se propunham a “fundar” alguma religião, mas como uma realização daquele “que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre” e que garante sua subsistência com “uma porta aberta, e ninguém a pode fechar” (Ap 3:7-8). Filadélfia tem pouca força, guarda a Palavra de Deus e está comprometida com o nome de Jesus.
Algo que caracteriza Filadélfia é seu apego à graça em contraste com a salvação por obras da Lei, dos chamados judaizantes que já assolavam os gálatas pregando “outro evangelho”. O Senhor diz: “Eis que eu farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não são, mas mentem: eis que eu farei que venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que eu te amo” (Ap 3:9). Estes são os mesmos que aparecem em Esmirna, “que se dizem judeus, e não o são, mas são a sinagoga de Satanás” (Ef 2:9). Você já deve ter conhecido alguém assim, que não prega o evangelho da graça, mas a guarda da Lei e boas obras como meio de salvação. No fim adorarão o Senhor como todas as criaturas farão quando todo joelho se dobrará, mas não creio que aqui esteja falando de salvos, e sim dos perdidos e meros professos, que hoje são em grande número no testemunho cristão no mundo. A passagem não está dizendo que irão adorar Filadélfia, mas ao Senhor.
Filadélfia surge na sequência de Sardes, na virada do século 18 para o 19, como uma reação à tendência da cristandade de buscar força política, desconsiderar a literalidade da Palavra de Deus e dar pouca importância ao nome de Jesus como o único centro de reunião. Se no período da reforma protestante Deus havia usado Sardes para resgatar a verdade da justificação pela fé, escondida debaixo de séculos de romanismo, no século 19 muitas verdades foram trazidas à tona por Filadélfia, em especial as que dizem respeito à doutrina da igreja revelada ao apóstolo Paulo, à imutabilidade das promessas feitas por Deus a Israel, o povo terreno de Deus temporariamente deixado de lado, ao Nome de Jesus como centro de reunião dos crentes, e à origem e vocação celestial da Igreja.
Não há como negar que o período do século 19 corresponde a irmãos que recuperaram algumas das verdades que estavam entulhadas em séculos de catolicismo e protestantismo. Até mesmo a proliferação do evangelismo se deu nessa época, que também foi quando muitos cristãos passaram a simpatizar com o povo terreno de Deus, Israel, até então perseguido, espoliado e morto por católicos e protestantes. A influência dos ensinos dos irmãos do século 19 podem ser percebidas na mudança de tratamento dado pelos britânicos à questão sionista que culminou na criação do Estado de Israel em 1948.
Em seu livro “Planet Earth – Final Chapter” Hal Lindsay escreve a respeito da “Declaração de Balfour” de 1917, assinada pelo então secretário britânico dos Assuntos Estrangeiros, Arthur James Balfour, que seria o ponto de partida para o restabelecimento dos judeus em sua própria terra:
“Lord Balfour havia se tornado um ávido crente na interpretação literal da profecia bíblica, através da influência do extensivo ministério de John Darby. Como consequência ele cria que Deus não iria mentir ao povo judeu quando prometeu que iria levá-los de volta à sua própria terra e restabelecer a nação de Israel. Lord Balfour, com a assistência de outro membro do Parlamento chamado Lord Lindsay, que também cria nas promessas literais da profecia bíblica, havia exercido uma influência considerável sobre seus colegas no sentido de procurar ajudar a estabelecer um lar para os judeus”.
Obviamente, por maior que fosse a boa vontade desses homens, ainda não seria na fundação do Estado de Israel em 1948 que Deus iria concretizar sua promessa de levar o povo de volta à terra. Darby deixou claro em seus escritos que a real volta de Israel à terra seria quando estivessem arrependidos e convertidos ao seu Messias e Rei Jesus.
Portanto, se a influência daqueles irmãos do século 19 não é muito popular hoje, isso decorre do fato de terem erguido bandeiras que na época também não eram nem um pouco populares entre católicos e protestantes. Essas bandeiras incluíam o amor por Israel e proteção dos judeus, como também a da verdade de que todo crente em Cristo é um sacerdote, o que joga para escanteio qualquer pretensão clerical.
Mas repare que não é Filadélfia que diz de si mesma ser alguma coisa, e sim o Senhor que diz isso dela. Então não creio que algum irmão no século 19 iria, de sã consciência, afirmar-se como tal, e jamais passaria pela cabeça deles criar uma “igreja” denominada “Igreja Filadélfia”, como há muitas por aí. Das sete igrejas de Apocalipse a única que diz ser alguma coisa é Laodiceia, e isso não é nem um pouco bem visto pelo Senhor.
É sempre abominável alguém dizer que é isso ou aquilo nas coisas de Deus, porque se somos ou temos alguma coisa é por pura graça. Gabar-se de ser, fazer e acontecer é o espírito de Laodiceia. Devemos sempre caminhar em humildade, nos considerando como aquele servo inútil dos evangelhos que não fez nada mais do que lhe tinha sido designado. Um funcionário que cumpre seu dever todos os dias não faz mais que sua obrigação.
O erro da cristandade como um todo (e hoje somos todos Laodiceia, sem exceção) foi o mesmo dos judeus. A posição de privilégio que tinham recebido de Deus no passado era deles unicamente por graça, e não por merecimento. Mas eles se acharam os tais, e Deus precisou discipliná-los por isso. A cristandade não deixou por menos e acabou se achando a dona do mundo, e no que diz respeito ao seu testemunho na terra será totalmente repudiada pelo Senhor, que tirará de seu meio os verdadeiros salvos no arrebatamento, e deixará o restante aqui na forma da Grande Meretriz, a Babilônia de Apocalipse. A diferença é que para Israel haverá restauração, e para a cristandade não.
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O cego de João 9 nasceu assim
por vontade de Deus?
Você viu meu texto/vídeo “Somos criaturas ou filhos de Deus?” no qual eu disse que uma criança nasce defeituosa porque o projeto original de Deus sofreu uma sabotagem. Você também diz que aprendeu dali que somente Adão e os anjos, foram criados diretamente por Deus, e os demais Deus só permitiu que nascessem, não atribuindo a Deus os problemas físicos. Então sua dúvida é, qual seria a situação do cego de nascença em João capitulo 9? No caso dele não teria ocorrido um “erro de fabricação”, já que fazia parte do plano de Deus de sua glória ser manifestada através da cura do cego?
Se você achava que sua dúvida já era suficientemente complicada de responder, o que dirá quando descobrir que na Bíblia tem uma passagem que diz que Deus fez o cego? “E disse-lhe o Senhor: quem fez a boca do homem? ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o Senhor?” (Êx 4:11).
Esta mesma passagem que parece dizer que as imperfeições são culpa de Deus irá nos ajudar a entender a diferença entre a Criação e os defeitos de criação. O contexto da passagem era a dificuldade que Moisés tinha para se comunicar, talvez por ter língua presa ou sofrer de gagueira, não sabemos. Então Deus precisa lembrá-lo de que, por ser Criador de todos os homens, tem também poder de fazer o que desejar com suas capacidades ou a falta delas. Deus podia fazer de Moisés um eloquente orador (o que Moisés duvida e essa honra acaba passando para Arão), assim como podia fazer de um cego de nascença um testemunho para sua glória.
Todo ser humano, que lá atrás foi originalmente criado por Deus, nasceu com uma imperfeição por causa do pecado. O cego nasceu pecador, tanto quanto seus pais, portanto igualmente com defeito de fábrica. Os pais poderiam parecer perfeitos, mas eram igualmente defeituosos em seu âmago, e no cego o defeito foi mais evidente porque Deus permitiu que assim fosse para poder ser glorificado em sua cura. Ainda que a ruína se manifeste de diferentes maneiras, Deus está acima de tudo e é soberano em seu poder de transformar a ruína em motivo de bênção para o homem e glória para Deus. É mais ou menos como se alguém recolhesse a sucata de uma indústria de armas e a transformasse em instrumentos cirúrgicos.
“Depois vieram também seus irmãos, e prostraram-se diante dele, e disseram: Eis-nos aqui por teus servos. E José lhes disse: Não temais; porventura estou eu em lugar de Deus? Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida” (Gn 50:18-20).
Talvez você pergunte a razão de Deus não curar todos os cegos e assim ser mais glorificado. A questão é que muitos cegos estão glorificando a Deus do jeito que estão. Quer um exemplo? Um grande número de hinos que os cristãos cantam até hoje são de autoria de uma cristã do século 19, Fanny Crosby, que até os publicava com diferentes pseudônimos a mando de seus editores. Sua produção era tão grande (cerca de 8 mil hinos) que os editores achavam que poderia criar desconfiança tantos hinos serem compostos por uma só pessoa. Ela ficou cega nos primeiros meses de vida.
A pergunta é: será que se ela tivesse visão perfeita teria produzido tanta glória para Deus? Eu acredito que não. Deus permitiu aquela deficiência física para fazer dela um instrumento de bênção e glória para Deus. Será que Paulo, se não fosse pelo “espinho na carne”, provavelmente uma enfermidade, teria sido tão usado pelo Senhor? Procure conhecer a vida de muitos servos de Deus que deixaram uma marca na história e você acabará descobrindo que muitos deles tinham problemas de saúde, problemas familiares, problemas financeiros, etc. Se Deus permitia essas coisas era por saber que eles assim dariam um melhor fruto para Deus. Qualquer agricultor sabe que a videira precisa ser literalmente mutilada para produzir melhor.
Quer ver como a perspectiva muda quando falamos de um “defeito de fábrica” que todos têm? Por que você nasceu destinado à morte e ao juízo no fogo eterno? Esta fica difícil “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23), portanto todos merecedores de juízo. Mas Deus pode mudar isso, e muda quando alguém se submete a ele em busca da salvação que ele oferece pela fé em Cristo. A história teria sido outra se Jesus, ao tentar curar o cego, tivesse escutado dele:
“O que? Vai passar lama em meus olhos? De jeito nenhum! Não quero ficar sujo. Me lavar no tanque de Siloé? Por que faria isso? Primeiro quer passar lama em meus olhos para depois eu me lavar e ainda diz que vou deixar de ser cego? Muito obrigado, mas vou ficar do jeito que estou. Não acredito em você”.
Todos os dias tem gente reagindo assim quando escuta o evangelho e duvida do poder que há na Palavra de Deus e do amor nem sempre compreendido que Deus tem pelo pecador.
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Foi no batismo que Jesus
recebeu nossos pecados?
Não, não foi no seu batismo que Jesus recebeu nossos pecados. Por ser 100% Deus e 100% Homem, enquanto andou aqui Jesus sempre foi perfeito em todos os sentidos e sem pecado. Sendo Deus e Homem, ele nunca pecou e nem poderia pecar. A simples ideia de que ele pudesse pecar cria um enigma sem solução: como poderia Deus pecar? Quem iria expiar o pecado de Deus?
Hebreus 4:15 afirma: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (literal: “pecado à parte”). Mesmo quando ele curava alguém, tomava sobre si não os pecados do enfermo, mas sua enfermidade, que era uma consequência da ruína do homem. Mas Jesus era impermeável ao pecado e seus efeitos, por isso tomava para si a enfermidade do enfermo sem ficar enfermo; tocava no leproso sem ficar impuro.
“E, chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele com a sua palavra expulsou deles os espíritos, e curou todos os que estavam enfermos; para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças” (Mt 8:16-17).
Geralmente as pessoas confundem as coisas, achando que ele tenha tomado sobre si os nossos pecados em vida, e na cruz tenha levado nossas enfermidades, mas é justamente o contrário. Jesus, que durante toda a sua vida na terra foi impermeável ao pecado, na cruz foi feito pecado por nós e assim recebeu o juízo de Deus sobre si.
“Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (1 Co 5:21).
No batismo ele não apenas NÃO tomou os nossos pecados, como ele próprio não tinha pecado algum. Por isso quando você lê dos que eram batizados por João percebe um detalhe importante: eles confessavam seus próprios pecados. Mas quando Jesus foi batizado ele não confessou nada, pois não tinha o que confessar. Só orou.
É preciso lembrar que o batismo de João Batista nada tinha a ver com o batismo cristão e os que foram batizados por João e se converteram a Cristo foram novamente batizados mais tarde em nome de Jesus, isto é, com a autoridade que Jesus havia delegado de batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
“Disselhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo. Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João. Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus” (At 19:2-5).
O batismo de João era um batismo judeu para judeus que eram culpados de terem rejeitado o Deus de Israel. Quando eram batizados, os judeus confessavam seus pecados. Ao ser batizado, Jesus apenas orava porque não tinha pecados para confessar. Compare estas duas passagens:
“Apareceu João batizando no deserto, e pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados. E toda a província da Judéia e os de Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados” (Mc 1:4-5).
“E aconteceu que, como todo o povo se batizava, sendo batizado também Jesus, ORANDO ELE, o céu se abriu; e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba; e ouviu-se uma voz do céu, que dizia: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Lc 3:21-22).
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Se o cristianismo cresce no Brasil,
por que a violência e corrupção
não diminuem?
Você escreveu perguntando a razão pela qual a violência e a corrupção não diminuem no Brasil se o cristianismo só está aumentando. O que você chama de “cristianismo” é na verdade “cristandade”, e o crescimento que vê em números de pessoas, templos e horas de rádio e TV não é crescimento, é um inchaço que nada tem de saudável. Cristianismo é como a pura e branca neve que cai do céu. Cristandade é quando a neve vira lama ao se misturar com a terra.
A realidade é que o que está crescendo é a árvore da semente de mostarda, que Jesus usou de exemplo do crescimento desproporcional do reino dos céus em Mateus 13. Ele também usou o exemplo da massa à qual a mulher acrescentou fermento e cresceu. Em ambos os casos o exemplo do Senhor é negativo, não positivo. As aves, que na primeira parábola do semeador, arrebatavam a semente caída à beira do caminho, na parábola do pé de mostarda estão confortavelmente aninhadas nos seus ramos. As aves são agentes do diabo empoleirados na cristandade professa.
O reino dos céus é a esfera das pessoas que se submetem aos preceitos que vem do céu, mas não são necessariamente pessoas genuinamente salvas. Só professam ter a Jesus como Senhor. Lembre-se de que no reino dos céus existe joio e trigo, falso e verdadeiro, convivendo, e assim é a cristandade.
A cristandade, que se sobrepõe ao reino dos céus na previsão de Jesus, iria se desenvolver ao ponto de ter domínio global. O final de sua jornada está nos últimos capítulos de Apocalipse, onde ela é vista como uma prostituta que vive de fornicar com governantes e comerciantes. Portanto, se acha que violência, crime e corrupção são coisas de traficantes e políticos desonestos, ainda não entendeu o que é a Grande Meretriz de Apocalipse, chamada de Babilônia, a Grande.
Aquele monstro poderoso, cujos tentáculos controlarão por um tempo até o governo civil (a “besta”), será o último estágio da cristandade. Seus sistemas religiosos, templos, catedrais, clérigos de fala mansa e um fluxo de riqueza de fazer os políticos corruptos parecerem trombadinhas batedores de carteira, crescerão em poder e riquezas até serem destronados e destroçados pela “besta”.
“E levou-me em espírito a um deserto, e vi uma mulher assentada sobre uma besta de cor de escarlata, que estava cheia de nomes de blasfêmia, e tinha sete cabeças e dez chifres. E a mulher estava vestida de púrpura e de escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua prostituição; e na sua testa estava escrito o nome: Mistério, a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra. E vi que a mulher estava embriagada do sangue dos santos, e do sangue das testemunhas de Jesus. E, vendo-a eu, maravilhei-me com grande admiração…
E disseme: As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas. E os dez chifres que viste na besta são os que odiarão a prostituta, e a colocarão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo. Porque Deus tem posto em seus corações, que cumpram o seu intento, e tenham uma mesma ideia, e que deem à besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus. E a mulher que viste é a grande cidade que reina sobre os reis da terra” (Ap 17:3-6, 15-18).
Antes que algum protestante aponte o dedo para Roma e o papado, é bom lembrar que toda a cristandade está representada ali, porque a meretriz é aquela que deveria ser noiva mas se vendeu ao mundo. “Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição, e os reis da terra se prostituíram com ela; e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias” (Ap 18:3).
Quando entendemos que Tiatira, das sete cartas às sete igrejas, representa o período do papado que perdura até nossos dias, podemos muito bem identificar como “seus filhos” os vários sistemas ou perfis religiosos paridos por Roma: “E ferirei de morte a seus filhos, e todas as igrejas saberão que eu sou aquele que sonda os rins e os corações. E darei a cada um de vós segundo as vossas obras” (Ap 2:23).
É sempre bom lembrar que cristandade é tudo o que hoje leva o nome de Cristo na terra, inclusive eu e você, portanto ninguém pode apontar dedos e dizer-se isento de culpa. Mas haverá um momento em que Jesus irá extrair dessa massa a Noiva, os verdadeiros salvos (que o Noivo sabe quem são), e aí só restará a “Grande Meretriz”. Portanto se você se espanta com a violência e a corrupção aumentando apesar do número de igrejas cristãs só crescer no Brasil, saiba que “nem tudo que reluz é ouro e nem todo sapato é de couro”. A maior parte da presença cristã no Brasil e no mundo não é formada de cristãos genuínos, mas do imprestável joio que só serve para ser queimado.
“Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo; mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio. E os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu, no teu campo, boa semente? Por que tem, então, joio? E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres pois que vamos arrancá-lo? Ele, porém, lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro” (Mt 13:24-30).
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Como deixamos de ser assim
se somos capazes de fazer estas coisas?
A passagem de sua dúvida é esta: “Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus” (1 Co 6:9-11).
Sua dúvida é como pode ser dito que fomos assim se ainda somos capazes de praticar todos esses pecados descritos ali. A esta altura de sua vida cristã você já deve ter percebido que o potencial para praticar o mal continua em você, mesmo depois da conversão. Então o que quer dizer a passagem? Que no seu caso não houve uma conversão real e é melhor desistir da ideia de ter a salvação eterna? De modo algum.
Geralmente quem vem de uma herança cristã fundamentalista católica ou protestante tem dificuldade de entender isso porque não considera que o crente em Cristo possua agora duas naturezas: a velha, chamada carne ou velho homem, que nunca irá melhorar e para a qual Jesus deu um ponto final na cruz, e a nova natureza, nascida de Deus que é perfeita. O ser responsável continua sendo você mesmo, mas estas duas estarão atuando em você mais ou menos, conforme seu grau de comunhão com Deus.
No catolicismo e protestantismo fundamentalistas, e em algumas religiões evangélicas mais recentes, existe uma tentativa de melhorar a carne ou o velho homem, do mesmo modo como a funerária tenta melhorar o cadáver com maquiagem e terno novo. Mas continua sendo um cadáver.
Então o que significa a passagem de 1 Coríntios 6? Significa que você agora é nova criação aos olhos de Deus, que as coisas velhas já passaram e que tudo se fez novo. E que você mudou de posição aos olhos de Deus. Quando ele olha para você não vê mais um descendente de Adão, da linhagem que teve seu fim na cruz, mas alguém criado em Cristo Jesus para uma herança eterna. Deixe-me explicar:
Digamos que um menor marginal entre na padaria e roube um doce. O funcionário vê, aciona a polícia, o policial verifica a ficha do meliante no computador da viatura e descobre sua longa folha de condenações. Ele é recolhido a uma instituição. É um ladrão.
Agora digamos que seu filho pequeno, criado com boa educação e com todos os recursos, faça a mesma coisa. O funcionário avisa você, que passa no caixa, paga pelo doce e dá uma bronca no menino. Ele roubou, mas será que a polícia o consideraria um ladrão? Seria ele recolhido a uma instituição para menores infratores? Não, porque existe uma diferença entre ser ladrão e praticar um roubo.
Aos olhos de Deus nós éramos como o menino marginal, com uma longa ficha de crimes perante a justiça. Agora não somos mais assim. Não que sejamos incapazes de praticar qualquer uma daquelas coisas, mas temos agora uma nova identidade que não é a do malfeitor do passado. A dificuldade de entender que temos duas naturezas — a velha, que não pode melhorar porque está arruinada, e a nova, que não pode melhorar por ser perfeita — levou ao equívoco até alguns tradutores da Bíblia. Veja esta mesma passagem de diferentes versões da Bíblia:
“Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca” (1 João 5:18 – Almeida Corrigida Fiel).
“Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando; antes o guarda aquele que nasceu de Deus, e o Maligno não lhe toca” (1 João 5:18 – Almeida Revista e Atualizada).
A segunda versão está errada, por não distinguir que o apóstolo João fala da nova natureza, que é nascida de Deus. Como poderia uma natureza nascida de Deus pecar se é perfeita? A velha natureza nasceu “do sangue,… da vontade da carne,… da vontade do homem” (Jo 1:13), mas não de Deus. O novo homem “é nascido de Deus” (1 Jo 5:18).
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O que acha de muçulmanos convertidos
depois de sonharem com Jesus?
Dou graças a Deus que tenham sido alcançados deste modo, se não havia outra maneira de serem despertados, principalmente considerando que vivem em países onde o evangelho é proibido. O centurião Cornélio teve uma visão de anjo que não lhe falou do evangelho, mas mandou que procurasse a Pedro para ouvir a Palavra de Deus. Por que o anjo não lhe disse logo? Porque não foi a anjos que Deus deu a missão de evangelizar, mas àqueles que um dia estiveram perdidos e foram achados e salvos.
Portanto é certo que essas pessoas ouviram o evangelho de uma forma ou de outra para que a Palavra de Deus pudesse brotar em seus corações. A visão ou sonho que tiveram pode ter sido apenas uma forma de chamar atenção para Jesus. Mas não pense que isto seja uma regra, mas sim uma exceção em razão do contexto, por viverem numa sociedade hermética à Palavra de Deus e ao evangelho da graça. Não queira sair por aí anunciando assim: “Sonhe com Jesus e seja salvo!”, porque não vai funcionar.
Um testemunho de conversão pode ser importante para nos encorajar, mas não tente achar que exista um padrão que deve servir para todos. Quando alguém me diz que teve um sonho e se converteu, não posso questionar sua fé. Se Deus usou aquilo para despertá-lo para buscar a Cristo, amém. Mas o tempo todo pessoas me escrevem dizendo “sonhei isso”, “sonhei aquilo”, “o que significa?” Ou, “na igreja as pessoas têm visões e sonhos, porque eu não?”.
Tudo isso nada mais é do que ocupação com “coisas que não viu” ou “visões”, dependendo da versão de Colossenses 2:18. Ou seja, sonhos e visões são coisas irreais que na maioria das vezes só serve para encher de orgulho os que porventura tenham alguma experiência do tipo, enquanto traz desânimo aos sinceros que não tem a mesma conexão banda-larga com o céu.
Então aconteceu de um muçulmano se converter depois de ter sonhado com Jesus? Ótimo, glória a Deus. Alguém que já conhece a verdade deve se ocupar com sonhos e visões? Não, porque a Palavra de Deus nos alerta contra isso: “Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal” (Cl 2:18).
Alguém argumentou que Deus usou de uma visão de um homem macedônio para levar o apóstolo a pregar na Macedônia. Sim, isso está muito claro para mim, mas também me parece que Paulo havia perdido o rumo e a direção do Senhor e foi preciso ele usar de algo mais impactante para chamar sua atenção. Repare no que aconteceu antes de Paulo ter a visão:
“E, passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo espírito santo de anunciar a palavra na Ásia. E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o espírito não lho permitiu” (At 16:6-7).
Até aqui a boa vontade de Paulo de pregar o evangelho fez com que ele se esquecesse de que Deus poderia também não querer que pregasse nesses lugares. É então que o Espírito Santo lhe dá uma ordem clara de onde ir pregar:
“E, tendo passado por Mísia, desceram a Trôade. E Paulo teve de noite uma visão, em que se apresentou um homem da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: passa à Macedônia, e ajuda-nos. E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho” (At 16:8-10).
Lembre-se também de que aquilo que você encontra em Atos faz parte de uma época de transição de judaísmo para cristianismo (por isso nos primeiros capítulos os cristãos ainda iam ao Templo de Jerusalém). Além disso, eles ainda não tinham a doutrina dos apóstolos, isto é, o ensino registrado como Palavra de Deus que deveria guiar os cristãos. Antes disso eles dependiam de alguma profecia fresquinha vinda de Deus, ou de ficarem analisando algum sonho ou visão para saber se aquilo vinha ou não de Deus. Hoje somos guiados pela Palavra escrita e pelo Espírito Santo e creio que Deus só irá se valer de meios excepcionais em situações excepcionais, como a dos muçulmanos em seus países e cultura avessos ao cristianismo.
Por isso, quando encontrar testemunhos de conversão que lhe parecerem milagrosos e fantásticos, não queira fazer disso o padrão, mas considere uma exceção. O que importa não é o modo COMO somos levados a Cristo, mas a Pessoa A QUEM somos levados, ou seja, o Salvador. Ocupar-se demais com sinais que porventura tenham acompanhado uma conversão é o mesmo que uma mãe embalar nos braços a placenta depois de já ter nascido o bebê.
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Se não devemos chamar ninguém
de Mestre, como você diz que
existe dom de mestre?
Você me viu mencionar três dons, “pastor, evangelista ou mestre”, e se mostrou indignado, pois aprendeu no evangelho que a ordem de Jesus foi “Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo” (Mt 23:10). Você ainda protestou dizendo que é covardia eu não deixar aberto a seção de comentários de meus vídeos.
Se eu dissesse a você que “entrar na casa foi fácil demais, o problema era parar nela, pois a casa tinha dois centímetros de largura, era grande demais!” será que iria estranhar? Se você não se lembrasse de que a palavra “casa” tem mais de um significado, também não iria entender que estou falando de camisa e botão. Quem não
entender de instalações elétricas vai estranhar quando o eletricista pedir para comprar uma tomada macho e outra fêmea. E vá explicar a um estrangeiro que quando no Brasil dizemos “Pois não” estamos querendo dizer “Sim” e quando dizemos “Pois sim” queremos dizer “Não”!
A maioria das dúvidas que recebo poderiam ser resolvidas com um pouco mais de conhecimento de língua portuguesa e interpretação de texto, além obviamente de bom senso. Existem também os casos de autismo, que de acordo com a definição moderna, não necessariamente descreve alguém com um distúrbio grave de cognição ou controle dos movimentos, mas a mera dificuldade de entender sarcasmo, linguagem figurada ou de duplo sentido. Tem gente que se você disser “Pode esperar sentado” vai puxar uma cadeira para esperar por você. São pessoas literais.
Em Mateus 23:10 Jesus não está se referindo a “mestre” como alguém com a capacidade de ensinar, ou alguém que obteve o título graças a um curso de mestrado na faculdade. Se assim fosse ele não iria mais tarde dar a alguém o dom de mestre, como ensina Efésios 4:11 “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (ARA). Aqui a palavra grega “didaskalos” foi traduzida por “mestre”, em outras versões aparece como “doutor” e o sentido é o de alguém capacitado a ensinar. A palavra usada por Jesus em Mateus era, no grego, “kathegetes”, que tem o sentido de “guia”, alguém que deve ser seguido.
Assim fica mais fácil de entender que em Mateus o Senhor falava de pessoas que adotavam títulos, como “Rabi”, “Mestre” ou “Guia” para se colocarem como referencial, enquanto o dom de “doutor” ou “mestre” é no sentido da capacidade operacional de ensino, não de um título honorífico nas coisas espirituais.
Mas nem sempre a questão se resolve conhecendo-se grego. O versículo anterior, em Mateus 23:9, diz também “a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus”. Agora imagine o garotinho que descobre isso e vira para o pai e diz: “Descobri que você não é meu pai! Está na Bíblia!”. Mas neste caso o grego é “pater”, a mesma palavra usada em toda a Bíblia para designar o progenitor. Deveria uma criança deixar de chamar seu progenitor de “pai”? É claro que não, pois está muito claro que o sentido em Mateus é espiritual, e não da relação natural.
Você chamou de “covardia” o fato de eu não permitir comentários em meus vídeos, e agora fui eu quem ficou em dúvida. Será que “covardia” em seu vocabulário tem um sentido diferente do meu? Digo isto porque quando morei em Goiás e um rapaz me disse que ele era “muito sistemático” eu demorei para entender que para alguns “sistemático” significava “nervoso”, não “metódico”. Felizmente eu já tinha morado lá tempo suficiente para entender quando alguém a quem eu iria dar carona disse: “Espere um pouco que vou buscar meus trens”. Caso contrário eu iria dizer que um trem jamais iria caber num carro.
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As denominações cristãs foram criadas por Satanás?
Você escreveu dizendo que teve um sonho no qual Deus lhe dizia que as denominações teriam sido criadas por Satanás, e as pessoas congregadas nelas não estariam adorando o Deus verdadeiro, mas cada um seu próprio deus. Então me perguntou se eu acho que o seu sonho faz sentido.
De duas, uma: ou você comeu demais antes de dormir ou assistiu muitos de meus vídeos corrigindo o erro denominacional. Ou as duas coisas juntas. Minha sugestão é que vá dormir mais leve e procure dentre os meus vídeos aqueles que falam mais do Senhor Jesus do que dos erros da cristandade. Embora os temas mais críticos ao sistema religioso sejam os mais vistos, a verdade é que tenho mais de dois mil vídeos e a grande maioria não fala de denominações, mas de Cristo, sua obra de salvação, sua Pessoa divina, ou então respondem a diferentes dúvidas sobre a Bíblia.
Seu sonho não tem fundamento. Denominações não foram criadas por Satanás, foram criadas por homens. E nelas existem muitos cristãos sinceros e piedosos que apenas não entenderam ainda, onde e como devem congregar. Mas eu posso garantir que muitos deles me farão passar vergonha no Tribunal de Cristo quando o Senhor avaliar nossas obras (obviamente lá ninguém passará vergonha, é apenas forma de expressão). Muitos desses irmãos receberão de Deus o louvor pela dedicação ao Senhor, aos irmãos e ao evangelho que pregaram aqui, alguns com o custo da própria vida.
Às vezes eu até me preocupo quando vejo irmãos que acabaram de descobrir a verdade sobre reunir ao Nome de Cristo e de repente se esquecem de que estamos neste mundo para testemunhar de Cristo, e não testemunhar contra pastores ou contra denominações. Então param de evangelizar de forma positiva para contender de forma negativa.
A verdade que nos atrai a Cristo deve ser o que nos afasta do erro. Você pode se apartar do erro apenas para se tornar um militante “anti-erro”, o que não é bom. Uma irmã, que hoje está em comunhão, antes de ser recebida à comunhão à mesa do Senhor visitou um determinado grupo que se reúne sem denominação e ficou chocada com o que viu. A reunião inteira foi para falar mal de pastores e denominações, não para exaltar o Senhor. O ministério quando é realmente do Espírito irá se ocupar com Cristo e exaltar a Cristo:
“Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16:13-15).
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Paulo estava falando das denominações?
Você perguntou se aquilo que Paulo escreve em 1 Coríntios pode ser aplicado às divisões de cristãos em diferentes denominações religiosas. A passagem que citou é esta: “Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?” (1 Co 1:11-13).
Quando Paulo escreveu isso ainda não existiam denominações, mas o embrião das divisões já começava a se formar em Corinto de duas maneiras: por aqueles que faziam de tudo para atrair discípulos, e por aqueles que decidiam eleger um irmão mais dotado para seguir, como se fosse um mestre ou guru.
No primeiro exemplo temos as muitas denominações existentes hoje fundadas por algum pregador, no segundo temos as denominações fundadas por seguidores de algum pregador (mesmo que este não tivesse a intenção), como é a Igreja Luterana, Igreja Wesleyana e outras.
Então, o embrião era aquele mesmo, mas na verdade as pessoas não estavam dizendo “eu sou de Paulo, eu de Apolo”, etc. Paulo usou o seu nome e de outros discípulos apenas como exemplo para evitar expor os verdadeiros pivôs das divisões ou que eram eleitos pela preferência dos irmãos. Talvez os piores dentre os citados fossem os que diziam “eu sou de Cristo”, como se os outros não fossem, uma atitude reprovável. Ele explica mais adiante:
“E eu, irmãos, apliquei estas coisas, POR SEMELHANÇA, a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro” (1 Co 4:6).
Mas fica muito evidente que dizer “eu sou desse” ou “eu sou daquele” tem o mesmo sentido de hoje alguém dizer “eu sou batista” e outro “eu sou presbiteriano”, atitudes que o apóstolo descreve como carnais.
“E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis, porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais?” (1 Co 3:1-4).
Em nossos dias aquele embrião, que começou por preferências e partidos de homens para homens, acabou se transformando em partidos por apreciação de pessoas jurídicas ou organizações. Deus não pode ser glorificado através de uma instituição religiosa com o nome de “Igreja X” ou “Congregação Y” simplesmente porque não existe nada do tipo na Bíblia.
Deus usa seres humanos, não organizações, para evangelizar, pastorear e ensinar, e para isso Cristo deu os dons de evangelistas, pastores e doutores em Efésios 4. Homens podem usar suas organizações para atrair pessoas, podem usar gráficas para imprimir Bíblias, correios para distribuí-las, mas nada disso salva ou glorifica a Deus. O que salva é o evangelho pregado por pessoas (estas sim, que podem ou não ser convertidas), porque não foi a anjos que Deus deu essa missão e muito menos a pessoas jurídicas.
Quando as instituições humanas vão além de seu papel de ferramentas para apenas distribuir literatura ou imprimi-las e passam a ser meios de negar a suficiência do Nome que está acima de todo nome e dividir os salvos por Cristo por diferentes nomes, isso se transforma em uma heresia, que vem do latim haerĕsis que, por sua vez, vem do grego αἵρεσις, que significa “escolha” ou “opção”. Ao contrário do que alguns pensam, heresia não é sempre um ensino contrário à Palavra de Deus. Uma heresia pode ser uma verdade que é usada para dividir os cristãos.
Portanto herege é o que cria partidos para dividir, e o ápice desse erro é dar nomes aos partidos para que fiquem restritos a um determinado grupo de pessoas que se identifica por esse nome. O nome de Jesus é o único nome que identifica a todos os salvos por ele e os coloca numa mesma condição de salvos. É também o único nome dado por Deus para identificar os seus filhos, e o único nome a servir de ímã ou centro de reunião dos crentes. Qualquer outro nome afasta as pessoas desse centro para aglutiná-las em torno de algo que não é comum a todos os salvos.
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Como Jesus pode ser a mesma Pessoa?
Você perguntou: “Se na Trindade o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma mesma pessoa, como conciliar o fato de Jesus ter participado de eventos como as pragas que foram lançadas sobre o Egito?” Você está equivocado: o Pai, o Filho e o Espírito Santo não são uma mesma Pessoa, mas três Pessoas distintas em um só Deus. Não há como entender algo como a Trindade, apenas crer e aceitar.
Na Criação em Gênesis 1 e 2 encontramos as três Pessoas chamadas de Elohim (plural de Eloah que significa Deus). Elohim — as três Pessoas — criou todas as coisas, e também o homem. Em Gênesis 3 é Elohim que confabula entre si — as três Pessoas — que não pode deixar o homem no jardim do Éden para que não coma da árvore da vida e viva para sempre naquela condição de pecador. O Antigo Testamento segue então com Jeová — que é o mesmo Jesus dos evangelhos — como protagonista da maior parte das ações, pois ele é o executor das ações, quando se trata de lidar com o homem e com Israel na terra.
Se você não consegue conciliar aquele Jeová severo do Antigo Testamento, que enviou pragas sobre o Egito e mandava matar nações inteiras, com o Jesus manso dos evangelhos, que ensinava a dar a outra face, pense em um policial, que é marido amável para com a esposa e pai dedicado aos filhos. Agora pense no mesmo policial quando precisa enfrentar uma quadrilha de bandidos com armamento pesado. É o mesmo ser humano, mas na hora de lidar com os bandidos para defender um cidadão como você, nem você irá querer que ele atire talco Pom-Pom nos marginais e se proteja com fralda descartável. Ele vai usar balas de aço e colete de Kevlar.
Se neste ponto você está achando difícil conciliar o manso Jesus dos evangelhos com o severo Jeová do Antigo Testamento, vou dificultar ainda mais a questão. Inclua na equação o Filho do Homem, Jesus, que aparece no Apocalipse destruindo seus inimigos com a espada de sua boca e aterrorizando a todos com sua terrível visão. Até o amável João, que vivia recostado ao seu seio, tomou um susto quando viu Jesus vestido de Juiz, justo e severo.
É preciso entender que Jesus é o Filho de Deus e aparece no Antigo Testamento em um caráter (como Jeová), nos evangelhos em outro (como o Servo humilde) e no Apocalipse volta a surgir agora como o Juiz que irá julgar e lançar sentença sobre os inimigos de Deus. E em meio a tudo isso ele á o amoroso e afável Noivo apaixonado por sua Noiva, a Igreja.
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O peso do ouro trazido a Salomão
tem algo a ver com o anticristo?
Em 2 Crônicas 9:13 diz que o peso do ouro trazido a Salomão era de seiscentos e sessenta e seis talentos. Você pergunta se esse número tem alguma coisa a ver com o anticristo. Com o anticristo diretamente não, mas tem tudo a ver com o ser humano em sua posição de inferioridade diante de Deus.
Os números na Bíblia têm um significado, e é por isso que distâncias, pesos, medidas e moedas nunca devem ser traduzidos ou convertidos para medidas atuais. Pela Bíblia entendemos que o número 6 é número de homem, um número incompleto e não perfeito. O 7 nos fala de Deus e perfeição, algo que o número 6 não consegue atingir.
No peso do ouro que era trazido a Salomão, Deus quis mostrar que Salomão, ainda que fosse um grande rei, não era Deus. Um bom exemplo é a simbologia do número SEIS, explicada assim no “Concise Bible Dictionary”:
“Número Seis: Algo incompleto, imperfeito (porque falta um para chegar ao perfeito número sete). Salomão tinha uma escada de seis degraus para chegar ao seu grande trono em 1 Reis 10:19, impedindo que ele ficasse elevado demais e livrando-o da idolatria. Seiscentos e sessenta e seis talentos de ouro eram trazidos a ele a cada ano em 1 Reis 10:14, todavia ele foi obrigado a confessar que tudo não passava de vaidade e vexação de espírito. Os judeus em Caná tinham seis talhas de pedra para as purificações em João 2:6 mas elas expressavam a insuficiência das ordenanças em atender as demandas da necessidade do homem. O número da besta imperial será seiscentos e sessenta e seis em Apocalipse 13:18, o que a torna imperfeita em todos os aspectos”.
Quer ver agora o quanto você perde lendo uma versão da Bíblia como a Linguagem de Hoje e outras que costumam traduzir pesos, medidas e moedas? Veja 1 Reis 10:14 onde fala dos seiscentos e sessenta e seis talentos de ouro, um número obviamente colocado ali pelo Espírito Santo para indicar a imperfeição na simbologia bíblica:
“O peso do ouro que se trazia a Salomão cada ano era de seiscentos e sessenta e seis talentos de ouro” (1 Rs 10:14 – ARA).
Agora vejam versões que corrompem o significado ao traduzirem ou converterem pesos, medidas, moedas, etc.:
“O peso do ouro que chegava às mãos de Salomão, anualmente, era de vinte e três mil e trezentos quilos” (1 Rs 10:14 – King James Português).
“Todos os anos o rei Salomão recebia mais ou menos vinte e três mil quilos de ouro” (1 Rs 10:14 – NTLH).
“O peso do ouro que Salomão recebia anualmente era de vinte e três toneladas e trezentos quilos” (1 Rs 10:14 – NVI).
Na versão “Bíblia Judaica Completa” em inglês o número também foi substituído por cerca de “duas toneladas”.
Detalhes assim ajudam você a escolher uma boa versão da Bíblia para ler. Sugiro ainda a leitura de “Símbolos Bíblicos do Apocalipse”, de J. N. Darby no site “Manjar Celestial”, que mostra o significado de alguns números e de outros símbolos encontrados naquele livro.
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Minha filhinha tem pesadelos com
monstros. Pode ser influência demoníaca?
Esqueça de querer enxergar tudo como se o diabo estivesse por detrás. Na verdade ele está por detrás de tudo, porque afinal tudo o que há no mundo não procede de Deus, mas do mundo, e sabemos que Satanás é seu príncipe. Mas isso não significa que devemos ficar ocupados com o inimigo quando temos habitando em nós um Amigo, o Espírito Santo, aquele que é maior que o mundo.
Crianças são facilmente impressionáveis e muitos pais não percebem que são os verdadeiros culpados por isso. Explico. Quando eu era criança, o máximo de violência que passava na TV Philco preto e branco da sala da casa de meus pais era o Zorro e seu amigo índio Tonto. Eles lutavam com os bandidos, mas o chapéu sempre permanecia na cabeça de todos, menos na de Tonto que tinha uma pena e não usava chapéu. Quando o Zorro atirava, ele só acertava a mão do bandido para seu revólver cair. Só isso. Ninguém se machucava, ninguém morria, ninguém se assustava. Até nos desenhos do Tom e Jerry, hoje considerados politicamente incorretos, a violência era natural. Eram cabeçadas, socos no nariz, tropeções, etc., coisas perfeitamente normais na vida de uma criança saudável.
Mas hoje os filmes e desenhos “para crianças” não são naturais. São violentos, mágicos e aterrorizantes. Assisti com meus netos um desenho da Disney que parecia ter tudo de inocente, com uma coelhinha policial perseguindo os bandidos. O mais novo não dormiu à noite e teve pesadelos, e só então fui parar para analisar o quanto havia de terror naquele desenho feito para crianças.
As crianças ainda não estão preparadas para filtrar o que é realidade e o que é ficção, e se no Zorro o soco era de um punho humano, no desenho moderno ele vem de um misterioso poder mágico gerado nas trevas ou por algum alienígena querendo destruir o planeta com armas de raios. Uma criança sabe se defender de um soco, mas como fazer se este vier de uma “varinha de condão” ou de um canhão de prótons?
Portanto, se você não quiser que seus filhinhos acordem assustados com pesadelos, tenha o trabalho de filtrar o que eles veem quando estão acordados. Enquanto tem muito pastor por aí pregando contra desenhos da Disney que têm alguma imagem obscena escondida em algum lugar, a maioria não percebe que o problema não está nas obscenidades humanas naturais, mas nos terrores mágicos e sobrenaturais. Faz lembrar o menino cuja mãe abriu a porta do quarto enquanto ele via um filme impróprio. O garoto logo tranquilizou a mãe: “Não se preocupe, mãe, não tem cena de nudez. Estou vendo ‘O psicopata da motosserra’”.
Que existe um esforço do inimigo de assustar e prender a mente infantil para seus propósitos, não há dúvida. Ou você não reparou que as crianças estão aprendendo cada vez mais a gostar do dragão?
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Jesus mandou João cuidar de Maria
ou Maria cuidar de João?
Você escreveu perguntando, indignada: “De onde você, tirou essa ideia de que nós católicos gostaríamos que fosse a Santíssima Virgem Maria a cuidar de João? Faça seu marketing religioso do jeito que bem entender, mas respeite a religião dos outros!” Sua pergunta veio depois que leu minha seguinte afirmação, no texto com o título “Jesus amava mais a João do que aos outros”. Ali diz: “Na cruz Jesus se dirige à sua mãe para mostrar que a partir daquele momento seria João quem cuidaria de Maria (e não o contrário como gostariam os católicos).” Ela foi extraída de meu texto “Jesus amava mais a João que aos outros?”.
Apesar de eu ter vindo de família católica, como a maioria dos brasileiros de minha época, me enfiei nas religiões orientais e no esoterismo nos anos 70, até em 1978 me converter a Cristo. Deixei as doutrinas orientais e mergulhei de cabeça na doutrina católica e na Bíblia, pois passei a frequentar assiduamente a missa e inclusive a ajudar o padre. Um ano foi o suficiente para perceber que a Bíblia e a doutrina católica não batiam, e a razão disso é simples. A própria doutrina católica instrui que não é a Bíblia a regra de fé dos católicos, mas sim a tradição dos “Santos Padres” e do colegiado. Assim, se existir incompatibilidade entre o que a Bíblia diz e o que o colegiado diz, este último fica valendo.
É o caso aqui, e quando você pergunta de onde eu tirei “essa ideia de que nós católicos gostaríamos que fosse a Santíssima Virgem Maria a cuidar de João”, a resposta é: Tirei do que disse o Papa João Paulo II, que em um de seus livros escreveu: “As palavras de Jesus na cruz, na realidade, revelam que o Seu primeiro intento não é o de confiar a mãe a joão, mas de entregar o discípulo a maria, atribuindo-lhe uma nova missão materna…”.
Mas o autor não para aí. Depois de simplesmente inverter o sentido da frase do evangelho, que na sua concepção estaria significando que “desde aquela hora Maria recebeu João em sua casa” ao invés de “desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa”, o Papa João Paulo II diz que João, o autor do evangelho, está “quase a querer ressaltar que Ele levou a termo o Seu sacrifício com a entrega da Mãe na obra da salvação”. Ele parece inferir que Maria seja parte integrante e necessária da obra de Cristo na cruz para a salvação dos homens.
Quer mais? O texto segue dizendo que “no Calvário esse amor manifesta-se ao dar uma mãe, a Sua, que se torna assim também a nossa mãe… As palavras de Jesus: ‘Eis aí o teu filho’, realizam aquilo que exprimem, constituindo Maria Mãe de João e de todos os discípulos destinados a receber o dom da Graça divina” (do livro “A Virgem Maria” de João Paulo II).
Portanto, se você acredita que os católicos não gostariam “que fosse a Santíssima Virgem Maria a cuidar de João” é melhor ler um pouco mais doutrina católica para entender como ela é capaz de inverter o sentido da Bíblia. Ok, não me leve a sério. O melhor é que você leia mais a Bíblia, pois depois de um ano estudando doutrina católica posso dizer a você que só cheguei à conclusão de que perdi um tempo que poderia ter sido melhor aproveitado lendo mais a Bíblia.
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Jesus irou-se pelo comércio no Templo
ou porque os sacerdotes vendiam mais caro?
Você perguntou se, ao afugentar do Templo os cambistas e mercadores, Jesus teria ficado irado por venderem coisas no Templo ou porque os sacerdotes vendiam mais caro os animais para os sacrifícios. Não sabemos se os sacerdotes corruptos tinham alguma participação para permitir que isso acontecesse ali, mas podemos usar nossa imaginação neste sentido.
Ao irem a Jerusalém os judeus deviam levar seus animais para sacrificar, mas muitos viajavam de longe e isso podia ser impossível de fazer, por isso precisavam comprá-los lá. Para isso tinham de trocar o dinheiro de seu país com os cambistas por uma moeda local. Essas atividades, que deviam acontecer nas ruas da cidade, tinham sido levadas para dentro das dependências do templo, e foi essa a bronca que o Senhor deu nos cambistas e mercadores.
Embora hoje podemos usar isso como exemplo do mal que é transformar religião em negócio, não existe templo no cristianismo e nem precisamos comprar animais para serem sacrificados. Por não existir um “templo cristão”, para você fazer literalmente comércio no templo, teria de abrir sua barriga e negociar ali dentro, porque nosso corpo agora é o templo do Espírito.
O que alguns pregadores mercenários fazem hoje nos templos de suas religiões, no rádio e TV é mercadejar a Palavra, transformando os crentes em negócio. Uma das características da Babilônia, a Grande Meretriz de Apocalipse que será a cristandade professa sem Cristo e sem os cristãos genuínos, terá sido a de comércio, que inclui não apenas mercadorias de toda espécie, mas “corpos e almas de homens”.
Depois de ocorrer sua queda (ainda no futuro), o livro de Apocalipse diz que “sobre ela choram e lamentam os mercadores da terra; porque ninguém mais compra as suas mercadorias: mercadorias de ouro, e de prata, e de pedras preciosas, e de pérolas, e de linho fino, e de púrpura, e de seda, e de escarlata; e toda a madeira odorífera, e todo o vaso de marfim, e todo o vaso de madeira preciosíssima, de bronze e de ferro, e de mármore; e canela, e perfume, e mirra, e incenso, e vinho, e azeite, e flor de farinha, e trigo, e gado, e ovelhas; e cavalos, e carros, e corpos e almas de homens” (Ap 18:11-13).
Isso que você encontra hoje em muitas chamadas “igrejas” e também em programas católicos e evangélicos nada mais é do que “homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho… inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas… E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita” (1 Tm 6:5; Fp 3:18-19; 2 Pe 2:3).
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Precisamos começar as reuniões
invocando o Senhor?
Você quer saber o que acho de uma reunião de cristãos que sempre começa com uma gritaria de pessoas repetindo “Oh! Senhor Jesus!” como se fosse um mantra. Elas alegam que estão invocando o nome do Senhor e que é assim que deve ser feito. Mas será que existe fundamento no que fazem?
A Bíblia é clara que já no Antigo Testamento havia uma linhagem que começou a invocar o nome do Senhor a partir de Sete (Gn 4:26). Também mostra que o invocar o nome do Senhor nos coloca numa posição que contrasta com a do pagão que invoca seus deuses (1 Rs 18:26-39). Até mesmo para a salvação somos exortados a crer com o coração e a invocar com a boca:
“Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação” (Rm 10:8-10).
Mas qualquer bom entendedor saberá distinguir que na Bíblia está assim para deixar claro em quem cremos. Caso contrário um mudo jamais poderia ser salvo ou sequer congregar ao nome do Senhor por estar incapacitado de emitir qualquer som parecido com “Oh! Senhor Jesus!”. Um gago ou um fanhoso também não seriam capazes de criar a dramatização adequada ao tom de voz que você percebe ser perfeitamente ensaiada nessas “invocações”. O Senhor em quem o cristão crê não precisa ser acordado com gritos para dar atenção aos que desejam adorá-lo quando congregados ao seu nome. Ele sabe muito bem o motivo de estarem ali.
A resposta para a pergunta: “Devemos gritar ‘Oh! Senhor Jesus!’ quando iniciamos uma reunião da igreja ao seu nome?”, você encontra nas instruções claras e detalhadas que foram dadas para uma reunião da igreja ou assembleia em 1 Coríntios 14. Ali não diz: “Comecem invocando o nome do Senhor”, embora qualquer um saberia — e o Senhor mais que ninguém — que é para o Senhor que estarão reunidos. Invocar o nome do Senhor é fazer algo para ele ou sob sua direção e comando, e não usar uma frase de efeito ou palavra mágica do tipo “Shazam!” ou “Abracadabra!”.
Eu, que antes de minha conversão estive imerso em religiões orientais, tenho aversão a tudo que soe como os mantras que eu costumava repetir e que efetivamente podem ter algum efeito sobre o corpo e as emoções por causa da vibração e frequência sonora. Mas o cristão não precisa de nenhum estimulante sonoro para estar em comunhão e adorar o Senhor.
Somos ensinados nesta dispensação que Deus busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade (João 4), e essa adoração cristã pode perfeitamente ser em silêncio, pois ela vem da nova vida que temos em nós através do Espírito Santo que habita em nós. Quando oramos em nome do Senhor, quando cantamos ao Senhor, quando damos ações de graças, fazemos tudo em nome dele, e não creio que ele não entenda isso. Por outro lado alguns podem fazer uma invocação oral que impressione os ouvintes, mas que nada tenha a ver com o Senhor.
“Alguns dos exorcistas judeus ambulantes tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus a quem Paulo prega. E os que faziam isto eram sete filhos de Ceva, judeu, principal dos sacerdotes. Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: Conheço a Jesus, e bem sei quem é Paulo; mas vós quem sois? E, saltando neles o homem que tinha o espírito maligno, e assenhoreando-se de todos, pôde mais do que eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa” (At 19:13-16).
O ponto para o qual quero chamar sua atenção é que não existe na doutrina dos apóstolos qualquer indicação de que uma invocação audível deva ser feita para se começar uma reunião. Evidentemente os que estão ali estarão ocupados com o nome do Senhor, reunidos ao seu nome e orando em seu nome. Mas ao que parece esse grupo tomou como bandeira essa prática para assim se diferenciar de outros cristãos que “não invocam” o nome do Senhor no início de suas reuniões.
A única bandeira que o cristão deve tomar é o NOME do Senhor, e não alguma prática ou modelo de invocação que o diferencie de outros irmãos em Cristo. “E de todos sereis odiados por causa do meu Nome” (Lc 21:17). “Porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios” (3 Jo 1:7). Certas práticas alçadas como bandeiras de diferenciação, além de dividirem os cristãos, servem para esconder erros doutrinários mais graves. É a velha história do mágico que balança uma mão enquanto o truque é feito com a outra.
Quer um exemplo? Esse mesmo grupo professa uma doutrina das mais perniciosas, que é a ideia de que Deus enxergue duas classes diferentes de salvos por Cristo — os de primeira, chamados de vencedores, e os de segunda (que a Bíblia não chama de perdedores, mas fica subtendido que são vistos assim). Os “vencedores” iriam no arrebatamento, enquanto os “perdedores” ficariam na terra para aparar algumas arestas, como se a obra de Cristo não tivesse sido perfeita no caso deles. Se adivinhar onde a maior parcela de “vencedores” está congregada você ganha um doce.
É simples saber que ninguém vai ficar aqui no arrebatamento para ser “purificado” ou “aperfeiçoado”. Se fosse assim, os que irão ressuscitar nesse dia também precisariam ser divididos em duas turmas, uns que iriam ressuscitar para subir ao céu e outros que, mesmo ressuscitados em um corpo que já não sofre, seriam obrigados a passar pela grande tribulação… para sofrer! Mas espere um pouco! Como eles passariam pela grande tribulação se já morreram? Se não morreram já aperfeiçoados e vencedores, estão perdidos para sempre, pois não existe essa segunda chance após a morte.
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Por que Deus exigia o sacrifício
de animais?
Você perguntou a razão de Deus ter ordenado sacrifícios de animais no Antigo Testamento e da previsão disso continuar quando Cristo estabelecer seu reino de mil anos na terra. Então você comentou: “Como alguma bondade poderia vir de um ato de crueldade?”.
Existe um princípio que permeia a Criação em seu estado atual, e é o da necessidade da morte para que se mantenha a vida. Todos os dias promovemos sacrifícios de animais para sermos alimentados e continuarmos vivos. O vegetariano pode protestar dizendo que não faz assim, mas isso apenas porque ele qualifica os animais entre mais e menos dignos segundo os seus próprios critérios. Por que seu poodle teria mais direito à vida do que os animais sacrificados que compõem sua ração?
Mas ainda que você não tenha um cãozinho de estimação, não pode se eximir de assassinar milhões de criaturinhas todos os dias para manter sua privada cheirosa e livre de bactérias. Ao despejar ali um bactericida você promove de uma só vez a matança de um número de seres vivos que faria Hitler parecer Madre Teresa. Ou ao passar uma pomada germicida, ou tomar um antibiótico, ou pagar sua conta de água tratada com cloro, cozinhar seus vegetais, eu e você estamos sempre promovendo um holocausto de germens. Até mesmo ao escovarmos os dentes e bochechar com desinfetante bucal.
Repare que na Criação uns morrem para que outros permaneçam vivos, e é esta a dinâmica da vida que foi até profetizada sem intenção pelo sacerdote que queria Jesus morto:
“E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis, nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação. Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” (Jo 11:49-52).
O primeiro a promover um sacrifício cruento (de sangue) foi o próprio Deus, como resposta ao pecado que acabara de ocorrer no Jardim do Éden. Um problema radical exigia uma solução radical. “E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu” (Gn 3:21). Para vestir Adão e Eva com peles Deus precisou sacrificar um animal inocente. Aquilo servia para substituir a inútil vestimenta de justiça própria costurada por Adão e Eva a partir de folhas de figueira.
Tão inútil era que ao ouvirem a voz de Deus se esconderam entre as árvores do jardim, e quando Deus questionou, Adão respondeu: “Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me” (Gn 3:10). Até Adão reconheceu que suas obras não poderiam encobrir seu pecado ou aliviar sua consciência. “Estava nu”, diz ele, apesar de estar vestido com um cinto de folhas.
Enquanto Caim tentava agradar a Deus com o fruto do seu trabalho, Abel tinha a mente do Senhor e ofereceu a ele um sacrifício cruento. Desde o pecado esta seria a única forma de agradar a Deus porque era consoante aos pensamentos e intenções de Deus de que um inocente morresse pelo pecado do culpado. Por isso ao longo do Antigo Testamento milhões de animais seriam sacrificados, não para tirar o pecado do homem, mas para fazer recordação, ou seja, era como se Deus quisesse despertar a consciência do homem dizendo: “Veja o que você fez! Agora um inocente terá de morrer por causa de seu pecado!”.
“Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos, porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados” (Hb 10:3-4).
Os sacrifícios que Deus exigia na Lei eram sombras ou figuras do derradeiro sacrifício de Deus: a morte de seu próprio Filho no lugar do pecador. A pergunta correta, então, não é por que Deus ordenava o sacrifício de animais, e sim por que Deus iria querer sacrificar seu próprio filho.
“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados?” (Hb 10:1-2).
“Agora, porém, ao se cumprirem os tempos, [Cristo] se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado. E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação” (Hb 9:26-28).
Mas você pode agora querer perguntar a razão de os sacrifícios serem continuados no reino de mil anos na terra, considerando que o Cordeiro de Deus já foi morto. Várias passagens falam disso, como Isaías 56:6-8, Zacarias 14:16 e Jeremias 33:15-18. Ezequiel 43:18-46:24 dá um panorama mais geral de como as coisas voltarão a ser como eram antes, com o templo reconstruído em Jerusalém e os sacrifícios restabelecidos. Isso só ocorrerá depois que a Igreja, o conjunto dos salvos da atual dispensação, tiver sido recolhida para o céu no arrebatamento, a terra ter sido purificada na Grande Tribulação, e o reino estabelecido com a vinda de Cristo para reinar.
Os sacrifícios então continuarão pela mesma razão que eram feitos, como recordação do pecado. Se antes de Cristo eles recordavam o homem de sua culpa e do quanto custaria a Deus para eliminá-la sacrificando um inocente, no reino futuro o objetivo será o mesmo porque Deus estará tratando com seres humanos em sua condição natural de pecadores. No passado os sacrifícios anunciavam que um Cordeiro iria morrer; no futuro os sacrifícios recordarão que um Cordeiro já morreu.
Lembre-se de que os habitantes do reino de mil anos serão pessoas comuns que ainda não foram redimidas e nem ressuscitadas, mas apenas convertidas à obediência formal ao Rei Jesus. Elas continuarão sujeitas a pecar e serão mortas quando isso ocorrer. “Pela manhã destruirei todos os ímpios da terra, para desarraigar da cidade do Senhor todos os que praticam a iniquidade” (Sl 101:8). Será um reino de paz e felicidade, mas ao mesmo tempo de justiça contra o pecado. O reino milenial não é o estado eterno, quando tudo isso estará resolvido para sempre. O período do reino de mil anos terminará com um motim de pessoas lideradas por Satanás (então recém libertado de sua prisão) para combater o Cristo.
No atual período da graça os cristãos já foram completamente lavados de sua culpa e de seus pecados, e suas consciências purificadas. Somos exortados a nos lembrarmos de Cristo sendo morto por nós, porém não usando um animal como tipo ou figura, porque para nós o valor do sacrifício de Cristo foi 100% eficaz. Por isso usamos pão e vinho ao recordar a Cristo e anunciar sua morte, como figuras do corpo e do sangue de Jesus. Isto mostra o quanto podemos ter a certeza de uma redenção já consumada em nosso caso e com efeito total sobre nossas consciências.
Mas você pergunta se Deus não poderia ter apenas ensinado aos homens o caminho ao invés de exigir sacrifícios assim, ou de sacrificar seu próprio Filho. O caminho da expiação (retirada) do pecado é justamente o sangue de um inocente derramado em lugar do pecador, porque a justiça exige uma pena, como toda ação exige uma reação. O que você está dizendo é o mesmo que pegar todos aqueles corruptos, traficantes, ladrões, assassinos, etc., reuni-los em um grande estádio e dizer: “Ei, pessoal, não façam mais isso, tá? Procurem viver honestamente, serem bons, amarem o próximo, etc.”. E depois soltá-los.
Você acharia isso justo? Certamente não. Para ter justiça tem que existir uma pena e o culpado deve pagar (às vezes com a própria vida dependendo da gravidade da culpa). Assim Deus precisou também exigir que os responsáveis fossem presos, julgados e condenados. Mas sua graça veio ao encontro do pecador ao substituí-lo nesse juízo de morte pelo Seu próprio Filho, Jesus. Assim como todo professor de medicina sabe que nada substitui uma aula prática, Deus sempre quis mostrar o quão grave é o pecado que exige a morte do pecador dando aulas práticas de morte de animais.
Não crer que seja preciso sangue para redimir o pecador é rejeitar o sacrifício de sangue que Deus proveu para sua salvação e continuar perdido e sujeito ao juízo eterno. “E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22).
Portanto, se você ainda não creu em Jesus como seu Salvador, se ainda não tem a certeza de todos os seus pecados já pagos pelo Cordeiro de Deus na cruz, sua preocupação não deve ser com os sacrifícios de animais no Antigo Testamento ou no futuro reino de Cristo na terra, mas com o seu próprio destino. Ao recusar-se a crer em Cristo e seu sacrifício já consumado na cruz você continua sob a sentença de juízo que, para os salvos caiu sobre ele ali, mas para os impenitentes ainda paira prestes a ser levada a cabo.
“De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10:29-31).
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Todos os pastores são corruptos?
Você pergunta se todos os pastores das denominações seriam corruptos como você achou que eu disse em algum de meus vídeos ou textos. De modo nenhum. Quando faço alguma crítica, ela é seletiva e descreve os que são mercenários, lobos e hereges. Os apóstolos já previam que eles surgiriam para trazer dano ao rebanho de Cristo, portanto não é nenhuma novidade ou linguagem politicamente incorreta denunciá-los. Veja que são abundantes as passagens que os denunciam:
“Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; e que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas [pervertidas], para atraírem os discípulos após si” (At 20:29-30).
“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas” (Fp 3:18).
“E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples” (Rm 16:17-18).
“Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns. Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade” (2 Tm 2:16-19).
O ministério do próprio Senhor era cheio de alertas e advertências para que os discípulos tomassem cuidado com os fariseus e suas doutrinas, além de seu comportamento cheio de hipocrisia, malícia e engano. Afinal, não foram ladrões e prostitutas que entregaram Jesus à morte: foram líderes religiosos.
“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores… Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas [poder civil e religioso]… Adverti, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus… Acautelai-vos, que ninguém vos engane” (Mt 7:15; 10:17; 16:6; 24:4).
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7:21-23).
Portanto quando você escuta ou lê algo que eu disse sobre líderes religiosos, isso não é para ser generalizado. As instituições chamadas por eles de “igreja” obviamente não têm fundamento bíblico, pois são facções que dividem os crentes por diferentes nomes. Mas quanto às pessoas de seus líderes sei de muitos clérigos que são sinceros, honestos e dedicados ao Senhor e à Palavra. O que a alguns pode faltar em conhecimento da sã doutrina, sobra em carinho e dedicação no evangelizar os perdidos, e pastorear e ensinar as ovelhas de Cristo. Eu mesmo fico feliz quando ouço algum pregador falar do evangelho puro da salvação da graça de Deus sem mistura.
Mas conhecendo a natureza humana, sabemos que o desejo do homem não é apenas de dinheiro, como geralmente acontece entre líderes de igrejas neopentecostais que pregam curas e prosperidade enquanto enchem os bolsos, vivem em mansões e compram jatos e helicópteros. Não precisa ter muito discernimento para identificar que alguns desses são lobos que mal conseguem esconder a cauda por debaixo da pele de ovelha. Estão de olho na gordura das ovelhas e não no seu bem-estar. Já em Israel havia pessoas com essa índole e o Senhor deixou isso bem claro no livro de Ezequiel:
“Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as ovelhas? Comeis a gordura, e vos vestis da lã; matais o cevado; mas não apascentais as ovelhas… As fracas não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. Assim se espalharam, por não haver pastor, e tornaram-se pasto para todas as feras do campo, porquanto se espalharam… Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que, porquanto as minhas ovelhas foram entregues à rapina, e as minhas ovelhas vieram a servir de pasto a todas as feras do campo, por falta de pastor, e os meus pastores não procuraram as minhas ovelhas; e os pastores apascentaram a si mesmos, e não apascentaram as minhas ovelhas… Eis que eu estou contra os pastores; das suas mãos demandarei as minhas ovelhas, e eles deixarão de apascentar as ovelhas; os pastores não se apascentarão mais a si mesmos; e livrarei as minhas ovelhas da sua boca, e não lhes servirão mais de pasto” (Ez 34:2-10).
O contraste entre os que buscam o próprio interesse e aquele verdadeiro Pastor, que é Cristo, Jesus mostrou no Evangelho de João:
“O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas. Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas. Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” (Jo 10:10-14).
Então não considere as críticas que faço às instituições, doutrinas e comportamentos reprováveis de homens mercenários como algo generalizado. Muitos evangelistas e pastores entram na obra do evangelho pobres e saem mais pobres ainda, porque gastam o que têm e às vezes a própria vida por amor ao Senhor. São dedicados às almas que precisam de salvação e às ovelhas de Cristo que precisam de alimento e pastoreio.
Deus usa esses irmãos na obra como usou Elias e Eliseu, que foram profetas dados, não aos judeus que estavam adorando no lugar instituído por Deus, mas justamente fora de Jerusalém, para onde haviam sido levadas as dez tribos por obra do ímpio e idólatra Jeroboão. Mesmo lá, fora de Jerusalém, o lugar onde Deus havia colocado o seu nome e centro de toda adoração, Deus ainda tinha provisão para o seu povo através daqueles profetas.
Mas, às vezes, entre líderes religiosos que não buscam o enriquecimento, você encontra outras motivações não menos egoístas. O ser humano não é ávido só por dinheiro, mas também por poder. Em meio à onda de prisões e condenações por corrupção, a Netflix colocou dentro do aeroporto de Brasília um cartaz para promover sua série “House of Cards”. A série mostra o ator Kevin Spacey no papel de Frank Underwood, um político corrupto que chega à presidência por meio de crimes e estratagemas. Ele não busca dinheiro, ele busca poder, por isso o cartaz traz um recado aos políticos corruptos:
“ESCOLHER DINHEIRO EM VEZ DE PODER. UM ERRO QUE QUASE TODOS COMETEM.” Frank Underwood
Recentemente recebi uma crítica de um clérigo protestante que parece menos interessado em dinheiro do que em poder, tanto é que me acusa de ser mercenário e de levar o evangelho com interesses financeiros. Quem conhece meu trabalho sabe que tenho uma profissão para o meu sustento e o que faço na Web e com meus livros é tudo de graça (apenas a versão impressa de meus livros do evangelho é vendida mas o valor fica integralmente para a editora). Veja alguns trechos do que esse pastor escreveu:
“Seus frutos são de falso profeta. Pessoas como você sempre existiram e nunca fizeram mais do que tirar proveito para si tentando destruir a igreja…”.
Por certo ele acha que “igreja” é uma denominação religiosa e, curiosamente, a afirmação seguinte que faz me coloca na categoria de “profeta verdadeiro”, já que não ganho dinheiro com meus livros. Ele continua:
“João Batista saiu do meio dos levitas e da família sacerdotal, mas também saiu de perto de toda fonte de lucro e viveu somente com mel silvestre e gafanhotos. Se você fosse um profeta verdadeiro não venderia livros ou usaria os problemas da igreja para ganhar dinheiro. Fruto de falso profeta…”.
Sempre estou atento a pessoas que contestam alguma coisa que eu disse apontando argumentos bíblicos. Mas a afirmação seguinte parece ter mais a ver com o aspecto estético, de oratória e estilo de meu ministério do que doutrinal:
“Seu tom de voz, sorriso irônico, sarcasmo não é fruto de alguém indignado ou preocupado com esse problema na cristandade, mas, de um oportunista que sabe que os problemas existem e está aproveitando para fazer sua própria teologia e ganhar dinheiro. Enfim, você é mais um dos muitos dos que cobiçam”.
Tudo indica que busque ganhar dinheiro na posição eclesiástica que ocupa, mas teme perder o poder e prestígio que ela lhe confere. Na citação de João Batista como tendo vindo de família sacerdotal, já deu uma pista de que o problema estava em eu atacar o ensino teológico convencional e os títulos eclesiásticos. De minha crítica a posições e títulos como “Doutor em Divindade”, e às instituições religiosas que levam o nome de “igreja” (pois Igreja não é uma organização, é um organismo, o Corpo de Cristo, o conjunto dos salvos) ele comenta:
“Muitos como você já foram desmascarados. O fato de você não ter tido a oportunidade de estudar nos EUA e se formar em um doutorado — que não é o domínio de todo conhecimento e sim o conhecimento do especifico, pois um doutor em divindade não sabe de tudo e sim muita coisa de um amplo do conhecimento — faz você falar como oportunista sanguessuga, e não como um verdadeiro cristão. Cristo sim, viveu com fariseus, saduceus e publicanos, questionou muitos e salvou outros, a exemplo de Jose de Arimateia (Saduceu), Nicodemos (Fariseu), Mateus (Publicano) e nem por isso Jesus, que não veio salvar as instituições, se intrometeu nelas. Ele disse sobre as instituições: ‘Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus’ (Mt 22:21). É inegável que existia corrupção e desvios sagrados no império de César, porém Jesus veio salvar o que estava perdido, pessoas como você que não sabem disso porque não estudaram teologia. Estude um pouco de teologia e aprenda que o conhecimento liberta e as pessoas erram por falta de conhecimento”.
Como costuma acontecer, toda admoestação de um clérigo que teme perder seu poder sobre as pessoas vem acompanhada de um alerta com uma pitada de terrorismo psicológico, fundamentada naquela famosa frase do “não toques no ungido de Deus”. Assim ele arremata:
“Estou falando isso para você somente para alertar que com Deus não se brinca e ele não deixa ser zombado. Porque na realidade você não conseguirá afetar a igreja do Senhor Jesus, ‘…as portas do inferno não prevalecerão contra ela.’” (Mt 16:18).
Resumindo a resposta ao que perguntou, sim, existem os mercenários na cristandade que estão interessados no dinheiro das ovelhas, mas também existem os que não estão no jogo por dinheiro. Como Frank Underwood, de “House of Cards”, o interesse deles é por poder. Um cristão com um pouco de discernimento e conhecimento da natureza humana saberá perceber quando é um e quando é outro (isto quando não for um “modelo híbrido”).
Volto a afirmar que existem sim milhões de pregadores, pastores e clérigos em geral que são sinceros e honestos, pessoas humildes que estão na obra pelo amor a Cristo e às ovelhas. Às vezes tenho o prazer de encontrar alguns aqui e sei que terei prazer de abraçar a muitos quando chegar ao céu. Então o Senhor irá revelar até onde tudo o que fizemos foi construído com material nobre ou com palha descartável. Toda a glória então será só dele, pois nada mais fomos que instrumentos aqui nesta terra.
“Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.
Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo. Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos. Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso; seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus” (1 Co 5:3-23).
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Os perdidos também
ressuscitarão em corpos?
Sim, todos ressuscitarão, cada um por sua vez e com objetivos e destinos diferentes. Deus sempre faz distinção entre salvos e perdidos, até quando diz dos salvos que “dormem” e dos perdidos que estão mortos. Por isso você não encontrará o mesmo tratamento dado à ressurreição dos perdidos como o que é dado à ressurreição dos salvos em passagens como 1 Coríntios 15, onde tudo ali é muito positivo na forma de linguagem utilizada.
Repare que ele fala da ressurreição dentre os mortos, ou seja, dos salvos, enquanto os mortos continuam mortos aguardando pela ressurreição da condenação no final:
“Assim também a ressurreição dentre os mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção. Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor. Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual” (1 Co 15:32-44).
Não podíamos esperar que Deus falasse da ressurreição dos perdidos como uma ressurreição em incorrupção, glória, vigo, porque estes privilégios são exclusividade dos salvos. Mas que os perdidos ressuscitarão, é um fato, mas ai deles quando ressuscitarem, porque do sofrimento atual que experimentam no hades enquanto estão apenas em alma e espírito, entrarão numa eternidade de sofrimento no lago de fogo com seus corpos também.
A Bíblia fala da ressurreição de todos os mortos, porém faz uma diferença entre os que ressuscitarão para a vida e os que que ressuscitarão para a condenação, lembrando sempre que a ressurreição não significa ganhar um novo corpo, mas sim receber de volta o nosso corpo em uma condição que não morre mais. Quando Jesus ressuscitou, o túmulo ficou vazio, seu corpo não ficou lá.
“E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente” (Dn 12:2-3).
“Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação” (Jo 5:28-29).
Antes que você se apresse em achar que é fazendo o bem que se obtém a vida eterna, o versículo está falando do apanhado geral e final. Os que aí aparecem com a característica de terem feito o bem são aqueles que foram salvos pela fé, e não por obras, para praticarem o bem que Deus lhes designou fazerem.
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:8-10).
Outro versículo que fala da ressurreição dos que fizeram o bem, por terem sido justificados pela fé, é Lucas 14:14: “E serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado te será na ressurreição dos justos”. Mas não se apresse em achar que a ressurreição é só dos justos porque Atos 24:15 logo corrige tal pensamento: “Tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreição de mortos, assim dos justos como dos injustos”.
Jesus ressuscitou de entre os mortos, e os salvos também ressuscitarão de entre os mortos, pois a ressurreição é seletiva. Repare neste versículo a palavra “dentre” ou “de entre”. Uma coisa é dizer que todos ressuscitarão, ou falar genericamente da ressurreição “dos mortos”, outra é traçar uma distinção para alguns que ressuscitarão “dentre” ou “de entre” os mortos, enquanto outros continuam mortos.
“Mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dentre os mortos, nem hão de casar, nem ser dados em casamento” (Lc 20:35).
Quando Jesus ressuscitou foi só o seu corpo que saiu da sepultura naquela condição que os salvos terão, de um corpo perfeito e incorruptível não mais sujeito ao tempo e ao espaço. Mas, mesmo assim um corpo de carne e ossos como é o corpo de Jesus hoje no céu. Mas repare que é dito que sua ressurreição foi “dentre” os mortos, porque os outros continuaram em suas sepulturas.
“E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1:18).
“E esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou DENTRE os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura” (1 Ts 1:10).
No final ressuscitarão apenas os perdidos, que receberão de volta seus corpos para poderem receber a sentença da condenação eterna no lago de fogo:
“E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o hades deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras. E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo” (Ap 20:11-15).
Esta passagem, que costuma ser chamada de “juízo final” é na realidade o juízo final dos perdidos. Nenhum salvo aparece nessa cena, porque já terão sido salvos em vida e se morreram já estarão ressuscitados para a vida. Aqui apenas os mortos aparecem, e “deu o mar os mortos que nele havia, e a morte e o hades deram os mortos que neles havia” nos fala dos corpos e das almas/espíritos. Um corpo sepultado no mar é a condição de maior degradação que você possa imaginar, mesmo porque a quase totalidade da vida marinha é carnívora e literalmente nada sobra de um corpo sepultado no mar. Mesmo assim, Deus saberá recuperar cada partícula dele na ressurreição. O hades nos fala da condição de morte em que se encontram as almas e espíritos dos mortos, separados de seus corpos.
Naquele dia eles voltarão a ser corpo, alma e espírito como vieram ao mundo ao nascerem. Assim como um tribunal humano não julga e condena mortos, Deus irá trazer primeiro à vida os culpados impenitentes, mas não se diz deles que seja vida, como é dito dos salvos.
É bom lembrar que o assunto aqui é a ressurreição definitiva, aquela da qual ninguém mais voltará a morrer, e não as ressurreições que encontramos nas Escrituras, como a de Lázaro e outros.
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A Bíblia diz que ciência
se multiplicaria no final?
Você escreveu perguntando se o versículo do livro de Daniel que fala da multiplicação da ciência seria um prenúncio do fim. A passagem, na versão que você leu, é esta: “Tu, porém, Daniel, cerra as palavras e sela o livro, até o fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará” (Dn 12:4).
Para entender o versículo é preciso lembrar que “ciência” na versão que indicou aparece como “saber” ou “conhecimento” em outras versões. Uma tradução alternativa feita por Darby seria “muitos buscarão diligentemente investigar” e outra de Tregelles traz “muitos escrutinarão o livro do começo ao fim”. Enquanto uma interpretação da passagem possa ser a de um aumento grande no conhecimento humano, acredito que ela será melhor entendida se não fugirmos ao contexto do capítulo que é o da profecia e da Grande Tribulação mencionada no primeiro versículo, a qual virá só após o arrebatamento da Igreja.
“Naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo; e haverá um tempo de tribulação, qual nunca houve, desde que existiu nação até aquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro” (Dn 12:1).
Apesar de todo o conhecimento intelectual que só se multiplica, principalmente agora com a Internet e a tecnologia de informação, muitos usarão disso para tentar entender essas coisas perscrutando as Escrituras do começo ao fim. Mesmo assim, repare que o livro está selado. “E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará” (Dn 12:4). Então pode ser que esse esforço de aumento de conhecimento investigativo esteja mais diretamente conectado à profecia, mas é aí que entra um privilégio que o judeu não tinha e o cristão tem. O de saber o que está para acontecer.
Sabe aqueles documentários que tentam explicar a profecia? Nem perca seu tempo. Geralmente são produzidos por incrédulos que não têm o Espírito e por isso não podem entender a profecia. Para eles será sempre um livro selado, assim como toda a revelação de Deus. Paulo explica isso muito bem em sua carta aos Coríntios:
“Falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes [principais] deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória. Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou [a nós os apóstolos] pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.
Mas nós [cristãos] não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as [palavras] que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais. [revelação textual] Ora, o homem natural [incrédulo] não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. [o cristão discerne tudo, mas o incrédulo não consegue discernir a razão de o cristão ser assim] Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo” (1 Co 2:7-16).
Acredito que será de grande proveito introduzir aqui um comentário de William Kelly sobre este capítulo 12 do livro de Daniel:
Daniel está sendo informado de que as coisas que tinha visto, e as comunicações que tinha ouvido, embora fossem, sem dúvida, de Deus, não deveriam ser usadas para o presente. Tudo era para ser um livro selado até um dia distante, em suma, até a hora final. Em um versículo posterior, Daniel coloca a pergunta: ‘Qual será o fim dessas coisas?’ (Dn 12:8). E a resposta é: ‘Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim. Muitos serão purificados, e embranquecidos, e provados; mas os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão’ (Dn 12:10).
Assim nos é claramente mostrado que a compreensão das palavras de Deus é algo espiritual, e não uma questão de mero intelecto. Se assim fosse, então os ímpios poderiam entender tanto quanto os justos. É expressamente dito que ‘nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão’. Ou seja, os sábios que já tinham sido mencionados (Dn 12:3).
Veja a importância disso. No último capítulo do Apocalipse, vemos o que é dito ao profeta João no final de sua profecia. O contraste é notório. No último capítulo de Daniel, ele é informado de que tudo deve ser fechado e selado até o tempo do fim. No último capítulo do Apocalipse João é informado para não selar “as palavras da profecia deste livro, porque próximo está o tempo” (Ap 22:10). Em outras palavras, existe um claro contraste entre a injunção dada aos dois profetas. Para o profeta judeu tudo é selado até o tempo do fim. Para o profeta cristão nada é selado, tudo está aberto. Qual a razão disto? A resposta é que a Igreja — o cristão — é sempre vista como estando no tempo do fim. O dom do Espírito Santo mudou tudo. Desde então, nada foi selado para o cristão. Toda vontade, afeições, conselhos de Deus, sim, e seus segredos sobre o mundo nas Escrituras da verdade, estão abertos a ele pelo poder de Deus.
Por mais fraco e ignorante que seja, o cristão tem o Espírito Santo habitando em si. Por isso, ao escrever a bebês, João diz: ‘vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo’ (1 Jo 2:20). Toda a aprendizagem do mundo nunca poderia fazer um homem compreender a Bíblia, no entanto alguém nascido de Deus é capaz de entender tudo o que Deus revela: ele só precisa ser conduzido e mais perfeitamente instruído. O apóstolo não está falando das verdadeiras necessidades de um bebê, que podem ser bem poucas. Em quem, então, poderíamos nos gloriar e nos gabar? Em Deus, que nos deu um privilégio tão incrível. Quem tem o Espírito de Deus, possui uma capacidade divina de entrar nas coisas de Deus. Ele só precisa estar em circunstâncias apropriadas, dependente de Deus, e valorizando sua Palavra, e o que é de Deus será manifesto e provado ser divino.
Isso está relacionado com o fato de que o Espírito de Deus é dado à Igreja, em um sentido especial que nem mesmo os profetas conheciam. Pois, embora eles tivessem o Espírito para inspirá-los, algo que nós, é claro, não temos no mesmo sentido, ainda assim temos o Espírito Santo sempre habitando em nós, e uma consequência disso é que temos inteligência espiritual, ‘a mente de Cristo’ (1 Co 2:16), que eles não tinham.
Portanto, como você pode se lembrar, o Espírito de Deus em 1 Pedro 1 contrasta a condição do cristão agora com a dos santos, sim, dos próprios profetas do Antigo Testamento. Ele nos mostra que eles estavam ‘indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho’ (1 Pe1:11-12). Ou seja, estamos hoje desfrutando do conhecimento e prazer de coisas com as quais a eles foi dito que não deviam se ocupar, mas eram para nós do Novo Testamento.
Isto é muito importante. Eles tiveram a promessa, e isso foi salvação para eles. Mas temos muito mais: temos benção positiva e completa — redenção não meramente prometida, mas realizada. E o cristão agora, aliviado pela graça de todas as questões sobre seus pecados, é livre para entrar nas coisas abençoadas de Deus.
Deus assim diz agora: você não deve selar o livro. O tempo do fim é aquele em que somos contemplados, o fim moralmente chegado. E, portanto, estamos esperando que o Senhor venha a qualquer momento. Onde prevalecer um pensamento judaico, as pessoas estarão sempre à espera de um tempo de grande tribulação para vir antes. Elas não veem que Deus tem um propósito para Israel e outro para a Igreja; que, quando Deus nos tiver removido para o nosso próprio lugar na glória celestial, ele voltará a lidar com os judeus. E que serão eles, e não nós, que deverão passar pela grande tribulação e ver os sinais designados que anunciam a aproximação do Filho do homem à terra. Isso também serve para explicar como é que podemos entender essas profecias.
Mas Daniel não podia, como ele diz aqui: ‘Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso eu disse: Senhor meu, qual será o fim destas coisas? E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim’ (Dn 12:8-9). Então entra em cena o cristianismo e nenhuma das palavras é selada — nenhuma é fechada. Todas estão abertas. Para nós, o fim está sempre próximo; nos é dito que estamos no fim do mundo, como está escrito em 1 Coríntios 10:11: ‘estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos’.
E é sempre assim. ‘Mas agora na consumação dos séculos uma vez [Cristo] se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo’ (Hb 9:26). A Igreja deve viver sempre no fim e, pela virtude do Espírito, viver como um remanescente piedoso e inteligente. Na verdade a Igreja começou com um remanescente de judeus que tinham fé em seu Messias. Assim, Pentecostes começou com o que será verdadeiro novamente depois de sermos removidos para o céu. Pois quando Deus tiver arrebatado os santos, e o tempo do fim vier literalmente, haverá mais uma vez um remanescente de judeus fiéis. ‘Mas os sábios entenderão’. A Igreja sempre deve estar fundamentada nesses privilégios e essencialmente acima das meras descobertas ou progressos da era atual. [‘Notes on the Book of Daniel’ – William Kelly].
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Devo orar por minha amiga?
Você escreveu contando que sua amiga aceitou a Jesus, porém não vê nada de errado em continuar vivendo em pecado num estilo de vida contrário às Escrituras. Segundo você, ela até frequenta uma “igreja”, de pessoas que aceitam como normal sua prática. Sua dúvida é se deve orar por ela, considerando a passagem de 1 João 5:16 que diz: “Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore”.
Se essa pessoa diz crer em Jesus e insiste em andar deliberadamente em pecado, talvez tenha sido uma conversão falsa e Deus irá permitir que ela siga em seu pecado sem ser disciplinada, como seria o caso se tivesse realmente a Deus como Pai. “Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos” (Hb 12:6-8). O próprio Senhor Jesus deixou claro que o inimigo plantaria joio no meio do trigo, isto é, falsos professos que andariam lado a lado com verdadeiros crentes. Ele também deixou claro que deve existir coerência entre a fé que a pessoa professa e o seu andar. “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7:21).
Mas supondo que ela tenha verdadeiramente crido em Jesus, porém cauterizou sua consciência ao ponto de viver indiferente ao pecado, aí nem é caso de orar por ela, mas deixar que Deus cuide dela como ele quiser. Em 1 Coríntios 5 vemos o caso de um homem vivendo em pecado, e Paulo, com o poder e autoridade que apenas os apóstolos tinham, havia deliberado entregá-lo a Satanás para a destruição da carne. Ele acabaria morto como Ananias e Safira tinham sido mortos aos pés de Pedro por mentirem ao Espírito Santo (Atos 5:1-11). Veja que no caso de Ananias e Safira não havia nada de fornicação, como no caso do homem de 1 Coríntios 5, e não era caso de blasfêmia, como Himeneu e Alexandre em 1 Timóteo 1:20. Ananias e Safira tinham mentido, algo que muitos até acha trivial demais para ser punido com a morte.
O pecado para morte não está numa lista de pecados “mortais”, como se costuma dizer. Não é o pecado em si, mas todo o contexto e a reação que ele causa em você que pode dar pistas se deve orar ou não pela pessoa que vive na prática dele. Hoje a maioria das pessoas sente aversão à pedofilia, e não seria surpresa para um crente saber que alguém sabidamente pedófilo que professava crer em Jesus morreu prematuramente. Mas já existem movimentos nos Estados Unidos e Europa visando aprovar a pedofilia e pode apostar que haverá um tempo quando isso será recebido com naturalidade pela sociedade, como já é hoje pecado como a homossexualidade.
Afinal, a tendência é que o mundo volte ao estado moral do Império Romano de há dois mil anos, quando um rico pai de família podia ter escravos meninos e meninas ao seu dispor. Em Roma isso era aceito com naturalidade, como também a prostituição e outras práticas. Algumas casas que tiveram seus afrescos no interior preservados pelas cinzas em Pompeia e Herculano não ficam abertas à visitação dos turistas porque a decoração é pornográfica demais até mesmo para os padrões modernos.
Não existe uma condição mais triste para um cristão quando o pecado já não lhe traz nojo e aversão. Costumamos ter mil explicações para nós mesmos da razão de praticarmos algo contrário à Palavra de Deus e no final nossa consciência acaba cauterizada e já nem ligamos para aquilo. A igreja em Corinto estava tão soberba e ocupada com seus dons que os irmãos ali nem ligavam para pecados graves praticados em seu meio. Além de instruir os corintos a excomungarem o tal (expulsando-o da comunhão dos santos), avisando que com tal pessoa eles não deveriam sequer comer, o apóstolo sentenciou:
“Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse da mulher de seu pai. Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação. Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5:1-5).
Provavelmente a inércia dos coríntios em julgar o pecado em seu meio obrigava Deus a agir com rigor disciplinatório, permitindo a doença e morte de alguns ali. “Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem [o verbo “dormir” é usado para crentes que morreram]. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1 Co 11:30-31).
Pode parecer falta de amor não orar por alguém, mas se você perguntasse à sua amiga, “Posso orar por você para abandonar essa prática?”, o que você acha que ela responderia? Um viciado em drogas ou bebida talvez dissesse que sim, pois quer sair da escravidão em que se meteu por serem evidentes demais as consequências nefastas que traz no corpo. Mas essa pessoa dirá que não, pois ela até curte seu pecado e encontrou uma “igreja” de pessoas como ela, onde se sente incluída. Ela vai odiar você se souber que está orando para ela abandonar seu pecado, do mesmo modo como odeia ou se faz de cega para as passagens da Bíblia que condenam sua prática.
O ator Ian Mckellen, que protagonizou o Mago Gandalf em Senhor dos Anéis, não professa ser cristão, mas contou numa entrevista que costuma arrancar páginas das Bíblias que encontra no criado mudo dos hotéis onde fica hospedado, tamanha a sua aversão pelas ordens de Deus contra a prática homossexual. Quando soube disso, um casal amigo dele enviou de presente quarenta páginas arrancadas de Bíblias de hotéis para ele colocar em um gancho no banheiro insinuando que as utiliza como papel higiênico. Antes que você pergunte que páginas ele arranca, aqui vão dois exemplos:
“Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é” (Lv 18:22).
“Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro” (Rm 1:26-27).
É preciso lembrar que a passagem de 1 João 5:16, que fala para não orar por alguém que está cometendo pecado para morte, está falando de morte física, e não de perdição eterna. Como eu disse, Deus deixa que o incrédulo viva normalmente em seu pecado, mas quando se trata de um filho seu Deus pode até mesmo tirar sua vida, já que só atrapalha o testemunho neste mundo. Deus faz isso em disciplina “para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5:5).
William Kelly comenta a passagem assim:
“Teria sido um erro de discernimento da vontade do Senhor orar para que um irmão tivesse sua vida prolongada, depois de ele ter pecado tanto que o Senhor quer que ele morra como forma de castigo. O mundo, que não faz outra coisa além de pecar e recusar o Salvador, está reservado para aquela terrível segunda morte, que é o juízo eterno. Misturar isso com estes versículos nada mais é que confusão quanto à sua compreensão espiritual” – W. Kelly.
Este comentário de John Nelson Darby sobre a passagem de 1 João 5:16 pode ajudar a identificar o que é um “pecado para morte”:
“Toda iniquidade é pecado e existe pecado que é para morte. Não me parece um tipo de pecado em particular, mas todo pecado que tem um caráter tal que, ao invés de despertar o amor cristão, gera indignação. Assim foi com Ananias e Safira que cometeram um pecado para morte. Foi uma mentira, mas uma mentira sob circunstâncias tais que despertou o horror ao invés da compaixão. Podemos facilmente entender outros casos em que isso ocorre” J. N. Darby.
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Devo protestar contra a Parada Gay?
“Vá cuidar da sua vida!” Talvez seja esta a resposta mais curta e cheia de significado para sua pergunta, e não pense que estou brincando. Você tem uma vida que não é deste mundo, então vá cuidar dela, ocupar-se com as coisas que são do céu e para essa nova vida, ou ainda convidar pessoas a terem também essa vida pela fé em Jesus. O que os mortos fazem deixou de ser da sua conta a partir do dia em que você “passou da morte para a vida” (Jo 5:24). Nesse dia você pôde dizer como Paulo: “O mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6:14).
O cristão tem uma vida que não é daqui e que não irá desfrutar aqui. Ele também é um intruso neste mundo que pertence aos que são do mundo, e o cristão não é do mundo como Jesus não era do mundo:
“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou” (Jo 17:14-16).
“Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória” (Cl 3:1-4).
Se você não é do mundo, que direito tem de meter o nariz onde não é chamado? Deixe para lá a “Parada Gay”, “Marcha da Maconha”, “Marcha das Vadias”, Carnaval ou qualquer manifestação que achar que promova práticas contrárias à Palavra de Deus. E nem queira participar do contra-ataque a tudo isso que é a “Marcha para Jesus”, como se Jesus quisesse alguém marchando por ele. Você acha mesmo que quando ele esteve no mundo iria promover alguma marcha? Acha que ele iria querer fincar bandeira aqui, conquistar o mundo por meio de multidões marchando? Ora, na sua derradeira hora nem seus discípulos estavam dispostos a marchar por ele. O cristão está no mundo não para conquistar o mundo ou marcar presença aqui pela força, como agiam os ignorantes Cruzados. O cristão está no mundo para resgatar almas pelo evangelho, para que sejam tiradas do mundo e da escravidão de Satanás.
Quem é do mundo tem todo direito de viver do jeito que achar melhor e fazer quantas marchas quiser, e não será a mim ou a você que irá prestar contas, mas a Deus. Quem é do mundo também tem todo direito de defender o que quer que defenda, e o cristão tem mais é que sair da frente e deixar a banda passar. Se quiser mesmo interferir neste mundo sugiro que comece promovendo uma “Parada Anti Islã” no Iêmen.
Sempre que chega a época de alguma dessas manifestações alguns cristãos entram para o time da oposição por não entenderem sua cidadania celestial. João Batista tinha todo o direito de berrar contra o pecado de Herodes e Herodias e até perder a cabeça por isso, pois vivia uma outra realidade. A terra de Israel pertencia aos judeus e aquela era uma nação teocrática, portanto seus governantes deviam também viver de acordo com as leis dadas por intermédio de Moisés. João Batista podia interferir, denunciar, protestar, mas o cristão não tem nada a ver com o que fazem os habitantes deste mundo, com quem eles dormem ou o que eles fumam. Se você viajar à França acaso irá se intrometer nos assuntos de lá? Não, você é estrangeiro.
Lembre-se de que para os que são do mundo esta é a única vida que conhecem. Se não aproveitarem a vida aqui, não terão segunda chance. Sem Cristo, o destino deles é de morte, lançados nas trevas exteriores onde ficarão sozinhos eternamente, sem qualquer companhia e sofrendo as agruras do lago de fogo do juízo eterno. Quão diferente seria se tivessem um breve vislumbre do destino que lhes espera, ou talvez da real imagem que Deus tem deles! E nunca se ache melhor do que eles porque eu e você também estávamos igualmente perdidos. Foi só a graça de Deus que nos colocou em uma nova posição:
“Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1 Co 6:9-11).
“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus” (Ef 2:1-7).
Quanto a nós (e falo isso a pessoas nascidas de novo e salvas por Cristo), o que importa o que as pessoas fazem ou não fazem com suas vidas? Elas vivem no mundo que é delas porque está sob o domínio de seu príncipe, Satanás. Jesus disse aos discípulos: “Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim” (Jo 14:30). Para nós, cristãos, esta vida não é a única vida que temos. Se fosse, faríamos bem em nos esquivar dos problemas, mergulharmos nos prazeres e, como diz Paulo citando a filosofia grega hedonista dos epicureus, “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (1 Co 15:32).
Quando Ló escolheu viver em Sodoma (de onde vem o termo “sodomia”) ele fez isso por estar interessado em ser alguém neste mundo e ter influência nele. “Habitou Abrão na terra de Canaã e Ló habitou nas cidades da campina, e armou as suas tendas até Sodoma. Ora, eram maus os homens de Sodoma, e grandes pecadores contra o Senhor” (Gn 13:12-14). Humanamente falando, pode-se dizer que Ló foi bem-sucedido em Sodoma, pois os anjos iriam depois encontrá-lo sentado à porta da cidade, que era onde os juízes ficavam julgando as causas do povo. “E vieram os dois anjos a Sodoma à tarde, e estava Ló assentado à porta de Sodoma” (Gn 19:1). Os habitantes de Sodoma iriam jogar isso na cara de Ló mais tarde: “Como estrangeiro este indivíduo veio aqui habitar, e quereria ser juiz em tudo?” (Gn 19:9).
Portanto, qualquer participante da Parada disso ou daquilo tem todo o direito para dizer a você, caso queira se intrometer: “Como estrangeiro este indivíduo veio aqui habitar, e quereria ser juiz em tudo?”. Ao invés de protestar contra esses movimentos, continue apresentando Cristo às pessoas, porque é nesta parada que você deve estar. “O mundo jaz no maligno”, escreveu João, e Jesus aconselhou um que queria segui-lo mas ainda tinha anzóis que o prendiam à vida aqui: “Segue-me, e deixa aos mortos sepultar os seus mortos” (Mt 8:22). Tendo isto em mente, quando passar na porta de sua casa alguma parada de pessoas promovendo algo que é contrário à Palavra de Deus, não proteste, não grite, não atire pedras. Simplesmente tire o chapéu e baixe a cabeça em sinal de tristeza e luto, como quando passa um féretro indo ao cemitério. Deixe aos mortos sepultar seus mortos.
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Como alguém pode acreditar
numa Trindade?
Acreditar que Deus seja uma Trindade — Pai, Filho e Espírito Santo — é também a única maneira de entender como Deus pode ser amor e capaz de amar, como vou explicar mais adiante. A palavra Trindade realmente não aparece na Bíblia, mas a Trindade está na Bíblia do começo ao fim, e a evidência mais forte que você tem é esta: “Deus é amor” (1 Jo 4:8). Deus não é amar, amor não é Deus, mas “Deus é amor”.
Enquanto muitas religiões falam de um deus que ama, só no cristianismo você encontra o Deus que não apenas é capaz de amar, mas é amor em sua essência. Acredito que uma das melhores “provas” da Trindade tenha a ver com a natureza de Deus, que é Amor, e com sua capacidade de amar e ser amado. O cristianismo é a única religião que possui um Deus que ama de verdade. Talvez você retruque dizendo que o deus dos espíritas também ama, o deus dos muçulmanos também ama, o deus dos hindus também ama. Mas como um deus unitário iria exercitar o verbo “amar” na solidão da eternidade, quando não havia mais ninguém para amar ou por quem ser amado? O Deus da Bíblia possui, portanto, uma qualidade intrínseca: Ele não apenas ama, mas é amor. No Deus verdadeiro o amor faz parte de sua própria essência. E como Ele pode amar? Por ser uma Trindade.
Deus são três Pessoas em um Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Esta Trindade aparece logo no primeiro versículo da Bíblia, quando o nome de Deus é plural: “No princípio Elohim criou os céus e a Terra” (Gn 1:1). A palavra Elohim (deuses) é plural de Elohá (deus). Os idiomas antigos desafiam a Teoria da Evolução, pois ao invés de as línguas evoluírem elas involuíram. Idiomas antigos são mais completos e complexos, capazes de indicar coisas, situações e sentimentos impossíveis aos idiomas modernos. Mesmo entre os modernos, alguns têm palavras que faltam a outros, como é o caso da palavra “saudade”, que não existe na maioria dos idiomas.
Elohim, esse Deus em três Pessoas, volta a aparecer em Gênesis 1:26 usando o verbo “fazer” e o pronome no plural — “façamos”, “nossa”. “E disse Elohim: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. Os judeus não conheciam o Deus triuno, e jamais aceitariam a ideia da Trindade. Mesmo assim leram durante milênios o livro de Gênesis e nunca perceberam que o Espírito Santo deixou gravado bem ali que Deus é plural. Curiosamente, o fato de Elohim ser uma palavra plural significando “deuses” cria até um problema de concordância, pois o correto seria dizer que “Elohim criaram os céus e a terra”, mas o Espírito Santo preservou o verbo no singular para indicar assim que, mesmo sendo três Pessoas, Deus é um.
A revelação de Deus como Trindade é um privilégio dado a cristãos, algo que os judeus nunca tiveram ou imaginavam ser possível ter. É como o privilégio de chamar a Deus de Pai, que os cristãos têm e os judeus não. Jesus, após ressuscitar, ordenou a Maria Madalena: “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20:17). Por isso Jesus surpreendia os judeus quando se dirigia ao Pai, o que deixava claro ser ele o Filho de Deus. Em seu julgamento diante de Pilatos, “responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus” (Jo 19:7).
A revelação da Trindade aparece com todas as letras na descrição do batismo de Jesus por João Batista: “E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3:16-17).
Uma maneira bem rudimentar de você entender a Trindade é pensar naquele disco de cores que os estudantes costumam apresentar nas feiras de ciência para demonstrar a decomposição da luz. Eles colocam um disco de papelão com as três cores primárias — vermelho, amarelo e azul — e quando o disco é girado com velocidade as cores desaparecem e o disco fica branco. Assim é também com as três Pessoas da Trindade que são, em essência, um só Deus.
O Evangelho de João é rico em passagens que mostram diferentes aspectos do relacionamento entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Coloco aqui uma lista dos significados dos versículos que aparecem antes de cada frase no Evangelho de João:
• O Filho está no seio do Pai. (1:18).
• Deus deu o Seu Filho unigênito. (3:16).
• Deus enviou o Seu Filho ao mundo. (3:17).
• Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que faz. (5:20).
• Assim como o Pai conhece o Filho, também o Filho conhece o Pai. (10:15).
• O Pai e o Filho são um. (10:30).
• O Pai está no Filho e o Filho no Pai. (10:38).
• O Filho roga ao Pai e o Pai atende dando o Espírito Santo. (14:16).
• O Pai enviaria o Espírito Santo em nome do Filho. (14:26).
• O Filho ama o Pai e faz aquilo que Ele manda. (14:31).
• O Filho enviaria o Espírito Santo da parte do Pai para testificar do Filho. (15:26).
• O Filho enviaria o Espírito Santo. (16:7).
• O Espírito Santo não falaria de Si mesmo. (16:13).
• O Espírito Santo glorificaria o Filho. (16:14).
• Tudo o que o Pai tem é também do Filho. (16:15).
• O Pai glorifica o Filho, para que o Filho também glorifique o Pai. (17:1).
• O Pai deu ao Filho “poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos” o Pai lhe der. (17:2).
• (17:4) O Filho glorificou o Pai consumando a obra que o Pai deu ao Filho para fazer… João 17:24 O Pai amou o filho “antes da fundação do mundo”.
• Jesus diz ao Pai: “E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja”. (17:26).
Pense na eternidade, quando não havia nada e nem ninguém, mas só Deus. Agora imagine esse círculo de amor e relacionamento envolvendo essas três Pessoas distintas, Pai, Filho e Espírito Santo, que se comunicavam e interagiam desde sempre. Dentre os propósitos de Deus estava o de salvar o homem que ainda seria criado, e temos pista disso em versículos como Tito 1:2, que diz: “Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos”. A pergunta agora é: A quem Deus poderia ter prometido algo “antes dos tempos dos séculos” se não existia ninguém mais a quem prometer? Trindade é a resposta. A Bíblia diz que por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra.
Mas o amor do Deus que é amor não se restringiu ao círculo de relacionamento da Trindade nos tempos eternos. Deus queria amar mais, infinitamente mais, pois o amor sobejava. Então decidiu criar o homem para amá-lo, porém o homem rejeitou esse amor. Não quis o amor de Deus porque todo amor exige relacionamento e o ser humano buscou a independência e autossuficiência. Não pode existir amor em independência.
Foi assim que o pecado entrou na Criação e jogou o homem no mais baixo nível de todos os seres criados. Animais não são capazes de cometer níveis de crueldade que você só encontra em seres humanos. Para tirar o homem desse poço de ruína e destruição, que iria exigir um juízo e uma pena eterna, Deus amou o mundo com o maior amor: o amor sacrificial: “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (Jo 15:13).
Esse amor sacrificial não foi uma iniciativa apenas do Pai, mas envolveu também o Filho e o Espírito Santo. O Pai enviou o Filho para morrer. O Filho entregou-se a si mesmo para morrer. E em Hebreus 9:14 lemos que “Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus”.
Cristo morreu, não por amigos, mas por inimigos. Para transformar inimigos em mais que amigos, em filhos e irmãos. Por isso, a Maria Madalena Jesus disse depois de ressuscitado: “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20:17). O amor de Deus é tamanho que a nós, antes inimigos, nos transforma em filhos para conhecermos o que é amor e podermos amar com um amor que jamais teria vindo de nós. “Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor. Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4:12, 19).
Na Bíblia temos três evangelhos que mostram a progressão da rejeição do homem contra Deus na Pessoa do seu Filho, e o quarto evangelho começa com sua rejeição e nos leva ao conhecimento do Deus-Filho. “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1:10-14).
Vimos que o Pai ama o Filho, e o Filho ama o Pai, e esse amor vem de antes dos tempos eternos. Mas onde entra o Espírito Santo nesse círculo de amor? Preste atenção neste versículo: “Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor. Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do seu Espírito. E vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo. Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus” (1 Jo 4:12-15).
Acompanhando aquilo que era intrínseco à sua própria natureza, Deus mostrou unidade na pluralidade ao criar o homem como um ser triuno: espírito, alma e corpo. O espírito é aquilo que nos diferencia dos animais, que só possuem corpo e alma. E Deus mais uma vez mostrou unidade na pluralidade quando Cristo rogou pela Igreja, aquela que também havia sido concebida nos seus desígnios antes da fundação do mundo para ser a Noiva do Filho de Deus:
“E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim” (Jo 17:20-23).
Um deus solitário não poderia ser amor, além de estar incapacitado de amar ou ser amado. O amor exige pluralidade para amar e ser amado. Para existir amor é preciso que exista um relacionamento, e por toda a eternidade Pai, Filho e Espírito Santo mantiveram um relacionamento de amor. A Trindade responde ao mais antigo e permanente desejo do coração humano de amar e ser amado. Portanto se você acha difícil crer em um Deus que são três Pessoas distintas, eu digo a você que mais difícil seria explicar que poderia existir um deus unitário — como Alá ou qualquer outro — que fosse capaz de amar, vivendo ele na solidão da eternidade antes de todas as coisas terem sido criadas.
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O que são doutrinas de demônios?
Você perguntou quais seriam as “doutrinas de demônios” e contexto da passagem que citou pode nos dar algumas pistas do que seriam essas doutrinas: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios” (1 Tm 4:1).
Os “alguns” que “apostatarão” da fé são pessoas que apenas professam crer em Jesus, mas nunca nasceram de novo. A maior parte da população do mundo que se identifica como cristã não é convertida de verdade. Um dado interessante é o da população da Suécia, que tem dez milhões de habitantes e, segundo o censo, 6,3 milhões de cristãos membros da Igreja da Suécia, a denominação oficial. No entanto é o país menos religioso do ocidente, porque apesar de mais da metade da população trazer “cristão” no documento por ter sido batizado, apenas 15% dizem crer na existência de algum Deus. Boa parte da população é formada por agnósticos ou ateus. A Igreja da Suécia tem até bispo ateu, o que faz dela apenas uma instituição de caridade ou de atividades sociais. A razão desses números que não fazem sentido é que até 1996 cada bebê que nascia era obrigatoriamente registrado como membro da Igreja da Suécia, do mesmo modo como antigamente cada brasileiro era logo batizado e feito membro da Igreja Católica.
Os “últimos tempos” é um período estendido em contraste com os “últimos dias” que aparece em 2 Timóteo 3 e outras passagens. Portanto a expressão inclui também o primeiro século e é fácil perceber isso lendo Apocalipse 2:2 que fala da Igreja que está em Éfeso, que profeticamente representa essa época, embora os “últimos tempos” não fiquem restritos a ela. “Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos”. Paulo já falava em sua carta aos Coríntios dos falsos apóstolos identificando-os como agentes de Satanás:
“Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras” (2 Co 11:13-15).
Um falso apóstolo, profeta ou mestre não fala de acordo com a Palavra de Deus, mas segundo sua própria carne ou, na pior das hipóteses, por influência demoníaca. Por isso é muito comum encontrarmos doutrinas de demônios nos púlpitos da cristandade, e um crente com discernimento irá logo identificá-la porque ela dará glória e mérito ao homem e não a Deus. Portanto você não precisa ir a uma sessão espírita para ouvir espíritos enganadores. É bem possível encontrá-los em igrejas da cristandade ocupando até mesmo posições de liderança ou nos programas católicos e evangélicos no rádio e TV.
Os agentes do diabo, que aparecem como aves do céu arrebatando a semente lançada pelo Semeador em Mateus 13:4, 19 são as mesmas aves aninhadas na grande árvore da semente de mostarda em Mateus 13:31-32, e voltam a aparecer na queda da Babilônia, a Grande Meretriz em Apocalipse 18:2. Os espíritos enganadores estão confortavelmente instalados na cristandade professa ensinando suas “doutrinas de demônios”. “A grande Babilônia” — que será a cristandade no futuro, vazia de Cristo e de cristãos genuínos — “se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável”.
A passagem de 1 Timóteo continua: “Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência” (1 Tm 4:2).
A primeira característica dos falsos apóstolos, profetas ou mestres deste versículo é a hipocrisia ou fingimento. Em 2 Timóteo 3, Paulo vai falar dos que têm “aparência de piedade, mas negando a eficácia dela” (2 Tm 3:5). Se ler do versículo 1 ao 9 de 2 Timóteo 3 verá mais sobre esses falsos mestres da cristandade. A cauterização da consciência de que fala o versículo é um distúrbio conhecido da psicologia e psiquiatria como “mitomania”, encontrada em mentirosos de carteirinha, que mentem tanto que um dia já nem são capazes de distinguir o que é verdade do que é mentira. Uma frase atribuída a Lenin, Hitler, Goebbels e outros define isso assim: “Uma mentira contada repetidas vezes se torna verdade”.
Muitos desses pregadores de falsas doutrinas que você encontra em igrejas e programas de rádio e TV acabaram acreditando em suas próprias mentiras, de tanto repeti-las. Quando você vê um pregador com a maior cara de pau pedir que você compre uma Bíblia que ele oferece por um preço que daria para comprar duas dúzias delas numa livraria, dizendo que ela tem um poder especial de Deus para trazer prosperidade, provavelmente é um que já queimou os neurônios de seu cérebro que eram responsáveis pela “vergonha na cara”.
A passagem segue agora com duas doutrinas de demônios bem identificadas: “Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças. Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada” (1 Tm 4:3-5).
Estes versículos deixam claro que a proibição do casamento, como praticada no catolicismo romano para clérigos, é completamente oposta aos planos de Deus para o homem e a mulher. Portanto se essa ordem não veio de Deus só pode ter vindo da carne ou do diabo. Existem cristãos que se entregam ao celibato de vontade própria para poderem se dedicar mais ao Senhor, e isto é perfeitamente bíblico. Paulo escreveu: “E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher” (1 Co 7:32-33). Mas isto é um ato voluntário, não uma obrigação determinada por algum clero. O celibato obrigatório de padres e freiras deixou um rastro de séculos de crimes e pecados, como pedofilia e abortos de gestações originadas em relações entre padres e freiras. Além, obviamente, de crianças bastardas. Eu tinha um livro cuja autora era um dos sete filhos de um padre.
Portanto esta passagem nos fala de pelo menos duas doutrinas de demônios, e a segunda é a proibição de alimentos. Embora essa prática seja encontrada nas religiões pagãs, na cristandade ela foi estabelecida pelo catolicismo romano talvez como resquício de algumas leis do Antigo Testamento, ou até mesmo inventadas, como a proibição de comer carne vermelha na Semana Santa. Existem também as religiões adventistas que proíbem a carne ou ao menos a carne de porco. O casamento e os alimentos são criações de Deus, portanto não existe nada de errado em um cristão se casar ou se alimentar como bem entender, lembrando apenas de preservar a santidade do leito matrimonial e a saúde do corpo na hora de escolher seus alimentos.
Existem também outras doutrinas de demônios que são até mais graves, como a negação da divindade de Cristo, como pregada pelas Testemunhas de Jeová, Mórmons e religiões espíritas que se consideram cristãs, e a negação da Trindade, encontrada em religiões unitarianas na cristandade.
Você poderá identificar outras doutrinas de demônios pela exaltação que fazem ao homem. Não estou falando apenas de igrejas que promovem celebridades como padres e pastores cantantes, ou shows de bandas com fãs dançando e gritando como se os artistas fossem deuses. Somente Cristo deveria ser exaltado em qualquer reunião de cristãos.
Qualquer doutrina que pregue a salvação por meio de boas obras não vem de Deus, portanto só pode vir da carne ou de demônios. A salvação pela fé enaltece a Deus, e não ao homem. Pregar uma salvação por boas obras ou pelo ascetismo ou autoflagelo nada mais é que dar ao homem o poder de salvar a si mesmo. Nem preciso falar aqui de algumas religiões ditas cristãs que afirmam que a salvação só pode ser encontrada naquela denominação ou organização eclesiástica. Isso também não vem de Deus.
Uma passagem que complementa bem o que Paulo escreve a Timóteo você encontra na epístola aos Colossenses 2:16-23:
“Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo. Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus. Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne”.
Aqui você encontra muitas pistas de doutrinas de demônios, como a proibição de certos alimentos e bebidas, a obrigação de celebrar dias de festa e de guardar o sábado, por não entender que isso existia sim na Lei dada a Moisés, mas eram sombras ou figuras das realidades que hoje desfrutamos em Cristo. Ali também fala de pessoas que dominam outras a seu bel prazer usando para isso argumentos de humildade, culto dos anjos e visões ou revelações. “Inchado em sua carnal compreensão e não ligado à cabeça” demonstra que isso é feito por pessoas soberbas que se acham profetas de Deus quando na verdade são profetas apenas de suas mentes carnais. Não estão ligadas à Cabeça, que é Cristo, a quem o cristão está diretamente subordinado.
Esses geralmente são os que carregam seus seguidores com leis, regras e ordenanças como “Não toques, não proves, não manuseies”, chamadas aqui de “preceitos e doutrinas de homens”, porque sua origem é puramente carnal. O que essas doutrinas têm de aparência de piedade, sabedoria, devoção, humildade e disciplina do corpo lhes falta em verdade e para nada servem senão para a satisfação da carne. Se você conhece um crente que se orgulha de vestir-se de determinada maneira, usar o cabelo ou a barba de um certo jeito, ou de fazer obrigações cerimoniais que outros não fazem, comparando-se a outros cristãos e gabando-se de seus jejuns, piedade e contribuições, como o fariseu de Lucas 18, então saberá de quem estou falando.
Resumindo, doutrinas de demônios são aquelas que podem tanto vir diretamente dos demônios que influenciam falsos profetas e mestres, como também da carne, sempre visando exaltar o homem e não a Cristo. Os demônios nunca querem que Cristo tenha a preeminência. Também fica fácil identificar tais doutrinas porque elas não estão de acordo com a sã doutrina. Você não precisa conhecer todas as doutrinas da carne ou de demônios, basta conhecer a sã doutrina e a voz do Pastor, que é Cristo, o Senhor. Assim você estará apto a identificar tudo o que soar fora de tom, como um bom músico sabe identificar um instrumento desafinado bastando ouvir uma nota só. Portanto sua segurança não está em se aprofundar em conhecer a voz de estranhos, mas só a do Pastor.
“E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” (Jo 10:4-5, 27-29).
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O Deus de Davi era o diabo?
Você citou o versículo 9 do cântico de Davi em 2 Samuel 22 onde fala de Deus como um que soltava “fumaça de suas narinas, e da sua boca um fogo devorador; carvões se incenderam dele”. Então você pergunta: Acaso isso não seria a descrição de um dragão? E o dragão não é o próprio Satanás?
Existe uma corrente satânica hoje que vem travestida de cristianismo e tenta provar que o Jeová do Antigo Testamento seria Satanás, enquanto Jesus seria o Deus do Novo Testamento. Dentro dessa perspectiva diabólica, o que os seus falsos profetas dizem é que Cristo teria vindo nos salvar de ninguém menos que Jeová. É de surpreender a audácia e irreverência dos ministros do diabo, que não percebem que o Jeová severo do Antigo Testamento não é outro senão o mesmo Jesus manso dos evangelhos. E é também o severo Filho do Homem de Apocalipse — o próprio Cristo — vindo em sua roupagem de Juiz.
No capítulo que você citou Davi profetiza, como figura que é de Cristo. Em suas palavras desde o versículo primeiro ele fala de livramento e refúgio que encontra no Senhor e de como clamou e foi ouvido. “Cordas de inferno me cingiram; encontraram-me laços de morte. Estando em angústia, invoquei ao Senhor, e a meu Deus clamei do seu templo ouviu ele a minha voz, e o meu clamor chegou aos seus ouvidos” (2 Sm 22:6-7). Repare no paralelo que o clamor de Davi tem com o clamor de Jesus: “O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia” (Hb 5:7).
Então Deus reage em ira e indignação contra este mundo que rejeitou seu Filho, como fez na cruz e fará ainda na Grande Tribulação, quando estiver tratando com um Israel apóstata: “Então se abalou e tremeu a terra, os fundamentos dos céus se moveram e abalaram, porque ele se irou. Subiu fumaça de suas narinas, e da sua boca um fogo devorador; carvões se incenderam dele” (2 Sm 22:8,9).
Compare este versículo com o que aconteceu na morte e ressurreição do Senhor: “E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras… E eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removendo a pedra da porta, e sentou-se sobre ela” (Mt 27:51; 28:2).
A “fumaça de suas narinas, e da sua boca um fogo devorador” estão bem de acordo com Deus agindo em juízo contra o mundo. Tudo isso você verá acontecendo no livro de Apocalipse quando Cristo voltar para julgar as nações. “Porque o nosso Deus é um fogo consumidor.” (Hb 12:29). Isaías fala bem desse caráter judicial do Senhor:
“Do Senhor dos Exércitos serás visitada com trovões, e com terremotos, e grande ruído com tufão de vento, e tempestade, e labareda de fogo consumidor… Eis que o nome do Senhor vem de longe, ardendo a sua ira, sendo pesada a sua carga; os seus lábios estão cheios de indignação, e a sua língua é como um fogo consumidor… E o Senhor fará ouvir a sua voz majestosa e fará ver o abaixamento do seu braço, com indignação de ira, e labareda de fogo consumidor, raios e dilúvio e pedras de saraiva… Os pecadores de Sião se assombraram, o tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?” (Is 29:6; 30:27, 30; 33:14).
As trevas são também sinal de juízo, como as que caíram sobre a terra por três horas enquanto Jesus recebia todo o juízo descrito nestes versículos: “E por tendas pôs as trevas ao redor de si” (2 Sm 22:12). Trevas serão também a porção eterna dos ímpios que rejeitaram a graça de Deus. “Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 25:30).
Agora deixo a você como lição de casa de ler o restante do capítulo bem atentamente para tentar identificar tudo o que ali tem um paralelo no Novo Testamento referindo-se a Cristo.
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Por que os judeus usam uma fita
no braço e uma caixinha na testa?
No Antigo Testamento Deus deu ordens específicas quanto à importância de guardarem a sua Lei. Dentre outras, esta passagem é a que resume a prática dos judeus até hoje: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos” (Dt 6:6-8).
Os israelitas seguiam e seguem até hoje literalmente esta ordem, colocando trechos da Lei dentro de caixinhas amarradas à testa e escrito em tiras de couro amarradas da mão ao antebraço. Nos tempos de Jesus essa tira de couro, o filactério, era alargada pelos fariseus que desejavam querer exibir maior obediência e serem vistos pelos homens.
“E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes, e amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi” (Mt 23:5-7).
Mas o real significado daquilo, e que é o que vale para o cristão hoje, está em manter a Palavra de Deus em nossos pensamentos (testa) e em nossas ações (mãos). Devemos ler a Palavra até nossos pensamentos serem formados por ela e nossas mãos guiadas pelos seus preceitos.
Numa imitação barata do que Deus pediu aos israelitas, no final, em tempos de Grande Tribulação, o anticristo fará com que as pessoas tragam o sinal da besta na mão e na testa, e serão por isso punidas por Deus. Serão pessoas que pensarão e agirão do jeito que o diabo gosta, identificadas com o máximo da imperfeição humana — 666. O número 6 na Bíblia é número de homem, e representa a imperfeição de não chegar a ser 7, o número perfeito. Seiscentos e sessenta e seis pode indicar o máximo da imperfeição.
“E [o anticristo] faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis” (Ap 13:16-18).
“E seguiu-os o terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão, também este beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da sua ira; e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro” (Ap 14:9-10).
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Você acha correto evangelizar
em frente a bares, baladas, etc.?
A evangelização deve ser feita com sabedoria e sempre evitando a confrontação. Aquele que evangeliza precisa sempre ter em mente que deseja conquistar almas para Cristo, não as afugentar ou ganhar uma discussão. Se evangelizar com um coração sincero e em graça, e for dirigido pelo Espírito a fazê-lo em frente a bares, baladas, boates, etc., eu não vejo mal. Errado é fazer isso em tom acusatório, reprovando os que estão entrando ali como se aquilo fosse o que iria fazer com que fossem para o inferno. O homem não precisa fazer nada para ir para o inferno, basta continuar como está.
Eu mesmo já preguei o evangelho na rua em esquina de bar no interior de Goiás, como também entrava em bares para distribuir folhetos, colando um big sorriso no rosto e fazendo a cara mais simpática que podia. Alguns me fuzilavam com o olhar, outros me convidavam para uma pinga e eu simplesmente dizia “Obrigado, agora não”.
Pouco depois de minha conversão eu viajava pelo interior com o irmão que me evangelizou e paramos para tomar café em um boteco de beira de estrada. Tomamos o café ao lado do pessoal bebendo pinga e cerveja, e se divertindo na mesa de sinuca. Esse irmão reparou num grande cartaz que havia na parede do bar, com o slogan: “Coca-Cola dá mais vida!”. Então ele leu o cartaz bem alto e em tom de interrogação: “COCA-COLA DÁ MAIS VIDA?!” Tão alto que o bar silenciou e todos olharam para ele. E continuou:
“COMO PODE DAR MAIS VIDA SE ATÉ FAZ MAL PARA A SAÚDE?!” (Todos de cara vermelha de álcool prontamente concordaram com a cabeça, e estava feita a conexão). “VOCÊS SABEM O QUE DÁ MAIS VIDA?” (Todos fizeram que não com a cabeça, curiosos para saber). “O QUE DÁ MAIS VIDA É CRISTO, PORQUE MORREU NA CRUZ PARA DERRAMAR SEU SANGUE PARA NOS PURIFICAR DE NOSSOS PECADOS. CRENDO NELE VOCÊ RECEBE MAIS VIDA, A VIDA ETERNA!”.
Rapidamente distribuímos alguns folhetos evangelísticos e saímos do boteco antes que a ficha caísse totalmente na cabeça dos beberrões e algum decidisse nos fazer engolir uma garrafa de Coca-Cola. Naquele tempo elas ainda eram de vidro.
Muito do que você vê sendo pregado por aí não é o evangelho da graça, e algumas pregações não são feitas com sabedoria. Lembro-me de um amigo incrédulo que estava com seus pedreiros no andaime ajudando a rebocar sua construção, quando um “obreiro” de alguma igreja parou na rua e começou a gritar um evangelho do tipo “Deus vai dar a você uma nova vida”, obviamente não falando de vida eterna, mas de prosperidade.
“Com minha pregação já tirei da enxada um homem que hoje trabalha na prefeitura. Tirei da enxada outro que hoje é comerciante. Tirei da enxada mais um….” ao que meu amigo interrompeu e disse: “Meu caro, se você continuar tirando gente da enxada quem é que vai plantar o feijão para você comer?”.
Infelizmente o que vemos às vezes é mais uma atitude de provocação e crítica do que o evangelho da graça pregado por alguém preocupado com a salvação de pecadores. Evangelho que convide alguém a largar um vício não é evangelho; evangelho que convide alguém a ser curado de uma doença do corpo não é evangelho; evangelho que prometa uma vida fácil neste mundo não é evangelho; e evangelho que tente ganhar discussão para sair de peito estufado e queixo erguido não é evangelho. Evangelho sem sangue não é evangelho, pois o verdadeiro evangelho é que Cristo veio ao mundo salvar pecadores, e todo aquele que nele crê tem a vida eterna.
Devemos trazer sempre o mesmo espírito do apóstolo Paulo, quando respondeu ao rei que o interrogava:
“Assim Deus permitisse que, por pouco ou por muito, não apenas tu, ó rei, porém todos os que hoje me ouvem se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias” (At 26:29). Que Paulo não foi em nada agressivo e nem quis criar ira nos que o ouviam nós podemos ver pela reação dos que estavam ali: “A essa altura, levantou-se o rei, e também o governador, e Berenice, bem como os que estavam assentados com eles; e, havendo-se retirado, falavam uns com os outros, dizendo: Este homem nada tem feito passível de morte ou de prisão. Então, Agripa se dirigiu a Festo e disse: Este homem bem podia ser solto, se não tivesse apelado para César” (At 26:30-32).
Li uma notícia de um rapaz que parou em frente a uma casa onde estava tendo uma festa com muita bebedeira e gritaria e começou a pregar o “seu evangelho”, que obviamente não foi nem um pouco oportuno para os que estavam se embriagando na festa. Tanto é que um deles saiu e esfaqueou o pobre rapaz até à morte.
Por isso é bom entender que é possível pregar o evangelho sem ser agressivo e respeitando certas regras de convivência e civilidade. Se você entrar em um velório em um país de radicais muçulmanos e começar a gritar versículos bíblicos mandando que se arrependam e difamando Alá, estará apenas garantindo seu velório ao lado do defunto. Portanto em certos ambientes você pode entregar um folheto com uma mensagem bíblica sem fazer estardalhaço. Hoje é possível até distribuir CDs e pendrives com mensagens evangelísticas e quem receber irá gostar do presente. Ao menos até descobrir o que está gravado neles.
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Como saber que a Bíblia não foi alterada?
Quando você conhece realmente a Deus, depois de ter sido salvo por Cristo, e sabe o quanto custou entregar seu Filho para morrer e salvar criaturas perdidas, você descansa na certeza de que Deus é fiel. E um dos aspectos dessa certeza é que “Todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10:11). Portanto o próprio Deus não iria permitir que ficássemos sem um norte, sem uma escritura fiel o suficiente para o conhecermos. As teorias conspiratórias mais esdrúxulas surgem quando se exclui a Deus da equação, achando que a preservação da Verdade é tarefa de homens.
Existem muitos exemplos disso nas próprias Escrituras, mas vou me ater a apenas um capítulo — Jeremias 36 — que aconselho você a ler inteiro. O capítulo fala de um rei ímpio, “Jeoiaquim, filho de Josias, rei de Judá”, e de sua tentativa de destruir a Palavra de Deus entregue por intermédio do profeta Jeremias. Deus ordenara que Jeremias pegasse “o rolo de um livro” e escrevesse nele “todas as palavras” que Deus falaria “de Israel, e de Judá, e de todas as nações… desde os dias de Josias até ao dia de hoje”. Deus explica a razão dessa ordem: “Porventura ouvirão os da casa de Judá todo o mal que eu intento fazer-lhes, para que cada qual se converta do seu mau caminho, e eu perdoe a sua maldade e o seu pecado” (Jr 36:3).
A intenção de Deus é sempre a melhor — “que cada qual se converta do seu mau caminho, e eu perdoe a sua maldade e o seu pecado”. Mas o homem nem sempre é receptivo ao desejo de Deus de perdoar por uma razão bem simples: aceitar o perdão de Deus implica antes reconhecer que eu e você somos pecadores por natureza e merecedores de um justo juízo. Mais de uma vez Deus revela a Jeremias seu propósito de compaixão, misericórdia e perdão para com aquele povo tão desobediente.
“Então Jeremias chamou a Baruque, filho de Nerias; e escreveu Baruque da boca de Jeremias no rolo de um livro todas as palavras do Senhor, que ele lhe tinha falado. E Jeremias deu ordem a Baruque, dizendo: Eu estou encarcerado; não posso entrar na casa do Senhor. Entra, pois, tu, e pelo rolo que escreveste da minha boca, lê as palavras do Senhor aos ouvidos do povo, na casa do Senhor, no dia de jejum; e também, aos ouvidos de todos os de Judá, que vêm das suas cidades, as lerás. Pode ser que caia a sua súplica diante do Senhor, e se converta cada um do seu mau caminho; porque grande é a ira e o furor que o Senhor tem expressado contra este povo” (Jr 36:4-7).
Baruque, o escriba, atende ao pedido de Jeremias e escreve tudo o que Deus estava revelando ao profeta. Em seguida Baruque lê aquelas palavras na casa do Senhor, o Templo, “aos ouvidos de todo o povo”. O texto dá ainda conta de todos os príncipes dos judeus que estavam presentes àquela leitura, indicando nome e “sobrenome” de cada um. Digo “sobrenome” entre aspas porque ainda não existiam os sobrenomes que existem hoje, portanto cada um era identificado como “Fulano, filho de Sicrano” para não deixar dúvidas quanto à identidade das testemunhas presentes ali.
Deus sempre deu grande importância a testemunhas. Os evangelhos foram escritos por discípulos inspirados, mas também cercados de testemunhas que podiam muito bem atestar tudo o que tinha sido escrito ali. Muitas das testemunhas dos fatos estavam ainda vivas quando os evangelhos foram escritos, podendo atestar que as coisas realmente tinham sido assim. O livro de Atos segue o mesmo princípio. Pedro, em seu discurso a Cornélio e seus companheiros, diz:
“E nós somos testemunhas de todas as coisas que fez, tanto na terra da Judeia como em Jerusalém; ao qual mataram, pendurando-o num madeiro. A este ressuscitou Deus ao terceiro dia, e fez que se manifestasse, não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus antes ordenara; a nós, que comemos e bebemos juntamente com ele, depois que ressuscitou dentre os mortos. E nos mandou pregar ao povo, e testificar que ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos. A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome” (At 10:39).
Em 1 Coríntios 15 Paulo fala das mais de quinhentas testemunhas que podiam afirmar ter visto o Senhor Jesus ressuscitado, e João em sua carta escreve: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida (Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada); o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra” (1 Jo 1:1-4).
Outra prova de que as Escrituras que temos hoje é íntegra em todos os seus aspectos é, na verdade, uma prova dupla. Primeiro temos o Antigo Testamento, que em grande parte deprecia o povo de Israel jogando sua reputação no fundo do poço. Se alguém falasse hoje de um judeu do jeito que os profetas do Antigo Testamento falaram seria considerado politicamente incorreto e seria processado por difamação.
O mesmo pode ser dito dos textos do Novo Testamento. Ali o Espírito Santo faz uma radiografia dos discípulos — dentre eles alguns autores dos textos inspirados — e dos outros irmãos, revelando suas falhas e enganos. Se fosse uma obra humana certamente teria antes passado por um censor para eliminar tudo que pudesse macular a reputação dos discípulos. Mas o que vemos ali é a realidade nua e crua, desde Pedro negando o Senhor, até os discípulos amedrontados no barco que parecia afundar, ou permanecendo a uma distância segura da cruz. Nem Paulo escapa, pois no livro de Atos nós o vemos agindo na sua própria vontade e deliberadamente de forma contrária à direção do Espírito de Deus, apesar dos avisos dos irmãos e do profeta inspirado, Ágabo (Atos 21).
Voltando ao capítulo 36 de Jeremias vemos que o rei é informado do rolo do livro onde a Palavra de Deus revelada a Jeremias havia sido escrita “com tinta” (Jr 36:18), um detalhe que o Espírito Santo quis acrescentar para mostrar que não devia ser apagada. O rei ordena que o rolo seja trazido à sua presença e, depois de ter lido “três ou quatro folhas, cortou-as com um canivete de escrivão, e lançou-as no fogo que havia no braseiro, até que todo o rolo se consumiu no fogo que estava sobre o braseiro. E não temeram, nem rasgaram as suas vestes, nem o rei, nem nenhum dos seus servos que ouviram todas aquelas palavras. E, posto que Elnatã, e Delaías, e Gemarias tivessem rogado ao rei que não queimasse o rolo, ele não lhes deu ouvidos. Antes deu ordem o rei a Jerameel, filho de Hamaleque, e a Seraías, filho de Azriel, e a Selemias, filho de Abdeel, que prendessem a Baruque, o escrivão, e a Jeremias, o profeta; mas o Senhor os escondera” (Jr 36:23-26).
Além do profeta, que recebeu a Palavra diretamente da boca de Deus, havia o escriba Baruque, uma multidão de testemunhas e até mesmo aqueles, na corte do rei, que tentaram dissuadir o rei de seu intento a fim de proteger o livro e evitar que Jeoiaquim o queimasse. Deus sempre teve e terá pessoas assim dedicadas na guarda dos seus oráculos, independente de quanto o inimigo queira destruí-los. Além disso, Deus tinha escondido o escriba Baruque e o profeta Jeremias, porque a história não acabava ali naquele braseiro em que o rolo da Palavra de Deus havia sido transformado em cinzas. Repare bem que foi Deus quem os escondeu.
“Então veio a Jeremias a palavra do Senhor, depois que o rei queimara o rolo, com as palavras que Baruque escrevera da boca de Jeremias, dizendo: Toma ainda outro rolo, e escreve nele todas aquelas palavras que estavam no primeiro rolo, que queimou Jeoiaquim, rei de Judá… Tomou, pois, Jeremias outro rolo, e deu-o a Baruque, filho de Nerias, o escrivão, o qual escreveu nele, da boca de Jeremias, todas as palavras do livro que Jeoiaquim, rei de Judá, tinha queimado no fogo; e ainda se lhes acrescentaram muitas palavras semelhantes” (Jr 36:27-28, 32). Assim aquela profecia não foi apenas preservada pela mão de Deus que guardou o escriba e o profeta para repetirem a tarefa, mas foi ainda acrescida de “muitas palavras semelhantes”.
Portanto, pode ficar sossegado que Deus não dorme em serviço. Ele é o maior interessado em preservar sua Palavra para que ela chegue às nossas mãos séculos depois de ter sido revelada aos apóstolos e profetas. Os homens podem criar versões espúrias, traduções incorretas, e até literalmente queimar milhões de Bíblias como sempre foi feito nos países comunistas, budistas e islamitas. Por trás de tudo isso Deus estará rindo da ingenuidade humana de achar que podem se opor ao Criador de todas as coisas.
“Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas. Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles” (Sl 2:1-4).
Quando entendemos essas coisas reagimos como Jó, no fim de sua provação e depois de ter falado sem compreender realmente quem era o Deus a quem ele servia:
“Então respondeu Jó ao Senhor, dizendo: Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido. Quem é este, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia. Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:1-6).
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Minha salvação não foi completa?
Seu amigo questionou meus textos e vídeos que você enviou a ele, que tinham os títulos “Precisamos começar as reuniões invocando o Senhor?” e “Existe um arrebatamento parcial?”, e perguntou o que você acha sobre “crescer na vida divina a fim de reinar”. Argumentou que se “somos herdeiros de Deus temos que amadurecer na vida divina a fim de podermos reinar, pois o reino é a herança de Deus para os crentes”.
Acho que ele está confundindo um pouco as coisas, talvez por seguir ensinamentos equivocados. Por exemplo, ele citou Filipenses 2:12 como argumento de que a salvação não seja tão completa como podemos pensar. Vou transcrever o versículo mas também o que vem em seguida por causa do contexto: “De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”.
O versículo 12 que seu amigo citou fala de colocar em prática aquilo que já recebemos por graça, e não o contrário. Não é operando a salvação que seremos merecedores de alguma coisa, mas depois de salvos é nossa responsabilidade colocar essa salvação em prática (este é o significado do verbo “operar”). Outras versões dizem “desenvolvei a vossa salvação” (ARA), “cultivai a vossa salvação” (LITV), “ponham em ação a salvação de vocês” (NVI).
Portanto isso nada tem a ver com a responsabilidade nossa em completar nossa salvação como se faltasse fazer algo que Cristo não tivesse feito. Como poderia alguém morto em seus delitos e pecados salvar-se a si mesmo? E como poderia Deus dar uma salvação “meia-boca” a alguém, sendo ele perfeito em tudo e tendo pago um preço tão alto por nossa redenção? Você acha que seria solto da prisão se um amigo seu se propusesse a pagar metade da fiança? E como poderia Paulo querer dizer algo do tipo depois de ter escrito com todas as letras em Efésios 2:8-9 que “pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”? Então se Paulo diz que a salvação é pela fé e depois diz que devemos operar nossa salvação ele obviamente não está com isso anulando o que disse antes, mas apenas falando de outro aspecto da salvação, que é o de colocá-la em prática.
A própria palavra “salvação” tem diferentes significados dependendo do contexto. Em Filipenses 1:19 Paulo diz: “Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo”. Mas espere um pouco! Acaso Paulo já não era salvo? Sim, sem dúvida, mas o assunto aqui é o de salvação da prisão e morte, que é o contexto do que ele está falando. Em Filipenses 1:28 ele diz: “E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas para vós de salvação, e isto de Deus.” Aqui também o contexto mostra salvação mais como de resolução de um problema do que de salvação eterna.
É como o caso de um cristão que escapa de um acidente e exclama: “Puxa! Foi por pouco! Nasci de novo!”. Mas aí vem aquele irmão que só usa o hemisfério esquerdo do cérebro e não consegue falar em linguagem que não seja estritamente lógica e lhe dá uma lição: “Não, meu irmão, você nasceu de novo quando o Espírito Santo aplicou a água da Palavra em você lhe dando nova vida, etc.” A explicação pode ser muito boa e correta, mas não foi nesse sentido e contexto que o outro tinha usado a expressão “Nasci de novo”.
O outro versículo que seu amigo usou foi Romanos 5:10: “Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida”. Aqui é outro aspecto de salvação que não é exatamente o da salvação eterna. L. M. Grant explica assim:
“Éramos inimigos de Deus, mas ele não era nosso inimigo, porém, ao contrário, trabalhava visando nos reconciliar a si mesmo, e isso foi o que aconteceu, por inigualável graça, pela morte de Cristo, seu Filho. Quão transcendente e maravilhoso evangelho! Mas tendo sido assim, ‘muito mais… seremos salvos pela sua vida’. Necessariamente esta é a vida de Cristo em ressurreição, ressuscitado ‘segundo o poder de vida indissolúvel’ (Hb 7:16). Não se trata aqui de salvação eterna, mas do divino poder de Deus agora empregado em nos salvar dos males e perigos que nos ameaçam em nosso dia a dia em nossa senda através do mundo… Isto tem a ver com a intercessão sacerdotal de Cristo por nós à destra de Deus, cuidando de nós em cada circunstância na terra” – L. M. Grant.
Veja o que J. N. Darby comenta da mesma passagem: “[Paulo] acrescenta que, se fomos reconciliados por Deus pela morte de seu Filho, isto é, por aquilo que era, por assim dizer, sua fraqueza, muito mais seremos agora salvo por sua vida, isto é, pela poderosa energia na qual ele vive eternamente. Assim o amor de Deus fez a paz no que diz respeito ao que éramos, e nos dá segurança no que diz respeito ao nosso futuro, providenciando para que sejamos felizes também em nosso presente. Isto que Deus é nos assegura todas essas bênçãos. Ele é amor, cheio de consideração e sabedoria para conosco” – J. N. Darby.
Posso estar enganado, mas talvez esse seu amigo siga os ensinos de Watchman Nee e Witness Lee que falavam de duas classes de pessoas, uma dos “vencedores”, que seriam arrebatados por estarem prontos para reinar com Cristo, e outra dos (“perdedores”?) que ficarão por aqui para sofrer a grande tribulação para aparar as arestas. Isso é o mesmo que dizer que a obra de Cristo não foi perfeita e completa; é como dizer que ao crente vacilante existe uma espécie de “purgatório” para purificar os não arrebatados. Alguns dos que professam estas doutrinas costumam se identificar como “igreja local” e se adivinhar onde eles acreditam que está congregada a maior parcela de “vencedores” você ganha um doce.
É simples saber que ninguém vai ficar aqui no arrebatamento para ser “purificado” ou “aperfeiçoado” por esse suposto “purgatório”. Se fosse assim, como é que Cristo se contentaria em vir buscar sua Noiva e só levar consigo um pedaço dela? De maneira nenhuma! “Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5:24-26).
E o que dizer dos salvos que irão ressuscitar nesse dia e viveram aqui uma vida meio fora do padrão bíblico de qualidade total? Será que na ressurreição Cristo iria também dividir os crentes mortos em duas turmas? Os “vencedores” que ressuscitariam para subir com os arrebatados, e os “perdedores” que seriam deixados aqui. Mas espere um pouco! Se esses perdedores ressuscitarem, como poderão passar pelo suposto sofrimento purificador da Grande Tribulação se estarão já em um corpo perfeito à semelhança do corpo de Cristo, já imune à dor e ao sofrimento? Se não morreram cem por cento aperfeiçoados estarão tão perdidos para sempre como qualquer incrédulo, e só irão ressuscitar no dia do Grande Trono Branco para serem lançados no lago de fogo!
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Os refugiados islâmicos
irão invadir o Brasil?
Você enviou a gravação de uma “denúncia” atribuída a um senador dizendo que o Brasil teria se comprometido com a ONU em receber um milhão de refugiados islâmicos em treze navios, e que isso teria “consequências devastadoras para os cristãos”. A mensagem vem seguida daquela famosa frase: “A imprensa brasileira está cooperando mantendo silêncio”. Este é um truque muito usado nos boatos que procuram criar clima de teoria conspiratória em tudo. Coisa do tipo “A NASA não quer que você veja este vídeo!” ou “A notícia que a Globo quer esconder!”. É só dizer que tem alguém querendo esconder e todo mundo vai querer ver. E os “treze navios”? Bem isso provavelmente foi para dizer que isso só vai nos trazer azar.
A “denúncia” é falsa e o próprio senador fez um vídeo desmentindo e afirmando que alguém imitou sua voz. Mas o mais triste de tudo é que os principais polinizadores de boatos assim são justamente cristãos sem noção, preocupados com uma suposta invasão. E daí se um milhão de muçulmanos vier morar no Brasil?
Isso só economizaria o trabalho de nós cristãos aprendermos árabe e corrermos riscos indo pregar em seus países. Não é justamente para testemunhar de Cristo que eu e você estamos no mundo? Deveríamos agradecer por uma entrega a domicílio de uma multidão de incrédulos necessitados de salvação. Faz lembrar o dia em que meu pai pediu no balcão do açougue uma determinada carne e lá do fundo o dono gritou para o balconista em tom de bronca: “Ô, Zé! CALMA AÍ, CARA! SE VOCÊ CONTINUAR VENDENDO ESSA CARNE VAI ACABAR!”. Ué, açougue não é para vender carne?
Talvez seja melhor avisar os muçulmanos para que venham armados, porque aqui tem muito bandido, dos mais altos até os mais baixos níveis da sociedade. Antes que você ache minha fala discriminatória, os mais baixos a que me refiro são, obviamente, os que usam gravata e desviam milhões com a corrupção, lavagem de dinheiro e “crimes do colarinho branco”. Mas há também os crimes de morte. No período de 2011 a 2015, o país matou mais pessoas que a Síria: foram 278.839 brasileiros mortos pela violência, número ainda maior que os 256.124 mortos pela guerra. Então é melhor que os muçulmanos, homens e mulheres, esqueçam o turbante e a burca, pois vão precisar usar os olhos da nuca quando andarem pelas ruas das grandes cidades brasileiras.
Se você for alguém para quem o Brasil é a única pátria que possui, aí sim é normal que fique preocupado. Qualquer privilégio que tenha aqui irá se acabar quando tiver de se encontrar com Deus para receber a condenação no fogo eterno por seus pecados. E será aterrorizante se as últimas palavras que você ouvir neste mundo forem “Allahu akbar!!!” antes de um “BUM!”. Mas se for um cristão e sabedor de que seus pecados já foram pagos por Cristo, e que está aqui como estrangeiro porque sua pátria é celestial, está reclamando de quê? Da possibilidade de se encontrar prematuramente com seu Salvador? Acho até que poderíamos classificar cristãos em três categorias: os cidadãos, que estão aferrados a este mundo do qual não querem abrir mão; os turistas, que vivem aqui a passeio sem nenhuma responsabilidade em testemunhar de Cristo, e os estrangeiros, de malas prontas para partir a qualquer momento, que é o verdadeiro caráter do cristão neste mundo.
“Ah!”, dirá você, “Mas entre os muçulmanos poderiam existir terroristas vindos aqui para praticar atentados!”. Sério? E os portugueses, vieram fazer o que aqui quando desembarcaram em seus navios? Turismo? Assistir ao desfile das escolas de samba? Eles vieram invadir a terra, roubar suas riquezas e massacrar os brasileiros nativos que tentassem resistir. Mais tarde acabariam trazendo Portugal inteiro para cá, e quando
Napoleão chegou na península ibérica para invadir a nação lusitana encontrou uma placa: “MUDOU-SE”. E os franceses, holandeses, ingleses, eslavos? — sim, os vikings chegaram antes e talvez até os chineses. Seriam eles passageiros de algum cruzeiro para conhecer o patropi? Certamente não.
Obviamente ninguém é inocente de achar que os brasileiros nativos receberam os invasores europeus de braços abertos. Alguns logo incluíram suas carnes importadas no cardápio, mas o poder de fogo — se é que podemos chamar flecha de fogo — dos nativos era infinitamente inferior ao dos europeus com seus canhões e trabucos movidos a pólvora. As estimativas da população indígena nas Américas antes do contato com os invasores variam de sessenta milhões a cento e doze milhões de nativos (Wikipedia). No Brasil estimativas conservadoras falam em cinco milhões. Segundo a FUNAI, hoje são 460 mil.
Quem conhece a história do Brasil sabe que não foram dizimados apenas por doenças desconhecidas por aqui, como a gripe e o sarampo, mas também foram sumariamente assassinados. Desde garoto eu sempre gostei de arte, e um dos quadros que via no “Tesouro da Juventude” que me impressionava foi “O Último Tamoio” (1883), de Rodolfo Amoedo. Na pintura o índio morto na praia pode muito bem servir de antítese à figura do garoto sírio que figurou nas páginas dos jornais. Numa é o brasileiro morto em sua própria praia assistido por um jesuíta; na outra, o invasor islâmico na praia invadida é observado por um policial.
Os confrontos de portugueses e espanhóis empenhados em dizimar os brasileiros ficaram conhecidos por “Guerras Guaraníticas”, e só na Batalha de Caiboaté morreram até mil e quinhentos nativos. Nos rios da Amazônia, muito tempo depois da chegada dos portugueses, os invasores em busca de terras indígenas costumavam atirar de seus barcos em qualquer índio que aparecesse nas margens. Sim, havia caça a índios em todas as Américas. E não foram poucas as mulheres índias violentadas e depois serradas ao meio para aterrorizar os índios e impedir que atacassem as fazendas. Não foram os radicais islâmicos que inventaram o terrorismo; os radicais europeus já tinham essa prática, talvez aprendida com os radicais da Inquisição.
Portanto, não é com os muçulmanos que você deve se preocupar, mas com o ser humano de um modo geral, a mesma raça adâmica da qual eu e você viemos. Ou será que você é dos que acreditam que o Brasil é um país cristão e os muçulmanos vindo aqui poderiam nos converter à força ao Islã? Se você é realmente um convertido a Cristo será mais fácil sua cabeça rolar ao fio da cimitarra do que negar seu Salvador. Mas talvez a preocupação mesmo seja de que os muçulmanos possam estragar nossa vida boa e a “santidade” de nosso Carnaval. A Europa é um continente dito “cristão”, mas lá hoje você pode ir a um show de música pop numa capela medieval, porque os templos cristãos ficaram tão vazios que alguns são alugados para eventos. Pergunte a algum europeu na rua de uma grande cidade se ele acredita na existência de Deus.
O Brasil é um país “cristianizado”, mas não um país cristão, mesmo porque não existem países cristãos, mas pessoas cristãs. Se o Brasil fosse um país de população predominantemente cristã no verdadeiro sentido da palavra, aqueles que professam ser cristãos — católicos e protestantes — não ficariam com o pelo do pescoço arrepiado só de pensar em estrangeiros desembarcando aqui. Como eu já disse, não seriam os primeiros, porque muitos já desembarcaram nos últimos quinhentos anos, como meus avós e provavelmente os seus também. Mas como nós, cristãos, devemos reagir a esses que querem invadir a nossa praia? Ganha um doce se descobrir quem disse estas palavras: “Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me” (Mt 25:35).
Uma das qualidades que Deus procura no seu povo é hospitalidade. Foi assim no Antigo Testamento quando três estranhos apareceram à porta da tenda de Abrão e ele prontamente correu para preparar-lhes uma refeição:
“E levantou os seus olhos, e olhou, e eis três homens em pé junto a ele. E vendo-os, correu da porta da tenda ao seu encontro e inclinou-se à terra, e disse: Meu Senhor, se agora tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que não passes de teu servo. Que se traga já um pouco de água, e lavai os vossos pés, e recostai-vos debaixo desta árvore; e trarei um bocado de pão, para que esforceis o vosso coração; depois passareis adiante, porquanto por isso chegastes até vosso servo. E disseram: Assim faze como disseste. E Abraão apressou-se em ir ter com Sara à tenda, e disse-lhe: Amassa depressa três medidas de flor de farinha, e faze bolos. E correu Abraão às vacas, e tomou uma vitela tenra e boa, e deu-a ao moço, que se apressou em prepará-la. E tomou manteiga e leite, e a vitela que tinha preparado, e pós tudo diante deles, e ele estava em pé junto a eles debaixo da árvore; e comeram” (Gn 18:2-8). Provavelmente esta passagem de Hebreus se refira a situações como essa: “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos” (Hb 13:2).
Enquanto isso, o sobrinho de Abrão, Ló, morava em Sodoma e chegou até a ocupar um posto de juiz à porta da cidade. Apesar de ele representar o crente carnal e mundano, Ló era temente a Deus e por este é chamado em 2 Pedro 2:7-8 de “justo Ló, enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis, porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa, vendo e ouvindo sobre as suas obras injustas”. Mesmo vivendo numa cidade que não era sua, ele também exerceu hospitalidade ao receber os dois anjos que tinham visitado Abrão pouco antes. “E vieram os dois anjos a Sodoma à tarde, e estava Ló assentado à porta de Sodoma; e vendo-os Ló, levantou-se ao seu encontro e inclinou-se com o rosto à terra; e disse: Eis agora, meus senhores, entrai, peço-vos, em casa de vosso servo, e passai nela a noite, e lavai os vossos pés; e de madrugada vos levantareis e ireis vosso caminho. E eles disseram: Não, antes na rua passaremos a noite. e porfiou com eles muito, e vieram com ele, e entraram em sua casa; e fez-lhes banquete, e cozeu bolos sem levedura, e comeram” (Gn 19:1-3).
Quando os sodomitas quiseram invadir a casa para abusar dos anjos que estavam ali em forma humana, Ló se prontificou a oferecer a eles suas filhas virgens, só para você ter uma ideia a que extremo chegava a hospitalidade entre o povo de Deus. Em 1 Samuel 25 você lê a história de como Davi e seus homens protegeram os servos do rico Nabal quando estavam no campo. Davi ali é um tipo de Cristo em seu desterro e rejeição, quando Davi precisou fugir de Saul. Depois de ter ajudado os servos de Nabal, Davi enviou mensageiros para pedir algum mantimento, e Nabal respondeu: “Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água, e a carne das minhas reses que degolei para os meus tosquiadores, e o daria a homens que eu não sei donde vêm?” (1 Sm 25:11). Indignado, Davi decidiu fazer justiça com as próprias mãos e matar Nabal, mas Abigail, a sábia esposa de Nabal, intercedeu junto a Davi enviando-lhe mantimentos e fazendo com que mudasse de ideia. Porém isso não evitou que Deus julgasse a Nabal por sua maldade e falta de hospitalidade: “E aconteceu que, passados quase dez dias, feriu o Senhor a Nabal, e este morreu” (1 Sm 25:38).
Se buscar no Novo Testamento irá encontrar muitos exemplos de hospitalidade, o maior deles em Betânia, na casa de Lázaro, Marta e Maria, que costumeiramente hospedavam Jesus quando ele ia a Jerusalém. E mesmo com tantos exemplos assim, quando é que os cristãos vão entender que devem ser hospitaleiros, e principalmente que não são donos do Brasil ou do mundo? Há 500 anos um “senador indígena” deve ter feito a mesma denúncia, só que os que viriam em navios seriam portugueses. Iriam não apenas praticar terrorismo e matar brasileiros nativos, mas também obrigá-los à força a mudar de religião, roubar suas riquezas para levar para Portugal e, alguns séculos mais tarde, também para a Suíça e outros paraísos fiscais. O problema é que muitos cristãos não entenderam ainda que sua pátria não é o Brasil, mas o céu. Quem se agarra com as quatro mãos a uma cidadania aqui é porque não tem outra. É compreensível para quem é cidadão do mundo. Porém…
“Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (Jo 15:18-20; 18:36). Depois disso você, crente em Cristo, ainda irá querer pelejar por este mundo?
Agora vou contar algo a você: nós cristãos somos os verdadeiros terroristas que invadiram este planeta para tirar vidas humanas do mundo e destiná-las ao céu por meio da pregação do evangelho. A fé cristã perverte os valores do mundo criando alienados que não se encaixam na sociedade, e seu terrorismo é feito com “as armas da luz” (Rm 13:12), “armas da justiça” (2 Co 6:7), “porque, andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” (2 Co 10:3-5). Somos os terroristas que o mundo mais teme, e se você anda conforme a Palavra de Deus já deve ter sentido isso.
Portanto, ao invés de colocar o rabo entre as pernas como um cão assustado diante de pessoas que adoram a Alá — algumas mais radicais portando rifles AK-47 e bombas amarradas ao corpo —, “fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça; e calçados os pés na preparação do evangelho da paz; tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6:10-19).
Afinal, quem foi que fez de você tamanho covarde ao ponto de duvidar das armas “poderosas em Deus para destruição das fortalezas” que estão ao eu dispor? Quem foi que tirou de você a confiança “na palavra de Deus [que] é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar”? (Hb 4:12-13). Será o medo de perder seus bens? Ora, o homem mais rico do mundo é sepultado com a roupa do corpo.
Talvez seu medo esteja em perder a vida, e é natural temermos a dor da morte, mas a morte em si é uma serva do cristão, se você pensar como Paulo, que “o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp 1:21). A expectativa do cristão em vida é Cristo, e sua expectativa na morte é ver a face de Cristo, quando iremos exclamar, como fez o vacilante Tomé diante do Senhor ressuscitado: “Senhor meu e Deus meu!”. Agora pense em como é triste saber que milhões de muçulmanos vivem sem certeza alguma de vida eterna e tendo no máximo uma ilusória esperança de um paraíso de prazeres da carne. Se pudermos fazer algo por algum deles, ainda que tenham invadido nosso país, entraremos para o time de outros que testemunharam e levaram a salvação a invasores de sua pátria, como a serva a seu captor Naamã, Daniel aos da corte de Babilônia, e Pedro ao centurião romano.
“Assim que, sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens [inclusive muçulmanos] à fé… E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles, cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo? Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus (2 Co 5:11; 2:14-17).
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Você concorda com quem diz
que Jesus foi um homem comum?
Você disse que assistiu a um debate na TV e entre os convidados estava um conhecido filósofo que é meu xará e professa ser cristão. Eles debatiam a existência de Jesus, falavam que era apenas um homem comum — o Jesus histórico — e que sua fama foi criada graças ao apóstolo Paulo, cujas cartas teriam sido escritas antes até dos evangelhos. O que acha disso?
O que eu acho não é importante, mas o que a Palavra de Deus acha isto sim é o que importa. O fato de as cartas de Paulo terem sido escritas antes dos evangelhos (eu não saberia dizer se foram ou não) não tem grande importância, pois Paulo não conheceu quem Jesus realmente era pelo testemunho dos autores dos evangelhos, mas por revelação. Ele teve um encontro pessoal com Cristo no caminho de Damasco, além de ter sido arrebatado ao terceiro céu. Ele testemunhou que só foi se encontrar com Pedro e Tiago anos depois de ter conhecido a Cristo por revelação:
“Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei a carne nem o sangue, nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco. Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro, e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Gl 1:15-19).
Não é nenhuma novidade que homens supostamente sábios segundo os padrões humanos considerem Jesus um mito ou no máximo um homem comum. Há dois mil anos também duvidaram que Jesus era quem ele era. Em João 19:6-7 Pilatos ficou surpreso diante dos judeus querendo matar Jesus: “Disselhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele. Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus” (Jo 19:6-7).
Se há dois mil anos eles condenaram Jesus à morte de forma literal, hoje o condenam à morte de forma literária e intelectual em livros, revistas e programas como esse, assassinando o autor e consumador da fé de milhões de pessoas com argumentos científico-filosóficos. Em outras palavras, hoje preferem se livrar de Jesus sem sujar as mãos de sangue.
“Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas. Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles” (Sl 2:2-4).
Não vi o programa (geralmente pulo programas assim), portanto não sei de quem foram essas opiniões, já que mais pessoas participavam do debate. Mas me surpreenderia se tivesse saído da boca desse filósofo. Afinal ele é professor titular do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC e chegou até a experimentar viver em monastério, o que não se faz a menos que exista interesse e convicção. Talvez tenham sido os outros que fizeram essa afirmação, você saberá dizer.
Eu disse que pulo programas assim e pulo filmes e novelas de temas bíblicos. O objetivo dos filmes e novelas de temas bíblicos é vender, portanto seus roteiristas (geralmente incrédulos) não terão escrúpulos em alterar a história, introduzir personagens fictícios, e plantar conclusões falsas na mente da audiência. Os programas de entrevistas querem causar espécie, porque se não tiver sangue não tem audiência. Por isso também costumo declinar de convites para falar de minha fé nesses programas.
Filmes, novelas, livros, debates sobre cristianismo — todos eles são permeados de erros e enganos, alguns sutis demais para serem percebidos, mas que servem para lançar sementes de dúvida na mente das pessoas. E por que evito programas assim? Porque incrédulos falarem de Jesus seria o mesmo que eu dar uma entrevista sobre física quântica. Seria perda de tempo para os ouvintes, isso se não fosse motivo de riso. Então, baseado no que você disse que eles comentaram sobre Jesus nesse programa que você assistiu, sugiro que o coloque na categoria de comédia.
Ninguém iria querer assistir um programa que falasse quem Jesus realmente é, que exaltasse sua Pessoa como ele é exaltado nas Escrituras e como será exaltado de tal modo diante até de seus opositores, que estes serão obrigados a dobrar seus joelhos diante de sua majestade. “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:10-11).
Nesses programas, quando não são pessoas que querem o “Jesus talismã das curas e prosperidade”, são filósofos querendo provar que seu desconhecimento da Pessoa de Cristo tem algum valor. E aí a galera delira. Tentei encontrar alguma coisa que esse filósofo tivesse dito de Jesus e caí num site de um ateu que é todo ele construído com dezenas de artigos para falar mal de Deus (se eu fosse ateu não perderia tanto tempo falando mal do que eu acharia não existir). E ali ele parabenizava o filósofo meu xará pelas coisas que disse de Jesus numa entrevista mais antiga. O dia em que eu for parabenizado por algum ateu pelo que falo de Cristo deve ter algo de muito errado no que estou falando. Sugiro que então você não perca seu tempo me ouvindo, ou no máximo me ligue para me lembrar de tomar o medicamento.
As outras mulheres de Cantares não conseguiam entender o que a sunamita podia ter enxergado de tão especial no seu Amado. “Que é o teu amado mais do que outro amado, ó tu, a mais formosa entre as mulheres? Que é o teu amado mais do que outro amado, que tanto nos conjuras?” (Ct 5:9). Assim também um incrédulo não consegue entender o que é que um crente enxerga em Jesus, que possa fazer dele Alguém tão especial. A resposta Paulo dá em sua carta aos cristãos que viviam no berço da filosofia que esses filósofos de hoje aprenderam dos pagãos, “blasfemando do que não entendem” (2 Pe 2:12). Ele também escreveu: “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14). Portanto até mesmo os discípulos que conviveram com ele só puderam conhecer quem ele realmente era a partir de revelação:
“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. Disselhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disselhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus” (Mt 16:13-17).
Quer ser feliz? Quando algum canal anunciar que incrédulos vão debater sobre Jesus, mude para outro. “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes. Vigiai justamente e não pequeis; porque alguns ainda não têm o conhecimento de Deus” (1 Co 15:33-34). Diante de tamanha Pessoa, como é Jesus — diante de quem Tomé exclamou: “Senhor meu e Deus meu!” (Jo 20:28) — deveríamos mesmo é tirar as sandálias, como ele ordenou a Moisés quando lhe apareceu no deserto: “E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus” (Êx 3:5-6).
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Por que aquela casta de demônios
não podia sair sem jejum e oração?
Em Marcos 9:29, falando sobre o menino possesso do qual os discípulos não puderam expulsar o espírito maligno. Quando eles perguntam a razão de não terem conseguido libertar o jovem, Jesus diz aos discípulos que “esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum”. Sua dúvida é o que isso significaria.
Jejum e oração nos falam de abstinência das necessidades da carne e das coisas do mundo. Oração nos fala de conexão, comunhão e comunicação constantes com Deus.
Os discípulos não estavam vivendo assim, daí estarem tão desprovidos de poder espiritual. Para saber a condição em que estavam é só ler um pouco adiante e você verá que orgulho e soberba eram as coisas que ocupavam seus corações. Nos versículos 33 e 34 do mesmo capítulo de Marcos 9 você lê: “E [Jesus] chegou a Cafarnaum e, entrando em casa, perguntou-lhes: Que estáveis vós discutindo pelo caminho? Mas eles calaram-se; porque pelo caminho tinham disputado entre si qual era o maior”.
Pense assim: se você é alguém que um dia creu em Jesus como seu Salvador e passou a fazer parte da família de Deus, você foi escolhido para andar com um Homem capaz de caminhar sobre as águas, curar enfermos e até dar ordens às tempestades. Mesmo depois de ter se convertido a Cristo, você continua tendo seu velho homem em si, apesar de possuir agora uma vida nova que tem sua origem em Deus. É disso que trata o novo nascimento.
Existem em você dois inquilinos: o homem carnal, que nunca irá melhorar porque está totalmente arruinado, e o homem espiritual, originário do céu, que também não pode melhorar, mas por outra razão: ele é perfeito porque vem de Deus. Suas ações serão determinadas por quem você permitir que assuma a direção. Se for a carne que tomar o controle, você acabará se gabando de conhecer a Jesus e ser filho de Deus, olhando com desdém para os incrédulos. Passará a andar de salto alto até Deus fazer você cair de joelhos com seu salto quebrado e você precisar se humilhar.
Os discípulos estavam assim, se achando o máximo por andarem lado a lado com um Homem capaz dos mais incríveis milagres e que atraía multidões. Não é difícil imaginar que na cabeça dos discípulos eles tenham começado a pensar que eram importantes e que estavam começando a ter fãs em todo lugar por onde passavam. Afinal, sempre sobrava uma certa dose de admiração por aqueles que eram assessores daquele Homem, Jesus.
O que eles não percebiam era que agindo assim acabavam muito semelhantes ao espírito imundo que assumiu o controle da vida daquele menino. Energizado por um demônio, o garoto estava longe de ser alguém vivendo em submissão ao seu pai ou a quem quer que fosse. O espírito era “mudo e surdo”, ou seja, a figura perfeita de um crente em Jesus sem comunhão: ele é incapaz de testemunhar de Cristo e também de identificar a voz de seu Pastor, pois seus sentidos estão embotados e distraídos com muitas coisas e não tem uma conexão direta com o Pai em oração.
Esse espírito fazia o menino definhar, espumar, ranger os dentes, enfim, viver sem qualquer controle. Também o levava a extremos — ora jogando-o no fogo, ora na água. Acaso não é assim a vida de quem não tem comunhão com Deus, a quem falta a moderação tão ensinada na sã doutrina? Perca a comunhão e você também não terá fé para crer no impossível. Mas repare que quando Jesus dá a bronca ele não se dirige apenas aos discípulos, mas a todo aquele povo judeu que havia perdido seus privilégios porque, além do orgulho religioso que havia tomado conta da nação, andava por vista, não por fé: “E ele, respondendo-lhes, disse: O geração incrédula! até quando estarei convosco? até quando vos sofrerei ainda?” (Mc 9:19).
Ocupados com o próprio ego, aqueles discípulos não tinham poder para serem usados por Deus. John Nelson Darby coloca assim: “O poder se conecta com a fé; a dificuldade não está no poder de Cristo, mas na incredulidade do homem; todas as coisas seriam possíveis se eles pudessem crer. Ora, a fé, que pode faltar em nós para podermos ser beneficiados por ela, é um princípio importante do poder de Cristo que nunca falha em cumprir tudo o que for bom para o homem”.
A fé mostra que existe confiança em Deus, e não em si mesmo. A oração mostra dependência e o jejum a separação, e aqui vai um detalhe importante: os judeus provavelmente eram o povo mais separado, pois sua religião trazia centenas de leis e preceitos que impediam que fizessem muitas coisas que eram normais na vida dos pagãos. Mas no caso deles a separação e abstinência das coisas proibidas pela Lei mosaica criava autômatos orgulhosos de acharem que seguir uma lista de “pode e não pode” era suficiente para garantir a comunhão com Deus. O apóstolo Paulo fala um pouco sobre esse espírito legalista e como deve ser enxergado pelo cristão:
“Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Cl 2:20-23).
O cumprimento de regras faz você sentir-se superior aos que não cumprem as mesmas regras. A oração também tem o mesmo efeito, quando feita no espírito do fariseu que, no Templo, orava apresentando o que achava serem grandes feitos e comparando-se com o pobre e contrito publicano: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo” (Lc 18:12). O próprio Jesus disse que ele estava perdendo seu tempo orando, dizimando e jejuando, porque o contrito publicano era justificado por se considerar indigno, ele não. Além disso, em nenhum lugar a Lei de Moisés mandava jejuar. Isso você encontra na Bíblia como ações espontâneas de pessoas em momentos de grande estresse.
Então de que tipo de oração e jejum Jesus estava falando aos discípulos para terem poder espiritual? De coisas feitas em um espírito de confiança em Deus, com a oração demonstrando dependência — e não como forma de listar as coisas que fazemos para Deus — e o jejum no sentido da abstinência, não por obrigação, mas como consequência da ocupação com as coisas de Deus, que nos faz deixar de lado as outras coisas. Sabe aquela criança que ganha uma bicicleta nova e agora já nem quer comer, beber ou dormir? Só quer andar de bicicleta. Assim é o jejum: a ocupação com Deus passa a ser tamanha que nem há vontade de se ocupar com outras coisas.
Talvez olhando para o oposto de tudo isso fique mais fácil de entender, então aqui vai a receita para a fraqueza e fracasso espiritual: incredulidade, confiança própria e condescendência (ceder à vontade própria).
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Todos no tempo de Noé
tiveram chance de ouvir?
Você pergunta se teriam existido pessoas que morreram no dilúvio sem conhecer Noé e sem saber do verdadeiro Deus. Se não ouviram os avisos de Noé, como saberiam da salvação? A passagem de 1 Pedro diz que Cristo pregou, através de Noé, aos espíritos das pessoas que morreram naquele dilúvio e agora se encontram aprisionadas no hades aguardando a sentença do Grande Trono Branco.
“Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; no qual [Espírito] também foi, e pregou aos espíritos [agora] em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água” (1 Pe 3:18-20).
O Espírito de Cristo estava em Noé enquanto este avisava do juízo que iria cair sobre a terra. Noé fez isso durante 120 anos, pois foi esse o prazo que Deus havia dado para os homens se arrependerem: “Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos” (Gn 6:3). Mas se Noé precisou se ocupar com a construção da arca, como poderia ter tempo de sair pelo mundo pregando? Como poderia ter avisado todas as pessoas? Se Deus diz que foram avisados, então não tenho problema com isso.
Mas se quiser deixar o problema ainda mais complexo, que tal pensar na população do planeta na época? Encontrei em um site um cálculo que aponta para um número astronômico: 10 trilhões de habitantes! Mas ele leva em consideração estimativas atuais de crescimento populacional. Ainda que as pessoas tivessem uma constituição para viver na casa das centenas de anos, não dá para estipular a expectativa de vida de cada um, pois não sabemos a que perigos de pestes e epidemias estavam sujeitos, além de certamente estarem em um mundo onde o nível de criminalidade faria nossas cidades mais perigosas parecerem jardim da infância.
Acredito que a taxa de mortalidade era infinitamente superior a qualquer estimativa moderna, pois, além das doenças, “a terra… estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a terra de violência” (Gn 6:11). Um cálculo mais correto seria estimar a população levando em conta o índice de mortalidade do bairro mais violento do planeta, e ainda assim elevar isso à enésima potência considerando que era um planeta habitado também por seres híbridos descendentes de anjos caídos. Em nossas Bíblias eles são chamados de “gigantes”, mas a palavra hebraica usada para identificá-los é nefilim, originada de nefal, que significa “ele caiu”, e que pode ser traduzida como “tirano”.
Então poderiam ou não serem homens de grande estatura, mas certamente tinham grande poder e eram capazes de coisas que um ser humano comum não seria capaz.
“E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram… Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama. E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” (Gn 6:1-5).
A Bíblia chama os anjos de “filhos de Deus” justamente em seu livro mais antigo, o Livro de Jó (Jó 1:6; 2:1; 38:7). A rigor, o conceito de “filho de Deus” segundo a Bíblia é apenas daqueles que vêm diretamente por Deus, por isso Adão é também chamado de filho de Deus na genealogia de Jesus (Lc 3:38) por ter vindo diretamente de Deus. Jesus é Filho de Deus, porém não como um ser criado por Deus, mas por ser uma das três Pessoas divinas e eternas que compõem a Trindade. Todavia, em sua humanidade, ele foi gerado pelo Espírito Santo no ventre de Maria, portanto nascido de Deus neste mundo. Finalmente, além de Jesus, dos anjos e de Adão, somente os que agora creem em Jesus trazem esse título de filhos de Deus. “A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1:12-13).
Portanto esqueça a ideia de que todos os seres humanos são filhos de Deus porque não são. Adão era filho de Deus, criado diretamente por ele, nós somos apenas “do sangue… da vontade da carne… da vontade do homem”, a menos que tenhamos a nova vida que recebe todo aquele que nasce de novo pelo poder da Palavra de Deus aplicada pelo Espírito na alma.
A mitologia de diferentes povos da terra é cheia de lendas sobre seres poderosos que seriam mescla de deuses e homens. Os gregos tinham seus semideuses que há muito tempo foram adotados por Hollywood. Quem nunca assistiu a filmes com Hércules, Perseu, Aquiles e outros? Ou o mais recente Thor, das lendas nórdicas? Os semideuses eram divinos e mortais ao mesmo tempo. Os gregos são os mais conhecidos, mas os egípcios também acreditavam em uma linhagem híbrida, fruto da cópula entre deuses e mulheres. A mitologia hindu, inca, chinesa, nórdica e de praticamente todo o planeta é povoada deste conceito de “quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama” (Gn 6:4).
Junte tudo o que falei até aqui e você já pode imaginar um mundo pré-diluviano como algo parecido com o cenário de “Senhor dos Anéis”, com seres que teriam capacidades e poderes que hoje só acreditaríamos ser fruto da imaginação de um autor de ficção. Pense nos poderes satânicos utilizados pelos magos de Faraó para imitar o poder de Deus — exceto na criação de vida na forma de piolhos — e você já pode imaginar de que esses “valentes que houve na antiguidade, os homens de fama” eram capazes com seu DNA de anjos caídos mesclado ao das mulheres que tomaram. Minha imaginação voa, mas devo parar por aqui porque não temos subsídios para saber em detalhes como seria a vida em um planeta assim e sua população. Mas certamente eu não gostaria de ter vivido ali, e acredito que você também não, a menos que curta viver cercado de seres malignos com poderes sobrenaturais.
Voltando à questão de Noé ter ou não conseguido avisar a todos, Deus sempre deixou claro que os homens são inescusáveis, pois sempre foram avisados. Portanto podemos descansar no fato de que se Deus disse que foram avisados, então foram avisados. “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1:19-22).
E se Deus diz que os homens são inescusáveis e serão julgados com justiça é porque ninguém poderá se eximir da própria culpa de não ter prestado atenção à comunicação que Deus fez, ou através da natureza, ou de seus servos, ou até mesmo pela própria consciência. “Porquanto estabeleceu um dia em há de julgar o mundo com justiça” (Atos 17:31). “Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os; no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho” (Rm 2:14-16).
Embora nem todos possam ter ouvido diretamente da boca de Noé do terrível juízo que cairia sobre o mundo, as pessoas acabavam conversando sobre isso enquanto viam aquele enorme navio sendo construído. Lembre-se que a confusão de línguas só iria acontecer em Babel após o dilúvio, no capítulo 11 de Gênesis, portanto a comunicação da população antediluviana era mais fácil. Não sabemos os meios de comunicação que utilizavam na época, mas sabemos que não faz muito tempo as notícias corriam rapidamente via códigos enviados por fogueiras, luz e fumaça (a Grande Muralha da China tinha algo assim que fazia as notícias correrem em toda a sua extensão rapidamente). Um grego, Enéas, inventou até mesmo um “telégrafo hidráulico”!
E agora volto a viajar na imaginação para pensar nas capacidades que poderiam ter tido aqueles seres híbridos, os semideuses, dotados de ciência, tecnologia e poderes satânicos dos quais não fazemos ideia. Enquanto você rumina tais pensamentos, tente responder: Quanto tempo Satanás teria levado para transportar Jesus do deserto a uma alta montanha e também ao ponto mais alto do Templo de Jerusalém? “E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo… Levou-o também a Jerusalém, e pô-lo sobre o pináculo do templo” (Lc 4:5-9).
Nada é impossível de ter existido no mundo antes do dilúvio se levarmos em conta essa raça híbrida de anjos caídos e humanos que surgiu em Gênesis 6. A miscigenação e corrupção da semente humana, da qual Deus prometeu que viria aquele que esmagaria a cabeça de Satanás, foi uma das razões do dilúvio, pois entendo que o propósito do diabo era o de contaminar a semente humana para impedir a vinda do Filho de Deus em carne. Existe muita literatura com especulações do que teria existido em termos de tecnologia no mundo anterior ao dilúvio, mas é difícil filtrar o que pode ter sido verdade, daquilo que é mera ficção. A arqueologia moderna não conseguiria trazer à tona se a tecnologia anterior ao dilúvio tiver sido baseada em madeira e outros materiais perecíveis que não deixaram ruínas.
Além disso, pense num mundo totalmente diferente deste em que hoje vivemos. Não havia chuva, “porque o Senhor Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo. Mas uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do solo” (Gn 2:5-6). Com uma atmosfera saturada de vapor não dá para prever como podia ser viver em um mundo assim. Nos primeiros capítulos de Gênesis vemos os descendentes de Caim, a linhagem ímpia, inventando instrumentos musicais e tecnologia. É hoje impossível imaginar o nível tecnológico dos povos de então, que poderiam ter tecnologias de comunicação que desconhecemos. Digo isto porque o cataclismo que o dilúvio trouxe ao mundo é comparado por Pedro ao que virá no futuro. O objetivo de ambos foi e será o de destruir, não apenas os homens, mas todas as suas obras. Uma leitura atenta de 2 Pedro 35-10 mostra isso:
“Porque, deliberadamente, esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus, pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água. Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios… também a terra e as obras que nela existem serão atingidas”.
Inicialmente acreditava-se que a escrita teria surgido entre os fenícios, porque foram os gregos que disseram isso. Mas hoje se sabe que os povos que habitaram na região da Romênia já sabiam escrever bem antes daqueles do Oriente Médio. Portanto não podemos ser ingênuos em pensar que um Noé capaz de construir um navio de 137 metros de comprimento todo de madeira seria analfabeto e que seus conterrâneos seriam incapazes de se comunicar pela escrita. Quando Moisés escreveu a frase “Este é o livro da genealogia de Adão” (Gn 5:1) ele poderia estar se referindo a um livro mesmo (ou pergaminho) que Deus lhe revelava como tendo existido.
Então podemos crer que todos foram avisados, se não diretamente por Noé, ao menos tiveram conhecimento pelos meios de comunicação da época, tanto por Noé como por meio de terceiros. Quando a Bíblia diz que no futuro o evangelho será pregado a todas as nações isso não significa um a um, mas que será tornado público. É como quando o governo faz uma lei e ela é publicada no Diário Oficial. Nenhum brasileiro poderá alegar desconhecer uma lei tornada pública, mesmo que nunca tenha lido o jornal.
De qualquer maneira, a atitude normal de quem conhece verdadeiramente a Deus é reconhecer que não há injustiça em todos os aspectos e maneiras de Deus agir. Por isso não se preocupe, pois só será condenado quem realmente merecer ser condenado.
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Deus é Pai apenas de cristãos?
Você ficou surpreso de eu dizer que o privilégio de chamar a Deus de pai é apenas dos cristãos, e argumentou que os judeus já chamavam a Deus de pai muito antes do cristianismo. A passagem que citou foi Isaías 63:16, que diz: “Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece; tu, ó Senhor, és nosso Pai; nosso Redentor desde a antiguidade é o teu nome”. Então como poderia Isaías, que era judeu, ter chamado a Deus de pai antes dos cristãos?
Existem outras passagens no Antigo Testamento onde os judeus chamam a Deus de Pai, mas o contexto está sempre relacionado à criação, e não a parentesco ou familiaridade. Pai ali é no sentido de Criador, de quem nos fez. “Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai; nós o barro e tu o nosso oleiro; e todos nós a obra das tuas mãos” (Is 64:8). Outra passagem é semelhante e fala de criação: “Não temos nós todos um mesmo Pai? Não nos criou um mesmo Deus?” (Ml 2:10). Isaías também fala de Jesus como Pai da eternidade: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9:6).
Mas o próprio Senhor Jesus esclarece nos Evangelhos o engano dos judeus que achavam poder chamar a Deus de Pai: “Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe, pois: Nós não somos nascidos de prostituição; temos um Pai, que é Deus. Disselhes, pois, Jesus: Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou” (Jo 8:41-42).
A única maneira de se conhecer ao Pai, e poder chamá-lo assim em um relacionamento de parentesco, é mediante a revelação de Jesus, algo que não foi feito no Antigo Testamento: em várias passagens Jesus revelou aos discípulos que agora tinham a adoção de filhos de Deus e poderiam chamar a Deus de Pai na mesma relação de familiaridade que Jesus, o Filho de Deus, tinha com o Pai. “Disselhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20:17).
Esta relação a partir dali não seria mais de um simples ser criado por Deus (como eram os judeus no Antigo Testamento), mas efetivamente nascidos de Deus. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1:12-13). Mas a prova cabal de que era impossível alguém ter esse privilégio de filho antes de Jesus vir ao mundo você encontra neste versículo: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, E AQUELE A QUEM O FILHO O QUISER REVELAR” (Mt 11:27).
Em seu livro “Teologia do Pacto ou Dispensações — Qual a maneira correta de se interpretar as Escrituras?” Bruce Anstey explica com mais detalhes:
A palavra “filiação” no grego tem o significado de “lugar de filho” (Gl 4:5; Ef 1:5). Como filhos, os cristãos foram colocados no mesmo lugar em que o próprio Filho permanece diante de Deus. Ocupamos um lugar no qual Deus nos fez “agradáveis a Si no Amado” (Ef 1:6). Ocupamos este lugar por causa de nossa conexão com Cristo — o “Filho do Seu amor” (Cl 1:13). Por isso o termo vai muito além de meramente “aceitos” (como está Ef 1:6 na versão inglesa King James) e denota o desfrutar de uma afeição especial vinda do Pai. Por estar no lugar em que Cristo está, o cristão permanece diante de Deus em uma posição que está muito acima daquela ocupada por anjos, acima até da posição ocupada pelo arcanjo Miguel! A grande bênção da “filiação” é que desfrutamos:
• Do lugar de favor do Filho (Ef 1:6).
• Da vida — a vida eterna do Filho (Jo 17:2).
• Da liberdade que o Filho tem diante do Pai (Rm 8:14-16).
• Da herança do Filho (Rm 8:17).
• Da glória do Filho (Rm 8:18; Jo 17:22).
Um lugar assim de privilégio na família de Deus não foi dado aos santos do Antigo Testamento. Em Gálatas 4:1-7 o apóstolo Paulo mostra a diferença. Ele dá o exemplo de uma família israelita, assinalando a diferença entre um “menino” e um “filho” na família. Ele indica que aqueles que foram convertidos do Judaísmo por crerem no evangelho são como “meninos” que atingiram certa idade. Eles deixaram a posição de crianças e agora estão na posição de “filhos” na família de Deus. A cerimônia judaica do Bar mitzvah ilustra isto. Em uma família de judeus, quando um menino chega aos treze anos de idade ele é formalmente elevado da condição de criança para a de filho na família, desfrutando então de maior liberdade e privilégios no lar. Essa mudança de posição ilustra o lugar que ocupa o cristão na família de Deus, comparada àquela ocupada pelos judeus nos tempos do Antigo Testamento. Observe a mudança de “nós” para “vós” nos pronomes do versículo 5 para o 6 de Gálatas 4: “Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de [nós] recebermos a adoção de filhos. E, porque [vós] sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai”. No primeiro caso, “nós” se refere aos crentes judeus, e no segundo, “vós” aos crentes gentios.(…).
A vida eterna tem a ver com o fato de o crente possuir vida divina em sua alma, associada a uma compreensão do relacionamento especial que desfruta com o Pai e o Filho através do Espírito Santo (Jo 17:3). Para que o crente tivesse este aspecto da vida divina era necessário que o Filho de Deus tivesse vindo a este mundo para revelar o Pai (Jo 1:18; 14:9), que a redenção tivesse sido consumada (Jo 3:14-15) e que o dom do Espírito de Deus tivesse sido dado (Jo 4:14). A “vida eterna” não indica meramente uma vida divina de duração ilimitada, mas se refere ao caráter dessa vida. Trata-se da própria vida que o Pai e o Filho, juntos, desfrutaram em sua comunhão desde a eternidade passada. É por possuir esta vida que o cristão pode desfrutar de comunhão com o Pai e com o Filho (1 Jo 1:3).
Os santos do Antigo Testamento tinham vida divina, uma vez que eram nascidos de novo. Portanto eles faziam parte da família de Deus. Todavia, eles não tinham este caráter da vida, pois Cristo ainda não tinha vindo revelar o Pai, e nem a redenção tinha sido consumada ou tampouco o Espírito sido dado. Os santos do Antigo Testamento tinham a esperança de viver para sempre na terra sob o reinado de seu Messias. Daniel chama a isto de “vida eterna” (Sl 133:3; Dn 12:2), mas não se trata da vida eterna como é apresentada no Novo Testamento. Portanto, eles desfrutavam de comunhão com Deus, mas não a comunhão existente entre o Pai e o Filho. (…)
Maria foi a primeira a ver o Senhor em ressurreição (Jo 20: 11-18). Todavia, ela não devia “tocá-Lo” na condição em que Ele estava, pois Ele ainda não tinha “subido” para o Seu Pai (Jo 20: 17). Isto significa que apesar de os discípulos terem “conhecido Cristo segundo a carne” como o Messias de Israel, daí em diante eles já não O conheceriam desse modo (2 Co 5:16). Eles deveriam conhecê-Lo de uma maneira completamente nova — como Cabeça da raça de uma “nova criação” (Rm 8:29; Gl 6:15; 2 Co 5:17; Ap 3:14) — no novo lugar de reunião. Suas novas conexões cristãs com Deus Pai em Cristo ressuscitado estão indicadas por Sua declaração a Maria: “Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20: 17). Os da antiga dispensação não conheciam a Deus como Pai desta maneira. [Extraído de “Teologia do Pacto ou Dispensações — Qual a maneira correta de se interpretar as Escrituras?” Bruce Anstey].
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O batismo unicista está correto?
Não é apenas o batismo unicista que está errado, mas toda a doutrina do unicismo que, apesar de considerar que Deus seja um, nega a Trindade de três Pessoas divinas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. No unicismo o Pai, o Filho e o Espírito Santo são a mesma e única Pessoa divina, apenas manifestadas de maneiras diferentes em circunstâncias distintas. Assim, segundo essa doutrina, Jesus seria o Pai e seria também o Espírito, o que é um erro grave.
Quando Tertuliano no primeiro século cunhou o termo latim “Trinitas”, de onde vem a palavra “Trindade”, ele não estava inventando nada, mas apenas nomeando algo que já era conhecido desde o primeiro versículo do livro de Gênesis, quando Elohim (plural de Eloha) criou os céus e a terra. No início da Igreja um herege de nome Sabélio começou a pregar erro unicista e foi logo rechaçado. Mas em tempos modernos um determinado movimento pentecostal ressuscitou essa heresia e hoje existem muitos que se dizem cristãos ao mesmo tempo em que negam uma das verdades fundamentais do cristianismo bíblico, que é a Trindade. Esse erro se dissemina também em grupos sem denominação.
Outro movimento igualmente pernicioso, mas com algumas diferenças, é o unitarismo, que considera existir um só Deus, enquanto nega a Trindade. Como desgraça pouca é bobagem, geralmente essas “igrejas” unicistas e unitaristas ou unitarianistas, trazem em seu bojo doutrinário outros erros. Não sou nenhum expert em heresias, por isso nem me pergunte sobre as diferenças entre um e outro. Pesquise na Web se tiver interesse.
Voltando ao assunto de sua dúvida, que é o batismo, existe muita confusão sobre isso, a começar com alguns que citam o batismo que João Batista praticava como se fosse um batismo cristão. Se fosse, os discípulos de João não teriam sido depois batizados a Jesus em Atos 19. O batismo de João Batista era um batismo judaico e, enquanto os judeus que eram batizados por João confessavam seus pecados, Jesus não confessou nada porque não tinha pecados; ao ser batizado ele apenas orava. Jesus quis se identificar com aquele remanescente de judeus que reconheciam a ruína de Israel e aguardavam a restauração do reino. A atitude de Jesus foi o que chamamos de empatia.
“E toda a província da Judeia e os de Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados… E aconteceu que, como todo o povo se batizava, sendo batizado também Jesus, orando ele, o céu se abriu” (Mc 1:5; Lc 3:21).
O batismo bíblico ensinado por Jesus é aquele que nos associa a Jesus e é feito segundo a fórmula ensinada por ele: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os que haviam sido batizados por João e depois se converteram a Jesus foram batizados novamente.
“Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João. Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus” (At 19:3-5).
Aqui entra outro equívoco que é aproveitado também por unicistas e unitaristas, que não creem na Trindade, e até por cristãos que creem na Trindade, mas não entendem perfeitamente o que seja o batismo. Alguns até acham que seja para limpar pecados, enquanto outros ensinam que é pelo batismo que se é acrescentado ao corpo de Cristo, a Igreja, e não são poucos os que batizam para tornar a pessoa membro de alguma denominação. Mas há também os que batizam “em nome de Jesus” por causa da passagem de Atos 19, sem entenderem não ser esta a fórmula, mas a Pessoa a quem a pessoa é associada pelo batismo.
O batismo em nome de Jesus significa batizar alguém conectando a pessoa a Jesus (ou ao nome de Jesus) com a autoridade que Jesus delegou de batizarmos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, uma ordem sem data de validade, ou seja, “até a consumação dos séculos”. Foi uma ordem dada antes da fundação da Igreja (Atos 2), mas não exclusiva a ela, e sim abrangendo as “nações” ou gentios. Portanto, também para o tempo depois que a Igreja for tirada daqui e judeus e gentios se converterem pela pregação do evangelho do Reino para habitarem na terra no Milênio.
“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações (gentios), batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mt 28:19-20).
O Concise Bible Dictionary diz:
No final do evangelho de Mateus temos um mandamento conectado com o batismo e com a missão apostólica dada exclusivamente aos gentios, mas ali nada há de arrependimento ou remissão. Trata-se simplesmente de fazer discípulos dentre as nações, batizando-os e ensinando-os (Mt 28:19-20). Em seu sentido amplo, esta passagem contempla uma obra que ainda será feita no final pelo remanescente judeu para com os gentios.
O batismo cristão agora é tanto para judeus como para gentios, para que por meio dele, eles deixem a posição que ora ocupam e, estando conectados à morte de Cristo, sejam introduzidos na profissão cristã, deixando para trás aquelas distinções. A ordem dada em Lucas 24:47 é no sentido do arrependimento e remissão de pecados. Em Marcos 16:15-16 a salvação pertencia àquele que cria e era batizado, pois se não o fizesse estaria se recusando a ser cristão.
As escrituras não nos dão um ensino definitivo quanto ao modo de batismo, já que o foco é a que os que recebiam batismo estariam sendo ligados pelo mesmo (At 19:3). A ideia está mais para a palavra “lavar”, como ocorria com os sacerdotes da antiguidade (Êx 29:4), do que para a palavra “aspergir”, como acontecia com os levitas (Nm 8:7).
Quanto à fórmula utilizada, alguns supõem que por lermos em Atos que as pessoas eram batizadas “em nome do Senhor Jesus” a instrução dada em Mateus 28:19 para batizar “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” tivesse sido mudada. Mas isso não tem fundamento, pois o batismo é sempre a alguém ou a alguma coisa. Os discípulos encontrados em Éfeso haviam sido batizados ao batismo de João (At 19:3); os israelitas tinham sido batizados a Moisés, e aqueles batizados em Atos foram batizados ao nome do Senhor Jesus como Salvador e Senhor, portanto não existe motivo para isto não combinar com as palavras encontradas em Mateus, e uma pessoa é batizada em nome do Senhor Jesus para o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Em Atos 2:38 a preposição é ἐπί (ἐν in MSS B,C,D); em Atos 10: 48 é ἐν; e em todas as outras passagens é εἰς. [traduzido de “Morrish’s New and Concise Bible Dictionary”].
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Quando o carcereiro creu
toda a sua família foi salva?
Você perguntou se toda a família teria sido salva apenas com a conversão do carcereiro e a resposta é não. A salvação seria apenas daqueles que cressem em Jesus. A passagem toda é esta: “E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregavam a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa. E, tomando-os ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; e logo foi batizado, ele e todos os seus. E, levando-os à sua casa, lhes pós a mesa; e, na sua crença em Deus, alegrou-se com toda a sua casa” (At 16:30-34).
A melhor maneira de se interpretar o versículo é que a primeira parte do que Paulo e Silas diziam deveria ser acatada também pela família, ou seja: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”. Mas os demais membros da família estariam a partir daquele momento “a salvo” e “santificados” (separados), além de possuírem privilégios do contato constante com um filho de Deus e exposição constante à Palavra. “Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos” (1 Co 7:14).
Haveria luz em sua casa a partir daquele dia, porque antes só havia trevas. Como aconteceu no Egito, pois Deus faz distinção entre uma casa onde existem crentes, e aquelas em que habitam apenas ímpios. “Não viu um ao outro, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias; mas todos os filhos de Israel tinham luz em suas habitações” (Êx 10:23).
Você se lembra do episódio em que Abrão intercedeu pelos habitantes de Sodoma? Deus deixou claro que não destruiria a cidade se nela encontrasse ao menos um certo número de justos, mostrando assim que ele pode agir em misericórdia estendida aos incrédulos na esperança de que se convertam: “Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, que ainda só mais esta vez falo: Se porventura se acharem ali dez? E disse: Não a destruirei por amor dos dez” (Gn 18:32). E podemos ir mais longe: No caso de Nínive a misericórdia de Deus se estendeu até aos animais! “E disse o Senhor: Tiveste tu compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer, que numa noite nasceu, e numa noite pereceu; e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?” (Jn 4:10-11).
Ainda pensando nas coisas que aconteceram no Egito (que nos servem de figuras), mesmo que apenas o pai da família tivesse crido na Palavra do Senhor, matado o cordeiro e passado o sangue nas ombreiras da porta (suponha que fosse casado com uma cética), o primogênito daquela casa (mesmo que fosse um bebê sem entendimento) não seria morto. E depois seria levado através do mar aberto ainda que não entendesse nada daquilo, porque nenhum pai de sã consciência iria dizer: “Vou deixar meu filho no Egito até ele entender e decidir de si mesmo se quer ou não seguir a Deus”.
Quando escuto algum cristão dizer que não quer forçar seus filhos e prefere esperar que cresçam para decidir, penso logo naqueles pais no Egito. É triste, mas este argumento alguns pais deixam de ler a Bíblia com os filhos, de orar com eles ou até de levá-los às reuniões da assembleia alegando que respeitam a opinião das crianças. Queria ver se teriam deixado seus filhos nas mãos de Faraó se eles tivessem escolhido ficar. Essa é a maior bobagem que pais cristãos podem dizer querendo parecer politicamente corretos ou defensores dos direitos individuais. Deixam seus filhos ao léu e à mercê do Faraó deste mundo, quando poderiam introduzi-los no círculo cristão.
Tanto o mar vermelho como o dilúvio são figuras do batismo cristão e nos dois casos o responsável pela família (os pais israelitas no Egito, e também Noé) não deixaram seus filhos para trás. Por isso também no capítulo 16 de Atos Lídia tem toda a sua família batizada, e naquela época “casa” incluía também os servos: “E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia. , depois que foi batizada, ela e a sua casa, nos rogou, dizendo: Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e ficai ali. E nos constrangeu a isso” (At 16:14-15).
Poderíamos dizer que os israelitas que saíram do Egito foram batizados em Moisés: “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar. E todos foram batizados em Moisés ou a Moisés, na nuvem e no mar” (1 Co 10:1-2). Os membros da família de Noé teriam sido batizados em Noé ou a Noé, “…na qual [arca] poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água; que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo” (1 Pe 3:20-21). Hoje batizamos as pessoas em nome de Jesus — ou a Jesus — com a fórmula batismal ensinada aos apóstolos, “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28:19).
Por isso, apesar de não dizer nada se a família do carcereiro creu ou não em Jesus (e nem sabemos a idade deles), vemos que todos foram batizados como também os da casa de Lídia, ou os da família de Estéfanas (1 Co 1:16). É neste sentido também que pais cristãos batizam um filho, mesmo bebê, para colocá-lo dentro do círculo do cristianismo, que faz com que ele deixe de ser pagão do modo como veio ao mundo. Pais: meu conselho é que vocês levem seus filhos para dentro da arca mesmo que eles não entendam o que estejam fazendo, e não permitam que Faraó seja a babá deles até decidirem por si mesmos se querem ou não atravessar o mar. Assim entendo os três círculos:
• A Igreja, o círculo dos verdadeiros salvos pela fé em Cristo:
“Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação” (Ef 4:4).
• A cristandade, o círculo dos que foram batizados a Jesus e reconhecem ser Jesus o Senhor (mesmo que não creiam). “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4:5).
• A humanidade, da qual Deus é Pai no sentido de Criador: “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.” (Ef 4:6).
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O templo que Salomão edificou
era para deuses pagãos?
Sua dúvida é: considerando que Deus não habita em templos feitos por mãos de homens, será que o Templo que Salomão construiu não teria sido para adorar ídolos e deuses pagãos, já que ele mesmo caiu na idolatria? Não, o Templo que Salomão construiu foi ordenado por Deus, que colocou seus planos no coração de Davi, mas não permitiu que construísse, escolhendo para isso seu filho Salomão. Aquele Templo foi depois reconstruído nos tempos de Esdras e Neemias e mais tarde por Herodes, o Grande. Tanto era propósito de Deus que nos evangelhos. Jesus o chamou de “casa de meu Pai”: “E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda” (Jo 2:16).
Mas a intenção de Deus não era fazer daquela construção de pedras uma habitação no sentido estrito da Palavra, mas uma figura do verdadeiro templo. Vemos nos evangelhos Jesus mostrar que o seu corpo era o verdadeiro templo no qual o Espírito de Deus habitava.
“Jesus respondeu, e disselhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava do templo do seu corpo. Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra que Jesus tinha dito” (Jo 2:19-22).
Hoje Deus habita em cada salvo por Cristo, porque o corpo do crente é habitação do Espírito Santo. Como Jesus prometeu, isso só aconteceria depois de sua morte e ressurreição quando ele iria enviar o Espírito Santo para habitar para sempre no crente (é impossível perdê-lo). No Antigo Testamento o Espírito habitava eventual e temporariamente nas pessoas, mas não de forma permanente como hoje habita no cristão.
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco PARA SEMPRE; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós” (Jo 14:16-17).
“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele… E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita” (Rm 8:9, 11).
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?… Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?… Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?” (1 Co 3:16; 6:19; Tg 4:5).
Não tenho dúvidas de que Deus tinha em mente que o templo de Jerusalém fosse construído, e isso muito antes de Davi ou Salomão. O capítulo 12 de Deuteronômio é todo ele sobre o lugar onde o Senhor iria colocar o seu nome no futuro, em lugar do tabernáculo no deserto, que era transitório e igualmente ordenado por Deus. O templo que Salomão iria construir também foi detalhado em seu projeto dado a Davi, que deveria ser seguido à risca por Salomão. “E me disse: Teu filho Salomão, ele edificará a minha casa e os meus átrios; porque o escolhi para filho, e eu lhe serei por pai… Tudo isto, disse Davi, fez-me entender o Senhor, por escrito da sua mão, a saber, todas as obras desta planta” (1 Cr 28:6, 19).
A aprovação de Deus ao Templo construído por Salomão você encontra nesta passagem que fala de sua inauguração: “E aconteceu que, quando eles uniformemente tocavam as trombetas, e cantavam, para fazerem ouvir uma só voz, bendizendo e louvando ao Senhor; e levantando eles a voz com trombetas, címbalos, e outros instrumentos musicais, e louvando ao Senhor, dizendo: Porque ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre, então a casa se encheu de uma nuvem, a saber, a casa do Senhor; e os sacerdotes não podiam permanecer em pé, para ministrar, por causa da nuvem; porque a glória do Senhor encheu a casa de Deus” (2 Cr 5:13-14).
Os sacerdotes não podiam permanecer em pé para ministrar por causa da nuvem da glória de Deus, mas ainda assim estavam no Templo, pois ali encontravam refúgio. Salomão reconhecia que aquela casa não era suficiente para ser habitada por Deus: “Mas, na verdade, habitará Deus com os homens na terra? Eis que os céus, e o céu dos céus, não te podem conter, quanto menos esta casa que tenho edificado?” (2 Cr 6:18). Todavia, depois de todas as orações e súplicas do capítulo 6, Deus responde dando sua chancela de aprovação ao Templo construído por Salomão: “E o Senhor apareceu de noite a Salomão, e disselhe: Ouvi a tua oração, e escolhi para mim este lugar para casa de sacrifício” (2 Cr 7:12).
Aquele Templo seria também um ponto de contato entre o povo de Israel e Deus, que teria sua atenção focada para aquele lugar. “Agora estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração deste lugar. Porque agora escolhi e santifiquei esta casa, para que o meu nome esteja nela perpetuamente; e nela estarão fixos os meus olhos e o meu coração todos os dias” (2 Cr 7:15-16). Mas como havia também a responsabilidade do homem, Deus deixa claro que aquele só seria um lugar de bênção enquanto o povo fosse fiel. A infidelidade e apostasia acabaria por transtornar não só a nação, mas até aquela casa, que se transformaria em motivo de piada para os ímpios.
“Porém se vós vos desviardes, e deixardes os meus estatutos, e os meus mandamentos, que vos tenho proposto, e fordes, e servirdes a outros deuses, e vos prostrardes a eles, então os arrancarei da minha terra que lhes dei, e lançarei da minha presença esta casa que consagrei ao meu nome, e farei com que seja por provérbio e motejo entre todos os povos. E desta casa, que é tão exaltada, qualquer que passar por ela se espantará e dirá: Por que fez o Senhor assim com esta terra e com esta casa? E dirão: Porque deixaram ao Senhor Deus de seus pais, que os tirou da terra do Egito, e se deram a outros deuses, e se prostraram a eles, e os serviram; por isso ele trouxe sobre eles todo este mal” (2 Cr 7:19-22).
Mas quando lemos o Antigo Testamento vemos o quanto Deus teve de paciência com aquele povo, pois suportou as piores abominações feitas por eles no Templo. Não foi apenas nos tempos de Jesus que os judeus tinham transformado a casa de Deus em covil de ladrões, com seus cambistas e comerciantes atuando dentro do Templo. Nessa época já não havia em Israel a idolatria dos séculos anteriores, que vemos descrita em 2 Reis 23, quando o Rei Josias ordenou a limpeza do Templo de tudo o que tinha sido introduzido ali vindo dos pagãos.
“E o rei mandou ao sumo sacerdote Hilquias, aos sacerdotes da segunda ordem, e aos guardas do umbral da porta, que tirassem do templo do Senhor todos os vasos que se tinham feito para Baal, para o bosque e para todo o exército dos céus e os queimou fora de Jerusalém, nos campos de Cedrom e levou as cinzas deles a Betel… Também tirou da casa do Senhor o ídolo do bosque levando-o para fora de Jerusalém até ao ribeiro de Cedrom, e o queimou junto ao ribeiro de Cedrom, e o desfez em pó, e lançou o seu pó sobre as sepulturas dos filhos do povo. Também derrubou as casas dos sodomitas [prostitutos cultuais] que estavam na casa do Senhor, em que as mulheres teciam casinhas para o ídolo do bosque… Também tirou os cavalos que os reis de Judá tinham dedicado ao sol, à entrada da casa do Senhor, perto da câmara de Natã-Meleque, o camareiro, que estava no recinto; e os carros do sol queimou a fogo… também o rei derrubou os altares que fizera Manassés nos dois átrios da casa do Senhor… E também os adivinhos, os feiticeiros, os terafins, os ídolos, e todas as abominações que se viam na terra de Judá e em Jerusalém, os extirpou Josias…” (2 Rs 23:4-24).
Com a destruição do Templo por Tito, general romano, no ano 70 D.C., Deus colocou um basta, não apenas àquela casa que havia sido tão maltratada pelo seu povo terreno, Israel, mas também colocou um fim na adoração judaica. Jesus já havia dito que o lugar de adoração não seria mais um lugar físico e nem tampouco no monte do Templo. E é assim até hoje no presente período da Igreja. Qualquer cristão que hoje construa um templo de pedras, madeira ou tijolos nada mais faz do que ir na contramão daquilo que o Senhor determinou.
“Disselhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. Disselhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:24).
Uma boa leitura é esta: “Pedras grandes e preciosas” por Charles Stanley, que pode ser encontrado na internet.
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Não devo comemorar meu aniversário?
Você escreveu dizendo que é seu aniversário, porém seu amigo que pertence à seita conhecida como Testemunhas de Jeová disse que você não deveria comemorar porque não existe base bíblica. Ora, fazemos muitas coisas que não têm base bíblica, como usar a Internet, por exemplo. Eu diria que comemorar aniversários é altamente prejudicial para a idade, pois envelhece. A ciência já comprovou isso. Mas na Bíblia não existe qualquer proibição para comemorar aniversários.
Geralmente os que se opõem à celebração de uma data de nascimento alegam que as duas únicas comemorações de aniversário na Bíblia são a de Faraó, em Gênesis 40:20-22, e a de Herodes, em Mateus 14:6-10. Obviamente aniversários de reis como eles, deviam ser datas importantes, embora a Bíblia apenas mencione a data por causa do que estava associado àquele evento. No caso do primeiro, o Faraó, seu aniversário foi o cumprimento do sonho de José a respeito do copeiro e do padeiro da corte. Naquele dia um seria liberto e o outro morto. No caso do segundo rei, Herodes, foi a decapitação de João Batista que levou o Espírito Santo a mencionar que era aniversário do rei, caso contrário ninguém saberia disso hoje.
Que a data de nascimento era importante na Bíblia não há como negar. No Antigo Testamento vemos menção à idade dos reis quando começavam a reinar, e não seria possível saber a idade se não tivessem uma data de aniversário todos os anos. Fico até curioso de saber o que seu amigo Testemunha de Jeová faz quando lhe perguntam: “Quantos anos você tem?”. Será que ele responde: “Não sei, nunca fiz aniversário”. Fazer a contagem de anos é algo natural, e comemorar idades também é uma prática comum, pois até mesmo quando um menino fazia doze anos em Israel ele alcançava um status de adulto, deixando de ser visto como criança. Poderíamos até dizer que a viagem a Jerusalém tenha sido o presente que teria assinalado a data de aniversário de doze anos de Jesus. “E, tendo ele já doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume do dia da festa” (Lc 2:42).
Quanto a fazer uma festa especificamente para celebrar seu aniversário, isso é uma decisão sua porque uma festa de aniversário não será obviamente uma festa religiosa. Se for uma festa de padrão dos reis, como as que eram feitas na antiguidade, então não se esqueça de me convidar. Mas se for uma festa que irá drenar todas as suas economias, obviamente isso não será bom. Tampouco uma festa que seja motivo de excessos, como são muitas festas que acabam em boletim de ocorrência, seria conveniente para quem professa ser cristão.
Resumindo, se não quiser envelhecer, não faça aniversário. Se fizer, que não seja para condenar alguém à morte, como nos aniversários de Faraó e Herodes. E meu principal conselho é este: tudo o que um Testemunha de Jeová disser a você é como veneno de rato. Ainda que possa ter alguma verdade misturada, a mentira é suficiente para matar espiritualmente. Veneno de rato é 99% milho e 1% estricnina. Se quiser obedecer a Palavra de Deus seu primeiro passo é escolher suas amizades. E quando esse Testemunha de Jeová, que nega a divindade de Cristo, vier até você trazendo suas doutrinas, sua obrigação é não recebê-lo e nem lhe dar as boas-vindas.
Há muitos anos, quando era costume os homens usarem chapéu, um irmão dos Estados Unidos atendeu à porta de sua casa dois senhores que perguntaram se poderiam conversar um pouco sobre a Bíblia. Ele educadamente abriu e convidou os dois para se sentarem na sala, pendurando seus chapéus na chapeleira. Quando eles se identificaram como Testemunhas de Jeová esse irmão não disse nada. Apenas se levantou, foi até a chapeleira, pegou os dois chapéus e, abrindo a porta, levou-os até o meio da rua. Depois voltou e disse aos dois: “Vão pegar seus chapéus antes que um carro passe por cima”. E fechou a porta atrás deles.
“Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo. Olhai por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganho, antes recebamos o inteiro galardão. Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras” (2 Jo 1:7-11).
E antes que me esqueça: FELIZ ANIVERSÁRIO!
“Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios” (Sl 90:12).
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Teria existido um dilúvio antes de Adão?
Você escreveu contando que utiliza uma Bíblia de estudos chamada “Bíblia Dake”, e nos comentários de Jeremias 4:23-26 o autor afirma que a passagem faz referência a um dilúvio que teria acontecido antes de Adão, o qual teria destruído uma civilização existente na terra antes do Jardim do Éden. Antes de mais nada sugiro que esqueça os comentários dessa Bíblia Dake, pois seu autor cometeu vários equívocos em seus comentários. Na Web há diversos sites detalhando os erros dessa edição.
A passagem de Jeremias 4:23-26 diz: “Observei a terra, e eis que era sem forma e vazia; também os céus, e não tinham a sua luz. Observei os montes, e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam. Observei, e eis que não havia homem algum; e todas as aves do céu tinham fugido. Vi também que a terra fértil era um deserto; e todas as suas cidades estavam derrubadas diante do Senhor, diante do furor da sua ira. Porque assim diz o Senhor: Toda esta terra será assolada; de todo, porém, não a consumirei”.
Em todo o capítulo, Jeremias fala da ruína que cairia sobre Judá, que historicamente já aconteceu, e o último versículo deixa claro que não se trata de um cataclismo universal como quer o autor do comentário que citou: “Toda esta terra será assolada; de todo, porém, não a consumirei”. Um dilúvio teria consumido de todo a terra, e além disso a passagem é específica para a terra de Israel. Basta ler o capítulo do início ao fim para ver que tudo nele tem a ver com Judá, Jerusalém e Sião, e não com eras primordiais do planeta.
Todavia, eu particularmente creio sim que tenha existido uma civilização antes de Adão, e os fósseis de dinossauros estão aí para provar (eles não morreram no dilúvio de Noé). Se o seu fim se deu por um dilúvio, não temos nada na Bíblia para provar, mas pode até ter sido assim. Quanto aos seres inteligentes daquela civilização pré-adâmica meu “palpite” é que não deviam ser como nós, mas talvez de outra natureza que não lhes tenha permitido salvação, como acontece com os anjos caídos. Ou por terem sido de uma espécie diferente, ou por terem se rebelado juntamente com Satanás e seus anjos, não sabemos.
Então é provável também que sejam eles que estão hoje vagando por aí na forma de demônios ou espíritos imundos. São uma classe que parece ser de seres terrestres, e não celestiais como são os anjos, mesmo os caídos que são chamados em Efésios 6:12 de “as potestades… os príncipes das trevas deste século… as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.
Seu relacionamento com os seres humanos parece ser distinto dos anjos, pois exceto no caso de Judas, que foi possuído por Satanás (Jo 13:27), as outras possessões que vemos na Bíblia não foram de anjos caídos, mas de “espíritos imundos” ou “demônios”, que parecem ser dois nomes para um mesmo tipo de entidade. O pedido para entrarem nos porcos no episódio dos endemoniados gadarenos parece indicar que precisam de um veículo material para poderem agir com maior rigor. Satanás, que havia tentado afogar os discípulos no barco levantando o vento e as ondas na travessia para a terra dos gadarenos, precisou se contentar em utilizar seus demônios para afogar os porcos.
Um livro curioso sobre isso é “Earth’s earliest ages and their connection with modern spiritualism and theosophy” by G. H. Pember. O autor viveu no século 19 e esteve reunido com irmãos congregados somente ao nome do Senhor fora dos sistemas denominacionais. Li uma edição em inglês que comprei em e-book na Amazon, mas com a moderação de ter um pé atrás em algumas afirmações que ele faz no livro, pois não concordei com tudo o que diz. Mas não deixa de ser interessante, principalmente por mostrar algo de que temos apenas indícios na Bíblia, apesar de não dar subsídios suficientes para se tirar conclusões inequívocas ou criar doutrinas em cima disso.
Em inglês está em domínio público na www.openlibrary.org e você pode escolher na coluna da direita da versão computador de seu navegador em que formato deseja baixar para ler. O livro também tem uma versão em português publicado em dois volumes pela “Editora dos Clássicos”.
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Como argumentar com quem
despreza o dispensacionalismo?
Você leu um texto de alguém que despreza o dispensacionalismo e queria saber que argumentos usar para rebatê-lo. Quer um conselho? Nem perca o seu tempo discutindo com um clérigo este assunto, principalmente esse que tem tantos cursos e títulos teológicos. Dificilmente ele iria ceder diante de um leigo como você ou eu, porque essa é a postura natural de um clérigo.
Vi que o autor do texto é Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia e Mestre em Teologia do Novo Testamento. Você acha que ele iria querer descer de um salto alto assim, que conseguiu com tanto esforço e estudos teológicos? Só por obra do Espírito Santo um clérigo pode aceitar deixar o púlpito clerical e sentar-se no banco ao lado dos irmãos como um comum e aprender deles.
Digo isto porque é este o modelo de uma reunião da Igreja nos moldes bíblicos, onde você não encontra um dirigente à frente, mas dois ou três congregados ao nome do Senhor e o Espírito Santo com liberdade de usar quem ele quiser para o ministério da Palavra.
“Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem. Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro. Porque TODOS podereis profetizar, um após outro, para TODOS aprenderem e serem consolados” (1 Co 14:29-31).
O próprio texto que você me enviou desse autor já trai sua intenção velada de dizer que a Bíblia não é para ser entendida por qualquer um, mas por aqueles que fazem um estudo aprofundado. Ou seja, pelos clérigos. Repare nesta parte, lembrando que quando ele diz “Os irmãos” está se referindo aos que estavam congregados ao nome do Senhor no século 19, que é o assunto do artigo: “Os Irmãos rejeitavam qualquer sistema clerical ou de classe ministerial, insistindo que estavam regressando à forma simples de culto e governo eclesiástico dos apóstolos…”.
Em tom de sarcasmo, um dos autores que ele cita em seu texto diz:
“Dentre os perigos que ele ressalta está a atitude de superioridade que a obra implanta na mente de seus leitores e que, certamente, já foi testemunhada pela maioria dos que, em alguma ocasião, puderam dialogar com dispensacionalistas sobre os pontos de divergência. Diz Cox que ‘nenhuma doutrina da Bíblia apresenta o menor problema a esses experts. Nem precisam eles fazer um estudo mais profundo; tudo de que precisam está contido nas notas de rodapé da Bíblia de Referência de Scofield’”.
Aparentemente tudo o que esse autor conhece de dispensacionalismo vem de uma versão resumida e adaptada das verdades redescobertas pelos irmãos do século 19. Elas foram emprestadas por outro reverendo, Scofield, em sua conhecida “Bíblia de Scofield”, o que ajudou a popularizar o conceito de dispensacionalismo até mesmo introduzindo-o no corpo de doutrina de muitas denominações. Se o autor desse texto conhecesse realmente a obra que os irmãos do século 19 deixaram não falaria assim. Um irmão congregado ao nome do Senhor costumava dizer que quando via um denominacional lendo uma Bíblia de Scofield ficava alegre. Mas quando via um irmão em comunhão reunido ao nome do Senhor fazendo isso, ficava triste.
Evidentemente nem os fariseus dos tempos de Jesus queriam que o povo comum entendesse as Escrituras, nem a igreja católica da idade das trevas, que proibia a posse e leitura das Escrituras, e mais recentemente nem os “reverendos” e “doutores em divindade” querem ser ameaçados por “leigos” dando lições de conhecimento da Bíblia. Obviamente há exceções, mas não deveríamos nos surpreender quando víssemos homens agarrados ao púlpito com receio de perder seu poder para leigos com conhecimento das Escrituras.
“Responderam eles: Jamais alguém falou como este homem. Replicaram-lhes, pois, os fariseus: Será que também vós fostes enganados? Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus? Quanto a ESTA PLEBE que nada sabe da lei, é maldita” (Jo 7:46-49).
Quase posso ouvir dona Florinda e Kiko, dos programas do Chaves, dizendo: “Gentalha! Gentalha!”.
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Qual foi o pecado dos filhos de Jó?
Você pergunta qual teria sido o pecado dos filhos de Jó para eles terem sido mortos prematuramente. E como Jó poderia ser consolado no final? Você conta que há três anos o Senhor levou seu filho prematuramente, vítima de uma cruel enfermidade, e que não consegue ser feliz sem ele e nem onde encontrar consolo para seguir em frente. Não consegue entender como Jó poderia ter se conformado, mesmo que Deus tenha lhe dado outros filhos.
Sinto pela perda e provação que você passou, mas se existe uma fonte de consolo, esta é o Senhor, e você não encontrará consolo em nada mais. Sobre sua pergunta, uma pessoa não precisa cometer pecado para morrer. Os filhos de Jó não necessariamente pecaram para merecer a morte. E Jó saiu consolado porque no final ficou com o dobro de filhos que tinha no início. Vou explicar.
Existem três razões para um salvo por Cristo perder a vida prematuramente:
1. Estar andando em pecado e não servir mais como testemunho de Deus na terra. Mesmo assim é “para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5:5). “Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo” (1 Co 3:15).
2. Porque sua carreira aqui terminou e Deus deu por encerrado seu trabalho, chamando-o para uma merecida aposentadoria no céu. “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4:6-7).
3. Porque Deus quer usar sua morte (ou doença, ou sofrimento, etc.) como instrumento para a bênção e salvação de outros. Sansão morreu vencendo mais inimigos de seu povo do que tinha vencido em vida. “E disse Sansão: Morra eu com os filisteus. E inclinou-se com força, e a casa caiu sobre os príncipes e sobre todo o povo que nela havia; e foram mais os mortos que matou na sua morte do que os que matara em sua vida” (Jz 16:3). Mas certamente o exemplo de maior bênção vindo da morte prematura de alguém é o de nosso Senhor Jesus. “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto” (Jo 12:24).
Quanto aos filhos de Jó, se fizer as contas descobrirá algo maravilhoso. Sim, Deus permitiu que Satanás levasse seus filhos prematuramente, e eles eram num total de dez — sete filhos e três filhas. Também permitiu que o diabo matasse seus rebanhos: “E o seu gado era de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas” (Jó 1:2-3).
Agora repare no final, que Jó recebeu seus rebanhos em dobro. “E assim abençoou o Senhor o último estado de Jó, mais do que o primeiro; pois teve catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil jumentas. Também teve sete filhos e três filhas” (Jó 42:12-13).
Reparou que no final ele ficou com catorze mil ovelhas (tinha perdido sete), seis mil camelos (tinha perdido três mil) e mil juntas de bois (tinha perdido quinhentas) e mil jumentas? E os filhos? Também ficou com o dobro no final, pois Deus não tinha tirado seus filhos, apenas os tinha guardado em segurança no céu pelo período que Jó ainda passaria na terra. No final ele poderia voltar a encontrar seus filhos e no total ele terminou mesmo com o dobro: quatorze filhos e seis filhas.
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Havia poligamia no início da igreja?
Sim, devia haver poligamia nos tempos do Novo Testamento, pois a maioria dos convertidos vinha de povos gentios, como gregos e romanos, e a poligamia era permitida nessas sociedades. Por isso em algumas passagens foi ordenado que os presbíteros fossem maridos de uma só mulher, e apenas isto já ajuda a entender a razão de a bigamia ou poligamia ser contrária ao projeto que Deus desenhou no princípio para os seres humanos. Vamos às passagens:
“Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; os diáconos sejam maridos de uma só mulher, e governem bem a seus filhos e suas próprias casas. Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes” (1 Tm 3:2-6).
No Antigo Testamento a poligamia era comum e você encontra até mesmo os homens que Deus usava tendo mais de uma mulher. Davi e Salomão são exemplos extremos dessa poligamia. “E tomou Davi mais concubinas e mulheres de Jerusalém, depois que viera de Hebrom; e nasceram a Davi mais filhos e filhas” (2 Sm 5:13). “E [Salomão] tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas” (1 Rs 11:3). Mas antes que você ache que multiplicar mulheres traz a felicidade, veja na continuação da passagem que foram essas mulheres que levaram Salomão ao pecado e à idolatria. Podemos considerar o livro de Eclesiastes de Salomão como uma confissão do quanto errou em buscar a felicidade nos prazeres deste mundo “debaixo do sol”:
“… e suas mulheres lhe perverteram o coração. Porque sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era perfeito para com o Senhor seu Deus, como o coração de Davi, seu pai, porque Salomão seguiu a Astarote, deusa dos sidônios, e Milcom, a abominação dos amonitas. Assim fez Salomão o que parecia mal aos olhos do Senhor; e não perseverou em seguir ao Senhor, como Davi, seu pai” (1 Rs 11:3-6).
Portanto nunca se esqueça do que Jesus disse acerca do casamento segundo os planos originais de Deus no princípio:
“Ele, porém, respondendo, disselhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? Disselhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim” (Mt 19:4-8).
Mas se a poligamia era suportada na igreja no Novo Testamento para aqueles que já chegavam casados numa condição assim, certamente não era permitido para quem já fosse convertido se casar com mais de uma mulher. “Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido” (1 Co 7:2). Para os que já tinham mais de uma mulher não seria correto ordenar que ficassem com uma e abandonassem as outras, pois isso faria delas prostitutas.
No século 19 os primeiros missionários ingleses que levaram o evangelho na África e países muçulmanos encontraram essa dificuldade, pois os homens eram polígamos, algo que ainda hoje é perfeitamente normal em países muçulmanos. Então os missionários orientavam aos novos convertidos que mantivessem e sustentassem todas as esposas, pois naquelas sociedades uma esposa rejeitada era excluída da sociedade e só podia se sustentar pela prostituição. Porém que procurassem ter relações apenas com uma, o que não sei se seria exatamente a decisão correta, pois criaria um conflito na família.
Uma vez um irmão disse: “Sim, no Antigo Testamento os patriarcas eram polígamos, mas vá lá ver quanta dor de cabeça aquelas mulheres extras deram a eles”. Acredito que esta seja uma grande verdade.
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Por que não consigo compartilhar
nada com os irmãos?
Você pergunta a razão de nem sempre ter algo para compartilhar com os irmãos nas reuniões da igreja ou assembleia. Antes de responder a esta pergunta, preciso esclarecer alguns pontos, pois ela não fará muito sentido para quem congrega em alguma denominação ou congregação que tenha um homem à frente dirigindo a reunião.
O modelo bíblico para uma reunião da igreja ou assembleia é o que encontramos em 1 Coríntios 14:26-40, que diz: “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis…”. Então vêm uma série de instruções e em nenhum momento você vê o apóstolo dar instruções a algum dirigente, mas as instruções são dadas à assembleia como um todo, porque o Dirigente da reunião não precisa de instruções. Ele é o próprio Espírito Santo, ao menos para aqueles que estão congregados ao nome do Senhor.
Lendo a passagem toda você logo percebe que existe a liberdade do Espírito para usar quem ele quiser no exercício dos dons. “Cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1 Co 14:26). Percebe que a reunião dos santos é um exercício de muitos para muitos, e não de um para muitos como acontece nas igrejas da cristandade? Também não é uma pregação do evangelho, quando o alvo são os incrédulos e aí sim a comunicação é feita de um para muitos, pois não se espera recíproca de incrédulos. Aqui está falando de uma reunião da igreja, portanto “para edificação” do corpo.
A lista de instruções segue: “Falem dois ou três profetas, e os outros julguem” (1 Co 14:29). Aqui mais uma instrução para a qual os líderes religiosos fazem vista grossa, ao assumirem o posto de um falando para muitos e nem sequer pensando na possibilidade de ser interrompido por algum outro irmão que tenha julgado que o que ele disse não é bíblico. Já pensou você entrar numa igreja assim e quando o pastor à frente disser algo errado, você levantar a mão e dizer: “Irmão, por gentileza, fique calado porque isso que está dizendo não é bíblico”. Nem preciso dizer o que aconteceria com você, principalmente em algumas igrejas neopentecostais onde você percebe até seguranças a postos para manter a ordem. Mas leia de novo o versículo para ter certeza de estar congregado em um lugar onde a ordem apostólica é mantida.
Depois de dizer que “todos podereis profetizar, uns depois dos outros, para que todos aprendam e todos sejam consolados” mostrando sempre essa comunicação de muitos para muitos na reunião dos crentes em Cristo, é dado um alerta: “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz” (1 Co 14:32-33). Isso deixa muito claro que qualquer manifestação de histeria coletiva nada tem a ver com o culto cristão. Pode ser carne ou até influência demoníaca, mas não é o Espírito Santo, pois este não tira a pessoa do controle de suas faculdades mentais e emoções.
Quando entrar num lugar e vir gente caindo em transe, rodopiando, dando urros e socos no ar, andando de quatro imitando animais ou tendo acessos de riso, pode fugir dali porque não é uma reunião da Igreja, o corpo de Cristo. Coisas assim acontecem em reuniões espíritas, baladas, zoológicos ou comédias de stand up. Mas certamente não em reuniões de irmãos congregados ao nome do Senhor.
Finalmente a ordem mais controversa de todas vem a seguir: “Como em todas as igrejas dos santos, as mulheres estejam caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar, mas estejam sujeitas, como também ordena a lei… porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja” (1 Co 14:33-35). Fiz questão de incluir o final do versículo 33, primeiro por não existir pontuação no original grego, e segundo, por ele fazer parte do contexto todo que inclui a ordem dada às mulheres.
A carta de Paulo não foi escrita para uma situação específica que estivesse ocorrendo em Corinto, mas no envelope de seu endereçamento está assim: “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1 Co 1:2). Se você não for parte da “igreja de Deus… santificado e, Cristo Jesus, chamado santos, com todos os que em todo o lugar [inclusive aí onde mora] invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo”, então poderá dizer que o apóstolo não está falando com você.
A bronca do apóstolo você encontra no versículo 36, porque provavelmente já em seu tempo poderiam ter aqueles que não estariam dispostos a se submeter à ordem divina: “Porventura saiu dentre vós a Palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor. Mas, se alguém ignora isto, que ignore” (1 Co 14:36-38). Disto aprendemos que não somos nós os autores da Palavra de Deus, mas ela veio de Deus para nós e nossa obrigação é acatá-la. Segundo, que esta e as outras ordens são “mandamentos do Senhor” e não instruções circunstanciais que dependessem da época e do lugar. Finalmente, poderíamos traduzir para linguagem de hoje a frase do versículo 38 assim: “Se você quiser ignorar isto, o problema é seu”.
Depois de dar estas explicações para quem poderia não fazer ideia do que estamos falando, vamos voltar à sua pergunta, que é sentir-se incapaz de contribuir no ministério da Palavra quando congregado ao nome do Senhor. Obviamente o Espírito de Deus usa dos dons, e nem todos têm dons de ministério da Palavra, podendo ser usados de outras maneiras.
Mas quando o assunto é o ministério da Palavra, não espere por algum tipo de “TÓIM!” que de repente faça de você um pregador eloquente, como se entrasse numa espécie de transe mediúnico desses encontrados nas religiões demoníacas, com alguma entidade espiritual assumindo o controle de seus lábios. Os que ministram nas reuniões estão no pleno controle de suas faculdades mentais e irão falar daquilo que têm aprendido da Palavra de Deus em casa, pelo ministério dos irmãos nas próprias reuniões, ou pelo ministério escrito de irmãos do presente e do passado.
“E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz” (1 Co 14:29-33).
Assim, quando chegamos à reunião precisamos chegar já abastecidos e satisfeitos com o alimento da Palavra que tivemos anteriormente para nossa própria edificação, consolo e exortação. Aí então podemos compartilhar. Em Apocalipse 10 você encontra João recebendo um livrinho que, ao ser comido, trazia doçura à boca, mas depois de engolido era amargo no estômago. Era só depois de ter aplicado aquilo às suas entranhas que ele poderia sair para profetizar. Assim também é nosso exercício com a Palavra de Deus: podemos aprender algo intelectualmente e até ser doce ao paladar, mas o ministério que Deus deseja é o de pessoas que estejam aplicando em si mesmas aquilo que têm aprendido.
Trocando em miúdos, se você não tiver nada para compartilhar numa reunião da igreja ou assembleia provavelmente será por não ter passado antes na peixaria e na padaria. Ficou confuso com o que eu disse? Não ficará se lembrar o que ocorreu na multiplicação dos pães e dos peixes. O Senhor usou a marmita de um rapaz que tinha trazido de casa estes alimentos para o próprio consumo. Previdente, o jovem não saiu de casa sem antes se abastecer; generoso, ele não vacilou em entregar tudo o que tinha para o Senhor poder multiplicar.
Talvez alguns irmãos olhem com desdém para o que você esteja trazendo ao ministrar numa reunião, se não for algo muito profundo, elaborado e apresentado com a eloquência de um orador profissional. Não se preocupe. Lembre-se de que o mesmo desprezo podia ser visto em André, um dos discípulos do Senhor ao falar da provisão do rapaz que veio preparado. “E um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro, disselhe: Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos?” (Jo 6:8-9). Ele não apenas despreza aquele mantimento — ao chamar os peixes de “peixinhos” — mas duvida da capacidade do Senhor de usar qualquer um e qualquer coisa para alimentar a multidão.
Repare que os pães eram de cevada, na antiguidade considerado um cereal inferior usado para alimentar pobres e animais. “E traziam a cevada e a palha para os cavalos e para os ginetes” (1 Rs 4:28). O Senhor, por intermédio do profeta Ezequiel, usa o pão de cevada como figura de desprezo para o povo idólatra de Israel: “E o que comeres será como bolos de cevada, e cozê-los-ás sobre o esterco que sai do homem, diante dos olhos deles… Assim comerão os filhos de Israel o seu pão imundo, entre os gentios para onde os lançarei” (Ez 4:12-13).
Deus pode usar nas reuniões qualquer um que venha preparado com qualquer exercício que tenha tido em suas leituras em casa, desde que tenha um espírito humilde, solícito e generoso, e seja dirigido pelo Espírito Santo. Alguns podem fazer longos discursos que só ajudam a curar a insônia dos presentes. Outros, como faziam os fariseus, podem fazer longas orações tentando mostrar sua bagagem de conhecimento bíblico, como se Deus precisasse aprender o que ele disse em sua própria Palavra (Lc 20:47). Felizmente existem os que Deus usa para alimentar o seu povo, ainda que alguns não consigam enxergar mais que “cinco pães de cevada e dois peixinhos”. Às vezes o que comemos na hora pode não parecer muito saboroso, mas depois sentiremos seu benefício.
Infelizmente existem aqueles, que se consideram mais letrados e experientes, que olham com desdém para um irmão que traga apenas um versículo ou frase. Porém, como já vi acontecer, aquilo que parecia pouco é multiplicado pelo Senhor e acaba caindo como uma bomba para exortar a assembleia, ou como um caminhão de material de construção para edificar os irmãos, ou um tonel de bálsamo para consolar os aflitos. Tudo porque era exatamente o que o Espírito de Deus sabia ser necessário naquele exato momento. Quando um irmão abre sua sacola e entrega seus cinco pães e dois peixinhos ao Senhor, descanse no fato de que o mesmo Senhor providenciará para que haja alimento para uma multidão, e ainda restem doze alcofas de pedaços para aquele alimento ser duradouro.
“E disse Jesus: Mandai assentar os homens. E havia muita relva naquele lugar. Assentaram-se, pois, os homens em número de quase cinco mil. E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos discípulos, e os discípulos pelos que estavam assentados; e igualmente também dos peixes, quanto eles queriam. E, quando estavam saciados, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca. Recolheram-nos, pois, e encheram doze alcofas de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobejaram aos que haviam comido” (Jo 6:10-13).
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Coré, Datã e Abirão foram
lançados vivos no inferno?
Sua dúvida é se Coré (ou Corá), Datã e Abirão teriam sido lançados vivos no inferno. Não, porque “inferno”, palavra que originalmente não existe nas Escrituras, foi usada por alguns tradutores da Bíblia para indicar o “lago de fogo”, às vezes também fazendo confusão com “sheol” (hebraico no Antigo Testamento) ou “hades” (grego no Novo Testamento), que é a condição de morte, quando espírito e alma estão separados do corpo. O “lago de fogo” (Ap 19:20; 20:10, 14-15) é a condição definitiva em que serão lançados os perdidos mortos, após terem recebido de volta seus corpos e serem sentenciados no juízo final do “Grande Trono Branco”.
Esse lugar de aprisionamento contínuo, com “trevas exteriores… pranto e ranger de dentes” (Mt 812) — também chamado de “fogo eterno” (Mt 25:41) — não foi preparado para os homens, e sim para Satanás e seus anjos, conforme o Senhor ensinou: “Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25:41). Hoje não existe ninguém nesse lago de fogo eterno, e os primeiros a inaugurarem suas chamas serão a besta e o anticristo. “E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre” (Ap 19:20). Mil anos depois, “o diabo… foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” (Ap 20:10).
No capítulo 16 do livro de Números você encontra Coré, com Datã e Abirão, questionando a liderança de Moisés e o sacerdócio de Aarão. Sua intenção parecia ser a de “democratizar” o culto a Deus, mas Coré queria mesmo era usurpar o lugar de autoridade e intercessão sacerdotal instituído por Deus, tornando-se um intermediário não autorizado entre Deus e os homens. A passagem diz:
“Subiram, pois, do derredor da habitação de Coré, Datã e Abirão. E Datã e Abirão saíram, e se puseram à porta das suas tendas, juntamente com as suas mulheres, e seus filhos, e suas crianças. Então disse Moisés: Nisto conhecereis que o Senhor me enviou a fazer todos estes feitos, que de meu coração não procedem. Se estes morrerem como morrem todos os homens, e se forem visitados como são visitados todos os homens, então o Senhor não me enviou. Mas, se o Senhor criar alguma coisa nova, e a terra abrir a sua boca e os tragar com tudo o que é seu, e vivos descerem ao abismo, então conhecereis que estes homens irritaram ao Senhor. E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra que estava debaixo deles se fendeu. E a terra abriu a sua boca, e os tragou com as suas casas, como também a todos os homens que pertenciam a Coré, e a todos os seus bens. E eles e tudo o que era seu desceram vivos ao abismo, e a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação” (Nm 16:27-33).
Existem duas maneiras de se ler a Bíblia, as quais podem às vezes se sobrepor ou serem mescladas. Uma é a maneira racional, acadêmica, pela qual você busca entender o que aconteceu numa cena, levando em conta aspectos históricos, geográficos, arqueológicos, culturais, sociológicos, etc. Esse tipo de leitura pode até ajudar a entender a composição do solo do lugar, se havia alguma fissura nas rochas ou o grau de intensidade na Escala Richter do tremor causado por uma fenda capaz de engolir pessoas e tendas. Coisas assim não têm grande proveito para o cristão, porque visam mais satisfazer a curiosidade acadêmica do que alimentar a alma. Elas podem ser aprendidas e entendidas por qualquer pessoa, seja ou não nascida de novo. Mas existe a outra e mais nobre maneira de se ler as Escrituras que é tirar lições dessas coisas para crescer no conhecimento do Senhor e da sua Palavra.
As Escrituras nos ensinam que as coisas que encontramos no Antigo Testamento “são sombras das coisas futuras” (Cl 2:16-17), que algumas delas “servem de exemplo e sombra das coisas celestiais” (Hb 8:5), “foram-nos feitas em figura” (1 Co 10:6), e podem ser vistas como “figura do verdadeiro” (Hb 9:24) ou como “a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas”(Hb 10:1). Quando uma pessoa chega à sua casa, você vê primeiro a sombra dela aparecer na parede da entrada, mas não corre abraçar a sombra, e sim a pessoa que ela representa. Assim deve ser a leitura do Antigo Testamento: observe a sombra apenas o suficiente para enxergar a realidade para a qual as sombras e figuras apontam. Então ocupe-se com a realidade das coisas.
O cientista cético estudioso da Bíblia se ocuparia com o estudo da luz que causou aquela sombra, suas medidas e espectro de cores. Porém o verdadeiro convertido a Cristo sabe que está lidando com a “sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; mas… a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória. Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam” (1 Co 2:6-9). Por isso muitos saem de faculdades de teologia com uma tonelada de conhecimento racional sobre a Bíblia, mas nem um grama sequer de apreciação pelo Autor da Bíblia.
Portanto, não há muito proveito em se deter ao detalhe do “abismo” ao qual você se referiu, quando sabemos que no original a palavra hebraica é “sheol” e que pode significar tanto a sepultura física como a condição de morte, que é a separação do espírito e alma de seu invólucro material ao qual chamamos de corpo. É neste sentido também que você encontra a palavra grega “hades” no Novo Testamento, às vezes erroneamente traduzida por “inferno”. Resumindo, os três revoltosos — Coré, Datã e Abirão — foram tragados vivos por uma fenda no solo conforme Deus havia avisado por meio de Moisés, e obviamente morreram como consequência disso. Isso é tudo o que precisamos saber para não nos determos em detalhes físicos e de menor importância e podermos nos ocupar com os significados ou realidades dessas sombras ou figuras. Você pode até avaliar a doçura do abacaxi pela casca, mas é o que está dentro que interessa.
Como eu disse, aqueles homens foram julgados e sentenciados por desejarem assumir uma posição que não era a que Deus havia designado para eles. Quiseram tomar à força a liderança de Moisés e o sacerdócio de Aarão. Hoje não temos Moisés para nos guiar ou Aarão para interceder por nós. Temos a Cristo, portanto qualquer homem que se coloque como intermediário entre Deus e os homens está apostatando da Verdade e agindo como Coré. Uma das características da apostasia — ou desvio da Verdade — é a exaltação do homem. Não é difícil encontrarmos líderes cristãos elevados à condição de semideuses, cativando multidões e sendo aplaudidos e venerados por elas. São protótipos do que será o anticristo, “o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus” (2 Ts 2:3-4).
Não é à toa que o episódio dos três revoltosos também nos leva a pensar na besta e no anticristo “foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre” (Ap 19:20). Isso certamente revela a gravidade do que aconteceu com os revoltosos do passado, avisados de que terra iria “abrir a sua boca e os tragar com tudo o que é seu, e vivos descerem ao abismo… E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra que estava debaixo deles se fendeu. E a terra abriu a sua boca, e os tragou com as suas casas, como também a todos os homens que pertenciam a Coré, e a todos os seus bens. E eles e tudo o que era seu desceram vivos ao abismo, e a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação” (Nm 16:30-33).
Mas, apesar de exemplos assim nas Escrituras, por que tanta gente em nossos dias é enganada pelos falsos profetas e mestres da cristandade? Uma razão é a proliferação dos chamados “testemunhos”. Alguns deixam de ler a Palavra de Deus para seguir testemunhos de homens. Basta alguém contar uma bênção que recebeu, e imediatamente sua experiência é aceita como verdade sem passar pelo filtro das Escrituras. Ao mesmo tempo revelações, sonhos e sensações são mais valorizados que a própria Palavra de Deus em igrejas cheias de pessoas, mais em busca de sensações do que da Verdade revelada aos apóstolos e profetas do passado. O resultado disso é que, enquanto alguns parecem ter uma conexão banda larga com o céu, outros vivem frustrados por não sentirem coisa alguma, sem perceber que estão cercados de hipócritas e mitômanos que vivem de fingir e destilar fantasias mentirosas.
Embora Deus possa, através do Espírito, trazer ao coração de uma pessoa a direção de como agir em uma determinada situação, esta é a exceção, e não a regra da vida cristã. Muitos que se deixam levar por essas falsas revelações e profecias acabam dependentes dos falsos profetas e incapazes de ter uma vida normal sem alguma mensagem supostamente vinda do Espírito de Deus. Hoje o velho horóscopo do jornal ganhou os púlpitos das igrejas, e quando você escuta alguém dizer que foi “buscar a Palavra”, provavelmente não foi ler a Bíblia, mas ouvir algum enganador dizer: “O Espírito Santo me manda avisar que aqui tem uma pessoa que está passando por um problema e bla, bla, bla…”.
A carta aos Hebreus diz que “havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” (Hb 1:1). Jesus ressuscitou, subiu aos céus e deu os dons, designando “uns para apóstolos, outros para profetas” (Ef 4:11). Deus não mais revela a sua Palavra como fazia a Israel, e nem como a revelou aos apóstolos e profetas da Igreja. Estes lançaram os fundamentos da Igreja, tendo Paulo recebido a missão de completar a Palavra de Deus, como ele explica em Colossenses 1:24-25: “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja; da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir [no grego “completar”] a palavra de Deus”. Hoje Deus usa os dons de “evangelistas, pastores e mestres” (Ef 4:11) para ministrar aquilo que já está revelado nas Escrituras e nas epístolas dos apóstolos.
Apegar-se à Bíblia, a Palavra de Deus, é a salvaguarda para não ser enganado pelas duas principais tendências que levam os cristãos a se desviarem dela. O apóstolo nos fala delas no capítulo 2 de sua carta aos Colossenses, a saber, o misticismo e o asceticismo, às vezes mesclados com legalismo. Aos mais místicos, que se deixam impressionar por experiências como sonhos, visões e revelações, Paulo alerta: “Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu [supostas visões]; estando debalde inchado na sua carnal compreensão” (Cl 2:18).
Aos ascéticos e legalistas ele diz: “Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Cl 2:20-23).
Resumindo, o que Coré, Datã e Abirão tentaram fazer foi se apoderar de um lugar e posição que Deus não havia dado a eles. Moisés era o profeta e líder que Deus tinha levantado para guiar o povo, e Aarão o sacerdote para fazer a intermediação entre o povo e Deus. Hoje temos os dons que nos falam daquilo que está na Palavra de Deus, a Bíblia, e não de ilusões inventadas pela mente humana. E cada crente é um sacerdote, tendo livre acesso à presença de Deus e sem precisar de um intermediário humano, já que temos a Cristo ressuscitado e glorificado nos céus. Três passagens nos ajudam a entender isso:
“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hb 4:15-16).
“Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu” (Hb 10:19-23).
“E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pe 2:4-5).
Outra lição que aprendemos com o episódio de Coré, Datã e Abirão é a da magnífica e inigualável graça de Deus. O que poderia Deus fazer com os descendentes de Coré depois de tamanha pretensão de entrar na presença de Deus? Dar a eles, por graça, um lugar nessa presença que tentaram obter à força. Primeiro, levantando Samuel, o mais importante profeta depois de Moisés. Samuel era descendente de Coré, como você pode conferir em 1 Crônicas 6:27-37.
Em Números 26:9-11 diz que “Datã e Abirão foram os do conselho da congregação, que contenderam contra Moisés e contra Arão no grupo de Coré, quando rebelaram contra o Senhor; e a terra abriu a sua boca, e os tragou com Coré, quando morreu aquele grupo; quando o fogo consumiu duzentos e cinquenta homens, os quais serviram de advertência. Mas os filhos de Coré não morreram” Este é um detalhe importante, porque você irá encontrar não apenas o profeta Samuel como descendente daquele revoltoso, mas outros descendentes de Coré em uma posição de privilégio na adoração do Templo de Jerusalém.
Você já deve ter se acostumado a chamar o livro de Salmos de “Salmos de Davi”, porém apenas metade do conjunto de hinos que são os Salmos são atribuídos a Davi, “o mavioso salmista de Israel” (2 Sm 23:1). Doze salmos são atribuídos a Asafe, dois a Salomão e um a cada um destes: Moisés, Etã, Hemã e Esdras. Quarenta e nove, ou um terço dos salmos, são anônimos. Mas dez salmos são atribuídos aos filhos de Coré, os descendentes daquele que a terra engoliu. Certamente este exemplo de graça você não irá encontrar no cardápio daquele pregador ali da esquina que vive aterrorizando seus seguidores com ameaças de maldição familiar.
Um dos mais belos salmos dos filhos de Coré fala justamente de abismo, mas do abismo pelo qual o Salvador teria de passar para salvar os seus. O salmo é profético e relata a experiência, não de Coré ou de qualquer homem, mas de Cristo na cruz e de sua certeza de seria liberto da morte pela ressurreição após passar por todo aquele sofrimento:
“Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação da sua face. O meu Deus, dentro de mim a minha alma está abatida; por isso lembro-me de ti desde a terra do Jordão, e desde os hermonitas, desde o pequeno monte. Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas e as tuas vagas têm passado sobre mim. Contudo o Senhor mandará a sua misericórdia de dia, e de noite a sua canção estará comigo, uma oração ao Deus da minha vida. Direi a Deus, minha rocha: Por que te esqueceste de mim? Por que ando lamentando por causa da opressão do inimigo? Com ferida mortal em meus ossos me afrontam os meus adversários, quando todo dia me dizem: Onde está o teu Deus? Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus” (Sl 42:5-11).