Apresentação
Primeiramente agradeço a Deus por permitir que este material fosse produzido e disponibilizado para milhares de leitores no Brasil e no mundo. As ideias que você encontra aqui não são originalmente minhas, e sim fruto do que tenho aprendido da Palavra de Deus fora dos sistemas denominacionais com irmãos congregados ao nome do Senhor e também com autores de outras épocas que congregavam assim. Foram eles J. G. Bellett, C. H. Brown, J. N. Darby, E. Dennett, W. W. Fereday, J. L. Harris, W. Kelly, C. H. Mackintosh, A. Miller, F. G. Patterson, A. J. Pollock, H. L. Rossier, H. Smith, C. Stanley, W. Trotter, G. V. Wigram e muitos outros.
Para que você compreenda como este livro veio a existir, creio ser necessário voltar um pouco no tempo. Depois de um período trabalhando em São Paulo, em 1988 mudei-me com minha família de volta para Limeira, minha cidade natal, a fim de colaborar com a Editora Verdades Vivas, uma organização sem fins lucrativos que produz e distribui literatura cristã. A grande quantidade de folhetos evangelísticos, livros e calendários distribuídos no Brasil e em outros países de língua portuguesa gerava um volume considerável de correspondência, não só com pedidos de publicações, mas também com perguntas sobre a Bíblia. Todas as cartas eram devidamente respondidas.
Nessa época adquiri o hábito de manter uma cópia das respostas em formato digital. Assim ficava fácil responder perguntas semelhantes ou até mesmo mesclar trechos de diferentes respostas, além de preservar aquele conhecimento. A partir de 1996 passei a usar a Internet e aí as respostas já não precisavam ser impressas, envelopadas e enviadas por carta como era feito até então. O uso do e-mail agilizou o processo e permitiu atender mais correspondentes com maior agilidade.
Em 1998 deixei a editora para atuar como executivo de uma empresa de tecnologia da informação, porém mantendo nas horas vagas minha ocupação com o evangelismo e ministério da Palavra via Internet por meio de diferentes sites e blogs. Em 2001 passei a trabalhar por conta própria como consultor e palestrante empresarial, tendo mais tempo livre e uma agenda mais flexível para dedicar-me ao evangelho.
Em 2005 decidi lançar o blog “O que respondi” no endereço respondi.com.br para disponibilizar as respostas que tinha armazenado em formato digital desde 1988 e acrescentar as que fossem sendo criadas. Algo que muitos perguntam é a razão de o blog não permitir comentários, mas o volume de spam, debates e opiniões deixadas na área de comentários me obrigou a eliminar esta opção de contato para me concentrar no atendimento apenas por e-mail. É sempre bom lembrar que não existe uma “equipe” para responder a correspondência que chega, pois este é um exercício pessoal.
Em 2008 iniciei um trabalho chamado “O Evangelho em 3 minutos — Uma mensagem urgente para quem tem pressa”, com vídeos no Youtube e também em versões de texto e áudio no endereço 3minutos.net. Com a popularização do smartphone e da Internet móvel este formato mostrou-se excelente para alcançar pessoas a qualquer hora e em qualquer lugar com a mensagem da salvação e a sã doutrina. O site “O que respondi” passou a servir de complemento aos vídeos. Enquanto no “Evangelho em 3 minutos” a Palavra de Deus é pregada de forma rápida, no “O que respondi” ela é explicada em detalhes e com referências.
Estas e outras frentes de trabalho via Internet continuam gerando um número cada vez maior de contatos e perguntas. Em 2013 foram mais de três mil perguntas atendidas, porém graças ao blog “O que respondi” nem todas precisaram ser respondidas. Na maioria das vezes é suficiente enviar links para as mais de mil respostas existentes no blog, que já conta com cerca de quatro milhões de acessos desde sua criação.
Assim chegamos à razão deste livro que está sendo lançado nos formatos digital (e-book) e impresso (on demand). Ele atende aqueles que desejam ter acesso ao material do blog sem depender de uma conexão com a Internet. Este é um dos mais de dez volumes projetados para compor esta coleção, se considerarmos todo o conteúdo do blog “O que respondi”.
Ao ler este livro não se esqueça de que está lendo as opiniões do autor, e não a Palavra de Deus. Considere também que os textos são cartas e e-mails de minha correspondência pessoal, e não uma obra literária. A linguagem é informal e despretensiosa como acontece com uma correspondência entre duas pessoas, e é provável também que você às vezes venha a achar a linguagem meio irreverente, mas isso é apenas fruto de meu estilo literário, e não de tratar levianamente as coisas de Deus ou a pessoa a quem respondi. Lembre-se também de que, para a resposta fazer sentido, às vezes incluo o que escreveram meus interlocutores e alguns são incrédulos ou ateus com opiniões depreciativas a respeito de Deus e de sua Palavra.
Não espere encontrar aqui todas as respostas e nem sequer as trate como definitivas. Elas são fruto do meu exercício com o Senhor e do que continuo aprendendo todos os dias. Por isso leia, medite, busque referências na Bíblia e ore para que o Espírito Santo lhe dê o entendimento. Sem isto até a pessoa mais inteligente e versada nas Escrituras será incapaz de entender as coisas de Deus, pois elas se discernem espiritualmente.
É provável que você encontre erros em minhas opiniões. Pode ter certeza de que eu mesmo eventualmente sou obrigado a acessar o blog “O que respondi” para fazer correções após ter sido instruído ou alertado de alguma falha por algum irmão ou por algo que li na Palavra de Deus. Se, ao comparar uma resposta mais antiga com uma mais nova, você encontrar alguma discrepância, saiba que optei por não revisar todas as respostas, mas decidi mantê-las do modo como entendia as coisas quando as escrevi, e lembre-se de que você está lendo textos escritos ao longo de um período de cerca de trinta anos. Se encontrar algum erro de digitação ou de gramática, entre em contato para eu fazer as devidas correções, pois o desejo de disponibilizar este livro o mais rápido possível nas mãos dos leitores foi maior que o tempo que tive para revisá-lo.
Este livro está sendo distribuído gratuitamente, porém alguns sites de terceiros ou editoras irão cobrar algum valor para a versão e-book ou impressa sem que isto signifique algum ganho da parte do autor que optou por abrir mão dos ganhos com direitos autorais. Você poderá distribuir o conteúdo deste livro, desde que o faça gratuitamente, não altere o texto e mantenha a referência ao autor.
Peço que se lembre de incluir este trabalho em suas orações e de endereçar ao Senhor, e não a mim, qualquer sentimento de gratidão que porventura possa ter por esta leitura.
“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa” (Os 6:3).
Mario Persona
www.respondi.com.br
www.3minutos.net
Maio, 2014
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Devemos pregar o evangelho a cristãos?
A menos que você esteja empenhado em levar o evangelho à alguma tribo de nativos isolados nas Américas ou África, ou ainda às populações predominantemente islâmicas ou orientais, o mais provável é que estará pregando o evangelho a cristãos nominais. O mundo ocidental foi cristianizado há séculos e o nome de Jesus não é novidade para ninguém nestas partes do mundo.
Portanto, seu público, por assim dizer, será diferente daquele que os apóstolos ou os primeiros discípulos encontravam em seus esforços evangelísticos há dois mil anos. Ou eles pregavam a pagãos, que nunca tinham ouvido falar de um Deus único e muito menos do nome de Jesus, ou a judeus, que possuíam ao menos o conhecimento de Deus, porém ainda precisavam saber que em Jesus se cumpriam todas as Escrituras que hoje chamamos de Antigo Testamento. É destas duas classes que Paulo fala em Gálatas 2:7: “Antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão…”.
O mais próximo que temos de uma pregação a cristãos no Novo Testamento é o caso de Simão, o mago, em Atos 8:9-24. Seria bom você ler a passagem toda, mas basicamente ali encontramos um homem que ouviu o evangelho da boca de Filipe e creu, ao menos intelectualmente, no que Filipe dizia do reino de Deus e do nome de Jesus. (At 8:13) “E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito”.
Repare que ele foi batizado, como a maioria da população ocidental hoje é, e “ficou de contínuo com Filipe”, como muitos hoje vivem na companhia daqueles que lhes pregaram a Palavra de Deus ou de outros convertidos. A isto chamamos hoje de cristandade, a “grande casa”, mencionada em 2 Timóteo 2, na qual há vasos para honra e para desonra, crentes verdadeiros e falsos.
Embora a passagem de Atos 8 seja breve, podemos ver que por algum tempo Simão teve essa “vida cristã” na companhia de samaritanos que tinham genuinamente se convertido a Cristo. Enquanto Simão vivia seu cristianismo exterior misturado com aqueles que eram genuínos e receberiam o Espírito Santo, a notícia da conversão de samaritanos chegou a Jerusalém e Pedro e João foram visitá-los, quando também tiveram a oportunidade de testemunhar que aos samaritanos Deus também concedia o Espírito Santo. (Obs. O livro de Atos é um período de transição, portanto ali encontramos diferentes classes de pessoas: judeus, gentios e samaritanos, recebendo o Espírito em ocasiões e de maneiras distintas, uns antes de serem batizados nas águas, outros depois).
Mas voltando a Simão, o fim da história revela que, apesar de ter crido exteriormente e estar participando dos privilégios do cristianismo, ele era um falso professo que nem mesmo ousava pedir, de si mesmo, perdão a Deus por sua ganância de querer pagar para receber o Espírito Santo e depois lucrar com isso. O caso dele é muito semelhante ao dos judeus que tiveram contato com Jesus, os quais são descritos em Hebreus 6 e entre os quais inclui-se Judas, o traidor.
(Hb 6:4-6) “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados [Judas foi], e provaram o dom celestial [Judas provou], e se tornaram participantes do Espírito Santo [o Espírito estava com os discípulos, mas não neles]. E provaram a boa palavra de Deus [Judas não perdeu um sermão de Jesus], e as virtudes do século futuro [o poder de curar e expulsar demônios que foi dado aos outros apóstolos, foi dado a Judas também], e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério”.
Repare que a passagem não fala de pessoas que realmente creram e foram salvas de seus pecados, mas apenas participantes dos privilégios do cristianismo como é hoje o cônjuge incrédulo de alguém verdadeiramente salvo. (1 Co 7:14) “Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos”.
Portanto, hoje ao pregar o evangelho, você estará pregando a cristãos. Eles já foram mais que expostos ao nome de Jesus, sem muitos deles nunca terem entendido ou crido no evangelho. É um conhecimento apenas intelectual, na maioria das vezes misturado com muitos erros herdados do catolicismo, do protestantismo e do pentecostalismo. Que erros são estes?
O primeiro que me vem à mente é a ideia absurda de que você é salvo fazendo parte de alguma igreja. Esta ideia foi popularizada pelo catolicismo romano e mais tarde abraçada por segmentos protestantes, principalmente neopentecostais. Raciocine assim: O que é a igreja? Biblicamente falando (e não no sentido denominacional) é o corpo de Cristo, o conjunto dos que foram salvos por Cristo. Localmente ela é representada onde estiverem dois ou três congregados pelo Espírito, no meio dos quais o Senhor promete estar. Não é uma organização ou instituição, mas o corpo místico de Cristo manifestado de forma visível nos salvos por ele.
Agora vamos ao absurdo do conceito de a salvação estar na igreja: como poderia alguém ser salvo pelos salvos? Sim, pois se alguém diz que você só pode ser salvo se estiver em uma determinada companhia de cristãos, à qual dá o nome de “igreja”, a salvação já não está no Salvador, mas nos salvos por ele. Mas será que a Palavra de Deus diz que devemos estar em algum lugar? Sim, devemos estar em Cristo.
(2 Co 5:17) “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.
Portanto, ao pregarmos o evangelho a cristãos devemos deixar claro que a igreja não garante a salvação, pois a igreja é o conjunto dos salvos. Não é a igreja que salva pecadores, mas é Jesus quem salva a igreja, o conjunto de pecadores salvos por Jesus.
(Ef 5:25-27) “Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”.
(Tt 2:14) “O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial,”.
Certamente nenhum apóstolo ou discípulo do primeiro século precisou enfrentar um problema como este, de pregar o evangelho para pessoas que achavam que, por estarem inseridas em um determinado agrupamento de cristãos, estariam por isso a salvo da perdição eterna.
O mais perto que podemos ver disso, além do caso de Simão, o mago, são os destinatários da epístola aos Hebreus. Ali temos cristãos, nominais ou genuínos, aos quais é endereçada uma carta para mostrar a superioridade do sacrifício e sacerdócio de Cristo em relação às sombras dos sacrifícios e sacerdócio do judaísmo. As palavras “melhor” e “melhores” aparecem onze vezes na epístola, e no final aqueles judeu-cristãos são convidados a saírem fora do arraial judaico para se encontrarem com Cristo e compartilharem de sua rejeição.
(Hb 13:10-13) “Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo. Porque os corpos dos animais, cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial. E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério”.
Hoje existe um “arraial” claramente visível na cristandade. Basta reparar no quanto de judaísmo existe impregnado em alguns grupos cristãos para entender. Templo, altar, vestes especiais, liturgia, sacerdotes, dízimo, incenso, música instrumental no louvor, levitas, etc., são elementos emprestados do judaísmo. Assim como o autor da epístola aos Hebreus fez um apelo a todos aqueles judeu-cristãos para que se apartassem de vez do judaísmo, cabe também convidar hoje os cristãos a saírem do arraial; a saírem a Cristo fora desse sistema judaico que Deus já deu por encerrado e que muitos cristãos ainda insistem em piratear. Nenhum de nós pode identificar quem é ou não verdadeiramente salvo, pois “o Senhor conhece os que são seus”, mas ao pregarmos o evangelho é bom discernir se estamos pregando a pessoas completamente alheias às Escrituras, ou a pessoas que até sejam versadas nelas, como eram os hebreus, porém dentro de uma ótica de um judaísmo cristão.
Repare que até aqui já tratamos de dois aspectos de crenças falsas encontradas entre cristãos nominais: a salvação por meio da igreja e a salvação por meio de rituais e costumes emprestados do judaísmo. Em muitas religiões da cristandade estas duas coisas andam juntas. Porém as religiões pentecostais introduziram mais um ingrediente nessa salada do mundo cristianizado, e este é a incerteza da possessão garantida de salvação, o que basicamente é a mesma coisa que a salvação por obras.
A ideia é mais ou menos esta: você é salvo quando crê em Jesus, porém para permanecer salvo precisará cumprir uma série de requisitos, os quais variam de frequentar uma determinada denominação, ser batizado de uma determinada maneira, ou andar vestido dentro de um determinado padrão de “moda evangélica”.
Algumas vertentes mais sofisticadas desse evangelicalismo, sutilmente introduziram a salvação pelo senhorio, que basicamente é ser salvo, mas sem permanecer salvo, a menos que esteja sob o senhorio de Cristo, isto é, em um contínuo arrependimento e sob a direção do Senhor. O cristão só poderá considerar-se realmente salvo quando chegar ao final de sua jornada aqui ou se for hipócrita o suficiente para se iludir de que é 100% guiado pelo Senhor.
Mais uma vez a salvação acaba dependendo do homem, de sua obediência e perseverança, e não da obra completa de Cristo na cruz do calvário e da promessa inequívoca da Palavra de Deus, que nos dá a segurança de descansarmos em uma obra que do começo ao fim depende unicamente de Deus:
(Fp 1:6) “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;”.
(1 Ts 5:9) “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo,”.
De tudo concluímos que, apesar de o evangelho ser simples e resumir-se às boas novas de que Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação e, sabendo que ele é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê, quem evangeliza o mundo cristianizado poderá precisar ajudar a drenar a mente do evangelizado para excluir toda a lama teológica acumulada durante séculos de catolicismo romano, protestantismo e pentecostalismo, para então derramar a água pura da Palavra de Deus.
(1 Co 15:3-4) “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”.
(Rm 1:16) “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego”.
Mas, considerando que essas vertentes cristãs, catolicismo, protestantismo e pentecostalismo, também trazem em seu bojo a doutrina de que a salvação é pela fé em Cristo e em seu sacrifício consumado na cruz, como saber separar o que é lama e o que é água da mensagem recebida e incorporada por alguém cristianizado? Procurando filtrar aquilo que exalta a Deus daquilo que exalta o homem.
O evangelho puro, Cristo morreu, Cristo ressuscitou, exalta unicamente a Deus, que enviou o seu Filho para salvar. O evangelho misturado, que vai desde dizer que você é salvo por suas boas obras, até dizer que é salvo pela fé, mas se mantém salvo pela perseverança, exalta o homem, porque no final a salvação terá sido uma conquista do salvo e não um presente recebido por graça imerecida.
No verdadeiro céu os redimidos por Cristo darão toda glória a Deus e ao Cordeiro e cantarão um novo cântico: “Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação” (Ap 5:9). No imaginário céu da religiosidade cristã, seus esforçados adeptos cantarão o velho cântico de Caim: “Digno sou … porque por meio do fruto daquilo que com meus esforços plantei, cuidei e colhi aqui neste mundo conquistei e garanti o favor divino”.
Talvez aqui você diga que falando assim estou ofendendo católicos, protestantes e pentecostais. Considerando que no final não haverá católicos, protestantes ou pentecostais, mas Deus será tudo em todos (1 Co 15:28) não vejo a utilidade de se tentar defender coisas e rótulos que um dia deixarão de existir por terem sido inventadas por homens. Não é a Deus que você quer glorificar? Não é a Cristo que quer apresentar às pessoas para que sejam salvas? Então “por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura” (Is 55:2).
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Se Deus usou Debora por que a mulher deve ficar calada?
A ordem dada à Igreja (não a Israel) nas epístolas é “Como em todas as igrejas dos santos as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja. Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor. Mas, se alguém ignora isto, que ignore” (1 Co 14:34-38).
É evidente que no mundo moderno uma ordem assim dada pela Palavra de Deus parece fora da realidade, mas se ficasse para nós decidirmos o que obedecer e o que não obedecer, já não estaríamos sujeitos à autoridade da Palavra de Deus, e sim aos nossos próprios caprichos. Parece até que o Espírito Santo sabia que tal ordem seria olhada com desprezo por muitos nos últimos dias, e acrescentou uma pergunta que parece até ter um tom irônico: “Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”, e não de um “Paulo machista” como alguns gostam de interpretar esta passagem.
Mas você escreve contando que Deus teria enviado duas mulheres para pregar o evangelho em uma cidade, as quais ficaram por vários anos à frente da igreja até os irmãos desejarem eleger um homem, um pastor para liderá-los. Porém, segundo você, o homem acabou deixando o cargo e uma das mulheres voltou para colocar a casa em ordem. Você conclui que quem manda e controla a igreja é Deus, dando a entender que não podemos contestar a experiência que mencionou.
A questão é que nenhum de nós pode julgar um servo de Deus, porque é a Deus que ele deve prestar contas, mas podemos muito bem comparar se o que faz está em conformidade com a doutrina dada pelo Espírito Santo à igreja. E neste caso específico tudo está completamente fora de ordem. Começa pelo fato de considerar que uma congregação de cristãos deva ter um pastor (ou “pastora”) à frente, o que é algo completamente estranho nas Escrituras. Tente indicar um caso no Novo Testamento de uma congregação dirigida por um homem (ou mulher) e não encontrará. O protestantismo emprestou este modelo do catolicismo romano que, por sua vez, o emprestou do judaísmo e da figura do sacerdote.
“Pastor” é um dom dado à igreja como um todo, e não um ofício local. Os presbíteros (sempre no plural) eram sim um ofício local, mas não dependiam de ter um dom e nem necessariamente ficavam à frente de uma congregação. Basta ler 1 Coríntios 14, quando é indicado como congregar, para perceber que ali todos os dons são usados pelo Espírito com decência e ordem, mas você não encontra um homem ou mulher à frente dirigindo. Portanto se no exemplo que você contou as coisas parecem ter dado certo, mesmo assim elas não passariam no teste das Escrituras, e se a Palavra de Deus não for autoridade para você, e sim as experiências bem sucedidas dos homens, então não tenho nem o que dizer.
“Porém Samuel disse: Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros” (1 Sm 15:22).
Mas sua dúvida é por que Deus teria levantado alguém como Débora, como profetiza e juíza de Israel, se não quisesse que mulheres tivessem tal posição. Primeiro é importante entender que existe um enorme abismo entre a maneira como Deus lidou com Israel e a maneira como cuida da igreja. São povos distintos com esperanças e responsabilidades distintas. Mesmo assim, também era fora de ordem uma mulher ocupar uma posição de projeção naquele tempo, e se isso aconteceu no livro de Juízes foi porque os homens não cumpriram com suas responsabilidades
(Jz 21:25) “Naqueles dias não havia rei em Israel; porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos”. Foi um tempo de extrema ruína, ao ponto de uma das tribos quase ter sido dizimada completamente e no capítulo 20 o povo ter sido obrigado a providenciar que não ficassem sem descendentes.
Mesmo tendo sido convocada por Deus para julgar Israel (pela negligência dos homens), quando Deus colocou Débora em uma missão importante ela chamou Baraque. Ela sabia muito bem guardar a ordem estabelecida por Deus desde o Éden: “E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele” (Gn 2:18).
O estado dos homens fica evidente na aparente covardia de Baraque, que diz a Débora: “Se fores comigo, irei; porém, se não fores comigo, não irei” (Jz 4:8). Diante de um homem assim tão tímido Deus precisa usar uma mulher para levar adiante a libertação do povo e outra mulher para matar Sísera, o inimigo, por isso Débora profetiza: “Ela respondeu: Certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da investida que empreendes; pois às mãos de uma mulher o Senhor entregará a Sísera” (Jz 4:9).
(Jz 4:21) “Então Jael, mulher de Héber, tomou uma estaca da tenda, e lançou mão de um martelo, e chegou-se mansamente a ele, e lhe cravou a estaca na fonte, de sorte que penetrou na terra, estando ele, porém, num profundo sono, e já muito cansado; e assim morreu. E eis que, seguindo Baraque a Sísera, Jael lhe saiu ao encontro, e disse-lhe: Vem, e mostrar-te-ei o homem que buscas. E foi a ela, e eis que Sísera jazia morto, com a estaca na fonte”.
Mesmo que os fatos demonstrem que duas mulheres haviam sido os instrumentos usados por Deus para eliminar o inimigo, quando vamos a Hebreus e encontramos o Espírito Santo, que inspirou o texto, colocando Baraque entre outros homens como Gideão, Sansão, Jefté, Davi e Samuel “os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros” (Hb 11:32-34).
É claro que Débora tem seu galardão por ter se sujeitado a ser um instrumento de Deus, mas no “frigir dos ovos” Deus mantém a ordem que estabeleceu o Éden e é também mencionada em 1 Coríntios 11:3: “Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo”. Evidentemente isto é uma ordem, não uma competição para ver quem é melhor, o homem ou a mulher, porque bem sabemos que Cristo é igualmente Deus como o Pai, mas aqui é de ordem que está falando.
Não devemos nos basear em uma das épocas mais vergonhosas de Israel, como nos é mostrada no livro de Juízes, como modelo para a igreja agir. Aquilo foi um tratamento emergencial da parte de Deus, algo parecido com o que aconteceu após a morte e ressurreição do Senhor. Onde estavam os homens naquela hora tão crítica? Exceto por José de Arimateia e Nicodemos, os discípulos mais próximos do Senhor estavam literalmente trancados em casa com medo dos judeus (João 20:19). E onde estavam as mulheres? Junto ao sepulcro de Jesus, tornando-se assim os instrumentos disponíveis para aquela hora. E foi a elas que foi dado o privilégio de serem as primeiras a anunciarem a ressurreição.
A instrução que hoje é dada à Igreja em 1 Coríntios 14 está muito clara, e deve ser ela a nossa bússola. Obviamente Deus usa (e muito) as irmãs, mas deseja que elas permaneçam no lugar que lhes designou e sirvam a Deus aí. Fazer o contrário é sujeitar-se a serem enganadas, pois assim também é dito a elas na Palavra de Deus:
(1 Tm 2:11-15) “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação”.
O versículo acima complementa a passagem de 1 Coríntios 14, mas veja que lá é vedado à mulher tanto falar quanto ensinar na igreja, porém pode perguntar (portanto falar) quando estiver em casa ou em outra situação.
“Como em todas as igrejas dos santos as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja”.
Há quem alegue que um pouco antes, em 1 Coríntios 14:31, a expressão “todos podereis profetizar”, seria a licença dada às mulheres para falarem na igreja, porém alegar isto é não entender o princípio da regra e exceção. Se numa escola a professora disser que todas as crianças podem correr, mas que na sala de aula não podem correr, até uma criança seria capaz de entender que a licença para todas as crianças poderem correr não se aplica à sala de aula.
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Pode existir mais de uma assembleia em uma cidade?
Na Bíblia vemos que as assembleias eram “de cidade em cidade” (Corinto, Éfeso), mas também às vezes as cartas eram endereçadas aos santos de toda uma região (como a Galácia). Nas saudações do capítulo 16 de Romanos vemos que numa mesma cidade como Roma havia reuniões em diferentes casas, o que dá a entender que numa mesma cidade pode existir mais de um lugar de reunião, porém sendo todos os daquela cidade uma mesma assembleia.
Em Londres no século 19 era assim, por causa do tamanho da cidade e da dificuldade de transporte dos irmãos. Evidentemente os irmãos deviam se reunir com frequência para tratar dos assuntos gerais da assembleia em Londres. Como vemos também em Atos. A unidade era preservada, pois quando havia algum problema os irmãos podiam convocar alguma reunião especial para tratar disso, porém sempre lembrando que a autoridade do Senhor está na assembleia local (da cidade) e não em alguma “sede”. Mas se eu fosse você não me preocuparia com isso, ou seja, como agir caso comecem a precisar de vários lugares de reunião em uma mesma cidade. Estamos nos últimos dias e até entre os irmãos congregados em nome do Senhor a tendência é de declínio, como tudo o mais no apagar das luzes na história da cristandade.
Às vezes ficamos com dúvidas por causa do uso da palavra “igreja” ou “assembleia” cujo significado foi bastante alterado. Veja que Paulo escreve a carta “a todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos” (Rm 1:7), mostrando assim que havia um testemunho identificado pelo nome da cidade onde a assembleia estava. Sobre Priscila e Áquila ele diz, na mesma carta, “Saudai também a igreja que está em sua casa” (Rm 16:5). Depois “Saudai a Asíncrito, a Flegonte, a Hermes, a Pátrobas, a Hermas, e aos irmãos que estão com eles. Saudai a Filólogo e a Júlia, a Nereu e a sua irmã, e a Olimpas, e a todos os santos que com eles estão” (Rm 16:14-15). Acredito serem diferentes locais onde a igreja que estava em Roma se reunia.
William Kelly, em uma de suas cartas, escreveu (a carta foi publicada em 1882 e vou traduzir apenas algumas porções):
“Costuma-se argumentar que a igreja ‘na casa’ desta ou daquela pessoa, de Áquila e Priscila, de Ninfa, de Filemom, seria prova de existirem ‘igrejas’ em uma cidade. Não é assim, pois quando comparamos com outras passagens vemos não existir tal ideia de divisão. Isto acaba se tornando parte da evidência em favor da unidade, pois, embora ninguém negue que se tratava da ‘igreja’ em vários lares de uma cidade, os santos ali eram invariavelmente designados como ‘a assembleia’ naquela cidade…
(…) O Espírito usa a expressão grega para se referir apenas a todos os santos em uma cidade e outra expressão em Atos 2:46 ou nas quatro casas que mencionamos… A graça ativa de Deus reúne livremente e em toda simplicidade, mas considerando que o Espírito Santo é um e identifica em unidade a todos os santos neste mundo, assim ocorre em lugares como Éfeso, certamente não para impedir a reunião dos santos ao nome do Senhor em mais de uma casa, mas para guardar a todos eles em unidade.
Podia haver a assembleia aqui ou a assembleia ali, mas o conjunto dos santos em uma localidade era ‘a assembleia em Éfeso’, nunca as assembleias ‘em Éfeso’ ou ‘de Éfeso’. A unidade é a verdade que governa segundo a vontade do Senhor, a Cabeça da igreja. Por isso sua Palavra diz que ela não pode ser quebrada. Querer que todos se reunissem sob um mesmo teto é uma ideia terrena; a presença e o poder do Espírito estão total e essencialmente acima da diversidade de locais de reunião. A única coisa indispensável é que, como Corpo de Cristo, eles estejam todos congregados ao seu Nome na liberdade e unidade do Espírito.
De Romanos 16:3-5 nos parece que Áquila e sua esposa estavam em Roma quando o apóstolo escreveu, de Corinto (ano 57ou 58), sua grande epístola aos santos dali, e aqui mais uma vez lemos da ‘igreja em sua casa’. Sem dúvida alguma podemos dizer que a carta é endereçada aos santos em Roma como um todo, embora nunca nas Escrituras seja mencionada ‘a igreja em Roma’. Eu particularmente admiro a perfeição das Escrituras e a sabedoria de Deus em falar assim. Mas trata-se de interpretação humana inferir que os santos não fossem a igreja de Deus naquela cidade só por não terem sido chamados assim. Considere aqueles em Filipo ou Colosso, cidades às quais ninguém insistiria tanto em negar o caráter da igreja nelas. Por quê, então, dizer que os santos naqueles locais de reunião em Roma não fossem “a igreja”? Negar que o fossem seria ridículo quando lemos, no caso de Filipo, de bispos e presbíteros e diáconos, uma ordem das mais completas, que muitas verdadeiras assembleias talvez ainda nem possuíssem (veja Atos 14:23, Tito 1:5)”.
Só para resumir a parte que vem depois, William Kelly continua explicando que o modo como as cartas são endereçadas depende muito do caráter de seu conteúdo. Segundo ele, por esta razão uma epístola como aos Coríntios é endereçada “à igreja de Deus que está em Corinto” (2 Co 1:1), enquanto as cartas aos Efésios e aos Romanos são endereçadas “aos santos” que estavam naquela localidade. Se o assunto de Corinto era a ordem na igreja, o assunto em Efésios é a igreja em seu aspecto mais elevado e abrangente, e em Romanos o objetivo era colocar os fundamentos da justiça divina no evangelho e sua consistência com as promessas feitas a Israel. Ele continua dizendo:
“… a mente espiritual percebe que endereçar uma epístola assim (Romanos) ‘à igreja em Roma’ estaria fora de harmonia com a verdade que é tratada ali. Para Paulo, o apóstolo por chamado, endereçar a todos os que eram santos, também por chamado, que estavam em Roma parece demonstrar perfeição, não porque eles não formassem a assembleia ou igreja ali, mas porque o estilo adotado é condizente com o assunto, e endereçar ‘à assembleia’ seria bem incoerente com o teor da epístola. Seria de surpreender, isto sim, se o apóstolo tivesse endereçado a epístola de outra maneira. Dizer que eles não fossem a igreja em Roma é uma dedução sem fundamento ou doutrina estranha. Dizer que existiam vários grupos naquela grande cidade naquela época não é nem um pouco improvável, pois os versículos 14 e 15 do capítulo 16 parecem indicar grupos, e além disso há vários nomes registrados no capítulo, sem ligação com estes versículos ou com o versículo 5, onde ouvimos expressamente da assembleia na casa de Priscila e Áquila…
(…) Independente do número de grupos reunindo em Roma, todos os santos ali formavam a assembleia. Evidentemente era ‘a assembleia’ nesta casa e ‘a assembleia’ naquela casa, pois os santos como um todo constituíam ‘a assembleia em Jerusalém’, Éfeso, Roma, etc., como é o caso. Todos estavam sobre um mesmo terreno divino e isto nos diz respeito. Se tivessem existido ‘igrejas’ em Jerusalém, independentes entre si, cada uma delas não seria ‘A’ assembleia, mas ‘UMA’ assembleia aqui e outra ali, não em unidade, mas em independência, o que seria completamente contrário a todos os princípios da igreja de Deus”.
Extraído de www.stempublishing.com/authors/kelly/7subjcts/chuplace.html
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Quando a pessoa recebe o Espírito Santo?
A rigor recebemos o selo do Espírito Santo quando cremos em Cristo, pois é o que afirma Efésios 1:13 “…em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa”. Mas como o caráter da epístola aos Efésios é das coisas já definidas (ali somos vistos como já ressuscitados e assentados com Cristo nos lugares celestiais) acredito que podemos olhar melhor para ao menos três elementos envolvidos na conversão: o novo nascimento, o crer em Jesus e a consciência de perdão e libertação, que talvez seja quando efetivamente recebemos o Espírito para habitar em nós. Este comentário de William Kelly sobre Lucas 11:13 explica algo disso:
(Lc 11:13) “Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?”.
“Devemos nos lembrar de que os discípulos ainda não tinham o Espírito Santo. Eles eram nascidos do Espírito, mas isto é algo completamente diferente de se desfrutar do dom do Espírito. Receber o Espírito Santo é algo que sobrepuja e vai além da conversão e do novo nascimento; não se trata de ter vida, mas de ter poder; um privilégio acrescentado à possessão da nova natureza, e o principal ou único meio de se desfrutar de Deus em conformidade com todos os instintos dessa nova natureza e, consequentemente, de se entrar na sabedoria de Deus contida em sua Palavra. Este é o mais rico e distintivo dom do cristianismo na terra, já que Cristo nas alturas, a cabeça à qual estamos unidos como seu corpo, é a principal característica no céu. Nenhum destes privilégios era ainda verdadeiro; ninguém jamais havia desfrutado disso desde o princípio do mundo”.
“Por isso os discípulos foram encorajados a pedirem a seu Pai celestial, que certamente daria o Espírito Santo àqueles que lhe pedissem. Os discípulos assim continuaram em oração, como encontramos em Atos 1:14, de modo que até mesmo após o Senhor ter morrido e ressuscitado eles ainda não tinham recebido o Espírito Santo mencionado nesta passagem; eles continuavam esperando. Todavia eles já haviam recebido o Espírito na forma de uma vida mais abundante, como o poder da vida ressurreta de Cristo; porém o dom do Espírito era algo mais. Tratava-se de ser habitado pelo Espírito de Deus, que também se manifestaria na forma de diferentes dons nos membros do corpo e, acima de tudo, os batizaria em um só corpo. Tudo isso foi cumprido, mas não antes de Pentecostes. Por isso eles aqui nesta passagem deveriam rogar a seu Pai celestial, e assim fizeram, e o Espírito Santo da promessa lhes foi dado conforme o Salvador havia prometido”.
“Não posso deixar de pensar que existiriam casos em que seria correto pedir [o Espírito Santo] ao Pai. Falo das pessoas que, assim como os discípulos, tenham se convertido, mas ainda não estejam sujeitas à justiça de Deus, que ainda não tenham consciência do descanso na obra da redenção. Em uma condição assim seria temerário dizer que elas já tenham recebido o Espírito Santo se ainda não desfrutam de paz com Deus. Quando existe um simples descanso pela fé na grandiosa obra do Senhor Jesus, e não meramente fé em sua Pessoa, aí o Espírito Santo é dado. Onde o sangue era aplicado, o azeite vinha a seguir, segundo as figuras de Levítico” – W. Kelly “An Exposition of the Gospel of Luke”.
A princípio (e pensando novamente em Efésios 1), para um crente hoje pedir pelo Espírito Santo seria como eu faço às vezes, saindo pela casa procurando por meus óculos (adivinhe onde descubro que estavam? bem sobre o nariz!). Mas o que W. Kelly está dizendo é que podem existir pessoas convertidas que ainda não desfrutam da liberdade e certeza do perdão de seus pecados, e neste caso elas podem ainda não ter recebido o Espírito.
Há três estágios que não necessariamente acontecem com algum intervalo de tempo:
1. Novo nascimento, que é quando o Espírito Santo infunde vida numa alma para ela sentir o seu pecado e buscar salvação. Este era o caso de Cornélio, um homem temente a Deus (de onde viria esse temor se ele não tivesse vida, já que o homem morto em delitos e pecados não busca a Deus?). Entendo que o novo nascimento vem antes mesmo de crermos, porque é ele que irá nos capacitar a crer. No novo nascimento, que é gerado pela água (a Palavra) e pelo Espírito, nós recebemos vida espiritual, isto é, a capacidade de vivenciar o que está além da matéria. Mas ainda não é vida eterna, porque esta vida está no Filho de Deus e no diálogo com Nicodemos o Senhor só fala da “água” (Palavra) e do Espírito. Essa mesma água é a que nos purifica e nos prepara para o que vem depois, como na lavagem com água pela Palavra em Efésios 5. Pense nas bodas de Caná: primeiro vem os servos (figura do Espírito) e enchem as talhas de pedra de água. Aí vem Jesus e faz o milagre transformando a água em vinho. O contato com a Palavra de Deus aplicada pelo Espírito é o que nos faz nascer de novo. Não sei se seria correto dizer que a pessoa precisa crer para nascer de novo, porque o novo nascimento não depende da pessoa, como o nascimento não depende da vontade do bebê.
2. Conversão, que é quando a pessoa crê em Jesus. Mas este estágio, em que a pessoa tem vida e é convertida, pode ser o que Paulo descreve em Romanos 7 até o versículo 24, “miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?”. Ele tem vida (ou não perceberia que em sua carne nenhum bem há), é atribulado pelo pecado não confessado, mas não se sente liberto porque não entendeu que a justiça de Deus já condenou a Cristo, e, portanto ele não será condenado.
3. O versículo 25 é o brado de vitória e libertação e talvez esteja aí a diferença, que é quando o Espírito Santo vem habitar na alma e dá aquela certeza inabalável de perdão de pecados que você encontra até no crente que só dá nota fora, que fica atribulado por perder sua comunhão com Deus, mas que em nenhum momento coloca em dúvida a certeza de sua salvação.
Veja que escrevo sempre “talvez” porque não podemos querer criar um processo já que Deus pode fazer as três coisas imediatamente no momento em que uma alma é vivificada pelo Espírito, e ao mesmo tempo crê no Salvador e recebe o Espírito Santo que lhe dá a certeza da vida eterna. Infelizmente, porém, muitos dos cristãos que encontramos estão vivendo uma vida miserável de incerteza, achando que podem perder a salvação a qualquer momento, porque não entenderam o caráter definitivo da obra de Cristo e do sangue derramado na cruz. É na condição de alguém totalmente consciente de sua libertação completa que lemos a continuação de Romanos:
(Rm 7:25) “Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado”.
(Rm 8:1-3) “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado”. (Usei a versão Revista e Atualizada porque está mais exata no versículo 8:1, onde na versão Corrigida a frase condicional “que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito” não existe nos melhores manuscritos).
Para complementar, entendo que ainda que possam existir esses diferentes estágios na conversão, isto não significa que alguém que tenha passado pelo novo nascimento venha a sucumbir no meio do caminho, porque “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1:6). A diferença é que alguns passam a vida privados de experimentar o pleno perdão de seus pecados e desfrutar da liberdade dos filhos de Deus. Estes pensamentos podem causar estranheza em alguns, e pode ter a certeza de que comigo não foi diferente. Por ter algum background arminiano, briguei muito antes de aceitar que o novo nascimento não dependia de mim, tanto quanto não depende do bebê que nasce.
Observe que estou falando aqui daqueles que verdadeiramente são nascidos de novo (como Cornélio) e não de pessoas que se aproximam, não de Deus, mas das coisas de Deus por curiosidade (muitos são assim) ou interesses intelectuais e acadêmicos. Estes nunca nasceram de novo, independentemente do quão avançado possam parecer estar em sua carreira de profissão cristã. É por isso que os seminários estão cheios de professores de teologia destituídos de vida que são totalmente céticos em relação às Escrituras, colocando mil e uma objeções à sua validade. Aprenderam as Escrituras, adotaram alguma linha teológica, mas não têm vida. Nunca nasceram de novo, nunca experimentaram o arrependimento que vem de Deus e sequer são habitados pelo Espírito Santo de Deus.
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Que profecia fala de ressurreição no terceiro dia?
Sua dúvida está no último capítulo do evangelho de Lucas, onde diz: “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos. Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras. E disse-lhes: assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos” (Lc 24:44-46). A pergunta é: qual profecia do Antigo Testamento diz explicitamente que o Messias ressuscitaria no terceiro dia?
Explicitamente nenhuma, mas implicitamente há algumas e para entendermos como encontrá-las precisamos aprender a interpretar as Escrituras do modo como o Senhor as interpretava. Que o Messias devia sofrer nós vemos claramente no Salmo 22:1-21 e em Isaías 53:1-9, e que devia ressuscitar fica claro no Salmo 16:10, que diz: “Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção”.
Uma das passagens geralmente utilizadas para fazer referência à ressurreição ser no terceiro dia é Oséias 6:2, mas, como você disse, a passagem fala de forma coletiva e refere-se a Israel. Como fazê-la “encaixar” como sendo profética a respeito do Messias?
(Os 6:1-2) “Vinde, e tornemos ao Senhor, porque ele despedaçou, e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida. Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele”.
Entendo que esta passagem fala de uma ressurreição mais no sentido moral do que físico, pois está falando da restauração de Israel. Mas não há nada de errado em pensar na ressurreição do Senhor, pois ela é o referencial para toda ressurreição, seja ela moral ou física, já que o mesmo capítulo faz menção da queda de Adão (vers. 7), a qual só será plenamente resolvida quando a morte for tragada pela vitória. Portanto, podemos desta passagem “pinçar” a expressão “terceiro dia” e “ressurreição”, pensando em Cristo como as primícias, ou seja, aquele cuja ressurreição é o preâmbulo de qualquer tipo de ressurreição ou restauração ainda esperada.
Tendo isto em mente, podemos aprender com o próprio Senhor como interpretar a profecia, pois ele fez menção à sua própria ressurreição usando a passagem que fala de Jonas, obviamente para indicar que Jonas era uma figura dele próprio.
(Mt 12:40) “Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra”.
Usando da licença dada pelo Senhor podemos encontrar algumas outras passagens que indicam uma ressurreição ao terceiro dia, além desta de Jonas e da encontrada em Oséias.
– Foi no “terceiro dia” que Deus fez a terra estéril produzir fruto em Gênesis 1:11-13, uma boa figura das “primícias” ou “primeiros frutos” que é Cristo ressuscitado.
“E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi. E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro” (Gn 1:11-13).
– Foi no “terceiro dia” que Abraão levantou os olhos e viu o lugar da ressurreição de Isaque em Gênesis 22:3-4 (você talvez diga que ele viu o lugar do sacrifício, mas lembre-se de Hebreus).
“Então se levantou Abraão pela manhã de madrugada, e albardou o seu jumento, e tomou consigo dois de seus moços e Isaque seu filho; e cortou lenha para o holocausto, e levantou-se, e foi ao lugar que Deus lhe dissera. Ao terceiro dia levantou Abraão os seus olhos, e viu o lugar de longe” (Gn 22:3-4).
“Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Sendo-lhe dito: em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar; e daí também em figura ele o recobrou” (Hb 11:17-19)
– Foi no “terceiro dia” que Jacó fugiu de Labão, o qual injustamente queria retê-lo mesmo depois de haver conquistado por seu trabalho o direito às suas duas esposas (lembre-se de que em certo sentido há na Bíblia “duas esposas”, Israel (Cantares) e Igreja (Efésios) e o terceiro dia, o dia da ressurreição, garantiu liberdade a ambas).
“E no terceiro dia foi anunciado a Labão que Jacó tinha fugido” (Gn 31:23).
– Foi no “terceiro dia” que José anunciou vida a seus irmãos, desde que lhe trouxessem o irmão mais novo. Obviamente a intenção de José não era fazer qualquer mal a seus irmãos, mas garantir que vivessem.
“E ao terceiro dia disse-lhes José: Fazei isso, e vivereis; porque eu temo a Deus” (Gn 42:18).
– Davi promete a Jônatas que ficaria escondido até o terceiro dia.
“Disse Davi a Jônatas: Eis que amanhã é a lua nova, em que costumo assentar-me com o rei para comer; porém deixa-me ir, e esconder-me-ei no campo, até à tarde do terceiro dia” (1 Sm 20:5).
– A restauração do Templo no livro de Esdras foi completada no “terceiro dia” e é impossível não se lembrar das palavras de Jesus, confundidas pelos fariseus como se ele falasse do templo de pedras.
“E acabou-se esta casa no terceiro dia do mês de Adar, no sexto ano do reinado do rei Dario” (Ed 6:15).
“Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2:19).
– É no “terceiro dia” que Ester, figura de Israel, escapa da morte certa a que estava sujeita a esposa que comparecesse à presença do rei sem ser convidada.
“Sucedeu, pois, que ao terceiro dia Ester se vestiu com trajes reais, e se pós no pátio interior da casa do rei, defronte do aposento do rei; e o rei estava assentado sobre o seu trono real, na casa real, defronte da porta do aposento” (Es 5:1).
– Finalmente, é o próprio Senhor quem usa de uma passagem sobre Jonas para referir-se a si mesmo e à sua ressurreição, estabelecendo assim um princípio de como interpretarmos as escrituras proféticas que chegaram até nós na forma de sombras ou símbolos.
“Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra” (Mt 12:40).
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Os discípulos receberam o Espírito Santo em João 20?
Considerando que é comum dizer que o Espírito Santo só foi dado no capítulo 2 de Atos, por ocasião da formação da igreja, sua dúvida é por que Jesus diz aos discípulos “Recebei o Espírito Santo” ao soprar sobre eles em João 20. Nunca devemos tomar uma passagem isoladamente ou cairemos no erro. Sabemos que o Espírito Santo não é uma mera influência ou poder, embora ele influencie o crente e o revista de poder. O Espírito Santo é uma Pessoa da Trindade, tão real e distinto quanto o Pai e o Filho. Enquanto estava aqui, o Filho fazia companhia aos discípulos. Após a ressurreição seria a vez de o Espírito Santo consolá-los.
(Jo 14:16) “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (aqui ele diz “outro” Consolador porque naquele momento o Consolador era o próprio Jesus).
Quando o Espírito Santo viesse transmitiria aos apóstolos as coisas que Jesus ficou de dizer a eles, porém não disse porque não poderiam suportar (ou entender) por ainda não estarem capacitados pela habitação do Espírito em si mesmos para terem entendimento espiritual.
(Jo 16:12-14) “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar”.
Aqueles que acham que a Bíblia é apenas uma coletânea de verdades, e não a Palavra de Deus, a revelação do Espírito de Deus ao homem que foi completada pelo ministério dos apóstolos e profetas do Novo Testamento nos evangelhos, Atos, epístolas e Apocalipse, não conseguem evitar passagens como a que Paulo diz em 1 Coríntios 14:37.
“Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”.
Ou o que Pedro diz em sua epístola, ora prometendo continuar “falando” à igreja, ora colocando as cartas de Paulo no mesmo nível das Escrituras inspiradas do Antigo Testamento.
(2 Pe 1:14-15) “Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como também nosso Senhor Jesus Cristo já mo tem revelado. Mas também eu procurarei em toda a ocasião que depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas”. (Obviamente por meio de suas epístolas).
(2 Pe 3:15-16) “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras escrituras, para sua própria perdição”.
Portanto, hoje, quando alguém ministra o faz fundamentado na Palavra de Deus que temos completa, usando do dom que recebeu e dirigido pelo Espírito Santo que habita em si.
(1 Pe 4:10-11) “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre”.
Voltando agora à sua dúvida específica, sabemos que o Espírito Santo foi dado no dia de Pentecostes e que ali o Espírito desceu para habitar nos crentes individualmente e na igreja coletivamente.
(At 2:1-4) “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo”.
(1 Co 3:16) “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”. (Veja o pronome no plural, porque aqui fala da habitação do Espírito na igreja coletivamente).
(1 Co 6:19) “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (Aqui é a habitação individual do Espírito em cada crente).
(Ef 2:22) “No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito”. (Aqui mais uma vez no sentido coletivo).
Sabemos também que todos os salvos depois daquela data fazem parte do corpo de Cristo e foram batizados com o Espírito Santo lá atrás, naquele dia, mesmo que não estivessem presentes àquela “inauguração” e tivessem se convertido muito depois.
(1 Co 12:13) “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, [isto aconteceu no dia de Pentecostes] formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”.
Jesus também deixou claro que eles precisariam permanecer em Jerusalém após a sua ressurreição e ascensão, porque só então receberiam a promessa da vinda do Espírito Santo.
(Lc 24:49) “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder”. (Aqui ele fala da capacitação que o recebimento do Espírito lhes daria, e é do alto que viria).
(At 1:4-5) “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias”.
Tendo esta verdade muito bem estabelecida, isto é, de que o Espírito só desceria ao mundo no dia de Pentecostes para habitar na igreja, coletivamente, e no salvo, individualmente, o que significaria a passagem em que Jesus assopra sobre os discípulos o Espírito Santo? Mais uma vez faremos bem em ler o contexto todo.
(Jo 20:19-23) “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, [que depois seria chamado de “dia do Senhor” quando os discípulos celebrariam a ceia do Senhor] e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco. E, dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado [recordação de sua morte]. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor [o privilégio dos cristãos congregados ao seu nome]. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós [comissionamento dos cristãos genericamente – são aqui chamados de discípulos – e não como na comissão dada em Mc 16 que tinha um caráter mais apostólico e também profético, já que será obedecida também pelo remanescente judeu fiel após o arrebatamento da igreja]. E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei [o] Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos”.
Aqui encontramos todos os elementos prometidos à igreja ou assembleia, antes mesmo de ela existir. Veja que Jesus se coloca no meio deles, como ocorreria depois, quando “dois ou três” estivessem congregados pelo Espírito ao seu Nome. A sua presença no meio seria o que caracterizaria a igreja congregada e dotada de sua autoridade para julgar e decidir, como é mencionado aqui o poder para perdoarem pecados no sentido administrativo (como faz um júri humano) também mencionado em Mateus 18:20 e mais tarde executado em 2 Coríntios 2, provavelmente referindo-se ao caso do homem que foi colocado fora de comunhão em 1 Coríntios 5 por pecado moral.
(2 Co 2:5-11) “Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos. Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor. E para isso vos escrevi também, para por esta prova saber se sois obedientes em tudo. E a quem perdoardes alguma coisa, também eu; porque, o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás; Porque não ignoramos os seus ardis”.
Da passagem aprendemos que a presença de Jesus + o poder do Espírito Santo = capacidade ou poder de julgar. Era esta capacitação que eles estavam recebendo quando lhes foi soprado Espírito (atente para o fato de no original faltar o pronome “o” na frase, devendo ser lido “Recebei Espírito Santo”. Eles recebiam ali capacitação para serem enviados, como Jesus os enviava, numa alusão a Adão, que tendo vindo da terra, precisou receber de Deus o sopro da vida para ser alma vivente (Gn 2:7). O Senhor, o último Adão, é espírito vivificante (1 Co 15:45) e é neste caráter que os discípulos recebem poder, mesmo não tendo sido ainda habitados pelo Espírito.
A própria vida do Cristo ressuscitado é aqui na energia do Espírito, pois apesar de ter sido morto, ele foi vivificado pelo Espírito.
(1 Pe 3:18) “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito;”.
Portanto a passagem toda é uma prévia ou “maquete” de como seria a igreja assim que o Espírito efetivamente viesse habitar nela coletivamente e no crente individualmente. F. B. Hole comenta esta passagem:
“Como eles poderiam ser enviados ao mundo, para representá-lo do modo como ele havia sido enviado do Pai, exceto se possuíssem sua vida ressurreta? A vida natural que receberam de Adão não dava a eles qualquer competência para tal missão. Eles não tiveram poder enquanto o Espírito Santo não foi derramado abundantemente em Pentecostes, mas agora eles tinham a vida e a natureza que tornava a missão possível. Não lemos desta ação nos outros evangelhos, mas lemos em Lucas 24:1-53, “… Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras” (vers. 45). Aquela abertura de seus entendimentos foi, conforme cremos, o resultado do assoprar de Sua vida em ressurreição”.
“Todavia no Evangelho de João existem as duas coisas que estão conectadas a isto: primeiro o assoprar lhes deu capacidade para testemunharem no mundo como tendo sido enviados por ele; e, segundo, para serem dotados de poderes administrativos no sentido de perdoar ou reter pecados, não eternamente, é claro, mas governamentalmente. No evangelho de Mateus vemos que o Senhor, antes de sua morte e ressurreição, indicou que tais poderes seriam conferidos a Pedro (Mt 16:19) e aos apóstolos como um todo (Mt 18:18), em cada ocasião fazendo alusão ao futuro. Aqui o poder é efetivamente conferido. A princípio, não há dúvida, o poder foi apostólico, e vemos Pedro fazendo uso desse poder em Atos 5:1-11, e o Espírito Santo ratificando sua decisão de maneira inequívoca. Mas em 1 Coríntios 5:3-5, 12 e 13 temos Paulo exercendo esse poder e convocando a igreja a agir juntamente com ele na exclusão do malfeitor. Em 2 Coríntios 2:4-8 nós o encontramos convocando a igreja a reverter a ação já que o malfeitor havia se arrependido. Então eles deviam tirar ou perdoar o pecado; e o versículo de João 20:10 é muito instrutivo neste sentido”. – F. B. Hole – “John” – New Testament Commentary.
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Existe diferença entre os dons?
Sim, existem duas classes de dons: os dons do Espírito (1 Co 12) e os dons de Cristo (Ef 4). Os dons do Espírito descritos em 1 Coríntios 12 são capacitações temporárias dadas pelo Espírito Santo aos diferentes membros do corpo de Cristo, que é a Igreja. Os dons de Cristo de Efésios 4 são permanentes e incorporados aos que os recebem. Existe até uma sobreposição do que seja o dom e do que seja a pessoa, pois “ele mesmo deu uns [as pessoas] para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores”.
Sejam os dons do Espírito, sejam os dons de Cristo, eles são dados para a edificação dos membros do corpo. Vale lembrar que na Bíblia não existe a expressão “membros da igreja”, mas apenas “membros do corpo”. Isto porque Deus não faz distinção entre “igreja A” e “igreja B” porque foi o homem o autor dessa confusão de nomes existente hoje. Aos olhos de Deus todos os verdadeiros salvos são membros de um mesmo e único corpo, o corpo de Cristo.
É preciso fazer uma ressalva aqui: dons não são capacidades naturais. Portanto uma pessoa que tenha uma bela voz ou seja eloquente em seus discursos não quer dizer que tenha recebido algum dom. Incrédulos também têm boa voz e políticos são eloquentes. Uma pessoa poderá usar essas capacidades naturais no exercício de seu dom, mas sua capacidade será apenas o meio e não a fonte.
Voltando às diferenças entre os dons, em 1 Coríntios 12 você encontra diferentes dons sendo distribuídos pelo Espírito Santo entre os diferentes membros do corpo, e isto segundo a vontade do Espírito e não de homens:
(1 Co 12:11) “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como [o Espírito] quer”.
Os dons de 1 Coríntios 12 não estão ligados à pessoa que os recebe, pois são como ferramentas distribuídas a trabalhadores para exercerem seus diferentes ofícios. A pessoa não é detentora do dom e nem tem poder para escolher quando e como receberá o dom, embora ela possa privar-se de usá-lo ou fazê-lo de modo errado. O versículo “procurai com zelo os melhores dons” (1 Co 12:31) está mais no sentido de buscar aproveitar os melhores dons que são dados à igreja do que de escolher em um cardápio o melhor dom para mim mesmo. Por exemplo, no capítulo 14 o apóstolo faz uma comparação entre o dom de línguas e o dom de profecia e conclui que o dom de profecia é muito superior ao de línguas, porque a profecia edifica a igreja e as línguas no máximo aquele que fala. Então, se alguém pretende se ocupar com algum dom deve procurar aquele que traz maior edificação ao corpo de Cristo.
Ao contrário dos dons de Cristo de Efésios 4, que são incorporados nos que os recebem, os dons do Espírito são transitórios. Não existem pessoas que tenham o dom de curar ou de expulsar demônios como algo definitivo, mas o dom é eventualmente dado a alguém para uma função específica. Por exemplo, em Atos 19 vemos o Espírito Santo manifestando o poder de Deus através do apóstolo Paulo de maneira marcante e com o objetivo de mostrar suas credenciais como apóstolo dos gentios. Ali ele exercia os dons de curar e de expulsar demônios que lhe foram dados pelo Espírito Santo.
(At 19:11-12) “E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam”.
Quem ler esta passagem isoladamente pode achar que Paulo tinha o dom de curar e expulsar demônios permanentemente e podia fazer uso destes dons sempre que quisesse, mas não era assim. De outras passagens lemos que Paulo não foi capaz de curar Trófimo e Timóteo, porque o dom não lhe foi dado nessas ocasiões, e no episódio da jovem possessa de um espírito imundo ele foi obrigado a ficar muitos dias suportando aquilo até que o Espírito Santo o capacitasse a expulsar o espírito da jovem.
(2 Tm 4:20) “…deixei Trófimo doente em Mileto”.
(1 Tm 5:23) “Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades”.
(At 16:16-18) “E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo. E isto fez ela por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu”.
O exercício destes dons não tem nada a ver com aquelas cenas de histeria que são vistas em alguns grupos cristãos, com pessoas fora de si e alegando que aquilo é o Espírito Santo. Não é, porque “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (1 Co 14:32), ou seja, ninguém fica fora de si ao exercer o dom que lhe foi dado, mas mantém-se no total controle de seu corpo e mente. Qualquer coisa diferente disto ou é ataque histérico, ou possessão demoníaca. Paulo escreve: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12:1). Ou seja, um culto racional é algo feito dentro do perfeito domínio da razão.
Embora os dons sejam diversos, o seu uso está sujeito à Trindade, ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como é demonstrado nos próximos versículos.
(1 Co 12:4) “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”.
(1 Co 12:5) “E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo”.
(1 Co 12:6) “E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos”.
Isto significa que o poder ou capacitação para o exercício do dom vem do Espírito, e não de alguma junta de homens, líder religioso ou faculdade teológica. A ministração destes dons está sujeita ao senhorio de Cristo, pois tudo deve ser feito sob a direção dele. Finalmente, a operação do dom, ou seja, o resultado, vem de Deus, que é quem faz tudo em todos. Se um dom não vier do Espírito, não for ministrado sob o senhorio de Cristo e não tiver um resultado operado por Deus, não é um dom do Espírito. É importante lembrar do que diz Mateus em seu evangelho, que na linguagem popular tem o teor do alerta do tipo “não compre gato por lebre”:
(Mt 7:22-23) “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.
Outra coisa importantíssima é que a manifestação do Espírito é dada com um objetivo utilitário, ou seja, não é mera exibição de poder ou algo como um número de mágico de circo. Também não tem nada a ver com as piruetas e malabarismos que são vistos em alguns grupos de cristãos rodopiando e jogando-se ao chão. Não precisa ser nenhum Einstein para ver que aquilo não procede de Deus. Basta a inteligência de um cérebro do tamanho de um amendoim para perguntar: “Que utilidade tem isso?”.
(1 Co 12:7-10) “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas”.
A outra classe de dons você encontra em Efésios 4 e são os dons de Cristo (e não dons do Espírito como em 1 Coríntios 12). Os dons de Efésios 4 são incorporados àqueles que os recebem, ou seja, se em 1 Coríntios 12 os dons são dados às pessoas de forma temporária, em Efésios 4 as pessoas são incorporadas com estes dons, quer elas os pratiquem, quer não.
Outra diferença é que estes dons, ao invés de serem apenas para funções específicas e localizadas, são universais. Os que receberam o dom de apóstolo ou profeta eram apóstolos e profetas onde quer que estivessem, e não apenas em uma assembleia local. O mesmo para evangelistas, pastores e doutores (ou mestres).
(Ef 4:8-12) “Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, E [Cristo]deu dons aos homens… E ele [Cristo] mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;”.
Você terá de passar uma borracha no que aprendeu nas faculdades de teologia se quiser entender a passagem de Efésios 4, e não é preciso ser muito espiritual para entender que é Cristo, e não alguma junta de homens ou faculdade de teologia, que dá dons aos homens.
Esqueça aquela ideia de que evangelista é alguém enviado por uma junta de missões para pregar. O evangelista é enviado pelo Senhor aonde o Senhor quiser que ele vá e seja necessário seu trabalho de apresentar as boas novas de salvação. O único homem na Bíblia chamado de “evangelista” é Filipe (At 21:8), portanto ele é um bom exemplo de como são enviados os evangelistas:
(At 8:26-final) “E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta. E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração…”.
Esqueça também a ideia de que “pastor” é um homem que fica à frente de uma congregação dirigindo o culto. Não existe tal ideia nas Escrituras (se não acredita, pode procurar). O pastor é um dom dado por Cristo à igreja como um todo (e não a uma assembleia em particular) e seu papel é cuidar do rebanho no sentido de suprir suas necessidades, curar suas feridas, encorajar as ovelhas, etc. Ele visita, consola, restaura e não há exemplo melhor para ele seguir do que o do verdadeiro Pastor das ovelhas, Cristo.
Antes que você alegue que há várias passagens que falam de se sujeitar aos pastores da assembleia é preciso lembrar que são passagens que falam de anciãos ou presbíteros (ou bispos), sempre no plural, que não são dons, mas ofícios administrativos de cuidar localmente do rebanho (por isso é absurda a ideia de um bispo regional, nacional ou mundial).
Mas, embora os bispos, presbíteros ou anciãos (depende do lugar é usada uma palavra no original, mas todas para a mesma função) tenham esse cuidado local do rebanho, eles não dirigem as reuniões da assembleia e você poderá conferir isto na descrição de uma reunião em 1 Coríntios 14:26 em diante, que começa com “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais…”. Em outras palavras ele está dizendo como fazer quando reunidos e aí você não encontrará ninguém além do Espírito a dirigir a reunião.
O quinto dom, de mestre ou doutor, é também um dom dado por Cristo, não por alguma faculdade de teologia. Ele aprende da palavra e de outros dons e ensina, seja em particular, seja em assembleia. Vale lembrar que os dois primeiros dons desta lista já não existem: apóstolos e profetas. Eles tiveram o importantíssimo papel de lançar os fundamentos da igreja por meio de seu trabalho ao vivo e da continuidade dele por seus escritos. Ninguém em sã consciência colocaria material de alicerce na construção da parede, pois são de naturezas diferentes, e assim é na casa de Deus. Os dons que restam hoje são evangelistas, pastores e mestres.
(Ef 2:19-22) “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito”.
Resumindo, o Senhor é a pedra angular ou de esquina e os apóstolos e profetas formam o alicerce. Sobre o alicerce (Cristo e a doutrina dos apóstolos e profetas) a igreja vai sendo edificada como morada de Deus. Mas só permanecerá aquilo que for edificado sobre o alicerce ou fundamento, ou seja, aquilo que estiver em conformidade com a doutrina dos apóstolos. Qualquer coisa edificada fora disso cairá, como acontece com qualquer construção onde um pedreiro decide assentar os tijolos sobre a terra fofa, e não sobre o alicerce sólido, porque acha que vai ficar melhor do seu jeito.
Infelizmente é o que está sendo feito por muitos homens hoje na cristandade, fazendo cada um aquilo que lhe apraz. É este o espírito da cristandade atual, mostrada profeticamente em Apocalipse como o período de Laodiceia, palavra que significa “juízo feito pelo povo”, ou seja, uma época quando é o homem quem decide o que é bom ou não, independente do que diz a Palavra de Deus.
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Os perdidos receberão diferentes penas no dia do juízo?
Entendo que a justiça divina neste sentido não seria muito diferente da justiça humana, que em um certo sentido também veio de Deus. Grande parte do que hoje consideramos mais errado ou menos errado vem do Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia. Ali havia diferentes castigos para diferentes pecados cometidos pelo povo, portanto haverá também diferentes condenações para os que forem lançados no lago de fogo. Obviamente eles já estarão perdidos e condenados eternamente, mas mesmo em sua condenação haverá diferentes graus de punição.
(Jo 19:10-11) “Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar? Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem”.
Nesta passagem Jesus demonstra existirem pecados maiores e menores e em Apocalipse 20:12-13 vemos um tribunal de condenação que leva em conta os diferentes crimes registrados nos autos.
(Ap 20:11-12) “E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras”.
Há uma passagem também em Lucas 12:42-48 que mostra que Deus faz distinção entre diferentes modos de agir e a punição é também proporcional.
(Lc 12:42-48) “E disse o Senhor: qual é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor pós sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração? Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Em verdade vos digo que sobre todos os seus bens o porá. Mas, se aquele servo disser em seu coração: o meu senhor tarda em vir; e começar a espancar os criados e criadas, e a comer, e a beber, e a embriagar-se, virá o senhor daquele servo no dia em que o não espera, e numa hora que ele não sabe, e separá-lo-á, e lhe dará a sua parte com os infiéis. E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá”.
Esta passagem mostra também que a responsabilidade está associada ao conhecimento ou desconhecimento do erro cometido. Outras passagens também demonstram este princípio:
(Jo 9:41) “Disse-lhes Jesus: Se fósseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece”.
(Jo 15:22) “Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do seu pecado”.
(Jo 15:24) “Se eu entre eles não fizesse tais obras, quais nenhum outro tem feito, não teriam pecado; mas agora, viram-nas e me odiaram a mim e a meu Pai”.
Em Mateus 11:20-24 vemos também diferentes graus de condenação para as populações de determinadas cidades, dependendo do grau de conhecimento ou de privilégios que haviam recebido:
(Mt 11:20-24) “Então começou ele a lançar em rosto às cidades onde se operou a maior parte dos seus prodígios o não se haverem arrependido, dizendo: Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com cinza. Por isso eu vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidom, no dia do juízo, do que para vós. E tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. Eu vos digo, porém, que haverá menos rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti”.
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Por que as sete cartas de Apocalipse são proféticas?
Você pergunta com base em que podemos afirmar que as cartas que foram enviadas às sete igrejas nos capítulos 1 e 2 de Apocalipse representam o testemunho da igreja aqui na terra e não são simples cartas. Na verdade elas também são simples cartas, e este é um princípio que você encontrará em toda a Bíblia. Por exemplo, os Salmos são canções, e ao mesmo tempo a expressão do salmista. Mas é inegável que são também proféticos, pois você encontra ali Salmos como o 22, que descrevem a morte de Cristo na cruz e muitos outros que falam dos sofrimentos do remanescente judeu que irá se converter após o arrebatamento da igreja.
Com base no mesmo princípio podemos ler as sete cartas de Apocalipse como cartas efetivamente endereçadas àquelas sete igrejas nas cidades que identificam cada uma delas, e também podemos ler como cartas endereçadas aos cristãos de hoje, pois há muita coisa ali para nos edificar, exortar e consolar. É o caso de todas as epístolas dos apóstolos também: elas têm um endereço primário, que é assembleia (por exemplo, Corinto) ou o irmão (por exemplo, Timóteo) a quem é endereçada, mas também são a Palavra de Deus endereçada a cada um de nós, dois mil anos mais tarde. É como se ouvíssemos Pedro dizendo: “Mas também eu procurarei em toda a ocasião que depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas” (2 Pe 1:15).
Quando falei das sete cartas de Apocalipse em “O Evangelho em 3 minutos” concentrei-me em seu caráter profético (e Apocalipse é um livro profético) lembrando sempre que a chave do próprio livro é dada logo no início, quando o Senhor dá a João instruções precisas das três divisões da revelação: (Ap 1:19) “Escreve as coisas [1] que tens visto, e [2] as que são, e [3] as que depois destas hão de acontecer”. As cartas estão na divisão das “coisas que são”, ou seja, do período vivido por João e que se estende até hoje.
Obviamente apenas hoje é possível enxergar nelas as diferentes etapas históricas do testemunho cristão no mundo. Existem coisas na Palavra de Deus que entendemos apenas depois que elas acontecem como foi o caso da profecia a respeito de Tiro. O próprio profeta que a escreveu não deve ter entendido como ela iria se cumprir, mas hoje é história. Então olhamos para trás e vemos como foi.
Assim é com a história do testemunho de Deus na terra. Muitos cristãos já escreveram a respeito das sete igrejas representando diferentes fases do testemunho cristão, e acredito que isso foi uma das verdades que foram resgatadas no século 19 por irmãos que congregavam fora do sistema religioso e somente ao nome do Senhor. Mas hoje, vivendo na época de Laodiceia, podemos ver claramente.
Uma boa ideia é ler a metade final deste texto de um livro que estou traduzindo. O assunto é outro, mas o trecho fala especificamente das sete cartas às sete igrejas de Apocalipse. O autor, Bruce Anstey, é contemporâneo, mora no Canadá e congrega somente ao nome do Senhor, fora dos sistemas denominacionais: http://aoseunome.blogspot.com.br/2013/03/capitulo-tres-por-que-tao-poucos.html.
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Podemos apressar a vinda do Senhor?
Você disse que ouviu um irmão dizer que poderíamos apressar a vinda do Senhor vivendo de maneira santa, e para isso baseou-se em 2 Pedro 3:11-12. “Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão”.
O problema com essa interpretação é que a passagem não está falando da vinda do Senhor para buscar a igreja; está falando do “Dia de Deus”, não um evento, mas um período (se é que podemos chamar de período algo que não terá mais tempo) diferente da vinda do Senhor (este sim, um evento).
O “dia de Deus” é o estado eterno, quando não existirá mais tempo e do qual a Bíblia quase não fala porque nossa mente ainda presa a um corpo terreno não entenderia. O “dia de Deus” vem depois do arrebatamento, tribulação, milênio, juízo final e destruição dos céus e da terra que existem hoje.
Repare também que o versículo não diz “… apressando a vinda do Dia de Deus, quando os céus, incendiados…”, mas “…apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados…”. O “dia de Deus” vem porque antes ocorreu a destruição do universo que conhecemos. Pelo menos 1007 anos antes disso terá ocorrido o arrebatamento da igreja.
O versículo 13 confirma que o apóstolo está falando do estado eterno: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça”. Não confunda, porém, a passagem de Isaías 65:17 e 66:22 que usa a mesma expressão “novos céus e nova terra” para referir-se ao período do milênio, já que naquele período continuará havendo pecado (Is 65:20) e crianças nascendo (Is 65:23), coisas que obviamente não encontraremos nos novos céus e nova terra do estado eterno.
Resta ainda uma dificuldade: Como poderíamos então, mesmo entendendo se tratar de um estado e não um evento, apressar a vinda do Dia de Deus? Acredito que a resposta esteja no início do capítulo e com outra dos evangelhos:
“Tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação” (2 Pe 3:3-4).
“Mas, se aquele servo, sendo mau, disser consigo mesmo: Meu senhor demora-se, e passar a espancar os seus companheiros e a comer e beber com ébrios, virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera e em hora que não sabe e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 24:48-51).
O incrédulo certamente acredita que o fim de todas as coisas vai demorar para sempre, que o juízo nunca vai chegar. Mas o crente sabe que estas coisas estão logo ali, por isso vive na radiante expectativa da vinda de seu Senhor no arrebatamento, que será o “gatilho” que irá acionar toda uma sequência de eventos que culminará no “dia de Deus”, como se fosse a primeira peça de um dominó. Veja o contraste da passagem assim (da expectativa do incrédulo) com as passagens que mostram a expectativa do crente:
(Hb 10:37) “Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará;”.
(1 Co 15:52) “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados”.
(1 Ts 4:17) “Depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor”.
(Ap 22:16-20) “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã. O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! … Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus!”.
Evidentemente aqueles que estão esperando pelo cumprimento das profecias feitas a Israel, que incluem uma porção de coisas, como a volta do povo judeu a Israel, as catástrofes mundiais previstas para a grande tribulação, a vinda do anticristo, etc., não poderão viver na expectativa da vinda do Senhor a qualquer momento e, consequentemente, “apressando a vinda do Dia de Deus” que é o estado eterno que terá início no mínimo 1007 anos após o arrebatamento da igreja.
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Lembraremos no céu o que passamos na terra?
Sim, a Bíblia apresenta muitas evidências de que continuaremos a ser as pessoas que fomos na terra, obviamente ressuscitados ou transformados, mas com nossa individualidade preservada. Portanto nos lembraremos de pessoas e eventos de nossa vida aqui, mas é preciso lembrar que faremos isto com uma mente perfeita, e não mais sujeita às apreensões, medos, remorsos, tristezas, etc.
Em Apocalipse 6:9-11 os mártires se lembram muito bem do que aconteceu na terra e do sofrimento que passaram. O que ocorre é uma mudança de perspectiva no modo como enxergamos as coisas, mas não sofreremos uma lavagem cerebral que venha a apagar nossas memórias.
(Ap 6:9-11) “Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram”.
Quando Babilônia é julgada e destruída, a grande meretriz de Apocalipse, que representa o sistema religioso que virá a perseguir e martirizar os santos terrenos durante a grande tribulação, encontramos um clamor para que os santos, apóstolos e profetas exultassem por causa da queda daquela que teria afligido os santos. Eu tenho certeza de que os que foram perseguidos e estiverem no céu naquele momento não vão dizer “Babilônia? Quem é essa?! Nunca ouvi falar…”, mas irão exultar com sua destruição.
(Ap 18:20) “Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa”.
(Ap 19:1-4) “Depois destas coisas, ouvi no céu uma como grande voz de numerosa multidão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus, porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos. Segunda vez disseram: Aleluia! E a sua fumaça sobe pelos séculos dos séculos. Os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes prostraram-se e adoraram a Deus, que se acha sentado no trono, dizendo: Amém! Aleluia!”.
Quando o Senhor Jesus voltar com todos os santos que então estiverem com ele nos céus, tanto os que ressuscitaram quanto os que foram arrebatados, seria absurdo pensar naquela imensa multidão descendo para a batalha contra a besta e os reis da terra e ignorando a razão de tudo aquilo. Você não seria capaz de imaginar-se perguntando ao santo ao seu lado algo como: “Aonde nós vamos?”, “Terra? Que terra?”, “O que aconteceu lá para merecerem esse juízo?”, “Que besta é essa?”, “De que falso profeta estão falando?”.
(Ap 19:11-19) “Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça… e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso”.
Quando vemos Moisés e Elias no monte da transfiguração, conversando com Jesus sobre as coisas que iriam acontecer em Jerusalém (a saber, a crucificação), eles não estão nem um pouco alheios aos acontecimentos da terra e nem precisarão ver algum telejornal celeste para saber das coisas. E quando voltassem para o céu logo depois é evidente que não teriam apagadas da memória a lembrança daqueles momentos que passaram com o Senhor no monte da transfiguração.
(Lc 9:30-31) “Eis que dois varões falavam com ele: Moisés e Elias, os quais apareceram em glória e falavam da sua partida, que ele estava para cumprir em Jerusalém”.
Quando João, no capítulo 4 de Apocalipse, é arrebatado aos céus, fica claro que ele passa a assistir de camarote aos eventos que se desenrolam na terra. O céu não é um lugar alheio aos acontecimentos da terra, porque tudo o que acontece aqui tem consequências eternas e serão registradas para sempre no céu. O simples fato de encontrarmos as multidões celestiais adorando o Cordeiro que havia sido morto demonstra que todos ali têm clara consciência da morte de Cristo e da razão disso.
Na história do rico e Lázaro a vida na terra continua na memória de quem já morreu e o rico pede até que Lázaro seja mandado para avisar seus irmãos, ou seja, ele se lembra deles. Seria estranho pensar que o rico, no hades, tivesse conhecimento de coisas na terra que estivessem vedadas à memória de quem já estivesse no céu. Além disso, Lázaro é confortado estando no céu, e não faria sentido ele ser confortado se não soubesse de que estaria sendo confortado, ou o rico atormentado sem ter consciência do que o levou ali.
(Lc 16:25) “Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos”.
E se aqueles nos céus estivessem alheios aos acontecimentos da terra, como poderia haver “maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”? (Lc 15:7). Embora seja válido pensar que os anjos de Deus se alegrem com cada conversão, o texto vai além ao afirmar que “há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lc 15:10), o que significa que não está falando diretamente dos anjos, mas daqueles que estão diante dos anjos, ou seja, os santos redimidos. E como eles poderiam se regozijar se ignorassem quem são aqueles que se arrependem na terra, de que estão arrependidos e como puderam chegar ao arrependimento?
Seria muito estranho aplicar 2 Coríntios 5:10 a pessoas que fossem pegas de surpresa no céu, indagando, “Como assim? De que bem ele está falando? Qual foi o mal que fiz?”. O Tribunal de Cristo para os salvos não tem um caráter de julgamento da pessoa, mas de suas obras apenas (porque os salvos já foram julgados em Cristo na cruz), mas para os perdidos haverá condenação com base nas mesmas obras más que praticaram em vida.
(1 Co 3:12-15) “Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo”.
(2 Co 5:10) “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo”.
(Mt 12:36-37) “Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado”.
Os atos de justiça dos santos praticados na terra serão a matéria prima do tecido de linho finíssimo do vestido de noiva que vemos em Apocalipse nas bodas do Cordeiro. Também é dito que as obras dos que morrem no Senhor os acompanham no céu.
(Ap 19:7-8) “Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos”.
(Ap 14:13) “Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham”.
Existe uma diferença entre ter consciência de pecados pendentes e ter consciência de pecados pagos. Acredito que teremos plena consciência de onde fomos tirados, ou não saberemos a razão de estarmos ali e nem fará sentido louvarmos o Cordeiro. Quando você tem uma dívida paga por um amigo, você se lembra da dívida, do pagamento e do amigo. Você já não é mais afligido pela pendência e pela dívida, mas pode descansar no fato de ter sido paga e vive com um sentimento de gratidão àquele que pagou.
No céu não seremos diferentes do que fomos na terra, no sentido de nossa individualidade. É claro que estaremos todos transformados e vivendo em um corpo glorificado como o do Senhor Jesus, com sentimentos puros, livres de todo pecado, malícia e engano. Mas seremos as mesmas pessoas, no sentido de quem somos e reconheceremos as pessoas ali, não apenas as que amamos na terra, mas as que nos eram desconhecidas. Lembre-se de que os três discípulos que subiram com Jesus ao monte da transfiguração imediatamente reconheceram Moisés e Elias, que tinham vivido séculos antes deles. Naquele tempo ainda não existia fotografia ou qualquer referência visível para eles poderem se apoiar.
(1 Co 13:12) “Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido”.
Tendo isto em mente podemos entender melhor o versículo em Isaías 65:16-17 que diz: “…porque já estão esquecidas as angústias passadas, e estão escondidas dos meus olhos. Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão”.
Antes é bom ter em mente que este versículo fala da terra durante o Milênio, não do céu, pois na sequência vemos pessoas plantando e colhendo, construindo casas e criando animais, coisas que não faremos no céu. Mesmo assim, nessa terra restaurada e com pessoas de carne e ossos (não ressuscitadas) vivendo nela Deus promete que serão “esquecidas as angústias passadas… e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão”.
É evidente que ele não está falando de passar uma borracha nas mentes das pessoas, transformando-as em recém nascidos que não sabem sequer como usar as mãos, mas está se referindo às angústias, isto é, aos sentimentos. É fácil compreender o sentido quando pensamos numa mãe que foi muito maltratada por um filho, e um dia ele volta para casa arrependido e sua mãe o perdoa de tudo. Pergunto: Será que essa mãe irá alguma vez trazer à memória as angústias passadas? Não, ela colocou uma pedra em cima daquilo e elas nem se comparam ao prazer de ter seu filho de volta e transformado em um filho exemplar. “O amor cobre todos os pecados” (Pv 10:12).
O mesmo entendimento podemos ter da passagem que diz: “porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados” (Jr 31:34). Aqui é também no sentido de dívida paga. As dívidas que você tinha com o banco continuam lá, mas em um arquivo morto e com um grande carimbo de “PAGO”. Mesmo assim, e sabendo que terei memória de minha vida na terra, minha impressão do céu é que estaremos tão ocupados com Cristo e sua formosura que acabaremos relegando para um segundo plano todas as memórias a nosso respeito.
É bom pensar no céu como a casa do pai à qual o filho pródigo retornou. Ao ser abraçado pelo pai e introduzido na mansão o filho tinha perfeita consciência de seu passado, sua memória não foi apagada, mas seus atos de desobediência foram todos perdoados. O filho havia ensaiado seu discurso que incluía dizer ao pai que o fizesse um empregado, mas ao ser abraçado ele pula esta parte. Ele entendeu que aquele pai jamais o colocaria numa posição menor que filho, com todos os direitos e privilégios. E em nenhum momento na história você escuta o pai trazer à tona a vida errada do filho, ao contrário, tudo é festa e alegria por seu retorno ao lar.
(Ap 5:8-14) “E, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra. Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos. E os quatro seres viventes respondiam: Amém! Também os anciãos prostraram-se e adoraram”.
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Devo disciplinar meus filhos?
A sabedoria de Deus, expressa na sua Palavra, nem sempre é a mesma sabedoria dos homens. Enquanto o mundo moderno vai perdendo a noção da autoridade constituída e fazendo as pessoas acreditarem que cada um deve viver do jeito que quer, o cristão precisa estar atento para não se deixar levar pela “opinião pública”, mas deve buscar a “opinião divina”. E a opinião divina é clara: (Pv 13:24) “O que não faz uso da vara odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga”.
O versículo acima poderia muito bem ter sido a origem do ditado “é de pequenino que se torce o pepino”. A disciplina deve começar desde cedo, e por mais que seja doloroso para os pais e para os filhos, ela inclui a disciplina física, mas esta não deve ser a única forma de disciplina. Segundo a “opinião pública” o uso da vara é barbárie. Segundo a “opinião divina” é expressão de amor, e o não uso, aí sim uma expressão de ódio. (Pv 23:13) “Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá”.
Disciplina não é um fato isolado, mas um processo contínuo que não deve ser retirado da criança. Mas é preciso que os pais façam a lição de casa, isto é, estejam eles próprios sujeitos ao Senhor e à sua disciplina. Muitas vezes os pais exigem dos filhos algo que eles mesmos não estão dispostos a cumprir.
O objetivo da vara e da repreensão é tornar nossos filhos sábios, não revoltados, desanimados ou envergonhados. (Pv 29:15) “A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe. Por isso eles devem saber exatamente a razão da disciplina. Uma criança pequena que desenhe na parede pela primeira vez não está sendo indisciplinada, mas simplesmente não aprendeu ainda que lugar de desenhar é no papel. Discipliná-la por algo que ela ignora pode trazer confusão à sua mente e ela achar que o erro está em desenhar”.
Mas não raro ouvimos pais dizerem que bateram nos filhos toda a infância e de nada adiantou, por isso é importante lembrar mais algumas coisas sobre a disciplina, e para isso devemos buscar o exemplo divino. Como Deus faz para disciplinar seus filhos?
(Hb 12:6-9) “Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos. Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos?”.
Primeiro, a correção é expressão de amor, não de ódio ou vingança, e o ato de açoitar distingue um filho de um estranho. Eu nunca disciplinei fisicamente filhos de estranhos e nem deveria. A disciplina física é algo restrito à intimidade existente no seio familiar, portanto é sempre bom lembrar que disciplinar os filhos não deve ser um ato público, algo do tipo “Vejam todos, estou disciplinando meu filho!”. Alguns pais sentem-se no dever de expor publicamente a disciplina dos filhos, o que é um erro.
Quando a reprimenda ou o uso da vara se fizer necessário, os pais devem buscar um lugar longe dos olhares públicos, pois o objetivo é corrigir o filho, não proteger a reputação dos pais ou dar a eles oportunidade de se justificarem para os amigos. O filho disciplinado deve sentir vergonha do que fez, e não das pessoas que o viram sendo disciplinado. A exposição pública de um filho pode criar outros problemas às vezes mais sérios do que aquele que demandou a disciplina.
Outra razão para manter a disciplina física restrita ao círculo familiar e longe dos olhares públicos é que a legislação irá cada vez mais reprimir essa prática em função dos abusos. É uma medida extrema, algo como “matar a vaca para acabar com o carrapato”, transformando até mesmo os pais que disciplinam com amor e de forma bíblica em transgressores da lei e facínoras cruéis aos olhos da opinião pública.
Outro ponto importante da passagem é que a disciplina deve ser feita em amor, algo difícil para um pai ou uma mãe que sente o sangue subir à cabeça e acaba espancando os filhos como forma de extravasar sua própria ira, e não de corrigi-los.
Um detalhe que muitas vezes deixamos escapar é o da “vara”. A Palavra de Deus está falando da disciplina física e também de um instrumento de disciplina, não está falando das mãos. Usamos as mãos para acariciar nossos filhos e eles devem perceber isto desde cedo. Crianças que são espancadas com a mão costumam se afastar quando veem os pais se aproximarem com a mão aberta para acariciar. Elas acabam desconfiadas, sem saber se vem carinho ou palmada. Meus pais usavam cinto e chinelo. Da professora do primário eu ainda me lembro da régua, e não era para medir não! Com nossos filhos usávamos o chinelo, uma pequena régua ou espátula, raramente as mãos.
Uma dúvida que normalmente surge entre os pais é saber de que idade a Bíblia fala ao referir-se a “criança” nos versículos acima. A Palavra de Deus certamente faz diferença entre filhos crianças e filhos adultos, quando as admoestações, ao invés de serem dirigidas aos pais, são dirigidas aos filhos, já que eles têm idade suficiente para entender como devem se comportar. Embora a criança deva sempre obedecer, o filho adulto deve sempre honrar. (Ef 6:2-3) “Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra”.
Segundo a Bíblia, uma criança já é criança, portanto um ser humano e não um mero embrião ou feto, quando está no ventre, mesmo sem ter condições de praticar o bem ou o mal. “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal… Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor” (Rm 9:11-12).
Em Números 14:29 são considerados responsáveis aqueles de 20 anos para cima, que foram avisados de que morreriam no deserto por conta de sua incredulidade. Certamente havia jovens com menos de 20 anos que também duvidaram, mas a passagem indica que eles não foram tidos como responsáveis como foram os adultos de 20 anos para cima. Outras passagens mostram que quando era feito o censo do povo de Israel eram considerados aqueles de 20 anos ou mais como adultos (Êx 38:26, Nm 1, 2 Cr 31:17, Ed 3:8). Deus não permitia que os menores de 20 anos fossem para a guerra (ao contrário do costume em nosso país, que determina 18 anos como a idade mínima para ser soldado).
Porém, embora exista esta grande divisão entre a infância e a idade adulta na Bíblia, encontramos também algumas distinções dentro dessa faixa de “infância”, como é o caso de reis (como Manassés) que começaram a reinar aos doze anos, provavelmente com a ajuda de algum tutor. Vemos Jesus sendo apresentado no Templo quando tinha doze anos e no judaísmo hoje é esta a idade em que o jovem é considerado responsável em termos de assumir compromissos em sua religião, como fazer leituras públicas.
As meninas em Israel eram consideradas fisiologicamente adultas por ocasião da primeira menstruação, quando estavam aptas a procriarem e, portanto, a se casarem. Este costume ainda prevalece em muitos países do oriente médio e em tribos indígenas, e podemos compreendê-lo melhor se considerarmos que a expectativa de vida nos tempos do Novo Testamento não ia muito além dos 40 anos (hoje gira em cerca de 70 anos). Portanto, se por um lado vemos no Antigo Testamento a idade adulta assinalada como 20 anos no sentido da responsabilidade civil, vemos uma fase adulta biológica e relacionada às coisas de Deus assinalada por volta dos doze anos.
Estas diferenças devem ser levadas em consideração também no modo como disciplinamos nossos filhos. Enquanto um bom diálogo pode funcionar com uma criança com mais de doze anos, ele será de pouco efeito em uma criança de dois. Ao mesmo tempo, a disciplina física, usada com maior frequência até os 6 ou 7 anos, pode ter sua eficácia anulada ou até invertida na adolescência.
A criança pequena tem um entendimento limitado das coisas e pode não fazer tanto efeito “ouvir” as consequências de sua desobediência como “senti-las”. Mas o adolescente é capaz de raciocinar mais sobre o que está acontecendo e pode acabar voltando-se contra os pais quando a disciplina for aplicada sem sabedoria. Quando insistimos em tratar nossos filhos adultos como crianças eles podem acabar também agindo como crianças, ou seja, não assumirem suas próprias responsabilidades.
Mas é importante que os pais entendam que para que os filhos cheguem à idade adulta sábios nas coisas de Deus, existe um exercício dos pais em constantemente colocarem seus filhos em contato com a Palavra de Deus, e isto desde a tenra idade. A mãe e a avó de Timóteo são exemplos neste sentido, não apenas em ensinar o menino, mas principalmente em serem sinceras e honestas em sua própria maneira de proceder, trazendo uma “fé não fingida”, ou seja, não vivendo de aparências como muitos cristãos fazem hoje em dia. É comum, principalmente entre as religiões mais legalistas, vermos filhos perceberem que seus pais só vestem a “roupa cristã” aos domingos, vivendo de forma mundana no dia-a-dia. Os filhos farão o mesmo por terem visto o exemplo dos pais, assim como fez Isaque, que mentiu à semelhança do que já tinha feito seu pai Abraão.
(2 Tm 1:5) “Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti”.
(2 Tm 3:15) “E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus”.
Quando disciplinamos precisamos ter em mente que existem limites até mesmo para a forma de disciplinar. Os pais devem ser sábios para perceberem se a disciplina não está criando ira nos filhos, e também terem sempre em mente que é na admoestação DO Senhor que devemos discipliná-los, e não em nossa própria. Quero dizer, os filhos precisam ter em mente que se desobedeceram ou erraram, não foi apenas para com os pais, mas para com o Senhor. Se amanhã os pais falharem os filhos saberão que é ao Senhor que devem obediência e continuarão firmes neste propósito.
(Ef 6:4) “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”.
Toda disciplina deve ter uma continuidade de instrução, para que os filhos não desanimem. Se erraram, devem ser ensinados a agir da forma correta e depois elogiados por sua boa conduta diante de Deus. Filhos que só são repreendidos e nunca animados, encorajados ou consolados, acabam desanimando nas coisas do Senhor e se tornam apáticos.
(Cl 3:21) “Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não percam o ânimo”.
O próprio ministério da Palavra de Deus tem um triplo propósito para nossas vidas, que não é apenas de exortar (ou disciplinar), mas também de edificar e consolar. Devemos sempre agir equilibradamente do mesmo modo para com nossos filhos. Um banco de três pernas que tenha uma mais curta ou mais longa não servirá para muita coisa.
(1 Co 14:3) “Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação”.
É preciso entender que Deus usa de diferentes meios para nos disciplinar, e nem todos eles envolvem dor física. Ele pode nos obrigar a seguir um rumo diferente do que planejamos ou nos privar de algo, ambas formas de disciplina que também podemos adotar para com nossos filhos. Às vezes somos colocados também em situações em que somos obrigados a engolir o que dissemos ou a desfazer o que fizemos, geralmente com algum prejuízo ou humilhação. Podemos usar da mesma sabedoria de Deus na hora de disciplinar nossos filhos, dependendo da idade e da situação.
Para bebês, a disciplina pode ser no sentido de distrai-los, ou seja, desviar sua atenção daquilo que estão fazendo errado para outra coisa. Nesta idade, aquilo que podemos às vezes interpretar como indisciplina pode ser apenas curiosidade e desejo de explorar. Por exemplo, um bebê joga no chão algo que quebra. Ele ainda não entende o valor das coisas e pode até achar interessante seu experimento e o barulho que fez. É preciso sabedoria para aplicar uma disciplina educativa, mais que punitiva.
Em casa costumávamos repreender no sentido de educar quando as crianças faziam algo por desconhecerem o que era o certo, e só aplicar disciplina física quando havia um deliberado desafio à autoridade. Por exemplo, a criança deixar cair um copo era um acidente. A criança jogar um copo depois de ter aprendido a não fazer aquilo era desobediência. A tentativa de colocar a mão onde não devia era interrompida com uma advertência do tipo “Não coloque a mão aí”. Uma segunda tentativa, com aquele olhar do tipo “coloco a mão e quero ver o que você faz” era repreendido com uma boa e solene disciplina física. A régua saía da gaveta.
Outra coisa que tomávamos o cuidado era de nunca fazer ameaças que não fossem cumpridas, tipo “se fizer isso vai apanhar” e depois não dar em nada. O importante é sempre fazer valer a disciplina prometida o quanto antes (se possível imediatamente, a menos que esteja em local público) e deixar claro que ela vem pela desobediência a Deus, de quem os pais são representantes naquele momento como autoridades constituídas. Se os filhos não aprendem a se sujeitar à autoridade dos pais não aprenderão a obedecer outras autoridades constituídas por Deus, como professores, policiais e juízes. Finalmente terão de se sujeitar à autoridade do carcereiro.
Às vezes uma forma de disciplina inclui privar a criança de certos privilégios ou tirar algo dela, como tempo de brincar, um brinquedo ou uma guloseima à qual esteja habituada. O cancelamento de um passeio programado também pode ser uma boa forma para a criança aprender causa-efeito. É claro que isto não irá funcionar com crianças muito pequenas que ainda não entendem, mas é uma boa maneira de se aplicar disciplina para casos mais leves e com sentido corretivo. É o que costumamos chamar de “ficar de castigo”.
Outra forma de disciplina é deixar a criança sofrer as consequências de seus atos. Por exemplo, uma criança que se recusa a comer pode estar precisando aprender que a falta de comida traz fome, então é hora de treiná-la neste sentido. Isto funciona bem dos dois anos para cima, quando a criança já tem um certo entendimento. Nesta categoria para crianças maiores pode-se incluir também o trabalho, ou seja, sujou a parede agora vai ter que pintar; derramou algo no chão, vai ter que limpar.
Como pode ver, nem sempre é preciso usar de medidas drásticas como a vara quando temos outras soluções à mão. Mesmo assim, a disciplina física é bíblica, porém é sempre bom entender que não deve ser uma forma de os pais extravasarem sua ira. Finalmente, nada disso pode ser feito sem oração e amor, entendendo sempre que Deus disciplina ao filho a quem ama e devemos agir também assim.
Haverá um momento em que os filhos serão exortados a honrar os pais, por terem atingido a idade adulta, e não mais a obedecerem aos pais como quando eram crianças. Eles talvez constituam suas próprias famílias e terão seu próprio caminho a seguir e serão devidamente disciplinados por Deus quando necessário. Aí então valerá o que os pais do cego de nascença dizem em João 9:21: “Idade tem; falará de si mesmo”. Então, quando chegarem a esta idade e estiverem sofrendo as consequências de seu viver indisciplinado, talvez se lembrem de quão bom e seguro era ter alguém que zelava por eles e colocava limites no caminho em que deviam andar, às vezes em meio a dor, lágrimas e orações. Afinal, o fim do filho desobediente não é algo que a Bíblia descreva com palavras agradáveis:
(Pv 30:17) “Os olhos que zombam do pai, ou desprezam a obediência à mãe, corvos do ribeiro os arrancarão e os filhotes da águia os comerão”.
*
As profecias já se cumpriram?
A ideia de que a maioria das profecias bíblicas já tenham se cumprido é conhecida como “preterismo”, em contraste com o “futurismo”, que espera ainda pelo cumprimento das profecias. Mas mesmo entre preteristas e futuristas não existe um consenso quanto ao volume de profecias já cumpridas. Existe ainda uma classe intermediária que vive tentando interpretar as profecias pelos acontecimentos presentes, geralmente chamados de “historicistas”. Por isso você encontra hoje livros e mais livros completamente inúteis por terem jurado que o anticristo era algum dos Papas que já morreram ou líderes políticos como Hitler, Stalin ou Mikhail Gorbachev. Ou falando de avanços tecnológicos da época que alguns pensavam ser a “marca da besta”, como foi o código de barras nos anos 80 e é hoje o chip de identidade antissequestro usado em crianças e executivos.
Já os “futuristas”, em alguns casos também chamados “dispensacionalistas”, entendem que a profecia tem a ver com Israel e o mundo, e não com a igreja. Portanto seria perda de tempo tentar encontrar na época atual a consumação de eventos proféticos, pelo menos enquanto a igreja ainda estiver na terra. Eu particularmente me incluo entre os que acreditam que o relógio profético está parado até o arrebatamento da igreja, quando voltará a bater. Aí virá a última semana profética de Daniel (a 70a.), na metade da qual o anticristo se revelará e terá lugar a “grande tribulação” que precede a vinda de Cristo ao mundo em poder e glória com os santos que foram arrebatados e ressuscitados sete anos antes. Será instalado então o reino de mil anos de Cristo, sendo Israel a nação detentora de todas as promessas de Deus e com preeminência na terra, seguido da última rebelião de Satanás e do juízo final. Então virá o estado eterno.
A quase totalidade das religiões surgidas antes do século 19 adotam uma visão “preterista” e interpretam o reino de mil anos de Cristo como meramente simbólico. Entre os sistemas religiosos que não creem no cumprimento literal das profecias e do milênio estão católicos, anglicanos, presbiterianos, luteranos, alguns batistas e metodistas. As religiões pentecostais, que surgiram principalmente durante e após o século 19, adotaram uma visão futurista, porém muito mais historicista, pois vivem alardeando que alguma manchete de jornal já é o cumprimento de alguma profecia bíblica, geralmente para vergonha do testemunho cristão por falharem em suas previsões.
Se você pertence a alguma denominação cristã fundamentalista, como católica, presbiteriana, luterana, metodista, batista, etc., é provável que nem saiba que o corpo doutrinário do sistema sob o qual você está pode trazer afirmações do tipo:
— A “grande tribulação” já teria acontecido com a queda de Israel e não ocorrerá novamente.
— A “grande apostasia” (abandono da verdade) teria ocorrido no primeiro século, portanto o que se deveria esperar seria uma cristianização crescente do mundo.
— Os “últimos dias” estariam relacionados ao período entre a vinda de Jesus e a destruição de Jerusalém, portanto já ocorridos por terem sido os “últimos dias” de Israel.
— O “anticristo” seria apenas uma expressão para descrever a apostasia da igreja antes da queda de Jerusalém, por isso qualquer pessoa ou ensino falso poderia ser chamado de “anticristo”.
— O “arrebatamento”, em que os santos serão tirados da terra para se encontrarem com o Senhor nos ares, não seria um evento diferente da volta de Jesus no último dia.
— A “segunda vinda” coincidiria com o arrebatamento e a ressurreição no final do Milênio simbólico, quando viria o “juízo final”.
— A “besta” de Apocalipse teria sido Nero.
— O “falso profeta” de Apocalipse teria sido a liderança de Israel que rejeitou a Cristo e adorou a besta.
— A “grande meretriz” de Apocalipse teria sido Jerusalém, que sempre caiu na apostasia e perseguiu os profetas, perdendo assim o status de cidade de Deus.
— O “milênio” seria o Reino de Jesus que ele estabeleceu quando veio aqui (o primeiro advento), portanto seria o período atual, quando os cristãos reinam sobre a terra e preparam o mundo para a segunda vinda de Cristo (esta é a crença de uma grande parte dos batistas do sul dos EUA, que inclui o ex-presidente Bush e segue a Teologia do Domínio, a mesma que o catolicismo romano e o anglicanismo britânico praticaram durante séculos, invadindo e dominando nações inteiras).
— A “primeira ressurreição” de Apocalipse 20:5 seria uma ressurreição espiritual ou a justificação e regeneração de todo aquele que está em Cristo.
— Os “mil anos” de Apocalipse 20:2-7 seria apenas um número simbólico para expressar o período atual de domínio da igreja como um longo período de tempo que já mostrou não ser de meros mil anos e pode chegar a milhões de anos.
— A “nova criação” já teria começado e os “novos céus e nova terra” seriam palavras simbólicas para descrever a condição dos salvos.
— Israel teria sido deixado de lado por causa de sua apostasia e nunca mais seria o reino de Deus e nem teria qualquer futuro como nação especial.
— A Igreja teria substituído Israel e seria agora a merecedora de todas as promessas de prosperidade feitas a Israel no Antigo Testamento.
— A “batalha de Armagedom” seria simbólica, representando a derrota daqueles que se opõem a Deus ou obedecem os falsos profetas.
Vejo que o problema do “preterismo” é de base. Se não existir a preocupação de se dividir a Palavra de Deus de forma precisa, acabaremos achando que tudo o que está escrito vale para todos. A exortação dada por Paulo a Timóteo poderia ser traduzida mais literalmente assim: “Procura diligentemente apresentar-se a Deus aprovado, um obreiro que não tem de que se envergonhar, dissecando com precisão a palavra da verdade” (2 Tm 2:15). O sentido da palavra grega que foi traduzida como “manejar” nas versões Almeida é, no grego, “dissecar”, ou seja, separar os órgãos com o objetivo de examinar cada um separadamente. Só assim é possível entender cada evento em seu devido lugar e em sua relação com o todo, e não simplesmente jogar toda a profecia bíblica na vala comum do simbolismo ou da história acabada.
Basta aplicar este princípio ao livro de Apocalipse para vermos que ele está dividido em três grandes seções: “Escreve, pois, as coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas” (Ap 1:19). Não precisa ser nenhum Sherlock para perceber que a referência feita no capítulo 4 do mesmo livro é justamente à terceira grande divisão, mostrando ser ela posterior à terceira, que fala do tempo da igreja, e por isso mesmo ainda futura: (Ap 4:1) “Depois destas coisas, olhei, e eis que estava uma porta aberta no céu; e a primeira voz que, como de trombeta, ouvira falar comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer”.
Além disso, o Apocalipse descreve em sua maior parte o período de grande tribulação, e o evangelho nos diz claramente que trata-se de uma tribulação como a qual nunca existiu e nunca existirá.
(Mt 24:21) “Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais”.
(Mc 13:19) “Porque aqueles dias serão de tamanha tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo, que Deus criou, até agora e nunca jamais haverá”.
Os evangelhos também mostram que após o período da grande tribulação o sol se escurecerá, a lua não brilhará e as estrelas cairão do céu. É evidente que nada disso aconteceu, portanto só podemos deduzir que ainda não veio o período da grande tribulação, porque se tivesse vindo nós certamente poderíamos dizer que nunca na história da humanidade houve coisa igual e também estaríamos vendo o que está descrito em Mateus:
(Mt 24:29) “Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados”.
*
Meu marido pode me impedir de congregar?
A Palavra de Deus deixa claro que a mulher deve se sujeitar ao marido. Se ele a impede de ir congregar, você deve procurar manter sua comunhão com o Senhor dentro do que for possível, e certamente nesta esfera o marido nada pode fazer para impedi-la de orar e ler a Palavra. Agir em insubordinação para ir às reuniões seria errado, pois tal coisa poderia criar uma reação violenta por parte do marido e subverter toda a ordem do lar. A mais importante e poderosa arma de uma esposa é justamente aquilo que acharíamos ser sua maior fraqueza: a sujeição ao marido, quando ele percebe que sua esposa está agindo assim justamente por causa do mesmo Jesus a quem o marido quer impedir sua mulher de seguir.
(Ef 5:22-24) “As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido”.
Alguns pontos importantes desta passagem: primeiro, a mulher deve olhar sua submissão não como algo que está fazendo para com o marido, mas para o Senhor. “Sejam submissas… como ao Senhor”. Segundo, ela faz isto por reconhecer o senhorio de Cristo, ou seja, o poder do Senhor sobre nossa própria vontade na ordem que Deus estabeleceu na criação. “Porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja”. Como nos explica 1 Coríntios 11, esta é uma hierarquia à qual até Cristo está sujeito em seu lugar de submissão ao Pai: “Quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo” (1 Co 11:3).
A ordem que Deus estabeleceu é para a criação, isto é, para as coisas funcionarem aqui neste mundo, porque foi assim que ele fez. No entanto, do ponto de vista espiritual e eterno, isto é, não no mundo, mas em Cristo, homens e mulheres são absolutamente iguais como sacerdotes com livre acesso a Deus e iguais direitos e privilégios eternos.
(1 Co 11:8-12) “Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem… Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor. Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus”.
(Gl 3:28) “[Em Cristo] não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”.
A submissão da mulher ao marido não implica em fazer coisas que sejam contrárias à vontade de Deus. O Senhor Jesus podia ser preso e amarrado por seus algozes, para impedir sua livre circulação ou que fosse ao Templo como costumava fazer, mas nenhum deles poderia obrigá-lo a desobedecer ao Pai. Assim deve ser a submissão da mulher ao marido como ao Senhor. Ela se submete dentro daquilo que não a leva a pecar ou venha a violar sua própria consciência para com o Senhor. “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5:29).
Mas ao assumir uma posição assim ela não deve achar que terá uma vida maravilhosa, porque em sua Palavra, Deus inclui provisão para aqueles que sofrem por amor a Cristo.
(1 Pe 4:14-16) “Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome”.
Voltando à passagem de Efésios 5 vemos qual a abrangência da submissão: “as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido”. Fica claro que não se trata de uma submissão parcial ou condicionada àquilo que a mulher acha ser correto, mas “em tudo”, excetuando-se, obviamente, aquilo que possa levá-la a pecar contra Deus.
Mas a submissão é uma atitude pacífica, e não algo feito com um sentimento de ira e vingança. Nada pode resistir ao amor e é impossível que o mais rude marido não venha a notar que, ao ser tratada com aspereza, sua esposa revida com suavidade. É aí que entra a atitude da esposa. Primeiro, ela deve deixar muito claro para o marido que sua submissão a ele é por causa do mesmo Jesus do qual ele quer distância e tenta obrigar sua esposa a também permanecer distante. Veja as características da submissão na carta de Pedro:
(1 Pe 3:1-6) “Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus. Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas a seu próprio marido, como fazia Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós vos tornastes filhas, praticando o bem e não temendo perturbação alguma”.
A palavra “igualmente” no início do versículo nos obriga a ler o que veio antes, ou seja, o capítulo 2, e ali encontramos a submissão apresentada em seu caráter mais amplo e envolvendo tanto homens quanto mulheres.
(1 Pe 2:11-25) “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação. Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus. Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei. Servos, sede submissos, com todo o temor ao vosso senhor, não somente se for bom e cordato, mas também ao perverso; porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus. Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus. Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente…”.
O antídoto para a perseguição, não é a resistência, mas a submissão notória a todos. É pela submissão que os ignorantes e insensatos são neutralizados, já que a resistência ou força bruta não faria o cristão nem um pouco diferente de seu opressor. A submissão também não está limitada aos bons e cordatos, mas também aos perversos, sempre lembrando ser submissão a Cristo, não a homens.
A história de Abigail em 1 Samuel 25 é um bom exemplo de como uma esposa submissa deve agir diante de um marido violento, como era Nabal. O texto diz que Abigail “era sensata e formosa, porém o homem era duro e maligno” (1 Sm 25:3). Até então Davi havia servido de proteção para os pastores de Nabal, sem que este o soubesse, mas quando Davi envia seus servos a Nabal pedindo algum mantimento, este se recusa veementemente a ajudar aquele que é uma figura de Cristo.
Davi, então, decide atacar Nabal, o que certamente significaria sua destruição e a de sua família, mas Abigail fica sabendo do plano e sai às pressas ao encontro de Davi, levando ainda muito mantimento. Ela faz tudo isso sem o conhecimento de seu marido, demonstrando que mesmo em submissão uma mulher pode agir de modo a agradar ao seu Senhor e interceder pelos familiares. E foi o que fez Abigail, intercedendo por Nabal diante de Davi e livrando-o de ser morto.
Depois de ter a garantia de Davi de que não haveria o ataque, Abigail voltou para casa e contou ao seu marido o que havia feito, o que o deixou em estado de choque. Agora ele estava ciente de seu terrível pecado e do trabalho de intercessão que sua submissa esposa havia feito livrando toda a família. Dez dias mais tarde o Senhor tiraria a vida de Nabal, tendo dado antes a ele a chance de ficar ciente de todo o mal que havia praticado.
A esposa sábia e submissa saberá interceder diante do Senhor pelo marido violento, deixando muito claro que faz aquilo por causa do mesmo Senhor a quem ele rejeita e colocando sobre o marido a responsabilidade das consequências de toda perseguição e agressão que fizer contra sua esposa. Ele precisa estar ciente de que não está agredindo a ela, mas ao próprio Senhor. Em muitas ocasiões Jesus deixou claro que tudo o que é feito para os que lhe pertencem, é o mesmo que fazer ao próprio Senhor.
(Mt 10:40) “Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou”.
(Mt 18:5) “E qualquer que receber em meu nome um menino, tal como este, a mim me recebe”.
(Mt 25:40-45) “E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes… Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim”.
(At 22:7-8) “E caí por terra, e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E eu respondi: Quem és, Senhor? E disseme: Eu sou Jesus Nazareno, a quem tu persegues”. [A rigor Saulo perseguia os cristãos, mas era o mesmo que perseguir o próprio Cristo].
Dependendo do proceder da esposa submissa para com seu marido, a situação com o tempo poderá se reverter. Mas é importante lembrar que no estado de confusão em que a cristandade hoje se encontra há situações em que eu daria total apoio a um marido incrédulo que não permitisse que sua esposa fosse à “igreja” por querer impedi-la de ser vítima de pregadores malandros. Infelizmente muitas mulheres cristãs hoje são menos sábias que seus maridos incrédulos e estão cegas pela sedução dos pregadores da prosperidade.
Não são poucos os casos de homens assim que acabam enganando suas seguidoras e espoliando seus bens. Uma vez um motorista de táxi, cuja esposa é crente, me contou que chegou em casa e flagrou o “pastor” da igreja de sua esposa saindo com a TV que ela tinha doado para a “igreja”. Foi só ameaçando ligar para a polícia que o taxista conseguiu sua TV de volta, mas ele me contou que antes disso, muitas coisas de valor pertencentes ao casal já tinham sido entregues ao tal “pastor”.
(2 Tm 3:6-9) “Pois entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé; eles, todavia, não irão avante; porque a sua insensatez será a todos evidente, como também aconteceu com a daqueles”.
Portanto, antes de criticar seu marido incrédulo, certifique-se de ter a certeza de você mesma não estar sendo vítima de lobos famintos. Talvez seu marido esteja sabiamente protegendo-a de ser arrebatada por um lobo, e não impedindo-a de seguir a Cristo.
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A Bíblia tem detalhes insignificantes?
Um caso clássico que eu costumava citar em minhas aulas era o da importadora que teve uma carga de “maçãs” retida na alfândega por discrepância na documentação. O funcionário da alfândega que reteve a carga alegava que a importação devia ter sido de “macas”, não de “maçãs”.
Acostumado a documentos preenchidos com máquina de escrever, era a primeira vez que ele via um preenchido por computador e impresso nas impressoras de então, que ainda não eram acentuadas. A falta do cedilha e do til era suficiente para impedir que uma carga de frutas entrasse no país como se fossem equipamentos hospitalares. Um detalhe nem um pouco insignificante.
E a Bíblia, a Palavra de Deus, será que ela traz detalhes insignificantes com os quais não precisamos nos preocupar? Não, tudo nela tem um significado; tudo é importante e tem uma razão de ser. Como eu sei? Porque Jesus falou do “jota” e do “til”.
(Mt 5:18) “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido”.
No original “jota” é “yod”, a menor letra do alfabeto hebraico. O “til” refere-se a uma pequena marca usada para distinguir uma letra de outra, como usamos o “til” em nossa língua, aquela “minhoquinha” que nos faz nasalar as vogais transformando “a” em “ã”. A referência feita por Jesus poderia também ser explicada em nosso alfabeto pela pequena perninha que diferencia um “E” de um “F”, ou seja, um segmento minúsculo da letra, mas que muda tudo.
A Bíblia foi inspirada por Deus no mais estrito sentido do verbo “inspirar”, portanto tudo nela é importante. Pode-se dizer que foi “sussurrada” ou “ditada”, palavra a palavra. Paulo explica assim:
(1 Co 2:13) “Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas [palavras] ensinadas pelo Espírito”.
(Is 28:9-11) “A quem, pois, se ensinaria o conhecimento? E a quem se daria a entender o que se ouviu? Acaso, aos desmamados e aos que foram afastados dos seios maternos? Porque é preceito sobre preceito, preceito e mais preceito; regra sobre regra, regra e mais regra; um pouco aqui, um pouco ali. Pelo que por lábios gaguejantes e por língua estranha falará o Senhor a este povo”.
Talvez você me pergunte se as traduções não comprometem essa literalidade da inspiração. Certamente comprometem, daí a importância de se buscar boas traduções, as mais literais possíveis. Mas Deus bem sabia que haveria diferenças linguísticas (a própria Bíblia foi originalmente escrita em pelo menos três diferentes idiomas), como também sabia que cada escritor usado por ele iria imprimir seu próprio estilo e personalidade ao texto, pois Deus usou seres humanos como seus instrumentos e numa orquestra o violino soa diferente do violoncelo, apesar de estarem tocando a mesma sinfonia.
Portanto, no frigir dos ovos e a despeito das línguas, traduções e estilos, é Deus quem está por detrás da sua Palavra e ela não só tem poder, ela é o próprio poder capaz de causar em nós o impacto pretendido por seu Autor.
(Mt 22:29) “Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus”.
(Rm 1:16) “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”.
(Is 55:11) “Assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei”.
(Sl 33:9) “Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir”.
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Devemos nos preocupar com o que as escolas ensinam?
Sim, devemos nos preocupar com o que andam ensinando aos nossos filhos nas escolas, mas nem sempre somos capazes de interferir nisso. Nos Estados Unidos é cada vez maior o número de pais cristãos que tiram seus filhos da escola para praticarem “homeschooling” que é o ensino em casa. Naquele país, desde 1999 o homeschooling cresceu 75% e hoje 4% das crianças lá são educadas em casa.
Mas lá existe toda uma estrutura de acompanhamento, material didático e também uma cultura de ensino em casa que não temos no Brasil. Além disso, a prática não é permitida no Brasil, onde a educação é uma atribuição do estado e toda criança deve estar regularmente matriculada em uma escola. Alguns pais tentam praticar o homeschooling no Brasil e acabam num emaranhado de ações legais que podem comprometer outra faceta do comportamento cristão: o da obediência às leis e autoridades do país.
Recebi de alguém o link para um vídeo de uma “pastora” pregando em uma igreja contra supostas iniciativas do governo relacionadas à educação sexual nas escolas. O vídeo virou um “hit” avidamente compartilhado por “evangélicos” sem noção e fáceis de serem manipulados. Não costumo assistir esses vídeos, mas foi suficiente ver nos primeiros dez segundos o que viria depois: as frases que ela usou na abertura eram técnicas de manipulação usadas na comunicação, e aí meu alarme tocou. Busquei pelo nome da dita “pastora” e descobri que é assessora parlamentar, portanto sua preleção teria interesse e viés político.
Não se iluda, nos dias de Jesus na terra não eram os homossexuais, prostitutas e políticos corruptos os alvos dos discursos mais inflamados do Senhor. Eram os líderes religiosos do judaísmo. No início da Igreja, Nero podia ser um tirano, mas não conseguiu muita coisa em seu ataque físico aos cristãos. O maior dano seria causado por aqueles dentro do rebanho, lobos vestidos de ovelhas, como Paulo advertiu em Atos 20. Não demoraria para eles conseguirem o que queriam: estar onde estava “o trono de Satanás” (Ap 2:13), como donos do mundo. E assim tem sido nos últimos dois mil anos.
A expressão em Lucas 11 mostra que os líderes religiosos dos tempos de Jesus eram astutos o suficiente para se camuflarem como sepulcros sobre os quais as pessoas caminham sem perceber a podridão e morte que estão ocultas ali.
(Lc 11:43-44) “Ai de vós, fariseus! Porque gostais da primeira cadeira nas sinagogas e das saudações nas praças. Ai de vós que sois como as sepulturas invisíveis, sobre as quais os homens passam sem o saber! “.
Duas verdades inexoráveis que muitos cristãos estão deixando passar: o cristão não é do mundo e o mundo não é do cristão. Portanto o que os governos fazem ou deixam de fazer tem tanta importância para o cristão hoje quanto o que Nero fazia ou deixava de fazer há dois mil anos. Não vemos no livro de Atos cristãos fazendo passeatas em Roma protestando contra aquele tirano. Eles não eram do mundo e o mundo não era deles.
(Jo 17:15-16) “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo como eu do mundo não sou”.
(Gl 6:14) “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”.
Meu problema com o referido vídeo não está em seu tema ou na iniciativa de cristãos que queiram buscar meios de policiar ou melhorar a educação que seus filhos recebem nas escolas. Minha crítica é quanto ao uso de subterfúgios e manipulações para atingir tal fim, o que não é uma forma cristã de agir. Quanto à qualidade do ensino ou às aberrações que estão introduzindo no ensino de crianças, especialmente na área sexual, o que poderíamos esperar das escolas? Elas são do mundo, não são? Um irmão costuma dizer que ao lado de cada governante do mundo existe um demônio pronto para influenciá-lo a seguir a vontade do príncipe deste mundo, Satanás. Para um mundo que expulsou o Salvador isso não vai mudar e nem melhorar, mas só piorar. A esperança do cristão não está em um mundo melhor, mas em sair do mundo para estar com o Senhor e devemos preparar nossos filhos neste sentido, como os israelitas, que não quiseram deixar seus filhos no Egito quando partiram.
Os pais cristãos devem preparar seus filhos em casa, e não esperar que aprendam os caminhos do Senhor nas escolas. A formação do caráter se dá pelo ensino e exemplo dos pais, não do Estado. Moisés é um exemplo de alguém que foi educado segundo a sabedoria deste mundo, mas mesmo assim foi preservado por Deus. É isto que devemos buscar para nossos filhos: nós os entregamos inevitavelmente às águas da morte do Nilo, porém em um cesto devidamente impermeabilizado para essas mesmas águas não penetrarem. E Deus irá fielmente cuidar deles naquilo que não estiver ao nosso alcance. Não nos cabe querer impor um ensino de valores cristãos em um mundo incrédulo e inimigo de Deus.
Não tenho qualquer problema com a postura política ou ideológica de quem quer que seja, e sei que Deus usa muitos cristãos em diferentes postos da sociedade. Mas eu pessoalmente não considero apropriado a um cristão intervir em governos só por vermos exemplos disto em várias passagens do Antigo Testamento, como a de José no Egito. Um grande engano é quando cristãos tentam agir “biblicamente” sem entender as diferentes dispensações. José, no Egito, estava em um contexto totalmente diferente daquele do cristão hoje. O povo de Deus no Antigo Testamento era um povo terreno (Israel) voltado a conquistas terrenas, bênçãos terrenas e prosperidade terrena. Não havia nada de errado em um israelita pegar em armas e lutar por seus direitos na terra que Deus lhe havia reservado.
Para o cristão é diferente. Não temos aqui uma cidade, nossa cidadania é celestial. Nem mesmo João Batista, que vivia interferindo nas relações sexuais ilícitas do governante de sua época é modelo para o cristão.
Ele pertencia a outra dispensação e sua atuação estava correta naquele contexto. O modelo para o cristão começa em Atos 2 e passa principalmente pelas epístolas. Não é um modelo para um povo terreno, mas celestial. Mas isto obviamente vai contra o pensamento da grande massa da cristandade, católica e protestante, que acredita no domínio do mundo para Deus.
Fica claro que a referida “pastora” do vídeo está agindo de forma contrária às escrituras ao pregar numa igreja. Além disso ela começa dizendo que “Deus tem um propósito muito grande para este estado. Há promessas de Deus para este estado… Deus tem promessas especiais para este estado e esta cidade… Este encontro nosso já estava marcado desde a eternidade… “Esta é uma técnica primária de manipulação, muito usada em igrejas evangélicas. Quem disse que Deus tem um propósito para qualquer estado brasileiro? Como ela obteve tal informação? Esta é a conhecida “profetada” que imediatamente inibe os ouvintes de fazerem um julgamento do que será dito a seguir. Se tal pessoa tem uma conexão de banda larga com Deus ao ponto de ter tais informações, quem sou eu para julgar o que vem a seguir? (Trabalho com comunicação e sei detectar manipulação na oratória).
Encontrei um site onde uma professora da Universidade Metodista analisou o vídeo e revelou as falácias na apresentação e distorção dos fatos. Independente de concordar ou não com as conclusões da professora que analisou a apresentação, é inegável que os fatos e fontes foram distorcidos para se adequarem ao objetivo da “pastora”.
Portanto, a crítica não é contra o tema apresentado ou a preocupação crescente com as barbaridades que estão introduzindo no ensino, mas contra a manipulação de informações para se alcançar um fim, que no fundo é a promoção de um posicionamento político. Que as escolas estão ensinando nossas crianças uma porção de bobagens é fato, mas isto não deve ser justificativa para distorcermos informações ou manipularmos as pessoas para aceitarem nossa opinião.
Eu nem perderia meu tempo em comentar se o vídeo fosse uma palestra de algum educador ou político incrédulo ou até ateu falando sobre o problema educacional, mas a questão é que ali está alguém dizendo-se representante de Deus, trazendo “revelações divinas” e querendo “santificar”
suas opiniões com tal postura. Neste caso existe espaço para qualquer cristão julgar este modo de proceder, por mais louvável que seja a questão levantada. O tema pode parecer válido, as a maneira de abordá-lo não é.
“Porque nada podemos contra a verdade, senão pela verdade” (2
Co 13:8).
“Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne.
Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo.” (2 Co 10:3-5).
Depois de ler o que comentei sobre o vídeo no Facebook alguém me escreveu dizendo que Deus poderá cobrar de mim por refutar o que diz a tal “pastora”. Tal ameaça é apenas uma variante da velha conversa ouvida nas religiões, tipo “Não toqueis no ungido
do Senhor”. A tática do clero (que biblicamente não existe nesta dispensação) sempre foi de aterrorizar os leigos com ameaças de fogo e enxofre para os que contestarem sua autoridade. Minha crítica ao vídeo não é isolada.
Há outros sites e blogs de cristãos que se sentiram enojados com a forma burlesca de envolver o nome de Deus em coisas dos homens e manifestações com fins políticos.
Enquanto as pessoas continuarem a não julgar o que dizem esses que se arvoram líderes cristãos, elas continuarão sendo manipuladas. A Palavra de Deus é clara no sentido de que devemos julgar tudo o que ouvimos referenciando as coisas de Deus. O versículo que você citou, “Examinai tudo. Retende o bem” pode dar a impressão de ser correto qualquer cristão dizer o que lhe vem à mente e da forma como bem entender, mas a passagem tem uma continuação: “Abstende-vos de toda a aparência do mal”.
Não devo fazer vista grossa para o mal sob o pretexto de reter o bem, e não existe mal pior do que o mal religioso.
Eu já disse isto quando apontei que nos evangelhos o Senhor não era tão rigoroso contra prostitutas quanto contra líderes religiosos. As prostitutas ele tratava com amor e consideração (exceto suas práticas pecaminosas, obviamente), e gastava tempo conversando com elas. Mas para os vendilhões do templo e os fariseus ele tinha um azorrague de cordas e de palavras e não tinha papas na língua ao chamá-los de “Raça de víboras”.
Leia o Antigo Testamento e verá que a verdadeira prostituição continuamente mencionada por Deus era a infidelidade de seu povo e dos pastores que apascentavam a si mesmos.
Depois de toda esta discussão sobre “galhos”, “folhas”, “flores” e “frutos” me ocorre que deixei passar justamente a “raiz” do problema, que, se fosse levada em conta, nem sequer teríamos um vídeo para ser discutido aqui. O desprezo que a cristandade tem hoje pela Palavra de Deus, vivendo numa condição parecida com a do livro de Juízes quando “cada um fazia o que achava reto aos seus próprios olhos” (Jz 21:25), é a causa de toda essa confusão. Portanto deixo aqui para meditação esta passagem que vale sim para os nossos dias (ou teremos de descartar também outras passagens que falam de erros morais da mesma epístola):
“Como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja. Porventura, a palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio ela exclusivamente para vós outros? Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo”
(1 Co 14:33-37).
A pergunta é: reconhecemos como mandamento do Senhor o que está escrito nesta passagem? A “pastora” que insiste em pregar nas igrejas reconhece isto como mandamento do Senhor?
Se você achar que esta passagem é de aplicação exclusiva a Corinto ou aos costumes da época de Paulo precisará fazer o mesmo com muitas outras de suas cartas. Tudo o que está nas epístolas vale para a igreja hoje, são mandamentos do Senhor (não de Paulo). Não sei que critério é este de achar que esta ordem em particular possa valer para aquela igreja e todas as outras (por exemplo, a ceia do Senhor, a ordem nas reuniões, os dons, etc.) sejam tratadas como universais.
Usando o mesmo critério poderíamos dizer que o que Paulo escreve contra relações homossexuais em Romanos só valeria para Roma e o que escreve contra sexo extraconjugal ou jugo desigual em Coríntios só valeria para Corinto. Usando o critério dos “costumes locais” podemos descartar qualquer passagem das epístolas que não nos satisfaça, pois os costumes hoje aceitos na sociedade nos guiariam neste sentido.
Quando Paulo menciona “mas estejam submissas como também a lei o determina”, ele não está falando particularmente dos dez mandamentos, mas de todo o corpo de doutrina do Pentateuco, que o Senhor nos evangelhos chama de “a lei” em contraste com “os profetas”. Esta lei da submissão foi a primeira dada por Deus à mulher no Éden em decorrência da queda.
(Gn 3:16) “E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará”.
É a isto que Paulo se refere ao escrever a Timóteo com a mesma conotação da passagem de Coríntios:
(1 Tm 2:11-15) “A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanece em fé, e amor, e santificação, com bom senso”.
Seu argumento de que uma mulher lavou os pés de Jesus na tentativa de justificar que as mulheres podem também agir em qualquer situação não procede porque existe uma diferença entre a regra e a exceção. Sim, mulheres lavaram os pés do Senhor, mulheres foram usadas para levar mensagens dele aos discípulos, mulheres fizeram um milhão de coisas, porém sempre dentro da esfera que lhes estava apropriada. Mas no caso específico das reuniões da igreja o mandamento é que permaneçam em silêncio, e se a mulher desconsiderar isto não estará agindo em obediência à Palavra que estabeleceu esta condição particular. Não somos mais sábios do que Deus, portanto devemos acatar a sua Palavra e não discutir com Deus ou tentar adaptá-lo às nossas ideias e costumes.
(1 Co 14:37) “Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo”.
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A lei vigorou até João Batista?
Sim, o próprio Jesus afirma que a dispensação da Lei, que começou com Moisés, terminava com João Batista e uma nova dispensação era agora inaugurada. Portanto não há o que discutir neste sentido. João Batista foi o arauto do Rei prometido que chegava, mas ele mesmo não seria contado entre os que participariam deste reino. Na verdade o menor no reino de Deus seria considerado maior do que ele, não por causa de obediência ou outra virtude, mas pelo caráter superior da dispensação que estava sendo inaugurada.
(Lc 16:16-17) “A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele. E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei”.
(Mt 11:11-13) “Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele.
E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele. Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João”.
A lei prometia bênçãos terrenas condicionadas à obediência e o que os fariseus queriam eram as bênçãos sem obediência, pois amavam as riquezas e não queriam se esforçar para obtê-las.
(Dt 11:13-15) “E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar ao Senhor vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma, Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhais o vosso grão, e o vosso mosto e o vosso azeite. E darei erva no teu campo aos teus animais, e comerás, e fartar-te-ás”.
(Lc 16:10-15) “Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?
Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. E os fariseus, que eram avarentos, ouviam todas estas coisas, e zombavam dele. E disselhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações, porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação”.
Jesus mostra que a dispensação estava mudando e que João Batista era o último dos profetas que viveram sob a lei. O reino de Deus estava agora sendo pregado e quem quisesse entrar nele precisava se esforçar pois a oposição dos escribas e fariseus seria grande. No reino, a promessa não é de riqueza momentânea, mas a bênção é prometida aos pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus. Assim fica mais fácil entender quando Jesus conta a história do rico e de Lázaro. Pelo raciocínio da Lei, que abençoava com prosperidade material o obediente, e trazia pobreza ao desobediente, a condenação do rico no hades e a recepção de Lázaro no “seio de Abraão” não fazia sentido. Na mente do judeu devia ser o contrário. O rico só podia ter enriquecido por ser obediente, e se Lázaro era pobre isto era por não ter sido fiel.
Os fariseus se gloriavam na lei, porém a lei agora saía de cena para dar lugar à graça de Deus e eles ficavam sem ter de que se gloriar. A Lei estipulava aquilo que era necessário para o homem viver bem na terra, e premiava sua obediência, enquanto os profetas previam a vinda do reino. O reino havia chegado, não ainda em forma visível, mas já estava aqui em sua forma espiritual e os homens se esforçavam (ou faziam violência) para entrar nele, enquanto os fariseus, com sua cegueira espiritual, ficavam de fora. Mas mesmo que a Lei deixasse de vigorar, nenhum jota nem til dela deixariam se se cumprir. Ela permanece, mas seu lugar não é o mesmo de antes. A Lei é santa e boa, portanto seus princípios morais permanecem.
*
Existe diferença entre “lei” e “a lei”?
Sim, o texto bíblico mostra
existir uma diferença entre “a lei”, dada a Moisés, e a palavra “lei”, sem o artigo. Eu não poderia explicar isto tão bem quanto já fez F. B. Hole em um texto que vou traduzir abaixo. O texto é mais amplo e fala do sermão da montanha, mas acredito que isto também será de ajuda:
Gostaria de
apontar que quando a palavra “lei” ocorre na Versão Autorizada (King James) do Novo Testamento devemos traçar uma distinção que possui dois aspectos.
Primeiro, precisamos distinguir entre “a lei” e “lei” sem o artigo definido, do modo como é encontrada nos originais gregos. Se lermos a “New Translation” de J. N. Darby poderemos perceber facilmente isto, mesmo sem termos condições de entender o texto grego.
“A lei” é
específica, e refere-se à lei de Moisés, enquanto “lei” é característica e coloca diante de nós um determinado princípio ou elemento da lei de Moisés, ou seja, “a lei” fala de Deus formulando e codificando suas justas demandas exigidas do homem, e “lei” fala de Deus fundamentando seu modo de agir para com o homem com base em como o homem corresponde àquilo que lhe foi revelado por Deus.
Além disso,
precisamos também distinguir estes dois significados do uso da palavra em passagens como Romanos 8:2: “Porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte”. Aqui ela traz o mesmo sentido de quando falamos das leis do universo, ou mais especificamente da lei da gravidade, e indica a existência de algum tipo de força controladora que opera de modo uniforme sobre todos os que estão sob sua influência.
Tendo estas
coisas em mente, vamos prosseguir fazendo algumas distinções de natureza prática. Adão foi colocado em responsabilidade sob “lei”, apesar de “a lei” não ter sido instituída senão 2.500 anos mais tarde. Neste caso havia apenas uma proibição, mas sua atitude em relação àquela proibição regulava a atitude de Deus para com ele. Enquanto ele guardasse aquela lei, ele viveria; quando a transgredisse, morreria.
Como
consequência de sua queda, Adão e sua posteridade ficaram sujeitos à terrível tirania da “lei do pecado e da morte”, da qual fala Romanos 8:2. Todavia durante muitos séculos nenhuma lei adicional foi dada por Deus e portanto, aquilo que caracterizava a humanidade não era a transgressão da lei, mas a falta dela. Esta foi a grande característica da era antediluviana.
Tendo Israel
sido chamado para fora do Egito, a lei foi dada a eles por intermédio de Moisés. A partir daí existia um povo que possuía a lei e, consequentemente, estava “sob a lei”, no que dizia respeito ao seu relacionamento com Deus.
Todavia a lei de Moisés só provou o quanto eles estavam dominados pela “lei do pecado e da morte”.
Enquanto isso,
até a vinda de Cristo, os gentios permaneciam abertamente dominados pela lei do pecado e da morte, apesar de bem independentes da lei quanto ao seu relacionamento com Deus.
Agora que
Cristo veio, e tendo a redenção sido consumada e o Espírito dado, os crentes não estão sob “a lei”, e nem mesmo “debaixo da lei”, no que diz respeito ao seu relacionamento com Deus. Ao invés disso, eles estão “sob a graça” (Rm 6:14) e “a lei do Espírito de vida em Cristo Jesus” os liberta da “lei do pecado e da morte”. Assim eles são mantidos “debaixo da lei de Cristo” ou “legitimamente sujeitos a Cristo” (1 Co 9:21), e capacitados a cumprir todas as justas demandas da lei (Rm 8:5), não no sentido de fazê-lo para obter ou manter uma posição diante de Deus, mas como fruto da graça que já os colocou nesta posição do mais rico favor.
Se estas coisas forem claramente enunciadas não teremos qualquer dificuldade em estabelecer vários pontos que foram levantados no “sermão da montanha” (Mt 5-7).
Seria o sermão
da montanha lei? Esta é uma pergunta feita com frequência. Qual é a resposta?
Evidentemente
não é a lei de Moisés, mas mesmo assim naqueles capítulos temos a voz daquele que deu a lei originalmente trazendo a passagem diante de nossos olhos. Alguém definiu tal situação com estas palavras: “Não [a apresentando] como um novo código, mas como uma nova edição do velho… esclarecendo suas próprias intenções e descartando as perversões criadas pelos homens”. Isto está particularmente assinalado em Mateus 5:17-48. Ali o Senhor se apresenta como aquele que não veio para destruir a lei, mas para cumpri-la, ou seja, apresentar a sua plenitude. Por isso são tão repetidas as palavras, “Vós ouvistes o que foi dito… Eu porém vos digo…”. Veja Mateus 5:20, 22, 26, 28, 32, 34, 39, 44 e 6:2, 5, 16, 25 e 29.
Mas se estes
capítulos de Mateus não são “a lei”, seriam eles “lei”? Em outras palavras, será que o Senhor fundamentou seu ensino ali com base na graça conhecida e recebida de antemão por seus discípulos, a qual já os teria deixado bem fundamentados em seu modo de se relacionarem com Deus, ou será que ele as apresentou como instruções mais espirituais que, se guardadas, seriam elas próprias a base de tal relacionamento? Em suma, estariam elas fundamentadas no princípio do “faze isso, e viverás”, que é lei, ou “vive e faze isso”, que é graça?
Outras
passagens podem nos ajudar aqui. Você deve se lembrar da maravilhosa afirmação feita em João 1:17. “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”. Isto nos prepara para o que encontramos em Mateus 5:7. Uma clara linhagem de graça percorre aqueles capítulos. Pelo ensino do Senhor, no início de seu ministério, Deus aparece aos discípulos em uma nova luz como “vosso Pai que está nos céus”. Fica muito claro que algo assim não traz qualquer indício de lei em sua concepção.
Mesmo assim
precisamos nos lembrar de Gálatas 4:4-5, que nos diz que “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos”. Aqui somos confrontados com o evidente fato de que, apesar de o Senhor Jesus ter vindo ao mundo “cheio de graça”, ele ainda veio “sob a lei”, muito embora seu objetivo em vir fosse o de consumar a libertação dos seus santos da lei e introduzi-los em uma posição na qual pudessem se regozijar na graça trazida por ele.
Permita-me
propor uma pergunta: quando foi que nosso bendito Senhor deixou de estar sob a lei? Ele veio a este mundo sob a lei; será que, por exemplo, ele deixou de estar sob ela quando saiu do anonimato em Nazaré para se lançar no ministério público? Ou quando teria sido? A resposta é que ele deixou de estar sob a lei quando redimiu o seu povo dela, MORRENDO na cruz sob a maldição da lei (Gl 3:13). Portanto o terreno sobre o qual Paulo estava “morto para a lei” era simplesmente este: “Estou crucificado com Cristo” (Gl 2:19-20).
Você deve
também ter em mente a mudança apresentada no grande argumento de Hebreus 9 e 10. Vamos, portanto, considerar particularmente Hebreus 9:11-14 e Hebreus 10:1, 2, 9-17. Nada poderia ser mais claro do que uma tão grande e fundamental bênção de graça no que diz respeito à consciência purificada “obras mortas, para servirdes ao Deus vivo” (Hb 9:14), ou quando já não há “consciência de pecados”, como consequência de terem “sido purificados uma vez por todas” (Hb 10:2 – Almeida Atualizada). Isto só poderia ter sido conhecido e desfrutado DEPOIS da morte e ressurreição de Cristo.
O sermão da
montanha é o registro feito por Mateus dos antigos ensinos do Filho de Deus vindo cheio de graça e verdade, mas ainda assim estando sob a lei. Como a redenção não havia ainda sido consumada, o sangue que purifica a consciência e coloca a alma na liberdade da graça ainda não tinha sido derramado. Não haveria uma total libertação da lei e de suas demandas enquanto Ele não morresse, e até aquele ponto todo o ministério de nosso Senhor tinha sido um ministério progressivo e de transição. Portanto, o sermão da montanha é “lei”, mas nele as nuvens pesadas do monte Sinai vão se dissolvendo e já podemos perceber o brilho do sol da graça aparecendo atrás delas. Com a morte e ressurreição de Jesus as nuvens deram lugar ao sol, que brilhou em todo o seu vigor.
Outra pergunta
que costuma ser feita com frequência é: “A quem o sermão da montanha é dirigido? “. Ou, usando as palavras de outro, “Os mandamentos encontrados no sermão da montanha são a lei que Deus deu aos seus filhos nesta dispensação, ou são a lei para o reino futuro?”.
Adotando a
pergunta em sua segunda forma e dando uma resposta condizente, podemos dizer que não é nem uma coisa, nem outra, pois se fôssemos responder apenas para o modo como ela foi primeiro formulada, só poderíamos dizer que ela foi dirigida aos discípulos (veja Mateus 5:1-2). Mais tarde alguns daqueles discípulos se tornariam apóstolos, e bem mais tarde, quando o Senhor tivesse morrido, ressuscitado e ascendido aos céus, aqueles discípulos se tornariam o núcleo da igreja da qual fala Mateus 16:18, e seriam definitivamente incorporados como tal pelo batismo do Espírito no dia de Pentecostes. Mas na ocasião em que o Senhor dirigiu a eles o sermão da montanha eles não ocupavam a posição da igreja, e nem o Senhor havia anunciado a intenção de edificar sua Igreja. A primeira vez que ele tocaria no assunto seria só no capítulo 16 de Mateus.
É possível
perceber um claro contraste entre Mateus, capítulos 5 ao 7, e João 14 ao 16. Os primeiros nos dão um conjunto do ensino do Senhor aos seus discípulos no início de seu ministério, enquanto os segundos apresentam seus ensinos aos mesmos discípulos no final. O contraste fica evidente. Os primeiros ensinos tratam, em todo o seu teor, daquilo que os discípulos deviam ser para Deus, enquanto os últimos tratam do que a Divindade, Pai, Filho e Espírito, seriam para eles; e a obediência aos mandamentos do Senhor e ao desfrutar de suas Palavras ficam claramente fundamentadas na revelação feita da nova posição dos crentes em relação ao Pai e sua relação com Cristo como ramos que desfrutam da vida e natureza da vinha.
Você deverá, em cuidado e oração, ponderar nestas duas passagens para ter uma devida compreensão do verdadeiro caráter do sermão apresentado no cenáculo e em outros lugares. Isso será de grande ajuda para uma correta compreensão do caráter do sermão da montanha. Não ficará difícil enxergar que “lei” é a característica principal do sermão da montanha quando comparado à graça, que é a principal característica do sermão do cenáculo, sempre tendo em mente que a lei coloca diante de nós o que deveríamos ser para Deus, e a graça o que Deus é para nós.
Para analisar o sermão no cenáculo, leia João 13 e 17. Um dá o prefácio e estabelece as cenas do discurso, e o outro apresenta sua grande conclusão na oração de nosso Senhor que tem um caráter “sumo-sacerdotal”. É nestes dois capítulos que encontramos a perspectiva que o Senhor adotou ao falar. Ele estava a poucas horas da cruz, mas mesmo assim ele falava no espírito do que havia depois dela, tratando-a como algo já consumado (veja João 13:3, 31, 32; João 17:1, 4, 11). É isto o que deve ser considerado em relação à maravilhosa natureza do discurso, e em relação ao fato de que ele falou ali de coisas que não falara no início de seu ministério (veja João 16:4).
Resumindo: O
sermão da montanha foi dirigido aos discípulos no caráter que eles tinham então, de um “remanescente” fiel ou “semente” no meio de Israel. Usando a linguagem na forma de parábola de João 10, eles eram “Suas ovelhas”, que reconheciam o Pastor quando ele entrou pela última vez no aprisco judeu. O
Pastor certamente já tinha a intenção de morrer para o aprisco judeu e assim abrir um caminho de escape para suas ovelhas, mas este grande evento ainda não tinha acontecido.
Devo concluir,
mas antes gostaria de mais uma vez insistir para que você pondere cuidadosamente no final de João 16:4, pois a pergunta que sempre fica em discussões assim é esta: “Será que os evangelhos sinóticos possuem um caráter de transição? “. O evangelho de João é bem distinto, como bem sabemos, e começa com a rejeição de Cristo logo de início (João 1:5, 10, 11); mas nos apresenta esta importante palavra do Senhor com a qual ele imprime um caráter progressivo em seu ministério. A este versículo podemos acrescentar João 14:25 e 26, e João 16:12 e 13, nos quais ele prometeu a seus discípulos um ensino que vai além de tudo o que encontramos nos Evangelhos. Estas promessas se cumpriram por meio do ensino do Espírito nas epístolas, quando os discípulos haviam alcançado a plenitude de sua condição como cristãos.
Que grande
contraste vemos entre “estas coisas” terrenas do ensino do Senhor e “todas as coisas” do ensino do Consolador, então futuras. Cada um dos outros três evangelhos mostram um claro caráter de transição, e a transição do ponto de vista dispensacional é muito clara em Mateus. Em Mateus 12 ele é definitivamente rejeitado pelos líderes, e a blasfêmia deles contra o Espírito Santo é o pecado sem perdão. Ali vemos também o fato de que ele começou a trazer para si mesmo, como o Cristo, o testemunho no meio de Israel. Ele tornou isto mais definido em Mateus 16:20. Ele denunciou a massa incrédula do povo e simbolicamente, no final do capítulo rompeu com todos os antigos vínculos que tinha com eles.
Em Mateus 13
ele começou sua parábola ensinando e indicando a nova maneira pela qual o reino dos céus seria estabelecido durante o período de sua rejeição. O Antigo Testamento já havia falado o suficiente do reino prometido, no sentido de que ele deveria ter o seu centro de direção e autoridade nos céus, mas estes “mistérios do reino dos céus” (vers. 11) que são descortinados nas parábolas são coisas que haviam sido “coisas ocultas desde a fundação do mundo” (vers.
35). É certo que, junto com estas novas revelações com este novo significado conectado ao reino (vers. 11), vinha um novo método no modo de Deus trabalhar, isto é, não mais buscando fruto na vinha existente, mas semeando para produzir fruto (vers. 3-8); e um novo método de ensino, isto é, por meio de parábolas (vers. 10). Por isso o escriba instruído no reino dos céus tira de seu tesouro “coisas novas e velhas” (vers. 52).
Portanto, a
primeira parábola do capítulo determina que a rejeição de Cristo como Messias traz uma mudança de dispensação e a introdução de um período no qual o modo de Deus provar o homem seria Ele próprio produzindo o fruto que Ele desejava. As últimas seis parábolas que falam das similaridades do reino, nos dão inicialmente o que o reino é quando visto exteriormente como um sistema pelos homens (vers. 24-43), e então o que ele é em sua condição interna, a qual só é conhecida pela fé (vers. 44-50). Assim, o reino dos céus é colocado diante de nós de duas maneiras: uma, na qual envolve toda a profissão que é feita de Cristo, e a outra que abarca apenas o que é real e vital em termos de fruto da obra de Deus.
Os últimos
capítulos do evangelho nos dão outras semelhanças do reino dos céus, bem como o primeiro indício da edificação que o Senhor chama de “minha Igreja” em Mateus 16. Havendo terminado o período transicional coberto pelos evangelhos, e tendo sido a Igreja inaugurada em Atos 2, a verdade relacionada a ele acaba sendo totalmente desenvolvida nas epístolas.
Este é um breve estudo destes importantes assuntos, mas pode servir para despertar o interesse e aumentar, entre os leitores, o número daqueles “escribas” que são “instruídos no reino dos céus”. — F.
B. Hole – (1874-1964)
*
Devo participar de manifestações contra o governo?
Entendo que o cristão não deva promover manifestações contra o governo, e nem apoiá-las ou participar delas ou divulgá-las como se fosse algo de bom. E quando falo “cristão”, estou me referindo àquele que foi salvo pela fé em Cristo e que agora é membro do corpo de Cristo, que é a igreja, o conjunto de todos os salvos na atual dispensação da graça. Portanto, a menos que você tenha nascido de novo, não irá entender o que vou dizer, porque “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14).
Mas pode ser que você seja realmente nascido de novo pela fé em Jesus, porém ainda esteja amarrado às tradições católicas ou protestantes, que sempre consideraram o cristão como parte deste mundo. Por isso o protestantismo, que através de homens como Lutero e Calvino resgataram a verdade da justificação pela fé, também seguiu o mesmo caminho de Roma, que era de um estado em que Igreja e poder secular andam de mãos juntas. Por isso, durante séculos, muitos países tiveram uma religião oficial, católica ou protestante, e em alguns era proibido congregar a não ser com autorização da “igreja nacional”, como era a “Igreja Católica”, a “Igreja da Inglaterra”, a “Igreja da Escócia”, a “Igreja Reformada da Suíça”, “Igreja da Suécia”, etc.
Dentro dessas correntes a ideia também é de que o cristão está aqui para conquistar o mundo para Cristo, e não chamar para Cristo as pessoas para fora do mundo. Intervir em política e participar de manifestações podia estar muito adequado aos israelitas, e é o que encontramos no Antigo Testamento e até nos evangelhos, os quais certamente participavam das decisões de sua nação (Israel), interferiam na vida privada de seus governantes, pois eles tinha a responsabilidade de dar exemplo para todos os judeus, e até eram incentivados por Deus a pegarem em armas para defenderem a terra que Deus lhes deu como herança neste mundo e desejarem a morte e o sangue dos inimigos do povo de Deus. Por exemplo, veja os versículos abaixo:
(Sl 33:12) “Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo ao qual escolheu para sua herança”. (Está se referindo a Israel e ao povo israelita, não a qualquer nação como o Brasil)
(Lc 3:19-20) “Sendo, porém, o tetrarca Herodes repreendido por ele por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe, e por todas as maldades que Herodes tinha feito, acrescentou a todas as outras ainda esta, a de encerrar João num cárcere”. (Estava certo para um judeu cobrar de seus governantes uma postura em conformidade com a Lei do Antigo Testamento que fora dada aos judeus, não aos gentios).
(Sl 68:22-23) “Disse o Senhor: Eu os farei voltar de Basã, farei voltar o meu povo das profundezas do mar; Para que o teu pé mergulhe no sangue de teus inimigos, e no mesmo a língua dos teus cães”. (Nenhum cristão concordaria com este sentimento que estava muito adequado ao povo de Israel, mas não é para a Igreja).
Não entender esta distinção entre o povo terreno de Deus (Israel) e o povo celestial (Igreja) levou a todas as barbaridades cometidas pela cristandade nos últimos dois mil anos, tanto católicos quanto protestantes. Isso inclui não só as Cruzadas para “libertar a Terra Santa” e as perseguições promovidas pelo catolicismo romano durante a Inquisição, mas também a ideia que prevaleceu na Inglaterra durante o reinado da Rainha Vitória e dos que a antecederam, e que existe ainda hoje nos Estados Unidos, de promoverem a conquista do mundo para cristianizá-lo e Cristo poder vir depois e estabelecer seu Reino. Homens muito usados por Deus em alguns momentos, como Lutero e Calvino, são também conhecidos por seu apoio à perseguição, tortura e morte daqueles que não se sujeitavam às religiões que criaram.
Depois do 11 de Setembro, George Bush, que é cristão batista, usou 5 vezes a palavra “cruzada” em seus discursos referentes à guerra contra o terrorismo islâmico. É muito provável que ele seja adepto da “Teologia do Domínio”, que prega o domínio do mundo pelos cristãos. A falsa ideia de que a Igreja seja a continuação de Israel e herdeira das promessas feitas a Israel no Antigo Testamento leva a todas essas aberrações e barbáries, e sem este prefácio ficaria difícil você compreender o que entendo ser o modelo bíblico para o cristão.
A Igreja é o povo celestial de Deus, suas promessas são celestiais e por isso mesmo o cristão não tem aqui cidade permanente. Se assim é, por que o cristão se envolveria em manifestações contra o governo do país onde vive? Estaria ele interessado em reformar este mundo que está reservado para o juízo, para fazer dele um melhor lugar? Afinal, mesmo tendo nascido neste mundo, ele deveria se conscientizar de que não é do mundo e que sua cidadania é celestial.
(Fp 3:20) “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”.
(Hb 13:14) “Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir”.
(Jo 15:19) “Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia”.
Por mais corruptas que sejam as autoridades e por mais perniciosas que sejam as leis, Deus está no controle de tudo. Este mundo jaz no maligno e vai continuar assim até Jesus voltar para buscar sua Igreja e depois estabelecer seu reino. Mas será ele quem irá estabelecer seu reino, e não cabe ao cristão hoje querer arrancar o joio do meio do trigo. Portanto até mesmo a malignidade que encontramos nos governantes e nas leis tem a permissão temporária de Deus para prevalecer, pois nada escapa aos seus propósitos. Ele quer inclusive que os próprios governantes malignos se convertam. Não é coincidência que este seu desejo venha logo depois da passagem que fala para orarmos pelas autoridades:
(1 Tm 2:1-4) “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os que estão em eminência… Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade”.
A questão é que Deus usa governos injustos e leis ímpias como forma de castigo dos ímpios e aprendizado dos que pertencem a Deus. Deus permite isso para que a medida de injustiça do povo fique cheia e Deus não seja considerado injusto quando castigar os ímpios. Vemos este princípio em algumas passagens do Antigo Testamento. Mesmo que ali elas estejam sendo aplicadas diretamente a Israel, o princípio ainda é válido pois é a maneira de Deus agir para com as nações.
(Gn 15:16) “E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia”.
(Dt 9:4) “Quando, pois, o Senhor teu Deus os lançar fora de diante de ti, não fales no teu coração, dizendo: Por causa da minha justiça é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir; porque pela impiedade destas nações é que o Senhor as lança fora de diante de ti”.
Até mesmo o ímpio Pilatos teve de ouvir da boca de Jesus que seu cargo de governante só existia porque Deus assim queria e para que os propósitos de Deus se realizassem. É claro que, mesmo assim, Pilatos seria responsabilizado por seus atos iníquos e em sua culpa por entregar Jesus à morte.
(Jo 19:10-11) “Então, Pilatos o advertiu: Não me respondes?
Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar?
Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada”.
Responda rápido: se os cristãos tivessem promovido uma manifestação para derrubar o governo de Pilatos, eles estariam fazendo a vontade de Deus ou lutando contra Deus?
Por isso, apesar de toda a idolatria e impiedade dos povos do Antigo Testamento, você encontra várias vezes Deus usando autoridades pagãs para ajudar seu povo de Israel (Faraó, Nabucodonosor, Ciro, Dario) ou às vezes também como sua “vara” para castigar a infidelidade dos hebreus. Babilônia foi um dos instrumentos usados por Deus para disciplinar seu povo de Israel.
Eles foram levados cativos para Babilônia, e como Deus queria que reagissem a isso? Que levantassem um motim contra o Rei de Babilônia? Que promovessem um quebra-quebra, pegassem em armas? Ou talvez deveriam adotar uma postura de não-resistência como Gandhi pregou, mas fazendo greves e recusando-se a trabalhar para emperrar todo o sistema do inimigo? Uma mente lógica e racional certamente tomaria este caminho, mas aqueles que esperavam em Deus foram surpreendidos com uma carta escrita pelo profeta Jeremias aos cativos em Babilônia. Longe de fomentar uma revolta, a Palavra de Deus para eles dizia:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os do cativeiro, os quais fiz transportar de Jerusalém para Babilônia: Edificai casas e habitai-as; e plantai jardins, e comei o seu fruto. Tomai mulheres e gerai filhos e filhas, e tomai mulheres para vossos filhos, e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; e multiplicai-vos ali, e não vos diminuais. E procurai a paz da cidade, para onde vos fiz transportar em cativeiro, e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz” (Jr 29:4).
Se a carta de Jeremias virou “best-seller” entre os judeus não foi por ter agradado, mas por ter sido vista como uma traição do profeta.
Aos olhos dos judeus ele estava apoiando o inimigo, por isso acabou preso. Mas tudo o que ele previu se cumpriu, porque Deus tinha um tempo certo para cada coisa, e naquele momento, sob a vara do castigo divino, os judeus deviam apenas se conformar e viver em paz na cidade inimiga procurando o seu bem e a sua paz.
Falsos profetas se levantavam dizendo o contrário, e o próprio Jeremias previu isto:
“Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhos, que sonhais; Porque eles vos profetizam falsamente em meu nome; não os enviei, diz o Senhor.
Porque assim diz o Senhor: Certamente que passados setenta anos em Babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar. Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais”
(Jr 29:8-14).
Neste exato momento Deus pode estar usando também as autoridades brasileiras, muitas delas incrédulas, céticas e ateias, para cumprirem os propósitos divinos. Talvez nós, como cristãos, possamos sofrer as consequências de seus atos e decretos, mas não se esqueça de que os cristãos do primeiro século sofreram muito mais nas mãos do governo de Nero e outros imperadores romanos. Mesmo assim nunca ouvimos falar de passeatas e manifestações dos cristãos da época por considerarem injustos os governos. Eles sabiam que eram injustos, pois neste mundo não se pode esperar que as coisas sejam diferentes. Afinal, sobre toda a humanidade, representada pela religião, cultura e poder civil e militar, recai a responsabilidade pela cena do Calvário. Ali Jesus foi pregado sob uma declaração trilíngue, hebraico, grego e latim, representando esses mesmos segmentos da sociedade.
“Pedro foi preso injustamente. Acaso a igreja fez cartazes e saiu em passeata em frente da prisão protestando? Não, eles se reuniram para orar” (At 12:1-19).
Comece hoje a orar pelos governantes e lembre-se de pedir a Deus que perdoe e converta os que estão errados. Aí sim você estará fazendo a obra de Deus. O
cristão deve ser sal e luz, duas coisas que não exercem influência pelo que fazem, mas pelo que são. O sal conserva os alimentos, e o mundo mal sabe o quanto de paciência Deus está tendo só porque os cristãos ainda estão no mundo. Quando forem tirados daqui, o anticristo se manifestará e aí a coisa vai pegar. A luz repele as trevas e revela o pecado, e o cristão não precisa abrir a boca para ser luz. Você já passou por experiências do tipo chegar em uma roda de amigos e a pessoa que estava contando algo imoral parar de falar por saber que você é cristão? É disto que estou falando.
Mas se você continuar fazendo passeatas, promovendo a desobediência civil e incitando o ódio das pessoas contra os poderes estabelecidos, estará fazendo a obra do diabo. O que Deus ordena em sua Palavra para o cristão é muito claro e está relacionado a todas as esferas do governo envolvendo autoridade, leis, magistrados, polícia, exército, impostos, tributos, taxas, etc. A passagem é clara demais ao dizer que quem resiste à autoridade está, na verdade, resistindo ao próprio Deus!
(Rm 13:1) “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas [e você pensou que foi pelo seu voto, né?]. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos, condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus [muitos líderes nem imaginam isto] para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra. A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei”.
Alguns acham que isto só se aplica a governos bons e justos e a leis baseadas nos ensinos cristãos, mas é um engano pensar assim. Paulo escreveu isto sob o domínio de Roma e de seus imperadores, e não havia nada de cristão na maneira como eles governavam ou de como usavam o dinheiro tirado do povo.
O que fazer? Não seria então um caminho trabalharmos em prol da eleição de políticos e governantes realmente convertidos a Cristo para termos uma nação genuinamente cristã? Constantino fez isso, cristianizou o Império, e veja no que deu. A verdade é que não é pelas eleições ou pelo voto do povo que os governantes são instituídos. O processo todo é controlado, não de baixo para cima, mas de cima para baixo, como o próprio Jesus explicou a Pilatos.
“O Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até ao mais humilde dos homens constitui sobre ele… Ele remove os reis e estabelece os reis” (Dn 4:17; 2:21).
Mesmo aqueles que chegam ao poder por revoluções, golpes de estado ou pela astúcia de sua propaganda, como fez Hitler, não imaginam que, ainda que os próprios tiranos fossem instrumentos de Satanás, por detrás dos bastidores Deus permitia tudo isso. Se o candidato em quem você votou perdeu a eleição, e se você tem consciência de que é Deus quem “remove os reis e estabelece os reis”, eu pergunto: você votou contra ou a favor dos desígnios de Deus? O fariseu Gamaliel era muito mais sábio do que muitos cristãos de hoje, pois entendeu que não há como remar contra os desígnios de Deus. Quando os líderes judeus queriam matar os discípulos que foram presos por pregar o evangelho, ele fez um aparte com o seguinte argumento: E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, Mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus. (At 5:38-39).
O apóstolo Pedro mostra que falar mal das autoridades é uma característica de carnalidade. Depois de comentar sobre os habitantes de Sodoma, ele acrescenta: “…seguindo a carne, andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores” (3 Pe 2:10). Certamente você, como cristão, não quer andar nas mesmas práticas dos habitantes de Sodoma, não é mesmo?
Ao escrever a Tito, o apóstolo Paulo mostra que esse tipo de proceder, difamando as autoridades e resistindo a elas, estava bem de acordo com o velho homem, com nossa natureza carnal antes de termos sido salvos: “Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens. Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros” (Tt 3:1-3).
Como se já não bastassem todas estas exortações dadas por Deus em sua Palavra, Pedro parece adivinhar que muitos ainda iriam querer aplicar o pensamento lógico e carnal nestas questões, por isso o Espírito, por intermédio do apóstolo, acrescenta:
“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus.
Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei”. (1 Pe 2:13-17).
O segredo está aí: o cristão não se sujeita ao governo pelo que o governo é, mas por causa daquele que está acima do governo, o Senhor. A sujeição é por causa do Senhor; a prática do bem como antídoto aos males praticados pelo governo é “a vontade de Deus”, e sob esta aparente imagem de submissão servil está uma liberdade que apenas os verdadeiros servos de Deus podem experimentar. A sujeição do cristão é a mesma que muitos mártires no passado experimentaram, porque sabiam que tudo o que lhes sobrevinha tinha primeiro passado pelo céu para obter de Deus o carimbo de liberação, assim como ocorreu com Jó.
Você acha injusto viver assim? Será que já ouviu falar de Jesus e de como ele foi tratado, sabendo que estava em suas mãos o poder para invocar os exércitos celestiais em seu socorro e promover uma manifestação nunca vista em nenhum levante humano? É a isto que Pedro se refere, e não a sofrer por causa da oposição às autoridades humanas a dor de cassetetes, spray de pimenta ou tiros de balas de borracha:
“Porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus. Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus. Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1 Pe 2:19-23).
Mas e quando as tarifas dos ônibus sobem demais, os impostos tiram quase todo o nosso ganho e vemos o uso de recursos públicos para coisas que não convém? Não devemos boicotar isso e nos posicionarmos contra as práticas injustas do governo? Vamos deixar que o Senhor Jesus responda, em um episódio quando o assunto eram os impostos, e não só isso, mas impostos que estavam sendo cobrados por uma nação inimiga que havia invadido a terra de Israel e estava oprimindo e espoliando seu povo:
“E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, nós sabemos que falas e ensinas bem e retamente, e que não consideras a aparência da pessoa, mas ensinas com verdade o caminho de Deus. É-nos lícito dar tributo a César ou não?
E, entendendo ele a sua astúcia, disselhes: Por que me tentais? Mostrai-me uma moeda. De quem tem a imagem e a inscrição? E, respondendo eles, disseram: De César. Disselhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. E não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e, maravilhados da sua resposta, calaram-se” (Lc 20:21).
Aquela moeda deve ter contribuído no orçamento de Roma para mais tarde ter condições de construir o Coliseu onde cristãos seriam trucidados pelos leões. Ou você acha que não? Se aquele que é Deus e Homem perfeito agiu assim, por que você se considera mais sábio para agir diferente?
Se nos dedicássemos mais ao modelo de “manifestação” que foi dado aos cristãos, veríamos mais resultados. Ainda não soube de uma passeata capaz de fazer a terra tremer, mas também não acho que seria prático fazer passeatas de joelhos no chão.
(At 4:31) “Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos”.
(At 16:25-26) “Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam... De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos”.
Cristãos que lutam contra autoridades de carne e ossos estão mirando no lugar errado. Os governantes contra os quais os cristãos são convocados a lutar são os poderes e dominadores do mundo tenebroso, as forças espirituais do mal, e elas não ficam em Brasília, mas “nas regiões celestes”. Mas para entrar numa luta assim é preciso estar vestido de uma armadura completa.
(Ef 6:11-12) “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes… com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos”.
*
Jesus era pecador?
Não, Jesus não tinha pecado, nunca pecou e seria incapaz de pecar. Embora tendo vindo em carne, ele nunca deixou de ser Deus. Alguns alegam que ele não seria perfeito homem se não tivesse a possibilidade de pecar, mas quando alegam isso demonstram não entender o que é ser perfeito homem, porque os únicos homens que conhecem são os caídos.
A razão de Deus precisar chegar ao extremo de enviar o seu próprio Filho para morrer como substituto do pecador foi justamente por não existir um homem apto, sem mancha de pecado, capaz de tomar tal lugar. Qualquer pecador precisaria, ele próprio, de um substituto para si, e por isso os próprios sacerdotes do Antigo Testamento, quando ofereciam sacrifícios pelo povo, era para si mesmos que também sacrificavam. Porém Cristo era imaculado, isto é, sem mácula ou mancha.
(Hb 9:14) “Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? “.
Uma das razões do nascimento virginal foi mostrar que estava faltando um elo na cadeia entre Jesus e Adão. Usando respeitosamente de uma figura em linguagem moderna, é como se um exame de DNA para determinar a paternidade revelasse que seu DNA coincidia com o de Deus, e não de qualquer homem na face da terra.
(Lc 1:34-35) “E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço homem algum? E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus”.
Se Jesus fosse um homem como qualquer outro, ainda que nunca tivesse cometido PECADOS (os frutos) ele teria em si o PECADO (a raiz), o que o impediria de ser “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, uma referência aos milhões de cordeiros sacrificados no Antigo Testamento, os quais deviam ser sem mancha e sem defeito, figura de uma natureza santa e perfeita.
Se Jesus tivesse em si o pecado teríamos uma situação bizarra, em que o tipo (o cordeiro do sacrifício mosaico) seria mais qualificado do que o antítipo (o Cordeiro de Deus), fazendo com que a realidade fosse menos real que sua sombra.
Se tiver dificuldade em entender a diferença entre os frutos (pecados) e a raiz (pecado) sugiro a leitura de Romanos para perceber que até o capítulo 5:11 o assunto são os pecados (as consequências), e depois o assunto é o pecado (a razão).
Medite nesta questão: Por que na cruz Deus o faria pecado por nós se ele próprio já fosse um pecador trazendo em si o pecado?
(Rm 8:3) “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, “.
(2 Co 5:21) “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”.
Algumas evidências de que Jesus era, por natureza, sem pecado e incapaz de pecar:
— Por natureza: “Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado,
O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós.” (1 Pe 1:19-20).
— Ao nascer: “E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.” (Lc 1:35).
— No deserto: “Então O diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos, e o serviam.” (Mt 4:11).
— Impermeável à influência do diabo: “Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim” (Jo
14:30).
— Em seu ministério: “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus” (Hb 7:26).
— Na impossibilidade de responder à tentação: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado [no original ‘pecado à parte’].” (Hb 4:15).
— Como o único que podia condenar: “E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disselhes: Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela” (Jo 8:7).
— Em sua vida perfeita: “E aquele que me enviou está comigo. O Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8:29).
— Na pergunta sem resposta: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (Jo 8:46).
— Na provação: “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano.” (1 Pe 2:22).
— Sobre a cruz: “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Co 5:21).
— No céu: “E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado.” (1 Jo 3:5).
— Na opinião dos demônios: “Dizendo: Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus.” (Lc 4:34).
— Em sua vinda: “Assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.” (Hb 9:28) *
Quem são os que têm a mente de Cristo?
Sua dúvida é sobre 1 Coríntios 2 e em particular o último versículo, que diz “nós temos a mente de Cristo”. A dúvida surgiu depois que soube que há partes deste capítulo que são ditas dos apóstolos, e não dos cristãos de uma maneira geral, pois elas falam da inspiração verbal das escrituras. Talvez fique mais fácil entender se separarmos as diferentes partes por assunto.
Dos versículos 9 a 12 é Deus revelando verdades desconhecidas aos homens pelo Espírito Santo. Pelo Espírito de Deus nós agora podemos conhecer estas coisas que chegam até nós pelo processo descrito no versículo 13.
(1 Co 2:9-12) “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus”.
O versículo 13 mostra que essa revelação foi verbal, isto é, palavra a palavra, aos apóstolos (e antes deles aos profetas do AT), portanto neste processo o crente comum não participou.
(1 Co 2:13) “As quais [coisas que o olho não viu, nós apóstolos] também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as [palavras] que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais”.
Do versículo 14 ao 16 vemos que estas palavras não são apenas reveladas de forma sobrenatural por revelação direta, mas que só podem ser entendidas pelo poder sobrenatural do Espírito. Neste caso todo crente com o Espírito Santo pode se incluir nisto porque está falando de discernir a vontade de Deus e cada crente tem este poder. O que acontece é que nem sempre deixamos o Espírito agir neste discernimento e acabamos “discernindo” coisas pela razão, dogmas, cultura, etc.
(1 Co 2:14-16) “Ora, o homem natural não compreende [discerne] as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo?
Mas nós temos a mente de Cristo”.
*
Posso ser cristão e músico profissional?
Existem muitos músicos profissionais que são cristãos, como também existem muitos operários, policiais, esportistas e comerciantes cristãos. Cada um deve exercer sua profissão na medida de sua consciência e sempre buscando saber a vontade de Deus a respeito. A ideia de que um músico cristão só deveria tocar música cristã faz tanto sentido quanto dizer que um escritor ou jornalista cristão só deveria escrever sobre a Bíblia.
Mas se um profissional cristão, independentemente de sua área de atuação, perceber que seu olho ou sua mão estão sendo um problema em sua vida de comunhão com o Senhor, deve figuradamente arrancá-los, como no exemplo que Jesus deu nos evangelhos.
(Mt 5:29-30) “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno”.
O contexto aqui é de usar os olhos ou as mãos para coisas impuras, pois o versículo que precede fala de adultério, o que nos leva também a pensar que devemos tirar de nossa vida qualquer coisa que nos faça tropeçar, músicas, filmes, fotos, lugares, situações, amizades, etc. O mesmo pode ser dito de coisas lícitas, mas que não sejam adequadas por algum motivo, como vemos no exemplo do que era escravo e devia aproveitar a oportunidade de mudar sua condição se tivesse a chance de fazê-lo:
(1 Co 7:20-21) “Cada um permaneça na vocação em que foi chamado. Foste chamado, sendo escravo? Não te preocupes com isso; mas, se ainda podes tornar-te livre, aproveita a oportunidade”.
Às vezes é possível adequar a profissão de modo a não desagradar o Senhor ou mesmo evitar um mau testemunho. Por exemplo, existe um campo amplo para músicos em propaganda (praticamente todo comercial de rádio ou TV tem música). Filmes, desenhos animados, cursos multimídia e até telejornais têm música de fundo. Há também ambientes com música ao vivo, como restaurantes e hotéis onde costumam ser tocadas músicas românticas. Não há nada de errado com uma música romântica ou com o romantismo entre um homem e uma mulher, que é inclusive o tema de Cantares. Mas em tudo isso é sempre bom ter em mente esta passagem:
(1 Co 10:31-32) “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus, “.
Cabe ao músico profissional cristão orar e pedir a direção do Senhor de até onde pode ir em sua profissão. Isso vale para todas as profissões, pois as mesmas indagações terão um cristão que trabalhe numa fábrica de cigarros ou armas, um comerciante que venda produtos prejudiciais à saúde ou que o faça de forma ilegal ou sonegando impostos (às vezes chamamos de “comércio informal”), e um advogado na hora de defender um cliente, ou promotor na hora de acusar um réu. Eu mesmo tenho de lidar com esses problemas de consciência, por esta razão não atendo segmentos como os de bebidas alcoólicas, tabaco, armas, e organizações religiosas, incluindo suas rádios, TVs e editoras. Pode ser que você perca oportunidades se tiver tal cuidado.
Músicos cristãos que atuam profissionalmente apenas com música cristã podem também ser obrigados a “engolir sapos” quando contratados para tocar ou cantar em igrejas que jamais frequentariam de vontade própria, como as de pregadores que fazem da fé um negócio lucrativo ou professam má doutrina. Eu particularmente acho mais difícil um cristão ser músico profissional no meio cristão do que no meio secular, considerando que Jesus criticou mais duramente os religiosos do que os imorais de seu tempo. Não que prostitutas e publicanos estivessem desculpados por seus atos pecaminosos, mas aos olhos de Deus não creio existir uma ofensa tão grave quanto explorar a fé das pessoas ou disseminar má doutrina acerca da Pessoa de Cristo.
Aproveite para trocar uma ideia com outros irmãos músicos sobre a questão da música e de como eles costumam agir. Mas apenas para informar-se, pois sempre que você encontrar um irmão fazendo algo de alguma forma, entenda que aquilo é um exercício que ele tem com Deus e não uma regra de ação que possa servir para você também. Às vezes fazemos coisas que dentro de um contexto cultural podem ser perfeitamente entendidas e aceitas, mas que seriam um escândalo em outro contexto ou país. Neste sentido me ocorrem duas passagens:
(Jo 21:21-22) “Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu”.
(Rm 14:22-23) “Tens tu fé?
Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado”.
Eu diria que se você precisar esconder que é cristão para poder exercer sua profissão, qualquer que seja ela, então não está exercendo sua profissão para a glória de Deus. O cristão está aqui com o propósito de testemunhar de Cristo e ninguém faz isso anonimamente. Somos sal (que conserva) e luz (que ilumina e revela) e se estas características forem um empecilho em nossa profissão o problema pode estar na profissão ou no lugar em que a exercemos.
O músico deve também se policiar para não criar ou executar sua música apenas para atender a moda ou os desejos do público. Muitas músicas são populares por seu excesso de sensualidade ou palavras de cunho erótico. Eu sou palestrante profissional e sei que muitos palestrantes usam palavrões ou piadas sobre sexo para agradar ao público. Não posso fazer isso se quiser sair da palestra e poder conversar sobre Cristo com alguém, pois a pessoa iria achar isso uma incoerência.
Depois de publicar, alguém escreveu discordando, dizendo que “se alguém tiver amor demais na música a ponto de não conseguir se livrar dela é porque ainda não chegou à uma conversão completa”. Minha resposta segue abaixo:
A impressão que dá é que você acredita que a salvação venha pela mudança de vida e não o contrário (a mudança de vida vem com a salvação).
Por ser um terreno movediço, eu deixei bem claro no texto que cada um deve ter um exercício diante do Senhor.
Se você detectar em uma letra de música algo contrário à Palavra de Deus, o melhor é não cantar aquela canção. Mas você há de convir que o próprio texto de Cantares é uma letra de música de amor, e há muitas músicas de amor que não têm qualquer conotação contrária à Palavra de Deus. Eu menciono uma melodia com uma letra belíssima aqui
http://www.stories.org.br/querocontar/archives/00000160.htm. Existem milhares de outras. Obviamente não estou falando dessas músicas com termos chulos ou de conteúdo erótico que fazem sucesso por aí.
São muitos os hinos tradicionais que utilizam melodias de músicas clássicas, hinos nacionais ou até de músicas românticas da época que tiveram suas letras trocadas. Por exemplo:
“We Thank Thee, Our Father” usa a melodia de “Adeste Fidelis.” “Amazing Grace” (“Graça Sublime”) usa a melodia de uma canção cantada nas tavernas da época. “Bless His Name, He Set Me Free” foi reescrita em cima de “Champagne Charlie”, e “Storm The Forts Of Darkness” em cima de “Here’s To Good Old Whiskey”, ambas no hinário do Exército da Salvação. “Be Still, My Soul” é a letra cristã para o hino da Finlândia (seria como cantarmos o “Ouviram do Ipiranga” com uma letra cristã). Você já deve ter cantado o hino nacional da Alemanha com letra cristã (“Abba Father we adore Thee”). Existe até hino escrito em cima de melodias compostas pelo ímpio Mozart.
Portanto, se você não gosta de música secular, não cante e não ouça, mas não é correto julgar se alguém é salvo ou não porque ouve ou toca música secular.
*
A palavra “povo” no Antigo Testamento serve para todos?
Vejo que você escolheu alguns versículos do Antigo Testamento para justificar a ingerência dos cristãos na política deste mundo.
Os versículos que pinçou são: “Quando se multiplicam os justos, o povo se alegra, quando, porém, domina o perverso, o povo suspira… O rei justo sustém a terra, mas o amigo de impostos a transtorna… Informa-se o justo da causa dos pobres, mas o perverso de nada disso quer saber” (Pv 29).
Dos versículos que citou, os dois primeiros são verdades absolutas até por uma questão de bom senso, mas eu tomaria apenas o último como responsabilidade individual do cristão de cuidar individualmente do pobre, independente de quem seja. Afinal, exercer misericórdia é algo que independe de que parte da Bíblia estamos falando. Portanto, apesar de muitas coisas poderem ser aplicadas de forma genérica aos seres humanos em geral, a palavra “povo” no Antigo Testamento tem um sentido muito peculiar. Se você perder isto de vista não saberá a distinção entre Israel e Igreja. Sugiro que, ao ler o Antigo Testamento, onde ler “povo” leia “povo de Israel” porque é este sempre o contexto. As passagens não estão se referindo aos povos pagãos da época, ou Deus não tiraria o “povo” de entre outro “povo”, como fez no Egito.
(Êx 3:10) “Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito”.
Basta pensar nos hebreus vivendo no Egito para ter uma ideia clara do que estou falando. Deus não mandou que eles se intrometessem no governo daquele país, que buscassem fazer justiça ali. Muito pelo contrário, e Moisés precisou passar quarenta anos apascentando ovelhas para entender o erro de sua tentativa de libertar o povo de Deus lutando contra o opressor (quando matou o egípcio que oprimia um hebreu). Deus queria tirar seu povo do Egito (uma figura do mundo), e não mudar o Egito.
Deus escolheu um povo terreno (Israel) e deu a eles a Lei e colocou sobre eles um rei, Davi, pois antes havia colocado um que era segundo o coração do povo, Saul e deu no que deu. Mas Deus só deu um rei ao povo porque o povo pediu que queria ser igual a todas as nações dos gentios. Era para Israel ter sido uma teocracia sob o governo direto de Deus. Já deu para entender que “a voz do povo NÃO é a voz de Deus”. Deus previu que o povo, por causa de sua incredulidade e falta de confiança em Deus, pediria um rei para governar sobre eles, pois não estavam contentes em ter apenas profetas e juízes como foi Moisés e Samuel como interlocutores de Deus.
(Dt 17:14) “Quando entrares na terra que te dá o Senhor, teu Deus, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: Estabelecerei sobre mim um rei, como todas as nações que se acham em redor de mim”.
(1 Sm 8:19) “Porém o povo não atendeu à voz de Samuel e disse: Não! Mas teremos um rei sobre nós… Ouvindo, pois, Samuel todas as palavras do povo, as repetiu perante o Senhor…
Então, o Senhor disse a Samuel: Atende à voz do povo e estabelece-lhe um rei…”.
(At 13:21) “E depois pediram um rei, e Deus lhes deu por quarenta anos, a Saul” (40 anos é tempo de prova para Deus mostrar a eles o quanto estavam errados em pedir um rei), esta é a voz do povo.
O povo (Israel) e seus governantes eram responsáveis em obedecer as Escrituras. Quem estava fora daquele povo de Israel não vivia no mesmo contexto, não tinha as mesmas responsabilidades, e isto é claro em todo o AT. Eles tinham um país territorial aqui no mundo, ao contrário da Igreja. A igreja é o povo celestial de Deus, a quem não foi dado um país no mundo e nem promessas de prosperidade terrena, como foi aos israelitas. Enquanto você não entender isto, fará confusão. Não basta pegar um versículo da Bíblia, é preciso entender a quem ele foi endereçado, de quem está falando, para que propósito e etc.
Deus avisou que chegaria o dia em que aquele povo de Israel não seria mais o seu povo, mas haveria outro povo ao qual Deus chamaria de seu.
(Rm 9:25 “Assim como também diz em Oséias: Chamarei povo meu ao que não era meu povo”.
Hoje Deus tem um povo, a Igreja, e a doutrina dada a este povo você não encontra no Antigo Testamento, mas nas cartas dos apóstolos. Porém Deus ainda reconhece o povo terreno Israel, ainda que este tenha sido deixado de lado momentaneamente enquanto Deus trata com seu povo celestial. Aliás, hoje Deus enxerga 3 povos, judeus, gentios e igreja: (1 Co 10:32) “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos [gentios], nem à igreja de Deus”.
Enquanto isso, no atual período a igreja é um povo celestial apenas de passagem pela terra e vivendo “em tendas” como peregrino, como viveu Abraão, ao qual não foi dado “nem ainda o espaço de um pé” (At 7:5). Enquanto isso, o seu sobrinho Ló, uma figura do cristão carnal, fazia questão de morar em uma cidade (Sodoma) e de participar das decisões do governo local. Ele é visto sentado à porta da cidade, lugar onde os juízes se sentavam, mas os próprios cidadãos de Sodoma não “votavam” nele como seu representante.
(Gn 19:1) “E vieram os dois anjos a Sodoma à tarde, e estava Ló assentado à porta de Sodoma”.
(Gn 19:9) “Eles, porém, disseram: Sai daí. Disseram mais: Como estrangeiro este indivíduo veio aqui habitar, e quereria ser juiz em tudo? “.
O cristão que procura hoje ficar “assentado à porta de Sodoma” e, apesar de “estrangeiro”, quer “ser juiz em tudo” o que se refere ao governo deste mundo está fazendo o mesmo papel tresloucado de Ló. Seu fim será ver os sodomitas lhe virarem as costas quando menos espera e ainda o tratarem com violência como fizeram com Ló e sua família. Seu lugar deve ser fora da cidade, peregrino e habitando em tendas como Abraão.
Quão mais nobre era a atitude de Abraão, não somente vivendo como um estrangeiro no mundo, mas recusando-se a receber favores de Sodoma.
Quão vergonhoso vermos hoje cristãos fazendo alianças com políticos para promovê-los em troca de terrenos para construção de templos e outras regalias. Só quem sabe o que acontece nas reuniões em Brasília entre pastores e parlamentares, numa versão moderna da divisão do espólio de Sodoma, conhece o que rola ali.
(Gn 14:21-23) “E o rei de Sodoma disse a Abrão: Dá-me a mim as pessoas, e os bens toma para ti. Abrão, porém, disse ao rei de Sodoma: Levantei minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra, Jurando que desde um fio até à correia de um sapato, não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu; para que não digas: Eu enriqueci a Abrão; “.
(Hb 11:13) “Todos estes [os homens e mulheres de fé deste capítulo] morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra”.
Depois que a Igreja for tirada da terra no arrebatamento, Deus removerá o endurecimento que colocou sobre os judeus e voltará a tratar com seu povo Israel (um remanescente que se converterá e será visto por Deus como o verdadeiro) e não falhará nas promessas feitas a eles.
(Rm 11:25) “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio EM PARTE (ou por um tempo) sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado [o tempo da igreja tenha se completado]. E assim todo o Israel será salvo”.
Lição de casa: Tente encontrar nas epístolas um versículo sequer que dê respaldo ao seu pensamento de intervenção direta do cristão na política e organização do mundo. Você não encontrará. O que encontrará é uma clara exortação a vivermos como estrangeiros e peregrinos aqui, sujeitando-nos às autoridades, inclusive aos que governam mal e padecendo injustamente. Isto é loucura para qualquer incrédulo, mas para o crente esta é a Palavra de Deus.
(1 Pe 2:9-19) “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; Vós, que em outro tempo não éreis povo, mas agora sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia.
Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma; Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem. Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; Quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens insensatos; Como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus. Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai ao rei. Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus. Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente”.
“Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3:20).
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Jesus tinha cabelos longos?
Os cabelos dos homens nos tempos de Jesus eram curtos, portanto tudo indica que o Senhor também tivesse cabelos curtos. A dificuldade de se cortar cabelos não era tanta assim como você imagina, principalmente para um povo de pastores acostumado a tosar rebanhos inteiros de cabras e carneiros para extrair pelos e lã. Além disso, Deus no Antigo Testamento determinava que os sacerdotes não podiam nem rapar a cabeça e nem ter cabelos longos, mas mantê-los curtos. Como os sacerdotes eram tidos em grande estima entre o povo não é de se estranhar que o homem comum fizesse o mesmo. (Ez 44:20) “E não raparão a sua cabeça, nem deixarão crescer o cabelo; antes, como convém, tosquiarão as suas cabeças”.
Entre os gentios da época de Jesus o costume dos homens era também manter os cabelos curtos, e basta ver o exemplo das esculturas romanas e gregas de seus reis, generais e cidadãos ilustres. Apenas os deuses eram representados com barbas e cabelos longos, mas se reparar nas representações dos imperadores e cidadãos romanos que foram preservados em forma de estátuas e afrescos, você verá que eles não tinham apenas os cabelos curtos, mas também a barba feita, e isto muito antes da invenção da lâmina Gillette.
Uma citação de Plutarco, que viveu na época de Paulo, diz: “Na Grécia, sempre que acontece uma desgraça, as mulheres cortam os cabelos e os homens os deixam crescer, pois o normal é que os homens tenham seus cabelos cortados e as mulheres os deixem crescer”. O apóstolo Paulo traz à memória dos irmãos em Corinto este costume, que era natural aos gregos como eles eram, ao dizer: “A própria natureza não vos ensina que é uma desonra para o homem usar cabelo comprido? Ao passo que é glória para a mulher uma longa cabeleira, porque lhe foi dada como um véu” (1 Co 11:14-15). Portanto, o cabelo curto para homens, que era uma ordem divina para os judeus, era também o costume entre os gentios. Cabelos compridos para homens, por sua vez, é chamado neste versículo de “desonra”.
A representação da imagem de Jesus como um homem de cabelos e barbas longas só começou a surgir no quarto século e isto por influência das imagens e esculturas de deuses pagãos. Muitos romanos que haviam sido cristianizados à força pelo imperador Constantino certamente não entenderam nada e nem se converteram de verdade, mas apenas imaginavam Jesus como mais um deus em sua coleção de ídolos, daí a existência de tantas imagens, pinturas e esculturas de Jesus com os cabelos longos à semelhança dos deuses dos pagãos.
O próprio fato de alguém tentar criar uma imagem de Cristo não faz sentido por sabermos que o Jesus que hoje temos como Senhor não tem a mesma aparência do Homem fraco e humilde que andou aqui, mas está nos céus, coroado de honra e de glória à destra da Majestade. Como alguém iria representar graficamente tal Pessoa, Deus e Homem, assentado nos céus?! A exortação de Paulo é que, ainda que tenhamos conhecido a Jesus na sua forma humana de carne aqui na terra, não é mais assim que o conhecemos.
(2 Co 5:16) “Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo”.
Transcrevo abaixo uma citação da Carta de Eusébio à Constância, irmã de Constantino, o Grande. O texto revela o total desprezo de Eusébio para o que estava acontecendo então. O que aparece [entre chaves] são meus comentários:
“Você também me escreveu sobre uma suposta imagem de Cristo, a qual você gostaria que eu lhe enviasse. Ora, que tipo de coisa é esta à qual você se refere como a imagem de Cristo? Não sei o que a levou a pedir que uma imagem de Nosso Salvador lhe deva ser mostrada. Que tipo de imagem de Cristo você está procurando? Seria a único e verdadeira e pura que traga as características essenciais dele [provavelmente ele se refira à sua divindade], ou a uma que ele assumiu por nossa causa, quando assumiu a forma de servo [sua forma humana]? … Certamente ele tem duas formas, e eu mesmo não acredito que seu pedido tenha a ver com a sua forma divina (…)
“Certamente, então, você está buscando a sua imagem como um servo, aquela de carne que ele assumiu por nossa causa … Como alguém poderia pintar uma imagem tão inatingível? Ao menos que, como fazem os pagãos incrédulos, representasse coisas que não trazem qualquer semelhança com a realidade? Pois eles fazem tais ídolos quando querem criar a semelhança do que eles pensam ser um deus ou, como se poderia dizer, um dos heróis ou qualquer outra coisa de natureza semelhante, mas mesmo assim eles não são capazes de criar uma semelhança e representar com precisão algumas formas humanas estranhas. Certamente, até você irá concordar comigo que tais práticas não nos são permitidas. Você já ouviu falar de tal semelhança [de Cristo] na igreja ou de alguma outra pessoa? Acaso tais coisas não são tão excluídas e banidas das igrejas em todo o mundo, e acaso não estão todos cientes de que tais práticas não são permitidas a nós de maneira nenhuma?
Era uma vez uma mulher, eu não sei como, me trouxe uma imagem de dois homens que pareciam ser dois filósofos e mencionou que eles eram Paulo e o Salvador. Eu não tenho como saber de onde ela tirou essa informação ou onde ela aprendeu tal coisa. Mas, para que nem ela nem os outros pudessem estar envolvidos numa ofensa, tirei dela a imagem e a mantive-a em minha casa, pois achei que seria impróprio que tais coisas fossem exibidas aos outros, pois acabaríamos parecendo adoradores de ídolos, carregando o nosso Deus por aí na forma de uma imagem. Faço notar que Paulo informa a todos nós para não considerarmos mais as coisas da carne, porque ele nos diz que ainda que tenhamos conhecido a Cristo segundo a carne, agora nós já não o conhecemos assim”.
Abaixo transcrevo uma citação de Epifânio de Salamina em sua “Carta ao Imperador Teodósio”, escrita por volta dos anos 379 a 395: “Qual dos patriarcas que vieram antes de nós jamais pintou uma imagem de Cristo e a colocou em uma igreja ou uma casa particular? Que bispo de então jamais desonrou a Cristo, retratando-o em cortinas de portas?
… Além disso, aqueles que representam a semelhança dos santos em várias formas de acordo com a sua fantasia, às vezes mostrando as mesmas pessoas como velhas, às vezes muito jovens, envolvendo-se em coisas que não viram, estão enganando. Pois eles pintam o Salvador com os cabelos longos, e isto por acharem que por ele ter sido chamado de nazireu, e os nazireus usavam cabelo comprido. Eles erram ao tentar aplicar estereótipos a ele, pois o Salvador bebia vinho, ao passo que os nazireus não [parece, ao meu ver, que os termos ‘nazareno’ e ‘nazireu’ tenham um mesmo significado].
Eles também enganam ao inventarem coisas de acordo com suas fantasias. Esses impostores representam o santo apóstolo Pedro como um homem idoso, de cabelos e barba de corte curto, alguns representam o santo Paulo como um homem com recuo de cabelo, outros como sendo careca e barbudo, e os outros apóstolos são mostrados tendo seu cabelo cortado rente. Se, então, o Salvador tinha cabelo comprido, enquanto os seus apóstolos tinham cabelos curtos, e já que por não ter o cabelo curto o Salvador era diferente deles na aparência, por que os Fariseus e escribas teriam pago trinta moedas de prata a Judas para que ele o beijasse para revelar a eles quem era que procuravam, quando teria sido suficiente dizer a eles que aquele que buscavam era o de cabelos longos, economizando assim as moedas?
Acaso não você não enxerga, ó Imperador amado por Deus, que este estado de coisas não é agradável a Deus? Portanto, eu lhe peço … que as cortinas que existem que trazem essas falsas representações dos apóstolos ou profetas ou do Senhor Cristo sejam recolhidas das igrejas, batistérios, casas e cemitérios de mártires e que sejam usadas para enterrar os pobres, e as imagens nas paredes sejam cobertas de cal. Quanto às imagens feitas em mosaicos, considerando que a sua remoção é difícil, fica a seu critério o que fazer contando com a sabedoria que Deus lhe deu. Se for possível removê-los, muito bem. Mas se não for possível, fique o que já existe e não haja uma pintura desta forma a partir de agora”.
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O cálice da ceia deve ser apenas um?
Os símbolos usados na ceia são o pão e o cálice com vinho, e isto é muito claro nas várias passagens em que são mencionados, começando pelos evangelhos, quando o Senhor instituiu a ceia antes de ser levado à morte.
Embora tenha sido instituída ali, aquela não é a ceia que os cristãos celebram, pois ali Jesus estava vivo e a igreja não tinha ainda sido formada. A ceia que celebramos é a que foi revelada pessoalmente por Cristo ressuscitado a Paulo (que não fazia parte de seus discípulos nos evangelhos) e que ele descreve em 1
Coríntios 11. Todavia, ambas trazem o mesmo significado e os mesmos elementos, pão e vinho, que são como fotografias do corpo e do sangue de Jesus.
(Mt 26:26-28) “E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; Porque isto é o meu sangue; o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados”.
(1 Co 11:23-26) “Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha”.
Em ambas as passagens vemos que a ceia foi celebrada com um único pão e um único cálice. O primeiro tem um duplo significado: primeiro, simboliza o corpo morto de Cristo no sacrifício realizado há dois mil anos na cruz. Nossos pecados foram colocados sobre o corpo de Jesus e ali ele foi feito pecado por nós. Aquele sacrifício foi único, não se repete, e seu valor e efeitos são eternos. Um pão partido nos fala de morte (“o meu corpo que é partido por vós”). O pão também é um símbolo do corpo de Cristo, a Igreja, composto por todos os salvos, mas
este é um significado mais associado à mesa do Senhor do que com a ceia do Senhor.
O segundo símbolo é o cálice de vinho, o qual representa o sangue de Cristo e também é uma figura da morte de Cristo, pois na cruz o sangue foi separado do corpo, assim como na ceia o vinho está separado do pão.
Se o pão tem a conotação de unidade, e por isso a doutrina dos apóstolos é clara em apontar a obrigatoriedade do uso de um só pão, o vinho não tem o mesmo sentido, tanto é que ele é líquido e só permanece “unido” se estiver em um recipiente. O cálice de vinho nos fala de comunhão, de algo que é tomado em comum por aqueles que também têm em comum a salvação, e isto aprendemos da passagem em 1 Coríntios 10, onde o assunto é a “mesa do Senhor”, enquanto a passagem do capítulo 11 mencionada acima trata da “ceia do Senhor”.
Que existe uma “mesa do Senhor”, tanto quanto uma “ceia do Senhor”, fica evidente em 1 Coríntios 10:21: “Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios”. Aqui ela é mencionada em contraste com a “mesa dos demônios”, uma mesa estabelecida para os ídolos pagãos (por detrás dos quais há sempre um demônio), como ele explica:
(1 Co 10:19-20) “Mas que digo?
Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios”.
Existe também a possibilidade de uma mesa não ser nem do Senhor, nem dos demônios, mas de Israel, e é bom sempre lembrar que “mesa” tem o sentido de lugar de comunhão, de compartilhamento e também de apresentar nossa adoração a Deus. Paulo fala de Israel e menciona a sua comunhão: (Rm 11:7-10) “Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos. Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje. E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, E em tropeço, por sua retribuição; Escureçam-se-lhes os olhos para não verem, E encurvem-se-lhes continuamente as costas”.
Mas o que dizer de uma mesa ou comunhão estabelecida na cristandade, porém fora dos princípios bíblicos? Seria a mesa do Senhor? Não, seria apenas uma mesa de homens. Eles, apesar de serem cristãos, estabelecem suas mesas, comunhões ou lugares de adoração sem que estejam fundamentadas na Palavra de Deus e nem reconheçam a unidade e interdependência existente no corpo de Cristo. O mais sério disso tudo está no fato de poderem também ser mesas onde a impureza, o pecado e a contaminação sejam admitidas por não existir um julgamento na recepção das pessoas à comunhão.
Se somos criteriosos ao convidarmos alguém para comer à mesa de nossa casa, quanto maior deveria ser nosso cuidado em receber alguém à mesa do Senhor, cuja responsabilidade de administrar foi dada aos cristãos. Uma analogia de como Deus enxerga o pecado associado a uma mesa pode ser visto nas palavras que fala aos “bêbados de Efraim”: (Isa 28:8) “Porque todas as suas mesas estão cheias de vômitos e imundícia, e não há lugar limpo”.
Portanto, antes de entrarmos no tema de sua pergunta, que tem a ver com a preocupação da contaminação e contágio por micróbios, quis dar esta introdução para apontar que o maior contágio com que os cristãos deveriam se preocupar é o contágio do pecado à mesa. 1 Coríntios 5 dá um exemplo claro de que todo pecado deve ser tirado da comunhão daqueles que estão congregados, e é isto que significa a palavra “excomunhão”. Uma pessoa que está em pecado não pode participar da ceia do Senhor pois isto contaminaria “toda a massa”, como diz o mesmo capítulo.
Aos olhos de Deus, uma pessoa que se diz cristã, porém vive na prática de pecado é pior e o contato com ela mais contagioso do que com um incrédulo que está sabidamente no mundo.
(1 Co 5:6-13) “Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? … Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade. Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais…. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo”
Lembrando agora que o pão simboliza o corpo de Cristo e o vinho o sangue, vamos à sua dúvida que é se existe a necessidade de se utilizar apenas um cálice na ceia do Senhor, o qual é compartilhado por todos os presentes, ou poderiam ser utilizados cálices ou copinhos individuais. Vamos à passagem que pode nos ajudar nisto:
(1 Co 10:16-17) “Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O
pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão”.
(1 Co 11:26) “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha”.
Repare que a ordem se inverte do capítulo 10 para o 11. Como já mencionei, o capítulo 10 fala da “mesa do Senhor” que é o lugar de comunhão, e para estar nesse lugar é preciso antes ter sido salvo. Por isso o vinho, símbolo do sangue, vem antes como também acontece em nossa salvação, e o pão, símbolo do corpo, vem depois, quando somos acrescentados por Cristo ao seu corpo. Vinho primeiro (o “sangue” para sermos purificados de nossos pecados) e pão (o “corpo de Cristo”, do qual passamos a fazer parte). No capítulo 11 temos a “ceia do Senhor” e o pão vem primeiro porque ali é uma celebração reservada aos que já foram salvos e agora pertencem ao corpo de Cristo, e o vinho vem depois.
Repare também que em 1 Co 10:17 acima não diz que “participamos do mesmo pão e do mesmo cálice” porque o pão é símbolo do corpo, mas o cálice não. Este é símbolo de comunhão, de compartilhamento, portanto não existe a mesma necessidade de ser apenas um. Mas também não existe a possibilidade de serem individuais, porque ninguém pode dizer que está expressando comunhão ou comunicação se faz algo sozinho e para si apenas.
Por esta razão na ceia do Senhor o princípio que encontramos na Bíblia é do uso de um cálice, ou de dois, três, quatro, etc., dependendo da necessidade de se operacionalizar a distribuição no momento da ceia. Uma assembleia pequena pode muito bem compartilhar o mesmo cálice. Uma assembleia com algumas centenas de pessoas participando da ceia pode preferir ter meia dúzia de cálices para que este ato de comunhão não leve horas para ser realizado. Mas, repito, nunca cálices individuais, pois isto anularia o sentido que é o da comunhão.
Então vem a grande questão: e as doenças transmissíveis às quais ficamos sujeitos quando compartilhamos de um mesmo cálice ou copo durante a ceia do Senhor? Como evitar?
A prática cristã do uso de um cálice comum a todos (ou de alguns cálices, mas ainda assim compartilhados) só foi mudada nas igrejas de confissão protestante por volta de 1890. Não sei quando o cálice deixou de ser passado entre os participantes da ceia nas igrejas católicas, mas acredito que seu uso comum também tenha acontecido durante alguns séculos, antes de ficar restrito ao padre, distribuindo então aos fiéis apenas as “hóstias” (que obviamente não representam o um só corpo de Cristo por serem independentes umas das outras, por não serem “um pão”). Apesar de quase dois mil anos de compartilhamento de um mesmo cálice, os cristãos não foram extintos por doenças e epidemias, o que demonstra que, apesar do risco de contágio existir, eles se multiplicaram ao invés de morrerem todos.
Mas existe risco de contágio? É evidente que sim, pois a saliva é uma verdadeira sopa bacteriana. Na Wikipedia em inglês descubro que “Aqueles que cuidam de seus dentes e possuem uma boca relativamente limpa têm de mil a cem mil bactérias morando na superfície de cada dente. Aqueles que não têm uma boca higienizada têm entre cem milhões e um bilhão de bactérias em cada dente”.
Outro dado aterrador é saber que 90% das células de seu corpo não são suas, mas são células de bactérias, fungos e outros seres vivos microscópicos. Só 10% das células são suas e nelas há 23 mil genes, contra mais de um milhão de genes que você carrega em seu corpo e não são seus. Isto significa que a massa de corpo realmente seu representa 97 a 99%, enquanto a de bactérias varia de 1 a 3%. Uma pessoa de 80 quilos pode estar carregando quase dois quilos e meio de bactérias em seu organismo. O problema é que não existe um regime que nos faça perder apenas bactérias, e nem poderia, pois não sobreviveríamos sem elas. Pense na vaca: a carne e o leite que ela produz dependem de um processo bacteriano, pois a vaca não se alimenta realmente de capim. O capim é apenas a matéria prima, que será quebrada pelas bactérias que moram em seus estômagos e transformadas nos nutrientes necessários à sobrevivência do animal.
Portanto nem todas as bactérias causam doenças, mas podemos ter na boca micro-organismos que podem nos matar se caírem na corrente sanguínea. Por causa de um problema que tenho nas válvulas do coração, meu cardiologista me aconselha a sempre tomar antibióticos antes de fazer alguma intervenção dentária mais profunda, para evitar a possibilidade de um desses micro-organismos entrar na corrente sanguínea e causar um problema grave de coração.
Isto tudo significa que beber do mesmo copo nem pensar, não é mesmo? Não é bem assim, pois se eu fosse ficar preocupado com a possibilidade de adoecer por contágio de saliva nunca mais engoliria minha própria saliva e nem dormiria pensando na possibilidade de um bichinho que mora em minha boca entrar na corrente sanguínea e detonar meu cérebro ou coração. Pessoas morrem todos os dias no mundo inteiro em razão de infecções dentárias. Felizmente nosso corpo possui mecanismos de proteção e combate que são usados tanto para as bactérias alojadas em nosso corpo como para as visitantes.
A troca de saliva pode transmitir algumas doenças graves, e a grande quantidade de artigos sobre os perigos do beijo demonstra isso (certamente o número de pessoas que se beijam na boca é infinitamente maior do que as que compartilham de um mesmo cálice na ceia do Senhor). Na maioria dos casos, o perigo de adoecer está muito mais na condição da pessoa que recebe a bactéria do que no simples contato com a doença. Afinal, estamos 24 horas por dia expostos ao ar, que é o veículo de transmissão de doenças, como a gripe, tuberculose, meningite, poliomielite e sarampo. Você certamente nunca pensou em evitar respirar para precaver-se destas doenças.
O compartilhamento do cálice na ceia se torna uma ameaça ainda menos séria, do ponto de vista de contágio, quando descobrimos que 80%
das doenças não são transmitidas pela saliva ou pelo ar, mas pela pele. Suas mãos são os principais veículos de transporte de bactérias para a boca, e aí não estamos falando apenas de doenças vindas apenas de seres humanos doentes, como é o caso da saliva, mas daquelas que dão em aves e animais, inclusive os domésticos. As mãos também estão continuamente contaminadas com todo tipo de fezes e fungos com os quais temos contato direto todos os dias.
Portanto, sua preocupação não deveria estar tanto no cálice compartilhado na ceia, mas muito mais no pão, pois todos pegam nele, tanto aquele que o parte na hora de dar graças, como cada um que tira dele um pedaço para levá-lo à boca com uma mão que provavelmente não acabou de ser lavada.
Será que todos lavaram as mãos com sabonete bactericida antes de se sentarem ali? Acredito que não. O mais provável é que, antes de se dirigirem ao local de reunião para participarem da ceia do Senhor, além do contato das mãos com infinitas fontes de contágio, separaram o dinheiro que iriam colocar na coleta.
Em um artigo que li, uma análise feita com 68 cédulas de um dólar revelou que cinco continham bactérias que poderiam causar infecção em pessoas perfeitamente saudáveis e 59 (87%) deixariam doentes pessoas com baixa imunidade, como as que tem câncer ou HIV. Apenas 4 cédulas não continham bactérias patogênicas. Veja você que o simples ato de usarmos dinheiro todos os dias já nos coloca em contato com esses bichinhos mortais que andam por aí, mas não temos nenhuma intenção de deixar de usá-lo.
Assim como dependemos do Senhor para nos guardar de nos contaminarmos a nós mesmos com bilhões de bactérias que vivem em nossa boca, ou com aquelas que nos chegam pelo ar, pela água, pelos alimentos e pelas mãos, devemos depender dele também na hora de fazermos o que ele pediu: “Tomai e bebei”.
Se isto seria um risco tão grande assim para nós, certamente o Senhor não teria deixado a ordenança para ser celebrada do jeito que deixou.
“E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos”.
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Somos o testemunho?
Não gosto muito da ideia de dizer coisas do tipo “somos o testemunho”, “o testemunho está conosco” ou “temos o testemunho”, como se fosse algo que dependesse da vontade do homem ou pudesse ser conquistado. Quando Deus olhava para Israel, depois de sua desobediência, ele via o remanescente que era o seu testemunho no mundo. (Rm 9:27) “Também Isaías clama acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo”.
Nas 7 cartas de Apocalipse, sabemos, Filadélfia nunca fala de si mesma coisa alguma, mas é o Senhor quem dá testemunho de que ela guardou a Palavra e não negou o seu nome. O melhor mesmo é humildemente buscarmos atender ao chamado do Senhor para nos apartarmos do mal e estarmos congregados ao seu nome, sem ficarmos nos preocupando se somos ou não somos alguma coisa.
Já Laodiceia fala de si mesma como se fosse alguma coisa, mas a resposta que tem é que sua atitude causa náuseas no Senhor. Daí o cuidado que é preciso ter para não “se declarar” algo, porque aquele que diz ser alguma coisa aos seus próprios olhos geralmente não o é aos olhos de Deus.
Quando o Senhor disse aos discípulos para irem preparar a ceia, eles perguntaram: “Senhor, onde queres que a preparemos?”. Receberam do Senhor instruções específicas e a única evidência que tiveram de que tinham ido ao lugar certo foi o Senhor colocar-se no meio deles. Hoje não vemos o Senhor com nossos olhos em nosso meio, mas eu creio que ele está bem ali. Minha responsabilidade é fazer a sua vontade segundo as Escrituras e me deixar guiar pelo Espírito, e não me preocupar se sou ou não sou o testemunho. Ele vai dizer. Se eu me ocupar com “o testemunho” minha ocupação não estará sendo com o Senhor, mas comigo mesmo e com meus irmãos. Darby escreveu uma carta sobre o assunto, pois no século 19 alguns já estavam se orgulhando de “ter o testemunho”.
Acho que podemos entender melhor o assunto quando pensamos na reforma protestante. Não foi Lutero apenas quem trouxe à tona a justificação pela fé, uma verdade preciosa que estava enterrada debaixo de séculos de romanismo. Deus estava movendo outros em outros lugares no mesmo sentido, porém Lutero era uma figura proeminente e hoje parece que tudo estava concentrado nele. Não estava. Além disso, nos 1600 anos antes da reforma protestante as pessoas foram justificadas pela fé, mesmo sem saberem como colocar isso em palavras como Lutero e outros colocaram. Portanto Deus naquele momento estava restaurando uma verdade, porém essa verdade nunca tinha deixado de existir ou ser praticada até aquele momento; só que as pessoas não sabiam exatamente verbalizar aquilo.
No século 19 ocorreu algo semelhante, quando Deus restaurou certas verdades que estavam sob o entulho do romanismo há séculos, e a principal delas era a verdade da igreja, a doutrina dada a Paulo, que inclui também a verdade de que Israel e Igreja são povos distintos com promessas e destinos distintos. No “pacote” estava também a verdade da vinda do Senhor no arrebatamento, que já havia sido cogitada por um monge católico e por outros muitos anos antes.
Se Deus usou não apenas Lutero, mas também outros para resgatarem a verdade da justificação pela fé, não foi apenas Darby e alguns poucos irmãos mais versados nas Escrituras que enxergaram a verdade concernente à Igreja. Deus realmente usou aqueles homens de maneira extraordinária, mas muito da projeção que tiveram foi pelo fato de fazerem parte de uma elite na Grã Bretanha. A maior parte do que você encontra na Internet sobre Darby foi escrita por incrédulos, irmãos denominacionais ou irmãos abertos (uma divisão ocorrida em 1848 entre os irmãos congregados ao nome do Senhor). Por isso existe tanta ênfase em querer mostrá-lo como líder de um movimento e dizer que ele mandava e os seus seguidores obedeciam. Quem pensa assim nunca soube que o próprio Darby aprendeu sobre o lugar de reunião com outro irmão antes dele e que estava cercado de outros irmãos que tinham tanta ou mais bagagem bíblica do que ele. Um deles, William Kelly, que começou a congregar alguns anos mais tarde, era uma figura proeminente nos meios acadêmicos de então, e seu contemporâneo e conhecido pregador Spurgeon o criticava assim: “[William Kelly] escritor eminente da escola exclusivista de Plymouth (…) expõe habilmente as escrituras, mas com um toque peculiar do seu partido teológico. (…). Kelly é um homem que, nascido para o universo, estreitou sua mente para um movimento”. Charles Haddon Spurgeon.
Quando você lê cartas de Darby e outros irmãos da época é interessante ver eles relatando que chegavam em uma determinada localidade e descobriam que ali havia uma assembleia partindo o pão nos mesmos princípios que eles. Não se tratava de uma divisão ou dissidência, apenas de irmãos que não se conheciam entre si. Deus estava movendo simultaneamente muitos no mesmo sentido e não se pode dizer que este ou aquele grupo tinha a exclusividade daquilo, pois Deus estava fazendo a obra, não homens.
A mesa do Senhor nunca deixou de existir, embora nem sempre tenhamos registros precisos durante os tempos de trevas em que a cristandade mergulhou sob o papado. Mas mesmo daquela época é possível aprender que havia irmãos que caminhavam numa senda marginal à de Roma e eram perseguidos e martirizados por isso. Eu visitei uma pequena cidade fortificada cujos habitantes cristãos foram dizimados pelos exércitos do Papa por não se sujeitarem à igreja de Roma.
Quem leu livros sobre os tempos da Reforma Protestante descobre que havia pessoas professando a justificação pela fé até dentro de conventos e mosteiros. Entenda que quando ocorre um movimento assim de restauração ou reavivamento, trata-se de um processo. Ao ler a literatura dos irmãos do século 19 você percebe isto, pois em textos mais antigos eles diziam uma coisa e nos mais recentes passaram a dizer outra. Não que tenham mudado de ideia, mas simplesmente porque enxergaram coisas que não tinham enxergado antes.
Sugiro a leitura do livro “Os irmãos”, escrito por Andrew Miller que ainda teve a oportunidade de viver parte daquele momento, embora fosse ainda criança quando os irmãos Darby e outros partiram o pão pela primeira vez juntos (Andrew Miller se juntaria a eles anos depois). Ele é autor de outro livro que também existe em português, “História da igreja”. E ambos podem ser encontrados para comprar na Web.
Mas tudo o que escrevi aqui obviamente não se aplica a divisões e dissidências. Hoje você encontra muitos grupos de irmãos reunidos sem denominação e dizendo ser alguma coisa. É importante nestes casos verificar a origem de cada um, pois em grande parte dos casos você descobrirá tratar-se de alguma divisão ou dissidência ocorrida no passado, ou seja, um grupo que se originou a partir de pecado ou da insubordinação à autoridade do Senhor dada à assembleia.
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Hebreus 7 ensina que devemos dar o dízimo?
A passagem de Hebreus 7:1-10 costuma ser usada por muitos como “prova” de que o cristão deve dar o dízimo. Ao ler Gênesis 14:8-24 e Hebreus 7:1-10 é preciso perguntar nas passagens “Quem deu o dízimo?”, “De onde veio o dízimo?” e “A quem o dízimo foi entregue? Vamos ver as respostas:
Os reis de Sodoma e Gomorra e seus aliados guerrearam contra Quedorlaomer e outros reis, os quais venceram e aprisionaram Ló com os reis de Sodoma, Gomorra e etc. Abrão recebeu a notícia da prisão, juntou seus servos e foi lutar contra Quedorlaomer que aprisionou seu sobrinho, vencendo o inimigo e libertando seu sobrinho. Na volta Abrão encontrou-se com o agradecido rei de Sodoma, que queria dar-lhe tudo o que era seu e havia sido recuperado na batalha. Abrão encontrou-se também com Melquisedeque, rei de Salem e sacerdote do Deus Altíssimo, o qual deu pão e vinho a Abrão e o abençoou.
Em troca Abrão pegou, dos bens do rei de Sodoma que havia recuperado, e deu dez por cento deles a Melquisedeque. Repare que Abrão não deu do que era seu, mas do que era do rei de Sodoma. O rei de Sodoma ofereceu que Abrão ficasse com os 90% de seus bens, mas este recusou-se a aceitar até mesmo a correia de uma sandália. Portanto, nada do que Abrão deu a Melquisedeque era realmente seu.
Quem pagou o dízimo? Abrão.
De onde veio o dízimo? Dos bens do rei de Sodoma.
A quem o dízimo foi pago? Melquisedeque.
Se alguém quiser obrigá-lo a dar o dízimo com base na passagem de Hebreus 7:1-10 você terá de fazê-lo entregando algo que não é seu. Por exemplo, digamos que você fosse um policial. Depois de lutar contra a quadrilha que assaltou o banco, e prender os bandidos, você deveria entregar para sua religião 10% do dinheiro roubado que você recuperou e devolver o restante (90%) para o banco, mesmo que o banqueiro insistisse para que você ficasse com tudo. Absurdo, não é mesmo?! Pois então é também um absurdo usar Hebreus 7:1-10 para justificar a entrega do dízimo na atual dispensação.
A passagem obviamente não tem seu foco no dízimo, mas o contexto todo está mostrando que o sacerdócio de Melquisedeque (que era um tipo de Cristo) é superior ao sacerdócio de Aarão. A própria carta aos Hebreus é toda escrita para mostrar aos judeus convertidos a Cristo que eles deviam colocar de lado todas as práticas do judaísmo, pois estas nada tinham a ver com cristianismo. Inclua-se aí também o dízimo, que foi dado a Israel como ordenança na Lei de Moisés, e não aparece em nenhum lugar da doutrina dada pelos apóstolos à igreja.
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Quem é a “senhora eleita” de 2 João 1:1?
Aparentemente a “senhora eleita” era mesmo uma senhora crente. “O presbítero à senhora eleita, e a seus filhos, aos quais amo na verdade, e não somente eu, mas também todos os que têm conhecido a verdade” (2 Jo 1:1). A carta é escrita para encorajá-la em sua fidelidade na criação dos filhos para o Senhor e também para alertá-la de alguns perigos de engano que são comuns à vida cristã. Mas, por estar hoje no volume da inspiração divina a que temos acesso, a carta é também dirigida a cada um de nós.
Esta parece ser também a opinião de outros que comentaram a passagem, como William MacDonald:
“A expressão ‘a senhora eleita’ não é tão fácil de explicar.
Três pontos de vista são comumente encontrados. (1) Alguns acreditam que a senhora eleita seja a igreja, em outra parte conhecida como a Noiva de Cristo, ou uma igreja local em particular. (2) Outros pensam que a carta tenha sido endereçada à ‘eleita Kyria’, o nome dela seria Kyria, que pode ser o equivalente grego do nome aramaico Marta (ambos significam ‘senhora’). (3) Outros acham que João está escrevendo para uma anônima senhora cristã, que como todos os outros crentes está entre os eleitos de Deus escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo.
“Nós preferimos o último ponto de vista, e sinto que é especialmente significativo que esta advertência contra os mestres anticristãos seja encontrada em uma carta dirigida a uma mulher. O pecado entrou pela primeira vez no mundo por Eva ter sido enganada por Satanás. ‘A mulher, sendo enganada, caiu em transgressão’ (1 Tm 2:14). Paulo fala de falsos mestres que fazem um apelo especial às mulheres, falando dos que ‘se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências, que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade’ (2 Tm 3:6-7). Ainda hoje, as falsas religiões visitam as casas durante o dia, quando o homem da casa geralmente está fora, no trabalho. As crianças precisam de ser alertadas contra os falsos mestres também”.
Hamilton Smith comentou assim:
“Nesta Segunda Epístola o apóstolo dirige-se a uma pessoa, a senhora eleita, e a seus filhos. Ele fala, portanto, de nossa responsabilidade individual. Sua motivação em escrever esta carta de advertência era o amor ao qual outros que tinham conhecido a verdade viriam a se juntar dentro do círculo cristão”.
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Paulo deveria estudar teologia?
Eu nem teria visto o vídeo se você não tivesse pedido, mas bastaram os primeiros quatro minutos para ver um homem arrogante e prepotente, porém com a voz mansa e pausada de um clérigo, dizendo que o apóstolo Paulo poderia melhorar muito sua forma de escrever se tivesse estudado teologia. Por isso ele (o pregador) tem a presunção de dizer que pretende melhorar o que Paulo disse, dando a entender que ele conhece mais e melhor do que Paulo aquilo que o Espírito quis dizer nas epístolas que o apóstolo escreveu. Considerando que Paulo esteve no terceiro céu, fico a imaginar até onde teria chegado esse pregador para ser tão bem instruído e capaz!
Vamos às palavras desse pregador, que eu não conhecia e prefiro não dizer o nome para não promover sua “marca”. Tenho por mim que muitos desses são fãs da música cantada pelo Erasmo, que diz, “Falem bem ou mal, mas falem de mim”. Diz ele:
“Eu me solidarizo com o apóstolo Pedro que disse que o apóstolo Paulo escreve coisas muito difíceis de entender (aqui ele cita 2 Pedro 3:16). O apóstolo Paulo era um homem muito confuso. Se eu tivesse a oportunidade de conversar com ele teria dito para ele ter algumas aulas de homilética na faculdade teológica batista… exposição bíblica, pregação expositiva temática… Talvez ele pudesse escrever de uma maneira mais fácil…
talvez por seu raciocínio hebreu, oriental… nós somos ocidentais, nós não pensamos deste jeito que os orientais pensam. O apóstolo Paulo, por exemplo, eu acho bem difícil. Alguns trechos aqui de Romanos eu inclusive gostaria de pular. Ele usa palavras iguais para se referir a coisas diferentes; palavras diferentes para se referir a coisas iguais; escreve meio assim fora de ordem, o que ele deveria falar primeiro, fala por último, o que deveria falar no meio ele fala no começo. Então eu resolvi dar uma melhorada no raciocínio do apóstolo Paulo, dar uma organizada melhor.”
Ora, o que ele está fazendo nada mais é do que cumprir o que Pedro falou e ele citou, mostrando que, se não entendeu nem mesmo o que Pedro quis dizer, o que dirá das coisas que Paulo escreveu! A passagem é esta: (2 Pe 3:15-16) “…o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição”.
Ao contrário da interpretação dada por este e outros pregadores, Pedro não está criticando Paulo ou desacreditando seus escritos, e sim apontando que os que não entendem as coisas que Paulo escreveu, por serem difíceis, as distorcem ao seu bel prazer. O “indouto e inconstante” pregador do vídeo se propõe a “melhorar” (leia-se “torcer” o que Paulo escreveu e a razão, obviamente, é por não ter entendido bulhufas do que Paulo escreveu e que Pedro coloca no mesmo nível de toda a Palavra inspirada por Deus, ao dizer “…igualmente as outras Escrituras”.
Para Pedro as epístolas de Paulo tinham a mesma autoridade das Escrituras do Antigo e Novo Testamento. Obviamente ainda não existia um cânon fechado para o Novo Testamento, mas esta afirmação de Pedro foi uma das razões pelas quais as cartas de Paulo foram incluídas no cânon. Alguém que conteste o que escreveu o apóstolo Paulo (e os outros apóstolos) está contestando a própria Palavra de Deus, algo muito em voga nas faculdades de teologia e nas denominações que não consideram que a Bíblia seja a Palavra de Deus, mas que apenas contém a Palavra de Deus. Esta visão dá ao homem a liberdade de decidir o que é e o que não é Palavra de Deus dentro da Bíblia, podendo assim introduzir seus próprios pensamentos, como faz o pregador do vídeo.
É interessante ver outras versões para a frase “…que os indoutos e inconstantes torcem” (Almeida Revista e Corrigida): “… que os ignorantes e instáveis deturpam” (Almeida Revista e Atualizada)
“… cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam” (Ave Maria)
“… que homens sem instrução e vacilantes deformam” (CNBB)
“… as quais os ignorantes e instáveis torcem” (NVI)
Estas definições cabem muito bem ao pregador em sua tentativa de colocar-se como juiz da própria Palavra de Deus, arvorando-se capaz de dizer como Paulo deveria ter ensinado aquilo que o Espírito Santo lhe confiou. Considerando que o que Paulo escreveu É a Palavra de Deus revelada pelo Espírito Santo, uma paráfrase do que o pregador disse ficaria absurda assim:
“O Espírito Santo é muito confuso. Se eu tivesse a oportunidade de conversar com ele teria dito para ele ter algumas aulas de homilética na faculdade teológica batista… exposição bíblica, pregação expositiva temática… Então eu resolvi dar uma melhorada no raciocínio do Espírito Santo, dar uma organizada melhor”.
Somente aqueles que creem na inspiração verbal da Palavra de Deus revelada a Paulo perceberão quão grave é o comentário que ele faz no vídeo tentando desacreditar o ministério de Paulo e seus escritos inspirados palavra a palavra. “Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas [em palavras] ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais… Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo” (1 Co 2:12-13; 14:37).
Eu esperava que você dissesse que estou equivocado por eu ter visto apenas o início do vídeo, e que aquilo seria apenas uma “pegadinha”, que ele estaria brincando ou usando de sarcasmo, etc. Mas como você disse que mais adiante ele ensina que toda a humanidade é formada por filhos de Deus, que todos serão salvos e que não devemos falar de inferno e condenação ao pregarmos o evangelho, só posso lamentar ter perdido quatro preciosos minutos de minha vida vendo a abertura de uma tal pregação.
Esse homem é responsável pelo que está fazendo, e se realmente crê no Senhor dará contas disso a Deus e verá tudo o que pareceu construir ser queimado, sendo ele próprio salvo como que pelo fogo (1 Coríntios 3). Ou ele pode ser um dos que Paulo descreve em 2 Timóteo 3, pois ali há adjetivos para todo tipo de enganador, não só o avarento, que é marca registrada dos pregadores da prosperidade, mas também “jactanciosos, arrogantes, blasfemadores”, estes caindo como uma luva para os clérigos moderninhos.
(2 Tm 4:3-4) “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E
desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas”.
Às vezes ficamos tão ocupados com os mercenários que vendem uma caricatura de cristianismo com seus “evangelhos da prosperidade” que deixamos passar os eruditos e pregadores moderninhos, com sua teologia de proveta negando abertamente a inspiração das Escrituras e enganando com suas filosofias os incautos. Obviamente sempre encontrarão ouvidos com coceira, portanto sua profissão estará garantida por enquanto.
Quando os Aliados se preparavam para a invasão da Europa no “Dia D”, a estratégia foi construir milhares de aviões de madeira, tela e papelão pintados para parecerem verdadeiros e concentrá-los nas instalações militares no norte da Grã Bretanha à margem do Canal da Mancha. Eles eram fotografados do alto pelos aviões espiões de Hitler e o levavam a pensar que a invasão seria pelo norte. Na Guerra do Golfo foi a vez dos Aliados serem enganados por milhares de tanques de guerra de borracha inflável espalhados por Saddam Hussein em instalações falsas no deserto. O inimigo de nossas almas, o diabo, está usando uma estratégia semelhante nos dias atuais.
Enquanto miramos no erro patente dos caricatos pregadores mercenários de um cristianismo falso e inflado de prosperidade em canais de TV
e auditórios de antigos cinemas, Satanás ataca em um flanco pouco protegido: o da teologia convencional fundamentalista. É nas denominações mais conservadoras e aparentemente “sérias” que o inimigo quer minar a fé cristã, dirigindo suas armas para ninguém menos que o apóstolo Paulo e os “mistérios” ou “segredos”
que lhe foram revelados de primeira mão. A estratégia é simples: fazer as pessoas acreditarem que Paulo era um homem complicado, solteirão recalcado, machista, incapaz de transmitir suas ideias com clareza, avesso a um cristianismo judaizante por ter vivido encharcado dele… a lista de acusações é longa. Em sua última carta e já prevendo seu martírio Paulo escreveu: “Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram” (2 Tm 4:16).
Em meio às trevas da apostasia que rapidamente descem sobre o planeta, quase dá para ouvir Satanás ordenando a seu exército de anjos: “Ataquem Paulo! Façam os cristãos ficarem contra ele e sua doutrina! Ele precisa ser desacreditado se quisermos que seu último mistério seja colocado em prática”.
Paulo escreveu sobre este mistério: “Não vos recordais de que, ainda convosco, eu costumava dizer-vos estas coisas? E, agora, sabeis o que o detém, para que ele [o anticristo] seja revelado somente em ocasião própria. Com efeito, o mistério da
iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém; então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda. Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos” (2 Ts 2:5-10).
É grande a diferença entre Paulo e os outros apóstolos. Os doze pregavam “arrependei-vos” (At 2:38); Paulo pregava “crê” (Rm 4:5-6; 1 Co 15:1-4). Os doze pregavam o evangelho do reino (Mt 4:17; At 3:19); Paulo pregava o evangelho da graça de Deus (At 20:4). Os doze foram salvos dentro de Israel e dali enviados (Mt 16:13, 16-17); Paulo foi salvo e enviado fora da fronteira de Israel (At 9:3). Aos doze foi dado um ministério terreno voltado para as promessas terrenas do reino dadas a Israel; Paulo recebeu um ministério celestial (Gl 1:1, 11-12). Os doze ministravam aos judeus (Mt 10:5; Gl 2:7-9); Paulo ministrava principalmente aos gentios (Rm 11:13; Gl 2:7-9). Por isso quando o inimigo quer minar os planos de Deus ele dá grande ênfase ao ministério dos doze para a terra e faz as pessoas pensarem na Igreja como mera sucessora de Israel, portanto cheia de práticas judaicas e esperanças terrenas (isto é conhecido como “Teologia do Pacto”), enquanto lança descrédito sobre o ministério de Paulo que aponta para a Igreja como distinta de Israel e com sua vocação e destino celestiais.
Ao apóstolo Paulo, o apóstolo nascido fora de tempo, foram revelados alguns mistérios ou segredos que não tinham sido revelados aos profetas do Antigo Testamento e nem mesmo aos outros apóstolos antes dele. Ele é o autor do “quinto evangelho”, a carta aos Romanos, onde diz, “pelo meu evangelho e pela proclamação de Jesus Cristo, de acordo com a revelação do mistério oculto nos tempos passados, mas agora revelado e dado a conhecer pelas Escrituras proféticas por ordem do Deus eterno” (Rm 16:25-26). A expressão “agora revelado e dado a conhecer” significa que antes de Paulo ainda era um mistério.
Um dos mistérios revelados a Paulo foi a ressurreição dos santos no arrebatamento. Ele escreveu: “Eis que eu lhes digo um mistério: nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados” (1 Co 15:51-52).
A carta aos Tessalonicenses dá mais detalhes deste mistério, e Paulo se inclui ali entre os que já esperavam por este evento: “Dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares” (1 Ts 4:16).
Mas existe muito mais na maneira peculiar como Cristo se revelou a Paulo, como um apóstolo “abortivo” ou “nascido fora de tempo” (1 Co 15:8). No Antigo Testamento Jesus foi apresentado em tipos e figuras e depois sua Pessoa descrita em detalhes nos Evangelhos. Mas o modo como ele se revelou a Paulo foi peculiar. Os outros discípulos haviam conhecido Jesus antes de sua morte e também depois, já ressuscitado. A Paulo ele apareceu glorificado e, como se isto não bastasse, levou-o para conhecer o Paraíso ou “terceiro céu”, onde o apóstolo “ouviu coisas indizíveis, coisas que ao homem não é permitido falar” (2 Co 12:4).
Portanto, ainda que você encontre Jesus em figuras no Antigo Testamento, e vivo, morto e ressuscitado nos Evangelhos, é por meio de Paulo que poderá conhecê-lo glorificado e em sua relação com a Igreja, o corpo de Cristo. Isto por causa da “revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos, e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações” (Rm 16:25-26). A chave para você abrir o cofre dos segredos ou mistérios de Deus é a “obediência por fé”.
Não apenas fé, mas a fé daquele que está disposto a obedecer para conhecer “a sabedoria de Deus, o mistério que estava oculto, o qual Deus preordenou, antes do princípio das eras, para a nossa glória” (1 Co 2:7).
Trata-se de coisas que pertencem a uma outra dimensão; que Deus tinha em mente antes que existisse o tempo, pois “olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam; mas Deus o revelou a nós por meio do Espírito”, diz o apóstolo Paulo em sua carta aos Coríntios (1 Co 2:8-9). Por mais privilegiados que tenham sido os homens de Deus do Antigo Testamento ou mesmo os discípulos e os doze apóstolos no período dos evangelhos, nenhum deles teve, naquele período, o Espírito Santo habitando em si como o crente tem agora, depois de Pentecostes, e é somente pelo Espírito que estas coisas podem ser compreendidas. No período dos evangelhos os apóstolos tinham apenas a promessa, não eram habitados pelo Espírito. “O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e ESTARÁ em vós”
(Jo 14:17).
Quando Deus decidiu revelar a verdade do mistério ele escolheu um vaso muito especial, e sabemos disso porque em Efésios 3 Paulo diz: “Certamente vocês ouviram falar da responsabilidade imposta a mim em favor de vocês pela graça de Deus, isto é, o mistério que me foi dado a conhecer por revelação” (Ef 3:2-3). Paulo ainda não tinha recebido a revelação do mistério quando o Senhor mostrou a ele a essência da verdade deste mistério no caminho para Damasco, ao perguntar: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?” (At 9:4). Jesus revelava assim que os santos, que Saulo perseguia na terra, formavam um corpo e estavam unidos a Cristo, a Cabeça, nos céus.
O detalhamento deste mistério Paulo apresenta em sua carta aos Efésios. Faltava um mistério a ser revelado, e a tarefa coube a Paulo. Com este segredo trazido à tona, a revelação de Deus estaria completa. É o que ele diz aos Colossenses, ao falar da Igreja, o corpo de Cristo e habitação do Espírito: “Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para com vocês, para cumprir a palavra de Deus; o mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos… que é Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1:24-27).
No grego a palavra traduzida como “cumprir” tem o sentido de completar ou preencher uma lacuna. É a mesma usada por João, ao dizer: “Escrevemos estas coisas para que a nossa alegria seja completa” (1 Jo 1:4). Paulo colocou a peça que faltava na revelação de Deus e nos fez saber que “os gentios são coerdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus”. E continua: “Foi-me concedida… a administração deste mistério que, durante as épocas passadas, foi mantido oculto em Deus” (Ef 3:6-9).
Por ser um mistério que ficou oculto no passado, a Igreja não existia no Antigo Testamento e nem mesmo nos evangelhos. Jesus a menciona pela primeira vez em Mateus 16:18, mas como algo ainda futuro. Ele diz: “Edificarei a minha igreja”. Como toda edificação da época, ela teria um alicerce com uma pedra de canto ou esquina, Cristo, seguida das outras pedras do alicerce, os apóstolos e profetas do Novo Testamento. Sobre este fundamento as paredes seriam levantadas com o acréscimo de cada salvo por Cristo.
É desta edificação que Paulo fala no capítulo 2 de Efésios ao dizer que somos “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor” (Ef 2:20-21). Em 1 Coríntios o apóstolo fala de sua responsabilidade em lançar os fundamentos da Igreja: “Conforme a graça de Deus que me foi concedida, eu, como sábio construtor, lancei o alicerce, e outro está construindo sobre ele” (1
Co 3:10-11). Portanto é impossível você entender o que é a Igreja e saber como ela deve funcionar sem ler as cartas do apóstolo Paulo, a quem foi dada a tarefa de completar a Palavra de Deus.
Obviamente muitos não gostam da ideia de termos uma revelação completa, pois isto não lhes permite trazer suas próprias “revelações” ou, como no caso do pregador do vídeo, seus raciocínios teológicos sofisticados. Paulo avisou a Timóteo: “Virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos”. (2 Tm 4:3-4) Resumindo, os mistérios revelados a Paulo e que muitos cristãos estão deixando de entender e desfrutar, por obra de refinados lobos em pele de ovelha, são:
1. O mistério do evangelho da graça de Deus (Rm 16:25-26) 2. O mistério do endurecimento de Israel por um tempo (Rm 11:25-27)
3. O mistério do arrebatamento e da ressurreição do corpo de Cristo (1 Co 15:51-53)
4. O mistério do um só corpo, a Igreja (Ef 3:1-9) 5. O mistério da cidadania ou vocação celestial do crente no corpo de Cristo (Ef 1:3; Fp 3:20-21)
6. O mistério do propósito de Deus de reunir todas as coisas em Cristo na dispensação da plenitude dos tempos (Ef 1:9-10) 7. O mistério da graça de Deus (Rm 6:14) 8. O mistério da identificação do crente com Cristo (1 Co 15:1-4)
9. O mistério da iniquidade (2 Ts 2:6-12) *
Mulheres podem escrever sobre o Senhor?
Na Bíblia encontramos muitas mulheres que foram usadas por Deus e elas efetivamente têm seu lugar dentro da esfera que lhes é designada.
Há coisas para as quais os homens são péssimos e as irmãs tiram de letra. O
importante é sempre entender que as irmãs não têm um testemunho público e de ensino, como pregar em público por exemplo, mas elas têm sim seu lugar em outras esferas, como as descritas nos últimos capítulos de Romanos, quando Paulo cita várias irmãs.
Paulo também diz a Tito para ensinar as mulheres idosas para que “ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada”. Só esta lista já manteria as irmãs ocupadas por toda a vida e perceba que nada aqui inclui doutrina, mas questões ligadas à vida diária em sua comunhão com o Senhor. Também é bom lembrar que o Senhor escolheu uma mulher, Maria Madalena (Jo 20:17-18) para levar a mensagem da ressurreição aos discípulos. Em Atos encontramos Priscila e Áquila ajudando Apolo a explicar “mais precisamente o caminho de Deus”. Mas repare que não é Priscila quem está fazendo isso, porém “Priscila e Áquila”, ou seja, considerando que em outras passagens vemos os limites impostos ao ministério das mulheres, aqui ela evidentemente está ajudando seu marido, e isto não em público, mas em seu próprio lar. O texto abaixo, de W. W. Fereday, pode ajudar:
“Quanto às mulheres falarem na assembleia, em qualquer maneira que seja, as Escrituras são claras a respeito: elas não devem falar (1
Co 14:24-45). Esta passagem não deve ser negligenciada por aquelas cujo único desejo é fazer a vontade do Senhor. O capítulo todo dá total liberdade para os santos quando reunidos, desde que tudo seja para a edificação, o que nem preciso dizer que exige a direção do Espírito Santo, sem o qual nada pode ser de proveito ou para a glória do Senhor. A única exceção é: ‘As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar’.
O mesmo encontramos em 1 Timóteo 2:8, onde diz: “Os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda”, seguido de instruções para mulheres, ‘que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia… A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio.’ (1 Tm 2:8-15).
Outra razão para sua sujeição é o que está subtendido em 1
Coríntios 14:36: ‘Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós?’. Pondere bem sobre esta passagem e veja o que ela envolve. A Palavra de Deus vem para a igreja (a mulher), nunca vem dela, como os romanistas costumam ensinar. A mulher cristã deve agir sobre este grande princípio e aprender do homem, e não querer ensinar o homem. (W. W. Fereday –
‘Women Speaking in Public’)”.
Na resposta a uma pergunta respondida no “Bible Treasury”
sobre a possibilidade de irmãs falarem em uma reunião de estudo bíblico, encontrei:
“Nunca deveríamos confundir um “estudo da Bíblia” com uma “reunião da assembleia”. O caráter de cada uma é totalmente diferente e distinto. A liberdade de falar e fazer perguntas que você encontra em uma leitura da Bíblia não cabe em uma reunião da assembleia. (…). Homens podem orar em todo lugar, levantando mãos santas, não mulheres (…) Podemos muito bem entender a liberdade de uma mãe orando com seus filhos em casa (…)”
E quando se trata de escrever, uma irmã poderia publicar textos seus falando do Senhor? Sem dúvida, se eles não envolverem o ensino da doutrina. Textos devocionais, biografias, material para crianças e adolescentes, histórias bíblicas, poesia, hinos… Há também o trabalho de redação e edição que muitas irmãs fizeram no século 19 e permitiram que hoje existisse uma biblioteca tão vasta de escritos dos irmãos. É que elas costumavam anotar o que era dito nas reuniões, depois juntavam as anotações (porque uma perdia algo que outra tinha), editavam, revisavam e isso acabava depois transformado nos livros assinados pelos irmãos que haviam falado aquilo nas reuniões.
Muitas letras dos hinos que cantamos foram escritas por mulheres. Veja por exemplo o caso do “Little Flock”, o hinário em inglês que foi compilado no século 19 e é usado até hoje pelas assembleias de língua inglesa reunidas ao nome do Senhor. Um quinto dos hinos ali foram escritos por irmãs, ou seja, mais de 80 hinos. As letras dos hinos 58, 148, 191, 248, 279, 287, 292, 454, 470, 471 e 477, por exemplo, foram escritas por Catherine Helene von Poseck (1859-1953). Há outras também que aparecem na história do hinário, além das que traduziram hinos que eram originalmente em alemão ou francês e das que trabalharam em sua edição, correção, etc. Tem a história em inglês do hinário “Little Flock” neste endereço:
http://www.stempublishing.com/hymns/HISTRYLF.html
Se você visitar o site da www.bibletruthpublishers.com encontrará vários livros escritos por irmãs, do passado e do presente, dentro daqueles parâmetros que escrevi acima. O que não cabe, obviamente, é a pregação pública e o ensino. Mas como há coisas que são mulheres as melhores para ensinarem mulheres, também há bons livros escritos por irmãs com este conteúdo.
Sei que os irmãos da Bible Truth Publishers são bem criteriosos na escolha dos livros vendidos, pois todos eles são lidos de antemão e muitos são tirados da lista quando algum leitor detecta erros. Aqui vão algumas autoras e seus livros publicados ou vendidos pela Bible Truth Publishers: Bevan,
Frances; Brenneman, Helen Good; Buksbazen, Lydia; Carmichael, A.; Currier, Mary; Davies, Florence; Drewsen, Mary
Emma; Elliot, Elizabeth; Enock, Esther E.; Epp, Margaret A.; Feuvre, Amy Le; Friesen, Marilyn; Goforth, Rosalind; Groves,
Sheila; Gunderson, Vivian D.; Harris, Beth J. Coombe; Hunt, Lionel A.; Hurst, S.P.; Johnston, Dorothy Grunbock; Kauffman, Christmas Carol; Kever, Nancy; Landis, Mary M.; Leake, Jane J.J.; Lecomte, Eva; Mackenzie, Carine; Mackenzie,
Catherine; Mackenzie, Janet; Miller, Sheila; Murray,
Faith; Ropes, Mary E.; Rouw, Jan; Roy,
Kristina; VonSchultze, Lilli; Sherwood, Mrs. Mary M.; Smith, Frances; Smith, Grandma; Smith, Teri; Soderholm,
Beverly; St.John, Patricia; Taylor, Helen L.; Taylor, Mrs.
Howard; Tuininga, Margaret Jean; Vernon, Louise A.; Walton, Mrs.
O.; F.Watt, Rachel; Wilhelm, Myra L.; Williams,
Effie; Willis, Anna Frances; Worman, Aunt Theresa; Zook, Mary O perigo está em a mulher não se policiar e querer introduzir naquilo que diz ou escreve pensamentos seus de ensino doutrinário que não seriam adequados a uma irmã publicar. Lembre-se: Adão não foi enganado, mas Eva. Às vezes isso acaba acontecendo naquelas perguntas que não são perguntas, mas afirmações terminando com um ponto de interrogação. Encontro muito disso em palestras. Quando abrem no final para perguntas, sempre tem alguém que não tem uma dúvida, mas pega o microfone e faz sua própria palestra.
J. N. Darby foi direto ao ponto ao responder a uma irmã que lhe escreveu perguntando sobre o assunto:
“Duas coisas são proibidas às mulheres, falar na assembleia e ensinar em qualquer lugar. Isto torna a questão muito simples para mim: silêncio na assembleia e nunca ensinar. Se for o caso de uma reunião de leitura bíblica em um lar, o que é na prática uma reunião privativa e não pública, as irmãs estão livres. Creio que o recato as controlará quando irmãos estiverem presentes, mas em um lar elas têm a liberdade de falar. No momento em que os irmãos se reúnem como tais, ao nome do Senhor, então o lugar das irmãs é de silêncio, porque o simples fato de fazerem uma pergunta pode esconder um ensino.
“Uma reunião que ocorra no salão de reuniões que é usado pela assembleia pode mais ou menos ter necessariamente o caráter de uma reunião de assembleia, se for algo aberto e público para todos comparecerem. Quando existe liberdade, há também muitas coisas que estão conectadas à decência das irmãs e que devem servir de guia. ‘Não vos ensina a mesma natureza’, diz o apóstolo, e tudo está maravilhosamente em seu lugar: as mulheres tiveram o seu belo papel nos evangelhos, e mesmo nas epístolas. Elas são encontradas apegadas a Jesus quando os discípulos não faziam o mesmo, mas era no lugar que lhes estava designado que elas devotamente apegavam-se a ele, não no ensino público.
A ordem de Deus traz maior progresso do que qualquer superioridade de inteligência. Creio que o fato de terem fé para manter-se em silêncio e confiarem no Senhor seria suficiente para fazer com que elas permanecessem em silêncio quando fossem incentivadas a falar. Mas neste caso a questão seria realmente de decoro, não de fé. ‘Não permito que a mulher ensine…’ (1 Tm 2:12)”. [J.
N. Darby – Letters – Vol. 2].
Acredito que as irmãs tenham um lugar muito honorável nas Escrituras. Elas se apegaram ao Senhor quando os discípulos o abandonaram; na sua morte e ressurreição são elas, não os apóstolos, que encontramos, e durante sua vida elas lhe ministravam em suas necessidades. Além disso, o apóstolo no final de Romanos concede a elas o mais elevado testemunho. Mas o Senhor nunca as enviou a ensinar ou pregar. E mais tarde os apóstolos as proibiram terminantemente de exercerem a mesma autoridade.
Tudo é maravilhoso quando em seu próprio lugar. Se elas estiverem se ajudando mutuamente, não vejo como impedir. Ou pode ser o caso de estarem explicando as Escrituras no sentido do evangelho a mulheres ignorantes e inconversas, mesmo quando muitas delas estiverem presentes. Mas ensinarem em reuniões, ainda que entre elas próprias, me parece contrário às Escrituras. O
lugar onde isto é feito realmente não faz diferença, mas sim as circunstâncias: trata-se de um local de ensino, e é impossível eliminar este significado.
Qualquer coisa que as coloque no lugar de ensinarem, as coloca na posição de erro e isto não vem de Deus. O que lhes concede honra é ‘um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus’ (1 Pe 3-4).” [J. N. Darby – Letters – Vol.
3]
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Membros de denominações não são seus irmãos?
Sua pergunta foi: “Vocês, reunidos ao nome do Senhor, reconhecem os membros dessas igrejas (não só essas, mas todas as que ainda pregam um evangelho saudável), como irmãos em Cristo?”. O problema da pergunta está em colocar “membros dessas igrejas” como elemento qualificador.
Nada na Bíblia nos autoriza a julgarmos se alguém é salvo ou não pelo fato de essa pessoa pertencer ou não a uma determinada organização chamada “igreja”.
Só existe uma igreja na Bíblia, e é aquela que Cristo comprou com seu próprio sangue. O fato de estarmos congregados ao nome do Senhor somente é por não reconhecermos a existência de qualquer outra igreja que não seja o corpo de Cristo. E o corpo de Cristo inclui todos os salvos por Cristo, independentemente de onde eles estejam ou de que igreja se fizeram “membros”. A propósito, na Bíblia não existe a expressão “membro de igreja”, existe “membro do corpo”. Como o Corpo é só um, de que corpo essas pessoas estariam se fazendo membros, já que Deus não reconhece outro?
A resposta curta é “Não”, membros de igrejas não são irmãos em Cristo. Mas se esses membros de igrejas forem realmente convertidos a Cristo, então a resposta é “Sim”, são irmãos em Cristo. Mas não é o “serem membros de igrejas” que fazem delas pessoas salvas e membros do Corpo de Cristo, mas a fé na morte e ressurreição do Senhor e a habitação do Espírito Santo de Deus, pois “se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8:9).
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Preciso ser rebatizado?
Você perguntou se há necessidade de rebatismo quando um membro dessas igrejas denominacionais passa a estar congregado somente ao nome do Senhor, fora dos sistemas religiosos.
A resposta é não, porque não é quem batiza ou onde você foi batizado que importa, mas “a quem” você foi batizado. Os judeus eram batizados “a Moisés”, porque se tornaram seguidores dele. Os discípulos de João Batista foram batizados a João, se identificaram com ele, e precisaram ser novamente batizados quando se converteram a Cristo.
Entendo que alguém que tenha sido batizado em nome de Jesus (ou segundo a fórmula “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo) está batizado. Não importa se isso aconteceu na igreja católica ou por mãos de um desses lobos que aparecem pregando na TV, pois tal pessoa foi batizada a Cristo, passou a ser identificada com ele, não é mais um pagão, é um cristão.
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Posso ser denominacional e congregar com vocês?
Sua pergunta completa foi: “Pode-se estar numa das igrejas citadas e visitar a reunião de vocês, participando ativamente?” A resposta é “Sim” e “Não”, porque você fez duas perguntas em uma só. Uma pessoa que congregue em uma denominação pode visitar quantas vezes quiser as reuniões, mas não poderá participar delas. Quando digo participar refiro-me a estar à mesa do Senhor em comunhão para partir o pão e o vinho com os irmãos, ou ministrar a Palavra.
Se um dos fundamentos sobre o qual nos reunimos é que há um só corpo e que não deve haver divisões nesse corpo, seria uma incoerência a pessoa querer partir o pão onde consideramos “igreja” a todos os salvos por Cristo, e ao mesmo tempo continuar em comunhão com alguma seita ou heresia (no sentido bíblico a palavra significa “divisão” ou “escolha”), independente das doutrinas que tal seita professe, pois o simples fato de ser uma facção já é um erro.
Alguém assim, segundo entendo, está contaminado com mal eclesiástico por tentar professar, com um lado da boca, que há um só corpo, mas na prática continuar testemunhando que há muitos corpos, por fazer parte de um que não inclui todos os salvos por Cristo ou que identifique os seus simpatizantes por uma denominação que não inclua a todos os cristãos.
Existe ainda um outro impedimento à comunhão, e isto seriam as doutrinas que esta pessoa confessa. Se ela, por exemplo, achar que Jesus não é Deus, ou que o Espírito Santo não é uma Pessoa da Trindade, ou que a salvação é por obras, por isso ela precisa se esforçar até o fim para ser salva, etc., então essa pessoa estaria contaminada com má doutrina e precisaria deixar essas coisas para estar à mesa do Senhor. Ela eventualmente acabaria ministrando essas ideias na reunião (porque nos reunimos entendendo que o Espírito pode usar quem ele quer) e contaminaria outros com sua má doutrina. “Um pouco de fermento leveda toda a massa”.
O terceiro impedimento para tal pessoa estar em comunhão à mesa do Senhor seria pecado moral, como encontramos em 1 Co 5. Assim, cada um que chega é primeiro examinado pela assembleia quanto às suas associações religiosas, doutrina que professa e seu andar público. A assembleia não julga as pessoas, mas aquilo que é visível, como seu testemunho, sua doutrina e seu andar.
“Assim, nós nos reunimos em um terreno amplo o suficiente para incluir cada membro de seu corpo, sem excluir nenhum. Se aqueles que chegam são conhecidos por estarem em conexão ou associação com algo que não dê importância à verdade e glória do Senhor, esta sua posição o excluiria da comunhão à mesa do Senhor”. F. G. Patterson em “Endeavouring to Keep the Unity of the Spirit”
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Mulheres podem ensinar na escola dominical?
Não há nada de errado em mulheres ensinarem na escola dominical, se os que aprendem são crianças e isto for feito em ambiente separado do ambiente público onde ficam os demais. O que a Bíblia é clara em proibir é que a mulher ensine, obviamente não crianças porque até a mãe e avó de Timóteo são citadas por terem feito um bom trabalho com o filho e neto. É
comum hoje as pessoas seguirem a própria opinião sem antes buscarem na Palavra, e aqui vai o que diz a Palavra de Deus:
“A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido [homem], mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.” (1 Tm 2:11-14).
A passagem é muito clara: o lugar da mulher é aprender em silêncio e sujeição, não ensinar e nem usar de autoridade sobre o homem, pois o versículo 12, no original, diz “sobre o homem” e não “sobre o marido”.
Outro ponto importante é que Deus proíbe que a mulher fale nas igrejas, portanto isso já exclui uma boa parte do que vemos por aí, e neste caso não se trata apenas de ensinar, mas de pregar, falar, dar opiniões, fazer perguntas, conversar, etc.
“As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei.
E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja” (1
Co 14:34-35).
Como que sabendo que isto daria “pano pra manga” e alguns interpretariam como apenas uma questão de costumes e cultura da época, o apóstolo acrescenta: “Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (1 Co 14:36). E se alguém contestar, dizendo que isto se restringia à igreja de Corinto, por causa de problemas locais, então basta ler no envelope o destinatário da carta: “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1
Co 1:2).
As passagens que mostram que Deus proíbe que a mulher ensine falam obviamente de doutrina, de explicar a Palavra de Deus. Isto porque encontramos Jesus mandando Maria Madalena levar o anúncio de sua ressurreição aos outros discípulos, o que nos leva a pensar que não está errado a mulher falar de Cristo em particular com alguém, no sentido de anunciar sua morte e ressurreição.
É claro que se existir um irmão junto é melhor que este tome a dianteira, pois do simples anúncio do evangelho pode ser que seja preciso passar para o ensino da Palavra. Além disso, encontramos Priscila ajudando seu marido a esclarecer melhor as coisas para Apolo, o que demonstra que na esfera do lar e sob a autoridade do homem a mulher possa também ajudar neste sentido.
“[Apolo] começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus.” (At 18:26).
A mulher certamente não poderia ensinar na escola dominical nas reuniões da igreja ou assembleia, isto é, na presença de adultos, por duas razões: em público ela deve permanecer calada e na escola dominical ela acabaria ensinando doutrina, duas coisas não permitidas na Palavra de Deus (afinal, não é o que “achamos” que vale, mas o que está escrito com letras bem claras).
Se um incrédulo pergunta algo a uma mulher cristã, ela certamente deve falar de Cristo a ele (transmitir o anúncio de sua morte e ressurreição), mas tendo o cuidado de não entrar no terreno do ensino. O melhor é que, uma vez falado do caminho da salvação ela pode muito bem pedir ajuda de um irmão para entrar em contato com o incrédulo e dar sequência no sentido de tirar suas dúvidas. Afinal, o que interessa ao incrédulo é o puro evangelho, que Paulo resumiu em 1 Coríntios 15, “que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15:3-4). De nada adianta se aprofundar no assunto com um incrédulo, porque ele ainda não está capacitado a entender as coisas de Deus. “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14).
Veja que esta ordem das coisas de Deus tem também o outro lado, ou seja, não é em todas as situações que um homem pode ensinar.
Por exemplo, Paulo não disse a Tito para ensinar as irmãs jovens coisas relacionadas ao comportamento da mulher cristã, mas disse às irmãs anciãs para fazerem isso. Por isso é errado e perigoso um homem tornar-se “conselheiro” de irmãs jovens quando o assunto vai além do evangelho e da doutrina, e passa às coisas relacionadas à sua vida íntima. Veja que o que Paulo ordena que seja ensinado pelas mulheres idosas, e não por Tito são questões relacionadas ao matrimônio:
(Tt 2:3-5) “Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada”.
Sempre que um irmão precisar aconselhar uma irmã jovem sobre assuntos relacionados a casamento, filhos, relacionamentos com o marido, etc., ele deve procurar a ajuda de sua esposa ou de uma irmã anciã, nunca fazê-lo sozinho. Grande parte dos casos de adultério ocorridos dentro de igrejas começa com o irmão que aconselha envolvendo-se emocionalmente com a jovem que está fragilizada e carente em razão dos problemas que enfrenta no lar.
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Qualquer um pode participar da ceia?
Qualquer pessoa pode participar da ceia, desde que seja convertida a Cristo, tenha sido batizada e peça seu lugar à mesa do Senhor para poder ser conhecida e recebida pela assembleia. Estar à mesa do Senhor nestes dias de tanta confusão religiosa envolve um triplo julgamento: PRIMEIRO, o julgamento da própria pessoa que deseja participar. Uma vez uma irmã me disse que achava ótimo os critérios que os irmãos usavam para receber alguém à comunhão, porque ela mesma não gostaria de partir o pão em um lugar que aceitasse qualquer um que chegasse dizendo ser cristão.
Quando participamos da ceia estamos expressando nossa comunhão prática com outros membros do corpo de Cristo, e estaríamos contaminando a mesa e nos contaminando se ficássemos lado a lado com alguém vivendo em pecado, por exemplo, um adúltero, uma prostituta, um bandido procurado pela polícia, alguém envolvido em ocultismo, espiritismo, maçonaria, etc.
“Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? … Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais… Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas? … Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus” (1
Coríntios 5-6).
Portanto é bom que a própria pessoa que deseja participar da comunhão seja criteriosa e queira saber em que terreno está pisando, e deve alegrar-se por encontrar uma comunhão em que os irmãos são criteriosos quanto a quem é recebido ou não. Se você entender que este critério é para manter a comunhão sã, certamente irá apoiar a ideia. Mesmo que você não seja uma pessoa que anda em pecado, se desejar realmente estar em comunhão será muito bem vindo, mas antes precisará ser conhecido dos irmãos com os quais terá comunhão, do mesmo modo como desejará conhecê-los.
A única coisa que poderia impedir você de participar seria querer estar em comunhão à mesa do Senhor, onde testemunhamos que há um só pão, um só corpo, e que TODOS os salvos são membros desse corpo, e ao mesmo tempo continuar participando de uma denominação. Se estamos à mesa do Senhor confessando que há um só corpo (e não muitos corpos) seria uma incoerência eu estar ali e ao mesmo tempo ser membro de uma “igreja” criada pelos homens.
SEGUNDO, o julgamento da assembleia, que tem o dever bíblico de receber cada um que vem sobre as bases determinadas pela doutrina dos apóstolos, que é a de julgar quem pode estar à comunhão (conforme expliquei acima). A assembleia é também responsável em julgar os que estão “dentro”, isto no sentido de comunhão, pois quando alguém peca deve ser excluído da comunhão, colocado “fora” (1 Coríntios 5). Seria também uma incoerência alguém continuar congregando em uma denominação pois aí estaria sob dois escrutínios: o da assembleia reunida ao nome do Senhor e o da denominação que se baseia em seu dogma ou regra de fé.
TERCEIRO, o julgamento de si mesma perante o Senhor. Este versículo confunde a muitos, pois pensam ser este o único julgamento que deve ser feito e que caberia exclusivamente à pessoa saber se deve ou não participar da ceia.
Mas uma simples atenção ao versículo irá mostrar que é um julgamento para ter consciência de sua indignidade de estar ali, mas de ter sido feita digna de comer, pois a conclusão é “…e assim
coma do pão e beba do cálice”. (1 Coríntios 11:23-34).
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Por que não posso ofertar?
Sempre que alguém me diz que pretende visitar os irmãos congregados ao nome do Senhor eu costumo esclarecer alguns pontos para a pessoa não ser surpreendida ou até, sentir-se excluída. Basicamente são três os pontos que chamam a atenção de quem visita uma reunião: o ministério da Palavra não ser feito por um só homem, a ceia do Senhor ser restrita aos que foram previamente recebidos à mesa do Senhor, e a coleta não ser estendida a visitantes que não estão à mesa do Senhor participando da ceia.
Se o convidado for a uma reunião de ministério da Palavra, por não existir um homem à frente dirigindo, e o ministério ser dado pelos diferentes dons com a liberdade do Espírito (“falem dois ou três profetas, e os outros julguem” – 1 Co 14:26-40), ele pode achar que aquilo é um debate ou espaço aberto para cada um dar sua opinião. Já vi casos de pessoas desavisadas, inclusive incrédulos, tomarem a palavra e começarem a dar suas opiniões, do tipo “Eu acho isso…”, “Eu penso aquilo…”, etc.
Embora não exista um dirigente humano, o Espírito Santo é quem dirige cada um a falar, e isto é feito com o mesmo critério que o Espírito estabeleceu para aqueles que ministram a Palavra: devem ser julgados naquilo que falam. Isto não significa impedir um dom de ministrar, mas sim saber de antemão se aquele dom está de acordo com a Palavra de Deus. Você deixaria um desses lobos que aparecem de vez em quando na TV abrir a boca em uma reunião dos irmãos? Não, porque o que eles falam tem por objetivo pedir dinheiro ou espalhar seu fermento (má doutrina). Para o ministério da Palavra deve valer o mesmo princípio usado na escolha daqueles que irão ministrar para as necessidades materiais, que vemos como diáconos: “E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis”. (1
Tm 3:10).
A grande dificuldade do ministério aberto a desconhecidos é que um Testemunha de Jeová, Mórmon ou Espírita pode chegar e se apresentar como cristão. Aí ele começa a ministrar na reunião e pode dizer que Jesus não é Deus, que a salvação é pela reencarnação, etc. O mal já terá sido feito e todos terão sido contaminados com sua má doutrina. Daí a necessidade de um julgamento prévio para conhecer quem é aquela pessoa.
Este cuidado se faz mais necessário em virtude dos tempos em que vivemos, quando lobos se introduziram no rebanho. E mesmo os irmãos que já são conhecidos são julgados quando ministram. “Falem dois ou três profetas e os outros julgam”. Não raro alguém tem sua fala interrompida por dizer algo que não está de acordo com a Palavra ou precisar de melhores esclarecimentos.
O critério da restrição à participação da ceia (de comer do pão e beber do vinho) já expliquei em outro texto, portanto vou falar algo sobre a surpresa que alguns têm quando percebem que sua oferta ou contribuição não é aceita na hora da coleta.
Este é um critério que se faz mais importante ainda em tempos de tanta confusão quanto os que vivemos. Abraão não quis aceitar nada do rei de Sodoma e isto deve ser um princípio para a assembleia também: não aceitar nada que venha de incrédulos ou do mundo. Para uma pessoa que apenas visita uma assembleia, que não está em comunhão e que não é ainda conhecida dos irmãos, existe o zelo de aguardar até conhecer melhor a pessoa. Quem é ela? É
convertida? Está vivendo em pecado ou não?
Conheci um homem que era diácono de uma igreja presbiteriana que, além de ser maçom, era também adúltero reconhecido por todos na cidade (mantinha duas casas, duas mulheres e duas famílias). Como era muito rico, e seu dízimo era o maior da igreja, o pastor jamais cogitou excluí-lo da comunhão. Estas distorções acontecem quando não atentamos para o que disse o apóstolo em 3 Jo 1:7 “Porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios”.
Evidentemente alguém que esteja numa denominação não irá entender isto, pois é comum na cristandade as “igrejas” aceitarem favores de incrédulos e principalmente de políticos em campanha. Conheci um homem que, mesmo sendo incrédulo, ficou horrorizado quando acompanhou um político que assessorava a uma reunião da qual participavam candidatos a cargos políticos e pastores de denominações. A reunião, na casa de um pastor, foi uma espécie de leilão, no qual cada político apresentava o que poderia fazer por cada pastor caso tivesse votos daquela igreja.
É assim que muitas denominações religiosas ganham terrenos para construir seus templos, equipamentos para o culto, etc., além da isenção de impostos, que já é comum porque o governo prefere saber onde as pessoas estão reunidas e que estão sob a tutela de um só líder, pois manobrando o líder fica muito mais fácil manobrar as massas.
Até financiamentos de incrédulos para campanhas evangelísticas são aceitos por muitos cristãos e igrejas na cristandade. Quem conhece a história dos primeiros missionários protestantes que vieram para o Brasil sabe que a maçonaria apoiou e financiou boa parte dessa obra, às vezes até protegendo seus missionários. Um desses missionários batistas, Salomão Ginsburg, era maçom, e em sua biografia que li há muitos anos há um trecho que diz:
“Enquanto prega, uma multidão armada com punhais cerca o dedicado missionário. Salomão ora pedindo livramento a Deus e um pensamento lhe vem de súbito: “Seria possível que naquele lugar houvesse um irmão maçom?”. Sem pensar duas vezes este ilustre maçom protestante faz o sinal da maçonaria e alguns homens o cercam, conduzindo-o a uma das melhores residências da cidade.”
As ofertas que são coletadas nas reuniões da assembleia reunida ao nome do Senhor vêm de irmãos em comunhão e são destinadas às necessidades dos santos. Pelos motivos que já expliquei acima, é preciso critério nisso, e por isso é que costumo sempre preparar aqueles que visitam as reuniões para não ficarem surpresos quando tentarem falar e forem interrompidos, ou quando o pão e o cálice não passarem por eles, ou ainda quando enfiarem a mão no bolso e a coleta passar ao largo.
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Mesas denominacionais são de demônios?
Ninguém pode dizer que um cristão que participe da ceia em uma denominação esteja participando da mesa de demônios. A mesa de demônios em 1 Coríntios 10 é a mesa dos pagãos, o altar em que os pagãos sacrificavam seus animais para os ídolos, atrás dos quais haviam demônios. Não tem nada a ver com cristãos. Vamos ao texto:
(1 Co 10:14-21) “Portanto, meus amados, fugi da idolatria. Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que digo. Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?
Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão. Vede a Israel segundo a carne; os que comem os sacrifícios não são porventura participantes do altar? Mas que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios”.
O assunto aí é a idolatria da qual os Coríntios haviam saído depois de terem se convertido. A idolatria de que fala ali é a pagã, e não qualquer prática encontrada hoje na cristandade, como é o caso das imagens das religiões católicas. Não se pode atribuir a isso o mesmo que o apóstolo fala aqui sobre participantes da mesa de demônios. Os católicos não celebram sua missa na mesa de demônios, e os ídolos católicos não se compararam aos ídolos pagãos, pois são representações humanas e não de seres do mundo espiritual. Os católicos que adoram estátuas o fazem por ignorância, porque isto não faz parte do cerne da doutrina católica, mas sim dos penduricalhos que lhe foram acrescentadas. Nos dias de hoje uma mesa de demônios seria um altar do candomblé ou da macumba, onde eles conscientemente oferecem vítimas aos demônios para aplacar a ira deles.
Se ler 1 Coríntios 10:14-21 verá que ali há pelo menos três mesas: a mesa (altar) dos judeus, a mesa dos demônios e a mesa do Senhor. Mas e a mesa denominacional, é o que? Uma mesa formada por homens segundo os preceitos da religião que criaram e à qual geralmente são aceitos os que se tornaram membros daquela denominação (em alguns casos é uma mesa aberta a qualquer um, o que também é um erro; eu não recebo qualquer um para comer em minha mesa de jantar, por que faria isso com a mesa do Senhor). Mas, reforçando, uma mesa denominacional não é uma mesa de demônios.
Israel tinha uma “mesa” ou altar, que nada tem a ver com o cristianismo. Mas os judeus transformaram também aquele altar que Deus lhes tinha dado em “sua mesa”, ou de homens.
(Sl 69:22) “Torne-se-lhes a sua mesa diante deles em laço, e a prosperidade em armadilha”.
(Rm 11:8) “Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje”.
(Rm 11:9) “E Davi diz: torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, por sua retribuição”.
(Hb 13:9-16) “Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e estranhas… Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo [os sacerdotes judeus]. Porque os corpos dos animais, cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial. E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta [da cidade ou organização judaica].
Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério. Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura. Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome. E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada”.
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Somos criaturas ou filhos de Deus?
Às vezes usamos indistintamente palavras como “criatura de Deus” ou “filho de Deus”, mas existem algumas diferenças entre os termos.
Pense, por exemplo, em um automóvel. Ele é criado por uma equipe de engenheiros, projetistas e designers que produz um protótipo. Geralmente são feitas modificações nesse protótipo que acabam afetando também o projeto original. Vamos chamar o projeto original de “criação” e o protótipo de “criatura”.
Então, a partir do protótipo e de seu projeto, o modelo é fabricado em série pelos operários da fábrica, que hoje inclui até robôs.
Estive numa fábrica de motores onde trabalham poucas pessoas para vigiarem a esteira onde os motores vão sendo montados por braços mecânicos de robôs programados para isso. E robôs não criam coisa alguma, apenas fazem aquilo para que foram programados, como se tivessem um DNA eletrônico dentro deles.
É evidente que os veículos que saírem da linha de produção trarão todas as características da “criatura” produzida a partir da “criação”
original, principalmente porque essas características foram transmitidas aos operários e aos robôs para as repetirem “n” vezes. Mas lembre-se de que os engenheiros, projetistas e designers já não participam desta fase de produção.
Podemos dizer que aquele carro à venda na concessionária é uma “criação” do designer Fulano, do engenheiro Sicrano e do projetista Beltrano?
Sim, porque ele saiu da cabeça desses profissionais. Mas podemos dizer que foram eles que “fabricaram” o carro? Não, foram os operários e os robôs que o trouxeram “à vida” com base no projeto original.
Agora pense no ser humano. No Evangelho de João diz, ao referir-se aos que são chamados “filhos de Deus” por terem nascido de Deus: “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1:13).
Esta passagem fala de duas classes de pessoas, os nascidos de Deus e os não nascidos de Deus, mas sim “do sangue”, “da vontade da carne” e “da vontade do homem”. Portanto, quando um bebê vem ao mundo ele nasceu porque o casal assim o quis, porque tiveram “vontade da carne” para se relacionarem sexualmente, e o bebê traz em si as características de seus pais, “do sangue”.
Assim é tudo na natureza: houve um Designer original (Deus) que criou todas as coisas, inclusive o ser humano, e agora a criação funciona como uma grande fábrica da qual saem todos os seres vivos. É claro que Deus está sempre por detrás de todas as coisas, seja no nascimento de uma formiga ou de um ser humano, mas o que quero mostrar aqui é que Deus não criou eu e você do mesmo modo como criou Adão e Eva, o “protótipo”. Eu e você somos frutos daquela criação original, e neste sentido podemos nos considerar “criação” de Deus, do mesmo modo que o seu carro é “criação” do designer, embora tenha sido de fato fabricado por operários. Vamos à Bíblia:
(Gn 1:27) “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”.
(Gn 5:1-2) “Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados”.
Os versículos acima nos falam da ação de criar original, do projeto e protótipo, e o versículo abaixo nos fala da ação de fabricar com base naquela criação original, e por isso aqui também diz que “nos criou”: (Sl 95:6) “Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Senhor, que nos criou”.
Portanto fomos criados por Deus no sentido de sermos “veículos” que tiveram sua origem no “projeto” inicial e Deus nos formou no ventre de nossa mãe, pois nada vive sem que Deus assim queira. Mas são duas ações distintas, e é importante entender isto para não cair no erro de alguns que acusam a Deus por ter “criado” uma criança defeituosa ou a “formado” assim no ventre de sua mãe.
A criança nasce defeituosa (e todos nós somos defeituosos em algum aspecto) porque o projeto original sofreu uma sabotagem: foi introduzido nele um erro chamado pecado. A partir daí todos os “veículos” humanos saem da linha de produção com esta falha que acarreta outras falhas, como as imperfeições físicas, mentais etc.
Mas lembre-se de que isto não estava no projeto original do Designer que é Deus, mas foi introduzido nele numa espécie de “sabotagem industrial”, uma ação terrorista como em casos de produtos de marcas famosas que são envenenados quando saem da produção por algum funcionário descontente.
Na obra da Criação esse “funcionário” descontente sabotador é o outro ser inteligente que Deus criou além de Adão. Ele viu seu lugar de administrador da Criação perdido por causa de seu orgulho e outro, Adão, ser colocado em seu lugar. Estou falando de Satanás.
(Ez 28:15) “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniquidade em ti”.
Isto nos leva a entender que, assim como existiu um dia em que Adão foi criado, também existiu um dia em que Satanás foi criado. E quando falo “Adão” entenda o casal, porque é assim que Adão é visto em Gênesis com sua esposa ao lado, já que a mulher não é um acessório do homem, mas parte integrante dele. “…homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados” (Gn 5:2). Isto fica ainda mais maravilhoso quando pensamos em Cristo e a Igreja, sua noiva, mas este é um assunto que você poderá desfrutar em Efésios 5, em especial do versículo 22 ao final.
Mas, voltando ao nosso assunto, os anjos não se reproduzem entre si*, pois não existe diferença de gênero entre eles (tipo anjo macho e anjo fêmea) e também não morrem. Deus os criou um a um, como fez com o primeiro homem e não sabemos o número deles, mas deve ser imenso. Depois de criar os anjos, que são seres celestiais, Deus criou a terra, pois lemos que eles estavam vendo isso acontecer. Ao descrever a Criação, Deus revela a Jó que ela foi assistida pelas “estrelas da alva”, os “filhos de Deus”, termos usados para os anjos: (Jó 38:4-7) “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Dize-mo, se tens entendimento. Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel?
Sobre que estão fundadas as suas bases ou quem lhe assentou a pedra angular, quando as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus? “.
Portanto, a Criação de Deus poderia ser resumida assim: Primeiro foram criadas as criaturas mais elevadas, os anjos, dos quais Satanás, um querubim, ocupava uma posição privilegiada. Depois da convulsão causada pela rebelião angélica e de um estado de caos em que se tornou o Universo, Deus trouxe aquela criação progressiva que vemos em Gênesis a partir do versículo 2
do capítulo 1.
Mas veja que nessa criação progressiva Deus criou todas as coisas a partir de elementos que já existiam antes na terra (os elementos químicos que você encontra em seu corpo também existem nos peixes, nas árvores, etc.). Nessa criação progressiva houve uma ordem, dos seres inanimados como as plantas aos animados (que têm alma) como aves, insetos, animais, etc., dos invertebrados, aos vertebrados, culminando na coroa desta criação, o homem, o único que recebeu o sopro de Deus e que tem um espírito capaz de se comunicar com seu Criador.
Assim como ocorre com os anjos, o homem é um ser moral, com responsabilidades diante de Deus (ao contrário das plantas e dos animais). Mas diferentemente dos anjos, os homens se reproduzem e morrem, enquanto os anjos não se reproduzem e nem morrem. Os anjos que Deus criou no princípio são os mesmos que existem por aí. No caso de Adão, o que vemos por aí são seus descendentes, nascidos da vontade do homem, da vontade da carne e do sangue.
Com isto chegamos à segunda parte de sua pergunta, se os homens são filhos de Deus. Não. Tecnicamente falando os homens são criação de Deus, mas não filhos. Originalmente só existiam duas classes de filhos de Deus por terem sido criados diretamente por Deus: os anjos e Adão. E os homens? Veja que eles não são chamados de filhos de Deus, mas sempre de filhos de alguém, enquanto Adão é chamado de filho de Deus e na passagem de Jó 38:4-7 acima os anjos são também chamados de filhos de Deus:
“…Cainã, filho de Enos, Enos, filho de Sete, e este, filho de Adão, filho de Deus” (Lc 3:38).
Agora há uma terceira classe de filhos de Deus: aquele que crê em Jesus. Isto é muito claro desta passagem do evangelho de João. Veja que é uma posição condicional, à qual se entra pela fé em Cristo Jesus, de privilégio (podemos chamar a Deus de Pai) e também de responsabilidades de filhos.
(Jo 1:10-13) “O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu.
Veio para o que era seu [o povo judeu], e os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
(Gl 3:26) “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus.
(Gl 4:6) E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.
Por meio da obra na cruz, da morte e ressurreição de Cristo, Deus, por assim dizer, deu um “reset” em tudo e iniciou uma nova Criação a partir de Cristo, do modo como ele havia feito antes a partir de Adão, e hoje todo aquele que está em Cristo é “nova criação” (não “nova criatura”
como algumas traduções trazem e aguarda o momento quando será transformado à semelhança de Cristo ressuscitado e glorificado.
“Este [Cristo] é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl 1:15).
“Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas” (2
Co 5:17 NVI).
“O que importa é ser uma nova criação” (Gl 6:15 NVI).
Mas veja que mesmo os que fazem parte desta nova criação não foram criados um a um como os anjos ou Adão. Na nova criação Cristo é as primícias (os primeiros frutos) e ele é também a semente que, assim como Adão, deu origem a toda uma nova linhagem. Sugiro que leia atentamente o capítulo 15
de 1 Coríntios pois lá tudo está detalhado.
Lembre-se de duas coisas: Jesus é o último Adão, porque na cruz Deus deu por encerrado o “projeto” do primeiro Adão condenando ali à morte o seu Filho Jesus. Sobre o velho homem podemos bater o carimbo: “PROJETO
ARQUIVADO” e considere como destinados à sucata as carrocerias dos veículos que ainda andam por aí. Usando de meu exemplo, o velho homem “saiu de linha”. Jesus é o último Adão porque há, por assim dizer, apenas duas criações do homem: Adão e Cristo (embora Cristo não tenha sido criado, por ser Deus, ele se fez homem em algum momento do tempo para ser o último Adão).
(1 Co 15:45) “Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, [Cristo] porém, é espírito vivificante”.
(1 Co 15:47) “O primeiro homem [Adão], formado da terra, é terreno; o segundo homem [Cristo]
é do céu”.
Adão é chamado de “primeiro homem” porque dele vieram outros, como eu e você. Cristo é chamado de segundo homem (e não último homem) porque dele vêm todos os que creem, os quais têm agora uma vida que literalmente não é deste planeta, mas do céu. Mas para isto acontecer o grão de trigo precisava “cair na terra” e morrer.
(Jo 12:24) “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”.
(1 Co 15:37) “E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como de trigo, ou de outra qualquer semente”.
*
A igreja envia missionários?
Fiz uma busca na Bíblia e não encontrei a palavra “missionário”, porém encontrei as passagens que vou acrescentar no final, que falam de diferentes pessoas que se dedicavam à obra do Senhor de diferentes maneiras. Entendi que perguntou sobre pessoas dedicadas em tempo integral ou talvez em parte ao trabalho de pregação do evangelho, visitar irmãos, auxiliar os necessitados, etc. Você verá que todos os mencionados nas passagens de um modo ou de outro faziam isso.
A distorção ocorre quando comparamos isto com títulos como o de “Missionário” ou “Missionária”, adotados por pessoas como se fosse uma profissão. Sei de irmãos que se dedicam em tempo integral à obra do Senhor e que, quando indagados por algum incrédulo do que fazem, respondem “Sou missionário”, porque é mais fácil assim do que explicar tudo o que vou explicar abaixo.
Quando Cristo subiu aos céus ele deu dons aos homens, e o modo como utilizam de seus dons pode ser em tempo integral, em tempo parcial, ou nunca, como fez o homem da parábola que enterrou o dinheiro que seu senhor havia confiado em suas mãos. Mas esses dons não estão sujeitos a homens, mas só ao Senhor, e é o Espírito Santo que envia aqueles que ele deseja enviar, aonde quer que vão, o que devem e com quem se encontrar.
(At 13:2) “E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”.
(At 8:26) “E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta”.
(At 8:29) “E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse carro”.
(At 10:19) “E, pensando Pedro naquela visão, disselhe o Espírito: Eis que três homens te buscam”.
(At 11:12) “E disseme o Espírito que fosse com eles, nada duvidando; e também estes seis irmãos foram comigo, e entramos em casa daquele homem;”.
Fica muito claro que não é um homem, uma junta de homens, uma igreja ou organização missionária que envia, mas o próprio Deus, o Senhor e o Espírito Santo. Mas quando o homem se faz surdo aos apelos do Senhor, pode ser que Deus use das circunstâncias que lhe apraz para colocar os seus em movimento a fim de que façam a sua obra.
Assim foi no princípio, quando depois de ter ficado claro que Deus queria que o evangelho fosse pregado em todos os lugares, inclusive aos gentios como Pedro aprendeu com o episódio de Cornélio, os judeus convertidos continuaram confortavelmente instalados em Jerusalém, sem planos de ir além de seus territórios. Deus usou da perseguição para fazê-los andar.
(At 11:19-21) “E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus. E havia entre eles alguns homens cíprios e cirenenses, os quais entrando em Antioquia falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor”.
Você talvez observe que no versículo seguinte (22) diz que a notícia chegou a Jerusalém e enviaram Barnabé a Antioquia. Barnabé e Saulo já trabalhavam neste sentido antes, portanto entendo que esse “enviou” significa que a igreja em Jerusalém teve comunhão com eles na missão que já haviam recebido do Espírito Santo. Aí sim, podemos ver Deus usar de uma assembleia local ou mesmo de alguma organização para “enviar” (no sentido de ter comunhão) alguém para alguma atividade relacionada à obra de Deus.
Mas quando lemos este versículo em 1 Coríntios vemos que nem mesmo o apóstolo Paulo, com a influência que tinha, sabia que não devia partir dele uma ordem para que um irmão saísse na obra:
(1 Co 16:12) “E, acerca do irmão Apolo, roguei-lhe muito que fosse com os irmãos ter convosco, mas, na verdade, não teve vontade de ir agora; irá, porém, quando se lhe oferecer boa ocasião”.
Deixo você agora com as passagens que mencionei e que mostram que todo cristão pode ser um “missionário” na esfera que Deus o colocar.
Mas em nenhum momento um cristão sincero e conhecedor de onde vem suas ordens e o poder para trabalhar irá chamar-se a si mesmo “missionário” do mesmo modo como na vida secular alguém pode dizer de si “doutor” ou “professor” ou “diretor”, etc. Nas coisas de Deus sabemos que nada vem de nós, não somos enviados por homens e nem devemos satisfação a homens, quando o assunto são os dons. Mas estes, obviamente, só podem ser utilizados em amor.
(1 Co 15:58) “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor”.
(1 Co 16:10) “E, se Timóteo for, vede que esteja sem temor convosco; porque trabalha na obra do Senhor, como eu também”.
(1 Co 16:16) “Que também vos sujeiteis aos tais, e a todo aquele que auxilia na obra e trabalha”.
(1 Tm 5:18) “Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário”.
(2 Tm 2:15) “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”.
(Rm 16:6) “Saudai a Maria, que trabalhou muito por nós”.
(Rm 16:12) “Saudai a Trifena e a Trifosa, as quais trabalham no Senhor. Saudai à amada Pérside, a qual muito trabalhou no Senhor”.
(Fp 4:3) “E peço-te também a ti, meu verdadeiro companheiro, que ajudes essas mulheres que trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida”.
(Rm 16:1) “Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em Cencréia”,
*
O que significa a fé uma vez dada aos santos?
Ao ler a tradução do livro “Teologia do Pacto ou Dispensacionalismo”, de Bruce Anstey, você disse ter estranhado a citação de um versículo da epístola de Judas neste trecho: “Foi somente nos anos 1800 que Deus efetuou uma restauração completa da verdade ‘que uma vez foi dada aos santos’ (Jd 1:3) e a verdade dispensacional voltou a ser conhecida.”
Quando traduzi o texto também estranhei ele usar Judas 1:3, mas acho que é porque sempre associamos “fé” à salvação e não à completa revelação de Deus, que é o assunto da epístola de Judas. Outra leitura do versículo seria da versão Almeida e Atualizada:
“Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos”.
O que o autor do livro está falando não é nenhuma doutrina nova, mas apenas a restauração daquilo que os primeiros cristãos já conheciam e que foi perdido com a apostasia (abandono da verdade) do advento do clericalismo, que privou o Espírito Santo de usar quem ele quer nas reuniões da igreja e instituiu sacerdotes e papas.
Se continuar lendo o capítulo de Judas verá que é justamente este o contexto. Veja que ele começou querendo escrever sobre a salvação, comum a todos os cristãos, mas sentiu-se obrigado a exortá-los a batalhar pela fé que uma vez por todas foi dada aos santos, ou seja, não está falando agora de salvação mas de algo mais.
Esse “algo mais” é o que vem do versículo 4 em diante mostrando a degradação da “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos”
com a introdução de homens ímpios que negam o senhorio de Cristo, além dos exemplos de Caim, Balaão e Coré, que tentaram usurpar posições que não lhes tinham sido dadas por Deus.
Darby
comenta o versículo:
“A expressão
‘fé que uma vez por todas foi dada aos santos’ significa que devo voltar ao princípio, à fé original conforme foi dada. Em nossos dias é importantíssimo inquirir o que era no princípio. Com certeza você encontra no Novo Testamento o que era no princípio. Se eu permanecer nisso, permaneço no Pai e no Filho; 1
João 2:25. Os versículos 14 e 15 falam da profecia de Enoque, o primeiro testemunho de Deus. Aqui vemos que Deus desde o seu primeiro testemunho Deus havia contemplado a apostasia da igreja; do mesmo modo como em Deuteronômio 32
ele previa no começo da história de Israel como seria o seu final.
A intenção de Judas era escrever a eles acerca de comum salvação de todos os cristãos; mas ele achou necessário exortá-los a permanecerem firmes, a contenderem pela fé que uma vez por todas foi dada aos santos. Isso porque aquela fé já estava sendo corrompida pela negação dos direitos de Cristo de ser Senhor e Mestre; e do mesmo modo, ao dar rédea solta à vontade própria, eles abusavam da graça e a transformavam em um princípio de dissolução. Estes são os dois elementos do mal que os instrumentos de Satanás introduziram, a rejeição da autoridade de Cristo (não o Seu nome) e o abuso da graça, a fim de permitir suas próprias luxúrias. Em ambos os casos prevaleceu a vontade do homem, que eles liberaram de tudo o que a limitava. A expressão ‘Senhor Deus’ aponta para este caráter de Deus. Aqui ‘Senhor’ não é a palavra comumente usada, mas ‘despotes’ que significa ‘mestre’”
*
Por que um gentio precisa crer que Jesus é o Cristo?
A palavra “Cristo” significa “Ungido” ou “Escolhido”. Embora sejamos gentios (agora não mais, porque depois de crermos somos “igreja de Deus”, já que agora Deus reconhece três classes de pessoas, judeus, gentios e igreja – 1 Co 10:32), Jesus disse à mulher samaritana (uma gentia) que a salvação vinha dos judeus.
Portanto o nascido de novo irá reconhecer que Jesus é o mesmo Cristo (Ungido, Escolhido, Prometido) anunciado no AT pelos profetas.
Se nos lembrarmos de que a primeira referência a um substituto que viria resolver o problema do pecado foi feita no Éden, antes de existirem os israelitas, vamos entender melhor. Ali Deus avisou que um nascido de mulher esmagaria a cabeça da serpente e depois sacrificou um animal inocente para cobrir a nudez do homem culpado. Antes mesmo da formação de Israel vemos vários exemplos e figuras no AT de que Deus tinha um escolhido (Ungido ou Cristo) para resolver o problema do pecado.
Portanto Jesus é esse Ungido ou Cristo, e aquele que é nascido de Deus irá crer em tudo o que se refere a ele, inclusive o fato de ele ser Messias, Deus, Rei, Senhor, etc. Embora alguns atributos, como Rei por exemplo, não se apliquem diretamente aos cristãos (Jesus não é Rei da Igreja, ele é Noivo), ele é reconhecido assim. Cabe lembrar que “Messias” tem o mesmo significado e que “Cristo” não é o “sobrenome de Jesus”, como alguns poderiam pensar.
Não há como separar tudo o que se refere ao Cristo do AT do Cristo do NT e principalmente do fato de ele ter ressuscitado, subido ao céu e ter sido glorificado como o Cristo. Além disso, a Igreja só pode existir porque somos “corpo de Cristo” (e não corpo de Jesus), pois o Cristo (o Ungido de Deus) deu dons aos homens e não apenas como o Homem Jesus (Veja Ef 4).
Para entender melhor a passagem de 1 João é preciso enxergar que ali ele está falando de três coisas que identificam um nascido de novo: A) ele crê que Jesus (o Homem) é o mesmo Cristo (o Ungido, Escolhido ou Enviado de Deus), B) ama a Deus e aos filhos de Deus e C) guarda os mandamentos de Deus.
A) (1 Jo 5:1a) “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus;”.
O nascido de novo reconhece que Jesus é o Ungido de Deus, o Escolhido, o Cristo prometido por Deus. Veja que, olhando por outro ângulo, a responsabilidade da rejeição e morte de Jesus inclui os gentios porque eles também rejeitaram o Escolhido ou Ungido ou Cristo de Deus: (At 4:26-27) “Levantaram-se os reis da terra, E os príncipes se ajuntaram à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido. Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel;”.
Também olhando da perspectiva contrária, veja que a característica do Anticristo é negar que Jesus seja o Cristo, pois o Cristo prometido por Deus devia ser a encarnação do próprio Filho de Deus. O oposto de negar que Jesus é o Cristo é crer que Jesus é o Cristo.
(1 Jo 2:22) “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho”.
(1 Jo 4:3) “E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo”.
(2 Jo 1:7) “Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo”.
B) (1 Jo 5:1b) “E todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido”.
O nascido de Deus ama a Deus (como um filho naturalmente ama sua mãe por ter saído dela, costuma-se dizer que uma das palavras mais repetidas por soldados moribundos nas guerras é “mãe”). O nascido de Deus ama também seus irmãos, filhos do mesmo Pai.
C) (1 Jo 5:2-3) “Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos.
Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados”.
Aquele que ama a Deus guarda seus mandamentos porque isto é algo intrínseco à nova natureza que recebeu de Deus. Este “guardar mandamentos” não significa necessariamente uma lista de regras, mas o desejo constante de fazer a vontade de Deus, de ficar sempre aguardando Deus mandar para poder agir. Uma mãe cuida de seu bebê não por obrigação, mas porque ama fazer isso, é algo natural ao instinto materno. Se pensar na passagem toda como o nascido de Deus possuindo “instintos de uma nova natureza” fica mais fácil entender.
*
Casados devem cortar o relacionamento com os pais?
Sua dúvida é em relação aos casados e de como interpretar o versículo que diz: “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne” (Ef 5:31). Pelo que entendi alguns casais estariam se valendo deste versículo como desculpa para abandonar os pais e não dar a eles a devida atenção, deixando até mesmo de suprir suas necessidades quando idosos.
É espantosa a forma como as pessoas conseguem distorcer a Palavra de Deus. Eu já tinha ouvido falar de outro caso no qual a alegação era de que, baseado no mesmo versículo, apenas o homem deixava seu pai e sua mãe, mas a mulher não. Neste caso o argumento era de que a mulher casada não devia submissão ao marido, mas sim aos pais, que continuariam a ter autoridade sobre ela determinando em que ela deveria ou não obedecer seu marido. O que mais irão inventar para distorcer a Palavra de Deus?!
Apesar de o casamento causar uma mudança no relacionamento, a Bíblia ensina que os filhos sempre devem considerar os pais. Àqueles que ainda estão sob a autoridade dos pais, isto é, não são independentes, a Bíblia deixa claro o princípio da obediência:
(Cl 3:20) “Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor”.
Depois de casados os filhos já não devem obediência aos pais, já que constituíram uma nova unidade familiar na qual o marido é a cabeça e, portanto, a autoridade. Mas, apesar de não ser mais uma questão de obediência, continua sendo uma questão de honra:
(Ef 6:2) “Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; “.
Para aqueles que abandonam seus pais à própria sorte com a desculpa de que o matrimônio colocou um ponto final nos relacionamentos familiares, não posso pensar em uma passagem melhor do que esta:
“Porque Moisés disse: honra a teu pai e a tua mãe; e quem maldisser, ou o pai ou a mãe, certamente morrerá. Vós, porém, dizeis: se um homem disser ao pai ou à mãe: aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta ao Senhor; nada mais lhe deixais fazer por seu pai ou por sua mãe, invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas”. (Mc 7:10-13).
E também este:
(1 Tm 5:8) “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel”.
*
Cair da graça, desviar e naufragar na fé me fazem perder a salvação?
Sua dúvida está em três versículos que parecem indicar que é possível a um crente perder a posição que recebeu como salvo por Cristo. É sempre importante entender que a Bíblia é categórica em afirmar que somos salvos unicamente pela obra de Cristo na cruz e que somos mantidos salvos pelo poder de Deus, não nosso. Portanto sempre que nos depararmos com versículos que parecem dizer que a salvação e/ou a manutenção dela dependam de nós devemos ter em mente que uma passagem não pode invalidar outra. Vamos primeiro ver os versículos que afirmam nossa segurança eterna depois de crermos em Jesus:
As ovelhas do Senhor nunca perecerão e jamais serão tiradas da mão do Senhor:
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” (Jo 10:27-29).
O responsável em manter o crente salvo é Deus:
“[Deus] é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória” (Jd 24).
“[Deus] pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7:25).
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (1 Ts 5:23-24).
Agora vamos examinar os versículos que parecem dizer que podemos perder a salvação e que nos falam de “cair da graça”, “desviar-se da fé” e “naufragar na fé”.
(Gl 5:4) “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído”.
Este versículo obviamente não quer dizer que se alguém pecar perderá a salvação, e a razão é óbvia: não é mencionado qualquer pecado, mas justamente o oposto. Paulo está falando dos que procuram se justificar pela lei, isto é, por uma vida correta e em conformidade com os mandamentos de Deus. A passagem é clara em mostrar que a tentativa de se justificar por obras é contrária à graça.
Como já disse acima, existem muitos versículos que afirmam com todas as letras que uma ovelha de Cristo jamais perecerá e que sua salvação depende em tudo de Cristo e sua obra, e não do crente e seu andar. (Jo 3:16, 3:36, 5:24, 6:47, 10:28).
O mais provável aqui é que Paulo está falando de pessoas que professavam fé em Cristo, mas que ainda não estavam realmente salvas porque tentavam se justificar por obras da lei. É evidente que as duas coisas são incompatíveis.
Suponha que você encontra alguém que professe crer em Jesus nos dias de hoje (o que é comum no mundo ocidental) e você pergunte a essa pessoa por que ela acha que poderá chegar ao céu, e a resposta dela seja: “Eu procuro ser uma boa pessoa e viver segundo os dez mandamentos, nunca matei, nunca roubei, nunca adulterei etc.”. Você poderia afirmar que tal pessoa foi salva pela fé em Cristo e sua obra na cruz? Não, pois ela está confiando em si mesma. A fé que ela diz ter em Jesus nada mais é que uma confiança em si mesma.
Você encontra outro exemplo de pessoas assim, porém referindo-se aos judeus que viveram nos tempos de Jesus, em Hebreus 6: “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo. E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério” (Hb 6:4-6).
Veja que está falando de pessoas que foram privilegiadas com todas essas coisas porque acompanharam de perto Jesus (Judas é um exemplo), mas não diz que tenham crido ou sido salvas.
(1 Tm 6:10) “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”.
A dificuldade com este versículo está por se achar que na Bíblia a palavra “fé” esteja sempre associada à salvação. A fé da qual fala aqui não é aquela que exercemos em Cristo e sua obra no momento em que cremos. Não é a fé que nos salvou, mas a fé que é exigida do crente para cada instante de seu andar. “Porque andamos por fé, e não por vista” (2 Co 5:7). Trata-se da “couraça da fé” (1 Ts 5:8), com a qual o crente deve estar sempre vestido para não ser surpreendido pelos ataques do inimigo.
Veja que aqui a fé está associada à manutenção de nossas necessidades diárias, daí a menção do amor ao dinheiro. Quando perdemos a fé ou confiança de que Deus é quem supre, passamos a cobiçar mais e mais, sucumbindo ao desejo pelas coisas terrenas.
(1 Tm 1:19) “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé”.
Aqui o texto nos exorta a conservar a fé e a boa consciência para evitar o naufrágio na fé. Aqui também não está falando da fé salvadora, mas da fé contínua que devemos ter em nosso andar cristão. Por isso ela é associada aqui à consciência, que é algo ligado à vida prática e depende de constante autojulgamento. Hamilton Smith comenta este versículo assim:
“Aqueles que têm dons, e mais ainda os que os exercitam em público, precisam estar atentos, para que, em meio aos constantes contatos, à constante pregação e ao trabalho público diante dos homens, não venham a negligenciar sua vida privada de piedade diante de Deus. Acaso as Escrituras não nos alertam para a possibilidade de pregar com toda a eloquência de homens e anjos, e mesmo assim não ser coisa alguma? Aquilo produz fruto para Deus, e que terá uma recompensa brilhante no dia vindouro, é uma vida de piedade da qual todo verdadeiro serviço a Deus deve fluir”.
Exceto quando as condições climáticas ou do barco são ruins, a culpa do naufrágio é do piloto que não soube conduzir sua embarcação. Um cristão que perca sua confiança (fé) na Palavra de Deus e que não tenha uma boa consciência, por não julgar o mal em sua vida e andar, é como o piloto negligente que leva seu barco a naufragar.
Veja que ele menciona dois exemplos no versículo 20, Himeneu e Fileto, que foram entregues a Satanás por terem blasfemado. Entregar a Satanás significa autorizar que o inimigo coloque sua mão sobre a vida do crente, como aconteceu com Jó, para ele perder tudo aquilo em que confiava e ser disciplinado por algo que está errado em sua vida.
No Antigo Testamento Deus usava os inimigos de Israel para disciplinar seu povo. Muitos reis gentios foram a “vara” de Deus para afligir Israel. No tempo dos apóstolos estes tinham o poder de condenar alguém à morte, como Pedro fez com Ananias e Safira que mentiram ao Espírito Santo. É este o “pecado para morte” de que fala 1 João 5:16. Trata-se de morte do corpo, não condenação eterna.
Paulo autorizou que o homem promíscuo de 1 Coríntios 5 fosse “entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Co 5:5). Mas em 2 Coríntios 2 fica evidente que aquele homem, apesar de perder sua comunhão com Deus e sofrer as consequências disso, não deixou de ser salvo pois o mesmo parece ter se arrependido de suas más práticas e os irmãos são exortados por Paulo a recebê-lo.
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Cristãos devem ser patriotas?
Se a pergunta é no sentido de sentirmos orgulho pelo país em que nascemos, promovermos suas qualidades naturais e até sua ordem e progresso, sim, creio que podemos ser patriotas neste sentido. Mas acredito ser um engano tentar enxergar nosso país com lentes bíblicas ou querer aplicar a ele promessas feitas a Israel, porque todas as profecias no Antigo Testamento que falam de uma nação como sendo povo de Deus, terra prometida, nação abençoada, etc., referem-se a Israel, e não ao Brasil, Argentina, Estados Unidos, etc.
Então qual o posicionamento do cristão em relação ao país em que vive? Deve respeitar as leis e as autoridades, orar por elas para termos paz e o evangelho não venha a ser impedido, pagar impostos, dar um bom testemunho, etc. Acredito até ser normal nos animarmos com as cores de nossa bandeira e sentirmos aquele nó na garganta quando vemos a Seleção Brasileira ganhar ou qualquer brasileiro se destacar mundialmente em alguma área dos esportes, cultura, negócios, etc. Mais ainda, devemos trabalhar para o bem estar de sua população e para seu progresso. Esta foi a ordem dada por Deus aos judeus exilados na Babilônia:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os do cativeiro, os quais fiz transportar de Jerusalém para Babilônia: edificai casas e habitai-as; e plantai jardins, e comei o seu fruto. Tomai mulheres e gerai filhos e filhas, e tomai mulheres para vossos filhos, e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; e multiplicai-vos ali, e não vos diminuais. E procurai a paz da cidade, para onde vos fiz transportar em cativeiro, e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz” (Jr 29:4).
A passagem acima vale como figura para a Igreja, já que sua cidadania é celestial, não terrena.
(Fp 3:20) “Pois a nossa pátria [cidadania] está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”.
(Hb 13:14) “Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir”.
(Jo 15:19) “Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia”.
Mas devemos ter cuidado para não entrar na corrente da Teologia do Pacto, que acredita em uma restauração do mundo pelo trabalho dos cristãos e considera a Igreja como mera continuação de Israel. Por isso vemos tantos cristãos sinceros trabalhando arduamente na tentativa de fincar sua bandeira aqui no mundo, exigindo que no dinheiro seja impresso “Cremos em Deus”, lutando pela colocação de crucifixos em repartições públicas, por orações nas escolas, ou promovendo uma “bancada evangélica” no Congresso, apoiando a CNBB, etc.
Também é comum vermos adesivos do tipo “Feliz a nação cujo Deus é Senhor” com a bandeira do Brasil ao lado, ou a aplicação da passagem de 2 Crônicas 7:14 para este país, quando sua aplicação e o contexto tem a ver com Israel na terra, não com qualquer país.
(2 Cr 7:14) “E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra”.
Da mesma forma, o versículo que se segue não está relacionado a qualquer templo religioso construído pelos homens, como muitas religiões cristãs fazem ao tentar fazer valer isto para seus templos. Deus só ordenou a construção de um templo, o de Jerusalém, e qualquer templo religioso hoje é uma caricatura ofensiva para Deus e uma deturpação da verdade.
(2 Cr 7:15-16) “Agora estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração deste lugar. Porque agora escolhi e santifiquei esta casa, para que o meu nome esteja nela perpetuamente; e nela estarão fixos os meus olhos e o meu coração todos os dias”.
Sem saber recebemos esta influência dos Estados Unidos, um país protestante e em grande parte simpatizante da Teologia do Pacto e da Teologia do Domínio (expansionista) que considera as terras norte-americanas como uma espécie de “terra prometida” e, portanto, no direito de ditar os rumos das outras nações. Na verdade o versículo acima só se aplica a uma nação, a nação de Deus na terra, que é Israel.
O Brasil, assim como os países das Américas, é uma extensão do Império Romano (um satélite ou colônia) e não existe qualquer fundamento bíblico para um arrependimento nacional neste sentido. Deus certamente se agrada do arrependimento e pode abençoar a população de um determinado território quando isto acontece em grandes números. Mas aquele território não se torna o povo de Deus, mesmo porque o povo de Deus na atual dispensação não está identificado por nenhuma fronteira nacional. A igreja está espalhada pelo mundo e os cristãos que morem na China não são menos aos olhos de Deus do que os que moram na América.
A verdade é que os países onde a luz do evangelho brilhou (ocidente) são identificados na profecia como a Babilônia. Eles serão destruídos na grande tribulação e nada restará. As nações gentias que serão abençoadas no reino milenar de Cristo na terra serão principalmente aquelas que ignoram hoje o evangelho (principalmente oriente). Aí sim, territórios como a China, serão abençoados, enquanto países como o Brasil amaldiçoados por abrigarem a Babilônia da cristandade que tanta desonra trouxe para o nome de Cristo.
Resumindo: é um erro esperar por uma “restauração” do Brasil ou de qualquer outro país em escala nacional, em especial os países ocidentais. As profecias que se referem ao ocidente falam de uma terra completamente desolada durante o Milênio. Isto é o que Deus prepara profeticamente para a Europa e seus satélites norte, centro e sul americanos:
“Clamai, pois, o dia do Senhor está perto; vem do Todo-Poderoso como assolação… Eis que vem o dia do Senhor, horrendo, com furor e ira ardente, para pôr a terra em assolação, e dela destruir os pecadores… E visitarei sobre o mundo a maldade, e sobre os ímpios a sua iniquidade e farei cessar a arrogância dos atrevidos, e abaterei a soberba dos tiranos… Farei que o homem seja mais precioso [raro] do que o ouro puro, e mais raro do que o ouro fino de Ofir… Porque me levantarei contra eles, diz o Senhor dos Exércitos, e extirparei de Babilônia o nome, e os sobreviventes, o filho e o neto, diz o Senhor. E farei dela uma possessão de ouriços e a lagoas de águas; e varrê-la-ei com vassoura de perdição, diz o Senhor dos Exércitos. O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará… Anunciai entre as nações; e fazei ouvir, e arvorai um estandarte, fazei ouvir, não encubrais; dizei: tomada está Babilônia, confundido está Bel, espatifado está Merodaque, confundidos estão os seus ídolos, e quebradas estão as suas imagens. Porque subiu contra ela uma nação do norte, que fará da sua terra uma solidão, e não haverá quem nela habite; tanto os homens como os animais fugiram, e se foram… Como quando Deus subverteu a Sodoma e a Gomorra, e as suas cidades vizinhas, diz o Senhor, assim ninguém habitará ali, nem morará nela filho de homem… Assim diz o Senhor: Eis que levantarei um vento destruidor contra Babilônia, e contra os que habitam no meio dos que se levantam contra mim. E enviarei padejadores contra Babilônia, que a padejarão, e despejarão a sua terra; porque virão contra ela em redor no dia da calamidade”. (Is 13; 14:22-23; Jr 50:2-3, 39; 51:2).
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Eram onze, doze, treze ou mais apóstolos?
Em diferentes situações a Bíblia menciona “doze” sem mencionar a quais apóstolos está se referindo. O número doze significa governo perfeito e é por isso que temos doze tribos em Israel e doze apóstolos na Igreja. Mas se reparar as tribos não são doze, mas treze (ou quatorze se contarmos José). E os apóstolos eram doze antes da fundação da igreja, ficaram onze e foram completados com Matias para depois receberem Paulo como um décimo terceiro. Mesmo assim doze é o número de apóstolos.
(1 Co 15:5) “E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze”.
Veja que aqui não são mencionados Maria Madalena, as outras mulheres ou os dois discípulos que iam para Emaús. Todos eles viram o Senhor antes até dos apóstolos. E nem há preocupação em mencionar que Matias ainda não tinha sido escolhido para substituir Judas. Além disso, se considerarmos a primeira vez que o Senhor se apresentou aos apóstolos, Tomé não estava, o que fez com que o grupo tivesse dez.
Doze é o número dos apóstolos porque é um número governamental, e neste caso as mulheres não são mencionadas, pois o assunto é governo.
Portanto, considere “doze” como um título ou nome oficial dos apóstolos como um todo. Nós consideramos um time de futebol um grupo de onze pessoas, mas ainda que alguns sejam expulsos de campo aquilo ainda é chamado de “time”.
Isto traduzi do “Concise Bible Dictionary”:
DOZE: Algo administrativamente completo no modo como é apresentado ou mostrado para o homem. Doze é o primeiro número mais divisível. Havia doze patriarcas, ancestrais das doze tribos, que são comemorados nos doze pães sobre a mesa, doze pedras preciosas no peitoral e doze nomes nas ombreiras do sumo sacerdote; doze pedras foram tiradas do Jordão, e doze pedras colocadas no leito do rio; a mulher também traz uma coroa com doze estrelas (Ap 12:1). Por meio dos doze apóstolos o Senhor alimentou as multidões famintas. Os doze apóstolos se sentarão em doze tronos, julgando as doze tribos (Mt 19:28). A Nova Jerusalém terá doze fundamentos para suas paredes com nomes dos doze apóstolos; terá doze portões formados por doze pérolas, com os nomes das doze tribos inscritas; doze anjos cuidarão das portas (Ap 21:12-21). O dia tem doze horas, durante as quais os filhos da luz podem caminhar (Jo 11:9). A flexibilidade da perfeição administrativa é vista nos:
Seis dois: Dois apóstolos em cada um dos seis grupos foram enviados a pregar.
Dois seis: Havia seis pães em cada fileira de pães da proposição.
Três quatros: Havia quatro fileiras de três nomes cada sobre o peitoral.
Quatro três: Haverá três portas em cada um dos quatro lados da nova Jerusalém.
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Somos salvos pela justiça e santidade de Cristo?
O vídeo que enviou mostra uma cena que aparentemente se passaria na presença de Deus, com uma fila de pessoas vestidas de branco diante de uma grande balança. Enquanto elas entregam a um homem pastas contendo seus arquivos de pecados que as condenam, e boas obras que esperam sejam em maior número, elas sobem na balança e o ponteiro registra que, apesar de terem feito boas obras, nenhuma delas alcança o padrão necessário para serem salvas já que o pecado pesa para o lado contrário.
Finalmente um homem vai subir na balança, quando um rapaz com uma camiseta escrita “Jesus” entrega uma pasta com o nome “Filho de Deus” e sobe na balança em seu lugar. O ponteiro do índice de bondade obviamente aponta para o peso máximo, e o rapaz substituído por Jesus no processo de pesagem de pecados X boas obras é salvo.
Apesar da boa intenção de quem criou o vídeo, obviamente para mostrar que boas obras não salvam e que só Jesus salva, ele traz erros sutis que podem atrapalhar na compreensão da Palavra de Deus e do papel que Cristo teve em nossa salvação.
O primeiro erro é colocar o crente junto com os incrédulos em uma espécie de “juízo final”. Esta é a crença genérica que foi introduzida principalmente pelo catolicismo romano e adotada também por segmentos do protestantismo, de que os crentes chegarão ao juízo final. Mas o vídeo atropela a verdade de que o crente não entrará em juízo, pois passou da morte para a vida no momento em que creu em Jesus.
(Jo 5:24) “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”.
Segundo, não somos salvos pela vida santa e justa de Jesus, como o vídeo parece insinuar, mas pela fé em sua pessoa e obra. É certo dizer que somos justificados pela fé, mas a Bíblia nunca diz que somos justificados pela justiça de Cristo. J. N. Darby comenta: “A Palavra diz simplesmente que justiça é imputada, ou que a fé é imputada por justiça, mas não diz que seja a justiça de Cristo” (J. N. Darby: Letters: Volume 2, number 99).
The word says always simply that righteousness is imputed, or that faith is imputed for righteousness, not the righteousness of Christ.” Apesar de eu já ter pregado isso algumas vezes no passado, entendo hoje que o pensamento protestante e católico a respeito não tem fundamento. Refiro-me à ideia de que Deus nos salva depositando em nossa conta, zerada de boas obras, as boas obras de Jesus.
Este comentário de Charles Stanley, que fala da justificação pela fé, pode ajudar:
Repare que nestas passagens não se trata da justiça de Cristo em sua vida santa na terra, por mais preciosa que possa ser; trata-se de algo muito mais profundo. A vida impecável de Cristo não poderia ajudar nem um pouco a justificar o pecador. Deixe-me ilustrar isto. Um criminoso está sob sentença de morte. Ele comparece perante o juiz. O juiz deseja livrar o prisioneiro pois, apesar de sua vida criminosa, o juiz o ama. Ora, como poderia o juiz livrar o prisioneiro e mesmo assim manter a dignidade de seu cargo e cumprir a lei que exige que ele seja morto? Esta é a questão. Então alguém se apresenta e diz:
– Eu sou perfeitamente inocente. Nunca cometi um crime sequer contra as leis de meu país. E agora, Meritíssimo juiz, desejo que V. Exa. impute a minha justiça em favor desse pobre homem, isto é, o reconheça justo baseado na minha justiça.
O juiz retruca:
– O contraste com a sua justiça só torna os pecados deste homem ainda piores. A lei exige que ele seja morto.
Então outro homem se apresenta:
– Também sou um criminoso, como o prisioneiro ali, e quero oferecer minha vida em lugar da dele. Acaso com minha condenação V. Exa. não continuaria sendo reconhecido como justo e agindo de acordo com a lei, ao perdoar o prisioneiro e salvar sua vida?
O juiz então ordena:
– Oficial, prenda este homem pois ele também é culpado e a lei exige que seja condenado à morte. Como poderia ele, culpado, substituir outro culpado?
Então entra um funcionário e entrega um bilhete ao juiz. O juiz fica profundamente comovido ao reconhecer a letra. Trata-se do príncipe daquele reino. Ele abre o bilhete, lê, e voltando-se para os presentes, diz:
– Senhores do júri. Esta é a mensagem mais maravilhosa que já recebi. Ela diz: ‘Meritíssimo, sabendo de seu grande amor pelo prisioneiro, e sendo o meu amor por ele o mesmo, e ciente da justiça com que V. Exa. mantém as leis deste reino, e considerando que minha vida é sem mancha, decido entregar a minha vida em preço de redenção pela vida do prisioneiro. Permita que eu seja executado e ele seja libertado.
O juiz então se senta e o representante do júri se manifesta.
– Devo aqui expressar o veredito unânime deste júri, de que não só o resgate do prisioneiro pode ser pago, mas também o Meritíssimo juiz estará perfeitamente justificado por isso, e a integridade da lei preservada em sua essência.
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Preciso me esforçar para ser salvo?
Sempre devemos ter em mente duas coisas: quando uma verdade é declarada numa passagem da Palavra de Deus, outra passagem não poderá contradizê-la. Outra é procurarmos entender as circunstâncias em que as coisas foram ditas, a quem, com que motivo, etc.
(Lc 13:23-24) “Alguém lhe perguntou: “Senhor, serão poucos os salvos? “Ele lhes disse: esforcem-se para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão”.
A primeira impressão que a passagem dá é de que o esforço humano é que nos salva, ou seja, se eu for salvo poderei dizer que foi por eu ter me esforçado. Porém sabemos bem que nada em nossa salvação vem de nós, ou poderíamos nos gloriar em nós mesmos. O catolicismo romano e boa parte do protestantismo acredita na salvação por obras, ainda que os protestantes preguem a salvação pela fé. É que, principalmente os pentecostais, acreditam que somos salvos pela fé, mas só podemos nos manter salvos pelas obras, obediência, perseverança, etc.
A passagem abaixo mostra claramente que a salvação é pela graça, pela fé, não depende de nós, é presente de Deus, não depende de obras (para ninguém poder se gloriar que foi salvo por seus esforços), e que os salvos são nova criação em Cristo para viver e praticar boas obras que nem são suas, mas de Deus, que as preparou para nós as praticarmos.
(Ef 2:8-10) “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”.
Então que esforço é este que está falando Lucas, para entrar pela porta e caminho estreitos? É o esforço do querer estar nessa salvação que Deus preparou de graça, e é aí que entra a necessidade de entendermos as circunstâncias do que foi dito.
Se ler os versículos anteriores de Lucas 13 verá que o Senhor está ensinando a respeito do Reino de Deus. O conceito de “salvação” para um judeu não era o mesmo que temos hoje como igreja, de irmos morar no céu com Cristo. Para um judeu salvação significava viver para sempre no reino do Messias na terra.
Veja o caso de Mateus 24, que descreve o remanescente de judeus convertidos durante o tempo da tribulação após o arrebatamento da igreja. Ali diz que “aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24:13). Mas que salvação é essa? A resposta está no mesmo capítulo, versículo 22: “se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias”. O contexto todo está falando de uma salvação da vida, da pessoa ser salva da morte (em meio a toda a tribulação descrita na passagem) para poder entrar viva no reino do Messias.
Voltando ao capítulo 13 de Lucas você encontra os judeus querendo insinuar que os galileus, que tinham sido mortos por Pilatos, sofreram aquilo por serem pecadores, e o Senhor mostra que eles não eram nem um pouco menos pecadores do que os outros e sem arrependimento seriam igualmente condenados (vers. 1-3). Depois ele fala a mesma coisa referindo-se a outros que morreram na queda de uma torre (vers. 4-5).
Em seguida ele fala de Israel, representado pela figueira, que há 3 anos não dava fruto para o dono da terra. Para evitar cortá-la de imediato, o dono da terra ordena que ela fique mais um ano para ver se produz fruto.
O capítulo segue falando de Israel, agora representado pela mulher encurvada há 18 anos. Por que achar que a mulher representa Israel? Romanos 11:10 diz, falando de Israel: “Escureçam-se os seus olhos, para que não consigam ver, e suas costas fiquem encurvadas para sempre”. A passagem segue com a indignação dos judeus por Jesus ter curado no sábado e depois vem as comparações que ele faz com o Reino de Deus.
Primeiro o Reino é semelhante a um grão de mostarda que dá uma grande árvore em cujos ramos os pássaros se aninham. Em Mateus 13 aprendemos que esses pássaros são os mesmos agentes de satanás que roubaram as sementes que o Semeador semeou e caíram à beira do caminho, portanto o reino, em seu aspecto atual, inclui falsos e verdadeiros. (Veja Mt 13:4-19)
Depois o reino é comparado à mulher (uma pessoa que não poderia ensinar – 1 Tm 2:12) introduzindo fermento (figura de má doutrina, como o próprio Senhor explica em outra passagem – Mt 16:12) na massa que acaba crescendo artificialmente.
É na sequência, em seu caminho para Jerusalém, que alguém pergunta se serão poucos os que se salvarão e o Senhor não responde à pergunta dele, mas fala à consciência. Eu creio que o Senhor não diz “serão poucos” ou “serão muitos” porque não era importante aquela pessoa saber, já que é uma pergunta que só serve para a curiosidade. Que vantagem tal pessoa teria em saber se são poucos ou muitos?
Se estivermos falando de salvação eterna, a Bíblia deixa claro que serão muitos, pois os perdidos não serão em maior número que os salvos porque a própria Palavra diz que Cristo terá, em tudo, a primazia. Ele não daria ao inimigo a primazia de ter arrastado mais pessoas à perdição do que Cristo à salvação.
(Cl 1:18) “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência”.
Além disso devemos considerar o número de fetos provenientes de abortos naturais ou não, e também de crianças que morrem antes da idade da razão. Todos esses são seres humanos, não são anjos como dizem alguns, mas seres humanos salvos pela obra de Cristo, o mesmo que disse para seus discípulos não impedirem as crianças de irem a ele.
Chegamos então ao versículo que diz para entrarmos pela porta estreita e se fizermos uma conexão com tudo o que foi dito antes perceberemos que os judeus se achavam justos por natureza, dignos de entrarem no Reino só pelo fato de serem filhos de Abraão, de serem judeus, de acharem que guardavam a Lei, etc. Era como se eles dissessem: eu não preciso fazer nada, porque já tenho meu lugar garantido por meu status de filho de Abraão.
Porém a conversão exige uma tomada de posição, exige estar disposto a sair da zona de conforto do caminho largo e se colocar disposto a cumprir a condição de um relacionamento estreito com Deus. Mesmo assim não devemos nunca nos esquecer de que nem esta disposição vem de nós mesmos, mas de Deus.
(Fp 2:13) “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”.
Usando de um outro exemplo, imagine o caminho largo e a porta larga como a condição natural do homem, ou seja, do que diz “vamos deixar do jeito que está para ver como fica”. Pense agora na porta ou caminho estreitos como uma mudança de posição, algo que nossa velha natureza não aprecia porque avalia as consequências disso e percebe que poderá perder amigos, prazeres humanos, ser perseguido por sua fé, etc.
Volto a lembrar: se temos tantas passagens que falam claramente que a salvação é por graça, que somos escolhidos antes da fundação do mundo e que ninguém pode nos tirar das mãos do Pai que nos deu a Cristo, não poderíamos interpretar esta passagem como se a salvação fosse por esforço e que assim que saíssemos do caminho estreito estaríamos automaticamente perdidos, como se fôssemos nós mesmos os geradores e mantenedores de nossa salvação. Pensar assim é colocar a fé na capacidade humana, e não na graça de Deus, na obra de Cristo e no poder do Espírito em nos manter.
(Ef 1:13-14) “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória”.
(1 Pe 5:10) “E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ELE MESMO vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá”.
Mais um pensamento: se você me perguntar por que a porta e o caminho são estreitos eu poderia também responder que é por só existir uma porta e um caminho, Jesus. O acesso a qualquer lugar que só tenha uma porta pode muito bem ser chamado de “estreito” e considerar a necessidade de “esforço” para passar por ali, já que a alternativa (qualquer outra porta ou caminho) não servirá.
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Por que esta profecia não se cumpriu?
Você escreve querendo saber a razão da profecia de Mateus 26:64 não ter se cumprido para o Sumo Sacerdote da maneira como Jesus disse que aconteceria. Segundo você, o Sumo Sacerdote teria morrido sem ver o que Jesus prometeu que aconteceria “em breve”.
Antes de considerarmos algum trecho das Escrituras como sendo uma contradição ou um erro devemos pesquisar mais e principalmente comparar diferentes versões. Às vezes algo que não está claro em uma tradução pode ficar cristalino em outra, e é o caso aqui. Vamos à passagem que citou:
(Mt 26:63-64) “Jesus, porém, guardava silêncio. E, insistindo o sumo sacerdote, disselhe: conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Disselhe Jesus: tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu”.
Se prestar atenção no texto, verá que ao dizer “Tu o disseste” Jesus está dirigindo-se ao Sumo Sacerdote, mas ao dizer “[vós] vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu” ele já não fala exclusivamente ao Sumo Sacerdote mas a todos os judeus, de um modo geral. Compare diferentes versões:
(NVI) “Tu mesmo o disseste, respondeu Jesus. Mas eu digo a todos vós: chegará o dia em que vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu”.
(ACF) “Disselhe Jesus: tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu”.
(ARA) “Respondeu-lhe Jesus: tu o disseste; entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu”.
(Bíblia) “Jesus respondeu: sim. Além disso, eu vos declaro que vereis doravante o Filho do Homem sentar-se à direita do Todo-poderoso, e voltar sobre as nuvens do céu”.
(BRASIL) “Respondeu Jesus: tu o disseste; contudo vos declaro que vereis mais tarde o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu”.
(CNBB) “Jesus respondeu: tu o disseste. Além disso, eu vos digo que de agora em diante vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso, vindo nas nuvens do céu”.
(Darby) “Jesus says to him, *Thou* hast said. Moreover, I say to you, from henceforth ye shall see the Son of man sitting at the right hand of power, and coming on the clouds of heaven”.
Mesmo tendo dito de forma genérica aos judeus, não seria necessário que qualquer um deles visse com seus próprios olhos isso acontecer para a profecia se cumprir. Quando você diz a alguém “Você verá que o Brasil vai ganhar a copa”, isto não implica necessariamente que a pessoa precise assistir ao jogo. Ela ficará sabendo de um modo ou de outro o resultado.
Em um certo sentido não demorou muito para que eles vissem Jesus glorificado à destra do Pai, mas isso foi por intermédio do testemunho de Estêvão:
(At 7:54-58) “E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra ele. Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus; E disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus. Mas eles gritaram com grande voz, taparam os seus ouvidos, e arremeteram unânimes contra ele. E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas capas aos pés de um jovem chamado Saulo”.
Mas eu particularmente creio que o Senhor estivesse falando aos judeus em geral no caráter daquele povo que estará na terra quando Jesus voltar para estabelecer o seu Reino. É o mesmo tipo de linguagem usada em outra profecia do Antigo Testamento, a qual nenhum de nós tentaria interpretar que os mesmos homens que crucificaram o Senhor estariam presentes também em sua vinda, mas em seu sentido representativo.
“Olharão para mim, a quem traspassaram; e prantea-lo-ão sobre ele, como quem pranteia pelo filho unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito”. (Zc 12:10).
“E outra vez diz a Escritura: Verão aquele que traspassaram” (Jo 19:37).
É algo como dizermos que a Seleção Brasileira venceu cinco copas do mundo. Obviamente não eram os mesmos jogadores, mas a Seleção. Muita coisa que você lê nos evangelhos não diz respeito às mesmas pessoas a quem Jesus se dirige ao falar, mas aos judeus de forma geral e em especial àqueles que estarão na terra por ocasião da sua vinda. Se ler o capítulo 24 de Mateus com isto em mente verá o quanto aquele capítulo é mal interpretado pela maioria das religiões, que tentam aplicá-lo ou aos discípulos diretos de Jesus naquele momento ou até mesmo aos cristãos.
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Por que alguns textos não falam especificamente de Satanás?
Suas dúvidas são várias e todas referindo-se aos “principados e potestades” e a Satanás, portanto vou dividi-las para facilitar a resposta. Sua primeira pergunta foi:
1) “Por que os textos que se referem sobre principados e potestades nas regiões celestiais, não falam exatamente de Satanás?”.
Principados e potestades são anjos, e no caso, Satanás e seus anjos. Vemos as potestades e principados nos céus e a própria Bíblia identifica Satanás como o príncipe dessas potestades ou poderes.
(Ef 3:10) “Para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus”.
(Ef 2:2) “Em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência”.
2) Por que foi afirmado logo no inicio sobre a queda de Satanás e anjos caídos, se Satanás ainda não caiu?
Acho que aí o problema seja de vocabulário e de interpretação de texto. Se eu disser a você que caí em pecado, de nada adianta você examinar meus joelhos para ver se estão esfolados ou meu braço para ver se está quebrado. Neste caso “cair” é posicional. Satanás caiu da posição em que estava quando pecou, mas não significa que “caiu” literalmente do céu.
Quando lemos a Bíblia devemos ter em mente que ela não pode se contradizer, portanto se em um lugar está escrito que Satanás estava no céu, em outro que ele caiu do céu e em outro que será no futuro expulso do céu, o problema não está na Bíblia, mas na minha interpretação. A passagem de Jó mostra Satanás no céu apresentando-se a Deus, portanto não há como negar que isto seja agora.
(Jó 1:6-7) “E vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então, o Senhor disse a Satanás: De onde vens? E Satanás respondeu ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela”.
As passagens das epístolas que falam das potestades e principados nos lugares celestiais, identificando Satanás como seu príncipe, também demonstram que ele está lá no céu. Então temos a passagem em Apocalipse falando que ele ainda será no futuro lançado fora do céu:
(Ap 12:7-13) “E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele. E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte. Por isso alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo. E, quando o dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho homem.”
Portanto, a passagem de Isaías que fala de Satanás “caindo” dos céus só pode ser no sentido posicional, ou teríamos uma contradição na Bíblia.
(Is 14:12) “Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!”.
Por isso também falamos em “cair” em casos como “caiu em desgraça”, “caiu no meu conceito”, “caiu de posto”, etc. Quando Satanás se orgulhou, e é disto que está falando a passagem de Isaías, ele caiu dos céus, posicionalmente falando.
3) Como explicar biblicamente que o livro de Apocalipse ainda não foi cumprido?
Porque João ouve que aquelas seriam coisas que iriam se cumprir depois das coisas relacionadas à igreja.
(Ap 4:1) “Depois destas coisas, olhei, e eis que estava uma porta aberta no céu; e a primeira voz que, como de trombeta, ouvira falar comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer. [Ele tinha acabado de ver o que Jesus falou sobre as 7 igrejas, que representam o período da cristandade na terra]”.
Além disso, o Apocalipse descreve em sua maior parte o período de grande tribulação, e o evangelho nos diz claramente que trata-se de uma tribulação como a qual nunca existiu e nunca existirá. Considerando que o encerramento do Apocalipse fala justamente do estabelecimento do Reino milenial de Cristo e também das bodas do Cordeiro, se o Apocalipse já tivesse se cumprido a Bíblia estaria errada, pois continuamos aqui e nada aconteceu em termos de uma tribulação sem precedentes (portanto, maior que o sofrimento causado até pelo Dilúvio).
(Mt 24:21) “Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais”.
(Mc 13:19) “Porque aqueles dias serão de tamanha tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo, que Deus criou, até agora e nunca jamais haverá”.
Os evangelhos também mostram que após o período da grande tribulação o sol se escurecerá, a lua não brilhará e as estrelas cairão do céu. É evidente que nada disso aconteceu, portanto só podemos deduzir que ainda não veio o período da grande tribulação, porque se tivesse vindo nós certamente poderíamos dizer que nunca na história da humanidade houve coisa igual e também estaríamos vendo o que está descrito em Mateus 24:29, que deverá ocorrer depois da tribulação:
(Mt 24:29) “Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados”.
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Como a morte e o inferno serão lançados no lago de fogo?
O versículo que gerou sua dúvida é Apocalipse 20:14: “E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte”. A palavra “inferno” não existe na Bíblia e infelizmente algumas traduções a adotaram em lugar de “Sheol”, “Hades” e “Lago de Fogo” causando dificuldades para entender.
A passagem que citou diz literalmente que a morte e o hades serão lançados no lago de fogo. O Hades é o lugar ou condição dos mortos neste presente momento. Quando os mortos forem julgados, eles serão lançados no lago de fogo (que agora está vazio). Aí o hades e a morte deixam de existir porque não haverá mais pessoas que serão mortas e permanecerão na morte até o dia do Juízo porque o juízo já terá acontecido.
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O cristão pode arriscar a vida praticando esportes radicais?
Existe uma diferença entre arriscar a vida e desperdiçar a vida. O cristão quando se converte já passa a correr risco de vida em vários aspectos. Se ele morar em um país muçulmano esse risco é real. Frequentemente vemos notícias de condenações à morte e chacinas de cristãos em países da África e do Oriente. No ano passado tive notícia de dois casos na Índia, um de uma irmã em Cristo que congregava com irmãos de lá e foi morta pelo marido por recusar-se a fazer oferendas aos deuses do hinduísmo. Outro foi morto e teve sua casa queimada quando sua família descobriu que ele havia se convertido a Jesus.
Mas o cristão, mesmo em países ocidentais normalmente considerados “cristãos”, também corre o risco de perder o emprego, parentes, amigos, enfim, a vida que tinha antes. Todos os que se converteram já experimentaram o quanto custa seguir a Cristo até mesmo entre aqueles que são meros religiosos, mas que repudiam qualquer referência ou reverência à Palavra de Deus.
Por outro lado, aquilo que costumamos chamar de “arriscar a vida” ou de “esportes radicais” pode ser, aos olhos de Deus, simplesmente uma forma de se desperdiçar a vida. Se um cristão quer realmente viver uma vida radical, com muita adrenalina e constantemente escapando por um triz do perigo, que vá pregar o evangelho no Afeganistão ou em países onde isso é punido com prisão ou morte. Ele colocará sua vida em risco, correrá risco de morrer, mas não estará desperdiçando sua vida.
Porém o cristão que se engaja em algum esporte que represente um alto grau de risco para sua vida ou saúde está desperdiçando sua vida. É claro que muitos também cometem um tal desperdício sem correrem qualquer risco, simplesmente por levarem a mesma vida que sempre levaram quando incrédulos. Em ambos os casos cristãos assim terão a alma salva, porém a vida perdida ou desperdiçada.
Algumas atividades e esportes radicais colocam a vida da pessoa em risco sem uma razão importante, o que pode se configurar como tentar a Deus. Como eu poderia entrar em uma atividade de risco e orar a Deus por proteção sabendo que aquilo é desnecessário e poderei morrer se algo der errado? Entendo que entrar deliberadamente numa atividade de alto risco é o mesmo que tentar a Deus. Quando o diabo levou o Senhor ao pináculo do templo e sugeriu que pulasse dali na confiança de que Deus iria protegê-lo, sua resposta foi: “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Mt 4:6-7).
Evidentemente existem muitas atividades que são de risco, porém necessárias àquele que as exerce, como algumas profissões ou até atravessar a rua ou dirigir no trânsito de uma grande cidade a caminho do trabalho. Até sacar dinheiro em caixa eletrônico é hoje uma atividade de risco, considerando-se o alto índice de assaltos seguidos de morte. Porém são atividades em que o risco é considerado uma fatalidade, já que se tratam de atividades normais à vida.
O mesmo não pode ser dito de alguém que salta de bungee jump ou participa de uma luta violenta na qual pode ser espancado até a morte. No primeiro caso está se expondo a um risco totalmente desnecessário, já que não se trata de ir a algum lugar por necessidade de trabalho ou de sobrevivência. No segundo está entregando seu corpo, que é o templo do Espírito, para ser espancado pelo adversário. Como um cristão poderia ser inocente em pensar que pode orar a Deus pedindo por proteção, quando ele próprio está se expondo gratuitamente ao perigo? Deus é gracioso em nos guardar, mas não é ingênuo.
Mas como determinar se um esporte ou atividade é ou não de risco? Obviamente a Bíblia não diz, já que muitos esportes só foram criados séculos depois de seu texto ter sido redigido. Mas um cristão com algum bom senso saberá dizer se está ou não se envolvendo sem necessidade em algo que poderá tirar a vida que Deus lhe deu para ser usada para a glória dele.
Uma boa referência para esse “bom senso” talvez sejam as apólices de seguros e as exceções de cobertura para acidentes causados por atividades perigosas e esportes radicais. Embora existam leis que determinam que algumas destas cláusulas não têm efeito, acho que servem de referência para um cristão que esteja decidindo se deve ou não se envolver em uma atividade perigosa. Uma boa ideia seria pensar assim: “Se a seguradora não quer me proteger neste esporte, por que Deus iria querer?”.
Numa pesquisa encontrei a apólice de uma seguradora que, para alguns esportes exige uma contratação adicional no custo do seguro, apesar de mesmo assim não dar cobertura em caso de morte acidental ou invalidez permanente. Os esportes nesta categoria são bungee jumping, esgrima, kart, kite surf, mergulho com cilindro de nitrox, patinação sobre rodas, patinação no gelo, rugby, skate, snowboard, surfe, trekking e wake boarding.
Porém para outros esportes a mesma seguradora diz não dar cobertura nem mesmo com a contratação de serviços e apólices adicionais. Os esportes não cobertos seriam: artes marciais ou esportes de defesa pessoal, asa delta, aviação (exceto para viagens), base jumping, bobsleigh, bulldog (rodeio), caça, corrida (exceto à pé), corrida ou rally em motocicletas, descida em trenó, escalada livre, escalada de montanhas, escalada em pedras, esqui na neve (em pista não regulamentada, com tubos e saltos), exploração de cavernas subterrâneas, exploração em cavernas, hockey no gelo, jiu-jitsu/judô, karatê, mergulho submarino (abaixo de 25 m de profundidade), navegação, navegação marítima individual, paraquedismo, pesca submarina, prática esportiva profissional, rafting, rapel, rodeio, tiro ao alvo, trekking com cordas, ultra leve e snowboard em pista não regulamentada, com tubos e saltos.
Espero que entenda que não estou dando aqui uma lista de esportes proibidos ou permitidos, mas apenas indicando que existem atividades que, independente da fé de seu praticante, são consideradas de altíssimo risco até pelas seguradoras. Que isto não é uma “lista de proibições” qualquer pessoa de bom senso entenderá só de ponderar que em muitos ou em todos estes casos existem pessoas que precisarão praticar ou saber como fazer tais atividades até por necessidade profissional e de salvar vidas.
Por exemplo, um profissional que trabalhe na manutenção de torres de transmissão precisará estar treinado em escalada com cordas. Um piloto de avião pode precisar aprender manobras acrobáticas para saber como sair de situações difíceis. Bombeiros e salva-vidas também precisarão treinar e praticar muitas dessas atividades para salvar vidas. Policiais precisarão praticar tiro ao alvo com regularidade. Socorristas de estâncias de esqui precisarão ser treinados em esquiar na neve e no gelo, escalar montanhas, etc. Obviamente estas pessoas farão isso para o sustento próprio e de seus familiares, além de salvar vidas. Enquanto isso o esportista as praticará tão somente para a satisfação pessoal.
Embora possam existir opiniões genéricas e universais sobre este assunto, o que escrevi tem a ver com aqueles que foram salvos por Cristo e cuja vida agora já não lhes pertence, e sim àquele que os salvou. Evidentemente quem ainda não foi salvo por Cristo e nem tem a vida eterna garantida pela fé naquele que morreu e ressuscitou não se enquadrará nesta categoria e minhas palavras não farão qualquer sentido. Este é, por assim dizer, um assunto familiar apresentado àqueles que pertencem à família da fé. Existem assuntos que eu discuto em casa com minha família que meus vizinhos nunca entenderiam por não pertencerem à família.
Alguns versículos da Palavra de Deus podem lançar mais luz sobre as razões disso (para os salvos, evidentemente):
“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1 Co 6:19-20).
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2:20).
“Eu sei, Senhor, que a vida do homem não lhe pertence; não compete ao homem dirigir os seus passos” (Jr 10:23).
“Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, E disselhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra. Disselhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” (Mt 4:5-7).
“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:1-2).
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O cristão pode contar piadas?
Você perguntou se um cristão pode contar piadas ou se divertir ouvindo outros contarem. Minha opinião pessoal é que o senso de humor é uma das características naturais ao ser humano, e não uma aberração ou degradação causada pelo pecado. Mas, como acontece também com outros sentimentos e comportamentos humanos, existe também um humor que é fruto dessa degradação, do mesmo modo como existe o lado sinistro do amor, do prazer, da alegria, etc.
Na verdade a falta de senso de humor pode ser considerada uma anormalidade, aí sim resultado do pecado. Distúrbios mentais como a Síndrome de Asperger fazem com que alguns casos mais graves deixem a pessoa incapacitada de entender uma anedota, identificar sarcasmo, ironia, escárnio e frases de duplo sentido na linguagem ou perceber mensagens enviadas por expressões faciais e linguagem corporal.
Pessoas assim também têm dificuldade para entender metáforas, analogias e linguagem hiperbólica (por exemplo, “morri de ri”, “estou esperando há um século”), pois são pessoas extremamente literais na forma como percebem as coisas. Algumas acabam se tornando paranoicas, pois sua cegueira emocional impede que saibam distinguir quando alguém está brincando ou falando sério, e por isso podem se achar sempre perseguidas ou criticadas.
Obviamente todas essas incapacidades também ocorrem no sentido inverso, ou seja, são pessoas com grande dificuldade de relacionamento justamente por serem literais. Não são capazes de perceber nuances no comportamento dos outros para poderem consolá-los, e nem poderiam consolar alguém que não estivesse preparado para ouvir algo direto, pois não conseguem falar em rodeios e linguagem simbólica. Mesmo assim pessoas com esta síndrome podem ser extremamente inteligentes em algumas áreas, como também costuma ocorrer em casos de autismo.
Portanto, entendo que o senso de humor esteja também relacionado a essa capacidade humana de entender linguagem metafórica, ironia, sarcasmo, etc. e poder fazer uso disso na comunicação. Na Bíblia encontramos parábolas que só podem ser entendidas se tivermos algum senso de humor para interpretá-las como fantasias e não como uma realidade literal. No Antigo Testamento vemos linguagem poética descrevendo o aplauso dos rios (Sl 98:8), o cântico dos montes (Is 55:12) ou a conversa entre animais (Jó 12:7). Alguém com “cegueira emocional” não seria capaz de entender como rios poderiam aplaudir, montanhas cantarem ou animais dizerem algo aos homens.
Quando Filipe encontra-se com Natanael e fala de Jesus a ele, sua reação é de sarcasmo: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” Obviamente não se tratava de uma pergunta literal, mas trazia o sarcasmo que também é usado em muitas frases de humor. Nazaré era considerada uma cidade de quinta categoria na sociedade da época.
Filipe então convida Natanael para encontrar-se com Jesus e nesse encontro não vemos qualquer reprimenda do Senhor pelo tipo de linguagem usada por Natanael, mas apenas um elogio: “Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo”. Quando Natanael pergunta de onde Jesus o conhecia, este responde com uma frase que pode ser de duplo sentido: “Antes que Filipe te chamasse, te vi eu, estando tu debaixo da figueira” (Jo 1:45-48). Se Natanael estava literalmente debaixo de uma figueira, ou se entendeu que Jesus estava falando do caráter genuinamente israelita do rapaz é difícil dizer, mas eu creio que eram as duas coisas.
O próprio Senhor usava de parábolas que alguém sem senso de humor e capacidade de interpretar linguagem simbólica não conseguiria entender. Como ele podia se comparar a uma porta? Quem seria louco de construir uma casa sobre areia? Ele critica a ausência dos extremos dos sentimentos humanos — alegria e tristeza — quando diz dos que o criticavam: “São semelhantes aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns aos outros, e dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes” (Lc 7:32).
Quando nos lembramos de como é complexa a capacidade de percepção do ser humano, a qual inclui o senso de humor, fica difícil acreditar que Deus tivesse criado o homem à sua imagem e semelhança e que este acabaria possuindo uma qualidade que faltaria em Deus, ou seja, senso de humor. Um dicionário define senso de humor como “a capacidade de perceber, desfrutar ou expressar o que é cômico ou engraçado”.
Não é difícil enxergar algum senso de humor no que Deus fez com os filisteus que haviam roubado a Arca da Aliança e a colocado em seu templo pagão diante de seu ídolo Dagom. Deus poderia ter simplesmente feito o ídolo desmoronar, porém não. Quando os filisteus vão ao seu templo encontram o grande ídolo prostrado diante da arca, numa clara indicação de que até os deuses pagãos deviam honra ao único Deus verdadeiro. Depois de colocarem o ídolo de volta ao seu lugar, os filisteus voltam a encontrá-lo novamente prostrado diante da arca, com a cabeça e as mãos cortadas fora. A mensagem também era clara: o ídolo deles não era capaz de pensar ou agir pois lhe faltavam a cabeça e as mãos. (Veja 1 Samuel 5:1-5).
Mas qual seria a reação de Deus diante de tamanha tolice dos filisteus e de todos os que ousassem desafiar o Criador? Os Salmos nos dão algumas pistas de como Deus reage diante da insanidade humana: “Mas tu, Senhor, te rirás deles; zombarás de todos os gentios” (Sl 59:8). “Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles” (Sl 2:4). Mas se Deus zomba da loucura humana, ele não zomba no homem no sentido de desprezá-lo, caso contrário não teria enviado seu Filho para morrer por nós, que não somos nem um pouco melhores que os filisteus de então.
A dificuldade, como cristãos, de entendermos as diferenças sutis entre o humor sadio e inerente ao ser humano, e aquele que é mau em essência, é que muito do que hoje chamamos de humor não passa de linguagem chula, ofensiva e agressiva. Isto porque existe o humor que sempre exige uma vítima, seja ela a loira, o português ou o sujeito que bate a cabeça no poste ou leva a torta na cara. Este tipo de humor obviamente não é saudável pois deixa ressentimentos nas pessoas das quais rimos. Para este caso vale Colossenses 3:8: “Despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca”. Efésios 4:29 mostra como devemos ser no falar: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem”.
Há quem argumente que o cristão jamais deveria brincar, rir ou contar histórias engraçadas (anedotas) porque o Senhor nunca demonstrou fazer isso. É preciso, porém, lembrar que o Senhor veio ao mundo com a finalidade de morrer. Se eu e você estivéssemos no corredor da morte não acharíamos muita graça de nossa condição. Além disso, por ele ser santo e perfeito, sua percepção do mundo era muito diferente da nossa. Quando ele chorou diante do túmulo de Lázaro, não estava chorando especificamente pelo morto como fazemos em velórios, pois em cinco minutos ele traria Lázaro de volta à vida. Aquele morto não era o motivo de seu pranto; ele chorava de ver a ruína e morte que o pecado trouxe à criação de Deus. Estes sim eram motivos suficientes para tirar lágrimas dos olhos daquele Ser perfeito, além obviamente da empatia que sentia naquele momento pelas tristes Marta e Maria, irmãs do morto.
Um texto assinado apenas pelas iniciais E. N. C. que encontrei descreve o Senhor assim, no que diz respeito ao humor:
“O Senhor Jesus nunca é visto no Novo Testamento dando a parecer qualquer expressão de senso de humor ou participando de conversas tolas. Vemos Deus revelando que irá rir e zombar dos pagãos pecadores, mas isto é diferente de se tentar atribuir ao Senhor Jesus senso de humor… A Palavra de Deus mostra que enquanto estava no mundo o Filho de Deus era um rejeitado, Homem de dores e que sabe o que é sofrer. Ele estava aqui se derramando em lágrimas, pranteando sobre Jerusalém e por todos os que haviam caído vítimas das sutilezas de Satanás. Seu andar era marcado por choro e pranto. As Escrituras mostram que ele era um homem sociável, atendendo a todos e estando sempre disponível a cada um que necessitasse. Ele atendia ao pobre e fraco. Seu ministério era fazer o bem e suprir. Seu ministério verbal era de uma qualidade tal que as pessoas mais simples o escutavam de boa vontade. A inexplicável doçura de suas palavras é degradada pelo mero pensar de que Cristo poderia contar piadas. Nenhuma expressão trivial jamais saiu de seus lábios, e jamais alguém o escutou contar uma piada. Ele advertia seus ouvintes de que eles seriam julgados por cada palavra inútil que tivessem falado. Seu discurso era sobre coisas com peso e importância eternas, tudo o que o Pai lhe havia dado para falar. Ele tinha um conhecimento de primeira mão das coisas celestiais e eram estes e outros correlatos os temas de sua conversa. Ninguém jamais caminhou em um caminho tão estreito quanto o Senhor Jesus Cristo, e ninguém jamais teve um coração tão largo quanto o dele. Ele era o Deus bendito (que significa “feliz”), embora aqui estivesse como um estranho de luto entre os que estavam tristes e amedrontados. A alegria que ele trouxe era plena e duradoura, e não alguma expressão de alegria fugaz”.
Voltando ao assunto de o cristão contar ou não coisas engraçadas, um alerta precisa ser dado, principalmente em uma época de tanta leviandade para com as coisas de Deus. Em situação nenhuma um cristão deveria contar piadas sobre Deus, o Senhor Jesus ou qualquer assunto relacionado à Palavra de Deus. Quando falamos de Deus e das coisas relacionadas a ele estamos pisando em terreno santo e devemos tirar as sandálias, como o Senhor ordenou a Moisés. Qualquer piada ou comentário jocoso usando o nome de Deus ou de Jesus é vão, portanto pecado. Às vezes somos obrigados a dar um sorriso amarelo quando o chefe incrédulo conta uma piada de céu e inferno ou algo semelhante, mas quando é um irmão em Cristo que faz isso o correto seria interrompê-lo para que não caia em erro e venha também a perverter os ouvintes com sua linguagem.
Como a minha profissão de palestrante envolve o uso de humor nos exemplos e histórias que conto para fixar aquilo que é ensinado na palestra, por ser cristão sou obrigado a me manter vigilante para não ultrapassar a linha que divide uma situação engraçada de um humor chulo e ofensivo. Tenho alguns textos nos quais falo do humor na profissão de palestrante e dou mais detalhes sobre o assunto, mostrando principalmente que o humor que considero sadio em qualquer situação é aquele envolvendo situações engraçadas do dia-a-dia relacionadas a nós mesmos. Quando rimos de situações assim não ofendemos ninguém e nem deixamos mortos e feridos pelo caminho, pois rimos de nós e de nossas falhas. Não é o riso soberbo do zombador, mas o riso do que se dá conta de suas próprias fraquezas.
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Como evangelizar meus filhos?
Você demonstrou estar preocupada com sua filha que é jovem e se recusa a ouvir você falar do evangelho. Ela está simplesmente seguindo a onda atual, que é querer mostrar independência e autossuficiência (inclusive nas coisas eternas). O jovem não tem senso de finitude como tem um idoso, pois acredita que a morte é a exceção, não a regra da vida. Na cabeça da maioria das pessoas, quem morre é sempre o outro. Por isso o jovem não se preocupa muito com as coisas eternas, pois a imagem que tem é que isso é coisa de velhos. Obviamente é, porque o idoso sabe que seu relógio está agora em contagem regressiva.
De qualquer modo não se desespere e nem considere sua filha um caso perdido. Lembre-se de que não faz muito tempo você mesma estava tão perdida e alheia às coisas de Deus quanto ela, talvez não de modo a verbalizar sua incredulidade, mas mesmo assim tão perdida quanto. Muitas esposas, esposos, pais e filhos crentes não terão a oportunidade de testemunhar a conversão de seus queridos enquanto estiverem vivos, mas acabarão encontrando-os no céu. Agarre-se à promessa feita por Paulo ao carcereiro de Filipo:
“E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (At 16:30-31).
Procure conversar com ela e falar do evangelho de forma clara e simples. O evangelho é basicamente o que você encontra nos primeiros versículos de 1 Coríntios 15, que Cristo morreu e Cristo ressuscitou. Muito cuidado para não despejar em sua filha um caminhão de versículos que possam até ser bonitos e motivadores, mas que não dão qualquer pista do caminho da salvação.
Por exemplo, um versículo campeão até entre incrédulos é “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Sl 23:1). Bíblias abertas na sala de casas ou escritórios costumam estar na página deste Salmo, pois muitos enxergam isso como um “pé de coelho”, tipo um amuleto para dar sorte. O que a maioria das pessoas veem no versículo é apenas a parte que diz “nada me faltará”, pois é o que agrada ao ser humano.
Mas poucos pensam nas implicações de se afirmar “o Senhor é o meu Pastor”, pois não sabem que para Cristo realmente ser o Pastor de alguém é preciso que essa pessoa seja ovelha dele, tenha se reconhecido pecadora e se prostrado por fé aos pés do Salvador, arrependida de seus pecados e confiando que o seu sangue derramado na cruz foi suficiente para limpá-la, e sua ressurreição a provisão de Deus para justificá-la.
Afirmar meramente “o Senhor é o meu Pastor”, sem realmente crer nele, é colocar-se de modo informal e exterior sob o senhorio de Cristo, ou seja, adotar para si todas as responsabilidades que recaem sobre aqueles que não ignoram os desígnios de Deus. Sabe aquelas frases de filmes policiais, “tudo o que você disser poderá ser usado contra você?”. Pois é, tal pessoa, mesmo que não se converta de verdade, ao afirmar “o Senhor é o meu Pastor” estará se colocando sob a responsabilidade da passagem que diz:
“E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá” (Lc 12:47-48).
Outra página campeã das Bíblias abertas na sala é o Salmo 91: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará”. O Salmo segue com diversas promessas para aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, como proteção dos inimigos, das doenças, do medo e terror, da morte, do mal, da praga, além da sensação de poder que transmite frases como “mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegarão a ti”, ou “pisarás o leão e a cobra, calcarás aos pés o filho do leão e a serpente”.
Ou seja, se a pessoa não entender com clareza que “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo” é o próprio Senhor Jesus, o Único que tem direito a essa posição, e que é somente estando nele que alguém pode ter tais promessas, acabará lendo esse Salmo como se fosse um mantra ou uma fórmula mágica não muito diferente das usadas em feitiçarias.
É preciso lembrar que, em se tratando de promessas bíblicas, “todas quantas promessas há de Deus, são nele (em Jesus) sim, e por ele (por Jesus) o Amém, para glória de Deus” (2 Co 1:20). A menos que a pessoa esteja pela fé em Cristo, salva e perdoada por ele, não poderá contar com quaisquer promessas bíblicas, por mais bonitas e motivadoras que possam parecer.
Você já disse que sua filha não quer nem ouvir falar de Jesus, mas não se deixe levar por aquilo que uma pessoa incrédula diz, porque obviamente nenhum de nós queria ouvir falar de Cristo antes de nossa conversão. Se parecíamos querer, isso nada mais era do que educação, curiosidade ou alguma influência religiosa que via a Jesus como mais um dentre os muitos “gurus”, “santos” e “iluminados” da história, como era o meu caso antes de minha conversão.
Alguém sugeriu (dizem ter sido São Francisco de Assis): “Pregue o evangelho e, se precisar, use palavras”. Com isto ele quis dizer que em alguns casos, e principalmente quando as palavras parecem não fazer mais efeito, o testemunho de uma vida cristã pode falar mais alto do que muito falatório. Isto é o que ensina Pedro em sua carta ao falar das mulheres crentes casadas com homens incrédulos, que obviamente não gostam muito de ouvir da Palavra de Deus:
“Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns não obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos sem palavra; considerando a vossa vida casta, em temor. (1 Pe 3:1-2).
Mas eu entendo que neste caso essa mulher provavelmente já tenha falado de Cristo para seu cônjuge, porém para evitar atritos acabe “pregando” depois com seu modo de proceder.
Lembre-se sempre de que o evangelho (as boas novas de que Cristo morreu para pagar nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação) “é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16) e “a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” (Rm 4:12-13).
Portanto, é importante que em algum momento a pessoa tenha escutado a Palavra, pois o poder não está em quem prega a Palavra, mas na própria Palavra. É um poder sobrenatural e colocado em ação numa alma por meio do Espírito Santo, como a espada que tudo penetra e deixa evidente cada detalhe das vísceras do pecador. Ao entrar em contato com a Palavra a consciência do pecador não fica imune a esse contato. Apesar de Deus ter entregue a seres humanos a tarefa de divulgar as boas novas, todo o processo de conversão vem de Deus, não do homem, para que toda a glória também seja dada a Ele.
Existem algumas dicas práticas para se levar alguém da família a ter contato com a Palavra de Deus. Uma é sutilmente introduzir alguns versículos evangelísticos na decoração de sua casa, colocar um calendário de versículos evangelísticos na parede da cozinha, “esquecer” algum folheto ou livro em algum lugar da casa (o banheiro é ótimo para isso) e sempre regar todas essas estratégias com muita oração.
Quando eu tinha dez anos de idade peguei um evangelho de Marcos que caiu literalmente de paraquedas na rua de casa, depois que um avião de alguma missão sobrevoou a cidade despejando centenas de evangelhos amarrados em paraquedas de papel de seda. Este evangelho eu li várias vezes (de curiosidade) e ainda permaneceu comigo muitos anos depois de minha conversão. Aquela semente certamente ficou plantada em meu coração para germinar treze anos depois, quando Deus usou outros instrumentos e pessoas para me levar à conversão. Na maioria das vezes nem percebemos de quantas maneiras Deus vai afunilando nosso caminho até nos encontrarmos com Cristo.
Folhetos com mensagens evangelísticas são poderosos instrumentos para levar a Palavra de Deus onde não é possível chegar com uma mensagem audível, ou seja, pregar diretamente à pessoa. Eu me lembro de um caso de conversão em que um homem com um sapato que o incomodava pegou na rua o primeiro pedaço de papel que encontrou, dobrou-o e o enfiou no sapato para proteger o pé do prego que incomodava. Quando chegou em casa e tirou o sapato descobriu que o papel era uma mensagem do evangelho. Leu e se converteu.
Há sempre maneiras de se evangelizar. Existem bons folhetos e calendários com mensagens bíblicas que podem ser adquiridos em livrarias cristãs para distribuição. É possível baixar e gravar mensagens em mp3 na Internet (como as do “Evangelho em 3 Minutos”) para distribuí-las em CDs, pendrive ou cartões de memória. A queda nos preços das mídias eletrônicas permite colocar nelas um volume de textos, áudios e vídeos como nunca foi possível no passado. Bíblias e Novos Testamentos também são uma excelente opção. No site da Sociedade Bíblica existe uma Bíblia Econômica que custa menos que uma passagem de ônibus.
Portanto, se a sua filha não lhe dá chance de você evangelizá-la diretamente, faça isso usando mensagens impressas. Creio que um dos aspectos bastante positivos da evangelização pelos vídeos do Evangelho em 3 Minutos é que eles alcançam pessoas que de outra forma seriam avessas ao evangelho. Aquilo que alguém poderá recusar-se ao escutar ou ler em público talvez escute quando estiver sozinho em seu quarto e longe de olhares curiosos. Muitos têm medo de demonstrar que estão interessados no Evangelho porque isto pode parecer sinal de fraqueza para seus amigos incrédulos. E de fato é, pois a menos que reconheçamos nossa fraqueza, incapacidade e condição de perdidos, jamais iremos aceitar o socorro que vem de Deus.
Mas não espere que a evangelização de sua família seja um mar de rosas. Pode esperar por conflitos, pois o próprio Senhor previu que seria assim.
“Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, mas antes dissensão; porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três. O pai estará dividido contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra” (Lc 12:51-53).
Mesmo assim é sua missão evangelizá-los, e sempre em oração, temor e confiança diante de Deus. Se alguém ainda recusa-se a aceitar o evangelho é porque “o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Co 4:4).
Não existem fórmulas para pregar o evangelho, e nem vejo fundamentação bíblica para a famosa prática de “ir à frente orar com o pastor” de alguma igreja evangélica. Mas é sempre bom ter em mente estes versículos que, tanto resumem o evangelho, como demonstram o caminho prático para aquele que crê:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3:16-18).
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10:9-11).
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Sou iníqua por não estar em comunhão?
Sua dúvida se refere ao tempo em que aguarda ser recebida à comunhão à mesa do Senhor, já que pediu seu lugar há algum tempo e ainda não viu os irmãos se manifestarem. Você leu 1 Coríntios 5 e viu várias coisas ali falando dos “de fora” e isso a desanimou. Entre elas está a exortação para que “com o tal nem ainda comais” (1 Co 5:11), que achou fosse o seu caso. Me parece que você deixou passar algo sobre estes com os quais não devemos nem comer: “Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem… que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais” (1 Co 5:9-11).
O assunto de 1 Coríntios 5 não é a recepção de alguém à mesa do Senhor, mas a exclusão de alguém que, pelo seu andar, revela que pode ser um falso irmãos. Daí ser excluído. É aquele cuja boca diz uma coisa, mas a vida mostra outra. Então não deve ser considerado irmão. Este é o assunto explícito do capítulo. Apesar de ali termos princípios que também podem ajudar na recepção à mesa, o “com o tal nem ainda comais” obviamente não se refere àqueles que expressaram o desejo de estar em comunhão mas ainda não foram recebidos à mesa.
Alguém que pede o seu lugar à comunhão é um caso completamente diferente e a assembleia procura conhecer o irmão ou irmã melhor para ver se não está em pecado moral, doutrinal ou importando usos e costumes do arraial religioso, um problema que era menor no início, porém se agravou depois.
Além disso é preciso saber se a pessoa entende o princípio de autoridade, pois se não entender certamente criará problemas mais tarde. Como lidar com alguém que não aceita a autoridade do Senhor delegada à assembleia nem mesmo enquanto aguarda para ser recebida à comunhão? O que essa pessoa fará se porventura vier a cair em pecado? É comum pessoas assim, quando advertidas ou disciplinadas pela assembleia, saírem para não voltarem mais. Alguns, que trazem um espírito de liderança, podem até sair arrastando discípulos, e tudo começou por terem colocado em dúvida a autoridade do Senhor na assembleia.
Muitas divisões entre os irmãos já foram causadas simplesmente pelo não reconhecimento da autoridade do Senhor dada à assembleia. Geralmente é alguém que é disciplinado e silenciado ou colocado fora de comunhão e acaba angariando a simpatia dos descontentes, criando assim um grupo em torno de si.
Alguns contestam que a assembleia tenha poder e autoridade para julgar quem deve ou não ser recebido à comunhão, alegando que isso seria ficarmos dependentes de julgamento humano. Mas nós estamos sim sujeitos ao julgamento humano, na assembleia e em muitas outras áreas da vida, porque foi assim que Deus estabeleceu. Há inúmeras passagens na Palavra em que Deus mostra que delega o governo a homens, começando por Adão no Éden, depois por Noé, que recebeu de Deus poder de vida e morte sobre seus semelhantes, e vai até os nossos dias. Para isso temos pais, professores, gerentes, prefeitos, governadores, presidentes, reis, juízes, etc.
Seria interessante você ler alguma coisa sobre autoridade, em especial sobre a autoridade que o Senhor delegou à assembleia para julgar e “ligar ou desligar”. Se o Pai no céu acata o que é ligado e desligado pela assembleia, quem somos nós para questionar isso? Não confunda autoridade com infalibilidade.
(Mt 18:18-20) “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.
(1 Co 6:2-3) “Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?”.
Só mais uma coisinha que me ocorreu. Participamos da ceia do Senhor para atender ao seu pedido, e não para obtermos algo para nós. De nossa parte a responsabilidade está em pedir o lugar à comunhão. Da parte da assembleia, sua responsabilidade é examinar a situação e conceder acesso à mesa do Senhor. Uma vez feita a sua parte, que é desejar e pedir, você já fez a vontade do Senhor, e é isto o que importa e o que ele requer de você. Agora cabe aos irmãos que julgam seu pedido fazerem eles também a vontade do Senhor. Lembre-se: é para ele que você deve partir o pão. O versículo diz “fazei isto em memória de MIM”, e não “fazei isto em memória de SI”.
Mas não se engane pensando que o fato de ser recebida à comunhão fará de você uma pessoa mais abençoada ou mais espiritual em seu andar. Enquanto você precisar carregar sua velha natureza sempre correrá o risco de falhar, a menos que ande em Espírito para não satisfazer as concupiscências da carne. A velha natureza nunca melhora porque é má até o miolo, e a nova nunca melhora porque é perfeita, por vir de Deus. Então é preciso deixar de dar lugar à carne e permitir que seja o Espírito Santo o controlador de sua vida.
Mas a espera para sermos recebidos à comunhão também serve para aprendermos a esperar, algo que odiamos fazer. A cada dia eu aprendo um pouco mais da importância da autoridade delegada. O guarda pode me multar, mesmo sem ter a formação que tenho, porque ele tem autoridade delegada pelo estado (ao qual estou sujeito). Mas o guarda pode me multar errado e eu não posso fazer nada contra ele ou sua autoridade. O que posso é apelar para uma autoridade superior, e é assim também nas coisas de Deus.
Há situações quando o julgamento da assembleia falha (autoridade não é sinônimo de infalibilidade) e a opção do que é prejudicado por tal julgamento não é se opor à autoridade do Senhor na assembleia, mas apelar para o próprio Senhor em oração, a Autoridade superior, o “Supremo Tribunal Celestial”. Uma vez li uma história de um médico que disse a uma enfermeira crente que até o Deus dela sabia o quanto ela estava sendo injustiçada em seu emprego. Ela respondeu a ele: “E é nisso que eu descanso. Deus sabe”.
(1 Pe 4:1-2) “Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este pensamento, que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado; para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus”.
Isto quer dizer que o crente pode escolher entre pecar ou sofrer. Pecamos quando deixamos a carne assumir a dianteira, voltando àquele que sempre foi nosso modo de ser. Mas sofremos na carne (nosso orgulho, vontade própria, etc.) quando vivemos segundo Deus.
Li um comentário dessa passagem que diz: “Quando um crente deliberadamente escolhe sofrer a perseguição como cristão ao invés de continuar numa vida de pecado, ele “cessou do pecado” (algo como “deu um basta no pecado”). Isto não significa que ele já não cometa pecados, mas que o poder do pecado em sua vida foi quebrado. Quando alguém sofre por se recusar a pecar, já não é mais controlado pela vontade da carne.”
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Se amaldiçoar é pecado por que Eliseu amaldiçoou?
Sua dúvida tem a ver com a passagem em que Eliseu amaldiçoa um grupo de meninos que zombavam dele e eles acabam mortos por animais selvagens: “Então subiu [Eliseu] dali a Betel; e, subindo ele pelo caminho, uns meninos saíram da cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: Sobe, calvo; sobe, calvo! E, virando-se ele para trás, os viu, e os amaldiçoou no nome do Senhor; então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e dois daqueles meninos” (2 Rs 2:23-24).
Eliseu era um profeta de Deus, portanto autorizado a falar da parte de Deus e com uma autoridade que apenas os que tinham sido escolhidos para aquela tarefa tinham. Ele podia amaldiçoar alguém e a continuação da história mostra isso. O fato de ursas selvagens terem matado os meninos mostra que o próprio Deus estava por trás do que Eliseu disse, pois Eliseu não teria de si mesmo poder sobre animais selvagens, mas Deus sim.
Pedro era apóstolo, portanto detentor de um poder e autoridade que outros cristãos não têm. Ele fez algo semelhante ao proferir a sentença contra Ananias e Safira, que mentiram ao Espírito Santo e foram castigados com a morte física (pecado para a morte).
“Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e também te levarão a ti. E logo caiu aos seus pés, e expirou. E, entrando os moços, acharam-na morta, e a sepultaram junto de seu marido” (At 5:9-10).
Em 1 Coríntios 5 Paulo fala de “entregar a Satanás” um homem que estava em grave pecado naquela assembleia, e isso teria incluído a morte física daquele homem caso ele não tivesse se arrependido (o que felizmente ele fez, conforme encontramos em 2 Coríntios).
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Não existe nada mais para conhecermos?
A passagem que citou em Lc 8:17 não tem o sentido de que não exista nada de Deus que não sejamos capazes de conhecer. O contexto é outro, pois fala do testemunho que não deve ser escondido, pois seria como colocar a lâmpada debaixo da cama e não no velador para iluminar toda a casa. Ainda que alguém tente ocultar a verdade, ela cedo ou tarde virá à luz e é este o sentido do versículo:
(Lc 8:17) “Porque não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz”.
A Palavra de Deus que temos revelada é completa e nada falta para ser revelado. Está tudo ali. Dou um exemplo para ajudar: seu filho vê seu carro todos os dias, ele está bem ali na garagem. Mas seu filho ainda não entende tudo do carro, como dirigir, consertar, etc. Mesmo assim o carro está bem ali, não falta nada no carro. Porém é um carro, não um avião porque você não precisa voar, só trafegar.
Assim é a Palavra de Deus. Ela está bem ali, integral, com tudo o que Deus quis revelar ao homem, tudo o que é importante para a vida e piedade.
(2 Pe 1:3) “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude”.
Se tentar encontrar na Bíblia a composição do corpo de uma pulga não vai encontrar, porque isso não é importante para a vida e piedade. Ir além do que necessitamos seria querer satisfazer a curiosidade humana e ir além de nossas necessidades. No caso do exemplo seria o mesmo que você ter um avião na garagem sem ter licença de piloto e nem uma pista para poder decolar.
Assim como seu filho tem o carro diante de si e aos poucos irá aprendendo mais e mais desse mesmo carro, o Espírito Santo vai pouco a pouco nos ensinando mais das Escrituras. O carro continuará o mesmo, mas o conhecimento e experiência de seu filho irá crescer. Assim é com a Palavra de Deus. Nada de novo será revelado porque tudo já foi revelado e a Paulo coube fechar essa revelação com a única “novidade” que faltava, que era a verdade da Igreja, o corpo de Cristo. Mas, apesar de termos uma Palavra de Deus completa e imutável, a nossa compreensão vai sendo cada dia maior.
Mas que existem muitas coisas que não estão na Bíblia porque não seríamos capazes de compreender nesta vida não há dúvida. O próprio Paulo ouviu coisas no terceiro céu que ao homem não era lícito mencionar. Vivendo num corpo de matéria em três dimensões, além do tempo, não temos estrutura para entender muitas coisas que só serão possíveis de serem compreendidas em um corpo glorificado e na eternidade, quando o tempo deixar de existir.
Mesmo enquanto estamos aqui existe muita coisa para aprendermos a respeito de Cristo. Pense no fato de que “nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Lc 8:17) para ter uma vaga ideia do manancial que temos diante de nós. A impressão que tenho é que quando chegarmos à glória teremos uma reação semelhante à da Rainha de Sabá quando conheceu o Rei Salomão (uma figura de Cristo) em pessoa:
“Vendo, pois, a rainha de Sabá a sabedoria de Salomão, e a casa que edificara; e as iguarias da sua mesa, o assentar dos seus servos, o estar dos seus criados, e as vestes deles; e os seus copeiros e as vestes deles; e a sua subida pela qual ele chegava à casa do Senhor, ela ficou como fora de si. Então disse ao rei: era verdade a palavra que ouvi na minha terra acerca dos teus feitos e da tua sabedoria. Porém não cria naquelas palavras, até que vim, e meus olhos o viram, e eis que não me disseram a metade da grandeza da tua sabedoria; sobrepujaste a fama que ouvi” (2 Cr 9:3).
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Os cristãos serão salvos no dia da ceifa?
Se você ler apenas os evangelhos chegará a conclusões incompletas (como chegou) porque o arrebatamento não foi revelado nos evangelhos. Lembre-se de que os evangelhos são dirigidos aos judeus, pois Jesus veio primeiro aos que eram seus e estes não o receberam. A revelação da Igreja foi dada mais tarde a Paulo.
Portanto tudo o que você ler nos evangelhos tem a ver com o povo terreno de Deus, e profeticamente com o remanescente de judeus fiéis que permanecerá na terra durante os anos de tribulação para ser então introduzido no reino de mil anos de Cristo. Entenda que entrar no reino terrenal de Cristo não é o mesmo que ser salvo eternamente, pois as pessoas entrarão ali vivas (em seus corpos de carne) e não glorificadas como estarão os habitantes do céu. Então a ordem dos eventos (levando em consideração a revelação dada a Paulo) é a seguinte:
1. Acontecerá o arrebatamento da Igreja (1 Ts 4.17) a qualquer momento, isto é, Cristo volta (mas não chega até a terra e nem é visto por todos) e arrebata para si todos os salvos desde o princípio do mundo. Os que estiverem mortos ressuscitarão; os que estiverem vivos serão transformados e subirão.
2. Durante no mínimo sete anos após o arrebatamento da igreja (os salvos da atual dispensação) restarão na terra apenas os que ouviram o evangelho e não creram, e também os que não ouviram o evangelho e não tiveram, portanto, oportunidade de estar entre os salvos. Os que ouviram e não creram não terão outra chance, pois Deus os fará crer na mentira do Anticristo que se levantará após o arrebatamento da Igreja (1 Tessalonicenses 2.7-12). Porém os que não ouviram, judeus e gentios, poderão ainda se converter na tribulação que se seguirá. Estes serão as “ovelhas” (gentios) e os “pequeninos irmãos” (judeus) de Mateus 25, enquanto os incrédulos serão os “bodes” do mesmo capítulo ou o “joio” de Mateus 13 que será ceifado por anjos.
3. No final da tribulação, os salvos arrebatados sete anos antes voltarão com Cristo para julgar as nações e terá início o Milênio, o Reino de mil anos de Cristo sobre a terra. Os que foram arrebatados antes não participarão do Reino como súditos na terra, mas sim reinarão com Cristo sobre a terra (2 Tm 2:12). Entrarão no Milênio apenas os judeus e gentios convertidos durante a tribulação. É aqui que entram as palavras de Mateus 13 e é aqui que os anjos podarão o joio por meio da morte e protegerão o trigo (os fiéis). É aqui também que acontece o que está descrito em Mateus 24:
(Mt 24:38-41) “Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, E não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem. Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; Estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra”.
Aqui está falando desse juízo de morte (os que são levados aqui são os ceifados pela morte, assim como o dilúvio fez ao “levar” a todos). Ficam no mundo apenas os convertidos judeus e gentios (isso nada tem a ver com a igreja que já subiu sete anos antes). Veja que é uma salvação apenas da carne, isto é, do corpo. Ou seja, essas pessoas ficarão a salvo da morte para poderem entrar vivas no reino milenial de Cristo (mas mesmo assim poderão morrer durante esses mil anos).
(Mt 24:22) “E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias”.
Se você se concentrar apenas nos evangelhos sem levar em consideração a doutrina da igreja revelada a Paulo chegará a conclusões equivocadas, pois estas só levarão em conta o povo de Israel. Se você seguir a teoria do pacto, que é a doutrina corrente na maioria das religiões cristãs fundamentalistas, também chegará às mesmas conclusões erradas, já que os que professam essa doutrina acreditam que a Igreja é sucessora de Israel e que o antigo povo terreno de Deus não terá mais direito às bênçãos prometidas no Antigo Testamento. O desprezo crescente dos cristãos modernos pela doutrina revelada a Paulo fará com que o cristianismo fique cada vez mais avesso à ideia do arrebatamento da Igreja e passe a almejar viver em um reino terrestre. Você já reparou quantas das coisas que Paulo ensinou são hoje deliberadamente rejeitadas nas religiões cristãs?
Quando você lê de “fim do mundo” em Mateus 13:39 precisa entender que a palavra “mundo” aí não é o planeta, mas o atual estado de coisas. Já ocorreu um “fim do mundo” no dilúvio, mas mesmo assim não foi o fim de que fala Pedro, “a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão” (2 Pe 3:12). Aí sim você poderia chamar de fim do universo, pois é quando o tempo deixará de existir e com ele a matéria tal qual a conhecemos, para Deus criar algo completamente novo.
(2 Pe 3:13) “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça”.
Traduções melhores da passagem (Mt 13:39) indicam que ele está falando do fim de uma era, e não do fim do planeta terra.
(ARA) “O inimigo que o semeou é o diabo; a ceifa é a consumação do século, e os ceifeiros são os anjos”.
(ARCA) “O inimigo que o semeou é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; (fim do mundo como nós o conhecemos; fim do tempo, no grego “aionos”) e os ceifeiros são os anjos”.
(Darby) and the enemy who has sowed it is the devil; and the harvest is the completion of the age, and the harvestmen are angels.
Nessa ceifa (também descrita em Mateus 25) são os anjos que recolhem os salvos na proteção do “celeiro”, porém no arrebatamento é o próprio Senhor quem vem buscar os seus.
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Meu marido voltou ao catolicismo. O que fazer?
A salvação é individual e é um dom de Deus. Você não pode salvar seu marido. O fato de seu marido ter sido “evangélico” não significa que ele era convertido a Cristo, ou poderia até ser, mas estar sendo enganado também por alguma igreja evangélica (não sei qual você frequenta). O fato é que de uma forma geral a igreja católica possui as mesmas doutrinas básicas das igrejas protestantes ou evangélicas. Veja que o credo católico oficial é bíblico:
“Creio em Deus-Pai, todo poderoso, criador do céu e da terra e em Jesus Cristo seu único filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu a mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai, todo poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa igreja católica (leia-se “universal”, ou seja, única), na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna.”
Qualquer denominação protestante acredita nas mesmas coisas (entendendo que o termo “católica” significa “universal”, isto é, única). Eu me converti sem ouvir falar de igreja, só de Cristo, e na época, assim que me converti ao Senhor, comecei a frequentar a missa assiduamente e até a ajudar o padre a tocar nas missas. Levei um ano estudando doutrina católica e comparando-a com a Bíblia para entender o erro.
Mas depois que saí da igreja católica fiquei mais nove meses congregando numa igreja batista até entender que o fato de ser uma denominação também era um erro. Desde então (há mais de 30 anos) congrego unicamente ao nome do Senhor Jesus.
Portanto, meu conselho é que tenha paciência com seu marido porque você mesma pode estar errando em muitos pontos e não ter percebido isso, daí ser tão fácil apontar o dedo para ele.
Vou transcrever aqui uma lista de tópicos do livro “A Ordem de Deus” para você verificar se o lugar onde congrega está realmente fundamentado na Bíblia (no final provavelmente verá que não está e que sua religião também transgride todos estes pontos):
Um desafio ao fundamento bíblico do cristianismo denominacional
1) Que autoridade nos dá a Palavra de Deus para estabelecermos igrejas denominacionais ou não denominacionais em meio ao testemunho cristão, quando as Escrituras condenam a criação de seitas e divisões entre os crentes? (1 Co 1:10; 3:3; 11:18-19).
2) Com que autoridade vinda de Deus os cristãos denominam suas assim chamadas “igrejas” como Presbiteriana, Batista, Pentecostal, Aliança, Cristã Reformada, Anglicana, etc., quando não há na Bíblia instruções para nos reunirmos em qualquer outro nome além do nome do Senhor Jesus Cristo? (Mt 18:20; 1 Co 5:4).
3) Com que autoridade os cristãos denominam seus grupos eclesiásticos em honra de proeminentes e dotados servos do Senhor, como Luterana (Martinho Lutero), Menonita (Menno Simons), Metodista-Wesleyana (John Wesley), etc., quando as Escrituras denunciam a formação de grupos de cristãos em torno de um líder na igreja? (1 Co 1:12-13; 3:3-9).
4) Que autoridade os homens receberam de Deus para estabelecerem essas igrejas segundo distinções nacionais, como “Igreja da Inglaterra”, “Irmãos Menonitas Chineses”, “Igreja Ortodoxa Grega”, “Batista Filipina”, “Igreja de Deus Alemã”, etc., quando as Escrituras nos dizem que não existem distinções nacionais ou sociais na igreja de Deus? (Cl 3:11).
5) Que autoridade têm os cristãos para ornamentarem seus lugares de adoração à semelhança do tabernáculo e do templo da ordem judaica do Antigo Testamento? Muitas desses edifícios, chamados de “igrejas”, são ornamentados com ouro e outros materiais preciosos. Muitos desses edifícios, chamados de “igrejas”, têm um altar. Outros têm partes do prédio destacadas como sendo mais sagradas do que outras. Que autoridade têm os cristãos para emprestarem coisas assim do judaísmo, quando a Bíblia indica que o cristianismo não é uma extensão da ordem judaica, mas possui um caráter totalmente novo de aproximar-se de Deus? (Hb 10:19-20; 13:13; Jo 4:23-24).
6) Acaso existe qualquer fundamento na Palavra de Deus para a existência de campanários, cruzes e outras coisas que são construídas nessas assim chamadas “igrejas”?
7) Será que existe qualquer base na Palavra de Deus para chamar esses edifícios de “igrejas”? A definição bíblica de “igreja” é de uma reunião de crentes que, pelo evangelho, foram chamados para fora, tanto dentre os judeus como dentre os gentios, e são unidos em um único corpo a Cristo, sua cabeça no céu, pela habitação do Espírito Santo. (At 11:22; 15:14; 20:28; Rm 16:5; 1 Co 1:2; Ef 5:25).
8) Que autoridade as Escrituras dão para se colocar um homem na igreja (chamado de Ministro ou Pastor) para “conduzir” a adoração? As Escrituras ensinam que o Espírito de Deus foi enviado ao mundo para guiar a adoração cristã (Fp 3:3; Jo 4:24; 16:13-15). A Bíblia indica que é o Senhor, por intermédio do Espírito, quem preside na assembleia dos santos e dirige os procedimentos do modo como Lhe apraz. (1 Co 12:11; Fp 3:3).
9) Com que autoridade das Escrituras os cultos de adoração nessas igrejas são organizados com antecedência? Em algumas se costuma distribuir um programa descrevendo a ordem como se dará a adoração naquele dia em particular.
10) Com que autoridade das Escrituras esses cultos nas igrejas são chamados de “adoração”, quando eles geralmente constituem de apresentações musicais e de um homem ministrando um sermão?
11) Que autoridade o Novo Testamento dá para se utilizarem instrumentos musicais na adoração cristã? A adoração cristã é aquela produzida no coração pelo Espírito de Deus, e não por meios mecânicos através de mãos humanas. (At 17:24-25).
12) Com que autoridade das Escrituras são repetidas orações escritas previamente e impressas em livros de oração durante as reuniões da igreja? A Bíblia diz que não deveríamos usar de vãs repetições em nossas orações, mas que estas deveriam ser nossas próprias palavras saídas do coração. (Mt 6:6-8; Tg 5:16; Sl 62:8).
13) Que autoridade há para se ensaiar os Salmos nos chamados “cultos de adoração”, quando os Salmos expressam os sentimentos de pessoas que não estavam sobre um fundamento cristão e nem conheciam os privilégios cristãos?
14) Por que a maioria das igrejas celebra a ceia do Senhor uma vez por mês ou a cada 3 meses, quando o costume da igreja nas Escrituras, inicialmente estabelecido pelo ministério de Paulo, era de se partir o pão a cada dia do Senhor? (At 20:7).
15) Que autoridade há nas Escrituras do Novo Testamento para se designar um coro de cantores treinados para ajudar na adoração cristã?
16) Que autoridade há nas Escrituras para o uso de vestimentas especiais durante os cultos de adoração cristã? Os corais costumam estar vestidos assim e dependendo do lugar o Ministro também usa uma vestimenta característica.
17) Que autoridade têm essas igrejas para permitir que mulheres preguem e ensinem publicamente, quando a Bíblia diz que o papel das irmãs não é uma atuação pública na igreja, seja na administração, seja no ensino e pregação? As Escrituras dizem que elas devem permanecer em silêncio na assembleia. (1 Co 14:34-38; 1 Tm 2:11-12).
18) Que autoridade há para as mulheres dessas igrejas orarem e profetizarem (ministrarem a Palavra) com suas cabeças descobertas, quando a Palavra de Deus diz que deveriam cobrir a cabeça? (1 Co 11:1-16).
19) Que autoridade as Escrituras dão para permitir que apenas certas pessoas (como o Pastor ou Ministro) se ocupem do ministério da Palavra de Deus? Por que não há liberdade nessas igrejas para todos os que forem capacitados ministrarem guiados pelo Espírito? A Bíblia ensina que quando os cristãos se reúnem em assembleia, todos (os varões) devem ter liberdade para ministrar conforme o Senhor guiá-los por intermédio do Espírito. (1 Co 12:6, 11; 14:24, 26, 31).
20) Que autoridade as Escrituras dão para apoiar a ideia de que uma pessoa precisa ser ordenada para estar no ministério? Não existe na Bíblia um pastor, mestre, evangelista, profeta ou sacerdote que tenha sido ordenado para pregar ou ensinar! As Escrituras ensinam que o simples fato de uma pessoa possuir um dom espiritual é sua garantia para usá-lo! (1 Pe 4:10-11).
21) Que autoridade as Escrituras dão para fundamentar a ideia de que existem hoje no mundo homens que teriam poder para ordenar outros? Onde eles conseguiram tal poder?
22) Acaso existe qualquer autoridade para dar a pessoas títulos de “Pastor” (por exemplo, “Pastor João”), quando nas escrituras esse dom nunca foi atribuído a alguém como um título?
23) Onde nas Escrituras existe autoridade para se fazer de um homem um Pastor de uma igreja local quando as Escrituras nunca falam do dom de pastor como um ofício local? (Ef 4:11).
24) Com que autoridade das Escrituras os assim chamados Ministros se denominam a si mesmos “Reverendo”, quando a Bíblia diz que “Reverendo” é o nome do Senhor? (Sl 111:9 – versão inglesa) Alguns clérigos adotam o nome “Padre” (“Pai”), apesar de as Escrituras deixarem claro que não deveríamos chamar ninguém de “Pai”! Outros adotam o título de “Doutor” (que significa ‘mestre’ ou ‘instrutor’ em latim) quando as Escrituras também dizem para não procedermos assim. (Mt 23:8-10).
25) Seria a escolha de seu “Pastor” ou “Ministro” por uma igreja uma prática com base nas Escrituras? O procedimento usual é que o candidato a “Pastor” seja convidado por uma igreja para ter a oportunidade de provar que é qualificado para o posto ministrando alguns sermões. Se a sua pregação for aceitável, então a igreja (geralmente através de um corpo de diáconos) irá elegê-lo para ser seu “Pastor” local. Estaria este procedimento de acordo com a Palavra de Deus?
26) Onde nas Escrituras há autoridade para essas igrejas escolherem seus anciãos? Não existe na Bíblia uma única igreja que tenha escolhido seus anciãos.
27) Com que autoridade das Escrituras as igrejas tornam alguns dias “santos” e observam festas cristãs como Sexta Feira Santa, Dia de Todos os Santos, Quaresma, Natal, etc.? As Escrituras dizem que o cristianismo não tem nada a ver com épocas e dias especiais. (Gl 4:10; Cl 2:16).
28) Que autoridade das Escrituras têm aqueles que ministram nos púlpitos dessas igrejas para ensinar doutrinas erradas como Teologia do Pacto, Amilenialismo, Segurança Condicional, Purgatório, Absolvição, Guarda da Lei, etc.?
29) Acaso existe autoridade das Escrituras para se promover reuniões de “Testemunho”, onde um homem se levanta e diz para a audiência como ele foi salvo, geralmente descrevendo sua vida passada de pecados?
30) Que autoridade há no Novo Testamento para se recolher dízimo (10% de nossa receita) da audiência, quando o dízimo é claramente uma lei Mosaica dada para Israel? (Lv 27:32, 34; Nm 18:21-24).
31) Onde há nas Escrituras base para campanhas para se levantar fundos e pedir doações de audiências mistas de salvos e perdidos nessas igrejas? A Bíblia indica que os servos do Senhor não tomavam “coisa alguma” das pessoas deste mundo que não eram salvas, quando pregavam o evangelho a elas. (3 Jo 1:7).
32) Seriam os seminários e escolas bíblicas o modo de Deus preparar um servo para o ministério? Conceder e receber diplomas e títulos (como Doutor em Divindade) seria uma prática fundamentada nas Escrituras? A Bíblia diz que não devemos dar títulos honoríficos uns aos outros. (Jó 32:21-22; Mt 23:7-12).
33) Será que existe qualquer fundamento na Palavra de Deus para essas igrejas enviarem Ministros e Pastores para um determinado lugar para executarem uma obra para o Senhor? Costumamos ouvir comentários como, “o Pastor fulano foi enviado por tal organização”. As Escrituras mostram que Cristo, a Cabeça da igreja e Senhor da seara, é quem envia os Seus servos para a obra que preparou para eles, por meio da direção do Espírito, e que a igreja deve tão somente reconhecer isso estendendo ao servo a destra à comunhão. (Mt 9:38; At 13:1-4; Gl 2:7-9).
34) Onde nas Escrituras vemos a ideia da igreja ser uma organização que ensina? Costumamos ouvir pessoas dizendo, “Nossa igreja ensina que…” Na Bíblia não vemos a igreja ensinando, mas sendo ensinada por indivíduos que são levantados pelo Senhor. (At 11:26; Rm 12:7; Ap 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22; 1 Ts 5:27).
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Se mulheres não podem falar, como as filhas de Filipe profetizavam?
Sua dúvida surgiu depois de ler algo que escrevi sobre a esfera do ministério das mulheres. Em nenhum lugar a Palavra proíbe a mulher de falar em todas as situações, mas apenas em algumas. A ordem em 1 Coríntios 14:34 é clara: “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar”. A expressão “nas igrejas” não fala de edifícios que os homens apelidaram de “igrejas”, mas do sentido bíblico, que é a reunião dos crentes. Então como em Atos 21:9 diz que Filipe tinha quatro filhas que profetizavam? “E tinha este quatro filhas virgens, que profetizavam” (At 21:9).
A passagem diz que elas profetizavam, mas não diz que faziam isso nas reuniões da assembleia (ou “igreja”), pois se o fizessem estariam transgredindo um mandamento do Senhor. O Espírito Santo é o Autor da Palavra de Deus e não pode se contradizer. Alguns têm uma dúvida semelhante quando leem em 1 Coríntios 11:5 que “toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça”. Neste caso também está falando do sentido geral e não particular da reunião da assembleia.
Dou um exemplo. A velocidade máxima permitida no Brasil é de 120 Km/hora, mas em algumas estradas, ruas e avenidas existem restrições locais de velocidade. É assim que funciona. Veja que a ordem em 1 Coríntios 14 é específica para um momento e lugar, e as mulheres que não obedecem a este “mandamento do Senhor” são culpadas de desobediência, do mesmo modo como um motorista que trafega nas ruas de uma cidade a 120 Km/hora está agindo contra a lei de trânsito, pois nas ruas existem placas indicando claramente o limite de velocidade.
(1 Co 14:34-37) “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja. Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”.
Mais claro que isto é impossível. Se Paulo estivesse escrevendo hoje ele bem poderia usar a expressão popular: “Entendeu ou quer que eu desenhe?”.
Portanto as filhas de Filipe profetizavam (falavam da parte de Deus) dentro da esfera que é adequada às mulheres, falando a outras mulheres e a crianças ou fazendo seu trabalho sob a autoridade de seu pai (ou seu marido, se fossem casadas), como era o caso de Priscila, que trabalhava ao lado de seu marido Áquila e sob sua autoridade. Aqui diz que ela, juntamente com Áquila, “declararam mais precisamente o caminho de Deus”, mas certamente fizeram isso em casa, e não na reunião da igreja, sendo obviamente Áquila o que ensinava e Priscila ao seu lado dando o suporte necessário, como sua auxiliadora, que é o lugar que Deus determinou às mulheres.
(At 18:24-26) “E chegou a Éfeso um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloquente e poderoso nas Escrituras. Este era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João. Ele começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus”.
Mas é interessante ver que no caso das filhas de Filipe, apesar de profetizaram, não foram elas que o Espírito Santo escolheu para profetizarem para Paulo, pois isto estaria fora da esfera que Deus deu às mulheres para exercerem seus dons. Foi preciso vir um profeta de fora, Agabo, para transmitir aquela importante mensagem a Paulo.
(At 21:8-11) “E no dia seguinte, partindo dali Paulo, e nós que com ele estávamos, chegamos a Cesaréia; e, entrando em casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele. E tinha este quatro filhas virgens, que profetizavam. E, demorando-nos ali por muitos dias, chegou da Judeia um profeta, por nome Agabo; E, vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo, e ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus em Jerusalém o homem de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios”.
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Existe diferença entre dom e ministério?
Uma pessoa recebe um dom (apóstolo, profeta, evangelista, pastor e mestre ou doutor, conforme Efésios 4) e a partir daí ela sempre terá sempre esse dom. Se vai ministrar, ou seja, servir o corpo de Cristo usando esse dom é outra história. Mesmo que você passe o resto da vida lendo gibi e não fazendo qualquer uso do dom que recebeu, você ainda terá o dom, embora mal utilizado.
Por isso Paulo escreve a Timóteo, “Não desprezes o dom que há em ti” (1 Tm 4:14), ou seja, ele devia fazer uso do dom que possuía ou que havia nele. Ao agir assim estaria “ministrando” segundo o seu dom lhe capacitava fazer. Aí você entende a diferença entre dom e ministério.
Lembre-se de que os dons de apóstolo e profeta já não existem, pois foram dados para a formação dos fundamentos da igreja. “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Ef 2:20). Você não continua usando material do alicerce nas paredes de uma construção. Os profetas hoje são apenas no sentido de pessoas que proferem as coisas de Deus (quando você fala da Palavra de Deus para alguém está profetizando), conforme vemos em 1 Co 14:29 “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”.
É bom lembrar também que os “dons espirituais” dados pelo Espírito Santo em 1 Coríntios 12 não são a mesma coisa que os dons dados por Cristo em Efésios 4. Infelizmente nossas traduções erram ao usar a mesma palavra, pois em 1 Coríntios 12 o correto seria “manifestações espirituais” ou “coisas espirituais” como aparece em algumas traduções. Veja estas em outros idiomas:
“But concerning spiritual manifestations…” (J. N. Darby)
“And concerning the spiritual things…” (Young Literal)
Ao contrário do dom, que a pessoa tem incorporado a ela pelo resto da vida, uma manifestação espiritual (como as de 1 Coríntios 12) é dada conforme a necessidade do momento e lugar. A pessoa não tem aquele “poder” para usar o tempo todo. É como se você recebesse uma ficha telefônica para fazer uma chamada. Uma vez usada a ficha você não pode mais fazer ligações.
Em 1 Coríntios 12 temos nos versículos:
4 “Ora, há diversidade de dons [manifestações], mas o Espírito é o mesmo”.
5 “E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo”.
6 “E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos”.
O versículo 4 nos fala de onde vem a capacitação ou poder para executar (Espírito Santo). O versículo 5 nos mostra de onde vem a direção e autoridade para ministrarmos aquilo que esse poder nos capacita (Senhor). O versículo 6 nos fala quem está acima de todas essas operações, ou seja, de quem é a supremacia, e também quem é responsável pelos resultados (Deus).
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Tocar música ao contrário revela mensagem satânica?
Volta e meia alguém escreve para perguntar se tal e tal música traz mensagens subliminares satânicas quando tocadas ao contrário. Acho que isso vem do tempo em que um disco dos Beatles parecia dizer que um deles tinha morrido (ou tinha ganhado bebê, dependendo da interpretação do áudio).
Eu não costumo tocar discos ao contrário, mas sei bem que assim como existe ilusão de ótica, existe ilusão auditiva. Se pedir para alguém ouvir a música ao contrário (que supostamente contém mensagens satânicas) sem ler os textos que os caras colocaram na legenda, dificilmente a pessoa irá conseguir distinguir palavras.
O Youtube está cheio de vídeos com músicas estrangeiras com supostas traduções em português que são engraçadíssimas (procure por “tradução tosca” ou “tradução hilária” no Youtube). Alguns têm legenda na própria língua, mas usando de sons parecidos, como o famoso “Obama’s Elf”.
O que ocorre é que a legenda (e no Youtube as imagens também) criam a ilusão auditiva de que a pessoa está dizendo aquilo, mas na verdade é apenas uma interpretação alternativa para o som. Isto é comum na própria língua portuguesa quando ocorrem cacófatos, isto é, frases que criam no ouvinte uma impressão diferente do que está sendo falado. Alguns exemplos são “Entrega-se uma laranja por cada”, “Tirei o chiclete da boca dela”, “Ele tem fé demais”, “Estava com uma mão na cabeça”, “Custa um real por cada limão”, “Meu coração por ti gela”, etc.
Portanto, mais um aviso para quem adora encontrar pelo em ovo e chifre em cabeça de cavalo: não caia nessas histórias e nem na conversa desses “pregadores” que ganham dinheiro tocando música ao contrário nas igrejas para “denunciar” alguma mensagem subliminar. Sim, alguns desses pregadores de teorias conspiratórias cobram cachê para se apresentarem nas igrejas, como há também os que cobram para dar testemunho de conversão, falando mais de uma vida de perversão e banditismo do que da salvação que há em Cristo.
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Se não congregar assim estarei perdido?
Você escreveu dizendo que gosta de ler o que publico e também concorda ser errado existir essa enxurrada de denominações em que se transformou a cristandade. Mas então faz uma afirmação que me deixou estarrecido, quando disse: “Se você estiver com absoluta razão e todos os outros milhões de crentes ou cristãos mundo afora (no meio dos quais eu me incluo), estiverem absolutamente enganados em suas convicções ou forma de exercer isso que ‘acham’ ser o evangelho, estaremos todos fadados ao fogo eterno reservado para o diabo e os seus anjos”.
Neste momento em que escrevo devo ter quase dois mil textos de comentários bíblicos publicados na Web em sites como stories.org.br, respondi.com.br e 3minutos.net em nenhum, absolutamente nenhum, eu faço uma afirmação dessas. Acredito que a distorção em sua compreensão do que escrevo possa vir, ou de ter lido algo de outro autor e ter confundido como sendo meu, ou então de você estar entre os muitos que acreditam que a salvação seja pela obediência do cristão. Por incrível que pareça existem muitos que acreditam que serão salvos se obedecerem tintim por tintim ao que diz a Palavra, e consequentemente (em seus raciocínios) se não se congregarem da maneira que a Palavra ensina estarão perdidos eternamente.
Nada poderia estar mais longe da verdade das Escrituras. Somos salvos, não por nossa obediência, mas pela obra que resultou da obediência de Jesus, que se dispôs a morrer em nosso lugar para, com seu sangue, nos purificar de toda injustiça. Somos salvos pela fé no Cordeiro sacrificado, e justificados aos olhos de Deus por sua obra completa, que inclui a morte, ressurreição, ascensão e glorificação à destra do Pai. Nada menos que isto pode nos salvar. Se alguém confia que será salvo por sua obediência à Lei, à doutrina dos apóstolos ou por causa do lugar onde congrega eu diria que essa pessoa nunca entendeu o evangelho e está crendo no erro.
Mas todo aquele que crê verdadeiramente em Jesus, que um dia pela fé aceitou para si a obra do Crucificado, está salvo. Nada poderá mudar isso porque ninguém ou nada é capaz de tirar uma ovelha das mãos do Pai ou arrancar um membro do corpo de Cristo. A ideia de que alguém seja salvo por sua obediência, seu bom andar, sua perseverança, seu congregar da maneira e no lugar corretos, etc., só traz desonra a Deus e contradiz o fundamento básico da fé cristã, que é a salvação independente das obras de justiça que pratiquemos.
(Ef 2:8-9) “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.
Por esta razão fiquei perplexo ao ler o que você disse, como se eu insinuasse pelos meus textos que aqueles que não estão congregados do modo como eu creio que a Bíblia ensina estariam “todos fadados ao fogo eterno reservado para o diabo e os seus anjos”. Se dei a entender tal aberração em algum de meus textos, por gentileza, aponte onde viu isso que tratarei de corrigir isso imediatamente.
A salvação eterna não depende de onde ou como estamos congregados e ponto final. Sei que muitas denominações pregam exatamente o contrário, dizendo que se alguém deixar sua “igreja” (no caso a denominação “A” ou “B”) está perdido eternamente, ou se volta as costas para o “pastor” de tal igreja está pecando contra o Espírito pois (segundo ensinam) o “pastor” prega inspirado pelo Espírito e desprezar seu ensino equivale a blasfemar contra o Espírito (acredita que já ouvi este raciocínio de um cristão?!!). Tal raciocínio é perverso, pois basta buscar a data em que tal denominação foi fundada para perceber que nenhum dos apóstolos e discípulos dos quais lemos no Novo Testamento jamais pertenceu a ela.
Dizer que alguém é salvo por congregar em uma determinada denominação é dizer que durante 1500 anos ninguém foi salvo. Digo isto porque o protestantismo denominacional, tal qual o conhecemos, começou a surgir pouco depois do ano 1500, e ainda assim muito mais como “partidos” do que como denominações organizadas. Até então todos falavam simplesmente da “igreja” e nem mesmo Lutero criou outra igreja além da que todos consideravam existir.
Dizer que é o modo de congregar que nos salva é insultar a Deus e desprezar o sacrifício de Cristo feito uma única vez, acrescentando a ele uma obra humana como meio de salvação. Não é diferente de dizer que o batismo salva, pois os que afirmam isso não perceberam que isto implica em se ter um segundo “salvador” além de Cristo, ou seja, a pessoa que batiza. Na falta deste a alma estaria perdida!
Nossa salvação é única e exclusivamente assegurada pelo sacrifício do Cordeiro e será o Cordeiro (e não algum batismo, homem ou denominação) que será adorado e exaltado nos céus, e será também o alvo de toda a gratidão dos salvos naquele dia em que homem ou obra humana alguma, por mais digna que seja, poderá ofuscar a glória do Cristo de Deus.
(Ap 5:9-10) “E entoavam novo cântico, dizendo: digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra”.
Então quer dizer que alguém que tenha crido em Jesus como Salvador, e verdadeiramente levado pelo Espírito Santo ao genuíno arrependimento, pode ser salvo sem congregar em nenhum lugar? Absolutamente SIM! E se congregar no lugar errado, mesmo assim será salvo? Não tenho dúvidas quanto a isso. E se era católico e continuar indo à missa, ou protestante e continuar indo aos cultos de sua denominação? Será um dos milhões de salvos genuínos que perdem muitos privilégios por estarem adorando no lugar e da maneira errada. Mas tenho certeza de que muitos deles são infinitamente mais piedosos do que eu e estão agradando ao Senhor muito mais que eu e em muitos aspectos de suas vidas, vivendo uma vida de piedade e comunhão com o Pai da qual eu tenho uma santa inveja.
Portanto, a salvação não depende de onde ou como você congrega, mas unicamente do sacrifício de Cristo. Entendeu ou quer que eu desenhe (não liga não, esta foi só para descontrair).
Um princípio importante que aprendemos no Antigo Testamento é que Deus tinha um povo na terra, Israel, e que esse povo foi dividido no episódio envolvendo Jeroboão (leia 1 Reis a partir do capítulo 11 ou a mesma história no livro de Crônicas). A partir daí duas tribos continuaram vivendo e adorando em Jerusalém, o centro que Deus havia estabelecido para adorar, e dez tribos adoravam fora de Jerusalém, ou seja, no lugar errado e da forma totalmente contrária aos mandamentos de Deus. Mesmo assim Deus continuou considerando o povo todo como Israel (embora para identificação no texto das Escrituras as dez tribos passassem a ser chamadas de “Israel” e as duas de “Judá”).
Deus tinha tamanho carinho e cuidado para com as dez tribos que estavam fora do lugar divino de adoração que proveu para elas dois dos maiores profetas que encontramos nas Escrituras: Elias e Eliseu. O ministério desses dois profetas não era no lugar que Deus havia instituído para ser adorado, mas fora dele. Porém, obviamente, eles eram profetas de Deus com uma missão e desempenhavam a missão que Deus lhes havia dado de apascentar as ovelhas de Israel onde quer que estivessem.
Mas repare que quando Elias constrói um altar, o qual depois Deus aprova fazendo descer fogo do céu para acender o holocausto, ele não coloca apenas duas pedras para representar Judá e Benjamim, as duas tribos que permaneceram no lugar divinamente indicado, e nem dez pedras para representar as tribos para as quais ministravam. Elias faz um altar de doze pedras, pois era assim que ele enxergava Israel e era assim também que Deus via o povo.
(1 Rs 18:30-32) “Então, Elias disse a todo o povo: Chegai-vos a mim. E todo o povo se chegou a ele; Elias restaurou o altar do Senhor, que estava em ruínas. Tomou doze pedras, segundo o número das tribos dos filhos de Jacó, ao qual viera a palavra do Senhor, dizendo: Israel será o teu nome. Com aquelas pedras edificou o altar em nome do Senhor”.
Portanto hoje, quando Deus olha para o testemunho cristão no mundo, ele vê UM SÓ CORPO, e este é o corpo de Cristo, formado por TODOS os que foram lavados pelo sangue do Cordeiro e irão habitar na glória. Infelizmente, e para a desonra do nome de Jesus, esses membros estão divididos e espalhados por milhares de denominações, mas todas essas organizações, templos, seminários, altares e sejam lá os nomes que os homens deram a isso, ficarão aqui na terra quando Cristo vier buscar a sua igreja. Porque a sua igreja não é uma organização ou um grupo específico de cristãos. A sua igreja e glória a Deus por isso, é a sua noiva, aquela que ele comprou com o seu sangue derramado na cruz. Se você foi comprado por esse sangue, então você é tão membro do corpo de Cristo quanto eu ou qualquer outro, mesmo que neste mundo estejamos divididos por paredes criadas por homens.
Se o seu interesse for a salvação, creia no Senhor Jesus e será salvo.
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Por que não posso falar?
Você escreveu contando que visitou uma assembleia de irmãos congregados somente ao nome do Senhor e que, em determinado momento, abriu sua Bíblia e leu um versículo. Sua surpresa foi depois da reunião um irmão ter ido conversar com você explicando que normalmente apenas aqueles que estão em comunhão à mesa do Senhor é que devem ministrar a Palavra. Não se preocupe, eu fiz a mesma coisa na primeira reunião na qual estive há mais de 30 anos. Eu não entendia que liberdade do Espírito é uma coisa, mas a responsabilidade dos irmãos em guardar a assembleia do mal é outra que caminha junto. Antigamente não seria preciso tanto cuidado assim, mas hoje, com tanta confusão na cristandade, às vezes até um versículo dado fora do contexto pode gerar dúvidas quanto ao que foi ministrado antes por algum irmão.
Às vezes esse cuidado pode ser preciso até fora das reuniões das assembleias, na escolha de “parcerias” que se faz na hora de pregar o evangelho aos incrédulos. Associar-se à pessoa errada pode comprometer a mensagem pregada. Eu me lembro de quando visitei um povoado no interior de Goiás para pregar o evangelho. Não conhecia ninguém ali e a primeira porta onde bati o homem que atendeu logo se identificou como sendo crente e se dispôs a me ajudar a reunir algumas pessoas para ouvir o evangelho.
Depois que um pequeno grupo estava reunido na sala de sua casa para ouvir, preguei as boas novas da graça de Deus e terminei dizendo algo do tipo “para ter a salvação basta você crer agora mesmo em Jesus que morreu na cruz para levar os seus pecados e ressuscitou para sua justificação”. Eu mal tinha acabado de falar e aquele homem que me ajudou a juntar aquelas pessoas complementou: “… e guardar os dez mandamentos, porque se não guardar a lei não poderá ser salvo”. Foi então que entendi que ele era Adventista do Sétimo Dia e tinha acabado de comprometer o evangelho da graça que eu havia acabado de pregar. Evitei contestar para não confundir os ouvintes, mas aí o mal já tinha sido feito.
Eu tenho certeza de que o cuidado dos irmãos da assembleia que você visitou não foi tanto por você ter lido um versículo da Palavra de Deus, mas para esclarecer um ponto que talvez você ainda não soubesse sobre esse cuidado e evitar que, numa próxima ocasião, você viesse a ministrar algum assunto durante a reunião. O Espírito pode sim usar quem ele quer, mas imagine que entrasse um membro das Testemunhas de Jeová numa reunião dizendo-se cristão e começasse a ensinar suas heresias contra a Pessoa e Divindade do Senhor no meio da reunião. Antes que os irmãos tivessem tempo de ordenar que se calasse ele já teria contaminado os ouvintes. Por isso existe a este respeito o mesmo cuidado que a Palavra fala sobre bispos e diáconos, que só podiam exercer sua função se antes fossem provados.
(1 Tm 3:10) “E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis”.
Ou seja, os irmãos que ministram devem ser conhecidos dos irmãos e sua doutrina também deve ser reconhecidamente sã para evitar que a assembleia seja contaminada. Mas mesmo assim, cada um que ministra está sujeito a ser calado no meio do que está falando, caso fale algo sem fundamento na Palavra. Por isso diz:
(1 Co 14:29) “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”.
Não se trata de julgar a pessoa, mas o que ela falou. Já aconteceu comigo e com muitos irmãos, tanto de ser interrompido no que falava ou, por não ser um desvio grave, ser mais bem instruído em particular após a reunião. Aliás, um casal que hoje congrega foi convencido de que estávamos congregados da forma bíblica quando visitou uma reunião e ficou surpreso por um irmão ancião ter sido interrompido e corrigido no que falou, e isso na frente de todos. Esse irmão que nos visitava estava acostumado com a denominação que frequentava, onde o “pastor” que ministra é intocável e ninguém jamais ousaria interrompê-lo e mandar que se sentasse por dizer algo fora da Palavra. Ao perceber que ali ninguém tinha a primazia a não ser o Espírito Santo, e que qualquer um, independente da idade e tempo de conversão, poderia ser corrigido caso cometesse algum deslize, ficou convencido de que aquela era a forma e o lugar onde devia congregar.
Uma das características do lugar que o Senhor estabeleceu para colocar o seu Nome é que existe julgamento de pecado e de doutrina. Quando não há julgamento não se pode contar com a presença do Senhor no meio, pois ele jamais iria ser conivente com o pecado. Se ler Mateus 18:20, que é onde o Senhor prometeu estar no meio dos seus congregados ao seu Nome, verá que tal revelação aparece ali envolvendo instruções de como julgar o mal e tomar decisões na terra que seriam reconhecidas no céu.
Quanto ao seu pedido para participar da ceia do Senhor à mesa do Senhor ter sido recebido com a resposta de que os irmãos iriam orar a respeito, não se trata de esperar alguma “revelação do Espírito”, como você chamou, mas faz parte do mesmo cuidado. Quando os primeiros cristãos começaram a congregar não era preciso tanto cuidado porque, ou eles eram judeus, o que implicava já estarem sob um sistema de separação do mal, ou eram gentios que haviam se convertido, como se diz, “da água para o vinho”, já que ficava evidente a distinção entre a vida que levavam e a vida que levariam como cristãos.
Mas logo ficou claro que seria preciso ter cuidado, e 1 Coríntios 5 mostra os cristãos de Corinto serem exortados a excluir da comunhão um homem que estava vivendo em pecado. Se a assembleia tinha autoridade para excluir era porque antes ela devia ter incluído, e é aí que entra o processo de ser recebido pelos irmãos à comunhão à mesa do Senhor.
Quando no século 19 a verdade a respeito do corpo de Cristo foi recuperada, muitos chegavam de diferentes denominações e eram logo recebidos à comunhão, mesmo porque para você fazer parte de uma denominação cristã no século 19 devia já ter passado por uma sabatina quanto à sua fé e conduta. Logo isso iria se deteriorar, pois hoje vemos uma cristandade que, em grande parte, não faz qualquer distinção entre um viver santo e um viver mundano. Na grande maioria dos agrupamentos de cristãos a interpretação errônea do “examine-se a si mesmo” (1 Co 11:28) tenta mostrar que a responsabilidade de alguém participar da ceia caberia tão somente ao que participa, o que é apenas mais um dos muitos enganos praticados nos sistemas religiosos.
Mas a dificuldade dos irmãos de se receber qualquer um à mesa do Senhor no século 19 surgiu por ocasião da primeira divisão ocorrida entre os irmãos congregados ao nome do Senhor em 1848. Tal divisão fez com que um grupo de dissidentes passasse a se reunir de forma semelhante, depois de seus líderes terem sido excluídos da comunhão por colocarem em dúvida a autoridade do Senhor na assembleia. Ocorreu, então, um impasse: como alguém que estava congregando com os dissidentes poderia participar da ceia com os irmãos se não aceitava a decisão da assembleia tomada em relação àqueles colocados fora de comunhão, para o que a exortação é “com o tal nem ainda comais”? (1 Co 5:11). Ficou claro então que qualquer que quisesse estar à comunhão deveria estar apartado daqueles que tinham causado a divisão, e para isso a assembleia à qual pedissem seu lugar à comunhão passaria a examinar sua fé, doutrina e conduta para ver se eram sãs. O mesmo procedimento acabou sendo usado cada vez mais em função da degradação do testemunho cristão no mundo.
Portanto, ao pedir seu lugar à comunhão os irmãos não estão julgando a sua pessoa, mas apenas verificando se você professa realmente crer no Senhor, não está em pecado moral (prostituição, fornicação, roubo, etc.), doutrinário (negar a divindade de Cristo, por exemplo) ou eclesiástico (querer estar à mesa do Senhor e ao mesmo tempo continuar participando de “mesas” dissidentes ou sectárias). Não se trata de aguardar uma “revelação”, mas apenas de esperar até que todos tenham paz ao receberem a pessoa que pediu seu lugar.
Mesmo assim a assembleia não é infalível e muitas vezes alguém recebido à comunhão sem o devido cuidado acaba mais tarde revelando alguma coisa reprovável em seu caráter, doutrina ou modo de andar, exigindo da assembleia uma ação de desligar tal pessoa da comunhão. Isto pode acontecer até mesmo com aqueles que são sinceros, mas caem em algum pecado. Entenda que esse desligamento é da comunhão à mesa do Senhor, e não do corpo de Cristo, pois ninguém tem poder para tirar um membro do corpo de Cristo (a doutrina católica é que diz o contrário).
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Posso orar no início das aulas?
Sua dúvida é se deve continuar orando com seus alunos antes de iniciar as aulas do dia. Pelo que disse, você pediu e a direção da escola autorizou que fizesse assim, sem contudo dar conotação à sua oração de ligação com alguma igreja ou denominação, mas apenas orando e agradecendo a Deus em nome de Jesus.
Se você morasse nos EUA provavelmente já estaria sendo processado por alguma mãe avessa à expressão de qualquer fé. O pior é que lá não são muçulmanos ou budistas que protestam contra orações nas escolas, e sim norte-americanos natos, vindos de famílias cristãs, porém que agora nutrem ódio contra o nome de Jesus. Esta semana em uma escola de New Jersey a direção proibiu as crianças de cantarem músicas natalinas no Natal, que agora na escola só pode ser chamado de “Festividades de Inverno” (a notícia que acabo de ler é que a escola voltou atrás após virar notícia e ser alvo de protestos).
Em minha opinião, se você começa suas aulas com uma oração e isso é feito de forma respeitosa e com a aprovação da direção da escola, continue. Sua oração pode ser a única oportunidade de alguns alunos escutarem o nome de Jesus de maneira reverente, principalmente numa época em que oração virou sinônimo de gritaria de pastores da prosperidade pedindo dinheiro no rádio e na TV e prometendo curas e carros importados para seus seguidores incautos.
O que não sou favorável é ao ensino religioso formal nas escolas, porque isso abre espaço para qualquer um querer ensinar sua religião ou contratarem um professor neutro o bastante para só deixar os alunos apáticos e indiferentes às coisas espirituais. É o que ocorre em países como a Suíça, onde há professores de religião que são ateus. Também não sou favorável à transformação oficial de espaços públicos em “ambientes cristãos”, como é o costume de se colocar um crucifixo nas dependências de escolas e prédios públicos, ou de escrever “Cremos em Deus” no dinheiro.
Mas quando a iniciativa de dar testemunho de Cristo parte de indivíduos, então tem tudo a ver com o caráter do cristão neste mundo: vivendo no mundo, porém separado dele e testemunhando para os incrédulos. Portanto, se um dia a direção decidir proibir as orações você terá de sujeitar-se a ela e parar, aproveitando outras horas e ocasiões para testemunhar do evangelho. Mas é claro que se um dia o governo do país como um todo proibir o evangelho, os cristãos deverão continuar nos bastidores evangelizando, como acontece nos países onde a fé cristã é proibida.
Quando jovem, eu lecionava em uma escola estadual de primeiro grau em Alto Paraíso de Goiás. Na época eu estava lá recém-convertido e cheio de idealismo, e a cidade era muito pequena, longe de tudo e com serviços públicos bem precários. Por causa da falta de professores eu e minha esposa lecionávamos várias matérias cada um para classes com crianças dos onze aos vinte anos de idade (sim, havia alguns marmanjos atrasados).
Como a luz da cidade vinha de um pequeno gerador instalado numa pequena barragem, quando chegava a época da seca era comum faltar luz. O operador daquela “micro hidrelétrica” ficava sentado num banquinho pilotando um volante que abria ou fechava a vazão da água, aumentando ou diminuindo a potência gerada. Mas na seca ele era obrigado a fechar a torneira durante algum tempo e esperar a represa encher para poder abrir de novo. Como as aulas eram noturnas, as aulas ficavam entrecortadas com intervalos escuros, durante os quais simplesmente aguardávamos a luz voltar com os alunos dentro da sala jogando conversa fora.
Então tive uma ideia. Comprei uma caixa de Novos Testamentos e dei de presente para todos os meus alunos. Cada um também ganhou uma vela e uma caixa de fósforos e, como a direção da escola não nos obrigava dar aulas nos períodos escuros, podíamos fazer o que bem entendêssemos. E eu bem entendi que seria proveitoso para os alunos se estudássemos juntos o evangelho de João. Era interessante ver que eles gostavam tanto das leituras (cada um podia ler um versículo) que até vibravam quando a luz começava a diminuir até se apagar por completo. Então as velas saíam das mochilas e em instantes estavam todos com suas carteiras iluminadas e com seus Novos Testamentos abertos, famintos pela Palavra de Deus.
Tenho notícia de que alguns de meus alunos (hoje já adultos) se converteram depois daquela época em que puderam ouvir o puro evangelho de Cristo, e Deus é glorificado por isso.
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A igreja primitiva usava instrumentos na adoração?
O site que você indicou (GotQuestions) costuma ter respostas bíblicas e corretas sobre muitas coisas, mas quando o assunto é a igreja ou como congregar eles podem estar errados. Apesar de o site se declarar não-denominacional, as pessoas que contribuem com as respostas podem ser denominacionais, já que são “pastores, jovens pastores, missionários, conselheiros bíblicos, estudantes de faculdades cristãs, estudantes de seminários”, etc. Em suma, são protestantes e trazem muitos dos costumes desse segmento religioso, incluindo a repetição de elementos judaicos em sua adoração, como a existência de templos, clérigos, corais, etc.
Na pergunta sobre a validade de se utilizar instrumentos musicais na adoração cristã a resposta do site parte do perigoso princípio de que aquilo que era feito no Antigo Testamento, e não é explicitamente proibido no Novo Testamento, deve ser permitido na igreja. O problema é que, apesar de muitas questões morais que temos hoje poderem ser respondidas por princípios encontrados no Antigo Testamento, quando o assunto é Igreja tudo o que podemos extrair do Antigo Testamento são sombras e figuras, nunca a coisa real, já que a Igreja foi algo criado por Deus a partir do zero, isto é, não se trata de uma continuação ou aperfeiçoamento do judaísmo. Veja as passagens abaixo:
(Cl 2:16-17) “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.
(Hb 8:5) “Os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais…”.
(Hb 10:1) “Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas…”.
(1 Co 10:6) “E estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram”.
(Hb 9:24) “Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro…”.
O site que você indicou diz que “o fato de o Novo Testamento não condenar em nenhum lugar o uso de instrumentos musicais indica que a prática do Antigo Testamento foi continuada na igreja no Novo Testamento. A igreja primitiva era composta quase que completamente de judeus. É muito provável que eles continuaram usando instrumentos musicais na igreja, assim como faziam na adoração do Antigo Testamento”.
A percepção dele de que cristãos judeus teriam continuado as práticas da adoração judaica no cristianismo é correta, mas isto não significa que estavam agindo corretamente, pois a epístola aos Hebreus foi escrita justamente para corrigir isso. Se a resposta do site diz que está bem copiar os costumes do judaísmo na adoração cristã, o livro de Hebreus diz que está errado.
Em Hebreus você aprende que os costumes do Antigo Testamento “importados” para a igreja deviam ser abandonados de vez. Ali os judeus convertidos (justamente os que traziam consigo elementos do judaísmo) são exortados a abandonar completamente o antigo culto judaico com todas as suas práticas. Se havia assembleias nos primórdios do cristianismo que estavam adorando como se fosse judaísmo elas estavam completamente erradas.
“Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo… por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério. Porque não temos aqui cidade permanente [a Jerusalém dos judeus], mas buscamos a futura” (Hb 13:10-14).
A adoção de costumes judaicos na adoração cristã na igreja primitiva realmente aconteceu antes que a verdade da igreja fosse revelada a Paulo e depois aos outros apóstolos. Vemos no início do livro de Atos (Atos é um período de transição) que os cristãos continuaram frequentando o Templo. Deus colocou um basta naquilo ao permitir uma perseguição na Judeia que espantou os cristãos para longe do centro de adoração que Deus havia instituído no Antigo Testamento (o Templo de Jerusalém).
(At 8:1) “E fez-se naquele dia uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judéia e de Samaria, exceto os apóstolos”.
Deus estava deixando claro que nada mais havia no Templo ou em Jerusalém que devia ser usado na adoração cristã. Esta era completamente distinta do judaísmo e ninguém mais encontraria Deus no Templo de Jerusalém, pois aquela casa ficaria deserta (Lucas 13:35). Quando Jesus saiu do Templo (Mateus 24:2) o lugar ficou vazio e destinado à destruição.
A perseguição aos judeus convertidos continuou de modo que precisaram fugir para bem longe, o que também acabou contribuindo para a expansão do evangelho e para que os gentios fossem acrescentados em grande número ao corpo de Cristo.
“E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus. E havia entre eles alguns homens cíprios e cirenenses, os quais entrando em Antioquia falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor. E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia. O qual, quando chegou, e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortou a todos a que permanecessem no Senhor, com propósito de coração; Porque era homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao Senhor” (At 11:19-24).
Mais adiante, no ano 70, Deus permitiria a destruição do Templo de Jerusalém para não sobrar qualquer vestígio da adoração judaica, que nada tinha a ver com o algo novo que Deus trazia: a Igreja. Os judeus hoje praticam um judaísmo vazio, pois não pode existir judaísmo sem o lugar de adoração instituído por Deus na terra, que era o Templo, e sem os sacrifícios de animais que só podiam ser feitos ali.
Continuando na tentativa do site que tenta explicar que podemos usar elementos do Antigo Testamento, o autor do texto prova sua tese citando Efésios 5:19: “Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração”.
O site explica corretamente que o significado original grego de “salmodiando” é “dedilhando”, como se faz com um instrumento de cordas. Todavia tentar usar deste argumento para justificar o uso de instrumentos musicais na adoração cristã é perder o sentido da passagem e não enxergar o “instrumento” que está sendo mencionado ali.
Você conhece algum professor de música que ensine a “tocar coração” como alguém ensina a tocar violão ou guitarra? Pois é exatamente disto que a passagem está falando. Numa tradução alternativa teríamos “…cantando e tocando ao Senhor no vosso coração”, ou “…cantando e dedilhando a melodia ao Senhor no vosso coração”, ou fazendo uma paráfrase, “…cantando ao Senhor e tocando um instrumento musical chamado coração para fazer o acompanhamento”.
Percebe que a força do versículo está no instrumento que usamos para fazer o acompanhamento? Sim, é o coração o instrumento musical usado na adoração cristã. É por esta razão que hoje Deus busca adoradores que o “adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:23). A passagem está falando do espírito humano, não do Espírito Santo, pois é assim, “em espírito”, que o cristão tem o privilégio de adorar. Uma pessoa sentada em silêncio pode perfeitamente adorar em espírito e salmodiar no coração (“dedilhar a melodia no coração”). No judaísmo isto não era possível, pois a adoração era toda exterior e dependia de um coral treinado, uma orquestra tangível e um templo de pedras.
Vamos imaginar um vendedor de instrumentos musicais que me abordasse, interessado em vender instrumentos para uma orquestra inteira, perguntando:
Vendedor: Onde você congrega vocês usam instrumentos musicais nas reuniões de adoração?
Mario: Sim, usamos um instrumento.
Vendedor: Qual? Órgão, piano, guitarra, bateria, contrabaixo, cornetas, trombones, violinos, violoncelos, tubas… Temos tudo isso em nosso catálogo. Também fornecemos amplificadores e luzes diversas. Temos até máquina de gelo seco para fazer neblina, se os shows em sua igreja forem mais no estilo heavy metal. Temos tudo o que vocês precisam para atrair mais membros.
Mario: Usamos um instrumento de cordas, pois em Efésios diz para ‘salmodiarmos’, que no grego tem o sentido de dedilhar suas cordas.
Vendedor: Seria violão, guitarra, contrabaixo…?
Mario: Não, nenhum desses. Nós usamos corações. Vocês vendem corações?
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Pedro recebeu cem vezes mais do que deixou?
Sua dúvida está no capítulo 10 de Marcos, quando Jesus promete a Pedro que ele receberia cem vezes mais de tudo aquilo que tivesse deixado para seguir a Cristo. Considerando que Pedro viveu de forma humilde como todos os discípulos, como ele poderia ter recebido cem vezes mais ainda em vida?
(Mc 10:28-30) “E Pedro começou a dizer-lhe: eis que nós tudo deixamos, e te seguimos. E Jesus, respondendo, disse: em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no século futuro a vida eterna”.
A Bíblia ensina claramente na doutrina dada aos apóstolos que, nesta vida, os salvos por Jesus não seriam necessariamente ricos. Os pregadores da prosperidade enganam a muitos quando prometem para a igreja (os salvos na atual dispensação) aquilo que foi prometido a Israel no passado. A questão é que Israel era o povo terreno de Deus, com promessas terrenas, e a igreja é o povo celestial, com promessas celestiais. Aos israelitas não era prometida vida eterna, mas uma vida próspera neste mundo. Só isto já deveria dar a crente entendimento para saber que Deus está tratando com um povo diferente e em condições e promessas também diferentes.
(1 Tm 6:8-9) “Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína”.
Mas, voltando à sua dúvida, como foi que Pedro poderia ter recebido cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, pais, mães, mulheres, filhos e campos se viveu uma vida humilde? Será que a promessa do Senhor a ele não se concretizou? Sim, a promessa se concretizou e Pedro foi certamente um exemplo de homem rico, porém rico na fé, como Tiago ensina:
(Tg 2:5) “Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?”.
Mas isto não explicaria as riquezas prometidas a Pedro, ou explicaria? Certamente Pedro também recebeu tudo o que o Senhor lhe prometeu. Pedro passou a ter muitas casas onde era hospedado por irmãos por onde quer que passasse. Hoje qualquer pessoa que tenha se convertido a Cristo sabe muito bem que o exercício da hospitalidade é encorajado na Bíblia. Dou graças a Deus por ter sido hóspede em muitos lares cristãos e também por ter recebido em minha casa irmãos de diferentes países ao longo de minha vida cristã.
Irmãos, irmãs, pais e mães era o que não faltava na vida de Pedro depois de ter seguido a Jesus. Somente no dia de Pentecostes descrito em Atos 2, Pedro ganhou 3 mil novos filhos, irmãos, pais e mães, que passariam a se relacionar com ele como irmãos, e se preocupando e orando por ele como ora um pai e uma mãe, além de muitas vezes ter lhe provido alimento em suas viagens. Outro apóstolo, Paulo, fala muito em suas cartas dessa experiência de hospitalidade, cuidado e amor dispensado por irmãos das diferentes regiões por onde passava. E Paulo também chamava de “filhos” aqueles que ele havia gerado pela pregação do evangelho.
O Senhor prometeu a Pedro que ele teria cem vezes mais “campos” e isto é verdade para todo e qualquer cristão. O Senhor disse que a seara, ou campo, era grande e rogou ao Pai por trabalhadores para sua seara. Hoje há terras e mais terras para serem conquistadas pela mensagem do evangelho e felizes aqueles que podem dizer que foram instrumentos do Senhor na conquista desses “campos”. Afinal de contas, sabemos que no futuro, quando Jesus vier reinar, todos os reinos do mundo serão dele e daqueles que são coerdeiros com Cristo.
O versículo que promete a Pedro todas essas coisas também fala de perseguições, e é isto que o crente pode esperar neste mundo. Pedro foi martirizado por sua fé e muitos ainda hoje sofrem perseguições, ferimentos e morte por testemunharem de sua fé em Jesus. É claro que os pregadores da prosperidade gostam de deixar de fora esta parte das promessas de Deus, porque eles próprios gostam de viver em luxúria. Mas o crente que está atento à Palavra não se deixará levar pelo discurso dos lobos.
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O que iremos comer no céu?
Considerando que estaremos em um corpo ressuscitado e não mais sujeito à morte, o alimento como meio de subsistência não será mais necessário aos salvos. A Bíblia não diz se iremos comer algo no céu, mas se o fizermos, certamente não será pela mesma razão que o fazemos aqui.
Mas quando o Senhor Jesus ressuscitou ele mostrou estar em um corpo de carne e ossos. Apesar de ser um corpo espiritual, no sentido de não ser da mesma matéria vinda da terra como Adão, e ter capacidades sobrenaturais como a de aparecer no meio dos discípulos num aposento com as portas fechadas, não era um corpo etéreo ou um espírito, mas tangível (que pode ser tocado) e capacitado a comer alimentos materiais. As passagens a seguir demonstram isso:
(Lc 24:36-43) “E falando eles destas coisas, o mesmo Jesus se apresentou no meio deles, e disselhes: Paz seja convosco. E eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disselhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado, e um favo de mel; O que ele tomou, e comeu diante deles”.
(Jo 20:26-27) “E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente”.
Durante a ceia com os discípulos o Senhor anunciou que voltaria a beber vinho no reino. “Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da vide, até àquele dia em que o beber, novo, no reino de Deus” (Mc 14:25). Isto provavelmente acontecerá durante os mil anos do reinado de Cristo sobre a terra. Nesse período haverá uma cidade de Jerusalém na terra e outra no céu, a Jerusalém celestial, que fará a conexão com a Jerusalém terrestre e funcionará como centro administrativo da terra.
(Ap 21:10) “E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu”.
(Ap 22:1-2) “E mostrou-me o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, e de um e de outro lado do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a saúde das nações”.
Estas passagens ainda não falam do estado eterno, pois vemos ali nações, portanto a Jerusalém celestial é diferente da “santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido” (Ap 21:2). Esta é a Igreja e existirá para sempre nos novos céus e na nova terra do estado eterno. Não sabemos muito desse período eterno mesmo porque nossas mentes criadas no tempo e finitas não conseguiria compreender.
Na Jerusalém celestial, que aparece no capítulo 22 e se refere ao período do milênio, vemos a árvore da vida que produz doze frutos, mas não é dito que eles serão comidos, porém suas folhas são para a saúde das nações. O número doze indica que esses frutos talvez sejam para Israel e as folhas para os gentios (nações) na terra. É preciso lembrar que nessa época as pessoas que viverão na terra (judeus e gentios) ainda estarão em seus corpos naturais e mortais, e a função dessas folhas que trazem saúde faz sentido em um mundo assim.
Mas até aqui nada é dito que os santos com seus corpos ressuscitados à semelhança do de Jesus irão se alimentar. Sabemos que serão corpos aptos a comer, mas a Bíblia não nos diz se comerão algo, já que a nova vida estará sempre plenamente satisfeita com o “Pão da Vida” que é Cristo. Muitas vezes vemos que a Bíblia usa o verbo comer no sentido de se alcançar satisfação, algo que jamais faltará para os salvos por Cristo.
Enquanto vivemos na carne, nosso corpo precisa do pão material, mas sabemos bem que mesmo aqui o único alimento para o nosso espírito é Cristo. Para provar deste alimento inigualável nós nem precisaremos chegar ao céu, e este é um privilégio que apenas os salvos possuem e do qual já podem usufruir ainda nesta vida. Estes versículos podem servir para nossa meditação:
(Jo 4:32) “Ele, porém, lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis”.
(Jo 6:35) “E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede”.
(Rm 14:17) “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”.
(1 Co 10:3) “E todos comeram de uma mesma comida espiritual”.
(1 Jo 3:2) Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos”.
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Quem é a serpente?
Você perguntou o que ou quem era a serpente que apareceu a Eva no jardim do Éden. A resposta da própria Bíblia, em Apocalipse 20:2, que diz “a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás”. Por ser a serpente descrita como o mais astuto ou sagaz dentre os animais que Deus tinha feito, é provável que ela ocupasse o lugar de maior inteligência entre os animais, e por isso Satanás pode ter decidido usá-la. Como a condenação da serpente incluiu rastejar no pó, é provável que fosse diferente do que é hoje.
Sua outra dúvida é sobre o que seria a serpente mencionada neste versículo do livro de Jó 26:13: “Pelo seu Espírito ornou os céus; a sua mão formou a serpente enroscadiça”. Aqui a palavra usada e traduzida como “formou” também pode ser traduzida como “feriu”, portanto ele pode estar se referindo tanto a uma constelação em forma de serpente, que talvez fosse conhecida assim por Jó pela sua forma, como estar falando de Satanás mesmo e fazendo referência à promessa feita no Éden de esmagar a cabeça da serpente. Veja como está em outra tradução (NVI):
(Jó 26:13) “Com seu sopro os céus ficaram límpidos; sua mão feriu a serpente arisca”.
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O mandamento do Sábado foi dado no Éden?
Existem vários equívocos no texto que você me enviou. Primeiro, Deus não instituiu o mandamento do sábado no Éden, mas apenas disse que Deus descansou no sétimo dia da Criação. Gênesis 2:2-3 diz: “E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera”.
De lá para cá Deus Pai nunca mais descansou, e nem o Senhor Jesus. Muito menos o Espírito Santo, que hoje está no mundo convencendo o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Não me parece razoável que o Espírito Santo deixe de fazer isso aos sábados.
Em João 5:16-18 diz: “E os judeus perseguiam Jesus, porque fazia estas coisas no sábado. Mas ele lhes disse: meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus”.
O autor do texto que enviou diz: “Todos aqueles que, por preceito ou exemplo, depreciem as obrigações para com essas sagradas instituições são inimigos de Deus e do ser humano”. Você irá concordar que o que ele diz é o mesmo que diziam os fariseus no tempo de Jesus.
Os Adventistas do Sétimo Dia, de onde veio o texto que você enviou, não entendem a distinção daquilo que foi dado a Israel e do que hoje é Igreja. Também não creem na salvação por graça, pois colocam no homem o poder de se salvar cumprindo mandamentos. A guarda do sétimo dia como mandamento foi dada muito tempo depois ao povo de Israel, e mesmo assim após terem sido libertos do Egito. Na doutrina dos apóstolos dada à igreja (as epístolas) não existe qualquer menção ao sábado como mandamento para o cristão. Portanto o sábado faz parte da Lei Mosaica que inclui mais de 300 mandamentos e ordenanças, coisas que jamais foram dadas como meio de salvação, mas sim para provarem o homem e considerá-lo culpado e necessitado de um Salvador.
Além disso, cometem vários equívocos como dizer que Satanás foi coautor da expiação dos pecados, por atribuir a ele a figura do bode emissário de Levítico 16:10 (que é, na verdade, uma figura de Cristo levando nossos pecados): “Mas o bode sobre que cair a sorte para bode emissário será apresentado vivo perante o Senhor, para fazer expiação por meio dele e enviá-lo ao deserto como bode emissário”. Como se não bastasse adotam a mesma crença das Testemunhas de Jeová que é a do sono da alma e da aniquilação total de Satanás e dos ímpios no final.
Não é de se espantar que essa religião tenha tantos erros, pois sua principal mentora é uma mulher e os que aprendem dela acabam sendo cúmplices na transgressão do que ordena a Palavra de Deus em 1 Timóteo 2:12-14: “E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”. Apenas este fato (de o Adventismo ter sido ensinado por uma mulher) já deveria ser suficiente para alertar os que insistem em seguir essa doutrina.
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O que significa o cão e a porca?
Cães e porcos eram animais impuros segundo a Lei dada aos judeus, portanto aqui representam pessoas em seu estado natural que não foram regeneradas, isto é, nunca nasceram de novo e nem creram verdadeiramente no Senhor Jesus. Por isso elas voltam para as mesmas impurezas que continham antes de terem ouvido falar da verdade. Em sua carta Pedro faz alusão a Provérbios 26:11 que diz “Como o cão torna ao seu vômito, assim o tolo repete a sua estultícia”.
(2 Pe 2:20-22) “Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; Deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama”.
O cão que volta ao vômito e a porca que volta à lama de onde saiu nos falam da apostasia, que é o abandono da verdade por aqueles que apenas a professam sem nunca a terem incorporado realmente. Nem o cão, nem a porca foram transformados em ovelhas, pois continuaram com a mesma velha natureza sem terem recebido uma nova. Seu final será inevitavelmente voltar às origens. É por isso que muitas vezes ouvimos falar de pessoas que “se converteram” e depois se tornaram ateias ou passaram a combater a fé cristã. Elas nunca haviam se convertido de verdade, apenas se comportaram como cristãs durante algum tempo.
A passagem mostra que pessoas que têm contato com a verdade podem ser separadas exteriormente da corrupção que há no mundo pelo conhecimento de Cristo (conhecimento intelectual apenas). Porém mostra também que pessoas assim, que nunca se converteram, ficam piores do que antes quando não tinham qualquer contato com a verdade e nem a professavam. Com o conhecimento vem também a responsabilidade e as penalidades são maiores, como explicou o Senhor:
(Lc 12:47-48) “E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá”.
Isto vale para indivíduos e também para nações. Por isso os povos ocidentais cristianizados serão mais responsáveis no juízo do que os povos que nunca ouviram o evangelho. Sabemos pelas profecias bíblicas que as terras do Ocidente, onde a cristandade floresceu e cairá em apostasia, ficarão vazias e devastadas durante os mil anos do reinado de Cristo sobre a terra, enquanto as terras do Oriente Médio e Ásia, tradicionalmente fechadas ao evangelho, florescerão no milênio juntamente com Israel.
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Os bebes que morreram ressuscitarão no arrebatamento?
O Senhor disse para que deixassem ir a ele as crianças e não causassem impedimento algum. Portanto é correto pensar que um bebê que morre está já com Cristo, tendo sido salvo pelo mesmo sacrifício e purificado pelo mesmo sangue que salva e purifica o que tem consciência e fé em Jesus. Algumas passagens mostram isso:
(Lc 18:16) “Mas Jesus, chamando-os para si, disse: Deixai vir a mim os meninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus”. Se não era para os homens impedirem as crianças de irem a Jesus, ele próprio não faria tal coisa.
Em 2 Samuel 12:15-23, ao saber da morte da criança que teve de seu adultério, Davi disse: “Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim”. Isso implica que o bebê estava com o Senhor.
Isaías faz distinção entre aqueles que ainda não têm idade suficiente para “desprezar o mal e escolher o bem” (Is 7:15), o que implica que, apesar de trazerem o pecado de Adão, eles não são moralmente responsáveis.
Paulo fala que o sacrifício de Cristo é o que justifica (Rm 5:19), o que abrange até mesmo as criancinhas que tenham nascido em pecado (Sl 51:5).
A criança que morreu irá ressuscitar, mas não fará parte da igreja, a Noiva de Cristo. Assim como os santos do Antigo Testamento, os discípulos de João Batista e outros, elas estarão em uma das “muitas moradas” da casa do Pai para as diferentes classes de pessoas.
Independente da idade, a Bíblia diz que todos ressuscitarão à semelhança de Jesus, ou seja, em um corpo humano. Provavelmente esse corpo aparentará o corpo de Jesus, que morreu na idade de seu completo desenvolvimento biológico, o que se dá por volta dos 30 anos. Deus criou Adão adulto, portanto as crianças também ressuscitarão com o corpo de um adulto, e não serão transformadas em “anjinhos barrocos”. É um grande erro dizer que crianças que morreram foram transformadas em “anjinhos” ou “estrelinhas”.
Os que morreram em Cristo (isto é, não morreram em seus pecados) ressuscitarão no arrebatamento (santos do Antigo Testamento, crianças, abortivos e santos do Novo Testamento). Seus espíritos, que neste momento estão na presença do Senhor, voltarão aos seus corpos glorificados e subirão para estar com Cristo no céu em corpos de carne e ossos. Não morarão na terra durante o milênio, a qual será habitada pelos judeus e gentios convertidos no período da tribulação (após o arrebatamento da igreja).
A Bíblia deixa claro que os salvos de todas as eras, inclusive crianças e abortivos, serão muitos, pois os perdidos não serão em maior número que os salvos. A própria Palavra diz que Cristo terá, em tudo, a primazia. Ele não daria ao inimigo a primazia de ter arrastado mais pessoas à perdição do que Cristo à salvação.
(Cl 1:18) “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência”.
Tendo isso em conta, que tremendo evento será a ressurreição de todos os salvos e a transformação dos vivos no dia do arrebatamento da Igreja. Embora a primeira ressurreição, inaugurada por Cristo, inclua também a ressurreição dos que vierem a crer e a morrer após o arrebatamento, o número dos que subirão será infinitamente maior nesse evento. Será algo reservado apenas aos salvos, como foi a ressurreição do Senhor que nunca foi visto por nenhum incrédulo em seu corpo ressuscitado. A subida dos santos também será como foi a do Senhor, que foi vista apenas pelos discípulos.
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Judas perdeu a salvação?
Lendo João 17 você diz acreditar que Judas tivesse sido salvo por Cristo, porém teria perdido sua salvação ao decidir traí-lo. Como é completamente impossível alguém perder a salvação, portanto Judas nunca foi salvo. Ele não podia perder o que jamais teve. O versículo de João 17:12 fala de Judas, aquele que era o “filho da perdição” ou “destinado à perdição”, portanto ele era do maligno e nunca teve a salvação.
Judas é um exemplo do mero professo citado em Hebreus 6, aquele que teve todos os privilégios por conviver com Jesus, porém não creu. Ele aparenta crer, mas não crê. Judas era tão bom de aparência que quando o Senhor disse na ceia que um deles era traidor ninguém desconfiou de quem estava falando. Hoje há muitos nessa situação, inclusive fazendo milagres e profetizando em nome de Jesus, dos quais o Senhor dirá no final: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7:23). Paulo fala desses:
(2 Co 11:13-15) “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras”.
A Bíblia tem muitos casos de pessoas falsamente convertidas, como Jesus afirma em Mateus 7:21: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”. Você encontra também em Hebreus 6, uma carta escrita a cristãos convertidos do judaísmo, uma referência a pessoas que tiveram um contato direto com o Senhor e foram beneficiadas por ele sem jamais terem crido. Qualquer pessoa pode professar crer com a boca, mas a profissão de fé tem dois aspectos, o interior e o exterior. Romanos 10:9 diz: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. Esses que você diz que se “converteram” e depois “perderam” a salvação foram professos de boca apenas. No coração eles nunca se converteram. Judas andou com o Senhor, fez milagres, etc., mas nunca foi salvo.
Você argumenta que seria impossível Judas não ter sido salvo antes de ter se perdido, já que em sua oração em João 17 Jesus diz: “Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse” (Jo 17:12). Segundo você não faria sentido Jesus ter guardado Judas se ele não fosse salvo antes de se perder, pois aí o Senhor teria guardado o maligno. Além disso, como poderia Jesus ter escolhido um discípulo maligno?
A impressão que tenho é que você fala de Jesus como um mero homem que foi pego de surpresa quando soube das intenções malignas de Judas. Porém, sendo Deus e Homem, Jesus conhecia Judas muito bem, antes mesmo de ele vir a existir. Ele sabia que seria o traidor. Isso tinha sido profetizado no Antigo Testamento e se Judas tivesse sido salvo seria preciso Jesus escolher um décimo terceiro para ser o traidor. Observe que desde o início Judas já era diferente dos outros discípulos, pois nunca chamou a Jesus de Senhor, apenas de Rabi ou Mestre.
“Até o meu próprio amigo íntimo em quem eu tanto confiava, e que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar” (Sl 41:9).
“E eu lhes disse: Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o que me é devido; e, se não, deixai-o. Pesaram, pois, por meu salário, trinta moedas de prata. Ora o Senhor disseme: Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles. E tomei as trinta moedas de prata, e as arrojei ao oleiro na casa do Senhor” (Zc 11:12-13).
Existe um momento em que Judas decide ser o traidor e aí ele fica totalmente sob o domínio do diabo. (Jo 13:27) “E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: o que fazes, faze-o depressa”. Evidentemente Jesus estava plenamente ciente de ter chamado para segui-lo um que depois se revelaria o traidor. Em nenhum momento Jesus foi pego de surpresa pela revelação do caráter de Judas.
“E, quando estavam reclinados à mesa e comiam, disse Jesus: Em verdade vos digo que um de vós, que comigo come, há de trair-me” (Mc 14:18).
“Pois o Filho do homem vai, conforme está escrito a seu respeito; mas ai daquele por quem o Filho do homem é traído! bom seria para esse homem se não houvera nascido” (Mc 14:21).
“Homens irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas” (At 1:16).
Quanto à expressão sua ao levantar a hipótese de Jesus ser “guardador do maligno” por ter guardado seus discípulos, é importante entender que em João 17, onde Jesus diz que guardava os seus, Judas já não está entre os discípulos. Ele já tinha se retirado no capítulo 13 para consumar sua traição diante dos fariseus e sacerdotes. Portanto, a partir do versículo 31 daquele capítulo temos apenas Jesus e os genuínos salvos e é destes que Jesus fala em sua oração e é a eles que são feitas as várias promessas.
(Jo 13:27-31) “E, após o bocado, entrou nele [em Judas] Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa. E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera isto. Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres. E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite. Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele”.
É apenas na presença dos genuínos discípulos que Jesus promete enviar o Espírito Santo para habitar neles. João 14:16-17 diz: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque HABITA CONVOSCO, e ESTARÁ EM VÓS”.
É importante entender que até Cristo morrer, ressuscitar e ascender aos céus o Espírito Santo nunca havia habitado na terra e no homem de forma permanente. Quando veio habitar isso foi “para sempre”. Portanto é impossível que alguém que tenha o Espírito Santo habitando em si (porque creu realmente) venha a perder a salvação, pois isto significaria o Espírito sair dele. Davi, no Salmo 51:11, ora a Deus “não retires de mim o teu Espírito Santo” e isso era porque naquela época o Espírito Santo podia inspirar, usar e até mesmo entrar numa pessoa, porém não era para habitar nela de forma permanente. Jesus disse em João 14 que o Espírito habitava COM ELES, porém estaria NELES.
(Jo 14:16-17) “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre”.
Portanto, se a partir de Pentecostes o Espírito veio habitar para sempre no crente, é impossível o verdadeiro crente perder-se porque o selo que traz em si é permanente e eterno. Esta é apenas uma das provas de que Judas não perdeu a salvação eterna porque ele nunca a teve, apesar de ter sido um dos discípulos do Senhor.
Tendo isto em vista, Hebreus 6 (que você diz ser uma prova de um crente que perde a salvação) não pode estar falando de um crente real, mas de um mero professo (ali nunca diz que o tal creu). Como qualquer outro que tenha tido um contato direto com Jesus, Judas teve todos aqueles privilégios: foi iluminado (a Luz estava ali), provou o dom celestial (o Pão do céu estava ali), se tornou participante do Espírito Santo (não recebeu o Espírito, pois dependia de Jesus ser glorificado), provou a Palavra de Deus, os poderes ou virtudes do século futuro (o Milênio) nas curas e multiplicação dos pães. Mas não creu.
Do modo como você diz que Cristo morreu para salvar a todos dá a impressão de que todos estão salvos até segunda ordem. Judas nunca foi salvo, pois se tivesse recebido o dom da vida eterna e a vocação celestial nunca as perderia “Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Rm 11:29). É importante entender que, se por um lado Jesus morreu por todos (o preço pago era suficiente para tanto) não foi o pecado de TODOS que ele levou sobre si na cruz, mas os pecados de MUITOS (existe uma diferença entre todos e muitos).
(2 Co 5:15) “Ele morreu por TODOS”.
(Is 53:12) “Ele levou sobre si o pecado de MUITOS”.
Em João 17, no momento em que Jesus ora ao Pai e diz que estava com eles no mundo, fica claro que está se referindo apenas aos discípulos que ficaram para aquele momento da oração. É deles que Jesus está falando, não de Judas que já tinha sido possuído pelo Diabo. Ele rogava naquele momento apenas pelos que creram. Jesus não rogaria por Judas que era do maligno pelo mesmo motivo que não rogaria pelo mundo que jaz no maligno.
(Jo 17:8-9) “Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste. Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”.
Se Jesus roga ao Pai “por aqueles que me deste” é evidente que Judas não estava entre esses, pois aquele que o Pai deu a Jesus de maneira nenhuma se perderia.
(Jo 10:28-29) “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”.
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Uma vez salvo, salvo para sempre?
Sim, a salvação é para sempre e irreversível. Uma vez salvo, salvo para sempre, pois é uma obra divina, não humana. Quando você lê passagens que dizem que é preciso fazer isto e aquilo para entrar no reino dos céus o Senhor não está falando do céu propriamente dito. O reino dos céus é a esfera em que Cristo é reconhecido como Senhor e hoje o reino (que é dos céus) está na terra, mas não ainda manifesto (como um reino cujo rei está no exílio). Ele será plenamente manifesto na vinda de Cristo para reinar, mas até então o reino dos céus conterá uma mistura de salvos (o trigo) e perdidos (o joio que diz “Senhor, Senhor” da boca pra fora). Eles continuarão juntos no reino dos céus até a colheita, quando o joio será queimado e o trigo recolhido no celeiro de Deus.
(Mt 13:25-30) “Mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio. Então, vindo os servos do dono da casa, lhe disseram: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio? Ele, porém, lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas os servos lhe perguntaram: Queres que vamos e arranquemos o joio? Não! Replicou ele, para que, ao separar o joio, não arranqueis também com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro”.
Você argumenta que Hebreus 10 estaria dizendo que é possível sim perder a salvação, pois ali diz que “se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários” (Hb 10:26-27). Ali também diz que “Mas o justo viverá da fé; e, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele” (Hb 10:38). Mas observe que se você continuar lendo a passagem verá que o capítulo termina assim: “Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma” (Hb 10:39). Portanto o texto está falando de apóstatas (falsos crentes que apenas professavam), pois ali os verdadeiros são os encontrados na frase “nós não somos dos que retrocedem para a perdição”.
Sobre sua outra citação, “Quem perseverar até o fim será salvo”, a passagem toda está falando da grande tribulação e esse “salvo” aí é no sentido de não morrer. Se continuar lendo a mesma passagem de Mateus 24 encontrará isto: (Mt 24:22) “Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados” ou como diz a versão Almeida corrigida “nenhuma carne se salvaria”. Aquelas pessoas (são judeus fiéis que se converterão naquele tempo) precisarão estar vivas para entrarem no reino de mil anos de Cristo.
A vida de quem acredita que será salvo ou que permanecerá salvo por esforço próprio pode pender para dois lados: (1) Desespero e incerteza total porque a salvação se torna uma loteria: se você pecar e não der tempo de confessar seu pecado está perdido. (2) Hipocrisia em tentar manter uma aparência de “crente” como faziam os fariseus. O correto é reconhecer que não temos condições de nos salvarmos a nós mesmos e nem de nos mantermos salvos e tanto uma coisa como outra é por graça somente. É Deus quem nos salva e mantém salvos. Caso contrário você irá chegar no céu glorificando a Deus por metade da salvação. Para a outra metade a glória será sua.
Não queira crer numa salvação que lhe dará alguma glória por ela (perseverar, por exemplo). Creia que tudo é de Deus e para Deus e que depois de salvo Deus o manterá assim porque a obra é 100% dele. Eu realmente não entendo a razão de tanta gente querer ajudar Deus na salvação. Será que é por não se considerarem totalmente perdidas? Ou será que é por acharem que a obra de Cristo foi pela metade?
Não se pode jamais olhar para a salvação como uma mera conversão exterior, como a do sujeito que levanta a mão na hora do apelo, compra uma Bíblia, vai a uma “igreja”, dá ofertas, etc., e depois fica igual ou pior ao que era antes. Assim como é possível encontrarmos lobos em pele de cordeiro, qualquer porca ou cão pode vestir essa fantasia por algum tempo para depois voltar à lama ou ao próprio vômito.
O homem pode colocar uma lista de tarefas e condições para a salvação, mas o próprio Senhor assegurou que aqueles que lhe foram dados pelo Pai estão seguros eternamente na mão do Pai e na mão de Jesus. Que descanso, que certeza, que louvor podemos dedicar a Deus por tamanha salvação!
Existem afirmações na Palavra de Deus das quais não podemos nos esquivar. Uma é que aquele que crê em Cristo e na sua obra não passará pelo juízo final:
(Jo 5:24) “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida”.
Outra é que aquele que crê recebe o selo do Espírito Santo, o qual vem habitar nele:
(Ef 1:13) “Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o santo espírito da promessa”.
O Espírito é a garantia (o penhor) da salvação, portanto aquele que não tem o Espírito nunca creu verdadeiramente e nem foi salvo (lhe falta o penhor ou a garantia da herança):
(Ef 1:14) “O qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória”.
(Rm 8:9) “Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”.
Sendo assim, os que acham possível poder um verdadeiro crente perder sua salvação não conseguirão explicar o que será feito do Espírito Santo no caso de um crente se perder, já que quando Jesus prometeu dar o Espírito e ele disse que era para sempre.
(Jo 14:16-17) “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós”.
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A comissão aos apóstolos não era para a igreja?
Quanto a sua dúvida sobre Lucas 9 e 10, aquela comissão foi dada particularmente aos apóstolos e não à igreja que na época nem existia. Em Mateus 16:18 Jesus diz “edificarei a minha igreja” mostrando que ela estava ainda no futuro, o que só foi realizado em Atos 2. Portanto nos evangelhos temos discípulos judeus, vivendo dentro do judaísmo, e sendo comissionados por seu Messias para convidarem as pessoas a participarem do seu Reino. Os milagres e maravilhas eram as credenciais que eles apresentavam para mostrar como seria o reino do Messias na terra.
(Lc 9:1-2) “E, convocando os seus doze discípulos, deu-lhes virtude e poder sobre todos os demônios, para curarem enfermidades. E enviou-os a pregar o reino de Deus, e a curar os enfermos”.
(Lc 10:19) “Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum”.
Os discípulos foram enviados para pregar o reino de Deus, que é o que conhecemos como o evangelho do reino e não o evangelho da graça de Deus que hoje pregamos. Esse evangelho era o mesmo que Jesus e João Batista pregavam e tinha a ver com a posição de rebeldia e desobediência que Israel havia adotado diante de Deus e de sua Lei. “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” (Mt 4:17).
Assim como fez Jesus em seus dias na terra, os discípulos se dirigiam exclusivamente aos judeus, pois assim também era o ministério do Senhor neste mundo.
(Mt 10:6) “Mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel”.
(Mt 15:24) “E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”.
Foi somente depois de Jesus ter vindo para os seus (os judeus), e os seus não o receberem, que as boas novas da salvação passaram a ser proclamadas a todos e então o Espírito Santo veio habitar no mundo.
(Jo 1:11-12) “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome;”.
Uma grande dificuldade que a maioria das pessoas tem para entender a Bíblia ocorre por considerarem que tudo o que Jesus e seus discípulos disseram e fizeram nos quatro evangelhos tinha a ver com todas as épocas. Por isso costumamos ouvir argumentos do tipo “Veja, Jesus está mandando dar o dízimo” ou “Os discípulos adoravam em um templo de pedras” ou “Eles precisavam obedecer ao sacerdote”, etc.
Mas é importante entender que no período dos evangelhos temos o judaísmo, não o cristianismo. Nos evangelhos você encontra uma ordem sacerdotal, um templo de pedras, um altar, dízimos, levitas, sacrifícios de animais, etc. Nada disso faz sentido hoje na igreja. Cristo aparece nos evangelhos como o Messias esperado por Israel, e só depois de rejeitado é que ele passaria a ser o Salvador do mundo. Não é possível entender o Antigo Testamento sem os Evangelhos e não é possível entender os Evangelhos sem as Epístolas.
Se no Antigo Testamento encontramos Deus tratando com um povo terreno (Israel) ao qual deu uma Lei com mais de trezentas ordenanças, nos evangelhos vemos o Messias avisando da chegada do seu reino e convidando as pessoas a participarem dele. Ser participante do reino não era sinônimo de ser salvo, pois no reino vemos joio (falsos) e trigo (verdadeiros). Agora, na atual dispensação, temos a Igreja, que não é Israel e cuja expectativa é habitar no céu para reinar com Cristo sobre a terra, e não para viver na terra sob o reinado de Cristo.
Mas não teríamos chegado aonde chegamos se Cristo não morresse, ressuscitasse, fosse glorificado e tivesse enviado o Espírito Santo. O próprio Espírito Santo não habitava nos discípulos nos Evangelhos do modo como depois viria a habitar na Igreja e nos crentes individualmente, pois isto dependia de Cristo ser glorificado.
(Hb 5:8-9) “Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem”.
(Mc 8:31) “E começou a ensinar-lhes que importava que o Filho do homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos anciãos e príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas que depois de três dias ressuscitaria”.
(Jo 7:39) “E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado”.
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O louvor liberta?
Sua dúvida é sobre Atos, pois você ouviu alguém dizer, com base nesta passagem, que “o louvor liberta” ou que “Deus liberta através do louvor”. A passagem diz: “E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam. E de repente sobreveio um tão grande terremoto, que os alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram soltas as prisões de todos” (At 16:25-26).
Fiz uma busca e vi que existe até uma canção evangélica com o título “Louvor que liberta” e pude compreender sua dúvida. A canção diz, entre outras coisas, “O louvor, quando sai do coração, Deus responde e estende a mão; o louvor é a chave da vitória, é cantando que Deus abre a porta; quando você começar a louvar as cadeias logo vão se abalar, as algemas logo vão se soltar”.
A ideia passada pela letra é totalmente errada e provavelmente nasceu de uma mente acostumada a buscar a Deus com objetivos interesseiros, como fazem hoje os cristãos supersticiosos que enchem igrejas de pregadores de cura e prosperidade. Essas multidões vivem perguntando: “O que devo fazer para me libertar dos males que me afligem?”; “… para ter prosperidade?”; “… para arranjar casamento?”; “… para ser curado?”, etc. São pessoas mais interessadas nas bênçãos de Deus do que no Deus das bênçãos, portanto em nada se diferem dos pagãos. Obviamente os malandros pregadores se aproveitam para receitar um sem número de práticas e objetos que só funcionarão se o carnê do dízimo e ofertas estiver em dia.
O paganismo em todas as suas vertentes sempre foi cheio de superstições, promessas, poções e objetos e palavras mágicas. A ideia é sempre de causa e efeito, fazendo de Deus um talismã ou um gênio da garrafa que só serve para ser invocado nas horas de necessidade, como se estivesse à disposição dos homens e só fosse capaz de abrir sua caixinha de bênçãos quando alguém falasse a senha correta. É também esta a ideia por detrás do “louvor que liberta” e pode até funcionar nas relações humanas, por exemplo, louvar o chefe para ser promovido, mas não com Deus, que não se deixa enganar. O louvor feito com algum tipo de interesse pode ser chamado de bajulação.
Se analisarmos o que significa louvar logo veremos como é tolice pensar que devo louvar para acionar a alavanca que abre a comporta de bênçãos. (Hb 13:15) “Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome”. Repare que o louvor é o fruto ou consequência, não a causa de alguma bênção.
(Is 25:1) “O Senhor, tu és o meu Deus; exaltar-te-ei, e louvarei o teu nome, porque fizeste maravilhas”.
(Sl 139:14) “Eu te louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as tuas obras”.
(Sl 138:2) “Inclinar-me-ei para o teu santo templo, e louvarei o teu nome pela tua benignidade, e pela tua verdade”.
(Sl 118:29) “Louvai ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre”.
(Sl 59:16) “Eu, porém, cantarei a tua força; pela manhã louvarei com alegria a tua misericórdia; porquanto tu foste o meu alto refúgio, e proteção no dia da minha angústia”.
Veja que em todas estas passagens (e muitas outras) o louvor é o fruto de lábios que reconhecem a Deus pelo que ele é ou por algo que tenha feito. Nunca é uma forma de buscar o favor de Deus, porque se fosse já não seria louvor, seria oração. Quando oramos pedimos a Deus por libertação, cura, suprimento das necessidades, etc. Quando louvamos reconhecemos e damos a Deus o crédito por tudo o que ele fez. Basta ler a primeira vez em que aparece um cântico de louvor na Bíblia em Êxodo 15:1-21 para entender que o louvor é uma expressão de gratidão, não uma forma de se obter benefícios.
Infelizmente a cristandade atingiu hoje um estado que não se diferencia muito do que é encontrado entre os pagãos. Trata-se de um cristianismo interesseiro e supersticioso, sempre querendo saber se deve fazer isto e aquilo para levar alguma vantagem (libertação, cura, prosperidade, etc.). Se você louvar com uma atitude assim não será um louvor que vem da nova natureza, mas sim da carne. Será que Deus não percebe a intenção de quem está louvando para receber algo em troca?
E já que falei de música evangélica, aqui vai uma belíssima letra de autoria de Asaph Borba que coloca o louvor em seu devido lugar, isto é, como fruto ou consequência da graça, da paz, do Espírito e de tudo o que Deus é e fez por nós por meio de seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo (eu só faria uma pequena alteração na letra e trocaria “O meu louvor é fruto do MEU amor por ti Jesus” por “…é fruto do TEU amor por mim, Jesus”:
O meu louvor é fruto – (Asaph Borba)
O meu louvor é fruto do meu amor por ti Jesus,
De lábios que confessam o teu nome
É fruto de tua graça e da paz que encontro em ti
E do teu Espírito que habita em mim
Que habita em mim
Ainda que as trevas venham me cercar,
Ainda que os montes desabem sobre mim
Meus lábios não se fecharão,
Pra sempre hei de te louvar
Ainda que cadeias venham me prender
Ainda que os homens se levantem contra mim
Meus lábios não se fecharão
Pra sempre hei de te louvar
Repare que é um louvor que não depende das circunstâncias, pois ainda que tudo esteja dando errado (como era o caso com Paulo e Silas) o verdadeiro crente terá motivo para louvar.
(Hc 3:17-19) “Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. (Para o cantor-mor sobre os meus instrumentos de corda)”.
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Qual a versão correta de Apocalipse 22:14?
Sua dúvida vem do conflito que encontrou nas diferentes versões do versículo de Apocalipse 22:14. Umas dizem: “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, … para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas” (Almeida Revista e Atualizada, Almeida Revista e Corrigida, New Translation by J. N. Darby, Ave Maria, CNBB, NVI, etc.), enquanto outras trazem: “Bem-aventurados aqueles que guardam os seus mandamentos” (Almeida Corrigida Fiel, King James etc.). Em qual confiar?
A diferença ocorre porque os tradutores utilizaram como ponto de partida de suas traduções diferentes manuscritos gregos. Alguns usaram o “Texto Tradicional” ou “Textus Receptus”, como a Almeida Corrigida e Fiel e a King James em inglês. Outros utilizaram o que é chamado de “Texto Crítico”, formado por uma mistura de diferentes manuscritos, como o Alexandrino, o do Sinai e o do Vaticano, etc., além de análises (ou críticas) de especialistas modernos sobre esses manuscritos. Nesta categoria estão as versões Almeida Atualizada, a da Imprensa Bíblica e mesmo a de J. N. Darby. Mas mesmo estas não são baseadas exclusivamente no “Texto Crítico” (assim como a Almeida Revista e Corrigida da SBB não é puramente baseada no “Textus Receptus”, mesmo sendo muito parecida com a Almeida Corrigida Fiel da Sociedade Bíblica Trinitariana ou com a King James).
Não existem os manuscritos originais (escritos pelos apóstolos) e certamente Deus providenciou para que desaparecessem para não se transformarem em objetos de adoração (tipo fizeram com o falso santo sudário). Os manuscritos que existem são cópias de cópias e por isso há algumas diferenças que foram causadas por copistas inexperientes ou incautos. A Palavra de Deus é divina, mas os copistas são humanos e sujeitos a erros.
Sou tradutor e já encontrei verdadeiras aberrações cometidas por tradutores de livros cristãos provavelmente por não concordarem com o que estava no original. Uma vez decidi retraduzir a partir do original inglês o livrete “A ceia do Senhor”, de C. H. Mackintosh, que já existia em português publicado em Portugal. Fiquei surpreso ao descobrir que todos os comentários do autor sobre o catolicismo romano tinham sido suprimidos da versão em português. Em outro livro sobre a epístola aos Romanos descobri que a versão em espanhol trazia mudanças significativas nas ideias do autor, provavelmente por ter sido traduzido por alguém que não entendia o novo nascimento.
Mas voltando ao versículo de Apocalipse, as versões que trazem “aqueles que guardam os seus mandamentos” não parecem ter sido fiéis à ideia original, enquanto as que trazem “aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro” estão bem mais de acordo com a doutrina da justificação que não é baseada em obras. A ideia de guardar mandamentos para ter direito a um lugar na glória não tem fundamento bíblico, porém a ideia de ter as vestiduras lavadas no sangue do Cordeiro é confirmada por outra passagem do mesmo livro de Apocalipse: “Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7:13-14). Veja os comentários de alguns autores sobre o versículo:
“Existe uma similaridade no som das palavras no original que fizeram desviar alguns copistas. Mas os melhores comentaristas do texto não deixam dúvidas de que o correto é “aqueles que lavam as suas vestiduras” – “Washed Their Robes” – J. A. Trench
“O versículo 14 é corretamente traduzido na versão NASB: “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas”. O lavar no sangue do Cordeiro é absolutamente essencial para dar a alguém o direito à árvore da vida, o direito à comunhão com o próprio Senhor Jesus. Meramente guardar seus mandamentos jamais pode dar a quem quer que seja tal direito. Isto seria uma forma de guarda da lei e não poderia nos purificar da contaminação do pecado. É o sangue de Cristo que nos dá o direito de desfrutarmos da sua Pessoa (a árvore da vida) e à herança (a cidade). Depois de termos sido lavados, porém, somos exortados a andarmos em alegre obediência à Palavra de Deus” – “Exploring the Revelation” – L. M. Grant.
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O amor ensina a não julgarmos?
O julgamento aparece em muitas formas na Bíblia e seria errado deixá-lo de lado. Devemos julgar o mal, tanto individualmente quanto em assembleia. O que somos exortados a não fazer é julgar a pessoa, seu coração e motivos, pois são coisas que Deus julga, pois é quem conhece os corações. Mas os atos e palavras devem ser objeto de nosso julgamento. Alguns exemplos de julgamento que os cristãos devem fazer, tanto individualmente quanto em assembleia:
(Jo 7:24) “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça”.
(1 Co 6:2-5) “Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois, porventura, indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Para vos envergonhar o digo: Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?”
(1 Co 5:12-13) “Porque que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo”.
(1 Co 10:15) “Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que digo”.
(1 Ts 5:21) “Examinai tudo. Retende o bem”.
(1 Co 14:29) “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem” (o que foi falado).
Muito do mal que existe hoje na cristandade foi admitido sob o pretexto do amor. Assim é comum encontrarmos grupos de cristãos em comunhão lado a lado numa mescla que inclui aqueles que procuram sinceramente levar uma vida de santidade e os que vivem abertamente em prostituição, adultério, roubalheiras, corrupção, etc.
Um versículo muito usado para permitir tal coisa é o de 1 Coríntios 11:28 “Examine-se, pois, o homem a si mesmo” e outros que falam do juízo próprio. Certamente deve existir juízo próprio, mas quando este falha entra em cena o julgamento de uma autoridade superior.
Não é diferente do que fazemos na sociedade. Alguém que não julga a si mesmo e passa a praticar delitos acaba sendo julgado pelo Estado, que tem autoridade para tanto. Normalmente, a punição é privar aquela pessoa do convívio da sociedade, o que é feito pela prisão do malfeitor. A assembleia (ou igreja) recebeu do Senhor autoridade para julgar os que estão em pecado, e a punição aplicada também é privá-los do convívio com os irmãos.
(Mt 18:17) “… E, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano”.
(1 Co 5:11-13) “Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo”.
É evidente que a assembleia não vai prender a pessoa em pecado, mas os irmãos se manterão a parte dela, salvo dois ou três irmãos responsáveis que poderão visitá-la em um caráter de pastoreio, tentando fazê-la cair em si, se arrepender e ser restaurada à comunhão. Parece ter sido assim o que aconteceu com o homem de 1 Coríntios 5, que acabou repreendido por todos e separado da comunhão, para mais tarde ser restaurado conforme lemos na segunda epístola.
(2 Co 2:6-8) “Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor”.
Outro argumento usado para justificar que pessoas em pecado continuem em comunhão com os irmãos costuma ser o de que Jesus também comia com pecadores. Mas a questão é que ele fazia isso com incrédulos no intuito de conduzi-los ao arrependimento. É o que fazemos quando levamos o evangelho a todas as pessoas sem distinção. Mas uma vez congregados em assembleia ou igreja o assunto passa a ser o da comunhão dos santos. Aí deve existir uma clara separação (santificação) prática, tanto da má doutrina como dos vasos (pessoas) vivendo em pecado.
(2 Tm 2:19-21) “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra”.
O zelo para com as coisas do Senhor deve existir também com respeito aos que visitam a assembleia, usando o princípio da “guarda dos portões” que encontramos em Neemias 7. Numa época de tamanha corrupção do cristianismo, não raro as assembleias acabam sendo visitadas por pessoas contaminadas até o pescoço de má doutrina, legalismo e outros problemas. Como proceder? Obviamente eles não devem ter comunhão à mesa do Senhor até que sejam bem conhecidos dos irmãos quanto às suas práticas de vida, doutrina e associações.
(Ne 7:1-3) “Sucedeu que, depois que o muro foi edificado, eu levantei as portas; e foram estabelecidos os porteiros, os cantores e os levitas. Eu nomeei a Hanani, meu irmão, e a Hananias, líder da fortaleza, em Jerusalém; porque ele era homem fiel e temente a Deus, mais do que muitos. E disselhes: Não se abram as portas de Jerusalém até que o sol aqueça, e enquanto os que assistirem ali permanecerem, fechem as portas, e vós trancai-as; e ponham-se guardas dos moradores de Jerusalém, cada um na sua guarda, e cada um diante da sua casa”.
Neemias é o livro que fala da construção do muro de separação entre o que era de Deus e o que pertencia ao mundo. Havia um muro e havia portas, as quais só eram abertas quando o sol estivesse a pino para que não existisse sombra alguma de dúvida quanto a quem iria entrar. Quem chegasse a Jerusalém no fim da tarde, durante a noite ou início da manhã era obrigado a acampar fora dos muros da cidade até que os guardas pudessem ter uma visão clara de quem iria entrar.
Se meu pai estivesse vivo diria que isto era o equivalente ao ditado antigo que dizia que para se conhecer bem uma pessoa é preciso “fumar um rolo de fumo e comer um saco de sal” com ela. Antigamente o tabaco era vendido em rolos (para fazer cigarros de palha) e é evidente que isto mostra que é preciso tempo para se conhecer alguém muito bem.
Alguém que hoje acabe de chegar a uma reunião e se declare cristão pode estar vivendo em pecado, e se ninguém o conhece na vida diária não há como saber. Ou pode ser alguém de uma religião que fale dos evangelhos, mas negue a divindade de Cristo, como Espíritas, Testemunhas de Jeová e Mórmons. Ou ainda pode estar associado a algum tipo de ocultismo e espiritualismo, como ser membro de uma sociedade secreta, por exemplo.
Uma maneira simples e prática de se saber se uma assembleia de cristãos obedece ao princípio bíblico da santidade ou separação na casa de Deus, é perguntar: “Pessoas em pecado são excluídas da comunhão?”. Se a resposta for não, afaste-se dali para não ser culpado de associação. Este princípio de separação para se evitar cumplicidade pode ser encontrado nesta passagem:
(Ap 18:4) “E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas”.
O cuidado com os que chegam trazendo má doutrina, que não era tão necessário no início da igreja, foi previsto pelo apóstolo Paulo para o tempo depois de sua partida (e dos outros apóstolos).
(At 20:29-31) “Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós”.
Os lobos seriam os incrédulos vestidos em pele de cordeiro com o intuito de destruir o rebanho, e os homens falando coisas pervertidas seriam os que chegariam com espírito de líderes em busca de seguidores (estes geralmente gostam de apresentar credenciais e falam de sua bagagem intelectual, cursos de teologia, etc.). Eles certamente apareceriam e os irmãos deviam estar preparados para reconhecê-los e rechaçá-los. Se no início da igreja ficava muito claro quem chegava carregando uma bagagem de judaísmo, e para isso foram dadas as epístolas aos Gálatas e aos Hebreus, hoje a dificuldade é maior, pois a cristandade se afastou de tal maneira da Palavra de Deus que nem sempre é fácil distinguir quem é ovelha e quem é lobo.
Algumas assembleias já passaram a experiência de serem visitadas por alguém se dizendo irmão, mas que logo exibiu suas garras de lobo ao perceber que não poderia ministrar a Palavra ou participar da ceia do Senhor sem ser bem conhecido de antemão pela assembleia. Para evitar discussões que irão contaminar os ouvintes, uma boa forma de agir em casos assim é um ou dois irmãos convidarem a pessoa para uma conversa fora do local de reunião (salão, casa, etc.) e, uma vez lá fora, deixar claro que sua permanência ali não é bem vinda e despedi-la.
É claro que alguns irão protestar, dizendo que um modo de agir assim não é nada democrático, e têm razão, pois a assembleia não é uma democracia. Outros dirão que é falta de amor, mas isso é por não entenderem que o amor nunca deve caminhar divorciado da verdade. Um pai que deixa de disciplinar um filho errado alegando que não o faz por amor está criando um bastardo. (Hb 12:8) “Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos”. Ao falar de João, H.H. Snell comenta: “É notável que o mesmo apóstolo que foi inspirado a escrever de forma tão enfática a respeito da verdade tivesse sido o instrumento empregado a escrever tão detalhadamente sobre o amor. O fato é que não podemos realmente ter verdade sem amor, ou amor sem verdade. Ambos estão perfeitamente mesclados em Cristo”.
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Por que fico triste no Natal?
Épocas como Natal e Ano Novo são péssimas para muitas pessoas (eu mesmo nunca gostei desta época) e não são poucos os cristãos que se sentem melancólicos, quando não se deixam levar pelo chamado “espírito do Natal”. Se para alguns tudo é festa, alegria e presentes, para outros é como se estivessem olhando através de uma imensa lente de aumento que só amplia as desilusões, os desencontros e a saudade.
Em muitos lares haverá uma cadeira vazia na ceia do Natal ou Réveillon. No ano passado tinha alguém sentado ali, que partiu e talvez nem tenha tido tempo de se despedir ou se preparar para a última viagem. Talvez seja o lugar daquele esposo ou esposa que desfez o contrato que deveria vigorar até que a morte os separasse. Ou então é a vaga do filho ou da filha que decidiu seguir a vida que escolheu desprezando tudo o que recebeu.
É um tempo de balanço e também de novos planos. Muitos estarão contabilizando suas perdas materiais, enquanto se gabarão de seus ganhos transitórios. Mas quão poucos realmente verão que estão um ano mais perto de se encontrarem com Deus e se prepararão para isso? Será que a ficha cairá para aquele que olha para a cadeira vazia, e crerá no Salvador Jesus para o perdão de seus pecados sabendo que a sua própria cadeira poderá ficar vaga no ano que vem?
Nesta época as tristezas e angústias daqueles que já creram no Salvador são magnificadas, pois ainda vivemos num corpo de carne sujeito a muitas falhas e enfermidades. Não se surpreenda se sentir-se assim. É claro que não é a condição que Deus gostaria para nós, pois se temos uma posição perfeita em Cristo deveríamos também viver desfrutando de tudo o que temos em Cristo. Mas sabemos que na prática nem sempre é assim, e Deus sabia disso muito bem. Foi por isso que nos deu o Espírito e o chamou de Consolador, sabendo que precisaríamos ser consolados. Ele também nos deu um Advogado para interceder por nós quando pecamos.
Portanto estamos bem aparelhados para esta viagem que será breve, pois a qualquer momento poderemos ver a face do Amado. Nossa cadeira pode até ficar vazia aqui, mas para aqueles que creem em Cristo o destino é ocupar com ele outra cadeira no lugar que agora ocupa, pois Deus “nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Ef 2:6).
Minha sugestão é que descanse no Senhor. Não olhe para si mesma e para suas fraquezas e inquietações, mas olhe para ele, porque se olhar para si mesma não encontrará descanso e sim incertezas e desilusões. Lembre-se de que em todo o mundo seus irmãos em Cristo passam pelas mesmas aflições. Tal condição não era estranha aos santos de Deus do passado. Paulo fala de ter chegado a desesperar-se da própria vida e comenta das tribulações que o atacavam por dentro e por fora. Por que acharíamos que nossa vida seria diferente da vida de um apóstolo do Senhor?
“Porque, mesmo quando chegamos à Macedônia, a nossa carne não teve repouso algum; antes em tudo fomos atribulados: por fora combates, temores por dentro. Mas Deus, que consola os abatidos [deprimidos], nos consolou com a vinda de Tito” (2 Co 7:5).
“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira oprimidos acima das nossas forças, de modo tal que até da vida desesperamos” (2 Co 1:8).
E por falar no Senhor, não se esqueça do quanto ele sofreu na expectativa da cruz que estava diante de si. O Salmo 38:6-17 é profético e expressa os sentimentos do Messias diante da expectativa da terrível morte que o aguardava:
“Estou encurvado, estou muito abatido, ando lamentando todo o dia… Estou fraco e mui quebrantado; tenho rugido pela inquietação do meu coração… O meu coração dá voltas, a minha força me falta; quanto à luz dos meus olhos, ela me deixou… Quando escorrega o meu pé… Porque estou prestes a coxear; a minha dor está constantemente perante mim”.
Hoje temos um recurso, que é irmos a esse mesmo Jesus, que sabe o que é sofrer, e buscarmos nele o descanso. Ele nos convida: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11:28).
“Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará; todavia, o meu justo viverá pela fé” (Hb 10:35-38).
Não pense que só você fica triste neste período que o mundo ocidental chama de Natal. O verdadeiro natalício de Jesus foi de grande alegria que logo se transformou em tenebrosa expectativa. O Salvador tinha vindo ao mundo, mas para salvar ele precisaria morrer. Portanto foi a sua morte, e não o seu nascimento, que possibilitou a Deus salvar o pecador. Por isso ele pediu que nos lembrássemos de seu corpo morto e de seu sangue derramado quando celebramos a ceia do Senhor.
O menino que nasceu, logo se tornaria alvo de uma conspiração para matá-lo e esse sentimento dos homens não mudou nada ao longo dos últimos dois mil anos. Jesus saiu deste mundo e o mundo ficou do jeito que estava quando ele aqui entrou: um planeta habitado por inimigos de Deus que não querem ser incomodados pela consciência do pecado, da justiça e do juízo que virá.
Apesar de todas as luzes, festas e presentes, o sentimento que tem hoje um cristão em quem habita o Espírito de Cristo é o mesmo que o próprio Cristo teria se estivesse aqui: o de alguém que percebe estar no lugar errado vendo pessoas se alegrarem pelos motivos errados. Estranho seria você achar que está tudo bem e que o mundo é um lugar maravilhoso, habitado por pessoas que receberiam hoje a Jesus de braços abertos, com a mesma alegria com que recebem o Papai Noel descendo em um helicóptero.
Existem lugares como grutas, cavernas e desfiladeiros onde, por alguns segundos, é possível ouvir o eco de uma voz. Mas nenhum deles se compara ao eco do que foi dito pela humanidade há dois mil anos, e que permanece claro e cristalino até agora:
“Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19:14).
Este é o sentimento da maioria das pessoas deste planeta. Como é que um cristão, que não é do mundo, se sentiria sabendo o que as pessoas pensam e falam de seu Salvador?
“Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado. Quem me odeia, odeia também a meu Pai. Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente têm eles visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai. Isto, porém, é para que se cumpra a palavra escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo. Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim; e vós também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio. Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 15:18-27; 16:33).
Deus existe?
A tabela periódica que usei na escola era muito menor que a atual. Não que alguns elementos não existissem, eles apenas não tinham sido descobertos. O que não existiam eram as condições adequadas para que fossem detectados.
Há pessoas que não acreditam na existência de Deus e na vida após a morte. Mas qualquer pessoa inteligente sabe que é possível provar que algo existe a partir de sua descoberta, mas é impossível provar que algo não exista, pois tal coisa pode acabar sendo descoberta e entrar para a “tabela” das coisas existentes.
Quem adota a teoria da evolução para explicar a existência de todas as coisas não deve se precipitar. Deve esperar algum tempo antes de tirar uma conclusão definitiva. Quanto? Sei lá, um milhão de anos, dez milhões… Afinal, como poderia confiar na conclusão produzida por um cérebro ainda imperfeito e em processo de evolução?
“O ‘Deus desconhecido’… que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; e de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: pois somos também sua geração… Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At 17:23-31).
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O que significam o sangue e a água?
Antes de qualquer coisa é preciso deixar claro que Jesus não morreu do ferimento causado pela lança do soldado. Ele já estava morto quando a ponta da lança entrou no seu lado. Nem perca seu tempo acreditando em livros escritos por médicos ou documentários na TV que tentam explicar clinicamente a morte de Cristo. Sua morte ocorreu quando ele deu um brado e entregou o espírito, fazendo algo que homem algum tem poder de fazer, que é dar a própria vida, isto é, conjugar o verbo morrer na primeira pessoa e sem cometer suicídio. Os versículos a seguir mostram isso e a ordem dos eventos:
“Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai” (Jo 10:17-18).
“E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou” (Lc 23:46).
“Foram, pois, os soldados, e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro, e ao outro que como ele fora crucificado; Mas, vindo a Jesus, e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas. Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água” (Jo 19:32-34).
Mas o que significam o sangue e a água que verteram do lado ferido de Jesus? Na Bíblia a água aparece várias vezes com o sentido de purificação e o sangue de vida. Não foi o suor de Jesus enquanto orava, que “tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão” (Lc 22:44), que nos purificou dos pecados. Também não foi o sangue vertido de suas costas afligidas pelos açoites, nem de sua testa ferida pelos espinhos, ou de suas mãos e pés perfurados pelos cravos. O sangue que saiu dessas feridas era o sangue de um Cordeiro vivo, portanto ainda não sacrificado. É o sangue de um Cordeiro morto, que saiu da ferida da lança do soldado, que nos purifica de todo pecado.
O ato do soldado mostra até onde a maldade humana é capaz de chegar, pois existe um consenso de que até nas guerras os corpos dos inimigos mortos devem ser tratados com respeito. Atacar um cadáver é revelar uma inimizade que vai além da vida; um ódio perpétuo contra o Filho de Deus. O soldado romano foi apenas um instrumento nessa expressão de ódio, pois a responsabilidade recairá no futuro sobre os judeus, dos quais é dito:
“A casa de Davi, e… os habitantes de Jerusalém… olharão para mim, a quem traspassaram” (Zc 12:10).
A água e o sangue que saem da ferida são os elementos que possibilitaram a salvação do homem. O sangue nos fala da expiação judicial dos pecados, pois “sem derramamento de sangue não há remissão [de pecados]” (Hb 9:22), e a água representa a purificação moral (Jo 5:3; Ef 5:26). O capítulo 5 da primeira carta do apóstolo João fala destes dois elementos associados ao Espírito como levando o testemunho de que Deus nos deu a vida eterna e esta vida está em seu Filho. O sangue e a água saíram do corpo morto de Jesus, enquanto o Espírito foi derramado de um Cristo ressurreto e glorificado nas alturas. Apesar de não termos de nós mesmos vida, esses três elementos testemunham que temos vida eterna no Filho de Deus.
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Como lidar com os que discordam?
Quando o assunto é lidar com os que discordam ou se opõem à Verdade, existem dois extremos contra os quais devemos vigiar. Um é o de nos ensoberbecermos pelo conhecimento que nos foi gratuitamente dado pelo Senhor e sairmos por aí ofendendo a todos os que não pensam de igual modo. Os Coríntios eram assim, pois eram tão conhecedores (intelectualmente) que desprezavam o apóstolo Paulo que anos antes lhes havia conduzido ao Senhor. Boa parte das duas epístolas é usada por Paulo para apresentar suas credenciais de apóstolo e repreender os coríntios por sua soberba.
Paulo diz: “Pois, quem torna você diferente de qualquer outra pessoa? O que você tem que não tenha recebido? E se o recebeu, por que se orgulha, como se assim não fosse?” (1 Co 4:7 NVI). Eles se esqueciam de que tudo o que sabiam tinham recebido de Deus por graça e não por mérito ou esforço. Em outra parte Paulo escreve: “O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica” ((1 Co 8:1 NVI).
O outro extremo é querermos ser brandos e pacientes demais com os que se opõem à verdade. Recentemente bloqueei do Facebook e do Youtube um sujeito (incrédulo) que fez um comentário no Youtube insultando de maneira execrável a Pessoa e obra de Cristo. Se ele falasse mal de mim eu talvez deixasse para lá, mas quando alguém é inimigo da verdade não devo tratá-lo do mesmo modo como trataria alguém que ignora a verdade. Vamos encontrar esses inimigos da cruz entre incrédulos e cristãos professos, pois Paulo nos avisou que depois de sua partida entrariam lobos querendo destruir o rebanho e também homens (dentre os cristãos) buscando seguidores (Atos 20). Por isso hoje fica mais difícil filtrar, mas devemos filtrar.
Quanto ao homem que “expulsei” de minhas redes sociais, vi em seu perfil que ele se dedica a combater sistematicamente o Senhor Jesus, a Palavra, a Verdade e tudo o que diz respeito a Deus. Do mesmo modo como alguns criam perfis e canais para propagar a verdade, os perfis e canais dele são para combater a verdade. É certamente um louco em sua fúria demoníaca tentando destruir algo que o incomoda.
“Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem” (Jd 1:10).
Quando alguém diz algo por ignorar a verdade, procuro ajudá-lo. Quando se opõe, mas vejo que é uma oposição sincera apenas por falta de conhecimento, persisto em tentar encaminhá-lo à verdade. Nem sempre iremos encontrar crentes ou incrédulos que concordem com o que pensamos, mas o fato de alguém discordar não é motivo para ser tratado como inimigo. O amor irá procurar conduzi-lo à verdade. Eu mesmo já discordei de muitas coisas que hoje acredito.
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade” (Cl 3:12).
“Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4:2).
“…Disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade” (2 Tm 2:25).
“Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe” (2 Ts 3:14).
“Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore” (1 Jo 5:16).
Mas quando alguém deliberadamente ofende a Pessoa do Senhor, tenta anular a obra da cruz ou é petulante ou zombador em seu modo de tratar as “pérolas” e “coisas santas” o melhor mesmo é nos afastarmos dos tais. É prudente também não ficarmos discutindo com pessoas assim nas redes sociais, pois estaremos apenas dando a elas oportunidade de destilar seu veneno contra o Senhor. Estou me referindo, mais uma vez, não aos que discordam de boa consciência, mas aos que estão deliberadamente empenhados a difamar o nome de Cristo.
“Como o soltar das águas é o início da contenda, assim, antes que sejas envolvido afasta-te da questão” (Pv 17:14).
“Traze estas coisas à memória, ordenando-lhes diante do Senhor que não tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes” (2 Tm 2:14).
É a diferença, por exemplo, de um que não acredita em Deus mas vive sua própria vida sem “pregar” seu ateísmo e nem ficar procurando seguidores, e de um Richard Dawkins, por exemplo, que é um “evangelista do ateísmo” e tem até uma loja virtual para vender badulaques para promover sua aversão a Deus. Enquanto alguns se dizendo cristãos exploram comercialmente a fé, há também ateus que exploram comercialmente a negação da fé.
Felizmente nas redes sociais (Facebook, Youtube, Twitter…) existem mecanismos para apagar algum comentário impróprio ou chegar ao extremo de bloquear a pessoa para que nem mesmo tenha mais acesso ao nosso perfil nessas redes. É importante entender que o perfil na rede é “a casa” ou “a sala de estar” de alguém, não um lugar público. Se alguém deseja visitar “minha casa”, é bem-vindo, podemos conversar e até discordar.
Porém se alguém entra em “minha casa” e passa a se comportar de forma inconveniente, desrespeitosa, ou ofendendo o Senhor, que tanto prezo, sou obrigado a expulsá-lo “de minha casa virtual” como faria na casa de tijolos. Alguém poderá discordar argumentando que isso não é agir de forma democrática, mas quando se trata de um lugar privativo (como é “nossa casa”) não se pode querer que cada um faça o que bem entender apelando para uma suposta democracia.
Gosto da história que um irmão norte-americano me contou e que aconteceu na década de 50, quando os homens usavam chapéu. Dois cidadãos bateram à porta da casa de um irmão e disseram que queriam conversar com ele. Ele os convidou a entrar, pegou os chapéus, pendurou-os nos cabides e os três sentaram-se na sala. Quando um deles disse que estavam ali como representantes da “Torre de Vigia” (eram Testemunhas de Jeová) o irmão pediu licença, levantou-se, foi até o cabide, pegou os chapéus, saiu e os colocou no meio da rua. Imediatamente os dois TJ saíram correndo para salvar seus chapéus e o irmão fechou a porta.
“Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras” (2 Jo 1:10-11).
“Dize estas coisas; exorta e repreende também com toda a autoridade. Ninguém te despreze” (Tt 2:15).
“Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o” (Tt 3:10).
“Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais” (1 Co 5:11).
“Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem” (Mt 7:6).
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Devo protestar contra vídeos de humor?
De vez em quando recebo o convite de algum cristão bem intencionado para protestar contra algo ou alguém que esteja desrespeitando Cristo, o cristianismo e os cristãos. Nos últimos dias recebi pelo menos dois e-mails me convidando a participar de um protesto contra uma produtora de vídeos de humor. Em que pese a boa intenção de quem promove tais campanhas, vejo isso como total falta de entendimento de que é o mundo e da posição do cristão nele.
“Este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo. Filhinhos, sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo. Do mundo são, por isso falam do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro” (1 Jo 4:3-6).
O cristão tem cidadania celestial, não terrena, portanto seus interesses não estão aqui, mas no céu. A teologia do pacto, encontrada tanto no catolicismo como no protestantismo, leva as pessoas a terem uma visão equivocada do lugar do cristão e de sua relação com o mundo. Basicamente essa teologia enxerga a igreja como herdeira das promessas feitas por Deus a Israel no Antigo Testamento, que eram no sentido de dar àquele povo um lugar neste mundo e ser respeitado por todas as nações.
Sempre que essa teologia foi levada ao extremo os cristãos pegaram em armas para conquistar territórios com a desculpa de fazê-lo para Cristo, como aconteceu nas Cruzadas e em outras ações colonialistas. Mas existem iniciativas mais brandas, como exigir do governo que no dinheiro seja impressa a frase “Cremos em Deus” ou que em repartições públicas sejam colocados crucifixos ou ainda lutar por “direitos cristãos”. Tudo isso nada mais é que os cristãos desejarem deixar uma marca na política e na sociedade. Ao invés de buscarem resgatar almas para Cristo procuram transformar o mundo em um espaço cristão.
O erro está em não entender que Deus não deu à Igreja sequer o espaço de terra de um pé neste mundo, o que foi tipificado na vida de Abraão, o peregrino que não tinha lugar nesta terra. “E não lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé” (At 7:5).
“Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma; Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem” (1 Pe 2:11-12).
“Quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder, como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que creem” (2 Ts 1:7-10).
Quando lemos da vida de Abraão é proveitoso enxergá-lo como figura do cristão que não tem lugar no mundo, em contraste com seu sobrinho Ló, que representa o cristão que busca por uma posição no mundo entre os incrédulos. Em seu desejo de se estabelecer aqui ele foi armando suas tendas até ir morar em Sodoma e acabar assumindo uma posição entre os juízes daquela cidade iníqua.
“E levantou Ló os seus olhos, e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada, antes do Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra, e era como o jardim do Senhor, como a terra do Egito, quando se entra em Zoar. Então Ló escolheu para si toda a campina do Jordão, e partiu Ló para o oriente, e apartaram-se um do outro. Habitou Abrão na terra de Canaã e Ló habitou nas cidades da campina, e armou as suas tendas até Sodoma. Ora, eram maus os homens de Sodoma, e grandes pecadores contra o Senhor” (Gn 13:10-13).
O testemunho de Abraão em meio aos incrédulos era: “Estrangeiro e peregrino sou entre vós” (Gn 23:4). O testemunho que a vida de Ló dava era visto assim pelos incrédulos habitantes de Sodoma: “Como estrangeiro este indivíduo veio aqui habitar, e quereria ser juiz em tudo?” (Gn 19:9). Portanto, sempre que um cristão quer interferir no mundo os seus habitantes incrédulos têm toda a razão de dizerem: “Como estrangeiro este indivíduo veio aqui habitar, e quereria ser juiz em tudo? “.
Os habitantes de Sodoma suportaram Ló enquanto ele lhes era útil, e nesse período até mesmo tentaram conquistar Abraão. Em um episódio em que Abraão libertou seu sobrinho Ló das mãos de reis inimigos, e por tabela salvou também os habitantes de Sodoma, o rei de Sodoma ofereceu a Abraão vantagens financeiras e Abraão recusou. Quão diferente é isso do que fazem hoje os líderes religiosos que comem na mão de governantes de olho nos votos que irão obter através deles em seus “rebanhos”!
“Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4:4).
O mundo é inimigo de Deus, sempre foi e sempre será até Cristo vir estabelecer o seu Reino em poder e glória. Mas aí será ele, e não os cristãos, quem fará a faxina. Tentar mudar isso é querer maquiar o diabo para deixá-lo parecido com anjo, e os cristãos não precisam se dar ao trabalho porque o próprio diabo já faz isso muito bem consigo mesmo. Se vemos Satanás querendo parecer bom, e seus ministros querendo parecer ministros de justiça, será que agora alguns cristãos ainda vão querer que o mundo vista a fantasia de amigo de Deus? Fala sério!
“E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça” (2 Co 11:14-15).
Se você estranha quando comediantes fazem pouco da fé dos cristãos é bom considerar que boa parte do combustível que usam para suas piadas é fornecido pelos próprios cristãos. Graças a muitas “igrejas” e “pastores” que estão por aí o cristianismo hoje é piada pronta nas mãos dos humoristas. Também não adianta querer consertar isso, pois o próprio Espírito Santo, em Apocalipse, dá à cristandade apóstata um nome que não é nenhum elogio: “A Grande Meretriz”.
E o que pensar quando os próprios cristãos também têm seu repertório de piadas sobre a Bíblia, Deus e Jesus? Ou você nunca ouviu algum irmão contá-las? Nos Estados Unidos existem até “clubes cristãos” onde humoristas no estilo “stand up” fazem graça usando o nome de Deus e as coisas santas. É claro que ali não se conta “piadas sujas”, como costumamos chamar as de sexo, mas só piadas que profanam as coisas de Deus e usam o seu nome em vão.
Enquanto isso o mundo continuará a zombar de Cristo e da fé cristã, e o que se poderia esperar de um mundo que declarou “Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19:14)? Ou que gargalhou quando soube que o Filho de Deus estava morto? “Vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará” (Jo 16:20)? O espírito que prevaleceu no mundo quando Cristo morreu é o mesmo que prevalece hoje e será o mesmo no futuro, quando em Apocalipse vemos a reação do povo incrédulo diante da notícia da morte das testemunhas fiéis:
“E homens de vários povos, e tribos, e línguas, e nações verão seus corpos mortos por três dias e meio, e não permitirão que os seus corpos mortos sejam postos em sepulcros. E os que habitam na terra se regozijarão sobre eles, e se alegrarão, e mandarão presentes uns aos outros; porquanto estes dois profetas tinham atormentado os que habitam sobre a terra” (Ap 11:9-10).
Você já viu uma festa de natal bem animada, com todos trocando presentes, se beijando e soltando fogos de artifício? Pois é este o sentimento real do mundo quando vê o testemunho de Deus na terra se dar mal. Se você ainda se surpreende por humoristas fazerem piada de Cristo ou por cristãos serem perseguidos você não conhece as Escrituras ou é muito ingênuo em pensar que um dia este mundo será um lugar maravilhoso com todos alegremente dando tapinhas nas costas dos cristãos.
Os versículos abaixo podem ajudar a refrescar a memória de quem se ilude pensando existir no mundo algum respeito por Cristo e pelos cristãos:
“Meus irmãos, não vos maravilheis, se o mundo vos odeia” (1 Jo 3:13).
“Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim” (Jo 15:18).
“Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia” (Jo 15:19).
“Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno” (1 Jo 5:19).
Mas o que fazer quando humoristas ímpios fazem gozação com a Pessoa de Cristo? Como agir quando cristãos são humilhados e perseguidos? Bem, existe a maneira humana e a maneira divina de reagir a isso. A humana é bem conhecida. Protestar, fazer abaixo assinados, entrar com petições públicas, exigir direito de resposta e coisas do tipo. Muitos cristãos irão argumentar que como a Constituição faculta estas coisas a todo cidadão não há nada de errado em utilizá-las para garantir o respeito a Cristo e aos cristãos.
A maneira divina de reagir tem claramente demonstrada pelo modo de agir do próprio Senhor Jesus quando era humilhado e perseguido:
“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2:5).
“Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas… O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente” (1 Pe 2:19-23).
“Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos” (1 Ts 5:15).
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:19-21).
Portanto fica muito clara a reação que cabe ao cristão quando seu Senhor é ofendido ou quando o próprio cristão é humilhado e perseguido: entregar tudo ao Senhor. Assim foi também o exemplo deixado pelos apóstolos do Senhor, como explica Paulo:
“Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, E nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos; Somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos” (1 Co 4:11-13).
Talvez você argumente aqui que Cristo, quando viu o Templo ser invadido por mercenários, pegou um chicote e os expulsou dali. Pois é exatamente o que estou dizendo para você fazer: deixar Cristo cuidar do assunto. Quanto às perseguições que cairiam sobre seus discípulos o Senhor lhes disse, falando profeticamente como eles estando no caráter do remanescente de judeus fiéis que se converterão na grande tribulação:
“Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis. Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus. E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim” (Jo 16:1-3).
“Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima” (Lc 21:28).
“Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mt 5:11-12).
O que o Senhor diz ali? Quando vos injuriarem e perseguirem e disserem o mal contra vós por minha causa, protestem, procurem seus direitos, façam abaixo assinados? Não! Ele diz: “Exultai!… Levantai as vossas cabeças!”.
Agora que você sabe qual é a vontade do Senhor quanto a como deve agir, caso você ainda assim insistir em “procurar seus direitos” ou “fazer cumprir a lei” ou protestar de algum modo, saiba que então você estará agindo exatamente como os incrédulos comediantes. A diferença será que eles estarão desobedecendo a Deus por atacarem e você estará desobedecendo a Deus por se defender.
“Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; Mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte” (1 Pe 4:12).
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Como responder a um ateu?
Devemos sempre buscar a direção do Senhor quando confrontados por ateus, “sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3:15). Talvez você encontre algumas ideias no texto abaixo, extraído de uma correspondência em inglês que tive na Internet com um ateu que se sentiu ofendido com algo que leu em meu site www.stories.org.br. Seu nome era Adam e transcrevo aqui porções de nossa correspondência traduzidas para o português.
Prezado Adam,
Não compreendo a razão de seu medo. Não existem ateus. Todo homem nasce com o conhecimento de Deus em seu coração. Ele pode até se tornar ateu pela razão e argumentação, mas não nasce assim. Você sabe que existe um Deus, mas você o odeia. Não posso provar a você que Deus seja real, mas sei que existe. Eu era cego, mas agora vejo. Foi Deus quem fez isso comigo, não minha razão. Durante um bom tempo procurei por Deus e não conseguia encontrá-lo até o dia em que desisti. Então ele me encontrou, e ele irá encontrar você também, se você permitir.
Se eu estiver errado não tenho nada a perder. Mas se você estiver errado você perdeu tudo. Peça sinceramente a Deus que se revele a você. Se o fizer com sinceridade de coração (você tem medo?), ele irá se manifestar a você. Você sabe disso, mas você tem medo. Não sou seu inimigo. Se você quiser ter uma conversa franca sobre o assunto estarei aqui. Respeito sua posição, mas você está equivocado. Se você for corajoso o suficiente para mergulhar em uma busca real e sincera, me escreva.
Desculpe-me por ter demorado tanto para responder. Não quis fazê-lo com pressa, mas preferi ponderar cuidadosamente sobre o que escreveu. Mesmo que eu não concorde com você respeito sua posição, pois, ao menos, ela parece mais consistente do que a que tenho encontrado nos sites de ateus na Web. A maioria dos textos que vi, parecem terem sido escritos por crianças iradas que não têm outro objetivo senão chocar. Elas parecem ser o mesmo tipo de pessoas que escrevem em portas de banheiros públicos. Neste sentido você já deve ter reparado que a Internet não só oferece muitas “páginas escritas”, mas também muitas “portas pichadas”. Tentarei acompanhar seus argumentos. Sou brasileiro e por isso você talvez repare que meu inglês não é perfeito.
Adam: Não tenho medo de coisa alguma porque não acredito em um juiz supremo que irá me mandar para o inferno por causa de minhas ações. Por falar em medo, por que você não saí por aí e mata alguém? Por que você não rouba? Eu não faço essas coisas por que eu as considero moralmente erradas.
Você possui um padrão moral. Todas as pessoas têm um. Os seres humanos possuem um padrão moral e ele sempre está acima de suas possibilidades. Você já reparou que até mesmo os nativos considerados primitivos pelas modernas sociedades (apesar de não serem) também têm um padrão moral? Chame a isso de vontade de Deus, moral ou como quiser, mas é algo que todos possuem. O ponto para o qual quero chamar sua atenção é que esse padrão moral é sempre mais elevado do que o homem possa alcançar. Os hipócritas o rebaixam para atender a seus próprios interesses, mas isto é outra história. Os padrões estão ali e eles são sempre mais do que os homens conseguem alcançar, independentemente do tipo de padrão moral ou de sociedade onde ele é adotado.
Desculpe por eu precisar citar a Bíblia, na qual sei que não acredita, mas ela é a Palavra de Deus, portanto o padrão de Deus. Ela diz que os homens sabem que Deus é, não somente pelo que veem na Criação (Rm 1:19), mas também por possuírem um sentimento interior a este respeito (Rm 1:21) que o próprio Deus colocou em seus corações. “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim” (Ec 3:11). É por isso que você não mata alguém (talvez sinta o desejo de fazê-lo, começando comigo…) ou não rouba. É porque você sabe que é errado. Mas onde está o seu padrão? Bem, ele não está na Bíblia, mas em algo dentro de você. Quem o colocou ali?
Adam: Mas os cristãos se abstêm dessas coisas por terem medo do juízo de Deus.
Bem, existe cristianismo e cristianismo. Talvez o você aprendeu na escola dominical não seja exatamente o que a Bíblia diz. Cristãos nominais talvez se abstenham de praticar essas coisas por terem medo de algum juízo, mas não é o caso com aqueles que conhecem a Deus como Pai. Deixe-me explicar. Apesar de ter em mim esse padrão moral que me foi dado pelo próprio Deus, pois ele me criou à sua imagem, sou uma criatura caída. Não, eu não comi uma maçã no jardim do Éden, e nem sequer existe uma maçã na história contada no livro de Gênesis sobre Adão e Eva. Mas eu sou descendente deles e herdei o pecado deles. Quando Adão e Eva eram livres para decidir, eles decidiram ser iguais a Deus. “Sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gn 3:5), foi o que a serpente disse a eles. Eles viram naquilo uma carta branca para viverem do modo como quisessem sem precisarem prestar contas de seus atos a ninguém. Como costumamos dizer no Brasil, quiseram ser donos de seus próprios narizes.
Bem, aquilo foi a queda, e o resultado é que todo ser humano nasce egoísta e em rebelião contra Deus. Não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores. É esta nossa natureza. Pecar é uma consequência natural de sermos pecadores. É por esta razão que todos nascem endereçados ao lago de fogo, um lugar preparado originalmente para o diabo e seus anjos rebeldes, não para seres humanos.
Assim que Adão e Eva caíram em transgressão, Deus matou um animal inocente para cobri-los com sua pele. Você pode enxergar uma figura aí? Um ser inocente precisou morrer para cobrir o pecado do homem. Bem, aquilo que era apenas uma figura seria mais tarde uma realidade, quando o próprio Filho de Deus se fez homem e recebeu sobre si o juízo que era devido ao pecado. Não estou esperando que você aceite isto, pois não aceitará a menos que venha de cima.
O que é o evangelho que agora é anunciado? Seja bom? Seja religioso? Frequente uma igreja? Dê o seu dinheiro ao pregador? Não! O evangelho é a boa notícia de que Deus está oferecendo, de graça, a salvação a todo aquele que crer no Senhor Jesus como Salvador. É grátis, e se é graça não depende do que você faça. Deus sabe que eu e você somos pecadores e não somos capazes de fazer o bem. Então ele decidiu dar de graça a salvação, desde que eu a queira receber.
Tão logo você recebe o dom gratuito de Deus ele faz de você uma nova criatura, pronta para o céu. Talvez você agora consiga entender o que é o verdadeiro cristianismo. Os cristãos não vão para o céu por fazerem o bem, mas por causa do que Deus deu a eles por graça. Você merecia morrer e ser condenado para sempre, mas Cristo morreu em seu lugar para que, pela fé, você pudesse ser liberto do juízo de Deus.
Aqui surge outro ponto que é a segurança eterna daquele que crê. O que Deus dá ele não toma de volta. Portanto eu hoje estou salvo, não pelo que faço, mas pelo que Cristo fez. Só por isso eu tenho a salvação eterna. Ela não seria eterna se eu pudesse perdê-la, não é mesmo? Portanto, não importa o que eu faça, eu não vou perdê-la! Bem, muitos cristãos não sabem disso, por isso levam uma vida terrível de medo e incerteza. Eu não tenho medo de ir para o inferno porque agora isso é impossível de acontecer com que foi salvo por Jesus. Então, por que eu iria querer fazer a vontade de Deus (refiro-me, por exemplo, a não matar ou fazer qualquer coisa contrária à vontade dele)? Porque quero agradá-lo, e isto faz parte da nova natureza que ele me deu. Este é o verdadeiro cristianismo que você encontra na Bíblia.
Adam: Acho que você entendeu tudo errado. Veja que toda criança é ateia. Tão logo começam a falar elas já querem saber coisas como quem fez Deus, e seus pais não conseguem responder. Eles ensinam essa ‘bobagem’ que você acredita por serem incapazes de responder uma simples questão. Então quando aquela criança deveria estar aprendo lógica e como tomar decisões imparciais e de mente aberta elas são confundidas pelo que seus pais ensinam sobre o paradoxo do que chamam de ‘fé’. Eu mesmo não consigo entender a razão de alguém entender em algo que não faz qualquer sentido… Simplesmente porque seus pais e amigos dizem que você precisa ter ‘fé’. E se um adulto não entende isso, quanto mais uma criança! Os pais simplesmente confundem seus filhos, portanto se eles ficam confusos é por causa de seus pais.
Acho que você está partindo de sua própria experiência para criar uma regra. É claro que os pais fazem isso, independente do grupo de pessoas. Não são apenas os cristãos que fazem isso, mas é um comportamento universal. Este é o ponto para o qual quero chamar sua atenção. Existe um conhecimento universal de Deus, independentemente do modo como é expresso. Você pode lutar contra o cristianismo, mas você não pode negar que todos os povos têm a noção de um Criador. Você fala de lógica. Não seria lógico os pais deixarem de passar para os filhos esse conhecimento que eles naturalmente têm, uma vez que ele está tão intrinsecamente ligado à própria natureza humana. Afinal, Deus “pôs a eternidade no coração do homem” (Ec 3:11).
Sim, meus pais me ensinaram isso dentro do contexto da religião católica. Mesmo assim eu abandonei aquela religião quando tinha uns dezoito anos de idade. Não vi lógica nenhuma nela, como você poderia dizer. Então comecei minha busca que acabou me levando a desafiar a Deus para que ele se revelasse a mim caso existisse. Foi um processo doloroso. Não pense que os cristãos que você vê por aí nasceram assim porque seus pais injetaram cristianismo em suas mentes. O cristianismo precisa ser pessoal para ser real. Ninguém pode decidir pela salvação de outra pessoa. Cada um deve ter um encontro pessoal com Cristo, com o próprio Deus, caso contrário seu cristianismo será tão real quanto o de um papagaio que aprende a repetir versículos da Bíblia.
Eu estava na faculdade de arquitetura quando precisei me curvar à evidência de que existia um Deus e ele estava muito interessado em mim. Cristo havia morrido para me salvar, o que provavelmente não faz qualquer sentido para você por não conhecer a ele pessoalmente. Naquela ocasião eu havia comprado dois livros, um tentando provar que Deus não existe e outro sobre profecia bíblica. O primeiro apresentava lógica e razão, mas mesmo assim você precisa ter uma boa dose de fé para acreditar nos argumentos humanos. O outro trazia fatos como o acerto de 100% das profecias bíblicas que já se cumpriram e mostrando das chances de 100% das demais profecias também se cumprirem. Eu fui convencido por estes fatos (você não acha fatos razoáveis?) e não por uma decisão cega.
Antes que me pergunte, não sou mais católico e nem sequer pertenço a qualquer religião tradicional organizada. Eu simplesmente me reúno regularmente com um grupo de cristãos para ler a Bíblia, orar e adorar a Deus. Sem clérigos, denominação ou uma organização eclesiástica.
Adam: É triste que o mundo, ou a maioria como os cristãos, budistas, muçulmanos, etc., não sejam capazes de ir além de sua fé e encontrar a razão. De qualquer modo é um consolo saber que as religiões dos romanos, dos incas, dos índios e tantas outras desapareceram, e o cristianismo segue ladeira abaixo. Talvez sempre existam pessoas tolas o suficiente para seguirem uma religião, ou azaradas o suficiente para terem sido condicionadas por seus pais e serem incapazes de alcançar um patamar acima desse condicionamento, como eu e outros conseguimos.
Você quer meu aplauso?
Adam: Você escreveu que eu sei que existe um Deus, mas sinto ódio dele. Sua afirmação é tanto falsa quanto verdadeira. Não, eu não acredito nele, mas vamos por um momento, e para o bem da argumentação, imaginar que Deus exista. Então, sim, eu odeio um ser que vê sua própria criação sofrer de AIDS, câncer, miséria, guerras e solidão apenas para provar aos homens que eles não são dignos dele segundo sua própria opinião. Deus matou crianças. Você se lembra do dilúvio de 40 dias e noites? De Sodoma e Gomorra? Em ambos os casos todas as pessoas que morreram eram ‘ímpias’. Permita-me discordar. Em toda a minha vida eu jamais encontrei um bebê ou uma criança ‘ímpia’. E mais: eu nunca encontrei um animal ‘ímpio’ na floresta. Mesmo assim Deus os matou a todos nesses episódios. Sim, se Deus existisse eu o odiaria, pois se você ler a Bíblia com uma mente sem preconceitos verá que Deus é mau.
Existem coisas que acontecem em sua família que você nem perderia tempo explicando para mim, pois eu não entenderia. São assuntos pessoais e somente um membro da família seria capaz de entender. Não que sejam coisas que exijam um diferente grau de inteligência, mas é preciso ser membro da família, conhecer sua personalidade, para entender algumas coisas que são apenas para quem faz parte dela. O mesmo acontece com as coisas relacionadas a Deus. Há coisas sobre Deus que você não conseguirá entender a menos que se torne membro da família de Deus. Eu perderia um tempo imenso tentando explicar estas coisas a você e de nada adiantaria. Tudo o que você mencionou aconteceu porque o homem decidiu ser independente de Deus. Um ato de rebelião sempre traz consequências. O que mais você poderia esperar? Só para falar dos animais, sabia que eles sofrem por causa do homem? Eu sei que você tem uma Bíblia, leia Romanos 8:20-23. Não posso provar a você que Deus é real, isto é algo que você deverá descobrir de si mesmo.
Adam: Sim, você está certo, e eu tampouco posso provar que Deus não exista. É por isso que precisamos de provas para dar suporte a qualquer uma destas opiniões. O ateísmo diz que não existe nada ali, portanto assume a hipótese nula, que não depende de prova. O deísmo afirma que existe algo ali, o que exige uma prova. Até onde sei não há provas nem de um lado nem do outro. E mesmo você terá de admitir que para uma ou outra coisa, dependemos da razão.
Talvez eu não tenha usado as palavras corretamente. Eu não posso provar aquilo que você precisa descobrir por si mesmo. Mas eu posso mostrar a você fatos, se estiver interessado. O que dizer das evidências na própria profecia bíblica? Mas não irei fazê-lo, a menos que você tenha interesse em ouvir. Eu era cego e agora vejo.
Adam: Sem querer ofender, acho que podemos seguir conversando sem você citar hinos, ok?
Não citei um hino, mas João 9:25. Porém você mencionou um hino e provavelmente foi “Amazing Grace” (“Graça Sublime”), escrito por John Newton que morreu no início do século 19. Antes de se converter ele foi capitão de um navio negreiro e você talvez fique surpreso ao ler o que diz sua biografia: “Ele se lembrava do que sua mãe lhe ensinava, que se fizesse o que era correto Deus o amaria e cuidaria dele. Porém sua mãe morrera e já que seu pai havia se casado com outra mulher John sentiu que já não era bem vindo por seu pai, e muito menos por Deus. Ele então decidiu que Deus não existia” (“Slave Ship Captain – The Story of John Newton”, por Carolyn Scott, Lutterworth Press). Respeito sua posição, mas você está equivocado.
Adam: Ah… Você soa como um verdadeiro fundamentalista. Você tenta dar a impressão que conhece seu interlocutor, mas não conhece, pois você tem uma mente estreita.
Adam perdoe-me por ter de dizer isto: sim, eu conheço você porque eu já estive onde você está. Não tenho o objetivo de me gloriar dizendo isto, mas é apenas para você saber que temos os mesmos antecedentes neste sentido. Quer você goste ou não, pretendo orar por você.
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Se eu perder a fé perco a salvação?
Você ficou confuso por passagens que dizem de pessoas que perderam a fé ou negaram a fé, achando que isto acarretaria a perda também da salvação. Que a salvação é imperdível fica muito claro de diversas passagens. Mas você tem dúvidas quanto à salvação real de pessoas como “Himeneu e Alexandre”, que Paulo entregou “a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (1 Tm 1:20). O fato de eles terem sido entregues a Satanás foi por cometerem um “pecado para a morte” (1 Jo 5:16-17), isto é, digno de ser repreendido com a morte física, não com a condenação eterna. Nesta mesma condição estava o homem de 1 Coríntios 5 e provavelmente também Ananias e Safira, que foram mortos em Atos 5.
Outras passagens que falam de apostatar da fé podem também significar o desviar de uma mera profissão de fé, o que muitos incrédulos professam ter ao se declararem “cristãos”. Saia na rua de um país cristianizado como o Brasil e pergunte a cada pessoa que encontrar se ela é cristã ou crê em Jesus e a resposta será sim. Mas você verá claramente que muitas delas têm a fé morta de que fala Tiago, algo apenas superficial e exterior.
Algumas passagens podem confundir por pensarmos que estejam falando de posição quando estão falando de condição, e vice-versa. Ao crer em Jesus você é salvo eternamente, recebe o Espírito Santo que é a garantia dessa salvação e ele nunca mais sairá de você, pois a promessa do Senhor era que ficaria para sempre. Neste momento você é colocado numa posição inabalável, ressuscitado e assentado com Cristo nos céus.
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo… E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus… em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1:3; 2:6; 1:13-14).
Mas não é esta ainda a sua condição, por você ainda estar em um corpo de carne e sujeito a pecar. As exortações dirigidas a crentes que parecem exortá-los a “manter” sua salvação por algum esforço estão na verdade mostrando que devem expressar em sua condição a posição que já pertence a eles. É como falar ao milionário que faz bem de vez em quando ele tirar algum do bolso e gastar. Sua posição de milionário não significa que ele não venha a viver numa condição de sovina.
Quando Paulo escreve sobre o que os Coríntios eram antes de serem salvos, e em que foram transformados, não quis dizer que eles agora eram incapazes de cair nos mesmos pecados de antes. Por isso você encontrará crentes genuínos às vezes vivendo igual ou pior que incrédulos (como era o homem do capítulo 5 de 1 Coríntios), e o Senhor sabia muito bem que isto poderia acontecer, por isso está hoje no céu intercedendo por nós e todo ouvidos para o caso de pecarmos.
“Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus” (1 Co 6:10-11).
“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 Jo 1:8-10).
Outra verdade importante é a do novo nascimento, às vezes confundido com salvação. Embora o novo nascimento faça parte do pacote da salvação, uma pessoa nascida de novo ainda não está salva, mas estará, ou simultaneamente ao nascer de novo, ou tão logo a mensagem clara do evangelho seja aceita e crida.
“Aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus… Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3:3-5).
Ao contrário do que alguns pensam, essa “água” não é o batismo, mas a “água” da Palavra de Deus, mostrada em símbolo nas bodas de Caná no capítulo seguinte, quando ela é transformada em vinho (símbolo de sangue e alegria) pelo Senhor tão logo os vasos vazios são cheios dela.
“Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado… sendo de novo gerados [ou nascidos de novo], não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela Palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (1 Pe 1:18-23).
“Como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra” (Ef 5:25-26).
Cornélio era um gentio, um prosélito (convertido ao judaísmo), um homem nascido de novo pelo efeito que a Palavra de Deus (do Antigo Testamento) tinha causado em sua alma. Isto é, ele tinha vida proveniente de Deus para buscar a Deus (ou não buscaria, como aprendemos de Romanos 3:11) e sentir o peso de seus pecados. Por isso suas esmolas subiam em memória diante de Deus, mas ele precisava ouvir o evangelho da boca de um ser humano (no caso Pedro) e não de um anjo porque anjos não evangelizam. Por isso o anjo o encaminhou ao encontro no qual ele escutaria a mensagem do evangelho, que é “o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16).
“Havia em Cesareia um homem por nome Cornélio, centurião da coorte chamada italiana, piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a Deus. Este, quase à hora nona do dia, viu claramente numa visão um anjo de Deus, que se dirigia para ele e dizia: Cornélio. O qual, fixando os olhos nele, e muito atemorizado, disse: Que é, Senhor? E disselhe: As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus… manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro… Ele te dirá o que deves fazer.” (At 10:1-6).
Mas, apesar de ser um homem convertido, ele ainda não estava salvo, pois na presente dispensação a pessoa é salva pela fé em Cristo e em sua obra, que inclui sua morte e ressurreição, que é a tônica da mensagem do evangelho. A pregação de Pedro você encontra em Atos 10:34-43 e ela inclui estes elementos que são o evangelho ou boas novas de Deus:
“A palavra que [Deus] enviou aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (este é o Senhor de todos)… ao qual mataram, pendurando-o num madeiro… A este ressuscitou Deus ao terceiro dia… ele é o que por Deus foi constituído Juiz dos vivos e dos mortos… A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome” (At 10:34-43).
Foi somente neste ponto da pregação, depois de terem recebido a mensagem clara do evangelho que inclui a morte e ressurreição de Jesus, e a fé nele, que Cornélio e os que o acompanhavam verdadeiramente creram e receberam o Espírito Santo. Assim continua sendo com cada um que hoje se achega a Cristo: A Palavra de Deus injeta vida nele, que passa a sentir o peso de seus pecados e a ansiar por perdão, o Espírito Santo toca seu coração, ele crê no evangelho da salvação, é salvo e recebe o Espírito Santo. Não é exatamente uma ordem por etapas, mas inclui tudo o que ocorre numa alma, desde o novo nascimento à posição de salvo eternamente.
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A terra foi criada antes das estrelas?
Você diz que, segundo a ciência, não faz sentido Deus ter criado as estrelas e o sol só depois de ter criado a terra. Eu também acho que não faz sentido e principalmente porque a Bíblia não diz e Gênesis aquilo que muitas pessoas acham que diz. Repare que o texto bíblico em Gênesis 1 não diz que Deus tenha criado o sol e a lua e as estrelas no quarto dia, embora possa parecer assim. Se prestar atenção verá que não está dizendo que nesse dia Deus tenha criado os astros em si, mas a sua função de luminares ou luzeiros. A versão de J. N. Darby usa simplesmente “luzes” onde a Almeida Corrigida diz “luminares” e a Almeida Atualizada diz “luzeiros”.
(Gn 1:14-19) “E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos. E sejam para luminares na expansão dos céus, para iluminar a terra; e assim foi. E fez Deus os dois grandes luminares [luzes]: o luminar [a luz] maior para governar o dia, e o luminar [a luz] menor para governar a noite; e fez as estrelas. E Deus os pós na expansão dos céus para iluminar a terra, E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas; e viu Deus que era bom. E foi a tarde e a manhã, o dia quarto”.
Eu posso fabricar uma lâmpada num dia, mas só irei criar luz quando acendê-la. Apesar de as “estrelas” serem chamadas assim no versículo 16, a primeira vez que o sol é chamado por seu nome é em Gn 15:12 e a lua em Gn 37:9. Eu entendo que esses astros já existiam, mas não tinham a função que Deus dá a eles no quarto dia daquilo que costumamos chamar de “criação”, mas que é na verdade uma restauração da terra do caos em que estava, para ela poder ser habitada. Portanto no quarto dia o que Deus estava fazendo era estabelecer os astros como formas de governo do dia e da noite e das estações, uma vez que antes disso (Gn 1:5) ele já havia feito separação entre luz e trevas.
Se você entender que existe uma lacuna entre os versículos 1 e 2 de Gênesis 1 saberá que os astros, de um modo geral, devem ter sido criados “no princípio”, quando “Deus criou os céus e a terra” (Gn 1:1). Essa terra primordial pode ter sofrido um cataclismo que a deixou devastada, por isso é dito que “a terra era sem forma [tôhû] e vazia [bôhû]; e havia trevas sobre a face do abismo” (Gn 1:2). A palavra tôhû traduzida como “sem forma” na versão Almeida significa “desolada” no original e bôhû é vazia como um vácuo.
Que não era esse o estado original da terra criada por Deus nós o sabemos pelo que revela o profeta Isaías: “Porque assim diz o Senhor que tem criado os céus, o Deus que formou a terra, e a fez; ele a confirmou, não a criou vazia [bôhû ou “desolada”], mas a formou para que fosse habitada” (Is 45:18).
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Uns vão ao Pai e outros ao Filho?
Sua dúvida vem da passagem em João 6:37 onde Jesus diz que “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. Será que algumas pessoas vão a Deus Pai para serem salvas e outras vão ao Filho de Deus? Na verdade, nem uma coisa, nem outra, porque homem nenhum vai a Deus. E como poderia, se em Romanos 3:11 a afirmação categórica é que “Não há ninguém que busque a Deus”?
Portanto o que vemos neste versículo é como as coisas funcionam nos bastidores, apesar de alguns ainda acharem que se aproximaram de Deus de moto próprio, ou foram a Jesus, impelidos por sua própria vontade. A eleição é clara e cristalina nesta passagem, e a segurança eterna também.
Alguém poderia dizer que a primeira parte, “Todo o que o Pai me dá”, esteja falando de eleição, mas “virá a mim” esteja falando da responsabilidade humana, mas não vejo assim. Certamente Deus escolhe os que são salvos, e certamente o homem tem a responsabilidade de crer, mas esta passagem está falando de algo muito mais profundo nos desígnios de Deus, e aí certamente não sobra nada para o homem.
Portanto entenda a passagem toda como um processo em sequência: o Pai dá a Jesus e esse que o Pai deu vai a Jesus. O Senhor Jesus nada fazia em independência do Pai, portanto só é possível ir a ele se o Pai tiver lhe dado.
“Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6:38-40).
Se algum dia você achou que teve uma “grande sacada”, descobriu-se pecador e, de sua própria e espontânea vontade, achou que era a hora de crer em Jesus, sinto desapontá-lo mas nada disso partiu de você. Se tivesse partido você teria de que se gloriar e poderia até considerar-se um pouquinho melhor do que aqueles que nunca tiveram essa sua “grande sacada” de ir a Jesus.
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9).
Voltando ao nosso versículo, “Todo o que o Pai me dá”, nos fala da eleição de Deus. Se eu e você fomos salvos pela fé em Jesus isto só aconteceu porque o Pai nos deu ao Filho porque ele quis e porque nós estávamos entre os que ele “elegeu nele [em Cristo] antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, Para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado” (Ef 1:4-6).
Foi só por isso que pudemos ir ao Filho, “Todo o que o Pai me dá virá a mim”, não porque tivemos este desejo de nós mesmos, mas porque fomos dados pelo Pai, como se fôssemos um presente de Pai para Filho. O Filho alegremente recebe esses que o Pai lhe dá e nenhum deles se perde. “E o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”.
Portanto se um dia você foi a Jesus pode ter certeza de que não foi de moto próprio. Você foi dado a ele por Deus Pai e não tinha como escapar desse processo. Embora possamos não ver e nem entender isso, é assim que acontece nessa relação perfeita entre Pai e Filho.
Alguns irão contestar dizendo que não é justo o Pai ter dado só alguns e outros não, mas não devemos nos esquecer de que todos estavam igualmente perdidos. Deus não colocou ninguém na perdição, foi o homem que escolheu isso e se dependesse de nós ninguém iria querer sair desse estado. Espero que neste ponto não tenha alguém que também venha a reclamar dizendo: “É injusto o Pai ter me dado ao Filho sem me consultar. Eu não queria ser salvo! “.
Certamente para aquele que em sua natureza tem aversão a Deus e jamais teria escolhido essa opção, o céu seria um inferno. Mas Deus quer salvar, e tal qual o homem da parábola da grande ceia, “obriga”, por meio do seu Servo, o Espírito Santo, todos a entrarem. Mas no momento em que alguém vai ao Filho é porque Deus já “injetou” vida nessa pessoa (esse é o “novo nascimento”) através da água da Palavra e do Espírito e essa pessoa não tem mais escapatória. Ela irá desesperadamente querer ir a Jesus, e só quem já passou por isso entende.
Então vem a parte bendita das palavras de Jesus, contra a qual muitos lutam por não gostarem da ideia de que não têm parte em sua própria salvação ou na manutenção dela por boas obras, perseverança, etc.
“…E o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora… E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6:38-40).
Será que depois de uma afirmação tão clara e inequívoca quanto esta você teria a audácia de dizer que sua salvação dependeu de você? E que a manutenção de sua salvação depende de sua fidelidade, perseverança, etc.? Ou que, depois de ter sido salvo, ainda exista a possibilidade de você escapar por entre os dedos de Deus e se perder?
“Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um”. (Jo 10:26-30).
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O descanso de Hebreus 4 é para hoje?
A passagem deve ser vista no seu contexto, pois usa elementos do Antigo Testamento desde Gênesis para depois falar de nós que hoje cremos em Cristo. Mas de qualquer forma não está falando do descanso que o crente já tem agora que crê em Jesus, porque eu não chamaria de descanso, mas de tranquilidade por saber que está em paz dom Deus e, portanto, livre do juízo eterno. E a expressão “hoje” usada no texto é para mostrar a urgência de se tomar uma decisão para participar daquele repouso que é ainda futuro.
(Hb 4:4-11) “Porque em certo lugar disse assim do dia sétimo: E repousou Deus de todas as suas obras no sétimo dia. E outra vez neste lugar: Não entrarão no meu repouso. Visto, pois, que resta que alguns entrem nele, e que aqueles a quem primeiro foram pregadas as boas novas não entraram por causa da desobediência, Determina outra vez um certo dia, Hoje, dizendo por Davi, muito tempo depois, como está dito: Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações. Porque, se Josué lhes houvesse dado repouso, não falaria depois disso de outro dia. Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas. Procuremos, pois, entrar naquele repouso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência”.
Antes de sermos salvos nos empenhávamos em fazer boas obras na tentativa de sermos salvos, portanto estávamos sempre trabalhando, ainda que pelos motivos errados. Depois de salvos nos empenhamos em fazer “as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10). Nos dois casos trabalhamos sem descanso, apesar de o Senhor querer que às vezes repousemos também de seu trabalho, como fez com seus discípulos:
(Mc 6:31) “E ele lhes disse: Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto; porque eles não tinham tempo nem para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham”.
O descanso de que fala Hebreus é o descanso eterno e é algo futuro. Apesar de já termos parado de trabalhar para obter o favor de Deus (porque não é este o caminho), estamos agora trabalhando na seara de Deus, ou ao menos deveríamos pois é uma grande seara. “Grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara” (Lc 10:2). Um dia descansaremos também deste trabalho, e aí sim é o descanso de Deus no qual entraremos, e para cuja entrada é preciso tomar uma decisão “hoje”, como exorta Hebreus 4:7: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração”.
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Meu filho autista será salvo?
Você escreveu contando que tem um filho autista, com Síndrome de Asperger, e que apesar de ensinar a ele as coisas de Deus sua deficiência o impede de entender coisas abstratas, como Deus e salvação. Mesmo as coisas tangíveis são ensinadas a muito custo em função das limitações de sua mente. Tudo o que você deseja é a salvação de seu filho e tem orado por isso, sempre se perguntando: “Será que meu filho será salvo? “.
Eu sei que Deus é justo e não condenará injustamente alguém que não tenha capacidade intelectual para crer. Por outro lado, sabemos que a fé não é algo que dependa de inteligência ou capacidade humana, mas algo que vem de Deus. Quando vemos o que Deus diz em sua Palavra, ele o diz àqueles que têm condições mínimas de raciocinarem para então exercerem fé nele. Ele fala ao homem responsável e não a um de quem não esperaríamos qualquer responsabilidade, como é o caso de muitos que são mentalmente incapazes.
Até mesmo o Código Civil possui um mecanismo de interdição de incapazes, ou seja, pessoas que por doenças, drogas ou velhice já não possam responder por seus atos, o que é também a situação de crianças antes de atingirem a idade de compreenderem as coisas de Deus. Eu tenho um filho com paralisia cerebral, que também é cego, mudo e incapaz de andar, além de ter certo grau de autismo. Tenho confiança de que ele já tem um lugar garantido no céu pelo mesmo sacrifício de Cristo que me salvou, e creio que seu filho se enquadre numa condição assim. Porém, para responder sua pergunta pedi ajuda de um irmão em Cristo, o César Ferreira, que tem uma filhinha portadora de uma síndrome grave na área da cognição. Ele saberá responder com maior propriedade, pois tem pesquisado a fundo o assunto. Veja abaixo:
Prezado E.,
Acompanho você em sua dor, pois tenho uma filha com síndrome de Rett. No ano passado esta síndrome foi retirada da lista dos “Transtornos do Espectro Autista” do CID (Código Internacional de Doenças) juntamente com outras síndromes, com exceção da Síndrome de Asperger, que ficou sozinha com o autismo. Alguns pesquisadores dizem que essa mudança da CID é para efeito terapêutico e diagnóstico e de políticas públicas que separaram o Autismo e a Síndrome de Asperger das outras síndromes em geral. Já para efeito de pesquisa científica eles englobam tudo porque existem bases genéticas coincidentes e que em determinados momentos se cruzam. Na Síndrome de Asperger ainda não existe um marcador biológico, como existe em vários tipos de autismo, sendo o diagnóstico basicamente clínico, creio eu.
Na Síndrome de Rett, segundo a literatura médica e até onde ela pode chegar em suas pesquisas, minha filha sempre terá a idade mental de no máximo 2 anos. Porém, nos últimos anos, algumas tecnologias de comunicação alternativa, como o “My Tobii”, que é o controle do computador a partir do movimento dos olhos, terem quebrado alguns tabus nesse assunto da cognição. A Síndrome de Rett traz ainda outros, problemas motores graves, escoliose severa, convulsões, problemas cardíacos e respiratórios, etc. Para resumir, costumam dizer que é como se a criança nascesse com Autismo severo, Alzheimer e paralisia cerebral tudo junto.
Mas, como disse bem o Mario Persona, e repito com outras palavras: tanto faz se o homem é superinteligente ou completamente retardado. Em suma somos todos espiritualmente retardados e incapazes de crer e entender a fundo a graça de Deus. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2:8).
Outra coisa também aprendi, certa vez, com um irmão, Bill Warr, que já partiu para estar com o Senhor. Ele me ensinou que o efeito do sangue de Jesus Cristo tem um poder muito maior e abrangente do que costumamos imaginar e limitar. A título de exemplo, lá em Mateus, onde diz que “o Filho do homem veio salvar o que se tinha perdido” (Mt 18:11) o contexto parece se referir às crianças que não tem capacidade de ser responsabilizadas por seus atos e, em sua inocência, sendo completamente dependentes de seus pais. Repare o que dizem os versículos anteriores à passagem:
“E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles… aquele que se humilhar como uma criança… quem receber uma criança, tal como está… qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que creem em mim… vede não desprezeis qualquer destes pequeninos, porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus veem incessantemente a face de meu Pai celeste. Porque o Filho do Homem veio salvar o que se tinha perdido” (Mt 18:1-11).
Neste, se é que a medicina esteja certa de que minha filha sempre terá a idade mental de uma criança de 2 anos, mesmo quando ela estiver com 40 anos, creio que ela se enquadraria aqui. Salva pelo sangue de Jesus Cristo, mesmo sem entender nada. Que graça infinita e incompreensível!
Mas, prefiro não confiar na medicina, ao menos neste quesito da cognição de crianças com Síndrome de Rett, e depositar toda minha confiança em Deus que poderá dar entendimento à sua pequena mente e fazê-la crescer no conhecimento da graça de Deus e da Pessoa do Senhor Jesus Cristo. Por isso sempre que podemos, eu e minha esposa estudamos as escrituras em casa e falamos de Jesus pra ela sempre que surge a oportunidade. E também oramos a Deus que nos dê sabedoria para criá-la na doutrina e admoestação do Senhor.
“E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor” (Ef 6:4).
Quanto à Síndrome de Asperger, se não me engano parece que as dificuldades são no campo da comunicação com metáforas, ironias, simbolismos e de interação social. Pessoas que sofrem dessa síndrome pensam de forma muito concreta, têm um desenvolvimento muito maior do pensamento lógico e menor do pensamento abstrato e figurativo. Realmente é doloroso para nós, pais de crianças autistas, não podermos nos comunicar com nossos filhos com toda a carga emotiva natural que possuímos e que sinaliza o grau de progresso na educação deles. Não sei o porquê de estarmos nessa situação, mas sei que Deus é amor e que esse amor infinito foi ao ponto de entregar à morte seu único Filho por nós, que éramos inimigos seus.
Não sei a idade de seu filho. Minha filha tem 2 anos e 9 meses. Experimente conversar com alguns profissionais em educação que já trabalharam com crianças autistas. Eles geralmente conhecem atividades lúdicas voltadas à interação social e inteligência emocional. Talvez a partir disso surjam algumas ideias pra você adaptar e levar a mensagem do evangelho ao seu filho. Conversei ano passado com uma professora da Universidade Federal do Ceará (PHD em educação para pessoas especiais) que trabalha há 20 anos com autistas e ela me deu a dica para esta fase inicial da vida de minha filha. Já que sua síndrome causa um prejuízo leve na interação social, e grave na cognição e memória, sugeriu que eu procurasse ler muitas, mas muitas mesmo, estórias infantis para trabalhar sua imaginação, lógica, etc. No início fiquei descrente da proposta, mas temos notado um pequeno, mas animador, progresso na comunicação alternativa de nossa filha.
Todas as semanas ela tem passado também por cansativas sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Falta incluirmos em sua rotina as sessões de “Terapia ABA” com uma psicoterapeuta e também a escola. Informe-se com o pediatra de seu filho se seria interessante pra ele esta terapia. Procure evitar que seu filho se isole do contato social em razão das dificuldades que ele encontrará na interação com outros. Você precisará usar sua imaginação para criar algum interesse nele. Orarei por seu filho e por você para que Deus o guie em tudo na educação de seu filho. — Texto de Cesar Ferreira
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Quem morre no ato do adultério perde a salvação?
Sempre iremos julgar aquele que morreu em pecado por nos acharmos mais fiéis que nosso irmão. Mas quando chegarmos ao céu descobriremos que a glória de termos chegado lá “ilesos” não pode ser tributada em qualquer medida a nós, mas somente a DEUS. A religião sempre irá querer dar ao homem o mérito de sua salvação na tentativa de evitar perder membros de suas “igrejas”, mas DEUS não divide sua glória com ninguém. Se eu caio, é graças a mim; se eu não caio, é graças a Deus. Mas vamos ver o que a Palavra de Deus diz do plano que Deus tem para o salvo e de quem receberá o mérito por cada etapa cumprida:
Fiz aparecer o “Sujeito oculto” do versículo em Romanos 8:30 para ver se alguém se atreveria a interrompê-lo em seu trabalho e alegar que uma determinada etapa de sua salvação foi por seu próprio esforço, disciplina ou fidelidade:
“E aos que…
[DEUS] predestinou a estes também
[DEUS] chamou; e aos que
[DEUS] chamou a estes também
[DEUS] justificou; e aos que
[DEUS] justificou a estes também
[DEUS] glorificou”.
(Cl 1:22) “Agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis”.
(1 Ts 5:23) “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Mas vamos usar o exemplo prático que você deu, do Fulano que se dizia crente e morreu no ato do adultério. Perdeu sua salvação? Depende. Se para ele “ser crente” é filiar-se a uma religião evangélica e andar segundo a “lei” de sua “igreja” então nunca creu de fato e nem era salvo. Foi apenas alguém que se converteu de um modo de vida para outro, algo que até um ateu consegue, se seguir à risca os “Doze Passos” dos “Alcoólicos Anônimos”.
Mas digamos que realmente fosse alguém que “ouviu a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido” e tenha sido selado “com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1:13-14).
Se o Senhor não mentiu quando disse que o Espírito estaria “para sempre convosco” (Jo 14:16), e eu creio que ele estivesse dizendo a verdade, então esse que morreu no ato do adultério pode ter sido alcançado pelo juízo disciplinar de Deus por cometer um “pecado para morte” (1 Jo 5:16), como fizeram Ananias e Safira, e como fez o homem de 1 Coríntios 5 que Paulo ordenou fosse “entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus” (1 Co 5:5). O “pecado para morte” é para morte física, não para condenação eterna. É o adúltero no ato do adultério a quem Deus decide interromper sua loucura e levá-lo para o céu antes que faça mais bobagem. Esse será salvo como de mãos vazias, “esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo” (1 Co 6:15).
Mas por que usar o exemplo de alguém que “morre no ato do adultério”? Por que não o de alguém que abusa da macarronada e morre no ato da glutonaria? Ou que morre no ato da cobiça, por bater o carro enquanto olhava a moça seminua no outdoor? Ou no ato da mentira, ao terminar de declarar o imposto de renda? Ou no ato da impureza, enquanto namorava no carro escuro? Ou no ato da idolatria, ao cancelar o plano de saúde da família para comprar o carro dos sonhos? Ou da embriaguez, ao abusar da caipirinha do churrasco? Ou de qualquer ato “contrário à sã doutrina”? (1 Tm 1:10). Esses pecados sempre aparecem lado a lado com o adultério, mas costumamos fazer vista grossa para eles por serem socialmente aceitos.
Visto deste ângulo, entendemos o quanto dependemos da graça e misericórdia de Deus, e não de nossos vãos esforços, para chegarmos ao final da jornada. Os dois versículos que citou devem ser vistos em seu próprio contexto. O primeiro foi dito a Caim e fala do pecado que sempre estará à porta querendo nos “picar” como uma serpente. Sim, o crente deve viver atento e dependente do Senhor. Sobre os ombros do Pastor estamos a uma distância segura das cobras. “Se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar” (Gn 4:7).
O segundo versículo que você citou fala de carreira e prêmio (ou galardão) e é a isso que Paulo está se referindo, e não à salvação eterna. Ele sabia bem que jamais perderia a salvação, mas que poderia ser reprovado e perder o prêmio (ou recompensa ou galardão).
(1 Co 9:24-27) “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado”.
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Como entender o dispensacionalismo?
Você sabe o que é uma “conta conjunta”, não sabe? É quando duas pessoas possuem tudo em comum. O sentido de Efésios 3:6 é de uma conta conjunta, de uma união de comunhão total. Tomando a liberdade de transgredir as regras da nova ortografia, se separarmos o prefixo “co” para enfatizar a ideia que pretendo transmitir, a passagem poderia ser lida assim:
“Os gentios são co-herdeiros, e co-membros de um mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo pelo evangelho”.
O problema é que quando olhamos para as profecias do Antigo Testamento e de Apocalipse que falam do futuro vemos um Israel que é cabeça sobre as nações da terra (os gentios). Vemos os gentios indo atrás dos judeus pedindo que estes os ensinem a Palavra de Deus. Vemos também o que há de melhor na terra sendo dado a Israel e os gentios aparecendo como tributários levando presentes e ofertas a Jerusalém, como acontecia nos tempos do reino de Salomão. Como conciliar isso com a ideia de dois povos tendo uma conta conjunta, uma união com comunhão universal de bens, em condições iguais?
A única forma é entendendo que Efésios 3 está falando da Igreja como uma entidade distinta de Israel e gentios, apesar de ser formada por indivíduos convertidos de ambos os povos. Mas estes já não são considerados por Deus como judeus ou gentios, e sim um só corpo de Cristo. Enquanto isso Deus continua enxergando as duas outras entidades no mundo, judeus e gentios (ou gregos) separadamente, como fez no passado e fará no futuro, após o atual parêntese da Igreja no desenrolar da profecia.
(1 Co 10:32) “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus.”.
William MacDonald explica assim: “A era da Igreja é um parêntese nos desígnios de Deus que pode ser explicado da seguinte forma. Durante a maior parte do período de história registrado no Antigo Testamento Deus estava tratando principalmente com o povo judeu. Na verdade, de Gênesis 12 até Malaquias 4 a narrativa fica quase que exclusivamente centralizada em Abraão e seus descendentes.
Quando o Senhor Jesus veio ao mundo Ele foi rejeitado por Israel. Como consequência Deus deixou de lado aquela nação temporariamente como sendo o Seu povo escolhido na terra. Vivemos agora na era da Igreja, quando judeus e gentios estão em um mesmo nível diante de Deus. Após a Igreja estar completa e tiver sido levada para o lar celestial, Deus voltará a tratar com Israel como nação. Mais uma vez os ponteiros do relógio profético voltarão a se mover.
Portanto o atual período é uma espécie de parêntese entre os desígnios passados e futuros de Deus para com Israel. Trata-se de uma nova administração no programa divino, que é singular e separada de tudo o que veio antes ou virá depois.” [“Comentário Bíblico Popular” – W. MacDonald].
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Você pertence ao movimento da igreja orgânica simples?
Muitos que me escrevem confundem o fato de eu e outros irmãos estarmos congregados somente ao nome do Senhor com movimentos modernos conhecidos como “igreja simples”, “igreja orgânica”, “igreja nas casas” e outros grupos semelhantes. Quando falamos de estar congregados ao nome do Senhor em comunhão com irmãos que fazem o mesmo em todo o mundo não estamos falando desses conceitos, mas de voltar aos princípios estabelecidos na doutrina dos apóstolos.
Neste ponto você poderá dizer que a ideia de “igreja simples”, “igreja orgânica” ou “igrejas nas casas” também tem a mesma intenção, mas eu pergunto: “Será?”. Quando entro em um site que explica os princípios do movimento chamado de “igreja simples” vejo ali a ideia descrita como algo que “tem foco na comunhão e relacionamento real com os irmãos”. Embora os irmãos devam se relacionar e exercitar uma comunhão prática uns com os outros, não é esta a principal função da igreja de Deus na terra. Se fosse, a igreja seria algo que Deus criou para se ocupar consigo mesma, pois seu foco estaria no relacionamento com os irmãos.
Apesar de ser uma ideia bonita e cativante, a de cristãos vivendo juntos em harmonia como uma grande família, no fundo essa aplicação como o cerne ou motivo de cristãos estarem reunidos tem tanta consistência quanto dizer que uma noiva existe para passar o dia olhando sua própria imagem no espelho. O foco da igreja jamais está em si mesma, mas em Cristo. Deus entregou o seu Filho à morte para de seu lado rasgado tirar uma companheira para ele, portanto a origem, função e destino da igreja tem tudo a ver com Cristo, o Noivo, e não consigo mesma. Quando a igreja se ocupa com Cristo ela está cumprindo o seu propósito; quando ela se ocupa consigo mesma não está sendo muito diferente de uma comunidade de ajuda mútua.
A igreja está na terra em sua jornada aguardando a volta do Noivo para tirá-la daqui, portanto todos os seus sentimentos e todo o seu foco estão no céu onde Cristo está. Até mesmo suas atividades aqui têm esse caráter conectado ao céu. Em Atos 2:42 vemos que os primeiros cristãos “perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (At 2:42).
Primeiro, eles se ocupavam em aprender juntos a doutrina dos apóstolos por intermédio dos dons, e isto se traduz no ministério da Palavra. Toda a comunhão cristã deve estar baseada na doutrina dos apóstolos e não no “achismo” ou no “sentimentalismo”. Muitos cristãos se reúnem para buscarem uma experiência de satisfação, emoções e muitas outras coisas, mas nada disso será real a menos que tenha por origem e fundamento a doutrina dos apóstolos.
Em muitos lugares hoje você escuta muito de prática de vida cristã, psicologia cristã, como manter relacionamentos, criar filhos etc., e por mais que tudo isso possa ser bom para nosso andar aqui como indivíduos, a doutrina dos apóstolos vai muito além do que um discurso motivacional ou de dicas para o dia a dia. Não é à toa que muitos cristãos hoje vivem em busca da última grande sacada para ser feliz, algo não muito diferente do que fazem as pessoas que frequentam as seções de livros motivacionais das livrarias.
O versículo em Atos fala também de comunhão, e obviamente aí está incluída a comunhão uns com os outros que é bastante salutar, mas ela não fará sentido se não estiver fundamentada na doutrina dos apóstolos e não for voltada para Cristo. Darby traduz este versículo assim: “E perseveravam no ensino e comunhão dos apóstolos, no partir do pão e nas orações”, mostrando que essa comunhão era também com a doutrina, ou seja, um mesmo pensamento formado pelo que os apóstolos ensinaram.
O terceiro pilar sobre o qual a igreja se apoia em suas práticas é o “partir do pão”, e aí o erro no site que fala de “igreja simples” fica notório. Ali eles interpretam esse “partir do pão” simplesmente como uma refeição conjunta, como a que fazemos em família. É claro que a expressão “partir do pão” também aparece nas escrituras com este sentido, mas não é o caso aqui, especialmente quando analisamos o contexto.
Por exemplo, podemos entender que em Lucas 24:28-31, quando os dois discípulos se encontram com o Senhor, o partir do pão ali significa simplesmente que se sentaram para comer junto com o Senhor. Não era a ceia do Senhor; não era a expressão de comunhão com sua morte e nem a celebração da memória do corpo e do sangue de Cristo, como fazemos no primeiro dia da semana. Era sim uma refeição em comum.
Mas aqui em Atos 2 nós temos as duas coisas. Temos a refeição em comum no versículo 46, onde diz que eles “perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração” (At 2:46), pois é dessa vida em comum que o contexto fala, mas no versículo 42 temos a ceia do Senhor conectada às outras práticas, como doutrina dos apóstolos, comunhão e orações.
Como distinguir se ambas passagens e também outras usam a expressão “partir o pão”? Veja em que contexto está inserida a primeira passagem que fala de “partir o pão”:
(At 2:41-42) “De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas; E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”.
Veja que a passagem nos fala de uma atividade corporativa como assembleia ou igreja, mesmo que eles não entendessem perfeitamente o que estavam vivendo, já que a verdade da igreja seria revelada mais tarde a Paulo e aos outros apóstolos. Mas eles certamente já obedeciam a ordenança do Senhor dada aos apóstolos na última ceia para que partissem o pão em memória dele. A Paulo seria dado ratificar a prática por meio de uma revelação direta do Senhor:
(1 Co 11:23-26) “Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha”.
Não faria sentido dizer em Atos 2:41-42 que “perseveravam… no partir do pão” se a expressão indicasse meramente a alimentação diária. Interpretar assim seria como dizer que “perseveravam em tomar café da manhã, almoçar e jantar”, o que não teria qualquer importância e nem conexão com “doutrina dos apóstolos”, “comunhão” e “orações”.
As atividades de Atos 2:42, quando vistas de forma ampla, também serão encontradas de forma mais detalhada nas epístolas. Por exemplo, o perseverar na doutrina (1 Co 14:26-40), na comunhão (pode ser o caso de Jd 1:12 ou 1 Co 11:21, em ambos os casos apontando distorções), no partir do pão (a ceia do Senhor, 1 Co 11:23-26) e orações (1 Co 14:14-17).
Mas ao continuarmos a leitura de Atos 2 chegaremos ao versículo 46, quando aí sim fala dos costumes da vida diária, onde o “partir o pão” refere-se à alimentação regular e diária. Aqui poderíamos parafrasear como “tomando café da manhã, almoçando e jantando em casa, comiam juntos…”.
(At 2:46) “E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração”.
Outras passagens que falam do partir do pão também podem ser interpretadas segundo o contexto de cada uma. A que você encontra em Atos 20:7-11, quando se congregaram com o objetivo específico de partir o pão, está falando da ceia do Senhor. Outra em Atos 27:35 está falando de uma refeição em comum, já que ninguém iria achar que pagãos incrédulos seriam admitidos à ceia do Senhor.
Sugiro que leia alguns textos que escrevi sobre o assunto e que mostram que estar congregado ao nome do Senhor do modo como muitos irmãos em todo o mundo fazem não é o mesmo que os movimentos modernos de “igrejas nas casas”, “igreja simples” ou “comunidades”. Numa época em que se fala muito em “redes sociais”, “conectividade”, etc., é fácil sermos levados por uma ideia assim de uma rede de cristãos que se reúnem simplesmente para terem comunhão uns com os outros. A pergunta é: Cristo está no centro? Sua autoridade é exercida ali? É o Espírito Santo quem dirige? Ou é apenas uma reunião informal que procura dar oportunidade a todos de se expressarem?
Todos estes movimentos podem ter práticas salutares de comunhão entre irmãos, mas uma simples passada de olhos permite ver que o ministério de Paulo, que são as práticas dadas à igreja, foi deixado de lado como faz a cristandade denominacional como um todo. Nessas reuniões vemos elementos importados do judaísmo, como cantores, bandas e instrumentos musicais, mulheres falando, e em alguns casos homens claramente ocupando a posição de líderes. Alguns desses grupos não passam de satélites de denominações, uma prática comum há muitos anos quando igrejas denominacionais criavam “comunidades” para abrigar nelas membros que não se sentissem bem no ambiente tradicional da “igreja” institucional.
Mas o que me parece muito claro ser um erro nesse movimento todo é seu caráter independente. Não existe independência na Palavra de Deus e quando vemos um grupo de cristãos vivendo de forma independente e autônoma isso certamente não tem paralelo no que encontramos na igreja de Atos e das epístolas, cujas assembleias eram interdependentes. Se eu e outros irmãos entendemos que devemos nos apartar dos erros da cristandade para estarmos congregados ao nome do Senhor, seria um erro iniciar uma reunião por nós mesmos e de forma independente sabendo que em todo o mundo já existiriam muitos irmãos e assembleias congregadas sobre os fundamentos da doutrina dos apóstolos e em comunhão umas com as outras. Certamente isto seria visto como “começar uma nova igreja”, o que não tem fundamento bíblico.
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Fazer seguro é falta de fé?
Sempre que alguém me diz que fazer seguro é falta de fé fico com vontade de perguntar: “Seu computador tem antivírus? Sua casa tem fechadura nas portas? Você tranca o carro na rua? Se for paraquedista, salta sem o reserva? Tem no armário algodão, esparadrapo, mertiolate, aspirinas, antiácidos, etc.?”. Faria sentido perguntar, porque todas essas coisas são “seguros” que nos custam algo.
Apesar de ser possível instalar antivírus grátis, eles irão custar em desempenho da máquina, portanto pessoas “de fé” deveriam navegar sem antivírus. E mais: deveriam vender o pneu estepe do carro e usar o dinheiro para algo útil. Afinal, para uma pessoa de fé o computador nunca irá pegar vírus, as portas não precisariam de fechaduras, o carro poderia ficar aberto na rua mais escura e seria desperdício ter remédios em casa ou levar um paraquedas de reserva. A fé seria suficiente para evitar todos os males. Mas sabemos que a coisa não é tão simples assim.
Se alguém acredita realmente que Deus irá guardá-lo em todas as situações acima isso será um exercício da pessoa com Deus. Não caberá a mim julgar se ela tem ou não fé suficiente ou se Deus irá ou não guardá-la nessas circunstâncias. Devemos nos lembrar sempre do que Paulo diz em Romanos 14:5: “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente… Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova”.
Portanto, se alguém acredita que não deve fazer seguro do carro ou de saúde, então esse será um exercício dessa pessoa para com o Senhor e não caberá a mim dizer se está certa ou errada, desde que não venha depois pedir meu carro emprestado em caso de roubo, ou dinheiro em caso de doença.
Mas vamos à sua dúvida que surgiu depois de ler a passagem em Esdras 8:21-32 na qual ele relata que teve vergonha de pedir proteção ao exército do rei gentio para a viagem que pretendiam fazer a Jerusalém. Segundo Esdras, seria incoerente fazer tal pedido depois de ter afirmado que “A mão do nosso Deus é sobre todos os que o buscam, para o bem deles; mas o seu poder e a sua ira contra todos os que o deixam”. Seria isto um argumento contra fazermos seguro de vida, de saúde, do carro, da casa, de viagem etc.? Vamos ler a passagem toda:
“Então apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos diante da face de nosso Deus, para lhe pedirmos caminho seguro para nós, para nossos filhos e para todos os nossos bens. Porque tive vergonha de pedir ao rei, exército e cavaleiros para nos defenderem do inimigo pelo caminho; porquanto tínhamos falado ao rei, dizendo: A mão do nosso Deus é sobre todos os que o buscam, para o bem deles; mas o seu poder e a sua ira contra todos os que o deixam. Nós, pois, jejuamos, e pedimos isto ao nosso Deus, e moveu-se pelas nossas orações. Então separei doze dos chefes dos sacerdotes: Serebias, Hasabias, e com eles dez dos seus irmãos. E pesei-lhes a prata, o ouro e os vasos; que eram a oferta para a casa de nosso Deus, que ofereceram o rei, os seus conselheiros, os seus príncipes e todo o Israel que ali se achou. E pesei em suas mãos seiscentos e cinquenta talentos de prata, e em vasos de prata cem talentos, e cem talentos de ouro, E vinte bacias de ouro, de mil dracmas, e dois vasos de bom metal lustroso, tão precioso como ouro” (Ed 8:21-32).
Considerando que eles iriam viajar com um carregamento de seiscentos e cinquenta talentos de prata, mais cem talentos de prata na forma de vasos além de cem talentos de ouro, fora as vinte bacias de ouro, mil dracmas e dois vasos de um metal valioso, certamente seria sensato fazer tal viagem em um carro forte, se tal coisa existisse na época. Digo isto porque um talento equivaleria a 34 quilos, e multiplicando teríamos ali um carregamento de umas 25 toneladas de prata e mais três toneladas e meia de ouro.
Se Esdras agiu como agiu podemos ter certeza de que Deus assim quis que fizesse. Não se tratava de uma viagem de Esdras e sua família à praia, mas de todo um mover de Deus no sentido de restaurar o testemunho que estava em ruína em Jerusalém. Lendo a partir do capítulo um de Esdras você percebe o quanto estava envolvido naquela empreitada. Deus estava movendo não apenas Esdras, mas todo o remanescente judeu, seus profetas, sacerdotes e até mesmo reis e autoridades entre os pagãos. Daquela situação bem podia ser dito: “Porque ELE completará a obra” (Rm 9:28).
Sempre que usamos de uma passagem que foi o exercício individual de alguém na Bíblia para transformá-la em doutrina é preciso pensar nas implicações disso. E uma das implicações de dizer que é falta de fé fazer seguros, com base na experiência específica de Esdras e da obra que Deus estava para fazer por intermédio dele, é dizer que todos os cristãos que fazem seguro são pessoas de pouca fé.
Em minha opinião dizer que alguém que faz seguro não tem fé é o mesmo que dizer que todos os que instalam antivírus no computador, verificam a pressão dos pneus antes de viajar, ou que saem de casa levando um guarda-chuva, ou que trancam a porta antes de dormir, ou colocam o carro no estacionamento, ou colocam cinto de segurança e a criança na cadeirinha do carro, ou até instalam um guarda-corpo na varanda, são pessoas que não confiam que Deus seja capaz de guardá-las do perigo. Transfira o conceito para a segurança no trabalho e teríamos cristãos abrindo mão dos EPI (Equipamentos de Proteção Individual) por acharem que aquilo só deve ser usado por incrédulos ou crentes de pouca fé.
Uma vez eu tive a mesma dúvida que você e um irmão leu uma passagem em Salmos que estabelece um princípio valioso para o cristão. Basicamente é o mesmo princípio que o Senhor menciona ao dizer que não devemos tentar a Deus. Ou seja, se eu sei que algum mal ou incidente inesperado pode acontecer, se tenho os recursos necessários para me precaver contra ele, e mesmo assim insisto em desafiar as probabilidades, isso não pode ser considerado fé, mas sim indiferença para com o perigo. Se Deus me deu um carro e sei que existe a possibilidade de um pneu furar, vou viajar com estepe. Se existe a possibilidade de perdê-lo por roubo ou acidente e tenho recursos também vindos de Deus para segurá-lo, por que não fazê-lo? Vamos ao versículo que aquele irmão me indicou:
(Sl 127:1) “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela”.
Quem edifica a casa é o Senhor, mas alguém precisa pegar na massa. Quem guarda a cidade é o Senhor, mas mesmo assim há uma sentinela. Portanto não há nada de errado em um cristão fazer seguro do carro ou de saúde. E se sofrer um acidente ou ser roubado isso nem sempre significa que lhe faltou fé, mas pode ser o Senhor querendo ensinar algo a ele, à outra vítima ou ao assaltante. Devemos ser simples nessas coisas. Lembre-se de que José fez, por assim dizer, um “plano de previdência” para sua família ao criar uma “poupança” de grãos durante os sete anos de vacas gordas para salvar seu povo quando chegassem os sete anos de vacas magras.
(Gn 41:33-36) “Portanto, Faraó previna-se agora de um homem entendido e sábio, e o ponha sobre a terra do Egito. Faça isso Faraó e ponha governadores sobre a terra, e tome a quinta parte da terra do Egito nos sete anos de fartura, E ajuntem toda a comida destes bons anos, que vêm, e amontoem o trigo debaixo da mão de Faraó, para mantimento nas cidades, e o guardem. Assim será o mantimento para provimento da terra, para os sete anos de fome, que haverá na terra do Egito; para que a terra não pereça de fome”.
Existem outros aspectos que devem ser considerados em relação a seguros. Ao licenciar seu carro você automaticamente é obrigado a fazer um seguro. Ao colocar dinheiro no banco existe um seguro envolvido nisso e está sendo cobrado de você. Ao viajar de trem, ônibus ou avião existe embutido na passagem um seguro. E você não conseguirá entrar na Europa se não der provas de ter um seguro de saúde. Portanto há ocasiões em que você será obrigado a fazer um seguro e isso de modo algum significará que você não tenha fé em Deus. Como também não significa falta de fé instalar antivírus, trancar portas e janelas ou circular por aí com um pneu de reserva.
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Jesus levou nossas enfermidades na cruz?
Agradeço por seu cuidado em escanear algumas páginas do livro de T. J. McCrossan assinalando as contradições entre o que aquele autor escreveu e o que você leu em meu texto “Cristo levou embora nossas enfermidades? “ T. J. McCrossan, que viveu no início do século 20, advogava que teria sido na cruz, e não em seu ministério em vida, que Cristo teria levado nossas enfermidades. Os versículos que ele usava como base para sua teoria eram “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades” (Is 53:4) e “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças” (Mt 8:17).
Tenho absoluta certeza de que ele estava completamente equivocado, não apenas neste ponto como em outros, como é o caso desta “pérola” tirada do mesmo livro: “Por que muitos verdadeiros santos de Deus não são curados? Muitos santos não são curados por causa do falso ensino. Esses santos não podem orar a oração de fé para serem curados, e o que é pior, eles creem que é da vontade de Deus que fiquem doentes. Ao mesmo tempo eles podem, sem dor na consciência, mandar chamar um médico e usam de todos os remédios humanos possíveis para se livrarem daquilo que Deus teria enviado a eles para seu próprio bem. A natureza humana é realmente engraçada”.
Não acredito que ele tenha mantido o mesmo tom de sarcasmo ao se encontrar com Deus. Sim, porque T. J. McCrossan certamente ficou doente e morreu, como ficam doentes e morrem todas as pessoas depois de certa idade. Será que não orou “a oração de fé para ser curado”? Provavelmente ele nunca prestou atenção nas passagens que falam de santos enfermos, como Paulo, Timóteo e Trófimo, que não foram milagrosamente curados e até buscavam a ajuda de médicos e medicamentos para suas dificuldades físicas. Será que Paulo e os outros desconheciam a “oração de fé”?
(2 Tm 4:20) “…deixei Trófimo doente em Mileto”. (Por que Paulo não curou Trófimo?).
(1 Tm 5:23) “Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades”. (Por que Paulo não curou Timóteo?).
No texto que me enviou o autor faz piruetas com os tempos dos verbos gregos para explicar que Mateus 8:17 não estaria se cumprindo no momento em que o Evangelho dizia estar se cumprindo, mas que ainda se cumpriria na cruz. Não entendo grego, mas o texto para mim é claro que quando Mateus revela que a profecia estava se cumprindo ali naquele momento é porque era ali mesmo o cumprimento da profecia, e não na cruz. Ao curar alguém, Cristo tomava a enfermidade da pessoa e podia fazer isso por causa de sua natureza imaculada. Ele tocava o leproso e não ficava impuro. Em vida ele levou as enfermidades de quem curou; na morte na cruz levou os pecados (não as enfermidades) dos que nele creem.
O livro que me enviou foi publicado nos anos 30 e depois republicado por Kenneth Hagin, um pregador pentecostal conhecido por suas heresias e que escreveu: “Uma pessoa que busque cura deveria olhar para a Palavra de Deus e não para seus sintomas. Ela deveria dizer: sei que estou curada, porque a Palavra diz que pelas suas pisaduras eu fui curada”. O livro de McCrossan é apenas mais uma das obras que deram sustentação ao movimento pentecostal que tanto dano trouxe ao testemunho cristão.
Kenneth Hagin, que promovia as ideias de McCrossan, também se inspirava em E. W. Kennyon, que escreveu: “Sei que estou curado porque o Senhor me disse que estou curado, e não me importo com os sintomas que possam estar em meu corpo… “Todas as doenças foram liquidadas por Deus no calvário, essa questão foi encerrada”. Kennyon morreria de câncer, a mesma doença que também matou Kenneth Hagin, que escreveu: “Não é a vontade de Deus que pessoa alguma fique doente… É sempre da vontade de Deus que cada crente seja curado fisicamente de qualquer doença ou enfermidade”.
Outros que creram no mesmo equívoco de achar que na cruz Jesus teria levado nossas enfermidades foram também surpreendidos pela doença e pela morte. T. L. Osborne escreveu: “Cristãos nunca devem estar doentes… essa sempre é a vontade de Deus, curá-los de uma vez por todas”. Sua esposa Dayse Osborn morreu de câncer depois de se declarar curada diante de sua congregação. Muitos pregadores brasileiros seguem a mesma linha do erro, como Edir Macedo, Valdemiro Santiago e R.R. Soares, que escreveu: “Minha vida se divide em antes e depois de eu ter lido o livro, ‘O Nome de Jesus’, de Kenneth Hagin”. Ainda que a “oração de fé” desses pregadores que morreram doentes não tenha servido completamente para que permanecessem vivos, suas pregações de prosperidade certamente os tornaram prósperos graças aos milhares de doentes desesperados que eles enganaram com uma falsa ilusão de cura baseada numa interpretação errada das escrituras.
Mas voltando ao livro que me enviou, quando um autor começa a viajar no grego e hebraico como se soubesse de algo que pobres mortais não sabem eu fico com um pé atrás para não ser levado pelo argumento. E neste caso nem há necessidade de se buscar no grego, pois basta comparar Mateus 8:17 com outras instâncias semelhantes para ver que sempre que é usada a expressão “para que se cumprissem as escrituras” ela está diretamente relacionada ao acontecimento no momento da ação. Seria estranho que apenas a passagem que fala de levar as enfermidades estivesse relacionada a um evento futuro, quando todas as outras tem relação com o que está acontecendo naquele exato momento. Aqui vão alguns exemplos:
(Mt 1:22) “Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz; eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco”.
(Mt 2:15) “E esteve lá, até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta, que diz: do Egito chamei o meu Filho”.
(Mt 2:23) “E chegou, e habitou numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: ele será chamado Nazareno”.
(Mt 4:13-16) “E, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, cidade marítima, nos confins de Zebulom e Naftali; para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías, que diz: a terra de Zebulom, e a terra de Naftali, junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galileia das nações; o povo, que estava assentado em trevas, viu uma grande luz; e, aos que estavam assentados na região e sombra da morte, a luz raiou”.
(Mt 8:16-17) “E, chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele com a sua palavra expulsou deles os espíritos, e curou todos os que estavam enfermos; Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças”.
(Mt 12:15-22) “Jesus, sabendo isso, retirou-se dali, e acompanharam-no grandes multidões, e ele curou a todas. E recomendava-lhes rigorosamente que o não descobrissem, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: eis aqui o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz; porei sobre ele o meu espírito, e anunciará aos gentios o juízo. Não contenderá, nem clamará, nem alguém ouvirá pelas ruas a sua voz; não esmagará a cana quebrada, e não apagará o morrão que fumega, até que faça triunfar o juízo; e no seu nome os gentios esperarão. Trouxeram-lhe, então, um endemoninhado cego e mudo; e, de tal modo o curou, que o cego e mudo falava e via”.
(Mt 13:34-35) “Tudo isto disse Jesus, por parábolas à multidão, e nada lhes falava sem parábolas; para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta, que disse: abrirei em parábolas a minha boca; publicarei coisas ocultas desde a fundação do mundo”.
(Mt 21:2-5) “Ide à aldeia que está defronte de vós, e logo encontrareis uma jumenta presa, e um jumentinho com ela; desprendei-a, e trazei-mos. E, se alguém vos disser alguma coisa, direis que o Senhor os há de mister; e logo os enviará. Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta, que diz: dizei à filha de Sião: eis que o teu Rei aí te vem, manso, e assentado sobre uma jumenta, e sobre um jumentinho, filho de animal de carga”.
(Mt 27:35) “E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando sortes, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: repartiram entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançaram sortes”.
(Jo 12:37-38) “E, ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele; para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?”
(Jo 17:12) “Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse”.
(Jo 18:8-9) “Jesus respondeu: já vos disse que sou eu; se, pois, me buscais a mim, deixai ir estes; para que se cumprisse a palavra que tinha dito: dos que me deste nenhum deles perdi”.
(Jo 19:24) “Disseram, pois, uns aos outros: não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver de quem será. Para que se cumprisse a Escritura que diz: repartiram entre si as minhas vestes, E sobre a minha vestidura lançaram sortes”.
(Jo 19:28) “Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: tenho sede”.
(Jo 19:36) “Porque isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: nenhum dos seus ossos será quebrado”.
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Deus controla o clima?
Apesar de o universo funcionar como um relógio ao qual já foi dada corda para que suas engrenagens se movam, o Criador continua no controle de tudo, “sustentando todas as coisas com a Palavra do seu poder” e intervindo sempre que acha necessário. Isto ele faz por meio de diferentes eventos, inclusive eventos climáticos. Mas nem sempre podemos “culpar” a Deus pelas instabilidades, pois vivemos em um mundo cujas características iniciais foram “detonadas” pelo pecado, e isto inclui as instabilidades climáticas. Além disso, quem ousaria culpar a Deus que enviou o seu Filho ao mundo, considerando o tratamento que demos a ele quando esteve aqui? Deus hoje poderia muito bem nos dizer: “De quê vocês estão reclamando?! Eu enviei o meu Filho e vocês preferiram Barrabás, um ladrão e homicida!”.
As instabilidades climáticas destrutivas nem sempre existiram, mas são consequência do pecado, primeiro dos anjos, que transformaram o universo e a terra em uma coisa “sem forma e vazia” e com “trevas sobre a face do abismo”. Porém Deus restaurou este planeta para torná-lo habitável para o homem que iria criar (é dessa restauração de que fala Gênesis 1 a partir do versículo 3), mas uma nova degradação seria causada pela queda do homem.
Não só a morte espiritual (e física) resultaram da entrada do pecado no mundo através do homem, como também doenças e dores, como as de parto que não faziam parte do plano original de Deus. Toda a instabilidade na agricultura, com suas pragas e ervas daninhas descontroladas, saiu daí.
(Rm 5:12) “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram”.
(Gn 3:16-19) “E à mulher disse: multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará. E a Adão disse: porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás”.
É curioso observar que a chuva não existia antes do dilúvio, mas a terra era regada por neblina, o que obviamente não causa enxurradas, erosão, enchentes, etc.
(Gn 2:5-6) “E toda a planta do campo que ainda não estava na terra, e toda a erva do campo que ainda não brotava; porque ainda o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, e não havia homem para lavrar a terra. Um vapor, porém, subia da terra, e regava toda a face da terra”.
Alguém poderá alegar que os registros geológicos de erosão e sedimentos mostram o contrário, mas a Bíblia não revela como era o mundo antes dos versículos 1 e 2 de Gênesis e quais os cataclismos causados pela rebelião angélica no universo. Porém a Bíblia diz sim que não chovia entre a restauração da terra feita nos seis dias e o dilúvio. Este também foi responsável por grandes cataclismos e mudanças geológicas, considerando que a crosta terrestre se rompeu para dar vazão aos gigantescos reservatórios de água presa em seu interior.
(Gn 7:11-12) “No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês, naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram, e houve chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites”.
O mais interessante da atual onda de calor (e da onda de frio no hemisfério norte) de 2013-2014 é que os seres humanos nada podem fazer para mudar isso. Podem remediar aqui e ali, mas se essas coisas passarem dos limites, a humanidade sofrerá grandes danos, como já sofreu no passado quando secas, enchentes, frios intensos e outros fenômenos climáticos dizimaram populações inteiras. Hoje a tecnologia permite ver ao vivo e em cores estragos causados por enchentes e tsunamis destruindo cidades inteiras e matando centenas de milhares de pessoas em poucas horas, mas os registros históricos mostram estragos ainda maiores causados pela seca, pois seu impacto não é imediato, mas estende-se ao longo de meses e anos.
Na Bíblia há várias passagens que mostram como Deus intervém no clima para cumprir seus desígnios. Esta é apenas uma das muitas maneiras (a mais extrema é a morte) de Deus revelar a fragilidade e incapacidade humana de sobreviver por seus próprios meios, considerando que é ele quem “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5:45). Veja a seguir algumas intervenções drásticas de Deus no clima, às vezes para punir os seres humanos, às vezes para recompensá-los ou simplesmente revelar o quanto dependem dele.
Dilúvio – (Gn 6:5-9:19) “E houve chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites… E expirou toda a carne que se movia sobre a terra, tanto de ave como de gado e de feras, e de todo o réptil que se arrasta sobre a terra, e todo o homem. Tudo o que tinha fôlego de espírito de vida em suas narinas, tudo o que havia em terra seca, morreu”.
Saraiva de fogo – (Êx 9:23-29) “E Moisés estendeu a sua vara para o céu, e o Senhor deu trovões e saraiva, e fogo corria pela terra; e o Senhor fez chover saraiva sobre a terra do Egito”.
Chuva de pedras – (Js 10:11) “E sucedeu que fugindo eles de diante de Israel, à descida de Bete-Horom, o Senhor lançou sobre eles, do céu, grandes pedras, até Azeca, e morreram; e foram muitos mais os que morreram das pedras da saraiva do que os que os filhos de Israel mataram à espada”.
Tempestade elétrica – (1 Sm 7:10) “E sucedeu que, estando Samuel sacrificando o holocausto, os filisteus chegaram à peleja contra Israel; e trovejou o Senhor aquele dia com grande estrondo sobre os filisteus, e os confundiu de tal modo que foram derrotados diante dos filhos de Israel”.
Tempestades e secas – (Na 1:30) “O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em poder, e ao culpado não tem por inocente; o Senhor tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés”.
Seca extrema – (Lv 26:19-20) “Porque quebrarei a soberba da vossa força; e farei que os vossos céus sejam como ferro e a vossa terra como cobre. E em vão se gastará a vossa força; a vossa terra não dará a sua colheita, e as árvores da terra não darão o seu fruto”.
Chuva revigorante – (Dt 11:13-15) “Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a seródia, para que recolhais o vosso grão, e o vosso mosto e o vosso azeite.”
Seca como castigo – (Dt 28:24) “O Senhor dará por chuva sobre a tua terra, pó e poeira; dos céus descerá sobre ti, até que pereças”.
Chuvas e trovoadas – (1 Sm 12:18) “Então invocou Samuel ao Senhor, e o Senhor deu trovões e chuva naquele dia”.
Seca e carestia – (2 Sm 21:1) “E houve nos dias de Davi uma fome de três anos consecutivos; e Davi consultou ao Senhor, e o Senhor lhe disse: É por causa de Saul e da sua casa sanguinária, porque matou os gibeonitas”.
Tempo bom como recompensa – (1 Rs 8:35-36) “Quando os céus se fechar, e não houver chuva, por terem pecado contra ti, e orarem neste lugar, e confessarem o teu nome, e se converterem dos seus pecados, havendo-os tu afligido, ouve tu então nos céus, e perdoa o pecado de teus servos e do teu povo Israel, ensinando-lhes o bom caminho em que andem, e dá chuva na tua terra que deste ao teu povo em herança”.
Controle das chuvas – (Tg 5:17-18) “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto. (A história toda está em 1 Reis 16:30-18:45).
Chuva seletiva – (Am 4:7) “Além disso, retive de vós a chuva quando ainda faltava três meses para a ceifa; e fiz que chovesse sobre uma cidade, e não chovesse sobre a outra cidade; sobre um campo choveu, mas o outro, sobre o qual não choveu, secou-se”.
Tempestade no mar – (Jn 1:4, 10-15) “Mas o Senhor mandou ao mar um grande vento, e fez-se no mar uma forte tempestade, e o navio estava a ponto de quebrar-se.”
Saraiva – (Ap 16:21) “E sobre os homens caiu do céu uma grande saraiva, pedras do peso de um talento; e os homens blasfemaram de Deus por causa da praga da saraiva; porque a sua praga era mui grande”.
Não podemos nos esquecer de outro evento bem radical, que foi o sol ter parado na abóbada celeste. Não me pergunte como Deus fez, mas se ele fez não há razão para duvidarmos. Afinal, é o próprio Senhor quem sustenta todas as coisas criadas pela Palavra do seu poder.
(Js 10:12-14) “Então Josué falou ao Senhor, no dia em que o Senhor deu os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, e disse na presença dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeom, e tu, lua, no vale de Ajalom. E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isto não está escrito no livro de Jasher? O sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro. E não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, ouvindo o Senhor assim a voz de um homem; porque o Senhor pelejava por Israel”.
(Hb 1:1-3) “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder…”.
Quando Cristo voltar para reinar sobre a terra por mil anos o clima será perfeito para o homem, porém ainda haverá distúrbios climáticos por causa da desobediência. Nesse tempo os salvos por Cristo nos últimos dois mil anos, que compõem a Igreja que é o seu corpo, estarão já ressuscitados e reinando com Cristo a partir do céu, enquanto a terra será habitada por seres humanos judeus e gentios ainda em seus corpos naturais, porém imunes aos ataques de Satanás e beneficiados pela cura garantida de suas enfermidades, como eram beneficiados aqueles que ha dois mil anos encontravam-se com Jesus. Este versículo nos fala desse tempo e da consequência de alguns povos faltarem à adoração que será centralizada em Jerusalém:
Falta de chuva – (Zc 14:17) “E acontecerá que, se alguma das famílias da terra não subir a Jerusalém, para adorar o Rei, o Senhor dos Exércitos, não virá sobre ela a chuva”.
Mas nenhum evento atmosférico, geológico ou sideral se compara ao que aconteceu há dois mil anos quando Jesus esteve pregado na cruz e por três horas aquele que é a Luz do mundo experimentou as trevas absolutas da ausência de Deus, numa antevisão do que será o juízo eterno para os incrédulos.
(Lc 23:44) “E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até à hora nona, escurecendo-se o sol”.
De nada adiantará conhecer todas estas passagens e até acreditar que Deus controla os elementos sem se preparar para a eternidade. Portanto, se quiser um dia estar acima de todos os inconvenientes que o pecado trouxe ao mundo, como clima caótico, doenças e morte, é necessário crer no Filho de Deus, Jesus, e reconhecer que na cruz ele sofreu e morreu pelos pecados daqueles que nele creem. Só para estes é que Deus promete clima bom na eternidade. Para os demais, a previsão não é das melhores, mas…
(Hb 20:27-31) “… Uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários. Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça? Porque bem conhecemos aquele que disse: minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: o Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo”.
(Lc 21:25-27) “E haverá sinais no sol e na lua e nas estrelas; e na terra angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas. Homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; porquanto as virtudes do céu serão abaladas. E então verão vir o Filho do homem numa nuvem, com poder e grande glória”.
Você não acreditou em nada do que leu até aqui e está lendo com um sorriso de incredulidade e escárnio em seus lábios? Tudo bem, a Palavra de Deus já previa isso e ela diz que…
(1 Pe 3:3-14) “…nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências, E dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação. Eles voluntariamente ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus, e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste. Pelas quais coisas pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio, Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios. Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão. Havendo, pois, de perecer todas estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade, Aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão? Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz”.
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Devo abandonar minha esposa?
Eu sei que sua intenção não é abandonar sua esposa, mas simplesmente entender a passagem em Marcos 10:29 que parece dizer isso. Você argumenta que se a passagem estiver correta então sua Bíblia contém uma discrepância, pois em outras passagens ela diz que o marido não deve repudiar sua esposa ou separar-se dela. Como conciliar estas coisas? Vamos ler o que diz Marcos:
(Mc 10:28-30) “E Pedro começou a dizer-lhe: eis que nós tudo deixamos, e te seguimos. E Jesus, respondendo, disse: em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no século futuro a vida eterna”.
Sua observação foi correta ao comparar diferentes versões da Bíblia e descobrir que algumas não trazem a palavra “mulher” neste versículo. A versão Almeida Revista e Atualizada mostra a passagem assim: “… ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho…”. À semelhança de muitas outras, a versão Atualizada omite a palavra “mulher” e a de J. N. Darby a coloca em itálico para indicar que não faz parte dos melhores manuscritos.
Considerando que todas as versões incluem a palavra “mulher” em outros dois evangelhos que falam do mesmo assunto (Mt 19:29 e Lc 14:26), podemos deduzir que Marcos por alguma razão não incluiu a palavra “mulher”, porém algum copista decidiu fazer uma glosa valendo-se do que os outros dois evangelistas escreveram, inserindo a palavra “mulher” por achar que ela daria melhor sentido ao texto.
Lembre-se de que não restaram quaisquer manuscritos originais dos autores que Deus usou para escrever os vários livros da Bíblia, portanto o que temos são manuscritos que são cópias de cópias. Eu acredito que a razão de Deus não ter permitido que os originais com a caligrafia dos apóstolos chegassem até nós, foi para evitar que se tornassem objetos de culto e adoração, levando muitos à idolatria. Basta ver que hoje muitos fazem isso com as chamadas “relíquias”, que são pedaços de ossos ou objetos que pertenceram aos apóstolos.
Há vários casos de inserção de palavras isoladas nas Escrituras e esta é uma das razões que nos levam a comparar diferentes traduções feitas a partir de diferentes manuscritos sempre que surge alguma dúvida. Mesmo que você utilize a versão Almeida Revista e Corrigida, que é uma boa tradução, dependendo da edição irá perceber que há várias palavras em itálico (aquelas letrinhas inclinadas) que estão assim para indicar que a palavra não consta do manuscrito, mas foi inserida pelo tradutor para dar sentido à frase.
Quer um exemplo? O Salmo 53:1 diz “Disse o néscio no seu coração: Não [há] Deus”. O verbo haver (que coloquei entre chaves e aparece em itálico em algumas Bíblias) não consta dos originais, portanto a passagem deveria ser lida “Disse o néscio no seu coração: Não Deus”, o que muda bastante o seu entendimento. Na verdade o néscio não está negando a existência de Deus, pois todo homem traz em seu íntimo este conhecimento (Ec 3:11, Rm 1:19-21), mas está querendo que Deus não interfira em sua vida, como se exclamasse: “Não Deus!”.
Voltando à passagem de Marcos 10, mesmo se lermos do modo como ela aparece em Mateus e Lucas, ou seja, incluindo a palavra “mulher”, ainda assim ela não está contradizendo outras escrituras que dizem que o homem não deve abandonar sua mulher. Sua dúvida, portanto, é mais extensa, pois você alega que se alguém sair na obra do evangelho e abandonar sua mulher caso ela não queira acompanhá-lo como parece dizer a passagem, estaria deixando-a vulnerável a cometer adultério como mostram outras passagens:
(Mt 5:32) “Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério”.
(1 Co 7:5) “Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência”.
(1 Tm 5:8) “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel”.
Aqui entra um importante princípio de interpretação das Escrituras. Quando você tem afirmações claras e inequívocas de algo e encontra outra passagem que parece contradizer isso, o problema não está numa suposta discrepância entre elas, mas na interpretação. Tudo na Bíblia mostra claramente que um marido que venha a negligenciar o cuidado da esposa e da família é reprovado aos olhos de Deus, mesmo que venha a apresentar a desculpa de estar fazendo isso para seguir a Cristo. Vamos ler novamente a passagem:
(Mc 10:28-30) “E Pedro começou a dizer-lhe: eis que nós tudo deixamos, e te seguimos. E Jesus, respondendo, disse: em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no século futuro a vida eterna”.
Repare que o assunto não é o abandono da família, mas a primazia dada a Cristo e a recompensa ou galardão no final, isto é, “cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos”. Se tentássemos interpretar o “tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos” como um abandono literal precisaríamos também dizer que tal pessoa iria se recusar a receber “cem vezes tanto” essas mesmas coisas, já que ele teria de abandonar tudo isso outra vez, para então receber cem vezes tanto, e abandonar essas, e assim indefinidamente.
O que o Senhor está querendo dizer é que ele quer ter a primazia na vida do crente e aquele que o coloca acima de tudo e “que tenha deixado” numa segunda posição todas as coisas, terá cem vezes mais. Obviamente o Senhor está falando em linguagem figurada, pois não faria sentido ele prometer ao que deseja segui-lo cem vezes mais… Esposas! Se você perder o sentido figurado da passagem acabará achando que seria mais interessante ser cristão para ganhar um harém de cem mulheres do que ser muçulmano, já que aquela religião só oferece setenta e duas virgens aos que forem fiéis.
Então o que ele quer dizer com receber cem vezes mais “casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos”? Significa que aqueles que colocam a Cristo em primeiro lugar e passam a viver primeiramente para ele, enxergando tudo o mais em um segundo plano, só têm a ganhar, pois sua família e posses aumentarão, já que aonde quer que ele vá encontrará uma centena de “casas” e “campos” de irmãos que os receberão com alegria e que serão para ele como “irmãos, e irmãs, e mães, e filhos”.
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Devo aproveitar a vida?
É claro que você deve aproveitar a vida, vivendo cada dia como se fosse o último de sua existência na terra. Sou da opinião de que o cristão tem mais é que aproveitar mesmo a vida ao máximo. Porque esta é a única chance que ele terá de viver para Cristo enquanto ainda está no mundo. Então vamos aproveitar a vida!
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”. (Gl 2:20).
Dizer que você deve aproveitar a vida soa meio estranho, porque a ideia de “aproveitar a vida” sempre esteve ligada a viver sem pensar nas consequências, se esbaldar, fazer tudo o que der na cabeça, etc. Mas ocorre que o cristão tem uma nova vida em Cristo, e é esta nova vida que deve ser aproveitada ao máximo. Ele não deve deixar sua nova vida guardada para ser usada apenas aos domingos ou quando congrega com os irmãos. Ela é uma vida que deve ser vivida todos os dias, sem medo ou reservas.
Aproveite viver ao máximo para Cristo, aproveite ao máximo esta vida para viver para ele aqui. Leia a Palavra de Deus todos os dias, porque somente aqui você terá a oportunidade de ouvir a voz de Deus falando com você em um ambiente hostil e revelando as preciosidades de Cristo. Testemunhe de Cristo para as pessoas como se fosse a última chance de elas poderem conhecer essa nova vida. Ore sem cessar, porque é somente aqui que você pode orar e ver orações sendo atendidas. Carregue sua cruz todos os dias, isto é, apresente-se ao mundo como alguém que já está crucificado e morto para esta vida, mas vivo em Deus.
“Oh, querido jovem cristão! Não deixe que o diabo sussurre no seu ouvido que viver uma vida para Cristo neste mundo vai ser uma privação – que você vai desperdiçar alguns bons momentos. É uma mentira de Satanás! Esteja certo de que a pessoa mais feliz aqui neste exato momento, é aquela que está dando a Cristo o lugar de honra em sua vida. Há alimento; há refrigério. Ser cristão é algo feliz e glorioso – ser salvo e andar por este mundo como alguém que pertence àquele Homem bendito e glorificado nos céus: o bom Pastor das ovelhas!” por C. H. Brown.