Apresentação
Primeiramente agradeço a Deus por permitir que este material fosse produzido e disponibilizado para milhares de leitores no Brasil e no mundo. As ideias que você encontra aqui não são originalmente minhas, e sim fruto do que tenho aprendido da Palavra de Deus fora dos sistemas denominacionais com irmãos congregados ao nome do Senhor e também com autores de outras épocas que congregavam assim. Foram eles J. G. Bellett, C. H. Brown, J. N. Darby, E. Dennett, W. W. Fereday, J. L. Harris, W. Kelly, C. H. Mackintosh, A. Miller, F. G. Patterson, A. J. Pollock, H. L. Rossier, H. Smith, C. Stanley, W. Trotter, G. V. Wigram e muitos outros.
Para que você compreenda como este livro veio a existir, creio ser necessário voltar um pouco no tempo. Depois de um período trabalhando em São Paulo, em 1988 mudei-me com minha família de volta para Limeira, minha cidade natal, a fim de colaborar com a Editora Verdades Vivas, uma organização sem fins lucrativos que produz e distribui literatura cristã. A grande quantidade de folhetos evangelísticos, livros e calendários distribuídos no Brasil e em outros países de língua portuguesa gerava um volume considerável de correspondência, não só com pedidos de publicações, mas também com perguntas sobre a Bíblia. Todas as cartas eram devidamente respondidas.
Nessa época adquiri o hábito de manter uma cópia das respostas em formato digital. Assim ficava fácil responder perguntas semelhantes ou até mesmo mesclar trechos de diferentes respostas, além de preservar aquele conhecimento. A partir de 1996 passei a usar a Internet e aí as respostas já não precisavam ser impressas, envelopadas e enviadas por carta como era feito até então. O uso do e-mail agilizou o processo e permitiu atender mais correspondentes com maior agilidade.
Em 1998 deixei a editora para atuar como executivo de uma empresa de tecnologia da informação, porém mantendo nas horas vagas minha ocupação com o evangelismo e ministério da Palavra via Internet por meio de diferentes sites e blogs. Em 2001 passei a trabalhar por conta própria como consultor e palestrante empresarial, tendo mais tempo livre e uma agenda mais flexível para dedicar-me ao evangelho.
Em 2005 decidi lançar o blog “O que respondi” no endereço respondi.com.br para disponibilizar as respostas que tinha armazenado em formato digital desde 1988 e acrescentar as que fossem sendo criadas. Algo que muitos perguntam é a razão de o blog não permitir comentários, mas o volume de spam, debates e opiniões deixadas na área de comentários me obrigou a eliminar esta opção de contato para me concentrar no atendimento apenas por e-mail. É sempre bom lembrar que não existe uma “equipe” para responder a correspondência que chega, pois este é um exercício pessoal.
Em 2008 iniciei um trabalho chamado “O Evangelho em 3 minutos — Uma mensagem urgente para quem tem pressa”, com vídeos no Youtube e também em versões de texto e áudio no endereço 3minutos.net. Com a popularização do smartphone e da Internet móvel este formato mostrou-se excelente para alcançar pessoas a qualquer hora e em qualquer lugar com a mensagem da salvação e a sã doutrina. O site “O que respondi” passou a servir de complemento aos vídeos. Enquanto no “Evangelho em 3 minutos” a Palavra de Deus é pregada de forma rápida, no “O que respondi” ela é explicada em detalhes e com referências.
Estas e outras frentes de trabalho via Internet continuam gerando um número cada vez maior de contatos e perguntas. Em 2013 foram mais de três mil perguntas atendidas, porém graças ao blog “O que respondi” nem todas precisaram ser respondidas. Na maioria das vezes é suficiente enviar links para as mais de mil respostas existentes no blog, que já conta com cerca de quatro milhões de acessos desde sua criação.
Assim chegamos à razão deste livro que está sendo lançado nos formatos digital (e-book) e impresso (on demand). Ele atende aqueles que desejam ter acesso ao material do blog sem depender de uma conexão com a Internet. Este é um dos mais de dez volumes projetados para compor esta coleção, se considerarmos todo o conteúdo do blog “O que respondi”.
Ao ler este livro não se esqueça de que está lendo as opiniões do autor, e não a Palavra de Deus. Considere também que os textos são cartas e e-mails de minha correspondência pessoal, e não uma obra literária. A linguagem é informal e despretensiosa como acontece com uma correspondência entre duas pessoas, e é provável também que você às vezes venha a achar a linguagem meio irreverente, mas isso é apenas fruto de meu estilo literário, e não de tratar levianamente as coisas de Deus ou a pessoa a quem respondi. Lembre-se também de que, para a resposta fazer sentido, às vezes incluo o que escreveram meus interlocutores e alguns são incrédulos ou ateus com opiniões depreciativas a respeito de Deus e de sua Palavra.
Não espere encontrar aqui todas as respostas e nem sequer as trate como definitivas. Elas são fruto do meu exercício com o Senhor e do que continuo aprendendo todos os dias. Por isso leia, medite, busque referências na Bíblia e ore para que o Espírito Santo lhe dê o entendimento. Sem isto até a pessoa mais inteligente e versada nas Escrituras será incapaz de entender as coisas de Deus, pois elas se discernem espiritualmente.
É provável que você encontre erros em minhas opiniões. Pode ter certeza de que eu mesmo eventualmente sou obrigado a acessar o blog “O que respondi” para fazer correções após ter sido instruído ou alertado de alguma falha por algum irmão ou por algo que li na Palavra de Deus. Se, ao comparar uma resposta mais antiga com uma mais nova, você encontrar alguma discrepância, saiba que optei por não revisar todas as respostas, mas decidi mantê-las do modo como entendia as coisas quando as escrevi, e lembre-se de que você está lendo textos escritos ao longo de um período de cerca de trinta anos. Se encontrar algum erro de digitação ou de gramática, entre em contato para eu fazer as devidas correções, pois o desejo de disponibilizar este livro o mais rápido possível nas mãos dos leitores foi maior que o tempo que tive para revisá-lo.
Este livro está sendo distribuído gratuitamente, porém alguns sites de terceiros ou editoras irão cobrar algum valor para a versão e-book ou impressa sem que isto signifique algum ganho da parte do autor que optou por abrir mão dos ganhos com direitos autorais. Você poderá distribuir o conteúdo deste livro, desde que o faça gratuitamente, não altere o texto e mantenha a referência ao autor.
Peço que se lembre de incluir este trabalho em suas orações e de endereçar ao Senhor, e não a mim, qualquer sentimento de gratidão que porventura possa ter por esta leitura.
“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa” (Os 6:3).
Mario Persona
www.respondi.com.br
www.3minutos.net
Maio, 2014
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O que a Bíblia diz sobre imposição de mãos?
Impor as mãos é demonstrar comunhão, concordância ou fazer-se participante de algo. Era assim que faziam os sacerdotes com os sacrifícios, quando os ofertantes se identificavam com as vítimas.
(Lv 8:14) “Então fez chegar o novilho da expiação do pecado; e Arão e seus filhos puseram as suas mãos sobre a cabeça do novilho da expiação do pecado;”.
(2 Cr 29:23) “Então trouxeram os bodes para sacrifício pelo pecado, perante o rei e a congregação, e lhes impuseram as suas mãos”.
A imposição de mãos podia significar a consagração de alguém para uma determinada função:
(Nm 27:22-23) “E fez Moisés como o Senhor lhe ordenara; porque tomou a Josué, e apresentou-o perante Eleazar, o sacerdote, e perante toda a congregação; E sobre ele impôs as suas mãos, e lhe deu ordens, como o Senhor falara por intermédio de Moisés”.
(At 6:6) “E os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos”.
Impor as mãos também significava identificar-se com alguém em sua obra para o Senhor:
(Nm 8:10) “Farás, pois, chegar os levitas perante o Senhor; e os filhos de Israel porão as suas mãos sobre os levitas”.
(At 13:2-3) “E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram”.
Esse ato de impor as mãos como reconhecimento ou identificação com a obra de alguém pode ser melhor entendido quando lemos a orientação dada a Timóteo para que não fosse precipitado em reconhecer alguém ou seu trabalho ou identificar-se com a pessoa em seu trabalho:
(1 Tm 5:22) “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro”.
Os apóstolos tinham o poder de impor as mãos e com isso alguém receber o Espírito Santo:
(At 8:17-18) “Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo. E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro,”.
(At 19:6) “E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam”.
Os apóstolos tinham também o poder de conceder um dom à pessoa pela imposição de mãos:
(2 Tm 1:6) “Por cujo motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos”.
Os apóstolos também podiam eventualmente impor as mãos ao curar alguém:
(At 28:8) “E aconteceu estar de cama enfermo de febre e disenteria o pai de Públio, que Paulo foi ver, e, havendo orado, pós as mãos sobre ele, e o curou”.
O Senhor curava às vezes usando a imposição de mãos, mas como sabemos que ele também podia curar sem impor as mãos, certamente tal ato tinha algum outro significado, e não era feito no sentido de um passe de mágica ou “benzimento” como costumamos ver:
(Lc 13:13) “E pôs as mãos sobre ela, e logo se endireitou, e glorificava a Deus”.
Hoje existe muita confusão por causa desses versículos. Mas a confusão se dissipa quando entendemos que existiam poderes e prerrogativas que eram exclusivos dos apóstolos e eles hoje já não existem.
Em Atos vemos que em alguns casos a imposição de mãos era feita de forma visível, mas não encontramos nas epístolas (a doutrina dos apóstolos) instruções de quando, onde, como e por quem isso deve ser feito, apenas encontramos a exortação a Timóteo para não fazê-lo de forma precipitada.
Portanto, como não existe a ordenança creio que para nós basta entendermos o seu significado, que é o de reconhecer a obra de alguém ou se identificar com ela. Isso pode ser feito de forma prática pelo uso de palavras de encorajamento, oração pela pessoa e seu trabalho no Senhor ou a comunhão financeira para que tal obra siga adiante.
Normalmente o erro que encontramos na cristandade consiste em impor as mãos em situações nas quais só encontramos os apóstolos fazendo, o que hoje significaria querer usurpar um poder e autoridade que não nos foram dados. Até onde consegui identificar, o Senhor e os apóstolos impunham as mãos para curar, e os apóstolos para conceder o Espírito Santo ou consagrar alguém para um ofício, como vimos em Atos 6:6 com os sete homens designados para servir.
Como não somos apóstolos e nem temos tal autoridade e poder, a nós não cabe curar, conceder o Espírito Santo ou consagrar alguém para um serviço pela imposição de mãos. Mas resta a nós a possibilidade de nos identificarmos com alguém e seu trabalho, o que também tem o sentido de estender a destra à comunhão, neste caso uma ação claramente simbólica ou, no máximo, equivalente a um aperto de mãos segundo nosso costume moderno de selarmos um acordo.
(Gl 2:9) “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão;”.
Mas uma coisa certamente a imposição de mãos não tem: algum tipo de poder mágico como vemos os homens tentarem fazer nas religiões pagãs ou em rituais de ocultismo. O cristão pode ser facilmente levado por atitudes e movimentos do corpo que deem a impressão a outros de que ele tenha em si algum poder ou esteja revestido por Deus disso. Alguns usam da imposição de mãos como se fosse uma varinha mágica que transfere algum tipo de virtude às coisas e pessoas com as quais é tocada.
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Os afloramentos do Mar Morto são o cumprimento da profecia?
Você encontrou um relato dizendo que os afloramentos de água doce que têm surgido nas margens do Mar Morto e quer saber se é estes são o cumprimento da profecia de Ezequiel 47. Minha resposta é que o relato do pregador é o cumprimento de uma profecia bíblica, mas não de Ezequiel. Porém a água que brota das margens do Mar Morto não é o cumprimento de Ezequiel 47.
O pregador exagera para tentar dar a um fenômeno natural o status de cumprimento da profecia bíblica. Esses afloramentos ou fontes de água existem não só nas margens, mas no leito do Mar Morto, como acontece também em diferentes lagos, mares e oceanos. Ao contrário do que diz o pregador, o Mar Morto não é totalmente estéril, mas abriga várias espécies de micro organismos, algumas delas vivendo justamente ao lado de afloramentos submarinos de água doce.
Que o Mar Morto está perdendo sua água por evaporação, isto é um fato. Que seu nível está baixando, também. Que Deus irá sanear as águas do Mar Morto isto também é uma profecia a se cumprir; suas águas ficarão cheias de peixes e os pecadores serão atraídos às suas margens. Agora será que os afloramentos de água seriam o cumprimento da profecia de Ezequiel? Não.
A razão lógica para isso é que ainda que toda a água do Mar Morto se evapore, que é o que está acontecendo, tudo o que restará ali será um imenso depósito de sal. Qualquer aluno do ensino básico sabe que o sal não se evapora junto com a água. Se esses afloramentos fossem suficientes para encher de água doce aquela monstruosa bacia de sal, não seria preciso ser muito inteligente para perceber que o Mar Morto seria outra vez um mar extremamente salgado e sem peixes.
A razão bíblica de Ezequiel 47 não estar se cumprindo é que as profecias do Antigo Testamento não se cumprirão nos dias da Igreja, pois as profecias estão em suspense desde a morte e ressurreição do Messias de Israel. O período da Igreja não foi previsto por nenhum profeta do Antigo Testamento e era um mistério até ser revelado a Paulo e depois aos outros apóstolos. É só com o fim do período da Igreja na terra que o relógio profético voltará a bater. Portanto as profecias do Antigo Testamento sempre dizem respeito a Israel e ao mundo, nunca ao período da Igreja. Eu não estarei aqui para ver o cumprimento de Ezequiel 47, apenas os que ficarem no mundo para a tribulação verão esta e outras profecias se cumprirem.
Se observar o contexto de Ezequiel 47 verá que o profeta está falando de uma época futura, quando o Reino de Cristo será estabelecido numa terra completamente restaurada por meios sobrenaturais. Basta ler os capítulos anteriores para perceber isso: o assunto é a restauração da terra e culmina no capítulo 48 com Israel de volta à terra prometida. A volta atual dos judeus não é o cumprimento da profecia, pois eles estão ali à força do dinheiro e das armas, e mesmo assim são apenas os judeus da tribo de Judá e Benjamim que voltaram em total incredulidade e rebelião contra Deus. O atual Israel que conhecemos será destruído e dois terços de sua população morta antes que a profecia de Ezequiel se cumpra. Se você ler o capítulo 48 verá que está falando do estabelecimento de todas as tribos na terra, e não apenas de duas.
Mas vamos ao capítulo que o autor da mensagem tenta usar para justificar sua tese. Fica muito claro que as águas que irão sanear toda a terra, inclusive o Mar Morto, sairão de Jerusalém, e não das margens do Mar, e isso será um evento sobrenatural, causado por Deus e não por um fenômeno geológico natural.
(Ez 47:1-10) “Depois disto me fez voltar à porta da casa, e eis que saíam águas por debaixo do umbral da casa para o oriente; porque a face da casa dava para o oriente, e as águas desciam de debaixo, desde o lado direito da casa, ao sul do altar…. Então disseme: Estas águas saem para a região oriental, e descem ao deserto, e entram no mar; e, sendo levadas ao mar, as águas tornar-se-ão saudáveis. E será que toda a criatura vivente que passar por onde quer que entrarem estes rios viverá; e haverá muitíssimo peixe, porque lá chegarão estas águas, e serão saudáveis, e viverá tudo por onde quer que entrar este rio. Será também que os pescadores estarão em pé junto dele; desde Engedi até En-Eglaim haverá lugar para estender as redes; o seu peixe, segundo a sua espécie, será como o peixe do mar grande, em multidão excessiva”.
Zacarias 14 acrescenta detalhes à profecia:
(Zc 14:8) “Naquele dia também acontecerá que sairão de Jerusalém águas vivas, metade delas para o mar oriental, e metade delas para o mar ocidental; no verão e no inverno sucederá isto”.
E o Salmo 65 complementa:
(Sl 65:9-10) “Tu visitas a terra, e a refrescas; tu a enriqueces grandemente com o rio de Deus, que está cheio de água; tu lhe preparas o trigo, quando assim a tens preparada. Enches de água os seus sulcos; tu lhe aplanas as leivas; tu a amoleces com a muita chuva; abençoas as suas novidades”.
Portanto não existe qualquer evidência de que o que acontece hoje no Mar Morto seja o cumprimento das profecias, as quais se cumprirão quando a Igreja já não estiver na terra. Os pregadores atualmente vivem atrás de novidades para atrair fiéis. Uma hora é um que vê água brotar nas margens do Mar Morto e transforma isso numa grande coisa; outra hora é outro que sai procurando a arca de Noé e diz tê-la encontrado no monte Ararat. Se juntarmos todos os que dizem ter encontrado a Arca em diferentes lugares precisaremos crer que Noé comandou uma esquadra. Dos que encontraram a Arca da Aliança, então, nem se fala. Tem uma enterrada sob o monte do Calvário e outra guardada por sacerdotes na Etiópia. Deve ter mais algumas por aí esperando para estrear no próximo programa do Discovery Channel, Discovery History ou NatGeo.
Os pregadores que fomentam a religiosidade baseada em teorias sensacionalistas deviam levar as pessoas a se ocuparem com Cristo apenas, e não com superstições e lendas, criando novos polos de peregrinação como os católicos têm feito há séculos. Até há pouco tempo eles só traziam pedacinhos de madeira que diziam ser da cruz, água do rio Jordão e azeite do jardim das Oliveiras. Hoje já estão importando toneladas de pedras de Israel para construir uma réplica do Templo de Jerusalém. Não vai demorar para alguém importar o sal do Mar Morto e salgar o lago do Ibirapuera. Aí teremos um Mar Morto próximo ao Rio Morto, o Tietê.
Pode apostar que esse “milagre” do Mar Morto já deve estar incluído nos roteiros de “viagens à Terra Santa” que são anunciados na Internet. E logo vão surgir lembrancinhas, vidrinhos com água das margens do Mar Morto, DVDs, saleiros com versículos, etc. Não me surpreenderia se amanhã algum terrorista soltasse uma bomba em um grande cemitério de Israel e no dia seguinte já existisse algum pregador anunciando que aquilo era o cumprimento da profecia: Finalmente teria sido descoberto o vale cheio de ossos de Ezequiel 37!
Evidentemente, aqueles que não se contentam com a Pessoa de Cristo continuarão correndo atrás dessas novidades e dando munição para os céticos zombarem dos cristãos. Lamentavelmente já existem vídeos e blogs de ateus denunciando tais farsas, e é por isso que o nome de Cristo acaba sendo desonrado neste mundo. Boa parte da culpa recai sobre os cristãos e suas fábulas. Eu havia dito que os afloramentos de água às margens do Mar Morto não são o cumprimento da profecia de Ezequiel, mas que a mensagem do pregador que você ouviu, esta sim, é o cumprimento da profecia. Mas neste caso da profecia de Paulo revelada a Timóteo:
(2 Tm 4:3-4) “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas”.
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Podemos confiar no Novo Testamento?
Nas próprias epístolas temos as evidências de que é nelas que encontramos a autoridade apostólica, portanto creio ser esta a evidência de que estamos em terreno seguro. As epístolas circulavam entre as assembleias levando nelas a autoridade dos apóstolos e é nelas que os próprios apóstolos indicam que devemos buscar a doutrina.
(2 Pe 3:15-16) “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição”.
Pedro iguala os escritos de Paulo às “outras Escrituras”, ou seja, ao Antigo Testamento e às outras epístolas dos apóstolos que andaram com Jesus (e cujas epístolas foram pré-autenticadas por Jesus, como explicarei adiante).
(Cl 4:16) “E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodiceia lede-a vós também”.
Confiar na tradição, como faz o catolicismo, nos deixaria à mercê de interpretações para justificá-las ou não à luz das epístolas. Para resolver tal dilema o catolicismo simplesmente determinou que em caso de discrepância entre as Escrituras e a tradição fica valendo a tradição. E deu no que deu…
Acima de tudo devemos ter em mente que é o próprio Deus quem tem interesse em preservar a doutrina que os apóstolos receberam do Espírito Santo, e isto Deus faz inclusive impedindo que tenhamos acesso a algumas epístolas que os apóstolos escreveram, mas cujo teor o Espírito Santo achou por bem não chegar até nós. Não temos hoje, por exemplo, a epístola a Laodiceia da qual o apóstolo Paulo fala no versículo acima. E também não temos a epístola de Paulo aos Coríntios escrita antes da que chamamos de “Primeira aos Coríntios”, a qual ele menciona em 1 Coríntios 5:9.
Mas não é apenas no testemunho dos apóstolos que podemos nos basear para entender a inspiração divina que têm seus escritos. Jesus pré-autenticou, por assim dizer, os ensinos que seriam dados através dos apóstolos depois de sua partida:
(Jo 14:26) “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará [aos apóstolos] todas as coisas, e vos fará lembrar [aos apóstolos] de tudo quanto vos tenho dito”.
Alguns alegam que esta passagem foi dita aos discípulos de Cristo de uma maneira geral, e portanto estaríamos incluídos nesta mesma promessa. Mas não é assim. Como poderíamos nós, que nascemos 2 mil anos depois, achar que o Espírito nos “lembraria” de tudo o que o Senhor disse se nem mesmo estávamos lá? A passagem abaixo também tem este caráter exclusivo, pois foi o Espírito quem disse aos apóstolos, palavra por palavra, aquilo que deviam escrever. Daí a inspiração verbal das Escrituras.
(Jo 16:13) “Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará [aos apóstolos] em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá [aos apóstolos] tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará [aos apóstolos] o que há de vir”.
(1 Co 2:13) “As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as [palavras] que o Espírito Santo ensina,”.
O Espírito Santo iria, não apenas lembrar os apóstolos das palavras de Jesus, mas iria ensinar a eles todas as coisas e guiá-los em toda a verdade, como canais vindos diretamente dos céus, revelando o ensino para o presente e para o porvir. Estas são “as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem”, ou seja, não são tradições, costumes ou fábulas humanas, mas a expressa Palavra de Deus vinda dos céus.
(2 Pe 1:16) “Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade”.
Tudo isso o Senhor prometeu que revelaria pelo Espírito aos apóstolos, portanto não cremos “na memória histórica” dos apóstolos ou na “tradição dos pais”, como chamam os católicos, mas na revelação da Palavra de Deus pelo Espírito Santo.
O argumento muito usado pelos católicos de que foi a igreja católica que decidiu o que faria ou não parte do cânon do Novo Testamento é ridículo.
Primeiro, porque não existia “igreja católica” na época. Naquela época só existia a igreja. Chamá-la de “igreja católica”, como se faz hoje para distinguir aquela que é comandada de Roma das milhares de denominações cristãs, faria tanto sentido quanto chamar a guerra de 1914-1918 de “Primeira Guerra Mundial”. Este título só foi usado após ocorrer outra guerra mundial (nos livros e jornais anteriores aos anos 40 ela é chamada simplesmente de Grande Guerra).
Segundo, porque a formação do cânon pelos cristãos dos primeiros séculos foi simplesmente atestar de uma maneira formal quais eram os textos que nos séculos anteriores circulavam pelas assembleias locais e eram reconhecidos como a Palavra de Deus. E por que os cristãos da época fizeram isso? Justamente para evitar que lendas e tradições fossem tomadas como sendo a Palavra de Deus, o que já estava acontecendo por alguns hereges. Portanto, as epístolas são a Palavra de Deus revelada aos apóstolos. A tradição é a interpretação que homens deram a essas epístolas à luz da época em que viveram. Devemos receber a primeira como a Palavra de Deus e refutar a segunda como tendo igual status.
Paulo explica como se cumpriu a promessa que o Senhor deu de que o Espírito revelaria a Palavra de Deus aos apóstolos em uma passagem que às vezes lemos sem identificar que Paulo está falando ali dos apóstolos, e não dos crentes em geral. Esta passagem deve ser lida como a concretização da promessa que o Senhor fez AOS APÓSTOLOS, os quais, pelo Espírito, seriam lembrados de todas as coisas que o Senhor lhes tinha dito, e vou inserir meus comentários para deixá-la mais clara:
(1 Co 2:9-11) “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou [a nós, os apóstolos] pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus”.
Em outra passagem Paulo autentica seus próprios escritos explicando que não são ensinos de homens, ou seja, não são tradições humanas. Mais uma vez entendemos o papel que tiveram os apóstolos como canais exclusivos da revelação de Deus vinda dos céus.
(Gl 1:11-12) “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo”.
Os cristãos daquela época recebiam seus escritos como a Palavra de Deus, e não como sabedoria humana ou meras tradições.
(1 Ts 2:13) “Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes”.
(1 Co 14:37) “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”.
Tudo isso não apenas nos autoriza a encarar o Novo Testamento como a Palavra de Deus revelada aos apóstolos, como deixa claro o erro dos teólogos moderninhos que insistem em refutar os escritos de Paulo como se fossem meras opiniões de um solteirão machista. Para esses fica valendo a descrição que Pedro lhes dá em sua segunda epístola 3:16:
“Indoutos e inconstantes” (ARF), ou como está em outras versões, “espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos” (Ave Maria), “homens sem instrução e vacilantes” (CNBB), “ignorantes e instáveis” (NVI). Quem quer que negue a autenticidade das epístolas de Paulo como a Palavra de Deus pode adotar para si qualquer um desses adjetivos.
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Devemos ter tudo em comum como os primeiros cristãos?
É normal que alguns cristãos, principalmente recém-convertidos, se apaixonem pela ideia de venderem tudo e distribuírem entre os mais necessitados. Eu mesmo, quando vi o filme “Irmão Sol, Irmã Lua”, uma história romanceada da vida de São Francisco de Assis, acreditei que viver daquele jeito seria possível. Mas o próprio filme mostrava que o clero da época só acatou a ideia daqueles jovens despojados porque atraía mais fiéis para as missas, como faz o clero católico romano e também protestante em nossos dias ao fazerem vista grossa a padres, pastores e cantores “pop stars”.
A ideia de dar tudo para os pobres é muito bonita em tese, mas na prática devemos agir com sabedoria. Distribua todos os seus bens com os pobres e em um mês estarão todos pobres de novo, inclusive você. Quando escutar algum pregador constrangendo seus ouvintes a adotarem uma vida despojada, primeiro é bom verificar a vida que esse pregador leva para ver se ele pratica o que prega.
Mas, ainda que pratique, o argumento de que em Atos os cristãos vendiam tudo o que tinham e dividiam entre todos não procede e mostra um desconhecimento total do fato de o livro de Atos não ser um livro de doutrina, mas uma narrativa de uma época de transição entre o judaísmo e o cristianismo. Em Atos dos Apóstolos vemos exatamente isto, os atos dos apóstolos (e dos primeiros cristãos) e às vezes ali são mostrados atos errados também.
Analisando especificamente o ato de vender tudo e distribuir entre outras pessoas, primeiro vemos que era entre os irmãos que eles compartilhavam o que tinham, e não com o mundo pagão em geral. Segundo, aquilo era uma ação espontânea e não uma ordenança ou obrigação. O próprio apóstolo Pedro deixa bem claro que ninguém era obrigado a vender o que tinha para repartir com os irmãos. Ananias, que foi morto não por ter retido parte do lucro obtido com a venda de seu imóvel, mas por ter mentido ao Espírito Santo, poderia fazer o que quisesse com seus bens, inclusive conservá-los para si. É o que Pedro explica a ele:
(At 5:3-4) “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? ” (Outra versão diz: “Acaso não o podias conservar sem vendê-lo? E depois de vendido, não podias livremente dispor dessa quantia? ”).
A decisão dos primeiros cristãos de vender tudo e repartir com os irmãos acontecia em um momento em que a igreja vivia seu primeiro amor e desfrutava do poder de Deus agindo sem os impedimentos que hoje temos. Quais? O fato dos cristãos estarem divididos em milhares de seitas e o mal ter se infiltrado em seu meio. Hoje qualquer um se diz “irmão”, até o pregador da TV que só sabe pedir dinheiro. Você venderia tudo o que tem para dar ao pregador e ele comprar outro helicóptero ou reformar sua mansão?
Um olhar cuidadoso verá que mesmo no livro de Atos as condições iam mudando e se adaptando conforme o mal começava a se introduzir na igreja. Eles começam vivendo em comunidade, tendo tudo em comum e vendendo e distribuindo entre si seus bens:
(At 2:44-45) “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister”.
Então vemos em Atos 4 que já não dividiam mais entre si, mas passaram a trazer o que tinham aos apóstolos, para estes fazerem a distribuição. Lembrando mais uma vez que tudo acontecia dentro do círculo dos irmãos, e não era uma campanha para dividir tudo com todos os pobres dentre os pagãos. Entregue hoje seus bens aos pobres necessitados do Taleban no Afeganistão e eles venderão tudo para comprar armas.
(At 4:32-35) “E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns… Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha”.
Já no capítulo seguinte vemos o mal agindo e Ananias e Safira fazendo o que obviamente acontece com todo coração humano: querer parecer mais do que é ou que faz mais do que realmente fez. Acaso não foi assim que terminaram as boas intenções de algumas organizações beneficentes mais antigas? Há muitas que hoje promovem jantares para homenagear os que contribuem, e às vezes esses eventos custam mais caro do que aquilo que vai efetivamente chegar nas mãos dos necessitados. Algumas ONGs gastam mais dinheiro com funções administrativas e de propaganda do que com os necessitados.
Mas vamos ver o que ocorre após o conhecido episódio de Ananias e Safira, que foi resolvido de forma radical com a morte dos que mentiram ao Espírito Santo. Em um período de grande poder no início da igreja, com os apóstolos fazendo sinais e milagres, havia também uma grande responsabilidade e uma grande perda quando esta falhasse. Não é à toa que os de fora já estavam relutantes em querer fazer parte daquela comunidade onde as consequências da mentira e dissimulação eram tratadas de maneira tão severa: com a morte dos mentirosos. Já pensou se a igreja hoje vivesse nesse mesmo poder?
(At 5:11-13) “E houve um grande temor em toda a igreja, e em todos os que ouviram estas coisas. E muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos…. Dos outros, porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles; mas o povo tinha-os em grande estima”.
A passagem seguinte deixa muito claro que tudo aquilo era um processo: primeiro eles dividam tudo entre si, depois passaram a entregar aos apóstolos para que estes determinassem como dividir, e agora vemos que homens idôneos são designados especialmente para a tarefa, deixando assim os apóstolos livres para se dedicarem à Palavra. Isto porque os cristãos já não estavam na mesma disposição do princípio e agora agiam de forma egoísta, como vemos na passagem a seguir:
(At 6:1) “Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano”.
Todos os que faziam parte da igreja eram judeus ou prosélitos convertidos a Cristo, mas alguns eram judeus helenistas, isto é, vindos de uma cultura grega. Estes estavam sendo prejudicados na distribuição dos recursos, o que fez os apóstolos tomarem a providência de escolher 7 homens íntegros para cuidarem disso.
(At 6:2-4) “E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra”.
Se você reparar na continuação da passagem todos eles têm nomes gregos: Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau. Mesmo em situações de falha do homem Deus age em graça.
Isso tudo deixa claro que no livro de Atos nem sempre encontramos as coisas já bem estabelecidas, mas ocorria ali um processo. Hoje, quando não temos mais apóstolos e nem as condições de poder e unidade que existiam no princípio, não podemos ser ingênuos achando ser possível repetir o modo de vida da igreja primitiva.
Fazer o bem e administrar para os mais necessitados é algo que todo cristão deve fazer individualmente em seu exercício com o Senhor, e não algo que devemos impor sobre as pessoas. É um erro também acreditar que pelo exercício do altruísmo os cristãos criarão um mundo melhor e mais justo, pois a Bíblia deixa bem claro que não será assim sem a intervenção direta do Senhor em sua vinda para reinar.
Algumas religiões fundamentalistas acreditam que será pelo esforço dos cristãos em transformarem as condições do mundo em mais propícias que Cristo virá reinar, mas isto é acreditar que o homem possa ter sucesso em seus empreendimentos e que os cristãos conquistar o mundo inteiro para Cristo. O “ide por todo o mundo” levando o evangelho é muito bom e louvável, mas isto não significa que todo o mundo irá se converter a Cristo.
Aliás, o “ide” foi ordenado aos apóstolos ainda em sua condição de judeus, e não de igreja de Deus. O remanescente judeu que se converterá após o arrebatamento da igreja continuará esse trabalho nos anos de tribulação que se seguirão, e até anjos estarão empenhados em levar o “evangelho eterno” aos quatro cantos do mundo.
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O “ide por todo o mundo” não foi dado a Igreja?
Não, o “ide por todo o mundo” não foi uma ordem dada à igreja por uma razão bem simples: a igreja não existia antes de Atos 2. Portanto a ordem foi dada diretamente aos apóstolos em um tempo em que estavam na condição de discípulos judeus do Messias de Israel. Era uma ordem dada em um diferente contexto.
Existe muita confusão quando você aceita o que as denominações ensinam sem conferir no contexto do que cada coisa é ensinada na Palavra de Deus. A ênfase que muitas denominações dão ao evangelismo está fora de lugar se considerarmos que a igreja não é uma organização evangelística. Não é papel da igreja evangelizar, como se fosse uma organização missionária, e nem salvar o mundo da fome e da miséria, como se fosse uma ONG beneficente. A ocupação da igreja é com Cristo (não com incrédulos) em quatro atividades básicas, todas elas culminando na adoração:
(At 2:42) “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”.
E o evangelismo, não é importante? Sim, importantíssimo, mas a igreja é um corpo de adoradores, não de evangelistas. Os adoradores Deus procura, os evangelistas ele dá. A adoração é a ocupação com Deus, a evangelização é a ocupação com os incrédulos, no sentido de serem salvos para serem transformados em adoradores. Isso acontece “no mundo”, e não na igreja, que é uma corporação formada por salvos.
(Jo 4:21-24) “Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.
Assim, o dom de evangelista é dado por Cristo a indivíduos para que saiam pelo mundo trazendo “matéria prima” para a igreja, ou seja, salvos. Os outros dons são voltados para os que já estão salvos.
(Ef 4:11-12) “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;”.
Quando Paulo escreve a Timóteo e o exorta a fazer a obra de um evangelista isto pode significar que ele não tinha necessariamente o dom. Mas, como acontece com todas as “segundas epístolas”, a segunda carta a Timóteo também representa um tempo de ruína e abandono, quando Paulo é abandonado por todos no final. Em tempos assim é necessário aceitarmos a exortação como sendo para nós também em nossos dias e, assim, nos empenharmos em fazer a obra de um evangelista.
(2 Tm 4:5) “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério”.
Porém, volto a repetir, esta continua sendo uma atividade individual e não corporativa da igreja. As denominações não compreendem o que é igreja, e o simples fato de serem denominações já demonstra isso (porque se compreendessem não teriam outro nome para identificá-las e nem agiriam como organismos independentes do corpo). Essa falta de compreensão também do que é adoração em assembleia faz com que fiquem quase sempre ocupadas com evangelismo, e isso pode chegar a um ponto tal que coloca um fardo sobre pessoas que não são evangelistas, isto é, não têm tal dom e são obrigadas a evangelizar. São traçadas metas, são feitos gráficos de crescimento, são feitos planos de alcance mundial e as pessoas são treinadas como uma tropa de choque. Tudo isso é planejamento humano, mas nada tem a ver com o dom que Cristo dá às pessoas.
A ordem de Jesus, “Ide por todo o mundo…”, foi dada aos apóstolos dentro de um contexto do judaísmo, e não da igreja que só seria fundada algum tempo mais tarde. Quer dizer que não devemos “ir” e evangelizar. É claro que devemos, porque tudo em Atos e nas epístolas nos mostra isso. Mas não podemos tirar um versículo do contexto para fazermos isso. Só entendemos corretamente as Escrituras quando as dividimos com a sabedoria que o Espírito nos dá. E é muito improvável que você entenda o caráter dos evangelhos se não entender corretamente as dispensações ou diferentes formas administrativas usadas por Deus ao longo da história.
2 Timóteo 2:15
(ACF) “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”.
(Darby) “Strive diligently to present thyself approved to God, a workman that has not to be ashamed, cutting in a straight line the word of truth”.
Esse “maneja” é no sentido de cortar corretamente ou repartir e colocar cada coisa no seu lugar. E o lugar dos evangelhos é o Antigo Testamento. Tudo ali é judaísmo, porque Jesus veio para os judeus (“veio para o que era seu…”). Exceto duas únicas menções da igreja (Mt 16 e Mt 18), Jesus está tratando com judeus. Considerando que os judeus o rejeitariam: “…mas os seus não o receberam” (Jo 1:11), então se pode perceber que as instruções permanecem válidas para os judeus que irão se converter após o arrebatamento. Assim o “ide” é, em primeira instância, dirigido aos judeus convertidos que deverão pregar o “evangelho do reino” e não o “evangelho da graça de Deus”.
(Mc 16:15-20) “E disselhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão. Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram. Amém”.
Eles realmente “pregaram por todas as partes”, e sinais acompanharam sua pregação, o que aconteceu até nos primeiros tempos de Atos. Mas neste momento não foram pregar por todo o mundo. Para entendermos a Palavra é preciso discernir que também precisamos dividir a profecia referente ao mundo e a Israel. Por exemplo, quando você lê Daniel 9 precisará entender que existe uma divisão ali, um parêntese antes dos últimos sete anos “ou semana” da profecia, ou não terá como fechar a contagem de anos.
(Dn 9:24-27) “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo. Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos. E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o povo [romanos] do príncipe, que há de vir [esse príncipe é o anticristo], destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações. [entra aqui o período da igreja] E ele [o príncipe do versículo anterior, que é o anticristo futuro] firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador”.
Quer ver outra profecia que o próprio Senhor mostrou que precisava ser dividida para fazer sentido?
(Lc 4:17) “E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor. E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”.
Repare que ele parou a profecia em um determinado ponto, porque o restante dela ainda se cumprirá no futuro. Se ler a profecia toda em Isaías 61:1 verá que Jesus parou em “Apregoar o ano aceitável do Senhor”, antes de dizer “… e o dia da vingança do nosso Deus”. Isto porque o dia da vingança ainda virá e entre uma coisa e outra entraria o período da Igreja.
Mais um exemplo? Pedro cita Joel em Atos como sendo aquilo que estava acontecendo naquele momento da fundação da Igreja:
(At 2:16-21) “Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: e nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos terão sonhos; e também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e profetizarão; e farei aparecer prodígios em cima, no céu; e sinais em baixo na terra, sangue, fogo e vapor de fumo. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes de chegar o grande e glorioso dia do Senhor; e acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”.
Será que vimos o Espírito ser derramado sobre TODA A CARNE? Será que vimos “prodígios em cima, no céu, e sinais em baixo, na terra, sangue, fogo e vapor de fumo”? Será que vimos o sol se converter em trevas e a lua em sangue? Não, porque Pedro mencionou a profecia porque apenas uma parte dela estava se cumprindo naquele momento. Se não tivermos discernimento podemos querer aplicar as coisas na época e situação erradas, causando grande confusão.
O que os apóstolos pregavam era confirmado com sinais, era bem semelhante ao que o Senhor pregava, era a mensagem do Reino e aqueles que eram curados os apóstolos certamente diriam para irem ao Templo oferecer os sacrifícios conforme exigia a Lei, pois era assim também que Jesus agia ao curar alguém.
(Mc 1:44) “E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho”.
(Lc 5:14) “E ordenou-lhe que a ninguém o dissesse. Mas vai, disse, mostra-te ao sacerdote, e oferece, pela tua purificação, o que Moisés determinou, para que lhes sirva de testemunho”.
Essa primeira “evangelização” dos apóstolos obviamente foi interrompida pois tudo passou a ser diferente. Veja que a promessa do Senhor era de que eles não terminariam de percorrer toda a terra de Israel antes que o Senhor voltasse. Fica muito claro que isto ocorrerá no contexto da grande tribulação, ou seja, é uma ordem dada para um tempo que não tem nada a ver com a igreja:
(Mt 10:23) “Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem”.
Os apóstolos estavam em uma condição muito diferente da que nós hoje estamos como igreja. E eles não tinham o Espírito Santo habitando em si, e a partir de Pentecostes já tinham. A própria mensagem de ir por todo o mundo não fazia muito sentido para aqueles judeus e basta lermos Atos para percebermos que houve muita relutância em entender que a igreja era um corpo formado por judeus e gentios igualmente salvos e com iguais privilégios. Foi somente com a revelação dada a Paulo do que era o corpo de Cristo que os outros apóstolos também passaram a entender a igreja.
Antes disso um gentio convertido ao judaísmo não tinha todos os privilégios que tinha um judeu. Por exemplo, o eunuco que se converte a Cristo em Atos 8 era um gentio convertido, um prosélito, que ia a Jerusalém adorar mas não podia nem entrar no templo, pois era eunuco (castrado) e a Lei não permitia seu acesso.
(Dt 23:1) “Aquele a quem forem trilhados os testículos, ou cortado o membro viril, não entrará na congregação do Senhor”.
Hoje não pregamos como os apóstolos faziam nos evangelhos. Não anunciamos que o Reino de Deus é chegado porque o Reino já está aqui, não em sua forma manifesta porque o Rei foi rejeitado. Mas virá a ser instalado no mundo quando Cristo voltar para reinar. O evangelho que pregamos hoje é o da salvação pela fé em Cristo. No período da igreja que vemos em Atos, quando um apóstolo curava alguém, ele já não dizia para a pessoa apresentar-se ao sacerdote em Jerusalém e fazer as ofertas exigidas pela Lei para sua purificação, como o Senhor fazia antes. Dá para perceber que estamos vivendo em outra dispensação?
Após o arrebatamento da igreja as coisas voltarão a ser bem parecidas com as condições dos tempos dos evangelhos. Haverá um governo que em muito se assemelhará ao império romano, porém com a introdução da democracia nele. É por isso que o último reino da estátua vista por Daniel tem os pés de ferro e barro.
(Dn 2:33) “As pernas de ferro; os seus pés em parte de ferro e em parte de barro”.
O ferro era o mesmo material das pernas e representa o Império Romano, enquanto o barro nos fala de humanidade, pois o homem veio do barro. Democracia e o poder colocado nas mãos do povo, ou seja, o ferro do governo misturado com o barro da humanidade.
Nesse tempo (após o arrebatamento) as atenções se voltarão ainda mais para a Europa e Israel. É disso que fala praticamente todo o Apocalipse, com exceção dos primeiros 3 capítulos e dos últimos. Portanto, encare muito do que você encontra nos evangelhos como instruções que foram suspensas até que o mundo esteja novamente configurado para elas serem colocadas em prática.
O “ide” foi dado nesse contexto. Mas será que isto significa que não devemos “ir”? É claro que devemos, mas não como igreja, e sim como indivíduos, pregando o evangelho da graça de Deus e encaminhando aqueles que se convertem para estarem congregados onde o Senhor está no meio. O caráter individual (e não como “igreja”) da evangelização fica muito evidente em passagens como estas:
(At 8:4-5) “Mas os que andavam dispersos iam por toda a parte, anunciando a palavra. E, descendo Filipe à cidade de Samaria lhes pregava a Cristo”.
(At 11:19-21) “E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus. E havia entre eles alguns homens cíprios e cirenenses, os quais entrando em Antioquia falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor”.
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Devo levantar as mãos para orar?
Você viu muitos cristãos que oram levantando as mãos para o alto e quer saber se isto é uma necessidade na oração. Certamente não existe uma posição específica para orar, já que encontramos na Bíblia pessoas orando em pé, deitadas, de joelhos, etc. Também não me lembro de existir alguma passagem que diga que a oração deva ser com os olhos fechados. Vemos o Senhor abençoando os pães de olhos abertos fitos nas alturas.
(Lc 9:16) “E, tomando os cinco pães e os dois peixes, e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos seus discípulos para os porem diante da multidão”.
Daniel tinha o costume de orar três vezes ao dia com as janelas abertas para o lado de Jerusalém, e acredito que ele orasse olhando pelas janelas. Em Atos 16 vemos Paulo e Silas orando e cantando na prisão com os pés presos ao tronco, uma posição das mais desconfortáveis. No Antigo Testamento encontramos Jonas orando no ventre do grande peixe, e dificilmente imaginaríamos alguém de joelhos ou com as mãos literalmente levantadas em um lugar assim. Por isso creio que mais importante do que a posição do corpo na oração seja a condição de alma de quem ora. Vamos à passagem de sua dúvida:
(1 Tm 2:8) “Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda”.
O verbo “levantar” no grego pode ser traduzido como literalmente erguendo as mãos ou simplesmente no sentido figurado de mostrá-las, que é o que entendo ser o significado aqui. Mesmo porque a questão não é de forma, mas de conteúdo. Não é o modo como posiciono minhas mãos aqui, mas a condição em que elas devem estar, ou seja, “santas”. A força da passagem não está na posição física das mãos mas na condição moral. Elas devem ser santas porque aqui o assunto é a oração e Deus não irá escutar a oração daquele que pratica a iniquidade.
(Sl 66:18) “Se eu atender à iniquidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá;”.
Porém o homem religioso é sempre pronto a imitar ou se posicionar fisicamente de modo a demonstrar piedade ou para que outros vejam. O Senhor advertiu que aqueles que oravam nas praças para serem vistos pelos homens já tinham recebido seu galardão, ou seja, aquilo que buscavam: serem vistos pelos homens.
Se olharmos com atenção a passagem vemos que a importância está, primeiro, na necessidade de orar: “Quero… que os homens orem”. Aqui está falando de varões, ou seja, não está incluindo mulheres, pois elas são tratadas mais adiante. Portanto fica bem claro que as mulheres não devem orar em todo lugar, ou seja, ao menos publicamente. A mulher pode evidentemente ter sua oração privativa ou orar com outras mulheres, mas há lugares e situações em que caberá ao varão orar.
Outro aspecto importante da passagem está na frequência e lugar, ou seja, “em todo o lugar”, o que significa também dizer que devemos viver em estado de oração, orando sempre, porque sempre estamos em algum lugar incluído nesse “todo lugar”. Então vem as condições das mãos, “santas”, obviamente não mãos que derramam sangue, que fazem o mal, que aceitam ou pagam suborno.
Finalmente, a condição de alma de quem ora deve ser sem ira nem contenda (algumas traduções trazem “sem ira e sem duvidar”). Mas será que alguém iria orar com ira e contenda? Sim, e são muitas as ocasiões em que vemos pessoas orando, ou para descarregarem em Deus suas mágoas contra alguém, ou para passarem um recado a algum desafeto presente como se estivesse orando a Deus.
Neste sentido também não é correto transformar a oração, que deveria ser dirigida a Deus, em uma pregação ou exposição bíblica. Deus não precisa que expliquemos a ele as doutrinas de sua Palavra. Ele conhece todas elas. Se falarmos de seus feitos como forma de agradecimento, reconhecimento ou louvor, então tudo bem. Mas se transformarmos nossa oração em um tratado teológico ou, o que é pior, em uma forma de mandar recados para alguém presente na sala, dizendo com indiretas algo que não teríamos coragem de dizer pessoalmente, então certamente esta não é a oração com mãos santas e sem ira nem contenda.
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Os primeiros cristãos congregavam em sinagogas?
Quando observamos o modo de agir dos primeiros cristãos devemos ter em mente que nem sempre isso serve de exemplo para nós. A igreja teve início em Atos 2 e era inicialmente composta por judeus convertidos a Cristo. A princípio eles não entenderam exatamente o que era a Igreja, pois em nenhum lugar do Antigo Testamento os profetas haviam previsto que Cristo teria um corpo na terra formado pelos salvos, de cujo corpo o próprio Jesus seria a Cabeça no céu.
Por isso logo no início de Atos ainda vemos os cristãos frequentando o Templo em Jerusalém, mas eles logo deixariam de fazer isso para se reunirem em casas. Uma das primeiras epístolas, a de Tiago, ainda chama de “sinagoga” (esta é a palavra que está no original grego) o lugar de reuniões, mas é preciso também entender duas coisas.
Devemos ter em mente que a epístola de Tiago é uma das mais antigas e foi escrita no ano 45 AD, ou seja, cerca de apenas 12 anos depois da morte e ressurreição de Cristo. Como Paulo se converteu entre 31 e 36 e só depois disso é que teve a revelação do que era a igreja, podemos considerar que Tiago estivesse escrevendo a judeus cristãos que ainda carregavam uma grande dose de judaísmo em seus costumes e nomenclaturas utilizadas. Isso seria corrigido depois pela epístola aos Hebreus, que foi escrita uns 20 anos depois da de Tiago.
Vemos Paulo visitando sinagogas em Atos, mas elas eram de judeus e não de cristãos. Paulo e outros iam lá para pregar o evangelho aos judeus. Quando eles se convertiam a Cristo paravam de ir às sinagogas. As sinagogas tinham um caráter de escolas de judaísmo, onde o Antigo Testamento era lido e onde faziam orações. Não era um lugar de adoração, pois no judaísmo o único lugar de adoração era o templo em Jerusalém.
Não existe qualquer semelhança entre uma sinagoga e um salão de reuniões cristãs (isto quando os cristãos se reúnem em salões, porque muitos se reúnem em casas, escritórios, garagens, escolas, hotéis, etc.). O lugar de reuniões do cristão não tem significado algum, é apenas um endereço físico e é um erro chamá-lo de Templo. Infelizmente muitos cristãos cometem este erro ao emprestarem do judaísmo muitos elementos que são estranhos à fé cristã. Se entendessem a epístola aos Hebreus abandonariam de vez o “arraial” contaminado pelo judaísmo.
O que importa é a quem estamos reunidos, e não o endereço físico ou se existem ou não quatro paredes. Quando há muitos irmãos e existe esta facilidade, costuma-se alugar ou comprar um salão, mas este não tem qualquer paralelo com as sinagogas dos judeus. Comparar a igreja (que nunca na Bíblia é um edifício físico) a uma sinagoga (que é um edifício) é perder de vista o ensino no Novo Testamento e deixar de desfrutar as verdades que foram reveladas a Paulo acerca do corpo de Cristo e da assembleia que deve estar congregada ao seu Nome.
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Posso orar por um animal de estimação?
Esta é uma pergunta difícil de responder, pois não encontro nenhum caso nas Escrituras de alguém orando por um animal. Mas não seria de todo estranho se pensássemos na relação e importância que o animal tem para o homem, no que o animal pode representar para alguém. Por exemplo, se eu tivesse um filho pequeno cujo cãozinho adoeceu, e isto estivesse fazendo meu filho sofrer, eu oraria ao Pai por meu filho e pela cura do cãozinho, que é a razão do sofrimento.
Mas certamente eu oraria não apenas no sentido de curar o cãozinho para deixar meu filho feliz, mas também no sentido de usar aquele sofrimento para ensinar a meu filho sobre as tristes consequências do pecado do homem que arruinou toda a Criação de Deus, inclusive os animais. Mas que fosse feita a vontade do Pai, e não a minha ou de meu filho, sempre tendo em mente que os animais foram criados para o bem-estar do homem que é a coroa da criação, e não o contrário.
(Rm 8:19-22) “Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, Na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora”.
É importante fazer uma ressalva aqui: ao contrário dos seres humanos, que têm corpo, alma e espírito, os animais têm apenas corpo e alma (a alma é a parte dos sentimentos), mas não espírito (que é nossa parcela imortal e nos faz semelhantes a Deus). Então seria um absurdo orar pela salvação espiritual de um cão ou de um porco, pois eles deixam de existir quando seus corpos morrem, mas não tão absurdo orar por sua saúde naquilo que ela tem alguma relação com o bem estar humano.
Alguns podem achar uma ideia absurda preocupar-se com um animal, mas isto é talvez por pensarem naquele poodle que não tem uma função maior do que alegrar a família. Porém em muitos casos os animais são indispensáveis à própria sobrevivência humana. Um pastor de ovelhas nos tempos bíblicos poderia ter dificuldades caso viesse a perder seu cão que protegia as ovelhas contra os lobos. O cão era seu instrumento de trabalho. Nós hoje oramos para que o carro ou a moto que usamos para trabalhar e foi roubada seja encontrada. Por que um pastor de ovelhas daquela época não poderia fazer o mesmo com respeito ao seu cão?
Um fazendeiro hoje que dependa de seu gado para a subsistência de sua família certamente irá orar pelo rebanho caso este seja atingido por uma doença. Se ele perder suas vacas poderá perder as terras, ficar sem emprego e sua família passará fome. Por outro lado, ao orar pela cura das vacas ele estará orando a Deus para dizimar as bactérias ou vírus causadores da doença, o que não deixa de ser uma maldição sobre seres microscópicos que têm o mesmo direito de viver dos grandes mamíferos.
Portanto, antes de adotar uma atitude piegas de falsa humanidade e preocupação por seu cãozinho de estimação, entenda que a sobrevivência dele pode significar a morte de outros seres vivos que dependem dele, ou mesmo a fome dos vermes que porventura teriam alimento garantido caso seu cãozinho viesse a morrer.
Posso parecer um pouco malévolo nesta comparação, mas é a realidade e um cristão não pode fugir dela achando que vivemos num mundo perfeito. Não vivemos. Tudo aqui cheira a morte e todos os dias matamos milhões de seres vivos ao jogarmos desinfetante na privada. Mesmo que você seja vegetariano por questões de consciência religiosa, é melhor rever suas crenças antes de tomar um antibiótico. Você talvez tenha de decidir quem deve morrer: você ou as bactérias.
Mesmo assim é bom verificar o que Deus pensa dos animais para não cairmos no outro extremo, que é o de os tratarmos com sadismo e violência. Numa cultura como a dos tempos bíblicos, em que quase não se usava dinheiro, o cartão de crédito tinha quatro patas. Por isso era normal que Deus se preocupasse com os animais: eles eram o meio de subsistência dos humanos. Veja, por exemplo, a preocupação que Deus tinha, não só com os habitantes de Nínive, mas também com seus animais:
(Jo 4:11) “E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?”.
Se Deus não se preocupasse com os animais teria mandado Noé fazer uma arca só para sua família. Seria um barco bem menor e teria dado muito menos trabalho. Por que Deus se preocupava com os animais? Porque eles faziam parte da sobrevivência humana. Na Bíblia vemos que os animais foram criados em função do homem, e não o contrário, e o homem foi colocado sobre cabeça de toda a Criação (e falhou nisto também).
(Gn 2:19-20) “Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome. E Adão pós os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo;”.
(Gn 9:2-3) “E o temor de vós e o pavor de vós virão sobre todo o animal da terra, e sobre toda a ave dos céus; tudo o que se move sobre a terra, e todos os peixes do mar, nas vossas mãos são entregues. Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado como a erva verde”.
Mas ainda que usemos os animais para alimento, carga, experimentos médicos, obtenção de órgãos, matéria prima industrial ou outra função, devemos sempre nos lembrar de agradecer a Deus sabendo que os animais pertencem a ele, não a nós, e é pelo cuidado que Deus tem por nós que nos é permitido utilizar daquilo que pertence a ele.
(Sl 50:10-11) “Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de montanhas. Conheço todas as aves dos montes; e minhas são todas as feras do campo”.
Portanto devemos sempre enxergar a questão dos animais em sua relação com o homem, ou perderemos de vista o padrão bíblico. Muitos movimentos de proteção aos animais tropeçam nisto e querem colocar os animais com os mesmos direitos que têm os seres humanos, ou às vezes acabam protegendo os animais em detrimento da vida humana. Mas não é assim que somos ensinados na Bíblia, portanto, ao orarmos pela saúde de um animal, de estimação ou rebanho, devemos entender que estamos na verdade orando por seu dono, pela solução para aquilo que o aflige, por sua fonte de subsistência. A razão é simples: o que vale mais para Deus, um pardal ou um ser humano? Um ser humano, evidentemente. O próprio Jesus afirmou isto:
(Mt 10:29-31) “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos”.
(Mt 6:26) “Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?”.
Mas isto não nos dá o direito de sermos cruéis com as criaturas das quais Deus cuida e alimenta.
(Pv 12:10) “O justo tem consideração pela vida dos seus animais, mas as afeições dos ímpios são cruéis”.
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O que tenho pode ser um dom espiritual?
Quando o Senhor andou neste mundo, ele fez vários sinais, milagres e maravilhas, como multiplicar os pães, acalmar tempestades, curar enfermos e ressuscitar mortos. Mas cada sinal ou milagre tinha um objetivo claro, primeiro de apresentar suas credenciais de Messias ao povo de Israel e, segundo, de exercer misericórdia para com aqueles que sofriam das privações e provações trazidas pelo pecado.
Mas uma terceira razão de seus sinais e milagres poderia ser a de exibir seus poderes para ganhar notoriedade. Porém isso ele não fez e nem podia fazer, pois seria contrário à sua natureza divina. Prova disso é que nós o vemos curando e ao mesmo tempo alertando o ex-enfermo a não divulgar aquilo.
(Lc 5:13-14) “E ele, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, sê limpo. E logo a lepra desapareceu dele. E ordenou-lhe que a ninguém o dissesse”.
Depois de morrer, ressuscitar e ascender aos céus, Jesus deu dons aos homens com o objetivo claro de edificar o corpo de Cristo, e não de fazer desses homens e mulheres super-heróis ou mágicos de Las Vegas.
(Ef 4:10-14) “Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente”.
Veja bem:
— É Cristo que dá os dons diretamente de seu lugar no céu, portanto não são dons dados por ordenação humana ou faculdades de teologia;
— O objetivo é o aperfeiçoamento dos santos e não o enriquecimento ou a possibilidade de se exibir do que recebe o dom;
— É para a edificação do corpo como um todo, e não de uma denominação religiosa;
— Seu objetivo é levar as pessoas ao conhecimento de Cristo, e não torná-las dependentes da pessoa que tem o dom, livrando-as justamente do “engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente”.
Estes são os dons universais e quem os têm pode usá-los em todos os lugares. Um evangelista ou pastor ou mestre é evangelista, pastor ou mestre onde quer que esteja, e não apenas em sua assembleia local. Apóstolos e profetas são dons que ficaram restritos ao período de lançamento do fundamento ou alicerce da casa de Deus, portanto você já não os encontrará por aí. Os apóstolos tinham uma característica de terem estado com o Senhor e os profetas (às vezes um era também o outro) supriam a necessidade de comunicação de Deus para com os santos em uma época quando ainda não existia o Novo Testamento e as epístolas com a doutrina dos apóstolos para a igreja.
(Ef 2:19-22) “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito”.
Portanto, para este tempo da igreja temos o Senhor Jesus como a pedra angular ou de esquina (a primeira que se coloca no alicerce de uma construção), os apóstolos e profetas como fundamento ou alicerce, determinando onde começam e terminam as paredes, e finalmente as paredes, que é a parte hoje em construção e na qual atuam os dons de evangelistas (os que trazem matéria prima, as pedras individuais – At 11:19-21), pastores (que colocam a argamassa para que as pedras permaneçam unidas ao Senhor – At 11:22-24) e mestres ou doutores (que mantêm as paredes alinhadas e no prumo doutrinário – At 11:25-26).
Mas há os outros dons, de aplicação mais local e eventual, sempre “para o que for útil”, portanto nunca para exibicionismo ou inflar o ego.
(1 Co 12:7-11) “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”.
Aqui é o Espírito quem dá a cada um o dom “para o que for útil”, e ele reparte não segundo a nossa vontade ou a vontade dos homens, mas “particularmente a cada um como [ele, o Espírito] quer”. Isto nos ajuda a entender outra passagem geralmente mal compreendida:
(1 Co 12:31) “Portanto, procurai com zelo os melhores dons;”.
O apóstolo não está dizendo aí para nos esforçarmos para receber este ou aquele dom, mas para termos discernimento de buscarmos nos ocupar com os dons de outros irmãos que trazem maior benefício, os melhores dons. Se ler o capítulo 14, que é uma continuação do assunto, verá que ele está comparando o dom de falar em línguas estrangeiras ao dom de profecia (falar a Palavra de Deus), concluindo que o dom de profecia é muito superior ao dom de línguas, porque o primeiro edifica a todos e o segundo só ao que fala.
(1 Co 14:1-3) “Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar. Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação”.
Repare que no caso de curar, não diz “o dom de curar”, mas “os dons de curar”, porque não é um poder permanente dado a alguém para usar quando bem entender, mas uma capacidade dada a diferentes pessoas conforme a necessidade do momento, para o benefício de diferentes pessoas em diferentes situações.
Mas sua pergunta foi mais específica. Você quis saber se essa intuição para detectar se uma pessoa tem más intenções, mesmo sem conhecê-la, é um dom. Podemos considerar que você poderia ter o dom de “discernir os espíritos” (1 Co 12:10), que é o que Pedro, por exemplo, usou para detectar que Simão era um impostor:
(At 8:18-23) “E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, Dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo. Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, dessa tua iniquidade, e ora a Deus, para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração; Pois vejo que estás em fel de amargura, e em laço de iniquidade”.
Em outro momento Paulo parece usar desse dom para detectar que a jovem que aparentemente queria ajudá-lo na propagação do evangelho escondia um espírito maligno por detrás daquelas palavras. Uma pessoa qualquer teria se surpreendido ao ver Paulo falar daquela maneira a alguém que parecia estar apenas querendo ajudar:
(At 16:16-18) “E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo. E isto fez ela por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu”.
O discernimento de espíritos também pode ser usado, neste caso pelos varões (veja 1 Co 14:34), nas reuniões da assembleia para detectar em que espírito um irmão está dizendo algo (porque às vezes alguém pode erroneamente usar da palavra para “mandar recados”) ou se existe má doutrina naquilo que fala.
É preciso entender que o que estou dizendo agora é no sentido de 1 Coríntios 14, numa reunião da assembleia (ou igreja) conforme os padrões bíblicos, quando o Espírito Santo tem a liberdade de escolher quem irá ministrar, e não no sentido denominacional, em que as reuniões são dirigidas por um homem à frente (o “pastor”, um modelo que não é bíblico).
Na reunião da assembleia falam os profetas, aqueles que têm algum dom de ministrar, como em 1 Coríntios 12:10 que diz “…e a outra profecia”, e não no sentido dos dons universais de Efésios 3 que já comentei. Veja um exemplo de profetas em ação:
(At 15:32) “Depois Judas e Silas, que também eram profetas, exortaram e confirmaram os irmãos com muitas palavras”.
Numa reunião da assembleia falam dois ou três profetas (e não há um “pastor” à frente dirigindo tudo e monopolizando o ministério da Palavra como fazem nas denominações) e os outros julgam. Esses que julgam podem estar exercendo o dom de discernimento dos espíritos.
(1 Co 14:29-33) “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz”.
É importante frisar que nesta passagem fala de um tempo quando ainda havia revelações (lembre-se de que eles não tinham ainda o Novo Testamento escrito), mas hoje uma reunião da assembleia funciona bem tendo a Palavra ou revelação escrita e o ministério dos profetas. E estes, como acontece também com os outros dons, têm seus espíritos sob controle, ou seja, ninguém entra em algum tipo de transe ou êxtase para ser usado pelo Espírito no exercício de seu dom. Uma reunião nos moldes de 1 Coríntios 14 é uma reunião de ordem e paz, e não de confusão e desordem.
Os Coríntios estavam sendo seriamente exortados pelo apóstolo, pois ao invés de usarem os dons “para o que for útil” como diz em 1 Coríntios 12:7, eles pareciam crianças que ganharam um brinquedo novo e assim só geravam desordem e escândalos no uso dos dons. Daí a advertência:
(1 Co 14:20) “Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento”.
Mas talvez a aplicação mais direta e importante deste dom de discernir os espíritos possa ser a que é explicada nesta passagem:
(1 Jo 4:1-6) “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo… Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro”.
É importante não confundir um dom espiritual com um talento, habilidade ou capacidade natural. Uma pessoa pode ser extremamente habilidosa em detectar más intenções em alguém, e as mulheres são campeãs neste sentido por terem uma intuição muito apurada. Há também pessoas que são treinadas em ler expressões faciais e linguagem corporal para detectarem se uma pessoa está mentindo. Policiais que trabalham em interrogatórios costumam passar por treinamentos assim. Pessoas que estudam psicologia, psiquiatria, neurolinguística e outras disciplinas adquirem habilidades semelhantes de leitura de comportamento e caráter. Há também os estelionatários e golpistas que são mestres na arte de escolher suas vítimas por uma série de indícios aparentes de comportamento. Nada disso, porém, tem a ver com o dom de discernir espíritos.
Talvez agora você tenha mais subsídios para detectar se aquilo que você tem é um dom espiritual ou uma intuição apurada para detectar as intenções das pessoas com base em indícios quase invisíveis de feições e comportamento. Se for o segundo caso, parabéns pela habilidade. Se for o primeiro, então toda a glória deve ser dada a Deus e você deve usar seu dom com parcimônia dentro daquilo “que for útil” para o corpo de Cristo.
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O arrebatamento será na metade da última semana?
Sua dúvida é se o arrebatamento da igreja ocorrerá na metade da última semana de anos mencionada por Daniel no capítulo 9 de seu livro. A igreja nunca aparece na profecia porque a profecia fala de Israel e do mundo. Portanto em Daniel a prova da Igreja ser arrebatada antes dos 7 anos finais está justamente na falta de um número de anos suficiente para fechar a conta feita na profecia. Vejamos:
(Dn 9:23-24) “No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a palavra, e entende a visão. Setenta semanas [490 anos] estão determinadas sobre o teu povo [Israel], e sobre a tua santa cidade [Jerusalém],”.
Considerando que os eventos descritos a seguir e culminando com a destruição de Jerusalém e do templo já ocorreram em um período de (490-7) anos, então podemos afirmar que aqui o termo “semana” refere-se a anos. Na verdade a palavra “semana” não aparece no original, que diz mais ou menos assim: “Setenta setes (ou setenta sétimos) estão determinados”.
(Dn 9:24) “…para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados,”.
O sentido aqui é de a transgressão chegar ao seu fim, ao seu ponto final, ou seja, depois da rejeição do Messias não haverá transgressão maior que esta. Na continuação Israel terá também seus pecados perdoados, o que pode ser o significado da segunda parte.
“… E para expiar a iniquidade,”.
Embora a obra da expiação tenha sido feita na cruz, os seus efeitos no que diz respeito a Israel (que é o assunto aqui) só serão levados a termo no futuro, quando um remanescente reconhecer o Messias e crer. Então a nação irá desfrutar da obra já consumada de Cristo na cruz.
“…E trazer a justiça eterna,”.
Aqui é o Milênio, com Israel vivendo sob um Rei justo, Jesus, cuja justiça é efetivamente eterna, ainda que o Milênio seja apenas um período de tempo.
“…E selar a visão e a profecia,”.
Toda a profecia culmina em Jesus e na sua obra perfeita, não apenas a que foi realizada na cruz, mas também todos os seus desdobramentos que incluem a sua vinda para estabelecer o seu Reino. Portanto, no fim dos 490 anos ou setenta semanas representa também o fim ou cumprimento desta profecia.
“…E para ungir o Santíssimo [lugar]”.
No início do Milênio o templo que Ezequiel descreve (cap. 40-44) será consagrado em Jerusalém e o Senhor será a sua glória como aconteceu na inauguração do templo de Salomão.
(Dn 9:25) “Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém,”.
Esta ordem você encontra em Neemias 2:1-8 dada por Artaxerxes.
“…Até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos”.
Entre a ordem de restaurar e a morte de Cristo (devia ser sua coroação, mas lhe deram por trono uma cruz) passaram-se 7 semanas (49 anos) mais sessenta e duas semanas (434 anos). Isso já é história. Alguém calculou os anos descontando os erros de calendário e chegou à data da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, e não da cruz. Seja o que for, a diferença é de dias.
(Dn 9:26) “E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo;”.
O Messias cortado refere-se à morte de Cristo. Outra tradução diz: “…será cortado e não terá nada”.
“…E o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações”.
Aqui não é “o príncipe que há de vir”, mas o seu povo, pois se trata do povo romano que destruiu Jerusalém e o Templo no ano 70 DC. O “príncipe” virá depois, e ele é o anticristo, mas seu povo já estava lá atrás agindo conforme a profecia.
É aqui que existe uma lacuna que a profecia não revela porque a Igreja ainda era um mistério para os profetas, e só seria revelada muito depois ao apóstolo Paulo. Repare que é aqui que dá para encaixar os dois mil anos que já se passaram e que não entram na contagem dos (490-7) anos.
Se tentarmos encaixar o arrebatamento na metade da última semana de 7 anos que falta aqui ou no seu final, ou seja, quando Cristo vem para reinar, a conta simplesmente não fechará. Teríamos 69 semanas (483 anos), mais umas 287 semanas (2000 anos), mais 1 semana (7 anos). Ou a aritmética profética está dando um erro de 2 mil anos ou teremos de concluir que o relógio profético parou com a rejeição e morte de Jesus e só voltará a bater quando o anticristo firmar uma aliança com muitos no início da última semana. Este é o assunto do próximo versículo:
(Dn 9:27) “E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador”.
Portanto, vejo que a ordem dos acontecimentos é esta:
1. Sai a ordem para restaurar Jerusalém (Neemias).
2. O Messias vem e é tirado (morto).
3. O povo romano (do qual será o anticristo) destrói Jerusalém e o Templo.
4. O príncipe daquele povo que destruiu a cidade e o Templo faz uma aliança.
5. Na metade da semana ele rompe a aliança de forma hostil e idólatra.
6. Ele irá assolar os judeus fiéis até o fim (da semana de anos).
Para acompanhar melhor sugiro a leitura dos livros “Acontecimentos Proféticos” e “Questões Proféticas”.
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O diabo pode influenciar crianças?
O mundo jaz no maligno e isso inclui as crianças. As crianças são pecadoras porque nascem assim (o pecado é uma herança). Ainda que o pecado que existe nelas não tenha produzido “pecados” enquanto elas são pequenos e indefesos bebês, logo começarão a aparecer as evidências de que elas pertencem a uma raça caída. Se não fosse assim, bebês não adoeceriam, pois a doença é uma das consequências do pecado.
(1 Jo 5:19) “Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno”.
É sempre bom lembrar que Hitler, Sadam, Aníbal, Bin Laden, Nero, Gengis Khan e tantos outros facínoras da história devem ter sido bebezinhos adoráveis, que eu e você teríamos carregado no colo e achado que eles jamais seriam capazes de fazer mal a uma mosca. Pode ser que neste exato momento um bebezinho esteja sorrindo para seus pais encantados com ele e que esse mesmo bebê irá crescer e ser o anticristo.
Portanto, quando dizemos que tudo está arruinado pelo pecado, é tudo mesmo, inclusive as crianças. Você já pode detectar o espírito voluntarioso de uma criança quando tenta dar a mão a ela para atravessar a rua e ela quer fazer do jeito dela. O pecado foi isso: querer viver independente de alguém superior. Até os animais, que nunca pecaram, ficaram sob a mesma maldição do pecado e sofrem por causa de nós.
(Rm 8:19-23) “Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, Na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo”.
Mas sua dúvida é se Satanás pode influenciar ou até mesmo usar uma criança para seus propósitos. Leia esta passagem:
(2 Rs 2:23-24) “Então [Eliseu] subiu dali a Betel; e, subindo ele pelo caminho, uns meninos saíram da cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: Sobe, calvo; sobe, calvo! E, virando-se ele para trás, os viu, e os amaldiçoou no nome do Senhor; então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e dois daqueles meninos”.
Certamente por detrás daqueles meninos que zombavam do profeta de Deus estava o inimigo de nossas almas. Aparentemente a frase “Sobe calvo!” Tem a ver com o profeta Elias, que subiu arrebatado aos céus, enquanto Eliseu ficou (veja o versículo 11). Isto poderia significar que Eliseu seria um profeta de menor capacidade que Elias e os meninos estariam zombando dele por esta razão. A passagem impressiona, mas creio que Deus quis mostrar que quem zomba de um servo dele está zombando do próprio Deus.
(Mt 25:45) “Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos [aqui ele está falando dos judeus fiéis que o seguirão durante a tribulação) o não fizestes, não o fizestes a mim”.
Na passagem de Atos 16 não sabemos a idade da “jovem”, mas ela estava possessa de um espírito imundo. No grego a palavra é no sentido de “menina” e algumas traduções estão assim.
(At 16:16) “E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores”.
Estas passagens também falam de um menino e uma menina possessos de espíritos malignos:
(Mc 9:20-21) “E trouxeram-lho; e quando ele o viu, logo o espírito o agitou com violência, e, caindo o endemoninhado por terra, revolvia-se, escumando. E perguntou ao pai dele: Quanto tempo há que lhe sucede isto? E ele disse-lhe: Desde a infância”.
(Mc 7:26) “E esta mulher era grega, sirofenícia de nação, e rogava-lhe que expulsasse de sua filha o demônio”.
Talvez alguém diga que é cruel Deus permitir que essas coisas aconteçam com crianças, mas não podemos nos esquecer de que este mundo é aquele do qual os homens expulsaram o Filho de Deus. Se havia alguma dúvida quanto à inimizade dos homens contra Deus, e sua preferência em seguir o pecado e Satanás, isso ficou muito claro no Calvário.
O homem pecador é alguém que um dia foi uma criança aparentemente inocente, mas ninguém nasce inocente, pois inocência foi uma característica apenas de Adão antes da queda. Se alguém alegar que Deus é cruel ao permitir que o mal aconteça às crianças, não devemos nos esquecer do modo como a humanidade trata seus filhos.
(Ez 5:10) “Portanto os pais comerão a seus filhos no meio de ti, e os filhos comerão a seus pais; e executarei em ti juízos, e tudo o que restar de ti, espalharei a todos os ventos”.
(2 Rs 6:28-29) “Disse-lhe mais o rei: Que tens? E disse ela: Esta mulher me disse: Dá cá o teu filho, para que hoje o comamos, e amanhã comeremos o meu filho. Cozemos, pois, o meu filho, e o comemos; mas dizendo-lhe eu ao outro dia: Dá cá o teu filho, para que o comamos; escondeu o seu filho”.
É de surpreender que Deus tenha de agir com terríveis juízos, como fez com os meninos que zombavam de Eliseu, para com os terríveis seres humanos que preferiram viver em rebeldia? É sempre bom lembrar que se o pecado nunca tivesse entrado na criação, Deus nunca precisaria ter agido com seus terríveis juízos. Ou seja, nós somos os causadores do modo severo como Deus é obrigado a agir com sua criação.
O diabo tem suas maneiras de influenciar as crianças, e não precisa necessariamente enviar seus espíritos malignos para possuí-las. O método que mais usa é incutir a mentira em suas mentes para que elas cresçam “programadas” para gostar do ocultismo, e os pais têm uma grande parcela de responsabilidade nisso. Não é à toa que hoje livros e filmes de bruxos (Harry Potter) e vampiros (Crepúsculo) façam tanto sucesso entre crianças e adolescentes.
Se observar os desenhos animados para criancinhas procuram mostrar que o dragão é um ser camarada e não faz mal a ninguém. Como explicar para uma criança que vive assistindo vídeos e lendo livros e colorindo desenhos de dragões que Satanás na Bíblia é chamado de dragão? Na cabeça dela, se o dragão é bom então o diabo não pode ser mau! Percebe a sutileza do ataque? Apenas no Apocalipse o diabo é chamado de “Dragão” 12 vezes.
(Ap 12:3) “E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas”.
(Ap 12:4) “E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho”.
(Ap 12:7) “E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos;”.
(Ap 12:9) “E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele”.
(Ap 12:13) “E, quando o dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho homem”.
(Ap 12:16) “E a terra ajudou a mulher; e a terra abriu a sua boca, e tragou o rio que o dragão lançara da sua boca”.
(Ap 12:17) “E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao remanescente da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo”.
(Ap 13:2) “E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio”.
(Ap 13:4) “E adoraram o dragão que deu à besta o seu poder; e adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?”.
(Ap 13:11) “E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão”.
(Ap 16:13) “E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi sair três espíritos imundos, semelhantes a rãs”.
(Ap 20:2) “Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos”.
Numa pesquisa no site da Amazon descobri que existem centenas de livros para crianças com histórias de dragões e na quase totalidade das histórias o dragão não é mau como as pessoas pensam, mas ele só quer ajudar as criancinhas. Então, respondendo mais uma vez sua pergunta se “O diabo pode influenciar as crianças?”, a resposta é sim, e aqueles que são pais facilitam o trabalho de Satanás quando não têm cuidado com aquilo que escolhem para seus filhos lerem ou assistirem.
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O arcanjo Miguel é Jesus?
Quando alguém me pergunta sobre algum ensino do Adventismo do Sétimo Dia, deixo bem claro que o problema não está na coisa ensinada, que em alguns casos pode até ser verdade, mas na sua origem. O corpo de doutrinas dessa religião se originou dos ensinos de uma mulher, Hellen White, e a Bíblia afirma categoricamente que a mulher não deve ensinar:
(1 Tm 2:12-14) “Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”.
Deus tomou este cuidado porque a mulher foi enganada lá no Éden, caindo em transgressão. Apesar de Adão ter acompanhado sua mulher em seu erro, ele não foi enganado pela serpente. Ele estava ciente do erro. Por esta razão a mulher é mais suscetível ao engano do inimigo, e mais ainda agora, pois depois da queda, Deus criou inimizade entre a serpente e a mulher, fazendo desta última o alvo preferido de Satanás.
(Gn 3:15) “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.
Deus precisou fazer assim por causa da relação de confiança que havia iniciado entre a mulher e o diabo, quando ela foi na conversa dele. Deus pôs um fim àquela estranha amizade, criando um ódio especial de Satanás contra a mulher. Essa inimizade perdura até hoje e se estende à semente da mulher, o Salvador que havia sido prometido. É por esta razão que em várias ocasiões vemos Satanás atacando particularmente crianças na Bíblia, na tentativa de impedir o nascimento do Salvador anunciado no Éden, que esmagaria a cabeça da serpente.
Voltando à questão do Adventismo do Sétimo Dia, você nunca terá a garantia de que seus ensinos sejam corretos, já que sua origem está na desobediência a uma ordem clara dada por Deus: “Não permito que a mulher ensine” (1 Tm 2:12).
Tratando agora de sua pergunta em particular, não existe qualquer fundamento na afirmação feita pelo Adventismo do Sétimo Dia (e também pelas Testemunhas de Jeová) de que o arcanjo Miguel seria Jesus. A epístola aos Hebreus deixa clara a diferença entre os anjos e Jesus:
(Hb 1:5-8) “Porque, a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, Hoje te gerei? Eu lhe serei por Pai, E ele me será por Filho? E outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem. E, quanto aos anjos, diz: Faz dos seus anjos espíritos, e de seus ministros labareda de fogo. Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de equidade é o cetro do teu reino”.
Os anjos adoram Jesus porque ele é Deus, e os anjos não são adorados em lugar algum da Bíblia.
(Ap 19:10) “E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disseme: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”.
(Ap 22:8-9) “E eu, João, sou aquele que vi e ouvi estas coisas. E, havendo-as ouvido e visto, prostrei-me aos pés do anjo que mas mostrava para o adorar. E disseme: Olha, não faças tal; porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus”.
Ao contrário dos anjos, Jesus é adorado por ser Deus e não recusa adoração:
(Mt 8:2) “E, eis que veio um leproso, e O adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo”.
(Mt 9:18) “Dizendo-lhes Ele estas coisas, eis que chegou um chefe, e O adorou, dizendo: Minha filha faleceu agora mesmo; mas vem, impõe-lhe a Tua mão, e ela viverá”.
(Jo 9:38) “Ele disse: Creio, Senhor. E O adorou”.
(Hb 1:6) “E outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus O adorem”.
O título arcanjo (arqui-anjo) dado a Miguel pode ser por ele estar numa posição elevada na hierarquia que Deus criou. Mesmo assim, ele ainda está abaixo do querubim Satanás, como é possível ver na epístola de Judas:
(Jd 1:9) “Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda”.
O arcanjo Miguel não ousou repreender o diabo, mas Jesus o fez, em algumas ocasiões repreendeu demônios (ou espíritos imundos) e o próprio Satanás, quando este tentou influenciar os pensamentos de Pedro:
(Mt 17:18) “E, repreendeu Jesus o demônio, que saiu dele, e desde aquela hora o menino sarou”.
(Mc 1:25) “E repreendeu-o Jesus, dizendo: Cala-te, e sai dele”.
(Mc 8:33) “Mas ele, virando-se, e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são dos homens”.
Mas sua pergunta podia também ter sido sobre alguma doutrina do Adventismo do Sétimo Dia que estivesse correta e mesmo assim eu iria sugerir que você nunca bebesse daquela fonte, justamente porque Deus afirma que não é confiável:
(1 Tm 2:12-14) “Não permito, porém, que a mulher ensine… Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”.
Ainda que Hellen White, a fundadora do Adventismo, tenha costurado algumas verdades no tecido de sua doutrina, essas verdades podem estar ali apenas para servir de gancho para levar os incautos à mentira. Na tentação no deserto Satanás usou a Palavra de Deus, mas nem por isso ele estava certo. Procure sempre analisar a origem, mesmo de uma “verdade”, porque a verdade pode ser apenas o preâmbulo de uma mentira.
“É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade”, diz o comercial da Folha de São Paulo veiculado nos anos 1980:
“Este homem pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus 4 primeiros anos de governo o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900.000 pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capta dobrar. Aumentou o lucro das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de marcos, e reduziu uma hiperinflação para no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura, e quando jovem imaginava seguir a carreira artística. É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade”.
No final do comercial, que tinha um rosto que ia ficando cada vez mais nítido, você acabava percebendo que o texto falava de Hitler
Além da ideia de que o arcanjo Miguel seria Jesus, Hellen White ensinou outros enganos, e alguns deles são:
— O sono da alma após a morte
(Lc 16:23) “E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio”.
— A aniquilação dos perdidos
(Mc 9:44) “Onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga”.
— A guarda do sábado por cristãos
(Gl 3:11) “E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé”.
— Satanás teria levado os pecados do crente
(1 Pe 2:24) “Levando ele mesmo [Jesus] em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro…”.
— O cristão deveria ser vegetariano
(Mt 15:36) “E, tomando os sete pães e os peixes, e dando graças, partiu-os, e deu-os aos seus discípulos, e os discípulos à multidão”.
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Podemos analisar a inteligência de Cristo?
Até hoje só li um livro de Augusto Cury, “Inteligência Multifocal”, e achei muito interessante. Mas é um livro que ele escreveu como médico, psiquiatra e psicoterapeuta, e não é um livro motivacional, como os que escreve atualmente, ou tratando de temas cristãos, como a série “Análise da Inteligência de Cristo” e “Os segredos do Pai Nosso”.
Não conheço o conteúdo dessa série e nem tive o interesse de ler quando foi lançada, porque o título me pareceu areia movediça para um escritor se aventurar a caminhar por ele. Quando vieram os outros livros e o autor firmou-se como escritor motivacional e de autoajuda, aí meu interesse desapareceu por completo, pois não gosto de livros assim.
É claro que minha percepção sobre os livros de Augusto Cury pode estar equivocada, principalmente porque sei que os títulos dos livros nem sempre são escolhidos pelo autor, mas pelo editor que busca por algo mais vendável. Mas minha percepção parece ser a mesma que você teve ao ler a série “Análise da Inteligência de Cristo”, pois você comentou:
“O livro se trata mais de uma visão humana de Cristo, sobre sua capacidade de lidar com seu meio, com os discípulos, os judeus e suas tradições… Enfim, está falando de Cristo como homem e não Filho de Deus. Quando digo homem, fala de Cristo fora da escala da fé, investigando ele apenas como homem mesmo, sem divindade, assim como Sócrates e Gandhi ou qualquer outro pensador Você acha isso saudável?”.
Prefiro comentar sua preocupação, não como uma crítica ao Augusto Cury ou aos seus livros que não li, pois seria injusto. Comento como minha opinião sobre livros de autoajuda em geral, e livros que tentam decifrar a Pessoa de Cristo em particular, aparte daquilo que podemos saber do Senhor que é revelado na Palavra de Deus. Mas não acredito que seja correto nos aprofundarmos ao ponto de tentarmos analisarmos a inteligência do Senhor Jesus e nem tampouco querermos usar dessas conclusões para melhorar a vida das pessoas, e digo isto baseado em alguns pontos.
Primeiro, porque Jesus é o Filho de Deus, portanto Deus e Homem perfeito. Sua natureza é um mistério ao qual psiquiatra nenhum pode ter acesso. Podemos analisar a inteligência e comportamento dos discípulos, e fazemos isso com frequência porque são seres humanos como nós. Mas colocar o Criador num divã é ousado demais em minha opinião. Veja isto:
(Mt 11:27) “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.
Esta passagem revela que existe um mistério a respeito da Pessoa de Cristo que ninguém é capaz de compreender. E nem poderia, já que estamos falando de deidade e humanidade em uma Pessoa, sem pecado e sem a possibilidade de pecar. Repare que, apesar do texto dizer que só o Pai conhece o Filho, e só o Filho conhece o Pai, diz ainda que existe a possibilidade de o Filho revelar o Pai a quem ele quiser, mas nada é dito que o Pai revele o Filho. O que podemos saber do Filho é o que nos é revelado pela Palavra de Deus, e ainda assim nada entenderemos a não ser pela fé, e esta é um dom de Deus.
Quero dizer com isto que, ainda que alguém escreva um livro explicando tudo o que é possível explicar sobre Jesus, o homem em seu estado natural não irá entender. Continuará a enxergá-lo apenas como um homem mais inteligente, mais sábio, mais poderoso e palavras e obras, mas nunca como aquele que ele realmente é. E se alguém tentar compará-lo a outros homens comuns só estará criando uma situação que Deus não gostaria que criássemos.
Veja que quando Pedro, com boas intenções, tenta colocar Jesus no mesmo nível de Moisés e Elias, imediatamente estes dois desaparecem de vista. E quando Jesus pergunta aos discípulos sobre quem ele seria aos olhos dos homens, existe a resposta do que as pessoas em geral pensavam dele, um profeta, João Batista, etc., e existe a resposta da revelação do Espírito, o Filho de Deus.
William Kelly escreveu: “O Filho revela o Pai, mas a mente humana sempre fica aos pedaços quando tenta desvendar o insolúvel enigma da glória pessoal de Cristo”.
Tentar desvendar a “inteligência de Cristo” para com isso trazer algum benefício às pessoas em seu estado natural, como descendentes de Adão também apresenta algumas dificuldades. Primeiro, como eu poderia entender a inteligência do Criador sendo eu mera criatura?
(Rm 11:33-34) “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque quem compreendeu a mente do Senhor?”.
Ainda que alguém conseguisse extrair algumas gotas da inteligência divina para na melhor das intenções querer ajudar as pessoas a terem uma vida melhor, a questão é que as coisas de Deus jamais podem penetrar a mente e o coração do homem a menos que este venha a nascer de novo e essas coisas lhe sejam reveladas pelo Espírito de Deus.
(1 Co 2:14) “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.
O grande problema dos livros de autoajuda é que eles tentam dar aos seres humanos a falsa ideia de que podem ser felizes. Um médico pode ajudar seu paciente a ter uma vida melhor no sentido físico e emocional, mas não poderá dar a ele a certeza de vida eterna ou nem mesmo de uma vida plena aqui, já que o vazio que o ser humano sente é do tamanho de Deus. Nada menos que Deus poderia preenchê-lo e saciar sua sede. Frases motivacionais podem até dar uma sensação passageira de satisfação, mas são como gotas de água extraídas do poço de Samaria.
(Jo 4:13-14) “Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”.
Quando alguém busca em livros motivacionais ou de autoajuda a solução para seus problemas espirituais está buscando no lugar errado. Não precisamos de autoajuda, mas da “ajuda do alto”: Cristo, como Salvador e Senhor. Nada menos que isso pode resolver o problema do homem, e não é pela imitação de Cristo que o problema é resolvido, mas pela fé em Cristo como o Cordeiro de Deus, que morreu em meu lugar levando meus pecados na cruz. Querer que um incrédulo siga o exemplo de Cristo é como ensinar papagaio a falar. Ele pode até aprender, mas não faz ideia do que seja aquilo e não terá qualquer utilidade.
Por eu ser um palestrante profissional e tratar de temas como carreira, comunicação, marketing pessoal, vendas, etc., alguns me chamam de “palestrante motivacional”. Em certo sentido eu realmente procuro motivar as pessoas, mas sempre no sentido profissional: motivar o vendedor a vender mais, motivar o profissional a aprimorar suas competências, o empresário a melhorar sua comunicação com sua equipe e coisas do tipo. Mas em momento nenhum eu digo às pessoas que essas coisas as tornarão felizes e realizadas.
Minhas palestras e livros são no sentido de resolver questões terrenas ligadas a esta vida e à carreira profissional. Porém ninguém irá sentir-se verdadeiramente realizado enquanto não resolver sua questão eterna, que inclui o perdão de seus pecados para apresentar-se a Deus, não mais como um réu para ser condenado ao fogo eterno, mas como um filho que volta à casa do Pai. Mas em minhas palestras e livros profissionais eu não abordo temas relacionados ao evangelho porque não é este o objetivo das pessoas que me contratam ou compram meus livros.
Alguém que se propusesse a analisar a inteligência de Cristo precisaria incluir também o comportamento dele no Antigo Testamento e também em Apocalipse, quando aparece como o ancião de dias com uma imagem tão terrível que faz João sentir-se como morto. Tente analisar a Pessoa descrita por João na passagem de Apocalipse, comparando-a com Buda ou Gandhi como costumam fazer os autores seculares, e verá como a ideia de se tentar decifrar a Pessoa de Cristo fica infinitamente mais complexa:
(Ap 1:12-18) “E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi… um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e cingido pelos peitos com um cinto de ouro. E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo; E os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas. E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece. E eu, quando vi, caí a seus pés como morto; e ele pós sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno…”.
(Ap 19:11-16) “Ele… chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça. E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo… e o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus… E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso. E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores”.
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As mulheres também têm dons?
Sim, as mulheres também têm dons, pois os dons foram dados para o Corpo de Cristo, do qual todos somos membros. Mas os dons devem ser usados no poder do Espírito e para o que for útil, e também de acordo com as instruções dadas pelo Senhor. Assim nenhum crente deveria esconder sua candeia, mas estar sempre encorajado a exercitar os dons para a glória de Deus.
Porém é preciso entender que existem diferentes esferas de atuação para o homem e a mulher exercerem seus dons. Por exemplo, um homem, ainda que tenha o dom de pastor, deve ser sábio ao usar esse dom quando for o caso de aconselhar mulheres jovens. Muitos irmãos caem em pecado ao tentarem ajudar uma irmã mais jovem e vulnerável por problemas que porventura esteja passando. Foi por isso que Paulo instruiu Tito a admoestar as mais jovens por intermédio das irmãs idosas, e não diretamente, como no caso dos velhos, das idosas e dos varões jovens.
(Tt 2:1-6) “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Os velhos, que sejam sóbrios, graves, prudentes, sãos na fé, no amor, e na paciência; As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem; Para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, A serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada. Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados”.
A esfera de ação das mulheres no exercício de seus dons também difere do homem. Você não encontra na Palavra uma mulher pregando o evangelho em público para uma audiência. Mas nós as encontramos dando um testemunho individual da ressurreição de Cristo, como fez Maria Madalena para os outros irmãos. Embora este caso não estivesse ainda no âmbito da igreja, que ainda estava para ser fundada, o fato de o Senhor ordenar a Maria que ela levasse a notícia aos irmãos mostra que isso não estava fora de ordem.
(Jo 20:17-18) “Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que ele lhe dissera isto”.
Outro exemplo, também antes da existência da assembleia, mas igualmente dentro da ordem estabelecida por Deus, é o da serva israelita que indica à sua senhora onde estava a cura para seu patrão Naamã.
(2 Rs 5:2) “E saíram tropas da Síria, da terra de Israel, e levaram presa uma menina que ficou ao serviço da mulher de Naamã. E disse esta à sua senhora: Antes o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra. Então foi Naamã e notificou ao seu senhor, dizendo: Assim e assim falou a menina que é da terra de Israel”.
Encontramos, já na época da igreja, as filhas de Felipe que tinham o dom de profecia. Obviamente elas exercitavam seu dom na esfera que Deus lhes deu, provavelmente em casa ou entre as irmãs, mas nunca em público ou nas reuniões da assembleia, já que isto estaria em desobediência à ordem dada em 1 Coríntios 14. Mesmo sendo as quatro filhas de Filipe profetizas, não foram elas que Deus usou para profetizar a Paulo ali mesmo onde moravam, mas sim Ágabo, um profeta varão.
(At 21:8) “E no dia seguinte, partindo dali Paulo, e nós que com ele estávamos, chegamos a Cesaréia; e, entrando em casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele. E tinha este quatro filhas virgens, que profetizavam. E, demorando-nos ali por muitos dias, chegou da Judéia um profeta, por nome Ágabo; E, vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo, e ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus em Jerusalém o homem de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios”.
As mulheres são encontradas no Novo Testamento participando de reuniões de oração entre mulheres (At 16:13), ajudando os doentes e necessitados (At 9:36), ajudando em tarefas da assembleia (Rm 16:1), hospedando os santos (Rm 16:2), cooperando na obra do evangelho (Rm 16:3, 12, Fp 4:2-3), cedendo sua casa para as reuniões da assembleia (Rm 16:5, 1 Co 6:19), suprindo as necessidades dos que viajam na obra (1 Co 9:5), ensinando as crianças (2 Tm 1:5, 3:15), profetizando e orando (1 Co 11:5), etc.
Deus evidentemente reconhece não apenas o dom da mulher, como também seu estado espiritual, e um exemplo disso é o casal Áquila e Priscila. Quando o assunto em Atos 18 foi o trabalho que eles tiveram de esclarecer melhor a Apolo os caminhos do Senhor, é o nome de Priscila que vem primeiro, talvez por ela ser uma irmã mais capacitada espiritualmente que seu marido Áquila para detectar tal necessidade. Esse melhor discernimento pode ter também garantido a Priscila a oportunidade de ser mencionada primeiro quando o casal encontrou Apolo e detectou que ele precisaria ter algumas arestas aparadas quanto ao que pregava.
(At 18:26) “Ele começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus”.
Mas quando os dois aparecem novamente como recebendo a assembleia para congregar em sua casa, é Áquila quem vem primeiro, pois ainda que ele estivesse em uma condição espiritual menos adequada que a de Priscila, ele era a cabeça em seu lar.
(1 Co 16:19) “As igrejas da Ásia vos saúdam. Saúdam-vos afetuosamente no Senhor Áquila e Priscila, com a igreja que está em sua casa”.
O cuidado de Deus para com as irmãs também é demonstrado ao mencionar duas obreiras em Filipos, Evódia e Síntique, que deviam ser muito ativas junto com Paulo, Clemente e outros irmãos na obra do evangelho, mas que poderiam estar se desentendendo.
(Fp 4:2) “Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o mesmo no Senhor. E peço-te também a ti, meu verdadeiro companheiro, que ajudes essas mulheres que trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida”.
Porém, como aprendemos de 1 Coríntios 14, nas reuniões da assembleia, mesmo que tenham um dom, as irmãs devem permanecer caladas. Também em outras circunstâncias, fora da assembleia, devem se abster de ensinar (no caso de Priscila e Áquila certamente era o marido que encabeçava o auxílio que prestavam a Apolo, com Priscila em submissão ao seu marido).
(1 Co 14:33-37) “Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja. Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”.
(1 Tm 2:11) “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”.
Alguns tentam atropelar toda essa ordem que é chamada por Paulo de “mandamento do Senhor”, alegando que em Cristo não há “macho nem fêmea”.
(Gl 3:26-28) “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”.
A passagem pode parecer a esses como um aval para se passar por cima das ordens dadas para as mulheres não falarem nas reuniões da assembleia ou até mesmo não se sujeitarem a seus próprios maridos. Mas se tentarmos aplicar a mesma passagem de Gálatas a outras situações envolvendo “macho e fêmea” logo veremos que não é bem assim. Por exemplo, acaso essa passagem, que alguns usam para afirmar que homem e mulher sejam a mesma coisa, permitiria a um homem casar-se com um homem e uma mulher casar-se com uma mulher? Certamente não, porque existem outras instâncias onde isso é claramente proibido.
Então o mesmo ocorre com relação ao ministério das mulheres. Em seu sentido amplo e na posição que desfrutamos em Cristo, todos somos iguais, independente de nossa condição ser de judeu ou gentio, servo ou livre, homem ou mulher. Mas em situações particulares, essas diferenças devem ser observadas quando assim a Palavra de Deus nos ensinar, e é por isso que as mulheres não devem falar nas reuniões da assembleia e os servos devem se sujeitar a seus senhores. Experimente dizer para seu chefe também cristão que as diferenças entre ele e você foram abolidas e você até tem um versículo para provar isso. Depois é melhor sair atrás de um novo emprego…
Um exercício interessante é ler 1 Timóteo e observar todas as vezes em que a mulher é mencionada ali. Sabemos que a primeira epístola é sobre a ordem que Deus estabeleceu para a casa de Deus, e assim os papéis de cada um ficam bem claros naquela epístola.
(1 Tm 2:9) “Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos,”.
(1 Tm 2:10-11) “Mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras. A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição”.
(1 Tm 2:12) “Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio”.
(1 Tm 3:11) “Da mesma sorte as esposas sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo”.
(1 Tm 5:2) “As mulheres idosas, como a mães, às moças, como a irmãs, em toda a pureza”.
(1 Tm 5:9) “Nunca seja inscrita viúva com menos de sessenta anos, e só a que tenha sido mulher de um só marido;”.
A segunda epístola a Timóteo, como todas as outras “segundas epístolas”, nos fala da ruína que se abateu sobre o testemunho de Deus, e nelas também encontramos mulheres, mas às vezes fora de seu lugar.
(2 Tm 3:6) “Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências;”.
Outra passagem importante de observar e que causa muita confusão é 1 Coríntios 11, quando fala da necessidade da mulher que ora ou profetiza (profere a Palavra de Deus) cobrir a cabeça. Alguns tentam usar essa passagem como se fosse uma permissão para a mulher falar nas reuniões da igreja, mas se fizessem o mesmo no trânsito estariam sujeitos a multa.
Explico: Ao saber que a lei determina velocidade máxima de 120 km por hora nas estradas brasileiras, será que você pode andar para todo lado a 120? Não, porque essa é a velocidade máxima no geral. Em alguns lugares, em particular, você encontrará placas com 50km/h e nessas vias deve reduzir a velocidade. Portanto, leia 1 Coríntios 11 como sendo a placa de 120km/h e 1 Coríntios 14 como sendo a placa de 50km/h. A primeira é no sentido geral, a segunda no sentido particular.
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Jesus era sem pecado?
A ideia de que Cristo teria em si o pecado original, a mesma natureza que todo homem tem, porém que passou a vida toda sem pecar, faria de Jesus um pecador igualmente necessitado de um Salvador. O sacrifício de Cristo não foi apenas para levar os nossos pecados, mas para tirar o pecado do mundo. Alguém que tivesse em si mesmo o pecado não poderia ter feito nem uma coisa nem outra, pois não teria sido aceito por Deus como o Cordeiro perfeito.
O cordeiro do sacrifício, que era uma figura de Cristo no Antigo Testamento, devia ser sem mancha ou defeito. O pecado é um defeito com o qual nascemos e mesmo antes de pecarmos já somos pecadores por natureza. Se Jesus tivesse nascido pecador não poderia ser o sacrifício por nós. Seria preciso outro morrer pelo pecado dele.
A passagem em Hebreus mostra isso:
(Hb 4:15) “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”.
(Hb 4:15) “For we have not a high priest not able to sympathise with our infirmities, but tempted in all things in like manner, sin apart”. (Versão Darby).
Não diz sem pecar, mas sem pecado, ou “pecado à parte” numa tradução mais literal. Sem a natureza caída. É por isso que ele vem da mulher; Maria foi o receptáculo (a parte receptiva), mas o princípio ativo da concepção, ao invés de ter sido um homem trazendo o pecado em si, foi o Espírito Santo de Deus.
Se Cristo pudesse herdar o pecado pelo fato de ter nascido de mulher, como você argumenta, então para quê Deus iria deixar claro que não nasceu de uma relação normal entre homem e mulher? Daria no mesmo ele ter sido gerado por um homem, se de qualquer maneira tivesse nascido pecador. E assim Deus poderia ter escolhido João Batista ou qualquer outro para ser um sacrifício, se a natureza da pessoa não fosse importante. E pense mais longe: seria possível que Deus escolhesse para si um tabernáculo (corpo) arruinado, entrando no mundo na forma de um Deus-Pecador? A mera suposição de tal coisa deveria incomodar qualquer genuíno filho de Deus.
A fé cristã permanece ou cai em função do que pensamos de Cristo. A primeira coisa que o diabo procura atacar é sua divindade; depois irá tentar macular sua natureza santa e sem pecado, pois fazendo assim torna Cristo um sacrifício que precisaria de um sacrifício para si mesmo; faz dele um homem comum, talvez apenas mais perseverante em suas convicções, mas mesmo assim um homem pecador e necessitado de um Salvador.
O capítulo 9 de Hebreus mostra a diferença entre Cristo e um sacerdote humano, o qual oferecia sacrifícios que eram para memória dos pecados e não tinham o poder de tirar pecados. O contraste é apontado ao indicar que Cristo, se fosse um homem qualquer, precisaria ter se sacrificado muitas vezes, mas por ser quem ele é, bastou um sacrifício.
(Hb 9:6-28) “Ora, estando estas coisas assim preparadas, a todo o tempo entravam os sacerdotes no primeiro tabernáculo, cumprindo os serviços; Mas, no segundo, só o sumo sacerdote, uma vez no ano, não sem sangue, que oferecia por si mesmo e pelas culpas do povo; Dando nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo, Que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço [ou seja, o sacerdote humano, o que já descartaria a ideia de Cristo ter morrido por sua própria natureza pecadora se ele tivesse tal coisa] …Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção. Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação da carne, Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? E por isso é Mediador de um novo testamento…. E sem derramamento de sangue não há remissão. De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem; mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes. Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus; Nem também para a si mesmo se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no santuário com sangue alheio; de outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado [singular, a raiz do problema] pelo sacrifício de si mesmo. E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados [plural, os frutos do pecado-raiz] de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação.”.
Se Cristo tivesse em si o pecado (a natureza arruinada de Adão) não poderia ter se oferecido a Deus “imaculado”, como diz o versículo 14. Além disso é preciso lembrar que Jesus é Deus e nunca deixou de ser Deus em sua natureza, e seria impossível sequer supor que Deus pudesse pecar, o que seria uma possibilidade se a sua teoria (de Jesus ter em si a natureza de Adão) estivesse certa. E considerando que ele tem hoje no céu a mesma natureza que teve enquanto andou na terra, então haveria um homem pecador no céu, já que não houve um cordeiro sem mancha que tivesse morrido por ele.
Às vezes o mal entendido vem da ideia de que só nos tornamos pecadores quando cometemos nosso primeiro pecado. Tal ideia é falsa. O sacrifício de Cristo atendeu até mesmo aqueles que nunca cometeram um pecado, como os abortos, natimortos ou pessoas que nascem e vivem em estado vegetativo. Todos eles trazem em si a natureza herdada de Adão, e por isso precisam igualmente do sangue de Cristo para torná-los aptos para a presença de Deus.
Quando você lê atentamente a Carta aos Romanos percebe que até certo ponto o assunto ali é o “pecado” (no singular) falando da natureza. Depois é que o assunto “pecados” (no plural) é tratado, falando dos frutos da natureza pecaminosa. Jesus não tinha o “pecado”, a natureza caída, e por isso não podia pecar (cometer “pecados”).
(1 Pe 1:18-19) “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado”.
Jesus não seria o Cordeiro imaculado e incontaminado se nele existisse qualquer mácula (mancha) ou contaminação da natureza caída herdada de Adão. Como poderia o sacrifício de alguém portador da natureza pecadora e arruinada de Adão ser eficaz para pessoas igualmente pecadoras? Não poderia. Mas o sacrifício de Cristo fez isso, pois o seu sangue tinha essa diferença infinita e podia resgatar o pecador, caso contrário ele precisaria também de alguém para resgatá-lo.
(Cl 1:20-22) “E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis,”.
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Jesus poderia ter se casado?
Não, Jesus não poderia ter se casado quando esteve no mundo, porque parte de sua missão aqui foi conseguir uma noiva. No Antigo Testamento há muitas figuras desse processo de preparação de uma esposa para Jesus, e a primeira está no que aconteceu com o primeiro homem, Adão. Ele foi colocado em um sono profundo, seu lado foi aberto, e dali saiu a costela da qual Deus criaria sua esposa.
A concretização desse tipo é o segundo Homem, Jesus, que também foi mergulhado no sono da morte, teve seu lado aberto pela lança do soldado, e dali saiu sangue e água para com isso comprar e purificar para si uma esposa, a Igreja. Para isso o Filho de Deus deixaria a casa do Pai. Veja que o matrimônio foi criado por Deus para ser uma figura de Cristo e a Igreja, e é por isso que coisas como adultério e casamento entre pessoas do mesmo sexo são tão abomináveis aos olhos de Deus. Um demonstra um comportamento que Cristo jamais teria para com sua esposa: a infidelidade. Outro ataca aquilo que é uma figura de algo tão sagrado quanto a união de Cristo com sua noiva, a Igreja.
(Ef 5:25-32) “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja; Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja”.
Outra figura de Cristo e sua noiva no Antigo Testamento é a de Abraão, que envia seu servo a uma terra distante para preparar uma noiva para seu filho Isaque. A ordem dos eventos é cheia de significado. No capítulo 22 de Gênesis, Isaque é sacrificado em figura, quando sobe o monte levando às costas a madeira do holocausto.
No capítulo 23 de Gênesis a esposa de Abraão, Sara, morre, numa alusão àquela que é chamada de esposa de Deus no Antigo Testamento, Israel, que está deixada de lado na atual dispensação enquanto a noiva de Cristo é preparada.
Então, no capítulo 24, vemos em figura, Deus enviando o Espírito Santo para buscar uma esposa para seu Filho Jesus, tipificados ali respectivamente pelo pai Abraão, pelo Servo e pelo filho Isaque.
Portanto, para a pergunta se “Jesus poderia ter se casado?”, a resposta é não. Mas para a pergunta “Jesus vai se casar? ” a resposta é sim. É que ainda não chegou sua hora e talvez seja por isso que ele tenha dito à sua mãe justamente em uma festa de casamento que ainda não era chegada a sua hora:
(Jo 2:4) “Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora”.
Mas logo participaremos como noiva de Cristo no casamento do Cordeiro de Deus:
(Ap 19:7) “Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou”.
(Ap 19:9) “E disseme: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E disseme: Estas são as verdadeiras palavras de Deus”.
Nem preciso dizer que todas essas teorias mostradas em filmes, livros e documentários de que Jesus teria tido um relacionamento matrimonial com Maria Madalena não passa de uma grande bobagem ou, como disse Pedro, de “fábulas artificialmente compostas” (2 Pe 1:16). Para entender melhor este assunto tão belo sugiro a leitura do texto de W. Potter, “Vem, mostrar-te-ei” no blog “Manjar Celestial”. Recomendo também a leitura de “Uma palavra sobre noivado”, de G. Hayhoe.
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O crente é individualmente a noiva de Cristo?
Na Palavra de Deus encontramos referências a um relacionamento entre um Noivo e uma noiva tanto no Antigo Testamento, principalmente no livro de Cantares, como no Novo Testamento, com maior ênfase na epístola aos Efésios e no livro de Apocalipse. Nos dois casos o Noivo é Cristo.
Em Cantares vemos o relacionamento entre Israel, formado pelo remanescente judeu fiel que se converterá após o arrebatamento da Igreja, e seu Messias há tanto esperado. Obviamente muitos cristãos, principalmente de correntes fundamentalistas como católicos, ortodoxos, luteranos, anglicanos, episcopais, congregacionais, presbiterianos, menonitas e algumas correntes metodistas e batistas, perdem isso de vista, já que consideram que Deus não voltará a tratar com Israel em graça para restaurá-lo como seu povo terreno.
Portanto o livro de Cantares tem um caráter profético e é uma ode ao encontro entre o Noivo e sua noiva, no caso a nação redimida de Israel, que habitará na terra, e seu Messias e Rei. Não faltam no livro de Cantares descrições detalhadas de um genuíno relacionamento entre um homem e uma mulher, pois esse é o grau de intimidade que Cristo terá com o seu povo no futuro.
Já a Igreja, que era um mistério tanto para Salomão, que escreveu Cantares, como para todos os profetas do Antigo Testamento, só seria revelada muito tempo depois a Paulo. Mas esta é também vista como uma Noiva, a Noiva do Cordeiro, sendo preparada para as bodas que ainda estão para acontecer. Mas seria correto aplicar o grau de intimidade que Deus revela entre Cristo e sua noiva ao cristão como indivíduo? Não existe nada nas Escrituras que nos autorizem a fazê-lo.
A passagem em Efésios é muito clara ao indicar que a figura do relacionamento entre marido e mulher é aplicada a Cristo e à igreja no seu sentido coletivo, como o conjunto de todos os salvos, e não a Cristo e ao crente individualmente.
(Ef 5:23-32) “Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos. Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja; Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja”.
Posso dizer que Jesus é meu Pastor? Sim, e até mesmo o conhecido Salmo 23 nos ajuda a enxergar a figura de seu cuidado com cada um, individualmente, além, obviamente o seu cuidado com o rebanho no sentido coletivo. Também posso afirmar que Jesus é meu Senhor, meu Redentor, meu Salvador e até mesmo meu Deus. Mas não caberia eu chamá-lo de Pai, porque isto seria confundir as Pessoas da Trindade. Também não devo chamá-lo de meu Rei, porque ele é Rei para Israel, não para a Igreja. O mesmo vale para Messias. Mas em nenhuma circunstância posso chamar Jesus de meu Noivo ou meu Marido, ou tentar me imaginar em um relacionamento assim com ele.
Obviamente posso ter a mesma admiração que a noiva, no caso Israel, tem pelo Noivo em Cantares, contemplando da mesma forma a sua formosura. E também posso aprender que o relacionamento que devo ter no matrimônio deve se espelhar no relacionamento entre Cristo e sua igreja. Mas tal aplicação, de imaginar o crente individualmente relacionando com Cristo como um Noivo, e no futuro, como um Marido, não encontra respaldo nas Escrituras e pode trazer problemas sérios de desvio da sã doutrina.
Existe uma corrente mística na cristandade que não consegue discernir isso e acaba querendo provocar no crente uma paixão até de cunho erótico em seu relacionamento com Cristo, o que é um erro grave. Teresa de Ávila, que viveu entre 1515 e 1582, foi uma que registrou seus êxtases místicos com uma linguagem que pendia para o erotismo, chamando Jesus de “esposo”: “Sente-se um enorme deleite no corpo e grande satisfação na alma”, escreveu ela, em “O
Caminho da Perfeição”, e “…é possível a alma enamorada pelo seu Esposo passar por todos esses prazeres e desmaios e mortes e aflições e deleites e gozos com ele…”, em suas Meditações, inspiradas no livro de Cantares.
Ao aplicar a si, individualmente, o que viu em Cantares e nas passagens sobre Cristo e sua noiva, ela incorreu em um erro grave e mais tarde foi seguida por muitos autores. Outros autores modernos têm adotado a mesma linha de pensamento, e isso atingiu seu clímax na demoníaca seita fundada por David Berg e conhecida por “Meninos de Deus” (hoje “The Family”), que chegou a produzir arte erótica para ilustrar essas ideias.
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Usar drogas é pecado?
A vida do cristão não é uma vida que siga algum tipo de lista de regras. O cristão é guiado pelo Espírito, o qual obviamente nunca agirá em desacordo com a Palavra de Deus, mas nela você não irá encontrar coisas do tipo “não falarás ao celular” ou “não tomarás drogas”. Que as drogas são prejudiciais, todos sabemos, e que podem destruir o corpo que é o templo do Espírito, também. Mas tomamos drogas quando estamos doentes, algumas com maior ou menor poder de nos prejudicar em outras áreas de nosso organismo. Então, qual a diferença?
Bem, os medicamentos ou drogas que tomamos quando estamos doentes têm por objetivo preservar o corpo, que é o templo do Espírito, enquanto as drogas que têm o objetivo de diversão ou de levar à embriaguez e perda de noção da realidade acabam prejudicando esse templo ou nos tirando do controle de nossas faculdades mentais, o que é igualmente nocivo.
Então tudo é uma questão de princípios bíblicos (princípios são conceitos e não propriamente regulamentos) e também de discernimento e bom senso. Comer carne é pecado? Sim, se você comer de forma a escandalizar alguém, e aí entra a glutonaria, um pecado arrolado na lista das obras da carne junto com “adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices” (Ef 5:19-21). Todavia, não são poucos os cristãos que promovem enormes churrascos e ainda ficam se gabando do quanto comeram. Mas não é pecado se comer sem escandalizar. Então adote o mesmo para tudo o que fizer.
Por exemplo, sexo é pecado? Não se feito dentro dos limites estabelecidos por Deus, isto é, na relação matrimonial. Fora do casamento o sexo é pecado, e o versículo de Efésios aponta isso. Mas mesmo dentro do casamento o sexo pode se tornar um vício de um ou ambos os cônjuges e passar a dominar a vida do casal (ou a destruí-la). Então um cristão deve sempre estar atento se algo não o está tornando escravo daquilo, e pode ser sexo, comida, bebida, diversão, moda, hobby, etc. Qualquer coisa que assuma o controle de nós mesmos e não seja o Espírito de Deus é um pecado que deve ser rechaçado.
No caso das drogas, eu diria que é pecado sim porque, além de não trazerem qualquer benefício ao organismo ou à vida da pessoa, elas viciam, ou seja, o limite entre o experimentar e o ficar dependente é muito próximo, ao contrário da bebida alcoólica, que mesmo na Bíblia era usada como parte da alimentação. Mas, apesar de não condenar diretamente o vinho (a Bíblia condena a embriaguez), Deus nos alerta para o uso de estimulantes quando estes passam a nos dominar, sejam eles vinho ou azeite (veja que este é colocado na categoria do vinho quando se torna um vício).
(Pv 20:1; 21:17) “O vinho é escarnecedor, a bebida forte alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio… O que ama os prazeres padecerá necessidade; o que ama o vinho e o azeite nunca enriquecerá...”.
Os versículos abaixo também nos ensinam algo, mas cuidado para não colocá-los fora do contexto. Eles estão falando das coisas lícitas que podem ser lícitas para o cristão desde que não o dominem. Não tente aplicar estes versículos para tudo ou você cairá no erro de achar que pode matar alguém desde que não se torne um ‘serial killer’.
(1 Co 6:12) “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”.
(1 Co 10:23) “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam”.
Leia os capítulos 14 e 15 de Romanos para ver como coisas lícitas podem se tornar em pecados se forem praticadas perto de pessoas sensíveis, fazendo quem que se escandalizem ou caiam em pecado.
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Crianças tem anjo da guarda?
A passagem de Mateus 18:10 não necessariamente significa que cada criança (ou mesmo adulto) tenha um anjo da guarda protegendo-o do céu.
Aparentemente neste caso o contexto fala mesmo de crianças, e não do remanescente judeu fiel que se converterá durante a tribulação, como aparece em Mateus 25. Veja o contexto das duas passagens:
(Mt 18:2-10) “E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles… Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre veem a face de meu Pai que está nos céus”.
(Mt 25:39-40) “E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.
De qualquer modo, seja referindo-se a crianças, seja ao remanescente de judeus fiéis ou “pequeninos irmãos”, é inegável que os anjos tenham um papel de ministros de Deus, e principalmente em relação a Israel.
(Hb 1:13-14) “E a qual dos anjos disse jamais: Assenta-te à minha destra, Até que ponha a teus inimigos por escabelo de teus pés? Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?”.
Um exemplo também é esta passagem do Antigo Testamento quando um exército de anjos se encarrega de afugentar os inimigos do povo de Deus:
(2 Rs 6:16-17) “E ele disse: Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles. E
orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E
o Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu”.
Uma
nota do Editor em “Commentary on Books of the Bible”, por William Kelly, explica Mateus 18:10 assim:
“O que nosso Senhor chama aqui de “seus anjos” parece se referir aos espíritos das crianças que agora estão no céu, o espírito que representa a pessoa em sua condição atual até a ressurreição. Compare com Atos 12:15, Hebreus 12:23 e Apocalipse 1:20, este último versículo representando a assembleia. Um “anjo da guarda”, como alguns chamam este “anjo” aqui, não parece justificar o aviso do Senhor e é algo que também não é mencionado em lugar nenhum das Escrituras”.
Veja algumas passagens em que a palavra “anjo” é usada como sinônimo de “espírito” da pessoa que morreu:
(At 12:14-15) “E, conhecendo a voz de Pedro, de gozo não abriu a porta, mas, correndo para dentro, anunciou que Pedro estava à porta. E disseram-lhe: Estás fora de ti. Mas ela afirmava que assim era. E diziam: É o seu anjo”.
(Hb 12:23) “A universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados;”.
(Ap 1:20) “O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas”.
Creio ser esta a interpretação correta para “Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre veem a face de meu Pai que está nos céus” seja a de que esteja se referindo aos espíritos das crianças. Estas estão neste exato momento nos céus diante de Deus.
Isto é de grande consolo para os pais que perderam seus filhos em tenra idade, pois mais uma vez dá a certeza de que aquele que disse “Deixai vir os meninos a mim, e não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus” está neste exato momento cercado de milhões e milhões de “anjos” no sentido dos espíritos de crianças e embriões, que foram abortados ou morreram numa idade em que ainda não tinham capacidade de entender.
Cristo morreu também por todos esses e o seu sangue foi suficiente para salvá-los. No final Satanás não terá a última palavra, pois será maior o número de salvos do que dos perdidos. Deus terá a sua casa cheia e Cristo terá a preeminência (o primeiro lugar) também neste aspecto.
(Lc 14:23) “E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha”.
(Cl 1:18) “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência”.
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Um cristão pode participar de greves?
Sua dúvida é se é pecado fazer greve ou participar de um movimento reivindicatório. A Palavra de Deus nos ensina a obedecermos às autoridades e as leis do país, desde que estas não entrem em conflito direto com a Palavra de Deus. Também diz que os servos (empregados) devem obedecer em tudo a seus senhores (patrões).
(Ef 6:5-8) “Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo; Não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; Servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens. Sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre”.
A relação senhor-servo nos tempos bíblicos era parecida a uma relação patrão-empregado nos tempos modernos. Muitos confundem a palavra “servo”
ou “escravo” na Bíblia com a escravidão que existiu no Brasil colonial, mas são coisas completamente distintas. Um escravo ou servo dos tempos bíblicos podia comprar sua própria liberdade, e também podia ocupar cargos importantes. O
tratamento que o Centurião de Lucas 7 dá ao seu servo mostra que era uma classe importante na sociedade da época. Portanto podemos muito bem aplicar a passagem de Efésios 6 para os trabalhadores de hoje, e elas falam de servir como servindo a Cristo, e não a homens.
(1 Co 7:20-24) “Cada um fique na vocação em que foi chamado. Foste chamado sendo servo? Não te dê cuidado; e, se ainda podes ser livre, aproveita a ocasião. Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de Cristo. Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens. Irmãos, cada um fique diante de Deus no estado em que foi chamado”.
Quando um cristão entra em uma relação de trabalho ele deve ter em mente que as condições que aceitar na contratação devem ser as que deve manter. É claro que existem dissídios, aumentos de salários e promoções ao longo da carreira, mas é importante que ele não tente se valer de seus direitos para prejudicar a empresa, mesmo que possa fazê-lo dentro da lei.
Dou um exemplo: uma vez trabalhei em uma empresa e na contratação avisaram que eu não receberia horas extras por causa da natureza do cargo (que exigia viagens constantes e eventuais fins de semana fora de casa).
Mas que para compensar isso eu não teria horários rígidos de entrada e saída e ainda poderia compensar as horas trabalhadas a mais tirando um tempo livre sempre que precisasse. Alguns colegas, que igualmente concordaram com essas condições verbais, guardaram passagens e recibos de hotéis e processaram a empresa depois que saíram e ganharam uma indenização. Agiram dentro da legalidade? Sim. Foram honestos? Não.
Mas, voltando ao assunto da greve, se um trabalhador não está satisfeito com seu emprego ele tem a liberdade de procurar outro. Não é obrigado a ficar. Se não existe a certeza de encontrar outro trabalho e o trabalho atual estiver pagando abaixo de suas necessidades, deve orar para o Senhor prover uma coisa ou outra: um novo emprego ou um melhor salário. Ele deve sempre trabalhar como quem serve a Deus, portanto acima de seu patrão ou chefe está o Senhor. Eu pergunto: como ele faria se fosse um profissional autônomo? Rebelar-se-ia ou faria greve contra quem?
A admoestação da Palavra aos patrões é que igualmente tratem seus empregados como tratariam o Senhor. É o que significa o “fazei o mesmo para com eles” de Efésios 6:9: “E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu, e que para com ele não há acepção de pessoas”. Certamente existem muitas injustiças praticadas por patrões e empresas, e isso já estava previsto na Palavra.
(Tg 5:1-6) “Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós hão de vir.
As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas de traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os últimos dias. Eis que o jornal dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras, e que por vós foi diminuído, clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos exércitos. Deliciosamente vivestes sobre a terra, e vos deleitastes; cevastes os vossos corações, como num dia de matança. Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu”.
Na continuação da passagem que fala das injustiças que são cometidas pelos ricos e patrões, na qual é mostrada a punição que estes receberão, também é mostrado como os cristãos devem reagir a isso: com paciência, aguardando no Senhor, olhando para o que está além das dificuldades terrenas, ou seja, para a vinda do Senhor, e principalmente confiando que ele é misericordioso e piedoso.
(Tg 5:7-11) “Sede pois, irmãos, pacientes até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e seródia. Sede vós também pacientes, fortalecei os vossos corações; porque já a vinda do Senhor está próxima. Irmãos, não vos queixeis uns contra os outros, para que não sejais condenados. Eis que o juiz está à porta. Meus irmãos, tomai por exemplo de aflição e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor. Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso”.
A resposta que João Batista dá aos soldados que vão até ele pode também servir para o cristão em sua relação de trabalho: (Lc 3:14) “E
uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo”.
Muitas vezes o desejo de melhores salários é apenas para aumentar o padrão de vida e não necessariamente de suprimento das necessidades.
O “homem de Deus” deve estar atento a isso pois a Palavra nos exorta de maneira clara sobre a meta que alguns colocam em seu coração de enriquecer.
(1 Tm 6:6-11) “Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão”.
Eu sei que às vezes não é tão simples o cristão desejar trabalhar quando a empresa inteira está em greve. Se o seu desejo de trabalhar causar contenda e constrangimento, então é melhor que ele fique em casa. Já passei por situações de greve numa empresa onde trabalhei e quando não encontrava oposição física a entrar, eu entrava sem dar confiança ao que as pessoas poderiam pensar. Mas quando havia piquete na entrada, agindo de forma violenta contra os que se dispunham a trabalhar, eu simplesmente dava meia volta e voltava para casa. Não ficava ali engrossando a manifestação, mesmo que fosse contrário a ela.
Resumindo tudo: ore, ore e ore. E não participe de nada que seja contrário à Palavra de Deus (e a Palavra é clara quanto à sujeição do empregado ao seu patrão como quem trabalha para o Senhor). Uma boa maneira de trabalhar e enfrentar situações assim é mudar o modo de pensar e passar a enxergar seu trabalho como faria um profissional autônomo, enxergando a empresa que o contratou como seu cliente.
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Jonas não queria salvar Nínive?
Você não entendeu a razão de Jonas ter ficado desapontado quando Deus decidiu não mais destruir Nínive. A princípio ele nem quis partir naquela missão, embarcando em um navio no porto de Jope e seguindo na direção oposta. Mas Deus tratou com ele e o colocou de volta no caminho.
(Jo 1:1-3) “E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença. Porém, Jonas se levantou para fugir da presença do Senhor para Tarsis.
E descendo a Jope, achou um navio que ia para Tarsis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Tarsis, para longe da presença do Senhor”.
Jonas é uma figura do homem orgulhoso de sua religião e fidelidade. Para ele pregar a destruição de Nínive era fácil, como ocorre com muitos pregadores que vivem dizendo que todo mundo vai para o inferno porque não seguem a lista de regras que eles seguem. Mas quando Deus agiu em graça, Jonas não gostou nem um pouco, porque mexeu com o orgulho dele. Se Deus estava perdoando aquele povo tão ímpio só porque se arrependeram, de que adiantava viver em obediência a Deus?
(Jo 4:1-2) “Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado. E orou ao Senhor, e disse: Ah! Senhor! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha terra?
Por isso é que me preveni, fugindo para Tarsis, pois sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal”.
O mesmo raciocínio têm aqueles que não suportam o evangelho da graça de Deus e quando você diz que uma pessoa que matou, roubou, adulterou, etc., pode ser salva se tão somente crer em Cristo, eles retrucam: “Isso é injusto! Eu vivi a vida inteira indo na igreja e guardando os mandamentos e agora Deus salva quem viveu na gandaia só porque creu em Jesus?!”.
O homem não gosta de graça e misericórdia, e é por esta razão que quando Deus deu a Davi a escolha de ser castigado por Deus ou pelos homens Davi preferiu cair nas mãos de Deus do que dos homens.
(2 Sm 24:12-14) “Vai, e dize a Davi: Assim diz o Senhor: Três coisas te ofereço; escolhe uma delas, para que ta faça. Foi, pois, Gade a Davi, e fez-lho saber; e disse-lhe: Queres que sete anos de fome te venham à tua terra; ou que por três meses fujas de teus inimigos, e eles te persigam; ou que por três dias haja peste na tua terra?
Delibera agora, e vê que resposta hei de dar ao que me enviou. Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; porém caiamos nas mãos do Senhor, porque muitas são as suas misericórdias; mas nas mãos dos homens não caia eu”.
Deus dá uma lição em Jonas no último capítulo de seu livro, mostrando o quanto o seu coração era mau por estar mais preocupado com a saúde de um pé de abóbora do que com a população inteira de Nínive, pessoas e animais.
O interessante é que séculos mais tarde outro homem também estava em Jope e era resistente à ideia de Deus salvar gentios (não judeus) por graça somente, colocando-os em pé de igualdade com os judeus. Esse homem era Pedro e foi em um terraço em Jope que Deus falou com ele e o preparou para a visita a Cornélio, o primeiro gentio a ser recebido na recém-criada Igreja.
Esta história você encontra em Atos 10.
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Os amalequitas ainda existem?
Você dificilmente entenderá a Bíblia se não entender as dispensações, ou seja, as diferentes maneiras de Deus tratar com os homens. No passado Deus parecia agir mais diretamente no juízo e correção dos seres humanos arruinados por causa do pecado. Encontramos Deus destruindo toda a raça humana por meio de um dilúvio, não sem antes usar Noé como pregador para avisar as pessoas do que iria acontecer. Ninguém deu ouvido e Deus começou de novo a partir de Noé e sua família.
(2 Pe2:5) “E não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, pregoeiro da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios;”.
Um juízo coletivo também foi lançado sobre as cidades de Sodoma e Gomorra por sua impiedade e pecado.
(2 Pe2:6-7) “E condenou à destruição as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinza, e pondo-as para exemplo aos que vivessem impiamente; E livrou o justo Ló, enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis”.
No livro do profeta Jonas nós o encontramos com a tarefa de avisar Nínive que a cidade e todos os seus habitantes seriam destruídos.
(Jo 1:1-2) “E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença”.
Felizmente os habitantes de Nínive se arrependeram e foram poupados por Deus, muito embora Jonas tenha ficado aborrecido com a misericórdia que Deus demonstrou para com aquele povo.
Todo o Antigo Testamento é repleto de exemplos assim, com Deus lançando juízos por meio de instrumentos como água e fogo ou por meio de guerras e exércitos. Em alguns momentos vemos Israel, o povo escolhido de Deus, sendo usado por ele para julgar nações ímpias. Há casos interessantes, como o dos Amorreus, um povo que ainda não tinha atingido o ápice da iniquidade e para o qual Deus avisa que seu juízo ainda dependia disso:
(Gn 15:16) “E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia”.
Se nesses momentos Deus ordenava que não poupassem nem mesmo mulheres e crianças era porque ele bem sabia em que se transformariam aquelas crianças no futuro, ou qual seria o papel das mulheres em servirem de tropeço ao povo de Deus. Lembre-se de que Hitler um dia foi um bebê e que não faltam exemplos de mulheres de povos pagãos que corromperam a fé dos israelitas. Mas não pense que esse tratamento dava aos israelitas a imunidade de serem também castigados por seus pecados. Encontramos em várias ocasiões Deus usando gentios, como Nabucodonosor, para julgar o povo de Deus. Portanto, em seu modo de tratar com os povos mergulhados em pecado na antiguidade, Deus lançava seus juízos de destruição. E inclua-se aí a ordem de Deus para que o seu povo destruísse os amalequitas, que é o povo a respeito do qual você perguntou.
Hoje Deus não está lançando juízos sobre os povos do mesmo modo como fazia no Antigo Testamento por estarmos em um período de graça. (Jo 1:17) “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”. Até mesmo quando Cristo andou neste mundo ele foi misericordioso e não destruiu os ímpios, o que poderia muito bem fazer como o Juiz severo que vemos no livro de Apocalipse, quando vier para julgar as nações. (2 Co 5:19) “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados”.
Tendo explicado estes pontos, vamos às suas perguntas: “Quem eram os amalequitas? Por que Deus ordenou que fossem totalmente eliminados?
Todos foram eliminados? Na história moderna há descendentes deste povo condenado por Deus que possam fazer mal à Igreja de Cristo ou ao povo escolhido?”.
Acredito que uma pergunta melhor seria: “O que os amalequitas significam para nós?”. Saber a história deles como nação ou se existem descendentes hoje não tem muita importância a não ser para algum historiador, mas saber o que eles significam tem grande importância. Lembre-se de que “tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança” e que “tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (Rm 15:4; 1 Co 10:11).
Os Amalequitas podem ser interpretados tanto como o povo de Amaleque, descendente de Esaú, como também com algum povo anterior que possa ter influenciado Esaú e seus descendentes, já que o nome Amaleque aparece alguns séculos antes de Esaú em Gênesis 14:7. Também poderia significar um título, como ocorre com Faraó ou César.
De qualquer modo podemos interpretá-lo como nosso “inimigo hereditário”, como foi Esaú para Jacó. Para nós existe uma figura interessante deste inimigo como sendo a carne. É o primeiro inimigo a enfrentar Israel tão logo este é liberto do Egito e passa pelo mar (figura de nossa salvação) entrando no deserto (uma figura do mundo). Era só enquanto tinha suas mãos levantadas ao céu, figura de dependência de Deus e do seu poder, que Moisés podia prevalecer contra Amaleque. Quando baixava as mãos os israelitas perdiam a batalha.
(Êx 17:8-14) “Então veio Amaleque, e pelejou contra Israel em Refidim. Por isso disse Moisés a Josué: Escolhe-nos homens, e sai, peleja contra Amaleque; amanhã eu estarei sobre o cume do outeiro, e a vara de Deus estará na minha mão. E fez Josué como Moisés lhe dissera, pelejando contra Amaleque; mas Moisés, Arão, e Hur subiram ao cume do outeiro E acontecia que, quando Moisés levantava a sua mão, Israel prevalecia; mas quando ele abaixava a sua mão, Amaleque prevalecia. Porém as mãos de Moisés eram pesadas, por isso tomaram uma pedra, e a puseram debaixo dele, para assentar-se sobre ela; e Arão e Hur sustentaram as suas mãos, um de um lado e o outro do outro; assim ficaram as suas mãos firmes até que o sol se pós. E assim Josué desfez a Amaleque e a seu povo, ao fio da espada. Então disse o Senhor a Moisés: Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos ouvidos de Josué; que eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus”.
(Hb 12:12) “Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados,”.
Balaão disse a respeito desse povo: “Amaleque é a primeira das nações; porém o seu fim será a destruição” (Nm 24:20). Depois que os espias foram repreendidos por retornarem da terra prometida incrédulos de sua capacidade de tomá-la segundo Deus tinha ordenado, eles decidem fazer isso na energia da carne e acabam derrotados pelos amalequitas e cananitas. Saul recebeu a ordem de Deus de destruí-los completamente, mas não obedeceu e manteve o rei dos amalequitas vivo e também seus rebanhos. Foi preciso Samuel matar Agague (1 Sm 14:48; 15:1-33). Davi atacou os amalequitas em 1 Samuel 27:8
e 30:1-3. No Salmo 83 os amalequitas reaparecem reunidos contra Israel no futuro. Assim Amaleque foi o primeiro a atacar Israel, sempre foi inimigo de Israel, e voltará no final para atacar o povo de Deus.
Que inimigo temos que seja tão feroz e constante em sua luta contra nós cristãos? A carne. Em Gálatas ela milita contra o Espírito e, à semelhança do que fez Moisés elevando suas mãos aos céus, não é nossa luta contra ela que garante a vitória, mesmo porque somos exortados que nossa luta não é contra a carne. É nossa dependência do céu que traz a vitória.
(Êx 17:16) “E disse: Porquanto jurou o Senhor, haverá guerra do Senhor contra Amaleque de geração em geração”.
Nossa libertação desse “Amaleque” virá com o arrebatamento, mas para Israel só haverá descanso mesmo quando o Senhor vier estabelecer o seu reino. Mesmo assim, será um reino de juízo a cada manhã, portanto ainda haverá pecado e morte como a paga pelo pecado, já que os que entrarem no reino terrenal (judeus e gentios convertidos durante a grande tribulação) entrarão ainda em sua condição natural, em um corpo de carne.
É por isso que o Senhor advertiu, em Mateus 24 que “se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias.” O reino de Cristo na terra será habitado por seres humanos convertidos exteriormente e vivendo em um mundo livre de tentações exteriores (Satanás está acorrentado). Mas tão logo o tentador for solto os inimigos de Cristo se manifestarão. Então mais uma vez haverá guerra, porém desta vez uma guerra direta contra o Senhor e seus exércitos.
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Deus discrimina negros e deficientes?
Você pergunta se Deus é racista, pois leu em Levítico 21 a observação sobre pessoas com nariz chato, e você identificou esses como sendo negros. Baseado nessa sua observação você diz que prefere servir os deuses de “matriz africana e de Nova Era” e aconselha deficientes físicos a fazerem o mesmo.
Segundo você Deus odeia negros e portadores de deficiência, por isso você conclui dizendo que odeia a Deus e ao seu Filho.
Sugiro que tenha cuidado ao decidir servir a deuses de “matriz africana” por causa de sua etnia, pois esta sim é uma posição discriminatória, já que Deus não discrimina pessoas pela cor da pele. Acaso você sabia que a esposa de Moisés era negra? Alguma vez leu o livro de Atos e percebeu que o primeiro gentio (não judeu) convertido a Cristo era, não apenas negro, mas castrado? E que a rainha de Sabá, que visitou Salomão e foi recebida com tanta pompa, também era negra? Talvez Simão, o cireneu, que ajudou Jesus a carregar a cruz fosse negro, pois Cirene ficava no norte da África. Em Atos 13 encontramos outro cireneu, chamado Lúcio, entre os irmãos responsáveis em ensinar na assembleia de Antioquia. E havia ali também um Simeão, que era conhecido como “Níger”, ou “Negro”.
Sua visão de mundo é tão estereotipada e discriminatória que ao ler a passagem de Levítico que fala de “nariz chato” imediatamente identificou isso como uma referência aos negros. Nem todos os negros têm nariz chato. Os que têm geralmente são descendentes de povos do oeste, sul e algumas partes da África Central. Mas os negros do leste, norte e de algumas regiões centrais do continente têm nariz fino. Você percebe isto também comparando os negros norte-americanos com os negros brasileiros. Como portugueses e ingleses compravam escravos de diferentes regiões (quem os escravizava eram os próprios negros de outras tribos para vendê-los aos europeus), hoje a população negra da América do Norte tem traços faciais característicos das regiões de onde vieram.
É fácil observar isso nas cantoras negras norte-americanas que não fizeram qualquer plástica no nariz. Vamos à passagem que, nas suas próprias palavras, o levou a decidir seguir os “deuses de matriz africana”:
(Lv 21:17-23) “Fala a Arão, dizendo: Ninguém da tua descendência, nas suas gerações, em que houver algum defeito, se chegará a oferecer o pão do seu Deus. Pois nenhum homem em quem houver alguma deformidade se chegará; como homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos, Ou homem que tiver quebrado o pé, ou a mão quebrada, Ou corcunda, ou anão, ou que tiver defeito no olho, ou sarna, ou impigem, ou que tiver testículo mutilado. Nenhum homem da descendência de Arão, o sacerdote, em quem houver alguma deformidade, se chegará para oferecer as ofertas queimadas do Senhor; defeito nele há; não se chegará para oferecer o pão do seu Deus. Ele comerá do pão do seu Deus, tanto do santíssimo como do santo. Porém até ao véu não entrará, nem se chegará ao altar, porquanto defeito há nele, para que não profane os meus santuários; porque eu sou o Senhor que os santifico”.
Uma pessoa que não tivesse lentes tão recalcadas e discriminatórias quanto as suas, logo perceberia que “nariz chato” na passagem de Levítico não está falando de etnia, mas de defeito físico. Veja que, além de “nariz chato”, a passagem fala também de cego, coxo, membros compridos, pé quebrado, mão quebrada, corcunda, anão, olho defeituoso, lesão na pele e castrado. Por que você foi enxergar logo no “nariz chato” um problema racial?
Será que você julga a tudo e a todos do ponto de vista racial?
Se você não fosse tão apressado em julgar tudo do ponto de vista da cor da pele teria percebido o significado da passagem: Deus está falando daqueles que deveriam exercer o sacerdócio “oferecer o pão do seu Deus”; os que executariam as tarefas sacerdotais no Tabernáculo (e depois no Templo), e seriam os únicos que poderiam entrar em algumas dependências do Tabernáculo ou do Templo. Esses deviam ser sem defeito porque representavam aqueles que só podem ter acesso a Deus se estiverem limpos de toda mancha e pecado. A passagem toda é uma figura da aceitação que Deus faz daqueles que são purificados pelo sangue de Cristo e assim limpos de toda mancha e defeito causados pelo pecado.
Evidentemente você não percebeu que Deus não só restringiu o acesso a essas partes do Templo a pessoas sem defeitos físicos (nada a ver com cor da pele), mas esse acesso era limitado aos descendentes de Arão (vers. 17) e a mais ninguém, mesmo que pertencesse ao povo de Israel. Quando Coré e seus seguidores quiseram usurpar essa posição receberam o justo castigo de Deus em Números 16. A questão não era de cor de pele, mas de uma determinação de Deus que devia ser cumprida pelo que ela significava, ou seja, que a adoração a Deus devia ter todos os requisitos da perfeição e era restrita aos descendentes de Arão, e a mais ninguém.
Se ler Mateus 27:51 verá que “o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo” no momento em que Jesus entregou sua vida na cruz, mostrando assim que a separação que impedia o homem comum de entrar na presença de Deus tinha sido removida, “de alto a baixo”, ou seja, de Deus para o homem. Agora todo aquele que crê em Jesus é um sacerdote com pleno acesso à presença de Deus porque foi feito, aos olhos de Deus, sem mancha ou defeito do pecado.
(Hb 10:19-23) “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, E
tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu”. (Para entender leia também Hebreus 9).
Portanto, sem se converter a Cristo e sem ter o Espírito Santo, que lhe dará o entendimento para compreender a Palavra de Deus como um todo, você não será capaz de enxergar o Deus de graça e misericórdia que deu seu Filho Unigênito para salvar você e qualquer um que se aproxime dele de coração contrito e arrependido. Enquanto não admitir que você é defeituoso aos olhos de Deus, e não estou falando de formato de nariz, mas do pecado com o qual eu e você viemos ao mundo, e que precisa do sangue de Cristo para torná-lo apto a entrar na presença de Deus, continuará a ser marionete de demônios como eu fui um dia. E continuará a odiar AQUELE que quer salvá-lo de seus pecados, o DEUS vivo e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Salvador.
Espero sinceramente que você se arrependa dessa visão discriminatória, não só contra homens, mas principalmente contra o próprio Deus e seu Filho Eterno. Sua compreensão da Bíblia é equivocada e temo que seus sentimentos em relação às pessoas que são diferentes de você também sejam.
Tenho um filho adotivo que é negro e deficiente físico e mental (o blog dele é www.querocontar.net) e não tenho qualquer dúvida de que irei encontrá-lo no céu, transformado à semelhança do corpo de Jesus ressuscitado. Será que você estará lá? Não, a menos que aceite o único meio de salvação dado por Deus: Jesus, o crucificado; Jesus, o ressuscitado. O mesmo que não faz discriminação e deseja lhe dar a salvação, tornando-o um filho de Deus pela fé em Cristo Jesus.
(Gl 3:26-28) ‘Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”.
(Jo 14:6) “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”.
(At 4:12) “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.
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O ato sexual é o que une o casal?
Alguém disse a você que um homem que teve uma relação sexual com uma prostituta não pode mais se casar. A ideia é que a relação sexual tornaria aquele homem uma só carne com a prostituta, e se a Palavra de Deus diz que o marido e a mulher se unem para se tornarem uma só carne, aquele homem já teria feito isso com a prostituta, portanto, estaria casado com ela. Uau!
Quando eu pensava que já tinha escutado de tudo surge mais essa interpretação completamente distorcida das Escrituras.
O apóstolo Paulo nos alertou contra os que tentam tirar conclusões equivocadas da Palavra de Deus utilizando a própria Palavra de Deus fora do contexto. Por exemplo, em Romanos 3:7-8:
“Mas, se pela minha mentira abundou mais a verdade de Deus para glória sua, por que sou eu ainda julgado também como pecador? E por que não dizemos (como somos blasfemados, e como alguns dizem que dizemos): Façamos males, para que venham bens? A condenação desses é justa”.
Esse tipo de raciocínio é perigosíssimo: “Se pelo pecado Deus trouxe bênção, então vamos pecar mais para Deus trazer mais bênçãos”. É
basicamente a mesma linha de raciocínio que a pessoa tentou usar, pois se existe uma passagem que fala do matrimônio dizendo que o homem deixa seu pai e sua mãe e se une à esposa e os dois se tornam uma só carne, então por existir outra passagem que diz que aquele que se une a uma prostituta torna-se assim uma carne com ela, estaria consumando um matrimônio!
Porém, embora o ato conjugal possa ser considerado a consumação de um matrimônio, não é este que dá a um homem e uma mulher o status de casados; eles já estavam casados no momento em que se uniram em matrimônio, e qualquer pessoa sensata entenderá assim. Seria estranho alguém dizer que foi ao casamento de fulano querendo com isso insinuar que assistiu ao que ocorreu no quarto do casal na lua de mel.
Além disso, o contexto da passagem de 1 Coríntios 6 é diferente do contexto de Efésios 5. Em Efésios o assunto é sim a união conjugal entre um homem e uma mulher, isto é, o matrimônio, também mostrado como uma figura de Cristo e sua Igreja. Em 1 Coríntios o assunto é o corpo do cristão e de como este deve ser conservado puro e livre de contaminações e associações pecaminosas, já que o cristão é individualmente membro do corpo de Cristo. Em Efésios trata-se da relação entre o corpo de Cristo (formado por membros individuais) e a cabeça, que é Cristo, e em 1 Coríntios trata-se da relação entre o corpo do crente individualmente como membro do corpo de Cristo. Compare as passagens:
(Ef 5:24-32) “De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos. Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja; porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja”.
(1 Co 6:13-20) “Os alimentos são para o estômago e o estômago para os alimentos; Deus, porém, aniquilará tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo. Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu poder. Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo, e fa-los-ei membros de uma meretriz? Não, por certo. Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne. Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito. Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”.
Quando duas pessoas decidem se unir em matrimônio na presença de duas testemunhas dentro das prerrogativas estabelecidas por Deus para a formação de um novo núcleo familiar, essa união é sancionada por Deus, isto é, Deus une. Se no país existirem leis exigindo alguma formalização civil dessa união, o casal apresenta-se a um juiz de paz e este, com a autoridade que lhe foi concedida pelo Estado, declara o homem e a mulher casados.
Se não existirem cartórios ou coisa semelhante, um matrimônio realizado na presença de duas testemunhas continua sendo um matrimônio, seja ele ministrado pelo pároco, pastor ou chefe da tribo. É a presença das testemunhas que determina um contrato matrimonial. A presença do oficiante ocorre quando a lei local assim exigir. Obviamente a união sexual de um homem e uma mulher fora do matrimônio, ainda que se constitua uma união física, não é um casamento pois dificilmente isso será feito na presença de duas testemunhas, como é exigido em qualquer contrato ou acordo, na Bíblia ou fora dela.
Se existir dúvida quanto a isso, podemos nos valer da declaração que o Senhor Jesus fez à mulher samaritana, que tinha mantido relações sexuais com seis homens diferentes e nenhum deles era seu marido aos olhos de Deus:
(Jo 4:16-18) “Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu, e disse: não tenho marido. Disse-lhe Jesus: disseste bem: não tenho marido; porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade”.
Embora alguns possam interpretar isso como se ela tivesse sido legalmente casada cinco vezes, e tivesse ficado viúva ou sido abandonada por todos seus maridos, o fato de conviver sexualmente com seu atual companheiro não fazia dele seu marido de fato, demonstrando assim que não é o ato sexual que une um casal em matrimônio.
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O batismo perdoa pecados?
Se estivermos falando do perdão de pecados para se obter a salvação eterna, então a resposta é não, o batismo não pode nos dar perdão. Se pudesse, quase toda a população ocidental estaria salva, já que a maioria das pessoas foi batizada e leva o nome de Cristo; são cristãos, não pagãos. Então como explicar as passagens que você apresentou?
(Mc 1:4) “Apareceu João batizando no deserto, e pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados”.
(Lc 3:3) “E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados;”.
(At 2:38) “E disselhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo;”.
Considerando que as Escrituras não podem se contradizer, deve existir uma explicação que coloque essas expressões “remissão de pecados” e “perdão de pecados” em seu devido contexto. Temos inúmeras passagens na Palavra de Deus que ensinam que a salvação é pela fé, não por obras ou pelo cumprimento a ordenanças como o batismo ou a ceia do Senhor.
É o caso de João 1:12; 3:16; 3:36; 6:47; At 16:31; Rm 10:9, só para citar algumas.
Se você considerar que o ladrão na cruz foi salvo sem passar pelo batismo, que o próprio Senhor não batizou ninguém e que o apóstolo Paulo afirma ter batizado alguns poucos, é de se estranhar que Jesus e Paulo não tenham se dedicado com maior afinco a essa prática se ela fosse realmente o meio de perdão e salvação. Por que Jesus não batizou a mulher adúltera antes de dizer a ela: “Nem eu também te condeno” (Jo 8:11). Por que não levou às águas o homem curado antes de dizer a ele: “Homem, os teus pecados te são perdoados” (Lc 5:20). E onde entrou o batismo, quando na casa do fariseu, Jesus disse à prostituta arrependida: “Os teus pecados
te são perdoados” (Lc 7:48).
Talvez Atos 22:16 nos dê alguma luz sobre o assunto. Repare que a exigência de que fossem batizados foi feita somente a judeus. No caso de João Batista, o batismo não era um batismo cristão, tanto é que os discípulos de João seriam batizados outra vez em Atos com o batismo cristão. Então que batismo era esse para remissão ou perdão de pecados que receberam de João Batista e depois precisaram receber novamente dos apóstolos? Era a prova visível e a declaração pública de arrependimento por tudo o que aquele povo havia feito, primeiro com os profetas de Deus (no caso do batismo de João Batista) e depois com seu Messias (no caso do batismo em Atos 22:16).
Esse mesmo povo trazia sobre si a culpa de rebelião contra Deus e sua Palavra, entregue aos israelitas séculos antes, e demonstrava esse espírito ao rejeitarem o Messias: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27:25). Aqueles judeus no batismo de João se arrependiam e declaravam publicamente que se colocavam em uma nova posição em relação a Deus, o que faziam mediante o batismo. Os judeus em Atos se arrependiam de terem crucificado o Messias e mostravam isso publicamente sujeitando-se ao batismo em nome de Jesus, que na prática era feito em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Tendo isto em mente fica mais fácil entender as passagens de Mc 1:4, Lc 3:3 e At 2:38: eles eram batizados “para o perdão [ou remissão]
dos pecados”, entrando o batismo como o reconhecimento por terem sido já perdoados. Li um comentário de Ryrie que explica assim:
“Isto não significa que [eles fossem batizados] a fim de serem remidos, pois em todo o Novo Testamento vemos pecados sendo perdoados como resultado da fé em Cristo, não como resultado do batismo. Aqui significa que deviam ser batizados por causa da remissão dos pecados. A preposição grega ‘eis’, traduzida como ‘para’, tem também o significado ‘por causa da’, não apenas aqui mas também em passagens como Mateus 12:41, onde o único significado possível é ‘porque se arrependeram [ou ‘por causa de terem se arrependido’] com a pregação de Jonas’. O arrependimento foi o que trouxe a remissão dos pecados para esta multidão no dia de Pentecostes, e por causa da remissão dos pecados lhes foi pedido que fossem batizados”.
É preciso entender que as diferentes classes de pessoas que se converteram em Atos receberam tratamentos distintos por causa das responsabilidades distintas em que estavam inseridas.
— Para os judeus convertidos a Cristo, a ordem foi (1) Arrependimento, (2) Batismo nas águas, (3) Recebimento do Espírito Santo.
— Para os samaritanos, em At 8:14-17, a ordem foi (1) Crer, (2) Batismo nas águas, (3) Intercessão dos apóstolos, (4) Imposição de mãos dos apóstolos e (5) Recebimento do Espírito Santo.
— Na conversão dos gentios em At 10:44-48 a ordem foi (1) Crer, (2) Recebimento do Espírito Santo, (3) Batismo nas águas.
— Finalmente, para os discípulos de João Batista que se converteram a Jesus, a ordem foi (1) Crer, (2) Novo batismo nas águas, (3) Imposição de mãos do apóstolo, (4) Recebimento do Espírito Santo.
Portanto, entenda o batismo como uma expressão exterior e pública de algo já ocorrido (ele tem também outros significados, mas não vou comentá-los aqui). A prostituta que lavou os pés de Jesus com lágrimas, enxugou-os com seus cabelos e os ungiu com perfume fez aquilo como consequência do perdão que ela sabia poder contar. Repare que ela não foi batizada para receber tal perdão, e nem foi esse ato de bondade dela para com o Senhor que a fez merecedora do perdão. Ela recebeu o perdão antes disso, quando creu em Jesus.
(Lc 7:47-50) “Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, [antes de entrar ali]
porque [como consequência do perdão] muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado [por consequência] pouco ama. E disse-lhe a ela: Os teus pecados te são perdoados [confirmando aquilo que a levara a estar ali para adorar]. E
os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este, que até perdoa pecados? E disse à mulher: A tua fé [e não o arrependimento ou o fato de ter regado os pés de Jesus com lágrimas] te salvou; vai-te em paz”.
Existe ainda outro aspecto do perdão, que é o perdão fraternal ou administrativo, que é praticado individualmente entre os crentes (Mt 11:25) e também pela assembleia (2 Co 2:10), mas este é um assunto para outra ocasião.
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O crente está liberto do poder de Satanás?
Todos os poderes que há, sejam humanos ou angelicais, foram instituídos por Deus. O pecado arruinou tudo, começando pelos poderes angelicais quando Satanás liderou sua rebelião contra Deus (Is 14:12). Depois o pecado também arruinou o homem, que tinha sido criado para estar acima de toda a Criação e dominar sobre ela (Hb 2:7). Tanto as potestades (ou poderes) angelicais quanto as potestades humanas ficaram sujeitas às consequências do pecado, mas ainda assim permanece seu status de autoridade.
É por isso que Deus ensina que devemos obedecer às autoridades humanas que sobre nós foram constituídas, como governos, polícia, etc., ainda que sejam falhas (Rm 13:1-7). Naquilo que não for contrário à vontade de Deus expressa em sua Palavra, devemos ser submissos a elas. É por isso também que o arcanjo Miguel não ousou repreender Satanás, pois na hierarquia angelical Miguel, que é um arcanjo, ocupa uma posição de autoridade abaixo de Satanás, que é um querubim (Jd 1:9). Mas nada nos é dito no sentido de obedecermos a anjos, pois eles ocupam uma posição de “espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação” (Hb 1:14).
Encontramos o Senhor repreendendo os demônios e Satanás nos evangelhos (Mt 17:18; Mc 8:33), mas não vemos os discípulos fazendo o mesmo, apesar de expulsarem os demônios, não repreendê-los. Mas em Efésios 6 nos foi dito que devemos batalhar contra as hostes da maldade nos lugares celestiais, indicando assim que nossa luta não é contra carne e sangue mas contra os principados e potestades da maldade. Esses habitam as regiões celestiais além de passearem pela terra, como aprendemos do livro de Jó capítulos 1 e 2.
(Ef 6:11-12) “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.
Considerando que esses principados e potestades que se desviaram de Deus habitam no ar ou atmosfera (Ef 2:2), imagine a surpresa desses quando viram aquele que Satanás considerava ter vencido passar por ali ressuscitado rumo à glória.
Cristo já havia entrado na casa do valente e o amarrado enquanto andou aqui neste mundo, preparando o caminho para “furtar os seus bens… saqueando então a sua casa” (Mt 12:29). Então, com sua morte e ressurreição ele deu o golpe final na cabeça da antiga serpente, que é o diabo e Satanás, “despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo” (Cl 2:15). Com essa mesma obra ele levou cativo o cativeiro e subiu triunfante sobre todas as hostes de Satanás. Assim elas foram expostas publicamente em sua derrota e hoje o crente pode ter a certeza de que está liberto.
“Deus nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1:13-17).
Era evidente que os principados e potestades que foram criados por Jesus e para Jesus não poderiam ser independentes dele, daí ser necessária essa intervenção para que as coisas fossem colocadas em seus devidos lugares. Às vezes nos ocupamos com a obra de Cristo em relação à nossa salvação e acabamos nos esquecendo de tudo o mais que está envolvido nela, principalmente da glória de Deus, que foi a primeira razão pela qual Cristo morreu. Ainda que ninguém fosse salvo, mesmo assim o Cordeiro teria tirado o pecado do mundo, ou seja, resolvido a questão pendente do pecado que manchou a Criação de Deus.
Tente imaginar um grande rei da antiguidade voltando vitorioso da batalha. Ele traz consigo todos os seus soldados que estavam nas mãos dos prisioneiros, como Abraão fez quando venceu aqueles que subjugaram seu sobrinho Ló (Gn 14). E não só isso, mas ele traz acorrentados todos os inimigos e desfila com eles ao entrar na cidade. É isto o que significa a frase “despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo” (Cl 2:15).
Que precioso para todo aquele que crê saber que já não precisa temer Satanás e seus anjos, ainda que reconheça que eles têm poder e continuam agindo nesta esfera até o tempo determinado. Se a morte era o máximo com que o diabo podia nos ameaçar, já não estamos mais sujeitos a essa servidão.
(Hb 2:14-16) “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão”.
Hoje somos espetáculo para os anjos e estes observam a igreja, pois ao contrário deles, que nunca caíram em pecado ou que caíram e nunca conhecerão o perdão, somos seres arruinados que foram resgatados e hoje glorificam a Deus.
(1 Pe_1:12) “Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar”.
(Ef 3:10) “Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus,”.
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Por que Jesus falava por parábolas?
Por que Jesus falava por parábolas, dificultando assim a compreensão das pessoas? Será que ele não queria que elas entendessem? Tudo indica que ele falava por parábolas, não para simplificar, mas para ver até onde ia o interesse dos ouvintes. Pessoas indiferentes não teriam interesse em entender, portanto para elas as parábolas não trariam qualquer benefício.
(Mt 13:13-15) “Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure”.
Ao comentar a parábola do Semeador em Lucas 8, C. E. Stuart explica:
“O significado ele explicava aos discípulos quando eles perguntavam; pois a eles era dado conhecer os mistérios do reino de Deus (Lc 8:10). Ele falava por parábolas para testar as pessoas. Aqueles que desejavam entender podiam ir a ele e perguntar. E nesta ocasião Marcos (Mc 4:10) nos diz que os que perguntaram não foram apenas os doze. Aqueles que estavam com os doze e se interessavam nele pediram a ele a explicação” (C. E.
Stuart, “From Advent to Advent”).
A medida de nossa compreensão da Palavra de Deus é diretamente proporcional à medida de nosso interesse e desejo de aprender do Senhor. Pessoas indiferentes ao Senhor e à sua Palavra passarão ao largo e continuarão caminhando rumo à condenação eterna.
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Toda denominação é uma seita?
Sim, qualquer denominação é uma seita, apesar de nem toda seita ser uma denominação. Seita significa simplesmente uma divisão ou algo sectário, que divide, separa, etc. De acordo com o Concise Bible Dictionary, a palavra traduzida como “seita” em algumas passagens da Bíblia é, no original grego, “hairesis”, e usada para as seitas entre os judeus, como era o caso dos Saduceus e Fariseus. Veja Atos 5:17; 15:5 e 26:5. Os judeus, por sua vez, empregavam a mesma palavra para os cristãos (At 24:5, 14; 28:22). As seitas ou heresias no cristianismo apareceram cedo e eram o resultado da vontade humana, não de Deus.
O Concise Bible Dictionary continua explicando: “A raiz da palavra grega significa ‘escolher’ e demonstra que uma heresia é algo peculiar. A doutrina professada [pelo herético] pode ser verdadeira em si mesma, mas pode ter sido exagerada ou colocada fora de seu contexto. A consequência evidente é a formação de um partido ou seita (1 Co 11:9; Gl 5:20; 2 Pe 2:1). Quem adere a uma heresia é um herético, e depois da primeira e segunda admoestação deve ser rejeitado (Tt 3:10). Havendo Deus dado em sua Palavra tudo o que era necessário para a igreja, não existe espaço para a escolha ou vontade humana. O homem deve ser um humilde receptor” (1 Co 4:7).
A leitura deste comentário de Bruce Anstey no livro “Um só corpo na prática” dá uma ideia melhor do assunto. O simples fato de uma denominação existir (qualquer que seja) é uma desonra para Deus que tinha em mente que a igreja não apenas fosse “um só corpo”, mas que expressasse isso na prática. A igreja nunca deixou de ser “um só corpo”, mas a expressão disso foi deturpada pelos homens. Em seu livro Bruce Anstey inclui o seguinte exemplo, tirado de outra publicação:
“Se pudéssemos voltar ao princípio, ao dia de Pentecostes, quando o Espírito de Deus desceu e uniu aquelas 120 pessoas em um só corpo, e todas elas estavam reunidas ao Nome do Senhor Jesus Cristo, suponha que Pedro tivesse um desentendimento com João e eles decidissem que iriam estabelecer comunhões separadas. A partir daí existiria uma comunhão seguindo a Pedro e outra a João.
Será que poderíamos dizer que o Espírito iria guiar alguns a uma comunhão e outros à outra? Será que o Senhor aprovaria as duas igualmente? Não cremos que ele iria sancionar as duas comunhões com sua presença em seu meio, pois agindo assim ele estaria aprovando a divisão prática na igreja. Se o fizesse, ele seria autor de confusão”. (“Can Christians be Gathered in Only One Place?” – Notes of Ottawa General Meetings – April 1987 – p.
11-12).
Ele mostra também o processo que leva às divisões: começam com diferenças de opinião (1 Co 1:10) que levam a contendas (1 Co 1:11), as quais resultam em divisões (1 Co 1:12-13), tudo ainda no âmbito interno, ou seja, entre irmãos em uma mesma assembleia. Se não forem julgadas, essas divisões internas resultam em heresias ou seitas (1 Co 11:18-19), no sentido explicado aqui, e não no habitualmente usado pelos evangélicos. O autor conclui dizendo:
“Uma ‘seita’ ou ‘heresia’ (trata-se da mesma palavra em grego) é uma divisão consumada entre os santos, quando um partido se separa e passa a congregar de forma independente. O que começa como uma diferença de opinião, leva à contenda e acaba produzindo um cisma ou divisão interna entre os santos, a qual, se não for julgada, levará a uma heresia ou seita — uma divisão visível entre os santos”.
Ao contrário do que pensam os evangélicos, que chamam de “seita”
apenas as religiões com aberrações doutrinárias, como Testemunhas de Jeová, Mórmons, Espiritismo, etc., a Bíblia chama de “seita” ou “heresia” qualquer coisa que divida os cristãos, portanto uma seita pode existir mesmo dentro de um grupo de cristãos que aparentemente andam juntos. Quando se entende isto se percebe que não apenas as denominações são seitas ou facções, mas até mesmo grupos independentes sem denominação que não estejam congregados sobre o princípio do “um só corpo” também se encaixam nessa descrição.
Sabe o que acontecerá com as denominações após o arrebatamento dos verdadeiros crentes (inclusive os que hoje estão nelas)?
Essas organizações e as pessoas que nelas apenas professavam ser cristãs (mas não eram e não foram arrebatadas) formarão a “Grande Meretriz” de Apocalipse.
Certamente você não iria defender essa “Grande Meretriz”, a cristandade apóstata, que na grande tribulação utilizará de seus sistemas, templos e instalações para perseguir, torturar e matar os “pequeninos irmãos”, que formarão o remanescente de judeus convertidos nessa época.
Nada disto, porém, implica em um julgamento das pessoas que hoje estão nessas seitas. Muitos são irmãos amados que conheceremos no dia do arrebatamento e encontraremos no céu, mas que infelizmente na terra estão divididos em compartimentos sectários por causa dos nomes e das organizações que criaram. A rigor, esses não deveriam dizer, como na oração do “Pai Nosso”, a frase “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”, já que na terra estão fazendo o contrário da vontade de Deus no céu, que é de não existir qualquer denominação que divida os salvos por Cristo. Se não existem denominações ou divisões entre irmãos no céu, por que iríamos promover tal coisa na terra?
A reação de um cristão sincero a isso não é tentar consertar o que está errado e nem mesmo frequentar as denominações para tentar convencer seus membros a mudarem de ideia. A reação bíblica é simplesmente apartar-se, separar-se de tudo aquilo que não tenha fundamento na Palavra. Apartar-se do mal é o que Moisés fez, quando viu o mal disseminado no arraial de Israel e tomou para si a tenda da congregação e a armou fora do arraial. Aí quem queria buscar o Senhor saía do arraial e se dirigia à tenda da congregação fora do arraial.
(Êx 33:7) “E tomou Moisés a tenda, e a estendeu para si fora do arraial, desviada longe do arraial, e chamou-lhe a tenda da congregação. E aconteceu que todo aquele que buscava o Senhor saía à tenda da congregação, que estava fora do arraial”.
Apartar-se do mal e dos vasos que estão contaminados com o mal é o que também nos ensina 2 Timóteo 2, que também nos alerta para não tentarmos julgar quem é e quem não é do Senhor, porque somente o Senhor conhece os que são seus:
(2 Tm 2:19-22) “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra. Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
O ato de se apartar do mal não significa separar-se para ficar só, mas para congregar com aqueles que estão igualmente apartados, “os que, com um coração puro [ou purificado dessas coisas] invocam o Senhor”.
Também não é um apartar-se para si mesmo e nem mesmo para algum grupo, mas para Cristo.
(Hb 13:13) “Saiamos, pois, a ele [a Cristo] fora do arraial [sistema humano], levando o seu vitupério”.
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A oração de Tiago 5 serve para qualquer enfermidade?
Ao longo da Bíblia você encontra muitos casos de cura de doentes, tanto as feitas por Jesus como as que seus discípulos realizaram.
Quando as pessoas levavam doentes ao Senhor ou aos discípulos, TODOS eram curados (Mt 8:16; At 5:16), e não apenas alguns. Aquelas curas tinham uma tripla finalidade: Deus, o testemunho e o doente.
A primeira finalidade da cura era obviamente exaltar e glorificar a Deus, conforme o Senhor explicou aos discípulos que perguntaram sobre o cego de nascença em João 9:3: “foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus”. O mesmo nós vemos no episódio da doença, morte e ressurreição de Lázaro: “E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela” (Jo 11:4). Os sinais, milagres e maravilhas serviam para comprovar as credenciais do Filho de Deus, pois assim tinha sido a promessa de sua vinda. “Eis-me aqui, com os filhos que me deu o Senhor, por sinais e por maravilhas em Israel, da parte do Senhor dos Exércitos, que habita no monte de Sião” (Is 8:18). “Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis” (At 2:22).
A segunda finalidade geralmente tinha a ver com o testemunho de Deus no mundo.
Sempre que Deus começava algo importante ou uma “nova etapa” no modo de tratar o homem, aquilo era cercado de sinais e milagres. Foi assim quando o Senhor veio ao mundo e andou aqui, e foi assim quando o Espírito Santo veio habitar neste mundo na igreja. Além disso, os sinais e milagres tinham uma aplicação especial para os judeus: “Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria” (1 Co 1:22). “Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor” (1 Co 14:21). Por isso encontramos citações como estas em Atos, que serviam para mostrar que aquela obra, a saber, a igreja, tinha a chancela de Deus:
(At 2:43) “E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos”.
(At 8:13) “E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito”.
(At 19:11) “E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias”.
A terceira finalidade era resolver o problema do ser humano, mas pelas duas outras finalidades acima já dá para perceber que esta não era a prioridade. Se fosse, Jesus e seus discípulos teriam simplesmente erradicado a doença do mundo como num passe de mágica. O Senhor tinha poder para tanto?
Certamente, ele podia fazer isso mas não devia fazer isso, pois a doença era consequência do pecado que entrou na Criação, portanto de nada adiantaria erradicar a consequência sem arrancar a raiz. Foi para tirar o pecado do mundo que veio o Cordeiro de Deus, e não para servir de médico da humanidade arruinada. A solução completa, quando serão manifestos todos os benefícios da morte e ressurreição de Cristo, só veremos no final da história.
Tanto é verdade que a finalidade principal das curas não era o bem estar da humanidade, que depois de um tempo da habitação do Espírito Santo na igreja neste mundo você já não encontra tantos sinais e milagres como no princípio. Paulo tinha uma doença, que ele chamava de “espinho na carne” (2
Co 12:7), permitida por Deus para ele não se ensoberbecer; o mesmo apóstolo deixou Trófimo doente em Mileto (2 Tm 4:20 – por que não o curou?!) Em uma de suas viagens, e também deu uma receita de um medicamento caseiro para Timóteo aplacar seus frequentes problemas estomacais (1 Tm 5:23). Por que não enviar a Timóteo um lenço como os que vemos em Atos 19?
“E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam” (At 19:11-12).
Paulo não curava a si mesmo de seu espinho na carne, não curou Trófimo em Mileto e nem enviou um lenço para curar Timóteo porque isso não estava nos planos de Deus e nem serviria para glorificar a Deus como das outras vezes, ou para confirmar que Deus estava fazendo uma grande obra com a fundação da igreja. A igreja já estava bem fundada e agora devia seguir em simplicidade de fé e dependência do Senhor, concentrada na adoração a Cristo, e não na dependência e exaltação de homens com poderes miraculosos.
A oração para cura descrita em Tiago 5 parece ter outro propósito. Por ela envolver a igreja (os presbíteros e anciãos são chamados) a enfermidade pela qual eles oram deve estar afetando a igreja de alguma forma.
Creio que esta passagem seja a única que inclua o óleo ou azeite no processo, portanto deve existir aqui algum particular que deve ser levado em consideração e o leitor atento irá logo descobrir o que é. Vamos ao trecho: (Tg 5:14-20) “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis.
A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos. Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto. Irmãos, se algum dentre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados”.
Você reparou que esta oração com a unção de azeite feita pelos presbíteros ou anciãos está associada não apenas à doença, mas a pecados? E Tiago menciona ainda uma oração feita por Elias que é no mínimo estranha: Elias orou para não chover por três anos e meio e não choveu.
Aquela não foi uma oração para resolver um problema, mas uma oração para juízo porque o povo de Israel estava em pecado.
A passagem fala também de perdão de pecados e de cobrir uma porção de pecados, o que obviamente não se trata do perdão divino ou judicial de pecados, mas de um perdão administrativo, já que é ministrado por homens. Por isso a oração de cura mencionada neste contexto não deve ser para qualquer enfermidade, mas para aquela que está associada a pecado ou a um juízo ou perdão administrativo.
Portanto temos aqui alguém que pode estar envolvido em um pecado que afeta o testemunho da igreja, como encontramos em 1 Coríntios 5 no caso do homem que estava se deitando com a madrasta. A doença aqui pode ser o juízo de Deus para levá-lo ao arrependimento, como foi o caso do juízo de excomunhão que a assembleia em Corinto foi obrigada a aplicar no homem do capítulo 5 daquela epístola, o qual parece ter sido restaurado à comunhão em 2
Coríntios 2:7 e 7:10. É uma oração necessária para resolver um problema que afeta não apenas o doente, mas os irmãos.
A presença dos anciãos denota algo que envolve a assembleia e a promessa de cura é tanto para a restauração física do enfermo, quanto moral, para perdoá-lo de algo que também esteja afetando os irmãos. O versículo 16 fala de confissão, algo necessário para o recebimento de perdão, como também ensina a passagem de 1 João 1:9, e está claro aqui que é uma confissão não somente a Deus, mas “uns aos outros”, ou seja, uma confissão que envolve toda a assembleia. Daí podermos ter a certeza de que o contexto esteja falando de doença como consequência de um pecado que tem um impacto sobre o testemunho público da igreja.
A unção feita pelos presbíteros ou anciãos (plural) “com azeite em nome do Senhor” denota que a autoridade que Cristo deu à assembleia está sendo invocada aqui. Não se trata de uma oração individual em nome do Senhor, mas de uma ação coletiva como foi ensinado pelo Senhor, para quando a assembleia deveria “ligar” e “desligar”, isto é, tomar decisões, em seu Nome.
(Mt 18:18-20) “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.
Por isso não se trata de uma mera oração feita a pedido de um enfermo qualquer, mas os anciãos que oram devem também discernir se devem ou não orar. Como já vimos com o exemplo de Elias, a situação toda pode envolver uma enfermidade que poderia ser uma disciplina vinda do Senhor, equivalente aos anos de seca impostos sobre o povo, os quais só cessaram pela intervenção do profeta em oração.
(Hb 12:6) “Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho”.
(Sl 32:3-6) “Quando eu guardei silêncio, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado. Por isso, todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar;”.
O processo aqui poderia ser ilustrado por um caso de pecado na assembleia. Imagine alguém que tenha pecado e sentido sobre si o peso da mão do Senhor por ter comprometido o testemunho público daqueles congregados ao seu Nome. Esse “açoite” ou “peso da mão de Deus” poderia tanto ser uma aflição de consciência, uma dificuldade na vida ou uma doença física. Sabemos que o Pai disciplina aquele que ama. Arrependido de seu pecado esse irmão confessaria sua falta aos outros e os presbíteros ou anciãos da assembleia iriam orar por ele. Ao se submeter a isso o enfermo demonstraria arrependimento e contrição.
Os anciãos orariam sobre o enfermo ungindo-o com azeite (símbolo do Espírito Santo) e ele poderia receber um duplo benefício: a cura e o perdão de pecados, neste caso, como já disse, não o perdão judicial (já que este foi garantido na cruz e somente Deus dá), mas o perdão administrativo aqui neste mundo.
Seria isto válido para os dias de hoje? Vamos ver o que F.
B. Hole responde:
“Cremos que sim. Por que então é algo tão pouco praticado?
Por ao menos duas razões. A primeira é que não se trata de tarefa fácil encontrar os anciãos DA IGREJA, apesar de ser fácil encontrar os anciãos de certos agrupamentos religiosos. A igreja de Deus está em ruínas quanto à sua manifestação exterior de unidade, e pagamos o preço por isso. Segundo, supondo que os anciãos da igreja fossem encontrados, e que atendessem ao chamado, dificilmente eles teriam o discernimento e a fé exigidos para oferecerem a oração de fé que é mencionada aqui. A fé, observe bem, é da parte dos que oram, isto é, dos anciãos. Nada é dito da fé do enfermo, apesar de podermos inferir que ele tivesse alguma fé, ao menos para se colocar aos cuidados dos anciãos conforme esta passagem de Tiago 5:16”.
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Jesus vai descer do modo como subiu?
Sua dúvida é sobre a volta de Jesus e é sempre bom verificar o caráter em que a Palavra de Deus fala em cada ocasião para não ficar confuso quanto a que vinda ela está se referindo. Na passagem que citou (At 1:9-11) os anjos falam aos discípulos de Jesus no caráter de um remanescente judeu na terra. Veja que em muitas ocasiões Deus usou anjos para levar mensagens a Israel.
Neste momento da ascensão de Jesus os discípulos ainda não têm o Espírito Santo e não são igreja, já que esta só seria criada mais tarde.
Eles estão no mesmo caráter em que nós os encontramos nos evangelhos, isto é, são judeus, estão na terra de Israel, têm um Templo, se reúnem nas sinagogas e cumprem suas obrigações do judaísmo.
(At 1:9-12) “E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois homens vestidos de branco. Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.
Então voltaram para Jerusalém, do monte chamado das Oliveiras, o qual está perto de Jerusalém, à distância do caminho de um sábado”.
Portanto, o remanescente judeu que se converter após o arrebatamento da Igreja (representado aqui pelos discípulos ainda como judeus) verá Jesus descer do céu à terra, assim como subiu da terra ao céu. Repare que Jesus estava no Monte das Oliveiras quando subiu e a profecia de Zacarias diz que é no mesmo monte que ele colocará seus pés quando voltar.
(Zc 14:4) “E naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente;”.
Porém, em sua vinda para arrebatar a Igreja Jesus não chega à terra: é a Igreja que sobe a ele entre nuvens para um encontro com o Senhor que se dará nos ares.
(1 Ts 4:17) “Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor”.
Sua outra dúvida a respeito da passagem em Atos 9:5. Ali não significa que Jesus estivesse na terra sendo perseguido depois de ter ascendido ao céu, mas que ao perseguir a Igreja Saulo estava perseguindo o próprio Senhor, já que a Igreja é o seu corpo. A passagem revela o vínculo e a intimidade que Jesus tem com a Igreja.
(At 9:4-5) “E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues”.
A outra passagem que incluiu em suas dúvidas não fala do Senhor Jesus especificamente, mas do Espírito Santo, às vezes chamado alternadamente de Espírito de Deus e Espírito de Cristo, como em Rm 8:9: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”. Em Filipenses 1:9 ele é chamado de “Espírito de Jesus Cristo” e na passagem que mencionou é chamado de “Espírito de Jesus” (At 16:7), apesar de algumas traduções omitirem o nome “Jesus” e colocarem apenas “Espírito”.
Resumindo, Jesus subiu ao céu diante da vista de seus discípulos que representavam naquele momento o remanescente judeu fiel que o recebeu nos evangelhos e que o receberá no final da grande tribulação, tendo como ponto de partida e chegada o Monte das Oliveiras. Entre sua subida e sua volta para o mesmo monte ocorrerá o arrebatamento da Igreja, no qual os salvos de todas as eras irão ressuscitar, e os vivos serão transformados, para subirem ao encontro do Senhor nos ares.
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Devo subir ao monte para orar?
Existem muitos enganos ensinados nas denominações cristãs e “orar no monte” é um deles. Os argumentos costumam ser que foi no monte que Moisés teve um encontro com Deus e que Jesus costumava subir ao monte para orar. Outros argumentos são que se subirmos ao monte de madrugada para orar, além de estarmos imitando Jesus, ficaremos livres das distrações e ruídos da civilização. É claro que sempre que alguém cria uma ordenança qualquer irá encontrar na Bíblia versículos para comprovar sua doutrina, como é o caso do “orar no monte”:
(Sl 24:3-5) “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação”.
(Êx 24:13) “E levantou-se Moisés com Josué seu servidor; e subiu Moisés ao monte de Deus”.
(Êx 34:29) “E aconteceu que, descendo Moisés do monte Sinai trazia as duas tábuas do testemunho em suas mãos, sim, quando desceu do monte, Moisés não sabia que a pele do seu rosto resplandecia, depois que falara com ele”.
(Mc 1:35) “E, levantando-se de manhã, muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava”.
(Mt 14:23) “E, despedida a multidão, subiu ao monte para orar, à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só”.
Para quem lê a Bíblia como se fosse um manual de instruções certamente achará que alguns versículos são suficientes para confirmar que devemos agir da mesma maneira. Mas na Bíblia também existem versículos que mandam apedrejar pessoas, expulsar os leprosos da cidade, sacrificar animais e não comer peixe sem escamas. Certamente não basta existir um versículo na Bíblia, pois é preciso saber quando aquilo foi dito, para quem, em que circunstâncias, com qual objetivo, etc.
O primeiro erro está em não se compreender o que é Israel e o que é Igreja, dois povos distintos com promessas distintas e um futuro peculiar a cada um. Sem este entendimento iremos buscar no Antigo Testamento aquilo que nos agrada e transformar em doutrina, quando a única doutrina dada à igreja foi a “doutrina dos apóstolos” (Atos 2:42).
O Antigo Testamento, que inclui os evangelhos no que diz respeito às ordenanças e sacrifícios, eram figuras ou sombras de coisas ainda futuras, com as quais hoje podemos nos ocupar. Quem espera a chegada de uma visita se alegra quando vê a sombra da pessoa que está chegando, mas não vai servir café para a sombra; vai se ocupar com a pessoa real. (Rm 15:4; Cl 2:17; 1 Co 10:11; Hb 9:23).
Então vamos à doutrina dos apóstolos: Onde na doutrina dos apóstolos (ou em Atos, que é um livro de transição) é dito que os cristãos devem subir a um monte para orar? Ou que a oração de madrugada tem maior eficácia? Em lugar nenhum. Encontramos os cristãos orando nos mais diferentes lugares (a maioria deles nas cidades), desde um calabouço até um cenáculo (andar superior), passando por casas térreas, beiras de rios e terraços.
À beira rio:
(At 16:13) “E no dia de sábado saímos fora das portas, para a beira do rio, onde se costumava fazer oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali se ajuntaram”.
Calabouço:
(At 16:25) “E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam”.
Casa:
(At 12:12) “E, considerando ele nisto, foi à casa de Maria, mãe de João, que tinha por sobrenome Marcos, onde muitos estavam reunidos e oravam”.
No cenáculo (andar de cima):
(At 1:13-14) “E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, irmão de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas”.
Terraço:
(At 10:9) “E no dia seguinte, indo eles seu caminho, e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao terraço para orar, quase à hora sexta”.
Todo lugar:
(1 Tm 2:8) “Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda”.
De dia e de noite:
(1 Ts 3:10) “Orando abundantemente dia e noite, para que possamos ver o vosso rosto, e supramos o que falta à vossa fé?”.
Mas por que inventaram tal coisa como esse costume de “orar no monte” e de preferência “de madrugada”? Porque o homem religioso gosta de coisas difíceis, de fazer sacrifícios e penitências, porque isso lhe dá a impressão de ter se esforçado para cumprir uma ordenança e ter algum mérito.
Você se lembra do que disse o servo de Naamã, o qual achou absurda a ideia de que um simples banho no rio Jordão iria curá-lo da lepra?
(2 Rs 5:13) “Meu pai, se o profeta te dissesse alguma grande coisa, porventura não a farias?”.
Os homens religiosos estão sempre em busca de grandes coisas, coisas difíceis, fardos pesados, porque isso dá a sensação de algum tipo de participação no que Deus faz. Então esses líderes religiosos de hoje insistem em colocar esses desafios aos que se submetem a eles, fazendo com que subam a uma montanha de madrugada com a promessa de que Deus lhes dará o que pedirem.
(Mt 23:4-5) “Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens”.
A ideia de que seja preciso sair da cidade para orar é justamente o contrário do que faziam os primeiros cristãos: eles oravam onde quer que estivessem, principalmente nas cidades.
Você já deve ter ouvido pessoas se gabando de terem “ido ao monte orar”, não é mesmo? A carne religiosa é assim mesmo. Porém o que seria dos portadores de deficiência, dos cadeirantes, dos idosos, daqueles com crianças pequenas e dos presidiários se Deus esperasse que subissem a algum monte no sereno da noite para orar?
Qualquer membro dessas religiões que “sobem ao monte”
certamente terá um caso para contar de problemas que aconteceram nessas noites de oração no monte. Eu já ouvi de um rapaz morto por um raio, pessoas assaltadas, mulheres violentadas e até atacadas por animais. Isso sem falar dos casais de namorados que se afastaram do grupo e foram pegos fazendo algo que não tinha nada a ver com oração.
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Jesus é uma das manifestações de Deus?
Não, Jesus não é apenas uma manifestação de Deus, como ensina a heresia conhecida por “unicismo”, que também ensina outros erros, como a salvação pelo batismo. Jesus é uma das três Pessoas da Trindade, o Filho Eterno de Deus, que sempre existiu como Filho na companhia, se podemos dizer assim, do Pai e do Espírito Santo. São três Pessoas, co-iguais e co-eternas em um único Deus. Poderíamos resumir uma refutação a essa falsa ideia de que Jesus seria apenas uma das manifestações de Deus da seguinte maneira:
1. Existe um só Deus (Dt 4:35, 39; 6:4; 32:39; Is 43:10–11; Tg 2:19) 2. As três Pessoas subsistem na mesma Essência:
— Deus Pai (Mt 6:9, 10:32, 23:9)
— Deus Filho (Jo 1:1, 20:28-29; Hb 1:1-9) — Deus Espírito Santo (At 5:3-4)
3. O Filho não é uma manifestação temporária do Pai
— O Filho é eterno (Jo 1:1, 8:58; Cl 1:17; 1 Jo 1:1) — Todas as coisas foram criadas por meio do Filho (Jo 1:3; 1
Co 8:6; Cl 1:16; Hb 1:1-3)
— A salvação vem somente em função da graça de Deus pela fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador, e não do batismo (At 4:12; Rm 10:9-10; Ef 2:8-10; 2 Tm 2:5)
Uma cena na qual é inegável a presença simultânea da Trindade é o batismo de Jesus:
(Mc 1:10-11) “E, logo que [Jesus] saiu da água, viu os céus abertos, e o Espírito que como pomba descia sobre ele. E ouviu-se uma voz dos céus [do Pai], que dizia: Tu és o meu Filho amado em quem me comprazo”.
O Salmo 102 traz um diálogo entre as três Pessoas da Trindade e para entender isso é preciso perceber a mudança que ocorre nas Pessoas que falam. O comentário de W. Macdonald em “Believer’s Bible Commentary”
detalha isto assim:
Nos versículos 1 a 11 vemos o Senhor Jesus pendurado na cruz falando com Deus.
“Oração do aflito, vendo-se desfalecido, e derramando a sua queixa perante a face do Senhor: Senhor, ouve a minha oração, e chegue a ti o meu clamor. Não escondas de mim o teu rosto no dia da minha angústia, inclina para mim os teus ouvidos; no dia em que eu clamar, ouve-me depressa.
Porque os meus dias se consomem como a fumaça, e os meus ossos ardem como lenha. O meu coração está ferido e seco como a erva, por isso me esqueço de comer o meu pão. Por causa da voz do meu gemido os meus ossos se apegam à minha pele. Sou semelhante ao pelicano no deserto; sou como um mocho nas solidões.
Vigio, sou como o pardal solitário no telhado. Os meus inimigos me afrontam todo o dia; os que se enfurecem contra mim têm jurado contra mim. Pois tenho comido cinza como pão, e misturado com lágrimas a minha bebida, Por causa da tua ira e da tua indignação, pois tu me levantaste e me arremessaste. Os meus dias são como a sombra que declina, e como a erva me vou secando.”
Nos versículos 12 ao 15 vemos o Pai responder ao seu Filho amado, e sabemos que é assim ao compararmos o versículo 12 com Hebreus 1:8 que diz: “Mas, do Filho, diz: O Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de equidade é o cetro do teu reino”.
“Mas tu, Senhor, permanecerás para sempre, a tua memória de geração em geração. Tu te levantarás e terás piedade de Sião; pois o tempo de te compadeceres dela, o tempo determinado, já chegou. Porque os teus servos têm prazer nas suas pedras, e se compadecem do seu pó. Então os gentios temerão o nome do Senhor, e todos os reis da terra a tua glória”.
Nos versículos 16 a 22 aquele que fala não se identifica, mas estamos seguros em afirmar que seja o Espírito Santo descrevendo a futura restauração de Israel sob o reinado do Messias.
“Quando o Senhor edificar a Sião, aparecerá na sua glória.
Ele atenderá à oração do desamparado, e não desprezará a sua oração. Isto se escreverá para a geração futura; e o povo que se criar louvará ao Senhor. Pois olhou desde o alto do seu santuário, desde os céus o Senhor contemplou a terra, para ouvir o gemido dos presos, para soltar os sentenciados à morte; para anunciarem o nome do Senhor em Sião, e o seu louvor em Jerusalém, quando os povos se ajuntarem, e os reinos, para servirem ao Senhor”.
Nos versículos 23 a 24a o Salvador é visto mais uma vez sofrendo nas mãos de Deus por nossos pecados.
“Abateu a minha força no caminho; abreviou os meus dias.
Dizia eu: meu Deus, não me leves no meio dos meus dias”.
Mais uma vez, ao compararmos os versículos 24b ao 28 com Hebreus 1:10-12 sabemos que é o Pai que está falando com seu Filho.
“Os teus anos são por todas as gerações. Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um vestido; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Porém tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim. Os filhos dos teus servos continuarão, e a sua semente ficará firmada perante ti”.
(Hb 1:10-12) “E: Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obra de tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles, como roupa, envelhecerão, e como um manto os enrolarás, e serão mudados. Mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão”.
*
Nem todos são chamados para serem santos?
Sua dúvida é se Deus teria outros, que estariam em Cristo, mas que não teriam sido chamados para serem santos, em razão do que leu em 1
Coríntios 1:1-2, onde diz, “Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes, à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”. No seu entender, se existem os “chamados para ser santos”, poderiam existir cristãos que não foram “chamados para ser santos”.
O problema aí é de tradução. A versão que você utiliza diz “chamados para serem santos”, mas a expressão “para serem” não faz parte do original. Compare com estas outras versões:
“À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos” – Almeida Revista Atualizada “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos” – Almeida Corrigida Fiel Portanto uma tradução mais correta seria simplesmente “chamados santos”, isto é, pessoas que já desfrutam desse título porque Deus as santificou. Aproveito para lembrar que existe uma santificação que é absoluta e feita uma vez no momento em que cremos em Cristo. A palavra “SANTO” significa separado, portanto Deus nos separou para si quando cremos em Cristo, passamos a ser propriedade sua.
Porém existe também a santificação prática, que é a manifestação dessa santificação que já temos em Cristo. Por isso há passagens que exortam “sede santos…”. Portanto, a santidade posicional e absoluta, o crente recebe quando crê, e sem ela ninguém verá a Deus. Isso Paulo explica em Coríntios. A santidade prática é a expressão dessa santidade que já recebemos. Em seu livro “Vida Através da Morte”, Charles Stanley comenta a expressão comparando-a ao que é visto também no primeiro capítulo de Romanos:
“A simples introdução, pelos tradutores, de duas palavras em algumas versões, ‘chamados para serdes santos’, muda completamente o significado desta importante passagem, e tem sido a causa de sérios enganos no que se refere à santidade. O significado aqui é o mesmo da palavra que é usada no primeiro versículo: ‘chamado (para ser) apóstolo’; ou, ‘um apóstolo por chamado’. Assim como a palavra ‘santo’ significa ‘santificado’, também a expressão significa ‘santificado por chamado’. Não ‘chamados’ para procurar alcançar santidade — o que é um engano comum — mas, da mesma forma como Paulo foi constituído um apóstolo pelo Senhor que o chamou, assim também todos os crentes em Roma foram feitos santos por chamado. Foi essa a base sobre a qual eles foram exortados a caminhar: em conformidade com aquilo que já eram”.
“Todo crente é santo por chamado, santificado por chamado. É
nascido de Deus, participante da natureza divina, a qual é santa. O cristão é santo pelo novo nascimento. Ele está morto com Cristo, ressuscitado em Cristo.
Sim, Cristo, que passou através da morte, e que é a ressurreição e a vida, é a vida do cristão. ‘Quem tem o Filho tem a vida’ (1 Jo 5:12) E se tem a vida do Santo de Deus, esta vida, da qual o crente é agora participante, é uma vida tão santa quanto eterna. Todos os crentes têm a vida eterna e, por conseguinte, todos têm uma vida santa. Tentar alcançar, por quaisquer meios, uma ou outra coisa por merecimento é não compreender em sua totalidade a nossa vocação e nossos elevados privilégios”.
“Toda a Escritura proclama esta verdade. A exortação quanto a ser santo está baseada neste princípio: ‘Como filhos obedientes… como é Santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: sede santos, porque eu sou Santo’ (1
Pe 1.14-16). Sim, é por terem sido introduzidos em uma viva esperança, mantidos pelo poder de Deus por serem nascidos de Deus, que os crentes, como filhos, têm purificado suas almas em obediência à verdade. Em suma, já que eles eram santos por chamado e por natureza, e possuíam o Espírito Santo, deviam procurar ser santos em suas vidas e em seu proceder”.
“João revela a santidade da nova natureza como nascida de Deus. ‘Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado’ (1 Jo 3:9). Em cada epístola será encontrado, em primeiro lugar, a vocação santa, vindo depois o andar santo como resultado (compare 1 Tessalonicenses 1:1 com 5:23). É
importante notar o lugar que a palavra ocupa, aplicada pelo Espírito Santo, tanto no novo nascimento como na santidade prática. ‘Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade’ (Tg 1:18). ‘Santifica-os na verdade: a tua palavra é a verdade’ (Jo 17:17). Quão triste é vermos tudo isso colocado de lado em nossos dias, e os homens, aos milhares, tentando se tornar santos por meio de sacramentos e cerimônias. E não somente eles, mas muitos dos que escrevem e ensinam sobre santidade ignoram totalmente aquilo que todo cristão é feito por vocação e novo nascimento, e por ser feito habitação do Espírito Santo. Não há dúvida de que seja isso a causa de grande fraqueza, engano e de um andar que deixa muito a desejar”. (“Vida Através da Morte”, Charles Stanley).
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O que você acha desse pregador?
Não conhecia o pregador filipino que você mencionou e precisei pesquisar para saber quem era. Embora a Palavra de Deus deixe claro que não cabe a nós julgar pessoas, ela também ensina que devemos julgar o que as pessoas falam e suas doutrinas. E é o que pretendo fazer aqui. Homem nenhum deve ser, aos nossos olhos, infalível em seu modo de viver e pregar.
O cristão não segue a homens, mas a Cristo. Minhas observações aqui sobre a doutrina que ele professa ajudarão você a identificar o erro, não apenas em seu ensino, mas também no ensino de muitos outros pregadores que professam algo semelhante. Os versículos a seguir mostram nossa responsabilidade em julgar tudo o que vemos, lemos e ouvimos: “Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que digo”.
1 Coríntios 10:15
“Examinai tudo. Retende o bem”. 1 Tessalonicenses 5:21
“E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”.
1 Coríntios 14:29
(Mt 7:15-23) “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis.
Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?… Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.
(2 Co 11:13) “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo”.
Se esse homem exerce tal influência sobre você (como parece exercer, pelo modo como você o exalta), então é preciso cuidado. Paulo deixou muito claro em sua primeira epístola aos Coríntios do perigo que é seguir homens, mesmo aqueles que podem nos ensinar verdades preciosas (não é o caso desse pregador, pelo que já vi). Devemos julgar tudo o que as pessoas falam e rejeitar aquilo que não estiver de acordo com a Palavra de Deus.
Aparentemente você foi seduzido pelo fato de ele não pedir dinheiro aos seguidores, ao contrário do que fazem muitos pregadores atuais.
Mas isso não o isenta da responsabilidade pelas heresias que ensina e que vou explicar em resumo.
O site em português não diz em quê eles creem, por isso fui ao site em inglês e logo de cara constatei tratar-se de uma seita fundamentada em mentiras. Posso dizer com todas as letras e sem medo de errar: não é de Deus. (Observação: A fim de não fazer propaganda do pregador e da igreja que fundou, porque alguns adoram ser criticados porque isso também atrai curiosos para sua denominação que podem virar adeptos, esta versão pública da resposta omite tal informação.).
Na declaração de fé de sua “igreja” fica claro que ele não crê na Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, mas em um Deus Pai, negando a divindade de Cristo e sua igualdade com o Pai ao dizer “a true and Mighty God” que significa dizer que Jesus é “um” Deus verdadeiro e poderoso, e não “o” Deus. Ele também não inclui o Espírito Santo na deidade, mostrando que não crê na Pessoa do Espírito Santo.
Talvez ele creia numa influência ou poder, como fazem os Testemunhas de Jeová.
Em seguida ele diz crer que Deus Pai enviou o seu filho Jesus Cristo… como Salvador do mundo? Não! Ele diz que Cristo foi enviado (agora vou traduzir ao pé da letra) para “o estabelecimento da IGREJA [nome da denominação], a congregação dos Apóstolos, Profetas, Mestres e outros; primeiro fundada na cidade de Jerusalém, e mais tarde disseminada e pregada pelos Apóstolos em diferentes lugares da Ásia Menor”.
É inacreditável que alguém possa seguir um homem que prega tamanha bobagem. Ele está dizendo que a denominação que criou foi fundada em Jerusalém há dois mil anos e pregada pelos apóstolos! Isso obviamente exclui todos os cristãos que não sejam seguidores dele. Essa declaração é parecida com o que prega o catolicismo.
Em seguida ele diz que as nações dos gentios (os não judeus) são participantes da promessa de vida eterna pela fé em Cristo Jesus e no evangelho… (agora vem a melhor parte, que ele faz questão de colocar em letras garrafais) “e não estão autorizadas por Deus a estabelecerem sua própria igreja”. Considerando o que ele afirmou no parágrafo anterior sobre a denominação que fundou, e que essa é a igreja verdadeira, o que ele está dizendo agora é que ninguém pode estabelecer outra igreja além daquela que ele estabeleceu e que (em seus devaneios iguais aos de qualquer guru) seria a verdadeira igreja.
Ele acrescenta que a obrigação mais importante dos membros da denominação que fundou é propagar o evangelho… “pois somente a igreja pode ensinar a sabedoria de Deus para a salvação da humanidade”.
Obviamente por “igreja” devemos entender que ele está falando de sua própria denominação. Nada diferente do que ensinam muitas seitas heréticas. A propósito, em nenhum lugar nas Escrituras vemos que a igreja ensina. A igreja nunca ensina, a igreja só aprende.
Quer um conselho? Fuja disso se você ainda não foi hipnotizado por esse falso profeta. Se já foi, então certamente irá dizer que tudo o que escrevi aqui é “jogo de intriga”, “dor de cotovelo”, etc.
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Por que Simão não recebeu o Espírito?
Simão, o mago, de Atos 8 é o caso de uma pessoa que entrou na “grande casa” mas não entrou na igreja, o corpo de Cristo. Ele creu exteriormente, mas não foi salvo. Não tinha o Espírito, e quem não tem o Espírito de Cristo não é dele (Rm 8:9). A conversão de Simão, o mago, não foi real. Era apenas um professo, como são muitos que hoje aceitam o cristianismo, sem nunca terem se convertido.
(At 8:9-11) “E estava ali um certo homem, chamado Simão, que anteriormente exercera naquela cidade a arte mágica, e tinha iludido o povo de Samaria, dizendo que era uma grande personagem; ao qual todos atendiam, desde o menor até ao maior, dizendo: este é a grande virtude de Deus. E atendiam-no, porque já desde muito tempo os havia iludido com artes mágicas”.
Simão foi batizado, entrando assim na esfera do reino de Deus, como muitos são batizados hoje a Cristo, sem terem crido de verdade. São cristãos? Sim. São salvos? Não, a menos que venham a nascer de novo. Se aplicarmos a parábola do joio e do trigo, Simão era joio no meio do trigo.
(At 8:12-19) “Mas, como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus, e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres. E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito. Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo (Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus). Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo. E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, Dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo”.
Existem três casos em Atos de pessoas batizadas, porém que revelam intenções espúrias quando colocadas à prova. O primeiro foi o de Ananias e Safira (Atos 5), que acabaram mortos por terem mentido ao Espírito.
Eu particularmente acredito que eles eram realmente salvos, daí terem recebido uma disciplina tão severa de Deus. É o que a Bíblia chama de “pecado para a morte”, algo que um crente faz que o torna inidôneo para continuar no mundo como testemunha de Cristo.
O segundo caso foi o dos gentios que murmuravam contra os hebreus convertidos porque as viúvas dos que eram gentios estavam sendo negligenciadas no recebimento de recursos (Atos 6). Embora a murmuração deles possa parecer legítima, nunca vemos ser esta uma atitude que é segundo a piedade que encontramos em Cristo. O terceiro caso foi o de Simão, o mago. O
que há de comum nos três casos? Dinheiro.
Simão quis pagar pelo poder de conceder o Espírito a quem ele bem entendesse, obviamente cobrando por isso como costumava fazer com sua prática de mago. Enquanto o pecado de Ananias e Safira envolviam o orgulho, por desejarem parecer mais generosos do que eram, o de Simão foi a primeira tentativa de transformar o cristianismo em um negócio lucrativo.
Em poucos séculos esse negócio estaria arraigado no cristianismo por meio do catolicismo, depois pelo protestantismo e mais recentemente pelas religiões neopentecostais. O elemento comum em todos os casos é o desejo do homem em transformar em algo pago, seja por dinheiro, boas obras ou penitências, aquilo que Deus concede de graça. Para os mercadores da fé da atualidade continua valendo a forte repreensão feita a Simão: (At 8:20-21) “O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus”.
Perceba que Simão nem chegou a agir para ser considerado iníquo aos olhos de Deus. Aqui foram as suas intenções que foram detectadas por Pedro.
(At 8:22) “Arrepende-te, pois, dessa tua iniquidade, e ora a Deus, para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração;”.
Mesmo assim as palavras de Pedro mostram que ainda havia chance de Simão se arrepender e crer de verdade no evangelho, o que aparentemente ele não faz, preferindo manter-se fora de qualquer confissão de pecado e arrependimento diante de Deus. Por isso ele não roga a Deus por perdão, mas pede a Pedro que faça isso. Simão é um típico caso de alguém que tenta “terceirizar” sua salvação esperando que algum homem (como Pedro) interceda por ele para ser salvo.
(At 8:24) “Respondendo, porém, Simão, disse: Orai vós por mim ao Senhor, para que nada do que dissestes venha sobre mim”.
Desde então muitos têm apelado a intercessores humanos, como Pedro, Maria, etc., ao invés de irem diretamente a Deus por intermédio de Cristo, o único Mediador entre Deus e os homens.
(1 Tm 2:5) “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem”.
A recepção do Espírito, que começou em Pentecostes com judeus de muitas nações, foi depois administrada aos samaritanos (como era Simão) e gentios. Essa administração tinha a ver com as chaves que o Senhor entregou a Pedro.
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Romanos 8:1 foi adulterado?
Sim, o versículo em Romanos 8:1 aparece adulterado em algumas versões da Bíblia. Nos melhores manuscritos a passagem não contém o que coloco aqui entre colchetes: “Portanto agora nenhuma condenação [há] para os [que estão] em Cristo Jesus, [que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito]”. Aparentemente a segunda parte é uma glosa acrescentada por algum copista, a qual acabou inserida nos manuscritos derivados.
Se o capítulo 7 inteiro fala do “eu”, isto é, da tentativa de um homem que agora tem vida encontrando o conflito entre esta vida e a carne, o capítulo 8 deixa de falar do eu e é provavelmente o capítulo que mais vezes menciona o Espírito Santo. A tentativa de viver segundo a Lei no capítulo 7 encontrou outra lei, a dos membros da carne, que impossibilitava qualquer sucesso do homem natural em andar segundo a Lei de Deus.
O capítulo 7 termina com um brado desesperado: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Vers. 24) e em seguida dá a resposta: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor” (vers. 25), iniciando o capítulo 7 com a declaração cabal de libertação, tanto da condenação do juízo de Deus que cairá contra o pecador, como da condenação própria que este homem (provavelmente Paulo falando de sua experiência) trazia em sua consciência no capítulo 7 por não conseguir viver segundo a Lei.
O Espírito Santo é mostrado no capítulo 8 como o poder para o cristão viver agora sua nova vida em Cristo, mesmo estando por um tempo em um invólucro de carne e aguardando ser transformado (no arrebatamento da igreja) ou ressuscitado (na mesma ocasião). Um bom exemplo para entender este capítulo é pensar na Lei da Gravidade. Ela exerce sua força sobre qualquer corpo terrestre, mas é anulada quando este corpo possui asas. Se você jogar um rato para o alto ele cairá, mas se jogar um pássaro ele sairá voando. Ambos estão sujeitos à Lei da Gravidade, mas as asas do pássaro anulam essa lei. Existe nele uma lei mais forte que o faz voar.
O versículo 2 diz que essa “Lei do Espírito de vida” (corrija sua Bíblia se estiver com “espírito” em minúsculo porque aqui fala do Espírito Santo) “me livrou da lei do pecado e da morte”. Isto é a completa libertação. O versículo 11 diz que esse mesmo Espírito “vivificará os vossos corpos mortais”, dando ao crente a capacidade de viver em novidade de vida ainda em seu corpo arruinado pelo pecado.
O versículo 13 diz que “se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis”, mostrando que não é a melhoria do corpo que é buscada, mas o considerá-lo morto para aquilo que usualmente gostaria de fazer.
Mais uma vez corrija sua Bíblia caso a versão traga “espírito” com minúscula, pois aí está falando do Espírito Santo. A rigor, o texto todo foi escrito em maiúsculas, pois no grego antigo era assim que se escrevia, mas para esclarecer o entendimento é bom fazer esta anotação.
No versículo 14 aprendemos que agora não estamos perdidos indo de um lado para o outro, mas temos uma direção. E de onde vem tal direção?
“Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus”.
O versículo 16 mostra que é o Espírito Santo quem “testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”, para não existir dúvida quanto ao que éramos antes de crermos, ou seja, filhos da ira, guiados pela vontade da carne e dos pensamentos (Ef 2), e em que nos tornamos após crermos em Cristo: filhos de Deus.
Finalmente o versículo 26 nos mostra o Espírito nos guiando em oração. Libertação (vers. 2), capacidade (11), vitória sobre o pecado (13), direção (14), testemunho de filiação (16) e suporte na oração (26). Tudo isso só temos por causa do Espírito Santo que habita em nós e porque “agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. Nada disso vem pelo esforço próprio, mas por graça e pela habitação do Espírito em nós.
Mas como chegamos a isso, se a Lei não pode fazer isso por nós e muito menos nossa capacidade própria? O versículo 3 mostra que era impossível à Lei nos ajudar de qualquer maneira, pois ela “estava enferma pela carne”. É como se você tivesse um carro cuja direção emperrada só permitisse virar à esquerda em uma rua onde todas as placas indicavam ser proibido virar à esquerda. Cristo assumiu um corpo de carne, porém apenas em “semelhança da carne do pecado”, e isto é importante entender.
Deus precisava condenar o pecado na carne, mas seria impossível fazer isso caso essa carne fosse de um pecador, porque aí ele seria condenado por si mesmo e sem salvação. Afinal, é o que irá acontecer no final com os perdidos: todos serão condenados. Então Deus enviou o Seu Filho “em semelhança da carne do pecado”, para poder, “pelo pecado” condenar “o pecado na carne”.
Observe que Cristo não veio “em carne do pecado” mas “em semelhança da carne do pecado”. Seria impossível o Filho de Deus, que é Deus, vir em “carne do pecado”, e daí a razão de ele ter nascido de uma virgem e não ser um descendente direto de Adão mas, em sua humanidade, ter sido gerado pelo Espírito Santo. Jesus não pecou, não conheceu pecado e não tinha pecado.
(1 Pe 2:22) “O qual não cometeu pecado”.
(1 Co 5:21) “Aquele que não conheceu pecado”.
(1 Jo 3:5) “Nele não há pecado”.
Assim, ao tomar sobre si os nossos pecados e morrer, Jesus “condenou o pecado na carne”. A carne morreu ali na cruz e aqueles que creem em Cristo viram sua velha natureza, a carne, morrer com ele ali. Deus não perdoa nossa carne ou velha natureza; Deus perdoa os nossos pecados quando cremos em Jesus.
Quanto à carne ou velha natureza, Deus já a condenou. Não existe perdão para um descendente de Adão, a cabeça da velha Criação. O que é nascido de Deus é agora uma nova criação, da qual Cristo ressuscitado é o primeiro exemplar, ou “primícias da nova criação”.
(1 Co 15:20) “Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem”.
Espero que agora você entenda por que é impossível que o velho homem se regenere ou melhore. Em Cristo Deus condenou a carne na cruz, eliminando de vez qualquer esperança de melhoria. Se você ainda está em Adão, a condenação paira sobre sua cabeça. Se você já está em Cristo, “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. Manter a glosa condicional acrescentada ao versículo 1, que diz “que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito” é colocar uma condição para um livramento que só recebemos por graça, e não pelo andar.
A maioria das religiões insiste na melhoria do homem e no esforço próprio para seguir a Lei de Moisés ou alguma outra lei de preceitos e mandamentos, mantendo seus fiéis empacados no capítulo 7, sem nunca permitir que experimentem a libertação do capítulo 8 de Romanos. Algumas aparentemente “vendem”
uma libertação, mas baseada na soberba e hipocrisia de estarem cumprindo a Lei ou andando na novidade de vida do capítulo 8, porém pelo esforço próprio.
Infelizmente é o caso da maioria dos cristãos hoje, que vivem atribulados em suas consciências por estarem tentando voar sem confiarem nas asas que Deus lhes deu. São como passarinhos saltando que ainda não perceberam que têm asas.
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Satanás pode assumir a forma humana?
A primeira aparição de Satanás que encontramos na Bíblia é na forma material de uma serpente, portanto não vejo impedimento para ele se manifestar na forma que desejar. Os anjos são vistos com frequência na Bíblia assumindo a forma humana, e Satanás é um anjo, portanto esta é também uma possibilidade para ele.
Em Gênesis 6 vemos anjos assumindo a forma humana com o intuito de corromper a raça humana e impedir que o descendente da mulher viesse a esmagar a cabeça da serpente, conforme havia sido prometido no Jardim do Éden. Mas não me lembro de alguma passagem que fale de demônios assumindo a forma humana.
Os demônios, também chamados de espíritos imundos, aparecem entrando e possuindo corpos de pessoas, mas não aparecendo em um corpo próprio.
Isso é o que chamamos de possessão demoníaca (de demônios), mas não me lembro de ter visto nas Escrituras alguma ocorrência de possessão diabólica (Satanás é o único chamado de diabo), mas apenas de influência, como ocorreu com Pedro quando foi repreendido por Jesus em Mateus 16:23.
Mas eu não me preocuparia tanto com a possibilidade de Satanás, seus anjos e demônios aparecerem na forma humana a fim de enganar os seres humanos. O diabo não precisa disso para realizar seu intento, pois ele conta com uma ampla gama de possibilidades para agir como um “agente secreto”, e não existe uma maneira mais eficaz para isso do que infiltrar-se na religião.
Se você vive preocupado com as manifestações que ocorrem em religiões declaradamente satânicas é porque é ingênuo o suficiente para achar que o diabo tenha rabo, chifres e ande por aí com um tridente na mão.
A Palavra de Deus não nos exorta a fugirmos do diabo num formato tão previsível assim. A Palavra de Deus nos alerta para suas aparições como alguém “do bem”.
(2 Co 11:14-15) “E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras”.
Quantas religiões por aí juram de pés juntos que receberam suas doutrinas de um anjo de luz? E quantos ministros do evangelho se apresentam hoje em igrejas e programas de rádio e TV como ministros de justiça? Contra o que você acha que o apóstolo Paulo estava alertando os cristãos em Corinto? Contra religiões que adoram Satanás fantasiado de um anjo das trevas e de ministros seus vestidos de vampiros e lobisomens? É claro que não. Ele está falando de um anjo, não de trevas, com chifres e asas de morcego; ele está falando de um belíssimo anjo de luz. E ele está falando de ministros, não ministrando palavras de ódio e aversão a Deus, mas ministrando justiça.
Lembre-se de que não existe uma maneira mais satânica de Satanás se manifestar do que com uma Bíblia na mão. É desse tipo de “aparição”
que você deve se guardar, e isto você só conseguirá em dependência ao Espírito Santo de Deus e em obediência à Palavra. Todas as vezes que vemos o diabo tentando enganar alguém nas Escrituras é em oposição à Palavra de Deus ou tentando introduzir nela alguma forma de distorção.
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Por que Deus aceitava a poligamia?
Deus nunca criou a poligamia. Isso foi invenção dos descendentes de Caim, começando por Lameque: (Gn 4:19) “E tomou Lameque para si duas mulheres; o nome de uma era Ada, e o nome da outra, Zilá”. O
que vemos é Deus pacientemente suportando a poligamia entre os reis de Israel tendo em vista cumprir os seus desígnios, assim como antes de Jesus o repúdio do cônjuge foi suportado por Deus, porém por causa da dureza do coração dos homens e não como algo aceitável a Deus.
Você encontra a poligamia entre os reis de Israel numa época quando o povo andava em desobediência. Em nenhuma situação a poligamia foi motivo de bênção, mas sempre de problemas para eles, inclusive seus reis.
Experimente ler o Antigo Testamento com a pergunta: Quem ali foi feliz pelo fato de ter mais de uma esposa?
Certamente a poligamia era e continua sendo um pecado, porém Deus na sua soberania podia ao mesmo tempo disciplinar essas pessoas que a praticavam e tirar bênção disso. Se verificar a genealogia de Jesus verá que ali há uma prostituta (Raab), uma mulher que praticou incesto (Tamar) e um rei adúltero e homicida (Davi). Percebe como a graça de Deus brilhou com maior fulgor mesmo onde abundava o pecado?
Quando lemos o Antigo Testamento devemos entender que apesar das falhas humanas Deus tem algo a nos mostrar que está muito além disso.
Mas a ordem de Deus para o matrimônio está claramente definida nas palavras de Jesus.
(Mt 19:4-6) “Ele, porém, respondendo, disselhes: Não tendes lido que, [1] no princípio, o Criador os fez [2] macho e fêmea e [3] disse: Portanto, [4] deixará o homem pai e mãe e [5] se unirá à sua mulher, e [6]
serão dois numa só carne? Assim [7] não são mais dois, mas uma só carne.
Portanto, [8] o que Deus ajuntou não separe o homem”.
Estamos tão acostumados a ler esta passagem pensando no contexto do divórcio, que nos esquecemos de que ele está reafirmando a ordem de um matrimônio segundo o projeto original (“no princípio”) de Deus. Se fôssemos chamar estes versículos de um “passo-a-passo” do casamento, teríamos: 1. Este é o projeto original de Deus. “No princípio”.
2. Um casamento é feito de um homem e uma mulher. “O Criador os fez macho e fêmea”.
3. O mesmo Criador estabeleceu como devia ser essa união. “E
[Deus] disse…”.
4. O homem deixa o pai e a mãe, ou seja, se desliga daquele casal ou célula familiar. “Portanto, deixará o homem pai e mãe”.
5. O homem se une à sua mulher, criando uma nova célula familiar como aquela de onde veio, isto é um homem + uma mulher = um filho. “E
se unirá à sua mulher”.
6. A união chega ao extremo quando atinge o físico e dois corpos se transformam em um. “E serão dois numa só carne”.
7. Do ponto de vista físico já não são dois corpos, mas só um, o que elimina a possibilidade de ser polígamo.
8. Essa aliança, que ajunta esse casal, não é algo que o homem criou, mas Deus. “O que Deus ajuntou não separe o homem”.
Ao invés de tentarmos entender as razões de Deus ter permitido a poligamia em alguns momentos da história antiga, ficará mais fácil (e seremos mais felizes) se tão somente procurarmos saber o que agrada a Deus hoje para os cristãos, e isto nós encontramos na doutrina dos apóstolos dada à igreja (as epístolas). A Palavra mostra claramente que a Deus agrada que o homem seja marido de uma mulher (não de muitas), e isto foi dito àqueles que deviam cuidar das coisas de Deus na igreja.
(1 Tm 3:2) “Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher [singular], vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar;”.
(1 Tm 3:12) “Os diáconos sejam maridos de uma só mulher [singular], e governem bem a seus filhos e suas próprias casas”.
(Tt 1:6) “Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher [singular], que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes”.
(Ef 5:23-24) “Porque o marido é a cabeça da mulher [singular], como também Cristo é a cabeça da igreja [singular], sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos”.
(Ef 5:28) “Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher [singular], ama-se a si mesmo”.
(Ef 5:31-33) “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher [singular]; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja. Assim também vós, cada um em particular, ame a sua própria mulher [singular] como a si mesmo, e a mulher [singular] reverencie o marido”.
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Quem serão os mortos de Zacarias 13?
“Ó espada, desperta-te contra o meu pastor, e contra o homem que é o meu companheiro, diz o Senhor dos Exércitos. Fere ao pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas; mas volverei a minha mão sobre os pequenos. E
acontecerá em toda a terra, diz o Senhor, que as duas partes dela serão extirpadas, e expirarão; mas a terceira parte restará nela. E farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro. Ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: é meu povo; e ela dirá: o Senhor é o meu Deus”. (Zc 13:7-9).
A profecia no Antigo Testamento deve ser vista como uma cadeia de montanhas. Vemos os cumes, mas não os extensos vales existentes entre elas. Por exemplo, você nunca encontrará nas profecias do Antigo Testamento o período atual da igreja, pois os profetas jamais tiveram tal revelação. Todas as profecias ali têm a ver com Israel e com o mundo em sua relação com o povo terreno de Deus. Portanto, um “cume” nessa cordilheira profética é a passagem na qual o pastor é ferido, e isto aconteceu há dois mil anos.
O outro “pico” é a invasão de Israel pelas nações inimigas durante a grande tribulação, que é a segunda parte da passagem. Nesse ataque, dois terços da população de Israel morrerá, o que significa que o pior lugar para um judeu estar nessa época será justamente na terra de Israel. Alguns movimentos cristãos hoje ingenuamente aconselham os judeus a voltarem à sua terra (uma vez li Wim Malgo dizendo isto em um de seus livros), quando deveriam simplesmente pregar o evangelho da graça a eles para que passem a ser uma diferente categoria: nem judeus, nem gentios, mas igreja.
O povo judeu será provado por Deus e dele só restará um remanescente fiel, que será reconhecido por Deus como seu povo terreno e representante de Deus na terra. É desse remanescente que é dito em Mateus 24
que deve perseverar para ser salvo, uma salvação que não diz ser da alma, mas do corpo, já que no mesmo capítulo diz que se aqueles dias de tribulação não fossem abreviados nenhuma carne se salvaria. Os que saírem assim “salvos” da grande tribulação, isto é, no sentido de não terem sido mortos, entrarão no reino milenial de Cristo na terra. Enquanto isso a igreja já estará habitando no céu desde o dia do arrebatamento, que terá ocorrido cerca de 7 anos antes.
Portanto, o primeiro “pico” da profecia aconteceu há 2 mil anos e o segundo “pico” (a morte de 2/3 da população de Israel) está para acontecer. Entre uma coisa e outra existe o tempo da igreja que nunca foi conhecido dos profetas por ser um segredo que só seria revelado a Paulo.
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Que Bíblia devo ler com meus filhos?
Sua dúvida é que versão da Bíblia em português utilizar para ler com seus filhos, considerando a linguagem arcaica da tradicional Versão João Ferreira de Almeida. Muitos pais sentem essa dificuldade, preocupados que seus filhos não venham a entender a leitura ou que precisem recorrer constantemente ao dicionário para entender algumas palavras. Você ainda demonstrou preocupação pelo fato de alguns utilizarem a versão arcaica em suas falas como forma de imprimir pompa e se orgulharem de usarem um vocabulário rebuscado.
Na verdade o português usado nas modernas versões da Bíblia de João Ferreira de Almeida é bem diferente da primeira edição, esta sim difícil de entender por trazer um português arcaico. Veja um exemplo do último capítulo de Lucas:
“Entonces lhes abrio o fentido, pera que entendeffem as efcrituras. E diffelhes: Affi eftá efcrito, e affi foi neceffario que o Chrifto padeceffe, e a o terceiro dia dos mortos refufcitaffe. E que em feu nome arrependimento e remifiaó de peccados em todas as naçoésfe prégaffe; começando defde Hierufalem. E deftas coufas fois vosoutros teftemunhas. E vedes aqui, a o prometido de meo pae fobre vosoutros mando: [ilegível] ficaevos na cidade de Hirufalem, até que do alto com potencia [ilegível] reveftidos” (Lc 24:45-49).
Como pode ver, muita coisa já mudou no idioma das versões atuais, embora as versões Almeida Revista e Corrigida e Almeida Fiel sejam as que mais permanecem fiéis à tradução original do século 15. Meus filhos foram criados lendo desde a infância a Almeida Revista e Corrigida, e ao invés de isso impedir sua compreensão da Palavra, foi justamente o que os ajudou a desenvolver um vocabulário que está além do que é usualmente encontrado nos jovens da mesma idade (hoje estão com mais de 30 anos).
Portanto, não se preocupe com a questão da dificuldade da linguagem porque isso é perfeitamente contornado, pois a essência do que eles precisam saber para serem salvos e conhecerem o Senhor é perfeitamente compreensível em qualquer versão. E se precisarem de um dicionário isso será ótimo, pois dicionários são feitos para aumentarmos nosso vocabulário.
É claro que quando ainda forem muito pequenos você poderá escolher para eles livros bíblicos para crianças com versículos simplificados, mas é bom ter cuidado pois muitos escritores para crianças não são convertidos e cometem erros grosseiros nesses livros. Mas a leitura de livros infantis e paráfrases não substitui a leitura da Palavra de Deus. Procure também ler com eles a Bíblia, se possível diariamente, ajudando-os na compreensão das palavras difíceis.
Em casa, tínhamos o costume de ler diariamente dois capítulos da Bíblia (um do Antigo e um do Novo Testamento), mas isso também podia variar para um capítulo ou parte dele, dependendo da época e da disponibilidade de todos. Enquanto a agenda diária da família permitiu fazer isso de manhã, foi o que fizemos, mas depois acabamos adotando a noite como o momento da leitura. Era algo sagrado: terminávamos de jantar e nos sentávamos todos na sala, primeiro cantando um hino e depois lendo dois ou três versículos cada um, inclusive as crianças quando se tornaram capazes de ler. Quando eu viajava a trabalho, minha esposa mantinha a leitura funcionando sem interrupção.
Depois da leitura eles podiam retomar seus afazeres, como os estudos ou o entretenimento. Os frutos daquelas leituras “compulsórias” meus filhos colhem até hoje.
É triste ver quantos pais dão pouca prioridade para a leitura bíblica em família, sempre com o argumento de não terem tempo, ou que as crianças não gostam disso, não abandonam o videogame ou o computador, etc.
Eu contesto tais argumentos. Se em minha família funcionou, deve funcionar em outras também. Se os membros de uma família têm tempo suficiente para assistirem juntos um jogo inteiro de futebol, um episódio da novela ou um filme com quase duas horas de duração, como dizer que não há tempo para ler a Bíblia em família?
E quem disse que crianças não gostam da leitura da Bíblia?
Enquanto ainda não sabem ler os pais podem ler para elas e explicar o que leram como quem conta uma história. Crianças adoram quando adultos contam histórias para elas. E quando elas aprendem as primeiras letras, são as mais motivadas a mostrar que sabem ler e os pais devem incentivá-las a isso. Meu filho, ainda pequeno, costumava copiar e imprimir versículos que depois cortava e grampeava como um pequeno caderno, ao qual chamava de “Mini Bíblia”. Quando recebíamos visitas ele fazia questão de ler sua “Mini Bíblia” para as visitas.
A questão toda está na formação do hábito. Ajudamos nossos filhos a criarem hábitos, como o tipo de alimento que comem no café da manhã ou nas outras refeições, os horários para escola, diversão, lição, escovar dos dentes, dormir, etc. A leitura bíblica diária em família deve ser incluída como um hábito na agenda familiar.
Portanto, sugiro que continue usando a Bíblia na versão João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida, ou a Almeida Fiel como a leitura de base em sua família. Alternativamente pode usar a Almeida Atualizada, que tem um vocabulário um pouco mais simplificado, mas se mantém quase igual às outras.
Há versões mais modernas, como a Nova Versão Internacional (NVI) que costumo usar quando gravo meus vídeos do Evangelho em 3 Minutos, mas isto só por ela trocar “tu” por “você” ou “vós” por “vocês”. Como os vídeos e áudios ficariam muito carregados de pompa na linguagem mais arcaica, optei pela simplificação.
Mas sempre confiro antes comparando a NVI com a Almeida Corrigida, pois a NVI distorce algumas passagens. Quando isso ocorre, crio uma versão híbrida para facilitar o entendimento sem perder o significado original.
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Esta passagem fala de quem mata um crente?
Não, por mais sério que seja alguém matar qualquer pessoa, seja ela crente em Cristo ou não, este não é o assunto da passagem de 1
Coríntios 3:17, e isto fica claro pela expressão “que sois vós” no final, indicando um sentido coletivo, não individual: “Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo”.
Para entender é preciso lembrar que a Palavra de Deus chama de “templo” não apenas o corpo físico do cristão individualmente, mas a Igreja como um todo, cuja expressão local é a assembleia onde dois ou três estão congregados ao nome do Senhor.
Às vezes esta passagem não é compreendida porque em 1
Coríntios 6:10 o assunto é o corpo do crente, individualmente, e do cuidado que devemos ter de não contaminarmos este corpo unindo-o a uma meretriz: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?”. Embora ele fale no plural, “vosso corpo”, o assunto é claramente individual por tratar-se de relação sexual ilícita.
Já em 2 Coríntios 6:16 creio podermos aplicar o que Paulo diz tanto no sentido individual como coletivo: “E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”. A contaminação por idolatria (e entenda como idolatria qualquer coisa à qual é dada mais importância do que Deus, seja isso dinheiro, família, diversões, etc.) pode ser tanto individual como coletiva.
Mas na passagem que você mencionou de 1 Coríntios 3:17 o sentido é coletivo e também congregacional, pois está falando da “casa de Deus”, que é o aspecto administrativo da morada de Deus em Espírito, o mesmo aspecto tratado em 1 Timóteo e 2 Timóteo, em que cada um individualmente é um vaso e tem sua responsabilidade na construção. Infelizmente a “casa de Deus” de 1 Timóteo haveria de se transformar na “grande casa” de 2
Timóteo (este é o tempo em que vivemos), onde há vasos (indivíduos) de todos os tipos, uns para honra e outros para desonra:
“Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade… Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (1
Tm 3:15; 2 Tm 2:20-21).
Vamos ao contexto da passagem que você citou: (1 Co 3:9-17) “Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de
ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo. Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo”.
Observe que tudo aqui fala da responsabilidade individual na edificação do aspecto prático do templo de Deus, isto é, da assembleia local (devemos nos lembrar de que Paulo está inicialmente falando da experiência dele em Corinto). O templo é de Deus e por isso todos os crentes são responsáveis por trabalhar em prol de sua construção, nunca contra, e devem trabalhar juntos neste sentido. Deus dá a cada um a habilidade de trabalhar neste sentido, e ao se referir à assembleia em Corinto, Paulo diz:
“Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele” (1 Co 3:10).
Foi Paulo quem pregou aos coríntios Cristo, e este crucificado. Este é o único fundamento, e foi colocado apenas uma vez no início da construção, como acontece com qualquer alicerce numa obra. A partir dos que foram salvos pela fé, teve início a assembleia naquela localidade, a qual continuou a ser construída pelos outros que edificavam sobre o fundamento lançado por Paulo. Mas o apóstolo deixa clara a responsabilidade de cada um na construção na forma de um alerta: “Mas veja cada um como edifica sobre ele”.
Isto é solene. Cada crente tem uma enorme responsabilidade nas consequências de seus atos e no impacto que estes causam na assembleia.
Nos versículos seguintes ele ensina que nem tudo o que é trazido pelos crentes individualmente para essa construção é material utilizável. Muita coisa não passa de madeira, feno e palha, coisas que no final serão provadas como inúteis pelo fogo, do mesmo modo como os trabalhadores em uma construção costumam no final queimar o lixo, restos de embalagem, madeira inútil, etc. Mesmo assim, em relação à casa de Deus os que nada trouxeram de valor para a construção serão salvos, “todavia como pelo fogo”.
Portanto a responsabilidade do crente é buscar sempre agregar valor à vida em assembleia, edificando com coisas preciosas e condizentes com o caráter de Deus, representadas aqui por “ouro, prata e pedras preciosas”. “A obra de cada um se manifestará… e o fogo provará qual seja a obra de cada um”. A pergunta sempre deve ser: O que estou trazendo de útil para a casa de Deus? Estou sendo um auxílio ou um empecilho?
Edifico a fé de meus irmãos ou coloco tropeços?
Resumindo, o apóstolo aqui detalha os três aspectos dessa obra. Primeiro, no versículo 14, ele fala do serviço que é útil para a edificação (“ouro, prata, pedras preciosas”) e pelo qual o crente receberá galardão ou recompensa. Depois ele fala do serviço que é INÚTIL e irrelevante (“madeira, feno, palha”), para o qual não haverá recompensa, muito embora o crente individualmente será salvo no final, mas de mãos vazias. É bom lembrar que essa prova de fogo nada tem a ver com a salvação do crente. São as suas obras, e não ele próprio, que são provadas.
Finalmente o apóstolo fala do terceiro tipo de trabalho na casa de Deus, o trabalho que não é nem edificante, nem irrelevante, mas destrutivo.
Pessoas que levam seus irmãos a pecar estão fazendo este tipo de trabalho. Os que ensinam más doutrinas também. Aqueles que se esforçam em atrapalhar o testemunho da assembleia são igualmente destruidores. Mas o enfoque principal aqui está nos que nem mesmo creem em Cristo, mas apenas aparentam ser cristãos e se infiltram com segundas intenções, buscando de todas as maneiras atrapalhar o testemunho. São os “lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho” (At 20:29). A sentença dada aqui é solene:
“Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo”.
Como aqueles empenhados nessa vil tarefa costumam acreditar que estão certos, por se acharem mais sábios que todos os outros ali, esse aviso é seguido de outro alerta: “Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo,
faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: ele apanha os sábios na sua própria astúcia” (1
Co 3:18-19).
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Devo parar de jogar futebol?
Nos evangelhos não vemos o Senhor criticando ladrões e prostitutas por roubarem ou se prostituírem: qualquer um sabe que roubar e prostituir é errado e ele nem precisava falar no assunto. Mas nós o vemos falando duro com os fariseus porque nem todo mundo percebe que a coisa mais perversa que existe aos olhos de Deus é o sentimento religioso de justiça própria.
Em nenhum lugar na Bíblia está escrito “Não jogarás futebol”, “Não assistirás TV” ou “Não beberás cerveja”. Mas temos passagens que falam contra mentir, agredir o próximo, falar palavras torpes, embriagar-se, etc. Não é preciso estar num jogo de futebol para fazer essas coisas, portanto o problema não é o futebol, mas o modo como as pessoas se comportam ali. Já vi muito esporte sendo praticado por grupos de irmãos de forma limpa e sadia, sem agressões ou palavrões. Parar de praticar o esporte porque ali alguém falou palavrão é como a piada do sujeito que pegou a mulher no sofá com outro e decidiu vender o sofá para resolver o problema.
Quando o Senhor conta a história do fariseu e do publicano no templo, dá para ver bem que o fariseu inventou uma prática (jejuar 2 X por semana) para se achar mais justo que o publicano. Somos propensos a inventar coisas para nos sentirmos superiores a outros que não fazem o mesmo. Repare que o que ele está fazendo não é uma oração ou adoração a Deus, mas um louvor a si mesmo: “…graças te dou porque EU não sou como os demais homens…”: (Lc 18:10-14) “Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano. Ó fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: O Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: O Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado”.
Então o cristão que não bebe álcool vai olhar com aquele ar de superioridade religiosa para aquele que bebe (sem se dar conta de que o primeiro milagre de Jesus foi transformar água em vinho). O que usa terno para adorar a Deus aos domingos vai se considerar mais santo do que aquele que vai de jeans e camiseta, etc. O que não vê TV ou não vai ao cinema vai se considerar mais puro do que o que faz essas coisas. Muitos passam a fazer disso sua plataforma e acabam pregando leis, condutas e práticas ao invés do evangelho, o que não é diferente do que os fariseus faziam e o apóstolo Paulo condena em sua carta aos Gálatas. Nossa carne adora parecer religiosa.
Por outro lado, para essas coisas (como jogar futebol, tomar cerveja, usar roupa da moda, assistir TV, etc.) o crente deve ter sempre em mente que elas podem se tornar um tropeço quando ele próprio não souber controlar isso e ser moderado na forma como usa dessas coisas. Trata-se, portanto, de uma questão do exercício pessoal de cada um para com o seu Senhor, e não de se preocupar com uma lista do que “pode” e “não pode”.
Um cristão que pratique um esporte com amigos por diversão e saúde é bem diferente de um que esteja dominado pelo esporte, tornando-se fanático e negligenciando sua comunhão com Deus por causa do esporte. A todo o momento vemos torcedores brigando e matando uns aos outros. Obviamente essa idolatria pelo esporte deve ficar longe do cristão.
Um cristão que eventualmente tome um cálice de vinho ou um copo de cerveja durante a refeição não é a mesma coisa de um que esteja viciado em álcool e vive se encharcando de destilados nas festas, competindo com amigos para ver quem bebe mais ou se gabando da quantidade de latas e garrafas vazias em fotos nas redes sociais. A mesma passagem que condena a embriaguez também condena a glutonaria. Comer demais até a obesidade é tão pecado quanto beber demais até a embriaguez.
(Gl 5:19-21) “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus”.
Uma mulher cristã (e aqui falo de mulher porque geralmente é onde a questão do vestir fala mais alto) que esteja usando roupas sensuais que possam servir de tropeço para os homens deve reavaliar seu modo de vestir diante do Senhor. Do mesmo modo aquela que se veste notoriamente para chamar atenção para seu modo “religioso” de vestir deve atentar para o que isso causa em si mesma. Se quiser ser vista como religiosa ela não será muito diferente daqueles que o Senhor critica nos evangelhos, os que fazem suas orações para serem vistos pelos homens.
(Mt 6:5) “E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão”.
A passagem que exorta a que “o enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de joias de ouro, na compostura dos vestidos; mas o homem encoberto no coração; no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus” não está proibindo o frisado dos cabelos ou o uso de joias e vestidos chamativos, mas está dizendo que não sejam estas coisas o enfeite da mulher cristã (“O enfeite delas não seja o exterior…”).
Para entender o que estou dizendo vou exemplificar parafraseando a passagem: “O enfeite delas não seja o exterior, na falta de maquiagem e adereços, no cabelo até os joelhos, na saia até o tornozelo; mas o homem encoberto no coração; no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus”. Acho que deu para entender que se uma mulher cristã quiser chamar atenção para o seu exterior ela vai conseguir, seja vestindo-se na moda atual ou como no século 19. Nos dois casos ela estará errando por querer chamar a atenção para seu exterior, e não para o que ela é interiormente como mulher cristã. Geralmente tentamos compensar a falta de uma coisa com outra, e isto vale também para a aparência.
Um cristão que saiba usar a TV para manter-se informado ou como lazer sadio é diferente daquele que fica grudado em programas de cunho sexual, jornais sensacionalistas e lutas de tirar sangue. No caso da TV é preciso ter em mente hoje que muitos programas religiosos são extremamente perniciosos para a fé, e também que a programação já não está mais restrita àquele aparelho da sala, como era no passado. Hoje tudo funciona como TV, desde o computador até o celular. Se nos dias atuais alguém argumentar que o cristão não deve ter TV em razão de conteúdo impróprio precisará também deixar de usar computador, tablet e celular.
Até aqui vimos o lado do próprio cristão, de como ele deve se cuidar para não descambar para o pecado a partir de coisas que, a princípio, são lícitas, ou partir para o farisaísmo na tentativa de querer mostrar para os outros que é mais santo.
(1 Co 6:12) “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”.
(1 Co 10:23) “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam”.
Mas há também o lado do testemunho. Se algo que você faz (seja praticar esporte, beber vinho, usar uma determinada roupa, etc.) serve de escândalo para algum irmão mais fraco e pode fazê-lo tropeçar, é melhor deixar de fazer essas coisas ou agir com moderação para não ser causa de tropeço. O
amor é que nos motiva a agir assim, e não uma regra ou lei.
(Rm 14:1-8) “Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas. Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu. Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor”.
(Rm 14:21-23) “Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça. Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.
Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado”.
(Rm 15:1-3) “Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos. Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não agradou a si mesmo”.
Resumindo: se você sente-se mal praticando um esporte, bebendo cerveja, vestindo-se de uma determinada maneira, assistindo TV ou fazendo qualquer coisa por isso estar interferindo em sua comunhão com Deus, pare de praticar tal coisa. “Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o, e atira-o para longe de ti… se o teu olho te escandalizar, arranca-o, e atira-o para longe de ti” (Mt 18:8-9). Se for o caso de isso estar levando alguém a se escandalizar, evite fazê-lo completamente ou ao menos quando essa pessoa estiver por perto. Se você já evitou tomar sorvete perto de uma criança que estava com gripe entendeu o que estou falando. Peça ao Senhor direção a respeito das coisas nas quais tem dúvida se deve ou não fazer.
Mas se essa abstinência criar em você um sentimento de superioridade em relação a outros cristãos, então você simplesmente trocou algo ruim por algo pior, que é a jactância, orgulho religioso ou farisaísmo.
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Devemos orar pela paz de Jerusalém?
Você tem razão ao dizer que orar pela paz de Jerusalém soa estranho, principalmente sabendo do que hoje ocorre ali e das guerras e tribulações ainda reservadas para aquela cidade e para o povo judeu até que o reino de Cristo seja estabelecido na terra. Nossa oração deve ser inteligente e devemos aprender com o Senhor, que não orava pelo mundo, mas pelos que eram seus. “Eu rogo por eles [os discípulos]; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17:9).
Portanto entendo que devamos orar para que os que hoje vivem em Jerusalém se convertam a Cristo, e os cristãos que estão ali sejam guardados do mal. Depois do arrebatamento da Igreja cerca de dois terços da população de judeus existentes naquela terra serão dizimados, portanto o pior lugar para um judeu estar hoje é justamente na terra de Israel. “E acontecerá em toda a terra, diz o Senhor, que as duas partes dela serão extirpadas, e expirarão; mas a terceira parte restará nela” (Zc
13:7-9).
Os Salmos não são cristãos, isto é, não foram escritos por cristãos e para cristãos, muito embora nós possamos ser edificados, consolados e exortados por eles. Por isso os cristãos não oram pela paz de Jerusalém, mas pela paz da Igreja, que é o corpo de Cristo e ao qual estão ligados todos os salvos. “Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação” (Ef 4:1-4).
Os Salmos são judaicos em sua essência e sua visão é de um povo terreno de Deus vivendo na terra. Todo o Salmo 122, e a passagem que mencionou no versículo 6, “Orai pela paz em Jerusalém”, pertence ao futuro. Ali é o remanescente de judeus fiéis que é exortado a orar pela paz de Jerusalém, porque afinal eles estão morando nela. Veja todo o contexto: (Sl 122:1-9) “Cântico dos degraus, de Davi” Alegrei-me quando me disseram: Vamos á casa do Senhor [isto significa que o Templo terá sido reconstruído]. Os nossos pés estão dentro das tuas portas, ó Jerusalém [o remanescente judeu fiel que irá se converter após o arrebatamento é visto aqui fisicamente dentro de Jerusalém]. Jerusalém está edificada como uma cidade que é compacta. Onde sobem as tribos, as tribos do Senhor, até ao testemunho de Israel, para darem graças ao nome do Senhor. Pois ali estão os tronos do juízo, os tronos da casa de Davi. Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão aqueles que te amam. Haja paz dentro de teus muros, e prosperidade dentro dos teus palácios. Por causa dos meus irmãos e amigos, direi: Paz esteja em ti. Por causa da casa do Senhor nosso Deus, buscarei o teu bem”.
Observe que eles dizem estar com seus pés dentro de Jerusalém. Trata-se ali do remanescente de judeus fiéis que irão se converter após o arrebatamento, sofrerão os horrores da perseguição na grande tribulação, até colocarem seus pés na cidade que Deus escolheu para eles, Jerusalém.
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Devo me submeter ao ritual da crisma?
Por ser jovem e ainda viver na casa de seus pais, esta é uma questão que aflige muitos convertidos a Cristo: seguir ou não as tradições religiosas da família para evitar o enfrentamento e transtornos? Eu mesmo já passei por isso no início de minha conversão e acredito hoje sinceramente que a posição que tomei, apesar de radical demais segundo meu entendimento atual, mostrou a meus pais e irmãs que eu era coerente na fé que tinha abraçado.
Eventualmente meus pais e minhas irmãs acabariam abraçando a mesma fé, apesar da tradição católica que todos haviam seguido desde o nascimento.
Quando cremos em Jesus e decidimos obedecer a Palavra de Deus certamente iremos encontrar muitas práticas religiosas familiares que não têm fundamento na Palavra. Se, por um lado, o batismo é uma ordenança bíblica que devemos respeitar, independente de quem nos tenha batizado ou em que religião, desde que tenha sido com água e para o nome de Jesus, a crisma, que é a razão de sua dúvida, não tem qualquer fundamento bíblico.
Segundo a doutrina católica “só com a crisma teremos no céu a proximidade de Deus e a intensidade de amor que ele quer nos dar. Além disso, só com a crisma teremos as forças necessárias para vencer as tentações e caminharmos firmemente no caminho da perfeição” (citação obtida em um site de doutrinas católicas). Não é preciso conhecer muito a Bíblia para perceber que tal afirmação não tem qualquer fundamento e torna o homem dependente de um ritual para receber aquilo que Deus dá a todo crente por pura graça e independente da intervenção humana.
Além disso, o fato de esse ritual precisar ser ministrado por um bispo católico (em caso de urgência serve um padre) mostra que seu objetivo é criar dependência do clero. Isso não acontece apenas no catolicismo, mas também no protestantismo, onde muitas atividades são prerrogativa dos membros do clero protestante. Tal costume foi importado do judaísmo, uma religião que, apesar de ter sido instituída por Deus, foi totalmente deixada de lado, como nos ensina a carta aos Hebreus e outras passagens da doutrina dos apóstolos.
O site católico de onde obtive informações sobre o chamado “sacramento da crisma” ensina que “o ministro do sacramento da crisma é o bispo, pois é o pai de todos os fiéis, aquele que lhes confere maturidade da vida da graça”, o qual no ritual dá um leve tapa no rosto da pessoa crismada.
Segundo a doutrina católica, isto serve “para significar que ela é soldado de Cristo, tendo o dever de suportar pacientemente, em nome de Jesus, toda sorte de sofrimentos e de injúrias, defender a Fé quando atacada e conhecer a doutrina”. Obviamente está se referindo à doutrina católica, que é baseada, não na Bíblia, mas na tradição dos papas que o catolicismo considera como estando acima da Palavra de Deus.
As pessoas que ministram esse ritual, e as pessoas que são crismadas, têm a melhor das intenções, mas ignoram ou preferem ignorar o que ensina a Bíblia. De acordo com o catolicismo, a crisma seria baseada em Atos 8:14-17, que diz:
“Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo (porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus). Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo”.
Tirada de seu contexto a passagem pode fazer sentido sob a ótica católica, mas quando analisada à luz de toda a Palavra de Deus fica claro que aqui se trata de um tempo de transição (como é todo o livro de Atos).
Quando o Espírito Santo foi dado, primeiro isso aconteceu em Atos 2, na formação da igreja e exclusivamente aos judeus, que primeiro receberam o Espírito Santo e depois foram batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Mas a igreja não iria ser formada apenas por judeus, por isso encontramos em Atos 8 o Espírito ser dado também aos samaritanos que haviam sido batizados. Os samaritanos eram gentios que haviam sido convertidos compulsoriamente ao judaísmo durante o tempo em que a terra de Israel ficou invadida pelo inimigo e esvaziada de verdadeiros israelitas. Eles acabaram criando sua própria versão do judaísmo e por isso não eram bem vistos pelo judeu, como vemos no caso da mulher samaritana em João 4.
Mas em Atos 8 vemos que não foi a todos que o Espírito Santo foi ali dado por meio da imposição das mãos dos apóstolos. Simão, em Atos 8:18-24, não teve tal privilégio. Ele não passava de um cristão professo, não nascido de novo e nem salvo, mas apenas revestido de um nome pelo batismo, como encontramos hoje aos milhares.
Depois de judeus e samaritanos, em Atos 10 vemos a terceira classe de pessoas que viria a receber o Espírito Santo e a fazer parte da recém-criada igreja: os gentios, representados ali pelo centurião romano Cornélio e os que o acompanhavam. “E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios” (At 10:44-45). É importante notar as diferenças na ordem em que essas pessoas são introduzidas:
1. JUDEUS – Atos 2:38: os judeus são introduzidos seguindo este processo:
a. Arrependimento (os judeus eram primariamente culpados da rejeição e morte de seu Messias, portanto tinham muito de que se arrepender).
b. Batismo nas águas.
c. Recebimento ou selo do Espírito Santo.
2. SAMARITANOS – Atos 8:14-17: os samaritanos são introduzidos; eles eram gentios convertidos ao judaísmo levados para a terra prometida para substituir os judeus durante o exílio:
a. Fé (crer).
b. Batismo nas águas.
c. Recebimento do Espírito pela oração e imposição de mãos dos apóstolos.
3. GENTIOS – At 10:44-48: todos aqueles que não eram judeus ou samaritanos:
a. Fé (crer).
b. Recebimento do Espírito Santo.
c. Batismo nas águas.
Finalmente podemos mencionar também uma classe especial ali que são os discípulos de João Batista – At 19:1-7, um subgrupo de judeus que eram os discípulos de João, que já haviam se apartado dos judeus e suas culpas: a. Fé (crer)
b. Rebatismo nas águas (tinham sido antes batizados “em”
João Batista como os israelitas tinham sido batizados “em” Moisés, pois quando você é batizado, você é batizado “a” alguém, compare as passagens 1 Co 1:15; 10:2; Gl 3:27).
c. Recebimento do Espírito Santo pela imposição das mãos do apóstolo.
Veja que estes não são processos para a salvação, a qual recebemos apenas pela fé em Jesus, mas apenas a ordem em que as coisas aconteceram em um período de transição, quando foram usadas as chaves recebidas por Pedro (Mt 16:19) para abrir o Reino dos céus (que não é o céu, mas a esfera da profissão cristã onde existe tanto joio quanto trigo) a judeus, samaritanos e gentios.
Uma vez formada a igreja não vemos mais as pessoas receberem o Espírito Santo na forma como ocorreu em Atos, esse período de transição e inauguração da igreja. Encontramos em Efésios o claro ensino de que o Espírito Santo é recebido agora como decorrência da fé em Cristo, sem intervenção humana, e é o Espírito a garantia ou penhor de que seremos levados para o céu.
Nenhum homem ou ritual pode nos dar tal garantia.
“Cristo… em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória” (Ef 1:13-14).
Portanto nenhuma pessoa poderá afirmar que a crisma tem fundamento bíblico se tentar usar a passagem de Atos 8 ou qualquer outra do Novo Testamento. Os próprios católicos reconhecem isso, tanto é que apelam para a tradição católica recorrendo a uma frase de São Cipriano que no ano 258 teria escrito: “Os batizados serão conduzidos aos Bispos, a fim de, por sua oração e imposição das mãos, receberem o Espírito Santo, e pelo selo do Senhor, serem perfeitos”. Faria todo sentido se nossa responsabilidade fosse a de seguir tradições humanas e não a Palavra de Deus.
Como proceder então quando a família exige sermos crismados no catolicismo? É claro que decisões assim dependem de cada crente no Senhor Jesus e de buscar a direção do Espírito Santo. Mas posso afirmar sem sombra de dúvida que a crisma não é uma ordenança bíblica e sequer tem fundamento na Palavra de Deus, portanto não há razão para algum salvo por Cristo, que deseja obedecer à Palavra de Deus, se sujeitar a ela.
Quando cremos em Cristo devemos traçar uma linha divisória clara entre o que éramos e o que agora somos, e isto inclui religião, tradição, mundanismo, etc. Trata-se de uma questão de coerência: se estou determinado a seguir o que diz a Palavra, seria correto continuar praticando os rituais da religião na qual nasci, os quais são claramente fundamentados na tradição dos Papas e não na Palavra de Deus? A santificação prática, e a palavra “santificação”
significa “separação”, inclui também tradições e costumes religiosos. Devemos nos separar dos costumes que sejam uma desonra ao Senhor e à sua graça, mesmo que agir assim possa trazer consequências desagradáveis para nosso relacionamento com amigos e parentes.
Eu entendo a crisma como uma desonra a Deus e à sua graça, por incluir condições para a recepção do Espírito Santo de Deus ou dos dons do Espírito. A própria doutrina católica ensina que é pela crisma que o cristão receberia os “7 dons”, que seriam “Temor de Deus, Piedade, Fortaleza, Conselho, Ciência, Inteligência e Sabedoria”. Que desonra a Cristo é tal ideia! Pela Palavra de Deus aprendemos que todo dom é dado por Cristo, e isso não depende da intervenção de homens, muito menos de um autointitulado clero.
As pessoas que praticam a crisma podem ter até boa intenção achando com isso estarem agradando a Deus, mas se alguém quiser lhe dar um presente e você impuser condições para recebê-lo, algo do tipo, “Ok, aceito seu presente desde que eu possa fazer isso e aquilo em troca…”, isso será visto como desonra por quem lhe quer presentear de graça e sem condições.
Não duvido que ao assumir uma posição firme e coerente com sua obediência à Palavra de Deus você irá sofrer a repreensão e talvez até a perseguição de amigos e familiares. Sempre foi assim e o próprio Senhor havia previsto que na própria família o crente encontraria problemas. Quando queremos fugir dos problemas e agradar a todos deixamos de agradar ao Senhor. Foi o que o apóstolo Paulo fez quando insistiu em ir a Jerusalém e até a adotar rituais judaicos que ele próprio ensinava terem sido abolidos por Deus.
Mesmo depois de ter sido alertado pelo Espírito Santo ele seguiu seu próprio coração e o grande amor que tinha para com o povo judeu e sofreu as terríveis consequências de ter feito a sua própria vontade e não a vontade de Deus. Obviamente Deus acabou usando tudo aquilo para sua glória, fazendo com que Paulo chegasse a Roma para pregar aos gentios, que era a intenção inicial do Espírito Santo de Deus. Mas não foi sem sofrimento para Paulo por se deixar levar pelas afeições do coração e não pela clara direção do Espírito Santo de Deus. Para conhecer melhor a história sugiro a leitura de Atos a partir do capítulo 19, que vou resumir aqui:
(At 19:21) “E, cumpridas estas coisas, Paulo propôs, em espírito [seu próprio espírito humano], ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia, dizendo: Depois que houver estado ali, importa-me ver também Roma…”.
(At 21:2-4) “E, achando um navio, que ia para a Fenícia, embarcamos nele… navegamos para a Síria e chegamos a Tiro; porque o navio havia de ser descarregado ali. E, achando discípulos, ficamos ali sete dias; e eles pelo Espírito diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém”.
(At 21:7-23) “E nós, concluída a navegação de Tiro, viemos a Ptolemaida… E no dia seguinte, partindo dali Paulo, e nós que com ele estávamos, chegamos a Cesaréia e, entrando em casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele… E, demorando-nos ali por muitos dias, chegou da Judeia um profeta, por nome Ágabo; E, vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo, e ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus em Jerusalém o homem de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios. E, ouvindo nós isto, rogamos-lhe, tanto nós como os que eram daquele lugar, que não subisse a Jerusalém. Mas Paulo respondeu: Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus”.
(At 21:17-24) “E, logo que chegamos a Jerusalém… no dia seguinte, Paulo entrou conosco em casa de Tiago, e todos os anciãos vieram ali… e disseram-lhe: Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus há que creem, e todos são zeladores da lei. E já acerca de ti foram informados de que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar seus filhos, nem andar segundo o costume da lei. Que faremos pois? … Faze, pois, isto que te dizemos: Temos quatro homens que fizeram voto. Toma estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles os gastos para que rapem a cabeça, e todos ficarão sabendo que nada há daquilo de que foram informados acerca de ti, mas que também tu mesmo andas guardando a lei”.
(At 21:26-33) “Então Paulo, tomando consigo aqueles homens, entrou no dia seguinte no templo, já santificado com eles, anunciando serem já cumpridos os dias da purificação; e ficou ali até se oferecer por cada um deles a oferta. E quando os sete dias estavam quase a terminar, os judeus da Ásia, vendo-o no templo, alvoroçaram todo o povo e lançaram mão dele, Clamando: Homens israelitas, acudi; este é o homem que por todas as partes ensina a todos contra o povo e contra a lei, e contra este lugar; e, demais disto, introduziu também no templo os gregos, e profanou este santo lugar… e, pegando Paulo, o arrastaram para fora do templo, e logo as portas se fecharam. E, procurando eles matá-lo, chegou ao tribuno da coorte o aviso de que Jerusalém estava toda em confusão; O qual, tomando logo consigo soldados e centuriões, correu para eles. E, quando viram o tribuno e os soldados, cessaram de ferir a Paulo. Então, aproximando-se o tribuno, o prendeu e o mandou atar com duas cadeias, e lhe perguntou quem era e o que tinha feito”.
Apesar de Deus ter intercedido por meio do oficial romano para salvar a vida de Paulo, e no final ter usado o apóstolo como pretendia fazer enviando-o a Roma, todo esse sofrimento poderia ter sido evitado se Paulo deixasse de ouvir o seu próprio coração para ouvir a voz do Espírito, claramente manifestada pelos avisos dos irmãos de Tiro e pelo profeta Ágabo. Ao deixar-se enredar pelos conselhos dos cristãos judaizantes de Jerusalém ele não só comprometeu a própria doutrina que havia recebido de Cristo, a qual pregava com tanta veemência, mas também acabou sofrendo na própria carne as consequências dessa atitude. Como é possível ler nos capítulos seguintes de Atos, o apóstolo dos gentios ficou preso por não ter seguido logo de início a missão de “apóstolo dos gentios” que lhe tinha sido designada e decidiu dar uma passadinha em Jerusalém para agradar aqueles com quem mantinha laços de sangue e afeição, os judeus que ele tanto amava.
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O Espirito Santo foi dado antes de Pentecostes?
Sua dúvida é se no capítulo 20 do Evangelho de João o Espírito Santo teria sido dado aos discípulos antes de Atos 2, quando lemos da fundação da igreja. A verdade é que o Espírito Santo é visto enchendo e influenciando os santos e até incrédulos (por exemplo, Balaão) em todas as eras anteriores a Pentecostes, como é possível ver em algumas passagens do Antigo Testamento:
(Êx 31:1-5) “Depois falou o Senhor a Moisés, dizendo: Eis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, o filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, E o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência, em todo o lavor, Para elaborar projetos, e trabalhar em ouro, em prata, e em cobre, E em lapidar pedras para engastar, e em entalhes de madeira, para trabalhar em todo o lavor”.
(Nm 24:2) “E, levantando Balaão os seus olhos, e vendo a Israel, que estava acampado segundo as suas tribos, veio sobre ele o Espírito de Deus”.
(1 Sm 10:6-10) “[Samuel dizendo a Saul]: E o Espírito do Senhor se apoderará de ti, e profetizarás com eles, e tornar-te-ás um outro homem… E, chegando eles ao outeiro, eis que um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; e o Espírito de Deus se apoderou dele, e profetizou no meio deles”.
(Sl 51:11) “Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo”.
(2 Cr 15:1) “Então veio o Espírito de Deus sobre Azarias, filho de Odede”.
(2 Cr 24:20) “E o Espírito de Deus revestiu a Zacarias, filho do sacerdote Joiada”.
Em João 20 o versículo 22 deve ser lido no contexto do que vem antes e depois, pois o assunto ali não é a descida do Espírito Santo que o Senhor havia prometido aos discípulos nas passagens abaixo:
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim. Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei” (Jo 14:16, 26; 15:26; 16:7).
Da passagem acima fica muito claro que o Espírito Santo só seria dado depois que Cristo morresse, ressuscitasse e ascendesse aos céus para rogar ao Pai que enviasse o Espírito. Para entender João 20:22 é preciso ler os versículos 21 e 23, pois só então será possível entender que esse “assoprar” o Espírito nos discípulos não fala de eles receberem como ocorreu em no dia de Pentecostes ou como ocorre com cada crente em Jesus. O assunto ali em João 20 é o comissionamento dos discípulos para que saíssem por Cristo neste mundo para pregar, representando Aquele que estaria ausente a partir de então: (Jo 20:21) “Disselhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós”.
No versículo 21 está comissionando seus discípulos e os enviando a pregar as boas novas neste mundo como Seus representantes.
(Jo 20:22) “E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disselhes: Recebei [o] Espírito Santo”.
Para capacitá-los nessa tarefa o Senhor assopra neles Espírito Santo. No original está “Recebei Espírito Santo” e não “Recebei o Espírito Santo”. Quando Deus soprou em Adão feito de barro Adão não recebeu o Espírito de Deus, mas recebeu fôlego da vida vinda de Deus, capacitando-o a viver como um ser à imagem e semelhança de Deus:
(Gn 2:7) “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”.
Acredito que o versículo 22 tenha também este sentido, não de receber “O” Espírito, como viria a ocorrer em Atos 2 e depois com todo aquele que viesse a crer em Cristo, individualmente, e com a igreja coletivamente, mas de receber a capacitação necessária (vinda do Espírito de Deus) para serem enviados. O versículo seguinte é o de sua próxima dúvida: (Jo 20:23) “Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos”.
Uma vez enviados e capacitados, eles recebem também autoridade para perdoar pecados, porém o perdão aqui é obviamente declaratório, e não o perdão eterno que é uma prerrogativa de Deus. Como assim? Bem, se eu prego o evangelho a alguém prometendo que pela fé no Salvador essa pessoa terá todos os seus pecados perdoados, se essa pessoa crer eu posso declarar que seus pecados foram todos perdoados, pois a garantia disso tenho na Palavra de Deus.
Mas se a pessoa recusar-se a crer eu posso declarar que seus pecados são retidos, pelo menos até que ela decida crer.
Mas não podemos nos esquecer de que aos apóstolos foi dada também uma autoridade que vai além dessa que é comum a todo crente. Eles tinham autoridade para entregar alguém a Satanás para a destruição da carne (1 Co 5:3-5; 12-13) como parece ter sido o caso na morte de Ananias e Safira em Atos 5:1-11. Ou seja, aos apóstolos havia sido dado o poder de vida e morte sobre os cristãos no sentido administrativo e punitivo, obviamente não implicando com isso qualquer alteração no estado eterno da alma do que era assim disciplinado.
É este o caso do “pecado para morte” de 1 João, ou seja, morte física, do corpo:
(1 Jo 5:16) “Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore”.
Em 1 Coríntios 5 e também em Mateus 18 o assunto é a autoridade dada à igreja para “ligar” e “desligar”, isto é, tomar decisões relativas à assembleia no sentido de perdoar ou não pecados na esfera administrativa ou governamental.
(Mt 18:15-20) “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.
O malfeitor de 1 Coríntios 5 parece ter sido restaurado em 2
Coríntios 2:4-8 por sugestão do apóstolo aos irmãos de Corinto, o que teria sido o “desligar” ou a anulação do “ligar” executado em 1 Coríntios 5.
Fica mais claro entender o que é um perdão administrativo ou governamental quando transferimos isto para a esfera da justiça humana. No Brasil um criminoso pode ir para a cadeia por 35 anos e sair antes por bom comportamento. Quando sair a justiça o declarará livre e perdoado do que fez, pois cumpriu sua pena. Mas, por mais que Deus reconheça a justiça humana que ele próprio estabeleceu, não significa que aquele criminoso está perdoado pela justiça divina. A menos que ele creia no Salvador, seus pecados continuarão nele e sujeitos à sentença e condenação eterna no lago de fogo.
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Um cristão pode processar outro?
O crente vive em duas esferas: a igreja e o mundo. Na igreja a ordem é clara quanto a apelar para a justiça do mundo no caso de algum litígio entre irmãos: a parte lesada deve estar pronta a sofrer o dano e a abrir mão de revanche. “Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos? … Na verdade é já realmente uma falta entre vós, terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano?” (1 Co 6:1-9).
Mas o contexto mostra que mesmo assim o cristão pode levar a questão a julgamento, porém limitando-se a fazer isso entre os irmãos: “Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes para julgá-los os que são de menos estima na igreja? Para vos envergonhar o digo. Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?” (1 Co 6:1-9).
Em Mateus 18 aprendemos que qualquer desavença entre irmãos deve inicialmente ser tratada entre as partes. Caso não se chegue a um acordo, recorre-se a uma ou duas testemunhas e, apenas em caso extremo, isso é levado ao juízo da assembleia congregada ao nome do Senhor, a qual irá deliberar segundo a autoridade que o Senhor deu a dois ou três congregados ao seu Nome. Neste caso as partes envolvidas deverão se sujeitar à decisão da assembleia, que tem o poder de “ligar”
(decidir) e “desligar” (reverter uma decisão), o que é sancionado no céu.
(Mt 18:15-20) “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.
Deve ser entendido que a situação particular apresentada em Mateus 18, de um litígio entre irmãos, é diferente da situação de 1 Coríntios 5, que engloba alguém envolvido em pecado moral. No caso de 1 Coríntios 5 não existe esse litígio entre irmãos, mas existe contaminação da assembleia por pecado. Aí a assembleia entra em cena diretamente, sem passar pelo processo de tentativa de conciliação entre as partes envolvidas, como era o exemplo dado em Mateus 18. Mas a assembleia possui a mesma autoridade delegada em Mateus 18 para tomar decisões relativas a julgamento de pecado e disciplina. No caso de 1 Coríntios 5 era um caso de pecado moral, mas ali há também uma lista incompleta de possibilidades: “… devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador” (1 Co 5:11).
A lista de pecados com os quais a assembleia poderia lidar em julgamento e disciplina não está limitada às coisas que normalmente consideramos faltas graves, mas pode incluir mentirosos (Ananias e Safira, Atos 5), pessoas que pregam má doutrina (Himeneu e Fileto, 1 Tm 2), aqueles que almejam uma posição clerical entre os irmãos (Diótrefes, 3 Jo 1), “amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus”, “Destes afasta-te” (2 Tm 3), vagabundos que não querem trabalhar e que insistem em desobedecer à Palavra “Não vos mistureis com ele” (2 Ts 3:11-14), fofoqueiras (1 Tm 5:13), hereges (a palavra significa causadores de divisão ou que buscam discípulos para si, Tt 3:10), etc.
Outra lista em 1 Coríntios 6:10 (onde o assunto é justamente as demandas entre irmãos) inclui devassos, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes e roubadores. Mas a continuação do texto demonstra que até coisas lícitas podem se tornar pecado quando o crente se deixa dominar por elas. Poderíamos incluir aí pessoas que acabam negligenciando suas obrigações familiares e com a assembleia por estarem envolvidas demais com trabalho ou diversão. “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (1 Co 6:12).
E quando o problema não é entre irmãos, mas entre o crente e o incrédulo ou entre o crente e uma empresa ou governo? Deus instituiu as autoridades neste mundo, e isso inclui os tribunais para julgarem os negócios desta vida.
(Rm 13:1-7) “Toda a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a potestade? Faze o bem, e terás louvor dela. Porque ela é ministro de Deus para teu bem”.
Em mais de uma ocasião vemos o apóstolo Paulo apelando para a justiça e a lei romana ao sentir-se injustiçado.
(At 16:37-39) “Mas Paulo replicou: Açoitaram-nos publicamente e, sem sermos condenados, sendo homens romanos, nos lançaram na prisão, e agora encobertamente nos lançam fora? Não será assim; mas venham eles mesmos e tirem-nos para fora. E os quadrilheiros foram dizer aos magistrados estas palavras; e eles temeram, ouvindo que eram romanos. E, vindo, lhes dirigiram súplicas; e, tirando-os para fora, lhes pediram que saíssem da cidade”.
(At 22:25-29) “E, quando o estavam atando com correias, disse Paulo ao centurião que ali estava: É-vos lícito açoitar um romano, sem ser condenado? E, ouvindo isto, o centurião foi, e anunciou ao tribuno, dizendo: Vê o que vais fazer, porque este homem é romano. E, vindo o tribuno, disse-lhe: Dize-me, és tu romano? E ele disse: Sim. E respondeu o tribuno: Eu com grande soma de dinheiro alcancei este direito de cidadão. Paulo disse: Mas eu o sou de nascimento. E logo dele se apartaram os que o haviam de examinar; e até o tribuno teve temor, quando soube que era romano, visto que o tinha ligado”.
(At 25:10-12) “Mas Paulo disse: Estou perante o tribunal de César, onde convém que seja julgado; não fiz agravo algum aos judeus, como tu muito bem sabes. Se fiz algum agravo, ou cometi alguma coisa digna de morte, não recuso morrer; mas, se nada há das coisas de que estes me acusam, ninguém me pode entregar a eles; apelo para César. Então Festo, tendo falado com o conselho, respondeu: Apelaste para César? Para César irás”.
Mas é importante notar que a decisão de Paulo não causava dano a ninguém, e apenas procurava resguardar seus direitos e sua integridade física. Pode acontecer também de o cristão ter sido prejudicado pela empresa para a qual trabalha, pelo banco no qual tem conta ou pela loja na qual fez uma compra. Existem dispositivos legais para tratar de cada caso, mas o cristão não deve agir no piloto automático só porque as leis lhe dão proteção. O cristão deve orar sempre e buscar sabedoria de Deus. Em todos os casos é abominável que o cristão procure provocar situações e oportunidades legais, como pessoas que causam acidentes ou facilitam o roubo do carro para receberem indenização da seguradora.
Cada caso é um caso e o cristão deve orar a respeito, lembrando que uma ação legal pode ter desdobramentos que às vezes custam caro em termos de saúde, finanças e relacionamentos. Mas o prejuízo maior é sempre da impressão que ele, como cristão, causará nos incrédulos. Os desdobramentos de uma ação penal podem fazer com que o cristão deixe de ser visto como luz do mundo para ser considerado trevas, ou apreciado como sal, para ser sentido como fel no paladar dos incrédulos. Considerando que sermos testemunhas de Cristo neste mundo é a razão de termos sido deixados aqui, vale a pena ponderar cada caso para ver em quanto isso poderá danificar esse testemunho.
Portanto, volto a dizer, é preciso buscar sabedoria da parte do Senhor porque cada caso é um caso. Digamos que uma mulher cristã tenha sido violentada por um maníaco. Deveria ela manter-se em silêncio ou procurar as autoridades para evitar que outras mulheres sejam atacadas? Ou o cristão que é enganado por um estelionatário? Deve ele ir à polícia para impedir que o mesmo faça outras vítimas? Nestes casos nem seria um caso de reparação pelo crime sofrido, mas de consideração para com o próximo. Há situações em que o cristão é obrigado a envolver-se em questões legais, não por querer defender seus próprios direitos, mas os daquele a quem representa. É o caso de um procurador ou representante legal, guardião de menores, etc.
A questão de um crente buscar ou não dispositivos legais não é algo simples, daí não existir uma resposta do tipo “sim” ou “não”. A própria condição da cristandade atualmente faz com que um cristão genuíno nem sempre tenha a certeza de estar tratando com um irmão genuíno ou apenas com um mero professo. Por isso o melhor é fazer o trabalho prévio, isto é, orar sempre para não precisar ser envolvido em questões legais. Mas, quando isso acontecer, orar também por sabedoria de como agir, lembrando sempre que nossa função neste mundo é glorificar a Deus e testemunhar do nome de Cristo. E como é que o Senhor agiu quando passou por aqui? Temos boas pistas na própria Palavra de Deus para perceber que ele sempre foi o perdedor em todas as situações, e assim ensinava também seus discípulos.
“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas”. (Mt 5:38-41).
“Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus”. (1 Pe 3:18).
“Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus. Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O
qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente” (1 Pe 2:18).
“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2:5).
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Por que Jesus disse para os mortos sepultarem os mortos?
Para entender a resposta que o Senhor dá ao homem que queria sepultar o próprio pai antes de seguir a Jesus é preciso ler o contexto no qual aparecem três classes de candidatos a discípulo de Jesus: o autoconfiante, cujo coração o Senhor sabe estar preocupado com o conforto material; o dedicado às tarefas e responsabilidades lícitas, porém que coloca o Senhor em segundo plano, e aquele cuja senda da fé acaba sendo comprometida pelos laços familiares e por sua preocupação em não desapontar parentes e amigos.
(Lc 9:57-58) “E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores. E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”.
O primeiro não está perguntando se deve seguir ou se o Senhor quer ser seguido por ele, mas simplesmente afirma que irá a qualquer lugar com Jesus. Ao contrário do segundo homem no versículo 59, ao qual Jesus chama, este não recebeu o chamado. Mas pela resposta de Jesus, que conhece os corações, dá para perceber que o homem não imagina o que é seguir aquele que não tem morada certa e que, neste mundo, sequer podia contar com o mínimo conforto e segurança que até aves e animais têm. Muitos hoje são atraídos pelas promessas de prosperidade de falsos pregadores e se mostram dispostos a “seguir”
a Jesus, mas certamente não é o mesmo Jesus dos evangelhos que eles pretendem seguir.
(Lc 9:59-60) “E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai. Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vais e anuncia o reino de Deus”.
Ao contrário do primeiro, que não foi chamado, o Senhor chama a este para segui-lo, mas ele tem algo para resolver antes: o sepultamento do próprio pai. Ele diz: “Deixa que primeiro eu vá enterrar meu pai”. A resposta dá uma clara indicação de suas prioridades.
Seguir a Jesus era a segunda coisa em sua vida. É claro que Deus quer que cada um cumpra com suas responsabilidades, mas neste contexto em que aparecem três perfis de candidatos a seguidores devemos ter em mente que Jesus quer trazer para fora de cada um o que está no coração. É sempre assim quando a Palavra de Deus atinge uma alma. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12).
A repreensão de Jesus mostra que os espiritualmente mortos devem se ocupar de sepultar os que estão fisicamente mortos, já que não são capacitados a pregar o reino de Deus. Muitas vezes os cristãos perdem seu tempo fazendo tarefas que, se fossem relegadas aos incrédulos, permitiria que tivessem mais tempo para se ocuparem com aquilo que realmente importa nesta vida: os assuntos de Deus.
(Lc 9:61-62) “Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa. E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus”.
O terceiro candidato a discípulo é semelhante ao primeiro, já que não é chamado a seguir, mas se apresenta voluntariamente. Porém, como o segundo, ele tem algo que vem primeiro: sua família. Muitas vezes a família pode se transformar em tropeço para o crente, principalmente quando familiares incrédulos usam de chantagem emocional para impedir que o crente tenha comunhão com Deus, dedique-se à adoração, à oração, à comunhão com seus irmãos ou, como é o caso da prioridade colocada aqui, a anunciar o reino. Quem já arou a terra com um arado puxado a animais de tração sabe o quanto de atenção é exigida para manter o alinhamento. Qualquer olhada para trás faz o arado perder a direção e comprometer o plantio e a colheita. Quem está empenhado em seguir a Jesus não pode se deixar levar por distrações.
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Filhos devem pagar pelos pecados dos pais?
As pessoas que acreditam que um cristão hoje pode ser punido pelos pecados de seus pais ou antepassados (o que alguns chamam de “maldição familiar”) interpretam erroneamente textos do Antigo Testamento como Êxodo 20:4-5:
“Não farás para ti imagem de escultura… Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam”.
Primeiro é bom explicar que a imagem de que fala o versículo não é uma fotografia ou um desenho qualquer, mas uma representação de Deus ou da Divindade. O texto está se referindo à idolatria, que é a substituição da adoração a Deus pela adoração de qualquer imagem ou objeto que seja uma representação da Divindade.
Agora vamos à segunda parte do versículo, que traz uma ameaça: “sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam”.
Fica muito evidente aí que Deus está se referindo ao pecado da idolatria, ou seja, substituir Deus por algo que seja uma representação visível da Divindade. O grande problema da idolatria é que ela permeia as culturas humanas e é transmitida de geração em geração. Neste sentido os filhos serão propensos a repetir o mesmo pecado da idolatria de seus pais e, portanto, estarão sob a maldição ou ameaça que Deus faz nesta passagem.
A passagem, por ser integrante da Lei dada por intermédio de Moisés aos israelitas, pode ser também considerada como conectada a Israel como nação, e aí também seria válida a aplicação de uma sentença no caso de idolatria dos pais. Israel era uma Teocracia, ou seja, tudo o que dizia respeito à religião judaica tinha influência direta sobre o povo. Assim, se o judaísmo que eles praticavam estivesse contaminado por idolatria (que foi exatamente o que aconteceu ao longo da história) todo o povo e seus descendentes sofreriam por isso. Neste sentido a ameaça também aparece em Êxodo 34:7; Números 14:18 e Deuteronômio 5:9.
(Êx 34:7) “[O Senhor] Que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta geração”.
(Nm 14:18) “O Senhor é longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa a iniquidade e a transgressão, que o culpado não tem por inocente, e visita a iniquidade dos pais sobre os filhos até à terceira e quarta geração”.
(Dt 5:9) “Não te encurvarás a elas [imagens], nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que me odeiam”.
Tentar aplicar a passagem aos cristãos é tirá-la completamente do contexto e torcer seu significado. A Bíblia é clara em mostrar que cada um é responsável pelo seu próprio pecado, como explica Ezequiel 18:20-21. Deve-se entender que aqui o profeta está falando de morte física, no sentido de pena de morte pelos pecados ou crimes descritos nos versículos anteriores, como extorsão, usura, opressão, idolatria, adultério, etc.: (Ez 18:20-21) “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá”.
Na carta aos Romanos, Paulo fala da responsabilidade individual por nossos atos: (Rm 14:12) “De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus”. Apesar de isso valer para todos, salvos e perdidos, no caso do cristão a referência é ao Tribunal de Cristo, quando os salvos comparecerão diante do Senhor para serem recompensados pelo bem ou mal que tiverem praticado em vida. Trata-se, no caso do salvo, de um julgamento das obras e não da pessoa do cristão, já que este não entrará em juízo (João 5:24). O incrédulo, este sim, só pode aguardar o juízo após a morte, pois “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9:27).
Mas tentar ameaçar um cristão salvo por Cristo com bobagens como “maldição familiar”, como fazem os mercadores da fé, é não entender o evangelho da graça de Deus e desprezar a eficácia do sangue de Cristo que nos purifica de todo pecado. O cristão não passará pelo juízo final porque os seus pecados foram todos pagos por Jesus, o “Justo” que morreu pelos injustos, como afirmam repetidamente os versículos abaixo:
(Rm 8:1) “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.
(1 Pe 3:18) “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus”.
(Rm 4:25) “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação”.
(1 Co 15:3) “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras,”.
(Gl 1:4) “O qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai,”.
(Hb 1:3) “O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas;”.
(1 Pe_2:24) “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados”.
(1 Jo 1:9) “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça”.
(1 Jo 2:2) “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”.
(1 Jo 3:5) “E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado”.
(1 Jo 4:10) “Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados”.
(Ap 1:5) “E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Aquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados,”.
(2 Co 5:17) “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.
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Por que Jesus não deixa Maria Madalena tocá-lo?
Sua dúvida é: Por que Jesus ressuscitado não permite que Maria Madalena o toque por ainda não ter sido glorificado, se em Mateus ele tem seus pés abraçados pelas duas Marias e em João, pouco depois, ele próprio pede a Tomé que o toque para conferir se é ele mesmo? Vamos comparar as passagens:
(Jo 20:17) “Disse-lhe Jesus: Não me detenhas [toques], porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”.
(Mt 28:9) “E, indo elas a dar as novas aos seus discípulos, eis que Jesus lhes sai ao encontro, dizendo: Eu vos saúdo. E elas, chegando, abraçaram os seus pés, e o adoraram”.
(Jo 20:27) “Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente”.
Creio que o sentido da palavra em algumas traduções (“não me detenhas”) pode ajudar a entender a passagem de João 20:17, mas é preciso também levar em consideração duas coisas: o aspecto profético de cada evangelho e também o estado de Maria Madalena em seu encontro pessoal com o Ressuscitado no evangelho de João. Quando ler os evangelhos evite fazer isso como se lesse um simples relato cronológico de acontecimentos. Por exemplo, Lucas não é sempre cronológico, mas a sequência dos acontecimentos aparece numa ordem moral.
Procure perguntar o que Deus quis dizer em cada um deles dentro daquilo que é característico de cada evangelho. Ao contar um mesmo fato para uma criança e para um adulto costumamos adotar formas diferentes de comunicação, enfatizando o que pode ser interessante para cada um. Se eu contar de minha ida ao zoológico a uma criança, irei me concentrar nos animais, mas talvez ao falar da visita a um consultor em administração de empresas eu me concentre nos aspectos administrativos do zoológico, no atendimento ao cliente, etc.
Assim são os evangelhos. Um mesmo episódio pode ser relatado de maneiras diferentes ou até mesmo ser omitido, por não ter importância no contexto que Deus está tratando ali. Por esta razão em um evangelho você encontra dois gadarenos sendo libertos de demônios, e em outro evangelho apenas um, ou vê duas Marias na cena da ressurreição e em outro apenas Maria Madalena. Vamos ver o texto todo da passagem em Mateus:
(Mt 28:5-10) “Mas o anjo, respondendo, disse às mulheres: Não tenhais medo; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia. Ide pois, imediatamente, e dizei aos seus discípulos que já ressuscitou dentre os mortos. E eis que ele vai adiante de vós para a Galileia; ali o vereis. Eis que eu vo-lo tenho dito. E, saindo elas pressurosamente do sepulcro, com temor e grande alegria, correram a anunciá-lo aos seus discípulos. E, indo elas a dar as novas aos seus discípulos, eis que Jesus lhes sai ao encontro, dizendo: Eu vos saúdo. E elas, chegando, abraçaram os seus pés, e o adoraram. Então Jesus disselhes: Não temais; ide dizer a meus irmãos que vão à Galileia, e lá me verão”.
Do ponto de vista profético, Mateus é o único evangelho escrito em aramaico, a língua falada pelos judeus da época, e é também o que tem o maior número de citações do Antigo Testamento. Nele Jesus é apresentado como o Rei dos Judeus (em Marcos é o Servo, em Lucas é o Filho do Homem e em João o Filho de Deus). Esse caráter distinto de Mateus tem um objetivo: neste evangelho Jesus é apresentado ao remanescente judeu fiel que se converterá após o arrebatamento da igreja, durante a tribulação e antes de inaugurar o reino milenial na terra. As duas Marias que caem aos seus pés e os abraçam estão bem no espírito de servas na presença do Rei.
No evangelho de Mateus o anúncio da ressurreição é dado pelos anjos às duas Marias, o que é bem próprio da relação de Deus com Israel. Esse encontro é também coletivo e não individual, como é característico da relação do crente que faz parte do corpo de Cristo, a igreja, na atual dispensação da graça de Deus: o cristão tem uma intimidade com o Senhor (afinal, ele faz parte da Noiva de Cristo) que não será igual ao relacionamento de que desfrutarão os judeus durante o reino na terra. O remanescente judeu que se converterá na tribulação e participará do reino de mil anos Cristo, ainda em seus corpos naturais vivendo na terra, irá recebê-lo como Rei. Jesus não é o Rei dos cristãos; para nós ele é o Senhor.
O fato de em Mateus serem os anjos que anunciam a ressurreição também pode indicar essa relação mais característica de Deus com Israel no Antigo Testamento, onde os anjos aparecem com frequência, tendo sido inclusive instrumentos na entrega da Lei àquele povo.
(Hb 1:14) “Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?”.
(At 7:53) “Vós, que recebestes a lei por ordenação dos anjos, e não a guardastes”.
Em João vemos Jesus em um caráter distinto dos outros evangelhos: ele ali é apresentado como o Verbo, o Criador, o Filho de Deus. Neste evangelho é o próprio Senhor quem se dá a conhecer a Maria, porém agora em uma nova relação com seus discípulos. Nunca antes ele os havia chamado de “meus irmãos”. Essa nova relação ele já havia previsto quando mostrou que estaria rompendo até mesmo com seus vínculos de parentesco natural: “Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe” (Mt 12:48-50).
Acredito que o que Jesus quis impedir foi que Maria Madalena pensasse estar ainda no mesmo tipo de relacionamento que os discípulos haviam tido com Jesus antes de sua morte, quando o tocavam naquela condição. “…o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (1 Jo 1:1). O relacionamento que os discípulos haviam tido com Jesus até então tinha sido “segundo a carne”, mas a partir daquele momento eles teriam um novo tipo de relacionamento com um Jesus ressuscitado e glorificado nos céus.
(2 Co 5:16) “Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo”.
Agora, como ressuscitado, ele seria cabeça de uma nova criação (na primeira criação Adão havia sido cabeça e falhou). Os discípulos estariam a partir deste momento em um relacionamento espiritual e celestial com o Filho de Deus, ainda que mantendo uma certa distinção. Ele diz: “meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”. Repare que ele não diz “…nosso Pai”, mas “meu Pai e vosso Pai”. A filiação da qual Jesus desfruta é singular, pois ele é o Filho Eterno de Deus, e nós não. Fomos feitos filhos em algum momento no tempo e não temos a natureza divina como Jesus a tem, a qual é eternamente uma característica intrínseca de sua Pessoa divina.
Se Maria Madalena podia antes se relacionar com Jesus na terra e na sua condição de Filho do Homem caminhando aqui à semelhança de suas criaturas (mas sem pecado), e desfrutar de sua companhia terrena, agora ela precisaria aprender que iria se relacionar com um Homem na glória, na própria presença do Pai. Se as esperanças e bênçãos que enchiam o coração dela tinham sido, até ali, terrenas como eram todas a bênçãos e esperanças de uma israelita, a partir de então elas passariam a ser celestiais, como são as bênçãos e esperanças do cristão (mas não do remanescente judeu que irá se converter depois do arrebatamento da igreja para habitar no reino milenial). Daí a expressão “não me toques” ou “não me detenhas”. Talvez ele estivesse querendo dizer: “Não me toques, ao menos da mesma maneira como você me conhecia antes de minha morte, ressurreição e ascensão aos céus para ser glorificado à destra da Majestade nas alturas”.
(Jo 20:15-17) “Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer, Mestre). Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”.
*
Fui eleito por Deus saber que eu iria crer?
Sua dúvida é se Deus teria elegido (ou predestinado) os salvos com base na sua presciência. Ou seja, por Deus saber de antemão aqueles que um dia iriam crer em Jesus, decidiu elegê-los e predestiná-los para a salvação. Por mais inacreditável que possa parecer, esta é a ideia que a grande maioria de cristãos, católicos e protestantes, têm a respeito da eleição.
Isto seria mais ou menos como dizer que o presidente foi eleito porque os que votaram nele sabiam que ele seria presidente porque ele, de sua própria e espontânea vontade, assumiria o cargo no palácio presidencial. O problema com tal ideia é que foi a escolha ou eleição dos eleitores que deu àquele presidente o cargo, e não foi a decisão que ele tomou de ser presidente que lhe assegurou isso. Numa democracia o povo elege o presidente por vontade soberana do povo, ou não é uma eleição. A única expressão de vontade do candidato a presidente está em se candidatar ao cargo.
A coisa fica ainda mais absurda se imaginássemos alguém que nem mesmo fosse candidato, mas fosse totalmente avesso à ideia de ocupar tal cargo e quisesse manter distância dele a qualquer custo.
A questão é que os que foram salvos não queriam ser salvos e jamais teriam feito tal escolha. Aqueles que acreditam na teoria da mera presciência (e não da eleição ou predestinação divina) alegam que se Deus tivesse escolhido de antemão os que seriam salvos isso iria contra o livre arbítrio do ser humano.
Bem, o homem pode ter livre arbítrio quando se trata de escolher entre comer pão com ou sem manteiga, mas quando a escolha fosse entre ter a Deus ou não ter a Deus, o que ele escolheria? “Não queremos que este reine sobre nós!” (Lc 19:14). Se Deus dissesse “Quem ME quer, levante a mão” será que veríamos alguma mão levantada na classe humana? Os versículos abaixo respondem:
(Rm 3:10-12) “Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só”.
(Jr 13:23) “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal”.
Se eu entender que de mim mesmo não tenho capacidade ou vontade de buscar a Deus, só me resta esperar que Deus me salve por graça, não por escolha minha, mas por ELE QUERER ME SALVAR. E ele certamente quis me buscar e salvar [1], e foi por isso que me escolheu quando eu nem existia [2], e isso não foi por ele saber que eu viria a crer em Jesus, pois a presciência de Deus é boa o suficiente para também saber que antes de eu crer em Jesus, ele fez com que a Palavra chegasse a mim [3], o Espírito Santo operasse em mim o novo nascimento [4] me dando vida para poder sentir o peso de meu pecado [5], e me dando fé [6] para crer em Cristo como meu Salvador. E, afinal de contas, sua presciência também apontaria que ele me escolheu antes da fundação do mundo [7].
[1] (Lc 19:10) “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”.
[2] (Ef 1:4) “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo”.
[3] (1 Pe 1:23) “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus,”.
(Ef 5:26) “Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra”.
[4] (Jo 3:5) “Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água [Palavra de Deus] e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”.
[5] (Jo 16:8) “E, quando ele [Espírito Santo] vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo”.
[6] (Ef 2:8) “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”.
(Fp 1:29) “Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele”.
(Rm 12:3) “Conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um”.
(1 Co 4:7) “E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?”.
[7] (Jo 15:16) “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós,”.
A ideia de que poderia existir algo de bom em nós que nos levasse a fazer a escolha correta entra em conflito com a completa perdição do homem pecador. Tal ideia dá margem a pensar que exista algum bem no ser humano; que não ficou tão arruinado assim. O melhor capítulo para esclarecer este assunto é Romanos 9. Ali Paulo deixa muito claro que a eleição é um ato soberano de Deus, e isso serviu tanto para os patriarcas, como para Israel e agora para a Igreja.
Os versículos abaixo são suficientes para aquele que reconhece a enormidade de seu próprio pecado e tem a certeza de que se não fosse por intervenção divina jamais teria crido em Jesus.
(Rm 9:11) “Porque, não tendo eles [Jacó e Esaú] ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos pois? Que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece”.
(Jo 6:37-44) “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora… E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia … Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”.
(Ef 1:3-11) “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual… também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, Para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no amado, Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça,… Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade;”.
(Rm 8:28-31) “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que…”.
1. PREDESTINOU a estes também…
2. CHAMOU; e aos que chamou a estes também…
3. JUSTIFICOU; e aos que justificou a estes também…
4. GLORIFICOU. Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
*
O que acha do universalismo?
O universalismo vai contra o ensino das Escrituras e é claramente uma doutrina demoníaca, apesar de hoje ser aceito em muitos círculos da cristandade. O que o universalismo afirma é que no final todos serão salvos pela misericórdia e graça de Deus e que essa salvação não estaria limitada a uma decisão tomada nesta vida, mas também no pós vida ou simplesmente baseada na misericórdia divina. Nós, brasileiros, temos uma expressão na política que explica de forma magnífica o universalismo melhor que muitos teólogos e enciclopédias cristãs são capazes de fazer: “Universalismo quer dizer que no final vai tudo acabar em pizza”.
Os que professam o universalismo estão espalhados pelas faculdades de teologia ensinando suas doutrinas, como William Barclay, que traz o pomposo título de “Professor de Divindade e Crítica Bíblica” da Universidade de Glasgow. Ele é autor de vários livros e comentários bíblicos, de uma tradução do Novo Testamento e de uma série de estudos bíblicos. Este homem é apenas mais um exemplar das “aves” ou agentes de Satanás que o Senhor alertou que iriam fazer seus ninhos na grande árvore em que se tornou o aspecto exterior do Reino tipificado pelo pé de mostarda da parábola, ou cujo fermento viria a fermentar toda a massa dando a ela um crescimento artificial e inclusivo a toda espécie de erro.
O universalismo também permeia publicações consideradas inofensivas por serem “ficção cristã”, ou “romance cristão”, ou “alegoria cristã”, etc. Um exemplo expressivo é o livro “A Cabana”, escrito por dois universalistas que polvilham suas doutrinas de forma homeopática e suas páginas. Aqui vale a frase: “Veneno de rato é 99% milho e 1% estricnina”. Mesmo assim mata.
Ao invés de ensinar aqui o que o Universalismo acredita prefiro apenas comentar o real sentido de uma das passagens que essa doutrina usa na tentativa de fundamentar sua tese de que todos serão salvos no final, independente de crerem ou não no Salvador. Uma passagem largamente usada é esta:
(Jo 12:32) “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim”.
Esta passagem não tem nada a ver com uma salvação universal no final. Para entender o versículo é preciso ver em que contexto ele foi dito, o que fica claro na passagem abaixo:
(Jo 12:19-21) “Disseram, pois, os fariseus entre si: Vedes que nada aproveitais? Eis que toda a gente vai após ele. Ora, havia alguns gregos, entre os que tinham subido a adorar no dia da festa. Estes, pois, dirigiram-se a Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus”.
Jesus está falando da universalidade de sua vinda e de sua morte na cruz? Sim. Jesus está falando de todos serem salvos no final por sua vinda e obra serem universais? Não. Os judeus se achavam orgulhosamente numa posição de superioridade e exclusividade por terem sido os guardiões dos oráculos de Deus, e por isso desprezavam outros povos e também os menos letrados. Quando alguns gregos (aqui podem ser gentios convertidos ao judaísmo ou mesmo judeus estrangeiros) revelam seu desejo de ver a Jesus, o Senhor aponta para a universalidade de sua obra, cujas consequências diriam respeito a todos, para salvação e para juízo.
No versículo 32 ele fala especificamente do modo como viria a morrer e é a terceira menção que ele faz de ser levantado. A primeira em João 8:28 (“Quando levantardes o Filho do Homem então conhecereis quem eu sou”) referindo-se ao caráter sacrificial e sacerdotal da cruz; a segunda em João 3:14 (“E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado”) que mostra suas credenciais como enviado de Deus (assim como Moisés), o que é confirmado por João 8:26-28 (“Quando levantardes o Filho do Homem então conhecereis que EU SOU”), e finalmente nesta passagem de João 12:32-33, em que ele é visto em seu caráter de Juiz, Rei e Senhor de todos (“E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim”).
O versículo em João 12:32 não fala de salvação, mas da amplitude de seu poder e autoridade que decorrem da cruz, o que obviamente inclui todos os seres. Fala também (e principalmente) da amplitude de seu juízo, pois a cruz significa também o juízo deste mundo, quando Deus colocou um fim no homem em seu estado natural. A menos que alguém venha a nascer de novo, ou seja, ter nova vida e ser assim participante da nova criação, não há salvação para tal pessoa.
Ao ser levantado na cruz pelas mãos da humanidade como um todo (todos estavam representados na cena da crucificação) isso fez com que todos se encontrassem culpados de sua rejeição e morte. O versículo 31 confirma este caráter: “Agora é o juízo deste mundo”. Isto quer dizer que o mundo a partir da cruz não estaria mais sendo provado, testado ou experimentado como fora nos séculos anteriores, mas estaria agora sob uma sentença de juízo. O mundo foi achado culpado da morte do Filho de Deus e sua morte dá a Jesus o direito de atrair todos a si para que recebam o justo juízo. Devemos nos lembrar de que “como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação” (Hb 9:27-28).
Esta passagem é clara ao indicar o que espera o homem após a morte: juízo, a menos que ele tenha sido livrado do juízo pela fé em Cristo Jesus, o que é mostrado em João 5:24: “Quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em juízo, mas passou da morte para a vida”. A classe dos salvos aparece no versículo 28 da passagem de Hebreus 9, como os “muitos” (não todos) cujos pecados foram levados por Jesus na cruz. Ele morreu por todos, mas levou apenas os pecados de “muitos”, os que o esperam, não para juízo, mas para salvação.
Outras passagens usadas pelos universalistas na tentativa de darem fundamento às suas ideias são Romanos 11:32, 1 Coríntios 15:22, 1 Coríntios 15:28, 1 Timóteo 2:4-6, as quais comentarei oportunamente.
Mas boa parte da doutrina universalista não é fundamentada na Bíblia (e nem poderia ser), mas em raciocínios piegas que seriam motivo de riso em qualquer corte humana, quanto mais diante do Juiz de todos os homens. Um dos argumentos costuma apelar para a tradução de certas palavras gregas para tentar dizer que “eterno” não significa para sempre. Outro tenta mostrar que uma punição eterna iria contra a graça e a bondade de Deus, as quais no final acabariam por “vencer” ao salvar a todos os homens. Existe ainda um argumento que é o mais piegas de todos, e William Barclay o expressa assim em um de seus livros:
“Deus não é apenas Rei e Juiz, mas Deus é Pai, ele é certamente muito mais Pai do que qualquer outra coisa. Nenhum pai viveria feliz enquanto existissem membros de sua família sofrendo eternamente. Nenhum pai consideraria um triunfo excluir os membros desobedientes de sua família. O único triunfo de um pai é saber que toda a sua família está em casa. A única vitória que o amor pode desfrutar está no dia em que sua oferta de amor for correspondida por uma resposta de amor. O único triunfo final possível é que o universo amado por Deus e apaixonado por ele”.
Isso pode ficar muito bonito nesses cartões com frases que encontramos na Internet, mas a pergunta é: quem disse que Deus é Pai de todos os seres humanos? Deus nunca disse isso. Partindo de uma premissa falsa ele constrói seu argumento emocional na tentativa de extrair lágrimas dos olhos dos incautos e fazê-los acreditar que no final tudo acabará em pizza.
O que a Palavra de Deus afirma com todas as letras é que “a todos quantos o receberam [a Jesus], deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu Nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1:12-13). Quem são os filhos de Deus? Aí diz que são os que creem em Jesus. Quem William Barclay diz que são os filhos de Deus? Todos, sem distinção. A quem você dá crédito?
A Palavra de Deus afirma claramente que os filhos de Deus são apenas os que um dia receberam a Jesus e creram nele (o que ocorre em vida, e não após a morte) foi dado por Deus o poder de serem feitos filhos de Deus, os quais são fruto de um novo nascimento ordenado por Deus. Apenas isto já divide a humanidade em duas classes: os filhos de Deus e os que são meras criaturas de Deus. Se você ainda não creu em Jesus como seu Salvador e Senhor, é melhor fazer isto imediatamente. Não queira pagar para ver quem está com a razão, os universalistas ou a Palavra de Deus. Esta é a que prevalecerá no final.
(Jo 12:48) “Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa [palavra] o há de julgar no último dia”.
(At 17:31) “Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos”.
(Mc 9:43) “E, se a tua mão te escandalizar, corta-a: melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga”.
Por que existiria um fogo que nunca se apaga se não existisse uma condenação eterna?
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Para ser salvo preciso dar tudo aos pobres?
Depois de entender que o Reino de Deus e a vida eterna são coisas distintas, você ficou em dúvida na passagem de Marcos 10:17, onde o jovem rico pergunta sobre vida eterna e Jesus, depois de responder ao jovem que prefere não segui-lo, comenta como é difícil um rico entrar no Reino de Deus.
(Mc 10:17) “E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e tua mãe. Então, ele respondeu: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude. E Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me. Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades. Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!”.
Quando o jovem pergunta a Jesus o que precisa fazer para receber a vida eterna, é importante entender que ele não está falando da mesma vida eterna que hoje o crente em Cristo possui. As esperanças de um judeu estavam conectadas à vida neste mundo e era o que a Lei prometia. Se um judeu guardasse a lei ele teria saúde, prosperidade e vida longa, além de contar com o favor de Deus no fim de seus dias aqui.
Portanto, a noção de “vida eterna” para um judeu era diferente da que é ensinada para o cristão. As promessas de vida no Antigo Testamento tinham o significado de uma vida que não termina, mas não é o mesmo que temos em Cristo: a própria vida que vem de Deus, que não tem começo e nem fim. A perspectiva de vida eterna para um judeu era viver para sempre no reino terrenal de Cristo, comendo e bebendo com fartura, para o que ele deveria guardar a lei.
(Lv 18:5) “Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, observando-os o homem, viverá por eles”.
(Sl 22:25-31) “O meu louvor será de ti na grande congregação; pagarei os meus votos perante os que o temem. Os mansos comerão e se fartarão; louvarão ao Senhor os que o buscam; o vosso coração viverá eternamente. Todos os limites da terra se lembrarão, e se converterão ao Senhor; e todas as famílias das nações adorarão perante a tua face. Porque o reino é do Senhor, e ele domina entre as nações…. Uma semente [descendência] o servirá; será declarada ao Senhor a cada geração. Chegarão e anunciarão a sua justiça ao povo que nascer, porquanto ele o fez”.
Quando vamos à doutrina que é dada à igreja, vemos uma noção totalmente diferente de vida, que não tem nada a ver com a vida na terra. A vida eterna está em Cristo, não em algo que façamos em obediência a Deus, e não tem nada a ver com vida perene aqui como era prometido aos israelitas. Para o cristão a vida eterna é agora uma possessão, porém no sentido de uma esperança ou certeza, mas é na ressurreição que efetivamente deverá desfrutar dessa vida.
(Jo 17:1-3) “Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti, assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.
(1 Jo 5:11-13-20) “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus. Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna”.
Ainda que a promessa dada aos judeus fosse de que aqueles que guardassem a Lei viveriam, é importante entender que ninguém era capaz de guardar a Lei, porque ela tinha sido dada para que o pecado tomasse vulto aos olhos dos homens e de Deus. A Lei é a placa de contramão; ela não coloca você na direção certa, apenas aponta que você está na direção errada e será multado por isso. O que Jesus faz aqui é testar o coração desse homem, que achava estar cumprindo a Lei. Da lista de mandamentos que o Senhor menciona o jovem diz ter cumprido todos.
(Mc 10:19-20) “Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe. Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade”.
Destes mandamentos, cinco são negativos (“Não farás isso e aquilo…”) e um é positivo (“Honra a teu pai e a tua mãe”). Então o Senhor coloca outro mandamento positivo, um que exigia ação do jovem e que, segundo aprendemos de outras passagens, resumia todos os mandamentos da Lei:
“E um deles, doutor da lei, interrogou-o para o experimentar, dizendo: Mestre, qual é o grande mandamento na lei? E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”. (Mt 22:35-40).
Como saber se aquele jovem rico amava realmente o próximo como a si mesmo? Provando-o para ver se ele seria capaz de abrir mão exatamente daquilo que era mais importante para ele (e Jesus sabia o que era, pois conhece bem nosso coração).
(Mc 10:21-23) “E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me. Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades. Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!”.
Jesus não estava com isso mostrando que a salvação só se obtém abrindo mão de todas as posses terrenas, mas sim que é impossível que alguém cumpra todos os mandamentos e preceitos da Lei de Deus. Apenas quando alguém reconhece isso é que irá crer em Jesus, ciente de que em si mesmo não encontra justiça necessária para ser justificado por Deus. A salvação é pela fé, e não pelo que fazemos ou deixamos de fazer. Mas se alguém ama mais a sua vida ou os seus bens do que a Deus, certamente o Senhor irá trabalhar nesse coração, pois qualquer coisa que coloquemos acima de Deus é idolatria.
*
Devo parar de trabalhar?
Sua dúvida é se um cristão não pode ter uma ocupação ou trabalho secular, devendo dedicar-se única e exclusivamente ao evangelho. A dúvida surgiu depois que você leu o versículo em 2 Timóteo 2:4, que diz: “Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou”. A resposta imediata é “NÃO”, você não deve deixar de trabalhar, pois a mesma Bíblia ensina que devemos trabalhar, e a passagem abaixo escrita pelo mesmo apóstolo Paulo mostra isto:
(2 Ts 3:7-12) “Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós, nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes. Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão”.
Há cristãos que se ocupam exclusivamente da obra do evangelho porque Deus assim os sustenta para este fim. Eles esperam em Deus sem pedir dinheiro a ninguém, e mesmo assim Deus os sustenta. Outros, como Paulo, gastam parte do seu tempo com um trabalho secular e parte com a obra de Deus, pois Deus provê o suficiente para seu sustento. Hoje surgiu uma terceira classe, a dos “religiosos profissionais”, aqueles que descobrem que “abrir uma igreja” se tornou um bom negócio e fazem isso com espírito mercenário. Aí passam a obrigar seus seguidores a custear um estilo de vida que geralmente é muito mais caro do que o dos próprios membros de sua congregação, que trabalham duro para pagar os caprichos do “pastor” ou da “pastora”.
O negócio “igreja” acabou sendo tão lucrativo que hoje existe uma alcateia imensa dos que “entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré” (Jd 1:11). O “caminho e Caim” é trilhado por aqueles que pregam que a salvação depende de algo que você faça, de suas contribuições em tempo e dinheiro para a “igreja”. O “engano do prêmio de Balaão” é a ganância dos que não tem escrúpulos em causar dano àqueles que são do Senhor se isto lhes trouxer algum lucro. Balaão havia sido contratado cinco vezes por Balaque para amaldiçoar Israel, e estava bem disposto a fazer isso pelo dinheiro. Porém, na hora, Deus mudou a maldição em bênção para Israel e juízo para Balaão e seu contratante. Os que “pereceram na contradição de Coré” são os que usurpam para si uma posição que Deus não lhes outorgou. Foi o que fez Coré, questionando a liderança de Moisés e Arão e com isso angariou seguidores.
Mas, voltando à sua dúvida, talvez outra tradução esclareça que a questão está, não no trabalho secular, mas em ser enrolado ou embaraçado por ele. Veja como está na versão Almeida Corrigida: “Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra”. Ou seja, a prioridade do soldado deve ser aquele que o alistou para a guerra.
No caso do cristão, ele foi “alistado” por Cristo para o “bom combate”, e isto envolve todos os aspectos da carreira cristã, como o amor e o cuidado que deve ter à família, aos amigos e também a diligência com que deve cumprir suas responsabilidades profissionais. Um soldado que se comporte de maneira irresponsável irá prejudicar a imagem de sua pátria que o alistou. Um cristão pouco dedicado fará o mesmo com Cristo.
Encontramos entre os primeiros cristãos muitos que tinham um trabalho secular e ao mesmo tempo estavam empenhados na obra do evangelho. Paulo era um deles, pois sua profissão era fabricar tendas. Mas veja que o exemplo do soldado é apenas o primeiro que Paulo usa, pois é seguido pelo exemplo do esportista e do lavrador. O soldado está sempre pronto a cumprir ordens, e mesmo quando cuida de seus afazeres familiares ou profissionais, basta uma convocação para ele correr defender sua pátria. No Brasil todos os disponíveis para o combate, mesmo quando não estão mais servindo as forças armadas, são considerados na reserva.
O exemplo seguinte é o do atleta. Assim como o cristão deve estar sempre alerta para servir, como faz o soldado, não se deixando embaraçar pelas coisas desta vida, o atleta tem no alvo a sua completa atenção. Você nunca viu um corredor nas Olimpíadas olhando para o lado e ocupado com a plateia. Ele olha adiante, para a linha de chegada. No caso do atleta, o ensino para o cristão é que deve competir de acordo com as regras. Sendo assim, de nada adianta empenharmos nossos esforços naquilo que a Palavra de Deus, a nossa “regra”, não ensina. Aqueles que estão empenhados em algum trabalho “religioso” que não tenha respaldo bíblico estão perdendo tempo.
Finalmente é dado o exemplo do lavrador, no sentido de ser o primeiro a gozar dos frutos de seu trabalho. Mas ninguém se engane: o trabalho mais cansativo e que exige maior paciência é trabalhar na lavoura de manhã à noite. O envolvimento com as coisas de Deus exige diligência como de um soldado, foco e conhecimento das regras como de um atleta, e trabalho duro, paciência e persistência como de um lavrador.
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Por que os pastores não entendem estas coisas?
Após ter lido o livro “A ordem de Deus” você diz ter sido esclarecido sobre muitos pontos relativos ao corpo de Cristo e se diz perplexo por estas verdades não serem compreendidas pelos pastores. O raciocínio lógico seria acreditar que por eles fazerem cursos de teologia deveriam estar cientes dessas coisas.
Cursos e faculdades de teologia são invenções humanas, e basta ver um dos títulos que elas outorgam para entender isso: “Doutor em Divindade”. Alguém em sã consciência poderia aceitar um título assim, considerando-se um perfeito entendedor da Divindade?
(1 Co 8:2) “E, se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber”.
Considerando que essas faculdades criam uma casta de homens considerados superiores em conhecimento aos cristãos comuns, isto acaba também entrando em conflito com passagens como:
(Mt 11:25) “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”.
(1 Co 2:4-5) “A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus”.
(1 Co 2:13-15) “As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido”.
Fica evidente que existe um abismo entre o “sistema de ensino” da sabedoria humana e o aprendizado das coisas de Deus, o qual só pode ocorrer mediante o Espírito Santo. Portanto, não é estudando arqueologia, história, antropologia ou línguas antigas que alguém chega ao conhecimento da verdade, mas pela aplicação, pelo Espírito, da Palavra de Deus no coração do crente.
Os evangelhos estão cheios de exemplos de pessoas incultas que reconheceram em Jesus o Messias prometido pelos profetas, enquanto os doutores da Lei e até mesmo os discípulos em algumas ocasiões não enxergavam isso. É instrutivo o capítulo 18 de Lucas, onde temos alguns contrastes evidentes entre aqueles que estão humanamente capacitados e aqueles que são capacitados pelo Espírito Santo.
Em Lucas 18:9-14 temos um fariseu cheio de si e de práticas religiosas, e um publicano humilhado diante de Deus. Qual conhecia melhor a Deus? Na sequência (Lucas 18:15-25) há um jovem rico e versado na Lei cuja bagagem de conhecimento e obediência aos mandamentos é colocada em contraste com os meninos dos quais Jesus diz ser o Reino. O que poderia saber uma criança quando comparada a um ilustre príncipe dos judeus?
Então vemos em Lucas 18:31-43 os discípulos perplexos com as afirmações de Jesus de que deveria ir a Jerusalém para ser morto e um pobre cego que, mendigando, nem precisou de seus olhos naturais para reconhecer que estava diante do Filho de Davi, título que dava a Jesus a ascendência real e o devido reconhecimento de ser ele o escolhido de Deus para o trono. Antes que ele tivesse sua visão natural curada, seus olhos da fé já tinham visto o que olhos de carne não podem ver.
As escolas e faculdades de teologia podem ter tido uma origem bem intencionada, mas não vejo na Palavra de Deus fundamento para elas. O objetivo do cristão é conhecer a Cristo, não esta ou aquela doutrina ou arqueologia, antropologia, línguas antigas, etc. Se alguém quiser aprender estas coisas, que frequente uma escola secular e aprenda, e se for cristão use esse conhecimento humano para a glória de Deus, como faz com o dinheiro, a profissão, os talentos naturais, etc.
Não devemos nos esquecer de que as faculdades de teologia vêm de séculos e já existiam muito antes da reforma protestante. Aliás, no catolicismo elas eram até mais coerentes, pois tinham o objetivo de resguardar as doutrinas católicas, mesmo as equivocadas, e não fazer como as modernas escolas teológicas, que apresentam aos seus estudantes um cardápio do tipo “alguns creem em A, outros creem em B e outros em C”, como se a verdade fosse uma questão de escolha do homem.
Alguém poderia alegar que 2 Timóteo 2:2 serve de aval para a fundação dessas escolas: “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros”. Este é realmente o papel de todo aquele que aprende da Palavra de Deus: ensinar a outros. Mas onde isto é feito de acordo com a Palavra de Deus? Posso encontrar algumas situações:
Nas reuniões da igreja, onde o ensino não é de um para muitos como no modelo denominacional católico ou protestante, mas de muitos para muitos:
(1 Co 14:31) “Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados”.
No lar:
(1 Co 14:35) “E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos”.
(2 Tm 3:14-15) “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus”.
(Tt 2:3-5) “As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem; Para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, A serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada”.
Em cartas e livros:
(2 Ts 2:15) “Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa”.
(Cl 4:16) “E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodiceia lede-a vós também”.
(1 Ts 5:27) “Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os santos irmãos”.
(1 Jo 5:13) “Estas coisas vos escrevi a vós, os que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna, e para que creiais no nome do Filho de Deus”.
(2 Tm 4:13) “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos”.
No ministério daqueles que têm o dom (não o diploma) de ensinar:
(At 11:25-26) “E partiu Barnabé para Tarso, a buscar Saulo; e, achando-o, o conduziu para Antioquia. E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos”.
Alguém poderia alegar que este último exemplo é perfeito para indicar a validade das faculdades teológicas. Será? O que vemos neste e em outros casos são homens usados por Deus no exercício de seus dons, e Paulo era um caso singular, e não diplomados em escolas teológicas ministrando a alunos das mesmas escolas. É muito simples ver o absurdo disso: como alguém poderia considerar-se “diplomado” no conhecimento de Cristo? E como avaliar o aprendizado da Palavra de Deus usando métodos humanos de ensino, como provas escritas, notas, disciplinas, etc.? É o conhecimento de Cristo que devemos buscar na Palavra, não de disciplinas como história ou geografia.
Maria assentada aos pés de Jesus encontrou a melhor parte sem frequentar nenhuma faculdade de teologia.
(Lc 10:39-42) “E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude. E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”.
Pedro e João foram reconhecidos como detentores de um conhecimento que não vinha deles por terem estado com Jesus:
(At 4:13) “Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus”.
Mas vamos à sua dúvida que é sobre a razão de os pastores não entenderem estas coisas que você aprendeu no livro “A ordem de Deus”. A dificuldade de um pastor compreender é grande, porque a primeira coisa que ele precisaria fazer, se entendesse, seria abandonar sua posição, já que ela não existe nas Escrituras. Existe o dom de pastor e existe o ofício de presbítero, mas no primeiro caso trata-se de um dom dado pelo Senhor, não por uma junta de homens com poderes para ordená-lo, e não se trata de alguém que fique à frente de uma congregação, mas de um que tem um coração de cuidado para com as ovelhas.
Além disso, os dons, como o de pastor, evangelista e mestre, não eram locais, mas universais. Ou seja, um pastor não era aquele responsável por uma congregação local, mas alguém ocupado com as ovelhas de Cristo onde quer que elas estivessem. Quanto aos presbíteros, eram sempre mais de um e divididos por cidades, não por denominações. Se quiser entender melhor isto sugiro que volte a ler os capítulos do próprio livro que leu onde é explicado o lugar de cada dom (como evangelistas, pastores e mestres) e de cada ofício (como presbíteros, bispos ou anciãos, que são tratados como sinônimos).
Como pode ver, está tudo errado no que os homens instituíram, e ao ler “A Ordem de Deus” isso salta aos olhos. Evidentemente, um clérigo, seja ele pastor, padre, presbítero ou qualquer título inventado pelos homens, ficará relutante em adotar a ordem bíblica pois isso significa em muitos casos “perder o emprego” e todas as regalias que o cargo traz, como o ser tratado como “o mais igual entre os iguais” (ouvi dizer que esta era uma expressão usada em monastérios católicos para designar o monge superior, por não poderem considerar ninguém superior de fato entre eles).
Visitei o site que indicou (Mary Schultze), mas ela adota a posição de muitos cristãos (inclusive pastores) que é a crítica ao sistema e a permanência nele. Muitos fazem assim, se esquecendo da importância que Deus dá ao apartar-se do erro. Alguns pastores chegam a apartar-se, mas apenas para iniciar uma nova denominação ou até uma igreja sem denominação, da qual acabam sendo “o mais igual entre os iguais”.
Se tiver facilidade com o inglês sugiro este ótimo texto de C. H. Mackintosh: One-sided Theology, do qual seleciono uma parte que diz:
“Ele [Deus], bendito seja o seu Nome, não se prendeu aos estreitos limites de alguma escola de doutrina, seja ela alta [calvinista], baixa [arminiana] ou moderada. Deus se revelou. Ele expôs os profundos e preciosos segredos de seu coração. Ele descortinou seus conselhos eternos relativos à Igreja, a Israel, aos gentios e à criação como um todo. Os homens podem tentar confinar o oceano em baldes que eles próprios criaram, do mesmo modo como tentam confinar o vasto espectro da revelação divina dentro dos frágeis recipientes dos sistemas humanos de doutrina. É impossível fazê-lo e jamais deveria ser tentado. O melhor é deixar de lado os sistemas e escolas de divindade e aproximar-se como uma criança da eterna fonte das Sagradas Escrituras, e ali beber dos ensinos vivos do Espírito de Deus”.
“Nada é mais prejudicial à verdade de Deus, mais estéril para a alma, ou mais subversivo para qualquer crescimento e progresso espiritual do que a mera teologia, seja ela alta ou baixa, calvinista ou arminiana. É impossível que alguém progrida além dos limites do sistema ao qual está ligado. Se sou instruído nos ‘cinco pontos’ como ‘a fé dos eleitos de Deus’, não poderei sequer pensar em buscar algo além disso, desaparecendo assim de meu campo de visão o mais glorioso campo de verdade celestial. Fico atrofiado, estreito, parcial; e corro o riso de cair naquele estado de espírito estéril e pedregoso que acaba me deixando ocupado com meros pontos doutrinários ao invés de ocupar-me com Cristo. Um discípulo da alta escola [calvinista] de doutrina não ouvirá falar de um evangelho anunciado a todo o mundo, do amor de Deus para o mundo, das boas novas para cada criatura sob os céus. Tudo o que possui é um evangelho para os eleitos. Por outro lado, um discípulo da baixa escola, ou arminiana, não escutará da segurança eterna do povo de Deus. Sua salvação dependerá em parte de Cristo e em parte de si mesmo. De acordo com esse sistema doutrinário, a canção dos redimidos deveria ser alterada. Ao invés de ‘Digno é o Cordeiro’ seríamos obrigados a acrescentar ‘…e digno somos nós’. Podemos estar salvos hoje, porém perdidos amanhã. Tudo isso desonra a Deus e priva o cristão de qualquer paz verdadeira”.
“Não escrevemos com a intenção de ofender o leitor, longe de nós tal pensamento. Não estamos falando de pessoas, mas de escolas de doutrina e sistemas de divindade, os quais gostaríamos sinceramente de exortar nossos amados santos a abandonarem de uma vez para sempre. Nenhum deles contém a completa verdade de Deus. Existem certos elementos de verdade em todos eles, mas a verdade geralmente está neutralizada pelo erro, e mesmo que encontrássemos um sistema que não apresentasse nada além da verdade, ainda assim ele não conteria toda a verdade. O efeito desses sistemas sobre a alma é o mais pernicioso possível, pois levam as pessoas a se gabarem de possuírem a verdade de Deus, quando na verdade possuem apenas um sistema humano parcial”.
“Volto a dizer que raramente encontramos um discípulo sequer de qualquer escola de doutrina que possa encarar as Escrituras como um todo. Ele irá citar passagens favoritas de modo contínuo e reiterado, mas descartará como inadequada uma grande parte das Escrituras”. (C. H. Mackintosh – 1820-1896).
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O que você acha do testemunho desta ex-artista?
Assisti o vídeo que você enviou apenas até a metade, portanto talvez minhas conclusões possam estar equivocadas e você poderá confirmar ou não. O mundo religioso gosta muito de testemunhos, e eles podem ajudar a converter pessoas, mas é preciso sempre ficar atento e discernir se o testemunho está sendo para exaltar a Cristo ou a pessoa que dá o testemunho.
Mesmo assim, embora encontre testemunhos de conversão sendo contados pelo próprio protagonista, como Paulo faz algumas vezes em Atos, não vejo que isto fosse o assunto de uma reunião da igreja, onde o foco nunca deve ser colocado na pessoa, mas em Cristo. Outra coisa a ser considerada é se a conversão foi real. Nos EUA (e agora no Brasil) é comum encontrarmos artistas em decadência que se “convertem” e voltam para a mídia, agora atraindo um público fiel de evangélicos ou católicos. Deus conhece os corações, mas alguns logo revelam nunca terem se convertido, mas apenas adotado uma estratégia mercadológica.
Outro ponto importante é ver se o testemunho não serve de alternativa para a carne. Digo isto porque muitos cristãos que evitam filmes e livros de violência e sexo acabam expostos a estas mesmas coisas quando assistem ou leem testemunhos de ex-marginais, ex-garotas de programas, ex-traficantes, etc. Uma vez comecei a ler um livro da conversão de uma ex-prostituta e logo percebi que o livro “evangélico” era, na verdade, uma aula de prostituição. Apenas no último e breve capítulo ela falava de sua conversão. O resto não era muito diferente de um livro escrito por alguma garota de programa, obviamente sem as cenas explícitas. Mas vamos às minhas observações do testemunho do vídeo:
1. Não posso contestar que ela tenha tido uma experiência maravilhosa, pois experiências a gente não contesta, apenas escuta e respeita. O que a gente pode contestar é se a interpretação da experiência é correta ou não de acordo com a Palavra de Deus. As crianças que viram Nossa Senhora de Fátima em Portugal certamente viram algo. Elas interpretaram como sendo Maria (Nossa Senhora), mas eu não creio nessa interpretação. Acredito até que elas tenham visto um anjo maligno, já que o resultado daquela visão foi a conversão de milhões à idolatria.
2. O que eu disse não significa que o que ela viu ou ouviu não tenha sido Jesus, mas tenho certo receio dessas conversões impactantes, pois elas mandam uma mensagem que pode enganar as pessoas. Quero dizer que se alguém não tiver uma visão maravilhosa de Jesus vai achar que não se converteu de verdade. Minha conversão foi impactante pelas “coincidências” que me levaram a Cristo, embora não tenha sentido o chão tremer. Meus filhos se converteram na infância e nem sabem exatamente como foi aquele momento, mas nem por isso se consideram menos convertidos (hoje são adultos).
3. Em nenhum momento ela falou o evangelho (1 Coríntios 15:1-2) que inclui Jesus morrendo por nossos pecados e ressuscitando pela nossa justificação. Ao longo dos anos e em contato com muitos convertidos das mais diferentes maneiras, sempre presto atenção para saber se a pessoa creu realmente no evangelho ou numa experiência. Evangelho sem sangue não é evangelho, mesmo que resulte em mudança de vida. Muita gente tem experiências maravilhosas no budismo, no islamismo, no espiritismo e acabam mudando de vida, mas isso não significa que tenha sido uma conversão a Cristo ou que estejam salvas.
Talvez ela tenha falado do sangue, do perdão dos pecados, da morte de Jesus, da cruz, etc. porque eu não vi até o final.
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Deus não ama pecadores?
Você escreveu que Deus não ama pecadores porque pecadores têm pecado! Se Deus não ama pecadores, quem ele ama afinal? Como Deus poderia ter amado o mundo? Teria ele amado as plantas e os bichos e deixado de lado a humanidade por ser pecadora? Pelo jeito você não faz ideia do que seja o amor divino, o amor que ama o próprio inimigo; o amor que intercede pelos algozes.
(Lc 23:34) “E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
Seu longo e elaborado raciocínio cheira a enxofre; é bem no estilo dos fariseus que tinham repugnância pelos pecadores por se acharem justos e corretos em todo o seu andar. Se Deus não ama pecadores como poderá amar você? Sim, pois se você confessa ter sido salvo por Cristo isto não significa que tenha deixado de ser pecador.
Existe em você ainda a velha natureza cuja especialidade é pecar. E não venha me dizer que você não peca, porque esta já seria uma grande mentira, um grande pecado. E se você ainda é um pecador, como então poderá (segundo seus raciocínios) desfrutar do amor de Deus? Ou será que Deus ama você só quando está dormindo e não corre o risco de dizer uma palavra torpe, agredir alguém ou ter desejos impuros? Aí você estaria com um problema, pois nem com você dormindo Deus poderia amá-lo. Já teve sonhos eróticos?
(1 Jo 1:8) “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós”.
(1 Rs 8:46) “Quando pecarem contra ti (pois não há homem que não peque)”.
Uma boa figura da condição de um servo de Deus é o que acontece com Moisés em seu encontro com Deus. Deus tinha dado a Moisés poder para fazer três sinais na presença de Faraó, para convencer o soberano egípcio. Um era transformar a vara em serpente, outro enfiar a mão no peito por debaixo das vestes e ela sair leprosa, outro transformar a água do Nilo em sangue.
O sinal da mão leprosa Moisés não fez na presença de Faraó, talvez porque aquele sinal fosse muito mais para dar uma lição em Moisés do que em Faraó. Deus estava lhe ensinando que, apesar de todos os privilégios que estava recebendo, ele continuava pecador. O pecado (simbolizado pela lepra) continuava ali em seu peito, latente e pronto para se manifestar. Somos bem assim: não queremos que os outros saibam o que realmente existe em nosso coração.
(Êx 4:6) “E disse-lhe mais o Senhor: Mete agora a mão no peito. E, tirando-a, eis que sua mão estava leprosa, branca como a neve”.
Você talvez estranhe esta minha reação tempestiva, mas ela é perfeitamente cabível diante de tamanha heresia. Eu jamais responderia assim a uma prostituta, um ladrão ou qualquer pessoa que o Senhor certamente trataria bem e receberia em seus braços. Ele ama pecadores. Mas suas ideias merecem a mesma reação que Jesus tinha quando diante de fariseus que justificavam a si mesmos e se achavam melhores do que as pessoas comuns.
(Lc 18:9) “E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros”.
(Mt 9:13) “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento”.
(Mt 23:28-29) “Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos,”.
Imagine um Deus que pede que amemos nossos inimigos sem que ele próprio possa amar os pecadores inimigos dele?! Seríamos então mais capazes do que Deus? Isso é como o espiritismo que ensina que os homens devem perdoar uns aos outros, mas nega que Deus possa perdoar o pecador, para isso Kardec manda seus seguidores reencarnarem. Na concepção espírita Deus é menos capaz que um bom espírita que pode perdoar seus ofensores. Deus não.
Aliás, em seu perfil no Facebook você se diz cristão e lá está cheio de mensagens suas defendendo a “fé reformada”. Porém, em meio a elas você postou um pensamento assinado por “André Luiz” (suposto espírito que falava com Chico Xavier) com um link para “Espiritismo Consolador”. Agora posso entender a salada que deve estar sua mente, uma mistura de protestantismo com a justiça própria que o espiritismo prega.
(Mt 5:44) “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;”.
Voltando ao pedido de Deus para amarmos nossos inimigos, como podemos amar nossos inimigos se não for com o mesmo amor de Deus, já que não existe em nós tal poder ou qualidade?!
(1 Jo 4:19) “Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro”.
(1 Jo 4:12) “Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor”.
(1 Jo 4:16) “E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele”.
Pelo jeito você ainda não entendeu a “dispensação da graça de Deus”. A declaração de Deus é sim genérica e abrangente: Deus ama pecadores. Caso contrário a quem ele amaria se, ao olhar para a criação arruinada, não visse ninguém senão pecadores? Como ele daria o seu Filho para morrer por pecadores se não os amasse? Como ele teria feito provisão para salvar o mundo todo (apesar de sabermos que nem todos serão salvos) se não fosse por um amor tão abrangente que incluísse o mundo inteiro? (1 Jo 2:2) “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”.
Quer saber que “mundo” era esse que Deus amou ao ponto de entregar o seu Filho? Este aqui:
(Rm 3:9-19) “Já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; como está escrito: não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus.
Deus não apenas ama os pecadores, mas o fato de amar pecadores e ter entregue seu Filho para morrer é prova de seu amor para conosco.
(Rm 5:8) “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”.
(Jo 3:16) “Porque Deus amou o mundo [humanidade] de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
(1 Jo 4:19) “Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro”. (Primeiro quando? Obviamente quando ainda estávamos perdidos)
(1 Jo 3:16) “Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós”.
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Como lidar com visitantes?
Situações em que somos visitados por irmãos das denominações podem ser constrangedoras, mas nessas horas, independentemente do modo como agirmos, devemos investigar nosso coração e perguntar: “Estou agindo assim para agradar os irmãos visitantes?” ou “Estou agindo assim para agradar os irmãos com os quais tenho comunhão?”. Podemos errar agindo tanto de um modo como do outro, porque em nenhum dos casos estamos fazendo aquilo para o Senhor, para sua glória. “E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai… E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens” (Cl 3:17-23).
De qualquer maneira, eu sei que as visitas de irmãos denominacionais em nossa casa, quando estamos apartados dos sistemas religiosos, podem ser realmente constrangedoras, e hoje é mais provável acontecer esse constrangimento com a visita de crentes do que de incrédulos. Quando temos visitas de incrédulos e explicamos a eles o costume da família, de ler a Bíblia ou orar ou cantar hinos, eles educadamente aceitam e ficam calados.
Mas quando são cristãos, e principalmente pentecostais, alguns não respeitam o modo como agimos e acabam querendo impor seus costumes, que geralmente são escandalosos (mudança no tom da voz, gritos exagerados de “aleluias”, uso de jargões que não têm respaldo bíblico, “profetadas” do tipo “O Espírito está me revelando blábláblá….”, etc.).
No dia em que minha mãe faleceu, ela já nem respondia mais a estímulos e sua vida estava visivelmente se esvaindo. Eu e minhas irmãs estávamos no quarto dela aguardando sua partida para o Senhor e combinamos de não chorarmos ou fazermos espetáculo naqueles últimos momentos. Sempre nos lembrávamos do que minha mãe contava, de quando a mãe dela (nossa avó) estava morrendo, minha mãe, que na época tinha uns 15 ou 16 anos, estava ao lado da cama “rezando” insistentemente em voz alta. Então, para surpresa de todos, minha avó abriu os olhos e disse: “Ruth, pare de rezar. Você não está deixando eu partir em paz”. Nunca sabemos o quanto uma pessoa moribunda está ouvindo e entendendo do que se passa ao redor.
Por isso tínhamos combinado de ficar em silêncio, pois não havia mais nada a fazer e, apesar de aparentemente adormecida pela fraqueza ou pela ação da morfina, ela poderia ainda estar escutando o que se passava no quarto e querer se apegar à vida, só prolongando seu sofrimento. Com mais de setenta anos, seu organismo já estava tomado pelo câncer que passou dos ossos para o pulmão. Seria um ato de misericórdia Deus levá-la para estar com Cristo. Dois dias antes, ainda lúcida, ela tinha até escolhido o vestido com o qual queria ser enterrada e dado as últimas instruções para nós cuidarmos de suas coisas. Minha mãe estava realmente em paz nos momentos em que antecederam seu encontro com o Senhor Jesus.
Aí chegaram alguns “obreiros” da denominação da empregada de minha mãe e queriam entrar no quarto para orarem pela cura dela. Não deixei e expliquei a eles que ela já estava morrendo e era uma questão de minutos (como realmente foi) para que ela entrasse na presença do Senhor. O “líder” deles não gostou nem um pouco e ainda contestou, querendo discutir que nunca era tarde demais, que a oração era poderosa e coisas do tipo.
Logo me lembrei do que uns “obreiros” da mesma denominação haviam feito com meu avô, pai de minha mãe. Depois de ter extraído o estômago, por causa de um câncer, e já moribundo e com tubos entrando em seu abdome, foi levado para casa para morrer. Foi a mesma história: uma empregada trouxe “obreiros” de sua denominação que insistiam que minha avó permitisse que eles levassem meu avô (ou trouxessem uma piscina de montar) para que fosse batizado por imersão, o que minha avó obviamente não permitiu. A respostas daqueles “obreiros” foi que então meu avô estaria perdido eternamente por não ter o “verdadeiro” batismo.
Portanto sempre existe algum constrangimento quando ficamos numa situação quando nos deparamos com cristãos vindos dessa confusão que é hoje a “grande casa” de 2 Timóteo 2, onde há vasos de honra e de desonra. Por isso é preciso que a família esteja bem coesa nesses momentos, principalmente para que o inimigo não acrescente mais um problema: o de criar um conflito também entre marido e mulher, pais e filhos.
Outro ponto que me vem à mente é o fato de nós mesmos reagirmos de forma inadequada diante de situações assim. O marido de minha filha, que é norte-americano, costuma dizer que conseguiu tirar minha filha do Brasil mas não o Brasil de minha filha. Isto porque apesar de ela morar nos EUA, falar fluentemente o inglês e estar totalmente ambientada aos costumes daquele país, em seu coração ainda bate um coração brasileiro e as coisas do Brasil ainda a encantam.
Isto também é verdade com respeito aos que saíram de uma denominação religiosa para congregar somente ao nome do Senhor, sem o sistema, o clero e outras coisas típicas das religiões. Mesmo tendo saído do sistema religioso, nem sempre o sistema religioso sai deles. Então é comum a pessoa trazer à tona costumes religiosos, principalmente em situações de stress. Uma análise rápida e imparcial pode claramente revelar costumes e maneiras de agir que mais lembram os fariseus do que o Senhor misericordioso que conhecemos nos evangelhos.
Vem-me à mente o versículo: (Mt 23:4-5) “Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes”. Pessoas religiosas são bem assim: legalistas (“atam pesados fardos”), sem misericórdia (“nos ombros dos [outros] homens”), hipócritas (“eles, porém, nem com o dedo querem movê-los”), exibicionistas (“fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens”) e gostam de aparentar piedade como alerta Paulo a Timóteo em 2 Tm 3:5 (“pois… alargam as franjas das suas vestes”).
As franjas das vestes eram, na verdade, roupas desfiadas pelo constante caminhar no deserto arrastando a barra das vestes no chão, um sinal de que o povo havia sido tirado por Deus do Egito para ser levado à terra prometida (Nm 15:38-41). A barra desfiada era para lembrá-los de seu caráter de humilhação e dependência de Deus, mas os fariseus faziam o desfiado ficar maior para mostrar que eram mais humildes do que os outros (é parecido com o que fazem alguns muçulmanos hoje, que batem constantemente a testa no chão nas orações para criar uma cicatriz e tornar visível a todos que são homens de oração).
Portanto devemos manter uma vigilância constante de nosso modo de agir para não nos tornarmos fariseus quando na presença de outras pessoas, como se quiséssemos dizer a elas: “Ei, vejam vocês, eu sou diferente! Eu estou congregado fora das denominações!”. Nessas horas o zelo sem entendimento atropela a misericórdia e acabamos apenas criando contendas, tanto com os visitantes como até com nossos irmãos e familiares.
Às vezes o que vem à tona nessas horas é o vocabulário, pois muitos denominacionais adoram chamar os irmãos de “irmão Fulano” ou “irmã Sicrana” na frente de incrédulos como forma de forçar uma distinção, colocando o “irmão” como se fosse um título de classe, tipo “professor” ou “doutor”. Isto não é muito diferente do que fazem monges e freiras, que chamam de irmãos apenas os que pertencem às suas ordens.
Quando lemos o último capítulo da carta aos Romanos vemos que Paulo não usa “irmão” antes de nenhum dos 30 nomes de irmãos que menciona ali. Apenas para Febe ele acrescenta “nossa irmã”. Na sequência, Tércio, que foi quem escreveu o que Paulo ditava, menciona três nomes próprios, mas apenas em um acrescenta “irmão”, no caso de Quarto.
Outro exemplo da adoção de algo até bíblico para criar distinção é o ósculo ou beijo entre irmãos. Algumas denominações usam o “ósculo” como forma de se distinguirem dos demais, mesmo daqueles que creem no Senhor (alguns nem mesmo consideram irmãos os de fora de sua organização religiosa). O ósculo que a Palavra de Deus menciona é “ósculo santo” e não um instrumento de discriminação e farisaísmo. (1 Ts 5:26) “Saudai a TODOS os irmãos com ósculo santo”. Não se trata de uma lei, pois o cristão não vive dentro de um sistema legalista de mandamentos e regras. Também está muito evidente não se tratar de um ato de segregação, pois ali diz “a TODOS os irmãos”.
Outras denominações usam uma saudação característica, como “paz do Senhor” ou “paz de Cristo” para se diferenciarem de outros cristãos, não fazendo a mesma saudação, ou por não os considerarem irmãos de fato ou por acharem que sejam cristãos de uma categoria inferior. Falando a seus discípulos, o Senhor deixou claro: (Mt 23:8) “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos”.
Outras vezes nos deixamos levar por uma forma legalista de agir trazida da religião de onde saímos. A diferença é que simplesmente acabamos adotando leis e regras diferentes daquelas às quais estávamos habituados no sistema religioso, mas não deixam de ser igualmente leis e regras. Por exemplo: a mulher deve cobrir a cabeça quando orar ou profetizar (falar do Senhor)? Sim, porque vemos isto claramente na doutrina dada pelos apóstolos (1 Co 11:1-16). Não é difícil de ser obedecido por qualquer mulher em qualquer situação, pois às vezes até a mão serve como cobertura na hora de dar graças pelo alimento em um restaurante, por exemplo. Mas seria isto uma lei ou mandamento que devesse ser aplicado como se vivêssemos no Antigo Testamento? Certamente não, pois hoje vivemos não mais na lei, mas na graça.
Dou um exemplo: você está de moto numa via movimentada e em alta velocidade e se lembra de que naquele exato momento uma pessoa muito querida está entrando na sala de operações de um hospital para uma cirurgia complicada. Imediatamente vem o desejo de orar por aquela pessoa, bem ali, em sua moto a cem por hora numa estrada movimentada e sem acostamento. Mas o problema é que você é homem e está de capacete, ou seja, com a cabeça coberta, o que a Bíblia diz que não é a maneira apropriada para um homem orar (1 Co 11:4). Você deixa de elevar a Deus o nome daquele enfermo em uma rápida oração em pensamento, ou simplesmente se nega a fazer isso priorizando o fato de estar com a cabeça coberta?
Sim, você pode até parar mais à frente, tirar o capacete e orar, mas o Senhor certamente entenderia sua situação se antes tivesse pedido que guiasse as mãos dos médicos, ainda que tivesse feito isto de capacete a cem por hora numa moto. Lançar aos céus uma oração rápida de cima da moto teria sido um ato de misericórdia. Estacionar quando pudesse para tirar o capacete e orar teria sido “dizimar a hortelã, o endro e o cominho”, parodiando o versículo a seguir:
(Mt 23:23-28) “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas. Condutores cegos! Que coais um mosquito e engolis um camelo.”
(Os 6:6) “Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos”.
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Posso aplicar este versículo em qualquer caso?
É preciso sempre bom senso antes de aplicar um versículo a uma determinada situação. Não é por algo estar na Bíblia que serve para qualquer situação. Sua dúvida está relacionada a uma irmã que não quis cobrir a cabeça por estar na presença de outras irmãs que não agem assim na denominação em que frequentam. Vamos ao versículo que citou: (Rm 16:17-18) “E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples”.
Paulo está falando aqui de hereges, pessoas que deliberadamente promovem divisões entre os irmãos querendo atrair discípulos após si. Este versículo está relacionado com Colossenses 2: “E digo isto, para que ninguém vos engane com palavras persuasivas… Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Cl 2:4-8).
Os que promovem dissensões (ou divisões, facções, heresias) e escândalos (no original tem o sentido de armadilhas) fazem isso (agora lendo Colossenses) “segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”. Isto é, são pessoas legalistas que querem fazer a carne (o homem natural) agir de maneira religiosa. Era este o grande problema que a igreja enfrentava no início por causa dos cristãos judaizantes, aqueles que haviam se convertido e trazido do judaísmo uma série de costumes, os quais queriam impor sobre os irmãos (para esses existe a carta aos Gálatas e aos Hebreus).
Como eu disse, o versículo não poderia ser aplicado a essa irmã, pois ela não estava querendo promover divisões e armadilhas com suaves palavras, filosofias ou tradições. E também fica difícil querer aplicar às irmãs que a visitavam, pois se elas trouxeram algum costume na hora de cantar hinos ou orar foi fruto de ignorância de como ensina a Palavra de Deus. Não podemos esperar que alguém no sistema denominacional (em especial o pentecostal) entenda certas coisas, por estarem carregados dos costumes, doutrinas e jargões de suas denominações.
Alguém poderia alegar que numa situação assim deveríamos agir como fez Paulo com Pedro, resistindo na cara por Pedro querer agir como se fosse judeu na frente dos judeus. Vamos ver a passagem:
(Gl 2:11-14) “E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão. E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?”
Fica claro que a situação é bem diferente, pois ali envolvia uma questão séria. Se Deus estava agora unindo judeus e gentios em um só corpo, querer fazer distinção entre os que faziam parte deste corpo era algo abominável aos olhos de Deus (isto não é diferente do que fazem algumas denominações, que só chamam de irmãos os que fazem parte de seu quadro de membros, ao qual se referem como “irmandade”). Por isso Paulo precisou intervir de forma enérgica para proteger uma doutrina que é fundamental, a de que há um só corpo e nele não existe a parede que dividia judeus e gentios. Mas se ler outra passagem verá que o próprio Paulo dizia procurar fazer-se judeu para agradar os judeus.
(1 Co 9:19-23) “Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele”.
Aqui, porém, ele fala no sentido de alcançar os perdidos e não de seu relacionamento entre irmãos (que era o caso de Pedro). Paulo, por amor dos judeus que ainda estavam perdidos, procurava agir e falar como eles para se aproximar deles em amor. O mesmo fazia para com os gentios, obviamente em todos os casos não desobedecendo à Palavra de Deus. Um bom exemplo disso é quando ele visita o Areópago em Atos 17. Apesar de encontrar centenas de estátuas dos mais diferentes deuses gregos, ele não perdeu seu tempo criticando os falsos deuses, mas foi direto falar do pedestal que não tinha imagem alguma e os gregos dedicavam ao “Deus verdadeiro”. Sua mensagem era sempre positiva.
Mas voltando ao caso de Pedro, ele agiu daquele jeito (adotando hábitos judeus quando na presença de irmãos cristãos judeus) para “fazer média”, como costumamos dizer, com os irmãos judeus. Ele não estava preocupado com a honra e glória de Deus, mas com sua própria imagem. Talvez ele pensasse: “O que esses irmãos judeus irão pensar de mim se me virem comendo com gentios?”. Mas ele poderia também errar de outro modo, fazendo questão de comer com gentios para chocar os judeus visitantes. De uma forma ou de outra ele estava agindo de si e para si. Nada daquilo tinha a ver com o Senhor e a sua glória. Não importa se o modo de agir está certo ou errado, mas sim o motivo de agirmos assim. Veja isto:
(Mt 23:23-28) “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas. Condutores cegos! Que coais um mosquito e engolis um camelo”.
É claro que os fariseus agiam corretamente dando o dízimo da hortelã e outras coisas pequenas, pois o Senhor mesmo afirma que eles deviam fazer estas coisas (é bom lembrar que o contexto é dos Evangelhos, ou seja, de um tempo ainda na Lei mosaica, quando havia um Templo, sacerdotes, dízimos, sacrifícios de animais, etc.). Mas o problema era que eles faziam as coisas tangíveis ou palpáveis e negligenciavam as intangíveis ou menos evidentes, como o juízo, a misericórdia e a fé. Duas vezes em Mateus (9:13 e 12:7) o Senhor cita o profeta Oséias 6:6: “Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos”.
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A mulher deve evitar o véu para não escandalizar?
Sua dúvida é: “Uma mulher que crê no Senhor e entende que deve orar ou profetizar (falar da Palavra) com a cabeça coberta como ensina 1 Coríntios 11, poderia deixar de fazer isso para não escandalizar outras mulheres que não entendem da mesma maneira?”
Fiquei preocupado de não ter compreendido sua dúvida da outra vez e acabei escrevendo um e-mail enorme. Depois dividi em dois assuntos e publiquei no Respondi.com.br achando que poderia servir para mais alguém. E já serviu. Um leitor escreveu muito bravo dizendo que não vai mais me chamar de irmão e nem me saudar com a Paz do Senhor se me encontrar…
O cristão deve sim se preocupar em não escandalizar as pessoas e o difícil para isso é que não temos uma lista de lugares e situações com instruções específicas de como agir. Vamos precisar depender da Palavra, do Espírito e às vezes do bom senso. É o caso da oração instantânea feita numa moto a 100 por hora por um homem de capacete (com a cabeça coberta) que dei de exemplo no outro e-mail. De qualquer modo o cristão deve sempre ser discreto, mas não frouxo, no modo como pratica sua fé, para evitar escandalizar. “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus” (1 Co 10:32).
Escrevo isto principalmente pensando naqueles que fazem de tudo para propagar aos quatro ventos que são cristãos. Não estou falando especificamente dos que procuram levar uma vida de bom testemunho ou que pregam o evangelho. Estou me referindo aos que adotam uma série de jargões, slogans, roupas e adereços, não para dizer ao mundo “Crê no Senhor Jesus”, mas “Vejam todos, eu sou cristão”. Este foi o assunto principal de minha resposta anterior.
Existe uma diferença. Um (o que procura viver um bom testemunho ou pregar o evangelho) aponta para Cristo, outro aponta para si mesmo ou para sua própria fé, e isto pode denotar insegurança. São pessoas que não se sentem contentes crendo em algo sozinhas e só se sentem fortes e poderosas quando bancadas em suas crenças por uma multidão.
O problema é que pessoas assim, quando encontram resistência ou indiferença, acabam se tornando agressivas e discriminatórias. Se forem radicais, seu jeito de reduzir o número dos que se opõem ou são indiferentes à sua própria fé é matando todos eles, e não faltam exemplos na história da cristandade de ações desse tipo.
Há também aqueles que, de tanto lerem histórias de perseguições contra cristãos em países comunistas ou islâmicos, acham que só estarão vivendo a vida cristã correta se forem perseguidos. Aí se tornam agressivos ou chatos em seu testemunho, como quem quer “comprar briga”. Quando são rejeitados, demitidos, xingados ou até espancados por sua inconveniência e impertinência, aí se sentem felizes e logo se justificam usando o versículo: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Tm 3:12).
Então o que precisamos é de obediência à Palavra e também de bom senso e discrição para fazer as coisas para o Senhor e não para os homens. Dou um exemplo: por ser palestrante, tenho muitas oportunidades de falar a multidões de às vezes mais de mil pessoas. A Bíblia diz: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4:2). Por que não aproveitar aquele público todo e incluir o evangelho em minhas palestras? Porque seria errado.
No meu entender, se eu usasse das palestras para falar de minha fé estaria traindo a confiança da empresa que me contratou e está me pagando, não para eu pregar o evangelho, mas para falar de vendas, carreira ou negócios. Ela está comprando meu tempo e não posso gastar um pedaço daquele tempo, que naquele momento pertence, não à mim, mas à empresa que me contratou, para incluir algo que não esteja no contrato. Seria como eu ter um açougue e para cada freguês que fosse comprar um quilo de carne eu entregasse o pacote contendo setecentos gramas de carne e um evangelho de trezentos gramas.
Pode ter certeza: já fui criticado mais de uma vez por cristãos que viram alguma palestra minha e ficaram frustrados por eu não ter falado do evangelho. Acho até que alguns que vão a palestras minhas abertas ao público acham que estão indo ouvir uma pregação. Os comentários costumam ser “Você nem aproveitou para pregar o evangelho, e tinha tanta gente ali… Nem parece que você é cristão…”. Sem contar um que, no final, veio até mim com uma “profetada” mais ou menos assim: “O Espírito está me revelando que você deveria ter pregado o evangelho e não pregou!”. É claro que isso veio com aquela voz de autoridade como se eu estivesse diante do próprio Deus e não pudesse nem discordar.
Mas, depois de todas as voltas que dei vamos voltar à sua pergunta:
“Uma mulher que crê no Senhor e entende que deve orar ou profetizar (falar da Palavra) com a cabeça coberta como ensina 1 Coríntios 11, poderia deixar de fazer isso para não escandalizar outras mulheres que não entendem da mesma maneira?”
No meu entendimento ela deveria sim cobrir a cabeça em todas essas ocasiões, sempre que isto for possível (e este “sempre que possível” é relembrando o caso do homem de capacete na moto), porque não faz isso por causa de homens, mas por causa dos anjos. Os anjos estão em todo lugar, é em todo lugar (e não só nas reuniões da assembleia) que ela deve obedecer esta ordenança. É até por isso que o véu costuma ser parte integrante do vestido de noiva, embora a maioria das noivas desconheça sua origem e significado.
Mas é preciso esclarecer algumas coisas. Primeiro, a passagem em 1 Coríntios 11:1-16 não diz no original “cobrir a cabeça com véu”, mas ter a cabeça velada, isto é, coberta ou escondida.
Portanto não é de um objeto “véu” que o texto fala, mas do ato de velar ou cobrir, o que pode ser feito com qualquer coisa além de um véu. As irmãs costumam usar um véu de tecido fino por ser leve e fácil de guardar, mas pode ser um chapéu, como era o costume no passado e ainda é nas assembleias nos Andes, onde as irmãs já tem o costume de usar um chapéu “coco” típico do povo nativo da região. Pode ser um pano qualquer, um lenço de cabelo, um guardanapo, revista ou até a mão. Até fraldas eu já vi sendo usadas (não as descartáveis). Se algo cobre a cabeça, então a cabeça está coberta ou velada (escondida). Muitas irmãs que conheço e que almoçam fora todos os dias colocam a mão sobre a cabeça na hora de dar graças pelo alimento.
Outra coisa importante é entender que a mulher deve cobrir a cabeça “por causa dos anjos” (1 Co 11:10), e não por causa dos homens. Portanto o ato de cobrir a cabeça nada tem a ver com a cultura e os costumes. Já ouvi todo tipo de desculpa, e a clássica é a que tenta explicar que em Corinto existiam prostitutas de cabeça rapada e a ordem seria apenas para elas. No entendimento desses, hoje a mulher só teria de cobrir a cabeça se fosse prostituta e corintiana (no sentido de habitante de Corinto, evidentemente).
Como se não faltassem argumentos esdrúxulos, existem ainda alguns que usam esta passagem para dizer que a mulheres agora já podem tirar o véu: “Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado” (2 Co 3:16). Neste caso nem vale a pena comentar algo tirado com tamanha ignorância de seu contexto.
A razão de a mulher cobrir a cabeça e o homem descobrir a cabeça ao orar ou profetizar está na ordem explicada nos primeiros versículos. Deus -> Cristo -> Homem -> Mulher. O homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta ou velada desonra sua cabeça (Cristo). O homem não se cobre por ser a imagem e glória de Deus (vers. 7) e a mulher se cobre por ser a glória do homem e por ela ter vindo do homem. Mas antes que alguém acuse a Bíblia de fazer discriminação, o texto lembra que é apenas uma questão de ordem (até governos, empresas e escolas têm essa ordem de colocar um sobre outro em cargos ou posições de responsabilidade). “Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor” (1 Co 11:11).
Outra coisa importante é entender que o texto não diz que o cabelo lhe foi dado como substituto da cobertura, mas como se fosse um véu. Para entender, é só analisar a ordem dada ao homem: não orar com a cabeça coberta. Se considerarmos que o cabelo é a cobertura, então a dedução lógica seria que todo homem deve rapar sua cabeça antes de orar, porque, afinal, este é também o exemplo dado no caso da mulher.
(1 Co 11:5-6) “Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada. Portanto, se a mulher não se cobre [com véu], tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu [cobertura]”.
Se o cabelo fosse realmente o véu do qual o apóstolo está falando, seria estranho dizer algo que poderia ser lido também assim: “se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o cabelo”. Não faria sentido o apóstolo Paulo gastar tantas palavras só para dizer que o cabelo é o véu da mulher. Bastaria ele dizer que as mulheres não deveriam rapar a cabeça. Se numa época quando o costume já era o de as mulheres não saírem de casa sem um pano na cabeça, como era costume os homens não saírem na rua sem chapéu até os anos 50, por que ele iria gastar dezesseis versículos falando do assunto?
Portanto, assim como estaria fora de ordem um homem orar com a cabeça coberta por um chapéu ou boné, é fora de ordem a mulher cristã orar sem cobrir a cabeça, independente do que ela use para fazer isso.
Mas aí você poderia perguntar: “Não caberia aqui o mesmo argumento que você usou para não pregar o evangelho em suas palestras?”
Não, porque as palestras eu faço para meus clientes, e a oração nós fazemos a Deus, e não a homens. E o evangelho eu já prego de outras maneiras, em outras situações. Pensar que o cristão tenha a obrigação de pregar o evangelho sempre que estiver na presença de mais pessoas faria de todos nós devedores neste sentido, pois aí teríamos que viver pregando na rua, no ônibus, no metrô, no avião, na sala de aula, no escritório… Eu ficaria preocupado em viajar num avião com um piloto cristão que, ao invés de se concentrar nos instrumentos, ficasse o tempo todo pregando o evangelho pelo interfone para uma audiência que num voo internacional pode passar de 500 pessoas. E imagine o Kaká falando de Cristo para os outros 21 jogadores mais juiz e bandeirinhas, ao mesmo tempo em que corre pelo gramado em pleno jogo. Ele desmaiaria sem fôlego antes do final do primeiro tempo.
Portanto, se uma irmã em Cristo quiser, na sua simplicidade, atender ao que o Senhor pediu a ela para fazer por causa dos anjos, e ao mesmo tempo não chamar atenção para as pessoas e escandalizá-las (as vezes o efeito é contrário e elas podem querer saber mais), que cubra a cabeça com a mão durante uma oração rápida. Ou para algo mais prolongado e se ainda estiver insegura quanto ao impacto que poderá causar nos outros presentes que não entendem da mesma forma, que peça licença, vá à toalete e volte com um belo lenço na cabeça, que seria sempre bom ter na bolsa.
Veja o lado bom disso! Pode ser até que as outras mulheres achem que está na moda e passem a imitá-la. Quando D. João VI transferiu para o Brasil o seu reino e toda a corte, na longa e suja viagem de navio as mulheres foram atacadas por piolhos e precisaram rapar a cabeça para exterminarem a peste. Quando desembarcaram no Rio em março de 1808, todas com lenço na cabeça para esconderem a careca, surpreenderam as brasileiras chiques que aguardavam no porto a chegada da corte.
No dia seguinte todas as mulheres do Rio estavam de cabeça coberta por lenços, achando que aquela era a última moda na Europa.
Leia também “Por Causa dos Anjos”, de Paul Wilson
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Crentes e incrédulos serão igualmente julgados?
Depois de ler um texto meu onde eu dizia que o crente não passará por juízo, mas apenas os incrédulos se apresentarão diante do grande trono branco de Deus, sua dúvida surgiu ao ler Romanos 14:9-12, onde aparentemente diz que todos, sem distinção, serão julgados por suas obras. Você deve ter usado a versão Almeida Revista e Corrigida, que diz no versículo 10 em diante: “Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo. Porque está escrito: como eu vivo, diz o Senhor, que todo o joelho se dobrará a mim, e toda a língua confessará a Deus. De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus”.
A versão que usou não é a melhor. O correto aí é “tribunal de Deus” e não “tribunal de Cristo”. Veja no final algumas outras versões. O erro de tradução “tribunal de Cristo” vem da versão King James que usa um determinado manuscrito onde está assim. Mas nos melhores manuscritos aparece “de Deus”. O tribunal de Cristo é para os salvos, onde suas obras serão julgadas (não os seus pecados, porque estes já foram julgados e condenados em Cristo na cruz).
(Rm 14:9-12) “Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos. Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus. Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus”.
O sentido de Romanos é geral e está falando de todos os homens. Então, sim, é correto dizer que todos terão de dar contas de si mesmos a Deus um dia, só que os crentes farão isso já salvos e os incrédulos farão isso sem chances de serem salvos, mas apenas para receberem a sentença. Que os crentes não passarão pelo juízo fica muito claro de outras passagens falando especificamente do que crê.
(ARA) “Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus”.
(Biblia) “Por que julgas, então, o teu irmão? Ou por que desprezas o teu irmão? Todos temos que comparecer perante o tribunal de Deus”.
(BRASIL) “Tu, porém, porque julgas a teu irmão? Ou tu também, porque desprezas a teu irmão? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus”.
(CNBB) “E tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, por que desprezas teu irmão? Pois é diante do tribunal de Deus que todos compareceremos”.
(Darby) “But thou, why judgest thou thy brother? Or again, thou, why dost thou make little of thy brother? For we shall all be placed before the judgment-seat of God”.
(FDB) “Mais toi, pourquoi juges-tu ton frère? Ou aussi toi, pourquoi méprises-tu ton frère? Car nous comparaîtrons tous devant le tribunal de Dieu;”.
(IRL) “Ma tu, perché giudichi il tuo fratello? E anche tu perché disprezzi il tuo fratello? Poiché tutti compariremo davanti al tribunale di Dio;”.
(NVI) “Portanto, você, por que julga seu irmão? E por que despreza seu irmão? Pois todos compareceremos diante do tribunal de Deus”.
(PAST) “Quanto a você, por que julga o seu irmão? E você, por que despreza o seu irmão? Todos nós devemos comparecer diante do tribunal de Deus”.
(PJFA) “Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Deus”.
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Como ser batizado com fogo?
Você diz que foi batizada com água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas seu desejo é “ser batizada com fogo, ou seja, selada em evidências de novas línguas”. Você diz ainda que está buscando e orando, mas não consegue alcançar isso e pergunta se fazer jejum poderia ajudar.
Espero sinceramente que você nunca seja batizada com fogo, porque o batismo com fogo é o juízo eterno. Os pentecostais interpretam erroneamente a passagem e ficam pedindo fogo. Ainda bem que Deus não atende o pedido deles.
Existe até um hino que diz “Manda fogo, Senhor, que eu quero sentir o Teu poder”. Ainda bem que o Senhor não faz o que pedem os que cantam assim, pois na Bíblia o fogo está sempre conectado com juízo. Isso ocorre por um erro de interpretação de Atos 2, onde as línguas não são “línguas de fogo”, mas são “línguas como de fogo” (ou parecidas com fogo), e de Mateus 3, onde o fogo ali é erroneamente interpretado como o batismo do Espírito Santo ocorrido no Dia de Pentecostes.
Se você observar atentamente o texto de Mateus 3, verá que João Batista está se dirigindo alternadamente tanto a salvos como a perdidos, falando também alternadamente de salvação e juízo (o fogo representa o juízo de Deus). Acrescentei as palavras [entre chaves] para você entender essa alternância:
“Mas, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham ao seu batismo, disselhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento [os salvos]… E já está posto o machado a raiz das árvores; toda árvore, pois que não produz bom fruto [os perdidos], é cortada e lançada no fogo [o juízo]. Eu, na verdade, vos batizo em água, na base do arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, que nem sou digno de levar-lhe as alparcas; ele vos batizará no Espírito Santo [os salvos], e em fogo [os perdidos]. A sua pá ele tem na mão, e limpará bem a sua eira; recolherá o seu trigo [os salvos] ao celeiro, mas queimará a palha [os perdidos] em fogo inextinguível”.
Quanto ao batismo do Espírito Santo que você deseja receber, e ainda com a “evidência” de falar em línguas estranhas, este é também um equívoco muito grande da doutrina pentecostal. Quem espera receber hoje o batismo do Espírito chegou dois mil anos atrasado, porque esse batismo ocorreu uma vez no dia de Pentecostes (Atos 2). Se você já foi salva pela fé em Cristo você foi selada com o Espírito Santo, e não batizada com o Espírito Santo. Se você não tem o Espírito de Cristo, então nem ainda é dele! “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8:9).
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Quem são os líderes?
Você escreveu que em algum texto meu, afirmo não existirem líderes na igreja, porém ao ler uma tradução que fiz do livro “Um só corpo na prática”, de Bruce Anstey, encontrou várias passagens falando de líderes e não se referindo a denominações. Sua dúvida é: existem ou não existem líderes?
Sua dúvida certamente surgiu depois de você ter lido algum texto meu onde eu falava “da falta de fundamento bíblico para o líder” no sentido do homem à frente da congregação. Eu não estaria falando de pessoas responsáveis pelo bem estar da assembleia, que fazem um trabalho de anciãos ou bispos (ainda que não sejam denominados como tais), que é o caso das passagens do livro que leu.
Realmente na Palavra não encontramos “o líder” de uma congregação, mas encontramos pessoas que lideram no sentido de guias (plural). É neste sentido que líderes são mencionados em algumas passagens, como nestes versículos com os nomes de “guias”, “pastores” ou “chefes” (diferenças nas traduções):
Versão Almeida Atualizada
(Hb 13:7) “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram”.
(Hb 13:17) “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros”.
(Hb 13:24) “Saudai todos os vossos guias, bem como todos os santos. Os da Itália vos saúdam”.
Versão Almeida Corrigida
(Hb 13:7) “Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver”.
(Hb 13:17) “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil”.
(Hb 13:24) “Saudai a todos os vossos chefes e a todos os santos. Os da Itália vos saúdam”.
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Se a carne é fraca, como viver a vida cristã?
É comum usarmos a frase “A carne é fraca” para justificar nossas quedas, geralmente no âmbito sexual. Mas vamos dar uma olhadinha no contexto: “E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito. Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo. E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres. E, voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma hora pudeste velar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 23:37-41).
Existe uma diferença enorme entre o episódio onde o Senhor Jesus fez o comentário para seus discípulos e a realidade vivida hoje por um verdadeiro salvo por Cristo. Primeiro, o contexto não era de estarem os discípulos sujeitos a alguma tentação da carne, sedutora demais para eles resistirem. Nada mais longe desta ideia. O Senhor havia apenas pedido que eles vigiassem e orassem, visto que a hora de Jesus ser preso e entregue à morte se aproximava. Eles bem que queriam vigiar e orar, mas a fraqueza do corpo físico os levou a dormir. A carne ali estava fraca de cansaço, não de ser incapaz de resistir a alguma tentação externa.
Se existe uma lição a ser aprendida da passagem é que o homem em seu estado natural é incapaz de cumprir a vontade de Deus porque a carne é fraca, o pano é velho para remendo novo e o odre é ressecado demais para conter vinho novo. Além disso o homem é da terra e o Senhor do céu, o que torna um e outro incompatíveis por natureza.
Portanto, nenhum verdadeiro cristão hoje, nascido de novo e habitado pelo Espírito Santo, pode usar o argumento “a carne é fraca” como desculpa por ter caído em uma tentação. Ele pode até admitir que seu “velho homem”, a “carne”, não pode agradar a Deus, mas este é outro assunto. Veja a condição dos discípulos do Senhor antes da cruz: a carne ainda não havia sido completamente exposta e julgada (isso ocorreu na cruz, quando Deus colocou um fim no homem em seu estado natural).
Além disso, o Espírito Santo, que é o poder para o crente andar segundo a vontade de Deus, ainda não tinha descido para habitar no homem. Os discípulos do Senhor, sem dúvida, eram nascidos de novo, isto é, tinham em si a vida divina, sem a qual nem sequer poderiam estar interessados nas coisas do céu (exceto Judas, que tinha sua própria agenda). Mas a nova vida nada pode fazer em um corpo de carne fraca por natureza.
É só pelo Espírito Santo que o homem está capacitado (no sentido de energizado por poder) para agir segundo a vontade de Deus. No Antigo Testamento (e em ocasiões especiais nos evangelhos) o Espírito Santo “energizou” os servos de Deus, mas depois de Pentecostes (Atos 2) o Espírito Santo de Deus passou a habitar em cada crente individualmente. Mas se os discípulos não tinham esse poder, por que o Senhor ordenou que orassem para não caírem em tentação? O que ele exigia deles era dependência e não confiança naquilo que eram e tinham, isto é, no velho homem. Pedro era um que sempre confiava em sua própria capacidade e vimos no que deu. Depender de Deus era de que precisavam e isto não mudou, apesar de hoje sermos muito mais privilegiados, como crentes em Cristo, por estarmos também capacitados pelo poder do Espírito. Veja que não é na força que o crente vence as tentações, mas na fraqueza:
(2 Co 12:9-10) “E disseme: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte”.
Hoje as pessoas costumam dizer: “A carne é fraca, por isso não consigo resistir”, mas Paulo teria dito “Que bom que a carne é fraca, assim não preciso me apoiar nela para resistir, mas em Cristo”.
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Existem contradições nos evangelhos?
Muita gente lê a Bíblia como se fosse um texto técnico, e não como a comunicação inteligente de Deus para com o homem. Em um texto técnico o autor pode informar que Portugal e Espanha são países com determinadas características, mas em uma comunicação inteligente alguém que tenha visitado Portugal e Espanha poderá descrever sua viagem a Portugal para uma pessoa e sua viagem à Espanha para outra, porque estará comunicando-se com estas pessoas dentro de diferentes contextos. Assim é a Bíblia. Precisamos entender, não só o que Deus disse, mas o que ele quis dizer, a quem, quando, por que, em que circunstâncias, etc.
Mas vamos às aparentes contradições que você mencionou:
— Os pais de Jesus o levaram para o Egito (Mateus 2:14).
— Os pais de Jesus não o levaram para o Egito (Lucas 2:22, 2:39).
(Mt 2:14) “E, levantando-se ele, tomou o menino e sua mãe, de noite, e foi para o Egito”.
(Lc 2:22) “E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor”.
(Lc 2:39) “E, quando acabaram de cumprir tudo segundo a lei do Senhor, voltaram à Galileia, para a sua cidade de Nazaré”.
A solução é muito simples: Jesus nasceu, seus pais o circuncidaram ao oitavo dia (Lc 2:21), quarenta dias depois do parto viajaram a Jerusalém para o ritual da purificação de Maria conforme Levítico 12:1-4 e voltaram a Nazaré conforme diz Lucas.
(Lc 2:39) “E, quando acabaram de cumprir tudo segundo a lei do Senhor, voltaram à Galileia, para a sua cidade de Nazaré”.
Porém, considerando que Belém dista apenas 7 quilômetros de Jerusalém, eles podem ter ido a Nazaré depois de terem voltado a Belém, onde os magos os encontram em um prazo de até dois anos após o nascimento. Veja que Jesus nasceu em uma estrebaria, porém os magos o visitaram em uma casa e Herodes mandou matar os meninos de até dois anos, pois este seria o tempo aproximado do nascimento até a visita dos magos.
(Mt 2:11) “E, entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra”.
(Mt 2:16) “Então Herodes, vendo que tinha sido iludido pelos magos, irritou-se muito, e mandou matar todos os meninos que havia em Belém, e em todos os seus contornos, de dois anos para baixo, segundo o tempo que diligentemente inquirira dos magos”.
Creio que a chave para entender o que aconteceu esteja neste período longo entre o nascimento e a visita dos magos (e por conseguinte o aviso para que fugissem para o Egito). Muito provavelmente o menino Jesus caminhou alguns trechos do caminho até o Egito, pois já não era um bebê. O problema todo está no presépio, onde colocam os magos visitando o bebê Jesus numa manjedoura cercado dos pastores, quando esses visitantes devem ter estado ali com quase dois anos de diferença.
Outras viagens e roteiros de José, Maria e Jesus não são descritos nos evangelhos porque não interessam ao assunto que Deus queria comunicar, como no exemplo que dei da viagem a Portugal e Espanha.
— Jesus foi tentado por Satanás no deserto (Marcos 1:12-13).
— Jesus Não foi tentado por Satanás no deserto (João 2:1-2).
(Mc 1:12-13) “E logo o Espírito o impeliu para o deserto. E ali esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás. E vivia entre as feras, e os anjos o serviam”.
(Jo 2:1-2) “E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galileia; e estava ali a mãe de Jesus. E foi também convidado Jesus e os seus discípulos para as bodas”.
Sinceramente eu não entendi onde você viu contradição aqui. Os assuntos são totalmente diferentes. Marcos está falando da tentação de Jesus e João está falando de um casamento no qual ele esteve. Marcos está falando de algo que ocorreu antes do ministério público de Jesus e João algo que ocorreu depois. Se você acha que os evangelhos seguem uma sequência cronológica vai ter dificuldade quando ler Lucas, que segue uma sequência moral.
— O primeiro sermão foi na montanha (Mateus 5:1-2).
— O primeiro sermão foi em terra plana (Lucas :17-20).
(Mt 5:1-2) “E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo…”.
(Lc 6:17) “E, descendo com eles, parou num lugar plano, e também um grande número de seus discípulos, e grande multidão de povo de toda a Judéia, e de Jerusalém, e da costa marítima de Tiro e de Sidom; os quais tinham vindo para o ouvir, e serem curados das suas enfermidades,”.
As passagens falam de duas ocasiões distintas. O fato de o ensino ser semelhante é porque era Jesus quem estava ensinando. Mas há diferenças importantes. Em Mateus ele só fala de bem aventuranças, mas em Lucas você encontra os “Ai de vós…”.
— Jesus foi crucificado a 3ª. hora (Marcos 15:25).
— Jesus foi crucificado a 6ª. hora (João 19:14-15).
(Mc 15:25) “E era a hora terceira, e o crucificaram”.
(Jo 19:14-15) “E era a preparação da páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei. Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disselhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César”.
Existia uma diferença no modo como os judeus contavam as horas do dia (que é a maneira usada por Marcos) e o modo romano (usado por João). Se quiser entender melhor poderá visitar este endereço na Web que haverá uma explicação mais detalhada em inglês: http://thegospelcoalition.org/blogs/tgc/2012/09/18/you-asked-what-time-did-jesus-die/.
— 2 Ladrões zombaram de Jesus (Mateus 27:44, Marcos 15:32).
— 1 Ladrão zombou de Jesus (Lucas 23:39-40).
(Mt 27:44) “E o mesmo lhe lançaram também em rosto os salteadores que com ele estavam crucificados”.
(Mc 15:32) “O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos e acreditemos. Também os que com ele foram crucificados o injuriavam”.
(Lc 23:39-40) “E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?”.
Esta também é simples: os dois zombaram de Jesus até o momento em que Lucas descreve que um deles ficou do lado de Jesus. Qualquer leitor inteligente irá juntar as duas narrativas e entenderá que neste momento o ladrão arrependido mudou de lado, porque o assunto em Lucas é justamente a conversão desse ladrão, o que não é o assunto nem de Mateus, nem de Marcos.
Se você viaja com o Benedito e com o Sebastião a Brasília e um dia se encontra com a irmã do Sebastião é bem provável que você diga a ela: “Fui a Brasília com o Sebastião, seu irmão”. E o Benedito? Não interessa falar dele porque ela nem o conhece. Como eu disse, Deus está comunicando a sua Palavra a pessoas inteligentes e estas saberão buscar nela o que realmente interessa e é importante.
— Deram vinho com Fel para Jesus beber na cruz (Mateus 27:34).
— Deram vinho com Mirra para Jesus beber na cruz (Marcos 15:23).
(Mt 27:34) “Deram-lhe a beber vinagre misturado com fel; mas ele, provando-o, não quis beber”.
(Mc 15:23) “E deram-lhe a beber vinho com mirra, mas ele não o tomou”.
Ele recebeu diferentes bebidas em diferentes momentos. Cada evangelho está falando de uma. Ele também recebeu vinagre, o qual bebeu. Mais uma vez: se você for a uma festa e se seus amigos perguntarem o que você bebeu, talvez você diga: “cerveja”. Mas se o seu pai perguntar, talvez você diga: “Coca-Cola”. E aí, você bebeu cerveja ou Coca-Cola? Os dois, mas a informação seletiva foi dada a cada um por causa dos diferentes contextos.
— 1 mulher foi visitar o túmulo de Jesus (João 20:1).
— 2 mulheres foram visitar o túmulo de Jesus (Mateus 28:1).
— 3 mulheres foram visitar o túmulo de Jesus (Marcos 16:1)
— + de 3 mulheres foram visitar o túmulo de Jesus (Lucas 24:10)
Todas elas foram visitar o túmulo. Use as mesmas explicações anteriores que servem aqui. Temos diferentes momentos em que a ênfase é dada em diferentes mulheres e com diferentes objetivos. Você já estudou teoria dos conjuntos? Pois está na hora de repassar a matéria.
— Aos discípulos foi ordenado que fossem à Galileia depois da ressurreição (Mateus 28 :10).
— Aos discípulos foi ordenado ficarem em Jerusalém depois da ressurreição (Lucas 24:39).
(Mt 28:10) “Então Jesus disselhes: não temais; ide dizer a meus irmãos que vão à Galileia, e lá me verão”.
(Lc 24:49-51) “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder. E levou-os fora, até Betânia; e, levantando as suas mãos, os abençoou. E aconteceu que, abençoando-os ele, se apartou deles e foi elevado ao céu”.
Entre uma passagem e outra se passaram 40 dias. A de Mateus ocorre logo após a ressurreição de Jesus e a de Lucas momentos antes de ele ascender ao céu. Portanto ele pode ter dito aos discípulos muitas coisas e aos convidados a irem a muitos diferentes lugares antes da instrução final, para que permanecessem em Jerusalém para receberem o Espírito Santo.
— Jesus subiu aos céus do Monte das Oliveiras (Atos 1:9-12).
— Jesus subiu aos céus de Betânia (Lucas 24:50-51).
(At 1:12) “Então voltaram para Jerusalém, do monte chamado das Oliveiras, o qual está perto de Jerusalém, à distância do caminho de um sábado”.
(Lc 24:50-51) “E levou-os fora, até Betânia; e, levantando as suas mãos, os abençoou. E aconteceu que, abençoando-os ele, se apartou deles e foi elevado ao céu”.
Se você olhar um mapa verá que estes lugares são praticamente vizinhos. Como Lucas é o mesmo autor do evangelho e de Atos, ele não iria cair em contradição, mas o que acontece é que ele está falando de um lugar amplo, onde estão situados o Monte das Oliveiras, Betânia e Betfagé. Se eu disser a você que estive na Zona Sul do Rio, isto pode ser verdade tanto se eu tiver visitado o Corcovado como Copacabana, apesar de estarem a mais de 5 quilômetros um do outro.
Eu espero que estas dúvidas não sejam suas, mas de alguém que postou na Internet, pois como você pode ver quem as levantou está mais a fim de encontrar, como se costuma dizer, “pelo em ovo” e “chifre em cabeça de cavalo” do que em buscar saber sinceramente o que vai acontecer se morrer hoje. Desejando sinceramente que não seja você o autor dessas supostas contradições, mas apenas curioso em saber como elas seriam resolvidas, sugiro agora que pegue sua Bíblia e passe a lê-la para saber a vontade de Deus para você. Pode ter certeza de que sua leitura será muito mais proveitosa.
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Devemos buscar o batismo com o Espírito Santo?
Você leu o texto “Como ser batizado com fogo” e não concordou com o que eu disse ali. Segundo você, “O batismo com o Espírito Santo é um revestimento de poder e tem como evidência o falar em línguas estranhas”. Será? Sua afirmação estaria correta se estivesse falando do que aconteceu há dois mil anos e é descrito em Atos 2, mas não é o que você acredita. Segundo você devemos buscar tal batismo e ele acontece todos os dias com muitas pessoas e, como evidência, elas passam a falar em línguas estranhas.
Achar que o que aconteceu em Atos 2 é algo que todos os dias acontece em todos os lugares é perder de vista o significado da passagem, conforme vou tentar explicar mais abaixo. Você continua seu e-mail dizendo que “Ninguém tem base bíblica para dizer que o batismo com o Espírito Santo não deve ser buscado nos dias atuais, essas ideias são parecidas com as ideias dos testemunhas de Jeová.”.
Jesus nunca deixou data fixada para o término da busca do batismo com o Espírito Santo.
Não entendi aonde você quis chegar com essa comparação com as Testemunhas de Jeová (uma seita que não crê na divindade do Senhor Jesus). Eu jamais teria coragem de dizer que você, que afirma crer no Senhor Jesus como seu Salvador, teria qualquer coisa a ver com aquela seita maligna. Ainda que discordasse de suas ideias eu saberia que você é uma pessoa que crê na divindade do Senhor Jesus.
Mas sou obrigado a repetir: você ainda não entendeu o que aconteceu em Atos 2 e está misturando o batismo com o Espírito Santo com o selo (individual) do Espírito e também com os dons do Espírito, como se tudo fosse uma coisa só. Buscar que aconteça novamente o batismo com o Espírito Santo é como alguém que deseja seguir a carreira militar querer que o Exército Brasileiro seja novamente fundado. É impossível. O Exército já foi fundado. Agora cada novo soldado recebe a farda do Exército e é adicionada a esse “corpo” militar.
A grande dificuldade, que foi também o que deu origem ao movimento chamado pentecostal, está em não saber dividir corretamente a Palavra da Verdade colocando cada coisa em seu devido lugar.
(2 Tm 2:15) “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem [divide corretamente] a palavra da verdade”.
Sugiro que procure descobrir na Bíblia a diferença entre estas quatro coisas:
1. Batismo com o Espírito Santo
Aconteceu uma vez na formação da igreja quando todos os salvos foram “batizados em um Espírito formando um corpo”. Não se repete, pois se fosse assim cada vez que alguém recebesse o Espírito Santo um novo corpo de Cristo seria formado.
A promessa do que iria acontecer em Pentecostes (Atos 2) está aqui:
(At 1:5) “Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias”.
Depois, a recordação do que aconteceu no dia de Pentecostes (Atos 2) aparece aqui, quando Paulo se inclui junto com os de Corinto nesse batismo que ocorreu em Atos 2, apesar de nem Paulo, nem os irmãos de Corinto, terem estado pessoalmente lá e participado daquilo, como não esteve qualquer soldado moderno na formação do Exército Brasileiro no século 19:
(1 Co 12:13) “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”.
Então, para que serviu o batismo em um Espírito? Para formar um corpo. Para entender a passagem acima, faça a seguinte pergunta: “Quando foi que todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo?”
2. Selo do Espírito
Acontece quando alguém é salvo pela fé em Cristo Jesus e é algo que está garantido a todos os que creem, independente de terem sentido algo ou não. Mesmo porque “se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8:9).
(Ef 1:13-14) “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória”.
De que “Espírito da promessa” ele está falando? Do mesmo Espírito Santo prometido em Joel 2:28, Atos 1:4-5 e João 16:7. O Espírito é o mesmo, mas o fato ocorrido em Atos 2 é outro e completamente diferente do selo individual do Espírito Santo que é garantido a cada um que crê, conforme Efésios 1:13. Em Atos 2, TODOS os crentes (inclusive os que haviam de vir) foram batizados em um Espírito formando um só corpo e aquilo coincidiu com o selo individual que receberam os que estavam ali e eram crentes em Jesus.
3. Dons dados por Cristo
Os dons universais são os que são dados por Cristo e são apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (ou doutores). O objetivo destes dons é a edificação do corpo de Cristo e eles são operantes em todo lugar onde seus portadores estejam.
(Ef 4:812) “Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, E deu dons aos homens… E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;”.
Destes dons restam apenas os evangelistas, pastores e doutores (ou mestres), já que apóstolos e profetas foram usados na colocação do alicerce (estamos agora na época das paredes e não se coloca fundamento no meio de uma parede).
(Ef 2:19-22) “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito”.
4. Dons espirituais
(1 Co 12:1-11) “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes… Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo… e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”.
Na sequência o apóstolo explica que, dentre estes dons, o mais valioso para edificação é o de profecia, e o menos edificante o de línguas estrangeiras.
Mas geralmente neste ponto da conversa costumo ouvir o outro dizer: “Você não deve seguir assim tão literal, porque a letra mata, mas o Espírito vivifica” (acredita que agora mesmo recebi este argumento em outro e-mail só porque mostrei na Bíblia onde estavam as coisas?).
Portanto, sugiro que confira tudo e compare com a Palavra de Deus para evitar confundir uma coisa com outra.
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Eleição, predestinação e presciência são ideias bíblicas?
Certamente, e as duas palavras aparecem logo no primeiro capítulo da carta aos Efésios e são explicadas em detalhes na epístola aos Romanos. Mas é bom lembrar que isto nada tem a ver com presciência, ou a capacidade de Deus conhecer o futuro. É errado raciocinar que, por Deus enxergar o futuro ele teria visto quem viria a crer e ser salvo e, por isso, teria eleito ou predestinado essas pessoas para a salvação. Esta ideia coloca o homem na direção e Deus como um mero secretário.
(Ef 1:3-5) “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade”.
(Ef 1:11) “Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da SUA VONTADE [não nossa];”.
(Rm 9:14-16) “Que diremos pois? Que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece”.
Considerando que isso não depende de quem quer, mas de Deus, apesar de Deus saber de antemão quem seria salvo, não foi esse conhecimento prévio que o levou a eleger ou predestinar.
A resposta mais simples à sua dúvida é que temos eleição e predestinação como coisas claramente ensinadas nas Escrituras, inclusive com estas palavras. Há coisas que não entendemos perfeitamente, mas quando se trata da Palavra de Deus devemos simplesmente aceitá-las e esperarmos que um dia ele nos dê o entendimento. Mas ainda que terminemos nossa jornada aqui sem entender, também está bem assim.
Jó nunca entendeu o que aconteceu com ele (agora ele já deve ter entendido) enquanto estava nesta vida, pois seu livro termina com ele simplesmente aceitando a vontade de Deus e reconhecendo que foi bom ter passado por tudo aquilo. Mas como não foi ele quem escreveu o livro de Jó, provavelmente não tenha lido os dois primeiros capítulos que mostram o que estava por detrás de seu sofrimento: a autorização de Deus para que Satanás colocasse sua mão em tudo o que ele tinha e em sua saúde.
A grande dificuldade de entender a eleição e predestinação está no raciocínio de que Deus seria injusto por ter eleito alguns para salvação e outros para perdição. A Bíblia nunca diz isso. O que ela diz é que todos, sem exceção, estávamos igualmente perdidos. Ninguém mais que o pecado nos “predestinou” para a perdição. Não foi Deus. Porém, o amor e misericórdia de Deus ficaram demonstrados no fato de ele querer salvar alguns de seus mais ferrenhos inimigos: eu e vocês. Ninguém poderá acusar a Deus de injustiça, do mesmo modo como ninguém poderá me acusar de ser cruel por ter dado um prato de comida a um mendigo faminto enquanto há milhões perecendo de fome.
(Mt 20:15) “Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?”.
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Por que não existe um homem liderando as reuniões?
Por que não deve existir um homem liderando as reuniões da igreja? Porque não encontramos na Palavra de Deus um homem liderando as reuniões. Em 1 Coríntios 14, onde é descrita a forma que devemos nos reunir, você encontra muitas pessoas participando, e nenhum homem dirigindo ou dizendo quem deve fazer isto ou aquilo. Aquele capítulo é a “receita do bolo”, por assim dizer. Veja aqui:
(1 Co 14:26) “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação. No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois, e quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete… Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem. Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados… Porventura, a palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio ela exclusivamente para vós outros? Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo”.
Não vejo como o Espírito Santo poderia ter sido mais claro em seu ensino de que o ministério nas reuniões da igreja é um ministério múltiplo, e não uma “banda de um homem só”. Mas você escreveu que em algumas partes a Bíblia diz que devemos ter um líder, como quando o Senhor diz a Pedro, “Pedro tu me amas? Apascenta minhas ovelhas” e também em Tito 1:5-16.
Sim, a passagem de Pedro realmente mostra que Deus está dizendo isto a ele antes da formação da igreja. E depois da partida de Pedro ele mesmo providenciou para que seus ensinos não fossem esquecidos, e nós hoje desfrutamos de suas cartas e este é o seu ministério continuado.
(2 Pe 1:12-15) “Por esta razão, sempre estarei pronto para trazer-vos lembrados acerca destas coisas, embora estejais certos da verdade já presente convosco e nela confirmados. Também considero justo, enquanto estou neste tabernáculo, despertar-vos com essas lembranças, certo de que estou prestes a deixar o meu tabernáculo, como efetivamente nosso Senhor Jesus Cristo me revelou. Mas, de minha parte, esforçar-me-ei, diligentemente, por fazer que, a todo tempo, mesmo depois da minha partida, conserveis lembrança de tudo”.
Mas aqui temos o ministério específico de um apóstolo (não temos mais apóstolos) e o mesmo se pode dizer dos demais que nos legaram o Novo Testamento. Mas nada disso invalida o fato de que nas reuniões da assembleia os dons são usados conforme o Espírito determina, e não com a direção de um homem à frente. Mesmo assim existe uma liderança, e é aí que entra a menção que você fez de Tito.
(Tt 1:5) “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei”.
Mas repare que aí temos uma ordem específica de um apóstolo, com os poderes que lhe foram dados, delegando diretamente alguém (Tito) para a tarefa de estabelecer presbíteros (ou bispos ou anciãos) de cidade em cidade. Hoje não temos apóstolos, não temos a mesma autoridade que tinham (por exemplo, de “entregar a Satanás” alguém para a destruição da carne – 1 Co 5:5) e não fomos delegados como Tito foi.
Mas teria Deus deixado a igreja sem bispos (ou presbíteros ou anciãos)? Não, existem esses irmãos responsáveis, mas é preciso atentar para alguns detalhes:
1. Não são nomeados como eram nos tempos dos apóstolos (quem ousaria nomeá-los sem ter recebido uma ordem direta para tal?), mas são reconhecidos por seu cuidado para com a assembleia.
“Por esta causa [eu, Paulo] te deixei em Creta, para que [tu, Tito]… de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já [eu, Paulo] te mandei [a ti, Tito]” (Tt 1:5).
2. Estes ofícios sempre aparecem no plural, nunca no singular, o que equivale dizer que seria errado designarmos “o” bispo.
(Fp 1:1) “Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Cristo Jesus, que estão em Filipos, com os bispos e diáconos [de Filipos]”.
3. Os bispos (ou anciãos) eram estabelecidos “de cidade em cidade”, e não “de denominação em denominação” ou “de paróquia em paróquia”. Existem, em minha cidade (e também na sua) homens nos quais o Espírito Santo de Deus colocou no coração o sentimento de serem responsáveis pelo rebanho. Não estou falando dos que são nomeados pelas religiões, apesar de poder acontecer de coincidir uma coisa com outra. Estou falando simplesmente de irmãos que revelam claramente ter este cuidado.
Quem os levantou? Numa época pós-apostólica essa ação não passa mais pelos apóstolos como era no passado, mas ainda temos o Espírito por detrás dessas escolhas. Mas seria correto chamar alguém pelo título? Não mais. Seria correto reconhecer seu trabalho? Sim. São eles “dirigentes de culto”? Nem pensar, pois já vimos que na ordem da reunião de 1 Coríntios 14, tal coisa não existe.
Mesmo assim pode ocorrer de alguns desses irmãos terem também um dom de ministério da Palavra e participarem mais ativamente das reuniões, mas pode também acontecer de um irmão mudo ter sido designado pelo Espírito de Deus para tal responsabilidade de cuidar dos assuntos da assembleia sem dizer uma palavra nas reuniões.
(At 20:28) “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo (e não uma faculdade de teologia ou uma junta de homens) vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”.
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Por que ainda não se cumpriu a profecia de que eu seria um grande pregador?
Fico contente por seu desejo de evangelizar. Porém, desculpe ter de dizer que enviar 1000 torpedos de uma só vez com alguma mensagem evangelística chama-se SPAM e é uma forma muito errada de evangelizar. Digo isto porque é diferente de você distribuir folhetos evangelísticos impressos ou colocar uma mensagem na Internet ou nas redes sociais para alguém ler, ou distribuir um boletim por e-mail para assinantes.
No caso do folheto impresso o custo é de quem distribui, não custa nada para quem recebe e a pessoa ainda pode optar por recusar. No caso da mensagem na Internet, nas redes sociais ou em um boletim por assinatura, este sistema chama-se “opt-in” que significa que o leitor optou por ler ou receber a mensagem. Não é algo enfiado goela abaixo. Mas quando você envia SPAM, seja por e-mail, seja por torpedos, você está usando os recursos da pessoa que lê, tempo, celular, linha, conexão, computador, além de ser extremamente inconveniente você fazer alguém parar de fazer o que está fazendo. Não é bom estar dirigindo e sua atenção ser desviada por uma mensagem que chega no celular. Odeio quando à noite eu me levanto por ouvir que chegou mensagem e vejo que é propaganda.
Quanto àquela mulher que lhe falou em línguas estranhas (que você não entendeu bulhufas e ela precisou traduzir) dizendo que você seria “um dos maiores pregadores do evangelho”, sinto dizer que você levou uma “profetada”. Ela provavelmente sabia ou ouviu falar de seu fervor evangelístico e atacou de profetiza. Essa gente gosta de fingir que recebe mensagens diretamente de Deus só para dizerem coisas que acariciam o ego do destinatário. Não é muito diferente do espiritismo. Você encontra um espírita e ele vai logo dizendo: “Estou sentido que você é médium! Você precisa desenvolver sua mediunidade”. E aí a pessoa começa a frequentar o centro espírita. Este truque é apenas mais um usado pelos mentalistas profissionais, aqueles que usam de truques para descobrir coisas da vida de uma pessoa.
Além disso, que história é essa de ela dizer que você seria “um dos maiores pregadores do evangelho”? Será que ela não leu no próprio evangelho como o Senhor abomina esse tipo de coisa de querer ser o maior? Na cristandade existe esse costume de ficar bajulando uns aos outros, mas devemos fugir disso. Nada mais é do que a carne querendo criar um nome neste mundo.
As religiões adoram criar cargos para seus membros se sentirem alguém neste mundo. É por isso que existem tantos cargos nas igrejas, como “Presidente da Sociedade de Senhoras”, “Líder do Louvor”, “Diretor da Mocidade”, chefe disso, diretor daquilo, etc. No dia-a-dia o sujeito às vezes é um joão-ninguém, mas na igreja ele acaba se sentindo o máximo quando tem um título assim. É claro que as pessoas que estão inseridas nesse contexto nem percebem como essas coisas estão completamente fora da Bíblia, porque nasceram ali ou simplesmente engoliram o pacote todo quando se filiaram àquela religião. Antigamente era costume fazer a mesma coisa no mundo com títulos como “Comendador” (acho que já caiu de moda).
(Lc 9:46-48) “Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. Mas Jesus, sabendo o que se lhes passava no coração, tomou uma criança, colocou-a junto a si e lhes disse: Quem receber esta criança em meu nome a mim me recebe; e quem receber a mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande”.
Quanto aos outros assuntos posso perceber que você fala bastante de si mesmo e se coloca, com razão ou não, na posição de vítima, o que é uma atitude extremamente destrutiva e só faz mal a você mesmo. Provavelmente essa preocupação consigo mesmo faz de você também a vítima perfeita para quem se aproximar de você com “profetadas”. Pare de pensar em si ou de querer fazer alguma coisa grandiosa e comece a ocupar-se com Cristo! Seja mais “Maria” e menos “Marta”.
Você diz ser capaz de perceber quando algum irmão está com um problema. Isto pode ser uma característica espiritual, mas o mais provável é que não passe de habilidade natural ou coincidência. Devemos ser sábios para não sermos enganados, às vezes por nós mesmos, nosso ego, nosso desejo de sermos aceitos, etc. Se eu for a qualquer pessoa num grupo e disser que ela está com algum tipo de problema em sua vida, você acha que a pessoa vai dizer que não? Todos estamos passando o tempo todo por algum problema!
A questão é que quando queremos acreditar em algo aquilo parece estar sempre diante de nossos olhos. É como essas manchas de umidade na parede ou em vidros, que acabam sendo transformadas em objetos de idolatria, pois as pessoas dizem enxergar ali Jesus ou Maria em uma das muitas versões como é conhecida no catolicismo romano, por exemplo, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida, etc. Ninguém faz isso com as nuvens porque elas se dissolvem rapidamente, mas toda criança já brincou de ficar vendo pessoas e bichos nas formações de nuvens. Nós enxergamos o que queremos enxergar. Mas o cristão não vive por aquilo que vê. (2 Co 5:7) “Porque andamos por fé, e não por vista”.
Quando alguém vem falar comigo com essa conversa de que teve uma revelação do Espírito de Deus eu vou logo descartando. Alguém que comece uma conversa assim já está querendo dizer o seguinte: “Você está obrigado a acreditar em tudo o que vou dizer, caso contrário estará duvidando de Deus”. É uma forma muito desleal de desligar nosso senso crítico. A vontade que dá é dizer “OK, então se não acontecer vou apedrejar você, pois é o que devia ser feito no Antigo Testamento com profetas que não acertavam na profecia”. Outro dia recebi um e-mail de uma pessoa da Bahia que dizia ter uma revelação para mim, mas eu devia ir até lá para recebê-la. Ela mandou o e-mail e não podia mandar a revelação?
Existe um programa na TV a cabo chamado “Keith Barry, o Mentalista”. Nele Keith Barry “adivinha” coisas sobre as pessoas usando lógica, poder de dedução, observação de linguagem corporal e uma série de coisas. Não tem nada a ver com coisas espirituais e ele deixa isso bem claro. É tudo inteligência humana. Quem vê pensa que ele tem poderes paranormais, mas não. Tudo é explicado e é exatamente esse tipo de coisa que hoje impera em muitas igrejas com pregadores se fazendo passar por profetas, quando nada mais são do que mentalistas. Procure por Keith Barry no Youtube que tem muita coisa lá. Não deixe de ver este vídeo para descobrir como é fácil dar “profetadas”: http://youtu.be/rS3fdeq7sE8
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Podemos usar de recursos de persuasão?
Acredito que você tenha uma opinião a respeito do assunto, pois ao fazer a pergunta supõe alguém com habilidades naturais de persuasão deixe isso de lado ao se tornar cristão. Em certo sentido, se você realmente acredita assim, o simples fato de tocar no assunto já é uma tentativa de convencer outros de que esta é a maneira correta de se proceder, e ao fazer isso também está tentando ser persuasivo. Sempre que temos uma opinião, esta opinião nos torna excludentes, pois procuraremos fazer com que a nossa opinião prevaleça, seja em um debate público ou numa festa de aniversário com parentes.
Abro um parêntese para contar uma anedota que ilustra bem como seriam as coisas se as pessoas simplesmente abrissem mão de tentar defender suas convicções. Um sujeito encontra um amigo que não via há anos, o qual vivia deprimido e envelhecido. Agora o homem está feliz e radiante, além de aparentar dez anos menos. “Que diferença! Você vivia deprimido, agora esbanja felicidade e até rejuvenesceu! Conte o segredo”. “Descobri um modo de rejuvenescer. É só você parar de discordar das pessoas e não envelhece mais”. O outro imediatamente discorda: “É impossível alguém rejuvenescer só parando de discordar dos outros!”, ao que o outro responde: “É mesmo, você tem razão”.
Se observar as epístolas dos apóstolos, em especial as de Paulo, perceberá o quanto de argumentos são apresentados na tentativa de fazer com que as pessoas creiam naquilo que estão falando. Até quando você prega o evangelho, se você realmente tiver o desejo de fazer com que a pessoa se converta acabará usando de suas melhores habilidades de comunicação para convencê-la (mesmo sabendo que no fundo é o Espírito quem convence). Se a pessoa for grega, você até irá querer aprender grego para se comunicar com ela.
Lembre-se também que o simples ato de defender-se de uma acusação, ou defender a razão da fé que você professa já é uma tentativa de persuadir ou convencer as outras pessoas de que a maneira correta de crer é a sua. Paulo usa o verbo defender aqui, e Pedro mostra que devemos estar sempre preparados para isso, o que exige obviamente usarmos o melhor que tivermos em termos de comunicação:
(1 Co 9:3) “A minha defesa perante os que me interpelam é esta…”.
(1 Pe 3:15) “Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”.
Nesta passagem os irmãos tentaram persuadir Paulo a não viajar a Jerusalém, mas seus esforços foram em vão porque ele estava determinado a ir (contra o aviso do Espírito Santo para que não fosse).
(At 21:14) “E, como não podíamos convencê-lo, nos aquietamos, dizendo: Faça-se a vontade do Senhor”.
Quando evangelizamos buscamos persuadir os homens da melhor maneira possível. Quando um bombeiro vai ao socorro de alguém que está na beirada da laje de um edifício querendo saltar, você acha que ele deveria evitar usar toda a sua capacidade de persuasão? Será que ele deveria chegar lá em cima e dizer: “Se você quiser saltar, não se preocupe que providenciarei o enterro. Mas só queria dizer que é melhor não saltar. Tchau!”. Ora, o bombeiro diria para não saltar e daria um milhão de razões para isso na tentativa de persuadi-lo a deixar seus desejos suicidas.
(2 Co 5:11) “E assim, conhecendo o temor do Senhor, persuadimos os homens e somos cabalmente conhecidos por Deus; e espero que também a vossa consciência nos reconheça”.
A resposta de Agripa a Paulo é outro exemplo, e a reação do apóstolo, demonstram o quanto Paulo estava desejoso de conquistar aqueles corações enquanto apresentava o evangelho:
(At 26:28-29) “E disse Agripa a Paulo: Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão! E disse Paulo: Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por muito, não somente tu, mas também todos quantos hoje me estão ouvindo, se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias”.
Portanto, não há como evitar: se você for uma pessoa simpática, charmosa e com grande magnetismo acabará sendo mais convincente nas suas afirmações do que uma pessoa chata, sem graça e opaca em seu modo de ser. Você não precisará fazer qualquer esforço para ser persuasivo, até seu timbre de voz trabalhará neste sentido. A segunda pessoa, mesmo que se esforce, não convencerá ninguém. C. H. Mackintosh, que foi muito usado por Deus no século 19, ao falar de como pregar o evangelho em seu livro “Cartas aos Evangelistas”: “Se você tem eloquência, use-a”.
O mesmo pode ser dito caso você tenha um segundo idioma. Será que você deixaria de pregar o evangelho a pessoas de outros países por achar que estaria usando de um subterfúgio (uma segunda língua) para convencê-las?
Não é correto um cristão usar de artimanhas para persuadir as pessoas, mas não há nada de errado valer-se de uma boa capacidade de comunicação para falar às pessoas, e isto inclui uma correta entonação de voz, postura do corpo, etc. Até os elementos que em comunicação chamamos de AIDA (despertar a Atenção, criar Interesse, gerar Desejo e partir para a Ação) acabam sendo usados informalmente numa pregação. Veja que o Senhor Jesus chamou a atenção da mulher samaritana, não indo direto no assunto logo de início, mas começando a conversa falando de água, que era o que ocupava a mente dela naquele momento. Paulo também começa sua conversa com os gregos falando do “Deus desconhecido”, que era algo que eles já tinham, ao invés de tomar o caminho das coisas negativas e ficar acusando aquele povo de idolatria (o que certamente teria fechado as portas ao evangelho).
Não é errado o cristão ter uma boa comunicação, mas é errado usar de argumentos falsos, mentir, etc. Por exemplo, eu sou um profissional de comunicação e minha especialidade é ensinar as pessoas, para o que preciso ser convincente ou de nada irá valer meu trabalho. Como palestrante e consultor eu preciso também ter a certeza do que estou falando e comunicar esta certeza, caso contrário como criarei a mesma convicção em quem escuta? Muito disso faz parte da minha própria personalidade, outras coisas adquiri com o tempo, estudo e prática. Como eu poderia “desligar” esta habilidade na hora de falar do evangelho? Não tem como, mas eu preciso, isto sim, me policiar para não usar de subterfúgios. De qualquer maneira, mesmo ao falar do evangelho eu preciso passar firmeza e certeza. Você gostaria de ser examinado por um médico que não soubesse dizer exatamente o que você tem (por falha em sua comunicação) e deixasse você em um mundo de incertezas? Isto também vale para todas as profissões, professores, advogados, vendedores…
Tudo isso eu escrevi entendendo sua pergunta, mas quis expandir um pouco o assunto até como forma de… lhe convencer de que a minha forma de pensar é a correta! Viu só como são as coisas? Mas vamos ao que você realmente quis perguntar, se é correto manipular a conversa e usar de subterfúgios na comunicação, e a resposta é NÃO! E é aí que entra 1 Coríntios 1:1-5
(1 Co 2:1-5) “E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus”.
Esta passagem fala do tema de Paulo, do modo de comunicar este assunto e da atitude daquele que comunica. O assunto de Paulo era o testemunho de Deus, ou seja, Cristo; o modo de comunicar não era com palavras sublimes; a mensagem não incluía palavras persuasivas de sabedoria humana e a atitude do apóstolo foi de temor e grande tremor. Paulo aqui já está dando uma aula de comunicação. Veja você o que está incluído no que ele disse se fosse explicado por um professor de comunicação ao falar das 4 partes principais que compõem uma mensagem:
FONTE (Quem): Paulo, em temor e tremor, ou seja, a atitude de quem comunica. Mas numa comunicação normal a fonte precisa ter credibilidade para que as pessoas acreditem no que ela está dizendo. Embora a credibilidade ajude na comunicação das coisas de Deus, devemos sempre nos lembrar de que a convicção vem do Espírito usando o poder da Palavra de Deus. Felizmente é assim, pois de outro modo ninguém se converteria nessas religiões de pregadores picaretas, mas porque é a Palavra de Deus que está sendo pregada ali, e a Palavra de Deus tem poder, mesmo saindo de uma boca não convertida ela cumpre os propósitos de Deus.
FORMATO (Meio): Aqui era uma carta que Paulo usou, mas poderia ser por voz (hoje temos multimídia). No caso do evangelho é preciso cuidado para não se valer de meios dúbios. Por exemplo, não caberia usar uma revista pornográfica para publicar textos evangelísticos. Um meio assim seria totalmente inadequado. Pense em formato ou meio como os recursos utilizados. Um carro de som na frente de um hospital, mesmo pregando o evangelho, não seria um meio ou formato correto por transgredir a lei e incomodar pessoas enfermas que precisam de descanso. O mesmo pode ser dito de pregações de muitos decibéis cujos pregadores acabam na delegacia, quando a vizinhança incomodada chama a polícia.
ESTRUTURA (Como): Paulo explica que a sua comunicação era sem uso de palavras persuasivas ou sem fundamentar-se na sabedoria humana. Na comunicação normal isto seria levar em consideração a capacidade dos ouvintes e adequar o vocabulário ou o modo de comunicação à sua capacidade. É claro que isto também pode ser feito na comunicação do evangelho. Mas um erro seria tentar fundamentar o evangelho em fatores históricos, como alguns tentam fazer para desacreditar os escritos de Paulo. Quando ele dá instruções de como os cristãos devem andar e a igreja congregar, alguns simplesmente descartam essas instruções fundamentando-se em dados históricos, sociológicos, científicos, culturais, nacionais, etc. Então quando Paulo diz que as mulheres devem cobrir a cabeça na oração, lá vêm aquela longa explicação dos costumes dos gregos antigos para invalidar o mandamento de Deus. Quando ele diz para as mulheres permanecerem caladas nas igrejas, são usados os mesmos subterfúgios de fundamentação nos costumes e na cultura para abrir mão disso. E hoje algumas congregações já anulam o que Paulo fala sobre homossexualismo por considerarem as instruções bíblicas apenas reflexos de uma época.
CONTEÚDO (O quê): Cristo. Este é o assunto de Paulo e este deveria ser o assunto de cada cristão na sua comunicação das coisas espirituais. Hoje isto tem sido trocado por prosperidade material, saúde física, sorte no amor, etc.
Para terminar, um exemplo de comunicação fazendo exatamente o contrário do que Paulo fazia e com o objetivo, não de salvar e edificar, mas de dividir e destruir:
(Rm 16:17-18) “E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples”.
(2 Tm 2:16-18) “Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; Os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns”.
(Gl 5:7-8) “Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade? Esta persuasão não vem daquele que vos chamou”.
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Posso participar de uma cerimônia de batismo?
Você foi convidada por alguém da família para ser madrinha em um batismo e está em dúvida se deve ou não ir, porque esse batismo vai acontecer numa igreja católica. Este é um dos muitos casos que temos de enfrentar no nosso dia a dia e quando sou confrontado com uma situação assim devo orar e apresentar o caso diante do Senhor.
Foi o que Naamã fez. Ele havia acabado de conhecer o Deus verdadeiro e seu poder, e tinha sido curado da lepra, que na Bíblia é também uma figura do pecado. Tudo isso é uma figura maravilhosa da conversão de uma alma a Cristo, quando depois de tentar todas as alternativas encontra alguém que lhe diz algo simples demais para acreditar. Tanto é que, diante da relutância de Naamã de cumprir a ordem do profeta Eliseu, de mergulhar sete vezes no Jordão (o que Naamã achou absurdo num primeiro momento), é persuadido pelos seus próprios servos. Veja a passagem:
(2 Rs 5:11-14) “Porém, Naamã muito se indignou, e se foi, dizendo: eis que eu dizia comigo: certamente ele sairá, pôr-se-á em pé, invocará o nome do Senhor seu Deus, e passará a sua mão sobre o lugar, e restaurará o leproso. Não são porventura Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles, e ficar purificado? E voltou-se, e se foi com indignação. Então chegaram-se a ele os seus servos, e lhe falaram, e disseram: meu pai, se o profeta te dissesse alguma grande coisa, porventura não a farias? Quanto mais, dizendo-te ele: lava-te, e ficarás purificado. Então desceu, e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua carne tornou-se como a carne de um menino, e ficou purificado”.
Agora temos um Naamã convertido e temente a Deus, que como qualquer pessoa que foi salva por Cristo, não quer mais fazer coisas que possam desagradar aquele que o salvou. Por isso ele apresenta uma dificuldade que sabe que encontrará em sua nova vida:
(2 Rs 5:18-19) “Nisto perdoe o Senhor a teu servo; quando meu senhor entrar na casa de Rimom para ali adorar, e ele se encostar na minha mão, e eu também tenha de me encurvar na casa de Rimom; quando assim me encurvar na casa de Rimom, nisto perdoe o Senhor a teu servo. E ele [o profeta Eliseu] lhe disse: vai em paz”.
Naamã sabia que, apesar de agora ser um adorador do Deus verdadeiro, teria de enfrentar um dilema quando retornasse ao seu trabalho junto ao rei pagão que servia. Eventualmente seria obrigado a acompanhar seu rei no templo do ídolo Rimom e, segurando a mão do rei, encurvar-se ali diante daquela imagem de pedra. O que fazer? Eliseu não lhe diz nada a respeito, simplesmente diz: “Vai em paz”.
A Bíblia não diz se Naamã continuou ou não entrando com o rei no templo do ídolo. Não entrar significaria provavelmente pena de morte, como era costume para qualquer um que contestasse uma ordem real. Mas a Bíblia também deixa claro que Eliseu não deu a Naamã uma aula contra a idolatria, ameaçando-o com fogo e enxofre caso ele voltasse a entrar no templo pagão. “Vai em paz”, foi só o que Naamã ouviu, e era em paz que devia tratar isso depois com seu próprio Deus.
Por outro lado encontramos Daniel e seus amigos recusando-se veementemente a cumprir os costumes da corte pagã onde viviam. Aquilo acabou colocando as vidas deles em risco, mas aquele era o exercício que eles próprios tinham com Deus. Aqui vale lembrar que certas coisas também dependem do grau que temos de conhecimento de Deus, o que obviamente era diferente no caso de Naamã, um pagão recém-convertido ao Deus verdadeiro, e Daniel e seus amigos, judeus nascidos e criados no judaísmo e exímios conhecedores das Escrituras. Com o conhecimento vem também a responsabilidade.
(Lc 12:48) “Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão”.
Assim deve ser com você, ore e peça a Deus a direção de como agir. Eu sei como é difícil em situações assim pendermos para um lado ou para o outro, e nem sempre agirmos da forma correta aos olhos de Deus. Existe também outro aspecto que precisa ser ponderado, que é o de outros irmãos em Cristo que possam ficar escandalizados por sua atitude.
Enxergo o batismo como o casamento, ou seja, não se trata de um culto ou ritual, mas do cumprimento de uma ordenança cristã. Apesar de o casamento ser uma instituição divina, o batismo é uma ordenança, ou seja, algo que deve ser cumprido. Não é ordenado que uma pessoa se case (a menos que queira viver com outra), mas é ordenado nesta dispensação da graça de Deus que seja batizada. O Senhor mandou que fôssemos batizados, e os pais da criança estão cumprindo essa ordem, ainda que no lugar e da forma imperfeita. Mas essa criança sairá dali batizada, ela poderá ser chamada de “cristã” a partir desse dia, ainda que não tenha crido em Cristo (e nem ter condições para isso). Ela não é mais uma pagã.
Aceitar ou não participar como madrinha irá depender mais de sua consciência para com Deus do que de uma regra, como se vivêssemos nos tempos da Lei mosaica. Em sua situação eu talvez já teria tentado explicar a meus amigos a respeito de minha fé, mas se eu estivesse no seu lugar e tivesse recebido o mesmo convite que recebeu, talvez eu até aceitasse dependendo do grau de parentesco e amizade que tivesse com as pessoas que convidaram, e principalmente para evitar colocar um tropeço recusando o convite e fazendo-os pensar que o meu “cristianismo” seja algo bizarro demais para eles aceitarem. Mas veja que eu poderia também errar pensando assim, pois há casos em que as pessoas ao invés de se ofenderem ficam tão impressionadas com a força e influência que a fé tem em sua vida que acabam querendo saber mais a respeito dessa fé.
(1 Pe 3:15) “Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós,”.
Mas digo da possibilidade de eventualmente participar só por se tratar de um batismo, que é um cumprimento à ordenança dada pelo Senhor. Seria diferente se me convidassem para uma missa. Aí não iria, pois é um culto de adoração a Deus no lugar errado, da maneira errada e incluindo um ritual errado, que é a suposta transubstanciação do corpo e do sangue do Senhor em objetos materiais (pão e vinho). O mesmo quando sou convidado para um culto protestante. Apesar de não existir ali o ritual da suposta transubstanciação, continua sendo o modo errado de se adorar a Deus, por isso também não participaria de um culto, mas não teria problema em participar de um casamento ou batismo.
Mas entenda que estamos falando aqui de instituições (católicas ou protestantes) que são cristãs em sua essência, isto é, que professam as doutrinas básicas e fundamentais da fé cristã, que incluem a divindade de Jesus e seu sacrifício expiatório. Se estivéssemos falando de um batismo ou casamento em uma instituição espírita, mórmon das testemunhas de Jeová, budista, islâmica ou qualquer uma dessas religiões que trazem em seu corpo doutrinário a negação da divindade de Jesus, eu não iria de modo nenhum.
Já estive numa situação quando fui obrigado a assistir a uma missa durante um velório. Sem eu saber que isso iria acontecer, um padre entrou na capela onde estava sendo velado o corpo de um tio muito querido e celebrou uma missa. Como eu estava já dentro achei que não ficaria bem sair, mesmo porque a maioria ali me conhece e sabe de minha fé. Mas naquele caso eu já estava ali, não tive como evitar. E meu tio era um que eu tinha certeza ser um homem de fé, que creu no Senhor e que um dia encontrarei no céu. Mesmo católico?! Mesmo católico, e explicarei a razão disto mais adiante.
Voltando ao assunto “batismo”, a ideia de “padrinho” é uma ideia católica que surgiu da necessidade de se poder contar com alguém no caso do falecimento dos pais. Numa época quando a morte era corriqueira nas famílias, não raro eram os padrinhos que acabariam criando a criança pela qual ficavam responsáveis pela relação de batismo. Padrinho significa algo como um pai de reserva.
Os católicos de hoje nem sabem direito por que convidam alguém para padrinho. Duvido que estejam pensando em alguém para ser o pai ou a mãe reserva, para o caso de eles morrerem. Mas o convite deve ser visto como uma honra, pois geralmente os pais querem uma pessoa idônea para de alguma forma abençoar aquela criança e trazer “boa sorte” (como quando escolhemos nomes para nossos filhos: evitamos dar o mesmo nome daquele parente ou amigo que é uma péssima pessoa!).
Então, entenda que o convite é, primeiro, uma honra, porque essas pessoas que a convidaram têm uma ótima impressão a seu respeito. Aceitar ou não aceitar? Ore a respeito e espere no Senhor. Se ele lhe der paz e mostrar que isso poderá abrir portas para ganhar esse casal para Cristo, então vá. Se não, o melhor é ter uma conversa franca e explicar suas razões com muito cuidado, para não ofendê-los. Lembre-se sempre de que eles estarão fazendo isso por acharem que é a vontade de Deus, ou seja, a intenção deles é a melhor, para com Deus e para com o filho que nasceu. Antes todos os pais tivessem tal disposição. Se decidir não ir (e explicar a eles a razão), você pode tanto perder os amigos como ganhá-los, se eles perceberem que sua fé é levada tão a sério por você que pode valer a pena querer saber mais a respeito.
Um sentimento de amor, graça e compreensão ajuda nessa hora, e não aquela arrogância típica de alguns que olham de cima para baixo os que não creem igual. Eu me converti a Cristo e a pessoa que pregou para mim não falou de igreja, só de Jesus, por isso depois de convertido me tornei um assíduo frequentador das missas durante um ano, chegando até a ajudar o padre e a formar um grupo de jovens para estudarmos o evangelho (o que o padre não gostou muito, porque eu ensinava para aqueles jovens a salvação pela fé somente).
Quando Deus mostrou os muitos erros do catolicismo acabei abandonando aquela religião (como mais tarde também abandonaria a religião batista pelo mesmo motivo, apenas por erros diferentes). Mas durante um ano fui católico e realmente convertido a Cristo, tendo certeza de minha salvação e do perdão de meus pecados. Há muitos convertidos reais dentro do catolicismo. Eu fui um deles.
Como pode ver, a vida cristã não é uma lista de regras do que você pode ou não pode fazer, mas uma vida em dependência da Palavra de Deus e da direção do Espírito. Há coisas que você encontra claramente expressadas na Palavra, outras não, e este é um caso. Não existe algo nas páginas da Bíblia como “Não irás a um batismo católico”. Aí é na dependência do Espírito que você deverá ficar para saber o que decidir.
Estes versículos poderão ajudar. Aqui o assunto era outro (a guarda de certos costumes e rituais do judaísmo, de onde muitos cristãos haviam acabado de sair), mas serve como pista de como devemos agir naquelas coisas que não estão em total conflito com a Palavra. Paulo não teria dito o mesmo de circuncidar-se para ser salvo, algo que ele claramente combate em outra ocasião, ou de guardar a lei com a mesma finalidade. O que ele está tratando aqui são costumes e tradições que, se não ajudam, também não atrapalham:
(Rm 14:2-7) “Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu. Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si”.
(Rm 14:19-23) “Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros. Não destruas por causa da comida a obra de Deus. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo. Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça. Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado”.
Deixo aqui apenas um alerta: receba isto como minha opinião e posição pessoal, e não como um dogma, pois você poderia ler e depois concluir: “Ah! É assim que os irmãos com os quais você congrega pensam e é assim que agem”. Se chegar a esta conclusão terá concluído errado, pois acabei de falar que não existe uma regra escrita para situações assim, mas que depende do exercício particular de cada um para com o seu Senhor. Eu não diria que depende de um exercício particular se o assunto fosse roubar, aceitar suborno, fornicar, embriagar-se, etc., porque aí temos instruções claras da Palavra de Deus nos exortando a ficarmos longe dessas práticas.
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Como um católico pode ser salvo se Deus condena a idolatria?
Você pergunta como um católico pode ser salvo se Deus condena a idolatria e afirma em sua Palavra que “ficarão de fora… os idólatras” (Ap 22:15), e “nem os idólatras… herdarão o reino de Deus” (1 Co 6:10)? Você disse que sempre achou que um católico poderia ser salvo, mas que antes de morrer, Deus o tiraria do catolicismo. Vamos ver se consigo responder suas dúvidas.
As pessoas pensam que a idolatria é tão antiga quanto os homens, mas não é assim. O homem inventou a idolatria depois de perder Deus de vista. Durante séculos o conhecimento de Deus foi passado de geração para geração, e antes do dilúvio isso era bem mais fácil pela longevidade dos habitantes da terra. Mas o homem, por ser uma criatura distinta dos animais, tem também um destino diferente: o homem é perpétuo, nunca mais deixará de existir, ao contrário do animal que desaparece por ser apenas corpo e alma (emoções), sem espírito.
(Ec 3:21) “Quem sabe que o fôlego do homem vai para cima, e que o fôlego dos animais vai para baixo da terra?”.
(Ec 12:7) “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”.
Mesmo depois de ter entrado o pecado na criação, o homem continuou ciente da existência de Deus e a princípio não criou deuses para si. Você se lembra de que a promessa da serpente não era de eles terem outros deuses, mas de serem eles próprios “como Deus”. Portanto, se pudermos chamar de idolatria também a veneração própria, então se pode dizer que ela tenha começado no Éden. Mas se estamos falando de deuses de pedra, barro e metal, então é bem posterior.
Não demorou para que o conhecimento de Deus fosse deixado de lado e a superstição tomasse o lugar. O homem sem Deus tem medo, e para aplacar esse medo se agarra a algo que acaba se transformando em seu ídolo. Esse algo podem ser meras criaturas (como os hindus e suas vacas sagradas), pode ser fruto de sua imaginação (duendes, fadas, elementais, elfos, etc.), demônios com os quais os homens querem se dar bem para evitar problemas (como no budismo tibetano e religiões africanas) e podem também ser outros homens mais destacados ou anjos (não os caídos), que os homens adotam por considerá-los superiores, uma categoria na qual também se encaixam seres humanos comumente chamados de “santos” no sentido religioso da palavra.
Falando no contexto bíblico, no primeiro caso cabem os egípcios, e sua adoração por gatos, escaravelhos, etc. No segundo teríamos os gregos, com seus deuses mitológicos que podem ou não ser reminiscências dos tempos em que anjos desceram à terra e tomaram mulheres para si, as quais geraram gigantes (no sentido de homens fortes e poderosos). No terceiro caso encontramos um exemplo em Atos 16:16, que infelizmente é traduzido de forma a não revelar o que movia aquela jovem possessa:
(At 16:16) “E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação [espírito de píton], a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores”.
No grego o sentido é que aquela jovem tinha espírito de Píton, pois era uma pitonisa. Píton é serpente, portanto não fica difícil entender quem está por trás das adivinhações de pitonisas, pessoas que adivinham sob transe. Cobras píton (ou pitão) são da espécie Pythonidae ou “constritoras” e sua característica é enrolar-se na vítima, imobilizá-la, tirar seu fôlego e então apossar-se dela.
Não poderia existir definição melhor para alguém em transe mediúnico: a pessoa perde os movimentos próprios, o fôlego que produz a fala não é mais seu e fica totalmente entregue ao demônio que a subjugou. Hoje você encontra muitas pitonisas como aquela jovem de Atos mesmo em igrejas evangélicas, sem falar nas religiões espiritualistas. Todavia aprendemos de 1 Coríntios 14 que “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas”, isto é, uma pessoa movida pelo Espírito de Deus continua com seu próprio espírito humano no controle.
Em 1 Coríntios 10:20 Paulo também fala dos demônios que atuam nas pessoas, ao escrever: “Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios”. Ele está escrevendo aos gregos, cuja idolatria podia envolver tanto a classe de animais, como de seres mitológicos, como de demônios (igual ao caso da pitonisa).
A última classe, de idolatria a homens e a anjos, você pode encontrar primeiro em Atos 10:26, quando Pedro corrige Cornélio, dizendo, “Ergue-te, que eu também sou homem”, e em Colossenses 2:18, que fala de “culto dos anjos, baseando-se em visões”, e também em Apocalipse 19:10 e 22:9, onde nas duas ocasiões o anjo rejeita a adoração do apóstolo João dizendo: “Não faças isso, eu sou conservo teu”.
Portanto é principalmente a estas classes de idolatria que a Bíblia se refere e o elemento comum em todas elas não é a fé, mas a superstição. Fé é crer no testemunho de Deus, superstição é crer no que a pessoa desejar crer. A fé neutraliza a superstição, mas é inegável que a superstição pode ser encontrada até entre os santos de Deus. Há vários exemplos disso no Antigo Testamento e há também este do apóstolo João, depois de tantos anos, ainda cometeu o deslize de prostrar-se diante do anjo para adorá-lo.
O importante é entender que mesmo em meio à superstição o homem nunca se esquece de Deus, e os gregos tinham até um altar ao “Deus desconhecido”, que foi o ponto de partida de Paulo para lhes pregar o evangelho. Os egípcios também tinham algo parecido, um Deus único e o mesmo é encontrado na religião Inca (um bom livro para entender isso é “Fator Melquisedeque”, de Don Richardson). O que muda é o grau de superstição (veja o apóstolo João, por exemplo, um veterano salvo por Cristo levando bronca de um anjo por causa de sua superstição!).
Mas o que tudo isso tem a ver com sua pergunta? Perceba que o verdadeiro Deus, que é um Deus de amor e de misericórdia, está sempre em “estado de espera”, como costumamos falar do computador com o monitor aparentemente apagado. Basta o mais leve toque para o sistema voltar à vida, e não é diferente com Deus e seu modo de agir para com o homem.
Considere isto: o homem, por mais supersticioso que seja, nunca perde a noção da existência do Deus verdadeiro, porque isto está em seu “DNA”, por assim dizer. E Deus nunca desiste do homem enquanto ele estiver vivo. O único Homem de quem Deus foi obrigado a desistir foi o seu próprio Filho, Jesus, quando foi abandonado na cruz por estar ali carregando nossos pecados e ter sido feito pecado por nós. Essa foi uma obra estranha à natureza de Deus, mas necessária para nos salvar.
(Sl 37:25) “Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo”.
(Sl 22:1) “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.
(Jó 34:14-15) “Se ele [Deus] pusesse o seu coração contra o homem, e recolhesse para si o seu espírito e o seu fôlego, Toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó”.
Portanto volto a afirmar: Deus não desiste do homem até o último suspiro, pois ele é misericordioso. Porém esta não é a disposição do homem, que é cruel e sempre pronto a condenar ao lago de fogo quem não frequentar uma determinada religião ou que não estiver praticando algo que ele pratica porque está em sua lista de boas obras (já reparou que o fariseu no Templo fala de jejuar de uma forma que nunca é encontrada na Bíblia? Ele havia inventado sua própria lista do que considerava boas obras).
(1 Cr 21:13) “Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; caia eu, pois, nas mãos do Senhor, porque são muitíssimas as suas misericórdias; mas que eu não caia nas mãos dos homens”.
Entenda que não estou dizendo aqui que podemos ser supersticiosos, idólatras ou mundanos que não há qualquer problema nisso. Estou mostrando que Deus quer salvar, e o homem não é misericordioso como seu próprio Criador. Um exemplo? Nem bem aconteceu a notícia da tragédia numa boate em Santa Maria, Rio Grande do Sul, e você já encontrava na seção de comentários dos sites de notícias pessoas “religiosas” fazendo suas acusações costumeiras, um dizendo que isso aconteceu porque os “gaúchos são muito orgulhosos”, outros porque “os jovens não deveriam estar ali dançando”, etc.
Tenho certeza de que você já ouviu esse tipo de julgamento por “religiosos” quando souberam da morte de alguém que não rezava pela mesma cartilha. É assim porque nós, ao contrário do Senhor, não somos misericordiosos, porém cruéis por natureza. E, obviamente, julgamos tudo não segundo a reta justiça, mas segundo o molde de religiosidade que criamos para nós mesmos, o que também não é diferente de superstição: acabamos querendo ser o padrão, e voltamos ao sussurro da serpente: “Sereis como Deus…”.
E Jesus, diante da morte de Lázaro, o que fez? Chorou. Aquele que voltará um dia para julgar vivos e mortos, não julgou Lázaro. Ele chorou. Ele não disse algo do tipo, “Eu disse para Lázaro diminuir o vinho…”, ou “É nisso que dá não cuidar da saúde…”, ou “Se ele tivesse fé em mim teria sido curado, mesmo eu estando longe…”.
Ele não fez igual aos “amigos” (mui amigos…) de Jó, que até estavam indo muito bem enquanto mantiveram suas bocas fechadas, mas depois só acrescentaram dores e sofrimentos àquele que tinha um testemunho da boca de Deus de que “ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal” (Jó 1:8). Mesmo assim eles massacraram Jó com todo tipo de acusação, só para no final Deus dizer para Jó interceder por seus equivocados amigos, o que Jó obviamente fez.
Portanto, a pessoa mais pecadora da face da terra, a mais supersticiosa, a mais idólatra, se tão somente crer no testemunho que Deus dá de seu filho, ela é IMEDIATAMENTE salva. Mesmo que não tenha tido tempo de tirar as medalhinhas que carrega no pescoço ou desmontar o altar cheio de ídolos que tem em casa. Veja que foi depois de se converterem que os que seguiam artes mágicas se livraram dos objetos de sua superstição:
(At 19:18-19) “E muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos. Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata”.
Uma pessoa pode já ter sido salva pela fé em Cristo, mas ainda carregar em si sentimentos supersticiosos, e é por isso que tenho a certeza de que muitos católicos que verdadeiramente creem no Salvador estão salvos e irei encontrá-los no céu. Não por serem católicos, evidentemente, mas porque em algum momento o Espírito Santo de Deus tocou neles e creram no Salvador.
E a superstição? Não precisariam largá-la para serem salvos? Não coloque o carro na frente dos bois. A limpeza vem depois, mas nunca o tempo da faxina é igual para todos. Você sabe quantos anos de idade o apóstolo João tinha quando se prostrou para adorar o anjo? Mais de 92. Se ele tivesse uns 20 anos quando começou a seguir a Jesus, veja quanto tempo ele viveu com esse sentimento supersticioso até levar a bronca do anjo. Você diria que nesse período todo João ainda não tinha tido seus pecados perdoados e a salvação garantida? Nem ousaria. E ele próprio sabia que em si mesmo tinha muitas arestas a serem lapidadas, pois escreveu:
(1 Jo 1:8-10) “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós”.
Mas certamente Deus, que começa a obra na vida de uma pessoa com o novo nascimento, passando pela conversão e indo por todo o trajeto da santificação prática, terá a sua “encomenda” pronta para o céu no momento em que vier buscá-la. É isto o que a Bíblia nos garante:
(1 Co 1:7-8) “…nosso Senhor Jesus Cristo, O qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo”.
(Fp 1:6) “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;”.
(Jo 14:19) “…porque eu vivo, e vós vivereis”.
(Jo 10:28) “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão”.
Portanto, quando você ouvir alguém dizer, “Imagine que fulana está salva! Ela diz crer em Jesus, mas ainda é católica e tem todos aqueles ídolos em casa!”, ou “Nem pensar que a fé de fulano seja real! Outro dia eu o vi na porta do bar!”. O que responder? Simples: diga para a pessoa esperar até o filme terminar. Alguns filmes você não entende se sair antes e não assistir até o último minuto, que é quando tudo fica resolvido. Assim é também nas coisas de Deus. Primeiro somos completamente salvos, lavados, purificados e santificados pelo sangue de Cristo, ficando assim aptos para o céu. Depois começa em nós um processo de santificação prática, a expressão visível daquela santificação absoluta, que vai durar até o último segundo de nossa existência na terra.
Portanto, quando o assunto é superstição e idolatria, essas coisas não existem somente no catolicismo. Elas permeiam, e muito, as igrejas evangélicas, com milhões de pessoas correndo atrás de curas e milagres ao invés de se ocuparem com Cristo. Isto quando não estão ali para adorar Mamom, que hoje se apresenta na forma de um carro importado, uma mansão ou um negócio próprio. Existem salvos ali? Evidentemente, como também existem na igreja católica.
Mas e seus pregadores corrompidos pela ganância, estariam eles salvos? Deus saberia dizer. Mas é bem provável que muitos dos salvos no catolicismo e no protestantismo, que ouviram a Palavra de Deus pregada por bocas não convertidas, cheguem ao céu, deem uma olhada em redor, e perguntem: “Ué! Onde está o ‘bispo’ fulano, o ‘pastor’ sicrano, o ‘padre’ beltrano, o ‘missionário’ tal e o ‘evangelista’ tal? Eu jurava que os encontraria aqui!”.
Por outro lado também não será de surpreender que na condenação eterna existam aqueles que nunca quiseram crer em Cristo com a desculpa que esses líderes religiosos enganavam o povo, só para acabarem descobrindo que compartilharão com eles de um mesmo destino. Felizmente para todos, não é quem prega, mas a Palavra de Deus, que leva uma alma à salvação. E não é o estado visível daquele que creu em Jesus que determina seu destino eterno. É o fim de sua carreira, e isso inclui também aqueles em posição de guias do povo de Deus.
(Hb 13:7) “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente O FIM DA SUA VIDA, imitai a fé que tiveram”.
Agora, para tirar qualquer dúvida quanto à possibilidade de alguém que faça parte da igreja católica poder ter a salvação pela fé em Jesus considere isto. No ano 312 o Imperador Constantino decidiu unir o Império Romano sob uma igreja universal, fazendo de Roma não só a sede do Império, mas também do cristianismo. No ano 380 o Imperador Teodósio emitiu um edito chamado “De Fide Católica” na cidade de Tessalônica, o qual foi publicado em Constantinopla, declarando o cristianismo católico como a religião oficial do Império Romano.
Portanto, durante muitos séculos quem fosse cristão seria automaticamente membro da igreja católica. Foi só muito depois que surgiram alguns movimentos contrários à igreja de Roma, os quais foram duramente perseguidos e muitos massacrados. Por volta do ano mil e alguma coisa houve uma divisão que deu origem à igreja ortodoxa, que se espalhou mais pelo Oriente. A reforma protestante só viria a acontecer por volta de 1500.
Agora faça as contas (arredondando): De cerca de 400 a 1500 são 1100 anos. Ao afirmar que nenhum católico pode ser salvo (mesmo se crer em Cristo) se for católico você está afirmando que durante 1100 anos ninguém teve a salvação e nesse período a entrada para o céu esteve fechada porque o catolicismo era algo compulsório.
Felizmente a salvação não depende de estar ou não estar em alguma organização religiosa; a salvação depende apenas de crer em Cristo, o Salvador.
*
Você me perdoa?
Eu não preciso perdoar você porque simplesmente não vejo que tenha de algum modo me prejudicado ou ofendido. Às vezes dizemos coisas que momentaneamente podem nos causar algum sentimento de tristeza, o qual para alguns pode ser uma grande coisa, mas para outros acaba passando como uma neblina. Eu posso garantir a você que tenho pele grossa, isto é, dificilmente alguém consegue me atingir ao ponto de eu ficar “de mal” com a pessoa. É como mertiolate: se na hora arder, eu assopro até passar.
Se eu pensasse o contrário, nem continuaria publicando tudo o que publico na Web, pois a cada vídeo, áudio ou texto sempre vem alguém com os dois pés para cima de mim. Do jeito que existem doutrinas maléficas hoje no mundo já dá para imaginar com que frequência isto acontece. Já cansei de ler e-mails com frases do tipo “Você precisa se converter!”, “Peça a Deus perdão pelas coisas que escreve!”.
A questão com você não é de perdoá-lo ou não (ok, se você precisa ouvir de mim algo formal, então eu perdoo). A questão é que eu sempre prefiro evitar a comunicação com pessoas que transformam um simples pelo em cabeleira de ovo. Sinto ter de dizer isto a você (e mais uma vez ficar sujeito a levar uma retranca), mas acho você muito preocupado com coisas sem importância, e por isso fica magoado comigo ou acha que eu fico magoado com você. Atente para este versículo:
(2 Co 5:14-17) “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo. Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.
O que Paulo está dizendo aqui é que, de agora em diante (depois da conversão), não julgamos mais as pessoas pela aparência, pela posição, pela cor da pele, pelo gênero, pelo cargo que ocupa, ou seja, não julgamos mais de modo carnal, como fazíamos no passado em nossa natureza carnal. O cristão, que é agora nascido de novo, deve enxergar em cada um alguém por quem Cristo morreu, e naqueles que já creem, um irmão em Cristo. É evidente que podemos e devemos julgar as obras e o andar da pessoa, além das doutrinas que ela professa, caso contrário ficaríamos abertos a todo o lixo moral e doutrinário que muitos cristãos carregam, mas não devemos julgar a pessoa em si.
Até mesmo Cristo, que os discípulos haviam conhecido e visto como tantos outros de sua época tiveram a oportunidade de ver e conhecer, agora não é para ser conhecido daquele modo, ou seja, segundo a aparência exterior (ainda que Cristo fosse o Homem perfeito).
“Ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo”.
Agora nós que cremos já o conhecemos de outro modo, como o Senhor ressuscitado e glorificado nos céus à destra de Deus. Se nos evangelhos vimos Jesus andando por aqui como um pobre carpinteiro, esta é a visão que agora nós que cremos temos dele:
(Hb 2:9) “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”.
Quando a passagem diz que agora quem está em Cristo é nova criação (a tradução “criatura” não é a correta) não está falando de seu modo de vida, mas de sua posição aos olhos de Deus e em Cristo. Um viciado que acabou de se converter é nova criação, mesmo que ainda não tenha tido tempo de tirar a seringa pendurada em seu braço. É assim que ele deve ser visto, como pertencente à nova criação que é perfeita em Cristo.
É claro que, apesar de as velhas coisas já terem passado e tudo ter sido feito novo (porque está falando da posição dele, não da condição atual), ele ainda terá muitas coisas da velha criação penduradas nele. Mas o fato de tê-las não o tira dessa posição pela mesma razão que o não tê-las não dá a ninguém o direito de ser nova criação. Trocando em miúdos, uma pessoa não é nova criação porque deixou de praticar isso e daquilo e nem deixa de ser nova criação porque ainda não conseguiu deixar de praticar isso e aquilo.
Portanto, e é disto que o trecho continua falando, se Deus chegou aos extremos ao ponto de me reconciliar consigo por intermédio de Cristo, como poderia eu ou qualquer salvo por Cristo, que recebemos o “ministério da reconciliação”, ficarmos com picuinhas e melindres uns para com os outros? Como poderia um cristão recusar-se a se reconciliar? Agir assim seria agir na carne e enxergar o irmão pelos olhos carnais, tratá-lo como seria normal a carne tratar. Para os que seguem a Cristo reconciliação é assunto de urgência e precede a adoração a Deus. Somos ensinados a não continuarmos a segunda sem antes resolvermos a primeira.
(Mt 5:23-24) “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta”.
Sempre que algum sentimento carnal nos assaltar, e o sentimento de inimizade é carnal, devemos imediatamente colocar isso diante do Senhor e pedir por ajuda para nos livrarmos de mais esta “seringa” de droga carnal que ainda permanece pendurada em nós.
(2 Co 5:18-19) “E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pós em nós a palavra da reconciliação”.
Entenda que o que estou dizendo aqui é na esfera pessoal e individual, não na esfera governamental ou administrativa. Um juiz pode ser obrigado a condenar um malfeitor para fazer justiça, e depois ir todos os dias visitá-lo na prisão por ser seu amigo de infância. Isto é o que muitos não compreendem quando a questão é, por exemplo, a disciplina que uma assembleia aplica a alguém com a autoridade que o Senhor delegou a dois ou três reunidos ao seu Nome. A disciplina não é um instrumento individual e pessoal, mas administrativo.
Voltando ao assunto de seu e-mail, é por isso que faço ouvidos moucos àqueles que entram em um loop do tipo “me perdoa que eu te perdoo” ou “eu te perdoei e você não me perdoou” porque sei que isso não leva a nada. Esse bate e volta não passa de carne. Como cristãos, devemos sim perdoar e virar a página, e jamais ficar procurando o próximo pelinho no ovo para começar a jogar tônico capilar nele e termos outra cabeleira para pentear.
Se alguém não me perdoa, não devo me preocupar muito com isso porque sei que Cristo me perdoou. E se alguém acha que ainda precisa ter de mim o perdão, coloco este perdão em modo “default”, ou seja, “considere-se perdoado”, mesmo que eu ainda tenha que lidar com alguma mágoa ou ressentimento desta velha natureza que trago dentro em mim, da qual ficarei totalmente livre no arrebatamento ou ressurreição. Mas eu sei, como cristão, que estarei errando se fizer da ofensa recebida uma fortaleza, porque se agir assim meus muros ficarão cada vez mais altos, até ao ponto de eu não poder me dar bem com mais ninguém. Afinal, qual é a admoestação que temos do Senhor?
(Cl 3:13-14) “Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição”.
Como foi que Cristo me perdoou? Completamente, definitivamente, sem reservas ou condições. É assim que sou exortado a perdoar também. Na lei eu devia perdoar para ser perdoado, mas agora nesta dispensação da graça eu devo perdoar porque fui perdoado.
Portanto, quer bater um bom papo comigo? Pare com essas lamentações, pare de cantar a música que era cantada por Agostinho dos Santos. Qual?
Ninguém me ama, ninguém me quer
Ninguém me chama de meu amor
A vida passa, e eu sem ninguém
E quem me abraça não me quer bem
Vim pela noite tão longa de fracasso em fracasso
E
hoje descrente de tudo me resta o cansaço
Cansaço
da vida, cansaço de mim
Velhice chegando e eu chegando ao fim.
Esta é uma das músicas de maior fossa do repertório da MPB, e se você viver cantando assim nunca será feliz. Portanto, quebre esse disco e aí teremos sempre um papo legal, falando das coisas do Senhor, olhando para ELE
e não para nossos umbigos. Pessoas que se preocupam consigo mesmas, com o que os outros estão pensando, com ideias do tipo “…estão falando mal de mim…” acabam infelizes e deixando infelizes todos ao redor, porque o sentimento de auto piedade contamina e é também uma forma de idolatria: egolatria.
Lembro-me do caso de um empresário muito rico e influente, que era tão preocupado com essas coisas que chegava a se esconder no porta-malas de seu carro e pedir ao motorista para estacionar em frente ao café onde ficava reunida sua roda de amigos. Assim, de dentro do porta-malas (e num tempo quando não existiam dispositivos eletrônicos para isso) ele podia ouvir se alguém estava falando mal dele. Você pode imaginar que vida miserável levava aquele milionário: ele era incapaz de tirar o foco de seu próprio umbigo.
Quer ser feliz? Deixe de ser “encucado”, seja “light”, leve as coisas na esportiva, não fique transformando cada “cara feia” ou “olhar de esguio” em uma guerra. Isso aí é coisa de adolescente que fica guardando mágoa por qualquer besteira. Este não é de modo algum o modo de um cristão se comportar.
*
Responder ou não responder?
Sua dúvida é se não haveria uma contradição entre Provérbios 26:4 e 5, pois parece apoiar coisas antagônicas. Afinal, é para responder ao tolo ou não? Vamos ver as passagens.
(Pv 26:4) “Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia; para que também não te faças semelhante a ele”.
(Pv 26:5) “Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que não seja sábio aos seus próprios olhos”.
Às vezes uma maneira de se entender uma passagem é criando uma paráfrase ou colocando-a com outras palavras. Veja a paráfrase que eu faria destas duas passagens:
“Não responda ao tolo de modo a se tornar tolo pelo fato de responder a ele, como se estivesse entrando na dele. Mas responda ao tolo para trazer à tona a sua estultícia para ele deixar de se achar sábio”.
Não estou dizendo que seja esta a interpretação, mas a mim me parece cabível. Elas não se opõem, mas apenas apresentam o que fazer em diferentes situações ou com diferentes propósitos. Um mesmo remédio pode ser aplicado de mais de uma maneira.
Outra tradução diz:
(Pv 26:4) “Não responda ao insensato com igual insensatez, do contrário você se igualará a ele”.
(Pv 26:5) “Responda ao insensato como a sua insensatez merece, do contrário ele pensará que é mesmo um sábio”.
No primeiro caso ele está dizendo para deixar a insensatez ou tolice onde ela merece: sem receber atenção. No segundo caso ele está dizendo para expor sua insensatez se for o caso, por exemplo, de mostrar ao tolo o seu erro ou prevenir alguém de ir na conversa dele.
Há dois tipos de pessoas que têm dificuldade de entender a Bíblia. Uma é aquela que lê querendo encontrar erros e contradições. O ditado popular diz que para o martelo tudo tem cara de prego. Outra é a pessoa que realmente tem alguma limitação intelectual, mas neste caso se for uma alma sincera buscando a Verdade o Senhor a acolherá e dará a ela os meios para isso, mesmo que seja por outros irmãos que a ajudem.
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O que você acha da mensagem de David Platt?
David Platt ganhou publicidade graças ao seu livro “Radical”
lançado nos EUA, que tenta despertar os cristãos para agirem como instrumentos contra a fome, a pobreza e as injustiças sociais. Até aí tudo bem, embora ele carregue nas cores da antiga “Teologia da Libertação” em voga no catolicismo latino-americano nas décadas de 70 e 80.
Por ser protestante fundamentalista e seguidor da Teologia da Substituição, que acredita que a Igreja substituiu Israel e é agora a destinatária das promessas do Antigo Testamento, ele não entende a diferença entre o reino e a salvação. O reino contém uma mistura de salvos e perdidos.
Quando Jesus fala que ninguém entrará no reino está se referindo às condições para participar de seu reino terrenal, em especial ao dia em que este for estabelecido na terra.
(Mt 19:23) “Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus”.
(Mt 19:24) “E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus”.
(Mc 10:24) “E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disselhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!”.
(Jo 3:5) “Jesus
respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”.
Porém o reino na sua atual forma, em que o Rei foi rejeitado e voltou para o céu, tem joio e trigo misturados; é grande árvore com aves (agentes do maligno) em seus ramos; é massa com fermento; é rede com peixes bons e ruins, etc. Existe também uma diferença entre reino de Deus e reino dos céus (que aparece em Mateus).
É evidente que o que ele diz sobre a semente que produz fruto quando cai em bom solo é uma responsabilidade de todo cristão. “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef
2:10). O problema é que David Platt quer forçar um caminho inverso fazendo as pessoas darem fruto para provarem que são nascidas de novo.
Não há como fazer um morto andar se antes ele não tiver vida. O fruto é uma consequência natural da árvore que está viva. Se um cristão não mostra qualquer fruto aos olhos dos homens isto não significa que ele não tenha fruto para Deus. “O Senhor conhece os que são seus” (2 Tm 2). A nós resta apenas ver o exterior, que nos ajuda a perceber se um vaso é para honra ou desonra, mas não ao ponto de determinarmos de maneira cabal a genuinidade de sua salvação, pois isto compete a Deus.
Alguém que um dia professou crer e depois passa a confessar o contrário pode nunca ter sido salvo, mas apenas adotou alguns costumes cristãos. Mas pode ser também que seja um verdadeiro filho de Deus passando por um momento de negação e rebeldia. Lá no fundo ele sabe muito bem que Deus existe e que essa sua teimosia em andar errado é pecado. Deus irá tratar com ele em disciplina ou até tirá-lo do mundo se ele não servir mais como um testemunho.
David Platt prega um evangelho misturado com obras ao insistir em sua mensagem de reformas sociais. Querer que as pessoas ajudem os pobres como forma de ter a certeza de sua salvação não é o evangelho. Ainda que ele tenha a boa intenção de estar insistindo para que os verdadeiros salvos tenham obras como consequência da salvação, um incrédulo irá pegar a mensagem pelo avesso e procurar cada dia fazer mais caridade por achar que é o caminho da salvação, ou pelo menos de torná-la evidente. Se boas obras fossem evidência da salvação, os adeptos do espiritismo estariam “mais salvos” do que alguém que crê em Cristo e não tem o que mostrar.
A questão é que um limoeiro vai continuar dando limões se não for transformado em laranjeira. David Platt está pregando para odres velhos se encherem de vinho novo e isso não é por aí. As obras que Deus busca são aquelas avaliadas segundo os critérios divinos, não humanos. Quando os discípulos perguntaram das “obras” no plural Jesus respondeu da “obra” no singular, pois é desta que provêm todas as outras. Qualquer boa obra que não seja fruto do Espírito de Deus atuando na pessoa não passa de feno e palha e será queimada no Tribunal de Cristo, no dia em que as obras (e não a pessoa) dos salvos serão julgadas.
(Jo 6:28-29) “Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus? Jesus respondeu, e disselhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou”.
Você diz que se pensarmos assim então precisaríamos admitir que o apóstolo João não acreditasse na salvação pela graça, pois escreveu: “Aquele que não
ama não conhece a Deus; porque Deus é amor… Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos… Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade… Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro… Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? … Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus… Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros”. (1 Jo 4:8; 5:2; 2:4; 4:9-20; 3:10-11).
É impossível entender o que dizem as epístolas de João sem entender o novo nascimento e a nova vida em Cristo. João está falando da nova natureza e em como ela deve ser patente em nossa vida, isto é, exteriorizada em nosso andar diário, e não de uma melhoria ou aperfeiçoamento da velha natureza.
A nova natureza não está apenas capacitada a viver assim, mas ela também não peca!
(1 Jo 5:18) “Sabemos que todo aquele QUE É NASCIDO DE DEUS não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca”.
A tese de David Platt chega a ser ingênua, quando não hipócrita, se levarmos em conta o fato de ele ser pastor de uma mega-igreja nos Estados Unidos. A ideia de dar tudo para os pobres é muito bonita em tese, mas na prática devemos agir com sabedoria. Distribua todos os seus bens com os pobres e em um mês estarão todos pobres de novo. Ele é jovem, inexperiente e recebeu de mão beijada o cargo que ocupa e até mesmo critica. Sim, ele fala mal da opulência da própria organização onde é empregado, mas obviamente não sai dela.
O argumento de que em Atos os cristãos vendiam tudo o que tinham e dividiam entre todos não procede e mostra um desconhecimento total do fato de o livro de Atos não ser um livro de doutrina, mas uma narrativa de uma época de transição entre o judaísmo e o cristianismo. Em Atos dos Apóstolos vemos exatamente isto, os atos e às vezes atos errados também.
Analisando especificamente o ato de vender tudo e distribuir, primeiro vemos que era entre os irmãos que eles faziam isso, e não com o mundo pagão em geral. Segundo, aquilo era uma ação espontânea e não uma ordenança ou obrigação, e acontecia em um momento em que a igreja vivia seu primeiro amor e desfrutava do poder de Deus agindo sem os impedimentos que hoje temos.
Quais? O fato dos cristãos estarem divididos em milhares de seitas e o mal ter se infiltrado em seu meio. Hoje qualquer um se diz “irmão”, até o pregador da TV que só sabe pedir dinheiro. Você daria tudo a ele?
Um olhar cuidadoso verá que, mesmo no livro de Atos, as condições iam mudando e se adaptando conforme o mal começava a se introduzir na igreja. Eles começam vivendo em comunidade, tendo tudo em comum e vendendo e distribuindo entre si seus bens:
(At 2:44-45) “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister”.
Então vemos em Atos 4 que já não dividiam mais entre si, mas passaram a trazer aos apóstolos, para estes fazerem a distribuição. Lembrando mais uma vez que tudo acontecia dentro do círculo dos irmãos, e não era uma campanha para dividir tudo com todos os pobres dentre os pagãos. Entregue seus bens aos pobres necessitados do Taleban no Afeganistão e eles venderão tudo para comprar armas.
(At 4:32-35) “E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns… Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha”.
Já no capítulo seguinte vemos o mal agindo e Ananias e Safira fazendo o que obviamente acontece em todo o coração humano: querer parecer mais do que é ou que faz mais do que realmente fez. Acaso não foi assim que terminaram as boas intenções de algumas organizações beneficentes mais antigas? Há muitas que hoje promovem jantares para homenagear os que contribuem, e às vezes esses eventos custam mais caro do que aquilo que vai efetivamente chegar nas mãos dos necessitados. Muitas ONGs gastam mais dinheiro com funções administrativas e de propaganda do que com os necessitados.
Mas vamos ver o que ocorre após do conhecido episódio de Ananias e Safira, que foi resolvido de forma radical com a morte dos que mentiram ao Espírito Santo. Em um período de grande poder no início da igreja, com os apóstolos fazendo sinais e milagres, havia também uma grande responsabilidade e uma grande perda quando esta falhasse. Não é à toa que os de fora já estavam relutantes em querer fazer parte daquela comunidade onde as consequências da mentira e dissimulação eram tratadas de maneira tão severa: com a morte dos mentirosos. Já pensou se a igreja hoje vivesse nesse mesmo poder?
(At 5:11-13) “E houve um grande temor em toda a igreja, e em todos os que ouviram estas coisas. E muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos…. Dos outros, porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles; mas o povo tinha-os em grande estima”.
A passagem seguinte deixa muito claro que tudo aquilo era um processo: primeiro eles dividam tudo entre si mesmos, depois passaram a entregar aos apóstolos para que estes determinassem como dividir, e agora vemos que homens são designados especialmente para a tarefa, deixando assim os apóstolos livres para se dedicarem à Palavra. Isto porque eles já não estavam na mesma disposição do princípio e já agiam de forma egoísta.
O belo da passagem é que todos os que faziam parte da igreja eram judeus ou prosélitos convertidos a Cristo, mas alguns eram judeus helenistas, isto é, vindos de uma cultura grega. Estes estavam sendo prejudicados na distribuição dos recursos e se você reparar nos sete homens que foram escolhidos para cuidarem da tarefa, todos eles têm nomes gregos: Estevão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau. Mesmo em situações de falha do homem, Deus age em graça.
(At 6:1) “Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra”.
Acho que nem preciso dizer que isso deixa claro que ocorria um processo. Hoje, quando não temos mais apóstolos e nem as condições de poder e unidade que havia no princípio, não podemos ser ingênuos achando ser possível repetir o modo de vida da igreja primitiva.
Fazer o bem e administrar para os mais necessitados é algo que a gente faz individualmente em nosso exercício com o Senhor, e não algo que devemos impor sobre as pessoas. Você alega que David Platt prega uma mensagem radical como a que Jesus pregava, mas é preciso lembrar que nos evangelhos é o Reino que está sendo tratado, e quando o Reino for instalado na terra será radical ao ponto de ser penalizado com a morte aqueles que pecarem. Jesus então será o Rei e julgará com cetro de justiça.
Nós hoje somos membros do corpo de Cristo, somos igreja, a noiva do Cordeiro, que irá reinar com Cristo sobre Israel (este sim, estará no milênio na terra, a igreja não). Você alega também que o modo de vida de Paulo era radical, quando escrevia suas cartas da prisão, e não sentado confortavelmente na sala de uma mansão. Mas a questão é: será que as cartas que Paulo escrevia tinham o mesmo teor da pregação de David Platt? Seria fazer caridade, vender tudo e dar aos pobres, a mensagem principal de Paulo?
David Platt prega um evangelho conhecido como “Salvação por Senhorio”, insistindo na caridade. No fundo é muito parecido com a “Teologia da Libertação” que a Igreja Católica patrocinava nos anos 70 e 80. Seu livro “Radical”
é basicamente um resumo do que Tim Keller apresenta em seu livro “Ministries of Mercy”, que inclusive tem um capítulo chamado “Radical Ministries” e é todo voltado ao estabelecimento do Reino de Cristo no mundo mediante o esforço dos cristãos, individualmente, e da Igreja como uma instituição beneficente.
Quem já ouviu falar de “Teologia do Domínio” percebe aonde essas ideias levam. Em um de seus sermões David Platt diz:
“Deus mede a integridade de nossa
fé por nossa preocupação para com os pobres… Se não existe preocupação com os pobres, não existe integridade de fé; as duas coisas andam juntas… Se você não alimenta o faminto e não veste o despido você vai para o inferno”.
Na página 29 de seu livro “Radical” ele diz que Deus odeia pecadores, o que não é verdade. Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. Na página 37 o autor declara que “…este evangelho evoca uma rendição incondicional de tudo o que somos e de tudo o que temos a tudo o que Ele é”.
Na página 39: “Jesus já não é mais alguém que devemos aceitar ou convidar para entrar (em nosso coração), mas alguém que é infinitamente digno de nossa imediata e total rendição… Pela primeira vez nós queremos Deus. Vemos nossa necessidade por ele, e o amamos. Buscamos por ele, e o encontramos, e descobrimos que ele é realmente a grande recompensa de nossa salvação.
Entendemos que somos salvos não apenas para sermos perdoados de nossos pecados ou para termos a certeza da eternidade no céu, mas somos salvos para conhecer a Deus. Por isso ansiamos por ele. Nós o queremos tanto que abandonamos tudo para experimentarmos dele. Esta é a única resposta válida à revelação de Deus no evangelho”.
O erro é sutil, mas está aí. Tudo gira em torno de nós, nós, nós… No entanto a Palavra de Deus é clara em mostrar que somos salvos por graça, por meio da fé, e que isso não vem de nós, mas é dom de Deus, não das nossas obras para não nos gloriarmos nelas (Ef 2:8-9). Ao carcereiro que buscava salvação Paulo apenas convidou-o a crer no Senhor Jesus. Ao contrário do que diz David Platt, nós precisamos sim aceitar a Jesus, crer nele e pedir que ele faça em nós a sua obra.
Nas páginas70-71 ele escreve: “A mensagem do cristianismo bíblico não é ‘Deus me ama e ponto final’, como se nós fossemos o objeto de nossa própria fé. A mensagem do cristianismo bíblico é ‘Deus me ama para que eu possa torná-lo conhecido entre as nações, tornar conhecido seus caminhos, sua salvação, sua glória, sua grandeza’. ‘Deus nos ama para o próprio bem dele no mundo’ e ‘Deus nos cria, nos abençoa e salva cada um de nós para um objetivo radical e global’“.
Pelo que ele diz não somos salvos porque éramos pecadores necessitados de salvação, e nem mesmo para o objetivo supremo que Jesus explicou à mulher samaritana, de sermos feitos adoradores de Deus, pois são adoradores que Deus busca. Na concepção de David Platt somos salvos para sermos agentes de Deus na melhoria do mundo. É como se Deus precisasse de funcionários para sua ONG poder funcionar.
Na página 193 ele diz: “Repare que eu não disse meramente para ‘dar’; eu disse para ‘sacrificar’“. O exemplo que ele dá é o de alguém vendendo sua casa para ir morar em uma mais barata e dando o dinheiro da diferença para a obra missionária. Isto saindo da boca de alguém no púlpito de uma mega-igreja extremamente high-tech e luxuosa não é muito diferente do Papa falando da opção pelos pobres sentado em um trono de ouro e calçando sapatos de cromo alemão.
O que a Bíblia diz sobre o ato de dar? (2 Co 9:7) “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, NEM POR CONSTRANGIMENTO; porque Deus ama ao que dá com alegria”.
A “Salvação pelo Senhorio” que David Platt prega pode ser resumida assim: Se Jesus não é Senhor sobre sua vida e seus bens, então ele não é seu Salvador e você não está salvo. Obviamente ele confunde salvação com santificação prática e ainda tira da pessoa qualquer certeza da salvação eterna. Como posso eu saber se já entreguei tudo para os pobres, se já estou 100% sob o senhorio de Cristo? E aquelas moedinhas que esqueci no bolso da calça que está no armário?
*
O que significa “ligar” e “desligar”?
Sua dúvida surgiu após ler o livro “Um só corpo na prática”, especificamente na parte em que o autor fala do “ligar” e “desligar” associados ao episódio do homem em Corinto que foi colocado fora da comunhão (na primeira epístola) para depois Paulo sugerir que fosse readmitido à comunhão (na segunda epístola).
“Do mesmo modo, quando se trata de reverter uma ação de “desligar”, a assembleia local suspende a censura ou disciplina e “perdoa” (administrativamente falando) a pessoa arrependida, e o corpo todo acata isso e também expressa o mesmo perdão. Isto está incluído nas observações que Paulo faz em 2 Coríntios 2:7-11” – “Um só corpo na prática” – Bruce Anstey.
Você achou que um exemplo da assembleia ligando seria o caso de 1 Coríntios 5:11-13, e um exemplo da assembleia desligando seria 2 Coríntios 2:6-11, daí ter surgido a dúvida.
(1 Co 5:11-13) “Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora?
Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor”.
(2 Co 2:6-11) “Basta-lhe a punição pela maioria. De modo que deveis, pelo contrário, perdoar-lhe e confortá-lo, para que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza. Pelo que vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor. E foi por isso também que vos escrevi, para ter prova de que, em tudo, sois obedientes. A quem perdoais alguma coisa, também eu perdoo porque, de fato, o que tenho perdoado (se alguma coisa tenho perdoado), por causa de vós o fiz na presença de Cristo; para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios”.
Na verdade o autor do livro está correto. “Ligar” e “desligar” não tem o sentido de “conectar” alguém à comunhão à mesa do Senhor e depois “desconectar” ou excomungar a pessoa. “Ligar” e “desligar” significam tomar uma decisão e reverter a decisão. Foi o que aconteceu na primeira passagem acima, quando a assembleia “ligou” ou tomou a decisão de afastar o ofensor e depois, na segunda passagem, foi aconselhada pelo apóstolo a “desligar” ou reverter aquela decisão e recebê-lo de volta. O sentido é “decretar” e “revogar o decreto” e não necessariamente precisa tirar a pessoa da comunhão à mesa do Senhor ou readmiti-la.
Uma decisão da assembleia, tomada em nome do Senhor Jesus, pode ter outras finalidades. Por exemplo, quando uma assembleia decide quais os dias os irmãos irão congregar e com que finalidade, ela está “ligando” aquela decisão. Depois, quando acham por bem alterar os dias ou horários, é “desligada” a decisão anterior e “ligada” a nova decisão. A disciplina de um irmão ou irmã pode ter também outros aspectos e nem sempre significar a exclusão da comunhão à mesa do Senhor. Um irmão ou irmã que esteja andando desordenadamente, como era o caso das viúvas em 1 Timóteo, que viviam visitando os irmãos para fazer fofocas.
(1 Tm 5:11-13) “Mas rejeita viúvas mais novas, porque… aprendem também a viver ociosas, andando de casa em casa; e não somente ociosas, mas ainda tagarelas e intrigantes, falando o que não devem”.
Ou como era o caso daqueles que não queriam trabalhar e também viviam ociosos e se intrometendo na vida alheia.
(2 Ts 3:10-11) “Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma. Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia”.
Em casos como estes a assembleia poderia aplicar uma disciplina, com a autoridade que o Senhor lhe confere, para que essas pessoas deixassem de visitar os irmãos durante algum tempo, mesmo que continuassem em comunhão à mesa do Senhor. Também seria o caso de aplicar uma disciplina de silêncio para um irmão que estivesse insistindo em ensinar coisas que estivessem fora da Palavra ou que, mesmo sendo verdadeiras, estivessem causando intranquilidade e contenda entre os irmãos. Em casos assim a disciplina de excluir tais pessoas da comunhão à mesa do Senhor seria um passo posterior, caso todas as tentativas anteriores de disciplina não surtissem efeito. É claro que aqui não estamos nos referindo a casos de pecados graves e evidentes, como o ensino de má doutrina, furto, adultério, homossexualismo, prostituição, uso de drogas, violência, etc.
Resumindo, entenda sempre as expressões “ligar” e “desligar” como “decretar” e “revogar”, e não necessariamente como introduzir ou excluir alguém da comunhão. Em tempo: a assembleia tem poder e autoridade delegados pelo Senhor apenas para, em último caso, excluir a pessoa da comunhão à mesa do Senhor, nunca para exclui-la do corpo de Cristo. Ninguém pode ser excluído do corpo de Cristo, pois ele não permitiria que seus membros fossem arrancados de seu corpo. Tentar excluir do corpo (ou da igreja) era a prática medieval do catolicismo, quando o herege era excomungado e morto, mas isso não tem qualquer fundamento nas Escrituras.
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A Bíblia é ou contém a Palavra de Deus?
A Bíblia É Palavra de Deus. Dizer que ela meramente “contém” a Palavra de Deus é desprezar a inspiração das Sagradas Escrituras e transformar o homem em juiz da Palavra ao invés de aceitar a Palavra como aquela que discerne os corações. O fato de alguns não entenderem ou aceitarem a Palavra de Deus os leva a criar a ideia de que a Bíblia “contém”
a Palavra de Deus.
O argumento a favor dessa ideia é que na Bíblia encontramos palavras de homens e até de Satanás, mas os que assim argumentam estão perdendo de vista que foi Deus quem nos revelou quais foram essas palavras ditas por terceiros, portanto o documento continua sendo (e não meramente contendo) a Palavra de Deus.
A ideia é tão absurda quanto comprar um imóvel recebendo apenas um documento que “contém” a Escritura, ou seja, uma descrição do terreno, ao invés de exigir a própria Escritura de propriedade do terreno. O
poder de um documento que “contém” a Palavra de Deus não é o mesmo de um que seja efetivamente a própria Palavra emitida por Deus, mesmo que ele tenha feito isso através de suas criaturas. Veja o que o próprio Jesus diz de TODAS as Escrituras (no caso o Antigo Testamento):
(Lc 24:44-45) “E disselhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos. Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras”.
Aqui ele chama a lei, os profetas e os Salmos de “as Escrituras”. Ele disse que esses livros SÃO as Escrituras, não que contém as Escrituras, e obviamente “Escrituras”
aparece como sinônimo da Palavra de Deus. Mas onde Jesus chama de Palavra de Deus as Escrituras? Ao referir-se aos mandamentos ele disse:
(Mc 7:13) “Invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes”.
A Palavra de Deus chega até nós na forma escrita e é sancionada pelo próprio Senhor, que considerava TODAS as Escrituras do Antigo Testamento (“a lei de Moisés, os profetas e os Salmos”) como a Palavra. Ele nunca disse que esses livros “continham” a Palavra, mas sim que eram a Palavra.
Abra no primeiro livro de Moisés, o Gênesis, e você encontrará uma mentira de Satanás dita a Eva. Seria a mentira de Satanás a Palavra de Deus? Não, mas o registro que Deus faz da mentira de Satanás é a Palavra de Deus. Caso contrário, como poderíamos acreditar no testemunho de Deus de que Satanás mentiu para Eva se colocássemos em dúvida o relato do jardim do Éden inspirado por Deus para que fosse registrado por Moisés?
Antes que alguém pense que apenas o Antigo Testamento tenha esse caráter de Palavra de Deus ou Escrituras, é bom ler 2 Pedro onde o apóstolo menciona os escritos de Paulo e os coloca no mesmo nível das demais Escrituras.
Portanto da próxima vez que escutar alguém dizer que algo nas cartas de Paulo é mera opinião pessoal do apóstolo é bom ficar longe dessa pessoa, pois ela não crê na autoridade da Palavra de Deus.
(2 Pe 3:15-16) “…como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras…”.
Se a Bíblia meramente “contém” a Palavra de Deus, e não é toda ela a Palavra de Deus, então qual parte é e qual parte não é? Obviamente os homens gostam da ideia de poder julgar a Bíblia e dizer “Isto é opinião de Paulo…” ou “Isto não se aplica a mim…”. Além disso, como poderíamos dizer que a Palavra de Deus tem poder sem saber exatamente que palavra seria esta?
Será que poderíamos atender à ordem de pregar a Palavra se ficássemos na dúvida do que exatamente pregar? Afinal, João 3:16 é a Palavra de Deus ou a palavra de João simplesmente repetindo o que ouviu dizer que Jesus teria dito a Nicodemos?
Percebe o problema que se cria ao se colocar em dúvida um documento?
Portanto é preciso que o verdadeiro crente em Jesus tenha bem claro em sua mente que a Bíblia, isto é, o conjunto dos 66 livros inspirados que temos em mão, é a palavra
de Deus e não apenas reúne palavras
ditas por Deus ou contém a palavra
de Deus. Se tomarmos a Bíblia da forma como querem os que acreditam que ela apenas contém a Palavra de Deus, esse livro deixará de ter qualquer autoridade sobre nossa vida, pois estaremos na confortável posição de poder selecionar o que vale e o que não vale para nós, tornando-nos juízes de Deus e não o contrário. Iríamos obedecê-la só quando nossa vontade coincidisse com ela.
Uma das grandes provas de ser a Bíblia a Palavra de Deus e não dos homens que Deus usou para escrevê-la é que o Antigo Testamento apresenta uma horrível coleção de erros e pecados do próprio povo que durante séculos foi o guardião dessa mesma Palavra, o povo de Israel. Se fossem palavras de homens eles teriam sido os primeiros a filtrar tudo o que lhes fosse contrário, deixando apenas aquilo que eles “considerassem” Palavra de Deus e não comprometesse a reputação daquele povo.
O mesmo pode ser dito dos apóstolos, que escreveram o Novo Testamento e são neles despidos de qualquer honraria humana, pois encontramos nos evangelhos, em Atos e nas epístolas muitos dos erros e falhas desses mesmos apóstolos e discípulos de Jesus. Por que eles não teriam suprimido essas partes desagradáveis como meros relatos incidentais e não como a fidedigna, inerrante e imutável Palavra inspirada por Deus?
Você disse que sua denominação acaba de mudar a declaração de fé, alterando de “…a Bíblia É a Palavra de Deus…” para “…a Bíblia contém a Palavra de Deus…”. Não é de surpreender que tenham feito isso, pois a cristandade como um todo caminha rumo à apostasia, que é o abandono da verdade, e obviamente isto está sendo feito em doses homeopáticas, uma mudança a cada dia, para que o engano possa ser assimilado por aqueles que seguem suas doutrinas. O que fazer num tempo de apostasia e erro? Apartar-se de toda iniquidade, e quando a Palavra de Deus fala de iniquidade, é bom lembrar que não existe maior iniquidade do que o abandono da verdade das Escrituras.
(Hb 4:12-13) “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar”.
(2 Tm 2:19-22) “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade.
Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra. Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
(2 Tm 3:1-17) “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos… Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te…. Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé…. Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”.
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Como iniciar uma conversa?
Existem diferentes maneiras de se evangelizar, como a pregação pública ou a distribuição de folhetos impressos ou textos e vídeos pela Internet. Mas uma maneira eficaz é também a conversa pessoal, e vemos diversas vezes ela acontecer na Bíblia, como no caso do Senhor com Nicodemos e com a mulher samaritana, ou de Felipe com o eunuco.
A dificuldade pode estar em se iniciar uma conversa ou dirigi-la para o evangelho, caso ela já tenha sido iniciada para falar de assuntos diversos. Em minha última viagem dos EUA para o Brasil sentei-me ao lado de um cientista canadense que gostava de conversar e vi nisso uma oportunidade de falar a ele da salvação pela fé em Jesus.
Por ser bastante culto ele já conhecia a Bíblia e também muitos outros livros, religiões e filosofias. Nossa conversa foi toda em inglês com uma ou outra palavra em espanhol, pois ele falava 5 idiomas, inclusive um idioma africano nativo por ter morado e trabalhado como geólogo em um país da África.
Enquanto nós conversávamos, eu mentalmente buscava o Senhor por uma oportunidade de falar do evangelho. Acredito que seja este o sentido do “Orai sem cessar” (1 Ts 5:17) e outras passagens que falam de uma contínua atitude de oração e dependência de Deus.
Tendo viajado a mais de 50 países, ele falou que em sua lista ainda faltava embrenhar-se nas selvas de Nova Guiné para conhecer os ex-canibais em seu habitat. Foi aí que enxerguei uma oportunidade, e esta é uma maneira bíblica de se iniciar uma conversa.
O Senhor, quando fez contato com a mulher samaritana, não começou logo de cara dizendo que ela vivia em pecado e precisava se converter.
Antes ele buscou saber qual era o interesse dela naquele momento (água) e começou daí, colocando-se na condição de humildade (“dá-me de beber”) para depois despertar nela o desejo de uma “água” melhor: “Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva” (João 4).
Lembrei-me de um livro que li há quase 30 anos, “O Totem da Paz”, de Don Richardson, um autor também canadense que viveu como missionário na Nova Guiné entre os sawis, uma tribo que na época (anos 60) ainda era de canibais. Como o cientista ao meu lado mencionou seu desejo de conhecer os estranhos costumes dos nativos da Nova Guiné, contei a ele do apuro passado pelo autor do livro que, depois de decifrar a língua da tribo e conseguir se comunicar com eles falando-lhes do evangelho, viu a possibilidade de ser transformado no próximo jantar dos aborígenes.
Ao contrário de ficarem impressionados com Jesus e seu sacrifício, os nativos passaram a considerar Judas um herói. Na cultura da tribo, quando alguém conseguia conquistar a amizade e a total confiança de uma pessoa, para depois traí-la, essa habilidade era grandemente valorizada e o traidor chamado de herói. Antes que você ache esse costume exótico, não se esqueça de que nós brasileiros somos famosos por nossa exaltação da malandragem. Os indígenas tinham até um nome para isso: “engordar o porco para o dia da matança”. O missionário logo percebeu que a hospitalidade com que ele, a esposa e os filhos tinham sido recebidos na tribo só podia indicar que não faltava muito para virarem comida dos canibais, e isso o deixou desesperado.
Mas a situação reverteu-se quando, durante a tentativa de ataque por uma tribo vizinha, o chefe da tribo inimiga atravessou o campo de batalha carregando um bebê e o entregou ao chefe da tribo onde morava o missionário. Este pegou um bebê de sua própria tribo e o entregou ao outro chefe e depois se abraçaram. A guerra iminente transformou-se em uma grande festa e amizade entre as tribos outrora inimigas.
Aquele era outro costume que o missionário não conhecia: quando uma tribo entregava um bebê para a outra, aquilo tinha o caráter de um tratado de paz. Enquanto o bebê fosse mantido vivo e saudável na outra tribo esta não podia ser atacada, e vice-versa. Por isso as crianças, chamadas de “crianças da paz” ou “filhos da paz”, eram tratadas como príncipes. Sua sobrevivência era o seguro que tinham de que podiam viver livres de ataques.
Don Richardson viu naquilo a oportunidade para mostrar o sentido do evangelho e reuniu os anciãos da tribo para falar-lhes de como Deus havia enviado o seu Filho ao mundo para nos salvar. Como o Filho ressuscitou e agora vive para sempre, Deus não irá mais “atacar” (ou condenar) aqueles que, pela fé, receberem o Filho ressuscitado.
Muitos nativos entenderam o verdadeiro sentido do evangelho e se converteram. Judas passou de herói a bandido, pois aos olhos dos nativos não havia gente pior do que alguém que fizesse mal ao “filho da paz”.
Contando a história dos costumes de uma tribo que o cientista desejava conhecer, ou seja, partindo de seu próprio interesse, apresentei o evangelho e sua reação foi deixar claro que era ateu e que não acreditava em um mundo espiritual. Para ele a noção de “vida eterna” estava em passar seus genes às próximas gerações. Ele, que durante anos, chegou a lecionar a teoria da evolução numa universidade, espantou-se por eu não acreditar em tal teoria (que ele afirma já não ser mais vista como teoria pela ciência).
A conversa então tomou o rumo do ateísmo e do evolucionismo, e cabe aqui um alerta: nunca se deixe levar pela direção ditada pelo seu interlocutor. Mesmo que aconteça, como aconteceu comigo, procure vez ou outra introduzir novamente a mensagem do evangelho na conversa. O incrédulo não quer escutar o evangelho e sempre irá apresentar algum argumento que mantenha você ocupado e uma das “bombas de fumaça” mais utilizadas será mexer com seu ego e fazer você partir para a defesa de suas posições pessoais.
Lembre-se de que você não está ali para defender sua honra, reputação, argumentos, religião, etc. Você está ali para apresentar a ele o evangelho da salvação. Não é uma competição em que você se empenha para ganhar o debate, mas levá-lo a perder a condenação eterna. É mister que ele ouça a mensagem do evangelho. Se você convencê-lo de que existe um Deus e de que a teoria da evolução está errada, tudo o que você terá conseguido é mais uma pessoa que irá para o lago de fogo acreditando na existência de um Deus Criador. O
objetivo da evangelização não é tentar provar a existência de Deus e nem lutar contra uma teoria científica. A mensagem do evangelho é simples: (1 Co 15:1-4) “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis. Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”.
Talvez você ache que esta breve mensagem (acima em maiúsculas) seja muito pouco para convencer um ateu evolucionista, mas se pensa assim é porque ainda não entendeu que o poder para a salvação não está em seus argumentos, mas no evangelho (boas novas), e o evangelho resume-se em “Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação” e tudo mais que está embutido aí, ou seja, a totalidade da Palavra de Deus. Se ele crer nisto com o tempo o resto virá no pacote.
(Rm
1:16) “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego”.
Ao contrário do que muitos pensam, Paulo NÃO está dizendo “não me envergonho de pregar o evangelho”, mas “não me envergonho do evangelho”. A diferença é enorme.
Por causa da timidez, você pode se envergonhar de sair numa praça distribuindo notas de cem dólares para as pessoas, mas você jamais se envergonharia das notas de cem dólares em si, pois sabe o valor delas. Mas, mesmo que você fosse a pessoa mais desinibida do mundo, teria vergonha de sair pela praça distribuindo notas de cem dólares desenhadas à mão em papel higiênico, pois nem você e nem ninguém levaria a sério um dinheiro assim. É
do evangelho que Paulo não se envergonha, não do ato de pregá-lo.
Portanto, o poder não está na sua argumentação, na sua oratória, na sua desenvoltura, na sua sabedoria, nos diplomas de teologia que coleciona ou no seu conhecimento do grego e do hebraico, etc. O poder está no evangelho, nesta simples mensagem de que Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação. É isso que vai atingir o coração do incrédulo como um raio, porque é do céu que virá a energia e o poder para fazê-lo.
Por isso ao longo de toda a nossa conversa, que deve ter durado umas duas horas, eu nunca deixei de reintroduzir com diferentes palavras, analogias e em diferentes momentos a mesma mensagem: “Jesus morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação”. Esta notícia é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, e quando diz “primeiro do judeu, e também do grego (gentio)” está afirmando que a mesma mensagem serve tanto para os que buscam sabedoria (gregos) como para os que buscam sinais (judeus) (1 Co 1:22). Para ambos basta o evangelho, o resto (sabedoria, sinais ou seja lá o que for) é só glacê, mas o que salva mesmo é o bolo.
Como a conversa obviamente foi cheia de argumentos pró e contra o ateísmo e o evolucionismo, cuidei de responder mas sempre ciente de que não seriam minhas respostas ou contra-argumentos que tocariam o coração de meu interlocutor, mas sim o EVANGELHO (como já expliquei). Veja abaixo os principais pontos que conversamos, colocados aqui muito resumidamente: Argumento: “Sou ateu”.
Resposta: Ateus não existem, pois Deus colocou a eternidade no coração do homem. “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem” (Ec 3:11 ARA). Alguém só se torna ateu pela negação daquilo que traz no coração, que é um conhecimento inato de Deus. Por isso não perco meu tempo tentando argumentar longamente com um ateu e o trato como qualquer outra pessoa, sabendo que lá no fundo ele sabe que Deus existe. Ele SABE que é pecador e precisará dar contas de seu pecado a Deus.
Argumento: “Todas as religiões buscam por sensações, seja em transes, meditações, orações ou até alucinógenos”. Ele falava dos diferentes indígenas que conheceu e mencionou querer visitar os seguidores do “Santo Daime” da Amazônia, que bebem um alucinógeno (Timothy Leary pregava o uso do LSD para isso) como forma de alcançar outros níveis de consciência.
Resposta: O cristianismo não está baseado no que eu sinto, mas na PESSOA em quem eu creio que é Cristo. Ainda que eu não tenha qualquer sensação, veja qualquer manifestação ou ouça alguma voz ou trovoada, posso crer porque “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11:1). É aí que o evangelista pentecostal tem dificuldade, por sua fé estar tão carregada de visões, manifestações, curas, sensações, etc. Uma pessoa esclarecida não vai se deixar levar por pretensos “testemunhos”
da TV. Quer um conselho? Evangelize com o puro evangelho.
Argumento: “Existem religiões mais antigas que o cristianismo e o próprio judaísmo, que já falavam de Adão e Eva, do dilúvio, dos sacrifícios, etc.”
Resposta: É claro que tudo isso já era conhecido antes mesmo de Moisés escrever o Pentateuco! Afinal, todo esse conhecimento, ainda que muitas vezes distorcido, tem uma única origem: Deus. Todos os povos ainda retêm reminiscências do Éden, do dilúvio e de muitas outras coisas que foram passadas de geração a geração. Tal argumento não invalida o cristianismo, mas só ajuda a mostrar sua veracidade. Se nenhum outro povo antigo tivesse falado dessas coisas aí poderíamos pensar que tudo não passa de criação de Moisés. Outra dica: evite bater de frente com os argumentos dos incrédulos, mas pegue neles algum elemento comum e parta daí, como Paulo fez com o “altar ao Deus desconhecido” dos gregos, ao invés de gastar saliva falando mal das centenas de falsos deuses que eles adoravam (Atos 17:23). O próprio Don Richardson (autor de “O Totem da Paz”) tem um livro excelente sobre o assunto, “O Fator Melquisedeque”.
Argumento: “A ciência já provou a evolução por todas as evidências já encontradas nas diferentes camadas geológicas”.
Resposta: Este pensamento não é científico, porque a ciência nunca pode chegar a uma conclusão sem uma experimentação, ou seja, ver acontecer, medir, cheirar, pesar, etc. Isto é impossível de ser conseguido na teoria da evolução. Além disso, todo cientista deve ter a mente aberta, pois ciência é como moda: na década de 70 achávamos estar na última moda, usando calças boca-de-sino listradas e cabelos longos ou black-power. Hoje rimos das fotos.
Daqui a 40 anos os cientistas irão rir das fotos de muitas conclusões que tiraram em 2013 achando que elas eram a última bolacha do pacote.
Argumento: “Você é cristão porque nasceu em um país cristão e foi condicionado a acreditar que existe um Deus e tudo mais. Se tivesse nascido num país muçulmano seria muçulmano e se tivesse nascido na Índia acreditaria em muitos deuses”.
Resposta: Em todas as sociedades as pessoas se convertem a Cristo, independente da cultura em que foram criadas. O mesmo argumento do ateu, porém, vale para o ateísmo. Alguém só é ateu por ter nascido em uma sociedade judaico-cristã fortemente influenciada pelo pensamento grego que incluía em sua filosofia o ateísmo de Protágoras e o ceticismo de Aristóteles, que escreveu que “os homens criam deuses à sua própria imagem”.
Argumento: “Se você crê na Bíblia então deveria vender sua filha como ensina o Pentateuco ou apedrejar seu filho”.
Resposta: Sim, eu faria isso dentro do contexto, da cultura e das circunstâncias do Pentateuco, mas como vivo hoje dentro do cristianismo (a dispensação da graça de Deus) não devo fazê-lo. Mesmo o pensamento ateísta se baseia na cultura judaico-cristã para decidir o que é certo e o que é errado. O
que faz um ateu pensar que seja errado vender a filha como escrava ou apedrejar um filho? De onde tirou tal ideia? Há muitas coisas que aqui e agora aceitamos como normais que jamais seriam normais em uma sociedade ou época diferente. Na sociedade moderna ocidental que se afasta a passos largos da moral cristã é normal homens e mulheres terem relações sexuais fora do casamento, mas isto seria impensável no Afeganistão. Porém lá e em outros lugares é perfeitamente normal para os radicais islâmicos castrar meninas, extraindo
seu clitóris para não sentirem prazer, algo abominável aos olhos ocidentais.
Talvez neste ponto você esteja esperando eu dizer que o cientista ao meu lado caiu em prantos, reconheceu-se pecador e se converteu a Cristo. Não, nada disso aconteceu, mas quando ele disse que jamais acreditaria nas coisas que lhe falei, disse a ele que Deus poderia fazer com que cresse no evangelho, e aí ele não teria como escapar. Quando pregamos o evangelho não devemos nos preocupar com os resultados, pois existe ALGUÉM que está mais preocupado com isso do que nós jamais poderíamos estar. É Deus quem convence um pecador e é Deus quem salva, portanto devemos deixar nas mãos dele. Não devemos querer converter as pessoas com nossa oratória ou capacidade de persuasão, porque se conseguirmos ela terá se convertido apenas exteriormente e pelo poder da carne, não do Espírito Santo de Deus.
É errado querer colecionar números e troféus, do tipo “tantas pessoas se converteram com minha pregação” ou “pesquei um peixe grande” (alguns usam esta expressão para se gabar de ter convertido algum rico ou famoso).
Quando lemos Paulo dizer “Eu plantei,
Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus” (1 Co 3:6) entendemos que ninguém faz a obra de Deus sozinho. Se aquele homem porventura vier a se converter após aquele nosso encontro eu posso ter sido apenas mais uma pedrinha em um grande mosaico de pessoas que Deus usou. Talvez ele tenha escutado o evangelho de sua mãe ou na escola dominical, mais tarde recebeu um folheto evangelístico de alguém ou ouviu uma pregação no rádio ou… as possibilidades são infinitas e ninguém deveria querer se gabar de ter sido o único meio usado por Deus.
Eu particularmente acho que a mensagem encontrou algum cantinho no coração e na mente de meu interlocutor e sua reação demonstrou isso. Quando uma pessoa é confrontada com o evangelho da graça sua reação é a mesma de Adão e Eva no Éden: fazer para si aventais de folhas de figueira para cobrir sua nudez diante de Deus. Os inúteis aventais de folhas geralmente são costurados por boas obras apresentadas pela pessoa que ouve o evangelho, algo do tipo “eu vou à igreja”, “eu ajudo os pobres”, etc. No caso de meu interlocutor ateu percebi um avental de folhas quando ele começou a se justificar dizendo que, apesar de não acreditar em Deus, tinha um senso de espiritualidade no sentido de deixar seu DNA para a posteridade e praticar yoga todas as manhãs, fazer meditação e procurar ser uma boa pessoa e salvar o planeta. Achei esse avental um bom sinal de que sua consciência havia sido alcançada e oro para que meu amigo de viagem um dia também chegue ao destino final que Cristo me reservou por sua obra na cruz: o céu.
Eu poderia continuar aqui com muito da conversa que tive com ele, mas sairia do foco deste texto que é a abordagem e início de conversa na evangelização pessoal.
*
A Bíblia incentiva a venda da filha como escrava?
As palavras “escrava” e “escravidão” causam espécie em quem logo pensa nos horrores do tráfico e escravidão de negros na história recente do mundo e no Brasil colônia. Mas nos tempos Bíblicos a classe de escravos tinha outro status e alguns eram mais privilegiados do que muitos operários modernos que trabalham em condições precárias. O eunuco de Atos 8 era um tipo de escravo, porém com um cargo palaciano, servos e uma carruagem à sua disposição.
Fica muito difícil entender como era a escravidão nos tempos de Moisés quando Deus lhe deu o texto do Pentateuco, mais especificamente Êxodo 21:1-11, que é muito usado pelos céticos na tentativa de desacreditar a Bíblia.
No entanto, a meu ver, o uso desta passagem com esta intenção só serve para desacreditar o próprio cético, por demonstrar sua completa ignorância em antropologia e história da humanidade.
Por exemplo, a mesma passagem que regulamenta a prática é clara em afirmar que “quem ferir alguém, de modo que este morra, certamente será morto” (Êx 21:12). O Novo Testamento também dá diretrizes para o tratamento humano dos escravos: “Vós,
senhores, fazei o que for de justiça e equidade a vossos servos [escravos], sabendo que também tendes um Senhor nos céus” (Cl 4:1). A escravidão moderna (Brasil colônia e outros países) dava ao senhor dos escravos direito sobre a vida e a morte de seus escravos, os quais eram tratados como meros animais.
Outra evidência da singularidade da escravidão nos tempos bíblicos do Antigo Testamento é o fato dos patriarcas de 4 tribos – Dã, Naftali, Gade e Aser – serem filhos das escravas de Raquel e Lia (chamadas de servas ou concubinas de Jacó), Zilpa e Bila (Gênesis 29 e 30). O próprio Jacó foi obrigado por Labão, seu sogro, a comprar suas esposas Raquel e Lia.
Nem precisamos voltar alguns milênios no tempo para entender a quê estou me referindo. Nos anos 1990 estive em Portugal e conheci um irmão em Cristo, de origem alemã, que era casado com uma mulher da África do Sul. Até aí tudo parece muito normal, exceto pelo fato de que ele precisou comprar sua esposa para poder desposá-la. Ela pertencia a uma das muitas tribos da África e o costume tribal exigia que o pretendente comprasse a esposa de seu pai. Aquela mulher havia custado a meu amigo, algumas cabeças de gado e outros objetos de valor.
Eu e você ficaríamos horrorizados com tal ideia. Quem de sã consciência colocaria sua filha à venda? Mas experimente enxergar o costume tribal por outras lentes. Do ponto de vista tribal, a filha tem um valor tão alto para seu pai que ele se sente no direito de exigir um pagamento de alto valor por ela. Ao olhar o costume da sociedade moderna, aquele pai poderá pensar: “Que horror! Nos países modernos as filhas não têm qualquer valor aos olhos de seus pais! Eles as entregam de graça!”. Vamos ao texto bíblico: (Êx 21:2-12) “Se comprares um escravo hebreu, seis anos servirá; mas, ao sétimo, sairá forro, de graça. Se entrou solteiro, sozinho sairá; se era homem casado, com ele sairá sua mulher.
Se o seu senhor lhe der mulher, e ela der à luz filhos e filhas, a mulher e seus filhos serão do seu senhor, e ele sairá sozinho. Porém, se o escravo expressamente disser: Eu amo meu senhor, minha mulher e meus filhos, não quero sair forro.
Então, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre.
Se um homem vender sua filha para ser escrava, esta não lhe sairá como saem os escravos. Se ela não agradar ao seu senhor, que se comprometeu a desposá-la, ele terá de permitir-lhe o resgate; não poderá vendê-la a um povo estranho, pois será isso deslealdade para com ela. Mas, se a casar com seu filho, tratá-la-á como se tratam as filhas. Se ele der ao filho outra mulher, não diminuirá o mantimento da primeira, nem os seus vestidos, nem os seus direitos conjugais. Se não lhe fizer estas três coisas, ela sairá sem retribuição, nem pagamento em dinheiro. Quem ferir alguém, de modo que este morra, certamente será morto”.
O sentido do texto não é de incentivar a escravidão, mas de regulamentar uma prática existente na época e perfeitamente aceita na sociedade de então. Seria algo como o chefe da tribo da esposa de meu amigo estabelecer preços mínimos e máximos para a compra e venda de esposas para evitar excessos ou a depreciação da mulher.
Lembre-se de que o próprio Moisés, e seu antecessor José, haviam sido escravos. Moisés era filho de escravos e foi adotado pela princesa do Egito, e José, escravizado e vendido por seus irmãos, vivia como um mordomo de luxo na casa de seu senhor Potifar, chefe da guarda de Faraó, tendo sido inclusive alvo de tentativa de sedução pela esposa de seu dono. O escravo José alcançaria mais tarde o posto de vice-rei do Egito, algo impensável em termos da escravidão moderna cujo critério era a cor da pele. Descobertas recentes revelam que até os construtores das pirâmides não eram escravos vivendo em condições miseráveis, mas uma classe de servos qualificados com sua própria vila (o equivalente às vilas operárias modernas) com uma estrutura social bastante organizada que incluía padarias e cervejarias.
Se observar a primeira parte do texto de Êxodo verá que fala de escravos homens. Qualquer judeu podia se tornar escravo de vontade própria para pagar uma dívida ou restituir o produto de um roubo. Trabalhava por seis anos e ficava livre no sétimo. Havia um contrato, como quando você assina ao fazer um empréstimo bancário. Você fica “escravo” da instituição até ter devolvido o que tomou e pode sofrer penas severas caso não o faça. A diferença é que o escravo hebreu tinha por lei o limite de seis anos para servir, saindo depois livre, o que não acontece com a maioria das pessoas escravas de dívidas bancárias.
O trecho também regulamenta como proceder caso o escravo fosse casado de antemão ou viesse a se casar com uma escrava de propriedade de seu senhor. Não devemos perder de vista que o Antigo Testamento foi escrito também para nosso ensino e apresenta tipos e figuras de Cristo, uma das quais é este escravo que, por amor de sua esposa, prefere permanecer para sempre servindo seu Senhor a sair livre. Para isso ele se submete a carregar em seu corpo a marca de seu amor, no caso o furo feito em sua orelha com uma sovela, a qual marcava também a madeira da ombreira ou batente da porta da casa de seu Senhor.
Não é preciso muito para perceber que Cristo, por amor da Igreja, deixou seu corpo ser furado no madeiro e hoje, mesmo ressuscitado, leva em si as marcas dos cravos e da lança do soldado, constituindo-se assim na única pessoa que terá cicatrizes na eternidade.
“Sacrifício e oferta não quiseste; as minhas orelhas furaste; holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste” (Sl 40:6 ARCA).
O mesmo para o caso de uma mulher, exceto que ela não poderia sair livre se o seu “dono” tivesse se casado com ela, o que indica que o texto está apenas regulamentando uma das situações em que uma mulher poderia ser tomada como esposa. Leia o texto e verá que não se trata de uma ordem para escravizar, mas de uma regulamentação para garantir à serva (que é o significado da palavra aqui) certos direitos.
Se passearmos pelo Novo Testamento encontraremos escravos sendo tratados de maneira humana e digna, muito diferente da escravidão colonial. Em Mateus 8 um centurião procura por Jesus para curar seu escravo e o desejo do oficial romano demonstra que para ele o escravo não era um mero objeto, mas uma pessoa importante na estrutura familiar. Em Mateus 12 Jesus é chamado de escravo (significado da palavra “servo” em algumas traduções) na citação feita do profeta Isaías: “Eis aqui o meu servo [escravo], que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz”.
Você poderá fazer um exercício bem proveitoso se substituir a palavra “servo” de muitas passagens do Novo Testamento por “escravo”, que é o sentido original, obviamente dentro do contexto de escravidão que expliquei aqui. Os tradutores usaram a expressão “servo” para suavizar o sentido, provavelmente por entenderem a distinção entre o escravo antigo e o moderno: (Mt 24:45-46) “Quem é, pois, o escravo fiel e prudente, que o seu
senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo?
Bem-aventurado aquele escravo que o
seu senhor, quando vier, achar servindo assim”.
(Lc 1:69) “E nos levantou uma salvação poderosa Na casa de Davi seu escravo”.
(Rm 1:1) “Paulo, escravo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus”.
(Fp 2:7) “Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de escravo,
fazendo-se semelhante aos homens;”.
(Tg 1:1) “Tiago, escravo de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que andam dispersas, saúde”.
(2 Pe 1:1) “Simão Pedro, escravo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo”.
(Jd 1:1) “Judas, escravo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados, santificados em Deus Pai, e conservados por Jesus Cristo”.
(Ap 1:1) “Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu escravo;”.
(Ap 15:3) “E cantavam o cântico de Moisés, escravo de Deus,
e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos santos”.
Se você é um crente em Jesus, é bom ir se acostumando com a ideia de ser um escravo de Deus. A menos que você considere injusta a escravidão da qual Moisés, João, Judas, Pedro, Tiago e Paulo faziam parte e esteja entre os que não se submetem à Bíblia, a Palavra de Deus, e a nenhum tipo de submissão ao Senhor.
*
Existe alguma profecia sobre o novo Papa?
O binóculo do cristão deve se manter fixo na volta de seu Senhor para buscar a igreja. O apóstolo Paulo já esperava por este evento quando escreveu: “…depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles [os que morreram em Cristo e ressuscitarão], entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor” (1 Ts 4:16). Portanto qualquer especulação ou pseudo profecia sobre a troca do Papa é perda de tempo.
Uma noiva que esperasse pelo noivo que desejasse muito encontrar ficaria com os olhos fixos na porta de desembarque do aeroporto, pois ele poderia sair por ali a qualquer momento. Ela não estaria ocupada com as notícias nos jornais na banca do aeroporto. Seus olhos e expectativas estariam fixados naquele que ela tanto ama e almeja encontrar. Assim deve ser com o cristão, mas há outra razão para não perder tempo com os eventos dos jornais na banca do aeroporto do mundo, na tentativa de fazê-los casar com a profecia bíblica: o relógio profético está parado.
Você não encontra no Antigo Testamento nenhuma referência à Igreja, que era um mistério reservado para ser revelado primeiramente a Paulo e aos outros apóstolos apenas nesta dispensação da graça de Deus (Efésios 3). A profecia bíblica tem aplicação direta a Cristo, o Messias, e a Israel, o povo terreno de Deus. No momento em que o Messias foi rechaçado e morto por seus próprios irmãos abriu-se uma espécie de parêntesis no tempo profético e é neste hiato profético que vivemos agora. As coisas profetizadas no Antigo Testamento dizem respeito a antes e depois do período da igreja na terra. Veja esta profecia de Daniel:
(Dn 9:24) “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo”. Ou seja, Deus está revelando a Daniel que até tudo ser resolvido com respeito a Israel, até Cristo voltar para reinar, se passarão “setenta semanas” ou 490 anos. Este tempo é dividido em 3 partes.
(Dn 9:25) “Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém…”. A ordem foi dada por Artaxerxes em 445 A.C. “…até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos”. As setenta semanas aparecem divididas em dois períodos, um de 7 semanas [49
anos] e outro de 62 semanas [434 anos]. Nas primeiras 7 semanas [49 anos]
Jerusalém foi reconstruída.
(Dn 9:26) “E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo…”. Aqui fala da morte do Messias, Jesus, ocorrida 434 anos após a reconstrução de Jerusalém. “… E o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações”. Esta é a destruição da cidade e do Templo, o que ocorreu no ano 70 da era cristã. A cidade e o templo foram destruídos pelos romanos, “o povo do príncipe que há de vir”, uma alusão ao anticristo.
[A atual dispensação da graça de Deus encaixa-se aqui]: (Dn 9:27) “E ele [o anticristo] firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador”.
Repare que as 70 semanas de anos foram divididas em 7 semanas para reconstrução da cidade, 62 semanas até o Messias ser “tirado”, e finalmente a última semana [7 anos] quando esse príncipe fará cessar o sacrifício e ocorrerá “a consumação”
ou o fim.
Se você fizer as contas, verá que são perfeitamente identificáveis na história as primeiras sete semanas e a outra porção de 62
semanas, mas não a última, pois ainda não ocorreu. Entre a retirada do Messias e o dia de hoje já se passaram mais de dois mil anos que não aparecem no cálculo porque era justamente o período em que Deus iria encaixar a sua Igreja, o “segredo”
ou “mistério” que estava escondido da profecia dirigida a Israel. A retomada das tratativas com Israel só pode ocorrer se a Igreja for tirada de cena, já que ela não tem nada a ver com Israel. Isto ocorrerá no arrebatamento.
Portanto o arrebatamento já poderia acontecer a qualquer momento neste período da Igreja que começou no dia de Pentecostes, em Atos 2, já que não existia nada que precisasse se cumprir profeticamente entre a retirada do Messias e o início da última semana. No final da última semana Cristo vem para reinar e traz consigo justamente aqueles que foram arrebatados: “Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na
vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos” (1
Ts 3:13).
Talvez você mencione passagens proféticas dos evangelhos, como Mateus 24 e 25, e elas estão corretamente inseridas ali porque os evangelhos ainda fazem parte das coisas referentes a Israel (o Messias ainda não tinha sido morto e ressuscitado). O livro de Apocalipse, este sim, traz algo da igreja até o capítulo 3, mostrando nas sete cartas às sete igrejas o caráter das sete épocas históricas pelas quais a igreja passaria, mas veja que ali também tudo está conectado a terra, ou seja, as sete cartas falam de forma geral da casa de Deus que é o caráter exterior da igreja que inclui salvos e perdidos, trigo e joio. Nessas cartas o catolicismo romano pode ser visto representado em Tiatira, mas nada ali fala do Papa.
Se os acontecimentos mundiais parecem ter algo a ver com as profecias bíblicas referentes a Israel, no máximo eles revelam que o palco está sendo montado, mas a peça ainda não começou e nem começará antes da retirada da Igreja da terra e do Espírito Santo, que é o que retém a revelação do anticristo e da livre ação de Satanás neste mundo. Este será expulso do céu e descerá a terra trazendo consigo todo o seu exército de potestades celestiais para perseguir “a mulher” (Israel, representado no remanescente judeu fiel) que deu à luz o “varão” que há reger o mundo (Cristo).
Após o arrebatamento permanecerão aqui diferentes classes de pessoas: um remanescente judeu que irá se converter durante os sete anos que precederão a vinda de Cristo ao mundo (antes disso ele terá vindo nos ares, sem tocar a terra, para buscar a igreja), também identificados em Mateus 25:40 como “meus pequeninos irmãos”, os “bodes”, que terão perseguido e atormentado esses “pequeninos irmãos” (e entre os “bodes” inclua-se a grande maioria dos hoje conhecidos como judeus que continuam em sua rejeição contra o Messias e também gentios) e as “ovelhas”, que serão gentios dentre todas as nações que acolherão os “pequeninos irmãos”, esse remanescente fiel ao Senhor que é o assunto de Mateus 24 (os que perseveram até o fim para que sua carne ou corpo entre a salvo no reino milenial de Cristo na terra).
Um pouco antes de Cristo colocar os seus pés neste mundo para julgar as nações um grande sistema responsável pela perseguição e martírio do remanescente judeu fiel (“pequeninos irmãos”) terá sido destruído por seus próprios associados judeus e gentios. Falo da “grande meretriz”, cuja visão causou espanto ao apóstolo João por ele não esperar tal coisa: aquela que devia representar a noiva de Cristo surgiu diante de seus olhos na visão como uma grande prostituta montada sobre uma besta (o sistema civil). E
assim será: a cristandade como um todo (inclua-se aí católicos e protestantes) formada pelo joio, que não subiu no arrebatamento com os verdadeiros salvos (o “trigo”), será um dos principais instrumentos do anticristo na perseguição do remanescente fiel. Pode ser que aí esteja incluído o Papa da vez, porém unido com outros líderes e seguidores de diferentes grupos “cristãos”, além obviamente dos judeus apóstatas.
Mas isso será por um tempo, pois em Apocalipse 18 vemos a “grande meretriz” derrubada da besta e destruída. Ou seja, aquela “forte cidade” deste mundo, a corrupta “Babilônia” (em contraste com a cidade santa que desce do céu no final do livro), a grande meretriz (em contraste com a noiva de Cristo) será julgada pelos mais de dois mil anos de volúpia e engano. Leia o capítulo 18 de Apocalipse junto com a carta à igreja de Laodiceia no capítulo 3
e verá que a característica de riqueza, poder e vanglória da cristandade aparece em ambas, já que Laodiceia representa o último estado da igreja no mundo (mais uma vez entenda que as cartas falam do estado da cristandade em sua responsabilidade para com Deus em seu testemunho no mundo). Esta volúpia por riquezas e poder, que antes parecia marca registrada do catolicismo, já é parte integrante dos diversos grupos que compõem a cristandade professa e aquele será o seu juízo como sistema. No presente momento os verdadeiros salvos estão espalhados dentro e fora dessa grande massa de organizações e denominações cristãs.
A seleção entre o que é joio e o que é trigo se dará no arrebatamento da igreja.
Portanto, voltando à sua dúvida, o Papa atual e futuro (se der tempo) nada mais é do que um mero peão levado pelas circunstâncias deste grande tabuleiro que é o mundo, mas o xeque-mate que criará o divisor de águas entre salvos e perdidos na presente dispensação será o arrebatamento da igreja, o qual pode ocorrer a qualquer momento. Depois disso apenas os que não ouviram o evangelho poderão ser salvos. Portanto, aponte seus binóculos para o NOIVO, pois a qualquer momento você poderá ouvir o chamado para o embarque rumo ao céu.
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Em 1948 cumpriu-se a profecia da volta de Israel?
Você disse que discorda de algo que escrevi, quando mencionei que as profecias que falam da volta de Israel à sua terra ainda não se cumpriram. A verdade é que a “volta” que a história registra em 1948, e que você acredita como sendo o cumprimento profético, não é a mesma que a Bíblia menciona nas várias profecias. Sim, a profecia bíblica mostra que Israel deveria voltar à sua terra depois de séculos de exílio, mas o que aconteceu em 1948 não é a mesma coisa. A volta da qual as profecias falam ainda está para se realizar, e quando isso acontecer será um Israel convertido a Deus e reconhecendo seu Messias que voltará a habitar na terra prometida, logo antes da inauguração do reino milenial de Cristo. Vamos examinar as principais passagens usadas por pessoas que tentam “provar” que a profecia bíblica se realizou.
(Am 9:14-15) “E trarei do cativeiro meu povo Israel, e eles reedificarão as cidades assoladas, e nelas habitarão, e plantarão vinhas, e beberão o seu vinho, e farão pomares, e lhes comerão o fruto. E plantá-los-ei na sua terra, e não serão mais arrancados da sua terra que lhes dei, diz o Senhor teu Deus”.
Não é preciso analisar muito o contexto para perceber que o que vemos em Israel hoje não é o cumprimento da profecia. Os versículos anteriores dizem:
“Porque eis que darei ordem, e sacudirei a casa de Israel entre todas as nações, assim como se sacode grão no crivo, sem que caia na terra um só grão. Todos os pecadores do meu povo morrerão à espada, os que dizem: Não nos alcançará nem nos encontrará o mal. Naquele dia tornarei a levantar o tabernáculo caído de Davi, e repararei as suas brechas, e tornarei a levantar as suas ruínas, e o edificarei como nos dias da antiguidade” (Am 9:9-11).
Repare na frase: “Todos os pecadores do meu povo morrerão à espada”. A Palavra de Deus está se referindo aos que pertencem ao povo de Deus, porém são rebeldes, ou seja, exatamente o povo que retornou a terra em 1948 e lá permanece até hoje. Um povo rebelde e ainda culpado de ter rejeitado e crucificado seu Messias, e não o que é descrito na profecia, que fala de um tempo quando o Senhor voltará para estabelecer o seu reino de mil anos.
Aí sim o verdadeiro Israel, o remanescente de judeus fiéis que se converterá após o arrebatamento da Igreja, será estabelecido em sua terra para nunca mais sair. Aí sim reedificarão as cidades assoladas, habitarão nelas, plantarão vinhas e “não serão mais arrancados da sua terra que lhes dei”, diz a profecia. Um conhecimento amplo da profecia revela que a terra de Israel será ainda assolada por guerras e finalmente pelo Rei do Norte que a devastará, antes de ser destruído pelo Senhor. É essa terra devastada que será reconstruída no final.
Outra profecia muito usada como “prova” de que Israel já voltou segundo o previsto na Bíblia é o capítulo 37 de Ezequiel, que fala do vale cheio de ossos secos que voltam à vida. O versículo 11 deixa claro não se tratar do que existe hoje: “Então me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel” (Ez 37:11). O povo que hoje habita a palestina é formado pelas tribos de Judá e Benjamim, enquanto as dez tribos estão dispersas. A divisão ocorrida nos dias de Jeroboão ainda permanece e no Antigo Testamento Deus faz distinção entre “Israel” (as dez tribos) e “Judá”
(Judá e Benjamim, que permaneceram em Jerusalém). O capítulo 37 fala de “toda a casa de Israel” e certamente não é o povo completo que vemos hoje na Palestina.
Basta ver os últimos versículos do capítulo, que falam de Deus fazer de todas as tribos “uma nação na terra”, congregada “de todas as partes”, fazendo com que “um rei será rei de todos eles, e nunca mais serão duas nações, nunca mais para o futuro se dividirão em dois reinos”. Acaso é isto o que se vê em Israel hoje, com seu povo rebelde e alheio ao Messias? Como alguém poderia tentar identificar o povo que ali está com aquele do qual a profecia fala: “E meu servo Davi será rei sobre eles, e todos eles terão um só pastor, e andarão nos meus juízos e guardarão os meus estatutos, e os observarão”. Ora, os judeus que hoje vivem na Palestina condenaram o verdadeiro Davi à morte e ainda não se arrependeram disso! E o capítulo termina: “E os gentios saberão que eu sou o Senhor que santifico a Israel, quando estiver meu santuário no meio deles para sempre”. Tudo o que hoje existe no local não é o santuário ou Templo de Deus, mas uma mesquita muçulmana.
Outra profecia que se tenta aplicar ao retorno de Israel a terra em 1948 é Isaías 66: “Antes que estivesse de parto, deu à luz; antes que lhe viessem as dores, deu à luz um menino. Quem jamais ouviu tal coisa?
Quem viu coisas semelhantes? Poder-se-ia fazer nascer uma terra num só dia?
Nasceria uma nação de uma só vez? Mas Sião esteve de parto e já deu à luz seus filhos” (Is 66:7-8).
Por ter sido o atual estado de Israel fundado por decreto, ou seja, em um dia, tenta-se aplicar esta profecia ao ocorrido em 1948, mas basta ler o restante do capítulo para perceber que a profecia está falando do estabelecimento de Judá em obediência e santificação em sua terra depois da grande tribulação, quando Cristo voltar para estabelecer o seu reino. Então as outras tribos também serão juntadas a Judá e Benjamim para que todo o povo esteja completo. O estabelecimento de Israel em sua terra será uma obra de Deus, não das Nações Unidas, e será algo definitivo. Como poderia o povo que agora vive na Palestina achar que foi colocado ali pela mão do Messias que eles próprios rejeitaram? Pergunte a qualquer judeu se ele acredita que foi Jesus quem os levou de volta a terra e você saberá a resposta.
Outra passagem usada como argumento de que a volta de Israel a terra em 1948 foi profética é Jeremias 16: “Portanto, eis que dias vêm, diz o Senhor, em que nunca mais se dirá: Vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do Egito. Mas: Vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do norte, e de todas as terras para onde os tinha lançado; porque eu os farei voltar à sua terra, a qual dei a seus pais” (Jr 16:14-15).
Fica fácil entender este capítulo se lermos o capítulo posterior que fala do espírito daqueles que herdarão a terra, em contraste com os que Deus rejeitará. “Se vós diligentemente me ouvirdes, diz o Senhor, não introduzindo cargas pelas portas desta cidade no dia de sábado, e santificardes o dia de sábado, não fazendo nele obra alguma, Então entrarão pelas portas desta cidade reis e príncipes, que se assentem sobre o trono de Davi, andando em carros e em cavalos; e eles e seus príncipes, os homens de Judá, e os moradores de Jerusalém; e esta cidade será habitada para sempre” (Jr 17:24-25). Acaso é esta a disposição de coração daqueles que habitam o atual estado de Israel? Longe disso. Em suas bocas ainda ecoa a frase de Lucas 19:14 “Não queremos que este reine sobre nós” e a sentença que eles próprios proferiram contra si mesmos quando crucificaram a Cristo: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27:25).
Mais uma profecia que se tenta provar já ter se cumprindo com a fundação do estado de Israel em 1948 é Ezequiel 34:11-15: “Porque assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu, eu mesmo, procurarei pelas minhas ovelhas, e as buscarei. Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas; e livrá-las-ei de todos os lugares por onde andam espalhadas, no dia nublado e de escuridão. E tirá-las-ei dos povos, e as congregarei dos países, e as trarei à sua própria terra, e as apascentarei nos montes de Israel, junto aos rios, e em todas as habitações da terra. Em bons pastos as apascentarei, e nos altos montes de Israel será o seu aprisco; ali se deitarão num bom redil, e pastarão em pastos gordos nos montes de Israel. Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas, e eu as farei repousar, diz o Senhor DEUS”.
Seria muita ingenuidade achar que o Senhor rejeitado e morto traria o seu rebanho disperso em rebelião e os colocaria ainda rebeldes na terra prometida e os apascentaria “em bons pastos… num bom redil… em pastos gordos nos montes de Israel” sem antes castigá-los e peneirar dentre eles o vil. Quer dizer que o Senhor, o bom Pastor, está apascentando Israel hoje e eles nem sequer sabem disso? A continuação diz que “suscitarei sobre elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor” vers. 23. Esse “um só pastor” é Jesus, o Messias, que permanece hoje rejeitado e até hostilizado pelos judeus (pergunte a um judeu quem ele acha que é Jesus e ele lhe dirá que é o filho bastardo de Maria com um soldado romano). A continuação da profecia traz coisas como “E farei com elas uma aliança de paz, e acabarei com as feras da terra”, o que é uma clara alusão ao reino milenial de Cristo na terra, e não à condição de instabilidade em que os judeus hoje se encontram, protegidos pelo dinheiro que guardam nos bancos norte-americanos e pelas armas e proteção que esse país lhes oferece.
Outra profecia: (Jr 31:10) “Ouvi a palavra do Senhor, ó nações, e anunciai-a nas ilhas longínquas, e dizei: Aquele que espalhou a Israel o congregará e o guardará, como o pastor ao seu rebanho”. Mais uma vez aqui é da volta de Cristo para reinar que está falando, e não da fundação do estado de Israel em 1948. Basta ver a sequência que descreve todas as benesses do reino milenial de Cristo e de um povo em submissão ao seu Messias, o que hoje não é o caso.
Alguns gostam de aplicar Levítico 26 como prova da realização da profecia, em virtude da extrema habilidade do moderno Israel em suas guerras, muitas vezes subjugando seus inimigos mesmo estando em uma aparente condição de inferioridade. Eu não chamaria de “condição de inferioridade” um país que anda sempre com um guarda-costas do tamanho de um guarda-roupa como é os Estados Unidos, além de ter o maior acervo de mentes brilhantes da história. Não devemos nos esquecer de que o ateu Einstein era judeu. Uma coisa que os judeus aprenderam com dois mil anos de exílio foi onde investir seus esforços: coisas fáceis de levar na hora da perseguição. Por isso você encontra tantos judeus intelectualmente superiores em ciências e artes, pois eles tradicionalmente investem em conhecimento. Na impossibilidade de se fugir de um país de mãos vazias, nada melhor para se levar na bagagem para recomeçar do que o cérebro. Do ponto de vista material os judeus sempre foram grandes investidores em diamantes, uma riqueza de alto valor, porém pequeno peso e volume, fácil de carregar.
Mas vamos à profecia de Levítico 26 que muitos dizem ter se concretizado nas guerras travadas por Israel para conquistar territórios depois de 1948: “E perseguireis os vossos inimigos, e cairão à espada diante de vós. Cinco de vós perseguirão a um cento deles, e cem de vós perseguirão a dez mil; e os vossos inimigos cairão à espada diante de vós” (Lv 26:7-8). O que os que usam esta passagem não percebem é que antes Deus estabelece as condições para Israel ter toda essa destreza na batalha, vinda de Deus e não de suas habilidades naturais: “Se andardes nos meus estatutos, e guardardes os meus mandamentos, e os cumprirdes, Então eu vos darei as chuvas a seu tempo; e a terra dará a sua colheita, e a árvore do campo dará o seu fruto; E a debulha se vos chegará à vindima, e a vindima se chegará à sementeira; e comereis o vosso pão a fartar, e habitareis seguros na vossa terra. Também darei paz na terra, e dormireis seguros, e não haverá quem vos espante; e farei cessar os animais nocivos da terra, e pela vossa terra não passará espada” (Lv 26:3-6).
O leitor sincero logo perceberá que “cinco de vós perseguirão a um cento deles” é algo sobrenatural e decorre da obediência aos mandamentos de Deus, o que não é absolutamente o caso dos judeus atuais. A passagem também deixa claro que está falando do período que precede imediatamente o estabelecimento do reino milenial de Cristo, quando Deus fará cessar os animais nocivos da terra e esta nunca mais será atacada.
Finalmente, outra passagem usada pelos simpatizantes da ideia da profecia ter se cumprido em 1948 é Deuteronômio 30:3-5, que fala da prosperidade de Israel. “Então o Senhor teu Deus te fará voltar do teu cativeiro, e se compadecerá de ti, e tornará a ajuntar-te dentre todas as nações entre as quais te espalhou o Senhor teu Deus. Ainda que os teus desterrados estejam na extremidade do céu, desde ali te ajuntará o Senhor teu Deus, e te tomará dali; E o Senhor teu Deus te trará à terra que teus pais possuíram, e a possuirás; e te fará bem, e te multiplicará mais do que a teus pais”.
Mais uma vez o leitor sincero e que sabe dividir bem a Palavra da verdade não se deixará levar pelo oba-oba dos livros de sensacionalismo profético e verá que a promessa é precedida de uma conversão real ao Senhor (“e te converteres ao Senhor teu Deus, e deres ouvidos à sua voz”) e sucedida dos mesmos alertas condicionais: “Quando deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus… quando te converteres ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma” (Dt 30:10). Acaso você considera aquele povo que hoje forma o estado de Israel convertido ao Senhor de todo o coração e de toda a alma?
Para finalizar quero dizer que durante anos acreditei nessas passagens como tendo sido cumpridas em 1948, e as utilizava para evangelizar, tentando por meio delas, provar às pessoas que a Bíblia estava se cumprindo. A intenção era boa, mas a aplicação bíblica era incorreta. Muito do descrédito que as pessoas esclarecidas têm hoje pela Bíblia é por os próprios cristãos a utilizarem sem sabedoria.
Quantas vezes você ouviu algum pregador dizer que o Papa tal ou tal era o anticristo? Li um livro no final da Guerra Fria no qual o autor jurava de pés juntos que o anticristo era Mikhail Gorbachev e que a marca de nascença que tinha na cabeça era a marca da besta. Outro tentava provar por A+B
que o anticristo seria o Rei da Espanha, Juan Carlos, por causa de particularidades de sua biografia e principalmente por suas iniciais “J.C.”
serem as mesmas de “Jesus Cristo”. O código de barras, que já foi a bola da vez na literatura evangélica como sendo a marca da besta foi substituído pelos chips de identificação. Autores de livros proféticos que citaram o código de barra correram para corrigir suas novas edições. Antes da onda do chip eu conheci um cristão que não comprava produtos que tivessem código de barras na embalagem.
Há muito tempo não o vejo e espero que não tenha morrido de fome.
Todas essas tentativas de interpretação da profecia bíblica sem considerar o contexto e o cenário completo causam mais mal do que bem ao testemunho de Cristo no mundo. Como eu disse, também errei muito neste sentido, mas depois vim a perceber que as previsões sobre a fundação do estado de Israel em 1948 não se encaixavam quando a profecia era compreendida como um todo, e não por meio de versículos tirados do contexto. A população que hoje forma o estado de Israel será dizimada e restará dela apenas um terço que se converterá verdadeiramente a Deus (isto sim é profético e ainda irá acontecer): (Zc 13:8-9) “Em toda a terra, diz o Senhor, as duas partes dela serão exterminadas, e expirarão; mas a terceira parte restará nela. E farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro. Ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo; e ela dirá: O Senhor é meu Deus”.
Se quiser compreender a profecia bíblica corretamente, comece por entender que o relógio profético parou após a morte e ressurreição de Cristo e antes da fundação da Igreja em Atos 2 (cumprindo-se ali Joel 2:16-17 em parte, mas não totalmente). Tudo o que se vê hoje não foi previsto pelos profetas do Antigo Testamento porque a atual dispensação da graça de Deus era um mistério que só seria revelado a Paulo séculos mais tarde. O relógio profético voltará a bater quando a Igreja for arrebatada, o que acontecerá com a concomitante saída do Espírito Santo da terra.
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Seriam os personagens de 1 Samuel figuras?
Sua dúvida é se Elcana, Ana, Penina, Samuel, Eli e seus filhos poderiam ser, além de pessoas reais que viveram há muito tempo, também figuras ou tipos de Israel e da igreja. As Escrituras nos ensinam que as coisas que encontramos no Antigo Testamento “são sombras das coisas futuras” (Cl 2:16-17), que algumas delas “servem de exemplo e sombra das coisas celestiais” (Hb 8:5), “foram-nos feitas em figura” (1 Co 10:6), e podem ser vistas como “figura do verdadeiro” (Hb 9:24).
Mas não devemos nos esquecer de que tudo isso é “a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas” (Hb 10:1), portanto embora seja de muito consolo, ensino e exortação nos ocuparmos com os tipos, figuras, sombras e princípios do Antigo Testamento, jamais devemos buscar ali doutrinas para a igreja, pois ela nunca aparece em realidade no Antigo Testamento. A igreja, e tudo o que lhe diz respeito, foi um segredo ou mistério revelado apenas muito mais tarde a Paulo, portanto até mesmo os profetas que escreveram o Antigo Testamento não faziam ideia de que ela viria a existir. A doutrina para a igreja você encontra nas epístolas dos apóstolos.
Muita má doutrina existe hoje na cristandade por não se entender esta distinção e por se buscar no Antigo Testamento elementos para aplicar à igreja. Alguns extrapolam completamente a ordem de Deus transformando sombras e figuras em doutrinas, terminando em erros graves. Portanto devemos tratar as sombras como elas são e, por assim dizer, como um aditivo ao entendimento da Bíblia como um todo. Se você vê a sombra de uma pessoa querida chegando, fica alegre, mas isso não se compara à chegada da própria pessoa. Não é com a sombra que você quer se ocupar, mas com a realidade das coisas.
Tendo isto em mente, confesso que nem eu sabia se poderíamos enxergar, conforme você sugeriu, as pessoas de Elcana, Ana, Penina, Eli e seus filhos como figuras do atual estado de coisas envolvendo Israel e a igreja. Eu sempre caminho sobre ovos quando se trata de lidar com os tipos, sombras e figuras do Antigo Testamento, por isso fui buscar ajuda em autores antigos que tinham muito mais experiência do que eu tenho na Palavra. Descobri que vários falam disso, mas escolhi o comentário de John Nelson Darby chamado “Pensamentos em 1 Samuel 1 e 2” para traduzir e enviar a você. Aqui vai:
“Pensamentos em 1 Samuel 1 e 2”
J. N. Darby
O que é dito de Elcana, que tinha duas esposas, parece apresentar um tipo de Cristo e das duas dispensações (Israel e igreja). Ana representaria os judeus com os quais Deus volta a tratar em misericórdia; Penina, os gentios que são deixados de lado. É isto o que podemos distinguir na canção profética de Ana. Vemos também a corrupção do sacerdócio e o juízo de Deus pronunciado contra a casa de Eli. O sacerdócio de Arão e de seus filhos era um tipo da igreja.
As circunstâncias do povo judeu sob Samuel, o profeta, sob Saul e Davi, até Salomão ter subido ao trono, são uma figura dos eventos preparatórios que introduzem o reino do Messias. Ou seja, essas circunstâncias apresentam, na forma de tipos, os principais fatos que ocorrerão da época em que Deus recomeçar a agir por seu povo até Jesus vir para assentar-se no trono de Davi em Jerusalém.
A palavra de Deus pronunciada a Eli é o testemunho que Deus levanta contra seu sacerdócio antes de executar o seu juízo. A igreja, que tem o discernimento do que irá acontecer, deve também levar o testemunho de que Deus está prestes a julgar e rejeitar o corpo gentio cristianizado; o juízo de Deus está para ser cumprido naqueles que compartilham da corrupção que foi introduzida na igreja (Judas 5).
É sob o sacerdócio de Eli e seus filhos que o juízo começa a tomar lugar contra tal ordem de coisas. Como sacerdote, Eli já não tinha mais o discernimento que lhe era requerido. Em uma condição assim o ouvido já não está atento o suficiente para a pessoa poder ser corrigida. Além disso, o que é notável é que o sinal, que é proposto a Eli, é o próprio juízo que Deus está prestes a aplicar. (1 Sm 2:34).
O juízo contra a casa de Eli tem sua execução completa apenas nos tempos de Salomão ser elevado ao trono (1 Rs 2:27-35). O sacerdócio estabelecido por Salomão é, de acordo com a palavra de Jeová, pronunciado a Eli pelo homem de Deus, “um sacerdote fiel, que… andará sempre diante do meu ungido” (1 Sm 2:35). A concretização dessa figura apresentada sob a realeza de Salomão irá ter lugar quando Cristo estiver assentado em seu trono em Jerusalém; é o sacerdócio que é mencionado na descrição da ordem do templo em Ezequiel 44:15.
Aarão e seus filhos representavam o sacerdócio celestial no caráter e posição que Jesus assumiu por sua ressurreição; a posição da igreja que é de Cristo, o Homem glorificado diante de Deus Pai. Aquilo que é indicado como substituindo o que foi rejeitado é a expressão “perante o seu ungido” (1 Sm 12:3). Trata-se de um sacerdócio em diferente posição. O primeiro é celestial, que é o que é prefigurado no tabernáculo, “exemplo e sombra das coisas celestiais” (Hb 9:23-24). O outro sacerdócio é na terra para o templo em Jerusalém, na época quando o Messias estiver assentado no trono de Davi. Este sacerdócio não acabará, e o mesmo vale para o povo judeu restaurado, pois Cristo terá assumido o governo em suas mãos. Aquilo que foi colocado nas mãos do homem sob sua responsabilidade fracassou em cada uma das dispensações; mas Deus, conforme a sua graça, manteve sua eleição. A ele seja toda a glória.
Uma instrução da mais alta importância para nós gentios surge no capítulo 2:27-28 de 1 Samuel. Antes de executar o juízo sobre aquilo que está corrompido Deus sempre traz à memória a natureza da sua vocação em conformidade com sua graça, no que diz respeito à bênção colocada nas mãos dos homens que foram os objetos de sua bondade. Deus diz a Eli: “Não me manifestei, na verdade, à casa de teu pai, estando eles ainda no Egito, na casa de Faraó? E eu o escolhi…”. A casa de Aarão havia sido objeto de uma graça muito especial dentre as tribos de Israel. Mas eles haviam se esquecido dessa graça e, portanto, depois de haverem cessado de trazer à lembrança a bondade de Deus para com eles, haviam caído em um estado de completa corrupção.
Como é de se esperar, o juízo é o último remédio que Deus aplica, seja para corrigir, seja para eliminar de vez.
O mesmo vale para a igreja. Ela também se esqueceu da bondade de Deus em conformidade com a vocação ou chamamento de sua graça, por isso esta dispensação está prestes a ser irrevogavelmente interrompida pelo juízo final sobre Babilônia (Ap 18). Portanto é da maior importância para o cristão não se esquecer da graça de Deus relacionada à sua vocação ou chamado inicial. Lembremo-nos de como Deus nos escolheu, a fim de escaparmos da consumação da ameaça feita por Jesus a Laodiceia: “Vomitar-te-ei da minha boca” (Ap 3:16) – [J. N. Darby, “Thoughts on 1 Samuel 1 and 2”, tradução Mario Persona].
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O que significa “trevas exteriores”?
A expressão aparece ao menos três vezes no evangelho de Mateus e significa a condenação eterna. “E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 8:12); “Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 22:13) e “Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 25:30).
Judas 1:13 também fala de trevas como sinônimo de condenação eterna (embora não especifique “exteriores”): “Ondas impetuosas do mar, que escumam as suas mesmas abominações; estrelas errantes, para os quais está eternamente reservada a negrura das trevas”. Sabemos que Deus é luz e nele não há trevas (1 Jo 1:5), portanto trevas na Bíblia sempre indicam a ausência de Deus. Assim estava o Universo depois do cataclismo que envolveu a queda do diabo e antes que Deus trouxesse à tona a luz (Deus não criou a luz, ela sempre existiu, daí a diferença entre o “haja luz” e as coisas que Deus efetivamente faz em Gênesis 1).
O homem em seu estado natural é trevas internamente, pois Deus não pode conviver com o pecado que habita na velha natureza. Porém a luz está disponível ao ser humano fora dele, em Cristo, e quando ele crê todo o seu corpo fica luminoso. Já não há trevas internas permanentes, embora eventualmente ele possa, por desobediência, andar em trevas e não na luz.
(2 Co 4:6) “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo”.
(Cl 1:13) “O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor;”.
(1 Pe 2:9) “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;”.
(1 Jo 1:6) “Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade”.
Na cruz Jesus foi lançado nas trevas da ausência de Deus por ter sido feito ali pecado por nós. Deus voltou sua face e o abandonou ali como jamais abandonou um ser humano em vida, já que até o pior dos pecadores tem Deus ao seu lado pronto para intervir se ele clamar por salvação. Jesus precisou sofrer só o juízo divino e ali, do ponto de vista dele, não apenas Deus colocou sobre ele os nossos pecados, fazendo-o pecado por nós, mas também o cercou de trevas, do mesmo modo como ficará por toda a eternidade o pecador que não se converter. Estará imerso em “trevas exteriores”.
O incrédulo, que hoje está cheio de trevas em si mesmo, mas que pode ter acesso à luz a qualquer momento deixará de ter este privilégio se morrer sem Cristo, sendo lançado nas “trevas exteriores”. Ali ele não apenas terá trevas dentro de si, mas também ao redor de si, já que trevas significam a ausência de Deus. O pecador condenado ficará, por assim dizer, mergulhado em trevas e encharcado nelas. Já não haverá como recorrer a Deus, pois ele estará abandonado como Cristo ficou abandonado na cruz, com a diferença de que para ele já não haverá salvação.
Cristo entrou nas trevas para nos livrar delas. O incrédulo entrará nas trevas para nunca mais sair. Daí a urgência de se crer em Jesus agora.
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O Papa é o líder da igreja católica?
Você se diz preocupado por encontrar muitas pessoas apavoradas por boatos de que o novo Papa será o anticristo ou que João Paulo II irá ressuscitar. Segundo você relatou, existem até pessoas que estariam procurando fugir para um lugar seguro e em dúvida se devem sair do emprego, vender a casa, etc. Nem bem terminou o “fim do mundo” supostamente previsto pelas profecias maias e já estamos diante de outro pânico geral, e o mais triste é quando vemos aqueles que se dizem cristãos jogando lenha nessa fogueira de histeria coletiva.
Para tranquilizá-lo, entenda desde já que o líder da igreja católica não é o Papa, e as notícias envolvendo a renúncia do Papa Bento XVI ou Joseph Ratzinger ajudam a perceber isso. O líder da igreja católica romana é “Jezabel”, o sistema católico que é maior que os próprios papas e cardeais. As sete cartas às sete igrejas de Apocalipse 2 e 3 representam sete períodos e características do testemunho da igreja na terra. Hoje, de uma maneira geral, todos os cristãos fazem parte de Laodiceia, o último e mais lamentável estado da igreja na terra, mas os grandes movimentos (que também estão incluídos neste último estado) são caracterizados individualmente nas outras.
Por exemplo, Tiatira é o estabelecimento do catolicismo romano e Sardis é o protestantismo. Cada carta é dirigida ao “anjo”, ou seja, aos homens que têm responsabilidades no testemunho. Em Tiatira uma mulher se sobrepõe ao anjo, assim como na história de Israel era Jezabel quem realmente mandava em seu marido Acabe. Normalmente no catolicismo você ouve frases do tipo “a Igreja ensina…”, algo estranho às Escrituras, que proíbem a mulher de ensinar. “Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido” (1 Tm 2:12). Portanto, não se preocupe: não é o Papa quem manda na igreja católica romana, mas é a igreja católica romana (a “mulher” ou “Jezabel”) que manda no Papa.
O texto abaixo faz parte de um livro de Bruce Anstey que estou traduzindo no blog “Ao Seu Nome” e poderá ajudar você a entender os detalhes do que estou falando, isto é, do significado de cada carta às sete igrejas de Apocalipse:
Estes capítulos trazem um esboço da história profética da igreja desde os primeiros dias, logo após os apóstolos, chegando até os últimos dias. Se seguirmos o curso de eventos apresentados nessas mensagens às sete igrejas veremos um declínio no testemunho cristão, até que finalmente chega-se a um ponto em que não há retorno, o que leva o Senhor a agir sobre o princípio de um testemunho remanescente.
Em Éfeso aprendemos que “o anjo da igreja” (os líderes responsáveis) julgava corretamente tudo o que fosse inconsistente com o Senhor. Ali diz “que não podes sofrer os maus”.
Mas infelizmente seus corações não estavam com ele (Ap 2:2-4). Em Esmirna qualquer eventual aumento no declínio foi temporariamente pausado pelas grandes perseguições que se abateram sobre aquela igreja. A severidade da tribulação lhes fez retornar ao Senhor. Mas em Pérgamo, quando os tempos de grande perseguição haviam terminado, “o anjo da igreja” começou a tolerar alguns que tinham “a doutrina de Balaão”, que é o mundanismo e a idolatria. O anjo não foi acusado de ter essas doutrinas, mas o Senhor viu falta neles por não denunciarem o mal, como havia feito o anjo em Éfeso.
Em Tiatira ocorreu uma condição pior: “O anjo da igreja” permitiu que se ensinasse a mesma má doutrina e prática que havia sido combatida por alguns em Pérgamo!
(Compare Ap 2:14 com 2:20). O que teve início com alguns professando má doutrina terminou em muitos ensinando a mesma má doutrina. Isto mostra que se a existência do mal não for julgada ele acabará sendo aceito. Em Tiatira o ensino daquele mal havia se desenvolvido em todo um sistema de coisas chamado “Jezabel”, que certamente corresponde ao catolicismo. Na Idade Média este sistema ímpio exercia um poder tão tirânico sobre a igreja como um todo, com seu poder e organização, que controlava até mesmo o anjo! Aqueles que ocupavam um lugar de responsabilidade haviam falhado em lidar com isso quando poderiam ter feito, e agora ele havia crescido em um monstro que os controlava! (Veja Atos 27:14-15.
O “Euro-aquilão”, um forte vento mediterrâneo, tomou o controle da embarcação e a tripulação nada podia fazer senão se deixar levar: “E não podendo navegar contra o vento, dando de mão a tudo, nos deixamos ir à toa”).
A figura de “Jezabel” é adequadamente utilizada aqui, pois aquela mulher não somente introduziu formalmente a idolatria em Israel, como também controlava e manipulava seu marido, o rei Acabe.
Sendo esta a situação da condição pública da igreja, onde já não existia poder para lidar com o mal, o Senhor separou um remanescente, dizendo: “Mas eu vos digo a vós, e aos restantes [remanescentes]…”. Ele deixa de lado a grande massa de pessoas (Ap 2:24). Daquele momento em diante ele passou a trabalhar com um remanescente que podia ouvir o que o Espírito estava dizendo às igrejas. Aqui temos a palavra “remanescente” usada em conexão com o testemunho cristão. É
significativo que o Senhor não tenha colocado “outra carga” ou responsabilidade de consertarem a confusão existente no testemunho cristão, num esforço de levar a igreja de volta ao seu estado original. Ao invés disso, ele dirigiu o foco deles para sua vinda, dizendo: “Mas o que tendes, retende-o até que eu venha” (Ap 2:25).
Daquele ponto em diante é vista uma notória mudança no modo de o Senhor tratar com a igreja. Até ali, nas três primeiras igrejas, a voz do Espírito era dirigida à igreja como um todo. “O
que o Espírito diz às igrejas” vinha antes da promessa “ao que vencer”. Isto indica que a recompensa para o vencedor era colocada diante de toda a igreja, pois o Senhor ainda estava tratando com ela de um modo geral. Mas agora, deste ponto em diante, a ordem é revertida. O
chamado para ouvir “o que o Espírito diz às igrejas” vem depois da promessa feita “ao que vencer”. Esta é a ordem nas últimas quatro igrejas. O que o Espírito tem a dizer com respeito à ordem na igreja já não é mais dado à multidão, mas apenas ao que vencer. A razão é que se supõe que apenas o vencedor irá escutar o que o Espírito está dizendo. Não se espera que as multidões venham a escutar e a se arrepender. A previsão de Paulo a Timóteo, de que as pessoas, em sua maioria, “não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências” havia se realizado (2 Tm 4:2-3), e por isso o Espírito já não falava ao corpo como um todo.
Fazendo uma observação sobre tal mudança, J. N. Darby escreveu que o corpo como um todo é “deixado de lado”
deste ponto em diante, pois a grande massa pública da profissão cristã é tratada como sendo incapaz de ouvir e se arrepender. William Kelly escreveu: “Desse momento em diante o Senhor apresenta a promessa [ao que vencer] primeiro, e isto porque é em vão esperar que a igreja como um todo venha a recebê-la…
apenas um remanescente [a recebe], o vencedor, e a promessa é para eles; quanto aos outros, está tudo acabado”. Como resultado disso, o Senhor já não esperava que a massa da profissão cristã escutasse e voltasse ao ponto de onde havia se desviado. Qualquer ideia de recuperar a igreja como um todo é abandonada, já que ela atingiu um ponto em que não há volta. É por isso que eu não creio que o Espírito esteja necessariamente falando a todas as pessoas na cristandade hoje no que diz respeito à verdade de reunir. Com a maioria ele está simplesmente deixando que siga seu caminho junto às suas organizações denominacionais.
Trabalhando com um testemunho remanescente desde então, o Senhor tem tido o prazer de recuperar a verdade que foi perdida pelo descuido da igreja nos séculos anteriores. Todavia ele não parece achar apropriado recuperar a verdade toda de uma só vez. O remanescente mencionado em Apocalipse 2:24-29 é formado pelos Valdenses, Albigenses e outros grupos semelhantes que se separaram do mal de “Jezabel” nos tempos medievais. A eles foi dito “o que tendes, retende-o até que eu venha”, referindo-se àquela pequena medida de verdade que eles possuíam. Algum tempo depois, por ocasião da Reforma, o Senhor permitiu que um pouco mais de verdade fosse recuperada, a saber, a supremacia da Bíblia e a fé unicamente em Cristo para a salvação. Mas aquele movimento do Espírito foi frustrado pelos próprios reformadores, que se uniram a determinados governos em busca de ajuda contra as perseguições da Igreja de Roma. Aquilo foi o mesmo que recorrer à carne em busca de socorro, ao invés de depender do Senhor (Jr 17:5; Sl 118:8-9; Is 31:1). O resultado foi a formação das grandes igrejas nacionais na cristandade e teve início aí o declínio do protestantismo, conforme é mostrado na igreja de Sardis (Ap 3:1-6).
Não foi senão até o início dos anos 1800 que o Senhor trouxe uma completa recuperação da verdade da “fé que uma vez foi dada aos santos” (Judas 3). Isto aconteceu quando alguns saíram de todas as organizações formais criadas pelos homens na igreja e é mostrado na mensagem do Senhor à igreja de Filadélfia (Ap 3:7-13). Naquela ocasião Deus estabeleceu um testemunho corporativo da verdade do um só corpo.
Antes dessa época o remanescente era formado por indivíduos que buscavam seguir adiante fielmente em separação da corrupção da igreja romana. Vivemos hoje nos dias em que cada homem faz aquilo que acha certo aos seus próprios olhos (Juízes 21:25), e a maioria é complacente com esta lamentável condição. Isto é mostrado na igreja em Laodiceia (Ap 3:14-22).
O que nos interessa aqui é que o testemunho cristão atingiu um ponto de irremediável ruína, o que exigiu uma mudança no modo do Senhor tratá-lo. Ele abandonou qualquer tentativa de restaurar a condição pública da igreja e agora está trabalhando com um testemunho remanescente. Não se trata de dizer que os santos reunidos sejam exatamente o remanescente, mas sim que eles ocupam, eclesiasticamente falando e como testemunho, uma posição remanescente em meio à confusão que permeia a igreja. De um modo geral, o remanescente é formado por todos os verdadeiros crentes espalhados pela grande massa da mera profissão cristã na cristandade.
Assim como ocorreu com Israel, para manter hoje um testemunho remanescente da verdade de que há um só corpo, o Senhor não precisa ter todos os cristãos do mundo congregados ao seu Nome, mesmo que seja este o seu desejo para com eles. Como já foi mencionado, o próprio significado da palavra remanescente implica que nem todos estão ali. Em divina prerrogativa e graça Deus está tomando um aqui e outro ali e os está reunindo ao nome do Senhor, de modo que tal testemunho remanescente possa seguir adiante. A manutenção disso é uma obra soberana. Isto é visto na observação que o Senhor faz a Filadélfia: “O que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre” (Ap 3:7). Nem homens nem o diabo podem impedir sua continuação, embora tal testemunho possa parecer seguir em grande fraqueza.
Por mais humilde que seja o testemunho, Deus não precisa de nenhum daqueles que ele reuniu, independente de quão espiritualmente dotados eles possam ser. Se não quisermos permanecer e abandonarmos, o Senhor irá reunir outros de modo que seu testemunho remanescente seja levado adiante até sua vinda. O fato de existir alguém reunido já é totalmente uma obra de Deus; a graça que salva uma alma é a mesma graça que reúne para o nome do Senhor. Se algum de nós escutou “o que o Espírito diz às igrejas” e enxergou a verdade de como reunir, isso foi só por ele ter aberto nossos ouvidos (Pv 20:12).
Traduzido de “Questions Young People Ask Regarding the Ground of Gathering for Christians – Good Questions That Deserve Good Answers” Vol. I e II, por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.
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Em Lucas 24 o “partir o pão” era a ceia do Senhor?
O partir o pão em Lucas 24 não é a ceia do Senhor. A ceia foi instituída pelo Senhor nos evangelhos, mas aquela ainda não era a ceia que praticamos. A que praticamos (e os discípulos em Atos praticavam sem ainda entenderem perfeitamente o que faziam) é a que foi revelada pelo Senhor a Paulo em 1 Coríntios 11 (não foram os outros que contaram a ele). Vamos à passagem de Lucas 24:
(Lc 24:28-31) “E chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe. E eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e já declinou o dia. E
entrou para ficar com eles. E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão, o abençoou e partiu-o, e lho deu. Abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes”.
Em Lucas 24 vemos o Senhor tomando o lugar de anfitrião (a casa não era a dele) e tomando a iniciativa em tudo. Embora não seja uma reunião da igreja (que ainda não existia) e nem a ordenança da ceia do Senhor (nada é falado do vinho), a cena é um bom exemplo do que acontece quando a assembleia se reúne ao seu Nome. Mas ali claramente tratava-se de uma refeição normal, e não da ceia do Senhor revelada pelo Senhor a Paulo como uma ordenança dada à Igreja.
Em Atos 2:46 o “partir o pão” não era a ceia do Senhor, mas a refeição comum que os judeus faziam, mas o versículo em Atos 2:42 está falando da ceia do Senhor. Como distinguir se ambas as passagens usam a expressão “partir o pão”? Simples, basta ver o contexto e o que está associado a cada uma das ocorrências. O verbo “apanhar”, por exemplo, pode ter diferentes significados dependendo de onde está inserido na frase. “Apanhei de meu colega na escola” significa que levei uma surra dele, mas “Apanhei meu colega na escola” significa que fui buscá-lo ali. Vamos às duas passagens de Atos 2: (At 2:41-42) “De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas; E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”.
Esta passagem está falando de uma atividade corporativa como assembleia ou igreja, ainda que eles não entendessem exatamente que estavam vivendo algo distinto de Israel e que suas reuniões nada mais tinham a ver com o judaísmo. A verdade da igreja só seria revelada mais tarde a Paulo, conforme a passagem de 1 Coríntios:
(1 Co 11:23-26) “Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim.
Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha”.
Não faria sentido dizer que “perseveravam… no partir do pão” se em Atos 2:41-42 a expressão indicasse meramente a alimentação diária. Interpretar assim seria como dizer que “perseveravam em tomar café da manhã, almoçar e jantar”, o que não teria qualquer importância e nem conexão com “doutrina dos apóstolos”, “comunhão” e “orações”.
Portanto é sempre bom entender que quando lemos Atos estamos vendo um período de transição e não a doutrina dos apóstolos especificamente falando. Lembre-se de que Atos é a continuação do evangelho de Lucas. Em Atos vemos os atos ou ações dos primeiros cristãos, mas é na doutrina dos apóstolos para a igreja, encontrada nas epístolas ou cartas, que encontramos o embasamento para aquilo que era praticado em Atos.
Por exemplo, confirmando a passagem acima de Atos 2:41-42
nas epístolas encontraremos o perseverar na doutrina (1 Co 14:26-40), na comunhão (pode ser o caso de Jd 1:12 ou 1 Co 11:21, em ambos os casos apontando distorções), no partir do pão (a ceia do Senhor, 1 Co 11:23-26) e orações (1 Co 14:14-17).
A passagem que se segue àquela obviamente fala dos costumes da vida diária, e neste caso sim o “partir o pão” refere-se à alimentação regular e diária. Aqui poderíamos parafrasear como “tomando café da manhã, almoçando e jantando em casa, comiam juntos…”.
(At 2:46) “E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,”.
Já em Atos 20:7-11 trata-se da reunião da assembleia para partir o pão, isto é, celebrar a ceia do Senhor.
(At 20:7-11) “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se [congregando] os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite. E havia muitas luzes no cenáculo onde estavam juntos… E [Paulo] subindo, e partindo o pão, e comendo, ainda lhes falou largamente até à alvorada; e assim partiu”.
Em Atos 27:35, no relato do naufrágio, o ato de Paulo partir o pão nada tem a ver com a ceia do Senhor, mas é uma expressão usada para a refeição. Ele está cercado de tripulantes e passageiros incrédulos, portanto tentar atribuir aquilo à ceia do Senhor seria um erro.
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O rei Salomão praticou homossexualismo?
Não há nada na Bíblia que indique que o rei Salomão pessoalmente tenha se envolvido em relações homossexuais, o que a própria Lei dada a Israel deixava claro ser uma abominação aos olhos de Deus. Porém ao se unir a mulheres das mais diferentes crenças pagãs Salomão abriu as portas de seu reino à idolatria desses povos.
A diversidade de religiões e origens dessas mulheres certamente trouxe para dentro de Israel costumes e rituais totalmente condenados por Deus, como o sacrifício humano (adultos e crianças) e a prostituição e homossexualismo rituais. Existia na lei uma distinção entre a prostituição comercial e a ritual. Os versículos abaixo falam da prostituição comercial:
(Gn 38:15-18) “E vendo-a Judá, teve-a por uma prostituta, porque ela tinha coberto o seu rosto. E dirigiu-se a ela no caminho, e disse: Vem, peço-te, deixa-me possuir-te. Porquanto não sabia que era sua nora. E ela disse: Que darás, para que possuas a mim? E ele disse: Eu te enviarei um cabrito do rebanho…”.
(Lv 19:29) “Não contaminarás a tua filha, fazendo-a prostituir-se; para que a terra não se prostitua, nem se encha de maldade”.
Já a passagem de Deuteronômio 23 parece referir-se especificamente à prostituição ritual ou cultual, já que faz referência à casa do Senhor e inclui tanto prostitutas como sodomitas, algo aceito no culto pagão de muitas religiões da época.
(Dt 23:17-18) “Não haverá prostituta dentre as filhas de Israel; nem haverá sodomita dentre os filhos de Israel. Não trarás o salário da prostituta nem preço de um sodomita à casa do Senhor teu Deus por qualquer voto; porque ambos são igualmente abominação ao Senhor teu Deus”.
A Wikipedia traz um texto sobre a prostituição ritual, que incluía todas as variações de relações sexuais entre parceiros de diferentes ou do mesmo sexo, e obviamente o homossexualismo ritual fazia parte dessas práticas.
Dentre os povos citados como as origens das muitas mulheres de Salomão estão moabitas, amonitas, edomitas, sidônios e heteus, muitos deles adeptos da prostituição e do homossexualismo em seus rituais religiosos.
(1 Rs 11:1-8) “E o rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras, além da filha de Faraó: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias, Das nações de que o Senhor tinha falado aos filhos de Israel: Não chegareis a elas, e elas não chegarão a vós; de outra maneira perverterão o vosso coração para seguirdes os seus deuses. A estas se uniu Salomão com amor. E tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração. Porque sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era perfeito para com o Senhor seu Deus, como o coração de Davi, seu pai, Porque Salomão seguiu a Astarote, deusa dos sidônios, e Milcom, a abominação dos amonitas. Assim fez Salomão o que parecia mal aos olhos do Senhor; e não perseverou em seguir ao Senhor, como Davi, seu pai. Então edificou Salomão um alto a Quemós, a abominação dos moabitas, sobre o monte que está diante de Jerusalém, e a Moloque, a abominação dos filhos de Amom. E assim fez para com todas as suas mulheres estrangeiras; as quais queimavam incenso e sacrificavam a seus deuses”.
No capítulo 14 de 1 Reis vemos que o homossexualismo trazido com a idolatria dos povos estrangeiros já tinha se disseminado pela terra de Israel em uma clara desobediência à Lei de Deus.
(1 Rs 14:24) “Havia também sodomitas na terra; fizeram conforme a todas as abominações dos povos que o Senhor tinha expulsado de diante dos filhos de Israel”.
No capítulo 15 de 1 Reis encontramos o Rei Asa combatendo os costumes homossexuais que haviam sido trazidos com a idolatria dos povos pagãos.
(1 Rs 15:12) “Porque tirou da terra os sodomitas, e removeu todos os ídolos que seus pais fizeram”.
Mas pelo relato do capítulo 22 ainda ficaram alguns homossexuais rituais na terra de Israel e Jeosafá os expulsa:
(1 Rs 22:42-46) “E era Jeosafá da idade de trinta e cinco anos quando começou a reinar; e vinte e cinco anos reinou em Jerusalém; e era o nome de sua mãe Azuba, filha de Sili. E andou em todos os caminhos de seu pai Asa, não se desviou deles, fazendo o que era reto aos olhos do Senhor… Também expulsou da terra o restante dos sodomitas, que ficaram nos dias de seu pai Asa”.
Em 2 Reis 23 vemos que aquilo que começou com a idolatria de Salomão havia chegado até o templo de Deus, pois o Rei Josias providenciou a retirada dos sodomitas que moravam no templo.
(2 Rs 23:7) “Também derrubou as casas dos sodomitas que estavam na casa do Senhor, em que as mulheres teciam casinhas para o ídolo do bosque”.
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O que fiz foi um casamento válido?
Vou tentar resumir a história que você contou e espero não errar na ordem dos acontecimentos. Você diz ser convertido a Cristo e saber que sexo antes do casamento é pecado. Então você começou a namorar uma garota incrédula que se converteu por meio de seu testemunho e com quem passou a ter relações sexuais.
Aí você ficou num dilema, pois não queria ter relações sexuais antes do casamento, e ao mesmo tempo não queria parar de tê-las.
Casar-se estava fora de questão por não poder arcar com isso, portanto você orou a Deus para que ele unisse vocês dois em matrimônio. Na sua cabeça, se Deus não a afastasse de você isto seria um sinal de que sua oração teria sido ouvida.
Seguindo esse raciocínio você teria obedecido 1 Coríntios 7:9, que diz: “Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se”. Tendo celebrado esse “casamento espiritual” deixaria de viver “abrasado” e poderia ter relações com sua parceira. Você disse que a situação atual trouxe muitas vantagens, como você ter conseguido ter a mente mais fixa e fazer sexo com menor frequência do que fazia, além de conseguir orar melhor sem ser assolado pela dúvida se estava ou não agindo corretamente.
Então você pergunta: “Meu casamento foi válido?”.
Se você pergunta é porque as “mudanças” que citou acima de nada valeram para aplacar sua consciência, já que ainda continua em dúvida. Se você acha que seu casamento foi válido, por que coloca “fazer sexo com menor frequência” como uma das vantagens adquiridas com seu “casamento espiritual”?
Não há nada que determine quantas vezes marido e mulher podem fazer sexo, mas no caso de solteiros o número é “zero”.
Sim, você tem razão quando diz que é Deus, e não um homem como padre ou pastor, que une um casal, mas está errado ao pensar que o matrimônio bíblico é algo feito nos bastidores. Não é. Como todo contrato bíblico, o matrimônio é um compromisso público com a participação de testemunhas. Em nossa sociedade, apesar de continuar sendo Deus quem une, o juiz de paz recebeu de Deus autoridade para realizar essa união perante os homens. Por isso a certidão de casamento é uma certidão pública. As bodas de Caná não foram um acordo de alcova e as bodas do Cordeiro, que será a concretização daquilo que o matrimônio entre um noivo e uma noiva prefigura, será um evento visto por milhões de milhões de anjos e seres humanos.
Então a resposta mais curta é: não, seu casamento não foi válido e vocês estão vivendo em fornicação.
Seu relato todo mostra muito bem que você quis fazer com que Deus se dobrasse à sua própria vontade e este é um erro comum. As pessoas decidem algo e depois oram buscando que Deus dê sua aprovação para aquilo que já decidiram fazer ou efetivamente fizeram, ao invés de perguntarem a Deus qual a vontade dele.
Há orações que fazemos porque não sabemos a vontade de Deus (por exemplo, quero comprar uma casa e posso orar pedindo a direção de Deus se devo comprar ou não). Oro assim porque não existe na Bíblia algo como “Comprarás uma casa” ou “Não comprarás uma casa”, daí minha dúvida e necessidade de buscar a Deus. Mas quando há na Palavra de Deus instruções claras sobre algum assunto, não há razão para orar a respeito.
Vou dar um exemplo: você conhece uma garota incrédula e passa a orar a Deus para saber se é da vontade dele que comece um relacionamento sério com ela. Orar assim é perder tempo, porque Deus já lhe deu a resposta antes mesmo de orar:
(2 Co 6:14) “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?”.
Outro exemplo: Você decide dormir com sua namorada e ora a Deus para saber se ele aprova isso. Isso é o mesmo que orar se deve ou não pisar no freio ao se aproximar de uma esquina com uma enorme placa que diz “PARE”.
A fornicação ou sexo entre solteiros é condenada em várias passagens da Bíblia, e antes que alguém queira discutir se a raiz grega da palavra fala ou não efetivamente de sexo antes do casamento, é só olhar como a Palavra de Deus se refere a duas classes de pessoas, casados e solteiros. À última classe ela dá o nome de “virgens”.
(1 Co 7:28-34) “Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca… Há diferença entre a mulher casada e a virgem. A solteira cuida das coisas do Senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém, a casada cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido”.
Portanto meu conselho é este: vá com sua namorada ao cartório mais próximo e providencie seu casamento no civil para não estar mais vivendo uma situação de fornicação, já que vocês decidiram que é assim que pretendem viver. Ou então parem de ter relações sexuais e confessem o pecado que têm cometido, não só a Deus, mas também aos irmãos com os quais vocês têm comunhão.
“Um pouco de fermento leveda toda a massa” (1 Co 5), escreveu Paulo referindo-se a um caso de pecado de fornicação para o qual os cristãos de Corinto estavam fazendo vista grossa. A questão não só devia ser trazida à tona, como o envolvido precisava ser julgado pela assembleia e expulso da comunhão (excomungado).
Talvez você alegue que hoje existe na lei a previsão da união estável, que não é o seu caso, pois há alguns requisitos que vocês não preenchem. A união estável não é considerada a mesma coisa que um matrimônio pela simples razão de continuar existindo o matrimônio civil. A união estável procura resguardar os direitos de uma sociedade na qual duas pessoas já vivem, para tirá-las da informalidade e evitar problemas na divisão dos bens em caso de separação. Mas mesmo cristãos que desfrutem de uma união estável devem procurar cumprir a lei dos homens, casando-se.
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Os dias estão sendo abreviados?
Sua dúvida é se o versículo em Mateus 24:22 estaria falando da vida moderna, quando os dias parecem passar mais rápido e terem menos que 24
horas. O versículo é: “Se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias”.
Mateus 24 descreve o que acontecerá depois do arrebatamento da igreja, e os discípulos de Jesus, aos quais ele dirige as palavras, aparecem ali no caráter do remanescente de judeus fiéis que aguardará pela vinda do Messias, do mesmo modo como eram todos os que esperavam por Jesus nos evangelhos. Portanto no capítulo 24 de Mateus (e também no capítulo 25, que fala da vinda de Cristo para reinar) você não encontra especificamente a igreja ou uma profecia relacionada aos tempos atuais.
O versículo 22 refere-se à grande tribulação e ali os que perseverarem até o fim para serem salvos são os que permanecerão vivos para entrarem no reino milenial de Cristo. Para que isto possa acontecer, será preciso Deus abreviar aqueles dias de tribulação e perseguição, caso contrário todos os fiéis seriam mortos antes que se iniciasse o milênio.
Uma rápida explicação do capítulo pode ajudar a entender melhor o versículo que originou sua dúvida.
(Mt 24:2) “Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada”.
Isto já aconteceu quando os romanos invadiram Jerusalém no ano 70 DC e destruíram o templo. Por causa do incêndio o ouro que revestia as paredes se derreteu e infiltrou-se nas juntas das pedras, obrigando os romanos a desmontarem pedra por pedra para recuperarem o ouro.
(Mt 24:3) “E, estando assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?”.
A pergunta é tríplice e inclui (1) quando seria a destruição do Templo, (2) qual seria o sinal da vinda de Cristo e (3) qual seria o sinal do “fim dos tempos” ou “fim do mundo” ou “fim da era”, dependendo da versão (a última é a melhor).
A primeira pergunta ele não responde, ao menos aqui. Para a segunda e terceira, a resposta aparece nos versículos 4 ao 44, que descrevem o tempo de tribulação de 7 anos que virá após o arrebatamento da igreja. Os primeiros três anos e meio vão dos versículos 4 ao 14 e os últimos, a “grande tribulação”, do 15 ao 44.
Apesar de muitos elementos dos primeiros três anos e meio poderem ser encontrados hoje, nada se compara ao que será este mundo quando o Espírito Santo já não estiver habitando aqui, pois saiu do mundo simultaneamente à retirada da Igreja, e não podia ser diferente, pois o Espírito habita agora na igreja, coletivamente, e no crente em Jesus, individualmente.
O que já ocorre hoje e ocorrerá muito mais depois são enganadores falando em nome de Jesus, guerras e rumores de guerras, nação levantando-se contra nação, fomes, pestes, terremotos, ódio e perseguição e ódio contra os seguidores de Jesus (nessa época serão judeus e gentios convertidos após o arrebatamento da igreja), falsos profetas, etc.
(Mt 24:13) “Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo”.
Esta já é uma alusão aos que perseverarem até o fim para serem salvos, mas aqui não fala necessariamente de salvação da alma, mas principalmente do corpo. Para entender é bom ler este versículo e continuar com o 22: “Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo… porque se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria”. Não é preciso muito para entender que está falando de salvação do corpo físico (carne).
(Mt 24:14) “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim”.
Ao contrário do evangelho da graça, que é hoje pregado e anuncia “Crê no Senhor Jesus e serás salvo”, o remanescente de judeus fiéis ao Messias irá pregar o “evangelho do Reino”, o mesmo que João Batista e Jesus pregaram, cujo lema é: “Arrependei-vos porque é chegado o Reino de Deus”. Lembre-se de que estamos falando de Israel e de um reino terreno, como sempre foi prometido no Antigo Testamento.
(Mt 24:15) “Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda;”.
(Mt 24:16) “Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes;”.
Estes versículos denotam o caráter judaico de toda a passagem. O “lugar santo” é o Templo de Jerusalém, que terá sido reconstruído a toque de caixa nessa época e onde o anticristo se sentará querendo parecer Deus. Este episódio é mencionado em 2 Tessalonicenses 2:4: “de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus”.
A expressão “os que estiverem na Judeia”, mostra o cenário judaico de tudo isso e mais ainda o versículo 20: “Orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado”. Isto não faria sentido se a passagem estivesse falando de cristãos e da Igreja, mas o remanescente judeu que estiver na Judeia naquela ocasião continuará a guardar os costumes do judaísmo, como fazem os judeus religiosos hoje e faziam também os discípulos de Jesus antes da formação da igreja. Para um judeu religioso é proibido caminhar mais que certa distância no dia de sábado, que são uns 1.200 metros. Obviamente ninguém conseguiria fugir se a fuga estivesse limitada a um quilômetro e pouco. “Então voltaram para Jerusalém, do monte chamado das Oliveiras, o qual está perto de Jerusalém, à distância do caminho de um sábado” (Atos 1:12).
(Mt 24:21-22) “Porque haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver. E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias”.
Chegamos então ao versículo de sua dúvida e agora acredito que tenha uma visão melhor dele dentro de todo o contexto. Repare também que não está falando dos tempos atuais, mas de uma “grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver”.
Isto é significativo se nos lembrarmos de quantas catástrofes e guerras já se abateram sobre a humanidade. Tudo o que a história registra até aqui será refresco comparado ao que acontecerá durante a grande tribulação, principalmente levando-se em conta que Satanás terá sido expulso do céu naquela ocasião e agirá livre e solto neste planeta, direta e indiretamente por meio de seu servo, o anticristo. Mais uma vez a passagem nos transporta para 2
Tessalonicenses:
(2 Ts 2:6-9) “Agora vós sabeis o que o detém [o que detém o anticristo], para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste [o Espírito Santo que hoje habita na igreja] até que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo [anticristo], a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira,”.
Outra passagem que também gera dúvidas é quanto aos “escolhidos”, pois muitos acreditam que são cristãos atuais e membros do corpo de Cristo, que é a igreja. Porém a igreja é recolhida da terra pelo próprio Senhor no arrebatamento descrito em 1 Tessalonicenses 4, enquanto aqui se trata de um trabalho de anjos recolhendo pessoas vivas (e não ressuscitadas e transformadas como no arrebatamento) para serem transportadas à terra de Israel.
(Mt 24:31) “E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus”.
Para o cristão da atual dispensação a esperança não está em um transporte providenciado por anjos, mas pelo próprio Senhor.
(Jo 14:3) “E quando eu for, e vos preparar lugar, [eu] virei outra vez, e [eu] vos levarei para mim mesmo, para que onde EU estiver estejais vós também”.
(1 Ts 4:16-17) “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor”.
O versículo seguinte é outra referência a Israel, que em toda a Bíblia costuma ser identificado pela figueira (no sentido nacional) ou oliveira (no sentido espiritual).
(Mt 24:32) “Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão”.
(Mt 24:34) “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam”.
O termo “geração” aqui pode se referir àquela das pessoas que vivenciarem todas as coisas descritas neste capítulo, que fala diretamente do tempo da grande tribulação. Existe também a possibilidade de estar se referindo ao povo judeu, que não deveria desaparecer, já que no grego a palavra “geração” é “genea” que pode ter também o sentido de família, raça ou nação. A ideia seria que essa mesma raça ou geração de judeus incrédulos existiria quando viesse a grande tribulação que precede a vinda de Cristo para reinar.
Talvez esta seja a interpretação mais correta, pois é provável que não exista no planeta um povo mais persistente em rejeitar a Cristo do que os judeus, que tiveram todas as chances de recebê-lo como Messias e mesmo assim o crucificaram. Também é difícil encontrar um povo com uma identidade tão marcante e que esteja todos os dias nas páginas dos jornais, como é o judeu. É como se Deus estivesse o tempo todo nos lembrando: “Eu não disse que eles seriam assim até o fim?”.
Os versículos abaixo confirmam isso:
(Dt 32:5) “Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida é…. deixou a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação. Com deuses estranhos o provocaram a zelos; com abominações o irritaram. Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus; aos deuses que não conheceram, novos deuses que vieram há pouco, aos quais não temeram vossos pais. Esqueceste-te da Rocha que te gerou; e em esquecimento puseste o Deus que te formou; O que vendo o Senhor, os desprezou, por ter sido provocado à ira contra seus filhos e suas filhas; E disse: Esconderei o meu rosto deles, verei qual será o seu fim; porque são geração perversa, filhos em quem não há lealdade”.
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Por que Jesus não batizava?
Jesus batizava sim, mas ‘por procuração’: “Depois disto foi Jesus com os seus discípulos para a terra da Judeia; e estava ali com eles, e batizava” (Jo 3:22). Outra passagem no mesmo evangelho esclarece que era por meio de seus discípulos que o batismo era ministrado, e não pessoalmente por Jesus. “E quando o Senhor entendeu que os fariseus tinham ouvido que Jesus fazia e batizava mais discípulos do que João (ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos), deixou a Judéia, e foi outra vez para a Galileia” (Jo 4:1-3).
O fato de Jesus não batizar pessoalmente as pessoas não fazia grande diferença para aqueles que eram batizados, pois o batismo era válido mesmo assim. Quando você dá a alguém uma procuração tudo o que essa pessoa fizer em seu nome, dentro dos poderes especificados na procuração, será legalmente reconhecido. E Jesus passou essa procuração quando disse aos discípulos: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28:19).
Embora naquele momento o contexto fosse outro, pois a igreja ainda não tinha sido formada e aqueles discípulos receberam a “procuração” no caráter de um remanescente judeu fiel ao Messias, as passagens que mostram os discípulos batizando em Atos certamente revelam que o batismo permanecia como uma ordenança também para os membros do corpo de Cristo, da igreja inaugurada em Atos 2 no dia de Pentecostes. A menção ao batismo também é encontrada nas epístolas, que formam a doutrina dos apóstolos. Devemos sempre ter em mente que ainda que certas coisas não tenham sido ensinadas pelos apóstolos em suas epístolas, as ações deles podiam estar em conformidade com aquilo que aprenderam diretamente do Senhor principalmente nos 40 dias que passou com eles, já ressuscitado e antes de subir ao céu. (Atos 1:3).
É por isso que qualquer batismo cristão é válido, independente de quem o tenha ministrado ou em que lugar e circunstâncias isso tenha sido feito, porque o que importa é em nome de quem (com que procuração) ou a quem o batismo está sendo ministrado. O batismo aparece na Bíblia de diferentes formas e situações, portanto é preciso entender esta distinção. O
batismo de João, por exemplo, era diferente e não vemos que os discípulos de João Batista batizassem. Era sempre ele quem ministrava aquele batismo que era de arrependimento. Não era um batismo cristão, pois os próprios discípulos de João precisaram ser novamente batizados em Atos, portanto as religiões cristãs que tentam usar passagens que falam do batismo de João para justificar suas doutrinas de batismo estão equivocadas.
(At 19:3-5) “Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João. Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus”.
O batismo cristão tem, entre outras, a finalidade de incluir o batizado em um novo círculo. A passagem em Efésios 4 revela os quatro círculos e, para facilitar o entendimento, vou inverter a ordem em que aparecem:
(A) “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós”. (Ef 4:6)
Esta é a esfera à qual pertencem todos os seres humanos.
Aqui “Pai” é no grego “pater”, pois aparece no sentido de Criador ou fato gerador, e não no sentido de “Aba”, como em Romanos 8:15, uma familiaridade que é exclusiva ao convertido a Cristo (o círculo “C” abaixo): “Recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai”.
(B) “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo;”
(Ef 4:5).
Dentro do círculo grande da humanidade (A) existe um círculo menor que exclui os pagãos. Neste círculo estão as pessoas que levam o nome de “cristãos” por terem sido associadas a Cristo, independente de terem nascido de novo ou não, de estarem salvas ou perdidas. Elas agora têm uma autoridade (“Senhor”) sobre elas e a responsabilidade de conduzirem suas vidas segundo esse senhorio.
A palavra “fé” aqui está mais no sentido de crença, e não da fé que salva e decorre da graça de Deus. Aqui há um só “batismo”, o qual é a porta de entrada para este círculo (apesar de muitas religiões cristãs usarem erroneamente o batismo como porta de entrada à membresia daquela denominação).
(C) “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação;” (Ef 4:4).
Chegamos ao círculo menor e que é restrito àqueles que nasceram de novo e pela graça de Deus creram em Jesus como Salvador. Estes tiveram seus pecados perdoados e aguardam serem levados para o céu (“esperança”
e “vocação”) juntamente com o Espírito, quando este for tirado do mundo no arrebatamento. São estes que formam o “um só corpo”, a igreja (independente de pertencerem ou não a alguma denominação criada por homens, geralmente chamadas de “igrejas”). Neste círculo se entra pela fé em Cristo e não pelo batismo, embora este seja uma ordenança à qual devem se submeter caso ainda não tenham se submetido quando incrédulos (quando estavam no círculo “B”).
Voltando ao círculo “B”, a pessoa batizada veste, por assim dizer, a camisa do cristianismo, o que não era o caso no batismo de João Batista.
Ela passa a ter novas responsabilidades por estar agora numa esfera de cristianismo, e não mais na esfera do judaísmo ou do paganismo. Por isso os apóstolos batizavam famílias inteiras.
(At 16:15) “E, depois que foi batizada, ela [Lídia] e a sua casa [família]”.
(At 16:33) “E, tomando-os ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; e logo foi batizado, ele [carcereiro] e todos os seus [familiares]”.
(1 Co 1:16) “E batizei também a família de Estéfanas”.
Em seu aspecto amplo em todos os casos, em figura ou literal, o batismo envolve mudança de posição. Seu significado mais específico é o da passagem pela morte para desfrutar dessa mudança de posição, e neste sentido vemos o batismo em figura ou literalmente em passagens do Antigo Testamento. No dilúvio uma família foi também “batizada” quando tirada das águas mortais graças à arca construída pelo patriarca. Veja que o apóstolo Pedro faz esta conexão com o batismo quando diz que por meio da arca “poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água; que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo” (1 Pe 3:20-21).
A salvação pelo batismo mencionada aqui não é a salvação eterna da alma, mas no sentido de colocar o batizado “a salvo” da contaminação do círculo maior do paganismo. Noé não perguntou se a sua família queria entrar na arca. Ele levou todos para lá, independente de crerem ou não na mensagem de Deus. Veja que os animais foram levados para dentro da arca, o que poderia ser interpretado como tendo passado pelo mesmo “batismo” mencionado por Pedro, mas seria uma insensatez pensar que os animais tenham sido salvos no sentido espiritual da palavra.
Uma figura do batismo vemos também no bebê Moisés, salvo de Faraó e da morte pelas águas do rio onde foi colocado em uma “mini arca”, não de vontade própria, mas por decisão de sua mãe. Aquilo era uma figura do batismo de “casa” ou família, que nesse caso colocou Moisés literalmente numa nova posição. Ainda que ele tenha sido “entregue”, por assim dizer, à Faraó, passou a atuar ali como um representante do Deus de seus pais.
O mesmo Moisés mais tarde “batizaria” todo o povo no mar e na nuvem (mais água aqui, líquida e gasosa), independente da idade e entendimento deles. Ele não deixaria os bebês de seu povo morando no Egito de Faraó para decidirem mais tarde se queriam continuar a viver lá ou não.
Obviamente Faraó não tinha o desejo de perder as crianças dos hebreus, do mesmo modo como hoje o diabo não gosta nem um pouco quando os pais introduzem seus filhos na esfera cristã (B). Por isso batizei meus filhos quando ainda bebês.
(Êx 10:9) “E Moisés disse: Havemos de ir com os nossos jovens, e com os nossos velhos; com os nossos filhos, e com as nossas filhas, com as nossas ovelhas, e com os nossos bois havemos de ir; porque temos de celebrar uma festa ao Senhor. Então ele [Faraó] lhes disse: … Não será assim; agora ide vós, homens [adultos], e servi ao Senhor”.
(1 Co 10:1-2) “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar. E todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar”.
Repare que Moisés não quis sair do Egito sem levar a todos, independente da idade e do entendimento que tinham. Um batizado, seja ele convertido ou não e independente de seu nível de entendimento, passa a fazer parte do círculo dos que estão sob o senhorio de Cristo.
Voltando agora à sua pergunta da razão de Jesus não batizar, e sim seus discípulos, se levarmos em consideração que o batismo e as águas que este envolve figurarem a morte, fica perfeitamente consistente pensar que o papel de Jesus era o de dar vida, e não de fazer as pessoas passarem pela morte. A tarefa prática do batismo estava mais adequada aos discípulos, pois equivalia a sepultar mortos. Vemos também que Jesus, apesar de mandar batizar, não foi batizado (exceto por João Batista, mas o contexto era outro, de cumprir toda a justiça). Se a virtude do batismo estivesse naquele que batiza, então seria importante alguém ser batizado pessoalmente por Jesus. Mas, ainda que feito por meio de seus discípulos, era a Jesus que as pessoas eram batizadas, e não aos discípulos, do mesmo modo como na figura do Antigo Testamento citada por Paulo “todos foram batizados em Moisés”. “Para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome” (1 Co 1:15), explicou Paulo ao falar do batismo.
Cabe aqui também uma observação sobre a passagem em que Paulo diz isto, onde também diz que não foi enviado a batizar. “Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar” (1 Co 1:17). Seu ministério tinha um caráter diferente e estava intimamente ligado à salvação pela pregação do evangelho e também à revelação que recebeu do corpo de Cristo, a igreja. “Porque … o evangelho de Cristo… é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16). Se o batismo tivesse a importância que algumas religiões dão para a salvação eterna certamente Paulo teria sido enviado a batizar e não teria tratado isso como acessório, mas teria incluído o batismo em sua pregação e prática.
Portanto é bom lembrar que o batismo é algo para este mundo e não tem qualquer eficácia eterna. É só lembrar que um incrédulo pode ser batizado e, ainda que isto o coloque num diferente círculo de responsabilidades e privilégios criando nele uma “indagação [compromisso] de uma boa consciência para com Deus” (1 Pe
3:21), ele não é salvo pelo batismo. Um exemplo semelhante ocorre na santificação do marido incrédulo e dos filhos em um lar (a esfera) onde a mãe é convertida: “Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos” (1 Co 7:14). Eles têm o privilégio de estar, ainda que não de escolha própria, em uma esfera diferente da dos outros que não têm o mesmo privilégio.
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O batismo por aspersão é válido?
Não vejo qualquer problema. A ênfase do batismo está no que significa, e não propriamente no modo como é feito. Paulo batizou o carcereiro e sua família sem indicar como foi feito tal batismo. Muitos cristãos do primeiro século devem ter sido batizados nas prisões usando dos meios e condições disponíveis. Se perguntasse a um muçulmano se ele não veria problema em eu batizar seu filho em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo tenho certeza de que ele iria se opor, independente se o batismo fosse por imersão ou aspersão. No entendimento de um muçulmano, uma pessoa batizada se torna cristã, um entendimento que infelizmente muitos cristãos não têm.
Batizar é uma ordem que foi dada a quem batiza, portanto fica a critério deste como proceder, desde que seja com água, muita ou pouca.
Quando meu avô estava morrendo de câncer os membros de uma determinada igreja evangélica, levados à sua casa por uma empregada que pertencia àquela denominação, queriam transportar meu avô até uma piscina e imergi-lo nas águas.
Obviamente a família não permitiu, pois seu ventre estava aberto e cheio de tubos. Para aqueles “crentes”, ele não seria salvo a menos que passasse pelo batismo da “igreja” deles.
Outro exemplo: a ceia do Senhor biblicamente falando é realizada com pão e vinho, porém em uma conferência nos EUA que participei os irmãos precisaram usar pão e suco de uva, por terem alugado o salão de uma escola e lá ser proibido entrar com bebida alcoólica. Então, excepcionalmente, a ceia foi realizada daquele modo, mas não deixou de ter o mesmo significado.
Vou traduzir abaixo alguns textos escritos por irmãos do século 19 e início do século 20 que poderão ajudar na compreensão do assunto:
“Quanto à imersão, por causa de 1 Coríntios 10 eu fico um pouco em dúvida se o batismo seria exclusivamente por imersão, mas não creio que originalmente ele tenha sido praticado por aspersão. No sistema (religioso) inglês, no início, a aspersão era permitida em caso de comprovada fragilidade da criança. No sistema grego a aspersão não é permitida de modo nenhum.
Sepultado e morto é a ideia que traz a imersão, ao menos no sentido de se entrar na água e então ser coberto ou tê-la derramada sobre a cabeça, como aconteceu no mar e pela nuvem. Mas eu não repetiria um batismo feito com a intenção correta, só em função da quantidade de água utilizada ter sido muita ou pouca” J. N. Darby – Letters Vol. 1, number 253.
“A força do termo ‘batismo’ no Novo Testamento não depende nem um pouco da maneira como é realizado. Quando, no caso de Israel, ‘todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar’ (1 Co 1:10) eles não foram imersos nem numa ocasião, nem na outra, e tentar fazer a passagem significar que tivessem sido (imersos) seria absoluta tolice. Daquela maneira maravilhosa eles foram retirados de seu passado no Egito e introduzidos na escola de Moisés, tendo sido tal admissão acompanhada de uma maravilhosa lição do poder e majestade de um Deus Salvador…”.
“Quanto à maneira do batismo, alega-se que deve ser por imersão por causa do significado original da palavra que traz a ideia de sepultamento que sempre demos à mesma. Todavia, o fato de as cerimônias [judaicas] de aspersão mencionadas em Hebreus 6:2 serem chamadas de batismos, destrói o argumento geralmente feito de que apenas a imersão pode ser chamada de batismo. Também fica evidente que a palavra é usada em outras ocasiões onde não ocorreu imersão, como no caso do Mar Vermelho, e que a ênfase é colocada não sobre a maneira, mas sobre seus efeitos. Eu creio que seria impossível provar de vez que o modo bíblico seria a imersão, e muito menos que é disso que tudo depende”.
“Não existe um mandamento para todos serem batizados, como se fosse imperativo que cada crente por si mesmo tivesse a iniciativa de se batizar. O mandamento universal é dado apenas ao que batiza, deixando margem para ser aplicado de maneira diferente em diferentes casos. ‘Quem crer e for batizado’ é acrescentado à ordem de pregar o evangelho, que é o assunto; mas alguém que tenha sido batizado na infância e depois venha a crer já possui estes dois requisitos (crer e ser batizado). Que a ênfase está em crer no evangelho fica claro pela conclusão da passagem, ‘quem não crer será condenado’.
Ninguém aplicaria isto às crianças”.
“O fato de o batismo não ser para se entrar na igreja demonstra que não tem a ver com a casa de Deus, que é a igreja. Também demonstra a razão pela qual uma diferença de interpretação acerca disso não poder excluir alguém da mesa do Senhor, a qual é o sinal de membresia no ‘um só corpo’ de Cristo (1 Co 10:17). O batismo é algo individual; a ceia do Senhor é uma comunhão coletiva”. – F. W. Grant, “Reasons for My Faith as to Baptism”.
“Fica evidente que a imersão era o procedimento bíblico, porém a aspersão se tornou comum e a profissão cristã é assim reconhecida. A água (muita ou pouca) significa associação com a morte de Cristo. O batismo não se refere ao estado subjetivo de espírito da pessoa no momento. O batismo não confere qualquer virtude ao batizado, é algo totalmente objetivo” T. Oliver – “Scripture Quarterly”.
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Devemos nos batizar pelos mortos?
Sua dúvida está na passagem que menciona pessoas que se batizavam pelos mortos. (1 Co 15:29) “Se não há ressurreição, que farão aqueles que se batizam pelos mortos? Se absolutamente os mortos não ressuscitam, por que se batizam por eles?”.
Como não existe qualquer doutrina ou ensino no sentido de batizar “pelos mortos”, tudo indica que o apóstolo Paulo esteja apenas mencionando algo que algumas pessoas estariam fazendo. Não se trava de se batizar “por procuração”, como acreditam alguns, ou seja, no lugar daqueles que morreram sem serem batizados. Parece que está mais no sentido de ocupar a posição daqueles que tombaram pela perseguição, que é o assunto deste trecho da epístola.
Considerando que o batismo coloca a pessoa numa nova posição diante do mundo como um cristão professo, poderíamos pensar que o batizado estaria “vestindo a camisa” de cristão no lugar dos que sucumbiram à perseguição, como um soldado que é recrutado para ocupar a posição de outro morto em ação.
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O que impede minha comunhão?
Só existe uma coisa que pode impedir um crente de participar da ceia do Senhor à mesa do Senhor: pecado.
Se for pecado o que impede você de pedir seu lugar à comunhão para participar da ceia do Senhor à mesa dele, então já não estamos falando da vontade do Senhor, e sim da vontade da carne. A vontade do Senhor está explícita nestas palavras: “Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim… Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim” (1 Co 11:24-25).
Se for guiado pelo Espírito Santo você irá pedir seu lugar à comunhão à mesa do Senhor, será observado pela assembleia para ver se existe algum mal moral, doutrinário ou eclesiástico em sua vida, e terá seu lugar, pois esta é a vontade do Senhor. Porém, se o piloto de sua vida for a carne você continuará vivendo esse dilema e acabará se afastando de outros irmãos que buscam fazer a vontade de Deus. Eles seguirão alegremente em comunhão com o Senhor e buscando fazer a vontade dele enquanto você viverá sempre com a consciência atribulada por não abrir mão da vontade própria.
Lembre-se sempre de que não estamos falando aqui de salvação, porque esta já foi resolvida quando você creu em Jesus, mas de comunhão com Deus e de fazer a vontade dele. Ao decidir seguir sua própria vontade você não perde a salvação, mas perde a comunhão com Deus e sua vida será a experiência que Davi relatou enquanto manteve oculto seu pecado: (Sl 32:3-4) “Quando eu guardei silêncio, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia.
Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio”.
Felizmente Davi percebeu seu erro e confessou seu pecado, contando assim com a restauração que só Deus pode proporcionar.
(Sl 32:5) “Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado”.
Ele encontrou graça ao orar a Deus e percebeu que seu acesso ao trono da graça não estava impedido, e que Deus o guardava, pois ele podia se esconder em Deus e ser ali preservado da angústia que vinha de fora, já que a que vinha de dentro, de seu pecado não confessado, havia sido resolvida. Seu humor, que antes era “sequidão de estio” se transformou em “alegres cantos de livramento”:
(Sl 32:6-7) “Por isso, todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar; até no transbordar de muitas águas, estas não lhe chegarão. Tu és o lugar em que me escondo; tu me preservas da angústia; tu me cinges de alegres cantos de livramento”.
O salmista aproveita para lembrar-se de onde poderia sempre encontrar a direção certa a seguir: ficando tão próximo do Senhor ao ponto de poder ser guiado com um mero olhar, como faz um pai com seu filho. O contrário disso, que é a vida do crente que quer fazer a vontade própria, é ser conduzido por Deus com cabresto e freio como se faz com animais, que precisam sentir “muitas dores” para obedecer.
(Sl 32:8) “Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos.
Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti. O ímpio tem muitas dores, mas àquele que confia no Senhor a misericórdia o cercará”.
Deixo para você alguns versículos da Palavra de Deus que poderão ajudá-lo:
(Os 6:3) “Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva seródia que rega a terra”.
Pergunto: sei que você conhece o Senhor, mas será que tem tido o desejo de deixar o que o impede para “prosseguir em conhecer”? A vida do cristão é de fé em fé e se tropeçamos em algo não saímos do lugar, o que parece estar sendo seu problema (daí você dizer que seu “processo” é demorado em relação ao dos outros irmãos com os quais tem convivido).
(Hb 12:1) “Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta,”.
Essa “tão grande nuvem de testemunhas” são os homens e mulheres de fé que aparecem no capítulo 11, todos eles cheios de falhas e com muitos motivos para se envergonharem de seus currículos, mas que mesmo assim encontraram graça para permanecerem na fé porque viam o invisível.
(Hb 12:2-14) “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus…. Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor;”.
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Por que não consigo me identificar com os irmãos?
Você disse que, por ter vindo do mundanismo, tem um passado diferente dos irmãos com os quais tem se relacionado, já que eles vieram todos de denominações religiosas, antes de buscarem congregar somente ao nome do Senhor. Por isso você quase não tem conversa com eles por causa dessa diferença de background.
Não se preocupe. A questão de os irmãos sempre trazerem à conversa assuntos que são comuns a eles, como falarem de onde foram tirados, dos erros que viveram e coisas do tipo, é algo passageiro. Logo estarão mais ocupados com o Senhor presente do que com a religião passada. E com o tempo tudo aquilo fará parte de um passado tão distante que não terão qualquer vontade de falar disso.
Digo isto porque nenhum proveito existe em se ficar trazendo à tona o passado, seja ele um passado religioso ou mundano e sensual. Ambas as coisas são carnais, porque o ser humano é, por natureza, voltado às coisas da religião e dos sentidos. Quando descobrimos a verdade ainda trazemos aquele sentimento de competição muito comum entre meninos, querendo um mostrar que no passado foi pior que o outro. Mas a Palavra de Deus nos lembra: “Que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais?”. A resposta é nenhum, portanto de pouco adianta ficarmos orbitando em nosso passado de erros e enganos.
Nas denominações religiosas existe o costume de ficar tirando esqueletos do armário para apresentá-los publicamente e causar comoção nos ouvintes. A carne gosta disso e é por isso que os noticiários sensacionalistas na TV fazem tanto sucesso. Procuro ler sites de notícias na Web, mas fujo particularmente de um que pertence a um conglomerado de comunicação cujo dono é “bispo” de uma igreja evangélica. O site me lembra o antigo jornal “Notícias Populares”, do qual costumávamos dizer que se espremesse saía sangue. Obviamente o tal “bispo” sabe como manipular as pessoas e agarrá-las pelos sentidos carnais.
O homem carnal adora ver violência, droga, sexo e coisas do tipo. Então muitas dessas “igrejas” transforam seus púlpitos em sessões de violência, droga, sexo, etc. quando trazem os “testemunhos” de ex-bandidos, ex-drogados e ex-prostitutas. Alguns desses que dão “testemunhos” cobram caro para fazer isso. Outras “igrejas” chegam ao absurdo de entrevistarem supostos “demônios”
em seus cultos, como se os cristãos devessem se reunir para ouvir a palavra do diabo!
Sob o pretexto de estar ouvindo o evangelho, o público tem seus instintos carnais despertados quando o ex-bandido faz subir a taxa de adrenalina no sangue dos ouvintes descrevendo seus crimes, o ex-drogado descreve suas viagens na droga e a prostituta excita a plateia com suas experiências sexuais. É claro que no final eles acabam dizendo que foi naquela “igreja” que encontraram a libertação e a coleta de ofertas vem a seguir, aproveitando a empolgação e falta de resistência dos presentes, ainda inebriados por emoções carnais.
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Devo mentir para não me expor?
Você diz que mora em uma vizinhança de fofoqueiros que adoram saber tudo de sua vida. Por isso, quando no elevador encontra vizinhos que ficam fazendo perguntas sobre sua vida você prefere dizer mentiras a deixar que saibam detalhes de sua família, preferências pessoais, etc.
Se alguém perguntar sua senha bancária, então diga não. Se perguntar quanto você ganha pode dizer tranquilamente que prefere não revelar.
Algumas empresas chegam a incluir no contrato de trabalho a proibição de revelar salários. Se a pessoa quiser saber um segredo ou algo muito íntimo, diga apenas que prefere não dizer.
Há várias maneiras de se dizer não sem ser indelicado: “Ainda estou trabalhando para resolver isso…”, “Assim que eu conseguir enxergar com clareza digo a você…”, “Não tenho certeza se a outra pessoa envolvida gostaria que eu revelasse o que aconteceu…”, etc. Mas se alguém perguntar se é casado, se tem filhos ou se gosta de jogar futebol, não vejo razão para não dizer ou querer evitar a pessoa. Mentir, nem pensar!
Se você for realmente salvo por Cristo irá enxergar nisso não uma invasão de sua privacidade, mas uma oportunidade para iniciar uma conversa e falar à pessoa do amor de Deus. Ponha na cabeça que você não é nenhuma celebridade, portanto que mal há em seus vizinhos ficarem sabendo algo a seu respeito? O cristão transparente não tem nada a esconder. Se as pessoas vão usar o que descobrirem para fofocarem o problema é delas para com Deus, não é seu.
É sempre bom olharmos para o Senhor quando buscarmos um modo de proceder nesta vida. O Senhor era transparente? Sim. Será que ele mentia quando lhe perguntavam alguma coisa? Não. Afinal, a própria vinda de Jesus ao mundo é a maior prova da transparência de Deus, ao querer se revelar ao homem.
É claro que Deus já sabia o que nós, seres humanos, iríamos fazer com seu Filho, mas isso não o impediu de enviá-lo ao mundo.
Pense assim: se alguém quisesse conhecer Jesus na intimidade, será que ele permitiria? É claro que sim, pois a muitos que o conheceram enquanto andou aqui, e o conhecem hoje, ele revelou sua verdadeira natureza divina. “Eu e o Pai somos um” (Jo 10:30). E mesmo aos seus inimigos ele deixava clara sua transparência: “Qual de vocês pode me acusar de algum pecado? Se estou falando a verdade, porque vocês não creem em mim?” (Jo 8:46).
É claro que muito do que se podia conhecer de Cristo estava vedado aos olhos dos incrédulos, não porque ele não fosse transparente, mas porque os ímpios se recusavam a enxergar. Porém seus discípulos tinham o privilégio de conhecê-lo:
(Jo 15:15) “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer”.
A transparência de Jesus era tamanha que séculos antes de ter vindo ao mundo Deus já revelava quem ele era, como nasceria aqui, como viveria e como morreria. Mais uma vez a incredulidade era a única barreira para conhecê-lo.
(Jo 5:39-40) “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim para terdes vida”.
O apóstolo Paulo também dá prova de sua transparência ao revelar: “E, se sou rude na palavra, não o sou, contudo na ciência; mas já em todas as coisas nos temos feito conhecer totalmente entre vós” (2 Co 11:6).
Por isso é bom você fazer uma autoanálise para ver se essa sua maneira de ser não é apenas uma das facetas do egoísmo. O cristão não deve querer guardar tudo para si, sejam as informações sobre sua vida, sejam as coisas que possui. Conheço pessoas que nunca dão as roupas que não servem; guardam tudo o que usaram desde criança. Será que pretendem ser enterradas em um contêiner em lugar de caixão?
Mas pode ser que seu medo da transparência esteja em querer esconder suas fraquezas e falhas, o que acaba fazendo de seu medo sua maior fraqueza. Pessoas religiosas são assim como os fariseus: têm pavor que as pessoas descubram quem elas realmente são por debaixo da aparência de falsa dignidade. Se os apóstolos não fossem transparentes, como poderíamos saber de todos os erros que cometeram e estão gravados nos evangelhos? E se os profetas do Antigo Testamento não fossem transparentes, como iríamos conhecer toda a podridão dos israelitas descritos ali?
Uso em meus treinamentos de oratória, duas cenas de um vídeo de um filme que mostra a vida do cantor rapper Eminem. Na primeira cena ele está participando de um duelo entre rappers e depois de ser massacrado com as rimas violentas de seu adversário, tem um branco total e fica mudo na sua vez de revidar. Na segunda cena, antes que seu adversário traga todos os podres a seu respeito na letra improvisada, é ele quem se adianta a cantar suas desventuras e defeitos, terminando com a frase dirigida ao adversário: “Agora diga a eles alguma coisa que ainda não saibam a meu respeito”. Então foi a vez do adversário ficar mudo.
Minha lição aos participantes do treinamento é: comecem uma palestra falando de si mesmos e de preferência contando alguma falha ou caso engraçado em que você fez papel de bobo. Isto faz com que a plateia enxergue você como uma pessoa transparente e normal e aceite melhor o que você irá falar, ao invés de vê-lo como um soberbo e orgulhoso de saltos altos e de nariz empinado.
Um cristão não tem medo da transparência porque ele sabe que não está aqui para defender sua reputação, mas para apresentar Cristo às pessoas. Se a sua vida está um bagaço, então o melhor é ele se acertar diante de Deus e dos homens e dar um bom testemunho de Jesus, que neste mundo é representado justamente pelos que professam crer nele. Mesmo assim, basta ler o capítulo 11 de Hebreus para perceber que foram homens cheios de falhas que Deus usou no passado.
(Tg 5:17) “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra”.
Que as pessoas podem fazer um mau uso das coisas que descobrirem a seu respeito não há como negar. Mas elas também podem fazer o mesmo das coisas que não descobrirem e simplesmente imaginarem, porque em toda comunicação as pessoas nem sempre escutam o que falamos, mas sim o que pensam que falamos ou imaginam a partir do que não revelamos.
É por isso que você pode dizer a alguém que acabou de voltar de uma viagem no exterior e a pessoa pensar consigo mesma: “E esse aí tem dinheiro para viajar ao exterior? Conversa fiada…”. Ou dizer que nunca viajou para o exterior e seu vizinho pensar consigo: “Imagina que esse aí nunca viajou! Deve conhecer o mundo inteiro…”.
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Um cristão pode ser vendedor?
Sua dúvida é se a profissão de vendas seria incompatível com a fé cristã, pois após atuar muitos anos como gerente de vendas de uma grande montadora de automóveis, e depois de observar que trabalho como palestrante, indagou: “O teu lado espiritual não choca com teu lado profissional, pelo fato de vendas ter o motivacional quase sempre voltado ao lado material? Como você separa?”.
A sua dúvida é também a dúvida de muitos cristãos, principalmente porque o cristianismo foi grandemente influenciado por filosofias orientais e pelo gnosticismo, que pregam que o mundo material é ruim e o mundo espiritual é bom, sem perceberem que existem “as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Ef 6:12). Todavia, ao criar o mundo material Deus afirmou seis vezes “bom” para cada coisa que fazia, e depois de ter criado o homem declarou que tudo o que havia feito era “muito bom”.
(Gn 1:4-31) “E viu Deus que era boa a luz… E
disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca… e viu Deus que era bom…. E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra… e viu Deus que era bom….
E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas… e viu Deus que era bom…. E Deus criou as grandes baleias, e todo o réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as suas espécies; e toda a ave de asas conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom…. E fez Deus as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom… E
criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou…
E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom”.
Além disso, se a matéria fosse intrinsecamente maligna, o Filho de Deus jamais teria vindo em carne, já que assumiu aqui um corpo material semelhante ao nosso, porém sem pecado. A verdade é que o problema não está na matéria ou no mundo material, mas no pecado, este sim um intruso na Criação. Por causa do pecado, primeiro de Satanás e depois do homem, é que o mundo material se corrompeu e se degrada continuamente.
Qualquer trabalho ou profissão tem por objetivo prover o sustento, e isto não é diferente para o cristão, que ainda vive neste mundo, possui um corpo de carne e é exortado a trabalhar para comer. “Se alguém não quiser trabalhar, não coma também” (2
Ts 3:10). Porque trabalhamos, recebemos um salário ou pagamento por nosso trabalho, e isto geralmente vem na forma de dinheiro, seja ele de papel, metal ou digital. E nos evangelhos Jesus fala do dinheiro em um contexto negativo, primeiro chamando-o de “Mamom”, e depois de “riquezas da injustiça”.
Considerando que o próprio Senhor usou dinheiro, fazendo uma moeda aparecer na boca de um peixe, isto pode nos confundir, mas só até entendermos que o mal não está no dinheiro, mas no amor ao dinheiro. “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm 6:10).
Escrevi tudo isto para colocar cada coisa em seu devido lugar: a vida em um mundo material, trabalho, salário, dinheiro e o seu uso errado.
Agora vamos à profissão de vender e também ao papel do palestrante quando motiva seu público a vender mais.
O Senhor Jesus certamente se envolveu em vendas, pois trabalhando como carpinteiro, profissão que provavelmente aprendeu com José, ele não distribuía gratuitamente o resultado de seu trabalho, mas vendia para ajudar na manutenção da família. Seria tolice pensar que ele simplesmente fazia pães e peixes aparecerem na mesa da família como fez para alimentar as multidões. Nenhum milagre é registrado antes do início de seu ministério, pois os milagres e sinais tinham um objetivo muito claro: demonstrar suas credenciais de Messias e Rei prometido a Israel. Portanto pense em Jesus, em sua juventude e até o início de seu ministério, como um profissional vivendo, trabalhando e comercializando os produtos e serviços que oferecia.
Agora vamos pensar nos discípulos que encontramos em Atos.
Excetuando os apóstolos, que haviam sido chamados de forma muito específica e deixaram seus ofícios de pescadores ou, como foi o caso de Mateus, de funcionário público, todos os outros estavam envolvidos com vendas. Até mesmo um funcionário precisa vender bem sua capacidade para permanecer no emprego ou ser promovido. Lídia era vendedora de púrpura, Dorcas era costureira e Paulo, juntamente com Priscila e Áquila, estava empenhado na fabricação de tendas. O
que eles faziam com sua púrpura, suas confecções e suas tendas? Vendiam.
E o que dizer de Barnabé? Ele tinha uma propriedade e decidiu vendê-la para entregar o fruto da venda aos apóstolos para o sustento destes e também dos irmãos necessitados. Você conseguiria imaginar Barnabé entregando sua propriedade a qualquer preço? Eu não. Acredito que ele tenha avaliado pelo preço de mercado e procurado a melhor oportunidade de vender pelo maior preço que pudesse conseguir. Menos que isto seria desprezar o fato de Deus ter colocado aquele bem em suas mãos com um propósito maior. É preciso entender que sempre que ocorre uma transação de compra e venda isto pode também ser encarado como uma ajuda.
Aprendi com minha mãe, que vinha de uma linhagem de empresários e comerciantes, a nunca criticar pessoas ricas por comprarem coisas caras ou fazerem festas suntuosas. Ela sempre dizia que muitos eram beneficiados com aquilo: fabricantes, operários, comerciantes, balconistas, garçons, costureiras, músicos, etc. Quantas vezes você comprou algo no semáforo para ajudar uma pessoa? A compra e venda podem ser enxergadas como ajuda. O
vendedor me ajuda a encontrar e possuir o que necessito e eu ajudo o vendedor a alimentar seus filhos. Mesmo porque as coisas não aparecem por passe de mágica: tudo, absolutamente tudo o que temos, passou pelas mãos de um vendedor. Até eu e você, pois alguém comprou os serviços da parteira, que por sua vez vendeu sua experiência.
Portanto não vejo que exista algum mal na profissão de vendas, desde que esta seja feita de maneira ética. É claro que enganar para vender não é a maneira do cristão, mas sim procurar descobrir as necessidades do cliente para ajudá-lo a encontrar aquilo que procura ou ir além, apresentando até o que poderá precisar no futuro. Certamente existem muitos vendedores que mentem e enganam os clientes, mas não é o que eu e muitos outros palestrantes ensinamos nas palestras…
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Tito abandonou Paulo?
Ao ler 2 Timóteo 4 você ficou em dúvida se o Tito mencionado ali seria o mesmo a quem Paulo dirigiu sua epístola. Sim, deve ser o mesmo Tito, porém a passagem não diz que ele tenha abandonado a Paulo. Demas foi quem Paulo diz que o abandonou, enquanto só é dito que Crescente e Tito viajaram para outro lugar. Talvez tenham viajado para tratar de assuntos particulares ou mesmo na obra do Senhor, mas não enviados por Paulo, pois no versículo seguinte, Paulo fala que enviou Tíquico a Éfeso. Isto parece ficar mais claro na versão NVI da Bíblia:
(2 Tm 4:10-12) “Pois Demas, amando este mundo, abandonou-me e foi para Tessalônica. Crescente foi para a Galácia, e Tito, para a Dalmácia. Só Lucas está comigo. Traga Marcos com você, porque ele me é útil para o ministério. Enviei Tíquico a Éfeso”.
Às vezes lemos a Bíblia achando que vamos encontrar ali uma lista de pessoas com as qualidades dos “santos” do catolicismo, ou seja, super-espirituais, imunes ao pecado e coisas do tipo. Essas qualidades estão mais para os gurus orientais do que para os verdadeiros santos. Aliás, nas epístolas dos apóstolos aprendemos que “santos” são todos os que creem em Jesus como Salvador, que foram lavados pelo sangue do Cordeiro. A expressão “santo” significa simplesmente “separado”, porque Deus os separou para si, e não pessoas que saem flutuando por aí e nunca cometem pecado algum.
Como é dito de Elias, todos os santos que vemos na Bíblia eram homens sujeitos às mesmas paixões que nós, e não é diferente com estes. “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós” (Tg 5:17). Portanto eu não me surpreenderia se o texto dissesse explicitamente que Tito ou Crescente tivessem abandonado Paulo (o que não é o caso), pois eram humanos como nós.
Mas veja que a graça sempre está disponível, pois na mesma passagem Paulo fala de outro que o abandonou em um determinado momento de suas viagens missionárias. Ele pede a Lucas que traga consigo Marcos. Se você acompanhar a história de João Marcos (é deste que está falando, talvez o mesmo autor do evangelho) verá que ele já havia caído no erro. Ele era filho de Maria, em cuja casa a igreja congregava (At 12:12) e foi companheiro de Barnabé e Paulo em sua viagem missionária (At 12:25). Mais adiante aprendemos que João Marcos abandonou Paulo:
“Tendo Paulo e seus companheiros navegado de Pafos, foram a Perge na Panfília; João, porém, apartando-se deles, voltou a Jerusalém” (At 13:13).
Por esta razão Paulo se opôs a que ele voltasse a acompanhá-lo em outra viagem por causa de seu comportamento inadequado. Por isso Barnabé o leva consigo, mas o relato de Atos deixa de ocupar-se com Barnabé e Marcos para ocupar-se apenas de Paulo e Silas:
“Barnabé queria levar consigo também João que tinha por sobrenome Marcos. Mas Paulo não achou justo levar consigo a quem os tinha deixado desde a Panfília e que não os tinha acompanhado no trabalho. Houve tal desavença que se separaram um do outro, e Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre. Mas Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu, encomendado pelos irmãos à graça do Senhor. Ele passou pela Síria e Cilícia, fortalecendo as igrejas” (At 15:37-41).
Porém nesta última carta a Timóteo Paulo pede que Lucas traga Marcos consigo, demonstrando assim que sua confiança e amizade haviam sido restauradas. Assim é a graça de Deus e é assim que também devemos tratar com graça para com nossos irmãos, restaurando nossa comunhão com eles quando dão provas de estarem arrependidos de seus erros.
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O que significa perseverar até o fim?
“Perseverar até o fim” aparece nos evangelhos e o contexto é o Senhor falando aos judeus referindo-se ao reino. Os capítulos 10 e 24 de Mateus e também Marcos 13
se referem à grande tribulação, e ali fala de salvação do corpo de carne, de sair vivo da tribulação para poder habitar no reino de mil anos. Compare com o versículo 22 de Mateus 24: “E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria”.
(Mt 10:22) “E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo”.
(Mt 24:13) “Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo”.
(Mc 13:13) “E sereis odiados por todos por amor do meu nome; mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo”.
A expressão “persevera” ou “persevere” aparece nas epístolas na forma de admoestação:
(1 Tm 4:16) “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas
coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem”.
Aqui também não está falando da salvação da alma, mas da salvação (ou de manter-se a salvo) da apostasia dos últimos tempos, que é o assunto do capítulo (veja os primeiros versículos). É apenas perseverando nos ensinos da Palavra de Deus, e aqui especificamente nas instruções dadas a Timóteo, que ficamos a salvo de problemas nesta vida e podemos nos dedicar mais livremente às coisas do Senhor.
(1 Tm 5:5) “Ora, a que é verdadeiramente viúva e desamparada espera em Deus, e persevera de noite e de dia em rogos e orações;”.
Aqui também nada tem a ver com salvação da alma, mas o termo aparece como uma qualidade das viúvas, que deveria ser também uma qualidade de todo crente: perseverar em oração o tempo todo.
(Tg 1:25) “Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito”.
Mais uma vez o verbo perseverar é usado no sentido de uma vida de comunhão com Deus.
(2 Jo 1:9) “Todo aquele que prevarica, e não persevera na
doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho”.
Aqui sim está falando de salvação para os que perseveram e de perdição para os que não perseveram na doutrina de Cristo. Mas que doutrina de Cristo é esta à qual João se refere? Não se refere a algo que FAZEMOS, mas naquilo em que cremos.
O assunto do apóstolo são os “enganadores [que] entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo” (2 Jo
1:7). São os falsos mestres, que ensinam que Jesus Cristo não é Deus, mas um ser criado. Você encontra esta doutrina maligna em religiões como Testemunhas de Jeová, Mórmons e Espíritas.
Para ser salvo é preciso crer em Cristo como Deus e Homem, e é isto que está subentendido na expressão “veio em carne” (2 Jo 1:7). Dizer que alguém nasceu é uma coisa, pois todos os seres humanos nasceram. Mas dizer que alguém veio em carne significa que tinha preexistência e assumiu um corpo humano. Um espírita poderia aqui argumentar que a reencarnação também funciona assim, mas o problema é que a Palavra de Deus afirma categoricamente não existir reencarnação, mesmo porque o homem só morre uma vez.
“Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9:27).
Assim, a fé cristã que salva é crer em Jesus como divino, Deus e Homem, a Pessoa do Filho Eterno, que veio em carne, em semelhança humana, porém sem pecado, para morrer como o único sacrifício aceitável por Deus, como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
(1 Jo 5:20) “E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna”.
(Jo 1:1) “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.
(Jo 1:14) “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”.
(Rm 8:3) “Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne;”.
“O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 Jo 1:7).
(1 Jo 2:2) “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”.
(1 Jo 4:10) “Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados”.
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Como posso ser útil?
Ouvi notícias pelos irmãos e fiquei muito animado com tudo, em especial por saber de seu pedido à comunhão à mesa do Senhor. Ele é realmente digno de o buscarmos em adoração e fazermos o que ele pediu da forma e no lugar (ao seu NOME) que o Senhor sempre desejou.
Tenho certeza de que os irmãos da assembleia mais próxima de você também estão alegres com seu pedido, mas nenhum deles tanto quanto o próprio Senhor. Que honra para o NOME de Cristo é ele poder ver mais um que deixa para trás os sistemas humanos apenas para a obediência de fé. Hoje as pessoas buscam a Deus com tantos interesses (como prosperidade, cura, relacionamentos, música, etc.) e ficam tão ocupadas com tantas coisas, que acabam perdendo “a boa parte” que Maria escolheu: estar aos pés de Jesus e ouvir dele.
(Lc 10:39-42) “E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude. E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”.
Às vezes ficamos relutantes quanto ao que fazer por estarmos ocupados com a obra do evangelho no lugar onde estamos, mas nunca devemos nos esquecer de que há coisas que Deus dá e há coisas que Deus procura. Dentre as coisas que Deus dá estão os dons, inclusive evangelistas, pastores e doutores.
E quando nos preocupamos com a obra na seara de Deus, será que procuramos formar mais trabalhadores ou pedimos que o Pai envie trabalhadores para a sua seara?
(Ef 4:11) “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,”.
(Mt 9:37-38) “Então, disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros. Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande ceifeiros para a sua seara”.
Se as coisas relacionadas ao serviço ou trabalho na seara de Deus é ele mesmo quem providencia, o que será que Deus procura? Adoradores.
Isto ele não dá, ele procura. Mas não apenas adoradores, mas aqueles que adorem em espírito e verdade.
(Jo 4:23-24) “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.
Os judeus adoravam em verdade, pois eram zelosos das Escrituras, mas não em espírito. As religiões criadas pelos homens adoram em espírito, mas não em verdade por fecharem os olhos para as Escrituras e fazendo cada um do jeito que acha melhor fazer. A responsabilidade do crente está em individualmente buscar onde e como o Senhor quer ser adorado, e isto é algo que perguntamos a ele, como fizeram os discípulos.
(Lc 22:8-14) “E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos. E eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos? E ele lhes disse: Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar. E direis ao pai de família da casa: O Mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos? Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado; aí fazei preparativos.
E, indo eles, acharam como lhes havia sido dito; e prepararam a páscoa. E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e com ele os doze apóstolos”.
Sei da dificuldade que tem em abrir mão do trabalho que fazia com os jovens na denominação de onde se apartou. Eu passei por um dilema parecido com o que você está passando há mais de 30 anos. Pregava em uma pequena congregação batista e minha esposa ensinava na escola dominical. Então viemos a conhecer o lugar de reunião conforme é mostrado na Palavra de Deus e ficamos na dúvida: deixar a denominação ou não? O que nos manteve lá até a última hora foi justamente a preocupação do que a nossa saída poderia causar naqueles jovens e crianças. Mas quando aprendemos a colocar tudo nas mãos do Senhor e a seguir a direção do Espírito as coisas ficaram bem mais fáceis.
Em 2 Timóteo 2 há uma passagem de grande instrução: (2 Tm 2:19-21) “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra”.
A parte para a qual quero chamar sua atenção é ser um vaso para honra. Quando queremos ser vaso para honra, nós procuramos nos afastar do mal sem nos preocuparmos com os que permanecem lá. A decisão é individual porque o discernimento é individual. Evidentemente eu não chamaria os irmãos que estão nas denominações de vasos para desonra, porque eles também querem honrar a Cristo, apesar de imporem limitações a si mesmos por estarem sujeitos a um sistema que tolhe a liberdade do Espírito Santo. Então vamos pensar apenas nos vasos para honra, mas aí entra um detalhe: podemos ser vasos para honra e podemos ser vasos para honra preparados para toda a boa obra. O que isto significa?
Quando me mudei para Alto Paraíso, na viagem de ida atolei a Kombi e para tirá-la do atoleiro precisei erguê-la com o macaco e enfiar pedaços de “canela de ema” sob a roda. O problema é que eu não tinha nenhuma pedra ou viga de madeira onde apoiar o macaco, que teimava em enterrar no barro, e as “canelas de ema” eram moles demais para isso (você deve conhecer, elas são apenas um feixe de fibras resistentes à tração, mas não à pressão). Então peguei das coisas da mudança uma panela dessas de alumínio fundido, novinha, e coloquei-a sobre a lama com a base do macaco dentro dela criando assim uma sapata. Funcionou muito bem e tirei o carro do atoleiro, só que a panela já era. A base do macaco deixou marcas profundas nela já não servia para cozinhar. Mesmo assim, a partir daquele dia eu passei a carregar a panela dentro do estepe da Kombi e ela foi usada muitas outras vezes em atoleiros. Mas nunca para preparar comida.
Se considerarmos que cozinhar é uma boa obra, sem a qual não sobrevivemos, minhas panelas de cozinha estavam sempre preparadas para toda a boa obra e eram usadas em diferentes refeições. Estavam planas, alinhadas, limpas, prontas. Porém, aquela panela só servia para uma coisa: apoiar ao macaco na lama.
Um cristão pode ser um vaso para honra e mesmo assim não estar preparado para toda a boa obra, só para uma ou duas. Às vezes não percebemos o quanto estamos limitando a ação do Espírito através de nós, por colocarmos todo o nosso foco em algo, sem perceber que o Senhor nos queria para outras coisas, algumas muito mais nobres do que apoiar um macaco na lama.
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As mulheres não podem cantar?
Sempre que surgem dúvidas e questões entre irmãos é preciso cuidado para ver onde essas dúvidas estão nos levando. Isto porque é fácil sermos enganados por não buscarmos nas Escrituras ou por nossa própria carne e, ao invés de estarmos buscando uma solução para a glória de Deus, acabamos querendo fazer valer a nossa opinião. O que nos diz a Palavra? “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus… E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens” (1
Co 10:31; Cl 3:23).
Portanto o primeiro passo é cada um julgar seu próprio coração para saber que objetivo quer alcançar; se é a glória de Deus ou a defesa de suas próprias ideias e reputação. Devemo-nos lembrar de que o Senhor, apesar de ser perfeito e sua vontade ser exatamente idêntica à do Pai, enquanto andou aqui não quis fazer a sua vontade, mas somente a do Pai. Por isso é bom sondarmos nosso próprio coração para ver a vontade de quem estamos querendo fazer: a nossa ou a do Senhor?
(1 Co 11:31-32) “Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo”.
Sua dúvida é se a proibição para que as mulheres não falem nas reuniões da assembleia também significa que não devem cantar. Toda resposta deve começar pela Palavra de Deus, portanto vamos ler a passagem que diz para as mulheres permanecerem caladas nas igrejas.
(1 Co 14:33-37) “Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja. Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”.
O primeiro argumento que poderia surgir é que uma pessoa, ao cantar, está também falando, e para isto existe até um versículo que parece comprovar isto:
(Ef 5:19) “Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração;”.
A conclusão seria que a mulher, ao cantar na reunião da assembleia, estaria também falando, mas tal conclusão seria errada se perdesse de vista a passagem de 1 Coríntios 14 e também 1 Timóteo 2. Esta, embora esteja falando de outro contexto que é o do lar, mostra também a posição da mulher em relação ao ensino:
(1 Tm 2:11-14) “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.
Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”.
Juntando tudo fica claro que a razão da proibição de mulheres falarem nas reuniões da igreja é evitar que a mulher ensine algo por meio de suas palavras, induzindo ao erro. Mas não confunda “igreja” ou “assembleia”
com o lugar físico onde as reuniões da igreja ou assembleia são feitas. Quando a epístola fala que as mulheres devem permanecer caladas nas igrejas não está se referindo ao prédio ou sala onde a igreja ou assembleia se reúne. Está falando da reunião, no período desde quando começa até quando termina. Quando os irmãos em uma assembleia determinam que sua reunião comece às 19 horas e termine às 20 horas, nesse período é a reunião da igreja e é quando as mulheres devem permanecer caladas.
A razão da proibição de as mulheres falarem nas reuniões da igreja é que elas são mais suscetíveis ao engano do que os homens, pois Eva foi enganada e Adão não foi. “Adão não foi
enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Tm 2:14).
A proibição tem por objetivo evitar que uma mulher introduza má doutrina durante a reunião da igreja.
Quando ela canta, está seguindo um texto previamente preparado e isento de erros doutrinários, portanto não existe aí o risco de ser enganada e enganar. Assim, isto é, seguindo a letra de um hino que foi previamente selecionado por um varão para o cântico em assembleia, ela acabará em certo sentido “falando”, mas obviamente sem ter a iniciativa do quê falar, que é quando poderia errar e induzir ao erro. Por esta razão a mulher também não deve ler a Palavra de forma audível durante as reuniões da igreja, pois é possível errar e induzir ao erro até trazendo um versículo fora do contexto ou do momento apropriado. Antes que alguém alegue que não há como a Palavra de Deus induzir ao erro basta lembrar que Satanás usou a Palavra de Deus na tentação de Jesus.
O problema da dificuldade encontrada em 1 Co 14 geralmente não é de Bíblia, mas de dicionário. “Falar” é “exprimir por meio de palavras” e “cantar”
é “formar, emitir com a voz sons ritmados e musicais”. Você não precisa de palavras para cantar, mas é impossível falar sem palavras (exceto na linguagem por sinais). Eu posso passar o dia cantando “trá-lá-lá” e não dizer uma palavra. Portanto entendo que a epístola não proíbe a mulher de cantar, mas de falar. O que você acha que aconteceria se o Roberto Carlos, ao invés de cantar em um show, passasse duas horas falando? As pessoas iriam querer o dinheiro de volta. Então a distinção entre falar e cantar é clara até para um incrédulo com alguma noção de interpretação de texto.
Além disso, a passagem de Efésios, “Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais”, nos deixa confortáveis com o fato de as mulheres poderem assim participar do louvor entre os irmãos sem problema algum.
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Os cristãos devem combater o casamento gay?
O cristão está no mundo, mas não é do mundo, portanto ele não tem nada que interferir na política e no governo deste mundo. Não vemos o Senhor, os apóstolos ou os discípulos interferindo nos governos da época, quando os costumes aceitos pela sociedade eram iguais ou piores aos praticados hoje.
Embora em Israel existisse uma cultura baseada na religião judaica e, portanto com algum controle moral da sociedade, foi no mundo gentio e pagão dominado por Roma que a igreja floresceu. Quem estuda antropologia sabe que nessa época costumes como homossexualismo, prostituição e aborto eram largamente aceitos, praticados e às vezes até legalizados.
O que os cristãos sabidamente faziam não era jogar bombas em clínicas de aborto ou matar médicos, como alguns fazem nos Estados Unidos, mas recolher os bebês e tratar deles. Numa espécie de “aborto a posteriori”, estes eram deixados pelas mães romanas à beira das estradas para morrerem ou serem comidos pelos cães. Primogênitos do sexo feminino ou crianças portadoras de deficiência eram descartados, um costume encontrado até o início do século vinte em alguns países da África e Oriente, e ainda hoje em algumas tribos indígenas da América Latina, que costumam enterrar vivos os bebês rejeitados.
Desde o início os cristãos foram conhecidos não por seu ativismo contra o homossexualismo, aborto ou outras causas, mas por seu trabalho de misericórdia, não apenas para com órfãos e viúvas, mas também acolhendo e cuidando dos velhos e doentes rejeitados pelas famílias nas sociedades pagãs. O trabalho dos cristãos no início da Igreja era voltado para a salvação dos pecadores e a caridade para com os sofredores, e não para o protesto contra o governo e as leis injustas que eventualmente estivessem em vigor.
A grande agitação causada por pastores e políticos no Brasil em torno de temas como a regularização do casamento homossexual tem um forte elemento de promoção pessoal e conquista de votos, ofertas e membros para suas organizações. Se por um lado a Bíblia mostra claramente que o homossexualismo é pecado, o mesmo acontece com o sexo fora do casamento, a prostituição e o adultério, todas estas atividades praticadas em consenso entre os que as praticam.
O que as pessoas fazem na intimidade da alcova não é assunto dos cristãos e estes não têm nada que se intrometerem nisso. Essas pessoas não devem explicações aos cristãos, mas a Deus. O cristão não foi deixado aqui para policiar os usos e costumes daqueles que não estão nem aí com os pensamentos de Deus. O cristão deve é manter-se separado de tudo isso, mesmo porque um incrédulo é incapaz de entender e aceitar a autoridade da Palavra de Deus. Um cristão sábio, cuja esperança é eterna e nos céus, irá entender que o incrédulo estará disposto a lutar com unhas e dentes para defender a única coisa que possui: o prazer efêmero de sua vida aqui.
Não cabe ao cristão tentar moralizar um mundo, o qual caminha a passos largos para o juízo, como ocorreu com Sodoma. O mundo islâmico é radicalmente contra o homossexualismo, mas isso não significa que os muçulmanos estejam salvos.
Deus não mandou Ló reformar Sodoma, mas sair dela. Aquele era um homem de Deus no lugar onde Deus não queria que estivesse. Enquanto ele foi armando sua tenda até Sodoma (Gênesis 13:12), Abraão continuou vivendo como peregrino em terra estranha, na qual Deus “não lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé” (At 5:7).
Quando os anjos enviados para resgatar Ló chegaram a Sodoma, eles o encontraram assentado à porta da cidade, um lugar tradicionalmente ocupado pelos juízes de antigamente. Ló não apenas tinha estabelecido residência dentro dos muros da cidade iníqua, como estava entre os que na época equivaleriam ao poder legislativo de nossos dias, equivalentes aqui à Câmara dos Deputados e Senado Federal. Nos Salmos encontramos a expressão “assentado à porta” profeticamente indicando os líderes que condenaram o Senhor Jesus.
(Gn 19:1) “E vieram os dois anjos a Sodoma à tarde, e estava Ló assentado à porta de Sodoma”.
(Sl 69:12) “Aqueles que se assentam à porta falam contra mim”.
(2 Sm 19:8) “Então o rei se levantou, e se assentou à porta; e fizeram saber a todo o povo dizendo: Eis que o rei está assentado à porta. Então todo o povo veio apresentar-se diante do rei;”.
Basta ler a continuação da história para ver quão vergonhosa foi a situação de Ló. Por estar onde não deveria estar, ocupando uma posição que não deveria ocupar, ele se viu obrigado a tomar uma decisão radical contra o homossexualismo que os homens da cidade pretendiam praticar à força com os anjos enviados por Deus. Ló negociou com eles oferecendo suas filhas virgens em troca!
(Gn 19:4-11) “E antes que se deitassem, cercaram a casa, os homens daquela cidade, os homens de Sodoma, desde o moço até ao velho; todo o povo de todos os bairros. E chamaram a Ló, e disseram-lhe: Onde estão os homens que a ti vieram nesta noite? Traze-os fora a nós, para que os conheçamos. Então saiu Ló a eles à porta, e fechou a porta atrás de si, E disse: Meus irmãos, rogo-vos que não façais mal; Eis aqui, duas filhas tenho, que ainda não conheceram homens; fora vo-las trarei, e fareis delas como bom for aos vossos olhos; somente nada façais a estes homens, porque por isso vieram à sombra do meu telhado. Eles, porém, disseram: Sai daí. Disseram mais: Como estrangeiro este indivíduo veio aqui habitar, e quereria ser juiz em tudo? Agora te faremos mais mal a ti do que a eles. E
arremessaram-se sobre o homem, sobre Ló, e aproximaram-se para arrombar a porta. Aqueles homens porém estenderam as suas mãos e fizeram entrar a Ló consigo na casa, e fecharam a porta; E feriram de cegueira os homens que estavam à porta da casa, desde o menor até ao maior, de maneira que se cansaram para achar a porta”.
Quando um servo de Deus se coloca em jugo desigual com incrédulos e se intromete com os negócios deste mundo, acaba sendo obrigado a negociar como fez Ló, pois a política deste mundo não dá sem
receber algo em troca. Fora de seu lugar o cristão é obrigado a se humilhar e acaba fazendo papel de doido, como fez Davi quando decidiu ir morar no palácio de seus inimigos na terra dos filisteus.
(1 Sm 21:10-15) “Levantou-se Davi, naquele dia, e fugiu de diante de Saul, e foi a Aquis, rei de Gate.
Porém os servos de Aquis lhe disseram: Este não é Davi, o rei da sua terra? Não é a este que se cantava nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares? Davi guardou estas palavras, considerando-as consigo mesmo, e teve muito medo de Aquis, rei de Gate. Pelo que se contrafez diante deles, em cujas mãos se fingia doido, esgravatava nos postigos das portas e deixava correr saliva pela barba. Então, disse Aquis aos seus servos: Bem vedes que este homem está louco; por que mo trouxestes a mim? Faltam-me a mim doidos, para que trouxésseis este para fazer doidices diante de mim? Há de entrar este na minha casa?”.
Acaso não é assim, doidos, que os incrédulos enxergam os crentes que interferem na política querendo lhes dar lição de moral? Portanto o papel do cristão hoje não é ficar “assentado á porta de Sodoma” como legislador, na tentativa de mudar o curso de impiedade deste mundo. Sua função aqui é pregar o evangelho para salvar aqueles que se reconhecem pecadores, e não pregar moralidade ou querer conquistar espaço na política. Aqueles que foram salvos pela fé em Jesus irão honrar a Palavra de Deus e procurar viver de acordo com o ensino dela, e esta certamente não inclui a união de pessoas do mesmo sexo, o homossexualismo, adultério, fornicação, prostituição, etc.
Para o cristão não faz qualquer diferença se o governo aprova ou não o casamento homossexual. Alguns poderão argumentar que se assim for o governo obrigará as igrejas a celebrarem uniões homossexuais, mas pensar assim é não entender o que é o matrimônio segundo a Bíblia. Não existe na Palavra de Deus algo como uma igreja celebrando um casamento. Pessoas se casam perante Deus e cumprem as disposições legais oficializando sua união civil em obediência aos poderes estabelecidos por Deus. Não existe algo como alguém declarar um casal marido e mulher perante Deus. O único que pode fazer tal declaração, mas apenas perante os homens, é o juiz de paz com a autoridade que lhe foi delegada pelo estado. Deus não delegou autoridade para homens unirem pessoas naquilo que se costuma chamar de “casamento religioso”.
Trocando em miúdos, com quem uma pessoa se casa ou deixa de se casar é problema dela, e se o governo oficializa isso ou não é problema dos governantes. Eles deverão dar contas de seus atos a Deus. O cristão vive à margem disso como sempre foi no início do cristianismo. Aqueles que vão na conversa de pastores e políticos ditos “evangélicos” e saem em campo para enfrentar e atacar os movimentos GLS não percebem que estão servindo de “buchas de canhão” desses pastores e políticos.
O casamento que o cristão deveria ser radicalmente contra é o casamento entre a igreja e o estado, algo que alguns políticos denominados “evangélicos”
insistem em manter. Constantino celebrou essa união no terceiro século e foi um verdadeiro desastre. A referência profética feita no livro de Apocalipse à igreja nessa época é: “Conheço as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás” (Ap
2:13). O príncipe deste mundo é Satanás e, ao unir-se aos poderes deste mundo no terceiro século, a igreja passou a habitar onde Satanás tem seu trono. O
cristão não tem nada a fazer nesse lugar.
“Disse Jesus: O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui”. (Jo 18:36).
“Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os [separa-os] na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo”. (Jo 17:14-18).
“Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. (Tg 4:4).
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Qualquer cristão pode participar da ceia?
Perguntar se qualquer cristão pode participar da ceia à mesa do Senhor é como perguntar se qualquer pessoa com carteira de habilitação pode dirigir. A resposta para as duas perguntas é “sim”. Todo membro do corpo de Cristo tem o seu lugar à mesa do Senhor e todo motorista habilitado pode dirigir seu veículo. Porém pela mesma razão que um motorista habilitado, porém alcoolizado, não deve dirigir, um cristão em pecado não deve participar da ceia à mesa do Senhor.
Mas quem pode julgar se a pessoa está ou não em pecado? É
claro que apenas Deus conhece o coração de cada um, mas a sua palavra nos dá instruções claras para julgarmos, não a pessoa, mas a condição em que ela se encontra. É o que vemos Paulo exortando os cristãos em Corinto a fazerem no capítulo 5 daquela epístola: “Não julgais vós os de dentro?” (1 Co 5:12). Portanto o Senhor deu à assembleia autoridade para julgar o mal em seu meio. Somos exortados a julgar em diversas ocasiões:
(Jo 7:24) “Julgai segundo a reta justiça”.
(1 Co 6:2-5) “Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois, porventura, indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Para vos envergonhar o digo: Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?”.
(1 Co 14:29) “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem” (o que foi falado).
A mesa do Senhor é onde expressamos que há um só pão, um só corpo, do qual fazem parte todos os verdadeiros crentes. Por esta razão a ordem em 1 Coríntios 10 é primeiro o vinho e depois o pão. Primeiro o pecador precisa ser lavado pelo sangue de Cristo para então ser parte do corpo de Cristo.
(1 Co 10:16-17) “Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo?
O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão”.
A ceia do Senhor, celebrada à mesa do Senhor, é a recordação do sacrifício de Cristo na cruz, por isso em 1 Coríntios 11 a ordem é primeiro o pão e depois o cálice, ou seja, a representação do corpo morto de Jesus e de seu sangue derramado.
(1 Co 11:23-26) “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha”.
Alguns alegam que a participação de alguém na ceia do Senhor é responsabilidade unicamente da pessoa, tentando basear-se em (1 Co 11:28) “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice”. A questão é que a passagem não está falando de julgamento de pecado, mas do examinar-se para constatar que sua participação não é por algum mérito ou capacidade própria, mas que depende inteiramente da obra de Cristo na cruz. É
por isso que a ordem é “assim coma do pão e beba do cálice”, ou seja, depois de examinada a pessoa come, e não deixa de comer.
Baseados nessa passagem alguns recebem indistintamente qualquer pessoa para participar da ceia, desde que a pessoa seja evangélica. Mas e se ela for católica, por que não poderia participar? Um católico também professa ser cristão, e impedi-los de participar seria fazer distinção no corpo de Cristo (dentro da premissa falsa de que cabe ao indivíduo, e não à igreja, julgar a si mesmo). Os católicos verdadeiramente convertidos a Cristo são também membros do corpo. Eu mesmo fui um, pois apenas abandonei o catolicismo um ano depois de minha conversão. Durante todo aquele tempo eu tinha absoluta certeza de minha salvação pela fé, talvez uma certeza que muitos cristãos, principalmente pentecostais, não têm, já que creem na manutenção da salvação por conduta e obras de perseverança.
Em 1 Coríntios 5 vemos que a assembleia deve excluir da comunhão alguém em pecado. Se a assembleia tem autoridade para excluir ela tem autoridade para receber. Se fôssemos nos basear no argumento de que qualquer membro do corpo de Cristo tem o direito de ser recebido à comunhão, então aquele que foi excluído em 1 Co 5 poderia voltar no dia seguinte dizendo que iria partir o pão alegando que é um irmão e membro do corpo de Cristo e por isso deveria ser recebido à mesa. No entanto a ordem clara do apóstolo foi: “Com o tal nem ainda comais. Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora.
Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo” (1 Co 15:11-13).
A mesa é do Senhor e nós somos apenas os “porteiros” ou “policiais rodoviários” (voltando à analogia do motorista alcoolizado). Uma pessoa em pecado não pode ser recebida à mesa, ainda que seja membro do corpo de Cristo, pois isto contaminaria toda a massa como diz em 1 Co 5:6 “Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?”.
Portanto quando alguém chega dizendo-se cristão é preciso primeiro saber o estado daquela pessoa. Será que ela está em pecado moral? Está vivendo de roubos ou pratica imoralidade, prostituição, fornicação, etc.? Será que traz algum mal doutrinário, como afirmar que Jesus não seja Deus ou que a salvação não é pela obra do Calvário? Ou quiçá esteja conectada a algum sistema religioso sectário, o que pode ser chamado de pecado eclesiástico? Em qualquer um destes casos ela não poderá ser recebida até resolver a questão. Não fazer isto é abrir a mesa para pessoas vivendo em adultério ou tendo relações sexuais fora do matrimônio, ou praticando crimes na sociedade. Também estaria recebendo até para Testemunhas de Jeová, Mórmons e Espíritas, pois se você perguntar a eles se são membros do corpo de Cristo eles dirão que sim, mesmo participando de religiões que negam a divindade de Cristo.