Apresentação
Primeiramente agradeço a Deus por permitir que este material fosse produzido e disponibilizado para milhares de leitores no Brasil e no mundo. As ideias que você encontra aqui não são originalmente minhas, e sim fruto do que tenho aprendido da Palavra de Deus fora dos sistemas denominacionais com irmãos congregados ao nome do Senhor e também com autores de outras épocas que congregavam assim. Foram eles J. G. Bellett, C. H. Brown, J. N. Darby, E. Dennett, W. W. Fereday, J. L. Harris, W. Kelly, C. H. Mackintosh, A. Miller, F. G. Patterson, A. J. Pollock, H. L. Rossier, H. Smith, C. Stanley, W. Trotter, G. V. Wigram e muitos outros.
Para que você compreenda como este livro veio a existir, creio ser necessário voltar um pouco no tempo. Depois de um período trabalhando em São Paulo, em 1988 mudei-me com minha família de volta para Limeira, minha cidade natal, a fim de colaborar com a Editora Verdades Vivas, uma organização sem fins lucrativos que produz e distribui literatura cristã. A grande quantidade de folhetos evangelísticos, livros e calendários distribuídos no Brasil e em outros países de língua portuguesa gerava um volume considerável de correspondência, não só com pedidos de publicações, mas também com perguntas sobre a Bíblia. Todas as cartas eram devidamente respondidas.
Nessa época adquiri o hábito de manter uma cópia das respostas em formato digital. Assim ficava fácil responder perguntas semelhantes ou até mesmo mesclar trechos de diferentes respostas, além de preservar aquele conhecimento. A partir de 1996 passei a usar a Internet e aí as respostas já não precisavam ser impressas, envelopadas e enviadas por carta como era feito até então. O uso do e-mail agilizou o processo e permitiu atender mais correspondentes com maior agilidade.
Em 1998 deixei a editora para atuar como executivo de uma empresa de tecnologia da informação, porém mantendo nas horas vagas minha ocupação com o evangelismo e ministério da Palavra via Internet por meio de diferentes sites e blogs. Em 2001 passei a trabalhar por conta própria como consultor e palestrante empresarial, tendo mais tempo livre e uma agenda mais flexível para dedicar-me ao evangelho.
Em 2005 decidi lançar o blog “O que respondi” no endereço respondi.com.br para disponibilizar as respostas que tinha armazenado em formato digital desde 1988 e acrescentar as que fossem sendo criadas. Algo que muitos perguntam é a razão de o blog não permitir comentários, mas o volume de spam, debates e opiniões deixadas na área de comentários me obrigou a eliminar esta opção de contato para me concentrar no atendimento apenas por e-mail. É sempre bom lembrar que não existe uma “equipe” para responder a correspondência que chega, pois este é um exercício pessoal.
Em 2008 iniciei um trabalho chamado “O Evangelho em 3 minutos — Uma mensagem urgente para quem tem pressa”, com vídeos no Youtube e também em versões de texto e áudio no endereço 3minutos.net. Com a popularização do smartphone e da Internet móvel este formato mostrou-se excelente para alcançar pessoas a qualquer hora e em qualquer lugar com a mensagem da salvação e a sã doutrina. O site “O que respondi” passou a servir de complemento aos vídeos. Enquanto no “Evangelho em 3 minutos” a Palavra de Deus é pregada de forma rápida, no “O que respondi” ela é explicada em detalhes e com referências.
Estas e outras frentes de trabalho via Internet continuam gerando um número cada vez maior de contatos e perguntas. Em 2013 foram mais de três mil perguntas atendidas, porém graças ao blog “O que respondi” nem todas precisaram ser respondidas. Na maioria das vezes é suficiente enviar links para as mais de mil respostas existentes no blog, que já conta com cerca de quatro milhões de acessos desde sua criação.
Assim chegamos à razão deste livro que está sendo lançado nos formatos digital (e-book) e impresso (on demand). Ele atende aqueles que desejam ter acesso ao material do blog sem depender de uma conexão com a Internet. Este é um dos mais de dez volumes projetados para compor esta coleção, se considerarmos todo o conteúdo do blog “O que respondi”.
Ao ler este livro não se esqueça de que está lendo as opiniões do autor, e não a Palavra de Deus. Considere também que os textos são cartas e e-mails de minha correspondência pessoal, e não uma obra literária. A linguagem é informal e despretensiosa como acontece com uma correspondência entre duas pessoas, e é provável também que você às vezes venha a achar a linguagem meio irreverente, mas isso é apenas fruto de meu estilo literário, e não de tratar levianamente as coisas de Deus ou a pessoa a quem respondi. Lembre-se também de que, para a resposta fazer sentido, às vezes incluo o que escreveram meus interlocutores e alguns são incrédulos ou ateus com opiniões depreciativas a respeito de Deus e de sua Palavra.
Não espere encontrar aqui todas as respostas e nem sequer as trate como definitivas. Elas são fruto do meu exercício com o Senhor e do que continuo aprendendo todos os dias. Por isso leia, medite, busque referências na Bíblia e ore para que o Espírito Santo lhe dê o entendimento. Sem isto até a pessoa mais inteligente e versada nas Escrituras será incapaz de entender as coisas de Deus, pois elas se discernem espiritualmente.
É provável que você encontre erros em minhas opiniões. Pode ter certeza de que eu mesmo eventualmente sou obrigado a acessar o blog “O que respondi” para fazer correções após ter sido instruído ou alertado de alguma falha por algum irmão ou por algo que li na Palavra de Deus. Se, ao comparar uma resposta mais antiga com uma mais nova, você encontrar alguma discrepância, saiba que optei por não revisar todas as respostas, mas decidi mantê-las do modo como entendia as coisas quando as escrevi, e lembre-se de que você está lendo textos escritos ao longo de um período de cerca de trinta anos. Se encontrar algum erro de digitação ou de gramática, entre em contato para eu fazer as devidas correções, pois o desejo de disponibilizar este livro o mais rápido possível nas mãos dos leitores foi maior que o tempo que tive para revisá-lo.
Este livro está sendo distribuído gratuitamente, porém alguns sites de terceiros ou editoras irão cobrar algum valor para a versão e-book ou impressa sem que isto signifique algum ganho da parte do autor que optou por abrir mão dos ganhos com direitos autorais. Você poderá distribuir o conteúdo deste livro, desde que o faça gratuitamente, não altere o texto e mantenha a referência ao autor.
Peço que se lembre de incluir este trabalho em suas orações e de endereçar ao Senhor, e não a mim, qualquer sentimento de gratidão que porventura possa ter por esta leitura.
“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa” (Os 6:3).
Mario Persona
www.respondi.com.br
www.3minutos.net
Março, 2014
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Como pode Deus se arrepender?
Você pergunta como pode um Deus onisciente se arrepender de algo, considerando que ele já sabia tudo de antemão.
Balaão diz em Números 23:19 que “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa”. Poderíamos dizer que aqui é a opinião de Balaão, não sei ao certo. Mas seja o que for, em outras passagens diz que Deus se arrependeu de fazer algo.
(1 Cr 21:15) “E Deus mandou um anjo a Jerusalém para a destruir; e, estando ele prestes a destruí-la, o Senhor olhou e se arrependeu daquele mal, e disse ao anjo destruidor: Basta; agora retira a tua mão”.
(Am 7:6) “Também disso se arrependeu o Senhor. Nem isso acontecerá, disse o Senhor Deus”.
(Jn 3:10) “Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho, e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria, e não o fez”.
Eu entendo que esse “arrepender-se” não é no sentido de alguém ter praticado algum mal (como acontece conosco), mas de alguém voltar atrás ou seguir um “Plano B” que já podia estar previsto como alternativa. É como se você decidisse ir para uma cidade por um caminho e, ao chegar numa bifurcação, “se arrepende” da decisão anterior porque as condições do tempo mudaram e a outra estrada passou a ser a melhor opção.
Como é impossível a Deus pecar, é impossível também que ele precise se arrepender. Quando entendemos isso, enxergamos o valor da Pessoa de Jesus, Deus e Homem, que quis se assemelhar em tudo conosco, porém sem pecado. Além de assumir a forma humana, ao ser batizado por João Batista Jesus estava se identificando o máximo que podia com a raça humana, já que o batismo de João era um batismo de arrependimento. Aquele que não tinha nada de que se arrepender quis ser batizado assim mesmo para demonstrar o quanto ele estava do nosso lado.
Quanto ao arrependimento humano, não conheço melhor passagem do que esta de Jeremias 31:19: “Na verdade depois que me desviei, arrependime; e depois que fui instruído, bati na minha coxa; fiquei confundido e envergonhado, porque suportei o opróbrio da minha mocidade”.
Há também outro tipo de arrependimento humano, que é o de Caim e de Judas. Eles não se arrependeram do mal que fizeram por isso ser contrário a Deus, mas porque seus atos trouxeram consequências que não eram boas para si mesmos. Esse é o arrependimento egoísta, do ladrão que se arrepende porque foi preso. Se não fosse preso, não se arrependeria.
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O diabo está no céu?
Sim, o diabo está no céu, segundo o que diz a Bíblia. Definitivamente Satanás não está no inferno, como aprece nos gibis. Em Jó caps. 1 e 2 nós o vemos no céu, na presença de Deus, dizendo que costumava passear pela Terra.
(Jó 1:6-7) “E vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então, o Senhor disse a Satanás: De onde vens? E Satanás respondeu ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela”.
Os anjos são chamados de potestades ou poderes das regiões celestiais, não do inferno ou da Terra.
(Ef 3:10) “para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus”.
(Ef 2:2) “em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência”.
Encontramos em Apocalipse uma batalha travada nos céus, e nela há tanto anjos de Deus como anjos caídos:
(Ap 12:7) “E houve batalha no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão; e batalhavam o dragão e os seus anjos”.
Paulo nos fala da localização das potestades ou anjos contra o qual é a luta do cristão, e eles estão nos lugares celestiais:
(Ef 6:12) “porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.
Um dia Satanás será lançado no lago de fogo, mas isso ainda é futuro, e ele será lançado lá como réu condenado, e não como alguém que irá reinar no inferno como costumamos ver em filmes e gibis:
(Ap 20:10) “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre”.
Para entender isso é preciso entender que aquilo que chamamos genericamente de “inferno” costuma incluir diferentes lugares e situações.
Também o que chamamos de céu inclui diferentes lugares, um deles eternamente inacessível a homens e anjos.
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Anjos têm asas?
Quando você lê a palavra “anjo” na Bíblia, seu sentido original é “mensageiro” o “enviado”, e não aquele anjo de asas que vemos nos filmes e nos gibis.
Na maioria das vezes os anjos aparecem na Bíblia na forma humana e podiam ser confundidos com homens comuns. Geralmente, dependendo da tradução que você utilizar, “o anjo do Senhor” significa o próprio Senhor Jesus vindo em forma humana (antes de nascer neste mundo nos evangelhos), como quando ele apareceu a Abraão e teve uma refeição com ele sob uma árvore.
Quando você encontra “um anjo do Senhor” provavelmente esteja se referindo a um anjo. Mas a palavra anjo é usada também para seres humanos em posição de responsabilidade ou quando são enviados para alguma missão, pois este é o significado da palavra.
Apenas quando são mencionados os querubins e serafins é que são descritas asas. É o caso das imagens que Deus ordenou que fossem colocadas sobre a tampa da arca da aliança:
(Êx 25:20) “Os querubins estenderão as suas asas por cima, cobrindo com as suas asas o propiciatório; as faces deles, uma defronte da outra; as faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório”.
Ezequiel tem uma visão de querubins com asas, porém por se tratar de uma visão não é simples entender o que é real ou material, e o que é apenas uma figura com um significado atrelado a ela:
(Ez 10:5) “E o estrondo das asas dos querubins se ouviu até ao átrio exterior, como a voz do Deus Todo-poderoso, quando fala”.
(Ez 10:8) “E apareceu nos querubins uma semelhança de mão de homem debaixo das suas asas”.
(Ez 10:16) “E, andando os querubins, andavam as rodas juntamente com eles; e, levantando os querubins as suas asas, para se elevarem de sobre a terra, também as rodas não se separavam deles”.
(Ez 10:19) “E os querubins alçaram as suas asas e se elevaram da terra aos meus olhos, quando saíram; e as rodas os acompanhavam e pararam à entrada da porta oriental da Casa do Senhor; e a glória do Deus de Israel estava no alto, sobre eles”.
(Ez 10:21) “Cada um tinha quatro rostos e quatro asas e a semelhança de mãos de homem debaixo das suas asas”.
Veja que mesmo neste caso se Ezequiel fosse desenhar um retrato do que viu teríamos seres de quatro asas e quatro rostos, e não os anjos comumente vistos nos filmes ou os anjinhos barrocos encontrados na decoração dos templos católicos. Já Isaías teria desenhado os serafins de sua visão com seis asas:
(Is 6:2) “Os serafins estavam acima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, e com duas cobriam os pés, e com duas voavam”.
É claro que não podemos descartar o fato de essas asas serem apenas simbólicas, pois na Bíblia encontramos passagens nas quais até o próprio Deus é mencionado como tendo asas de penas:
(Sl 91:4) “Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas estarás seguro; a sua verdade é escudo e broquel”.
Zacarias também tem uma visão de mulheres com asas:
(Zc 5:9) “E levantei os meus olhos e olhei, e eis que duas mulheres saíram, agitando o ar com as suas asas, pois tinham asas como as da cegonha; e levantaram o efa entre a terra e o céu”.
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Devemos aceitar a Palavra de Deus sem questionar?
Você discorda do que eu escrevi sobre a autoridade divina em “Por que Deus mandou matar nações inteiras no A.T.?”. Segundo você, meus argumentos são muito fracos, e qualquer um com um mínimo de inteligência é capaz de rebatê-los.
Se eu visitar sua casa será impossível entender boa parte da conversa que você tem com sua família, pois existem alguns códigos de linguagem, gírias e toda uma história e contexto que serão estranhos para mim. Eu só compreenderia vocês se fizesse parte da família. É como o filho que compreende o que seu pai lhe diz só com o olhar.
Você não será capaz de entender as coisas de Deus se não tiver o Espírito de Deus, portanto será inútil tentar explicar a você o modo de Deus proceder.
Todo incrédulo tem seu próprio deus, isto é, uma divindade que não discorda dele em coisa alguma, um deus feito sob a medida de seus próprios pensamentos. Porém alguém assim você não consegue nem em um casamento, quando precisa acatar o que o outro pensa, ainda que não concorde. Se opiniões discordantes ocorrem sempre nos relacionamentos humanos, o que esperar de um relacionamento entre o homem e seu Criador. Que o homem concorde com tudo? Que o Criador se amolde àquilo que o humano concorda? Nem uma coisa nem outra.
Se você se converter a Jesus, terei prazer em explicar isso e outras coisas de acordo com o que encontro na Bíblia, a Palavra de Deus.
(1 Co 2:6-14) “Todavia, falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória. Mas, como está escrito: as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.
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O arrebatamento não seria depois da tribulação?
Você discorda do que eu disse em um de meus vídeos, de que o arrebatamento poderá ocorrer a qualquer momento, para só depois surgir a apostasia, o anticristo e a grande tribulação, findando com a vinda de Cristo ao mundo para reinar. Na verdade essa é a opinião de muitos cristãos, mas ela cria certas dificuldades para fazer os eventos bíblicos se encaixarem, em especial as promessas que foram feitas a Israel.
Vou comentar os pensamentos e versículos que enviou para justificar o seu modo de pensar. Quando lhe perguntei quais seriam os fundamentos nos quais você baseia sua teoria, você respondeu: “O primeiro é que o arrebatamento da igreja só ocorrerá ao final da Grande Tribulação, ante a última trombeta do Apocalipse! — 1 Co 15:51-52 — Ap 11:15-19”.
Sua suposição ocorre por você considerar que a “última trombeta” de 1 Co 15:52 seja a mesma sétima trombeta tocada pelo anjo em Ap 11:15, mas não é. Compare as passagens:
a. (1 Ts 4:16) “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro;”.
b. (1 Co 15:52) “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados”.
c. (Ap 11:15) “E tocou o sétimo anjo a trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre”.
Em 1 Ts 4:16 temos a “trombeta de Deus”, não do anjo. Parece ser a mesma de 1 Co 15:52 porque ambas mencionam a ressurreição dos que dormiram em Cristo e a transformação dos vivos que creem.
Em 1 Co 15:52 a “última trombeta” e está claro aqui que ela tem a ver com bênção para a Igreja, não com juízo para o mundo ou para os perdidos como vemos com as trombetas de Apocalipse.
Em Ap 11:15 temos uma trombeta, porém não é chamada de “última”, apesar de ser a sétima de uma série que tem por objetivo, não arrebatar os salvos, mas trazer juízo ao mundo.
Você escreveu: “O segundo é que após a vinda de Cristo p/ derramar seu sangue pelos pecados, o véu do templo para sempre se rasgou, o Espírito Santo nos veio para sempre, e jamais se ausentará. O que vai ser tirado da terra na época do anticristo é a Palavra de Deus! Ela vai ser retirada da terra. Amós 8:11-13: — ‘Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. E irão errantes de um mar até outro mar, e do norte até ao oriente; correrão por toda a parte, buscando a palavra do Senhor, mas não a acharão. Naquele dia as virgens formosas e os jovens desmaiarão de sede’”.
O versículo não diz que Deus tirará a sua Palavra da terra, mas que as pessoas a procurarão e não acharão. Esse é o resultado da apostasia e do abandono da verdade, que incapacita o homem de ouvir e entender a Palavra de Deus. É o efeito causado em Saul, quando procura a Palavra de Deus e não a encontra por terem acabado suas chances de ouvi-la em virtude de sua contínua rejeição.
(1 Sm 28:6) “E perguntou Saul ao Senhor, porém o Senhor lhe não respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas”.
Saul vai então procurar uma médium em total desobediência a Deus. Este será também o processo com o mundo incrédulo que rejeitou a Palavra de Deus em seu tempo e quando mais precisar dela não a encontrará (talvez por Deus enviar a “operação do erro” — 2 Ts 2 — para que creiam na mentira). Porém a Palavra de Deus estará sim sendo pregada em todo o mundo até o fim.
(Mt 24:14) “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim”.
Você escreveu: “Então, nessa época a palavra de Deus e o nome de Jesus serão retirados da terra e não mais se achará!”.
Isso é um equívoco, pois as “duas testemunhas” profetizarão por “mil duzentos e sessenta dias” que é exatamente o período de 3 anos e meio da perseguição promovida pelo anticristo.
(Ap 11:3) “E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco”.
Portanto não há como considerar que a Palavra de Deus será tirada da terra justamente quando ela estará sendo pregada até os confins da terra antes de vir o fim pelo remanescente de Israel que será salvo durante a grande tribulação, e também será profetizada pelas 2 testemunhas por 3 anos e meio. Se não é a Palavra de Deus que esses dois “profetas” estão levando, então como poderiam estar testemunhando e serem mortos por isso?
(Ap 11:10) “E os que habitam na terra se regozijarão sobre eles, e se alegrarão, e mandarão presentes uns aos outros; porquanto estes dois profetas tinham atormentado os que habitam sobre a terra”.
Você escreveu: “‘E deu-se-lhe poder para agir por 42 meses’ (meses literais — ou seja, três anos e meio). Nesse período de Grande Tribulação, os cristãos fugirão p/ os desertos — onde serão sustentados por Deus por 42 meses (similar ao que o Senhor fez aos filhos de Israel no deserto). — Ap 12:6 e Ap 12:14”.
A interpretação da mulher de Ap 12 como sendo a Igreja não é correta. A mulher aí tem um filho que é Jesus, ou seja, essa mulher é usada por Deus para trazer ao mundo o Cristo.
(Ap 12:2) “E estava grávida e com dores de parto e gritava com ânsias de dar à luz”.
Esse filho é o Rei de Reis, e ele é tirado da terra.
(Ap 12:5) “E deu à luz um filho, um varão que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono”.
(Dn 9:26) “E, depois das sessenta e duas semanas, será tirado o Messias e não será mais; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas assolações”.
A mulher de Apocalipse 12 não pode ser a Igreja, pois esta nunca foi o meio usado por Deus para trazer ao mundo o Cristo. A Igreja passou a existir em Atos 2 e era ainda algo futuro mesmo nos dias dos evangelhos, quando Jesus usa o verbo no futuro para se referir a ela: “Edificarei a minha igreja” (Mt. 16:18).
Se a mulher não é a Igreja, restam duas opções: Maria e Israel. Maria não pode ser, pois não há qualquer relato de perseguição a ela e o Apocalipse é um livro de símbolos. Qual outra mulher simbólica, além da Igreja, é encontrada nas Escrituras e mencionada como esposa de Deus? Israel, “porque a salvação vem dos judeus” (Jo 4:22).
(Jr 31:31-32) “Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei um concerto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme o concerto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porquanto eles invalidaram o meu concerto, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor”.
(Ct 4:8) “Vem comigo do Líbano, minha esposa, vem comigo do Líbano;”.
Você escreveu: “E muitos cristãos por esses dias selarão o seu testemunho com a morte: ‘Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus’ – (Ap. 14:12)”.
Esses que “guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” são os convertidos após o arrebatamento da Igreja. Nesse período, judeus e gentios se converterão, mas apenas aqueles que nunca tinham escutado o evangelho. Muitos serão mortos por sua fé em Jesus. Tenha em mente que, a partir do capítulo 4, o tema de Apocalipse é o mundo apóstata e os judeus. A igreja só volta a aparecer no final, na cena das bodas (que não está necessariamente em ordem cronológica com os outros eventos por acontecer fora da terra).
Você escreveu: “‘Ao ressoar a sétima trombeta, no término da Grande Tribulação, Cristo regressa sobre as nuvens c/ poder e grande glória p/ buscar os seus escolhidos: os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro, depois nós os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente c/ eles nas nuvens ao encontro do Senhor nos ares, amém! ’ (1 Co 15:51-52; Mt 24:29-31; Ap 11:15-19)”.
Esse retorno de Cristo sobre as nuvens é bem diferente do que você encontra no arrebatamento em 1 Tessalonicenses, quando ele não chega a pisar na terra e vem até as nuvens, onde acontece o encontro com sua igreja que é arrebatada até ali.
A grande dificuldade está em confundir Israel com a Igreja, dois povos distintos, com origens distintas, promessas distintas e destinos distintos. Israel foi escolhido “desde a fundação do mundo” para um reino terrenal.
(Mt 25:34) “Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;”.
A Igreja foi escolhida “antes da fundação do mundo” para habitar no céu e, depois, no novo céu.
(Ef 1:4) “como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo,”.
A Israel foram prometidas bênçãos terrenas neste mundo (terras, filhos, gado, leite e mel), nenhuma celestial.
(Lv 20:24) “E a vós vos tenho dito: Em herança possuireis a sua terra, e eu a darei a vós para possuí-la em herança, terra que mana leite e mel. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos separei dos povos”.
À Igreja foi prometido tribulação no mundo e bênçãos espirituais no céu.
(Jo 16:33) “Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”.
(1 Tm 6:8) “tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos com isso contentes”.
A interpretação bíblica que enxerga a Igreja em Apocalipse (quando ela aparece na verdade só até o capítulo 3 e no final descendo do céu) desconsidera tudo o que Deus prometeu a Israel e deixa um vácuo no cumprimento dessas promessas terrenas. Veja que interessante o que pode ser uma figura do arrebatamento na abertura do capítulo 4 de Apocalipse, quando João é arrebatado e passa a assistir do céu os eventos que ocorrem na terra.
Você escreveu: “Em Daniel 11:32-35, vemos um povo de Deus sendo purificado e embranquecido — e fazendo grandes proezas — durante o reinado do Anticristo. (argumento de outro leitor sobre o mesmo assunto)”.
Mais uma vez o erro está em considerar esse povo citado pelo profeta Daniel como se fosse a Igreja. Não é. O povo de Deus citado em Daniel e em TODAS as profecias do Antigo Testamento NUNCA é a Igreja, pois esta foi um mistério revelado muitos séculos depois a Paulo.
(Cl 1:25-26) “… A igreja, da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus; o mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos”.
(Ef 3:4-11) “Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas [profetas da igreja]; A saber, que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho; Do qual fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder. A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor”.
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Jesus mentiu para o ladrão na cruz?
Você não conseguiu responder à pergunta de um cético que alega existirem erros na Bíblia. Basicamente o que ele questiona é: “Como Jesus disse ao ladrão na cruz ‘HOJE estarás comigo no Paraíso’ se três dias depois ele disse às mulheres que visitaram seu túmulo que ainda não tinha subido ao Pai?”.
(Lc 23:43) “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”.
(Jo 20:17) “Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”.
Não vejo tanta dificuldade em compreender isso, pois Jesus fala de duas situações diferentes. Na cruz ele, que está prestes a morrer, conversa com o ladrão que também está prestes a morrer. E o que acontece quando a pessoa morre?
(Ec 12:7) “e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”.
Jesus e o ladrão subiram ao Paraíso em espírito naquele mesmo dia, conforme o Senhor havia prometido a ele. Três dias depois Jesus iria subir numa forma como homem algum jamais subira: ressuscitado e em um corpo de carne e ossos.
Obviamente é disso que ele está falando às mulheres à entrada do sepulcro. Seu espírito, que esteve, durante três dias no Paraíso, porém sem o corpo, voltava agora ao corpo para subir assim, ressuscitado, ao Pai.
Portanto no segundo caso Jesus fala de uma subida visível, e não da passagem do espírito para fora do corpo. É dessa subida visível que ele também fala aqui: (Jo 6:62) “Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do Homem para onde primeiro estava?”.
(At 1:9) “E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos”.
(At 7:56) “e disse [Estêvão]: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem [Jesus em um corpo humano], que está em pé à mão direita de Deus”.
O verbo “subir” está relacionado ao verbo “descer” que é mostrado em outras passagens. Embora Jesus tenha vindo ao mundo em forma visível em outras ocasiões no Antigo Testamento (geralmente quando é dito “o anjo do Senhor” está falando dele, e não de “um anjo do Senhor”), o verbo “descer” costuma ser aplicado à sua vinda em carne.
(Jo 6:42) “E diziam: Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?”.
Agora, se quiser mesmo viajar um pouco mais no assunto, basta ler o que Jesus diz a Nicodemos:
(Jo 3:13) “Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu”.
Aí ele fala em subir, descer e estar no céu no mesmo momento em que falava com Nicodemos. Como podia ele ter descido à terra e continuar no céu? Podia, porque ele é Deus eterno, que habita a eternidade e não está sujeito ao tempo, que depende da existência da matéria.
Deus não está sujeito ao tempo e ao espaço, mas agora temos Jesus em um corpo material no céu, porém diferente da matéria que conhecemos, já que com esse corpo ele podia entrar num cômodo com as portas fechadas, comer na presença dos discípulos e ainda subir ao céu.
Talvez depois de explicar isso ao cético que questionou você sobre a passagem você possa terminar dizendo a ele: “Elementar, meu caro Watson”.
Quer um conselho? Não perca tempo com os céticos, porque é isso que são: céticos. Esse que você menciona é capaz de dizer absurdos como “a ciência nunca provou que Abraão existiu”, como se algo só existisse se fosse provado. Que eu saiba a ciência nunca fez um estudo aprofundado para provar que eu existo, portanto até que isso aconteça em alguma universidade americana eu não existo.
Seguindo o mesmo raciocínio, todos os dias a ciência prova a existência de novas estrelas que simplesmente não existiam ontem.
Céticos são como a vovó cética cuja história li em algum lugar. Seus netos ficaram animados quando desceu um helicóptero da Força Aérea no pequeno vilarejo do nordeste e correram levar a avó para o terreno onde estava a máquina voadora. Explicaram para ela que as pessoas estavam entrando no helicóptero que em alguns minutos subiria nos ares.
— E isso lá sobe? — perguntou a vovó cheia de ceticismo.
Os rotores começaram a girar e o helicóptero alçou voo. Os netos olharam para a avó com aquele olhar de “E agora, acredita?”. Ela não se fez de rogada. Com o mesmo ceticismo de antes simplesmente questionou:
— E isso lá desce?
*
Um cristão pode pertencer à maçonaria?
Considerando que o cristão não vive sob uma lei, mas é uma pessoa nascida de novo pela fé no Salvador e Senhor Jesus, você não encontrará na Bíblia coisas como “Não serás maçom” ou “Não comerás carboidratos”. Mas o cristão realmente salvo por Cristo tem o Espírito Santo para guiá-lo e dar a ele discernimento do que é ou não agradável ao seu Salvador.
No caso da maçonaria a questão é muito simples para mim. Eu não preciso mergulhar no conhecimento da maçonaria e analisar cada ritual, símbolo ou escrito daquela organização para saber que meu lugar como cristão não é no seu meio. Aliás, não é preciso conhecer em detalhes todas as formas de mal para evitá-los. Basta conhecer o bem. Quando você viaja, você não estuda os desvios no mapa. Você estuda o caminho.
Antes de minha conversão eu estive envolvido com filosofias orientais, espíritas e esotéricas e acreditava piamente numa salada de teorias que sempre tinham um ponto em comum: a evolução do ser humano por seus próprios esforços. Então Deus me mostrou pelo evangelho que eu era um pecador perdido, incapaz de mover uma palha em prol de minha evolução. Em 1978 me converti.
Embora tenha me envolvido com muitas coisas espiritualistas antes de minha conversão, não fazia ideia do que era a maçonaria, apesar de ter nascido na esquina do templo maçom de minha cidade. Tudo o que sabia eram as histórias que os meninos contavam uns para os outros sobre aquele templo, e eram sempre coisas do tipo rituais macabros de sacrifícios de bodes, gente que se deitava dentro de caixões e homens vestidos com um aventalzinho e lutando com espadinhas. Obviamente muito daquilo não passava de lenda.
Uns dois anos depois de minha conversão ganhei de um homem que era diácono da igreja presbiteriana e maçom um pacote de Novos Testamentos dos Gideões que ele havia guardado durante muitos anos no forro de sua loja. Fiquei feliz com o presente que pretendia distribuir. Era um enorme embrulho de jornal amarrado com barbante, extremamente empoeirado, que depois descobri tinha sido a festa dos cupins. Por ter ficado durante anos esquecido num forro, os livros estavam completamente furados por cupins e só consegui aproveitar alguns.
Acontece que, embrulhado com os Novos Testamentos, descobri uma série de livretos numerados e assinados que eram basicamente os procedimentos internos da maçonaria. Por ter vindo de um passado de espiritualismo e esoterismo, logo vi que o conteúdo dos livretos não era diferente daquela ladainha de auto evolução na qual acreditei durante anos. Nem me lembro mais do conteúdo dos livretos, exceto de um que dava instruções de como celebrar uma ceia com pão e vinho.
É claro que ali o significado girava em torno da ideia de fraternidade, irmandade, comunhão uns com os outros, etc., mas logo pensei: Como poderia um cristão verdadeiro, que participa da ceia do Senhor para lembrar sua morte na cruz representada no pão e no vinho, participar daquela caricatura de ceia?
Destruí aquele e os outros livretos com a convicção de que estava diante de algo que nada tinha a ver com um cristão genuíno. Como disse, não preciso conhecer as profundezas de um erro para saber que é um erro, assim como não preciso beber um litro de vinagre para saber que é vinagre. Basta ler o rótulo.
O que diz a Bíblia sobre “irmandades”, “fraternidades” e coisas semelhantes? (Jo 1:12) “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus”.
Este é o único fundamento de filiação e irmandade disponível para o ser humano: receber a Jesus como Salvador e Senhor para ser transformado em filho de Deus. Portanto, os homens não são irmãos, como prega a maçonaria, mas apenas seres criados por um mesmo Deus. O computador no qual escrevo não é irmão de outro da mesma marca. Eles apenas saíram da mesma fábrica. É apenas depois de nascer de novo que nos tornamos filhos de Deus, passamos a fazer parte da família de Deus, e temos o privilégio de chamar a deus de PAI. Antes disso não.
Aliás, para um judeu nos tempos de Jesus era inconcebível alguém chamar a Deus de Pai (Jesus foi acusado de heresia por isso), e experimente hoje chamar a Deus de Pai dentro de uma mesquita muçulmana para ver a reação das pessoas ali.
Agora, como pode um cristão verdadeiro se filiar a uma “irmandade” composta por incrédulos, alguns declaradamente seguidores de religiões e doutrinas anticristãs, e chamá-los de “irmãos”? Como pode ter comunhão em uma caricatura da ceia que Jesus instituiu? Com quem ele pensa que está brincando por tratar de maneira tão leviana aquele que o salvou?
Mais uma vez, basta saber muito pouco para ter a certeza de que a maçonaria não é lugar para um cristão verdadeiramente salvo por Jesus. Basta saber, por exemplo, isto:
(2 Co 6:14-18) “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso”.
O “jugo” é aquilo que em algumas regiões rurais no Brasil é chamado de “canga”, aquela peça de madeira que é colocada sobre o pescoço de dois animais de carga quando atrelados a um arado ou carroça. No Antigo Testamento Deus proibiu que os judeus atrelassem animais diferentes sob um mesmo jugo, e aqui o apóstolo mostra a aplicação prática daquela ordenança. Um boi e um cavalo, por exemplo, têm passos diferentes e trabalharem juntos pode ser um desastre. Colocar também animais de diferentes alturas, como um cavalo e um jumento, também não traria bons resultados.
Como então podem um cristão e um incrédulo andarem “irmanados” e dizendo-se filhos de um mesmo Pai? Só consigo conceber isso para cristãos com duas bocas: uma para chamar de “irmãos” os outros salvos por Cristo, e outra para chamar de “irmãos” os incrédulos com os quais se reúne no templo maçom onde, obviamente, seus “irmãos em Cristo” não terão acesso a menos que assumam um lugar nessa irmandade paralela.
Conheço alguns irmãos em Cristo que se converteram e abandonaram a maçonaria justamente por entenderem que nada tinham a fazer ali. Um deles conta o testemunho de sua conversão. No texto abaixo ele conta em um e-mail por que saiu da maçonaria:
Hoje já não pertenço ao quadro da Maçonaria. Depois de fazer parte daquela fraternidade por mais de 20 (vinte) anos, solicitei o meu afastamento definitivo.
A razão deste afastamento é que ela não comunga com a minha crença religiosa. Há muitas divergências entre os ensinos da Maçonaria e os da Palavra de Deus (a Bíblia). Dentre muitos, encontramos a crença na imortalidade da alma e na reencarnação, pois nos ensina a Maçonaria que o homem evolui por seus méritos e seus esforços, sem a necessidade do sacrifício de Jesus Cristo que morreu para nos salvar. Com isto, o nosso Salvador e a importância de seu sacrifício são totalmente descartados.
Outra coisa que você facilmente verificará, é que as obras da Maçonaria são feitas com muito alarde, ou seja, quando se faz algo em prol de alguém necessitado, ou mesmo uma ajuda qualquer, eles fazem uma grande propaganda para que todos vejam o que está sendo feito. Isto é contrário às palavras de Cristo: ‘Mas quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita’ (Mateus 6:3). Se você se der ao trabalho de ler algumas obras Maçônicas, verificará que existem muitas coisas erradas, vistas pela ótica do autêntico Cristianismo.
Portanto, se o amigo é Cristão, aconselho, com base em minha experiência, que nunca entre na Maçonaria, pois, como eu, um dia irá se arrepender. Digo isto, porque hoje sou um homem arrependido por ter feito parte daquela organização, não pelas pessoas que fazem parte dela, mas pelos seus ensinos.
Devo também acrescentar que muitos dos Maçons são pessoas de boa vontade, muitos são sinceros, muitos são bem intencionados, muitos são religiosos, porém estão enganados. Diz-nos a Bíblia que “há caminhos que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte”. (Provérbios 14:12). Também digo que tenho muitos amigos que fazem parte da Maçonaria, mas isto não quer dizer que corrobore com eles de suas crenças.
*
Por que Elias precisou responder duas vezes?
Sua dúvida é se existe mais alguém além do Senhor fazendo perguntas a Elias em 1 Reis 19:9-18, uma vez que a mesma pergunta é repetida duas vezes e ele precisa repetir também sua resposta.
(1 Rs 19:9-10) “E ali entrou numa caverna e passou ali a noite; e eis que a palavra do Senhor veio a ele, e lhe disse: Que fazes aqui Elias? E ele disse: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada, e só eu fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem”.
Entendo que é o Senhor quem pergunta duas vezes a Elias porque ele estava se vangloriando de ser o único que permaneceu fiel a Deus. Era como se Deus lhe desse outra chance e dissesse “Ok, Elias, vou tentar de novo. Vamos ver como você responde desta vez”:
(1 Rs 19:13) “E sucedeu que, ouvindo-a Elias, envolveu o seu rosto na sua capa, e saiu para fora, e pôs-se à entrada da caverna; e eis que veio a ele uma voz, que dizia: Que fazes aqui, Elias?”.
Mas Elias repete sua afirmação de autoconfiança e ainda se considera único.
(1 Rs 19:14) “E ele disse: Eu tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada, e só eu fiquei; e buscam a minha vida para ma tirarem”.
A pretensão de Elias, em se achar único e insubstituível, pode ter lhe custado o privilégio de continuar executando a obra de Deus. Veja que é aqui que Deus diz que ele terá um substituto, Eliseu, além de ordenar a ele que escolha um rei gentio e um rei de Israel para continuarem cumprindo os desígnios de Deus.
Sempre que nos achamos alguma coisa na obra do Senhor, Deus mostra que não somos insubstituíveis chamando outros para fazer o trabalho.
(1 Rs 19:15-16) “E o Senhor lhe disse: Vai, volta pelo teu caminho para o deserto de Damasco; e, chegando lá, unge a Hazael rei sobre a Síria. Também a Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei de Israel; e também a Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar”.
Além disso, Deus diz a ele claramente que Elias não é o único fiel que restou:
(1 Rs 19:18) “Também deixei ficar em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda a boca que não o beijou”.
Apesar de o Senhor ter designado Elias para ungir Hazael rei da Síria, aparentemente ele não fez isso, pois é Eliseu quem acaba anunciando isso a Hazael:
(2 Rs 8:13) “E disse Hazael: Pois, que é teu servo, que não é mais do que um cão, para fazer tão grande coisa? E disse Eliseu: O Senhor me tem mostrado que tu hás de ser rei da Síria”.
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Quais profissões são lícitas para um cristão?
Você pergunta se é lícito um cristão ter um estabelecimento comercial (bar, restaurante, banca de revista, etc.) onde haja venda de cigarros, bebidas alcoólicas, prática de jogos de azar ou venda de livros e revistas pornográficas.
A mesma dúvida têm cristãos envolvidos em muitas profissões, como a de policial, por exemplo, que é uma profissão lícita, mas que pode envolver tirar a vida de alguém. A Bíblia não fala nada sobre cigarros, mas será que uma fábrica de cigarros é o lugar para o cristão trabalhar? E uma fábrica de papel que acabará fornecendo matéria prima para cigarros? As respostas não são simples.
O cristão deve sempre buscar a direção do Senhor pensando em sua própria consciência e na consciência dos outros. Outro dia vi uma matéria sobre uma mulher cristã que trabalha de camareira em um motel. Na seção de comentários tinha cristãos contra e cristãos a favor. Será que ela deveria procurar outro emprego? Esta é uma questão que ela deve colocar diante do Senhor, pois ainda que não tenha qualquer problema de consciência com isso, ela pode estar escandalizando os que têm.
Há coisas que são definitivamente contrárias à vontade de Deus, como vender material pornográfico ou jogos de azar. Mas há muitas áreas cinzentas que não são tão simples de se lidar. Por exemplo, um cristão dono de supermercado não poderia deixar de vender bebidas alcoólicas porque qualquer cliente irá esperar encontrá-las ali. A decisão deve ser tomada por ele.
Eu, por exemplo, não faço palestras para indústrias de cigarro, armas, munições, partidos políticos, igrejas e empresas pertencentes a organizações religiosas. Estes foram os limites que coloquei em minha profissão de palestrante e creio que cada cristão deve fazer o mesmo em sua profissão.
Talvez você pergunte por que não incluí fabricantes de bebidas em minha lista. Eu teria dificuldade em trabalhar para um fabricante de bebidas destiladas, já que eu mesmo não bebo destilados, mas como costumo beber vinho como acompanhamento de uma refeição, e por encontrar o vinho como parte dos alimentos bíblicos, não incluí o genérico “bebidas” em minha lista. Mas pode ter certeza de que muitas vezes sou obrigado a tratar caso a caso para não violar minha consciência para com Deus.
Veja outra experiência que tive a respeito disso. Há uns 30 anos eu tive uma livraria cristã numa sala anexa ao escritório que tinha como arquiteto. O objetivo não era comercial, mas apenas de criar um ponto de evangelização. Foi a maior dificuldade levá-la adiante, porque eu precisava ler cada livro antes de colocar à venda. Como a grande maioria da literatura evangélica hoje é puro lixo, você já deve imaginar que a livraria só me dava prejuízo.
Talvez a passagem abaixo seja de ajuda:
(1 Co 7:17-24) “E assim cada um ande como Deus lhe repartiu, cada um como o Senhor o chamou. É o que ordeno em todas as igrejas. É alguém chamado, estando circuncidado? fique circuncidado. É alguém chamado estando incircuncidado? não se circuncide. A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus. Cada um fique na vocação em que foi chamado. Foste chamado sendo servo? não te dê cuidado; e, se ainda podes ser livre, aproveita a ocasião. Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de Cristo. Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens. Irmãos, cada um fique diante de Deus no estado em que foi chamado”.
*
A Bíblia só fala de inferno?
Enquanto saboreava meu café vi seu e-mail e tive minha curiosidade aguçada. Nele você dizia coisas como “sua mente ainda não está inteiramente aberta à espiritualidade…”, “a Bíblia refere-se muito mais ao inferno do que ao Reino…” e que eu deveria me aprofundar nos evangelhos apócrifos “que falam mais sobre o Reino prometido”.
Considerando que em 32 anos de convertido e lendo a Bíblia praticamente todos os dias eu nunca tinha percebido o que você percebeu, achei melhor verificar quantas vezes a Bíblia se refere ao céu e ao inferno. Como deixei passar isso todos esses anos?!
Então fiz uma busca no Novo Testamento versão Almeida Revista e Atualizada e encontrei:
Céu = 185 ocorrências
Céus = 81 ocorrências
Paraíso = 3 ocorrências
Total = 269 ocorrências
Inferno = 13 ocorrências
Lago de fogo = 5 ocorrências
Hades = 10 (lugar dos mortos) ocorrências
Total = 28 ocorrências
Você está enganado. O Novo Testamento fala quase dez vezes mais de um lugar de bênção e salvação do que de maldição e condenação. Uma busca no Antigo Testamento não fará muito sentido, já que ali a maioria das bênçãos e maldições era terrena. Aliás, no Antigo Testamento não há uma bênção celestial sequer, pois a nenhum judeu do A.T. foi prometido o céu. Curiosamente, quem mais fala de inferno e condenação é Jesus nos evangelhos.
Ainda que minha busca tivesse dado um resultado oposto, com dez vezes mais condenação do que bênção, eu teria me agarrado às bênçãos, e acho que isso não é por eu ser otimista, mas porque Deus as preparou de bandeja para quem quiser crer. Como esta, por exemplo:
(Jo 3:16-18) “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus”.
Considerando que o homem já está julgado (condenado) por natureza, existe só uma opção para ele: ser salvo. E Deus tornou essa opção o caminho mais fácil, já que Cristo fez tudo o que precisava ser feito. Havia um preço e ele pagou na cruz. Agora vale o que está aqui:
(Jo 5:24) “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida”.
Quem ouve e crê, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Que caminho melhor você tem do que este para me mostrar?
Quanto a uma suposta “ligação amorosa entre Jesus e Madalena” que você mencionou em seu e-mail, talvez você não tenha entendido bem quem é Jesus.
(1 Tm 3:16) “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória”.
*
A igreja deve celebrar o casamento de gays?
Sua pergunta tem a ver com a celeuma causada por uma lei que, se aprovada, daria à união de duas pessoas do mesmo sexo o mesmo status do casamento de um homem com uma mulher. Primeiro é preciso definir o que é o matrimônio, e para isso precisamos recorrer à Bíblia.
(Mt 19:4-6) “Ele, porém, respondendo, disselhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? assim não são mais dois, mas uma só carne. portanto, o que deus ajuntou não o separe o homem”.
O ensino do Senhor Jesus é muito claro: no plano original de Deus ele fez macho e fêmea para se unirem formando uma só carne. Trata-se de duas pessoas de diferentes sexos unidas em algo que “Deus ajuntou”. Aquilo que é chamado de “casamento gay” não tem nenhuma dessas características: não são pessoas de sexos diferentes e obviamente não é algo que Deus ajuntou, pois não faz parte de seu plano original.
Existe também o lado simbólico da união homem-mulher, e aprendemos que quando Deus une um homem e uma mulher ele tem em vista algo muito mais elevado: o matrimônio é uma figura ou símbolo da união entre Cristo e sua noiva, a Igreja.
(Ef 5:25-32) “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela… Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de cristo e da igreja”. (Igreja é o conjunto de TODOS os salvos por Cristo).
Não é preciso ser muito inteligente para perceber que o matrimônio do qual Deus fala em sua Palavra nada tem a ver com a união entre pessoas do mesmo sexo que querem chamar de “matrimônio”. Podem chamar do mesmo nome, mas nunca será o que Deus instituiu como tal.
Mas sua dúvida vai mais longe e você pergunta se o Estado poderá obrigar as “igrejas” a celebrarem casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Bem, César pode fazer o que bem entender com as coisas que são suas. Se César quiser criar leis que garantam igualdade de direitos a pessoas do mesmo sexo que vivem juntas, isso é com ele.
Mas o que diz a Palavra de Deus a respeito de sua pergunta, isto é, se igrejas poderão ser obrigadas a celebrar essas uniões? Bem, o fato é que em nenhum lugar da Palavra de Deus você encontra alguma igreja celebrando um casamento. Deus nunca deu a homem algum a autoridade de unir um casal em nome de Deus. Isso foi inventado pelos homens, portanto se existem hoje organizações cristãs chamadas “igrejas” fazendo isso, estão cometendo um erro, pois não há fundamento bíblico para o que se costuma chamar de “casamento religioso”.
A função do juiz de paz é outra história. No Brasil ele tem autoridade para declarar duas pessoas marido e mulher, porque lhe foi delegada tal autoridade e deve ser respeitada. Por isso todo casal cristão que se sujeita à Palavra de Deus e pretende ser unido por Deus em matrimônio deve procurar “casar-se no civil” para estar em conformidade com a lei.
Vamos voltar no tempo e visitar uma assembleia de irmãos reunidos ao nome do Senhor Jesus no primeiro século. Eles não tinham denominações, não tinham templos de pedras e não tinham um clero, mas cada um era um sacerdote, era uma pedra viva, e era conhecido apenas pelo nome de Jesus ou “cristão”. Digamos que a autoridade da época criasse uma lei que obrigasse as igrejas a celebrarem casamentos entre pessoas do mesmo sexo. O que esses cristãos responderiam?
— “Desculpe-nos, dona Autoridade, mas nós não celebramos casamentos nem de pessoas de diferentes sexos, por que teríamos de celebrar casamentos de pessoas do mesmo sexo?!”.
Isso não mudou. Hoje Deus continua unindo homens e mulheres em todo o mundo, independente do que algumas organizações chamadas “igrejas” ou governos pensem do assunto. Nos países como o Brasil existe o casamento civil ao qual os cristãos devem se submeter. Em alguns países africanos existem matrimônios polígamos, aos quais os cristãos obviamente não irão imitar. Ainda que você encontre a poligamia na Bíblia, isso foi invenção de Lameque, sexta geração dos descendentes de Caim. Todos os polígamos da Bíblia (Davi, Salomão, etc.) estavam desobedecendo a Deus e tiveram problemas resultantes de sua poligamia.
Agora falando especificamente de todo o alarde que está sendo criado em torno da tal lei, que supostamente obrigaria as “igrejas” a celebrarem casamentos de pessoas do mesmo sexo, essa lei teria um efeito nulo sobre os cristãos se essas “igrejas” simplesmente percebessem que não devem celebrar casamento de espécie alguma. É Deus quem une. “O que Deus ajuntou…”.
Quanto ao casamento civil, no qual o Juiz de Paz faz a união, que deixem isso para o Juiz de Paz resolver. Afinal, o cristão não deve se intrometer naquilo que é de César, mas apenas dar a César o que lhe for devido, ou seja, respeito e impostos. Nos países em que a lei inclui a poligamia, que inclua. Os cristãos nesses países não terão mais de um cônjuge. Nos países onde a lei aceita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, seus dirigentes que respondam diante de Deus por essa prática contrária à natureza (Romanos 1:26-27). Aos cristãos desses países cabe tão somente evitarem tal prática contrária à Palavra de Deus, como os cristãos nos países polígamos devem evitar a poligamia para si mesmos.
Eu aprendi que, quando o mágico faz seu número de mágica, não devemos ficar olhando para a mão que ele insiste em mostrar. É na outra que o truque está sendo realizado. No caso dessa gritaria geral de evangélicos e católicos a respeito da legalização ou não do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o truque está na outra mão.
Que truque é esse? Satanás está habilmente conseguindo unir cristãos genuínos com alguns que se dizem cristãos, porém são idólatras, hereges, avarentos, etc. Deus é contra o homossexualismo ou qualquer tipo de imoralidade contrária aos padrões que ele estabeleceu para o homem e a mulher, mas pode ter certeza de que na lista das prioridades de Deus a idolatria vem antes da imoralidade.
(Êx 20:3-5) “Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam”.
Esta comoção geral de católicos e evangélicos contra a tal lei que permitiria legalizar a união entre pessoas do mesmo sexo, criou uma situação que me fez lembrar o livro “The Screwtape Letters” de C. S. Lewis (publicado em português como “Cartas de um diabo a seu aprendiz”). O livro é uma ficção que descreve como seria a correspondência entre um “diabo maior” com um “diabo aprendiz” sobre o que fazer para enganar os homens. Vou plagiar o livro e criar aqui uma carta extra:
Diabo-mor: Meu querido aprendiz, inventei um truque eficaz para os cristãos desonrarem seu Deus. Vamos criar uma lei que gere celeuma em torno do que vamos chamar de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Os cristãos não vão perceber que não existe na Bíblia uma união matrimonial além daquela na qual Deus une um homem e uma mulher. Como os próprios cristãos inventaram “casamentos religiosos” feitos por igrejas, pastores, sacerdotes, etc. vão achar que estamos falando desse tipo de coisa. Se na Palavra de Deus diz que Deus só une um homem com uma mulher, então Deus não vai unir algo que não cumpra tais requisitos, não é mesmo?
Diabo-aprendiz: Realmente, mestre, mas ainda não entendi o que pretende fazer.
Diabo-mor: Os cristãos ficarão tão cegos e ocupados com essa tal lei, que permite aquilo que não é o matrimônio que Deus criou, que começarão a tentar interferir nas coisas de César como se eles próprios fossem do mundo. Vão se esquecer do que Jesus disse, “não sois do mundo” (Jo 15:19), e de que o próprio Jesus jamais interferiu nas questões de César e de sua política, nem mesmo para salvar a própria vida! Eles perderão de vista qual é a verdadeira cidadania deles, que o apóstolo Paulo mencionou com estas palavras: “A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente um Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3:20 — NVI).
Diabo-aprendiz: Brilhante, mestre! E depois?
Diabo-mor: Depois eles vão perceber que uma andorinha sozinha não faz verão, e precisarão se unir, fechando os olhos para suas diferenças, algumas banais, mas outras muito sérias. Sabe aquele ecumenismo que eu tenho tentado fazer para criar uma grande colcha de retalhos? Pois é, eles nunca perceberam que Deus não quer unir os cristãos divididos, mas quer apenas que abandonem suas divisões e voltem ao que era no princípio. Como não veem isso, cristãos das mais diferentes confissões se unirão, fechando os olhos para o fato de alguns não crerem na divindade de Jesus, outros adorarem ídolos, e mais outros usarem o nome de Deus só para arrancar dinheiro do povo. Tudo isso que Deus odeia — heresias, idolatrias e avareza — deixará de ser importante para eles, pois só pensarão no tal casamento que nem mesmo é casamento na Bíblia, porque não foi previsto no plano original de Deus. E o que Deus não une, não está unido para Deus. Simples assim.
Diabo-aprendiz: Mestre, excelente ideia! Eles vão ficar olhando para o lado errado e nem perceberão que Deus abomina todos esses idólatras, hereges e mercadores da fé, que marcharão lado a lado com cristãos genuínos!
Diabo-mor: Você se lembra do que nós tentamos fazer quando os judeus voltaram do exílio para reconstruir os muros de Jerusalém e seu templo? Quero dizer, já tentamos unir os verdadeiros com os falsos?
Diabo-aprendiz: Xi, mestre, minha memória está ruim. O que foi mesmo?
Diabo-mor: Vou refrescar sua memória lendo do próprio livro que os cristãos usam, a Bíblia. Pelo jeito nem você e nem eles têm o costume de ler este livro… Deixe-me ver… Aqui está:
“Ouvindo, pois, os adversários de Judá e Benjamim que os que voltaram do cativeiro edificavam o templo ao Senhor Deus de Israel, chegaram-se a Zorobabel e aos chefes dos pais, e disseram-lhes: Deixai-nos edificar convosco, porque, como vós, buscaremos a vosso Deus; como também já lhe sacrificamos desde os dias de Esar-Hadom, rei da Assíria, que nos fez subir aqui. Porém Zorobabel, e Jesuá, e os outros chefes dos pais de Israel lhes disseram: Não convém que nós e vós edifiquemos casa a nosso Deus; mas nós sozinhos a edificaremos ao Senhor Deus de Israel, como nos ordenou o rei Ciro, rei da Pérsia.” (Ed 4:1-3).
Diabo-aprendiz: É mesmo, mestre, os inimigos se ofereceram para ajudar, porque assim poderiam desviá-los da verdade e fazê-los cair em idolatria, mas eles não aceitaram a ajuda deles. Era mais importante permanecerem fiéis ao seu Deus do que se colocarem em jugo desigual com idólatras. Eu odiei essa atitude deles! Agora estou adorando esse seu plano para os cristãos! Eles vão cair que nem patinhos.
Diabo-mor: Depois que o muro estava pronto, eu ainda tentei outra vez acabar com eles. Como não dava para entrar na cidade, convidei os judeus para saírem para conversarem com meus emissários em campo aberto, no meu território. Veja aqui o que aconteceu:
“Sucedeu que, ouvindo Sambalate, Tobias, Gesem, o árabe, e o resto dos nossos inimigos, que eu tinha edificado o muro, e que nele já não havia brecha alguma, ainda que até este tempo não tinha posto as portas nos portais, Sambalate e Gesem mandaram dizer-me: Vem, e congreguemo-nos juntamente nas aldeias, no vale de Ono. Porém intentavam fazer-me mal. E enviei-lhes mensageiros a dizer: Faço uma grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse, e fosse ter convosco? E do mesmo modo enviaram a mim quatro vezes; e da mesma forma lhes respondi.” (Ne 6:1-4).
Diabo-aprendiz: É, aquela também não pegou, né mestre?
Diabo-mor: Minha última tentativa foi usar mulheres de outros povos para seduzirem os judeus e alguns acabaram se casando com elas e com isso eu quase consegui destruí-los, mas Neemias descobriu meu plano no último capítulo do livro que ele escreveu e eu fiquei no prejuízo.
Diabo-aprendiz: Mas agora já vi que vamos ter sucesso, não acha mestre?
Diabo-mor: Tenho certeza disso. Deus será extremamente desonrado com essas associações que os cristãos estão fazendo, reunindo o que existe de pior em termos de idolatria, heresias e avareza para lutarem em prol de uma causa comum. Vamos continuar dando corda que isso vai abrir caminho para abandonarem de vez a verdade. Sempre que pessoas de diferentes crenças se unem elas precisam passar a régua pelo menor denominador comum. Aí a apostasia vai correr solta, quando estiverem dando menor valor e importância às coisas que Deus considera as mais importantes.
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A única Bíblia correta é a King James?
Quando surgem tantas traduções duvidosas e espúrias da Bíblia não é de se espantar que alguns saiam em defesa de uma tradução mais próxima dos manuscritos originais. O problema é quando essa defesa transforma uma tradução na única confiável (como tal) e acaba criando em si mesma uma heresia.
Muitos erros começaram com boas intenções de preservar a verdade, e é o caso do “Maria mãe de Deus” do catolicismo, que foi uma afirmação para tentar conter o erro de alguns que consideravam que Jesus não poderia ser Deus por ter nascido de uma mulher.
O autor do “Livro das Respostas”, Dr. Samuel Gipp, o qual leva o título de “Doutor em Teologia” faz parte do movimento que advoga a crença da “King James only”, ou seja, que consideram que Deus preservou sua Palavra única e tão somente na tradução em inglês King James, que consideram a única tradução inspirada por Deus.
Isso é típico de pessoas centralizadas na própria cultura, que enxergam o resto do mundo como… O resto do mundo. Foi uma miopia assim que Hudson Taylor combateu quando foi expulso da missão britânica que o enviou à China ao decidir vestir-se como os chineses, e não de terno e cartola como os ingleses.
Veja alguns absurdos que o autor coloca no livro:
“Ninguém pode desprezar o fato de que Deus não teve o menor resquício de interesse em preservar o “original”, visto como ele havia sido copiado e sua mensagem entregue. Então, por que deveríamos colocar mais ênfase nos originais do que o próprio Deus? Essa ênfase é claramente anti-escrituristica. Desse modo, se temos os textos dos originais preservados na Bíblia King James, não temos necessidade alguma dos “originais”, mesmo que estivessem disponíveis”.
Percebe a bobagem? “se temos os textos dos originais preservados na Bíblia King James, não temos necessidade alguma dos originais”. Imagine um cartório dizer que sua cópia é tão fiel ao original que se alguém apresentar um original diferente é ele que está errado, não a cópia.
Segundo o autor, o que autentica os manuscritos é a tradução King James, e não o contrário, como se o cartório decidisse autenticar qual é o original de um documento comparando-o com sua cópia perfeita. Qualquer original diferente da cópia seria assim descartado como falso!
“Os manuscritos representados pela Bíblia King James possuem textos da mais alta qualidade. Então, podemos ver que os melhores manuscritos são aqueles usados pelos tradutores Versão King James”.
Quer mais? Aqui vai:
“A Bíblia King James (1611) deve ser realmente a exata Palavra de Deus pois é a única impressa no mundo, atualmente com a palavra correta.”
“Ele não era um crente da Bíblia King James e, portanto o seu material não vai ao encontro da Versão Autorizada”.
“O fato é que a Bíblia King James foi bastante boa para Paulo. Mas, por enquanto, eu gostaria de mostrar que ela é a única Bíblia que Lucas iria usar”.
“Então vemos que se Lucas, o escritor do evangelho de Lucas e do Livro de Atos dos Apóstolos pudesse examinar uma Bíblia King James e uma New American Standard Version iria declarar que a NASV não passa de uma fraude e prontamente iria proclamar a Bíblia King James como autêntica. Bem, com toda franqueza, o que é bom para Lucas também é bom para mim”.
“Enquanto você pondera sobre essas importantes perguntas, notaremos que Jesus também citou do que parece ter sido uma Bíblia King James”.
“Um verdadeiro crente bíblico pode dizer com razão: “bem se a Bíblia King James foi bastante boa para os apóstolos Pedro e Paulo e também para o Senhor Jesus Cristo, então é bastante boa para mim”.”
“Então vemos, pelo exemplo de nossa Bíblia, que um homem pode ter Deus trabalhando através dele sem o saber. Do mesmo modo, Deus poderia facilmente ter inspirado os tradutores da Bíblia King James sem que eles tivessem conhecimento disso”.
“Assim podemos ver que a Bíblia King James, sem dúvida, é a infalível e perfeita Palavra de Deus, independente do que alguém tenha usado para levar você a Cristo. De fato ela ainda seria a perfeita e infalível Palavra e palavras de Deus, mesmo que não tivéssemos sido salvos”.
“Assim vemos que é a King James, a Bíblia perfeita e preservada de Deus a qual tem exatamente preservado a leitura dos originais”.
“A maioria das pessoas que afirmam ser capazes de encontrar fundamentos em outras versões esquecem que os próprios fundamentos que imaginam poder encontrar foram originalmente a eles ensinados numa uma Bíblia King James”.
“Muitos cristãos, por conta própria, chegaram à conclusão de que a Bíblia King James é a absoluta e perfeita Palavra de Deus”.
“Pergunta – Quantos erros são encontrados na Bíblia King James? Resposta – Nenhum”.
“… se você foi convencido por alguém de que a Bíblia King James contém erros, apesar dos fatos, então é porque aceitou aquela tese por uma só razão: seu amor e lealdade aos antagonistas da Bíblia. O crítico pode ser seu pai, irmão, pastor, diretor da mocidade, professor de seminário, ou quem quer que você ame muitíssimo para confrontar ou permanecer firme ao lado Bíblia”.
Em minha opinião, esse estilo de oratória é típico de gurus e líderes de seitas. Perceba que ele considera alguém que diga existir erro na tradução King James é alguém que não acredita na Bíblia de forma alguma.
Eu considero a King James uma tradução excelente (apesar de não ser especialista em traduções), e é equivalente à Almeida Revista e Corrigida que uso para minhas leituras. Também uso a New Translation de J. N. Darby e outras traduções como a NVI para comparar e esclarecer certas passagens. Mas em todas elas podemos encontrar problemas, geralmente na hora de entender a linguagem utilizada. Veja um exemplo:
Almeida (Jr 2:2) “Vai, e clama aos ouvidos de Jerusalém, dizendo: Assim diz o Senhor: Lembro-me, a favor de ti, da devoção da tua mocidade, do amor dos teus desposórios, de como me seguiste no deserto, numa terra não semeada”.
NVI (Jr 2:2) “Vá proclamar aos ouvidos de Jerusalém: Eu me lembro de sua fidelidade quando você era jovem: como noiva, você me amava e me seguia pelo deserto, por uma terra não semeada”.
Considerando que não usamos mais a palavra “desposórios”, fica mais fácil entender de que se trata esta passagem pela versão NVI.
Veja esta passagem de Esdras 10:15, que não deixa clara na versão Corrigida se eles foram contra ou a favor:
Almeida Revista e Corrigida “Porém somente Jônatas, filho de Asael, e Jazeías, filho de Ticva, se puseram sobre este negócio; e Mesulão e Sabetai, levita, os ajudaram”.
Católica “Só Jonatã, filho de Azael, e Jaasiaz, filho de Técua, se apresentaram para contradizer essa ordem, apoiados por Mosolão e Sebetai, o levita”.
NVI “Somente Jônatas, filho de Asael, e Jaseías, filho de Ticvá, apoiados por Mesulão e o levita Sabetai, discordaram”.
Darby “Only Jonathan the son of Asahel and Jahzeiah the son of Tikvah stood up against this; and Meshullam and Shabbethai the Levite helped them”.
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Posso usar música para evangelizar?
Você está certíssimo quando diz que qualquer coisa pode se transformar em idolatria, seja ela música, blog, etc. Eu mesmo tenho vigiado para evitar que meus vídeos e blogs se transformem em um ídolo. Às vezes alguns olhares reprobatórios de alguns irmãos me ajudam a manter essas coisas domesticadas.
Quando meus filhos eram pequenos e morávamos em São Paulo com um orçamento bem pequenininho, senti saudades de meus tempos de aeromodelista, hobby que pratiquei até mais ou menos os 18 anos. Mas com o orçamento apertado, como justificar para minha esposa a compra de um aeromodelo, motor e tudo mais? Como justificar que iria deixá-la nos finais de semana tomando conta dos filhos pequenos enquanto eu estaria na pista de aeromodelismo do Ibirapuera me divertindo?
Simples! Decidi que o aeromodelismo poderia ser um excelente meio de evangelização se eu pintasse sob a asa do avião um “Cristo Salva”. Aí todos que olhassem para cima veriam. É claro que a bronca de minha esposa fez cair a ficha e eu percebi que aquilo nada mais era do que egoísmo de minha parte. Eu estava pensando em mim, não no evangelho, e estava usando a ideia de evangelizar como pretexto para voltar ao hobby.
A música e qualquer outra coisa pode ter o mesmo efeito sobre nós se nos deixarmos levar por ela ou tentarmos “santificar” nossa própria vontade, ou seja, tentar pintar de evangelismo algo que é, na verdade, nosso próprio desejo.
Não quero dizer com isso que Deus não possa usar alguma habilidade nossa ou coisa que gostamos de fazer para a sua glória. Claro que pode. No Antigo Testamento nós vemos Deus escolhendo os artistas que deveriam cuidar da decoração do tabernáculo (Êx 38:22-23). Vemos Davi escolhendo homens hábeis em conhecer os tempos e as estações para estarem ao seu lado no governo do Reino (1 Cr 12:32). E vemos todos os dias Deus usando a voz de uns para pregar, os pés de outros para levá-los até onde há necessitados da Palavra e a escrita de muitos para preservar o que Deus lhes ensina pelo Espírito.
Mas não devemos nos enganar, porque nosso coração é terrivelmente mesquinho e egoísta, e é dele que procedem todos os males que o Senhor descreveu, inclusive a vontade própria pintada com cores de santidade.
Quanto ao que você mencionou do carro de boi, isto é, levar o testemunho de Deus de uma maneira que o mundo costuma fazer, é preciso um pouco de cuidado na hora de aplicar este princípio a todas as situações. Na passagem em 2 Samuel 6 os israelitas decidiram trazer de volta a Arca da Aliança, resgatada das mãos dos filisteus, transportando-a à maneira dos filisteus.
Evidentemente aquilo estava completamente errado, pois havia instruções bem específicas de como transportar a Arca, e isso era para ser feito por meio de varais colocados nos ombros dos levitas. Na passagem eles a transportam em um carro de bois, contrariando a vontade de Deus. Por estar sendo carregada de maneira imprópria, a Arca pendeu e Uzá tentou ampará-la com as mãos, sendo morto no ato.
Digo que é preciso cuidado na hora de tentar aplicar a passagem a tudo, pois se o fizermos acabaremos concluindo que levar o evangelho, ou seja, o testemunho de Cristo neste mundo está limitado à pregação oral ou manuscrita. Não poderíamos usar impressos, já que é um meio inventado muitos séculos depois e amplamente utilizado no mundo, inclusive para pornografia. Não poderíamos usar calendários com fotos coloridas, pois é um meio também muito utilizado em propaganda. Não poderíamos usar rádio, TV, Internet, telefone, etc. porque tudo isso é a maneira que o mundo utiliza para comunicar suas ideias.
Creio que a lição da passagem pode ser aprendida e aplicada a muitas situações, mas é preciso sabedoria. Digo isto porque ali eles estavam usando uma maneira totalmente contrária às instruções precisas de Deus sobre o assunto. E se tivessem seguindo tim-tim por tim-tim as instruções de Deus poderiam errar em alguma outra parte. Por quê? Veja o exemplo da serpente de bronze. O próprio Deus ordenou que os israelitas a fizessem em Números 21, portanto ninguém poderia supor que existisse alguma coisa de errado em considerar aquele objeto santificado, isto é, separado para Deus. Porém os israelitas acabaram transformando aquilo em objeto de culto e ela precisou ser destruída em 2 Reis 18:4 porque levou o povo à idolatria.
Creio que se Deus tivesse permitido que a Arca estivesse por aí ela acabaria se transformando em um ídolo. Na Etiópia existe um templo onde seus sacerdotes dizem estar a Arca (embora nunca mostrem). Regularmente eles fazem uma procissão com uma réplica que é adorada pelo povo e aquilo, em termos de idolatria, nada fica devendo às procissões de Nossa Senhora Aparecida. Portanto o mal não está na coisa em si, mas naquilo que fazemos com ela. O ídolo, em si mesmo, nada é.
Quanto à música, existem muitos músicos profissionais que são cristãos, como também existem muitos operários e comerciantes cristãos. Cada um deverá exercer sua profissão na medida da sua consciência. Se o profissional perceber que seu olho ou mão o faz desviar, deve arrancá-lo, como no exemplo que o Senhor deu nos evangelhos.
Às vezes é possível adequar a profissão de modo a não desagradar o Senhor ou mesmo evitar um mau testemunho. Por exemplo, existe um campo amplo para músicos em propaganda (praticamente todo comercial de rádio ou TV tem música). Filmes, desenhos animados, cursos multimídia e até telejornais têm música de fundo. Há também ambientes com música ao vivo, como restaurantes e hotéis onde geralmente são tocadas músicas românticas (não há nada de errado com uma música romântica ou com o romantismo entre um homem e uma mulher, que é o tema de Cantares).
Cabe ao músico profissional cristão orar e pedir a direção do Senhor até onde deve ir em sua profissão. Isso vale para todas as profissões, pois as mesmas indagações terão um cristão que trabalha numa fábrica de cigarros ou armas, um comerciante que venda produtos prejudiciais ou que o faça de forma ilegal (às vezes chamamos de “comércio informal”), e um advogado ao defender um cliente ou promotor ao acusar um réu. Eu mesmo tenho que lidar com esses problemas de consciência, por isso hoje não atendo determinados segmentos (tabaco, armas, partidos políticos e organizações religiosas, incluindo suas rádios, TVs e editoras).
Sua dúvida é mais abrangente, pois inclui a ideia de evangelizar usando a música. Ore e, se perceber que é da vontade do Senhor, siga em frente. Mas fique atento para ver se esse desejo não é apenas pintar um “Cristo Salva” sob a asa do avião, como era no meu caso. Não queira santificar sua vontade própria, porque aí a coisa não vai funcionar.
Há muitos cristãos que visitam escolas, orfanatos, asilos e prisões e levam sua música como meio de atrair o interesse das pessoas para o evangelho que costumam pregar nessas ocasiões. Neste caso a música funciona mais como a foto colorida do calendário que tem versículos, ou como a abertura da conversa que o Senhor teve com a mulher na beira do poço, quando pediu a ela um copo de água, assunto que a interessava no momento (Jo 4), ou como o altar ao “Deus desconhecido” que Paulo usou para puxar conversa e pregar o evangelho aos gregos (At 17:23).
Nos dois casos foram utilizados elementos comuns ao dia-a-dia das pessoas apenas para chamar sua atenção para a mensagem que vinha depois. Isso, em comunicação e publicidade, é chamado de AIDA — Atenção, Interesse, Desejo, Ação. Chamamos a atenção da pessoa, que pode ser com uma música, uma foto bonita, um tema do interesse dela, etc. Depois despertamos seu interesse e desejo por nossa mensagem até levá-la a uma ação. Percebe que acabei de utilizar uma técnica utilizada na publicidade para explicar uma apresentação do evangelho?
Embora alguém possa chamar isso que acabo de fazer de “carro de boi”, não há como fugir do fato de que a comunicação humana se dá nestes estágios. A diferença é que, nas coisas de Deus, nós somos meros instrumentos. O verdadeiro “músico” que persuade deve ser o Espírito Santo a convencer as pessoas do pecado e do juízo e as levam a crer no Salvador.
Portanto, minha sugestão é que busque saber a vontade do Senhor para sua vida e profissão, e ele certamente lhe dará a direção a seguir dentro de algo que não seja meramente pintar um “Cristo Salva” em seu avião. Mas acabo de me lembrar de um corredor de automóveis que pintava um “Cristo Salva” em seu carro e isso tinha um grande efeito nos outros corredores e no público que assistia às corridas. Não posso julgá-lo, pois não sei o exercício que ele tinha com seu Senhor. Mas meu coração está perto o suficiente de mim para eu saber quando estou querendo enganar a Deus.
Aproveite conversar com outros irmãos sobre a questão da música. Conheço um que às vezes toca com amigos músicos ou, profissionalmente em restaurantes. Talvez ele possa ajudá-lo a entender melhor como é que lida com isso. Mas sempre que você encontrar um irmão fazendo algo de alguma forma, entenda que aquilo é um exercício que ele tem com Deus e não uma regra de ação que possa servir para você também. Neste sentido me ocorrem duas passagens:
(Jo 21:21-22) “Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu”.
(Rm 14:22-23) “Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado”.
O problema é maior quando o músico profissional cristão decide usar música para evangelização de forma profissional, porque daí estará mais sujeito a cair no erro. Tudo o que fazemos profissionalmente é ditado pelo mercado, por suas necessidades, desejos e expectativas. Alguém que pregue o evangelho profissionalmente está sujeito a pregar somente aquilo que as pessoas gostariam de ouvir. Quem publica livros e Bíblias profissionalmente precisará vigiar, ou acabará publicando má doutrina e Bíblias de versões ruins porque será o desejo do mercado. E quem vende sua música no mercado gospel acabará vendendo aquilo que o povo quer comprar, o que nem sempre é aquilo que Deus deseja. Resumindo, quando o dinheiro toma as rédeas da obra de Deus a coisa sempre tem um final trágico.
Além disso, o músico cristão que atua profissionalmente é obrigado a “engolir sapos” quando é contratado para tocar em lugares onde jamais frequentaria de vontade própria, como “igrejas” de pregadores que fizeram da fé um mercado lucrativo ou que professam má doutrina.
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A Igreja foi construída sobre Pedro?
Sua dúvida está em Mateus 16:15-20 e na confusão que existe principalmente no catolicismo quanto à afirmação de Pedro e à promessa de Jesus. Afinal, seria Pedro a pedra sobre a qual a Igreja seria construída? Estaria o Senhor dando a ele as chaves do céu para abrir ou fechar o acesso das pessoas à salvação eterna? Vamos analisar a passagem.
(Mt 16:16-19) “E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro [PETROS], e sobre esta pedra [PETRA] edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.
O Senhor está falando várias coisas na passagem.
1. Que Pedro de si mesmo não poderia saber que Jesus era o Filho do Deus vivo, mas que aquilo era uma revelação do Pai.
2. Jesus revela que iria construir sua Igreja usando o verbo no futuro, porque a Igreja ainda não existia. Ela passaria a existir no capítulo 2 de Atos.
3. Jesus dá um novo nome a Simão, “Pedro” (em grego PETROS).
4. Jesus avisa que irá construir sua Igreja sobre uma Rocha (em grego PETRA).
5. Jesus dará a Pedro as chaves do “Reino dos Céus”, que não é a mesma coisa que “Igreja”. Reino dos céus é a expressão da confissão que reconhece neste mundo a Jesus como Rei de um Reino que é dos céus, não da terra. Da Igreja, que é o corpo de Cristo, fazem parte apenas os que são realmente salvos. No Reino dos Céus, porém, há joio e trigo (Mateus 13). Pedro iria usar estas chaves mais tarde para abrir o acesso ao Reino dos Céus aos judeus (Atos 2), samaritanos (Atos 8) e aos gentios (Atos 10).
Sobre a afirmação de Jesus (número 4 acima) ele não diz que iria construir sua Igreja sobre PETROS, mas sobre PETRA, pois “pedra” e “rocha” são coisas diferentes. É sobre a rocha identificada por Pedro em sua afirmação — Jesus, o Filho do Deus vivo — que a Igreja seria construída. Resumindo, a Igreja seria construída sobre o próprio Jesus, que é identificado como a Rocha em várias outras passagens:
Lembre-se de que a identificação de Jesus como a Rocha já existia, só que os judeus não sabiam disso. Foi Jesus a Rocha que acompanhou os israelitas na peregrinação no deserto:
(1 Co 10:4) “E beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra (PETRA) era Cristo”.
A dificuldade surge porque algumas traduções em português usam “pedra” tanto para PETROS como para PETRA. Veja esta outra:
(NVI) “e beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam da rocha espiritual que os acompanhava, e essa rocha era Cristo”.
Se perguntarmos a Pedro de que PETRA (Rocha) Jesus estava falando, o próprio Pedro poderá nos responder:
(At 4:11) “Ele é a pedra (LITHOS) que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina”.
Aqui a palavra grega é LITHOS, mais usada para pedras de construção.
Mais uma vez Pedro explica:
(1 Pe 2:4-8) “E, chegando-vos para ele, pedra (LITHOS) viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, Vós também, como pedras (LITHOS) vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra (LITHOS) principal da esquina, eleita e preciosa; E quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, A pedra (LITHOS) que os edificadores reprovaram, Essa foi a principal da esquina, E uma pedra (LITHOS) de tropeço e rocha (PETRA) de escândalo”.
Em Efésios Paulo fala mais sobre o alicerce da Igreja, que foi colocado pelos apóstolos tendo a Jesus como a pedra principal:
(Ef 2:20) “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina (AKROGONIAIOS);”.
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Satanás pode influenciar um crente?
Satanás não tem onisciência, mas ele tem milhares de anos de psicologia humana e é capaz de entender muita coisa a nosso respeito. Além disso, ele possui uma gigantesca rede de informantes formada por seus anjos, que estão o tempo todo nos observando. E pode ter certeza de que todos eles têm acesso ao seu perfil no Orkut, Facebook e Twitter, etc.
É bem provável que algum desses emissários de Satanás esteja me observando enquanto escrevo isto e irá observar você quando estiver lendo, interpretando suas feições e reações. Com a experiência de milhares de anos que esses anjos têm observando os humanos, imagine quanta informação eles podem obter só de observar o mais sutil movimento de nossa expressão corporal.
Acredito que Satanás possa nos influenciar de diversas maneiras, colocando coisas e pessoas em nosso caminho para sermos tentados de alguma forma. Afinal, ele nos conhece muito bem e sabe quais são nossos pontos fracos. Ele não precisa conhecer nossos pensamentos para saber como pensamos e nem precisa interferir diretamente em nossa mente para criar sugestões. Tudo isso é possível fazer apenas com técnicas de psicologia e indução.
Satanás pode influenciar o pensamento do crente, como fez com Pedro, que foi advertido pelo Senhor. Está muito claro ali que quem estava por detrás da ideia de Pedro era o próprio diabo:
(Mt 16:23) “Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens”.
Mesmo assim creio que no convertido ele não tenha tanta liberdade de agir como tem no incrédulo. Para tocar em Jó ele precisou fazê-lo com a permissão de Deus e acredito que isto vale para cada filho de Deus. Além disso, hoje todo aquele que crê em Jesus tem o Espírito de Cristo “se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8:9), o que equivale dizer que a casa do nosso corpo já está ocupada. Por isso não creio ser possível que um crente possa ter seu corpo invadido por um demônio como ocorre com o incrédulo.
O incrédulo já vive comandado pelo diabo como se fosse uma marionete, e Paulo diz isso em Efésios 2 quando mostra como os crentes viviam antes de se converterem:
(Ef 2:1-3) “Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais”.
Veja que Paulo está falando da condição antes e depois. Antes andávamos segundo o príncipe das potestades do ar, que é Satanás, e sendo operado ou manuseado por ele. Portanto a é bem diferente o modo como Satanás age no incrédulo e no crente.
Mas será que o crente deve viver em constante pavor por estar assim cercado de espíritos malignos? De maneira nenhuma. Devemos estar cientes de que esses anjos caídos existem e devemos até mesmo respeitá-los. Apesar de serem anjos caídos, eles ainda são seres que fazem parte da hierarquia que Deus determinou, portanto não devemos zombar deles ou menosprezá-los. Por isso são chamados de “potestades” ou poderes. “O arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda” (Jd 1:9).
Porém podemos descansar no fato de que o crente tem o Espírito Santo habitando em si e que o diabo não pode lhe fazer mal, além daquilo que Deus permitir com um propósito de bênção no final, como fez com Jó. A promessa de proteção que Deus nos dá é muito clara:
(1 Jo 5:18-19) “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca. Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno”.
Nossa segurança está em Deus, que nos comprou graças à obra de Cristo na cruz, portanto o crente tem uma posição e um futuro assegurados que não podem ser de modo algum perdidos.
(Rm 8:38-39) “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”.
(1 Jo 4:3-4) “E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo. Filhinhos, sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo”.
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Não serei salvo se não pronunciar o nome original de Jesus?
Fico contente que esteja gostando do material que tenho publicado. Quanto à sua preocupação com essa onda de mensagens sobre o verdadeiro nome de Jesus, parafraseando Paulo, eu diria que “há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo” (Gl 1:7).
Tenho recebido e-mails de pessoas preocupadas com isso, como se tivessem descoberto que a fé que colocaram no crucificado que levou nossos pecados teria sido colocada na pessoa errada ou em pessoa nenhuma, só por não ter pronunciado direito o nome de Jesus. É insano o que o inimigo faz para plantar dúvidas no coração das pessoas e esse movimento todo só pode ter a assinatura do inimigo de nossas almas. Nada tem a ver com o Deus de amor que acolhe o pecador que vai a Cristo, pronunciando ou não o nome do Salvador.
Enquanto perdemos tempo olhando para as teorias conspiratórias sobre alterações na grafia ou pronúncia do nome de Jesus não estaremos nos ocupando com a Pessoa de Cristo, que é o que importa. Esses vídeos e sites nada mais fazem do que tirar dos cristãos a certeza de sua salvação, colocando degraus complicados para conhecerem a Deus.
Só existe um Jesus que salva, e se você depositou sua fé no Jesus que foi crucificado levando os seus pecados e ressuscitando ao terceiro dia, é nessa Pessoa que colocou sua fé. Ou será que é possível crer em outra pessoa que é o Filho de Deus que morreu por nossos pecados e ressuscitou ao terceiro dia? Obviamente não. Então não há como errar na pontaria de sua fé.
Portanto, dedique seu tempo a conhecer a Pessoa, sem se preocupar com as letrinhas que compõem seu nome. Quando você se apaixona por uma garota chamada Maria, é pelas letrinhas que se apaixona ou pelo ser humano que aquelas letrinhas representam? Há muitas Marias com o mesmo nome, mas aquela é única.
Apaixone-se pelo Jesus da Bíblia, independente do jeito que você pronuncia seu nome. Ou você acha que o Criador do Universo vai ficar controlando se você pronunciou certo ou errado, se falou com sotaque ou não? Se for assim, esse não é o Salvador no qual eu cri, que se dispôs a morrer por mim. Quem crê em um “Jesus” que não liga para perder uma alma sincera só porque ela não soube pronunciar seu nome, aí sim estará crendo na pessoa errada.
O verdadeiro Jesus, o Salvador, é aquele que disse aos seus discípulos para não colocarem obstáculos nem às crianças, que sequer saberiam pronunciar seu nome. Portanto, não se preocupe: Deus é totalmente acessível.
(Is 35:8) “E ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão”.
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Existe base bíblica para o dispensacionalismo?
Sim, existe base bíblica, embora eu não me sinta confortável em chamar de “dispensacionalismo”. Temos tantos “ismos” — como Calvinismo, Arminianismo, Pentecostalismo, Pré-Milenismo, Pós-Milenismo, Fundamentalismo, Protestantismo, etc. — que sucumbimos à tentação de classificar os cristãos como se fosse uma coleção de insetos em um museu de história natural.
Uma vez um leitor deu um nó em minha cabeça ao tentar definir minha profissão de fé, que ele disse poder tanto ser antropocêntrica como sinergística, ou ainda teocêntrica e monergística. Porém tinha dúvidas se eu seria teocêntrico, pois eu lhe havia indicado um texto semi-pelagianista (nem me pergunte!) que combatia o hiper-calvinismo. Para tratar dessa minha deficiência ele receitou que eu me inteirasse da história da Igreja, teologia e hermenêutica.
Então, antes que você pense que estou falando “teologês”, permita-me aplicar também a essa mania de “ismos” o que Paulo diz aos Colossenses ao tratar dos rudimentos do mundo e das doutrinas de homens… “as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria… mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne”. (Cl 2:23).
Entendo apenas que quando falamos em “dispensacionalismo” ou “dispensação” não se trata de algo técnico, como dois mais dois. Embora você encontre na Web coisas como mapas ou diagramas das dispensações, com a história da humanidade às vezes dividida em sete dispensações, você pode também distinguir diferentes dispensações sob diferentes aspectos.
A abordagem dispensacional mais simples seria dividir tudo em duas dispensações como AT e NT, ou o modo como Deus tratou com os homens no Antigo Testamento e no Novo Testamento. Qualquer um de nós está bem familiarizado com essa visão dispensacional, pois nossas Bíblias são divididas assim.
O princípio para entender o processo dispensacional está em identificar que há um que dispensa ou delega algo, e outro que recebe a responsabilidade de cumprir aquilo. Ao falhar em sua responsabilidade ele é punido e outro toma o seu lugar.
Um modo de enxergar as dispensações pode ser dividindo a história das tratativas de Deus para com o homem em períodos como “Inocência” (da Criação à queda, seguida da expulsão), “Consciência” (da queda ao dilúvio), “Governo” (de Noé a Abraão), “Promessa” (de Abraão a Moisés), “Lei” (de Moisés a Cristo), “Graça” (da morte e ascensão de Jesus ao arrebatamento da Igreja) e “Reino” (o reinado de mil anos de Cristo). Mas mesmo esta divisão pode ser flexível ou denominada de outras maneiras.
O que chama a atenção em uma divisão assim é que sempre há um começo de bênção e um fim de juízo. Mas a dúvida é se existe alguma base bíblica para dividir a Palavra. Existe: (2 Tm 2:15) “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”.
Onde você “maneja bem” nesta versão no original está ORTHOTOMEO que tem o sentido de “dissecar” ou “dividir”. A versão inglesa de J. N. Darby ficaria mais ou menos assim em português: “Empenha-te apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, cortando a palavra da verdade com precisão”.
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Paulo usava amuletos para curar?
Sua dúvida está no texto de Atos 19:11-12: “E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam”.
O texto não diz que Paulo usava lenços e aventais para curar; diz que as pessoas faziam aquilo, o que não significa que estivessem agindo corretamente. É preciso entender que aquele era o princípio da Igreja, portanto Deus manifestava o seu poder abundantemente, como sempre fez ao longo da história ao inaugurar uma nova dispensação ou maneira de tratar com o homem.
Você encontra a grandiosidade da Criação inaugurando o estado de inocência do homem. Aquela dispensação, que começou com bênção, terminou com desobediência e juízo — a queda e expulsão do Éden — e todas as outras começariam e terminariam assim: bênção demonstrando poder, graça e misericórdia divina, e então desobediência e juízo, para mostrar a incapacidade do homem em atender as santas demandas de Deus.
O fato de Lucas, autor do livro de Atos, mencionar o que as pessoas faziam com os lenços e aventais tirados de Paulo, não significa que aquilo fosse uma ordenança ou doutrina que os cristãos deviam seguir. Um caso parecido é mencionado em 1 Coríntios 15:29: “Se não há ressurreição, que farão aqueles que se batizam pelos mortos? Se absolutamente os mortos não ressuscitam, por que se batizam por eles?”.
Como não existe qualquer doutrina ou ensino no sentido de batizar “pelos mortos”, tudo indica que o apóstolo Paulo esteja apenas mencionando algo que algumas pessoas estariam fazendo. Não devia trata-se de se batizar “por procuração”, como acreditam alguns, ou seja, no lugar daqueles que morreram sem serem batizados.
Parece que está mais no sentido de ocupar a posição daqueles que tombaram pela perseguição, que é o assunto deste trecho da epístola. Considerando que o batismo coloca a pessoa numa nova posição diante do mundo como um cristão professo, poderíamos pensar que o batizado estaria “vestindo a camisa” de cristão no lugar dos que sucumbiram à perseguição, como um soldado que é recrutado para ocupar a posição de outro tombado em ação.
Mas voltando à sua dúvida específica, que é o episódio narrado em Atos, entenda que o livro de Atos é um livro de acontecimentos, não de doutrina para a Igreja. Em Atos você encontra cristãos (como Ananias e Safira) e até mesmo os apóstolos agindo de forma errada. Por outro lado, as epístolas ou cartas são a doutrina dos apóstolos dada à Igreja. É nelas que vamos encontrar como devemos proceder como Igreja.
Talvez você indague: “Mas não é tudo a mesma Palavra de Deus?”. Sim, mas devemos ter discernimento quando lemos a Bíblia. Em Jó, por exemplo, você encontra muitas palavras bonitas que não são o pensamento de Deus, mas dos 3 amigos de Jó. O fato de algo estar na Bíblia não significa que seja a vontade de Deus. Pode ser a opinião do homem que Deus quis inserir no contexto para mostrar algum contraste.
Por exemplo, Em Atos 21:4 o Espírito Santo ordena que Paulo não vá a Jerusalém, mas ele vai mesmo assim: “E, achando discípulos, ficamos ali sete dias; e eles pelo Espírito diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém”.
Embora também possamos interpretar que, por ter vindo a admoestação por meio dos irmãos, Paulo não tenha entendido que aquilo vinha do Espírito Santo de Deus. Mesmo assim sua atitude não deve ser um exemplo a ser seguido, mesmo que no fim Deus tenha usado dessa desobediência para cumprir os seus propósitos. Isso não diminuiu a responsabilidade do apóstolo por não ter dado ouvidos ao Espírito Santo.
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Adulterei e estou grávida. O que fazer?
Você professa crer no Senhor Jesus como seu Salvador e está aterrorizada pela ideia de perder a salvação por ter caído em adultério. Ao que parece tudo ficou mais complicado por você ter engravidado de um homem que não é o seu marido, como se o pecado ficasse mais grave por este motivo.
Primeiro quero tranquilizá-la dizendo que nem a denominação que frequenta, nem homem algum tem o poder de destinar alguém à perdição eterna. Isso era muito comum ver no catolicismo medieval, como se o Papa tivesse o poder de tirar de alguém a salvação que era obra de Deus.
A vida que o Senhor dá é eterna, isto é, não tem começo e nem fim, e ninguém pode arrebatar uma ovelha da mão do Pai. As religiões que acham que um crente perde a salvação ao cometer algum pecado não fazem ideia de quão horrível é o pecado, qualquer pecado, aos olhos de Deus. Tampouco entendem a graça, que é o favor imerecido de Deus concedido a criaturas tão perdidas e pecadoras que não haveria outro modo de salvá-las além de prover tudo que fosse necessário à sua salvação sem depender de qualquer iniciativa da parte delas.
Portanto, seu problema não é perder a salvação, pois até Pedro cometeu um pecado horrível ao negar o Senhor, e mesmo assim foi perdoado. Seu problema está em sofrer as consequências de seu adultério. Seu filho não tem nada a ver com isso e deve ser amado. Trata-se de uma vida preciosa, e o fato de ter nascido de um adultério não o torna menor aos olhos de Deus. É curioso como sempre que alguém engravida em razão de um ato sexual ilícito, parece transformar a gravidez — que é uma bênção de Deus — em maldição, como se o ato sexual ilícito sem gravidez fosse menos pecaminoso.
Para você entender como Deus vê em graça o seu filho, ou qualquer criança nascida de um erro dos pais, leia a genealogia de Jesus no evangelho de Mateus. Alguma vez você parou para pensar que o próprio Senhor Jesus em sua humanidade descende de pelo menos quatro casos de sexo ilícito? Veja abaixo:
Tamar gerou gêmeos depois de se disfarçar de prostituta para poder dormir com o próprio sogro. Seu filho Peres está na genealogia de Jesus. (Gn 38; Mt 1:3).
Raabe era uma prostituta de Jericó e foi mãe de Boaz, também na genealogia. (Js 2; Mt 1:5).
Rute era uma moabita, um povo amaldiçoado por Deus, com quem nenhum israelita devia se casar. Foi mãe de Obede, na genealogia do Senhor. (Rt 4; Mt 1:5).
Bate-Seba, casada com Urias, foi a mulher com quem Davi caiu em pecado. Gerou Salomão. (2 Sm 11; Mt 1:6).
Digo isto não para justificar seu pecado, mas para mostrar que o Senhor entende bem a natureza humana e ele próprio, em sua humanidade, veio de pessoas que foram fruto de erros graves cometidos por seus pais.
Nos evangelhos o Senhor Jesus perdoou mulheres adúlteras, como aquela que foi pega em flagrante adultério e foi a única que permaneceu na presença dele na sua condição de pecadora, enquanto todos os outros que queriam apedrejá-la fugiram quando suas consciências foram tocadas. Ela, que permaneceu diante do único que poderia apedrejá-la por ser Jesus sem pecado, recebeu dele não pedras, mas o perdão e a admoestação de que não voltasse a pecar.
Então, como alguém poderia dizer que não há perdão para o seu pecado? O perdão está sim disponível, basta você querer. O que encontro na Palavra é:
(1 Jo 1:8-9) “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça”.
Veja que não diz “se pedirmos perdão de nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados”, pois você não encontra nenhum convertido no Novo Testamento pedindo perdão. O perdão já foi assegurado pela obra de Cristo na cruz, e agora está amplamente disponível para todo convertido. O que Deus exige é confissão.
Portanto o primeiro passo é confessar seu pecado a Deus. O segundo passo é confessar à pessoa que foi lesada por seu pecado, no caso o seu marido. Como você está congregada com irmãos que inocentemente continuam tendo comunhão com você sem saber que cometeu adultério, deve confessar a eles também ou aos que forem considerados responsáveis por aquela congregação. A Bíblia é clara ao dizer que eles não devem ter comunhão com quem está em pecado:
(1 Co 5:11) “Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais”.
Seu pecado só fica mais grave ao escondê-lo de pessoas que confiam que estão em comunhão com alguém que não caiu em adultério. A confissão a Deus, ao seu marido e aos irmãos é uma necessidade segundo a Palavra de Deus. (Tg 5:16) “Confessai as vossas culpas uns aos outros”.
Você não terá paz e tranquilidade enquanto não abrir seu coração com as pessoas corretas, no caso DEUS, seu marido e os irmãos com quem tem comunhão.
(Sl 32:3-5) “Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri; dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado”.
Como acontece com qualquer erro ou transgressão, a recuperação é dolorosa, mas sempre é o melhor caminho e o caminho da restauração e bênção. Não será algo fácil e tudo pode acontecer: ser execrada pelos irmãos, rechaçada pela família e abandonada pelo marido. Mas de uma coisa pode ter certeza: Deus jamais a deixará. O próprio fato de você estar inquieta com essa situação é sinal de que o Espírito Santo de Deus está agindo em você para levá-la ao arrependimento, confissão e restauração.
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Estou errando ao pedir a Deus a morte?
Você não é a única a pedir a morte. Há na Bíblia personagens que também desejaram morrer. A questão é que Deus os queria vivos, e vivos eles ficaram para deixarem o testemunho que temos hoje.
Seu desgosto pela vida é causado por sua enfermidade e pelos medicamentos psiquiátricos que é obrigada a tomar, coisas que a fazem sofrer. Acredito que não exista alguém que tenha sofrido tanto quanto Jó, um nome que virou sinônimo de sofrimento. Ele próprio também desejou a morte, porém sabia que o único que podia tirá-la era o mesmo que lhe havia dado: DEUS.
(Jó 7:14) “Então, me espantas com sonhos e com visões me assombras; pelo que a minha alma escolheria, antes, a estrangulação; e, antes, a morte do que estes meus ossos. A minha vida abomino, pois não viverei para sempre; retira-te de mim, pois vaidade são os meus dias”.
O profeta Jeremias também foi um que não via qualquer graça na vida:
(Jr 20:14-18) “Maldito o dia em que nasci; o dia em que minha mãe me deu à luz não seja bendito. Maldito o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho; alegrando-o com isso grandemente. E seja esse homem como as cidades que o Senhor destruiu sem que se arrependesse; e ouça ele clamor pela manhã e, ao tempo do meio-dia, um alarido. Por que não me matou desde a madre? Ou minha mãe não foi minha sepultura? Ou não ficou grávida perpetuamente? Por que saí da madre para ver trabalho e tristeza e para que se consumam os meus dias na confusão?”.
Mesmo assim, apesar de todo o sofrimento, decepção e angústia desses homens, eles não tentaram tirar a própria vida, pois sabiam que suas vidas não pertenciam a eles, mas a Deus. Veja o que acontece quando a própria mulher de Jó sugere que a melhor saída para ele seria suicidar-se:
(Jó 2:8) “E Jó, tomando um pedaço de telha para raspar com ele as feridas, assentou-se no meio da cinza. Então, sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus e morre. Mas ele lhe disse: Como fala qualquer doida, assim falas tu; receberemos o bem de Deus e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios”.
A mulher de Jó insistia para que ele amaldiçoasse a Deus e morresse (obviamente pelas próprias mãos), mas ele deixou claro que aceitava de Deus o mal que lhe afligia, tanto quanto o bem dos tempos de bonança.
Nosso Senhor Jesus não viveu para si mesmo, e não morreu para si mesmo. Por isso temos as bênçãos que temos e a salvação. Este é o legado que ele nos deixa como exemplo, de dar a sua vida por amor de outros. Deus tem um propósito na vida e na morte dos seus, portanto não cabe a nós decidir.
Nossa vista é muito míope para enxergar o que ele está fazendo através de nós e de nossos sofrimentos. Nem Jó ou Jeremias em seus dias devem ter enxergado o quanto suas vidas e sofrimentos iriam ajudar milhões de pessoas.
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Como perdoar quem não aceita meu perdão?
Em Lucas vemos o perdão condicionado ao arrependimento: (Lc 17:3-4) “Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. E, se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; perdoa-lhe”.
Creio que aqui esteja falando do perdão governamental, isto é, daquele que segue uma confissão pública e é também dado de forma pública, formal ou audível. Porém, aprendemos de outras partes que não devemos guardar raiz de amargura em nosso coração.
(Hb 12:15) “Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem”.
Então talvez o melhor caminho seja perdoar a todos os que nos ofendem como Cristo nos perdoou. Evidentemente Cristo nos perdoou quando nos convertemos e fomos a ele arrependidos pedindo por perdão, o que mostra que o perdão completo está condicionado ao reconhecimento de pecado da parte daquele que nos ofende.
Mesmo assim nosso perdão deve ser incondicional como foi o de Jesus para conosco (lembre-se de que não teríamos ido a ele se não fosse pela ação do Espírito Santo que nos convenceu do pecado):
(Ef 4:32) “Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo”.
(Cl 3:13) “Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também”.
Colocando meus pensamentos em ordem, primeiro, quando sou ofendido, devo perdoar imediatamente em meu coração para me livrar da raiva e da amargura que aquela ofensa irá criar se eu guardá-la. Por que eu deveria alimentar a raiva em meu coração? Enquanto ficar corroendo aquilo, corro o risco de aumentar o potencial do pecado do outro e eu mesmo pecar por isso.
Mas a partir do momento em que meu coração está disposto a perdoar, a responsabilidade toda recai sobre o ofensor. Já não é mais problema meu, porque já não me sinto mais ofendido. É ele quem deve tomar a iniciativa de pedir perdão para ser perdoado de fato. Talvez eu devesse chamar esse perdão no coração de disposição para perdoar, uma espécie de embrião do perdão.
Segundo, uma vez tendo perdoado em meu coração, já não estarei mais algemado àquele irmão por sua ofensa; não precisarei mais trocar de calçada quando o vir ou desviar o olhar dele. Com um coração apto a perdoar eu me torno acessível para o caso de ele se arrepender e me procurar. Ele deve perceber minha boa disposição em perdoar assim como percebemos essa disposição no coração de Deus que fez tudo neste sentido.
Mas não é o caso de eu ir a ele dizendo que está perdoado, como costumam ensinar os psicanalistas visando apenas o bem estar de seu paciente, e não a correção do erro da parte do ofensor. Porque se ele não reconheceu seu erro de nada irá valer o meu perdão. Este será tão inútil quanto um presente que compro para dar a alguém e a pessoa nunca passa em casa para receber. Por isso pode ser o caso de admoestá-lo pelo seu erro, como ensina Lucas 17:3, visando sua correção.
Deus nos disciplina quando erramos, portanto o perdão não deve ser encarado como um paliativo para deixar para lá o pecado como se fosse algo inofensivo. Nunca é. Do ponto de vista governamental (quero dizer administrativo, exterior ou público), o pecado deve ser reconhecido, confessado e julgado, antes de ser perdoado.
Terceiro, se ele reconhecer o erro e confessá-lo em arrependimento, devo revelar a ele o meu perdão. Quero dizer com tudo isso que, quando nós fomos a Deus para pedir perdão, ele não nos deixou esperando na fila enquanto ia pensar se devia nos perdoar ou não. O perdão estava bem ali, disponível, como um presente já comprado e pago, só aguardando nosso arrependimento e contrição para recebê-lo.
Assim deve ser conosco. Creio que o perdão fica sendo uma espécie de estado constante no coração do cristão, mas que só é manifestado publicamente quando requerido por uma confissão do ofensor arrependido. Portanto, se o ofensor não está disposto a aceitar nosso perdão, ele não está arrependido e, por isso, não terá a garantia de perdão.
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Servir a Deus restabelece minha comunhão?
Em minhas palestras de vendas, costumo dizer a lojistas que jamais devem deixar um vendedor trabalhar antes de ser devidamente treinado. A ideia de que um vendedor inexperiente vai aprender vendendo só se torna verdade depois de algum tempo de tentativas e erros. Mas aí ele terá causado um prejuízo incalculável pelo número de clientes que perdeu e talvez nunca mais retornem à loja.
Isso é parecido com o cristão que tenta restabelecer sua comunhão com Deus, perdida por pecado ou simplesmente por desânimo, envolvendo-se na obra do evangelho. Antes de trazer algum bem à obra, ele está propenso a causar danos irreparáveis.
É comum conhecermos irmãos que um dia deram um grande testemunho de conversão e vida, mas acabaram se acomodando em sua comunhão com Deus. Isso pode acontecer comigo e com você. Passamos a admitir coisas em nossas vidas que vão minando a comunhão com o Senhor e tornando nosso andar inconstante e inconsequente. Tornamo-nos mundanos e desesperados para manter uma casquinha de aparência religiosa.
Aí inventamos algumas explicações para nossos pecados ou simplesmente para nossa vida mundana, só para cauterizarmos ainda mais nossa consciência, e não percebemos o quanto essas coisas enfraquecem nosso testemunho. Então, fracos e desanimados em nossa vida cristã e tentando achar ainda algum resquício de fé em nosso coração, tentamos restabelecer o gozo do “primeiro amor” fazendo algo para o Senhor para curar nossas próprias feridas, mas isso é trocar as prioridades. Tentamos encher de atividades e obras um coração vazio de comunhão com Deus.
O correto seria primeiro resolver nossa comunhão com o Senhor, para só depois colocar mãos limpas e pés desempoeirados à disposição dele em sua obra. Em Hebreus, quando fala da disciplina e correção que Deus nos dá, existe uma ordem dos passos tomados. Se primeiro eu não levantar minhas mãos cansadas e joelhos desconjuntados e endireitar as veredas de meus pés, ser efetivamente sarado, e seguir a paz com todos e a santificação, corro o risco de contaminar a muitos com alguma raiz de amargura existente em meu coração, seja ela contra Deus ou contra meus irmãos:
(Hb 12:12-15) “Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente; antes, seja sarado. Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem”.
Primeiro vem a confissão, depois a restauração; primeiro a ferida precisa ser espremida, para depois cicatrizar; primeiro devemos alimentar bem nosso coração com a Palavra, para depois nossa boca falar. (Mt 12:34) “Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca”.
A ideia de que a ocupação com a obra do Senhor nos dará mais comunhão com Deus pode até ajudar um pouquinho, mas enquanto essa comunhão não vem só fazemos estrago na obra. É o vendedor inexperiente tentando atender clientes horrorizados com suas notas fora, truculência e falta de tato. É um rinoceronte solto numa loja de cristais. Com o cristão o desastre tem consequências mais sérias, para ele e para os que são atingidos por seu testemunho inconsequente.
A obra do evangelho não é terapia; a obra do Senhor é coisa séria. Eu não devo executá-la para a cura de meu próprio coração e meu próprio proveito, mas para a cura e o proveito dos outros e a glória do Senhor. A falta de comunhão não pode ser substituída por atividade das mãos, porque essa atividade trará em si a marca da falta de comunhão e contaminará a muitos com meu andar inconsequente. Sei bem dessa tendência, porque acontece comigo com uma frequência maior do que gostaria.
Um bom exercício é sempre perguntar a mim mesmo: Esse fervor para com a obra de Deus vem de uma comunhão real ou estou tentando encobrir algum pecado? Será que estou tentando compensar a falta de fé com obras? Trocando obediência por sacrifícios? Isso me transforma num sepulcro caiado e evidentemente será notado por qualquer irmão mais espiritual, mas não por mim mesmo, que continuarei cegamente pisando em cristais. Veja que interessante esta passagem (1 Sm 15:1-23):
“Então, disse Samuel a Saul: Enviou-me o Senhor a ungir-te rei sobre o seu povo, sobre Israel; ouve, pois, agora a voz das palavras do Senhor”. Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eu me recordei do que fez Amaleque a Israel; como se lhe opôs no caminho, quando subia do Egito. Vai, pois, agora, e fere a Amaleque, e destrói totalmente tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até às ovelhas e desde os camelos até aos jumentos… Então, feriu Saul os amalequitas, desde Havilá até chegar a Sur, que está defronte do Egito. E tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas; porém a todo o povo destruiu a fio de espada. E Saul e o povo perdoaram a Agague, e ao melhor das ovelhas e das vacas, e às da segunda sorte, e aos cordeiros, e ao melhor que havia e não os quiseram destruir totalmente; porém a toda coisa vil e desprezível destruíram totalmente… Veio, pois, Samuel a Saul; e Saul lhe disse: Bendito sejas tu do Senhor; executei a palavra do Senhor. Então, disse Samuel: Que balido, pois, de ovelhas é este nos meus ouvidos, e o mugido de vacas que ouço? E disse Saul: De Amaleque as trouxeram; porque o povo perdoou ao melhor das ovelhas e das vacas, para as oferecer ao Senhor, teu Deus; o resto, porém, temos destruído totalmente… Por que, pois, não deste ouvidos à voz do Senhor? Antes, voaste ao despojo e fizeste o que era mal aos olhos do Senhor. Então, disse Saul a Samuel: Antes, dei ouvidos à voz do Senhor e caminhei no caminho pelo qual o Senhor me enviou; e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e os amalequitas destruí totalmente; mas o povo tomou do despojo ovelhas e vacas, o melhor do interdito, para oferecer ao Senhor, teu Deus, em Gilgal. Porém Samuel disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.”.
O resumo de tudo é que Deus havia dado a Saul uma ordem através de Samuel: destrua os amalequitas, seu rei Agague, e TUDO o que possuem. De olho em suas próprias concupiscências e indo na onda do povo, Saul perdoou a Agague e ainda preservou todos os animais que deviam ter sido destruídos. Para Samuel ele teve a audácia de dizer que executou a Palavra do Senhor.
Então, para se defender diante de Samuel, ele faz o que Adão fez no Éden: culpa outro. Para Adão, a culpa era da mulher e de Deus, que deu a ele uma companheira. Para Saul, a culpa é do povo que o influenciou. Nos dois casos a própria palavra do pecador é sua sentença. Deus disse a Adão: “Porque deste ouvidos à mulher…”, ou seja, a culpa era mesmo de Adão por ter escutado Eva. E aqui Saul acaba de selar seu destino de perder o reino, ao dizer que fez tudo influenciado pelo povo. Que rei era esse que agia ao bel prazer do povo? (isso é o que hoje chamamos de “democracia”, algo que nunca foi de Deus).
Ao fazer o que faz todo religioso para se redimir, Saul tenta comprar o favor de Deus com sacrifícios, com a desculpa de que preservou o despojo para Deus. Isso é parecido com os cristãos que dizem que jogam na loteria para poderem ajudar mais na obra do Senhor.
Para cumprir a ordem de Deus desprezada por Saul, Samuel mata Agague, mas aparentemente Saul deu dado tempo aos descendentes de Agague para fugirem e continuarem a linhagem dos agagitas (que significa descendentes de Agague). Os resultados dessa desobediência vão aparecer cerca de 500 anos depois no livro de Estar, na pessoa de Amã, um agagita (Ester 3:1). A história de Ester termina com o Rei enviando cartas para todo o reino dando aos judeus licença para matarem a todos os que os perseguiam e tomarem posse do despojo.
(Et 8:11) “Nelas, o rei concedia aos judeus que havia em cada cidade que se reunissem, e se dispusessem para defenderem as suas vidas, e para destruírem, e matarem, e assolarem a todas as forças do povo e província que com eles apertassem, crianças e mulheres, e que se saqueassem os seus despojos”.
Porém, ao contrário do que fez Saul, os judeus destruíram seus inimigos, mas não tomaram o despojo. Era como se estivessem cumprindo tardiamente uma ordem dada por Deus quinhentos anos antes.
(Et 9:16) “Também os demais judeus que se achavam nas províncias do rei se reuniram para se porem em defesa da sua vida e tiveram repouso dos seus inimigos; e mataram dos seus aborrecedores setenta e cinco mil; porém ao despojo não estenderam a sua mão”.
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Podemos orar ao Espírito Santo ou adorá-lo?
No Novo Testamento e em especial nas epístolas temos a completa revelação de Deus sobre aquele que era previsto no Antigo Testamento pelos profetas: Jesus. Temos também a revelação da Pessoa do Espírito Santo, que é Deus, assim como o Filho e o Pai. Mas você não encontra em nenhuma situação alguém orando ao Espírito ou adorando o Espírito Santo.
Sendo assim, o que não encontramos os discípulos fazendo ou os apóstolos dizendo para fazermos, nós devemos humildemente entender que deve existir uma razão para não fazermos. Além disso, não faz sentido orar para o próprio Espírito Santo que nos ensina como devemos orar, por intermédio de quem oramos, e que intercede pelos santos. Somos exortados a orar NO Espírito, não PARA o Espírito.
(Rm 8:26) “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis”.
(Rm 8:27) “E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos”.
É importante lembrar também que, ao contrário do Pai e do Filho, que hoje estão no céu, o Espírito Santo está no mundo e também habita no crente. Ele é o penhor, ou a garantia da nossa redenção, e é por intermédio dele que elevamos nossa adoração ao Pai e ao Filho. Não há um versículo sequer na Bíblia que inclua o Espírito Santo como o destino de nossa adoração ou súplicas. Todavia, esse erro você encontra em muitos livros cristãos e até mesmo em letras de hinos que trazem frases exaltando o Espírito Santo ou o adorando.
Jesus é Deus, mas enquanto estava no mundo ele deixou claro que estava em submissão ao Pai. Mas quando foi adorado ele não recusou adoração. Porém prometeu enviar o Consolador e este desceu em um caráter diferente daquele em que Jesus veio. Embora também seja Deus, no caráter em que o Espírito Santo está hoje no mundo não há qualquer base bíblica para adorá-lo ou fazer orações dirigidas a ele. Ele atua nos bastidores levando nosso olhar e atenção para Cristo, não para si mesmo.
Alguns alegam que quando adoramos a Deus estamos adorando o Espírito Santo, ou quando oramos a Deus estamos orando ao Espírito Santo. É evidente que o Espírito Santo é Deus e uma Pessoa da Trindade, porém devemos respeitar a ordem que Deus estabelece na sua Palavra. Por exemplo, apesar de ser Deus, Jesus andou neste mundo na condição de Filho obediente ao Pai, não fazendo a sua própria vontade (embora perfeita), mas sujeitando-se inteiramente à vontade do Pai. Os céticos e incrédulos indagam como Jesus poderia ser Deus se agia assim, mas era tudo uma questão de ordem.
Alguns cristãos costumam fazer coisas, como orar para o Espírito e adorá-lo, por ignorarem as Escrituras. Outro erro é chamarmos a Jesus de Rei, algo que não encontramos os apóstolos fazendo, embora ele seja o Rei dos Judeus. Mas para a Igreja ele é Senhor.
Outra coisa é que encontramos o Senhor Jesus nos chamando de irmãos, mas NUNCA encontramos os apóstolos o chamando de Irmão, o que pode significar que ele tem a liberdade de nos chamar assim, mas não foi dada a nós a mesma liberdade de chamá-lo de irmão.
Complementando, encontramos, obviamente, instruções para orarmos ao Pai, mas vemos também os discípulos se dirigindo ao Senhor Jesus:
Paulo: (2 Co 12:8) “Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim”.
Estêvão: (At 7:59) “E apedrejaram a Estêvão que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito”.
João: (Ap 22:20) “Ora vem, Senhor Jesus”.
Também ações de graças dirigidas a Jesus:
(1 Tm 1:12) “E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me no ministério;”.
Louvor e adoração dirigidos a Jesus:
(Ef 5:19) “Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração;”.
Jesus sendo invocado pelas assembleias:
(1 Co 1:2) “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”.
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1 Coríntios 14 incentiva as línguas para a edificação própria?
Você leu os primeiros versículos de 1 Coríntios 14 como se o apóstolo estivesse falando dos benefícios para a pessoa que fala em línguas, pois assim estaria falando com Deus e edificando a si mesmo. Se ler o capítulo inteiro verá que ele está criticando o falar em línguas, e não incentivando sua prática.
O assunto do capítulo é o corpo de Cristo e sua edificação, não a edificação própria. O tom que o apóstolo está dando a todo o discurso é para mostrar quão egoísta é fazer algo só para si sem pensar nos outros. Até mesmo ao referir-se à oração no versículo 14 ele deixa claro que é pior orar algo inteligível porque a própria pessoa que ora acaba não entendendo o que diz.
Portanto, quando ele diz que “o que fala em língua edifica-se a si mesmo” não é no sentido de incentivar a prática ser algo bom. Paulo está mostrando que o crente, ao fazer isso não estava compartilhando com os outros ou auxiliando na edificação de seus irmãos.
Veja que é sempre uma coisa em contraste com a outra, o egoísmo de fazer algo só para si, e a liberalidade de fazer algo que possa edificar a igreja. Entenda aqui que “profetizar” é no sentido de proferir ou falar da Palavra de Deus, não exatamente de trazer alguma revelação nova ou dizer o que vai acontecer no futuro:
“… o que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém entende… Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação”.
“O que fala em língua edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja”.
“Ora, quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis, pois quem profetiza é maior do que aquele que fala em línguas”.
“… se eu for ter convosco falando em línguas, de que vos aproveitarei (ou de que proveito serei para vocês), se vos não falar ou por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina?”.
“Ora, até as coisas inanimadas, que emitem som, seja flauta, seja cítara, se não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca na flauta ou na cítara?”.
“Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?”.
“…se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que diz? porque estareis como que falando ao ar”.
“Se, pois, eu não souber o sentido da voz, serei estrangeiro para o que fala, e o que fala será estrangeiro para mim”.
“Assim também vós, já que estais desejosos de dons espirituais, procurai abundar neles para a edificação da igreja”.
“Porque se eu orar em língua, o meu espírito ora, sim, mas o meu entendimento fica infrutífero”.
“…se tu bendisseres com o espírito, como dirá o amém sobre a tua ação de graças aquele que ocupa o lugar de indouto, visto que não sabe o que dizes?”.
“…Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado”.
“Todavia na igreja eu antes quero falar cinco palavras com o meu entendimento, para que possa instruir os outros, do que dez mil palavras em língua”.
“Irmãos, não sejais meninos no entendimento”.
“Se, pois, toda a igreja se reunir num mesmo lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão porventura que estais loucos?”.
“Mas, se todos profetizarem, e algum incrédulo ou indouto entrar, por todos é convencido, por todos é julgado; os segredos do seu coração se tornam manifestos; e assim, prostrando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, declarando que Deus está verdadeiramente no meio de vós”.
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João Batista perdeu a salvação?
João Batista não perdeu a salvação. Quem pensa assim é porque acha que a salvação é por obras, e não por fé na única obra que salva: a morte de Jesus na cruz. Mas há pessoas que pensam que se alguma coisa ruim acontecer para um cristão nesta vida é porque Deus o castigou. Basta vermos a vida dos apóstolos para entendermos que não é assim que funciona.
João Batista não era um cristão no sentido que hoje falamos, ou seja, não fez parte da Igreja, que é o corpo de Cristo e que foi criada no dia de Pentecostes (Atos 2). De João Batista é dito que ele era o maior de todos os profetas, mas qualquer um no reino dos céus seria maior do que ele. Isso significa apenas que existem diferentes categorias de pessoas em diferentes épocas. Pessoas como João foram grandemente abençoadas, mas não tiveram os privilégios que têm hoje os salvos por Cristo.
A igreja é o conjunto dos salvos por Cristo que teve início no dia de Pentecostes descrito em Atos 2. João Batista foi salvo, mas nunca fez parte da igreja, como não fizeram parte até mesmo alguns dos que andavam com Jesus e os apóstolos e tenham morrido antes da criação da Igreja no dia de Pentecostes.
A trajetória da Igreja neste mundo tem começo, meio e fim. Ela começa em Pentecostes, é edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas (do Novo Testamento), portanto não é algo do Antigo Testamento, e termina quando chegar a plenitude dos gentios. Aí Deus encerra seu tratamento com a Igreja, que é tirada da terra, e volta a tratar com os judeus que, no seu aspecto de povo de Deus, que no momento encontra-se, por assim dizer, “no gelo”:
(Rm 11:25-26) “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades”.
Voltando à sua dúvida original se João Batista perdeu a salvação, apesar do que dizem muitos cristãos, principalmente os ligados a seitas pentecostais, ninguém pode perder a salvação. Uma vez nas mãos do Pai, nada e ninguém pode tirar o crente dali. Ele pode perder a comunhão com o Senhor por causa de pecado, mas será salvo mesmo assim, só que experimentará a disciplina de um Pai que ama seus filhos e zela pela santidade.
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Quem faz parte do pequeno rebanho?
Reunir-se “em casa” não é o princípio sobre o qual nos reunimos, mas sim estar congregado para o nome do Senhor. Isso pode ser em uma casa, numa sala, escritório, barraca ou até debaixo de uma árvore. Quando há muitos irmãos congregados e não cabem numa casa, o jeito é alugar ou construir um local maior para as reuniões. Não coloque a lente no modo como nos reunimos, mas na Pessoa para a qual estamos congregados.
Sua segunda pergunta tem a ver com o governo da casa de Deus que envolve disciplina no caso de algum irmão cair em pecado. Você encontra em Mateus 18 que o Senhor deu aos “dois ou três”, ou seja, à assembleia dos irmãos congregados para o seu nome em uma localidade, autoridade para lidar com questões que envolvem o “ligar” ou “desligar” da comunhão aquele que está em pecado. Esse “ligar” ou “desligar” é apenas no sentido governamental das coisas desta vida e não tem nada a ver com salvação.
Você encontra uma ação assim descrita em 1 Coríntios 5 e ali o assunto é pecado moral, mas o mesmo vale para pecado doutrinal, eclesiástico, etc. É claro que toda disciplina deve ser feita com amor visando a restauração, não a humilhação e o desprezo daquele que caiu em pecado.
Não sei o que pregam na “igreja local” à qual você se referiu e também não me interessa. Depois que você sai do arraial, que são os sistemas humanos, é melhor dedicar o tempo à verdade e deixar para lá o que ensinam esses líderes de seitas. Ainda que possam ser irmãos verdadeiramente convertidos ao Senhor, que certamente encontrarei no céu, o modo como devo agir em relação àqueles que se encontram no arraial religioso, formado pelos milhares de seitas cristãs e seus líderes, é o que você encontra em 2 Timóteo 2:15-22. Ali você encontra instruções claras de como proceder em relação ao erro e o primeiro passo é sempre apartar-se para o Senhor.
Você diz que o líder dessa seita à qual se referiu (chamo de seita no sentido de qualquer divisão do testemunho cristão) costuma dizer que seus seguidores foram separados especialmente, por Deus para pregar o Evangelho do Reino. O correto é que os cristãos não preguem o evangelho do Reino, mas o evangelho da graça de Deus. Quem pregou o evangelho do Reino foi João Batista e os apóstolos de Jesus no período dos evangelhos. Eles anunciavam a chegada do Rei, o Messias esperado.
Embora Jesus seja efetivamente o Rei esperado, na sua relação com a Igreja, que é o seu corpo, ele é Senhor, não Rei. Ele é rei para os judeus. O evangelho do reino é o que voltará a ser pregado depois do arrebatamento, quando um remanescente de judeus convertidos voltará a anunciar às pessoas que devem se arrepender porque o Reino de Deus está à porta.
Você ouviu de alguém da seita à qual se referiu que seus membros seriam o “pequeno rebanho” que o Senhor viria buscar em sua vinda, referindo-se a Lucas 12:32: “Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino”. Independente se é isso que essas pessoas realmente creem ou não, no evangelho o Senhor chama os seus discípulos de pequeno rebanho em relação ao mundo hostil em redor, e não para diferenciá-los de outros convertidos.
Ali estava um pequeno grupo de homens, pobres e fracos, que um dia iriam reinar com Cristo. O termo pode ser aplicado aos discípulos nos tempos de Jesus, à Igreja hoje, ao remanescente de judeus que se levantará após o arrebatamento, mas não pode ser aplicado a uma determinada classe de convertidos em detrimento de outra classe de convertidos. Não se trata de um título dado a algum grupo religioso ou denominação, como pensam as pessoas que mencionou.
Aliás, para entender bem o caráter de uma seita, geralmente nela se prega que aqueles pertencentes àquele grupo são melhores do que os que não estão ali. Em algumas seitas costuma-se pregar que aquele grupo tem o privilégio de ser o das “virgens prudentes”, enquanto os convertidos a Cristo que não estão ali são de uma categoria pior, ou as “virgens loucas” da parábola. Sempre que alguém tenta qualificar um salvo por Cristo por estar ou não em um determinado grupo, acaba fazendo do grupo o elemento que dá qualidade àquela pessoa, o que é errado.
Para Deus há salvos e perdidos. Não existem meio salvos ou meio perdidos. Todos os que creem em Jesus estão igualmente salvos, não importa onde se congreguem. Todos os que verdadeiramente creram em Jesus têm o Espírito Santo habitando em si (que é o penhor ou garantia de sua salvação) e desfrutam de todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais.
A diferença é que alguns são privados de paz e segurança, por estarem presos a sistemas criados por homens que pregam a obediência e perseverança como meio de se garantir a salvação (o que acaba sendo uma salvação por obras, não baseada no sangue e na obra de Cristo). Outros são privados da liberdade do Espírito em suas reuniões, por estarem sujeitos a algum líder carismático que os doutrina e exerce domínio sobre eles. Infelizmente a maioria dos salvos hoje não tem o privilégio de estar congregada onde o Senhor está na forma da promessa que fez, que estivéssemos congregados para ele, e não para algum grupo, doutrina, líder, sistema, etc.
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Maria foi sem pecado e corredentora?
A Bíblia diz, em Romanos 3:23-25, que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus”.
Considerando que todos pecaram, isso inclui Maria, mas exclui Jesus porque a Bíblia diz dele que era sem pecado:
(Hb 4:15) “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”.
Assim como acontecia nos sacrifícios do Antigo Testamento, nos quais a ovelha ou animal sacrificado tinha que ser perfeito e sem mancha, Deus precisou enviar o seu Filho por não encontrar um homem ou mulher sem mancha. Jesus é o Cordeiro de Deus que veio ao mundo para morrer no lugar do pecador. Se Jesus tivesse pecado precisaria que outro morresse por ele.
Jesus veio ao mundo sem pecado por ter nascido da concepção do Espírito Santo, e não de um homem comum. Maria foi o receptáculo desse Ser divino. Por não nascer da descendência do varão, Jesus não herdou o pecado de Adão. Para que Maria fosse sem pecado ela precisaria ter nascido da mesma maneira que Jesus, ou seja, de uma concepção virginal de sua mãe por obra do Espírito Santo, o que não é o caso.
Considerando que Maria era humana como todos nós, e não divina, ela tinha em si também a natureza pecaminosa como qualquer ser humano tem desde a sua concepção. Bebês não ficam pecadores depois que pecam, eles nascem pecadores porque trazem em si a natureza pecaminosa que mais tarde os levará a pecar. Alguns revelam mais ou menos esse pecado ou natureza através dos pecados.
Como todo ser humano, Maria precisava de salvação e foi salva pela fé na misericórdia divina e na certeza de que Deus proveria o Cordeiro perfeito para expiação dos pecados. Ela foi salva por Jesus e seu sangue derramado na cruz, como acontece com qualquer pessoa que crê no Salvador. Ela mesma diz isso:
(Lc 1:46-47) “Disse, então, Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.”.
Não há qualquer problema em Maria ter tido outros filhos depois de Jesus. Isso em nada a diminui, mas o catolicismo espalhou essa história por interesse, talvez de manter seus representantes amarrados ao celibato. Lembre-se de que filhos são uma bênção de Deus e o sexo que os gera foi dado por Deus no Jardim do Éden, antes da queda do homem, quando Deus disse que se multiplicassem. Certamente quando Deus disse isso no Éden não estava pensando em algo como polinização, mas em uma relação sexual entre marido e mulher.
Respondendo sua outra pergunta, se Maria fosse corredentora com Jesus, ela precisaria ter sido divina, perfeita, sem pecado e fruto da concepção do Espírito Santo. Além disso, ela precisaria ter morrido e derramado seu sangue para expiar os nossos pecados. Quem redime precisa pagar um preço, e no caso de nossa redenção o preço que devia ser pago era sangue de um cordeiro sem defeito. Não encontramos nada a respeito de Maria morrendo para pagar o preço de nosso resgate.
A Bíblia deixa claro quem é o Redentor, sempre falando de Jesus:
(1 Tm 2:6) “… o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo”.
(Cl 1:14) “… em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados;”.
(Rm 3:24) “… sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus,”.
(Hb 9:12) “… nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção”.
Agora para sua meditação: Você já chegou a pensar na gravidade do pecado que as pessoas cometem ao considerarem Maria como corredentora? Elas estão insinuando que Jesus é meio-Salvador e, portanto, insuficiente para fazer uma obra completa de redenção do pecador. Será que alguém, na glória, diante daquele que enche os céus, terá coragem de chamá-lo de co-Redentor, co-Salvador ou co-Autor da nossa salvação?
(Jo 14:6) “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”.
(At 4:12) “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.
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Devo sair da igreja?
Considerando que ninguém é capaz de sair da Igreja que é o corpo de Cristo, sua pergunta tem a ver com sair da denominação da qual é membro. Segundo você relatou, o pastor da igreja onde você se congrega caiu em adultério, foi morar com outra mulher, se arrependeu, voltou para a esposa, e foi colocado em disciplina de três anos pela convenção da igreja.
Não aceitando tal disciplina, por conta própria o pastor transformou sua disciplina em três meses, causando indignação entre muitos membros da igreja que saíram dela. Sua dúvida é se deve permanecer lá com os poucos que ficaram.
Imagine que você viesse me perguntar sobre a cor que deve pintar sua nova casa, os móveis que deve comprar, os quadros, etc. Então você recebe uma notificação da prefeitura informando que construiu sua casa no terreno errado. Faria sentido continuarem perguntando sobre a decoração?
Não sou da prefeitura, mas posso afirmar a você que essa “casa” ou igreja da qual está falando foi construída no terreno errado.
Não existe qualquer fundamento bíblico para uma congregação ter um pastor à frente, como se fosse um líder ou dono do pedaço. Na Palavra você encontra os presbíteros ou anciãos que zelavam pela assembleia em uma cidade ou localidade, mas eram anciãos de TODOS os cristãos daquela localidade, não de um grupo ou “denominação”.
Esses que ocupavam o ofício de ancião não necessariamente ensinavam, apascentavam ou pregavam, pois isso devia ser feito pelos dons. Aqueles que tinham o dom eram usados para isso.
Não existe qualquer fundamento bíblico para uma congregação local estar sujeita a uma “convenção da igreja” como se fosse a filial de uma grande matriz. Na Bíblia existe uma só igreja, o único corpo de Cristo que é representado localmente por uma assembleia congregada ao nome do Senhor.
Esta reconhece a ele como o centro da reunião e como Senhor, e suas ações são fundamentadas pela autoridade que ele concedeu à assembleia de tomar decisões (ligar ou desligar) nas coisas relativas a esta vida e a este mundo, decisões essas honradas pelo Senhor no céu.
Uma assembleia assim revestida da autoridade do Senhor toma as decisões sem precisar de uma “convenção”, e as decisões tomadas são respeitadas pelas demais assembleias nas diferentes localidades. É isso o que você encontra na doutrina dos apóstolos.
Quando alguém cai em pecado, a assembleia local tem poder e autoridade para decidir o que fazer, sempre buscando o arrependimento e restauração do que caiu em um pecado moral, de conduta, doutrinário, etc. Essa pessoa é excomungada, ou seja, colocada fora da comunhão com os irmãos e da mesa do Senhor, mas não da Igreja ou do corpo de Cristo, lugar que pertence a todo salvo e que é irreversível.
Não existe uma “tabela” do tipo “adultério: três anos; roubo: quatro anos; mentira: seis meses”, etc. A suspensão da disciplina depende do arrependimento do infrator e da direção do Espírito Santo, não de uma regra ou estatuto.
Como pode ver, não há nem o que dizer, pois a casa toda foi construída em terreno errado e a única coisa que posso dizer a você é que saia desse “arraial” para Cristo. Ninguém deveria se filiar a denominação alguma, pois não há qualquer base bíblica para isso. Siga o conselho de 2 Timóteo:
(2 Tm 2:19-22) “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra. Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
Não se preocupe com os que deixará para trás, porque o Senhor conhece os que são seus. Sua responsabilidade é apartar-se da iniquidade (que é patente no caso que citou) e das pessoas associadas a ela. Mas não apartar-se para ficar só, mas para estar congregado para Cristo, ao nome dele somente.
(Hb 13:13) “Saiamos, pois, a ele [Jesus] fora do arraial, levando o seu vitupério”.
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A Bíblia fala de dirigentes de uma igreja?
O que você encontra em Timóteo 3 não tem o mesmo caráter do pastor que dirige uma congregação, que é prática comum nas denominações. Trata-se de bispos no plural, com a finalidade, não necessariamente de pregar, mas de zelar pelo rebanho. Pastor é um dom, como evangelista e mestre. Bispo ou ancião é um ofício.
No princípio os bispos eram escolhidos por ordem dos apóstolos (que já não existem), como você vê em Tito:
(Tt 1:5) “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem o que ainda não o está, e que em cada cidade estabelecesses anciãos, como já te mandei”.
Também os bispos eram assim estabelecidos por cidade (não por grupo de cristãos ou denominação). No atual estado de coisas, quando não temos mais apóstolos para darem a ordem que Paulo deu a Tito, e quando os cristãos estão divididos, é impraticável estabelecer bispos de cidade em cidade. Quem faz isso (como fazem os católicos) está considerando que igreja é só o seu grupo, e não todos os outros crentes em uma cidade.
Resta nos contentarmos com a outra forma esses bispos são estabelecidos, ou seja, pelo Espírito Santo, como o apóstolo disse que ocorrera com os anciãos (bispos) de Éfeso:
(At 20:28) “Cuidai pois de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue”.
Assim, hoje podemos reconhecer aqueles que têm o cuidado do rebanho, mas seria inviável apontá-los ou denominá-los como tais, sob o risco de estarmos sendo pretensiosos, como se os bispos ou anciãos, que deviam ser para todos os cristãos em uma cidade, tivessem seu trabalho limitado a um grupo apenas. Ou como se apenas aquele grupo fosse realmente formado por todos os cristãos naquela localidade.
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O que fazer agora que me apartei?
Agora que você entendeu o erro que é estar congregado sob uma bandeira denominacional, o Senhor lhe dará a direção a partir desse primeiro passo que é o de se apartar completamente do erro. O segundo será pedir por seu lugar à comunhão à mesa do Senhor na assembleia mais próxima, pois Deus não quer que fiquemos sem congregar.
O fundamento para apartar-se do erro, não para ficar sozinho, mas para estar congregado, você encontra em 2 Timóteo e em outras passagens:
(2 Tm 2:19-22) “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra. Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
Depois de pedir seu lugar à comunhão à mesa do Senhor, os irmãos irão orar a respeito e provavelmente um ou dois irmãos irão visitá-lo para conversar e se conhecerem melhor, ou você mesmo poderá visitar alguma assembleia de irmãos congregados ao nome do Senhor. A mesa do Senhor é do Senhor, mas são homens que têm a responsabilidade de zelar para que ela não seja contaminada por algum pecado.
Portanto, o primeiro passo é começar por onde as coisas começam: na presença do Senhor. Orar para que ele dê a direção, pois esta deve vir dele para que seja a melhor.
Uma ocasião o Senhor disse aos discípulos para irem preparar a páscoa e a melhor coisa que eles fizeram foi perguntar: “Onde queres que a preparemos?”. A partir disso o Senhor dá a eles instruções detalhadas para que seguissem um homem carregando um cântaro (coisa inusitada, já que eram mulheres que carregavam cântaros) até um andar elevado (acima do nível do mundo). O detalhe era que a sala já estaria mobilada, isto é, pronta para receber todos eles sem faltar lugar. Veja o texto:
(Lc 22:8-14) “E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a Páscoa, para que a comamos. E eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos? E ele lhes disse: Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar. E direis ao pai de família da casa: O mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de comer a Páscoa com os meus discípulos? Então, ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado; aí fazei os preparativos. E, indo eles, acharam como lhes havia sido dito; e prepararam a Páscoa. E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e, com ele, os doze apóstolos”.
Esta é a ordem das coisas: (1) Perguntar ao Senhor, (2) Ouvir as instruções de sua Palavra, (3) Seguir o “homem com o cântaro”, uma figura do Espírito Santo; (4) Subir ao lugar que fica acima do nível do mundo (cenáculo); (5) Desfrutar da presença do próprio Senhor.
É claro que antes disso vem a decisão de abandonar definitivamente os sistemas criados pelos homens que acabam dividindo os cristãos por diferentes nomes, dogmas e doutrinas, para estar livre de amarras e compromissos. Muitas vezes isso trará a você uma perseguição maior até do que a que enfrentamos dos incrédulos no mundo, pois muitos líderes religiosos não querem perder seguidores.
Há em todo o mundo muitos que compartilham dessa ideia e que já estão congregados ao nome do Senhor, mas isso deve ser sempre um exercício individual. Você não pode decidir por seus amigos e nem mesmo por sua esposa, pois se trata de uma responsabilidade (e um privilégio) pessoal que cada um tem de ter perante o Senhor.
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As virgens de Mateus 25 representam a igreja?
Neste ponto eu não concordo com o autor do livro que mencionou isto e que seja especificamente da Igreja que fala a parábola. Creio que a parábola de Mateus 25 fala do testemunho de um modo geral (porque fala de luz) e a relação ali parece ser muito mais com Israel do que com a Igreja.
A parábola começa falando do reino dos céus, que é o caráter da profissão neste mundo, que mescla verdadeiros e falsos em sua profissão individual de fé. No reino dos céus há joio e trigo, virgens tolas e prudentes. Não devemos nos esquecer de que as virgens não são noivas do noivo, mas fazem o papel que hoje chamaríamos de damas de companhia.
Em certo sentido o Senhor tem duas noivas ou esposas: Israel e a Igreja. Cantares é uma ode de amor do Noivo para a noiva, e ali é de Israel que está falando.
O livro de Ester tem um profundo significado em forma de figuras, no qual Assuero está no papel da autoridade máxima (que é Deus, mas Deus não é citado no livro), e a esposa gentia desse rei o despreza (uma figura da igreja antes do arrebatamento, orgulhosa, no espírito de Laodiceia, que não quer testemunhar de sua glória para o mundo). Então ela sai de cena (é reprovada como testemunho) e uma esposa judia toma o seu lugar em um período de grande tribulação.
Continuando com os tipos, Mardoqueu seria um tipo de Cristo, o homem obediente que salva a vida e a honra do rei em troca de nada e também, por isso, acaba sendo instrumento na salvação do povo judeu. Assim como Jesus na tentação do deserto, Mardoqueu nega-se a prestar adoração a Hamã, uma figura de Satanás.
J. N. Darby faz o seguinte comentário da parábola das virgens:
“Os professos, durante a ausência do Senhor, são aqui representados como virgens, que saem para encontrar o Noivo, e iluminarem seu caminho até a casa. Nesta passagem ele não é o Noivo da igreja. Ninguém irá encontrar-se com ele para suas núpcias com a igreja no céu. A noiva não aparece nesta parábola. Se ela tivesse sido apresentada aqui, então teria sido Jerusalém na terra. Neste sentido a assembleia não é vista nestes capítulos. Aqui se trata da responsabilidade individual durante a ausência de Cristo”.
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O que é apostasia?
Apostasia é o abandono da verdade. Sempre que alguém se desvia da verdade pode ser considerado um apóstata. No sentido bíblico, acho melhor traduzir aqui algo que encontrei no Concise Bible Dictionary:
Embora a palavra ‘apostasia’ não ocorra na Versão Autorizada, a palavra grega ocorre e é dela que a palavra inglesa provém. Em Atos 21:21 Paulo foi informado de que era acusado de ensinar os judeus que viviam entre os gentios a apostatarem de Moisés. Paulo ensinava a libertação da lei pela morte de Cristo e isso podia parecer a um judeu zeloso como apostasia. A mesma palavra é usada em 2 Ts 2:3, onde é ensinado que o dia do Senhor não poderia vir até que viesse ‘a apostasia’, ou o abandono do cristianismo em conexão com a manifestação do iníquo (anticristo).
Embora a apostasia generalizada de que fala ali só possa ocorrer depois que os santos forem levados para o céu (arrebatamento), mesmo assim pode ocorrer, como tem ocorrido, um abandono individual da verdade. Veja, por exemplo, Hb 3:12; 10:26-28, e a epístola de Judas. Há avisos solenes também que mostram que esse tipo de apostasia ocorrerá cada vez mais e de modo generalizado à medida que a atual dispensação se aproxima de seu fim. 1 Tm 4:1-3. O abandono da verdade necessariamente implica uma posição que possa ser abandonada, uma profissão (de fé) que tenha sido feita e da qual se tenha deliberadamente desistido. Isto é, como dizem as escrituras, como o cão voltando ao seu vômito, e a porca que volta a revolver-se no lamaçal. Não se trata do cristão caindo em algum tipo de pecado, pois disso a graça pode recuperá-lo; mas trata-se de um definitivo abandono do cristianismo. As escrituras mostram que não existe esperança no caso da apostasia deliberada, mas mesmo assim nada é difícil de mais para o Senhor.
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Filhos de crentes estão salvos?
Não há qualquer base para dizer que filhos de crentes estejam salvos, mas podemos dizer que “estão a salvo”, isto é, são beneficiados com a atmosfera cristã em que vivem seus pais. Em certo sentido eles são privilegiados por serem mantidos à parte da corrupção que há no mundo.
Os filhos de um crente são santos, mas isto não significa que sejam salvos (a menos que morram na infância, antes de terem a capacidade de decidir). Não só os filhos são santos, mas o cônjuge incrédulo também:
(1 Co 7:14) “Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos”.
“Santo” significa “separado”. Alguém que viva numa atmosfera cristã está sendo abençoado com a santidade ou separação do mundo, mas precisará crer em Cristo se quiser ser salvo. Os utensílios do Antigo Testamento eram santificados (separados) para o uso do Senhor, mas isso não significa que iremos encontrá-los no céu.
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Quem são os pastores de Hebreus 13:17?
Na versão que você utiliza aparece a palavra “pastores”, mas na maioria das versões a palavra utilizada é “guias” ou “líderes”, pois está falando de um ofício (como presbíteros ou anciãos) e não de um dom (como o de pastor).
(Almeida Corrigida) “Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil”.
(Ave Maria) “Sede submissos e obedecei aos que vos guiam (pois eles velam por vossas almas e delas devem dar conta). Assim, eles o farão com alegria, e não a gemer, que isto vos seria funesto”.
(Darby) “Obedecei a vossos líderes, e sejais submissos; pois eles velam por vossas almas como quem deve prestar contas; para que possam fazer isso com alegria, e não gemendo, pois isto não vos traria proveito algum”.
(NV Internacional) “Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês”.
(Almeida Atualizada) “Obedecei a vossos guias, sendo-lhes submissos; porque velam por vossas almas como quem há de prestar contas delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil”.
Os “guias” ou “líderes” ali são aqueles que têm o cuidado e a preocupação com o rebanho, e não os pastores profissionais formados em uma faculdade teológica ou os homens que ficam à frente de uma congregação. E é sempre no plural, “vossos guias”, nunca “vosso guia”.
No versículo 7 fala dos guias que pregaram a palavra, e no versículo 17 dos que agora têm a responsabilidade da congregação. A aplicação correta do versículo é com relação aos anciãos de uma congregação, que podem ou não ter o dom de pastor, e podem ou não ministrar a Palavra.
Não existe na Palavra qualquer indicação de que uma assembleia fosse dirigida por um homem como vemos nas denominações evangélicas que copiaram seu modo de agir do modelo católico clero-leigos. O pastor é um dom e seu papel é o cuidado com o bem estar das ovelhas, o que é feito mais no contato pessoal e visitas do que na ministração pública da Palavra. Outros dons são evangelista, voltado aos incrédulos, e mestre, este sim mais ocupado com o ensino público da Palavra.
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Quem nasce de novo já está batizado?
Você escutou uma pregação que fiz sobre Nicodemos e ficou com dúvidas quanto ao batismo. Talvez minha mensagem não tenha sido clara e isso fez você pensar que uma pessoa nascida de novo estaria automaticamente batizada, dispensando assim o batismo nas águas.
Na verdade o que eu quis dizer é que em sua conversa com Nicodemos o Senhor não está falando de batismo. Batismo não é o assunto ali, e sim o novo nascimento. A grande maioria dos cristãos interpreta a passagem como se Jesus estivesse dizendo a Nicodemos que, para nascer de novo, ele precisaria ser batizado nas águas.
Minha explicação fez você pensar em outra possibilidade (que não era minha intenção), isto é, a de que ao receber a Palavra a pessoa estaria sendo “batizada” pela Palavra, assumindo esta o lugar das águas. Sinceramente, nem eu achei que alguém poderia ter interpretado minha mensagem assim, o que mostra a responsabilidade de quem prega. Como dizia um especialista em publicidade, “comunicação não é o que você diz, mas o que as pessoas entendem” (Olgivy).
Mas o assunto na pregação que escutou em mp3 não é batismo e a água no texto de João 3 não é água literal, mas a Palavra de Deus. O assunto ali com Nicodemos (e que foi o tema de minha pregação) é que o novo nascimento só vem pela Palavra de Deus que é derramada na alma e se transforma em vida, uma obra divina e não humana.
Batismo é outra coisa, é uma ordenança que devemos cumprir, mas que não tem o poder de salvar ou transformar uma pessoa. O batismo apenas a coloca numa nova posição de quem agora tem responsabilidades para com o nome de Cristo, que agora leva sobre si o nome de Cristo. Usando uma expressão popular, o batismo é vestir a camisa do time, mesmo que isso não faça de você um jogador. Uma pessoa batizada não significa uma pessoa salva, mas uma pessoa nascida de novo sim. A obra completa é:
1. Você escuta a Palavra (a “água” em João 3)
2. Deus transforma essa Palavra em vida (como Jesus transformou água em vinho em João 2) fazendo você nascer de novo (ou do alto)
3. Você crê no Evangelho (alguém espiritualmente morto seria incapaz de crer)
4. Você é selado com o Espírito Santo (o batismo do Espírito é outra coisa que só aconteceu uma vez há dois mil anos para formar a Igreja) e é feito (por Deus) membro do corpo de Cristo, que é a Igreja.
O batismo nas águas poderá ter acontecido antes (se foi batizado antes de crer) ou acontecer depois disso, mas o batismo não tem o poder de salvar, a não ser no que diz respeito a dar a você uma nova consciência de responsabilidade. É uma situação parecida com a santificação da qual o apóstolo Paulo fala, ao dizer que o marido incrédulo é santificado pela esposa crente, ou que os filhos são santos:
(1 Co 7:14) “Porque o marido incrédulo é santificado pela mulher, e a mulher incrédula é santificada pelo marido crente; de outro modo, os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos”.
Você perguntou: “É lendo a palavra (as escrituras) que Jesus me faz crer nele e a partir do momento que eu creio, ele me batiza com o Espírito Santo sem precisar de águas?”.
Sim e não. Sim, é pela Palavra de Deus que nos é revelada a Verdade, e só nascemos de novo quando esta penetra em nossa alma por uma obra de Deus. Não, isto não é um batismo com o Espírito Santo e não tem nada a ver com o batismo nas águas. O batismo com o Espírito é outra coisa que só aconteceu uma vez no dia de Pentecostes (Atos 2). O selo do Espírito é ainda outra coisa, e acontece depois que uma pessoa ouve a Palavra e crê em Jesus. Quem não tem o Espírito nem sequer é salvo.
(Ef 1:13) “em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa;”.
(Rm 8:9) “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”.
Você perguntou: “Precisamos de alguém (humano) para nós batizar?”.
Sim, pois o batismo é uma ordenança dada por Jesus, mas não ao que é batizado, e sim ao que batiza. Em nenhum lugar diz “ide e sede batizados”, mas “ide e batizai”.
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Por que mudaram o nome de Jesus?
Sim o nome é importante, porém existe uma necessidade de traduzi-lo sempre que isso for necessário. Caso contrário, precisaríamos escrever nomes árabes em caracteres arábicos e nomes chineses em ideogramas, o que tornaria os nomes ininteligíveis para ocidentais. Há casos na Bíblia em que nomes são alterados, como Saulo (que na verdade é Saul) que passa a ser identificado como Paulo a partir de certo ponto de Atos dos Apóstolos.
Existem algumas seitas hoje que fazem um grande alarde da questão do nome de Jesus, mas se você examina mais atentamente suas doutrinas descobre que a questão do nome é apenas uma cortina de fumaça para esconder graves problemas doutrinários. Além disso, todas elas acabam criando algum nome ou denominação sob a qual seus membros se reúnem, aí sim negando a importância que é ter apenas o nome de Jesus para o qual os cristãos devem se reunir.
Traduzi alguns trechos do site “Ask Dr. Brown”, cujo autor é especialista em línguas semíticas. Veja o que ele diz:
“O nome hebraico-aramaico original de Jesus é yeshu’a, que é uma forma abreviada de yehosu’a (Josué), assim como Mike é a forma reduzida de Michael. O nome yeshu’a ocorre 27 vezes nas Escrituras Hebraicas (Antigo Testamento), principalmente em referência ao sumo sacerdote após o exílio na Babilônia, o qual é chamado tanto de yehoshu’a (veja, por exemplo, Zacarias 3:3), como mais frequentemente de yeshu’a (veja, por exemplo, Esdras 3:2). Portanto, o nome Yeshua’s não era usual; na verdade, apenas uns 5 homens tinham este nome no Antigo Testamento. Foi assim que o nome se transformou em ‘Jesus” em inglês: o yeshu’a hebraico-aramaico se tornou o grego Iesous, e depois o latino Iesus, passando para o alemão e finalmente para o inglês Jesus.
Por que então alguns se referem a Jesus como Yahshua? Não existe absolutamente qualquer base para essa pronúncia — nenhuma mesmo — e digo isto como alguém que tem um Ph.D. em línguas semíticas. Minha opinião é que algumas pessoas zelosas, porém ignorantes em linguística, acharam que o nome de Yahweh devia aparecer em alguma parte do nome de nosso Salvador, por isso escolheram YAHshua ao invés de Yeshua — mas volto a dizer que não existe qualquer base para esta teoria.
Quanto à conexão que se costuma fazer do nome Jesus (do grego Iesous) com Zeus, esta é uma das alegações mais ridículas que já foram feitas, mas ela ganhou mais projeção nos últimos anos (a Internet é uma ferramenta maravilhosa para desinformar), e alguns crentes acham que não é apenas preferível usar o nome hebraico-aramaico Yeshua, mas que é realmente errado usar o nome Jesus.
Na afirmação [de que o nome grego Iesous teria sido fabricado a partir do nome do deus pagão Zeus] há dois mitos: Primeiro, não existe o nome Yahshua (como já demonstrei) e, segundo, não existe qualquer conexão entre o nome grego Iesous (ou Jesus) e no nome Zeus. Nenhuma conexão! Tentar conectar o nome Jesus ao deus pagão Zeus seria como argumentar que Tiger Woods é o nome de uma floresta infestada de tigres na Índia (‘tiger woods’ em inglês significa literalmente ‘floresta do tigre’). É um absurdo e baseia-se numa séria ignorância linguística”.
O autor do texto continua argumentando que essas ideias têm tanto fundamento quanto o boato de que Elvis está vivo. Segundo ele, o simples fato de o nome grego Iesous ter vindo da versão Septuaginta do Antigo Testamento já comprova de que não se trata de uma corrupção pagã no nome do Salvador, mas simplesmente a forma grega de traduzir o nome hebraico-aramaico Yeshua. Afinal, esse modo de traduzir Yeshua encontrado em hebraico no Antigo Testamento para Iesous em grego foi feito na Septuaginta dois séculos antes do nascimento do Salvador. Esta forma Iesous é também encontrada em mais de cinco mil manuscritos gregos do Novo Testamento e é encontrado também em textos gregos fora do Novo Testamento escritos no mesmo período.
O autor conclui dizendo: “Não se envergonhe de pronunciar o nome JESUS! Esta é a maneira correta de dizer seu nome em inglês, do mesmo modo como Michael é a maneira correta de se dizer, em inglês, o nome hebraico Mikhael, e Moisés é a forma inglesa correta de se pronunciar o nome hebraico Mosheh. Ore em nome de Jesus, louve em nome de Jesus, e testemunhe em nome de Jesus. E aqueles que querem fazer referência ao fato do Messias ser judeu, que usem seu nome original Yeshua — e não Yahshua ou Yahushua — lembrando que o poder do nome não está na sua pronúncia, mas na PESSOA que o nome representa”.
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Antes da queda os animais falavam?
Sua dúvida está no fato de Eva não ter se surpreendido ao encontrar uma serpente falante no jardim do Éden. Fica difícil saber a reação de Eva, já que aparentemente não se passou muito tempo entre sua criação e a conversa que ela teve com a serpente, portanto tudo ainda era muito novo para ela.
É importante lembrar que não foi com um animal que Eva conversou, mas com Satanás, portanto não podemos atribuir a uma cobra a capacidade de oratória. Em Apocalipse deixa claro com quem Eva conversava ali no Éden:
(Ap 20:2) “Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos”.
Portanto não podemos nos basear na passagem do Éden para dizer que animais tenham tido a capacidade de se comunicarem com humanos no passado. A única outra passagem na Bíblia que mostra alguém aparentemente conversando com um animal está em Números 22:27 em diante:
“E, vendo a jumenta o Anjo do Senhor, deitou-se debaixo de Balaão; e a ira de Balaão acendeu-se, e espancou a jumenta com o bordão. Então, o Senhor abriu a boca da jumenta, a qual disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste estas três vezes? E Balaão disse à jumenta: Porque zombaste de mim; tomara que tivera eu uma espada na mão, porque agora te mataria. E a jumenta disse a Balaão: Porventura, não sou a tua jumenta, em que cavalgaste desde o tempo que eu fui tua até hoje? Costumei eu alguma vez fazer assim contigo? E ele respondeu: Não. Então, o Senhor abriu os olhos a Balaão, e ele viu o Anjo do Senhor, que estava no caminho, e a sua espada desembainhada na mão; pelo que inclinou a cabeça e prostrou-se sobre a sua face”.
À semelhança de Eva, Balaão não parece surpreso ao ouvir sua jumenta falar, mas até conversa com o animal. Talvez por ser alguém habituado a invocar demônios (lembre-se de que o midianita Balaão era um adivinhador), Balaão imaginou que houvesse uma entidade espiritual por detrás daquele animal falante. Mas a passagem fala claramente que não era uma habilidade natural da jumenta, mas era Deus usando o animal para se comunicar com Balaão.
Não me recordo de qualquer outra passagem que mostre animais com capacidade de linguagem como têm os seres humanos. Apesar de animais poderem se comunicar entre si de formas até complexas, como as baleias com suas conversas ultrassônicas ou as formigas com suas mensagens químicas, não creio que sejam capazes de articular pensamentos na forma de palavras como fazem os seres humanos, pois para tanto precisariam de capacidade de pensamento conceitual e abstrato, algo que parece nos distinguir. Para todos os efeitos, a Bíblia chama de “mudos” os animais:
(2 Pe 2:16) “Mas teve a repreensão da sua transgressão; o mudo jumento, falando com voz humana, impediu a loucura do profeta”.
A Palavra de Deus também fala que os animais não têm a mesma inteligência dos seres humanos (entenda que é o instinto, e não a inteligência, que leva o pássaro a fazer seu ninho ou encontrar seu caminho migratório):
(Sl 32:9) “Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio, para que se não atirem a ti”.
A capacidade de falar também distingue homens de animais na passagem de Tiago:
(Tg 3:7-10) “Porque toda a natureza, tanto de bestas-feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana; mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus: de uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim”.
Que me perdoem aqueles que se acham capazes de levar um papo com o papagaio ou conversar mentalmente com um gato de estimação, como fazia o jornalista britânico Cyril Hoskins que achava que era o monge tibetano Lobsang Rampa e escreveu um livro ditado por seu gato, mas continuo acreditando que o homem é a coroa da criação, um ser inigualável, criado à imagem e semelhança de Deus. Como se isto não bastasse, o Filho de Deus quis assumir a forma humana e agora há um HOMEM no céu, ressuscitado em carne e ossos, o primeiro de muitos que viverão para sempre lá na mesma condição em que agora já está o Salvador.
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A profecia de Joel 2 se cumpriu em Atos 2?
Atos 2 faz referência à profecia de Joel 2, mas não creio que Pedro esteja afirmando ali que a profecia estivesse se cumprindo em sua totalidade. Tudo indica que aquilo foi apenas uma prévia do que será o pleno cumprimento da profecia nos “últimos dias”.
É comum encontrarmos profecias na Bíblia que começam a se cumprir em um momento e só terminam anos ou séculos depois. Um caso assim é o da profecia de Ezequiel 26 sobre Tiro. A primeira parte, que fala da destruição da cidade no versículo 4, aconteceu entre 587 AC e 574 AC e foi protagonizada por Nabucodonosor quando destruiu a porção continental da cidade, derrubando suas muralhas.
O versículo 5, porém, só veio a ocorrer 250 anos depois, quando Alexandre, o Grande, usou as ruínas da cidade destruída por Nabucodonosor para alcançar a ilha fortificada de Tiro, para onde fugiram os habitantes após a destruição da porção original e continental da cidade. Alexandre usou o entulho das muralhas para construir um caminho no mar e atacar a ilha fortificada, que era conhecida então como Tiro.
A profecia de Joel 2:28 segue nos versículos posteriores, e inclui algumas pistas importantes. Por exemplo, Joel fala dos “últimos dias” e um estudo das epístolas mostra que existe uma diferença entre “últimos tempos” e “últimos dias”, os “últimos tempos” são de maior amplitude e os “últimos dias” referem-se a um tempo do fim do atual estado de coisas. Ainda que Atos 2 fosse considerado como “últimos tempos”, hoje, dois mil anos depois, sabemos que não eram os “últimos dias”.
Outra pista importante da profecia está na expressão “do meu Espírito derramarei sobre toda a carne”, o que obviamente não foi o caso em Atos 2, pois um número limitado de pessoas foi ali beneficiada com o derramar do Espírito.
A promessa de “prodígios em cima no céu e sinais em baixo na terra: sangue fogo e vapor de fumaça” também mostra que Atos 2 não é o total cumprimento da profecia de Joel. Tudo isso tem muito mais a ver com a vinda de Cristo para Israel no final do que com a formação da Igreja, que é o que encontramos em Atos 2.
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Por que Deus quis matar Moisés?
Talvez a resposta esteja em observarmos o que impediu Deus de matar Moisés: o fato de sua esposa Zípora ter circuncidado seus dois filhos naquele momento crítico:
(Êx 4:24-26) “E aconteceu no caminho, numa estalagem, que o Senhor o encontrou e o quis matar. Então, Zípora tomou uma pedra aguda, e circuncidou o prepúcio de seu filho, e o lançou a seus pés, e disse: Certamente me és um esposo sanguinário. E desviou-se dele. Então, ela disse: Esposo sanguinário, por causa da circuncisão”.
Sendo assim, podemos deduzir que Moisés teria falhado em obedecer a Deus neste sentido, conforme já havia sido ordenado a Abraão muito tempo antes:
(Gn 17:9-14) “Disse mais Deus a Abraão: Tu, porém, guardarás o meu concerto, tu e a tua semente depois de ti, nas suas gerações. Este é o meu concerto, que guardareis entre mim e vós e a tua semente depois de ti: Que todo macho será circuncidado. E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal do concerto entre mim e vós. O filho de oito dias, pois, será circuncidado; todo macho nas vossas gerações, o nascido na casa e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua semente. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; e estará o meu concerto na vossa carne por concerto perpétuo. E o macho com prepúcio, cuja carne do prepúcio não estiver circuncidada, aquela alma será extirpada dos seus povos; quebrantou o meu concerto”.
Zípora, esposa de Moisés, não fazia parte do povo de Israel, mas era uma midianita. Em Num. 22:4, 7 e Num. 25:6-18 vemos os midianitas se colocando contra o povo de Israel e até mesmo desviando o povo dos caminhos de Deus.
Minha suposição é que talvez Moisés tenha desejado circuncidar seu filho conforme o mandamento de Deus, mas sua esposa, midianita e estranha à fé e prática do povo de Deus, se opôs. Diante da iminente morte do marido ela teria voltado atrás e circuncidado o próprio filho, mas não sem protestar e chamar seu marido de sanguinário (talvez se referindo à da circuncisão que ele era obrigado a cumprir em obediência a Deus).
Lição para nós: se você tomar um cônjuge que não seja do povo de Deus certamente terá dificuldades em convencer seu cônjuge a permitir que você crie seus filhos nos caminhos do Senhor. Disso irá gerar conflitos e alguém acabará sendo obrigado a ceder (geralmente o cônjuge crente) e abrir mão de suas convicções para manter o casamento. Talvez seja por isso que vemos Moisés tomando sua mulher e filhos e entregando-os ao sogro em Êxodo numa aparente e temporária separação:
(Êx 18:2-4) “E Jetro, sogro de Moisés, tomou a Zípora, a mulher de Moisés, depois que ele lha enviara, com seus dois filhos, dos quais um se chamava Gérson, porque disse: Eu fui peregrino em terra estranha; e o outro se chamava Eliézer, porque disse: O Deus de meu pai foi minha ajuda e me livrou da espada de Faraó”.
Aos olhos de um incrédulo, a obediência a Deus é algo tão absurdo quanto era para Zípora o desejo de seu marido Moisés cortar um pedaço da carne de seu próprio filho. Mas toda obediência sempre começa cortando a carne, e Deus não poderia usar Moisés como usou se ele não começasse por algo tão básico para o crente, quanto cortar a própria carne.
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Quando foi que Jesus morreu?
Se os exatos dia e mês da morte de Jesus fossem importantes, Deus os teria revelado na Bíblia. O que sabemos, e está revelado, é que Jesus morreu numa sexta-feira e ressuscitou num domingo. O autor do texto faz uma afirmação equivocada por entender a passagem também de forma equivocada:
Diz ele:
“Ora, verificamos pela Bíblia que Jesus ressuscitou as últimas horas do dia de Sábado, segundo o horário hebraico. O texto de Mateus 28:1, relatando a primeira visita das mulheres ao sepulcro, diz: ‘No findar do Sábado, ao entrar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. Mas o anjo lhes disse: Ele não está aqui; ressuscitou, como havia dito’. (Verso 6) Assim, ao findar o Sábado semanal, quando se aproximava o pôr-do-sol, Cristo já havia ressuscitado!”.
A questão é que você precisa pensar como um judeu da época para entender o que o texto diz. Primeiro, o dia judeu começava e terminava ao entardecer, e não à meia-noite como consideramos hoje. Segundo, o Sábado não era apenas mencionado como um dia da semana, mas pela qualidade do dia, como é o caso aqui. Parafraseando a Bíblia, poderíamos ler assim: “No findar do tempo determinado por Deus para o descanso, ao entrar o primeiro dia da semana…”. Ou seja, entendo que o autor está mencionando o Sábado apenas como indicação de que elas não estariam transgredindo a Lei. Ele está dizendo que o Sábado ou período de descanso já tinha terminado.
Veja outras traduções:
(Ave Maria) “Depois do sábado, quando amanhecia o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo”
(NVI) “Depois do sábado, tendo começado o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro”.
Ao adotar uma referência equivocada, obviamente o autor do artigo acabará chegando a outra conclusão igualmente equivocada:
“Concluindo, podemos afirmar, baseados nas Escrituras, que Cristo morreu cerca das 15 horas e foi sepultado, quase ao pôr-do-sol de quarta-feira, e ressuscitou quase ao pôr-do-sol de Sábado”.
Se tivéssemos apenas o versículo que ele citou em Mateus 28 a interpretação poderia parecer dúbia, mas Marcos 16:9 esclarece com todas as letras que Jesus ressuscitou na manhã do Domingo e não ao pôr-do-sol do Sábado:
(Mc 16:9) “E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios”.
O Senhor Jesus usou a frase “coar mosquito e engolir camelo” em relação aos fariseus, que ficavam preocupados com minúcias e não davam atenção às reais intenções de Deus na sua Palavra. É o caso do primeiro dia da semana, que a Palavra de Deus mostra ser o dia quando os discípulos se reuniam ao nome do Senhor, para celebrar a ceia do Senhor e assim lembrar sua morte na cruz.
Com o passar dos séculos os cristãos substituíram o nome do Senhor pelo nome de suas “igrejas”, substituíram o dia do Senhor (que temos uma vez por semana) por um dia quinzenal, mensal ou anual, ou acabaram dando mais importância a outros dias chamados “santos”, e fizeram da ceia do Senhor um ritual quase mágico, como se fosse um meio de se receber a Cristo ou ganhar alguma bênção, alguns achando até se tratar de uma repetição da morte de Cristo. Como pode ver, quando ficamos preocupados com o mosquito de detalhes que Deus não quis revelar, acabamos engolindo uma cáfila de erros.
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Quer ser membro da minha igreja?
Sei que foi com a melhor das intenções que você me convidou a filiar-me à sua denominação. Porém, será que você conseguiria indicar na Palavra de Deus que devo pertencer a uma denominação ou me congregar sob uma bandeira denominacional? Será que existe qualquer indicação de que eu deva me unir a uma “igreja” que não inclua em seu “rol de membros” todos os que foram salvos por Cristo, mas apenas alguns?
Não, você não pode encontrar na Palavra de Deus fundamento para o convite que me faz, pois não há denominações na Palavra de Deus. Como posso pertencer a uma “igreja” que foi fundada por um homem no começo do século 20 se a igreja à qual pertenço foi fundada por Deus no primeiro século? Deveria eu pertencer à igreja que Deus fundou há dois mil anos e também a uma igreja fundada por homens há cem anos? Certamente não.
Portanto agradeço seu convite, mas continuarei congregado somente ao nome do Senhor Jesus com outros irmãos que igualmente não pertencem a nenhum sistema ou denominação criada por homens, pois isto sim eu encontro nas Escrituras. Continuarei pertencendo “a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”, e não a alguma organização criada pela vontade humana.
Continuarei crendo que todos aqueles que verdadeiramente se converteram pela fé em Jesus e na eficácia de sua obra na cruz, não importa onde estejam congregados, fazem parte do mesmo corpo do qual faço parte, o corpo de Cristo. Continuarei convicto de que a salvação está em Cristo, e não em uma denominação ou organização que os homens chamam de “igreja” ou “congregação”.
E continuarei aguardando para qualquer momento a vinda de meu Salvador para encontrar-me com ele “entre nuvens”, junto com TODOS os que em todas as eras creram no Cordeiro que Deus proveu para, com seu sangue, nos purificar de todos os nossos pecados. E tampouco irei querer levar sobre mim um nome ou denominação que não possa ser compartilhado por TODOS os salvos.
Você poderá sempre me chamar de “cristão”, “crente”, “santo”, “irmão” ou qualquer nome que possa ser aplicado a todos os salvos por Cristo. Mas não me verá levando um rótulo como “congregacional”, “batista”, “presbiteriano”, “católico”, “assembleiano” ou qualquer outro nome que divida os salvos por compartimentos.
No céu não existirá nada disso, e ficaria estranho eu orar “seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu” se me identificasse aqui na terra por um nome que Deus não usaria jamais no céu para identificar os seus.
Como poderia eu, que pertenço ao corpo de Cristo, que inclui todos os salvos, me fazer membro de outro “corpo” ou “igreja” à qual pertencem apenas alguns salvos? E como poderia eu próprio fazer-me membro de alguma coisa, quando foi Cristo quem me fez membro do seu corpo que é a igreja? “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”. “Agora, porém, há muitos membros, mas um só corpo”.
Quando Cristo vier buscar a sua igreja, é a igreja que pertence a ele que virá buscar, e dela fazem parte você, eu e todos os salvos. Eu irei, você irá, mas sua denominação com seus templos e tudo mais ficará aqui.
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De quem é a voz que diz “Eis o Noivo”?
Primeiro é importante entender que a parábola das dez virgens está sendo dada no evangelho ao remanescente judeu que crê em Jesus. Sua primeira aplicação, portanto, é para os amigos do noivo (no caso as virgens), que são as damas de companhia. Não se trata de uma cena que antecede uma espécie de casamento coletivo ou poligâmico, mas trata-se da condição individual de cada um que espera por seu Senhor.
Porém, considerando que estamos falando do testemunho individual do cristão e da expectativa que ele deve ter de se encontrar com Cristo a qualquer momento, então a parábola também nos serve neste sentido como exortação e consolo. Entenda, portanto, que não estou falando da parábola como uma alusão direta ao arrebatamento da Igreja, mas ao estado em que devemos nos encontrar, isto é, de expectativa e como um testemunho eficaz (lâmpadas) que só pode existir quando seu combustível (azeite) vem do Espírito Santo de Deus.
Durante séculos a volta de Cristo como o Noivo de sua noiva, a Igreja, ficou praticamente esquecida. Os cristãos eventualmente falavam da vinda de Cristo como Juiz e Rei, para julgar o mundo e reinar sobre ele, mas não há muita coisa sobre sua vinda como Noivo, não para julgar ou reinar sobre a Igreja, mas para levá-la para as núpcias, a festa de casamento.
No início do século 19 na Inglaterra houve um forte movimento neste sentido, principalmente por cristãos que voltaram à leitura da Bíblia ao invés de continuarem aprendendo o que era ensinado pelas religiões de sua época. Para você ter uma ideia, o livro de orações oficial da igreja anglicana, usado nos cultos daquela denominação que era a igreja oficial da Inglaterra, não trazia qualquer menção sobre a vinda de Cristo como o noivo.
Embora existam algumas referências anteriores à vinda de Cristo para sua Igreja, para nos encontrarmos entre nuvens com o Senhor, nada se igualou ao movimento ocorrido no século 19 e que teve como consequência um fervor inigualável da parte dos cristãos de levarem o evangelho por todo o mundo. É dessa época que temos as histórias dos muitos missionários para países distantes levando as boas novas de salvação.
A parábola das virgens nos mostra um tempo quando cristãos verdadeiros (portadores de uma luz que só é possível ter por obra do azeite do Espírito Santo) e meros professos (pessoas que apenas se uniram a alguma religião cristã) estariam vivendo juntos, mas acabariam sendo distinguidos por terem ou não o azeite do Espírito que mantêm suas luzes de testemunho acesas. Todos ouviriam o brado “Aí vem o noivo” ou “Eis o noivo”, mas nem todos estariam com o azeite que possibilita uma luz real de testemunho.
Se você estudar a história da igreja verá que o anúncio da vinda de Jesus para os seus é algo relativamente novo (embora já estivesse na Bíblia). Portanto esse brado, de que Jesus está aí para consumar as núpcias, é a voz da qual você perguntou. A Bíblia não diz quem deu o brado, mas ele certamente foi dado, pois eu e você já ouvimos. Curiosamente, existe um manuscrito da versão Vulgata Siríaca que diz: “Ai vem o Noivo com sua noiva”, o que faz sentido, pois as virgens ou damas de companhia seriam as acompanhantes, e não a noiva.
O modo como alguém dá atenção a esse brado feliz é o que distingue um salvo de um perdido. O salvo se alegra por saber que a qualquer momento estará com o Noivo. Não há nada que deva acontecer antes da vinda de Jesus para arrebatar os seus, por isso o apóstolo Paulo já se incluía entre os que aguardavam esse momento, quando escreveu “nós, os vivos, os que ficarmos…”.
O incrédulo se apavora ao ouvir esse brado e passa a se preocupar com catástrofes, profecias, fim do mundo e coisas do tipo, pois sua esperança está no mundo, não no encontro com o Noivo no céu. Ele está mais preocupado com o que poderá perder com as destruições que ocorrerão por isso, toda essa preocupação com Nostradamus, 2012 e outras ideias diversas de fim do mundo como sempre ocorreram na história da humanidade (a vinda do Cometa Halley foi assim no passado). O crente, porém, vive na expectativa do que já ganhou e que está para se manifestar a qualquer momento.
Quer a pessoa esteja entre os salvos da atual dispensação da Igreja e que aguardam o Senhor Jesus para qualquer momento no arrebatamento, quer seja alguém que viverá em dias futuros, quando vier a tribulação sobre o mundo (depois que a Igreja foi tirada daqui) e um remanescente de judeus e gentios se converter, uma coisa é certa: o brado “Eis o noivo” já foi dado e não será dado novamente.
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Se o justo não iria mendigar, por que Lázaro era mendigo?
Sua dúvida surge do contraste entre duas passagens: o Salmo 37:25, onde Davi diz que “Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua semente a mendigar o pão”, e também do evangelho de Lucas 16:20, que fala do “mendigo, chamado Lázaro”, que vai para o seio de Abraão depois que morre.
Existem afirmações genéricas na Bíblia que são verdadeiras por serem genéricas. Por exemplo, dizer que os justos são abençoados é uma afirmação genérica. Embora existam muitos justos que morreram sem terem acesso às bênçãos em seu período de vida, cedo ou tarde a afirmação se cumprirá.
Moisés, por exemplo, foi impedido de entrar na terra prometida, algo que sempre desejou fazer. Séculos depois, na cena da transfiguração, vemos Moisés exatamente na terra aonde almejava entrar, ao lado de Jesus e Elias. Deus enxerga as coisas em termos de eternidade. Vamos ver parte do contexto da passagem do Salmo (o contexto é muito mais amplo, porque é um Salmo profético que se refere ao remanescente judeu que será salvo na tribulação):
(Sl 37:21-29) “O ímpio toma emprestado, e não paga; mas o justo se compadece e dá. Porque aqueles que ele abençoa herdarão a terra, e aqueles que forem por ele amaldiçoados serão desarraigados. Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e deleita-se no seu caminho. Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a sua mão. Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua semente a mendigar o pão. Compadece-se sempre, e empresta, e a sua semente é abençoada. Aparta-te do mal e faze o bem; e terás morada para sempre. Porque o Senhor ama o juízo e não desampara os seus santos; eles são preservados para sempre; mas a semente dos ímpios será desarraigada. Os justos herdarão a terra e habitarão nela para sempre”.
Davi está falando de um modo geral, que durante sua existência nunca viu o justo desamparado e a descendência do justo a mendigar o pão (veja que ele não diz que nunca viu o justo mendigar o pão, mas a sua descendência). Não se pode dizer, do ponto de vista da eternidade, que Lázaro tenha sido desamparado, porque no final ele foi amparado sim, e é essa a história do evangelho e o contraste no qual ele aparece em relação ao rico ímpio.
Mas veja que todo o capítulo deste Salmo Davi não está fazendo uma afirmação categórica e isolada, mas mostrando o contraste entre o ímpio e o justo e o que cada um ganha por ser assim. O assunto aqui é o contraste. Veja também que não é possível entender o versículo isolado, pois ele está falando da descendência do justo, e pelos versículos seguintes sabemos que ele está falando de alguém que “compadece-se sempre, e empresta, e a sua semente é abençoada”.
Parafraseando este Salmo, seria como se Davi estivesse dizendo que, das pessoas observadas em seu tempo de vida (de quando era moço até o momento em que escreve, quando é velho), ele deduziu que os justos, compassivos, liberais em emprestar e ajudar, etc. tiveram descendentes que (tendo aprendido tal exemplo) nunca precisaram mendigar o pão. A lição é tão clara e simples que até hoje observamos isso na sociedade, quando vemos alguém bem sucedido e damos o crédito de seu sucesso aos pais que o educaram corretamente e deixaram um bom exemplo.
Quem tentar fazer uma comparação desta passagem com os evangelhos, e escolher justamente Lázaro, o mendigo, para isso, estará perdendo de vista o foco da Bíblia que é Jesus. A sublimidade da passagem que diz “nunca vi desamparado o justo” está justamente em perceber a força que ela tem quando comparamos com o que aconteceu com o único realmente justo que já pisou este mundo: Jesus.
Ele foi sim desamparado, e aí sim poderíamos dizer que Davi errou. Jesus gritou “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” e isso contradiz cabalmente as palavras ditas por Davi, a menos que a gente entenda que Deus precisou desamparar o Justo “para fazer a sua obra, a sua estranha obra, e para executar o seu ato, o seu estranho ato”. (Is 28:21).
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Não devemos utilizar fábulas para ensinar a Bíblia?
Sua indagação é muito interessante, por isso fui investigar um pouco o que você comentou. Realmente o livro “As crônicas de Nárnia” de C. S. Lewis pode ser considerado uma fábula ou alegoria, mas acredito que não seja desse tipo de fábula que o apóstolo Paulo fala em 1 Timóteo.
(1 Tm 1:3-4) “Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns que não ensinem outra doutrina, nem se deem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora”.
Se prestar atenção ao contexto, o apóstolo não está escrevendo que fábula seja uma ferramenta ruim, mas de pessoas que estariam se apegando a fábulas como elas fossem um fim ou a verdade em si mesmas. Em outras traduções, ao invés de “fábulas” você encontra “mitos” e “lendas”, o que parece fazer mais sentido. Como ele fala de doutrina no versículo 3, eu leria a passagem assim: “nem se deem a doutrinas fantasiosas, mitos, lendas ou a genealogias”.
Aliás, estas coisas — lendas, mitos ou doutrinas fantasiosas e genealogias — são o fundamento e a ocupação da religião Mórmon. Seus seguidores têm entre seus escritos sagrados o Livro de Mórmon, que conta uma mirabolante história de uma civilização israelita que deixou Jerusalém antes de sua queda e viajou para a América, onde habitou e floresceu. Obviamente jamais se encontrou sequer um caco de cerâmica ou ponta de flecha dessa civilização. Puro mito ou lenda.
Outra ocupação principal dos Mórmons é com genealogia. Numa interpretação equivocada de 1 Coríntios 15:29 “Doutra maneira, que farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que se batizam eles, então, pelos mortos?” .
Mas voltando à sua questão, C. S. Lewis foi um ateu que se converteu a Cristo e deixou uma importante obra de meditação sobre a Palavra de Deus e a vida do cristão. Ele não apenas utiliza fábulas em suas obras, como também filosofia, mas na maioria das vezes não vejo que o faça de maneira contrária à vontade de Deus. Além disso, essa é uma prática comum entre escritores cristãos. Um dos livros mais lidos do mundo, “O Peregrino”, é uma alegoria ou fábula, se preferir chamá-lo assim, em cuja história coisas como Pecado, Cobiça, Avareza, etc. são personificadas. Outro livro semelhante é “Pés como os da corça nos lugares altos”, de Hannah Hurnard.
O que esses autores fazem é usar um artifício literário para ensinar de forma didática uma verdade. As fábulas geralmente são aquelas em que animais ou seres inanimados assumem papéis humanos, e as mais antigas conhecidas são de um grego chamado Esopo. “A cigarra e a formiga” é uma de suas fábulas mais conhecidas, depois contada em livro por La Fontaine.
Outro artifício é a parábola, bastante usada pelo Senhor nos evangelhos, na qual objetos, plantas ou animais são usados como um paralelo que permita transmitir um ensino moral. Os sonhos do Faraó e de Nabucodonosor parecem ter sido colocados em suas mentes com as características de parábolas.
Os profetas de Israel também costumavam utilizar uma linguagem figurada para revelar algo. Por exemplo, (2 Cr 25:18) “Mas Jeoás, rei de Israel, mandou responder a Amazias, rei de Judá: O cardo que estava no Líbano mandou dizer ao cedro que estava no Líbano: Dá tua filha por mulher a meu filho. Mas uma fera que estava no Líbano passou e pisou o cardo”.
Em 2 Samuel 12 o profeta Natã conta uma historinha de um homem rico e um homem pobre, a da ovelha do pobre roubada pelo rico, para tocar a consciência de Davi. Obviamente o profeta usa de uma alegoria. Em Isaías 5 Deus usa a figura de uma vinha para tocar a consciência de seu povo.
O livro de Cantares é todo ele, uma belíssima história romântica que tem por objetivo mostrar o amor e a relação de Deus (o noivo) para com seu povo terreno, Israel (a noiva). Jesus usa mais de 40 parábolas nos evangelhos, ou seja, histórias contadas usando situações, objetos e pessoas do cotidiano, como forma de revelar verdades espirituais.
O próprio livro do Apocalipse é em grande parte escrito em linguagem alegórica, em um estilo muito parecido ao dos profetas do Antigo Testamento. A mensagem que ele passa é real, mas a forma usada para descrevê-la é alegórica, como quando fala de escorpiões, estrelas, etc., coisas que representam algo além da própria designação usada.
Voltando ao livro de C. S. Lewis, ou até mesmo à trilogia “O Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien, que evangelizou C. S. Lewis e também usou de alegorias em seus livros para passar mensagens cristãs, não sou um profundo conhecedor das obras de ambos. Eles (principalmente Tolkien) eram especialistas em lendas e mitos da Antiguidade e seus livros são abundantes neste sentido.
Embora não veja problema em usar coisas, animais e pessoas em histórias fictícias para demonstrar verdades eternas, particularmente eu não me sentiria à vontade para usar magia e mitos de religiões pagãs para ilustrar verdades cristãs. Se nós, brasileiros, tentássemos algo assim por aqui, acabaríamos usando personagens como o ‘Saci e a Mula Sem Cabeça’ ou, invadindo a seara mitológica dos deuses pagãos do lado de baixo do Equador, criaríamos parábolas com personagens da mitologia indígena, como ‘Tupã’, ou das religiões importadas da África, como umbanda, candomblé, macumba, etc.
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O “anjo” em Apocalipse 1 e 2 é o pastor?
Esta é uma dúvida de muitas pessoas que pertencem ao sistema denominacional, pois há muitos líderes eclesiásticos como “pastores”, “profetas”, “reverendos”, “apóstolos”, ou seja lá qual título adotam, que arvoram para si o título de “anjo da igreja”.
Mas a expressão “ao anjo da igreja que está em…”, repetida no início de cada mensagem às igrejas em Apocalipse 2 e 3, não está se referindo a essas figuras que compõem o clero das religiões modernas.
Aliás, a própria ideia de um clero é combatida nas mensagens às igrejas de Éfeso e Pérgamo. A palavra ‘Nicolaítas’ vem de “Nico”, que significa “conquistar” em grego, e “laíta”, que significa “pessoas” (ou “povo”). A palavra pode significar “conquistador de pessoas” ou “conquistador das pessoas”.
Para responder sua dúvida vou traduzir um trecho de “Notes on the Revelation”, escrito por Hugh Henry Snell (1815-1891), um médico britânico que deixou sua profissão para dedicar-se ao evangelho em tempo integral. Os trechos entre colchetes foram acrescentados por mim para esclarecimento.
“Quando se pergunta ‘Qual o significado do ‘anjo’ da igreja, ao qual cada carta é endereçada’, nossa resposta é: Não existe qualquer fundamento nas escrituras para identificar esse anjo com ‘o pastor’. Apesar de pastores serem dons benditos concedidos por Jesus ressuscitado, a ideia do ‘pastor’ [no sentido denominacional] não é encontrada no Novo Testamento, mesmo porque deviam existir muitos ‘pastores’ em cada assembleia. Em Éfeso havia muitos supervisores [pessoas que tinham o cuidado da assembleia], como também ‘bispos’ e ‘diáconos’ na igreja em Filipo. É mais fácil dizer o que não é o ‘anjo’ do que definir o que é. Portanto é humildemente que falamos de um assunto envolto em tanta controvérsia.
Mas ao encontrarmos a expressão, ‘O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra… São os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas’ (Ap 1:20), e notarmos que eles são segurados pela ‘destra’ do Jesus ressuscitado que subiu ao céu, somos inclinados a acreditar que o anjo é uma figura das pessoas portadoras dos dons mencionados em Efésios 4, aqueles que têm a obra do Senhor no coração, através dos quais o Senhor poderia comunicar seus pensamentos, e os quais ele tem, em certo sentido, como responsáveis, tanto pela fidelidade quanto pelo fracasso da assembleia”.
Outro autor, F. W. Grant, comentando o mesmo livro de Apocalipse, acrescenta: “A responsabilidade de cada coisa errada é atribuída ao anjo; é ele que tem aqueles que professam a doutrina dos Nicolaítas; é ele que permite a mulher Jezabel; é ele que é ameaçado com a remoção de seu castiçal. Fica bem claro que ele de algum modo representa a igreja, e deve-se notar que a palavra ‘anjo’ possui esta força de ser um representante”.
Volto a lembrar de que esse papel de “representante”, apesar do singular “anjo”, sempre é visto na doutrina dos apóstolos como uma função coletiva. Não havia “o pastor” nas congregações que encontramos em Atos e nas Epístolas, mas “pastores”, que eram dons como também eram “evangelistas” e “mestres” ou “doutores”. Não havia qualquer ideia de um “reverendo” ou, resumindo, de um homem à frente de uma congregação. A representação sempre era plural, mais por um papel de responsabilidade assumida do que de cargo delegado.
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Qual a diferença entre benção e milagre?
Entendo que abençoar pode ser oferecer um benefício a alguém ou simplesmente falar bem de alguém. Milagre, por sua vez, é algo sobrenatural. Mas vamos deixar que o “New and Concise Bible Dictionary” — Morrish Edition — explique melhor.
Bênção — Existem duas aplicações distintas da palavra “bênção”. Deus abençoa ao seu povo, e seu povo abençoa a Deus, sendo a mesma palavra constantemente utilizada em ambos os casos. É óbvio, portanto, que deve existir mais de um sentido para o termo. Além disso, lemos que “o menor é abençoado pelo maior” (Hb 7:7), e apesar de estar se referindo a Melquisedeque abençoando a Abraão, o mesmo vale para Deus e suas criaturas: ao conceder favores, Deus é o único que pode abençoar. O cristão pode dizer que Deus “nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1:3), mas a mesma passagem diz “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”, significando “Graças sejam dadas ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. Este significado é mais bem explicado pelos registros da instituição da ceia do Senhor. Em Mateus e Marcos o Senhor tomou o pão e o “abençoou”. Em Lucas e 1 Coríntios 11:24 “ele tomou o pão e deu graças”. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes” (Tg 1:17). Trata-se de Deus nos abençoando, e pelo que nós abençoamos a Deus por meio de ações de graças, louvor e adoração.
Milagres — Nenhum crente sincero na inspiração das escrituras pode ter dúvidas quanto aos verdadeiros milagres que foram efetuados pelo poder de Deus, tanto nos tempos do Antigo, quanto do Novo Testamento. É a chamada filosofia, ou o ceticismo, que mistifica o assunto. Muito se fala a respeito das “leis da natureza”, e se afirma com convicção que tais leis sejam irrevogáveis e não podem ser quebradas. A isso se deve acrescentar que leis da natureza que eram desconhecidas são frequentemente descobertas, e se nossos antepassados pudessem testemunhar a aplicação de algumas das mais recentes descobertas, como computadores, telefones celulares, etc., considerariam essas coisas como milagrosas. Com isso costuma-se argumentar que os acontecimentos registrados nas escrituras como sendo milagres eram apenas a aplicação de algumas leis da natureza que as pessoas daquela época desconheciam.
Tudo isso é fundamentado numa falácia. Não existem leis da natureza, como se a natureza fosse capaz de criar suas próprias leis: existem leis na natureza, as quais Deus, em sua sabedoria como Criador, decidiu criar. Mas aquele que fez essas leis certamente possui o mesmo poder para suspendê-las ao seu bel prazer. Apesar de estarem sendo descobertas novas leis na natureza de tempos em tempos, elas de modo algum têm algo a ver com coisas como um morto que volta a reviver, um cego que passa a ver, um surdo a ouvir, um paralítico a andar, e demônios a serem expulsos daqueles que eram possuídos por eles. Tampouco tem a filosofia natural descoberto qualquer lei que irá explicar coisas como um machado flutuando na água. A pura e simples verdade é que Deus, em sua sabedoria, permitiu que algumas das leis naturais fossem suspensas, e em certas ocasiões ele exerce seu indescritível poder, como quando supriu os israelitas com maná vindo do céu, e quando alimentou milhares a partir de poucos pães e peixes, ou quando devolveu a vida que havia deixado um corpo. [Traduzido de “New and Concise Bible Dictionary” — Morrish Edition].
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Jesus foi inferior aos anjos?
A versão da Bíblia que você utilizou deixa dúvidas por causa da redação em Hebreus 2:9: “Jesus, a quem Deus fez pouco inferior aos anjos”. Essa versão não explica direito o que seja esse “um pouco”, portanto sugiro que compare a passagem com outras versões.
Algumas traduções trazem “por um pouco menor que os anjos”, o que significa por um período de tempo, enquanto outras estão como esta que você indicou.
(ACF) “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”.
(ARA) “Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem”.
(Ave Maria) “Mas aquele que fora colocado por pouco tempo abaixo dos anjos, Jesus, nós o vemos, por sua Paixão e morte, coroado de glória e de honra. Assim, pela graça de Deus, a sua morte aproveita a todos os homens”.
(NTLH) “Mas nós vemos Jesus fazendo isso. Por um pouco de tempo ele foi colocado em posição inferior à dos anjos, para que, pela graça de Deus, ele morresse por todas as pessoas. Agora nós o vemos coroado de glória e de honra por causa da morte que ele sofreu”.
(NVI) “Vemos, todavia, aquele que por um pouco foi feito menor do que os anjos, Jesus, coroado de honra e glória por ter sofrido a morte, para que, pela graça de Deus, em favor de todos, experimentasse a morte”.
(PJFA) “Vemos, porém, aquele que foi feito um pouco menor que os anjos, Jesus, coroado de glória e honra, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”.
(VIVA) “Mas vemos, sim, a Jesus — que por um momento esteve mais baixo do que os anjos — coroado agora por Deus, com glória e honra, porque ele sofreu a morte por nós. Ora, devido á grande bondade de Deus, Jesus provou a morte por todos no mundo inteiro”.
(Darby) “Mas vemos, coroado com glória e honra Jesus, que foi feito um pouco inferior aos anjos em razão do sofrimento da morte; para que, pela graça de Deus, pudesse experimentar a morte por todas as coisas”.
Seja qual for a versão mais correta, podemos tanto entender que por um pouco de tempo (33 anos) Jesus foi feito menor que os anjos, como também que esse “um pouco” significa sua condição em relação aos anjos, que são mais poderosos, mais rápidos, mais inteligentes, etc. do que os seres humanos (que é o assunto dos versículos anteriores).
Qualquer que seja a versão, podemos entender que Jesus, ao assumir a forma humana, ficou em uma condição temporária de inferioridade se comparado aos anjos. Obviamente isso diz respeito apenas à sua condição material e corpórea, considerando-se os limites impostos pela matéria e também pelo tempo e espaço, já que em nenhum momento ele deixou de ser Deus, onipotente, onisciente, onipresente, etc.
Isso nós podemos ver muito bem nos lampejos de sua divindade que “escapam” ao longo de sua breve vida neste mundo. Basta ver as situações como no controle sobre os elementos da natureza (os ventos e as ondas), na manipulação da matéria ao curar doenças e multiplicar pães e peixes, na superação das condições de espaço-tempo, como quando desapareceu diante dos fariseus ou se transfigurou ao lado de Moisés e Elias, etc.
Ele precisou ser, por assim dizer, “diminuído” à condição humana por um breve período de tempo para também ficar sujeito à morte, ou melhor dizendo, para que pudesse morrer. Mesmo assim é bom lembrar que, embora ele pudesse morrer de livre e espontânea vontade, a morte não tinha poder sobre ele, por ser sem pecado (e foi pelo pecado que o ser humano ficou sujeito à morte).
Mesmo quando consideramos sua morte, é importante lembrar que Jesus não foi morto por homem algum ou por qualquer espécie de exaustão ou sofrimento que tenha sofrido na cruz. Ele usou de uma capacidade que homem algum possui, que é a de entregar a vida, isto é, aplicar o verbo morrer a si próprio quando assim desejou. Embora os homens que o crucificaram sejam responsáveis e culpados por desejarem sua morte, nada o matou; foi Jesus que morreu espontaneamente quando desejou fazê-lo.
Aconselho você a sempre comparar diferentes versões e traduções da Bíblia sempre que encontrar uma passagem um pouco obscura. Às vezes a mera deterioração de um termo em nosso idioma pode levar a um entendimento equivocado da passagem, como ocorre com a palavra “igreja”, um termo que no original significava uma reunião de pessoas, mas deteriorou-se ao ponto de hoje ser usado para edifícios de tijolos.
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Pode me indicar uma igreja para eu congregar?
Eu não poderia, de sã consciência, lhe indicar alguma “igreja” (se estiver falando no sentido denominacional) porque eu mesmo não pertenço a nenhuma denominação.
Há uns 30 anos Deus começou a me mostrar o erro que é congregar em uma denominação e então me separei dos sistemas religiosos para estar congregado somente ao nome do Senhor em comunhão com irmãos em todo o mundo que também estão congregados assim. Nas reuniões aprendemos da Palavra de Deus, apresentamos nossas necessidades em oração e lembramos a morte do Senhor em sua ceia a cada dia do Senhor. Considerando que hoje existem muitos grupos se reunindo assim, é importante verificar a origem de cada um, pois muitos surgiram de divisões causadas por homens. Isto pode ser feito investigando-se sua história.
No Brasil há reuniões assim há quase quarenta anos, mas em outras partes do mundo isso é muito mais antigo. Conheço irmãos e irmãs já idosos cujos avós já se congregavam somente ao nome do Senhor. Existe sim um intercâmbio entre as assembleias, irmãos que se visitam, etc., mas não existe nenhum “organismo” central ou organização por detrás disso, e muito menos qualquer tipo de clero ou ordenação humana de “pastores”. Afinal, se o Espírito Santo é suficiente, por que acharmos que ele não pode designar e preparar quem ele deseja para a obra de Deus?
Se tiver facilidade com o inglês, poderá ler muita coisa escrita por irmãos congregados somente ao nome do Senhor no século 19 em www.stempublishing.com
No passado havia muita gente congregada assim, mas como sempre aconteceu na história da igreja, ocorreram muitas divisões e hoje há poucas assembleias de irmãos reunidos assim no mundo todo, e não são muitas no Brasil. A maioria quase que literalmente “dois ou três”, reunindo-se em casas ou pequenos salões.
Não são muitos os que se dispõem a sair do sistema religioso para se reunirem somente ao nome de Jesus, pois não há muitos atrativos para a carne. Sem grandes oradores, corais, bandas, festas e tantas outras coisas que o mundo religioso oferece, ficamos somente com Jesus, o que obviamente é tudo, mas não para os desejos humanos.
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O clero tem fundamento bíblico?
Considerando que você já tem planos de buscar um aprendizado formal no meio eclesiástico, certamente tudo o que eu disser será inócuo. O apelo eclesiástico é muito forte e há muitos cristãos que almejam essa posição, muito embora não encontrem qualquer indício de uma ordenação humana nas escrituras.
Sobre a questão de um clero, em seu e-mail você já indicou a força que isso tem nas denominações. Veja suas afirmações: “Dou graças a Deus que meu pastor dá oportunidade para todos os irmãos, (…) meu pastor que concede tão boas oportunidades para aprendermos. (…) E o pastor, em determinado momento, foi um a um, perguntando se queria oportunidade.”.
Percebe que é o pastor, e não o Espírito Santo, quem está dirigindo tudo? Nas epístolas não existe qualquer sinal desse tipo de coisa numa reunião da igreja. Isso é o que o clericalismo faz: substitui a direção do Espírito pela direção de um homem, e ainda faz as pessoas pensarem que estão congregando com liberdade porque esse homem dá liberdade (Quem é ele que tem o poder de dar essa liberdade? Quem o capacitou para tanto?).
Se você perguntar a Deus o que fazer quando estiver congregado, terá uma resposta clara em 1 Coríntios 14. Tente encontrar nessa descrição de uma reunião da igreja a figura do dirigente, pastor ou quem quer que seja que se arvore no direito de dirigir a reunião ou conceder licença para que os santos (que ele geralmente chama de membros de “sua igreja”) tenham oportunidade de falar.
(1 Co 14:26) “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja. Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor. Mas, se alguém ignora isto, que ignore. Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem”.
Hoje, textos em outros idiomas já não representam dificuldade para ninguém, e você, como jovem, estudante e aspirante a uma profissão, deve se manter atualizado com essas ferramentas se quiser ter sucesso em sua carreira profissional. O sistema da Google traduz bem o suficiente para se entender o texto, apesar de não substituir uma tradução humana. Fora isso, aconselho que estude inglês para o bem de sua carreira profissional, pois quando sair da faculdade verá que as portas se abrem com maior facilidade para quem fala inglês.
Escrevi sobre o cargo ou profissão de “pastor” que você encontra nas denominações, não por existirem muitos “pastores” que fazem barbaridades por aí, mas simplesmente por não encontrar na Palavra de Deus essa função de um homem liderando uma congregação local. O que não existe na Palavra de Deus nós não devemos inventar.
Eu tenho certeza de que existem muitos irmãos sinceros ocupando essa posição nas denominações e Deus os tem usado também. Porém o sistema que os homens criaram mais atrapalha do que ajuda. Conheço um pastor presbiteriano que tem um dom muito especial de evangelista e gosta mesmo de sair pregar o evangelho. Ele próprio me confessou que prefere estar em campo pregando a dirigir a congregação que lhe foi designada.
Agora veja você que situação: por fazer parte do sistema ele seguiu o caminho que a tradição ditou: estudou teologia, foi ordenado pastor e assumiu a liderança de uma congregação ou “igreja” em uma pequena cidade. Como seu dom é de um evangelista, aquela congregação não escuta mais que o evangelho todas as semanas e fica assim privada de aprender aquilo que Deus tem preparado para ensinar por intermédio dos que tem o dom de pastor ou mestre (lembre-se de que ele reconhece não ter o dom de pastor, mas de evangelista).
Naquela congregação podem existir outros irmãos que tenham recebido do Senhor o dom de pastor ou de mestre (ou doutor), porém o sistema determina que é o “pastor ordenado” quem deve ficar à frente da congregação, pregar, ensinar, pastorear, etc. Então todos perdem: esse “pastor”, por reconhecer que não tem o dom e acaba fazendo menos do que poderia; os outros dons, que não têm tantas oportunidades de se manifestarem como teriam se estivessem se congregando segundo 1 Coríntios 14; e a congregação como um todo, que não será alimentada com mais do que a mensagem básica do evangelho, que é o que o “pastor” sabe pregar bem.
Resumindo o que escrevi, a profissão ou cargo de “pastor” que você encontra nas denominações na figura de um homem dirigindo o culto e responsável por uma congregação não existe na Bíblia.
Na Bíblia o pastor é um dom, como é o evangelista e o mestre. O evangelista sai a pregar o evangelho, as pessoas se convertem e o pastor as incentiva a permanecerem no Senhor, enquanto o mestre ensina doutrina a elas. Você encontra os diferentes dons em ação em Atos 11:
Evangelistas: “Aqueles, pois, que foram dispersos pela tribulação suscitada por causa de Estêvão, passaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus. Havia, porém, entre eles alguns cíprios e cirenenses, os quais, entrando em Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles, e grande número creu e se converteu ao Senhor.” (At 11:19-21).
Pastor: “Chegou a notícia destas coisas aos ouvidos da igreja em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia; o qual, quando chegou e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortava a todos a perseverarem no Senhor com firmeza de coração; porque era homem de bem, e cheio do Espírito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao Senhor.” (At 11:22-24).
Mestre: “Partiu, pois, Barnabé para Tarso, em busca de Saulo; e tendo-o achado, o levou para Antioquia. E durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e instruíram muita gente; e em Antioquia os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos.” (At 11:25-26). (Aparentemente Barnabé reunia os dons de pastor e mestre, pois diz que ele ensinava juntamente com Paulo).
A responsabilidade de uma assembleia local não está sobre um só homem (como costuma ser o “pastor” das denominações), mas sobre vários irmãos que a Bíblia chama de anciãos, bispos ou presbíteros (ou guias). Estes não são dirigentes das reuniões, mas funcionam como zeladores do rebanho.
Quanto ao que disse de Davi, escolhido por Deus para ser o líder de Israel, ele é uma figura de Cristo Rei para Israel (nas epístolas dadas à igreja Cristo nunca aparece como rei da Igreja, mas sempre como Senhor). Mas no início Deus não queria dar um rei para Israel, mas queria que o seu povo dependesse somente de Deus como seu Líder. O povo pediu um rei porque queria ser como as outras nações e Deus lhes deu Saul.
No que diz respeito à Igreja de Deus, o próprio Senhor é o Sumo Pastor, o Espírito Santo o dirigente das reuniões e os próprios crentes são o templo ou casa espiritual de Deus e exercem um sacerdócio santo. Percebe o quão diferente tudo isso é do modelo que o protestantismo copiou do catolicismo que, por sua vez, emprestou de Israel? Inventaram um clero formado por homens em uma posição intermediária entre a congregação e Deus, arranjaram para esses homens vestes distintas, deram a eles títulos honoríficos como “padre”, “pastor”, “bispo”, “sacerdote”, “reverendo”, etc. e chegaram ao ponto, no catolicismo, de chamar um homem de Sumo Pontífice ou Sumo Sacerdote.
Espero que desta vez tenha ficado mais claro para você. Repito: minha intenção não é denegrir as pessoas que ocupam a posição de “pastores” nas denominações, pois a grande maioria desses irmãos simplesmente ignora o que a Palavra de Deus diz a respeito, tendo “engolido” aquilo que a tradição religiosa lhes passou sem nem mesmo irem conferir nas epístolas. O melhor mesmo é sermos como os irmãos de Bereia quando os apóstolos vieram lhes trazer as novas do Evangelho. Conhecedores das escrituras do Antigo Testamento, eles foram conferir se as coisas eram de fato do jeito que aqueles homens estavam lhes falando.
(At 17:11) “Ora, estes eram mais nobres do que os de Tessalônica, porque receberam a palavra com toda avidez, examinando diariamente as Escrituras para ver se estas coisas eram assim”.
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O dia do Senhor é o arrebatamento?
Sua dúvida está por confundir a expressão “o dia do Senhor” ou “o dia de Cristo” com o arrebatamento da Igreja. São coisas distintas. Quando ler as epístolas aos Tessalonicenses, entenda que, de uma maneira geral, a primeira fala do arrebatamento e a segunda fala das coisas posteriores.
Eu entendo a passagem que gerou sua dúvida da seguinte maneira:
(2 Ts 2:1) “Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele”.
Entendo a “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e nossa reunião com ele” como sendo o arrebatamento.
(2 Ts 2:2) “Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo (ou dia do Senhor) estivesse já perto”.
O “Dia de Cristo” ou “dia do Senhor” é a vinda de Cristo quando todo olho o verá, depois do arrebatamento e no final da grande tribulação, embora possa também ser considerado aí o período de tribulação, pois esta faz parte dos juízos que cairão sobre a terra. É um “dia” de juízo para este mundo.
A preocupação dos Tessalonicenses não estava em achar que Cristo já tinha vindo, porque eles obviamente sabiam que não tinha vindo. Eles estavam preocupados que o “dia de Cristo” estivesse se aproximando e que eles seriam pegos por ele.
(2 Ts 2:3) “Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição”.
Eles não poderiam estar vivendo o “dia de Cristo” e nem deviam pensar que este “dia” já tivesse chegado porque o apóstolo explica que algo devia acontecer antes:
1. A apostasia, que é o abandono generalizado da verdade do cristianismo e a rejeição à fé cristã.
2. O surgimento do “homem do pecado”, o anticristo.
Portanto, antes que venha o “dia de Cristo” ou “dia do Senhor”, que é um dia de juízo para o mundo, deve vir a apostasia e ser manifestado o homem do pecado. Fazendo uma paráfrase do que o apóstolo está dizendo, eu entenderia assim:
“Ora, irmãos, peço a vocês, tendo em vista a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e nossa reunião com ele, que não se deixem abalar facilmente daquilo que vocês já tinham entendido, seja por palavra ou por carta supostamente vinda de nós, como se o dia de Cristo já estivesse em andamento. Não se deixem enganar, pois o dia de Cristo não virá sem que antes venha o abandono da verdade e se manifeste o homem do pecado”.
Perceba que em 1 Tessalonicenses o apóstolo faz uma distinção clara entre o dia do Senhor e a vinda do Senhor para os seus:
1 Tessalonicenses 4:13-18 é a descrição do arrebatamento da Igreja, que é uma bênção acompanhada de um prêmio para os crentes.
1 Tessalonicenses 5:1-4 é o contraste, ou seja, o dia do Senhor que pegará de surpresa como o ladrão para aqueles para os quais a vinda do Senhor terá tal caráter, já que perderão tudo com isso. A exortação aqui é para não vivermos nesse estado de torpor como aqueles que serão pegos de surpresa como em um assalto.
Você há de concordar que a descrição do “dia do Senhor” para o mundo nada tem da bendita esperança que é o arrebatamento da igreja para o crente. Veja por exemplo:
(Jl 2:1-3) “… porque o dia do Senhor vem, já está perto; Dia de trevas e de escuridão; dia de nuvens e densas trevas, como a alva espalhada sobre os montes; povo grande e poderoso, qual nunca houve desde o tempo antigo, nem depois dele haverá pelos anos adiante, de geração em geração. Diante dele um fogo consome, e atrás dele uma chama abrasa; a terra diante dele é como o jardim do Éden, mas atrás dele um desolado deserto; sim, nada lhe escapará… E o Senhor levantará a sua voz diante do seu exército; porque muitíssimo grande é o seu arraial; porque poderoso é, executando a sua palavra; porque o dia do Senhor é grande e mui terrível, e quem o poderá suportar? … O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor”.
Certamente não é um dia assim que o crente espera.
(1 Ts 1:9-10) “…Vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes ao Deus vivo e verdadeiro, e esperardes dos céus a seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira vindoura”.
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Como lidar com as dificuldades da vida?
Desculpe pelo tempo que levei para responder (além do seu, há mais de 50 e-mails aguardando resposta). Do jeito que você descreve seus sentimentos e sensações parece que está falando de mim. Também me sinto inseguro quando preciso enfrentar uma situação nova, tenho medo de desafios, fujo de falar ao telefone (uma porque detesto telefone e outra porque se for em outro idioma sei que vai ser um desastre). Enfim, você é normal (se eu for normal, pelo menos).
Acontece que ao longo da vida somos obrigados a engolir alguns sapos, e depois da conversão (eu me converti aos 23 anos de idade, isso há mais de 30 anos) a saparia parece aumentar. Já tive empregos em que detestava fazer o que fazia, mas quando hoje olho para trás vejo que Deus me queria ali naquele momento e situação, não apenas por causa de mim e de meu aprendizado, mas talvez principalmente por causa das outras pessoas.
Lembre-se de que ao crer em Jesus você ficou numa situação parecida com a dos israelitas depois que cruzaram o Mar Vermelho: caíram em um deserto onde o único alimento com que podiam contar vinha do céu (maná) e a única água era a que saía da Rocha (figura de Cristo).
A insegurança nas coisas deste mundo (profissão, família, estudos, etc.) pode até aumentar, mas é importante lembrar sempre que o crente tem um destino eterno assegurado, e o mundo não. Quando cremos, fomos perdoados de todos os nossos pecados e feitos aptos a estar na glória com Cristo. Não há posição mais privilegiada do que essa.
A maioria das pessoas com quem interagimos em nosso dia a dia ainda está em trevas, lutando para sobreviver neste mundo porque é tudo o que elas têm. Não há qualquer lampejo de esperança ou livramento para elas e a vida é como uma contagem regressiva para o desconhecido. O medo da morte e do além as assola o tempo todo e procuram encobrir isso com ações de coragem, autoestima, inflando o ego, apegando-se às coisas materiais ou então partindo para religiões baseadas em sacrifícios e boas obras, que possam lhes dar qualquer sensação de que suas vidas não estão sendo em vão.
Olhe ao seu redor. Quantas pessoas você acha que compartilham da mesma certeza de vida eterna que você? Quantas podem dizer com certeza que se partirem deste mundo estarão imediatamente com Cristo na eternidade? Isto nos dá uma intrepidez que vai muito além da intrepidez que nos falta para lidarmos com as dificuldades de nossa vida aqui. O incrédulo precisa se agarrar com unhas e dentes ao trabalho e às suas metas passageiras como: carreira, dinheiro, sucesso, etc. Ele precisa de autoafirmação para se agarrar em algo, já que não tem a Cristo. Nós já temos a promessa de vitória em Cristo e um lar reservado no céu.
Enquanto isso, Deus nos deixa aqui tanto para aprendermos mais do quanto precisamos dele e do seu cuidado, como também para servirmos de testemunho para as pessoas que nos cercam (nem sempre pessoas agradáveis).
Quando sentir-se insegura, vacilante e com medo, olhe para Cristo, não para si mesma. Se olhar para si mesma irá desanimar. Se olhar para Cristo estará olhando para a ROCHA inabalável. É nele que encontramos segurança, não em nós mesmos.
Apesar de suas dificuldades, incertezas, fraquezas, etc. certamente você não passou pelo que passou Jó. Seria interessante ler o livro de Jó, tendo em mente que ele passou por tudo aquilo sem ter lido os capítulos 1 e 2 de sua história, aqueles que se passam no céu e mostram a origem de seus sofrimentos. Jó só descobriu o que se passou no céu quando chegou lá, não antes. Há algum tempo li um livro muito bom comentando Jó, o nome é “Decepcionado com Deus”, de Philip Yancey. Talvez encontre em alguma livraria ou na Internet.
Lembre-se de que, assim como Jó, vemos apenas parte de um processo. Além de não saber da conversa entre Deus e Satanás, que precedeu seu período de tribulação, Jó não era capaz de enxergar o que Deus tinha preparado para ele no final. Por isso desanimamos também, por não sabermos dos planos eternos de Deus, das razões das coisas, etc. e por ficarmos concentrados em um ou dois ingredientes de nosso sofrimento.
Farinha de trigo, óleo, sal e fermento são intragáveis ao paladar, mas quando colocados juntos, batidos, amassados e colocados no fogo, dão um delicioso pão. Assim é com os “ingredientes” de nossa vida aqui. São intragáveis quando engolidos separados, mas no final encontraremos o verdadeiro sabor que Deus tinha reservado para nós.
(Rm 8:31-39) “Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”.
(Hb 12:1-3) “Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos”.
(1 Pe 1:6-9) “… ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas”.
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Devo ser fiel para receber bênçãos?
Sua dúvida está na ênfase que muitos pregadores dão em ser fiel a fim de receber bênçãos terrenas, e por você achar que isso fica parecendo uma barganha com Deus. Sim, você está correto por estranhar isso. Mas você também quer saber o que deve fazer para receber bênçãos terrenas.
Tenho uma péssima notícia para você: as bênçãos terrenas foram prometidas a Israel, nunca à Igreja (que são os que hoje creem em Cristo). No Antigo i. Testamento não há bênçãos celestiais prometidas para aquele povo, e no Novo Testamento não há bênçãos terrenas prometidas para os crentes.
(Ef 1:3) “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo;”.
(1 Tm 6:8) “Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes”.
Por outro lado tenho uma ótima notícia para você: Deus já abençoou cada um que crê em Jesus com bênçãos infinitamente maiores e melhores do que as prometidas a Israel. Estas são as bênçãos reservadas para o crente: são espirituais, estão em lugares celestiais, e estão em Cristo Jesus. Se tivéssemos um lampejo do que isso realmente significa, não viveríamos mais descontentes com nossa condição passageira aqui.
O israelita era fiel a fim de receber bênçãos. Era uma barganha. O crente em Cristo é fiel porque foi abençoado eternamente. É um ato de gratidão.
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A que pastor devo obedecer?
Sua dúvida está relacionada ao versículo em (Hb 13:17) “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil”.
O versículo fala daqueles que são guias (que é o sentido dessa passagem para algumas traduções que usam “pastores”) de acordo com a Bíblia. O fato de algumas versões usarem a palavra “pastor” causa alguma confusão. O “pastor” (singular) de uma denominação não é o pastor mencionado aqui. O pastor que você encontra na Palavra de Deus é alguém que recebeu seu dom do próprio Senhor para pastorear ovelhas, não para dirigir as reuniões dos cristãos. É uma pessoa que zela pelas ovelhas, visita, cuida, etc. Não é um líder e nem precisa ser necessariamente um pregador.
Veja também que o versículo fala de “pastores” no plural, porque neste caso está se referindo aos que zelam pelo rebanho. Portanto o texto está se referindo aos anciãos ou presbíteros locais que têm responsabilidade por uma assembleia.
Algumas outras diferentes versões da mesma passagem trazem guias ou condutores, sempre no plural:
(ARA) “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles;”.
(ARCA) “Obedecei a vossos condutores (pastores, ou guias) e sujeitai-vos a eles;”.
(Ave Maria) “Sede submissos e obedecei aos que vos guiam”.
(BRASIL) “Obedecei aos que vos governam e sede-lhes sujeitos”.
(CNBB) “Obedecei aos vossos dirigentes e segui suas orientações,”.
(NTLH) “Obedeçam aos seus líderes e sigam as suas ordens”.
(NVI) “Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles”.
(PAST) “Respeitem os dirigentes e sejam dóceis a eles”.
(PJFA) “Obedecei a vossos guias, sendo-lhes submissos;”.
(VIVA) “Obedeçam aos seus líderes espirituais e estejam prontos a fazer o que eles disserem”.
O pastor, segundo a Palavra de Deus, é um dom espiritual individual dado pelo próprio Jesus ressuscitado, e não por ordenação humana ou resultado de um curso de teologia. Assim como o evangelista e o mestre, o pastor é um dom universal, isto é, sua atuação não está restrita a uma congregação local. Ele é pastor onde quer que vá, porque sua função é alimentar e cuidar das ovelhas, não dirigir uma congregação.
Já os dirigentes, bispos, presbíteros ou anciãos (diferentes nomes para uma mesma função) nos falam de uma função local da assembleia e sempre no plural. Um ancião ou presbítero pode ou não ter o dom de pastor, evangelista ou mestre; pode ou não ser um ministro da Palavra. A função dos presbíteros ou anciãos é supervisionar o rebanho local. Portanto, os presbíteros não têm atuação ou autoridade em assembleias em outras localidades, embora possam ser reconhecidos e respeitados.
Outro detalhe é que os anciãos segundo a Bíblia, como também acontecia com as igrejas, eram aqueles reconhecidos por localidade, e não por “denominação”. Do mesmo modo como existia a igreja em Éfeso, havia os anciãos de Éfeso aos quais Paulo se dirige em Atos 20:17 em diante.
Perceba que, os anciãos ou bispos que até então eram constituídos pelo Espírito Santo (At 20:28) e estabelecidos por ordem direta dos apóstolos (Tt 1:5), passariam a ter outro status depois da ausência dos apóstolos (o que ocorreu após a morte do último deles). Hoje bispos ou anciãos continuam sendo levantados pelo Espírito Santo. Embora não tragam o título, os irmãos os reconhecem como aqueles que têm cuidado pelas ovelhas. Em nenhum lugar nós os vemos sendo ordenados por alguma comissão ou eleitos pelos irmãos de uma assembleia local.
O pastor, que é um dom, você encontra aqui:
(Ef 4:11-12) “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;”.
O presbítero, guia, dirigente, ancião, etc., que é um ofício, você encontra aqui:
(1 Pe 5:1-3) “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho”.
Ao contrário do pastor, que é um dom que vem do alto, de Cristo, o presbítero (ancião, guia, etc.) é uma função que exige, não um dom, mas uma qualificação moral como de um chefe de família (veja 1 Tm 3).
Concluindo, ao dizer que devemos obedecer aos pastores, a Palavra de Deus está nos exortando a obedecer aqueles (sempre no plural) que têm o cuidado pelo rebanho local, não a um homem colocado por outros homens na posição de líder máximo de uma congregação, como é o caso do padre católico, função de liderança local copiada pelo protestantismo e batizada de “pastor”.
Fica assim fácil de entender que a figura do “pastor”, como encontramos nas denominações, não existe na Bíblia. Ao contrário do plural bíblico “pastores” ou “guias” ou “anciãos” de Hebreus 13, o “pastor” denominacional é singular. Ao contrário de ser um dom, como é o caso do “pastor”, “evangelista” ou “mestre” de Efésios 4, o “pastor” denominacional é um cargo. Ao contrário de ser escolhido pelo Espírito Santo, ele é ordenado por uma junta de homens. Veja você que não existe uma semelhança do pastor denominacional com os presbíteros ou o dom de pastor que você encontra na Bíblia.
Eu poderia continuar fazendo as comparações mas acho que já deu para você perceber que não existe tal figura na Bíblia. Qualquer um que se coloca à frente de uma congregação com o intuito de dirigir a reunião dos santos está usurpando um lugar que só o Espírito Santo pode ter.
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Devo mentir se o chefe mandar?
Sua dúvida está em mentir ou não no ambiente de trabalho, pois é o que seu chefe pede para você fazer. Eu sempre encontrei esse problema nos lugares onde trabalhei e sempre deixei claro que não iria mentir. Aliás, sempre que chegava para trabalhar em um lugar novo, no primeiro dia eu descarregava minhas coisas na mesa, entre elas uma Bíblia.
Não a deixava sobre a mesa, mas na gaveta para eventualmente ler no horário de almoço. Mas fazia isso de modo que todos pudessem ver que ali tinha chegado “um crente”. É interessante como isso já mudava algumas coisas, como os colegas baixarem a voz quando estavam contando uma piada suja e percebiam que eu passava perto.
Em uma empresa onde trabalhei, meu chefe tinha o costume de pedir para dizer que ele não estava quando alguém tocava em minha mesa pedindo para falar com ele (que ficava numa mesa na mesma sala). Eu expliquei que não faria assim pois isso iria contra minha consciência e ele entendeu.
A partir daquele dia, quando o telefone tocava, eu atendia e meu chefe logo percebia que era com ele, pois eu dizia “Sr. Gustavo, o senhor quer falar com o Reinaldo?”. Então ele se levantava e saía da sala, e eu dizia que ele não estava na sala, mas que eu anotaria o recado. Ele ficava no corredor esperando eu desligar. Felizmente ele era legal a esse ponto.
Tente conversar com seu chefe ou então procure adaptar sua comunicação para uma que não comprometa. Por exemplo, é possível trocar “fulano não está no momento” por “fulano não pode atender no momento” ou “fulano não está disponível no momento”. Alguém pode estar na empresa ou na sala, porém falando ao telefone, recebendo uma visita de um superior, atendendo um cliente, etc., portanto, não disponível para atender outra pessoa.
Se corremos risco de perder o emprego adotando uma posição assim? Certamente. Mas como cristão corremos muitos riscos, não só de perder o emprego, mas de perder oportunidades de lucro em negócios escusos ou até de relacionamentos com incrédulos ou fora do casamento. Todas elas oportunidades que Deus não aprovaria e que não nos trariam qualquer proveito por esta mesma razão.
Felizmente hoje nas grandes empresas existem códigos de ética e conduta que estimulam a prática da transparência, mesmo porque um empregado que seja obrigado a mentir poderá processar a empresa por dano moral. Uma empresa que exige que seu empregado minta para quem é de fora não tem moral para exigir que ele fale a verdade para quem é de dentro, inclusive com o chefe. De qualquer modo, evite o enfrentamento, tente explicar a ele a razão de sua fé. “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15:1).
É bom lembrar que Deus odeia a mentira e que Satanás é o pai da mentira. Jesus disse aos fariseus que se opunham a ele: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8:44).
Lembro-me de quando trabalhava num banco e fazia o levantamento de lugares para comprar para abrir agências. Quando entrei deixei claro que seria capaz de fazer o trabalho sem precisar mentir, o que meu chefe não acreditou muito. Evidentemente dava mais trabalho do que simplesmente mentir, mas acho que fazendo assim eu também treinava um pouco de criatividade.
Um dia estava numa oficina mecânica para saber se o dono se interessaria em vender o imóvel. Obviamente, apesar de estar de terno e gravata, só disse que estava ali representando um interessado e não revelei que era um banco, ou o preço iria disparar. Ele olhou para mim e perguntou: “O senhor é do banco tal?” Respondi com outra pergunta: “Por que, o pessoal do banco tal esteve aqui?”.
Enquanto ele tentava explicar a razão de ter desconfiado que eu fosse do banco, chamei sua atenção para uma grande mancha de infiltração na parede e quis saber qual era a origem daquilo, se podia comprometer a estrutura, etc. Ele imediatamente se esqueceu do assunto e passou a falar bem do imóvel tentando vender seu peixe.
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A perda de meu filho foi maldição?
Sinto muito por sua perda momentânea. Digo momentânea porque nossos filhos sempre serão nossos filhos. Veja que interessante, no livro de Jó, que ele tinha 10 filhos no início do livro, além de todas as suas posses.
(Jó 1:2-3) “E nasceram-lhe sete filhos e três filhas. E o seu gado era de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; eram também muitíssimos os servos a seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do oriente”.
Quando vamos ao final do livro, Deus dá em dobro tudo o que Jó perdeu, menos os filhos. Deus lhe dá o mesmo número de filhos que tinha no início.
(Jó 42:12-13) “E assim abençoou o Senhor o último estado de Jó, mais do que o primeiro; pois teve catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil jumentas. Também teve sete filhos e três filhas”.
A razão disso é que filhos não são como ovelhas e camelos. Os dez que tinham sido levados continuavam filhos de Jó e os dez que teve no final vieram a se somar a eles. No fim Jó terminou mesmo com 20 filhos e neste momento deve estar na companhia de todos eles.
Perceba também que Jó não estava pagando por pecado algum, seu ou de sua família, quando perdeu seus filhos e bens. Tudo aquilo aconteceu porque Deus permitiu que acontecesse e no final Jó percebe que só saiu ganhando da situação, ainda que não entendesse tanto sofrimento (Jó não leu os dois primeiros capítulos de seu livro, portanto não sabia das conversas entre Satanás e Deus ocorridas no céu).
Você mostrou-se preocupado por achar que perdeu seu filho prematuramente por estar sendo alvo de alguma maldição familiar. Vamos ver as passagens que você citou:
(Dt 5:9) “Não te encurvarás a elas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que me odeiam”.
(Êx 20:5) “Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam”.
Se prestar atenção, verá que Deus está ameaçando aqueles que têm ódio de Deus, o que obviamente não é o seu caso. Além disso é preciso entender que o Antigo Testamento traz uma determinada maneira de Deus tratar com o homem, em especial o povo de Israel, e não é exatamente a mesma maneira como ele trata o seu povo de hoje, a Igreja. Basta ver que o último versículo do Antigo Testamento ameaça com “maldição” e o último versículo do Novo Testamento oferece “graça”. Você acha que isso foi coincidência?
(Ml 4:6) “E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição”.
(Ap 22:21) “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém”.
Isso só foi possível porque Jesus tomou nosso lugar como o amaldiçoado de Deus naquela cruz:
(Gl 3:13) “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;”.
Este texto de autor desconhecido que traduzi do inglês há alguns anos foi de grande consolo para um irmão que perdeu o filho e acredito que também será de consolo para você:
Até Eu Vir Buscá-lo Outra Vez
“Emprestarei a vocês este filho querido
Por um tempo” — ouvimos Deus dizer —
“Para que o amem enquanto tiver vivido,
E o chorem se vier a morrer.”
“Talvez por dois anos, quatro, ou cinco até,
Ou quem sabe, chegue a vinte e três,
Seja o que for, meu pedido agora é:
Podem cuidar dele até eu vir buscá-lo outra vez?”
“O seu jeito de ser lhes trará horas gostosas,
E se sua estadia acaso mui breve for,
Vocês ficarão com lembranças preciosas,
Como um consolo para a vossa intensa dor.”
“Que ele ficará com vocês, não posso prometer,
Já que tudo, da Terra, precisa voltar,
Porém há lições para ele aí aprender,
Que de outro modo nunca iria assimilar.”
“Eu procurei por todo o mundo, a buscar,
Pessoas aptas que pudessem ensiná-lo,
E das multidões que estão na vida a caminhar,
Achei que só vocês poderiam ajudá-lo.”
“Será que poderiam dar a ele todo o amor,
Sem pensarem ser trabalho em vão,
E nem se ressentirem contra mim quando eu for
Aí buscá-lo, para tê-lo comigo então?”
“Creio haver ouvido de vocês a oração:
Amado Senhor, seja feito o teu querer;
Pelo gozo que este filho possa trazer então,
Correremos o risco de tal dor sofrer.”
“O cobriremos de amor, terno e permanente;
A ele vestiremos de carinho e bondade;
E a ti ficaremos gratos agora e eternamente,
Pois nos fizeste conhecer felicidade.”
“E se chegar a hora que o quiseres chamar,
Antes até do que havíamos planejado,
A dor que virá, procuraremos enfrentar,
E compreender que isto foi o teu cuidado.”
(Autor desconhecido)
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O que se exige de um pastor?
Existe o pastor que é um dom (como evangelista e mestre) e que exerce seu dom entre as ovelhas onde quer que ele esteja. Não se trata de uma atuação em uma localidade, mas universal. E existe o presbítero ou ancião, que em algumas traduções às vezes aparece traduzido também como “pastor”. Este não é um dom, mas um ofício, e não aparece no singular, mas sempre no plural. Então em uma assembleia em uma cidade deveriam existir alguns presbíteros para cuidar (no sentido de responsabilidade) do rebanho.
O dom de pastor você encontra em Efésios e não há algo que alguém possa ter ou fazer para recebê-lo de Cristo. É um dom, uma dádiva, algo que vem de graça sem esforço do homem, como acontece com a salvação. Sua atuação e objetivo não são locais, mas universais como foram os apóstolos e profetas (estes nós só encontramos no início da Igreja, quando ainda não havia a Palavra escrita) e também os evangelistas e doutores ou mestres. Todos estes dons são dados visando a edificação do corpo de Cristo como um todo, não de uma assembleia local.
(Ef 4:11-12) “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;”.
Por outro lado, se alguém deseja desempenhar a função de um presbítero (ou bispo em algumas traduções), que não é um dom, mas um ofício, essa pessoa precisa ter algumas características, além de ser levantada pelo Espírito Santo para essa função. Veja algumas passagens que falam das características dos presbíteros:
Os presbíteros eram designados por ordem direta dos apóstolos, e isso de cidade em cidade (cada cidade tinha os presbíteros daquela cidade, não de um grupo específico):
(Tt 1:5) “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei”.
Os presbíteros que, além da responsabilidade sobre o rebanho, também trabalhassem na obra do Senhor, podiam receber a ajuda dos irmãos:
(1 Tm 5:17-18) “Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra (também pode ser traduzido por duplicados salários), principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; porque diz a Escritura: não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário”.
Não deveria se acusar levianamente um presbítero, senão com testemunhas. Se tivesse pecado, ele devia ser repreendido na presença de todos.
(1 Tm 5:19-20) “Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas. Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor”.
Não deviam desempenhar sua função a contragosto, mas de forma voluntária, e não podiam ser gananciosos, isto é, fazer isso visando dinheiro.
(1 Pe 5:1-2) “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto;”.
Os bispos (o mesmo que presbíteros) deviam ser irrepreensíveis, monogâmicos, sóbrios, honestos, hospitaleiros, capazes de ensinar, não beberrões, não contenciosos, não avarentos (amor ao dinheiro), deviam saber cuidar da família, não deviam ser novos convertidos e deviam ter um bom testemunho diante dos incrédulos.
(1 Tm 3:1-7) “Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo”.
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Meu filho deve pedir a bênção a mim?
Realmente não sei se existe uma base bíblica para fazer isso como se fosse uma ordenança. Todavia, se é o que os pais gostariam de ver seus filhos fazendo, então creio que se aplique o versículo de Efésios 6:1-3 “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; Para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra”.
Afinal, a Palavra de Deus nos diz para abençoarmos nossos inimigos, portanto não vejo nada de mal em abençoarmos nossos filhos:
(Rm 12:14) “Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis”.
Meus filhos não me pedem a bênção, como é o costume em muitas famílias, um costume geralmente herdado do catolicismo (acho que eu mesmo pedia a bênção a meus pais quando pequeno), mas quando eu me despeço de meus filhos costumo dizer “Deus abençoe vocês” como uma forma de mostrar que desejo o melhor para eles, ou como forma de aprovação.
“Tecnicamente” falando, nenhum cristão precisa de mais bênçãos do que já possui. Ao contrário das bênçãos dos israelitas, que eram sempre materiais e terrenas, as bênçãos dos cristãos são sempre espirituais e celestiais. E nós as temos TODAS quando cremos em Cristo.
(Ef 1:3) “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com TODAS as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”.
Eu entendo assim a questão dos filhos pedirem a bênção aos pais, mas pode ser que existam versículos que eu desconheça que digam o contrário.
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Devemos buscar membros para uma reunião?
A Palavra de Deus não nos exorta a fazer prosélitos ou conquistar “membros” para algum tipo de congregação. Em Atos os discípulos pregavam o evangelho e, quando se reuniam, “perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações… E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos”. (At 2).
Repare que é o Senhor quem acrescenta à igreja os salvos, e a igreja é o seu corpo formado por TODOS os que creem em Jesus. Quando dois ou três estão congregados para o Senhor e em seu nome, estão dando testemunho dessa única igreja em sua expressão local. Não estão “dando testemunho de um testemunho”, como seria o caso se a “reunião” fosse alguma coisa em si mesma. Se fosse, não seria diferente de uma seita ou divisão, uma espécie de “denominação sem nome”.
Por isso, não se preocupe em angariar “membros” para algum grupo. Queira apenas aquilo que Deus quer: “que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Tm 2:4). Neste caso devemos buscar sim outros, mas para serem salvos pela fé em Jesus. A salvação vem por escutar o evangelho e crer em Jesus, por isso somos convidados a pregar o evangelho e não uma congregação.
Mas não para aí. O pleno conhecimento da verdade vem pelo aprender a Palavra. Uma vez de posse da salvação e do Espírito Santo que lhe dá entendimento, o cristão está totalmente capacitado para fazer ao Senhor a pergunta que os discípulos fizeram por ocasião da ceia: “Onde queres que a preparemos?” (Lc 22:9).
Quando compreendemos isso, então, do mesmo modo como não temos razão para nos gloriar por termos nos convertido, por descobrirmos que foi uma ação do Espírito Santo em nós que nos levou a Cristo, também não teremos de que nos gloriar por estarmos congregados para o Senhor, porque saberemos que foi “um homem levando um cântaro de água” (Lc 22:10) que nos levou até ali.
Como naquele tempo homens não levavam cântaros, e sim mulheres, e considerando ser a água uma figura da Palavra de Deus (Ef 5:26), descansamos no fato de ter sido o Espírito Santo, através da Palavra, que nos levou ao “cenáculo mobilado”, isto é, a um lugar mais alto do que o nível e o sistema religioso deste mundo, o qual estava já mobilado, ou seja, preparado com tudo o que precisávamos para desfrutar da própria presença do Senhor em nosso meio.
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Estas passagens falam de salvação por obras?
Sua dúvida é sobre as passagens que aparentemente seriam uma contradição à salvação pela fé por ensinarem que a salvação seria por mérito nosso e por aquilo que fazemos. Uma é Tiago 5:19-20 que diz: “Irmãos, se algum dentre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados”.
Repare que o contexto todo está falando de irmãos, pessoas convertidas e salvas por Cristo, portanto seguras em sua salvação. Aqui está falando de um salvo que se desviou e aquele que o faz voltar atrás de seu erro (é o sentido da palavra converter aqui) está salvando sua alma (aqui o sentido é vida) da morte.
Não se trata da condenação, mas da morte mesmo, morte física. Um verdadeiro salvo que ande desordenadamente pode ser tirado do mundo por não servir mais como um testemunho para Deus. Ele estará salvo, mas “como que pelo fogo”.
Outra tradução da mesma passagem:
(CNBB) “que este então saiba: quem faz voltar um pecador do seu caminho errado, o salvará da morte e cobrirá uma multidão de pecados”.
Sua outra dúvida está nesta passagem: (1 Tm 5:12) “Tendo já a sua condenação por haverem aniquilado a primeira fé”.
Aqui o caso é semelhante, pessoas que um dia creram em Cristo e foram salvas, porém deixam de andar naquele primeiro amor da fé inicial que dava tanto fruto para Deus e passam a agir desordenadamente. Entenda essa “condenação” aqui como reprovação e ficar sujeito à disciplina que Deus traz sobre seus filhos desobedientes. Não se trata da condenação eterna.
Algumas outras traduções da mesma passagem:
(Bíblia) “e incorrerão na censura de ter violado o primeiro compromisso”.
(BRASIL) “e são culpadas, porque violaram a primeira promessa:”.
(CNBB) “e então merecem censura por faltarem com o compromisso antes assumido”.
(Darby) “sendo culpadas, por terem desprezado sua primeira fé”.
(NVI) “Assim, elas trazem condenação sobre si, por haverem rompido seu primeiro compromisso”.
(PAST) “tornando-se censuráveis por terem rompido o seu primeiro compromisso”.
Sua próxima dúvida é quanto a esta passagem: (1 Tm 6:17-19) “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna”.
Vejo aqui também um problema de tradução e isso pode ser visto nas diferentes versões da Bíblia. Darby traduz assim: “assentando para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam usufruir daquilo que realmente é vida”.
Outras traduções:
(Bíblia) “ajuntem um tesouro sólido e excelente para seu futuro, a fim de conquistarem a verdadeira vida”.
(BRASIL) “entesourando para si um fundamento sólido para o futuro, a fim de que se apoderem da vida que é realmente vida”.
(CNBB) “Assim acumularão para si mesmos um valioso tesouro para o futuro, a fim de obterem a vida verdadeira”.
O sentido da passagem não é da salvação por obras, mas de acumular tesouros no céu, onde está a verdadeira vida do crente e onde ele poderá realmente desfrutar desses tesouros.
Vou dar um exemplo: as pessoas fazem planos de previdência pensando em uma garantia, segurança e conforto para quando se aposentarem. Mas, por melhor que sejam esses planos, nenhum permite à pessoa desfrutar eternamente do que depositam neles.
Então o plano que traz dividendos eternos e nos permite desfrutar deles é aquele em que depositamos tudo aquilo que você viu sugerido aos ricos deste mundo nos versículos anteriores, ou seja, fazer o bem, fazer boas obas, repartir, comungar de seus bens com quem necessita, etc.
Uma vez um irmão contou uma historinha de um cristão que teve um sonho em que chegava no céu e ficava maravilhado com todas as ricas mansões que via por todo lado. O Senhor o acompanhou até sua nova morada e qual não foi sua surpresa ao ver um casebre pequenino. Ao indagar por que sua casa era tão diferente das mansões que tinha visto, a resposta foi: “Isto foi o melhor que pudemos fazer com o material que você mandou”.
É importante entender que se estas passagens estivessem falando de salvação eterna por meio de obras nossas, então Cristo teria morrido em vão e toda a doutrina fundamental cristã, que é a de uma vítima inocente morrendo para pagar o pecado do culpado, cairia por terra.
Quando estamos firmados na certeza de nossa salvação da única maneira que exalta e glorifica a Deus somente e ao Cordeiro, e não a nós, podemos descansar no fato de que todas as passagens que parecerem dizer o contrário precisam ser melhor compreendidas ou talvez possam estar traduzidas ou redigidas de modo a causar uma impressão equivocada.
Os idiomas são dinâmicos, isto é, estão evoluindo o tempo todo. Algo que você dizia há cem anos tem outro significado hoje. É o caso da palavra “caridade” que originalmente tinha o sentido de amor, mas acabou adquirindo o sentido de esmola. Por isso algumas traduções da Bíblia hoje a substituem pelo termo genérico “amor”.
A palavra igreja no original jamais significava um edifício, mas hoje é assim que é usada pela maioria das pessoas. Daí às vezes ser preciso substitui-la por “assembleia” para voltar ao seu significado original, que era o de uma reunião de pessoas, não de um lugar físico de tijolos e cimento.
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De que mal devemos nos apartar?
Basicamente somos exortados a nos apartarmos do mal moral, doutrinário e eclesiástico. Em toda a Palavra de Deus somos exortados, não a nos acomodarmos ou nos conformarmos (tomarmos a forma) com o erro, mas a nos separarmos dele. Nem sempre a coisa é preto no branco, ou seja, você não vai encontrar uma passagem que diga “Apartai-vos do erro moral, doutrinário e eclesiástico”, mas temos o Espírito e a Palavra para discernirmos o que é errado aos olhos de Deus.
Na maioria dos casos esses erros se misturam de tal modo que fica difícil compartimentá-los como “moral”, “doutrinário” e “eclesiástico”. Para nós, o fato de ser erro devia bastar. Por exemplo, a epístola de Judas denuncia três tipos de erros, dos quais nem precisa dizer que precisamos manter distância:
(Jd 1:11) “Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré”.
Caminho de Caim: Justiça própria. Pode ser considerado um erro moral, pois visa satisfação da natureza carnal. Caim se deixou levar pelo pensamento carnal ao achar que tinha algo em si mesmo ou em seus esforços que fosse aprazível a Deus.
Engano do prêmio de Balaão: Ganância. Este é um erro eclesiástico. Balaão quis fazer das coisas de Deus um meio de lucro, o que não é muito diferente de muitas religiões atuais.
Contradição de Coré: Insubordinação à autoridade de Deus e àqueles que Deus havia levantado (Aarão e seus filhos). Você pode encontrar um pouco de tudo isso nas religiões criadas pelos homens.
Sobre esta passagem C. H. Mackintosh escreve:
“Judas resume os três tipos de caráter do mal (conforme é evidenciado nestes homens), e da independência de Deus. Primeiro, o mal natural, a oposição da carne ao testemunho de Deus e ao seu povo genuíno, e o ímpeto que essa inimizade dá ao desejo da carne. Em segundo lugar, o mal eclesiástico, ao ensinar o erro em troca de recompensa, sabendo o tempo todo que isso é contrário à verdade e prejudicial ao povo de Deus. Terceiro, a deliberada oposição e rebelião à autoridade de Deus que é encontrada em seu verdadeiro Rei e Sacerdote. Conforme somos lembrados aqui, estas três formas de mal foram representadas por Caim, Balaão e Coré, e agora aprendemos que, por meio da energia do inimigo, elas são reproduzidas em cada época da Igreja, por não passarem de expressões típicas do corrupto coração humano em oposição à obra do Espírito de Deus. Tendo sido assim alertados e instruídos, não é difícil detectarmos todas essas formas de corrupção na Igreja de Deus nos dias atuais”.
Uma forma de identificarmos os erros principalmente eclesiásticos é lendo as cartas às 7 igrejas que encontramos em Apocalipse. Com exceção de Esmirna e Filadélfia, todas as outras são denunciadas como tendo erros. Quando olhamos os erros delas podemos identificar o que são erros eclesiásticos:
1. Éfeso mergulhou em um estado de apatia por ter deixado seu primeiro amor (Jesus).
2. Esmirna não recebeu reprovação, mas consolo por ser perseguida pelo que era.
3. Pérgamo fez uma aliança com o mundo e suas instituições, colocando-se à sombra do poder secular. Passou a habitar no mundo, onde está o trono de seu príncipe, Satanás. Também tem em seu meio pessoas com o espírito de Balaão, que visavam lucrar com as coisas de Deus fazendo tropeçar o povo de Deus. Também tem um embrião de clericalismo (doutrina dos nicolaítas).
4. Tiatira tem muito amor, serviço, fé, paciência e muitas obras, porém permite o ensino errado (uma mulher ensinando), além de estimular a idolatria. Também se prostitui, ou seja, se corrompe e contamina em troca de favores.
5. Sardes tem nome de que vive, mas está morta. Parece ter feito coisas boas, mas também se deteriorou por ter se afastado do que tinha recebido e ouvido. Não anseia pela volta do Senhor, tanto é que será surpreendida por ele como se fosse um ladrão inesperado.
6. Filadélfia também não recebe reprovação, mas consolo e a certeza de que tem diante de si uma porta aberta, apesar da pouca força, do apego à Palavra e ao nome de Jesus (o inverso dessas três características — muita força e sem compromisso com a Palavra e com o nome de Jesus — pode denotar também erro eclesiástico).
7. Laodiceia é tudo de ruim: mornidão, justiça própria, interesse em lucro, contaminação (por isso é exortada a comprar vestes brancas). O Senhor está do lado de fora buscando a comunhão individual, já que coletivamente Laodiceia é um desastre.
O que fazer quando nos deparamos com o mal onde estamos congregados? Quando Moisés viu a corrupção no arraial de Israel, armou a tenda fora:
(Êx 33:7) “E tomou Moisés a tenda, e a estendeu para si fora do arraial, desviada longe do arraial, e chamou-lhe a tenda da congregação. E aconteceu que todo aquele que buscava o Senhor saía à tenda da congregação, que estava fora do arraial”.
Paulo manda Timóteo se apartar dos que têm má doutrina:
(2 Tm 2:19) “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade”.
Judas nos alerta para os que causam divisões:
(Jd 1:19) “Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito”.
Há ainda o mal moral e sua necessidade de julgamento pela assembleia, como encontramos em 1 Co 5.
Em um artigo de F. G. Patterson, “The Walk of Saints according to the Spirit” há um trecho que diz: “Aqui estão a razão e a garantia bíblicas para abandonarmos os sistemas religiosos criados pelos homens. Fazemos assim, não simplesmente por existir uma grande parcela de mal nesses sistemas, mas porque Cristo está fora desses sistemas, e desejamos ir a ele e dar a ele o seu lugar de direito. Nós saímos …a ele”.
(Hb 13:13) “Saiamos pois a ele fora do arraial, levando o seu opróbrio”.
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Como proceder para me congregar somente em nome de Jesus?
Fico contente pela decisão sua e de sua esposa de deixarem o sistema religioso para servirem ao Senhor sem vínculos com uma denominação. Estar congregado em nome do Senhor, e não em nome do Senhor e de mais algum nome, é um privilégio.
O primeiro passo é o que vocês aparentemente já deram: entender que as denominações não estavam nos planos de Deus e que devemos nos afastar delas se quisermos estar onde o Senhor prometeu estar, isto é, no meio daqueles reunidos ao seu nome.
Outro passo importante é reconhecer que há um só corpo, do qual fazem parte TODOS os que foram salvos pela fé em Jesus, inclusive aqueles que são convertidos, mas permanecem nas denominações. Este entendimento é muito importante para não se criar um pensamento sectário.
Na passagem em 2 Timóteo 2:17-25 você encontra passos importantes que deve dar se quiser sair do arraial religioso para estar no lugar de rejeição que Jesus tomou para si. Quando falo do arraial, estou me referindo ao sistema criado pelos homens que hoje chamamos de cristandade, o qual é uma cópia carbono do sistema religioso do judaísmo, exceto pelo fato de que aquele tinha sido instituído por Deus e este não.
Em Hebreus 13, depois de falar do sistema religioso judaico, que trazia tantas cerimônias, porém era incapaz de reconhecer o próprio Cristo, o Espírito Santo mostra aos hebreus convertidos que eles tinham agora um altar que nada tinha a ver com o altar do judaísmo. Era um lugar que tinha sido estabelecido fora do sistema, pois o próprio Senhor foi levado para fora do arraial para ser morto, como faziam com os transgressores no passado para serem apedrejados.
O convite então é para que saiamos também para nos encontrarmos com Jesus fora do arraial, em seu lugar de expulsão e levando nós também a sua vergonha ou ignomínia. Sempre me lembro de que o cego de nascença que fora curado só teve um conhecimento mais perfeito de quem era aquele que o curou depois que foi expulso pelos religiosos e encontrou-se com Jesus “fora do arraial”, por assim dizer.
Voltando a 2 Timóteo, vemos ali um caso de mal doutrinal (introduzido entre os cristãos da época por Himeneu e Fileto, que possivelmente estariam conquistando seguidores).
(2 Tm 2:17-18) “E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; Os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns”.
Independentemente do tipo de erro que estavam cometendo, o importante é a frase: “… os quais se desviaram da verdade”. Isto é motivo mais que suficiente para saber o que devemos fazer quando as pessoas com as quais temos comunhão “se desviaram da verdade” que é a Palavra de Deus. Em seguida vêm as instruções quanto ao modo de proceder.
Primeiro vem o entendimento daquilo que aqui chama de fundamento de Deus: não cabe a nós decidirmos quem é salvo ou não, quem é do Senhor e quem não é, porque é o Senhor quem conhece os que são seus. Portanto a passagem não estará falando de nos separarmos de pessoas por elas serem incrédulas, mas de nos separarmos do erro doutrinário e das pessoas que o praticam. Se aqui o assunto é o mal doutrinário, chamado aqui de “iniquidade”, em 1 Coríntios 5 você encontra o mesmo princípio de separação aplicado ao mal moral.
(2 Tm 2:19) “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade”.
Veja que não se trata de tentar reparar a má doutrina ou criar contendas com os que a professam. É pura e simples uma ordem clara de “sair do arraial”, apartar-se do mal, separar-se, fugir do pecado doutrinário com a mesma presteza com que José fugiu da mulher de Potifar quando ela quis seduzi-lo.
O mal, seja ele moral, doutrinário ou eclesiástico (este aparece na epístola de Judas em três aspectos representados por Caim, Balaão e Coré), é sedutor e não devemos achar que podemos contra ele. Temos ligações naturais e sentimentais com aqueles que estão envolvidos com o mal, e estas ligações podem nos fazer tropeçar como fizeram tropeçar a Adão, ao querer ficar ao lado de sua esposa sabendo que o que fazia era errado (“Adão não foi enganado”). “Apartai-vos” é a ordem dada aqui em alto e bom som.
Em seguida vem uma explicação sobre a casa de Deus, que é a esfera dos que professam ser cristãos e que podemos também chamar de cristandade no estado atual. A casa de Deus é o lado terreno da expressão da igreja de Deus. Enquanto a igreja de Deus, que é a parte que cabe a Deus, continua perfeita e sem mácula, a casa de Deus, que é o seu aspecto governamental deixado sob a responsabilidade do homem, passou de “casa de Deus” que deveria representar a “coluna e firmeza da verdade” de 1 Timóteo 3:15, à “grande casa” de 2 Timóteo, onde há de tudo um pouco: má doutrina, vasos para desonra, etc.
(2 Tm 2:20) “Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra”.
Se no versículo 19 de 2 Timóteo 2 nos era dito para nos separarmos da iniquidade, ou do mal doutrinário propriamente dito, agora o Espírito Santo nos diz para nos purificarmos dos vasos para desonra que ele mencionou no versículo 20. Vasos são pessoas, e esta costuma ser a parte difícil para qualquer um que deseja servir ao Senhor fora do sistema religioso criado pelos homens. Temos laços de amizade ou familiares, como tinha Jônatas com seu pai Saul, que podem nos levar a deixar de seguir nosso verdadeiro Davi em seu lugar de exclusão e desterro fora do arraial, para permanecemos sob a falsa segurança que dá um sistema estabelecido.
(2 Tm 2:21) “De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra”.
Entendo que não se trate aqui de perder a amizade com irmãos sinceros que permanecem nos sistemas religiosos, mas simplesmente de nos purificarmos desses vasos, isto é, deixarmos de caminhar com eles nas questões que envolvem suas associações com os sistemas dos homens. Nenhuma amizade é tão bela quanto a de Davi e Jônatas, porém viviam em mundos diferentes. É emblemático vermos que “Jônatas se despojou da capa que trazia sobre si, e a deu a Davi, como também as suas vestes, até a sua espada, e o seu arco, e o seu cinto”, porém não suas sandálias. Jônatas amava a Davi, mas não queria andar com ele.
Embora às vezes possamos ser grandemente auxiliados pela fé desses irmãos, é preciso entender que em toda associação podem existir também dificuldades que venham a desonrar o nome de Cristo ou subverter a pureza da Palavra de Deus. Quer um exemplo? Uma vez decidi pregar o evangelho em um pequeno povoado no interior de Goiás e, ao invés de simplesmente fazer aquilo que o Senhor tinha colocado em meu coração, confiando que ele abriria as portas, fui à casa de um homem que eu sabia ser crente em Jesus e morava ali. Achei que assim as coisas ficariam mais fáceis, pois ele conhecia todo mundo no lugar e podia me acompanhar às casas das pessoas e me apresentar a elas.
Na primeira casa que visitamos, quando terminei de falar do evangelho puro e cristalino da salvação pela fé em Cristo e da graça de Deus em salvar o pecador independente de obras de justiça que ele possa praticar, sentime satisfeito por ter passado a mensagem. Mas aí meu amigo cristão fez um aparte que simplesmente destruiu toda a mensagem que eu tinha acabado de pregar. Ele disse às pessoas da casa: “Mas não basta só crer. É preciso também guardar o sábado”.
O versículo seguinte mostra que não é para simplesmente nos apartarmos da má doutrina e dos vasos ou pessoas que a professam. O versículo 22 fala de fugirmos (mais uma vez, como José fugiu da mulher de Potifar) das paixões da mocidade. O que um jovem deseja da vida: sexo, dinheiro, poder, fama, prazeres… a lista é grande. Hoje costumamos chamar a isso de ambição.
(2 Tm 2:22) “Foge também das paixões da mocidade;”.
Se por um lado a ordem é clara para nos separarmos, nos purificarmos, e fugirmos, existe agora o lado positivo. Não devemos nos separar para nós mesmos ou para ficarmos sozinhos. Separar-se do mal não significa deixar de congregar, porque Deus deseja que os cristãos estejam congregados, porém apenas em nome do Senhor Jesus, para desfrutar da promessa de tê-lo bem ali, no meio dos que estão assim congregados pelo Espírito Santo.
(2 Tm 2:22) “e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
Nós devemos nos separar de umas coisas para nos unirmos a outras: “a justiça, a fé, o amor e a paz”, porém não sozinhos. “Com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”. Para entender o que “coração puro” significa aqui, entenda que não se trata de pessoas melhores, mais espirituais ou perfeitas. São irmãos em Cristo tanto quanto os que você deixará na denominação onde estava, com todos os defeitos que todos temos. A palavra “puro” aqui tem o sentido de expurgado ou livre do pus, isto é, daquilo que contaminava. Lembre-se do que foi dito no versículo 21: “se alguém se purificar destas coisas”. O texto está falando de purificados, de nos unirmos em comunhão com pessoas que passaram pelo mesmo processo de se apartar dessas coisas.
Finalmente, a Palavra de Deus nos fala em que estado de espírito devemos fazer isso: rejeitando questões loucas e fugindo de contendas, mas ensinando com mansidão as pessoas. Uma pessoa que entende que deve apartar-se do mal, não deve fazer disso um cavalo de batalha e causar divisões entre aqueles com quem ela se congregava. A decisão de separar-se é uma decisão individual. Se for para outros fazerem o mesmo, eles o farão pelo exemplo que enxergarem naquele que se separou, não por alguma articulação política feita dentro de uma denominação para se criar um partido e angariar seguidores. Assim como aconteceu com você, é Deus quem irá tocar o coração de outros.
(2 Tm 2:23-25) “E rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas. E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade”.
Muitos neste processo acabam caindo no erro de tentar criar contendas entre os irmãos ou de corrigir os erros que encontram na denominação. Não se trata de corrigir erros, mas de sair de algo cujo próprio fundamento está errado. Quando a defesa civil descobre um problema no alicerce de uma casa construída em uma área de risco, as autoridades não tentam convencer o dono da casa a pintá-la de outra cor, mas ordenam que ele deixe imediatamente o local. Tudo o que estiver sobre o alicerce comprometido irá ruir, não importa se a casa é feita ou bonita.
Deixo aqui mais um alerta: hoje há muitos grupos de irmãos reunidos sem denominação, mas reunir-se sem denominação não é a questão envolvida aqui. A questão é de fundamento. Podemos estar congregados sobre um fundamento errado, mesmo não tendo uma placa com um nome na porta da sala. Muitos grupos que hoje estão congregados sem denominação são descendentes de pecados, divisões e erros ocorridos no passado entre irmãos que estavam congregados somente em nome do Senhor Jesus. Portanto é bom dar uma olhada na história daquele grupo para ver quais foram suas origens, antes de tomar uma decisão que pode levá-lo a associar-se ao erro.
Uma vez que o Espírito Santo tenha mostrado a você que os irmãos que estão congregados ao nome do Senhor tenham se “purificado” desses erros descritos em 1 Timóteo, seu próximo passo será fazer contato com a assembleia de irmãos mais próxima de você e pedir o seu lugar à comunhão à mesa do Senhor. Os irmãos procurarão conhecê-lo melhor para saber se você não está em algum tipo de pecado moral, doutrinário ou eclesiástico e quando sentirem paz neste sentido você será convidado a tomar o seu lugar à mesa do Senhor.
Se não existir uma assembleia em sua cidade, provavelmente continuará participando da ceia do Senhor quando visitar uma assembleia em outra localidade ou for visitado por irmãos. Quando em sua cidade existirem dois ou três irmãos que se converteram a Cristo ou saíram do sistema religioso para estarem onde o Senhor prometeu estar, chegará a hora desses dois ou três formarem uma assembleia local, com suas responsabilidades e privilégios.
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Como congregar estando sozinho?
Se não existir nenhuma assembleia de irmãos congregados ao nome do Senhor perto de você, o jeito será ficar só ou continuar lendo a Palavra regularmente com sua esposa até o Senhor acrescentar outros para que se forme uma assembleia em sua localidade. Enquanto isso você partirá o pão e o vinho quando for visitado ou visitar uma assembleia próxima.
Para estar em comunhão à mesa do Senhor você deve pedir seu lugar à comunhão a uma assembleia mais próxima de você. O que acontece em casos assim é que irmãos de lá visitarão você ou você os visitará, ou ainda manterão correspondência para se conhecerem melhor. A assembleia que recebe alguém à comunhão à mesa do Senhor tem a responsabilidade de manter a santidade (separação) da mesa, porque ela é do Senhor.
Por isso os irmãos procuram saber mais da pessoa que pede seu lugar para ver se não está em pecado moral (adultério, prostituição, roubo, etc.), doutrinário (negar a divindade de Cristo, etc.) e eclesiástico (querer congregar ao nome do Senhor mas continuar congregando em uma religião).
Depois de recebido à comunhão à mesa do Senhor você poderá participar da ceia quando visitar uma assembleia em qualquer lugar do mundo (levando uma carta de recomendação da assembleia onde foi recebido) ou até mesmo partir o pão com sua esposa (se ela também for recebida) na localidade onde mora se a assembleia na qual foi recebido à comunhão achar que seria o melhor a fazer em sua situação.
Infelizmente nem todos estão dispostos a “pagar o preço” de separar-se do sistema. Muitos até entendem que devem se congregar só para o Senhor, mas sentem falta de toda a atividade e entretenimento que existe dentro dos sistemas religiosos e suas denominações, e consideram monótono ocupar-se somente com Cristo.
É preciso lembrar que uma das características de Filadélfia, a igreja mais bem avaliada pelo Senhor em Apocalipse, é que “tens pouca força, entretanto guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome”. Ter pouca força, manter-se fiel à Palavra, e dar a devida honra ao Nome do Senhor são três características de um testemunho para este final de tempos.
Quando vocês participarem de uma reunião com irmãos reunidos ao nome do Senhor talvez tenham a mesma impressão que tive da primeira vez que fui a uma reunião há mais de 30 anos. Achei um tédio. Horrível. Não acontecia nada, os hinos eram desafinados, sem coral, sem banda, quem falava não tinha boa oratória, não havia nada para se desejar ali.
Naquela noite eu perguntava a mim mesmo a razão daquelas pessoas ficarem ali naquela monotonia. Por que iam até lá com tantos lugares mais interessantes? E a resposta que o Senhor colocou bem clara em meu coração foi que era só por causa dele. Nada mais.
O curioso é que se eu tivesse visitado aqueles mesmos irmãos uns 4 anos antes, teria encontrado uma banda, gente chorando, rindo, gritando, línguas estranhas, demônios se manifestando e tudo mais. À medida que foram conhecendo melhor a Palavra, foram também aprendendo que muito daquilo que praticavam não passava de carne. Pouco a pouco o Senhor os ajudou a se ocuparem exclusivamente com ele, não com manifestações visíveis ou com as emoções dos sentidos.
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Como congregar ao nome do Senhor?
É uma alegria saber como o Senhor têm aberto os olhos de vocês para a ruína que há hoje na cristandade, e especialmente para buscarem honrá-lo na simplicidade de estarem congregados em nome dele, para ele.
O próximo passo será vocês pedirem a comunhão à mesa do Senhor na assembleia mais próxima de vocês. Provavelmente vocês visitarão os irmãos lá ou eles visitarão vocês aí para conversarem mais e se conhecerem melhor. Não se espante se parecer que existe um zelo excessivo, mas isso não significa que vocês não sejam bem vindos ou amados. Significa apenas que, no atual estado da cristandade, é importante que aqueles que são responsáveis por manter a santidade da casa de Deus sejam criteriosos quanto ao recebimento à comunhão.
Cabe à assembleia local receber alguém à mesa do Senhor, e isso é feito com base na análise dessa pessoa para saber se está contaminada moral ou doutrinariamente. Da mesma forma, alguém que já está em comunhão pode ser excluído da comunhão caso caia em pecado ou contaminação (as instruções para isso você encontra em 1 Co 5). Mesmo uma exclusão tem o caráter de disciplina e restauração, não de rejeição ou ódio. Um pai não ama menos um filho que põe de castigo, apesar de deixar de conversar com ele e impor certas restrições quanto ao convívio com os outros membros da família.
Normalmente as denominações enxergam na Bíblia apenas a “ceia do Senhor” (1 Co 11:20), sem darem atenção à “mesa do Senhor” (1 Co 10:21), e utilizam o batismo como forma de ingresso à comunhão daquela denominação em particular. Isso não tem base nas escrituras.
No princípio a coisa era mais simples, pois não havia heresias ou divisões. Então quando alguém se convertia era logo recebido à comunhão desde que desse provas de estar limpo das práticas que tinha em sua incredulidade (idolatria, por exemplo). Hoje, com a confusão que há na cristandade, é preciso ser mais criterioso pois não sabemos quem é a pessoa que está vindo participar da ceia. Hoje você encontra por aí pessoas que se dizem cristãs e negam a divindade de Cristo. Outras afirmam que Jesus poderia ter pecado. Há ainda quem acredite que a salvação seja pelas obras. É preciso ter essas questões claramente resolvidas antes de alguém entrar em comunhão, pois a mesa é o lugar de comunhão, e ao comer com alguém estou me associando a essa pessoa.
Além desses erros doutrinários, o fato de uma pessoa partir o pão em uma denominação e ao mesmo tempo querer partir o pão com irmãos reunidos ao nome do Senhor cria uma incoerência. Ela não pode, ao mesmo tempo, dar um testemunho prático de que os cristãos fazem parte de um só corpo, enquanto comunga com as ideias e princípios de uma denominação, que divide os crentes por um nome, que não é o de Jesus e não é inclusivo o suficiente para ser levado por todos os salvos.
Quando falamos do lugar de reunião que Deus institui na sua Palavra, algumas coisas são essenciais que você reconheça: a base ou fundamento é reconhecer o corpo de Cristo como um só e que todos os salvos são membros desse mesmo corpo, e reconhecer a autoridade do Senhor delegada à assembleia quando reunida ao seu nome. Outra coisa essencial é o julgamento de pecado (com a autoridade do Senhor conforme vemos em 1 Co 5). Um grupo de cristãos que não reconheça o princípio da unidade do corpo (reconhecendo todos os salvos como membros da única Igreja) e que deixe o pecado passar sem julgamento não pode ter a mesa do Senhor.
Outro ponto importante a ser reconhecido é que não pode existir independência num corpo que é todo interligado. Eu entendo que o recebimento de alguém à mesa do Senhor é feito através da autoridade do Senhor dada à assembleia local. Uma vez tomada uma decisão de receber (ligar) alguém, essa decisão deve ser respeitada por todas as assembleias em comunhão, o mesmo acontecendo com a decisão de “desligar”, que é excluir (ou “excomungar” = excluir da comunhão, como se dizia no passado) alguém por algum pecado. Não pode existir independência quando a decisão é tomada com a autoridade do Senhor. Um criminoso em uma cidade é criminoso na outra, segundo a lei de nosso país. Não fica a cargo de cada prefeito em cada cidade decidir.
Assim, uma pessoa recebida à comunhão à mesa do Senhor estará em comunhão à mesa do Senhor, onde quer que essa mesa esteja estabelecida. Se ela viajar a uma localidade onde os irmãos ali não a conhecem, deve levar consigo uma carta de recomendação da assembleia onde está congregada. Cartas de recomendação podem ser encontradas nas epístolas. Uma pessoa excluída da comunhão à mesa do Senhor estará excluída em qualquer lugar onde a mesa do Senhor estiver estabelecida, e as assembleias que aquela pessoa eventualmente frequentasse são avisadas também.
E antes que me pergunte, assim como acontece com toda autoridade delegada, as decisões tomadas em nome do Senhor têm o respaldo do Senhor (“será ligado no céu”), porém não são infalíveis como não é infalível a decisão de qualquer juiz humano. Pode ocorrer de uma assembleia se equivocar e precisar depois voltar atrás. Quando isso acontece, a “vítima” do equívoco deve simplesmente aguardar que o Senhor esclareça as coisas. Neste caso é importante que ela enxergue o próprio Senhor como a “instância superior” à qual podemos apelar.
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Como devemos nos congregar?
Fico contente por saber que vocês pediram seu lugar à comunhão à mesa do Senhor e agora aguardam serem recebidos. Também é bom saber que vocês estão promovendo reuniões regulares em casa aí em sua cidade até começarem a congregar como assembleia de irmãos reunidos ao nome do Senhor.
Devo ter explicado que essas reuniões têm um caráter informal, apesar de vocês já serem “dois ou três” (Mt 18:20), pois ainda não existe a prática governamental dada pelo Senhor aos dois ou três congregados em seu nome. Falo da responsabilidade de ligar e desligar, isto é, tomar decisões em nome do Senhor e também do caráter solene que tem uma reunião de assembleia.
Se decidissem fazer isso agora, isto é, congregar-se como assembleia sem aguardar a destra à comunhão dos irmãos da assembleia mais próxima (que estão assim exercitando o “ligar e desligar”), vocês estariam agindo em independência, um princípio contrário ao reconhecimento de que há um só corpo no qual os membros não podem ser independentes uns dos outros e da cabeça no céu.
Estas são questões pouco compreendidas entre os cristãos. Muitos acreditam que o simples fato de dois ou três cristãos estarem conversando das coisas de Deus é suficiente para se considerarem na condição de Mateus 18:20 e poderem contar com a promessa do Senhor, que disse, “aí estou eu no meio deles”. Não é bem assim.
Dois ou três cristãos que se encontram num ônibus, restaurante, parque, escola, em casa ou mesmo em uma sala ou salão reservado às reuniões cristãs não estão por isso reunidos em nome de Jesus. Eles podem ter uma ótima comunhão juntos, conversar das coisas de Deus, ensinar uns aos outros e até cantar hinos de louvor, mas o caráter é de uma reunião informal.
Para entender isso, pense em uma grande empresa cujos funcionários se encontram regularmente para conversar nos corredores, no refeitório ou no local de trabalho. Qualquer um pode participar dessas reuniões informais e eles até podem discutir e decidir coisas para a empresa, mas essas reuniões não são a “reunião de assembleia” que a empresa promove regularmente entre diretores e acionistas.
A “reunião de assembleia” de uma empresa tem um caráter solene e bastante distinto dos encontros no corredor. Há um presidente para presidir a reunião, assim como temos o Espírito presidindo uma “reunião da assembleia” nos moldes de Mt 18:20. Ninguém pode simplesmente trazer seus palpites; é preciso que o presidente da empresa conceda a palavra a quem ele achar que deve falar. Existe um secretário que anota tudo, existe uma ata para oficializar o que é dito ali, costuma-se publicar os resultados da reunião, etc. Existe um caráter solene que não existe nos encontros informais, onde qualquer um pode falar, fazer gracejos ou até comer um lanche enquanto conversam.
Portanto, pensem nisso quando vocês começarem a congregar como uma assembleia de irmãos em nome do Senhor. As reuniões da assembleia (ou igreja) em uma localidade seguem a mesma ordem ou atividades das reuniões dos primeiros cristãos em Atos: “perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”. Entendo, portanto, que há três tipos básicos de reuniões que podem ou não acontecerem num mesmo dia: doutrina e comunhão dos apóstolos (ministério da Palavra), partir do pão (ceia do Senhor, aos domingos) e orações.
Veja que interessante: não encontramos o mesmo caráter de uma reunião da assembleia em uma reunião para se pregar o evangelho, porque as reuniões de assembleia são um momento exclusivo entre os santos e o Senhor (embora visitantes possam assistir, evidentemente). Doutrina, ministrada por aqueles que têm dons e ministério, é algo para os já convertidos; a ceia do Senhor, que não é uma reunião de ministério ou oração, mas de louvor e adoração, também tem o caráter de uma reunião da assembleia, e neste caso particularmente para os que foram recebidos à comunhão à mesa do Senhor.
O mesmo acontece com a oração, que não tem o mesmo caráter das orações em casa com a família, mas têm um sentido mais amplo e condizente com as necessidades que afetam os santos. Os irmãos trazem e explicam os motivos de oração antes de todos orarem por esses motivos. Em todos esses casos o sentido do que é feito é na vertical, seja de Deus para os homens (ministério da Palavra) ou dos homens para Deus (oração, louvor, adoração).
Já uma pregação do evangelho tem um sentido horizontal, de homens para homens, no caso, do pregador para os incrédulos. Neste caso podemos dizer que é uma reunião de quem prega o evangelho, não da assembleia. Quem prega tem a responsabilidade pelo que acontece no local o evangelho está sendo pregado (que pode coincidir com a sala onde são feitas as reuniões formais de assembleia). Outras reuniões, como a escola dominical para crianças e jovens, são reuniões no mesmo caráter da pregação do evangelho, só mudando o público.
É sempre bom lembrar que já não estamos nos dias de Atos, portanto não espere grandes coisas, como o chão tremer quando se reunirem para orar. E nem acredite ser hoje possível dividir suas posses com os irmãos como faziam os primeiros cristãos, pois hoje você precisaria dividi-las com todos os irmãos da igreja que está em sua cidade, e a igreja que está em sua cidade é, biblicamente falando, composta por todos os crentes que vivem aí.
Quando você lê os livros de Esdras e Neemias percebe que as coisas são muito pequenas em relação ao que tinham sido no passado. Até mesmo o templo reconstruído era uma triste maquete, se comparado ao original. Por isso, enquanto os jovens se alegravam, os velhos choravam (tinham conhecido o anterior). Não espere grandes coisas neste tempo igualmente de ruína.
Às vezes você percebe longos períodos de silêncio dos irmãos durante uma reunião, mas creio que existe no silêncio uma expressão de dependência, de esperar que o Senhor indique quem deve falar e o que falar, ou quem deve orar ou sugerir um hino. Mas não espere alguém afirmar que escutou Deus trovejando do céu ou o Espírito Santo sussurrando em seu ouvido para escolher o hino tal ou ler a passagem tal. Quando falamos de direção do Espírito na reunião da assembleia não estamos falando de alguma espécie de experiência mística.
Quando buscamos na Palavra encontramos que os discípulos do Senhor também cantavam hinos (os próprios Salmos eram hinos) e na época deviam ler do Antigo Testamento ou falar passagens de memória, além de lerem as cartas dos apóstolos (como vemos o próprio Paulo estimular tal prática em Colossenses 4:16). Havia também profetas no início, pois não tinham ainda o Novo Testamento, e estes falavam da parte de Deus. Hoje não temos esse mesmo tipo de revelação espontânea, por isso dependemos da Palavra escrita de Deus, e mesmo quando a lemos ou comentamos é bom que isso seja feito em reverência. Se minha forma de expressar reverência for esperar alguns minutos antes de abrir a boca, não creio que seja algo ruim.
O fato de se usar um hinário específico é uma decisão da assembleia local. Nos países de língua inglesa os irmãos com os quais estamos em comunhão usam um hinário chamado Little Flock; nos de língua espanhola “Mensajes del amor de Dios” e em outros países outros hinários ou compilações próprias de hinos selecionados como apropriados. Não existe uma “sede central”, “ministério” ou “casa publicadora oficial” que publique o hinário que todos devem usar. Se os irmãos de uma assembleia em uma localidade decidirem cantar outros hinos, é uma decisão deles, embora isso possa dificultar para visitantes de outras assembleias.
No Brasil, depois de procurar por um hinário apropriado, os irmãos decidiram criar um com uma seleção de hinos traduzidos do inglês e do espanhol, além de outros que já existiam em antigos hinários em português. A razão disso é que muitos hinários em português usados nas denominações têm erros doutrinários nas letras dos hinos. Além disso, boa parte deles mistura indistintamente hinos evangelísticos com hinos de adoração, e alguns ainda trazem o Hino Nacional, Hino à Bandeira, e coisas do tipo. Como não há um “pastor” à frente das reuniões e os irmãos é que sugerem os hinos, sempre poderia acontecer de um irmão menos informado sugerir para a assembleia cantar um hino de evangelismo (tipo “pecador vem a Cristo Jesus”) quando estivessem reunidos para adorar o Senhor na ceia, ou quem sabe até, numa situação extrema, alguém sugerir que cantassem o Hino Nacional!
No que diz respeito ao ministério da Palavra, mais uma vez lembre-se de que estamos em tempos de ruína. Há muitos dons em cada cidade onde há cristãos, mas o problema é que estão espalhados nas diferentes denominações. Por isso em qualquer assembleia reunida somente ao nome do Senhor você encontrará essa carência, porque Deus não distribui os dons de acordo com cada grupo de cristãos, mas a todos sem distinção. Às vezes somos obrigados a fazer o trabalho de um dom que nem é o nosso, em razão dessa deficiência, como parece ser o caso quando Paulo diz a Timóteo para fazer o trabalho de um evangelista. Mesmo assim é prudente ter a direção do Espírito em tudo.
Na última carta de Paulo, que é a que escreve a Timóteo e é também aquela em que diz que todos o abandonaram (e onde fala também da grande casa onde há vasos de honra e desonra), ele diz a Timóteo: (2 Tm 4:5) “Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério”. Provavelmente Timóteo não tivesse o dom de evangelista, daí Paulo precisar admoestá-lo a fazer a obra de um evangelista.
Veja que o reconhecimento dessa fraqueza na cristandade como um todo é também característico daqueles congregados ao nome do Senhor. O contrário seria acreditar que estamos falando de um grupo que é suficiente em si mesmo, com todos os dons necessários, etc. Acaso não é esse o espírito das denominações com seus próprios pastores, evangelistas e mestres? Todavia o Senhor distribuiu esses dons à igreja como um todo, e não a uma organização ou reunião local.
Por mais que nos alegremos de poder estar congregados somente ao nome do Senhor, dando testemunho do “um só corpo” na prática, mesmo assim devemos nos humilhar sabendo que estamos na mesma condição de Laodiceia (Apocalipse 3): nós nos achamos ricos e abastados e sem necessidade de coisa alguma.
Vou tratar em detalhes do assunto “evangelismo” em sua relação com a assembleia. Como já disse em outra mensagem, e não custa lembrar, o evangelismo é um dom e atividade individual. Você não encontra o evangelismo entre os tipos de reuniões que mencionei: comunhão e doutrina dos apóstolos, ceia do Senhor e orações. Do mesmo modo como a Igreja não ensina doutrina (são os dons individualmente que o fazem quando a assembleia está reunida), a Igreja não prega o evangelho.
Esse é um erro comum na cristandade que os protestantes adotaram dos católicos, que até hoje falam coisas do tipo “a Santa Igreja ensina tal e tal”. A Igreja dá testemunho a homens e anjos por ser o corpo de Cristo, mas ensinar e evangelizar são atividades dos diferentes dons. A falta de entendimento de que o evangelismo não é uma reunião da igreja, mas sim uma exposição para incrédulos, e a falta de liberdade para o Espírito Santo escolher quem lhe apraz para ministrar doutrina para os crentes em uma reunião, faz com que em muitas denominações os irmãos só escutem o evangelho dia após dia.
Não que isto seja ruim, pois afinal o evangelho “é o poder de Deus para todo aquele que crê”. O problema é que, se o dom do pastor for o de evangelista, essa congregação não receberá alimento mais sólido e não crescerá no conhecimento das glórias de Cristo, que é o verdadeiro tema da ministração para crentes. Quando, há mais de 30 anos, eu me congregava numa congregação batista na qual não havia um “pastor” oficial, eu e outro irmão nos revezávamos para pregar, e obviamente o tema era sempre o evangelho e todas as reuniões terminavam com um convite para as pessoas se converterem, levantarem a mão, virem à frente, etc. Uma noite não apareceu nenhum incrédulo convidado e ficamos completamente perdidos, sem saber o que fazer.
Por isso, lembre-se sempre de que quando a igreja ou assembleia está reunida, ela está reunida para o Senhor, não para os incrédulos, que é o motivo principal de uma pregação do evangelho. Numa assembleia numa localidade podem existir iniciativas dos que evangelizam e estas serem endossadas por todos os irmãos de uma assembleia, como é o caso da pregação do evangelho que temos aos domingos à noite no salão de reuniões aqui em Limeira. A cada domingo um irmão (de um grupo de 5 ou 6 que têm esse exercício no coração) se reveza para pregar o evangelho às pessoas que são convidadas para este fim. Mas não é uma reunião da assembleia, e sim uma pregação das boas novas de salvação feita por um irmão à frente de uma audiência convidada para este fim.
Há também iniciativas individuais de irmãos voltadas para o evangelho, como é o caso do trabalho que tenho feito na Internet, ou de uma editora que existe no Brasil chamada Verdades Vivas, de responsabilidade de 3 irmãos, que publica folhetos evangelísticos, livretos e calendários. E há também a iniciativa individual de cada um que fala a seus amigos, vizinhos e parentes.
Existe também a possibilidade de algum irmão sentir um chamado do Senhor para dedicar parte ou todo o seu tempo na obra do evangelho ou da visita a irmãos, e isso é uma questão entre ele e o Senhor. O irmão não irá pedir a permissão de ninguém para isso, mas obviamente também não irá querer fazer algo à revelia da assembleia onde congrega. Esta pode reconhecer que aquele trabalho vem do Senhor e decidir ter comunhão com esse irmão também em suas necessidades materiais, se for o caso. Mas entenda que não existe nem uma solicitação neste sentido pelo irmão que sai para trabalhar na obra do Senhor, e nem um compromisso da assembleia de sustentá-lo. O exercício é entre o irmão e o Senhor, portanto é do Senhor que ele deve esperar o auxílio, que pode vir através de assembleia ou de iniciativas individuais.
Mais uma vez é bom frisar isto, pois dentro das denominações é comum não existir uma definição clara do que seja uma reunião dos santos para adorar a Deus ou para a edificação, exortação e consolação dos santos, e uma pregação do evangelho para incrédulos. É comum nesses lugares todas as reuniões indistintamente terminarem com algum tipo de apelo para as pessoas se converterem.
Embora eu esteja passando rapidamente por estes assuntos sem dar muitas referências bíblicas, certamente você irá identificar as passagens que falam desses assuntos e poderá conferir se são de fato assim na Palavra de Deus, e espero que você o faça.
Deve existir também uma distinção clara entre uma reunião da assembleia, que tem um caráter solene, e uma reunião mais informal, quando uma família ou um grupo de irmãos se reúne para ler a Palavra, orar, cantar hinos, conversar, etc., que é basicamente o que vocês vêm fazendo enquanto aguardam serem recebidos à comunhão à mesa do Senhor.
Uma reunião da igreja é o momento solene onde dois ou três são reunidos pelo Espírito para o Nome do Senhor Jesus. Não se trata de um encontro casual entre irmãos, como um bate papo ou uma festa de aniversário. Nem é uma reunião de negócios, mas uma reunião que tem por objetivo partir o pão, aprender a doutrina e a comunhão dos apóstolos e orar, reconhecendo a presença real do Senhor no meio.
É neste caráter de reunião que se aplicam algumas ordens, como por exemplo a de que “falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem. Mas se a outro, que estiver sentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, cada um por sua vez; para que todos aprendam e todos sejam consolados; pois os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas; porque Deus não é Deus de confusão, mas sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos, as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar” (1 Co 14).
No atual estado de ruína e degradação em que está a cristandade, é provável que a maioria das assembleias reunidas ao nome do Senhor que você encontrar estejam reunidas literalmente com 2 ou 3 apenas. E há casos em que uma assembleia se congregue com apenas um irmão varão (por morte ou abandono de outros). Aí as reuniões de assembleia não incluirão o ministério da Palavra e tampouco aquela assembleia terá poder de deliberar ou julgar. Quando o assunto é o julgamento, o “dois ou três” de Mateus 18:20 nos fala de dois ou três varões, uma vez que a passagem está falando da tomada de decisões, de ligar e desligar, o que deve ser feito por varões (que são cabeças).
Assim, uma assembleia “normal”, isto é, funcional em todos os seus aspectos, deve ter 2 ou 3 irmãos (homens) reunidos, pois caberá a eles julgarem as questões de doutrina durante o ministério nas reuniões, e o recebimento (ligar) e exclusão (desligar) pessoas da comunhão à mesa do Senhor. (Lembrando que esse ligar e desligar é da comunhão à mesa do Senhor, mas jamais do corpo de Cristo, como pretendiam fazer os Inquisidores no passado com aqueles que caíam em pecado. Ninguém tem o poder de desligar um membro da Igreja, que é o corpo de Cristo).
Digamos que os irmãos de uma assembleia morram ou se afastem, ficando apenas irmãs. Elas poderão continuar se reunindo para partir o pão quando visitadas por outros irmãos, se o Senhor as dirigir a isso (o correto é que busquem o auxílio dos irmãos de uma assembleia próxima), mas não poderão se reunir como assembleia naquilo que envolver julgamento e ministério. Ou seja, não poderão receber pessoas à comunhão à mesa do Senhor ou colocar em disciplina alguma irmã em pecado, pois não encontramos nenhuma instância disso nas Escrituras. Para isso devem buscar o auxílio de varões de outra assembleia. Sempre que forem agir, vocês devem perguntar: “Alguém já fez assim na Palavra de Deus?” ou, por assim dizer, devem verificar se existe uma “jurisprudência bíblica” para aquela situação.
O mesmo se aplica ao ministério da Palavra. Em 1 Coríntios 14 diz “falem dois ou três e os outros julguem” quando se refere a irmãos que ministram. Uma assembleia formada apenas por irmãs não poderá exercer esse tipo de ministério, pois estariam desobedecendo a ordem das mulheres ficarem caladas nas assembleias ou reuniões da igreja. Além disso, não haveria um irmão para julgar o que falassem. Então elas podem se reunir sim, mas não no caráter de uma assembleia, e sim no caráter de uma reunião informal de irmãs que têm o desejo de orar e estudar a Palavra.
Uma assembleia onde tenha restado apenas um irmão varão também não poderá adotar ações que envolvam julgamento (pois é preciso de dois ou três para julgarem as coisas), portanto não poderá receber ou excluir pessoas da comunhão. Para isso o único irmão do local deverá buscar auxílio de irmãos de outra assembleia próxima. Não me lembro se existe alguma coisa no Novo Testamento (é a tal “jurisprudência” que mencionei) sobre essa questão da proximidade, mas em Números 35 existe um princípio que pode ser aplicado, que é o das seis cidades de refúgio. Alguém que pudesse ser alcançado pelo vingador do sangue (por ter matado alguém por acidente) podia correr para a cidade de refúgio mais próximo e não ser morto. A divisão das cidades era de tal modo que qualquer pessoa em qualquer lugar de Israel poderia alcançar uma cidade de refúgio no mesmo dia.
Pela mesma razão, as reuniões de leitura, estudo ou ministério de uma assembleia assim não podem ser consideradas reuniões no caráter formal de uma assembleia, uma vez que não há quem julgue o que aquele irmão falar. Ele e as irmãs que participarem estarão reunidos em um caráter informal, como acontece, por exemplo, quando uma família se reúne para ler a Bíblia, ou em uma reunião da escola dominical, quando um irmão ensina aos jovens a Palavra de Deus, podendo ele inclusive responder perguntas de irmãs nessa ocasião. Por não estarem reunidos em assembleia, as irmãs não estarão impedidas de falar.
Portanto, quando você perguntou como seriam as reuniões que fazem em sua casa antes de vocês serem recebidos à mesa do Senhor e começarem a partir o pão como uma assembleia local, é este o caráter, isto é, o mesmo de uma reunião informal de uma família para ler a Palavra, cantar hinos e orar. Neste caso não existe a necessidade de se aguardar pela direção do Espírito para trazer uma palavra, sugerir um hino ou uma oração, como se costuma fazer em uma reunião de assembleia, e algum irmão até pode querer agir como dirigente da reunião. Numa reunião assim também não há nenhum problema se os irmãos desejarem fazer leituras de livros e comentários ou até acessar a Internet para pesquisar alguma coisa, coisas que não caberiam quando a assembleia estivesse reunida ao nome do Senhor tendo apenas a Palavra de Deus e a direção do Espírito como recursos.
Vejo que às vezes erramos quando queremos dar a uma reunião informal entre irmãos um caráter de solenidade que a torna “parecida” com uma reunião de assembleia, causando confusão na cabeça de alguns. Existe sempre o perigo de se adotar um ritual. É bom que qualquer reunião de cristãos em torno da Palavra seja feita com reverência, mas pode causar confusão tentar “imitar” uma reunião de assembleia, pois esta tem um caráter diferente e solene.
Além disso é comum em reuniões informais termos amigos e parentes incrédulos que às vezes querem até fazer perguntas, comentar ou dar palpites. Embora isso seja perfeitamente normal numa reunião informal, não deve ser o caso quando a assembleia está reunida. Às vezes o fato de uma assembleia se reunir em uma casa pode dar a um incrédulo ou irmão visitante desavisado a ideia de que se trata de um bate-papo (por causa do ambiente onde a reunião é realizada). Em casos assim é importante avisar de antemão e com muito amor e cuidado as pessoas que não estão em comunhão à mesa do Senhor para que deixem qualquer comentário ou pergunta para depois que terminar a reunião.
Quando eu morava em São Paulo, a assembleia naquela cidade começou em meu apartamento e este era um problema que costumava ocorrer. Às vezes nos esquecíamos de explicar a um visitante a dinâmica da reunião e éramos surpreendidos no meio da reunião por um visitante dando uma opinião do tipo “Eu não acho que seja assim, porque blá, blá, blá…” Aí era preciso manter a calma e pedir educadamente ao visitante que assim que terminássemos aquela reunião teríamos o prazer de responder a todas as perguntas e a considerar todos os seus comentários e opiniões.
O número de reuniões semanais varia muito de assembleia para assembleia. Aqui em Limeira temos às quartas feiras à noite uma reunião que começa com uma leitura de um capítulo do Antigo Testamento que é depois comentado pelos irmãos que ministram. Poderíamos classificá-la como uma reunião de ministério da Palavra. Em seguida fazemos uma reunião de oração, que começa com os irmãos trazendo motivos de oração (algum irmão doente, alguma necessidade de alguém, alguma viagem na obra, etc.). Não se trata de trazermos orações muito pessoais, mas aqueles motivos que envolvam a assembleia e a obra do Senhor. Eu não preciso, por exemplo, pedir orações para meu filho ir bem na prova da escola, ou para decidir que carro comprar, porque este tipo de oração fica melhor eu fazer em casa com minha família, pois não afetam a assembleia.
Aos sábados à noite temos uma reunião de ministério da Palavra, que pode ser aberta a qualquer irmão que tenha um tema específico para ministrar, ou pode ser um estudo como o que fazemos na quarta feira, neste caso do Novo Testamento. Mesmo o “modelo” de reunião aberta de ministério pode variar de um lugar para outro. Em Limeira, quando é o caso, um irmão que traz um tema poderá ministrar sobre o tema boa parte do tempo da reunião, mas é conveniente sempre que ele deixe espaço para que “falem dois ou três” como vemos em 1 Coríntios, e não monopolize o tempo (Aqui uma reunião costuma durar de uma hora a uma hora e meia, embora em outros lugares esse tempo também varie bastante. Ouvi que em alguns países, como Bolívia, as reuniões são muito mais longas).
Geralmente aqui quando um irmão termina de falar sobre o tema que trouxe, outro poderá dar continuidade falando do mesmo tema ou capítulo, mas já estive em uma assembleia nos EUA onde vi três irmãos falarem uns quinze minutos cada um de temas e passagens completamente diferentes, cada um dando o começo, meio e fim de sua mensagem. Já estive em assembleias onde as reuniões de ministério parecem mais um pingue-pongue, com um irmão fazendo um comentário rápido de uma passagem, outro continuando logo a seguir, outro concatenando o seu comentário, etc. E também já vi lugares onde há um longo período de silêncio entre um e outro. Isso deve variar também em outros lugares, como na Índia, Japão, Nigéria, Malavi, etc. Basta pensar na diversidade de costumes e de povos que temos no mundo para entendermos que poderão existir diferenças também em alguns detalhes das reuniões.
Geralmente começamos com irmãos sugerindo um ou mais hinos, algum irmão abrindo a reunião dando graças e pedindo a direção do Senhor e, no final também terminando com hinos e oração. Como devemos nos colocar sob a direção do Espírito, não podemos estabelecer regras, embora tudo deva ser feito com decência e ordem, como ensina 1 Coríntios 14:40.
Aos domingos na parte da manhã temos uma escola dominical para crianças (em uma sala) e jovens e adultos (em outra). Não se trata de uma reunião da assembleia e nem tem tal caráter. Elas apenas utilizam o mesmo espaço onde em outros horários são realizadas as reuniões da igreja ou assembleia. São cantados hinos infantis, as crianças repetem o versículo que decoraram durante a semana e enquanto um irmão traz algum assunto para os jovens e adultos, um irmão ou irmã cuida das crianças pequenas em outra sala ensinando a elas o evangelho e dando alguma atividade lúdica. São iniciativas dos irmãos e irmãs que fazem tal trabalho, portanto é bem no estilo de um que ensina e os outros aprendem, podendo ocorrer perguntas, comentários, etc.
Em seguida, ainda no domingo ou “primeiro dia da semana” ou “dia do Senhor”, como encontramos na Palavra, temos uma reunião em caráter de assembleia, que é a Ceia do Senhor. Essa não é uma reunião para orarmos por necessidades, ou para o ministério da Palavra. É uma reunião de louvor e adoração, portanto as orações ao longo da reunião tem esse caráter de gratidão e louvor. Também cantamos muitos hinos, geralmente aqueles que falam da morte do Senhor. É importante também ter sabedoria na escolha de hinos, pois há hinos que se adequam mais ao louvor e adoração, enquanto outros falam de nossas dificuldades no mundo e são mais apropriados à reunião de oração, e há também hinos evangelísticos. Não caberia ver uma assembleia, numa reunião onde supostamente estão reunidos para adorar o Senhor, cantando “Pecador vem a Cristo Jesus…”
Na ceia do Senhor, depois de um tempo de louvor um irmão vai até a mesa onde estão os símbolos (o pão e o vinho), dá graças pelo pão, o parte e passa para os irmãos. Aqui em Limeira a travessa ou cesta com o pão passa de mão em mão com cada um pegando um pedaço e comendo. O mesmo é feito com o cálice. Embora possam ter visitantes numa reunião da ceia do Senhor é importante lembrar que só participam do pão e do vinho aqueles que foram regularmente recebidos à mesa do Senhor. Os demais (e também as crianças) podem assistir, porém não participam do pão e do vinho. Em seguida é passada uma sacola também apenas aos que estão em comunhão para que coloquem nela suas ofertas que serão posteriormente utilizadas em despesas (salão, energia elétrica, etc.), necessidades de irmãos enfermos ou desempregados, viagens de irmãos na obra do Senhor, etc.
Nos domingos à noite alguns irmãos (5 ou 6 aqui) costumam promover uma pregação do evangelho. É a oportunidade para convidarmos amigos e parentes para escutarem as boas novas. Como expliquei, não é uma reunião no caráter de reunião de assembleia, portanto neste caso é um irmão que vai à frente pregar para uma audiência e isso inclui exortar as pessoas para que aceitem a Jesus como Salvador.
Como expliquei, esse formato e periodicidade de reuniões que temos em Limeira foi uma decisão tomada pela assembleia local para as necessidades locais e conveniência dos irmãos. Porém em diferentes lugares há diferentes necessidades. Embora a ceia do Senhor seja biblicamente celebrada sempre no dia do Senhor (domingo), não existe a mesma indicação para as outras reuniões. Em alguns lugares, como numa cidade grande com dificuldade de locomoção, os irmãos podem decidir fazer tudo no domingo, em outros podem ter reuniões ao longo da semana. Uma curiosidade: quando os irmãos em Limeira começaram a se reunir há quase 40 anos havia reuniões todos os dias. Obviamente na época a maioria era bem jovem, poucos tinham um trabalho regular e quase nenhum era casado ou com filhos.
O melhor de tudo é deixar que o Espírito Santo nos guie também nessas coisas, e a assembleia da cidade “A” não poderá dizer como a assembleia na cidade “B” deve proceder. Tampouco existe uma sede ou colegiado para ditar as ordens a todas as assembleias e nem mesmo alguma publicação que seja usada como uma “homilia” em todas as assembleias, para que todos leiam a mesma passagem no mesmo dia, por exemplo.
Considerando que vocês estão se reunindo em um caráter informal (como é a leitura bíblica de uma família) aí você é o dono da casa e você é o dirigente das coisas que acontecem em sua casa. Se fosse uma reunião de assembleia e o local da reunião fosse a sua casa, durante a reunião desapareceria o “dono da casa” já que sua casa estaria sendo usada apenas como local físico “emprestado” para a assembleia. Mas no caso que você mencionou, você é o dono da casa e você é quem deve decidir como serão essas reuniões. Se comparecem incrédulos, como citou, talvez seja melhor aproveitar a oportunidade e pregar o evangelho. Se estiverem somente os irmãos e irmãs, é uma boa oportunidade para lerem a palavra juntos, tirarem dúvidas em algum escrito de irmãos, orarem, etc. O mais prudente é não tentar “imitar” uma reunião de assembleia para não causar confusão, e também para que fique muito clara a diferença quando passarem a se reunir como assembleia congregada ao nome do Senhor.
O batismo é uma responsabilidade individual de quem batiza (não da assembleia). A ordem “batizai” é dada individualmente. Se você encontrar um eunuco na estrada de Jerusalém a Gaza, e este quiser ser batizado, você poderá fazê-lo sem consultar ninguém. Filipe não precisou voltar a Jerusalém, apresentar a questão aos irmãos, pedir que enviassem um “pastor” para efetuar o batismo, etc. Porém, se alguém expressa o desejo de ser recebido à mesa do Senhor para participar da ceia do Senhor, esta é uma decisão que envolve a assembleia que irá ligar a pessoa à comunhão.
Em 1 Coríntios vemos a ordem dada à assembleia para “desligar” uma pessoa em pecado. Em 2 Coríntios 2:5 mostra que isso é algo que afeta toda a assembleia e não é (como no caso do batismo) uma questão individual. Uma pessoa, ao ser batizada, não necessariamente estará em comunhão à mesa do Senhor. Seu batismo simplesmente a colocou em uma nova posição sob novas responsabilidades para com Cristo, de quem agora leva o nome, mas ela poderá ainda estar em uma condição de vida que não permitiria que estivesse em comunhão à mesa do Senhor. Existe muita confusão entre as denominações, que consideram o batismo como a porta de entrada à comunhão. Nem sabemos se Filipe voltou a se encontrar com o eunuco que foi batizado e voltou para a África.
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Você diz que a salvação está garantida sem perseverar?
Quando você pensar no ladrão na cruz verá que ele foi salvo exclusivamente pela fé em Cristo, já que suas mãos e pés estavam presos e incapazes de fazer qualquer coisa para Deus. Se Deus exigisse qualquer outra coisa do homem além de crer, aquele ladrão estaria perdido.
Crer que precisamos fazer alguma coisa para sermos salvos é duvidar da eficácia da obra que Cristo consumou lá na cruz. É distorcer o significado da palavra “graça”, incluindo nela algum tipo de barganha com Deus. Apesar de todas as tentativas dos homens em fazer isso, “graça” continuará significando algo que recebemos sem merecer ou pagar por isso. Veja a passagem:
(Ef 2:8-10) “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”.
Para mim isso explica todas as outras passagens que falam de obediência, obras, etc. Você é salvo por pura graça e, depois de salvo, Deus preparou algumas tarefas para você executar, não para receber a salvação, mas porque você foi salvo. Pense num filho: ele não se torna filho quando obedece seu pai, mas ele tem a obrigação de obedecer por ser filho. E se não obedecer? Seu pai irá discipliná-lo, tirar dele algumas regalias, suspender a mesada ou deixar de falar com ele até deixar de ser rebelde. Mas ele nunca perde sua condição de filho.
(Jo 1:12-13) “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.
Este raciocínio cabe muito bem para explicar o versículo que você apontou como supostamente contrário a uma salvação por graça, como se estivesse dizendo que a salvação é pela obediência:
(Hb 5:8-9) “Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem;”.
Percebe que o contexto está falando da relação de Jesus com o Pai e de como ele obedeceu ao Pai, não para se tornar Filho, mas porque sempre foi Filho? Então nada mais cabível aqui do que fazer um paralelo com a filiação que Deus dá aos que creem em Cristo. Você identifica um filho por sua obediência ao pai. Se você tiver filhos, eles não têm qualquer obrigação de me obedecerem, porque não são meus filhos, mas meus filhos são reconhecidos como tais pelo fato de me obedecerem.
Uma vez salvos por graça e pela fé somente, devemos obedecer porque este é o comportamento que se exige de alguém que se tornou filho de Deus. A outra passagem que citou é a de Tiago 2:26, que diz que a fé sem obras é morta.
Você começou bem a interpretar o versículo, mas foi por um caminho que não tem nada a ver com o assunto. Você disse sobre Tiago:
“…é claro que não podem ser obras de mérito, porque evidentemente ninguém pode merecer a salvação, mas são obras frutos da obediência, pois se cremos que Jesus é o Senhor, mas não obedecemos à sua palavra, cremos em vão”.
Você cita 1 Coríntios 15:2, mas se prestar atenção verá que a passagem só confirma que obras não são incluídas na salvação. “Crer em vão” ali é não crer no evangelho tal qual Paulo havia lhes pregado, e que evangelho foi esse? Veja você mesmo, porém todo o contexto:
(1 Co 15:1-4) “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis. Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”.
Veja que este é o puro evangelho, tudo o que alguém precisa saber para ser salvo: Cristo morreu por nossos pecados, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia. Você continua alegando que se pregarmos a salvação pela fé em Cristo e sua obra muitos deixarão de obedecer. Veja o que escreveu:
“Muitos hoje, por causa da doutrina da salvação garantida, alegam crer em Jesus, mas não procuram obedecer a sua Palavra, não se arrependem de seus pecados e não buscam ficar nos limites da Palavra que Jesus nos revelou e que é a que vai nos julgar no último dia”.
Começando pelo final do que disse, a Bíblia é clara em dizer que o crente não será julgado no último dia. Se ler Apocalipse 20:11-15 verá que ninguém sai salvo dali. É um julgamento para os incrédulos, para dar a sentença aos perdidos, não para colocar na balança as obras e ver quem está salvo.
(Jo 5:24) “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida”.
Em seguida você cita outro versículo tentando provar que é preciso você fazer algo mais além do que Cristo fez por você:
(1 Co 6:9) “Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbedos, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus”.
Certamente no céu não entrará pecado ou pecadores em seus pecados, mas apenas pecadores lavados no sangue do Cordeiro. Se tivesse lido a passagem inteira veria que Paulo conclui dizendo que tudo isso fazia parte da vida deles quando ainda não tinham sido salvos por Cristo. A palavra “mas” faz toda a diferença:
(1 Co 6:11) “E tais fostes alguns de vós; mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus”.
O capítulo 10 de 1 Coríntios que você cita para justificar sua ideia de que um crente poderia perder a salvação está fora do contexto. Ali Paulo está explicando o quanto é sério desviar-se dos caminhos do Senhor na vida prática, pois os que fizeram isso no passado sofreram danos (ele fala dos israelitas no deserto que foram infiéis). E conclui que isso aconteceu como exemplo para nós não tratarmos com leviandade as coisas de Deus. Mas em nenhum momento ele escreve que os salvos que agirem assim perderão sua salvação.
Mais um versículo que você coloca:
(Hb 3:14) “Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim”.
Obviamente você sugere que quem não retiver firmemente o princípio de sua confiança até o fim perderá a salvação, mas o fato é que quem age assim nunca foi salvo. Tente fazer isso (reter firmemente o princípio de sua confiança até o fim) e você estará confiando na própria carne. Os que foram verdadeiramente salvos certamente reterão sua confiança até o fim, mas não por seus próprios esforços, mas porque Deus faz isso neles. Veja você:
(1 Co 1:7-9) “De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, O qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor”.
Trocando em miúdos, Jesus Cristo confirmará você até o fim, para que seja irrepreensível diante de Deus. “Fiel é Deus”, não você ou eu, em guardar o que pertence a ele. O tipo de “salvação” ou de relacionamento com Deus que você está insinuando é como se um pai virasse para o filho e dissesse: “Ok, se quiser ser meu filho, vai ter que se virar e andar direito até o fim”. Isto seria um absurdo! Ou ele é filho ou não é, e se for filho o pai é quem fará tudo o que puder para que ele se comporte como tal. Lembre-se de que o Pai do qual estamos falando pode sim fazer tudo.
Você termina sua mensagem mostrando o quanto confia na carne e desconfia de Deus:
“Precisamos perseverar, não adianta somente crer no coração e continuar da mesma forma de quando não conhecia a Cristo, a pessoa precisa se arrepender, se converter de seu mau caminho e permanecer firme até o fim, confiando e anunciando as virtudes daquele quem vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz”.
“Não adianta somente crer no coração”?! Então Paulo mentiu?
(Rm 10:8-11) “Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido”.
Você nem imagina o quanto essa sua forma de pensar desonra a Deus. Imagine você perseverando até o fim e encontrando-se com o Senhor no final, olhando para suas mãos e seu lado marcados, e dizendo: “Senhor, eu cheguei até aqui porque perseverei até o fim!” Pode imaginar o Senhor dizer a você algo do tipo, “Ufa! Ainda bem que você se esforçou, porque eu não teria como salvá-lo se você não se esforçasse”?
Entenda de uma vez por todas que a salvação não está numa aceitação intelectual ou adesão a uma igreja evangélica. Sua salvação começa muito antes, na eternidade, antes da fundação do mundo, quando você foi escolhido por Deus para ser salvo.
A visão de uma salvação baseada em comportamento, seja para entrar nessa condição quanto para permanecer nela, é uma visão míope e em nada difere de TODAS as religiões, incluindo aí o espiritismo, islamismo, mormonismo, etc. Todas dizem a mesma coisa, só variando a doutrina em que você deve crer junto com as atitudes que deve adotar. Sugiro que procure conhecer em maior profundidade quem é este Senhor que morreu na cruz e levou sobre seu corpo TODOS os pecados daqueles que creem nele.
(Ef 1:3-7) “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, Para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado, Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça,”.
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De que espírito está falando em 1 Coríntios 14:32?
Muitos cristãos, principalmente aqueles ligados aos movimentos pentecostais, atropelam 1 Coríntios 14:32 e causam muito dano a si mesmos e aos irmãos. Todo este trecho de 1 Coríntios 14 está falando claramente das instruções dadas à assembleia quando reunida para o ministério da Palavra.
(1 Co 14:29-33) “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz”
A primeira coisa que você percebe é que não existe um só homem ministrando, mas o Espírito Santo pode usar aqueles que ele desejar, mas obviamente isso não significa confusão ou liberar geral para qualquer um falar o que lhe vier à cabeça. Por isso “falem dois ou três profetas, e os outros julguem”.
O que é isso? Aquele que fala tem que estar ciente de que deve falar segundo a Palavra de Deus, porque seus irmãos estarão julgando o que ele fala. Se ele disser alguma coisa sem fundamento bíblico, os irmãos podem muito bem interrompê-lo ou corrigi-lo. Evidentemente isso com espírito de amor e também levando em conta a gravidade do que foi dito. Pequenos deslizes não recebem o mesmo tratamento de grandes heresias.
Naquela época eles ainda não tinham as escrituras do Novo Testamento, portanto ainda dependiam de revelações novas que podiam ser trazidas pelo Espírito a qualquer momento, segundo a necessidade dos santos. Estes casos tinham prioridade.
Porém hoje eu desconfiaria de alguém que quiser interromper uma reunião dizendo que acaba de receber uma revelação do Espírito Santo por termos já todo o pensamento de Deus revelado a nós em sua Palavra. Além disso, quando alguém diz estar trazendo uma revelação vinda diretamente de Deus, está também querendo bloquear o julgamento do que vai dizer, pois quem ousaria julgar o que o próprio Deus está revelando? Este tipo de artifício é muito usado hoje por pretensos profetas para serem ouvidos sem contestação.
“Profetizar” aqui tem o sentido de “proferir”, ou seja, falar da parte de Deus, que é o que fazemos quando trazemos algo presente em sua Palavra. Daí ser importante que aqueles que ministram estudem, conheçam e se apeguem à Palavra, para evitar desvios.
Veja também que existe uma ordem, “uns depois dos outros”. Não é uma gritaria generalizada, e os que profetizam devem ser ouvidos com atenção. Uma vez um irmão me contou de uma pregação que viu numa denominação pentecostal onde o pastor falava dos terríveis acontecimentos ocorridos em Hiroshima e Nagasaki para ilustrar seu sermão. A coisa foi mais ou menos assim:
Pastor: “A bomba atômica explodiu sobre a cidade…”
Público gritando: “Aleluia! Glória a Deus!”.
Pastor: “…e 200 mil pessoas morreram imediatamente!”.
Público gritando: “Louvado seja! Oh Glória! Aleluia! Obrigado Senhor!”.
Chegamos agora ao versículo que foi o motivo de sua pergunta: Que espíritos são esses de “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas”? Não é o Espírito Santo e nem são espíritos de pessoas que morreram, mas o próprio espírito daquele que fala. Você sabe que somos formados por corpo, alma e espírito. O espírito é o que nos diferencia dos outros seres vivos, que têm corpo e alma. É por meio de nosso espírito que temos comunhão com Deus. Veja aqui que é com nosso espírito que o Espírito Santo se comunica:
(Rm 8:16) “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”.
O que o apóstolo está dizendo em 1 Coríntios 14 é que o espírito do profeta que traz uma mensagem da Palavra de Deus está sujeito ao próprio profeta, ou seja, ele tem total domínio sobre seu ato de falar. Ninguém poderá alegar que estava fora de si enquanto ministrava, porque não é este o modo como Deus manda que ministremos.
Alguém que entre em um transe e fique fora de controle enquanto fala não está fazendo aquilo que Deus ordena aqui. O mesmo vale para aqueles movimentos de cair no Espírito (cai-cai), rolar no chão, rodopiar, sacudir-se, gritar com voz gutural, imitar animais, caminhar de joelhos como se fosse um cão ou um leão, rir e dar gargalhadas incontroláveis… Essas coisas podem caber numa religião pagã, mas nada tem a ver com o Espírito Santo de Deus. Lembre-se de que “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas”. Quando congregado, um cristão não pode alegar que fez algo “fora de si”, “em transe” ou “tomado” por alguma força exterior ou interior. Nosso culto a Deus é racional, nosso espírito está sujeito a nós mesmos e temos total controle do que estamos fazendo ou falando.
O profetizar, em seu sentido bíblico, não tem nada a ver com o que se vê por aí nos centros espíritas, com pessoas sendo incorporadas por espíritos sobre os quais as próprias pessoas não têm controle, como se estivessem possuídas. O ministério cristão é feito de forma consciente. No mesmo capítulo Paulo diz:
(1 Co 14:15) “Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento”.
Não existe lugar nas reuniões dos santos para manifestações histéricas e descontroladas. Até mesmo quando o apóstolo dava instruções sobre o falar em línguas (que ele até desestimulava por não ser tão proveitoso quanto a profecia ou ministério da Palavra), ele deixava claro que devia existir uma ordem:
(1 Co 14:27-28, 33-34) “E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus… como em todas as igrejas dos santos, as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar”.
Veja a ordem: dois ou quando muito três, um de cada vez, necessariamente com a presença de intérprete e as mulheres deveriam ficar caladas. Infelizmente o que se vê principalmente nos grupos pentecostais é, não dois ou três, mas vinte ou trinta gritando uma língua desconhecida e sem intérprete.
E como ter intérprete se todos falam juntos ao invés de “um de cada vez” como manda a Palavra? Além disso, é notório que quem mais fala são aquelas que deveriam permanecer caladas (não sou eu quem diz isto, é a Palavra de Deus). E não raro as pessoas encontram-se em um estado tal de histeria que não têm controle sobre si mesmas ou sobre o próprio espírito. Certamente isso não vem de Deus.
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Como saber se vem do Espírito Santo?
No mundo confuso das religiões cristãs hoje é natural que você esteja com essa dúvida: Como saber se uma manifestação é do Espírito Santo, quando estamos congregados? Creio que a resposta esteja aqui: (1 Co 12:7) “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil”. Quando nos deparamos com alguma manifestação aparentemente espiritual a primeira pergunta a ser feita é: Que utilidade tem isso? Será que está sendo útil para a edificação, exortação ou consolação dos irmãos?
Uma pessoa que começa a urrar, pular, rolar ou engatinhar pelo chão, ou girar como um pião, não tem utilidade alguma, apesar de parecer uma manifestação espiritual. Alguém gritando palavras irreconhecíveis pode assustar muita gente, mas não passa de uma grande inutilidade. Tudo isso pode muito bem ser descrito com as palavras ditas pelo apóstolo Paulo: (1 Co 9:26) “Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar (ou dando socos no ar)”.
Além disso, depois de dizer que “a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil”, o apóstolo continua descrevendo algumas dessas manifestações e suas utilidades. É importante entender que neste capítulo em muitas partes onde aparece a palavra “dom” ou “dons” a tradução mais correta seria “manifestação” ou “manifestações”, que é como aparece no original. Propriamente falando, os “dons” são aqueles descritos em Efésios 4, e são permanentes nas pessoas que os recebem do próprio Senhor. Já as manifestações do Espírito parecem ser transitórias e visam atender a uma necessidade específica em um determinado momento.
Palavra da sabedoria (1 Co 12:8a) — A capacidade de falar com uma sabedoria que está acima da própria capacidade daquele que fala. Foi o caso de Filipe, que causou um efeito tremendo sobre os que o ouviam em Atos 6:10.
(At 6:10) “E não podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava”.
(1 Co 12:8b) “e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência;”.
Palavra da ciência ou conhecimento (1 Co 12:8b) — Trazer à tona coisas desconhecidas ou conhecidas por poucos. Talvez aqui esteja também a capacidade espiritual de revelar o sentido das coisas que foram reveladas, mas não compreendidas, como em associar o Antigo com o Novo Testamento ao mostrar a sombra e a realidade.
(Mt 13:51-52) “E disselhes Jesus: Entendestes todas estas coisas? Disseram-lhe eles: Sim, Senhor. E ele disselhes: Por isso, todo o escriba instruído acerca do reino dos céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”.
Fé (1 Co 12:9a) — Paulo associa a fé em 1 Co 13:2 à capacidade de remover montanhas, ou seja, uma pessoa que recebe a fé (não é fé no sentido da salvação aqui, mas da realização de uma tarefa específica e maravilhosa) tem essa capacidade. Quando lemos biografias de cristãos que oravam e as coisas aconteciam de maneira inacreditável, provavelmente eram pessoas com esse dom. É importante entender isso, porque às vezes ficamos frustrados porque nada obtemos pela fé e esses pareciam ter um poder maior do que o nosso. É aí que entra as manifestações que o Espírito distribui a cada um segundo ele quer e para um objetivo, o qual é determinado por Deus e não por nós. Não se trata de ter fé para comprar carro de luxo.
Dons (manifestações) de curar (1 Co 12:9b) — O interessante aqui é que está no plural, o que parece indicar que fossem manifestações para tarefas específicas. Temos exemplos do apóstolo Paulo. Em uma ocasião ele aparece curando enfermos e em outra precisa deixar um irmão doente para trás ou sugerir a Timóteo que tome água com vinho para sua enfermidade no estômago. Isso parece indicar que as manifestações de curar são dadas com objetivos bem definidos. Não se trata de uma capacidade que dá à pessoa o poder de curar quem bem entender, como se fosse um curandeiro. Não podemos comparar esses dons ou manifestações de curar com o que o Senhor Jesus fez aqui. Ele não tinha dons ou manifestações, como estes distribuídos pelo Espírito Santo; ele era o próprio Deus exercendo seu poder e em Efésios vemos que é ele quem dá dons aos homens.
Operação de maravilhas (1 Co 12:10a) — Coisas inexplicáveis, como levantar mortos, escapar sem ser visto, ser picado por serpente e não morrer, etc. Temos vários exemplos em Atos.
Profecia (1 Co 12:10b) — Aqui eu creio tratar-se de revelação mesmo, da verdade comunicada diretamente por Deus, e não apenas de proferir algo da parte de Deus com base na Palavra escrita, que é como usualmente fazemos hoje. Podia ser algo sobre o futuro (como João, ao escrever o Apocalipse) ou simplesmente o pensamento que Deus queria comunicar. Os profetas formaram o fundamento da igreja (Ef 2:20) e agora somos edificados sobre esse fundamento que eles deixaram. Uma vez que temos a Palavra de Deus completa, não há necessidade de se esperar por uma nova revelação. Correr atrás de supostas novas revelações é demonstrar insatisfação com o que já recebemos de Deus.
Discernir os espíritos (1 Co 12:10c) — precisamos de irmãos que apontem quando alguém fala pelo Espírito ou está sendo influenciado por Satanás. Paulo usou esse dom quando desmascarou a jovem que o seguia dizendo coisas que para um ouvinte comum pareciam estar promovendo o trabalho do evangelho, conforme vemos em Atos 16:17. Mas repare que a jovem ficou muitos dias seguindo Paulo e ele não fez nada, o que pode demonstrar que ainda não lhe tinha sido dada esta manifestação do Espírito para ele agir. Hoje muita gente carece desse discernimento para evitar engolir qualquer bobagem que traga o selo evangélico ou cristão. O fato de algo aparentar ser espiritual não significa que venha de Deus. Lembre-se de que Satanás é um anjo.
(1 Co 12:10d) “e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas”.
Variedade de línguas e interpretação (1 Co 12:10d) — Parecem ser manifestações que caminham juntas, pois a Palavra em 1 Co 14 proíbe o falar em línguas se não existir quem interprete. Falar em línguas não é ficar balbuciando alguns “uriama lamás” e sim falar um idioma estrangeiro sem nunca ter tido uma aula disso. O mesmo acontece com a interpretação. Esse dom ou manifestação teve o seu papel no início da Igreja, que era o de convencer os judeus que aquela era uma obra de Deus. Não vejo utilidade algo assim hoje e nunca vi numa reunião de cristãos alguém que falasse de forma sobrenatural outros idiomas cumprindo as ordens dadas em 1 Co 14: Falar dois ou três no máximo, um depois do outro, ter quem interprete e as mulheres permanecerem caladas. Fora isso, ainda cabe a pergunta: está sendo útil para convencer judeus?
(1 Co 14:21) “Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo [judeus]; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor”.
Devemos elogiar as pessoas?
O bom senso diz que o elogio é extremamente importante na construção da autoestima e até para ajudar alguém a sair de uma depressão. Elogiamos nossos filhos quando estudam e passam no exame, pois é uma espécie de prêmio: eles se esforçaram e recebem o justo louvor por isso. O problema é quando o elogio ocorre nas coisas de Deus. Aí estamos andando em areia movediça achando que é terreno firme.
Primeiro vamos ver o lado do que é elogiado. Uma das características dos fariseus que a Palavra aponta era que gostavam de ser elogiados pelos homens. Não gosto da Tradução na Linguagem de Hoje, mas vou usá-la aqui porque usa a palavra elogio ao invés de glória, e assim fica mais claro diante de sua dúvida: (Jo 12:43) “Eles gostavam mais de ser elogiados pelas pessoas do que de ser elogiados por Deus”.
Depois de ler este versículo, da próxima vez que você for elogiado por algo que fez na obra de Deus, vai perceber o que é sentir-se como um fariseu. Você vai gostar, porque gostar de elogios é um sentimento natural ao ser humano. Mas devemos nos lembrar de que foi essa mesma natureza nossa que ficou lá atrás, pregada na cruz.
(Gl 2:20) “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”.
(Gl 6:14) “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”.
O sentimento adequado ao cristão é o que foi expressado pelo apóstolo Paulo em (1 Ts 2:6) “Nunca procuramos elogios de ninguém, nem de vocês nem de outros”, e também pelo Senhor Jesus em (Jo 5:41) “Eu não procuro ser elogiado pelas pessoas”. Tal sentimento, obviamente, não é um sentimento da carne, mas da natureza que provém de Deus, do homem em quem Deus se apraz. É bom nos lembrarmos disso na hora de elogiarmos um irmão em Cristo; pode causar mais mal do que bem ao coração dele.
Mas você também encontra situações de elogio na Bíblia, como é o caso de 1 Coríntios 11:2 “Eu os elogio porque vocês sempre lembram de mim e seguem as instruções que eu passei para vocês”, e também de 2 Coríntios 7:14 “Eu havia falado muito bem de vocês a ele, e vocês não me desapontaram. Temos sempre dito a verdade a vocês. Assim também é verdadeiro o elogio que fizemos a Tito a respeito de vocês”.
É o caso também de 2 Coríntios 9:3 “Agora estou enviando estes irmãos para que não fique sem valor o elogio que fiz a respeito de vocês sobre esse assunto. Mas, como eu disse, vocês estarão prontos para ajudar”, mas estas passagens parecem indicar que Paulo apenas revelou às pessoas que as havia elogiado para outras pessoas, ou seja, aqui ele estaria mais informando que em determinado momento fez um elogio a terceiros do que propriamente elogiando.
Eu acho que o mais prudente é andar sobre ovos quando o assunto for elogiar alguém nas coisas de Deus, pois posso estar criando nessa pessoa o sentimento de ela se achar alguém, e bem sabemos que não é assim. Se um irmão ou irmã faz algo no Senhor, é no Senhor que faz… “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10).
Em Mateus 11:2 João Batista, que estava preso, envia seus discípulos a Jesus para perguntarem se ele era mesmo o Messias ou se deviam aguardar por outra pessoa. O Senhor responde, porém espera eles irem embora antes de começar a falar bem de João Batista. (Mt 11:7) “Ao partirem eles, começou Jesus a dizer às multidões a respeito de João”.
Antes de me apartar das denominações para congregar somente ao nome do Senhor, cheguei a congregar por alguns meses com os batistas, e uma das coisas que contribuíram para que eu saísse dos sistemas criados pelos homens foi um culto de transferência de pastor que assisti em Brasília. Foi uma ‘rasgação’ de seda tamanha, que criou em mim um sentimento de nojo.
O pastor que deixava o cargo e o que assumia pareciam estar competindo para ver quem elogiava mais o outro em seus discursos. Eu, novo convertido e sedento de ouvir falar de Jesus, sentime numa churrascaria rodízio: era só carne que passava de um lado para o outro. Saí dali com fome e sede de Jesus, pois naquela noite deu para perceber que ali havia duas pessoas que se consideravam mais importantes que Jesus, e a festa era deles.
No meio religioso a bajulação é uma instituição que está tão arraigada nos costumes que a maioria dos cristãos nem percebe mal nisso. Parece até uma obrigação exaltar um irmão por sua fidelidade, seu empenho nas coisas de Deus, sua pregação, etc. Uma vez ouvi falar de um irmão que tinha acabado de pregar o evangelho e foi abordado por uma irmã que teceu comentários maravilhosos sobre sua pregação, sua maneira de falar, seu talento, etc. Quando ela terminou, o irmão simplesmente lhe disse: “Irmã, Satanás já tinha me dito tudo isso ali atrás, enquanto eu pregava”.
Creio que você poderá aprender algo sobre este assunto lendo a carta de um elogiado, no caso a carta que John Nelson Darby enviou ao seu editor depois que viu o que este publicou a respeito dele.
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Basta crer em Jesus para ser salvo?
Em um mundo com tantas religiões e diferentes vozes falando o que pensam a respeito da salvação, você descobrirá que a maioria daqueles que se dizem cristãos acreditam mais em seus próprios esforços do que em Jesus e em sua obra na cruz.
Sua dificuldade está em saber como devemos andar depois de crer em Jesus como Senhor e Salvador. A resposta é clara na Palavra de Deus. Deus salva você com um propósito, e este é bem explicado aqui: servir e esperar.
1 Ts 1:9-10 Porque eles mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos para convosco, e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro, E esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura.
Existe um claro contraste entre a vida que alguém levava antes e depois de ser salvo. Apenas Deus conhece os corações. Quanto a nós, só podemos “adivinhar” se alguém é salvo ou não pelo seu andar, que é ou não condizente com o que sua boca professa.
(1 Co 6:9-11) “Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbedos, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. E tais fostes alguns de vós; mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus”.
Mas veja que não é apenas de pecados escabrosos que o apóstolo está falando na passagem. Ele fala até mesmo das coisas consideradas lícitas, mas que podem servir de tropeço para a vida do cristão.
(1 Co 6:12) “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”.
Você escreveu: “Resumindo minha dúvida: é só crer em Jesus Cristo, e estamos salvos?”.
Vou mudar sua pergunta um pouquinho:
“É só crer em Jesus Cristo e no fato de ter deixado a glória para morrer como um criminoso em meu lugar?”.
“É só crer em Jesus Cristo que morreu só e em trevas porque nem Deus podia ter comunhão com ele enquanto sofria sob a carga de meus pecados?”.
“É só crer em Jesus Cristo que teve seu lado rasgado pela lança do soldado, para que saíssem o sangue e a água da minha purificação?”.
“É só crer em Jesus Cristo que pagou por todos e cada um de meus pecados, além de tirar de uma vez para sempre o pecado do mundo resolvendo a mancha que ameaçava a reputação de Deus?”.
“É só crer em Jesus Cristo, a quem a morte não conseguiu reter e que ressuscitou como as primícias da nova criação?”.
“É só crer em Jesus Cristo que disse ‘Está consumado’, revelando assim que nada mais precisava ser feito para resolver a questão do pecado?”.
“É só crer em Jesus Cristo com a fé que vem de Deus e com a percepção de pecado e arrependimento que só podem ser consequência da vida que Deus nos dá através do novo nascimento?”.
Com sua pergunta assim desdobrada, eu posso responder que sim, é “só” crer.
Você escreveu: “Não precisamos mudar nosso andar nesse mundo?”.
Não se trata de precisar ou não mudar seu andar neste mundo: se você tem em si a vida que vem de Deus, você irá QUERER mudar sua vida aqui neste mundo. Mas mesmo assim acabará descobrindo que nem para isso terá PODER de si mesmo e precisará encontrar em Cristo a libertação da lei do pecado e da morte.
(Rm 7:18-25) “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor!”.
Você escreveu: “Não precisamos mudar de vida, podemos continuar pecando e errando, seremos salvos de qualquer forma?”.
Se realmente se converteu a Cristo mas continua vivendo no pecado você será salvo, mas “como que pelo fogo”, isto se não for tirado prematuramente deste mundo por não servir como um testemunho de Deus aqui.
(1 Jo 5:16-18) “Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte [aqui é morte natural, do corpo], orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore. Toda a iniquidade é pecado, e há pecado que não é para morte. Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca”.
(1 Co 3:12-15) “E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo”.
Você escreveu: “Se cremos em Jesus Cristo, somos novas criaturas, e passamos a agir diferente, porque somos novas criaturas”?
A diferença entre um salvo e um perdido não está em que o salvo não possa cair em pecado, mas em que ele tem a quem recorrer e pode se levantar. (Pv 24:16) “Porque sete vezes cairá o justo, e se levantará; mas os ímpios tropeçarão no mal”.
A diferença entre uma ovelha e uma porca é que ambas podem cair na lama, mas a primeira sente-se mal e procura sair logo da lama, enquanto a porca gosta e prefere ficar por lá. Veja o que a Palavra fala de homens que obtêm o conhecimento de Jesus Cristo (conhecimento intelectual apenas) e isso os leva até a se afastar dos vícios e pecados, até que um dia é revelado que nunca realmente creram em Jesus:
(2 Pe 2:20-22) “Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; Deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama”.
Você escreveu: “Mas, se eu só crer em Jesus Cristo, porém continuar a fumar pedras de crack, ainda assim serei salvo?”.
Se você for realmente salvo, de sã consciência e ciente do amor que Jesus teve por você, nem irá considerar tal possibilidade, de continuar levando uma vida que desagrade seu Salvador.
(Rm 8:15) “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai”.
(Ef 1:5) “E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,”.
Você ainda não entendeu a diferença entre um filho adotivo e um empregado. Um filho adotivo é aquele que passou a fazer parte da família do pai sem esforço algum de si próprio ou sem merecer isso. Ao ser adotado com direitos plenos, ele passa a ser herdeiro de tudo o que é de seu pai.
Um empregado é aquele que só espera receber algo se trabalhar. Ele precisa fazer para merecer. O filho adotivo nunca enxerga seu pai como seu devedor. Afinal, ele não fez nada para merecer sua adoção e a posição de filho, portanto tudo o que vem é de graça. Já o empregado, deu duro e quer receber o seu. O patrão é seu devedor.
Pessoas que creem na salvação por graça somente, por um favor imerecido, veem a Deus como um Pai amoroso que as tirou da sarjeta do pecado e da morte e as adotou com plenos direitos e regalias de um filho legítimo. Elas vivem gratas por isso, procurando agradá-lo em tudo. Filhos trabalham para o Pai, não para receberem um salário, mas porque são filhos e já desfrutam de tudo o que pertence ao Pai. Não há limites para o que podem fazer para o Pai, mesmo porque não há uma relação de barganha, do tipo toma lá dá cá. Seu sentimento de gratidão
Por outro lado, pessoas que acreditam que são salvas por obras ou por sua fidelidade, ou que só permanecerão salvas se viverem uma vida correta e religiosa, veem a Deus como um Patrão, que só pode exigir delas o que estiver no contrato e mediante o pagamento de uma recompensa. Elas vivem com um olho na recompensa e se desesperam quando veem as coisas darem erradas nesta vida. Aí concluem que, das duas uma: ou não estão se esforçando o suficiente, ou Deus é injusto e não as está recompensando como deveria. Em casos assim, alguns preferem até voltar a trabalhar para o antigo patrão.
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Para que serve a imposição de mãos?
Considerando toda a confusão eclesiástica existente hoje, com homens se valendo do ato de impor as mãos como se fosse algum passe de mágica ou transmissão de algum poder, o melhor é analisar o assunto pelo que encontramos nas Escrituras.
Para isso vou traduzir aqui um texto que considero muito bom, publicado em 1893 na “The Christian’s Friend and Instructor”.
No que diz respeito à imposição de mãos, parece ter sido praticada de várias maneiras. Primeiro, o Espírito Santo foi comunicado, em diversas ocasiões, em conexão com imposição de mãos dos apóstolos sobre crentes (veja Atos 8:17; 19:6).
Segundo, pessoas foram designadas desta maneira, ou melhor dizendo, separadas, para algum ofício especial.
Em Atos 6, por exemplo, os sete que foram escolhidos para “servir as mesas” foram colocados diante dos apóstolos que, depois de orarem, impuseram suas mãos sobre eles (v. 6); e Paulo instrui Timóteo a não impor as mãos indiscriminadamente sobre qualquer um; isto é, conforme entendemos, Timóteo não devia escolher ninguém para ser um ancião ou diácono sem antes ter certeza de que a pessoa preenchia todos os requisitos para tal função.
Em seguida vemos que um dom foi concedido a Timóteo através da imposição das mãos do apóstolo (2 Tm 1:6). Em todos estes casos pode-se reparar que a imposição de mãos é feita ou pelos apóstolos, ou por Timóteo que era um enviado dos apóstolos, e que, portanto, agia sob a autoridade direta de Paulo.
Em nenhum desses casos, portanto, a imposição de mãos poderia ser praticada hoje, a menos que se acreditasse em uma “sucessão apostólica”, do que não temos nem mesmo uma sombra sequer nas Escrituras que, pelo contrário, desaprovam tal ideia. O debate se dá, portanto, sobre pretensões e presunções eclesiásticas, e não sobre a Palavra de Deus.
Todavia existem dois outros tipos de imposição de mãos que devem ser consideradas. Quando o Espírito Santo diz “Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”, aqueles que estavam reunidos com eles jejuaram e oraram, “e pondo sobre eles as mãos, os despediram” (Atos 13:2, 3).
Isto de modo algum poderia ser considerado como a ordenação para um ofício, pois não foi uma função que eles tinham sido chamados a ocupar, mas estavam sendo enviados para um serviço específico. O Espírito Santo tinha designado seus servos para a missão que lhes cabia. A imposição de mãos aqui tinha mais o sentido de identificação ou de se expressar total comunhão com Barnabé e Saulo em seu trabalho.
O significado da imposição de mãos é visto no Antigo Testamento em conexão com os sacrifícios. Ao impor as mãos sobre a cabeça do cordeiro consagrado, Aarão e seus filhos se identificavam, diante de Deus, com todo o doce aroma do sacrifício quando era queimado sobre o altar (Êxodo 29:15-19).
Um exemplo do mesmo significado pode ser encontrado em 1 Timóteo. Como já vimos, o dom foi concedido a Timóteo “pela” (por intermédio da) imposição das mãos de Paulo. Na primeira epístola, ao referir-se a isso, Paulo faz alusão à imposição de mãos do presbitério (cap. 4:14). Mas as palavras exatas que ele usa demonstram o seu caráter. Aqui a palavra não é “pela” ou por intermédio de, como na segunda epístola onde ele fala da imposição de suas próprias mãos, mas “com”, ensinando claramente que eles nada mais faziam do que estar associados a Paulo em seu ato, de modo que estavam assim se identificando com o que estava sendo feito, e também com Timóteo no serviço para o qual ele estava sendo chamado. Essa forma de imposição de mãos é simplesmente um ato de comunhão.
O outro e único tipo de imposição de mãos é mencionado em conexão com a cura do enfermo. O próprio Senhor impôs suas mãos sobre o enfermo (Lucas 4:40), e comissionou seus discípulos, depois de sua ressurreição, a fazerem o mesmo (Marcos 16:18). Mas se, por um lado, os “dons de cura” eram encontrados na assembleia em Corinto, não existem indícios de que a comissão dada aos discípulos tivesse sido estendida a outros. Já escrevi o suficiente para ajudar o leitor na investigação do assunto, e este, valendo-se dos casos mencionados dentro de seu contexto, será capaz de compreender a verdade envolvida nisso e a avaliar o assunto “imposição de mãos” quando comparado às presunçosas reivindicações feitas nos meios eclesiásticos. — Traduzido de “The Christian’s Friend and Instructor” – 1893.
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Eu e meu namorado podemos ter uma vida íntima?
Não sei se entendi direito, mas você parece ter dito que vocês são cristãos convertidos e há algum tempo eram bastante preocupados com a santidade prática, tanto no que se refere à pornografia, como em questões de intimidade e também do cuidado com o vestir. Certamente esse cuidado não é errado, a menos que se torne doentio.
Então você diz que chegaram à conclusão de que deviam iniciar uma “vida íntima” depois de lerem alguns autores evangélicos. Segundo você, a conclusão a que chegaram é que “fornicação” significa “ficar”, ou seja, fazer sexo sem compromisso, o que não seria o caso de vocês. Pelo que pude ver, todos os argumentos que escreveu são baseados no que você pensa, acha ou pesquisou de “autores evangélicos”.
Eu pergunto: onde está o Espírito Santo em tudo isso? Onde está a Palavra de Deus? Será que por “vida íntima” você quis dizer que começaram a ter relações sexuais? Se for isso então vocês estão sim vivendo em fornicação, ao menos segundo o conceito bíblico da palavra, pois não estão casados.
Meu conselho: busquem a Palavra de Deus e a direção do Espírito Santo em tudo. Fujam do pecado. A palavra de Deus diz que nossa luta não é contra a carne, portanto não tentem dominar a carne, simplesmente fujam do pecado e de tudo o que possa levá-los a pecar (vocês saberão discernir o que os leva a pecar).
Não é o equilíbrio que devem buscar, mas a santidade. Não o legalismo, que é tentar seguir regras de conduta, mas a direção do Espírito, lembrando que o Espírito nunca nos dirige em coisa alguma que seja contrária à sua Palavra.
Vou ser muito sincero e você certamente não irá gostar do que vou dizer. Os dois autores evangélicos cujos textos você enviou escrevem o que as pessoas querem ouvir. Baseio-me no que li dos artigos e da maneira como eles distorcem a Palavra de Deus e transformam a graça de Deus em dissolução.
(Jd 1:4) “Porque se introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”.
Veja outras versões para o mesmo versículo:
(ARCA) “Porque se introduziram alguns, que já antes estavam ordenados para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em luxúria a graça de Deus…”.
(CNBB) “É que se insinuaram certas pessoas, das quais desde há muito estava escrito o seguinte juízo: ímpios que abusam da graça do nosso Deus para a devassidão…”.
(NVI) “Pois certos homens, cuja condenação já estava sentenciada há muito tempo, infiltraram-se dissimuladamente no meio de vocês. Estes são ímpios, e transformam a graça de nosso Deus em libertinagem…”.
(PAST) “De fato, infiltraram-se no meio de vocês alguns indivíduos que, desde há muito, estão inscritos para o julgamento. Eles são uns ímpios, que convertem a graça de nosso Deus em pretexto para a libertinagem…”.
Esse tipo de procedimento não é novidade e costumava ser adotado pelos falsos profetas do Antigo Testamento:
(2 Cr 18:12) “E o mensageiro, que foi chamar a Micaías, falou-lhe, dizendo: Eis que as palavras dos profetas, a uma voz, predizem coisas boas para o rei; seja, pois, também a tua palavra como a de um deles, e fala o que é bom”.
(Jr 23:16) “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas, que entre vós profetizam; fazem-vos desvanecer; falam da visão do seu coração, não da boca do Senhor”.
Será que você busca o que diz a Palavra de Deus acerca do assunto ou quer apenas encontrar alguém que concorde? Você se justifica dizendo que “nunca nos traímos fisicamente falando”, mas isso não muda nada. Se eu pratico algo errado, as coisas certas que pratico dentro de um modo de vida errado não o transformam em certo.
Você diz que acredita estar casada, com base no relacionamento sexual que vocês mantêm, mas eu pergunto: Você pode realmente afirmar que está casada? O que torna o seu relacionamento diferente do de um casal que acaba de ir para a cama pela primeira vez? Em que momento desde a primeira vez de vocês você passou a acreditar que estava casada? No calor de sua paixão o casal troca juras de amor eterno, mas existe realmente um compromisso diante de Deus e dos homens? Um matrimônio é um compromisso público.
Quando você diz “não sinto acusação em minha consciência”, penso que isso só torna as coisas piores, pois o fato de você escrever para mim pedindo orientação demonstra que não está tudo tão bem assim. Por que você iria se dar ao trabalho de me escrever e expor como é seu relacionamento com o namorado se tem tanta certeza de estar fazendo a vontade de Deus. Ou será que apenas buscava mais um “autor evangélico” como os que citou para aumentar um pouco o número dos que são a favor de seu modo de pensar e sentir mais segurança? Nossas consciências podem ser cauterizadas quando teimamos em fazer a própria vontade.
Você alega que se tivessem condições financeiras e estivessem profissionalmente estáveis então cuidariam de regularizar sua situação para o status de casados. Mas 99% da população casada do planeta não tinha 100% de condições de se casar, e mesmo assim assumiu um compromisso público diante de Deus e dos homens.
O fato do casamento no cartório não ser citado na Bíblia não é um argumento válido. O Senhor esteve em Caná em um casamento, um evento público de comprometimento entre um casal, com testemunhas e tudo mais. Isso é entendido como um casamento na Bíblia e em qualquer cultura.
Achar que vivemos em uma época diferente e certas coisas podem ser feitas de modo diferente é um argumento perigoso para o cristão. Se nos deixarmos levar pelos costumes da época, então precisamos desconsiderar também o que a Bíblia diz sobre o aborto, o homossexualismo e o sexo descompromissado. Afinal, estas coisas já se tornaram bastante aceitas na sociedade moderna.
Você alega também que “seria muita maldade suprimir um amor erótico justamente na fase da vida quando este é mais intenso no ser humano”. O que a Bíblia diz sobre esta afirmação? (2 Tm 2:22) “Foge também das paixões da mocidade”. Acho que não preciso explicar que paixões são essas.
Ao contrário do que você diz, os artigos desses “autores evangélicos” que enviou não são “embasados na Bíblia de forma crítica e sincera por estudiosos cristãos”. A verdade é que não passam de psicologia barata e cultura moderna, além de escreverem aquilo que é o desejo natural da carne. É um aval à libertinagem. Será que já falei sobre os falsos profetas da antiguidade que profetizavam aquilo que o povo queria ouvir? Sim, acho que já mencionei isso.
Se vocês se propõem a viver juntos para sempre e a assumir essa situação diante de Deus e dos homens, por que não passam em um cartório e regularizam esse compromisso? Não custa caro e há até casamentos gratuitos. “O novo código estabelece que todas as custas do casamento sejam gratuitas para as pessoas que se declararem pobres”.
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Como lidar com a pornografia?
Sinto pelo transtorno que está passando com o vício de seu marido pela pornografia. Depois de tê-lo aconselhado, você nada pode fazer além de orar e entregar isso nas mãos do Senhor. A responsabilidade pelo modo de vida que ele escolheu é dele, não sua, e isso é ainda mais grave pelo fato de ele confessar o nome de Jesus.
Enquanto você não tem provas de adultério ou infidelidade, nada pode fazer no que diz respeito ao seu casamento, portanto deixe para o Senhor tratar com ele desse vício que ele tem por pornografia.
Uma grande dificuldade no casamento é que, apesar de serem uma só carne, nem sempre os dois têm um só pensamento, daí vermos tantas tristezas nessa área, tanto entre cristãos como incrédulos. Muitas vezes cabe à parte inocente apenas orar e esperar no Senhor, quando falharem todos os recursos normais, como o aconselhamento bíblico, por exemplo.
A pornografia pode se tornar um vício tão destrutivo quanto a bebida ou a droga, pois à semelhança destas ela não apenas causa danos ao viciado, mas também às pessoas ao seu redor. A primeira coisa que o viciado pensa — e inclua aí o vício da pornografia — é que ele está no controle, mas não está, e a prova disso é que não consegue se afastar de seu vício, vivendo escravo dele.
(2 Pe 2:19) “Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo [escravo]”.
Como acontece com um viciado em drogas, o viciado em pornografia é insaciável e irá procurar doses cada vez maiores e mais perigosas. Aquilo que começa como uma aparente contemplação do design que Deus deu ao corpo feminino pode evoluir para as mais escabrosas formas de degradação humana, com perversões não encontradas nem mesmo entre os mais selvagens e irracionais dentre os animais.
Tudo isso vale também para o cristão que, apesar de salvo por crer em Cristo, ainda continua vivendo em um velho e corrupto corpo de carne enquanto estiver neste mundo. O cristão não deve se iludir achando-se imune à pornografia ou capaz de controlar seu contato com o pecado. Nenhum cristão está capacitado a resistir heroicamente aos apelos de sua carne, por isso a advertência que recebemos neste sentido é de fugir do pecado, não tentar lidar com ele.
A “concupiscência os olhos” é um dos três apelos que levaram o ser humano a cair em pecado e continuam fazendo.
(Gn 3:6) “E viu a mulher que aquela árvore era… agradável aos olhos…”.
(1 Jo 2:16) “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo”.
Podemos muito bem incluir a pornografia entre as coisas que levam o homem a apresentar seus membros para servirem à imundícia, portanto algo de que um convertido a Cristo deve se fugir para viver voltado à santificação.
(Rm 6:19) “Falo como homem, pela fraqueza da vossa carne; pois que, assim como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia, e à maldade para maldade, assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para santificação”.
A decoração de cidades romanas como Pompéia e Herculano, ou até mesmo antigos papiros egípcios, mostra que a pornografia sempre existiu. À medida que os costumes vão mudando, as formas mais antigas de pornografia passam a ser admiradas pelo homem moderno nas paredes dos museus apenas como uma forma de arte. Mas qualquer pessoa que entenda um pouco de arte sabe que muito do que hoje é visto nos museus não passa da versão antiga das atuais revistas masculinas ou sites eróticos.
Por isso o cristão não pode deixar-se levar pelo que a mídia propaga neste sentido, pois ela procura fazer da pornografia uma ferramenta para atrair audiência e lucrar. Provérbios 6 pode muito bem ser aplicado às modelos de “ensaios” pornográficos:
(Pv 6:25-28) “Não cobices no teu coração a sua formosura, nem te prendas aos seus olhos… Porventura tomará alguém fogo no seu seio, sem que suas vestes se queimem?… Ou andará alguém sobre brasas, sem que se queimem os seus pés?”.
Associe isto ao que o Senhor disse em Mateus 5:28 e você verá que a contemplação da sensualidade feminina não é algo para um cristão tratar como inofensivo: “Qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela”. Paulo alerta em 1 Co 6:9 que coisas como a pornografia pertencem à vida que alguém tinha antes de sua conversão, e não à sua condição de salvo por Cristo.
Não cabe ao cristão lutar contra o pecado*, mas fugir dele. Muita gente não entende isso e tenta enfrentar o vício como um inimigo que deve ser vencido na base do enfrentamento. Não somos capazes de vencer nossa carne e nem somos chamados a lutar contra ela. Somos alertados a fugir, como José fugiu da mulher de Potifar.
[*Depois que escrevi isto fiquei em dúvida se estaria correto dizer que não devemos ‘lutar’ contra o pecado, pois há um versículo em Hebreus 12:4: “Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado”. Aparentemente aí diz que deveríamos sim lutar contra o pecado, mas ao consultar um dicionário grego percebi que o verbo “lutar” em Gálatas 5:17 é ‘epithumeo’, o que faz a passagem ter o sentido de “a carne deseja o contrário do Espírito”, enquanto em Ef 6:12 é ‘pale’ que tem o sentido de lutar mesmo, como em luta livre. Já em Hb 12:4 o verbo ‘combater’ é ‘antagonizomai’ e tem o sentido de antagonizar ou ser contrário a algo.]
O engraçado é que costumamos agir de modo contrário ao que Deus nos ordena, fugindo do diabo e lutando contra a carne para resistir aos seus apelos. Mas veja o que diz a Palavra de Deus:
(Ef 6:12) “Porque não temos que lutar contra a carne”.
(1 Co 6:18) “fugi da prostituição”. [lembrando que a pornografia é seu principal veículo de propaganda].
(Tg 4:7) “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”.
(1 Pe 5:8) “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo”.
Portanto a ordem é: resistir ao diabo e fugir do pecado.
A pornografia é um mal que assola todo homem, mesmo cristão, porque o homem é mais estimulado pelo visual do que a mulher, daí existir um volume muito maior de pornografia direcionada ao homem do que à mulher. O homem pode também querer usar a pornografia como válvula de escape para a tensão do dia-a-dia, porém isso tem o mesmo efeito de se tentar fumar crack para relaxar: vicia.
Há também outro aspecto da razão da pornografia atrair o homem, e tem a ver com sua virilidade. Ele pode querer provar para si mesmo que é viril, que está funcional, como uma espécie de necessidade de autoafirmação. Então ele cai no laço da pornografia de uma maneira não muito diferente do laço armado pela mulher adúltera descrita em Provérbios 7, porque esta faz uso do apelo pornográfico para atrair sua presa para o seu leito. Leia o versículo abaixo pensando na “concupiscência dos olhos” da qual falei acima:
(Tg 1:15) “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte”.
A diferença entre uma prostituta ou adúltera e uma modelo do mercado pornográfico está apenas no fato de esta última gerar em sua vítima a concupiscência que poderá levá-la a consumar a satisfação de seus desejos com outra. Portanto a pornografia pode muito bem ser encarada pelo cristão como a etapa sedutora do processo de infidelidade e adultério, e a mulher cristã deve ter isso em mente quando adota um comportamento histriônico sedutor.
O processo da mulher de Provérbios 7:7-27 não difere muito do apelo de um site pornográfico, tanto em sua causa como em suas consequências:
“Vi entre os simples, descobri entre os moços, um moço falto de juízo… No crepúsculo, à tarde do dia, na tenebrosa noite e na escuridão. E eis que uma mulher lhe saiu ao encontro com enfeites de prostituta, e astúcia de coração… Com face impudente lhe disse… Vem, saciemo-nos de amores até à manhã; alegremo-nos com amores…
Assim, o seduziu com palavras muito suaves e o persuadiu com as lisonjas dos seus lábios. E ele logo a segue, como o boi que vai para o matadouro, e como vai o insensato para o castigo das prisões; Até que a flecha lhe atravesse o fígado; ou como a ave que se apressa para o laço, e não sabe que está armado contra a sua vida.
Agora pois, filhos, dai-me ouvidos, e estai atentos às palavras da minha boca. Não se desvie para os caminhos dela o teu coração, e não te deixes perder nas suas veredas. Porque a muitos feridos derrubou; e são muitíssimos os que por causa dela foram mortos. A sua casa é caminho do inferno que desce para as câmaras da morte.”
Como também sou homem, portanto igualmente vulnerável aos apelos da pornografia, tenho na parede do local onde uso mais o computador e a Internet um versículo que me ajuda a lembrar de uma de minhas responsabilidades como cristão:
(1 Tm 4:12) “Sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na PUREZA”.
Portanto, o melhor remédio para um cristão manter-se puro e longe da pornografia é fugir dela. Para isso ele deve ser seletivo quanto àquilo que atrai seu olhar, fugindo de situações, revistas, livros, filmes e programas que explorem a sensualidade. Encontrei no site www.gotquestions.org algumas dicas práticas para quem caiu na rede da pornografia e está encontrando dificuldades para sair dela, ou até mesmo para qualquer um que não queira ser mais uma vítima:
1. Confesse seu pecado a Deus (1 João 1:9).
2. Peça a Deus para limpar, renovar e transformar sua mente (Romanos 12:2).
3. Peça a Deus para encher sua mente com Filipenses 4:8.
4. Aprenda a manter seu próprio corpo em santidade (1 Tessalonicenses 4:3-4).
5. Procure entender o significado e a razão do sexo e limite-se ao seu cônjuge para atender às suas necessidades (1 Coríntios 7:1-5).
6. Entenda que se andar no Espírito você não atenderá às concupiscências da carne (Gálatas 5:16).
7. Adote ações práticas para reduzir seu contato com imagens sensuais, instalando bloqueadores de pornografia em seu computador, limitando seu uso da TV e vídeo e pedindo ajuda a outros cristãos para orarem por você e ajudarem a manter sua consciência de responsabilidade.
Acrescento aqui alguns versículos que também podem ajudar na busca de um melhor autocontrole. Qualquer coisa que nos domina estará impedindo a ação do Espírito Santo, que é quem deseja ter o controle sobre nós.
(Pv 25:27-28) “Comer mel demais não é bom… Como a cidade com seus muros derrubados, assim é quem não sabe dominar-se”.
(1 Co 6:12) “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”.
(Gl 5:22) “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança”.
(Tt 2:11-12) “Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos, para que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos no presente mundo SÓBRIA, e justa, e piamente,”.
(2 Pe 1:5-8) “Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio…”.
(1 Pe 5:8) “Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar;”.
O cristão é chamado à liberdade, portanto ele é livre o suficiente para não ser presa, não apenas da prostituição, mas de quaisquer vícios, sejam eles a bebida, o tabaco, drogas, remédios, sexo, comida, ginástica, etc. Mas deve viver atento às ciladas do inimigo. É como viver com um detector Geiger, daqueles que medem a radiação atômica. Quando o ponteiro começar a subir o cristão deve imediatamente tomar o sentido contrário, pois se continuar naquela direção acabará contaminado.
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O que você pensa do acelerador de partículas LHC?
Você perguntou sobre o que penso do acelerador de partículas LHC construído entre França e a Suíça. Na verdade eu não acho nada, porque sei muito pouco a respeito e não é absolutamente “a minha praia”. Tudo o que sei é que eles dizem que com um negócio assim será possível saber como surgiu o Universo. Bem, eu não precisei gastar tanto tempo e dinheiro para descobrir isso. Bastou ler o livro de Gênesis.
Mas aparentemente você perguntou tentando entender o que isso teria a ver com a profecia bíblica. Sei que tem gente que acredita que esse acelerador de partículas irá criar um buraco negro que desencadeará o fim do mundo, e há quem aposte que isso será em 2012, juntando Nostradamus, profecias Maias e interpretações erradas do Apocalipse. Enquanto isso, Hollywood vende ingressos para o evento.
Acreditar nessas coisas é duvidar da Bíblia, que menciona as catástrofes do fim como juízos que Deus derramará sobre a Terra, e não como consequência da inventividade humana. Os “verdes” seguem essa linha de pensamento. Não estou falando de ETs, mas de verde no sentido “green”, desses que veem qualquer atentado à natureza como o cumprimento das profecias bíblicas.
Mas quando lemos o livro de Apocalipse encontramos que a maior parte dos juízos virá do céu para a terra, isso é, de Deus para os homens, e são, também em sua grande maioria, juízos morais. Apocalipse é um livro de símbolos, no qual “mar” pode significar uma população, “sol, lua e estrelas” podem significar autoridades ou governantes, etc.
Não sou muito inclinado a tentar interpretar coisas específicas do mundo atual, com é o caso do tal acelerador de partículas, como estando relacionadas às profecias. Na década de 80 um irmão em Cristo costumava me dizer que a carestia e fome descritas em Apocalipse já estavam acontecendo, porque o Brasil passava por uma de suas muitas crises. Hoje, com a notícia de uma economia que cresceu 7,5% em 2010, ficaria difícil para aquele irmão me convencer disso.
Já li alguns textos que dizem que os escorpiões que aparecem em Apocalipse seriam helicópteros lançando mísseis (e vi até um livro que trazia uma ilustração de como seriam esses helicópteros apocalípticos!). Alguns interpretam a visão de Ezequiel 1 como aviões, porque fala de seres com quatro asas e a maioria dos aviões tem quatro asas, se contarmos os estabilizadores. Mas há quem discorde, dizendo que são helicópteros, porque Ezequiel diz que as asas se movem.
Existe um perigo em limitar assim a profecia, porque o dia em que os aviões ou helicópteros se tornarem obsoletos e os combatentes passarem a usar outras coisas, pode parecer que a Palavra de Deus estava errada, quando quem errou foram as pessoas que a interpretaram com base em sua própria época.
A verdade é que não estou muito preocupado com o fim do mundo, já que tenho certeza de meu destino pessoal. Que este mundo vai sofrer um bocado é um fato muito claro na Palavra de Deus. Mas é fato também que aqueles que creem em Jesus estão salvos eternamente e viverão nos “novos céus” (enquanto o povo terrenal de Deus viverá na “nova terra”). Além disso, tenho a bendita certeza dada pela Palavra de Deus:
O que os incrédulos podem esperar:
(Ap 6:16) “E diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro;”.
O que Deus promete aos salvos:
(1 Ts 1:10) “E esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura”.
(1 Ts 5:9) “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo,”.
(Ap 3:10) “Porque guardaste a palavra de minha paciência, também eu te guardarei da hora da provação, que está para sobrevir ao mundo inteiro, para provar os habitantes da terra”.
A questão não é saber se o fim virá através de um acelerador de partículas ou de qualquer tema apresentado no Discovery Channel, NatGeo, History Channel ou qualquer “channel” que mostra o que vender mais. A questão é ter a salvação assegurada pela fé em Jesus e em seu sacrifício na cruz.
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Beber bebida alcoólica é pecado?
A bebida alcoólica, na forma de vinho, era consumida por Jesus e seus discípulos, não como forma de “droga” para embriagar, mas como parte integrante da refeição. Isso ainda é um costume muito comum em alguns países da Europa, onde até as crianças costumam levar um vinho mais fraco na lancheira da escola.
O uso do vinho chega a ser indicado na Bíblia em algumas situações, mas obviamente nunca em excesso ou visando a embriaguez:
(Ec 9:7) “Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe com coração contente o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras”.
(Sl 104:14-15) “[Deus] faz crescer a erva para o gado, e a verdura para o serviço do homem, para fazer sair da terra o pão, E o vinho que alegra o coração do homem, e o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que fortalece o coração do homem”.
(Am 9:14) “E trarei do cativeiro meu povo Israel, e eles reedificarão as cidades assoladas, e nelas habitarão, e plantarão vinhas, e beberão o seu vinho, e farão pomares, e lhes comerão o fruto”.
A Palavra de Deus também usa o vinho no sentido figurado como um símbolo de alegria espiritual (fazendo o mesmo com o leite ou o pão quando fala de alimento espiritual):
(Is 55:1) “O vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite”.
Paulo também indicou o vinho misturado com água para Timóteo curar seu problema de estômago:
(1 Tm 5:23) “Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades”.
Muitos cristãos, na melhor das intenções de livrar as pessoas dos efeitos maléficos do excesso de álcool e da embriaguez, costumam fazer campanha pela erradicação completa da bebida alcoólica na vida do crente, mas isso é como aquela história do sitiante que, para acabar com o carrapato, matou sua vaca.
Quando perdemos de vista o lugar que o vinho ocupa na Bíblia, perdemos também de vista todo o significado espiritual que Deus quis nos passar quando usa o vinho, tanto de forma real como simbólica. Nunca devemos nos esquecer de que o primeiro milagre de Jesus foi justamente resolver o problema da falta de vinho em uma festa de casamento. O vinho que ele fez a partir da água foi elogiado como o melhor da festa.
(Jo 2:10) “E disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho”.
Mas é inegável que a Bíblia condena a embriaguez ou qualquer tipo de excesso:
(Ef 5:18) “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito;”.
Os efeitos destrutivos da embriaguez (veja bem, da embriaguez e não do beber consciente como parte da refeição) são claramente mostrados em Provérbios:
(Pv 23:29-35) “Para quem são os ais? Para quem os pesares? Para quem as pelejas? Para quem as queixas? Para quem as feridas sem causa? E para quem os olhos vermelhos? Para os que se demoram perto do vinho, para os que andam buscando vinho misturado. Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. No fim, picará como a cobra, e como o basilísco morderá. Os teus olhos olharão para as mulheres estranhas, e o teu coração falará perversidades. E serás como o que se deita no meio do mar, e como o que jaz no topo do mastro. E dirás: Espancaram-me e não me doeu; bateram-me e nem senti; quando despertarei? Aí então beberei outra vez”.
Eu me entristeço quando vejo hoje os jovens fazendo da bebida uma espécie de competição e troféu, como se fosse mais inteligente e capaz aquele que consegue beber mais. Ao contrário, dificilmente existe alguém mais estúpido do que aquele que deseja mostrar sua capacidade através do álcool. Quem precisa de álcool para tomar coragem não passa outra mensagem a não ser a da covardia.
O viciado é escravo do seu vício, não é livre, apesar de pensar que bebendo todas está demonstrando o quanto é dono do próprio nariz vermelho. Ele pensa ser capaz de dominar seu vício, mas não consegue. Qualquer coisa pode criar essa escravidão quando passa a nos dominar:
(2 Pe 2:19) “Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo”.
A embriaguez ou o excesso da bebida alcoólica é um pecado condenado pela Palavra de Deus, tanto quanto o excesso de comida. O engraçado é que tem muito cristão glutão e obeso que condena veementemente e de boca cheia a bebida alcoólica, mas nunca se deu conta de que comer demais é igualmente pecado!
Veja nas passagens abaixo que a bebedeira e a glutonaria estão lado a lado com a desonestidade, imoralidade, contenda, inveja, homicídio e idolatria:
(Rm 13:13) “Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções (imoralidade), nem em contendas e inveja”.
(Gl 5:21) “Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus”.
(1 Pe 4:3) “Porque é bastante que no tempo passado da vida fizéssemos a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias;”.
Como saber quando parar de comer ou beber? Perguntando: “Será que o próximo prato ou o próximo copo é para a glória de Deus?”.
(1 Co 10:31-32) “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus”.
(1 Co 6:12) “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”.
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O que você acha dos jargões cristãos?
Sua dificuldade está em se deve utilizar ou não certas frases que já se tornaram jargões evangélicos, como “a paz do Senhor”. Confesso a você que também tenho certa dificuldade neste sentido, não que seja errado saudar alguém com “a paz do Senhor”. O problema é que o mau uso disso pode ter destruído o seu significado.
Muitas palavras e frases que encontramos na Bíblia foram de tal modo deturpadas que às vezes nem sequer guardam mais seu sentido original quando usadas no mundo de hoje. É o caso da palavra “igreja”, que virou sinônimo de um prédio de pedras ou tijolos, e da palavra “pastor”, que no original significa um dom, mas virou um título honorífico dado a líderes eclesiásticos, alguns deles sem qualquer indício de terem recebido do Senhor o dom que leva o mesmo nome.
Um costume cristão, como é o ósculo ou beijo entre pessoas do mesmo sexo, também pode ser visto hoje tanto como imoral, por pessoas de pouca cultura, como moderno, por artistas e gente da alta sociedade. Como lidar com tudo isso para manter puros os significados do que dizemos e fazemos como cristãos? Sendo símplices como as pombas e astutos como as serpentes.
Vivemos em um mundo onde “ser crente” é logo identificado como ser seguidor de algum desses pregadores da prosperidade que pedem dinheiro na TV. Por isso, quando usamos certas frases que acabaram virando jargões cristãos, como “a paz do Senhor”, “irmãos”, “aleluia”, e outras, corremos esse risco, porque são expressões que foram deturpadas pelos próprios cristãos.
Muitos que se dizem cristãos hoje as utilizam mais no sentido de fincar bandeira no território inimigo do que em seu sentido puro. É o caso de falar “irmão fulano”, “irmão sicrano” na frente de incrédulos só para mostrar a eles que somos diferentes. Ou saudar um com “a paz do Senhor” e outro sem “a paz do Senhor” como forma de ferir o que tem uma conduta duvidosa.
Agir assim, isto é, com essa intenção distorcida, é fazer aquilo que era condenado em Êxodo 23:19: “não cozerás o cabrito no leite de sua mãe”. Isto é, usar o que Deus criou para dar vida, como forma de ferir e matar.
O homem religioso gosta de transformar as coisas de Deus em rótulos que os identifiquem como melhores do que as pessoas ao seu redor. Os judeus fizeram isso com a ordenança do Antigo Testamento de não costurar a barra dos vestidos. A franja assim formada pelo tecido desfiado era para que eles se lembrassem de cumprir os mandamentos de Deus.
(Nm 15:39) “E as franjas vos serão para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do Senhor, e os cumprais; e não seguireis o vosso coração, nem após os vossos olhos, pelos quais andais vos prostituindo”.
O que os judeus fizeram foi transformar algo que era para eles devia ser um lembrete de dependência de Deus em uma etiqueta de fidelidade para que outros vissem. Assim, muitos cristãos hoje fazem questão de usar esses jargões como forma de autoafirmação e também como um meio de exibicionismo, para serem vistos pelos homens.
(Mt 23:5) “E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes,”.
Porém podemos cair no outro extremo e evitarmos tanto nos identificar com esses costumes e frases que acabamos adotando artificialmente uma aparência mundana, como se estivéssemos querendo dizer ao mundo: “Ei, vejam todos, somos iguaizinhos a vocês!”. É o caso dos evangélicos que inventam blocos carnavalescos, para se fazerem iguais aos foliões incrédulos, ou que promovem marchas para Jesus, para tentarem mostrar força diante de marchas do tipo “orgulho gay”.
É bom que as pessoas nos identifiquem com Cristo, que vejam que cremos no Salvador e na Palavra de Deus, e que vivemos separados do mundo, embora vivendo nele. Mas é péssimo que elas nos identifiquem como seguidores de uma religião ou das ilusões de prosperidade que são pregadas continuamente nos canais de rádio e TV.
Em Atos as autoridades que interrogavam os discípulos ficaram impressionadas com a desenvoltura deles, mas atribuíram isso por eles terem estado com Jesus, e não por pertencerem a alguma religião. Assim deve ser: devemos exalar o cheiro de Cristo por onde quer que andemos.
(At 4:13) “Então eles, vendo a intrepidez de Pedro e João, e tendo percebido que eram homens iletrados e indoutos, se admiravam; e reconheciam que haviam estado com Jesus”.
Se exalarmos o cheiro de uma religião isso só irá atrapalhar nosso testemunho e provavelmente será um empecilho para a salvação das pessoas com as quais entrarmos em contato.
Uma vez eu disse a uma jovem irmã em Cristo que não pertencia a nenhuma religião, mas que estava congregado com outros irmãos somente ao nome do Senhor, sem denominação, sem clero, sem templo, etc. Ela, tentando concordar, mas não concordando, disse que sempre que ia falar do evangelho para alguém, falava só de Jesus, e não mencionava que era presbiteriana.
Então eu perguntei por que ela não mencionava sua denominação e ela respondeu que isso poderia atrapalhar, pois a pessoa que estava sendo evangelizada poderia ter alguma coisa contra essas igrejas ou seus pastores e não querer aceitar a mensagem do evangelho.
Perguntei para ela por que ela ainda pertencia a algo que era obrigada a esconder das pessoas para evitar que atrapalhasse na salvação de uma alma. Ela não soube responder.
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Por que João Batista é considerado menor?
De João Batista é dito que ele era o maior de todos os profetas, mas qualquer um no reino dos céus seria maior do que ele. Isso significa diferentes categorias de pessoas em diferentes épocas. Pessoas como João foram grandemente abençoadas, mas não tiveram os privilégios que têm hoje os salvos por Cristo.
(Mt 11:11) “Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu outro maior do que João, o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele”.
Existe uma distinção que é feita entre as diferentes classes de salvos. Por exemplo, fetos e crianças sem idade de entendimento estão salvos, mas não fazem parte da Igreja. Todos os que morreram na fé antes de Atos 2 também estão salvos, porém não fazem parte da Igreja porque não poderiam fazer parte de algo que ainda não existia. Em Mateus 16 o Senhor disse “edificarei a minha igreja” usando o verbo no futuro, ou seja, ela ainda não existia.
João Batista não fez parte da igreja. Ele e os outros que viveram antes da Igreja podem ser chamados de “amigos do noivo”, mas não de “noiva”, como são os cristãos do período da Igreja. A igreja é o conjunto dos salvos por Cristo que teve início no dia de Pentecostes descrito em Atos 2.
(Jo 3:27-29) “Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que eu disse: Não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele. Aquele que tem a noiva é o noivo; mas o amigo do noivo, que está presente e o ouve, regozija-se muito com a voz do noivo. Assim, pois, este meu gozo está completo”.
Depois do arrebatamento, quando Cristo vem à terra para estabelecer o seu reino de mil anos, você encontra também diferentes classes de pessoas descritas em Mateus 25: “bodes”, “ovelhas” e “pequeninos”. Começando pelos “pequeninos” ou “pequenos irmãos”, estes são os judeus que se converterão durante o período posterior ao arrebatamento. Muitos serão martirizados.
Ovelhas são as nações (lembre-se de que ali é um julgamento das nações ou povos) ou povos que receberam esses judeus, os protegeram, os esconderam, etc. durante as perseguições. É nessa época que o evangelho do reino (diferente do evangelho da graça) será pregado até os confins da terra
Finalmente os bodes são os que perseguiram os salvos desse período de tribulação. Os “bodes” são imediatamente julgados, mortos e condenados. Os “pequeninos” judeus e os gentios convertidos, ou “ovelhas”, é que habitarão no reino terreno de Cristo por mil anos. Enquanto isso, a igreja e as outras classes de salvos estão no céu.
A igreja tem começo, meio e fim. Ela começa em Pentecostes, é edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas (do Novo Testamento), portanto não é algo do Antigo Testamento, e termina com o arrebatamento, que coincide com a “plenitude dos gentios” de que Paulo fala em Romanos 11:25 (existe uma diferença entre “plenitude dos gentios” e tempos dos gentios). Aí Deus encerra seu tratamento com a Igreja, que é tirada da terra, e volta a tratar com os judeus que, no seu aspecto de povo de Deus, no momento encontra-se, por assim dizer, “no gelo”:
(Rm 11:25-26) “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades”.
Voltando ao que estava dizendo sobre João Batista, que era o menor no reino dos céus, é importante entender também que “reino dos céus” não é sinônimo de céu, já que inclui joio e trigo, ou falsos e verdadeiros, como aprendemos das parábolas.
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Foi Deus quem falou?
Resumindo sua dúvida, você diz que escutou, no ônibus, a conversa entre duas mulheres, uma que dizia ter pensado em deixar a denominação onde estava, mas que Deus havia falado com ela para ela ficar lá que Deus tinha uma obra para ela naquele lugar. Sua dúvida só aumentou quando elas começaram a falar de suas experiências “espirituais”, como falar em línguas estranhas, dançar e pular nos cultos, etc.
Primeiro, sobre a tal revelação que a moça disse ter recebido, ela não tem base bíblica porque Deus não iria “revelar” a alguém que deve permanecer em algo que não seja da sua vontade. Se não encontramos na Palavra de Deus qualquer indicação de que devemos nos associar a uma denominação, então não devemos achar que Deus irá nos fazer uma revelação inédita neste sentido. Os apóstolos não pertenciam a denominações e devemos seguir seu exemplo.
E se entendermos que uma denominação, com seus templos, clero, listas de membros, etc., é algo contrário à sã doutrina, nossa responsabilidade é nos mantermos afastados disso. Deus, em sua Palavra, sempre ordena que nos apartemos da iniquidade, não o contrário. O certo não conserta o errado, mas o errado contamina o certo.
(Ag 2:12-13) “Se alguém levar carne consagrada na borda de suas vestes, e com ela tocar num pão, ou em algo cozido, ou em vinho, ou em azeite ou em qualquer comida, isso ficará consagrado? Os sacerdotes responderam: Não. Em seguida perguntou Ageu: Se alguém ficar impuro por tocar num cadáver e depois tocar em alguma dessas coisas, ela ficará impura? Sim, responderam os sacerdotes, ficará impura”.
(Mt 16:6-12) “Disselhes Jesus: Estejam atentos e tenham cuidado com o fermento dos fariseus e dos saduceus… Então entenderam que não estava lhes dizendo que tomassem cuidado com o fermento de pão, mas com o ensino dos fariseus e dos saduceus”.
(1 Co 5:6) “Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento”.
(2 Tm 2:19) “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade”.
(Jr 15:19) “Portanto assim diz o Senhor… se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca; tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles”.
Felizmente, para qualquer dúvida quanto ao que vem de Deus e o que não passa de pura carne, temos a Palavra de Deus e a obrigação de buscar nela as respostas. Pelo que você descreveu as duas mulheres parecem fazer parte de alguma religião pentecostal.
O movimento pentecostal tem sido um dos maiores inimigos do cristianismo bíblico, por dar mais ênfase e autoridade às sensações do que à própria Palavra de Deus. Quando você confronta a experiência mística ou sensações de um pentecostal com o que a Bíblia ensina, ele irá preferir ficar com a experiência. O catolicismo faz isso com a tradição dos patriarcas (papas), que sempre se sobrepõe à Bíblia quando ocorre alguma discrepância.
Para um pentecostal de nada adiantará você mostrar a Palavra de Deus, porque se ele teve alguma experiência mística irá acreditar no que sentiu e não no que Deus disse na sua Palavra. O problema é que isso lança muitos crentes sinceros, que pertencem a denominações pentecostais, em um terrível lamaçal de incertezas. Por serem sinceros, eles não conseguem ter essas mesmas experiências místicas ou associar alguma experiência emocional como se fosse uma experiência espiritual. Então são tachados de incrédulos ou fracos na fé, ou ainda de pessoas que ainda não têm o Espírito Santo por não terem falado em alguma língua estranha ou passado por alguma espécie de transe.
Quando você substitui o puro evangelho por sensações está substituindo Cristo pelas emoções da carne. Ou seja, se você sentiu emoções, então pode ter certeza de que se converteu; se não sentiu, então deve duvidar da legitimidade de sua conversão. Uma religião assim está mais para o Roberto do que para a Bíblia: “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções que vivi”.
Talvez o maior problema do pentecostalismo esteja em pregar um misto de salvação por fé e obras: você é salva pela fé em Jesus, mas precisará perseverar, se esforçar muito (ou ter experiências místicas) para se manter salva até o final. O pentecostalismo interpreta erroneamente o “quem perseverar até o fim será salvo” do versículo de Mateus 24:13 como salvação da alma, quando ali o assunto todo é de salvação da vida, de se evitar a morte e entrar vivo no reino terrenal de Cristo. A passagem também se refere aos judeus e ao tempo da grande tribulação, uma época quando a Igreja já não estará na terra.
Obviamente, se você perguntar a um pentecostal se ele tem certeza absoluta de sua salvação, ele não poderá dizer que tem. A salvação para ele é uma loteria: se Cristo voltar justo na hora em que estiver fazendo algo de errado, não importa o quão fiel foi até ali: ele está perdido.
Mas, se o pentecostal responder que sim, que está certo de sua salvação eterna, é bem provável que você esteja diante de um hipócrita que se considera justo em todos os seus caminhos. Os fariseus eram bem assim. Considerando que, pela doutrina pentecostal que aprendeu, ele considera que a salvação só será dada a quem perseverar até o fim, sua certeza está em sua própria capacidade de perseverar. Sempre que alguém adota uma posição assim acaba levando uma vida de hipocrisia, querendo parecer ser o que na realidade não é. Podemos enganar os homens, mas Deus não se deixa enganar.
Felizmente a Palavra de Deus diz claramente que o crente já tem sua salvação assegurada no momento em que crê em Jesus, e que o Espírito Santo lhe é dado como a garantia dessa salvação. Se alguém não tem o Espírito, esse tal nem é de Cristo, portanto ainda é um incrédulo perdido. Mas a confusão que o pentecostalismo cria ao interpretar que o recebimento do Espírito se dá por meio de uma experiência mística e sensorial só deixa pessoas na dúvida.
(Jo 5:24) “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”.
(Ef 1:13) “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa”.
(Rm 8:9) “Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”.
Outro grave problema do pentecostalismo é achar que Deus está hoje falando como falava com os profetas do Antigo e Novo Testamento, uma época quando ainda não havia a Palavra de Deus completa como fonte segura de referência para o crente. Então qualquer pentecostal hoje se acha no direito de chegar a você dizendo que “Deus lhe disse isso e aquilo”. Como contestar algo que alguém me diz se ele começa dizendo “Deus me disse para dizer a você isso e aquilo”? Sem qualquer temor, a pessoa usa o nome de Deus em vão para dar peso e autoridade aos seus próprios devaneios.
O problema é que “infelizmente” hoje já não se apedreja os falsos profetas como faziam os israelitas na Lei do Antigo Testamento. Uma vez ouvi o caso de uma “pastora-profetiza” que, durante o culto de sua denominação, apontou para uma moça e disse que o Espírito estava revelando que ela iria se casar com o rapaz na outra fileira (e apontou o dedo para um rapaz). Ao que a moça retrucou: “Mas, pastora, eu já sou casada!”. E a profetiza de araque consertou: “Se não fosse…”.
Quem vive dizendo “Deus me disse isso… Deus me falou aquilo… Deus mandou avisar você que…” não imagina a encrenca em que está se metendo por usar levianamente o nome de Deus e colocar na boca de Deus coisas que não passam de pensamentos e ideias da própria carne.
(Dt 18:20) “Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá”.
Há quem fique reticente na hora de julgar ou duvidar da palavra dessas pessoas, geralmente por ser algum pregador famoso ou um “clérigo” de sua denominação, mas a própria Palavra de Deus nos dá a responsabilidade e autoridade para julgarmos tudo o que é falado em nome do Senhor.
(1 Co 14:29) “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem” [o que foi falado].
(Dt 18:22) “Quando o profeta falar em nome do Senhor, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele”.
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As organizações religiosas não vêm de Deus?
Sim, realmente tudo o que você escreveu aconteceu: várias igrejas locais foram surgindo e todas elas tinham o aval divino para se organizarem. Mas existe uma diferença enorme entre aquela situação e o que vemos hoje. A igreja era uma só, apenas manifestada localmente pelas diferentes igrejas ou assembleias que, evidentemente, não eram independentes entre si e tinham plena comunhão umas com as outras.
Naquele tempo tudo era semelhante ao que é hoje o Exército Brasileiro. Existe um só exército, porém ele está representado localmente em todas as cidades através dos quartéis e “Tiros de Guerra”. Ninguém jamais ousaria fundar outro exército.
Porém o que vemos hoje não são manifestações locais da única e mesma igreja, mas diferentes igrejas independentes, fundadas sobre diferentes fundamentos, lideradas por diferentes homens e até mesmo identificando a si mesmas e aos seus membros diferentemente, cada uma com sua própria denominação. Nem precisamos nos debruçar muito sobre a questão para percebermos que um projeto assim não veio de Deus, mas do homem.
O que fazer numa situação assim? Sair desse “arraial” religioso para voltar aos princípios encontrados no Novo Testamento: estar congregado somente ao nome de Jesus (sem nenhum outro nome ou identidade); ter a ele no centro como motivo de nossa reunião (e não um pregador, uma banda, uma doutrina, etc.) e; livrarmo-nos de qualquer nome ou denominação que nos faça distintos de nossos irmãos salvos por Cristo e nos identifique por uma denominação que não possa ser usada por todos sem distinção.
Para isso primeiro é preciso reconhecer que as divisões criadas pelo homem na forma das diferentes denominações é um pecado do qual Deus não quer que tomemos parte. Mas, antes que nos venha qualquer ideia de “começar algo melhor”, é preciso reconhecer que existe uma igreja da qual todos os salvos fazem parte, mesmo aqueles que não estejam congregados conosco, e em qualquer lugar sempre encontraremos pessoas iguais.
Portanto não se trata de nos livrarmos de alguns erros, mas de abandonar todo o princípio denominacional e sectário que é contrário à Palavra de Deus. É errado cristãos serem deste ou daquele, e mais ainda alguns se acharem como os que são de Cristo, como se os outros não fossem.
(1 Co 1:11-13) “Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido?”.
(1 Co 3:3-4) “Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais?”.
Considerando que todas essas denominações, em maior ou menor medida, têm suas próprias formas de governo e eleição de líderes, precisamos também entender como a liderança local era levantada na igreja no princípio e como deveria ser também hoje.
Se você buscar nas Escrituras sem qualquer preconceito implantado em sua mente pelo denominacionalismo, verá que não podemos ter hoje qualquer indício de uma classe sacerdotal como havia no Antigo Testamento. Hoje cada crente é um sacerdote apto para entrar na presença de Deus sem qualquer intermediário que não seja o próprio Jesus, nosso único e suficiente Sumo Sacerdote. Tendo isto em mente evitamos cair no erro do clericalismo, hoje tão difundido na cristandade, o qual separara os crentes em duas classes: clero (ou liderança) e leigos.
Então nos resta entender a figura do “pastor” evangélico ou “padre” católico, coisas que não encontramos na Palavra. Segundo a Palavra de Deus, pastor é um dom, não um posto de liderança. Por ser um dom, é concedido pelo próprio Senhor, não por uma junta de homens, o mesmo ocorrendo com os dons de mestre ou doutor e evangelista.
(Ef 4:11-12) “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;”.
Desnecessário é dizer que os outros dois dons destinados à edificação da igreja, que são apóstolos e profetas, já não existem por terem sido responsáveis por formar o fundamento ou alicerce.
(Ef 2:19-20) “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; Edificados sobre o fundamento (alicerce) dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina;”.
Hoje estamos na época das pedras que compõem as paredes, não o alicerce. Nestas sim há os dons de pastor, evangelista e mestre atuando, cada um na sua função e de modo universal.
(Ef 2:21-22) “No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito”.
(1 Pe 2:5) “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo”.
Nenhum destes dons (pastores, evangelistas e mestres) é limitado a uma assembleia local, por terem sido dados à igreja como um todo, portanto é errado limitar a atuação de qualquer um deles a uma assembleia local (não existe base bíblica para dizer algo como “o pastor da igreja tal” referindo-se ao dom de pastor). Eles tampouco ocupam um papel de liderança (exceto os anciãos que são chamados de “pastor” em algumas passagens, mas no sentido de presbíteros ou supervisores do rebanho).
Os evangelistas pregam o evangelho aos incrédulos, os pastores apascentam ou cuidam do bem estar daqueles que se tornaram ovelhas de Cristo, e os mestres ou doutores as alimentam com a sã doutrina. Uma bela exposição disso você encontra em Atos 11:20 em diante.
Resta saber o papel dos presbíteros (anciãos) em tudo isso. Estes sim ocupam uma função ou ofício, independente dos dons que possuam, e são funções locais, não universais. Um ancião na assembleia de Corinto não era ancião da assembleia de Éfeso e vice-versa (embora obviamente fossem reconhecidos por seu trabalho local em sua assembleia de origem). É bom lembrar que não existia um único presbítero ou ancião numa localidade, mas a designação sempre aparece no plural: “anciãos”, “presbíteros”, “bispos” — neste caso são sinônimos.
Nas passagens onde você os encontra sendo chamados de “pastores” (Hb 13:7 e 17), também no plural, por sua função ter algumas características de cuidado e pastoreio. A palavra “presbítero” poderia ser traduzida em termos modernos como “supervisor”. Então encontramos “supervisores”, e não “diretores”, nas assembleias bíblicas. Supervisor é quem observa, vigia, acompanha, etc. Diretor é quem dirige, mas ninguém pode querer dirigir o que o Espírito Santo de Deus já faz por ser esta a sua função.
(1 Co 12:11) “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como [Ele, o Espírito, e não um homem] quer”.
(2 Co 3:17) “Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade”.
Alguém que se arvore na condição de “dirigente” dos santos quando estes estão reunidos, dizendo que fulano deve fazer isso, sicrano deve fazer aquilo, beltrano deve fazer aquilo outro, precisa pensar duas vezes no que está fazendo, pois pode estar usurpando uma posição que não lhe pertence. Alguns cristãos erroneamente interpretam a liberdade do Espírito nas reuniões como o líder ou “pastor” distribuir tarefas durante o culto, mas isso nada tem a ver com a liberdade e direção do Espírito. Trata-se de um homem fazendo um papel que não é dele.
Você encontra na Palavra de Deus três indicações para se chegar ao posto de presbítero, ancião ou bispo, o que é a mesma coisa e deve ser entendida como uma função de supervisão. Primeiro há o desejo por este trabalho:
(1 Tm 3:1) “Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja”.
A passagem continua falando dos atributos morais e pessoais de quem almeja essa posição: irrepreensível (idôneo), monogâmico, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar, não dado ao vinho, não espancador, não ganancioso, moderado, não contencioso, não avarento (que adora dinheiro), bom pai de família, não neófito e com bom testemunho entre os incrédulos também. Enfim, alguém de reputação sem mancha. Obviamente não é o caso dos muitos que se intitulam a si mesmos “bispos” que vemos hoje na cristandade.
Mas não bastava desejar tal posição e ter uma boa reputação: era preciso ser indicado para o cargo. Então aí entra a passagem de Tito que você citou, mas não a outra (1 Tm 4:13-14) que não se trata de delegar tal ofício ao jovem Timóteo, mas sim de animá-lo a exercer o seu dom. Lembre-se, dom é uma coisa, ofício é outra. Ficamos, portanto, com Tt 1:5
“Por esta causa [eu, Paulo] te deixei em Creta, para que [tu, Tito] pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade [tu, Tito] estabelecesses presbíteros, como já [eu, Paulo] te mandei [a ti, Tito]”.
Não me lembro de outra passagem na Bíblia que fale de alguém estabelecendo presbíteros nas assembleias. Agora observe a passagem e responda a estas perguntas: Quem ordenou o estabelecimento dos presbíteros de cidade em cidade? A quem foi dada esta ordem? Se você respondeu “Paulo” e “Tito”, acertou. Trata-se de uma ordem direta de um apóstolo a uma pessoa de nome Tito, e não de uma instrução geral do tipo: “irmãos, estabeleçam presbíteros de cidade em cidade”.
Portanto, o que temos na passagem é uma autoridade apostólica (Paulo) delegando um poder ou autoridade a uma pessoa. Trata-se de uma procuração com dois nomes nela, Paulo e Tito, mais ninguém. Acho que você já entendeu que qualquer outro que queira se apropriar deste poder está indo além do teor dessa procuração. Paulo não está mais entre nós, e tampouco estão os outros apóstolos, portanto ninguém mais tem tal “procuração” para sair por aí estabelecendo presbíteros.
Mas será que isto quer dizer que hoje não existem mais presbíteros? Ao contrário, eles continuam existindo sim, porque há outra forma de serem estabelecidos. É aí que entram as instruções de Paulo para um tempo que viria depois de sua partida, em Atos 20:17 em diante:
(At 20:28) “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o espírito santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue… Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a deus e à palavra da sua graça; a ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados”.
Aqui você encontra que foi o Espírito Santo quem constituiu aqueles bispos (ou presbíteros ou anciãos, que é a mesma coisa), e que após sua partida Paulo não os encomendava a algum outro apóstolo para ocupar seu lugar, mas a Deus e à Palavra. Hoje não temos mais Paulo e os outros apóstolos, mas continuamos a ter o Espírito, Deus e a Palavra.
Resumindo o que escrevi até aqui, temos pessoas que almejam o ofício de presbítero, temos Paulo designando particularmente Tito para uma missão específica, e temos presbíteros constituídos diretamente pelo Espírito Santo. São estes os presbíteros que temos hoje, e não os designados por Tito por delegação de Paulo.
Alguém que é levantado pelo Espírito não é designado, eleito ou ordenado por um homem ou por uma junta de homens. Portanto, embora ele possa até sentir que a si cabe tal responsabilidade, mas não pode ser ordenado como tal porque ninguém hoje tem autoridade para tanto. Ele pode, porém, ser reconhecido pelos irmãos de sua localidade como alguém que demonstra responsabilidade pela supervisão (“presbitério”) do rebanho. Eu reconheço irmãos que fazem tal trabalho, mas não os chamo de “bispos”, “presbíteros” ou algum título, porque fazer isso seria até pretensão, e vou explicar a razão.
Você sabe que biblicamente as assembleias ou igrejas eram distribuídas por localidades geográficas (não por diferentes denominações). Então havia a igreja (a mesma igreja de Deus) que estava em Corinto, que estava em Éfeso e assim por diante. Hoje continua do mesmo jeito. Deus reconhece a sua igreja que está na cidade “A”, que está na cidade “B” e assim por diante. Nem preciso dizer que Deus não reconhece denominações, pois não há fundamento bíblico para tal. Muito bem: quem são os presbíteros da cidade “A”? Todos aqueles crentes na cidade “A” que o Espírito Santo constituiu para supervisionarem o rebanho de Deus que fazem parte da igreja de Deus que está na cidade “A”.
Quando você entende isto, acaba percebendo que seria muito orgulho e pretensão uma pequena parcela dos crentes da cidade “A” — constituídos como uma comunidade, denominação ou mesmo reunidos somente ao nome do Senhor — decidir eleger alguns de seu grupo como os presbíteros da cidade “A”. E os outros?
Espero que isto lhe dê uma visão clara de como é o governo estabelecido por Deus para a sua igreja, algo muito diferente daquilo que você encontra nos milhares de sistemas ou organizações religiosas que os homens criaram e denominaram segundo seus próprios caprichos.
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O arrebatamento vem sem sinais?
Muitas pessoas estranham quando ouvem dizer que não há qualquer sinal ou evento precedente ao arrebatamento. A alegação de muitos é a mesma que você colocou: Se Jesus prometeu que os que cressem nele teriam sua fé acompanhada de sinais e maravilhas, por que estas coisas não fariam parte da vida daqueles que serão arrebatados?
O grande problema do modo como muitos cristãos encaram os sinais é que fazem isso de uma maneira egoísta. Isto é, a pessoa acha que ao crer em Cristo irá adquirir superpoderes como um personagem X-Men dos filmes e gibis. Isso é a carne querendo ser alguém nesta vida, ao invés de viver uma fé constante e focada em Jesus, para que seja ele o centro das atenções.
É claro também que esses cristãos obcecados por sinais não percebem que os sinais que vemos nos evangelhos ou em Atos não eram para benefício da pessoa que os praticava, mas para os outros. Jesus não precisava de milagres para si e nem os praticou quando passou fome no deserto quando foi tentado. O sussurro de Satanás ainda ecoa nos ouvidos de muitos crentes hoje: “… dize a esta pedra que se transforme em pão… dar-te-ei a ti todo este poder e sua glória… lança-te daqui abaixo…” Lucas 4.
A atual ocupação de cristãos com sinais e maravilhas nada tem a ver com o benefício de outros ou a glória de Deus, mas com a própria glória. Nada mais é do que sede de poder e influência sobre as pessoas. Se estivéssemos satisfeitos em ter a Jesus e nos ocupássemos mais com o Deus dos sinais, não ficaríamos tão obcecados pelos sinais de Deus. Mas vamos à passagem que citou:
(Mc 16:15-18) “E disselhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão”.
É importante entender quando e para quem uma ordem foi dada. É o caso aqui: o Senhor morreu e ressuscitou, reencontrando seus discípulos antes de subir ao céu. Naquele momento eles eram judeus que deviam pregar as boas novas a toda criatura, batizar as pessoas e provar que aquilo vinha de Deus por meio de sinais e milagres.
Querer fazer daquela capacidade algo para si mesmo seria fazer o que Tiago e João fizeram um tempo antes: (Lc 9:54-55) “E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez? Voltando-se, porém, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois”.
Os apóstolos e discípulos ainda não eram membros do corpo de Cristo, a Igreja, algo que só seria criado mais tarde (Atos 2), portanto estavam ali no mesmo caráter em que estarão os judeus fiéis que se converterão após o arrebatamento e sairão pelo mundo pregando.
Mesmo quando a igreja foi criada, os primeiros discípulos do Senhor tinham uma mensagem muito específica aos judeus, que eram os primeiros que Deus queria alcançar. Então no início os vemos concentrados na pregação aos judeus e até mesmo colocando dúvidas e empecilhos quando alguns gentios passaram a fazer parte da igreja.
Havia uma distinção no modo como judeus e gentios receberiam a mensagem. Os judeus eram pragmáticos, deviam ver para crer. Os gentios, vindos de uma cultura influenciada pelos gregos, estavam mais interessados em sabedoria, todavia sabedoria humana. É disso que Paulo fala aqui:
(1 Co 1:22-23) “Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos”.
Está bastante claro para mim que os sinais que foram dados no início tinham por objetivo provar aos judeus que aquilo era uma obra de Deus. Esta foi a tônica do discurso de Pedro aos judeus de várias nações que estavam em Jerusalém, pois o próprio Jesus tinha entrado em cena acompanhado de sinais e maravilhas:
(At 2:22) “Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis;”.
Os sinais e milagres oferecidos aos judeus tinham também um respaldo profético, e tanto serviam para comprovar para eles que Deus estava fazendo uma obra, como para aumentar sua responsabilidade caso não cressem:
(1 Co 14:21) “Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo (os judeus); e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor”.
Mas sua dúvida foi mais específica, ou seja, por que o arrebatamento não depende de sinais prévios para acontecer, enquanto a vinda de Cristo para Israel será precedida de sinais e eventos catastróficos. Bem, creio que o que escrevi já responde a boa parte ou talvez a totalidade de sua dúvida.
Na vinda de Cristo o Senhor vem para Israel e isso trará também uma convulsão ao mundo e aos poderes estabelecidos, porque Israel é o seu povo terreno. Em sua vinda para a igreja, no arrebatamento, ele vem tirar do mundo os que não são do mundo e para os quais preparou um lugar no céu. Não há razão para mexer nas coisas daqui quando o objetivo é nos levar para lá. Em sua vinda para Israel ele vai estabelecer o seu Reino, portanto nada mais natural que tudo seja demolido antes de ser reconstruído.
É claro que podemos notar que o palco está sendo montado para a peça, com alguns cenários sendo construídos e os atores fazendo o aquecimento. Mas a peça mesmo só começa quando a Igreja sair do teatro. Se Paulo aguardasse por qualquer coisa para ocorrer antes de ser arrebatado, ele certamente não diria “nós, os vivos… seremos arrebatados”.
Paulo tinha discernimento espiritual suficiente para saber que afirmações como “este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt 24:14) não podia se referir a um evento precedente ao arrebatamento, porque levaria anos até que todos escutassem a mensagem. Além disso, Paulo não tinha essa obsessão por sinais e maravilhas que muitos cristãos, principalmente pentecostais, hoje têm .
(Rm 8:24-25) “Porque em esperança fomos salvos. Ora a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos”.
Quem precisa “ver para crer”, ou vive embasbacado de interesse por conspirações de sociedades secretas ou “illuminati” querendo dominar o planeta, datas do fim do mundo, invasões alienígenas, catástrofes atômicas e ambientais, ou profecias maias, precisa rever sua expectativa da vinda do Senhor. Afinal, o que essa pessoa espera: pela Pessoa de Jesus ou por um circo de atrações hollywoodianas?
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O Dalai Lama será salvo?
Você viu meu vídeo “O caminho” e sua dúvida é se o Dalai Lama será salvo. Sim, o Dalai Lama será salvo, desde que creia em Jesus como seu Salvador. Embora apenas Deus conheça o coração do homem, ao que tudo indica o Dalai Lama ainda não creu no Salvador, e isto se deduz de sua permanência na religião budista tibetana (uma das muitas correntes do budismo).
Não é simples analisar o budismo, pois assim como aconteceu com o cristianismo, o budismo descambou em tantas crendices e diferentes formas de idolatria que hoje qualquer ocidental menos avisado poderá achar uma maravilha seguir sua versão diluída e adaptada ao gosto ocidental.
Além disso, hoje é “in” dizer que é budista, graças aos livros como “Comer, Rezar e Amar”, que servem uma salada de budismo, hinduísmo e outros ismos. Ai daquele que ousar dizer que as celebridades que adotam tais crenças estão erradas. Por outro lado, é “out” dizer que é cristão ou “crente”, graças aos mercadores da fé que vendem suas soluções milagrosas no rádio e TV.
Basicamente há duas correntes maiores no budismo, uma mais antiga e tradicional, e uma moderna e liberal. É preciso lembrar também que o budismo se misturou ao hinduísmo em alguns países.
Cristãos que “namoram” o budismo do Dalai Lama realmente não conhecem a Bíblia ou o cristianismo bíblico. Talvez você não saiba, mas nos anos 70 eu peregrinei pelas crenças espiritualistas. Antes de minha conversão a Cristo, quando andava metido em espiritualismo, o budismo estava em minha prateleira de energéticos religiosos. Ele ficava ao lado de outras drogas (no sentido medicinal) como hinduísmo, espiritismo, teosofia, xintoísmo, etc.
Sidarta Gautama (o Buda) estava entre os ídolos que eu prezava, um nível acima de John Lennon (“Imagine”) e ao lado de outros “espíritos elevados”, como Madame Blavatsky, Carlos Castañeda, Sri Aurobindo, Alan Kardec, Swami Prabhupada, Krishnamurti, Masaharu Taniguchi, George Ohsawa, Ellen G. White, Michel Quoist, Erich von Däniken, Pietro Ubaldi, Saint Germain, Huberto Rohden, Khalil Gibran, Hermógenes, Louis Pawels, Jaques Bergier, Lobsang Rampa, Tomio Kikuchi, J. J. Benitez, Lao-Tzu, Rudolf Steiner e outros. Nessa época eu tinha Jesus na mesma prateleira dos “espíritos elevados” ou “evoluídos”, antes de transferi-lo para seu lugar de Senhor em meu coração.
Na época eu lia religiosamente (é até gozado falar “religiosamente”) todos os exemplares da revista “Planeta”, comia só macrobiótica e me fantasiava de humilde, vestido num camisão feito de pano de saco de farinha, jeans surradas e sandálias monásticas. Uma bolsa de lona com um pão integral dentro completava minha santa, piedosa e desprendida aparência.
Quando me converti (em 1978) dei uma verdadeira cambalhota e entendi a grande diferença entre o verdadeiro cristianismo bíblico e aquela bobagem toda que me fez vagar no limbo da incerteza por alguns anos. Tinha uma biblioteca considerável desses autores, mas minha conversão não apenas me tornou uma nova criatura em Cristo Jesus, como também deu aos livros um novo destino. Como na época a reciclagem ainda não era moda, hoje eles ocupam um estrato profundo do solo de algum lixão no Guarujá, onde morava quando me converti.
Mas vamos aos fatos: o budismo é totalmente incompatível com o cristianismo por negar justamente sua essência: DEUS. Apesar de você encontrar similaridades, como o amor e respeito ao próximo, na essência as duas coisas não têm nada em comum. Não existe Deus no budismo. Alguém poderá contestar talvez por estar seguindo uma corrente moderninha da crença, mas se pesquisar a fundo irá ver que é isso mesmo.
Além disso, o budismo tradicional não inclui coisas como fé, adoração, oração, louvor, perdão de pecados e outras coisas tão comuns a uma civilização judaico-cristã. Obviamente, como eu já disse, o budismo original descambou em inúmeras crenças e hoje você encontra até divindades budistas e o próprio Sidarta Gautama sendo considerado um deus onisciente por alguns de seus seguidores.
Por outro lado, toda a fé cristã está concentrada na crença básica de que existe um Deus Criador e pessoal, isto é, capaz de interagir com os seres humanos. O budismo não tem nada a ver com Deus, portanto qualquer pessoa que diz crer em Deus não é budista, e vice-versa. Este é um grande problema nos países orientais, principalmente em momentos trágicos como o do tsunami no Japão.
Qualquer ocidental, criado numa cultura judaico-cristã, que se visse livre da tragédia poderia dizer “graças a Deus”; se tivesse perdido tudo e todos, poderia clamar “meu Deus, me ajude!”; se tivesse esperança de recomeçar, poderia dizer “Se Deus quiser… com a ajuda de Deus…”. É assim que fazemos, nem tanto por fé pessoal, mas até por bagagem cultural. Mas já é um conforto.
Agora pense em um japonês budista e no quanto ele está sozinho nessa hora. É claro que estou falando do budismo original, e não da versão tibetana do Dalai Lama ou “lamaísmo”, que é cheia de divindades, espíritos, ídolos e pequenos deuses. Basta ler um pouco sobre aqueles monastérios tibetanos para ver o quanto estão imersos em superstição e demonismo.
Há muitas outras diferenças. O budismo crê na reencarnação, a Bíblia diz que “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9:27).
O budismo acredita no carma, que mal traduzido seria uma ideia de pecados, e que é possível desfazer-se deles por meio de muitas reencarnações e pelo esforço individual. No cristianismo o homem é pecador e não há nada que ele próprio possa fazer para se livrar desse estigma. Assim como a justiça humana demanda uma pena ou juízo para o infrator, a justiça divina é mais que perfeita neste sentido. Ninguém escapa do juízo de Deus, a menos que o próprio Deus forneça um réu substituto, que foi exatamente o que fez ao enviar o seu Filho para pagar o preço devido pelo pecador. Jesus sofreu, na cruz, o juízo divino contra o pecado. Para entender melhor como Deus pode ser justo e misericordioso ao mesmo tempo, sugiro que leia o texto “Um Deus Justo e Salvador” por J. N. Darby.
(Rm 5:18-19) “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos”.
Porque Jesus morreu para cumprir as exigências da justiça divina, agora Deus oferece o perdão completo (tipo anistia ampla, geral e irrestrita), mas apenas àqueles que aceitam o Filho de Deus como Salvador e sua morte na cruz como a obra consumada ou acabada (ou suficiente) para atender as demandas de Deus. Isso inclui o Dalai Lama, se ele crer. Aquele que crê recebe o perdão completo, e aí vem um detalhe importante.
O cristianismo prega a graça, que é o favor imerecido (independente de nossas obras) que Deus disponibiliza para os que creem. Deus perdoa o pecador. No entanto, as crenças reencarnacionistas falam muito de perdoar o próximo, porém eliminam qualquer ideia de que Deus, o principal ofendido, possa perdoar alguém (isso quando creem na existência de Deus). Isso cria uma situação constrangedora para os reencarnacionistas, que transformam Deus em algo menor que os homens. O homem, apesar de todas as suas imperfeições, seria capaz de perdoar. Deus não.
A meta do budista é alcançar o Nirvana, que é mais um estado ou condição do que um lugar específico. Seria a condição ideal, quando o budista que fez a lição de casa durante uma infinidade de reencarnações se veria livre do ciclo de reencarnações para desfrutar de um estado de descanso completo.
A Bíblia ensina que depois da morte vem o juízo, a menos que se creia em Jesus para ser salvo. Antes que me pergunte se antes de Cristo também existiam pessoas que morreram crendo em Jesus, a resposta é sim. Elas morreram crendo que Deus iria prover um sacrifício eficaz para salvá-las, nós hoje cremos que Deus já proveu. Aqueles morreram crendo no Cordeiro de Deus, sem saber quem seria. Nós temos o privilégio de saber.
A Bíblia ensina que depois virá a ressurreição, indo os ressuscitados salvos para a presença de Deus eternamente, e os condenados para o fogo eterno, um lugar de terrível solidão em meio às trevas (esqueça aqueles infernos de gibi, com um monte de gente conversando e um diabo sentado num trono).
Outro detalhe importante é que no Nirvana não existe a individualidade, enquanto a Bíblia ensina que as pessoas que estiverem no novo céu, na nova terra ou no lago de fogo (os lugares do estado eterno segundo a Bíblia) continuarão existindo como indivíduos. E mesmo antes que esse estado eterno seja estabelecido, ninguém volta ao mundo com uma identidade diferente (como acreditam os reencarnacionistas). Embora não se trate de uma suposta reencarnação, no monte da transfiguração os discípulos viram Moisés e Elias, os mesmos do Antigo Testamento, com suas identidades preservadas séculos depois de terem partido deste mundo.
Creio que não precisaremos nos aprofundar mais no budismo para sabermos que nada tem a ver com o cristianismo. Eu não preciso beber um litro de vinagre para saber que é vinagre. Basta ler o rótulo, e o rótulo do budismo deixa claro que sua essência, ingredientes e objetivos são completamente diferentes do que a Bíblia ensina. Aliás, são completamente antagônicos.
Quando nos deparamos com versículos da Bíblia que falam da exclusividade da salvação em Cristo, isso parece dar uma bofetada em nossa mente politicamente correta, a qual prevê a inclusão e a aceitação de todas as crenças. Mas isso é o mesmo que alguém dizer que todos os resultados são válidos para o prêmio da loteria. Não são. Quando uma coisa é certa, a outra é errada.
Alegar que todas as religiões levam a Deus é, antes de tudo, uma alegação soberba. Quem pode dizer que conhece todas as religiões para alegar tal coisa? E se todas as religiões levassem a Deus, não seria este também um caminho exclusivista? Quero dizer, se a pessoa não estivesse em uma dessas “todas religiões” ela estaria excluída.
O que diz a Bíblia? Que só em Jesus há salvação, quer a gente goste, quer não. Se o Dalai Lama crer que é um pecador necessitado de salvação, e que não há nada que ele possa fazer para mudar isso, a menos que creia que Jesus veio pagar por seus pecados, então ele será salvo. Mas aí ele automaticamente irá refutar sua crença no budismo e precisará passar uma borracha em muito do que escreveu. E, o que é pior, ele precisará abrir mão de ser o Dalai Lama! O título é algo com um “Sumo Pontífice”, algo inconcebível no cristianismo que já tem o seu “Sumo Pastor” ou “Sumo Sacerdote”: Jesus.
Veja algumas passagens que falam do “exclusivismo” de Jesus como único Caminho:
(Mt 7:26-27) “E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compara-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda”.
(Jo 5:22-24) “E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo; Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou. Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”.
(Jo 8:12) “Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”.
(Jo 14:6-7) “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto”.
(At 4:12) “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.
(1 Tm 2:5-6) “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo”.
(1 Tm 4:10) “Porque para isto trabalhamos e lutamos, pois esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis”.
(Cl 1:19-22) “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis,”.
Se todos os caminhos levassem a Deus, não haveria necessidade de Paulo exortar as pessoas a se converterem ao Deus vivo, como fez nesta ocasião:
(At 14:15) “E dizendo: Senhores, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões, e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu, e a terra, o mar, e tudo quanto há neles;”.
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Se não permanecer na fé perco a salvação?
Sua dúvida está em três versículos que aparentemente diriam que um crente em Jesus poderia perder sua salvação: Colossenses 1:1-23, Hebreus 6:4-6 e Hebreus 10:26-31. Não há como negar que são passagens que podem criar dúvidas, mas o que será que elas querem dizer:
(Cl 1:23) “… se é que permaneceis na fé, fundados e firmes, não vos deixando apartar da esperança do evangelho que ouvistes, e que foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, fui constituído ministro”.
Outra passagem parecida com esta é:
(1 Co 15:1-2) “Ora, eu vos lembro, irmãos, o evangelho que já vos anunciei; o qual também recebestes, e no qual perseverais, pelo qual também sois salvos, se é que o conservais tal como vo-lo anunciei; se não é que crestes em vão”.
Para entender esta passagem, primeiro precisamos lembrar que existem afirmações claras na Palavra, como a do Senhor em João 10:28-29 que não dependem de interpretação:
(Jo 10:28-29) “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”.
Neste “ninguém” inclua o próprio crente. Muitas vezes a Palavra de Deus nos dá uma promessa que é garantida, mas ao mesmo tempo revela o que aconteceria se estivéssemos fora dessa promessa, porque é algo realmente óbvio e necessário de sabermos.
Um alerta faz mais sentido ainda se considerarmos que entre os cristãos colossenses e de outras assembleias onde essas cartas eram lidas, poderiam existir pessoas que apenas professavam crer, porém que ainda não eram convertidas de verdade. Esta é uma realidade em todos os lugares.
Mas e quanto ao convertido de verdade? O convertido pode sim cair, mas a diferença é que ele não fica caído. (Pv 24:16) “Porque sete vezes cai o justo, e se levanta; mas os ímpios são derribados pela calamidade”.
Considerando a segurança que Deus nos dá em João 10 e outras passagens, eu entenderia a passagem de Colossenses mais ou menos assim, com se fosse o aviso do piloto durante o voo:
“Senhores passageiros, chegaremos ao nosso destino, se vocês permanecerem dentro do avião”.
Há duas coisas que precisam ser consideradas nesse aviso aí:
1. Quem for passageiro de verdade não vai querer de jeito nenhum sair do avião.
2. Mesmo que tentasse fazê-lo, o piloto e os comissários não permitiriam.
Sua salvação é o avião, não há mais como escapar disso. Você só conseguiu entrar porque o piloto deixou, e só pode sair se o piloto permitir, o que ele não pretende fazer. Mas não deixa de ser verdade que “se” você conseguisse escapar, então estaria perdido. A questão é que é impossível você escapar. Suponha que durante o voo você pergunte ao piloto em que ponto do voo você pode saltar. A resposta será “nunca!”.
Lembre-se de que no nosso caso o PILOTO é Jesus. Os versículos a seguir revelam onde está a segurança do crente. Não em si mesmo, óbvio, achando que irá se manter firme sempre, mas no Senhor, que é o Salvador e Pastor das ovelhas, e no Deus Pai, a quem pertence cada ovelha, até a mais fraquinha. Lembre-se de que Pedro tinha tudo para ter se perdido. Quer coisa pior do que mentir e negar o Senhor para se proteger?
(2 Ts 3:3) “Mas fiel é o Senhor, o qual vos confirmará e guardará do maligno”.
(1 Co 1:8) “o qual também vos confirmará até o fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo”.
(2 Pe 1:10) “Portanto, irmãos, procurai mais diligentemente fazer firme a vossa vocação e eleição [estas coisas vêm de Deus, não de nós]; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis”.
Quanto às passagens em Hb 6:4-6 de Hb 10:26 que citou, você e eu conhecemos o nome de uma pessoa como a que é descrita ali. Alguém que teve todas as oportunidades, professou crer, desfrutou dos privilégios de alguém que conhece o Senhor, mas nunca o conheceu de fato. Judas! É desse tipo que o texto está falando. Não está falando de pessoas genuinamente convertidas, e a conclusão no versículo 39 deixa isso bem claro:
(Hb 10:39) “Nós, porém, não somos daqueles que recuam para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma”.
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A segurança da salvação depende de mim?
Recebi o link que você enviou para eu visitar o texto intitulado “Segurança da salvação”. Depois de ler, vi que você indica como fonte (não sei se em parte ou no todo) a “Bíblia de Estudo Pentecostal”, o que só confirma a opinião que tenho sobre as más doutrinas pregadas pelos pentecostais.
O texto já começa negando a própria Bíblia, ao citar o versículo de 1 Jo 5:13 para depois afirmar que João “não declara em parte alguma da carta que uma experiência de conversão vivida apenas no passado proporciona certeza ou garantia da salvação hoje”. (grifo meu). Ora, só podemos ter uma experiência de conversão, e ela é no momento em que o Espírito de Deus nos incutiu nova vida, convenceu-nos do pecado e nos levou a crer no Salvador. Se não for essa “experiência de conversão” que me tornou salvo, qual será então?! Em seguida o autor martela a sentença final: “Supor que possuímos a vida eterna, tendo por base única uma experiência passada, ou uma fé morta, é um erro grave”.
Não imagino quem seja o autor dos comentários da tal Bíblia de Estudo Pentecostal, mas certamente ele não crê na Palavra de Deus. Por quê? Ora, o próprio João está afirmando que escreveu sua epístola para dar a certeza da salvação aos que um dia foram salvos pela fé em Cristo e em seu sacrifício único na cruz. “Estas coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna e para que creiais no nome do Filho de Deus.” (1 Jo 5:13) Imagine alguém chegar para João e dizer: “Puxa, João! Que ótimo o que você escreveu! Agora sei que tenho a vida eterna!” Então João responderia: “Não, meu amigo, você entendeu mal: eu escrevi para você saber que tem a vida eterna, mas só quando você tiver alguma outra experiência que não seja sua experiência passada de conversão”.
Então vem o resto do texto onde o autor segue tentando desconstruir a certeza que João dá aos que creram em Jesus e isso só deixa claro que enquanto o cristianismo tiver o pentecostalismo como amigo, não irá precisar de inimigos. O texto mostra 9 maneiras de sabermos que estamos salvos, o que na verdade coloca 9 dúvidas para tornar miserável a vida de um crente sincero que acredite no que o autor escreve ali. Aliás, 8, porque a única declaração correta é a primeira, onde ele diz que temos a certeza da vida eterna quando cremos “no nome do Filho de Deus”.
Quem escreveu os comentários dessa Bíblia de Estudo Pentecostal teria feito um grande favor se tivesse parado de escrever neste ponto. Mas infelizmente ele continuou e destruiu aquilo que é justamente o que diferencia o cristianismo de todas as religiões: a salvação (e a certeza dela) unicamente pela fé na Pessoa e obra de Cristo. Vamos aos outros itens.
Em seu tópico número 2 ele diz: “Temos a certeza da vida eterna quando… guardarmos os seus mandamentos”. O autor não entendeu que a vida eterna é a vida que vem de Deus e concedida àquele que nasceu de novo, nasceu de Deus. Essa nova vida é perfeita aos olhos de Deus e não poderia fazer outra coisa, a não ser guardar os mandamentos. Mas o velho homem, ou a carne ou velha vida que temos em nós (que é chamada de morte na Bíblia) é incapaz de guardar qualquer mandamento que seja. Foi isso que a Lei mosaica provou.
O autor continua com o tópico 3: “Temos a certeza… quando amamos o Pai e o Filho, e não o mundo”. Mais uma vez o autor falha no entendimento do que é ser nova criatura. A velha natureza que permanece em nós depois da conversão continuará amando o mundo, infelizmente, e não há como mudar isso a não ser que andemos na nova vida. Não é deixar de andar na carne, mas andar no Espírito; não é tentar fazer o velho homem adotar novos padrões de vida, mas considerá-lo como ele é — morto — que não cumpriremos suas concupiscências!
(Gl 5:16-17) “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei”.
Para não me alongar, nos outros tópicos, vou resumir. Ele continua dizendo que “temos a certeza da vida eterna quando… praticamos justiça, e não pecamos; quando amamos os irmãos; quando estamos conscientes da habitação do Espírito Santo; quando nos esforçamos para seguir o exemplo de Jesus e viver como ele viveu; quando permanecemos na Palavra; quando sentimos um desejo intenso e inabalável pela volta de Jesus”. A lista, com vários versículos, a maioria fora do contexto, termina com “Aquele que perseverar até o fim será salvo” (em seu contexto este versículo de Mt 24:13 está falando de salvação para entrar no Reino vivo, sem morrer durante a grande tribulação — é salvação do corpo, não eterna).
A lista do autor nada mais é do que uma Lei disfarçada: se fizer isto, aquilo e mais aquilo outro, então você pode ter a certeza da vida eterna. Ora, a menos que eu seja um grande hipócrita, nunca poderei ter certeza alguma, porque quem jamais poderia afirmar que pratica a justiça, não peca, ama os irmãos, vive como Jesus viveu e deseja a vinda do Senhor 24 horas? Se não entendermos que o novo homem, nascido de Deus, já vem com todos esses predicados, e seria impossível ser diferente (e João fala do novo homem em sua carta), vamos passar o resto da vida tentando ser salvos, algo que a Lei já mostrou ser impossível.
O texto é o típico caso do barqueiro que joga a âncora para dentro do barco, tentando encontrar em si alguma segurança e certeza. Não, a âncora precisa ser lançada fora do barco, é fora de nós que está a certeza e a segurança de vida eterna — é em Cristo que nossa âncora precisa estar. Tudo o que vemos é a corda, a fé que nos diz que lá no fundo estamos bem ancorados na Rocha, e não em nós mesmos. A âncora daquele que crê em Cristo está no céu, firme naquele que não pode falhar, e não em nós mesmos, sujeitos a tantas falhas.
(Hb 6:18-20) “Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta; A qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até ao interior do véu, Onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque”.
Rogo que leia os excelentes “Segurança, Certeza e Gozo da Salvação Eterna”, “As 2 Naturezas no Crente” e também “Nunca!” que você encontra facilmente fazendo uma busca na Internet. Sem estes textos os meus comentários ficarão incompletos, já que não apresentei muitas bases bíblicas aqui para não me alongar demais. Os textos complementares falam por si.
Enquanto isso dê um fim nessa “Bíblia de Estudo Pentecostal” porque ela traz veneno misturado com alimento. Lembre-se de que veneno de rato é 99% milho e 1% estricnina, o suficiente para matar. É triste quando se usa uma Bíblia para insinuar doutrinas errôneas e malignas. Lembre-se também de parar de olhar para si na busca por algum sinal de que esteja salvo eternamente, a menos que goste de ser hipócrita e fazer pose de salvo por suas próprias obras. Você não vai encontrar essa segurança em si mesmo ou no seu modo de andar, mas só em Cristo e naquilo que ele já fez de uma vez por todas.
O pentecostalismo prega um evangelho de salvação por obras e perseverança, por isso fica até difícil você pregar esse tipo de evangelho para uma pessoa e dizer a ela que a salvação está em Cristo, e é pela fé nele e em sua obra que a pessoa será salva. O que você dirá se ela perguntar se você tem certeza da sua salvação? Baseado na lista que o autor deu, se afirmar que sim, estará sendo hipócrita e mentiroso, porque tenho certeza de que você não seria capaz de assinalar todos os itens como missão cumprida. Se disser que não tem certeza porque ainda está fazendo a lição de casa, o outro poderá argumentar: “Então volte a falar comigo quanto tiver essa certeza, porque como quer que eu acredite em algo que nem você está seguro se vai funcionar para você no final?”.
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Os mortos estão dormindo?
Quando a Bíblia fala em “dormir” ou “sono” referindo-se a pessoas que morreram, existem duas situações: Algumas passagens tratam os salvos que faleceram como estando “dormindo”, enquanto para os incrédulos geralmente a expressão usada é que morreram.
Outra situação é quando o objetivo da passagem é demonstrar a relação do morto com esta vida, ou seja, para o observador que ainda está vivo neste mundo, o que morreu está dormindo, isto é, não está ativo e participante das coisas que ocorrem debaixo do sol como quando estava vivo. Na Bíblia é importante entender o ponto de vista de onde o observador vê a coisa. Por exemplo, dizemos que o sol se põe no horizonte, quando na verdade o sol continua no mesmo lugar, e foi a terra que girou.
Eu diria que suas afirmações, de que todos ficarão dormindo até a ressurreição, estão equivocadas. O fato alegado por você, de que a Bíblia não diz que Lázaro foi para o céu enquanto esteve morto, não significa que ele tenha estado dormindo esse tempo. A Bíblia não diz pois o assunto não era esse, e sempre que o assunto não é o ponto principal a Bíblia omite a informação. Por exemplo, onde Jesus esteve até começar seu ministério? A Bíblia não diz pois não interessa ao contexto do que Deus quer nos mostrar. Usando seu argumento alguém poderia dizer que ele esteve dormindo.
Quando Jesus fala do rico e de Lázaro, o rico está bem acordado e conversando, mesmo estando no hades (o lugar dos mortos). Não me parece que ele esteja dormindo ali. Veja se tem alguém dormindo nestas cenas do além-vida:
(Lc 16:22-24) “E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno [hades], ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama”.
Uma pessoa em estado de “sono da alma”, como dizem alguns, não seria capaz de erguer os olhos, sofrer, ver, clamar e dizer coisas. Nos versículos que se seguem vemos uma conversação rolar ali que somente alguém bem acordado e consciente seria capaz de ter. Semelhante caso você encontra na cena dos mortos de Apocalipse:
(Ap 6:9-10) “E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”
Quando o Senhor é transfigurado no monte, surgem ao lado dele dois homens do Antigo Testamento, Moisés, que morreu e cujo corpo Deus escondeu, e Elias, que não morreu, mas foi arrebatado ao céu. Os dois estão falando com Jesus e os discípulos os identificam como pessoas conscientes (eles provavelmente estavam em pé), e não como sonolentos. Os discípulos imediatamente sugerem fazer três tendas, uma para Jesus, uma para Moisés e outra para Elias, e não uma tenda para Jesus e duas camas, para Moisés e Elias.
(Mt 17:3) “E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele”.
A partida de um salvo deste mundo é também a certeza de sua entrada na companhia de Cristo para desfrutar dessa companhia, o que obviamente não se faz dormindo. Paulo fala de sua morte como estar com Cristo, e não faria sentido toda essa excitação pela partida se estivesse pensando em dormir pelos dois mil anos que se seguiriam:
(Fp 1:23-24) “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor”.
A passagem que iniciou nosso diálogo em outro e-mail também fala desse estar com Cristo:
(Lc 23:43) “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”.
Sua afirmação de que “a bíblia afirma que o morto não tem consciência alguma do que acontece na terra ou no céu” é equivocada e distorcida, porque você introduziu “no céu” por conta própria. O versículo não fala de céu, mas de terra, por isso usa a expressão “debaixo do sol”:
(Ec 9:5-6) “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento. Também o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma para sempre, em coisa alguma do que se faz debaixo do sol”.
Talvez você seja Adventista do Sétimo Dia, e se for, há muitos motivos para rever o que aprendeu nessa denominação. O Adventismo segue os ensinos de uma mulher, todavia a Palavra de Deus proíbe a mulher de ensinar justamente por ela estar sujeita ao erro e sob a ameaça constante de Satanás. Isso ficou estabelecido em Gênesis 3:15 — “E porei inimizade entre ti e a mulher” — e não mudou até hoje. Pela mesma razão a mulher é proibida de falar nas reuniões da assembleia.
(1 Tm 2:11-14) “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação”.
(1 Co 14:34-37) “Como em todas as igrejas dos santos as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja. Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”.
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Cristo devolverá o reino ao Pai?
Você ficou com dúvidas sobre o que escrevi no texto “O que significa o reino dos céus”, particularmente quando escrevo que “Quando o Reino do Filho do Homem terminar, o Filho do Homem entregará o Reino a seu Pai (1 Co 15:24), fazendo com que o Reino seja o Reino do Pai para toda a eternidade”.
Sua dúvida surgiu por que em Efésios 1:10 encontramos: “para a dispensação da plenitude dos tempos, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra”. Se todas as coisas convergirão em Cristo na “dispensação da plenitude dos tempos”, como poderia ele devolver o reino ao Pai e esse reino passar a ser o “reino do Pai”.
Não me lembro de quando escrevi isso e provavelmente foi há muito tempo, e nem ao menos sei se foi algo original meu ou se traduzi de alguma coisa que estava lendo. É comum às vezes, ao responder um e-mail, eu introduzir trechos de leituras que ajudem a esclarecer a pessoa que me escreveu, sem me preocupar muito em anotar ou citar a fonte. Afinal, o que você encontra no “O que respondi…” são minhas correspondências, e não respondo e-mails com a mesma preocupação que teria um jornalista ou pesquisador ao escrever um artigo.
Voltando à sua dúvida, pesquisei alguma coisa que talvez ajude a responder. São comentários do século 19 feitos por J. N. Darby sobre o capítulo 15 de 1 Coríntios. Encontrei alguns livros de Darby traduzidos, mas não o comentário de 1 Coríntios, que é onde ele fala do assunto. Vou traduzir a seguir os trechos do comentário de Darby onde ele fala do assunto de nossa conversa. É importante lembrar que Darby escreve em um estilo nem sempre fácil de digerir, por causa do volume de informação que ele supõe que o leitor já tenha ao ler suas linhas.
“… Quando ele tiver colocado todos os seus inimigos debaixo de seus pés, e tiver devolvido o reino ao seu Pai (pois o reino nunca foi tirado dele, e nem dado a outro, como acontece com os reinos humanos), então o próprio Filho se sujeitará àquele que colocou todas as coisas sob seu controle, a fim de que Deus possa ser tudo em todos…”
“… Quando o Cristo Homem, o Filho de Deus, tiver consumado de fato essa subjugação, ele entregará de volta a Deus o poder universal que lhe foi confiado, e cessará o reino de intermediação, o qual ele esteve em suas mãos como Homem. Ele estará novamente em sujeição, como esteve em seus dias na terra. Ele não deixará de ser um com o Pai, do mesmo modo como o foi enquanto vivia em humilhação na terra e dizia, ao mesmo tempo, ‘antes que Abraão fosse, EU SOU’. Mas o governo de intermediação do homem cessará — será absorvido na supremacia de Deus, ao qual já não haverá oposição. Cristo assumirá seu lugar eterno, um homem, a cabeça de toda a família redimida, sendo ao mesmo tempo Deus bendito para sempre, um com o Pai. No Salmo 2 vemos o Filho de Deus, como tendo nascido na terra, apesar de Rei em Sião, ser rejeitado ao se apresentar na terra; no Salmo 8 vemos o resultado de sua rejeição, sendo exaltado como Filho do homem e cabeça de tudo o que Deus criou. Então nós o encontramos aqui [neste capítulo] entregando a autoridade que lhe foi confiada, e reassumindo a posição normal de humanidade, a saber, aquela de sujeição àquele que colocou todas as coisas sob os seus pés; mas em meio a tudo isso, ele nunca mudou sua natureza divina, e nem tampouco sua natureza humana — exceto no aspecto da troca da humilhação pela glória. Mas Deus neste capítulo é agora tudo em todos, e o governo especial do homem na Pessoa de Jesus — um governo ao qual a assembleia está associada (veja Efésios 1:20-23, que é uma citação do mesmo Salmo) — está inserida na imutável supremacia de Deus, a relação final e normal de Deus com suas criaturas. Vemos que o Cordeiro é omitido no que é dito em Apocalipse 21:18, que fala do mesmo período…”
“… Encontramos assim nesta passagem a ressurreição pelo homem — havendo a morte entrado na Criação pelo homem; o relacionamento dos santos com Jesus, a fonte de todo o poder de vida, a consequência disso sendo a sua ressurreição, e também dos seus em sua vinda; o poder sobre todas as coisas entregue a Cristo, o homem ressuscitado; depois de tudo o reino sendo devolvido a Deus Pai, o tabernáculo de Deus com os homens, e o homem Cristo, o segundo Adão, eternamente homem e sujeito ao Supremo — esta última verdade algo de valor infinito para nós (a ressurreição dos ímpios, embora supostamente incluída na ressurreição que é introduzida por Cristo, não é o assunto direto do capítulo)…”
Também dos comentários de William MacDonald em “Believer’s Bible Commentary” traduzo o seguinte:
“Deus fez de Cristo legislador, administrador de todos os seus planos e conselhos. Toda a autoridade e poder são colocados em suas mãos. Haverá um tempo quando ele dará conta da administração que lhe foi confiada. Depois de ter trazido todas as coisas sob sua sujeição, ele entregará o reino de volta ao Pai. A criação será levada de volta a Deus em perfeitas condições. Havendo cumprido a obra de redenção e restauração para a qual ele se tornou homem, ele irá permanecer no lugar de subordinação que assumiu na sua encarnação. Se ele deixasse de ser homem depois de ter passado por tudo aquilo que Deus propôs para ele e lhe designou, o próprio vínculo de ligação do homem com Deus seria desfeito”.
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Como os Salmos se aplicam ao cristão?
Os Salmos são uma excelente fonte de inspiração para qualquer cristão, e fazemos bem quando os lemos. Porém é preciso entender que eles têm dois aspectos importantes: Primeiro, que foram escritos para Israel, ou seja, em uma ordem de coisas totalmente diferente daquelas que são para a Igreja, e segundo, que em grande parte eles falam dos sentimentos de Cristo.
Por isso você encontra nos Salmos coisas como o salmista pedindo a Deus o sofrimento, morte e destruição de seus inimigos, coisa que um cristão jamais pediria. Sendo cristão, você não seria capaz de fazer a oração do salmista abaixo:
(Sl 71:13) “Sejam confundidos e consumidos os que são adversários da minha alma; cubram-se de opróbrio e de confusão aqueles que procuram o meu mal”.
(Sl 143:12) “E por tua misericórdia desarraiga os meus inimigos, e destrói a todos os que angustiam a minha alma; pois sou teu servo”.
(Sl 139:22) “Odeio-os com ódio perfeito; tenho-os por inimigos”.
Tudo isso podia fazer sentido para um povo que tinha por esperança habitar na terra e estava cercado de inimigos humanos, como faz sentido para muitos radicais muçulmanos explodirem seus inimigos, já que boa parte dos preceitos do islamismo foi tirado do Antigo Testamento. Mas não faz sentido para aqueles que creem em Jesus, que são cidadãos do céu, e foram ensinados de outra maneira pelo próprio Senhor:
(Mt 5:44) “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;”.
(Mt 5:40) “E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa;”.
(Jo 16:33) “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”.
(Ef 6:12) “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.
Outro ponto é entender que os Salmos são muitas vezes a expressão dos sentimentos de Cristo. Você não poderia, honestamente, jamais afirmar o que diz o salmista nos versículos abaixo, porque você sabe muito bem que é falho e pecador:
(Sl 18:21) “Porque guardei os caminhos do Senhor, e não me apartei impiamente do meu Deus”.
(Sl 18:23) “Também fui sincero perante ele, e me guardei da minha iniquidade”.
(Sl 119:22) “Tira de sobre mim o opróbrio e o desprezo, pois guardei os teus testemunhos”.
(Sl 119:93) “Nunca me esquecerei dos teus preceitos; pois por eles me tens vivificado”.
(Sl 119:56) “Isto fiz eu, porque guardei os teus mandamentos”.
Somente o Homem perfeito poderia ter dito tais coisas, e o único homem perfeito é Cristo. Se ler com atenção os Salmos 22, 23 e 24 (na Bíblia católica a numeração é outra) verá que todos eles falam de Cristo em sequência: primeiro o Cordeiro é morto, depois ele aparece identificado com as ovelhas do rebanho de Deus e é ao mesmo tempo Pastor, e por fim é Senhor de toda a terra, quando vier para reinar.
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Nossa salvação depende dos frutos que produzimos?
Nas granjas que produzem galinhas poedeiras existem chocadeiras para essas galinhas nascerem. Você sabe o que fazem com os pintinhos machos? Eu sei. Eles não criam para vender como frangos, porque não é o negócio dessas granjas e nem têm estrutura para isso.
Eu vi uma vez uma Kombi chegar num aterro sanitário com latões desses grandes cheios de pintinhos. Os funcionários viravam os latões e despejavam milhares de pintinhos enquanto uma escavadeira vinha atrás cobrindo de terra. Obviamente os pintinhos que viajaram até ali em baixo dentro dos latões já estavam mortos, mas muitos de cima ainda estavam vivos e tentavam correr, mas a terra os alcançava.
Uma granja de produção de galinhas poedeiras não se pode dar ao luxo de criar os pintinhos, porque é antieconômico. Então, assim que eles estão de tamanho suficiente para serem identificados (acho que dois dias) separam as fêmeas e os machos são mortos.
Agora pense numa galinha que chegue à idade adulta e não consiga botar ovos. A granja não irá mantê-la porque isso custa dinheiro, então ela será sacrificada. Exteriormente ela tinha tudo para ser uma galinha poedeira, mas era tão inútil quanto um galo na hora de por ovos, portanto não servia. Ela foi julgada por sua incapacidade de produzir, mas o problema estava em sua natureza.
Quando você é salvo, é transformado em uma nova criatura para Deus. Se você for genuinamente salvo pela graça de Deus, será alguém criado em Cristo Jesus “para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10). Em outras palavras, você será uma galinha poedeira, não um galo incapaz de botar ovos. Você irá dar frutos, porque nem são seus, mas frutos que Deus preparou para você.
É disso que a passagem que você citou fala.
(Mt 7:19-20) “Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis”. Veja que os frutos são as evidências que demonstram a natureza da árvore, não são eles que fazem uma árvore boa ou má, mas é a árvore que, sendo boa ou má por natureza, irá dar frutos bons ou maus.
Se ler o contexto todo verá que não está falando de salvação baseada em obras, mas sim dos lobos e das ovelhas, dos falsos e dos genuínos, das árvores ruins e das boas. Como saber quem é quem? Por seus frutos. Usando meu exemplo, está falando dos galos e das galinhas. Pelos ovos, isto é, por seus frutos, eles serão conhecidos. Os que não forem capazes de botar ovos — dar frutos — tão somente estarão revelando que não têm a vida nova que vem de Deus, portanto estão eternamente perdidos continuando na condição de condenados da qual nunca saíram.
Entenda que a salvação não é uma dentre duas escolhas que temos. A salvação é a única escolha para quem já nasce perdido em seus delitos e pecados. E uma vez salvo, não tem caminho de volta.
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Por que solteiros não podem ter relações sexuais?
Só temos um lugar para buscar as respostas às nossas dúvidas: A Bíblia, a Palavra de Deus. Se sairmos fora dela, acabamos perdidos em conjecturas e devaneios.
Você escreveu: “Deus criou o amor, nosso corpo com instintos animais que inclui atração física, ou seja, ingredientes para um relacionamento bom”.
Você pode olhar o sexo de duas formas: Sexo como expressão de um relacionamento, ou um relacionamento como expressão do sexo. Para o cristão o sexo é a expressão de um relacionamento que atingiu o mais alto grau de intimidade e de vulnerabilidade em relação à outra pessoa. Na sua concepção, o relacionamento aparece como consequência de instintos animais, ou seja, da atração e ato sexual.
O ato sexual e todas as carícias que o acompanham são uma expressão de total entrega, total confiança na outra pessoa; é quando duas pessoas se despem total e literalmente numa expressão de que não há mais segredos entre elas. É o ato mais íntimo que qualquer ser humano pode atingir em relação à outra pessoa, e é também a figura que o próprio Deus usa para expressar o relacionamento de Jesus com a Igreja, sua noiva, que culmina nas bodas do Cordeiro. A Igreja não se une a Cristo para só depois iniciar um relacionamento. Embora o livro de Cantares represente a relação de Deus (o amado) com Israel (a amada), ele expressa bem que a união que Cristo terá com sua noiva, a Igreja, tem os mesmos elementos de uma união entre marido e mulher.
Analise se você seria capaz de dizer a alguém algo assim:
“Quero me despir para você, me abrir completamente, me revelar sem segredos e sem reservas, deixar exposto cada centímetro de meu corpo e me unir com você a ponto de nos tornarmos um só corpo, compartilhando até mesmo nossas entranhas… porém não quero me casar com você, não quero ter um compromisso duradouro, não quero ter consequências dessa nossa união, não quero que isso dure”.
É um absurdo, não acha? Dizer que está disposto a chegar a tal grau de intimidade e, mesmo assim, querer permanecer independente, é contraditório. É como o sapato dizer ao pé, “Ok, pode me calçar, mas não me amarre”, ou a calça ao cinto, “Ok, pode passar por minha cintura, mas não feche a fivela”.
Portanto, entenda que o sexo é a expressão de um relacionamento, o resultado de um relacionamento que já existe, não o contrário. É o ápice de um processo no qual tudo já é comum aos dois e faltava apenas a comunhão de corpos. Tentar criar um relacionamento a partir do sexo é o que fazemos com o gado, buscando obter resultados e dividendos a partir da cópula.
O problema de se considerar o sexo como o ponto de partida de um relacionamento é que quando este faltar — e um dia ele vai faltar — iremos imediatamente procurar por outra experiência sexual como forma de iniciar um novo relacionamento. O processo não tem fim, porque se o relacionamento começa a partir da experiência e satisfação física, com a idade essa satisfação irá desaparecer para um ou para outro, porque fisicamente um casal pode envelhecer a um ritmo diferente.
Você pergunta por que o cristão não pode ter relações sexuais antes do casamento, e eu pergunto por que o cristão não pode se casar antes de ter relações sexuais. Até hoje ninguém morreu por esperar. Mas vamos ao que diz a Palavra de Deus:
(Mt 19:4-6) “Ele, porém, respondendo, disselhes: Não tendes lido que, no princípio, o Criador os fez macho e fêmea e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem”.
Estamos tão acostumados a ler esta passagem pensando no contexto do divórcio, que nos esquecemos de que ele está reafirmando a ordem de um matrimônio segundo o projeto original (“no princípio”) de Deus. Se fôssemos chamar estes versículos de um “passo-a-passo” do casamento, teríamos:
1. Este é o projeto original de Deus. “No princípio”.
2. Um casamento é feito de um homem e uma mulher. “o Criador os fez macho e fêmea”.
3. O mesmo Criador estabeleceu como devia ser essa união. “E [Deus] disse…”.
4. O homem deixa o pai e a mãe, ou seja, se desliga daquele casal ou célula familiar. “Portanto, deixará o homem pai e mãe”.
5. O homem se une à sua mulher, criando uma nova célula familiar como aquela de onde veio, isto é um homem + uma mulher = um filho. “e se unirá à sua mulher”.
6. A união chega ao extremo quando atinge o físico e dois corpos se transformam em um. “e serão dois numa só carne”.
7. Essa aliança, que ajunta esse casal, não é algo que o homem criou, mas Deus. “o que Deus ajuntou não separe o homem”.
Esse é o passo-a-passo para quem crê na Palavra de Deus e a respeita.
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Por que não consigo falar a língua dos anjos?
Pelo que entendi você se converteu e aderiu a alguma igreja pentecostal, e agora vive aflita porque vê seus irmãos e irmãs falando a língua dos anjos e você não consegue. Por que você não consegue falar a língua dos anjos? Simplesmente porque você é sincera e não sabe fingir, além de não se deixar levar por ataques de histeria coletiva.
A história da “língua dos anjos” é uma das histórias mais mal contadas da cristandade. Depois que Deus causou a confusão de línguas em Babel, para que o homem parasse de se gloriar de sua própria capacidade, o pentecostalismo acabou emprestando a glossolalia, um fenômeno também tratado pela psiquiatria. E acabaram se gloriando justamente daquilo que Deus fez para que não se gloriarem: falar em muitas línguas.
Como consequência, em alguns grupos cristãos aqueles que “não conseguem” falar “línguas estranhas” ou a “língua dos anjos” são vistos como cristãos de segunda categoria, pessoas que não têm o Espírito Santo. Ora, “se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”! (Rm 8:9).
Para entender a questão de línguas, é preciso voltar ao Éden. Lá havia uma língua só, e com ela encontramos Adão e Eva se comunicando entre si, e falando com Deus e com Satanás na forma de serpente. Deus e Satanás também se comunicavam com Adão e Eva de um modo que eles se entendiam, portanto não havia ali necessidade de intérpretes.
Depois de Babel as pessoas precisariam aprender diferentes línguas se quisessem se comunicar entre si. Mesmo assim o homem continuou se comunicando com Deus sem precisar de intérpretes. E Deus e os anjos continuaram falando aos homens em diversas ocasiões sem tradução simultânea. Ou seja, as diferentes línguas são um problema para quem vive no mundo material, não no espiritual. São um problema de comunicação entre homens, não entre o homem e Deus ou anjos.
No dia de Pentecostes Deus inverteu o que fez em Babel para mostrar que agora queria novamente que seu povo pudesse se entender. Os discípulos, cheios do Espírito Santo, falaram em diferentes línguas, e judeus de várias nações os ouviram falar cada um em sua própria língua. Apesar de ter sido algo miraculoso, obviamente não há ali qualquer menção de um idioma angelical, pois fica claro tratar-se de idiomas humanos e há até uma lista das regiões onde esses idiomas eram falados (Atos 2).
De onde então o pentecostalismo tirou essa ideia, de que alguém poderia falar a língua dos anjos? De 1 Coríntios 13:1 “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”. O problema é que Paulo não está dizendo ser capaz de falar a língua dos anjos. Ele está usando uma figura de linguagem e fica fácil entender isso se lermos os “ainda que” usados por ele no texto:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos…”;
“Ainda que tivesse o dom de profecia…”;
“Ainda que conhecesse todos os mistérios e toda a ciência…”;
“Ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse montes…”;
“Ainda que distribuísse toda a minha fortuna para o sustento dos pobres…”;
“Ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado…”.
O foco de Paulo não está nas coisas que ele supostamente seria capaz de fazer, mas no fato de que de nada adiantaria fazer tudo isso se não tivesse amor. Ao focar na “língua dos anjos” o pentecostalismo perde o foco totalmente, como a criança que ganha um brinquedo de aniversário e prefere brincar com a caixa.
Se adotarmos o mesmo princípio usado pelo pentecostalismo para a interpretação do texto, seremos obrigados a admitir que Paulo era um super-herói digno dos gibis: Além de falar a língua dos anjos, ele era capaz de falar todas as línguas dos homens (6.912 idiomas já foram identificados até hoje), tinha o dom da profecia, conhecia todos os mistérios e toda a ciência, tinha fé capaz de transportar montes, era bilionário e filantropo e pretendia ser cremado, talvez ainda vivo.
Absurdo, não é mesmo? Eu também acho. Mas alguém poderá correr a apontar outra passagem: (1 Co 14:2) “Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios”. Bem, aqui não diz nada de língua dos anjos, mas de um idioma estrangeiro e desconhecido dos presentes.
Parafraseando o versículo, o sentido seria: “Porque o que fala chinês entre brasileiros, não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios”. É óbvio que eu não entenderia um irmão da China orando em chinês ao meu lado, e teria de admitir que aquilo tudo é um mistério para mim e ele não está conversando comigo, mas com Deus.
A passagem continua com Paulo explicando que “o que fala em língua desconhecida edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja”. O que Paulo quer dizer? Que falar em um idioma estrangeiro e desconhecido aos outros é algo maravilhoso? Não! Ele está dizendo exatamente o contrário. É algo que chega a ser egoísta quando é feito na congregação, pois não edifica a ninguém senão ao que fala. Ele segue mostrando que profetizar, isto é, falar das coisas de Deus e da sua Palavra em uma língua inteligível é algo muito melhor e superior ao balbuciar extático numa língua estrangeira.
“A não ser que também interprete para que a igreja receba edificação”, continua Paulo, mostrando a inutilidade de se falar em uma língua desconhecida entre irmãos sem um intérprete. Se você já participou de uma palestra em uma língua estrangeira que você não entende, vai reconhecer que foi pura perda de tempo. É por isso que Paulo continua falando da falta de proveito de se falar numa língua estrangeira que ninguém entende, chamando a isso até de um colóquio entre bárbaros! (1 Co 14:11). Você não iria querer ser um deles, não é mesmo? “Se eu ignorar o sentido da voz, serei bárbaro para aquele a quem falo, e o que fala será bárbaro para mim”. Bárbaro aí tem o sentido de estrangeiro, não de selvagem.
Paulo termina com um golpe de misericórdia na questão, para deixar muito claro a bobagem daqueles que se gloriam em falar numa língua que ninguém entende: “Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos [sim, Paulo era poliglota porque estudou muitas línguas]. Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida. Irmãos, não sejais meninos no entendimento” (1 Co 14:18-20). Esta última expressão de Paulo em linguagem de hoje ficaria assim: “Ô, gente! Deixem de agir como crianças!”.
Mas veja que em nenhum momento o assunto ali é alguma língua angelical, mas idiomas humanos. É preciso distorcer muito o texto para acreditar em outra coisa. Neste momento alguém irá querer correr para (2 Co 12:4) “Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar”. Bem, se este versículo estiver falando de alguma língua angelical, então fica muito claro que o homem está proibido de falar palavras nessa tal língua: “ao homem não é lícito falar”.
Será que deixei passar alguma passagem de uma suposta língua angelical? Talvez esta: (Rm 8:26) “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos”. Bem, entendo que aqui não fala de uma língua, mas de intenções do Espírito em nós. E esses gemidos não são nossos, mas do Espírito.
Diante de tudo isso, eu perguntaria: Que vantagem alguém teria por falar uma língua de anjos? Primeiro, em nenhum lugar somos encorajados a nos comunicarmos com anjos, mas diretamente ao Pai e ao Filho. Perceba que nem mesmo encontramos alguém na Bíblia falando ao Espírito Santo em oração, mas apenas a Deus, o Pai, e a Jesus, o Filho.
Portanto, se já tenho acesso a Deus Pai e a Deus Filho para minhas petições, porque iria querer falar com anjos em um idioma que nem eu entenderia? Que utilidade isso teria para o anjo, encontrar um ser humano falando coisas que nem sabe o que significam? Se alguém pretende se comunicar dizendo coisas que não sabe o que significam, isso não seria comunicação coisa nenhuma. Qual a utilidade de falar uma língua que nem eu e nem ninguém entende, senão de querer me exibir? E se falasse a pretexto de falar com Deus ou com anjos, por que eu precisaria de tal idioma se nunca encontramos Deus ou os anjos falando com humanos em outra língua que não seja a da pessoa envolvida na conversa?
Mesmo que se alegasse a possibilidade de se falar uma língua dos anjos nessas manifestações de histeria coletiva que vemos em algumas igrejas pentecostais, ainda assim essas pessoas não estariam cumprindo a ordem clara que é dada na Palavra de Deus:
(1 Co 14:27-35) “E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e um depois do outro, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. … Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja”.
Agora ninguém poderá dar a desculpa de que não viu estas instruções claras na Palavra de Deus. Mesmo assim, aposto um doce como na igreja onde você congrega todas estas regras são desrespeitadas quando começam a falar em línguas estranhas.
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Será que não creio no verdadeiro Jesus?
Se você quiser descobrir como o mágico faz seu truque, nunca olhe na mão que ele mostra a você, aquela que tem as cartas, as bolinhas ou a moeda. Olhe para a outra mão, porque é lá que as coisas estão acontecendo.
Na Segunda Guerra Mundial os aliados colocaram milhares de tanques e aviões feitos de papelão e madeira condensada no norte da Grã-Bretanha para os alemães pensarem que era lá que se daria a invasão da França. Vistos do alto, pareciam de verdade. Enquanto isso a outra mão do mágico montava a invasão da Normandia mais ao sul. Sadam Hussein também usou centenas de tanques infláveis para enganar os aliados durante a invasão do Iraque.
Quando você encontrar alguma “grande sacada” de alguém na Internet, com alguma teoria mirabolante sobre a fé cristã, procure olhar na outra mão. São vários os sites e vídeos que estão aparecendo com essas ideias que são até cativantes, como esta que dá ênfase ao nome hebraico de Jesus.
Mas vamos ao site que você mencionou, desse grupo de judaizantes que atrai toda a atenção para a necessidade de se pronunciar o nome de Jesus da maneira hebraica e corretamente. O que será que esses “mágicos” estão fazendo com a outra mão? Veja aqui o que eles dizem: “Como seres espirituais só são identificados pelos seus nomes, e como só há salvação para a raça humana num exclusivo e único Salvador e Messias, obviamente é necessário que se identifique adequadamente o Salvador pelo seu único e autêntico Nome… A única e verdadeira identificação escritural do verdadeiro Messias é o seu NOME.”
Resumindo, a menos que você creia no nome certo, não terá a salvação. Ele está dizendo também que todos aqueles que creram em Jesus no Brasil, Portugal e Estados Unidos, ou em Yesus na Indonésia, ou em Jesús na Espanha, ou Gesú na Itália ou em Jezus na Polônia, estão todos perdidos eternamente. Mas quem visitou o site dessa turma e aprendeu a pronunciar o nome correto poderá ser salvo.
A questão é: Quantas pessoas existem com o mesmo nome de Jesus, ou YAOHUSHUA, como preferem os autores judaizantes do site? Na versão em português da Bíblia, Josué é o mesmo que Jesus, mas ninguém de sã consciência iria crer no Josué do Antigo Testamento esperando ser salvo por ele.
Então não basta identificar alguém pelo nome, porque esse alguém pode ser a pessoa errada. Será que esse pessoal nunca ouviu falar de homônimos? Quando alguém crê naquele que morreu na cruz e levou sobre si os nossos pecados, está crendo em alguém que é único, pois não existe outro Cordeiro de Deus. Tendo em mente em quem quero crer — no Salvador — certamente não fará diferença se eu o chamar com um sotaque sulino ou nordestino, falar seu nome em grego, hebraico ou japonês. Eu sei em quem tenho crido, esta é a questão. E meu Salvador não tem ouvidos moucos ao meu clamor e nem posso imaginá-lo dizendo que não me salvou porque eu não pronunciei seu nome corretamente.
(2 Co 6:2) “(porque diz: No tempo aceitável te escutei e no dia da salvação te socorri; eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação)”.
Agora vem o grande engano da outra mão do mágico. Ao colocar tal ênfase na pronúncia correta de um nome para ser salvo, o autor do site transforma a salvação, que deveria ser por graça e pela fé somente na PESSOA do Salvador, em uma fé por obras. Será preciso o candidato à salvação aprender a pronunciar um nome hebraico para ser salvo. Então temos aí um erro: a salvação já não seria pela fé na PESSOA do Salvador, mas numa pronúncia correta, o que já excluiria os mudos do céu.
(Sl 51:17) “O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus”.
Ora, alguém que já pediu para um gringo pronunciar “Pindamonhangaba” sabe que, por maior boa vontade que o gringo tenha, jamais conseguirá. Um exemplo divertido disso foram os noticiários sobre o vulcão Eyjafjallajökull que entrou em erupção na Islândia há algum tempo. Nenhum repórter das rádios e TVs do mundo, que não fosse islandês, conseguiu pronunciar o nome do vulcão e isso acabou virando motivo de piada na mídia. Alguns chegaram a noticiar “o vulcão de nome impronunciável”. Obviamente o “evangelho” (assim mesmo, entre aspas) que esses judaizantes tentam pregar não é o evangelho da graça de Deus, tão acessível ao pecador, mas algo que exige alguns estudos mirabolantes. Ao mencionar uma comunidade de interessados que criaram na Internet, os autores do site alertam: “Ressaltamos que nessa comunidade participam diversas pessoas que ainda estão em processo de entendimento, e que não podemos afirmar que realmente já sejam convertidos”. Imagine se o ladrão que se converteu na cruz precisasse passar por um “processo de entendimento” para ser salvo!
(Lc 11:46) “Ele, porém, respondeu: Ai de vós também, doutores da lei! porque carregais os homens com fardos difíceis de suportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais nesses fardos”.
Você consegue imaginar um Deus que volta as costas a um moribundo, que suplica por salvação clamando pelo nome de Jesus, só porque o sujeito não pronunciou direito ou usou o sotaque errado? De uma coisa eu tenho certeza, se é de um salvador assim que esse site está falando, não é o mesmo Salvador que levou meus pecados sobre si na cruz. Não é a pessoa divina da Trindade, o Filho Eterno de Deus, que não tem começo e nem fim.
(Is 59:1) “Vejam! O braço do Senhor não está tão curto que não possa salvar, e o seu ouvido tão surdo que não possa ouvir”.
Agora veja o absurdo dos absurdos: de repente esses indivíduos chegam para um cristão convertido há anos e dizem: “Você não está salvo porque não pronunciou direito o nome do Salvador”. Será possível imaginar algo mais cruel? Segundo esses, há mais de 30 anos eu creio em um nome “traduzido”, portanto não seria o nome do Salvador. Todo esse tempo eu li uma Bíblia deturpada, porque está em português, adorei um Deus falso, porque não o fiz usando os nomes originais em hebraico, e preguei que a salvação está em alguém que não é o mesmo Salvador que há dois mil anos morreu na cruz fora dos muros de Jerusalém.
(Tt 1:14) “Não dando ouvidos às fábulas judaicas, nem aos mandamentos de homens que se desviam da verdade”.
São muitos os erros sutis dessa heresia que já é discutida em muitos sites em inglês como “sacred name heresy”, mas vou citar apenas mais uma: ao enfatizar que a salvação só pode ser obtida pela pronúncia correta do nome do Salvador, esses judaizantes tiram de Deus a obra da salvação e a transferem ao homem. Qualquer crente sincero sabe que Deus começou uma obra em seu coração muito antes de seus lábios confessarem sua fé em Jesus. É este o significado do novo nascimento ou “nascimento do alto”.
Primeiro o Espírito Santo infere vida ao pecador morto em seus delitos e pecados, então ele está apto a crer em Cristo. De outra maneira, como poderia um inimigo de Deus mudar de ideia, quando a Palavra de Deus diz claramente que “não há quem busque a Deus”, ou um morto espiritualmente sentir em si o peso de seus pecados? Essa convicção de pecado também é obra do Espírito de Deus numa alma. E este conhecimento de Cristo como algo que tem origem no céu, por revelação de Deus, é claramente ensinado nesta passagem do evangelho:
(Mt 16:13-17) “Quem dizem os homens ser o Filho do homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. Disselhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu pai que está nos céus”.
Se ainda restam dúvidas sobre a maneira correta de ser salvo ou em quem crer, Deus, na sua infinita bondade e misericórdia, deixou para nós um caminho que até os loucos seriam capazes de encontrar (Isaias 35:8). Somente quem não crê em um Deus de amor acreditaria numa salvação baseada em um quebra-cabeça linguístico como querem nos fazer crer esses judaizantes. Veja que:
A salvação é assegurada a quem crê no “Filho do homem”:
(Jo 3:14) “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
A salvação é assegurada a quem crê no “Filho Unigênito”:
(Jo 3:16) “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
A salvação é assegurada a quem crê no “Filho de Deus”:
(Jo 3:17-18) “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito filho de deus”.
(Jo 3:36) “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece”.
Alguém tem dúvidas de que Filho de Deus estes trechos falam? Certamente é o mesmo que Paulo descreve em seu evangelho ou boa notícia:
(1 Co 15:1-4) “Ora, eu vos lembro, irmãos, o EVANGELHO (Boa Notícia) que já vos anunciei; o qual também recebestes, e no qual perseverais, pelo qual também sois salvos, se é que o conservais tal como vo-lo anunciei; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras;”.
Certamente um evangelho que tenta anular a salvação de todos os que creram em Jesus nos últimos dois mil anos e insiste que somente a pronúncia correta do nome hebraico garante a salvação, não é o mesmo evangelho da graça que Paulo pregou, mas é um “outro evangelho” de obra linguística, que não tem nada de uma boa nova ou boa notícia. Ao contrário, é uma péssima notícia. O que fazer então com tipos assim?
(Gl 1:6) “Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho, o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema [amaldiçoado]. Como antes temos dito, assim agora novamente o digo: Se alguém vos pregar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema [amaldiçoado]”.
Depois de ler algumas das afirmações absurdas do site, fui à página “Quem somos”, que começa dizendo “Nosso objetivo primordial não é falar sobre nós mesmos…” Então vem um texto com exatas 1.335 palavras (sim, fui chato o suficiente para colar o texto no Word para ele contar), bem no estilo daquelas pessoas que começam um discurso dizendo “Não tenho palavras para expressar…” e aí fica duas horas falando.
Outra página importante para descobrir algo sobre o espírito por detrás de um site assim é a que descreve o autor. O autor, seja ele quem for, não se identifica, mas a insistência de seu longo texto para que você não julgue o que ler pela pessoa que escreveu me fez desconfiar que ele não seja digno de confiança. Todos os evangelhos e epístolas, exceto Hebreus, trazem a identificação do autor (além de muitos livros do Antigo Testamento), e ninguém precisa nos explicar que Deus usou homens cheios de falhas para nos transmitir a sua Palavra que é perfeita.
O fato de se criar um site anônimo tem alguns problemas. Uma vez vi um vídeo muito bom de um irmão na Internet que não trazia identificação. Como eu sabia quem era, escrevi perguntando por que não colocou seu nome, até para facilitar o contato. Sua resposta foi “para que toda a glória seja de Deus”. Aquela parecia uma posição humilde (e no caso dele sei que foi), mas fiz questão de perguntar: “Será que não seria pretensão VOCÊ achar que haverá alguma glória no que fez, para desejar endereçá-la a Deus?”.
Mas voltando ao “humilde” autor do site, veja a bobagem que ele escreve nas últimas linhas de sua biografia anônima:
“…principalmente pelo fato de que todas as palavras aqui foram concedidas ao autor pelo AUTOR, e quem merece toda a atenção é o AUTOR, e não o autor”.
Em suma, se por “AUTOR” em maiúsculas ele está se referindo a DEUS (por que não escreveu em hebraico?!), o que ele está querendo dizer é que você deve aceitar o site dele como uma revelação divina com a mesma autoridade da Bíblia, ou seja, inspirada textualmente ou palavra por palavra, como o Espírito fez com os apóstolos. (1 Co 2:13) “As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as [palavras] que o Espírito Santo ensina”.
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Enoque morreu ou não?
Entendo que Enoque não morreu, mas foi trasladado diretamente para a presença de Deus. Isto é revelado aqui: (Gn 5:24) “E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou”.
Outras versões dizem: “… e desapareceu, porque Deus o levou”; “… desapareceu, pois Deus o havia arrebatado”; “… e já não foi encontrado, pois Deus o havia arrebatado”. Gosto de pensar no que um irmão disse certa vez, que Enoque andou tanto tempo com Deus que chegou uma hora em que Deus disse a ele: ‘Enoque, agora você está mais perto de minha casa do que da sua; por que não fica aqui?’.
Mas sua dúvida está em Hebreus 11, onde também fala que Enoque foi trasladado para não ver a morte, mas alguns versículos depois de citar outros santos do Antigo Testamento diz que todos eles teriam morrido. Enoque morreu ou não morreu?
(Hb 11:5) “Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus”.
Para entender a Bíblia é preciso aceitar o que ela diz como sendo a inerrante Palavra de Deus. Quando alguma coisa parece não fazer sentido, não é que está errada, mas sim que nós não entendemos. Além disso, é preciso enxergar as passagens como complementares.
Por exemplo, em Hebreus 11:5 diz que Enoque não viu a morte, mas no versículo 13 do mesmo capítulo diz que “todos estes morreram na fé”. Evidentemente desse “todos” devemos excluir Enoque, pois um pouco antes foi dito que ele não viu a morte. Em Romanos 3:23 diz que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”, mas em Hebreus 4:15 fala de Cristo como sendo “sem pecado”, portanto devo concluir que todos pecaram exceto Jesus.
Na passagem de Mateus que fala de dois homens possessos que Jesus liberta na província dos gadarenos, mas em Marcos só fala de um. Afinal, um ou dois? A resposta é dois. Em Mateus está falando deles, enquanto em Marcos a história está concentrada em um dos dois.
Uma aparente contradição é o modo como Judas morreu. Em Mateus 27:5 diz que “retirou-se e foi-se enforcar”. Em Atos 1:18 diz que “precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram”. Afinal, enforcou-se ou despencou de um precipício? As duas coisas.
Quando Barzan Ibrahim al-Tikriti, o meio-irmão de Sadam Hussein, foi enforcado, o impacto da corda estirada causou sua decapitação. Quem estivesse sobre o cadafalso diria que ele foi enforcado. Quem estava sob o cadafalso disse que ele morreu decapitado.
Judas provavelmente se enforcou em um lugar alto o suficiente para precipitar-se, com o rompimento da corda ou do que a prendia (galho, por exemplo). Depois de morto, seu corpo apresentava os ferimentos de uma queda de um lugar alto.
Algumas das chamadas contradições pelos céticos podem entrar facilmente na categoria das exceções. É o caso da proibição da confecção de imagens em Êxodo 20 e a ordem para fazer dois querubins de ouro para ficarem sobre a Arca da Aliança em Êxodo 25, ou o caso da serpente de bronze em Números 21 ou dos leões, bois e querubins que adornavam várias partes do templo em 1 Reis 7.
A primeira ordem tinha o objetivo claro da confecção de imagens com o objetivo de adorá-las, o que não se aplicava às exceções, que tinham a função de adorno. Se eu fosse um israelita na época teria facilmente interpretado que no geral imagens não deviam ser construídas, exceto naquelas condições particulares.
Qualquer contrato dos dias de hoje é escrito assim. “Cláusula tal: Haverá multa no caso do não cumprimento deste contrato, etc…”; “Cláusula tal: A multa da cláusula anterior não se aplicará em caso fortuito ou de força maior”. Simples assim.
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Como a carta de Elias chegou ao rei depois de ser arrebatado?
Sua dúvida tem a ver com uma suposta discordância no texto bíblico. Sua pergunta foi: “Gostaria de entender como é que após 8 anos do pseudo-arrebatamento [de Elias] Jeorão, filho de Jeosafá, recebe uma carta do profeta Elias?”.
O texto da carta à qual você se referiu foi:
(2 Cr 21:12) “Então lhe veio um escrito da parte de Elias, o profeta, que dizia: Assim diz o Senhor Deus de Davi teu pai: Porquanto não andaste nos caminhos de Jeosafá, teu pai, e nos caminhos de Asa, rei de Judá, mas andaste no caminho dos reis de Israel, e fizeste prostituir a Judá e aos moradores de Jerusalém, segundo a prostituição da casa de Acabe, e também mataste a teus irmãos da casa de teu pai, melhores do que tu; eis que o Senhor ferirá com um grande flagelo ao teu povo, aos teus filhos, às tuas mulheres e a todas as tuas fazendas. Tu também terás grande enfermidade por causa de uma doença em tuas entranhas, até que elas saiam, de dia em dia, por causa do mal”.
Eu não chamaria de “pseudo-arrebatamento”, pois aí estaria colocando em dúvida a veracidade, não de minha interpretação, mas do texto bíblico. Que Elias foi arrebatado ao céu num redemoinho, não há como negar, pois a Bíblia é clara. O que pode ocorrer é uma dificuldade de compreensão ou de cronologia.
(2 Rs 2:11) “E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho”.
Portanto, este ponto do arrebatamento de Elias ao céu num redemoinho é inegável, já que é textual. Como nenhuma passagem diz que ele tenha voltado do céu (exceto em sua aparição momentânea no monte da transfiguração), então é de supor que tenha ficado por lá.
Então temos o problema da cronologia que, esta sim, pode não estar na ordem. Por exemplo, sabemos que os evangelhos nem sempre trazem os assuntos numa cronologia exata, mas colocados no momento em que os fatos são importantes para o que Deus quer revelar. O mesmo pode se dar no Antigo Testamento. Lembre-se de que não podemos cobrar exatidão cronológica ou “jornalística” da Bíblia, porque seu objetivo é apontar para Cristo. Tudo o que for relevante neste sentido estará lá, mas o que não for será suprimido do relato. Por isso não nos é dito o nome da mulher de Caim, por exemplo.
Tentarmos negar o fato do arrebatamento de Elias por dificuldades de entendermos a cronologia dos eventos joga por terra a autoridade da Palavra de Deus (o fato textual) e coloca a autoridade em nossa capacidade de interpretar os eventos.
William MacDonald coloca assim a questão: “Elias foi levado ao céu em algum momento durante o reinado de Jeosafá (2 Rs 2:11). Considerando que Jeorão reinou com seu pai por cerca de cinco anos, Elias poderia estar vivo quando essa mensagem foi entregue. Ou o profeta poderia ter escrito a carta por divina instrução e a entregado a Eliseu para que a entregasse no momento apropriado”.
Portanto, partindo do princípio de que a Palavra de Deus declara com todas as letras que ocorreu a ascensão de Elias ao céu (um fato, portanto inquestionável), só posso deduzir que:
1. A ordem dos eventos nem sempre é cronológica nos livros de Reis e Crônicas (há vários estudos sobre isso na Internet, portanto não há necessidade de me deter nisso aqui). Portanto (conforme explica William MacDonald) Elias poderia estar por aqui quando a carta foi entregue.
2. Elias recebeu a revelação antes de ser arrebatado e deixou-a em carta para ser entregue apenas para a pessoa e no momento devido. Não me lembro de existir algum caso assim nas Escrituras, mas é perfeitamente normal pessoas deixarem testamentos com mensagens que só podem ser abertas em uma determinada data.
3. Os correios da época eram péssimos.
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A profecia de Joel cumpriu-se em Pentecostes?
Sua dúvida é se Atos 2 é o cumprimento da profecia de Joel 2, considerando que Pedro diz: “Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: e nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne…”.
Na Bíblia nós encontramos profecias que já se cumpriram, outras que se cumprirão, e outras que se cumpriram parcialmente. A queda de Tiro é um exemplo de uma profecia que começou a se cumprir, depois teve um intervalo de séculos, e terminou seu cumprimento.
De acordo com a profecia em Ezequiel 26, a cidade de Tiro seria arrasada, lançada no mar e suas muralhas iriam se tornar um enxugadouro de redes para os pescadores. Anos depois, em 573 A.C., Nabucodonosor II cercou a cidade por 13 anos e depois a tomou, destruindo-a. Porém a cidade era, na verdade, dividida em duas: uma maior no continente, e outra fortificada numa ilha defronte à cidade continental. Nabucodonosor conseguiu tomar e destruir a cidade no continente, mas não a cidade fortificada na ilha. Até aí, a profecia havia sido cumprida somente em parte.
Em 332 A.C., Alexandre, o Grande, atacou a cidade fortificada e, para chegar até ela, fez com que os soldados lançassem ao mar as muralhas da cidade destruída por Nabucodonosor, fazendo, assim, um caminho ligando o continente à ilha. O que não era possível fazer com seus navios, Alexandre conseguiu construindo este istmo sobre o qual seu exército podia passar. Hoje esse caminho de pedras ainda existe e é usado pelos pescadores da região para enxugadouro de redes.
Há outras passagens na Bíblia como a de Joel, que são apresentadas, mas por terem um cumprimento ainda parcial. Um exemplo é quando o Senhor Jesus abre o livro de Isaías para ler na sinagoga:
(Lc 4:17-21) “E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor. E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”.
Naquele momento ele vinha como o Servo humilde, mas a continuação da profecia fala de sua vinda como Juiz e Vingador para estabelecer o seu reino milenial, que é o assunto do restante da profecia.
Se reparar na profecia de Isaías verá que Jesus parou antes de completar o texto, pois a conclusão em Isaías é: ”… e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes; a ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantações do Senhor, para que ele seja glorificado. E edificarão os lugares antigamente assolados, e restaurarão os anteriormente destruídos, e renovarão as cidades assoladas, destruídas de geração em geração” (Is 61:2-final).
Para entender a profecia de Joel mencionada na passagem de Atos 2 é preciso lembrar três coisas:
1. Deus tem dois povos: um terreno (Israel) e um celestial (Igreja). Cada um tem suas promessas específicas e cada um o seu lugar prometido. Para Israel é a terra (e no futuro a nova terra) e para a Igreja é o céu. Então precisamos sempre ter em mente o que é dito para Israel e o que é dito para a Igreja.
2. A Igreja não existia no Antigo Testamento. Mesmo nos dias dos Evangelhos ela ainda era algo futuro. Por isso o Senhor disse “Edificarei a minha igreja” (Mt 16:18), com o verbo no futuro.
3. A Igreja não só não existia no Antigo Testamento, como era um segredo guardado por Deus para revelar a Paulo.
(Ef 5:32) “Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja”.
(Cl 1:24-26) “…que é a igreja; Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus; O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos;”.
Portanto você nunca encontrará profecias dirigidas especificamente à Igreja no Antigo Testamento, embora possa encontrar tipos e figuras, ou alguma profecia acerca de Israel que de algum modo afete a Igreja, o que parece ser o caso da profecia de Joel. Com base nestas coisas, Joel não podia estar profetizando especificamente a respeito da Igreja nos dias em que viveu, mas estava profetizando para judeus acerca de judeus e falando do futuro de Israel. Veja também que a profecia toda não se cumpre no dia de Pentecostes:
(Jl 2:28-32) “E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito. E mostrarei prodígios no céu, e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como disse o Senhor, e entre os sobreviventes, aqueles que o Senhor chamar”.
Considerando que eram todos judeus os que estavam ali vendo e ouvindo as coisas de Atos 2, fazia muito sentido para eles perceberem que Deus estava cumprindo em parte da profecia de Joel, a qual todos eles conheciam. Ou então, considerando que a profecia toda irá se cumprir ainda no futuro, podemos dizer que Deus ali no dia de Pentecostes abriu uma fresta no que Joel profetizou para que eles tivessem um aperitivo do que será servido para Israel no futuro. “Os judeus pedem sinal” (1 Co 1:22), portanto aquilo fazia parte dos sinais que os judeus pediam, e Deus lhes deu, para que atendessem ao que Pedro insiste que façam em seguida:
(At 3:19) “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor,”.
Pedro não precisaria dizer isso se a profecia de Joel tivesse se cumprido, pois com o Senhor descendo do céu na frente deles não haveria dúvidas. Mas Pedro diz acertadamente que o que Joel previu estava acontecendo, isto é, a parte do Espírito de Deus sendo derramado, embora houvesse muito mais por vir, pois a maioria dos eventos citados na profecia não ocorreu no dia de Pentecostes.
O Espírito foi derramado ali, mas não “sobre toda a carne”, como previa a profecia. A profecia toda se cumprirá no final do período da Grande Tribulação e antes da volta gloriosa de Cristo. Então sim haverá “prodígios no céu, e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça”, o que também foi previsto por Mateus:
(Mt 24:29-30) “E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória”.
Com a vinda do Senhor para reinar, aí sim o Espírito de Deus será derramado “sobre toda a carne”, tanto sobre os gentios como os judeus, todos os que entrarem vivos no reino milenial, e isso será uma constante durante o reino de Cristo no mundo. Enquanto isso a Igreja já está no céu desde o arrebatamento, reinando com Cristo sobre a terra. Portanto os “últimos dias” de que falam a profecia de Joel, são os últimos dias de Israel neste mundo, antes do milênio, e não os últimos dias da Igreja.
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O que a Bíblia ensina sobre o Sheol ou Hades?
Para responder suas dúvidas, vou “pedir ajuda aos universitários”, traduzi um texto de irmãos que sabiam muito mais que eu, e foi publicado em 1912 no volume 9 do “The Bible Treasury”. Esta publicação costumava ter como seu editor William Kelly, porém nesta época ele já devia ter partido para o Senhor, portanto a resposta deve ter vindo de outro editor.
No Antigo Testamento a palavra Sheol ocorre sessenta e cinco vezes e é traduzida na versão inglesa da Bíblia trinta e uma vezes como “sepultura”, três vezes como “abismo” e trinta e uma vezes como “inferno”, o que significa que os excelentes tradutores da versão inglesa de 1611 não consideraram a palavra como tendo um significado uniforme. Ela aparece na versão grega sessenta e uma vezes como Hades, duas vezes (2 Sm 22:6 e Pv 23:14) como “morte” (thanatos), enquanto em duas passagens (Jó 24:19 e Ez 32:21) não exista uma contrapartida exata das referências hebraicas que esteja reproduzida na Septuaginta, e por isso não há uma representação dessa palavra nestes casos.
Já nas passagens que se seguem (existem outras), como Gn 37:35; Gn 42:38; Gn 44:29, 31: Nm 16:30, 33; 1 Rs 2:6, 9; Sl 49:15; Sl 141:7, a palavra Sheol pode muito bem não significar nada além de “túmulo” ou “sepultura”, e é assim que aparece na Versão Autorizada (King James) (exceto em Nm 16, onde aparece como “abismo”); enquanto nos demais lugares costuma ser feita uma referência genérica como o lugar para onde vão os espíritos que partiram. A sepultura recebe o corpo. Assim, no Antigo Testamento a palavra Sheol (ou Seol) é usada para ambos os receptáculos.
Todavia, quando vamos para o Novo Testamento essa indefinição desaparece, pois vida e incorrupção são coisas que agora são desvendadas ao longo do evangelho. O Hades, uma representação genérica da palavra Sheol (Seol) aparece no Novo Testamento restrito ao mundo invisível dos espíritos separados, ou como “morte”, ou como a sepultura, e aplica-se (Ap 20) apenas ao corpo, e não à alma ou ao espírito. É o corpo que morre; enquanto o espírito retorna para Deus que o deu. O espírito e a alma nunca deixam de existir, seja para o bem, seja para o mal. Além disso, o Hades recebe apenas os ímpios; enquanto o crente, quando chamado a morrer, não vai para o Hades, mas para o Paraíso.
Mesmo assim costuma-se pensar que tanto bons quanto maus poderiam ir para o Hades, apesar dessas duas classes de pessoas serem separadas por um grande abismo; mas em nenhum lugar as Escrituras falam dos bons no Hades, ao contrário, sempre aparecem bem longe dos que estão ali. É claro que, se considerarmos o Salmo 16:10 (que é duas vezes citado em Atos 2) como ensinando que nosso Senhor ao morrer foi para o Sheol (Seol), ou Hades, havendo sua alma não permanecido ali — como sabemos ele foi para o Paraíso (um jardim de delícias, não de trevas), onde também o ladrão que morreu foi recebido — então devem ter existido neste caso duas áreas, respectivamente para os maus e os bons. Mas este erro vem de uma tradução equivocada do Salmo na versão de 1611 (King James). O que o versículo realmente diz é, “Não deixarás” (abandonarás ou relegarás) minha alma para (e não “no”) Sheol (ver Revised Version), e esta forma é confirmada também pelo texto corrigido de Atos 2:27 (aceito pelos editores críticos Lachmann, Tischendorf, Tregelles, Westcott e Hort, e pelos revisores — isto se refere à mais recente edição na época do valioso trabalho de W. Kelly, “The Preaching to the Spirits in Prison”, 1910, págs. 125, 133-139).
O Hades volta a ser mencionado no Novo Testamento em um bom sentido. Se existisse no Hades uma parte boa e outra ruim, por que deveríamos ler do destino dos ímpios ser invariavelmente ali sem que houvesse qualquer indício de ser também o destino dos bons?
Perguntas e Respostas:
1. Ao dizer que ficaria “o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra” (Mt 12:40), e que o Senhor “tinha descido às partes mais baixas da terra” (Ef 4:9), poderia isso significar algo além de, no primeiro caso, a sepultura, e no segundo, o pó da terra e a sepultura?
Entendemos “seio da terra” ou “partes mais baixas da terra” como a sepultura. O Senhor não apenas morreu, mas foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia. Jonas era um sinal disso. O Salmo 139:15 pode nos ajudar a nos guardarmos de uma interpretação muito literal das palavras “partes mais baixas da terra” que poderiam parecer indicar como algo fora de vista ou um lugar escondido. O sepulcro existiu com certeza e foi fechado pela pedra (Mt 27:66). Assim nenhum olho humano poderia perscrutar esses santos domínios onde o corpo de Jesus ficou.
2. Seria bíblico dizer que Sheol (Seol) ou Hades (inclusive o seio de Abraão e o Paraíso) estariam sob a terra? E que o Senhor Jesus desceu ali e esvaziou um dos compartimentos levando os salvos para as alturas? Ou o Paraíso ou seio de Abraão estiveram sempre no céu, e nunca sob a terra, mesmo nos tempos do Antigo Testamento?
Antes da vinda do Salvador o seio de Abraão representava o ápice da bênção para o judeu piedoso, considerando que Abraão foi chamado de amigo de Deus! Estar “com Cristo” é a perspectiva de bênção que o cristão tem agora revelada para si. Isso ocorre no Paraíso de Deus, nas alturas. O Paraíso não é o Hades, e tampouco Abraão esteve no Hades, mas é visto “ao longe” das almas atormentadas que estão no Hades (Lc 16:23). É loucura alguém pensar que o Senhor desceu ao Hades e libertou qualquer um que estivesse ali. O Senhor não foi ao Hades, mas ao Paraíso. Tampouco as Escrituras dão qualquer ideia de que exista uma libertação do Hades. Juízes 5:12; Salmos 68:18, Efésios 4:8 falam, não de ter libertado prisioneiros, mas de ter levado cativo o cativeiro e os poderes opressores do mal, aqui chamados de “cativeiro”. Cristo derrotou as potestades e principados (maus) e os exibiu publicamente ao triunfar sobre eles (Cl 2:15). Ele levou cativo o próprio cativeiro; não existe qualquer menção de ter livrado cativos do inferno, como alguns querem entender.
3. Se assim é, qual é a força de expressões como descer ao Sheol (Seol)?
Descer ao Sheol (Seol) é descer à sepultura ou ao abismo que está visualmente sob nós.
4. O “abismo” é diferente do Hades?
O abismo de Ap 20 não é onde o homem está, mas onde Satanás será lançado por mil anos, antes de ser lançado no lago de fogo por toda a eternidade; enquanto Hades é o lugar que recebe os espíritos daqueles que morreram — os ímpios mortos, cujos espíritos habitaram antes um corpo mortal. A alma e o espírito vão para o Hades, enquanto o corpo que é feito de pó vai para a “sepultura” (seja ela o mar ou a terra), enquanto aguarda sua ressurreição para o juízo. Quando o homem for levantado da sepultura, considerando que a terra e os céus terão passado, ele será lançado, não no Hades (que já não terá um lugar para existir), mas no lago de fogo que foi preparado, não para o homem, mas para o diabo e seus anjos. O crente, se tiver sido colocado para dormir [não um sono literal, mas uma forma de mostrar a morte do ímpio e do justo como antagônicas — N. do T.], ressuscitará, não para o juízo, mas para a glória (Fp 3:20-21).
5. Poderia a palavra Sheol (Seol) ou Hades ser aplicada ao céu já que este também faz parte do mundo invisível?
Sheol (Seol) ou Hades não pode ser aplicado ao céu, mas está em contraste com o céu por ser o oposto.
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Você não deve desculpas aos pentecostais que ofendeu?
Minha intenção não é julgar ou criticar pessoas, mas sim doutrinas e práticas. Voltei ao meu texto “Por que não consigo falar a língua dos anjos” e onde poderia parecer que eu estava falando de pessoas troquei “pentecostais” por “pentecostalismo” para não deixar a conotação do juízo de pessoas.
O que estou analisando e julgando ali são as doutrinas e práticas, não as pessoas que as professam e praticam. A Palavra de Deus não nos permite julgar pessoas, suas razões e motivos (Mt 7:1; 1 Sm 2:3; 1 Co 4:4-5), mas nos exorta sim a julgarmos as doutrinas de uma pessoa (1 Co 10:15; 14:29), suas ações (1 Co 5:12-13), e seus frutos (Mt 7:15-20).
Seria o mesmo que eu escrever algo sobre os católicos que usam imagens em seus cultos. Eu não estaria julgando seus motivos ou a sinceridade de quem faz isso, mas a doutrina (culto a imagens), suas ações de ajoelhar diante de um ídolo e seus frutos ou consequências disso, que é obviamente a idolatria. A Palavra de Deus é nossa régua em todas as situações.
Obviamente há no texto expressões mais carregadas, como “… nessas manifestações de histeria coletiva que vemos em algumas igrejas pentecostais”, mas obviamente somente deveriam sentir-se ofendidos aqueles que estejam em igrejas onde ocorrem manifestações de histeria coletiva. Se não for o seu caso, então a expressão não é para você.
O pentecostalismo tem muitos erros, e talvez essa questão das línguas seja o menor deles. O mais grave é pregar uma salvação que começa pela fé e termina pelas obras, ao ensinar que o crente perderá sua salvação se não perseverar até o final. Era esse o evangelho de obras de conduta que predominava entre os Gálatas.
(Gl 3:3) “Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?”.
Outro erro está em diferenciar crentes com e sem o Espírito Santo, já que alguém sem o Espírito nem mesmo é um salvo, pois não tem o penhor de sua herança.
Se você fala em línguas estrangeiras (que é o que significa “estranhas”), obviamente este é um exercício seu que não posso proibir ou condenar. Porém se você, que é mulher, faz isso na reunião da igreja, então está desobedecendo a ordem do Espírito Santo em 1 Coríntios 14:34 “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar”.
Portanto, espero que compreenda que o que escrevi ali não é para ofender pessoas, mas para esclarecer doutrinas. Se nos deixarmos levar pela ideia de que não podemos mostrar o que a Bíblia ensina sob o risco de alguém sentir-se ofendido, então restará muito pouco a dizer, já que sempre existirá alguém que pense diferente. Eu mesmo poderia me sentir ofendido com sua maneira de pensar, não é mesmo?
O que é preciso saber é: você conferiu com a Palavra de Deus o que eu escrevi ali? Se conferiu e encontrou algo que não tem fundamento na Palavra, então aí sim eu estaria pronto a considerar e mudar minha maneira de pensar. Mas se é apenas uma diferença de opinião e você se sente confortável e confiante da maneira como adora a Deus, então o texto não foi escrito para você.
O texto “Por que não consigo falar a língua dos anjos?” foi escrito para responder a uma pessoa que está aflita com sua incapacidade de falar uma língua diferente, enquanto as pessoas ao seu redor vivem fazendo isso. O texto será muito útil e esclarecedor para pessoas como as que enviaram os e-mails cujos trechos seguem abaixo:
“… onde congrego parece haver algumas coisas que estão em discordância, como por exemplo, orar naquelas línguas ininteligíveis a qualquer um e também tem pastoras”.
“O bispo… diz que quando somos batizados no Espirito Santo temos que ter evidências disso e as evidências são o fruto do Espirito SOMADO às línguas estranhas ou línguas dos anjos que é um selo, uma confirmação, a garantia da salvação… [o bispo diz que] se, para buscar o batismo, você insiste em continuar usando a sua língua de origem, poderá orar até o Dia do Juízo que não falará em outra. Por isso, comece a louvar ao Senhor durante alguns minutos, até sentir o movimento do Espírito Santo em você. Pare então de falar na sua própria língua e comece, pela fé, a fazê-lo na língua desconhecida”.
“Em 2006 me converti, verdadeiramente meu coração e minhas intenções mudaram e venho servindo a Deus, mas sem o Espírito Santo realmente não dá! Desde que me converti minha luta tem sido esta, não consigo recebê-lo, não estou em pecado, reconheço que sou pecadora, tenho minhas falhas, como é receber? Nunca falei nas línguas dos anjos embora em algumas buscas já sentisse paz, alegria, algo diferente… Eu estou confusa quero receber o Espirito Santo, não aguento mais”.
“Sinto-me vazio, seco, desprovido do Espirito do Senhor… Quero sentir a unção que sentia antes, mas não sinto… Parece que o Espírito de Deus se afastou de mim e não consigo me reconciliar verdadeiramente com ele… Não queria ter perdido o Espírito… Quero ser salvo, mas a salvação é estar com Deus e fazer a vontade de Deus. Sem o Espírito dele eu não consigo fazer nada… Será que existe reconciliação pra mim? Ou será que pequei contra o Espírito do Senhor…”.
Lamentavelmente esse é o estado em que se encontra a cristandade hoje. E o pentecostalismo é um dos grandes responsáveis por isso, por pregar um evangelho com foco nas emoções, ensinar que é preciso passar por um “batismo do Espírito” para ser salvo e insistir na manutenção da salvação por obras, afirmando ser possível um crente genuíno perder sua salvação caso venha a se desviar.
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Por que se faz violência ao reino dos céus para entrar nele?
Sua dúvida está relacionada ao que Jesus diz em Mateus 11:12 “E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele”. Outra versão diz “até agora, o reino dos céus é tomado à força, e os violentos o tomam de assalto”.
Primeiro é preciso entender que Jesus está falando do “reino dos céus” e não do céu propriamente dito. Lembre-se de que o reino dos céus contém joio e trigo misturados, portanto é um cenário que ocorre na terra e nesta vida.
Entendendo que o reino dos céus não é o céu e nem a salvação, mas o reino que tem origem nos céus e estava para ser implantado na terra (se os judeus tivessem crido no Messias), você há de concordar que, como acontece com qualquer mudança drástica, seria necessário esforço para participar desse reino. A expressão não tem nada a ver com violência no sentido de atacar os outros.
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Qual a maneira correta de tratar Satanás?
É bom saber que você conhece o Senhor e também que as mensagens de “O Evangelho em 3 Minutos” têm sido de ajuda. Sim, você pode gravar, distribuir ou publicar em seu blog. Mas vamos ao que escreveu em seu e-mail:
Você escreveu algo que chamou minha atenção: “Tenho um ódio profundo a esse cão (satanás) e aos seus ajudantes (demônios) e quero assim desmascará-lo até que Deus me permita”.
Embora todo cristão sinta aversão por Satanás, será esta a maneira correta de falar dele? Vamos ver o que diz a Palavra de Deus:
(Jd 1:8) “Contudo, semelhantemente também estes falsos mestres, sonhando, contaminam a sua carne, rejeitam toda autoridade e blasfemam das dignidades”.
A passagem fala dos falsos mestres (há muitos hoje na cristandade) que não apenas rejeitam toda autoridade, humana ou divina (isso inclui até mesmo a autoridade do Senhor e sua Palavra), mas também blasfemam das dignidades. E que dignidades seriam essas?
Obviamente pensaríamos logo nos anjos que permaneceram fiéis. Mas não é disso que o apóstolo está falando, pelo que podemos ver na continuação:
(Jd 1:9) “Mas quando o arcanjo Miguel, discutindo com o Diabo, disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar contra ele juízo de maldição, mas disse: O Senhor te repreenda”.
Sem entrar na questão de quando pode ter ocorrido essa disputa entre Miguel e o Diabo pelo corpo de Moisés (que foi sepultado em lugar secreto), o ponto aqui é que Miguel não ousa maldizer Satanás. Apesar de Miguel ser o arcanjo que em Apocalipse 12 irá expulsar Satanás do céu e lançá-lo à terra (e o cristão tem autoridade do Senhor para também expulsar demônios e espíritos malignos em nome de Jesus), Miguel deixa todo juízo nas mãos do Senhor, por reconhecer que Satanás é uma dignidade ou autoridade sobre as hostes que se submeteram a ele quando da rebelião.
Veja que interessante esta passagem:
(Rm 13:1-2) “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de deus; e as que existem foram ordenadas por deus. Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação”.
Quando nos indignamos contra um tirano qualquer, acreditando que Deus jamais teria algo a ver com sua posição de líder de um povo ou nação, precisamos pensar melhor. Nada do que acontece no Universo foge ao controle de Deus (ou ele não seria Deus, não é mesmo?). Ainda que o mal que existe no mundo seja consequência direta do pecado e da humanidade ter rejeitado a Deus, e também ao Filho de Deus, Deus pode permitir ou não que o mal se estabeleça, conforme seus propósitos que nem sempre entendemos.
O próprio apóstolo Paulo, mesmo sendo tratado indignamente, percebe que errou ao faltar com o respeito diante de uma autoridade.
(At 23:2-5) “Mas o sumo sacerdote, Ananias, mandou aos que estavam junto dele que o ferissem na boca. Então Paulo lhe disse: Deus te ferirá, parede branqueada; tu estás aqui assentado para julgar-me conforme a lei, e contra a lei me mandas ferir? E os que ali estavam disseram: Injurias o sumo sacerdote de Deus? E Paulo disse: Não sabia, irmãos, que era o sumo sacerdote; porque está escrito: Não dirás mal do príncipe do teu povo”.
Por mais que as autoridades sejam cruéis e corruptas, elas são autoridades instituídas por Deus, e isso inclui os anjos, caídos ou não. Por mais injusto que seja o governante de um país, se visito aquele país devo me sujeitar a ele. O cristão pode até combater a maldade imposta por uma autoridade, mas não deve combater a autoridade. Basta vermos o exemplo do Senhor e dos primeiros cristãos, que em momento algum tentaram derrubar o corrupto governo da época, fosse ele o governo judeu ou romano, mas brilharam como luz em meio às trevas.
Obviamente um cristão sob uma autoridade cruel não deverá praticar crueldades, como fizeram muitos alemães sob o comando de Hitler. Paulo não perseguia mais os cristãos, como as autoridades de seu tempo mandavam fazer, mas ainda assim estava sujeito a elas — tanto as autoridades religiosas como as seculares — por ser judeu e romano. A ideia de que Jesus ou seus discípulos eram revolucionários tentando mudar a sociedade por caminhos políticos não tem qualquer sustentação bíblica.
Dou outro exemplo: não existe no Novo Testamento a figura do padre católico ou do pastor protestante, isto é, um homem que dirige uma congregação. Isso existiu no judaísmo na figura do Sumo Sacerdote, mas no cristianismo todo cristão é um sacerdote com igual acesso à presença de Deus. O cuidado da assembleia ou igreja está sempre sob a responsabilidade plural de mais de um irmão, chamados na Palavra de Deus de bispos, presbíteros ou anciãos e reconhecidos pelo mesmo critério com que eram reconhecidas as igrejas, ou seja, pela cidade onde estavam (e não por diferentes denominações criadas para identificá-las).
Porém, mesmo entendendo que o “pastor” singular não é autoridade sobre mim por seu posto singular não existir nas Escrituras (não confundir com o dom de pastor que não tem a ver com governo da assembleia), se eu fosse à reunião de alguma denominação seria obrigado a respeitar aquele homem à frente, porque ali ele é uma autoridade reconhecida pelos membros daquela organização. Eu não poderia querer contestá-lo ou falar mal dele naquele ambiente. O correto seria eu não estar ali, ou sequer ir até lá para atacar uma autoridade diante daqueles que a reconhecem como tal (por esta razão não aceito convites para falar em denominações).
Voltando ao texto do apóstolo Judas, fica muito claro que a descrição que ele dá ali desses homens réprobos quanto à fé cabe como uma luva nesses pregadores que vemos por aí desafiando Satanás ou até lançando maldições contra ele.
(Jd 1:10-11) “Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem. Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré”.
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Existe um Homem de carne e ossos no céu?
Sim, neste exato momento existe um HOMEM de carne e ossos no céu, Jesus ressuscitado e assentado à destra de Deus. Poucos se dão conta de que esta é uma verdade fundamental do cristianismo e acabam imaginando uma espécie de “ressurreição espiritual”, como se Cristo tivesse subido ao céu em um corpo etéreo.
Se assim fosse, a ressurreição seria uma farsa, mas não é. O corpo não estava mais no túmulo, porque voltou a viver, então num formato incorruptível e imortal, o mesmo tipo de corpo que cada ressuscitado terá no céu.
(Lc 24:39) “Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho”.
Em Efésios Paulo fala da condição atual de Cristo e menciona carne e ossos:
(Ef 5:30) “Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos”.
A ideia de um Jesus ressuscitado numa espécie de corpo etéreo vem das religiões orientais e chegou até nós pelo espiritismo, mas é um engano grave. O fato de Jesus ter um corpo de carne e ossos não significa que seja um corpo corruptível, mas sua carne e seus ossos estão numa condição diferente, pois seu corpo é capaz de atravessar paredes (como atravessou ao entrar no cômodo onde estavam os discípulos com as portas fechadas) e também é capaz de comer. Ao mesmo tempo, é um corpo apto a viver no céu e na Nova Criação, composta pelos Novos Céus e Nova Terra.
(Jo 20:19-20) “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disselhes: Paz seja convosco. E, dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor”.
Luc 24:41-43 E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disselhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado, e um favo de mel; O que ele tomou, e comeu diante deles.
Às vezes ficamos confusos por causa da afirmação: (1 Co 15:50) “O que afirmo, irmãos, é que nem a carne nem o sangue podem participar do Reino de Deus; e que a corrupção não participará da incorruptibilidade”.
Aqui ele está falando de nosso corpo natural, atual e mortal (por isso fala em seguida da transformação). Mas depois de ressuscitado teremos um corpo semelhante ao do Senhor Jesus, uma matéria diferente daquela que temos hoje, mas ainda assim carne e ossos, porque foi assim que se apresentou aos discípulos depois de ressuscitado:
(Lc 24:39) “Vede minhas mãos e meus pés, sou eu mesmo; apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho”.
Não é possível falar em espiritual sem dar uma imagem física, porque vivemos num mundo físico. Mesmo assim é importante lembrar que Deus não tem nada contra a matéria. Quando criou a matéria, Deus disse que era tudo bom. O problema está na matéria arruinada pelo pecado, mas se considerar que Jesus veio ao mundo em um corpo material (porém sem pecado) e ressuscitou em um corpo material e subiu num corpo assim ao céu, dá para entender que existe um tipo de matéria que foge à nossa compreensão neste momento. Uma matéria para a qual tempo e espaço são irrelevantes (Jesus entrou numa sala com portas fechadas e entrou em outra dimensão com esse corpo).
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Como evitar sonhos homossexuais?
Você perguntou como se libertar do homossexualismo, e também se é pecado sonhar que tem relações sexuais com pessoas do mesmo sexo. Fiquei na dúvida se você pratica ou apenas sofre tentações. Se estiver sendo tentado, alguém disse que não podemos evitar que os pássaros voem sobre nossa cabeça, mas podemos impedi-los de fazer ninho em nossos cabelos.
Se você está vivendo na prática de qualquer pecado, deve confessar isso. Não somente a Deus, mas também aos irmãos com os quais mantém comunhão, pois a Bíblia é clara em ensinar que uma pessoa em pecado deve ser excluída da comunhão (leia 1 Coríntios 5), ou os outros serão contaminados pelo seu pecado do mesmo modo como o fermento leveda toda a massa.
Apesar de a sociedade hoje considerar o homossexualismo apenas um estilo de vida, a Palavra de Deus continua condenando a prática, considerando-a pecado. Como já disse em outras ocasiões, Deus ama o pecador, mas abomina o pecado. Do mesmo modo Deus ama a pessoa, mas abomina a prática do homossexualismo. É por isso que quando alguém aponta o que a Bíblia diz sobre o homossexualismo não pode ser acusado de homofobia ou discriminação, pela mesma razão que alguém que critique o ato de fumar não poderá ser acusado de estar discriminando o fumante.
Também não pode ser considerado discriminação o fato de não existir lugar na comunhão dos cristãos para pessoas na prática de qualquer pecado condenado pela Palavra de Deus, e isso não se limita ao homossexualismo, mas inclui o sexo fora do casamento, roubo, avareza, etc. Se fosse discriminação, ninguém poderia me impedir de ingressar na seleção feminina de vôlei. Porém, por mais que eu insista, não serei aceito por não ser mulher e também por não saber jogar vôlei, duas condições básicas para participar daquela “comunhão”.
A palavra “comunhão” significa um grupo de pessoas que têm certas coisas em comum. Um ateu não poderia participar da comunhão dos cristãos, por lhe faltar uma condição básica para isso: crer em Deus, e do mesmo modo alguém na prática do homossexualismo não seria aceito por não comungar daquilo que a Palavra de Deus ensina sobre o assunto nas passagens que tratam do homossexualismo:
(Lv 18:22) “Não te deitarás com varão, como se fosse mulher; é abominação”.
(1 Co 6:9) “Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas,”.
(Rm 1:26) “Pelo que Deus os entregou a paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural no que é contrário à natureza; semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para como os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a devida recompensa do seu erro”.
Sobre sua outra dúvida, que são as tentações, todos nós as sofremos, e estamos todos sujeitos a cair nelas se andarmos descuidados e fora de uma comunhão íntima com o Senhor. Mas temos um recurso poderoso que é o Espírito Santo em nós para nos ajudar nessas horas. É claro que eu preciso deixar o Espírito Santo, e não a minha carne, agir, porque se der qualquer chance à carne ela irá tomar conta da situação e me levará ao pecado.
Eu sempre me lembro do exemplo de José, quando foi tentado pela esposa de Potifar. Ele não ficou ali conversando com ela ou argumentando ou pensando consigo que só um beijo não seria um problema. O que ele fez? Fugiu! Saiu correndo.
Geralmente invertemos a ordem, quando fugimos do diabo e lutamos contra o pecado. Deveríamos fazer o contrário: fugir do pecado e lutar contra o diabo em oração. Sempre que tentamos lutar contra o pecado* em nossa carne acabamos sucumbindo, porque não cabe a nós lutar contra a carne. Esse é um trabalho para o Espírito Santo que habita em nós.
(Gl_5:17) “Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis”.
(Ef_6:12) “Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.
[*Depois que escrevi isto fiquei em dúvida se estaria correto dizer que não devemos ‘lutar’ contra o pecado, pois há um versículo em Hebreus 12:4: “Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado”. Aparentemente aí diz que deveríamos sim lutar contra o pecado, mas ao consultar um dicionário grego percebi que o verbo “lutar” em Gálatas 5:17 é ‘epithumeo’, o que faz a passagem ter o sentido de “a carne deseja o contrário do Espírito”, enquanto em Efésios 6:12 é ‘pale’ que tem o sentido de lutar mesmo, como em luta livre. Já em Hebreus 12:4 o verbo ‘combater’ é ‘antagonizomai e tem o sentido de antagonizar ou ser contrário a algo.]
Você perguntou sobre os sonhos, porém não há como controlá-los quando eles invadem nossa mente. Sonhos são involuntários, mas muitos ocorrem com base em experiências vividas no dia-a-dia ou em cenas que vimos. Podemos fazer muito para evitarmos chegar ao ponto de sermos tentados em sonhos, mesmo que involuntariamente. O segredo está em evitar alimentar nossa mente com a matéria prima desses sonhos.
Falo da companhia de pessoas e conversas que possam estimular pensamentos pecaminosos e, consequentemente, sonhos cheios de erotismo. Você sabe que basta alguém bocejar na nossa presença que já ficamos com vontade de bocejar, ou então sentimos um cheiro de comida e isso abre nosso apetite. Enquanto as reações às coisas que vêm a nós pela visão, olfato, audição ou tato sejam involuntárias, cabe a mim filtrar a “matéria prima” que causa essas reações.
Procure evitar pessoas, coisas e informações que abram esse tipo de “apetite” em sua mente. Evite filmes, sites, fotos, revistas e todo tipo de fonte de informação carregada de erotismo. Quanto menos matéria prima sua mente tiver para construir seus sonhos eróticos, melhor será. Proteger a mente é usar o capacete da salvação. Se tiver que encher sua mente de matéria prima, que seja com a melhor que existe: a Palavra de Deus.
(Cl 3:16) “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente”.
(1 Jo_2:14) “Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno”.
(Ef 6:17) “Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus,”.
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O que você pensa dos sonhos e visões?
Lendo Hebreus 1 entendemos que Deus mudou sua maneira de se comunicar com o homem ao longo das eras. (Hb 1:1) “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho”. Na atual dispensação, quando temos TODA a Palavra de Deus revelada ao nosso alcance, a questão dos sonhos e visões muda de figura. Exceto em Atos 2:17, que aponta para um tempo ainda futuro e para o remanescente judeu que irá se converter após o arrebatamento, não encontro qualquer referência a sonhos nas epístolas da doutrina dada pelos apóstolos à igreja.
O mesmo pode-se dizer de visões (exceto as que Paulo menciona em 2 Co 12:1, mas que fazem parte da revelação que ele recebeu). Aliás, a única vez onde as visões aparecem nas epístolas é com uma conotação negativa em Colossenses 2:18. Compare estas diferentes versões ou traduções:
(ACF) “Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão,”.
(Bíblia) “Ninguém vos roube a seu bel-prazer a palma da corrida, sob pretexto de humildade e culto dos anjos. Desencaminham-se estas pessoas em suas próprias visões e, cheias do vão orgulho de seu espírito materialista,”.
(BRASIL) “Ninguém à sua vontade vos tire o vosso prêmio com humildade e culto aos anjos, firmando-se nas coisas que tem visto, inchado vãmente pelo seu entendimento carnal,” .
(CNBB) “Que ninguém, a pretexto de humildade e culto aos anjos, vos impeça de alcançar a vitória. Tais pessoas baseiam-se em pretensas visões, deixando-se ingenuamente inchar de orgulho por sua mente carnal;”.
(NVI) “Não permitam que ninguém que tenha prazer numa falsa humildade e na adoração de anjos os impeça de alcançar o prêmio. Tal pessoa conta detalhadamente suas visões, e sua mente carnal a torna orgulhosa”.
(PAST) “Que ninguém, com humildade afetada ou culto aos anjos, impeça vocês de conseguir a vitória; essas pessoas se fecham em suas visões e se incham de orgulho com o seu modo de pensar”.
(PJFA) “Ninguém atue como árbitro contra vós, afetando humildade ou culto aos anjos, firmando-se em coisas que tenha visto, inchado vãmente pelo seu entendimento carnal,”.
O texto parece insinuar que as visões dessas pessoas foram geradas por sua mente carnal, e não de uma fonte espiritual. A maioria das religiões se apoia em visões, e dentro do cristianismo católico e protestante você encontra correntes renovadas ou pentecostais que dão uma grande importância a sonhos e visões (apesar de não haver nada sobre o assunto nas instruções ou doutrina dos apóstolos para a igreja).
Não raro o que se vê nesses meios pentecostais são pessoas orgulhosas de seus sonhos e visões, que se acham mais que seus irmãos, simples mortais que não conseguem ter um acesso tão fácil ao mundo espiritual como elas têm. De um lado isso cria orgulho (nos que dizem ter tais sonhos e visões) e desespero (nos que não conseguem tê-las, achando que ainda não atingiram um grau de santificação suficiente).
Ou seja, nada que traga edificação aos santos, como traz a Palavra de Deus que temos em mãos, na qual Deus nos revelou tudo o que precisávamos à vida e piedade.
(2 Pe 1:3) “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito (ou de que precisamos) à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude;”.
(Cl 1:25-26) “Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus; O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos;”.
A palavra “cumprir” tem o sentido de completar, ou seja, dar por encerrada a revelação, conforme a versão de J. N. Darby, que diz: “… of which I became minister, according to the dispensation of God which is given me towards you to complete the word of God” (“… para completar a palavra de Deus”).
Será que precisamos mesmo de sonhos e visões agora que somos habitados pelo Espírito Santo (antes de Pentecostes ninguém era) e tendo a Cristo e o acesso à completa Palavra de Deus?
Eu particularmente considero todo esse interesse por sonhos e visões como insatisfação com o que Deus revela em sua Palavra. Quando nos falta comunhão com Deus e com sua Palavra saímos procurando por informação em outras fontes, como sonhos, visões, fábulas (histórias inventadas, existe muito disso por aí). A pergunta correta seria: Acaso a Palavra de Deus já está em nós (João 15:7) o suficiente para conhecermos toda a vontade de Deus? Se assim for, não precisaremos recorrer a outros meios.
Se vivemos insatisfeitos com as revelações que o Senhor já nos deu em sua Palavra, quando menos esperamos acabamos caindo num estado de ruína e vazio parecido ao de Saul, quando Deus já não lhe respondia pelos meios que havia na época. Aí sim, os israelitas dependiam de sonhos, visões e profecias por não terem ainda toda a Palavra de Deus completa como temos. Quando Saul não encontrou nos meios autorizados por Deus o que queria ouvir (porque o próprio Deus havia desistido de falar com Saul por esses meios, dada a sua rebelião), ele foi procurar respostas no espiritismo da época, consultando quem dizia ter comunicação com o além.
(2 Tm 4:2-4) “Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas”.
(1 Tm 4:1-2) “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência;”.
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Devemos falar mal das autoridades?
Existem alguns sites e vídeos que se dizem cristãos que promovem a crítica às autoridades, alegando que elas estão sujeitas a demônios ou fazem parte de alguma sociedade secreta tipo Illuminati. Seria correto o cristão entrar nessa onda de críticas às autoridades ou mesmo passar adiante essas mensagens conspiratórias? Não.
Você alega que o autor dos livros de teorias conspiratórias que mencionou foi preso nos EUA sob alegações falsas, mas a realidade é que qualquer pessoa que incite a desobediência civil pode ser presa em qualquer lugar do mundo e sob qualquer governo. Se o governo não tiver provas vai inventar alguma. Não acredite nem nos autores de teorias conspiratórias, nem nos governos pois, como costuma dizer o Dr. House, “todo homem mente”.
(Jr 17:5) “Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem”.
Portanto, não confie em homem algum, porque todos podem decepcionar. Acreditar ou confiar é uma coisa, obedecer é outra. A Bíblia manda você obedecer as autoridades, portanto com essas o cristão tem algo a ver, que é obediência e oração, Mas o cristão não tem nada a ver com conspiradores e suas teorias, principalmente com esses que incitam o ódio, a desobediência e a violência.
Eu não acredito nas autoridades, mas devo respeitá-las porque foram instituídas por Deus e como cristão não tenho nada que sair por aí denegrindo a pessoa do presidente ou seu governo. Devo, isto sim, orar por todos os governantes, inclusive os corruptos, e até os que adoram demônios ou estejam sendo influenciados por eles, para que sejam libertos e creiam no Salvador. Lembre-se de que até entre os discípulos escolhidos a dedo pelo Senhor havia um influenciado pelo diabo (obviamente o Senhor sabia de antemão quem era Judas e não foi nem uma surpresa e nem um acidente a traição).
Se os governantes criam alguma lei que seja claramente contrária à Palavra de Deus, minha função é orar para que isso não traga problemas aos cristãos e obviamente neste caso vou ser obrigado a desobedecer a lei. É o caso de leis a favor do aborto, ou aquelas que estão sendo adotadas em muitos países relacionadas ao casamento de pessoas do mesmo sexo ou de endosso e amparo ao homossexualismo.
Embora seja correto proteger a integridade das pessoas e coibir qualquer tipo de violência e segregação, independentemente de sua opção religiosa ou sexual, não cabe ao cristão sair por aí criticando essas leis por elas serem contrárias aos costumes ensinados na Bíblia. Posso mostrar a discrepância de uma lei em relação à Bíblia, mas não cabe a mim promover uma revolta contra a dita lei.
Afinal, o que o cristão tem a ver com o mundo e seus costumes? Nada. Somos estrangeiros aqui, e seremos abelhudos se quisermos nos meter no andar da carruagem de um mundo que está apenas acumulando combustível imoral, já que está reservado para o fogo. Não cabe ao cristão legislar neste mundo e muito menos fazer pressão contra a legislação, porque tudo o que acontece aqui está dentro dos planos do príncipe deste mundo, que é o diabo. O cristão não é do mundo e não deve se envolver em questões que não lhe dizem respeito. O que o cristão deve fazer é orar. Nem passeatas, nem abaixo-assinados ou protestos, mas orações.
(1 Tm 2:1-3) “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador,”.
Você viu algum desses sites conspiratórios (mesmo os que se dizem cristãos) exortando os leitores a orarem pelas autoridades? Não. Eles tentam nos mostrar que elas estão submissas a demônios para nós as considerarmos inimigas. Mas a questão é que a Palavra nos exorta a não lutar contra seres humanos — mesmo os submissos a demônios — e sim seres angelicais, ou seja, não de armas nas mãos, mas de mãos postas. Pedro foi repreendido pelo Senhor ao cortar a orelha de um dos guardas que prenderam Jesus, e o Senhor até mesmo curou a orelha do homem! Tampouco vemos os onze discípulos dando uma surra em Judas por sua traição.
(Lc 22:50-51) “E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita. E, respondendo Jesus, disse: Deixai-os; basta. E, tocando-lhe a orelha, o curou”.
(Ef 6:12) “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.
Devemos buscar a libertação (espiritual) dos humanos que estão sujeitos aos demônios ou sob o controle deles, como o Senhor fez com o gadareno possesso ou Paulo com a jovem possuída por um espírito de adivinhação. Aliás, este é um país onde a consulta a demônios faz parte da crença de grande parte da população.
Se você acha um absurdo as autoridades terem uma agenda dupla, ou seja, falarem de Deus com um lado da boca e adorarem o diabo em oculto, o que você acha que as autoridades dos tempos de Atos faziam, não em oculto, mas publicamente? E ainda jogavam aos leões os cristãos que se recusavam a adorar seus deuses. Mesmo assim os cristãos lhes eram sujeitos naquilo que não entrasse em conflito com a Palavra de Deus. E o que entrasse em conflito eles não iriam obedecer mesmo, mas isso não significa que promoviam levantes sociais. Isso eles aprenderam com o próprio Senhor.
(Lc 23:34) “E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
Não se engane: por mais corruptas que sejam as autoridades e por mais perniciosas que sejam as leis, Deus está no controle de tudo. Este mundo jaz no maligno e vai continuar assim por um bom tempo, então até mesmo a malignidade que encontramos nos governantes e nas leis tem a permissão temporária de Deus para prevalecer, pois nada escapa aos seus propósitos. Ele quer inclusive que os próprios governantes malignos se convertam. Não é coincidência que este seu desejo venha logo depois da passagem que fala para orarmos pelas autoridades:
(1 Tm 2:1-4) “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os que estão em eminência… Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade”.
A questão é que Deus usa governos injustos e leis ímpias como forma de castigo dos ímpios e aprendizado dos crentes. Se no Brasil o governo atual vai além da mera proteção ao cidadão homossexual e passa a fazer apologia à homossexualidade, não deveríamos nos espantar com isso. Afinal, este é o país do carnaval, das pornochanchadas e das novelas que estouram em audiência quando existe algum apelo erótico e principalmente homossexual. É o que o povo incrédulo quer, e Deus permite isso para que a medida de injustiça do povo fique cheia e Deus não seja considerado injusto quando castigar os ímpios.
(Gn_ 15:16) “E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia”.
(Dt 9:4) “Quando, pois, o Senhor teu Deus os lançar fora de diante de ti, não fales no teu coração, dizendo: Por causa da minha justiça é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir; porque pela impiedade destas nações é que o Senhor as lança fora de diante de ti”.
Apesar de toda a idolatria e impiedade dos povos do Antigo Testamento, você encontra várias vezes Deus usando autoridades pagãs para ajudar seu povo de Israel (Faraó, Nabucodonosor, Ciro, Dario). Você acha que esses reis não faziam sacrifícios aos demônios?
(1 Co 10:20) “Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus”.
Comece hoje a orar pelos governantes e lembre-se de pedir a Deus que perdoe e converta os que estão errados. Aí você estará fazendo a obra de Deus. Mas se continuar incitando o ódio das pessoas contra os poderes estabelecidos, estará fazendo a obra do diabo, o qual, inclusive, é uma autoridade contra a qual não devemos blasfemar. Veja que Judas diz que aqueles que rejeitam as autoridades são comparados a “animais irracionais”.
(Jd 1:8) “Da mesma forma, estes sonhadores contaminam seus próprios corpos, rejeitam as autoridades e difamam os seres celestiais… Todavia, esses tais difamam tudo o que não entendem; e as coisas que entendem por instinto, como animais irracionais, nessas mesmas coisas se corrompem”.
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O que você acha dos vídeos sobre os Illuminati?
Com a facilidade de se publicar vídeos na Internet as pessoas ganharam acesso a tudo o que existe de bem e mal. É claro que o mal sempre dá mais audiência do que o bem. Os telejornais sensacionalistas estão aí para provar isso.
Eu particularmente não gosto de “especialistas no mal”, ou seja, ministérios de cristãos que se ocupam com o mal ao invés de exaltarem a Cristo. De uma forma indireta acabam promovendo o mal e levando mais pessoas a se interessarem por suas práticas.
Evidentemente temos obrigação de condenar as obras das trevas, mas a maneira correta de expor as trevas é por meio da luz e não pela explicação detalhada do que são as trevas. Eu não preciso beber um litro de vinagre para avisar as pessoas que aquilo é vinagre. Basta eu ler o rótulo.
(Ef 5:11-13) “E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as. Porque o que eles fazem em oculto até dizê-lo é torpe. Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta”.
Quando você acende a luz de sua cozinha no meio da noite, a barata se vê exposta e foge. É disso que precisamos: derramar a LUZ sobre as pessoas para que o mal acabe exposto pela luz, e não pela dissecação detalhada da barata.
Um exemplo simples: alguém que pregue contra a prostituição detalhando como ocorre o ato sexual com uma prostituta irá deixar seus ouvintes excitados. Quem vê pode até alegar que ele está pregando contra a prostituição, mas os efeitos que está gerando nas pessoas é justamente o desejo de se prostituírem.
É muito comum vermos isso nas igrejas com os tais “testemunhos”. Ora é a prostituta que conta em detalhes sua vida sexual antes de se converter, excitando a plateia, ora é o traficante que descreve o submundo do crime como se fosse um filme de ação, eletrizando a plateia, ora é o estelionatário que ensina em detalhes todos os golpes que dava, despertando na audiência o desejo do ganho fácil.
Muitos pastores que proíbem os membros de suas igrejas de irem ao cinema acabam trazendo o cinema até eles por meio dos “testemunhadores profissionais”. Sim, muitos são profissionais e cobram cachê para falar nas igrejas. É comum eu receber e-mails de pastores perguntando qual é meu cachê para falar em suas igrejas (o que obviamente não faço, com ou sem cachê).
Qual o efeito criado pelos pregadores de teorias conspiratórias? Será que levam seus ouvintes a se interessarem mais pela Palavra de Deus ou pela palavra dos ocultistas? Antes de minha conversão estive envolvido com ocultismo e esoterismo, mas não é disso que falo em minhas pregações. Não tenho qualquer interesse em levar os ouvintes a se interessarem por minhas práticas dos tempos de incrédulo, gastando seu tempo correndo atrás do esoterismo ao invés de se ocuparem com Deus e com sua Palavra.
Nunca devemos nos esquecer que o ocultismo e o esoterismo são instrumentos de Satanás, e é ilusão acharmos que não seremos influenciados pelo diabo quando nos debruçamos sobre esses temas para estudá-los em detalhes. Não se esqueça que o inimigo tem milhares de anos de experiência em enganar os inexperientes seres humanos!
Esse “ministério do erro” que você encontra em muitas igrejas não é novo. Há muito tempo alguns pregadores profissionais ganham a vida se especializando em filmes da Disney, desenhos do He-Man ou músicas da Xuxa. O que fazem em suas pregações é colocar uma lente de aumento em detalhes (satânicos? eróticos? conspiratórios?) que teriam passado despercebidos pela audiência se não fosse com a “ajuda” do pregador. O resultado? Gente que nem se interessava pelos filmes, desenhos e músicas são capazes até de comprar todos eles, só para passarem horas procurando pelo em ovo, como se esta fosse a ocupação principal de um cristão.
Entendo que aquilo que o apóstolo diz sobre os que “só pensam nas coisas” terrenas pode ser aplicado tanto aos que as promovem como aos que se ocupam delas em detalhes para denunciá-las.
(Fp 3:18-19) “Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, Cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas”.
Uma das características do remanescente fiel que havia em Tiatira era não ter se aprofundado nas coisas de Satanás. Assim devemos ser. Devemos nos aprofundar nas coisas de Deus, sermos “especialistas” no bem, não no mal. A antiga música que dizia “Falem bem ou mal, mas falem de mim…” deve ser a predileta do diabo.
(Ap 2:24) “Digo-vos, porém, a vós os demais que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta doutrina, e não conhecem as chamadas profundezas de Satanás, que outra carga vos não porei;”.
Do mesmo modo que a maioria das pessoas adora assistir telejornais sensacionalistas, que só mostram crimes, criminosos, traficantes, cadáveres, etc., os vídeos e sites especializados em denunciar o mal também atraem multidões. O que a maioria das pessoas não enxerga é que o apresentador do telejornal sensacionalista, que vive xingando bandidos e fazendo pose de prestar um serviço à sociedade, não ganharia um centavo se os bandidos não praticassem seus crimes.
O serviço de “informar a sociedade” que prestam especificamente nesses telejornais também não traz proveito algum. Acaso não sabemos que existem bandidos e que eles vivem praticando crimes? Que aprendizado alguém tem ao ver um telejornal sensacionalista? Você pode aprender muito sobre economia, política, geografia, cultura, etc. vendo um telejornal normal, mas que bagagem lhe dá assistir perseguições a bandidos? Do mesmo modo, o que você ganha por conhecer “as profundezas de Satanás”? Os pregadores especializados em teorias conspiratórias não teriam audiência se falassem “apenas” de Cristo.
Não quero dizer com isso que devemos fechar os olhos para o erro ou sermos indiferentes a ele. Devemos saber identificar a mentira, não por conhecê-la em detalhes, mas por conhecermos em detalhes a Verdade. Precisamos ficar centrados em Cristo, não no erro. É Jesus quem deve caracterizar qualquer ministério e é a Cristo que a pregação deve levar o ouvinte, e não deixá-lo de costas para a Verdade e entretido com a mentira.
Quer um exemplo da atração que o erro exerce nas pessoas? Tenho uns 250 vídeos falando de Cristo, da salvação e das coisas que o Senhor fez nos evangelhos, e no entanto um dos mais vistos é justamente aquele em que falo dos falsos profetas. Parece existir um prazer secreto em nós que nos leva a preferir um vídeo que fale do erro, a 249 que falam do acerto.
Respondendo mais diretamente sua pergunta, o autor dos vídeos sobre os Illuminati que mencionou (assisti um pela metade e para mim bastou) tem uma visão equivocada da ceia do Senhor, e um leitor escreveu perguntando se aquela interpretação dele teria fundamento bíblico (acho que este foi o único outro vídeo que vi do mesmo autor).
Quando o mágico faz a mágica, não fique prestando atenção na mão para a qual ele insiste em chamar sua atenção, mas para a outra. É lá que ocorre o truque. É por isso que a primeira coisa a perguntar quando nos é apresentada qualquer “mágica” interessante (como as teorias conspiratórias) deve ser o que essa pessoa pensa das verdades fundamentais da Palavra de Deus. Não sei tudo o que aquele autor acredita, e nem me interessa saber, mas ao interpretar a ceia do Senhor ele se equivocou tremendamente. Para mim isso foi suficiente.
Hoje há muitos que chamam a atenção para as profecias, o fim do mundo e essas coisas, porém negam verdades fundamentais, como a divindade de Jesus, sua natureza incapaz de pecar, sua permanência hoje no céu em um corpo ressuscitado, etc. Sem falar nos que concentram sua doutrina na guarda do sábado, quando o apóstolo Paulo foi claro ao advertir disso os gálatas em Colossenses 2:16: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados”.
Há também grupos que propagam aos quatro ventos o fato de não terem denominação, quando negam a salvação pela fé (pregando salvação por batismo, por exemplo, o que exigiria termos dois “salvadores” — Jesus e o homem que batiza) ou afirmando que o pecado ou Satanás são mais fortes e poderosos que o sangue de Cristo e sua obra na cruz, ao insistirem em uma lista de regras para o pecador conseguir se salvar e permanecer salvo.
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Evitar filhos é pecado?
Eu entendo que a vida humana só existe quando é concebida, e isso é bíblico. Antes de ser concebida, o sémen masculino e o óvulo feminino ainda não são um ser humano enquanto estiverem separados, e o corpo se incumbe de descartá-los regularmente.
Ao contrário dos animais, que procuram o sexo oposto quando estão no cio, não me lembro de outro ser vivo que tenha a característica do ser humano, ou seja, a disposição constante de fazer sexo, dentro e fora do período de fertilidade da mulher.
A Bíblia fala de Isaque e Rebeca “brincando” como marido e mulher, portanto em algum tipo de atividade íntima que não devia ser necessariamente um ato de procriação, mas de prazer mútuo.
“Ora, depois que ele se demorara ali muito tempo, Abimeleque, rei dos filisteus, olhou por uma janela, e viu, e eis que Isaque estava brincando com Rebeca, sua mulher. Então chamou Abimeleque a Isaque, e disse: Eis que na verdade é tua mulher; como pois disseste: E minha irmã?” (Gn 26:8-9).
Para Abimeleque desconfiar que Isaque e Rebeca eram marido e mulher, essa “brincadeira” devia ter caráter sexual. Com tudo isso concluo que pode existir entre o casal um relacionamento de cunho sexual, porém sem função de procriação.
Existem diferentes métodos contraceptivos, e alguns realmente são abortivos, ou seja, agem após a concepção.
Entendo que os métodos abortivos e o aborto sejam sim condenados pela Palavra de Deus, porém não o evitar a concepção. Até um casal que evita relações sexuais no período fértil (tabelinha) estaria evitando a concepção, o que não tem muita diferença de se usar a camisinha, por exemplo.
No entanto, esta é uma questão pessoal já que não vamos encontrar na Palavra uma ordem do tipo “façam sexo sempre” ou “não evitem a relação” ou “façam sexo apenas nos períodos férteis”. Então se um casal se entende e acredita que deve evitar filhos, então isso é um direito do casal e não devemos criticá-lo por isso.
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O que fazer se minha esposa não pensa igual?
Sinto pelas dificuldades que tem passado com sua esposa, depois que você decidiu deixar a denominação por não encontrar fundamento bíblico para permanecer lá. A cristandade afastou-se de tal maneira do modelo que encontramos no Novo Testamento que quando procuramos nos reunir do modo como a Palavra ensina somos vistos como “estranhos”. Isso é normal, pois as pessoas sentem uma certa segurança no modelo inventado pelos homens, pois já se acostumaram a ele.
Eu me lembro de quando decidi sair da denominação onde estava para congregar somente em nome do Senhor com irmãos que já faziam isso antes de mim, em comunhão com irmãos em todo o mundo que congregam dessa maneira. Embora eu já fosse casado e independente, meus pais ficaram muito preocupados e chegaram a sugerir que eu procurasse uma “igreja” dentro dos moldes convencionais, pois achavam aquelas reuniões muito estranhas. Que história era aquela de congregar sem um templo, sem um padre ou pastor, sem uma estrutura institucional?
O tempo passou, meus pais se converteram e acabaram congregados também somente em nome de Jesus por vários anos, até o Senhor chamá-los para o céu (meu pai em 1998 e minha mãe em 2005). Eles entenderam de tal forma que aquele era o modelo bíblico para os cristãos se reunirem que até construíram o salão de reuniões que você conheceu.
Portanto fique tranquilo. Não vá destruir seu casamento por causa disso. Aguarde, pois o tempo é um ótimo remédio para tudo, inclusive para você poder começar a congregar se desejar. Enquanto isso trate bem sua esposa e permaneça naquilo que você já conquistou, isto é, separado das denominações e aprendendo cada vez mais do Senhor e de sua Palavra. Ninguém poderá obrigá-lo a voltar a uma denominação se o Senhor já tiver lhe mostrado o erro que isso significa. Este será um exercício que você mesmo precisará ter com o Senhor, de permanecer fiel à vontade dele e lendo a Palavra sozinho em casa, se isso mantiver um clima de paz. Ele certamente mostrará a você quando e como agir, bem como é poderoso para abrir os olhos de sua esposa. Além disso, sua perseverança poderá ser premiada por outros que o Senhor possa querer ajuntar aí em sua cidade.
É claro que numa situação assim devemos entender de onde vem o atrito todo e quem está realmente descontente com essa situação. Por isso entenda que sua luta não deve ser contra a carne, ou seja, contra seres humanos (no caso sua esposa), mas contra anjos, as potestades nos lugares celestiais, portanto uma batalha que travamos de joelhos. A mulher, como a parte mais frágil, é sempre o alvo mais vulnerável ao ataque do inimigo e ele pode fazer um grande estrago no casamento quando consegue tocar naquela que ele conseguiu enganar no princípio (1 Tm 2:14 “Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”). A sentença “porei inimizade entre ti e a mulher” continua valendo ainda hoje.
Recentemente um irmão que se separou da denominação onde congregava enfrentou o mesmo problema, quando o tempo fechou em sua casa com sua esposa que quis continuar na denominação. Ele decidiu simplesmente esperar e orar, e logo sua esposa viu que não poderia interferir na fé do marido. Ela continua indo em sua denominação, enquanto ele já está em contato com outros irmãos que também acabaram de conhecer a verdade de como devem se reunir em sua cidade e já planejam se encontrar regularmente para estudar a Palavra.
O primeiro passo é a separação dos sistemas criados pelo homem, e aí o Senhor dará luz para o passo seguinte. Mas é importante manter-se purificado dessas coisas (2 Tm 2) para sermos vaso útil nas mãos do Senhor para coisas para as quais ele não poderia nos usar se continuássemos comprometidos com os sistemas. A fé é individual e a convicção deve vir do Senhor. Você não pode convencer sua esposa e ela não pode convencer você, pois qualquer convicção que vier de homens (inclusive de mim) não é de Deus. Nosso recurso está em Deus, no Espírito Santo que habita em nós, e na Palavra de Deus. Quando Paulo se despediu dos anciãos de Éfeso, foi a esse recurso que ele os encaminhou.
(At 20:32) “Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados”.
Fiquei contente também por saber que pode testemunhar de sua fé simplesmente baseando-se no que a Bíblia diz, e não nos dogmas de alguma denominação. É um privilégio imenso poder pregar o evangelho puro, sem amarras. Sempre me lembro de uma irmã em Cristo que era de uma determinada denominação e quando soube o modo como eu congregava ela disse que sempre que pregava o evangelho para alguém evitava falar que era daquela denominação. Eu perguntei a razão e ela disse que era para evitar qualquer barreira caso a pessoa tivesse algo contra a igreja que frequentava. Perguntei a ela por que ela não se livrava de algo que podia servir de empecilho para pregar o evangelho e ficava só com Cristo.
Quando vejo irmãos fazendo das tripas coração para defenderem algum pastor, alguma igreja, alguma organização, sinto um alívio por poder testemunhar de Cristo fora disso tudo.
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O que você acha deste artigo da revista “Contato”?
Nem precisei ler o artigo que você indicou no site da revista “Contato”. Bastou ler o nome do autor — David Brandt Berg — para ter certeza de que coisa boa não é. A menos que seja uma daquelas coincidências improváveis de homônimos, o David Brandt Berg que encontro numa simples busca no Google foi fundador da seita conhecida por “Meninos de Deus”.
Outro dia um irmão me procurou com a mesma dúvida a respeito da revista “Contato”, que ele recebeu de uma pessoa que se identificou como não tendo denominação. Embora não seja uma denominação no sentido católico ou protestante da palavra, trata-se de uma seita que se diz cristã, mas não é. Suas doutrinas, e principalmente sua história, a denunciam como tendo a marca de Satanás, o pai da mentira.
A seita foi muito ativa nas décadas de 60, 70 e 80, mas acabou se escondendo atrás de outros nomes quando veio à tona que o método que usavam para “evangelizar” era prostituindo suas garotas para conquistar novos membros. Hoje são conhecidos como “A Família Internacional”. Não posso afirmar que utilizem hoje as mesmas práticas, mas o fato de darem honra ao seu fundador no site da organização obviamente tornam seus membros cúmplices dos atos escabrosos que eram praticados no passado.
Eu não me preocuparia em falar desta seita, considerando que há milhares delas por aí, e tampouco gosto de me ocupar com o mal ou descrever suas práticas, como você já deve ter lido em outra mensagem de meu blog. Porém, o fato de ter tido contato com esse grupo no início de minha conversão em 1978, quando ainda era neófito no conhecimento da Palavra, e quase ter sido uma de suas vítimas, deixou uma impressão forte em mim. Deus me guardou de ser engodado por suas mentiras, pois eles são realmente sedutores e falavam de temas que realmente me interessavam.
Publico este texto como um relato de minha experiência pessoal e também para servir de alerta, principalmente aos pais, pois adolescentes são os principais alvos da seita. O endereço na Web http://memorial.riseinternationalcic.org/tfi/ é de um site criado como um memorial às crianças, adolescentes e jovens que morreram na seita, muitos deles por suicídio, negligência por falta de cuidados médicos ou overdose.
Por ocasião de minha conversão iniciei uma amizade com alguns de seus membros, que adoravam repetir “nós amamos você” e me convidaram para visitar a “casa da família” que eles mantinham em Santos, onde eu fazia faculdade. Eles chamaram minha atenção pela alegria exagerada, que chegava a ser artificial, pelo olhar quase hipnótico e pelos rapazes da “casa” quase engolirem minha namorada com os olhos, a qual me acompanhou naquela visita. Saí dali com a certeza de que não devia voltar.
Eu gostava da música deles e cheguei a comprar algumas fitas K7, pois havia jovens bem talentosos entre os membros da seita. Um de seus “hits” da época era tocado até nas igrejas católicas e evangélicas, e você já deve ter escutado a versão dos “Meninos de Deus” de “Senhor fazei de mim um instrumento de tua paz”, cuja letra é baseada em uma oração atribuída a São Francisco. Suas músicas faziam parte do repertório que eu tocava no violão achando que eram “hinos”. Hoje vejo que estavam longe de louvar o Senhor que me salvou.
No início de minha amizade com alguns deles eu nem imaginava o que havia por trás daquela fachada de amor e alegria. Costumava almoçar com alguns deles no restaurante macrobiótico que eu frequentava em Santos e eles sempre me davam umas revistinhas em quadrinhos falando de Jesus. Às vezes eu estranhava algum casal com filhos pequenos mandarem as crianças pedir dinheiro em troca de suas revistinhas às pessoas na rua ou em lanchonetes. Apesar de minha pouca experiência de recém-convertido a Cristo, eu tinha certeza de que evangelizar não era pedir esmola, e muito menos usar crianças para fazê-lo.
Por ter formação artística e ser desenhista, na época eu percebi logo que as revistinhas eram graficamente muito parecidas com as “revistinhas de sacanagem” que circulavam no banheiro de minha escola nos tempos de ginásio. Em minha cidade no interior de São Paulo os garotos apelidavam aquelas revistinhas de “catecismo”.
Um dia, um dos membros da seita que eu sempre encontrava no restaurante macrobiótico deve ter sentido firmeza na amizade, ou talvez estivesse tentando me conquistar com outra forma de “isca”. Digo isto porque ele me presenteou com uma revistinha de circulação interna, exclusiva dos membros da seita, e aí vi que era pura sacanagem mesmo, e pode ter certeza de que não estou exagerando. Era uma revistinha de sacanagem da pior espécie. Tudo girava em torno de sexo e o tal David, apelidado de Moses-David ou “MO”, era o centro de tudo.
Um artigo na Wikipedia descreve David Berg como pervertido sexual e pedófilo. Quando você sabe disso, a insistência que existe no site da seita em querer provar que tratam bem suas crianças acaba soando como um “mea culpa”. É da Wikipedia esta afirmação:
“Pelo menos seis mulheres, inclusive suas duas filhas e duas de suas netas, alegaram publicamente terem sido sexualmente abusados por Berg quando crianças. A filha mais velha de Berg, Deborah Davis, escreveu um livro no qual ela acusa o pai de molestar sexualmente tanto dela, quanto sua irmã, quando eram crianças, e de ter tentado fazer sexo com ela quando adulta”.
O site da organização e a revista “Contato” são hoje veículos de comunicação dos “Meninos de Deus”, rebatizados de “A Família Internacional”. Fuja deles. A organização é hoje comandada internacionalmente por Karen Zerby, considerada pelo grupo sua profetiza e também chamada de Maria Zerby, Mamãe Rainha Maria. Ela é a segunda esposa oficial de David Berg, que já morreu. Se quiser saber mais, hoje existe até uma associação de ex-integrantes da seita e também de filhos bastardos gerados por mães que se prostituíam para conquistar membros e donativos. O endereços é www.xfamily.org Se decidir visitar qualquer um destes sites prepare-se para entrar nos tenebrosos bastidores da seita. Algumas páginas chegam a trazer um alerta de material impróprio: “AVISO: As publicações da Família estão arquivadas aqui com propósitos educacionais. Nós as relacionamos aqui para documentar sua existência, mas algumas destas imagens podem ser consideradas perturbadoras ou pornográficas. Esta página não é adequada para ser vista por menores de idade.”
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Qual pecado é mais grave?
Sua dúvida é se homossexualismo é pior que adultério. Entendo que os pecados podem ser mais ou menos graves aos olhos de Deus. Estacionar em local proibido não é tão grave quanto matar alguém, e assim também é aos olhos de Deus. Porém lembre-se de que Adão e Eva foram expulsos da presença de Deus apenas por um pecado, que foi a desobediência. Deus falou para não comerem de um determinado fruto e eles comeram (esqueça a historinha da maçã ou de que o pecado original tenha sido o sexo, porque isso é falso). Assim basta a pessoa ter um pecado não perdoado para não poder entrar no céu.
Quando você pergunta se homossexualismo é um pecado mais grave que adultério, eu responderia com outra pergunta: Beber veneno é mais grave que levar um tiro? A pergunta fica estranha, não é mesmo? Ambas as coisas trarão danos para minha vida e o melhor é que eu não me envolva em nenhuma dessas situações. No caso de sua pergunta, a Bíblia diz claramente que homossexualismo e adultério são igualmente pecado, apesar de hoje a mídia achar coisas banais, tanto é que dificilmente você encontra alguma novela que não tenha um adultério.
Ambos, tanto o adultério quanto o homossexualismo, destroem a ordem que Deus deu em relação ao sexo:
(Gn 2:24) “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”.
Esta é a única relação sexual que Deus admite, um homem e uma mulher em um relacionamento permanente que chamamos de matrimônio, o qual é também uma figura de Cristo e a Igreja, sua esposa. Qualquer outra união é considerada uma abominação na Palavra de Deus e está em direta desobediência à ordem de Deus, se é que você está interessado em saber o que a Bíblia diz sobre o assunto. Nem homem com homem, mulher com mulher, homens ou mulheres com animais, ou homem e mulher fora do matrimônio.
(Lv 18:22) “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é”.
(Êx 20:14) “Não adulterarás”.
(Lv 18:23) “Nem te deitarás com um animal, para te contaminares com ele; nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele; confusão é”.
(Rm 1:26-27) “Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro”.
(1 Co 6:10) “Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus”.
Quando você diz que é tentado e que não consegue se controlar, desculpe a franqueza, mas isso é “conversa pra boi dormir”. Se estivesse falando que não consegue controlar seu gênio na hora que dá um tapa em alguém durante uma discussão, ou quando solta um palavrão ao ser fechado no trânsito, eu até acreditaria. Um acesso de raiva é tão imediato que chega a ser incontrolável. É o velho homem nos pegando de surpresa e colocando as asinhas de fora. Coisas assim também acontecem com um convertido, mas sempre seguidas de remorso e arrependimento. Mas não me venha dizer que não consegue se controlar ao praticar um ato sexual condenado por Deus, ainda por cima dizendo-se uma pessoa convertida a Cristo.
Se o seu argumento de não ser capaz de se controlar fosse válido, então qualquer homem poderia pular em cima de uma mulher na rua para satisfazer seus desejos sexuais com a mesma rapidez que dá um tapa ou diz um palavrão num acesso de raiva. Mas não é assim que acontece. Qualquer pecado de cunho sexual, seja ele fornicação, adultério ou homossexualismo, exige uma certa premeditação, exige que se encontre um parceiro, que se gaste um tempo de sedução mútua, até chegar à consumação do ato sexual. Ser tentado é uma coisa, e às vezes nossa mente é pega de surpresa por uma tentação. Mas entre ser tentado a matar alguém e cometer um crime existe uma certa distância.
A menos que estejamos falando de animais brutos e irracionais, que não podem ser contidos a menos que estejam enjaulados ou presos a uma coleira, a primeira coisa que se exige de uma pessoa educada e civilizada é que tenha autocontrole, seja ela convertida a Cristo ou não. Imagine que confusão seria nossa sociedade se não conseguíssemos nos controlar! Atropelaríamos quem atravessasse na frente de nosso carro porque não conseguimos nos controlar, mataríamos o chefe a pancadas porque não conseguimos nos controlar depois da bronca, ou comeríamos e beberíamos até morrer porque não conseguimos nos controlar em uma festa do tipo boca-livre!
Se você crê em Jesus como seu Salvador, você tem em si agora mesmo tudo o que é necessário para viver uma vida de devoção a Cristo e longe do pecado.
(2 Pe1:3) “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade”.
Quando o crente cai em pecado é porque quis cair em pecado, e não porque não conseguiu se controlar. José, no Egito, foi seduzido pela mulher de Potifar e, conhecendo sua fraqueza, nem deu tempo para decidir o que devia fazer. Fugiu!
(1 Co 6:18) “Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo”.
(1 Pe 4:1-5) “Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este pensamento, que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado; Para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus. Porque é bastante que no tempo passado da vida fizéssemos a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias; E acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução, blasfemando de vós. Os quais hão de dar conta ao que está preparado para julgar os vivos e os mortos”.
Comece a olhar para o pecado como se olhasse para uma cascavel à porta de sua casa. Esta é uma visão bíblica do assunto e foi Deus quem pôs a questão deste modo para Caim:
(Gn 4:7) “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”.
O que você faz quando sabe que há uma cascavel deitada à porta de sua casa? Você brinca com ela? Vai tentar pegá-la pelo rabo? Tenta começar um diálogo com ela? Abre a porta para ela entrar? De maneira nenhuma! Você procura passar o mais longe possível dela, para evitá-la a todo custo. Se for preciso nunca mais usará aquela porta e sairá de casa pela janela.
Distância do pecado é o que você precisa. Distância de pessoas, coisas, imagens, filmes, sites, novelas… tudo o que de algum modo possa tentar picá-lo e injetar em você o veneno do desejo e do erotismo. Se realmente quiser fazer a vontade do Pai, e não a sua, Deus lhe dará poder para isso. Agora, se quiser mesmo fazer a sua própria vontade, então não tenho mais nada para lhe dizer.
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Posso servir a Deus em minha denominação?
É claro que pode, mas é claro também que não deve. O fato de não existir fundamento bíblico para você congregar em um sistema criado por homens não significa que Deus o abandonará ali ou que você ficará inativo na obra de Deus. O Senhor continua cuidando de suas ovelhas onde quer que estejam e também usa os dons que deu aos homens, não importa onde estejam.
Se você tem o dom de evangelista, continuará saindo a pregar o evangelho e pessoas poderão ser salvas pelo poder da Palavra de Deus. Se tem o dom de pastor, poderá continuar visitando as ovelhas, consolando e curando suas almas com a Palavra de Deus aplicada segundo o dom que Deus deu a você. Se tiver o dom de doutor ou mestre, Deus continuará usando você onde estiver, inclusive em sua denominação, e os irmãos continuarão sendo beneficiados por seu dom.
Mas vamos ver o que diz a Palavra de Deus quando se trata de separar-se do erro dentro da “grande casa” em que se transformou a cristandade:
(2 Tm 2:19-22) “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para TODA a boa obra. Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
Você pode ser útil ao Senhor e à sua obra em qualquer lugar, inclusive nas denominações. Porém, dentro de um sistema, apesar de ser útil para muitas “obras” de Deus, você não poderá ser útil para toda a boa obra.
O Bruce Anstey, autor de “A ordem de Deus”, dá um exemplo relacionado a ser um vaso útil. Em casa temos diferentes tipos de vasos úteis. Um recipiente meio velho e manchado talvez você não utilize para beber água ou guardar algum alimento nele, mas pode usá-lo para trocar o óleo do carro (não deixa de ser uma tarefa útil), guardar terra para plantar algo, dar ração para o cachorro, etc. Já um recipiente limpo você pode usar para estas e toda obra. Prefira ser este vaso, separado, limpo e idôneo para ser usado pelo Senhor sem restrições.
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Existe uma organização central?
Depois de ler meu texto “Como devemos nos congregar” você ficou com algumas dúvidas sobre a necessidade de congregar em comunhão com uma assembleia mais próxima que já estivesse se congregando em nome de Jesus.
O que gerou sua dúvida foi eu ter explicado ao destinatário daquele texto, que tinha saído de uma denominação com outros irmãos, que as reuniões que fizessem entre eles para leitura da Palavra seriam reuniões informais, pelo menos até que estivessem congregados em nome de Jesus como ensina em Mateus 18:20. O caminho correto para isso seria entrarem em comunhão com uma assembleia mais próxima que já estivesse congregada assim. Daí sua dúvida, se existiria uma “organização central” para autorizar isso. Não existe. Mas vamos ver o que diz a Palavra de Deus:
(Mt 18:15-20) “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.
Perceba que aqui o Senhor conecta o reunir-se ao seu nome com sua autoridade dada à assembleia para julgar as coisas, ou “ligar e desligar” pessoas (não do corpo de Cristo ou da salvação, mas tão somente da comunhão). Isso é o que chamamos de governo praticado com a autoridade delegada pelo Senhor. O Senhor dá um exemplo de pecado entre irmãos que, se não puder ser resolvido entre eles, deve ser levado ao conhecimento de dois ou três irmãos e, se mesmo assim não for resolvido, deve ser levado à assembleia que tem poder de ligar ou desligar questões e pessoas (da comunhão à mesa do Senhor, não da salvação). Em 1 Coríntios 5 há um caso de desligamento da comunhão à mesa do Senhor de uma pessoa em pecado moral.
Portanto, respondendo sua dúvida, não existe uma organização central, mas também não existe independência entre as assembleias, porque é assim que vemos na Bíblia. No início todas as assembleias estavam ligadas entre si, e quando alguém começava a congregar isso era feito em perfeita comunhão com os irmãos que já estavam congregados em nome de Jesus em outros lugares. Porém hoje, a pergunta que devemos fazer quando despertados para o fato de que Deus não autorizou dividir os crentes por denominações, ou mesmo por grupos sem denominação, deve ser: “Onde devo congregar? Onde o Senhor colocou o seu nome? Onde ele é reconhecido no meio de dois ou três congregados?”.
Ao sair de uma denominação você olha ao redor e vê milhares de grupos cristãos, muitos deles com doutrinas e práticas completamente fora da Palavra, outros com doutrinas e práticas exatamente iguais ao que você encontra na Palavra de Deus. Para encontrar o verdadeiro terreno de reunião você precisará depender da direção do Espírito Santo, não de seguir a homens ou seu próprio coração.
Quando o Senhor disse aos discípulos para prepararem a ceia, eles perguntaram: “Onde queres que a preparemos?” (Lucas 22). Eles teriam de seguir um homem carregando um cântaro até encontrarem um cenáculo mobilado. Dos muitos lugares em Jerusalém onde havia pessoas celebrando a Páscoa naquela noite, só havia um lugar aonde o Senhor iria se apresentar pessoalmente no meio dos fiéis: o lugar que ele havia apontado. Que lugar é esse? O Senhor mesmo terá de mostrar a você, não eu.
Mas existem princípios bíblicos que podem nos ajudar a enxergar isso. Primeiro, Deus colocou o seu nome em apenas um lugar em Israel, e esse lugar foi Jerusalém.
(Dt 12:11-14) “Então haverá um lugar que escolherá o Senhor vosso Deus para ali fazer habitar o seu nome; ali trareis tudo o que vos ordeno; os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e toda a escolha dos vossos votos que fizerdes ao Senhor. E vos alegrareis perante o Senhor vosso Deus, vós, e vossos filhos, e vossas filhas, e os vossos servos, e as vossas servas, e o levita que está dentro das vossas portas; pois convosco não tem parte nem herança. Guarda-te, que não ofereças os teus holocaustos em todo o lugar que vires; Mas no lugar que o Senhor escolher numa das tuas tribos ali oferecerás os teus holocaustos, e ali farás tudo o que te ordeno”.
Deus daria por encerrada a dispensação em que tratou com Israel e começaria algo novo com a Igreja, e para esta não haveria um lugar físico, como um templo em uma cidade, mas continuaria valendo que seria o lugar onde o Senhor colocasse o seu nome, “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.
Veja o que o Senhor disse à mulher samaritana: (Jo 4:21-24) “Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.
Então já temos que Deus tem um lugar, que esse lugar é identificado pelo nome de Jesus, que nesse lugar é exercida a autoridade do Senhor para julgar (ligar e desligar), e que a adoração aí é em espírito e em verdade. Israel adorava em verdade porque sua adoração estava dentro dos preceitos ditados pelo Antigo Testamento, mas não em espírito, pois sequer reconheceram o Messias. Um sistema religioso cristão pode adorar em espírito, porque reúne salvos ali que reconhecem o Salvador, mas não está adorando em verdade se sua adoração não estiver de acordo com a doutrina dos apóstolos para a Igreja encontrada nas epístolas.
Agora o que isso tem a ver com a necessidade de se procurar uma assembleia mais próxima para comunhão quando um grupo de cristãos se desliga de um sistema e quer congregar somente ao nome do Senhor? A razão é que não existe na Palavra de Deus a ideia de independência entre assembleias. Qualquer pessoa que deseje a comunhão precisará buscar aqueles que já estão em comunhão à mesa do Senhor para guardar a unidade na prática.
— Em Atos 9:26-29 Paulo quis se juntar aos irmãos, mas estes temiam que ele não fosse realmente convertido. Foi preciso Barnabé apresentá-lo.
— Atos 16 mostra que quando Paulo chegou a Derbe encontrou Timóteo, que tinha bom testemunho entre os irmãos das assembleias de Listra e Icônio.
— Em Atos 18:27 os irmãos da assembleia que estava em Éfeso escreveram aos da assembleia em Acaia para que recebessem Apolo.
— Em Romanos 16 o próprio Paulo recomenda à assembleia em Roma a irmã Febe que congregava na assembleia em Cencréia.
Percebe como estava tudo interconectado e que não existia independência entre as assembleias? Nunca era o caso de alguém simplesmente chegar, sentar e participar da comunhão à mesa na ceia do Senhor com base apenas em seu próprio testemunho de que havia se convertido. E veja que naquela época o simples fato de se declarar cristão já transformava a pessoa em alvo dos leões, ou seja, dificilmente alguém iria querer se declarar cristão se realmente não o fosse. E hoje, quando ser cristão virou algo banal e todo mundo diz ser? O cuidado deve ser ainda maior.
Ao deixar uma denominação ou até mesmo um grupo sem denominação, você precisará verificar em que terreno está pisando, pois encontrará uma centena ou mais de grupos declarando estar reunido somente em nome de Jesus. Como identificar o que é real ou não? Falei aqui de alguns princípios: o nome de Jesus, sua autoridade reconhecida, o apego à doutrina dos apóstolos para a Igreja, em especial as epístolas paulinas, já que a verdade do “um só corpo” foi revelada diretamente a Paulo. Resta investigar a genealogia, um princípio que encontramos no Antigo Testamento e tem a ver com o fato dos cristãos encomendarem alguém de uma assembleia a outra em Atos.
(Ed 2:62) “Estes procuraram o seu registro entre os que estavam arrolados nas genealogias, mas não se acharam nelas; assim, por imundos, foram excluídos do sacerdócio”.
(Ne 7:64-65) “Estes buscaram o seu registro nos livros genealógicos, porém não se achou; então, como imundos, foram excluídos do sacerdócio. E o governador lhes disse que não comessem das coisas sagradas, até que se apresentasse o sacerdote com Urim e Tumim”.
Numa época de ruína (Esdras e Neemias) os judeus precisavam ter o cuidado de verificar na genealogia quem era ou não real para participar das coisas santas. O mesmo cuidado deve ser tomado hoje, tanto por uma assembleia no recebimento de alguém à comunhão, como da própria pessoa que está em busca do lugar onde o Senhor colocou o seu nome.
Começando pela identificação de onde não é este lugar, podemos enumerar algumas características (depois de verificada a sanidade da doutrina que esse grupo professa). Não é o lugar se:
– Possuir um líder, uma sede ou um corpo central que determina o que as diferentes assembleias devem ler, crer ou fazer.
– Congregar sobre uma base de independência, ou seja, não existe uma interdependência de assembleias, cartas de apresentação e encaminhamento de pessoas à comunhão ou o reconhecimento de que uma decisão tomada com a autoridade do Senhor numa localidade deve ser reconhecida em todas as localidades.
– O pecado não for julgado e qualquer um que chega pode participar da comunhão, sem passar pelo “ligar e desligar” que o Senhor autorizou a assembleia local a fazer.
Mesmo assim ainda restarão alguns grupos praticamente idênticos. Qual será então? É aí que você deve apelar para a “genealogia” e saber a história de cada um, pois hoje há muitos grupos reunidos sem denominação que são fruto de pecado cometido no passado. Alguém que foi colocado fora de comunhão por pecado pode ter sido recebido em outra localidade que desconsiderou a decisão da assembleia que julgou o pecado em nome de Jesus. Muitos grupos foram gerados assim, de insubordinação, e são hoje divisões que atravessaram gerações, até seus descendentes atuais desconhecerem o fato gerador, ou seja, a rebelião à autoridade do Senhor.
Quanto à questão de vocês procurarem uma assembleia “mais próxima” (dentro dos critérios que já demonstrei) é tanto uma questão de facilidade de acesso como também com base em um princípio dado por Deus no Antigo Testamento para Israel, de que as questões entre o povo de Deus deviam ser resolvidas pelos anciãos da cidade mais próxima (Josué 20 e outras passagens). Li em algum lugar que as cidades de refúgio eram distribuídas de tal forma que um homicida involuntário conseguisse chegar à cidade mais próxima sem transgredir o mandamento da jornada do sábado.
Só para deixar claro, não existe na Palavra a ideia de um governo central, e nem de assembleias independentes, mas a autoridade do Senhor é dada a uma assembleia e deve ser reconhecida por todas. Alguém que deseje congregar somente ao nome do Senhor desconsiderando que já existem assembleias congregadas assim estará adotando um espírito independente, o que não é correto pela Palavra de Deus pelas razões que já apresentei. O que fazer então? Ore e examine na Palavra para ver se as coisas são de fato assim. E o Senhor lhe mostrará o “homem com um cântaro” e o “cenáculo mobilado”. É aí que você deverá encontrar o Senhor no meio dos seus.
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Antes de eu crer Deus já cuidava de minhas necessidades?
Você contou em seu e-mail que era espírita antes de se converter e que “em 90% ou mais das dificuldades, sempre vinha uma solução”, e pergunta: “Aquilo que parecia impossível acontecia. Mas se não aceitava Jesus, Deus e o Espírito Santo estas soluções eram apenas coincidências?”.
Se você realmente se converteu a Cristo, então sua conversão já estava nos planos de Deus. Ainda que 100% de seus problemas desta vida fossem sempre resolvidos de forma providencial, isso não teria valor algum se o juízo e o lago de fogo estivessem diante de você como sua porção eterna.
Considerando sua linha de raciocínio, talvez seja interessante você indagar de si mesmo se realmente se converteu ao Salvador ou ao Provedor. O que quero dizer é que hoje há muitas igrejas que falam de um Jesus provedor, aquele que multiplica os pães, não do Salvador que foi sacrificado por Deus na cruz em nosso lugar. A salvação da qual falam esses pregadores que são abundantes no rádio e na TV é uma salvação de dívidas, problemas amorosos, doenças, etc., mas não da salvação eterna e perdão dos pecados.
Esses pregadores de prosperidade costumam pregar um “Jesus talismã”, o que não é muito diferente do que pregam as religiões pagãs, sempre com o foco em benefícios nesta vida. O Senhor Jesus não veio ao mundo para nos dar uma vida fácil e confortável, muito pelo contrário.
(1 Tm 6:8) “tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos com isso contentes”.
O fato de Deus ter cuidado de suas necessidades antes de sua conversão é apenas prova da misericórdia de Deus, porque ele “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5:45). Prosperidade nesta vida não é indício de que alguém será salvo ou esteja salvo, mas é simplesmente porque Deus quis assim.
Antes de qualquer coisa você deve crer em Jesus para ter todos os seus pecados perdoados e receber gratuitamente a vida eterna. É esta a mensagem do evangelho, e não uma mensagem de sorte no amor, nas finanças, no trabalho, etc. Não estou colocando em dúvida a sinceridade de sua conversão, mas apenas sugerindo que faça essas indagações, considerando o volume de mistura que existe hoje na mensagem pregada pela cristandade.
Todavia, se realmente creu em Jesus como aquele que levou seus pecados na cruz e pagou por cada um deles ali para garantir seu perdão eterno, então isso aconteceu porque um dia, quando você nem existia, Deus decidiu que iria salvá-lo. Então, surpreenda-se com o fato de que Deus cuida de nós muito mais do que imaginamos, isto é, até quando nós nem existíamos!
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Existe um propósito para minha vida?
Pense assim: se uma pessoa que já creu em Jesus tem todos os seus pecados perdoados e está pronto para entrar no céu, por que Deus a deixa aqui? Porque existe um propósito (ou mais de um). O mais humilde e desconhecido servo de Deus tem um papel importante na obra de Deus neste mundo.
Pense na menina escrava da mulher de Naamã e o impacto que teve a sugestão que deu à sua patroa sobre quem Naamã devia procurar para ser curado da lepra. A princípio ela não deve ter entendido por que Deus permitiu que o inimigo de Israel a capturasse para servir de escrava (2 Rs 5:2-3). Ou pense no rapaz anônimo que um dia saiu de casa com cinco pães de cevada e dois peixinhos na sacola e parou para ouvir o que Jesus dizia (Jo 6:9).
Gosto de uma historinha das árvores da floresta, uma que queria ser usada para construir o bercinho de um grande príncipe, outra que desejava ser transformada em um grande e luxuoso barco para levar um soberano, e outra que não queria ser menos do que o trono dessa pessoa ilustre. Elas ficaram frustradas quando, depois de cortadas, foram transformadas respectivamente em uma manjedoura, em um barquinho de pesca e em uma cruz para a execução de um malfeitor. Nem preciso dizer que mais tarde elas entenderam o propósito de existirem.
Deus pode me deixar aqui porque há coisas que ele quer que eu aprenda que não poderia aprender no céu, como a sua fidelidade em cuidar de mim em um ambiente hostil, por exemplo. Ele também me deixa aqui para testemunhar dele aos outros, porque não foi a anjos que designou para pregar o evangelho, mas a homens.
Posso ficar aqui também para que minha vida dê testemunho do poder transformador de Deus. Posso ficar para servir de exemplos a outros, e isso inclui ficar aqui com alguma doença incurável, por exemplo. Como as pessoas ficariam cientes de Deus consolar o aflito se não existisse nenhum aflito crente por perto? Imagine que você é a tela, as circunstâncias são as tintas e Deus é o pintor. O próprio Senhor explicou isso ao falar do propósito da deficiência do cego de nascença.
(Jo 9:2-3) “E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus”.
Do mesmo modo como Deus tem um propósito para a vida do crente, ele tem um propósito para a morte. Deus pode me tirar do mundo por diferentes razões. A pior seria por não servir mais como um testemunho e só ficar atrapalhando aqui. Creio ter sido o caso de Ananias e Safira. É este o “pecado para a morte” de que a Bíblia fala, para a morte do corpo, não da alma. Seria também a “destruição do corpo” de que fala 1 Coríntios 5, caso o homem imoral não se arrependesse, como parece que se arrependeu em 2 Coríntios.
Posso ser tirado do mundo porque minha partida servirá de testemunho a muitos, como aconteceu com Abel. Lembro-me do caso daquela jovem na escola americana (Columbine) cujo testemunho de fé diante de seu assassino, depois contado pelas colegas, acabou levando muitos a crerem em Cristo.
Ou posso ser levado do mundo simplesmente porque “combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4:7), que foi o caso de Paulo. O importante é termos sempre em mente que não devemos desperdiçar nem a vida nem a morte. Minha primeira reação a qualquer situação é: Deus tem um propósito nisto também. E isso inclui todos os problemas que passamos, pois cada um tem um propósito muito definido nos planos de Deus.
(Lc 12:22) “E disse aos seus discípulos: Portanto vos digo: Não estejais apreensivos pela vossa vida”.
(Jr 29:11) “Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais”.
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Fumar é pecado?
Esta é uma pergunta interessante porque gostamos de fazer uma lista de pecados e nos regozijar de cumpri-la, deixando fora da lista coisas que apreciamos mas não achamos prejudiciais. As religiões mais rigorosas e legalistas são as que mais inflam o ego das pessoas, porque as colocam na condição de juízes de quem não segue sua lista do que pode e não pode.
Não existe um versículo na Bíblia que condene o fumo, mesmo porque na época em que foi escrita o tabaco só existia nas Américas, onde era utilizado por praticamente todos os povos indígenas. Mas é bem provável que os povos, principalmente do Oriente, já praticassem algum tipo de inalação de fumaça ou vapores de substâncias estimulantes ou alucinógenas.
Embora prejudicial para a saúde, a Bíblia não condena diretamente o ato de fumar como condena a glutonaria, que dificilmente fará parte da lista de pecados da maioria das religiões, católicas ou evangélicas. Comer demais certamente é um pecado denunciado com todas as letras na Palavra de Deus. A glutonaria aparece ao lado de “invejas, homicídios e bebedices” em Gálatas 5:21, é companheira das “dissoluções, concupiscências, borrachices e bebedices e abomináveis idolatrias” em 1 Pedro 4:3 e Romanos 13:13, além de ter sido particularmente denunciada pelo próprio Senhor em Lucas 21:34.
Mesmo assim você já deve ter visto muito crente obeso soltar o verbo contra um irmão fumante, esquecido do que o Senhor disse em (Mt 7:4) “Como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”.
O mesmo acontece com outro pecado que a sociedade moderna incentiva, e é comum nas igrejas que pregam a prosperidade. Falo da cobiça e particularmente do amor ao dinheiro. Hoje o ganancioso e ambicioso é louvado pela sociedade, e até por homens que se dizem cristãos. Este é o assunto de (2 Tm 3:2) “Pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos… atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder”.
(Lc 16:13-14) “Nenhum servo pode servir dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar ao outro, o há de odiar a um e amar ao outro, o há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. Os fariseus, que eram gananciosos, ouviam todas essas coisas e zombavam dele”.
Não me entenda mal. Não estou justificando o cigarro ou dizendo que seja inofensivo ou menos prejudicial que outros costumes largamente aceitos na cristandade, como a glutonaria e a ganância. O fumo prejudica sim o corpo do cristão, que é o templo do Espírito e deve ser tratado com cuidado. Eu mesmo, em minha atividade profissional, não faço palestras ou treinamentos para a indústria do tabaco por não me sentir motivado a motivar sua equipe de vendas a vender mais.
Mas o cigarro não era considerado um mal pelos cristãos há algumas décadas. O fumo começou a ser considerado um pecado grave pelos protestantes na metade do século 20, quando também começaram a descobrir os malefícios da nicotina. Mas no passado era comum cristãos fumarem cachimbos e charutos, como faziam C. H. Spurgeon e C. S. Lewis. Obviamente isso não justifica o fumo, mas a falta de informação na época fazia o fumo ser considerado inócuo para o organismo. Nos anos 50 havia até propaganda de cigarro com a frase “Este os médicos recomendam”.
Visto do ponto de vista dos prejuízos que traz à saúde do corpo, que é o templo do Espírito, o fumo é um pecado, como é também a droga ou qualquer vício, até mesmo os mais inocentes, como ser viciado em chocolate. Do ponto de vista do vício, (1 Co 6:12) “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”.
Outra questão que pode transformar o fumo ou qualquer coisa em pecado é se isso trouxer escândalo ou fizer desviar um irmão mais fraco. Se ele vê você fumando e isso o escandaliza, então evite fazer isso na presença dele, e isto vale também para comer ou beber certos alimentos e bebidas.
(Rm 14:21-23) “Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça. Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado”.
Se você achar que está pecando pelo fato de fumar, então procure parar. Eu sei que não devo beber vinho perto de alguns cristãos, mas fora disso não vejo problema em beber um cálice de vinho ou um copo de cerveja, o que não é suficiente para embebedar (a Bíblia condena a embriaguez com vinho, não o vinho, ou o Senhor não teria transformado água em vinho na festa de casamento).
A nicotina pode viciar, e aí você se torna escravo dela, o que não é da vontade do Senhor. Mas nem sempre é o caso. Eu tinha um professor no ginásio que fumava um cigarro por dia apenas. Depois das aulas, ele chegava em casa à noite, sentava em sua cadeira de balanço preferida, colocava um disco de música clássica, e fumava um cigarro. Aquilo não era vício, era terapia. Certamente devia fazer menos mal do que tomar um calmante após um dia estressante de aulas para alunos como eu, que não estavam muito interessados em aprender.
De qualquer forma, se puder livrar-se do vício, você só ganhará com isso. Hoje temos informação suficiente para saber que o cigarro causa câncer, e não creio que devemos submeter nosso corpo a esse dano. O mesmo vale para medicamentos desnecessários e outras coisas. Talvez daqui a cem anos os cristãos perceberão que beber refrigerante ou consumir adoçante químico é até pior que fumar… Então essas coisas entrarão na lista dos pecados.
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Devo estudar as religiões para conhecer seus erros?
Um barqueiro que trabalhava atravessando seus clientes por um rio perigoso e cheio de rochas escarpadas escondidas sob a água, foi indagado de um passageiro se ele conhecia cada rocha perigosa do rio. Ele respondeu que não. Bastava ele conhecer onde ficava o canal para ficar seguro.
Assim é com respeito às religiões. Se você começar a estudar as religiões vai virar uma expert na mentira, não na verdade. Mas se dedicar seu tempo ao conhecimento da verdade, poderá muito bem identificar imediatamente o que se esconde sob as águas dessas religiões.
Você já entendeu que não existe na Bíblia qualquer igreja no sentido denominacional, mas as igrejas eram tão somente os cristãos localizados em um determinado lugar (geralmente identificados pelo nome da cidade onde moravam). Assim havia os cristãos em Corinto, em Éfeso, em Roma, etc. Portanto qualquer grupo de cristãos que adote um nome qualquer já está em desacordo com a Palavra de Deus, independente de quantas verdades bíblicas eles confessem.
Geralmente no meio deles você encontrará muitos salvos por Cristo, que estão ali por ignorar a importância que Deus dá ao nome de Jesus, tanto é que acrescentaram um outro nome para se identificarem como “diferentes” de outros cristãos.
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Por que os cristãos falam tanto em visão?
A palavra “visão” é traduzida em algumas versões da Bíblia como “coisas que não viu”, ou seja, imaginárias. Deus deu visões aos seus servos e apóstolos, mas hoje que temos a Palavra de Deus completa em nossas mãos não precisamos nos ocupar com visões que podem muito bem ser fruto da imaginação, manipulação de falsos cristãos ou até insinuações do inimigo.
(Cl 2:18) “Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão”.
Veja agora o mesmo versículo em outras traduções:
“Ninguém vos roube a seu bel-prazer a palma da corrida, sob pretexto de humildade e culto dos anjos. Desencaminham-se estas pessoas em suas próprias visões e, cheias do vão orgulho de seu espírito materialista”.
“Ninguém à sua vontade vos tire o vosso prêmio com humildade e culto aos anjos, firmando-se nas coisas que tem visto, inchado vãmente pelo seu entendimento carnal”.
“Que ninguém, a pretexto de humildade e culto aos anjos, vos impeça de alcançar a vitória. Tais pessoas baseiam-se em pretensas visões, deixando-se ingenuamente inchar de orgulho por sua mente carnal”.
“Não permitam que ninguém que tenha prazer numa falsa humildade e na adoração de anjos os impeça de alcançar o prêmio. Tal pessoa conta detalhadamente suas visões, e sua mente carnal a torna orgulhos”.
Pegue a maioria das religiões, principalmente as pentecostais, e você encontrará que são fruto de uma “visão” que seu líder teve, de que deveria fundar aquela denominação e coisa e tal. A questão é que Deus jamais iria mandar alguém fundar uma denominação porque isso vai contra o ensino claro da Palavra de Deus:
(Jo 5:43) “Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis”.
(Jd 1:19) “Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito”.
Alguém poderá alegar que as visões foram prometidas na profecia de Joel 2:28 repetida por Pedro em Atos 2:17. Sim, mas nenhuma delas iria contradizer o ensino claro da Palavra de Deus, como é o caso do nome de Jesus como sendo o único nome a identificar os que pertencem a ele, além de outras contradições claramente encontradas nas muitas seitas da cristandade.
Além disso, o que Pedro estava mostrando era que a profecia de Joel estava se cumprindo em parte naquele exato momento. Muita coisa dela ainda não aconteceu e só acontecerá na vinda do Senhor para estabelecer o seu reino. Se prestar atenção verá que seu cumprimento está mais associado ao remanescente judeu que se converterá após o arrebatamento da Igreja do que aos cristãos desta dispensação:
(Jl 2:30-32) “E mostrarei prodígios no céu, e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como disse o Senhor, e entre os sobreviventes, aqueles que o Senhor chamar”.
Entender quando uma profecia do Antigo Testamento se cumpre no Novo Testamento é importante para não cairmos em erro. Por exemplo, quando em Mateus 8:17 diz “Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças”, o evangelho está dizendo exatamente isso: O que Isaías previu estava se cumprindo naquele exato momento. Ao curar alguém quando estava no mundo, Jesus estava tomando para si a enfermidade daquela pessoa.
Quando lemos Mateus entendemos o que Isaías estava querendo dizer. Ele não queria dizer que Cristo levaria, na sua morte na cruz, todas as nossas enfermidades, mas que faria isso em vida, enquanto andasse aqui. Esta interpretação é confirmada justamente pela declaração de Mateus, de que a profecia se cumpria naquele momento em que Cristo curava as pessoas, antes mesmo de morrer na cruz.
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Se a mulher não pode ensinar é porque ela é incapaz de aprender?
Evite ampliar ou complicar o que Deus não complicou. A proibição na doutrina dos apóstolos é que a mulher ensine o homem: (1 Tm 2:12) “Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio”.
Aliado a isso, a ela também não é permitido, não apenas ensinar, mas até mesmo falar na reunião da igreja ou assembleia:
(1 Co 14:34) “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei”.
Então é simples como 1+1=2. As mulheres não devem ensinar o homem em geral, e devem permanecer caladas nas reuniões da assembleia, neste caso em particular.
Porém as mulheres podem falar da Palavra de Deus em outras ocasiões, desde que mantenham a cabeça coberta como ensina em (1 Co 11:5) “Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada”.
A palavra “profetizar” é ampla o suficiente para incluir falar das coisas de Deus. A mulher também pode anunciar coisas relativas a Jesus, como fez a samaritana em João 4 ou as mulheres que foram testemunhas da ressurreição e anunciaram isso aos discípulos. A mulher também ensina crianças, como fizeram a mãe e avó de Timóteo, e outras mulheres: (Tt_2:4) “Para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos,”.
O que você não pode deduzir, como parece ter deduzido, é que a mulher seja incapaz de aprender diretamente do Espírito de Deus e que dependa do homem para isso. Não é verdade. A mulher tem sua comunhão com Deus como tem o homem, e pode aprender muitas coisas diretamente de Deus. Não queira transformar o mandamento “não ensine” em “não aprenda”, porque esta é justamente uma das razões pelas quais Deus não permite que a mulher ensine, e o problema começou no Éden.
Veja a ordem que Deus deu:
(Gn 2:16-17) “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”.
Agora veja a versão feminina da ordem de Deus:
(Gn 3:2-3) “E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais”.
Deu para perceber que a mulher cumpriu a risca o ditado que diz que “quem conta um conto aumenta um ponto”? Pois é, ela aumentou a ordem de Deus acrescentando “nem nele tocareis”, algo que Deus nunca disse. Por não se apegar simplesmente ao que Deus disse, e ir além, ela ficou vulnerável ao erro. Ao acreditar na sua própria versão a mulher deu a Satanás o sinal de que seria capaz de acreditar na versão dele também. É aí que ele entra com uma declaração totalmente contrária à que Deus tinha feito:
(Gn 3:4) “Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis”.
Dê um dedinho ao diabo e ele pegará o braço. Adão não foi enganado, mas seguiu a mulher no erro, consciente do que estava fazendo.
(1 Tm 2:14) “E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”.
Desde então, e também por causa da declaração de Deus de que haveria inimizade entre o diabo e a mulher para sempre (Gn 3:15), a mulher ficou impedida de ensinar. Aquelas que o fazem correm o risco de “acrescentar um ponto ao conto” e ainda ficarem vulneráveis a doutrinas “sopradas” pelo inimigo.
Mas nada disso significa que uma mulher não possa aprender, e muitas aprendem bem da Palavra de Deus e são sábias em permanecer no lugar que Deus determinou para elas.
Sobre sua outra pergunta, se um líder em uma denominação é ou não inspirado pelo Espírito Santo quando prega, respondo que pode ser sim, se ele for um verdadeiro crente. Obviamente Deus continua usando os dons que deu aos homens para alimentar seu rebanho, porém quando esse dom é limitado pelos dogmas e doutrinas impostos por uma denominação ele poderá alimentar até certo ponto o rebanho.
Ao falar de apartar-se do erro em 2 Timóteo 2 Paulo explicou que alguém apartado do erro e dos vasos de desonra pode ser vaso útil para “toda boa obra”, indicando que há vasos úteis para muitas obras, mas não “toda boa obra” se estiverem sujos com erros de doutrina ou associação com o mal.
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Deus castiga?
Sim, Deus castiga os seres humanos e disciplina seus filhos. No passado Deus usava Israel para castigar as nações idólatras, e usava as nações idólatras para castigar Israel quando aquele povo caía no erro:
(Is 10:5-6) “Ai da Assíria, a vara da minha ira, porque a minha indignação é como bordão nas suas mãos. Envia-la-ei contra uma nação hipócrita, e contra o povo do meu furor lhe darei ordem, para que lhe roube a presa, e lhe tome o despojo, e o ponha para ser pisado aos pés, como a lama das ruas”.
(Gl 6:7) “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”.
Isto se refere a esta vida. Assim, mesmo um cristão que é perdoado pelo seu erro poderá sofrer as consequências disso, naturalmente ou pela mão de Deus. Um ex-viciado, por exemplo, pode sofrer danos de saúde por causa de seu vício mesmo após convertido a Cristo, e continuará sujeito à disciplina de Deus enquanto andar aqui, pois é filho do Pai.
O que podemos ter certeza é de que quando Deus disciplina um filho é por amor, muito embora a psicologia moderna, ao querer ser mais sábia do que Deus, condena a disciplina física colocando os filhos numa condição que Deus chama de “bastardos”. Deus, por sua vez, mostra que filhos que são disciplinados têm reverência pelos pais, algo que vemos cada vez menos nas famílias modernas:
(Pv 23:13) “Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá”.
(Hb 12:5-11) “E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido; Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos. Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela”.
Uma vez ouvi de uma mãe cristã:
“Se o governo diz que posso ser presa por bater em meus filhos, então prefiro ir presa a deixá-los sem disciplina para acabarem presos como marginais quando adultos”.
Nunca devemos nos esquecer de que o maior castigo que Deus já aplicou foi contra o seu próprio Filho, e não por alguma desobediência dele, mas nossa.
(Is 53:5) “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.
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Ainda existe perseguição a cristãos?
Realmente há muitos cristãos sendo perseguidos hoje em todo o mundo e por alguma razão o Senhor permite que seja assim. Quando a perseguição acabou na Rússia o cristianismo caiu naquilo que é visto em todo o mundo, ou seja, na mornidão.
Tenho comunhão com irmãos que congregam somente ao nome do Senhor no Butão, onde o cristianismo é proibido, e eles são obrigados a cruzar a fronteira com a Índia para fazerem suas reuniões. Mesmo na Índia há regiões onde eles são perseguidos por sua fé, tanto por hindus como por muçulmanos.
Mas não se iluda: perseguição existe no mundo todo. Nos Estados Unidos já ouvi de pelo menos dois salões de reuniões de irmãos congregados somente em nome do Senhor que foram incendiados por vândalos. E em alguns lugares os pastores alertam suas ovelhas para ficarem longe desses crentes sem denominação.
Irmãos que congregam no Egito são proibidos de pregar o evangelho a muçulmanos e podem ser presos se tentarem fazê-lo. Também só podem se reunir em locais autorizados para cultos cristãos antes do país ganhar essas leis mais rigorosas. Os irmãos que congregam somente ao nome de Jesus lá são obrigados a alugar salas no porão de algum templo cristão antigo para poderem congregar, ou às vezes fazem reuniões em hotéis existentes na margem do Sinai do Mar Vermelho, pois são hotéis abertos a turistas ocidentais onde as leis da proibição não se aplicam.
É preciso ter discernimento, porém, porque você sempre encontrará gente usando fotos e vídeos de cristãos perseguidos para angariar donativos, e nem sempre o material representa perseguições a cristãos verdadeiros. Por exemplo, no Egito tem acontecido lutas entre “cristãos” e muçulmanos e recentemente vários cristãos foram mortos dentro de uma igreja.
Acontece que lá muitos desses cristãos são coptas, uma denominação que prevalece no Egito, e são simplesmente religiosos como são muitos católicos que vemos no mundo ocidental, e a luta deles no Egito é mais política do que por questões de fé. Estão querendo espaço, como no Brasil fazem os deputados da tal da “bancada evangélica” no Congresso. Os cristãos coptas no Egito chegam a perseguir outros cristãos minoritários ou aqueles que pregam o evangelho da salvação baseada na fé apenas.
Existe uma assembleia de irmãos reunidos ao nome do Senhor no Cairo e muitas crianças coptas frequentavam a escola dominical, até o líder deles descobrir isso e visitar suas famílias para dizer que aquilo era do diabo e que deviam proibir os filhos de frequentar tal coisa. As crianças pararam de ir à escola dominical ouvir o evangelho da graça, porque a igreja copta prega um evangelho de obras.
É sempre bom perguntar a si mesmo: será que os cristãos são sempre perseguidos por causa de sua fé e do nome de Jesus, ou será que alguns são perseguidos por questões políticas? Cristãos que tentam deter o poder neste mundo podem acabar odiados por outras religiões, mas o que estão fazendo também está errado. Não cabe ao cristão se intrometer nas questões de poder deste mundo. O país mais influente do mundo hoje, os EUA, caíram nesse engano e hoje é odiado de muitas nações por acreditar que deve levar o domínio cristão para todos os países. Foi o mesmo erro de Roma no passado. Isso é chamado também de Teologia do Domínio.
Quando os cristãos foram perseguidos no início da igreja o Senhor sabia bem o que acontecia com eles e dava a eles forças para continuarem firmes na fé. Era uma época quando o diabo agia de forma violenta e feroz, como leão (e continua agindo assim em alguns lugares do mundo). Mas devemos ficar atentos para a forma como Satanás mais age hoje em dia, e não é como leão, mas como anjo de luz, ou seja, no mundo religioso e com sutilezas e aparência de piedade. O estrago que ele consegue fazer no mundo ocidental destruindo almas com mentiras pregadas nas igrejas chamadas “cristãs” é maior do que ele faz matando corpos nos países onde há perseguição.
No início da Igreja Satanás mostrava suas garras como leão:
(1 Pe 5:8) “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar;”.
(2 Tm 4:17) “Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão”.
(Ap 2:10) “Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”.
Hoje Satanás engana usando o mundo religioso para isso:
(2 Co 11:13-15) “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras”.
(2 Tm 3:5) “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te”.
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Jesus poderia ter desobedecido ao Pai?
Nunca. A desobediência é fruto do pecado e Jesus não veio da descendência de Adão e seu pai não foi um homem, mas na sua forma humana ele foi gerado pelo Espírito Santo, portanto sem pecado. Além disso, como ele poderia fazer algo contrário à vontade do Pai, sendo tão Deus quanto o Pai, ou seja, um com ele?
Quando andou aqui Jesus fez questão de mostrar que tudo o que fazia não era de sua própria vontade, mas era a vontade do Pai que, obviamente, seria coincidente com sua própria vontade se ele quisesse agir por si mesmo. Sua natureza era totalmente divina e ele não tinha a velha natureza caída que herdamos de Adão. Se ele tivesse em si o pecado com que todos nascemos, e que nos leva a pecar, não serviria para ser o sacrifício sem mancha que Deus exigia.
Quando o Espírito o levou para ser tentado no deserto por Satanás, não foi para ver se ele resistiria à tentação, mas apenas para provar que Jesus era quem o Pai afirmava ser: o Filho de Deus, sem mancha, o Cordeiro que tiraria o pecado do mundo. Poderíamos dizer que ele foi “testado” no sentido de provar que era perfeito, como se testa o ouro ou a prata, e não “tentado” no sentido em que somos.
(Hb 4:15) “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”.
Ao contrário do que dizem algumas traduções que trazem “sem pecar”, aí não se trata do “pecar”, que é o fruto do “pecado”, mas do pecado mesmo, como o gerador dos pecados, com o qual todos os seres humanos nascem por descenderem de Adão. No original este versículo termina assim: “em tudo foi tentado, pecado à parte”. Veja outras traduções:
“Porque não temos nele um pontífice incapaz de compadecer-se das nossas fraquezas. Ao contrário, passou pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado”.
(Darby) “For we have not a high priest not able to sympathize with our infirmities, but tempted in all things in like manner, sin apart”.
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Devo ser discípulo de um apóstolo?
Ao refutar o que eu disse sobre as premissas para alguém ser apóstolo você escreveu: “Isso é interessante, mas perigoso para a teologia. Cuidado sempre é bom.” Suas palavras têm um tom bastante clerical.
Geralmente frases assim são usadas por clérigos para alertar leigos a não mexerem com certas questões reservadas a teólogos, padres, pastores, etc. É uma velha técnica de intimidação, como a que os antigos aqui do interior de SP costumavam usar, quando diziam que criança que brinca com fósforos faz xixi na cama.
O fato é que hoje existe uma busca desenfreada por títulos clericais e “apóstolo” está entre os mais valorizados. É sempre a velha busca humana por poder e domínio. Porém não foi assim que aprendemos do Senhor.
(Lc 9:46-48) “E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. Mas Jesus, vendo o pensamento de seus corações, tomou um menino, pô-lo junto a si, E disselhes: Qualquer que receber este menino em meu nome, recebe-me a mim; e qualquer que me receber a mim, recebe o que me enviou; porque aquele que entre vós todos for o menor, esse mesmo é grande”.
Você escreveu: “Quem são os verdadeiros e os falsos quem os julgará ou quem pode discernir?”
Cada crente tem a Palavra de Deus e o Espírito Santo, portanto está apto a discernir e julgar. Não devemos julgar as intenções do coração, pois este julgamento cabe a Deus, mas devemos sim julgar as doutrinas e as práticas das pessoas, principalmente aquelas que revelam uma “queda” por atrair discípulos.
A Palavra de Deus não nos permite julgar pessoas, suas razões e motivos, estes versículos mostram isso:
(Mt 7:1) “Não julgueis, para que não sejais julgados”.
(1 Co 4:4-5) “Porque em nada me sinto culpado; mas nem por isso me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor”.
Porém a mesma Palavra de Deus nos exorta a julgarmos as doutrinas de alguém:
(1 Co 10:15) “Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que digo”.
(1 Co 14:29) “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”.
A Palavra de Deus nos manda ainda julgarmos as AÇÕES das pessoas:
(1 Co 5:12-13) “Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo”.
Também nos manda julgar os FRUTOS ou resultados produzidos por alguém, e aqui estão incluídos os falsos apóstolos e profetas, sujeitos ao juízo também de Deus, e aqui não fala de ateus, espíritas ou pagãos, mas de cristãos nominais que falam e fazem coisas em nome de Jesus:
(Mt 7:15-23) “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? … Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.
Como você mencionou, existem os falsos apóstolos, e autopromoção, autoconsagrarão e auto exaltação são algumas de suas características. Um falso apóstolo é aquele que deseja ser o que não é e extrapola o que a Palavra diz, adotando suas próprias ideias e conceitos:
(2 Co 11:13) “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo”.
O simples fato de alguém se denominar apóstolo hoje já o coloca na categoria de falso, ao menos quanto à sua identidade. Isto porque os apóstolos e profetas do Novo Testamento existiram até os fundamentos da Igreja terem sido lançados e a Palavra de Deus estar disponível na forma de suas cartas.
A Palavra de Deus nos dá uma dica para identificarmos dois tipos de perigo na cristandade, a saber, os lobos destruidores e os homens arrebanhadores de discípulos para si mesmos:
(Mt 7:15) “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores”.
(At 20:29-30) “Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas [pervertidas ou distorcidas], para atraírem os discípulos após si”.
O antídoto para nos precavermos contra isso Paulo dá no versículo 32: Deus e sua Palavra:
(At 20:32) “Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados.”
É só ficarmos com o que está na Palavra e não extrapolarmos para ideias novas, principalmente aquelas que incitam os cristãos a se tornarem discípulos de homens. Foi justamente isto que o apóstolo Paulo chamou de carnalidade em 1 Coríntios:
(1 Co 1:12-13) “Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?”.
(1 Co 3:3-5) “Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um?”.
Além do erro cometido por aqueles que se identificam por nomes de homens que admiram, existem os que gostam de serem paparicados e até estimulam um discipulado humano. Como cristão tenho a obrigação de julgar isso, porque o único discipulado que a Bíblia ensina é de discípulos de Cristo, nem mesmo dos próprios apóstolos.
(Mt 28:19-20) “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém”.
Obviamente o Senhor falava de discípulos para si [Jesus], como se pode comprovar do restante do Novo Testamento, onde “discípulo” tem a mesma conotação de “cristão” ou seguidor de Jesus. Uma busca pela palavra “discípulo” irá indicar que a expressão refere-se ao discípulo de Jesus, não dos apóstolos ou de homem algum. Buscando no plural “discípulos” é possível encontrar, além dos discípulos de Jesus, discípulos de João Batista, mas isto faz parte de outra dispensação anterior à da igreja.
Depois da formação da igreja, além do nome “discípulos” usado para identificar os próprios crentes ou seguidores de Jesus, a palavra aparece referindo-se a discípulos de homens com um sentido negativo na seguinte passagem:
(At 20:30) “E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si”.
Indiretamente falando, o sentido pode ser aplicado também em:
(1 Co 1:12) “Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo”.
(1 Co 3:4) “Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais?”.
Há uma passagem em Atos 9:25 que aparece traduzida como “seguidores de Saulo”, “seus discípulos” ou “discípulos dele”, referindo-se aos irmãos que desceram Paulo por um cesto para evitar que fosse morto pelos judeus. Mas essa tradução é péssima e basta comparar com as melhores versões ou até com o texto grego para perceber isso.
Além do mais basta um pouco de bom senso para perceber que não faria qualquer sentido Paulo já ter discípulos, considerando que era recém-convertido e ainda estava em Damasco, para onde tinha ido prender cristãos.
Até onde eu conheça não existe qualquer menção de algum sistema de discipulado do tipo “eu sou discípulo de fulano, que é discípulo de sicrano”. Portanto a ordem de Jesus só pode ter sido no sentido de fazer discípulos de Jesus por meio, não só da pregação do evangelho, mas do ensino.
Discípulo é aquele que aprende de seu mestre, e não acredito que passe pelo coração de um cristão sincero desejar ter um seguidor, mas sim fazer com que as pessoas sigam a Cristo. Até Maria, a mais bem-aventurada dentre as mulheres, que teria tudo para ser uma discipuladora, e da qual muitos hoje se dizem discípulos, exortou os servos a escutarem, não a ela, mas a Jesus: “Fazei tudo quanto ele vos disser” (Jo 2:5).
Portanto nenhum cristão é exortado a se tornar discípulo de homens, a menos que queira ou se considere como tal, contrariando assim o que ensina a Palavra de Deus. Mas aí ele ficará vulnerável a cair no colo de um desses falsos apóstolos, abundantes hoje na cristandade.
Eles são descritos como “inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas” (Fp 3:19). Traduzindo para a linguagem de hoje, são amantes do próprio umbigo e que adoram se ocupar com prosperidade de coisas materiais.
É claro que não faltarão seguidores para esses falsos apóstolos. Sempre há pessoas que se impressionam com afirmações fortes, declarações de visões e revelações, ou almejam também uma posição aqui neste mundo. Afinal, os falsos apóstolos sempre irão encontrar gente assustadiça, com medo de fazer xixi na cama.
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Devo mudar de emprego?
Esta é uma questão e um exercício entre você e o Senhor. O importante é estarmos no lugar e na hora em que o Senhor quer que estejamos. Lembre-se de que José de Arimateia e Nicodemos podiam se considerar em um lugar pouco útil, já que não estavam envolvidos diretamente na pregação do evangelho como os outros discípulos, mas sim ocupados com suas responsabilidades no sinédrio ou senado.
No entanto foram eles que tiraram o corpo de Jesus da cruz e o sepultaram, colocando em risco suas carreiras e reputação quando nenhum outro discípulo queria chegar perto. Eles eram as pessoas certas para serem usadas pelo Senhor na hora designada. Quem dentre aqueles pescadores iletrados, que eram os apóstolos, teria tal acesso a Pilatos ao ponto de ser recebido pelo governador e ter seu pedido para remover o corpo aprovado?
Qualquer pessoa em qualquer profissão pode ter comunhão com o Senhor, até fazendo parte da “família de César”. Sim, existiam membros da família do imperador (o cruel imperador) que eram convertidas e enviam saudações por intermédio de Paulo. O importante é fazer a obra de Deus onde quer que estejamos.
(Fp 4:22) “Todos os santos vos saúdam, mas principalmente os que são da casa [família] de César”.
Em todos os lugares onde trabalhei acredito que Deus tenha me usado de uma maneira ou de outra para fazer a sua obra, mesmo que fazer a sua obra significasse simplesmente orar por meus colegas de trabalho. Muita coisa eu só irei saber e entender no céu. Na maioria das vezes eu nem imagino como ele me usou, mas sei que de algum modo a sua Palavra foi testemunhada ali e orações subiram ao céu.
Posso dizer também que Deus usou todos esses lugares e pessoas para meu aprendizado. Às vezes somos muito prontos a buscar a posição de professor, sem nos lembrarmos de que Deus pode muito bem nos querer numa posição de alunos. É muito bom pregar às pessoas sobre a paciência ou sobre esperar no Senhor, mas quando nós mesmos precisamos exercitar isso, aí a coisa muda de figura, não é mesmo?
Em Apocalipse 10 encontramos João recebendo um livrinho que coloca na boca e acha doce, mas que fica amargo quando engole. Foi só depois de engolir e sentir o amargor daquela mensagem é que ele estava pronto para testemunhar. Assim é conosco: Deus permite diferentes empregos e trabalhos aqui para aprendermos e ficarmos aptos a testemunhar.
(Ap 10:9-11) “E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disseme: Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel. E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo. E ele disseme: Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis”.
Os empregos ou lugares mais amargos costumam ser os que mais nos ensinam, pois estarão bem no espírito daquilo que aconteceu com o Senhor aqui. Quer lugar menos propício para ele do que o tempo que passou neste mundo? Mesmo assim hoje sabemos como foi importante ele ter vindo e sofrer o que sofreu.
Guardadas as devidas proporções, todos os lugares por onde passamos e as profissões e experiências que temos aqui nesta vida servirão de algum modo se as colocarmos para a glória de Deus. Até mesmo as maiores dificuldades podem ser de grande utilidade quando nas mãos daquele que não irá desperdiçar nossa vida aqui.
(2 Co 1:4) “Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus”.
Lembre-se de que nossa vida aqui só será desperdiçada se vivermos para nós mesmos, como fez Ló, que perdeu tudo por ter sido atraído pelas campinas verdes de Sodoma e buscar uma posição de destaque neste mundo, o que não era a vontade de Deus para ele.
Pouco a pouco ele foi armando sua tenda, cada vez mais perto da cidade iníqua de Sodoma, até que acabamos encontrando aquele servo de Deus sentado na porta da cidade, um lugar e posição que era dada aos juízes das cidades naquele tempo. O que Ló estava fazendo metido na política de Sodoma?! Ló é o tipo do cristão que tem sua alma salva, mas sua vida perdida. Ao contrário de Abraão, que foi peregrino o tempo todo neste mundo e mantinha comunhão com Deus.
Ore e coloque suas dificuldades e anseios para o Senhor e espere nele. O melhor lugar é aquele onde o Senhor nos coloca.
(1 Co 7:21-22) “Foste chamado sendo servo? não te dê cuidado; e, se ainda podes ser livre, aproveita a ocasião. Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de Cristo”.
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Alguém liberto pode ser possuído por outros espíritos?
Depois de ler o texto “Satanás pode influenciar um crente?”, no qual eu digo que o diabo pode influenciar os pensamentos de um salvo, porém não pode possui-lo ou entrar nele, você ficou em dúvidas por causa de uma passagem onde um homem é liberto de um espírito maligno só para ser depois possuído por outros piores.
Um crente não pode ser possuído por demônios, pois ele já é habitado pelo Espírito Santo de Deus, que não sai do crente e nem dá lugar para que algum demônio venha possuí-lo. O crente possui a nova vida que vem de Deus, que é imune a um ataque direto de Satanás: (1 Jo 5:18) “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca”. Um crente pode ser influenciado ou enganado pelo Diabo, mas não possuído.
A passagem que gerou a dúvida em você está em Mateus 12:43, porém se prestar atenção verá que ela fala de Israel (“esta geração” no texto), cujo estado ficou pior do que estava com a rejeição de Jesus. Veja no último versículo que Jesus não está falando de uma pessoa, mas é uma parábola falando da geração de judeus incrédulos que um pouco antes afirmou que ele fazia os milagres pelo poder de Belzebu. Lembre-se de que o Senhor falou por parábolas muitas vezes.
(Mt 12:41-45) “Os ninivitas ressurgirão no juízo com esta geração, e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que está aqui quem é mais do que Jonas. A rainha do meio-dia se levantará no dia do juízo com esta geração, e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é maior do que Salomão. E, quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para a minha casa, de onde saí. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim acontecerá também a esta geração má”.
Quando os judeus mergulharam na idolatria, Deus enviou um remédio na forma da invasão babilônica. Eles foram levados cativos e depois um remanescente fiel voltou à terra, curado de sua idolatria. Era como se o espírito mau tivesse saído do homem. Mas a partir daí eles se tornaram uma casa vazia, limpa e arrumada, que não quis receber o Senhor, ficando assim vulneráveis para que aquele espírito desterrado levasse consigo “sete espíritos piores que ele”, e o estado daquele povo ficaria pior do que no início.
Quando lemos a parábola do Senhor da vinha, percebemos que aquela geração que viveu na época de Jesus sabia exatamente que estava rejeitando seu Messias e o entregando à morte. Pelo menos é o que dá a entender quando os trabalhadores da parábola dizem: (Lc 20:14) “Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, para que a herança seja nossa”. As palavras do Senhor na cruz, “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” em (Lc 23:34) podem tanto se referir aos soldados romanos que executaram a pena, como também aos judeus que ignoravam as consequências de seu ato.
1 Pedro 5:8-9 diz que “o diabo anda em redor buscando tragar”, mas não diz que consegue mais do que matar o corpo (como o Senhor ensinou nos evangelhos). Quanto a Judas, em quem o evangelho diz que o diabo entrou, ele nunca foi salvo. Era apenas um seguidor, apenas um professo como muitos que hoje enchem as igrejas com a Bíblia debaixo do braço, porém estão ali com outros interesses, alguns muito parecidos com o interesse de Judas: dinheiro.
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Estamos vivendo o apogeu da cristandade?
Não, a cristandade nunca esteve numa situação tão ruim quanto hoje. Você menciona que “temos templos, conquistas, influência, etc.” e completa que é bom vivermos neste tempo. Se buscar na Palavra de Deus, ele nunca pediu que construíssemos templos, conquistássemos espaço no mundo ou tivéssemos influência política aqui. Pelo contrário, não vivemos um apogeu mas o fundo do poço, o ponto em que o Senhor está prestes a vomitar o testemunho cristão de sua boca (Laodiceia — Ap 3), a época que precede a apostasia completa.
O lugar do cristão neste mundo é de peregrino, como foi Abraão em terra alheia, pois sua morada é no céu. O próprio Senhor deu o exemplo, não se intrometendo nas questões deste mundo, mas morrendo e ressuscitando para tirar um povo daqui. Ele não nos disse para construirmos catedrais ou grandes e poderosas organizações aqui. Gabar-se das “conquistas” da cristandade soa muito como Nabucodonosor gabando-se da Babilônia que construiu (sabia que a cristandade é chamada de Babilônia no Apocalipse?):
(Dn 4:30) “Falou o rei, dizendo: Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder, e para glória da minha magnificência?”.
(Ap 18:2) “E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável”.
Você fala dos líderes que existem por aí, mas os líderes que encontramos na Palavra de Deus eram os que tinham responsabilidade sobre uma assembleia local (anciãos, bispos ou presbíteros), conforme é ensinado nas epístolas. Considerando que o ensino das epístolas (a doutrina dos apóstolos) é de um corpo múltiplo de anciãos para cuidarem de uma congregação local, e também que Apocalipse não é um livro de doutrina, mas de símbolos proféticos, só posso enxergar no “anjo” (singular) de cada uma das sete igrejas ali como o papel desses mesmos anciãos, porém em unanimidade quanto à sua responsabilidade.
Quando você menciona Pedro tomando a dianteira, devo lembrá-lo que ele era um dentre os apóstolos. Eles, juntamente com os profetas do Novo Testamento, formaram o alicerce da casa de Deus, porém depois que partiram não deixaram os cristãos nas mãos de outros apóstolos. Após sua partida os cristãos ficaram entregues “a Deus e à palavra da sua graça; a ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados”. (At 20:32).
Apóstolo é uma coisa, líder é outra. Como já expliquei, biblicamente os apóstolos e profetas do Novo Testamento tiveram o seu papel no estabelecimento do alicerce da igreja, da qual Jesus é a Pedra angular. O que existe agora são pedras, todas iguais, que fazem parte das paredes da casa de Deus.
(Ef 2:20-22) “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito”.
Para entender o papel bíblico dos apóstolos e profetas, basta fazer a pergunta “De que apóstolos e profetas ele está falando sobre os quais somos edificados?” Certamente não é de alguém vivo em nossos dias, pois como poderíamos estar sendo edificados sobre um fundamento que não existia, digamos, há 100 anos ou mais?
Portanto os “líderes” (se gosta de chamar assim) que encontro no Novo Testamento são os anciãos, presbíteros ou bispos (dependendo da passagem ou tradução) ou ainda pastores (não no sentido de dom, mas de zeladores do rebanho). Porém isso nada tem a ver com o modelo adotado pela religião, que é de um homem à frente de uma congregação. Você não encontra um modelo assim na igreja em Atos ou na doutrina dos apóstolos, mas sempre são vários os responsáveis por uma assembleia local (não confundir com o dom de pastor que, assim como o evangelista e o mestre são dons universais, não locais). Um homem (singular) à frente de uma congregação simplesmente não tem fundamento bíblico.
Você mencionou que vivemos em um tempo diferente, pois se vivêssemos nos primeiros dias do cristianismo sofreríamos perseguição. A questão é que a perseguição hoje tem um aspecto totalmente diferente. A apostasia é o que faz hoje o papel do antigo leão do Coliseu. Esta noite perdi o sono e, praticando “tiro ao canal”, caí em um onde um pregador oferecia um plano de TV a cabo para os fiéis. Segundo ele, “se você não tem este plano você não ama sua família”, porque deixa os filhos assistirem programas nocivos. Dá para imaginar a que ponto chegamos?!
(2 Co 11:13-15) “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras”.
(2 Tm 3:1-7) “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências; Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade”.
(Ap 18:10-13) “Estando de longe pelo temor do seu tormento, dizendo: Ai! ai daquela grande Babilônia, aquela forte cidade! pois numa hora veio o seu juízo. E sobre ela choram e lamentam os mercadores da terra; porque ninguém mais compra as suas mercadorias: Mercadorias de ouro, e de prata, e de pedras preciosas, e de pérolas, e de linho fino, e de púrpura, e de seda, e de escarlata; e toda a madeira odorífera, e todo o vaso de marfim, e todo o vaso de madeira preciosíssima, de bronze e de ferro, e de mármore; E canela, e perfume, e mirra, e incenso, e vinho, e azeite, e flor de farinha, e trigo, e gado, e ovelhas; e cavalos, e carros, e corpos e almas de homens”. (Quando o Apocalipse foi escrito ainda não se vendia planos de TV a cabo).
Desculpe se pareceu que estou criticando homens, não estou. O problema são as doutrinas e práticas, e devemos sim ficar alertas contra elas como o Senhor advertiu que seus discípulos ficassem alertas contra “o fermento dos fariseus”. Se temos a Palavra de Deus como guia não devemos nos afastar dela ou erraremos. Quando olhamos todas as coisas que a cristandade construiu não podemos deixar de pensar no que o Senhor disse, quando seus discípulos se gabaram da maravilha que era o Templo (e olha que era um templo que Deus tinha mandado construir!).
A igreja de Deus neste mundo são todos os salvos por Cristo, e isto inclui você e eu. Quando você diz que só pode conhecer e desfrutar da igreja quem está no meio dela parece que só quem está numa organização criada por homens é igreja, e não é assim. Não é o serviço que Deus busca, mas adoradores “que o adorem em espírito e em verdade”. Deus está procurando mais Marias do que Martas, mas nós temos a tendência de ser como Caim e querer apresentar a Deus o trabalho de nossas mãos. Ele quer ver Cristo engrandecido em nosso meio, não cristãos engrandecidos e falando de suas obras.
Faça um exercício: busque na Palavra de Deus se o que vê em redor está lá e descobrirá que muito não está. Sugiro a leitura do livro que estou traduzindo em www.aordemdedeus.blogspot.com para ajudar nessa pesquisa. Se você realmente tiver um coração para o Senhor irá considerar a Palavra de Deus como seu guia, e não o que a cristandade adotou por tradição. O catolicismo romano diz se fundamentar na Palavra e na tradição dos santos padres, porém o protestantismo faz o mesmo: examine o quanto há de tradição no protestantismo (templos, clero, corais, dízimos, etc.) e verá que não é muito diferente do catolicismo.
A grande meretriz, Babilônia, de Apocalipse nada mais é do que a versão prostituta daquela que deveria ser noiva, e engloba toda a profissão cristã apóstata, não apenas uma ou outra denominação. Ela tem dinheiro, ela tem influência até sobre governos (Roma e bancada evangélica lembram algo?), mas Deus irá destruí-la, como fez com a Babilônia que era o orgulho de Nabucodonosor. É fora desse “arraial” que o cristão deve estar, não recebendo tapinhas nas costas dados pelo mundo, mas compartilhando da rejeição que Cristo sofreu aqui. Se você colocar-se fora do arraial religioso verá o quanto de rejeição existe hoje, até mesmo vinda de cristãos.
Eu não estaria aqui gastando tempo para responder se não o considerasse como irmão. Lembre-se de que esta correspondência só começou porque você perguntou.
(1 Pe_3:15) “Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós”.
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Qual a diferença entre palavra da sabedoria e ciência?
Sua dúvida é a respeito da diferença dos dons “palavra da sabedoria” e “palavra da ciência” ou “conhecimento” que aparecem em 1 Coríntios 12:7-8 “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência”.
Vou traduzir o que diz William MacDonald em seu livro “Believer’s Bible Commentary”, pois tenho certeza de que eu não conseguiria explicar tão bem:
“Palavra da sabedoria: Poder sobrenatural para falar com entendimento divino, seja na solução de problemas difíceis, na defesa da fé, na resolução de conflitos, no aconselhamento prático, ou na defesa de alguém perante autoridades hostis. Estêvão demonstrou a palavra de sabedoria de tal maneira que seus adversários ‘não podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava’ (At 6:10)”.
“Palavra da ciência ou conhecimento: Poder de comunicar informação que foi divinamente revelada. Um exemplo está na forma como Paulo usa expressões como ‘vos digo um mistério’ (1 Co 15:51) e ‘dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor’ (1 Ts 4:15). Em seu sentido primário, que é o de apresentar uma nova verdade, a palavra de ciência cessou, pois a fé cristã já foi ‘de uma vez para sempre entregue aos santos’ (Jd 1:3). O corpo da doutrina cristã está completo.
Em um sentido secundário, porém, a palavra de ciência pode ainda estar conosco. Ainda existe uma comunicação misteriosa de conhecimento divino àqueles que vivem em estreita comunhão com o Senhor (veja o Sl 25:14 — ‘O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança’). A ação de compartilhar esse conhecimento com outros é a palavra de ciência ou conhecimento”.
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Quem foi responsável pela morte de Jesus?
Toda a humanidade foi responsável pela condenação e execução do Filho de Deus, embora os judeus tenham uma parcela maior de responsabilidade pelo conhecimento que tinham das promessas de Deus quanto ao Messias.
Israel era uma nação invadida, embora tivesse seu próprio rei (Herodes — judeu, mas não de linhagem judaica) e governadores locais, tanto judeus como do inimigo (por ex. Pilatos) que eram instituídos pelos romanos. Era esse o sistema romano quando invadiam um país: colocavam um rei de seu próprio povo, porém comprado pelo invasor, para fazer a ponte cultural com o povo, permitindo que mantivessem seus costumes e religião.
Os judeus foram culpados por rejeitar a Jesus, o Messias deles, não os gentios, que nunca tiveram a promessa de um Messias. Mas, por ser um país invadido, os judeus não tinham autonomia para entregar alguém à morte, que no sistema dos judeus seria o apedrejamento. Por isso foram obrigados a levar o caso à corte romana, que acabou culpada pela responsabilidade de condenar um homem inocente, como o próprio Pilatos declarou não ver crime algum nele. Assim cumpriram-se também as profecias que descreviam a morte do Messias por crucificação, e não apedrejamento (ex. Salmo 22).
Se você ler o relato da crucificação em Lucas 23 e nos outros evangelhos verá que ali estão judeus (a maioria do povo, porque era em Jerusalém), sacerdotes (o clero), soldados romanos (poder militar e gentios), marginais (os ladrões), ou seja, todas as classes de pessoas são representadas ali. Sobre a cruz a placa escrita com sarcasmo pelas autoridades como “Este é o Rei dos Judeus” estava em três línguas: hebraico (língua da religião monoteísta universal), latim (língua do poder secular universal) e grego (língua da sabedoria universal).
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Paulo não tinha certeza da ressurreição?
Paulo não tinha dúvidas quanto à sua salvação e também participação na ressurreição dentre os mortos. Sempre que encontramos uma dificuldade na interpretação de um versículo devemos levar em conta não apenas o contexto, mas TODO o ensino das Escrituras. Vamos à passagem que você mencionou:
(Fp 3:11) “Para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dentre os mortos”.
Aqui poderíamos pensar em três possibilidades:
1. Paulo não tinha certeza se iria ou não chegar à ressurreição, por isso procurava trabalhar neste sentido.
2. Paulo não estava falando da ressurreição física, mas de viver aqui e agora já como alguém ressuscitado.
3. Paulo estava falando da ressurreição, mas não estava colocando em dúvida que iria alcançá-la, mas que até lá ainda passaria por dificuldades. Uma tradução mambembe seria assim: “Para que, não importa como, eu chegue à ressurreição dentre os mortos”.
A opção 1 seria contrária a todo o ensino que encontramos nos outros lugares, portanto pode ser descartada. Paulo tinha certeza de chegar à ressurreição, ele só não sabia por que meios isso ocorreria. A opção 2 não parece ser correta, embora talvez possa ser o sentido do versículo 12. O mais provável é a opção 3, que ele esteja falando de desconhecer o que teria de passar (ou a maneira como) até chegar á ressurreição.
Repare também que ele está falando da “ressurreição DENTRE os mortos”, e não da “ressurreição dos mortos”. A ressurreição DENTRE os mortos acontece no arrebatamento, quando alguns que estão entre os mortos serão ressuscitados. A ressurreição dos mortos (que restaram) ocorre no juízo final, no Grande Trono Branco de Apocalipse, mas aí não é uma ressurreição para salvação, mas apenas para condenação, para Deus lavrar a sentença daqueles que não foram salvos em vida.
(Fp 3:12) “Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus”.
Entendo que aqui ele esteja falando da perfeição prática, da semelhança de Cristo que deve ser o alvo de todo cristão. Existem duas coisas em relação ao cristão: sua posição e sua condição. Posicionalmente falando, o crente já está completamente salvo, ressuscitado com Cristo e nos lugares celestiais em Cristo Jesus. É o que você encontra em Efésios 1. Condicionalmente falando, ele ainda está neste mundo em um corpo cheio de imperfeições e lutando todos os dias contra as dificuldades. Ele procura, de fé em fé, tornar visível em sua condição aquilo que ele já é e possui em sua posição.
Uma ilustração disso é um rei no exílio, que receba notícias de que seus súditos conseguiram vencer o inimigo que usurpou seu trono lá em sua terra natal. A partir daquele momento, o rei vive uma situação semelhante. Ele já é rei, entronizado e com todos os direitos e privilégios que o rei teria em sua terra natal. Mas, por enquanto, ele ainda está vivendo em um país onde ele não manda nada, ninguém o reconhece como autoridade e ele precisa se sujeitar a andar de transporte coletivo e pegar fila no banco. O que separa essa condição de sua posição é só a viagem que terá de fazer ao país de origem. Assim que ele chegar lá tomará posse de tudo o que já era seu de direito.
Isso tem algo a ver com a santidade prática e absoluta. Um crente já é santo, santificado por Cristo Jesus, mas no dia a dia ele é exortado a ser santo, isto é, a expressar na prática aquela santidade que já possui por ser nova criatura em Cristo Jesus. Por isso é importante entender estas coisas quando lemos as epístolas, para sabermos discernir quando elas falam de nossa condição transitória aqui neste mundo e quando falam de nossa posição absoluta e eterna, já garantida no céu para aqueles que nasceram de novo e foram feitos novas criaturas pela fé em Jesus.
Não sei se já indiquei a você o www.stories.org.br/chaday que é um estudo bem simples sobre a Bíblia, escrito por um irmão do Canadá (que partiu para o Senhor em 2001).
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O Sudário de Turim pode converter alguém?
O fato de sua irmã ter crido em Jesus como Salvador graças ao Sudário de Turim, por ter entendido por meio da imagem ali os sofrimentos e ressurreição de Cristo, não torna o Sudário verdadeiro ou faz dele um instrumento de salvação.
Você pergunta o que o diabo ganharia inventando algo assim para enganar, se haveria a possibilidade de pessoas serem salvas justamente pela instrumentalidade de um objeto como o Sudário. Talvez o diabo faça as contas e veja que o número de pessoas que possam ser tocadas de forma legítima pela mensagem da cruz seja irrisório, se comparado às multidões que ele irá levar à idolatria.
A legitimidade do Sudário de Turim é controversa, e se você pesquisar verá que vários estudos independentes concluíram que o material é, no máximo, da Idade Média. Há até mesmo teorias de que teria sido criado por Leonardo da Vinci usando uma forma primitiva de fotografia que hoje sabemos ser possível com materiais disponíveis em sua época.
Em minha opinião é falso simplesmente porque a Bíblia diz que havia um lenço sobre o rosto de Jesus, o qual aparentemente teria sido o tecido marcado com a imagem da face, se isso acontecesse:
(Jo 20:6-7) “Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis, E que o lenço, que tinha estado sobre a sua cabeça, não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte”.
Ainda que o Sudário de Turim fosse legítimo, não deveria jamais ser transformado em objeto de culto, e deveria ser destruído se isso acontecesse. Este é um princípio bíblico aplicado para qualquer objeto de culto. Quando Deus mandou Moisés fazer uma serpente de bronze no deserto, aquilo era para apontar para Jesus, que seria levantado na cruz como a serpente de bronze foi levantada na haste para curar aqueles que olhassem para ela.
(Nm 21:8) “E disse o Senhor a Moisés: Faze-te uma serpente ardente, e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela”.
Uns 700 anos mais tarde aquela serpente de bronze (“ardente” = bronze) é mencionada na Bíblia, pois tinha se transformado em um objeto de culto e até mesmo em um ídolo, e precisou ser destruída pelo Rei Ezequias, pois os judeus a adoravam tendo dado ao objeto o nome de um ídolo, Neustã.
(2 Rs 18:4) “Ele tirou os altos, quebrou as estátuas, deitou abaixo os bosques, e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera; porquanto até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso, e lhe chamaram Neustã”.
O mesmo objeto que Deus usou para curar os israelitas no deserto e tinha o objetivo de apontar para Cristo foi transformado em um ídolo, algo abominável a Deus. É importante entender que Deus pode usar qualquer coisa para levar uma pessoa a Cristo, mas isso não torna aquela coisa importante em si mesma.
Há relatos de conversões de pessoas que viram “A Paixão de Cristo” de Mel Gibson no cinema ou TV, mas isso não torna o filme um objeto de culto ou faz de Mel Gibson um evangelista idôneo. Eu mesmo evito filmes “bíblicos” pois geralmente são feitos por incrédulos e cheios de fantasias e erros. Conheci um irmão em Cristo que se converteu em uma boate, mas eu não poderia indicar às pessoas que fossem a uma boate ouvir o evangelho.
Também conheci um irmão que antes de se converter era motorista de táxi e ganhou uma Bíblia de uma Testemunha de Jeová. Foi lendo aquela Bíblia nas horas de folga que ele se converteu a Jesus. Mesmo assim, eu não poderia indicar que as pessoas lessem a Bíblia das Testemunhas de Jeová, que não passa de uma cópia mal feita da versão inglesa King James adicionada de passagens contendo heresias, na tentativa de comprovar as crenças daquela religião.
Judas, que traiu Jesus, pregou o evangelho e muita gente deve ter se convertido por intermédio de sua pregação, mas será que isso torna Judas um exemplo para nós? Deus pode usar qualquer coisa para levar alguém a ouvir sua Palavra. No Antigo Testamento usou até mesmo uma jumenta para alertar Balaão do perigo que corria.
(Nm 22:27-30) “E, vendo a jumenta o anjo do Senhor, deitou-se debaixo de Balaão; e a ira de Balaão acendeu-se, e espancou a jumenta com o bordão. Então o Senhor abriu a boca da jumenta, a qual disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste estas três vezes? E Balaão disse à jumenta: Por que zombaste de mim; quem dera tivesse eu uma espada na mão, porque agora te mataria. E a jumenta disse a Balaão: Porventura não sou a tua jumenta, em que cavalgaste desde o tempo em que me tornei tua até hoje? Acaso tem sido o meu costume fazer assim contigo? E ele respondeu: Não”.
Evidentemente o fato de Deus ter usado uma jumenta falante é algo que está no direito dele. Isso não nos autoriza a fazer imagens da jumenta, construir um templo em sua honra, buscá-la em oração na esperança de obter algum milagre, ou nos reunirmos em torno de uma jumenta esperando que saia alguma profecia da boca do animal.
Quando algo ou alguém servir para indicar a Cristo, esse algo ou alguém deve desaparecer de vista tão logo encontremos o Salvador. João Batista ensinou isso quando disse: (Jo 3:30) “É necessário que ele cresça e que eu diminua. Seria uma tolice o viajante continuar olhando para a seta de indicação depois de ter chegado ao destino”.
(Sl 73:25) “Quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti”.
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De que geração Mateus 24:34 está falando?
Sua dúvida é sobre Mateus 24:34 e de que “geração” Jesus estaria falando ao dizer “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam”.
Acredito que a chave esteja no versículo 32, quando Jesus fala da figueira referindo-se a Israel. Portanto “esta geração” não poderia significar as pessoas vivas naquele momento, já que todos morreram.
Alguns acreditam que “esta geração” poderia indicar as pessoas que presenciaram a criação do estado de Israel em 1948 e ainda estariam vivas por ocasião da vinda de Cristo, ou seja, a geração atual. Apesar de aguardar o Senhor para qualquer momento no arrebatamento, não acredito nessa interpretação, pois o retorno dos judeus à terra de Israel em 1948 não foi um cumprimento da profecia, mas uma articulação de homens que permitiu que o povo voltasse à sua terra em completa incredulidade e inimizade contra Deus.
Tenta-se aplicar Ezequiel 37 e a visão dos ossos ressequidos que voltam à vida, mas o próprio texto deixa bem claro que aquilo é resultado de um arrependimento e reconhecimento do povo quanto ao seu estado:
(Ez 37:11-12) “Então me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que dizem: Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança; nós mesmos estamos cortados. Portanto profetiza, e dize-lhes: Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu abrirei os vossos sepulcros, e vos farei subir das vossas sepulturas, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel”.
A ordem é sempre esta: primeiro o arrependimento, depois a bênção. Foi assim quando o remanescente na Babilônia decidiu voltar para Israel e Deus abençoou aquela empreitada, pois era algo que vinha de Deus e o remanescente voltou em humilhação e arrependimento, reconhecendo o pecado e o justo juízo que tinham recebido por sua desobediência. Se você analisar as promessas de restauração de Israel, elas sempre são precedidas de arrependimento e confissão de pecado:
(Dt 30:2-3) “E te converteres ao Senhor teu Deus… Então o Senhor teu Deus te fará voltar do teu cativeiro, e se compadecerá de ti, e tornará a ajuntar-te dentre todas as nações entre as quais te espalhou o Senhor teu Deus”.
(Dt 30:9) “E o Senhor teu Deus te fará prosperar… Quando deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, guardando os seus mandamentos e os seus estatutos, escritos neste livro da lei, quando te converteres ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua alma”.
(Jr 29:13) “E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração. E serei achado de vós, diz o Senhor, e farei voltar os vossos cativos e congregar-vos-ei de todas as nações, e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor, e tornarei a trazer-vos ao lugar de onde vos transportei”.
(Ez 36:33) “Assim diz o Senhor Deus: No dia em que eu vos purificar de todas as vossas iniquidades, então farei com que sejam habitadas as cidades e sejam edificados os lugares devastados”.
“Há liberdade para que os cristãos ministrem o Evangelho dentro de suas próprias comunidades, com exceção feita aos cristãos de origem judaica. Também há liberdade para evangelizar, apesar de existir uma clara reprovação. O governo tem exercido pressão sobre a evangelização, mas até o momento não obteve êxito. Uma importante legislação “anti-missionária” foi proposta no final de década de 90, porém não foi aprovada”.
No atual estado de incredulidade em que os judeus se encontram, o pior lugar para eles estarem hoje é justamente na terra de Israel, pois é ali que todos os juízos descritos em Mateus 24 irão cair em breve. Então 2/3 da população que estiver ali perecerá, antes que uma pequena parte se converta:
(Zc 13:8-9) “E acontecerá em toda a terra [está falando da terra de Israel], diz o Senhor, que as duas partes dela serão extirpadas e expirarão; mas a terceira parte restará nela. E farei passar essa terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro; ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo; e ela dirá: O Senhor é meu Deus’.
Outra possibilidade para se interpretar “geração” em Mateus 24 é que Jesus estivesse se referindo à geração que observasse todas as coisas descritas neste capítulo, que fala diretamente do tempo da grande tribulação. Então seriam as próprias pessoas que passariam pela grande tribulação, ou seja, os mesmos, entre mortos e sobreviventes, que Zacarias descreve no versículo acima.
Existe também a possibilidade de estar se referindo ao povo judeu, que não deveria desaparecer, já que no grego a palavra “geração” ali é “genea” que pode ter também o sentido de família, raça ou nação. Então a ideia seria que essa mesma raça ou geração de judeus incrédulos existiria quando caíssem esses juízos sobre o mundo durante a grande tribulação que precede a vinda de Cristo para reinar.
Talvez esta seja a interpretação mais correta, pois é provável que não exista no planeta um povo mais persistente em rejeitar a Cristo do que os judeus, que tiveram todas as chances de recebê-lo como Messias e mesmo assim o crucificaram. Também é difícil encontrar um povo com uma identidade tão marcante e que esteja todos os dias nas páginas dos jornais, como é o judeu. É como se Deus estivesse o tempo todo nos lembrando: “Eu não disse que eles seriam assim até o fim?”.
Os versículos abaixo confirmam isso:
(Dt 32:5) “Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida… deixou a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação. Com deuses estranhos o provocaram a zelos; com abominações o irritaram. Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus; aos deuses que não conheceram, novos deuses que vieram há pouco, aos quais não temeram vossos pais. Esqueceste-te da Rocha que te gerou; e em esquecimento puseste o Deus que te formou; O que vendo o Senhor, os desprezou, por ter sido provocado à ira contra seus filhos e suas filhas; E disse: Esconderei o meu rosto deles, verei qual será o seu fim; porque são geração perversa, filhos em quem não há lealdade”.
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Devo sair de casa para não me contaminar?
Você está em dúvida pelo fato de seus familiares serem incrédulos e zombarem de sua fé. Deus nos coloca em lugares, famílias, empregos, escolas, etc. com o propósito de sermos um testemunho para ele ali mesmo. Em algumas situações você deve se separar de amizades e pessoas que negam a fé cristã, principalmente no caso de pessoas que se dizem irmãs em Cristo (é o que o apóstolo fala em 1 Co 5). Mas no mesmo capítulo ele fala que está se referindo àqueles que se dizem irmãos, e não especificamente aos incrédulos pois se assim fosse teríamos que sair do planeta.
(1 Co 5:9-11) “Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais”.
Então se você trabalha numa empresa, irá evitar amizades que possam levá-la ao pecado ou a colocar em dúvida sua fé, mas não deixará de trabalhar ali ou conviver com essas pessoas. Somente não irá cair na farra com elas. Mas sua presença é importante, porque de que outro modo aquelas pessoas poderiam conhecer o Salvador? Jesus andou com pecadores sem participar de seus pecados. Quanto a ser ridicularizada por sua família, isso é ótimo, pois foi o que o Senhor prometeu para aqueles que o seguissem. Portanto tudo está correndo de acordo com o plano, o que significa que você está cumprindo seu papel como um testemunho.
(Mt 10:34-36) “Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; E assim os inimigos do homem serão os seus familiares”.
Pelo que entendi você ainda depende de sua família e tem vínculos com ela, ou seja, não é uma pessoa independente. Sua família nem sabe, mas a presença de uma pessoa convertida em seu meio cria uma esfera separada para Deus, e os que estão nessa esfera acabam de algum modo sendo abençoados ou, como diz a Palavra, “santificados”, isto é, separados (mesmo que ainda não sejam salvos). Eles terão um contato mais direto com a Palavra de Deus e inconscientemente começarão a agir diferente na sua presença, pois não estarão muito tranquilos de ter alguém que é sal e luz no meio deles. A luz denuncia as manchas.
(1 Co 7:13) “E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe. Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos”.
Nas empresas onde trabalhei, no primeiro dia eu sempre chegava em minha mesa, tirava uma Bíblia de minha pasta e a colocava sobre a mesa com outros pertences, deixando tudo ali algum tempo antes de guardar na gaveta. Minha intenção era que os colegas logo ficassem sabendo que eu era crente e com isso quem não gostava logo se afastava. Era até engraçado eu entrar no banheiro e os colegas pararem a conversa suja só porque eu tinha entrado! Eles ficavam constrangidos e eu até me divertia com a situação. É claro que também tinham as gozações às vezes, mas isso só ajuda a fortalecer nossa fé. O ferro não fica resistente a menos que seja malhado com marreta e fogo.
(Mt 5:14-16) “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”.
O lugar mais fácil para ser cristão é fugir para uma caverna numa montanha ou um mosteiro no deserto, longe de tudo e de todos. O problema é que aí a função do cristão no mundo deixa de fazer sentido. Raciocine assim: ao crer em Jesus você foi perdoada de todos os seus pecados e ficou 100% pronta para ir morar no céu. Por que Deus a deixou aqui? Para testemunhar de Cristo no mundo. Neste momento Jesus está por você no céu na presença do Pai e intercedendo por você, e você está por Jesus no mundo, na presença dos incrédulos e intercedendo por eles. Ser perseguido e injuriado é considerado pelo Senhor como uma bem-aventurança!
(Mt 5:11-12) “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós”.
(1 Pe 4:12-16) “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; Mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte”.
Portanto continue onde Deus colocou você e procure ser um testemunho fiel de Cristo neste mundo. Muita gente que sai de casa, da escola ou do emprego com o pretexto de servir ao Senhor nem sempre está com essa intenção, e sim fazendo isso como uma fuga dos problemas. Aí a pessoa se interna num mosteiro ou seminário e passa a conviver só com gente que fala a mesma língua, pensando ter resolvido seus problemas. Mas se não foi isso que Deus preparou para ela, então estará agindo errado.
Separar-se do pecado é um princípio de Deus. Fugir de pecadores não. Nossa função neste mundo é testemunhar a eles da graça de Deus, porque essa missão Deus não confiou a anjos, mas a seres humanos, com todas as falhas e fraquezas que volta e meia nos abatem. Se a sua família consente em tê-la vivendo sob o mesmo teto e isso não significa algum tipo de risco para você, coloque tudo diante do Senhor e espere nele por uma solução para as dificuldades. Sua presença ali pode até ser o instrumento que Deus quer usar para convertê-los.