O QUE RESPONDI AOS QUE ME PERGUNTARAM SOBRE A BÍBLIA – VOLUME 02

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Apresentação

Primeiramente agradeço a Deus por permitir que este material fosse produzido e disponibilizado para milhares de leitores no Brasil e no mundo. As ideias que você encontra aqui não são originalmente minhas, e sim fruto do que tenho aprendido da Palavra de Deus fora dos sistemas denominacionais com irmãos congregados ao nome do Senhor e também com autores de outras épocas que congregavam assim. Foram eles J. G. Bellett, C. H. Brown, J. N. Darby, E. Dennett, W. W. Fereday, J. L. Harris, W. Kelly, C. H. Mackintosh, A. Miller, F. G. Patterson, A. J. Pollock, H. L. Rossier, H. Smith, C. Stanley, W. Trotter, G. V. Wigram e muitos outros.

Para que você compreenda como este livro veio a existir, creio ser necessário voltar um pouco no tempo. Depois de um período trabalhando em São Paulo, em 1988 mudei-me com minha família de volta para Limeira, minha cidade natal, a fim de colaborar com a Editora Verdades Vivas, uma organização sem fins lucrativos que produz e distribui literatura cristã. A grande quantidade de folhetos evangelísticos, livros e calendários distribuídos no Brasil e em outros países de língua portuguesa gerava um volume considerável de correspondência, não só com pedidos de publicações, mas também com perguntas sobre a Bíblia. Todas as cartas eram devidamente respondidas.

Nessa época adquiri o hábito de manter uma cópia das respostas em formato digital. Assim ficava fácil responder perguntas semelhantes ou até mesmo mesclar trechos de diferentes respostas, além de preservar aquele conhecimento. A partir de 1996 passei a usar a Internet e aí as respostas já não precisavam ser impressas, envelopadas e enviadas por carta como era feito até então. O uso do e-mail agilizou o processo e permitiu atender mais correspondentes com maior agilidade.

Em 1998 deixei a editora para atuar como executivo de uma empresa de tecnologia da informação, porém mantendo nas horas vagas minha ocupação com o evangelismo e ministério da Palavra via Internet por meio de diferentes sites e blogs. Em 2001 passei a trabalhar por conta própria como consultor e palestrante empresarial, tendo mais tempo livre e uma agenda mais flexível para dedicar-me ao evangelho.

Em 2005 decidi lançar o blog “O que respondi” no endereço respondi.com.br para disponibilizar as respostas que tinha armazenado em formato digital desde 1988 e acrescentar as que fossem sendo criadas. Algo que muitos perguntam é a razão de o blog não permitir comentários, mas o volume de spam, debates e opiniões deixadas na área de comentários me obrigou a eliminar esta opção de contato para me concentrar no atendimento apenas por e-mail. É sempre bom lembrar que não existe uma “equipe” para responder a correspondência que chega, pois este é um exercício pessoal.

Em 2008 iniciei um trabalho chamado “O Evangelho em 3 minutos — Uma mensagem urgente para quem tem pressa”, com vídeos no Youtube e também em versões de texto e áudio no endereço 3minutos.net. Com a popularização do smartphone e da Internet móvel este formato mostrou-se excelente para alcançar pessoas a qualquer hora e em qualquer lugar com a mensagem da salvação e a sã doutrina. O site “O que respondi” passou a servir de complemento aos vídeos. Enquanto no “Evangelho em 3 minutos” a Palavra de Deus é pregada de forma rápida, no “O que respondi” ela é explicada em detalhes e com referências.

Estas e outras frentes de trabalho via Internet continuam gerando um número cada vez maior de contatos e perguntas. Em 2013 foram mais de três mil perguntas atendidas, porém graças ao blog “O que respondi” nem todas precisaram ser respondidas. Na maioria das vezes é suficiente enviar links para as mais de mil respostas existentes no blog, que já conta com cerca de quatro milhões de acessos desde sua criação.

Assim chegamos à razão deste livro que está sendo lançado nos formatos digital (e-book) e impresso (on demand). Ele atende aqueles que desejam ter acesso ao material do blog sem depender de uma conexão com a Internet. Este é um dos mais de dez volumes projetados para compor esta coleção, se considerarmos todo o conteúdo do blog “O que respondi”.

Ao ler este livro não se esqueça de que está lendo as opiniões do autor, e não a Palavra de Deus. Considere também que os textos são cartas e e-mails de minha correspondência pessoal, e não uma obra literária. A linguagem é informal e despretensiosa como acontece com uma correspondência entre duas pessoas, e é provável também que você às vezes venha a achar a linguagem meio irreverente, mas isso é apenas fruto de meu estilo literário, e não de tratar levianamente as coisas de Deus ou a pessoa a quem respondi. Lembre-se também de que, para a resposta fazer sentido, às vezes incluo o que escreveram meus interlocutores e alguns são incrédulos ou ateus com opiniões depreciativas a respeito de Deus e de sua Palavra.

Não espere encontrar aqui todas as respostas e nem sequer as trate como definitivas. Elas são fruto do meu exercício com o Senhor e do que continuo aprendendo todos os dias. Por isso leia, medite, busque referências na Bíblia e ore para que o Espírito Santo lhe dê o entendimento. Sem isto até a pessoa mais inteligente e versada nas Escrituras será incapaz de entender as coisas de Deus, pois elas se discernem espiritualmente.

É provável que você encontre erros em minhas opiniões. Pode ter certeza de que eu mesmo eventualmente sou obrigado a acessar o blog “O que respondi” para fazer correções após de ter sido instruído ou alertado de alguma falha por algum irmão ou por algo que li na Palavra de Deus. Se, ao comparar uma resposta mais antiga com uma mais nova, você encontrar alguma discrepância, saiba que optei por não revisar todas as respostas, mas decidi mantê-las do modo como entendia as coisas quando as escrevi, e lembre-se de que você está lendo textos escritos ao longo de um período de cerca de trinta anos. Se encontrar algum erro de digitação ou de gramática, entre em contato para eu fazer as devidas correções, pois o desejo de disponibilizar este livro o mais rápido possível nas mãos dos leitores foi maior que o tempo que tive para revisá-lo.

Este livro está sendo disponibilizado gratuitamente, porém alguns sites de terceiros ou editoras irão cobrar algum valor para a versão e-book ou impressa sem que isso signifique algum ganho da parte do autor. Você poderá distribuir o conteúdo deste livro desde que o faça gratuitamente, não altere o texto e mantenha a referência ao autor.

Peço que se lembre de incluir este trabalho em suas orações e de endereçar ao Senhor, e não a mim, qualquer sentimento de gratidão que porventura possa ter por esta leitura.

“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa” (Os 6:3).

Mario Persona

www.respondi.com.br

www.3minutos.net

Fevereiro, 2014

*

O que acha desses pregadores de prosperidade?

Você deve estar se referindo aos programas de rádio e TV e igrejas que vivem cheias de gente atrás de realizar os sonhos que viram nos testemunhos: falidos que viram milionários, joãos-ninguéns que viram empresários, corrente disso, água santa daquilo, azeite ungido daquilo outro, dinheiro, dinheiro, dinheiro… É claro que tudo pode ser usado por Deus para os seus propósitos, mas o fato de algo ser usado não significa que é bom. Deus usou uma mula para falar com Balaão, mas não acredito que a gente possa parar de pregar o evangelho se ele pode usar mulas para fazê-lo.

Vemos muitos errando na Bíblia e esses erros às vezes sendo transformados em algo para a glória de Deus, porém o que errou continua sendo responsável. Lembro-me de José falando a seus irmãos, quando se revela a eles como governador do Egito: “E José lhes disse: Não temais; porventura estou eu em lugar de Deus? Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida.” (Gn 50:19-20).

Não podemos nos esquecer de que vivemos numa época de apostasia (abandono da Verdade) e isso irá piorar muito após o arrebatamento da igreja, o que pode acontecer a qualquer momento. Procure ler as cartas de Timóteo no contexto profético de tempo. Ambas falam da “casa de Deus” (o aspecto governamental da igreja, ou a parte que cabe aos homens cuidarem).

Na primeira são dadas instruções: “… para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade.” (1 Tm 3:15). Esta fala de como a casa de Deus deveria ser.

Na segunda fala de como ela ficou. “Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra.” (2 Tm 2:20). É uma casa onde há de tudo e a responsabilidade dos que buscam a Verdade é se afastarem do erro (leia o contexto) para se reunirem com aqueles que o fazem de coração puro (ou purificado desses erros). O trecho fala de separação.

A primeira fala ainda, em seu contexto histórico, dos “últimos tempos”, um período mais extenso: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios;” (1 Tm 4:1). Isso já acontece há muitos séculos.

A segunda fala dos “últimos dias”, um período breve e final. “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.” (2 Tm 3:1). Na continuação é dado o estado dos cristãos (é importante entender que não está falando de pagãos ali, mas de cristãos nominais):

Vers. 2 a 5:

— “Porque haverá homens amantes de si mesmos [1], avarentos [2], presunçosos [3], soberbos [4], blasfemos [5], desobedientes a pais e mães [6];

— ingratos [1], profanos [2],Sem afeto natural [3], irreconciliáveis [4], caluniadores [5], incontinentes [6];

— cruéis [1], sem amor para com os bons [2], Traidores [3], obstinados [4], orgulhosos [5], mais amigos dos deleites do que amigos de Deus [6].”;

Finalmente… “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.”.

Se observar, temos três grupos de seis características (666) que levam para o homem que tem aparência de piedade (parece um carneiro), mas nega a eficácia dela (fala como um dragão — Apocalipse 13:11). É preciso entender que a oposição maior aos convertidos no final virá da própria cristandade organizada, “a mulher” de que nos fala o Apocalipse.

É interessante como neste trecho de 2 Timóteo, Paulo fala de pessoas levadas por concupiscências (desejos) por homens com as características acima. É o que vemos aos montes hoje nas ditas igrejas que oferecem curas, milagres, dinheiro, romance e tudo o que o ser humano mais deseja, com segundas intenções. Note também que esta foi a última carta que Paulo escreveu e ele termina dizendo que foi abandonado por todos. Vivemos num tempo de abandono da Verdade (apostasia), principalmente da Verdade revelada a Paulo (que você não encontra em outros lugares das Escrituras).

“A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus.” (Ef 3:8-10).

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Por que a mulher não deve ensinar?

Você está se referindo aos versículos que falam da posição da mulher em relação ao homem:

“Como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender alguma cousa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja” (1 Co 14:33-35).

“Quero, entretanto, que saibais ser Cristo a cabeça de todo homem, e o homem, a cabeça da mulher, e Deus, a cabeça de Cristo” (1 Co 11:3). “A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio” (1 Tm 2:11-12).

“Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Tm 2:13-14).

A questão da mulher não ensinar é por ter sido enganada (Eva) enquanto Adão não foi. Ele sabia que estava errando, foi consciente. Ela não. Caiu no engano. A ordem de Deus não diminui a mulher, mas é simplesmente uma ordem que vale para esta vida e este mundo.

É como o policial que me para na rua por entender que cometi uma infração. Ele pode estar errado, posso considerá-lo inapto para a profissão, posso jogar até um “você sabe com quem está falando” pra cima dele. Mas a realidade é que devo me sujeitar a ele porque existe uma ordem. Eu não posso multá-lo ou prendê-lo, mas ele pode porque dentro da hierarquia que Deus reconhece ele está acima de mim.

O versículo em Timóteo deixa muito claro, portanto o problema não é de interpretação, mas de acatar ou não o que está escrito. Eu posso argumentar com o policial que todo mundo passa no vermelho, que todo mundo estaciona no proibido, que todo mundo corre etc. Não importa o que todo mundo faz. Preciso acatar sua autoridade e ordem.

Então quando você diz que os homens abandonaram seu papel e seu lugar de cabeça, isto é verdade, mas seria o mesmo que argumentar com o policial que ele não pode me multar porque existe corrupção na polícia, no governo etc. Até mesmo um governo corrupto continua sendo governo. A quem o Senhor se sujeitou em sua época? Herodes, Cesar, etc…

No Antigo Testamento houve épocas em que os homens abandonaram sua posição e mulheres precisaram ser usadas por Deus, como foi o caso de Débora. Porém em Hebreus o registro divino não fala dela, mas de Baraque. É claro que Deus não desprezou aquelas mulheres, mas deixou clara a ordem ao relatar em Hebreus.

Quanto à proibição de ensinar, entendo que se restringe a doutrina e ao homem. É claro que ninguém vai querer que uma mulher cristã diante de um moribundo o deixe morrer sem ouvir o evangelho só porque não há um homem por perto. Mas existe uma esfera de ensino da mulher, e crianças fazem parte dessa esfera, já que a mãe e a avó de Timóteo foram mencionadas como tendo sido importantes no ensino dele. Também diz que as mulheres mais velhas devem ensinar as mais novas.

Para mim é muito claro o que está na Palavra. É claro que podemos discutir, sofismar, interpretar, mas nada resiste à simplicidade de um espírito submisso ao que Deus disse em sua Palavra. Assim como muitas mulheres hoje argumentam que os homens não estão fazendo o seu papel, Adão fez o mesmo lá no início e culpou Deus por isso: “A mulher que Tu me deste…”. A gente sempre tenta transferir a responsabilidade da desobediência para alguém ou alguma circunstância, mas isso não muda nada.

Há ainda quem tente dizer que as passagens das cartas de Paulo relativas à mulher são suas opiniões pessoais, e alguns acrescentam que ele seria solteirão, machista e coisas do tipo (já ouvi de tudo!). Porém…

“Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo. E, se alguém o ignorar, será ignorado” (1 Co 14:37-38).

*

Como diz que se converteu se já era espiritualista?

O “espiritualismo” que eu professava era homocêntrico. Você pode, você faz, você consegue. É, em síntese, o que ensinam as religiões e agora até em eventos empresariais com título de “espiritualismo na empresa”. O homem precisa melhorar, se aperfeiçoar, se elevar, etc. E isto ele consegue… se melhorando, se aperfeiçoando, se elevando. Glória para quem? Para o homem, evidentemente.

Tudo isso pode ser muito bom e válido, por exemplo, para um time de futebol, uma equipe de trabalho, alunos em uma escola. São ideias motivadoras que funcionam para gerar resultados de maior desempenho. Mas quando falamos das coisas espirituais, estamos falando da eternidade, de nosso encontro com Deus, e para isso não há um átomo de esforço que o homem possa fazer, ou ele poderia dizer que teve mérito em sua salvação ou em atingir o céu. A Bíblia é clara a respeito de quem merece toda (100%) a glória: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura.” (Is 42:8).

A Bíblia não deixa glória para o homem. É Deus quem faz a obra de transformação (ou de nova vida) naquele que crê em Jesus. Não sobra glória para o homem. Toda ela vai para Deus. Evidentemente esta não é uma ideia nem um pouco simpática para nosso EGO. Gostamos de confete seja aqui seja no além. Todavia, (falando do homem) “… quando morrer, nada levará consigo, nem a sua glória o acompanhará.” (Sl 49:17).

Você perguntou se conheço o autor da Bíblia. Conheço. Aliás, o desejo do Senhor era que cada pessoa o conhecesse pessoalmente. Isto não significa uma assertiva intelectual sobre certos pontos dogmáticos, mas é resultado de um encontro pessoal que transcende o visível e até o intelectual. Não está restrito a iniciados que leram uma montanha de livros ou galgaram os graus de alguma loja mística, mas é privilégio até de crianças. Todavia é preciso fé, pois “sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” (Hb 11:6).

Quanto ao fato do homem ser inimigo de Deus, isso não foi assim desde o princípio. Deus não criou um inimigo. Ficou assim depois da queda. NÓS somos inimigos de Deus. Deus NÃO é nosso inimigo. Para entender todo o rancor e ódio que temos em nosso coração (inimizade contra Deus), releia o que me escreveu em seu e-mail. É inegável que você tem ódio de Deus, porque ele não é como você gostaria que fosse. Porque se a Bíblia estiver certa você está errado como eu estive um dia. E então não sobrará glória para você, suas palestras, seu conhecimento.

Eu entendo bem o que sente, pois depois de minha conversão a Cristo encontrei muitos a quem havia ensinado o espiritualismo homocêntrico (no meu caso extremamente egocêntrico) e precisei me retratar. Alguém disse que a última coisa que morre no homem é o orgulho. E nascemos orgulhosos e não queremos que Deus interfira em nosso caminho. Ou você acha que não somos orgulhosos por natureza? Negar isso é negar que você se conhece.

O apóstolo Paulo passou por algo assim quando precisou admitir que sua bagagem (que não era pouca) era esterco comparado com o que tinha então. Ele descreve bem o que passou:

“Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo.” (Fp 3:4).

Você estaria pronto, caso “trombasse” com a Verdade, a considerar escória toda sua vida até aqui? Sim, porque você pode se encontrar com Deus como se encontrasse com uma pessoa real. Deus não ficou na esfera espiritual intangível, mas ele se fez homem na pessoa do Senhor Jesus. Você e eu nunca vamos entender isso. O que se entende é o que se pode aceitar sem fé. “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem.” (Hb 11:1).

Cristo é Deus feito homem, “qual, sendo o resplendor da sua glória (de Deus), e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas;” (Hb 1:3). Hoje existe um Homem de carne e osso no céu. Obviamente você não crê na Bíblia e não pode crer nisto. Mas ou a Bíblia é a Palavra de Deus ou é a mais perigosa armação, já que se declara ser a Palavra de Deus.

A verdade é algo que aceitamos ou rejeitamos. Não podemos julgá-la, pois se o fizéssemos nos tornaríamos juízes de Deus. Você critica o Deus do Antigo Testamento como algo absurdo para sua razão. Qual é o gabarito que você usa para suas afirmações? O seu bom senso? A sua razão? O seu conhecimento? Não é estranho que julgue a Deus com a mesma confiança que julga assuntos do dia a dia. Você só justificará a Deus, em todos os seus atos e desígnios, quando se submeter a ele, quando se tornar seu filho. “Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos.” (LC 7:35) “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome;” (Jo 1:12).

Você referiu-se a ter encontrado “inverdades” na Bíblia. Seria interessante conhecer as “inverdades”. Poderia citar alguma? Veja que não estou me referindo a você “achar” que é uma inverdade por causa de seus preconceitos. Quero fatos. Você mesmo afirmou em outro e-mail que: “Creio que não temos mais tempo para divagações filosóficas e discussões ‘achistas’. A modernidade exige clareza, objetividade e sinceridade. Estou com quase 40 anos nesta vida. Comecei a estudar a Bíblia com 11 anos de idade. Acho que não estou sendo nada apressado (…). É provável que até mesmo Jesus fosse analfabeto, e portanto, não saberia ler os textos, se os tivesse conhecido!”.

Então, se me permite a franqueza, é melhor mudar seu método de estudo. Parece que não estudou a Bíblia tanto quanto fala. “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se PARA LER. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías: e, quando abriu o livro achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a por em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor. E cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro…” (Lc 4:17-20).

Você não aceita pessoas que enxergam a Bíblia como a Palavra de Deus. Porém ela mesma diz ser. Se é verdade, devo aceitá-la 100%. Se não é, devo rejeitá-la 100%. Aceitar 10% de verdades que EU julgue ela conter faria de mim juiz do que Deus revelou. Quem sou eu para separar o que Deus falou e o que não falou? A Bíblia tem evidências suficientes para demonstrar ser ela a Palavra de Deus.

Você escreve que Deus não seria capaz de escrever as barbaridades que estariam descritas na Bíblia. Que você julga serem barbaridades. Que gabarito usou? Para mim Deus tem poder soberano sobre suas criaturas e não cabe a nós discutir isso. Se o dono de uma empresa despede um funcionário porque a seu critério — e somente a seu critério — o considerou desqualificado para o serviço, quem pode discutir? Ele é o dono e ponto final.

O primeiro passo para se conhecer a Deus é reconhecer a Deus e respeitá-lo pelo que ele é, não pelo que pensamos dele. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a prudência” (Pv 9:10). Se você quer “começar” a conhecer a sabedoria, o ponto de partida é o temor, o respeito de quem sabe que está entrando em terreno santo. Moisés, ao se aproximar da sarça que ardia, foi aconselhado a tirar suas sandálias, porque entrava em terreno santo ao se aproximar de Deus e ouvir sua voz. O segundo passo, que na verdade é consequência do conhecimento do Santo, é prudência. E parece que isto é o que falta em seu linguajar quando fala de Deus de um modo como não falaria de seu pai ou de sua mãe.

Sim, Deus se comunica com sua criação através da palavra escrita, justamente para evitar os “achismos” que você tanto teme. E aquele que se propõe a aceitar o que ele quer dizer, este passa a conhecer o teor dessa Palavra escrita. É aí que entra o Espírito Santo, quando faz sua habitação aquele que crê em Jesus. “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.” (1 Co 2:9-10).

Aconselho que leia Romanos. Ser pecador é uma coisa. Ser pecador justificado é outra. Após ler Romanos poderemos voltar a tratar do assunto da justificação, se quiser. O tempo do mundo ainda não terminou. O final de sua frase é verdade: os cristãos não são menos pecadores que os demais. Porém estão justificados, pois alguém pagou. Dos dois ladrões, que a princípio também agrediram o Senhor na cruz com suas palavras, um foi justificado quando creu. O outro não. O levita e o publicano no templo eram igualmente pecadores. O que pensou ser alguma coisa de si mesmo não foi justificado. O publicano, reconhecendo sua falta, foi. Se você reconhecer que é um pecador perdido e que não existe em você um átomo sequer de poder para tirá-lo dessa condição, então se humilhará na presença de Deus e clamará por socorro. Então Deus virá ao seu encontro e fará valer o preço já pago na cruz para você. Terá TODOS os seus pecados perdoados pela obra substitutiva de Cristo na cruz. Perderá sua glória, mas ganhará a vida eterna.

Um pecador com os sentidos tão embotados quanto os meus jamais teria encontrado a Deus. Nem dando trombada. Por isso ele precisou falar comigo através da sua Palavra e o Espírito Santo precisou tocar meu coração para me fazer reconhecer pecador perdido. O Senhor Jesus usou a sua palavra ao resistir a Satanás com o “está escrito”. Aconselho que leia a Bíblia sem preconceitos. Jamais conhecerá o pensamento de Deus com um espírito assim crítico (no mau sentido). E se tem alguma consideração pelo que o Senhor Jesus falou nos Evangelhos, terá que aceitar o Antigo Testamento, principalmente Moisés, pois ele mesmo colocou Selo de aprovação. Já encontrei pessoas que diziam crer somente no que Jesus falou (será você um deles?). Veja que interessante o que ele disse aos judeus, que o rejeitavam por gostarem de ter seus egos inflados:

“Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus? Não cuideis que eu vos hei de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais. Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” (Jo 5:44).

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O que acha do espiritismo?

Há dois tipos de pessoas: aquelas que dizem o que a outra gosta de ouvir e aquelas que dizem o que é preciso falar. Corro o risco de ser antipático, mas quero dizer que você precisa conhecer outro Deus, o Deus de amor, que não está cobrando nada de você e jamais desejou que vivesse uma vida de incertezas quanto ao seu passado e seu futuro.

Posso ser mais direto? Então vamos lá: o espiritismo mente. Não existe isso de relação cármica, reencarnação, e tudo o que o espiritismo costuma jogar sobre as pessoas, abandonando-as a própria sorte para ver se saem do poço onde são lançadas. O resultado são pessoas derrotadas por uma espécie de conformismo que considera sua desgraça fruto de uma herança cármica, ou pessoas extremamente orgulhosas por confiarem em si mesmas como se tivessem um grau maior de piedade.

Não se espante se minha linguagem parecer rude, mas é que fui presa dessas religiões que lançam sobre a gente a responsabilidade de nos salvar. Ora, ao que está afogando nem nós, que somos maus, dizemos que deve se virar para nadar por conta própria. Qualquer um pula na água para tentar salvá-lo. Deus é assim.

Na verdade conheço bem a doutrina espírita (lembre-se, estou falando da doutrina espírita, não das pessoas espíritas) para saber que é um enorme engano. A ideia da autoevolução, que você deve se aperfeiçoar espiritualmente, subindo degraus de uma escada sem fim, pode fazer bem para o ego, mas não é a verdade que você encontra na Bíblia que nos fala de um Salvador. Ora, se Deus providenciou um Salvador foi porque viu que não éramos capazes de nos salvar a nós mesmos. Por que existiria um Salvador se as pessoas pudessem se salvar a si mesmas?

Além disso, a ideia de autoevolução gera alguns problemas de ordem social, já que determina que alguns povos são mais evoluídos espiritualmente do que outros. O próprio Alan Kardec acabou se revelando racista em alguns de seus livros, graças a essa mesma ideia:

Allan Kardec, Obras Póstumas, 1ª parte, capítulo da “Teoria do Belo”“O negro pode ser belo para o negro, como um gato para os gatos; mas não o é no sentido absoluto, porque os seus traços grosseiros, os lábios grossos, acusam materialidade dos seus instintos; podem perfeitamente exprimir paixões violentas, mas nunca variedades do sentimento e as modulações de um Espírito elevado”.

A seguir mais alguns trechos de livros apontam algumas das consequências da doutrina espírita, só para falar do que concernem as raças (meu filho adotivo, Pedro, que é negro/índio, seria espiritualmente menos evoluído segundo a doutrina kardecista), sem ainda entrar em questões como a reencarnação e a eliminação do carma por meio de caridade e boas obras (ótimo para o ego):

“O progresso não foi, pois, uniforme em toda a espécie humana; as raças mais inteligentes naturalmente progrediram mais que as outras, sem contar que os Espíritos, recentemente nascidos na vida espiritual, vindo a se encarnar sobre a Terra desde que chegaram em primeiro lugar, tornam mais sensíveis a diferença do progresso. Com efeito, seria impossível atribuir a mesma antiguidade de criação aos selvagens que mal se distinguem dos macacos, que aos chineses, e ainda menos aos europeus civilizados” (Allan Kardec, A Gênese, Ed. Lake, São Paulo, 1a edição, p. 187)

“Esses Espíritos dos selvagens, entretanto pertencem à humanidade; atingirão um dia o nível de seus irmãos mais velhos, mas certamente isso não se dará no corpo da mesma raça física, impróprio a certo desenvolvimento intelectual e moral. Quando o instrumento não estiver mais em relação ao desenvolvimento, emigrarão de tal ambiente para se encarnar num grau superior, e assim por diante, até que hajam conquistado todos os graus terrestres, depois do que deixarão a Terra para passar a mundos mais e mais adiantados” (Revue Spirite, Abril de 1863, pág. 97, “Perfectibilidade da raça negra”; Allan Kardec, “A Gênese”, Lake Livraria Allan Kardec editora, São Paulo, p. 187).

“Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomarmos uma criança hotentote recém-nascida e a educarmos nas melhores escolas, fareis dela, um dia, um Laplace ou um Newton? (…) Em relação à sexta questão, dir-se-á, sem dúvida, que o Hotentote é de uma raça inferior; então, perguntaremos se o Hotentote é um homem ou não. Se é um homem, por que Deus o fez, e à sua raça, deserdado dos privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é um homem, porque procurar fazê-lo cristão?” (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Instituto de Difusão Espírita, Araras, São Paulo, sem data, capítulo V, p. 126-127).

Bem, acho que isso já lhe dá uma ideia clara do que existe de nefasto por trás da fachada piedosa do espiritismo. Na verdade é a religião de Caim, aquele que quis agradar a Deus com o fruto do seu trabalho e se irou quando Deus preferiu a oferta de Abel, que ofereceu um animal sacrificado, emblema de Cristo, o qual era resultado do trabalho de Deus, não de Abel. O espiritismo leva as pessoas a se acharem capazes de realizar algo que possa agradar a Deus; faz com que queiram ser reconhecidas pelas suas boas obras; as leva à conquista do troféu de glória pela salvação da própria alma, que deveria pertencer a Deus e a ele somente. É a ilusão da auto salvação, da auto evolução, da eliminação de seus pecados pelos próprios esforços.

Procure ler o Evangelho de São João e encontrará um Deus de amor, um Salvador que veio salvar pecadores, não pessoas perfeitas ou religiosas. É deste que estou falando e que, tenho certeza, você precisa conhecer. Sugiro a leitura de www.stories.org.br/loves.html Volte a escrever quando desejar e perdoe-me por minha aparente dureza de palavras, mas considero o assunto importante demais para tratá-lo de forma mais suave.

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Jesus era rico?

Não, o Senhor era pobre. Pelo menos é o que diz a Palavra de Deus quando se refere a ele:

(2 Co 8:9) “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis.”.

É claro que o significado exato dessa passagem não é exatamente material, mas espiritual, já que as riquezas das quais os que creem puderam usufruir são (Ef 1:3) “todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”, as mesmas que Cristo tem e de quem somos coerdeiros.

Mas em termos materiais ele não foi rico quando caminhou aqui, ao contrário dos absurdos que ouvi outro dia em um programa evangélico. A mulher que pregava — se não estou enganado, esposa de um ex-profissional de marketing que fundou uma igreja milionária — tentava de todas as formas convencer o público de que o Senhor era muito rico.

Disse que ele andava de “Rolls Royce”, já que jumentos tinham esse status na época porque eram transportes de reis. Bobagem. Reis, quando não eram carregados em liteiras por escravos ou viajavam em carros puxados por cavalos, como fazia o nobre mordomo da rainha Candace quando abordado por Filipe na estrada que vinha de Jerusalém.

“E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração, regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías.” (At 8:27-28).

Este sim era o “Rolls Royce” da época, que permitia viajar, ler e tinha até espaço para Filipe ter sido convidado para sentar. E se ainda permaneciam os costumes do Antigo Testamento, é interessante lembrar que os ricos não cavalgavam jumentos, mas mulas. E quando Isaías escreve profeticamente sobre aqueles que transportarão o remanescente fiel a Jerusalém no futuro, são mencionados os melhores meios de transporte da época, e o jumento não está entre eles:

(Is 66:20) “E trarão a todos os vossos irmãos, dentre todas as nações, por oferta ao Senhor, sobre cavalos, e em carros, e em liteiras, e sobre mulas, e sobre dromedários, trarão ao meu santo monte, a Jerusalém, diz o Senhor; como quando os filhos de Israel trazem as suas ofertas em vasos limpos à casa do Senhor”.

Portanto, andar de jumento na época em que o Senhor viveu aqui não era sinal de riqueza. E se nos lembrarmos de que o jumento que ele monta para entrar em Jerusalém era emprestado, o assunto se encerra aqui.

Mas a pregadora não parecia querer encerrar o assunto no jumento e continuou insistindo que carpinteiros eram ricos — tentando avaliar o status de uma profissão há dois mil anos comparando-a ao status atual. Não há subsídios para isso e você encontra carpinteiros ricos e pobres ainda hoje.

Tentou também dizer que suas roupas eram caras — só faltou dizer que eram de grife — quando se referiu aos soldados que dividiram suas vestes em quatro partes. Segundo ela, eram tão boas que os soldados nem se importavam de ficar com apenas um pedaço delas. O que faltou dizer foi que era só o que tinha. As vestes e a túnica. Essas eram suas posses materiais quando morreu, muito menos do que pessoas consideradas pobres hoje possuem.

Enfim, a mulher fazia um esforço hercúleo, mas dava para perceber que não era tanto para provar que o Senhor era rico, como era para justificar a riqueza dos líderes religiosos que professam a teologia da prosperidade. Foi assim mesmo que o movimento começou nos Estados Unidos em medos do século 20, quando muitos pregadores começaram a enriquecer e acharam um jeito de mudar o discurso. Se eram ricos era porque eram abençoados por Deus. O resto da história a gente já conhece.

Ao lançar perguntas no ar, algo mais ou menos assim, Se um dono de revistas pornográficas tem o direito de ter jato particular para aliciar suas garotas, os cristãos não podem ter esse direito?”, ela queria dizer que podemos reivindicar as mesmas regalias de um dono da Playboy, por exemplo. Deu outros exemplos, de outras atividades do mesmo nível, das riquezas que usufruem. Baixou o nível. Antes que sentisse vontade de vomitar, achei melhor mudar de canal.

A mulher não tem nem ideia do lugar do cristão neste mundo. Um estrangeiro, a caminho de sua pátria celestial, peregrino como foi seu Senhor cujo reino não era deste mundo. Poderia citar muitas passagens, mas uma ou duas bastam para entendermos como devemos ser e viver em relação às riquezas materiais:

(Mt 6:25) “Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?”.

(1 Tm 6:8) “Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.”.

Sim, vamos encontrar cristãos ricos e pobres. A alguns Deus deu mais para poderem compartilhar com os outros. Mas não é esse o foco e a fonte de nosso contentamento.

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Quem é o Espírito Santo?

O Espírito Santo é uma Pessoa divina, assim como o Pai e o Filho. Deus é um, mas em três pessoas. Não podemos entender isto, apenas crer. Se entendêssemos a essência de Deus seríamos como ele é. Todavia fomos feitos à imagem e semelhança dele, e somos também tripartidos, ou seja, Espírito, Alma e Corpo. No nosso caso o corpo é a parte sólida, a alma é o abrigo das emoções, anseios, etc., e o espírito é a nossa essência que pode ter comunhão com Deus. Animais têm alma e corpo apenas. Tem emoções, amam, etc., mas cessam de existir com a morte.

Voltando à questão do Espírito Santo, embora seja Deus, assim como o Pai e o Filho (um Deus, três Pessoas), em nenhum lugar na Bíblia vemos que ele (o Espírito Santo) deve ser adorado, receber orações ou qualquer atenção. Sua função hoje é apontar para Cristo. Ele convence o pecador do pecado e da justiça ou juízo (João 16:9,10), guia-nos a Cristo que é a Verdade (João 16:13), consola o cristão (João 14:16), antes do sacrifício de Cristo (até o dia de Pentecostes) habitava COM o crente, passando depois a habitar NO crente (João 14:17; 1 Coríntios 6:19), batizou todos os cristãos em um só corpo no dia de Pentecostes (Atos 2), e é o penhor do Cristão, sua garantia de que subirá para o Céu (Efésios 1:13,14).

Muito mais poderia ser dito, mas por enquanto acho que é suficiente. Em resumo, é Cristo, Deus feito homem, o alvo de todas as coisas tanto no Céu como na Terra. O Espírito Santo trabalha, por assim dizer, nos bastidores e não quer chamar atenção para si. A festa do Divino transformou o Espírito Santo em objeto de culto, o que não tem respaldo bíblico.

O pentecostalismo protestante e o movimento carismático católico colocaram o Espírito Santo em evidência, o que também não é certo. Devemos entender a sua ação, porém respeitar a ordem que Deus estabeleceu. Hoje o Pai e o Filho estão no céu, sendo que o Filho está no céu como Homem glorificado, em carne e ossos, assim como estarão os salvos (não, não dá para entender). O Espírito está na Terra, habitando individualmente no crente, corporalmente na Igreja (todos os que creem) e influindo no mundo como um todo e restringindo a disseminação completa do mal.

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Devemos usar a Bíblia para ferir?

Ocorre-me um verso em Êxodo 23.19: “Não cozerás o cabrito no leite de sua mãe”. Será que Deus estava interessado só em cabritos?”. Creio que temos um principio para nós aqui. O leite foi criado para dar vida e jamais poderia ser usado como instrumento de morte. Deus quis que a sua Palavra fosse o instrumento para nos comunicar vida (“de novo gerados… pela Palavra de Deus” 1 Pe 1:23).

Nunca deveríamos usá-la para ferir alguém. Nossa luta não é contra a carne ou sangue (pessoas), mas contra as potestades nos lugares celestiais (lutamos de joelhos) — Efésios 6.12.

Creio que o bom uso da espada, que é a Palavra de Deus, é uma das características do cristão que busca a maturidade. Crianças não devem usar instrumentos cortantes, todos sabemos. E a Palavra é mais cortante e pode, se mal utilizada, fazer mais estragos do que uma arma moderna.

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Em que Deus você crê?

Que Deus? Esta é uma pergunta importante. Porque há muitos ‘deuses’ e o mais adorado hoje é o próprio homem, como estava previsto em Romanos: “e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador”. Falo do humanismo.

Crer em Deus, no sentido cristão, é crer no Deus da Bíblia, no Deus criador e redentor. Outro dia alguém me perguntou se eu acreditava em Adão e Eva, na história toda, e eu disse que sim. Pela cara da pessoa parecia que eu estava dizendo que cria em Papai-Noel e Coelho da Páscoa. Para a razão a fé sempre será irracional.

“Pela fé cremos que os mundos foram criados por Deus”. Simples assim. A razão discorda, discute. Precisa ver para crer. Mas ver o que? Se olharmos para aquela galáxia imensa há milhões de anos-luz da terra, o que veremos? Nada, porque ela pode nem existir mais. Nossos sentidos só veem a luz da galáxia que só agora chegou aqui. Se ainda existir, ela nem está mais naquele lugar e nem se parece assim. Como posso crer em meus olhos então?!

Hoje dizer que você crê que Deus criou os seres vivos é uma heresia científica. Porque as pessoas acreditam piamente — exige uma fé maior até para isso — que um dia um primeiro ser vivo, obra do acaso, simplesmente chegou à conclusão que devia desenvolver um aparelho reprodutor para garantir a sobrevivência de sua espécie.

Como ele concluiu isso sem assistir o “Discovery Channel”? Ora, ele percebeu que se morresse ficaria sem descendentes, portanto, antes de morrer ele providenciou um aparelho reprodutor para si mesmo. Simples e factível, não é mesmo?

Assim aconteceu com todos os animais, insetos etc. O que não tinha asas percebeu que seria comido, então desenvolveu asas enquanto o comedor aguardava alguns milhões de anos para a asinha ficar pronta. É claro que durante esse tempo a proto asa só atrapalhou, já que não servia para coisa alguma, mas neste caso a teoria da evolução não poderia ser aplicada ou a asa, inútil enquanto não ficasse pronta, desapareceria.

É… Acho que vou ficar com Adão e Eva.

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Marketing é uma atividade boa ou má para um cristão?

Considerando minha ocupação profissional atual, sua pergunta foi se a atividade de marketing é boa ou má para ser exercida por um cristão. Você partiu do pressuposto de que o marketing causa um mal nas pessoas que agem, “voluntária ou involuntariamente através dos seus desejos e vontades, direcionado pelo seu raciocínio (pensamento), quando é influenciado pelos sentidos (visão, audição, paladar, olfato e tato)” e acreditando que “a atividade de marketing tenha uma grande parcela de culpa no que chamamos de compulsão para a satisfação da vontade de comprar em demasia, fazer sexo em demasia e muitas outras coisas em demasia, pois os profissionais de marketing sabem que exercem grande poder sobre a mente do homem”.

Considerando estas e outras afirmações de seu e-mail, provavelmente você esteja confundindo marketing com propaganda. Marketing não é propaganda (esta é apenas uma das ferramentas do marketing). Digamos que, o marketing está para a medicina assim como a propaganda está para a injeção. Marketing é um conjunto de ações que visa identificar, analisar e atender necessidades, desejos e expectativas das pessoas com produtos ou serviços. Isso pode ou não envolver propaganda.

Confundir os termos é algo normal, já que é comum a própria mídia anunciar coisas do tipo “faça seu marketing em nosso jornal” etc. As faculdades de administração já estão usando a expressão “Administração Mercadológica” para a disciplina Marketing em razão dessa confusão e da amplitude do assunto. Todavia, ainda assim é uma atividade que tem sua origem mundana, como a maioria das profissões.

Não importa o que você faça, se estiver inserido em qualquer uma das três grandes categorias, tecnologia, cultura ou pecuária, além da arquitetura e urbanismo (minha formação original), sua origem será Caim.

(Gn 4:16-22) “E saiu Caim de diante da face do Senhor, e habitou na terra de Node, do lado oriental do Éden. E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu, e deu à luz a Enoque; e ele edificou uma cidade [Arquitetura e Urbanismo], e chamou o nome da cidade conforme o nome de seu filho Enoque; e a Enoque nasceu Irade, e Irade gerou a Meujael, e Meujael gerou a Metusael e Metusael gerou a Lameque. E tomou Lameque para si duas mulheres; o nome de uma era Ada, e o nome da outra, Zilá. E Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e têm gado [Pecuária]. E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão [Artes e Cultura]. E Zilá também deu à luz a Tubalcaim, mestre de toda a obra de cobre e ferro [Tecnologia]; e a irmã de Tubalcaim foi Noema.”.

Aparentemente a pecuária, não com a intenção de comer a carne do animal, mas apenas de beber seu leite, já era praticada por Abel e, portanto, talvez não se enquadre nesta classificação como se enquadram as outras atividades, desconhecidas antes de os descendentes de Caim se tornarem “pais” dos que as praticavam.

Resta, portanto, a agricultura como a atividade original para o ser humano, tendo esta sido ordenada por Deus a Adão no jardim do Éden. Ao longo das eras, porém, vemos a humanidade e o próprio povo de Deus se engajando em atividades profissionais que não foram divinas em sua origem, como a construção da cidade de Jerusalém, ainda que a primeira cidade tivesse sido construída por Enoque, filho de Caim.

Generalizando, podemos dizer que hoje todas as atividades profissionais trazem em si a marca de Caim e do mundo, e o próprio dinheiro que ganhamos com nosso trabalho é “riqueza da injustiça”, já que não precisamos rastrear muito o dinheiro que temos no bolso para descobrir que passou por lugares e atividades pouco recomendáveis. Todavia, o Senhor não culpou o dinheiro como a raiz de todos os males, mas o amor ao mesmo, a avareza. O que equivale dizer que o problema não está fora de nós, mas dentro, já que nem precisava explicar muito que o que está fora já é, naturalmente, do mundo e, por conseguinte, de origem não divina.

Mesmo considerando as invenções de Caim, como cidades, agropecuária, cultura musical e tecnologia, é provável que o problema não esteja nessas coisas em si, mas em quem as criou e na finalidade delas. Vemos mais tarde Deus ordenando aos israelitas que construíssem cidades, e o próprio Deus colocou o seu nome numa cidade que ele escolheu: Jerusalém. No final vemos também uma cidade descendo do céu, a Nova Jerusalém. Portanto, as cidades não são ruins, mas o objetivo dos homens que as constroem para perpetuar seu nome no mundo.

O mesmo pode ser dito da cultura e da tecnologia, já que Deus introduz cânticos e instrumentos musicais na adoração de Israel, e desejava que se buscassem homens hábeis em tecnologia para construir tanto o Templo de Jerusalém quanto seus utensílios. Até mesmo Jesus deve ter sido um carpinteiro durante boa parte de sua vida aqui, para o que precisou conhecer o uso de ferramentas e até técnicas de comercialização (marketing) de seus produtos. Mas, de uma maneira geral, o que vemos no mundo foi criado pelo homem não para exaltar a Deus, mas a si próprio. Daí a exortação contra nos apegarmos a essas coisas:

(1 Jo 1:15-16) “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque TUDO O QUE HÁ NO MUNDO, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo”.

Isto demonstra que granjeamos, negociamos e obtemos as riquezas da injustiça enquanto no mundo, mas sem ser dele e sem deixar que essas coisas sejam o norte em nossa vida. O cristão sabe muito bem que não deve adorar a Mamom, mas a Deus. Todavia, quando você fala de “capitalismo exagerado” fica difícil definir o que seria exatamente “capitalismo exagerado” e como estar isento de sua prática. Se você for comerciante, funcionário público, bancário, médico ou qualquer profissional, é provável que tenha seus limites dentro de sua prática profissional, mas não estará livre de ter contribuído para uma cadeia de eventos que obviamente levará ao que você descreveu como uma das razões da ruína de Babilônia no livro de Apocalipse.

A menos que alguém viva numa caverna no alto de uma montanha, essa pessoa estará contribuindo, de uma forma ou de outra, para essa cadeia comercial que inclui práticas honestas e desonestas. Caberá a cada um, dentro das limitações de sua atividade, agir de forma honesta e consciente e depender da graça de Deus para sua salvação, e de forma alguma achar que suas práticas honestas valerão pontos para tirá-lo de sob a maldição do pecado que recai sobre todo ser humano, honesto ou não. O que, evidentemente, só pode ser conseguido pela graça de Deus e pela fé em Cristo e em sua obra substitutiva e expiatória na cruz.

Voltando ao marketing, sim, trata-se de uma atividade que lida com as próprias origens da concupiscência humana. É verdadeira pólvora se usada da forma errada. A primeira a lidar com isso foi a serpente, no Éden, ao tentar Eva. A tentação encontrou resposta no coração de Eva: Genesis 3:6 “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.” Compare Gênesis com 1 João e você tem as mesmas três coisas que têm influência no ser humano:

“Boa para comer” = “Concupiscência da carne”

“Agradável aos olhos” = “Concupiscência dos olhos”

“Desejável para dar entendimento” = “Soberba da vida”

Quando você escolhe este ou aquele prato no restaurante, está fazendo valer em alguma medida essa “concupiscência da carne” que existe dentro de cada um de nós. Quando se veste bem para impressionar os outros, está querendo (talvez inconscientemente) ativar a “concupiscência dos olhos” que existe neles. E quando elogia seu filho porque passou em primeiro lugar nos exames e ganhou uma medalha ou apareceu em primeiro na lista dos aprovados no vestibular, pode ter certeza de que a “soberba da vida” estará dando saltinhos de alegria dentro dele. Vai se achar o tal.

Negar isso é negar a própria urdidura da natureza humana e querer se colocar à parte da humanidade caída. Somos assim e ponto final. Somos todos atraídos e frequentemente engodados por essas três concupiscências porque somos feitos todos da mesma matéria. O cristão não está livre disso, apenas tem em si uma nova natureza que pode enxergar com outros olhos para essas coisas, sabendo que estão bem ali dentro de si e que fazem parte de todas as atividades humanas — eu disse TODAS — e agir de modo diferente para ser luz e sal neste mundo.

E o marketing? Ao identificar, analisar e atender necessidades, desejos e expectativas no ser humano, estará trabalhando dentro do âmbito da natureza humana tal como ela é: desejosa de dinheiro (para alimentar a carne), prazer (para agradar os olhos) e prestígio (para alimentar sua soberba). “Quem obedecer ganha um doce!” promete a mãe que, sem saber, está fazendo um apelo à carne de seus filhos. “Quem fizer o desenho mais bonito vai passear”“Muito bem, você vai ganhar a fatia maior porque acertou todas!”. Percebe como fazemos marketing o dia todo sem perceber? Identificamos necessidades, desejos e expectativas e atendemos.

A fronteira entre agir dentro daquilo que é natural e ético é muito tênue e aí entra o papel do cristão que atua em marketing — assim como o cristão bancário, médico, vendedor, engenheiro, funcionário público etc. — em fazer a diferença. Que ele terá que identificar que as pessoas querem um macarrão vitaminado (para a subsistência de sua carne), em uma embalagem bonita (para os olhos) e com nome italiano (para parecer mais chique e importado) é algo que está perfeitamente dentro da atividade do marketing e de qualquer outra atividade profissional. Como o profissional de marketing irá responder, apelar para e satisfazer essas três concupiscências naturais é onde mostrará se está fazendo a diferença como cristão ou não.

Enfim, acredito que o cristão que atua em marketing tenha até uma visão mais privilegiada do comportamento humano do que qualquer outro profissional em sua área de atuação. Ou talvez quem realmente pense ter essa visão e prática privilegiada seja o cristão que não atua em marketing. Mas o simples fato de pensar de uma forma ou de outra já seria uma característica de “soberba da vida”, não é mesmo?

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Seria seu blog uma injúria a Chico Xavier?

Após ler um dos textos publicados em meu blog “O que respondi…”, um leitor escreveu considerando uma injúria o comentário que fiz envolvendo o nome do escritor espírita. Esta foi minha resposta a ele:

Tentei lembrar onde possa ter escrito alguma injúria a Chico Xavier. Você deve ter considerado injúria o trecho em que escrevi: “A ideia da reencarnação traz embutida a ideia da autoevolução, que você deve se aperfeiçoar espiritualmente, subindo degraus de uma escada sem fim. Isso pode fazer bem para o ego, e é a razão dos livros espíritas como os de Chico Xavier ou Zibia Gasparetto serem best-sellers. As pessoas gostam de ler ou ouvir que elas são especiais, que vão conseguir, que são poderosas, guerreiras, etc. Ninguém quer ouvir: Você é pecador.”.

Se ler direito verá que o que digo é que os livros espíritas são vendidos de montão porque as pessoas gostam de ouvir sobre a evolução espiritual e coisas do tipo. Os dois autores são mencionados apenas como referência por serem os que mais vendem. Se recebem ou não por seu trabalho não é a questão. Também não tem importância alguma se escrevem em português da frente para trás ou em inglês de trás para frente, como você disse ter sido a produção de um dos livros do autor.

A questão, que você deixou passar, é que essas doutrinas são, isto sim, uma injúria contra Deus e contra Cristo, já que consideram Jesus menos que Deus, mas apenas um espírito evoluído, e desprezam completamente sua obra ao colocar o homem como autor de sua própria salvação por meio de suas obras e méritos.

Talvez fosse interessante você ler meu testemunho de conversão para entender que vim desse meio, ou seja, acreditei em tudo aquilo que você provavelmente acredita (www.stories.org.br/angels.html). Você também sugere que eu não tente dar respostas sobre assuntos que não conheço, como o texto que escrevi sobre vida em outros planetas. A este respeito posso dizer que até mesmo vi um disco voador durante cerca de 20 minutos em uma estrada de Goiás numa madrugada de 1979, mas sei bem que não se tratava de vida extraterrena, e tenho razões bíblicas para acreditar assim.

Um último conselho: Não acredite em mim, em quem sorri (você comentou sobre meu sorriso na foto) ou em quem escreve coisas espirituais. Especialmente se a pessoa tiver aparência de piedade e falar mansamente. Estas são características das pessoas que o apóstolo Paulo avisou para tomarmos cuidado. Busque você mesmo na fonte que é a Bíblia e peça para ser ensinado por Deus. Jamais confie em homens. Qualquer um pode construir um site com um sorriso bonito e falar coisas bonitas de Deus. A chave para você descobrir se algo é de Deus ou não é fazendo a seguinte pergunta: “Isso glorifica a Deus ou ao homem?”

O espiritismo glorifica ao homem. A Bíblia coloca o homem em seu devido lugar e glorifica a Deus. Uma salvação que tenha qualquer participação minha no processo deixará margem para me gloriar dela. Uma salvação como a Bíblia ensina, de um pecador perdido que foi salvo por Cristo apenas, remete toda a glória a ele, que é Deus. É por isso que tanta gente odeia a Bíblia, mas gosta tanto de doutrinas que acariciam o ego humano com coisas do tipo, “você tem mediunidade, é só desenvolver”, “você é um diamante que precisa ser lapidado”, “você pode evoluir espiritualmente” e coisas do tipo. Enquanto isso a Bíblia diz:

(Rm 3:10-18) “Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos.”.

Não há muito para o ego nisso, não é mesmo? Todavia, é neste terreno de completa ruína que Deus nos encontra para nos salvar por meio da fé e da obra única, perfeita e definitiva de Cristo na cruz. “Para que nenhuma carne se glorie perante ele.” (1 Coríntios 1:29).

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A Bíblia discrimina a mulher?

De uma leitura pertencente a uma organização evangélica vêm comentários sobre um texto que leu em meu site sobre o lugar da mulher nas escrituras. Ela escreveu: “Apenas a primeira mulher foi retirada da costela de Adão, o resto da Humanidade foi gerado no ventre de uma mulher. Deus poderia ter feito um clone e Jesus ter nascido, contudo, Jesus foi gerado em um ventre feminino. A mulher não é citada nas escrituras, porque o povo israelita tinha a mulher em baixo do pé e… Não foi a mulher que crucificou Jesus, foram os homens. Concordo que deva existir uma hierarquia, mas seu texto enfoca apenas o lado machista e discriminatório”.

O que respondi: Obrigado por comentar. Sinto que tenha tido a impressão equivocada do texto justo quando é comemorado o “Dia da Mulher”. Mas o texto que leu, “A mulher, seu lugar nas Escrituras”, não é meu e sim de A. J. Pollock, que nasceu na segunda metade do século 19 e morreu em 1957. Todavia o texto não reflete o pensamento de sua época, mas o que a Bíblia diz sobre o lugar da mulher nas coisas que dizem respeito à Igreja.

Em resumo, você escreveu que “o resto da Humanidade foi gerado no ventre de uma mulher” (o que, obviamente inclui a intervenção masculina), que “apenas a primeira mulher foi retirada da costela de Adão” (não encontro o contrário no texto que citou), que “a mulher não é citada nas escrituras, porque o povo israelita tinha a mulher em baixo do pé e… Não foi a mulher que crucificou Jesus, foram os homens.”. Perder o fato de a mulher ter sido tirada da costela do varão é perder a beleza que existe na figura da proximidade que ela tem do coração do homem. Essa proximidade tão grande que chega a ser uma união é enfatizada pela Palavra de Deus: “Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos.” (Ef 5:28).

Essa relação homem-mulher é também uma belíssima figura de Cristo e sua Noiva, a Igreja, tirada do seu lado durante o sono profundo da morte. Sem o lado aberto de Adão não haveria Eva. Sem aquele lado ferido do Senhor não haveria a Igreja, composta por todos os que creem em Cristo.

A mulher é bastante citada nas Escrituras e o povo Israelita não tinha, de modo algum, a mulher debaixo do pé. Já leu Provérbios 31? Você já leu sobre as parteiras de Êxodo, cujos nomes foram registrados nas Escrituras, juízas que julgaram o povo de Israel quando não tinha um homem que fosse homem o suficiente para fazê-lo? Já leu do papel que algumas mães de reis tiveram em seus reinados? Ou do modo como o Senhor recebia as mulheres?

A ideia de que não tenha sido a mulher que crucificou a Jesus não faz sentido. Não entendi aonde quer chegar. Você acredita realmente que as mulheres não o rejeitaram, apenas os homens? Sei que você não acredita assim, pois então Cristo teria vindo salvar apenas homens, já que as mulheres seriam uma classe diferente, com um grau menor de pecado e responsabilidade pela rejeição do Senhor.

O lugar da mulher, segundo as escrituras, é o lugar que condiz com suas qualidades, assim como o do homem. Um não é melhor do que o outro, são apenas diferentes e devem assumir diferentes responsabilidades, diferentes atividades, diferentes ministérios na Igreja, quando esta se reúne para aquele que é o Autor da Bíblia e do que está ali definido para as mulheres.

A sujeição da mulher ao varão, posicionalmente, como cabeça do lar, e a sujeição deste a Cristo, como cabeça do homem, assim com Cristo andou aqui sujeito ao Pai, é uma ordem que o mundo sempre quis contestar e conturbar, por não aceitar a sujeição àquele que está no topo dessa cadeia de relações: Deus.

Espero que leia novamente o texto, em oração e à luz das Escrituras. Mas só faça isso depois de ler Cantares para ter em mente a afeição com que o próprio Deus trata a mulher.

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Onde está meu filho que morreu?

Seu filho, que faleceu aos seis anos, está com Cristo, o que é muitíssimo melhor. (Fp 1:23) “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor.” (Lc 18:16) “Mas Jesus, chamando-os para si, disse: Deixai vir a mim os meninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus”.

Quando você diz que preferia ter morrido no lugar dele, você conhece na pele o que é o desejo de morrer para que outro que você ama, viva. Foi o que Cristo fez por mim e por você. Você não teve escolha e precisou sofrer ao ver seu filho partir. Mas Jesus teve o poder de ocupar o seu e o meu lugar na morte e no juízo (castigo) que era devido ao pecado. Agora, quem crê nele tem a vida eterna.

Crianças são automaticamente beneficiadas pelos resultados do sacrifício de Cristo, pois não têm consciência de seu pecado. Mas a partir da consciência, precisamos reconhecer e aceitar tal obra para nós. Certamente você irá voltar a ver seu filho, se tão somente crer na obra que outro Pai fez, ao entregar seu Filho para morrer.

Vejo que ainda está pensando que deve fazer alguma coisa para Deus, algo para merecer a salvação. Acho que você não está se lembrando do que conversamos sobre dádiva. Deus não está pedindo nada a você além de seu coração. Se algum dia leu a história de Caim e Abel, saberá que ambos quiseram oferecer algo a Deus. Caim ofereceu o fruto de seu trabalho, sua colheita da terra que um pouco antes Deus tinha amaldiçoado por causa do pecado. É um tipo do homem querendo oferecer alguma obra para Deus.

Abel ofereceu um cordeiro morto em sacrifício. Nenhum trabalho dele, já que o cordeiro foi criado por Deus e Abel nada mais fez do que derramar seu sangue. Era já uma figura de Cristo, o inocente morrendo no lugar do culpado. Foi a oferta de Abel que agradou a Deus.

Ao longo de toda a Bíblia você encontrará homens tentando oferecer algum trabalho a Deus, mas tudo o que ele quer é o reconhecimento daquilo que ele deu: seu Filho em sacrifício por nós.

Vou lhe dar uma lição de casa. Leia o trecho em Gênesis 22 (irá encontrar em sua Bíblia) e veja alguns paralelos: O Pai entregando o Filho, que sobe o monte com a madeira às costas e é imolado (neste caso em princípio, já que um carneiro o substitui). Era já Deus anunciando como seria entregar seu Filho.

Voltando a falar de obras, (Ef 2:8) “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom [dádiva] de Deus.” (Ef 2:9) “Não vem das obras, para que ninguém se glorie”.

Quando um homem desesperado perguntou o que devia “FAZER”, a resposta foi:

(At 16:30-31) “E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa”.

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É correto dizer que a igreja ensina?

Não creio que seja uma expressão correta, pois a igreja não ensina e nem deveria ensinar, especialmente por ser um tipo da noiva ou esposa de Cristo (1 Ti 2:12) “Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio”.

Quando falo de “igreja”, refiro-me aos únicos significados que a Bíblia apresenta: o corpo de Cristo, composto por todos os salvos, e a manifestação local deste corpo, onde estão dois ou três reunidos para o nome do Senhor. Em nenhum momento a Bíblia apresenta a igreja como uma organização ou denominação religiosa. Aliás, assim como há um exército brasileiro, representado por quartéis locais (do mesmo exército), existe um corpo de Cristo, representado por manifestações locais que, todavia, jamais deveriam trazer qualquer identificação diversa.

Há um mal entendido quando dizemos que “a igreja me mostrou” ou “a igreja ensina”. Isto é um costume que adquirimos com o catolicismo, onde a igreja, como organização, ensina. Na Bíblia, a igreja é a reunião das pessoas, o conjunto, e ela não ensina, mas aprende dos dons (mestres, evangelistas, etc.).

Temos a Bíblia, e mais especificamente as cartas que trazem a doutrina dos apóstolos, para nos ensinar como devem ser as reuniões dos santos, e temos os que ministram nessas reuniões, dos quais podemos aprender, sempre conferindo seu ensino com o que a Bíblia diz. A autoridade final é sempre da Palavra de Deus, por mais bonito ou eloquente que possa ser o que alguém prega.

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O que você pensa dos judeus?

O povo que hoje chamamos de “judeus” é, em sua maior parte, descendente das duas últimas tribos de Israel — Judá e Benjamim — que restaram após as outras dez tribos terem sido dispersas entre as nações há vários séculos.

Agora vou deixar você com a pulga atrás da orelha. Você sabia que os israelitas são o pior povo que já existiu? Calma, não sou antissemita ou coisa do gênero. Aliás, creio que Israel é um povo escolhido por Deus.

Acompanhe meu raciocínio. Em várias partes do Antigo Testamento Deus diz que escolheu o menor de todos os povos, um que nem era povo. Jacó lutou com Deus e saiu mancando. Era um homem teimoso em extremo. Dele vêm as tribos de Israel, com irmãos se digladiando (os irmãos venderam José, lembra?).

Quem lê o Antigo Testamento fica abismado. Como os judeus puderam deixar publicar todos os podres do povo (ali não fica nada escondido e é essa uma das provas de que é a Palavra de Deus, não a história dos hebreus, porque história nós alteramos, escondemos os podres).

Voltando ao raciocínio, Deus escolheu o povo mais teimoso, mais complicado, o pior que encontrou, para fazer dele um povo seu. Por que fez assim? Para que toda a glória ficasse com Deus. Porque se ele tivesse escolhido um povo nota dez, a glória ficaria com o povo.

Se lembrar da história de Israel, verá que eles sempre se meteram em encrencas enormes e foram milagrosamente libertados. A passagem pelo mar, um Davizinho derrotando um gigante, muralhas caindo… Sempre alguém cuidando de um povo que se comportava como uma criança de dois anos. Agora? Bem, vai continuar complicado e vai complicar mais… O melhor vai ficar para o futuro, mas ainda faltam algumas boas palmadas na criança.

Os palestinos podem brigar o quanto quiserem, mas a terra será dos judeus. Depois dos israelitas, pois as dez tribos perdidas serão achadas (você, que se identificou como judeu, deve ser de Judá ou Benjamim, os judeus de hoje são dessas duas tribos).

Aliás, os palestinos são uma pedra no sapato dos judeus, que desobedeceram a Deus há séculos. Quando deviam ter resolvido o problema dos filisteus como Deus ordenara (estamos falando aqui de outro tempo, outro lugar, portanto não tome isso como uma mentalidade de exterminador), casaram-se com suas mulheres. Os filisteus do passado foram ancestrais dos palestinos do presente.

Na década de 1980 traduzi um livro, “Acontecimentos Proféticos”, sobre os acontecimentos do futuro, baseados nos profetas do Antigo Testamento, nos Salmos. O livro traz os mapas da movimentação dos exércitos nas batalhas finais que ainda irão acontecer na Palestina. Os poderes de hoje estão se realinhando da mesma forma como estiveram no passado (Império Romano = Europa Unida).

No final, Israel ficará na terra, Egito será abençoado com Israel e com os Ismaelitas (árabes), Edom desaparecerá (Jordânia), o mesmo com Babilônia (Iraque), embora Pérsia (Irã) permaneça. É interessante conhecer história passada. Porém, mais interessante ainda é conhecer história futura! A Bíblia mostra isso.

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O que acha do Evangelho de Judas?

Valendo-me da antiga piada, diria que “não li e não gostei”. Novidades sempre nos atraem e não poderia ser diferente com “O Evangelho Segundo Judas”, tema que virou capa de revistas e fez alguns mais apressados concluírem que toda a história da fé cristã precisa ser reescrita. Até aqui eu e milhões de outros cristãos aprendemos sobre Jesus, sua vida e obra, através dos quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Os quatro são unânimes em afirmar que Judas foi um traidor, não um mártir que tenha morrido por uma causa que só ele e seu Mestre conheciam até ali.

Tudo o que sabemos de história é o que alguém registrou. Não há como voltar ao passado para constatar se foi assim ou não. Nós nos baseamos em registros que outros deixaram. Podemos, isso sim, contestar os registros quando temos outros mais fidedignos. Temos quatro evangelhos que nos falam de fatos acerca de Jesus, além de um grande número de cartas dos primeiros discípulos. Então aparece um suposto evangelho de Judas e será que devemos desconsiderar todos os outros documentos? Vamos observar um pouco o que já temos, ou seja, os quatro evangelhos.

Mateus escreveu em Aramaico, o idioma hebraico usual da época e restrito aos judeus. Lucas escreveu em grego, a língua universal da época e comum a todo o mundo ocidental de então (era o inglês do momento).

Se descer aos detalhes, verá que Mateus traz um volume enorme de citações das Escrituras do Velho Testamento, bem conhecidas dos Judeus. Há vários acontecimentos narrados “como disse o profeta fulano”. Tudo indica que ele estava falando de um Jesus previsto na cultura judaica, e mostrando que esse havia chegado. É insistente também em procurar provar que Jesus é o rei há muito prometido para os judeus.

Mateus revela em Mateus 10:4 quem seria o traidor, porém é no Antigo Testamento, mais especificamente no livro de Salmos, que são proféticos e em grande parte revelam os sentimentos de Cristo, que vamos encontrar qual seria o verdadeiro caráter de Judas:

(Sl 55:12-14) “Pois não era um inimigo que me afrontava; então eu o teria suportado; nem era o que me odiava que se engrandecia contra mim, porque dele me teria escondido. Mas eras tu, homem meu igual, meu guia e meu íntimo amigo. Consultávamos juntos suavemente, e andávamos em companhia na casa de Deus”.

(Sl 41:9) “Até o meu próprio amigo íntimo, em quem eu tanto confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar”.

Ora, se devemos considerar que esse “novo evangelho” supostamente acerca de Judas seja digno de confiança, devemos deixar de lado os outros quatro evangelhos, especialmente o de João, que escreveu usando a mesma expressão “levantar o calcanhar”:

(Jo 13:18) “Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: o que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar”.

Li certa vez de um velhinho que citava a Bíblia para dar respaldo a suas suposições. Só que o que ele citava não era a Bíblia. Inventava pensamentos, colocava em linguagem arcaica, e acrescentava, “Como diz o livro de Ezequiel, capítulo 18, versículo 15…” e saía dizendo seus próprios pensamentos. Como os ouvintes nunca tinham lido Ezequiel, acabavam caindo. Li um artigo sobre como dar palestras que dizia, de brincadeira, que quando você quiser fazer uma citação, e não se lembrar de quem disse aquilo, diga que foi Benjamin Franklin. Ele disse muita coisa, e é possível que tenha dito aquilo também.

A maioria das pessoas seduzidas por esses novos evangelhos pouco leu a Bíblia ou os quatro evangelhos. Como tudo o que é novo atrai, era de se esperar que a notícia de um manuscrito que se denomina evangelho de Judas atraísse multidões.

O momento também é propício. Existe a febre do Código Da Vinci, com livro e filme atraindo multidões para uma história cheia de erros grosseiros e invenções, mas que levanta um tema digno da imprensa marrom:

“Teria Jesus deixado descendentes?” A resposta é que sim, e eu, pela fé, sou um deles, mas não da maneira como Dan Brown gostaria que fosse. Os canais de documentários se aproveitaram da febre e lançam vários programas colocando em dúvida o que se sabia até aqui ou questionando a fé cristã. Faz parte de uma época para a qual a própria Bíblia já alertava:

“MAS o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios… Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” (1 Tm 4:1; 2 Tm 4:3).

Era de se esperar que muitos “cientistas” e “estudiosos” engrossassem as fileiras da crítica à Bíblia, mas é bom entender que geralmente quem critica a Bíblia não conhece seu Autor. Não é possível querer analisar a Bíblia do ponto de vista científico, pois ela nunca foi escrita para ser um compêndio científico. Ela foi escrita para mostrar aos homens o caminho da salvação eterna. Deus quis falar aos homens de coisas mais importantes do que as visíveis, palpáveis e experimentáveis. (2 Co 4:18) “Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.”

Há quem alegue que é impossível ter certeza dos textos da Bíblia, já que as traduções que hoje temos não foram feitas dos originais, mas de cópias existentes às vezes alguns séculos após a data em que os originais teriam sido escritos. Realmente, hoje não existe um manuscrito original daquilo que conhecemos como os livros que compõem a Bíblia. Apenas cópias segundas, terceiras, décimas, etc. Quanto mais longe a cópia estiver do original, mais sujeita a erros.

Veja, por exemplo, o livro de Isaías que temos hoje no Antigo Testamento da Bíblia que todo o mundo cristão e hebreu utiliza. Ele vem de um manuscrito bem posterior a Isaías, e até a Cristo (Isaías viveu 700 anos antes de Cristo). Porém, entre os manuscritos descobertos em 1947 em uma caverna ao lado do Mar Morto, havia um de Isaías, muitíssimo mais antigo do que o usado para nossas Bíblias. Adivinha? Sim, é idêntico. O cuidado na cópia era tanto, que hoje há manuscritos que trazem uma mancha de tinta na margem, que é repetida nas cópias seguintes.

Geralmente quem diz que a Bíblia que temos hoje foi alterada, não mostra a anterior. Sim, porque para você dizer que algo foi adulterado é preciso ter o original, ou uma cópia anterior. Já viu alguém mostrar isso? Esses defensores da originalidade, que descobriram isso, deveriam trazer a público a cópia mais fiel que certamente possuem, para benefício de todos, não? O grito geral é de que o Vaticano tenha trancado a verdade — em parte é a tese também do Dan Brown no Código Da Vinci — em seus cofres e só entregou uma versão de acordo com seus próprios interesses. Dizer isso é não conhecer o volume de material existente por aí, com o qual seria possível publicar uma Bíblia sem precisar usar os manuscritos que se encontram em poder do Vaticano.

Só para você ter uma ideia, veja alguns dos manuscritos mais importantes, fora dos muros de Roma:

– Manuscrito de John Ryland (ano 130 DC) Biblioteca John Ryland, Manchester, Inglaterra.

– Papiro Chester Beatty (200 DC) Museu C. Beatty, Dublin em sociedade com a Universidade de Michigan.

– Papiro Bodmer II (150-200 DC) Biblioteca Bodmer de Literatura Mundial

– Códice Sinaitico (350 DC) Museu Britânico.

– Códice Alexandrino (400 DC) Museu Britânico (contém quase toda a Bíblia em grego. Escrito no Egito).

– Códice Efraimico (400 DC) Biblioteca Nacional, Paris.

– Códice Beza (450 DC) Biblioteca de Cambridge.

– Códice Washingtoniano ou Freericano (450-550 DC) Washington, EUA.

Quanto aos apócrifos, como o recente Evangelho de Judas e outros já conhecidos há séculos, o critério de sua exclusão do cânone é simples: incoerência com o volume todo dos livros mais conhecidos e com maiores provas de originalidade. Já leu algum apócrifo? Experimente. Li um evangelho de João apócrifo que ensinava a fazer lavagem intestinal. Quando você lê um apócrifo percebe claramente seu caráter.

Mas o problema não está com os apócrifos, que podem ter sido escritos por pessoas que acreditavam piamente no que escreviam ou eram os ficcionistas de sua época. O problema está com os críticos da Bíblia e isso porque não conseguem entendê-la. Só há um meio de se entender a Bíblia, e não é com a mente natural do homem. É preciso fazer download de um “plugin” muito especial, senão não vai funcionar:

(1 Co 2:14) “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

Tudo começa com o recebimento do Espírito Santo quando alguém crê em Cristo como Salvador. Se uma pessoa não crê no Autor da Bíblia, não crerá nela, e vice-versa. Tampouco crerá na vida e obra de Jesus, e muito menos em seus milagres e sua ressurreição. A falta de um elemento — a fé e o Espírito Santo — compromete o entendimento em todo o resto.

Se eu dissesse a uma pessoa, há cem anos, que o oxigênio (combustível usado nos foguetes) levanta centenas de toneladas e as leva para o espaço, essa pessoa acreditaria? Ou, há uns mil anos, que carvão, enxofre e salitre (composição da pólvora) teriam o poder de desmontar uma montanha?

Explique a um índio que você consegue levantar toda a aldeia usando o ar que eles respiram. Irá entender? São elementos simples, porém usados hoje em foguetes, bombas e sistemas hidráulicos. Há um barril de conhecimento associado a eles para poderem funcionar. Não queira julgar a fé pela ótica de quem tenta usá-la para ganhar na loteria, ou para fazer um bom negócio. A fé de que a Bíblia fala é aquela que tem Deus virando a manivela nos bastidores.

Alguns têm dificuldade em crer que a Bíblia seja a Palavra de Deus. Se não for, deve ser rejeitada completamente, pois então não existe um livro mais pernicioso do que aquele que afirme ser a Palavra de Deus e não é. Tem uma Bíblia em sua casa? Se ela não é a Palavra de Deus, tire-a agora mesmo de perto de sua família. É perniciosa. É mentirosa. É vil. Pior que qualquer outra invenção humana, pois está enganando as pessoas. Mas se ela for a Palavra de Deus, renda-se a ela.

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Devo crer no humanismo?

Como humanismo acabou ficando um termo muito amplo, às vezes confundido com ética, dignidade humana, direitos humanos, etc., para efeitos do que vou dizer aqui, vamos considerar a expressão como sendo apenas a crença na capacidade humana como um ápice e solução para todos os problemas da própria humanidade. Portanto, leia-se aqui “Devo acreditar no ser humano?”, assim não colocamos em discussão o humanismo, mas uma espécie de idolatria do homem que este possa eventualmente gerar, substituindo Deus pelo ser humano e sua capacidade intelectual ou produtiva.

Você enviou um artigo extraído de um site sobre ateísmo e nem precisei ler muita coisa para ter uma boa ideia do que se trata. O site, que vende camisetas e adesivos proclamando o ateísmo, traz uma foto de seu criador e responsável com um cordão no pescoço onde há uma cruz pendurada de cabeça para baixo. A cruz invertida, originalmente um símbolo de Pedro que teria sido crucificado nessa posição, é hoje um símbolo de oposição ao cristianismo. Todo o conteúdo do site revela a extrema dependência que o autor tem do cristianismo. Se este não existisse, ele não teria seu site ou sua crença.

O artigo de Robert G. Ingersoll, intitulado “Sobre a Bíblia”, tenta desacreditá-la e, embora você esperasse que eu comentasse todas as pretensas provas que ele apresenta, para mim basta olhar o que existe por detrás do texto. Para fazer uma boa análise de textos assim, sejam eles de crítica ou mesmo de propagadores de novas ideias, é bom começar pelo fim. Geralmente os pensadores vão alimentando suas ideias com um conta-gotas de supostas provas ou fatos para dar, no final, o desfecho que queria dar desde o início. Em suma, o sujeito já tem uma ideia formada e o que deseja é apenas enfeitá-la com aquilo que considera provas.

O autor foi um agnóstico humanista, famoso em sua época por sua habilidade de oratória e ideias revolucionárias para seu tempo. Obviamente, ao atacar a Bíblia ele quer, no fundo, atacar a Deus e se ver livre dele para seguir seu próprio nariz. Ou o nariz da humanidade como um todo. Não é uma ideia original, porém. Elas foram expressas primeiro por Lúcifer, cuja formosura subiu à cabeça, e depois por Adão e Eva, em sua ânsia de serem “como Deus, conhecedores do bem e do mal”. Tudo se resume numa ou duas palavras: independência e autossuficiência. Porque quando tiramos Deus de cena, precisamos colocar algo em seu lugar. Como nos achamos inteligentes demais para substitui-lo pelo Sol, pela Lua ou por uma vaca, apostamos no ser humano como a melhor opção. O que, no fundo, é a mesma coisa, é idolatria.

“Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis” (Rm 1:21-23).

Após discorrer sobre tudo o que considera absurdo na Bíblia e destilar críticas sarcásticas sobre o Senhor Jesus, o autor explica: “Ataco este livro porque é um inimigo da liberdade humana — a maior travanca no progresso da humanidade”. E então, termina dando sua opinião de qual seria o que ele chama de “Verdadeira Bíblia”:

“Por milhares de anos o homem vem escrevendo a verdadeira Bíblia — está sendo escrita dia a dia, e nunca será terminada enquanto o homem tiver vida. Todos os fatos que conhecemos — os eventos verdadeiramente ocorridos; todas as descobertas e invenções… todas as joias do intelecto… os grandes dramas da imaginação… Estes tesouros do coração e do intelecto são as verdadeiras Sagradas Escrituras da raça humana”.

O que eu acho? Bem, se a “Verdadeira Bíblia” à qual o autor se refere for o conjunto de grandes obras humanas, não teríamos que incluir neste conjunto a própria Bíblia judaico-cristã? Ora, se a imaginação, o talento e a criatividade humanas foram capazes de conceber um conjunto de textos que causou uma revolução tão grande no mundo por alguns milênios, o que pensar dos autores desse texto? Se os seres humanos foram capazes de inventar tantas mentiras e com elas conquistar uma parcela tão grande da população mundial, que se apraz em ler e acreditar nessas supostas mentiras, o que pensar dos seres humanos.

Ora, se o autor exclui Deus da autoria da Bíblia, só nos resta acreditar que os autores sejam os homens, e se os homens são capazes de tão grande perversidade devemos nos precaver contra eles, devemos ter sempre um pé atrás ao receber aquilo que faz parte do que os próprios homens consideram grandes realizações da humanidade.

Mas alguém poderia argumentar que o autor se refere aos grandes feitos “do bem”. Ok, quais seriam eles? Ele diz: “todas as descobertas e invenções; todas as maravilhosas máquinas cujas engrenagens parecem ter vida própria…” Muito bem, considerando que a maior parte das invenções úteis hoje, penicilina, avião, computador e até a Internet, por exemplo, são decorrentes de esforços de guerra, então devo acreditar que quando ele diz “todas” quer dizer “todas” mesmo.

“Ah, não!”, dirão alguns, “devemos considerar só as benéficas”. E quais são? Quem estaria apto a julgar? Usando qual padrão? Deveríamos para isso contar com o mesmo ser humano que, segundo o autor, produziu a mesma Bíblia que ele considerou uma grande e perniciosa mentira? Ou devemos nos fiar nas massas que ao longo dos séculos acreditaram? Nos supostos enganadores ou nos supostos enganados? Obviamente o autor iria querer que não acreditássemos nem em um, nem em outro, mas nele somente. Garantias? Nenhuma, porque ele também é humano e sujeito às mesmas falhas e problemas da espécie humana, da qual ele faz parte, inclusive excesso de peso, a julgar pela estátua que fizeram em sua honra.

Se não podemos, então, confiar no homem como o exemplo a ser seguido ou o padrão pelo qual devemos julgar as coisas, devemos acreditar em quem? Numa vaca estaria fora de cogitação, seria voltar aos velhos tempos. Eu, que me conheço muito bem, não teria coragem nem mesmo de acreditar em mim, em meu coração e em meus pensamentos. Até meus dentes, que são meus amigos, costumam morder minha língua de vez em quando. Então só me resta uma alternativa: acreditar e confiar em Deus e na salvação que ele ofereceu por intermédio do seu Filho Jesus. Algo que Ingersoll, a essas alturas, já descobriu ser verdade.

“Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor! Porque será como a tamargueira no deserto, e não verá quando vem o bem; antes morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável. Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor. Porque será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro, e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto. Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jr 17:5-9).

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E quem é ateu?

O versículo “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus” (Sl 14:1) pode ser lido de mais de uma maneira. Aparentemente ele está falando de um ateu, mas eu particularmente não acredito que existam ateus.

Em minha opinião as pessoas nascem conscientes da existência de Deus porque esta é uma noção que faz parte de nossa estrutura. “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem” (Ec 3:11). Elas precisam de uma boa dose de raciocínio para negar a existência de Deus, mesmo diante de tantas manifestações na natureza. Hoje alguns cientistas já admitem que a coisa toda é complexa e perfeita demais para simplesmente ter aparecido assim, sem um projeto inicial e um Criador.

Mas não é só de ateus que o versículo de Eclesiastes fala. Em minha Bíblia, “há” está em itálico. Isto significa que ela não consta do texto original e o tradutor a introduziu ali para fazer sentido. Significa também que a frase pode ser lida: “Disse o néscio no seu coração: Não, Deus!”. Percebe as implicações disto?

Muitos acreditam na existência de um Deus Criador, mas ainda assim vivem dizendo não a ele. “Não, Deus”, para fazer a sua vontade, “não, Deus” para fugir do seu amor, “não Deus” na hora de escolher suas prioridades. O versículo fica muito mais amplo quando visto desta forma.

Mesmo porque todas as pessoas já nascem com a consciência da existência de um Criador. Isto faz parte da urdidura do tecido de que são feitas. Só depois se transformam, racionalmente, em ateus.

Achei interessante o que disse um palestrante há poucos dias, quando se referiu a um cliente que lhe pediu para não mencionar Deus em sua palestra, alegando que na plateia haveria muitos ateus.

— Ateus?! — exclamou o palestrante para o cliente — Não existem ateus. Sabe o que aconteceria se caísse um avião cheio de ateus? As últimas palavras que as autoridades ouviriam depois que encontrassem a caixa preta do avião seriam: “Meu Deus! Meu Deus!”.

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Deus pode usar nossas habilidades naturais?

Acredito que sim. Tudo pode ser utilizado por Deus. Se analisar a época da vinda de Cristo, você verá que todo o contexto social e histórico tinha sido preparado por Deus, como o cenário é preparado em um palco, para a vinda do seu Filho.

E se pensar que o Império Romano criou uma fantástica rede de estradas, além de unificar as nações de forma que as pessoas pudessem viajar livremente, o que é isto senão um cenário perfeito para que os primeiros cristãos viajassem com facilidade para levar o evangelho?

O mesmo com as pessoas. Na parábola dos talentos, estes são distribuídos “a cada um segundo a sua capacidade” (Mt 25:15). Deus pode usar alguém com boa voz para pregar, ou um bom escritor para escrever, ou ainda um poliglota para usar sua habilidade na divulgação do evangelho.

Portanto, Deus faz uso das circunstâncias, e até interfere nelas, mas não está limitado a elas. Digo isto porque ele faz abundar sua graça em qualquer circunstância, independente da cultura, costumes ou habilidades naturais de cada um.

Um aspecto interessante de tudo isso é sua escolha dos quatro evangelistas, homens falhos como qualquer um de nós, responsáveis em apresentar a Cristo em seus diferentes aspectos. Mateus escreve sobre o Senhor como o Rei de Israel. No início encontramos “… viemos adorar aquele que é nascido Rei dos judeus” e no final, “… este é o Rei dos Judeus” escrito na cruz.

Mas quem era aquele que Deus escolheu para apresentar o Rei? Um coletor de impostos para os romanos, uma ocupação odiada pelos judeus e nada patriota, pois o povo estava sob o domínio de um povo invasor, os romanos, para quem Mateus trabalhava. O escolhido para apresentar o rei legítimo trabalha para o rei invasor!

Certamente nenhum judeu poderia acusar Mateus de estar cuidando de seus interesses. Um coletor de impostos para o rei romano precisava ter muita convicção para escrever de um novo Rei. É o que costumamos chamar de “dar um tiro no próprio pé”.

Para escrever sobre Cristo como Servo, quem Deus escolheu? Marcos, alguém que aparentemente não teve grande destaque entre os primeiros cristãos. Teria sido ele que fugiu nu na hora da prisão de seu Mestre? É interessante notar que, enquanto Mateus fala da genealogia real de Cristo, desde Davi, e Lucas trata da genealogia desde Adão, Marcos começa seu evangelho apresentando um Jesus sem genealogia, pois certamente um servo não era alguém que podia se dar ao luxo de ter uma genealogia.

O evangelho de Lucas apresenta a humanidade do Senhor Jesus e ninguém mais adequado para falar disso do que Lucas, um médico, alguém envolvido com o estudo do ser humano e sua natureza. Neste evangelho a genealogia do Senhor vem desde Adão, o primeiro homem.

Finalmente, João, aquele que se reclinava sobre o seio de Jesus, tem a incumbência de nos apresentar Aquele que veio do seio do Pai. João viu a transfiguração do Senhor e parecia ter uma intimidade maior que a dos outros discípulos. Quem mais poderia nos apresentar o caminho para termos intimidade com Deus?

No evangelho de João Jesus não tem genealogia, e nem poderia ter. Ele é Deus, portanto o evangelho acaba ficando sem um começo definido: “No princípio era o Verbo…”. Tampouco o evangelho tem fim, ao dizer que “… nem todos os livros do mundo” quando fala da infinitude das obras de Cristo. É o evangelho eterno, como a bendita Pessoa que nos apresenta.

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O que você pensa do divórcio?

Você escreveu que tem dúvidas sobre a questão do divórcio e que, por estar separado há um ano por iniciativa de sua esposa, tem perguntado ao Senhor todos os dias qual é a sua vontade a respeito. No meu entendimento, segundo a Palavra de Deus a separação só é permitida em caso de adultério. Somente neste caso o outro está livre para casar-se novamente, desde que seja no Senhor.

É que o matrimônio cria um vínculo que está relacionado aos dois se tornarem uma só carne. Quando alguém se une corporalmente a outra pessoa, esse vínculo é rompido. Mas mesmo em caso de adultério, não se trata de uma ordem para a pessoa se divorciar, mas uma possibilidade. A prioridade, porém, é o perdão e a reconciliação. (Lc 11:4; Ef 4:32).

Há outras situações, como a mostrada em 1 Coríntios 7, quando parece existir a possibilidade de uma separação entre cônjuges crentes, mas não para um novo casamento, e sim para a reconciliação:

“Todavia, aos casados mando, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido. Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher”. (1 Co 7:10-11).

Outra tradução (J. N. Darby) parece indicar que este caso seria para um casal que já estivesse separado ao conhecer o Senhor: “mas se ela já estiver separada, que fique sem casar, ou que se reconcilie com seu marido”.

Outra situação é um dos cônjuges ser incrédulo e tomar a decisão de separar-se.

“Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não esta sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz.” (1 Co 7:15). Em outras traduções “servidão” é traduzida como “vínculo”. Mas o contexto não está falando em novo casamento, mas apenas na não obrigatoriedade de se manter o vínculo.

Em Malaquias 2 fica claro o que Deus pensa do divórcio: “Pois eu detesto o divórcio, diz o Senhor Deus de Israel” (Ml 2:16).

Quanto ao fato de você perguntar todos os dias, há um ano, qual é a vontade do Senhor, já é uma grande coisa, porque muita gente não pergunta ou, quando pergunta, não espera a resposta. Quando ele permite algo em nossa vida, sempre há uma razão, mas nem sempre nos será dado conhecê-la aqui. Deus permitiu que Satanás tirasse tudo de Jó e ele certamente não entendeu coisa alguma. Mas no final podia dizer que antes só conhecia a Deus de ouvir falar, mas depois de tudo podia vê-lo claramente em seus propósitos. “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos.” (Jó 42:5).

Desde 2002 estou separado. Portanto, a mesma pergunta que você faz eu também faço desde então e ainda não sei a resposta. Mas o que aprendi nestes anos eu não aprenderia em lugar algum. Você também. O próprio fato de você escrever, um ano depois de sua separação, dizendo que todos os dias quer saber a vontade do Senhor nisso já mostra o quanto ele o tem conservado na fé em todo esse tempo.

Você e eu perguntamos a razão de termos ficado sem esposa. Um irmão que conheço pergunta a razão de ter ficado paraplégico aos vinte anos vítima de um tiro. Outro pergunta por que perdeu um filho ainda pequeno… E por aí vai. Todos teremos perguntas enquanto estivermos aqui, mas o grande segredo é que, assim como Jó, com suas falhas e fraquezas, continuamos perguntando ao Senhor. Um dia ele vai responder. Se não for aqui, será lá, com certeza.

Normalmente quem passa pela experiência de uma separação quer saber também sobre a questão de um novo casamento. Há alguns anos fiz a mesma pergunta a um irmão. Seu e-mail me trouxe o seguinte: “Quando os judeus perguntaram ao Senhor sobre o divórcio, o Senhor voltou ao princípio, em como Deus havia instituído o matrimônio.” (Mt 19:3-12).

Algumas coisas que ficam claras da passagem são:

  1. O que Deus uniu, o homem não deve separar.
  2. Moisés permitiu o divórcio por causa da dureza do coração do homem.
  3. A fornicação (ou adultério) é a única causa justa para alguém se divorciar (vers. 9).

Em 1 Coríntios 7:15 há outros casos que penso estarem incluídos em Mateus 19:9: “Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não está sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz.” e “Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.” Aqui é o caso de um incrédulo separando-se de um crente por causa de sua fé no Senhor. Neste caso o crente não está sujeito à servidão.

Creio que este caso especial mostra que o Senhor dá mais importância ao nascimento espiritual de alguém do que à preservação de um relacionamento natural como é o matrimônio quando há uma ruptura nele. Quando uma pessoa casada se converte e o cônjuge incrédulo quer se divorciar o caso fica muito claro. Não diz que o cônjuge crente esteja livre para se casar, mas que ele não está sujeito à servidão, mostrando a atitude correta em relação ao caso, quando um novo casamento é permitido.

Obviamente cada caso é um caso. Mas creio que é sempre bom ter em mente que o matrimônio nunca deve ser buscado como solução para um problema, já que a Palavra é clara em mostrar que, apesar das bênçãos relacionadas a ele, problemas é que não faltam na relação marido-mulher. Daí o conhecido conselho da Palavra de Deus:

“Tenho, pois, por bom, por causa da instante necessidade, que é bom para o homem o estar assim. Estás ligado à mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não busques mulher.” (1 Co 7:26-27).

Quer saber o que fazer? Esperar. Pelo menos é o que tenho feito até aqui. Sim, porque esperar no Senhor é um dos grandes exercícios da fé. Afinal, não é isto que estamos fazendo aqui, aguardando a vinda daquele que morreu para nos salvar e que prometeu voltar? Acho que esta tem sido a maior lição na escola na qual fui matriculado contra a minha vontade desde 2002.

Certamente eu cairia fora deste curso ou cabularia suas aulas se pudesse. Mas jamais iria querer abrir mão do que aprendi. Só que o problema é que o Senhor sabia que estas coisas eu não iria aprender em nenhum outro lugar, por isso me mantém matriculado. Não sou um de seus melhores alunos, mas continuo aprendendo e esperando.

O que você gostaria que voltasse primeiro, a esposa ou o Senhor? Acho que não precisa nem responder, não é mesmo? É por isso que devemos aprender a colocar também na ordem de importância nossas expectativas. Afinal, há um esposo no céu que sabe muito bem o que eu, você e tantos outros estamos passando. Há dois mil anos ele não vê a hora de se reunir com sua esposa, a Igreja. Pode ser hoje.

“Vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro, e esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus… Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz.” (2 Pe 3:14).

*

Não acha a reencarnação uma ideia mais lógica e racional?

Conheço relativamente bem as ideias que você defende. O problema todo é de princípio. O espiritismo procura chegar ao conhecimento de Deus pela lógica e razão. “Mas isso é lógico!”, afirmou você. A Bíblia deixa claro que não é pela razão, mas pela revelação que compreendemos as coisas de Deus.

(1 Co 2:14) “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

Sugiro a leitura dos capítulos 1 e 2 de 1 Coríntios, muito embora eu saiba que (vou ser sincero, não é sarcasmo), no momento em que encontrar contradições entre a Bíblia e sua crença, passará a dizer que a Bíblia está cheia de erros. Antes disso, como fazem os autores espíritas, usará a Bíblia naquilo que ela aparentemente concorda com a ideia do espiritismo. Eu mesmo já fiz isso.

O próprio Cristo, do qual você faz menção, deixa claro em suas palavras a existência de um céu e de um inferno, portanto seria muita pretensão minha tentar selecionar o que ele não teria dito dentre as coisas que disse.

Você escreveu: “… nos falam da necessidade de amarmos uns aos outros, para que dessa maneira possamos evoluir espiritualmente”.

Sim, e é aí que está uma das grandes diferenças entre o espiritismo e o cristianismo bíblico. No espiritismo você deve fazer o bem (ou amar o próximo) PARA receber os benefícios disso. “para que dessa maneira possamos evoluir espiritualmente”, escreveu você. No cristianismo bíblico… bem, vamos ver o que diz:

(Cl 3:12-14) “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; ASSIM COMO CRISTO VOS PERDOOU, assim fazei vós também. E sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição”.

Percebe a diferença? No espiritismo você faz o bem PARA RECEBER o bem. No cristianismo você faz o bem PORQUE RECEBEU o bem. Responda rápido: qual das duas formas de se fazer o bem é a mais desinteressada? Convenhamos, ajudar alguém para evoluir espiritualmente não é lá uma forma desinteressada de caridade, não é mesmo. Porém se você ajuda, movido de compaixão porque Cristo perdoou seus pecados, a coisa muda de figura. A quem muito foi perdoado, este sim, muito ama.

Você escreveu: “Claro que a responsabilidade é toda nossa, para evoluirmos espiritualmente, só dependemos de nós mesmos”.

A responsabilidade pela queda é nossa. Por ela recebemos a paga pelos nossos pecados, a condenação. A capacidade de nos salvarmos não é nossa, ou seria nossa também a glória pela nossa própria salvação. Não aceitar a graça de Deus (e graça significa favor imerecido) é querer receber para si toda a glória, é querer viver e vencer independente de Deus, algo que já vem no DNA do ser humano: autossuficiência e rebeldia contra seu criador.

Você acredita que é bonito alguém dedicar a vida por outro e até mesmo morrer para salvar seu semelhante. Você acha isso bonito, louvável etc. e a literatura espírita é cheia de atos de altruísmo extremo. Porém, quando a Palavra de Deus diz que Deus fez isso, que Cristo foi até as últimas consequências para nos salvar, você acha isso banal. Por que é louvável alguém morrer heroicamente para salvar a vida de outro e não consegue enxergar que Cristo fez exatamente isso por você?

Como você aceita que ajudar um pobre aleijado, doente e faminto e tirá-lo daquela situação é uma obra louvável para qualquer espírita fazer e, quando a Bíblia lhe diz que Jesus deu sua vida por você, acha isso absurdo? E se dissermos ao aleijado, doente e faminto que é responsabilidade dele se levantar, curar a si mesmo e trabalhar para arranjar comida? Seria crueldade, se soubéssemos que ele é incapaz de fazê-lo.

Assim, seria crueldade se Deus, sabendo de nossa incapacidade (e ele certamente é o Único que nos conhece realmente) colocasse sobre nós a responsabilidade de trabalharmos nossa própria salvação. Qual o Deus que você conhece? Um Deus de amor, piedoso, misericordioso, que acolhe o necessitado e o socorre, ou um Deus de lógica, racional, que espera que cada um se vire da melhor maneira para arcar com seus próprios erros?

Você escreveu: “… simplesmente porque Deus já mandou um salvador”.

Você não diria “simplesmente” se conhecesse quem é Deus e o que significou a obra de Cristo na cruz. Se ler o Antigo Testamento verá tipificada a morte do Filho de Deus (chamado Cordeiro de Deus por João Batista) nos milhares de sacrifícios de animais inocentes que eram mortos no lugar do pecador. A obra de Cristo está além da razão humana assim como o perdão, o amor e outras coisas que jamais entenderemos pela lógica racional.

Você escreveu: “… o próprio Cristo afirma que “há muitas moradas na casa do pai”, falando claramente da pluralidade dos mundos, da evolução”.

Por que razão esta passagem vale e tantas outras falando da salvação pela graça de Deus, de Cristo morrendo como nosso substituto na cruz, do perdão dos pecados etc. não valerem como argumento? A Bíblia não pode se contradizer.

Você escreveu: “crer que essa é a única vida, é ter uma visão limitada, materialista e diminuta a respeito dos desígnios do Criador”.

Não, você está equivocado. Crer que Deus é capaz de salvar o mais ímpio pecador, o mais incapaz, o mais improvável de todos, é dar a Deus o seu devido lugar, de um Deus sem limites. Não sei se tudo o que escrevi fará alguma diferença, mas tenha certeza de que por muitos anos eu professei a crença que você professa, e hoje tenho o privilégio de conhecer a Cristo e ao perdão de meus pecados por sua morte substitutiva na cruz do calvário. Um dia, no céu, poderei louvar meu Salvador pelo que ele é e pelo que fez. Se fosse certo o que eu acreditava no passado, tudo o que me restaria agora seria uma vida de incerteza, esperando um dia subir uma escada evolutiva cujos degraus são distantes demais para minhas pernas. E, ainda que tivesse a pretensão de um dia atingir qualquer patamar mais elevado, ficaria para mim o louvor de meus atos, de minhas conquistas, enfim, de minha evolução.

(Gl 6:14) “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”.

*

A obediência aos pastores é incondicional?

Sinto pelas dificuldades que vocês têm passado e principalmente pelas dúvidas que surgiram quando tiveram de abandonar o lugar onde se reuniam por causa daquele que se dizia pastor. Sua dúvida é em razão do versículo (Hb 13:17) “Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil”.

Primeiro é importante entender o que é um pastor, pois o versículo aplica-se àqueles que são pastores segundo os princípios da Palavra de Deus. O que é um pastor? Pastor é um dom dado pelo próprio Senhor (Efésios 4:11). Nenhuma escola, homens, ou organização, pode fazer de alguém um pastor segundo a Bíblia. É um dom como o de evangelista ou mestre (ou doutor). Vemos a ordem dos dons claramente indicada na passagem em Atos 11 onde os evangelistas pregam o evangelho (vers.19-20), pessoas creem (vers. 21), recebem um irmão com o dom de pastor (vers. 22-24) que os reúne como faz o pastor às ovelhas, cuidando delas e exortando-as a permanecerem unidas ao Pastor que é Cristo. Vem, então, a necessidade de alimento mais sólido para aquelas almas e Paulo (além do próprio Barnabé) vai exercer o dom de mestre ou doutor (vers. 25-26) ensinando-os. Portanto, o pastor que a Bíblia manda obedecer não é uma pessoa que ocupa um cargo ordenado por homens, mas um homem que tem um dom dado por Cristo.

Mas em algumas passagens como Hebreus 13:17 o termo é usado para os presbíteros ou anciãos, que eram escolhidos pelos apóstolos ou por indicação direta deles e tinham funções administrativas e de cuidado da assembleia. Os anciãos ou presbíteros (ou pastores neste sentido) sempre aparecem no plural, nunca no singular, como é o caso do “pastor” ou “padre” das religiões cristãs.

Obviamente aquele que você descreveu e que motivou sua saída da denominação não é um pastor, mas um lobo em pele de cordeiro, daí muitos terem se afastado dele e de sua congregação. É bom saber que o véu do descaramento humano foi levantado e puderam perceber o que há por trás de muitos que se dizem pastores, mas que pastoreiam a si mesmos. É engraçado que muitos cristãos enxergam isso, mas têm medo de fazer algo (o fazer algo é apartar-se) por ainda acharem que esses lobos têm algum poder ou autoridade. Acho que é uma herança cultural que recebemos do catolicismo, onde o padre ou o bispo são considerados intocáveis.

Mas se buscarmos na Palavra de Deus, veremos que o Senhor deixa claro que nada tem a ver com aqueles que, apesar de profetizarem em seu nome, fazerem milagres em seu nome e expulsaram demônios em seu nome. O Senhor nunca conheceu tais pessoas.

(Mt 7:21-23) “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.

Perceba que o Senhor não está falando aqui de pagãos, espíritas ou qualquer coisa estranha à Bíblia. São pessoas que falam e agem como se fossem cristãos, todavia não são. O mesmo podemos encontrar em 2 Timóteo 3:1-9. É muito importante entender que o apóstolo ainda está falando do assunto do capítulo anterior, que é a Casa de Deus, onde há vasos de honra e de desonra:

Vers. 1: “SABE, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos” — Os últimos dias estão em contraste com os últimos tempos que ele menciona na primeira carta. Esta é a última carta de Paulo, quando ele foi abandonado por todos, assim como sua doutrina é abandonada hoje em grande parte da cristandade.

Vers. 2: “Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus” — Estas características são para homens dentro da Grande Casa em que foi transformada a Casa de Deus. Tudo o que pode ser encontrado no mais ímpio incrédulo pode ser encontrado naquele que se diz cristão. Com uma diferença perigosa, que é o que diz no versículo 5.

Vers. 5: “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.” A aparência é de piedade, mas o poder ou a eficácia não é da piedade, mas do interesse próprio, da avareza, da presunção, da soberba, da blasfêmia, da desobediência natural, da ingratidão… De tudo aquilo que foi mencionado no versículo anterior. A ordem é clara: qualquer cristão sincero que detectar isso naqueles que se dizem seus líderes ou “anjos”, deve se afastar desses. Não se trata de combater, de discutir, de brigar, mas de se afastar. É a mesma ordem dada no capítulo anterior quando o assunto foi o desvio da verdade:

“Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra.” (2 Tm 2:19-21).

Porém não se trata de um afastar-se ou apartar-se para si mesmo ou para iniciar mais uma denominação ou religião. É apartar-se do mal para seguir “… a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”. O Senhor irá lhes dar discernimento para identificá-los depois de se apartarem. Geralmente nas coisas de Deus é assim que acontece, um passo de cada vez.

Vers. 6: “Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências” — Esta é outra característica dos falsos líderes com aparência de piedade. Eles cativam pessoas, não apenas carregadas de pecados, mas levadas de várias concupiscências. A concupiscência nem sempre é o desejo extremo por algo ilícito. O amor ou desejo exagerado por dinheiro, poder, romance, saúde e muitas outras coisas que podem até ser legítimas em algumas circunstâncias, se transforma em armadilha para aqueles que não buscam o Senhor pelo Senhor, mas que o buscam por aquilo que poderão ganhar com isso. Não é esta a mensagem que prevalece hoje em muitas das chamadas “igrejas” que atraem multidões? Você vai ficar rico, vai ficar saudável, vai prosperar, vai arranjar casamento, vai virar empresário… Quando percebemos que o Senhor não tinha nada disso, e seus discípulos também não, entendemos que as pessoas que vão na conversa desses pretensos pastores estão, na realidade, fazendo uma espécie de pacto, que o mesmo que fazem pessoas que caem no conto do bilhete premiado e tantos outros golpes de estelionatários. Estão em busca de vantagens fáceis e acabam seguindo quem as oferece.

Vers. 7: “Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade” — Isto é evidente, pois o conhecimento da Palavra de Deus só pode ser recebido dele. Decorar versículos bíblicos ou conhecer aquilo que as escolas de teologia ensinam não é o conhecimento da Palavra de Deus que encontramos explicado em 1 Coríntios, o conhecimento que foi revelado aos apóstolos, inspirado em suas penas e discernido por aqueles que não só têm o Espírito, mas são espirituais.

Vers. 8: “E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles”. — Janes e Jambres foram os magos que imitaram o poder de Deus para confundir e se oporem a Moisés e Aarão. Tudo o que faziam era idêntico ao que os homens de Deus faziam, com uma diferença: não conseguiram criar vida (piolhos) do pó (morte).

Portanto, considerando tudo isso, vocês agiram corretamente se separando desses que se dizem “anjos de Deus”, mas que na verdade são lobos com pele de cordeiro.

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Você é dizimista?

Não. Entendo que o dízimo foi uma instituição ligada à lei dada por Moisés e teve seu lugar para o povo de Israel. Por isso você encontra o Senhor indicando ao povo que desse o dízimo, já que nos evangelhos encontramos o Senhor Jesus como o Messias que vinha para seu povo Israel. Tudo nos Evangelhos ainda se encontra dentro do judaísmo.

Uma vez rejeitado o Messias, Israel é deixado de lado por um tempo enquanto Deus passa a ter a Igreja — o corpo de Cristo, um novo povo formado por judeus e gentios — como seu testemunho no mundo. A doutrina e os preceitos dados à Igreja são encontrados nas cartas, no Novo Testamento.

Se eu hoje, que sou um cristão, salvo por Cristo e membro do seu corpo, quisesse dar o dízimo, teria certa dificuldade em fazê-lo do modo como era indicado nas Escrituras do Antigo Testamento.

Primeiro, o dízimo era para ser levado ao templo de Jerusalém, aos levitas e sacerdotes, que o guardariam na câmara do tesouro do templo. Esse valor seria então utilizado para a manutenção do templo de Jerusalém, dos levitas e dos sacerdotes. Os levitas eram responsáveis pelos serviços do templo e os sacerdotes atuavam como intermediários entre Deus e os homens.

Hoje não há mais um templo designado por Deus, apesar de existirem muitos “templos” criados por homens, alguns deles caricaturas do templo cuja construção Deus ordenou apenas uma vez. Uma vez destruído aquele único templo divinamente ordenado, qualquer tentativa de se construir outro não passa de vã presunção humana. Portanto, eu não poderia separar um valor para a manutenção do templo quando já não há templo para ser mantido.

Além do mais, no Novo Testamento fica bem claro que o templo que Deus agora reconhece são os salvos, coletiva e individualmente.

O dízimo também era usado para a manutenção dos levitas, que cuidavam do serviço do templo. Não há levitas hoje, portanto não existiria razão para separar uma quantia para essas pessoas. Quanto aos sacerdotes de outrora, hoje temos o Senhor Jesus como nosso Sumo Sacerdote nos céus. Não há mais intermediários humanos como no passado, que precisassem ser mantidos com os dízimos.

Além disso, hoje todos os que creem em Cristo são chamados de sacerdócio santo, com acesso direto a Deus por intermédio de Jesus. O véu do antigo templo foi rasgado de alto a baixo abrindo este acesso.

Como expliquei, por não existir mais um templo, uma classe de levitas e sacerdotes como os que havia no Antigo Testamento, seria impossível dar o dízimo e é por esta razão que tal prática não aparece na doutrina dos apóstolos dada à igreja nas epístolas.

Porém, como indica a mesma doutrina, faço contribuições espontâneas em coletas que são feitas quando me reúno com outros irmãos ao nome do Senhor Jesus todo primeiro dia da semana. As coletas não são públicas, mas reservadas apenas aos que estão em comunhão à mesa do Senhor (não são aceitas contribuições de visitantes). O valor assim arrecadado é destinado às necessidades dos santos (os salvos por Cristo), e não à manutenção de alguma organização religiosa ou para assalariar pregadores profissionais.

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Prosperidade: Não sou filha legítima de Deus?

Este é um dos e-mails tristes que costumo receber, vindos de pessoas que descobriram que foram iludidas por lobos em pele de cordeiro. Nele você diz: “Gostaria de saber o que você pensa acerca do que está escrito em João 10:10, pois a teologia da prosperidade tem tentado me ensinar que eu, para me sentir filha de DEUS, e que ELE me ame, tenho de ter uma vida próspera. Se ainda não a tenho, é porque não sou filha legítima do meu DEUS. O que você tem a me dizer?” (Jo 10:10 — “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”).

Vejo que você foi vítima dos lobos vestidos de ovelhas, ou pior ainda, de pastores, que vivem por aí desafiando a Deus. O Senhor Jesus falou de pessoas que profetizariam em seu nome, fariam milagres em seu nome, expulsariam demônios em seu nome, mas dos quais ele diria: “Nunca vos conheci” (Mt 7:23). Quem seriam essas pessoas?

Certamente não seriam ateus, espíritas, muçulmanos, budistas ou coisa do tipo. São pessoas que usam o nome do Senhor Jesus para seu próprio proveito. E a melhor isca para atrair multidões é dizer que ficarão ricas, o que de certa forma é coerente com o próprio modo de vida que levam. Afinal, esses pastores ficaram ricos, não ficaram? Então a maioria das pessoas os segue cegamente pensando: “Vai funcionar comigo também”.

Historicamente a doutrina da prosperidade teve início nos Estados Unidos como uma decorrência do enriquecimento dos pastores e pregadores de lá. Com a evidente evolução de seu padrão de vida graças ao crescimento do número de fiéis, a antiga teologia fundamentalista de simplicidade e contentamento pregada por décadas passou a criar um problema de imagem. Alguma coisa precisava ser mudada e fazer crer que a fidelidade a Deus enriquecia financeiramente foi o melhor argumento. A partir de então, pastores prósperos eram sinônimo de fidelidade e comunhão com Deus e isso atraía mais gente que os tornava ainda mais prósperos.

A vida em abundância que o Senhor promete é a própria vida dele naqueles que creem. Não é vida com abundância de bens. Não consigo entender como o diabo consegue cegar tantas pessoas nos dias de hoje, que estão buscando a Cristo como um talismã de boa sorte, e não como Salvador de pecadores. É muito fácil desmascarar essa doutrina.

O Senhor Jesus foi rico? Não, não tinha onde reclinar a cabeça, e os poucos pertences que tinha foram divididos pelos soldados. Os apóstolos foram ricos e saudáveis? Não, viviam presos, perseguidos, precisando se ajudar uns aos outros, e até doentes. Então com base em quê todas essas promessas de prosperidade? Com base no Antigo Testamento, quando Deus fez promessas terrenas a um povo que nunca recebeu promessas celestiais: a eles foi prometido terra, colheitas, saúde, filhos etc., tudo em abundância, mesmo porque a perspectiva que tinham era de morar na terra prometida, Israel.

O que foi prometido ao cristão enquanto é peregrino neste mundo? O céu. E aqui no mundo? “No mundo tereis tribulações” (Jo 16:33). Mas e quanto a bens materiais, devo me contentar com o que Deus me deu até aqui? “Tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos com isso contentes” (1 Tm 6:8). Seria pedir muito que aceitássemos este conselho como sendo a mais pura Palavra de Deus?

Não se deixe levar pelo engano do diabo que quer colocar nossos olhos neste mundo, e não no céu. Colossenses diz para pensarmos nas coisas que são do alto: “Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra”, (Cl 3:2). Timóteo diz que os que querem ficar ricos caem em engano: “Os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição” (1 Tm 6:9). Obviamente há cristãos ricos porque Deus quis assim, mas não deve ser este o sonho ou a meta de um cristão. A mensagem da Palavra de Deus é clara demais, mas é a concupiscência de nosso coração que não quer enxergar isso.

Aceite a simplicidade de que o Senhor Jesus veio ao mundo para salvar você de seus pecados e do juízo. Não veio aqui para lhe dar uma empresa, casa em Miami, fazendas e meia dúzia de carros importados. Se aqui estiver tudo 100%, você iria querer se mudar para o céu? É claro que não. Iria querer ficar no mundo, no mesmo mundo onde o Senhor foi crucificado, o mesmo mundo que terá tudo queimado com fogo no final.

Você escreveu: “Ainda que o Senhor CRISTO JESUS seja, verdadeiramente, o meu Pastor, eu sou uma pessoa muito competitiva, mas sem visão alguma, e por isso, estou sem qualquer sinal de prosperidade em minha vida. O que acho uma tremenda incongruência.”

Que tal olhar para Cristo e não para sua vida? Existe uma doutrina, chamada do Domínio, que acredita que a Igreja seja a substituição de Israel. Tal doutrina leva a crer que as bênçãos do Antigo Testamento, dadas aos judeus, seriam agora para a Igreja que teria ocupado seu lugar. Trata-se de uma usurpação e uma tentativa de se fundamentar a doutrina da prosperidade material para o cristão.

O judeu continua no coração de Deus e um remanescente judeu será restaurado na tribulação. Aliás, muito do que encontramos nos Salmos nos fala desse remanescente e de seus exercícios. Principalmente do 42 ao 49, 79 ao 87. Hoje o judeu convertido a Cristo faz parte da Igreja. Não é mais, aos olhos de Deus, judeu.

Houve uma época quando havia na terra só gentios. Depois você encontrava gentios e judeus. Hoje há gentios, judeus e Igreja (1 Co 10:32). Logo (talvez hoje!) a Igreja será tirada e ficarão gentios e judeus, continuando assim no Milênio. Então virá o estado eterno, quando Deus terá só um povo. Então o tabernáculo (a presença) de Deus habitará com os homens.

Veja por exemplo 2 Timóteo, a última carta de Paulo, que trata dos últimos dias (1 Timóteo fala dos últimos tempos — 1 Tm 4:1), ou seja, quando não falta mais nada e o Senhor está à porta. O cap. 3 fala da degradação do testemunho cristão (ali não são pagãos os homens amantes de si mesmos, mas cristãos professos). Eles levam cativas mulheres néscias, “levadas de varias concupiscências” (desejos ardentes por coisas diversas). Seriam pessoas que querem ter tudo?

Esses lobos que pregam prosperidade material e cura física, inventando sabonetes santos, águas bentas do rio Jordão, azeites de Israel, portais disso, fogueiras daquilo e outras coisas, enchem suas igrejas com a sua contraparte: pessoas levadas pelas mesmas concupiscências das coisas materiais que eles prometem. Trata-se, a meu ver, de um acordo de ambas as partes.

Você promete o que eu quero e eu pago para ouvir essas promessas esperando ser sorteado com a benção, desde que mantenha suas contribuições em dia. Obviamente não são todos, mas a grande maioria não está ali em busca de salvação eterna, mas de conforto temporal. Uns enganam deliberadamente e outros são deliberadamente enganados. E todo mundo sai feliz. Menos alguns que, como você, saem cheios de dúvidas.

Portanto não é o verdadeiro evangelho que corre nesses lugares, mas a promessa de suprir as concupiscências que todos os homens têm de uma vida confortável neste mundo. Se eu gritar na praça “QUEM QUER FICAR RICO?”, quantas pessoas acha que virão me ouvir? O uso da Bíblia nesses lugares dá apenas o toque de legitimidade para aplacar as consciências. Naquele dia o Senhor dirá, tanto dos que guiam assim, como dos que são guiados: “Nunca vos conheci”. É triste, mas é a realidade.

O fato de alguém se converter, de se tornar crente no Evangelho não significa que deva assumir que tudo o que é dito no meio “evangélico” tenha vindo de Deus. A Palavra de Deus é nosso parâmetro sempre e nela estamos seguros. É claro que existe outro elemento aí, que é o terrorismo praticado por alguns desses líderes, que fazem ameaças de danação eterna a qualquer um que duvide do que prometem ou abandone suas “igrejas”. Para isso apelam a passagens do tipo “Obedecei a vossos guias, sendo-lhes submissos; porque velam por vossas almas”. (Hb 13:17). Bem, digamos que há aqueles que velam pelas almas… Mas e os lobos declarados?

“Eu sei que depois da minha partida entrarão no meio de vós lobos cruéis que não pouparão rebanho… Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores… amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder… sempre aprendendo, mas nunca podendo chegar ao pleno conhecimento da verdade… estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. Afasta-te também desses… Portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas”. (At 20:29; Mt 10:16; Mt 7:15; 2 Tm 3:2-5)

O Evangelho da prosperidade que pregam não é o que encontro na Palavra de Deus. O verdadeiro evangelho precisa dar a solução para o pecado, não para a conta bancaria, a falência da empresa, o cônjuge abandonado ou a pressão alta. O verdadeiro evangelho precisa ter morte, sangue e ressurreição. O que apela para as necessidades naturais do ser humano — concupiscência da carne, dos olhos e a soberba da vida — é um falso evangelho dirigido ao ventre.

O EVANGELHO que vos tenho anunciado… pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: QUE CRISTO MORREU POR NOSSOS PECADOS, segundo as escrituras, E QUE FOI SEPULTADO, E QUE RESSUSCITOU ao terceiro dia, segundo as Escrituras.” (1 Co 15:1-3).

Agora, cá entre nós, será que não somos capazes de detectar um vigarista quando encontramos um? As roupas, as palavras, o tom da voz, as promessas, a sedução… Se não estivermos hipnotizados pela ganância, certamente conseguiremos. E é aí que mora o perigo: embora salvo, o cristão ainda carrega em si sua carne, sua velha natureza, e ela sempre dá ouvidos às coisas que apelam para suas concupiscências. Prosperidade material é uma delas.

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Como saber se uma igreja reconhece o senhorio de Cristo?

Atuar sob o senhorio de Cristo é funcionar sob as diretrizes que ele, como Senhor, estabeleceu. E creio sinceramente que nos desviamos, e muito, da simplicidade que encontramos na Palavra de Deus. O que aconteceu com o cristianismo é o que acontece com muitas coisas com o passar do tempo: afastou-se do projeto original. As coisas se corrompem com o tempo e podem acabar se transformando exatamente no contrário daquilo que eram no princípio.

Alguns exemplos? Se quiser saber se o lugar onde você se congrega reconhece o senhorio de Cristo (ou mantém uma prática corrompida do que foi no original) sugiro que faça a si mesmo algumas perguntas e peça para o Senhor abrir seus olhos para enxergar claramente as respostas (estas perguntas eu traduzi e adaptei do livro “God’s Order for Christians Meeting Together for Worship and Ministry”, por Bruce Anstey):

– Com que autoridade bíblica “denominamos” assembleias de cristãos, chamando-as de “igrejas”? (Sei que você entende que os únicos nomes dados no NT eram de cidades ou localidades). As divisões são claramente combatidas no NT. (1 Co 1:10, 3:3, 11:18-19).

– Com que autoridade bíblica “escolhemos” estes nomes (ex. batista, presbiteriano, pentecostal, etc.)? Na Bíblia, os seguidores de Cristo eram chamados simplesmente de cristãos (pelos de fora) ou “irmãos” por si próprios e pelo Senhor. (Mt 18:20).

– Com que autoridade bíblica colocamos nomes de homens nestes grupos (Martinho Lutero — Luterana, John Wesley — Wesleyana, Menno Simons — Menonita etc.)? (1 Co 1:12-13, 3:3-9).

– Com que autoridade bíblica estabelecemos essas igrejas segundo diferenças nacionais? (ex. Igreja Grega Ortodoxa, Igreja Cristo Pentecostal do Brasil etc.) Não existem distinções nacionais na igreja de Deus na Bíblia. (Cl 3:11).

– Com que autoridade decoramos os lugares de adoração como se fosse o tabernáculo ou o templo do Antigo Testamento, com altar, objetos de ouro e prata, além de elementos arquitetônicos pagãos como torres?

– Com que autoridade bíblica chamamos edifícios de “igrejas” quando esta palavra (Eclésia) significa simplesmente reunião ou ajuntamento de pessoas? (At 11:22, 15:14, 20:28, Rm 16:5, 1 Co 1:2, Ef 5:25).

– Com que autoridade bíblica chamamos esses edifícios de “templos” quando sabemos que Deus só reconheceu o templo de Jerusalém, e hoje o templo somos nós, pessoas, individual e coletivamente? (2 Co 6:16-17).

– Com que autoridade bíblica temos cultos de adoração previamente ensaiados, ate mesmo com programas impressos, se encontramos em 1 Co 14 total liberdade do Espírito para escolher a quem ele quer para o que ele determinar?

– Que autoridade bíblica (lembre-se, estamos no NT) temos para ter o louvor efetuado por um coral, e não por toda a congregação, e para a introdução de bandas, conjuntos, cantores profissionais fazendo da reunião mais um espetáculo para a plateia? (At 17:24-25).

– Que autoridade bíblica temos para designar vestes especiais para os que cantam, para os que pregam, etc.?

Que autoridade bíblia temos para fazer orações decoradas, impressas ou ditadas? (Mt 6:6-8, Tg 5:16, Sl 62:8).

– Que autoridade bíblica temos para as irmãs participarem das orações com a cabeça descoberta? (1 Co 11:1-16).

– Que autoridade bíblica temos para mulheres falarem nas reuniões da igreja? (1 Co 14:37).

– Que autoridade bíblica temos para reuniões dirigidas por um só homem? (Fp 3:3, Jo 4:24, 16:13-15).

– Que autoridade bíblica temos para homens ordenarem homens, e se temos, por quem foram os primeiros ordenados? (Ef 4:11).

– Que autoridade bíblica temos para denominar pessoas como “Reverendo”, “Pastor”, “Presbítero” nos mesmos moldes do “Dr.” que usamos hoje, ou seja, transformar dons ou ofícios em títulos honoríficos como “Reverendo” ou “Padre”? (Na Bíblia inglesa versão King James encontro: “Reverend is His name” Salmo 111:9 e em Mateus 23:8-10 o Senhor ensinou a não chamar alguém de “Pai” (ou “Padre”) no sentido religioso, além de Deus).

– Que autoridade bíblica temos para designar um pastor para uma assembleia local quando o dom de pastor é um dom dado universalmente à Igreja? (Ef 4:11).

– Que autoridade bíblica temos para, como Igreja, observar dias “santos” ou especiais, como páscoa, natal, sexta-feira santa, dias de “santos”, etc.? (Gl 4:10, Cl 2:16).

– Que autoridade bíblica temos, na doutrina dada à Igreja (as epístolas), para a prática do dízimo? (Lv 27:32, 34, Nm 18:21-24).

– Que autoridade bíblica temos para solicitar contribuições de visitantes e pessoas não salvas? (3 Jo 7).

– Que autoridade bíblica temos para instituir diplomas e certificados de pastores, ou mesmo dar títulos como “D.D. — Doutor em Divindade” a irmãos que deveriam ser iguais aos outros? (Jó 32:21-22, Mt 23:7-12).

– Que autoridade bíblica temos para considerar a Igreja como uma instituição que ensina. Costumamos ouvir “Nossa Igreja ensina isto ou aquilo”? (At 11:26, Rm 12:7, Ap 2:7, 11, 17, 29, 3:6, 13, 22, 1 Ts 5:27).

Talvez você ou as pessoas com as quais se reúne não se enquadrem em nenhuma destas características, mas acaso não é isto o que encontramos na Cristandade como um todo? E será que com tudo isso podemos nos gabar de estarmos fazendo as coisas com a autoridade da Palavra de Deus? Será que estamos reconhecendo o Senhorio de Cristo nestas coisas, buscando na sua Palavra os detalhes para cada proceder?

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Como saber se um “apóstolo” é genuíno?

Fico espantado de ver quantos cristãos hoje defendem posições, títulos ou ideias que nada mais são do que tradições que os próprios homens criaram. A ideia de um Papa é uma delas, outra é a de homens com poderes especiais para servirem de intermediários entre Deus e os homens, sejam eles católicos ou protestantes. O certo seria não perdermos tempo e energia tentando proteger e manter o “status quo” da cristandade que vemos ao nosso redor… A menos que tivéssemos algum interesse escuso nisso.

Muito do que vemos na cristandade ao nosso redor foi edificado sobre ideias humanas e não passam de tradições de homens. Aliás, a maioria dos erros na cristandade se apoia nestes pontos: Tradição, Direção Humana e Sabedoria Humana. Quer saber o que penso sinceramente? É muita pretensão alguém adotar para si o título de apóstolo. Por quê? Ora, porque na Bíblia encontro algumas condições ou características para alguém ter sido um apóstolo:

– Viu o Senhor: 1 Co 9:1; 1 Co 15:8.

– Foi escolhido e enviado pelo Senhor: Lc 6:13; Jo 6:70; At 9:15; 22:21.

– Testemunhou sua ressurreição: At 1:22; 1 Co 15:8-15.

– Lançaram e formaram o alicerce da Igreja, da qual Jesus é a Pedra angular 1 Co 3:10; Ef 2:20.

Qualquer pessoa que não cumpra tais requisitos não é um apóstolo; é um impostor. Ap 2:2; 2 Co 11:13-15; 2 Tm 3:13.

Enquanto não entendermos que os sistemas ou “igrejas” criadas pelo homem (e que, por conseguinte, exaltam o homem) estão em franca desobediência à Palavra de Deus, deixaremos de entender e desfrutar de muitas outras coisas que o Senhor nos quer ensinar.

Não me refiro aqui à fé pessoal de cada um dentro desses sistemas ou “igrejas”, sejam seus reverendos, pastores, missionários ou, como estes gostam de chamar os demais, “membros” (leigos). Muitos são cristãos piedosos que renasceram de Deus e para Deus, mas que podem estar enganados acreditando firmemente que estão ali agradando o Senhor. Somente ele poderá julgar seus corações, eu não.

Mas quanto a mim, quando encontro coisas tão contraditórias ao ensino simples das Escrituras, passo a ser responsável por julgar, não as pessoas, mas suas práticas, ensinos, doutrinas etc., e me apartar de toda iniquidade que possa identificar e me reunir fora do sistema, “com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2:22).

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Quem pode ser chamado de “bispo”?

É importante discernirmos a evolução da apostasia que tem tomado conta do testemunho cristão. Em nenhum lugar do livro sagrado encontramos algum bispo (no singular) liderando ou exercendo domínio sobre uma congregação ou igreja.

No livro de Atos 20:28 Paulo chama os bispos sem nem mesmo fazer referência a terem sido escolhidos pela igreja daquela localidade (de Éfeso). Ele diz que foram escolhidos pelo Espírito Santo (At 20:28). Paulo diz isso antes de entregá-los a Deus e à Palavra (vers. 32) quando viessem tempos de lobos (incrédulos) tentando destruir o rebanho e de crentes (sectários) tentando arrastar discípulos após si. Este é o germe da divisão: compartimentarão dos crentes em torno de um ou mais homens.

É importante notar que os bispos (e em nenhum lugar na Bíblia encontramos “bispas”) eram cargos de responsabilidade (sempre mais de um, sempre no plural) e pastores eram dons. Um não tinha que ser necessariamente revestido do outro. Os bispos (sempre no plural, como em Filipenses 1:1) estavam sujeitos a certas condições para poderem exercer seu oficio (não dom), como serem casados com uma só mulher, etc. Os bispos (sempre no plural) tinham sua atuação local. Mesmo tendo sido chamados a Mileto (At 20:17), eles eram bispos ou anciãos de Éfeso.

pastor é um dom (como evangelista e doutor) dado à igreja. Um pastor não está limitado a uma igreja local. Seu ministério é correr atrás e visitar as ovelhas para curar, consolar, etc. e não exatamente ficar atrás de um púlpito como a versão moderna do termo usado nas religiões tenta nos fazer acreditar.

Já o evangelista tem seu campo no mundo, entre os incrédulos, para buscar almas para Cristo, consciente que seu trabalho é entre os que ainda não creem, proporcionando a “água” da Palavra necessária ao renascer, ou nascer de novo ou do alto, de uma alma. O doutor (ou “mestre”) tem seu campo na igreja como um todo para ensinar. Os anciãos ou bispos nem precisavam pregar. Eram zeladores do rebanho local. Pelo menos é o que encontro na Palavra de Deus. O que não estiver lá é invenção humana.

A atuação dos dons dados à Igreja como um todo fica muito clara em Atos 11:19-26:

  1. O Evangelista leva o Evangelho aos incrédulos:“E havia entre eles alguns varões… os quais entrando em Antioquia falaram aos gregos anunciando o Senhor Jesus… e grande numero creu e se converteu ao Senhor”vers. 20 e 21.
  2. O Pastor reúne as ovelhas e as anima:“Barnabé… quando chegou… exortou a todos a que permanecessem no Senhor com propósito de coração”vers. 23.
  3. O Doutor ou Mestre traz o ensino:“E partiu Barnabé… a buscar Saulo… e sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente”vers. 26.

Aqui vemos um dom reconhecendo sua limitação e buscando outro que o complete. Juntos eles ensinam e exortam os novos convertidos.

Além desses dons e ofícios, ainda existiam, apóstolos e profetas, utilizados para o alicerce da casa, do qual Cristo era a pedra angular. Na época os cristãos não tinham a Palavra de Deus como a temos hoje. A revelação era direta, como vemos Ágabo ou os Apóstolos fazendo. Como ninguém poderia naquela época convidar os irmãos a abrirem o Novo Testamento em tal livro, capítulo e versículo, porque isso ainda não existia, Deus usava esses dons — apóstolos e profetas — para trazer a Palavra diretamente de Deus. No sentido em que os encontramos no Novo Testamento eles já não existem.

À medida que a apostasia (desvio da Palavra de Deus) cresce, vamos vendo um número cada vez maior de “bispos” que se elegem a si mesmo como tais, fundam “igrejas” e organizações sobre as quais exercem poder absoluto. Isso acontece hoje no chamado meio evangélico assim como aconteceu no passado no catolicismo, que hoje segue o chamado “bispo de Roma”, ou papa. No santo livro o bispo não aparece de modo algum na forma como é visto hoje na grande casa em que se transformou a cristandade, onde há vasos de honra e vasos de desonra.

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Você faz palestra de espiritualidade na empresa?

Não falo de religião ou fé em minhas palestras de temas empresariais e não faço palestras sobre o tema “Espiritualidade na Empresa”. Pelo menos não da forma como o tema é normalmente tratado.

Por quê? Eu não conseguiria ser imparcial ou genérico falando de espiritualidade, porque me converti a Jesus em 1978, e as empresas não iriam contratar um palestrante para falar do evangelho. Se mesmo assim você desejar que eu fale de Jesus para sua equipe, terei prazer em fazê-lo como cortesia, sem cobrar honorários, apenas os custos de viagem e hospedagem.

A condição? Não falo em eventos religiosos ou promovidos por denominações, igrejas ou organizações religiosas, porque eu mesmo não pertenço a nenhuma.

Se quiser entender melhor minha posição sobre o assunto, leia o texto abaixo:

Espiritualidade na empresa

Recebi mais um e-mail perguntando. Este é um assunto em voga nos meios empresariais e, comercialmente falando, seria lucrativo colocá-lo em minha “cesta de produtos”. Devo? A resposta é não, pelo menos da forma como o assunto costuma ser tratado pela maioria.

Alguns colegas costumam me indicar como palestrante do tema, provavelmente por saberem que sou leitor assíduo da Bíblia e que passei por uma experiência marcante de conversão em 1978. Outra razão é por manter, desde 1997, um site bilíngue sobre temas bíblicos que recebe mais de 50 mil visitantes mensais.

Um currículo assim me qualificaria para dar palestras sobre espiritualidade na empresa? Ao contrário. Minha convicção na Bíblia é tamanha que dificilmente conseguiria ser imparcial se falasse sobre vida espiritual. Afinal, “a boca fala daquilo que está cheio o coração” (Lc 6:45). E como aquilo que as empresas buscam como “espiritualidade” não é uma convicção, mas um genérico sem marca, um cristão convertido e convicto não é o mais indicado para a tarefa.

Deus, a quem chamo de Pai, e Jesus, por meio de quem cheguei ao Pai, são realidades por demais atuantes em minha vida para eu reduzi-las ao mínimo denominador comum do “espiritualmente correto”. Seria obrigado a diluir minhas convicções para evitar ferir os sentimentos de pessoas com diferentes crenças.

O cliente não iria querer pagar para ouvir sobre minha fé cristã ou me contratar para pregar o evangelho no meio de uma palestra ou seminário. É por isso que separo muito bem o assunto e evito falar nisso durante minhas palestras, pois não foi para isso que fui contratado. E se o cliente especificamente buscasse alguém para falar de coisas espirituais, provavelmente iria preferir algo mais genérico, intelectual e racional, o que é impossível de ser feito com a fé cristã. Esta só se apreende espiritualmente, como escreveu o apóstolo Paulo, “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” (1 Co 2:14).

Por esta razão procuro deixar bem clara a linha que separa fé pessoal e trabalho. A primeira tem implicações e consequências eternas. O segundo, só dura uma vida, ou nem isso. Esta mesma convicção também me leva a não fazer palestras, mesmo que seja para falar de negócios, em eventos promovidos por igrejas ou organizações religiosas, ou a participar de entrevistas em programas ou publicações de caráter religioso. A imensa salada de crenças em que o mundo religioso se transformou tornou impossível analisar cada situação para eu ter certeza de não estar ajudando a promover algo que contrarie minhas convicções.

Outra razão desse meu cuidado, que pode até parecer exagerado para alguns, é que existe hoje uma linha religiosa voltada para a prosperidade que agrada bastante alguns segmentos empresariais. Uma nova leva de gurus e curandeiros modernos propaga essa corrente em “congressos” travestidos de “empresariais” que se propõem a ajudar as pessoas a tirarem o pé da lama e viver prosperamente, com direito a carro importado, título de “empresário” e uma cornucópia de benesses de dar água na boca. Um prometido céu virtual num mundo de desigualdades e problemas reais.

Por mais sedutores que sejam esses apelos, a doutrina do Novo Testamento não diz nada a respeito. Ali diz que ter o suficiente para comer e vestir já pode ser motivo de contentamento. Por isso desconfio de quem faz uso da Bíblia como um livro mágico de prosperidade terrena, já que o Homem mais espiritual que já pisou neste mundo não tinha onde reclinar a cabeça, viajava em barcos ou jumentos emprestados e em seu inventário não sobrou mais que suas vestes e uma única túnica. E quem fez dele fonte de lucro não se deu bem no final da história. Afinal, que valor tem 30 moedas de prata?

Como já deve ter percebido, considero espiritualidade um tema tão importante que “caminho sobre ovos” quando o assunto vem à tona e não desejo transformá-lo em mais um produto de minha vitrine. Falo de comunicação, marketing, negociação, vendas, empreendedorismo, administração do tempo, qualidade de vida no trabalho, gestão de carreira etc., mas não de religião. É claro que, em particular, tenho imenso prazer em conversar sobre o assunto. É uma questão de princípios, não aqueles pasteurizados pelos compêndios acadêmicos, mas de convicções profundamente arraigadas em meu coração.

Procuro conversar com quem solicita o tema, pois às vezes existe alguma confusão quanto ao termo “espiritualidade”. Alguns chamam de “espiritualidade” na empresa uma mudança de atitude com a adoção de princípios como amar os colegas, respeitar a diversidade, viver em harmonia com o ambiente e coisas do tipo. Mas isso não é espiritualidade, embora sejam estes princípios existentes em muitas crenças. Muitos céticos, que não acreditam em qualquer esfera espiritual, vivem e praticam muito bem esses princípios que poderiam ser resumidos como princípios éticos, de boa educação, honestidade, integridade e cidadania.

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Haverá mais de uma ressurreição?

Sim, haverá mais de uma ressurreição, além daquelas que aconteceram nos evangelhos, mas que não eram definitivas. Das que ainda virão, a primeira, em Apocalipse 20:4-6, é a ressurreição da vida (Jo 5:29) e ressurreição do justo (Lc 14:14). É uma ressurreição “de entre os mortos” (Fp 3:11; Cl 1:18, etc. favor ver na Versão Almeida Revisada Fiel), ou seja, mostra que são tirados de entre outros mortos. Isto porque os mortos não ressuscitarão todos ao mesmo tempo, mas uns (os “justos”) são tirados de entre os “ímpios”.

Mas esta primeira ressurreição vem em três partes: Primeiro Cristo, que é “as primícias”, ou mostrando como será com os outros. Depois os que são de Cristo na sua vinda (1 Ts 4:15-18; 1 Co 15:23) e por fim os martirizados durante a tribulação (Ap 14:13).

A segunda ressurreição pode ser chamada de ressurreição para condenação (Jo 5:29) ou dos injustos (At 24:15), ou seja, dos condenados. Vão ressuscitar após os mil anos do reino de Cristo (Ap 20:7,11-15). TODOS os que ressuscitarem nesta ocasião terão que enfrentar o trono branco e serão julgados. TODOS estes serão condenados (Ap 20:11-15). Não lemos nada de salvação para os que ressuscitam nesta parte.

Traduzi um comentário de William MacDonald que pode ajudar:

A primeira parte do versículo 5 deve ser entendida como um parêntese. Os “outros mortos” refere-se aos incrédulos de todas as eras que serão ressuscitados no final do Milênio para estarem diante do julgamento do Grande Trono Branco.

A frase “esta é a primeira ressurreição” refere-se ao versículo 4. A primeira ressurreição não é um evento único. Ela descreve a ressurreição dos justos em diferentes períodos. Inclui a ressurreição de Cristo (1 Co 15:23), a ressurreição dos que são de Cristo quando ele arrebatar a igreja (1 Ts 4:13-18), a ressurreição das duas testemunhas cujos corpos ficarão nas ruas (Ap 11:11) e a ressurreição dos santos mortos na tribulação, os quais são descritos aqui nesta passagem (veja também Dn 12:2). Em outras palavras, a primeira ressurreição inclui a ressurreição de Cristo e de todos os verdadeiros crentes, apesar de ressuscitarem em épocas diferentes.

A primeira ressurreição ocorre em vários estágios. Os que participarem da primeira ressurreição não serão incluídos na segunda morte, quando todos os incrédulos serão lançados no lago de fogo (Ap 20:14).

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Onde ficará Israel, e onde ficará a Igreja no final?

Mesmo que não queiramos admitir que exista um número determinado de dispensações ou maneiras de Deus tratar com o homem, é certo que encontramos certas características recorrentes na Palavra, como se fosse um padrão. Você saberá reconhecer que Deus sempre começa uma obra, entrega sua responsabilidade nas mãos dos homens, estes falham, Deus intervém com juízo e libertação e traz algo novo. Pense em um gráfico onde a linha começa lá em cima e depois vai descendo cada vez mais acentuada até chegar na base, então sobe reta até o topo e começa a cair de novo.

A tribulação é o juízo do período em que Deus tratou com a Igreja. A falsa Igreja, sim, esta passará pela tribulação. Trata-se da grande meretriz de Ap17. João, quando a viu, diz “E vendo-a eu, maravilhei-me com grande admiração” Ap 17.6 (“fiquei profundamente admirado” em outra versão). Por que razão João se admirou? Provavelmente porque ele conhecia aquela mulher. O que via era a expressão exterior da Igreja, o testemunho dado aos homens. Aquele que havia vivido numa época em que “havia muitas luzes no cenáculo” (Atos 20:8), se depara com uma grotesca caricatura daquela que deveria ser a Noiva, mas é prostituta.

Apesar de eu haver insistido no fato de que a Igreja sobe no cap. 4:1, a sua expressão exterior — a cristandade meramente professa — permanece para receber juízo. A profecia tem sempre a ver com Israel, e isso não muda em Apocalipse. Todavia Apocalipse é um livro escrito para cristãos, portanto apesar de mostrar um pouco do remanescente judeu que passará pela tribulação, o enfoque é colocado sobre a falsa Igreja, a cristandade apóstata. Você não encontra o mesmo nos Salmos ou nos profetas do Antigo Testamento, que tratam especificamente das profecias em relação aos judeus.

Não creio, como alguns, que o Papa seja a besta de Apocalipse, ou que 666 seja algum código escrito no seu chapéu. Acredito que a grande meretriz seja uma união da cristandade, obviamente encabeçada por Roma, com poder religioso. Mas seu poder só irá durar um tempo. Vemos a Mulher (poder religioso/cristandade) montada sobre a besta (poder político), mas depois vemos a besta destruindo a mulher. Termina assim o juízo da cristandade apóstata, a falsa noiva do Cordeiro “Estou assentada como rainha, não sou viúva, e não verei o pranto” (Ap 18:7).

Mas ainda não cheguei ao que perguntou. Começa tudo de novo com o Reino milenial de Cristo. Um povo em carne na Terra, outro povo já ressuscitado no céu. Depois dos mil anos sem Satanás, o homem é provado mais uma vez e mostra que não mudou nada. Satanás é solto para provar os habitantes da terra, não do céu, e consegue um grande exército para combater contra “o arraial dos santos e a cidade amada” (Ap 20:9 — Jerusalém terrena). Desce fogo do céu e destrói a todos e Satanás é lançado no lago de fogo.

Creio que aqui acontece o derretimento dos céus e da terra que agora existem. “Os céus são obra das Tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permaneceras” Sl 102:25-26… “e como um manto os enrolaras, como um vestido se mudarão” (Hb 1:12) “Mas o dia do Senhor (lembra-se de 2 Tessalonicenses?) virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se queimarão” (2 Pe 3:10). Aqui termina todo império, potestade e forca e o Senhor entrega o Reino ao Pai (1 Co 15:24).

Provavelmente aqui se encaixe a segunda ressurreição, a “ressurreição da condenação” (Jo 5:29) ou dos ímpios (At 24:15). Todos os que não foram salvos são ressuscitados para serem julgados diante do grande trono branco. Os anjos caídos, que ficaram em cadeias, são tirados do abismo e julgados. “Naquele dia o Senhor visitará os exércitos do alto na altura” (anjos) e os “reis da terra sobre a terra” (homens) Is 24:21. A ordem dos eventos parece ser esta, mas não sabemos ao certo quanto aos detalhes. Nós ajudaremos a julgar os anjos (1 Co 6:3).

Agora vem sua pergunta: Onde ficará Israel, e onde ficará a Igreja no final? O Senhor cria novos céus e nova terra onde habita justiça. Hoje a justiça sofre, não a vemos neste mundo. No milênio ela reinará, pois haverá justiça a cada manhã. Mas no estado eterno ela habitará.

Aqui não encontro judeus e igreja. Embora exista uma divisão (céus e terra), creio que estarão perfeitamente associadas. Deus estará habitando com os homens. Ali não existira mais homem ou mulher, governo, dor ou pranto. Tudo será perfeito eternamente. Não haverá mal de nenhuma sorte. Apocalipse 21:1-8 descreve esse tempo. É o “séculos dos séculos” que encontramos nas Escrituras. E aqui vai uma bomba: creio que haverá mais pessoas nesse estado eterno, salvas eternamente, do que no lago de fogo, para que em tudo Cristo tenha a preeminência (Cl 1:18). Antes de fazer qualquer juízo errado, pense nas miríades de crianças que foram salvas por Cristo sem terem mesmo chegado a nascer, ou que morreram antes de poderem compreender que deviam crer. Encontraremos todas elas lá.

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A que vinda de Cristo se refere Mateus 24:27?

Trata-se de sua manifestação pública quando todo olho O verá. Não é o encontro com a noiva, que acontece em caráter privativo como deve ser o encontro com uma noiva. Quando o Senhor subiu, entre nuvens, apenas seus discípulos o viram. Os anjos disseram que eles o veriam descer do mesmo modo, e creio que ele virá primeiro para um encontro secreto com os seus nos ares. A ressurreição do Senhor foi oculta. Somente os panos foram encontrados. Assim creio que nossas roupas serão encontradas, nada mais. Ele apareceu ressurreto apenas aos seus e creio que nossa ressurreição não será um espetáculo visível ao mundo.

Nossa vinda com ele em glória, esta sim será um espetáculo visível. Mas para virmos em glória, é preciso antes termos um tempo com ele, pois há coisas que devem ser acertadas como em qualquer encontro. Ficamos muito tempo longe, temos muito para conversar. A questão de nossas obras, muitas delas más, precisam ser resolvidas e tudo isso não será feito na frente de incrédulos. (Refiro-me ao Tribunal de Cristo, quando as obras do crente passarão sob um escrutínio).

Tal encontro com o Senhor no céu, que acontecerá entre o arrebatamento e sua vinda para julgar as nações, será um encontro reservado e íntimo E digo mais, o encontro do Senhor com o seu povo terrenal, Israel, também terá um caráter secreto. Embora ele venha manifestado publicamente, ele terá um encontro secreto com seu povo terreno. Isto pode ser visto em tipo em José e seus irmãos. Antes de se manifestar a eles, ele clama: “Fazei sair daqui a todo o varão; e ninguém ficou com ele, quando José se deu a conhecer a seus irmãos” (Gn 45:1).

Não vou entrar em detalhes aqui para não alongar esta mensagem, mas ele Se encontrará primeiro com Judá e Benjamim, que são hoje os reconhecidos judeus. As outras tribos terão um encontro posterior. Serão elas que perguntarão: “Que feridas são essas nas tuas mãos?” E ele responderá: “São as feridas com que fui ferido em casa de meus amigos” (Zc 13:6) Os judeus são os responsáveis diretos pela crucificação. Os outros não estavam lá naquele dia.

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A escola dominical é uma reunião de assembleia ou igreja?

Acho que estamos tendo um problema de conceitos. Você perguntou se as crianças da escola dominical não constituem uma reunião de assembleia ou da igreja. Deixe ver se consigo esclarecer.

Uma reunião de assembleia ou igreja é algo solene. Dois ou três reunidos ao nome do Senhor não são dois ou três irmãos que se encontram na casa de alguém ou no trabalho para falar de Cristo ou ler a Palavra. Se me reúno com a família para lermos a Palavra à noite, se oramos, trocamos ideias, rimos, atendemos ao telefone (sempre toca nessa hora!), não é uma reunião de assembleia, embora existam mais de dois reunidos.

Um exemplo: Dois ou três funcionários de uma empresa estão no corredor tomando cafezinho e resolvendo todos os problemas da empresa, segundo a ideia de cada um. De repente passa alguém e avisa: O presidente da empresa convocou uma reunião de assembleia para daqui a dez minutos. Eles correm, dão uma arrumada na roupa, penteiam o cabelo, pegam os documentos que interessam e entram na sala de reuniões. O presidente dá por iniciada a reunião.

Será que algum daqueles funcionários, que lá fora sabia resolver tudo, abre a boca agora? Não. Eles esperam o presidente dar a palavra. E quando este o faz, o funcionário escolhe muito bem o que vai dizer. Se não tem certeza, não diz. O presidente está dirigindo tudo, existe uma formalidade, existe ata e tudo mais. Todos estão atentos ao que está sendo dito e se estiver em desacordo com os interesses da empresa, o que fala será interrompido.

Entendemos que houve uma mudança da reunião informal no corredor, para uma reunião solene na presença do presidente? Então entendemos a diferença entre bater papo ou estudar alguma passagem, e o momento quando entramos na presença do próprio Senhor, reconhecendo a sua autoridade no meio, e estando sujeitos a ele para dirigir tudo por seu Espírito. Isto é uma reunião de assembleia (igreja).

O Senhor prometeu: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ai estou eu no meio deles” (Mt 18:20). Alguns detalhes importantes:

– “ONDE” — Deus estabelece o lugar, não o homem. Foi assim com os Judeus (Dt 12:14) “No LUGAR que o Senhor escolher”. Foi assim com a ceia. (Lc 22:9) “Eles lhe perguntaram: ONDE queres que a preparemos”.

– “ESTIVEREM” — Deus nos traz juntos. Não existe no homem o poder de congregar, a não ser que ofereça algo de interesse comum para atrair.

– “DOIS OU TRÊS” — Isto nos fala de um testemunho perfeito, conforme várias passagens.

– “REUNIDOS” — O “estar reunido” é algo que vai junto. Laranjas não ficam juntas se não existir algo que as reúna, no caso a cesta. Creio que deve ser o Espírito santo “a cesta” a reunir os cristãos, e não alguma doutrina, denominação, costume ou interesses comuns. Hoje se fala de existirem várias denominações diferentes para que cada um ache a que lhe agrada. Seria isto ser dirigido pelo Espírito ou ser guiado pela própria vontade?

– “EM MEU NOME” — Meu filho poderia tirar meu sobrenome do seu, e isto me seria desonroso. Mas não seria menos desonroso ele considerar meu sobrenome suficiente para identificá-lo e decidir acrescentar algo como “da Silva” ou “Pereira” no final. O nome que está acima de todo nome deveria nos bastar, para servir de identificação. Por que não basta? Responda no seu coração. Mas vejo que só existe UM NOME autorizado a identificar uma reunião de cristãos, nenhum mais.

Existe outra coisa ligada ao nome e é a autoridade. Fazermos algo em nome de alguém significa fazermos com a autoridade que essa pessoa nos delegou. E estarmos reunidos em (ou ao) nome do Senhor é estarmos reunidos com a autoridade recebida dele, e reconhecendo que só ele é autoridade nessa reunião.

– “AÍ ESTOU EU” — Creio na presença pessoal de Cristo na reunião dos santos. Portanto vou às reuniões não para ver alguém pregar, cantar ou orar, nem mesmo para eu fazer tudo isso, mas vou porque o Senhor está lá no meio. Ele prometeu (crê nisto?). Não posso vê-lo com os olhos da carne, mas ele está lá. Ele é o que nos motiva a estar lá. E mesmo que nenhum irmão traga um hino, ninguém ore, ninguém se sinta motivado a trazer uma palavra, o fato de ele estar lá é o que importa. É suficiente.

– “NO MEIO DELES” — Após a ressurreição o Senhor se pôs no meio dos discípulos. Está ele no meio? É ele o centro da reunião? Estão as coisas sendo feitas por ele e para ele? Existe liberdade para ele ministrar por seu Espírito a quem quiser?

Deixo para que você julgue, à luz da Palavra de Deus, se está realmente enxergando isto e vivenciando esta experiência.

*

Devo dar o dízimo?

Creio que devemos interpretar o texto da Palavra de Deus pelo texto da Palavra de Deus. Como? Por exemplo, o “fermento” aparece na própria Palavra, desde o Antigo Testamento, interpretado como pecado, má doutrina, contaminação, etc. Por que podemos chegar a esta conclusão? Porque outros textos da mesma Palavra explicam assim.

O Senhor fez isto com as parábolas. Algumas ele explicou mostrando o que cada elemento queria dizer. O mesmo devemos fazer com a profecia. Não creio em interpretações da profecia que tentam ver tanques de guerra, helicópteros e coisas do tipo em, por exemplo, gafanhotos. Isto é usar conceitos externos à Palavra para explicá-la.

Quanto ao dízimo, encontro duas coisas diferentes: Uma doutrina dada a Israel e outra dada à Igreja. Tentei explicar que o dízimo pertencia à economia judaica, havendo uma forma diferente de contribuição na doutrina para a Igreja. O mesmo acontece com o sábado, o qual não foi substituído pelo domingo na doutrina dada à Igreja. Não existe nenhum mandamento quanto ao primeiro dia da semana. Sei da ressurreição, sei da ceia que celebravam no primeiro dia, mas nada especifico como foi o sábado para o judeu. Se devo aceitar o dízimo, então preciso aceitar também o sábado, o templo em Jerusalém, a ordem sacerdotal e muitas outras coisas.

Veja como é bela a ordem dada por Deus para a Igreja. Nada de lei. “Porque se há prontidão de vontade, será aceita segundo o que qualquer TEM, e não segundo o que NÃO TEM” (2 Co 8:12). No judaísmo, não importa se a pessoa tinha ou não, ela devia os 10%. Era a lei. O que o cristão dá vem do coração e não de uma imposição legal. Veja como é bela a ordem dada à igreja, em contraste ao jugo da lei do dizimo. O que o cristão dá é:

– Para expressar comunhão com os outros membros do corpo de Cristo (2 Co 8:4).

– Para se tornar em algo abundante (2 Co 8:7).

– Para demonstrar a realidade do amor cristão (2 Co 8:8-4).

– Para imitar nosso Senhor Jesus (2 Co 8:9).

– Para ajudar nas necessidades dos outros (2 Co 8:13-15).

– Para experimentarmos que Deus também nos dá abundantemente (2 Co 9;8-10).

– Para gerar-nos outras ações de graças a Deus (2 Co 9:11-15).

– Para termos abundante fruto em nossa conta (Fp 4:17).

Encontramos isto no que era exigido de Israel? Talvez você fale de Malaquias 3:10. Ora, a “casa do tesouro” era no Templo em Jerusalém. E Malaquias começa: “Peso da Palavra do Senhor contra ISRAEL”. O engraçado é que, quando tratamos de doutrinas específicas para a Igreja, precedidas de “como em todas as igrejas dos santos”, logo aparecem pessoas dizendo que aquilo era especificamente para aquela igreja ou para uma determinada época.

Mas quando o assunto é o dízimo em Malaquias, que vem precedido de ordens claras para Israel no Antigo Testamento, ninguém diz que aquilo era especificamente para os judeus e para aquela época, mas logo aparecem explicações dizendo aquilo vale também para a Igreja. Começo achar que existe uma regra utilizada pela maior parte da cristandade hoje para compreendermos as Escrituras: inverter o que está escrito!

A primeira vez que o dízimo aparece na Palavra é quando Abraão o dá a Melquisedeque, tipo de Cristo: “E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.” (Gn 14:19-20).

Atente para um detalhe: Isso foi antes da Lei dada a Moisés e isso foi uma iniciativa própria de Abraão (Deus não ordenou que desse), o que não coloca esta oferta no mesmo nível daquela ordenada na Lei, mas dá a ela um caráter muito semelhante ao que vemos nas epístolas, que é de contribuir segundo o seu coração. Foi o que Abraão fez, foi espontâneo, do coração, já que ninguém ordenou que fizesse. Embora seja 10% do que tinha, não é o mesmo dízimo que você encontra na Lei.

Mesmo assim é importante lembrar que Abraão não faz parte da Igreja, um mistério que só seria revelado a Paulo séculos depois e cuja doutrina (da Igreja) seria também dada por intermédio do mesmo Paulo. Não encontramos a doutrina dada à Igreja em nenhum outro lugar, nem mesmo nos evangelhos, pois ainda era um “mistério” não revelado na ocasião. (leia Efésios 3).

Devo concordar que Deus não muda, mas o modo como ele trata com sua criação muda. Com Adão Deus tratou de um homem no estado de inocência; com a geração após Noé, tratou com pessoas com responsabilidade de se sujeitarem a um governo humano; com Abraão e seus descendentes Deus tratou tendo em vista as promessas feitas a ele; com Moisés e o povo de Israel Deus tratou segundo a Lei que lhes havia dado. Mas com a Igreja Deus trata segundo a dispensação da graça. Deus é o mesmo, mas tem tratado o homem de modos diferentes ao longo do tempo.

A sua Palavra também não muda e permanece para sempre, mas as pessoas às quais ele dirige sua Palavra mudam e se, nos Salmos, encontramos calorosos pedidos de vingança contra os inimigos, no Novo Testamento vemos que Deus deseja dos cristãos que amem seus inimigos e orem por eles. Por isso hoje não apedrejamos adúlteros e nem nos guardamos de caminhar uma distância maior do que aquela estabelecida por Deus no Antigo Testamento. O mesmo Deus que cobrou algo de um povo espera um modo de agir diferente de outro.

A grande confusão em relação ao dízimo é que muitos cristãos ainda não entenderam que Deus tem dois povos, Israel, que foi temporariamente deixado de lado, e Igreja, que é o povo que hoje representa Deus na Terra. Quando a Igreja for arrebatada, Deus voltará a tratar com Israel dentro daquilo que ele estabeleceu para aquele povo.

É por isso que o Senhor disse aos judeus em Mateus 24, pensando nos judeus após o arrebatamento: “orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado”. Os judeus com os quais Deus tratará então, darão o dízimo e guardarão o sábado, coisas que não são encontradas na doutrina dos apóstolos dada à Igreja, a qual é encontrada apenas nas epístolas, em especial nas do apóstolo Paulo.

*

Será que minha conversão foi real?

Você está preocupada porque todos dizem que sentem isso e aquilo, que têm visões, que conseguem coisas, e você vive uma vida cristã sem pirotecnia. Posso dizer algo com sinceridade? É melhor que seja assim.

É bom encontrar cristãos normais de vez em quando. Tem tanta gente por aí que diz passear nas nuvens, que quando encontro pessoas que não têm visões, não sentem a terra tremer e nem receberam uma revelação especial de Deus, eu me lembro das palavras do Senhor: “Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20:29).

Essa confusão toda em busca de sinais e maravilhas nada mais é do que a carne querendo ter algo de fantástico para poder contar. Aí muita gente acaba inventando e acreditando em suas invenções. Há conversões mais ou menos dramáticas, mas não é o grau de dramaticidade que diz se uma conversão foi genuína ou não. O sinal do cristão é que ele ama o Senhor e abomina o pecado.

Muito do cristianismo que você vê por aí hoje não passa de um caldeirão de emoções. Tire a banda, tire as luzes, tire o teatro, tire aquele pregador carismático, tire as danças e não sobra muita coisa. Logo após minha conversão fui convidado para um culto cristão onde houve uma pane nos equipamentos eletrônicos e o culto praticamente acabou, como se dependêssemos de equipamentos para adorar!

O cristão se contenta com Cristo, e aí está a maravilha do evangelho. Se você ficar olhando para si mesma, para seus sentimentos e temores, serão os seus sentimentos e temores que estarão desviando o seu olhar de Cristo. Serão as coisas visíveis, o seu foco.

Assim como cada pessoa tem uma impressão digital diferente, cada um tem uma experiência pessoal diferente com Deus. Mas continuo insistindo que você está olhando para o lado errado. Não é a experiência, mas a Pessoa de Cristo que importa. A fé não é baseada em coisas visíveis, sentimentos ou experiências, mas na Pessoa daquele que morreu na cruz por você.

Quando um navio joga a âncora, o comandante não pode enxergar mais a âncora, mas ele sabe que ela está segura, bem firme, em alguma rocha no fundo do oceano. A diferença é que jogamos nossa âncora para cima, para o céu, onde Cristo está. Não a vemos, mas sabemos que ela está segura naquele que morreu na cruz por nós.

“… mas agora ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas. Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.” (Hb 2:8-9).

Pare de olhar para seus sentimentos ou para querer sentir algo. Fique longe de cristãos que vivem se vangloriando de estarem vendo anjos, carruagens celestiais ou até chamas infernais. Apegue-se à Palavra de Deus e a Cristo.

Muito do que você vê no mundo evangélico hoje é exatamente o que o catolicismo faz há séculos, com seus cultos a santos milagrosos (lembre-se de que sempre tem alguém que viu a santa etc.), relíquias, histórias de êxtases, etc.

Tem muito cristão sincero por aí que se sente inferiorizado só porque não teve alguma experiência mística. Nossa fé não é baseada numa experiência (que pode ser conseguida até com drogas!), mas na certeza de que Cristo pagou nossos pecados na cruz.

Sobre essa cobrança das pessoas com quem se congrega querendo saber se você experimentou algo dramático, sinto dizer que você está sendo mal instruída na verdade, que é Cristo, não nossos sentimentos.

Pare de olhar para seus sentimentos ou para querer sentir algo. Fique longe de cristãos que vivem se vangloriando de estarem vendo anjos. Apegue-se à Palavra de Deus e a Cristo. Muito do que você vê no mundo evangélico hoje é exatamente o que o catolicismo faz há séculos, com seus cultos a santos milagrosos (lembre-se de que sempre tem alguém que viu a santa, etc.), relíquias, histórias de êxtases, etc. Tem muito cristão sincero por aí que se sente inferiorizado só porque não teve alguma experiência mística. Nossa fé não é baseada numa experiência (que pode ser conseguida até com drogas!), mas na certeza de que Cristo pagou nossos pecados na cruz.

Sobre experimentar algo, sinto dizer que você está sendo mal instruída na verdade, que é Cristo, não nossos sentimentos.

Quanto ao dízimo, a coisa funciona assim: No Antigo Testamento havia um templo em Jerusalém revestido de ouro, havia toda uma classe sacerdotal e uma população de levitas que precisavam ser sustentados. Tudo isso exigia muito dinheiro para manter e Deus pedia o dízimo de tudo que as pessoas tivessem.

Hoje não há mais um templo (o templo é a igreja no sentido de todos os crentes, e individualmente nosso corpo), não há uma classe sacerdotal (os sacerdotes são os cristãos) e nem todo o aparato de instrumentos, sacrifícios etc. necessários na adoração judaica.

O que acontece é que a maioria das denominações simplesmente segue um formato judaico para seu culto a Deus, construindo “templos”, mantendo grandes estruturas hierárquicas com pastores profissionais que precisam ser mantidos, orquestras, instrumentos etc. a um custo muito elevado. Ora, nada mais conveniente do que “importar” o dízimo do judaísmo para manter essa estrutura.

Mas se olhar na doutrina que foi dada à igreja, que nada tem de judaísmo (a partir de Atos dos apóstolos), você não encontrará mais o dízimo, mas ofertas voluntárias que são usadas para as necessidades dos santos (irmãos desempregados, auxílio aos que hospedam e também recursos para os que viajam pregando o evangelho ou visitando os irmãos), como expliquei no texto que leu.

A ideia de promessas de abundância financeira também foi “importada” do Antigo Testamento. As promessas para o povo de Israel eram de riquezas terrenas, abundância de trigo, animais, filhos etc. As promessas para o cristão são de tesouros no céu, onde Cristo está. Aqui, se tivermos o que comer e roupa para vestirmos devemos nos dar por satisfeitos, diz a Palavra: “Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso, contentes”. (1 Tm 6:8).

A ideia de “semear” provavelmente foi tirada da passagem abaixo:

“E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece para sempre. Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça; para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se deem graças a Deus. Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também é abundante em muitas graças, que se dão a Deus. Visto como, na prova desta administração, glorificam a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos; e pela sua oração por vós, tendo de vós saudades, por causa da excelente graça de Deus que em vós há. Graças a Deus pelo seu dom inefável!”. (2 Co 9:6-15).

Veja que o fim nunca são as riquezas materiais. “fazer abundar em vós toda a graça”… “abundeis em toda a boa obra”… “deu aos pobres…” “enriqueçais para toda a beneficência…” “… supre as necessidades dos santos…”. Veja que o que Deus nos dá (a abundância, no caso, da sementeira) tem um destino, que é gerar glórias para Deus por meio do auxílio aos que estão necessitados. Todo o contexto fala dos pobres dentre os cristãos, não de se manter uma organização religiosa.

Tudo o que coloca o foco em nós, em nossas experiências e sentimentos, tira o foco de Cristo. É com ele que você deve se ocupar.

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A condenação é mesmo eterna?

Você escreveu dizendo que não concorda nem com a bem-aventurança eterna dos salvos e o sofrimento consciente dos perdidos no inferno de fogo pela eternidade afora. O que tenho a dizer é que as duas coisas estão muito claras nas palavras do Senhor, que promete nunca perder suas ovelhas. Além disso, como a vida poderia ser eterna se não fosse assim?

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida ETERNA, e NUNCA hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”. (Jo 10:27-29).

“E, se a tua mão te escandalizar, corta-a: melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que NUNCA se apaga”. (Mc 9:43-48).

Você também escreveu dizendo que não acredita que Cristo tenha sofrido como um pecador sofrerá se for condenado por causa de seus pecados. Bem, a grande diferença é que Jesus não pecou, portanto não estava sujeito à morte. Tampouco ele foi morto na cruz, seja por sofrimentos ou pela lança (já estava morto então).

Ao contrário de nós, que só morremos se existir uma ação externa, ainda que aplicada por nós mesmos (no caso do suicídio), o Senhor fez algo que homem algum é capaz de fazer, ou seja, entregar a vida. Nem eu nem você podemos decidir: vou morrer agora.

Não foi o nosso pecado que “matou” o Senhor na cruz. O que ele fez foi cumprir os desígnios de Deus, de que um inocente deveria morrer pelo culpado, como prefiguraram todos os sacrifícios do Antigo Testamento.

Quanto a dizer que o Senhor não sofreu o tanto que o pecador sofreria se condenado, nem você nem ninguém poderá entrar naquelas três horas de agonia do Senhor na cruz, quando o sol se escureceu e, ao entregar a vida, a terra tremeu e toda a criação entrou em convulsão.

Pode ter a certeza de que ele sofreu sim pelo pecado dos que salvou ali. Você analisa as coisas do ponto de vista do tempo, mas Deus não está limitado ao tempo. Portanto ele é capaz de concentrar uma eternidade em um minuto, pois ele é Senhor do tempo também.

Quando tudo se consumar, e for dado início aos novos céus e nova terra, não haverá mais tempo. Nem me pergunte como será, porque é impossível para a mente criada no contexto do tempo linear imaginar uma existência sem tempo.

Você afirma tudo isso dizendo que prefere crer em um Deus justo. Mas pode ter certeza de que Deus é justo. O problema é que Deus não poderia nos tratar com justiça, porque a justiça de Deus exige a condenação do pecador. Foi por isso que Cristo entra em cena para Deus ser justo, tratando a ele com a justiça que deveria tratar a nós, e dando lugar à graça e misericórdia para tratar conosco. Cristo sofreu o que nós merecíamos para nos dar uma salvação que não merecemos.

Ao se referir a um suposto julgamento de pessoas boas e condenação de pessoas más, você está confundindo as coisas. Não há julgamento para pecadores não convertidos. Quem não é convertido já está julgado ou condenado.

“Quem crê nele NÃO É JULGADO (ou condenado); mas quem não crê, JÁ ESTÁ JULGADO (ou condenado); porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” (Jo 3:18).

A ideia de que podemos ser julgados e, assim, condenados ou não, é falsa. Já nascemos condenados. Você não precisa fazer nada para ir para o inferno, basta ter nascido. É importante entender que o que chamamos de juízo final, o grande trono branco que você encontra em Apocalipse 20, não é um julgamento para ver quem vai e quem não vai ser condenado. Ali é a leitura da sentença. Ninguém sai salvo daquele julgamento, mesmo porque ali estarão todos os que não receberam a salvação em algum momento antes daquilo. Lembre-se de que “quem crê nele não é julgado” ou condenado como dizem algumas versões.

Os açoites aos quais se referiu (uns receberão menos açoites e outros mais, da passagem do evangelho), nada têm a ver com um juízo final. O prêmio ou castigo que o Senhor traz aos servos quando volta (citado nos evangelhos) está mais bem explicado em 1 Coríntios 3:

“E, se alguém sobre este fundamento levanta um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se permanecer a obra que alguém sobre ele edificou, esse receberá galardão Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo todavia como que pelo fogo.” (1 Co 3:12-15).

Trata-se de um julgamento de obras, não de pessoas, para a outorga de prêmios (galardão) ou não. Isso acontece muito tempo antes do juízo final de Apocalipse.

Você diz querer crer em um Deus que não condene etc., mas sugiro que é melhor crer no Deus que a Bíblia mostra e não em um que você gostaria de crer. O versículo “Não repreenderá perpetuamente, nem para sempre conservará a sua ira”, que você citou fora de contexto para tentar comprovar suas ideias, é assim:

(Salmos 103:7-10) “Fez notórios os seus caminhos a Moisés, e os seus feitos aos filhos de Israel. Compassivo e misericordioso é o Senhor; tardio em irar-se e grande em benignidade. Não repreenderá perpetuamente, nem para sempre conservará a sua ira. Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui segundo as nossas iniquidades.”

O contexto mostra muito bem que Deus não repreende perpetuamente os seus. Veja que está falando de Moisés, dos filhos de Israel, e daqueles aos quais não retribui segundo as suas iniquidades. Conforme eu disse, ele nos dá o que não merecemos porque é grande em benignidade.

Finalmente você diz que aprecia a doutrina das Testemunhas de Jeová quanto ao destino eterno das pessoas, mas isso equivale dizer que você prefere acreditar em uma doutrina ensinada por pessoas que negam a divindade de Cristo. Você prefere isso a crer no que a Bíblia diz?

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Palavras como “arco-íris” vêm do paganismo?

Entendo sua preocupação, que está em dizer palavras ou nomes que representem deuses ou símbolos pagãos, neste caso, a “Íris”, nome de uma deusa contido na palavra “arco-íris”.

Não se preocupe com essas coisas, porque se tentar evitar essas coisas terá de sair do mundo. Toda a nossa cultura está permeada de culturas e religiões pagãs. Nossa língua está cheia de palavras de origem pagã, sejam gregas, romanas ou até africanas, como “oxalá”. Se deixar de usar palavras que façam referência a deuses pagãos, precisará deixar de usar o calendário:

Janeiro: homenagem a Jano, deus da mitologia romana.

Fevereiro: inspirado em Februs, deus da morte e da purificação na mitologia etrusca.

Março: deriva do deus romano Marte.

Abril: derivado de Aprus, o nome etrusco de Vénus, deusa do amor e da paixão.

Maio: derivado da deusa romana Bona Dea da fertilidade. Outras versões apontam que a origem se deve à deusa grega Maya, mãe de Hermes.

Junho: derivado da deusa romana Juno, mulher do deus Júpiter.

Julho: deve o seu nome ao ditador romano Júlio César.

Agosto: em honra do imperador César Augusto. (fonte: Wikipedia)

Sugestão: deixe de se preocupar com o mal (como aqueles que ficam procurando coisas em filmes do Walt Disney), porque você vai encontrar o mal em tudo o que há no mundo, pois são coisas do mundo. Ora, o mundo jaz no maligno, o dinheiro que usamos é sujo, a arquitetura, a moda, a indústria, o entretenimento, tudo isso é parte de um mundo que foi construído pouco a pouco pelos descendentes de Caim.

O jeito é nos ocuparmos com Cristo, porque é melhor ocupar sua mente com o bem do que com o mal, ainda que seja com a intenção de combatê-lo. A ordem é se afastar do mal, não ficar se ocupando com ele.

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O que a Bíblia diz da pena de morte?

Quando Deus criou o homem, criou um homem inocente e sem qualquer conhecimento de bem ou mal. O homem não conseguiu conservar sua inocência e pecou, o que acarretou uma pena de morte, morte física e espiritual, além da expulsão da presença de Deus.

Como consequência do pecado e rebelião, todos nascemos mortos espiritualmente e sujeitos à morte também do corpo, além de naturalmente réus do juízo eterno. O Senhor deixou claro em João 3:18 que a condenação é um estado permanente e natural ao ser humano, e não, como pensam alguns, algo que se adquire por não praticar o bem. “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus”.

Depois de sua queda e de posse da consciência do bem e do mal, o homem preferiu continuar em rebelião contra Deus até vir o dilúvio, uma espécie de recomeço. A Noé, o patriarca de uma nova geração de pessoas, foi dada a autoridade humana de julgar e condenar seus semelhantes. “Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem.” (Gn 9:6).

Essa autoridade — de derramar o sangue de um homicida — nunca foi revogada. No Novo Testamento encontramos o Senhor apontando as consequências normais do ato de um homicida, “Então Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão”. (Mt 26:52).

E o apóstolo Paulo, falando da prerrogativa da autoridade humana instituída por Deus, deixa claro a extensão do poder da autoridade: “Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador para castigar o que faz o mal”. (Rm 13:4). É importante lembrar que uma espada trazida pela autoridade à qual ele se refere aqui não é um enfeite, mas serve para matar.

A ordem de Deus dada ao homem, de condenar à morte o homicida, nunca foi revogada. A ideia de que no Brasil ou em outros países não exista pena de morte é falsa, pois a autoridade continua carregando a espada (a arma) e a utiliza quando necessário, ou seja, aplica a pena de morte. É o caso de um policial que se vê obrigado a eliminar um bandido que está causando perigo à população.

À medida que os homens vão diluindo a autoridade divina e o próprio conceito de autoridade humana, toda a sociedade vira um caos como o que encontramos em situações de anarquia ou de frouxidão dos poderes instituídos. Com a autoridade do governo, da polícia, dos pais e professores diluída por discursos que nada mais são do que uma clara rebelião à autoridade maior, de Deus, ainda que envoltos em “aparência de piedade”, nada mais resta senão ver claramente que não falta muito para as “estrelas” caírem do céu, como preconiza o livro de Apocalipse.

Nesse tempo ainda futuro, aquele que deseja ser, só ele, a autoridade máxima, cuidará para que de uma vez por todas as “estrelas” do céu sejam destituídas de seus lugares altos, para que ele assuma o posto de comandante supremo.

“E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas. E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra (Ap 12:3-4).

Se você considerar que a Bíblia responde às questões que a própria Bíblia levanta, irá se lembrar que “estrelas”, juntamente com o Sol e a Lua, são apresentadas pela primeira vez em Gênesis no papel de governantes do dia e da noite:

“E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos. E sejam para luminares na expansão dos céus, para iluminar a terra; e assim foi. E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas. E Deus os pôs na expansão dos céus para iluminar a terra, E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas; e viu Deus que era bom.” (Gn 1:14-18).

Irá se lembrar também que Satanás foi o primeiro a contestar a autoridade de Deus no jardim do Éden: “Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?” (Gn 3:1).

O que falta? Irmos do primeiro livro, Gênesis, ao último livro da Bíblia, Apocalipse, para descobrirmos quem é essa serpente ou o dragão do versículo que citei, que não apenas contesta a autoridade de Deus, mas enfraquece e destitui as autoridades humanas, simbolizadas pelas estrelas, varrendo-as de sua posição de governo:

“… o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás”. (Ap 20:2).

*

Reunir-se sem denominação não é criar uma nova igreja?

Você pergunta se, ao me colocar como alguém que se reúne sem denominação, eu não acabaria sendo membro de uma ‘igreja’ nos mesmos moldes daquelas que questiono. Creio que você pode sim ter essa impressão se ficar restrito aos aspectos funcionais da igreja, à forma de se reunir, deixando de enxergar o princípio ou fundamento da reunião dos cristãos.

Muitos grupos em todo o mundo não adotam o sistema denominacional, mas isso não significa que estejam se reunindo sobre o fundamento que encontramos na doutrina dada à igreja. Na confusão que existe em nossos dias, é sempre motivo de alegria descobrir que existem irmãos que compreendem, pelo Espírito, que todo o sistema denominacional foi estabelecido por homens e, embora tenha em seu meio muitos, ou até mesmo a maioria, dos que são verdadeiramente salvos, não se trata de um sistema ao qual o crente deve se unir.

Mas em nossos dias de confusão, é sempre bom nos lembrarmos da lição que encontramos em Neemias 7, quando é feita uma relação dos que voltaram do exílio. Havia alguns que não foram considerados limpos, pois não conseguiam mostrar seus antecedentes (vers. 61-64). Estes não poderiam exercer o sacerdócio. Isto é uma lição para nós (Rm 15:4), pois em nossa época de ruína, como era também em Neemias, quando os filhos de Deus estão espalhados por milhares de divisões, denominações ou mesmo grupos sem nome, é importante que, ao entrarmos em contato com algum grupo de cristãos, procuremos examinar bem todas as coisas. Não apenas a forma da reunião, mas ir mais além verificando o fundamento sobre o qual se reúnem e também a origem ou os antecedentes, como sabiamente fizeram aqueles na época de Neemias.

Hoje existem muitos grupos que se reúnem sem denominação, mas creio que devamos ter cuidado para verificar se não são apenas mais uma denominação sem nome. Eu mesmo já tive oportunidade de visitar dois grupos assim. Um, embora não tivesse denominação, era composto por pessoas de diversas denominações, ou seja, não havia qualquer entendimento sobre o mal que é pertencer a um sistema denominacional e nem havia o princípio da separação deste mal (veja 2 Tm 2:19-22). Outro grupo que visitei dizia não ter denominação, mas traçando os seus antecedentes pude verificar que se tratava de uma seita iniciada em 1913 por um homem baseado em suas próprias visões, que negava a Trindade e cria na salvação através do batismo.

No Brasil existe ainda um grupo iniciado na década de 60 por um pastor batista, que professa, com algumas variações, doutrinas pentecostais. Há ainda um movimento que se originou com Watchman Nee (já se encontra com o Senhor), um cristão chinês que sofreu duras perseguições em seu país e tinha um grande conhecimento da Palavra, cujos ensinamentos foram acolhidos por um seu discípulo, Witness Lee (também falecido há poucos anos).

Este último acabou se tornando o líder máximo do movimento, embora isto não seja admitido pelos membros daquele grupo, os quais chegam ao ponto de estudar suas cartas nas suas reuniões. Conheço um irmão norte-americano que era um dos seguidores de Witness Lee e deixou o movimento quando este começou a afirmar, em reuniões reservadas, que a sua palavra era a Palavra de Deus. Hoje há outro líder encabeçando a organização e os estudos nas igrejas locais seguem um mesmo padrão, com uma revista publicada pela sede para que todos estudem a mesma coisa em todos os lugares.

Como você pode ver, mesmo quando nos apartamos do sistema denominacional, corremos o risco de cair em erro. Tudo que tiver um homem na posição de líder ou guia geral é engano. Porém, além de verificar as doutrinas de um determinado grupo, à luz da Palavra de Deus, é conveniente verificar os seus antecedentes, pois pode se tratar de uma seita formada a partir de irmãos reunidos ao nome do Senhor.

É comum acontecer de alguém ser colocado em disciplina (excluído da mesa e da ceia do Senhor) por causa de pecado e se separar, levando consigo outros e começando a promover suas próprias reuniões com outras pessoas que o escutem. Apesar de dizerem estar reunidos somente ao nome do Senhor, uma simples verificação da origem da sua reunião irá mostrar que se trata de fruto de pecado e rebeldia. Em alguns casos o tempo se encarrega de lançar uma camada de poeira sobre o caso e as novas gerações acabam sem saber a origem daquilo a que se uniram.

Alegra-me saber que você tem entendido que a confusão de “igrejas” que existe ao nosso redor é obra dos homens. Deus não deseja que os seus estejam sós, mas sim que estejam reunidos. Um passo é se separar do sistema denominacional por compreender tratar-se de um erro. Outro passo é reunir-se somente ao nome do Senhor Jesus, expressando assim a suficiência do seu nome e o reconhecimento de que todos os crentes são um só Corpo, o Corpo de Cristo.

Há muitos cristãos que estão deixando suas denominações pelos mais variados motivos: descontentamento com a doutrina, insatisfação com irmãos, desejo de se apartar de pecado, etc. Porém, o que geralmente acontece é que muitos se separam de uma denominação para ficar sozinhos, para ingressar em outra ou para fundar mais uma. E neste último caso é possível até que dê início a uma denominação “sem denominação”. A única separação válida é aquela que é feita PARA O Senhor. Ou seja, abandonar o sistema denominacional para estar onde o Senhor está. E onde ele prometeu estar? Onde dois ou três estiverem reunidos em (ou para) seu nome.

Porém, em nossos dias de tanta confusão, é necessário cuidado para se discernir o lugar onde o Senhor reconhece como sendo crentes reunidos ao seu nome. Com base na Palavra de Deus, coloco abaixo alguns pontos que devem ser considerados para se estar reunido conforme nos mostra a Palavra. É preciso entender que não é uma lista ou regras, mas indicações claras dadas pela Palavra de Deus. Há outras e o Espírito Santo é suficiente para guiar os reunidos ao nome do Senhor de modo a fazer tudo conforme a Palavra.

– Estejam reunidos unicamente em (ou para o) NOME DO Senhor JESUS CRISTO (Mt 18:20);

– Tenham somente a Pessoa de Cristo diante de suas mentes e corações e as pessoas que foram a esse lugar, foram por causa de Cristo (Jo 1:38-39; 6:68);

– Evitem impedir a ação do Espírito Santo, o qual deve dirigir a cada um segundo a sua escolha, para exaltar a Cristo e animar e consolar aos demais (1 Ts 5:9-20);

– Estejam atentos e prontos a detectar qualquer coisa que seja contrária à Palavra de Deus. (1 Co 14:29; 1 Ts 5:21);

– Exerçam a autoridade delegada pelo Senhor identificando e julgando o mal que possa surgir no meio (Mt 18:17-20; 1 Co 5);

– Deem oportunidade uns aos outros para que Deus possa usar a quem Lhe aprouver para apresentar a sua mensagem (1 Co 14:30-31);

– Falem um de cada vez e pratiquem o controle próprio (1 Co 14:31-32);

– Obedeçam e reconheçam que é “mandamento do Senhor” (1 Co 14:37) que “as mulheres estejam caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar” (1 Co 14:34-35; 1 Tm 2:11-14);

– Tenham sempre em mente que a missão do Espírito Santo é guiar-nos a toda a verdade, glorificando a Cristo. Sua direção é sempre de acordo com as Escrituras.

Encontramos nas Escrituras o princípio do retorno às origens. É mais ou menos o mesmo que fazemos quando tomamos o atalho errado. Voltamos e vamos examinando cuidadosamente cada encruzilhada para ver se foi ali que nos perdermos. Somos mais cuidadosos na volta do que na ida. É que o machado era emprestado e nós apenas o tínhamos por graça e favor. Perdê-lo foi algo triste. Mas é preciso voltar aonde o machado caiu, lançar o madeiro na água, aplicar a cruz na questão e certamente Deus o fará flutuar.

Outro princípio que você já deve ter encontrado nas Escrituras é o da decisão individual. Muito se fala sobre voltar a unir os irmãos, mas isto seria reconhecer as várias divisões como coisas certas, apenas separadas por algum motivo banal. Isso poderia valer para as tribos de Israel, que eram entidades estabelecidas por Deus e que ele mesmo permitiu dividir. Mas não ocorre com a Igreja ou Assembleia. Não existem “igrejas separadas”, pois a ideia de independência não cabe a um só corpo.

Quando se pensa em resolver a questão da separação logo se imagina uma forma de reunir os vários grupos como uma grande colcha de retalhos. Eu saí de uma denominação anos atrás quando o Senhor me mostrou que eu estava no lugar errado. Poderia ter sido uma “denominação sem nome”. Mas foi preciso um exercício individual para procurar onde o Senhor havia colocado o seu nome.

Creio que é errado dizer a alguém “venha aqui” ou “vá lá”. Evito convidar pessoas para as reuniões (exceto para pregações do evangelho). Creio que o exercício é individual. Para a alma sincera e ansiosa o Senhor indicará o lugar. Não haverá uma reconstrução das divisões. Existe, isto sim, um indicar do Senhor, e quando alguém é por ele assim conduzido, saberá que está no lugar onde ele colocou o seu nome e que ele reconhece como o seu testemunho na terra.

*

Você é “espiritualista” ou o quê?

O diálogo que se segue ocorreu em 1999 com um autor de textos espiritualistas e de um livro de ufologia. Se me lembro corretamente, ele estaria tentando atrair adeptos para uma sociedade “espiritualista” que estaria organizando e me encontrou ao acaso quando leu sobre minha conversão na Internet.

Após eu responder ao primeiro e-mail, ele incluiu um número de pessoas, provavelmente de seu relacionamento, para que acompanhassem nossa conversa. Aparentemente ele não conseguia entender como eu teria abandonado o “espiritualismo” e me tornado “crente”. Decidi publicar o diálogo aqui por saber que muitas das questões que ele levanta são também dúvidas sinceras de muita gente. Outra razão de publicar é para revelar os pensamentos de um “espiritualista” quando confrontado com a Bíblia. Se você for alguém que teme a Deus irá se surpreender com o ódio que essa pessoa destila ao se referir ao Deus da Bíblia e ao Senhor Jesus.

Que isto sirva de alerta para aqueles que são encantados com as frases bonitas do espiritualismo, mas que não conhecem o que se esconde debaixo do véu de uma falsa piedade. Eu já estive lá, eu já pensei assim, e esta não é a primeira e nem a única pessoa com quem tive diálogos semelhantes e ouvi opiniões escabrosas sobre Deus e a Bíblia.

Você escreveu: “Me parece difícil compreender como alguém que diz ter se convertido a Cristo (ou a Jesus?), que disseminava ideias essencialmente espiritualistas, pode colocar os mesmos “por terra”. Talvez o seu conceito de “espiritualismo” não seja o mesmo que conheço.”.

Exatamente. É o oposto. O “espiritualismo” que eu professava era homocêntrico, do tipo “você pode, você faz, você consegue”. É, em síntese, o que ensinam as religiões. O homem precisa melhorar, se aperfeiçoar, se elevar, etc. E isto ele consegue… Se melhorando, se aperfeiçoando, se elevando. Glória para quem? Para o homem, evidentemente. Mas a Bíblia é clara a respeito de quem merece toda (100%) a glória: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura.” (Is 42:8).

A Bíblia não deixa glória para o homem. É Deus quem faz a obra de transformação (ou de nova vida) naquele que crê em Jesus. Não sobra glória para o homem. Toda ela vai para Deus. Evidentemente esta não é uma ideia nem um pouco simpática para nosso EGO. Gostamos de confete seja aqui seja no além. Todavia, (falando do homem) “… quando morrer, nada levará consigo, nem a sua glória o acompanhará.” (Sl 49:17).

Você escreveu: “Bem… Pela forma como o amigo escreve, devo supor que conhece “o Autor” com grande intimidade e segurança, não é mesmo?”.

Conheço. Como conhece todo aquele que se converteu a Cristo e crê nele como Salvador. Aliás, o desejo do Senhor era que cada pessoa o conhecesse pessoalmente. Isto não significa uma assertiva intelectual sobre certos pontos dogmáticos ou um privilégio obtido por grande esforço, exercícios espirituais, elevação ou alguma privação monástica. Trata-se do resultado de um encontro pessoal que transcende o visível e até o intelectual. Não está restrito a iniciados que leram uma montanha de livros ou galgaram os graus de alguma loja mística, mas é privilégio até de crianças. Todavia é preciso fé, pois “sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” (Hb 11:6).

Você escreveu: “Como pode a Inteligência Maior (onipotente, onisciente e onipresente) ter um “inimigo” num falível ser humano que, aliás, (dizem os cristãos) foi criado por ele mesmo?”.

Não era. Ficou depois da queda. NÓS somos inimigos de Deus. Deus NÃO é nosso inimigo. Para entender todo o rancor e ódio que temos em nosso coração (inimizade contra Deus), releia o que me escreveu em seu e-mail. É inegável que você tem ódio de Deus, porque ele não é como você gostaria que fosse. Porque se a Bíblia estiver certa você está errado como eu estive um dia. E então não sobra glória para você, suas palestras, seu conhecimento.

Eu entendo bem o que sente, pois depois de minha conversão a Cristo encontrei muitos a quem havia ensinado o espiritualismo homocêntrico (no meu caso, extremamente egocêntrico) e precisei me retratar. Alguém disse que a última coisa que morre no homem é o orgulho. E nascemos orgulhosos e não queremos que Deus interfira em nosso caminho. Ou você acha que não somos orgulhosos por natureza? Negar isso é negar que você se conhece.

O apóstolo Paulo passou por algo assim quando precisou admitir que sua bagagem (que não era pouca) era esterco, comparada com o que tinha então. Ele descreve bem o que passou:

“Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Fp 3:4).

Você estaria pronto, caso “trombasse” com a Verdade, a considerar escória toda sua vida até aqui?

Você escreveu: “O amigo por ventura acha que Deus é um homem, ou algo assim, ao conferir-lhe atributos como ‘paciente’?.

Sim, agora é… Também! Ele se fez homem na pessoa do Senhor Jesus. Você e eu nunca vamos entender isso. O que se entende é o que se pode aceitar sem fé. “ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem.” (Hb 11:1). Cristo é Deus feito homem, “qual, sendo o resplendor da sua glória (de Deus), e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas;” (Hb 1:3). Hoje existe um Homem de carne e osso no céu. Obviamente você não crê na Bíblia e não pode crer nisto. Mas ou a Bíblia é a Palavra de Deus ou é a mais perigosa armação, já que se declara ser a Palavra de Deus.

Você escreveu: “Meu querido… Ninguém é mais aberto do que eu a criticas, sugestões, debates, especialmente sobre os livros da Bíblia e as centenas de outros textos (apócrifos e pseudoepígrafos) que não foram incluídos nela.”.

Bom saber isto. A verdade é algo que aceitamos ou rejeitamos. Não podemos julgá-la, pois se o fizéssemos nos tornaríamos juízes de Deus. Você critica o Deus do Antigo Testamento como algo absurdo para sua razão. Qual é o gabarito que você usa para suas afirmações? O seu bom senso? A sua razão? O seu conhecimento? Não é estranho que julgue a Deus com a mesma confiança que julga assuntos do dia a dia. Você só justificará a Deus, em todos os seus atos e desígnios, quando se submeter a ele, quando se tornar seu filho. “Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos.” (Lc 7:35). “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome;” (Jo 1:12).

Você escreveu: “O companheiro não sabe que cheguei a vender Bíblias de porta em porta quando tinha 12 anos de idade! Estudei a Bíblia e fui conhecer alguns trabalhos dos maiores expoentes em estudos bíblicos do mundo, que dominam, com fluência, o hebraico, o aramaico e o grego. Estudei um pouco de arqueologia bíblica e tive a felicidade de constatar as verdades e inverdades contidas naquela secular coletânea de textos. Estou com quase 40 anos nesta vida. Comecei a estudar a Bíblia com 11 anos de idade… É provável que até mesmo Jesus fosse analfabeto e, portanto, não saberia ler os textos, se os tivesse conhecido!”.

Então, se me permite a franqueza, é melhor mudar seu método de estudo. Parece que não estudou a Bíblia tanto quanto fala. “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se PARA LER. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías: e, quando abriu o livro achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a por em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor. E cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro…” (Lc 4:17-20).

Você escreveu: “Querer ver a Bíblia como “a palavra de Deus” me cheira a uma gravíssima ofensa a qualquer ser divino.”.

Não sou eu quem quer vê-la assim, é ela que diz ser. Se for verdade, devo aceitá-la 100%. Se não é, devo rejeitá-la 100%. Aceitar 10% de verdades que EU julgue ela conter faria de mim juiz do que Deus revelou. Quem sou eu para separar o que Deus falou e o que não falou? A Bíblia tem evidências suficientes para demonstrar ser ela a Palavra de Deus. Aconselho que leia o livro “Evidências que demandam um veredicto” de Josh McDowell

Você escreveu: “O Deus em que acredito jamais seria capaz de cometer as barbaridades descritas na Bíblia.”.

Que você julga serem barbaridades. Que gabarito usou? Para mim Deus tem poder soberano sobre suas criaturas e não cabe a nós discutir isso. Se o dono de uma empresa despede um funcionário porque a seu critério — e somente a seu critério — o considerou desqualificado para o serviço, quem pode discutir? Ele é o dono e ponto final. O primeiro passo para se conhecer a Deus é reconhecer a Deus e respeitá-lo pelo que ele é, não pelo que pensamos dele.

“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a prudência” (Pv 9:10). Se você quer “começar” a conhecer a sabedoria, o ponto de partida é o temor, o respeito de quem sabe que está entrando em terreno santo. Moisés, ao se aproximar da sarça que ardia, foi aconselhado a tirar suas sandálias, porque entrava em terreno santo ao se aproximar de Deus e ouvir sua voz. O segundo passo, que na verdade é consequência do conhecimento do Santo, é prudência. E parece que isto é o que falta em seu linguajar quando fala de Deus de um modo como não falaria de seu pai ou de sua mãe.

Você escreveu: “Ele jamais seria burro o bastante para se comunicar com a sua criação através da palavra escrita.”.

É a este modo de falar que me refiro. Sim, Deus se comunica com sua criação através da palavra escrita, justamente para evitar os “achismos” que você tanto teme. E aquele que se propõe a aceitar o que ele quer dizer, este passa a conhecer o teor dessa Palavra escrita. É aí que entra o Espírito Santo, quando faz sua habitação aquele que crê em Jesus. “Mas, como está escrito: as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.” (1 Co 2:9-10).

Você escreveu: “Um Deus de “amor” que sacrifica seu filho numa cruz para salvar um bando de pecadores alienados?!!”.

Por favor, não queira ridicularizar o que não entende. Como poderia o que é finito julgar o que é infinito? A criatura julgar seu Criador? Como o Filho de Deus é inseparavelmente Deus, jamais entenderemos o que se passou. Mas é suficiente saber que ele nos ama e ao ponto que chegou.

Você escreveu: “E o pior de tudo é que, se tivesse sido assim, esse “deus” quebrou a cara!! Como você mesmo já constatou, o mundo está um caos! De que adiantou o sacrifício de Jesus?!! Nada!! Nem mesmo os cristãos são menos pecadores do que os demais!!”.

Aconselho que leia Romanos. Ser pecador é uma coisa. Ser pecador justificado é outra. Depois que ler Romanos podemos voltar a tratar do assunto da justificação se quiser. O tempo do mundo ainda não terminou. O final de sua frase é verdade: os cristãos não são menos pecadores que os demais. Porém estão justificados, pois Alguém pagou. Dos dois ladrões, que a princípio também agrediram o Senhor na cruz com suas palavras, um foi justificado quando creu. O outro não. O levita e o publicano no templo eram igualmente pecadores. O que pensou ser alguma coisa de si mesmo não foi justificado. O publicano, reconhecendo sua falta, foi.

Se você reconhecer que é um pecador perdido e que não existe em você um átomo sequer de poder para tirá-lo dessa condição, então se humilhará na presença de Deus e clamará por socorro. Então Deus virá ao seu encontro e fará valer o preço já pago na cruz para você. Terá TODOS os seus pecados perdoados pela obra substitutiva de Cristo na cruz. Perderá sua glória, mas ganhará a vida eterna.

Você escreveu: “Não é como quero, mas como a sensatez mostra que é! Quem precisa de um livro para “ouvir” a voz de Deus ou sentir a sua ÓBVIA presença não tem sensibilidade para encontrá-lo!”.

Exatamente. Um pecador com os sentidos tão embotados quanto os meus jamais teria encontrado a Deus. Nem dando trombada. Por isso ele precisou falar comigo através da sua Palavra e o Espírito Santo precisou tocar meu coração para me fazer reconhecer pecador perdido. O Senhor Jesus usou a sua palavra ao resistir a Satanás com o “está escrito”. Aconselho que leia a Bíblia sem preconceitos. Jamais conhecerá o pensamento de Deus com um espírito assim crítico (no mau sentido). E se tem alguma consideração pelo que o Senhor Jesus falou nos Evangelhos, terá que aceitar o Antigo Testamento, principalmente Moisés, pois ele mesmo colocou Selo de aprovação. Já encontrei pessoas que diziam crer somente no que Jesus falou (será você um deles?). Veja que interessante o que ele disse aos judeus, que o rejeitavam por gostarem de ter seus egos inflados:

“Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus? Não cuideis que eu vos hei de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais. Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele. Mas, “se não credes nos seus escritos”, como crereis nas minhas palavras?” (Jo 5:44).

Já não tenho certeza se agi corretamente ao iniciar um debate com você após ter recebido um e-mail seu. Gosto de uma boa esgrima de ideias, sempre respeitando a pessoa que crê, ainda que venha a criticar aquilo que a pessoa crê. Não respeitar pessoas seria negar até mesmo um dos princípios do Cristianismo, o que pode até ter acontecido em meu caso, já que sem dúvida alguma costumo falhar com uma frequência indesejável.

Considerando sua reação tão tempestiva, apoiada pelos que comungam de suas ideias, creio que me deparei com um caso singular de intolerância religiosa sob o pretexto de se iniciar uma nova sociedade “espiritualizada”. Vai mal, de início, essa nova sociedade se seus membros são incapazes de tolerar um pobre ignorante como eu (segundo seus próprios conceitos… e também o que eu próprio tenho a meu respeito). A tolerância e o respeito são primordiais para a convivência e isto começa já na menor célula que é a família. O que se dirá de uma sociedade.

Se a sua intenção é a de criar mais uma seita cujo elemento aglutinador seja baseado nas ideias encontradas em um universo limitado a algumas centenas ou milhares de pessoas que pensam igual, desculpe-me pela minha intromissão. Ela foi uma reação natural aos primeiros e-mails que recebi. Espero que você e seus amigos não estejam planejando um mundo de clones que concordem em tudo. A diferença de opiniões não pode ser jamais motivo para gerar a violência, mesmo que esta venha na forma de palavras (ásperas) enfeitadas com um “glacê” de paladino da justiça e defensor da verdade.

Prefiro pensar que estejam me confundindo com algum “pastor”, padre, ou membro de alguma organização religiosa. Não sou. Aliás, nem mesmo pertenço a alguma religião oficialmente estabelecida. Entendo que o Cristianismo seja como a pura neve que desce do céu, enquanto que a Cristandade (o que os homens fizeram dele) seja o barro formado quando a neve branca entra em contato com esta terra, com as sujeiras deste mundo. Se você me tomou por algum religioso (no sentido dos vendedores de milagres), não é de estranhar que reaja da maneira como reagiu, sem nem mesmo abrir a possibilidade de um debate franco sobre a Bíblia.

Espanta-me porém, o desdém que de um modo geral você e seus amigos têm pela Bíblia. O livro dos muçulmanos, que prega a conversão à espada, não sofre os mesmos ataques. Interessante, não? Por que tanto ódio por este livro? Um livro que conta a história de como Deus interferiu no tempo e na humanidade, fazendo-se carne na Pessoa de Cristo! Seria este o foco de tamanho desprezo? Certamente vocês sabem ter sido este o libelo de acusação usado contra o próprio Senhor: o de expressar ser ele o Filho de Deus feito Homem.

Todavia, se não foi o caso de ter me confundido com algum adepto de alguma “igreja milagreira”, só me resta pensar que você não esteja preparado para debater, que não conheça a Bíblia (como provou não conhecer ao considerar Jesus analfabeto) ou não tenha argumentos inteligentes para refutar tudo o que escrevi, e não aqueles que utilizou tentando ridicularizar a Bíblia.

Você escreveu: “Realmente não apenas a Bíblia, mas todas as publicações similares são escravizantes, escravizam 95% dos seres humanos, inclusive um grande número de intelectuais.”.

É interessante sua opinião, mas se eu lhe disser que foi através da Bíblia que fui libertado da escravidão você acreditaria? Existem coisas que não se pode contestar, e uma delas é a experiência de alguém. Se você me disser que viu um elefante cor de rosa, posso duvidar que seja o animal, mas não posso colocar em dúvida que você tenha tido algum tipo de visão de alguma coisa. Se eu digo que a Palavra de Deus me mostrou o caminho da libertação, e que há vinte anos sou uma nova criatura e vivo uma vida de paz e certeza de minha salvação eterna, com base em que você poderia dizer que isto não é assim? Se digo que sinto amor por alguém, será que você poderia provar ser isto algo falso? Uma experiência pessoal de conversão é algo que transcende o véu. É algo que vem de Deus.

Nicodemos foi confrontado com o novo nascimento e tentou tratar o assunto do ponto de vista da limitada razão: Como pode alguém entrar no ventre da mãe? Perguntou ele infantilmente. O Senhor respondeu que o novo nascimento era uma obra do Espírito de Deus em uma alma. E que tudo tinha por base o fato de Deus haver amado os homens de tal maneira que entregou o seu Filho Unigênito para que todo o que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna.

Você escreveu: “É triste que certas pessoas não consigam se libertar dessa anestesia mental, dessa estupidez crônica e alienante. Você me mandou uma resposta cheia de transcrições de passagens bíblicas e afirmando, entre outros absurdos, que ‘Deus tem a forma de homem’ e que os horrores praticados pelo estúpido ‘Senhor dos Exércitos’ do Velho Testamento (uma criatura sub-demoníaca!) são perfeitamente justificáveis uma vez que nós não podemos compreender os desígnios do que chama de ‘deus’ (aliás, afirma que encontrou essa ‘coisa’, esse ‘deus’, ‘pessoalmente’).”

Mais uma vez uma clara manifestação de intolerância religiosa. Suas palavras poderiam ter sido tiradas da boca (ou da pena) dos inquisidores quando queimavam pessoas que liam a Bíblia. E tudo em nome de Deus. “Anestesia mental”, “estupidez crônica e alienante” são palavras fortes para descrever alguém que apenas tentou expor a razão de sua fé. Você diria o mesmo a qualquer outro que não comungasse de suas crenças ou essa rispidez é reservada apenas aos que creem na Bíblia? É esta a tônica adotada por todos os da confraria a que pertence?

Você escreveu: “Não há necessidade de pedir perdão a DEUS porque jamais se ofende com as nossas mediocridades, encontra-se em um patamar de outra realidade.”.

Você fala com muita certeza. Deve saber o que diz. Mas e se não for assim? E se Deus for diferente do que imagina? Quando me coloco numa posição absoluta em relação a certos assuntos, o faço porque creio na Bíblia como um documento fidedigno deixado por Deus. E se creio é porque vejo nela evidências internas e externas, tanto em sua harmonia, como no cumprimento de suas profecias, que para mim são suficientes. Talvez não o sejam para você, porém até aqui os únicos argumentos que usou foram opiniões, não provas. Gosto de uma boa crítica que seja baseada em fatos. Descer ao nível do mero criticismo não seria demonstrar falta de elementos para discutir, ou em linguagem mais clara, querer fugir da raia?

Você escreveu: “Você defende a ‘fé pela fé’, sem questionamentos!! Quer dizer… O Criador nos deu inteligência, razão e intuição para não usarmos, para aceitarmos as coisas passivamente (Sem dúvidas?!! …Sem questionamentos??!!) Que absurdo!! Antes tivesse criado um bando de autômatos, sem cérebro, sem mente, sem alma.”.

Passei sim pelos questionamentos. Talvez você nunca saiba até que ponto. Você se interessa por manifestações do que diz serem UFOs e até escreveu um livro sobre o assunto? Bem, em 1979 passei duas vezes por experiências assim, uma por espaço de meia hora (tenho minha opinião a respeito do que vi). Você se interessa por mover objetos com o que acredita ser o poder da mente? Ok, já fiz isso. Costuma se ocupar com o que acredita ser transmissão de pensamentos? Também já fiz experiências assim com cores. Detecção de aura? Idem. Pêndulo, radiestesia? Também. Experiências com energia de pirâmides? Idem.

Considerando que esteja envolvido em muitas coisas que me interessavam no passado, me espanta ver que possa considerar “absurdo” crer no mesmo que pessoas como o apóstolo Paulo creram. Você já leu a Bíblia? Você já tentou compreender o primeiro capítulo do livro aos Romanos? Não estou falando aqui de um livro desconhecido, mas de algo que tem influenciado milhões de pessoas por séculos. Não me venha citar os católicos/protestantes, as guerras religiosas, etc., pois tudo isso nada mais é do que a versão humana do cristianismo. E é o que existe mais hoje. Creio que a moeda que sofra mais tentativas de falsificação seja o dólar. Se fazem isto, é porque tem valor. O mesmo se deu com o cristianismo. Mas voltando ao assunto, leia Romanos 1 e depois podemos discutir a questão da fé, pois ali deixa claro que o justo viverá de fé.

Você escreveu: “Por que jogar fora tudo o que já aprendeu e de repente achar-se um idiota que, tudo o que viveu de nada serviu? Você jogou fora uma parte de sua existência como se nada tivesse vivido de bom, de útil, de proveitoso. Quero ficar longe de um Deus assim.”.

Porque encontrei algo melhor. Só por isso. Você pode afirmar que não é melhor? Não, não pode. Os tiranos é que decidem o que é melhor para quem, e não creio que você seja assim. Ainda continuo acreditando que todo o seu rancor contra alguém que conheceu só via bits e bytes se deva a confundir-me com algum membro de alguma seita vendedora de milagres.

Não importa o conceito que você tenha de Deus, ele jamais fica longe de você. (At 17:24) “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra… de um só sangue fez toda a geração dos homens… para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós”.

Você escreveu: “Não consigo compreender isso!!”.

Já experimentou pedir a Deus sabedoria? É a primeira prova de humildade que pode dar ao se reconhecer incapaz de compreender como ele age. Ore a Deus como uma criança faria, sem preconceitos. E fique atento para as respostas. Ele responde, sabia? Não queira compreender tudo, pois isto não seria fé. A fé não anula a razão, mas não espera que esta tenha seu vagão cheio para por o trem em movimento. Não podemos compreender o modo de Deus agir, pois ele é muito mais do que nós. Apenas compreendemos aquilo que ele revelou em sua Palavra, e que achou que era o que deveríamos saber. Há mais, muito mais. Por exemplo, o modo como Deus age em uma pessoa convertendo-a, fazendo com que nasça de novo é comparado em João 3 a um vento que sopra onde quer. Ninguém sabe de onde vem nem para onde vai. Assim, diz a Palavra, é todo aquele que é nascido do Espírito.

Você escreveu: “A humanidade já esta passando por uma fase natural de saneamento. Esperamos que esses malucos de pedra se juntem aos seus “deusezinhos de ira”, aos seus amalucados e prepotentes “Senhores dos Exércitos” e nos deixem em paz para explorar o amor do Criador.”.

“Saneamento…”, “malucos de pedra…”. O saneamento de que fala, o que seria? Uma limpeza étnica? Um holocausto de judeus e ciganos? Uma inquisição dos inimigos da mãe igreja? Ou algum meteoro errante a atrair os menos evoluídos para bem longe da Terra? Repito: Não existe aí um embrião de intolerância religiosa que possa se tornar perigoso? Essa incapacidade de suportar a simples existência de pessoas com opiniões diferentes não me parece muito à altura dos nobres ideais que você quer me fazer crer que comunga. Talvez eu não tenha entendido o que quis dizer sobre os ideais.

Você escreveu: “Vou parar por aqui. Adoro discutir a Bíblia com quem entende, com quem tem estudo e conhecimento de causa, não com decoradores de parábolas normalmente mal sabem pensar e, muito menos escutar. Um dia, espero, você vai reconhecer o mal que está fazendo a si mesmo e o quanto está se distanciado da Inteligência Suprema. Sou um missionário com um grande trabalho destinado a pessoas como você, que querem SER e interagir amorosamente com o Criador, sem fantasmagorias, mistificações, dogmatismos baratos e “sabedoria” decorada. Somos livres pensadores, amantes do uso amplo e irrestrito da inteligência, da intuição e do amor.”.

Uau! Acho que não sou digno de me misturar a gente de tão nobre estirpe! Brincadeiras à parte, deixo vocês para que continuem com seus planos e ideias. Não quero mais importuná-los com minhas vis mensagens. Desculpe se fiz aumentar a acidez de seu suco gástrico levando-o a se alterar e descarregar adjetivos que certamente não devem fazer parte de seu vocabulário usual ou de sua forma de tratar pessoas. Caso você ou alguém queira bater um papo saudável, ou até expor dúvidas e opiniões contrárias sinceras sobre a Bíblia, estarei à disposição.

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Um ministro é ordenado por um presbitério?

Você aparentemente se surpreendeu com minha afirmação de que não encontramos, nas epístolas, um modelo de igreja como o que é visto hoje por aí, com um homem liderando e dirigindo uma congregação. Realmente não encontramos e sua definição para “presbitério” como sendo “residência paroquial; território, população subordinada eclesiasticamente a um pároco; sacerdote que tem a seu cargo a direção espiritual de uma paróquia” pode ser correta do ponto de vista da língua portuguesa, mas não é no sentido bíblico.

A palavra “presbitério” na Bíblia significa simplesmente o grupo de presbíteros ou anciãos de uma determinada assembleia em uma localidade. Você deve ter visto o significado em algum dicionário, o qual obviamente irá dar o sentido comumente usado hoje. Mas as palavras da Bíblia devem ser entendidas em seu contexto, e não segundo os costumes atuais.

Por exemplo, “igreja” é a palavra “eklesia” que significava simplesmente agrupamento de pessoas. Um grego poderia dizer que ali na esquina tem uma “eklesia” quando quisesse dizer que há um grupo de pessoas batendo papo na esquina. Hoje o termo é usado para um edifício de pedras, no sentido de templo, algo que nunca encontramos nas cartas dos apóstolos.

Quanto ao versículo que citou, “Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério” em 1 Timóteo 4:14, para justificar uma liderança e um tipo de ordenação pastoral, o texto indica que aquilo foi claramente uma instrução específica a Timóteo e, mesmo assim, não no sentido de Timóteo ter recebido seu dom de homens, mas de apenas ter sido comunicado do fato de tê-lo e isso ter sido confirmado pelos irmãos anciãos da assembleia onde se reunia. Se acharmos que uma junta de homens tem poder para conceder dons, estaremos entrando em conflito com Efésios 4:8: “[Cristo] subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens”.

Ainda que nos concentrássemos apenas no ato dos anciãos (presbíteros) fazendo essa profecia (comunicação) ou confirmação de um dom, hoje seria impossível reunir os anciãos de uma localidade para fazer isso. Entenda que “igreja” nas cartas era o grupo de todos os cristãos em uma determinada cidade ou localidade (Corinto, Éfeso etc.) e não uma denominação ou organização. Seria hoje como chamarmos de “igreja em Fortaleza” todos os cristãos que moram na cidade de Fortaleza. No estado de divisões que estão seria impossível reunir os anciãos ou pessoas que zelam pelo rebanho para fazerem isso que vê no versículo.

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Cristo levou embora nossas enfermidades?

O versículo ao qual você se refere não diz que todas as nossas doenças tenham sido carregadas com ele na cruz e que, por isso, o cristão não precisa mais adoecer. Vamos ver o que diz o versículo.

(Is 53:4) “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido”.

Este versículo não se refere às nossas enfermidades agora, nem tampouco está se referindo à nossa salvação. Muitos usam este versículo para dizer que ele levou embora nossas enfermidades sobre si de modo que hoje não precisamos mais ficar doentes.

Na verdade este versículo se cumpriu quando o Senhor estava aqui na Terra levando embora as enfermidades daqueles que curava. Se não enxergarmos isso iremos fazer com o versículo o que bem desejarmos. Veja o cumprimento disso:

(Mt 8:16) “E, chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele com a sua palavra expulsou deles os espíritos, e curou todos os que estavam enfermos.”.

(Mt 8:17) “Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças”.

Se eu apontasse a profecia de Isaías e perguntasse a você quando foi que ela se cumpriu, qual passagem do Novo Testamento você me mostraria para dar a resposta? Mateus 8:17. Se eu tivesse que resumir as palavras acima, diria que Mateus está dizendo que lhe trouxeram enfermos e que ele curou a todos para que se cumprisse a profecia que dizia haver ele levado sobre si as nossas enfermidades e nossas doenças.

Portanto o cumprimento da profecia de Isaías 53:4 foi a cura que ele efetuou nas pessoas naquela oportunidade em que andou aqui.

Porém há muita gente ensinando que foi na cruz que o Senhor levou nossas doenças e que agora o crente não adoece mais. Isto seria o mesmo que ensinar que estamos vivendo em um corpo já ressuscitado, o que não é verdade. Paulo tinha uma enfermidade (provavelmente nos olhos), Timóteo sofria do estômago e outros irmãos também adoeciam.

Obviamente na cruz Cristo levou todas as consequências do pecado e nos livrou delas. Porém ainda estamos em um corpo que aguarda a ressurreição, ainda sujeito às consequências do pecado. Não existe na Palavra de Deus nenhuma indicação de que o cristão esteja imune a doenças, ou que Deus cure todas elas de forma milagrosa. Se assim fosse, não morreríamos mais e encontraríamos alguns discípulos do Senhor, que não tivessem sido mortos, andando pelas ruas.

Mesmo assim, devemos orar pelos enfermos e crer que, se for da vontade de Deus, Ele possa curá-los. Mas sempre tendo em mente que Deus não é nosso servo, que não damos ordens a Ele. Se ele curar um enfermo, terá uma razão para fazê-lo. Se não curar, terá também uma razão para isso e devemos nos sujeitar à sua vontade.

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O que Deus não uniu o homem pode separar?

Você pergunta se é possível para o cristão divorciar-se e casar-se novamente por não ter sido uma união de Deus o primeiro casamento. Literalmente, você escreveu que a pessoa em questão alega que o que está escrito em Mateus 19:6 “Assim já não são mais dois, mas uma só carne. Portanto o que Deus ajuntou, não o separe o homem” é apenas para uniões de Deus.

Segundo essa pessoa, que se divorciou e quer se casar novamente, não se aplicaria no caso dele, pois não teria sido Deus quem o ajuntou com a primeira mulher, já que ambos eram incrédulos quando se casaram. Segundo ele, agora sim é que Deus está lhe dando uma esposa, conforme a sua vontade.

Já ouvi esse argumento, o qual, no meu entendimento, é completamente furado. O matrimônio não é uma instituição dada por Deus apenas aos cristãos ou convertidos. É uma instituição universal, dada na criação do homem e da mulher, antes mesmo de existir a lei que foi dada aos judeus, ou a doutrina que foi dada à igreja.

Quando um homem deixa seu pai e sua mãe para se unir à mulher com a qual pretende ser uma só carne, isso é o matrimônio que Deus instituiu no Éden. Há instituições que Deus deu a todos os homens, independente de suas crenças. O governo e a autoridade, e a devida sujeição a ela, é uma delas, uma instituição divina. A instituição do governo foi dada a Noé após ter saído da arca e não foi revogada até hoje. O matrimônio encontra-se na mesma categoria.

Não existe “casamento religioso” como costumamos pensar, com um ministro, pastor, padre ou quem quer que seja unindo um homem e uma mulher em nome de Deus. Você não encontra em nenhum lugar da Bíblia Deus dando autoridade a algum homem para unir um casal. É Deus quem une. Nos países onde a lei exige também uma união civil, aí sim os homens deram autoridade ao juiz, ao chefe da tribo ou a quem quer que seja (e Deus reconhece isso), para fazer a união perante os homens. Mas, perante Deus, ninguém pode dizer “Eu vos declaro marido e mulher”.

Voltando ao caso que mencionou, alegar que Deus não os tinha unido é o mesmo que dizer que viveram todo esse tempo em fornicação pois, se Deus não considerava aquilo como um matrimônio, só podia ser fornicação. E o mesmo poderia ser dito de todas as pessoas que se converteram depois de casados, pois se Deus não os uniu em matrimônio quando eram incrédulos, então deveriam se casar novamente ou estariam vivendo em fornicação.

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O cristão deve se envolver em política?

Sua pergunta me leva a outra: Qual a nacionalidade do cristão? Vou responder com um versículo, porém usando uma a versão literal de Young, em inglês de Filipenses 3:20:

“For our citizenship is in the heavens, whence also a Saviour we await — the Lord Jesus Christ”. (“Pois nossa cidadania está nos céus, de onde também aguardamos um Salvador — o Senhor Jesus Cristo”).

Se o cristão é cidadão do céu, deve ele intervir em assuntos de um “país” que não é seu, o mundo? Nasci no Brasil e, perante a lei, sou considerado cidadão brasileiro. Se vou a outro país, não posso me intrometer na política de lá, ou querer que mudem alguma coisa na economia. Os cidadãos de lá podem muito bem me fazer lembrar que não sou cidadão daquele lugar, portanto lá, usando o ditado popular, “sou o último que fala e o primeiro que apanha”.

No mundo, essa “nação” estrangeira para o cristão, ele é o último que fala e o primeiro que apanha. Sempre foi assim. Antes que você apele para passagens do Antigo Testamento ou até mesmo para João Batista, devo lembrá-lo de que todos eles pertenciam a uma dispensação (modo de Deus tratar com o mundo) muito diferente. O povo de Deus, Israel, efetivamente tinha recebido um lugar neste mundo e devia lutar por ele, fazer valer seus direitos.

Mas e o cristão? Estrangeiro e peregrino neste mundo, que direitos tem ele aqui? Tantos quantos o incrédulo tem no céu, ou seja, nenhum. Quando se intromete em política ou nos negócios deste mundo, quem está com a razão são os incrédulos, que podem dizer a ele o que os homens de Sodoma disseram a Ló:

“Como estrangeiro este indivíduo veio aqui habitar, e quereria ser juiz em tudo?” (Gn 19:9).

O Senhor deixou bem claro que não somos do mundo, como ele não era. Estamos aqui de passagem e nosso papel é tão somente cumprir com as obrigações que Deus coloca em nossas mãos. Mesmo assim, o Senhor mostrou que nossa passagem por aqui não seria muito fácil:

“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.” (Jo 17:14-18).

Você encontra o Senhor querendo derrubar o governo invasor dos romanos? Não. Você encontra os discípulos e apóstolos se rebelando contra Roma ou indo fazer passeatas nas ruas de Jerusalém para tornar o cristianismo uma religião oficial? Não. Será que aqueles que eram convertidos, mas já faziam parte da família real de Roma (parece que há alguns citados na carta de Paulo aos Romanos), estariam tentando obrigar Nero a incluir nas moedas da época a inscrição “Cremos em Deus” ou lutando para o senado romano reconhecer uma “bancada evangélica” entre eles? Não.

Mas alguém poderá argumentar que, se os cristãos não protestarem contra as injustiças deste mundo e lutarem contra elas, poderão ser culpados de omissão. Deixe-me dar um exemplo. Esta semana recebi um e-mail de alguém que procura mobilizar os cristãos contra uma lei que estaria sendo votada no Congresso para transformar a homofobia em crime. Eu concordo que seja crime perseguir seres humanos por suas opiniões e preferências pessoais sobre qualquer assunto.

Segundo o e-mail, se aprovada, essa lei poderia criar um clima de caça às bruxas, transformando em criminosos até mesmo pais cristãos que procuram ensinar seus filhos de que, na Bíblia, Deus condena o homossexualismo.

Se isso vai acontecer ou não, eu não imagino, mas se fosse para os cristãos lutarem e protestarem contra alguma coisa, por que não começar indo à Arábia Saudita para protestar contra o governo de lá que proíbe que o evangelho seja pregado? O mesmo poderia ser dito de todos os países com governos islâmicos radicais. Sabe por que não vou lá fazer isso? Porque não tenho nada que me intrometer nos assuntos daquele país, pois não sou cidadão de lá.

Se estiver passando por lá, devo seguir as leis do lugar naquilo que elas não entrarem em conflito com a Palavra de Deus, o que significa que correrei o risco de ser preso se surgir a oportunidade de testemunhar de Cristo a alguém. Mas, obviamente, vou andar “prudente como as serpentes e inofensivo como as pombas”. (Mt 10:16).

Se tiver que pregar a algum muçulmano, vou tomar os devidos cuidados. Não posso deixar de fazê-lo, se for esta a vontade de Deus, mas não vou tentar fazer isso dentro de uma mesquita. Se me reunir com outros cristãos de lá, não vou fazer isso em praça pública, mas em alguma “catacumba” do lugar, como faziam os cristãos de Roma quando falar de Cristo era proibido por lá. Conheço cristãos em um país muçulmano que, quando querem se reunir, alugam um barco e vão para o meio do Rio Nilo, onde ninguém pode ver ou ouvir o que estão fazendo.

Usarei de todas as formas que puder para obedecer a Deus, mas não procurarei me infiltrar no governo do lugar para tentar mudar suas leis, ou tentar que os incrédulos se submetam àquilo que Deus diz em sua Palavra e adotem práticas cristãs para um mundo cujo príncipe rema em sentido oposto. Os cristãos de Roma fizeram isso e você viu no que deu.

O cristianismo casou-se com o estado e deu à luz a cristandade, essa vergonhosa caricatura do que foi a igreja de Deus no princípio. Essa intromissão dos cristãos no mundo gerou aquela que é mostrada em Apocalipse como uma mulher montada sobre a besta, que se revela como prostituta e acaba sendo devorada pela própria besta que pensava controlar.

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Irei para o inferno por ser homossexual?

Vi que você chegou até mim depois de ler outro texto sobre o assunto, que tenho neste blog. Você escreve que é homossexual, não por opção, mas porque nasceu assim, com atração por pessoas do mesmo sexo. Deus criou o homem e a mulher com papéis claros e definidos. Sei que existem mulheres com excesso de hormônios masculinos e homens com mais hormônios femininos, uma condição que poderia às vezes causar alterações físicas e, talvez, de comportamento. Mesmo assim continua valendo o que Deus criou desde o princípio.

Você escreve como se o homossexualismo fosse alguma espécie de droga da qual o usuário não tem como se libertar, uma atração que governa sua própria vida. Ora, eu sinto atração por muitas mulheres bonitas que passam pela rua, mas isso não quer dizer que eu esteja livre para ir para a cama com elas. Como diz o ditado, “você não pode evitar que as andorinhas voem sobre sua cabeça, mas pode impedi-las de fazer ninhos em seus cabelos”.

Você diz que lutou muito contra esse sentimento e, pelo jeito, sucumbiu ao desejo e arranjou um namorado. E se aplicássemos o mesmo raciocínio para outras áreas da vida? O homem casado, que deseja outra mulher, ou o homem violento, que deseja quebrar a cara de quem encontra (sim, há pessoas que dizem não poder controlar seu desejo de ver sangue), o pedófilo, que sente uma atração irresistível por crianças… e por aí vai. Somos seres racionais, guiados pela razão que é capaz de controlar nossos instintos.

Instintos e desejos nós todos temos. Quem nunca teve vontade de dar uns tapas naquele sujeito que nos fecha no trânsito, fura a fila do banco na nossa frente ou fica buzinando atrás de nós no semáforo? Mesmo assim controlamos nossos impulsos, nossos instintos e não saímos por aí mordendo, defecando em qualquer lugar e acasalando com qualquer parceiro como fazem os animais. Somos seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus.

Meus exemplos podem parecer meio extremos e você até achar que não se aplicam ao seu caso, mas meu ponto aqui é mostrar que não podemos dar a desculpa de sermos controlados por algum instinto, sentimento ou atração. Somos seres humanos e racionais, capazes de exercer autocontrole sobre nossos atos. Ao contrário dos animais irracionais, que precisam desesperadamente acasalar no cio, nós somos capazes de exercer o autocontrole.

Mesmo assim, todos nós estamos sujeitos a desejos e atrações das mais extremas. A questão é: você aceita a Palavra de Deus? Você crê em Jesus como seu Salvador? Você tem um compromisso com Deus, de adorá-lo e viver segundo a sua Palavra? Você é um cidadão do céu?

Se sua resposta a todas estas perguntas for “sim”, então você está sendo responsável, perante Deus, por falhar em fazer a sua vontade. Se for “não”, o que posso dizer? Se você não aceita o que Deus diz em sua Palavra, então não há limites para o que você acredita poder fazer. A questão é que, mesmo não acreditando, a responsabilidade existe e a obrigação permanece e um dia Deus irá cobrar isso de você. Mais uma vez, ao contrário dos animais irracionais, que agem por instinto, somos seres responsáveis que devem prestar contas ao Criador.

Sou homem, heterossexual, sem inclinações ou desejos homossexuais, mas sei muito bem que qualquer pessoa está sujeita a ser irresistivelmente atraída a fazer coisas que são contra a vontade de Deus, seja com pessoas do mesmo sexo ou não. Sentir atração é uma coisa. Ceder e passar da atração à ação é outra.

Sei de homens que foram homossexuais em suas práticas e hoje são convertidos a Cristo. Abandonaram suas antigas práticas e levam uma nova vida de obediência à Palavra de Deus. Se eles continuam sentindo a mesma atração? Pode ser que sim, precisaria perguntar a eles. Como também deve sentir-se o diabético, atraído por doces e sorvetes. Alguns se controlam. Outros cedem e pagam caro por isso.

Você perguntou se irá ao inferno por ser homossexual. Antes que me interprete mal, é bom que entenda que as pessoas não vão para o inferno por serem homossexuais, mas por serem pecadoras, uma condição na qual todos nós nascemos antes mesmo de praticarmos qualquer pecado. Por outro lado, deixar as práticas homossexuais não garante o céu a ninguém. É a fé em Cristo, a conversão a ele, antes mesmo de deixar qualquer prática, que garante a salvação. Uma vez sob “nova gerência”, aí você saberá o que fazer, aí você terá a sua Palavra para guiá-lo e o Espírito Santo habitando em você para lhe dar o poder para viver a nova vida.

Talvez eu possa explicar melhor. Primeiro, tenha em mente que você não precisa fazer coisa alguma para ser condenado por Deus. Todo ser humano já nasce condenado, é sua condição default por causa do pecado. Esqueça aquela ideia de que quem fizer coisas boas vai para o céu e quem fizer coisas más vai para o inferno. Isso não existe.

Nascemos condenados porque nascemos pecadores. Não nos tornamos pecadores por pecar, mas pecamos por sermos pecadores. Por exemplo, uma árvore não se transforma em limoeiro por produzir limões, mas ela os produz por ser essa a sua natureza, é limoeiro.

Então, ainda que eu ou você tivéssemos uma vida toda certinha, dentro dos padrões aceitos pela Bíblia, iríamos para o inferno assim mesmo, a menos que tivéssemos nascido de novo. Nascer de novo, obviamente, não é reencarnar (isso não existe), mas receber uma nova vida de Deus e crer em Cristo como seu Salvador, ganhando dele o perdão dos seus pecados, a quitação de sua dívida.

Não se trata, como você alegou, de confiar em Deus e ter Deus presente em sua vida. A maioria das pessoas diz isso. Obviamente Deus está em toda parte, e até mesmo um pagão acredita em algum tipo de Deus ou força superior. Não é o caso. Estamos falando aqui do Deus, único e verdadeiro, que se revelou por intermédio de sua Palavra e na Pessoa de Jesus, Deus e homem. Por não querer condenar a você e a mim no lago de fogo por toda a eternidade, Deus proveu uma saída: transferiu para o seu Filho Jesus a culpa dos pecados daqueles que creem, e o condenou na cruz como se fosse ele o culpado.

Aqueles que creem em Jesus recebem o benefício dessa transferência, têm seus pecados perdoados (todos eles) por Deus e já desfrutam da salvação assegurada, aqui e agora, e por toda a eternidade. Estão salvos, portanto, e podem ter a certeza disso pela fé naquele que morreu por eles. Então, se me perguntar para onde vou se morrer agora, respondo que vou para o céu, não por ser bonzinho ou coisa do tipo, mas porque Cristo pagou pelos meus pecados na cruz.

Na sua Palavra, a Bíblia, Deus colocou um padrão para que todo homem viva segundo esse padrão. É claro que ninguém consegue viver pelo padrão que Deus estabeleceu, por tratar-se de um padrão perfeito. Se conseguíssemos viver segundo esse padrão, não precisaríamos de um Salvador, não é mesmo? Portanto, neste particular a Bíblia (estou falando aqui das coisas do tipo “não faça isto ou aquilo”) é como se fosse uma placa de contramão. Ela não ajuda em nada o motorista que já está na contramão em uma rua estreita demais para manobrar seu carro. Será multado por isso. E todos nós nascemos na contramão.

Ao se deparar com as placas de contramão que Deus colocou em sua Palavra, você percebe que é culpado e precisa buscar uma solução para si. Quando percebe que é incapaz de “manobrar seu carro”, aí começa o processo que, se você acatar a voz de Deus, resultará em uma ação do Espírito Santo em sua vida transformando-o em nova criatura (seu carro é imediatamente virado por Deus).

Mesmo assim, esses padrões continuam valendo para você conhecer o que agrada e o que não agrada a esse Deus que o salvou. O que a Bíblia diz, por exemplo, sobre o adultério. Agrada a Deus? Não. Fornicação? Não. Homicídio? Não. E por aí vai, até chegar ao homossexualismo, que é condenado das primeiras às últimas páginas da Bíblia. Algumas coisas são chamadas ali de “pecado”, outras de “abominação”. É o caso. Levítico 18:22 diz: “Com homem não te deitarás como se fosse mulher; é abominação.

Há quem argumente que, ao contrário do homicídio, da pedofilia e de outras práticas, o homossexualismo não causa dano a ninguém, já que é praticado por duas pessoas de comum acordo. Mas a questão não é se tratar de algo que ofenda nosso semelhante, mas de algo que ofenda nosso Criador. Como saber se o homossexualismo ofende o Criador? Ora, a melhor maneira é ir à fonte, ao livro que diz ser a sua Palavra e através do qual aprendemos a maioria das coisas que sabemos sobre Deus, o céu, o inferno, os anjos, Jesus, etc.

Para que você tenha uma ideia de como Deus vê o homossexualismo e outras práticas, aqui vai um breve resumo do que é o ser humano aos olhos de Deus, e ele não usa de meias palavras:

“Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.” (Rm 1:21-27).

Mesmo assim, é importante que você entenda que existe uma diferença entre homossexualismo (a prática) e o homossexual (a pessoa). Deus odeia o homossexualismo, mas ama o homossexual. Sobre isto eu já escrevi no outro texto que leu, portanto vamos agora passar às suas afirmações:

Você escreveu: “Somente sinto atração por homens e, não por mulheres…”.

Ok, mas isso não resolve a questão. Se sinto atração por leite condensado e sou diabético, o que fazer? Está bem, me sinto livre para fazer o que quero e me encho de leite condensado. Bem, sofrerei as consequências de meu ato impensado, pois estou transgredindo uma lei da natureza. Sentir atração é uma coisa, pois não temos controle sobre nossos pensamentos. Ceder à atração é outra e aí entra a responsabilidade para com Deus, que é o autor das regras do jogo da vida. Recebemos vida dele? Então…

Você escreveu: “Estou pecando por isso? Estarei condenado ao inferno por isso? Você pode achar que sim… Mas eu tenho certeza que não…”.

Primeiro, se você tivesse tanta certeza de que a vida que leva está correta não teria feito buscas no Google, chegado àquele outro texto de meu blog, que costuma ser encontrado por quem busca por “homossexualismo + bíblia”, e enviado sua opinião fazendo a pergunta acima. Será que estava curioso por saber o que Deus diz a respeito dessa prática? Pode ser. Quanto a eu achar ou não achar algo a respeito do assunto, isso de nada vale. Até eu me atrapalho quando tento seguir minhas próprias opiniões. Mas se Deus achar que sim, então a coisa é séria.

O que você acha? Deus condena suas práticas ou não? Como saber? Bem, só temos um livro que se diz a Palavra de Deus. Ou ele é o que diz ser, ou então é uma enganação das piores, por afirmar ser a Palavra de Deus. Qual das opções você crê ser a verdadeira? Por favor, não diga que é uma questão de interpretação. Pelo que leu da passagem de Romanos que citei acima não há nada para ser interpretado ali que possa fazer o texto significar o contrário do que diz.

Você menciona um conhecido seu, casado, pai de filhos, que mantinha uma relação homossexual e acabou sendo descoberto pela esposa. Do jeito que escreve, parece querer demonstrar que sua forma de assumir isso sem tentar levar uma vida falsa que depois prejudique a outros é como se, ele sim, estivesse fazendo algo errado ao enganar sua família. Essa sua reação é típica de todo ser humano. Costumamos nos comparar a outros achando que isso nos justifica. Sentimo-nos bem fazendo isso, porque obviamente sempre procuramos por algum padrão que seja inferior ao nosso. Então, se fumo, digo que não sou como aquele pinguço que bebe. Se bebo digo que não poluo o ambiente como aquele sujeito que fuma. E assim por diante. Veja qual a atitude correta diante de Deus:

“E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado”. (Lucas 18).

Você falou em alguma forma de libertação, mais como uma curiosidade do que como algo que realmente desejasse. Não tem como você se libertar de moto próprio, mas se a sua vida estiver entregue a Cristo, aí é outra história. A partir do momento em que você nascer de novo, passará a contar com um verdadeiro Pai, o qual cuidará disso. Não que seja um passe de mágica, pois enquanto tivermos um corpo feito de carne e ossos, estaremos sujeitos às mais diversas tentações, sejamos ou não convertidos a Cristo. A diferença é que o cristão tem o poder para superá-las, o que já é uma grande diferença. Embora mesmo ele nem sempre vá querer superá-las, devo reconhecer.

Você alega que o homossexualismo sempre existiu na história da humanidade. Sim, como tudo mais. O tempo não é juiz. Pode curar as feridas, como diz o ditado, mas não transforma algo errado em certo e vice-versa, muito embora às vezes acreditemos assim e acabamos indo pela opinião pública. Todas as práticas humanas sempre existiram. Você praticaria todas elas por isso?

Então, se o ato de extrair uma criança do ventre da mãe e matá-la podia ser uma prática cruel no passado, nas sociedades “mais desenvolvidas”, isso está se tornando uma prática comum. Conheço uma pessoa que tirou um filho porque estava com um cruzeiro para a Europa marcado e não queria ter aborrecimentos. Na volta engravidaria novamente para ter filhos. Hoje parece ser mais normal do que há cem anos, mas o que Deus diria de tal ato?

Na Bíblia as primeiras referências condenando o homossexualismo aparecem no Pentateuco, os cinco primeiro livros de Moisés, escritos há alguns milhares de anos. A mais recente, há dois mil anos, é a referência feita pelo apóstolo Paulo no trecho que transcrevi acima, em Romanos. O homossexualismo ritual era uma prática comum entre as religiões pagãs, e chegou até a ser introduzido no judaísmo. Há referências a isso na Bíblia e Deus condena isso também.

Você cita ainda os animais, e que a prática homossexual é comum entre muitas espécies. Sim, entre os animais há também o incesto, matricídio, infanticídio, canibalismo, etc. Seriam os animais o nosso padrão de comportamento?

Outra menção que fez foi de uma suposta diferença genética nos homossexuais, que os tornariam uma classe diferente de pessoas. Já li sobre isso. Esse estudo foi feito em 1993, mas não passou de uma teoria e nunca foi confirmado. Ao contrário, mesmo depois de 2004, quando completaram o sequenciamento do genoma, ninguém encontrou evidências dessa influência genética no comportamento. Isso é encontrado em vários artigos na Web. Procure por “gay gene” para saber mais.

Mesmo assim, digamos que descobrissem que alguns homens (e mulheres) nascem geneticamente propensos para a homossexualidade. Será que isso os livraria da responsabilidade perante o que diz a Palavra de Deus? Se amanhã descobrirem que alguns nascem geneticamente propensos à infidelidade e ao adultério, iria Deus publicar uma versão corrigida de sua opinião também a esse respeito?

A grande questão é que, primeiro, não somos meros animais, portanto não serão os animais e suas práticas que irão nos guiar. Aliás, no Pentateuco também era previsto e condenado o sexo de humanos com animais, mostrando que isso também é prática antiga. Deveríamos adotá-las por terem sido comuns na antiguidade?

Segundo, Deus criou o homem e a mulher com funções específicas e o homossexualismo arruína esse projeto inicial. Se todos decidissem que o homossexualismo é o melhor caminho, quem iria procriar? Vejo a questão muito como uma busca de prazer próprio, sem ligar muito para as consequências que isso trará a outros ou, o que é mais importante, o que Deus pensa do assunto.

Há também um aspecto simbólico na coisa toda, que é Cristo, apresentado na Bíblia como o Noivo, e a Igreja (o conjunto dos que creem), apresentada como sua noiva. Aparentemente, a própria criação do homem e da mulher, e da relação que deveriam manter, já apontava para isso:

(Gn 2:24) “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”.

(Ef 5:27) “Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível…. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja”.

Aí está. Existe uma intenção muito maior para o plano original de Deus, que transcende o animal e sensorial. Quando vejo homossexuais fazendo de sua prática uma bandeira de vida, me entristeço. Que bandeira pequena essa, que pode durar no máximo algumas poucas dezenas de anos. Quão maior bandeira é possível empunhar, quando conhecemos a Cristo, o Salvador, e quando passamos a desfrutar daquilo que ele preparou para meros pecadores como nós.

Essa bandeira que você está empunhando é tão importante assim para impedi-lo de ir a Cristo e receber dele a salvação eterna? Você deve ir a ele assim como está (não se preocupe em se livrar disso ou daquilo, é ele quem irá fazer isso depois). Sua condição de homossexual não é o que o levará para o inferno, mas sim sua condição de ser humano pecador, uma condição que é também a minha por natureza. Foi por você e por mim que…

“… Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas”. (Jo 3:16-20).

Acho que ficou bem claro que existe um amor que transcende o sensorial, um amor maior, que vem de Deus. Será que existe alguma coisa nesta vida tão importante e valiosa para estarmos dispostos a abrir mão dos resultados do amor de Deus?

Ao contrário do que você diz, sua crença em Deus está sim sujeita a “mensagens escritas”, pois toda a sua vida e cultura foram influenciadas pelo cristianismo que, por sua vez, tem sua origem na Bíblia. É impossível negar. Sua concepção de certo e errado vem daí.

Deus não criou os homossexuais como pessoas nessa condição, mas trata-se de uma tendência que você escolheu colocar em prática. Todos temos tendências das mais diversas, porque nascemos com o gérmen dessas tendências (lembre-se de que nascemos pecadores). Assim, eu e você somos tudo em potencial. Alguns colocam esse potencial em prática, outros não.

Eu poderia aplicar o mesmo raciocínio do “reprimido” que você apresentou para pessoas com outras tendências sexuais contra a natureza. Ou para outras tendências, como roubar, matar, beber etc. Todos nós as temos. Devemos deixar de reprimi-las para evitar efeitos “catastróficos”? Sim, Deus certamente ama você e o considera especial, mas ele tem um padrão e isso não deve ser diluído na palavra “amor”.

A tentativa de considerar sua prática lícita aos olhos de Deus, por existirem outras como “orgias, adultérios, pedofilias”, é um artifício comum a nós humanos, que sempre procuramos encontrar pessoas “mais erradas” para justificar nossos próprios erros. Foi o que fizeram aqueles homens que levaram a Jesus uma mulher pega em “flagrante adultério”, esperando que ele a apedrejasse, como ordenava a lei de então. Se ela foi pega em “flagrante adultério”, onde estava o homem? Talvez eles considerassem que o adultério de uma mulher fosse pior que o adultério de um homem. Jesus mandou que os que estivessem sem pecado atirassem as pedras, esvaziando a praça.

Deus é o padrão. Meus erros não podem ser diminuídos pelos seus, ou vice-versa. O que Deus pensa do homossexualismo? É isso que você deve ter em mente, porque um dia este será um assunto a ser tratado entre você e esse mesmo Deus que você afirma conhecer. Em sua Palavra ele condena as “orgias, adultérios e pedofilias” tanto quanto condena o homossexualismo. Não há como negar isso.

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O que pensar de moribundos que dizem ver familiares que já morreram?

Minha resposta para a questão é que não sei a razão de alguns moribundos dizerem estarem vendo familiares falecidos ao lado do leito de morte. Sei que há relatos sobre isso, mas será que são tão importantes? Deus não disse nada sobre isso em sua Palavra e certamente ele teria abordado o assunto se fosse de importância vital para nós.

Na Bíblia há ocasiões de visões de pessoas que faleceram, como no caso da mulher adivinha que se surpreende quando Samuel aparece a ela para dizer qual o destino de Saul. Os discípulos também veem Moisés (que havia morrido) e Elias (que não havia morrido) se apresentarem ao lado do Senhor no monte da transfiguração. Em ambos os casos acredito que Deus tenha concedido uma permissão especial para que isso acontecesse, mas no segundo caso fica muito claro o que pode acontecer conosco quando algo assim ocorre: erramos completamente na interpretação.

“SEIS dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte, E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele. E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e um para Elias”. (Mt 17:1-4).

A reação dos discípulos foi de sugerir que fizessem três abrigos, um para Moisés, outro para o Senhor e outro para Elias. Imediatamente desaparecem Moisés e Elias e fica só Jesus diante deles e Deus deixa claro que eles estão errando ao colocá-los todos no mesmo nível. É só o Senhor que deve estar diante dos olhos deles.

“E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o. E os discípulos, ouvindo isto, caíram sobre os seus rostos, e tiveram grande medo. E, aproximando-se Jesus, tocou-lhes, e disse: Levantai-vos, e não tenhais medo. E, erguendo eles os olhos, ninguém viram senão unicamente a Jesus”. (Mt 17:5-8).

Assim, se eu estivesse para morrer e meus pais aparecessem diante de mim eu deveria, inicialmente, considerar que aquilo pode ser uma alucinação. Quando o cérebro está fraco demais para processar imagens inéditas, ele se vale de imagens da memória para substituí-las, numa tentativa de economizar seus recursos. Isso acontece com as pessoas que veem alguns tipos de miragens (não aquelas que são puramente efeitos óticos) e alucinações, que são coisas que gostariam de ver, mas que não são reais.

Mesmo que a visão de meus pais falecidos fosse real, ainda assim eu deveria considerar que a visão “maior” que devo buscar é a do Senhor, pois diante dele até mesmo a imagem de grandes servos de Deus como Moisés e Elias simplesmente se desvanece.

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O que você acha do livro “O Segredo” (The Secret)?

Nada de novo, muito pelo contrário. No site diz que a autora, Rhonda Byrne, descobriu “o segredo” no final de 2004:

“Rhonda achava que quase ninguém conhecia as coisas que ela havia descoberto, muito embora os conceitos pudessem ser encontrados em quase todas as religiões e áreas da atuação humana ao longo da história… Em apenas dois meses ela já havia estudado os grandes líderes do passado, lido centenas de livros e acumulado um número incontável de horas de pesquisa”.

Uau! Quantas centenas de livros você consegue ler em dois meses? Leitura dinâmica deve fazer parte do “segredo”. É importante lembrar que o projeto não começou exatamente com um livro, mas com um filme cujo projeto coincidiu com um momento na vida de Rhonda quando ela queria dar uma guinada em sua empresa, a produtora de TV Prime Time Productions. Da Austrália para os Estados Unidos foi um pulo, obviamente dado com as mais avançadas técnicas de produção cinematográfica. O livro apareceu depois nas livrarias do mundo.

“O Segredo” nada mais é do que a velha história do pensamento positivo, da mentalização de coisas boas para atrair coisas boas e todas as ideias que já surgiram por aí dando uma roupa nova àquilo que teve sua origem no Jardim do Éden, quando a serpente (Satanás) disse a Eva: “Sereis como Deus”.

Não li, mas um amigo enviou um vídeo que assisti apenas um pedaço, o suficiente para entender tratar-se de coisa velha em roupa nova. É mais uma tentativa de dizer ao ser humano que ele é capaz de fazer tudo aquilo que desejar, algo como ser capaz de interferir no mundo real manipulando o mundo mental ou espiritual. Em suma, você vai acabar acreditando ser Deus.

Antes de minha conversão eu também acreditava nisso e até frequentei, durante três anos, uma organização chamada Seicho-no-iê que ensinava isso. A mãe de um amigo também frequentava e teve câncer. O mestre lá dizia para ela mentalizar que doença não existe, etc. e tal, para tornar o pensamento em realidade e ela morreu. Segundo ele, não mentalizou direito. Dois anos depois ele também morria de câncer.

Esse tipo de filosofia costuma prometer que TUDO o que você quiser se realizará, que se tiver a atitude adequada, você acabará atraindo para o mundo real aquilo que mentalizar em seu imaginário. Por exemplo, se eu quiser que hoje faça sol e alguém mais quiser que chova, teremos aí um problema de conflito de interesses. Se eu quiser ganhar muito dinheiro, obviamente alguém terá de abrir mão de muito dinheiro, pois a moeda é circulante, não aparece por um passe de mágica.

Dia desses estava numa livraria em um shopping e um autor brasileiro fazia uma palestra-relâmpago em uma seção da livraria. Aparentemente ele tinha escrito um livro revelando o segredo do segredo. De passagem, peguei um pouco do que dizia sobre evitar pensar negativamente e até evitar falar palavras negativas, como “negativa” e “não”. O exemplo que deu foi uma pérola:

Se você percebe que seu filho pequeno está querendo colocar o dedo na tomada, não use a palavra “não” para proibi-lo. Não diga a ele “Filhinho, NÃO ponha o dedo na tomada”. Diga “Filhinho, venha brincar com este brinquedo” e dê algo para ele de forma positiva, e não proibindo de forma negativa.”

Segundo ele, só de pensar em “não alguma coisa” já causa um bloqueio cósmico. Não quis interromper a palestra, mas tive uma vontade imensa de perguntar como ele teria explicado isso, ou seja, como teria ensinado o público a não pensar e falar palavras negativas sem usar a palavra “não”, que usava em quase todas as sentenças de seu discurso. “Não faça isso…”, “Não pense aquilo…”, “Não mentalize coisas negativas…” Seria interessante fazer uma busca e contagem de “nãos” no texto de seu livro.

Eu sei que tudo o que estou dizendo faz ferver o sangue dos adeptos dessas filosofias, porque fazia ferver o meu quando eu fazia parte da turma do “me engana que eu gosto”. Devorava livros de autoajuda, espiritismo, pensamento positivo e qualquer coisa que me ajudasse a acreditar em mim mesmo, pensar que eu sou o máximo e fazer de Deus apenas um adereço. Se livros de autoajuda do tipo realmente funcionassem, não seria preciso escrever mais nenhum. A quantidade de títulos despejada anualmente no mercado só confirma que apenas conseguem criar uma ilusão de poder, fazendo seus leitores acharem que podem se tornar semideuses ou, por que não, deuses completos.

Não era esse o desejo do homem desde sua criação? Eliminar Deus de sua vida e tomar as rédeas de seu destino? O único Homem perfeito que já pisou este mundo — Jesus — deixou claro que, apesar de ser Deus, não veio aqui fazer sua própria vontade, mas a vontade do Pai que lhe havia enviado. E lembre-se de que sua vontade era perfeita.

Quem sou eu para querer realizar minha vontade e TODOS os meus desejos, como promete “O Segredo”, se não tenho a mínima capacidade de saber as consequências disso? Será bom ficar milionário da noite para o dia? Será bom me livrar de algum problema que hoje me aflige? Hoje, na idade em que estou, olho para trás e fico muito contente que muitos de meus desejos não tenham sido realizados. Eu era simplesmente incapaz, na época, de entender todos os desdobramentos caso eles se realizassem.

Já encontrou alguém vivo por aí com mais de 150 anos? Então esse sim descobriu o segredo de mentalizar que a morte não existe e tornou isso realidade, mas não creio que seja a autora de “O Segredo”. Sua mentalização positiva obviamente funcionou até agora apenas para sua empresa. Milhões de livros e DVDs já foram vendidos, mas não é por algo ter milhões de apreciadores que isso torna algo bom. Milhões de moscas saem todos os dias em busca de estrume fresco. Nem por isso devemos segui-las.

Como sempre acontece com as novidades, muitos que se dizem cristãos acabarão entrando na onda e tentarão encontrar paralelos entre essa filosofia e a Bíblia (parece que a autora tenta fazer isso). Mas aqueles que realmente conhecem o Salvador não perderão seu tempo tentando encontrar algum poder em si mesmos para conseguir ou mudar alguma coisa.

O cristão depende do Senhor, não de sua mente. Meu filho, que sofre de paralisia cerebral e, portanto, é incapaz de mentalizar o que quer que seja, não teria chance alguma de ser beneficiado pelo “O Segredo”. Mas ele já foi muito beneficiado pela obra de Cristo na cruz, que lhe garantiu o Céu, e é muito beneficiado todos os dias pelo Senhor, que provê o que ele necessita.

Diante da presença e do conhecimento de Cristo qualquer pretensão humana desaparece e ouvimos o conselho de Maria dado aos que serviam na festa de Caná: “Fazei tudo o que ELE vos disser”, aceitando seu amoroso convite que diz: “Vinde a Mim”. E para aqueles que acham que trazem em si mesmos o poder para fazer o que quiserem e ter o que desejarem, é bom pensar no que Jesus disse: “Quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”(Jo 15:5).

A autora de “O Segredo” diz que “dentro de você há um poder magnético que é mais poderoso do que qualquer coisa no mundo”, que permite que você atraia e torne realidade tudo o que quiser. O Salvador diz que sem ele, você nada pode. Em quem acreditar?

Evidentemente, para quem não tem qualquer esperança de vida eterna; quem não quer que Deus administre sua vida e escolha o que é melhor para si, tudo o que lhe resta é continuar vivendo por enquanto neste pobre mundo com suas promessas e desilusões. Tudo o que lhe resta é ler “O Segredo” e acreditar que, se conseguir tudo aquilo que deseja, poderá ser feliz.

Você dizer que o livro é “Quase uma teoria científica” soa estranho. Eu quase fui presidente dos Estados Unidos. Brincadeiras à parte, você acertou em cheio quando disse: “Simplesmente porque o ‘milagre’ nesse caso não parte de algo sobrenatural ou divino, mas sim de ações totalmente humanas e mortais.”.

Sim, este é o ponto. Nós não apenas não temos o poder de fazer acontecer tudo aquilo que desejamos, como não temos principalmente o poder de distinguir o certo do errado em nossos desejos. Como você sabe que ter muito dinheiro hoje é o melhor para sua vida? Muita desgraça acompanhou riquezas repentinas. O desejo de fazer as coisas independentemente de Deus é antigo, mas quem sabe as consequências disso?

Em suma, ao ler e praticar o que ensina o livro “O Segredo”, a pessoa está mesmo querendo que “seja feita sua própria vontade aqui na terra”, de preferência sem a interferência de Deus. Isso tem um nome na Bíblia, chama-se “apostasia” que é o abandono da verdade, virar as costas para Deus.

Quanto ao que escreveu sobre santos e canonização, isso é algo estranho à Bíblia e foi inventado pela religião católica, da qual não faço parte, que acaba tendo o mesmo efeito do livro “O Segredo”, ou seja, pessoas especiais (chamadas de “santos”) teriam o poder de fazer acontecer aquilo que desejam. Então, ao invés das pessoas correrem atrás de um livro e de seu segredo para obterem o que desejam, correm atrás de um morto para o mesmo objetivo. Isso é também virar as costas Àquele que disse: “Vinde a Mim”. Sim, Jesus convidou e deixou a porta aberta. Por que irmos a um livro, a um segredo ou a um morto se podemos ter acesso direto ao Senhor, o Salvador, para quem e por meio de quem todas as coisas foram criadas.

Sobre as ideias que apresentou ao referir-se ao “livre arbítrio” é bom que saiba que segundo a Bíblia perdemos o livre arbítrio no sentido de não termos poder de fazer o bem ou evitar o mal, apesar de termos condições de discernir a diferença entre um e outro, o que recebemos pelo conhecimento do bem e do mal que veio com a queda de Adão.

É por isso que a ideia de uma evolução humana é uma falácia muito grande. Basta abrirmos o jornal para perceber que não evoluímos nada. Continuamos as mesmas pessoas que há dois mil anos entregaram o Filho de Deus para morrer na cruz. Se ele viesse hoje nas mesmas condições que veio, faríamos o mesmo.

Temos a inteligência dada por Deus, mas corrompida pelo pecado. Se reparar bem, todas as grandes inovações tecnológicas são resultado das guerras, inclusive o computador onde digito isto e a Internet que permite publicar meu blog.

Todavia, vida, inteligência, aprimoramentos tecnológicos etc., são coisas perfeitamente naturais e humanas. O suposto poder de um semideus capaz de interferir nos acontecimentos, como é apresentado no livro “O Segredo”, é apenas uma nova roupagem da pretensão do homem querer ser Deus. Não difere muito do que disse a serpente no Éden: “Sereis como Deus…”.

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Por que os quatro evangelhos não coincidem?

Quando lemos os evangelhos estamos falando de história. Tudo o que sabemos de história é o que alguém registrou, apesar de que, no caso dos evangelhos, estamos falando de um registro histórico e inspirado por Deus. Mas tratando apenas do aspecto histórico, não há como voltar ao passado para constatar se foi assim ou não, por isso nos baseamos em registros. Podemos, isso sim, contestar os registros quando temos outros mais fidedignos. Temos quatro evangelhos que nos falam de fatos acerca de Jesus. Há outros documentos históricos também, mas vamos nos ater a estes.

Você escreveu: “Mas os quatro autores não contaram a mesma história…”.

E não poderia ter sido diferente. Senão teríamos um evangelho e três cópias. Quantos livros você acha que existem falando da vida de Kennedy? Napoleão? Einstein? Nada de estranho até aqui, considerando que quatro homens têm quatro formas de narrar as coisas. Se usarmos este raciocínio, então temos que admitir que Kennedy não foi presidente, Napoleão não existiu, e Einstein é uma fábula. Isto porque seus biógrafos omitem uns fatos e outros não.

Você escreveu: “A árvore genealógica de Jesus contada em Mateus e Lucas é totalmente diferente.”.

Se observar com mais cuidado, verá que Mateus escreveu em Aramaico, o idioma hebraico usual da época e restrito aos judeus. Lucas escreveu em grego, a língua universal da época e comum a todo o mundo ocidental de então (era o inglês do momento).

Se descer aos detalhes, verá que Mateus traz um volume enorme de citações das Escrituras do Velho Testamento, bem conhecidas dos Judeus. Há vários acontecimentos narrados “como disse o profeta fulano”. Tudo indica que ele estava falando de um Jesus previsto na cultura judaica, e mostrando que esse havia chegado. É insistente também em procurar provar que Jesus é o rei há muito prometido para os judeus.

Não é de se estranhar, portanto, que a genealogia apresentada inclua apenas a ascendência real do Senhor, que começa com Abraão, a quem Deus havia dado as promessas às quais todos os israelitas se agarravam, passando por Davi, o rei amado de Israel, e apresentando José como pai de Jesus, mesmo porque José era legalmente o pai. Tenho um filho adotivo cuja certidão de nascimento diz que eu sou o pai e que meus pais são os avós. Ninguém pode contestar o que está em cartório.

Lucas (escrito em grego para os homens em geral) é característico por apresentar a humanidade de Cristo (não a sua realeza, trabalho dado a Mateus). Portanto sua genealogia é para mostrar que Jesus era um homem, vindo desde Adão. Portanto nada de estranho até aqui, se entender que cada evangelista procurava mostrar um aspecto diferente de Cristo.

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Como confiar num livro que contém erros grosseiros?

Primeiro porque geralmente quem critica a Bíblia não conhece seu Autor. Segundo, porque não se pode querer analisar a Bíblia do ponto de vista científico, pois ela nunca foi escrita para ser um compêndio científico. Ela foi escrita para mostrar aos homens o caminho da salvação eterna. Deus quis falar aos homens de coisas mais importantes do que as visíveis, palpáveis e experimentáveis. (2 Co 4:18) “Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas”.

Você afirma que não podemos acreditar em um livro que se originou de manuscritos antigos e que, ao longo do tempo, teve cortes e acréscimos em seu texto original. Eu pergunto: se você tivesse acesso ao original será que iria considerá-lo confiável em suas afirmações? Bem, infelizmente isso não é possível, pois hoje não existe um manuscrito original e acredito que Deus tenha permitido isso para que os manuscritos não se transformassem em objetos de culto, como fazem com o pseudo sudário. Temos hoje apenas cópias segundas, terceiras, décimas, etc. Quanto mais longe a cópia estiver do original, mais sujeita a erros. Pelo menos é assim que deveria acontecer com um texto qualquer. Será que ocorreu o mesmo com os textos bíblicos?

Bem, o livro de Isaías que temos hoje vem de um manuscrito bem posterior a Isaías, e até a Cristo (Isaías viveu 700 anos antes de Cristo). Entre os manuscritos descobertos em uma caverna em Qumran havia um de Isaías, muitíssimo mais antigo que o usado hoje para compor nossas Bíblias. Adivinha? Sim, é idêntico. O cuidado na cópia era tanto, que hoje há manuscritos que trazem uma mancha de tinta na margem, que é repetida nas cópias seguintes.

Geralmente quem diz que a Bíblia que temos hoje foi alterada, não é capaz de mostrar a anterior, a original. Sim, porque para você dizer que algo foi adulterado é preciso ter o original, ou uma cópia anterior. Já viu alguém mostrar isso? Esses defensores da originalidade, que supostamente descobriram tantas alterações, deveriam trazer a público a cópia mais fiel que certamente possuem, para benefício de todos, não?

Quanto aos apócrifos, que você mencionou, e a razão de não fazerem parte do cânon, o critério é simples. Incoerência com o volume todo dos livros mais conhecidos e com maiores provas de originalidade. Já leu algum apócrifo? Experimente. Li um evangelho apócrifo que ensinava a fazer lavagem intestinal.

Você pergunta como é possível crer que um livro foi inspirado por Deus quando há tantas interpretações para ele. Você sabe quantas listas de discussão há na Internet? Milhares. E não apenas sobre a Bíblia. Sobre tudo. História, Ciência, Astronomia, Geologia, Educação, etc. Porque o homem é um interpretador nato. Porque opiniões existem às pencas. Porque cada um quer colocar sua colher no mingau. Isso prova que a História está errada, que a Ciência está errada, que a Geologia está errada, que não devemos mais acreditar na Educação ou qualquer outra coisa? O fato de um grupo de cegos não chegar a um acordo sobre a existência da luz não faz dela menos real.

Você tem razão quando diz que a Bíblia parece ter sido escrita em código para que apenas alguns inspirados possam entendê-la. Só há um meio de se entender a Bíblia, e não é com a mente natural do homem. É preciso dar download em um “plugin” divino, senão não vai funcionar. (1 Co 2:14) “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”

Você não concorda que os cristãos afirmem que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas não são os cristãos que fazem tal afirmação. É a própria Bíblia. Ou é, ou não é. Se não for, deve ser rejeitada completamente, pois não existe um livro mais pernicioso do que aquele que afirme ser a Palavra de Deus e não é. Tem uma Bíblia em sua casa? Se ela não é a Palavra de Deus, tire-a agora mesmo de perto de sua família. É perniciosa. É mentirosa. É vil. Pior que qualquer outra invenção humana, pois está enganando as pessoas. Mas se ela for a Palavra de Deus, renda-se a ela.

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O que significa Reino dos Céus?

Para entender o termo “Reino dos Céus”, é preciso entender que se trata de um aspecto de algo mais amplo. O Reino de Deus é um termo genérico e inclui todos os outros aspectos do Reino, a saber, Reino dos Céus, Reino do Filho do Homem e Reino do Pai.

Reino de Deus — nos fala da manifestação de Cristo para os seus (Mt 12:28). Quando questionado sobre quando viria o Reino de Deus, Cristo respondeu: “o Reino de Deus está entre vós” (Lc 17:21). Por ele ter vindo para estar entre os seus, o Reino de Deus era vindo (Mt 12:28).

Reino dos Céus — é a presente forma do Reino. O Rei foi rejeitado, crucificado e, então, recebido nos céus. O Reino dos Céus inclui todos os que professam o cristianismo (mesmo falsamente). Todos, tanto os verdadeiros como os falsos convivem lado a lado no Reino dos Céus (Mt 13).

Reino do Filho do Homem e Reino do Pai — À medida que termina o tempo do Reino dos Céus, o Reino torna-se tanto o Reino do Pai (nos céus) como o Reino do Filho do Homem (na terra). O Reino do Filho do Homem virá em poder e glória (Mt 25:31 e 24:30), e Cristo reinará na terra por 1000 anos. O Reino do Pai (nos céus) diz respeito àqueles que verdadeiramente creram durante a época do Reino dos Céus e foram recolhidos ao celeiro no céu como a boa semente (Mt 13:30), devendo brilhar como o sol no Reino do Pai (Mt 13:43). O Reino do Filho (sobre a terra) acontece simultaneamente com o Reino do Pai (nos céus). Quando o Reino do Filho do Homem terminar, o Filho do Homem entregará o Reino a seu Pai (1 Co 15:24), fazendo com que o Reino seja o Reino do Pai para toda a eternidade.

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Teremos cicatrizes no céu?

Só um terá cicatrizes no céu: Nosso bendito Senhor Jesus! As mesmas marcas que nós fizemos em suas mãos, pés e no seu lado, nós as veremos como os discípulos as viram após a ressurreição. Mas nenhum daqueles que foram salvos por ele terá cicatrizes. Todos estarão devidamente ressuscitados ou transformados em um corpo glorioso, sem qualquer ligação com seu passado na Terra.

É interessante que o Cordeiro visto em Apocalipse é um “como que foi morto”. A marca da morte estará eternamente associada ao Cordeiro que morreu para nos resgatar. E desfrutaremos mais do conhecimento dessa tremenda obra que ele cumpriu se entendermos que ela foi feita primeiramente para Deus. Somos beneficiados por ela, mas a glória de Deus foi a razão primeira da morte do Cordeiro. Ele é o Cordeiro que tira “o pecado” (singular) do mundo antes de ser o que leva “os pecados” (plural) dos salvos.

Penso assim por causa da cena quando o Senhor apareceu para os discípulos, já com seu corpo ressuscitado. “E dizendo-lhes isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado… Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão e mete-a no meu lado” (Jo 20:21-27).

As marcas do Senhor estavam lá. Um dia Deus colocou o primeiro Adão em um profundo sono, “… e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar” (Gn 2:21). Da ferida do seu lado Deus tirou uma esposa para Adão. Com o “último Adão” Deus fez o mesmo: de seu lado ferido tirou-lhe uma esposa, a Igreja.

Creio haver uma referência profética das feridas do Senhor em Zacarias 13.1-6, figura do Senhor quando se encontrar com seu povo terrenal: “E se alguém lhe disser: que feridas são essas nas tuas mãos? Dirá ele: são as feridas com que fui ferido em casa dos meus amigos”.

Não tarda o momento (talvez hoje!) quando veremos suas feridas, suas marcas do amor. E nunca, jamais, nos cansaremos de contemplar aquele que morreu na cruz por nos. Eternamente.

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Como saber se irei para o céu?

Você escreveu: “Não posso afirmar se ficarei no céu, mas sendo pecadora não posso ser eu a juíza das obras que aqui deixei”. Se fôssemos salvos por nossas obras, então nenhum ser humano seria salvo. Mas acontece que NÃO SOMOS SALVOS POR NOSSAS OBRAS! É o que diz a Palavra de Deus: “Pela GRAÇA sois salvos, por meio da FÉ, e isto NÃO VEM DE VÓS, é DOM de Deus. NÃO VEM DAS OBRAS, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9). Este versículo é bastante claro.

A salvação é por GRAÇA. O que é graça? É recebermos algo que não compramos, que não pagamos, que não fizemos nada em troca, que nem mesmo merecemos. A salvação é pela FÉ. O que é fé? “Fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11:1). Ou seja, você crê no que Deus disse e tem isso por alicerce firme. Você não viu Cristo morrer na cruz levando os seus pecados, você não viu ele ressuscitar; você não viu ele subir ao céu e ser aceito por Deus; você não viu a eficácia de seu sacrifício na cruz; você não o viu substituindo você no juízo divino. Você não viu nada disso, porém você crê naquilo que Deus diz acerca de tudo isso e a fé é então levada em conta.

Fica valendo para você tudo o que Cristo é e tudo o que ele fez, e Deus perdoa todos os seus pecados e a leva para o céu. Fé é crer naquilo que não se vê, mas confiando que aquele que falou é fiel.

A salvação não vem de nós. Tudo o que precisava ser feito para nos salvar, Cristo fez. Quando você aceita a Cristo como seu Salvador, você é salva por ele, e não por seus próprios esforços. Ele é o SALVADOR. Você já ouviu falar de algum salva-vidas que precise da ajuda do que está se afogando para poder tirá-lo da água? É claro que não. Os salva-vidas até preferem que o afogado esteja desmaiado, pois fica muito mais fácil tirá-lo do que ter que lutar com um homem desesperado que não sabe o que está fazendo. Assim é o Salvador: Ele salva aqueles que se rendem a ele; aqueles que reconhecem que não tem mais forças; aqueles que simplesmente o DEIXAM salvar.

A salvação é DOM de Deus, ou seja, é uma dádiva, um presente. Para se ganhar uma dádiva só há uma condição: aceitá-la. A salvação não vem das obras. A única obra necessária para nossa salvação já foi feita há dois mil anos. Ao pecador cabe agora apenas e tão somente aceitá-la para si. As obras não salvam e nem podem ajudar a salvar.

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Vamos reconhecer as pessoas no céu?

Recebi sua carta contendo uma dúvida acerca de nossa vida depois que sairmos desta terra. Creio que iremos nos conhecer e serei conhecido e talvez possamos aplicar 1 Co 13:12 neste sentido. Embora iremos ser transformados, não perderemos nossa identidade. Receberemos, isto sim, um novo nome (diferente do nome que temos agora e secreto) escrito numa pedra branca, o que significa que teremos uma identidade (nome) como indivíduos. Pedra nos fala de indivíduos separadamente (1 Pedro 2:5).

Mesmo antes de recebermos nossos corpos glorificados, se for o caso de morrermos antes do arrebatamento, continuaremos a ter nossa individualidade, ou seja, seremos reconhecidos como indivíduos, pessoas, com certas características. Assim, tanto o rico como Lázaro, em Lucas 16:19-31, são reconhecidos após a morte, com a diferença de que apenas Lázaro é chamado pelo seu nome. Em João 11, o Senhor chama Lázaro pelo nome, para que saísse do túmulo. Ora, se Lázaro tivesse perdido sua identidade após haver morrido, ele não seria mais alguém a quem o Senhor poderia se dirigir da maneira como era conhecido aqui.

Em Mateus 17, Moisés (que havia morrido) e Elias (que fora arrebatado) aparecem com o Senhor e continuam sendo Moisés e Elias, reconhecidos inclusive pelos discípulos. Assim também, os discípulos reconhecem o Senhor depois de haver ressuscitado, exceto quando seus sentimentos ainda estavam fechados, como aconteceu com os discípulos no caminho para Emaús (Lc 24:16-31).

Portanto, irmão, será um grande gozo vermos o Senhor quando partirmos daqui. E será também motivo de muita alegria podermos reencontrar aqueles queridos que partiram antes de nós para a glória. Apesar de alguns acreditarem que no céu não veremos nada além de Cristo e nem iremos querer reencontrar ou interagir com pessoas, é preciso lembrar que quando o apóstolo Paulo escreveu sobre o arrebatamento ele o fez como uma resposta ao anseio daqueles que tinham perdido seus entes queridos que morreram na fé. A passagem fala, obviamente, do bendito encontro com Cristo, mas o motivo de Paulo para tocar no assunto foi nosso reencontro e reunião com os que morreram em Cristo.

(1 Ts 4:13-18) “Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras. ”.

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O que significa “ir para o céu”?

Evidentemente não encontro uma afirmação do tipo “ir para o céu”, mas encontro, a respeito dos que estão salvos, daqueles que creem em Cristo, que: “a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp 3:20-21), e encontro também que os que creem serão “arrebatados… a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Ts 4:17).

Encontro também que o crente já está, posicionalmente falando, assentado nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Ef 2:6), sendo “concidadãos dos Santos” (habitantes da mesma cidade) (Ef 2:19). Cristo foi preparar um lugar para os seus, para que estejam onde ele estiver (Jo 14:1-3), e ele está no céu. (Jo 17:24).

Na Bíblia é bem evidente que a esperança do cristão é celestial, nunca terrenal como acontecia com os santos do Antigo Testamento. No Antigo Testamento, quando o povo escolhido por Deus era Israel, todas as promessas são terrenas: abundância de colheitas, paz terrena, etc. No Novo Testamento, as promessas são celestiais. Aqui importa que o crente em Cristo sofra tribulações (Jo 16:33), mas sua herança está nos lugares celestiais (Ef 1:3).

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É possível ter certeza de ir para o céu?

É frequente eu receber cartas de pessoas que parecem não desfrutar de uma segurança firme com respeito à sua salvação. Se este for o seu caso, saiba que tal situação persistirá enquanto você estiver associando salvação com bem-estar emocional.

A salvação não é apenas uma solução para nossas angústias e tristezas. A salvação que Deus nos dá através de Cristo é a solução definitiva para a questão do pecado, que nos separa de Deus. Como pecadores, merecemos a condenação, a menos que aceitemos a Cristo como Salvador. É só então que estaremos totalmente seguros de nosso destino eterno, que será junto a Deus, no céu.

A certeza dessa salvação é que irá proporcionar descanso e paz aos nossos corações. Mas a paz em nossos corações será apenas um fruto da paz que temos com Deus, quando passamos da posição de inimigos para a de filhos amados, coerdeiros com Cristo de todas as bênçãos celestiais.

Muitos pensam ser impossível termos, agora mesmo, a certeza da salvação eterna e de um destino assegurado no céu. No entanto, aquele que verdadeiramente crê em Cristo pode ter como suas, agora mesmo, todas as promessas da vida vindoura.

Para entender tal salvação, imagine que você foi vítima de um naufrágio, e se encontra no meio do oceano, sozinho na escuridão, tentando nadar para sobreviver. Suas forças começam a se acabar e aos poucos você percebe que está prestes a morrer, sem esperança de ser encontrado. De repente você ouve alguém gritar: “Segure a corda!” Em meio à escuridão você não vê ninguém, mas percebe que há uma corda ao seu lado. Você a agarra desesperadamente e em poucos minutos encontra-se são e salvo em um grande e seguro navio, a caminho do porto. A hora que você se vê no navio, é bem provável que não duvidará mais da sua salvação. Você estava perecendo no mar escuro e agora está em um seguro navio, com comida e sob cuidados médicos.

Assim é a salvação de nossa alma. Todos nós somos pecadores, imersos na escuridão e afundando lentamente em direção ao lago de fogo, com um destino de horrível separação de Deus. De repente alguém diz: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo!” (At 16:31). Sabendo que não tem forças para se salvar a si próprio, você se segura em Cristo, crendo que ele morreu na cruz para pagar o seu pecado. Imediatamente você recebe de Deus o perdão de todos os seus pecados, pois “o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 Jo 1:7), e recebe a promessa de que está livre do juízo de Deus, pois “quem crê nele não é condenado” (Jo 3:18). Você poderá crer que já está salvo, se assim fizer?

É claro que sim! Pois embora continue neste mundo, terá a promessa de Deus, contida na sua Palavra que é a Bíblia, de que está salvo do juízo, porque Cristo foi julgado e castigado no seu lugar. Assim como você estaria salvo no navio, mesmo estando ele no mar, você pode estar salvo em Cristo, mesmo que ainda esteja neste mundo.

Quando cremos em Cristo, ficamos livres do juízo e da condenação que cairá sobre o pecador. Então será horrível, pois não haverá chance de ser salvo. A Bíblia fala, em Apocalipse 20:15 que “aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo”. Para ter seu nome escrito no livro da vida, é necessário que você creia em Cristo enquanto ainda vive neste mundo. Com a morte, ou com a vinda de Cristo, acabam-se todas as chances de salvação.

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A Bíblia tem resposta para tudo?

Não, você não encontrará todas as respostas na Bíblia. Por exemplo, se quiser saber como instalar o Windows em seu computador, é melhor ir procurar em outro lugar. Mas se quiser saber qual a vontade de Deus para você, então deve procurar na Bíblia.

O problema é que às vezes não estamos procurando uma resposta na Bíblia, mas sim a resposta positiva para algum pensamento ou prática que não queremos deixar. Recebo vários comentários e e-mails dos leitores deste blog, mas mantenho um diálogo até o momento em que meu interlocutor se mostre satisfeito com as respostas que aponto para ele na Bíblia ou quando vejo que não é isso que ele procura.

Obviamente a Palavra de Deus não é um livro de curiosidades, mas de Verdade e se alguém deseja realmente conhecer a Verdade mostrará disposição para isso. Quando alguém se mostra deliberadamente contrário à vontade de Deus, então sua procura por respostas passa a ser mais uma curiosidade do que uma necessidade real.

Certa vez uma pessoa me disse que sabia que aquilo que tinha encontrado na Bíblia era a Verdade, mas não era “essa” Verdade que ela queria encontrar. Entendi logo que seu prazer não estava na procura, não na Pessoa de Cristo.

A Bíblia tem todas as respostas que precisamos para sermos salvos e termos uma vida de comunhão com Deus. Obviamente nem todas elas nos agradarão, e se alguém começa desde o início selecionando o que lhe agrada e descartando o que não lhe agrada, então está se julgando mais sábio do que Deus, pois está fazendo uma revisão da sua Palavra.

“Se alguém QUISER fazer a vontade dele, CONHECERÁ a respeito da doutrina” (Jo 7:17). A ordem é sempre esta, e não o inverso. A um coração desejoso de fazer a sua vontade, o Senhor mostrará que vontade é essa. Ou seja, a resposta dependerá primeiro de uma disposição para aceitar e fazer a vontade de Deus, doutra sorte a Bíblia parecerá sempre um mistério incompreensível.

“Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor. Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51:15-17).

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Este site é anticatolicismo?

Não, não é ‘anti-coisa-alguma’, mas apenas uma forma de expressar o que encontro na Bíblia e responder a perguntas como a sua. Vejo que você é uma pessoa preocupada com verdade e coerência. Deve sofrer quando vê pessoas buscando o “Cristo” que melhor se adapte a elas. Ou religiões que vestem a fantasia que melhor se adapte às pessoas que quer conquistar. De reacionários políticos a fãs da Xuxa.

Mas discutir religião não nos leva a lugar nenhum. Você deve ler a Bíblia. Se você crê no Senhor Jesus e em sua obra consumada na cruz do calvário como único meio de salvação, então irei encontrá-lo no céu, seja você católico, batista ou presbiteriano. Pelo menos é o que a Palavra de Deus nos promete.

Pelo pouco que o conheço, não poderia julgá-lo por qualquer outra coisa além do que me disser (julgá-lo no sentido de considerá-lo um irmão em Cristo). É pela confissão de sua boca, de que tem a Jesus como seu Senhor e Salvador, que posso deduzir isso. O coração é algo para Deus sondar e julgar, não para os homens.

Não pretendo gastar o seu tempo e o meu discorrendo sobre erros doutrinários, porque muita gente já fez isto ao longo de séculos de história. Você deve conhecer todos eles e todos os argumentos para refutar qualquer ataque àquilo que tomou como verdade. Não estou muito interessado se você acredita ou não naquilo que diz acontecer na eucaristia católica.

Há milhões de pessoas que acreditavam nisso e estão no inferno porque, ainda que seguissem rigorosamente o rito, nunca creram em Cristo como Salvador. Aceitaram apenas o dogma, e não a Pessoa. Como há outros milhões de protestantes que passaram a vida pregando contra o catolicismo, ao invés de pregar o evangelho, e eles mesmos acharam que ser salvo é ser um não católico ou um anticatólico.

Se meu site lhe passou a impressão de ser anticatólico, desculpe-me, mas não foi a intenção. Costumo selecionar os textos e publico aqueles onde vejo que os prós valem tanto a pena, que posso deixar alguns “contras” passarem pelo filtro. Mas tenha certeza que são muitas as ideias de protestantes que chegam a mim e discordo, pois não passam de igrejismo e não de cristianismo.

Meu problema com o catolicismo vai além do doutrinário. A questão principal está na dúvida e na incerteza em que vivem os católicos, e espero que este não seja o seu caso. Deus não quer que vivamos na incerteza. Você confessa que crê em Cristo. Então tem sua salvação assegurada? Está confiante de que estará no céu com aquele que derramou seu sangue precioso por você na cruz? Tem certeza do seu destino eterno?

A incerteza é fruto da incredulidade por não acreditarmos no que ele disse. Se você receber um cheque de alguém, só irá descansar na certeza de que vai receber o dinheiro se o que deu o cheque for idôneo. Deus promete a salvação a todo o que crê. Ele é idôneo, pode crer.

“Em verdade, em verdade vos digo: quem ESCUTA a minha palavra e CRÊ naquele que me enviou TEM a vida eterna e NÃO ESTÁ SUBMETIDO a julgamento, mas PASSOU da morte para a vida” (Jo 5:24 — Ed. Loyola).

Observe o tempo dos verbos. O Senhor disse que se você ouve (presente) e crê (presente) tem (presente) não está sujeito (algumas traduções dizem “não entrará em condenação”), passou (passado).

Você aceita o que Ele disse? Você ouve a Palavra dele? Certamente. Você crê? Acredito que sua resposta seja afirmativa (e aqui está o “cheque” que você tem no bolso) você TEM a vida eterna, não entrará em condenação ou julgamento, mas PASSOU da morte para a vida. Não é um descanso ter a certeza da eternidade com Cristo? “Quem crê não é julgado” (Jo 3:18). Esta passagem deixa claro que existe uma classe de pessoas que não passará pelo juízo final.

A questão é saber se você já tem paz com Deus (já fez as pazes com Deus). Se não tem, nenhuma religião católica ou protestante irá resolver seu problema. O Senhor Jesus, sim. Ou você acha que ele seja condição necessária, porém não suficiente? Lembre-se de que ele é Deus.

Não é pelo que fazemos ou deixamos de fazer que somos salvos, mas pelo que Cristo fez. Posso ter um passaporte perfeito e querer entrar em outro país, mas se não tiver o visto exigido lá, não entro. Ainda que um ateu ame seu próximo, às vezes mais até do que muitos cristãos, ele se recusa a aceitar seu Criador, o que é algo terrível. Como Deus iria levar para o céu alguém que não quer nem reconhecer sua existência? O céu seria o inferno para tal pessoa. A Bíblia deixa muito clara a questão do caminho que Deus determinou para sermos salvos e me surpreende tantos acharem que, apesar de tão simples, isso ainda é algo radical, inacessível, sem digno de crédito etc.:

“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; NINGUÉM vem ao Pai, senão por mim.” (Jo 14:6).

Quando o Senhor diz “ninguém”, o que será que ele quer dizer? Eu creio que é exatamente o que está escrito.

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Se Cristo levou nossas enfermidades, por que adoecemos?

Não é bem assim. Sei que muitos cristãos acreditam que, na cruz, Cristo tenha levado nossas enfermidades e, por esta razão, só adoece quem não tem fé. Será que é isso? Vamos ver.

O versículo citado está em Isaías: “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido”. (Is 53:4). Como o capítulo fala bastante do calvário, pode dar a impressão que ele tenha eliminado lá todas as enfermidades.

É preciso entender que Isaías foi um profeta e estava, portanto, profetizando algo relacionado ao povo de Israel (os profetas do Antigo Testamento não profetizavam a respeito da Igreja, pois até para eles era um mistério que só seria revelado depois ao apóstolo Paulo).

Assim, se perguntarmos à Palavra de Deus quando foi que se cumpriu a profecia de Isaías sobre as enfermidades do povo, a resposta que o Novo Testamento nos dá é que foi na ocasião descrita em Mateus 8:17, e não na cruz.

“Então disse Jesus ao centurião: Vai, e como creste te seja feito. E naquela mesma hora o seu criado sarou. E Jesus, entrando em casa de Pedro, viu a sogra deste acamada, e com febre. E tocou-lhe na mão, e a febre a deixou; e levantou-se, e serviu-os. E, chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele com a sua palavra expulsou deles os espíritos, e curou todos os que estavam enfermos; para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças”. (Mt 8:13-17).

O texto está dizendo que ele curava as pessoas enquanto estava aqui para que se cumprisse o que profetizara Isaías. O cumprimento da profecia foi em sua relação com o povo de Israel e não em sua morte na cruz.

O problema que acontece com esta e outras passagens da Bíblia é que doutrinas são criadas e depois versículos são escolhidos para ampará-las. E quando alguém mostra a simplicidade da Palavra, respondendo claramente, parece estranho, pois acabará indo contra compêndios e compêndios de dogmas que não passam de distorções da Palavra de Deus.

Na cruz o Senhor levou os nossos pecados. Enfermidades não são pecados, mas consequências do pecado que herdamos de Adão. Paulo era enfermo, Timóteo tinha uma doença no estômago e nem todos os crentes morriam de velhice. Somos salvos, mas ainda vivemos em um corpo que está arruinado por causa do pecado e que adoece, independente da fé e da perseverança da pessoa.

Aguardamos um corpo novo, sem pecado, e aí sim não teremos enfermidades. Dizer que o cristão não está mais sujeito à doença é asseverar que a ressurreição já ocorreu, pois isso só pode acontecer com um corpo perfeito, que não envelhece e não morre. Essa doutrina já existia no primeiro século da Igreja e foi citada por Paulo na segunda carta a Timóteo.

Raciocine assim: Se nossos primeiros avós (Adão e Eva) tivessem obedecido a Deus, estaríamos hoje desfrutando dos benefícios disso sem nem mesmo termos participado daquela decisão. O inverso também é verdadeiro.

Quando você assina um contrato de compra e venda de imóvel, por exemplo, no final há uma cláusula que diz. “… obrigando-se as partes contratantes, por si, seus herdeiros e sucessores…” Ou seja, os herdeiros acabam ficando sob o compromisso de seus pais.

Da mesma forma, se um parente seu falecer e deixar uma herança, você a recebe sem ter feito coisa alguma para merecê-la. O que aconteceu com o pecado é semelhante. Recebemos como herança e o que fizemos com essa herança? Nós a utilizamos (ou será que você nunca pecou?).

Mas você não pode dizer que Deus seja injusto, porque o que Ele fez foi muito além do que poderíamos esperar. Para não deixar que o ser humano sofresse as consequências judiciais do pecado (ser condenado no lago de fogo), Ele providenciou um substituto, Jesus, para morrer no lugar do pecador, assumindo a culpa por nossos pecados. Assim Deus agora pode salvar aquele que crê em Jesus.

Quanto ao estrago que já foi feito (o fato de nascermos com doenças etc.), isso não muda, do mesmo modo como não muda a saúde de um alcoólatra que se converte. Seu corpo continuará trazendo as marcas de seu vício. Assim, nosso corpo continuará trazendo as marcas do pecado (doença, dor, morte) até que seja transformado em um corpo novo e imortal.

A pergunta agora não é querer saber se isso tudo é justo ou injusto. A pergunta é: você já aceitou o remédio que Deus preparou para sua eternidade?

Deus continua curando e devemos continuar orando por isso. Mas a cura não ocorre com base na falsa premissa de que ele tenha levado todas as nossas doenças e que o cristão não precisa mais ficar doente, como pregam alguns. Também não ocorre no mesmo caráter que encontramos nos Evangelhos ou em Atos, quando Deus estava fazendo algo novo e procurando convencer os judeus, “que pedem sinais” (1 Co 1). Hoje não precisamos mais de sinais (“os gregos buscam sabedoria”), pois todo o conselho de Deus já foi revelado em sua Palavra, algo que os primeiros cristãos não tinham como a temos hoje (eles dependiam dos profetas do início da igreja, e dos apóstolos, para saber o que Deus queria deles).

Não, pelo contrário. O cristão não é do mundo, apenas está no mundo como estrangeiro, de passagem. Não tem nada que reinar aqui, pois quem agora reina aqui é Satanás. “Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim;” (Jo 14:30). Também não foi prometida prosperidade para o cristão aqui. “no mundo tereis aflições… Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes”. (Jo 16:33; 1 Tm 6:8).

Ao colocar a cura dependente da fé da pessoa e associar a isso a ideia de que o cristão não adoece, é lançado um fardo terrível sobre o cristão que crê, tem fé, porém está doente mesmo assim. Isso é não entender que a cura, como sinal indubitável de Deus, teve seu lugar principalmente para uma geração que precisava ser convencida de que Deus estava começando algo novo. “Os judeus pedem sinal…” (1 Co 1).

A ideia de que Cristo vive em mim é correta, mas não como alguns tentam colocá-la. Por meio do Espírito Santo de Deus Cristo vive em mim, porém minha carne, a velha natureza, continua em mim também. Caso contrário não haveria necessidade de exortações como as que encontramos nas cartas, pois o crente seria então perfeito. Essa doutrina já foi, de certa forma, ensinada por dois homens chamados Himeneu e Fileto, citados por Paulo em 2 Timóteo 2. Afirmar que o cristão não adoece mais seria afirmar que ele não está mais neste corpo corruptível, o que é o mesmo que dizer que a ressurreição já ocorreu na conversão.

Quem disse que a doença é a ausência de Deus no corpo do enfermo não leu que Paulo era provavelmente um homem enfermo por algumas coisas que diz em suas cartas, que Timóteo tinha uma enfermidade no estômago, razão pela qual Paulo aconselhava que tomasse vinho com água, e que Trófimo não poderia acompanhar Paulo por causa de doença (por que Paulo não o curou?): “Erasto ficou em Corinto, e deixei Trófimo doente em Mileto”. (2 Tm 4:20).

Não, é um engano dizer que o cristão tem autoridade sobre tudo o que acontece em sua vida. Ele não tem qualquer autoridade fora da vontade de Deus, e Deus tem também seus planos quando permite que um cristão adoeça e até mesmo morra. Ou será que não morremos mais? Não é aqui que aguardamos a realização de todas as promessas de Deus, mas em Cristo, quando Ele vier para nos buscar.

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Dúvidas sobre unção e votos

No estado de confusão em que o testemunho de Deus se encontra, cada vez mais você verá os chamados “evangélicos” voltando aos tempos do catolicismo, com todas as superstições, medos e objetos mágicos, como água benta, hóstia, crucifixos, etc. Deus nos libertou de tudo isso, portanto é bom olhar com outros olhos para essas práticas.

Vou tentar responder suas perguntas:

A questão do óleo aparece em Tiago 5:14: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará”.

É importante entender para quem foi escrita a epístola inicialmente: (Tg 1:1) “TIAGO, servo de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que andam dispersas, saúde”.

É importante notar que é uma epístola escrita aos judeu-cristãos, que ainda não estavam totalmente libertos de todas as suas práticas, portanto você verá nela um nível de “alimento” muito diferente daquele encontrado, por exemplo, na carta de Paulo aos Efésios. Tiago está mais para “leite”, coisas básicas e de um período de transição.

Ungir com óleo era uma prática comum no Antigo Testamento e aparentemente também entre os primeiros cristãos. A questão hoje não está exatamente na prática em si, mas onde encontraremos os presbíteros da igreja para fazerem isso. É importante ter em mente que a Igreja de Deus não é o que vemos hoje por aí. Estas são apenas tristes divisões que os homens criaram. Antigamente havia a “igreja em Corinto”, a “igreja em Tessalônica”, etc., mas não eram denominações e nem grupos independentes. Era a mesma igreja que estava representada em diferentes localidades. Então você certamente poderia encontrar pessoas que eram reconhecidas como os presbíteros ou anciãos de Éfeso, etc.

Onde hoje você poderia encontrar, por exemplo, os “presbíteros de Recife”? Não é algo possível, porque, assim como em todo o mundo, os cristãos em Recife estão divididos em diferentes facções e denominações, cada uma com seus próprios presbíteros eleitos segundo métodos próprios. Eu não seria capaz de apontar hoje, com sinceridade de coração e isenção de consciência, alguém como “presbítero” no sentido do que havia no início da igreja. Seria muita pretensão dizer que fulano, sicrano e beltrano que se reúnem onde me reúno são os presbíteros da cidade onde moro.

“Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei” (Tt 1:5).

Era assim que eram, “de cidade em cidade”, não “de denominação em denominação”.

Então já começamos com um problema que é distinguir quem é presbítero para chamarmos para praticar a unção de Tiago 5. Não que vá fazer mal se alguém fizer isso, mas simplesmente não poderá fazê-lo com base bíblica.

Sei que na confusão que reina no cristianismo tem até gente que vende azeite em vidrinhos e coisas do tipo, mas o Senhor certamente cuidará desses logo. Tudo isso é apenas uma versão evangélica de Aparecida do Norte. O ser humano em seu estado carnal precisa ver algo, ter algum objeto nas mãos, presenciar algum ritual para poder sentir-se bem. A fé verdadeira, porém, não vê, não sente, simplesmente crê e descansa em Deus que é fiel.

De qualquer modo, mesmo no versículo de Tiago 5, não é o óleo que tem algum poder mágico de curar o enfermo, mas sim a oração da fé, algo que temos disponível sempre, com ou sem óleo. Quando você fala de “jugo quebrado por causa da unção do óleo” nem imagino do que está falando. Aparentemente é mais uma dessas histórias contadas por pastores para amedrontar os fiéis e deixá-los dependentes de seus rituais. O ser humano é essencialmente supersticioso e muitos pastores se aproveitam disso para mantê-los assim sob seu poder.

De vez em quando ouço falar de maldição que passa de geração em geração e coisas do tipo, tiradas do Antigo Testamento e lançadas como fardos adicionais sobre os cristãos, que não têm mais nada a ver com essas coisas. Como alguém, que foi lavado pelo sangue do Cordeiro, que creu no Salvador e teve todos os seus pecados perdoados, poderia sequer pensar que existe alguma maldição pendente sobre si, ou que algum óleo poderia ter o poder de fazer bem ou mal a si? Seria voltar aos rudimentos, àquelas coisas que os Gálatas estavam voltando e foram repreendidos pelo apóstolo.

Você perguntou se um voto deve ser pago antes do pedido ser atendido ou depois. Quanto a fazer voto, o mesmo acontece. É preciso entender que era um prática do Antigo Testamento, algo como fazer uma promessa para receber algo em troca. Em Atos, Paulo faz votos, inclusive querendo parecer estar no judaísmo, algo que não estava certo. Devemo-nos lembrar de que quando lemos “Atos dos Apóstolos” estamos lendo sobre o que os apóstolos fizeram, seus atos, o que nem sempre encontra respaldo na vontade de Deus.

Se ler direito o que aconteceu com Jacó, verá que Deus não lhe pediu que fizesse voto algum. Deus queria agir em graça (favor imerecido) e Jacó foi inventar o voto, porque ele sempre foi um homem de truques e estratagemas. Veja o que Deus prometia de forma incondicional:

“… Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência; e a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão. E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado”. (Gn 28:13-15).

O que Jacó precisava fazer para receber isso? O que Deus disse que queria dele para, em troca, multiplicar sua descendência como o pó da terra, estar sempre com Jacó, guardá-lo por onde quer que fosse, fazê-lo voltar à terra, etc.? Nada. Absolutamente nada. Tudo aquilo Deus daria porque queria dar. No entanto, Jacó inclui um “SE” na história…

“E Jacó fez um voto, dizendo: SE Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; e eu em paz tornar à casa de meu pai e esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo”. (Gn 28:20-22).

Portanto, esqueça essa ideia de fazer votos e confie na graça de Deus. Não há nada que possamos dar a ele que ele já não seja dono. Ore, peça, mas não queira fazer barganha. Deus é um Deus de graça, um Deus que ouve orações, que sabe muito bem o que é melhor para nós e saberá fazer as coisas à sua maneira no momento certo.

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O que diz das curas e milagres que mostram na TV?

Você se diz impressionado com a facilidade com que as pessoas parecem ser curadas em alguns programas evangélicos na TV, e pelo jeito isso tem abalado sua fé, já que vê tantos irmãos e irmãs onde costuma se reunir que estão com doenças graves e nada acontece.

Não é preciso assistir muitos desses programas de TV para entender que “tem coisa ali”. Não digo que todos eles sejam um engodo, pois se alguém disser que foi curado, que direito tenho eu de duvidar do que disse? Mas posso duvidar da realidade de sua doença. Conheci uma pessoa que se dizia curada de câncer, doença “diagnosticada” por uma funcionária de um hospital onde ela foi fazer uns exames, que a viu pálida e disse “Nossa! Você parece que está com câncer!”. Evidentemente, com um diagnóstico assim tão preciso qualquer um pode ser curado de qualquer coisa.

Eu particularmente não acredito em tudo o que esses pregadores de carnê vendem na TV e no rádio. As possibilidades são de cura real (remota, mas obviamente não podemos limitar o que Deus pode fazer), armação (sim, você nem imagina quanto tem por aí) ou placebo (o mesmo efeito psicológico causado por remédio de mentirinha). Pessoas que se acham enfermas (ou podem mesmo estar) às vezes são curadas por uma simples mudança de atitude ou por tomarem um placebo, aqueles medicamentos feitos de farinha que são dados em pesquisas para o grupo de controle, ou mesmo no tratamento de doenças de fundo psicológico.

Quanto às possibilidades de enganação, se conhecermos bem o ser humano não nos surpreenderemos com o que ele é capaz de fazer para ganhar dinheiro e poder. Um dia peguei um taxi em Fortaleza e o motorista contou que levou um homem do aeroporto ao hotel e o passageiro pediu para ele passar mais tarde para levá-lo em outro lugar. À noite ele voltou ao hotel e o homem veio caminhando perfeitamente bem com suas próprias pernas e com um par de muletas debaixo do braço. Pediu para levá-lo em um templo evangélico desses que prometem cura para todos os males. Quando ele parou em frente, o sujeito desceu do taxi apoiado nas muletas e entrou no templo arrastando os pés, como se tivesse acabado de ficar paralítico. Nem preciso dizer o que ele iria fazer ali, né?

Uma vez dei carona para um homem bem simples que dizia frequentar uma pequena igreja pentecostal de seu bairro. Ele disse que gostava dos cultos, mas achava que o pastor não fazia o serviço direito, porque sempre via as mesmas pessoas que foram libertadas de algum demônio voltarem lá para serem libertadas outra vez. Obviamente a igreja devia ser pobre e contratava sempre os mesmos atores para a sessão de exorcismo.

Um irmão do Canadá, que trabalhava numa editora cristã lá, me contou que a editora precisava contratar alguém e colocou um anúncio no jornal para serviços gerais. Apareceu um candidato à vaga. Quando perguntaram de sua experiência, provavelmente para mostrar que já tinha experiência no meio evangélico, o rapaz contou que tinha trabalhado para uma determinada religião para ser curado em diferentes cultos, aos quais comparecia com diferentes doenças. Ora ele era cego, ora paralítico e assim por diante.

Eis o que eu penso do assunto. A fé verdadeira não depende de sinais ou milagres para se manter; não depende do que é visível. “ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem.”. “Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram”. (Hb 11:1; Jo 20:29).

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Já não fomos curados pelas chagas de Jesus?

Para mim está muito claro em 1 Pedro 2:24 que o apóstolo está se referindo à cura dos pecados, e não de doenças físicas. O versículo não fala de feridas ou chagas de doenças, mas das que foram resultado da morte do Senhor na cruz, com o explícito propósito de nos salvar. Interpretar “por suas chagas, fostes sarados” da passagem como cura do corpo físico é tirar as palavras do contexto e limitar a obra expiatória de Cristo na cruz às necessidades momentâneas desta vida.

O que tem valor eterno na obra de Cristo, as curas de enfermidades físicas que ele praticou aqui em pessoas que depois acabaram morrendo, ou a cura do pecado? Experimente ler todo o contexto, sem isolar o “por suas chagas, fostes sarados”:

“Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados PORQUE éreis como ovelhas desgarradas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas”. (1 Pe 2:24).

“porque” aqui é o motivo de terem sido sarados: eram como ovelhas desgarradas, mas agora (depois de terem sido sarados) voltaram ao Pastor e Bispo de suas almas. Lembre-se de que ele está se dirigindo primeiramente aos judeus dispersos, que tinham as promessas de um Salvador incorporadas em sua própria cultura como judeus que eram: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia…”. O apóstolo lhes faz lembrar que Cristo é a consumação das promessas que antes foram feitas.

Você escreveu: “Estou vivendo e pesquisando a Palavra de Deus há 25 anos, especialmente no que diz respeito à cura.”.

Existe uma grande margem para o engano quando estudamos a Palavra de Deus com um objetivo apenas em mente, como você diz estar fazendo. Ao decidir ler a Palavra para procurar nela tudo o que diz respeito à cura, é muito provável que acabe enxergando o assunto até onde ele não existe. Muitas heresias foram criadas por pessoas que fizeram o caminho de marcha à ré na leitura da Palavra, quero dizer, partiram de uma ideia pré-concebida e foram à Bíblia procurar versículos que dessem sustentação à sua ideia.

Há cristãos que querem guardar a lei mosaica, porque encontraram os dez mandamentos na Bíblia, outros que constituem um clero de sacerdotes com vestes longas, porque também acharam isso na Bíblia, e há até religiões ditas cristãs cujos membros se reúnem para manusear serpentes venenosas com as mãos, porque encontraram isso também na Bíblia.

O fato de algo estar na Bíblia não torna isso automaticamente verdade, a menos que seja visto dentro de seu contexto e sob a luz do Espírito Santo. Enxergar dentro do contexto é ver o que foi dito antes, o que foi dito depois, para quem aquilo foi inicialmente falado, em que época, em que lugar, em que condições e, principalmente, se sua aplicação agora glorifica a Cristo (ou satisfaz os desejos da carne e exalta o homem).

Por exemplo, no tempo de minha incredulidade lia muita coisa ligada ao esoterismo, ocultismo e temas fantásticos. Lia livros de autores que encontravam discos voadores por toda a Bíblia e a usavam para justificar suas ideias. Isso porque eles liam querendo encontrar discos voadores ali, então, como diz o ditado, “para o martelo, tudo o que vê é prego”.

Você escreveu: “Nosso exemplo é Jesus, será que ele teve doenças?”.

É claro que não, porque ele não tinha pecado, nasceu sem pecado, viveu sem pecado e era impossível a ele pecar. “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”. (Hb 4:15 — outra tradução diz: “but tempted in all things in like manner, sin apart”.) Devemos nos lembrar também das palavras do anjo a Maria:

“E, respondendo o anjo, disse-lhe: descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus”. (Lc 1:35).

Ao nos comparar com o Senhor (ou o Senhor conosco) querendo inferir que, se ele não tinha doenças, nós também não devemos ter, fico a pensar se você realmente sabe de quem está falando quando fala de Jesus. Embora na forma humana, existe uma distância infinita entre ele e sua criatura arruinada pelo pecado. Enquanto ele, que é chamado de “o Santo” e “Filho de Deus”, veio a este mundo concebido pelo Espírito Santo e nascido de uma virgem, o ser humano nasceu pecador e traz em si a corrupção de sua carne. Por isso adoecemos e, finalmente, morremos, algo que nunca teria acontecido com o Senhor Jesus se ele não tivesse dado sua vida.

O Senhor não apenas não tinha doenças, como também não tinha o princípio da morte ativo nele. Ele não estava sujeito à morte, isto é, ninguém poderia matá-lo, fossem doenças, acidentes ou homens. Obviamente não é o seu caso e nem o meu, que vivemos por um fio. Se ele morreu, foi porque entregou sua vida.

Veja que existe uma diferença entre morrer e entregar a vida. Nenhum de nós consegue evitar a morte (a menos que Cristo volte antes) por mais saúde que tenha. Somente depois, com um corpo ressuscitado, é que estaremos imunes à doença e à morte. Antes disso, não. Ou você acredita que vai ser curada indefinidamente e jamais experimentar os estertores da morte se o Senhor não voltar antes disso?

Cristo, por não ter em si a natureza pecaminosa que temos, era totalmente imune à doença e à morte. Como morreu então? Entregou sua vida, algo que não podemos jamais fazer porque não temos poder para tanto.

“Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a toma-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho autoridade para a dar, e tenho autoridade para retomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.” (Jo 10:17-18).

Nem eu, nem você, podemos decidir morrer, dizer “agora, vou morrer”, e simplesmente entregar a vida, deixar de viver, só porque decidimos isso (obviamente não estou falando aqui do suicídio que é alguém aplicar sobre si mesmo uma ação externa de matar). Cristo podia fazer isso, tinha autoridade para dar a vida e retomá-la quando quisesse. Mas mesmo assim, ele não a retomou de sua própria vontade, mas Deus o ressuscitou. Ele não fazia coisa alguma por sua própria vontade quando esteve aqui.

Houve um momento na cruz em que Cristo simplesmente entregou sua vida, deixou de viver, algo que não imaginamos como pode ser feito. Assim foi sua morte. “Entregou o espírito”. Quando o soldado furou seu lado com a lança, furou o corpo de um morto, e foi do corpo de um Cristo morto (e não enquanto estava vivo) que saiu o sangue da expiação dos pecados.

Você escreveu: “Muitos cristãos evangélicos estão enfermos por diferentes causas, só alguns exemplos: mágoa, raiva, ressentimentos… Inveja… Maldições que carregam de antepassados (doenças hereditárias), não conhecem sobre como os demônios enganam com doenças, enfermidades, não tem fé para ser protegidos dos trabalhos de macumba e outros ataques do reino das trevas, não conhecem o Poder e Autoridade que o Senhor Jesus nos tem entregado…”.

A relação de males que você citou me fez lembrar o cardápio desses programas de pastores na TV repreendendo doenças e demônios a seu bel prazer, alguns chegando ao ponto de entrevistarem demônios e zombar deles, ao vivo e em cores. Essas pessoas me fazem lembrar-se do que o apóstolo Judas escreveu sobre o modo como alguns tratavam as potestades (sim, os demônios são, apesar de tudo, anjos, portanto superiores aos homens na hierarquia que Deus estabeleceu):

“Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda. Estes, porém, (os ‘falsos mestres’ que ‘rejeitam toda autoridade e blasfemam das dignidades’) dizem mal do que não sabem; ; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem.” (Jd 1:9-10).

Você escreveu: “Como você vai viver como um verdadeiro filho de Deus com o poder, a autoridade, o domínio e a soberania que Deus nos entregou, se você não tem certeza disso e não sabe a magnitude e ilimitado Poder e Autoridade que nós filhos de Deus temos.”.

O cristão não tem poder algum, não tem autoridade alguma, nem domínio ou soberania. Todo o poder e autoridade pertencem a Cristo e a primeira coisa que o cristão precisa aprender é não abusar disso e só se valer dessa autoridade pela vontade de Deus e para sua glória, não para satisfazer seus desejos pessoais. Multidões enchem templos hoje em dia correndo atrás de dinheiro, romance e saúde, e isso é alardeado em todos os canais de rádio e TV porque é isso que todo ser humano quer. Então se promete poder para conseguir tudo isso e, evidentemente, fica muito claro que o nome de Cristo está sendo usado indevidamente.

Um policial tem autoridade delegada a ele pelo governo de seu país, mas ele deve estar bem ciente de como usar essa autoridade. É claro que ele pode prender quem ele bem entender, e o cidadão precisará se sujeitar a essa autoridade que a farda lhe concede, mas depois o policial terá que dar conta do abuso de autoridade que cometeu. Assim também, há muitos que hoje abusam da autoridade de Cristo, alguns que nem mesmo pertencem a ele (Judas Iscariotes deve ter praticado curas e milagres também fazendo uso da autoridade de Deus).

Nunca se esqueça de que há um grupo de pessoas que serão repreendidas por Cristo, e não são pagãos ou feiticeiros, mas cristãos nominais que usaram o nome de Cristo sem nunca o terem conhecido. O Senhor chamou de “iniquidade” o uso indevido de seu nome e poder:

“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”. (Jo 7:22-23).

Conhecer a Cristo em função daquilo que ele fez (e evidentemente pode fazer) por nossa vida aqui é colocá-lo em um patamar muito baixo, é desejá-lo apenas como um amuleto para resolver nossos problemas passageiros. Ele mesmo nunca confiou nas pessoas que o buscavam com essa intenção:

“E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia”. (Jo 1:23-24; 6:26).

A ocupação do cristão deve ser com um Cristo vivo, no céu, com a eficácia do seu sacrifício por nossos pecados, com sua formosura, sua aceitação diante de Deus, com toda a sua Pessoa, e não com as dificuldades passageiras desta vida. Evidentemente devemos orar a Deus pelas nossas dificuldades, mas fazer delas o centro de nossa atenção e devoção é perder de vista o fato de que este corpo fatalmente irá se deteriorar dia após dia e que não é nele ou aqui nesta vida que teremos realizadas todas as promessas de Deus para nós, mas quando estivermos transformados, ressuscitados em um corpo à semelhança daquele que ele hoje tem.

“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas. Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas”. (Fp 3:18-21).

Finalmente, lembre-se de que Deus usa até mesmo as enfermidades para nosso aprendizado, e você encontra na Bíblia, enfermos que nunca foram curados, como Paulo e Timóteo. Se Deus permitir que um cristão seja enfermo enquanto viver aqui, o que fazer?

Tenho um filho portador de paralisia cerebral, cego, que não fala e nem anda. Deveria me atribular por achar que isso se deve a falta de fé dele ou minha? Pelo contrário. O que importa é que Deus seja glorificado em tudo, na saúde ou na doença, porque tenho certeza de que aqui não é o lugar e nem a condição adequada ao cristão.

Se vivermos somente por vista, passaremos a vida angustiados, querendo ver sinais e maravilhas, só encontrar pessoas saudáveis, ricas e felizes, como prometem os pregadores da prosperidade. Porém, para o cristão que vive pela fé, Cristo é suficiente e a sua vontade, que pode inclusive incluir que alguém testemunhe dele no leito de enfermidade, será sempre aceita como a melhor. O cristão não vive com seus olhos aqui, onde Satanás e o pecado prevalecem, mas lá, onde Cristo está.

“Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas”. (2 Co 4:16-18).

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A Bíblia condena a doação e transplante de órgãos?

Não encontro na Bíblia qualquer referência ao assunto (mesmo porque isso não existia). No Novo Testamento o Senhor ensina justamente o desprendimento para com a própria vida (e corpo), ao ponto de ele próprio ter dado sua vida para nos salvar. Ou seja, sabemos que nossa vida não se limita a este corpo, e se for preciso até mesmo que um cristão morra para salvar seu semelhante, isso é visto como um ato de amor, não de desprezo para consigo mesmo.

“Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.” (Jo 15:13).

A ideia das Testemunhas de Jeová que tentam associar doação de sangue à proibição bíblica de beber sangue é pura bobagem. Ninguém bebe o sangue quando recebe uma transfusão. Aparentemente os membros dessa religião podem aceitar transplantes desde que a cirurgia seja sem transfusão. Ora, já viu algum órgão sem sangue? O fígado é praticamente uma esponja embebida de sangue. A proibição bíblica foi no sentido de se beber sangue de animais, prática comum entre povos pagãos, por isso não é correto para o cristão comer alguns alimentos que sejam preparados com sangue.

Boa parte de nosso corpo está sendo “doada” o tempo todo, consumida por bactérias ou outros microrganismos. Nossa pele está sendo comida o tempo todo por milhões de ácaros. Nossos cabelos vão ficando por aí, nossas unhas também, e pele então, nem precisa falar. Cada célula do nosso corpo vai sendo substituída ao longo da vida por outra nova e, no fim, acabamos servindo de antepasto para os vermes. Acho que se, antes disso, usássemos nosso corpo para beneficiar alguém, estaríamos agindo conforme o sentido do amor ensinado pelo Senhor.

“Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.” (At 20:35).

A preocupação com a ressurreição faz com que alguns evitem doar ou receber órgãos. Digamos que eu receba o coração de alguém que morreu e aí vem a ressurreição. Com quem fica aquele coração? Bem, o corpo que temos agora não vai entrar no céu, mas será transformado em um corpo novo. De uma forma ou de outra, ele vai desaparecer neste estado atual, seja pela morte e deterioração, seja pela ressurreição. Assim, um amputado ressuscitará com um corpo perfeito e completo.

Alguém que nasceu sem seus membros ressuscitará completo também. De onde vieram aqueles membros que ele não tinha? Aplique a mesma ideia para quem doou seus membros. Até mesmo alguém que tenha sido pulverizado por uma explosão atômica, de cujo corpo só restou uma sombra impressa na parede (como aconteceu com muitos em Hiroshima e Nagasaki), receberá um novo corpo, os salvos, para entrarem com ele no céu, e os perdidos, para entrarem com ele no lago de fogo.

Obviamente, como tudo mais, por não se tratar de algo explicitamente determinado na Palavra de Deus como certo ou errado, o cristão deve ter um exercício de buscar saber qual a vontade do Senhor para sua situação específica e pedir por sabedoria para decidir. A Bíblia não é um livro de regras (como foi para o judeu o Antigo Testamento) do tipo faça isso, não faça aquilo. Se fosse, o cristão não precisaria do Espírito Santo e do discernimento que ele dá. Por exemplo, eu nunca vou encontrar na Bíblia a resposta para saber se posso ou não obturar um dente, usar computadores ou viajar de avião.

“E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente” (Tg 1:5).

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É errado usar a palavra ‘ídolo’ e ‘adorar’?

Você menciona o que escrevi em uma de minhas crônicas: “… O banal virou motivo de júbilo e, na falta de ídolos confiáveis, adotamos o piloto como herói…”. Sua dúvida é se não estou contrariando a Palavra de Deus no que diz respeito à idolatria.

Obviamente não estou falando de idolatria, mas de heróis. Se eu digo que meu ídolo é o Roberto Carlos, estou usando o sentido que os dicionários dão como “pessoa ou coisa muito admirada”. Ou será que alguém poderia achar que tenho em casa um altar com uma imagem do Roberto Carlos, diante da qual me curvo e faço minhas orações? Certamente não, mas tudo é possível, depois que descobri que existe até uma igreja que adora o Maradona!

De qualquer maneira, uso a palavra apenas no sentido de admiração, e tenho certeza de que 99% de meus leitores devem ter entendido assim. Nosso vocabulário é cheio de nuances que às vezes podem causar dificuldades de acordo com a carga cultural que uma pessoa recebe.

É comum recém-convertidos se apegarem com muita força a questões de vocabulários, ou por um zelo excessivo que é comum à conversão, quando às vezes sem querer acabamos “cozinhando o cabrito no leite da mãe”, (Dt 14:21), ou seja, usando algo que foi designado para alimentar como instrumento de morte, que é o que às vezes fazemos batendo com a Bíblia na cabeça das pessoas (não literalmente, claro).

É comum também alguns pregadores se apegarem a detalhes dos meios de comunicação para fazerem alarde sobre isso, como aconteceu no tempo do He-Man e das comparações que alguns pregadores faziam com a Bíblia. Acontece também com alguns que vivem encontrando coisas nos desenhos animados da Disney e, de repente, ajudam a fazer muitos cristãos correrem para as locadoras e pegar o DVD só para conferir. A Disney devia dar comissão a esses pregadores.

Uma ocupação excessiva com o mal (há pregadores que ficam supostamente entrevistando o diabo em suas reuniões) certamente não é de Deus. O mesmo cuidado (excesso) deve ser tomado quando a questão é o vocabulário, pois este muda seu significado dependendo do tempo e lugar.

Por exemplo, eu posso perfeitamente dizer que adoro jaca e ninguém de sã consciência iria pensar que faço peregrinações a plantações dessa fruta para pagar promessas. Também adoramos pessoas no sentido de amar, o que não tem nada de errado porque o contexto claro é de afeição. Se eu disser que adoro sol, fica claro que gosto de praia, mas se disser que adoro “o Sol”, então pode parecer que eu seja descendente de algum faraó egípcio.

Portanto quem interpreta uma expressão deve interpretar também o contexto para não ser purista demais. Conheço um rapaz que não diz “obrigado”, só diz “agradecido”, porque ele acha que dizer “obrigado” está errado, porque o outro que fez algo digno de agradecimento não fez por obrigação ou “obrigado”. Aí ele perde boa parte de seu tempo tentando corrigir pessoas que dizem obrigado a ele e que, dez minutos depois, já estão arrependidas de terem agradecido.

Veja, por exemplo, a palavra “igreja”. Hoje todo mundo entende como um templo feito de tijolos quando você diz que vai à igreja. A palavra acabou assim, deturpada, mas foi o que restou dela. Mas o seu sentido “bíblico” também é uma deturpação do sentido original grego de Eclésia ou Eklesia. No sentido bíblico comumente aceito ela quer dizer a reunião de todos os cristãos ou de um grupo local de cristãos, como era a igreja que estava em Corinto. Ou quer dizer a união total dos salvos, o corpo de Cristo.

Mas, no original, a expressão queria dizer qualquer agrupamento de pessoas. Você encontra a palavra em Atos (no original grego) falando de ajuntamento de pessoas que não tinham nada de cristãos, como é o caso de Atos 19:32, 29 e 41. Assim, há dois mil anos se você ouvisse um grego dizer que ia à igreja, ele podia estar se referindo a um motim, a uma reunião do sindicato, a uma reunião de uma quadrilha de bandidos ou a qualquer coisa. Daí a importância de entendermos o contexto em que cada palavra é falada.

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Os costumes citados em Coríntios valem para hoje?

Sua dúvida foi especificamente no caso do seguinte versículo: “As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar” (1 Co 14:34).

Você se valeu de fatores históricos para opinar, escrevendo: “O texto acima significa que as mulheres da época, quando Paulo se referia a elas, quando judias, já tinham a educação desde criança de que não participassem dos ensinos nas sinagogas e etc., somente os meninos a partir dos 12 anos. A preocupação de Paulo era com as mulheres gentias que traziam muitas fábulas e superstições no meio da igreja de Corinto, dessa forma esse ensino era somente para as mulheres da época. Hoje as mulheres podem e devem falar nos cultos a Deus.”

A dificuldade com esse tipo de interpretação é que ela busca informações extra bíblicas para explicar um texto bíblico, e há um risco aí. Aqui o tema é se a mulher pode ou não falar na igreja (ou seja, quando eles se reuniam para orar, partir o pão, louvar a Deus e serem instruídos na Palavra de Deus), e sua opinião é que devemos recorrer a uma comparação entre a época de então e os costumes da época em que vivemos. Vamos fazer um teste:

O mesmo apóstolo exorta em outras passagens para que os cristãos não pratiquem fornicação, que é basicamente relações sexuais fora do casamento. Porém hoje é perfeitamente normal pessoas terem relações sexuais antes do casamento. Isso é bem aceito nas novelas, nos filmes e namorados costumam viajar juntos com a aprovação dos pais. Usando o mesmo raciocínio poderíamos considerar que aquela exortação devia ser apenas para os costumes daquela época, e não deveriam mais ser seguidos na sociedade moderna e liberal de nossos dias.

Também hoje é considerado política e socialmente correto o homossexualismo e as leis de alguns países já dão status de casamento civil à união entre duas pessoas do mesmo sexo. Seguindo sua linha de raciocínio teríamos de admitir que as exortações feitas por Paulo no livro de Romanos contra o homossexualismo seriam válidas somente para aquela época ou, talvez, exclusivamente para os cristãos em Roma.

O aborto já é legalizado em alguns países mais desenvolvidos, o que nos faria pensar que a proibição da prática poderia fazer sentido na igreja primitiva, mas não hoje, numa sociedade tão avançada quanto a que vivemos. Será assim? Não, ou a Palavra de Deus não seria mais de Deus, mas dependeria de uma aprovação cultural, algo como um selo da “opinião pública”.

As modas mudam, os costumes mudam, mas a Palavra de Deus permanece. Obviamente há coisas que não são taxativas na Bíblia. Não existe, por exemplo, alguma proibição para usar computador, mas outras coisas são muito claras. Também é preciso discernir o que foi ordenado aos israelitas, ainda sob a lei mosaica, e o que é a ‘doutrina dos apóstolos’, dada pelo Espírito Santo à igreja, ou vamos sair por aí apedrejando pessoas, guardando o sábado e matando cordeiros como sacrifício.

Todavia, naquilo que diz respeito à doutrina dada à igreja (as epístolas), entendo que, se pudermos abrir mão do ensino que ela nos traz, e particularmente neste caso de 1 Coríntios 14, tentando nos basear nos costumes atuais, podemos abrir mão também de tudo o mais com base na mesma autoridade dos costumes e da opinião pública.

E se ainda existir alguma dúvida a respeito, creio que as palavras com as quais o apóstolo Paulo encerra a questão em 1 Coríntios 14 (ele devia estar prevendo objeções) servem para eliminar qualquer ideia de que o que ele estava dizendo até ali eram meras opiniões pessoais ou baseadas na cultura da época e do lugar:

“Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor.”

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Por que Deus não cura os amputados?

Primeiro, você fez a pergunta errada. Mas vamos por enquanto nos limitar a ela. Deus cura. Ou melhor dizendo, já curou em número suficiente para provar que é capaz de curar, e não apenas isso, mas também de ressuscitar os mortos.

“E veio ter com ele grandes multidões, que traziam coxos, cegos, mudos, aleijados, e outros muitos, e os puseram aos pés de Jesus, e ele os sarou” (Mt 15:30).

“Aleijados” aí significa “amputados” (diferente de coxos), portanto o Senhor Jesus, Deus e Homem, curou amputados. Mas você poderá argumentar que isso é o que dizem os Evangelhos. Sim, e não foi o que pediu? Leia o que você mesmo escreveu: “Mas, particularmente falando, com exceção dos mitos e lendas, nunca OUVI sequer uma alegação nesse sentido: de que Deus tenha curado uma pessoa amputada, melhor dizendo, que ele tenha reconstituído uma perna ou braço amputado, por exemplo…”

Bem, você disse ter lido a Bíblia toda e não pode ter deixado de ler o que diz lá a esse respeito. Talvez você retruque dizendo que aquilo são os “mitos e lendas” aos quais se referiu. Pergunto: e o que lê nos jornais todos os dias? Como sabe que o Iraque está em guerra? Como sabe que houve um acidente na cidade vizinha, ou que o homem foi à Lua?

Há provas, você dirá. Sim, provavelmente se você for até o Iraque poderá comprovar, mas como dá muito trabalho ir até lá você aceita como fato o que um jornalista anônimo escreveu. É normal isso, porque, tirando o que experimentou pessoalmente, tudo em que acredita está baseado no testemunho de outros, inclusive sua descrença. Os livros de história que estudamos nada mais são do que testemunhos de pessoas que contam que existiu um rei chamado Nero e que D. Pedro I proclamou a Independência.

Acreditamos em todos eles até alguém descobrir que o Rei Artur foi fabricado pelo primeiro grande historiador britânico, que não foi Colombo quem descobriu as Américas, que não foi Shakespeare quem escreveu Romeu e Julieta, nem Edison, Marconi e Graham Bell que, respectivamente, inventaram a lâmpada, o rádio e o telefone. Vou deixar para você pesquisar no Google…

Tudo bem que essas correções também nos chegam através do testemunho de outras pessoas, porque não estávamos lá para conferir. Você acredita que o homem foi à Lua? Baseado em quê? Nos testemunhos. Ah! Há também os filmes! — dirá você.

Sim, ontem recebi um spam de uma revista de discos voadores anunciando a descoberta do século: vários OVNIs são filmados em voos rasantes sobre a cabeça do ‘cameraman’, quase roçando as palmeiras, em uma ilha em algum lugar. Até no ‘YouTube’ puseram o vídeo para provar. Uma busca cuidadosa revela o software usado na produção e outro vídeo, de alguém que se deu ao trabalho de “filmar” a mesma cena, agora com a logomarca de uma empresa voando sobre as palmeiras.

Portanto, a maior parte do que sabemos e acreditamos vem de testemunhos de terceiros. Se você aceita o testemunho dos homens que foram inspirados para escrever a Bíblia, então não terá dúvidas de que amputados foram curados. Se acreditar no testemunho da NASA, então não terá dúvidas de que o homem foi à Lua (tem gente que não acredita, sabia?).

Então você escreve: “De fato, se Deus realmente ‘quisesse’ curar amputados e ‘tivesse poder’ para isso, certamente teria curado, uma vez que, segundo a Bíblia, qualidades e motivos nobres não lhe faltam para isso. Na pior das hipóteses, ele teria curado ao menos aleatoriamente ou excepcionalmente como amostra de sua infinita misericórdia, amor, bondade e justiça…”

Veja a falácia de seu argumento. Primeiro você faz uma proposição, que a Bíblia já respondeu — e você não aceitou a resposta — para depois argumentar baseado… na Bíblia!! Quem disse a você que Deus é misericordioso, que ama, que tem bondade, que é justo? Como pode ter certeza dessa informação? Você não acha a Bíblia digna de confiança, mas esta parte você aceitou apenas para contrapor o que nega da outra parte.

A razão de existirem tantas religiões é justamente essa: os homens selecionam da Bíblia o que lhes convém e descartam o que não entendem e não convém. Eu poderia fazer uma pergunta semelhante à sua e usar todos os seus argumentos: “Por que Deus não cura os ateus?”

Sim, na minha concepção, são pessoas às quais falta um membro, a fé“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” (Hb 11:6). Exatamente, crer é a primeira condição para se conhecer o que há atrás do véu. Sem a fé um cego espiritual não pode ver, um paralítico espiritual não pode andar e alguém que esteja vivendo em estado comatoso ateística não pode entender.

Quando falta alguma ferramenta em nossos sentidos ficamos limitados em nossas conclusões. Um cego de nascença não entenderia alguém dando tapas na TV na decisão por pênaltis em copa do mundo. “O que deu nele? Estou ouvindo o jogo tão bem!”. Já para um surdo não faria sentido você desperdiçar um bom dinheiro comprando aquele negócio caro e cheio de botões para enfeitar sua sala: um equipamento de som.

Assim, sem “os membros” ou “os sentidos” necessários, sua pergunta nunca será respondida. Até a ciência, que um cientista disse que “anda de funeral em funeral”, vai revendo sua posição à medida que ganha novos “membros” ou “sentidos”.

Se você não é capaz de enxergar respostas para suas indagações, pelo menos vou mostrar que seus argumentos são equivocados, porque aí já nem se trata de uma questão espiritual, mas de lógica (parece que você gosta dela com seus “1”, “2”, “3” e “4”). (Já leu “Cristianismo puro e simples”? Seria interessante, foi escrito por um ex-ateu. Relegue a segunda parte do livro, que é uma apologia ao anglicanismo).

Voltando ao assunto, primeiro, você toma por base questões morais sem deixar claro de onde elas surgiram em você. O homem nasce um ser moral ou recebe isso por meio educação? Se recebe pela educação, por que esse sentimento moral é sempre tão mais elevado do que sua capacidade de mantê-lo (você encontra isso em todas as civilizações, até nas tribos consideradas mais primitivas). Entendo que ele nasce um ser moral porque Deus o faz assim, colocando a extensão de sua perspectiva em seu coração, a qual é sempre maior do que o próprio homem:

“Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a ideia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim.” (Ec 3:11).

Essa mesma sensação de eternidade que Deus colocou em seu coração, e que você não pode entender por ser espiritualmente amputado, é o que faz com que você dedique horas e horas de seu tempo criando vários vídeos para tentar provar que Deus não existe. Ora, ninguém dedica tanto (eu sei quanto tempo leva) de seu precioso tempo para provar que não existem elefantes cor-de-rosa com asas! Deus deve ser muito importante para você, não?

Seu argumento é baseado na velha técnica do vendedor, que pergunta: “Vai levar o amarelo ou o azul?”; “Vai pagar com cheque ou cartão?”. Essa técnica é usada para fechar a venda e evitar que o cliente descubra que há outras possibilidades, como a de não comprar. Por isso você coloca:

1º Deus pode e quer curar…

2º Deus pode, mas não quer curar…

3º Deus quer, mas não pode curar…

4º Deus não quer e nem pode curar…

Aí, tendo determinado para os incautos que leem seu argumento de que só existe esse número finito de opções você passa a questionar um Ser infinito em sua existência, propósitos e vontade. Não acha muita pretensão? Já olhou para o céu à noite? Tudo bem, com esse ar poluído fica difícil até acreditar que existem estrelas. Alternativa: instale o GoogleEarth e veja a nova opção Sky de viajar pelo espaço.

Bem, nas galáxias você está vendo apenas parte da Criação de Deus, não Deus, que jamais será visto por homem algum, a não ser em Jesus, Deus feito Homem, a forma como Deus se fez conhecer. Caso contrário nós nem isso teríamos, pois “Aquele que possui, ele só, a imortalidade, e habita em luz inacessível; a quem nenhum dos homens tem visto nem pode ver; ao qual seja honra e poder sempiterno” (1 Tm 6:16).

Ora, você há de concordar que com os membros que têm não conseguirá alcançar essa luz que está fora do espectro acessível, não é mesmo? O que vai além da Criação, perceptível por nossos sentidos e pela mais avançada tecnologia, é preciso fé para perceber e vivenciar. Como alguém que vive em três dimensões pode entender o que acontece nos céus ou, como a Bíblia chama o lugar onde Deus está, “acima de todos os céus”? “Aquele que desceu é também o mesmo que subiu muito acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas”. (Ef 4:10).

Mas vamos voltar à fragilidade de sua argumentação, que parte agora para a pieguice, ao dizer: “Deus não é justo… ignorando completamente a oração sincera dos amputados… Deus é cruel e injusto por simplesmente ignorar as orações de todos os amputados…”

Tudo isso chega até mim em seu vídeo com uma musiquinha chorosa de fundo. Realmente comovente.

O que um observador adulto pensaria de seu filhinho de três anos dizendo que você é injusto, não o ama, por simplesmente ignorar suas súplicas por sorvete só porque está com pneumonia? Falta à criança maturidade para entender coisas que estão além de sua compreensão infantil. Qualquer pessoa que queira entender além do que suas pernas espirituais podem alcançar é uma criança inconsequente.

A Bíblia diz que por suas palavras você será julgado: “Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo. Porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado” (Mt 12:34-37).

No entanto, você mesmo diz que Jesus supostamente fez exatamente o contrário disso nas histórias bíblicas… Ele curou inúmeros doentes para que as pessoas pudessem acreditar que ele era o Filho de Deus. Exatamente, e no seu caso parece que mesmo assim não adiantou, mesmo assim você não acredita.

Mas você faz perguntas que são deveras importantes, como “… afinal de contas, quantas pessoas serão necessárias para sensibilizar o coração daquele a quem a Bíblia descreve como sendo o próprio amor?” A resposta é, só uma Pessoa, o único Homem perfeito, o único que realmente merecia uma resposta de Deus, teve essa resposta. Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos.

Você continua dizendo que “se ele fosse realmente dotado de um mínimo de amor que nós humanos imperfeitos sentimos (sic), ele curaria sem que um doente sequer pedisse para ser curado! Qualquer mãe sente, pensa e age exatamente assim!”.

Bem, não sei qual a sua experiência como mãe, mas eu não tenho nenhuma. Tenho, porém, como pai, de um filho portador de paralisia cerebral, cego e incapaz de andar e falar. E sei como eu me sinto.

Sinto que Deus teve um propósito para permitir que meu filho fosse assim e também tem um propósito para que ele continue assim, pois não espero que de repente apareça um novo cérebro em sua caixa craniana, novos olhos em suas órbitas e seus membros atrofiados sejam imediatamente reconstituídos.

Sei que ele pode porque sei que o Senhor Jesus fez isso há dois mil anos, mas não vejo razão alguma para que ele faça isso novamente agora já que, como você bem disse, ele curou inúmeros doentes para que as pessoas pudessem acreditar que ele era o Filho de Deus.

Todavia isso não diminui nem um pouco a fé e confiança que tenho nele. Evidentemente isso você não entende e jamais entenderá até que o conheça e tenha um relacionamento pessoal com ele, talvez pela mesma razão de eu não ser capaz de entender como você pode amar seus pais. Mas você os ama, não? Só não saberá explicar a razão ou fazer alguém amá-los só com sua explicação.

E nem mesmo você conseguiu sempre compreender a vontade de seus pais. Quando fazia a vontade deles, conseguia ficar mais próximo e ouvir mais deles. Quando não, acabava se distanciando e acabava o diálogo. Pois é, assim funciona também com Deus.

Recebi uma interessante observação de um leitor que diz conhecer grego. Segundo ele, “não aparece a palavra ‘amputados’ (apotetmêménos); aparece a palavra ‘chôlos’, que seria manco devido a ferimentos, astenia muscular; aparece também o termo kyllos, ou seja, pessoa com as pernas tortas. Por razões que não podemos explicar, parece que nem Jesus curou amputados; de fato, não há um único caso na Bíblia.”

Provavelmente o leitor tenha razão quanto a não existir explicitamente a palavra “amputados”, todavia, há uma passagem onde o Senhor claramente cura um amputado, embora talvez não seja esta a palavra utilizada ali:

“Quando os que estavam com ele viram o que ia suceder, disseram: Senhor, feri-los-emos a espada? Então um deles feriu o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita. Mas Jesus disse: Deixei-os; basta. E tocando-lhe a orelha, o curou”. (Lc 22:49-51).

Outro leitor que alega ser de família grega e conhecer grego escreveu dizendo que a palavra “amputado” não aparece no Novo Testamento grego. Portanto, segundo ele, a palavra “aleijados” de Mateus 15:30 não significaria alguém sem um membro, mas apenas com algum defeito em seus membros.

Como não sei grego, só posso dizer que isto não muda o fato de que Deus curou e cura porque nada é impossível a ele.

Obviamente nos tempos do NT havia um número muito menor de amputados do que temos hoje, pois não havia tantos acidentes ou armas que lesassem os membros ao ponto de precisarem ser amputados. As espadas da época mais esmagavam do que cortavam fora o membro com osso e tudo (ao contrário do que vemos nos filmes). Além disso, um amputado então não tinha grandes possibilidades de sobreviver às infecções pela falta de antibióticos.

Algumas passagens dizem que Jesus curava a TODOS, o que dá uma ideia do caráter completo de seus milagres, que chegava ao ponto máximo quando ressuscitava um morto.

(Mt 8:16) “E, chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele com a sua palavra expulsou deles os espíritos, e curou todos os que estavam enfermos”.

(Lc 6:19) “E toda a multidão procurava tocar-lhe, porque saía dele virtude, e curava a todos”.

Ao duvidar da capacidade de Deus curar amputados, os céticos podem estar prestes a colocar o ser humano numa categoria superior ao seu criador. Isto porque já são feitas pesquisas no sentido de causar em mamíferos o mesmo que ocorre em uma salamandra ao perder um membro: o crescimento de um novo. Isso já é objeto de investimentos e pesquisas e foi noticiado em 2009. Cientistas japoneses já foram capazes de fazer novos dentes crescerem em ratos, portanto não devemos ficar surpresos se em um futuro próximo a ciência for capaz de dar aos amputados a opção de terem seus membros regenerados.

Eu particularmente creio que Jesus já fazia isso há dois mil anos, pois afinal, quem criou todas as coisas é capaz de regenerar aquilo que é destruído pelas consequências do pecado que entrou na Criação.

*

Mulheres cristãs não podem falar?

Recebi de um leitor uma série de indagações sobre algo que leu a respeito da ordem nas reuniões da igreja. Vou colocar aqui suas perguntas e minhas respostas:

Você escreveu: “Você diz em seu blog que as mulheres não podem falar na reunião.”.

Bem, eu não digo nada, porque se disser não tem valor algum. Eu simplesmente coloco ali o que encontro na Palavra de Deus. E a Palavra diz isso com todas as letras.

Você escreveu: “Por que a mulher não pode falar na Igreja? Por que a mulher não pode profetizar? Por que a mulher não pode ensinar?”.

Porque são mandamentos do Senhor: “Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor.” (1 Co 14:36-37).

Você escreveu: “É fato que o Apóstolo Paulo em sua epístola, faz algumas restrições às manifestações das mulheres na igreja, mas, antes de generalizarmos estas recomendações Paulinas é preciso que façamos uma análise da situação feminina diante da cultura oriental, ainda hoje, as mulheres são vistas como um ser inferior, sem voz ativa, eram comercializadas, proibidas de estudarem, saírem às ruas ou mesmo se mostrarem. Esta visão cultural justifica por completo a ação do Apóstolo, a igreja carecia de credibilidade diante da sociedade constituída por gentios, a instituição de mulheres como líderes não seria uma atitude sábia à obra da evangelização.”.

Sim, o apóstolo diz, todavia não é opinião sua, mas uma ordenança ou mandamento do Senhor, que é como ele termina o texto (veja vers. acima). Afinal, quais coisas que ele escreveu que eram mandamentos do Senhor e quais não? Se tentarmos peneirar, vamos certamente peneirar segundo nosso critério. Sim, eu conheço o argumento cultural contra o que é dito na Palavra.

Sempre que precisamos procurar uma explicação cultural para algo na Bíblia abrimos um precedente perigoso. Eu poderia argumentar que o sexo fora do casamento não é mais fornicação, ou que o homossexualismo não é mais pecado, porque hoje são práticas perfeitamente aceitas pela sociedade moderna.

Você escreveu: “O que dizer sobre Ana, a profetiza (Lc 2:36)?”.

Não estava em uma reunião da igreja, como é o caso do mandamento de 1 Coríntios 14, era uma israelita e não vivia no contexto do povo celestial de Deus (israelitas não fazem parte da igreja que só teve início em Atos). Sem entender o lugar distinto que a Igreja tem nos planos de Deus fica impossível dividir bem a Palavra da Verdade e saber o que foi dito a Israel e o que foi dito à Igreja.

Você escreveu: “O que dizer sobre Maria, a mãe de Jesus e as outras mulheres (At 1:14)?”.

Idem.

Você escreveu: “O que dizer sobre Júnia, que era conhecida como Apóstola (Rm 16:7)?”.

Não diz que era “conhecida como apóstola”, mas “Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e meus companheiros na prisão, os quais se distinguiram entre os apóstolos e que foram antes de mim em Cristo.” (Rm 16:7).

Júnias pode ser uma forma reduzida de Junianus. Se for o caso, trata-se de nome de homem. Mas, como é mais provável, se for Júnia como nome feminino do jeito que aparece em algumas versões, trata-se sem dúvida da esposa ou irmã de Andrônico.

“Os quais [Júnias e Andrônico] se distinguiram entre os apóstolos”. Creio que o sentido seja o mesmo de “os quais ganharam a admiração dos apóstolos”. Como provavelmente tenham se convertido antes de Paulo, “que foram antes de mim em Cristo”, devem ter sido frutos da obra de Pedro e dos outros nos primeiros dias da igreja, atraindo uma estima especial dos apóstolos.

Como a Bíblia não se interpreta com versículos isolados, basta darmos uma olhada nas prerrogativas para ser um apóstolo e qual a posição ocupada pela mulher na igreja para ficar claro que não se tratava de “uma apóstola” como alguns querem crer.

Você escreveu: “O que dizer sobre Febe, que era diaconisa da igreja de Cencréia (Rm 16:1)?”.

Considerando que “diácono” era um serviço prestado e não um dom, não vejo qualquer ligação disso com a questão da mulher falar nas reuniões da igreja. Os dons eram apóstolo, profeta, evangelista, pastor e doutor ou mestre. Esses dons se manifestavam na Igreja, sendo que os dois primeiros “apóstolos e profetas” já não existem, por terem sido dados para a formação da base ou fundamento da igreja. Um diácono cuidava de servir necessidades físicas das pessoas, como muitos homens e mulheres fazem. Era um ofício, não um dom.

Você escreveu: “O que dizer sobre as quatro filhas profetizas de Filipe, o evangelista (At 21:8-9; Rm 16:3)?”.

Não é dito que elas profetizassem nas reuniões da igreja, o que certamente não faziam, pois iria contrariar o ensino de 1 Coríntios 14.

Você escreveu: “O que dizer sobre Priscila, que claramente ensinava (At 18:26)?”.

“Ele começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus.” O texto indica ter sido um trabalho conjunto. Se eu fosse visitá-los e depois dissesse que “Priscila e Áquila me receberam muito bem, prepararam uma feijoada e estava ótima”, estou falando de uma situação onde um dos dois estava preparando a feijoada enquanto o outro estava fazendo sala para mim. Eu acharia estranho encontrar Priscila ensinando, independente de Áquila. Além do mais, a ordenação dada na carta a Timóteo é muito clara: Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.” (1 Tm 2:12).

Se encontrar algo em Atos dos Apóstolos que mostre algum cristão agindo contrariamente a uma ordenança dada nas epístolas, só posso concluir que a pessoa estava agindo errado, já que não é um livro de doutrina dos apóstolos — encontrada nas cartas — mas das ações dos apóstolos. É por isso que você não repartiu todos os seus bens com seus vizinhos cristãos. Aquilo era feito pelos primeiros cristãos, mas não é uma ordenança, apenas uma decisão que eles tomaram. Em Atos você encontra também decisões erradas de Paulo.

Você escreveu: “O que dizer sobre Evódia e Síntique (Fp 4:2-3)?”.

“Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o mesmo no Senhor. E peço-te também a ti, meu verdadeiro companheiro, que ajudes essas mulheres que trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida.”

Essas mulheres ajudavam Paulo no evangelho, não diz que falavam ou ensinavam nas reuniões da igreja. Há uma distância muito grande entre uma mulher pregando numa reunião da igreja e uma mulher visitando enfermos em um hospital e falando do Senhor a essas pessoas.

Você escreveu: “Digo mais, na primeira epístola aos Coríntios, Paulo mostra de forma clara que as mulheres não só falavam como profetizavam na reunião da Igreja. Veja: (1 Coríntios 11:5) — ‘Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada’”.

Foi você quem acrescentou “na reunião da igreja”, algo que o texto não fala. Essa ordem é genérica, para qualquer lugar. Evidentemente as mulheres oram (audível ou não) e profetizam (audível, evidentemente) em qualquer lugar, menos de forma audível nas reuniões da igreja, porque ali está claro que não devem falar.

Eu não entendo a razão dessa insistência em isolar versículos. Isso é perigoso. A leitura da Bíblia deve ser na forma de complementar as coisas, não de isolá-las. Já vi horrores sendo feitos usando esse costume, como alguns que isolam o caso de Saul e a feiticeira para justificarem a comunicação com os mortos, ou outros que isolam a passagem onde diz que Davi amava Jônatas (2 Samuel 1:26) para justificarem o homossexualismo, descartando todas as outras passagens que condenam essas práticas.

Então leia assim: se em uma parte da Bíblia você encontrar que há uma mulher falando, e na outra encontrar uma ordem para a mulher não falar, simplesmente verifique o contexto. No primeiro caso pode ser em termos genéricos e no segundo a exceção. Tipo assim: É permitido jogar bola na escola, menos na sala de aula. Pronto, é muito simples de entender quando não estamos com ideias pré-concebidas. Quando temos ideia formada, vamos ficar horas explicando que não é bem assim, que a sala de aula faz parte da escola, portanto quem deu a ordem estava equivocado, que “sala de aula” é uma expressão regional que não se aplica a todas as escolas e culturas e por aí vai….

Você escreveu: “A mulher precisa falar para orar e profetizar, não é? Orar e profetizar é falar, não é?”.

É claro que é, portanto ela pode fazer tudo isso, desde que não seja na reunião da igreja. Mas não confunda “igreja” ou “assembleia” com o lugar físico onde as reuniões da igreja ou assembleia são feitas. Quando a epístola fala que as mulheres devem permanecer caladas nas igrejas não está se referindo ao prédio ou sala onde a igreja ou assembleia se reúne. Está falando da reunião, no período desde quando começa até quando termina. Quando os irmãos em uma assembleia determinam que sua reunião comece às 19 horas e termine às 20 horas, nesse período é a reunião da igreja e é quando as mulheres devem permanecer caladas.

Você escreveu: “Cantar é falar, não é?”.

O problema agora não é de Bíblia, mas de dicionário. “Falar” é “exprimir por meio de palavras” e “Cantar” é “Formar, emitir com a voz sons ritmados e musicais”. Você não precisa de palavras para cantar, mas é impossível falar sem palavras (exceto na linguagem por sinais). Eu posso passar o dia cantando “trá-lá-lá” e não dizer uma palavra. Portanto a epístola não proíbe a mulher de CANTAR, mas de FALAR. O que você acha que aconteceria se o Roberto Carlos, ao invés de cantar em um show, passasse duas horas falando? As pessoas iriam querer o dinheiro de volta. Então a distinção é clara.

Além disso, é preciso entender a razão da proibição de as mulheres falarem nas reuniões da igreja: elas são mais suscetíveis ao engano do que os homens, pois Eva foi enganada e Adão não foi. “Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Tm 2:14). A proibição tem por objetivo evitar que uma mulher introduza má doutrina durante a reunião da igreja. Quando ela canta, está seguindo um texto previamente preparado e isento de erros doutrinários, portanto não existe aí o risco de ser enganada e enganar. Assim, isto é, seguindo a letra de um hino que foi previamente selecionado por um varão para o cântico em assembleia, ela acabará em certo sentido “falando”, mas obviamente sem ter a iniciativa do quê falar, que é quando poderia errar e induzir ao erro. Por esta razão a mulher também não deve ler a Palavra de forma audível durante as reuniões da igreja porque é possível errar e induzir ao erro até trazendo um versículo fora do contexto ou do momento apropriado.

Você escreveu: “Então eu te pergunto, será que é certo privar as mulheres de orar, profetizar, ensinar e falar?”.

Essa forma de generalização é perigosa. Foi usada pela primeira vez no Jardim do Éden: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?” (Gn 3:1). Satanás generalizou como se Deus fosse um tirano e sua ordem um absurdo. A palavra “privar” parece ter sido colocada para soar como uma injustiça. Não, Deus não está privando as mulheres de orar, profetizar, ensinar e falar. A Palavra de Deus, inspirada pelo Espírito, está apenas estabelecendo limites e em todas as circunstâncias, é sempre a vontade própria que acaba entornando o caldo quando decide fazer as coisas do seu próprio jeito, como se os fins justificassem os meios:

“Porém Samuel disse: Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria.” (1 Samuel 15).

Você escreveu: “Onde estão as recomendações para que a mulher não ensine? Nas epístolas aos Coríntios e nas epístolas a Timóteo, não? Te pergunto, onde Timóteo estava quando recebeu a carta? Por ventura, ele não estava em Corinto?”.

Aqui: “Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.” (1 Tm 2:12).

Sinceramente não sei onde Timóteo estava. Mas o contexto aqui não é o da reunião da igreja (isso já ficou estabelecido em Corinto), mas na relação entre homem e mulher, devendo esta dar o lugar que Deus definiu nessa ordem que estabeleceu (algo como a ordem estabelecida numa empresa, onde há gerentes, supervisores etc., mas onde a ordem não significa que um seja inferior ou superior ao outro em sua capacidade, qualidade, etc.). No contexto diz também a razão dessa proibição:

“Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.” (1 Tm 2:13-14). Na minha Bíblia diz que foi esta a razão.

*

Nada é impossível ao que crê?

Uma leitora escreveu questionando: “Se você não acredita que pela fé podemos ser curados, o que você me diz de Mateus 17:14-27, em que Jesus nos incita a ter Fé como um Grão de Mostarda e nos afirma que “Nada vos será impossível”?”.

Sim, eu acredito que uma pessoa possa ser curada pela fé, mas não no mesmo sentido de quando o Senhor disse essas palavras aos seus discípulos, que eram israelitas e que, a princípio, estavam diante de seu Messias e Rei. Os cristãos não são israelitas e não têm a Jesus como Messias e nem como Rei (Ele é Rei para Israel).

A cura que você encontra nos evangelhos e depois em Atos como sinal, primeiro de que Cristo era quem ele dizia ser, e depois que a igreja era a obra que Deus estava fazendo, você não encontra hoje. Veja isto:

“E até das cidades circunvizinhas concorria muita gente a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos; os quais eram TODOS curados.” (At 5:16).

Percebeu? TODOS eram curados, não um ou dois. Obviamente você não verá isto acontecer hoje mesmo porque não há mais necessidade de Deus fazer isso. Os sinais e curas eram para provar que aquilo (a igreja e o evangelho) era algo de novo que Deus estava fazendo entre os judeus.

“Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria.” (1 Co 1:22).

O versículo que citou, de que nada nos é impossível, não deve ser lido isolado, mas no contexto todo do pensamento de Deus, e uma boa ideia é ler isto:

“E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, SEGUNDO A SUA VONTADE, ele nos ouve.” (1 Jo 5:14).

O grande segredo do pedir com fé é conhecer de antemão a vontade de Deus, o que só é possível com comunhão e conhecendo sua Palavra (que são os seus pensamentos e sua forma de agir). Uma criança pequena, a quem o pai disse que ela pode escolher o que quiser de aniversário, pode até pedir um submarino atômico, mas se conhecer melhor seu pai vai saber pedir algo que também esteja de acordo com a vontade de seu pai.

As curas que vemos nos evangelhos e nos livros de Atos, que Deus operou com um objetivo muito definido de mostrar o seu poder na apresentação de Cristo ao mundo e, mais tarde, na apresentação da Igreja aos judeus, não teriam razão de ser nos dias de hoje, principalmente quando vemos que eram curas realmente maravilhosas. Se alguém não tinha uma perna (aleijado), essa perna aparecia, ou o olho ao cego.

Era o mesmo Deus, que um dia abriu o Mar Vermelho, quem estava fazendo esses sinais com um propósito especial. Ninguém pode esperar que Deus continue abrindo o mar no dia de hoje para passarmos de um lado para outro, ou que faça descer fogo do céu para consumir falsos profetas, ou ainda que ressuscite uma multidão de mortos como aconteceu quando o Senhor morreu na cruz.

Se não entendermos isso (os tempos e as estações), seremos presa fácil dos curandeiros da TV que prometem o impossível e levam muitos ao desespero e frustração. Conheço uma pessoa cujo pai faleceu de câncer, apesar de frequentar uma determinada “igreja” onde a cura é a locomotiva de suas práticas. Após a morte, a “pastora” do lugar foi dizer à viúva que seu marido tinha morrido de câncer porque sua fé era pequena. Se tivesse fé genuína não teria morrido.

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Não é mais seguro crer só na ciência?

Não, não é seguro acreditar apenas na ciência porque a ciência é o conjunto de conhecimento (e às vezes de teorias, como a da evolução, e de suposições) tido como válido em um determinado momento da história da humanidade. Para a ciência, algo que ainda não foi descoberto não existe. Deus, por exemplo.

Alguém disse que a ciência caminha de funeral em funeral. Ela vai enterrando suas afirmações à medida que faz novas descobertas. Portanto, a ciência só crê naquilo que já pode ser comprovado. Aquilo que existe, mas ainda não foi comprovado, está fora do alcance da ciência (até que ela chegue lá).

É aí que está o problema. Se você vivesse há 500 anos ou mais, estaria jurando de pés juntos que a Terra é plana, que sanguessugas curam doenças, que é impossível o homem chegar à Lua, etc. Essas coisas só se tornaram realidade para o cientista quando a ciência chegou lá e se viu obrigada a sepultar suas afirmações anteriores (experimente pegar um livro escolar de ciências de 50 anos para ver quanta besteira era ensinada nas escolas).

A mente de quem acredita só na ciência é tão estreita quanto o estágio alcançado por suas descobertas. Em todas as eras a ciência sempre considerou seu estágio atual como o derradeiro e definitivo, até descobrir algo mais. Quando você duvida da existência dos milagres, de Deus, do céu, da Salvação, do pecado e tudo mais, está se colocando numa caixa que tem o tamanho e o formato da ciência em seu estágio atual. Uma ciência da qual as pessoas irão rir daqui a mil anos, do mesmo modo como rimos daquilo que era considerado ciência há mil anos.

Sabia que a ciência afirmava 60 anos atrás que o coração era um órgão que não podia ser operado? Era consenso na medicina acreditar ser impossível abrir um coração humano, até a descoberta da cura da doença azul, primeira cirurgia de grande porte feita em um coração de um bebê. Se você vivesse naquela época provavelmente iria afirmar ser impossível operar um coração, porque seria esse o mantra científico de então. Há vantagens em se pensar fora da caixa, e parece que você empunhou o estandarte de insistir com as pessoas para que não tentem fazê-lo até segunda ordem. A ordem dada pela ciência.

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Se estou salvo, por que continuo aqui?

Se você ainda não crê no Salvador, sua primeira razão de estar aqui é conhecer a imensurável graça de Deus e ser salvo pela fé em Jesus. Se você for um salvo em Cristo, se tiver recebido o perdão de todos os seus pecados e a vida eterna, uma condição total e suficiente para ir para o céu, então sua pergunta é a de muitos cristãos: Se estou pronto para ir para o céu, por Deus me deixa aqui?

Creio que estamos neste mundo por duas razões, além daquela que é conhecer mais do amor e da graça de Deus, algo que não conseguiríamos no ambiente sem problemas do céu. Estamos aqui em seu lugar neste mundo, assim como ele está agora em nosso lugar diante de Deus. Devemos andar como ele andou aqui, e viver por duas das razões pelas quais ele andou aqui:

Primeiro e antes de qualquer coisa, ele esteve neste mundo para a glória de Deus. Foi esta a primeira razão da cruz, que Deus fosse glorificado no que dizia respeito ao pecado. Ainda que nenhum homem viesse a aceitar o Evangelho, ainda que ninguém fosse salvo, mesmo assim a obra de Cristo na cruz teria glorificado a Deus acerca do pecado. Ele veio primeiro para tirar o pecado do mundo. Mas podemos nos dar por privilegiados por Deus ter desejado incluir em seus propósitos eternos a segunda razão de ele estar aqui.

A segunda razão de Jesus ter vindo ao mundo foi para que a casa de seu Pai ficasse cheia de filhos e que isso fosse de gozo para ele, razão pela qual o Senhor enfrentou a cruz (Hb 11). Quando vir a obra de sua alma (Is 53) ele ficará satisfeito.

Portanto, quais eram as duas coisas que o Senhor trazia sempre diante de si? Glorificar a Deus e salvar pessoas. Quais são as duas coisas que devemos ter diante de nós? Os discípulos em alguns momentos buscavam por coisas materiais, coisas como poder, reconhecimento etc.

Pedro queria saber o que eles, que haviam deixado tudo, iriam ganhar com isso: “Eis que nós deixamos tudo, e te seguimos; que receberemos?” (Mt 19:27).

Os trabalhadores, que foram contratados primeiro, estavam esperando por um melhor salário: “Estes derradeiros trabalharam só uma hora, e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e a calma do dia?” (Mt 20:12).

Uma mãe pediu que seus dois filhos, discípulos de Jesus, fossem colocados em uma boa posição: “Dize que estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino.” (Mt 20:21).

Outros ficaram bravos, pois cada um queria um lugar de honra: “E, quando os dez ouviram isto, indignaram-se contra os dois irmãos.” (Mt 20:24).

Mas o Servo Verdadeiro mostrou a eles que o lugar que eles deviam ter neste mundo era o lugar que ele teve. E enquanto muitos buscam por coisas e posição, quem são os que seguem a Jesus? (veja o último versículo de Mateus 20). São aqueles que encontraram o que realmente necessitavam, aqueles que eram cegos, e que não pediram por coisa alguma além de ver. Era tudo o que queriam, ver.

O “Servo cego” de Isaías podia curá-los e ser um exemplo que eles poderiam seguir. O mesmo deveria acontecer conosco. Pergunto: Temos esses mesmos dois objetivos diante de nós? Eu poderia mencionar mais de uma centena de coisas, em meu caso, que estão tentando desviar meus olhos do caminho que eu deveria seguir: os passos de Jesus.

“E Jesus, parando, chamou-os, e disse: Que quereis que vos faça? Disseram-lhe eles: Senhor, que os nossos olhos sejam abertos. Então Jesus, movido de íntima compaixão, tocou-lhes nos olhos, e logo viram; e eles o seguiram.” (Mt 20:32-34).

Finalmente, há ainda mais uma razão para ainda continuarmos aqui e é a mesma para muitas coisas que nos acontecem e que não entendemos.

“E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito… disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disselhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu.” (Jo 21:20-22).

*

Como entender a Bíblia?

Antes de tudo, há duas coisas que devemos ter em mente quando o assunto é a Palavra de Deus: primeiro, que não entendemos coisa alguma; e segundo, que não entendemos coisa alguma. Temos a Palavra de Deus, mas os judeus também têm. Os Testemunhas de Jeová também têm e a usam de acordo com suas ideias. É preciso ter algo mais do que a Palavra de Deus, é preciso ter o Espírito de Deus habitando em nós para entendê-la.

Que privilégio! Graça! Graça! Graça! Graça para nossa salvação, graça para nosso andar, graça para e em tudo o que fazemos ou somos, inclusive o entendimento da Palavra de Deus. Nada provém de nós mesmos.

Sua pergunta nos leva a um terreno delicado, onde devemos caminhar com cuidado para não errar. Nem sempre as coisas são claras, mas algumas exigem um exercício de fé diante do Senhor. Há momentos em que precisamos perguntar: O Senhor está falando comigo, Senhor? Será que vou ter de abrir mão de minhas ideias? Quando nossa voz é muito alta, não podemos escutar a dele. Ele fala mansamente quando ensina, mas grita quando castiga.

Um ponto importante que você sempre deve ter em mente é que o entendimento da Bíblia não é intelectual, mas espiritual. Embora Deus use nosso intelecto, aquilo da Bíblia que pode ser entendido intelectualmente será entendido também por um incrédulo, portanto não é isso o que Deus realmente quer nos falar. Quero dizer que há coisas como costumes da época, questões arqueológicas, significados nos idiomas originais, etc., que podem ajudar na leitura da Palavra de Deus, mas não são o cerne do que devemos buscar ali.

As faculdades de teologia dão grande ênfase ao ensino intelectual da Bíblia, e os teólogos e “Doutores em Divindade” (você teria coragem de levar um título assim?!) gostam de se impor sobre crentes humildes por se acharem mais aptos a compreenderem as escrituras graças aos seus cursos. Mas o que a própria Palavra de Deus diz?

(1 Co 1:26-29) “Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; Para que nenhuma carne se glorie perante ele”.

(1 Co 2:4) “A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória. Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus”.

(1 Co 2:14) “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

(Mt 11:25) “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”.

Para entender, pense em um pintor, um artista. Qualquer pessoa pode comprar o equipamento, tintas e pincéis que ele utiliza, mas somente um verdadeiro artista pode pintar. Os pincéis e as tintas são as ferramentas do pintor, mas elas nada podem fazer sem o seu talento. Assim o aprendizado de línguas antigas, arqueologia, costumes e tantas outras “ferramentas” para ajudar o estudo bíblico podem ter sua serventia, mas apenas e tão somente nas mãos de alguém nascido de novo, e mesmo assim nunca para colocá-lo numa posição acima de um crente que não sabe ler nem escrever. Digo isto porque um artista pode até fazer sua arte sem precisar do equipamento comprado em loja. Dê a ele um pedaço de caixa de papelão encontrado no lixo e um carvão tirado de uma fogueira e você verá.

Mas mesmo um crente pode ter sua sensibilidade embotada pelo seu ego, quando resiste à verdade por achar que aprendeu tudo o que deveria saber. Quero compartilhar a história de um jovem crente assim. Ele estava sempre muito certo de sua posição (um irmão que viajou com ele apelidou-o de “Tenho certeza”) e tinha tudo o que pensava baseado em passagens da Bíblia, e estava sempre pronto para sacar uma delas e atirar. Principalmente quando o assunto era o novo nascimento. Sim, ele sabia que antes de ser salvo estava morto, mas não “tão” morto assim! Ele achava que havia algo em si que estava vivo o suficiente para optar pela fé em Cristo.

Um dia um irmão mais velho trouxe o assunto do novo nascimento numa reunião. Sabe o que aquele jovem fez? Levantou-se e saiu da sala de forma tempestiva, levando sua família consigo. E a partir daí teve início uma batalha de palavras e versículos entre esse irmão e aquele irmão mais velho. Mas, enquanto isso, uma batalha tinha início em seu coração também, até que ele foi obrigado a se curvar diante do Senhor e dizer: eu estou errado!

Aquele jovem crente era eu e lutei muito contra a ideia de que não havia algo em mim que fosse capaz de crer no Senhor. Nenhum versículo podia mudar meu pensamento se isso não viesse acompanhado de uma obra do Espírito em minha alma. Deus age com graça para conosco, pois sabe que não conseguimos entender essas coisas. Se você não estiver entendendo algo agora, deixe que o Senhor o ensine. Há muitas coisas que não entendemos e sei que o pior professor nessas horas é meu próprio ego.

Que bênção quando podemos, de forma mansa e na quietude da presença do Senhor, pedir a sua direção. E descansar nele.

“Não há sabedoria, nem inteligência, nem conselho contra o Senhor.” (Pv 21:30).

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Só posso ser batizado se estiver legalmente casado?

Sua dúvida diz respeito à sua condição atual, ou seja, ao fato de estar unido a uma mulher há alguns anos sem poder se casar com ela por ela aparentemente estar ainda legalmente casada com outro. Por isso os irmãos do lugar onde se congrega impedem que vocês sejam batizados e que participem da ceia.

No que diz respeito ao batismo, a ordem é que o convertido seja batizado, independente do estado em que se encontra. Quando Pedro pregou em Atos 2:41 diz que “foram batizados os que receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas”. Não acredito que tenha sido viável examinar cada pessoa ali para que fosse batizada, já que a única condição era terem recebido o evangelho. “Foram batizados os que receberam a sua palavra”.

Quanto à ceia, a questão é diferente. Uma pessoa convertida, para ser recebida à mesa do Senhor e participar da ceia do Senhor não pode estar com coisas pendentes ou para serem resolvidas em sua vida, se estas coisas puderem, de algum modo, aparentar falta de ordem ou pecado. Então, uma pessoa que, por exemplo, tenha se convertido depois de uma vida devassa, certamente será provada ou aguardará até dar indícios de que mudou de vida. Ou alguém que esteja em um relacionamento considerado ilegal ou inconveniente precisará resolver isso antes de participar da ceia.

A razão disto é que a ceia do Senhor é o lugar onde os crentes têm comunhão uns com os outros e expressam a recordação da morte do Senhor. Sentar-se à mesa com alguém é ter comunhão com essa pessoa, e a mesa do Senhor é o lugar de comunhão. Em 1 Coríntios 5 você encontra Paulo ensinando que pessoas em pecado não podiam participar da comunhão dos santos. Elas deviam ser excluídas, caso já participassem. Porém não era uma exclusão do corpo de Cristo (ninguém pode ser excluído do corpo de Cristo) ou do privilégio da salvação (ninguém pode tirar a salvação de ninguém). A exclusão é da comunhão.

A grande confusão é que as denominações geralmente consideram o batismo como a entrada para a comunhão, o que é errado. Então há denominações que batizam novamente pessoas já batizadas para considerá-las membros daquela denominação específica, não reconhecendo que há um só batismo. Por isso criam uma série de condições para o batismo (algumas exigem que se concorde com o pagamento do dízimo para o candidato a batismo), o que não tem respaldo bíblico.

No seu caso eu não sei exatamente qual seria a pendência legal, mas se ela existe é porque a legislação não o considera legalmente casado, o que faz presumir que seja uma união irregular. Para o batismo isso não é impedimento, mas para a comunhão à mesa do Senhor, para participar da ceia do Senhor, isso é impedimento. Há, obviamente, situações e situações.

Há pessoas que se convertem de uma vida com um passado tão complicado que às vezes considera-se a situação dela a partir do momento da conversão, ou seria impossível ela ter comunhão à mesa do Senhor. Mas isso, é claro, não é o caso quando há pendências legais. Por exemplo, digamos que alguém é fugitivo da polícia e se converte. Ele estará em situação irregular enquanto não se entregar e se submeter à lei. Uma vez estando cumprindo pena, a situação muda, pois, apesar de seu passado, para todos os efeitos ele está cumprindo o que a justiça exige dele.

Soube de situações na África, entre indígenas, onde homens polígamos se convertiam e criava-se um impasse. Como receber alguém com dez mulheres, se a poligamia é condenada pela Bíblia? Mas, por outro lado, como exigir que ele deixasse as mulheres em uma região onde uma mulher rejeitada pelo marido acaba morrendo de fome ou se prostituindo para comer, em razão dos costumes locais? Em casos assim, a notícia que tenho é que esses homens acabavam preservando a primeira esposa como aquela com a qual iriam coabitar exclusivamente a partir de então, porém comprometendo-se a dar sustento às outras e aos filhos que tinha com elas.

Creio que cabe aqui um esclarecimento. Quando falo de “mesa do Senhor” e “ceia do Senhor”, não estou me referindo a uma mesa denominacional e nem a uma ceia denominacional. Não pode ser considerada a mesa do Senhor e a ceia do Senhor aquela que é restrita aos membros de uma determinada organização religiosa ou a um grupo de pessoas que trazem sobre si uma denominação que as identifique como distintas de outros cristãos. Há só um nome pelo qual fomos salvos e pelo qual devemos ser identificados: o nome de Jesus.

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Não preciso fazer nada para entrar no céu?

Você disse não concordar com o que escrevi sobre o espiritismo, quando afirmei que “se Deus providenciou um Salvador foi porque viu que não éramos capazes de nos salvar a nós mesmos. Por que existiria um Salvador se as pessoas pudessem se salvar a si mesmas?”.

Então você argumentou, dizendo: “Pela sua lógica, eu não preciso fazer nada para entrar no reino dos céus? Até porque é inútil. Deixo que o Salvador faça por mim. Na busca da salvação somos todos inúteis e irresponsáveis, como crianças ingênuas. Que absurdo! Um mundo de irresponsáveis. Prefiro continuar sendo responsável pelos meus atos. Ora, existiu o Salvador para ensinar o caminho correto, que é o amor, mas quem decide que rumo dar a própria vida é cada um.”.

E continuou tentando explicar a superioridade do espiritismo por ser “autônomo”, ou seja, independente de qualquer dogma ou religião. Sua reação é natural, pois sempre procuramos defender que há em nós algo de bom. Então, quando confrontados com a Palavra de Deus, que diz que não há nada de bom em nós, que precisamos ser salvos, e que isso não vem de nós, obviamente ficamos decepcionados. Se o espiritismo for verdade, a Bíblia inteira, de capa a capa, é o pior engano que já existiu. E isso inclui as palavras de Jesus (muito usadas no espiritismo), já que ele endossou tudo o que foi escrito no Antigo Testamento:

“Disselhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos” (Lc 16:29).

“Abraão, porém, lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (Lc 16:31).

“E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicou-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras” (Lc 24:27).

“Felipe achou a Natanael, e disselhe: Acabamos de achar aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José” (Jo 1:45).

“Pois se crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim ele escreveu. Mas, se não credes nos escritos, como crereis nas minhas palavras?” (Jo 5:46-47).

A questão deixa então de ser de lógica e passa a ser de coerência. Se você acreditar na Bíblia, então o Espiritismo é falso. Se crer no Espiritismo, então a Bíblia não pode ser verdadeira.

Se optar por crer na Bíblia, verá que, logo após o pecado no Éden, Deus fez uma vestimenta de pele de animal para cobrir Adão e Eva (substituindo a vestimenta de folhas de figueiras que eles próprios tinham feito). Era a provisão de Deus cobrindo, por meio da morte de um animal inocente, o pecado do homem, o que este foi incapaz de fazer com a obra de suas mãos e um cinto de folhas.

O que motivou Caim a assassinar Abel foi Deus ter se agradado da oferta de Abel — um animal inocente de seu rebanho morto em sacrifício a Deus — e não ter se agradado da oferta de Caim — o fruto de seu trabalho e da terra que cultivou.

A partir daí você verá uma sucessão de sacrifícios ao longo de toda a história do Antigo Testamento. Sempre que alguém pecava, devia levar um animal (geralmente um cordeiro) para ser morto no lugar do pecador. Era o inocente assumindo o lugar do culpado. Séculos se passaram com esses sacrifícios que apontavam para um sacrifício maior sendo repetidos dia após dia, ano após ano.

Até o dia em que, quando vê Jesus, João Batista declara: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. João Batista estava se reportando aos sacrifícios continuados de cordeiros do passado e apontava para o sacrifício definitivo, o Cordeiro de Deus que havia de ser morto.

Se perder isso na sua leitura da Bíblia, certamente não entendeu seu espírito que vai de Gênesis a Apocalipse. Veja, por exemplo, esta cena do céu, em Apocalipse, que se passa no futuro:

“Nisto vi, entre o trono… um Cordeiro em pé, como havendo sido morto… os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro… E cantavam um cântico novo, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação; e para o nosso Deus os fizeste reino, e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra. E olhei, e vi a voz de muitos anjos ao redor do trono e dos seres viventes e dos anciãos; e o número deles era miríades de miríades; e o número deles era miríades de miríades e milhares de milhares, que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória… Ouvi também a toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e no mar, e a todas as coisas que neles há, dizerem: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos: e os quatro seres viventes diziam: Amém.” (Ap 5).

Considerando que tudo o que há no céu, na terra e debaixo da terra irá louvar o Cordeiro que foi morto e com seu sangue os salvou, onde estarão aqueles que considerarão ter sido salvos por seus próprios méritos? Enquanto todos os seres viventes cantarem “Digno és!” dirigindo-se ao Cordeiro, como cantarão aqueles que pretendem chegar lá por seus próprios meios? “Digno sou?”.

Pode me dizer qual será a letra da canção que você cantará? “Digno sou” ou “Digno é o Cordeiro”?

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É possível um cristão entrar em depressão?

Sim, qualquer pessoa pode entrar em depressão, tendo ou não conhecimento de Deus. Muitos santos de Deus do Antigo e Novo Testamento são vistos em momentos de profunda depressão e desespero. Jó é um que sabia muito bem o que era sentir-se deprimido:

“Por isso não reprimirei a minha boca; falarei na angústia do meu espírito; queixar-me-ei na amargura da minha alma. Sou eu porventura o mar, ou a baleia, para que me ponhas uma guarda? Dizendo eu: Consolar-me-á a minha cama; meu leito aliviará a minha ânsia; então me espantas com sonhos, e com visões me assombras; assim a minha alma escolheria antes a estrangulação; e antes a morte do que a vida. A minha vida abomino, pois não viveria para sempre; retira-te de mim; pois vaidade são os meus dias” (Jó 7:11-16).

“… na angústia do meu espírito… na amargura da minha alma… de modo que eu escolheria antes a estrangulação, e a morte do que estes meus ossos.” (Jó 7:11-15).

Ao contrário do que muitos cristãos pensam, que um cristão só passa por depressão se estiver com algum problema em sua vida ou comunhão com o Senhor, encontramos Paulo também profundamente deprimido em mais de uma ocasião, como ele mesmo conta em 2 Coríntios 7:5:

“Porque, mesmo quando chegamos à Macedônia, a nossa carne não teve repouso algum; antes em tudo fomos atribulados: por fora combates, temores por dentro. Mas Deus, que consola os abatidos [deprimidos], nos consolou com a vinda de Tito”.

A palavra “abatidos” aparece traduzida em algumas versões como “deprimidos”. Portanto, ao referir-se que Deus consola os deprimidos, Paulo estava falando de sua condição naquele momento. A pressão que ele sofria, tanto de seus perseguidores como das responsabilidades que tinha para com o povo de Deus chegavam a limites humanamente intoleráveis em muitas ocasiões:

“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira oprimidos acima das nossas forças, de modo tal que até da vida desesperamos” (2 Co 1:8).

Em situações assim até o apóstolo Paulo, que geralmente é considerado um exemplo de cristão, precisava ser ajudado por seus irmãos quando o desânimo caía sobre si. Foi o que aconteceu ao chegar à Itália, profundamente desanimado com as coisas que lhe tinham ocorrido nos dias anteriores. Ele, que no navio em meio à tempestade serviu de ânimo aos passageiros e tripulantes (Atos 27:26), agora precisa ser animado por outros:

“E de lá, ouvindo os irmãos, novas de nós, nos saíram ao encontro à Praça de Ápio e às Três Vendas, e Paulo, vendo-os, deu graças a Deus e tomou ânimo” (At 28:15).

E se pensarmos no que o Senhor sofreu nas horas que antecederam a cruz e também enquanto estava pregado nela antes de sua morte, será que encontraremos alguém mais deprimido, mais desesperado da vida e mais desanimado? Diante dos horrores que tinha diante de si, em sua oração ele chegou a derramar gotas de suor como de sangue e precisou ser confortado por um anjo. Veja como o salmista descreve os sentimentos do Senhor (muitos salmos são proféticos e revelam os sentimentos do Messias) no Salmo 37:6-18:

“Estou encurvado, estou muito abatido, ando lamentando todo o dia… Estou fraco e mui quebrantado; tenho rugido pela inquietação do meu coração… O meu coração dá voltas, a minha força me falta; quanto à luz dos meus olhos, ela me deixou… Quando escorrega o meu pé… Porque estou prestes a coxear; a minha dor está constantemente perante mim.”

Se ao passar por uma depressão você se sente encurvado, abatido, fraco, quebrantado, inquieto, sem forças, em total escuridão, prestes a escorregar e a cair, então saiba que não está sozinho. O próprio Senhor Jesus já experimentou todos esses sentimentos. A única diferença foi que ele não tinha, como nós temos, o pecado agindo em si ou a possibilidade de pecar como nós temos.

Mas ele prometeu não nos abandonar quando essas mesmas dificuldades nos sobreviessem.

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. (Mt 11:28).

O Senhor deu aos que creem nele o Espírito Santo, que o próprio Senhor chamou de “Consolador”. Ora, um Consolador só tem alguma utilidade para pessoas que estão desconsoladas, desanimadas e deprimidas. A quem um Consolador iria consolar se os cristãos fossem super-homens e supermulheres vivendo acima de qualquer depressão, desespero ou tristeza profunda?

A depressão pode ser decorrente de algum problema em nossa vida espiritual, algum pecado não confessado, falta de fé, negligência na oração e até influência de espíritos malignos. Mas, antes que aqueles que gostam de rotular as pessoas com a rapidez com que Davi condenou o homem que tomou a única ovelha do pobre (2 Samuel 12), saiba que também pode não ser nada disso.

A depressão pode ser também circunstancial, por estarmos envolvidos em coisas que nem mesmo nós sabemos quais são, isto é, pode não ser culpa nossa. Foi o que aconteceu com Daniel no período em que passou por uma depressão profunda que durou três semanas:

“Naqueles dias eu, Daniel, estive triste por três semanas. Alimento desejável não comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com unguento, até que se cumpriram as três semanas”. (Dn 10:2-3).

Daniel vai descobrir depois que a razão daquilo era uma batalha espiritual que ocorria em função de suas orações. Ou seja, a depressão pode ocorrer como consequência do que está no mundo invisível, seja por nossa falha ou por nossa fidelidade.

Há, porém, outras formas de depressão que não têm origem espiritual, mas física. Nosso corpo é controlado por hormônios e substâncias químicas que causam verdadeiros rebuliços em nosso humor. Mulheres que conhecem os efeitos da tensão pré-menstrual sabem o quanto seus corpos e mentes podem ser afetados pelas mudanças que ocorrem no organismo nesse período.

Antes de descobrirem a causa de problemas físicos como a epilepsia, tudo era considerado problema espiritual e muitas pessoas sofreram severos danos por causa da ignorância. Infelizmente ainda hoje muitos, por ignorância ou para defender suas crenças, infligem sofrimentos e danos a pessoas que sofrem de depressão ou problemas mentais que, às vezes, nada mais são do que reações do organismo.

Lembro-me quando, em minha adolescência, minha mãe quase morreu depois de um período de depressão profunda que a levou a emagrecer demais e a passar dias sem querer sair da cama ou comer. Vários médicos foram consultados até um descobrir que seu problema era de uma disfunção em uma glândula. Um tratamento adequado resolveu o problema e ela voltou a ser a pessoa ativa que era antes da doença.

O recurso para todo cristão está em Deus e no Senhor Jesus, que sabe tudo o que passamos. Mas é importante também entendermos que Deus pode querer usar algum instrumento para realizar a sua obra em nós, do mesmo modo como usou uma vara para abrir o Mar Vermelho, uma pasta de figos para curar Ezequias (2 Rs 20:7) ou um pouco de vinho para a enfermidade que Timóteo tinha no estômago. (1 Tm 5:3).

Por isso é bom entender que Deus pode querer que recorramos a médicos e medicamentos para sermos curados de enfermidades como a depressão, que aflige um número cada vez maior de pessoas. Mas, do mesmo modo como a vara que Moisés usou, ou a pasta de figos de Ezequias, não podia fazer nada por si só, assim o cristão deve estar ciente de que aquele que às vezes permite que passemos por situações de depressão como Jó e Paulo passaram só permite isso porque tem um propósito.

Esse propósito talvez não esteja muito claro na hora do problema, mas certamente um dia ficará, e então veremos que a sua vontade foi sempre a melhor para nós. Os santos de Deus da antiguidade recorreram àquele que podia tirá-los daquela depressão, e foram atendidos. Nós temos o mesmo Senhor a quem recorrer.

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O cristão deve orar na direção de Jerusalém?

Não, esse era um costume que os judeus adotaram com base no que Deus disse em relação ao Templo em Jerusalém:

“E na terra, para onde forem levados em cativeiro… a ti suplicarem… e orarem para o lado da sua terra, que deste a seus pais, e para esta cidade que escolheste, e para esta casa que edifiquei ao teu nome…” (2 Cr 6:37-38).

O profeta Daniel tinha esse costume, já que também costumava orar voltado para Jerusalém:

“Quando Daniel soube que o edital estava assinado, entrou em sua casa, no seu quarto em cima, onde estavam abertas as janelas que davam para o lado de Jerusalém; e três vezes no dia se punha de joelhos e orava, e dava graças diante do seu Deus, como também antes costumava fazer”. (Dn 6:10).

O que Daniel fazia estava bem de acordo com a vontade de Deus, pois era em Jerusalém que estava o Templo, era lá o lugar que Deus havia escolhido para serem dirigidas todas as orações e levados todos os sacrifícios de seu povo.

Não sei se os judeus fundamentalistas ainda seguem essa prática, mas sei que os muçulmanos fazem isso. Daí a dificuldade do primeiro astronauta muçulmano a viajar para o espaço durante o Ramadã. Por ser religioso, o malaio Muszaphar Shukor enfrentou alguma dificuldade para adaptar sua fé ao espaço.

Uma delas foi a obrigação de orar cinco vezes por dia voltado para Meca. Mas, afinal, onde está Meca quando você está no espaço olhando para uma Terra em torno da qual a estação espacial gira 16 vezes por dia? Daniel teria tido o mesmo problema se fosse astronauta além da dificuldade de definir como guardar o sábado que começa no pôr-do-sol da sexta-feira em um lugar onde o sol se põe 16 vezes por dia.

A questão é que tanto judeus como muçulmanos (sem falar em muitos outros povos) têm sua esperança em lugares terrenos, um erro que muitos cristãos também cometem. Existe uma corrente no cristianismo, compartilhada por muitos líderes norte-americanos (talvez até mesmo pelo presidente Bush) que considera obrigação do cristão implantar o Reino de Deus neste mundo. No caso particular dos Estados Unidos, existe até a crença no Destino Manifesto, segundo a qual o povo norte-americano foi escolhido por Deus para dominar o mundo. Sabendo disso fica fácil entender o ímpeto expansionista daquele país.

Não é muito diferente do que pensavam os católicos da idade média ou dos cruzados em seu afã de libertar Jerusalém. A ideia, às vezes chamada de Teologia do Domínio, é que quando o evangelho for pregado em todo o mundo e os cristãos dominarem o mundo, então o Rei voltará para reinar. Os cristãos seriam assim como cruzados enviados, não a Jerusalém, mas ao mundo inteiro para literalmente conquistar o mundo e obter o domínio secular das nações para que o Rei possa reinar.

Essa ideia é um absurdo e basta estudar história (ou ler os jornais de hoje) para perceber quantas barbaridades são cometidas por cristãos, judeus e muçulmanos em seu afã de conquistar um pedaço de terra que, de importância de longo prazo, só irá servir de sepultura.

Para o cristão não existe um lugar na Terra para onde deva se dirigir em oração, “porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura”. (Hb 13:14) O Senhor Jesus orava “levantando seus olhos ao céu” (Jo 17:1) e é para lá que o cristão também dirige suas orações, hoje contando com um Advogado diante de Deus, Jesus.

Ao contrário de qualquer um que dirija suas orações voltado para uma cidade deste mundo, o cristão tem o privilégio de poder orar de costas para o mundo e de frente para o céu, onde Cristo está. Orar para alguma cidade neste mundo, considerar qualquer lugar aqui santificado ou tentar conquistar um pedaço de terra com o argumento de estar empenhado numa missão divina é não entender o caráter celestial das promessas feitas ao cristão.

Você irá ler por aí coisas do tipo “O Brasil é de Jesus”, “Marcha para Jesus”, “Bancada Evangélica no Congresso” e até frases como “Deus é fiel” ou “In God we trust” impressas no dinheiro por pressão de cristãos. Isso nada mais é do que tentar fincar uma bandeira em um mundo que está reservado para o fogo; nada mais é do que negar o caráter de estrangeiro e peregrino do cristão e tentar, de alguma forma, alegar que tem direito a um pedacinho de um mundo cujo príncipe hoje é o diabo.

“Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”. (Fp 3:20).

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Como suportar a morte na família?

Há muitas coisas difíceis de aceitar, mas acho que a morte é a pior delas. Deus não pede que “sejamos fortes”, que “procuremos esquecer”, que “não choremos”, pois ele mesmo sentiu todas essas coisas. Diante do túmulo de Lázaro, Jesus chorou, demonstrando que o sentimento de tristeza é bem apropriado para o ser humano.

Portanto não tente lugar contra seus sentimentos, simplesmente aceite que tudo vem de Deus. Se quiser chorar, chore; se quiser ficar triste, fique triste, não há nada de errado nisso. Mas, como fizeram Marta e Maria por ocasião da doença e morte de Lázaro, recorra ao Senhor. Não recorra a nada e nem a ninguém mais, senão só a ele.

Muitas pessoas se desesperam quando acham que Deus está muito longe delas e não pode compreender o que estão passando. Isto seria verdade se Deus fosse como muitas religiões ensinam, ou seja, alguma força distante e impessoal, inacessível ao homem e que apenas mantivesse as coisas funcionando. Mas Deus não é assim. Em Cristo pudemos encontrar Deus perfeito e Homem perfeito.

O Filho de Deus se fez carne na Pessoa de Jesus e experimentou o que é andar por este chão, comer a comida que comemos, sofrer fome, sede, dor e abandono. E, mais que tudo, ele sofreu a rejeição por parte de suas próprias criaturas e, na cruz, Cristo foi abandonado pelo próprio Deus quando se fez pecado por nós. Existe alguém que tenha sofrido mais do que ele? Ninguém!

Veja, por exemplo, estas passagens: “Naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados”. “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”. “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles”. (Hb 2:18; 4:15; 7:25).

Tenho absoluta certeza de que o Senhor Jesus pode consolar perfeitamente o seu coração. Ele não apenas pode consolar, mas também salvar perfeitamente os que a ele se chegam. Se você ler o capítulo 3 do livro de Daniel (Antigo Testamento) encontrará a história de três homens de fé, Sadraque, Mesaque e Abednego, que foram lançados em uma fornalha por causa de sua fé em Deus. Eles estavam no fogo, mas não sozinhos. O Senhor estava com eles. Muitas vezes Deus permite que sejamos lançados no fogo das aflições, mas ele não nos deixa sós. É nessa hora que temos que confiar inteiramente nele.

Creio que seu coração deve estar cheio acerca da pessoa que partiu. Você mesmo sabe que a Bíblia deixa bem claro que não existe nenhuma oportunidade de salvação após a morte. Não existe um purgatório como ensina o catolicismo, e nem uma reencarnação, como dizem os demônios incorporados nos médiuns espíritas. É nesta vida que fica selado o nosso destino eterno.

Embora alguém possa achar que não está certo que seja assim, Hebreus 9:27 diz que aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois o juízo. Em Lucas 16:19-31 o Senhor ensinou que, após a morte, os dois homens da história (o rico e Lázaro) já tinham seus lugares assegurados, sem possibilidade de passarem de um lado para o outro. E devemos dar graças a Deus por isso, pois só nos torna mais confiantes por sabermos que, uma vez salvos, salvos eternamente. Leia também 2 Samuel 12:22-23.

É normal que nos preocupemos com a pessoa que partiu, principalmente quando é alguém muito querido. Mas podemos descansar na certeza de que Deus é justo em todos os seus desígnios. Orações e rezas pelos que já faleceram não têm valor nenhum, pois se tivesse, a obra de Cristo teria sido incompleta; seria necessária nossa ajuda. Todavia às vezes não temos certeza se a pessoa que partiu foi salva; não tivemos oportunidade de vê-la convertida.

A salvação não vem pelo conhecimento de doutrinas ou por algum aprofundamento teológico, ou pelo lugar ou pelo modo como nos reunimos. Não é nada disso. Até uma criança pode crer na Salvação que Deus preparou e vou citar alguns versículos que dizem que Deus QUER que todos os homens se salvem (1 Timóteo 2:4), que ele pode salvar PERFEITAMENTE os que se chegam a ele (Hb 7:24-25), que basta CRÊR no Senhor para receber a salvação (Atos 16:30-31), e que basta OLHAR para Cristo para ser salvo (Isaías 45:20-22).

A obra que Cristo consumou na cruz é complexa e de uma profundidade que nunca vamos conseguir entender plenamente. Porém, a parte que cabe ao pecador é simples. Deus QUER salvar. Basta se achegar a ele; basta CRÊR nele; basta OLHAR para ele. Não há nada de complicado. E o Senhor certamente não abandona ninguém sem que tenha uma chance de ser salvo. Ele vai até o último suspiro de um ser humano, procurando, por meio do Espírito Santo, convencê-lo da sua necessidade de um Salvador.

Porventura a pessoa que partiu não ouviu de Cristo? Não escutou o evangelho da salvação? Certamente que sim, de uma maneira ou de outra. É certo que tenha ouvido de Cristo e, mesmo que tenha entendido de um modo não muito perfeito, ouviu, e ficou ciente de que Deus enviou seu Filho ao mundo para salvar. Se, então, mesmo que em seu último suspiro, simplesmente olhou para Cristo, ou simplesmente pediu socorro a ele, Deus operou completa salvação. Não é o grau de nossa compreensão que salva; é a Pessoa de Cristo. Isto não somente tranquilizará seu coração como também tranquiliza o coração de todos aqueles que já perderam algum ente querido. Ninguém sabe o que se passa no coração de uma pessoa nos momentos que antecedem a morte.

Obviamente, aquele que escuta estas palavras e diz: “Bom, então vou deixar para me converter na última hora”, não poderá ficar surpreso se acordar no inferno. Mas alguém que, mesmo sem entender direito, clamou por salvação nos seus últimos momentos, certamente não teve suas palavras levadas pelo vento. Deus escuta e salva.

Conheço uma pessoa que levou uma vida dissoluta, entregue aos pecados e aos prazeres da carne, e que, depois de dois anos enfermo, acabou falecendo. Antes de falecer, pediu perdão à sua esposa por tudo o que havia feito em sua infidelidade para com ela. E na sua última hora, ficou aflito por não saber para onde iria. A pessoa que estava ao seu lado disselhe que chamasse por Jesus, pedindo que o Senhor o salvasse. Aquele homem morreu com seus lábios dizendo: “Jesus, me salva, Jesus, Jesus, Jesus…”.

Pergunto: Será que aquele que sofreu tanto em nosso lugar para nos salvar; aquele que, na cruz, pediu ao Pai que perdoasse seus algozes, não escutou as palavras desse homem? Será que não veio em socorro de um pecador moribundo que, arrependido de seus pecados, embora sem nenhum conhecimento (acho que nunca leu uma linha da Bíblia), morreu com o nome de Jesus em seus lábios? Tenho a firme convicção de que o encontrarei no céu.

A religião do homem tem sempre dois extremos: ou ata fardos pesadíssimos no ser humano, lançando-o num lamaçal de incertezas, ou trata o pecado com leviandade. Escutamos alguns que dizem: “Se você não fizer isto, aquilo e mais aquilo outro, não terá nenhuma chance”. Esses mesmos que falam assim nunca têm certeza nenhuma, pois nunca conseguem cumprir os preceitos que impõem sobre si e sobre outros. Ou então escutamos outros pregarem: “Deus é bom; imagine se ele vai condenar alguém!” Sim, Deus é bom; mas Deus é justo.

Portanto, creia nele e descanse sabendo que o que ele faz é o melhor. E fuja de todo e qualquer contato com o demônio, no caso, por meio do espiritismo e de seus escritos. São demônios, e não espíritos, que são recebidos nas chamadas sessões espíritas. Sua função é enganar, imitando a voz do falecido, falando coisas que só a família conhece, etc. Demônios são seres espirituais que nos cercam o tempo todo e sabem muito a nosso respeito. Temos Cristo e temos a sua Palavra. Como iríamos negá-lo? Como poderíamos ser infiéis a ele que derramou seu sangue para nos salvar?

Para discernir o que vem de Deus e o que vem de homens ou do próprio Satanás, é preciso verificar se a doutrina ou ensino endossa a obra completa de Cristo para a salvação: a morte e ressurreição do Filho de Deus. Até mesmo o apóstolo Pedro chegou a ser enganado quando falou com o Senhor Jesus usando palavras que alguém desatento poderia achar que eram piedosas. Veja este trecho e quem estava por detrás das palavras aparentemente singelas de Pedro:

“Desde então começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. E Pedro, tomando-o de parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso. Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens.” (Mt 16:2).

Espero que esta lhe traga esclarecimento e conforto. Procure orar pelos que ficaram, para que possam se converter.

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Os anjos foram os pais dos gigantes da Bíblia?

Creio que Gênesis 6:2 nos fala de anjos (veja também “filhos de Deus” com o mesmo sentido em Jó 8:4-7), os quais deixaram sua habitação (Judas 6) e são guardados em prisões até o juízo. Deus não perdoou os anjos que pecaram (2 Pedro 2:4) e como em Judas é feita menção a Sodoma, pode ser que a natureza do seu pecado aponte para Gênesis 6:2, ou seja, a concupiscência e insubordinação (2 Pedro 2:10; Judas 1:6-8).

Juntando tudo, ao que parece alguns anjos tomaram a forma humana e uniram-se às mulheres, dando estas à luz filhos. Uma nova raça de “super-homens”, por assim dizer, surgiu sobre a Terra. Varões valentes (Gênesis 6:4). Satanás sabia que da semente da mulher viria aquele que lhe esmagaria a cabeça (Gênesis 3:15). Caim logo demonstrou não ser aquele que era esperado, mas Abel teve aceitação da parte de Deus e certamente Satanás está por detrás do ato de Caim que matou seu irmão. Mas Deus reiniciou a linhagem daqueles que haviam de invocar o nome do Senhor na pessoa de Sete (Gênesis 4:26). A tática de Satanás parece haver mudado então e, ao invés de destruir um ou outro varão nascido de mulher, procurou corromper a linhagem humana, usando as mulheres para gerar uma raça poderosa neste mundo, porém mesclada com a semente de anjos caídos.

É bom que se compreenda que estas linhas são apenas alguns pensamentos e não podemos transformá-los em dogmas ou doutrinas. Há irmãos que não entendem assim e citam Mateus 22:30 para demonstrar que os anjos não se casam. Eu, particularmente, concordo que no estado original eles não possam fazê-lo, mas acredito que poderiam fazê-lo caso tomassem a forma humana. E pode ser que a referência feita em Judas acerca de haverem deixado sua habitação não queira dizer simplesmente o lugar onde habitavam, mas também o seu tabernáculo, isto é, a sua forma original (no sentido de corpo). Se for o que realmente aconteceu, então Deus tinha, no dilúvio, também um propósito de preservar a linhagem humana sem que houvesse uma mescla satânica nas pessoas que viessem a nascer.

A história da humanidade guarda vestígios de algo assim. Entre os egípcios e outros povos há lendas que falam de deuses descendo dos céus para ter relações com mulheres, gerando delas alguns grandes homens, como faraós ou até mesmo os heróis poderosos da literatura grega e de outros povos.

Como um alerta final, gostaria de dizer que, como cristãos, nos regozijamos naquilo que conhecemos, e não devemos nos preocupar com aquilo que não conhecemos. Considerando que aquilo que já conhecemos do Senhor e das bênçãos eternas reservadas para nós nos lugares celestiais podem nos manter ocupados por toda a eternidade, não fica muita coisa com que devamos nos preocupar.

A Bíblia não diz muita coisa dos detalhes dos eventos mostrados em Gênesis. Deus nos diz o que deveríamos conhecer para nos regozijarmos nele. O que passar daí pode cair na esfera da pura especulação.

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Quem não irá no arrebatamento?

Mateus 24 trata do remanescente judeu que testemunhará durante a tribulação. O termo “levado” que aparece nos versículos 40 e 41 nada tem a ver com o arrebatamento. Muitos usam estes versículos como sendo o arrebatamento, mas isso é tirá-los de seu contexto. O contexto é o assunto sobre o qual o Senhor vem se referindo antes, ou seja, o dilúvio (vers. 39) que “LEVOU a todos”, ou seja, foi um ato judicial, foi a morte ceifando vidas. Da mesma forma, quando Cristo vier para reinar (no final da grande tribulação), a morte passará ceifando a muitos; levando a muitos. Os vivos entrarão no milênio. Mas não são cristãos como os conhecemos hoje; serão judeus (ou gentios convertidos) que se converterão durante a tribulação e que NUNCA ESCUTARAM O EVANGELHO ANTES.

Devo chamar sua atenção para o fato de que Mateus 24:14 fala do evangelho do reino e não do evangelho da graça. Há muitos que pensam que o evangelho da graça tem que ser pregado antes a todo o mundo para que Cristo volte. Não é assim. No momento em que o último eleito antes da fundação do mundo para fazer parte da Igreja for salvo, aí Cristo virá buscar os que são seus; os santos celestiais. Aí cessa a pregação do evangelho da graça, que é pregado desde que Cristo foi rejeitado como Rei. “Crê no Senhor Jesus e serás salvo” é o evangelho da graça que hoje pregamos. “Arrependei-vos que o reino está próximo” é o evangelho do reino pregado por João Batista e que será pregado por um remanescente fiel que se converterá após o arrebatamento e será perseguido ferozmente.

A ideia de que alguns crentes menos espirituais ou menos maduros serão deixados para a tribulação é completamente falsa e cai por terra com apenas uma passagem: “Por isso Deus lhes enviará a operação do erro, PARA QUE CREIAM A MENTIRA; para que sejam julgados TODOS OS QUE NÃO CRERAM A VERDADE, antes tiveram prazer na iniquidade” (1 Ts 2:11-12). Aqueles que ouviram o evangelho e não creram, não terão uma segunda chance. O próprio Deus fará com que creiam na mentira do diabo. Os que fazem parte da Igreja tem o Espírito Santo que será tirado da terra quando Cristo vier. Toda a Igreja será arrebatada. Cristo não deixará um “pedaço” da noiva aqui. Hoje, se alguém não tem o Espírito de Cristo, não é dele; nunca creu e não está salvo.

Apocalipse 12 não fala da Igreja. Esta só aparece até o final do capítulo 3 e no final do livro, nas bodas do Cordeiro. Nesse meio tempo Deus estará tratando com Israel. A “mulher” é Israel e o “varão” é Cristo, Aquele que há de reger com vara de ferro e que foi arrebatado para Deus, para o seu trono (veja Ap 12:5).

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O que significa “a letra mata”?

A frase é tirada de uma passagem de 2 Coríntios 3 e é muito usada por pessoas que argumentam que não devemos seguir o que está escrito na Bíblia. Aponte para alguém um versículo com o qual essa pessoa não concorda e ela logo rebaterá dizendo que “a letra mata”, ou seja, não podemos tomar a Bíblia literalmente.

É evidente que devemos sempre olhar o contexto quando algo está escrito na Bíblia. É preciso saber o que vem antes, o que vem depois, quando aquilo foi escrito, por quem foi escrito, para quem foi escrito, etc. Isolar qualquer porção da Bíblia é sempre perigoso. Há por exemplo o versículo que diz que “Não há Deus”, mas antes vem “Diz o ímpio em seu coração: Não há Deus”. (Sl 14:1).

Quando utilizado isoladamente, “a letra mata” tem o mesmo efeito e parece querer dizer que devemos fugir de uma interpretação literal da Bíblia. Mas o que diz antes e depois?

“E é por Cristo que temos tal confiança em Deus; não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, o qual também nos capacitou para sermos ministros dum novo pacto, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fixar os olhos no rosto de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual se estava desvanecendo, como não será de maior glória o ministério do espírito?” (2 Co 3:6-8).

É evidente que a “letra” à qual o apóstolo está se referindo são os dez mandamentos ou a lei como um todo, que foi dada a Israel com o propósito de provar o homem e revelar ser ele incapaz de seguir a lei. A Lei, portanto, é o sinal de contramão e nós aquele enorme caminhão entalado na rua estreita. Assim como faz o sinal, ela nos mostra que estamos na contramão e que nada podemos fazer de nós mesmos para sair disso, a não ser por uma obra de Deus. É aí que entra a graça, é aí que entra Cristo morrendo no lugar do pecador.

Portanto, quando o apóstolo diz que “a letra mata”, ele está dizendo que a lei tem o papel de condenar apenas, não pode dar vida. A letra da lei é a lente de aumento que revela o quanto sou mau e pecador. Um trecho de Romanos esclarece melhor isso:

“Pois, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, suscitadas pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte. Mas agora fomos libertos da lei, havendo morrido para aquilo em que estávamos retidos, para servirmos em novidade de espírito, e não na velhice da letra. Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum. Contudo, eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião, pelo mandamento operou em mim toda espécie de concupiscência; porquanto onde não há lei está morto o pecado. E outrora eu vivia sem a lei; mas assim que veio o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri; e o mandamento que era para vida, esse achei que me era para morte. Porque o pecado, tomando ocasião, pelo mandamento me enganou, e por ele me matou. De modo que a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom. Logo o bom tornou-se morte para mim? De modo nenhum; mas o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a morte por meio do bem; a fim de que pelo mandamento o pecado se manifestasse excessivamente maligno”. (Rm 7:5-13).

Portanto, da próxima vez que você mostrar um versículo para alguém e essa pessoa argumentar que não devemos seguir o que está escrito porque “a letra mata”, é bem provável que essa pessoa é mais uma que gosta de selecionar da Bíblia apenas o que lhe apraz, e rejeitar tudo o que não lhe convém.

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O que acha da “Congregação Cristã no Brasil”?

É difícil explicar para você o que acho, já que você está sob uma carga muito grande de uma concepção de fé associada a uma religião. A fé da qual lhe falo é aquela que existe independente de existirem cristãos no mundo (ou igrejas, ou congregações, ou denominações…). É a fé em Cristo, não em cristãos. Por isso achei apropriada a história de José e Maria, que seguiam os irmãos pensando que com isso estavam onde Cristo estaria, mas acabaram perdendo o menino Jesus de vista e foram obrigados a voltar a Jerusalém para procurá-lo.

Não tentaria explicar isso para algum novo convertido da Congregação Cristã no Brasil, porque isso poderia abalar sua fé, mas você é uma pessoa esclarecida. Não deixe o cérebro do lado de fora da porta quando vai se congregar. Deus nos dá discernimento para compreender a sua Palavra através do seu Espírito Santo, e não devemos aceitar cegamente o que alguém diz ser a Palavra de Deus, só porque a pessoa fala com voz solene e diz estar falando em nome do Senhor. É algo sério alguém dizer que está recebendo uma mensagem de Deus.

Lembro-me de um sujeito que, ao final de um treinamento de vendas que dei numa empresa, identificou-se como cristão e me deu a maior bronca, dizendo que tinha uma mensagem de Deus para mim porque em nenhum momento do treinamento de vendas eu tinha falado do evangelho.

E nem poderia. As horas que passo em treinamento estão sendo pagas pelo cliente para ensinar sua equipe a vender, e seria antiético eu gastar esse tempo com outro objetivo e estaria, em certo sentido, roubando meu cliente. Há outras ocasiões propícias e devemos aproveitá-las, mas ali certamente não era o caso. Minha resposta ao sujeito foi que, ao chegar com aquela história de que tinha uma mensagem de Deus para mim, ele não deixava margem para contestação. Como discutir com alguém que está afirmando ser a boca de Deus para uma comunicação específica?

“Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá”. (Dt 18:20).

A única referência que temos hoje para saber se alguém está falando algo de acordo com a Palavra de Deus é a própria, e não a presunção do que se diz profeta em afirmar que o faz com tal autoridade. Como eu já disse, os varões de Bereia foram chamados de mais nobres porque compararam o que ouviram com as Escrituras. Isso você deveria fazer. Não confie em seus sentimentos, porque os sentimentos são uma manifestação das emoções que podem ter sua origem na carne. Ficamos profundamente tocados por um filme, mas isso não tem nada de real.

“Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus… para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre”. (1 Pe 4:11).

O fundamento de sua fé deve ser Cristo, não os cristãos ou uma “congregação” ou organização cristã. Você diz que a igreja ensina isso e ensina aquilo. Não existe algo como uma igreja que ensine na Palavra de Deus. Isso é um erro importado do romanismo, já que contraria até mesmo a ordem estabelecida por Deus de que as mulheres não devem ensinar. E a igreja é, em tipo, uma mulher, a noiva.

É o Espírito Santo quem ensina, fazendo com que compreendamos sua Palavra. Há aqueles que ministram a Palavra, que “profetizam”, mas não no sentido usado por muitas denominações como se a pessoa estivesse sendo canal direto da voz de Deus sem possibilidade de contestação. Os que profetizam em 1 Coríntios 14 devem ser julgados naquilo que dizem: “E falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem.” (1 Co 14:29).

Ninguém hoje pode falar com a mesma autoridade que tinham os apóstolos ou profetas (como Ágabo) do novo testamento. Os apóstolos e profetas foram dados para estabelecer o fundamento do qual Cristo é a Pedra principal, mas hoje não há mais apóstolos e profetas no sentido dos doze ou de Paulo. Quem profetiza hoje é quem fala do que está na Bíblia, não quem diz receber alguma revelação “inédita”.

“Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, O qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef 3:4-5).

“Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito”. (Ef 2:19-22).

A Igreja (não uma denominação, mas o Corpo formado por todos os lavados pelo sangue do Cordeiro, todos os que verdadeiramente creem em Cristo) está sendo edificada com as pedras que são os salvos sobre um alicerce que foi construído há dois mil anos e é formado pelos apóstolos e profetas do Novo Testamento e pelo próprio Cristo. Ninguém coloca pedras do alicerce nas paredes.

Se alguém hoje se declara ter a autoridade dos apóstolos e profetas do alicerce, vai ter que explicar isso direitinho para o Senhor quando chegar a hora. É um usurpador de uma autoridade que Deus não deu a ninguém. Profetizar hoje não é no sentido de trazer uma revelação inédita, mas apenas de “proferir” o que os apóstolos e profetas já disseram no N.T.

Preocupei-me quando você disse que segue a Congregação Cristã no Brasil. Há uma diferença enorme entre seguir uma denominação religiosa e seguir a Cristo. Na primeira, você tem um compromisso com algo que os homens criaram, ainda que tenham criado dizendo-se dirigidos por Deus, que ouviram uma voz, que tiveram uma revelação etc.

A maioria das religiões e denominações que estão por aí dizem que começaram assim e você nunca estará segura se seguir esse tipo de “revelação” sem conferir exatamente o que diz a Palavra de Deus. O número de “igrejas” por aí dizendo ser “a única verdadeira” e que foram criadas por uma revelação recebida por alguém só deve ser menor do que o número de pessoas nos sanatórios que se dizem ser Napoleão. O orgulho e a vanglória de querer ser Napoleão ou um novo profeta de Deus não são coisas muito diferentes. Deus não criou nenhuma religião ou denominação religiosa, pois se tivesse feito isso estaria dividindo os crentes por denominações, títulos ou líderes, o que a Bíblia diz ser carnalidade:

“Pois a respeito de vós, irmãos meus, fui informado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo; ou, Eu de Apolo; ou Eu sou de Cefas; ou, Eu de Cristo. Será que Cristo está dividido?… Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais?” (1 Co 1:11-13; 3:3-4).

Uma vez um judeu me disse que se Cristo fosse realmente o Messias, os mestres de sua religião teriam ensinado assim. Mas como os tais mestres não ensinavam assim, ele continuava no judaísmo. Como se a única responsabilidade recaísse sobre os tais mestres (esses têm responsabilidade maior), mas a responsabilidade por crer é individual. É a alma individual que está em jogo.

É complicado explicar a você em quê eu creio, porque você está bastante condicionada a associar fé com um lugar, um templo, uma congregação. Eu continuaria crendo igual mesmo que fosse o único cristão na face da terra, porque o fato de me reunir com outros cristãos é só isso, uma reunião de comunhão e adoração, não uma associação que crie ou mantenha um dogma para ser crido por todos sob seu teto.

Tanto é que na maioria dos lugares onde os irmãos com os quais tenho comunhão se reúnem somente ao nome do Senhor, o fazem na casa de alguém, numa escola ou (como acontece numa localidade no Egito, onde reuniões cristãs são proibidas) num barco no meio do Nilo. Não existe uma organização, apenas pessoas que se reúnem num lugar, portanto não enxergue isso como uma religião que eu siga ou uma igreja da qual eu seja membro.

Há pessoas que acreditam que apenas uma religião leva a Deus, porque o que acreditam na verdade não é no poder do sangue derramado na cruz, mas na capacidade do homem em obedecer a uma lista de leis e regras (que diferem entre as religiões). O raciocínio é simples. Se a religião “X” tem a lista de regras mais correta, obviamente essa é a religião de Deus e só será salvo quem estiver ali, já que entre as regras listadas está a regra de estar ali. Parece familiar a você?

Fazer isso é um terrível pecado, é usurpar a Deus o direito de salvar com base na suficiência completa do sacrifício de seu Filho na cruz. É dizer que Cristo não seria suficiente para salvar se não existisse a religião tal. É também dar ao ser humano uma participação no crédito de sua própria salvação. Se fui eu quem seguiu direitinho as regras, então uma salva de palmas para mim… e algumas para Cristo.

Acreditar que somente na “Congregação Cristã do Brasil” que você frequenta é possível ter a salvação, é negar que nossa natureza seja tão vil que ainda poderíamos encontrar algo nela capaz de seguir regras e mandamentos. É dividir a glória de Deus com os homens e, o que é mais perverso, fechar o caminho a Cristo para alguém que não tem acesso a essa congregação.

Você é cúmplice de um pensamento assim? Uma religião que estabeleça algum fundamento de salvação além do próprio Cristo — seja esse fundamento uma lista de regras ou a necessidade de ser membro da tal religião — não é de Deus. “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que JÁ ESTÁ POSTO, o qual é Jesus Cristo”. (1 Co 3:11).

Quando foi posto o fundamento sobre o qual você alicerçou sua fé? Se foi há dois mil anos, é o mesmo sobre o qual cristãos convertidos ao longo dos séculos colocaram sua fé. Se for um que teve uma data de fundação posterior, não é um fundamento colocado por Deus, porque NINGUÉM pode estabelecer outro.

Em João 3:16 lemos: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. O que diz aí? …para que todo aquele que não faz tal e tal coisa, ou que pertença a determinada congregação, não pereça? Certamente que não é assim que está. Diz apenas “para que todo o que nele (em Cristo) CRÊ”!

O apóstolo Paulo escreveu uma carta aos crentes da Galácia, os quais afirmavam que para ser salvo era necessário não apenas crer em Cristo, mas também guardar a Lei, ou seja, praticar determinadas obras. A eles Paulo responde: “Ó insensatos gálatas… Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gl 4:9-10)Paulo compara o seguir regras ou a Lei para ser salvo como carnalidade.

Só Cristo pode nos salvar, pois morreu na cruz sendo castigado por Deus Pai no lugar do pecador. Todo aquele que nele crê tem a vida eterna, está salvo eternamente. E isso não depende do que fazemos ou deixamos de fazer, mas do que Cristo fez; “e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2:8). Portanto, a nossa salvação depende EXCLUSIVAMENTE de Cristo e de sua obra; não depende de nós, pois se dependesse de nós, a glória seria nossa. Mas, graças a Deus, não depende de nós que somos pecadores e sempre propensos a pecar.

Quando um pecador vem a Cristo, arrependido de seu estado pecaminoso, isto só acontece por obra do Espírito Santo em seu coração, pois é o Espírito Quem nos convence do pecado (João 16:8). Então, pela fé, o pecador crê que Cristo tomou o seu lugar na cruz carregando o seu pecado (do pecador).

Quando o pecador assim crê, Deus lhe dá a salvação que é completa; Deus lhe dá o perdão que também é completo e esta pessoa nunca mais perderá a salvação, pois é um dom de Deus (Ef 2:8) e nunca lhe será tirada por Deus “porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Rm 11:29). Deus não “tira” a salvação do crente, e ninguém mais pode fazê-lo “porque estou bem certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor!” (Rm 8:38-39)

Bom, acho que escrevi demais. Minha preocupação é sincera, creia-me. E pondere isso à luz da Palavra de Deus (não à luz do que eu ou outra pessoa disser), pedindo que Deus mesmo esclareça a você. Outra vez, não deixe o cérebro na porta. Deus ordenou que o que for falado seja julgado e o padrão que temos para tal julgamento é a Palavra de Deus e seu Santo Espírito que habita no crente.

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Devemos seguir o Antigo Testamento?

Quando lemos o Antigo Testamento é importante discernir que aquilo foi primeiramente escrito para o povo terreno de Deus, o israelita, escolhido desde a fundação do mundo. Tecnicamente, o Antigo Testamento vai até Atos, em Pentecostes, que é quando começa a Igreja, para a qual foram escritas as epístolas com a doutrina dos apóstolos. A Igreja não aparece em nenhum lugar do Antigo Testamento, porque era um mistério (Paulo fala disso em Efésios e que coube a ele revelar esse mistério).

Portanto, tudo o que encontra no Antigo Testamento não se aplica diretamente à Igreja, mas pode ser aplicado na forma de princípios ou sombras de coisas que viriam.

Uma pessoa no Antigo Testamento dificilmente teria certeza de sua salvação, pois só conhecia até a lei, os mandamentos. A graça é revelada na sua plenitude em Cristo. Graça é Deus dando o que não merecemos e misericórdia é ele deixando de dar o que merecemos.

No sentido do Antigo Testamento, creio que dizia mesmo de pesar, embora a lei só servisse para condenar e a pessoa, em última instância, acabava salva mesmo era pela fé, pela graça e misericórdia de Deus. Não fosse assim… Qual personagem do Antigo Testamento você encontra que não tenha pecado coisas horrendas? Certamente nenhum dos famosos, Davi, Salomão… Felizmente eles foram justificados pela fé, independente das obras (Romanos 4).

Quanto ao crente hoje, ele é salvo por graça para andar nas obras que Deus preparou. Se não andar? Bem, será salvo, mas como que pelo fogo, ou seja, entrará no céu de mãos abanando.

O cristão não entrará em juízo (João 5) no sentido de um julgamento criminal, como acontece nos tribunais. Mas ele entrará num julgamento no sentido de um concurso de obras de arte, para receber prêmio (galardão). É disto que fala 1 Coríntios 3:

“Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo”.

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O cristianismo não é uma religião?

Será que entendi que você é católico? Quando me converti a Cristo voltei para o catolicismo onde havia sido criado. Durante um ano fui assíduo frequentador das missas e ajudava o padre, tendo formado um grupo de jovens para estudar a Bíblia. Enquanto isso devorava os livros de doutrina católica e a Bíblia, até perceber que havia várias discrepâncias (a primeira foi a sensação de ter sido ludibriado quando descobri que os dez mandamentos haviam sido reduzidos a 9 e o último dividido em dois para continuarem dez). Você deve ter lido minha história em www.stories.org.br/angels.html/.Na escola podemos aprender que o cristianismo é uma religião, como tantas outras. Mas não é tão simples assim.

Ao contrário do que aconteceu com o judaísmo, a única religião no verdadeiro sentido da palavra que foi dada por Deus aos homens, o cristianismo não é nem a continuação do judaísmo e nem uma nova religião. Sim, você está certo ao falar de religião com sua conotação de “religar”, mas o cristianismo não é capaz disso. Foi uma Pessoa que Deus deu para religar o homem a Deus e, em certo sentido, nem é mais religar, mas criar de novo, porque Deus não reforma a ruína em que se tornou o homem com a queda. Deus cria um novo homem em Cristo. Trata-se de uma nova criação (a tradução mais adequada para “Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” 2 Co 5:17).

O judaísmo, sim, era uma religião, com seus rituais, suas práticas, seus dogmas, seus sacerdotes, e tantas coisas que acabaram só servindo para reforçar a realidade de que é impossível o homem se salvar ou se “religar” a Deus por suas próprias práticas.

Você escreveu que nem toda a verdade está na Bíblia, mas a pergunta óbvia para isso é “O que é a verdade?”. Pilatos fez a mesma pergunta: “Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? E dito isto, de novo saiu a ter com os judeus, e disselhes: Não acho nele crime algum” (Jo 18:38). Pilatos nem ao menos deu tempo para a resposta, pois imediatamente voltou-se para os judeus. A verdade estava na frente dele.

Sim, a Verdade é Cristo e a Bíblia contém toda a Verdade, porque é de Cristo que ela se ocupa. Ele é o princípio e o fim da Bíblia tanto quanto da Criação em Gênesis (“No princípio era o Verbo…”) quanto das últimas palavras de Apocalipse (“Ora, vem, Senhor Jesus”). Cristo é o cerne e espírito de tudo o que Deus quis revelar ali, pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia” (Ap 19:10).

É claro que seria impossível toda a verdade acerca de Jesus, a Verdade em Pessoa, caber em um livro. É por isso que, quando a Bíblia apresenta em maior profundidade seu caráter de Deus, ela o faz através do evangelho de João, um livro que, de suas primeiras às suas últimas palavras, não tem começo (“No princípio…”) e não tem fim (“E ainda muitas outras coisas há que Jesus fez; as quais se fossem escritas uma por uma, creio que nem ainda no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem”).

Pensar em “erros” na transmissão da Palavra de Deus é pensar que não exista um Deus cuidando disso e que nós, meros humanos, poderíamos por tudo a perder. De fato pusemos tudo a perder no sentido do testemunho que foi deixado aos homens (veja a bagunça em que se transformou a cristandade), mas no que ficou para Deus resolver, ele cuidou direitinho para que eu e você pudéssemos ter acesso à sua Palavra. Antes de Gutemberg ela era copiada à mão ou guardada na memória. É um engano pensar que apenas Roma teve acesso aos manuscritos (que são, na verdade, cópias de cópias). O volume de manuscritos existentes fora dos muros de Roma é maior do que os existentes lá.

Havia imperfeições na transmissão? Possivelmente, mas sabendo que nada acontece se não existir uma ação do Espírito Santo na alma antes até da pessoa receber a Palavra de Deus, podemos ficar sossegados que ele deu um jeito de salvar pessoas todo esse tempo, apesar das imperfeições dos homens. A ideia de sucessores dos apóstolos é equivocada, já que apóstolos não tiveram sucessores (não há apóstolos hoje), por terem sido pedras do alicerce do qual Cristo foi a pedra angular.

Sei que muitos católicos se arrepiam quando trato deste assunto, mas Pedro não foi a “pedra” sobre a qual Cristo disse que edificaria sua igreja, pois decidi perguntar isso a Pedro e ele respondeu dizendo quem era essa “pedra” à qual Cristo se referia. “Chegando-vos para ele, [Jesus] pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa. Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual… Eis que ponho em Sião a Pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas para os rebeldes, a Pedra que os edificadores reprovaram essa foi a principal da esquina: e uma Pedra de tropeço e Rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na Palavra”. (1 Pe 2:4-8).

Quanto às pessoas às quais você se referiu, que viveram santamente, se elas creram em Jesus estão salvas, no céu. Minha mãe, que já está lá porque creu no Salvador, costumava dizer às suas amigas católicas, tendo ela mesma sido católica por muitos anos antes de entender o evangelho mais claramente: “De quem São Fulano, Santa Cicrana e São Beltrano eram devotos? Leia a história deles e você verá que todos eram devotos de Jesus. Faça o mesmo você.”

Já sobre as referências que fez a Lourdes e Aparecida, obviamente falando das aparições e dos chamados “milagres” que se seguiram, tenho minha opinião a respeito. Deus jamais quis exaltar qualquer um de seus santos do Novo Testamento e, por mais que Maria, mãe de Jesus, tenha sido bem-aventurada e mulher escolhida para o Espírito Santo gerar nela a humanidade do Salvador, é diante de Cristo que todo joelho se dobrará e toda língua confessará que é Senhor. Jesus, que é Deus, não pode ter sua glória e majestade dividida com Maria, e nem posso crer que aquele que disse claramente “Vinde a mim” iria querer que eu fosse a algum preposto para poder chegar a ele.

A religião “mariana” nada mais é do que uma adaptação que o catolicismo fez dos antigos ritos pagãos que veneravam o elemento feminino como símbolo da fertilidade. O fato de alguém enxergar uma aparição e sinais decorrentes disso não é suficiente para se colocar a chancela de algo vindo de Deus. Paranoia e manifestações demoníacas são apenas duas das explicações para a maioria dos chamados “milagres” que vemos por aí que não fazem outra coisa senão desviar o olhar dos incautos, tirando-o de Cristo e colocando-o em alguma imagem de barro ou representação de alguma criatura. “Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível” (Rm 1:22-23).

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Devo participar de abaixo assinado contra filme?

Você pergunta o que deve fazer com o e-mail que recebeu denunciando um suposto filme blasfemo contra a Pessoa do Senhor Jesus, intitulado “Corpus Christi”, e se deve atender ao pedido do e-mail que diz para colocar seu nome no abaixo assinado para proibir a exibição do filme no Brasil, além de enviar cópias para toda a sua lista de contatos.

Já recebi o e-mail duas vezes este mês e algumas vezes no passado. Bem, para começar o e-mail é mais uma lenda da Internet, essas correntes que começam e nunca mais acabam. É tão velho quanto a Internet e de vez em quando reaparece. Embora tenha existido uma peça nos Estados Unidos há muitos anos com o mesmo enredo, ela nunca decolou e tampouco virou filme. O e-mail que vem na mensagem dizendo para onde devem ser envidas as assinaturas quando completarem 500 é de uma conta cancelada. Enfim, é tudo mentira e quem está se dando ao trabalho de enviar para seus contatos está caindo no conto do filme.

Mas vamos supor que fosse verdade e que realmente estivesse para ser lançado o tal filme. Se eu fizesse um filme assim adoraria que as pessoas fizessem esse protesto, porque muitos que nunca iriam ouvir falar do filme acabariam ficando sabendo e ficariam curiosos a respeito. Propaganda negativa também é propaganda e há casos em que a empresa que lança um produto espera que exista uma propaganda negativa para seu produto ir parar na mídia. Até hoje não ficou claro se a história da pirataria do filme Tropa de Elite foi real ou um golpe de propaganda, porque saiu nos jornais do mundo todo como o filme que já tinha sido pirateado bem antes de ser lançado.

Eu não passaria adiante esta mensagem porque estaria contribuindo para divulgar o filme. Eu mesmo nunca tinha ouvido falar até começar a receber este tipo de e-mail. A ocupação com o mal pode causar até certa adrenalina no crente, mas não lhe traz bem algum. Devemos nos ocupar com as coisas do alto, onde Cristo vive.

Sugestão: deixe de se preocupar com o mal, ainda que sob o pretexto de combatê-lo, como aqueles que ficam procurando coisas em filmes do Walt Disney, He Man, tocando músicas da Xuxa ao contrário e coisas semelhantes. Muitos pregadores por aí vivem procurando chifres em cabeça de cavalo e pelo em ovo para fazer alarde de suas descobertas. Com isso acabam simplesmente despertando a curiosidade das pessoas e fazendo com que elas corram para cinemas ou locadoras para pegar o DVD ou tocar músicas ao contrário só para conferir se é mesmo coisa do Diabo. A Disney e outros produtores de filmes e músicas deviam pagar uma comissão a esses pregadores.

Você vai encontrar o mal em qualquer coisa que exista no mundo, porque aqui não é o céu, é o mundo! Ora, o mundo jaz no maligno, o dinheiro que usamos é sujo, a arquitetura, a moda, a indústria, o entretenimento, tudo isso é parte de um mundo que foi construído pouco a pouco pelos descendentes de Caim. Não cabe ao cristão endireitar o mundo porque o mundo jaz no maligno e está reservado para o fogo. Cabe ao cristão pregar o evangelho e conquistar almas para Cristo. Se soubesse que o navio está afundando, você tentaria pintar o navio de uma cor mais bonita ou correria salvar os que estão afundando com ele? Abraão viveu peregrino na terra prometida, enquanto seu sobrinho Ló tentava ser alguém em Sodoma (assentava-se à porta com os juízes da cidade) e fazer de Sodoma um lugar melhor para se viver. Deu no que deu.

O jeito é nos ocuparmos com Cristo, porque é melhor ocupar sua mente com o bem do que com o mal, ainda que seja com a intenção de combatê-lo. A ordem é se afastar do mal, não ficar se ocupando com ele. É comum recém-convertidos se apegarem com muita força a questões assim por um zelo excessivo. Quando acabamos de nos converter, às vezes sem querer acabamos “cozinhando o cabrito no leite da mãe”, (Dt 14:21), ou seja, usando algo que foi designado para alimentar como instrumento de morte. É o que às vezes fazemos batendo com a Bíblia na cabeça das pessoas (não literalmente, claro). Há muitos cristãos que fazem isso, empunhando sua fé como quem empunha uma metralhadora. Acham que estão em uma guerra santa e devem expulsar os infiéis. Quando são presos ou processados por essa violência religiosa, colocam-se no papel de mártires e passam a se comparar aos apóstolos.

Acabo de saber de uma igreja batista nos Estados Unidos que foi processada e deve pagar 10 milhões de dólares em indenização por difamação e danos morais à família de um soldado morto no Iraque. O pessoal dessa igreja tem o péssimo hábito de comparecer a funerais de soldados com o seguinte raciocínio: “Porque os Estados Unidos aceitam homossexuais nas Forças Armadas, então Deus rejeitou os Estados Unidos e os soldados norte-americanos que morrem vão para o inferno, porque Deus está castigando as Forças Armadas”. O problema é que, além de acreditar nessa bobagem, eles vão aos funerais com cartazes dizendo “Você vai para o inferno”“Deus odeia homossexuais” e coisas do tipo. Já pensou para um pai ou uma mãe ter de aguentar isso no funeral de um filho?

Uma ocupação excessiva com o mal certamente não vem de Deus. Este mundo não é o lar do cristão, é o território de Satanás, que domina aqui (“o príncipe deste mundo”). Ninguém vai consertar o mundo antes que o Senhor volte para dar um jeito nele.

“Ninguém vos engane com palavras vãs… não sejais participantes com eles…; andai como filhos da luz (pois o fruto da luz está em toda a bondade, e justiça e verdade), provando o que é agradável ao Senhor; e não vos associeis às obras infrutuosas das trevas, antes, porém, condenai-as; porque as coisas feitas por eles em oculto, até o dizê-las é vergonhoso… para que não sejamos vencidos por Satanás; Porque não ignoramos os seus ardis” (Ef 5:6-12; 2 Co 2:10-11).

O contrário também é verdadeiro e cabe ao cristão ser sábio para saber quando Satanás está, ora promovendo o mal e angariando com isso a ajuda de cristãos incautos para fazer propaganda, ou quando ele aparentemente está querendo ajudar na propagação do evangelho (sabe como é, hoje há políticos, comerciantes e um montão de gente interessada em financiar cristãos para conseguir seus objetivos).

Paulo passou por uma situação assim, mas soube identificar que aquilo que parecia ser propaganda positiva (“Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo” At 16:17) nada mais era do que uma artimanha do inimigo usando uma mulher possessa para exaltar os servos em lugar do Deus dos servos.

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O nome de Jesus só pode ser pregado em hebraico?

Você disse que leu sobre denominações que ensinam que não seria correto anunciar o nome do Senhor Jesus, a menos que isso fosse feito em hebraico, ou seja, na forma original que, segundo essas pessoas, seria “Yehoshua”.

Já vi algo assim e em linguagem popular a expressão usada para isso é “procurar pelo em ovo” ou “chifre na cabeça de cavalo”. A ideia dessas pessoas de só falar o nome em hebraico é uma bobagem muito grande, pois os próprios evangelhos (exceto Mateus) e o restante do Novo Testamento foram escritos em grego.

É claro que elas alegam que está assim nos manuscritos que deram origem às traduções que temos hoje, mas nos originais escritos pelos apóstolos a grafia seria a correta. Obviamente isso implica em uma pitada de teoria da conspiração para culpar a igreja católica por ter dado sumiço nesses originais. Só não fica claro como souberam que nos aludidos originais estava assim se eles sumiram…

Além disso, a que hebraico essas pessoas estão se referindo? Sim, pois há o hebraico clássico, falado nos tempos do Antigo Testamento, e o moderno falado hoje. Entre um e outro há o aramaico, falado nos tempos de Jesus.

Lá diz que o hebraico clássico é hoje impronunciável por ser indecifrável, devido a não existência de vogais. Seria como se hoje você descobrisse a palavra “ncnsttcnlssmmnt” em um suposto português de dois mil anos atrás (obviamente não havia português há dois mil anos) e tentasse decifrá-la. Quem poderia saber que aí estaria escrito “inconstitucionalissimamente”?

Quase 600 anos antes de Cristo o hebraico clássico começou a ser substituído pelo aramaico, que era a língua usada nos tempos do Senhor Jesus. Foi só no final do século 19 e começo do século 20 que apareceu o hebraico moderno, o iídiche, que tem influências de outras línguas.

Mas talvez essas pessoas estejam se referindo ao aramaico, e não ao hebraico clássico, em sua exigência de se falar corretamente o nome de Jesus. Mas como saber como era falado o aramaico há dois mil anos? Sabemos como era escrito, mas isso não garante que vá ser falado da mesma maneira por um chinês, um árabe e um alemão.

Um espanhol lê “Jesus” fazendo soar “Ressus”. Um paulista que ler a palavra “Jesus” irá pronunciar “Jêsús” e alguém do nordeste “Jésus”, enquanto no Rio vai soar mais ou menos como “Jesuich” (cariocas fazem o último “s” soar como “ch” ou “xis”. Se isso acontece no Brasil no século 21, como vamos saber como o nome era falado há dois mil anos em Israel?

Essa é mais uma seita que procura colocar alguma particularidade sob um imenso farol só para dizer que ninguém mais está salvo exceto seus membros. Neste caso é o nome em hebraico, enquanto em outras é a guarda do sábado, a proibição para o uso de fotografias etc. Alguém sempre vai inventar alguma regra exclusiva. Por mais que o nome represente a pessoa, não foi um nome que morreu na cruz do calvário, mas a pessoa do Senhor. E é ele “quem” salva, e não “o que” salva.

Tenho certeza de que se cavarmos mais fundo nas doutrinas dessa gente iremos encontrar alguma heresia das bravas, pois geralmente quando alguém se apega a um detalhe assim é apenas para criar uma barreira de fumaça para não vermos onde está o erro grande.

“… Portanto, assim como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim também nele andai, arraigados e edificados nele, e confirmados na fé, assim como fostes ensinados, abundando em ação de graças. Tendo cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo… Se morrestes com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies (as quais coisas todas hão de perecer pelo uso), segundo os preceitos e doutrinas dos homens? As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria em culto voluntário, humildade fingida, e severidade para com o corpo, mas não têm valor algum no combate contra a satisfação da carne.”. (Cl 2:6-23).

E se tem uma coisa que perece ou se altera com o uso é o idioma. A grafia de um nome é decorrência do modo como é pronunciado, e a pronúncia, por sua vez, também vem das influências culturais e idiomáticas sobre quem lê a mesma palavra. Existe até uma anedota a respeito disso. Vai abaixo, para descontrair. Mas não perca seu tempo com essa bobagem, porque é mais uma das milhões de seitas que tentam achar algo em que se apoiar só para desviar a atenção do verdadeiro evangelho e do caminho da salvação, que é pela fé em Cristo e em Sua obra consumada.

“O Paiva, ao chegar aos Estados Unidos, teve problemas com seu nome. Foi só entregar um cartão com seu nome, ‘Paiva’, para o americano pronunciar ‘Peiva’. Como queria agradar o cliente, o jeito foi mandar fazer um novo cartão escrito ‘Mr. Peiva’. O próximo americano que leu chamou-o de ‘Piva’. O Paiva imprimiu novos cartões, agora com ‘Piva’, achando que era assim que os clientes gostariam de chamá-lo. A partir daí os americanos passaram a chamá-lo de ‘Paiva’.”

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É certo eu ser chamado de fundamentalista?

Você está preocupado se deve aceitar ou não que alguém o chame de “fundamentalista”. Depende muito do referencial adotado. Se a pessoa está tomando como referência, por exemplo, as modernas seitas pentecostais, é uma forma de identificação, embora possam existir os que se considerem “pentecostais fundamentalistas” e “pentecostais… alguma coisa mais”.

Porém a pessoa pode estar se referindo a fundamentalista como fanático, então é outra coisa, como a imprensa costuma às vezes falar de muçulmanos fundamentalistas como os radicais. A palavra “fundamentalista” também pode se aplicar a quem acredita que os cristãos devam dominar o mundo antes que Cristo venha (Teologia do Domínio), uma das preferidas do sul dos Estados Unidos. Fundamentalista tem vários significados, dependendo do ponto de referência e do gosto do freguês.

Em uma época de tanta confusão, já nem ligo mais quando alguém me chama de evangélico, fundamentalista, protestante, crente etc., porque cada palavra pode ter um significado diferente para diferentes pessoas. Para alguns, “crente” soa como algo pejorativo, coisa de fanático. Para mim, protestante significa apenas uma variante do catolicismo que entendeu a salvação pela fé sem, contudo, abandonar os laços políticos com o mundo.

De qualquer modo, acho que é tudo como aquela discussão interminável entre católicos e protestantes sobre se o correto é “rezar” ou “orar”. Ou, talvez, “crer” ou “acreditar”. Uma coisa eu sei: a única palavra que o Senhor usa para se referir a nós é “irmãos”:

“Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos” (Hb 2:11).

Até mesmo a palavra “cristãos” foi um apelido dado pelos incrédulos e talvez não tivesse o sentido que damos hoje ao termo. Creio até que o sentido de “cristãos”, inventado pelos incrédulos de Antioquia (eram chamados por outros desse nome — Atos dos Apóstolos 11:26) era discriminatório.

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Como se reunir sem um templo?

Sua dúvida não é usual, pois a maioria das pessoas está tão condicionada a “igrejas”, “capelas”, “catedrais” e “templos” de pedras ou tijolos que nem percebe que não existiam essas coisas no tempo que sucedeu a formação da igreja em Atos 2.

Obviamente, no início, os primeiros cristãos continuaram dirigindo-se ao templo em Jerusalém, mas isso ocorreu porque ainda não tinham entendido que a igreja nada tinha com a velha ordem de coisas do judaísmo. Quando começou a perseguição eles foram obrigados a se reunir em casas e outros lugares, tanto em Jerusalém, como em outras cidades para onde fugiram à medida que a perseguição aumentava.

Onde costumo me reunir usamos um salão com aproximadamente uns 80 ou 100 lugares. Em outras localidades também são utilizados salões, salas de escritório, casas, salas de reuniões em hotéis, o que melhor atender. Algumas assembleias de algumas localidades costumam promover reuniões especiais convidando irmãos de outras assembleias (tipo três dias de reuniões), e aí utilizam hotéis com a infraestrutura para as refeições ou simplesmente algum salão alugado e cada um leva seu alimento, dependendo da ocasião.

Já ouvi de irmãos no Egito que faziam reuniões no porão emprestado de uma igreja católica, pois lá só permitem aos cristãos se reunirem em locais que tenham sido construídos e autorizados para isso há muitos anos. Lá e em outros países muçulmanos não se permitem novas reuniões, nem pregar o evangelho ou distribuir folhetos nas ruas. Você só pode evangelizar outra pessoa se ela professar o cristianismo, pois é proibido evangelizar muçulmanos.

Esses irmãos, quando promovem reuniões especiais, alugam um barco e vão para o meio do Nilo. Enfim, a necessidade faz o local físico, mas não é este o importante (pode ser sob uma árvore ou dentro de uma Kombi), e sim as pessoas reunidas. Aqui costumamos dizer que vamos à reunião. (que é a tradução do grego Eclésia, que significa assembleia ou ajuntamento de pessoas).

Você perguntou como é tratado um irmão visitante mais experiente na Palavra, se é chamado de algum título distinto ou se tem precedência na exposição da Palavra. Normalmente quando vem algum irmão mais experiente na Palavra podem acontecer duas coisas. Se ele estiver participando de uma reunião normal de estudo ou ministério e sentir que tem algo a dizer, tomará a palavra, como qualquer outro irmão local faria, quer ele estivesse ali ou não.

Caso esse irmão mais experiente tenha um assunto muito interessante que os irmãos do local queiram usufruir com mais tempo, pode até serem programadas reuniões especiais para ele expor esse assunto. Obviamente, se for este o caso, ele tomará a frente da reunião, como normalmente é feito no caso de uma pregação do evangelho. Não existe qualquer título identificando este ou aquele irmão. E aqui vai um detalhe curioso: na versão King James em inglês há um versículo, referindo-se a Deus, que diz: “Reverendo é o seu nome”. (Sl 11:9).

Mais uma vez, insisto que o importante é o agrupamento das pessoas, a assembleia, e não o edifício (ou o barco ou a Kombi dos exemplos). O cristão não possui um templo de pedras ou tijolos onde adorar. Só havia um templo assim, e era o que Deus mandou construir em Jerusalém, onde em seu lugar existe hoje uma mesquita muçulmana. A cristandade copiou muitas coisas do judaísmo para justificar suas práticas clericais: templos, sacerdotes, vestes especiais, corais, dízimos etc.

“Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e estranhas, porque bom é que o coração se fortifique com graça, e não com alimentos que de nada aproveitaram aos que a eles se entregaram. Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo. Porque os corpos dos animais, cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial. E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério.” (Hb 13:9-13).

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Quem são os justos na Bíblia?

Todos aqueles que foram justificados por Deus, não aqueles que tentaram se justificar a si mesmos por atos de justiça. É um grande engano pensar que somos justificados pelo nosso modo de agir. O mais justo dentre os homens sempre será ímpio se comparado com a justiça de Deus. Veja o caso de Jó e o que um de seus melhores amigos conta que ele fazia (ele devia saber):

“Porventura não é grande a tua malícia, e sem termo as tuas iniquidades? Porque sem causa penhoraste a teus irmãos, e aos nus despojaste as veste Não deste ao cansado água a beber, e ao faminto retiveste o pão. Mas para o poderoso era a terra, e o homem tido em respeito habitava nela. As viúvas despediste vazias, e os braços dos órfãos foram quebrados” (Jó 22:5-9).

Todavia, a opinião de Deus a respeito de Jó era bem diferente:

“E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal” (Jó 1:8).

A opinião de Deus era vertical, baseada na sua justificação do ímpio. A opinião de Jó era baseada na justificação horizontal, de homem para homem. É por isso que existe uma aparente discrepância entre Tiago e Romanos:

“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?… Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras…. Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?” (Tg 2:14-21).

Tiago falava da justificação horizontal, “mostra-me a tua fé sem as obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Mas em Romanos, Paulo fala da justificação em seu aspecto vertical, como Deus vê o homem:

“Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei… Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus… Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça… Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça. Assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, E cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado” (Rm 3 e 4).

Davi também foi justificado por Deus, mas não tinha nada que pudesse fazê-lo merecer. No tempo em que os reis deviam estar guerreando ele estava em casa, dormindo até tarde, olhando uma mulher se banhando. Não satisfeito com o que tinha, ainda mandou buscar essa mulher, esposa de Urias, e a engravidou. Para encobrir seu pecado armou todo um estratagema que, por não funcionar, levou Davi a um dos mais cruéis atos que um homem pode cometer: dar à vítima, sem que ela soubesse, a carta de sua condenação para ser levada ao general no campo de batalha. No entanto, após reconhecer seu pecado (Salmos 32 e 51) e se arrepender, ele ficou livre de morrer e foi reputado por justo aos olhos de Deus.

Quando Deus olha para um dos seus ele o vê pelas lentes de Cristo, ou através da obra na cruz do Calvário. Fora disso, não há justificação para o homem. Nossa opinião humana de justo é de alguém que anda direito e tem uma vida correta, mas quem é o justo da parábola do fariseu e do publicano? E qual dos filhos foi justificado, o pródigo, que gastou tudo e viveu dissolutamente, ou o que ficou na casa do pai?

Graças a essa justificação divina a Bíblia pode dizer que Deus “Não viu iniquidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó…” (Nm 23:21). Não é que Israel ou Jacó não tivessem iniquidade ou maldade, mas Deus não viu, não reputou ou levou isso em conta. Deus justificou a Jacó, mas fez isso com base no sacrifício (ainda futuro na ocasião) de Cristo e na sua ressurreição.

Você perguntou de Ananias e Safira e eu creio que irei encontrá-los no céu, pois o próprio fato de terem sido castigados com morte é prova de que eram crentes.

O cristão sempre morre como consequência do pecado. Mesmo um convertido traz em seu corpo a deterioração causada pelo pecado, portanto adoecer ou morrer faz parte do processo, apenas interrompido se o Senhor voltar para buscar os seus. Quanto a uma morte prematura, ela pode ser por causa de pecado (como aconteceu com Ananias e Safira), quando o crente já não serve para viver aqui como testemunho para seu Senhor, para servir de testemunho e para que sua morte seja um instrumento nos desígnios de Deus (Estêvão) ou simplesmente porque terminou o trabalho que Deus havia designado para ele aqui no mundo (Paulo). Nos três casos a morte não foi natural, mas por razões diferentes.

Depois de morto, o cristão não entra em juízo (não será julgado). O juízo é só para o incrédulo. Muitos fazem confusão entre o trono branco (para incrédulos) e o tribunal de Cristo (para crentes). O tribunal de Cristo não é um tribunal de julgamento para condenar ou não, mas é mais como um júri de concurso de beleza ou de calouros, para escolher a qualidade da obra de cada um e recompensar.

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Como você entende a expressão “casa de Deus”?

Deus tem uma casa e nela deve haver ordem, assim como tenho uma casa e devo manter a ordem nela. A diferença que a ordem da casa de Deus foi dada por ele aos homens (1 Tm 3:15). Estou agora me referindo à Igreja em um aspecto diferente. Já falei dela em outras cartas como Corpo, organismo, tendo a cabeça no céu. A casa é a parte terrena. Como já disse em outra carta, o corpo continua perfeito (Efésios 4). A casa não (2 Timóteo 2). Mas isto não nos exime da responsabilidade da casa, que foi dada a homens.

O que vemos em 1 Coríntios 5? O cuidado da casa. Havia pecado e Paulo clama por ação. Trata-se de um caso de disciplina na igreja ou assembleia no seu caráter de casa de Deus. Deveriam deixar que o que se prostituía decidisse se devia ou não participar da Ceia? Óbvio que não. Os irmãos tinham o poder ou autoridade do Senhor para agir. É claro que no capítulo vemos algo mais que não temos hoje, a autoridade de entregar alguém a Satanás para a destruição da carne (morte) como Pedro fez com Ananias e Safira, o que é mais ou menos o caso do “pecado para morte” (do corpo) que encontramos nas epístolas.

Mas Paulo manda “tirai dentre vós a esse iníquo” (1 Co 5:13). Se pensarmos nos padrões modernos quando o homem inventou um montão de coisas que não encontramos nas Escrituras, uns iriam dizer que isto seria equivalente a hoje cassar a carteirinha de membro do fulano, ou não deixar que entre no templo ou que participe de certas reuniões reservadas, proibi-lo de cantar no coro, tocar na banda, etc., etc.

Mas tudo isso não tem fundamento bíblico, portanto não encontraremos os Coríntios agindo assim. Não tinham carteirinha, não tinham templo, não tinham coro ou banda. Mas o que tinham então? Tinham a mesa do Senhor. Ou por que estaria escrito: “com o tal nem ainda COMAIS?”. Onde comemos? Na mesa, o lugar de comunhão. Onde expressamos comunhão com os outros membros do corpo? No pão, partido a mesa do Senhor (1 Co 10).

1 Coríntios 5 não se trata de tirar alguém do corpo, pois isto é impossível, mas trata-se de tirar alguém da mesa do Senhor. E creio que se a assembleia tinha o poder de excluir alguém da comunhão a mesa do Senhor, ela também tinha o poder de admitir, ou readmitir (que parece ser o assunto de 2 Co 2:7-8 quanto ao que foi excluído, em 1 Co 5). E isto era feito não com a autoridade de homens, mas com a autoridade do Senhor. Era feito em nome do Senhor Jesus Cristo (1 Co 5:4).

Fazer algo “em nome de” é fazer com autoridade delegada. Não consigo entender como algo dentro de uma denominação possa estar sendo feito SOMENTE em nome do Senhor, e não em nome dele e da denominação. Mas isto já é outra historia.

Onde entra 1 Coríntios 11.28? (“Examine-se a si mesmo”)? Entra para os que JÁ estão a mesa. Colocando em termos práticos. Alguém chega a um local onde os irmãos estão reunidos ao nome do Senhor (Mt 18:20), celebrando a ceia do Senhor, a mesa do Senhor, e se apresenta como sendo cristão. Deve ser recebido com base no que fala? Não, pois a responsabilidade e cuidado da mesa foi dada aos que estão ali reunidos (“Tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, …” Mt 18:18 — não se trata aqui de salvação, mas de administração).

O recém-chegado pode ser um herege, um espírita (espíritas se dizem cristãos), um discípulo do Reverendo Moon, etc. Ou, se for cristão, pode estar vivendo em adultério ou estar publicamente desonrando o nome do Senhor. Como posso me sentar à mesa e ter comunhão com alguém assim? Devemos nos lembrar que Deus havia dado aos israelitas semelhante cuidado quando da ordenação da páscoa: “Nenhum incircunciso comerá dela” (Êx 12:48).

Como sei se o que chegou é cristão? Não sei, pois só Deus conhece o coração. Mas pelas suas obras posso ter uma ideia. E só posso conhecer suas obras se observá-lo por algum tempo, ou receber com ele uma carta de recomendação de irmãos que conheço (como vemos que era feito no Novo Testamento). Resolvida esta questão, certamente aquele irmão terá o seu lugar a mesa do Senhor para celebrar a memória da Sua morte.

Então qual o peso da expressão “examine-se a si mesmo”? Bem, veja o que vem a seguir: “… e ASSIM COMA DESTE PÃO E BEBA DESTE CÁLICE”. (1 Co 11:28). O examine-se não é no sentido da própria pessoa julgar ou não se é digna de comer ou não. Éramos todos indignos, mas o Senhor nos fez dignos. Se cheguei até aqui, a ordem é “COMA!”. E, assim examinado (um ex-indigno feito digno), eu como sempre. Não diz “veja se deve comer ou não”, mas diz, “ASSIM COMA”. Se estiver em algum pecado que desonre o nome de Cristo, não devo nem chegar a tal ponto. Devo antes confessar aos irmãos com os quais estou reunido e eles, com a autoridade que o Senhor deu a assembleia, decidirão se devo ser excluído da comunhão a mesa do Senhor.

É interessante como somos criteriosos quando se trata da nossa casa, mas como abrimos todas as portas quando se trata da casa do Senhor! Será que o que escrevi acima tem fundamento bíblico? Antes de refutarem, esperaria que os irmãos analisassem cuidadosamente. Não é porque já fazemos algo há muitos anos que estamos fazendo certo. A Palavra de Deus é nosso padrão, não o que vemos sendo praticado ao redor.

*

Qual o papel que “minha igreja” teve em minha conversão e edificação?

Sei que muitos cristãos atribuem à “sua igreja” ou denominação o mérito de ter sido responsável por sua salvação e estar agora sendo responsável por sua edificação e vida cristã. Será que isso tem fundamento na Bíblia? Bem, eu não encontro qualquer evidência na Palavra de Deus que Cristo tenha dado dons a “pessoas jurídicas”, ou capacitado “pessoas jurídicas” a pregar, ensinar, consolar, exortar etc. São “pessoas físicas” que ele usa.

A questão é: você teria passado por tudo isso se a denominação que segue não existisse? Certamente. Deus não usa denominações, porque uma denominação é um erro, é uma aberração da verdade do “um só corpo”, uma cisão do testemunho do “um só corpo”, pois espalha os crentes, identificando-os por diferentes nomes. O desejo do Senhor foi que todos os seus fossem um, “para que o mundo creia”. Hoje não damos muitas razões para o mundo crer neste sentido, não é mesmo?

Mas se Deus não usa as denominações, como você pode ter encontrado a verdade “na igreja X”, crescido e permanecido separado para o Senhor “na igreja X”, recebido palavras de edificação, consolo e exortação “na igreja X”? Bem, você não está se referindo a “igreja” como o corpo de Cristo, mas como uma determinada organização cuja fundação se deu, não no dia de Pentecostes, mas numa outra data qualquer. Além disso, não se trata da “Igreja” que encontro na Bíblia, pois daquela são membros TODOS os salvos. Evidentemente o rol de membros da “igreja X” não inclui TODOS os salvos, não é mesmo?

A verdade é que “a igreja X” não fez nada disso por você e é aí que está o grande erro, o mesmo no qual o catolicismo incorre há séculos: acreditar que Deus criou alguma organização (a “igreja X”, por exemplo) e que é através dela que somos salvos, edificados, consolados, exortados, etc. (o católico a chama de “santa mãe Igreja” e costuma dizer que “a Igreja ensina isso e aquilo…”).

Se ler cuidadosamente Efésios 3 verá algo curioso:

“ROGO-VOS, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a UNIDADE do Espírito pelo vínculo da paz. Há UM SÓ CORPO e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós. Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo. Por isso diz: subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, E deu dons aos homens. Ora, isto ele subiu que é, senão que também antes tinha descido às partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.” (Ef 3:1-13).

Além de deixar claro que “há um só corpo” (que corpo é esse, a “igreja X”?), o apóstolo Paulo mostra o que Deus fez para que ouvíssemos o evangelho, fossemos ensinados, pastoreados, etc., visando o aperfeiçoamento dos santos, a edificação do corpo de Cristo.

Ali diz que deu dons “aos homens”, a pessoas físicas, não a pessoas jurídicas, não a uma organização, e deu uns (“pessoas físicas”, não “pessoas jurídicas”) para apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, doutores. Em suma, Deus providenciou PESSOAS e DONS como a forma de ouvirmos o evangelho, sermos edificados, etc. Deus não providenciou esta ou aquela organização (“igreja”, denominação, etc.) para essa finalidade.

Se você um dia ouviu o evangelho e creu, não foi a denominação que frequenta que fez isso por você. Foi obra de Deus que usou um de seus vasos (pessoas), idôneo ou não, para fazer o evangelho chegar até você e, por meio do Espírito Santo, fez com que você cresse no evangelho. Quando digo “idôneo ou não” é porque Paulo mesmo diz que alguns pregavam por inveja e porfia, mas que não importava a ele já que o evangelho estava sendo pregado.

“Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa vontade; uns, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. Mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda.” (Fp 1:15-18).

Deus pode tanto ter usado essa pessoa para pregar para você numa estrada deserta, em uma prisão, debaixo de uma árvore, em uma boate (conheci um rapaz que se converteu em uma boate), ou dentro daquilo que os homens chamam de “igreja X” ou “templo” (quando a verdade é que só existiu um templo endossado por Deus, o de Jerusalém).

Não foi o lugar ou a organização que fizeram alguma coisa por sua salvação, mas o fato de Deus ter usado alguém que estava nesse lugar com você para fazê-lo ouvir a Palavra. Se fossemos dar importância “ao lugar”, então poderíamos iniciar novas religiões em estradas desertas, prisões, debaixo de árvores ou em boates, por achar que o local teve algum mérito na conversão de alguém.

Do mesmo modo, depois de convertido, Deus continuou usando “pessoas físicas”, e não “pessoas jurídicas”, para ajudar em seu crescimento espiritual. O problema é que, quando essas pessoas pertencem a alguma denominação elas estarão “puxando a sardinha para a brasa da denominação”, e você não terá a liberdade de julgar todas as coisas segundo a Palavra de Deus, mas ficará limitado a julgá-las segundo as normas, dogmas ou estatutos dessa denominação. A razão disso é que você aprenderá que alguém “mais espiritual”, talvez o fundador da denominação, entendeu tudo sobre a Palavra de Deus e, por isso, traçou aqueles limites. Pensar fora daquela “caixa” denominacional fica fora de questão. Por isso você sempre acaba ficando com menos do que tem direito.

Vou explicar. Gosto de ouvir pregações bem fundamentadas do evangelho, ler livros de autores cristãos com palavras de consolação e coisas do tipo, evidentemente sempre julgando segundo o que encontro na Palavra de Deus. Geralmente você encontra boas coisas em termos de evangelho, consolo, devoção e assuntos assim, porém eu não perco meu tempo em ouvir alguém ensinar sobre a verdade da Igreja, o corpo de Cristo, se essa pessoa pertence a alguma denominação. Seu ensino não será isento, pois ele não poderá falar algo que esteja fora dos muros aos quais se submeteu.

O grande problema é que, por vivermos em uma sociedade “cristianizada” que herdou muita coisa do catolicismo romano, ficamos indiferentes a certas verdades que estão na Bíblia, ou até mesmo as ignoramos, por não se encaixarem em nossa própria cartilha ou no contrato verbal que assinamos ao nos fazermos membros de uma organização que é da terra e que não estará no céu.

Mas quando entendemos que qualquer desvio da verdade é iniquidade, somos levados, pelo Senhor, e não por nossas convicções pessoais, a nos afastarmos daquilo que não enaltece o nome de Cristo. E qualquer organização que se inclua no processo de salvação, ou mesmo do ensino, exortação etc. não enaltece aquele que é o único responsável pela salvação, o único que morreu na cruz e derramou seu sangue para nos salvar e glorificar a Deus.

Se eu me congrego em algum lugar porque “igreja X” é o elemento catalisador, o centro de reunião, aquilo que torna os que estão ali iguais neste particular, então não estou me congregando somente ao nome do Senhor Jesus. Estou me congregando, talvez, em nome do Senhor “E” da “igreja X”.

Hoje bagunçou geral. Aquilo que deveria ter sido a “casa de Deus” de 1 Timóteo, coluna e baluarte da verdade (refere-se ao testemunho da Igreja deixado nas mãos dos homens) transformou-se na “grande casa” de 2 Timóteo, onde há de tudo um pouco. Cabe a cada um agora discernir o que é de Deus e o que não é, e apartar-se de pessoas e doutrinas que não dão a Cristo 100% da glória pela salvação das almas e sua edificação, ou de pessoas que estejam em pecado.

“Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (2 Tm 2:19-21).

Repetindo, organizações, “igrejas”, denominações, associações, etc. nada podem fazer por você em termos de salvação, edificação, exortação e consolação. Mas Cristo pode, usando pessoas (dons), e isso não depende de onde elas estejam ou do grupo ao qual pertençam. Mas, repito, se essas pessoas que Deus usa por meio desses dons de evangelista, pastor ou mestre/doutor pertencerem a alguma organização, “igreja”, denominação, etc., seu ensino provavelmente não estará isento dos erros ou das limitações impostas pelo sistema ao qual estão sujeitas.

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O que você acha do Natal?

Bem, você já deve ter escutado muitas histórias e argumentos a favor e contra o Natal. Eu mesmo publiquei um texto de autor desconhecido colocando as bases bíblicas para o não reconhecimento do Natal como uma celebração cristã.

Mas aqui vou contar uma história de Natal diferente, mas prepare-se porque é uma história diferente. Não é cheia de estrelinhas cantantes e pastorzinhos saltitantes como em presépio, nem tem fadas e duendes ajudando o Papai Noel, como em Shopping, mas é a verdadeira história do Natal.

Era uma vez — há muito tempo, sem neve e nem dezembro — alguns homens sábios — ninguém sabe se eram três — que chegaram do Oriente a Israel para visitar a criança que tinha nascido para ser Rei de Israel. Como eles souberam do nascimento? Bem, foi Deus quem revelou isso e usou uma estrela para guiá-los. Um cometa? Não acredito. Já viu um cometa que às vezes anda e às vezes para sobre uma casa?

Chegando a Jerusalém, os sábios descobriram que estavam com um probleminha. Israel já tinha um rei, Herodes, que não queria nem um pouco descer do trono. Ele ficou perturbado, e não apenas ele, mas toda a população de Jerusalém. Já viu isso? Todo mundo ficar perturbado porque outro Rei iria tomar o lugar de Herodes? Pois é, ninguém queria Jesus. O pessoal era da opinião de que em time que está ganhando bem não se mexe.

Esta história você encontra nos Evangelhos, principalmente em Mateus. Em outro lugar aparece o que as pessoas de Jerusalém estavam realmente pensando: “Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19:14). Isso não é novidade nenhuma. A gente já nasce assim, inimigos de Deus e de Cristo. (Rm 5:10) Mas vamos continuar nossa verdadeira história do Natal.

O rei Herodes mandou os principais sacerdotes e escribas — os teólogos e doutores da época — pesquisarem o que estava escrito nas profecias dos antigos profetas. Sabe o que acharam? “E tu, Belém, terra de Judá, De modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá; Porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo de Israel.” (Mateus 2:6).

Aí o rei armou um plano. Perguntou aos sábios — é esta a interpretação correta para a palavra “magos” — quando foi que viram a estrela, para poder calcular direitinho a data de nascimento do novo Rei, e pediu que avisassem quando encontrassem a criança. Herodes disse que queria ir até lá adorar o menino, mas o que ele queria mesmo era matá-lo. Percebeu como a história da paixão e morte de Cristo começou muito tempo antes? A verdadeira história do Natal tem seu desfecho na cruz do Calvário.

Finalmente os sábios, guiados pela estrela, chegaram à casa onde estava o menino. Casa? Isso mesmo, casa. Ué?! E a história da cocheira, da manjedoura, do burrinho e da vaquinha de presépio? Ou, cadê a gruta de algumas versões? Bem, Jesus nasceu mesmo num lugar humilde, provavelmente numa cocheira, e seu primeiro berço foi uma manjedoura. Por quê? Ora, porque não havia lugar para ele em nenhuma estalagem (Lc 2:6). Na maioria dos corações das pessoas hoje ainda está escrito “NÃO HÁ VAGA” para Jesus. E no seu?

Sinto ter estragado aquela ideia romântica que você tinha do presépio, mas a verdade é que quando os sábios chegaram com seus presentes José, Maria e Jesus já estavam numa casa e provavelmente o menino era bem crescidinho, pois os sábios não vieram do Oriente de avião, mas caminhando ou montados em animais. Meses se passaram entre o nascimento e sua chegada a Belém.

Surpreso? Então veja só o que Herodes fez. Quando os sábios não voltaram para lhe dar notícia — Deus avisou para que voltassem por outro caminho — ficou furioso. Tão furioso que mandou seus guardas a Belém para matarem todos os meninos da cidade e arredores com idade até dois anos. Isso mesmo, todos os meninos de Belém e vizinhança com até dois anos de idade. Aquelas crianças não receberam a visita de Papai Noel com um saco de presentes, mas dos soldados para matá-las com espadas e lanças. O primeiro e verdadeiro Natal foi um infanticídio, um extermínio em massa de crianças até dois anos de idade. Enquanto isso, avisados por Deus, José e Maria fugiam para o Egito levando o menino Jesus, que devia ter até dois anos de idade.

Você já percebeu que o mundo daquela época não desejava nem um pouco Jesus — nem Herodes, nem o povo, nem os sacerdotes e escribas, nem os soldados. Percebe que são as mesmas classes de pessoas — governo, povo, religião, sábios e militares — que aparecem na cena da crucificação? Nem o mundo nem as pessoas mudaram nesses dois mil anos. “Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19:14) continua sendo o que a maioria das pessoas realmente diz para Jesus.

Em nossa época as pessoas continuam também matando crianças, às vezes até para garantir seu presente de Natal.

“E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles, e disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se tornar humilde como este menino, esse é o maior no reino dos céus. E qualquer que receber em meu nome um menino, tal como este, a mim me recebe. Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar.” (Mt 18:2-6).

É isso. Este mundo não é nenhuma Disneylândia, as pessoas não mudaram e nem vão mudar a menos que… Bem, o evento mais importante da vinda de Jesus a este mundo não foi seu nascimento, mas sua morte. Ele morreu para que aqueles que creem nele pudessem nascer de novo — um novo nascimento espiritual — com um coração limpinho, do jeito que Deus gosta. Para isso Jesus teve que pagar por nossos pecados na cruz, substituindo aqueles que o aceitam como Salvador.

Então não é ficando bonzinho que a gente vai para o céu? Bem, talvez você ganhe mais presentes de Natal ficando bonzinho, mas nunca vai ganhar a salvação eterna tentando fazer isso. Primeiro, porque a salvação é um presente de Deus, é grátis porque Jesus pagou seu preço na cruz. Segundo, porque ninguém consegue ser bonzinho o suficiente — o padrão é o próprio Deus — para chegar lá. Deus salva e transforma aqueles que vão a Cristo com todos os seus defeitos, pecados, vícios, problemas. Ele sabe exatamente o que cada um está passando.

Uma vez eu li a história de um médico que foi a um leprosário na África falar de Jesus aos leprosos. Quando chegou lá, viu que todos estavam sentados sobre as mãos, com os pés sob o corpo. Percebeu que escondiam os cotos que restaram das mãos e pés, mutilados pela doença. Sentiam vergonha que aquele médico todo arrumadinho visse suas deficiências, como muita gente faz tentando esconder seus problemas de Jesus.

O médico ficou apavorado. Como iria repetir o sermão cheio de palavras bonitinhas que preparou enquanto viajava num avião com ar condicionado? Achou melhor esquecer. Olhou para aquelas pessoas e disse algo mais ou menos assim:

“Eu venho de um lugar onde não passo fome, tenho casa para morar, saúde, dinheiro e muitas coisas que faltam a vocês aqui. Não sei o que é passar forme, dormir ao relento, ser leproso ou aleijado das mãos e dos pés. Então não tenho nada de mim para falar a vocês. Mas vou falar de alguém que sabe o que vocês estão passando. Sou médico, e sei que grandes pregos cravados nas mãos e nos pés mutilam. As mãos param de funcionar, os pés também. Quero dizer a vocês que Jesus um dia ficou com suas mãos e pés mutilados, pregados numa cruz. Morreu ali, sem poder se mexer, totalmente inválido, por mim e por vocês. Ele sabe muito bem o que vocês estão passando. É para ele que vocês devem olhar, é nele que devem crer. “Ele entende o que vocês estão passando.”

Quando terminou de falar, todas aquelas pessoas — homens e mulheres, velhos e jovens, meninos e meninas — levantaram suas mãos expondo suas mutilações. Não queriam mais esconder seus problemas de Jesus. Ele os conhecia bem.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” (Jo 3:16-18).

Evidentemente não cabe ao cristão ser um estraga-prazeres, mesmo porque muitas pessoas realmente desfrutam da oportunidade de reunir a família, visitar amigos e presentear. Eu já fui muito radical neste sentido e não consegui nada. Hoje participo com a família numa festa que considero uma tradição familiar (como é o Dia de Ações de Graças nos Estados Unidos) e não uma celebração religiosa. E se sei que alguém irá me presentear, também compro um presente para aquela pessoa, pois seria uma indelicadeza recusar o presente ou deixar de retribuir.

Há também o lado comercial da coisa, e de nada adianta reclamar de um dia que realmente movimenta o comércio quando a maioria de nós acaba se beneficiando disso, ou trabalhando em indústrias, em lojas ou mesmo em serviços, como um bancário, garçom ou manicure, nas mãos de quem vai parar o dinheiro das compras.

Se algum cristão quiser realmente tratar a questão a ferro e fogo, o melhor então é procurar uma atividade que não se beneficie desses picos de vendas, mas acho que vai ser difícil. Ainda que você decida ir morar no campo e plantar trigo, obviamente suas vendas vão melhorar porque mais gente vai comer panetone.

Apesar de sua falta de fundamento bíblico, não podemos deixar de nos lembrar de que o Natal é também uma excelente oportunidade para pregar o evangelho, pois tem muita gente que se sente bastante triste e melancólica nesta época do ano. Então, se você realmente deseja fazer uma diferença nesta época, faça algo de positivo e construtivo. Ao invés de sair por aí queimando árvores de natal, recusando presentes ou batendo com a Bíblia na cabeça do Papai Noel, pregue o evangelho.

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Como evitar ser tentado?

(A pergunta veio acompanhada de links para vídeos de uma cantora no ‘YouTube’ e a indagação se assistir aquilo poderia ser errado)

Não conhecia a cantora, mas a música é famosa. A apresentação é belíssima e, obviamente, utiliza bem os recursos da TV. Maquiagem, iluminação e lentes transformam pessoas comuns em verdadeiros deslumbres, portanto não acredite em tudo o que vê no cinema ou na TV. Havia um seriado “A gata e o rato” com o Bruce Willis que usava diferentes lentes. Quando a câmera dava um close no Bruce Willis, era lente comum. Quando dava um close na artista (não sei o nome) era lente esfumaçada nas bordas, para deixá-la deslumbrante.

Eu não vejo nada de errado em uma canção ou apresentação assim, pois é uma canção romântica e algo perfeitamente natural cantar o amor. Afinal, há um livro na Bíblia que é, ele todo, uma canção de amor: Cantares. Se ele não estivesse na Bíblia, muitos cristãos o repudiariam pela ousadia com que trata o tema, inclusive o aspecto sexual do relacionamento marido-esposa. Obviamente ali não se trata de sexo ilícito, mas da relação do Senhor com Sua amada (no caso é Israel), representado pela mulher.

Você perguntou: “Considerando a opção sexual do compositor da canção do vídeo, contrária à Palavra de Deus, não seria errado assistir por esta razão?”.

Não conheço o compositor. De qualquer modo, eu não me preocuparia muito em ir a fundo à biografia de alguém para saber detalhes, quando não é isso que está sendo exposto em sua canção. Existe uma corrente dentro das igrejas evangélicas que adora se ocupar do mal. São pastores que ganham a vida pregando contra o He Man, os desenhos da Disney, as músicas da Xuxa e coisas do tipo. Aí eles vêm dizer que você deve pegar uma lente e examinar a embalagem de um desenho da Disney para ver que o detalhe se assemelha a um órgão sexual, ou deve tocar a música da Xuxa ao contrário para descobrir mensagens demoníacas.

Ora, se vivermos neste mundo de lente em punho, vamos descobrir aquilo que a Bíblia já ensina, que o mundo jaz no maligno, e que tudo o que há no mundo não procede de Deus, mas do mundo (entenda “mundo” não como o planeta, mas como o sistema humano de coisas, a civilização).

Devemos ser símplices como a pomba, que não anda de lupa na mão, e astutos como a serpente, que sabe muito bem identificar algo como perigoso. É assim que deve ser. Se você enxergar que isso é uma ameaça para sua fé, fuja. Mas, volto a dizer, não fique por aí preocupado em divulgar o mal, pois é isso que muitos cristãos hoje estão fazendo, até mesmo entrevistando pessoas possessas para conhecer o que o diabo tem a dizer.

Isso me lembra a piada da mulher que chamou a polícia para avisar que o homem do apartamento vizinho estava se exibindo nu na janela. A polícia chegou, olhou pela janela e não viu nada. Aí a mulher disse ao policial: “Mas experimenta subir na geladeira que você vai ver”.

Uma vez um rapaz escreveu indagando como eu podia usar o software Greymatter (usava em dois outros de meus blogs) em razão da opção sexual de seu autor. Respondi que se eu fosse investigar a vida íntima de todos os que trabalharam no Windows, iria descobrir várias pessoas que não andam conforme o que ensina a Bíblia que, obviamente, condena o homossexualismo. Mas, o que fazer? Deixar de usar o Windows? O computador? O automóvel? Parar de comer a pizza do restaurante da esquina? Recusar-me a ser tratado pelos profissionais de saúde se ficar internado?

Evidentemente devo procurar evitar qualquer associação com o mal, mas se eu sair por aí ocupado com o mal e investigando cada coisa que utilizo em meu dia-a-dia, vou morrer de fome, de frio, de sede ou de alguma doença, pois certamente algum plantador de feijão, entregador de água, dono de confecção ou médico não deve estar com sua vida moral em dia. Resumindo: a ocupação do cristão deve ser com as coisas do alto, e a exortação também vale para quem fica ocupado com o mal, que causa sensação, sob o pretexto de estar avisando as pessoas de seus malefícios. É o que fazem os pastores que fazem disso sua bandeira nos programas de rádio e TV. Isso certamente não é estar ocupado com Cristo.

Quanto à sua outra pergunta, a respeito de evitar as tentações, o fato de ser tentado pelo que vê ou acontece ao seu redor só mostra que você não está morto. Mas aí entra a questão. Embora nosso corpo não esteja morto aos olhos de todos, ele deveria estar ocupando essa posição, já que está morto aos olhos de Deus. O cristão ainda tem sua carne viva e ativa, mas deve mortificá-la (considerá-la morta), pois é este o lugar onde ela foi colocada ao recebermos a nova vida. Porém, se eu viver lidando com a carne, ainda que seja na tentativa de mantê-la quieta, isso continuará sendo ocupação com a carne. Era o que faziam os monges que se flagelavam. Ora, enquanto estavam batendo na carne, estavam ocupados com ela, para bem ou para mal.

(Gl 5:16-18) “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei”.

Veja o que diz aí. Não é combatendo a carne que andamos no Espírito, mas é andando no Espírito que este (o Espírito) combate a carne. Outra coisa que diz é que somos guiados pelo Espírito e não pela lei. As duas coisas não podem coexistir. Se eu me deixo levar pela lei (não faça isto, não faça aquilo), então não estou sendo guiado pelo Espírito. Se eu me ocupo com o Espírito, é ele quem irá cuidar do resto.

Você se lembra de quando era criança e ganhava um presente há muito desejado? O que acontecia então? Seus pais precisavam obrigá-lo a almoçar e jantar, porque você até se esquecia das necessidades básicas. Ficava tão encantado com o presente que só queria brincar, e só ia fazer xixi quando a coisa ficava apertada demais. É assim que funciona: quando estamos entretidos e encantados com alguma coisa, deixamos naturalmente de fazer as outras, sejam elas boas ou ruins. É a atração pelas coisas que pertencem a Cristo que nos faz deixar as coisas que não agradam a ele. Os judeus tentaram fazer isso pela lei e não conseguiram. Mas nós temos o Espírito.

Obviamente, em última instância, nós não perdemos o controle de decidir o que queremos fazer, e quando pecamos é porque queremos pecar. Mas, como diz o ditado, “você não pode evitar que os pássaros voem sobre sua cabeça, mas pode evitar que façam ninho em seus cabelos”. Se eu perceber que algo, seja música, vídeo, imagem, ambiente, amizade ou o que for, está me fazendo desviar para aquilo que é pecaminoso, então devo evitar essas coisas ou situações.

José fugiu da mulher de Potifar correndo para escapar de uma circunstância que ele sabia não ter poder para lidar contra ela. Davi, no dia em que os reis iam à guerra, ficou em casa, acordou tardeviu Bateseba tomando banho pela janela (não diz se precisou subir na geladeira para isso), mandou buscá-la e deu no que deu. Se ele tivesse feito o que os reis faziam naquela época, não estaria em casa, não acordaria tarde, não olharia pela janela…

“E aconteceu que, tendo decorrido um ano, no tempo em que os reis saem à guerra, enviou Davi a Joabe, e com ele os seus servos, e a todo o Israel; e eles destruíram os filhos de Amom, e cercaram a Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém. E aconteceu que numa tarde Davi se levantou do seu leito, e andava passeando no terraço da casa real, e viu do terraço a uma mulher que se estava lavando; e era esta mulher mui formosa à vista. E mandou Davi indagar quem era aquela mulher; e disseram: Porventura não é esta Bate-Seba, filha de Eliã, mulher de Urias, o heteu? Então enviou Davi mensageiros, e mandou trazê-la; e ela veio, e ele se deitou com ela (pois já estava purificada da sua imundícia); então voltou ela para sua casa.”. (2 Sm 11:1-4).

Você perguntou: “Você acha melhor evitar vídeos com apresentações como as da cantora que mencionei?”.

Não existe uma lei para isso. Tudo depende de seu exercício com o Senhor. Tem gente que enxerga coisas com a mente que podem não estar tão patentes ou serem explícitas. Uma pessoa com problemas de alcoolismo não pode ver uma garrafa. Sei de um rapaz que foi trancado no quarto pela mãe para não beber e esvaziou todos os vidros de perfume. Coisas lícitas podem ser instrumento de pecado para uns, mas não para outros. Vai do seu discernimento, experiência, etc. O dono de uma confecção de roupas íntimas está enjoado de ver e pegar em calcinhas o dia todo, mas a simples visão de uma por outra pessoa pode fazer sua mente dar piruetas.

“E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga” (Mc 9:43).

Obviamente o objetivo aí não é cortar a mão (algumas pessoas já fizeram literalmente isso, com a mão e outros membros do corpo!), mas trata-se de uma analogia, ou seja, qualquer coisa que possa me servir de tropeço é melhor eu tirá-la de perto. Se eu for um alcoólatra, pode ser preciso evitar perfumes.

Mas às vezes somos obrigados a abrir mão de certas coisas não por nós mesmos, mas pelo dano que elas podem causar aos que nos cercam. Isso porque podemos ser fortes ou indiferentes a elas, mas outros não. E isso pode incluir coisas tão inócuas quanto comer e beber.

“Não destruas por causa da comida a obra de Deus. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo. Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça.” (Rm 14:20-21).

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Jesus é Deus?

Os versículos que mostram o Senhor Jesus como Mediador, não invalidam seu caráter de Deus. O que quero dizer é que não são características excludentes. Elas só parecerão excludentes a quem não quiser aceitar certas verdades da Palavra de Deus.

Por exemplo, o Salmo 2:7-12 fala de Jesus como o Filho de Deus. Salmo 110:1 fala dele como Senhor. O Salmo 45 fala de Jesus como “mais formoso do que os filhos dos homens”, ungido “com óleo de alegria mais do que a teus companheiros”, cujas “vestes cheiram a mirra e aloés e cássia”, de “rei”, de “Senhor” digno de adoração e, no versículo 6, de “Deus”.

E Isaías 9 dá mais detalhes: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, DEUS FORTE, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.”

João 1:1 O chama de “Verbo”“e o Verbo era Deus”; Filipenses 2 fala dele como sendo “em forma de Deus”; Hebreus 1 fala dele como agente Criador, Mantenedor de todas as coisas, e diz: “E todo os anjos de Deus o adorem” (Você adora a Jesus?).

No versículo 8 do mesmo capítulo, ele repete o que diz no Salmo 45: “do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de equidade é o cetro do teu reino.” Colossenses 1 o chama de “imagem do Deus invisível”; 1 Timóteo 3:16 não deixa dúvidas ao dizer que “Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória.”

E algumas passagens dos Evangelhos mostram atributos de Jesus que pertencem a Deus, como “Senhor do sábado” (Mt 2:28), perdoador de pecados (Lc 5:20), ressuscitador de mortos (Jo 11:43,44), e infinito em suas obras (Jo:20:30,31). Ele foi reconhecido pelas pessoas como “verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo” (Jo 4:42).

Você é o José, mas você é também o Silva. Não são nomes excludentes, apenas diferentes identificações ou atributos de uma mesma pessoa. Como você é um cara inteligente, veja isto:

“Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador”. Isaías 43. Também “Porventura não sou eu, o Senhor? Pois não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador não há além de mim”. Isaías 45:21 “porque não há Salvador senão eu”. Oséias 13:4

Então, depois disso tudo, vemos “Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. (Lucas 2:11). Temos aqui um problema. Se Jesus é o Salvador, ou ele é Deus, pois claramente não há outro Salvador, ou é um impostor.

Ok, como muçulmano que é, você tem duas opções aqui: considerar todas as passagens que não se encaixam no seu pensamento como falsas (Mórmons, Testemunhas de Jeová e Espíritas fazem assim, escolhendo apenas as partes da Bíblia que lhes convém), ou alegar que “salvador” no caso de Jesus seria no mesmo sentido dos valentes do Antigo Testamento, que hora ou outra salvavam o povo. Bem, neste caso, Jesus salvou quem do quê?

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A salvação é pela graça somente?

Posso ver que você, como muçulmano que é, tem um grande problema com a graça de Deus, mesmo porque não é algo que se encaixa na fé que professa. Obviamente, você procura ver o caráter valoroso dos personagens bíblicos, mas deixa escapar o cerne da mensagem que é a graça de Deus, que nos dá o que não merecemos e nos livra daquilo que merecemos.

O que o islamismo tem de comum com todas as religiões é que esse “algo” que é preciso para ser salvo depende do ser humano. Assim, se Deus não faz, eu faço, se Deus não elimina, eu uso a espada, se Deus não me salva, eu preciso me esforçar para chegar lá.

Veja que as religiões pensam assim: a salvação do homem está nas mãos do homem, com uma ajudazinha de Deus se ele (o ser humano) merecer isso. Obviamente o cristianismo acabou equivocadamente entrando no mesmo barco, daí a história de sangue e horror que os cristãos escreveram ao longo dos séculos.

Agora vamos a outra questão. O cristão é salvo por Cristo e pode ter a certeza dessa salvação. Isto equivale dizer que, se eu morrer neste exato momento, tenho certeza e segurança absolutas de ir para o céu, de não passar sequer por algum tipo de julgamento. É isso que o Novo Testamento ensina. E se você morrer neste exato momento, para onde TEM CERTEZA de ir? Que segurança a sua fé muçulmana lhe dá quanto a isso?

Veja que não estou falando dos fiéis do Antigo Testamento, com os quais até mesmo sua religião está familiarizada, mas do cristão. Os santos do Antigo Testamento não tinham a perspectiva completa da salvação, ou a certeza dela, uma vez que a revelação da verdade ainda estava em andamento. Você não tem toda a verdade revelada no Antigo Testamento.

“HAVENDO Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas” (Hb 1:1-3).

Você escreveu: “E indica um texto que se propõe a ensinar que o que os gregos e romanos ensinaram sobre Jesus (novo testamento) é superior a cinco mil anos de sucessivos profetas verdadeiros (Antigo Testamento).”.

Aparentemente você não aceita as cartas apostólicas como parte da verdade revelada por Deus, mas não ficou claro se aceita os evangelhos (também escritos pelos apóstolos). Deve aceitar, pois do contrário como teria Maomé recontado várias passagens dos Evangelhos em seus escritos?

Você escreveu: “Você diz que a grande diferença depois da vinda de Jesus é que agora se salva exclusivamente pela graça e pela fé, mas isso de acordo com as cartas, porque não foi isso que Jesus ensinou.”.

Sim, foi também o que Jesus ensinou. Aliás, a salvação pela graça foi o tema do primeiro ato expiatório de Deus logo após o pecado no Éden: Deus matou animais inocentes para com suas peles cobrir o homem e a mulher. Um inocente morrendo em lugar do pecador. Lembra algo?

Deus também se agradou da oferta de Abel (o sangue de um animal inocente morto), mas não da oferta de Caim (o fruto de seus esforços e de seu trabalho em uma terra pouco antes amaldiçoada por Deus). Daí para frente você verá, vez após outra, animais inocentes sendo mortos no lugar do homem pecador (os sacrifícios no tabernáculo e depois no Templo, por exemplo), até chegar o derradeiro sacrifício, o Cordeiro de Deus.

Você escreveu: “Então o Jesus mitológico do cristianismo diria: “confia firmemente na salvação do meu sangue divino e redentor” porém não é o que Jesus ensina.”.

Se você observasse o histórico de sangue de inocentes até chegar ao Cordeiro de Deus, não afirmaria isso com tanta pressa. Um judeu, por outro lado, entenderia perfeitamente a declaração de João Batista, “eis o Cordeiro de Deus”, quando visse aquele homem pregado na cruz. Teria entendido, mas não queria entender, porque isso não se encaixava. A menos que entendesse o significado do Messias “tirado”, da profecia de Daniel 9.

Quanto à sua afirmação de que o Senhor Jesus não tenha falado da salvação pela graça e, principalmente, da CERTEZA da salvação e da isenção do juízo (ou julgamento), vamos lá:

“Na verdade, na verdade vos digo que quem OUVE a minha palavra, e CRÊ naquele que me enviou, TEM a vida eterna, e NÃO ENTRARÁ em condenação, mas PASSOU da morte para a vida.” (Jo 5:24).

Veja o tempo dos verbos: Quem OUVE (presente), CRÊ (presente), TEM (presente), NÃO ENTRARÁ (futuro), PASSOU (passado). Portanto, como você pode dizer que OUVE a Palavra de Deus, CRÊ no que ele diz e, mesmo assim, NÃO TEM a vida eterna? Acaso não está duvidando da graça salvadora de Deus e confiando em seus próprios feitos, em sua “castidade, serenidade, cortesia, honestidade, verdade e justiça, coragem e paciência, perdão, caridade, amor e simpatia”?

A diferença entre a fé cristã e qualquer outra é que, se indagado, no céu o cristão irá responder: “Estou aqui porque sou um pecador perdoado e lavado pelo sangue do Cordeiro”. Afinal, não é essa a letra do hino que cantam no céu, segundo o livro de Apocalipse? “Ao que está sentado no trono, seja a glória etc… porque com o teu sangue compraste… etc.”. Pelo que entendi, se um dia você chegar ao céu, seu cântico irá destoar completamente, porque você irá cantar:

“Glória a mim, que fui salvo graças à minha castidade, serenidade, cortesia, honestidade, verdade e justiça, coragem e paciência, perdão, caridade, amor e simpatia”.

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Deus não mais quer boas obras?

Você escreveu: “Você está dizendo que Deus não mais admira uma alma reta, pacífica, fiel, casta… ?”.

Sim, Deus admiraria… Se existisse tal alma. O problema é que não existe!

“Não há NINGUÉM que faça o bem. O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se TODOS e juntamente se fizeram imundos: NÃO HÁ quem faça o bem, NÃO HÁ SEQUER UM”. Salmos 14 (o mesmo no Salmo 53)

O simples fato de alguém pensar em pecar já é considerado aos olhos de Deus pecado. (é esse o pecado da cobiça, o imaginar matar, adulterar, fornicar, etc., não apenas desejar o camelo do vizinho).

Você escreveu: “Jesus está dizendo que quem crer nele como verdadeiro profeta e acreditar que Deus o enviou esse terá a vida eterna.”.

Não, você repetiu o verbo no tempo errado. TEM a vida eterna, não TERÁ. Você citou outro versículo: “os que tiverem o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo”.

Pois é, este mesmo versículo que você acha que anula o outro apenas o complementa. De que “bem” o Senhor está falando? Exatamente o dos versículos anteriores (porque aqui há um contexto): “Quem OUVE a minha palavra, e CRÊ naquele que me enviou, TEM a vida eterna, e NÃO ENTRARÁ em condenação, mas PASSOU da morte para a vida”. Pois agora dá para ver quem são os que ressuscitarão para a vida? Os mesmos que fizeram a obra de Deus:

“Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus? Jesus respondeu, e disselhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” (Jo 6:28-29).

Você cai no mesmo equívoco de todas as religiões: considerar a salvação como algo meritório. Se eu for bom vou para o céu e se for mau vou para o inferno. Falta algo aí, e é o pecado.

O pecado foi um crime cometido contra Deus, e precisa ser julgado. O problema é que o castigo para o pecado é a morte e, portanto, como posso ser salvo se for morto? Isso porque o pecado traz como consequência uma reação judicial. O homem precisa ser julgado porque é pecador, e a sentença para isso é a morte.

Mas a religião diz: seja bom e você vai para o céu, o que equivale a dizer a um bandido que ele não precisa ser preso, basta fazer boas ações para compensar as más. Não é assim que funciona na justiça dos homens, que exige uma pena para o bandido, e não é assim que funciona na justiça de Deus, que exige uma pena para o pecador.

Como essa pena seria a condenação do pecador, é aí que Deus intervém entregando seu Filho para morrer, o inocente pelo culpado, para nos levar a Deus. Aquele que crê em Cristo é justificado pela fé (tido por justo por Deus) e está salvo. Outro (Cristo) foi condenado e morreu em seu lugar. E Deus aceitou essa morte como suficiente porque ressuscitou a Cristo.

Paulo explica bem isso em Romanos 4, mas vamos nos ater ao Antigo Testamento: “E creu ele (Abraão) no Senhor, e foi-lhe imputado isto por justiça” (Gn 15:3). O que significa? Que a fé de Abraão no que Deus disse foi suficiente para ser depositada como crédito, como justificação para Abraão.

Muito bem, se Abraão foi justificado (considerado justo) pela fé, então não foi por suas obras que ele foi salvo, mas pela sua fé. E Davi? Que obras poderiam justificá-lo do horrendo crime que cometeu contra Urias, roubando sua mulher e entregando o homem à morte?

Veja que existe uma lacuna grande em sua fé. Ela atropela a questão judicial do pecado, que é justamente a que Jesus veio resolver com sua morte.

Mas, você dirá, e a Lei? E os mandamentos? Bem, são as placas de contramão que Deus colocou. Uma placa de contramão não salva ninguém, apenas condena. Se todo mundo andasse na mão, tudo bem, mas a Palavra de Deus afirma categoricamente que TODOS pecaram, TODOS estão na contramão. Foi por isso que Deus precisou enviar um Salvador (= Aquele que salva), um Redentor (= Aquele que redime). Se fôssemos capazes de nos salvar a nós mesmos, pra que um Salvador?!

E as boas obras? Ah, essas são os vagões arrastados pela locomotiva da fé. São consequência de uma fé genuína de quem foi justificado e salvo por Deus. Mas aí já nem são as obras do crente, mas de Deus feitas por intermédio dele (instrumento).

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”. (Ef 2:8-10).

Então não pense que estou jogando no lixo sua “castidade, serenidade, cortesia, honestidade, verdade e justiça, coragem e paciência, perdão, caridade, amor e simpatia”. Estou simplesmente mostrando que elas não lhe garantem uma salvação que você só pode obter pela fé em Jesus.

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Jesus foi um profeta como Maomé?

O problema da religião muçulmana não está tanto no que Maomé disse, mas no que as pessoas fizeram de Maomé. Se você analisar direitinho os predicados de Maomé e de Jesus, verá que existe um desequilíbrio muito grande na balança da consideração que os muçulmanos têm por Maomé em detrimento de Jesus.

Você citou uma lista de virtudes que agradam a Deus. Vamos ver algumas delas em relação a Jesus e Maomé e, por gentileza, corrija-me se eu estiver errado em algum das afirmações.

Jesus nasceu de uma virgem. (e Maomé?)

Jesus era sem pecado, e nunca pecou. (e Maomé?)

Deus falou com Jesus e ele deu início ao seu ministério. (Deus falou com Maomé e ele quis se suicidar.)

Jesus recebeu instruções de Deus Pai. (Maomé diz ter recebido instruções do anjo Gabriel.)

Jesus nunca lutou. (e Maomé?)

Jesus nunca matou ninguém. (e Maomé?)

Jesus ressuscitou pessoas. (e Maomé?)

Jesus permaneceu casto até a morte. (Maomé teve 20 esposas, uma delas, uma criança de 9 anos.)

Jesus fez muitos milagres. (e Maomé?)

O A.T. tem mais de mil profecias relacionadas a Jesus. (e Maomé?)

Jesus não resistiu ser sacrificado. (Maomé matou quem quis tirar-lhe a vida.)

Jesus falou bem das mulheres. (e Maomé?)

Jesus morreu e ressuscitou. (e Maomé?)

Será que cometi alguma incorreção? Se esta comparação está correta, qual é realmente o Profeta? Qual dos dois pode Deus chama de Messias e Salvador?

“Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo”. (1 Tm 2).

“Disselhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. (Jo 14:6).

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Qual a diferença entre islamismo e cristianismo?

Acaso essa agressividade sua é normal? Confesso que nunca conversei sobre questões de fé com um muçulmano e não sei que comportamento é considerado normal para você numa situação assim. O uso de clichês pode parecer falta de argumentos, e você usou vários: “dogma luterano inventado por um bêbado mulherengo”“outra mentira cristã”, “esse papo de filho de Deus salvador vem de cultos pagãos e deuses solares”“farsa da trindade”“muitas profecias são pura distorção”“falsificação da Bíblia”etc.

Antes que me esqueça, obrigado pela visita ao meu blog www.respondi.com.br. O fato de você não poder fazer comentários ali não se trata de “mentir unilateralmente” como me acusou de fazê-lo. A razão é que antes o blog era aberto a comentários, mas algumas pessoas começaram a usar a área de comentários para fazer apologia a práticas e crenças contrárias à Palavra de Deus. Por falta de tempo para responder ou filtrar, decidi fechar os comentários.

Não entendi por que me acusa de “atacar o Islã”. Você considera um ataque comparar Jesus e Maomé, ou alguma das comparações está equivocada? Pode indicar qual? Você sabe muito bem que Maomé tinha grande apreço por Jesus.

Você também fala da “falsificação da Bíblia”. Poderia indicar uma versão não falsificada? Você usa a Bíblia para responder, mas é um problema usar algo falsificado, a menos que tenha o original. Só podemos afirmar que algo é falsificado se tivermos o original para comparar. Você tem?

Minha intenção não é fugir. O tema “Trindade” você não pode entender, pois há uma pré-condição para isso. Eu provavelmente falaria muitas besteiras se fosse discutir o Islã com você, por não ter a bagagem que você tem. O problema é que a condição para entender algumas das verdades da Bíblia é a conversão, como Paulo explica em 1 Coríntios 2:

“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

Homem natural é o homem inconverso, que não recebeu ainda a vida eterna e o Espírito Santo de Deus. Daí eu naturalmente levar o assunto para a questão da pré-condição:

Se você morrer agora, para onde vai? Você OUVE? Você CRÊ? Você TEM a vida eterna? Você NÃO ENTRARÁ em juízo? PASSOU da morte para a vida? O apóstolo João escreveu: “Estas coisas vos escrevi a vós, os que credes no nome do Filho de Deus, PARA QUE SAIBAIS que tendes a vida eterna, e para que creiais no nome do Filho de Deus” (1 Jo 5:13).

Este é um ponto cardeal no cristianismo. Como você pode querer impressionar um cristão com uma fé que não lhe dá um átomo sequer de segurança e paz quanto ao seu futuro eterno? Você compraria uma passagem se a companhia aérea dissesse que não sabe para onde vai seu voo e nem menos se vai chegar?

Um dia uma menina mórmon (os mórmons não creem que Cristo seja Deus e Salvador e adoram o profeta deles, Joseph Smith) queria me convencer a aceitar o mormonismo, e minha pergunta a ela (que, como você, não tinha certeza de seu futuro eterno), foi a mesma. Em suma, o que você tem que possa me interessar ou a qualquer cristão que tem a vida eterna, a paz e a segurança quanto ao seu destino?

Agora respondendo algumas questões…

Você escreveu: “Até Jesus falou ‘porque me chamas bom, bom só há um, que é Deus’, então, a perfeição só pertence a Deus.”.

Minha formação é em arquitetura (não exerço). Se você me chamar de arquiteto, eu posso responder: “Por que me chamas de arquiteto. Arquiteto nesta conversa só existe um”. Eu entendo que a resposta do Senhor Jesus foi neste sentido.

Você escreveu: “Para turvar o assunto você inseriu ‘o pecado original’, outra mentira cristã.”.

O pecado é a natureza. Explico: um pé de limão é limoeiro, não porque dá limões, mas porque é de sua natureza. Os limões são apenas consequências da natureza da árvore. Assim um pecador o é não porque peca. Sua natureza é pecador. Pecados são seus frutos. A morte de Cristo resolveu judicialmente a questão do pecado (que entrou na criação) e dos pecados individuais daquele que nele crê. Mesmo que ninguém fosse salvo, ainda assim Cristo, com sua morte, teria tirado o pecado do mundo (ou seja, glorificado a Deus quanto a essa nódoa na Criação). É isso que a Bíblia ensina.

Pelo jeito o Islã acredita que todo homem é inerentemente inocente e bom, porém capaz de pecar. É como uma árvore genérica que pode dar limões. Então já fica um pouco mais clara a diferença.

Eu, Mario, sou um pecador perdido. Como não tenho virtude alguma que garanta a salvação (lembre-se, sou pé de limão, portanto só posso produzir limões), dependo exclusivamente da obra de Cristo e da graça de Deus para chegar lá. E, no céu, jamais poderei me gabar de ter alcançado por alguma virtude minha, pois não as tenho.

Você não é pecador (no sentido de não considerar que tenha a natureza pecaminosa) e depende de suas virtudes para se salvar. Embora não possa ter certeza alguma de seu destino ou se já colecionou virtudes suficientes para fazer o fiel da balança pesar a seu favor, digamos que consiga. Para quem fica o mérito? Lembre-se de que, no Islã, o maior pecado é o orgulho, tentar se igualar a Deus. Mas se o padrão de virtudes é Deus, será que ele aceitaria alguém que estivesse abaixo desse padrão? E se alguém se considerar à altura do padrão, como fica Deus?

É uma equação difícil de resolver, mas quando vejo na Bíblia que Cristo não somente tomou meu lugar no juízo, mas também é por meio dele que sou justificado (reputado por justo), toda a glória pela minha salvação é dada a Cristo. Como ele é Deus, toda glória é dada a Deus.

Você escreveu: “O fato é que não há uma profecia que diga claramente ‘Deus virá em forma humana para morrer e redimir o mundo’.”.

Há sim: “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53:4-5).

Você escreveu: “Jesus não veio pra morrer, veio pra revitalizar a lei.”.

Para sabermos o que ele veio fazer o melhor mesmo é perguntar a ele: “E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado. Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto…. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. E dizia isto, significando de que morte havia de morrer” (Jo 12:23-33).

Você escreveu: “Muitos profetas tiveram várias esposas, quantas vezes Deus os condenou?”.

Os árabes são grandes matemáticos. De quantos elementos é formado o número “dois”?

“Ele (Jesus), porém, respondendo, disselhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e SERÃO DOIS numa só carne?” (Mt 19:4-5).

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Existem contradições na Bíblia?

Para o cético ou incrédulo, a Bíblia pode parecer cheia de contradições, mas depois de 30 anos de leitura quase diária percebo que a maioria daquilo que é apresentado como contradição não passa de falta de entendimento.

A primeira condição para se ler a Bíblia é levar em consideração o que está escrito, quando foi escrito, para quem foi escrito, em que circunstâncias, com qual objetivo, etc. Perca isso de vista e você perde o significado, não só da Bíblia, mas de qualquer outro texto.

Mas essa condição é apenas para uma compreensão intelectual. A compreensão real das Escrituras depende do Espírito Santo e a condição para tê-lo é crer. Portanto, sua real compreensão está além da capacidade do cético ou do incrédulo.

Uma aparente contradição é o modo como Judas morreu. Em Mateus 27:5 diz que “retirou-se e foi-se enforcar”. Em Atos 1:18 diz que “precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram”. Afinal, enforcou-se ou despencou de um precipício? As duas coisas.

Quando Barzan Ibrahim al-Tikriti, o meio-irmão de Sadam Hussein, foi enforcado, o impacto da corda estirada causou sua decapitação. Quem estivesse sobre o cadafalso diria que ele foi enforcado. Quem estava sob o cadafalso disse que ele morreu decapitado.

Judas provavelmente se enforcou em um lugar alto o suficiente para precipitar-se, com o rompimento da corda ou do que a prendia (galho, por exemplo). Depois de morto, seu corpo apresentava os ferimentos de uma queda de um lugar alto.

Algumas das chamadas contradições pelos céticos podem entrar facilmente na categoria das exceções. É o caso da proibição da confecção de imagens em Êxodo 20 e a ordem para fazer dois querubins de ouro para ficarem sobre a Arca da Aliança em Êxodo 25, ou o caso da serpente de bronze em Números 21 ou dos leões, bois e querubins que adornavam várias partes do templo em 1 Reis 7.

A primeira ordem tinha o objetivo claro da confecção de imagens com o objetivo de adorá-las, o que não se aplicava às exceções, que tinham a função de adorno. Se eu fosse um israelita na época teria facilmente interpretado que no geral imagens não deviam ser construídas, exceto naquelas condições particulares.

Qualquer contrato dos dias de hoje é escrito assim. “Cláusula tal: Haverá multa no caso do não cumprimento deste contrato etc…” “Cláusula tal: A multa da cláusula anterior não se aplicará em caso fortuito ou de força maior”. Simples assim.

Algumas supostas contradições deixam dúvidas se quem as formulou tinha um mínimo de inteligência ou, pelo menos, boa vontade. Encontrei um site cujo autor considerava contradição a passagem que fala da proibição do judeu comer morcegos. “Toda a ave limpa comereis. Porém estas são as que não comereis: a águia, (…) a poupa e o morcego…” (Dt 14:13-18). O autor do site considerou uma contradição chamar morcego de ave: “Para a Ciência, apesar de voar, o morcego é um mamífero, porque mama quando pequeno”.

Obviamente o versículo está classificando “aves” como animais alados, ou que têm asas, e não da mesma forma que a ciência moderna classifica. Se ele viajar à Europa, verá que a União Europeia classifica a cenoura como fruta! Isso mesmo. Foi preciso fazer isso para os portugueses poderem exportar sua geleia de cenoura, já que a definição de “geleia” para receber incentivos comerciais restringia-se às feitas de frutas.

O mesmo autor que não gostou do morcego ser chamado de ave comenta o Salmo 58:8: “Como a lesma que se derrete…” Revelando ser alguém que não conhece a linguagem poética, ele ironiza: “Seria essa uma referência a um tipo de lesma medieval, já extinta?”.

“Salmos” equivalem a cânticos e poemas, nos quais a linguagem poética é abundante. Então ali as lesmas “derretem”, porque é o que parece acontecer ao observador comum, os campos “se alegram” e as árvores “se regozijarão” (Sl 96:12), os céus “louvam”, se “alegram”“anunciam” etc.

Não é preciso muito esforço e nem inteligência acima do normal para entender isso. Agora, para não entender, aí sim é preciso uma boa dose de insensibilidade.

Se você encontrar mais alguma passagem que possa parecer uma contradição na Bíblia, escreva para mim.

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Quem morre vai ao céu ou ao paraíso?

A palavra “Paraíso” aparece em algumas traduções modernas (principalmente em inglês) referindo-se ao Jardim do Éden ou a um lugar de bênção. Por isso costumamos dizer que Adão e Eva foram expulsos do Paraíso.

Na cruz o Senhor fala que o ladrão estaria com ele no Paraíso e Paulo fala do Paraíso como o terceiro céu onde esteve em 2 Co 12:4. Em Ap 2:7 também é falado do Paraíso de Deus. Creio a palavra não seja específica de um lugar, mas pode significar também um estado de bênção.

Se o Senhor disse ao ladrão que ele estaria com o Senhor Jesus no Paraíso naquele dia, então o ladrão e o Senhor se encontraram, não em corpo, mas em espírito, no Paraíso naquele dia. O Senhor ainda não tinha ressuscitado, portanto esse encontro não foi em corpo. Talvez você esteja confusa por causa de algumas doutrinas que erroneamente interpretam a morte como um estado de sono e inconsciência, mas não é. Lázaro estava bem consciente, assim como o rico em sua morte (Lc 16:19-31.).

Em Mateus 17, tanto Elias como Moisés aparecem junto ao Senhor, e não estão dormindo. Quando em Tessalonicenses 4 fala dos que “dormiram” é no sentido do corpo (porque ali está falando de ressurreição). Portanto, ao morrer, o espírito vai para junto do Senhor, mas o corpo permanece em um estado de quem dorme (a palavra é usada para o crente, não para o incrédulo).

Por isso Paulo diz que preferia estar com Cristo, porque isso era ainda melhor. Obviamente ele não estava dizendo isso porque pretendia ir dormir na presença do Senhor.

Quanto ao céu, na Bíblia pode significar a atmosfera ou onde as aves voam, os raios aparecem, e de onde a chuva cai. (Gn 7:23, Dt 11:11, Dn 4:21, Lc 17:24 são exemplos.) É o céu que vai passar ou acabar. (2 Pe 3:10-12).

Céu é também usado no sentido de firmamento, onde estão o sol, a lua e as estrelas. (Gn 1:14-15, 17).

Céu também aparece como o lugar da habitação de Deus, onde está seu trono (Sl 2:4, 11:4, Mt 5:34). É o lugar de onde o Senhor veio e para o qual ele subiu, e também onde ele foi visto por Estêvão. (Mc 16:19, At 7:55, 1 Co 15:47).

Também é no céu que os anjos habitam, e onde Satanás está hoje. (Mt 22:30, 24:36, Gl 1:8, Jó 1:6-7). Talvez seja este o terceiro céu (1o. Atmosfera, 2o. Firmamento, 3o. Habitação dos anjos e salvos). Satanás cairá em Apocalipse e passará a viver na Terra antes do milênio. Mas a Bíblia fala ainda dos “céus dos céus” (Dt 10:14; 1 Rs 7:27) e que haverá “novos céus” (2 Pe 3:13). Mas creio que o lugar inacessível a nós é onde Cristo subiu, “acima de TODOS os céus” (Ef 4:10).

Portanto, o ladrão foi se encontrar com o Senhor no céu, Paulo foi ao terceiro céu, quem crê no Senhor e morre vai para o céu, tudo isso até acontecer a ressurreição e o arrebatamento, quando os que creem e estiverem mortos, e os vivos arrebatados, passarão a não apenas a viver no céu, mas também a viver no céu com um corpo. Atualmente apenas o Senhor está no céu com um corpo. Não me pergunte como fica o caso de Enoque e Elias, porque não sei se eles estão lá com um corpo ou não.

Você escreveu: “Para continuar em minha fé na palavra de Deus, a Bíblia, é imprescindível que esta questão seja esclarecida. Como pode a Bíblia se contradizer?”.

Depois de escrever tudo isso, creio que seu problema não seja com a explicação ou a falta dela. A Bíblia não se contradiz. Quando achamos que isso acontece é porque nos consideramos inteligentes o suficiente para acharmos que já atingimos o nível de conhecimento suficiente para julgar o que é contradição ou não na Bíblia.

A maravilha da Bíblia é que ela não depende de você aceitá-la ou não. Ela existe por si só. Se você diz que precisa deste ou daquele esclarecimento para ter fé na Palavra de Deus, é porque você não entendeu o que é fé. Fé é a certeza de coisas que você não pode comprovar. Isso é fé. Fé é aceitar o cheque apenas confiando na palavra de quem o emitiu, mas sem nem mesmo ter um comprovante de extrato bancário para garantir que tenha fundos.

Se você pretende entender toda a Bíblia ou esclarecer todas as questões que ainda estejam obscuras antes de aceitar a Palavra de Deus, pode esquecer. Não é para a mente racional e crítica que Deus fala. Fé é a rendição de sua vontade a vontade de Deus, quer você a entenda ou não. Fé é submissão à sua Palavra, ainda que ela às vezes lhe pareça obscura e intrincada para seu entendimento racional. Lembre-se, crer não é acreditar. Você pode acreditar que um cirurgião é competente, mas só irá crer quando precisar colocar sua vida nas mãos dele.

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Qual fé é suficiente para salvar?

Você entende que a salvação é pela fé em Jesus e que basta crer para ser salvo. Mas parece que sua dúvida está mais na questão da qualidade dessa fé, já que nem todas as pessoas têm um entendimento claro da obra de Cristo ou da suficiência de crer para ser salvo independente de obras.

Quem crê está salvo, independente do tamanho de sua fé ou da qualidade dela. A resposta do cego curado é interessante: “Se ele (Jesus) é pecador, eu não sei; uma coisa eu sei, é que era cego e agora vejo”. Só depois ele foi conhecer melhor quem era o que havia curado.

Não existe um grau de fé que você possa considerar mais ou menos salvadora, porque o que salva não é a fé ou sua qualidade, mas a obra de Cristo. Eu fui católico durante um ano e sabia que estava salvo, muito embora exista uma carga de ensino no catolicismo misturando fé e obras como condição para a salvação. Obviamente eu tinha me convertido a Cristo, mas não tinha nem um pouco o entendimento que tenho hoje.

É difícil generalizar dizendo que os católicos ou qualquer grupo creem em “fé + obras”, porque ninguém conhece a fé individual, só Deus. Mesmo em um grupo onde seja ensinada a salvação por “fé + obras” há pessoas que realmente creem em Cristo por se considerarem indignas de serem salvas por seus próprios méritos ou incapazes de fazer obras suficientes para sua salvação.

Creio que muitos católicos estejam salvos e se você pedir a algum deles para explicar exatamente a razão, ele nem saberá responder. Há muitos “evangélicos” que também acrescentam coisas à salvação, como ter algum dom ou manifestação sobrenatural, vestir-se assim ou assado, ser batizado e várias outras coisas que os colocam em pé de igualdade com qualquer crença de “fé + obras”.

Veja a questão da segurança da salvação, ou seja, do crente não perder a salvação depois de ser salvo. A maioria das pessoas não acredita assim porque não se deram conta de que elas próprias não creram de vontade própria, mas por terem sido objeto de uma intervenção divina. Ninguém crê por si mesmo. É uma obra de Deus. A certeza da Salvação é um privilégio que só entendemos quando percebemos que nem o novo nascimento dependeu de nós (já viu um bebê nascer de vontade própria?), mas de Deus.

É claro que essas doutrinas mescladas, que incluem obras para salvar ou para manter alguém salvo, que ensinadas tanto no catolicismo como no protestantismo, em especial nas suas vertentes pentecostais, acaba desfigurando a pura doutrina da salvação pela fé somente. Mas não é só isso que desfigura a doutrina.

Se eu acreditar que preciso pertencer a alguma religião ou denominação como parte da vida cristã, estou também dizendo que Cristo, que considerei suficiente para minha salvação, não é suficiente como único Nome sob ou qual eu devo me congregar ou com o qual eu devo ser identificado como quem creu. Qualquer inserção de elementos humanos na conversão e na vida de adoração cristã é uma desonra para aquele que é suficiente para salvar e para congregar os seus.

Em toda a Bíblia vemos casos de pessoas que creram, muito embora não tivessem uma fé perfeita ou como manda o figurino. Naamã converteu-se ao Deus vivo, porém pediu que Deus não olhasse quando ele tivesse que entrar com o seu rei (o patrão) no templo do deus deles. Elias se achava o tal porque Deus o usou de maneira maravilhosa, e considerava-se único, até ouvir de Deus que havia 700 pessoas que não tinham dobrado seus joelhos aos ídolos.

Nicodemos vai encontrar-se com Jesus à noite, com medo dos outros principais dos judeus, depois defende o Senhor diante dos principais judeus e, quando até os discípulos tinham caído fora, vai lá requisitar o corpo de Jesus, uma coragem que poucos teriam, já que era expor-se demais. E não ouvimos falar de José de Arimateia ao longo de todo o evangelho, todavia seu nome brilha numa hora crítica como aquela. Deus sempre traz surpresas, portanto não devemos julgar pelas aparências.

Portanto, não cabe a nós julgar a qualidade da fé de cada um, como também não cabe a nós dizer o que acontece com quem parte deste mundo, cabe a Deus. Se a salvação dependesse da precisão da fé ou qualidade de minha crença, então nenhum de nós irá jamais ser salvo, porque jamais seremos capazes de entender toda a verdade, nem aqui, nem no céu. Há coisas que sempre estarão fora do alcance do homem, que vive agora sob este céu e vai viver no terceiro céu, porque estão “acima de todos os céus”. A Verdade é Cristo, e jamais esgotaremos o que há para ser conhecido dele. No final de João diz que nem o mundo todo poderia conter todos os livros, caso fosse escrito tudo o que Jesus fez. Sua obra é tão infinita quanto ele.

Às vezes uma compreensão que nos pareça correta é, na verdade, fruto de um conjunto de fatores culturais. Como seria salvo alguém que não teve acesso a esses mesmos fatores culturais? Um missionário, ao traduzir os evangelhos para uma tribo na Amazônia, descobriu que não havia a palavra “fé” no vocabulário dos índios, e nem alguma palavra parecida. Então ele usou para “fé” o termo que eles usavam para “pendurar a rede”. É que, à noite, nas ocas, eles penduravam suas redes nos troncos que sustentavam a enorme oca, e faziam isso bem no alto, para evitar o ataque de animais. Se o tronco ou a amarra não fosse firme, eles caíam e podiam morrer. Então “amarrar a rede em Jesus” significava crer que ele era firme para nos livrar da morte. Assim os índios entenderam.

Outro, para explicar a passagem da casa construída sobre a rocha, precisou mudar para a casa construída sobre a areia, porque os índios achavam que alguém que construísse sobre a rocha seria tolo. O certo era construir sobre a areia, onde era possível fincar os paus da choupana.

Como pode ver, não é tão simples afirmar que alguém seja salvo ou não por uma generalização do que é pregado no meio onde frequenta ou da precisão de seu entendimento da obra de Cristo. Os pentecostais creem que você é salvo pela fé, mas conserva-se salvo pelas obras (se cair, perde), o que é tão errado quanto dizer que a salvação é por fé e obras. Mas quem poderá dizer que alguém ali não será salvo porque não creu segundo uma definição precisa de fé?

Conheci um homem que foi um devasso toda a vida. No leito de morte, quando se desesperou com sua situação, foi dito a ele que pedisse para Jesus salvá-lo. Esse homem morreu chamando pelo nome de Jesus. Quanto ele entendia da fé ensinada na Bíblia, da obra de Cristo na cruz, ou da Bíblia? Zero. Agora, que Deus iria deixar de salvar alguém que, na hora da morte, chama pelo nome de Jesus? Ou que diz “Senhor, lembra-te de mim”? Para qualquer um desses o Senhor tem a mesma palavra: “Hoje mesmo estarás comigo”.

Enfim, não é o quanto sabemos de Cristo, o quanto cremos nele, o quanto de confusão ou falta dela que fazemos com as doutrinas bíblicas que pesam na salvação, mas o fato — bendito fato! — de que Deus quer salvar. E se ele quiser salvar alguém que foi até mesmo um herege (e Paulo foi um que perseguiu o Senhor), ele dará a essa pessoa ainda que seja um átomo da fé suficiente para levar à salvação por meio da obra de Cristo. Muitos ficarão surpresos quando se virem no céu, porque não entenderam exatamente o processo para chegarem ali. Simplesmente clamaram pelo nome de Jesus e foram salvos.

Se acreditarmos que nossa capacidade de entender e de exercer uma fé de qualidade (livre de erros) no Senhor tem peso na salvação, estaremos dizendo que existe algum tipo de obra, no caso intelectual, inserida no processo. Evidentemente que, se alguém quiser saber o que precisa fazer para salvar, irei dizer que ele precisa crer. Mas, algo que ele irá descobrir só depois de crer, será que até mesmo o crer não partiu dele, mas foi um resultado da obra de um Deus que quis salvá-lo.

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O cristianismo não é baseado nas religiões pagãs?

Sua dúvida surgiu do vídeo que viu sobre “Deus Sol” e elementos do paganismo, no qual o autor afirma ser o cristianismo uma mera cópia desses elementos. Bem, se considerarmos o lado romano do cristianismo, há alguma verdade nisso, pois muitos elementos pagãos foram incorporados à adoração cristã do catolicismo romano como forma de atrair e converter os pagãos.

É o caso do Natal, de algumas datas e celebrações e, principalmente, do panteão de santos católicos que têm, muitos deles, uma contraparte pagã. Lembro-me de ter lido um livro antigo que mostrava essa correlação e talvez você encontre algo pesquisando. Coisas do tipo, Santa Fulana, de roupa azul, com um ramo de tal árvore na mão, protetora de determinada coisa, equivalendo a uma deusa romana de igual aparência e com os mesmos poderes.

Mas na ideia de que o cristianismo tenha se originado no paganismo, os fatos apresentados nesse tipo de explicação podem ser vistos de dois ângulos. Você pode, por exemplo, dizer que o dilúvio foi copiado de antigas lendas pagãs (há muitas sobre o dilúvio), ou acreditar que não eram lendas, mas um conhecimento do dilúvio que acabou misturado com sua cultura. O mesmo sobre o Sol e a menção que a Bíblia faz dele em relação a Cristo, como o “Sol de Justiça” por exemplo. Será que o cristianismo copiou do paganismo a noção de Jesus/Sol ou esse era um conhecimento real e dado por Deus que acabou se mesclando com sua cultura?

O mesmo você pode dizer da ressurreição, do sacrifício vicário, da santa ceia e de tantos outros aspectos do cristianismo que possuem um correspondente no paganismo. O fato de algo ter um correspondente no paganismo não quer dizer necessariamente que o correspondente pagão tenha sido o que surgiu primeiro. Como no caso do dilúvio, primeiro veio o conhecimento divino dado a Noé, e depois as lendas pagãs. O mesmo se pode dizer do monoteísmo. Há religiões pagãs monoteístas, como uma que dominou o Egito em um determinado tempo, ou outra instituída por um rei Inca em sua época. Teria o judaísmo ou cristianismo monoteísta ido buscar a ideia nesses povos ou seria o contrário?

Vários povos antigos tinham a noção de um salvador que viria do céu, e alguns alegam que os Maias tenham se deixado dominar pelos espanhóis por considerarem aqueles homens enormes (nos primeiros encontros eles não entendiam que o cavalo não fazia parte do homem) como o salvador anunciado. Será que o messianismo judaico-cristão emprestou desses povos antigos a ideia de um Messias ou foi o contrário, isto é, esses povos em algum momento do passado tiveram contato com a revelação divina de um Messias e acabaram incorporando isso em suas culturas?

Um excelente livro sobre o assunto é “O Fator Melquisedeque” (“Eternity in Their Hearts”), de Don Richardson, um missionário que encontrou vários exemplos de paralelos cristãos em povos indígenas de todo o mundo. Sua tese é que Deus preparou os homens para as suas verdades e que esse preparo acabou incorporado às suas culturas, de forma que não achassem estranho quando alguém lhes falasse de um dilúvio universal, de um Messias, um Salvador, um sacrifício substitutivo, etc.

O próprio Don Richardson viveu em uma tribo da Nova Guiné onde a porta para a aceitação do evangelho foi o conceito que tinham do “Filho da Paz”, ou seja, quando uma tribo queria ter paz com outra, entregava um de seus filhos, uma criança, que precisava ser criada pela outra tribo. Enquanto a criança vivesse, elas não poderiam guerrear. Quando o missionário disse aos indígenas que Deus entregou o seu filho para fazer a paz conosco, e como o Filho está hoje ressuscitado e não morre mais é possível ter paz com Deus eternamente, tiveram início as conversões.

Veja um trecho de uma apresentação do livro: “Deus preparou o mundo para o Evangelho”

Uma vez por ano, os artesãos de uma tribo da Indonésia constroem um barco de madeira em miniatura e o levam à beira do rio. O chefe religioso da tribo amarra uma galinha num lado do barquinho e coloca uma lanterna acesa no outro lado. Logo em seguida, cada membro da tribo passa perto do barquinho e coloca um objeto invisível entre a galinha e a lanterna.

Quando se pergunta às pessoas o que deixaram no barquinho, elas respondem: meu pecado. Depois, o chefe deixa o barquinho ser levado pela correnteza do rio, enquanto os expectadores gritam: Estamos salvos! Embora esta cerimônia religiosa não salve ninguém do seu pecado, Don Richardson a vê como exemplo de uma ponte para o conhecimento do Evangelho.

Neste livro, Richardson conta mais 25 histórias fascinantes, que mostram a semente do Evangelho deixada por Deus em cada cultura do mundo. Ele chama este tipo de Revelação Geral de Deus de “Fator Melquisedeque”, usando o nome do sacerdote a quem Abraão prestou homenagem no Livro de Gênesis.

Este livro mudará as ideias de muitos cristãos sobre os povos pagãos e sobre a soberania de Deus.

Outra coisa para pensar é que, se o cristianismo for apenas uma religião habilmente montada a partir do paganismo e de seus símbolos, então estamos diante de um trabalho como jamais foi visto. Digo isto porque toda a base do cristianismo é encontrada no judaísmo, e a Bíblia é harmônica do Gênesis ao Apocalipse, mostrando figuras de Cristo no Antigo Testamento e sua concretização no Novo Testamento. É um livro coeso, onde as coisas se encaixam e se complementam.

Agora pense no fato de este livro ter sido escrito por mais de 60 pessoas que viveram espalhadas ao longo de um período de uns dois mil anos, moraram em três continentes, escreveram em três idiomas diferentes e boa parte delas jamais se encontrou ou leu o que a outra escreveu. Todavia, ainda assim temos um livro coeso, com todos os símbolos que alguns alegam terem sido emprestados do paganismo perfeitamente encaixados em seus devidos lugares e se relacionando harmonicamente sem que existam contradições ou uma falta de continuidade. Se não foi Deus quem orquestrou essa obra toda, então quem foi? O homem certamente não conseguiria.

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A fé pode ser provada pela ciência?

Não. Ciência (humana) e fé são coisas diametralmente opostas. “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11:1).

Sugiro que leia o capítulo inteiro de Hebreus 1. Se fé é o firme fundamento de coisas futuras e a prova das coisas que não vemos, obviamente a fé não está sujeita ao escrutínio e não pode ser colocada sob o microscópio. A ciência observa os fenômenos observáveis. A fé interage com outra dimensão. Daí qualquer discussão no sentido de submeter a fé a testes “científicos” ser estéril.

Você alega que a fé pode ser testada cientificamente baseando-se nas experiências feitas com pessoas que se disseram curadas pela oração, e dizendo que os resultados mostraram que a oração é tão eficiente quanto um placebo, ou seja, não tem valor algum. Bem, não é dessa fé que estou falando e nem desse tipo de comprovação.

Orações, qualquer que seja o deus da pessoa, podem criar condições psicológicas (falando do ponto de vista da ciência) que facilitam a cura, mas eu não estou nem um pouco interessado nesse aspecto da fé. Estou falando da fé no Deus vivo, ou seja, não do poder da oração ou da fé individual, mas do objeto dessa fé ou dessa oração, daquele de quem emanam todas as coisas. Este Deus vivo, que se revela na Bíblia como Pai daqueles que creem em Jesus, não pode ser verificado pela ciência. Ele se encontra além do escrutínio humano, e o máximo que alguém pode conhecer de sua Pessoa é através de Jesus, Deus manifestado em carne.

“Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno” (1 Tm 6:16).

Mas mesmo o Senhor não está sujeito ao escrutínio da ciência ou da razão. Você sabe que tudo se resume a energia e que esse espectro de energia vai da matéria às ondas de rádio, raios-x, etc. A Bíblia afirma que Deus habita “na luz inacessível”, ou seja, fora do espectro ao qual temos acesso. Somos muito pequenos para entendê-lo e menores ainda para entender seus pensamentos.

“Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11:27).

Você escreveu: “Se Deus, sendo onisciente, já sabia que eu, seria um ateu e, consequentemente seria condenado ao inferno, então, por que “cargas d’água” ele permitiu que eu nascesse? Só pelo prazer de me condenar ao tormento eterno? Somente um Deus cruel agiria dessa maneira!”

Uma vez eu disse algo parecido (ou você acha que já nasci crente?). Foi durante o processo de minha conversão, quando cheguei ao fundo do poço e passei a questionar a Deus. Assim como você, eu não era indiferente a ele; ele me incomodava e incomodava ver pessoas que admitiam conhecê-lo (e não apenas conhecer “a respeito dele”). Em uma dessas manifestações de ira e escárnio contra meu Criador, abri uma Bíblia a esmo só para provar para mim mesmo que encontraria outra grande bobagem. Então eu li o que estava na página que abri e aquilo serviu para mim como uma espécie de “cala-boca”.

Você escreveu: “Se ele fosse misericordioso, na pior das hipóteses, ele sequer teria permitido que eu existisse! Agindo assim ele teria me poupado de um sofrimento totalmente desnecessário! Não consigo compreender como um Deus supostamente bom, soberano, onipotente e onisciente possa ser tão irresponsável ao ponto de me criar mesmo sabendo no que isso iria resultar.”.

Sempre que alguém fala em misericórdia eu gosto de perguntar onde foi que encontrou esse conceito. Ou também coisas como amor, perdão, graça, bondade, benignidade, mansidão… Você, embora se dizendo ateu, mal sabe o quanto de cristianismo tem incorporado em sua formação. Misericórdia não é invenção humana, pois basta abrirmos o jornal para ver a quantas anda a humanidade. Então esses atributos devem ter vindo de outra fonte, já que não são humanos.

Além disso, misericórdia, perdão, amor e outros conceitos não caem bem em um ateu evolucionista, pois nenhuma espécie conseguiria sobreviver sendo misericordiosa dentro daquilo que a ciência chama de teoria da evolução. O correto, nessa teoria, é agir segundo a lei do mais forte, da seleção do mais apto, como Hitler quis fazer.

Então é um contrassenso um ateu falar em misericórdia, caridade, respeito, já que ele se dará melhor vencendo o mais fraco, eliminando os portadores de deficiência e se impondo. Os ensinamentos de Jesus jamais seriam para alguém cuja meta é sobreviver e preservar sua espécie, sua linhagem, seus genes. E nem poderia, já que o Senhor falou de não resistir ao mal, de deixar-se matar, de perdoar e de… Ser misericordioso. De qualquer modo, julgando que sua dúvida seja sincera, este versículo pode ser a resposta:

“Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor”. (1 Co 4:5).

Ou seja, não queira adivinhar o placar de um jogo que ainda não acabou. Enquanto você está vivo existe a possibilidade de Deus tocar seu coração e aí você pode espernear quanto quiser, pois então será ele quem lhe dará a vida espiritual que é necessária para entender (não com a razão) os pensamentos de Deus.

É isso que a Bíblia chama de novo nascimento, uma condição necessária para se entender as coisas do alto. É um erro querer analisar as coisas celestiais (espirituais) segundo os parâmetros terrestres (materiais). Deixe isto para a ciência, é o que basicamente o Senhor mostra a Nicodemos em João capítulo 3.

Para se entender as coisas de Deus é preciso receber, digamos assim, o decodificador divino. Eu só poderia entender os pensamentos que você tem em mente se existisse uma máquina que pudesse extrair o seu espírito e implantá-lo em mim. Aí faria sentido para mim sua forma de pensar.

“Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. (1 Co 2:11-14).

Portanto, não perca seu tempo querendo entender Deus, isso é impossível porque seus parâmetros são humanos e materiais. Acaso você tenta medir distâncias com um termômetro ou temperatura com um metro? Qualquer análise deve ser feita levando-se em conta um parâmetro (um referencial), e é impossível ao homem em seu estado natural entender as coisas espirituais porque lhe falta o referencial. Definimos a cor segundo um padrão, a temperatura segundo um padrão, o tempo segundo um padrão etc., etc., etc. Para navegar na esfera espiritual e compreendê-la, você precisa receber um implante de vida divina. Só então as coisas passarão a fazer sentido para você.

Portanto, o caminho é pedir a Deus que lhe mostre. Eu não sou capaz de fazer isso, mas ele o fará com certeza.

“A um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” (Sl 51:17).

“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele.” (1 Co 1:18-29).

Se você procura um diálogo comigo apenas para satisfazer o intelecto e poder provar que você está certo e eu errado, ficamos assim: você está certíssimo dentro da esfera das coisas materiais na qual vive e raciocina, e usando os referenciais aos quais você tem acesso. Seu modo de pensar e agir não estão fora do normal, pelo contrário, são típicos de alguém que não conhece a Deus e a Jesus. Portanto, se estiver procurando saber quem ganhará a discussão, fique sabendo que o prêmio é seu.

Mas, existe outra dimensão que, com as ferramentas que você possui, você jamais será capaz de perceber enquanto estiver vivo em sua existência natural. Quando ultrapassar o portal que encerra sua jornada nesta vida, você certamente ficará ciente dessa outra dimensão, embora eu saiba que existe algo lá no fundo de você que agora mesmo lhe dá uma ideia disso: “Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo [var. “a eternidade”] no coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim.” (Ec 3:11).

O problema é que aí será tarde demais, e se eu fosse você não pagaria para ver.

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Por que Deus cria pessoas com imperfeições?

Na verdade não é Deus quem cria imperfeições físicas, mas elas são uma consequência do pecado. Não da pessoa, obviamente, mas do pecado que entrou na Criação e contaminou toda a raça humana. A partir daí todas as pessoas que nascem são imperfeitas de uma forma ou de outra, algumas de forma mais visível, outras não. A mais grave das imperfeições que entraram na criação em função do pecado é a morte. Como todos morrem, podemos dizer que somos todos imperfeitos de nascença.

Então sua pergunta também poderia ser feita da seguinte forma: Por que nascemos mortais? Somos diferentes aos olhos de Deus? Somos amaldiçoados ou abençoados?

Percebeu como a perspectiva muda quando olhamos o assunto mais detalhadamente e pensamos na maior das imperfeições, a morte? De qualquer modo, embora Deus não seja o criador das imperfeições, ele pode ou não permitir esta ou aquela em nossa vida com um propósito determinado. Da mesma forma como ele pode permitir que alguém sofra um acidente ou adoeça porque ele sabe que de outra forma aquela pessoa nunca pararia para pensar que precisa de um Salvador.

Em João capítulo 9 você encontra o caso do cego de nascença. A dúvida ali era saber quem teria pecado para ele ter nascido cego, se teria sido seus pais ou o próprio cego (talvez considerando algumas crenças envolvendo uma suposta reencarnação). O Senhor diz que nem uma coisa, nem outra, mas que ele tinha nascido cego para que a glória de Deus se manifestasse nele. Depois disso o Senhor cura o cego e este dá um testemunho maravilhoso daquele que o havia curado.

Ou seja, sua enfermidade fazia parte de um plano maior e pode ter certeza de que hoje, no céu, aquele cego não está nem um pouco chateado por ter nascido cego. As coisas ganham uma nova perspectiva quando vistas do ponto de vista da eternidade.

Há outras situações onde vemos a enfermidade ou deformidade sendo utilizada por Deus, como na história de Naamã, dos inúmeros cegos, mudos, coxos e aleijados curados nos Evangelhos, ou mesmo de enfermidades como a do apóstolo Paulo, que dizia ter um espinho na carne, que Deus havia permitido para ele não se ensoberbecer da grande tarefa que lhe tinha sido confiada e das coisas que tinham sido reveladas a ele.

Embora a gente não entenda muita coisa, ao conhecermos a Deus aprendemos que sua perspectiva é muito maior do que a nossa. Uma criança pequena pode não entender por que sua mãe, que deveria amá-la, permite que ela tome uma injeção dolorida ou a obrigue a comer brócolis. Assim somos em relação a Deus. Não entendemos uma porção de coisas porque nosso entendimento e visão são limitados.

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As coisas foram criadas a partir da luz?

Sua pergunta está relacionada à ideia científica de que toda matéria é energia ou, em outras palavras, luz em diferentes espectros. Você menciona o Gênesis afirmando que a primeira coisa a ser criada foi a luz e o resto derivou disso. Não, a Bíblia não afirma que a existência material tenha se iniciado a partir da luz. A Bíblia afirma que “Pela fé entendemos que os mundos PELA PALAVRA DE DEUS foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente.” (Hb 11:3).

Curiosamente, a Palavra de Deus ou Verbo de Deus é também o Filho de Deus, Deus feito Homem, por meio de quem todas as coisas foram criadas: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” (Jo 1:1-3). Em suma, Deus falou e tudo veio à existência.

A Bíblia afirma ainda que não apenas as coisas vieram a existir pela Palavra de Deus, como sua própria existência é mantida pela mesma Palavra: “O qual [Jesus], sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa [de Deus], e SUSTENTANDO TODAS AS COISAS PELA PALAVRA DO SEU PODER, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas.”. (Hb 1:3).

E a luz? Vejamos:

“No princípio criou Deus os céus e a terra. [……..] E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas”. (Gn 1:1-4).

A luz não é criada, ela é introduzida na Criação, porque sempre existiu, e não entra no relato da criação original, porque esta é mostrada apenas no versículo 1 (por isso introduzi acima um [……..] apenas para mostrar a distinção das coisas). No princípio criou Deus os céus e a terra, esta é a criação original. Entre o versículo 1 de Gênesis e o 2 você pode imaginar ‘zilhões’ de anos atuais e não temos ideia do que aconteceu nesse período.

Provavelmente é nesse intervalo que ocorre a queda dos anjos, o que acabou transformando a criação original de Deus em um verdadeiro caos que incluíram as trevas, algo estranho à Criação, já que “Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas” (1 Jo 1:5). Considerando que antes das coisas virem à existência só existia Deus, fica fácil concluir que não havia trevas.

Além disso, há outra referência de que Deus não teria criado a terra “vazia” em Isaías 45, e as referências a Lúcifer existentes na Bíblia apontam para uma época anterior ao estado caótico e às etapas de criação, que poderíamos chamar de restauração da criação, descritas a partir de Gênesis 4. A Luz, portanto, foi apenas trazida à cena no início dessa reforma geral da criação que ocorre nos seis dias descritos em Gênesis.

Tudo isso eu escrevi para dizer que a premissa de que tudo foi criado a partir da luz não é bíblica. A criação é um ato do Verbo de Deus, e sem ele [Jesus], nada do que foi feito se fez. Todavia, há versículos que apontam para a participação do Pai e do Espírito Santo, além do Filho, na Criação.

Embora luz seja luz, é importante entender que quando falamos de Luz no seu aspecto mais amplo e bíblico, estamos indo além do espectro visível ou mensurável. Veja isto: “Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno”. (1 Tm 6:16).

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Existem milagres?

Sim, a Bíblia está cheia deles. Os céticos ora atacam os milagres, ora tentam explicá-los como fenômenos naturais. Lembro-me de ter lido um livro em minha juventude chamado “A Bíblia Tinha Razão”, que nada mais era do que uma tentativa de explicar os milagres bíblicos como fenômenos naturais. Obviamente ele não explicava a coincidência dos fenômenos terem ocorrido justamente quando o povo de Deus mais precisava deles.

Os milagres na Bíblia incluem a ressurreição de mortos, cura de cegos, surdos, mudos e aleijados, expulsão de demônios, multiplicação de pães, peixes etc., transformação de água em vinho e vários outros, alguns perceptíveis apenas para a pessoa abençoada, outros de grandes consequências tanto para crentes como para incrédulos, como um mar aberto ou muralhas caindo.

Talvez o maior milagre seja mesmo o da conversão de uma alma morta em delitos e pecados que passa a desfrutar de vida eterna. Digo que este é o maior de todos porque suas consequências são eternas e permanentes, enquanto os milagres de cura, multiplicação ou até de ressurreição tinham uma duração limitada em seus benefícios. Os que ressuscitaram na Bíblia voltaram a morrer depois, os que ganharam saúde voltaram a perdê-la e os que foram alimentados voltaram a ter fome. Portanto, se você busca por um milagre, certifique-se de estar buscando pelo melhor deles.

A dúvida de muitos é se os milagres ainda acontecem hoje. Creio que sim, mas não com a intensidade e nem com o propósito do que encontramos na Bíblia. Os milagres sempre ocorriam como um sinal de que Deus estava agindo para fazer algo grandioso. Assim foi na libertação dos judeus do Egito, na vinda do Senhor e na formação da Igreja. Nos intervalos disso quase não vemos milagres ou, se ocorrem, têm um caráter mais pessoal e privativo.

Uma coisa é certa: Deus fazia os milagres tendo em vista o povo judeu em sua incredulidade. Não sou eu quem diz isso, mas a Palavra de Deus:

“Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria” (1 Co 1:22).

“De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis”. (1 Co 14:22).

Nos períodos de degradação e ruína, poucos eram os sinais de Deus, apenas no início de suas grandes manifestações. É o caso da formação da Igreja, quando havia terremotos quando os discípulos oravam, pessoas eram curadas pelos apóstolos. E não eram “alguns” que eram curados, mas “todos”:

“E até das cidades circunvizinhas concorria muita gente a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos; os quais eram TODOS curados”. (At 5:16).

Todavia vemos que com o tempo isso foi desaparecendo ou ficando restrito aos momentos quando Deus tinha algo a dizer aos incrédulos judeus. Até mesmo o apóstolo Paulo tinha uma enfermidade, que chamava de espinho na carne, deixou “Trófimo doente em Mileto” (2 Tm 4:20) e sugeriu a Timóteo: “Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades”. (1 Tm 5:23).

Por que Paulo não curou Trófimo ao invés de deixá-lo doente, ou Timóteo, a quem preferiu receitar um remédio caseiro? Porque curá-los não estava nos planos de Deus provavelmente por não trazer qualquer consequência favorável à obra de Deus. Ou também porque curá-los poderia impedi-los de aprender alguma lição que Deus estava tentando lhes ensinar.

Por isso, todo esse alvoroço em torno de supostos apóstolos, bispos e pastores fazendo curas na TV e distribuindo carnês para o pagamento de prestações pelas graças recebidas ou a receber não passa de uma triste caricatura do que foi o cristianismo no princípio. Além de uma boa dose de malandragem.

Um irmão que cuidava de uma editora cristã no Canadá colocou um anúncio no jornal procurando um funcionário para serviços gerais. O que apareceu disse que tinha experiência trabalhando em igrejas, pois sempre era contratado para ser curado. Ora ele era cego, ora aleijado… Obviamente, o irmão ao qual me refiro não o contratou.

Em um taxi a caminho do aeroporto em Fortaleza, dei um folheto evangelístico ao motorista que, por sua vez, contou-me de um passageiro que transportou. Pegou o homem no aeroporto para levá-lo ao hotel e lá o passageiro combinou para o motorista passar à noite. Quando voltou ao hotel, o taxista disse que o homem entrou no taxi todo mal vestido e levando duas muletas, mas caminhava sem elas. Ao ser deixado na porta de uma igreja, saiu do taxi e entrou no templo pendurado nas muletas e arrastando os pés moles pelo chão. Não precisou explicar o que o homem foi fazer lá.

Eu mesmo dei carona para um homem no interior de Goiás e ele contou que ia a uma igreja evangélica, mas, segundo ele, o pastor não sabia fazer o trabalho bem feito. Ele contou que foi uma vez e algumas mulheres ficaram possessas de demônios, que o pastor expulsou. Voltou lá outro dia, e as mesmas moças ficaram possessas e o pastor expulsou. Foi outro dia e a mesma coisa. Então disse que parou de ir, porque aquele pastor não estava fazendo o serviço direito!

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A que obras maiores o Senhor se referiu?

“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai”. (Jo 14:12).

O Senhor curou pessoas que depois ficaram doentes, multiplicou pães e peixes que pessoas comeram e voltaram a ter fome e ressuscitou mortos que depois voltaram a morrer.

Sem desmerecer os milagres, você percebe que eles tinham uma característica material e passageira? No entanto, a obra iniciada pelo Espírito através dos apóstolos e dos cristãos que viriam depois resultou na salvação eterna de milhões e milhões de pessoas.

Apenas em Atos, logo após a partida do Senhor, três mil pessoas se convertem em uma pregação de Pedro, algo que nunca aconteceu antes. Três mil pessoas resgatadas das garras de Satanás e transformadas no corpo de Cristo.

As maiores obras sempre são e serão as obras espirituais, porque elas permanecem. Nossa tendência é valorizar mais as obras materiais e temporais, porque vivemos com os sentidos limitados e não conseguimos enxergar o contexto todo, que inclui o mundo espiritual.

Quando você ora, entra em batalha com anjos nos lugares celestiais. Não vê isso, mas está acontecendo. Então, para entender o versículo, é preciso ter uma “régua” eterna, fazer uma medição segundo as coisas que permanecem. O que é mais importante, uma pessoa curada de câncer ou uma pessoa salva eternamente?

“Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas”. (2 Co 4:18).

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O inferno existe ou é só uma expressão?

Você afirmou que o inferno não existe como um lugar real, portanto não haveria de quê sermos salvos. Bem, você é espírita e evidentemente não acredita no que a Palavra de Deus diz sobre inferno, lago de fogo, etc. Se eu disser que o inferno é um “destino” ficaria de bom tamanho para você? Nossa origem é Deus, Criador. Nosso estado é caído e arruinado, por causa do pecado que entrou na Criação. Herdamos isso, e no pacote veio morte, doença, dor, tristeza… Então, você concorda que não está tudo ok conosco, né? Então algo precisava ser feito, mas por quem?

Bem, meu Tico e Teco aqui me dizem que se a Bíblia chama Jesus de “Salvador” é porque ele veio salvar a gente de alguma coisa (para isso servem os salvadores). Paulo disse que “Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores” (1 Tm 1:15). Como “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23), então eu e você estamos no mesmo barco: pecadores necessitando de um Salvador de pecadores.

Mas continua a dúvida: salvar de quê? Tiago 4:12 diz que “há só um legislador que pode salvar e destruir”O Senhor Jesus falou de pessoas que serão lançadas “nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 8:12) ou “fornalha de fogo” (Mt 13:42), e Apocalipse 21:8 fala que os incrédulos serão lançados no lago de fogo.

O que é esse destino? A pena do condenado. Na sociedade dos homens, quando alguém pratica um crime deve sofrer uma pena. Com Deus não é diferente. Somos pecadores, porque nascemos assim, pecamos, porque usamos com prazer dessa herança que recebemos, e estamos sujeitos a um julgamento e a uma pena. A questão é: como ser salvo e liberto dessa pena e desse destino? É aí que entra o Salvador.

Como Deus é justo, a pena é capital. Como Deus é misericordioso, ele não quer aplicar a pena, mas se não fizer isso não haverá justiça. Aí entra o Salvador no papel de substituto. Quando Paulo faz uma síntese do Evangelho, ele diz simplesmente “que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15:3-4).

Quando você entende isso, entende a razão de, logo após o pecado entrar na Criação no Éden, Deus ter sacrificado um animal inocente para fazer com sua pele uma veste (cobertura) para Adão e Eva. (Gn 3:21). Entende também a razão de Deus ter se agradado do sacrifício de Abel (um animal inocente morto) e não de Caim (o fruto dos seus esforços), (Gn 4), e dos milhares de sacrifícios do Antigo Testamento, ou da frase dita por João Batista quando viu Jesus: “Eis aqui o Cordeiro de Deus” (Jo 1:36).

A Bíblia toda faz sentido quando você enxerga Jesus como o Cordeiro que foi sacrificado em seu lugar para que você não seja condenado. Bastou um pecado para excluir o ser humano da presença de Deus, e a pena foi terrível. Mas, tão grande ou maior do que a pena é a graça de Deus, que quer salvar aquele que crê.

Mas você insiste que quer pagar pelos seus pecados. Bem, o problema é que o pagamento que Deus, e não Allan Kardec, estabeleceu é a condenação eterna. São as “trevas exteriores” das quais Jesus falou, onde há “ranger de dentes”.

É preciso entender que é uma questão judicial, e com o Juiz você não discute. Ele oferece uma alternativa, é pegar ou largar. Ou você acha que um juiz iria atender um criminoso alegando que prefere fazer trabalho voluntário em troca da pena de morte?

Ok, você diz que quer evoluir. O padrão de “ótimo” é o próprio Filho de Deus, Deus e Homem. A própria ideia de poder evoluir por seus esforços para atingir o padrão, ser igual ao Filho de Deus, isto sim, é pretensão. Mesmo assim, não foi esse o caminho que Deus determinou, que é pela fé em Cristo (a justiça foi feita quando ele tomou o meu lugar no juízo). Não adianta você querer entrar nos Estados Unidos com um visto para a Austrália. Não vai conseguir.

*

Os espíritas acreditam só nos Evangelhos?

Você disse que é espírita e, por isso, só aceita o que está nos Evangelhos, considerando o resto da Bíblia falso, alterado, etc. Ok, você quer ficar só no evangelho e seguir só o que Jesus disse? Promete? Bem, então você já vai ter um problema, porque para crer nas palavras de Jesus vai precisar crer no que escreveu Moisés. E ele escreveu os cinco primeiros livros do Antigo Testamento mais alguns Salmos. Veja isto:

“Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” (Jo 5:46-47).

Se você não crê no que escreveu Moisés, não pode crer no que disse Jesus. Foi Jesus quem disse. Você escreveu: “Não acredito neste papel salvador de Jesus… Ele não disse eu sou a salvação… Não acreditamos que Jesus seja um bode expiatório… Ele não disse ‘siga-me na boa que o sacrifício eu faço.’”.

Então vamos conferir o que ele disse exatamente nos evangelhos:

“E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Acho que vamos precisar recorrer ao Antigo Testamento para entender as palavras de Jesus. Quando serpentes atacaram os israelitas no deserto, Deus mandou que Moisés fizesse uma serpente de bronze que fosse erguida na ponta de uma haste para que quem olhasse para a serpente de bronze no alto da haste fosse curado. Lembra algo?

“Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas (Jo 10:11).

“Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (Jo 12:24).

Assim como, em tipo, os que olhavam para a serpente de bronze na ponta da haste eram curados, o próprio Senhor Jesus afirmou que bastaria crer nele para ficar livre do julgamento e ter a certeza de vida eterna:

“Na verdade, na verdade vos digo que quem OUVE a minha palavra, e CRÊ naquele que me enviou, TEM a vida eterna, e NÃO ENTRARÁ em condenação, mas PASSOU DA MORTE PARA A VIDA (Jo 5:24).

É claro que você pode deliberadamente arrancar os evangelhos de todo o contexto da Bíblia, mas aí não vai entender nada, porque só em Mateus você tem mais de uma dúzia de profecias do Antigo Testamento cumpridas literalmente. Por exemplo, traído por um amigo (Sl 41:9; Mt 10:4), vendido por 30 moedas de prata (Zc 11:12; Mt 26:15), que foram lançadas na Casa de Deus e usadas para comprar o campo do oleiro (Zc 11:13; Mt 27:5), abandonado pelos discípulos (Zc 13:7), acusado por falsas testemunhas (Sl 35:11; Mt 26:59-60), mudo diante dos acusadores (Is 53:7; Mt 27:12), ferido (Is 53:5; Mt 27:26), crucificado com ladrões (Is 53:12; Mt 27:38) e por aí vai…

Você escreveu: “Nós espíritas seguimos o caminho de Jesus e temos certeza que chegaremos lá como ele chegou”.

Você realmente não conhece Jesus. Como poderia Deus chegar aonde ele chegou? Para ser como ele você precisaria ser eterno (nunca ter sido criado), ter nascido neste mundo de uma virgem, não ter pecado em si e jamais cometê-lo, ter seu nascimento, vida e morte previstos com milhares de anos de antecedência pelos profetas, receber de Deus Pai a aprovação, “Este é meu Filho amado”, curar todos os tipos de enfermidades e ressuscitar mortos, morrer e ressuscitar.

Não acha a tarefa um pouco grande demais para você? Alguém antes de você e antes de Jesus já quis chegar lá. O nome? Lúcifer. Foi essa a sua condenação, querer ser igual a Deus. Aliás, depois disso ele não parou de dizer às pessoas que elas seriam capazes de conseguir:

“Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, E SEREIS COMO DEUS (Gn 3:4-5).

Você pode até dizer que é espírita e não abre, mas não pode querer basear um átomo sequer de sua crença na Bíblia ou nos Evangelhos. Quem quer que tenha ensinado você que os Evangelhos dão qualquer ideia de espiritismo, não conhece os Evangelhos ou deliberadamente está a fim de enganar seus seguidores.

Uma das provas claras (nos evangelhos) da falta de fundamento da reencarnação e da divindade de Cristo está no trecho da cura do cego de nascença que encontramos em João 9:

“E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este (em outra suposta vida? — inclusão minha) ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou (em outra suposta vida) nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus.” (Jo 9:1-3).

Finalmente… “Jesus ouviu que o tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: Crês tu no Filho de Deus? Ele respondeu, e disse: Quem é ele, Senhor, para que nele creia? E Jesus lhe disse: Tu já o tens visto, e é aquele que fala contigo. Ele disse: Creio, Senhor. E o adorou. (Jo 9:35-38).

Para um judeu, como o ex-cego, fazia todo sentido adorar aquele diante dele, pois a expressão Filho de Deus significava divindade.

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É pecado considerar-se salvo?

Você disse que eu afirmar que estou salvo é “um erro gravíssimo; um pecado mortal” e que “ninguém pode afirmar a certeza de sua salvação”, pois “a ele cabe o julgamento de acordo com seu perfeito discernimento”.

Bem, se a justificação fosse por obras, aí sim seria um erro. Como não é, Deus quer que o cristão tenha a certeza. “… para que saibais que tendes a vida eterna (1 Jo 5:13). A salvação cristã não é por mérito, como no islamismo, mas um resultado da obra de Cristo, do “sangue de Jesus Cristo, seu Filho, (que) nos purifica de todo o pecado (1 Jo 1:7), portanto uma vez consumada a obra de redenção, essa salvação está disponível ao que crê. Talvez você deva ler o que respondi a um muçulmano.

Talvez o equívoco esteja em pensar que no juízo final Deus decidirá, mas o problema é que não há salvação no juízo final. É um juízo para distribuição de penas, pois é um julgamento baseado nas obras. E se Deus se basear em nossas obras, quem se salvará? “O mar entregou os mortos que nele havia; e a morte e o hades entregaram os mortos que neles havia; e foram julgados, cada um segundo as suas obras” (Ap 20:13).

Um cristão que não tem certeza de sua salvação, ou leva uma vida miserável, por perceber o quanto é falho, ou leva uma vida soberba, por achar que existe em si algo de bom que possa fazer para ser salvo. Caim ofereceu a Deus o fruto do seu trabalho, mas Abel ofereceu a Deus um cordeiro sacrificado. É do segundo que Deus se agradou. O cristão sabe que sua salvação depende do Cordeiro sacrificado, não das obras que são fruto de seu trabalho e de uma terra amaldiçoada por Deus.

Você citou a passagem de Tiago 2:14-26 que, entre outras coisas, diz: “…Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma… Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé”.

Sim, o versículo que citou está correto. E tem mais: “Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?”.

Só que se formos a Romanos 4 vamos encontrar o contrário:

“Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça”.

Será que existe uma contradição na Bíblia? Eu sei que, segundo a doutrina católica, se existir qualquer contradição entre a Bíblia e a doutrina da Igreja, fica valendo a última (ou seja, a doutrina se sobrepõe em autoridade à própria Palavra de Deus). Mas quando encontramos uma contradição dentro da própria Bíblia, será que não está querendo dizer em Romanos que o assunto é a justificação diante de Deus e não diante dos homens? “Porque se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus”. E Tiago, o que diz?

“Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tg 2:18). Será que aqui não está falando do fruto visível da fé, que é a justificação perante homens (tu tens, eu tenho…)? Porque evidentemente Deus julga os corações e os homens julgam segundo podem ver. “mostra-me a tua fé… e eu te mostrarei…”.

*

Preciso ser católico para ser salvo?

Ao se referir à igreja católica romana, você escreveu que “é fundamental, e imprescindível que exista uma IGREJA, guardiã da Verdade revelada, infalível”. Você disse também que é impossível que eu entenda a Bíblia a menos que seja segundo a interpretação da tradição católica.

Você já estudou história? Bem, mas não vem ao caso. Há muitas passagens que mostram que Deus deu ao que crê o Espírito Santo e que é deste que vem o entendimento da Palavra:

“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.” (1 Co 2:14-16).

Você escreveu: “O Demônio te seduz, te dizendo que você pode ler a bíblia e chegar a uma conclusão correta. Te envaidece, e o ser humano, orgulhoso, acredita. E dá muito prazer mesmo, dizer: ‘Eu sei a Verdade, e posso criticar uma instituição gigantesca como a Igreja’!”.

Bom, eu não queria tocar no assunto, mas vamos lá (se bem que queria um pouquinho sim…). Dê uma olhada numa foto da Basílica de São Pedro atual e, começando com o obelisco bem no centro da praça, faça uma pesquisa para saber de onde foi “comprado” aquele objeto, bem como todas as obras de arte existentes no edifício. Pesquise também para saber de onde veio o dinheiro que financiou essa “instituição gigantesca”. É uma pesquisa no mínimo interessante.

“A construção começou em 1506 e terminou em 1626 sendo parcialmente erguida com dinheiro angariado pela venda de indulgências (ver Papa Leão X).” (Wikipedia)

Outra pesquisa interessante é a das datas em que foram instituídos alguns dogmas, como o da infalibilidade papal e outros. Mas prefiro não seguir adiante nesta linha, porque não é por ser católico ou não ser católico que alguém pode ser salvo, mas pelo único e preciso sacrifício de Cristo.

Você escreveu: “‘Estas coisas vos escrevi a vós, os que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna, e para que creiais no nome do Filho de Deus’. Esse é um trecho conhecido. Chegamos aqui a um ponto capital, incorrendo no vício danoso da ‘sola scriptura’ protestante. Você não pode interpretar a Bíblia da maneira que você acha melhor. As pessoas podem chegar a conclusões desastrosas com isso.”.

Não sou protestante (pelo menos não pertenço a nenhuma denominação protestante). Se ele não diz que “estas coisas vos escrevi a vós, os que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna”, o que diz então?

Ou seja, você quis dizer por “sola scriptura” “só” a Palavra de Deus, certo? “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” (Is 8:20).

Você escreveu: “Foi para isso que Cristo fundou uma Igreja. Para te dar a versão CERTA e a interpretação correta e a REAL doutrina de Deus.”.

Por favor, um versículo apenas que mostre que devo recorrer à igreja romana para entender a doutrina de Deus. Mas se o versículo não estiver na Bíblia, então seria preciso recorrer à igreja romana que vai dizer que…

Você escreveu: “Nesse caso, para o trecho em destaque talvez, o sentido mais apropriado seria o de ‘… para que saibais que tendes a POSSIBILIDADE de vida eterna aqueles que creem’ ou ainda ‘para que saibais que o homem que crê tem a vida eterna’.”.

Bem, o problema é esse ‘sentido mais apropriado’. No grego diz literalmente “Estas coisas escrevi a vós para poderdes saber que vida tendes eterna, aqueles crentes em o nome do Filho de Deus.”. Não se preocupe, não sei grego. Tenho apenas uma versão interlinear grego-inglês. E nela não existe a palavra “possivelmente”.

Você escreveu: “Isso NÃO IMPEDE a salvação de quem quer que esteja em outras denominações, NA JUSTA MEDIDA de sua ignorância… Mas dificulta, já que a Igreja possui os mais fecundos instrumentos para a salvação do homem (os sacramentos válidos).”.

De repente me senti entre os ignorantes.

Bem, então temos a salvação creditada à obra de Cristo na cruz do Calvário “e à igreja de Roma com seus fecundos instrumentos para a salvação do homem”. Isso irá criar certa dificuldade no céu, já que teremos ali os que não foram salvos por meio desses “fecundos instrumentos”, mas apenas confiaram no Senhor Jesus e no seu sangue redentor, o sangue do Cordeiro de Deus. O problema não é grande, mas pode causar certa confusão na hora do cântico dos redimidos, a cena que vemos do céu em Apocalipse 5. Lá os redimidos cantam:

“E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação”.

Acabo de aprender que haverá outro coro paralelo cantando:

“Digna és, Igreja Católica, porque com teus ‘fecundos instrumentos para a salvação’ compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação”.

Uma ideia no mínimo estranha e que é furada por estar baseada em uma premissa furada: a de que “igreja” na Palavra de Deus signifique uma organização, quando a palavra significa “assembleia”, e aparece sempre relacionada ao conjunto de crentes. Seguindo esse raciocínio, acabaríamos concluindo que a salvação é uma obra conjunta de Cristo e das pessoas que compõem o seu corpo, o que vira uma heresia.

Quer saber? Eu respeito você, mas sua crença não me atrai nem um pouco. Não pude deixar de me lembrar de um irmão em Cristo que falava de Cristo a algumas pessoas e um pastor de uma determinada denominação começou a tentar ganhar a cabeça dos presentes desfilando um rosário de vantagens, dizendo que “sua igreja” tinha isso, tinha aquilo, tantos mil templos, tantos milhões de adeptos, tantas faculdades teológicas e por aí foi.

Aí, todo orgulhoso, o tal pastor virou-se para esse meu amigo e disse: “Nós temos tudo isso. O que você tem?”

“Nada além de Jesus”. É esse que também tenho. Só Jesus. Ele não parece ser suficiente para você, ou não entendi essa importância toda que dá para a igreja de Roma? Afinal, a quem você poderá dizer que deve sua salvação? Pelo que entendi até aqui, três coisas: Jesus, você com suas obras, e a igreja de Roma com seus “fecundos instrumentos para a salvação”.

Quando chegar lá no céu, a qual desses três você vai louvar por sua salvação: Jesus, você mesmo, a igreja de Roma, ou todos? Não acha um pouco de desprezo por aquele que morreu por você e que disse que “ninguém vem ao Pai senão através de mim” tentar acrescentar algo à obra que ele declarou consumada?

*

A doutrina espírita é baseada na Bíblia?

Quando você diz que a doutrina espírita não é baseada na Bíblia, estamos de acordo, pois você não crê na Bíblia como a Palavra de Deus e apenas selecionará as passagens que forem convenientes, deixando de crer no todo. Mas se assim é, o espiritismo não poderia nem mesmo querer utilizar outras passagens da Bíblia para comprovar suas teorias, porque não estaria diante de um livro confiável.

O uso dos Evangelhos por Allan Kardec teve o mesmo objetivo do uso das datas e deuses pagãos pelo catolicismo e do uso dos santos católicos pelo candomblé: criar um sincretismo, um referencial (que não existia) para o espiritismo pagão ser aceito pela sociedade ocidental cristianizada. Ao apelar para os Evangelhos Kardec tornou o espiritismo familiar e palatável.

Evidentemente ele usou os Evangelhos, que significam “Boas Novas”, de modo perverso. Os evangelhos anunciam que Deus enviou um Salvador, que morreu por nós e que somos salvos se crermos nele. O “Evangelho Segundo o Espiritismo” não tem “Boas Novas” para anunciar. E como teria, se não dá uma saída para o pecador? “Ah, você é pecador? Então irá precisar reencarnar incontáveis vezes, sem jamais ter certeza de que está na primeira ou na última fase do jogo!”

E quando digo que Allan Kardec se valeu dos Evangelhos apenas como forma de sincretismo para introduzir sua doutrina em um ocidente cristianizado, aqui vai para provar que ele próprio afirmou isso:

“… no Evangelho Segundo o Espiritismo (…), como nós nos limitamos às máximas morais que, com raras exceções, são geralmente claras, e não podem ser interpretadas de maneira diversa; e também não foram jamais sujeito de controvérsias religiosas. É por esta razão que nós começamos por aí, a fim de sermos aceitados sem contestação, aguardando de resto que a opinião geral se encontre mais familiarizada com a ideia espírita.” (Allan Kardec, “Notices bibliographiques — Les Évangiles Expliqués” apud: Revue Spirite, Junho de 1866)

Espertinho ele, hein? Numa outra historinha o Lobo Mau vestiu-se de vovozinha para “ser aceito sem contestação” pela Chapeuzinho Vermelho.

Se alguém quiser fundar uma religião, aqui vai mais uma técnica do Allan:

“Se alguém tem uma convicção bem firmada sobre uma doutrina, ainda que falsa, necessário é que lhe tiremos essa convicção, mas pouco a pouco. Por isso é que muitas vezes nos servimos de seus termos e aparentamos abundar nas suas ideias: é para que não fique de súbito ofuscado e não deixe de se instruir conosco. Aliás, não é de bom aviso atacar bruscamente os preconceitos. Esse o melhor meio de não se ser ouvido.” (Allan Kardec, Livro dos Médiuns, Fev., 62a. edição, 2a. parte, Cap. XXVII no.301 pag. 399-400.)

Isso aí tá parecendo aquele bispo no vídeo que passou na TV e está no Youtube ensinando seus lobinhos a tirarem dinheiro dos fiéis. Tudo é técnica, né? Ô cara, isso não lhe incomoda? Seria mais nobre admitir que Allan Kardec errou. Ele é só um homem falho como nós. Ou não é?

E o apóstolo Paulo, que “técnica” usava para pregar o Evangelho?

“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.” (1 Co 2:1-5).

Ah, mas esse era o “Super-Paulo”! Era nada. Era um homem cheio de falhas que erra várias vezes em Atos. Pedro também, antes da cruz e depois, quando Paulo precisou repreendê-lo cara a cara porque estava segregando pessoas. Esta é uma das grandes evidências da Palavra de Deus. Ela não coloca homens no pedestal, não dá colher de chá. Errou está lá escrito. Se fosse um livro dos judeus, eles teriam tirado todas aquelas passagens vergonhosas de seus ancestrais e até de seus reis, como Davi e Salomão.

É isso que estou tentando dizer aqui, que o cristianismo coloca o homem no seu devido lugar e Deus acima de tudo. Se você é salvo pelas suas reencarnações, palmas para você. Se você é salvo pelas suas obras e pela sua igreja, palmas para os dois. Mas se você é salvo por Jesus, palmas SÓ PARA ELE! Qualquer religião, doutrina ou filosofia que exalte o homem não é de Deus.

*

A reencarnação é uma lei natural?

Você afirmou que a “reencarnação que é uma lei natural de Deus, por ser uma lei natural de Deus está presente em todas as religiões”.

A afirmação é sua. Eu posso afirmar que não é uma lei natural e que o fato de estar presente em todas as religiões não prova sua validade. Aqui ficaríamos em um impasse. Quanto à questão moral, obviamente há pontos comuns em muitas religiões, porém a diferença é que no cristianismo esses pontos são o vagão, não a locomotiva; são as consequências de uma salvação consumada, não o meio para ela.

Mas você não vai conseguir entender isso sem recorrer a toda a Palavra de Deus. Outro dia alguém me disse que a morte de Cristo na cruz não tinha o objetivo que toda a Bíblia diz que tem porque ela não é citada no Sermão da Montanha! Obviamente a pessoa foi excluindo, excluindo… Até chegar ao mínimo que concorda com sua crença.

Mas não seria muita pretensão alguém querer pinçar da Bíblia o que é a Palavra de Deus e o que não é? Ao fazê-lo não estaria querendo se dizer juiz de Deus?

O cristão não está sujeito a quaisquer leis (bem, digamos que às leis de trânsito e da gravidade ele está). A Lei mosaica não se aplica ao cristão, como Paulo bem explicou em suas cartas. Portanto, ser cristão não é uma questão de seguir leis, mas de nascer de novo, nascer do alto, ser guiado por sua Palavra, não empurrado por ela.

Você escreveu dizendo que alguns cumprimentos de profecias que aparecem nos evangelhos foram acréscimos grosseiros porque não estão na ordem dos acontecimentos. Bem, na escrita de hoje usamos parêntese ou travessão quando queremos fazer uma inserção (ou interpolação). O fato de não pertencer ao contexto não significa que não pertença ao texto original. A narrativa dos evangelhos nem sempre é cronológica, só isso. Não há apenas essa “interpolação”, mas muitas outras, e não vejo problema algum. Já ouviu falar de “flashback” em filmes?

Até agora suas alegações de falsificação da Bíblia nunca vieram acompanhadas do texto original “não falsificado” com o qual possa ser feita a comparação. O autor que citou (Paulo Neto) tenta provar a existência de erros de trechos da Bíblia usando… Outros trechos da Bíblia. Seria uma espécie de antídoto feito com o próprio veneno?

Se estivermos diante de um livro tão grosseiramente falsificado, o que nos garante que as outras partes também não estejam? Não poderíamos nem mesmo confiar nos evangelhos (ou no Sermão da Montanha). Afinal, quando o leite é falsificado, que parte dele podemos beber com segurança?

Você escreveu: “Tem até profecia que não existe; Mateus 2, 22-23… ‘Ele será chamado Nazareno’. No desespero de criar o cumprimento das profecias esqueceram-se de criar a profecia.”.

Correto, não está no Antigo Testamento, o que não equivale dizer que não tenha ocorrido. Para mim, que creio na Palavra de Deus como um todo, o fato de ser dito no NT que é o cumprimento de uma profecia é suficiente. Aqui vai mais uma para sua coleção:

“Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20:35).

Oh! Temos um problema! Estas palavras foram ditas por Paulo, que não foi discípulo enquanto Jesus esteve aqui (como poderia ter escutado?), e estão em Atos (após os Evangelhos). Como Jesus poderia ter dito isso se não encontramos nos Evangelhos?! Oh! Então Jesus não disse!

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A reencarnação é uma doutrina racista?

Sim, pelo menos na forma como Allan Kardec a coloca, o que acho que vale para a doutrina de um modo geral, já que é evolucionista em sua essência. Mas há outros problemas com a ideia de reencarnação:

A ideia da reencarnação transforma o “palmas para Deus” pela Salvação em “palmas para o homem”. “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador. (Is 43:11).

Fala o que ele gosta de ouvir: “Você precisa desenvolver sua mediunidade, você pode subir, evoluir, chegar lá”; mas não diz o que ele não gosta: “Você é pecador e precisa de um Salvador”. “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal (Jr 13:23).

A reencarnação exclui Cristo da equação da salvação e coloca o homem e seus esforços no lugar. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (At 4:12).

Ela também afirma que nascemos e morremos muitas vezes. Mas a Bíblia diz que “Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo”. (Hb 9:27).

Além de jogar a glória de Deus para escanteio, a reencarnação prevê a evolução do ser humano, o que leva a ideias tenebrosas a respeito da dignidade humana e ao preconceito. Se eu acredito em uma evolução física, intelectual e espiritual, vou admitir que há seres mais e menos evoluídos. Quem seriam as pessoas mais evoluídas e quem seriam as menos evoluídas pela visão kardecista?

Antes que alguém me acuse de racismo, quero deixar bem claro que os textos abaixo são de autoria de Alan Kardec, e não de minha autoria, pois eu mesmo tenho um filho negro e não concordo que ele seja isso que o Kardec falou:

“O negro pode ser belo para o negro, como um gato para os gatos; mas não o é no sentido absoluto, porque os seus traços grosseiros, os lábios grossos, acusam materialidade dos seus instintos; podem perfeitamente exprimir paixões violentas, mas nunca variedades do sentimento e as modulações de um Espírito elevado. (Allan Kardec, “Obras Póstumas”, 1ª parte, capítulo da “Teoria do Belo”).

“Com efeito, seria impossível atribuir a mesma antiguidade de criação aos selvagens que mal se distinguem dos macacos, que aos chineses, e ainda menos aos europeus civilizados” (Allan Kardec, “A Gênese”, Ed. Lake, São Paulo, 1ª edição, p. 187).

“Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomarmos uma criança negra recém-nascida e a educarmos nas melhores escolas, fareis dela, um dia, um Laplace ou um Newton? (…) …o negro é de uma raça inferior; então, perguntaremos se o negro é um homem ou não. Se é um homem, por que Deus o fez, e à sua raça, deserdado dos privilégios concedidos à raça caucasiana? Se não é um homem, porque procurar fazê-lo cristão?” (Allan Kardec, “O Livro dos Espíritos”, Instituto de Difusão Espírita, Araras, São Paulo, sem data, capítulo 5, p. 126-127).

Respeito você e obviamente você acredita naquilo que achar melhor, mas será que acha seguro crer nos ensinamentos de um homem que escreveu isso? Na dúvida (é, eu duvidei) se os textos que colei aqui eram mesmo de verdade ou alguma gozação de um anti-espírita, fui pesquisar e encontrei um texto do escritor espírita Paulo Neto que tenta amenizar a ideia de racismo nos textos de Kardec. Veja que pérola ele produziu para explicar os textos acima:

“Quanto à questão de mal se distinguir dos macacos, devemos informar que na Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, Goodman e sua equipe compararam 97 genes de humanos, chimpanzés, gorilas, orangotangos e outros macacos e descobriram que o grau de semelhança, nas regiões do DNA analisadas, é de 99,4% entre seres humanos e chimpanzés. Daí poder se afirmar que realmente a raça humana pouco se difere da dos “macacos”. Por mais que isso venha a ferir o orgulho de alguns, essa é a realidade insofismável”.

A questão é que no texto ele não falava da “raça humana” de modo geral não, ele foi específico ao referir-se aos negros. Alguém ficou com o orgulho ferido? Então ele disse que é assim mesmo.

É isso. Ao aceitar a reencarnação kardecista é preciso levar tudo o que vem no pacote, goste ou não. Por favor, os espíritas não tomem isso como uma crítica pessoal; embora não concorde com o espiritismo, nada tenho contra as pessoas que professam essas ideias. Já quanto à lei contra discriminação racial…

Você escreveu: “O ‘Evangelho segundo o espiritismo’ é um livro de estudo, onde os ensinos morais de Jesus são analisados e mostrados de maneira clara e atual.”.

Vou dar uma mão acrescentando uma citação de um site espírita: “Allan Kardec e os espíritos que participaram da Codificação, deixando de lado os pontos polêmicos, puderam com tranquilidade reconstruir a moral evangélica conservada pelos evangelistas”.

Mesmo com a assessoria de uma equipe de espíritos assim, nenhum deles avisou o Allan da questão do racismo e segregação?! O espiritismo fala tanto de amor ao próximo, que eu particularmente não considero um amor desinteressado já que o sujeito que pratica esse amor está querendo mesmo é reduzir seu próprio carma, mas dá uma pisada na bola dessas!

Se Kardec realmente tivesse mesmo “reconstruído a moral evangélica” como diz, saberia como um discípulo de Cristo se comportaria em relação à segregação. Os discípulos de Jesus, embora judeus e extremamente separados de outros povos, aprenderam a lição do Senhor. A Lei do Antigo Testamento ordenava coisas como separação total de gentios (não judeus), que eram proibidos de entrar no Templo de Jerusalém para adorarem a Deus. Proibia também de ser sacerdote um homem que não tivesse testículos.

Para mostrar como os Evangelhos eram realmente “Boas Novas”, em Atos 8 Filipe sai nas carreiras ao lado da carruagem de um homem, só para explicar que Isaías 53 falava de Jesus. E, maravilha das maravilhas, aquele homem se converteu a Cristo! O primeiro não judeu convertido a Cristo era negro e eunuco, isto é, castrado!

Filipe não mediu esforços para falar de Cristo àquele homem. Agora vamos perguntar ao Allan Kardec: “E você, Allan, o que faria a respeito?”

“… o negro é de uma raça inferior… por que procurar fazê-lo cristão?” (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, cap. 5, p. 126-127).

Na opinião de Allan Kardec Filipe correu à toa.

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Quem são os filhos de Deus?

A expressão “filhos de Deus” é hoje usada de forma genérica, mas se formos buscar na Bíblia descobriremos que existe uma distinção entre “criaturas de Deus” e “filhos de Deus”. O evangelho de João explica quem são biblicamente considerados “filhos de Deus”:

“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam (receberam a Jesus), deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. (Jo 1:11-13).

Esse tornar-se filho de Deus tem a ver com o nascer de novo, ou nascer do alto ou de Deus.

Mas a expressão “filhos de Deus” aparece primeiro em Gênesis 6 e nada tem a ver com pessoas nascidas de novo: “Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram… Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama”.

Neste sentido seriam anjos, provavelmente anjos caídos, pelo que dá para ver em Jó 1: “E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles” e no cap. 38 quando fala de um tempo antes da criação atual: “Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam?”

Poderíamos chamar os “filhos de Deus” neste sentido de “extraterrestres”, já que são anjos. Porém os “extraterrestres” que costumam causar sensação hoje eu creio que são os mesmos que visitaram este planeta há muito tempo e tentaram criar uma raça híbrida, uma das razões do posterior dilúvio.

Esses “extraterrestres” ou anjos caídos, volta e meia aparecem por aí. Hoje eles estão no céu. No Novo Testamento é dito que “E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça”.

No sentido da criação, os únicos criados diretamente por Deus foram Adão e os anjos que são os únicos chamados de “filhos de Deus” no Antigo Testamento. Hoje quem crê em Cristo é chamado de “filho de Deus” porque nasceu de Deus. Fora isso ninguém é filho de Deus.

(Gn 6:2) “Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram.”.

(Gn 6:4) “Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama.”.

(Jó 1:6) “E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles.”.

(Jó 2:1) “E, vindo outro dia, em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles, apresentar-se perante o Senhor.”.

(Jó 38:7) “Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam?”.

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Para ser cristão é preciso ser perfeito?

Entendo que existem pelo menos três significados para a palavra “perfeito”. O primeiro é da perfeição aos olhos de Deus na Criação. Perfeito significava que ele tinha atingido seus objetivos, mas não que o homem estava imune à queda. Tanto é que caiu e a imperfeição maior, o pecado, entrou na Criação.

Outro significado é o da perfeição absoluta. “Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.” (1 Co 13:10). Deus promete uma perfeição absoluta, que é futura, porém já é de propriedade daquele que se converteu a Cristo e aceitou sua obra de expiação.

Enquanto isso posso desfrutar de um terceiro tipo, uma perfeição relativa, que é meu desejo de andar segundo o padrão de perfeição absoluta, que é Cristo, e que Deus coloca como meu exemplo. Embora eu já tenha essa perfeição absoluta, minha carne que ainda leva os resquícios do pecado, não me permite atingi-la aqui.

Você pode também fazer um paralelo semelhante com a santificação que significa separação. A Bíblia mostra que o cristão já é santo (absoluta), mas é dito a ele que deve se santificar (relativa).

Alguns versículos que falam dessa posição absoluta são: “haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus” (1 Co 6:11) e “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1:3).

Pense no caso do anistiado. Quando os anistiados brasileiros receberam a notícia da anistia, eles ainda estavam longe do Brasil, estavam no mesmo lugar onde um pouco antes eram considerados exilados. Mas agora eles já não eram mais exilados, pois tinham uma posição absoluta de anistiados e livres para se mudarem para o Brasil, embora ainda vivessem em uma situação relativa, por estarem no exílio.

O cristão está, por assim dizer, no corpo de seu exílio aguardando o embarque para voltar para casa e desfrutar de “todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”.

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Seria a guerra do Iraque uma nova cruzada?

(Esta correspondência foi originalmente mantida em 2003 com um cristão norte-americano que apoiava a invasão do Iraque).

Você realmente acha que essa guerra é uma “Nova Cruzada”? Meio forte sua afirmação, não? Essa não é a nossa guerra, a guerra do cristão, pois nossa guerra não é aqui neste mundo. Se fosse, seria meu dever ir ao Iraque, mesmo que o presidente do Brasil seja oficialmente contra (como a maioria dos países do mundo é). Mas aí eu estaria desobedecendo a autoridade que está acima de mim, o que não estaria correto. Mas se é uma guerra que mostra quem ama a cruz e quem não ama, uma espécie de divisor de águas ou identificador, como você coloca, eu deveria desobedecer a autoridade para obedecer a autoridade de Deus, como fez Daniel quando se engajou na guerra da oração, contra as ordens do rei.

Sim, é exatamente essa a guerra em que estamos engajados agora, e ela não é contra Bush ou Saddam (creio que os dois estejam errados e me sinto confortável em tratar do assunto porque nenhum deles tem autoridade sobre mim). Bem, se minha guerra não é aqui, ela nada tem a ver com petróleo ou com movimentos religiosos humanos, coisas pelas quais os homens lutam. “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6:12).

Porque nossa luta é nos lugares celestiais, nossas armas não são metralhadoras ou mísseis, “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo;” (2 Co 10:4).

Olhando “de fora da caixa” posso ver claramente que Bush não está lutando na defesa da fé, da moral e dos valores cristãos. Se estivesse, apontaria suas armas para Hollywood! Como alguém disse, “a batalha neste mundo tem a ver com imoralidade, mundanismo, drogas, embriaguez e coisas assim. O mundo tenta lutar um pouco contra essas coisas, mas as pessoas acabam levadas cativas por elas”.

De qualquer modo eu creio que, como cidadãos celestiais — sim, vivendo no mundo, mas com cidadania celestial — deveríamos estar engajados na verdadeira guerra para a qual Deus nos convocou. Se considerarmos que a guerra do Iraque se trata de uma guerra contra o mal, e que Bush é o “good guy”, logo veremos cristãos genuínos matando uns os outros no campo de batalha, cada um considerando que sua cruzada é a certa e que a Jerusalém terrena é o lugar físico que deve ser conquistado e libertado das mãos dos infiéis. Não é este o significado religioso que Bush quer dar à sua guerra? Nem um pouco diferente do modo como os muçulmanos encaram a coisa, não é mesmo?

Mas a verdadeira guerra cristã não tem nada a ver com assegurar que todas as nações chamadas “cristãs” tenham suas bandeiras em cada pedaço de terra do planeta. Como Abraão, não temos um lugar nem do tamanho da planta de nossos pés. Acaso não é o Ocidente e as assim chamadas nações cristãs que ficarão desertas durante o Milênio por terem rejeitado a mesma verdade que elas afirmam ter professado? A maldição que cairá sobre essas nações é que, durante aquela época e depois, as pessoas no mundo ocidental serão tão escassas quanto ouro (Is 13:12; 14:23; Jr 50:3-39; 51:2). Isso mostra muito bem quem Deus irá considerar como inimigos da verdade quando formos levados no arrebatamento. Se acontecer hoje, amanhã ficaria claro que haverá mais bênçãos reservadas para as nações ocidentais e do Oriente Médio do que para a Europa e seus satélites, como o Brasil e os Estados Unidos hoje.

Será que estou vendo o cenário completo agora e depois? Se estiver, vou descansar na certeza de que Deus está se movendo por trás desse triste cenário, e que ele não está lutando nem do lado de Bush, nem do lado de Saddam, mas está apenas deixando o palco ser preparado para os próximos eventos, e eles são uma Europa mais forte (que agora desafia Bush), um Israel mais odiado (mais do que nunca) e o terrível destino da besta e das nações que a seguirão e que estão, neste exato momento, vivendo em um estado de apostasia ou abandono da verdade.

Então, a Assíria, agora o norte do Iraque, o noroeste do Irã, o sudeste da Turquia e o nordeste da Síria, boa parte disso sendo invadido agora mesmo e que (se nos lembrarmos que Bush declarou o Irã como uma das nações malignas), juntamente com o Egito, serão no futuro as principais nações ao lado de Israel no Milênio (Is 19:24-25). Esse povo todo será abençoado juntamente com os filhos de Ismael, os atuais Árabes (na verdade, os iraquianos são babilônicos e não participarão dessa bênção).

Portanto, antes de ficamos muito animados e empunharmos nossas armas materiais para ir para uma guerra duvidosa, vamos nos lembrar de olhar o cenário completo, para nos certificarmos de que estamos bem seguros de onde é nosso campo de batalha e de quem são nossos verdadeiros inimigos, de qual é nosso verdadeiro “óleo” e quais são as reais prisões que afligem os seres humanos. O campo de batalha não está no Iraque e nem nos 20 ou mais países em guerra neste momento.

Se formos como Paulo, vamos considerar os assim chamados “inimigos” como de nenhuma importância para nossa liberdade de lutar a verdadeira batalha e vencer a verdadeira guerra que está acontecendo agora mesmo nos lugares celestiais, onde, por sinal, nossa vitória também já está garantida. Mesmo que sejamos, por algum tempo, “embaixadores em cadeias” (Ef 6:20), sabendo que a vontade de vencer ou de ampliar sua predominância que agora existe nas nações apóstatas não é nem um pouco melhor do que aquela das nações pagãs ou muçulmanas. O que eles todos estão mesmo é interessados em manter seu status quo de independência do verdadeiro Rei e Soberano.

“Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas. Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles.” (Sl 2:1-4). Se realmente conhecemos o coração dos homens, então sabemos o que verdadeiramente motiva os reis deste mundo. Mas, mesmo assim, eles continuam sob o controle de Deus.

Dizer que Bush é um “ministro de Deus” na missão de libertar uma nação de sob o jugo de um homem cruel é o mesmo que dizer que o presidente Johnson tinha a missão de libertar uma nação de sob o jugo de um regime cruel como era o comunismo. A História mostrou que ele estava errado. Se ler os discursos de Johnson para justificar a razão de entrarem no Vietnã você verá as mesmas razões dadas nos discursos de Bush, inclusive os versículos bíblicos.

O argumento de “obedecer nossas autoridades” tem um duplo aspecto. Raabe não obedeceu seu governo quando recebeu de Deus discernimento suficiente para saber quem estava acima de todas as coisas e o que aconteceria no futuro. Há outros exemplos de pessoas na Bíblia que não obedeceram a seus líderes em ocasiões como quando escondiam servos de Deus ou tomavam um caminho diferente do ordenado pelas autoridades, como fizeram os magos que visitaram o Senhor e receberam a ordem de voltarem ao rei para contar onde tinham encontrado o menino. Às vezes nós, como cristãos, seremos obrigados a enfrentar decisões que não são fáceis, como os soldados alemães nos campos de concentração, que precisavam (ou não) obedecer a seus comandantes.

Minha posição é privilegiada, pois não estou sob a influência da doutrina de Bush. Essa doutrina é de usar o poder para subjugar as nações, não do modo como era no passado, para conquistá-las ou se defender delas. A doutrina de Bush é de fazer isso como precaução. O Iraque é o laboratório de Bush e se funcionar lá, vai funcionar no Irã, Síria, Coréia do Norte e em qualquer país que os Estados Unidos considerarem uma futura ameaça ao seu modo de vida.

Seus argumentos partem de uma premissa falsa, a premissa de que Bush TEM o cetro do poder e que seja um tipo moderno de “rei de reis”. Concordo que Deus deu a alguns reis este lugar na história, de governarem sobre as nações, como encontramos em Daniel. Mas Bush não é um deles e os Estados Unidos não passam de um satélite do povo britânico do passado, um apêndice da Europa, como é o Brasil, em termos escatológicos.

Se achar que a supremacia norte-americana lhe dá o lugar de legisladores do mundo, qualquer outro pensamento parecerá correto. Mas quando você vê que, ao atacar o Iraque, Bush precisou violar tratados internacionais, se arvorando de defensor dos valores cristãos no mundo, então você começará a enxergar que a base toda é falsa.

Ele acredita que atacando o Iraque esteja lutando contra Osama Bin Laden. Ele fez o mesmo ao atacar o Afeganistão e para quê? Mais civis foram mortos lá do que todos os que morreram no ataque ao World Trade Center. Mas quem é Osama Bin Laden? Não preciso falar muito disso, pois você já sabe que ele foi “made in USA”.

O que me admira é como o povo norte-americano acredita na propaganda de seu governo. Existe um tipo de ingenuidade que leva até cristãos a acreditarem que os homens estão de boa vontade e têm boas intenções, quando na verdade estão só querendo conquistar mais poder. A propaganda é tão bem feita que leva cristãos a acreditarem que Bush recebeu sua missão diretamente de Deus para salvar o mundo do mal! Como já escrevi, se eu tivesse sido criado nos Estados Unidos, acabaria seguindo isso e acreditando também, pois teria recebido uma carga de doutrina patriótica desde a infância. Pergunte a algum cristão mais velho da Alemanha e ele dirá que todos acreditavam que Hitler era um bom sujeito, um líder dado por Deus para levar o povo a uma nova era e coisas do tipo. Mas a verdade é que não devemos acreditar nos homens de modo algum, não importa em que posição estejam. Devemos nos sujeitar ao seu governo se estivermos sob sua autoridade, mas isso não significa seguirmos cegamente suas ordens.

Essa guerra do Iraque é uma coisa tão forte na mente da maioria dos norte-americanos que eles acabam achando que o resto do mundo deve agradecer o governo dos Estados Unidos, com se Bush fosse um tipo de líder universal. Não é. Ele é feito da mesma carne de qualquer outro líder do mundo e, se levarmos em conta a maneira como Satanás trabalha, vamos parar de olhar para o mal evidente como se fosse ele o pior dos males. Pode não ser. O enganador não se apresenta com chifres ou rabo, mas como um anjo e seus ministros como ministros de justiça. Será que ele não iria fazer o mesmo quando quisesse enganar nações ao invés de indivíduos?

Os Estados Unidos se apresentam falsamente como um país cristão, e você vai na conversa, mas sabemos que é dos Estados Unidos que vem a maior parte da moderna apostasia e má influência que é espalhada pelo mundo. Agora mesmo o Brasil está cheio de pregadores como aqueles que existiam nos Estados Unidos há 20 ou 30 anos que compram estações de rádio e TV para fazer suas pregações de arrecadação de dinheiro 24 horas por dia. É claro que milhares estão seguindo essas pessoas e o Brasil está se tornando um país “evangélico”. De onde vem esse modelo? A música, moda, cultura, além da religião, está sendo transmitida dos Estados Unidos para todos os cantos do planeta. Será que isso não é um ataque muito mais sutil do que o dos terroristas que se explodem por Alá?

E o que dizer das armas? De onde veio o antraz que matou alguns norte-americanos? Sabemos de onde veio, como sabemos que as armas químicas e biológicas do Iraque teriam sido feitas usando produtos e tecnologia dos Estados Unidos e Inglaterra. Não posso acreditar que preciso escrever tudo isso para um irmão, para ajudá-lo a abrir os olhos para o fato de que não existem governos ou líderes bons neste mundo, que estejam preocupados com as coisas de Deus e em proteger os aflitos. O próprio Senhor não tinha nada a ver com César e nem acreditava que ele tivesse boa vontade para com o povo. Assim como César fez, Saddam está fazendo, e Bush também ao querer assegurar a supremacia dos interesses norte-americanos. Ele não é um defensor da fé cristã.

Minha opinião é que os Estados Unidos já estão perdendo sua supremacia, e sua economia já não está indo bem, além de tudo indicar o crescimento da Europa como líder entre as nações em um futuro breve. Você sabe que é isso que acontecerá e que os Estados Unidos irão desaparecer no processo. Como você pode defender algo assim?

A propósito, a Arábia Saudita tem um regime que não perde em nada à truculência do regime de Saddam. A conversão ao cristianismo lá é castigada com a prisão e até a morte. Mas os Estados Unidos possuem uma base assegurada lá e têm boas relações porque o dinheiro assegura isso. Dois meses antes do ataque ao WTC, Bin Laden tratou dos rins em um hospital de uma base norte-americana na Arábia Saudita e foi visitado por um oficial da CIA. Mas isso é outra história…

Acredite: nenhum país ocidental está ligando para a cruz de Cristo. Este mundo não liga para as coisas de Deus ou, quando liga, é porque representa alguma vantagem material e de poder. Você realmente acredita que os governos, feitos de políticos como os que conhecemos, estão interessados em defender a fé cristã?! É ingenuidade demais pensar assim, e isso torna as pessoas vulneráveis a qualquer campanha de marketing, que é exatamente o que está acontecendo no mundo. Dê tempo à história. Ela provará.

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Por que você ataca os espíritas?

Se eu deixei claro que nossa luta não é contra pessoas, mas contra as hostes espirituais, você deve entender que minhas críticas não são contra os espíritas ou o Allan Kardec, mas contra suas ideias. E nem seria correto eu julgar a pessoa de Allan Kardec, mesmo porque ele poderia até ter se convertido a Cristo na hora da morte e com isso eu acabaria encontrando o cara no céu.

“Não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”. (Ef 6:12).

A doutrina espírita tem sua origem no mundo espiritual e é comunicada através de uma suposta consulta aos mortos. Porém a Bíblia deixa claro que existem anjos caídos com milhares de anos de experiência em interpretar o homem, seus desejos e necessidades, e responder com aquilo que o ser humano quer. O problema é que Satanás promete, mas não entrega.

Veja o caso dos evangelhos, tão aclamados pelos espíritas. “Evangelho” significa “Boas Novas”: “E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2:10-11). Portanto a boa notícia ou boas novas é que temos um Salvador para nos salvar de nossos pecados e do juízo.

“Evangelho Segundo o Espiritismo” não tem nada de “Boas Novas”. Ele lança sobre o pecador todo o fardo que Cristo nos convidou a lançar sobre ele, e pressupõe que o homem consiga fazer a expiação de seus próprios pecados e ser seu próprio salvador. Será que isso são boas novas? E como seriam, se não dá uma saída para o pecador? “Ah, você é pecador? Então vai precisar reencarnar incontáveis vezes, sem jamais ter certeza de que está na primeira ou na última fase do jogo!”

Mas, evidentemente, não é de hoje que o ser humano em seu estado natural gosta de acreditar que pode fazer alguma coisa e adora quando alguém vem dizer isso a ele. Com alguns reis de Israel não era diferente; escolhiam somente profetas de pensamento positivo, motivacionais, etc. “Vês aqui que as palavras dos profetas a uma voz predizem coisas boas para o rei; seja, pois, a tua palavra como a palavra de um deles, e fala bem” (1 Rs 22:13).

Já era assim no passado e ficou pior agora: “MAS o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios… Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” (1 Tm 4:1; 2 Tm 4:4).

E isso não ocorre apenas nas religiões declaradamente anti-bíblicas, mas até no chamado meio católico e evangélico. Erramos quando seguimos homens como se fossem alguma coisa. “Porque haverá homens amantes de si mesmos… Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te… levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências… Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade… E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé”. (2 Tm 3:2-8).

Fique sempre alerta para homens que arrebanham cegando o juízo de seus seguidores, prometem realização de concupiscências (podem ser lícitas, como saúde, dinheiro, casamento…) e imitam as obras e milagres de Deus, como fizeram os magos de Faraó, Janes e Jambres. Geralmente têm aparência de piedade e mantêm os templos cheios.

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Jesus não disse para não julgarmos?

O verso que citou do “não julgueis” está corretíssimo, quando aplicado às pessoas. Porém, quando são ideias, doutrinas, pecados, etc., a Bíblia é clara que devemos julgar.

“Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que digo”. (1 Co 10:15).

“Examinai tudo. Retende o bem”. (1 Ts 5:21).

“E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”. (1 Co 14:29).

Você escreveu: “O evangelho segundo o espiritismo é o mesmo evangelho de Jesus, porém nos atemos apenas à parte moral — a novidade que o espiritismo trás não está no ‘Evangelho segundo o espiritismo’ mas sim nas outras obras como ‘O livro dos espíritos’.”.

Deveras estranha essa atitude. Daquilo que existia da revelação de Jesus, o Allan pinçou o que achou conveniente. E deixou para basear o grosso de sua doutrina no que seria revelado depois? Por quem? Ora, você citou o versículo que fala do “Espírito da verdade” para justificar o que vem no livro “dos espíritos” (plural). Devo crer que o “s” para pluralizar o espírito por quem seria revelada toda a verdade ficou por conta do Allan.

Você escreveu: “Era necessário o homem adquirir mais conhecimento da vida e do planeta para que lhe fosse revelado novos conhecimentos do mundo espiritual-e esta nova revelação é o espiritismo.”.

Evidentemente. E de posse desses novos conhecimentos, Allan Kardec escreveu:

“A conformação dos corpos é quase a mesma desse mundo, mas é menos material, menos denso e de uma maior leveza específica. Ao passo que rastejamos penosamente na Terra, o habitante de Júpiter se transporta, de um lugar para outro, roçando a superfície do solo, quase sem fadiga, como o pássaro no ar ou o peixe na água.” (Revista Espírita Março 1858)

Eu adoraria morar num planeta onde não há problema de excesso de peso?! Ele também teceu comentários sobre a “atmosfera” da Lua. Mas isso foi em 1858. Em 1969, quando o Armstrong chegou lá, já tinha acabado.

Você escreveu: “A lei maior que Jesus nos ensinou: amar ao próximo.”.

Não, o amor do espiritismo não é amor, pois não é desinteressado. Se a minha salvação depende de eu ajudar meu próximo, tá na cara que tenho segundas intenções. Se ajudar, evoluo, se não ajudar, não evoluo… Então vou ajudar, porque “amo tanto” esse coitado ali… Mas espera aí! Se ele está sofrendo e eu ajudá-lo, não vou atrapalhar sua evolução? Xi, complicou.

No espiritismo, a boa conduta, obras, perdão etc. são condições para a salvação. No cristianismo é uma consequência da salvação:

“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também”. Cl 3:12

Você escreveu: “Ao contrário de doutrinas elitista, de pessoas que se dizem salvas.”.

Problema de “Critério de Auto Referência”. Você analisa as coisas sob lente própria. Na sua concepção é salvo quem é bonzinho, e considerar-se salvo é considerar-se merecedor. Será que não entendeu que Cristo Jesus veio ao mundo salvar PECADORES? Depois que inventaram de dar o nome de “bom ladrão” àquele ladrão a coisa ficou confusa. Já viu “bom” ladrão?! Veja o que Paulo escreve sobre essa “elite” de salvos:

“Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são (inúteis), para aniquilar as que são (úteis); Para que nenhuma carne se glorie perante ele” (1 Co 1:27).

Isso equivale dizer que se alguém gritar para um grupo de cristãos “LOUCO! FRACO! VIL! DESPREZÍVEL! INÚTIL!”, eu e mais um monte de gente vamos gritar: “PRESENTE!”.

Já expliquei a diferença entre julgar pessoas e julgar doutrinas. A pessoa que julgo sou eu mesmo: um pecador. Eu julgo a doutrina espírita, não os espíritas, e a conclusão lógica é esta:

Espiritismo: você recebe, se fizer. É causa e efeito.

Ainda que não exista no indivíduo a intenção de fazer para receber, não somos ingênuos. O apóstolo Paulo escreveu: “Na minha carne não habita bem algum”. Essa é uma premissa de todo cristão, reconhecer sua incapacidade, pequenez, mesquinhez, egoísmo… São as coisas que saem do coração do homem que contaminam o homem (esse princípio moral foi aproveitado por Allan Kardec?).

Cristianismo: você faz, porque recebeu. É por isso que se chama “graça”, ou favor imerecido. Vou contar uma história para explicar melhor.

Havia um leilão de escravos, onde escravos eram vendidos a vários preços, dependendo da idade, saúde, força para o trabalho, etc. Quando foi apresentado um escravo velho, fraco e doente, ninguém se interessou, mas todos se surpreenderam quando ouviram um fazendeiro gritar um lance num valor tão alto que daria para comprar todos os escravos à venda. Obviamente ele acabou comprando aquele escravo fraco e doente, diante do espanto de todos, inclusive do próprio escravo que foi chegando perto do seu novo dono trêmulo de medo.

— Vá embora — disse o fazendeiro. — Você está livre!

O escravo tremeu mais ainda e perguntou:

— Mas o senhor pagou aquele alto preço para me mandar embora, livre?

— Isso mesmo. Eu paguei um preço alto porque tive pena de você e queria ter certeza de que ninguém ofereceria uma soma maior. Eu comprei a sua liberdade; pode ir embora para onde quiser. A partir de hoje você é um homem livre!

O escravo, caindo aos pés do seu libertador, com os olhos banhados em lágrimas, falou com voz forte e resoluta:

— Senhor, por causa do que o senhor fez, eu irei, POR AMOR, servi-lo até o fim dos meus dias!

Eu e todos os cristãos convertidos que você conhece éramos como esse escravo. O Senhor pagou nossa redenção. Agora amamos, porque ele amou primeiro.

Quando converso com espíritas percebo uma reação recorrente: “você não deve julgar”, dizem eles. Alego que julgo apenas a doutrina, mas pensando melhor acho que meu julgamento vai um pouco mais longe.

Explico: a reação do espírita é baseada na sua premissa de que o homem tem algo de bom em si que precisa evoluir. É um diamante bruto a ser polido. Então qualquer crítica gera um conflito de ego: “Quem ele pensa que é para me julgar?”. Resposta: “Alguém muito pior do que você pensa: um pecador”.

Ser chamado de pecador dói no ego. A Bíblia não coloca o homem em um pedestal, ao contrário. Ela o coloca no seu devido lugar, para depois levá-lo ao céu, não de mérito próprio. Eis o que Deus pensa do ser humano:

“E (Jesus) não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem” (Jo 2:25). Será que ele está se referindo a esse tal de “diamante que precisa ser lapidado” ou…

“Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios” (Mc 7:21) “… iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; … inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; … murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães;… Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia” (Rm 1). Tem mais em 2 Tm 3, a lista é interminável.

Quem não se reconhecer tudo isso não pode ser salvo, pois “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores” (1 Tm 1:15).

O espiritismo diz conservar a moral dos evangelhos e o decálogo (os 10 Mandamentos), mas não diz se dos evangelhos aceitou o que Jesus disse a respeito do ser humano em João 2:25 ou do que saía do coração do homem em Marcos 7:21. Também não conta a verdade, que não há como cumprir os 10 mandamentos, por causa daquele que diz “Não cobiçarás”.

Paulo descobriu-se incapaz: “Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.” (Rm 7:7).

E Tiago explica por que Paulo se preocupou tanto com sua condição:

“Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tg 2:10).

Tem alguém aqui que NÃO precise de um Salvador?

*

Os cristãos são intolerantes?

Li atentamente o texto que você indicou de autor espírita criticando a “intolerância religiosa” dos que se dizem salvos. Selecionei algumas afirmações do autor para comentar:

Você escreveu: “Será correto pensar que há apenas um caminho para o homem chegar a ele?”.

“Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. (Jo 14:6). Em quem devo acreditar, no texto que me indicou ou em Jesus?

Você escreveu: “Reduzem Deus, desse modo, a uma figura quase humana. Uma figura totalmente parcial, que escolhe antecipadamente aqueles que deverão ser salvos por toda a eternidade.”.

“Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade… Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (1 Tm 2:3-4; Tt 2:11). Deus quer, mas alguns não.

Você escreveu: “Esquecem que muitos bilhões de pessoas… Sequer tiveram… Possibilidade alguma de contato com a dita única religião pela qual o homem poderia supostamente chegar à salvação.”.

“Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os; No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho”. (Rm 2:14-16).

A fé singela descansa na certeza de que, no frigir dos ovos, Deus será tido por justo. Todavia, para os que ouviram, e não creram… “Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade” (2 Ts 2:11-12).

Você escreveu: “Vejam que não é mencionada nesse contexto a existência da reencarnação, que resolve toda essa questão, já que muitas religiões… Não concordam com isso.”.

“E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”. (Lc 23:43). Com um Salvador assim, quem precisa de reencarnação?!

Você escreveu: “Outro ponto que colabora muito com a intolerância é o fato do homem, muitas vezes, analisar uma religião alheia, talvez até de uma cultura totalmente diversa da sua, através dos olhos de sua própria religião.”.

Vamos ver o que Allan Kardec pensava de intolerância e discriminação: “Com efeito, seria impossível atribuir a mesma antiguidade de criação aos selvagens que mal se distinguem dos macacos.” (Allan Kardec). Ora, pois! Kardec considerava os povos não caucasianos como inferiores física, intelectual e espiritualmente. Qualquer religião evolucionista é racista e intolerante em sua essência por considerar algumas raças ou etnias mais evoluídas do que outras. A Bíblia coloca TODOS os homens igualmente na condição de pecadores.

Você citou Gandhi: “Acredito na verdade fundamental de todas as grandes religiões do mundo. Acredito que todas elas foram inspiradas por Deus.”. O problema é que a frase é uma grande tolice, tão grande quanto considerar que dois mais dois podem ser quatro ou cinco. Deus não iria inspirar coisas tão antagônicas quanto as religiões do mundo. Além disso a Bíblia afirma categoricamente que fora de Cristo não há salvação, o que por si só já invalida qualquer religião que pregue algo diferente.

“Mas, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses… [Jesus…] E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.”. (Gl 4:8; At 4:12).

Gandhi pode ter acertado em muitas coisas, menos nesta. Devo crer em Gandhi ou no que diz a Palavra de Deus? Se crer em Gandhi devo necessariamente descartar a Bíblia.

*

A Bíblia ensina que a salvação é por obras?

Vamos ao outro texto que indicou, “Fora da caridade não há salvação X Fora da Igreja não há salvação” de um autor espírita. O texto já começa adotando a premissa falsa de que a salvação esteja numa “igreja” (isso é técnica para enfraquecer de cara um argumento contrário). As afirmações do autor estão destacadas, seguidas de meus comentários.

Você escreveu: “Caso a fé fosse o único meio de salvação, o que seria dos povos que viveram na América antes da mesma ser ‘descoberta’?”.

Romanos 2:15 mostra que Deus trata cada um segundo o que sabe. A Bíblia não fala quase nada de quem nunca ouviu, pois não é um livro para curiosos. No momento que alguém tem contato com ela, já ouviu, já é responsável por aceitar ou rejeitar a Palavra de Deus.

Você escreveu: “Como resolver então essa questão?”.

Para a fé que sabe que Deus é justo, é questão resolvida. O sacrifício de Cristo cobre também crianças, pessoas mentalmente deficientes e qualquer um que não esteja no uso de suas faculdades para decidir. Da igreja, que é o corpo de Cristo, fazem parte apenas os que creram conscientemente, mas haverá muitos salvos dos que morreram antes e depois da cruz que não fazem parte da igreja. No final haverá novos céus e nova terra, esferas habitadas por diferentes categorias de salvos. Porém, para todos eles, foi o Cordeiro de Deus, que tirou o pecado do mundo, quem possibilitou isso.

Você escreveu: “Um ponto interessante na salvação pela fé é o que se coloca em Tiago 2:19.”.

O interessante aqui é que o autor apela para Tiago, um livro que não está entre os “canônicos” do espiritismo, que acredita apenas nas afirmações morais contidas nos evangelhos e nos dez mandamentos.

Já falei sobre Tiago, que aborda a justificação de homem para homem, enquanto Romanos fala da justificação do homem para com Deus. Escrevi bastante sobre a questão Fé X Obras nas respostas às perguntas “Deus não mais quer boas obras?”, “É pecado considerar-se salvo?”, “Qual fé é suficiente para salvar?”, “A salvação é pela graça somente?”, “O que preciso fazer para ser salvo?” que você encontra neste e nos outros volumes de “O que respondi”.

Você escreveu: “Diga-se de passagem, Tiago, 2:14-26 é uma verdadeira aula sobre o tema, sendo o seu ponto de vista corroborado por 1 Coríntios, 13:2.”.

Como não se podem excluir as passagens que falam da salvação pela fé, é preciso entender o todo, e não se arvorar juiz da Palavra de Deus selecionando apenas trechos que sustentem algumas ideias particulares.

Você escreveu: “Melhor fazemos em nos ater ao que disse Jesus Cristo: Mateus, 16:27 — Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então retribuirá a cada um segundo as suas obras.”.

“E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras” (Ap 20:13). “Quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida” (Jo 5:24). Para mim fica bem claro que alguns serão julgados, outros não.

Você escreveu: “Vê-se que pela Bíblia as pessoas poderão chegar a duas conclusões diferentes. O que fazer então?”.

Ler toda ela e pedir a Deus orientação para compreender o todo, não os “princípios morais de Jesus” apenas. Se você pegar um voo para Nova Iorque e o sujeito sentado ao seu lado disser que vai para Miami, isso não significa que está no voo errado. Significa que o avião poderá fazer escala em Miami ou que o sujeito fará conexão em Nova Iorque. Se o autor do texto escolheu Mateus 16:27 e outro escolher Efésios 2, nenhum dos dois verá o roteiro completo da viagem.

“Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e diante dele serão reunidas todas as nações; e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mateus 25:31-46).

O autor cita um versículo que fala da seleção pré-entrada no reino Milenar de Cristo na Terra (não no céu). É um julgamento de vivos quanto à forma como trataram dos seus (o remanescente judeu fiel) durante a grande tribulação (se deram um copo de água aos pequeninos que creram nele). É um julgamento de “todas as nações”, portanto, gente viva, portugueses, espanhóis, iraquianos, chineses, etc. No céu não haverá nações. Falta ao autor do texto um conhecimento de profecia bíblica.

Você escreveu: “Na parábola do bom samaritano (Lucas, 10:25-37), contada por Jesus, quem seria salvo, segundo ele: o sacerdote (homem de fé) ou o samaritano (homem de obras, mesmo que de um povo anatematizado pelos judeus ortodoxos)?”.

Nossa, que salada o autor fez da passagem! O samaritano não é o salvo na parábola, ele é salvador, ora! Na parábola o salvo é o que foi assaltado, que ia de Jerusalém (a cidade escolhida por Deus) para Jericó (a cidade amaldiçoada por Deus), assim como acontece com cada pecador que está vagando perdido. Nem a religião (sacerdote), nem a lei (levita) podem salvar. Só o samaritano desprezado pelo povo de Israel é o Salvador.

Os judeus consideravam Jesus samaritano, daí a parábola. Obviamente Jesus, sendo o Salvador, não precisava ser salvo, não é mesmo? “Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Não dizemos nós bem que és samaritano, e que tens demônio?” (Jo 8:48).

Vamos ao contexto. Depois de receber a confirmação de que deveria amar seu próximo, o doutor da lei que inquiria Jesus perguntou: “Quem é meu próximo?”. No fim o Senhor pergunta: “Qual, pois, destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?”. Respondeu o doutor da lei: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”.

O próximo foi o que usou de misericórdia, não o assaltado. Todos leem pensando que o próximo é o assaltado, mas a pergunta é clara: “Qual… parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?”. Quem você acha que é o “próximo” que usa de misericórdia com os que caíram nas mãos de salteadores enquanto se afastavam de Jerusalém a caminho de Jericó?

O assaltado nada podia fazer, nenhuma obra, além de se deixar salvar. Somente aquele que foi rejeitado por Israel podia salvar. Lembra algo?

“Saiba, pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”. (At 2:36).

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Em que parte da Bíblia devemos crer?

Devemos crer em toda a Bíblia, e pedir a direção de Deus para saber manejar bem a Palavra da Verdade, aplicando cada passagem ao seu devido contexto e lugar. O espiritismo diz crer em apenas 10% da Bíblia, ou seja, apenas em alguns preceitos morais dos evangelhos e nos dez mandamentos.

É importante entender que os evangelhos são um período de transição e são essencialmente judaicos em sua natureza. Jesus era o Messias que devia vir para estabelecer seu reino entre os judeus, mas estes não o receberam, o que ele mesmo sabia que aconteceria (daí a parábola da vinha e do filho do dono da vinha que é morto pelos que a arrendaram).

Portanto, nos evangelhos estamos ainda na lei judaica. Há um templo em Jerusalém, o único lugar de adoração oficial, há sacerdotes (e Jesus os reconhecia, pois mandava os curados irem ao templo oferecer sacrifícios), há toda a ordem de coisas da religião judaica que havia sido estabelecida por Deus no Antigo Testamento. Portanto, o conhecimento que o homem tinha nesse estágio era de causa e efeito: cumpra a lei e viverás.

Quando é rejeitado por Israel, o povo terreno de Deus, eleito para um reino preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25:34), é colocado de lado (como nação) e Deus passa a tratar com o povo eleito antes da fundação do mundo” (Ef 1:4).

Ao primeiro povo, que vivia na condição de “causa x efeito” da Lei, sem conhecer a graça e o perdão revelados após a cruz, era dito… perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas”. (Mc 11:25).

Ao segundo povo, a igreja (o conjunto dos salvos por Cristo), é dito: “Assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.” (Cl 3:13). No primeiro caso, era preciso perdoar para ser perdoado, o vagão da boa obra era visto na frente da locomotiva da obra de perdão de Deus. No segundo, perdoamos porque fomos perdoados. A locomotiva da obra divina passou para a frente do vagão da obra pessoal.

Quando alguém decide selecionar apenas uma parte da Bíblia, por mais autêntica que seja, vai perder o todo. Algumas religiões selecionam o Antigo Testamento (como o judaísmo), outras selecionam o Novo Testamento, porém adotando práticas do Antigo (sacerdotes, templos, rituais), outras, apenas regras morais de um ou de outro… Todas perdem com isso a visão do todo.

A revelação de Deus não parou no Antigo Testamento (como acreditam os judeus), não parou nos evangelhos (como querem os espíritas), mas segue para fechar com chave de ouro todas as coisas no livro de Apocalipse. Retire uma peça e o carro não vai andar como devia.

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Devo fazer um curso de teologia?

A rigor o estudo de teologia foi emprestado do catolicismo. Não existe qualquer indicação na Palavra para que se criassem escolas teológicas como as que vemos hoje. Há, obviamente, a exortação para que os mais velhos ensinassem os mais jovens, mas isso é muito diferente de se criar uma grade curricular, fazer provas, tirar diplomas, etc.

Por sinal, quem poderia, de sã consciência e dentro do que aprendeu com o Senhor, dizer-se “Doutor em Divindade” ou “Mestre em Bíblia”? E considerando que, “Subindo (Jesus) ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens” (Ef 4:8)quem poderia afirmar que seu dom de pastor lhe foi outorgado por uma junta de homens após ter concluído um curso universitário? E mais: quando encontramos (na versão inglesa) reverend [is] his name” (Sl 111:9), será que um cristão se sentiria bem de ser chamado de “Reverendo” ou “aquele que é digno de reverência”?

Acho que muito do que vemos hoje na cristandade passa batido porque nos acostumamos (como é o caso das faculdades de teologia, títulos eclesiásticos, etc.), mas se fizéssemos um escrutínio dessas coisas nas Escrituras para, como os de Bereia, ver se essas coisas eram de fato assim, ficaríamos extremamente surpresos.

O melhor lugar para o cristão aprender é quando se reúne com seus irmãos em liberdade do Espírito, para que ele possa usar o dom que ele escolher (e não apenas um orador previamente diplomado e designado para isso) para a edificação do corpo.

“Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados”. (1 Co 14:31).

Quanto ao versículo que citou, que muitos usam como pretexto para a não necessidade de aprender através de outros (o que fica no outro extremo do erro), é preciso ler o imediatamente anterior para entender o contexto:

“Estas coisas vos escrevi acerca dos que vos enganam. E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis”.

João está falando do antídoto contra o engano, que é o Espírito Santo que habita no crente e o capacita a entender a Palavra de Deus e a discernir se uma voz qualquer não é a do Pastor.

Obviamente este “não tendes necessidade de que alguém vos ensine”, não diz respeito ao crente não precisar mais aprender de outros cristãos, mas está relacionado aos que enganavam e tentavam ensinar coisas que não tivessem sido ensinadas pela Palavra de Deus revelada aos apóstolos, verbalmente na ocasião, ou como a temos hoje nas epístolas.

Quanto à necessidade de aprender uns dos outros (aquilo que é segundo a Palavra), foi para isso que “ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”.

Mas, como eu já disse, isso não tem nada a ver com faculdades que concedem títulos através de uma juntas de homens, títulos esses para os quais usam os mesmos nomes dos dons que só podem ser dados por Cristo.

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Por que a Bíblia é comparada à espada?

A Bíblia “parece” um livro comum, mas não é (também não é algo mágico, evidentemente). O poder da Palavra de Deus está no Espírito que a aplica na alma. Quando vemos uma espada em um museu não imaginamos o número de pessoas que foram cortadas por sua lâmina. Ela está ali, parada, dentro de uma vitrine, tão inofensiva. O que faz a diferença é quem a empunha.

Quando digo “quem a empunha” em relação à espada da Palavra, referia-me ao Espírito Santo, pois só ele (e não bons oradores ou pregadores) pode fazê-la cortar como deve.

“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir (revelar) os pensamentos e intenções do coração”. (Hb 4:12).

Quanto aos judeus, muitos se convertem lendo apenas o Antigo Testamento. Por exemplo, há uma pergunta “fatal” para um judeu que lê Daniel 9:26:

“E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário”.

A pergunta é: a cidade e o santuário foram destruídos? Sim, no ano 70DC. Então cadê o Messias que viria antes na sequência?! A equação não fecha e um judeu sincero há de reconhecer que o Messias veio antes da destruição da cidade (Jerusalém) e do templo.

Uma vez vi alguém fazer essa pergunta a um judeu e o rapaz entrar em pânico. Ele gritava:

“Não pode ser! Se fosse, nossos pais teriam falado! Não pode ser! Não pode ser!”. Por incrível que possa parecer, o rapaz virou as costas e saiu correndo. Nunca vi um negócio assim. A espada realmente penetrou em sua alma. Não sei se deu fruto depois. (Se encontrar um judeu correndo por aí, vou pará-lo para perguntar).

Em João 3 a Palavra é chamada de “água”, que atua no novo nascimento. Em João 2 ela é usada pelos servos (figura do Espírito) para encher talhas de pedra (pessoas) antes de ser transformada em vinho (vida e alegria). Uma vez que uma pessoa seja cheia da Palavra pelo Espírito, o Senhor faz o milagre da transformação.

Espada, na Bíblia, é usada como arma ofensiva ou como símbolo de autoridade para julgar (Romanos 13). Creio ser este último o sentido em Hebreus 4:12. A Palavra escrita, neste caso diferente do Verbo de João 1, chega à profundidade de “dividir” (ou cortar) alma e espírito, portanto, capaz de modificar aquilo que temos de mais interior e invisível. Sim, pode ser para ajudar a distinguirmos o que é espiritual daquilo que não passa de emoção.

Mas essa “espada” também atinge “juntas e medulas”, que são as partes físicas que nos levam a nos mover. Ela é capaz de mudar nossas atitudes. Além disso, traz à tona nossos pensamentos e intenções do coração, deixando claro aos nossos olhos o que realmente somos. Basta um corte dela no coração para revelar todas aquelas coisas más que o Senhor disse que provinham do coração, ou para revelar o que é de Deus e o que não é.

Ela faz, por assim dizer, uma biópsia de corpo, alma e espírito, deixando tudo à mostra. Para o incrédulo isso funciona para mostrar seu estado arruinado. Para o crente isso nos ajuda a diagnosticar se existe em nós algum câncer, ou seja, algum crescimento descontrolado da carne; ou algum derrame espiritual, que possa paralisar alguma parte de nós para o serviço de Deus, ou descontrolar outros movimentos para fazermos aquilo que ele não quer.

*

A Bíblia foi realmente inspirada por Deus?

Você escreveu que “se houve uma inspiração para escreverem a Bíblia, o ser que inspirou isto era totalmente ignorante”.

Bem, nada melhor do que apertar o tubo para sair a pasta, não é mesmo. Sob pressão revelamos o que há em nosso coração, e foi o que aconteceu quando “apertei” você. Você quer se livrar de Deus e colocar-se, a si mesmo, sua lógica, sua razão, seu bom senso, como padrão.

“Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas. Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles”. (Sl 2).

Você continua, dizendo que “por isto que os espíritas não aceitam tudo que está na Bíblia; obviamente procuramos amealhar o que há de bom deixando de lado o que foge à lógica, à razão e ao bom senso”.

Em outras palavras, você considera o Deus que inspirou a Bíblia ignorante, e considera a si mesmo sábio e capaz de julgar todas as coisas. Ora, o quanto sabe você? O quanto ignora você? Baseado em que padrão você julga “o que há de bom”?

O cristão, ao sujeitar-se à Palavra de Deus e à orientação do Espírito Santo coloca-se na condição de um ignorante incapaz de discernir as coisas por si só. Precisa de Deus. Seu padrão, portanto, está fora de si. O homem não está no centro do universo. Para o espírita bastam a lógica, a razão, o bom senso e a ciência. Você ainda não percebeu, mas ao nortear-se pela sabedoria humana, acaba colocando o homem no lugar de um deus. Obviamente isso já era previsto:

“Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível” (Rm 1:21-23).

Você argumenta que fugi do assunto sobre “como se deu a formação da terra e em quanto tempo”. Bem, então vamos lá:

“No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo”. (Gn 1:1-2).

O versículo 1 é a criação original. Entre o versículo 1 de Gênesis e o 2 você pode imaginar zilhões de anos atuais e não temos ideia do que aconteceu nesse período. Provavelmente foi nesse intervalo que ocorreu a queda de Lúcifer e seus anjos, o que acabou transformando a criação original de Deus em um verdadeiro caos. Daí “sem forma e vazia”, “trevas” e “abismo”, coisas estranhas Criação, já que “Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas”. (1 Jo 1:5). Considerando que antes das coisas virem à existência só existia Deus, fica fácil concluir que não havia trevas.

Além disso, há outra referência de que Deus não teria criado a terra “vazia” em Isaías 45, e as referências a Lúcifer existentes na Bíblia apontam para uma época anterior ao estado caótico e às etapas de criação, que poderíamos chamar de restauração da criação, descritas a partir de Gênesis 4.

Não me lembro de falar da Terra como centro do Universo, apoiada sobre estacas ou girando em torno do Sol, como você alegou que seria minha crença. Mesmo assim, a Bíblia é escrita do ponto de vista da Terra, portanto ela pode eventualmente ser adotada como centro. Quando aprendemos na escola que ela gira em torno do Sol é porque este é tomado como referencial, mas o Universo todo é relativo. A mosca que voa dentro de um avião a 980 km/h está voando a que velocidade? Não é errado dizer que a Terra gira em torno da Lua, se tomarmos esta por referencial. Todos os dias você vê o sol percorrer a abóbada celeste e até fala do sol subindo ou descendo no horizonte, porque adota você e a terra como referência.

Quanto a estar apoiada sobre estacas, não me lembro, mas pode existir algum verso, já existem “colunas do céu” em Jó 26 e a linguagem poética faz parte da Bíblia. Hoje ouvi uma música que dizia:

“Mas se ela voltar, se ela voltar/ Que coisa linda, que coisa louca/ Pois há menos peixinhos a nadar no mar/ Do que os beijinhos/ Que darei na sua boca.”

Vinícius e Tom Jobim certamente não sabiam quantos peixes há no mar, não é mesmo. Oh! Esses ignorantes!

Sobre a terra ser plana (você não perguntou?!), “E ele o que está assentado sobre o círculo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; é ele o que estende os céus como cortina, e o desenrola como tenda para neles habitar” (Is 40:22).

Provavelmente depois de eu citar este versículo você irá discordar dizendo que os céus não são cortina e muito menos tenda, ou que é impossível desenrolar o firmamento…

Quanto à Lua, Gênesis diz que foi colocada junto com o Sol para iluminarem a Terra. Acaso suas noites de Lua são escuras? Se estudar iluminação irá aprender algo sobre “luz incidente” e “luz refletida”. Qualquer bom fotógrafo sabe disso. Talvez, se consultar um “espírito” que tenha sido fotógrafo em outra vida… Provavelmente seja difícil encontrar um “espírito” de um mero fotógrafo, pois curiosamente é fácil encontrar Napoleão, Sinhá-Moça, Preto Velho, Cacique… Sempre arquétipos. Como dizem os americanos, será que isso não “ring the bell”?

Você continua indagando a razão de a Bíblia não ensinar coisas que você considera importantíssimas para o homem: “Como falar aos homens de então, da pluralidade dos mundos?… Que a terra é esférica?… Que esta mesma terra flutua no espaço?… Que a terra gira em torno de si mesma e em torno do sol? É a mesma questão com relação a Nicodemos, pois se vocês crentes não entendem as coisas materiais, como então entender as coisas Espirituais que são muito mais transcendentes?”.

Não, a questão com Nicodemos era outra. Nicodemos devia saber das coisas terrenais, a saber, o reino, a vinda do Rei e Messias etc., e não ciência quântica. Era um mestre religioso em Israel, portanto versado nas coisas terrenas relativas ao povo terreno de Deus. As coisas celestiais diziam respeito ao novo nascimento, o tema de João 3.

Quanto aos conhecimentos astronômicos que citou, aqui vai uma história. Era uma vez um professor que alugou um barco para atravessar um rio. Cheio de si, começou a tirar uma do barqueiro, homem humilde.

“E aí, barqueiro, você sabe matemática?”

“Sei não, dotô, nunca estudei”

“Então você perdeu dez anos de sua vida. Sabe Física?”

“Sei não, dotô”.

“Perdeu mais alguns anos de sua vida. Sabe Química?”

E por aí foi a conversa. Chegou uma hora o barqueiro interrompeu o doutor e, no meio do rio, perguntou:

“O dotô sabe nadar?”

“Não, só me preocupo com coisas realmente importantes, como física, matemática, química…”.

“Então o sinhô perdeu a vida inteira, porque o barco tá afundando”.

*

O que o Espirito Santo veio fazer aqui?

Você disse que acredita que quando o Senhor Jesus falou que enviaria o Espírito Santo ele estaria se referindo aos espíritos do espiritismo, pois se “o Paráclito manifestou-se no dia de pentecostes, o que ele revelou aos homens que Jesus não podia revelar?”.

Pentecostes muda tudo. O Senhor falou do “O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós” (Jo 14:17). Ninguém antes de Pentecostes teve o Espírito Santo em si.

Até os profetas recebiam a unção, a inspiração, a influência do Espírito que habitava COM ELES, mas nunca NELES. Em Pentecostes, a formação da Igreja, isso passa a acontecer com cada um que é salvo por Cristo.

Pentecostes reverte Babel. A união que os homens tentaram, e foram dispersos pela multiplicação das línguas, agora existe no “um só corpo” de Cristo. Em Pentecostes, Pedro pregou em um idioma e pessoas de vários idiomas ouviram cada um no seu.

Com a vinda do Espírito Santo para habitar no crente, Deus passou a revelar o mistério que estava oculto. Paulo fala disso em Efésios 3: “do MISTÉRIO DE CRISTO, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas”.

Resumindo: É impossível entender a Bíblia parando no Velho Testamento ou nos Evangelhos. Os profetas antigos não conheceram esse “mistério” que só foi revelado aos que receberam o Espírito Santo, caso contrário seria remendo novo em vestido velho. Não poderiam entender de maneira nenhuma.

Suas dúvidas continuam: “E depois o que foi que se ensinou neste dia, que ninguém estava apto a entender há cinquenta dias atrás?”

Por ser espírita, você não consegue raciocinar fora de um pensamento processual: evoluir = aprender + tempo. Esqueça evolução. Colocando em termos modernos, em Pentecostes eles receberam o software que capacitava o hardware a processar os pensamentos de Deus. O ensino vem depois, nas epístolas. Tente abrir um arquivo zipado se sua máquina não tiver um programa para descompactar arquivos. Você não consegue.

Você afirma que “certamente o Paráclito não se manifestou no dia de pentecostes, embora naquele momento houvesse um fenômeno de xenoglossia, nada de extraordinário foi ensinado além do que Jesus já havia dito”.

Tá, devo escutar você que, do alto de seu pedestal, se arvora juiz da Bíblia, ou as pessoas que participaram daquilo, as testemunhas oculares?

Jesus: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lc 24:49).

Pedro: “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes… De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis”. (At 1:4, 2:33).

Paulo: “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa”. (Ef 1:13).

E aqui vai o que distingue você, como espírita que é, de um cristão que crê na Palavra de Deus e no Salvador:

“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8:9).

Enquanto você não crer e receber o Espírito Santo de Deus, você não vai entender o que diz a Palavra de Deus e vai continuar lutando contra ela. Mas para isso terá de abrir mão de sua autossuficiência, terá de deixar de continuar no caminho proposto por Satanás a Adão e Eva, “Sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal”, e se prostrar diante de Deus como um pecador ignorante necessitado de salvação.

Qualquer coisa menos que isso é altivez e soberba de espírito, pois estará se considerando alguém diante de Deus. Mas antes que me interprete mal, quando eu digo que você não tem o Espírito Santo de Deus, se interpretar minhas palavras segundo o pensamento espírita, vai me achar insolente e pretensioso, pois o pensamento espírita deduz que ter o Espírito Santo de Deus é privilégio de quem se esforçou, estudou muito, evoluiu etc. Portanto, se eu digo que tenho e você não, então é pretensão da minha parte.

Mas, considerando que o Espírito Santo, assim como a salvação, é um dom gratuito, você só poderá tê-lo se o receber de graça (sem tentar pagar com obras). Como você certamente tem aversão à ideia de ganhar tal presente de Deus, devo deduzir que ainda não o tenha recebido. E como para recebê-lo você precisa se considerar menos do que uma ameba com a data de validade vencida, eu só posso dizer isso de você porque sou menos do que uma ameba com a data de validade vencida.

*

O espiritismo acredita nas palavras de Jesus?

Você diz que os espíritas creem nas palavras de Jesus encontradas nos Evangelhos. Será? Vamos fazer uma rápida verificação disso.

Você, como bom espírita que é, disse não acredita no Antigo Testamento, que começa com os cinco livros escritos por Moisés.

Jesus: “Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele” (Jo 5:46).

Você disse que não acredita na história de Jonas engolido pela baleia (ou “grande peixe”, segundo algumas versões).

Jesus: “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra” (Mt 12:40).

Você disse que não acredita na história do dilúvio e da salvação dos seres humanos e animais que Noé efetuou com sua arca.

Jesus: “E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem.” (Mateus 24:37).

Você disse que não acredita no relato da Criação em Gênesis, acreditando que a ciência tem uma melhor resposta para isso.

Jesus: “Porque, se vós crêsseis em Moisés” (autor do Gênesis). “Porém, desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea”. (Jo 5:46, Mc 10:6).

Você disse que não acredita que Adão e Eva tenham sido criados por Deus como precursores da raça humana.

Jesus: aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez” (Mt 19:4).

Você disse que não acredita no Deus da Bíblia, por achar que Deus não pode irar-se.

Jesus: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.” (Jo 3:36).

Você disse que não acredita que Deus, sendo Deus, se arrependeria de alguma de suas decisões.

Jesus: “… Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria [aos ninivitas], e não o fez.” (Jn 3:10). “Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; pois se converteram com a pregação de Jonas; e eis aqui está quem é maior do que Jonas” (Lc 11:32).

Você disse que não acredita na existência de um lago de fogo, criado para o diabo e seus anjos, onde serão lançados os que não forem salvos.

Jesus: “Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”; (Mt 25:41).

Só posso concluir que você realmente não acredita nas palavras de Jesus por crer no espiritismo, e confirma-se o fato de que o espiritismo apenas se aproveita da roupagem dos evangelhos para atrair incautos. Você deve estar se sentindo mal por eu colocar em dúvida suas afirmações. Como você acha que o Senhor se sente por você colocar em dúvida as afirmações dele?

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Por que Deus mandou matar nações inteiras no AT?

Você escreveu que “não podemos conceber de forma alguma que DEUS coloque no decálogo um mandamento dizendo: ‘Não matarás’ e em seguida mande que Moisés mate todos os povos conquistados”, e chamou a isso de “uma berrante contradição do mandamento ‘não matarás’”.

Se fosse contradição, seria um crime qualquer país manter um exército. Não sei se você é militar ou policial, mas há muitos espíritas militares e policiais, não há? Na hora de defender o país ou a população, o que ele vai fazer, atirar flores?

Em Gênesis 9, Deus dá ao homem a autoridade de matar como forma de exercer juízo. Essa autoridade é confirmada no NT em Romanos 13 e essa é a dificuldade de muitas pessoas não entenderem que a pena de morte, por exemplo, ou a morte na guerra, foram coisas autorizadas por Deus em Gênesis 9 e nunca revogadas.

Obviamente hoje o cristão, por ser um cidadão do céu, talvez não se sinta bem em estar na posição de um algoz, embora existam muitos cristãos que ocupem postos de soldados e policiais onde eventualmente terão de matar como forma de proteger a si mesmo ou outras pessoas.

Eu também tinha dificuldade para entender esse modo de proceder de Deus no Antigo Testamento, até entender a noção de autoridade, algo a que todos estamos sujeitos. Não cabe ao subordinado julgar se a autoridade está certa ou errada, cabe a ele se submeter aos poderes superiores (pais, professores, policiais, prefeitos, governadores, presidentes, juízes…).

Quando Deus mandava os judeus invadirem uma terra, Ele estava exercendo seu juízo sobre povos cruéis. Você pode entender isso quando ele adia seu juízo sobre os Amorreus porque ainda não tinham enchido a medida de iniquidade: “Na quarta geração, porém, voltarão para cá; porque a medida da iniquidade dos amorreus não está ainda cheia”. (Gn 15:16).

Mas Deus não usou apenas judeus como seus instrumentos de juízo. Ele usou gentios, como Ciro: “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis; para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão” (Is 45:1).

E se pensarmos no reino milenial de Cristo que ocorrerá após o arrebatamento da Igreja e a grande tribulação, e antes do juízo final, fica fácil entender que não será uma coisa tão idílica quanto muitos pensam, já que durante aquele período quem não se sujeitar a Deus será morto. O juízo será todas as manhãs.

É difícil admirar o trabalho de um soldado na guerra, de um policial na luta contra o crime, ou de um carcereiro em trancafiar pessoas, mas eles são instrumentos da justiça humana (e, por tabela, divina). É ingenuidade você pensar em um mundo sem autoridades superiores, e é ingenuidade maior ainda pensar em um Deus sem autoridade para julgar e condenar segundo os seus (e não os nossos) critérios de justiça.

Afinal, de onde você acha que aprendeu as noções de justiça que hoje traz em sua mente? De uma cultura judaico-cristã, da qual você não pode fugir. Todavia, se por um lado você se arvora no direito (e capacidade) de julgar o que é certo e errado nos atos divinos, isso o torna juiz de Deus.

Será que ainda não se deu conta de que há coisas que você, como uma criança em relação aos desígnios divinos, não entende? Você não se deu conta de que ainda há coisas que precisará aprender? Como se acha já capaz de julgar o que é certo ou errado se até essas noções você recebeu por meio de uma aculturação do meio judaico-cristão em que nasceu?

Seus filhos, quando pequenos, certamente não entendiam muitas de suas ordens ou forma de proceder. E veja que eles estavam a apenas poucos anos de serem adultos para entender essas coisas. A que distância você se considera estar de Deus para achar que já pode entender seus desígnios, julgá-los e separar em que ele está com a razão ou não?