Gordon Hayhoe, “The Friend And The Things That Never Change”; palestra a cristãos em La Mirada, CA, 29/12/85.
“O Seu falar é muitíssimo suave; sim, Ele é totalmente desejável. Tal é o meu Amado, e tal o meu Amigo, ó filhas de Jerusalém.” (Ct 5:16)
“Tu, Senhor, no princípio fundaste a Terra, e os céus são obra das Tuas mãos: eles perecerão, mas Tu permanecerás; e todos eles, como roupa, envelhecerão, e como um manto os enrolarás, e como um vestido se mudarão, mas Tu és o mesmo, e os Teus anos não acabarão.” (Hb 1:10-12)
“Porque Eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sereis consumidos.” (Ml 3:6)
“Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente.” (Hb 13:8)
Vivemos em um mundo cheio de mudanças. Por todo lado vemos mudanças. Mas porventura não é algo bendito sabermos que existe Um que não muda? Em conexão com o versículo que lemos em Cantares, penso que a qualidade que mais valorizamos em um amigo a quem temos aprendido a amar, a quem admiramos e de quem temos um grande conceito, é o fato de ele não mudar. Se muda, ficamos desapontados, pois gostávamos dele como ele era. Mas alguma coisa acontece e ele muda seu modo de ser. À medida que o tempo passa nós também mudamos nosso modo de ser e nossa condição física também. Vivemos em um mundo em mutação. Mas acaso não é algo imensamente bendito o fato de termos Alguém que não muda?
Gostaria de falar um pouco sobre este assunto, pois creio que isto nos servirá de sustento em um mundo como este. Com freqüência ficarmos frustrados e despontados à medida que vamos assistindo a constante mudança que ocorre neste mundo. As pessoas dificilmente sabem como agir, pois existe incerteza no emprego, incerteza nos amigos, e tudo o mais parece estar cheio de incertezas. Os bancos vão à falência, o clima se altera; parece até que somos constantemente lembrados de que tudo muda. Mas acaso não é algo muito precioso o fato de podermos estar aqui ocupados com um Amigo que é “totalmente desejável”? Não existe nada nEle que gostaríamos de ver diferente, pois é tão perfeito em tudo – perfeito em amor, perfeito em graça, perfeito em fidelidade. Isso era representado nas ofertas, do Antigo Testamento que traziam a flor de farinha. Quando pensamos em amigos, pensamos geralmente em alguma pessoa que ocupe um lugar de proeminência por possuir alguma virtude. Por esta razão dizemos que tal pessoa é generosa, ou que se interessa pelo próximo, ou que é muito bondosa. Assinalamos alguma característica em que ela se destaca das outras. Mas temos um Amigo que se sobressai em tudo! Ele Se sobressai em amor e em graça; e se você precisar de alguma correção (e às vezes precisamos), Ele sabe exatamente o que necessitamos, e aplica a correção, desejando que saibamos que é a Sua mão que está ali.
Portanto, quando vemos este mundo mudando com tanta freqüência, quão precioso é lermos no Salmo 102:27, “Mas Tu és o mesmo, e os Teus anos nunca terão fim”. Não importa se somos crianças, jovens ou adultos; todos nós podemos ter este mesmo Amigo. Ele entende nossa infância. Até mesmo na Jerusalém milenar nos é dito que as ruas da cidade estarão cheias de meninos e meninas que nelas brincarão (Zc 8:5). Nos é dito também que “quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino” (1 Co 13:11). Nem sempre compreendemos as crianças, ou o que se passa em suas mentes. Mas não é lindo que o Senhor compreenda até mesmo uma criança? Ele nos diz que naquele tempo, tão feliz para esta Terra, quando o Senhor Jesus ocupar o Seu lugar de direito no dia milenar, as crianças vão poder brincar nas ruas, e não haverá acidentes. Tudo estará sob o maravilhoso cuidado do Senhor.
À medida que crescemos, e nos tornamos jovens, temos novos anseios e desejamos certas coisas. Não é maravilhoso sabermos que é este o tipo de Amigo que temos – Alguém que nos compreende? Ele viu nosso corpo antes mesmo que entrássemos em cena como pessoas vivas. No Salmo 139:16 diz: “Os Teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no Teu livro todas estas cousas foram escritas; as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia”. Você não tem nenhum outro Amigo como este, que conhece a sua estrutura física e emocional, e que compreende você perfeitamente. E como é belo – e como toca o coração – aquele versículo que diz, “Tal é o meu Amado, e tal o meu Amigo”? Ele não é Alguém que possa mudar, como costumam fazer os nossos amigos. “Porque Eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Ml 3:6).
Estamos mudando continuamente. Quando temos um amigo que muda – um amigo que antes estava sempre conosco e então muda e já não é mais tão chegado – e que talvez nos faça algo desagradável, achamos isso algo difícil de suportar. Mas este Amigo, apesar de todas as nossas mudanças, nos ama do mesmo jeito. Várias vezes já foi dito que as provas do amor do Senhor por nós, que aparecem nas Escrituras, sempre foram dadas nos momentos em que menos esperávamos encontrá-las. No livro de Deuteronômio, após quarenta anos no deserto, murmurando, reclamando e mostrando o que havia em seus corações, quando Israel chegou ao fim daquela jornada, nos é dito que “na verdade ama os povos; todos os Seus santos estão na Tua mão” (Dt 33:3) Aqueles quarenta anos de murmúrio e reclamações do povo não mudaram este Amigo. Ele os amava e eles estavam em Sua mão. E quando abrimos em Jeremias descobrimos que o povo se afastou tanto que Deus iria fazer com que fossem levados para o cativeiro. Pelo que dizem as Escrituras, parecia não haver remédio para o estado em que se encontravam; e então o profeta Jeremias, com lágrimas nos olhos, os avisa que teriam que ir para o cativeiro. Mas será que isso fez mudar o Amigo que Israel tinha; o Amigo que nós temos? Não. Em Jeremias 31:3 diz: “Com amor eterno te amei, também com amável benignidade te atraí”.
Mais tarde um pequeno remanescente foi levado de volta do cativeiro, e lemos no livro de Malaquias como estavam as coisas então. Eles diziam que era inútil servir a Deus; ofereciam a Ele o animal coxo e o cego – ou seja, não davam a Ele o que havia de melhor; ofereciam o resto, algo que jamais dariam ao governador. Não queriam fazer aquilo que agradava a Deus. Não eram obedientes a Ele. Mas como é que Ele começa a mensagem dirigida a eles; quando fala de suas faltas e defeitos? Oh, ouça a maneira como começa o livro de Malaquias: “Peso da palavra do Senhor contra Israel, pelo ministério de Malaquias. Eu vos amei, diz o Senhor” (Ml 1:1).
Passamos então ao Novo Testamento e lemos de Marta, e do modo como o Senhor teve que falar com Ela; ela estava achando defeito em Maria por esta estar assentada aos pés do Senhor. Poderíamos achar que o Senhor tivesse um pouco mais de afeição por Maria por ela ser mais devotada, e por se assentar aos Seus pés. Mas quando nos fala da afeição do Senhor por elas, nos é dito que “Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro” (Jo 11:5). Sim, o nome de Marta aparece primeiro; aquela que provavelmente teria menos razão para ocupar tal lugar.
Lemos também aquelas cartas que foram escritas às sete igrejas em Apocalipse 2 e 3. Ele entristeceu-Se por haverem deixado o primeiro amor. E temos que abaixar nossa cabeça, reconhecendo que isto também é verdade a nosso respeito, não é mesmo? Perdemos aquela afeição inicial pelo Senhor Jesus. Mas na última carta, a que é endereçada aos laodicenses, diz: “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê pois zeloso, e arrepende-te” (Ap 3:19). É por isso que é tão precioso sabermos que “Eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Ml 3:6). Acho que muitos de nós, principalmente quando envelhecemos e olhamos para trás, podemos dizer, com toda a certeza, que se o amor do Senhor dependesse da maneira como agimos como crentes, só poderíamos contar com uma porção bem pequena desse amor. Mas quão precioso é sabermos que, “Tal é o meu Amado, e tal o meu Amigo”, Aquele que nunca muda. “Eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Ml 3:6).
Lemos também em Hebreus 13, onde o Senhor lhes fala de seus guias que lhes falaram a Palavra de Deus, que Ele acrescenta: “a fé dos quais imitai” (Hb 13:7). Meu pai costumava dizer, “Lembre-se, ali não diz para imitarmos as suas falhas”. Vemos falhas em nós mesmos, e talvez uns nos outros. E às vezes seguimos alguém que fez algo de errado. Mas nos é dito: “A fé dos quais imitai”. E então passa a falar que há uma Pessoa a Quem podemos seguir em tudo; há Alguém que nunca falha. Portanto, após nos dizer que deveríamos imitar a fé daqueles que procuraram nos instruir nas coisas de Deus, Ele nos indica outra vez este imutável Amigo, “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13:8). Quanto encorajamento traz ao nosso coração pensarmos nisto.
Creio que é muito importante não somente conhecer esta Pessoa bendita, mas entender que Ele colocou em Sua Palavra tudo aquilo que necessitamos para nosso caminho. Estamos vivendo em um mundo de constantes mudanças. Creio que se olhássemos para trás, há cinquenta anos, veríamos que naquela época nenhum de nós poderia ter chegado aqui da mesma maneira como chegamos hoje: alguns vieram de avião, outros de automóvel. Este é um mundo em mutação. Mas lembremo-nos de que os valores morais e espirituais não mudam. Isto é, Deus tem certos padrões que Ele estabeleceu em Sua preciosa Palavra; e conhecermos o imutável Amigo que temos, sabermos que o conselho que Ele nos dá não tem que ser atualizado, é algo que nos concede paz. Qualquer um que trabalhe no mundo de negócios hoje em dia sabe muito bem com que frequência o planejamento e o modo de se fazer as coisas estão sendo alterados. Constantemente são publicados relatórios de novas mudanças. Mas acaso não é maravilhoso podermos pegar um Livro como a Bíblia e sabermos que, embora a última parte dela tenha sido escrita há dois mil anos, continua perfeitamente atual? Ela nos fornece exatamente aquilo de que necessitamos para viver neste ano, e também no próximo, se o Senhor nos deixar aqui um pouco mais. Não precisa ser atualizada. Está adequada para nós.
Digo àqueles que são jovens, e àqueles que são mais velhos, o quão importante é seguirmos guiados por este bendito Livro. Este maravilhoso Amigo que temos, este imutável Amigo, assinalou um caminho para nós neste mundo; e quando nós o trilhamos, conforme nos diz Provérbios 3:17, “são caminhos de delícias, e todas as suas veredas, paz”. Portanto quero encorajá-los, e quero encorajar também o meu próprio coração, a sermos como aquele pequeno remanescente do qual lemos no último capítulo de Isaías, identificados como aqueles que tremem da Palavra de Deus (Is 66:2). Eles tinham medo. Quando viajamos, nem sempre estamos acostumados com o lugar por onde passamos, e ficamos observando cuidadosamente os sinais. Temos medo de perder algum sinal, e quando erramos, nem sempre é fácil encontrar o caminho de volta. Às vezes você não vê a placa de sinalização e acaba viajando por quilômetros fora do caminho, simplesmente por não estar atento. Aqueles sinais foram colocados ali para o nosso bem. E Deus escreveu a Sua Palavra para o nosso bem. “O Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade” (2 Pd 1:3).
Não temos que buscar a sabedoria deste mundo nas coisas morais e espirituais. Talvez precisemos de sua instrução nas coisas relacionadas com os meios de transporte, o modo como funcionam os negócios, etc. Mas, moralmente falando, já temos padrões divinos, e creio que cada um de nós entenderá isto. Dirijo-me a vocês, queridos jovens que se encontram aqui hoje: As pessoas estão dizendo a vocês que seus pais estão fora de moda; que eles têm idéias muito restritivas, etc. Mas peço que busquem a Palavra de Deus e sigam por este bendito Livro na formação do caminho para a vida de vocês. Vocês irão descobrir que verdadeiramente há bênção em se andar naquele caminho que Deus traçou em Sua Palavra. E não há nada de importante, em nosso caminho aqui, para o que Ele não tenha deixado uma direção para nós. “Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho nem do homem que caminha o dirigir os seus passos” (Jr 10:23).
Vamos agora abrir juntos em Judas, versículos 1 ao 3: “Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados, queridos em Deus Pai, e conservados por Jesus Cristo: Misericórdia, e paz, e caridade vos sejam multiplicadas. Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”. Podemos ver que aqui Deus está colocando diante de nós “a fé que uma vez foi dada aos santos”. Charles Stanley escreveu um livro intitulado “The First Years of Christianity, and What is the Church”. (“Os Primeiros Anos do Cristianismo, e O Que é A Igreja”). Quando ele quis apresentar-nos, como servo do Senhor, o que Deus nos havia mostrado em Sua Palavra com respeito ao que é realmente o Cristianismo, e o que é a Igreja, ele voltou àquilo que Deus havia estabelecido no princípio. Aqui encontramos Judas em uma época de ruínas e apostasia, e ele não diz: “Precisamos adotar algumas idéias novas, pois as coisas estão mudando, e tem havido uma porção de ajustes e pessoas que estão deixando de fazer isso ou aquilo”. Em lugar disso, ele diz que era necessário que ele escrevesse e os exortasse a batalhar “pela fé que uma vez foi dada aos santos”.
Creio que isso é muito importante para nós em todos os assuntos com que temos que tratar, particularmente aqueles que dizem respeito à assembléia.* Precisamos buscar a Palavra de Deus. A assembléia não age baseada na tradição. Isso acabou acontecendo com Israel, e as tradições dos fariseus tornaram-se tão importantes que às vezes a Palavra de Deus era deixada de lado a fim de eles poderem agir segundo suas próprias tradições. O apóstolo Judas apresenta-lhes aqui a grande importância da “fé que uma vez foi dada aos santos”. Por isso precisamos ler vez após outra as epístolas que foram escritas, as quais nos dão instruções divinas acerca da Pessoa e obra de Cristo, pois é este o fundamento de tudo. Quão importante é que estejamos bem instruídos acerca da Pessoa e Obra do Senhor Jesus Cristo. A assembléia é a coluna e firmeza da verdade. Assim, nestes dias em que coisas pequenas começam a se introduzir sorrateiramente, devemos batalhar sinceramente pela fé que uma vez foi dada aos santos. Existe um amplo segmento da cristandade em nossos dias que está ensinando que nosso bendito e santo Senhor poderia pecar; eles dizem que Ele não pecou, mas que poderia ter pecado! E é espantoso vermos que algumas das figuras consideradas mais importantes na cristandade estão ensinando isso.
[*O autor usa aqui o termo “assembléia” no seu sentido bíblico, ou seja, referindo-se à igreja, como um todo, ou na sua expressão local onde dois ou três estejam reunidos ao nome do Senhor Jesus. Em hipótese nenhuma a referência é feita a alguma denominação religiosa conhecida com “Assembléia”, pois o sistema denominacional é algo estranho às Escrituras.]
Oh, irmãos, moldemos os padrões daquilo que cremos a partir da Palavra de Deus, e não por aquilo que é normalmente aceito ao nosso redor hoje em dia. Pois é neste precioso Livro que temos a fé que uma vez, não duas vezes, não renovada ou atualizada, mas que uma vez foi dada aos santos. A bendita verdade da vinda do Senhor e todas as coisas preciosas que nos foram ensinadas no Novo Testamento. Como deveríamos nos reunir? Será que deveríamos colocar em prática nossas idéias, ou será que temos instruções na Palavra de Deus de modo que possamos saber que estamos nos reunindo em conformidade com o Seu pensamento? Pode haver por aí muitos bons cristãos que realmente amam o Senhor Jesus e que desejam agradá-Lo. Temos que deixá-los com o Senhor. Mas a responsabilidade, tanto sua quanto minha, tanto individual quanto coletiva como assembléia, é que sigamos em conformidade com a preciosa Palavra. Aprendamos bem isto; fiquemos bem familiarizados com a Palavra de Deus; a fim de nos reunirmos ao precioso nome do Senhor Jesus somente; a fim de nos reunirmos como membros do corpo de Cristo.
Numa época como aquela, de ruína e abandono, o apóstolo estava bastante preocupado para que houvesse esse tipo de exercício. E digo a cada um de nós, àqueles que já são um pouco mais velhos: Às vezes, nós que envelhecemos, nos esquecemos de que há uma nova geração vindo atrás. Eles vêem coisas que estão sendo feitas e não sabem o por quê. Lembro-me de uma jovem em uma assembléia, reunida ao nome do Senhor Jesus, que acabou saindo e foi partir o pão em algum outro lugar. Um irmão, ao comentar o fato, disse: “Ela sabia muito bem o que estava fazendo”. Porém eu disse ao irmão: “Talvez ela soubesse que os irmãos desaprovariam, mas não estou tão certo de que ela soubesse o por quê”. Devemos saber o por quê para nós mesmos. Precisamos da fé que uma vez foi dada aos santos. Precisamos saber o que é estar reunido de acordo com a Palavra de Deus. Se aprendemos a bendita e preciosa verdade do um só corpo de Cristo e de nos reunirmos como membros desse corpo, quão precioso é aos nossos corações. Vemos no Antigo Testamento que eles só construíram o muro ao redor de Jerusalém depois de construído o Templo. Primeiro foi o Templo, e então eles construíram o muro. O que iria significar a separação se não tivessem o Templo? Mas o Templo veio primeiro, aquele lugar que falava da glória do Senhor e de Sua presença entre o Seu povo; o muro de separação veio depois. Estas coisas são muito importantes!
Há algo mais que está se introduzindo sorrateiramente em nossos dias, ou seja, o ensino acerca do livre arbítrio. Muitas pessoas não entendem que ao ensinar tal coisa estão, na verdade, supondo que exista algo de bom no homem. Pois se o homem pudesse, por seu livre arbítrio, aceitar a Cristo, então deveria haver algo de bom nele para fazer a boa escolha. É verdade que o homem é responsável e a Bíblia diz que cada um dará conta de si mesmo a Deus. Mas se eu e você fôssemos deixados para fazer nossa própria vontade, jamais teríamos escolhido a Cristo. Deus teve que efetuar uma obra em nós. John Nelson Darby deu, certa vez, um exemplo simples para ilustrar isto: Suponha que eu coloque diante de uma pessoa uma maçã e uma laranja. A pessoa detesta maçãs, e adora laranjas. Eu digo a ela: “Você pode escolher o que quiser”. Dou a ela a liberdade de escolha. Como poderia ela escolher a maçã? Ela odeia maçãs. O que é que poderia levá-la a escolher a maçã? Eu teria que mudar algo dentro dessa pessoa para fazê-la escolher a maçã. E é isso o que Deus faz. “Ninguém pode vir a Mim, se o Pai que Me enviou o não trouxer: e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6:44).
Precisamos entender a completa ruína do homem; não há nada de bom no homem. Como dizem as Escrituras, “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7:18). É assim que o homem segue em seu obstinado caminho até que Deus intervenha. Foi preciso que Deus efetuasse, no Calvário, uma obra por causa dos meus pecados, e foi preciso que Deus efetuasse uma obra em mim, caso contrário eu nunca teria aceitado o Senhor Jesus Cristo como meu Salvador. Isto não anula, de forma alguma, a responsabilidade. O ser humano é tão responsável diante de Deus quanto um assaltante que, ao roubar sua casa, é responsável pelo que faz. Se você oferece a ele o perdão e ele recusa, isto não significa que por isso ele deixa de ser responsável. Assim Deus Se oferece para perdoar o homem; mas o desejo do homem é tão mau que ele recusa o perdão. Todavia o homem continua responsável e terá que prestar contas a Deus como uma pessoa responsável. Mas tanto eu como você já aprendemos algo da graça de Deus, que nos escolheu e nos salvou! Assim, em todas estas coisas necessitamos ficar atentos e lembrar que se trata da fé que uma vez foi dada aos santos. Conservemos este precioso depósito de verdade que nos foi entregue!
Vamos abrir agora em Mateus 19:3-6: “Então chegaram ao pé dEle os fariseus, tentando-O, e dizendo-Lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo? Ele, porém, respondendo, disse-Lhes: Não tendes lido que Aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, e disse: Portanto deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto o que Deus ajuntou não o separe o homem”. E o versículo 9: “Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério”.
Creio que estas coisas estão escritas na Palavra de Deus como uma mensagem para nós da importância do matrimônio, e da solenidade da união matrimonial. Nestes dias, quando o matrimônio é tratado com tanta leviandade, existe talvez uma tendência para que até mesmo os cristãos sejam afetados pela atitude leviana que o mundo tem para com o matrimônio. Precisamos voltar ao que Deus falou. O que fez o Senhor Jesus? Ele disse, Se você quer saber a vontade de Deus sobre este assunto você tem que voltar ao princípio, pois o Senhor não muda. Creio que precisamos receber estas coisas hoje. Sabemos que às vezes o relacionamento não é tão feliz quanto deveria ser. Às vezes é tenso. E, certamente, todo esforço deveria ser feito para promover o amor. Costuma-se dizer que para um matrimônio ser feliz o marido precisa ser cem por cento para sua esposa, a esposa cem por cento para o marido e ambos juntos cem por cento para o Senhor. Creio que é por isso que está escrito que “o cordão de três dobras não se quebra tão depressa” (Ec 4:12).
Foi isto o que Deus planejou e ordenou. Mas na época em que vivemos as pessoas vêem o matrimônio muito levianamente e dizem que tais idéias são antiquadas; dizem que hoje em dia é muito mais fácil simplesmente se divorciar e casar novamente. Isto é algo muito solene. Quando pensamos que o relacionamento matrimonial é uma figura de Cristo e da Igreja; que a mulher em sua posição representa a Igreja, e que o marido em sua posição representa Cristo, o Noivo da Igreja, isto traz à tona a real responsabilidade. E é este o padrão que nos é apresentado nas Escrituras. “Vós, maridos, amai vossas mulheres como também Cristo amou a Igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela” (Ef 5:25).
Temos assim o que Deus colocou. Mas quando você conversa com as pessoas, descobre que elas têm todos os tipos de opiniões, e que estas mudam. Escutei até mesmo um cristão dizer certa vez: “Ora, eu não poderia continuar vivendo com tal pessoa se ela não me amasse”. Ao invés de reconhecer que há um modo de se superar o problema, até mesmo onde exista falta de amor, tal era a atitude dessa pessoa. Mas não está em conformidade com as Escrituras. As Escrituras dizem que foi assumida uma responsabilidade, e trata-se de uma solene responsabilidade diante de Deus. Estou mencionando isto porque creio que todas estas coisas são o meio onde o inimigo age para tentar e destruir o padrão divino – o padrão que Deus estabeleceu em Sua preciosa Palavra. Sigamos em conformidade com o que Deus colocou em Sua Palavra e haverá bênção em fazermos assim. Quando pensamos na espécie de Igreja que Cristo amou; quão maravilhosa é Sua graça para conosco! Será que nós sempre O amamos como deveríamos? Sempre correspondemos aos Seus direitos sobre nós como deveríamos? E ainda assim, acaso Ele parou de nos amar? Não! Ele é sempre o mesmo. Por isso diz, “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:21). Portanto isto coloca diante de nós a responsabilidade do matrimônio.
Agora vamos abrir em 1 Coríntios 11:3-5: “Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o varão, e o varão é a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo. Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada”. Esta é outra coisa que vemos estar mudando na sociedade. Há uma completa inversão na idéia do lugar que Deus quis que o homem ocupasse, e que Ele desejou que a mulher ocupasse. Já foi dito que se eu, como homem, decido que vou ser cabeça, tenho tanto direito a isso quanto minha mulher. Mas se Deus me coloca em uma tal posição, então eu tenho a responsabilidade. E aí está a diferença. As pessoas deixam a Bíblia de lado e perguntam: Que direito tem o homem a mais do que a mulher para ocupar tal lugar? Todavia não foi o homem quem escolheu ocupar esse lugar; foi Deus Quem ordenou assim.
Por isso digo aos homens: Trata-se de uma tremenda responsabilidade ocupar o lugar que Deus deu ao homem; assumir aquela liderança em amor, bondade e compreensão. Não quer dizer que ele não deva aceitar qualquer conselho vindo de sua esposa. Numa certa ocasião o Senhor disse a Abraão: “Em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz” (Gn 21:12). Às vezes é muito importante que escutemos o conselho da companheira que Deus nos deu; pois a companheira não é inferior. Mas Deus sabia que o homem nunca conseguiria ocupar o lugar de liderança sozinho, portanto fez-lhe uma auxiliadora. Não uma que fosse inferior; mas uma que poderia compartilhar com ele em tudo e ajudá-lo a ocupar o lugar que Deus dera a ele. Quão belo é isto. Qualquer homem que já tenha experimentado isso em seu lar está apto a dizer: Sempre que dependo da ajuda que minha esposa me dá, sinto a responsabilidade da liderança em piedade. Vemos que Deus planejou para que fosse assim.
Do mesmo modo, se a mulher não estiver ocupando seu lugar no lar, o homem não poderá fazê-lo. Ela pode sair e talvez encontrar um lugar no mundo dos negócios, mas o homem é incapaz de ocupar o lugar que ela deixou vago. É por esta razão que Isaías 3:12 diz: “Os opressores do Meu povo são crianças, e mulheres estão à testa do seu governo. Ah! Povo meu! Os que te guiam te enganam, e destroem o caminho das tuas veredas”. Uma vez que a ordem de Deus seja deixada de lado, o lar desmorona e as crianças crescem para ser exatamente o que diz: “opressores”; pois elas não têm, no lar, a liderança apropriada que Deus planejou que os pais proporcionassem. Assim vemos a maneira como o homem procura mudar as coisas que Deus estabeleceu; mas tanto eu como você devemos voltar aos primeiros princípios que Deus estabeleceu. Permita-me dizer, em amor, aos meninos e meninas: Escutem o que Deus disse e assumam a responsabilidade que Deus deu a vocês como homens, e a responsabilidade que Ele deu à esposa como auxiliadora. Quão belo é quando isto é levado adiante segundo a ordem dada por Deus; que felicidade haverá. Deus não formou Eva a partir da cabeça de Adão, ou de seus pés, mas do seu lado; para ser de apoio e auxílio a ele. Que ordem feliz esta que Deus estabeleceu!
Estou dizendo estas coisas porque neste mundo que muda a cada dia não percebemos o quanto, do que o mundo faz e diz, que nos afeta a ponto de nos fazer descuidados em seguir as instruções da Palavra de Deus na assembléia. Não nos preocupamos em reconhecer o quão sério é o divórcio e o quanto Deus diz que o detesta (Ml 2:16). E enquanto assistimos ao desmoronamento dessa ordem que Deus planejou – toda a felicidade e gozo que Deus planejou quando o marido e a esposa estão em seu relacionamento correto e feliz – o quanto tudo isso é corrompido. Oh, irmãos, temos o Livro de Deus; temos Aquele que não muda!
Vamos abrir em Efésios 6:1-3. “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a Terra.” Aqui, quando Deus fala de se honrar o pai e a mãe, Ele diz que “é o primeiro mandamento com promessa”. Em outras palavras, Ele volta ao princípio para demonstrar que estabeleceu algo associado com este parentesco. Talvez você já tenha notado que no livro de Provérbios os sete primeiros capítulos giram todos em torno do pai e da mãe instruindo sua família. Leia aqueles capítulos para seu proveito e verá que cada um deles começa com “Filho meu”, ou “guarda o mandamento de teu pai”. Este é o grande plano que Deus tinha para a instrução dos filhos no lar.
E vemos também que os filhos deveriam honrar o pai e a mãe. Sendo um pouco mais velho do que alguns que estão aqui, posso dizer que nunca vi a bênção de Deus sobre filhos que não honram seu pai e sua mãe. Creio que quando você encontra filhos que honram seu pai e sua mãe, tais filhos entram na posse dessa bênção especial de que Deus fala. Quero dizer a vocês, queridos jovens, que fui um pai muito imperfeito. Talvez outros pais venham a dizer o mesmo, que nem sempre foram os pais que deveriam ter sido; todavia, creio que Deus ainda assim quer que vocês os honrem. Talvez chegue o dia (se o Senhor não voltar antes) quando vocês também serão pais ou mães imperfeitos. Mas é importante que reconheçamos que Deus estabeleceu uma ordem. Portanto quero apenas dizer a todos vocês, crianças e jovens, que nunca falem mal de seus pais. Eles podem não ser perfeitos; eles podem cometer erros; mas vocês devem honrá-los sempre.
“Honra a teu pai e a tua mãe” (Êx 20:12). Ainda que vocês não estejam mais sob a autoridade deles, após vocês terem se casado, ainda assim devem honrá-los. Eles ainda permanecem no lugar que Deus os colocou. Em outras palavras, Deus estabeleceu algo neste mundo, algo que não deve mudar à medida que o tempo muda. Quando os homens alteram todas essas coisas, eles acabam arruinando aquilo que Deus planejou para o homem.
Romanos 1:25: “Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém”. Não precisamos ler todos os versículos deste capítulo, pois estou certo de que muitos de nós que leram estes versículos entendem que se trata de uma figura do que se estabeleceu no paganismo quando abandonaram a revelação que Deus havia dado ao homem, e mudaram todas as coisas. Ali diz que “mudaram a verdade de Deus em mentira”. A Bíblia nos mostra que o homem é um ser trino: espírito, alma e corpo. Já foi dito que deveríamos sempre tomar as decisões em nossas vidas nesta ordem. O espírito, que é a parte que temos em nós que é inteligente e consciente de Deus; a alma, que é a lugar dos apetites e desejos; e o corpo que é a parte física.
Sempre que você tiver que tomar qualquer decisão, como acerca do tipo de trabalho que deve assumir, coloque-se sempre diante do Senhor e consulte a Ele. Então faça o que tem que fazer de modo consciente, como quem vê o futuro, pois pode acontecer de você envolver-se em algo que não lhe faça feliz, ou em um lugar onde você seria incapaz de honrar plenamente o Senhor. Reflita sobre a questão e coloque-se diante do Senhor; ore sobre isso, e busque a Sua Palavra. Você não irá querer colocar-se em algum jugo desigual ou se envolver com algo que desonre o Senhor. Portanto primeiro vem o espírito. Depois a alma. Você diz: “Ora, mas eu gosto disso!” O Senhor Jesus diria: “Deleito-me em fazer a Tua vontade, ó Deus meu” (Sl 40:8). Você descobrirá que, se estiver no caminho que é da vontade do Senhor, irá gostar dele, pois o Senhor não irá colocá-lo em algo em que não possa se deleitar, se estiver no caminho da Sua vontade. Então, por último, vem a parte física. Os homens invertem a ordem; eles geralmente dizem, corpo, alma e espírito. Tudo em seu pensamento é planejado na direção exatamente oposta ao caminho que Deus queria que fosse.
No primeiro capítulo de Romanos vemos que Deus abandonou o homem. Ele o abandonou no que dizia respeito ao seu espírito, e, como resultado, o ser humano adorou os ídolos; Ele o abandonou quanto à sua alma, e todos os horríveis desejos se revelaram nas mais variadas formas de concupiscências; e então seus corpos sofreram porque seus corpos ficaram entregues; todo o seu ser foi abandonado porque “mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador” (Rm 1:25). É o que está ocorrendo hoje.
Portanto, quando estivermos tomando decisões, seja no que diz respeito ao lugar onde você vai morar, ou ao companheiro ou companheira que deve escolher, ou ao tipo de profissão que deve exercer; sempre pergunte, antes de qualquer outra coisa: Será que posso honrar o Senhor nisso? Será que posso conceder a Ele o Seu devido lugar? Estarei me envolvendo em algo que não esteja em conformidade com a Sua Palavra? Então, se achar que Ele dirige você nisso, sua alma poderá dizer: Gosto disso porque creio que é onde o Senhor me quer; creio que é a Sua vontade para mim. Então o seu corpo irá levar você até lá. Mas o homem não quis saber do plano de Deus. Ele mudou a verdade de Deus em uma mentira, e adorou e serviu a criatura mais do que o Criador. É o que está se manifestando hoje em dia, conhecido como “humanismo”, para substituir a sabedoria e direção da Palavra de Deus.
Agora, ao terminar, vamos abrir em alguns versículos:
“E dos filhos de Issacar, destros na ciência dos tempos, para saberem o que Israel devia fazer, duzentos de seus chefes, e todos os seus irmãos seguiam a sua palavra.” (1 Cr 12:32).
“Porque, na verdade, tendo Davi no seu tempo servido conforme a vontade de Deus, dormiu, e foi posto junto de seus pais e viu a corrupção.” (At 13:36).
“Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque nunca com sabedoria isto perguntarias.” (Ec 7:10).
“Ora o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade. Mas todos nós, com cara descoberta refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” (2 Co 3:17-18).
Talvez encontremos aqui a atitude que deveríamos ter em uma época como a nossa. O versículo em Eclesiastes nos diz para não perguntarmos por quê os dias passados eram melhores. Podemos perder um bom tempo dizendo “Gostaria que as coisas fossem como eram há cinco anos atrás, ou dez…” Em lugar disso podemos dizer: “O Senhor vai me dar graça, se buscá-Lo, para encontrar o caminho que agrade a Ele e para viver para agradá-Lo neste ano e no próximo”. Devemos insistir nisto, irmãos; temos que viver nesta geração. E o Senhor é capaz de dar-nos graça para servirmos neste tempo “conforme a vontade de Deus”. Creio que isso é extremamente necessário para nós. Não podemos mudar as condições deste mundo; e podemos não ser capazes de mudar muitas outras coisas que gostaríamos de ver diferentes. Talvez nosso emprego esteja sendo uma provação; talvez a situação no lar não esteja muito fácil; talvez a escola onde você estude seja muito difícil; e talvez possam existir provações na assembléia. Mas quero assegurar-lhe de que este maravilhoso Amigo de Quem falamos no princípio é suficiente para você. “Tal é o meu Amado, e tal o meu Amigo”. Ele pode encher sua vida de paz e gozo em meio a um mundo cheio de inquietação e incerteza, e que muda constantemente. Ele tem um modo de você viver e servir em seu tempo. Gosto desta palavra “servir”; “Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si” (Rm 14:7). Se você procurar viver para satisfazer o Senhor Jesus, você vai servir no seu tempo; pois outros vão perceber e ver em você uma pessoa que encontrou vitória em uma época quando tudo parece estar se despedaçando.
Havia uma característica muito interessante naqueles homens de Issacar: Se tivéssemos tempo para ler o capítulo todo, veríamos que ele fala de homens de diferentes tribos que vieram fazer Davi rei. Em cada uma das tribos, exceto uma, é mencionado um certo número de pessoas que vieram. (Espero que estejamos dando ao verdadeiro Davi, o Senhor Jesus, a supremacia em nossa vida.) É algo bem interessante de se ver que apenas de uma das doze tribos não é mencionado quantos eram: da tribo de Issacar. E naquela tribo havia homens que tinham entendimento (duzentos ao todo), para saber o que Israel devia fazer; “e todos os seus irmãos seguiam a sua palavra.” Permitam-me que transmita uma palavra àqueles dentre nós que estão ficando mais velhos. Que o Senhor nos ajude a termos entendimento acerca dos tempos em que vivemos. Creio que os jovens irão nos escutar se sentirem que nós entendemos. Há duas coisas que o coração humano deseja ardentemente: compreensão e amor. Se você fala a alguém e, após alguns minutos, percebe que não entende o que você está dizendo, você se sente frustrado e, talvez, não diga mais nada. Mas se você sente que aquela pessoa ama você e que entende a sua situação, então, talvez, você a escute; talvez ela possa lhe ajudar.
Que o Senhor possa dar àqueles dentre nós que estão ficando mais velhos mais dessa compreensão e desse amor! Creio que assim poderemos ser um auxílio. Já foi dito várias vezes, nestas reuniões, que nossos queridos jovens estão em uma geração e em uma situação da qual alguns de nós, que somos mais velhos, pouco sabemos a respeito. Mas deveríamos ter compreensão e amor. Aqui, na tribo de Issacar, lemos que esses cabeças do povo tinham este tipo de compreensão, e que “todos os seus irmãos seguiam a sua palavra.” Eles não estavam olhando para trás e dizendo, “Oh, já não é mais como quando eu era jovem…” Eles não estavam indagando o por quê de os dias passados terem sido melhores. Eles estavam procurando encorajar aqueles que viviam no mesmo tempo em que eles estavam vivendo, quando as coisas estavam em um estado de confusão e dificuldade em Israel.
E qual é o remédio definitivo para nós? Irmãos, é termos nossos olhos postos no Senhor Jesus. Não podemos alterar a situação; mas acaso não é bela a passagem em 2 Coríntios, que diz: “Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”? O Senhor não muda. O mundo tem mudado; mas por termos, às vezes, alguma parte do mundo se esfregando em nós, precisamos ser transformados mais à Sua imagem. Ele é Aquele que não muda. E como podemos ser transformados assim? Oh, pela ocupação com o Senhor Jesus, esse maravilhoso Salvador, esse maravilhoso Amigo. “Tal é o meu Amado, e tal o meu Amigo!” Se você O conhece como seu Salvador, Ele pode fazer por você o que tem feito por outros.
Em um mundo onde existe tanta mudança temos a Palavra de Deus que auxilia, que instrui, aquelas coisas firmes que Deus estabeleceu, de modo a podermos seguir em paz, tendo a divina direção que provém da mesma Pessoa cujo nome é “Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz” (Is 9:6). Possamos nos voltar para Ele e ter nossos olhos fixos nEle. O resultado será uma transformação em nós que nos fará um pouco mais como Aquele que não muda.
“The Friend And The Things That Never Change”; palestra a cristãos em La Mirada, CA, 29/12/85.
Gordon Hayhoe