“Naamã, chefe do exército do rei da Síria, era um grande homem diante do seu senhor, e de muito respeito; porque por ele o Senhor dera livramento aos siros: e era este varão homem valoroso porém leproso.” (2 Rs. 5:1)
Quanto vale, afinal, a grandeza nas coisas deste mundo? Um homem pode se tornar bem famoso; pode prosperar nos negócios até superar quem quer que seja, ou pode escalar o mais alto pináculo de honra da grandeza política ou militar. Naamã era tudo isso, mas ele era leproso. Assim também, o homem, não importa qual posição ocupe neste mundo, é um pecador. Ah! isto estraga tudo; torna amargo todo e qualquer cálice deste mundo.
A lepra era incurável. Uma vez que contaminasse alguém, tal pessoa se tornaria imunda — inchada, coberta de crostas e feridas — uma asquerosa figura da condição do homem: perdido e arruinado ao extremo por causa do pecado. E o que é pior no que se refere ao pecado, como também o era no caso do leproso, o homem descobre que qualquer esforço para curar a si próprio é em vão. O temido veneno se alastra. Oh! quão repugnante é o pecado! Querido leitor, talvez há muito tempo que você espera melhorar, mas será que não ficou cada vez pior? Nenhum médico da Síria podia curar a lepra. Neste mundo não se pode encontrar um só remédio eficaz contra o pecado. Procure por todo o globo terrestre e verá que o homem não inventou a cura para o pecado. O mundo inteiro é um grande leprosário.
Deus escolheu as coisas fracas deste mundo. Uma pequena serva cativa torna-se a mensageira de Deus para aquele poderoso militar Sírio. Ela diz, “Oxalá que o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria: ele o restauraria da sua lepra”. E eu posso dizer a você, querido leitor, “Oxalá que você estivesse aos pés de Jesus. Ele o limparia de seus pecados”.
O Rei de Israel não tinha a fé que esta pequena serva demonstrava ter. Ele pensava que os Sírios buscavam um pretexto para guerrear. Ele, pensando acerca de si próprio, disse, “Sou eu Deus, para matar e para vivificar?”.
“Sucedeu porém que, ouvindo Eliseu, homem de Deus”, ele mandou avisar o leproso para que viesse ter com ele. “Veio, pois, Naamã”. E tal qual era o homem, assim era a sua vinda! Trazia presentes, cavalos e carruagens! E ficou esperando na porta, mas Eliseu não aceitou qualquer um de seus presentes. A salvação de Deus não está à venda. Eliseu enviou um mensageiro dizendo, “Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne te tornará, e ficarás purificado”. Eliseu nem sequer saiu para falar com Naamã; tão somente enviou um mensageiro. Deve ser pela fé, e não por vista ou por sinais. Deus dá tão somente a Sua Palavra. Aquele que crê é salvo.
O rio Jordão era um tipo ou figura da morte. A arca da aliança havia permanecido em seu meio, enquanto todo o Israel passou a pés enxutos pelo seu leito seco, entrando na terra de Canaã. Trata-se de uma das mais surpreendentes ilustrações de Jesus tomando o nosso lugar no rio da morte. Não havia cura para este grande homem leproso, a não ser que mergulhasse sete vezes no rio da morte. Não há um meio sequer, em todo o universo, pelo qual um pecador possa ser limpo, a não ser pela morte de Jesus. Somente o Seu sangue nos limpa de todo pecado.
Como era de se esperar, isto fez com que o leproso ficasse profundamente indignado, o que nada mais é do que a indignação do coração humano contra o modo que Deus estabeleceu para limpar o pecado. “Com toda a certeza”, deve ter pensado o leproso, “Deus irá fazer algo grandioso para mim ou em mim, para que eu seja salvo”. “Mas, mergulhar no Jordão… sepultar-me em um rio de morte; que coisa mais desprezível!”
Além do mais, “não são porventura Abana e Farfar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles, e ficar purificado?” E ele se foi indignado. Assim acontece ainda hoje, quando o pobre leproso pecador diz, “Não são as doutrinas da minha igreja muito melhores do que a salvação somente pela morte de Cristo? Minha igreja me diz para jejuar; para manter os votos de minha profissão de fé; em suma, para guardar todas as ordenanças de minha igreja. Não é muito melhor me lavar nesses rios de minha própria religião do que simplesmente crer em Deus no que se refere à morte de Cristo?”
Está bem, se você quer assim, então tente! Lave-se, lave-se, lave-se; e me mostre alguém, dos milhões que têm se lavado nos rios das religiões humanas, que esteja limpo do pecado. Mostre-me alguém que tenha certeza de que seus pecados estejam perdoados em virtude de todos os seus jejuns, orações e obediência às ordenanças. Não, não existe um sequer que, lavando-se nos velhos rios humanos, já tenha, ou possa algum dia ter, a certeza de que está salvo. Os servos de Naamã lhe disseram, “Meu pai, se o profeta te dissera alguma grande cousa, porventura não a farias? Quanto mais, dizendo-te ele: Lava-te, e ficarás purificado”. Todas as nações são testemunhas do que um homem poderá fazer (se o fato de se fazer algo adiantasse) para se ver limpo do pecado.
“Então desceu, e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus: e a sua carne tornou, como a carne dum menino, e ficou purificado”.
Com que magnificência, com toda a certeza, nos é exibida aqui a morte e a ressurreição, as duas grandes lições de Deus. A morte de Cristo: o fim do pecado; a ressurreição de Cristo: o início de uma existência totalmente nova. O velho leproso desce à morte; sepultado com Cristo. Surge o novo homem em todo o frescor de uma criança recém-nascida. Oh! quão imaculadamente limpa é esta nova criação! “E ficou purificado.” Esta é a maneira de Deus limpar. “No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis” (Cl. 1:22). Jesus desceu até à morte. Todo aquele que crê está morto com Ele, sepultado com Ele, ressuscitado com Ele, perfeito nEle, sem mancha ou ruga ou qualquer coisa do gênero (Rm. 6; Ef. 5). Oh! conhecer o poder da ressurreição; sendo feito conforme à Sua morte! Abandonar o velho e pobre “eu” leproso no Jordão. Ah! o velho leproso tem que submergir!
Com frequência, quando pensamos que já estamos conscientes da morte do “eu” na cruz, vemos que ele precisa de um pouco de submersão. Ah! você ainda continua ocupado com o velho leproso, perdendo o seu tempo com suas feias crostas e supuradas feridas? Livre-se do leproso; afunde-o, afunde-o no Jordão. Só no fundo, bem no fundo, num lugar de morte, é que existe um lugar apropriado para o “eu”. O único lugar para as suas justiças e para as suas injustiças é a sepultura de Cristo. Desvie o seu olhar do velho leproso para o Cristo ressuscitado. Se, por um lado, Adão estava cheio do veneno do pecado, por outro lado Deus fez com que Cristo se tornasse para nós sabedoria, santificação, justiça e redenção. Não existe qualquer mancha de lepra no Cristo ressuscitado. E “qual ele é, somos nós também neste mundo” (1 Jo. 4:17). Aperfeiçoados para sempre. Limpos de toda mancha.
Oh! querido leitor, você aprendeu esta tremenda lição? Você já mergulhou na morte? Está você ressuscitado com Cristo? Então se ocupe com as coisas que são do alto. Toda velha mancha do leproso pecado já se foi. “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isto provém de Deus” (2 Co. 5:17).
Charles Stanley