As palavras do título implicam que deve haver algum tipo de contentamento sem piedade, onde, evidentemente, deve haver algum ganho. O que é piedade? “Aquele que Se manifestou em carne” (1Tm 3:16). A verdadeira piedade é a semelhança com Deus, como no versículo citado e também em Efésios 5:1.
Os cristãos devem ser seguidores (literalmente, imitadores) de Deus – devem ser semelhantes a Deus, ou seja, piedosos. Devem estar sempre abandonando-se a si mesmos a Deus em favor do próximo, como Cristo fez na cruz, exceto, evidentemente, naquilo que somente Cristo poderia fazer: a expiação. Mas nossa piedade, nosso andar em amor não é para ter um padrão mais baixo do que este. O Espírito Santo, também, em 1 João 4:16 ensina o mesmo padrão no tocante aos cristãos amarem-se uns aos outros.
Então, “é grande ganho a piedade com contentamento” (1Tm 6:6). A piedade não somente tem “a promessa da vida presente”, mas também “da que há de vir” (1Tm 4:8), e ambas são “ganho”. Portanto, “é grande ganho a piedade com contentamento” (1Tm 6:6). Onde não existir este “contentamento”, o coração não estará satisfeito – não estará descansando no gozo da comunhão com o Pai e com o Filho.
Avareza
Satanás conhece bem este assunto, e tenta nos roubar desse gozo incitando-nos à avareza. Por esta razão somos exortados em Hebreus 13:5: “Sejam os vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque Ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei”. E ainda em 1 Timóteo 6:7: “Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele”.
Mas com que é que devo ficar contente? Comida e vestimenta. Escute, também, o que nosso Senhor ensina quanto a isto em Lucas 12, e o que devemos considerar! Devemos considerar os corvos e os lírios, e como Deus alimenta uns e veste os outros (vs.22-30).
O que é avareza? Nas Escrituras há diferentes palavras gregas que são traduzidas por “avareza”. Em Lucas 12:15-20 significa a “avidez de possuir”. Em 1 Coríntios 5 é dito que devem ser tirados não apenas o devasso, ou beberrão, ou maldizente, por serem maus, mas também alguém ávido de possuir – o avarento. Será que tudo isso não nos mostra quão odiosa é para Deus a avidez de possuir? É idolatria (Cl 3:5). E como isto rouba a Deus o lugar que Lhe é devido! Priva a alma do grande ganho da piedade com contentamento, e do gozo do Pai, que age como tal para com aqueles que estejam separados de qualquer jugo desigual com incrédulos! Um poema me vem à mente para ilustrar o que escrevi acima, e quero compartilhá-lo com você:
Ouviu-se Num Pomar
Escutei o Pintassilgo ao Pardal dizer, “Qual a razão, gostaria de saber, De os seres humanos, sempre tão preocupados, Correrem tanto de um ao outro lado”.
Respondeu, então, ao Pintassilgo, o Pardal, “Amigo, acho que sei a resposta para tal, É porque não têm um Pai tão bom assim, Como o Deus que cuida de você e de mim!”
Sabemos que o Pardal estava errado. Os seres humanos também têm um Pai celestial, mas não confiam em Seu todo-poderoso amor e cuidado para com eles, e por isso correm “tanto de um ao outro lado”.
A avidez de possuir não somente produz inquietação e preocupação da alma, mas também impede a sossegada e feliz comunhão com o Pai e com o Filho. Perde-se o gozo e não há forças, nem para a adoração e nem para o serviço, exceto, talvez, numa forma legalista. E o cristão torna-se desanimado e frio e mostra poucos sinais de vida. Fica cada vez mais difícil vê-lo abrindo a boca, tanto nas reuniões de adoração como nas de oração, dirigindo-se a Deus Pai ou ao Filho. E, no entanto, o Filho diz: “Faze-Me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce e a tua face aprazível” (Ct 2:14).
Se o cristão segue adiante permitindo esse espírito de avidez de possuir, Deus nos diz que tais pessoas “caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína… Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão. Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna” (1Tm 6:9-12).
Acaso isso tudo não requer poder, isto é, vigor espiritual? Certamente, e este é encontrado nAquele que ressuscitou e subiu ao céu, ao Qual estamos unidos, no Qual fomos aceitos, e ao Qual pertencemos. Pois toda a plenitude de Deus habita nEle, e Sua graça nos basta. Seu poder se aperfeiçoa na fraqueza, portanto não devemos nos desculpar, e nem sermos desencorajados. Nós, que esperamos nEle, tudo podemos nAquele que nos fortalece. Assim como o homem ama a si mesmo, Ele nos ama como parte de Si mesmo.
Em Lucas 12, nosso bendito Senhor nos diz: se somos levados à ansiedade quanto a prover as coisas necessárias para nós mesmos ou para nossa família, não fiquemos ansiosos acerca dessas coisas. E em Mateus, quando falava os Seus no sermão do monte, Ele nos diz para buscarmos primeiro as coisas de Deus – o reino. Então tudo o que for necessário, tudo aquilo com que temos que ficar satisfeitos, tudo o que os corvos e os lírios recebem dEle, nos será dado. Essa preciosa expressão de Seu amoroso cuidado para conosco vem para nos encorajar, pois “vosso Pai sabe que haveis mister delas” (Lc 12:30).
Que possamos considerar estas coisas e que o Senhor possa dar-nos entendimento em tudo isto. Seu amor por nós é grande, gracioso e imutável, como foi demonstrado na cruz e continua a ser derramado para nós, vindo de Seu trono nas alturas. Possa este amor constranger nossos corações ao ponto de colocarmos as coisas de Deus e de Cristo em primeiro lugar. Não vivamos para nós mesmos, mas para Aquele que morreu por nós e ressuscitou, e desfrutemos do grande ganho que é a piedade com contentamento.
J.B.Dunlop