Prefácio
Caros Amigos,
Essas histórias são todas verdadeiras. Elas são sobre pessoas reais, muitas das quais estão agora com o Senhor, aguardando o dia glorioso em que seremos arrebatados para estar para sempre com Ele!
Os Incas bolivianos era um povo muito negligenciado por seu próprio governo. Quando o Missionário chegou pela primeira vez entre eles, não havia hospitais ou escolas para atendê-los. Ele foi capaz de iniciar várias escolas e muitos dos meninos destas escolas receberam certificados de professor e agora exercem esta profissão.
Desde os primeiros dias do trabalho do Missionário entre os Incas, o governo assumiu o controle de todas as escolas, permitindo que meninos com certificados de professor continuassem ensinando nas escolas. Quão grato o Missionário tem sido por eles também terem recebido permissão para continuar com os quinze minutos de oração e estudo da Bíblia todas as manhãs!
O filho mais velho de Demétrio, cuja história está incluída nessas memórias, é diretor de uma das escolas. O genro de Lino Bueno, cuja história também está incluída, também é diretor. Ambos são salvos e estão reunidos somente ao nome do Senhor, e tentam servi-Lo de alguma maneira. Lino Bueno escreveu recentemente: “Não sou capaz de escrever muito, meus olhos já estão falhando e minha esposa e eu estamos prontos para partir para estar com Cristo. Ela está muito fraca, mas feliz no Senhor“.
É maravilhoso ver esses queridos índios reunidos ao precioso Nome do Senhor Jesus Cristo e saber que lá na Bolívia Ele está no meio, assim como está conosco aqui. O conhecimento que eles têm das Escrituras é impressionante, mostrando verdadeiramente que “de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17:11). Muitos dos irmãos nativos têm sido os meios de levar outros a Cristo e ajudá-los a ver seus lugares à mesa do Senhor, “fora do arraial” (Hb 13:13) e “longe do arraial” (Êx 33:7).
O Missionário não pode mais visitá-los por causa de sua idade e saúde, mas o Senhor graciosamente levantou jovens fiéis para continuar com a obra para Ele na Bolívia.
Confiamos que você apreciará essas histórias, escritas para mostrar como Deus em Seu amor ainda está trabalhando e salvando almas à Sua maneira graciosa. Nossa oração é para que o falar sobre esses queridos índios Incas seja uma bênção para muitos.
Frances Smith
As Primícias de uma Jornada Missionária
Muitos anos atrás, um jovem que pregava o Evangelho do amor de Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor, em sua própria cidade natal na Nova Zelândia, se sentiu guiado pelo Senhor a levar a mesma mensagem evangelística maravilhosa aos índios Incas da Bolívia. Ele contou a seus pais e amigos sobre o seu desejo de servir ao Senhor na Bolívia e foi enviado com as bênçãos de seus pais e irmãos com quem estava congregado naquele momento.
Saindo da Nova Zelândia em outubro de 1920, viajou de navio, o único meio de transporte para a Bolívia, chegando lá em julho de 1921. Devido a uma greve de navios que proibiu todos os navios de saírem de Los Angeles, o jovem Missionário fez a última viagem da jornada em um cargueiro japonês chamado ‘Haya Maru’.
Ser o único homem branco a bordo do Haya Maru foi uma experiência e tanto, mas o Senhor tinha Seus planos e um dos oficiais foi brilhantemente salvo. Esse oficial sabia falar inglês e, assim, o jovem Missionário foi capaz de, eventualmente, levá-lo a Cristo lendo Isaías 53 com ele e o mostrando sua necessidade de salvação. Mas já estamos à frente da nossa história!
O jovem oficial japonês conhecia uma brilhante jovem Cristã em Tóquio e realmente a amava. Além disso, ele pediu que ela se casasse com ele, mas sua resposta foi:
— Nunca! Você é pagão, xintoísta e eu pertenço a Cristo, então é melhor procurar uma noiva em outro lugar.
O oficial costumava falar com o Missionário sobre esta jovem. De fato, as conversas a bordo costumavam ser a respeito de seu amor por ela e porque ela se recusava a se casar com ele. O Missionário o mostrou na Palavra de Deus por que ela havia recusado. À medida que o Missionário diariamente o apresentava a Palavra de Deus, aos poucos o jovem oficial começou a se interessar.
Ele frequentemente convidava o Missionário para sua cabine para conversar sobre esses assuntos. O Missionário podia entender claramente por que esse homem foi rejeitado pela jovem Cristã. Em sua mesa havia charutos e cartas, nas paredes havia quadros obscenos e em uma prateleira em um canto de sua cabine havia garrafas de rum e uísque. Essas coisas eram angustiantes para o servo do Senhor, mas ele nunca comentou nada sobre elas, nem permitiu que o oficial soubesse que as havia notado. Em vez disso, orava muito sobre isso. Ele achava que era seu trabalho guiar o oficial a Cristo primeiro, por isso persistiu dia após dia, trazendo diante dele sua necessidade de aceitar a Cristo como seu Salvador e de nascer de novo.
No final da quarta semana, por volta das duas e meia da madrugada, o Missionário se assustou com uma forte batida na porta de sua cabine. Sentando-se na cama, ele disse:
— Quem é?
Era o oficial japonês e ele respondeu:
— Não se assuste, sou apenas eu. Estou aqui para pedir que venha imediatamente à minha cabine.
Pensando no que poderia ter motivado esse pedido de madrugada, o jovem Missionário se vestiu às pressas e foi conduzido à sala dos oficiais. Ele notou imediatamente uma diferença em sua sala, pois não havia cartas e charutos em cima da mesa, nenhuma imagem obscena nas paredes e nenhuma garrafa de licor na prateleira do canto, porém ele não disse nada. Ele também notou que o jovem oficial parecia mudado e perguntou gentilmente:
— O que aconteceu?
O jovem japonês sorriu e disse:
— Acordei às duas da manhã e pensei nas coisas sobre as quais estávamos conversando. Você sabia que fiquei tão convencido que não era apenas um pecador, mas que era um pecador perdido, que saí da cama e aceitei a Cristo como meu Salvador? Foi por isso que chamei você a essa hora, para informá-lo da minha decisão. Eu sabia que você ficaria feliz.
Ele e o Missionário se ajoelharam e louvaram a Deus por tal decisão e por Seu amor e graça.
Levantando-se da oração, o Missionário perguntou ao oficial:
— O que aconteceu com as imagens obscenas, o tabaco, os charutos e o uísque?
Sua resposta foi maravilhosa! Ele disse:
— Sabe, quando me levantei depois de me ajoelhar, logo após aceitar o Senhor Jesus como meu Salvador, olhei para essas coisas mundanas e não pude sequer suportar vê-las. Rasguei as fotos, peguei as garrafas, charutos e tabaco e joguei tudo no Oceano Pacífico!
Com alegria, o jovem Missionário o perguntou:
— Quem lhe disse para fazer isso?
— Eu não sei exatamente — ele respondeu — mas algo (ou Alguém) dentro de mim me disse para me livrar delas para sempre!
O Missionário sorriu alegremente e citou 2 Coríntios 5:17:
— “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”.
Os dias de feliz comunhão passaram muito rapidamente e um dia o navio atracou em um porto chamado Arica, no Peru. Ali, o jovem oficial e o Missionário disseram “adeus” e se separaram até que se encontrem em glória na presença de seu Senhor e Salvador.
Cerca de dois anos depois, o Missionário recebeu uma carta de ‘Yoshi’ que dizia:
“Caro senhor,
Você se lembrará de como aceitei a Cristo como meu Salvador pessoal, também das inúmeras vezes que falei de uma bela jovem Cristã e de como ela recusou quando a pedi em casamento, porque eu não era Cristão.
Bem, quando o navio chegou a Tóquio, tive coragem de visitá-la. Ela inicialmente se recusou a me ver, mas, como eu tinha algo de muita importância para lhe dizer, perguntei se ela ouviria graciosamente, o que ela fez. Eu disse a ela que Deus me salvou de uma forma maravilhosa no alto mar da costa do Peru e que agora eu era ‘uma nova criatura em Cristo Jesus’. Ela acreditou em mim ao ver meu modo de andar. Depois de algum tempo, perguntei se ela se casaria comigo e ela respondeu: ‘Claro!’”
Outra carta escrita cerca de dois anos depois informava ao Missionário a felicidade deles e de como o Senhor os havia abençoado com um filho pequeno.
“A mulher virtuosa é a coroa do seu marido” (Pv 12:4).
O Anjo do Senhor
Nosso jovem Missionário foi do porto de Arica à estação ferroviária. Era algo confuso estar andando junto a outros que estavam gritando e conversando, mas sem conseguir entender uma palavra sequer, mesmo que ele tivesse estudado muito espanhol enquanto estava a bordo.
Finalmente ele chegou à estação. Quando o velho trem entrou na estação, ele notou que as rodas eram diferentes das que já havia visto antes. Mais tarde, aprendeu que esse sistema de locomoção era necessário para escalar montanhas muito íngremes.
Outra diferença que ele notou nas viagens de trem na Bolívia foi que o trem fazia paradas frequentes para manutenção. Durante essas paradas, os passageiros podiam descer e comprar frutas, pão, carne, entre outras coisas, de mulheres que estavam sentadas no chão vendendo esses itens.
Após a viagem de trem de dois dias de Arica, ele chegou a La Paz, Bolívia, sentindo-se muito sozinho e cansado. O Senhor lhe permitiu encontrar o quarto de um cavalheiro sobre quem alguém no trem havia lhe contado. Ele estava lá apenas um dia quando ficou gravemente doente com ‘soroche’ ou o que chamamos de ‘doença das montanhas’. Isso foi causado pela altitude de 13.000 pés acima do nível do mar. O cavalheiro em cuja casa ele estava hospedado o aconselhou a ir ao hospital imediatamente e gentilmente se ofereceu para ir até lá com ele.
O médico que o atendeu era americano. Ele o aconselhou a ir para uma altitude mais baixa e depois ir se acostumando com a altitude elevada lentamente. Quando ele percebeu que o jovem não tinha amigos na Bolívia e não tinha como ir a uma altitude mais baixa, o médico disse que ele poderia usar uma pequena cabana que possuía no vale nos arredores de La Paz, se assim o desejasse. O rapaz aceitou com gratidão a gentil oferta do médico, acreditando que verdadeiramente vinha do Senhor.
Antes de dar alta ao Missionário, o médico chamou uma jovem enfermeira americana para lhe dar as doses necessárias para aliviar seu mal-estar causado pela doença. Alguns anos antes, essa jovem enfermeira se ofereceu para deixar sua casa em Nova York para ajudar a abrir um hospital americano na Bolívia e treinar as enfermeiras bolivianas dali. É claro que ela e o médico se interessaram por esse jovem que desejava pregar Cristo a um povo que ele nunca havia visto e cuja língua não podia falar. Ele voltou ao seu quarto louvando ao Senhor por Seu fiel cuidado para com ele e embalou seus pertences.
Ele passou duas semanas tranquilas e pacíficas a sós com o Senhor na pequena cabana do médico, lendo as Escrituras e estudando espanhol. Assim que se sentiu melhor, voltou a La Paz para agradecer ao médico por sua gentileza. O médico fez um exame completo e o aconselhou a ir devagar nas grandes altitudes, porque ele estava tendo algumas dificuldades com o coração. O que foi um bom conselho.
Ao ouvir sobre os índios Incas que trabalhavam nas minas, ele logo comprou uma passagem de trem para Potosi, uma grande cidade mineradora, onde alugou um quarto em uma das ruas principais. Todas as manhãs, ele andava pelas ruas distribuindo folhetos evangelísticos. Às vezes, visitava a conventilla na cidade de Potosi (A ‘conventilla’ é um grande edifício onde muitas famílias vivem).
Naqueles dias, havia muita oposição do povo e de seus líderes religiosos; por isso, sua vida esteve muitas vezes em perigo. Certa manhã, quando ele terminou de distribuir folhetos evangelísticos para muitos na Conventilla, uma multidão de cerca de 200 pessoas o seguiu, gritando alto:
— Matem-no! Livrem-se dele! Mandem embora esse herege!
Eles o seguiram pela rua. Alguns já tinham pegado pedras para jogar nele. Ele continuou orando sinceramente para que o Senhor o protegesse graciosamente como havia prometido “Clama a mim, e responder-te-ei e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes, que não sabes” (Jr 33:3).
Logo à frente deles havia uma pilha de pedras, pronta para serem usadas em algum prédio novo, que ele temia que fosse usada para serem jogadas nele quando chegasse perto. Mas, no momento crítico, um garotinho – um rapaz loiro – atravessou a rua, o abraçou e o olhou com seus olhos azuis amorosos, e o dizia:
— Não tenha medo!
O Missionário ficou tão surpreso ao ver um rapaz de cabelos loiros em uma terra onde todos tinham cabelos pretos. Ele gentilmente acariciou a cabeça do rapaz e falou com ele com amor.
De repente, a multidão parou, cessou de gritar, e ele ouviu alguém dizer:
— Deixe-o em paz; ele deve ser um bom homem. Veja como ele ama aquele amigo.
Deixando cair suas pedras no chão, a multidão se dispersou e ele ficou sozinho com seu amiguinho de cabelos loiros. Logo depois, o rapaz atravessou a rua e o Missionário nunca mais o viu, embora todos os dias fosse a rua para ver se podia vê-lo novamente. Ele chegou à conclusão de que esse era outro exemplo do qual aquela maravilhosa Escritura fala: “O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra” (Sl 34:7).
Ele passou muito tempo estudando espanhol e começou a fazer amizade com crianças e jovens na rua. Em alguns meses, ele foi capaz de pregar o evangelho na praça principal. Muitos se opuseram, mas outros mostraram um interesse real, o que foi um grande incentivo para ele. Ele logo fez amizade com alguns jovens que ouviram a Palavra de Deus. Eles aceitaram a Cristo como seu Salvador e costumavam ir ao seu quarto para ler as Escrituras com ele.
Um pouco mais tarde, com a ajuda de sua família e amigos em casa, ele conseguiu alugar um pequeno salão de reuniões. Também foi capaz de encontrar trabalho ensinando inglês na Universidade de Potosi. Às vezes, ele usava o Evangelho de João como livro para incentivar seus alunos a lerem em inglês. Alguns se interessaram pela Palavra de Deus e vieram à pequena sala de reuniões à noite.
Dois dos jovens iam com ele a todos os lugares e o ajudavam com o espanhol. Então eles começaram a ter Reuniões Especiais, fazendo convites com folhetos evangelísticos para que as pessoas fossem ouvir as Boas Novas da salvação. Dessa maneira, ele foi gradualmente capaz de expandir a esfera de sua obra para o Senhor.
O Senhor Fornece uma Ajudadora
Cerca de dois anos depois, uma jovem americana entrou na sala de reuniões uma noite e sentou-se ao fundo. O jovem Missionário sentiu que já a tinha visto em algum lugar antes, mas a princípio não conseguia se lembrar de onde a conhecia. Subitamente, lembrou-se. Ela era a enfermeira que havia dado as ‘injeções’ quando ele estava doente em La Paz.
Ela vinha todas as noites, mas saía rápido, antes que ele pudesse chegar à porta para cumprimentá-la. Uma noite, ele pediu a um dos irmãos que encerrasse a reunião enquanto descia a porta antes que a reunião terminasse. Ele descobriu que ela havia renunciado à ‘Junta’ que a havia enviado à Bolívia porque a ‘Junta’ dava apenas um período limitado de tempo para servir lá e, por esse motivo, haviam programado para enviá-la de volta aos Estados Unidos. Ao se demitir, ela explicou à ‘Junta’ que havia ido à Bolívia para servir ao Senhor e que tinha aprendido a amar o povo e não desejava voltar. Após sua demissão, foi a Potosi para ensinar na Universidade.
Ela participava das reuniões de pregação do Evangelho toda as vezes que havia uma. Embora ela e o Missionário tivessem um pequeno encontro após a reunião, com outras pessoas presentes, eles nunca andavam juntos pela rua. Não era considerado adequado que um rapaz e uma moça fossem vistos juntos em público. No entanto, o Senhor estava com os olhos neles para trabalharem juntos para Ele entre os índios Incas.
Um ano depois, em agosto de 1924, eles se casaram felizes no Senhor. Conseguiram encontrar um pequeno apartamento em um prédio de dois andares em uma das ruas de paralelepípedos da cidade de Potosi. A seção inferior, ou apartamento, era ocupada por um coronel, sua esposa e quatro filhos. O coronel tornou-se amistoso e ouviu atentamente o que o jovem Missionário disse a ele sobre o evangelho de Cristo. Veremos em outra história que ele mais tarde foi usado pelo Senhor para ajudar o Missionário em um momento de grandes problemas.
“Mas o SENHOR foi o meu alto retiro; e o meu Deus, a rocha em que me refugiei” (Sl 94:22).
Um Prisioneiro do Senhor
Era costume do Missionário pregar o Evangelho todos os dias do Senhor, das 15 às 16 horas, nos degraus da Estátua da Liberdade, na praça principal de Potosi. Ocasionalmente, o coronel parava para ouvir e depois seguia caminho. Um dia, o coronel o chamou de lado para avisá-lo do perigo da violência da parte da polícia se ele não parasse de pregar na praça. (A catedral ficava perto da Estátua da Liberdade e o vigário não estava muito satisfeito com a pregação do Evangelho ali). Ele agradeceu ao coronel por sua preocupação com sua segurança, no entanto, porque a Constituição da Bolívia prescrevia liberdade de culto, ele sentiu que preferiria sofrer perseguição a abrir mão do privilégio de divulgar a história de nosso Senhor Jesus e de Seu amor pelos perdidos.
Certamente! No Dia do Senhor seguinte, a perseguição começou. O Missionário tinha acabado de pregar o evangelho quando um policial apareceu. Empunhando sua espada, ele ordenou ao Missionário:
— Marche!
Ao questionar o oficial sobre onde ele estava sendo levado e por que ele foi preso sem uma ordem judicial, a resposta foi uma ordem mais severa:
— Marche imediatamente!
Ele foi levado para a delegacia e empurrado para dentro da prisão por um dos guardas. Era uma sala fria, sombria e suja, com apenas um pequeno buraco na parede pelo qual alguma luz entrava – sem cama e sem comida.
Mais tarde, observou que nunca esqueceria a experiência. Quando as enormes portas de aço se fecharam atrás dele, ele caiu de joelhos e orou:
— Senhor Jesus, eu não sou um prisioneiro do Estado, mas um prisioneiro Teu. Somente Tu podes libertar Teu servo desta masmorra. Tu livraste Pedro, Tu podes me libertar.
Bem, o Senhor vive! Louvado seja o Seu nome! “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim. Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade” (Lm 3:22-23).
No dia seguinte, ele foi trazido de sua cela para o escritório do chefe de polícia. Imagine sua alegria ao encontrar o coronel esperando por ele ali. Evidentemente, ele sentiu falta do amigo. Além disso, a esposa do Missionário havia lhe dito que o marido não havia voltado para casa durante toda a noite. Ele foi rapidamente para a delegacia e ordenou que tirassem seu amigo da prisão imediatamente. E perguntou o que ele estava fazendo lá. O Missionário calmamente respondeu:
— Senhor, sou prisioneiro do Senhor Jesus Cristo por pregar Sua preciosa Palavra.
Rapidamente, dirigindo-se ao Chefe de Polícia, o coronel perguntou:
— Por que esse homem está preso? O que ele fez?
Tudo o que o Chefe pôde dizer foi:
— Ele é um perversor da paz desta cidade, e o vigário disse que deveria ser expulso para o Uruguai. Além disso, ele é um causador de problemas e se opõe ao governo deste país.
Assumindo a responsabilidade ao Chefe de Polícia, o coronel disse ao jovem Missionário:
— Você, vá direto para sua esposa e eu cuidarei de você.
Isso ele fez fielmente. Ele ordenou que um soldado fosse para casa com ele para protegê-lo e estar presente nas reuniões, a fim de relatar ao coronel qualquer perigo em que ele pensasse que o Missionário estivesse correndo. O Missionário expressou sua profunda gratidão ao comandante do Exército do Sul por seu fiel cuidado para com ele.
Ele correu para casa, em busca de sua querida esposa, que esperava pacientemente e observava ansiosa pela janela, de onde ela observava desde quando ele havia saído dois dias antes. Chorando em seu ombro, ela disse:
— Querido, eu tenho tanto medo que seu inimigo (o vigário) ainda faça algum mal a você.
Ele a confortou dizendo:
— Não se preocupe, querida, continuaremos orando por ele, para que o Senhor o torne humilde e o convença de sua necessidade do Salvador.
Alguém havia dito à esposa que o vigário da catedral foi quem havia pedido que prendesse seu querido esposo. Por quase um ano, eles e alguns dos jovens da reunião oraram pelo vigário e suas orações foram recompensadas, como veremos mais adiante.
Enquanto isso, eclodia uma revolução liderada por esse mesmo vigário. O Presidente foi colocado fora do poder pelo Exército e substituído por outro Presidente. Por isso, o vigário foi nomeado bispo e transferido daquele estado para outro.
O Senhor certamente ouve as orações dos Seus. Dois anos depois, foi publicado em um jornal que o bispo havia abandonado a batina e se tornado um ‘herege’. O que realmente aconteceu foi que o Senhor lhe mostrou misericórdia e o salvou de seus pecados! Isso aconteceu pela leitura do pequeno livreto do Evangelho de João que o Missionário havia distribuído por toda a cidade antes de ser preso. Naquela época, o vigário deve ter destruído todos que conseguiu reunir, exceto um que ele enfiou no bolso para ler mais tarde em particular. O Senhor usou este livreto para salvar sua alma preciosa. Que graça! A perseguição eclodiu contra ele e, finalmente, ele teve que deixar o país.
Quão maravilhosa é a graça de Deus! “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará… Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres” (Jo 8:32, 36).
Resposta à Oração
A pequena reunião em Potosi cresceu e era uma alegria para os jovens missionários. Toda semana havia alguns que confessavam o Senhor como seu Salvador. Apesar desse incentivo, porém, ambos sentiam que não estavam cumprindo o que o Senhor queria para eles quando os enviou à Bolívia para trabalhar entre os índios Incas. Eles desfrutavam muito de sua casa e, no entanto, seus exercícios cresciam sobre onde realmente estava o seu trabalho para o Senhor. Ambos tinham um profundo desejo de adentrar pelas montanhas e vales, pare estarem entre os índios Incas que eram negligenciados pelo governo, para áreas onde não havia escolas ou hospitais.
Um dia, o jovem esposo ficou tão perturbado por causa disso que, andando pela rua sozinho, orou:
— Senhor, eu realmente não posso ir a menos que tenha US $ 500,00! (Quinhentos dólares)
Logo percebeu o erro de orar dessa maneira ao Senhor, pois exigia US $ 500,00 (Quinhentos dólares) para servir ao Senhor. Ao chegar em casa, ele disse à sua esposa:
— Pequei miseravelmente, querida! — e ele contou a ela como havia orado.
Ela tentou confortá-lo e eles se ajoelharam juntos e, então, oraram a respeito disso.
Na manhã seguinte, ele foi como de costume aos correios (O correio estava chegando devagar naquela época, porque houve várias greves em algumas agências dos correios). Uma carta – quase rasgada – o esperava. Em anexo havia um cheque de 100 libras esterlinas (exatamente $ 500,00 em dinheiro americano). Com ele, havia uma pequena nota dizendo: “Sou uma senhora de oitenta e cinco anos e em breve estarei com o Senhor. Venho orando há anos para que alguém vá até os índios Incas. Em anexo, você encontrará 100 libras para iniciar este trabalho para o Senhor”. A carta vinha da Austrália e estava a caminho há mais de três meses! Seus olhos se encheram de lágrimas quando se lembrou: “E será que, antes que clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei” (Is 65:24).
Mal podia esperar para chegar em casa, para compartilhar com sua querida esposa as notícias! Apressando-se para entrar em seu pequeno apartamento, logo disse:
— Querida, em quanto tempo você pode se preparar para irmos aos Incas?
Ela riu e respondeu:
— Agora mesmo, querido. Por quê?
Quão verdadeiras são as palavras do Senhor Jesus em Mateus 18:19: “Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus”. Ajoelhados, ao lado da cama, agradeceram ao Senhor, pedindo Sua orientação em tudo. Este foi um marco importante em suas vidas.
Naquela noite, ele contou ao pequeno grupo no salão de reuniões o que havia acontecido. Dois dos jovens irmãos se ofereceram para acompanhá-lo em sua busca pelo local que o Senhor havia escolhido para a obra. Eles ouviram falar de um lugar onde havia cabanas de índios nos dois lados de um rio a muitos quilômetros ao sul. Ao ouvir sobre isso, o jovem Missionário acreditava que o Senhor os guiaria. Ele sabia que os índios falavam quíchua e poucos deles podiam falar espanhol. Ele não sabia uma palavra em quíchua, mas um dos irmãos que se ofereceu para ir com ele conhecia quíchua razoavelmente bem, então o Senhor preencheu essa necessidade.
No início de 1925, ele deixou sua amada esposa em seu apartamento para realizar os preparativos necessários para estar pronta para acompanhá-lo quando voltasse. Ele começou a pé com seus dois irmãos, caminhando para o sul “pela fé… saiu, sem saber para onde ia” (Hb 11:8). Ao viajarem, pelo caminho puderam distribuir muitos folhetos evangelísticos. Às vezes, quando viam um grupo de pessoas que podiam falar espanhol, paravam e realizavam uma reunião de pregação do evangelho em espanhol.
Todas as noites os dois irmãos cansados perguntavam:
— Irmão, para onde vamos?
Tudo o que ele responder dizer era:
—Vamos continuar indo para o sul. Acredito que o rio esteja ao sul, mas ainda não sei.
No quarto dia, ele também estava muito cansado e um pouco desanimado, mas à tarde chegaram a um rio e, ao olharem a encosta da colina, viram cabanas de índios nas duas margens do rio! Com um suspiro de ação de graças ao Senhor em seu coração, ele parou e, apontando para as cabanas, disse:
—Irmãos, é aqui que o Senhor quer que paremos.
Eles descansaram naquela noite na encosta entre as árvores de espinhos, que são tão comuns na Bolívia até hoje.
No dia seguinte, dirigiram-se a uma das cabanas que haviam visto à distância, orando por orientação. Para sua surpresa, encontraram um velho eslavo morando com uma mulher meio indígena em uma pequena cabana de um só cômodo. A sujeira e a pobreza eram terríveis. Eles descobriram que ele havia chegado à Bolívia muitos anos antes, na esperança de ficar rico nas minas. Mas ele gastou tudo o que tinha e estava vivendo em pobreza absoluta. O Missionário perguntou a ele quem era o dono da propriedade. Ele disse que era sua – ele a comprou muitos anos antes de um dos índios. O Missionário o perguntou se ele gostaria de vendê-la e, se sim, quanto ele aceitaria? A princípio, o homem ficou surpreso demais para responder. Recuperando-se de sua surpresa, ele disse:
— Você realmente quer comprar este lugar?
O Missionário respondeu:
— Sim, quero viver entre esses índios, contar-lhes sobre o Senhor Jesus Cristo e de como Deus os ama e enviou Seu Filho para morrer por eles. E quero lhe dizer que Ele também o ama, senhor, e morreu por você.
O homem não respondeu nada. Então o Missionário disse:
— Quanto você quer por este lugar?
O homem pensou por um tempo e, lentamente, olhando para cima, disse:
— Quinhentos dólares!
O Missionário mal podia acreditar no que ouvia! Ele pensou nos quinhentos dólares que havia convertido em dinheiro boliviano antes de deixar Potosi e que ele carregava com ele. Então ele perguntou:
— Você conhece alguém que pode fazer ou escrever um documento adequado confirmando esta compra e testemunhar o mesmo?
O homem respondeu que não conhecia ninguém que pudesse escrever em espanhol ou quíchua naquele distrito. Levou dois dias até que eles pudessem encontrar alguém que conseguisse escrever um recibo para eles e servirem de testemunha da venda entre os dois.
Isso deu ao Missionário a oportunidade de olhar em volta e descobrir que tipo de pessoas os Incas eram. Ele os amou desde o início, mas percebeu que seria muito difícil se socializar com eles ou conquistar sua confiança de qualquer maneira. Mas seu coração se encheu de alegria ao olhar para esses índios de aparência inteligente, a quem esperava conquistar para seu Senhor e Salvador o mais rápido possível. Ele tentou se aproximar deles e mostrar que era um amigo, porém se afastavam. Eles pareciam surpresos ao olharem para esse homem de rosto pálido e cansado.
Com ação de graças e alegria, ele dobrou cuidadosamente o papel precioso, colocando-o no bolso interno do paletó com cuidado. Na manhã seguinte, iniciaram a caminhada de quatro dias de volta a Potosi, retornando a sua querida esposa, que ele sabia que o esperava ansiosamente. Ele prestou bastante atenção na estrada de volta e nos lugares onde poderiam parar para descansar a caminho de sua nova casa.
Ao chegar a Potosi, foi ao tribunal registrar sua propriedade pela qual havia pagado na íntegra. Quando o advogado examinou o documento, sua expressão parecia de preocupação. Depois de ler, ele disse:
— Sinto muito, mas receio que você esteja com problemas. Esta é uma propriedade indígena e ninguém mais pode comprar propriedades indígenas e nem os índios podem vendê-las.
O advogado havia conhecido o Missionário na Universidade quando ele ensinava inglês ali. Ele também participou de algumas reuniões de pregação do Evangelho e demonstrou bastante interesse. Ele sentiu pena dele quando viu o quão angustiado estava (como pensava ter gastado o dinheiro que pertencia ao Senhor em uma propriedade que não poderia ter). O advogado tentou consolá-lo, dizendo:
— Não se preocupe, vou verificar e ver o que posso fazer. Volte em dois ou três dias.
O Missionário estava de volta ao escritório do advogado três dias depois, de manhã cedo. O advogado parecia muito mais feliz naquela manhã e exclamou:
— CERTAMENTE, seu Deus está com você! Esta propriedade em Yulo está fora das mãos dos índios há mais de 25 anos, por isso é sua sem nenhuma dificuldade. Se tivesse pertencido a um índio, você poderia ter sido preso por comprá-la.
Quão feliz o Missionário estava enquanto corria para casa para contar a sua querida esposa. Novamente eles se ajoelharam para agradecer ao Senhor por Sua bondade para com eles. Então eles começaram a se preparar para a jornada em direção ao seu novo lar. O apartamento deles tinha que ser alugado, certas coisas que eles precisavam e que podiam levar com eles tinham que ser retiradas e tendas e cobertores tinham que ser comprados e embalados.
Relutante, o jovem marido deixou sua esposa novamente. Mais uma vez os dois irmãos viajaram com ele. Dessa vez, eles tinham um burro para carregar algumas das coisas mais pesadas que precisariam para começar a construir uma pequena casa. Ele pegou a espingarda que seu pai lhe havia dado quando tinha catorze anos. Mal sabia ele que bênção ela seria ao fornecer comida para eles. Por algum tempo os índios não venderam nada para que comessem, então ele teve que atirar em pássaros e bichinhos para conseguir alimento. Ele estava agradecido por algumas árvores frutíferas já existentes na pequena propriedade e por sementes com as quais pôde iniciar uma pequena horta.
O Senhor havia respondido suas orações de tantas maneiras até agora, e eles confiavam n’Ele que não demoraria muito para que eles se reencontrassem novamente – desta vez para trabalharem juntos entre os queridos índios Incas.
“Grandes coisas fez o SENHOR por nós, e, por isso, estamos alegres” (Sl 126:3).
Construindo a Casa e Se Familiarizando
Os dois irmãos ajudaram o Missionário a endireitar as coisas um pouco e a fortalecer a pequena tenda para que o vento não pudesse derrubá-la. Eles tentaram limpar a velha cabana que o eslavo havia deixado, mas era impossível fazer muito com ela e, então, foi utilizada como área de armazenamento para alguns suprimentos.
Os dois irmãos finalmente tiveram que deixá-lo e voltar ao trabalho nas minas de Potosi. Agora o Missionário foi deixado sozinho em Yulo, mas ele tinha muito o que fazer. Ele encontrou uma pedreira onde poderia conseguir pedras para ajudar a construir uma casinha para quando sua esposa, Rose, chegasse. Os dias foram longos e solitários, mas seu Senhor e Salvador prometeu: “Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13:5). Quantas vezes ele parava para pedir Sua orientação e agradecê-Lo por Suas bênçãos.
Um dia, enquanto estava ocupado, ele ouviu uma voz bem conhecida dizendo:
— Oi, querido!
Olhando para cima, viu sua querida esposa, Rose, caminhando em sua direção, sozinha. Ele correu para ela exclamando:
— Querida, como você chegou aqui!
Ela parecia tão cansada, mas sorriu e disse:
— Eu vim de caminhão até Vitichi e fiquei a noite toda lá; então comecei a caminhada muito cedo esta manhã até chegar aqui (vinte e uma milhas) seguindo as instruções dadas por meus amigos em Vitichi. Eu realmente não podia mais esperar por você, querido, sabendo que estava sozinho depois que os irmãos chegaram em casa em Potosi!
Que alegria era tê-la com ele ali. Ela fez tudo o que pôde para ajudar a construir a pequena casa e encontrar comida para se alimentarem – uma tarefa muito difícil, pois os índios não vendiam comida para eles.
Pouco a pouco os nativos se aproximavam para vê-los trabalhar. Os Missionários fizeram o possível para fazer amizade com eles, especialmente com as crianças. Eles descobriram que a tarefa de se familiarizar com os nativos era mais difícil do que eles esperavam. Os índios daquele distrito só podiam falar quíchua. Eles não os ajudariam ou até os aconselhariam onde encontrar água limpa.
Um dos índios, no entanto, que falava um pouco de espanhol, respondeu a eles e até se ofereceu para trazer qualquer coisa que precisassem em seu burro sempre que ele fosse a Potosi. Essa foi uma verdadeira bênção para os jovens Missionários, porque havia muitas coisas que eles não podiam comprar em Vitichi.
As tarefas de fabricar tijolos de barro e serrar madeira com um serrote eram muito difíceis para o Missionário, mas a barreira do idioma era a maior provação de todas. Como ele desejava falar com aqueles que o observavam trabalhar. Ele desejava lhes contar sobre Seu Senhor e Salvador – como os amava e havia morrido por eles também.
Gradualmente, eles notaram que os meninos mais novos estavam começando a se aproximar cada vez mais para observá-los e tentavam mostrar todo o amor e bondade que podiam para com as crianças. Os dois oravam para que, de alguma maneira, pudessem alcançar as crianças.
Um dia, enquanto fazia compras na cidade, o Missionário notou alguns doces duros em uma sacola e algumas bolinhas de gude de cores diferentes. Ele comprou alguns deles, esperando que isso ajudasse a incentivar os meninos a se aproximarem mais e serem amigáveis.
Isso realmente funcionou, pois os meninos ficavam por perto para pegar os doces, um de cada vez, conversando com todas as suas forças. Os doces também ajudaram a abrir a comunicação com os meninos, enquanto ensinavam a eles como jogar o jogo de “atirar bolas de gude”. Muitas vezes uma guerra se iniciava quando um dos meninos roubava uma bola de gude de outro menino.
Durante todo esse tempo o Missionário ouviu atentamente algumas palavras, que anotou em um livrinho usando a ortografia espanhola. Após seis meses de escuta em oração, ele aprendeu as cinco vogais – A E I O U. Este foi apenas o começo, mas uma resposta definitiva à oração, pois ele foi capaz de aprender substantivos e a conjugar verbos.
Que alegria para seus corações foi esse começo na comunicação! Eles louvaram a Deus por Seu gracioso direcionamento até agora e sabiam que podiam confiar n’Ele para ajudá-los a se tornarem fluentes na língua quíchua.
“Ah! Senhor JEOVÁ! Eis que tu fizeste os céus e a terra com o teu grande poder e com o teu braço estendido; não te é maravilhosa demais coisa alguma” (Jr 32:17).
A Praga de Varíola
Após o avanço da comunicação, o próprio Senhor abriu a porta para eles levarem o Evangelho aos lares. Uma terrível epidemia de varíola eclodiu entre os nativos. Quase todos, exceto alguns entre as famílias, estavam doentes com varíola. Os dois filhos de Deus muitas vezes se ajoelhavam diante do Senhor para implorar por essas pessoas a quem haviam aprendido a amar, pedindo ao Senhor o melhor caminho para ajudá-las.
Rose era uma enfermeira registrada de Nova York e que também trabalhou no hospital em La Paz por vários anos. Seu marido havia terminado parcialmente o curso de medicina na Nova Zelândia, mas desistiu para ir a Bolívia. Eles decidiram fazer o que podiam para ajudar essas pobres pessoas. Foi com medo e tremor que eles vestiram seus jalecos e máscaras brancos e foram ver o que podiam fazer para ajudar. Muitos já estavam sofrendo com infecção nos olhos. Com cuidado e delicadeza, os Missionários abriam os olhos e jogavam uma solução bórica de 10% neles. Dessa maneira, muitos olhos foram salvos da cegueira e, como resultado, todos os dias os Missionários eram acolhidos cada vez mais em seus lares.
Um dia, para sua surpresa, eles receberam uma ampola de vacina, vacina suficiente para vinte crianças, de um médico em Sucre que ouviu falar de seu trabalho entre os índios. Os missionários aconselhavam com carinho as mães a levar seus filhos pequenos para serem vacinados contra a doença. Uma a uma, algumas das mães com medo, trouxeram seus pequenos para serem vacinados. Os missionários tomaram providências para que ficassem por perto, para que pudessem observar se não retiravam a cobertura dos braços dos filhos e, assim, causassem infecção.
Depois de três dias, os braços das crianças começaram a inchar e alguns deles estavam com febre alta. As mães ficaram com muita raiva, acusando-os de tentarem matar seus filhos. Os missionários tentaram explicar, dizendo que seus filhos não morreriam, mas que no outro dia ficariam bem novamente. Oh, como eles oraram para que o Senhor não permitisse que nenhuma das crianças morresse! Todas as crianças logo ficaram bem de novo e outras mães ouvindo sobre isso trouxeram seus filhos mais novos de muitos quilômetros para serem vacinados.
O médico gentil de Sucre ouviu falar sobre isso e enviou mais ampolas de vacina. Quão gratos os Missionários estavam por sua bondade! Isso abriu a porta para o evangelho. Eles também tiveram a alegria de ver muitos índios vindo para oferecer sua ajuda de alguma maneira. A epidemia logo terminou, mas o coração dos missionários ficou triste ao perceber que muitos haviam morrido sem Cristo naquele período.
Toda essa experiência levou o jovem casal a abrir outro pequeno espaço para uma pequena clínica. Onde esperavam que os índios pudessem pedir ajuda quando estivessem doentes. Eles ainda tinham apenas parte de um quarto pronto para sua pequena casa.
A Luz
O padre naquele distrito percebeu que os missionários estavam conquistando o coração do povo. Isso o desagradou muito. No rio, onde os índios celebravam uma grande festa, ele embebedou muitos deles e depois lhes disse que os missionários haviam vindo roubar suas terras. Além disso, ele os advertiu de que eles possuíam certos poderes para lançar feitiços sobre eles, que removeriam a gordura de seus corpos, os deixando com incontáveis sofrimentos e causando mortes. Ele os aconselhou a se livrarem dos dois missionários o mais rápido possível.
Que experiência inesquecível foi para o Missionário e sua querida esposa! Eles passaram a maior parte da noite ajoelhados na casa escura. Os gritos daqueles índios bêbados eram terríveis, à medida que lentamente se aproximavam cada vez mais da pequena habitação que os missionários tinham terminado de construir. De repente tudo ficou quieto! Eles podiam ouvir os índios se afastando rapidamente, como se tivessem medo por suas vidas. Como os queridos filhos do Senhor agradeceram mais uma vez por Sua misericórdia, libertação e bondade para com eles!
Uma semana depois, o governador da província, ao ouvir sobre a revolta, veio com três guardas armados para visitar os missionários. Essa visita afligiu muito os missionários por causa da influência que poderia ter sobre os índios se pensassem que os missionários os haviam denunciado. Eles disseram ao governador que não denunciaram os índios, mas acreditavam que outros eram os culpados pelo levante.
O governador sorriu gentilmente e disse:
— Eu entendo, mas é meu dever investigar e lidar com os índios responsáveis pelo tumulto.
Ele então enviou seus guardas para exigir que os índios envolvidos no tumulto viessem imediatamente com seu Chefe.
Todos vieram tremendo e com medo. O governador perguntou:
— Por que você estava tão determinado a matar essas pessoas queridas, que vieram de um país distante para fazer o bem, para ajudá-los e ensinar aos seus filhos o que é certo? Eles já fizeram muito por vocês durante a epidemia de varíola, como vocês bem sabe.
O Chefe respondeu que o padre havia dito que tinham vindo roubar suas terras e deixar seus filhos doentes.
Então o governador perguntou:
— O que fez você fugir tão repentinamente já que estava determinado a matá-los.
O Chefe o olhou nervoso e disse:
— Senhor, tínhamos medo da LUZ! Estava tão claro que mal podíamos ver.
Se voltando para o Missionário, o governador perguntou:
— Que luz!
Com um sorriso de confiança, o Missionário citou Salmos 34:7 em espanhol:
— ‘O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra’. Não vimos nenhuma luz.
Sorrindo, o governador respondeu:
— Eu entendo!
Ele então advertiu aos índios a não deixarem que isso acontecesse novamente e citou as Escrituras que o Missionário havia lhe dito.
A Tempestade Que Trouxe Bênção Para Muitos
Os jovens missionários estavam frequentemente doentes com disenteria causada pela água poluída. Embora seus corpos tenham começado a sentir e mostrar a tensão de suas condições de vida, o Senhor graciosamente lhes dava a força necessária para cada dia, como havia prometido em Deuteronômio 33:25: “a tua força será como os teus dias”. Eles ferviam cuidadosamente cada gota de água, mas estava muito poluída para ter algum efeito.
Eles se estabeleceram no meio de uma tribo de índios chamada “Os Índios do Cinturão Vermelho”, cujas cabanas ocupavam os dois lados do rio por cerca de 50 quilômetros. Todo tipo de sujeira e restos era jogado no rio, todos lavavam suas roupas e todos se banhavam nele. Mas essa também era a única água disponível para os índios e os missionários beberem. Por longos anos, os índios sofreram por causa disso e muitos de seus filhos morreram.
O Missionário tentou cavar poços várias vezes, mas em vão. Isso os levou a se ajoelharem com frequência, pedindo ao Senhor que os desse água pura para beber.
No inverno, o rio ficava seco e a água escassa. Em contraste o verão trazia a estação das chuvas, quando normalmente o rio transbordava, causando grande perda das colheitas.
Era uma temporada típica de verão, quando os missionários terminaram de construir e se estabeleceram em sua pequena habitação de um cômodo. As fortes chuvas começaram e a estação estava mais pesada do que nunca. A barragem principal que defendia as propriedades dos índios do lado do rio quebrou, fazendo com que um pesado dilúvio de águas viesse direto em direção a pequena propriedade dos missionários.
Por volta das três horas da manhã, ouviram as águas correndo em direção à sua pequena casa. Vestindo-se às pressas, se ajoelharam e oraram para que o Senhor desviasse aquela inundação poderosa para o outro lado do rio, por causa do testemunho de nosso Senhor Jesus Cristo. Enquanto oravam, a água rugiu em frente à propriedade e depois se virou para o outro lado do rio. De repente, tudo ficou em silêncio. Depois de agradecerem ao Senhor, eles se deitaram e dormiram em paz pelas poucas horas restantes antes de começar o dia.
De manhã, saíram para ver o que havia acontecido durante a tempestade. Juntos, eles percorreram sua propriedade. Para sua alegria, descobriram que o dilúvio havia cavado um buraco profundo atrás da propriedade, de onde fluía uma adorável e clara fonte de água. Com ação de graças, se ajoelharam e recolheram um punhado de água fria. Tinha um sabor tão bom! Eles não haviam provado água deliciosamente fria e pura desde quando se mudaram para viver entre os índios Incas.
Mais tarde, naquela manhã, alguns dos índios vieram ver como se saíram durante a tempestade. Quando viram a fonte de água, gritaram:
— ‘Caika!’ — que significa ‘Eis aqui!’.
E certamente era algo a ser contemplado, o que Deus pode fazer! Essa foi uma resposta direta à oração. Os índios começaram a acreditar que esses missionários foram realmente enviados por ‘AMI – O Deus Único e Verdadeiro’. No entanto, eles alertaram os Missionários para que não bebessem da água, porque pensavam que vinha das montanhas, de um lugar onde as bruxas viviam. Mais tarde, o Missionário conseguiu convencer alguns deles a irem com ele para encontrar a fonte da água e provar que não havia bruxas lá.
O rio nunca mais voltou a esse local nos últimos cinquenta anos e todos têm água limpa para beber. A fonte ainda flui e irriga uma grande parte da propriedade dos índios quando tudo está seco. O Senhor vive! Ele ainda “é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13:8). E Ele ainda diz: “E invoca-me no dia da angústia. eu te livrarei, e tu me glorificarás” (Sl 50:15).
“Dos rochedos faz sair rios, e o seu olho descobre todas as coisas preciosas. Os rios tapa, e nem uma gota sai deles, e tira para a luz o que estava escondido” (Jó 28:10-11).
O Touro Tranquilizado
Quando a pequena clínica estava quase pronta, os missionários tentaram explicar como eles esperavam que os índios viessem quando estivessem doentes, para que os missionários pudessem tentar ajudá-los.
Um dia, o irmão do chefe da tribo estava na porta da pequena casa deles. Ele explicou que sua esposa estava enfrentando grandes dificuldades para dar à luz ao seu segundo filho. Ele temia que ela morresse. E perguntou se o Missionário deixaria sua esposa vir para ajudar no nascimento de seu filho?
Os missionários sentiram que isso realmente vinha do Senhor. Eles oraram juntos por isso e então o índio voltou para sua esposa. Rose preparou uma bolsa de equipamentos que achava que poderia precisar, antes de atravessar o campo para o local onde os índios haviam dito que estavam localizados. O Missionário voltou para a casa após a partida de Rose. Ajoelhado, ele entregou sua querida aos cuidados e orientação do Senhor.
Ele ainda estava de joelhos quando ouviu alguém chamando:
— Senhor, venha ver, rápido!
Ele correu para encontrar dois índios apontando com muito medo para os campos onde pouco tempo antes sua amada havia atravessado. Ele podia vê-la à distância retornando. Entre eles e ela no campo havia um touro se alimentando silenciosamente. Os índios ficaram perturbados e falavam:
—Eis que ela será morta, esse é o touro mais selvagem já visto neste distrito! Desceu das colinas com as vacas e não conseguimos chegar perto dele.
O subchefe também desceu. Ele estava com suas mãos na cabeça, chorando e dizendo:
— O que devemos fazer? Ela vai passar perto do touro! Ele a matará!
O Missionário respondeu calmamente:
— Devemos ficar calados e não alarmar o touro de forma alguma. Nós devemos encomendar minha esposa a Deus. Ele cuidará dela.
Ele abaixou a cabeça e orou. Todos os índios tiraram seus chapéus enquanto ele fazia isso. Quando eles olharam para cima, Rose já estava passando bem na frente do touro e o touro nem sequer levantou a cabeça!
Quando Rose se aproximou deles, ela ouviu os índios dizerem muito entusiasmados:
— ‘Caika!’ (Veja!)
O Missionário saiu ao encontro de sua esposa e a abraçou amorosamente, com lágrimas nos olhos, enquanto os índios os observavam.
Olhando para eles com perplexidade, ela perguntou:
— Querido, qual é a razão de toda essa emoção?
Ele explicou como eles estavam preocupados com a segurança dela, pois ela havia acabado de passar pelo touro mais selvagem que já viram.
— Por quê? — ela exclamou — ele era tão manso que nem sequer olhou para mim. Eu não estava com medo dele!
Certamente o Senhor cumpriu Sua promessa do Salmos 34:7 mais uma vez: “O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra”.
Dias Escolares
Depois de ver o maravilhoso empreendimento do Senhor na vida dos Missionários, os índios ficaram mais interessados. Mães traziam seus bebês para serem vacinados e queriam que seus bebês fossem nomeados com um nome bíblico. Os missionários fizeram isso alegremente e depois escreviam os nomes em um livro. A maioria desses bebês são avós agora.
Como mais crianças estavam chegando agora, os Missionários decidiram construir uma escola perto da pequena clínica. Vários índios ajudaram nesse projeto de construção. Uma vez pronta, a escola teve que ser operada de acordo com o currículo do governo. Embora as crianças pudessem falar apenas quíchua, elas eram obrigadas por lei a aprender Espanhol na escola. Isso significava que um professor qualificado tinha que ser pago para ensinar na escola. No final do ano, o inspetor do governo que veio examinar o trabalho dos meninos ficou muito satisfeito com os resultados.
O padre daquele distrito se opôs à escola e disse aos pais que seus filhos estavam aprendendo uma língua estrangeira – não o Espanhol – como haviam sido levados a acreditar. Ele influenciou o Segundo Chefe para parar as aulas. Pondo os meninos para fora com um chicote, o Chefe os avisou para não voltarem novamente.
Dois dos meninos voltaram, correndo o risco de serem punidos pelos pais. Os nomes deles eram Francisco e Valeriano. O Missionário teve que dispensar o professor e ele e sua esposa continuaram a ensinar esses dois meninos fiéis. Eles tinham idade suficiente para perceber que estavam aprendendo Espanhol e não uma língua estrangeira, como o padre havia dito aos pais.
O Missionário fez uma longa viagem a La Paz para se encontrar com o Ministro da Educação e contou-lhe sobre a dificuldade. Como resultado, o Ministro da Educação instruiu o Inspetor do Departamento de Potosi para que a escola fosse reaberta. Nenhuma escola particular deveria ser fechada, desde que cumprisse os requisitos educacionais do país.
Os dois garotos logo aprenderam a falar Espanhol. Quando os outros meninos viram como seus amigos desfrutavam da escola, ficaram interessados e voltaram novamente. Mais uma vez a escola começou a funcionar. Outro professor do governo foi contratado para ensinar as crianças. Logo havia vinte meninos e uma menina. (Os índios não acreditavam que as meninas deveriam ir à escola. Em vez disso, eram geralmente mantidas em casa para cuidar das cabras ou ovelhas nos campos e para aprender a tecer).
Todas as manhãs, a Palavra de Deus era lida na escola. Enquanto liam o evangelho de João, os meninos pareciam gostar especialmente do capítulo 10, principalmente quando lhes era explicado. Certa manhã, Valeriano, a quem os meninos chamavam TATA NOKA (até hoje ainda o chamam por esse apelido, embora agora já seja avô), foi ao Missionário timidamente e disse em voz baixa:
— Senhor, eu sou salvo!
Com alegria, o Missionário perguntou:
— Como você sabe, Valeriano?
Ele abriu seu pequeno Novo Testamento em espanhol, que cada garoto havia recebido quando começaram na escola, e respondeu com verdadeira confiança, colocando o dedo nos versículos 27 e 28 do capítulo 10:
— Porque Deus diz isso! ‘As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos’ “.
Que alegria foi para o coração do Missionário! E que regozijo no céu “por um pecador que se arrepende” (Lc 15:7).
Esta foi a primeira escola iniciada entre os Incas. Mais tarde, o Missionário teve a alegria de fundar outras sete escolas em outros lugares, a pedido do povo. A escola começava todas as manhãs com a leitura da Bíblia; muitos foram salvos nessas escolas. Mais tarde, o governo assumiu todas as escolas. Alguns dos meninos foram autorizados a continuar como professores e a continuar os quinze minutos de leitura da Bíblia todas as manhãs.
“Pela manhã, ouvirás a minha voz, ó SENHOR” (Sl 5:3).
A História de Fabian Estrada
Fabian Estrada era um dos irmãos que acompanhou o Missionário de Potosi para procurar pelos índios Incas e comprar a propriedade entre eles. Ele foi um dos primeiros a ser salvo em Potosi. Um dia, ele veio visitar o Missionário e sua esposa. Os dois ficaram chocados quando viram o quão doente e magro ele parecia. Ele trabalhou muitos anos nas minas de estanho de Potosi e desenvolveu silicose, uma doença pulmonar que resulta na morte precoce de muitos mineiros bolivianos. O Missionário e sua esposa cuidaram de Fabian, tentando fazê-lo descansar o máximo possível. Em poucas semanas, sua saúde melhorou bastante, mas não o suficiente para voltar a trabalhar nas minas.
Um dia Fabian, que falava fluentemente quíchua e espanhol, disse ao Missionário:
— Sei que não posso voltar a trabalhar nas minas. Será que eu poderia ajudá-lo no trabalho missionário tentando levar o evangelho a certos lugares onde você não pôde ir? Mas estou preocupado com minha esposa e filhos em Potosi.
O Missionário respondeu:
— Vamos orar sobre isso, porque estou muito exercitado sobre um distrito ao sul do departamento de Potosi, chamado Uyuni, onde ouvi dizer que o evangelho nunca foi pregado. É um longo caminho daqui. Você acha que seria demais visitar essas partes?
Fabian respondeu imediatamente:
— Eu ficaria muito feliz em fazê-lo, com a ajuda do Senhor, mas e minha família?
— Bem — disse o Missionário —, pela graça de Deus, minha esposa e eu tentaremos ajudar sua esposa e filhos, pois nosso Senhor prometeu suprir todas as nossas necessidades de acordo com Suas riquezas em glória, por Cristo Jesus (Fp 4:19). Darei a você dinheiro suficiente para alugar uma mula para a viagem a Potosi, onde você pode visitar sua família e comprar uma mochila e alguns artigos que você pode vender ao longo do caminho, como agulhas, facas, tesouras, fios e algumas peças de material para as mulheres fazerem vestidos.
Sua esposa ficou feliz em vê-lo com uma aparência melhor e em saber que ele estava livre para deixar as minas e servir ao Senhor a quem ambos amavam e confiavam. Ela decidiu encontrar algum tipo de trabalho. O Missionário prometeu tentar ajudar as crianças para que pudessem ir à escola.
Fabian e sua esposa compraram coisas diferentes que eles pensavam que venderiam entre os Índios. Então ele comprou uma passagem de trem de segunda classe para Uyuni. De lá, ele caminhou até a pequena vila de Chita, tentando vender o que podia, e procurando oportunidades para pregar Cristo, distribuindo muitos folhetos evangelísticos ao longo do caminho. Era uma província muito fanática e ele encontrou muita oposição em todos os lugares. Ele estava se sentindo muito melhor agora que estava mais tempo ao ar livre e capaz de descansar de vez em quando.
Ele ia de porta em porta vendendo seus bens, falando uma palavra aqui e ali sobre seu Salvador. Ele se tornou muito amigável lá com um homem chamado Lino Bueno, que demonstrou grande interesse no Senhor Jesus.
Alguns anos antes, quando Lino Bueno era jovem, ele ouviu falar do Senhor Jesus e muitas vezes desejava ouvir mais sobre Ele. Embora Fabian falasse de maneira convincente e parecesse tão feliz, Lino decidiu pensar mais sobre o que Fabian estava ensinando após a Grande Festa e o desfile a ser comemorado. Ele era o mestre da banda e, portanto, tinha uma parte especial no desfile. Cada homem usava geralmente um cinto com paus de dinamite, um dos quais eles acendiam de vez em quando e jogavam para assustar o diabo. Era uma festa pagã e a maioria dos homens ficava muito bêbado.
Porque ele também estava bêbado, Lino Bueno demorou muito a jogar dinamite. Ela detonou em sua mão, arrancando sua mão e seus olhos. Quando ele acordou no hospital, a primeira coisa que ele pensou foi em decidir por Cristo, como Fabian havia implorado para que ele fizesse antes da festa. Ele orou:
— Oh, Senhor Jesus, acredito que você me ama e morreu por mim. Eu reconheço que sou um pecador. Por favor, não exploda minha cabeça! Eu Te aceito como meu Salvador agora.
Que paz entrou em seu coração naquele momento! Ele ainda está desfrutando dessa paz com sua família.
Fabian não ficou para a festa, porém deixou uma Bíblia para Lino Bueno, mas nunca soube que estava salvo.
Um ano inteiro, Fabian andou de um lado para o outro pregando o Evangelho aos índios naquela grande seção do sul de Oruro, mas ele não viu frutos visíveis de seus trabalhos. Cansado e desanimado, ele voltou ao Missionário e disse:
— Irmão, sinto muito, mas não vi nenhuma resposta ao evangelho. Eu sei que é o poder de Deus para a salvação, mas não tive a alegria de levar uma alma sequer a Cristo.
O Missionário tentou confortá-lo com as Escrituras em Eclesiastes 11:1 “Lança o teu pão sobre as águas, porque, depois de muitos dias, o acharás”, e também com o Salmo 126:6: “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos”.
Quando a Guerra do Chaco estourou entre a Bolívia e o Paraguai, Fabian foi convocado para o exército e o Missionário tornou-se capelão. Um dia, o comandante de um dos regimentos enviou uma mensagem ao capelão:
— Há um homem que quer ver você. Ele está morrendo.
Ele saiu imediatamente, atravessando a selva até as trincheiras exteriores e lá encontrou o querido Fabian, apenas pele e ossos, prestes a partir para estar com Cristo.
— Oh, querido irmão — disse Fabian debilmente — estou tão feliz em vê-lo.
Ele tentou se levantar, mas estava fraco demais. Ajoelhado na trincheira ao lado dele, seu amigo que o amava orou por ele e os dois choraram juntos. Quando chegou a hora de o Missionário partir, Fabian sussurrou:
— Irmão, vejo você de manhã.
No início da manhã seguinte, o Missionário voltou à trincheira, mas tudo o que restava do querido Fabian era um graveto com seu nome, preso no chão para marcar seu túmulo. Ele havia morrido durante a noite. Como tantos milhares de outros homens que morreram na guerra, eles apenas cavaram um buraco e o enterraram na selva. Mas o querido Fabian estava em casa com o Senhor, para aguardar o triunfo de Deus e aquela gloriosa manhã da ressurreição – aquela “manhã sem nuvens” (2 Sm 23:4).
O graveto que marcou o túmulo de Fabian já se foi há muito tempo, mas Deus ergueu em sua memória um monumento que nem o tempo nem a eternidade jamais apagarão. Esse monumento é a vida e o trabalho de Lino Bueno, um dos troféus mais ricos da graça do Senhor entre as montanhas da Bolívia. Lino, que foi salvo ao ouvir o evangelho dos lábios de Fabian Estrada, serviu ao Senhor nessas regiões montanhosas remotas. Muitos irmãos índios têm muitos motivos para agradecer a Deus pela mensagem vivificante ouvida de seus lábios, pois ganhou muitos para Cristo. Como resultado, existem nessa área pelo menos quinze assembleias de crentes, reunidas simplesmente ao precioso Nome de Cristo, fruto de Sua maravilhosa graça e os fiéis trabalhos de Lino Bueno, que foi trazido para conhecer o Senhor por Fabian Estrada.
Ricardo Gomez
Um dia depois que Fabian Estrada deixou Potosi para pregar o evangelho, o Missionário visitou Potosi para ver como o pequeno grupo de crentes estava. Ele também queria saber o bem-estar da esposa e dos filhos de Fabian. Enquanto descia a rua em direção à sala de reuniões, viu um homem à sua frente tão bêbado que cambaleava pela rua de um lado para o outro. O Missionário estava com medo de cair de cara no chão de paralelepípedos. Ele estava sujo e com a barba por fazer, com cabelos longos emaranhados e roupas esfarrapadas, embora suas roupas parecessem que eram originalmente de uma marca cara.
O Missionário apressou seus passos em direção a ele e o levou com firmeza, mas gentilmente, pelo braço. O homem se afastou dele dizendo de maneira desagradável:
— Quem é você? Me deixe em paz!
O Missionário respondeu:
— Sou apenas um evangelista. Eu estava com medo que você fosse cair. Posso te levar para casa?
Surpreso, o homem perguntou:
— Por que você me toca? Todo mundo foge de mim.
O Missionário respondeu:
— Somos todos iguais aos olhos de Deus. Quero que saiba que Ele te ama como Ele me ama, e enviou Seu Filho unigênito, o Senhor Jesus Cristo, para morrer por você, para resgatá-lo dos seus pecados e desse tipo de vida que você está vivendo agora.
Ele citou João 3:16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16).
O pobre homem ouviu silenciosamente. Só então eles passaram pela pequena sala de reuniões. O Missionário apontou para o homem bêbado, dizendo:
— Este é o nosso Salão de pregação do Evangelho. Vou te levar para casa antes de entrar. Se você quiser ir à alguma reunião de pregação do Evangelho em alguma noite às sete horas, será muito bem-vindo.
Ele então o levou para casa, o segurando pelo braço para impedi-lo de cair. Ele não morava muito longe do salão de reuniões, mas oh! Quão terrível era seu ‘lar’.
O Missionário descobriu depois que seu nome era Ricardo Gomez e que ele era do Chile. Ele possuía duas joalherias lá e era muito rico quando chegou à Bolívia, mas vendeu tudo o que tinha para beber. Ele veio a Potosi procurando ouro, não teve sucesso e perdeu tudo o que tinha. Ele se tornou um ‘bêbado’, como se chamava.
Ele continuou a participar das reuniões e foi salvo. Para a alegria do Missionário, ele ouviu que Gomez também estava pregando o Evangelho no salão de reuniões e na esquina da rua. Na vez seguinte em que o Missionário voltou a Potosi, ele não podia acreditar em seus olhos, Gomez mudou completamente! Ele era verdadeiramente uma nova criatura em Cristo Jesus.
Um dia, o Missionário encontrou o governador da província de Potosi, que lhe perguntou:
— O que você fez com Gomez? Ele era o pior caráter de Potosi. Não sabíamos o que fazer com ele. Ele foi preso e solto da prisão tantas vezes que nós até pensamos em mandá-lo de volta ao Chile. Agora ele é de caráter mais brando e é amado por todos, até pelas crianças. Antes todos tinha medo dele.
Sorrindo, o Missionário respondeu:
— É isso que Cristo pode fazer pelas almas perdidas quando o aceitam como seu próprio Salvador pessoal e confiam em Seu precioso sangue para lavar seus pecados. ‘E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos’ (At 4:12).
O governador ficou em silêncio por um momento antes de lhe dizer:
— Se Cristo pode fazer isso por um homem como Gomez, certamente vale a pena conhecê-Lo como Salvador.
Ao entregá-lo um pequeno evangelho de João, o Missionário disse a ele:
— Aqui está um livrinho que lhe dirá o quanto Deus também o ama.
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16).
A Comunhão com os Sofrimentos do Senhor
Ricardo e outros amigos dele costumavam pregar o evangelho na cidade onde Gomez costumava ser preso, antes que o Senhor o salvasse por Sua graça incomparável. Ele agora desejava que outras pessoas conhecessem seu Salvador.
Um dia, o Missionário e cinco irmãos decidiram visitar a mesma cidade, conhecida por ser fanática, para pregar o Evangelho. Eles não estavam lá há muito tempo quando os sinos da igreja começaram a tocar muito alto. Logo dois policiais apareceram e prenderam os cinco irmãos, mas, por alguma razão desconhecida na época, eles não prenderam o Missionário. Logo ficou claro porque o Senhor permitiu que ele permanecesse livre.
Os irmãos foram colocados na prisão local e depois deportados para a Argentina, sem roupas extras, camas ou dinheiro. Eles não tiveram permissão para avisar suas famílias sobre sua situação.
Depois de muita oração, o Missionário, pela graça de Deus, conseguiu descobrir para onde seus queridos irmãos haviam sido levados. Ele sentiu que deveria consultar o governador do Estado, a quem conhecia bem, para lhe contar o que havia acontecido com seus amigos e implorar pelo retorno às famílias. Ao ouvir sobre a prisão e a deportação dos cinco bolivianos, o governador não apenas os trouxe de volta à Bolívia, como também lhes deu uma carta que lhes permitia continuar pregando o evangelho da graça de Deus naquela cidade. Eles estiveram na Argentina mais de uma semana antes de serem devolvidos ao seu país de origem.
O governador mandou chamar os policiais, a quem ele repreendeu, dizendo que se eles fizessem isso novamente, perderiam suas posições.
— Além disso — acrescentou —, estes são homens honestos. Eles estavam apenas pregando a Palavra de Deus, o que é permitido neste país. Eles não devem ser molestados novamente.
Foi com corações felizes que os irmãos voltaram para suas famílias, regozijando-se em sua libertação e no amor e misericórdia de seu Senhor e Salvador. A noite da libertação deles também foi uma ocasião feliz no salão de reuniões. Durante a reunião, o Missionário perguntou como se sentiam quando estavam na prisão e fora de seu próprio país. Um irmão mais velho, com a alegria do Senhor brilhando em seu rosto, disse:
— A Palavra de Deus diz: ‘Se, pelo nome de Cristo, sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus’ (1 Pe 4:14). Isso nos deu paz.
Verdadeiramente, o Senhor havia sustentado esses queridos irmãos durante o julgamento.
Quando Gomez havia sido preso nesta cidade fanática por seus crimes, ele fez alguns amigos. Um amigo ainda estava na prisão depois que Gomez saiu. Gomez tinha uma voz poderosa que podia ser ouvida bem à distância e o Senhor usou sua voz para a salvação de seu amigo na prisão. O amigo ouviu a pregação e reconheceu a voz de seu antigo amigo de prisão. Ele ouvia com muita atenção sempre que Gomez falava e o Senhor graciosamente o salvou durante esse tempo.
Não demorou muito para que ele fosse libertado. A primeira coisa que ele fez foi procurar seu velho amigo Gomez para contar como ele havia sido salvo na prisão enquanto ouvia suas pregações nas ruas. Ele começou a participar das reuniões com Gomez e logo foi reunido ao nome do Senhor, para se lembrar d’Ele em Sua morte. Não demorou muito para que ele também se juntasse ao pequeno grupo na praça para pregar o Evangelho da graça de Deus a outros.
“Para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos e do cárcere, os que jazem em trevas. Eu sou o SENHOR; este é o meu nome” (Is 42:7-8).
Betsy, a Mula do Evangelho
Havia chegado o ‘Tempo da Feira’ em Vitichi, a segunda capital da província. Muitos compareciam – cerca de 4.000 pessoas por ano. Homens de negócios de toda a Bolívia montavam ‘tendas’ (ou barracas grandes), cheias de todo tipo de roupa, alimentos, panelas, frigideiras, agulhas, fios, entre outros itens. Os clientes também traziam gado, ovelhas, cabras e outros animais para venda. Cowboys da Argentina trouxeram dezenas de burros e mulas para vender.
Foi de especial interesse para todos os envolvidos, e mais especialmente para o Missionário e os índios convertidos, pois eles foram capazes de levar o evangelho a muitas almas durante aqueles dias. Certa noite, o Missionário, sua esposa e vários jovens crentes tiveram uma reunião especial na qual decidiram ir à Feira.
Seis jovens irmãos se ofereceram, cada um com seu burro com roupas de selim e ponchos extras. Um ‘poncho’ é um cobertor quente de lã de ovelha ou lhama com um buraco no meio para permitir que o usuário insira a cabeça nele e, assim, cubra todo o corpo. Um grande entusiasmo prevaleceu, pois cada um fez os preparativos necessários para permanecerem nos recintos da feira por vários dias. Lá eles puderam testemunhar cantando hinos em quíchua e falando sobre o Senhor Jesus. Além disso, eles planejavam comprar as coisas mais necessárias para o próximo ano antes de voltar para casa. O Missionário sempre levava consigo um bom suprimento do evangelho de João, do Novo Testamento e de folhetos evangelísticos para distribuição.
O Missionário estava preocupado com o modo como sua esposa poderia viajar nesta longa distância (vinte e uma milhas) até a Feira. Ele tinha um burro chamado ‘Jacko’, que havia treinado para sua esposa montá-lo. Ele decidiu que ela deveria montar Jacko enquanto ele a acompanharia a pé. Os índios tinham seus burros para trazer suprimentos, mas não eram treinados para que ninguém os cavalgasse.
Os missionários, seus jovens amigos Cristãos e suas mulas, com todos os seus suprimentos, saíram de casa cedo pela manhã e chegaram na tarde do mesmo dia. Os companheiros dos missionários receberam dinheiro para comer (Havia cozinhas e restaurantes abertos por toda parte). Ele e a esposa encontraram um quarto adequado em um dos pequenos hotéis.
Todas as manhãs eles e os jovens crentes se reuniam para orar antes de distribuir o evangelho, cantando hinos e distribuindo o evangelho de João. A esposa do Missionário ia discretamente entre mulheres e crianças, distribuindo folhetos evangelísticos e tentando falar uma palavra amorosa a alguns que entendiam espanhol.
Uma tarde, depois de estarem na feira por vários dias e depois de comprar farinha, açúcar, trigo, café e outras coisas necessárias para uso doméstico, encontraram o prefeito da vila. Ele conhecia o Missionário e veio falar com ele e sua esposa. Quando perguntou ao Missionário como sua esposa faria a longa jornada para casa, o Missionário respondeu:
— Montada no Jacko, meu burro!
— Ela certamente não voltará dessa forma! — o prefeito respondeu enfaticamente — Ela vai viajar na mula especial da minha esposa. Eu a treinei na Argentina, especialmente para minha esposa. Ela é muito mansa, e se você não puder chegar em casa hoje e for forçado a passar a noite na floresta, amarre o pé direito dela a uma árvore e ela ficará ao seu lado como um cordeiro.
Por terem saído no final da tarde, tiveram que passar a noite na floresta. Os jovens crentes amarraram o pé da mula a uma árvore, pegaram as cargas dos outros burros e amontoaram suas mantas para fazer para o Missionário e sua esposa uma cama adequada. Eles vestiram seus ponchos e espalharam suas peles de cabra para dormir. Então eles fizeram uma grande fogueira para afastar qualquer leão da montanha que pudesse estar à espreita. Durante toda a noite os irmãos se revezaram para manter o fogo aceso. Assim, eles passaram uma noite muito confortável e chegaram em casa de manhã cedo.
O Missionário enviou a mula de volta ao prefeito com uma carta especial, agradecendo de coração por sua bondade. Ele sugeriu que se ele alguma vez quisesse vendê-la, ficaria muito feliz em comprá-la. Uma carta enviada pelo prefeito informava que ele conversaria com sua esposa. Duas semanas depois, chegou outra carta dizendo que sua esposa ficou tão preocupada quando viu a esposa do Missionário montando no Jacko que ficaria feliz em vender a mula por US $ 100,00 (Cem dólares), pois precisava de dinheiro americano.
O Missionário comprou a adorável mula de seis anos e meio pelo preço combinado e a levou para casa com a esposa. Ela a chamou de ‘Betsy’. Que conforto e bênção Betsy foi para a querida Rose durante os poucos anos que viveu! Betsy serviu ao Missionário por mais de vinte anos e foi sua companheira em muitas viagens pelo evangelho. Durante anos ela o carregou por centenas de quilômetros de estradas perigosas e nunca caiu.
O Missionário nunca esqueceu de um evento especial que ocorreu ao montar Betsy nas montanhas. Ele havia participado de um esforço evangelístico em uma parte nova e acidentada do país. A chuva havia caído, dificultando a travessia dos rios. Os irmãos índios, seis no total, sugeriram que seguissem uma ‘trilha de cabras’ e, assim, evitassem os rios que estavam inundados. Eles seguiram com muito cuidado o caminho das ‘cabras’, o Missionário indo em frente para que os índios pudessem observá-lo, caso ele tivesse algum problema.
De repente, ele chegou a um grande deslizamento de terra que havia varrido completamente a pista, e as pedras ainda estavam rolando. O que ele deveria fazer? Por causa do deslizamento de terra, o caminho estava mais estreito do que nunca. Era impossível para ele sair de cima da Betsy e era impossível que Betsy desse a volta para retornar. Os índios atrás dele estavam com medo de perturbarem Betsy. O que aconteceria com seu querido amigo? O Missionário abaixou a cabeça e orou; então, falando com sua fiel Betsy, bateu em seu pescoço e disse:
— Betsy, depende de você!
Betsy levantou-se com os pés traseiros, com o Missionário nas costas e, balançando os pés da frente rapidamente sobre o precipício, ela apenas deu a volta para o outro lado. O Missionário ficou maravilhado com a manobra! Mais tarde, observou que nunca havia passado por essa experiência em sua vida. Certamente o Senhor ouviu sua oração e fortaleceu a mula de Betsy para agir dessa maneira.
Os índios que acompanhavam o Missionário se uniram em ação de graças e em oração quando ele os alcançou onde estavam esperando por ele. Juntos na encosta da montanha eles leram o Salmo 34:7: “O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra”.
Betsy viveu trinta e um anos, uma boa velhice para uma mula. Nos últimos anos, o Missionário não a montava mais, porém todas as manhãs, quando ele saía para alimentá-la, ela o cutucava com o nariz, esperando que ele a montasse. Em vez disso, o Missionário gentilmente a acariciava dizendo:
— Betsy, eu simplesmente não posso fazer isso, você é velha demais!
Betsy olhava para ele e lentamente se afastava.
O Escavador da Bíblia
O Missionário ficou muito preocupado querendo visitar uma mina muito grande em um lugar chamado ‘Siete Suyos’. Essa mina era de propriedade de um boliviano chamado Aramayo, mas muitos dos oficiais e engenheiros da mina eram ingleses. Milhares de índios trabalhavam nas minas naquela área.
Depois de muita oração, o Missionário partiu em sua mula, Betsy, para pedir permissão para pregar o evangelho aos trabalhadores índios em ‘Siete Suyos’. Foi uma viagem de quatro dias de mula (de Yulo a Siete Suyos), dormindo sob a luz das estrelas a noite.
Chegando à mina por volta das 17:00 horas, foi diretamente ao escritório da mina onde, exatamente como ele esperava, encontrou um inglês que perguntou o que queria.
— Senhor — disse o Missionário —, sou evangelista e falo Quíchua. Eu gostaria muito de pregar o evangelho aos índios desta mina. Eles não ouviram o Evangelho e não conhecem a Cristo.
Com um forte sotaque de Oxford, o inglês respondeu:
— Não queremos escavadores da Bíblia por aqui. Vamos, ande!
Ele saiu como solicitado, se sentindo desencorajado e um pouco abatido. Estava escurecendo e ele se perguntou onde poderia encontrar um lugar para passar a noite. Ao subir a colina em direção a Betsy, ele ouviu um carro chegando atrás dele e uma voz perguntando em inglês:
— Como vai subir esta colina, é bastante íngreme.
A próxima coisa que ele percebeu foi que o carro havia parado e o motorista disse alegremente:
— Entre!
Depois de uma pausa, o motorista do carro perguntou:
— A propósito, o que você estava fazendo na mina?
O Missionário então respondeu:
— Eu estava pedindo permissão para pregar o Evangelho aos índios e dar-lhes alguns folhetos evangelísticos, pois falo quíchua razoavelmente bem agora. Mas o cavalheiro da mina me disse que não queria nenhum escavador da Bíblia por lá!
Com um sorriso, o homem disse:
— Sou o gerente desta mina. Você certamente pode vir pregar o evangelho aos índios. Você pode usar o salão de reuniões dos mineiros todas às quartas e sextas-feiras à noite, se desejar. Ele não está ocupado nessas noites.
No topo da colina, onde Betsy estava esperando no curral, muito feliz por ver seu mestre, o Missionário perguntou ao cavalheiro onde ele poderia encontrar um lugar para descansar a noite. Ele ficou agradecido pela informação de que havia um pequeno hotel na cidade. O Missionário agradeceu sua gentileza, dizendo que aceitaria sua oferta de usar o salão de reuniões na quarta-feira. Ele também tomou providências quanto a um momento conveniente para convidar alguns para vir.
Muitos mineiros de lá desde então aceitaram a Cristo como seu Salvador e seguiram fielmente no Senhor. De fato, hoje há uma pequena assembleia agradável lá.
Todos os dias do Senhor muitos se lembram de Sua morte “até que Ele venha”, como Ele nos pediu para fazer em 1 Coríntios 11:26.
Um dia, algum tempo depois, o Missionário e sua esposa, Rose, estavam almoçando quando ouviram um carro parar do lado de fora. Rose foi até a janela para ver quem era e disse:
— Querido, há um cavalheiro inglês aqui em um pequeno carro velho.
O Missionário olhou pela janela e exclamou:
— Ora, Rose, esse é o cavalheiro das minas que me disse que não queria nenhum escavador da Bíblia na mina! Me pergunto o que ele quer?
Então ele correu para recebê-lo e convidá-lo para almoçar com eles.
O cavalheiro das minas aceitou de bom grado o convite. Quando o Missionário perguntou a ele por que ele estava naquele distrito, ele disse que ouviu dizer que os espanhóis possuíam uma mina naquele distrito há muitos anos. Acreditava-se que eles haviam deixado ali um suprimento de mercúrio que haviam usado para separar a prata da escória. Ele queria checar a mina, mas as montanhas eram íngremes demais para o carro dele. Ele ficou agradecido quando o Missionário ofereceu a mula Betsy para que ele usasse.
Dia após dia, ele procurava a mina, mas não encontrava nada onde achou que estava. À noite, ele voltava e jantava com os missionários. Depois do jantar, todas as noites, liam a Bíblia como era seu costume. Uma noite, enquanto lia em João 10, o visitante disse que não acreditava que João 10:28 – “Eu lhes dou a vida eterna; e eles nunca perecerão” – era verdade, se era assim na Bíblia grega.
Quando o Missionário perguntou se ele sabia grego, ele disse:
— Sim, eu me formei nisso.
— Aqui está uma Bíblia em grego — respondeu o Missionário —, talvez você queira ler por conta própria.
Abrindo a Bíblia em João 10, ele a entregou ao cavalheiro e pediu que ele a lesse.
Ele fez isso e achou que era ainda mais forte do que na Bíblia em inglês. No grego dizia “e eles nunca, não, jamais perecerão”. Surpreso, ele admitiu:
— Por que eu nunca percebi isso? É um duplo negativo e está certo!
Embora ele não tenha encontrado mercúrio naquele lado da montanha, ele persistiu em sua busca. Eventualmente, ele fez um túnel através da montanha. O mercúrio desceu a montanha até atingir a argila, formando um lago ali. Este lago de mercúrio provou ser uma descoberta valiosa para ele. Ele enviou garrafas especialmente feitas e não muito grandes cheias de mercúrio para a Inglaterra. Em troca dessas garrafas, cheias de mercúrio, ele recebeu grandes quantias de dinheiro inglês. Logo ele conseguiu pagar todas as suas dívidas, comprar um carro novo e ainda tinha muito dinheiro sobrando. Ele deu aos Missionários seu carro velho, que eles gostaram de usar por algum tempo.
Ele encontrou este lago de mercúrio depois que o Missionário o aconselhou a orar por isso. De fato, o Missionário e Rose oraram com ele. Mais tarde, por sua fidelidade, ele foi verdadeiramente salvo e amava pregar o evangelho da graça de Deus aos índios, ajudando também o Missionário em sua obra. Ele próprio havia se tornado um escavador da Bíblia, e vários índios foram salvos pelo seu ministério. Ele foi salvo lendo João 10:27-28 sozinho. Algum tempo depois, seu coração, enfraquecido por anos de trabalho nas minas e nas grandes altitudes, cedeu, e o Senhor o levou para casa para estar com Ele em glória.
A Escritura nos diz a respeito das ovelhas de Cristo: “e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos” (Jo 10:28).
Primeira Visita à Capital da Província de Chichas do Norte
Um dia, o Missionário sentiu-se exercitado para visitar o governador de Chichas do Norte. Ele e sua esposa, Rose, ouviram que não havia testemunho do evangelho na província de Chichas do Norte e, portanto, estavam orando juntos por isso.
O pensamento de deixar sua esposa entristeceu o Missionário, mas ela disse que não se importava, pois não estaria sozinha. Ela havia se tornado muito amiga das mulheres e crianças e nunca estava sozinha. Uma das mulheres que confessou Cristo como seu Salvador – uma irmã no Senhor – ficava com ela quando o Missionário passava a noite toda fora.
O Missionário visitou primeiro o governador, o chefe do município, para pedir permissão para pregar o evangelho na praça. O governador lhe deu permissão para fazê-lo, mas também o advertiu de que as pessoas naquele lugar eram muito fanáticas. Ele explicou que alguns anos antes um vendedor argentino, que passava pela cidade vendendo Bíblias, foi atacado por uma multidão fanática que o apedrejou até a morte e jogou seu corpo no rio, onde foi comido por urubus e cães. Até hoje a cidade nunca prosperou desde esse terrível ato do povo. As próprias pessoas notaram isso.
Consequentemente, o governador disse ao Missionário que não podia garantir o que poderia acontecer, mas ficou feliz por ele pregar o evangelho ali, e faria todo o possível para ver que estava protegido. O Missionário ficou agradecido por seu pedido ter sido atendido.
O pai do governador ficou muito interessado no evangelho. Algum tempo depois, ele ficou muito doente e mandou chamar o Missionário várias vezes para ler as Escrituras e explicar o evangelho da graça de Deus para ele. Ele foi brilhantemente salvo antes de morrer e proibiu o padre de visitá-lo ou de fazer uma ‘missa’ para ele, dizendo que havia aceitado a Cristo como seu Salvador, e o sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus, lavou todos os seus pecados. Ele foi um adorável testemunho para sua família e amigos e costumava citar para eles 1 João 1:7: “O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado”.
A Conversão do Governador
Depois de ver seu pai morrer tão feliz, confiando no Senhor, o governador (Gil) ficou muito interessado no evangelho e na obra do Senhor. Gil era o governador naquela província por três mandatos e era um verdadeiro amigo do Missionário e de sua esposa, além dos índios.
Um dia o Missionário o visitou em seu escritório. Para sua surpresa, um dos índios que havia sido salvos algum tempo antes saiu do escritório do governador. Quando o Missionário mencionou que tinha visto o índio saindo de seu escritório, o governador respondeu, sorrindo:
— Oh, estávamos conversando um pouco sobre a Palavra de Deus!
O Missionário comprou uma bela Bíblia com capa de couro para o governador, que ele costumava ler, mesmo em seu escritório. Ele marcou muitos versículos que ele queria lembrar e entender melhor.
Um dia, quando o Missionário estava lá para pregar o evangelho na Praça, o Governador perguntou se ele se importaria de levá-lo a uma determinada cidade onde ele deveria cuidar de alguns negócios. Alguém havia disparado seis tiros em seu carro um dia e estava sendo consertado.
O Missionário ficou feliz em fazer isso e perguntou se seria correto pregar o evangelho na Praça enquanto ele estava ocupado. O governador disse:
— Acho que você estará seguro aqui, e o Senhor estará com você!
Quando o governador voltou, ele perguntou ao Missionário se passaria a noite com ele no hotel, pois não havia terminado seus negócios. Ele queria muito ter tempo para fazer muitas perguntas sobre a Palavra de Deus e o Senhor Jesus Cristo. Logo ele aceitou o Senhor como seu Salvador.
Mais tarde, ele tomou seu lugar à mesa do Senhor com os queridos índios. Levou anos, no entanto, antes que sua esposa aceitasse Cristo como seu Salvador. Um dia, o governador e sua esposa convidaram o Missionário para tomar café da manhã com eles. Eles estavam conversando sobre a vinda do Senhor enquanto a esposa do governador ouvia silenciosamente a conversa deles. Por fim, ele olhou para ela com carinho e disse:
— Ursula, você sabia que, se o Senhor viesse neste momento, eu nunca mais a veria?
Com um soluço na voz, sussurrou. Mais tarde, ela aceitou a Cristo como seu Salvador. Para sua alegria, a filha mais velha foi salva ao mesmo tempo.
O Chefe Agapo
Quando a morte reivindicou o Chefe dos índios do cinturão vermelho, ele foi substituído por um homem chamado Agapo. Esse novo Chefe ficou muito impressionado na época em que tentaram atacar o Missionário porque ele próprio havia visto ‘a Luz’ juntamente com os outros. O governador solenemente aconselhou o novo chefe a cuidar bem do Missionário e de sua esposa, dizendo que os missionários estavam lá porque amavam os índios. Ele lembrou ao Chefe que os Missionários tinham vindo de um país distante, não para feri-los, mas para fazer bem a eles e contar-lhes sobre o amor de Deus.
Um dia, o Missionário viu o chefe Agapo vindo visitá-los. Ele rapidamente entrou em casa e disse à esposa:
— Querida, depressa, aqui vem o novo chefe sozinho; tome uma xícara de café e um pouco de geleia de pão e marmelo pronta para ele.
Ele convidou Agapo para entrar e eles se sentaram um em frente ao outro na mesa. Não demorou muito para que o Missionário lhe falasse sobre o Senhor Jesus, sobre seu amor e graça a todos os homens e como Ele morreu para salvar pecadores que n’Ele cressem. A princípio Agapo não parecia muito interessado, Ele ficou sentado em silêncio, ouvindo educadamente. Então o Missionário pegou sua Bíblia e leu João 3:16 em quíchua: “JANAJPACHA CHAI JINATAPUNI CAI P’ACHATA MUNACURKA C’ATA CHURINTA KORKA TUCUY JAKAI PAIPI CREEJ AMA HUANUNAMPAJ ANTES HUIRAY, CAUSAYNOIJ CANAMPAJ”.
Ao ouvir isso, o chefe largou o pão, como se estivesse zangado. O Missionário não sabia exatamente o que pensar ou dizer. Então se deu conta de que o índio ficou surpreso com o que tinha ouvido, porque nunca havia entendido que Deus o amava. Foi a primeira vez que ele ouviu tal pensamento. Os índios viam Deus como um Deus irado, que demonstrava sua ira nas provações, tempestades e acidentes que aconteciam em suas vidas. Eles não pensavam n’Ele como um Deus amoroso.
Agapo e o Missionário tornaram-se bons amigos. Ele vinha frequentemente para que o Missionário lesse as Escrituras para ele a partir do Novo Testamento que o Missionário havia lhe dado. Como a maioria dos índios da época, ele não sabia ler.
Algum tempo depois, Agapo ficou muito doente. Seu último pedido foi pedir a seus homens que o levassem até o Missionário e o deitassem sob a árvore onde haviam visto ‘a Luz’. O Missionário e sua esposa saíram para ver o que podiam fazer por ele. O Missionário o consolou com a Palavra de Deus. Ele ouviu em silêncio, depois sorriu. Levantando a mão direita, que é um sinal que os índios fazem quando querem dizer “Tudo está bem!“, Ele partiu para “estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Fp 1:23). Aqueles de nós que conhecem a Cristo como nosso Salvador verão um dia o Chefe Agapo em glória com Cristo, um troféu da graça de Deus.
Fiéis Até a Morte
Os índios Incas ocupam grandes áreas de terra. Alguns de seus terrenos são muito adequados para o cultivo de trigo, milho e batata, enquanto outros são montanhosos e adequados para pastagem. A maioria possui gado, ovelhas e principalmente cabras; outros pastam com número de lhamas, burros e mulas.
O governo é o proprietário do território Inca e impõe um imposto a cada família a ser pago anualmente. Este imposto é obrigatório. No final do ano, cada chefe de família deve se apresentar diante do chefe da tribo, chamado em seu idioma de ‘Casique’, para pagar esse imposto anual. O Casique é responsável perante o governo pelo dinheiro recebido, que é uma quantia bastante grande quando tudo é arrecadado. Como os índios costumam pagar em ‘billetes’ ou notas de pequeno valor, você pode imaginar o tanto de notas que havia. O Chefe, portanto, envia esse valor pelos Subchefes para o banco mais próximo para ser convertido em notas de maior valor. Estas são então entregues ao Chefe da Tribo, que ordena que estes sejam firmemente amarrados em um pacote e devidamente enviados para o escritório do Governador. Por sua vez, ele remete esse pagamento para o que seria chamado neste país de Receita Federal.
O Missionário narra a seguinte história a respeito da entrega, em uma certa ocasião, deste pacote de dinheiro, enviado pela tribo em que ele estava trabalhando pelo evangelho. O Chefe foi salvo, mas ninguém sabia se o subchefe foi ou não salvo.
O chefe contou com cuidado o dinheiro e o transformou em um grande embrulho e amarrou nos ombros do subchefe. A entrega desse dinheiro é sempre feita no final de cada ano, quando todos os rios geralmente estão inundados. Como existem poucas pontes para atravessar as águas turbulentas, o Subchefe deve carregar ‘o tesouro’ nas costas e esperar por uma oportunidade adequada para atravessar o rio.
Ele chegou a um rio perigoso daquela região, não muito longe de onde o Missionário morava. Como a água estava de margem a margem, o Subcomandante teve que esperar muito tempo para o rio descer. Naquele ano, estava mais turbulento que o normal e continuava transbordando em seus braços. Por ser importante entregar o tesouro em um determinado momento, o subchefe pensou que ele tentar atravessar. Por fim, ele entrou no rio em um lugar que achava que poderia fazê-lo sem molhar o pacote amarrado às costas. Mas, infelizmente, antes que ele pudesse atravessar, as inundações caíram mais fortes do que nunca. Era muito profundo e forte para ele manter o equilíbrio. Aquelas águas turvas se fecharam sobre ele, ele se afogou e foi levado pela correnteza.
As notícias chegaram aos índios de que seu subchefe havia se afogado. Que calamidade! Foi feita uma busca por seu corpo, mas e o tesouro? Tudo estava perdido! O chefe notificou o governador de sua perda, assegurando-lhe que fariam o possível para substituí-la.
Um dia, um homem notou um corpo nu de um índio a quilômetros do rio abaixo na margem, entre pedras e madeiras. Era o subchefe. A torrente furiosa havia batido seu corpo contra as pedras e suas roupas foram arrancadas de seu corpo, mas, ao examinar o corpo com mais cuidado, o homem notou que na mão esquerda havia um pacote que a mão ainda estava segurando firmemente. Na morte, ele havia fechado a mão no embrulho e o tesouro foi preservado!
O chefe veio e interveio. Ele secou o dinheiro e entregou ao governador o mais rápido possível. Ele providenciou para que seu subchefe tivesse um funeral e enterro adequados. Aqueles que conheciam a Cristo como seu Salvador esperam que, durante a luta com as águas, ele tenha aceitado a Cristo como seu Salvador.
O Senhor confiou “um tesouro” a nós. Será que estamos o segurando firmemente? Em 1 Samuel 3:1 Deus nos diz que “a palavra do SENHOR era de muita valia naqueles dias”. O apóstolo Paulo escreve a Timóteo, dizendo: “Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado” (1 Tm 6:20).
Em Apocalipse 3:8,10 e 11, o Senhor faz uma promessa maravilhosa aos que guardam Sua Palavra: “tendo pouca força, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome… Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra. Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”.
Não Removerás o Marco do Teu Próximo
Na Bolívia, existem grandes áreas de terra concedidas aos índios Incas, marcadas pelo que é chamado em espanhol ‘mojones’ ou ‘marcos’. Os espanhóis gananciosos, americanos ou ‘patronos’ chegaram à Bolívia muito tempo depois que os Incas estavam lá e estavam continuamente rompendo esses marcos (pontos de referência) removendo as pedras.
Um dia, quinhentos índios liderados por seu Chefe, todos montados em mulas, pararam do lado de fora da pequena casa do Missionário. Quando o Missionário perguntou aonde eles estavam indo, o chefe disse que eles matariam todo mundo que tivesse retirado seus ‘mojones’ ou invadido propriedades indígenas. O Missionário o advertiu do perigo de fazer uma algo assim, porque o governo os puniria por ferir alguém ou até mesmo por lutarem contra eles.
O chefe tornou-se muito amigo do Missionário. Segurando um rolo de papel na mão, ele disse:
— Esses são os títulos de nossa propriedade e os marcos foram movidos.
Ele os entregou ao Missionário, dizendo:
— Você quer ler esses títulos e definir cuidadosamente os marcos antigos para mim, e me informar onde estão os marcos reais?
Dispensando seus homens armados, ele confidenciou ao Missionário:
— Confio em você com esses papéis, mas nunca confiaria em mais ninguém. Eu sei que você vai me dizer a verdade.
Não foi muito difícil decifrar os títulos, pois os marcos foram construídos distintamente no topo dos Andes Internos, chamados em latim, EL DIVORCIO AQUORAM, ou seja, a divisão dos fluxos das águas. A terra nutrida pelas águas que corriam para o Ocidente era propriedade indígena, enquanto a terra nutrida pelas águas que corriam para o Oriente era do homem branco. Pedras enormes erguidas no ano de 1600 marcavam isso.
O Missionário levou o chefe pessoalmente para mostrar-lhe os antigos marcos. Foi uma viagem de vários dias. Juntos, eles visitaram os clientes naquele distrito para discutir o problema com eles e mostrar onde os pontos de referência deveriam estar. O Missionário explicou aos patronos que ele havia impedido o chefe e sua tribo de matá-los por causa dessa violação de seus direitos de propriedade ancestrais.
O Missionário e o chefe fizeram o seguinte acordo com os brancos: Os marcos antigos seriam respeitados a partir de agora; se gado, cabras ou outros animais indígenas passassem para a propriedade dos patronos, eles seriam recolocados novamente e os índios seriam notificados. Os índios fariam o mesmo se os animais pertencentes aos Patronos passassem para a propriedade indígena. Isso funcionou maravilhosamente e continua funcionando até hoje; assim, um massacre por causa dos ‘mojones’ foi evitado. As amizades foram recuperadas e os marcos não foram rompidos, pelos quais louvamos ao Senhor.
Um dos patronos, assim como sua filha caçula, foram levados a confiar no Senhor como Salvador por meio disso. Ambos estão agora com o Senhor. Eles foram amigos dos índios até o último momento.
Outro patrono, apesar de não ter sido salvo, convidou o Missionário a pregar o Evangelho a seus servos que viviam em sua propriedade. Em um determinado horário, todos os dias, ele os reunia para o Missionário falar com eles. Somente a eternidade revelará os resultados.
Havia 26 famílias no total. Vários foram salvos, incluindo alguns de seus filhos. Hoje existem duas assembleias lá, uma com setenta irmãos em comunhão, lembrando-se do Senhor até que Ele venha e mais dez irmãos em outra assembleia.
O amor nunca falha – a verdade no amor e o amor na verdade. Isso é irresistível, amado. Que sejamos sempre fiéis em todas as coisas!
Uma Grande Tristeza
A esposa do Missionário, Rose, não estava bem. Naturalmente, seu marido estava muito preocupado com ela. Os índios a amavam muito. Suas ministrações oportunas foram úteis para aliviar muitas de suas dores e enfermidades. Ela havia ajudado muitos no nascimento de seus filhos ao mundo. Ela havia se entregado sem reservas, mas quando sua doença era mencionada, ela apenas sorria e dizia:
— Eu ficarei bem em breve.
Um dia, um dos engenheiros ingleses das minas de Aramayo, em Siete Suyos, a chamou para ajudar sua esposa, que estava no hospital nas minas esperando o nascimento de seu primeiro filho. Rose fez as malas às pressas, mas o marido não a deixou ir sozinha. Ele esperava que um dos bons médicos do hospital fizesse um check-up em sua amada.
Para sua alegria, ela conhecia bem um dos médicos que trabalhavam lá. Ela trabalhou com ele em cirurgias no hospital em La Paz antes de se casar. Quando ele comentou como ela estava doente, ela disse que seu marido estava com ela e ele queria que ela fizesse um bom check-up antes de voltar para Yulo. Mais tarde, ela apresentou o marido a este médico. Ele estava agradecido por essa oportunidade de perguntar se ele examinaria sua esposa, para ver o que estava errado, porque ela não estava bem há algum tempo.
No dia seguinte, o médico deu a Rose todos os testes possíveis. Mais tarde, ele disse ao marido que temia que não houvesse muito o que fazer. Parecia que ela tinha câncer avançado no estômago. Ele não achou possível operá-la. O coração do Missionário estava quase quebrado ao pensar em sua amada sofrendo tanto. Eles oraram juntos para que o Senhor os guiasse sobre o que Ele gostaria que eles fizessem.
Rose tinha um primo em Londres, Inglaterra, conhecido por ser um cirurgião renomado. O Missionário sugeriu que eles fossem para a Inglaterra – talvez o primo dela pudesse ajudar sua querida. Além disso, talvez a viagem marítima lhe fizesse bem. Então eles começaram a fazer as malas, pedindo a duas famílias indígenas que cuidassem de sua casa enquanto estavam fora. As duas famílias ficaram muito felizes em fazer isso e o Missionário acreditava que podiam confiar nelas para fazer a coisa certa e manter as coisas em ordem.
A viagem à Inglaterra foi uma grande alegria e bênção para os dois. Mas quando o Missionário estava sozinho, ele derramava muitas lágrimas. A querida Rose às vezes ficava fraca demais para deixar sua cabine. Outras vezes, ela descia e descansava no convés, onde gostava de observar as gaivotas e as ondas, enquanto seu querido esposo estava sentado ao seu lado, lendo a Palavra de Deus para ela ou conversando com ela.
Quando chegaram à Inglaterra, foram diretamente para Londres, onde encontraram um quarto perto do hospital onde seu primo, que era cirurgião, estava trabalhando. Ele não era Cristão, mas pouco a pouco, quando ouviu falar do trabalho deles para o Senhor entre os Incas, demonstrou mais interesse em sua prima, Rose. Ele fez um exame completo e outros especialistas fizeram o mesmo. Infelizmente, ele disse ao marido que não havia absolutamente nada que alguém pudesse fazer. Queremos deixar as responsabilidades pessoais aos indivíduos. Não ajudaria, mas causaria mais sofrimento a ela. Rose sempre saía dessas consultas com aquele sorriso doce dela. Ela dizia:
— Não importa, querido, a vontade do Senhor será feita. Há apenas algo que desejo: voltar para a Bolívia e estar com nosso Senhor e Salvador entre os queridos que amamos lá.
Depois de receber a opinião dos médicos, não havia motivo para prolongar a estadia na Inglaterra; por isso, o Missionário comprou dois bilhetes de Liverpool para Buenos Aires no primeiro navio que partia de Liverpool.
Apesar de tudo o que ele fez para aliviá-la, foi uma viagem muito difícil para a querida Rose em sua condição de enfraquecimento. Mas nem tudo foi triste. Por exemplo, um dia fazia muito calor na cabine (não havia ar-condicionado nas cabines naquela época), e ela não estava forte o suficiente para estar no convés. Então ele abriu a vigia para que ela pudesse tomar um pouco de ar fresco. Como isso foi refrescante! Ela estava gostando tanto da brisa quando de repente uma onda enorme atingiu aquele lado do navio e a água escorreu pela vigia, encharcando a querida Rose. Seu senso de humor aumentou pela ocasião. Ela apenas sorriu e riu enquanto se sentava e seu querido esposo a ajudava a trocar de roupa.
A próxima etapa dessa longa e árdua jornada foi de trem de Buenos Aires até a fronteira com a Bolívia. Os trens daqueles dias não eram do tipo confortável que vemos na América, e o Missionário orou sinceramente para que o Senhor os guiasse e desse a Rose a força necessária para a viagem de trem.
A parte final da viagem provavelmente seria mais difícil antes que eles chegassem à sua pequena casa, e o Missionário simplesmente não sabia como ele iria terminar esse segmento a partir da fronteira boliviana. Ele se lançou completamente aos cuidados do Senhor, sentindo seu desamparo. O Senhor teve que providenciar isso – o que Ele fez à Sua maneira maravilhosa. Ele conhecia a necessidade deles e foi adiante deles para preparar o caminho. “E será que, antes que clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei” (Is 65:24).
Como não esperavam conhecer ninguém quando desceram do trem, imagine sua surpresa e deleite em se encontrar com o coronel na plataforma da estação! Este foi o coronel que resgatou o Missionário da prisão em Potosi. Ele estava na estação naquele dia porque a Bolívia, à beira da guerra com o Paraguai, estava sob ‘lei marcial’ e o coronel estava encarregado das forças de lá.
Quando o coronel os viu, os cumprimentou calorosamente e depois observou como Rose estava muito doente. O Missionário contou a ele sua longa viagem à Inglaterra, na esperança de que ela recebesse tratamento benéfico. Ele disse que eles haviam descoberto que não havia tratamento possível, mas era seu desejo retornar à Bolívia para que ela pudesse estar com o Senhor entre as pessoas que ela tanto amava. O coronel foi muito gentil e disse que faria todo o possível para ajudá-los. Ele pediu um caminhão expresso para levá-los diretamente para casa em Yulo. Que grande misericórdia foi essa!
O Senhor fortaleceu Rose e seu querido esposo nesta última parte da viagem juntos. Ela agradeceu ao Senhor por poder ir para casa, para sua própria cama, e voltar para casa, para a glória, para estar com Ele dali em diante.
Ela viveu apenas oito dias depois que eles chegaram em casa em Yulo. No dia em que o Senhor a levou para casa, Rose chamou seu amado para mais perto. Ela disse a ele que sempre esperava conhecer sua mãe e pai. Ela também disse que gostaria que ele reivindicasse uma quantia que havia depositado em um banco em San Francisco, Califórnia, antes de deixar os Estados Unidos. Ela entregou-lhe o livro do banco e o incentivou a tentar visitar seus pais na Nova Zelândia, pois ele estava ausente por muitos anos, mas implorou:
— Volte, querido, aos nossos amados Incas.
Então ela disse que achava que haveria dinheiro suficiente para comprar um carro pequeno quando ele voltasse, o que ela sabia que seria uma ajuda para ele no trabalho para o Senhor na Bolívia.
Ela ficou em silêncio por alguns minutos e depois disse:
— Querido, você pode gentilmente abrir minha Bíblia em Romanos 15 e ler o versículo 13 para mim.
“Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo”.
— Querido — disse ela —, este é um bom verso para descansar minha cabeça e para você também descansar em sua tristeza. Eu sei que você terá um tempo muito difícil, mas o Senhor estará com você.
Então ela olhou para o rosto aflito de seu querido esposo, sorriu e foi imediatamente para estar COM CRISTO QUE É INFINITAMENTE MELHOR (Fp 1:23).
O Missionário não sabia onde ele seria capaz de enterrar sua querida, porque nenhum protestante podia ser enterrado em um cemitério católico, e não havia cemitérios para protestantes. Ele foi ao prefeito da cidade mais próxima e perguntou o que deveria fazer. O prefeito lhe disse:
— Você enterrará sua querida esposa no melhor lugar do cemitério católico aqui nesta cidade. Ela mostrou muito amor e bondade a todos e foi muito amada por todas as pessoas aqui. Eu e o chefe de polícia, com dois guardas, ajudaremos a transportar o caixão para o local do enterro.
Muitos dos índios, a quem ambos tanto amavam, seguiram o corpo dela até seu local de descanso, onde ainda espera até que “os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Ts 4:16-17). A simpatia e o amor dessas pessoas queridas foram muito emocionantes e muito apreciados.
Seu querido marido estava com o coração partido, cansado e doente para ir ao funeral; mais tarde, porém, ele, com alguns dos índios, cortou uma pedra grande e especial e colocou uma placa de bronze nela gravada com seu verso favorito das Escrituras: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2:8).
A placa ainda está lá e, embora isso tenha sido quarenta e seis anos atrás, alguém ainda mantém o túmulo e o memorial em boas condições. Deve ser alguém que a amou há muitos anos.
“O justo ficará em memória eterna” (Sl 112:6).
Esta Coisa Faço
Após a partida de Rose para estar com seu precioso Senhor e Salvador, foi com um coração triste e solitário que o Missionário voltou para sua pequena casa em Yulo, da qual eles tanto desfrutaram juntos. Parecia tão vazia, tão solitária. Ele sentiu que não podia suportar morar sozinho ali. Pensando no casal de índios que havia ficado lá para cuidar disso durante sua ausência para irem a Inglaterra, ele pediu que ficassem para ajudá-lo. Havia muito o que fazer pelos queridos índios, como visitar e cuidar de suas necessidades, espiritual e física. Ele também precisava de tempo para estudar a Bíblia, muita oração e escrita. Foi um bom arranjo.
Depois de um tempo, lembrou-se do pedido de sua esposa, de visitar seus pais na Nova Zelândia e o desejo dela de retirar o dinheiro do banco em São Francisco. Ele decidiu realizar seus desejos.
Nessa mesma época, ele teve a oportunidade de fazer compras em Vitichi e comprou um jornal que trazia a reportagem sobre a morte e o funeral da querida Rose. Compreensivelmente, ele o cortou e o colocou cuidadosamente na carteira. Definitivamente, o Senhor o estava guiando de uma maneira muito especial, embora ele não tenha percebido na época o quanto isso seria importante para ele mais tarde.
A primeira parte da viagem para visitar sua família na Nova Zelândia foi de trem para o Chile. Ele teve que esperar oito dias antes de embarcar em um navio alemão para levá-lo à Cidade do Panamá. Demorou muito tempo esperando, mas todas as manhãs com a Bíblia na mão, ele caminhava pelo litoral e lá lia e observava os pássaros do mar indo e voltando, enquanto interiormente uma grande luta estava acontecendo. Uma manhã, ele ficou tão desanimado que decidiu que, quando chegasse em casa, terminaria o curso de medicina e esqueceria a Bolívia. Tinha muitas lembranças tristes para ele lá.
Mas os pássaros do mar o fascinavam. Ele os assistia sair para encontrar comida para si e voltar todas as noites exatamente ao mesmo tempo, como se isso fosse a única coisa que importava para eles. Que lição havia nessa demonstração da ordem de Deus em Sua criação?
Finalmente, um verso no precioso livro que ele estava segurando na mão veio à sua mente. Abrindo em Filipenses 3:13-14, ele leu: “uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. O pedido de Rose, feito pouco antes de ela estar com o Senhor, voltou à sua memória: “Volte, querido, aos nossos amados Incas. Eles precisam de você”. A luta acabou. O Senhor deu a ele a vitória. Ele inclinou a cabeça, pedindo ao Senhor que o perdoasse por sequer ter pensado em não voltar à Bolívia. No dia seguinte, ele pôde embarcar no navio para o Panamá e de lá para a Nova Zelândia.
Da paz à guerra
Com o coração em paz, pronto para seguir em frente com o que seu Senhor quisesse para ele, o Missionário chegou à Nova Zelândia. Lá ele encontrou tudo mudado. Seu irmão, Hugh, foi estar com o Senhor. Suas irmãs e irmão, Frank, se casaram e todos tinham filhos pequenos. Ele ficou triste ao descobrir que alguns não tinham se casado “no Senhor”.
Ele passou alguns meses com seu pai e mãe na Nova Zelândia. Que alegria era estar com eles de novo! Gradualmente, porém, ele começou a sentir mais saudades de seus amados irmãos bolivianos. Ele manteve contato com alguns deles. Parecia que, como o apóstolo Paulo havia dito em Atos 20:29-30, lobos selvagens haviam entrado entre eles, não poupando o rebanho. Além disso, por si mesmos, alguns estavam falando coisas perversas para atrair os discípulos após si mesmos. Ele deveria voltar! Além disso, ele estava com saudades dos meninos da escola e dos que haviam crescido nas escolas.
O chamado para retornar à Bolívia foi claro. Com saudades profundas, ele se preparou para a viagem de volta à Bolívia, passando pelos Estados Unidos. Ele foi diretamente a São Francisco para fechar a conta bancária de Rose.
Dirigindo-se aos funcionários do banco, ele disse que era o marido dela, e que ela lhe disse para retirar tudo o que tinha no banco. Ele ficou preocupado quando eles pediram uma identificação, o que provaria que ele era seu marido. Então o Senhor o fez lembrar do recorte de jornal que ele carregava em sua carteira! Dizia: “A esposa de…“, dando seu nome completo. O funcionário do banco disse que era uma identificação suficiente. Quão grato ele ficou pelo Senhor o ter guiado a guardar esse recorte! Ele nunca pensou em usá-lo dessa maneira.
Enquanto estava em São Francisco, ele conheceu um amigo que conhecia carros americanos e, portanto, conseguiu ajudá-lo a procurar um carro adequado. Ele sabia que Rose ficaria feliz por ter cumprido seu desejo de comprar um carro com os fundos em sua conta.
Em seguida, ele comprou sua passagem de navio para o Peru. Ele conseguiu comprar uma passagem de cargueiro, tanto para ele quanto para o carro, até o porto de Mollendo, o porto mais ao sul do Peru. De Mollendo, ele e o carro viajaram de trem para La Paz.
Quando ele chegou a La Paz, encontrou a Bolívia em guerra contra o Paraguai. Ele havia se tornado cidadão boliviano quando esteva lá antes e, portanto, foi obrigado a se reportar ao presidente antes que pudesse entrar mais ao interior do país.
Ele alugou um pequeno quarto perto do hospital onde Rose trabalhava e visitou o médico que o ajudou anos atrás, quando ele chegou a La Paz. Um exame físico geral confirmou que sua saúde geral estava boa, mas indicou que ele ainda precisava tomar cuidado nas grandes altitudes.
Na manhã seguinte, ele foi ao gabinete do presidente para ver o que deveria fazer sobre servir no Exército. O Presidente o cumprimentou gentilmente e pediu que se sentasse. O Missionário explicou-lhe que sentia muito, mas não podia, com a consciência limpa, se envolver no serviço ativo, sendo ele um evangelista, seu desejo era falar aos outros sobre o amor de Deus e Sua graça, enviando Seu único Filho para morrer por eles. Ele ofereceu ainda a informação de que havia terminado parte de um curso médico e, se pudesse ajudar de alguma forma, ficaria muito feliz.
O presidente sugeriu que ele fosse direto ao lugar para estar entre os homens, onde estavam lutando, como capelão e como capitão sanitário. Havia muita malária entre eles e não havia ninguém para atendê-los nos campos. O Missionário disse-lhe que, pela graça de Deus, ele ficaria encantado em servir dessa maneira. Ele perguntou onde ele ficaria e quais seriam seus deveres.
Quando o presidente perguntou como ele chegaria às tropas, o Missionário disse que ele tinha um carro lá fora, que havia acabado de trazer dos Estados Unidos. O Presidente perguntou onde ele estava e foi até a janela para que o Missionário pudesse lhe indicar. Ao vê-lo, o Presidente exclamou:
— Ora, é novo e bom também! Você está disposto a sacrificá-lo por um serviço tão difícil? Vai ter muito uso e será muito necessário lá.
O Missionário respondeu:
— Estou disposto, senhor. Acredito que muitos dos meus meninos da escola já estão lá e espero poder ajudar alguns deles, assim como outros meninos por aí.
O Presidente explicou:
— Vou colocar uma placa da CRUZ VERDE na frente do carro e você estará livre para entrar e sair entre as tropas. Você será o Capitão Sanitário de 20.000 homens e estará livre para ensiná-los sobre o amor de Deus e ajudá-los de outras maneiras também.
Ele tocou uma campainha e um oficial entrou na sala. O Presidente disse-lhe para colocar uma placa da CRUZ VERDE no carro do Missionário, e também colocá-lo com o uniforme de capitão e com bandeiras para o capelão e trabalho médico entre as tropas.
O Missionário ficou perplexo por algum tempo – tudo aconteceu tão de repente – mas sentiu que era verdadeiramente algo vindo do Senhor. Ele recebeu suas ordens e instruções sobre como chegar às tropas e o que observar. O presidente então o abraçou e desejou-lhe “bom sucesso”.
O Presidente transmitiu uma mensagem de rádio ao general na linha de frente para lhe dizer que estava enviando o Missionário para encorajar os soldados e cuidar dos doentes. Quando o general soube o nome do Missionário, ele disse ao presidente:
— Envie-o imediatamente. Eu o conheço. Ele será uma boa ajuda entre os meninos daqui.
O Missionário foi procurar o médico que havia sido tão gentil com ele antes, contar o que havia acontecido e perguntar sobre o melhor remédio para a malária. O médico o encorajou e deu-lhe outros conselhos que ele achava que poderia precisar.
No início da manhã seguinte, acompanhado por outros dois oficiais, ele partiu para Chaco, uma área de selva na fronteira do Paraguai. Ao longo da rota havia jovens soldados caminhando porque não tinham outro transporte. O Missionário e os oficiais passaram uma semana para chegar lá de carro. Eles estavam cansados e fatigados quando chegaram; o Missionário se perguntou como se sentiam os queridos soldados que precisavam andar por todo o caminho.
Ao chegar à zona de guerra, o Missionário precisava se familiarizar com os diferentes oficiais, aprender quais seriam seus deveres e como ele poderia ajudar melhor os meninos. Ele também colocou seus poucos pertences em um pequeno abrigo antiaéreo construído com madeira pesada com terra por cima. Ele estava agradecido por ter sua própria cama estreita e pelo abrigo deste lugar. O bombardeio já era muito pesado – às vezes era quase impossível ouvir alguém falar. Um aspecto difícil de sua situação de vida foi a grande dificuldade que ele experimentou ao tentar encontrar alguns momentos para orar ou ler em silêncio a Palavra de Deus, que ele tanto precisava para seu próprio alimento e encorajamento espiritual.
O objetivo do exército paraguaio era capturar os ricos poços de petróleo da Bolívia naquele distrito. O Exército boliviano havia recuado propositadamente quando o Missionário chegou, com a estratégia de avançar repentinamente contra o Exército do Paraguai. Este plano de batalha foi um grande sucesso. Mas o coração do Missionário ficou profundamente triste por muitos jovens de ambos os lados terem sido mortos nessa batalha. Ele fez o que pôde para aliviar alguns dos meninos e confortar os que estavam morrendo, contando-lhes o amor que o Salvador teve ao morrer.
O clima estava muito difícil para a maioria dos bolivianos. Eles estavam acostumados às altas montanhas da Bolívia e ao clima mais frio. Aqui era tudo selva e extremamente quente. Os soldados paraguaios nem usavam sapatos enquanto os soldados bolivianos usavam botas pesadas. Muitos soldados bolivianos ficaram doentes com o calor assim que chegaram lá.
Durante três meses, houve uma batalha ininterrupta durou entre os dois exércitos. Milhares de soldados morreram dos dois lados, muitos de malária. Os dois governos finalmente concordaram em convocar a Liga das Nações para resolver o conflito; assim a guerra terminou. A Bolívia pagou um preço alto para manter seus poços de petróleo – a vida de 60.000 soldados, além de muitos feridos.
Histórias da Guerra do Chaco – Pedro e Francisco
Pedro e Francisco eram irmãos. Francisco frequentou a escola que o Missionário e sua esposa, Rose, tinham em Yulo. Muitas vezes Francisco era espancado pelo pai por frequentar a escola, mas ele sempre voltava. Ele foi levado a conhecer o Senhor Jesus como seu Salvador, pouco antes do Missionário e sua esposa terem ido para a Inglaterra.
Pedro e Francisco eram muito parecidos; mas, diferentemente de Francisco, Pedro não conhecia o Senhor Jesus como seu Salvador. Ele não quis ouvir o evangelho nem frequentou a escola.
Quando a Guerra do Chaco estourou, Pedro, que era mais velho, foi chamado imediatamente para o serviço. Francisco, sabendo que seu irmão não estava pronto para morrer, estava muito preocupado com a possibilidade de ele ser morto na guerra. Um dia, Francisco, vestido com suas melhores roupas indígenas, foi visitar Pedro no quartel. Um guarda o encontrou no portão e perguntou seu nome e quem ele queria ver. Francisco respondeu às perguntas do guarda, foi autorizado a passar e foi direcionado para o local onde encontraria seu irmão. Encontrando-o sozinho, Francisco disse:
— Pedro, você está indo para a guerra. Você pode ser morto e não é salvo; você não está pronto para morrer! Rapidamente! tire a roupa, troque de roupa comigo e saia. Quando o guarda perguntar seu nome, não esqueça de dizer ‘Francisco Gira’.
Eles trocaram de roupa rapidamente. Pedro agradeceu e o abraçou. O Senhor preservou Francisco, mas é triste dizer que Pedro ainda é um homem não salvo. Ele nunca deu seu coração ao Senhor Jesus.
“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (Jo 15:13).
Francisco e o Tigre
Não demorou muito para que Francisco, assim como muitas centenas de outros jovens, fossem enviados para a Guerra do Chaco. Uma noite, ele estava no serviço de sentinela sozinho. Era uma noite muito escura, mas ele havia aprendido a orar, entregando tudo ao Senhor.
De repente, ele ouviu algo se movendo atrás dele. Ele se virou rapidamente, mas não viu nada. Então ele ouviu o barulho atrás dele do outro lado. Rapidamente ele se virou novamente, mas não viu nada. Ele temia que pudesse ser um dos soldados inimigos, mas não se atreveu a atirar porque, se não fosse, e todo o exército fosse despertado, ele seria submetido à corte marcial. Ele poderia até mesmo levar um tiro por causar um ‘falso alarme’!
Mais uma vez ele ouviu o som – desta vez ainda mais perto. Só então a lua saiu brilhantemente. Havia um grande tigre na frente dele! O tigre apenas olhou para ele, depois correu para a selva o mais rápido que pôde. Francisco pensou: “Certamente o Senhor está comigo!” Ele inclinou a cabeça e agradeceu ao Senhor por Sua bondade. “O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra” (Sl 34:7). “Ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13:5).
Um Soldado Moribundo
O capelão era chamado muitas vezes para estar ao lado de um soldado gravemente ferido, mesmo tarde da noite. Um dia a luta foi especialmente pesada. Seu tempo era gasto o dia todo bem como horas cansativas da noite, procurando confortar soldados feridos e organizando a remoção dos mortos. Seu coração ficou profundamente triste com os muitos meninos queridos que foram feridos. Ele ficava entristecido ao pensar no grande número de pessoas que haviam morrido e se perguntava quantos conheciam Cristo como Salvador.
Finalmente, naquele dia em particular, ele se sentiu livre para tentar dormir um pouco. No momento em que se deitou, um soldado enviado pelo sargento solicitou que ele viesse imediatamente. Um soldado ferido estava morrendo e queria saber como ele poderia ser salvo – como ele poderia estar pronto para se encontrar com Deus.
O capelão correu para a trincheira onde lhe disseram que o soldado moribundo estava. Ajoelhado ao lado da trincheira, o capelão ouviu o moribundo dizer com uma voz muito fraca:
— Capelão, você pode me ajudar a morrer?
Para isso, ele respondeu:
— Soldado, eu ficaria feliz em ajudá-lo a morrer se eu pudesse, eu estaria disposto a tentar carregá-lo em meus ombros ao céu, mas não posso fazer isso. No entanto, quero falar sobre quem pode.
— Quem é? — o soldado perguntou fracamente.
O capelão disse-lhe que este homem bendito era seu precioso Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, que Ele veio ao mundo para buscar e salvar o que estava perdido.
Um profundo silêncio se seguiu. O capelão achou que o soldado havia morrido, quando novamente, com uma voz ainda mais fraca, o moribundo fez a mesma pergunta:
— Como posso encontrar Deus; como posso ser salvo?
Ainda ajoelhado ao lado do pobre soldado, o capelão leu para ele o evangelho de acordo com João, capítulo 3, versículo 16:
— “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
O querido soldado ficou ali deitado com os olhos fixos no rosto do capelão. Parecia que cada palavra estava entrando em seu pobre coração.
— Capelão — ele disse fracamente —, por favor, leia essas palavras novamente: ‘para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna’.
Enquanto o capelão lia lentamente as palavras novamente, o soldado moribundo interrompeu:
— Oh senhor, pare! Essas palavras estão realmente aí?
— Sim, soldado — afirmou o capelão — este é o livro de Deus e são as preciosas palavras de Deus.
— Por favor, leia-os novamente! Repita-as, por favor, capelão! — implorou o soldado.
Então ele as leu pela terceira e quarta vez. O soldado cruzou as mãos pesadas no peito. O capelão continuou lendo, mas muito antes de terminar, o moribundo havia fechado os olhos.
De repente, seus olhos se abriram. A expressão aterrorizada no rosto do soldado moribundo havia se transformado em um sorriso doce e pacífico. O medo da morte se foi. Quando o capelão se inclinou sobre ele, pôde ouvir seus lábios ressecados e trêmulos sussurrando:
— “Todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Mais uma vez, seus olhos se fecharam e, após uma breve pausa, de repente se abriram. Colocando-os no rosto do capelão, ele sussurrou:
— Isso é tudo que eu quero, senhor — e se foi para estar com Cristo. “deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (2 Co 5:8).
Caro leitor, você pode dizer que João 3:16 é suficiente para levá-lo ao céu? Sim, é tudo que você precisa.
“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4:12).
Como o Senhor Encontrou Demétrio Tellez
Demétrio era um jovem que trabalhava nas minas de estanho em Potosi, na Bolívia. Quando a guerra eclodiu entre a Bolívia e o Paraguai ele foi imediatamente convocado para o serviço militar. Como Demétrio era um soldado de coragem e habilidade logo se tornou sargento de seu grupo.
Demétrio nunca tinha ouvido o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, então ele não conhecia o caminho da salvação. Na verdade, ele era um sujeito completamente ímpio que passava grande parte de seu tempo livre bebendo com seus amigos. Muitas vezes Demétrio estava atrasado para o serviço, mas a punição resultante nunca pareceu afetá-lo.
Um dia, Demétrio foi baleado seis vezes durante uma feroz batalha que se seguiu quando as tropas bolivianas receberam ordens de ‘consertar baionetas’ e invadir um forte paraguaio. Gravemente ferido, Demétrio foi levado para um hospital de campanha atrás das linhas onde as transfusões de sangue salvaram sua vida.
Do hospital de campanha, Demétrio foi enviado ao hospital principal de Potosi, a Capital. Graças à habilidade e cuidado dos cirurgiões que o assistiram e pela graça de Deus, ele foi curado completamente de seus ferimentos graves. Depois de um tempo considerável, conseguiu voltar a andar.
As portas do hospital estavam fortemente guardadas, mas, em algumas noites, Demétrio, junto com outros soldados feridos e cansados do confinamento, pulavam os muros, inclinados para os prazeres da noite. Passavam as horas nos salões de bares e em outros lugares de maldade. Então, voltando ao hospital bêbados, eles eram severamente repreendidos pelo médico, e um guarda mais forte era colocado para vigiá-lo.
Numa quarta-feira à noite, Demétrio e seus amigos escaparam por cima dos muros novamente. Mas desta vez Demétrio se recusou a acompanhá-los ao bar. Ele queria ficar sozinho, ficar quieto e pensar sobre as coisas. Ele percebeu que estava desperdiçando sua vida e saúde.
Andando devagar pela Rua Junin, ele ficou surpreso ao ouvir o canto e parou para ouvir. Ele se viu do lado de fora de um prédio com uma placa na porta, “Local Evangelico” (Sala do Evangelho). Não foi o canto que atraiu sua atenção tanto quanto as palavras que ele ouviu; ‘Busca a Dios’, ou seja, ‘Busque a Deus’. Demétrio nunca tinha ouvido essas palavras antes e nunca havia lido o livro chamado ‘Bíblia’. Ele entrou pela porta para ouvir. Um cavalheiro sugeriu que ele se sentasse, mas Demétrio recusou, preferindo ficar atrás em pé.
Após o canto, um homem de uniforme de capelão se levantou e abriu um livro. (Demétrio lembrava-se de vê-lo no campo de batalha. Alguns dos colegas costumavam ir ao abrigo de bombas para falar com ele, mas Demétrio não estava interessado na época).
O capelão começou a falar. Ele falou do “Julgamento de Deus“, enfatizando que havia apenas uma maneira de escapar desse julgamento. A maneira era crer no Senhor Jesus Cristo, que veio do céu e morreu na cruz do Calvário para salvar pecadores perdidos. Ele continuou dizendo que todos éramos pecadores perdidos, e se recusássemos aceitar a Cristo como nosso Salvador, não poderíamos escapar do julgamento de Deus, mas o castigo eterno seria nossa sentença.
O capelão disse que tinha visto tantos soldados nos campos de batalha que tinham medo de morrer porque eram pecadores e não conheciam o Salvador. Ele viu outros morrerem que aceitaram a Cristo como seu Salvador e que eles tinham perfeita paz e nenhum medo.
Demétrio pensou consigo mesmo:
— Bem, eu não tenho medo da morte! Por que ter medo? Não fui eu um soldado, orgulhoso, ferido de combate, mas ainda não tenho medo da morte?
Ainda assim, as palavras do orador permaneciam em sua mente: “Você não pode escapar do julgamento de Deus, a menos que acredite no Senhor Jesus Cristo, que tomou o julgamento por você na cruz do Calvário”.
Naquela noite, Demétrio foi visitar sua mãe e contou o que ouviu. Nunca ele havia feito algo assim. Então ele voltou ao hospital. O médico comentou sobre sua volta tão cedo.
Isso foi numa quarta-feira à noite. Havia outra reunião agendada para sexta à noite e Demétrio estava presente. Desta vez, ele pediu permissão ao médico para ir. O médico ficou surpreso, mas não disse nada para impedi-lo.
Quando ele entrou na sala de reuniões, eles estavam cantando “Paz con Dios busque ganarla”, ou seja, “Paz com Deus que eu procurava obter”. Demétrio sabia que ele não tinha essa paz, mas agora a desejava, então, após a reunião, foi ao orador e conversou com ele. O orador disse-lhe:
— Creia no Senhor Jesus Cristo, e você será salvo. Ele fez as pazes pelo sangue de Sua cruz no Calvário.
Demétrio de repente entendeu que o Senhor Jesus estava procurando por ele. Ajoelhou-se com o capelão e pediu a Deus que o salvasse; e Deus o salvou naquela mesma noite. “Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lc 15:10).
No dia seguinte, todos notaram a grande mudança em seu comportamento. Os médicos observaram que, se ele continuasse como estava, logo ficaria bem novamente. Eles até trocaram a medicação, pediram um novo traje para ele e instruíram o diretor do hospital a permitir que Demétrio participasse das reuniões de pregação do Evangelho. Quando o diretor perguntou o que havia acontecido com ele ultimamente, Demétrio respondeu alegremente:
— Senhor, eu tenho Cristo agora e Ele é meu Salvador.
Uma profunda amizade se desenvolveu entre Demétrio e o Missionário que o havia levado a Cristo. Ele ainda o admira como seu pai espiritual e guia nesta peregrinação terrena.
Isso foi há anos. Demétrio é avô agora e tentou criar seus filhos para o Senhor. Ele é um irmão dedicado e fiel na pequena assembleia em Potosi e realiza um belo trabalho. Ele continuou fielmente desde aquela noite, ajoelhou-se e pediu a Deus para salvá-lo. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5:17).
A Conversão do General Flores
O general Flores era o comandante em chefe de 20.000 (vinte mil) soldados bolivianos durante a Guerra do Chaco. No espaço de três anos, 60.000 (sessenta mil) homens morreram naquele terrível conflito na selva. Os bolivianos estavam em uma terrível desvantagem por não estarem acostumados à selva. Muitos deles morreram de malária e febre. O capelão ansiava pelas almas desses homens queridos e pregava o evangelho a eles a qualquer hora do dia ou da noite, enquanto se moviam para as trincheiras.
O próprio general Flores teve um interesse real no evangelho. Ele e sua equipe se sentavam em caixas de munição ouvindo enquanto o Missionário pregava a eles o amor de Deus ao enviar Seu Filho, Jesus Cristo, a este mundo para morrer por homens pecadores. Ele também lhes disse que viria o julgamento se eles recusassem o caminho da salvação de Deus.
Um versículo que o Missionário citou, que parecia despertar no general a percepção de sua necessidade de Cristo de maneira especial era Hebreus 2:3: “como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação”.
Uma noite, ele pregou a partir do versículo: “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez, para tirar os pecados de muitos” (Hb 9:27-28). A certa altura, ele se virou para o general, que estava sentado perto dele, e disse:
— General, você escapou das balas e das bombas nesses três anos, mas há uma coisa da qual você não pode escapar.
— E o que é? — perguntou o general.
— Senhor, você não pode escapar do julgamento de Deus se rejeitar a Cristo, seu Filho unigênito, a quem Ele enviou para tomar nosso lugar e sofrer o julgamento por nós.
O general ficou em silêncio por alguns instantes e disse:
— Então devo aceitar a Cristo como meu Salvador e fazer as pazes com Deus.
Embora alguns de seus homens estivessem presentes, ele se ajoelhou com o capelão. Antes de se levantar de novo, ele confessou a Cristo como seu Salvador e agradeceu a Deus por Seu amor e graça. Outro troféu da graça de Deus!
Filipenses 2:10-11 diz: “para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”.
Muitas vezes, o general e o capelão eram vistos vasculhando as Escrituras juntos. Eles se tornaram amigos. Um dia, o general disse a seu amigo Cristão:
— Quero que você venha à capital, La Paz, assim que formos liberados desta guerra.
A guerra já havia terminado e os homens estavam começando a ir para casa. Ele continuou:
— Tenho esposa e uma única filha; ambas não são salvas. Vou fazer arranjos para você vir a minha casa com o Evangelho de Cristo, e quero que você pregue o evangelho a minha esposa e filha.
Não demorou muito para que eles fossem liberados do Exército e capazes de voltar para casa. O Missionário foi a La Paz e gostou de visitar o general, bem como a sua esposa e filha. Ele teve a alegria de levar as duas ao Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Certamente, o general já havia confessado o Senhor como Seu Salvador para elas, contando sua alegria no Senhor. Era notório para elas que sua vida mudou.
Algum tempo depois, o general Flores foi enviado para assumir o comando de um exército na fronteira com o Brasil. O Missionário recebeu a notícia de que seu amigo e irmão em Cristo estava “com o Senhor”. Aparentemente, ele foi atingido por uma flecha envenenada, disparada por um índio de uma das tribos que viviam na fronteira.
A morte súbita é uma glória repentina para o Cristão, e o querido general Flores estava com Cristo. Ele verá sua amada esposa, sua filha e o Missionário “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (I Ts 4:16-17).
“E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação; e para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra” (Ap 5:9-10).
Visitas aos Estados Unidos e Canadá e o Retornam Via Peru
Após a morte de sua esposa, Rose, o Missionário descobriu que havia muito que ele não podia fazer entre os queridos Incas sem ajuda. Ele também era muito solitário sem sua amada Rose. Cinco anos após a Guerra do Chaco, ele decidiu que o Senhor não o deixaria continuar sozinho.
Ele gostava de se corresponder com uma jovem da Califórnia, a quem havia conhecido alguns anos antes. Por fim, ele escreveu para perguntar se ela seria sua esposa e o ajudaria na obra do Senhor na Bolívia. Sua resposta lhe deu muita alegria. Assim, ele foi para a Califórnia, onde se casaram. Eles voltaram juntos para a Bolívia e fizeram sua primeira casa em Aripalca, onde havia uma assembleia agradável e uma escola de bom tamanho. Trudy era professora do ensino médio e provou ser uma verdadeira ajuda e bênção nas escolas. Ela amava os bolivianos e seus filhos e treinou alguns dos meninos para ensinar nas escolas.
Cerca de dez anos depois do casamento, eles oraram para visitar aqueles ‘verdadeiramente reunidos em nome do Senhor’ nos Estados Unidos e no Canadá. Eles estavam se correspondendo com muitos desses crentes há alguns anos, mas nunca os conheceram. Além disso, eles precisavam de uma pausa e parecia que a mente do Senhor era que eles fizessem essa viagem. Certos irmãos nativos podiam ficar sob a responsabilidade das pequenas assembleias com suas escolas dominicais e escolas diurnas até seu retorno à Bolívia.
Partindo de Antofagasta, Chile, de navio, eles se transferiram para outro navio na Cidade do Panamá que os levou para Nova Orleans, onde encontraram uma carta de Pasadena, Califórnia, aguardando sua chegada. As palavras não expressam como isso foi de grande encorajamento para os missionários isolados e solitários. Acreditando que tinham a direção do Senhor, foram diretamente a Pasadena, onde foram recebidos com muito amor.
Onde quer que fossem, eram bem-vindos, como somente os Cristãos podem se acolher. O Senhor disse em João 13:35: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. De Pasadena, foram levados para visitar diferentes assembleias na Califórnia; depois para os outros Estados e para o Canadá. O amor mostrado a eles em todos os lugares foi maravilhoso, e um grande conforto e encorajamento para os dois, depois de ficarem sozinhos por tanto tempo.
Enquanto nos Estados Unidos, alguns irmãos compraram um caminhão para que levassem quando estivessem de volta à Bolívia. Eles estavam maravilhados. Que ajuda ele seria no trabalho deles para o Senhor na Bolívia! Era mais do que eles jamais sonharam conseguir. Eles sabiam que levá-lo para a Bolívia seria uma viagem longa e difícil, mas pouco imaginavam como seria uma provação levá-lo até a Bolívia. Mas o Senhor havia dado a eles. Ele conhecia o fim desde o começo e os preparava para as muitas provações e dias cansativos que os aguardavam.
Tudo correu muito bem nos Estados Unidos. Um jovem irmão em Cristo se ofereceu para levá-los à cidade de Nova York, onde o caminhão foi carregado no mesmo navio a vapor em que estavam navegando para Callao, no Peru. Este foi um bom começo.
Os problemas começaram na chegada a Callao, Peru, onde eles tiveram um longo atraso de sete semanas devido à burocracia aduaneira e à procrastinação. O tempo estava muito húmido e frio, e os dois ficaram doentes por um tempo. Além disso, eles eram completamente estranhos – não conheciam ninguém. Para aumentar as dificuldades, o Peru estava em estado de guerra civil. Quando foram reivindicar o caminhão e seus pertences, todos os seus pertences pessoais haviam sido retirados do caminhão e reenviados para Mollendo, Peru, em um navio a vapor peruano. Por fim, o caminhão foi liberado da alfândega, além de quatro grandes caixas de folhetos evangelísticos (“Para onde ir”) em espanhol, que um amigo da Califórnia lhes deu. Essas caixas eram os únicos itens que eles podiam levar no caminhão, mas isso era verdadeiramente algo do Senhor. Eles foram capazes de semear a Semente Preciosa pelo caminho! Eles não sabiam o que havia pela frente, mas o Senhor sabia. Ele estava planejando para eles o tempo todo. “O caminho de Deus é perfeito” (2 Sm 22:31).
Por fim, estavam livres para viajar para a Bolívia. Após vinte e um dias de viagem por estradas difíceis, às vezes traiçoeiras, chegaram perto da fronteira da Bolívia. Aqui, guardas militares os detiveram para examinar suas credenciais e bens pessoais.
Quando um oficial demonstrou grande interesse pelos folhetos, o Missionário explicou o que eram e depois perguntou se poderia dar um a cada um dos soldados de lá. O oficial gentilmente deu sua permissão, até ajudando a distribuí-los. Isso esvaziou uma caixa. Ele ainda tinha mais três caixas e se perguntou onde o Senhor o faria usá-las.
Foi dada permissão para dirigir até a área onde o próximo regimento de soldados estava em guarda. Lá, ele foi autorizado a distribuir o conteúdo de outra caixa para os soldados. Que oportunidade maravilhosa foi essa de anunciar as Boas Novas da salvação por meio do uso dos silenciosos mensageiros de Deus!
Próximo ao último posto militar antes de entrar na Bolívia, o oficial comandante era formado em ‘West Point’ e falava Inglês fluentemente. Ao saber do destino deles, ele disse que seria muito perigoso que eles passassem no último posto militar, por isso os acompanhou graciosamente até que estivessem fora da zona de combate. Antes de deixar esse posto, o Missionário foi autorizado a distribuir as duas últimas caixas de ‘Para onde ir’ aos soldados. Certamente encontraremos alguns desses soldados em glória!
Foi um alívio estar fora da zona de combate. Ambos estavam muito cansados. Até agora, eles tinham sido obrigados a dormir no caminhão sob guarda. Às vezes eles não conseguiam comprar comida, mas os oficiais geralmente dividiam sua comida com eles.
Depois de deixarem essa última área, começaram a parte longa, tediosa e acidentada da jornada pelos Andes, que se elevam a 15.000 pés. Ambos sofreram com “soroche” (doença das montanhas), que causou vômitos violentos e fraqueza, mas tiveram que continuar até atingir uma altitude mais baixa antes de obter alívio. Em Puno, no Peru, eles puderam passar algumas noites em um quarto de hotel. Quão agradecidos estavam por poderem comprar comida e tomar um banho quente e refrescante e de terem uma cama para dormir. Mais uma vez eles perceberam como o Senhor tinha ido antes deles, e fiel à Sua promessa, Ele nunca os deixaria nem os abandonaria. Então eles tomaram coragem e se regozijaram n’Ele.
Depois de alguns dias de descanso em Puno, de que tanto necessitavam, partiram para Mollendo, no Peru, onde todos os seus pertences foram guardados na Alfândega. Depois de obter a liberação, eles foram logo carregados. Com ação de graças e louvores ao Senhor, eles finalmente estavam na última parte de sua viagem de caminhão para a Bolívia.
Aventuras com um Caminhão do Peru a La Paz, Bolívia
Com o coração agradecido e a confiança renovada no Senhor, os Missionários iniciaram a viagem a La Paz, a capital da Bolívia. Foi outra jornada extenuante em passagens altas, causando novos problemas com a ‘doença das montanhas’. Eles agradeceram a força que o Senhor lhes deu para continuar.
Ao se aproximarem de La Paz, por volta da meia-noite, notaram que o tanque de gasolina estava muito baixo e se perguntaram se teriam realmente gás suficiente para chegar a La Paz. Então eles viram uma casa com todas as luzes acesas. Buscando coragem do Senhor, o Missionário bateu à porta. Ele perguntou ao homem que atendeu a porta se sabia onde poderia comprar gasolina. Imagine sua surpresa e alegria quando o homem disse:
— Tenho uma lata de quatro galões que você pode comprar.
Ele graciosamente as vendeu a eles e então seguiram maravilhados com a graça de Deus e Sua provisão incessante para todas as suas necessidades.
Eles tiveram outra noite ruim viajando por causa da altitude, mas finalmente encontraram um pequeno hotel onde conseguiram um quarto. Eles estacionaram o caminhão na parte de trás do prédio e foram para o quarto, onde passaram um bom sono de muitas horas. Eles estavam cansados. Quão refrescante e necessário foi este sono!
Na tarde seguinte, quando passaram pela alfândega com o caminhão, as autoridades exigiram US $ 1.000,00 (Mil dólares) em impostos antes de permitirem a entrada do caminhão. Este foi um golpe chocante. O que eles deveriam fazer? Eles não tinham muito dinheiro para começar.
Enquanto estava voltando para se encontrar com sua esposa, o Missionário refletia em sua mente sobre esse tremendo problema, quando, inesperadamente, encontrou um jovem advogado que conhecia muito bem. (Um fato interessante foi que, anos atrás, quando o pai desse jovem advogado estava morrendo, ele perguntou ao Missionário se ele cuidaria de seu filho, o que ele fez com prazer. Ele até o mandou para a faculdade para fazer seu curso de direito).
Depois de abraçar o Missionário (como é o costume quando se encontram), o jovem advogado perguntou o que ele estava fazendo em La Paz. O Missionário contou a ele sua dificuldade, explicando que ele não tinha nem metade do dinheiro suficiente para pagar o imposto. O jovem advogado respondeu:
— Deixe comigo! Lembre-se, anos atrás, você era como um pai para mim quando eu precisava; agora é a minha vez de ajudá-lo. Pode deixar comigo.
O Missionário ficou maravilhado ao ver como o Senhor os guiava passo a passo, como Ele havia prometido, e supria abundantemente todas as suas necessidades.
O jovem advogado foi ao Ministro do Governo, que era um bom amigo dele, e explicou a dificuldade do Missionário – como ele havia dado sua vida pelos índios Incas, educando-os e tratando-os medicamente quando estavam doentes, nunca cobrando nada. Ele também explicou que o Missionário o havia enviado para a faculdade depois que seu próprio pai morreu. E acrescentou:
— Como membro do Parlamento, peço que você deixe o caminhão dele passar livre de impostos. Ele fez muito pelo nosso país.
O ministro do governo sorriu. Ele já tinha ouvido falar do Missionário antes. Então ele disse:
— Traga seus papéis para mim.
Ele assinou com letras grandes “LIVRE DE IMPOSTOS”. Esta foi uma sequência além de qualquer coisa que eles pudessem pedir ou pensar. Quão amplamente o Senhor concede Seus favores!
Que alívio isso foi para o Missionário e sua esposa. Oh! como eles agradeceram ao Senhor por Sua bondade amorosa em todos os detalhes – permitindo que ele encontrassem o jovem advogado no momento crucial e preparando o coração do jovem advogado para interceder em favor deles. Verdadeiramente, os Seus caminhos são perfeitos!
Depois de agradecer ao jovem advogado e desejar-lhe ‘Adiós’, com o coração transbordando, começaram a viagem a Potosi. Quão maravilhosamente o Senhor se importa com os Seus!
Frequentemente, o Missionário e sua esposa cantavam o Hino 174 (Little Flock Hymn Book – que é o Hino 120 do nosso hinário em português) juntos, enquanto viajavam no meio de provações conhecidas apenas pelo próprio Senhor.
1.Paciente e fiel Pastor
Concede-nos levar
Teu jugo e aprender de Ti,
Descanso alcançar.
2.Jesus! Satisfarás
Pra sempre o coração,
Não há temor perante Ti;
Que doce emoção!
3.E ao Te encontrar
Teu rosto iremos ver,
E em Tua glória contemplar
O Teu formoso Ser!
4.Iremos desfrutar
Da obra de amor,
E para sempre entoar
A Ti real louvor!
Hino 120
De La Paz a Potosi
A viagem de La Paz a Potosi naquela época era muito difícil, na melhor das hipóteses. Não havia boas estradas como as que existem hoje. A antecipação da viagem definitivamente não foi a mais feliz! Os Missionários estavam ambos muito cansados, mas o Senhor sabia tudo sobre isso, apesar de não saberem o que estava adiante deles. O Senhor havia maravilhosamente empreendido por eles até agora e cuidaria deles até o seu destino. Eles sabiam disso!
Quando eles saíram do hotel em La Paz para pegar o caminhão na parte de trás do hotel, o Missionário encontrou um amigo de Potosi, que ele conhecia bem. Este amigo, surpreso ao vê-los, perguntou:
— O que vocês estão fazendo aqui, missionários? Onde vão?
O Missionário respondeu:
— Estamos a caminho de Potosi.
Este amigo era um homem influente na cidade de Potosi. Ele respondeu:
— Eu tenho que ir para Potosi. Meu carro não está bom para fazer a viagem. Eu estava procurando por um amigo que pudesse me levar em um veículo mais forte. Posso ir com você? Vocês dois parecem bem cansados. Ficaria feliz em dirigi-lo até lá e prometo levá-lo até lá com segurança”.
Os viajantes cansados estavam dispostos e agradecidos para aceitar esta oferta. Foi um grande alívio ter ajuda para dirigir por aquelas estradas perigosas.
Depois de dois dias de viagem, chegaram à meia-noite em Potosi. Como foi muito decepcionante encontrar a cidade sob lei marcial. Uma grande corrente havia sido esticada do outro lado da rua principal e uma voz rouca os cumprimentou, gritando:
— Parem! Qual é o seu negócio?
O Missionário se identificou pelo nome e explicou que estava voltando para casa. Imediatamente o policial reconheceu sua voz e disse: ‘Adelante’ (continue), abaixando a corrente para que eles passassem. Ele os aconselhou a serem cuidadosos por causa da ‘revolução’ na cidade. Eles quase não precisavam do aviso.
Prosseguindo com cuidado e com oração em seus corações, encontraram um posto de gasolina por volta das quatro horas da manhã. Antes disso, o Missionário havia trocado de lugar com seu amável amigo, que havia dirigido quase todo o caminho para La Paz. No posto de gasolina, o amigo deles os deixou e nunca mais o viram. O Senhor o havia usado como Seu instrumento na extremidade deles e os tinha guiado com segurança até seu destino.
Depois de comprar a gasolina que precisava, o Missionário perguntou ao proprietário do posto de gasolina se ele poderia deixar o caminhão com ele enquanto estivessem no hotel. Relutante, o proprietário disse que eles poderiam deixar no local, mas não assumiria nenhuma responsabilidade por causa da guerra civil. Também alertou que os militares estavam confiscando todos os veículos disponíveis para o serviço militar; no entanto, ele prometeu fazer o possível para mantê-lo enquanto eles estivessem no hotel.
Deixando o caminhão com ele, eles foram cansados para o hotel mais próximo. Eles precisavam desesperadamente dormir. Apesar do barulho das metralhadoras nos arredores da cidade, eles conseguiram dormir um pouco. Que sono abençoado foi!
Por volta das nove e meia da manhã seguinte, o Missionário saiu para pegar seu caminhão. Quem ele encontrou ao sair do hotel? O juiz da corte de Potosi, a quem ele conhecia muito bem desde os dias em que ensinava inglês na Universidade de Potosi! O juiz, muito surpreso ao vê-lo, o abraçou no estilo Espanhol e então perguntou:
— Como você chegou aqui?
— De caminhão desde Lima — respondeu o Missionário — Eu só vou buscá-lo no posto de gasolina onde estacionei. Estamos a caminho de casa, vindo dos Estados Unidos, depois de alguns meses.
— Onde está Trudy? — perguntou o juiz ansioso.
— Ela está me esperando naquele hotel — afirmou o Missionário, apontando para uma certa janela de frente para o Prédio do Governo — Nós estamos ficando naquele quarto.
O juiz então disse enfaticamente:
— Senhor, saia dali o mais rápido possível! Vá buscar Trudy imediatamente e leve-a para minha casa! Minha esposa vai lhe dar um quarto e cuidará de Trudy. Vá rápido! Então vá para o seu caminhão antes que o Exército o reivindique. Eles devem bombardear este distrito muito em breve.
Como você pode imaginar, o Missionário não perdeu tempo em levar a esposa e as bagagens para fora do hotel e para a casa do juiz. Ao voltar para pegar seu caminhão no posto de gasolina, ficou chocado ao ver que, em tão pouco tempo, todo o lado do hotel onde estavam hospedados foi completamente bombardeado – nada restou. Que libertação oportuna foi essa! Quão perfeitamente o Senhor cronometrou todos os eventos. Continuando sua rápida caminhada até o posto de gasolina, ele pensou na promessa do Senhor em Salmos 91:7: “Mil cairão ao teu lado, e dez mil, à tua direita, mas tu não serás atingido”. Seu coração estava cheio de louvor ao Senhor por Sua bondade para com ele e sua amada.
O Caminhão é Levado pelos Militares
Depois de ver a devastação do hotel que haviam deixado tão pouco tempo antes, a mente do Missionário se encheu de pensamentos sobre o maravilhoso cuidado e misericórdia do Senhor. Como foi angustiante ver sua amada Bolívia novamente em plena agonia – desta vez na guerra civil – bolivianos lutando contra bolivianos. E, no entanto, como é reconfortante, em meio a tanta agitação, ter a promessa de Deus em Isaías 26:3: “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti”.
Era apenas uma curta distância do hotel até a estação de serviço onde ele havia estacionado o caminhão. Quando ele chegou lá, ficou consternado ao descobrir que o caminhão já havia sido confiscado! O proprietário da estação de serviço explicou que ele foi forçado a entregar as chaves aos militares, que as levaram imediatamente. E acrescentou:
— Estou feliz por você não estar aqui no momento, pois assim que pendurei as chaves que você me deu, uma delas foi cortada ao meio por uma bala perdida. Tudo estava em tumulto porque os rebeldes estavam entrando na cidade.
Esta foi uma notícia muito angustiante para o Missionário. Ele explicou:
— Este caminhão foi um presente de meus amigos nos Estados Unidos e no Canadá para a obra do Senhor aqui na Bolívia. Devo fazer tudo o que puder para recuperá-lo! Quem foi o oficial que o reivindicou?
O nome foi dado e também conselhos sobre onde ele poderia ser encontrado.
Esquivando-se atrás dos edifícios para escapar dos estilhaços e balas, ele orou pela proteção do Senhor sobre ele e pelos cuidados com o caminhão. Os rebeldes já estavam bombardeando a cidade com muita força. Por fim, encontrou o coronel responsável por levar o caminhão. O coronel reconheceu o Missionário como capelão na guerra do Chaco. Quando o Missionário lhe mostrou suas credenciais para o caminhão, o coronel disse:
— Sinto muito, mas o caminhão está sob minha autoridade, como todos os outros. Ele é necessário com urgência – muitos estão feridos e mortos. Também precisamos disso para garantir comida para nossos homens.
O Missionário entendeu tudo isso, mas ele insistiu:
— Senhor, ficarei feliz em dirigir o caminhão para você, se você me permitir. Eu gostaria de ficar com ele.
Ele sabia que nunca mais o veria se não ficasse com ele e se sentia responsável por isso, porque foi dado pela obra do Senhor.
O coronel pareceu surpreso e perguntou:
— Ficarei feliz em lhe dar permissão para dirigir seu próprio caminhão para ajudar neste momento, mas não posso ser responsável por sua vida.
Com isso, o Missionário sorriu e disse:
— Eu sei, senhor, mas sou servo do Senhor e Ele cuidará de mim.
Em seguida, emitindo ordens, o coronel disse:
— Você terá que ir com o comandante e 35 guardas armados para capturar a próxima cidade. Deus esteja com você e todos no seu caminhão.
Que experiência terrível foi essa para as ordens dadas ao Missionário que tiveram que ser seguidas imediatamente – não havia tempo para se despedir de sua querida esposa ou até para lhe enviar uma mensagem sobre suas circunstâncias atuais. Ele recebeu ordens e ele deve ir.
Passou mais de um mês até que ele viu sua amada novamente. Ele não teve escolha senão entregá-la aos cuidados e misericórdias do Senhor e seguir as instruções. Certamente ela descobriria o paradeiro dele de alguma maneira. Ele soube que o juiz havia descoberto pelo proprietário da estação de serviço sobre o caminhão sendo levado para uso militar para aliviar os feridos. Sua esposa passou muito tempo orando ao Senhor por sua segurança – um recurso maravilhoso em tempos tão conturbados.
Seria difícil relatar todas as aventuras do Missionário e o caminhão no mês em que ele foi separado de sua querida esposa, mas o seguinte dará ao leitor uma ideia dos perigos que ele encontrou: Quando o Missionário e seu caminhão cheio de homens se aproximaram da cidade que deveriam capturar dos rebeldes, ele se virou para o comandante ao lado dele e perguntou:
— Senhor, esta é uma tarefa perigosa à nossa frente. Você se importa de parar aqui para que eu possa orar para que o Senhor nos proteja e peça a Ele que nos dê a cidade sem disparar um tiro?
O oficial tirou o boné e ordenou que seus homens sentados na traseira do caminhão fizessem o mesmo enquanto o Missionário orava. Oh, quão abençoado é saber que Deus é real, que Ele ouve e é capaz – e responde – à oração muito acima do que pedimos ou pensamos.
Eles chegaram ao centro da cidade sem serem notados. O comandante estalou os dedos e os guardas saltaram do caminhão com suas metralhadoras, cada um assumindo uma posição especificada em cantos diferentes. A cidade foi tomada sem que um tiro fosse disparado. Os rebeldes ficaram tão surpresos que muitos deles fugiram, enquanto outros se renderam sem resistência.
Nas áreas onde houve lutas, os médicos eram todos a favor dos rebeldes. Eles se recusaram a tratar os feridos ou a providenciar o enterro dos soldados mortos do governo. Eles apenas os deixaram caídos na rua onde quer que tivessem caído. Que cena trágica foi essa! Algo deveria ser feito a respeito disso.
O comandante ordenou que o Missionário levasse uma mensagem ao hospital notificando o pessoal de lá que todos os médicos e enfermeiros se apresentariam ao comandante em vinte minutos ou que nenhum seria deixado vivo. Oh, que terrível provação para o Missionário estar em tal situação! Mas ele acreditava que o Senhor o estava usando como Seu instrumento para salvar a vida de muitos desses rebeldes tolos, assim como de outros, e era um mandamento. Todos os médicos e enfermeiras apareceram imediatamente diante do comandante.
O Missionário foi capaz de levar muitos dos feridos para atenção imediata, coberto por guardas armados. Alguns deles foram levados para o rio mais próximo, onde podiam tomar banho, usando sabão que ele havia conseguido garantir para eles. Isso deve ter sido muito refrescante para os homens.
Então essa provação terrível terminou temporariamente. No que ele poderia esperar estar envolvido a seguir?
N’Ele Confiarei
Uma ordem do general ordenava que uma certa fortaleza de rebeldes fosse encaminhada imediatamente, que o caminhão do Missionário com os mesmos guardas fosse imediatamente para esse lugar com este fim. Eles começaram a se mover antes das três da manhã, chegando nos arredores da vila pouco antes do amanhecer. O Missionário novamente pediu que desligassem o motor e orassem para que Deus os protegesse e os guiasse novamente. Enquanto ele estava orando, Deus enviou um nevoeiro pesado – desconhecido antes naquela região! Sim, Deus vive! DEUS é o mesmo ontem, hoje e para sempre.
Como a vila estava abaixo deles, eles deixaram o motor desligado e, com grande dificuldade, desceram silenciosamente a encosta. Eles encontraram os rebeldes dormindo. Os guardas logo cercaram os rebeldes e os levaram ao comandante, que no momento do revólver ordenou que contassem tudo o que sabiam. O Missionário solicitou ao comandante que não matasse nenhum deles, pois eram cidadãos bolivianos e tinham famílias; mas ele nunca mais viu nenhum deles. Ele teme que todos foram baleados. Que decepção! Ele esperava falar a eles sobre o evangelho antes que qualquer outra coisa acontecesse.
Chegou a notícia de que os rebeldes da primeira cidade estavam contra-atacando, por isso tiveram que retornar às pressas. Eram duas e meia da manhã seguinte quando chegaram. O comandante entregou ao Missionário um pesado revólver do exército e ordenou que um dos guardas cuidasse dele com uma metralhadora. O Missionário disse a ele que ele também não precisava porque tinha “armas” muito melhores para cuidar dele. Ele estava experimentando o maravilhoso amor e cuidado de seu Senhor e Salvador, com Seus “braços eternos” sobre ele (Dt 33:27).
O comandante intrigado perguntou:
— Como assim?
— Eu tenho o Salmo 91, senhor — Ele leu um pouco enquanto a luta continuava! — “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará. Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei” — Ele também leu o versículo 7 — “Mil cairão ao teu lado, e dez mil, à tua direita, mas tu não serás atingido”.
Finalmente, os rebeldes deixaram de atacar. Essa terrível guerra civil terminou, não apenas lá, mas em toda a República da Bolívia. Que alívio!
Depois que o Missionário levou o comandante e os guardas de volta a Potosi, ele os deixou no quartel e correu avidamente o mais rápido que pôde para a casa do juiz. Parando o caminhão, ele correu para a janela onde sabia que sua esposa querida estaria esperando por ele.
— Querida! — ele chamou o mais alto que podia — Você está aí?
Ela correu para a janela. Ao vê-lo, ela desceu os degraus o mais rápido que pôde e o abraçou, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Eles estavam juntos novamente pelas ternas misericórdias do Senhor. O juiz e sua esposa a seguiram ansiosamente para recebê-lo de volta.
Com lágrimas de gratidão, o Missionário agradeceu a eles por cuidar tão amorosamente de sua querida por mais de um mês. Como ele pode esquecer a bondade daquele juiz e de sua esposa! Ele era um católico romano rigoroso, mas durante as últimas horas ouviu atentamente o evangelho e com lágrimas nos olhos. Veremos aquele homem querido em glória? Não podemos dizer com certeza, mas confiamos que sim.
O Senhor graciosamente poupou a eles e o caminhão para Seu serviço. Finalmente, deixando Potosi, o Missionário e sua esposa dirigiram-se para Aripalca, agradecidos por estar em casa mais uma vez e ansiosos para servir ao Senhor novamente entre seus queridos irmãos Incas, de quem receberam um lar tão amoroso.
É bom lembrar de todo o caminho que o Senhor nos levou (Dt 8:2). De maneira milagrosa, Deus poupou a vida do Missionário e de sua esposa e cuidou bem do caminhão para que pudesse ser usado no serviço do Senhor na Bolívia, com o propósito a que se destinava. Foi usado por muitos mais anos entre os índios Incas, os transportando para conferências, sendo um de seus usos importantes. Muitos dos índios foram trazidos para o conhecimento salvador do Senhor desde então. Todo louvor pertence àqu’Ele que é digno!
Alguns anos depois, quando o Missionário estava andando pelas ruas da Capital, ele viu um oficial do exército de alto escalão que acenou para ele. Gritando no alto de sua voz, o policial disse:
— Salmo 91!
Lembrou-se do Salmo, que foi um consolo para o Missionário durante aqueles meses estressantes. Mas o Missionário não sabe se alguma vez confiou no Senhor Jesus Cristo como seu próprio Salvador. Só Deus sabe. Ele prometeu que Sua Palavra “não voltará para mim vazia; antes, fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a enviei” (Is 55:11). Que grande consolo!
Durante seus muitos anos na Bolívia, as últimas palavras de seu pai na Nova Zelândia vieram à mente: “Lembre-se, o Senhor prometeu: ‘Não te deixarei, nem te desampararei’” (Hb 13:5). Em retrospecto, o Missionário pode dizer com sincero agradecimento que o Senhor certamente cumpriu Sua promessa por todo o caminho, fazendo por ele muito acima do que ele pediu ou pensou.
“Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, Amém” (Ef 3:20-21).