À medida que o fim se aproxima, o poder do inimigo está aumentando, e ele procura, com frequência, usá-lo por meio de imitações. Somos alertados disto em 2 Timóteo 3:8, onde nos é mostrado como os mágicos do Egito, sob o poder de Satanás, enfrentaram Moisés por meio de imitações. É este o caráter dos últimos dias. O cristão, que será guardado no dia mau, deve aprender a importância de se fazer frente a todos os ataques do inimigo, usando para isso a Palavra de Deus. (Sl 17:4).
Há, ao nosso redor, muito ensino falso a respeito de cura, e muitos queridos filhos de Deus têm sido pegos nesta rede, que os leva a ficarem surpresos por não terem sido curados. Estas linhas foram escritas para trazer à luz o ensino da Palavra de Deus acerca do assunto, de modo que possamos ser guardados de fazer falsas aclamações. Que possamos, assim como os homens de Issacar da antiguidade, compreender os tempos (1 Cr 12:32). Logo estaremos com Cristo e seremos como Ele nas alturas, possuindo então corpos glorificados como o que Ele possui. Que possamos, enquanto isso, aprender submissão a todos os Seus desígnios para conosco, mesmo na enfermidade. Cura – O que dizem as Escrituras? É bom lembrar que a doença e a morte entraram no mundo pelo pecado (Rm 5.12).
A primeira menção de enfermidade na Bíblia encontra-se em Êxodo 15:26. Ali é mostrado que Deus a colocou sobre os egípcios, mas que a mesma não seria colocada sobre os filhos de Israel desde que andassem em todos os mandamentos e estatutos do Senhor. A bênção sobre a terra era uma promessa distinta dada a Israel (Dt 7:13-15). Sempre que andassem em desobediência e desprezassem o Senhor, o governo de Deus traria sobre eles todas as enfermidades do Egito, as quais eles temiam. (Dt 25:58-61). As bênçãos que lhes eram prometidas eram terrenas (Dt 28:1-14). Deus tomava conhecimento de todos os seus caminhos, pois sob a lei toda transgressão e desobediência devia receber uma justa recompensa (Hb 2:2).
Vemos este princípio claramente no caso de Jorão, o filho de Josafá, registrado em 2 Crônicas 21:18-19. Satanás pode ser o instrumento para afligir, ou trazer enfermidade, mas é Deus Quem a permitiu, sim, até mesmo Quem a enviou, na sabedoria dos Seus desígnios, seja ela para despertar o pecador para a sua necessidade de salvação, ou para corrigir aquilo que o Seu olho perspicaz vê como sendo necessário em um filho Seu. Estes princípios dos desígnios de Deus são claramente colocados diante de nós no livro de Jó. Este livro é de uma instrução muito preciosa para nós, e nos apresenta estes desígnios morais de Deus que são verdade em todos os tempos. Que possamos ser exercitados por tudo aquilo que a Sua sabedoria e amor possa nos enviar para, no seu fim, trazer-nos bem.
O homem provado e testado (Israel é apenas um exemplo do homem na carne) falhou tão completamente que perdeu o direito a reivindicar qualquer bênção com base na obediência em fidelidade. Ninguém pode reivindicar estar livre da enfermidade com base na sua própria fidelidade. Somente a graça é o fundamento de toda bênção para o homem arruinado. A primeira vez que a eleição pela graça é mencionada na Bíblia é sobre este princípio. (Leia Êx 33:19 e também Is 1:9). É dessa eleição da graça que Paulo trata em Romanos 11:5. Portanto Deus nunca é frustrado em Seus propósitos, e todos os conselhos de Deus terão um desenvolvimento completo e bendito, e, portanto, acerca do Milênio é dito que “nunca mais haverá maldição contra alguém” (Ap 22:3). Águas que curam sairão do lado sul do altar (Ez 47:1). Os redimidos do Senhor serão então perdoados de todas as suas iniquidades e curados de todas as suas enfermidades (Sl 103:3). Então, “morador nenhum dirá: Enfermo estou” (Is 33:24). Todos desfrutarão do sabbath de descanso conforme o plano de Deus, pois o sabbath é a garantia de descanso aos redimidos do Senhor sobre a Terra (Ez 46-1-3).
Quando o Senhor Jesus Se apresentou a Israel como o Seu verdadeiro Messias e Rei, lhes mostrou como Ele, “o Senhor que te sara” (Ex 15:26), poderia trazer a bênção prometida. Ele curou as enfermidades de todos os que foram a Ele, e se a nação O aceitasse, o reino teria sido estabelecido então. Neste ponto é precioso saber como Ele Se sentia com respeito àqueles a quem curava, sempre com perfeita compaixão, identificando-Se com eles em suas enfermidades e dores, com graça inigualável. Assim, dEle podia ser dito que “tomou sobre Si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças” (Mt 8:17). Ele até mesmo chorou diante do túmulo de Lázaro junto com suas tristes irmãs, Marta e Maria, antes de demonstrar o Seu poder para a ressurreição e vida (Jo 11), ressuscitando a Lázaro de entre os mortos. Verdadeiramente, Ele era “Homem de dores e experimentado nos trabalhos” (Is 53:3), e era a compaixão do Seu bendito coração que O tornava assim.
Mas Israel rejeitou o seu Rei, dizendo, “Não temos rei, senão o César” (Jo 19:15). Eles escolheram seus próprios pecados, enfermidades e morte, ao invés de escolherem a Ele, pois o mundo não quis – e não quer – Cristo, seja Ele em que condição for. Vemos agora este mesmo poder de curar manifestado, em nome de Cristo, após a Sua ressurreição de entre os mortos. Isto encontra-se no livro de Atos (At 4:26-30). A Israel, como nação, foi dada a oportunidade de reconhecer o seu pecado, e Pedro lhes disse que, se assim o fizessem, Deus enviaria Jesus e traria o reino então (At 3:19-26).
O evangelho era então acompanhado de sinais e maravilhas em Nome dAquele que eles rejeitaram, e assim eram manifestadas “as virtudes do século futuro” (Hb 6:5). Mas até mesmo esse testemunho foi rejeitado. Estêvão foi apedrejado e, fazendo assim, eles enviaram uma mensagem a Cristo dizendo, “Não queremos que Este reine sobre nós” (Lc 19:14). Mais uma vez eles escolheram suas enfermidades e dores, recusando o testemunho do Espírito Santo acerca da morte, ressurreição e glória do Cristo à direita de Deus. Apesar disso, uma vez que os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento (Rm 11:29), vemos que o poder de curar permaneceu durante a vida dos apóstolos.
No entanto, as bênçãos para a Igreja neste presente período, são expressas pelo apóstolo em Efésios 1:3, onde ele diz que o Senhor Jesus Cristo “nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”. Hebreus 3:1 mostra o contraste disso com as bênçãos terrenas de Israel, dizendo que somos agora “participantes da vocação celestial”. O cristianismo é o chamado, para fora do mundo, de um povo cuja cidadania é celestial (Fp 3:20). O teste do homem terminou (Jo 12:31). O cristão não é chamado a construir um mundo melhor, nem tampouco para interferir no seu governo, mas para viver Cristo e pregar Cristo, enquanto aguarda pelo Filho de Deus vindo dos céus (1Ts 1:5-10). Deus está agora treinando Seus filhos para os dias vindouros de glória, quando tudo manifestará a sabedoria dos Seus desígnios, cujo perfeito amor tem em vista aquele dia quando tudo será manifesto. Enfermidade, doença e tribulação são frequentemente utilizadas por Deus com este propósito, como veremos a seguir.
Antes de mais nada, Ele nos escolheu em Cristo “antes da fundação do mundo” (Ef 1:4-6), para que fôssemos para louvor da Sua glória. As bênçãos de Israel são “desde a fundação do mundo” (Mt 25:34). O precioso segredo da bênção da Igreja esteve escondido em Deus, e foi comunicado ao apóstolo Paulo por uma revelação especial de Cristo em glória. Tendo sido batizados pelo Espírito em um corpo, podemos agora desfrutar, em bendita proximidade, de todas as afeições do Seu coração, com uma natureza que nos foi dada por Deus. Esta natureza nos capacitará a desfrutar, para sempre, daquilo que o coração de Deus desfruta. Quão precioso é isto! Seremos também o templo de Deus, refletindo a Sua glória em toda a sua excelência moral, pois toda glória é nossa, exceto aquela que não pode ser comunicada, ou seja, a Sua Deidade. Deus está preparando-nos agora, por meio de hábil treinamento, para o lugar que a Sua graça aprontou para nós na casa de Deus. Ele pode tomar a pedra mais disforme, uma que até mesmo tenha entrado neste mundo fisicamente deformada ou deficiente, e com uma pedra assim demonstrar Sua maravilhosa habilidade como Construtor, ao colocá-la na construção de Deus (Ef 2:18-22). Como o Agricultor Ele precisa podar cada ramo da vinha de Seu plantio com o objetivo de obter fruto. Isso para que possamos, em comunhão de amor, dar fruto através da manifestação da verdadeira natureza de Deus como Seus filhos.
Como o Seu coração se regozija quando qualquer coisa é feita apenas com o objetivo de agradá-Lo, depois de termos aprendido, por meio desta comunhão em amor, o que é que Lhe agrada (Jo 15:7-8). Seu olhar atento, que perscruta esta comunhão, vê quando a velha raiz do EU não foi ainda julgada, e na sabedoria do Seu amor, poda cada ramo para que produza fruto para Seu louvor. Aprendemos também que a graça pode ter comunicado a algum servo muito do conhecimento da Sua vontade e da amplitude dos Seus conselhos, capacitando-o a comunicar isso ao amado rebanho de Deus, mas junto com isso Ele precisou dar também aquilo que é um “espinho na carne” (2 Co 12:7-10), para manter “a soberba da vida” (1 Jo 2:16) no seu lugar de morte.
Temos então os açoites, que podem tomar a forma de uma enfermidade, e isto traz a idéia da disciplina de um filho (Hb 12:5-8). A mesma palavra é traduzida “admoestação” em Efésios 6:4. Esta é para a correção de nossas maneiras, e pode exigir “açoites”, a sábia e graciosa voz do Senhor, “para sermos participantes da Sua santidade” (Hb 12:10). Aprendemos também do comentário de Paulo a respeito de Epafrodito, que a doença pode ser o resultado de devoção. Aquele querido homem de Deus não poupou sua vida, para que pudesse suprir as necessidades de Paulo, dada a falta de cuidado dos Filipenses para com ele (Fp 2:25-30). Fica evidente, ao lermos 1 Timóteo 5:23, que Timóteo tinha enfermidades que permaneceram com ele, na sabedoria de Deus, e que Trófimo foi deixado em Mileto doente (2Tm 4:20), não sendo usado, portanto, o dom de curar que Paulo possuía, em benefício daqueles dois irmãos, amados do Senhor.
Em todas essas várias maneiras de Deus tratar com Seus filhos, conhecemos que O Mesmo que uma vez entrou nos sofrimentos daqueles que Ele curava aqui na Terra, está agora vivendo, como Homem glorificado, como nosso Grande Sumo Sacerdote nas alturas. Embora as bênçãos que nos foram prometidas sejam celestiais, e não terrenas, ainda assim Ele Se compadece de nós em nossas enfermidades físicas, e vive sempre para interceder por nós (Hb 2:17-18; 4:14-16). Quando provados por doenças ou dor, podemos elevar nossos olhos a Ele em busca de conforto e compreensão, e para recebermos forças para suportar, a fim de não nos tornarmos irritados e O desonrarmos em nossa tribulação.
O bendito Espírito Santo, também, cujo testemunho o mundo rejeita, como já notamos, agora habita no corpo de todos os crentes como o Consolador, para ocupar nossos coração com aquelas glórias celestiais que nos fazem anelar por Cristo (Jo 14:26). Ele nos auxilia em nossas enfermidades também, e “intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8:26). Ele, juntamente conosco, está aguardando o dia quando despertará nossos corpos mortais (Rm 8:11), e então, libertos para sempre deste tabernáculo de lamentações, desfrutaremos em plenitude nossas bênçãos celestiais. Isto será quando o Senhor vier para os que são Seus. “E o Espírito e a esposa dizem: Vem. Ora vem, Senhor Jesus” (Ap 22:17,20).
O assunto da cura, mais uma vez, aparece diante de nós em Tiago 5:14-15. Aqui trata-se de uma alma exercitada acerca da enfermidade, e onde houve falha, esta é reconhecida (v. 16). Então a oração de fé por parte dos anciãos que são chamados (não existem oficialmente em nossos dias), sugere a comunhão que têm com a vontade do Senhor, pois a confiança em oração é fruto de se permanecer em Cristo (Jo 15:7). Está evidente aqui que aquele que sofre reconhece a mão de Deus em sua enfermidade, e assim julga a falta que pode ter havido, buscando então por cura por intermédio da comunhão com a vontade do Senhor, se for Seu desejo levantá-lo do leito. Uma fé assim honra a Deus, pois é vinda dEle.
Mas, por outro lado, proclamar em nossos dias a cura para todos os casos, como sendo uma bênção cristã, é não compreender a verdadeira posição do cristão. Deus pode responder, e responde, à oração de fé, e devemos ser exercitados nisto em todas as tribulações que Ele nos faz atravessar, mas não devemos confundir nossas bênçãos na esfera do cristianismo com as pertencentes a Israel como um povo terreno. Nunca deve ser esquecido que o filho de Deus é agora chamado a uma herança reservada nos céus (1 Pd 1:4). A obra de Cristo deu ao crente uma posição perfeita diante de Deus (Hb 10:14). O cristão deve trazer Cristo, de forma prática, em seu coração, de forma que Ele possa ser visto em todos os nossos caminhos (2 Co 4:11). Todo filho de Deus necessita deste treinamento, do qual todos fomos feitos participantes (Hb 12:8).
Busquemos tirar proveito de tudo aquilo que a sabedoria de Deus possa nos fazer passar, pois nunca haverá uma tribulação que não seja necessária, de nossa parte, e que não tenha um propósito da parte dEle.
E. Hayhoe