“Resta, irmãos meus, que vos regozijeis no Senhor. Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para vós.” (Fp 3:1).
O apóstolo Paulo dá início ao terceiro capítulo de sua carta aos Filipenses lembrando-lhes de que o fato de estar escrevendo “as mesmas coisas”, ou seja, aquilo que já lhes havia comunicado, não o aborrecia, pelo contrário, era para eles um fator de segurança.
Às vezes fico surpreso de como pode resultar em proveito as breves conversas que temos com os jovens; conversas estas muitas vezes repetitivas. Se a repetição de um mesmo assunto não tivesse base bíblica, talvez eu, assim como muitos, ficaria desencorajado a voltar a tratar de um mesmo assunto. Os jovens de todas as idades se deparam, invariavelmente, com os mesmos problemas, têm as mesmas dificuldades e são obrigados a tomar decisões diante dos mesmos assuntos pertinentes à esta vida. A Palavra de Deus é a única solução para as dificuldades do jovem Cristão.
Ao me dirigir aos jovens, discorrendo sobre se “ter sucesso” ou “ser bem sucedido”, não estarei me dirigindo àqueles que ainda se encontram em seus pecados, fora de Cristo, mas àqueles que já confessaram ao Senhor Jesus como Senhor e Salvador; àqueles que consideram a questão de ser realmente bem sucedido como algo de grande importância. Alguém que buscou na Bíblia a palavra “sucesso” afirmou ser ela muito rara. Fui capaz de encontrá-la somente uma vez, no livro de Josué (o autor refere-se a Js 1:8 na versão inglesa que, em tradução livre, diz “então terás sucesso”). Por outro lado, parece-me que é uma palavra muito frequente no vocabulário de nossos dias, pois nunca houve um tempo quando este tipo de pensamento foi tão calcado nas mentes dos jovens quanto nos dias de hoje. Para que suas vidas sejam vividas de forma a contribuir para sua própria motivação e para o bem da sociedade, os jovens devem alcançar aquilo que o mundo chama de “sucesso”. Se formos guiados pelos padrões e ideais do mundo iremos viver uma vida bem diferente daquela indicada aos jovens na Palavra de Deus. É para mostrar o contraste entre esses dois padrões – os ideais da Palavra de Deus, e os ideais do mundo que nos cerca – que eu desejo me dirigir a você.
Quando se comenta a respeito de alguma pessoa, a questão que geralmente vem à tona é quanto à sua posição ou realizações. E se a pessoa, da qual se fala, puder ser chamada de alguém “bem sucedido”, maior será o respeito e a consideração que despertará naqueles que tecem comentários a seu respeito. Quando se ouve que alguém tem sido bem sucedido, o sentimento é de que tudo está bem com aquela pessoa, o que é suficiente dentro dos padrões e da forma de pensar deste mundo. Ser “bem sucedido” neste mundo significa ter acumulado um certo volume de dinheiro e bens. Alguém que pode assinar seu nome em cheques de grande valor é considerado, aos olhos deste mundo, alguém bem sucedido.
Outro, que vive ocupado em administrar seus lucros e suas várias propriedades, é apontado pelo mundo com o seguinte comentário: “Aquele é um homem de sucesso”. Pode-se citar ainda alguém que, embora não tendo acumulado grandes fortunas, tenha se tornado um grande líder político. O mundo dá a ele grandes honras. Em qualquer um dos casos, estes homens viveram de forma a alcançar posições invejáveis neste mundo. As demais pessoas os contemplam e dizem a respeito deles: “Bem que eu gostaria de estar no seu lugar…”. É isto que o mundo considera ser bem sucedido.
Se você observar um grupo de velhos colegas de escola, que se encontram depois de muitos anos, perceberá que ao perguntarem sobre este ou aquele colega, a resposta será quase sempre dada considerando a posição que tal pessoa alcançou neste mundo. Por muitas vezes pude ouvir diálogos do tipo “Você tem notícias do Carlos?” “Ah! Sim; ele foi para o sul, montou uma empresa e está se dando muito bem nos negócios.” Todos se sentem satisfeitos e o sucesso de Carlos reflete favoravelmente entre eles. Você pode ver muitos exemplos disto ao seu redor, e é natural que sejamos afetados por esta maneira de pensar, passando a viver sob algum tipo de obrigação moral, ao buscarmos atingir os padrões que são aceitos pelas pessoas ao nosso redor.
Mas quando comparamos tal ordem de coisas com a Palavra de Deus, tendo esta como nosso padrão, quão diferente passa a ser a nossa forma de enxergar o assunto. Este critério – o padrão da Palavra de Deus – nunca falha em mostrar a verdade. É o único padrão pelo qual eu e você podemos julgar corretamente esses assuntos. Se você se utiliza de um padrão falso, como poderá chegar a conclusões que o ajudem, se o padrão que adotou é falso? Vou citar, como ilustração, algo que aconteceu quando eu procurava uma nova chaminé para minha lareira. Tirei a medida do tubo da chaminé velha e constatei que tinha exatamente 25 centímetros de diâmetro. Comprei um novo tubo e, depois de muito tentar conectá-lo à velha lareira, achei que deveria reclamar ao vendedor pois, ao meu ver, ele havia se enganado na medida e me vendera o tubo errado. Eu pensava ter bons argumentos para reclamar pois estava seguro da medida que havia encomendado. Isso até eu descobrir que alguém havia cortado um pedaço da régua que eu tinha utilizado para medir o tubo velho. Eu havia utilizado um padrão errado e, portanto, todas as minhas conclusões estavam erradas, embora eu pensasse estar com toda a razão. Assim sucede quando “medimos” aquilo que o mundo chama de sucesso. Qual o padrão que você está usando?
No terceiro capítulo de Filipenses encontramos um homem que começou tendo em vista um padrão que estava de acordo com este mundo, e então recebeu um repentino choque espiritual que o fez mudar totalmente de direção. Daquele momento em diante, até o dia de sua morte, ele adotou um novo padrão, padrão este que revolucionou toda a sua vida. Creio que o mesmo acontecerá com cada um que desejar passar pela mudança que Saulo de Tarso passou quando começou aquela jornada para Damasco, tendo consigo documentos que lhe davam poderes para trazer presos à Jerusalém, para serem punidos, todos os que professavam o nome do Senhor. Até então, que tipo de homem havia sido ele aos olhos deste mundo? Creio que ele tinha quase tudo que um homem almeja nesta vida. Encontramos uma relação completa a partir do versículo 4. Que esplêndida linhagem vemos ali! “Hebreu de hebreus” – algo como se pertencer a uma linhagem nobre. “Segundo a lei, fui fariseu”; o que significa uma posição na sociedade, pois os fariseus formavam a elite religiosa. “Segundo o zelo” – e isto nos fala de energia – “perseguidor da igreja.” “Segundo a justiça que há na lei, irrepreensível.” Ele tinha uma boa reputação. Ele não só tinha boa reputação como também era um homem de caráter. O que iria ele fazer com um início de carreira como aquele? Quão poucos possuem uma tal bagagem – antecedentes como os que ele tinha! E o que ele viria a fazer com tudo aquilo? Jogar tudo fora, como esterco! Ele passou por uma limpeza geral e teve um novo começo! Ouça o que ele diz: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo”. Que imensa mudança! É preciso o imenso poder da fé para capacitar um homem a fazer isso. Ele havia visto o Senhor em glória. Ele havia experimentado a luz que ofuscava o sol do meio-dia, e aquela visão nunca se desvaneceu; estava sempre presente diante de si e, em virtude disso, ele podia lançar tudo fora e dizer: “Reputei-o perda por Cristo”.
É preciso fé para alguém lançar fora coisas que são um ganho para si. Há certas coisas que facilmente lançamos fora e sem as quais nos sentimos melhor. Tenho visto jovens que se livraram de vícios prejudiciais como a bebida e o fumo. É bom se livrar de tais coisas, mas você nunca iria dizer que tais coisas podem ser consideradas como ganho. O Apóstolo disse, “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo”. Seremos nós capazes, pela graça de Deus, de abrir mão daquelas coisas que nos colocam em uma posição temporal vantajosa ao nosso progresso neste mundo? Estaremos prontos a considerá-las, como Paulo as considerou, perda por Cristo? Isto é verdadeira fé. Trata-se da energia da divina fé operando na alma. É isto que irá produzir um homem bem sucedido. Creio que se existe alguém bem sucedido na Bíblia – bem sucedido do ponto de vista de Deus – esse alguém é o apóstolo Paulo. Ao chegar ao fim de sua jornada, ao invés de obter uma grande colheita de pesares e remorsos, o encontramos humildemente satisfeito com o balanço de sua vida, seguro em seu coração de haver combatido o bom combate, guardado a fé e completado sua carreira, além de reconhecer que uma coroa de justiça já estava preparada para ele, a qual o Senhor, o justo Juiz, lhe daria.
Querido jovem, aquela coroa não está reservada apenas para Paulo, mas o Senhor também a dará a todo aquele que ama a Sua vinda; e não é certo que você também ama a vinda do Senhor? Se você já é um filho de Deus, não deixará de se regozijar ao olhar adiante no tempo, para o momento quando o Senhor Jesus irá aparecer em glória para buscar aqueles que são Seus por título e direito. Ele hoje é rejeitado; Ele não está buscando os Seus direitos; Ele é o desprezado e o mais indigno entre os homens. Sentimos que assim é; sofremos com Cristo e percebemos que Ele não está se apoderando daquilo que Lhe pertence, mas olhamos adiante, para o tempo quando Ele vai tomar posse daquilo que é Seu. Naquele dia o Seu gozo será o nosso gozo. Paulo podia encerrar sua carreira com aquela satisfação de que havia guardado a fé e combatido o bom combate.
Às vezes encontramos jovens que se sentem, em um aspecto ou outro, melhores dotados do que outros. Há pouco tempo encontrei um jovem rapaz que me disse ser um pouco diferente dos demais pois era possuidor de uma capacidade intelectual superior, o que não lhe permitia aceitar se colocar em uma posição desprezível neste mundo. Segundo ele, isto podia ficar bem para alguém mais medíocre, mas nunca para alguém com a sua capacidade. Para ele, era uma perda – uma vergonha – ficar à margem da sociedade e desperdiçar todo o seu notável talento para viver uma vida humilde para Cristo. Não quero dizer que ele colocou isto exatamente nestas mesmas palavras, mas não posso deixar de pensar que era este o fardo que pesava sobre sua mente. Não discuto suas afirmações sobre seu talento e sua capacidade. Creio que era um jovem bem inteligente. Quem sabe se você não tem a mesma atitude? Estive pensando no que encontramos em 1 Coríntios 4:7 em conexão com isto: “Porque, quem te diferença? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” Jovem Cristão, acaso você se encontra entre esses mais favorecidos, que receberam algo superior em termos de inteligência ou capacidade mental? Onde você conseguiu isso? Quantas vezes você se congratulou por possuir tal característica? Mas onde foi que a conseguiu? “E, se o recebeste, por que te glorias?” “Quem te diferença?”, ou, em outras palavras, “quem te faz diferente?” Foi Deus Quem deu a você determinadas capacidades, e é a Ele que deve dar o crédito por havê-las recebido.